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áfrica
Introdução à história da África
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Introdução à história da África
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• A interação e miscigenação entre grupos humanos desde tempos
remotos, ao contrário do suposto isolamento das populações oriundas
de regiões específicas, esvazia a noção das raças geográficas.
• Os seres humanos pertencem todos à mesma espécie. O maior peso
da opinião científica indica que eles evoluíram de uma ancestralidade
comum iniciada na África.
• É maior a gama de variações genéticas ligadas às habilidades humanas
dentro de qualquer “raça” específica do que entre as raças geográficas.
• Os dados científicos indicam apenas diferenças minúsculas entre as “raças”
geográficas, e essas diferenças não estão ligadas à capacidade intelectual
ou à personalidade e constituição psicológica das pessoas.
4000 A.C. 700 A.C. 300 A.C. 0 300 D.C. 500 D.C. 1000 D.C. 1500 D.C. 2000 D.C.
Estados antigos
(Meroe, Núbia, Kush)
25ª Dinastia Outros Estados e impérios africanos
os Reis Núbios no Egito Escravidão Mercantil
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2.2 A natureza inédita da escravidão mercantil européia na África
É comum a alegação de que a escravização de africanos no contexto da
expansão européia e da colonização das Américas nada tinha de especial, pois
os africanos já escravizavam seus próprios irmãos e os europeus apenas se
engajavam em um comércio legítimo já estabelecido. Tal visão omite o aspecto
inédito e fundamental do escravismo mercantil europeu: com base nas teorias
racistas, que destituíam os africanos de sua condição humana, tornava-os
animais de carga ou ferramentas para geração de lucro, estampando-os com a
marca de uma inferioridade inata em que o cativeiro seria sua “salvação”.
As formas de servidão praticadas na África baseavam-se na captura de
prisioneiros de guerra. A condição servil era reversível e não reduzia o indivíduo
à condição de simples mercadoria. Além de manter intacta a sua humanidade,
o cativo gozava de certos direitos e ao sair da servidão podia elevar seu nível
social. Havia reinados em que era rigorosamente proibido mencionar a origem
servil de uma pessoa; assim, um antigo cativo podia tornar-se chefe de aldeia.
Quando, em algumas partes da África nos séculos XVIII e XIX, o tráfico tornou-
se prática maciça, tratava-se não de um fenômeno africano, mas da integração
das sociedades locais ao sistema econômico capitalista mundialmente
dominante.
Ademais, a enorme escala em que a escravidão mercantil operava na
África levou a um significativo processo de despovoamento do continente e
contribuiu para a desestruturação do seu processo de desenvolvimento. Nem
de longe essas conseqüências se comparam àquelas provocadas por formas
anteriores de servidão.
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2.4 Temas gerais da história africana
Aqui você vai estudar considerações breves, e portanto superficiais, sobre
temas que perpassam a experiência africana de modo geral, no intuito de
esboçar um quadro em que os Estados e Impérios listados na cronologia possam
ser contextualizados. Qualquer generalização, evidentemente, contempla as
exceções.
Núbia
Ao sul do Egito, Núbia – rica em ouro, ébano e cultura humana – acompanhou
as mais longínquas origens da cultura egípcia. Lá floresceu o império de Cush,
com capital em Napata, cujos dirigentes lideraram o próprio Egito durante o
período da 25ª dinastia (c. 750 a 660 a.C.). Mais tarde, o centro cushita desloca-
se para Méroe, de onde supõe-se que a tecnologia do ferro se espalha para o
sul e o ocidente da África. De aproximadamente 200 a.C. até o quarto século
da era cristã – em um período em que o Egito já se encontrava sob o domínio
macedônio e romano – o Império Meroítico de Cush tinha sua própria escrita,
construía grandes centros urbanos com templos e pirâmides, manufaturava
metais e engajava-se em um ativo comércio internacional com países remotos
como a Índia e a China.
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Axum
No norte da Etiópia, tem início no quinto século a.C. o Estado de Axum,
fruto de intensa interação africana com o sul da Arábia. Assim, a lenda da aliança
da rainha de Sabá com Salomão, sendo seu filho Menelik o mítico fundador da
Etiópia, não carece de fundamento histórico. A partir de aproximadamente 50
d.C., o porto de Adulis se tornaria um centro mundial de ativo comércio com a
Ásia através do oceano Índico. Adulis fazia parte de uma cadeia de portos que
subiam o litoral desde a região centro-africana. O rei Ezana de Axum, primeiro
monarca convertido ao cristianismo, derrotou Méroe no quarto século d.C. e
inaugurou a era do cristianismo etíope, fenômeno que recorda os três papas
africanos da igreja católica: Vítor I, que assumiu a cadeira papal em 189, Miltíades
(311), e Gelásio I (492). A cultura urbana de Axum daria origem a um dos mais
duradouros impérios da história. A Etiópia das dinastias zagüe e salomônicas
sucumbiria apenas à invasão da Itália fascista em 1935, reinstalando o imperador
Haile Selassie em 1941.
2.5.2 Os bérberes
Os descendentes dos migrantes do Saara-Sudão rumo ao norte, na época
da seca, são os bérberes, donos de uma língua e escrita próprias e de um denso
complexo de tradições culturais. Sem unificar-se em uma entidade política, os
reinados bérberes desenvolveram uma intensa atividade comercial responsável
pelo estabelecimento de intercâmbios pelo Saara com povos africanos ao
sul. A base desse comércio era a troca do sal e o cobre pelo ouro e o marfim.
Bérbere - O termo
Seu comércio mediterrâneo, em relação estreita com os fenícios, integrava o
designa um grupo interior da África aos circuitos do mundo antigo. Nem os fenícios e nem Roma,
lingüístico e não étnico
ao conquistar a região, conseguiu domar o espírito de independência e a
especificidade cultural dos bérberes.
2.5.5 O Islão
Embora externo ao continente africano, o Islão constitui uma matriz
civilizatória na medida em que sua expansão tem impacto importante sobre a
formação e/ou a sustentação de vários estados políticos. Cabe lembrar alguns
fatos básicos em relação a esse fenômeno, ressalvados os perigos de qualquer
generalização.
De forma geral, não se trata de uma superposição de elites ou classes
dirigentes “árabes” sobre sociedades e populações originais, muito embora
a expansão islâmica implicou em violentos conflitos, obrigando à supressão
de intensa resistência. Entretanto, as estruturas dos Estados islamizados
costumavam manter a forma descentralizada característica dos africanos. A
expressão “sociedades africanas islamizadas” reflete o fato de que os povos, as
sociedades e as estruturas de Estado preservavam a essência de sua identidade
africana.
Na maioria dos casos, a imposição da religião islâmica era relativa,
sobretudo fora dos grandes centros urbanos. As religiões e os costumes nativos
continuavam vigentes, mesmo que as lideranças locais ou as elites assumissem,
por vezes de forma bastante simbólica, a religião do prestígio e do poder.
