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RESUMO
Este trabalho foi elaborado com o objetivo de estudar a adaptação do arco da personagem
título do primeiro volume da obra de Victor Hugo Os Miseráveis, Fantine, para o Musical
composto por Claude-Michel Schönberg. Para tanto, recorre-se a revisão de bibliografia
para estabelecer uma comparação entre a obra de Hugo e de Schonberg, observando a Te-
oria da Adaptação, comparando as composições elaboradas para a adaptação com o texto
original e destacando algumas diferenças. Para este estudo, utilizam-se as pesquisas de
Llosa (2012), Hutcheon (2013), Jeha (2004), Farias (2011). Com a pesquisa é possível afe-
rir que a adaptação deve ser compreendida como uma obra diferente da original, uma vez
que o trabalho de adaptar não diz respeito a fazer uma transcrição ponto-a-ponto da obra
original, mas de apresentar a visão do adaptador sobre ela.
ABSTRACT
This work aims to study the adaptation in the arc of the title-character in the first volu-
me of Victor Hugo’s work Les Miserables, Fantine, to the Musical composed by Clau-
de-Michel Schönberg. For this, we resort to the bibliographical revision to establish a
comparison between Hugo’s and Schönberg’s work, observing the Theory of Adaptation,
comparing the compositions elaborated for the adaptation with the original text and hi-
ghlighting some differences. For this study, are used the researches of Llosa (2012), Hu-
tcheon (2013), Jeha (2004), Farias (2011). This research allows to conclude that the adap-
tation must be comprehended as a work different from the original, once the adaptation
does not mean to make a transcription of the original work, but to present the adapter’s
view about it.
1 INTRODUÇÃO
Tratar de uma obra do porte de Os Miseráveis, do ponto de vista de uma adaptação, le-
vanta uma grande questão acerca da dimensão da obra, uma vez que o romance de Victor Hugo
é composto por cinco Volumes, que totalizam 48 livros, e uma edição em volume único da obra
pode chegar a 1.500 páginas. Desse modo, a obra tem um grande volume de personagens e ele-
mentos narrativos para compor toda a estrutura do romance e, para a criação de uma adaptação,
é necessário uma sintetização da obra para as 2 horas e 48 minutos de musical, apresentando a
visão de um adaptador acerca da obra adaptada.
Nessa perspectiva, a relação entre obra-adaptador-adaptação, é descrita por Linda Hu-
tcheon na obra Uma teoria da adaptação (2013), a qual afirma que a “[...] adaptação pode ser
um processo de apropriação, de tomada de posse da história de outra pessoa, que é filtrada, de
certo modo, por sua própria sensibilidade interesse e talento. Portanto, os adaptadores são pri-
meiramente intérpretes, depois criadores” (p. 43). Em um processo de leitura da obra original, o
adaptador se apropria da história criada por outra pessoa e, ao adaptá-la, apresenta uma leitura
segundo a visão do adaptador ou dos adaptadores daquela obra.
A adaptação, portanto, pode condensar a obra original para transmitir os elementos
considerados principais pelo responsável pela nova leitura. Este trabalho é descrito ainda por
Hutcheon como “Em geral, as adaptações, especialmente de romances longos, sugerem que o
trabalho do adaptador é o de subtrair e contrair” (2013, p. 43) isso é chamado por Abbott de
“arte cirúrgica” (apud HUTCHEON, 2013, p. 43).
Desse modo, podemos classificar a adaptação da obra de Hugo para o musical Os Miseráveis,
de Schönberg, ainda nas palavras de Hutcheon, como um “ato criativo e interpretativo de apropria-
ção/recuperação” (2013, p. 30), uma vez que o compositor apropria-se da obra original para adaptá-la
a sua maneira, na forma de musical, em um trabalho cirúrgico que compõe uma segunda obra.
O processo de adaptação, para Fischlin & Fortier, “[...] inclui quase toda alteração feita
em certas obras culturais do passado, vinculando-se, pois, a um processo de recriação cultural
mais amplo” (apud HUTCHEON, 2013, p. 30). Dentro dessa perspectiva do processo de cria-
ção cultural amplo, que envolve a adaptação, o processo de recriação tenta levar para a peça
final, o máximo do texto original, observando peças importantes que caracterizam a obra, desde
os personagens até a estrutura caraterística do romance.
