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Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza – Profa. Ms. Alessandra Corrêa Farago
e Profa. Dra. Neusa Regina Pires Barbieri
FUNDAMENTOS E MÉTODOS
DO ENSINO DAS CIÊNCIAS
DA NATUREZA
Batatais
Claretiano
2014
© Ação Educacional Claretiana, 2014 – Batatais (SP)
Versão: dez./2014
500 F225f
ISBN: 978-85-8377-352-8
CDD 500
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Eduardo Henrique Marinheiro
Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Juliana Biggi
Dandara Louise Vieira Matavelli Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Elaine Aparecida de Lima Moraes Rafael Antonio Morotti
Josiane Marchiori Martins Rodrigo Ferreira Daverni
Sônia Galindo Melo
Lidiane Maria Magalini Talita Cristina Bartolomeu
Luciana A. Mani Adami Vanessa Vergani Machado
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Patrícia Alves Veronez Montera Projeto gráfico, diagramação e capa
Raquel Baptista Meneses Frata Eduardo de Oliveira Azevedo
Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
CRC
Conteúdo––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Histórico do Ensino de Ciências. Concepção de Ciências. Ciência, Tecnologia e
Sociedade. Ciências Naturais e cidadania. Concepções epistemológicas no Ensino
de Ciências. Ensino e aprendizagem das Ciências Naturais. Ensino de Ciências na
Educação Infantil. Pressupostos dos conhecimentos sobre a natureza e sociedade
na Educação Infantil. Ensino de Ciências no Ensino Fundamental. Ciências Naturais
no primeiro e segundo ciclo. Estratégias e recursos didáticos no Ensino de Ciências.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo!
Você está iniciando o estudo de Fundamentos e Métodos do
Ensino das Ciências da Natureza, que é uma das obras que com-
põem os Cursos de Graduação e que será desenvolvida na modali-
dade EaD. Descobriremos, juntos, todos os procedimentos neces-
sários para a sua iniciação nesta estudo.
Você precisará acompanhar as aulas com dedicação, admi-
nistrar bem seu tempo, interagir constantemente com seus tuto-
10 © Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza
Abordagem Geral
Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será estuda-
do neste material didático. Aqui, você entrará em contato com os as-
suntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a opor-
tunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade.
Esta Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento bá-
sico necessário, a partir do qual você possa construir um referen-
cial teórico com base sólida – científica e cultural –, para que, no
futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência
cognitiva, ética e responsabilidade social. Vamos começar nossa
aventura pela apresentação das ideias e dos princípios básicos que
fundamentam esta obra.
Durante este, você irá desenvolver uma postura investigati-
va e reflexiva diante do corpo de teorias que serão tratadas nesta
obra. Por meio da análise dos pressupostos teóricos e práticos do
Ensino das Ciências Naturais sob o ponto de vista técnico, humano,
tecnológico, científico e político-social.
Para isso, será importante você compreender conceitos, prin-
cípios e fenômenos e transitar pelos diferentes campos do saber,
incorporando procedimentos, valores e atitudes necessários à sua
prática profissional docente, a fim de ampliar a visão crítica sobre a
realidade do ensino e da aprendizagem, estabelecendo um espaço
de reflexão e ação sobre as teorias e práticas pedagógicas vigentes.
Glossário de Conceitos
O Glossário permite a você uma consulta rápida e precisa
das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio
dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimen-
to dos temas tratados em Fundamentos e Métodos do Ensino das
Ciências da Natureza. Veja, a seguir, a definição dos principais con-
ceitos:
1) Ação didática: "[...] refere-se à relação entre o aluno e a
matéria, com o objetivo de apropriar-se dela com a me-
diação do professor" (LIBÂNEO, 1994, p. 55).
2) Aprendizagem significativa: termo cunhado pelo psi-
cólogo da aprendizagem Ausubel. Ele define a apren-
dizagem significativa como o processo em que a nova
informação trazida pelo professor "ancora-se" nos co-
nhecimentos já existentes dos alunos, que são os conhe-
cimentos prévios. O que importa é que as aprendizagens
novas sejam vinculadas aos elementos da estrutura cog-
nitiva existente do aluno, a fim de que ele possa apreen-
der de forma significativa.
3) Capacidades cognoscitivas: "[...] são as energias mentais
disponíveis nos indivíduos, ativadas e desenvolvidas no
processo de ensino, em estreita relação com os conheci-
mentos. O desenvolvimento das capacidades se verifica
no decorrer do processo de assimilação de conhecimen-
tos e é, ao mesmo tempo, condição para a aquisição e
aplicação dos conhecimentos" (LIBÂNEO, 1994, p. 80).
4) Conhecimentos prévios: "[...] são os conhecimentos que
os alunos já possuem sobre o conteúdo concreto que se
propõe aprender, conhecimentos prévios que abrangem
tanto conhecimentos e informações sobre o próprio
conteúdo como conhecimentos que, de maneira direta
ou indireta, estão relacionados ou podem relacionar-se
com ele" (MIRAS, 2004, p. 61).
5) Conteúdo escolar: significa tudo o que se ensina e se
aprende formal ou informalmente na escola: fatos, con-
ceitos, procedimentos, normas, valores, atitudes. De
© Caderno de Referência de Conteúdo 17
Pedagogia Tradicional (LDB 4.024/61) Transmitir informações atualizadas
Histórico do Ensino
Ensino de Ciências
Pedagogia Tecnicista (Lei 5.692/71) Vivenciar o método científico
da Natureza.
de Ciências
Pedagogia Construtivista (LDB 9394/96 Pensar lógica e criticamente
Pedagogia Histórico‐crítica (Anos 2000) Analisar implicações sociais do
desenvolvimento científico e tecnológico
Princípios Metodológicos
do Ensino de Ciências Objetivo do Ensino de Ciências (Ed. Infantil) – Natureza e Sociedade
Compreender, observar e investigar o meio RCNEI (Referencial Curricular Nacional EDUCAÇÃO INFANTIL
natural por meio da curiosidade e da Educação Infantil)
experimentação.
OBJETIVOS
Objetivo do Ensino de Ciências (Ensino
Fundamental) – Compreender o mundo e atuar Ciências Naturais
PCNs ( Parâmetros Curriculares
ENSINO FUNDAMENTAL
como indivíduo e como cidadão, utilizando
conhecimentos científicos e tecnológicos. Nacionais)
Três grandes acepções integradas e complementares são:
Conceituais e Factuais ‐ Conjunto conceitual;
CORPO DE ‐ Forma de produção de conhecimentos
CONTEÚDOS Procedimentais
CONHECIMENTOS ‐ Modalidade de vínculo com o saber e sua produção.
Atitudinais
1) Ambiente; 2) Ser humano e Saúde;
Blocos Temáticos
3) Recursos Tecnológicos; 4) Terra e Universo
Problematização; Busca de informações em fontes variadas; Observação; Experimentação;
ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS Leitura de textos informativos; Sistematização de conhecimentos; Ensino com pesquisa; Aula
expositiva dialogada; Dramatização; Seminário; Estudo do meio; Pesquisa de campo e Projetos.
© Caderno de Referência de Conteúdo
PROCEDIMENTOS
DIDÁTICOS Laboratório; Audiovisual; Jogos; Portfólio; Livro didático.
26 © Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados. Responder, discu-
tir e comentar essas questões, relacionando-as com a prática do
ensino de História pode ser uma forma de você medir o seu co-
nhecimento, de ter contato com questões pertinentes ao assunto
tratado e de lhe ajudar na preparação para a prova final, que será
dissertativa. Além disso, é uma maneira privilegiada de você ad-
quirir uma formação sólida para a sua prática profissional.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
Dicas (motivacionais)
O estudo desta obra convida você a um olhar mais apurado
da educação como processo de emancipação do ser humano. Pro-
cure ficar atento às explicações teóricas, práticas, do senso comum
e científicas presentes nos meios de comunicação e partilhe com
seus colegas seus comentários. Ao compartilhar o que observamos
com outras pessoas, temos a oportunidade de perceber o que nós
ainda não sabemos, aprendendo a ver e notar o que não tínhamos
percebido antes, desenvolvendo, assim, discriminações. Observar é,
portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade.
© Caderno de Referência de Conteúdo 27
3. BIBLIOGRAFIA BÁSICA
CAMPOS, M. C. C.; NIGRO, R. G. Didática de Ciências: o ensino-aprendizagem como
investigação. São Paulo: FTD, 1999.
POZO, J. I. (Org.). A solução de problemas nas Ciências da Natureza. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1998.
WEISSMANN, H. (Org.). Didática das Ciências Naturais: contribuições e reflexões. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1998.
4. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ALVES, N. (Org.). Formação de professores de ciências: pensar e fazer. São Paulo: Cortez,
1993. (Série Questões de Nossa Época.)
ANASTASIOU, L. G. C.; ALVES, L. P. (Org.). Processos de ensinagem na universidade:
pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. 8 .ed. Joinville: Univille, 2009.
ARAÚJO, U. F. Temas transversais e a estratégia de projetos. São Paulo: Moderna, 2003.
ARRIBAS, S. D. Experiências de Física ao alcance de todas as escolas. Rio de Janeiro:
Ministério da Educação/FAE, 1988.
ASTOLFI, J. P.; DEVELAY, M. A didática das ciências. Tradução de Magda Sento Sé Fonseca.
8. ed. Campinas: Papirus, 2003.
AUSUBEL, D. et al. Psicologia educacional. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: ciências naturais. 2. ed. Brasília: DP&A, 2000. v. 4.
BUSQUETS, M. D et al. Temas transversais em educação: bases para uma formação
integral. Tradução de Cláudia Schilling. 2. ed. São Paulo: Ática, 1998.
CARRAHER, T. N. (Org.). Aprender pensando: contribuições da psicologia cognitiva para a
educação. Petrópolis: Vozes, 1993.
CARVALHO, A. M. P. Formação de professores de ciências: tendências e inovações. 3. ed.
São Paulo: Cortez, 1998.
CAMPOS, M. C. C.; NIGRO, R. G. As linguagens da Física. São Paulo: Ática, 1990.
______. O céu. São Paulo: Ática, 1993.
CAMPOS, M. C. C.; NIGRO, R. G. Didática das Ciências: o ensino-aprendizagem como
investigação. São Paulo: FTD, 1999.
COLL, C.; MARTÍN, E. et al. Aprender conteúdos & desenvolver capacidades. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de Ciências: fundamentos
e métodos. São Paulo: Cortez, 2003.
RACALANZA, H. et al. O Ensino de Ciências no 1º Grau. São Paulo: Atual, 1986.
GALLIANO, A. G. O método científico: teoria e prática. São Paulo: Harbra, 1986.
GASPAR, A. Experiências de Ciências para o 1º Grau. São Paulo: Ática, 1995.
GRESSLER, L. A. Pesquisa educacional. 3. ed. São Paulo: Loyola, 1989.
HENNIG, G. J. Metodologia do Ensino de Ciências. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1994.
HERNÁNDEZ, F. Transgressão e mudança na Educação: os projetos de trabalho. Tradução
de Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
HERNANDEZ, F; VENTURA, M. A organização do currículo por projetos de trabalho: o
conhecimento é um caleidoscópio. Tradução de Jussara Haubert Rodrigues. 5. ed. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1998.
JOULLIÉ, V.; MAFRA, W. Didática das ciências através de módulos instrucionais. Petrópolis:
Vozes, 8. edição, 1993.
KINDEL, E. A. I.; SILVA, F. W.; SAMMARCO, Y. M. (Orgs.). Educação ambiental: vários
olhares e várias práticas. 2. ed. Porto Alegre: Mediação, 2006.
© Caderno de Referência de Conteúdo 29
1
1. OBJETIVOS
• Conhecer o histórico das tendências pedagógicas predo-
minantes no Ensino de Ciências.
• Caracterizar o conhecimento científico e tecnológico
como atividades humanas de caráter histórico.
• Conhecer a evolução histórica do Ensino de Ciências, nor-
teando-se pelas legislações educacionais do Brasil.
2. CONTEÚDOS
• Histórico do Ensino de Ciências.
• Pedagogia Tradicional, a Lei de Diretrizes e Bases nº
4.024/61 e o Ensino de Ciências.
• Pedagogia Tecnicista, Lei nº 5.692/71 e o Ensino de Ciências.
• O Construtivismo e o Ensino de Ciências.
• A Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96 e o Ensino de Ciências.
• As tendências pedagógicas progressistas e o Ensino de
Ciências.
32 © Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza
Myriam Krasilchik
Myriam Krasilchik é professora emérita na área de Ensino
da Ciência e da Biologia da Faculdade de Educação da USP,
onde também já exerceu a função de diretora. É membro do
Conselho Universitário da USP e da Academia Paulista de
Educação. Em 1994, tornou-se a primeira mulher a assumir
a vice-reitoria da USP. Integrou a Câmara de Ensino Superior
do Conselho Nacional de Educação, desenvolveu pesquisas
pelas universidades de Londres, do Colorado e de Jerusalém
e participa da Comissão de Educação de Biologia da União
Internacional de Ciências Biológicas (imagem e texto adap-
tado disponíveis em: <http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2002/
jusp626/pag05a.htm>. Acesso em: 15 jun. de 2014).
© U1 - Ciência, Tecnologia e Sociedade 33
John Dewey
John Dewey graduou-se pela Universidade do
Vermont, em 1879, e exerceu as funções de professor
do secundário durante dois anos, tempo em que
desenvolveu um profundo interesse por Filosofia. Em
Setembro de 1882 deixou o ensino e começou a estudar
Filosofia na Universidade Johns Hopkins, onde obteve
o doutoramento. Dewey exerceu a função de professor
de Filosofia na Universidade de Michigan. Três anos
mais tarde (1887), publicava o seu primeiro livro,
Psychology, no qual propunha um sistema filosófico
que conjugava o estudo científico da Psicologia com a
filosofia idealista alemã. Esse livro foi importante para o
passo seguinte da carreira de Dewey: o cargo de professor de Filosofia Mental e
Moral na Universidade de Minnesota, que assumiu em 1888. Depois regressou
à Universidade de Michigan para se tornar chefe do Departamento de Filosofia.
Em 1894, no entanto, saiu de Michigan para a recém-criada Universidade de
Chicago, onde, em breve, passava a liderar o departamento de Filosofia e o
departamento de Pedagogia, criado por sua sugestão. Depois de problemas
graves na política interna do Departamento de Educação da Universidade
de Chicago, Dewey abandonou a instituição para se ligar à Universidade de
Columbia, em Nova Iorque, onde permaneceu até o fim da sua carreira no
ensino, em 1930. Continuou, no entanto, a ensinar como Professor Emérito até
1939 e continuou a escrever e a intervir socialmente até as vésperas da morte.
Entre suas obras, destacam-se The School and Society (A Escola e a Sociedade,
1889) e Experience and Education (Experiência e Educação, 1938).
Seu ideário criticava a "educação para a instrução", defendida por Herbart; com
isso, constata-se que fazia oposição às ideias apresentadas pela tendência
tradicional. Era contrário à escola como um local de transmissão de conhecimento
e propunha uma educação mais ativa no que se refere ao desenvolvimento
da criança, partindo da experiência, da vivência do aluno em seu meio social.
Esse importante filósofo acreditava na democracia e liberdade de pensamento
como instrumentos para desenvolver os indivíduos num todo, considerando o
crescimento físico, emocional e intelectual. Dewey, influenciado pela vertente
pragmatista, criou uma escola-laboratório para testar métodos pedagógicos. Ele
se preocupava em desfazer a dicotomia teoria-prática, pois acreditava que a
teoria só se faz quando é possível ser aplicada. Algumas de suas concepções são
enfatizadas até hoje: valorizar a capacidade de pensar dos alunos, preparando-os
para questionar a realidade; o aprendizado se dá compartilhando experiências,
em um ambiente democrático e com liberdade para pensar; promover situações
de cooperação e intercâmbio entre os alunos; propor para os alunos problemas
reais, para que eles estejam em constante experimentação; a escola não só
deve preparar para a vida, promovendo o constante desenvolvimento, mas ser a
própria vida; a experiência educativa reflexiva resulta em novos conhecimentos;
os conteúdos escolares devem ser propostos na forma de questões ou problemas;
reflexão e ação são parte de um todo indissociável; o educador deve descobrir
os verdadeiros interesses da criança, para que, apoiando-se nesses interesses,
possa propor verdadeiras experiências de aprendizagem (imagem e texto
disponíveis em: <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2002/08/15/000.
htm>. Acesso em: 11 abr. 2014).
