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1 – Introdução
A Guerrilha do Caparaó, ocorrida no fim de 1966 e início de 1967, foi o primeiro
movimento de resistência armada contra o Regime Militar implantado no ano de 1964.
Localizado na divisa entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo localiza-se o Pico da
Bandeira, com seu principal acesso sendo localizado no município de Caparaó (o Local recebeu
sua emancipação em 1995 e hoje é nominado de Alto-Caparaó); e este foi considerado um ponto
estratégico para a implantação de uma Guerrilha. O movimento contava com o apoio e a
experiência prática de, na sua grande maioria, Sargentos e Marinheiros exonerados de seus
postos por serem contrários a política do Regime implantado; contavam também, com o apoio
do ex-governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, que se encontrava exilado no
Paraguai.
Sendo assim, este projeto propõe analisar e auxiliar no esclarecimento dos fatos ocorrido
no período em questão. Uma vez que, os fatos narrados são controversos quando confrontamos
as versões relatadas, em forma de depoimentos, pelos integrantes do movimento (os
Guerrilheiros), a versão a versão apresentada pelo Governo sobre o incidente na Serra do
Caparaó e a visão dos moradores que, após a descoberta dos guerrilheiros que sondavam a
região, deflagraram uma onda de medo e quase pânico, acreditando que a intensão era de
dominar o País a mando de estrangeiros, e que sua principal ação seria o envenenamento das
nascentes d’água do entorno do Pico da Bandeira.
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2 – Levantamento Bibliográfico
Os primeiros anos após a Ditadura Militar no Brasil ficaram marcados pelo surgimento
de vários movimentos que promoviam, teoricamente, a luta armada como sendo a melhor forma
de resistência ao Regime implantado no País. Mas existem controversas sobre as reais intenções
dos líderes desses movimentos; para alguns estudiosos atuais, esses movimentos visavam algo
além de uma libertação do Regime; eles queriam na verdade a implantação de outro regime que
vinha tomando forças em outros países pelo mundo: “A Revolução Socialista”.
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Segundo Amadeu Rocha (Um dos líderes guerrilheiros, detido na época) a região era
bem conhecida por vários movimentos, inclusive a POLOP (POLícia OPerária): “A POLOP
não deu apoio à guerrilha, mas simplesmente cedeu a área, porque não tinha condições de
explorá-la. Eles tinham um trabalho feito lá.” (REBELLO, Gilson. A Guerrilha da Caparaó. São Paulo:
Alfa-Omega, 1980. P.184). Como o efetivo do Exército já havia realizado treinamentos na região
do Caparaó com a finalidade de defender o Governo Militar em uma possível tentativa de
retomada do poder (mesmo antes da consumação do ato em 1964).
Os integrantes do grupo permaneceram no local por vários dias, alguns dizer que foram
por alguns meses, mesmo antes que o movimento tivesse sua ação declarada oficial, para o
reconhecimento da região, assim como para o treinamento dos militantes à táticas de
sobrevivência naquela região peculiarmente rochosa e montanhosa. Os integrantes do MRV
(Movimento Nacionalista Revolucionário), eram Civis vindos de organizações esquerdistas que
tiveram suas oportunidades de se oporem ao regime barrado pelo AI-2 que extinguiu os partidos
já existentes e adotando um sistema bipartidarista. No entanto, em sua maioria, os integrantes
eram os “restantes” das manifestações ocorridas dentro das próprias forças armadas em apoio
aos ideais do, então presidente, João Goulart, e desses, sua maioria eram marinheiros e ex-
sargentos considerados opositores ao Governo implantado, inclusive alguns já haviam sido
presos por envolvimento em manifestações de apoio a Jango, em outras ocasiões.
