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LINGUÍSTICA TEXTUAL
Autoria:
Rosângela Hammes Rodrigues
Nívea Rohling da Silva
Vidomar Silva Filho
Linguística Textual
4º
Período
Rosângela Hammes Rodrigues
Nívea Rohling da Silva
Vidomar Silva Filho
Florianópolis - 2009
Governo Federal
Presidente da República: Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro de Educação: Fernando Haddad
Secretário de Ensino a Distância: Carlos Eduardo Bielschowky
Coordenador Nacional da Universidade Aberta do Brasil: Celso Costa
Comissão Editorial
Tânia Regina Oliveira Ramos
Izete Lehmkuhl Coelho
Mary Elizabeth Cerutti Rizzati
Equipe de Desenvolvimento de Materiais
Design Instrucional
Responsável: Isabella Benfica Barbosa
Designer Instrucional: Verônica Ribas Cúrcio
Ficha Catalográfica
R696l Rodrigues, Rosângela Hammes
Linguística textual / Rosângela Hammes Rodrigues, Nívea Rohling
da Silva, Vidomar Silva Filho. – Florianópolis : LLV/CCE/UFSC, 2009.
158p. : 28cm
ISBN 978-85-61482-19-0
Inclui bibliografia
UFSC. Licenciatura em Letras-Português na Modalidade a Distância
CDU: 801
A
presentamos a vocês o livro impresso da disciplina de Linguística Tex-
tual, que faz parte do conjunto de disciplinas da quarta fase do Curso
de Licenciatura em Letras – Português na modalidade a distância.
Este livro tem por objetivo abordar o histórico dos estudos da Linguística Textu-
al e, principalmente, seus conceitos mais importantes para a formação do pro-
fessor. Além disso, objetiva discutir a questão do texto na disciplina escolar de
Língua Portuguesa. Para dar conta do objetivo proposto, o livro está organizado
em quatro Unidades. Na Unidade A, apresentamos um breve panorama histó-
rico da Linguística Textual e discutimos as concepções de texto que foram cons-
truídas durante o percurso de consolidação dessa área, e que fizeram com que
a disciplina fosse adotando, em sua trajetória, um caráter dinâmico e multidis-
ciplinar. Na Unidade B, introduzimos o conceito de textualidade e desenvolve-
mos os padrões de textualidade. A partir dessa Unidade, incluímos, ao final das
seções, uma orientação mais específica para a formação do professor, a qual re-
laciona os conceitos teóricos abordados com a prática de ensino-aprendizagem
dos conteúdos na disciplina de Língua Portuguesa. Na Unidade C, abordamos
um dos temas mais recentes de estudo da Linguística Textual, a referenciação.
E, por fim, na Unidade D, relacionamos mais especificamente o estudo teórico
do texto com o ensino-aprendizagem do texto nas aulas de Língua Portuguesa.
Nosso objetivo final é que este livro seja um meio eficaz para introduzir os
conceitos fundantes desse importante campo de estudo que é a Linguística
Textual, bem como demonstrar a articulação desses conceitos com o ensino-
aprendizagem das práticas de leitura, escuta e produção textual na disciplina
de Língua Portuguesa.
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Linguística Textual
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Panorama histórico da Linguística Textual Capítulo 01
Por essas diferenças teóricas iniciais da Linguística Textual, autores
como Fávero e Koch (1988 [1983]) consideram que, embora a origem
do termo linguística do texto seja da obra de Coseriu, o uso desse termo
no sentido que lhe foi atribuído nos estudos iniciais do texto aparece
pela primeira vez na obra Linguistik der Lüge, de Weinrich.
a) a análise transfrástica;
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Linguística Textual
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Panorama histórico da Linguística Textual Capítulo 01
a ser de interesse da Linguística Textual a análise dos textos nas condi-
ções de interação. Isso levou os estudiosos da área a adotar em suas pes-
quisas o conceito de textualidade, em que está imbricado um conjunto
A textualidade e os
de padrões que contribuem para a construção e legibilidade do texto.
padrões de textualidade
serão abordados na Uni-
Analisando o percurso inicial da Linguística Textual por meio de dade B.
seus diferentes momentos, podemos observar que, mesmo objetivando,
desde as origens, construir um estudo do texto alternativo às teorias
imanentes da língua, pelo menos nas fases iniciais, esse estudo ainda
se realizou abstraído das condições de produção do texto e dos partici-
pantes da interação; ou seja, também o texto foi analisado de um modo
bastante imanente.
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Linguística Textual
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Concepções de texto Capítulo 02
2 Concepções de texto
Embora tenhamos uma noção intuitiva do que seja um texto, que
saibamos que não se interage do mesmo modo e nem com a mesma
finalidade em uma consulta médica, em uma conversa de bar, ou diante
de um romance, de um e-mail de um amigo, de uma bula de remédio, de
um boleto bancário, de uma charge etc., construir uma definição teórica
do que seja um texto depende de uma série de fatores, como, por exem-
plo, o próprio desenvolvimento teórico da disciplina e a concepção de
língua e de sujeito que se tenha como fundamento teórico.
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Linguística Textual
Terceiro momento da
Linguística Textual.
Durante o momento das teorias de texto, tendo em vista a influência
da Pragmática e das Teorias do Discurso, enfim, da crescente ampliação
do escopo dos estudos linguísticos (da língua como sistema para a lín-
gua em uso), passou-se a considerar, na elaboração do conceito de texto,
aspectos relacionados à produção e à recepção dos textos, ancorados em
Observe que o autor está
elaborando o conceito de situações de uso da linguagem. Dessa maneira, de uma estrutura, de um
texto de modo dialógico. produto pronto e acabado, o texto passou a ser visto como um elemento
Nesta parte da citação,
ele está se contrapondo importante nas atividades de comunicação. Podemos apresentar, como
à concepção de texto representantes desse momento, os conceitos de texto de Luiz Antônio
baseada na teoria gerati-
vista, que postulava como Marcuschi (1983) e Ingedore Grunfield Villaça Koch (1997).
escopo da descrição de
uma gramática textual o Para Marcuschi (1983, p.10-11),
texto como uma unidade
abstrata, como um texto o texto não é uma unidade virtual e sim concreta e atual; não é uma
potencial. Em seguida, simples sequência coerente de sentenças e sim uma ocorrência comu-
vai questionar o conceito
de texto como conjunto nicativa. [...]. Trata-se de uma unidade comunicativa atual realizada tanto
coerente de enunciados. no nível do uso como ao nível do sistema. Tanto o sistema como o uso
Ambos são conceitos de têm suas funções essenciais.
texto do primeiro e segun-
do momentos da Linguísti-
ca Textual.
Para Koch (1997, p. 22), o texto pode ser conceituado como
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Concepções de texto Capítulo 02
permitir aos parceiros, na interação, não apenas a depreensão dos con-
teúdos semânticos, em decorrência da ativação de estratégias de or-
dem cognitiva, como também a interação (ou atuação) de acordo com
práticas socioculturais.