Rheta DeVries
Rheta DeVries é Ph.D. em Psicologia, diretora do
Regent’s Center para o Desenvolvimento Educacional
e, também, professora de Currículo e Instrução da
Universidade do Norte de Iowa, EUA. DeVries é coautora,
entre outros livros, de A ética na Educação Infantil (1997)
e O conhecimento físico na educação préescolar (2000),
ambos editados pela editora Artes Médicas (imagem e
texto adaptado disponíveis em: <http://www2.education.
uiowa.edu/html/iae/Pages/bio-devries.html>. Acesso em:
20 jun. 2014).
Jean Piaget
Jean Piaget (1896-1980) foi um teórico da educação
e psicólogo suíço, considerado um dos maiores no
segmento da educação no século 20. Foi o fundador
da epistemologia genética, cujo estudo central é a
investigação da gênese e desenvolvimento psicológico
do pensamento humano (imagem disponível em:
<http://1sadieparish.wordpress.com/2013/10/24/jean-
piaget-stages-of-cognitive-development/>. Acesso em: 20
jun. 2014. Texto disponível em: <http://www.e-biografias.
net/jean_piaget/>. Acesso em: 16 jun. 2014).
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Quero saber quantas estrelas tem no céu
Quero saber quantos peixes tem no mar
Quero saber quantos raios tem o sol
(GUABIRABA; VIEIRA, 1988, p. 15).
Figura 1 Escola-laboratório.
Década de 1970
Na década de 1970, a partir da promulgação da Lei nº
5.692/71, o Ensino de Ciências Naturais passou a ser obrigatório
nas oito séries do primeiro grau.
Nesse período, a preocupação voltou-se para um modelo
de ensino ajustado ao uso do método científico, infundido pelas
teorias behavioristas da aprendizagem e da abordagem sistêmica
do ensino, ficando conhecido como "tecnicismo educacional", ou
"tendência tecnicista".
O método científico estrutura-se em:
1) observação;
2) levantamento do problema;
3) elaboração de hipótese;
4) realização de experimento e generalização.
Esse tecnicismo educacional pôde ser constatado nos pro-
gramas oficiais que eram elaborados para serem implementados
nos sistemas de ensino (no âmbito estadual ou federal). Tais pro-
gramas passaram a diversificar suas atividades, produzir recursos
audiovisuais, materiais complementares, entre outros, pois se
acreditava que apenas a qualidade do material seria suficiente
para garantir uma uniformidade do Ensino de Ciências, além da
garantia da aplicação maciça e "supostamente" bem-sucedida
(KRASILCHIK, 1987).
Década de 1980
No início dos anos oitenta, a abertura política decorrente do
final do regime militar possibilitou a mobilização dos educadores
em busca de uma escola mais crítica e mais participativa nas trans-
formações sociais, econômicas e políticas, visando melhores con-
dições sociais.
Nesse momento histórico, a análise das questões metodo-
lógicas que permeiam o Ensino de Ciências passou a dar ênfase
ao processo de construção do conhecimento científico pelo aluno.
Assim, algumas linhas de abordagem da Psicologia revela-
ram haver conceitos espontâneos, alternativos, intuitivos, ou pre-
concepções, acerca dos fenômenos naturais.
No campo das Ciências, inspirado pelas pedagogias vigentes
nos anos de 1980, houve um movimento realizado por especialis-
tas com a finalidade de resgatar o emprego do método científico,
mas dando um novo sentido e direcionamento ao processo educa-
Década de 1990
No início da década de 1990, o Brasil, juntamente com os
nove países em desenvolvimento de maior contingente popula-
cional do mundo, participou da Conferência Mundial de Educação
para Todos.
Dessa conferência originaram-se algumas propostas pedagó-
gicas reveladas na Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/ 96, que evi-
denciou a necessidade de tornar universal o Ensino Fundamental.
Posterior a isso, tivemos, em 2004, a expansão do Ensino Funda-
mental para nove anos, o que evidenciou o aumento das oportuni-
dades de aprendizagem de nossas crianças.
Nesse sentido, o Ministério da Educação (MEC) coordenou a
elaboração de um conjunto de diretrizes políticas voltadas para a
recuperação e ampliação da Escola Fundamental.
Nesse momento histórico, o Brasil classificava-se entre os
países em desenvolvimento e apresentava uma sociedade com in-
tensos e rápidos avanços nas áreas de Ciência e Tecnologia. Contu-
© U1 - Ciência, Tecnologia e Sociedade 49
aos seus alunos, os quais deverão, por sua vez, ter ampla margem
de controle e autonomia no seu aprendizado.
Segundo Mizukami (1986), não existe um "método" constru-
tivista, pois não nos referimos a técnicas ou estratégias de como
ensinar mais e como a criança aprende. O que existe é uma "teoria
de conhecimento", de desenvolvimento humano, que traz implica-
ções para o ensinar, cujo nome é "Construtivismo".
Nessa tendência, uma das implicações fundamentais é a de
que a inteligência se constrói a partir da troca do organismo com
o meio, por meio das ações do indivíduo, ou seja, por meio das
interações sociais (MIZUKAMI, 1986).
O que podemos indicar com base na ideia de como o indi-
víduo aprende é a importância do ensino com pesquisa por parte
do aluno, a utilização de jogos e os trabalhos em grupo, potencia-
lizando o aprendizado das crianças por meio da problematização
do conhecimento.
Outra situação pedagógica para potencializar o processo de
construção do conhecimento é a interação com o outro. Sabemos
que toda aprendizagem é uma construção social, isto é, aprende-
-se entre todos, em contato com algo ou com alguém.
Não só o professor ensina e produz pensamento criativo;
também os colegas, ao trabalharem juntos, ao discutirem pontos
de vista, ensinam muito. Na interação em duplas, por exemplo, a
produção fica sensivelmente melhor do que se cada um tivesse
feito separadamente.
Para a formação dos grupos, o professor deve pensar sem-
pre em como um aluno contribuirá com o outro no momento da
interação.
A possibilidade de intercâmbio do aluno com os materiais e
as atividades e com o professor e os colegas exige que se organize
a aula de tal forma que permita ao aluno, em algumas vezes, traba-
lhar sozinho e, em outras, trabalhar com seus colegas.
Década de 2000
No Brasil, a pedagogia histórico-crítica foi idealizada pelo
educador brasileiro Dermeval Saviani, que inicia o processo de di-
vulgação dessa pedagogia com a publicação do livro Escola e de-
mocracia, cuja primeira publicação foi em 1983 e teve uma enor-
me adesão no meio acadêmico por apresentar um panorama das
diferentes tendências pedagógicas em dois grandes grupos. O pri-
meiro grupo das pedagogias não críticas, composto por tendência
pedagógica tradicional, tendência pedagógica escolanovista, ou
renovada, e a tendência pedagógica tecnicista; e o segundo grupo
das teorias crítico-reprodutivistas.
© U1 - Ciência, Tecnologia e Sociedade 57
6. TEXTOS COMPLEMENTARES
Acreditamos ser importante salientar que a visão de Ciên-
cia a ser difundida entre os alunos da Educação Básica deva ter a
perspectiva de provisoriedade e incerteza diante das constantes
pesquisas e inovações científicas e tecnológicas presentes na so-
ciedade contemporânea. Dessa forma, contamos com o artigo de
Eduardo Fleury Mortimer e Wildson Luiz Pereira dos Santos, pu-
blicado na revista Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, que
menciona que os diversos ensinos de CTS (MORTIMER; SANTOS,
2010, p. 1):
[...] deveriam apontar para o caráter provisório e incerto das teo-
rias científicas. Com tal compreensão, os alunos poderiam avaliar
as aplicações da ciência, levando em conta as opiniões controver-
tidas dos especialistas. Ao contrário, com uma visão de ciência
como algo absolutamente verdadeiro e acabado, os alunos terão
dificuldade de aceitar a possibilidade de duas ou mais alternativas
para resolver um determinado problema. O conteúdo referente às
ciências dos currículos de CTS incluem, assim, aspectos relativos a
estudos políticos de ciência, mais vinculados às questões sociais
externas à comunidade científica (conservação de energia, cresci-
mento populacional, efeitos da energia nuclear etc.) e a aspectos
da ciência vinculados às questões internas à comunidade científica,
relacionadas à sua epistemologia e filosofia.
7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar
as questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta
unidade.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar seu desempenho. Se você encontrar dificuldade em
responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estu-
dados para sanar as suas dúvidas. Este é um momento ideal para
que você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na
Educação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de
forma cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas
descobertas com seus colegas.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Como ocorreu a evolução de Ensino de Ciências ao longo dos tempos?
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) O Ensino de Ciências foi passando por grandes evoluções ao longo dos tem-
pos, oriundas da revolução científica e tecnológica por que temos passado.
Na década de 1950, os objetivos do Ensino de Ciências eram transmitir infor-
mações atualizadas; em 1960 e 1970, o objetivo era que os alunos vivencias-
sem o método científico; já em 1980 e 1990, o Ensino de Ciências começou
ser movido pela necessidade de pensar lógica e criticamente; nos anos 2000
e 2010, houve a necessidade de estudar Ciências pautando-se na análise das
implicações sociais do desenvolvimento científico e tecnológico.
8. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, vimos que historicamente o Ensino de Ciên-
cias privilegiou diferentes possibilidades de explicações sobre o
mundo, os fenômenos da natureza e as transformações produzi-
das pelo homem, podendo ser apresentadas, comparadas e con-
frontadas em diferentes perspectivas e momentos históricos.
O nosso objetivo, ao apresentar esse panorama histórico, é
a evidência de que o professor precisa ter clara qual a fundamen-
tação teórica que sustenta a sua prática pedagógica, ou seja, qual
a tendência pedagógica escolhida por ele para atuar em sala de
aula.
As reflexões a respeito dessas questões são relevantes para
que se esclareça o pressuposto pedagógico que permeia a prática
pedagógica, na tentativa de ter coerência entre o que se pensa
estar fazendo como professor e o que realmente se faz.
Além disso, o Ensino de Ciências deve apresentar aos nossos
alunos os fenômenos científicos, deixando que eles formulem hi-
poteticamente suas definições e interpretações, a fim de compre-
ender de forma mais contextualizada a Ciência que se faz presente
no mundo que os cercam.
Consideramos que a Educação Básica não pode ensinar Ci-
ências como algo fragmentado e enciclopédico, voltado apenas
para compreender conteúdos ou conceitos estanques e tratados
de forma descontextualizada. Dessa forma, o indivíduo que está
em processo de aprendizagem não está sendo tratado como um
cidadão que deva entender os fenômenos científicos para ampliar
suas possibilidades de participação plena e inserção social em con-
textos futuros.
Para que você compreenda melhor a linha do tempo deline-
ada nesta unidade, apresentamos, a seguir, o Quadro 1, traçando
um panorama histórico sobre a evolução do Ensino de Ciências:
© U1 - Ciência, Tecnologia e Sociedade 65
Problemas Guerra
Situação mundial Guerra Fria Crise energética Globalização
ambientais tecnológica
Formar cidadão
Objetivos do Preparar Formar cidadão trabalhador para
Formar elite Formar cidadão
ensino trabalhador trabalhador prosseguir seus
estudos
Políticas de PCNs (Parâmetros
organização do Programas rígidos Propostas curriculares estaduais Curriculares
currículo Nacionais)
Influências Comportamen
preponderantes Escola Nova Tradicional talismo Cognitivismo Histórico‐crítica
no ensino + Cognitivismo
Objetivos da
Transmitir Analisar implicações sociais do
renovação no Vivenciar o método Pensar lógica e
informações desenvolvimento científico e
Ensino de científico criticamente
atualizadas tecnológico
Ciências
Atividade
Visão da Ciência Evolução histórica Produto de contexto econômico,
neutra Atividade com
no currículo da enfatizando o político, social e de movimentos
enfatizando implicações sociais
escola processo intrínsecos
produtos
Laboratórios + Jogos e simulações;
Metodologia Laboratório
discussões de Resolução de problemas;
recomendada (aulas práticas)
pesquisa (projetos) Jogos: exercícios no computador.
Fonte: adaptado de Krasilchik (2005, p. 22).
9. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 Escola-laboratório. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/img/
historia/022-dewey-02.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2014.
Figura 2 Sala de aula tradicional. Disponível em: <http://www.experimentum.org/blog/
wp-content/uploads/2010/03/Sala-de-Aula.jpg>. Acesso em: 14 abr. 2014.
Figura 3 Avanços Tecnológicos. Disponível em: <http://www.jornaldaciencia.org.br/
charges.jsp>. Acesso em: 14 abr. 2014.
Sites pesquisados
ARGENTO, H. Teoria sócio-construtivista ou sócio-histórica. Disponível em: <http://www.
robertexto.com/archivo1/socio_construtivista.htm>. Acesso em: 14 abr. 2014.
KRASILCHIK, M. Reformas e realidade: o caso do ensino das ciências. São Paulo em
Perspectiva, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 22- 39, jan./mar. 2000. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392000000100010&lng=pt&
nrm=iso>. Acesso em: 14 abr. 2014.
MORTIMER, E. F.; SANTOS, W. L. P. Uma análise de pressupostos teóricos da abordagem
C-T-S (Ciência – Tecnologia – Sociedade) no contexto da educação brasileira. Revista
Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, Belém, 2002, v. 2, n. 2, 1-23, dez. 2002.
Disponível em: <http://ufpa.br/ensinofts/artigos2/wildsoneduardo.pdf>. Acesso em: 14
abr. 2014.
SANTOS, P. R. O Ensino de Ciências e a Ideia de Cidadania. Revista Mirandum, ano X, n.
17, 2006. Disponível em: <http://www.hottopos.com/mirand17/prsantos.htm>. Acesso
em: 14 abr. 2014.
2. CONTEÚDOS
• Ensino de Ciências.
• Aprender e ensinar Ciências.
• Pressupostos sobre ensino e aprendizagem das Ciências
Naturais.
• Saberes necessários para constituir um bom professor de
Ciências.
68 © Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na unidade anterior, estudamos a trajetória histórica das
tendências pedagógicas predominantes na área das Ciências e a
importância do estudo dessa área para a formação da cidadania.
Para dar continuidade aos nossos estudos, esta unidade tem
como objetivo evidenciar os pressupostos existentes para ensinar
Ciências na escola.
Para isso, faz-se necessário compreender que epistemolo-
gia é a teoria do conhecimento e, portanto, ao pensar o Ensino
de Ciências, podemos nos remeter ao entendimento de como se
constitui o conhecimento científico.
Vale pontuar que a epistemologia se interessa pelos méto-
dos, objetos e formas de pensamento próprios da Ciência. É um
dos termos mais usados para referir-se à discussão sobre como
construímos nossos conhecimentos de cunho científico.
Assim, buscaremos, nesta unidade, tanto discutir as ques-
tões didático-metodológicas constitutivas da prática docente
quanto subsidiar você, futuro professor, com a discussão teórica
da área no que se refere a conceitos essenciais para o trabalho
com Ciências nos primeiros anos do Ensino Fundamental.
© U2 - Pressupostos Teóricos para o Ensino de Ciências 71
5. ENSINO DE CIÊNCIAS
O Ensino de Ciências, por meio da apropriação do conheci-
mento científico, na sociedade contemporânea, torna-se extrema-
mente relevante, uma vez que se deseja formar um cidadão refle-
xivo, crítico e autônomo para compreender o seu meio e poder
transformá-lo.
Esse fato se acentua em decorrência de vivermos em uma
sociedade que necessita do conhecimento científico e tecnológico
para evoluir e para ampliar o seu grau de evolução e inserção no
mundo globalizado.
De acordo com os PCNs (BRASIL, 1997, p. 23),
[...] mostrar a Ciência como um conhecimento que colabora para a
compreensão do mundo e suas transformações, além de reconhe-
cer o homem como parte do universo e como indivíduo, é a meta
que se propõe para o ensino da área na escola fundamental.