A extensão e intensidade da influência cultural do Islão variam de acordo
com o lugar. De grosso modo, na África oriental dos grandes centros urbanos
medievais as populações absorveram de forma mais atenuada a prática e os
preceitos islâmicos, enquanto que em algumas áreas da África ocidental, o Islão
implantou-se de uma forma ortodoxa “mais realista que o rei”.
FIQUE DE OLHO
• Você aprendeu que o conhecimento científico indica a África como berço
da humanidade e do desenvolvimento civilizatório. Ao mesmo tempo,
ele nos demonstra que a velha divisão da humanidade em diferentes
“raças” carece de fundamento biológico, constituindo, na verdade, uma
construção histórica, cultural e social.
• Os sistemas de escravidão no mundo antigo variavam, porém todos
diferiam daquele praticado pelos europeus na África nos últimos
séculos.
• Os africanos viveram apenas uma ínfima parte de seu tempo histórico
amarrados aos grilhões da escravidão mercantil. Durante milênios, foram
agentes ativos do desenvolvimento da civilização humana em todo o
mundo.
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Cronologia resumida dos principais estados e civilizações que se iniciam até o século XVIII.
46
N.B. As datas citadas são apenas referências gerais, não se tratando de limites exatos no tempo.
Em geral, as primeiras datas citadas referem-se às mais distantes origens conhecidas e documentadas e as últimas datas referem-se.
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unidade I
áfrica
MEIO AMBIENTE, ANTIGOS ESTADOS POLÍTICOS
E REFERÊNCIAS TERRITORIAIS DA DIÁSPORA
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MEIO AMBIENTE, ANTIGOS ESTADOS POLÍTICOS E
REFERÊNCIAS TERRITORIAIS DA DIÁSPORA
Rafael Sanzio Araújo dos Anjos
Ao final dos estudos desta unidade, você terá subsídios para trabalhar com
os seguintes conteúdos em sala de aula:
• A importância da geografia e do território na investigação das
complexidades da sociedade.
• As grandes unidades ambientais do continente africano.
• A dinâmica geográfica secular do tráfico de povos africanos para a
América.
• As principais organizações políticas e Estados da África até o século XIX.
• Algumas referências territoriais de origem do tráfico na África para o
Brasil.
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À medida que nos afastamos do Equador, o clima continua úmido, mas as
temperaturas médias diminuem e a amplitude térmica aumenta, caracterizando
um clima tropical. Este ambiente de floresta tropical constitui o espaço de maior
devastação secular, principalmente pelas espécies de valor econômico, como o
ébano e o mogno africano.
Nas ocorrências de clima tropical continental ou semi-úmido, marcado por
duas estações bem definidas (uma seca no inverno e outra chuvosa no verão),
ocorre o domínio das savanas, que ocupam as maiores extensões na África.
Nestes mosaicos de cobertura vegetal está o habitat dos animais de grande
porte, como elefantes, girafas e rinocerontes. À medida que a latitude aumenta,
a umidade do ar e as chuvas ficam mais escassas, a ponto do clima tornar-se
semi-árido. Já a savana cede lugar às extensões de estepes, uma vegetação
rasteira formada por gramíneas e tufos de ervas, que margeiam o deserto. Na
transição do Saara para o ambiente tropical ao sul, esta faixa alongada que se
estende de oeste a leste, da Mauritânia à Etiópia, é chamada de Sahel (zona da
margem do deserto). Esta é a região da fronteira do mundo mulçumano, palco
de uma extensão de conflitos étnicos e religiosos e, conseqüentemente,de
guerras civis e tragédias.
Nas extensões continentais onde vão se instalar as altas pressões ou
anticiclones subtropicais vão ocorrer os grandes desertos da África. Dessa forma,
um terço do espaço africano é constituído por regiões áridas, marcadas pela
escassez e irregularidade da pluviosidade, e também pela baixíssima umidade
do ar e grande variação diária da temperatura.
Com aproximadamente nove milhões de quilômetros quadrados, o
deserto de Saara, no norte da África, vai se estender do oceano Atlântico ao
Mar Vermelho, com variações significativas no seu quadro natural, como por
exemplo: imensos campos de dunas (ergs), afloramentos e grandes planaltos
rochosos. A riqueza do seu subsolo, com grandes reservas de fosfato, gás
natural, ferro e petróleo, é o fio condutor nas explorações industriais (instalação
de refinarias, oleodutos e plataformas de exploração). É importante lembrar as
denominações regionalizadas do grande deserto, como: a Líbia, a Núbia (entre
o Egito e o Sudão), o Tenerê (no Níger), entre outras.
No espaço africano meridional, a aridez subtropical se revela em duas
extensões desérticas. A primeira delas é o deserto do Kalahari, caracterizado
por solos pedregosos de aproveitamento agrícola restrito, mas que possuem
um subsolo rico em minerais, como chumbo, cobre, urânio, e sobretudo,
diamantes. A segunda extensão é o deserto da Namíbia, localizado na faixa
litorânea. A sua formação é decorrente da transformação dos ventos úmidos
de oeste que, ao passarem pelas águas frias da corrente marítima de Benguela,
perdem a sua umidade e chegam quase secos nesta costa atlântica.
No território africano vão predominar os grandes planaltos, com altitude
média de 700 metros, com destaque para:
• os da Etiópia;
• os dos Grandes Lagos;
• os situados no maciço Abamaouá, que ocupa o território dos Camarões e
se estende até a Guiné, no lado Ocidental.
Entretanto, algumas cadeias de montanhas são relevantes como a do Atlas,
56 localizada no noroeste africano e de formação relativamente recente e a do
Drakensberg, situada no extremo sul e constituída por dobramentos antigos.
Os grandes dobramentos responsáveis pela formação das atuais cadeias
de montanhas, os maciços de rochas antigas, foram alterados pelas grandes
pressões. Devido a esse processo físico-químico, as rochas da parte leste da
África foram fraturadas, de maneira que alguns blocos se levantaram e outros
afundaram. As altas montanhas e planaltos foram originados a partir dos blocos
elevados e as fossas tectônicas surgiram dos que afundaram. Grandes lagos
como o Vitória, o Tanganica e o Malavi (antigo Niassa) se formaram sobre essas
fossas tectônicas.
Retorne ao mapa 1. Veja que ele mostra também a distribuição dos recursos
minerais e energéticos, informação básica para compreendermos a cobiça
pela dominação territorial que se processou, de forma secular, no continente
africano.
A expressão geográfica da riqueza mineral da África é um dos fios
condutores básicos para a compreensão do interesse e da exploração mais
intensa que ocorreu em algumas partes do continente e, também, em função
da sua importância em determinados momentos históricos. É relevante
destacar a concentração dos recursos minerais nos extremos sul e norte da
África, assim como na sua área central, que constituem os espaços cuja disputa
pela dominação ocorrem de forma bem evidente.
Por possuir esse extraordinário patrimônio mineral ,secularmente explorado,
a África poderia ser o continente mais rico do planeta.