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Concepções de texto Capítulo 02
Por isso, passa a ser central na definição de texto a consideração das con-
dições de produção e recepção de textos, ou seja, a situação de interação
e os interlocutores, pois “o texto não existe fora de sua produção ou de
sua recepção” (LEONTÉV, 1969 apud FÁVERO e KOCH, 1988, p. 22).
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Linguística Textual
Círculo de Bakhtin
é a expressão cunha- As diferentes concepções de língua, introduzidas brevemente na
da por pesquisadores disciplina de Estudos Gramaticais (veja em: GÖRSKI, E. Estudos
contemporâneos para Gramaticais. Florianópolis: UFSC/CCE/LLV, 2007), serão também
se referir ao grupo de
discutidas na disciplina de Linguística Aplicada. No entanto, é pre-
intelectuais russos que
se reunia regularmente ciso salientar que as concepções de língua e de sujeito apresentadas
no período de 1919 a por Koch vêm das reflexões do Círculo de Bakhtin.
1929, do qual fizeram
parte Bakhtin, Voloshi-
nov e Medvedev. A
opção pelo nome de Na concepção de língua como código – ou seja, como apenas um
Bakhtin para se referir instrumento para a comunicação – e do sujeito como pré-determinado
ao grupo deve-se, pro-
pelo sistema,
vavelmente, à autoria
de algumas obras de
o texto é visto como simples produto da codificação de um emissor a
Voloshinov e Medve-
ser decodificado pelo leitor/ouvinte, bastando a este, para tanto, o co-
dev, atribuídas também
a Bakhtin por alguns es- nhecimento do código, já que o texto, uma vez codificado, é totalmente
tudiosos, e pelo fato de explícito. Também nesta concepção o papel do ‘decodificador’ é essen-
a maioria dos textos do cialmente passivo (KOCH, 2002, p. 16).
Círculo ser de autoria
de Bakhtin. É desse gru- Na concepção de língua como interação (dialógica), na qual os su-
po de estudiosos que jeitos são vistos como agentes sociais, “o texto passa a ser considerado o
se desenvolve a con-
cepção de linguagem próprio lugar da interação e os interlocutores, como sujeitos ativos que
como interação. Os li- – dialogicamente – nele se constroem e são construídos” (KOCH, 2002,
vros mais conhecidos p. 17). Como afirma Geraldi (1993 [1991], p. 102), “o outro é a medida:
no Brasil são Marxismo
é para o outro que se produz o texto. E o outro não se inscreve no tex-
e filosofia da linguagem
(VOLOCHINOV), Esté- to apenas no seu processo de produção de sentidos na leitura. O outro
tica da criação verbal insere-se já na produção, como condição necessária para que o texto
(BAKHTIN) e Questões exista”. Em outras palavras: ao elaborar o texto, nós o fazemos pensando
de literatura e estética
(BAKHTIN). no interlocutor (quem ele é, o que sabe etc.) e nos efeitos de sentido que
queremos produzir sobre ele (informar, convencer, esclarecer, ameaçar
etc.).
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Concepções de texto Capítulo 02
ser correlacionada com a segunda vertente conceitual de texto, isto é, o
texto como unidade da comunicação discursiva, como lugar de interação. Nessa segunda verten-
te, podemos observar a
Neste Unidade, apresentamos o histórico da Linguística Textual influência dos estudos
do Círculo de Bakhtin.
e as principais concepções de texto desenvolvidas pela área. Na próxi- Conceitos centrais de sua
ma Unidade, vamos discutir questões ligadas mais especificamente à teoria, como interação,
dialogismo, gêneros do
constituição do texto, ou seja, à textualidade. discurso, esferas sociais,
são fundamentais para a
construção do conceito de
texto dessa vertente.
Leia mais!
Sobre a trajetória da Linguística Textual, indicamos a leitura do artigo
de Ingedore Villaça Koch (1999) intitulado O desenvolvimento da Lin-
güística textual no Brasil, publicado pela revista DELTA, disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-44501999000300007
&script=sci_arttext>. Acesso em: 10/6/2009.
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Unidade B
Padrões de Textualidade
a) coesão;
b) coerência;
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Noções gerais Capítulo 03
é, em essência, uma unidade funcional. Dessa constatação, lembra o
autor, o foco passou da elaboração de gramáticas do texto para o estu-
do da textualidade.
Apesar disso, o autor salienta que essa passagem não foi suficien-
temente longe, pois os padrões de textualidade propostos na obra de
sua autoria e de Dressler (1981) foram equivocadamente interpretados
a partir de uma perspectiva formal (texto produto, abstraído das con-
dições de produção) e à luz dos estudos estruturalistas, fazendo-se uma
correlação entre os padrões de textualidade e os níveis linguísticos, com
vistas a analisar os textos: Passou-se a associar coesão com morfologia, Segundo o estruturalismo,
sintaxe e gramática; coerência com semântica; intencionalidade, aceita- a língua é uma estrutura
composta de diferentes
bilidade e situacionalidade com pragmática; informatividade com tópi- níveis hierarquizados.
co/comentário e tema/rema; e intertextualidade com estilística. Cada nível é uma camada
de análise, possui suas
Essas correlações, segundo o autor, são inadequadas, pois os níveis regras e é formado por
unidades, cujas combina-
linguísticos foram descritos em termos formais e no isolamento da lin- ções formam as unidades
guagem nela própria como um sistema virtual (abstrato). A associação do nível superior. Por
exemplo, a combinação
dos padrões de textualidade a níveis linguísticos fez com que se olhasse dos fonemas (nível fonoló-
o texto como produto, a partir de sua imanência, e incentivou que se tra- gico) produz os morfemas
(nível do morfema).
tasse cada padrão de textualidade isoladamente, sem correlação com os
outros. Além disso, esses padrões de textualidade foram relidos como ca-
racterísticas do texto em si e como critérios/fatores para se avaliar se um
dado texto particular era coeso ou não, coerente ou não, por exemplo.
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Noções gerais Capítulo 03
péis de autor bastante diversos ao escrever um romance ou uma tese;
um artigo científico e um livro didático dirigem-se a interlocutores dis-
tintos; a finalidade discursiva do artigo científico (apresentar resultados
de pesquisa) é diferente daquela que tem o livro didático (apresentar
conteúdos escolares aos alunos e mediar seu ensino-aprendizagem); o
artigo científico e a notícia têm estilos diferentes, mesmo que ambos
sejam redigidos na variedade linguística de prestígio.
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Linguística Textual
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Noções gerais Capítulo 03
Segundo Koch (1991 [1989]), a recorrência de termos verbais é um
mecanismo de coesão, pois indica se se trata de um sequência de comen-
tário (demonstra, redefine) ou de relato (assobiava, andava, escorria). Essa questão será abor-
dada no Capítulo sobre
Sobre a relação entre gêneros e textualidade, Matencio (2006) con- coesão.
