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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

UNIRIO

JOÃO PEDRO HADDAD MESQUITA DE MONTEIRO MARINHO

ENSAIO DE ANÁLISE DE CONJUNTURA

RIO DE JANEIRO
2018
Fazer análise de conjuntura é uma tarefa difícil. Os acontecimentos políticos, principalmente
no mundo atual, têm uma dinâmica acelerada à qual nem sempre acompanhamos. Estabelecer as
relações de causa e feito (se é que é possível) sempre pressupõe alguma arbitrariedade analítica. A
tendência à especulação sobre o futuro às vezes é incontornável e dificilmente acertam-se as
previsões. O passado muito recente, a cada novo acontecimento no presente, se ressignifica.
Acontecimentos que pareciam fundamentais tornam-se insignificantes e vice-versa. As
interpretações mais bem fundamentadas e sóbrias parecem ser as que se beneficiaram do
distanciamento dado pelo transcorrer dos anos.
Quando o que era conjuntura se torna história, o estudioso tem a possibilidade de observar o
que ficou e o que passou; o que teve mais e o que teve menos consequências. A História, no entanto,
pode ser traiçoeira. Walter Benjamin já nos alerta em suas Teses sobre o conceito de História sobre
a maneira como a narrativa oficial do passado é, na verdade, uma ode às vitórias dos opressores
sobre os oprimidos. Desta perspectiva, produzir uma análise no calor dos acontecimentos pode nos
dar uma vantagem: Somos testemunhas das disputas que produzirão a História e temos a
oportunidade de nos posicionar por aqueles que hoje carregam o legado dos historicamente
oprimidos e, quem sabe, contribuir com a construção de uma nova história e um novo futuro.
A construção da Constituição Federal de 1988 foi o espaço onde enfim permitiram-se
disputas de interesses após o sufocamento de movimentos sociais e opositores políticos por mais de
20 anos de ditadura civil-militar. As diferentes agendas e demandas esmagadas por esse período
buscaram se fazer presentes e a constituição foi promulgada num forte clima anti-ditadura e sob um
discurso de garantia de direitos. Porém, não se ausentaram das discussões os próprios representantes
das oligarquias que dominaram no período ditatorial e que conduziram a redemocratização. A
restauração da democracia liberal significou a abertura de um terreno de lutas, mas não de garantia
de direitos como parecia poder ser.
Dentro das regras do jogo definidas em 1988, o Brasil passou por mais de uma década de
governos neoliberais. Sob os mesmos moldes e dependendo do presidencialismo de coalizão, Lula
se elege em 2002 e dá início a um governo baseado no pacto de classes. Enquanto subiam os lucros
dos banqueiros e dos industriais, subia também o salário mínimo e descia o desemprego.
Os mais de dez anos de governo do PT tiveram avanços significativos no que diz respeito às
políticas redistributivas e ao maior acesso a bens culturais por parte de setores populares. 1) Pessoas
que historicamente vinham de setores excluídos da sociedade e cujas famílias sempre ocuparam
postos precarizados de trabalho passam a ter acesso ao Ensino Superior através de políticas como as
ações afirmativas, o Financiamento Estudantil, bolsas de estudo, etc.; e 2) Tem lugar uma crescente
organização das classes trabalhadoras acompanhada de crescimento da atividade sindical mesmo
com as cooptações de alguns sindicatos pelo governo como tantas críticas de grupos à esquerda
ressaltaram.
O golpe de 2016 é uma grande prevenção das classes dominantes contra o processo de cada
vez maior democratização representado pela crescente organização dos setores oprimidos e
excluídos da sociedade. Todas as frações da classe dominante se unificam em torno da necessidade
de frear o processo distributivo iniciado nos governos Lula. Os tecnocratas chegam a conclusão de
que em curto espaço de tempo um dos lados da balança capital-trabalho ia ter que pesar mais do que
o outro. As entidades patronais e a mídia hegemônica, tradicionalmente golpista, exigiam do
governo Dilma um programa de corte de gastos e de austeridade fiscal. Com a nomeação de
Joaquim Levy (representante do setor financeiro do capital) para o Ministério da Fazenda estas
exigências são atendidas. No entanto, Dilma não podia arriscar manter o programa do oponente que
havia acabado de derrotar nas urnas por muito tempo, não era essa a agenda do PT, afinal,
significaria abandonar um dos lados do pacto de classes. É justamente neste ponto que as frações
que organizaram o golpe tomam sua decisão. O golpe consolida imediatamente uma política de
austeridade em um nível estrutural com: congelamento dos gastos públicos em saúde e educação
por 20 anos; reforma trabalhista; terceirizações; reforma da previdência; fim das políticas industriais
do BNDES; agendas de privatizações; fim do monopólio da Petrobras; venda do pré-sal, etc.
Unificam-se para derrubar o governo eleito de Dilma Rousseff os setores estrangeiro,
financeiro, industrial, agrário e midiático do grande capital, além de suas representações no
parlamento e no judiciário e um movimento de massas de uma classe média de extrema-direita,
mobilizada pelo ódio decorrente do medo de perder seus privilégios (como as vagas nas
universidades e os postos de trabalho bem pagos) para pessoas provenientes de camadas menos
favorecidas.
No entanto, o programa a ser seguido pelo golpe não foi consensual em todos os pontos. Ele
veio carregado de fortes acentos desindustrializantes, protagonizado pelo capital financeiro e
visando aumentar o nível de desemprego estrutural, com vistas a manter a massa trabalhadora sob
altos índices de superexploração ao mesmo tempo em que mantém a exigência da cada vez maior
qualificação da força de trabalho. As desavenças com relação à fração industrial do capital são
percebíveis não só nas políticas desindustrializantes como o corte dos financiamentos do BNDES,
mas também no direcionamento da instrumentalização do Ministério Público, da Polícia Federal e
do Poder Judiciário contra nomes do capital produtivo com os quais o governo PT se articulava
estrategicamente e empresas públicas. Esse direcionamento indicou claramente as disputas
intraburguesas que compuseram os momentos posteriores ao golpe, ou os golpes dentro do golpe, e
teve seus desdobramentos nas delações dos Irmãos Batista da JBS, que atingiram diretamente
alguns dos mediadores oficiais do capital na política como Temer e Aécio.1
No momento em que essas disputas pareciam que iam resultar em desdobramentos políticos
mais graves e alguns jornais começavam a aderir a pauta pela saída do governo de Michel Temer, as
pesquisas eleitorais falaram mais alto e, para a continuação saudável das contrarreformas que tanto
oneraram os trabalhadores e excluídos, tornou-se necessidade imediata a prisão do ex-presidente
Lula que, segundo todas as pesquisas, ganharia as eleições. Ressaltamos o caráter conciliador de
Lula, porém, a partir do momento em que ocorreu o golpe, foi deixado claro que o empresariado
não estaria disposto a voltar atrás nas reformas. O Lula seria deixado com a escolha de decidir entre
sua base social ou sua base aliada parlamentar, ou seja, um compromisso entre povo ou grande
capital. Seria muito improvável que após todo este ciclo de rupturas, num eventual governo Lula,
mesmo que o pacto de classes fosse, de alguma forma mantido, ele concordasse em manter a
reforma trabalhista. E mesmo que houvesse essa possibilidade as próprias classes dominantes
acharam melhor não arriscar e se reunificaram, deixando de lado a pauta de saída do governo
Temer, em torno da prisão de Lula.
Agora vemos pela fragmentação das candidaturas no campo da ordem que as diferentes
frações que coordenaram e compuseram o ciclo golpista continuam sem consenso a não ser pela
prisão de Lula, que ainda hoje é o favorito nas pesquisas eleitorais. A ruptura com a ordem burguesa
pela própria burguesia nos demonstra claramente que os setores materialmente dominantes da
sociedade – independente do trato liberal, “igual para todos”, que as instituições supostamente
garantem – respeitam as instituições apenas na medida em que estas lhe são úteis. A cada ameaça
vinda das contradições da sociedade civil por mais democracia, mais direitos, qualquer exigência
que não esteja prevista no orçamento de fim de ano dos patrões é respondida com golpes, em menor
ou maior escala. Seja com financiamento ilegal de campanha, lobby, distorção das leis, assassinato
de opositores políticos, prisão de líderes populares, golpes de Estado ou intervenções militares, a
democracia efetiva, a democracia radical, destinada a superar a democracia liberal, depende de uma
mudança estrutural e não apenas constitucional ou político-jurídica. A existência da divisão de
classes enquanto as leis pressupõem indivíduos autônomos vai continuar repercutindo este padrão
de dominação. Tudo o que estamos vivendo não é novidade, pois, como ensina “a tradição dos
oprimidos”: “o ‘estado de exceção’ em que vivemos é a regra”.