Mas, nem mesmo com toda a trama e apoio e nem com toda experiência militar da
maioria de seus integrantes, o movimento teve êxito em seu objetivo principal; na verdade, ele
nem chegou a se organizar por completo. Encarando a total dificuldade de locomoção dos
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Vale ressaltar que, apesar de nossa visão macro do ocorrido, de todas informações que
temos sobre a importância do movimento para o período; a população que residia no entorno
do Parque Nacional do Caparaó naquela época não via um grupo de pessoas dispostas a lutar
contra o regime ditatorial e confrontar o Governo Militar. As recordações da Guerrilha revelam
o medo e a insegurança que viveram aquelas pessoas durante aqueles dias de fortes tensões e
pressão psicológicas, pois, as tropas do exército fortemente armadas, permaneceram no local
por vários dias com o intuito de encontrar outros rebeldes escondidos. Por um lado, o medo de
sofrerem retaliações por razões dos fatos ocorridos nos últimos dias, por outro lado, o medo e
angústia de encontrarem com os guerrilheiros comunistas em rota de fuga.
O medo ocorre quando a população se depara com o contato direto com o “perigo
Comunista” e com a certeza de que seriam dominados a qualquer momento. Diante do
pressuposto que todos temos uma cultura política diferente, temos que considerar também, a
visão de Comunismo que era propagada na época. No período, haviam por todo território
nacional: Escolas, Político locais, Mídia e até mesmo as pregações religiosas; que propagavam
o “anticomunismo”, ou seja, esse já era um sentimento enraizado nas pessoas daquela região.
Entretanto, não se pode deixar de relatar a visão deturpada do Comunismo que era
compartilhada pela população: “O mito político é fabulação, deformação ou interpretação
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objetivamente recusável do real”. (GIRARDET, Raoul. Mitos e Mitologias políticas. São Paulo.
Companhia das letras, 1989, p. 13). Podemos, assim, dizer que o “mito do comunista mau” se
fazia presente entre os moradores da região. O “Guerrilheiro Comunista” vinha para subverter
a ordem moral. Encaixa-se aqui a mitologia da conspiração desenvolvida por Raoul Girardet,
onde o autor diz que a visão construída dos homens do complô, são a daqueles que se utilizam
das estratégias “da corrupção, do aviltamento dos costumes, da desagregação sistemática das
tradições sociais e dos valores morais”. (idem. Pág. 40) estes utilizam da noite para agir e fogem
completamente dos padrões da normalidade social: “os fanáticos da conspiração encarnam o
estrangeiro no sentido pleno do termo”. (idem. Pág. 42)
Após a prisão daqueles homens por militares estaduais, pôs-se a questionar se eles seriam
realmente guerrilheiros revolucionários ou simples bandidos comuns. Em um ato de
reconhecimento, os militares que efetuaram a prisão fotografaram os meliantes e seus
documentos para a comprovação de vida dos mesmos e de que se tratava realmente de ex-
militares; só depois de tal confirmação é que se formou uma operação conjunta entre o Exército
e a Força Aérea brasileira, com o intuito de capturar ou eliminar os demais guerrilheiros
escondidos na mata. No entanto, não havia mais ninguém e a operação não passou de uma
demonstração de força armamentista, com o objetivo de desencorajar outros focos de resistência
armada pelo país.
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3. Objetivo
Geral.
Específicos
Para que se possa identificar o contexto político, compreender o plano de ação e analisar
o contexto da guerrilha, deve-se considerar alguns passos:
Analisar: Por quem, como e porque foi implantado o Regime militar no Brasil.
Compreender o que é, de fato, uma Guerrilha.
Porque a ação em Caparaó foi considerada a primeira.
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4. Justificativa
Podemos, então, localizar as lacunas deixadas pelo tempo e memória dos envolvidos no
movimento; para que, assim, se construa uma narrativa com respaldo teórico e baseado em fatos
históricos ocorridos, com um olhar e uma análise macro historiográfica para que se possa
compreender o contexto político da época. Toda história é fruto do seu próprio tempo, devemos
nos apropriar de ferramentas e métodos para se fazer um levantamento consideravelmente
relevante para um estudo histórico.
