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FFLCH/USP
CONSELHO EDITORIAL ASSESSOR DA HUMANITAS
Presidente: Prof. Dr. Milton Meira do Nascimento (Filosofia)
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Prof. Dr. Carlos Alberto Ribeiro de Moura (Filosofia)
Profª. Drª. Sueli Angelo Furlan (Geografia)
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Profª. Drª. Beth Brait (Letras)
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SERTANEJOS CONTEMPORÂNEOS:
ENTRE A METRÓPOLE E O SERTÃO
2001
R565 Rigamonte,
Pandaemonium Rosani Revista
Germanicum: Cristinade estudos germânicos/Departamento de Letras
Sertanejos
Modernas. Contemporâneos:
Faculdade entre
de Filosofia, Letras a metrópole
e Ciências e o sertão
Humanas. / Rosani
Universidade de
Cristina Rigamonte
São Paulo. São
n. 1 (1997) Paulo:
. São Humanitas/FFLCH/USP:
Paulo: Humanitas/FFLCH/USP,Fapesp,
1997 2001
Descrição
255p.baseada em: v. 3, n. 1 (jan. -jun. 1999)
ISSN 1414-1906
ISBN 85-7506-016-3
1. Literatura alemã 2. Língua alemã 3. Estudos germânicos 4. Literatura I.
Universidade1. de
Migração (Brasil)
São Paulo. 2. Antropologia
Faculdade cultural
de Filosofia, Letraseesocial 3. São
Ciências Paulo
Humanas.
(Estado)deLetras
Departamento História I. Título
Modernas.
CDD 830
CDD 711.40981
j430
HUMANITAS FFLCH/USP
e-mail: editflch@edu.usp.br
Telefax: 3818-4593
Editor Responsável
Prof. Dr. Milton Meira do Nascimento
Coordenação Editorial
Mª. Helena G. Rodrigues MTb n. 28.840
Revisão
Gilberto Tedeia / Edison Luís dos Santos
SUMÁRIO
Agradecimentos .................................................................. 7
Prefácio ...............................................................................11
Apresentação ..................................................................... 15
Introdução ......................................................................... 19
O Forró do Severino ......................................................... 21
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AGRADECIMENTOS
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PREFÁCIO
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APRESENTAÇÃO
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A estrutura do livro
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Sertanejos Contemporâneos: entre a metrópole e o sertão
INTRODUÇÃO
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O FORRÓ DO SEVERINO
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O termo é usado na acepção de Magnani: O termo na realidade designa
aquele espaço intermediário entre o privado (a casa) e o público, onde se
desenvolve uma sociabilidade básica, mais ampla que a fundada nos laços
familiares, porém mais densa, significativa e estável que as relações formais
e individualizadas impostas pela sociedade (1984: 138).
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CAPÍTULO I
TRAJETÓRIA DE PESQUISA
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definição do objeto
Definição do objeto
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Alguns autores que enfocaram o tema da migração: Borges (1955); Jordão
Neto (1969; 1973); Secretaria 1973; Pentado (1968); Graham (1984); Souza
(1980); Muszynski (1986);. Rodrigues (1981); Lazarte (1987); Unzer (1951);
Becker 1968; Andrade (1993); Singer(1980); Cardoso (1975); Mattos
(1972); Silveia 1984; Berlinck (1975); Perrucci (1978).
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Sobre a transformação dos bairros operários, sobretudo o Brás, cf. Pardini,
1992.
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Rádio Atual e CTN funcionam no mesmo espaço físico e são direcionados
para o mesmo público.
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A pesquisa de campo
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Este programa apoiava pequenos empreendimentos familiares, ou seja, pe-
quenos negócios de fundo de quintal que possibilitavam a sobrevivência
destas famílias. Os serviços prestados eram: créditos para implementação do
negócio, cursos para planejamento e administração destes empreendimen-
tos, além de assessorias, nas quais o grupo técnico, do qual eu fazia parte,
acompanhava de perto a reestruturação e fortalecimento destes negócios. O
objetivo principal do programa era possibilitar a estes pequenos produtores
e comerciantes um ingresso efetivo no mercado de trabalho, o que propor-
cionaria a melhoria da qualidade de vida do grupo envolvido.
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Há neste capítulo referências a alguns destes pontos. Infelizmente não foi
possível inventariar todos eles, em virtude do seu grande número, o que
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Estratégias de pesquisa
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Há uma série de caminhões que se utilizam da Praça para recolher e acer-
tar remessas de encomendas a serem entregues no sertão baiano. Eles têm
um papel extremamente importante neste ponto de encontro, sendo a causa
da aglutinação desta população neste determinado lugar. Estas questões
serão melhor esclarecidas no capítulo destinado à análise da Praça e de
seus freqüentadores.
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Naquela mesma semana, por coincidência, o Vitrine havia apresentado
uma matéria sobre a Praça Silvio Romero, tratando da freqüência dos nor-
destinos naquele local e da estrutura da rede de entregas que ali se realiza-
vam semanalmente.
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A equipe visitou cerca de oito vezes o local munida de questionários, com
revezamentos, no total composta por seis pessoas: Adriana Ferraz de
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Tipo de embarcação de antiga companhia de navegação costeira que fazia
o percurso Norte/Sul.
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Refere-se a uma linha Férrea que liga Pirapora-MG a São Paulo. O Termi-
nal desta linha é na Estação Ferroviária Roosevelt.
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Caminhões que faziam o percurso Nordeste/São Paulo, principalmente nas
décadas de 50/60, transportavam juntamente com a carga vários migrantes,
por vezes carregavam os caminhões somente com passageiros. Não tendo
condições ou acesso a outros meios de transporte rumo a São Paulo, estes
migrantes vinham empuleirados em meio a carga, motivo este que origi-
nou a denominação.
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Um domingo na Rodoviária
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Feiras populares
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Esta prática na Praça da Sé deu-se até novembro de 1997. Pois a partir
deste período a Prefeitura proibiu a permanência dos vendedores neste
local, alegando motivos de segurança para os freqüentadores da praça.