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Linguística Textual
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Noções gerais Capítulo 03
Na sequência de seu artigo, a autora apresenta um texto de um
aluno produzido em situação de exame e mostra como o professor
pode interpretar diferentemente um texto de um aluno quando ele
o olha não como um artefato, mas como “resultado de uma ativida-
de linguístico-cognitiva socialmente situada”. O texto analisado é:
Meu amigo
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Coesão textual Capítulo 04
4 Coesão textual
Beaugrande e Dressler (2002 [1981], cap. 4, §1) afirmam que “co-
esão e coerência são noções centradas no texto, designando operações
dirigidas aos materiais do texto”. À primeira vista, parece que, para os
autores, a coesão é um fenômeno que deve ser analisado no texto de Neste Capítulo apresen-
superfície e explicado a partir dele. Essa impressão, contudo, logo se taremos a coesão textual
sob a perspectiva da Lin-
desfaz quando os autores discutem longamente a relação entre coesão e guística Textual da década
processamento cognitivo do texto. de oitenta. Na Unidade C,
no capítulo sobre referen-
ciação, a coesão será re-
Apesar de a concepção cognitiva de coesão apresentada por Beau- tomada sob a perspectiva
grande e Dressler (1981) estar até mais afinada com as tendências cog- dos estudos mais recentes
da Linguística Textual. Esse
nitivas de abordagem do texto, no restante deste Capítulo, adotaremos percurso tem por objetivo
como referência obras de Ingedore Koch, especialmente Koch (1989), evidenciar a trajetória da
Linguística Textual, desde
por serem essas obras seminais e que muito contribuíram para popula- sua fase cognitivista até a
rizar entre nós o conceito de coesão textual e tiveram uma importância fase sociocognitiva.
capital para a Linguística Textual no Brasil.
Texto 1
Pinóquio às avessas
Era uma vez um menininho, de carne e osso, igual a tantos que se
deleitam nas coisas simples que a vida dá. Ria nos seus mundos de
faz de conta, voava nas asas dos urubus, assustava os peixes, nariz
achatado nos vidros dos aquários, assobiava para os perus, andava
na chuva. Todas estas coisas que as crianças fazem e os adultos dese-
jam fazer e não fazem, por vergonha. Sua vida escorria feliz por cima A história original de Pinóquio foi
do desejo. escrita em 1881, na Itália, por Carlo Loren-
zini, sob o pseudônimo de Carlo Collodi.
A história versa sobre um boneco de
Não sabia que uma conspiração estava em andamento. Tudo come- madeira que queria se tornar um menino
çara bem antes, quando um nome lhe fora dado. Nome do pai. Claro, de verdade e alcança seu objetivo através
da Fada Azul.
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Linguística Textual
“Que é que ele vai ser quando crescer? Médico? Diplomata? Cientista?”
Até que chegou o dia em que lhe foi dito: “É preciso ir para a escola.
Todos os meninos vão. Para se transformarem em gente. Deixar as coisas
de criança. Em cada criança brincante dorme um adulto produtivo. É
preciso que o adulto produtivo devore a criança inútil.”
Sabia que tudo aquilo deveria ter um motivo. Só que ele não entendia.
O desejo permanecia selvagem. E disto eram prova aquelas notas ver-
melhas no boletim, testemunhas de como o menino cavalgava longe
do desejo dos outros, conspiradores secretos, escondidos na monoto-
nia dos currículos que não faziam o seu corpo sorrir...
“Pra que serve tudo isto?”, ele perguntava. E o pai respondia, sábio e
paciente: “Um dia você saberá. Por ora basta de saber que papai sabe o
que é melhor para seu filho...”
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Coesão textual Capítulo 04
mago, num artista... A recompensa? O Poder, o conhecimento de segre-
dos que ninguém conhece, a glória, ser olhado por todos como um ser
diferente, sublime, superior. Se os seus prodígios fossem maiores que
os de todos, ele poderia aparecer no palco supremo da ciência, em país
distante, onde os mortais se revestem de imortalidade...
E aprendeu coisas preciosas. Que o corpo do cientista é neutro. Que ele não
se comove por considerações de valor ou prazer. Que está acima da vida e
da morte (isto é coisa de políticos, militares e clérigos), em dedicação total
ao saber. Bastava-lhe ser um devotado servidor do progresso da Ciência.
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Coesão textual Capítulo 04
cial; e 2. Coesão sequencial, que se subdividem em novos agrupamentos.
Já Fávero (1991), por sua vez, apresenta a seguinte proposta de classifi-
cação, também baseada, segundo a autora, na função que esses mecanis-
mos estabelecem na construção do texto: 1. Coesão referencial; 2. Coesão
recorrencial e 3. Coesão sequencial. Essa classificação, como a de Koch
(1991[1989]), também se subdivide em novas unidades.
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Coesão textual Capítulo 04
Podem desempenhar a função de formas não-referenciais presas os
artigos, os pronomes adjetivos (demonstrativos, possessivos, inde-
finidos, interrogativos) e os numerais cardinais e ordinais (KOCH,
1991[1989]).
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Coesão textual Capítulo 04
formas) são: pronomes pessoais de 3ª pessoa: ele, ela, eles, elas; pronomes
substantivos; numerais cardinais e ordinais; advérbios pronominais; ex-
pressões adverbiais; formas verbais remissivas (KOCH, 1991[1989]).
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Linguística Textual
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Coesão textual Capítulo 04
O uso de expressões nominais no Texto 1 é fundamental para a
construção dos sentidos do texto. Podemos dizer até que são as próprias
expressões nominais que delineiam a coerência do texto, uma vez que o
uso de expressões nominais como o menino de carne osso; menino sem
nome e sem desejos; e o menino grande expressa a mudança que se opera
no referente Pinóquio e faz com que o texto progrida com relação ao
desfecho da narrativa.
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Linguística Textual
ficar em: Era uma vez um menininho, de carne e osso, igual a tantos que
se deleitam nas coisas simples que a vida dá. ∅ Ria nos seus mundos de
faz de conta, ∅ voava nas asas dos urubus, ∅ assustava os peixes, nariz
achatado nos vidros dos aquários, ∅ assobiava para os perus, ∅ anda-
va na chuva. Nesses exemplos, os verbos no pretérito imperfeito – ria,
voava, assustava, assobiava e andava – atuam na retomada de um meni-
ninho, de carne e osso, substituindo o pronome pessoal de 3ª pessoa ele.
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Coesão textual Capítulo 04
mentos de recorrência”, tais como: recorrência de termos; recorrência de
estruturas – paralelismo sintático; recorrência de conteúdos semânticos
– paráfrase; recorrência de recursos fonológicos e recorrência de tempo e
aspecto verbal. Esses mecanismos de coesão sequencial parafrástica são
explicados por Koch (1991[1989], p. 51-54) da seguinte forma:
Rua
torta.
Lua
Morta [...].