O fato ocorrido em Caparaó trouxe para o Brasil uma fundamental importância por se
tratar do início da resistência armada. Mesmo não ocorrendo a Guerrilha, ela se tornou um
símbolo das revoltas armadas por causa da tamanha movimentação de tropas à região para
combater apenas uns “vinte e poucos” homens. Todos foram presos e tiveram seus “sonhos de
liberdade” interrompidos. Mas esse movimento se tornou conhecido por todo país, mesmo que
fosse noticiado em forma de vitória do Exército sobre os rebeldes, eles estavam sendo
noticiados e divulgados pelo país... Todos tomaram conhecimento da história e dos ideais
daqueles homens.
Trazemos nesse projeto, fontes diversificadas sobre o mesmo assunto; para que o mesmo
seja abordado da forma mais neutra e clara; visando, ainda, que o tema proposto proporciona
um diálogo entre as fontes apresentadas e os membros atuantes no movimento guerrilheiro.
Portanto, todos esses elementos serão estudados e analisados minunciosamente, para que sejam
expostos de forma coerente e para que não haja contradições nas ideias no decorrer do projeto.
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5. Hipótese
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6. Metodologia de Pesquisa
O Projeto tem, em seu foco principal, mostrar a realidade política vivida na época; não
somente na região em torno da Serra do Caparaó, mas também, todo complexo político que o
país vinha atravessando desde o Golpe de 1964. Assim como analisar como os atos, dos
envolvidos juntamente com os da população local, contribuíram para a derrota sofrida pelo
grupo. Para isso se fez o uso de depoimentos dos “Guerrilheiros” que estiveram presentes no
ato que ocorreu no fim de 1966 e início de 1967 na Serra do Caparaó, com o apoio de obras
historiográficas para dar veracidade a metodologia utilizada.
Ainda nos dia de hoje, a população local desconhece o que de fato ocorreu naqueles dias.
Mas uma coisa é fato, todos lembram daquele episódio tenebroso aos olhos dos civis locais.
Lembrar DA Revolta do Cabeludos (Nome pelo qual os moradores da Comunidade Paraíso –
Espera Feliz/MG – apelidaram o movimento) é o mesmo que reviver aqueles dias de
sofrimento, angústia e medo do iminente domínio comunista ao Pico da Bandeira, com a
intenção de escravizar a população da redondeza ou até mesmo matar a todos os moradores das
proximidades de seus acampamentos. Esse medo era fruto de uma propaganda anticomunista
viabilizada na época, todos propagavam a ideia negativa que pairava sobre o termo
COMUNISTA.
Mesmo com toda essa repercussão que generalizava toda e/ou qualquer manifestação da
esquerda como um “Levante comunista”, os homens que lá estavam não tinham uma ligação
direta com o partido, ou pelo menos, nem todos. Como afirma o ex-Sargento da Marinha
brasileira, Edval Melo:
Eu mesmo que não era militante de, assim de, nenhum partido; daí em diante, de
tanto me dizer que eu era comunista, que eu fui obrigado a saber, a me aprofundar
nessa área pra saber o que é que significava essa coisa toda. (FREDERICO, Flávio.
Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex Sargento da marinha brasileira Edval
Melo.
https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&=&t=2720s / 06:22 – 06:43)
O que não significa que, seu integrantes não fossem ligado de forma indireta ao Partido
comunista. O que queremos ressaltar aqui são os ideais do movimento, que foram manipulados
pelo governo da época, para garantir que esses opositores ao Governo não conseguissem o apoio
da população. Podemos ver no depoimento de Amadeu Felipe da Luz que sua linhagem
sanguínea e seus círculos de convivência eram todos de esquerda e que ele se declarava membro
do Partido Comunista; mas que sua indignação e luta nos movimentos não era com a finalidade
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de implantação de um Regime Comunista mas, sim, contra as injustiças ocorridas durante sal
atuação como militante, que vinha de muito antes do golpe de 1964.
