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Uma Resenha
Amor Líquido de Zygmunt Bauman é uma obra chave. Nele, análises da forma e as mudanças de
como as pessoas se relacionam são exploradas.
O autor diz que o amor-próprio é resultado de ser amado. Esta é uma relação infinita e
incessante: quando o sujeito percebe que sua voz é ouvida, que sua opinião é importante ou que sua
presença será sentida, ele entende que é único, especial e digno de amor. Só o outro pode dizer que
somos dignos e amor, o que fazemos é reconhecer esta classificação.
Num processo de identificação com aquele que nos amou, também entendemos que a
necessidade de amor existe nele (ou melhor, entendemos a sua singularidade). Nós nos amamos
quando nosso ego se identifica com o outro e, desta forma, amamos a nós, merecedores de
amor, e amamos o outro identificado.
É nesta relação que Bauman diz ser “amar ao próximo como ama a ti mesmo” a máxima que
funda a moralidade. O instinto de preservação não é suficiente para a sobrevivência. É necessário
haver uma instância moral atuando nas definições do eu e do outro para que haja uma relação
humana que seja algo mais que uma relação puramente animal.
Entretanto, em uma sociedade de pura incerteza em relação ao outro, o amor nos é
negado. É negado a dignidade de ser amado. Não há amor-próprio e não há injunções sociais que
prescrevem o amor ao próximo, fazendo dele algo fundamental na vida em sociedade. Amar o
próximo não é natural, é, na verdade, algo contra nossos instintos mais básicos: por isso é o ato
fundador da moralidade.
Se nossas ferramentas de relacionamento estão engajadas com nossa época fluida e se as
injunções/prescrições para amar ao próximo estão cada vez mais formais e estabelecidas por
códigos penais, então o caminho da sociedade é a autodestruição após um longo definhamento.