Com uma área de 30.227.467 km², o continente africano é o terceiro do
mundo em extensão territorial. Está banhado ao norte pelo Mar Mediterrâneo,
ao sul pela junção dos oceanos Índico e Atlântico, a leste pelo Mar Vermelho
e o oceano Índico e a oeste pelo oceano Atlântico. Dessa maneira, a África
encontra-se protegida por dois oceanos, um imenso deserto e um litoral não
muito hospitaleiro, fatos geográficos que possibilitaram a sua permanência,
durante séculos, fora das rotas comerciais.
O isolamento nunca foi completo, o oceano Índico favoreceu o contato
entre a África central e o sul da Ásia, assim como o extremo norte da África
sentiu as influências do mundo mediterrâneo. A desertificação do Saara não
impediu, de modo absoluto, a comunicação entre o Mediterrâneo e a África
tropical. Esse deserto atuou como uma espécie de filtro natural, limitando a
penetração de influências do mundo europeu.
Árabes, indianos, chineses e outros povos orientais há muito mantinham
relações comerciais e miscigenavam-se com os povos africanos. No entanto, as
estruturas sociais mesclaram-se sem provocar rupturas violentas nas sociedades
africanas. Já os povos europeus hostilizaram a imagem dos trópicos, até o ponto
de firmarem teorias errôneas de que as realizações humanas são limitadas pelo
clima tropical.
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3. A Europa,a diáspora africana e os antigos Estados políticos
O período das grandes navegações e dos “descobrimentos” coincide com
o início do Renascimento, no qual a atividade mercantil vai abrir caminho para
a Revolução Industrial e para o Capitalismo. Este período da humanidade é
caracterizado por uma nova fase das relações entre os povos e entre estes e
a natureza. Em nenhum momento da história dos seres humanos tinha sido
necessária uma acumulação tão rápida de riquezas para a emergência de uma
nova classe e desenvolvimento de um novo sistema econômico e social.
A Europa, com seu território de dimensões reduzidas, pobreza mineral
e uma população insuficiente para ocupar e produzir nas “novas terras
descobertas”, nas quais os europeus haviam chegado nos séculos XV e XVI, vai
encontrar nessas mesmas terras os fatores de produção que lhe são escassos.
A exploração dos recursos naturais, por mão-de-obra escrava, principalmente a
extração dos minerais preciosos da América e da África, impulsionou o comércio
a longa distância e fortaleceu o poder central do Estado, passando a ser a base
do capitalismo comercial e financeiro na Europa e além dela.
O processo crescente de troca e comercialização de mercadorias na
Europa, (o mercantilismo europeu), entretanto, tinha pressa. Essa pressa não
permitia um relacionamento harmônico com as novas sociedades com as quais
entrava em contato. À medida que os povos europeus visavam tirar do meio
tropical tudo aquilo que pudessem oferecer ao seu mercado, delineava-se uma
missão civilizadora que desde então tratou de hostilizar a imagem dos trópicos,
chegando a elaborar teorias que afirmavam que as realizações humanas seriam
limitadas pelo clima tropical. Tais teorias desconsideravam os processos e as
forças históricas como fatores estruturadores do comportamento humano,
mesmo diante das influências dos elementos da natureza.
Não era somente a terra e suas riquezas que interessavam aos povos
europeus, mas também os seres humanos; os colonizadores precisavam de
mão-de-obra para realizar o cultivo e a exploração das minas.
A barreira das condições ambientais e a resistência dos povos africanos
à desestruturação de suas sociedades impuseram gradientes no território
atingido pela retirada de povos para serem escravizados. O tráfico de escravos
da África para a América foi, durante quase quatro séculos, uma das maiores
e mais rentáveis atividades para os negociantes europeus, a ponto de tornar
impossível a contagem precisa do número de africanos retirados de seu habitat,
com sua bagagem cultural, para serem, injustamente, incorporados às tarefas
básicas para formação de uma nova realidade.
Lutas sangrentas, violência, morte, crueldade, situações completamente
novas de deslocamentos e adaptações, tudo isso concorreu para os efeitos
multiplicadores do grande negócio que foi o tráfico de escravos. Do continente
europeu chegavam produtos alimentícios, como: azeite, queijos, vinhos, farinha
de trigo,bacalhau e produtos manufaturados, como ferramentas e tecidos. Do
Brasil e de outras regiões da América exportava-se couro, tabaco, madeiras,
farinha de mandioca, aguardente, derivados de baleia, açúcar e também
diamantes e ouro. Do Oriente vinham as louças, os tecidos, os móveis e outros
produtos (especiarias).
Observe no mapa 2 a dimensão global da diáspora africana, destacando a
dinâmica das principais rotas de deslocamento dos povos europeus e da África,
58
assim como as principais articulações econômicas do Capitalismo primitivo.
mapa 2
59
O mapa-múndi elaborado na projeção cartográfica de Arno Peters (1973)
conserva as reais proporções das terras emersas, elimina, portanto a visão do
mundo na perspectiva eurocêntrica (quando o hemisfério norte é representado
ocupando um terço do planeta). O mapa revela, também, a intensidade do fluxo
existente no oceano Atlântico, ao longo desses séculos (XV-XIX) e aponta o
triângulo econômico entre a África (seres humanos cativos), a América (trabalho
escravo, produtos e riquezas tropicais) e a Europa (acúmulo de riquezas,
enriquecimento e expansão territorial do Estado).
60
produtos manutarurados
África
homens cativos
Europa
mercadorias coloniais
América
LEG ENDA
OYO
ETIÓPIA LUANGO
EGITO KACONGO
BÉRBERES NDONGO
TAKRUR OVIBUNDU
IMPÉRIO MALI
Equador KUBA
KAARTA LUNDA
SEGU CONF.CHOANA
KANEM/BORNOU MONOMOTAPA
© PROJETO CARTOGRÁFICO E ADAPTAÇÃO HISTORIOGRÁFICA BY GEOG. RAFAEL SANZIO ARAÚJO DOS ANJOS. BRASÍLI
A - DF. CREA 15604/D PROJETO GEOGRAFIA AFRO-BRASILEIRA. CIGA - UNB. BRASÍLIA - DF. 2000 E-mail: cig
a@unb.br
figuram com mais evidência na historiografia africana até o século XIX, dentro
dos limites oferecidos pelas fontes. Observe.
Das organizações políticas que figuram entre as mais antigas no norte da
África oriental, destacamos os Impérios do Egito, do Sudão, da Núbia, o Turco
e da Etiópia. O primeiro deles constitui o mais reconhecido desses estados
políticos, com referências relevantes na história da humanidade, sobretudo,
pelo seu desenvolvimento tecnológico e a forma complexa e elaborada das
estruturas sociais.
62
A questão básica é que são poucas as referências de que o império egípcio,
de localização estratégica no Mar Mediterrâneo, fique no continente africano.
É Importante destacar também, a negligência e exclusão que os outros reinos
dessa região da África sofrem nas reconstituições históricas oficiais em relação
ao Império egípcio.