Jean Pierre Chauvin, no artigo A pena de Victor Hugo em Os Miseráveis: Romance His-
toriográfico e reparação social (2014), afirma que
[...] na forma como a obra está organizada, a ordenação de suas “partes”, “livros” e
“capítulos” tanto permite obedecer a linearidade narrativa, quanto possibilita que o
leitor retome a leitura, em caráter pontual, dedicando novo olhar a respeito de deter-
minados episódios de sua preferência. (p. 22)
Revelando um elemento que não pode ser adaptado para o musical, a estrutura da obra
precisa ser condensada e simplificada para que elementos e personagens sejam apresentados
sem haver uma perda necessariamente prejudicial, uma vez que as passagens que marcarão o
musical são identificadas pelas passagens de tempo na narrativa. No mesmo sentido da estrutu-
ra organizacional adaptada, outro elemento importante na narrativa não é levado para a adapta-
ção, o Narrador, que segundo Chauvin
A figura do Narrador leva o leitor durante a narrativa, ele tudo sabe, tudo conhece e
tudo crítica, para Mário Vargas Llosa (2012), ele é o verdadeiro protagonista da narrativa; uma
onipresença que faz digressões com o leitor, ao mesmo tempo em que conta a história daquelas
personagens; e esse narrador é deixado de lado na adaptação, deixando a narrativa ser contada
pelas imagens e personagens.
A comparação entre adaptação e texto original neste trabalho não ocorre buscando es-
tabelecer semelhanças, uma vez que, como afirma Julio Jeha no artigo Veja o livro e leia o
filme: a tradução intersemiótica, “Não devemos procurar uma correspondência ponto-a-ponto
entre o livro e ofilme, pois, numa tal ponte semiótica, deveríamos apenas notar a conexão e
deixá-lanisso mesmo” (2004, p. 125) buscamos, portanto, observar o recurso de interpretação
empregado no trabalho do adaptador na composição do musical de reinterpretar para transmitir
a dramaticidade presente na obra e na vida da personagem Fantine, observando modificações e
condensações nas composições em relação ao texto original.
A personagem título do primeiro volume d’Os Miseráveis é apresentada ao longo das
quatro canções: At the End of the Day que apresenta a passagem de tempo após Valjean roubar
a prataria do Monsenhor Myriel, a apresentação de Fantine e sua demissão; seguida por The
Docks (Lovely Ladies) que corresponde a decadência de Fantine, enquanto ela busca arrecadar
os francos para sustentar Cosette, da venda dos cabelos até a prostituição; I Dreamed a Dream
que evidencia a tristeza de Fantine após sua ruína; Fantine’s Arrest que apresenta um breve
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Fantine era uma dessas criaturas que desabrocham, por assim dizer, do seio do povo.
Saída das mais insondáveis regiões das sombras sociais, trazia na fronte o sinal do
anônimo e do incógnito. Nascera em Montreuil-sur-mer. Quem foram seus pais?
Quem poderia dizer? Nunca souberam de seu pai nem de sua mãe. Por que se chama-
va Fantine? Nunca souberam que tivesse outro nome. Por ocasião de seu nascimento,
existia ainda o Diretório. Nada de sobrenome, já que não tinha família; nada de nome
de batismo, já que a igreja não estava mais lá. Tinha o nome que agradou ao primeiro
que a encontrou, pequenina, andando descalça pela rua. Recebeu um nome, como re-
cebia na fronte a água das nuvens quando chovia. Chamavam-se de pequena Fantine.
Ninguém sabia mais nada sobre ela. Essa criatura viera assim ao mundo. Aos dez anos
foi para Paris, “em busca de fortuna”. (HUGO, 2014, p. 162-163)
Sem família, sem sobrenome e até mesmo sem um nome, ela ganha Fantine de um
transeunte, essa jovem era invisível em meio a uma sociedade que abandonou os pequenos,
largados a insignificância de não possuir nem mesmo um nome ou uma identidade, para Glória
Gomide, no artigo Os Miseráveis de Victor Hugo: a invisibilidade através do nome (2014) “É
visível o descaso com que a sociedade da época trata quem não tem laços – apenas um nome,
apenas uma figura entre a multidão” (p. 61). Levando-nos à canção que marca a primeira passa-
gem de tempo, pode-se ver esse abandono nos versos da canção At the end of the day;
No fim do dia você está um dia mais frio;
E a camisa em suas costas não afasta o frio
E os Justos passam apressados;
Eles não ouvem os pequenos chorando
E a praga vem chegando, pronta para matar
Um dia mais perto da morte. (Tradução nossa)
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tanto, os recursos empregados através de carga simbólica podem ser usados para incutir de
sentidos presentes no texto às cenas das adaptações.
