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OBSERVAÇÕES SOBRE O AMOR TRANSFERENCIAL com o terceiro médico, e assim por diante. Este fenômeno, que
VOL. XII ocorre constantemente e que é, como sabemos, um dos
fundamentos da teoria psicanalítica, pode ser avaliado a partir
Todo principiante em psicanálise provavelmente se de dois pontos de vista, o do médico e o da paciente que dele
sente alarmado, de início, pelas dificuldades que lhe estão necessita.
reservadas quando vier a interpretar as associações do paciente Para o médico, o fenômeno significa um esclarecimento
e lidar com a reprodução do reprimido. Quando chega a ocasião, valioso e uma advertência útil contra qualquer tendência a uma
contudo, logo aprende a encarar estas dificuldades como contratransferência que pode estar presente em sua própria
insignificantes e, ao invés, fica convencido de que as únicas mente. Ele deve reconhecer que o enamoramento da paciente é
dificuldades realmente sérias que tem de enfrentar residem no induzido pela situação analítica e não deve ser atribuído aos
manejo da transferência. encantos de sua própria pessoa; de maneira que não tem
Entre as situações que surgem a este respeito, nenhum motivo para orgulhar-se de tal ‘conquista’, como seria
selecionarei uma que é muito nitidamente definida; e selecioná- chamada fora da análise. E é sempre bom lembrar-se disto. Para
la-ei, em parte, porque ocorre muito amiúde e é tão importante a paciente, contudo, há duas alternativas: abandonar o
em seus aspectos reais e em parte devido ao seu interesse tratamento psicanalítico ou aceitar enamorar-se de seu médico
teórico. O que tenho em mente é o caso em que uma paciente como um destino inelutável.
demonstra, mediante indicações inequívocas, ou declara
abertamente, que se enamorou, como qualquer outra mulher Não tenho dúvida de que os parentes e amigos da
mortal poderia fazê-lo, do médico que a está analisando. Esta paciente se decidirão enfaticamente pela primeira destas duas
situação tem seus aspectos aflitivos e cômicos, bem como os alternativas, assim como o analista optará pela segunda. Mas
sérios. Ela é também determinada por tantos e tão complicados acho que temos aqui um caso em que a decisão não pode ser
fatores, é tão inevitável e tão difícil de esclarecer, que uma deixada ao terno — ou antes, egoísta e ciumento — cuidado dos
discussão sobre o assunto, para atender a uma necessidade vital parentes. Somente o bem-estar da paciente deveria ser a pedra
da técnica analítica, já há muito se fazia necessária. Mas visto de toque; o amor dos parentes não pode insistir que é
que nós, que rimos das fraquezas de outras pessoas, nem indispensável para a consecução de certos fins. Qualquer
sempre estamos livres delas, até agora não estivemos parente que adote a atitude de Tolstoi em relação ao problema
precisamente apressados em cumprir esta tarefa. Deparamos pode permanecer na posse imperturbada de sua esposa ou filha;
constantemente com a obrigação à discrição profissional — mas terá de tentar suportar o fato de que ela, de sua parte,
discrição que não se pode dispensar na vida real, mas que é mantém a neurose e a interferência com sua capacidade de
inútil em nossa ciência. Na medida em que as publicações amar que aquela acarreta. A situação, afinal, é semelhante à de
psicanalíticas também fazem parte da vida real, temos aqui uma um tratamento ginecológico. Além disso, o pai ou marido
contradição insolúvel. Recentemente desprezei esta questão da ciumento está grandemente equivocado se pensa que a paciente
discrição a certa altura, e demonstrei como esta mesma situação escapará de enamorar-se do médico se ele entregá-la a algum
transferencial retardou o desenvolvimento da terapia outro tipo de tratamento, que não a análise, para combater-lhe a
psicanalítica durante sua primeira década. neurose. Pelo contrário, a única diferença será que um amor
Para um leigo instruído (a pessoa civilizada ideal, em deste tipo, fadado a permanecer oculto e não analisado, nunca
relação à psicanálise), as coisas que se relacionam com o amor poderá prestar ao restabelecimento da paciente a contribuição
são incomensuráveis; acham-se, por assim dizer, escritas numa que a análise dele teria extraído.