Na África Ocidental, que tem um vínculo maior com a formação do território
brasileiro, são muito importantes os Impérios de Ghana, Songhai e Mali, que em
função de seus próprios impulsos econômicos e culturais, criaram condições
para o desenvolvimento de outros estados vizinhos, que depois se tornariam
seus rivais.
O Império de Ghana,primeiro estado africano conhecido com precisão, tem
registros dos séculos IV a XI e, era também denominado de Império do Ouro.
Até a “descoberta” da América, este império era o principal fornecedor de ouro
e sal do mundo mediterrâneo e detentor das técnicas avançadas de mineração.
O seu fortalecimento político e militar tem sua origem neste comércio, via rotas
transaarianas, que incluía também, cobre e manufaturados do norte da África.
Uma importante referência do Império de Mali, com registro de expansão
no século XII, é cidade de Tumbuctu com a sua universidade que desenvolveu
pesquisas importantes para a astronomia. O Reino de Songhai com referências
nos séculos XIV e XV, tem na agricultura o seu principal desenvolvimento
tecnológico, principalmente a irrigação de áreas áridas.
Sem alcançar o poderio de Ghana, Songhai e Mali, outras formações
políticas desenvolveram-se por várias regiões africanas. No território da Bacia
do Congo, por exemplo, se configuraram, no final do século XIV, uma série de Bacia do Congo
- Esteve povoada por
reinos bantos com diferentes níveis de integração entre si. O Reino do Congo foi pigmeus (floresta) e
um dos maiores reinos constituídos no sul do Saara. Com registros no século XV bosquimanos (savana),
povos que desenvol-
e fundado por chefes guerreiros e bons caçadores, neste reino as atividades com viam uma economia
ferro e cobre na produção de ferramentas, como a enxada, o arado, machados e mercantil a partir da
conexão com os focos
instrumentos de guerra, são características marcantes dos povos bantos. comerciais da costa
oriental, testemunhada
pela presença de obje-
tos hindus e chineses
do século VIII a X.
4. Referências territoriais de origem de povos africanos e o Brasil
Povos africanos de impérios e reinos diferentes, portanto, com variadas
referências de estruturas sociais, organização política, matrizes tecnológicas e
culturais, vão ser a base do desenvolvimento do sistema escravista no Brasil,
que tem particularidades substanciais em relação às demais regiões da América.
A manutenção dessa estruturação política, econômica e territorial por quase
quatro séculos no território brasileiro e a quantidade de africanos importados
até 1850, não devidamente quantificada, mostra como a sociedade escravagista
conseguiu estabilizar-se e desenvolver-se.
Por outro lado, verifica-se que a continuidade da importação de escravos
conseguiu manter esse sistema por muitos séculos, utilizando-se de mecanismos
reguladores que substituíam o escravo morto ou inutilizado por outro
importado, sem que isso causasse desequilíbrios no custo das mercadorias por
ele produzidas.
Devemos ressaltar que foram as regiões geográficas do Brasil de interesse
econômico europeu que detiveram os maiores fluxos de populações africanas
escravizadas. Os mapas 4, 5, 6 e 7 mostram uma representação gráfica das 63
referências territoriais de origem,na África, do tráfico de povos escravizados
durante os quatro séculos .
No século XVI, a principal referência espacial é dada pelas regiões
caracterizadas como Alta e Baixa Guiné. Os escravos trazidos dessas regiões
foram encaminhados, principalmente, para as áreas açucareiras de Pernambuco
e da Bahia, mas também, foram levados para o Maranhão e o Grão-Pará.
Nos séculos XVII e XVIII, as mais importantes e duradouras extensões
territoriais das rotas do tráfico negreiro se constituiram: as Costas da Mina e
de Angola. Nesse período ocorreram os maiores volumes de povos africanos
transportados para o território brasileiro.
64
No século XVII o tráfico foi dinamizado na Costa de Angola, transportando
povos africanos para a Bahia, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro, São Paulo e
regiões do centro-sul do Brasil. Na Costa da Mina, o fluxo foi para as províncias
do Grão-Pará, Maranhão e para o território que, atualmente, é o Rio Grande do
Norte.
A primeira metade do século XIX foi caracterizada pelos vários tratados que
visavam a abolição do tráfico negreiro, o que no Brasil só ocorreu efetivamente
em 1850. Neste período, as ligações bilaterais entre os continentes africano e
americano foram desfeitas e as rotas do tráfico triangular entre a América, a
África e a Europa foram destruídas.
A extensão dos impérios africanos e a intensidade do comércio de povos
da África, ao longo dos séculos da diáspora, nos apontam para uma dimensão
ampla e de difícil reconstituição - a caracterização etnológica dos africanos
e de seus descendentes no Brasil.
Foram trazidos para constituir a formação do território brasileiro seres
humanos dos tipos: Minas, Congos, Angolas, Anjicos, Lundas, Quetos, Hauças, Caracterização etno-
lógica - Define qual
Fulas, Ijexás, Jalofos, Mandingas, Anagôs, Fons, Ardas, dentre muitos outros e a origem geográfica
outras, que possibilitaram o que podemos denominar de afro-brasileiros, ou seja, precisa dos grupos
étnicos deslocados ao
brasileiros de matriz africana ou população de ascendência africana. Entretanto, longo dos quase quatro
a referência geográfica precisa não possui uma resposta satisfatória. séculos de tráfico
65
FIQUE DE OLHO
• Podemos apontar a matriz africana presente no Brasil como uma das
principais referências culturais e étnicas da formação do nosso povo.
• Os povos europeus, e seu processo de dominação e exploração
do continente africano, acabaram por fixar uma imagem hostil dos
trópicos, como se eles estivessem cheios de forças naturais adversas ao
colonizador e ocupados por homens ditos indolentes. Essa imagem, que
foi sendo ampliada, não considerava os processos históricos como fatores
modeladores da organização social, mesmo diante dos elementos da
natureza. Nesse contexto, não é de causar espanto o lugar insignificante
e secundário que foi dedicado à geografia africana em todas as
interpretações e representações da humanidade.
• Possuidor de extraordinário patrimônio mineral, secularmente explorado,
a África poderia ser o continente mais rico do planeta.
• R econhece-se hoje que entre os vários fatores que fizeram com que os
povos europeus se voltassem para a África e a transformassem no maior
reservatório de mão-de-obra escrava, o principal deles foi a tradição dos
povos africanos de bons agricultores, ferreiros, construtores, mineradores e
detentores das mais avançadas tecnologias desenvolvidas nos trópicos.
• Uma das conseqüências geográficas mais graves dos processos espaciais
desencadeados pela diáspora africana foi a desestruturação dos antigos
Estados políticos do continente, componentes fundamentais para a
compreensão da amplitude das formas de organização social, política e
territorial dos povos africanos.
66
REFERÊNCIAS
68
69
unidade I
áfrica
ESTRUTURA ESPACIAL DO IMPERIALISMO,
independência política no século xx e o
contexto geopolítico contemporâneo
70
ESTRUTURA ESPACIAL DO IMPERIALISMO, A
INDEPENDÊNCIA POLÍTICA NO SÉCULO XX E O
CONTEXTO GEOPOLÍTICO CONTEMPORÂNEO
Rafael Sanzio Araújo dos Anjos
Ao final dos estudos desta unidade, você deverá ser capaz de abordar as
seguintes temáticas em sala de aula:
• Os componentes geográficos fundamentais do “imperialismo” no
continente africano.