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Legenda
Terminais rodoviários e
ferroviários
(antigos e atuais)
(1) Estação da Luz
(2) Baixada do Glicério
(3) Terminal Rod. Tietê
Terminais de ônibus/
Centros comerciais
(4) Parque D. Pedro II
(5) Largo da Batata
(6) Largo Treze de Maio
(7) Santana Forrós(casas de dança e praças) Parques e praças
(8) Largo São Mateus (17) Espaço Sertanejo (Lgo do Cpo. Limpo) (28) Parque do Carmo
(9) Largo do Limão (18) Praça do Forró/São Miguel Pta. (29) Parque Anhanguera
(10) Largo do Japônes (19) Praça Sertaneja/Lauzane Pta. (30) Parque Conceição
(11) Largo do Socorro (20) Centro de Tradições Nordestinas (31) Parque Fernando Costa
(27) Parque da Aclimação (21) Centro de Lazer Patativa (32) Parque do Piqueri
(12) Mercado da Penha (22) Gigantão (33) Praça da Árvore
(13) Estação da Lapa (23) Centrão 1 (34) Parque Pirituba
(14) Praça da Sé (24) Centrão 2 (35) Largo Café do Ponto
(15) Largo da Concórdia (25) Asa Branca/Pinheiros (36) Praça Silvio Romero
(16) Forró do Pedro Sertanejo (26) Asa Branca/Santo Amaro
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São eles: rapadura, castanha de caju, carne de sol, carne de bode, farinha
de tapioca, feijão de corda, azeite de dendê, vinho saputi, vinho jurubeba,
pinga Coquinho, aguardente pitu, charque, manteiga de garrafa, requei-
jão, farinha de mandioca, jerimum, inhame, acará, beiju, Coquinho (em
rosário), macaxeira, fruta-pão, jenipapo, tamarindo, jaca, jambo, cacau,
banana da terra, pequi, óleo de pequi, entre tantos outros itens.
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CAPÍTULO II
CTN A CONTEMPORANEIDADE
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definição do objeto
O lugar do Forró
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Salões que são bastante peculiares: um está instalado em uma das barra-
cas na rua, coberto por lona plástica; outro tem características de salão,
galpão fechado, com bilheteria e seguranças na porta; e ainda, um outro
Forró instalado na laje de um bar, minúsculo, e assim por diante.
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Afirma-se que o termo forró seria uma corruptela do termo inglês for all. Nas
dependências dos alojamentos das companhias inglesas que, no século pas-
sado, construíram estradas de ferro no Nordeste brasileiro, aconteciam co-
memorações exclusivas dos estrangeiros, denominadas small parties. Mas a
cada trecho concluído da obra os ingleses comemoravam o êxito promoven-
do uma festa na qual todos os trabalhadores podiam participar. Para que isto
ficasse claro, colocavam uma placa indicativa na porta com o aviso For all
body. Em pouco tempo a festa tornou-se conhecida como forrobodó, nome
que passou a designar dança agitada, com ritmo próprio e muita alegria.
Com o tempo o termo transformou-se e ficou reduzido a forró.
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Antes de sua morte, quando se encontrava bastante idoso e doente, o
religioso foi pessoalmente ajudado pelo proprietário da Rádio Atual, que o
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trouxe para tratamento de saúde em São Paulo. Para demonstrar sua gra-
tidão, frei Damião doou ao CTN uma batina, que foi colocada num altar
do saguão da rádio, tornando sagrado este espaço dentro deste território.
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Outrora estas coberturas eram feitas de piaçaba, típica construção nos
moldes nordestinos, mas com as reformas que estão sendo feitas no CTN,
desde o princípio de 1996, estas coberturas foram retiradas e substituídas
por telhas; medida de segurança foi um dos motivos alegados para a
troca, pois a piaçaba é altamente combustível e já houve caso de incêndio
em uma barraca há alguns anos. A retirada das estátuas foi uma ação que
também faz parte destas reformas, que inclui o aumento do palco e a troca
de toda a estrutura do salão de danças. Todas estas mudanças estão sendo
feitas para ampliar e melhorar os espaços utilizados pelo Forró, pois a cada
ano aumenta o número de freqüentadores. Entretanto, muitas pessoas ale-
gam que gostavam mais da antiga estrutura do CTN, que dava a sensanção
de um local mais aconchegante. Depois das reformas mudou demais,
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para quem é assíduo freqüentador essas mudanças não são tão boas assim,
isso não é mais aquele CTN de antigamente, está virando um baile co-
mum (Regina, 35 anos, Santa Luz (BA), freqüentadora assídua do CTN).
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Exposta ainda nesta galeria encontra-se também cenas da carreira política
que está sendo construída pelo proprietário da rádio e do CTN, o Sr. Jóse
de Abreu, eleito deputado federal por São Paulo em 1994 sob a legenda
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A rádio mudou bastante a sua programação durante estes seus seis anos
de funcionamento. Sem perder sua originalidade, advinda da divulgação
do Forró e outros estilos nordestinos, tem acrescentado a sua estrutura
novos locutores e programas mais atuais. Segue-se a programação da rá-
dio neste ano de 1997. Segunda à sexta: 0h às 4h Silvio Rocha, o Fazen-
deiro Feliz (American Sat); 4h às 5h A Vez do Repente, com Sebastão da
Silva, Severino Feitosa e Valdir Teles; 5h às 5h 10 Bom Dia Companhei-
ro, com Luiz Tenório de Lima; 5h 10 às 7h Show do Caboclão, com
Otávio Pimentel; 7h às 8h O Rádio é Notícia (American Sat); 8h às 9h
Ronda da Cidade, com capitão Conte Lopes; 9h às 10h Astrologia Hoje,
com Cícero Augusto (American Sat); 10h às 11h Bastidores, com Décio
Pitinini; 11h às 13h forró do Mano Novo, com Expedito Duarte; 13h às
14h Pequenos Trabalhos, Grandes Efeitos, com d. Eliete; 14h às 16h
Patativa, com Zé Lagoa; 16h às 16h 5 Alguém Precisa de Você, com
Eliseu Gabriel; 16h 5 às18h 30 Som Zoom Sat, com Só Forró e Solon
Vieira; 18h 30 às 19h O Rádio é Notícia (American Sat); 19h às 20h A
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A crença
O mito
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As iguarias da culinária
nordestina
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A foto
O dono da Barraca
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O baile de sábado:
Forró, suor e cerveja.
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As referências aos dados da pesquisa constarão, sempre que necessário,
nas notas de rodapé.