Exemplo de aula––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Exemplo: refere-se a uma aula que introduz no universo infantil as característi-
cas do desenvolvimento humano.
Situação 1 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A professora Filomena é docente de uma 1ª série e está desenvolvendo a unida-
de didática "As plantas". No seu planejamento lemos que uma das atividades faz
referência à extração de pigmentos de diferentes vegetais.
Filomena começa a aula mostrando diferentes verduras e solicitando que as
crianças identifiquem o nome de cada uma delas.
A professora Filomena: – Acham que podemos tirar a cor dessas verduras?
Alunos: – Sim... Sim... Um pouquinho...
Prof.ª: – E como tirariam a cor?
Alunos: – Com água.
Alunos: – Apertando.
Prof.ª: – O que acontecerá se cortarmos as verduras e as colocarmos em vidros
com álcool?
Alunos: – Vai sair a cor.
Prof.ª: – Eu vou dividi-los em três grupos, vou dar um quadro a cada um e vocês
vão antecipar qual a cor que tirarão de cada verdura.
A professora entrega acelga a um grupo, cenoura ao outro e beterraba ao outro.
Em seu relatório, a professora escreve: "A antecipação escrita nos quadros
permitiu-nos relembrar as hipóteses e compará-las com as cores resultantes,
que nesse caso coincidiram com as ideias prévias das crianças". (WEISSMANN,
1998, p. 40)
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Situação 2––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Marta também é docente da primeira série. O assunto da aula é "Flutuação".
Divide a sala em quatro grupos e entrega a cada um os mesmos materiais e um
quadro no qual deverão antecipar, antes de comprovar o que acontecerá com
cada objeto ao ser colocado na água. Quando os grupos completam os quadros,
desenvolve-se o seguinte diálogo:
Prof.ª: – O que acontecerá com a pedra, flutuará?
Alunos: – Não, vai afundar.
Prof.ª: – Por quê?
Alunos: – Porque é pesada.
Prof.ª: – E os pedaços de madeira?
Alunos: – O grande vai afundar.
Prof.ª: – Por quê?
Alunos: – Porque é mais pesado.
Prof.ª: – E o pequeninho?
Alunos: – Vai flutuar.
Prof.ª: – Por quê?
Alunos: – Porque é menor e leve.
Assim continua o diálogo com cada um dos materiais. Os argumentos giram em
torno de "peso" e "tamanho". Marta entrega um balde a cada grupo e as crianças
colocam um a um cada objeto e registram por escrito o que ocorre.
Prof.ª: – O que aconteceu com o vidro?
Aluno: – Flutuou.
Prof.ª: – E por que algumas coisas flutuam e outras não?
Alunos: – Por causa do peso.
Alunos: – Porque algumas são duras.
Alunos: – As coisas leves ou moles flutuam.
© U2 - Pressupostos Teóricos para o Ensino de Ciências 81
Papel do conteúdo
O aluno, nas primeiras séries do Ensino Fundamental, prin-
cipalmente, na área de Ciências, não aprende de fato conteúdos
estritamente disciplinares, "científicos".
Então, como escolher e aplicar os conteúdos?
Vale lembrar que o professor precisa ter claro que o Ensino de Ciên-
cias não se resume à apresentação de definições científicas, que, em
geral, são incompreensíveis para os alunos. Definição é o ponto de
chegada do processo de ensino, o que se pretende é que o aluno a
compreenda, ao longo de suas investigações, da mesma forma que
os conceitos, procedimentos e atitudes também são aprendidos.
© U2 - Pressupostos Teóricos para o Ensino de Ciências 91
Joãozinho da maré––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Era uma vez um moleque chamado Joãozinho, que morava na favela da Maré,
no Rio de janeiro. Dali de sua favela ele podia ver uma das grandes Universida-
des onde, segundo lhe contavam, existiam uns verdadeiros "crânios" e onde se
fazia Ciência [...] e podia ver o aeroporto internacional do Rio de Janeiro. Isso
© U2 - Pressupostos Teóricos para o Ensino de Ciências 107
caminho é uma órbita alongada chamada elipse. Além de essa curva ser assim
achatada ou alongada, o Sol não está no centro. Isso quer dizer que em seu
movimento a Terra às vezes passa perto, às vezes passa longe do Sol. Quando
passa mais perto do Sol é mais quente: é verão. Quando passa mais longe do
Sol, recebe menos calor: é inverno.
Os olhos do Joãozinho brilhavam de curiosidade diante de um assunto novo e
tão interessante.
– Fessora, [...] se a Terra é uma bola e está girando todo dia perto do Sol, não
deve ser verão em toda a Terra?
– É, Joãozinho, é isso mesmo.
– Então, é mesmo verão em todo lugar e inverno em todo lugar, ao mesmo tem-
po?
– Acho que é, Joãozinho, mas vamos mudar de assunto.
A essa altura, a professora já não se sentia tão segura do que havia dito. [...]
– Mas, Fessora, insiste o garoto, enquanto a gente está ensaiando a escola de
samba, na época do Natal, a gente sente o maior calor, não é mesmo?
– É mesmo, Joãozinho.
– Então, nesse tempo é verão aqui, Fessora?
– É, Joãozinho.
– E o Papai Noel no meio da neve com roupa de frio e botas. A gente vê nas
vitrinas até as árvores de Natal com algodão. Não é para imitar neve (a 40°C no
Rio), Fessora?
– É, Joãozinho, na terra do Papai Noel faz frio.
– Então, na terra do Papai Noel, no Natal, faz frio, Fessora?
– Faz, Joãozinho.
– Mas, então, tem frio e calor ao mesmo tempo? Quer dizer que existe verão e
inverno ao mesmo tempo?
– É, Joãozinho, mas vamos mudar de assunto. Você já está atrapalhando a aula
e eu tenho um programa a cumprir.
Mas Joãozinho ainda não havia sido "domado" pela escola. Ele ainda não havia
perdido o hábito e a iniciativa de fazer perguntas e querer entender as coisas. Por
isso, apesar do jeito visivelmente contrariado da professora, ele insiste:
– Fessora, como é que pode ser verão e inverno ao mesmo tempo em lugares
diferentes, se a Terra, que é uma bola, deve estar perto ou longe do Sol? Uma
das duas coisas não tá errada?
– Como você se atreve, Joãozinho, a dizer que a professora está errada? Quem
andou pondo essas idéias em sua cabeça?
– Ninguém não, Fessora. Eu só tava pensando. Se tem verão e inverno ao mes-
mo tempo, então isso não pode acontecer porque a Terra tá perto ou tá longe do
Sol. Não é mesmo, Fessora?
A professora, já irritada com a insistência atrevida do menino, assume uma pos-
tura de autoridade científica e pontifica:
– Está nos livros que a Terra descreve uma curva que se chama elipse ao redor
do Sol, que este ocupa um dos focos e, portanto, ela se aproxima e se afasta do
Sol. Logo, deve ser por isso que existe verão e inverno.
Saber avaliar
Os autores Gil-Pérez e Carvalho (2006) ponderam que a ava-
liação seja extremamente importante para o processo de apren-
dizagem, uma vez que por meio dela os professores conseguem
obter o feedback de seu trabalho pedagógico, servindo como
instrumento para diagnosticar o que, quanto e como os alunos
aprenderam sobre os conteúdos de diferentes naturezas: concei-
tuais, procedimentais e atitudinais, sendo que a avaliação no Ensi-
no de Ciências deverá:
1) realizar-se de uma maneira progressiva e paralelamente
às diferentes situações e atividades que se desenvolvem;
2) permitir modificar a intervenção a partir das informa-
ções que se obtêm nas próprias atividades da aula;
3) ter a finalidade de proporcionar informações que sirvam
para ajustar ou mudar a atuação educativa;
4) adaptar o ensino às características e às necessidades
que os alunos apresentam no decorrer das diferentes
atividades;
5) utilizar a observação como instrumento avaliativo;
6) proporcionar informações a respeito do que os alunos
aprendem, suas dificuldades, a fim de poder ajudá-los
de maneira diversificada e replanejar a programação
quando for necessário;
7) fornecer informações que serão utilizadas na melhoria
de um currículo;
8) envolver a coleta de evidências necessárias durante a
fase de elaboração e de experimentação de um novo
programa, possibilitando que as revisões necessárias te-
nham por base essas evidências;
© U2 - Pressupostos Teóricos para o Ensino de Ciências 115
8. TEXTOS COMPLEMENTARES
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Segundo os PCN, qual a importância do aluno internalizar procedimentos e
conceitos de caráter científico?
2) De acordo com os PCN, como devemos apresentar as Ciências aos alunos?
3) Como definir a transposição didática ao trabalhar com o Ensino de Ciências?
4) No seu modo de ver, os conhecimentos espontâneos das crianças são de
fato as matérias-primas do trabalho do professor?
5) Segundo Gil-Pérez; Carvalho (2006), quais são os saberes necessários para
constituir um bom professor de Ciências?
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) A internalização de procedimentos e conceitos de caráter científico pode
contribuir para formar alunos com uma postura reflexiva e crítica, capazes de
questionar aquilo que pode ser visto ou ouvido, a fim de ampliar a possibi-
lidade de explicar os fenômenos da natureza, compreendê-los e apresentar
um juízo crítico avaliativo acerca de tais fenômenos de modo a intervir em
seu meio, utilizando seus recursos de forma consciente e ética (BRASIL, 1997).
2) Segundo os PCNs (BRASIL, 1997, p. 23), "[...] mostrar a Ciência como um co-
nhecimento que colabora para a compreensão do mundo e suas transforma-
ções, além de reconhecer o homem como parte do universo e como indivíduo,
é a meta que se propõe para o ensino da área na escola fundamental".
3) A transposição didática é um conceito cunhado por Chevallard e se refere ao
princípio didático, que visa assegurar a máxima coincidência possível entre
a "versão escolar" e "versão social" das práticas e conhecimentos que se
convertem em conteúdos na sala de aula, assim como a interação entre os
alunos como vantagem pedagógica em favor da aprendizagem. Para isso, os
conteúdos trabalhados devem manter suas características de "objeto socio-
cultural real", ou seja, não devem ser propostos conteúdos fragmentados ou
"escolarizados", de forma a perder seu contexto real, ou seja, seu significa-
do social. Sabemos que todo conhecimento científico, quando se converte
em objeto de ensino escolar, acaba inevitavelmente sofrendo modificações.
Dessa forma, cabe à escola garantir a aproximação máxima entre o uso so-
cial de conhecimento e a forma de tratá-lo didaticamente. De acordo com
Fumagalli (1998, p. 19), "ciência ensinada na escola não é a ciência dos cien-
© U2 - Pressupostos Teóricos para o Ensino de Ciências 119
10. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, debruçamo-nos em compreender os pres-
supostos teóricos e metodológicos para que o professor entenda
como ensinar Ciências. Para isso, partimos do princípio de como
se aprende Ciências além dos princípios didático-metodológicos
básicos. E, para encerrar a unidade, reforçamos todos os saberes
necessários para uma ação docente consciente e crítica, a fim de
tornar o professor de Ciências alguém mais reflexivo e que tenha a
formação de um professor intelectual crítico.
11. E-REFERÊNCIAS
Sites pesquisados
CORTE, M. G. D. A indissociabilidade da relação teoria e prática na formação e atuação
de professores. Disponível em: <http://www.unifra.br/eventos/jne2008/Trabalhos/81.
pdf>. Acesso em: 14 jun. 2014.
SANTOS, P. R. O Ensino de Ciências e a Idéia de Cidadania. Mirandum, 2006, v. 2, n. 17,
2006. Disponível em: <http://www.hottopos.com/mirand17/prsantos.htm>. Acesso em:
16 abr. 2014.
3
1. OBJETIVOS
• Compreender os fundamentos do Ensino de Ciências na
Educação Infantil.
• Analisar o eixo de trabalho denominado Natureza e Socie-
dade para Ensino de Ciências na Educação Infantil.
• Reconhecer conteúdos pertinentes às áreas das Ciências
Naturais presentes na composição dos currículos de Edu-
cação Infantil.
• Compreender pressupostos dos conhecimentos sobre na-
tureza e sociedade que devem ser desenvolvidos na Edu-
cação Infantil.
2. CONTEÚDOS
• Pressupostos dos conhecimentos sobre natureza e socie-
dade na Educação Infantil.
• Criança, natureza e sociedade.
124 © Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Aprendemos, na Unidade 2, os pressupostos do Ensino de
Ciências na escola e o ensinar e aprender dessa área no Ensino
Fundamental. Com base nesse conteúdo, estudaremos agora o En-
sino de Ciências na Educação Infantil por meio do eixo Natureza e
Sociedade definido pelo Referencial Curricular Nacional para Edu-
cação Infantil (RCNEI).
De acordo com o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 163):
O eixo de trabalho denominado Natureza e Sociedade reúne temas
pertinentes ao mundo social e natural. A intenção é que o trabalho
ocorra de forma integrada, ao mesmo tempo em que são respeita-
das as especificidades das fontes, abordagens e enfoques advindos
dos diferentes campos das Ciências Humanas e Naturais.
Informação:
As crianças devem ter liberdade para manusear e explorar diferen-
tes tipos de objetos.
Bloco 1
Bloco 2
Bloco 3
Bloco 4
Os seres vivos
O ser humano, os outros animais e as plantas provocam bas-
tante interesse e curiosidade nas crianças. São muitas as questões,
hipóteses, relações e associações que as crianças fazem em torno
desse tema.
Tendo isso em vista, o trabalho com os seres vivos e suas in-
trincadas relações com o meio oferece inúmeras oportunidades de
aprendizagem e de ampliação da compreensão que a criança tem
sobre o mundo social e natural.
A construção desse conhecimento também é uma das condi-
ções necessárias para que as crianças possam, aos poucos, desen-
volver atitudes de respeito à vida e ao meio ambiente, sua preser-
vação, bem como atitudes relacionadas à sua saúde.
Os conteúdos desse bloco são:
1) estabelecimento de algumas relações entre diferentes
espécies de seres vivos, suas características e suas ne-
cessidades vitais;
2) conhecimento dos cuidados básicos de pequenos ani-
mais e vegetais por meio de sua criação e cultivo;
3) conhecimento de algumas espécies da fauna e da flora
brasileira e mundial;
4) percepção dos cuidados necessários à preservação da
vida e do ambiente;
5) valorização da vida nas situações que impliquem cuida-
dos prestados a animais e plantas;
6) percepção dos cuidados com o corpo, com a prevenção
de acidentes e com a saúde de forma geral;
7) valorização de atitudes relacionadas à saúde e ao bem-
-estar individual e coletivo.
© U3 - Ensino de Ciências na Educação Infantil 149
Bloco 5
Os fenômenos da natureza
Alguns são fenômenos presenciados e vividos pelas crianças,
outros são conhecidos por serem veiculados pelos meios de comu-
nicação, e ainda há os presentes no imaginário das pessoas.
Algumas perguntas e curiosidades das crianças podem de-
sencadear um trabalho intencional, favorecendo a percepção so-
bre a complexidade e diversidade dos fenômenos da natureza e o
desenvolvimento de capacidades importantes relacionadas à dúvi-
da diante do evidente, à elaboração de perguntas, ao respeito ao
ambiente etc.
A compreensão de que há uma relação entre os fenômenos
naturais e a vida humana é um importante aprendizado para a
criança. Com base em questionamentos sobre tais fenômenos, as
crianças poderão refletir sobre o funcionamento da natureza, seus
1. Identificação do projeto
Nome do projeto: uma semente, uma planta?
Período de duração: esta sequência é constituída por quatorze dias, com aulas
de aproximadamente uma hora que podem ser agrupadas em cinco etapas, cada
uma correspondendo a um questionamento inicial.
experiências, os alunos registram por escrito (texto, desenho etc.) a ideia que
têm da semente. Exemplo a seguir:
Síntese coletiva
O professor convida os alunos a relerem as suas anotações a fim de permitir
lembrar a situação inicial, o questionamento e a antecipação. Os alunos tentam
explicar o que a experiência tem mostrado com referência ao questionamento
inicial. Cada grupo apresenta sua explicação à classe. O professor propõe um
debate que permitirá construir, com base em todas as propostas, uma frase
adequada. Por exemplo, uma frase do tipo "Plantas cresceram. Isto significa que
foram as sementes" será escolhida pelo grupo ou pela classe e aprovada pelo
professor. Uma semente se reconhece pelo que é capaz de transformar.