página especial em que nenhum outro texto é tolerado. Se uma Chegou ao meu conhecimento que alguns médicos que
paciente enamorou-se de seu médico, parece a tal leigo que são praticam a análise preparam freqüentemente suas pacientes
possíveis apenas dois desfechos. Um, que acontece de modo para o surgimento da transferência erótica ou até mesmo as
comparativamente raro, é que todas as circunstâncias permitam instam a ‘ir em frente a enamorar-se do médico, de modo a que
uma união legal e permanente entre eles; o outro, mais o tratamento possa progredir’. Dificilmente posso imaginar
freqüente, é que médico e paciente se separem e abandonem o procedimento mais insensato. Assim procedendo, o analista priva
trabalho que começaram e que deveria levar ao o fenômeno do elemento de espontaneidade que é tão
restabelecimento dela, como se houvesse sido interrompido por convincente e cria para si próprio, no futuro, obstáculos difíceis
algum fenômeno elementar. Há, sem dúvida, um terceiro de superar.
desfecho concebível, que até mesmo parece compatível com a À primeira vista, certamente não parece que o fato de a
continuação do tratamento. É que eles iniciam um paciente se enamorar na transferência possa resultar em
relacionamento amoroso ilícito e que não se destina a durar para qualquer vantagem para o tratamento. Por mais dócil que tenha
sempre. Mas esse caminho é impossível por causa da moralidade sido até então, ela repentinamente perde toda a compreensão
convencional e dos padrões profissionais. Não obstante, o nosso do tratamento e todo o interesse nele, e não falará ou ouvirá a
leigo implorará ao analista que lhe assegure, tão respeito de nada que não seja o seu amor, que exige que seja
inequivocamente quanto possível, que esta terceira alternativa retribuído. Abandona seus sintomas ou não lhes presta atenção;
se acha excluída. na verdade, declara que está boa. Há uma completa mudança
É claro que um psicanalista tem de encarar as coisas de de cena; é como se uma peça de fingimento houvesse sido
um ponto de vista diferente. interrompida pela súbita irrupção da realidade — como quando,
Tomemos o caso do segundo desfecho da situação que por exemplo, um grito de incêndio se erguer durante uma
estamos considerando. Após a paciente ter-se enamorado de seu representação teatral. Nenhum médico que experimente isto
médico, eles se separam; o tratamento é abandonado. Mas logo pela primeira vez achará fácil manter o controle sobre o
o estado da paciente obriga-a a fazer uma segunda tentativa de tratamento analítico e livrar-se da ilusão de que o tratamento
análise, com outro médico. O que acontece a seguir é que ela realmente chegou ao fim.
sente se ter enamorado deste segundo médico também; e, se Uma pequena reflexão capacita-nos a encontrar
romper com ele e recomeçar outra vez, o mesmo acontecerá orientação. Primeiro e antes de tudo, mantém-se na mente a
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suspeita de que tudo que interfere com a continuação do não uma maneira analítica de lidar com eles, mas uma maneira
tratamento pode constituir expressão da resistência. Não pode insensata. Seria exatamente como se, após invocar um espírito
haver dúvida de que a irrupção de uma apaixonada exigência de dos infernos, mediante astutos encantamentos, devêssemos
amor é, em grande parte, trabalho da resistência. Há muito mandá-lo de volta para baixo, sem lhe haver feito uma única
notaram-se na paciente sinais de uma transferência afetuosa, e pergunta. Ter-se-ia trazido o reprimido à consciência, apenas
pôde-se ter certeza de que a docilidade dela, sua aceitação das para reprimi-lo mais uma vez, um susto. Não devemos iludir-nos
explicações analíticas, sua notável compreensão e o alto grau de sobre o êxito de qualquer procedimento desse tipo. Como
inteligência que apresentava deveriam ser atribuídos a esta sabemos, as paixões pouco são afetadas por discursos sublimes.
atitude em relação ao médico. Agora, tudo isto passou. Ela ficou A paciente sentirá apenas humilhação e não deixará de vingar-se
inteiramente sem compreensão interna (insight) e parece estar por ela.