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Onde você nasceu? Bahia (23%), Pernambuco (16%), Paraíba (10%),
Alagoas (9%), Natal, Ceará, São Paulo e Piauí (7%), Minas Gerais (4%),
Maranhão, Sergipe, Rio de Janeiro (2%) e Mato Grosso, Pará, Paraná e
Bolívia (1%).
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A aplicação do survey não seguiu as normas habituais previstas para este
instrumento de pesquisa, que foi tomado como mais um indicador, ao
lado de outros, para elaborar o perfil dos freqüentadores.
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Como você ficou sabendo do CTN? Indicação de amigos ou parentes (76%);
através do rádio (20%); trabalha na casa (2%); residência próxima ao local
(2%).
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Há quanto tempo você freqüenta o CTN? Primeira vez (26%); alguns me-
ses (19%); há mais de um ano (24%); 2 a 3 anos (20%); desde que inaugu-
rou (14%). Com que freqüência você vem? Sempre (48%); raramente ou
de vez em quando (28%); primeira vez (22%).
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tempo, respirar outros ares. São Paulo tem muitos lugares para
se conhecer não vou ficar só aqui. Mas eu sempre vou e volto
(Regina, 22 anos, baiana, balconista).
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Que tipo de música você mais gosta? Forró (39%); sertaneja (18%); pago-
de ou samba (17%); brega romântica (10%); axé music (9%); sucessos
internacionais e rock brasileiro(7%).
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Que estação de rádio costuma ouvir? Rádio Atual (41%); Rádio Cidade
(11%); Rádio Jovem Pan (8%); Band FM (7%); Rádio Gazeta (5%); Rádio
Imprensa (4%); Rádio Globo (3%) e Rádio Continental (3%).
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O que faz no seu tempo de folga em São Paulo? CTN (35%); fica em casa
(14%); visita parentes e amigos (7%); barzinhos (7%); namora (6%); jogo
bola (5%).
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(12%); jogar bola (8%); vaquejada (8%); andar a cavalo (8%); pescaria
(5%).
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Há quanto tempo você mora em São Paulo? Menos de um ano (2%); um
a três anos (24%); quatro a sete anos (26%); oito a 12 anos (14%); 13 a 16
anos (10%), há mais de vinte anos (19%).
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Estado civil: solteiro (58%); casado (28%); desquitado (11%); e viúvo (3%).
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Faixa etária: 17 a 23 anos (35%); 24 a 27 anos (20%); 28 a 31 anos (22%);
32 a 37 anos (8%); 38 a 45 anos (10%), mais de 53 anos (2%).
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Aponta-se a existência de um exército informal na cidade de São Paulo,
composto por mais de 40 mil trabalhadores, que prestam serviço como
guardas-noturnos, sendo a quase totalidade deste contingente composta
por migrantes nordestinos. Além disto, afirma-se que há quase 60 mil tra-
balhadores que prestam serviço nos postos de vigias e porteiros de condo-
mínio, a maioria com a mesma procedência (cf. A turma do Apito e do
Sereno. In: Veja. ano 29, no 46, 10.nov.1996).
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Atividade %
Porteiro, zelador, segurança, faxineiro, , o 15%
montador, metalúrgico, téc. plástico
Aux. montagem, empilhador, aj. geral 15%
Vendedor autônomo e ambulante 14%
Babá, doméstica e cozinheira 12%
Motorista, manobrista, cobrador, 7%
mestre de obra, pedreiro, pintor
Eletrecista, carpinteiro 7%
Aj. pizzaria, garçonete, padeiro 6%
Costureira, cabeleireira, enfermeira, 6%
telefonista, aux. escritório
Recepcionista 6%
Desempregado 3%
Aposentado 3%
Estudante 2%
Dona-de-casa 2%
Mecânico 1%
Carteiro 1%
Funcionário público 1%
Fabricante de cintos 1%
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Vim para ter uma vida mais confortável (José Eudes, 21 anos,
pernambucano, empilhador).
Vim à procura do futuro (Vera, 27 anos, baiana, doméstica).
Eu vim para São Paulo por que todo mundo vem. Eu queria
conhecer, aqui é o coração do Brasil e daqui eu não saí. Acho
bom para tudo, vou visitar a minha cidade mas só de férias. Eu
já sou paulistano, meu lugar é aqui e eu não volto mais. Mesmo
que eu morrer, minha alma vai ficar por aqui (Osvaldo, 34 anos,
pernambucano, manobrista).
Eu estou saindo do meu emprego de ajudante de limpeza para
abrir o meu negócio, um bar. Sabe, eu já realizei um dos meus
maiores sonhos, trabalhei dois anos e comprei uma TV, som e
geladeira e mandei tudo para os meus pais. Agora eles já têm
um pouco de conforto. Eles estão muito orgulhosos e agora eu
já posso tocar a minha vida (Edmilson, 22 anos, potiguar, aju-
dante de limpeza).
Vim procurar uma vida diferente e mais alegre, saí daquele fim
de mundo (Regina, 22 anos, baiana, balconista).
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Em março de 1997, o valor do aluguel girava em torno de 500 reais
mensais.
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Programação musical
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Nesta época, uma novela de destaque na Rede Globo retratava os hábitos
e costumes de um grupo familiar cigano, o que justificaria a interpretação
deste estilo em meio às demais coreografias apresentadas.
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O apelido é maldoso
O nome certo é ambulante
Ele é um grande comerciante
Forma de vida, crise,
Muita gente foi trabalhar de ambulante
Gente trabalhadora, honesta, que enfrenta a polícia.
A Prefeitura e a população
Vai para a rua ganhar o seu sustento (Caju e Castanha, Melô
do Camelô).
Por volta das 22h entra no palco o locutor. Os shows ao vivo
têm início com Elza de Lima (forrozeira), Marco Antonio (forrezeiro),
ambos cantam sem banda, apenas com play-back. As atrações es-
peciais ficam por conta das bandas: Art-Show (PB) e Flor da Bahia
(Salvador). O baile pega fogo e só se encerra por volta das 5h da
manhã.
Na Rádio Atual, a programação também é bastante variada.