Esta capacidade de mudar com o tempo e de fazer trocas com o ambiente são
propriedades que permitem identificar o ser vivo. O conceito se constrói apenas
muito progressivamente, a partir de muitas outras atividades.
Cada um escreve a conclusão escolhida durante o debate. Estas observações
iniciais são as origens de um novo questionamento sobre os critérios de
discriminação de uma semente.
Os setores onde nada cresceu podem representar setores nos quais foram
plantados elementos que não eram sementes, mas também sementes não
viáveis ou sementes para as quais as condições de germinação não foram
favoráveis; a hipótese inicial "se são sementes, crescem..." parece se confirmar,
mas não é o suficiente; precisa-se encontrar outros critérios de discriminação...
© U3 - Ensino de Ciências na Educação Infantil 163
"Deve-se olhar dentro das sementes" e "há uma plantinha dentro das sementes"
são as sugestões orais prováveis. Pode-se propor aos alunos para desenharem
o que eles imaginam estar dentro da semente antes de plantá-la e constatar o
que está acontecendo quando germina.
É possível analisar e confrontar em conjunto algumas produções de alunos.
Em certo número de desenhos aparecem ao mesmo tempo uma semente e
uma planta já crescida, frequentemente sem relação entre os dois: a ideia da
transformação da semente ainda não está presente. Além disso, às vezes os
alunos desenham no interior da semente não um broto, mas sim uma planta
adulta em miniatura. A ideia do broto que se transforma também ainda resta a
ser construída.
Para confrontar a realidade com os conceitos e responder ao questionamento,
toma-se a decisão, todo mundo concordando, de observar o interior de uma
semente. Para que a observação e a comparação tenham sentido, deve-se
comparar uma amostra de "semente de verdade" com as outras amostras (entre
as quais as "não semente" e as "sementes não viáveis").
© U3 - Ensino de Ciências na Educação Infantil 165
fator importante para a germinação. A pergunta escolhida é "Pode ser que não
precisa de água demais?". Abre-se um debate sobre a expressão "água demais".
Alguns alunos defendem que "água demais" não quer dizer "muita coisa".
"Não se sabe quanto é água demais!". A conversa continua e surge uma ideia:
"Deveríamos dizer nenhuma água e água". O questionamento inicial se torna
"Se colocamos água, a semente brota ou não?" e "Se não colocamos água, a
semente brota ou não?".
Essas perguntas vão permitir aos alunos trabalharem sobre as condições de
germinação das sementes, mas também sobre uma competência metodológica:
a realização de um experimento e de um experimento de controle para poder
comparar os resultados e firmar as conclusões. Para material experimental, é
recomendável escolher dois ou três tipos de sementes diferentes. Isto permite
perceber que as condições para a germinação são iguais para todas as sementes.
Certas sementes (feijão, trigo, ervilha) podem ser qualificadas como "sementes
de referência" (vide aula 2, fase 2) e permitem otimizar o sucesso da experiência.
Em grupos pequenos
Tendo providenciado uma estufa adaptada para estas experiências (com a
possibilidade de isolar setores sem água), os alunos plantarão diferentes
espécies de sementes em setores com água e em setores sem água e anotarão
na plaqueta de identificação o tipo de semente, a data, a hora e se há água ou
não.
As crianças esquematizam o roteiro de experimentos em seu caderno de
experimentos. Não podem se esquecer de explicar e colocar legendas no
desenho.
Em conjunto
Após alguns dias, pode-se constatar que nos setores onde não há água, semente
nenhuma germinou. Por outro lado, nos setores onde as sementes estavam em
presença de água, os brotos apareceram. Uma ou duas pequena(s) folha(s) verde(s)
aparecem, o(s) cotilédone(s), e também um pequeno sistema radicular branco.
Agora, tornou-se possível comparar os setores nos quais foram plantadas
sementes da mesma espécie. Os alunos agora constatam que as plântulas
apresentam semelhança e que sementes diferentes produzem plântulas que são
bastante diferentes.
Individualmente
Cada aluno anota em seu caderno de experimentos os resultados dos
experimentos de seu grupo assim como do grupo-classe. É possível expandir
esses experimentos sobre a água como fator necessário para o crescimento dos
vegetais.
ao mesmo resultado por meio de uma série de fotos usando uma máquina digital.
Nesta fase do trabalho, podem-se utilizar fotocópias: este documento mostra,
em vários desenhos, as etapas da germinação (ervilha, feijão), e que os alunos
anotarão em grupo ou individualmente.
Individualmente
Os alunos podem pegar o desenho da observação anatômica da semente feito
anteriormente e descrever melhor as diferentes partes da semente. A noção de
semente agora está enraizada.
Dia 13 – O papel da semente – a semente e suas reservas
Assim que a noção de semente é compreendida, podem ser consideradas muitas
extensões e avaliações, a critério do professor. Podem levar a atividades coletivas
ou individuais, tais como a observação de outras germinações realizadas na
classe, em casa, encontradas na ocasião de uma saída, ou então, encontradas
em documentos (livros, fita de vídeo, site na internet). É a oportunidade dos
alunos de fazerem comparações que colocam em evidência similaridades e
diferenças e se sensibilizarem diante das características e a diversidade dos
seres vivos.
Essas extensões estimulam a curiosidade dos alunos em relação ao seu ambiente,
a unidade e a diversidade dos seres vivos, assim como o relacionamento entre
seres num mesmo ambiente. Além disso, coleções de amostras ou documentos
que as substituem (fotos, por exemplo) podem ser usadas nos caso em que os
seres vivos devem ser preservados. As duas aulas seguintes são possibilidades
de extensão em volta de dois temas: as reservas da semente e o papel biológico
do que é chamado de "forma semente".
Os alunos procuram determinar a importância do papel específico da semente no
crescimento dos vegetais florescentes e, especialmente, o papel socioeconômico
das sementes alimentares.
É possível fazer experiências para confirmar o papel das reservas no momento
do desenvolvimento do vegetal: pode-se plantar um broto sem as suas reservas,
ou então, com uma só metade da semente.
A classe pode fazer um experimento simples com a finalidade de comparar as
fases iniciais da germinação na claridade e no escuro. Terá como vantagem
demonstrar que a exposição à luz não é obrigatória, pois a semente é equipada
de reservas necessárias às fases iniciais de desenvolvimento da plântula.
Esse experimento reforça a ideia de que a semente é uma forma de reserva. O
© U3 - Ensino de Ciências na Educação Infantil 171
pioneira de uma ilha vulcânica recente, que nasceu de sementes trazidas pelo
mar, animais ou pelo vento.
Todos os vegetais florescentes produzem sementes, mas as sementes podem
apresentar dispositivos anatômicos variados para que seja assegurada a
disseminação da espécie em lugares próximos ou remotos. Pode ser útil
comunicar aos alunos que a semente é uma forma de disseminação específica
das plantas terrestres (e nem todas). Esse estágio do ciclo da vida (a forma
semente) se desenvolveu na Terra, nas plantas florescentes, permitindo-lhes,
assim, resistir a períodos sem água e colonizar novos ambientes (adaptado de
HAMBURGER, 2005, p. 26-44).
5. Recursos e materiais didáticos (com o quê?): material para um grupo de
5 ou 6 alunos
– uma amostragem composta de várias sementes (lentilhas, feijão, alface, agrião,
rabanete, fava, trigo, milho, "gramado", mistura de sementes para pássaros),
elementos de origem mineral (areia de gato, pedriscos) e elementos orgânicos
não vivos (sementes de sêmola, bolinhas de madeira);
– uma caixa de isopor (caixa de embalagem) e alguns recipientes menores
(garrafa de água mineral cortada no meio, pote de margarina);
– terra de jardim misturada com um pouco de areia;
– algumas ferramentas para ajudar no plantio (colheres pequenas, por exemplo);
– um regador ou pulverizador;
– palitos de madeira ou arame para segurar as plaquetas de identificação;
– uma lente de aumento;
– algodão hidrófilo, papel, papel mata-borrão, algumas placas de isopor de uma
embalagem;
– pequenos pedaços de papelão e cola.
Livros paradidáticos
ARDLEY, N. Crescimento. Tradução de Ibraíma Dafonte Tavares. Rio de Janeiro:
Ed. Globo, 1991. (Coleção Jovem Cientista).
BRAIDO, E. A semente e o fruto. Ilustrações de Edil Araújo. São Paulo: FTD, 1994.
(Coleção Vira Vira). Neste livro, a semente se transforma em um lindo fruto.
HARLOW, R.; MORGAN, G. Crescimento: plantas e animais. 10. ed. Tradução
de Maria Emília de Oliveira. São Paulo: Melhoramentos, 2001. Por meio de
atividades práticas, a criança descobre os segredos do mundo que a rodeia.
RODRIGUES, R. M. O mundo das plantas. Ilustrações de Jurandir Ribeiro.
São Paulo: Moderna, 1999. (Coleção Desafios). Este livro contém informações
complementares sobre como são as plantas e como elas crescem.
Livro de história infantil
ORTHOF, S. João Feijão. São Paulo: Ática, 2000. (Coleção Lagarta Pintada). Uma
semente que quer germinar e crescer. Os ciclos da natureza são apresentados
para a criança com fantasia e bom humor.
6. Avaliação (acompanhamento, mapeamento): são os momentos da verificação
da concretização parcial e total dos objetivos e metas. Para tanto, os instrumentos
de avaliação serão quantitativos ou qualitativos e realizados durante as etapas
de efetuação do projeto por meio dos registros de observação e experimentação.
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1. Identificação do Projeto
Nome do projeto: transformações
Período de duração: esta sequência é constituída por atividades que foram
agrupadas em etapas, cada uma correspondendo a um questionamento inicial.
Alunos envolvidos: 4 a 5 anos da Educação Infantil.
2. Justificativa (por quê?): inúmeras transformações ocorrem, diariamente, em
nossas vidas. Uma transformação é um processo que permite a obtenção de um
produto. Esses processos podem ser: químicos, quando envolvem a formação
de novo produto com propriedades diferentes das iniciais; ou físicos, quando as
propriedades continuam as mesmas, alterando-se apenas sua forma e aparência.
Na reciclagem do papel, por exemplo, temos uma transformação física, pois as
propriedades continuam as mesmas: celulose. Já na fabricação do bolo temos
uma transformação química: após aquecimento, diversos ingredientes (farinha,
ovos, leite, fermento), resultam em uma massa cozida, com consistência
macia decorrente da reação que ocorre com o fermento da matéria, sejam elas
químicas (o crescimento e cozimento da massa de um bolo, o amadurecimento
dos frutos) ou físicas (a solidificação da água líquida, transformando-a em gelo,
a modelagem de argila, a reciclagem do papel).
As atividades envolvem tanto o acompanhamento de transformações que ocorrem
naturalmente, tais como o amadurecimento e apodrecimento dos frutos, quanto
outras que são proporcionadas pela ação humana, como as transformações na
culinária e a reciclagem do papel.
Objetivos (para quê?)
– conhecer diferentes processos de transformação da matéria;
– perceber que algumas transformações mudam apenas alguns aspectos do
objeto, enquanto outras o modificam totalmente.
4. Desenvolvimento metodológico e estratégias (o quê? como fazer?): os dias,
etapas e atividades serão descritas a seguir. O Projeto é composto das seguintes
atividades: confecção de um bolo; reciclagem de papel; amadurecimento e
apodrecimento de frutos; modelagem com argila e transformação da água líquida
em gelo e gelo em água líquida. O professor tem a possibilidade de trabalhar
todas elas sequencialmente ou utilizá-las em separado em diferentes momentos
e situações, mudando, assim, os objetivos do trabalho.
Este módulo pretende fornecer ideias para que o professor trabalhe com as
crianças os processos de transformações da matéria que ocorrem em nosso
cotidiano, sem, no entanto, a preocupação de classificá-los em físicos ou
químicos, mas sim de percebê-los, identificando suas características iniciais
e finais. São sugeridas atividades em que as crianças manipulem diferentes
materiais a fim de vivenciar diversas transformações.
estão duras", "Vão ficar mole", "O mamão vai ficar alaranjado", "A banana, o
abacate e a laranja ficarão amarelas". O professor anota o que dizem e as
convida para a verificação.
Algumas ideias das crianças sobre como ficarão os materiais depois de vários
dias dentro de uma caixa:
Laranja: "vai sair o verde e ficar só amarela"; banana: "ela vai crescer", "não vai
não, vai continuar assim"; tomate: "não vai mudar" "vai crescer".
Lata: "a lata não vai crescer"; pedra: "vai continuar assim dura e preta".
O professor pode sugerir que experimentem um pequeno pedaço dos frutos ainda
verdes, para que sintam o sabor e manifestem suas impressões, registrando-as.
As crianças observam os frutos diariamente. Quando observam alterações, elas
as registram sob a forma de desenho. Como forma de organização, podem dividir
uma folha de papel sulfite em partes iguais, usando cada uma delas para um dia
de observação. Isso facilitará a comparação posteriormente.
Na mesma atividade, as crianças podem acompanhar a passagem do tempo em um
calendário, anotando os dias que passam e identificando-os com a data (dia, mês
e ano). Esses dados podem depois ser transcritos no registro das transformações.
a tarefa, apresentam aos demais como ficou: sua aparência, cor, forma etc.
Identificam a peça e deixam em exposição na sala ou em outro espaço escolhido.
Etapa 2. Como ficou a argila?
Durante os dias seguintes, especialmente quando já estiverem secas, o professor
orienta para que as crianças observem as peças e relatem como está agora:
forma, cor, textura, consistência, cheiro, sensação térmica etc. O professor
anota as observações das crianças e, em seguida, questiona: quais foram as
transformações que ocorreram com a argila? As crianças relatam o que mudou
e o que permaneceu igual. Como forma de registro, sugere-se que elaborem um
desenho da argila antes e depois da modelagem e secagem, o que pode ser feito
em três ou quatro etapas, acrescentando-se a pintura das peças.
Atividade 5. Reciclagem de papel
Etapa 1. Preparando o papel
O professor explica às crianças que nas próximas atividades aprenderão a
reciclar papel. Questiona se alguém sabe o que é isso e como fazer. As respostas
das crianças são anotadas. Em seguida, o professor mostra uma pilha de jornal
que será reciclada e solicita que descrevam o que veem. As características são
anotadas em cartaz.
As crianças picam os jornais em pequenos pedaços, colocam-nos de molho na
água e aguardam por uns 4 ou 5 dias.
Etapa 2. Reciclando o papel
Conclusão do módulo
Para aqueles que trabalharam com mais de um processo de transformação, é
importante retomar os registros e as observações feitas acerca de cada uma
delas, promovendo um debate no sentido de identificar os processos que
provocaram poucas alterações no material, aqueles que demoraram mais tempo,
os que precisaram esquentar e os que precisaram resfriar.
Como conclusão, elaboram um texto coletivo. O foco das atividades propostas
foi trabalhar com as transformações, observando características iniciais e finais.
No entanto, cada atividade pode ser desenvolvida com mais detalhamento, caso
surjam novas questões. Na atividade "transformando água em gelo", por exemplo,
outros questionamentos podem ser feitos: "Qual é a forma mais rápida de se
derreter o gelo?" "Como trazer gelo de casa?" "O que podemos fazer para o
gelo não derreter?" (adaptado de SCHIEL; ORLANDI; FAGIONATO-RUFFINO,
2010, p. 63-80).
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© U3 - Ensino de Ciências na Educação Infantil 181
Uma pessoa pode perguntar: por que a ciência explica tudo com fórmulas e
palavras complicadas que só os especialistas conseguem compreender? Por que
as descobertas são feitas apenas em laboratórios com equipamentos complexos
e materiais estranhos? Ou pensar que estudar ciência significa aprender uma
série de fórmulas e leis; que somente pessoas sábias podem dedicar-se à
ciência; que a maneira científica de conhecer o mundo é definitiva, absoluta e
inabalável; que as afirmações científicas são verdades absolutas que não podem
ser questionadas; que um cientista compreende o mundo melhor do que uma
pessoa que não é cientista.