• O movimento político-territorial de desestruturação das antigas colônias
européias na África.
• Algumas referências geográficas dos conflitos e tensões na África atual.
• aspectos fundamentais da educação geográfica africana no Brasil.
71
A necessidade econômica de ampliar o fornecimento de matérias-primas
para atender às nações insatisfeitas da Europa, bem como o aumento do prestígo
nacional e a busca de solução para o problema do crescimento demográfico
europeu eram os fatores fundamentais para o movimento de ocupação efetiva
do território africano no final do século XIX.
O processo de invasão territorial foi desencadeado por duas estratégias:
• a religião, com o envio de missionários;
• a ciência, com a expansão e financiamento das sociedades geográficas para
conhecimento e mapeamento do continete de penetração complicada.
No final do século XIX, alguns “parcelamentos” do território africano já se
encontram parcialmente apropriados, como:
• as duas áreas (costa de Angola e Mocambique) de controle português;
• as extensões britânica pulverizadas ao norte, ao sul, no leste e oeste do
continente;
• a presença francesa no norte e no oeste africano;
• o grande território desértico da Namíbia de domínio alemão;
• a ocupação belga na bacia do rio Congo;
• as grandes áreas no norte de soberania turca e no leste árabe.
Em 1844 será promovido na Alemanha um encontro estratégico, que ficou
conhecido como a “Conferência em Berlim”, cujo principal objetivo era ajustar
as diferenças internas do imperialismo para “dividir” o território africano.
Essas ações devastadoras de parcelar o continete sem o respeito a suas
unidades lingüísticas ou aos mosaicos culturais das sociedades, vão constituir
os pilares da desestruturação social profunda, que se desencadeará na África a
partir deste momento, em âmbito histórico e geográfico.
A intensão de domínio territorial dos ingleses, franceses e portugueses na
África era muito pretenciosa e estratégica, evidenciando-se áreas de conflitos.
A Inglaterra, pretendia dominar uma faixa de terras contínuas de norte a sul do
continente; a França, por sua vez, “queria” o norte da África, ligando o oceano
Atlântico ao Mar Vermelho, ficando no final da “partilha” com um território de
dominação próximo de vinte vezes a superfície da França. Portugal, a mais pobre
nação imperialista, pretendia adquirir a África Austral, a fim de se comunicar
com os oceanos Atlântico e Índico, ligando a faixa territorial de Angola à
Moçambique.
Esses e outros conflitos de pretensões territoriais foram ”apaziguados” na
Conferência de Berlim, concentrando-se os esforços, a partir daí, para a exploração
e a dominação mais efetiva dos territórios cobiçados. Dessa forma, vão tomar
impulso os grandes investimentos de mineração e agrícolas, sob o comando e
responsabilização das companhias concessionárias. A livre iniciativa do grande
capital passa a ser a tônica da dominação, representada pela intensificação do
trabalho forçado em todo o continente.
Este é o momento em que a África deixa de ser fornecedora de seres
humanos, para exploração do seu trabalho e tecnologia, para que suas sociedades
passem a ser exploradas e desestruturadas em seu próprio território.
72
O mapa 1 – que mostra as fronteiras de referência européia, portanto,
retilíneas e geométricas – mostra a divisão geopolítica efetivamente acordada
entre as potências européias no final do século XIX e início do século XX.
73
Observe, com atenção, algumas constatações espaciais dessa divisão,
meramente européia:
• O espaço de controle francês se concentra no noroeste, no centro da
África e na ilha de Madagascar.
• A Inglaterra, mais pretenciosa, assegura extensas áreas no eixo norte-sul
do continente, com outros territórios pulverizados no golfo da Guiné e
no extremo oeste.
• A Bélgica garante a extensão territorial que ocupa toda a bacia do rio
Congo.
• Os portugueses garantem os territórios de Angola e Moçambique na
África Austral.
• A região do deserto da Namíbia é delimitado de forma geométrica para
ser dominada pelo alemães.
• A Espanha e a Itália, duas nações imperialistas, aparecem com espaços
mais restritos.
A expansão do colonialismo e, posteriormente, do imperialismo trouxe
profundas transformações para as sociedades africanas. A desestruturação dos
antigos estados políticos, da agricultura tradicional, a introdução da privatização
da terra, o trabalho assalariado e o processo de urbanização, foram os fatores
que criaram as condições para o surgimento de novos estratos sociais.
Critérios éticos introduzidos na África pelos europeus criaram e reforçaram
as distinções entre dominadores e dominados. Estes mesmos critérios tornaram-
se os argumentos básicos para os povos europeus e africanos contestarem,
mais profundamente, a dominação. As universidades criadas no território
africano ajudaram a difundir um ensino que acabou revelando a importância e a
maneira como se organizavam no passado as sociedades africanas, conduzindo
a minoria privilegiada a se interrogar sobre a falta de liberdade, oportunidade,
educação e saúde para a população africana dominada. Estudaremos sobre
esse movimento político-territorial da desestruturação das colônias européias
no tópico a seguir.
75
Algumas referências espaciais são importantes:
1. Período anterior a 1949 – Neste período, destacam-se os contextos
territoriais do Egito e da África do Sul. O primeiro, antiga província do
Império Otomano, em 1882 foi ocupado pela Grã-Bretanha; em 1914 os
britânicos proclamam o protetorado sobre este território e somente em
1922 a independência é alcançada. A dominação racista no extremo sul da
África por esses europeus, a partir de 1815, vai ser marcada por violências
e agressões sociais. Em 1910, cria-se a União Sul Africana e em 1948 a
implementação efetiva do sistema aparthaid. A república independente
ocorrerá em 1961. A Libéria, território estruturado pelos Estados Unidos
para o retorno dos descendentes de africanos ao país, assim como a Etiópia
são registros de autonomia política deste período;
2. 1951-1959 – Na década de 1950 o processo de descolonização já
se mostra mais intenso com a expansão de conflitos e movimentos
nacionalistas. O final da Segunda Guerra Mundial é um dos grandes fatores
desencadeadores desse processo. Nesse período, houve a independência
política dos seguintes estados: Marrocos, Sudão, Líbia, Tunísia, Guiné e Gana
(antiga Costa do Ouro);
3. 1960-1969 – Este foi o período mais movimentado do processo de
descolonização na África. Mais de vinte estados vão se tornar independentes.