Pode-se identificar dois tipos básicos de programação. Há os pro-
gramas mais tradicionais, nos quais repentistas e violeiros são mais
exaltados, e ritmos como emboladas e xotes estão sempre presen-
tes. E há os mais modernos, que seguem a programação padrão da
rádio, na qual os Forrós são alternados com ritmos sertanejos, pago-
des e temas românticos. Veja-se, a título de exemplo, alguns ritmos
tocados nestes dois tipos de programação para que se possa cons-
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As transformações
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que estão longe, portanto, do seu local de origem, e que têm como
hábito freqüentar bailes similares a estes em sua terra natal. Esse
baile surgiria como uma alternativa de resgate de suas origens, uma
celebração no exílio que reproduziria o que o Forró tem de mais
marcante.
Este tipo de baile convida à dança, tem energia, e, em cada
contextualidade, os temas e as letras buscam reproduzir a vivência
daquele instante, ou seja: a saudade do sertão, o abandono de en-
tes queridos, a ausência da pessoa amada, as dificuldades ante a
sobrevivência, além das incorporações de hábitos e costumes
advindos do novo estilo de vida, temas relatados nas músicas mais
atuais.
Venha de onde vier, é preciso que se observe que as produções
culturais de um povo, que se apresentam como duradouras ou
tradicionais refletem de algum modo a sua realidade vivida aqui
e agora, seu gosto e sua visão de mundo. Deste modo tem
sempre um sabor de atualidade (Ferretti, 1988: 33).
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to que ofereça risco à população são proibidos. Esta equipe também não
permite o ingresso de pessoas que se encontrem embriagadas, pois, na
maioria das vezes, desencadeiam brigas e desordem..
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pulando o muro. Certa vez, por volta das duas da madrugada, inici-
aram-se os disparos: duas armas foram descarregadas; nas escadas
da roda gigante, com arma em punho, um rapaz disparou seguidas
vezes, até acertar o seu alvo a roda gigante continuava a girar,
mulheres e crianças gritavam desesperadas, todos deitados no chão,
tudo parecia insólito. Após acertar o quarto disparo na sua vítima, o
rapaz, como que num passe de mágica, da mesma forma que apa-
recera, desapareceu no nada: pulou rapidamente o muro e não foi
encontrado. Ainda com vida, Élcio, 24 anos, baiano, segurança da
casa, foi socorrido e faleceu no hospital. Justiça com as próprias
mãos, era o que todos diziam: vingança, era a explicação para o
crime. E o baile continuava, nem sanfona, nem zabumba pararam
de tocar, apenas mais um corpo que caía em meio à metrópole.
O sorvete é morango, é vermelho,
Ô girando é a rosa, é vermelha,
Ô girando, ô girando é vermelho.
Olha a faca, olha o sangue na mão, e José
Juliana no chão, e José
Outro corpo caído, e José
Seu amigo João, e José
Amanhã não tem feira, e José
Não tem mais construção, e João
Não tem mais brincadeira, e José
Não tem mais confusão, e João
(Gilberto Gil Domingo no Parque)
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CAPÍTULO III
A PRAÇA SILVIO ROMERO A
TRADIÇÃO
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Sertanejos Contemporâneos: entre a metrópole e o sertão
O encontro dominical
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Sertanejos Contemporâneos: entre a metrópole e o sertão
Os encontros dominicais:
informações, novidades e
saudades
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Sertanejos Contemporâneos: entre a metrópole e o sertão
O fotógrafo
oficial da praça
A fila para
recebimento
das cartas
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As cartas
Brito negociando
uma entrega
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Os freqüentadores
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Ele viaja quase todos os anos para passar o São João em sua
cidade natal, e diz ser a melhor festa que já freqüentou:
É uma beleza, a gente dança tanto que só fica a carcaça. Sabe
uma vez tentaram me arrumar casamento por lá, não pensa
que foi fácil se safar, e olha que até minha família ajudou, fa-
ziam muito gosto, quem não queria casar era eu. Hoje em dia
já penso diferente, sinto falta de uma companheira, mas não
quero ninguém que seja muito séria, eu não sou muito sério,
gosto de liberdade então precisa ser alguém que pense como
eu, senão não dá certo.
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Trabalhar em casa de família significa a prestação dos serviços de em-
pregada doméstica em uma residência familiar.
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De fato essa vida de ir e vir não é fácil, pois não há uma fixa-
ção do indivíduo junto a sua família. As relações são estabelecidas à
distância e é necessário bastante esforço e cumplicidade de ambas
as partes. Entretanto, para vários deles, este não é um fator traumá-
tico. Muitos consideram como positivo o intercâmbio entre São Paulo
e a terra natal e alguns até prefeririam viver por lá, se as oportunida-
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Dona Maria vem todos os anos visitar sua filha que mora em
São Paulo há 20 anos, e, na ocasião, aproveita para fazer seus trata-
mentos de saúde, consultando o ginecologista, o oftamologista e
também o cardiologista. Faço sempre meus tratamentos aqui, é
mais fácil, tem de tudo, e não tem dificuldade. Se precisa de exame
tem, se precisa de remédio acha. Por lá é tudo difícil, nunca tem
nada.
De resto, há ainda uma última categoria que freqüentemente
se utiliza deste transporte informal, mas de maneira diferenciada: os
que vêm para se servir da rede a fim de transportar toda a sua mu-
dança. Após muitos anos em São Paulo, migram de volta para ten-
tar a vida no sertão mais uma vez.
Estela, 29 anos, natural de Jânio Quadros, era quem estava
na Praça para acertar o transporte de sua mudança, composta por
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Os caminhoneiros
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cidade de ficar viúvo. Sua esposa era jovem, tinha 27 anos. Ela
adoeceu enquanto ele viajava e quase que não resistiu até a sua
volta: os médicos não foram capazes de detectar qual seria a doen-
ça e, em menos de dez dias, ela faleceu.
Ele ficou viúvo com três filhas, fato que requeria sua maior
presença em São Paulo. Foi então que decidiu passar a linha das
cartas para outro caminhoneiro, João, natural de Tremedal, que até
hoje faz o mesmo percurso. Dalvadício passou a transportar somen-
te encomendas e mudanças.
Além de diminuir a responsabilidade, você sabe, carregar di-
nheiro nestas estradas é um perigo! E também pude estar mais
aqui em São Paulo. Como a cada vinte dias, no máximo, esta-
va de volta em Piripá, comecei a rever amigos, receber notícias,
fazer diferentes negócios, para mim foi melhor.