ӲӲ Recorrência de conteúdos – paráfrase: quando o mesmo con-
teúdo semântico é apresentado sob formas estruturais diferen-
tes. É importante ressaltar que a reapresentação de conteúdo
traz alterações semânticas (ajustamento, síntese, previsão).
Podemos apontar algumas expressões linguísticas que intro-
duzem paráfrases, como: isto é, ou seja, quer dizer, melhor di-
zendo, em síntese, em resumo, em outras palavras etc. Vejamos Trecho extraído da Unida-
o seguinte exemplo: [...] Em resumo, quando o professor olha o de B deste Livro.
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
(Fernando Pessoa)
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Coesão textual Capítulo 04
corrência do pretérito imperfeito: Era um boneco de madeira, inteligência
pura, sem coração. E os milhares de bonecos, iguais, de pé, não paravam
de tamanquear os seus aplausos ao novo irmão, enquanto gritavam o seu
nome: “Pinóquio, Pinóquio, Pinóquio...” Assim, no desfecho da narrativa,
há um retorno ao uso do tempo verbal utilizado no início do texto (pre-
térito imperfeito). As alternâncias marcam a ação ocorrida e o desfecho
é marcado pela retomada do tempo verbal utilizada no início do texto.
Essas alternâncias verbais na narrativa marcam o movimento do texto e,
fundamentalmente, expressam a mudança sofrida pelo personagem Pi-
nóquio. Assim, a transformação do menino de carne e osso para o menino
de madeira é textualizada não só por meio de formas nominais, como
também através da alternância dos tempos verbais. Em síntese, podemos
dizer que a recorrência de tempos verbais, juntamente com as formas
nominais, além de estabelecer a coesão textual, incide na construção da
coerência do texto, corroborando para a construção de sentidos do texto.
a) a manutenção do tema;
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Texto 2
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Coesão textual Capítulo 04
o desespero da crise de setembro e outubro. Não será fácil, e o risco de
frustração realmente existe, mas é possível e bem provável que a situ-
ação no início do seu governo esteja muito melhor do que no fim do
mandato Bush. O primeiro passo é acertar na equipe, com os homens e
mulheres certos nos lugares certos.
Tudo somado, temos que Barack Hussein Obama, além de todos os pre-
dicados concretos, tem também aquele que é fundamental: sorte. A ex-
pectativa é que assuma justamente quando o pior da crise já tiver passa-
do, prontinho para fazer o que é preciso fazer e colher no final os louros.
Se a fase aguda da crise parece estar passando, isso vale também para o
Brasil, onde Lula mantém seus 80% de popularidade, os indicadores da
indústria ainda não acusaram o golpe e tudo indica que, entre mortos e
feridos, a campanha de Dilma Rousseff em 2010 vai muito bem, obrigada.
Lá nos EUA, como aqui no Brasil, Obama e Lula têm muitas coisas em
comum. Uma delas é essa: sorte, uma incomensurável sorte. Ótimo. Que
isso reflita positivamente para os EUA, para o Brasil e principalmente
para o mundo.
Os itens lexicais destacados em roxo são termos recorrentes no Esse conceito é desen-
volvido na disciplina de
campo político. Por isso, por meio desses termos, ativa-se um esquema Semântica. Veja: PIRES,
cognitivo (frame) na memória do leitor, o que lhe possibilita o estabele- Roberta. Semântica.
Florianópolis: UFSC/CCE/
cimento das inferências, bem como a possibilidade de avançar nas pers- LLV, 2009.
pectivas sobre o que deve vir a seguir no texto.
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Linguística Textual
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Coesão textual Capítulo 04
ӲӲ Título – Apresenta a primeira inserção do atributo sorte de Ba-
rack Obama, o qual será retomado no decorrer do texto e no
seu fechamento;
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Coesão textual Capítulo 04
jar essas concepções e relacioná-las com as noções de língua e de sujeito que
as sustentam. No exemplo apresentado, temos justaposição com sinais de
articulação que estabelecem um sequenciamento coesivo e que funcionam
como marcadores de ordenação de tempo e/ou espaço, mais precisamente,
como indicadores de ordenação textual. Em textos de gêneros didáticos
e acadêmicos, esses marcadores de ordenação são recorrentes, tendo em
vista que possibilitam a sinalização da organização do texto para o leitor.
As relações de sentido estabelecidas entre os elementos textuais através Trazemos aqui um exemplo
de relação lógico-semân-
dos conectores podem ser lógico-semânticas ou discursivo-argumentativas. tica de temporalidade.
Contudo, vale destacar que
As relações lógico-semânticas, segundo Koch (1991[1989], p. 62), Koch (1991[1989]) apre-
ocorrem “[...] entre orações que compõem um enunciado e são esta- senta as seguintes relações
lógico-semânticas: relação
belecidas por meio de conectores ou juntores de tipo lógico”. Podemos de condicionalidade; rela-
apontar, no Texto 1, exemplo de mecanismo de coesão sequencial por ção de causalidade; relação
de mediação; relação de
conexão do tipo lógico-semântico, que estabelece uma relação de tempo- temporalidade; relação de
ralidade: Primeiro os olhos. Já não refletiam outros olhares e nem borbo- conformidade.
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Coesão textual Capítulo 04
cursivo de contraconjunção: Tanto favoritismo, porém, tem despertado
preocupação entre os eleitores de Obama.
Conjunções:
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Coerência Capítulo 05
5 Coerência
Para Beaugrande e Dressler (2002 [1981], cap. I, §6), coerência é
o padrão de textualidade que está relacionado às formas mediante as
quais conceitos e relações subjacentes ao “texto de superfície são mutu-
amente acessíveis e relevantes”. Os autores definem o
texto de superfície como
Os conceitos, por sua vez, são definidos pelos autores como “confi- “as palavras que efetiva-
mente ouvimos ou vemos”
gurações de conhecimento (conteúdos cognitivos) ativáveis ou recupe- (BEAUGRANDE; DRESSLER,
ráveis na mente”, e as relações são “ligações entre conceitos que ocorrem 2002 [1981], cap. I, §4).
juntos em um mundo textual”. Assim, a coerência, conforme definida
por Beaugrande e Dressler, não é uma propriedade do texto em si, mas
essencialmente um conjunto de processos cognitivos que constroem a
interpretação do texto. Portanto, em termos gerais, todos os elementos
que colaboram para que um texto se constitua como interpretável para
o interlocutor podem ser analisados como fatores de coerência.
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Linguística Textual
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Coerência Capítulo 05
Texto 3
Movimento poético sur-
Serenata Sintética gido no Brasil, na década
de 50, cujas característi-
Rua cas incluem “abolição do
verso tradicional, falta de
torta. linearidade, ausência de
pontuação, ruptura com
Lua a sintaxe; aproveitamento
morta. do espaço – do ‘branco da
página’ – e a disposição
geométrica das palavras
Tua no papel; a exploração do
porta. significante quanto aos
seus aspectos sonoros,
visual e semântico [...]”