absorvida em seu amor. Ademais, esta modificação ocorre muito Tampouco posso eu advogar um caminho intermediário,
regularmente na ocasião precisa em que se está tentando levá-la que a certas pessoas se recomendaria como especialmente
a admitir ou recordar algum fragmento particularmente aflitivo e engenhoso. Consistiria em declarar que se retribuem os
pesadamente reprimido da história da sua vida. Ela esteve amorosos sentimentos da paciente, mas, ao mesmo tempo, em
enamorada, portanto, por longo tempo; mas agora a resistência evitar qualquer complementação física desta afeição, até que se
está começando a utilizar seu amor a fim de estorvar a possa orientar o relacionamento para canais mais calmos e
continuação do tratamento, desviar todo o seu interesse do elevá-lo a um nível mais alto. Minha objeção a este expediente é
trabalho e colocar o analista em posição canhestra. que o tratamento analítico se baseia na sinceridade, e neste fato
Se se examinar a situação mais de perto, reconhece-se reside grande parte de seu efeito educativo e de seu valor ético.
a influência de motivos que complicam ainda mais as coisas — É perigoso desviar-se deste fundamento. Todo aquele que se
dos quais, alguns acham-se vinculados ao enamoramento e tenha embebido na técnica analítica não mais será capaz de
outros são expressões específicas da resistência. Do primeiro fazer uso das mentiras e fingimentos que um médico
tipo são os esforços da paciente em certificar-se de sua normalmente acha inevitáveis; e se, com a melhor das
irresistibilidade, em destruir a autoridade do médico rebaixando- intenções, tentar fazê-lo, é muito provável que se traia. Visto
o ao nível de amante e em conquistar todas as outras vantagens exigirmos estrita sinceridade de nossos pacientes, colocamos em
prometidas, que são incidentais à satisfação do amor. Com perigo toda a nossa autoridade, se nos deixarmos ser por eles
referência à resistência, podemos suspeitar que, ocasionalmente, apanhados num desvio da verdade. Além disso, a experiência de
ela faz uso de uma declaração de amor da paciente como meio se deixar levar um pouco por sentimentos ternos em relação à
de colocar à prova a severidade do analista, de maneira que, se paciente não é inteiramente sem perigo. Nosso controle sobre
ele mostra sinais de complacência, pode esperar se chamado à nós mesmos não é tão completo que não possamos
ordem por isso. Acima de tudo, porém, fica-se com a impressão subitamente, um dia, ir mais além do que havíamos pretendido.
de que a resistência está agindo como um agent provocateur; Em minha opinião, portanto, não devemos abandonar a
ela intensifica o estado amoroso da paciente e exagera sua neutralidade para com a paciente, que adquirimos por manter
disposição à rendição sexual, a fim de justificar ainda mais controlada a contratransferência.
enfaticamente o funcionamento da repressão, ao apontar os Já deixei claro que a técnica analítica exige do médico
perigos de tal licenciosidade. Todos estes motivos acessórios, que ele negue à paciente que anseia por amor a satisfação que
que em casos mais simples podem não se achar presente, ela exige. O tratamento deve ser levado a cabo na abstinência.
foram, como sabemos, encarados por Adler como parte essencial Com isto não quero significar apenas a abstinência física, nem a
de todo o processo. privação de tudo o que a paciente deseja, pois talvez nenhuma
Mas como deve o analista comportar-se, a fim de não pessoa enferma pudesse tolerar isto. Em vez disso, fixarei como
fracassar nessa situação, se estiver persuadido de que o princípio fundamental que se deve permitir que a necessidade e
tratamento deve ser levado avante, apesar desta transferência anseio da paciente nela persistam, a fim de poderem servir de
erótica, e que deve enfrentá-la com calma? forças que a incitem a trabalhar e efetuar mudanças, e que
Ser-me-ia fácil enfatizar os padrões universalmente devemos cuidar de apaziguar estas forças por meio de
aceitos de moralidade e insistir que o analista nunca deve, em substitutos. O que poderíamos oferecer nunca seria mais que um
quaisquer circunstâncias aceitar ou retribuir os ternos substituto, pois a condição da paciente é tal que, até que suas
sentimentos que lhe são oferecidos; que, ao invés disso, deve repressões sejam removidas, ela é incapaz de alcançar
ponderar que chegou sua vez de apresentar à mulher que o ama satisfação real.