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Sertanejos Contemporâneos: entre a metrópole e o sertão
transtorno foi causado. A partir daí, ele resolveu não falar mais com
estranhos sobre suas entregas.
Apesar de sua discrição, a entrega e recolha das cartas ocorre
num local público, o que não o exime de riscos, e, infelizmente, às
vésperas da Festa de São João de 1996, foi assaltado num domingo
logo após a recolha das cartas, na porta de sua casa. Ele tentou dar
aos ladrões apenas o dinheiro que tinha no bolso, mas estes exigi-
ram a pasta com as cartas, de onde se pode inferir que eles tinham
pleno conhecimento do que se passava na rede.
Além de Brito e João, há vários caminhoneiros com bastante
destaque na Praça. Um deles é parte da história da formação desta
rede: Diamani, o único dos que foram outrora perueiros, e ainda
hoje integra a rede, na condição de o mais antigo caminhoneiro na
ativa.
Diamani, 52 anos, natural de Piripá, casado, 5 filhas, iniciou
sua carreira de caminhoneiro por volta de 1963. Fazia entregas em
Vitória da Conquista (BA), como motorista de um caminhão, do
qual não era o proprietário. Conhecia a região e foi adquirindo ex-
periência de estrada. Não havia linhas regulares de ônibus que in-
terligassem os municípios. Diamani e mais uns dois caminhoneiros
da região davam carona a vários destes transeuntes até Vitória da
Conquista, local que aglutinava passageiros que se deslocavam para
São Paulo. Havia ali algumas linhas de caminhões e peruas que
ligavam o sertão a São Paulo.
Essas linhas tinham como ponto final a Estação Roosevelt
(SP). Conhecendo os mecanismos já existentes destas redes infor-
mais de transporte e percebendo o fluxo de passageiros provenien-
tes da sua região, esses caminhoneiros, num primeiro momento,
tomaram de empréstimo algum capital, locaram peruas em Vitória
da Conquista e começaram a transportar passageiros da sua região
até São Paulo, desembarcando-os na Estação Roosevelt.
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Diz não ter mais retornado à Praça, e diz ter saudades daque-
les tempos em que trabalhava por lá, mas alega que tudo era muito
diferente, menor, mais bonito, tempos em que se podia conhecer
cada canto de São Paulo; imagina tudo muito mudado hoje, não
tem a menor vontade de retornar.
A partir deste período, a linha de peruas passou a sofrer con-
corrência, o que conseguiu desarticular boa parte da rede. Entretanto,
o transporte perdurava. Durante a década em que ela se tornou regu-
lar, 65-75, a linha já passara por algumas mudanças no seu percurso
original. Diferenciava-se da linha regular de ônibus, e, com relação ao
seu ponto final, também das linhas existentes em Vitória da Conquis-
ta. Com a grande aglutinação da população proveniente desta região
na zona leste de São Paulo, a Rua Tuiuti, paralela à Praça Silvio Romero,
transformou-se no ponto de chegada desta rede.
A rede perpetuou-se, e por volta de 1976 a maioria das peru-
as já tinha sido substituída por caminhões. O negócio tornara-se
mais vantajoso para este tipo de transporte e, em vez de continuar
com o transporte de passageiros, estes motoristas passaram a trans-
portar entregas de São Paulo para sua região, tendo como ponto de
encontro a Praça Silvio Romero.
Algumas pessoas até iam de caminhão para São Paulo, mas o
que estava valendo mais a pena era trazer as encomendas de
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O movimento da rede
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sados que migram no tempo da chuva apenas nos anos muito abas-
tados conseguem recursos financeiros para duas viagens num ano,
e em momentos tão próximos. Portanto, eles raramente aproveitam
a festa no sertão.
No período das chuvas, entre setembro e janeiro, época em
que grande número de pessoas está no sertão, a dinâmica da praça
não apresenta grandes novidades, acontece o de sempre. As pesso-
as se reúnem para rever os amigos, receber notícias de parentes,
mandar cartas e encomendas e, ainda, para conhecer novos
conterrâneos. O movimento das pessoas chegando e um grande
falatório compõem a dinâmica do encontro dominical na praça. As
perguntas soltas no ar são elucidativas.
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Eu vou fazer até macumba para não voltar mais para essa cida-
de. Eu já tô velho, tenho 56 anos e ainda estou nessa vida. Mas
não tem jeito, a gente fica um tempo por lá e logo o povo come-
ça arrumar serviço para gente vir para cá. E se você vem, pron-
to! Não tem jeito, é duro conseguir sair daqui. Não adianta ter
as coisas lá e pagar para gente olhar, mas o que eu ganho aqui
acaba compensando. Não adianta eu explicar essas coisas para
a mulher, nem mandar carta, o que elas querem é que a gente
volte. Já me disse que vai comprar uma corrente com um ca-
deado e me prender por lá. Olha me faça o favor, diga a ela
que eu estou ajeitando as coisas por aqui, e que mais uns dois
meses eu prometo estar de volta. (José, 56 anos, Piripá, já per-
deu a conta de quantas vezes veio para São Paulo, trabalha
como azulejista e pintor).
42
Em abril de 1996, um ano eleitoral, alguns fatos interessantes ocorreram
na Praça. É o prazo de encerramento das inscrições para transferência de
títulos de eleitores. Alguns candidatos, valendo-se deste momento, estive-
ram presentes na Praça. Ofereceram viagens e facilidades para os que
fossem até sua cidade e transferissem o título para lá. Foi o caso do então
prefeito do Município de Jânio Quadros, Ti, como é popularmente co-
nhecido, além do candidato a candidato à Prefeitura do Município de
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Sertanejos Contemporâneos: entre a metrópole e o sertão
não tem mais!; Quando você for vai adorar dizia-me Maria Eunice
é a melhor festa que eu já vi na minha vida. Todos querem come-
morar em sua terra o São João. Fogueira no terreiro, comemora-
ção na Praça, barracas, comidas típicas, dançar até o sol raiar. Na
semana da festa, a Praça fica praticamente vazia; alguns poucos
freqüentadores ali se reúnem, em um momento de nostalgia pelas
festas anteriores.