Esse poema, que se enquadra dentro da proposta estética do Con- (JORDÃO, R.; OLIVEIRA, C.
cretismo, caracteriza-se pela ausência de conectivos (preposições, con- B., 2005. p. 301)
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Linguística Textual
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Coerência Capítulo 05
formando redes conceituais, enquanto que, na memória operacional, os
itens não estão tão integrados e, assim, são mais facilmente esquecidos. Esta questão também está
relacionada ao letramento.
Esse conhecimento guardado na memória de longo prazo é aquilo a O conceito de letramento
emerge na década de 80
que normalmente nos referimos como conhecimento de mundo e envol- como reconhecimento
ve uma ampla gama de informações de natureza bastante diversa, entre das diferentes práticas
sociais de uso da leitura
as quais se poderia incluir: e da escrita mais comple-
xas que a codificação e
ӲӲ propriedades dos seres e seu comportamento; decodificação (aprendiza-
gem do sistema de escrita;
ӲӲ memória de fatos passados, com variados níveis de relevância, alfabetização no sentido
estrito do termo). Assim,
desde aqueles essencialmente pessoais até os eventos históricos; vale destacar que, em uma
sala de aula, incluem-se
ӲӲ gêneros do discurso; elementos da cultura do próprio grupo diferentes sujeitos. Os
social e de outros grupos; alunos ali agrupados estão
inseridos em diferentes
práticas de letramento, o
ӲӲ relação entre conhecimento científico e cotidiano; que tem implicações nas
práticas de linguagem
ӲӲ relação entre ficção e realidade etc. na disciplina de Língua
Portuguesa.
Para exemplificar como o conhecimento de mundo é relevante na
construção da coerência, vamos analisar seu papel na letra da música De
frente pro crime, de autoria de João Bosco e Aldir Blanc (1975):
BOSCO, J. Caça à raposa.
Texto 4 São Paulo: RCA Victor,
1975. 1 disco: 33 1/3 rpm,
estéreo. LP 31.84.
De frente pro crime
1 Tá lá o corpo estendido no chão
2 em vez de rosto uma foto de um gol
3 em vez de reza uma praga de alguém
4 e um silêncio servindo de amém
5 O bar mais perto depressa lotou
6 malandro junto com trabalhador
7 um homem subiu na mesa do bar
8 e fez discurso pra vereador
65
Linguística Textual
66
Coerência Capítulo 05
5.3 Inferências
Estreitamente ligada ao conhecimento de mundo está a construção
de inferências. Segundo Beaugrande e Dressler (2002 [1981]), inferir é
suprir conhecimento de que já se dispõe a fim de organizar um mun- A inferência também é
trabalhada na disciplina
do textual: “Esta operação [inferir] envolve suprir conceitos e relações de Semântica. Veja: PIRES,
apropriados para preencher uma lacuna ou descontinuidade em um Roberta. Semântica.
Florianópolis: UFSC/CCE/
mundo textual.” (BEAUGRANDE e DRESSLER, 2002 [1981], cap. V, LLV, 2009.
§32). Portanto, o processo de inferenciação consiste em suprir, com base
em elementos textuais e no conhecimento de mundo, uma informação
necessária ou pertinente ao estabelecimento de relações entre entidades
no texto ou entre essas e o mundo.
67
Linguística Textual
68
Coerência Capítulo 05
O texto descreve um jogo de bilhar tenso, ganho pelo eu-lírico após
uma jogada arrojada. Salvo por pistas sutis – como os versos Na mesa
da vida e Na noite perdida, que parecem remeter a contextos existenciais
mais amplos –, o texto parece definitivamente referir-se a bilhar. Entre-
tanto, vários leitores/ouvintes veem no texto a alegoria de uma relação
amorosa tensa, da qual o eu-lírico se vê livre.
5.4 Focalização
Segundo Koch e Travaglia (1999 [1989]), a focalização está direta-
mente ligada com o conhecimento de mundo e o conhecimento com-
partilhado. Nas interações, tanto o produtor quanto o interlocutor foca-
lizam sua atenção em apenas uma pequena porção do conhecimento de
que dispõem a respeito do assunto. Entretanto, para que a compreensão
se dê de forma adequada, é necessário que esse recorte do conhecimento
seja realizado de forma semelhante pelos participantes. Ou seja, é neces-
sário que os mesmos objetos de discurso sejam enfocados. Nas intera-
ções conversacionais, isso envolve mecanismos de negociação:
69
Linguística Textual
Era uma vez um menininho, de carne e osso, igual a tantos que se de-
leitam nas coisas simples que a vida dá. Ria nos seus mundos de faz de
conta, voava nas asas dos urubus, assustava os peixes, nariz achatado
nos vidros dos aquários, assobiava para os perus, andava na chuva. To-
das estas coisas que as crianças fazem e os adultos desejam fazer e não
fazem, por vergonha. Sua vida escorria feliz por cima do desejo.
70
Coerência Capítulo 05
nosso leitor hipotético construirá sentidos diferentes para a palavra con-
fronto do que se essa notícia estiver publicada na seção policial.
71
Linguística Textual
Texto 6
Em nota oficial, o clube não especificou qual será a punição, mas deixou
claro que ele realmente se atrasou, confirmando os boatos de que teria
aproveitado a noite da cidade do interior paulista. A polêmica surge às
vésperas da partida que pode colocar o Corinthians na liderança, contra
o Marília, amanhã, às 19h10.
72
Coerência Capítulo 05
Citando Grosz (1981), Koch e Travaglia (1999 [1989], p. 82) des-
tacam que a focalização “não só torna a comunicação mais eficiente,
como, na verdade, a torna possível”. A focalização constitui, portanto,
uma condição necessária para a construção de coerência, ao permitir
que o produtor do texto e seu leitor/ouvinte selecionem porções de co-
nhecimento para construção do texto e de sua interpretação.
5.5 Relevância
Citando Giora (1985), Koch e Travaglia (1999 [1989], p. 95) afir-
mam que “uma das principais condições para o estabelecimento da coe-
rência é a de relevância discursiva”. Ou seja, um texto mostra-se coerente
quando é possível interpretar as partes que o compõem como tratando
todas de um mesmo tópico discursivo.
73
Linguística Textual
Texto 7
Texto 8
Na minha exposição, salientei aquelas que considero serem, de uma
perspectiva bakhtiniana, as contribuições mais relevantes dos estudos
dos gêneros para a reflexão sobre os processos de textualização. Antes
de passar às minhas considerações finais, gostaria de dizer que a imensa
popularidade desses estudos parece-me, também, perigosa, na medida
em que pode obscurecer as diferenças nas abordagens12 e, sobretudo,
dar a ilusão de que não há mais nada de novo a dizer.
74
Coerência Capítulo 05
Notas
[...]
12
A preocupação de “limpar o campo”, de delimitar, de uma vez por todas, a
questão, parece ter sido, aliás, a preocupação de muitos dos trabalhos sobre os
gêneros que circularam em fins dos anos 90, quando se tentava distinguir tipo
textual e gênero; mais recentemente, a preocupação de discussões que procu-
ram identificar as distinções entre trabalhos que se dedicam ao estudo dos gê-
neros textuais e aqueles que tratam dos gêneros do discurso parece responder
ao mesmo tipo de inquietação.