Eu sou de família de esquerda: Meu pai era do exército, meu padrasto era oficial
do exército e era comunista. Quando fui eu, continuei isto né; este tipo de militância;
e também entrei no partido muito moço, muito menino; num partido Comunista. Daí
participei de todos os acontecimentos dentro das forças armadas. As primeiras vítimas
do golpe realmente são os sargentos, né. Os Sargentos são os “inimigos dos Generais”
né, era assim que eles nos enxergavam, e isso já era em cima de acontecimentos
anteriores: De 1955, que deram apoio ao Lote, pro Lote resistir ao golpe que queria
negar a posse do Juscelino né. Em 61 os sargento é quem garantiram, na verdade, a
constitucionalidade e garantiram a posse de Jango.
(FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex Sargento
do Exército brasileiro Amadeu Felipe da Luz.
https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&=&t=2720s / 01:59 – 02:58)
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Era uma Plead de jovens que não tinham, não tinham... Eram
tremendamente, é; puros de coração. Entendeu? Tremendamente puros
em seu pensamento. Que tentavam de alguma forma mostrar a
insensatez e o absurdo que foi a derrubada do Governo de Jango.
(FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex Sub
Tenente Paraquedista do Exército brasileiro Jelci Rodrigues Corrêa.
https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&=&t=2720s / 03:24 – 03:47)
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Observamos nos relatos que Brizola rejeitava os movimentos de Guerrilha, seu objetivo
eram os Levantes Populares, pois eram mais rápidos e eficazes do que uma Guerrilha. Sua
proposta inicial era justamente a implantação de Levantes Populares no Rio Grande do Sul que
depois se espalhariam pelo país. No entanto, todas as tentativas foram fracassadas e deu-se
então no andamento pelos processos de guerrilha. No exílio, Brizola, tinha uma necessidade
muito grande de reunir forças para apoiar os grupos que persistiam e idealizavam uma ação de
contragolpe.
Cuba se torna, então, a maior aliada. O Sociólogo Herbert José de Souza (O Betinho), que
também se encontrava exilado no Uruguai, teria sido o “embaixador” de Brizola em Cuba. O
apoio teria ocorrido, supostamente, de duas formas: Primeiramente como apoio financeiro e
numa segunda forma com treinamento de pessoal. Diz-se supostamente, pelo fato de não haver
comprovação de apoio financeiro vindo de Cuba para o movimento, no entanto o treinamento
de pessoal ficou claro na época, pois essa era uma forma usada por Fidel Castro para espalhar
“embriões revolucionários” por toda a América Latina.
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Nós queríamos era mostrar para o mundo, que no Brasil não estavam todo mundo
arriado não, que aqui existia gente reagindo, e nós resolvemos nos engajarmos nisso
aí e fomos para um treinamento, eu por exemplo, fui fazer um treinamento em Cuba.
A gente foi levado para uma província próximo de Havana chamada Pinar del Rio,
ficamos alguns meses na Serra nos deslocando, aprendendo, estudando com os
cubanos as experiências que eles tiveram.
(FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Civil, Ex
Bancário da Caixa Econômica Federal, Hermes Machado Neto.
https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&=&t=2720s / 15:26 – 16:06)
A região do Caparaó não foi a primeira e nem a única opção para se montar a Guerrilha,
estimava-se na formação de três grandes grupos no Brasil: Um na Serra do Caparaó, outro em
Mato Grosso, numa região da fronteira com a Bolívia; e um terceiro grupo na divisa dos estados
de Goiás e Maranhão. Antes disso, foi feito uma tentativa no sul do País, que teve seu fracasso
graças a um tiro deferido contra o Ex Sargento Arakem (que era quem escondia o material a ser
usado), por sua própria mulher por motivos de ciúmes; o que ocasionou e uma denúncia contra
o movimento que estava sendo organizado, foram presos o Ex Sargento Manoel Raimundo
Soares e o Próprio Araken. Após esse episódio, tentou-se ainda, um outro foco nas
proximidades de Criciúma – Santa Catarina; onde se estabeleceram o Ex Sub Tenente Jelcy
Rodrigues juntamente de seu irmão e sua cunhada; mas ironicamente, os rês foram confundidos
com assaltantes de Bancos que haviam atuando na Região e foram detidos, desmantelava-se
assim mais uma tentativa.