No princípio do mês de julho, após o término das festas, há
um fenômeno interessante: um grande número de encomendas é
remetido da Bahia para São Paulo, algo que só ocorre neste período
do ano. São presentes da festa enviados para aqueles que dela não
puderam participar. São inúmeras caixas e sacolas colocadas do
lado de fora dos caminhões, para serem reconhecidas e retiradas.
Nelas há uma infinidade de biscoitos, dos tipos mais variados, por-
ções de farofa de carne seca, conhecida como paçoca, além de car-
ne seca e vários litros e garrafões de pinga da região.
Nos meses seguintes à festa há uma queda no número de
encomendas e de viagens por parte destes trabalhadores. Julho e
agosto são meses de trabalho intenso para todos que permanece-
ram ou que retornaram à cidade. No final de setembro, a movimen-
tação e a ansiedade instauram-se e mais uma vez, portanto, volta à
baila as discussões, as previsões e manifestações do tempo ecológi-
co que irá determinar o início de mais um ciclo anual, assim se
definindo o comportamento e o deslocamento destes freqüentado-
res da Praça Silvio Romero.
Esta pesquisa construída em torno da Praça Silvio Romero e
de seus freqüentadores acaba por desvelar o grau de conhecimento
e entrelaçamento existente no interior deste grupo. E, note-se, as
várias experiências vividas e relatadas aqui ilustram a maneira como
este grupo de migrantes se inseriu na metrópole e como foi se apro-
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CAPÍTULO IV
A FESTA NO SERTÃO. O RETORNO ÀS ORIGENS
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O percurso
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Trata-se aqui da segunda viagem realizada ao sertão, na companhia do Sr.
Dalvadício. Já na primeira viagem foi possível conhecer um pouco da di-
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Estado da Bahia
Curralinho
Cordeiros
Serrinha
Condeúba
Piripá
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A partir deste ponto da viagem, os percursos passam a se diferenciar, pois aqui
se inicia a região de maior afluxo das entregas, indo até a região de Piripá.
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O percurso (Mapa 3) *
* Fonte: Bartholomew, Jonh (1990). Mini World Atlas. Scotland, Ed. Jonh Bartholomew Sonltd.
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As entregas
45
Neste texto serão detalhadas as entregas que foram realizadas por ocasião
desta viagem (julho de 1996), sendo possível observar os diferentes tipos
de usuários desta rede. Entretanto, as minúcias sobre a rede e o município
de Piripá são frutos que não foram obtidos somente com esta viagem, mas
também durante a primeira viagem a Piripá, em julho de 1995.
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Sertanejos Contemporâneos: entre a metrópole e o sertão
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São tonéis plásticos, provenientes da Argentina, carregados de azeitonas,
reaproveitados quando vazios. Substituem caixas dágua e/ou reservatóri-
os de água e também são utilizados para armazenar combustíveis para as
pessoas que trabalham no corte dos eucaliptos, ou na lavoura. Enfim, são
utilizadas para o armazenamento de produtos escassos na região.
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Faz tempo que ele me diz que iria me comprar uma TV, e não
é que ele conseguiu! Ele é esforçado e está guardando dinheiro
para ter a sua casa. Nos manda sempre que pode uma ajuda, e,
se não fosse deste jeito, ele nunca iria começar a construir a sua
vida. Aqui é muito difícil!
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ainda é solteiro, achou melhor voltar para São Paulo. Já João, seu
irmão, que é casado e tem um filho, está morando com sua família
em São João do Paraíso. Ficou durante dez anos em São Paulo,
tinha sua casa em São Miguel Paulista, mas há mais ou menos um
ano e meio resolveu voltar para sua cidade.
Sabe, para quem vai com a família, é difícil, porque você preci-
sa ter uma casa, escola para as crianças, a vida é muito agitada.
Aqui eu trabalho como pedreiro e faço as casas completas, des-
de o alicerce até o acabamento. Não posso reclamar, o povo
que tem dinheiro vem me procurar. E não tem me faltado ser-
viço. Agora, se aparece um serviço muito bom, por pouco tem-
po, em São Paulo, aí eu vou. Meu irmão me chama e eu pego
uma empreitada e volto. Mas eu não gosto não, deixar a mu-
lher aqui é muito ruim. Para mim tem que ir junto, de todo jeito
nós vamos tocando.
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agitar a festa desse ano e pelo jeito vai conseguir, ele queria uma
festa animada e preparou tudo para conseguir. Rubens trabalha
como azulejista em São Paulo, há mais de sete anos, vem sempre
que pode para visitar a família e já mandou, por meio de Brito,
encomendas como TV, fogão, geladeira, entre outras.
Esse meu filho não esquece de nós aqui, não é como muitos
que vão embora e nunca mais aparecem. Ficam por São Paulo
mesmo e esquecem do povo daqui e das dificuldades com que
se vive, preferem pensar que são de lá e esquecem tudo para
trás. Graças a Deus ele não é assim, é trabalhador e nunca
esquece de nós (Sr. Rubens, 55 anos, pai de Rubens falando
do filho).
47
São barracões preparados para os bailes, na maioria das vezes são cons-
truções de palha que, além de proteger, têm um belo efeito decorativo, e
ainda são enfeitados com bandeirolas coloridas.
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Onildo Barbosa é de Vitória da Conquista, e nos últimos anos vem ani-
mando as festas de São João por toda a região.
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Ah! Vem de São Paulo, onde foi que o Senhor foi buscar
isso? Eu quero saber o que ela anda fazendo em São Paulo.
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seu primo dizia: Olha só, que beleza! Eu ainda vou comprar uma.
Eu vou convencer a minha mãe e vou embora este ano. Não dá,
moça, para ficar aqui. Eu tenho que ir trabalhar em São Paulo.
Antonio deseja ir trabalhar em São Paulo, mas sua mãe não quer
que ele vá, o seu pai trabalha lá e ela quer que ele fique com ela.
Quanto tempo ela ainda irá conseguir segurá-lo? Isto é uma incóg-
nita que fica no ar, mas pela determinação de Antônio, não será por
muito tempo, ele queria a oportunidade de também ter a sua inde-
pendência. E digo mais, se precisar fugir, eu fujo!
A próxima parada foi Lagoa de Fora, onde foi realizada mais
uma entrega. Jô, 29 anos, três filhos, recebeu os pisos que o seu
marido, Zé de Vito, 32 anos, mandou para a sua casa.