É importante ressaltar que a modificação entre a participação de Victurnien e do
Capataz não são as únicas alterações relevantes na adaptação, demissão da moça é feita
sem o conhecimento do Monsieur Madeleine; passagem que é descrita pelo narrador “Não
teve forças para dizer mais uma palavra; aconselharam-na a falar com o prefeito, mas não
se atreveu. Ele dera-lhe cinquenta francos porque era bom, e a expulsava por que era justo.
Ela vergou-se ao peso de tal sentença” (HUGO, 2014, p. 221). Seguindo por um caminho
mais curto, a adaptação não deixa implícita a divisão que Monsieur Madeleine mantinha
na fábrica, utilizando a figura do capataz para realizar a demissão, antes feita pela respon-
sável pela fábrica, no musical, as mulheres brigam por encontrar a carta dos Thénardier
pedindo dinheiro a Fantine; e são apartadas pelo próprio dono, como pode-se encontrar
nos versos a seguir:
Fantine ganhava pouquíssimo. Suas dívidas tinham crescido. Os Thénardier, mal pagos,
escreviam-lhe a todo instante cartas cujo conteúdo a preocupava, e cujas franquias a ar-
ruinavam. Um dia escreveram-lhe dizendo que a pequena Cosette estava praticamente
nua para o frio que fazia, que precisava de uma saia de lã, e que para isso era necessário
que a mãe remetesse dez francos. Recebeu a carta e ficou com ela nas mãos o dia todo.
(HUGO, 2014, p. 224)
A carta pedindo mais dinheiro leva Fantine a vender o que tinha, a primeira parte do
seu dote e, sem hesitar “À noite entrou em uma barbearia que ficava na esquina da rua, desfez
o penteado. Seus admiráveis cabelos louros caíram até a cintura” (HUGO, 2014, p. 224) o
barbeiro oferece a moça pelos os cabelos dourados, 10 francos, o suficiente para a criança. Na
canção que apresenta esta situação, quem assume a função de barbeiro é uma velha senhora:
Crone
What pretty hair!
What pretty locks you got there
What luck you got. It’s worth a centime, my dear
I’ll take the lot
Fantine
Don’t touch me! Leave me alone!
Crone
Let’s make a price.
I’ll give you all of ten francs,
Just think of that!
Fantine
It pays a debt
Crone
Just think of that
Fantine
Para carregar a ação com uma força dramática maior, na canção acima, podemos ver a
hesitação de Fantine em vender os cabelos, ao passo que entrega seu ouro para a sobrevivência
da filha, “Fantine pensou: “Minha filhinha não tem mais frio, a vesti com meus cabelos”(HUGO,
2014, p. 224-225), sem saber das mentiras contadas pelos Thénardier, Fantine começa sua rá-
pida decadência física e moral. É importante observar também a mudança de personagens, se
levamos em consideração a decadência de Fantine e o aspecto simbólico de carregar a Força do
cabelo, o fato de uma idosa comprá-los pode representar o enfraquecimento físico de Fantine
durante a narrativa.
É importante observar a afirmação de Gomide sobre o musical “Ao comentarmos essa
versão veremos que ela tem a força da emoção lírica” (GOMIDE, 2014, p. 66). As canções
carregam-se da dramaticidade do texto original, aliada à interpretação do elenco para atingir o
emocional do expectador
TOOTH MAN
Come over here,
It’s twenty francs for a tooth.
HEAD WHORE
Come here my dear.
I’ll pay well for your youth.
TOOTH MAN
The pain won’t last,
Idosa
Que belo cabelo!
Que belos cachos você tem
Que sorte você tem. Vale um cêntimo, querida
Eu compro a mercadoria
Fantine
Não me toque! Deixe-me!
Idosa
Vamos negociar.
Eu te darei dez francos,
pense a respeito!
Fantine
Isso paga uma dívida
Idosa
Pense a respeito
Fantine
O que posso fazer? Isso paga uma dívida.
Dez francos podem salvar minha pobre Cosette!
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HEAD WHORE
Just the back ones.
TOOTH MAN
I do it fast,
I know my business all right.
It’s worth a go.
FANTINE
You’ll pay me first
What I am due.