Com o fracasso dessas duas tentativas, se viram numa necessidade urgente de remoção e
proteção dos materiais já coletados para o movimento. O Ex Sargento Anivanir de Souza Leite,
natural de Manhumirim – MG, e conhecedor tanto dos movimentos quanto da Região
montanhosa de Minas; mantinha contato com as lideranças da POLítica OPerária (POLOP)
sugeriu ao grupo o uso da área por se tratar de um local estratégico.
Havia um contato com a POLOP, que um cidadão que é até primo do Juca
Chaves, Erich Sachs, era dirigente dessa POLOP, que era Política Operária. E ele
sabia desse local por que o Anivanir de Souza Leite, tinha contato com ele e já tinha
falado a respeito da Serra do Caparaó com ele e ele já tinha estado aqui. Então viemos,
eu o Juarez e o Anivanir, e nós começamos a analisar a localização e vimos né, que
era o ideal: Não tinha grandes corporações Militares nessa região e perto de Duas
Grandes Cidades, o que permitia então um entrosamento entre organização que ficasse
na Cidade e a organização que viesse pro campo.
(FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex Sargento
do Exército brasileiro Amadeu Felipe da Luz.
https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&=&t=2720s / 18:47 – 20:00)
Após analisar a viabilidade do local, foi feito a aquisição de uma propriedade nas
proximidades do Parque Nacional do Caparaó, onde seria usado como ponto de apoio de pessoal
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Viemos 17, não vieram os 17 de uma vez; fomos introduzindo de dois a dois, três a
três, um a um... Quando tínhamos os 17 no Sítio começamos o deslocamento aqui em
cima no Caparaó.
(FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex Sargento
do Exército brasileiro Amadeu Felipe da Luz.
https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&=&t=2720s / 21:17 – 21:34)
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Parque para a aquisição de suprimentos; e as mobilizações que eram feita inicialmente a noite
começaram a ser feita durante o dia com alguma frequência.
Até que cada um, por uma questão de segurança, tinha um pouquinho de
dinheiro, o seguinte, era um dinheiro também pouca coisa, uma passagem, no caso. E
tivemos que pegar esse dinheirinho de cada um e alguém, um ou dois, descer no
povoado ou num armazém e comprar uma determinada quantidade de alimento além
dos limites regionais; se você comprar a farinha de milho por exemplo, o pessoal do
lugar vai comprar meio quilo ou um quilo no armazém; mas para nós isso, nós éramos
um grupo, tinha que comprar no mínimo quatro ou cinco quilos; e isso já era um
motivo de suspeita né.
(FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex
marinheiro, Avelino Capitani.
https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&=&t=2720s / 36:16 – 36:59)
E foi a própria população que contribuiu para a queda do movimento, juntamente das ações
imprudentes dos próprios guerrilheiros que ocasionaram nas denúncias feitas À PMMG. Os
desconhecidos “barbudos” ou “Cabeludos” que se vestiam diferente dos moradores da região e
que estavam sempre armados, causaram pânico aos moradores, que começaram a pedir ao 11º
BI da PMMG, sediada na cidade de Manhuaçu, que investigassem e intervissem junto aos
moradores. Foram vários os relatos da presença dos homens em vários pontos distintos da mata
e vilarejos da região. A população que vinha sendo pressionada por todos os meios de
comunicação acessível da época sobre a opressão Comunista e sobre os planos de domínio do
País, não via outra opção a não ser denunciá-los a cada aparição.