as exigências da moralidade social e a necessidade de renúncia, Admitamos que este princípio fundamental de o
conseguir fazê-las abandonar seus desejos e, havendo dominado tratamento ser levado a cabo na abstinência estenda-se muito
o lado animal do seu eu (self), prosseguir com o trabalho da além do caso isolado que estamos aqui considerando, e que ele
análise. necessite ser completamente debatido, a fim de podermos
Não atenderei, contudo, a estas expectativas — nem a definir os limites de sua possível aplicação. Todavia,
primeira nem a segunda delas. A primeira, porque não estou abordaremos agora este assunto, mas manter-nos-emos tão
escrevendo para pacientes, mas sim para médicos que têm próximos quanto possível da situação de que partimos. O que
sérias dificuldades com que lutar, e também porque, neste caso, aconteceria se o médico se comportasse diferentemente e,
posso remontar a prescrição moral à sua fonte, ou seja, a supondo que ambas as partes fossem livres, se aproveitasse
conveniência. Encontro-me, nesta ocasião, na feliz posição de dessa liberdade para retribuir o amor da paciente e acalmar sua
poder substituir o impedimento moral por considerações de necessidade de afeição?
técnica analítica, sem qualquer alteração no resultado.
Ainda mais decididamente, contudo, recuso-me a Se ele houvesse sido guiado pelo cálculo de que esta
atender à segunda das expectativas que mencionei. Instigar a concordância de sua parte lhe garantiria o domínio sobre a
paciente a suprimir, renunciar ou sublimar seus instintos, no paciente e assim capacitá-lo-ia a influenciá-la a realizar as
momento em que ela admitiu sua transferência erótica, seria, tarefas exigidas pelo tratamento e, dessa maneira, liberar-se
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permanentemente de sua neurose, então a experiência capacidade de neurose se liga a tão obstinada necessidade de
inevitavelmente mostrar-lhe-ia que seu cálculo estava errado. A amor.
paciente alcançaria o objetivo dela, mas ele nunca alcançaria o Muitos analistas indubitavelmente estarão de acordo
seu. O que aconteceria ao médico e à paciente seria apenas o sobre o método pelo qual outras mulheres, menos violentas em
que aconteceu, segundo a divertida anedota, ao pastor e ao seu amor, podem ser gradativamente levadas a adotar a atitude
corretor de seguros. O corretor de seguros, livre pensador, analítica. O que fazemos, acima de tudo, é acentuar para a
estava à morte e seus parentes insistiram em trazer um homem paciente o elemento inequívoco de resistência nesse ‘amor’. O
de deus para convertê-lo antes de morrer. A entrevista durou amor genuíno, dizemos, torná-la-ia dócil e intensificaria sua
tanto tempo que aqueles que esperavam do lado de fora presteza em solucionar os problemas de seu caso, simplesmente
começaram a ter esperanças. Por fim, a porta do quarto do porque o homem de quem está enamorada espera isso dela. Em
doente se abriu. O livre pensador não havia sido convertido, mas tal caso, ela alegremente escolheria a estrada da conclusão do
o pastor foi embora com um seguro. tratamento, a fim de adquirir valor aos olhos do médico e
Se os avanços da paciente fossem retribuídos, isso preparar-se para a vida real, onde este sentimento de amor
constituiria grande triunfo para ela, mas uma derrota completa poderia encontrar lugar adequado. Em vez disso, apontamos
para o tratamento. Ela teria alcançado sucesso naquilo por que nós, ela está mostrando um espírito teimoso e rebelde,
todos os pacientes lutam na análise — teria tido êxito em atuar abandonou todo o interesse no tratamento e claramente não
(acting out), em repetir na vida real o que deveria apenas ter sente respeito pelas convicções bem fundadas do médico. Está
lembrado, reproduzido como material psíquico e mantido dentro assim expressando uma resistência, sob o disfarce de estar
da esfera dos eventos psíquicos. No curso ulterior do enamorada dele; e, além disso, não se compunge por colocá-lo
relacionamento amoroso, ela expressaria todas as inibições e numa situação difícil. Pois, se ele recusa seu amor, como o dever
reações patológicas de sua vida erótica, sem que houvesse e a compreensão compelem-no a fazer, ela pode representar o
qualquer possibilidade de corrigi-las; e o episódio penoso papel de mulher desprezada e então afastar-se de seus esforços
terminaria em remorso e num grande fortalecimento de sua terapêuticos por vingança e ressentimento, exatamente como
propensão à repressão. O relacionamento amoroso, em verdade, agora está fazendo por amor ostensivo.