Essas concepções e crenças têm relação com o que é ciência? A ciência é parte
do desígnio humano de buscar a verdade no mundo. Tal definição aproxima muito
a ciência da filosofia. A filosofia é o berço da ciência. Até pouquíssimos séculos
atrás, não havia uma área definida como "ciência". O que hoje chamamos de
ciência, entendida como conhecimento humano, era parte da filosofia, que se
ocupava das grandes perguntas que sempre instigaram e ainda instigam a
humanidade: o que é o mundo? Como começou? Quais são as leis que o regem?
Essas perguntas continuam sendo perguntas da ciência. O que, com o tempo,
separou a filosofia da ciência foi a maneira de responder a essas perguntas.
Enquanto o filósofo, em geral, diante de um problema, dedica-se a desenvolver
uma teoria sobre as diferentes possibilidades, o cientista sai ao mundo e o
interroga de forma direta.
A revolução científica do século XVII indica o ponto de separação entre filosofia
e ciência. Galileu fez uma pergunta: se lançarmos do alto duas pedras de pesos
diferentes, qual delas chegará primeiro ao chão, a mais pesada ou a mais leve?
Aristóteles já havia respondido dois mil anos antes: a pedra mais pesada. A
resposta estava ligada à concepção do mundo sustentada por Aristóteles, que foi
assumida pelos filósofos que o seguiram e constituiu a base de teorias explicativas
da natureza do mundo. Galileu não se deu por satisfeito com o pensamento
lógico e a resposta racional que resultava das teorias antigas acerca da natureza
do universo. Saiu ao mundo e jogou duas pedras do alto (supostamente da torre
de Pisa). As duas chegaram ao chão ao mesmo tempo.
Ciência e tecnologia
No mundo atual, e talvez em épocas anteriores, embora em menor grau, a ciência
sempre foi associada à tecnologia. Por isso, não se pode deixar de mencioná-la
em uma reflexão como a que me proponho a fazer aqui. Ciência e tecnologia
são diferentes. Enquanto a ciência é a tentativa de compreender o mundo e de
conhecê-lo tal como ele é, a tecnologia é a tentativa de transformar o mundo
naquilo que gostaríamos que fosse.
A colaboração entre a ciência e a tecnologia tem sido fecunda. A tecnologia sabe
aproveitar as descobertas da ciência para finalidades de paz e para finalidades
de guerra. A ideia tradicional e de senso comum sobre as tecnologias é que elas
são meros instrumentos ou ferramentas cujas consequências ou cujos efeitos só
ocorrem quando os seres humanos assim o decidem. Mais especificamente, se
uma tecnologia dada tem efeitos, e caso se tratem de efeitos específicos, quem
decide é o usuário.
Sob essa perspectiva, no âmbito educativo, as tecnologias constituem meros
instrumentos colocados a serviço de objetivos curriculares. Ainda que esses
objetivos ou finalidades variem e sejam até mesmo diferentes, pode-se recorrer
a esta ou àquela tecnologia para ajudar em sua consecução.
A partir da década de 1960, à medida que a pesquisa histórica e a teoria
sobre a tecnologia foram adquirindo cidadania acadêmica e o tema instalou-
se institucionalmente, surgiram concepções sobre a tecnologia que desafiam o
modo tradicional de pensar sobre ela.
Em lugar de serem concebidas como meras ferramentas, as tecnologias
estabeleceram-se como modos de fazer e de pensar que tiveram consequências
importantes, e até revolucionárias, nas práticas sociais de todo tipo, inclusive as
educativas. Assim, por exemplo, a escola tradicional é incompreensível sem a
tecnologia do livro, que elevou o ato de ler e escrever a categorias cruciais da
aprendizagem. E, visto que o conteúdo do livro é fixo e impresso, o diálogo com
o autor é impossível.
Desse modo, o leitor é sobretudo um receptor passivo do conteúdo e não participa
de sua elaboração. Mesmo a interpretação do conteúdo está sujeita a normas
preestabelecidas. O livro implica, portanto, um tipo de professor que seja transmissor
dos conhecimentos contidos nos livros. Estudar seria fundamentalmente ler. As
tecnologias são muito mais do que meras ferramentas: modificam os ambientes
culturais e educativos, criam novos modos de comunicação e reformulam os
papéis que as pessoas desempenhavam habitualmente.
O livro deixou de ser o principal meio de obter informação. Competem com ele
os jornais, o cinema, o rádio, a televisão, em seu formato clássico ou digital, e a
internet, incluídas, é claro, as redes sociais. O professor deixou de ser a única
fonte de transmissão do conhecimento e, por conseguinte, seu papel mudou. Os
alunos podem informar-se mais e melhor fora da sala de aula. Ela própria está
© U3 - Ensino de Ciências na Educação Infantil 183
A meta é mais profunda e abarca uma área mais ampla nos atributos das
crianças: pretendemos despertar um pensamento independente, a sensação de
ter capacidade de dominar e controlar tudo à sua volta, o atributo de desejar
e de se atrever a perguntar ao mundo e a investigá-lo. Pretendemos apoiar e
fomentar o desenvolvimento de uma personalidade autônoma, que deseja
tocar e compreender o mundo à sua volta, baseando-se no "eu" pessoal, apoiar
a confiança em si mesmo e a coragem necessária para encontrar e usar as
ferramentas requeridas para cumprir essa missão.
As pesquisas demonstram que a idade da educação infantil é a época crucial
para alcançar essas metas, pois essa conquista torna-se cada vez mais difícil
com o passar do tempo. Acredito que o enfoque científico, ao ser transmitido à
criança corretamente, ajudará a atingir essas metas. Essa é a principal razão
para implementar um programa de ciências na educação infantil. Não pretendo
converter toda criança em cientista, mas quero usar o enfoque científico como
ferramenta para o desenvolvimento da capacidade da criança em todas as áreas.
Despertar a inteligência
Despertar a inteligência significa ajudar uma pessoa a conhecer a si mesma como
ser pensante. Para se constituir como tal, a pessoa não precisa dispor de todos
os conhecimentos sobre um tema, nem precisa conhecer todas as respostas
de antemão. Isso parece óbvio, pois ela tampouco terá todas as perguntas de
antemão.
Não precisa igualmente encontrar a solução mais adequada na primeira tentativa.
Ser uma pessoa pensante significa saber buscar, examinar, surpreender-se e
também se equivocar e se dar conta disso. Significa buscar a resposta à pergunta
que interessa, estar disposto a assumir riscos e a se tornar responsável por
processos independentes de pensar, usar a lógica para examinar e ser coerente
com ela até o final, ainda que aparentemente contradiga a lógica de outros, já
que uma pessoa só pode usar sua própria lógica.
Uma pessoa que não assume a responsabilidade sobre seus processos de
pensar deve estar disposta a aceitar diversas ideias científicas sem examiná-
las. É como um sistema em que tudo é possível, mas no fundo é indiferente a
tudo, pois nada lhe é próprio. Uma pessoa que assume a responsabilidade sobre
seu pensamento está disposta a defender suas ideias e dizer com propriedade:
"Sim, penso. É possível que esteja equivocada, mas esta é agora minha opinião
fundamentada". Para uma pessoa assim, nada é indiferente; ela vê diferenças
entre uma ideia e outra, entre um conhecimento e outro, distingue entre opinião
e conhecimento. Portanto, há ideias e conhecimentos que está disposta a aceitar
e outros que ela rejeita.
O que distingue a verdadeira inteligência não é saber repetir ideias, e sim a
capacidade de perguntar, isto é, de exercitar a capacidade de colocar os
conhecimentos novos junto ao desconhecido. Para tudo isso, é necessário ter
coragem. Coragem para colocar sinais de interrogação em "verdades aceitas".
Coragem para insistir e dizer: "É assim que vejo as coisas". Coragem para mudar
de posição. Coragem para pensar (FUENTES, 2012).
Disponível em: <http://www.grupoa.com.br/revista-patio/artigo/7616/o-porque-e-
o-como-das-ciencias-na-educacao-infantil.aspx>. Acesso em: 14 jun. 2014.
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© U3 - Ensino de Ciências na Educação Infantil 185
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) Segundo o RCNEI, o Ensino de Ciências deve ser desenvolvido por meio de
eixo Natureza e Sociedade que reúne temas pertinentes ao mundo social e
natural. A intenção é que o trabalho ocorra de forma integrada, ao mesmo
tempo em que são respeitadas as especificidades das fontes, abordagens e
enfoques advindos dos diferentes campos das Ciências Humanas e Naturais.
12. CONSIDERAÇÕES
Vimos, nesta unidade, que ampliar o conhecimento das
crianças em relação a fatos e acontecimentos da realidade social e
sobre elementos e fenômenos naturais requer do professor o tra-
balho com suas próprias ideias, conhecimentos e representações
sociais acerca dos assuntos em pauta.
É preciso, também, que os professores reflitam e discutam
sobre seus preconceitos, evitando transmiti-los nas relações com
© U3 - Ensino de Ciências na Educação Infantil 187
13. E-REFERÊNCIAS
MÃO NA MASSA. Ensino de Ciências por investigação. Disponível em: <http://www.cdcc.
usp.br/maomassa/livros_ensinodeciencias.html>. Acesso em: 24 abr. 2014.
FUENTES, S. S. O porquê e o como das Ciências na Educação Infantil. Disponível em:
<http://www.grupoa.com.br/revista-patio/artigo/7616/o-porque-e-o-como-das-
ciencias-na-educacao-infantil.aspx>. Acesso em: 24 abr. 2014.
HAMBURGER, E. W. Ensinar as ciências na escola: da Educação Infantil à quarta-série.
São Carlos: CDCC/ USP, 2005. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/us000203.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2014.
DOLLE, J.-M. A Ciência na Educação Infantil. Disponível em: <http://www.grupoa.com.
br/revista-patio/artigo/7644/a-ciencia-na-educacao-infantil.aspx>. Acesso em: 24 abr.
2014.
1. OBJETIVOS
• Reconhecer os eixos temáticos de Ciências Naturais defi-
nidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs).
• Identificar a articulação entre os diversos conteúdos que
compõem a área de Ciências Naturais.
• Analisar os conteúdos e objetivos propostos para o Ensi-
no de Ciências no Ensino Fundamental.
• Compreender as categorias de conteúdos: conceituais, proce-
dimentais e atitudinais propostas para o Ensino de Ciências.
• Reconhecer os critérios para seleção de conteúdos no En-
sino de Ciências.
• Organizar situações de ensino e aprendizagem adequadas
aos objetivos, conteúdos e princípios didáticos propostos
para o primeiro e segundo ciclos.
190 © Fundamentos e Métodos do Ensino das Ciências da Natureza
2. CONTEÚDOS
• Objetivos gerais de Ciências Naturais para o Ensino Fun-
damental.
• Conteúdos de Ciências Naturais no Ensino Fundamental.
• Critérios para seleção dos conteúdos de Ciências.
• Blocos temáticos para o Ensino de Ciências no Ensino
Fundamental.
• Organização de situações de ensino e aprendizagem ade-
quadas aos objetivos e conteúdos para o Ensino de Ciências.
• Ciências Naturais no primeiro ciclo.
• Eixos temáticos de Ciências Naturais para o Ensino Fun-
damental.
• Objetivos de Ciências Naturais para o primeiro e segundo
ciclos.
• Conteúdos de Ciências Naturais para o primeiro e segun-
do ciclos.
• Critérios de avaliação de Ciências Naturais para o primei-
ro e segundo ciclos.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
A essência da autonomia é que as crianças se tornam capazes de to-
mar decisões por elas mesmas. Autonomia não é a mesma coisa que
liberdade completa. Autonomia significa ser capaz de considerar os
fatores relevantes para decidir qual deve ser o melhor caminho da
ação. Não pode haver moralidade quando alguém considera somen-
te o seu ponto de vista. Se também consideramos o ponto de vista
das outras pessoas, veremos que não somos livres para mentir, que-
brar promessas ou agir irrefletidamente. (KAMII, 1996, s/p).
Exemplo–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Em reuniões pedagógicas entre professores, é comum a afirmação de que: "os
alunos não sabem realizar uma pesquisa bibliográfica"; "o aluno não sabe elabo-
rar um texto sozinho, somente cópia".
Mas, afinal, se as habilidades de pesquisar, comparar, elaborar e revisar texto
compõem conteúdos procedimentais, eles podem e devem ser aprendidos pelos
alunos, portanto devem ser ensinados pelo educador.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A aprendizagem dos conteúdos procedimentais pode ser
promovida com atividades de ações repetitivas e sequenciais, po-
rém, contextualizadas.
Por exemplo, a elaboração de um experimento que demons-
tre a respiração é vital aos seres vivos. No entanto, a operação me-
cânica da experiência por si própria não constitui uma estratégia
de aprendizagem, pois é importante que o aluno, juntamente com
o professor, participe ativamente da elaboração da experiência.
Os conteúdos atitudinais referem-se à vivência de valores,
normas e regras, ou seja, às atitudes que os alunos devem ter em
sala de aula e na escola. Portanto, esses conteúdos permeiam todo
o conhecimento escolar.
Por isso, ensinar e aprender os conteúdos atitudinais exige
um posicionamento aberto e consciente, principalmente do edu-
cador, sobre o que e como a escola ensina.
© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental 197
1) a construção de conceitos;
2) a explicação de fenômenos da natureza;
3) a compreensão e valorização dos modos de intervir e
agir no e sobre o ambiente e de usar os seus recursos;
4) o entendimento das funções da tecnologia e a reflexão
das questões éticas que cercam a sociedade, a técnica e
a ciência.
Uma aula de Ciências poderá ser transformada em um dos
espaços ideais em que professor e alunos expõem conhecimentos
intuitivos, produtos da vivência de cada um, adquiridos pelo senso
comum e pela cultura, em uma espécie de contraponto à estrutura
do conhecimento científico e seu histórico processo de produção,
resultando, possivelmente, no amadurecimento de conceitos, em
aprendizagens significativas que contribuem para o desenvolvi-
mento do grupo.
Esse estabelecimento de relações entre o que já é conhecido
e as novas ideias, entre o real e o imaginário, entre o trivial e o es-
tranho, o comum e o diferente, o geral e o particular e a definição
dos antagonismos entre os inúmeros elementos que compõem a
rede de conhecimentos são, como nos informam os PCNs, proces-
sos essenciais para que possamos estruturar o pensamento, parti-
cularmente, o método científico.
Segundo Pozo e Crespo (1998, p. 72, grifos do autor):
O que caracteriza o método científico é, em primeiro lugar, a estra-
tégia através da qual os problemas são resolvidos, baseada funda-
mentalmente na formulação de hipóteses derivadas de modelos
teóricos, na experimentação e nas medidas quantitativas. Mas
também é próprio e característico da ciência a forma como esse
método é usado para resolver problemas.
Ser humano
Sobre o ser humano, segundo os PCNs (1997), os conteúdos
para o primeiro ciclo referentes a fatos, conceitos, procedimentos,
valores e atitudes são os seguintes:
1) Comparação do corpo e de alguns comportamentos de
homens e mulheres nas diferentes fases da vida − ao
nascer, na infância, na juventude, na idade adulta e na
velhice − para compreender algumas transformações,
valorizar e respeitar as diferenças individuais.
2) Conhecimento de condições para o desenvolvimento
e preservação da saúde: atitudes e comportamentos
favoráveis à saúde em relação à alimentação, higiene
ambiental e ao asseio corporal, bem como modos de
transmissão e prevenção de doenças contagiosas, parti-
cularmente a aids.
3) Comparação do corpo e dos comportamentos do ser hu-
mano e de outros animais para estabelecer semelhanças
e diferenças.
4) Elaboração de perguntas e suposições acerca das carac-
terísticas das diferentes fases da vida e dos hábitos de
alimentação e de higiene para a manutenção da saúde,
em cada uma delas.
5) Observação, representação e comparação das condições
de higiene dos diferentes espaços habitados, desenvolven-
do cuidados e responsabilidades para com esses espaços.
© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental 203
Ambiente
Segundo os PCNs (1997), os conteúdos para o primeiro ciclo
referentes a fatos, conceitos, procedimentos, valores e atitudes são:
Recursos tecnológicos
Para o ensino dos recursos tecnológicos, os conteúdos para
o segundo ciclo relativos a fatos, conceitos, procedimentos, valo-
res e atitudes, segundo os PCNs (1997), são:
1) Comparação das condições do solo, da água, do ar e a
diversidade dos seres vivos em diferentes ambientes
ocupados pelo homem.