Olha, dizer que ele vem sempre é mentira. Ele vem uma vez
por ano, quando pode. Já chegou a ficar três anos sem vir aqui.
Mas vira e mexe ele manda as coisas para gente. Quando ele
está aqui arruma qualquer um para ajudar ele na casa, já me-
lhorou muito do que era quando nós casamos. Mas, no ritmo
que vai, eu acho que ele ainda leva uns dez anos para terminar.
Mas não tem jeito moça! O jeito é esse. E eu não me aperreio
não. É desse jeito que dá para ser, é assim que é. E vamos
levando a vida!
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tocado pela mulher com a ajuda de seus três filhos. Ele mesmo rece-
beu sua entrega, uma fritadeira, duas caixas de som e uma caixa de
roupas. Fenício iria montar uma barraca para as festas, para vender
pastéis. Eu não perco oportunidades, ainda mais a gente que tem
família para sustentar, vou trabalhar um pouco ganhar um dinheiri-
nho extra, depois volto para São Paulo, minha mulher vai se virando
aqui e eu lá, a gente faz como pode. Ele migrou há 18 anos para São
Paulo e todo ano volta para Piripá e passa alguns meses. No princípio,
ficou quase quatro anos sem voltar, mas depois que se ajeitou com
a vida em São Paulo, e constituiu família, vem todos os anos.
Na casa de Mazinha, 36 anos, foi entregue uma bicicleta, duas
caixas de som e três caixas de piso, que seu filho Fabiano, 16 anos,
mandou entregar. Ele já havia chegado de São Paulo. A bicicleta e o
som eram dele, os pisos foram comprados por seu pai na última vez
que esteve lá; Fabiano aproveitou a oportunidade e mandou tudo.
Zé Preto, 38 anos, seu pai, trabalhou em São Paulo mais de 20
anos, sempre na construção civil, mas há mais de um ano não vai a
São Paulo.
O trabalho anda meio fraco por lá, eu vou gastar o dinheiro
da passagem, depois chego lá, não acho trabalho, tenho que
voltar, aí não dá! É só prejuízo. A situação não dá para arris-
car muito hoje. Eu tenho encontrado alguns trabalhos aqui e
também comecei a levantar o nosso barraco. Sabe, agora,
com a ajuda dos meninos que cresceram, já dá para eu ficar
um pouco por aqui. Quando eles eram todos pequenos, era
um sufoco. Tinha ano que eu nem tinha dinheiro para vir até
aqui. Mas agora todo mundo ajuda um pouco e isto alivia
muito a gente.
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família, conta agora com a ajuda de seus filhos, o que lhe dá mais
mobilidade para investir na construção de sua casa, além de convi-
ver com a sua família, o que ele não pôde fazer nos últimos 20 anos.
Zé Preto e Mazinha têm oito filhos, e só Fabiano está em São
Paulo; outros quatro trabalham em Piripá, os demais são pequenos.
Zé Preto trabalha com seu filho mais velho na construção civil, duas
filhas trabalham em casa de família na cidade, e um menino menor
é vendedor de sorvetes. Lúcia, 18 anos, uma de suas filhas, já traba-
lhou em São Paulo durante dois anos, mas teve um problema de
saúde, tratou-se e depois preferiu voltar para Piripá.
Sabe, até hoje minha patroa quer que eu volte, eu tô dando
um tempo, não sei ainda o que eu vou fazer. Mas, se eu resol-
ver ir, tenho para onde, isso é bom. Depois das festas eu deci-
do. Por enquanto não estou preocupada. Tô bem de saúde e
isto é o que me importa. A gente vai para lá, a vida é muito
agitada, e eu não sei se quero. É muito bom porque a gente
ganha mais dinheiro, a vida aqui é mais difícil, mas estar na
casa da gente às vezes não tem preço!
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As entregas
Moradores da cidade
Estado Civil Idade (em anos) objeto
solteiro 19 TV
solteiro 20 moto
solteiro 22 2 motos
solteiro 18 2 bicicletas
solteiro 20 bicicleta
solteira 21 TV
solteiro 25 mantimentos
solteira 21 fogão, TV, roupas
solteira 18 moto
solteiro 18 moto
solteiro 16 bicicleta, som, mat. construção
solteiro 26 som, mat. construção
casado 21 moto
casado 39 mat. construção
Moradores do sertão
Estado Civil Idade (em anos) objeto
casado 26 moto
casado 27 fusca
casado 41 fogão
casado 32 mat. construção
casado 36 fritadeira, som
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Piripá
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Turista chegando de todo lugar / Para ver Piripá no seu São João / Canjica
na mesa / Batata na brasa / Todo mundo em casa / Em um clima só /
Morena bonita fazendo gincana / São 4 semanas tocando forró / Eu vou a
Piripá / Eu vou a Piripá / Levanta a poeira nos forró de lá.
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Uma espécie de geléia produzida à base de mandioca, um polvilho já
apurado. Algumas mulheres são especialistas no preparo da goma,
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A caminho
de Piripá
Lourdes recebe
sua encomenda
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As
entregas
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O sertão e suas
peculiaridades
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Os homens do
sertão
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Os ilustres bailarinos
na pista
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A festa
A Gincana
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coloca-se venda em alguns meninos, que com uma vara na mão devem
quebrar o pote. Todas as demais crianças esperam ao redor a hora que o
pote for quebrado, momento em que todos se jogam no chão e disputam
as delícias reservadas aos mais rápidos.
53
Trança-fitas é uma alegoria das danças tradicionais do mês de julho. Um
mastro é colocado no meio da roda com longas fitas coloridas, onde cada
par pegará uma delas, no meio da dança. Com passos sincronizados, os
pares vão dançando e cruzando as fitas. Ao final o mastro fica todo enfei-
tado por fitas coloridas, trançadas através da música. O mastro é dedicado
ao Santo da comemoração e fica no meio do terreiro.
54
Um grante mastro é besuntado por sebo de animal e no ponto mais alto é
colocado uma quantia em dinheiro para quem conseguir pegá-la. Ho-
mens disputam a vez de tentar subir no pau, mas poucos chegam ao final
e ganham o prêmio.
55
Estas são músicas do grupo Gera Samba, que despontou no carnaval 96,
com temas que misturam erotismo e sensualidade; venderam milhões de
discos. A boca da garrafa e o Tchan são representações de atos sexuais.