75
Linguística Textual
76
Coerência Capítulo 05
Na mediação da produção escrita, igualmente, os alunos devem ser
orientados a selecionar informações que sejam pertinentes à cons-
trução de textos coerentes e adequados à situação de interação.
77
Intencionalidade e aceitabilidade Capítulo 06
6 Intencionalidade e
aceitabilidade
Quando o autor produz um texto, tenciona que este seja entendido
como tal, porque tem metas na interação. Existe, via de regra, um ob-
jetivo para a enunciação. O autor quer influenciar de alguma forma o
interlocutor: informar-lhe algo, fazer-lhe uma promessa, dar-lhe uma
ordem, obter dele uma informação etc. Isso não implica, obviamente,
que os esforços do autor sempre produzam o efeito desejado. Às vezes,
alguma dificuldade do interlocutor em lidar com o texto ou algum pro-
blema na textualização pode causar resultados inusitados. Vejamos, a
esse respeito, esta fotografia de um aviso pintado na parede externa de
um restaurante ou bar: Disponível em: http://
blog-do-rona.blogspot.
com/2007/03/zaco-e-sua-
Texto 9 flor.html. Acesso em: 4
mai. 2009.
79
Linguística Textual
80
Intencionalidade e aceitabilidade Capítulo 06
em sentido restrito. Em sentido restrito, a intencionalidade manifesta-se
como a intenção do autor de produzir um texto dotado de coesão e coe-
rência. Já a aceitabilidade, em sentido restrito, constitui a disposição do
interlocutor em aceitar essas intenções do autor, tomando o texto como
coeso, coerente e relevante. Portanto, em sentido restrito, o produtor e
o leitor/ouvinte “agem como se o texto fosse coerente, numa espécie de
atitude cooperativa: Um sempre quer produzir um texto que faça sen-
tido e o outro sempre vê a produção do primeiro como algo que ele fez
para ter sentido” (KOCH e TRAVAGLIA, 1999 [1989]).
Esse parece ser o caso do
Em sentido amplo, a intencionalidade abrange todas as formas de anúncio analisado. Mesmo
com os erros linguísti-
que o locutor lança mão para realizar os seus propósitos comunicativos. cos, autor e interlocutor
E a aceitabilidade, em sentido amplo, corresponde a uma disposição do tentam ser cooperativos.
Entretanto, nem sempre
leitor/ouvinte em compartilhar com o locutor esse propósito mais geral o interlocutor mostra
de estabelecer e manter a comunicação. Portanto, segundo Koch e Tra- cooperação. Muitas vezes,
os desvios de norma-
vaglia (1999 [1989], p. 80), intencionalidade e aceitabilidade, em sentido padrão são motivos para
amplo, “são as duas faces constitutivas do princípio da cooperação”. Tão o interlocutor não apenas
não aceitar a intenção do
forte é esse princípio cooperativo que o leitor/ouvinte tolera eventuais autor, como para desqua-
problemas na coesão ou na coerência, a fim de manter a comunicação, lificá-lo.
como destacado por Beaugrande e Dressler (2002 [1981], Cap. 1, §13):
Texto 10
Comunicação
É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comuni-
car o que você quer. Imagine-se entrando numa loja para comprar um...
um... como é mesmo o nome?
81
Linguística Textual
“Pois não?”
“Sim?”
“Sim senhor.”
“Sim senhor.”
“O quê, cavalheiro?”
Depois vem assim, assim, faz uma volta, aí vem reto de novo, e na outra
ponta tem uma espécie de encaixe, entende? Na ponta tem outra volta,
só que esta é mais fechada. E tem um, um... Uma espécie de, como é
que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta, a pontuda,
de sorte que o, a, o negócio, entende, fica fechado. É isso. Uma coisa
pontuda que fecha. Entende?”
“Infelizmente, cavalheiro...”
“Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo?”
82
Intencionalidade e aceitabilidade Capítulo 06
“Bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Tente descrevê-la ou-
tra vez. Quem sabe o senhor desenha para nós?”
“Não. Eu não sei desenhar nem casinha com fumaça saindo da chaminé.
Sou uma negação em desenho.”
“Sinto muito.”
“Chame o gerente.”
“Bem... É mais ou menos assim. Presta atenção nas minhas mãos. É as-
sim, assim, dobra aqui e encaixa na ponta, assim.”
“Francamente...”
“Mas é simples! Uma coisa simples. Olha: assim, assim, uma volta aqui,
vem vindo, vem vindo, outra volta e clique, encaixa.”
“Já sei!”
“Ótimo!”
83
Linguística Textual
“Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pontuda que prende.
Você enfia a ponta pontuda por aqui, encaixa a ponta no sulco e prende
as duas partes de uma coisa.”
84
Intencionalidade e aceitabilidade Capítulo 06
Essa última resposta irrita o cliente, que percebe que a aceitabilidade
de seu texto está se reduzindo. Novamente, ele precisa mudar sua meta na
interação, de forma a não deixar que a comunicação se interrompa. Daí
a necessidade de convencer o vendedor a aceitar o seu texto. Isso é feito
de duas formas: acusar o vendedor de que ele não está se esforçando o
suficiente (Isso já é má vontade) e insistir que é alguém capaz de produzir
um texto coerente. A intencionalidade do parágrafo em que o cliente diz
ser técnico em contabilidade e estar muito bem de vida é basicamente essa.
85
Linguística Textual
86
Informatividade Capítulo 07
7 Informatividade
Como já mencionado brevemente em Capítulo anterior, a infor-
matividade é um dos padrões de textualidade. Ela está relacionada à
quantidade de informação nova ou inesperada que um texto traz ao lei-
tor/ouvinte. Segundo Beaugrande e Dressler (2002[1981]), ao se ava-
liar a informatividade de um texto, costuma-se enfatizar o conteúdo.
Isso ocorre porque o fator dominante para a textualidade parece ser a
coerência, uma vez que se aloca mais atenção para a sua construção.
Entretanto, destacam os autores que os textos podem ser informativos
relativamente a qualquer subsistema linguístico (sintaxe, fonética etc.).
87
Linguística Textual
88
Informatividade Capítulo 07
b) aumentar a informatividade de algumas ocorrências de pri-
meira ordem de informatividade, para integrá-las ao mundo
textual como informação não trivial.
Boi de guia
O menino tinha nascido e se criado em Ituverava, da banda de Minas.
O pai era um carreiro de confiança, muito procurado para serviços de
colheitas. Tinha seu carro antigo, de boa mesa rejuntada, fueirama firme,
esteirado de couro cru, roda maciça de cabiúna ferrada, bem provido o
berrame de azeite e com seu eixo de cotão cantador que a gente ouvia
com distância de légua. Desses que antigamente alegravam o sertão e
que os moradores, ouvindo o rechinado, davam logo a pinta do carreiro.