destrói a suscetibilidade da paciente à influência do tratamento
analítico. Uma combinação dos dois seria impossível. Como segundo argumento contra a genuinidade desse
É, portanto, tão desastroso para a análise que o anseio amor, apresentamos o fato de que ele não exibe uma só
da paciente por amor seja satisfeito, quanto que seja suprimido. característica nova que se origine da situação atual, mas
O caminho que o analista deve seguir não é nenhum destes; é compõe-se inteiramente de repetições e cópias de reações
um caminho para o qual não existe modelo na vida real. Ele tem anteriores, inclusive infantis. Prometemos provar isso mediante
de tomar cuidado para não se afastar do amor transferencial, uma análise pormenorizada do comportamento da paciente no
repeli-lo ou torná-lo desagradável para a paciente; mas deve, de amor.
modo igualmente resoluto, recusar-lhe qualquer retribuição. Se se acrescenta a dose necessária de paciência a estes
Deve manter um firme domínio do amor transferencial, mas argumentos, é geralmente possível superar a difícil situação e
tratá-lo como algo irreal, como uma situação que se deve continuar o trabalho com um amor que foi moderado ou
atravessar no tratamento e remontar às suas origens transformado; o trabalho visa então a desvendar a escolha
inconscientes e que pode ajudar a trazer tudo que se acha muito objetal infantil da paciente e as fantasias tecidas ao redor dela.
profundamente oculto na vida erótica da paciente para sua Todavia, gostaria agora de examinar estes argumentos
consciência e, portanto, para debaixo de seu controle. Quanto com olhos críticos e levantar a questão de saber se,
mais claramente o analista permite que se perceba que ele está apresentando-os à paciente, estamos realmente dizendo a
à prova de qualquer tentação, mais prontamente poderá extrair verdade, ou se não nos estamos valendo, em nosso desespero,
da situação seu conteúdo analítico. A paciente, cuja repressão de ocultamentos e deturpações. Em outras palavras: podemos
sexual naturalmente ainda não foi removida, mas simplesmente verdadeiramente dizer que o estado de enamoramento que se
empurrada para segundo plano, sentir-se-á então segura o manifesta no tratamento analítico não é real?
bastante para permitir que todas as suas precondições para Acho que dissemos à paciente a verdade, mas não toda
amar, todas as fantasias que surgem de seus desejos sexuais, a verdade, sem atentar para as conseqüências. Dos nossos dois
todas as características pormenorizadas de seu estado amoroso argumentos, o primeiro é o mais forte. O papel desempenhado
venham à luz. A partir destas, ela própria abrirá o caminho para pela resistência no amor transferencial é inquestionável e muito
as raízes infantis de seu amor. considerável. Entretanto, a resistência, afinal de contas, não cria
Existe, é verdade, determinada classe de mulheres com esse amor; encontra-o pronto, à mão, faz uso dele e agrava
quem esta tentativa de preservar a transferência erótica para suas manifestações. Tampouco a genuinidade do fenômeno
fins do trabalho analítico, sem satisfazê-la, não logrará êxito. deixa de ser provada pela resistência. O segundo argumento é
Trata-se de mulheres de paixões poderosas, que não toleram muito mais débil. É verdade que o amor consiste em novas
substitutos. São filhas da natureza que se recusam a aceitar o adições de antigas características e que ele repete reações
psíquico em lugar do material e que, nas palavras do poeta, são infantis. Mas este é o caráter essencial de todo estado amoroso.