Com destaque para a Argélia, que desde 1954 vinha enfrentando uma
guerra, somente encerrada em 1962. Os “novos” países foram os seguintes:
Camarões, Togo, Malagaxe (Madagascar), Zaire (Congo Belga), Somália, Benin
(Daomé), Alto Volta, Costa do Marfim, Chade, República Centro-Africana,
Congo, Gabão, Senegal, Mali, Mauritânia, Serra Leoa, Rodésia, Tanzânia,
Burundi, Ruanda, Uganda, Malauí, Zâmbia, Gâmbia, Botsuana e Lesoto;
4. 1970-1979 – As independências de Angola e Moçambique, antigos
espaços explorados pelos portugueses, foram muito tensas e com guerras
prolongadas. Os interesses econômicos, representados pelo potencial das
plantações de café, jazidas de petróleo e mineração (ferro e diamante),
assim como as suas posições estratégicas, são os contextos financeiros e
geopolíticos que aparecem como “fundo principal” para explicar a resistência
portuguesa nos conflitos de independência. Em 1974, ocorre a vitória do
processo político na Guiné Bissau e em 1975 de Moçambique e Angola;
5. 1980-1989 – Esta é uma década sem registro de novos Estados
independentes, entretanto, em 1980, ocorre na Rodésia uma armada de
nacionalistas que depõe o governo rebelde e é implementada a República
do Zimbábue;
6. 1990-1999 – Nesse período, o mais recente, observa-se os processos de
independência política na Namíbia (1990) e na Eritréia (1993). No Zaire, após
uma rebelião que derruba o governo ditatorial, o Estado político passa a ser
chamado República Democrática do Congo.
A Segunda grande Guerra Mundial além de provocar, de fato, a ruptura
dos elos da colonização e do imperialismo no mundo, evidenciou a divisão
do planeta em dois blocos político-econômico-militar-territorial: o poderio
76
socialista, liderado pela União Soviética, e o bloco dos países industrializados,
com a liderança dos Estados Unidos da América. Nesse contexto, foi formulada
“a teoria dos três mundos”:
• 1° mundo – formado pelas duas superpotências;
• 2° mundo – formado pelos outros países industrializados;
• 3° mundo – formado pelos demais países.
Este é um conceito, já ultrapassado, mas que serviu, e ainda tem servido,
para fazer referência aos países que se encontram marginalizados no sistema
internacional.
77
O mapa 8 mostra a divisão oficial do continente, o nome dos países e a
situação dos principais conflitos político-territoriais ocorrentes na década de
1980.
78
O documento cartográfico revela o estado de desordem nas fronteiras;
a presença exaustiva de bases militares; o estado de tensão e de crise aguda
de vários países e a ocupação ilegal e invasão de territórios em pleno século
XX. Estes são contextos geopolíticos que revelam as dificuldades de equilibro
interno e inserção da África no contexto global.
O mapa 9 traz a divisão e a toponímia (nome oficial nos documentos
cartográficos) dos 52 países atuais do continente africano e revela os contextos
de conflitos territoriais, como guerra civil, guerrilha e conflito internacional
ainda existentes na África, no século XXI.
79
A herança de um processo de dominação territorial, que abandonou suas
ex-colônias sem planejamento e transferência do “poder” no sentido amplo, é
refletida neste grave quadro de conflitos no território africano.
O mundo e o olhar da comunidade internacional, descomprometidos com
uma paz durável e um verdadeiro desenvolvimento do continente africano, é
o “fundo” da continuidade e ampliação da extensão dos danos nas sociedades
africanas e nos “novos estados políticos” desenhados e divididos segundo os
critérios e interesses dos dominadores europeus, sem nenhum respeito aos
grupos étnicos.
O comércio de armas, o tráfico de drogas, a seca em vários países (Eritréia,
Somalia, Sudão e Etiópia), a corrupção, a falta de investimentos na saúde e
na higiene, os maus governos e ditaduras, a violação dos direitos humanos
constituem alguns dos problemas estruturais que dificultam a recuperação e
o desenvolvimento da África. Com uma área três vezes e meia maior que a do
Brasil e 800 milhões de habitantes, este é o continente onde 42% da população
ainda estão analfabetas; a expectativa de vida é de apenas 50 anos (nas unidades
políticas onde não ocorre conflito armado) e dos 52 países africanos, 40 estão
entre os 50 mais pobres do mundo (ONU, 2003).
O suficiente, o necessário, o durável ainda não foi feito pela África. O
mundo, a Europa, a América, tem grave responsabilidade nesse processo secular
de falência. Não é mais possível manter a ignorância sobre o que ocorre no
continente e sobre o que é preciso realizar para auxiliar na promoção e respeito
dos direitos humanos, no combate à corrupção, na garantia das liberdades
fundamentais, no apoio à democracia, nas eleições livres, na realização de
bons governos, na prevenção de conflitos, no fortalecimento das missões de
paz, ou seja, na transformação profunda, que o Brasil pode e deve intervir
nesse processo secular de reparação. Este é um importante momento, onde
a estatística que aponta o Estado brasileiro como a segunda maior nação de
ascendência africana do mundo, faz reforçar o comprometimento necessário
do país no auxílio às mudanças no “continente-mãe”.
Vamos estudar no próximo tópico alguns aspectos que vão mostrar a você
a importância geográfica do estudo da África nas escolas brasileiras.
81
O estudo do território africano requer uma permanente referência ao
momento histórico, ao tempo dos fatos, evidenciando-se uma íntima relação
entre o espaço geográfico e os eventos da História. Esta é uma das possibilidades
mais coerente para um processo educacional mais realista.
No tópico a seguir você vai encontrar algumas sugestões para auxiliar o
professor a adequar esses conteúdos em suas disciplinas.
FIQUE DE OLHO
• A necessidade econômica de ampliar o fornecimento de matérias-
primas para atender às nações insatisfeitas da Europa; o aumento do
prestígo nacional e a busca de solução para o problema do crescimento
demográfico europeu eram os fatores fundamentais para o movimento
de ocupação efetiva do território africano no final do século XIX.
• Em 1844, ocorreu na Alemanaha a “Conferência em Berlim”, cujo principal
objetivo era “dividir” o território africano entre os países da Europa.
• O parcelamento do continente africano sem o respeito a suas unidades
lingüísticas e aos mosaicos culturais das sociedades é um dos pilares da
desestruturação social profunda que vai se desencadear na África.
• A herança de um processo de dominação territorial que abandonou suas
ex-colônias sem planejamento e transferência do “poder” no sentido
amplo é refletido em um grave quadro de conflitos territoriais, como
guerra civil, guerrilha e conflito internacional, ainda existentes na África
do século XXI.
• D e uma maneira geral, a disciplina Geografia Africana não existe na
estrutura dos cursos e, quando ocorre, está inserida dentro de uma outra.
Existe, dessa maneira, uma precariedade de espaço real nas universidades
brasileiras para o desenvolvimento de conteúdos geográficos da África.
83
REFERÊNCIAS
85
unidade I
áfrica
A história africana nas escolas:
entre abordagens e perspectivas
86
A história africana nas escolas:
entre abordagens e perspectivas
88
1.3 Ensinar o que não foi aprendido. Será uma tarefa possível?
Parece-nos certo que, se nos cursos de licenciatura disciplinas como
história, arte, geografia e literatura africanas estivessem presentes nos currículos,
os futuros docentes não teriam tantas dificuldades em elaborar instrumentos
teóricos e metodológicos fundamentais para o tratamento da temática nas
escolas. Porém, de forma geral, não é esse o quadro encontrado no ensino
superior brasileiro, e, mais especificamente, nos cursos de história.