O pai tinha o carro e tinha suas juntas redobradas em parelhas certas, capri-
chadas, bois erados, retacos, manteúdos, de grandes aspas e pelagem lim-
pa. Era só o que possuía. O canto empastado onde morava, família grande,
meninada se formando e sua ferramenta de trabalho — os bois e o carro.
89
Linguística Textual
Ajudava o pai. Desde que nasceu, contava ele. Nunca se lembra de ter
vadiado como os meninos de agora. Quando começou a entender o
pai, a mãe, os irmãos, o cachorro e o mundo do terreiro, já foi fazendo
servicinho. Catava lenha fina, garrancheira pra o fogão, caçava pela sa-
roba os ninhos das botadeiras, ia atrás dos peruzinhos e já quebrava
xerém às chocas de pinto. Do pasto trazia os bois de serviço. Seu gosto
era vir pendurado no chifre do guia barroso — tão grande, tão forte,
tão manso — sempre remoendo seus bolos de capim, nem percebia o
fanico do menino que se pendurava nele e, se percebia, também não se
importava, não dava mostras.
90
Informatividade Capítulo 07
A boiada tinha de romper a pulso. O aguilheiro na frente, pequeno, des-
calço, seu chapeuzinho de palha, seu porte franzino, dando o que tinha.
Não pisou, não esmagou. Virou o guampaço num jeito e passou a crian-
ça pra um lado sem magoar. Aí o velho carreiro viu…, viu o boi pela
primeira vez…
Sentiu uma gastura e pela primeira vez uma coisa nova inchando seu
coração no peito e alimpou uma turvação da vista na manga da camisa.
91
Linguística Textual
de adulto e sendo tratado com severidade pelo pai, apesar de ter apenas
cinco anos. Assim, essas informações podem ser integradas facilmente à
compreensão que o leitor vai construindo do texto. Da mesma forma, a
delicadeza do boi barroso com o menino, ainda que contradiga um tanto
nosso conhecimento a respeito de animais de trabalho, também não se
torna surpreendente porque o leitor já foi previamente informado de que
o menino acostumou-se com os bois e os bois com ele e de que o boi bar-
roso, apesar de grande e forte, era também tão manso. Novamente aqui,
temos uma ocorrência muito relevante para a construção da história – a
delicadeza de um animal enorme –, mas que não pode parecer inusitada
demais, para não ganhar centralidade excessiva na atenção do leitor.
92
Informatividade Capítulo 07
Cora Coralina recria a fala de pessoas do campo, com seu léxico
de difícil acesso para um leitor urbano. Isso provoca grande número de
ocorrências com informatividade de terceiro nível. É interessante per-
ceber que o conto pode ser compreendido sem que se tenha que buscar
no dicionário o significado de todos esses itens. Ou seja, o leitor não
precisa rebaixar a informatividade de todas as ocorrências, mas somente
daquelas que, se não integradas ao mundo textual, impossibilitarão a
construção adequada da coerência.
93
Linguística Textual
94
Informatividade Capítulo 07
e distância vertical do osso hióide, respectivamente, sugerindo uma re-
lação entre a posição do osso hióide com a morfologia mandibular. Os
resultados permitiram concluir que o osso hióide mantém uma posição
estável para garantir as proporções corretas das vias aéreas e não depen-
de do padrão respiratório predominante.
95
Linguística Textual
96
Situacionalidade Capítulo 08
8 Situacionalidade
Segundo Beaugrande e Dressler (2002 [1981], cap. I, §19), a situa-
cionalidade “diz respeito aos fatores que fazem um texto relevante para
uma situação de ocorrência”. Consideremos, por exemplo, o seguinte
texto, afixado em um ponto de ônibus e copiado por um dos autores
deste livro em 30 abr. 2009:
Texto 14
ROÇO, FAÇO CAPINAS E CORTO GRAMA
97
Linguística Textual
98
Situacionalidade Capítulo 08
rente do que seria numa situação em que duas professoras de uma comu-
nidade pobre conversassem sobre as carências materiais de seus alunos.
99
Linguística Textual
100
Intertextualidade Capítulo 09
9 Intertextualidade
O conceito de intertextualidade foi introduzido nos estudos lite-
rários por Júlia Kristeva para se referir à relação que um texto mantém
com outros textos: “[...] todo texto se constrói como mosaico de cita- Você encontra mais infor-
mações acerca da autora
ções, todo texto é absorção e transformação de um outro texto. Em lugar em Teoria da Literatura IV.
da noção de intersubjetividade, instala-se a de intertextualidade.” (KRIS- Veja em: KAMITA, S. Teoria
da Literatura IV. Florianó-
TEVA, 1974, p. 64, grifos da autora). Segundo Proença Filho (1990), polis: UFSC/CCE/LLV, 2009.
esse conceito foi proposto pela autora como substituto do conceito de
dialogismo de Bakhtin.
101
Linguística Textual
102
Intertextualidade Capítulo 09
textuais”. Segundo os autores, os fatores associados a conteúdo são os
mais notórios e estão associados ao conhecimento de mundo. Os auto-
res citam o exemplo das matérias jornalísticas relativas a um fato desta-
cado, publicadas durante vários dias, e dizem que cada novo texto assu-
me que os leitores conheçam os textos anteriores sobre o mesmo tema.
Um exemplo disso é a charge a seguir, que só será compreensível por
quem tenha acompanhado as notícias recentes (de abril e maio de 2009) Jornal A Notícia, 1 maio
sobre: a) o escândalo relativo ao mau uso de verbas para passagens aé- 2009. Disponível em:
<http://www.clicrbs.
reas por parte de deputados federais; b) a epidemia de gripe suína que com.br/anoticia/jsp/
atinge vários países. default2.jsp?uf=2&local
=18&source=a2494953.
xml&template=4188.
Texto 15 dwt&edition=12231
§ion=882>.
Acesso em 1 mai. 2009.
103
Linguística Textual
lá?
ah!
sabiá...
papá...
maná...
sofá...
sinhá...
cá?
bah!
PAES, J. P. Canção do exílio facilitada. Disponível em <http://
www.cce.ufsc.br/~nupill/ensino/exilio/exilio_facil.htm>. Acesso
em 29 de abril de 2009.
Texto 17
Canção do exílio
104
Intertextualidade Capítulo 09
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
105
Linguística Textual
106
Intertextualidade Capítulo 09
Muitos gêneros do discurso sequer apresentam características for-
mais fixas, definindo-se como tais pela recorrência de outros elementos,
que não a forma, como aqueles ligados à dimensão social do texto. So-
mente para citar um exemplo, a crônica, tradicionalmente enquadrada
pelas tipologias de texto como um tipo textual narrativo, frequentemen-
te não tem estrutura narrativa. E, quando a tem, sua distinção em re-
lação ao gênero conto frequentemente só se dá pela esfera discursiva e
pelo suporte. Enquanto o conto é da esfera da literatura, a crônica é um
gênero da esfera jornalística, publicado em jornais e revistas.