acessíveis apenas à ‘lógica da sopa, com bolinhos por Não existe estado deste tipo que não reproduza protótipos
argumentos’. [‘Suppenlongik mit Knödelgründen’, de ‘Die infantis. É precisamente desta determinação infantil que ele
Wanderraten’ de Heine. (Transcrito erradamente por Freud: recebe seu caráter compulsivo, beirando, como o faz, o
‘Knödelargumenten’.)] Com tais pessoas tem-se de escolher patológico. O amor transferencial possui talvez um grau menor
entre retribuir seu amor ou então acarretar para si toda a de liberdade do que o amor que aparece na vida comum e é
inimizade de uma mulher desprezada. Em nenhum dos casos se chamado de normal; ele exibe sua dependência do padrão
podem salvaguardar os interesses do tratamento. Tem-se de infantil mais claramente e é menos adaptável e capaz de
bater em retirada, sem sucesso, e tudo o que se pode fazer é modificação; mas isso é tudo, e não o que é essencial.
revolver na própria mente o problema de como é que uma
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Por que outros sinais pode a genuinidade de um amor dessa maneira; só a ciência é refinada demais para admiti-lo. Por
ser reconhecida? Por sua eficácia, sua utilidade em alcançar o outro lado, quando uma mulher solicita amor, rejeitá-la e recusá-
objetivo do amor? A esse respeito, o amor transferencial não la constitui papel penoso para um homem desempenhar; e,
parece ficar devendo nada a ninguém; tem-se a impressão de apesar da neurose e da resistência, existe um fascínio
que se poderia obter dele qualquer coisa. incomparável numa mulher de elevados princípios que confessa
Resumamos, portanto. Não temos o direito de contestar sua paixão. Não são os desejos cruamente sensuais da paciente
que o estado amoroso que faz seu aparecimento no decurso do que constituem a tentação. É mais provável que estes
tratamento analítico tenha o caráter de um amor ‘genuíno’. Se repugnem, e encará-los como fenômeno natural exigirá toda a
parece tão desprovido de normalidade, isto é suficientemente tolerância do médico. São, talvez, os desejos de mulher mais
explicado pelo fato de que estar enamorado na vida comum, sutis e inibidos em seu propósito que trazem consigo o perigo de
fora da análise, é também mais semelhante aos fenômenos fazer um homem esquecer sua técnica e sua missão médica no
mentais anormais que aos normais. Não obstante, o amor interesse de uma bela experiência.
transferencial caracteriza-se por certos aspectos que lhe E no entanto é inteiramente impossível para o analista
asseguram posição especial. Em primeiro lugar, é provocado ceder. Por mais alto que possa prezar o amor, tem de prezar
pela situação analítica; em segundo, é grandemente ainda mais a oportunidade de ajudar sua paciente a passar por
intensificado pela resistência, que domina a situação; e, em um estádio decisivo de sua vida. Ela tem de aprender com ele a
terceiro, falta-lhe em alto grau consideração pela realidade, é superar o princípio do prazer, e abandonar uma satisfação que
menos sensato, menos interessado nas conseqüências e mais se acha à mão, mas que socialmente não é aceitável, em favor
ego em sua avaliação da pessoa amada do que estamos de outra mais distante, talvez inteiramente incerta, mas que é
preparados para admitir no caso do amor normal. Não devemos psicológica e socialmente irrepreensível. Para conseguir esta
esquecer, contudo, que esses afastamentos da norma superação, ela tem de ser conduzida através do período primevo
constituem precisamente aquilo que é essencial a respeito de de seu desenvolvimento mental e, nesse caminho, tem de
estar enamorado. adquirir a parte adicional de liberdade mental que distingue a
Quanto à linha de ação do analista, é a primeira destas atividade mental consciente — no sentido sistemático — da
três características do amor transferencial que constitui o fator inconsciente.