2) Caracterização de técnicas de utilização do solo nos am-
bientes urbano e rural, identificando os produtos des-
ses usos e as consequências das formas inadequadas de
ocupação.
3) Reconhecimento do saneamento básico como técnica
que contribui para a qualidade de vida e a preservação
do meio ambiente.
© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental 213
ali verificados.
9) Reconhecer diferentes papéis dos microrganismos e fun-
gos em relação ao homem e ao ambiente.
Pretende-se avaliar, com esse critério, se o aluno é capaz
de compreender que os microrganismos e fungos atuam
como decompositores, contribuindo para a manutenção
da fertilidade do solo, e que alguns deles são causadores
de doenças, entre eles, o vírus da aids.
10) Reconhecer diferentes fontes de energia utilizadas em
máquinas e outros equipamentos e as transformações
que tais aparelhos realizam.
Esse critério pretende avaliar se o aluno é capaz de no-
mear as formas de energia utilizadas em máquinas e
equipamentos, descrevendo suas finalidades e as trans-
formações que realizam, identificando algumas delas
como outras formas de energia.
11) Organizar registro de dados em textos informativos, ta-
belas, desenhos ou maquetes que melhor se ajustem à
representação do tema estudado.
Com esse critério, pode-se avaliar a capacidade do aluno
de representar diferentes objetos de estudo por meio de
desenhos ou maquetes que guardem detalhes relevan-
tes do modelo observado; de tabelas como instrumento
de registro e interpretação de dados; e de textos infor-
mativos como forma de comunicação de suposições, in-
formações coletadas e conclusões.
12) Realizar registros de sequências de eventos em experi-
mentos, identificando etapas, transformações e estabe-
lecendo relações entre os eventos.
Com esse critério, pretende-se avaliar se o aluno é capaz de
identificar e registrar sequências de eventos − as etapas e
as transformações − em um experimento por ele realizado
e de estabelecer relações causais entre esses eventos.
13) Buscar informações por meio de observações, experi-
mentações ou outras formas e registrá-las, trabalhando
em pequenos grupos, seguindo um roteiro preparado
pelo professor ou pelo professor em conjunto com a
classe.
8. BLOCOS TEMÁTICOS
De acordo com os PCNs de Ciências Naturais (BRASIL, 1998,
p. 43), são quatro os blocos temáticos propostos para o Ensino
Fundamental:
1) Ambiente.
2) Ser humano e saúde.
3) Recursos tecnológicos.
4) Terra e Universo.
Os três primeiros blocos se desenvolvem ao longo de todo o
Ensino Fundamental. O bloco Terra e Universo só será destacado
a partir do terceiro ciclo, ou seja, do sexto ao nono ano, que, no
caso, não é a nossa faixa etária de formação.
A organização do currículo por blocos temáticos facilita o tra-
tamento interdisciplinar das Ciências Naturais. É mais flexível para
se adequar ao interesse e às características do aluno, pois é menos
rigorosa que a estrutura das disciplinas.
Dessa forma, os temas podem ser escolhidos considerando-
-se a realidade da comunidade escolar, ou seja, do contexto social
e da vivência cultural de alunos e professores.
Os blocos temáticos possibilitam que eles não sejam traba-
lhados de forma isolada, mas sim organizados sem rigidez quanto
à ordem sequencial em que deverão ser trabalhados ao longo dos
dois ciclos, como também possibilitam o desenvolvimento de pro-
jetos interdisciplinares.
É importante ressaltar que o professor deverá ter claro os
conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais que pretende
© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental 219
Ambiente
Você tem observado o quanto às questões ambientais estão,
frequentemente, em evidência nos meios de comunicação?
Esses meios contribuem para despertar o interesse ou mes-
mo alertar a população acerca dos grandes problemas ambientais.
No entanto, observa-se que as notícias nem sempre garantem a
obtenção de informações cientificamente corretas. Ao contrário,
são comuns notícias que trazem informações confusas e distorci-
das sobre as questões ambientais. Por exemplo, utilizando o termo
ecologia como sinônimo de meio ambiente; Amazônia é o pulmão
do mundo.
No primeiro e segundo ciclos, o principal referencial teóri-
co para os estudos ambientais é a Ecologia. Dentro dos conteú-
dos dela, são enfocados, principalmente, os estudos das cadeias
e teias alimentares, fluxo de energia, ciclo da matéria no plane-
ta Terra, características e particularidades dos diferentes tipos de
ambientes e suas relações com os seres vivos, relações entre os
seres vivos entre si, a água e o solo.
No primeiro ciclo, os assuntos relacionados ao ambiente são
bastante instigantes e familiares à criança. Os conteúdos propostos
têm como objetivo mostrar noção do ambiente como um processo
da interação entre seus componentes abióticos e bióticos, além
da observação e diferenciação de ambientes naturais e ambientes
construídos, seres vivos (animal e vegetal), características externas
gerais e comportamentos (reprodução, hábitat, alimentação).
Quanto aos conteúdos procedimentais nesse ciclo, devem
ser trabalhados a observação, a experimentação e o registro em
forma de desenho, listas, tabelas, pequenos textos e outros.
Os conteúdos conceituais propostos pelo professor devem
Sugestão 1
Como são os vegetais?
Conteúdos conceituais
• Identificar as partes dos vegetais.
• Desenvolver as habilidades de observação, identificação,
comparação e descrição.
Conteúdos procedimentais
1) Orientar os alunos na organização do material necessá-
rio: lápis, borracha, lápis de cor, folhas de desenho ou
outro papel, pequenas plantas de jardim ou do entorno
da escola (ervas daninhas, preferencialmente).
© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental 223
Conteúdos atitudinais
• Participar significativamente das tarefas.
• Empenhar-se em realizá-las adequada e corretamente.
Sugestão 2
As folhas são assim.
Conteúdos conceituais
1) Identificar as partes e funções da folha vegetal.
2) Concluir que as folhas vegetais se apresentam de diver-
sas formas, cores e tamanhos.
3) Concluir que as folhas realizam as funções de respiração
e de fotossíntese, entre outras.
4) Desenvolver as habilidades de observação, identifica-
ção, comparação, classificação, descrição (oral e por de-
senho), representação e conclusão.
Conteúdos procedimentais
1) Sugerir aos alunos que organizem o material necessário:
folhas de papel ofício, giz de cera, lápis de cor, lápis pre-
to, borracha, folhas de jornal, folhas vegetais, vasos pe-
quenos com plantas, sacos plásticos transparentes.
2) Solicitar que saiam ao pátio da escola ou arredores para
coletarem uma folha de um vegetal que esteja inteira,
porém, caída no chão, retornando à sala de aula.
3) Oferecer, a cada aluno, uma folha de papel ofício, outra
branca e um giz de cera.
4) Orientar os alunos a dobrarem a folha ao meio, no sen-
tido vertical, marcando a dobra sem cortá-la e a realiza-
rem o trabalho utilizando a folha no sentido horizontal.
5) Colocar a folha vegetal coletada sob um dos lados do pa-
pel e, com o auxílio do giz de cera (usado horizontalmen-
te), marcar as impressões da folha, passando o giz sobre
o papel, diversas vezes, para a direita e para a esquerda.
6) Acompanhar a realização da tarefa.
7) Propor aos alunos a confecção conjunta de um cartaz
com o desenho de uma folha, identificando suas partes
(bordo, limbo, pecíolo, bainha, nervuras).
8) Sugerir aos alunos que observem bem o cartaz, compa-
rando-o com a impressão da folha no papel e realizem,
© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental 225
Conteúdos atitudinais
• Participar ativamente de todas as tarefas.
• Empenhar-se na realização correta do que foi solicitado.
Sugestão 3
Descobrindo a clorofila.
Conteúdos conceituais
• Identificar a clorofila como pigmento.
• Concluir que a clorofila é responsável pela cor verde dos
vegetais.
• Desenvolver as habilidades de observação, experimenta-
ção, identificação, comparação, descrição e conclusão.
Conteúdos procedimentais
1) Solicitar aos alunos que, em conjunto, organizem o mate-
rial necessário: tigelas ou potes plásticos (material reapro-
veitável), amassadores de madeira, folhas vegetais verdes
© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental 227
Conteúdos atitudinais
• Participar atenta e comprometidamente dos experimentos.
• Realizar todas as tarefas solicitadas.
Essas sugestões e outras atividades que o professor, com sua
criatividade, irá desencadear em sala de aula podem, certamen-
te, propiciar aos alunos o desenvolvimento de competências que
lhes permitam compreender o mundo em que vivem, atuar como
indivíduos e como cidadãos que percebem a natureza como um
todo dinâmico do qual fazem parte. Além disso, permitir que os
alunos assumam, também, posturas e valores pertinentes às rela-
ções entre os seres vivos e desenvolvam o respeito à diversidade
do ambiente, como preconizam os PCNs.
Recursos tecnológicos
A utilização de recursos tecnológicos foi fundamental para a
civilização. Os produtos industriais e artesanais utilizados no dia a
dia do homem são constituídos de materiais como madeira, me-
tais, minérios, petróleo, energia e outros.
Nas séries iniciais, sugere-se que o professor selecione al-
guns produtos para que seja investigada, de modo geral, a sua ori-
gem e os seus modos de obtenção.
Os temas relacionados aos recursos tecnológicos podem ser
também trabalhados conjuntamente com os temas relativos ao
ambiente por meio da plantação e manutenção de uma horta na
escola ou mesmo em casa.
Esse tipo de trabalho possibilita o desenvolvimento das ha-
bilidades de observação, análise, correlação e, também, permite a
cooperação entre os alunos na realização das tarefas e valorização
dos recursos naturais.
É necessário que o aluno obtenha o conhecimento sobre a
utilização dos recursos naturais e, ao mesmo tempo, aprenda a
necessidade do seu uso racional, ou seja, sem ação predatória. Es-
sas informações contribuem para a formação de um cidadão cons-
ciente quanto à preservação e conservação do meio ambiente.
No segundo ciclo, é possível trabalhar vários assuntos re-
ferentes aos recursos tecnológicos, que podem ser selecionados
juntamente com os temas dos blocos ambiente e ser humano. É
interessante a escolha de assuntos referentes a problemas locais
ou mesmo regionais.
A água como recurso natural esgotável é um tema atual, polê-
mico e interessante para ser estudado pelo aluno do segundo ciclo.
Nessa fase, o aluno é capaz de compreender a importância
vital da água para os seres vivos, seus benefícios e sua utilização
pela civilização humana, bem como a limitação da disponibilidade
Exemplo 2––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Professor: Por que as plantas são verdes?
Alunos: Porque têm clorofila.
Professor: Qual a função da clorofila?
Aluno: Realizar a fotossíntese.
Professor: Como se alimentam os vegetais?
Aluno: Por meio da terra (CAMPOS E NIGRO, 1999, p. 23).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O exemplo nos mostra uma situação muito comum em sala
de aula. Os alunos possuem o conhecimento de que o vegetal é
verde por causa da presença do pigmento clorofila e que sua fun-
ção é fazer fotossíntese. Mas, pelas respostas, pode-se constatar
que não compreendem a função do processo de fotossíntese para
os vegetais.
Assim, o que podemos perceber é que o aluno criou um sig-
nificado para os conteúdos recebidos, entretanto, as formas como
as informações foram transmitidas não alteraram a sua concepção
inicial, e o aluno continuou com o conhecimento do senso comum.
Em muitas situações pedagógicas, é comum, mesmo após
a informação obtida pelo professor, o aluno não conseguir esta-
belecer uma concepção idêntica ou próxima à estabelecida pelo
conhecimento científico.
Segundo Serrano (1997), cada criança interage de maneira
particular após a informação obtida. Observe, a seguir, o que pode
ocorrer:
I A concepção do aluno permanece inalterada. Nesse caso,
o aluno apenas incorpora em seu vocabulário expressões cien-
tíficas, mas mantém suas concepções alternativas.
II O aluno fica com duas concepções, a concepção original
permanece, e ele adquire outra concepção, semelhante à
científica, mas independente da primeira. Nessa situação o
aluno somente aceita as concepções científicas [...] na pers-
pectiva da aula de Ciências. Nas situações do dia-a-dia, conti-
nua aplicando suas próprias concepções alternativas.
III A concepção científica fornecida pelo professor serve ape-
nas para reforçar a concepção do aluno. Ele utiliza algumas
Conteúdos:
Da Educação Infantil à 2ª série: foram certamente feitos trabalhos sobre a
dietética, sobre a higiene alimentar e os dentes. O que é comer bem? Como se
come bem? Para que servem os dentes? Como protegê-los? Os alunos podem
ter descoberto que, em sua família ou na escola, certas pessoas seguem regimes
alimentares particulares por razões médicas (intolerância a certas substâncias,
necessidade de emagrecer), por razões de estética ou como parte de uma
atividade esportiva intensa.
A partir da 2ª série: uma investigação mais detalhada sobre as necessidades
alimentares leva o aluno a descobrir a organização geral do aparelho digestório
e a função da nutrição. A educação para a saúde é muito fundada em bases
científicas.
Objetivo do conhecimento: o corpo humano e a educação para a saúde.
Aproximação inicial das funções da nutrição (digestão, respiração e circulação).
Competência específica: ser capaz de perceber o trajeto e as transformações
dos alimentos no tubo digestório e de sua passagem para o sangue. Ser capaz
de explorar os documentos (radiografias, livros, multimídia).
Conceitos em jogo, noções a serem construídas:
– trajetória dos alimentos;
– transformação mecânica dos alimentos;
– transformação química dos alimentos;
– funcionamento das enzimas digestivas;
– solubilização dos nutrientes;
– difusão através de uma membrana;
– passagem dos nutrientes para o sangue;
– noção de célula;
– utilização celular dos nutrientes.
© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental 239
Extraído do caderno de A: "A comida que dá força são o kiwi, a maçã, a pêra e
as outras frutas e os cereais. Os cereais são eficientes para se ficar em forma,
mas não gosto disso".
Cada aluno tem seu ponto de vista sobre a questão da alimentação. Por
outro lado, nessa fase da progressão, a palavra "força" não significa nada de
preciso, está sem conexão com o conceito científico de força. A palavra será
progressivamente substituída pela palavra "energia". Nessa classe, as crianças
acreditam que vitaminas e cálcio dão "forças", conforme uma representação
frequentemente veiculada por mensagens publicitárias. E elas creem que são
justamente as comidas de que não gostam que dão "forças", provavelmente
porque é um dos argumentos utilizados por seus pais para estimulá-las a
consumir esses alimentos pouco apreciados.
No final do debate, uma pergunta é destacada: como os alimentos que comemos
podem dar "forças" ao corpo e também "fazer crescer"? O professor pode sugerir
que as crianças perguntem a um esportista (se há um clube perto da escola) ou
ao médico da escola ou, então, procurarem em um livro o que se deve comer
e beber antes e durante uma competição para se ter energia. Uma conversa
com um responsável pelo restaurante escolar também pode ser interessante.
Esse debate leva a várias pistas possíveis, ou seja, vários caminhos a serem
levados em conta. Essas pistas, já trabalhadas na educação infantil e na 1ª
série, podem ser examinadas mais detalhadamente da 2ª à 4ª série e nas séries
finais do Ensino Fundamental. A pista examinada em seguida é principalmente
mecanicista, em oposição às sequências mais fundamentais. Como o nosso
corpo se apropria dos alimentos?
Esse é o principal problema a ser resolvido.
Uma hipótese feita pela classe no final dessa aula pode ser a seguinte:
"Suponhamos que os líquidos vão para uma bolsa para líquidos e se transformem
em urina, enquanto os alimentos sólidos pegam outro caminho e se transformam
em fezes". Essa hipótese será testada na próxima aula.
Esse tipo de comparação mostra que boa parte dos alimentos não é expelida
pelas fezes e pela urina. Agora são lembradas as hipóteses sobre o papel dos
alimentos, levantadas na primeira aula. Estas respondem parte da pergunta:
parte dos alimentos serve para reparar, repor os cabelos e peles mortas (caspas)
que nosso corpo não para de produzir e para o crescimento da criança. Outra
parte é consumida para produção de energia para respiração. Resta saber por
onde e como os alimentos passam para o corpo, para ter seu papel nutritivo.