A falta de base em estudos africanos nas graduações, o acesso não
orientado aos estudos publicados e a insegurança para montar suas aulas,
figuram entre as principais justificavas utilizadas pelos professores para explicar
os prolongados esquecimentos que envolvem a África em nossas escolas.
Essas questões nos obrigam a reconhecer que o argumento, de que não se
pode ensinar o que não se aprendeu é bastante justo, mesmo que não justifique
um imobilismo absoluto. E, infelizmente, esse é um quadro que atinge ainda a
maioria dos alunos que freqüentam cursos de Licenciatura em história no país.
Para que você tenha uma idéia da situação, veja alguns dados sobre a
questão. Segundo as informações disponibilizadas pelo Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep) participaram do último Exame
Os dados apresenta-
Nacional de Cursos (ENC) realizado em 2003, duzentos e onze cursos de história. dos resultam de uma
Desses, de acordo com o levantamento efetuado a partir das grades horárias extensa busca por
meio da internet nas
disponibilizadas pelas instituições, apenas 68% – ou seja, 32% - ofertavam a páginas das instituições
disciplina História da África. mencionadas.
Apesar das impreci-
Mesmo que a maioria desses cursos tenha começado a oferecer a disciplina sões, pois alguns sites
apenas nos últimos cinco anos, e muitas vezes no conjunto de disciplinas encontravam-se indis-
poníveis ou desatua-
optativas, não podemos negar que esteja ocorrendo um avanço significativo lizados, a ferramenta
nessa área. Isso fica claro quando comparamos esse número com os dados utilizada é válida.
referentes ao período anterior a 1990. Salvo algumas poucas experiências, a
África não recebia atenção no Ensino Superior (Saraiva, 1995: 125-136).
89
Se tal realidade atinge diretamente os professores em formação, é certo
afirmar que os docentes que atuam há mais tempo no magistério não tiveram
muitas oportunidades de cursar em suas graduações matérias específicas sobre
a África. Neste caso, compete às secretarias de educação, ao Ministério da
Educação-MEC e às universidades ofertarem cursos de extensão, formação ou
especialização – presenciais ou a distância - em temáticas africanas.
35
30
29
0
A listagem completa
Fonte: levantamento efetuado pelo autor. dos livros pesquisados
está nas referências da
Unidade.
européia, que se estendeu dos meados do século XIX ao anos de 1970. Ele
abrange, portanto, o longo período que se estende desde o processo de
humanização, passando pelo aparecimento das primeiras civilizações e
atingindo os últimos seis milênios de história.
É necessário lembrar que se compararmos a atual configuração dos manuais
com o quadro encontrando há dez anos houve uma mudança importante. Até
1996, a África aparecia apenas como um apêndice da história européia ou do
Brasil. A inclusão de capítulos que versam sobre a história africana, mesmo com
limitações, pode ser entendida com um avanço chave.
Veja agora a análise de alguns acertos e desacertos apresentados nos onze
manuais escolares pesquisados.
tabela 2
números de páginas dedicadas à temática - livros
5
5,0
4,5
4,0
3,5
3
3,0
2,5
2
2,0
1,5
1
1,0
0,5
0,0
fonte: levantamento efetuado pelo autor
Menos de 10 páginas - 5 livros ou 45%
Não somos contra o
estudo desses objetos Entre 10 e 15 páginas - 2 livros ou 18%
históricos, pelo
contrário, eles podem e Entre 15 e 20 páginas - 2 livros ou 9%
devem ser trabalhados.
Seu tratamento em Com mais de 20 páginas - 3 livros ou 27%
sala de aula possibilita
a construção de novos
referenciais teóricos e
imagéticos acerca da
África por parte dos
3. A escolha dos assuntos e os recortes temáticos
alunos, além, é claro,
de serem retratos Uma postura recorrente observada nos manuais é a concentração das
concretos de certas abordagens nos grandes reinos e impérios africanos. Assim, as principais
realidades históricas
encontradas no informações concentram-se nas conhecidas experiências políticas de Gana,
continente. Mali, Songhai, Kongo ou Zimbabwe.
Nesse caso, compete lembrar que, em termos de orientação legal para a
No parecer
(003/2004) formulação dos manuais escolares, o Conselho Nacional de Educação orienta,
aprovado em 2004 entre outros pontos, para a abordagem, justamente, desses tópicos.
para regulamentar
a aplicação da Lei
10.639/03
92
Em História da África, tratada em perspectiva positiva, (...) serão abordados
temas relativos: (...) - à história da ancestralidade e religiosidade africana; - aos
núbios e aos egípcios, como civilizações que contribu íram decisivamente para
o desenvolvimento da humanidade; - às civilizações e organizações políticas
pré-coloniais, como os reinos do Mali, do Congo e do Zimbabwe - ao tráfico e
à escravidão do ponto de vista dos escravizados; - ao papel dos europeus, dos
asiáticos e também de africanos no tráfico; (...) (Conselho Nacional de Educa-
ção, 2004: 12).
Tabela 3
Abordagem sobre os “Reinos e Impérios” africanos
11
10
9
9
8
7
6
5
4
3
2
2
1
0
fonte: levantamento efetuado pelo autor
Aparecem como tema central - 82%
Citado apenas de forma secundária - 18%
93
As novas correntes de estudos africanistas revelam que, para além desse
recorte, existe uma variedade estimulante de abordagens sobre a história
africana, envolvendo as questões de:
• gênero:
• migrações:
• elaboração de padrões de organização política, econômica e social:
• valores estéticos, filosóficos e culturais,etc.
Tabela 4
Abordagem acerca da Escravidão Tradicional
11
10
9
8
7
7
6
5
4 4
3
2
1
0
fonte: levantamento efetuado pelo autor
Denominação de Tribal - 36%
Sem referências - 64%
94
Além disso, pelas explicações encontradas, com poucas exceções, os
alunos são levados a pensar que o tráfico de escravos aconteceu sob influência
exclusiva dos comerciantes árabes, europeus e americanos, ignorando a
participação de africanos no processo.
Tabela 5
Referência às sociedades africanas como Tribais
11
10
9
8
7
7
6
5
4
4
3
2
1
0
fonte: levantamento efetuado pelo autor
Livros em que existem comentários explicativos - 36%
Sem referências explicativas - 64%
95
Hoje, nos parece uma ação fora de seu tempo repetir essa terminologia,
mesmo sabendo que novos sentidos foram emprestados à nomenclatura pela
antropologia contemporânea. Acreditamos, no entanto, que no imaginário
geral o termo ainda se confunda com a primeira definição, sendo preciso evitá-
lo.
6. As imagens
No uso dos recursos imagéticos – mapas, fotografias, pinturas e desenhos
– encontra-se, na maioria dos livros (foram analisados apenas nove dos onze
manuais), uma realidade bastante estimulante.