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7. Quadro Teórico
Resgatar a História por meio de memória é sempre um desafio para os historiadores, pois
vivemos na “geração do esquecimento”, onde muito se perdeu e se perde ainda hoje, sobre os
fatos do passado. As tradições, as lembranças, as receitas, as rezas, entre tantas coisas; são
exemplos das modificações sofridas no decorrer do tempo.
A memória é um conhecimento que bebe das lembranças do passado, mas também é um
jogo de poder e interesse, que não necessariamente passam por uma pesquisa ou análise crítica
das fontes. Normalmente a memória glorifica ou demoniza o passado ou parte dele, mas
somente aquilo que ela deseja lembrar. Ela carrega julgamentos morais a respeito do eventos
que ela lembra e que podem ir mudando com o passar dos anos de acordo com interesses e
disputas atuais. E convenientemente, a memoria esconde elementos do passado que não servem
à narrativa do momento.
A memória tem um elemento afetivo muito forte. O acontecimento rememorado será
expresso de uma forma narrativa, pela qual o sujeito constrói um sentido ao próprio passado. A
História é uma reconstrução do passado que deve ser feita de forma crítica com respaldo teórico
e metodológico, além de passar por um conselho de aprovação composto por outros acadêmicos
da área. A Memória é um compartilhamento de lembranças e discursos acerca do passado, um
olhar para o passado ancorado nos interesses e visões do mundo presente, sem muito senso
crítico e sem a necessidade de uma metodologia. É um tipo de fonte muito usada pela História,
mas que não é considerada com História em sí mesma.
Os acontecimento vividos pessoalmente ou aqueles que fazem parte de nós. Por fazer parte
de um passado que nós queremos que seja único e verdadeiro. Certos grupos costumam
defender memórias que a História já desconstruiu através de pesquisas e críticas, por que eles
querem que sua memória seja única e verdadeira, e dizem que o resto seriam mentiras ou
“história dos vencedores”. Há personagens/indivíduos que sempre personificam as memórias
do passado, nesse caso pode-se dizer que a memória sempre será um retrato do passado de
forma simples, verídica e flexível.
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8. Referências Bibliográficas
Fontes Primárias
Depoimentos coletados para o Documentário:
FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó
Gênero: Documentário
Diretor: Flavio Frederico
Duração: 77 min Ano: 2006 País: Brasil UF: SP
Sinopse: O filme retrata a primeira tentativa de luta armada contra o regime militar no Brasil
pós 1964. No alto da Serra do Caparaó, em agosto de 1966, um grupo formado na sua maioria
por ex militares expurgados pelo regime, se instalou em condições precárias, na tentativa de
preparar o que seria o início de uma grande reação nacional contra o novo regime. O filme
pretende repensar o acontecimento, revelando passo a passo, a tentativa de se fazer uma "Sierra
Maestra" em terras brasileiras.
Testemunhos de:
a) Amadeu Felipe da Luz , ex Sargento do Exército Brasileiro.
b) Araken Vaz Galvão, ex Sargento do Exército Brasileiro.
c) Avelino Capitani, ex marinheiro.
d) Edival Melo, ex Sargento da Marinha brasileira.
e) Hermes Machado Neto, ex funcionário da Caixa Econômica Federal.
f) Jacinto Amaral Melo, Comandante do 11º Batalhão da PMMG em 1967.
g) Jelci Rodrigues Corrêa, ex Sub Tenente paraquedista do Exército Brasileiro.
h) José Caldas, Escritor e Jornalista .
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Fontes Secundárias
DELUMEAU, jeam. História do medo no Ocidente: 1300 – 1800, uma cidade sitiada. São
Paulo, Compainha da Letras, 1989.
GIREARDET, Raoul. Mitos e mitologias políticas, São Paulo, Compainha da Letras, 1987.
NORA, Pierre. Tradução: Yara Aun Khoury. Entre memória e História – A problemática dos
lugares. Projeto História. São Paulo. 1993.
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