Aula 6 – Avaliação
Os alunos recebem a silhueta de uma criança com o pedido para desenharem
novamente o trajeto dos alimentos dentro do corpo. O professor pode repetir as
propostas de manipulação da aula 3. Perguntas mais abertas permitem verificar
se o aluno sabe como reinvestir o conhecimento adquirido ao longo desse
módulo. Explique por que, quando você come carne de frango ou uma cenoura,
você não se torna frango ou cenoura.
Os alimentos passam por transformações, entram em nosso corpo e servem
como material de construção para fabricar o nosso corpo (crescer, engordar)
e para fornecer energia (a demanda aumenta quando nos movimentamos).
Observar, em sua carteira de saúde, a curva de seu crescimento quando você
era bebê e descrevê-la. O que lhe permitiu crescer e engordar? O bebê cresce
e engorda graças aos alimentos. O leite contém todos os materiais necessários.
Também há perdas. Apenas parte do que o bebê bebe e come entra em seu
corpo por meio do sangue. A alimentação permite crescer e fornece energia.
As avaliações propostas como exemplos deixam dúvidas no que diz respeito à
evolução das representações das crianças entre o começo e o fim do módulo.
Exemplos de formulações aceitáveis para as 2ª a 4ª séries encontram-se no
texto "Uma sala de ciências em Ariège", no site <www.ac-toulouse.fr/ ariege/
sciences09/programmation_biologie.PDF>, com formulações acessíveis à
Educação Infantil e à 1ª série, para comparação.
Conclusão
Alguns desvios devem ser evitados. Um trabalho exageradamente centrado
sobre a mastigação (processamento mecânico dos alimentos) e o papel da saliva
(processamento químico dos alimentos) pode dar aos alunos a ideia errada de
que toda a digestão acontece na boca. Convém insistir no fato de que isto é assim
apenas com o açúcar. A mastigação é apenas uma fase preliminar da trituração
mecânica. A maior parte da trituração mecânica acontece no estômago. Se não
fosse assim, deveríamos passar horas mastigando (o vômito, que corresponde
ao estado físico dos alimentos na bolsa do estômago, frequentemente vem com
pedaços grandes). A digestão é em grande parte facilitada pela hidrólise ácida dos
alimentos (o estômago produz ácido clorídrico). Essa noção pode ser introduzida
© U4 - Ensino de Ciências no Ensino Fundamental 249
2) Quais são os objetivos para o Ensino de Ciências Naturais para o Ensino Fun-
damental de acordo com os PCNs?
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) Uma das justificativas mais comuns para a inclusão das Ciências da Natureza
como uma parte substantiva do currículo da Educação Básica em todos os
países costuma ser a necessidade de proporcionar aos alunos uma cultura
científica mínima, que lhes permita compreender não somente o funciona-
mento do mundo natural, mas também os envolvimentos que os avanços
do conhecimento científico e tecnológico têm para a vida social do cidadão
comum. Já que vivemos num mundo no qual os conhecimentos e os pro-
cedimentos das ciências têm ampla difusão e uma presença quase perma-
nente em nossa vida cotidiana, parece necessário dotar os futuros cidadãos
de uma bagagem conceitual e metodológica que lhes permita ser partícipes
desses conhecimentos.
2. CONTEÚDOS
• Estratégias didáticas no Ensino de Ciências:
a) Problematização.
b) Busca de informações em fontes variadas.
c) Observação.
d) Experimentação.
e) Leitura de textos informativos.
f) Sistematização de conhecimentos.
g) Ensino com pesquisa.
h) Aula expositiva dialogada.
i) Dramatização.
j) Seminário.
k) Estudo do meio.
l) Pesquisa de campo.
m) Projetos.
• Recursos didáticos no Ensino de Ciências:
a) Laboratório.
b) Audiovisual.
c) Jogos.
d) Portfólio.
e) Livro didático.
• Critérios para a escolha do livro didático de Ciências.
Telma Weisz
Telma Weisz, doutora em psicologia pela Universidade de
São Paulo, Telma Weisz foi a criadora do Programa de For-
mação de Professores Alfabetizadores (Profa), lançado em
2001 pelo Ministério da Educação. Hoje coordena um progra-
ma semelhante, o Letra e Vida, na Secretaria de Educação
do Estado de São Paulo. Referência em alfabetização, Weisz
acredita que formar leitores e gente capaz de escrever é uma
tarefa de todos da escola: coordenadores, gestores e profes-
sores de todas as séries e disciplinas. "Eu diria que leitura
e escrita são o conteúdo central da escola e têm a função
de incorporar a criança à cultura do grupo em que ela vive".
(Imagem disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/lin-
gua-portuguesa/alfabetizacao-inicial/aposte-alto-capacidade-alunos-429248.shtml>.
Acesso em: 25 abr. 2014). (Texto disponível em: <http://educarparacrescer.abril.com.
br/aprendizagem/entrevista-telma-weisz-403872.shtml>. Acesso em: 25 abr. 2014).
Fernando Hernández
Fernando Hernández, doutor em Psicologia e professor
de História da Educação Artística e Psicologia da Arte na
Universidade de Barcelona. Tem 50 anos e há 20 se de-
dica a lutar pela inserção dos projetos didáticos na esco-
la. Escreveu Transgressão e Mudança na Educação (Ed.
Artmed). (Imagem disponível em: <http://tataiaraujo.blo-
gspot.com/2007/12/entrevista-com-fernando-hernndez.
html>. Acesso em: 25 abr. 2014). (Texto disponível em:
<http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/
materias_296380.shtml> Acesso em: 25 abr. 2014).
Antoni Zabala
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
É importante relembrar que, na Unidade 5, estudamos os
quatro eixos temáticos que os PCNs propõem, como também seus
conteúdos e critérios de avaliação, de acordo com cada ciclo.
Vimos, também, que cada eixo temático corresponde à es-
colha de conteúdos articulados com o propósito de atender aos
objetivos de Ciências Naturais para o Ensino Fundamental.
Agora, chegou o momento de discutirmos, nesta unidade,
as estratégias e recursos didáticos necessários para efetivação da
aprendizagem no Ensino de Ciências, com a finalidade de subsidiar
a prática docente.
De acordo com os PCNs (BRASIL, 1997, p. 29):
Em Ciências Naturais são procedimentos fundamentais aqueles
que permitem a investigação, a comunicação e o debate de fatos e
ideias. A observação, a experimentação, a comparação, o estabele-
cimento de relações entre fatos ou fenômenos e ideias, a leitura e
a escrita de textos informativos, a organização de informações por
meio de desenhos, tabelas, gráficos, esquemas e textos, a proposi-
ção de suposições, o confronto entre suposições e entre elas e os
© U5 - Estratégias e Recursos Didáticos no Ensino de Ciências 259
5. ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS
Todos nós professores temos de organizar a forma como va-
mos operacionalizar o nosso trabalho didático. Para isso, dispomos
de algumas estratégias didáticas que contribuem para otimizar o
processo de ensinagem.
O conceito ensinagem foi, inicialmente, explicitado no por
Anastasiou (2005), e é o termo adotado para significar uma situa-
ção de ensino da qual necessariamente decorra a aprendizagem,
sendo a parceria entre professor e alunos condição fundamental
para desenvolvimento do conhecimento, necessário à formação
do aluno durante o cursar da graduação.
Já o termo estratégia, do grego strategía e do latim strategia, é
definido por Anastasiou (2005) como sendo a arte de aplicar ou explo-
rar os meios e condições favoráveis e disponíveis para a consecução de
objetivos específicos; visando, portanto, à efetivação da ensinagem.
O professor deverá ser um verdadeiro estrategista, o que
justifica a adoção do termo estratégia, no sentido de estudar, sele-
cionar, organizar e propor as melhores ferramentas para facilitar a
apropriação do conhecimento por parte dos alunos.
Por meio das estratégias, aplicam-se ou exploram-se meios,
modos, jeitos e formas de evidenciar o pensamento, respeitando
as condições favoráveis para executar ou fazer algo. Esses meios
ou formas comportam determinadas dinâmicas, devendo conside-
rar o movimento, as forças e o organismo em atividade.
Sabemos que, para que o Ensino de Ciências possa ser de-
senvolvido, alguns elementos devem ser considerados como fun-
damentais. As atividades didáticas fazem parte de um projeto pe-
dagógico e devem ser vistas no contexto da proposta educativa da
escola e do professor, articulando-se a ela.
Nesse sentido, é necessário que o professor, ao escolher as
atividades e a forma de realizá-las, tenha claros os seus objetivos e
© U5 - Estratégias e Recursos Didáticos no Ensino de Ciências 261
Problematização
Segundo Pozo (1998), a problematização e a solução de pro-
blemas constituem conhecimentos e competências que o profes-
sor precisa ter e que abrangem vários âmbitos diferentes.
Dessa forma, o professor precisa reconhecer a problematização
como um recurso didático, considerando-a como uma forma de pro-
por atividades com o propósito de ensinar um conteúdo específico.
De acordo com o que já vimos, os alunos possuem conhe-
cimentos prévios dos fenômenos naturais e dos produtos tecno-
lógicos, que podem ter uma racionalidade diferente da lógica das
Ciências Naturais.
Esses conhecimentos prévios e as possíveis explicações
oriundas do senso comum são o ponto de partida para o trabalho
de construção da compreensão dos fenômenos naturais, que se
desenvolve na escola.
Observação
A observação é o mais geral e básico de todos os procedi-
mentos em Ciências Naturais. Está presente em diferentes mo-
mentos, como nas comparações, nos trabalhos de campo, nas ex-
perimentações, ao assistir a um vídeo, por exemplo.
A capacidade de observar já existe em cada pessoa na medida
em que, olhando para determinados objetos, pode relatar o que vê.
Nesse contexto, devem-se considerar as observações dos es-
tudantes, que só são conhecidas pelos colegas e professor quan-
do comunicam o que veem, seja oralmente, por meio de registros
escritos ou desenhos. Mas, observar não significa apenas ver, e
sim buscar ver melhor, encontrar detalhes no objeto observado,
buscar o que se pretende encontrar.
Para desenvolver essa capacidade de observação dos estudan-
tes; é necessário, portanto, propor desafios que os motivem a buscar
os detalhes de determinados objetos para que eles sejam percebidos
de modo cada vez mais completo e diferente do modo habitual.
Experimentação
O experimento é trabalhado como uma atividade na qual
você, acompanhando um protocolo ou guia de experimento, pro-
cede à demonstração de um fenômeno. Assim, considera-se que
o professor realize uma demonstração para sua classe, e a partici-
pação dos alunos resida em observar e acompanhar os resultados.
Mesmo nas demonstrações, a participação dos alunos pode
ser ampliada, desde que o professor solicite a eles que apresen-
tem expectativas de resultados, expliquem os resultados obtidos e
compare-os ao esperado.
A experimentação é realizada pelos alunos quando discutem
ideias e manipulam materiais. Ao oferecer-lhes um protocolo de-
finido ou guia de experimento, os desafios estão em interpretar o
protocolo, organizar e manipular os materiais, observar os resulta-
dos e checá-los com os esperados.
Os desafios para experimentar ampliam-se quando se solicita
aos alunos que construam o experimento. As exigências quanto à atu-
ação do professor, nesse caso, são maiores que nas situações prece-
dentes: discuta com os alunos a definição do problema, converse com
a classe sobre materiais necessários e como atuar para testar as su-
posições levantadas, os modos de coletar e relacionar os resultados.
Como fonte de investigação sobre os fenômenos e suas
transformações, o experimento torna-se mais importante confor-
me os alunos participam mais da confecção de seu guia ou proto-
colo, realizam por si mesmos as ações sobre os materiais e discu-
tem os resultados, preparando o modo de organizar as anotações
e as realizando.
É fundamental que as atividades práticas tenham garantido
o espaço de reflexão, desenvolvimento e construção de ideias, ao
lado de conhecimentos, procedimentos e atitudes.
O estímulo à realização de experimentos nas aulas de Ci-
ências vem sendo enfatizado pelos cientistas e educadores com
não é por estar em um papel que todo texto está isento de erros
e preconceitos.
Sabemos que, em Ciências Naturais, existem muitas fontes
textuais:
• enciclopédias temáticas;
• livros de divulgação ou ficção científica;
• matérias de jornais ou de revistas, folhetos de origem di-
versa (museus, postos de saúde, organizações não gover-
namentais, empresas etc.);
• livros paradidáticos.
Segundo os PCNs (1997), outras atividades textuais, como a
escrita e a fala, também são valorizadas em Ciências Naturais. A
produção de resumos, de esquemas, de comunicações públicas e
outras práticas têm espaço em diferentes momentos de ensino e
aprendizagem.
Dessa forma, é importante que o professor ensine esses pro-
cedimentos para seus estudantes, inicialmente mostrando como
se faz, para que, progressivamente, os estudantes ganhem con-
fiança e autonomia.
Sistematização de conhecimentos
É necessário que o professor organize resumos ou sistemati-
zações de conhecimentos, parciais e gerais, para cada tema estu-
dado por sua classe.
Durante a investigação de um tema, uma série de noções,
procedimentos e atitudes vão se desenvolvendo. Para organizar
com a classe essas novas aquisições, devem ser produzidos consi-
derações parciais sobre o que foi aprendido até aquele momento.
Ao final das investigações sobre o tema, recuperam-se os
aspectos fundamentais dos fechamentos parciais, produzindo-se,
então, a síntese final.
Exemplo–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Embalagens
Finalidade: possibilitar aos alunos o estabelecimento de relações entre os ob-
jetos de uso cotidiano, as propriedades dos materiais de que são constituídos
e as possibilidades de escolha, de acordo com o destino final a que podem ser
conduzidos.
Conteúdo: materiais, suas propriedades e consequente adequação ao uso, im-
pacto ambiental decorrente de sua utilização e a importância da conscientização
do consumidor.
Duração: poucos dias.
Materiais: embalagens de água, refrigerantes, sucos e outros líquidos.
Desenvolvimento:
• Cada aluno deve trazer embalagens de água, refrigerantes, sucos e outros
líquidos à escola. O professor deverá interferir, sugerindo que sejam trazidas
embalagens de diversos tipos: latas, vidros, plásticos, caixinhas e outros
materiais: moedas velhas, arruelas de metal etc.
• Os alunos devem observar e anotar as principais características de cada
uma das embalagens: transparência, elasticidade, plasticidade, se quebram
com facilidade, impermeabilidade, se são fáceis de abrir, se podem ser fe-
chadas para consumo posterior ao líquido restante. Para auxiliar a análise,
podem ir respondendo às seguintes questões: como se encontram? Quais
delas podem ser reutilizadas para o mesmo fim ou para outros? Quais delas
podem ser recicladas? Quais delas devem ser descartadas sem possibilida-
de de reaproveitamento?
Pesquisa: a análise das embalagens precisa ser suportada por uma pesquisa
de investigação a respeito dos materiais de que são feitas, pesquisa que possa
esclarecer aos alunos a origem dos materiais, forma de obtenção, durabilidade,
capacidade de conservação do produto e tempo de decomposição, por exemplo.
© U5 - Estratégias e Recursos Didáticos no Ensino de Ciências 273
Dramatização
É uma representação teatral realizada da perspectiva de um
foco, problema, tema etc. Pode conter explicitação de ideias, concei-
tos, argumentos e ser também uma maneira particular de estudo de
casos, já que a teatralização de um problema ou situação perante os
estudantes equivale a apresentar-lhes um caso de relações humanas.
Essa estratégia didática tem como objetivos mobilizar algu-
mas operações do pensamento nos alunos, tais como:
• desenvolver poder de decisão e interpretação;
• propiciar o pensamento crítico, a busca de suposições;
• fazer comparações;
• desenvolver a criatividade e a imaginação.
Quando a dramatização for planejada, o professor escolhe o
assunto, os papéis e os distribui entre os estudantes, orientando-
-os sobre como atuar.
Agora, quando ela for espontânea, o planejamento pode ser
deixado inteiramente por conta dos estudantes, o que dá mais au-
tenticidade ao exercício.