Em relação às representações cartográficas percebemos a tentativa da
reprodução das fluídicas fronteiras construídas entre as diversas sociedades,
reinos e impérios africanos anteriores ao século XIX.
Já em relação às imagens - presentes em um bom número nos livros –
percebe-se a repetição de algumas representações que podem ser agrupadas
nas seguintes categorias:
• Padrões artísticos, estatuária e objetos – máscaras, instrumentos de uso
cotidiano, estátuas e objetos de arte/religiosos.
• Reinos e impérios – imagens da cidade de Tombuctu (no Mali), do Grande
Zimbábue, do Reino do Kongo, da Etiópia Cristã.
• Cenas da escravidão – imagens acerca da escravidão tradicional, atlântica,
árabe e do tráfico de escravos.
• Cenas cotidianas – referências aos comportamentos e práticas ligadas à
urbanística, trabalho, moradia, transporte e arquitetura.
• Fome, miséria e apartheid – imagens que, contextualizadas ou não, remetam
ao conjunto de referências e estereótipos comumente associados à
África.
• O Islamismo em África - mesquitas no Mali, comerciantes islâmicos e
práticas islâmicas.
Preste atenção!
Os recursos não devem ser tratados apenas como ilustrações para os textos,
mas sim como fontes históricas a serem exploradas e decifradas por professores
e alunos. Dessa forma seu uso se transforma em um importante instrumento
para a apresentação, entendimento e compreensão dos padrões arquitetônicos,
das religiosidades, das artes, dos cotidianos e das visões de mundo em África.
Terminada a leitura da análise dos livros didáticos é hora de iniciar a segunda
parte desta unidade. Aproveite a parada para fazer uma análise, você mesmo,
do material de ensino de história existente na sua escola. Como ele retrata a
história africana? Qual é o espaço dedicado ao tema? Que figuras aparecem?
96
Distribuição quantitativa das imagens - Total 108
29
21
15
13
12
10
8
África do Norte
África Ocidental
África Norte - Oriental
África Central
Sul - Oriental
África Meridional
África no Oceano Índico
Região Países
elaborada por Alberto
da Costa e Silva, com
quatro espaços.
103
Reorganizar definições, aplicar as perspectivas do relativismo cultural, atentar
para os anacronismos e imprecisões históricas são bons exercícios para nossos
estudantes.
Considerações finais
Acreditamos que, percorrida a breve abordagem acerca do ensino da
história africana, algumas dúvidas não foram respondidas e algumas trilhas
ficaram por percorrer. Talvez demore mais algum tempo para que possamos
– professores e alunos – abordar a África em sala de aula com desenvoltura e
de forma adequada. As limitações encontradas refletem, ao mesmo tempo em
que se relacionam, nos preconceitos existentes na sociedade brasileira e na
formação de professores dos ensinos fundamental e médio. Apesar de tudo
isso, não é com pessimismo que devemos olhar o presente e o futuro de nossas
abordagens escolares sobre os africanos. Novos tempos surgem.
Louve-se nesse sentido a atuação de alguns pesquisadores atentos à
questão, a ação legal do governo e do movimento negro. Ressalte-se a iniciativa
de Instituições de Ensino e de seus professores que têm promovido palestras,
cursos de extensão e oferecido ou proposto cursos de pós-graduação em
temáticas africanas. A obrigatoriedade de se estudar África nas graduações, a
abertura do mercado editorial - traduções e publicações - para o assunto, até
a maior cobrança de conteúdos acerca da África nos vestibulares são medidas
que possam aumentar o interesse pelo continente que compartilha conosco
a fronteira Atlântica. Talvez assim, em um esforço coletivo as coisas tendam a
mudar.
As histórias do Mali, do Kongo, do N’Dongo, do Zimbabwe, dos iorubás,
dos haúças, dos Umbundos ou Bacongos deveriam estar tão próximas de nós
quanto a história do Império Romano, de Portugal, da França, dos alemães e
romanos. Nossa ancestralidade encontra conexões profundas em ambas as
partes de nossos caminhos Atlânticos.
E, acima de tudo, fica a expectativa de que o momento vivido em relação
ao Ensino da História da África tenha longa vida, e, que permita, em um
futuro não muito distante, enxergarmos a África com outros olhares, menos
sobrecarregados de estigmas e preconceitos. Que a África ocupe sua posição
ao lado dos outros continentes no esforço de compreender e investigar a
trajetória e as realizações da humanidade. Inclusive nas escolas.
FIQUE DE OLHO
• É preciso ampliar os focos de pesquisa e ensino da
• África nas Universidades.
• É necessário ampliar e revisar a abordagem da história africana nos
manuais escolares.
• É essencial empregar corretamente as nomenclaturas quando formos
tratar a África com nossos alunos para evitar a repetição de leituras
simplistas e generalizantes.
104
Referências
Livros didáticos
APOLINÁRIO, Maria Raquel (org.). História: ensino fundamental. 6.ed.
Projeto Araribá. São Paulo: Moderna, 2003.
CADERNO DE EDUCAÇÃO DO ILÊ AIYÊ. África: ventre fértil do mundo.
Salvador: Ilê Aiyê, 2001.
CAMPOS, Flávio de et. al. O jogo da história: de corpo na América e de
alma na África. São Paulo: Moderna, 2003.
DREGUER, Ricardo; TOLEDO, Eliete. História: cotidiano e mentalidades.
7.ed. São Paulo: Atual, 2000.
JÚNIOR, Alfredo Boulos. História: sociedade e cidadania, 6. ed.. São
Paulo: FTD, 2003.
MACEDO, José Rivair; OLIVEIRA, Mariley W. Brasil: uma história em
construção, vol. 3. São Paulo: Editora do Brasil, 1996.
MARANHÃO, Ricardo; ANTUNES, Maria Fernanda. Trabalho e civilização:
uma história global. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1999.
MONTELLATO, Andrea; CABRINI, Conceição; JÚNIOR, Roberto Catelli.
História temática, 6ª série. São Paulo: Scipione, 2000.
MOZER, Sônia e TELLES, Vera. Descobrindo a história, 5ª série. São Paulo:
Ática, 2002.
RODRIGUE, Joelza Éster. História em documento: imagem e texto, 6ª
série. São Paulo: FTD, 2001.
SCHMIDT, Mario. Nova história crítica, 6ª série. São Paulo: Nova Geração,
1999.
Outros
ANJOS, Rafael Sanzio Araújo dos. “A Utilização dos Recursos da
Cartografia Conduzida para uma África Desmistificada.” HUMANIDADES,
n. 22, p. 12-32, 1989.
APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu pai. Rio de Janeiro:
Contraponto, 1997.
ATLAS NATIONAL GEOGRAPHIC. Madrid: National Geographic Society,
2005.
BIRMINGHAM, David. A África Central até 1870. Luanda: ENDIPU/UEE,
1982
BITTENCOURT, Marcelo. Possibilidades e dificuldades da pesquisa
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