56
A vida cigana foi interpretada em uma telenovela exibida no horário nobre
da Rede Globo, na época da festa.
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O Forró
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Grupo conhecido em São Paulo e que se encontra em plena ascensão.
Tentaram modernizar o Forró, adaptando bateria, sax e guitarra ao tradi-
cional trio formado por zabumba, sanfona e triângulo.
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tar, mas no fim deu certo. Eu comecei a fazer esta linha por
causa de um vizinho meu que é daqui. Me disse: por que eu
não alugava um ônibus?, ele tem muitos parentes e amigos
daqui, montou a primeira turma e deu certo, e, aí, eu vou to-
cando até hoje. A gente passa uma semana aqui para as festas,
depois vamos até Bom Jesus da Lapa, ficamos dois dias lá e
depois voltamos direto para São Paulo. Só eu e o meu amigo,
motorista, é que estamos hospedados aqui na pensão, o resto
está tudo em casa de parente, é tudo gente daqui!
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O retorno
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segue até Belo Campo, local onde se aglutinam várias linhas vindas
de pequenas cidades dos arredores, e de onde sai diariamente ôni-
bus para São Paulo. O comum é chegar em Belo Campo e não
encontrar lugares disponíveis para todos os passageiros e, então,
inicia-se a saga.
O povo aqui é ignorante, deve exigir o seu lugar porque com-
prou a passagem. Não, mas ficam esperando o tempo que for,
por medo de perder o dinheiro que deu. O que eles não enten-
dem é que se deu o dinheiro tem que brigar, pagou tem direito!
Mas, também esses cabras são sem-vergonhas, nem brigar não
adianta. Eu tô aqui me descabelando de xingar, e vou ter que
esperar outro ônibus, senão eu vou bater no cara e os policiais
me prendem! Isso aqui é o fim do mundo! (Etelvino, 28 anos,
pintor, trabalha em São Paulo há mais de dez anos, estava em
Belo Campo na baldeação dos ônibus, proveniente de Caetitê,
brigando por um lugar para São Paulo).
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O retorno a São Paulo ocorreu em dias diferentes: Brito com seu caminhão
e a autora de ônibus.
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sua última e atual função. É separado, tem dois filhos moços, mora
na Penha (ZL). Ele tem casa própria em Guarulhos, na qual reside
sua ex-esposa e seus filhos, e há dois anos terminou de construir sua
casa em Jânio Quadros (BA).
Assim que eu me aposentar, volto para Jânio Quadros, vou
abrir um comércio e viver minha vida por lá. Eu já trabalhei
muito em São Paulo, tudo o que eu construí consegui com o
meu trabalho. Se não fossem as oportunidades que esta cidade
oferece, hoje eu não teria tudo que eu tenho. Mas, eu sou sozi-
nho, ainda trabalho muito e não consigo arrumar ninguém que
me agrade viver comigo. Na minha cidade todo mundo conhe-
ce as moças disponíveis, fica mais fácil de se ajeitar. Desde que
eu me separei há oito anos eu me sinto muito sozinho.
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haverá possibilidade de retorno. Ele diz que sempre virá a São Pau-
lo, pois não pode se imaginar vivendo totalmente distante, pois,
para ele: São Paulo é o meu segundo berço.
O Sr. José Maria não é da região de Piripá, é de Argoim, mais
ao norte da Bahia, próximo a Feira de Santana. A sua esposa é de
Piripá, entretanto, ela não gosta de viajar para a sua cidade, mas Sr.
José vem todos os anos para as festas, embora sozinho.
A minha mulher não vem para cá desde 71, ela não gosta da
roça, diz que o negócio dela é ficar na cidade. Sabe, acho que
ela pensa que tudo continua a mesma coisa. Este sertão já é
outro lugar, tudo mudou, tudo melhorou. Não tem estrada as-
faltada, mas dá para andar de carro, caminhão, ônibus, não é
só carro de boi, não! Tem energia em muitos lugares, tem ante-
na parabólica, então tem televisão para todo lado. Agora, tudo
chega até aqui. Tudo que acontece lá, já se sabe aqui. Ninguém
fica mais isolado, todo mundo manda notícias, qualquer um
pode ir para São Paulo. Antigamente a gente ia e não sabia se
ia saber voltar. Hoje é uma beleza, tudo fácil!
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cede uma visão mais apurada do fluxo de pessoas que vieram para
a festa. Pessoas que mantêm um contato constante com o pessoal
de sua terra natal, outras que há anos não retornam ao seu local de
origem. Rapazes que vão passar suas férias, casamentos que se ce-
lebram.
É uma prática comum das moças que permanecem no local
de nascimento tentarem arrumar um noivo neste período, marcar
um casamento, pois, durante o resto do ano, a maioria dos rapazes
disponíveis estará trabalhando em São Paulo, sendo este o momen-
to ideal para arrumar um pretendente. Muitas sonham em vir para
São Paulo, outras sonham simplesmente em casar. No ônibus havia
um exemplo típico de um amor de São João.
Roberto, 19 anos, de Caetitê, está em São Paulo há três anos
e trabalha na construção civil. No ano de 1995 foi brincar o São
João na sua cidade e se enamorou por Jesuína, 15 anos. Brincaram
as festas juntos, se apaixonaram e, ao final, Roberto voltou para
São Paulo
ignorando completamente que Jesuína ficou grávida.
Quando se soube, sua família expulsou-a de casa, e uma tia abri-
gou-a até que ela tivesse a criança.
Neste São João, Roberto retornou à sua cidade, casou com
Jesuína e estava trazendo-a para São Paulo, juntamente com o seu
filho de três meses. Arrumaram a casa de um parente para Jesuína
ir ficando com o seu filho, enquanto Roberto tentava dar um jeito na
vida. Por enquanto, ele vai continuar morando na obra na qual tra-
balha. Eu sou da roça, não sei de nada não, moça! Vou pra lá para
viver uns tempos, não sei como é, mas eu acho que o único jeito que
tem agora é eu ir para perto dele. Minha gente me pôs pra fora.
Jesuína, sentada no seu canto, parecia uma menina brincan-
do de bonecas com o seu bebê, e Roberto feliz por ter ao seu lado
sua família. Ambos extremamente jovens, indo em busca do seu
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Ficha técnica
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