1 A ocorrência dessas disputas intraburguesas e sua predominância sobre a competição política ocorrida no plano
eleitoral desloca essa competição para um plano muito mais exclusivista e retira a decisão da esfera pública, por
assim dizer. Tornam-se disputas palacianas.
BIBLIOGRAFIA:

IASI, Mauro. E agora? É hora de chutar o tabuleiro!. Disponível em:


https://blogdaboitempo.com.br/2018/01/26/e-agora-e-hora-de-chutar-o-tabuleiro/

IASI, Mauro. O calendário e a marcha dos acontecimentos: notas sobre conjuntura e ideologia.
Disponível em: https://blogdaboitempo.com.br/2017/08/03/o-calendario-e-a-marcha-dos-
acontecimentos-notas-sobre-conjuntura-e-ideologia/

MARTINS, Carlos Eduardo. Nove teses sobre a crise política brasileira. Disponível em:
https://blogdaboitempo.com.br/2017/05/29/notas-sobre-a-crise-politica-brasileira/

MIGUEL, Luis Felipe. O futuro da democracia no Brasil. Disponível em:


https://blogdaboitempo.com.br/2017/05/05/o-futuro-da-democracia-no-brasil/

MIGUEL, Luis Felipe. Dominação e resistência: desafios para uma política emancipatória. São
Paulo: Boitempo, 2018

SOUZA, Jessé. A radiografia do golpe. Rio de Janeiro: Leya, 2016

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