decisivo. Ele evocou este amor, ao instituir o tratamento analítico O psicoterapeuta analítico tem, assim, uma batalha
a fim de curar a neurose. Para ele, trata-se de conseqüência tríplice a travar — em sua própria mente, contra as forças que
inevitável de uma situação médica, tal como a exposição do procuram arrastá-lo para abaixo do nível analítico; fora da
corpo de um paciente ou a comunicação de um segredo vital. É- análise, contra opositores que discutem a importância que ele dá
lhe, portanto, evidente que não deve tirar qualquer vantagem às forças instintuais sexuais e impedem-nos de fazer uso delas
pessoal disso. A disposição da paciente não faz diferença; em sua técnica científica; e, dentro da análise, contra as
simplesmente lança toda a responsabilidade sobre o próprio pacientes, que a princípio comportam-se como opositores, mas,
analista. Na verdade, como ele deve saber, a paciente não se posteriormente, revelam a supervalorização da vida sexual que
preparara para nenhum outro mecanismo de cura. Após todas as as domina e tentam torná-lo cativo de sua paixão socialmente
dificuldades haverem sido triunfantemente superadas, ela muitas indomada.
vezes confessará ter tido uma fantasia antecipatória na ocasião O público, leigo, sobre cuja atitude em relação à
em que começou o tratamento, no sentido de que, se se psicanálise falei no início, indubitavelmente apossar-se-á deste
comportasse bem, seria recompensada no final pela afeição do debate do amor transferencial como mais outra oportunidade de
médico. dirigir a atenção do mundo para o sério perigo desse método
Para o médico, motivos éticos unem-se aos técnicos terapêutico. O psicanalista sabe que está trabalhando com forças
para impedi-lo de dar à paciente seu amor. O objetivo que tem altamente explosivas e que precisa avançar com tanto cautela e
de manter em vista é que a essa mulher, cuja capacidade de escrúpulo quanto um químico. Mas quando foram os químicos
amor acha-se prejudicada por fixações infantis, deve adquirir proibidos, devido ao perigo, de manejar substâncias explosivas,
pleno controle de uma função que lhe é de tão inestimável que são indispensáveis, por causa de seus efeitos? É digno de
importância; que ela não deve, porém, dissipá-lo no tratamento, nota que a psicanálise tenha de conquistar para a própria, de
mas mantê-la pronta para o momento em que, após o novo, todas as liberdades que há muito tempo foram concebidas
tratamento, as exigências da vida real se fazem sentir. Ele não a outras atividades médicas. Certamente não sou favorável a
deve encenar a situação de uma corrida de cães em que o abandonar os métodos inócuos de tratamento. Para muitos
prêmio deveria ser uma guirlanda de salsichas, mas que algum casos, eles são suficientes e, quando tudo está dito, a sociedade
humorista estragou ao atirar uma salsicha na pista. O resultado humana não tem mais uso para o furor senandi do que para
foi, naturalmente, que os cães se atiraram sobre ela e qualquer outro fanatismo. Mas acreditar que as neuroses podem
esqueceram tudo sobre a corrida e sobre a guirlanda que os ser vencidas pela administração de remediozinhos inócuos é
atraía à vitória muito distante. Não quero dizer que é sempre subestimar grosseiramente esses distúrbios, tanto quanto à sua
fácil ao médico se manter dentro dos limites prescritos pela ética origem quanto à sua importância prática. Não; na clínica médica
e pela técnica. Aqueles que ainda são jovens e não estão ligados sempre haverá lugar para o ‘ferrum‘ e para o ‘ignis‘, lado a lado
por fortes laços podem, em particular, achá-lo tarefa árdua. O com as ‘medicinas‘; e, da mesma maneira, nunca seremos
amor sexual é indubitavelmente uma das principais coisas da capazes de passar sem uma psicanálise estritamente regular e
vida, e a união da satisfação mental e física no gozo do amor forte, que não tenha medo de manejar os mais perigosos
constitui um de seus pontos culminantes. À parte alguns impulsos mentais e de obter domínio sobre eles, em benefício do
excêntricos fanáticos, todos sabem disso e conduzem sua vida paciente.

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