TOOTH MAN
You’ll get twice
If I take two!10
(2013, 00:24:22 – 00:24:50)
Sobre a venda dos dentes, que acontece antes da prostituição, estes comparam-se à
perola, a qual carrega o mesmo simbolismo de “pura porque é reputada sem defeito, porque
é branca, porque o fato de ser retirada de uma água lodosa ou de uma concha grosseira não a
altera” (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2015, p. 712), a entrega dos dentes antes do corpo
de Fantine a direciona ao fim da pureza de corpo valorizada por aquela sociedade, independente
das motivações puras da moça.
A prostituição chega para Fantine, no livro, ao receber uma cobrança de cem francos
dos Thénardier, não havendo como conseguir o dinheiro, a moça resolve então “Vender o resto”
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Dentista
Se aproxime,
São vinte francos por um dente.
Prostituta
Venha cá, querida.
Eu pago bem pela sua juventude.
Dentista
A dor não durará,
Você ainda poderá morder.
Prostituta
Só os de trás.
Dentista
Eu serei rápido,
Eu conheço bem o meu trabalho.
vale a tentativa.
Fantine
me pague primeiro
o que me é de direito.
Dentista
Você ganha o dobro
Se eu tirar dois!
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(HUGO, 2014, p. 229). O musical condensa essa cobrança, uma vez que as cobranças anteriores
deixam implícitas que há mais e maiores, desse modo, na canção Lovely ladies, Fantine traz o
cliente para a cama com os seguintes versos:
11 Venha, capitão,
Pode ficar de sapatos,
Não faça cerimônia
Para ter uma garota que não pode recusá-lo
Dinheiro fácil
Deitando em uma cama
Desde que não vejam o ódio em sua mente
Eles não sabem que estão fazendo amor
Com alguém que já se morreu!
12 Ele dormiu um verão ao meu lado
Encheu meus dias com infinitas maravilhas
Ele levou minha infância em seu passo
Mas ele se foi quando o outono veio.
E eu ainda sonho que ele voltará para mim
Que nós viveremos os anos juntos
Mas existem sonhos que não se realizarão
E há tempestades que não podemos enfrentar
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Há nesse fragmento uma romantização da relação entre Fantine e Tholomyès, pós rom-
pimento, em oposição ao texto original, no qual fantine retira do seu pensamento a lembrança do
pai de Cosette. Como podemos ver no trecho a seguir “Então ela pensou em Tholomyès, que dava
de ombros para sua filha e não levaria a sério aquela inocente criaturinha; e seu coração tornou-se
sombrio em relação àquele homem” (HUGO, 2014, p. 190), ao contrário da canção em que Fan-
tine admite que ainda espera por um retorno do homem que a abandonou, na obra, ele não mais é
mencionado pela personagem; o que não significa que o Narrador não o mencione:
Não teremos mais oportunidade para falar do senhor Félix Tholomyès. Limitemo-nos
a dizer que vinte anos mais tarde, no reinado de Luís Filipe, era um importante pro-
curador de província, influente e rico, eleitor circunspecto e jurado severíssimo, mas
sempre amigo dos prazeres. (HUGO, 2014, p. 190)
O personagem continua sua vida boemia, e essa é a única menção feita pelo narrador
sobre ele; que torna-se mais um nome omitido na adaptação.
A morte de Fantine ocorre de maneira diferente entre as duas obras, no livro VII Contragol-
pe, na sequência de ações dos capítulos II (Fantine feliz), III (Javert Satisfeito) e IV (A autoridade
retoma seus direitos); nos quais Fantine se encontra feliz por, em um estado avançado da doença que
a acomete, alucinar com a presença de sua filha, morrendo graças a um sobressalto causado pelo
confronto entre Javert e Monsieur Madeleine/Jean Valjean. Estas ações são separadas durante a can-
ção Fantine’s death, a qual, nos versos a seguir, nos mostra a entrega de Cosette a Madeleine:
Come to me
Cosette, the light is fading
Don’t you see
The evening star appearing
Come to me
And rest against my shoulder
How fast the minutes fly away
And every one is colder
[...]
Good monsieur
You come from god in heaven
Tell Cosette I love her, and I see her when I wake… 13
A adaptação da obra, como já foi citada por Jeha anteriormente, não busca a transposi-
ção ao pé da letra de cada fala do texto verbal Essa idealização inviabilizaria que Os Miseráveis
fossem vistos e lidos por diversas pessoas ao redor do mundo, dada a quantidade de adaptações
da obra para versões em quadrinhos, texto reduzido, filmes, séries, novelas e etc.