Dessa forma, é possível montar um círculo ao redor da cena
para que todos observem bem a apresentação. O professor infor-
ma o tempo disponível e pede aos alunos que prestem atenção
em pontos relevantes conforme o objetivo do trabalho. No final, é
realizado o fechamento da atividade.
Nessa estratégia, a avaliação será feita pelo grupo, pelo pro-
fessor e pelos colegas. Confira a sugestão de alguns critérios de
avaliação:
© U5 - Estratégias e Recursos Didáticos no Ensino de Ciências 277
Seminário
O seminário é um momento em que as ideias devem germi-
nar ou serem semeadas. Portanto, espaço onde um grupo discute
ou debate temas ou problemas que são colocados em discussão.
Essa estratégia didática tem como objetivo mobilizar algu-
mas operações do pensamento nos alunos, tais como:
1) análise e interpretação crítica;
2) levantamento de hipóteses;
3) busca de suposições;
4) obtenção, organização e comparação de dados;
5) aplicação de fatos a novas situações.
A dinâmica do seminário acontece em três momentos:
1) Preparação:
• apresentar o tema e/ou selecioná-lo com os estu-
dantes, justificar sua importância, desafiar os alunos
e apresentar-lhes os caminhos das modalidades de
pesquisa (bibliográfica, de campo ou de laboratório);
• organizar o calendário para a apresentação dos tra-
balhos;
• orientar os estudantes na pesquisa (apontar fontes
de consulta bibliográfica e/ou pessoas/instituições) e
na elaboração de seus registros para a apresentação
ao grupo;
• organizar o espaço físico para favorecer o diálogo en-
tre os participantes.
2) Desenvolvimento:
• discussão do tema, em que o secretário anota os pro-
blemas formulados, bem como soluções encontradas
e conclusões apresentadas. Cabe ao professor dirigir
a sessão de crítica ao final de cada apresentação, fa-
zendo comentários sobre cada trabalho e sua exposi-
ção, organizando uma síntese integradora do que foi
apresentado.
3) Relatório:
• trabalho escrito em forma de resumo que pode ser
produzido individualmente ou em grupo.
Os critérios de avaliação devem ser adequados aos objetivos
da atividade em termos de conhecimento, habilidades e compe-
tências. Sugestão de critérios de avaliação:
• clareza e coerência na apresentação;
© U5 - Estratégias e Recursos Didáticos no Ensino de Ciências 279
Pesquisa de campo
Segundo os PCNs (BRASIL, 1997), não é possível conceber o
Ensino de Ciências sem o planejamento das pesquisas de campo
articuladas às atividades de sala de aula. As pesquisas de campo
contemplam visitas planejadas a ambientes naturais, a áreas de
preservação ou conservação, áreas de produção primária (planta-
ções) e indústrias.
© U5 - Estratégias e Recursos Didáticos no Ensino de Ciências 283
sobre o local que será visitado, para que os alunos ampliem suas
suposições iniciais.
Nessa fase, o registro também é fundamental para que os
dados e observações do próprio local sejam comparados na volta.
É também nesse momento que o professor elabora o roteiro de
campo – recurso-chave para a coleta e o registro de dados durante
a excursão, para que possam ser explorados na continuidade dos
trabalhos em sala de aula.
Nas aulas seguintes ao trabalho de campo, os alunos irão de-
dicar-se à organização e à análise de dados colhidos, por exemplo,
nas experimentações.
Observe as situações descritas a seguir sobre uma aula a res-
peito da metamorfose dos insetos e do processo de decomposição
da matéria orgânica:
Silvia percebeu, então, que tinha em mãos uma excelente oportunidade para
solicitar aos alunos que realizassem uma pesquisa em grupo sobre aquele mis-
terioso bichinho que havia aparecido nos potes.
Os alunos pesquisaram na sala de aula, consultando materiais da biblioteca da
escola previamente selecionados pela professora. Em seguida, cada grupo de-
veria contar aos colegas o que havia aprendido.
Alguns grupos de alunos descobriram que aquelas "minhoquinhas brancas iriam
virar moscas". (Na verdade, "minhoquinhas brancas" são moscas, só que na fase
de larva. Na fase adulta, elas têm asas e "parecem-se" com moscas.) Essa infor-
mação foi tão surpreendente que algumas crianças chegaram a duvidar. Afinal
de contas, as "minhoquinhas brancas" não se pareciam em nada com moscas.
A professora sugeriu, então, aos alunos uma experiência para verificar se o que
estava nos livros era verdade. Colocaram uma gaze tapando os potes, de modo
que impedisse a entrada de moscas de fora e a fuga das "minhoquinhas brancas".
Com isso, ficava claro que, se aparecesse alguma mosca no frasco, ela só poderia
ter surgido lá dentro, onde havia somente as tais "minhoquinhas brancas".
Depois de algum tempo, os alunos constataram, entre outras coisas, que, quan-
do já estavam bem grandes, as larvas ficavam diferentes e formavam casulos, do
mesmo modo que as borboletas. E que, depois de pouco tempo, moscas adultas
apareciam dentro dos potes.
A professora Silvia ficou muito satisfeita com a participação dos alunos nesse tra-
balho e resolveu encerrá-lo com uma aula de discussão. Seu objetivo era ajudar
os alunos a "sistematizar" o conhecimento que haviam adquirido. Em seguida,
pediu que cada aluno escrevesse um relatório sobre o trabalho realizado.
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de outro livro didático que trazia mais informações sobre esses seres vivos. E,
como não havia exercícios de interpretação de texto nessa página, ela ditou algu-
mas perguntas a que os alunos deveriam responder logo após a leitura.
A terceira e última aula planejada pela professora Cátia nessa unidade didáti-
ca iniciou-se com a correção dos exercícios propostos. Em seguida, os alunos
foram para a sala de projeção, onde finalmente puderam ver as tão esperadas
fotografias de fungos.
Para encerrar, a professora respondeu às perguntas dos alunos e, no final da
aula, marcou uma avaliação sobre a decomposição da matéria orgânica para a
semana seguinte. (CAMPOS; NIGRO, 1999, p. 44-45).
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Projetos
O projeto é uma estratégia de trabalho em equipe que favo-
rece a articulação entre os diferentes conteúdos da área de Ciên-
cias Naturais e destes com os de outras áreas do conhecimento, na
solução de um dado problema.
Conceitos, procedimentos e valores apreendidos durante o
desenvolvimento dos estudos das diferentes áreas podem ser apli-
cados e conectados, ao mesmo tempo em que novos conceitos,
procedimentos e valores se desenvolvem.
Um projeto envolve uma série de atividades com o propósito
de produzir, com a participação das equipes de alunos, algo com
função social real, como:
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• jornal;
• livro;
• mural etc.
Todo projeto é pensado como uma sequência de etapas que con-
duzem ao produto final desejado, todas elas compartilhadas com os
alunos. Algumas etapas devem ser cumpridas, como veremos a seguir.
Definição do tema
Pode-se considerar tema de um projeto em Ciências Natu-
rais um aspecto da natureza ou das relações entre o homem e a
natureza que se pretenda investigar. Os temas podem ser desde os
mais abrangentes ou gerais até os mais específicos ou circunscritos
a determinados fenômenos.
Escolha do problema
Uma questão toma a dimensão de um problema quando
suscita a dúvida, estimula a solução e cria a necessidade de ir em
busca de informações para que as soluções se apresentem. Im-
plica, ainda, confrontar soluções diferentes, analisá-las e concluir
sobre a que melhor explica o tema em estudo.
Escolher o problema é, portanto, transformar o tema em
uma questão com essas características.
Fechamento do projeto
Atividades de fechamento de um projeto devem ter como
intenção:
• reunir e organizar os dados, interpretá-los e responder ao
problema inicialmente proposto, articulando as soluções
parciais encontradas no decorrer do processo;
• organizar apresentações ao público interno e externo à
classe. Dependendo do tema e do ciclo que realizou o
projeto, as apresentações podem incluir elaboração de
folhetos, jornais, cartazes, dramatizações, maquetes, ex-
posições orais e seminários, ou exposição de experimen-
tos (feira de ciências).
Avaliação
Existem várias avaliações envolvidas na execução de projetos:
• avaliações voltadas a dar acompanhamento aos grupos
que realizam o projeto, as quais o professor realiza obser-
vando as contribuições individuais e resultados parciais dos
grupos. Esse modo de avaliação permite que o professor
detecte as dificuldades e ajude os alunos a superá-las;
• autoavaliação durante o projeto é um instrumento que
permite ao professor e aos próprios alunos conhecerem
as dificuldades e as aquisições individuais;
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6. RECURSOS DIDÁTICOS
Laboratório
O laboratório é outro recurso valioso na área de Ciências Na-
turais. É o local onde se realizam os experimentos.
Audiovisual
Filmes, slides, transparências, painéis fotográficos e registros
sonoros são recursos complementares importantes, desde que o
professor verifique e reafirme a relação do filme com os conteú-
dos trabalhados, prepare sua sequência e garanta a qualidade da
apresentação.
Vale lembrar que: exibir vídeos é sempre bom. No Ensino de
Ciências, a exibição de documentários enriquece e ilustra conteú-
dos, muitas vezes, de difícil entendimento. Esse recurso potencia-
liza e facilita a compreensão dos conceitos propostos. Utilize, por
exemplo, os vídeos e publicações dos programas da TV Escola.
Exemplo–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Simulação ou jogos de papéis – instalação de uma fábrica
Finalidade: possibilitar aos alunos a compreensão da relação entre as ações
humanas e as transformações que podem ser provocadas no ambiente, favore-
cendo ou prejudicando o equilíbrio ecológico.
Conteúdo: equilíbrio dos ecossistemas, sociedade sustentável.
Duração: duas semanas.
Materiais: fontes de pesquisa, como livros, revistas, jornais, vídeos ou computa-
dor com acesso à internet.
Situação: instalação de uma fábrica de óleo combustível em uma determinada
cidade.
Questões a serem debatidas: a instalação da fábrica pode provocar quais
transformações no ambiente? Que medidas precisam ser adotadas para evitar
isso? Que medidas de proteção já existem e podem ser acionadas? Que van-
tagens e desvantagens a instalação pode trazer a população do ponto de vista
social e econômico?
Procedimentos: os alunos assumirão, cada um deles, a posição de cidadãos
que participarão de um fórum municipal para debater a questão: prefeito, vere-
adores etc.
Cada um deles apresentará, nesse fórum, as suas considerações a respeito da
instalação da fábrica e em quais condições. Para tanto, os alunos pesquisarão
sobre o assunto em sites, livros, jornais, revistas e, depois disso, organizarão as
suas argumentações, que serão apresentadas no fórum. Eles deverão ser orien-
tados pelo professor a respeito de como essa argumentação deve acontecer
num espaço como o citado.
Além disso, esse trabalho deve prever uma discussão coletiva de subgrupos
organizados para preparar e discutir as falas de cada um dos participantes não
apenas do ponto de vista da organização do discurso propriamente, mas também
do ponto de vista das questões relativas aos conteúdos de Ciências.
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Livro didático
Historicamente, o Ensino de Ciências Naturais tem sido dire-
cionado pelo livro didático. Dessa forma, a preocupação existente
se limita à reflexão sobre a qualidade do material editorial disponí-
vel, como se apenas isso fosse a solução para a má propagação do
Ensino de Ciências. A ausência de uma contínua formação docente
associada à péssima formação acadêmica recebida pelo professor
são fatos inegáveis. Nesse sentido, o docente se restringe à busca
de respostas, exclusivamente, no livro didático.
Weissmann (1998, p. 34) assevera que:
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POSITIVOS LIMITAÇÕES
Transmitem uma imagem
ingênua do mundo.
São reais. São fantasiosas.
Ilustrações
São atuais. São defasadas.
São contextualizadas. Contêm erros.
O ambiente é perfeito e
irreal (estereotipado).
Apresentado como agente de Propõem que a
dominação e transformação da transformação da
Homem
natureza (aparecem seus conflitos e natureza ocorra para
transformações). beneficiar o homem.
São para o aluno trabalhar, pensar e São de fixação e
concluir, analisando a partir do real. memorização.
Atividades
Propõem pesquisa em relação à São reproduções de
realidade. experiências.
Há uma concepção única ligando as
Seqüenciamento lições. Cada lição possui
e coerência Seguem linhas gerais, os conteúdos concepção própria.
da proposta.
Fonte: PARANÁ (1991, p. 29).
cia com o documento norteador, uma vez que muitos livros têm
chegado às mãos do educador de forma descontextualizada, com
falhas e erros conceituais.
Como vimos, os interesses dos alunos estão centrados na
ação, no diálogo, na confrontação de ideias, no trabalho em equi-
pe, na experimentação, na reflexão conjunta e na busca de novos
questionamentos.
Portanto, as aulas de Ciências devem destacar o caráter de
empresa vital, humana, fascinante, indagadora, aberta, útil e cria-
tiva que tem a atividade científica, e o livro didático deve contri-
buir para isso e não ser utilizado para tornar o Ensino de Ciências
uma simples literatura.
7. TEXTO COMPLEMENTAR
Leia o texto a seguir e reflita sobre as seguintes indagações:
• Você acha que o professor planejou bem a aula?
• Quais foram as falhas? E os acertos?
• A seu ver, que princípios e orientações metodológicas ele
ignorou?
• Os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais
foram contemplados? Justifique sua resposta.
Para mim, aqueles cinquenta minutos se passaram como nunca, longe de qual-
quer experiência ou referência anterior.
Comecei a duvidar daquilo que até aquele momento julgava ter sido uma boa
formação acadêmica. Senti-me desorientado, pois constatava a cada momento a
multiplicidade de problemas que um único assunto poderia gerar, quando se está
trabalhando com crianças. Numa aula, tanto os raciocínios quanto as perguntas
e as atitudes das crianças podem se apresentar "vivos" e influenciar o seu curso.
E me dei conta de que precisava buscar soluções para minhas dúvidas, que
eram muitas.
Não posso terminar este relato sem deixar de contar uma das últimas perguntas
que me foram feitas naquela tarde, e para a qual o meu jogo de cintura, que até
então tinha conseguido se manter relativamente bom, deu mostras de não ser
maleável o suficiente. Refiro-me a um aluno que, já na hora em que nos despe-
díamos, perguntou:
– Mas, professor, o esqueleto está aqui dentro de nós e quando morremos ele apa-
rece... Então, onde é que está a alma? Ela também aparece quando a gente mor-
re? Dá pra gente ver a alma na outra aula? (CAMPOS; NIGRO, 1999, p. 54-55).
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8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Como trabalhar com a problematização no Ensino de Ciências Naturais?
Gabarito
1) Segundo Pozo (1998), a problematização e a solução de problemas consti-
tuem conhecimentos e competências que o professor precisa ter e abran-
gem vários âmbitos diferentes. Dessa forma, o professor precisa reconhecer
a problematização como um recurso didático, considerando-a como uma
forma de propor atividades com o propósito de ensinar um conteúdo es-
pecífico. De acordo com o que já vimos, os alunos possuem conhecimentos
9. CONSIDERAÇÕES
Ao longo desta unidade, pudemos perceber que ensinar Ci-
ências nas séries iniciais não é uma tarefa difícil. Ao contrário, pode
ser simples, e a chave está nas suas mãos, aproveitando aquilo que
já é natural nos alunos: o desejo de conhecer, agir, dialogar, intera-
gir, experimentar e também de teorizar.
Trata-se de uma concepção de que ensinar Ciências é fazer
ciência. Há toda uma dialética envolvida na construção do conhe-
cimento, e fazer ciência na escola não é, necessariamente, desco-
brir uma nova lei, desenvolver uma nova teoria, propor um novo
modelo ou testar uma nova fórmula.
Antes de tudo, fazer ciência na escola é utilizar procedimen-
tos próprios da Ciência, como observar, formular hipóteses, ex-
perimentar, registrar, sistematizar, analisar, criar e transformar o
mundo.
Agora é com você. Mãos à obra!
Gostaríamos de agradecer imensamente pela oportunidade
de fazer parte da formação de sua profissionalização docente.
Desejamos que a sua trajetória como educador seja repleta
de saberes, sabores e uma eterna busca pelo aprendizado!
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