É fato que o leitor mais aficionado da obra, ao tomar conhecimento de uma adaptação,
tende a esperar uma adaptação de extrema fidelidade ao material original; não negando sua
insatisfação ao dar de cara a omissão de personagens, alteração de passagens e até mesmo a
releitura das crateras descritas por Llosa:
Esses momentos importantes da narrativa são, de acordo com a visão do grupo que
adapta, transpostos para o produto final, não da mesma maneira, mas buscando estabelecer a
ponte entre a memória e as sensações causadas pela leitura.
É importante observar, que como afirma Marina Fernanda Veiga dos Santos de Farias,
no artigo A Importância da Trilha Sonora como Elemento Comunicacional na composição de
Musicais: Uma Análise do Filme “Moulin Rouge - Amor Em Vermelho (2011),“O cinema é
muito mais do que arte, é magia e não é em vão que o cinema é chamada de sétima arte, pois
ela referencia todos os elementos para uma composição fílmica e ilumina e enriquece aqueles
pelo qual tem o prazer de assistir” (p. 08). Essa capacidade de referenciar que o cinema possui,
é um elemento importante na composição de musicais, especialmente quando originados em
obras literárias, tendo em vista que as imagens formadas pela obra original povoam a memória
do leitor. Desse modo, Llosa afirma que
Não é casual que essas imagens, já partes de nossa vida, pareçam resumir em seu vigor,
complexidade e delicadeza os romances de onde provêm, ser seu símbolo e sua síntese.
São isso: a vitalidade que emana delas se expande pelo entorno temporal e espacial e
contagia as histórias com sua carga emotiva, seu poder de sugestão. (2012, p. 49)
Essas imagens passam a fazer parte da vida do leitor, que simpatiza com esses personagens, tem
medo por eles, sofre com eles e anseia por um final feliz, então o adaptador de obras complexas deve,
inicialmente, buscar estabelecer essa relação entre personagem e expectador, fazendo valer a afirmação
de Farias, a de que “Todos os elementos de um filme agregam-se e ajudam a construir o contexto a ser
visto, em que o espectador envolve-se de tal forma, que muitas vezes se sente representado nas entreli-
nhas daquele roteiro, como o simples ato de chorar no final de um filme” (2011, p. 08).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, observamos que a adaptação d’Os Miseráveis para outras mídias
pode ser vista como um desafio, dada a complexidade da obra de Victor Hugo. Entretanto, é
necessário ressaltar que o trabalho de adaptação é exatamente este: adaptar; não transpor exa-
tamente o que está na obra original para a tela. A adaptação é uma obra independente, de certo
modo, da obra original, pois apresenta a visão de um grupo que trabalha em conjunto para a
composição de uma obra coletiva, apresentando a visão de roteiristas, compositores, figurinis-
tas, entre outros profissionais.
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REFERÊNCIAS
FARIAS, Marina Fernanda Veiga dos Santos de. A Importância Da Trilha Sonora Como
Elemento Comunicacional Na Composição De Musicais: Uma Análise Do Filme “Moulin
Rouge- Amor Em Vermelho”. In. XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região
Nordeste, 2011, Maceió. Anais eletrônicos... Maceió: Cesmac, 2011. Disponível em: <http://
www.intercom.org.br/papers/regionais/nordeste2011/resumos/R28-0113-1.pdf> Acesso em:
15 de fev. 2017.
HUGO, Victor. Fantine. In:______. Os Miseráveis: texto integral. Tradução de Regina Célia
de Oliveira. Edição Especial. São Paulo: Martin Claret, 2014, p. 41-342.
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JEHA, Julio. Veja o livro e leia o filme: a tradução intersemiótica. Todas as Letras (São
Paulo. Impresso), São Paulo, v. 6, n.6, p. 123-129, 2004.
LÉS MISERABLES. Direção: Tom Hooper. Produção: Tim Bevan, Eric Fellner, Debra
Hayward e Cameron Mackintosh. Intérpretes: Hugh Jackman; Russel Crowe; Anne Hathaway
e outros. Roteiro: Alain Boublil, Claude-Michel Schönberg e Herbert Kretzmer. Música:
Claude-Michel Schönberg. Reino Unido: Universal Studios, c2012. DVD (158MIN), Color.
LLOSA, Mário Vargas. A tentação do Impossível. Tradução Paulina Wacht e Ari Roitman.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
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