Texto 18
Carta
Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci: Olha, em relevo,
estes sinais em mim, não das carícias
107
Linguística Textual
b) Subjetividade;
c) Lirismo;
108
Intertextualidade Capítulo 09
Em casos como este do exemplo, Marcuschi (2002) sugere que use-
mos a expressão intertextualidade intergêneros (FIX, 1997 apud MAR-
CUSCHI, 2002), que designa, segundo o autor, o aspecto da hibridiza-
ção ou mescla de gêneros em que um gênero assume a forma de outro.
A nosso ver, não é um gê-
A intertextualidade é uma característica bastante relevante nos tex- nero que assume a forma
de outro, mas um texto
tos científicos. A ciência, em nossos dias, é essencialmente uma ativida- de um dado gênero que
de coletiva. Daí a necessidade de os autores fazerem referências frequen- se faz passar por outro, ou
apresenta características
tes a outros textos, entre outras coisas, para mostrar que o seu trabalho de outro gênero.
encontra amparo no contexto geral da ciência atual. É o que se podemos
ver no trecho a seguir, extraído de uma monografia de especialização:
Extraído de: FREITAS, C.
Texto 19 A. A. Carga imediata em
implantes dentários.
Segundo Faccio (1999), anteriormente ao desenvolvimento do concei- 2004. Monografia (Espe-
cialização Lato Sensu em
to de osteointegração, os implantes eram normalmente submetidos à Implantodontia). Centro
carga imediata. Entretanto, segundo Rosenlich (apud FACCIO, 1999), a de Ciências da Saúde, Uni-
técnica provocava grande número de complicações e falhas, não sen- versidade Federal de Santa
Catarina, 2004. p. 10.
do bem aceita pela comunidade odontológica. Ocorria que, com os
implantes laminados não se obtinha uma boa estabilidade primária e
isso impedia a osteointegração. Segundo Brunski (apud TARNOW et al.,
1997), micromovimentos de amplitude superior a 100µm fazem com
que a ferida óssea sofra um processo de cicatrização fibrosa, ao invés de
se ter uma osteointegração do implante.
109
Linguística Textual
menos mediação sua, apresenta uma cópia literal de parte do texto visado,
como se vê na citação a Adell et al. (1981). Assim, favorecendo a intertex-
tualidade, ao mesmo tempo em que facilita ao interlocutor a construção
da interpretação do texto, o autor também obtém suporte científico ao seu
trabalho, inserindo-o em no contexto discursivo mais amplo da ciência.
110
Intertextualidade Capítulo 09
gem Shrek é um exemplo muito feliz de intertextualidade e de des-
construção da clássica figura de herói, caracterizando a figura do an-
ti-herói. A partir desses exemplos, sugerimos ao professor que o con-
ceito de intertextualidade seja trabalhado inclusive na perspectiva
dos multiletramentos, inserindo textos que circulem em diferentes
portadores de texto (vídeo, livro, internet). Isso porque, como vimos
neste Capítulo, tanto a compreensão quanto a produção de textos
depende do conhecimento de outros textos, tanto em termos de seu
conteúdo, quanto de seus aspectos formais e do gênero do discurso.
111
Linguística Textual
Leia mais!
Para um aprofundamento sobre o conceito de textualidade indicamos a
leitura do texto: Texto, textualidade, textualização, de autoria de Maria
da Graça Costa Val. In: FERRARO, Maria Luiza et al. (Org.). Experi-
ência e prática de redação. Florianópolis: Editora da UFSC, 2008, p.
63-86.
Para uma maior compreensão sobre os princípios de coesão e coerência
textual, recomendamos a consulta ao livro: FÁVERO, L. L. Coesão e
coerência textuais. São Paulo: Ática. 1991.
112
Abordagens atuais
Unidade C
115
Linguística Textual
116
Referenciação Capítulo 10
Assim, para Marcuschi (2005, p. 93), os objetos-de-discurso são
“[...] ‘objetos constitutivamente discursivos’, isto é, gerados na produção
discursiva”. Ou ainda, de acordo com Mondada (apud MARCUSCHI,
2005, p. 93),
117
Linguística Textual
– Ei, e o dinheiro?
– Dinhero? Eu tô duro.
118
Referenciação Capítulo 10
gunta sobre o shopping. Chico Bento faz a seguinte descrição do shop-
ping, a partir de sua visita,
– Só isso?
– [...] Mas não tem nada não, um dia esse povo da cidade cria juízo e
imita nóis.
119
A noção clássica de anáfora e a perspectiva
sociocognitiva sobre os anafóricos Capítulo 11
11 A noção clássica de anáfora e
a perspectiva sociocognitiva
sobre os anafóricos
O conceito sobre coesão textual apresentado na Unidade B deste Li-
vro leva-nos a discutir, de forma mais aprofundada, o fenômeno da aná-
fora, abordado de distintas formas pela Linguística Textual. No intuito
de sistematizar os diferentes conceitos sobre o tema, é possível estabele-
cer dois grupos: um que corresponde à concepção de anáfora ancorada
em uma leitura clássica e mais restrita do fenômeno, e outra, ancorada
em trabalhos mais recentes de base sociocognitiva, em que o fenômeno
é compreendido de forma mais abrangente.
121
Linguística Textual
122
A noção clássica de anáfora e a perspectiva
sociocognitiva sobre os anafóricos Capítulo 11
Exemplo disso são as formas nominais anafóricas que, segundo
Koch (2002), operam na recategorização dos objetos-de-discurso, isto é,
na maneira como esses objetos serão reconstituídos, de forma a atender
os propósitos comunicativos dos interlocutores. Ao recategorizar, muitas
vezes através do uso de metáforas, a forma nominal anafórica assume
papel crucial, que, segundo Cavalcante (2003), contribui para evidenciar
informações relativas ao ponto de vista do produtor sobre o referente.
123
Linguística Textual
124
As formas nominais referenciais Capítulo 12
12 As formas nominais
referenciais
No Capítulo sobre coesão textual, em que discorremos sobre as for-
mas remissivas referenciais, mencionamos o uso das expressões nomi-
nais. Nesta Seção, retomaremos o uso dessas expressões, porém, agora,
sob o olhar dos estudos da referenciação.
125
Linguística Textual
Mistério no zôo
A polícia que investiga as mortes dos animais do Zoológico de São
Paulo trabalha com duas hipóteses: envenenamento criminoso
126
As formas nominais referenciais Capítulo 12
ou transmissão do veneno via ratos. Na última semana, a polícia
apreendeu em uma loja de São Paulo frascos de um veneno cuja
fabricação e venda estão proibidos no Brasil. O material apre-
endido contém a mesma substância encontrada nas vísceras dos
animais mortos, o fluoracetato de sódio. (in: Época, 16 fev. 2004)
ӲӲ Uso de descrições nominais (definidas e indefinidas): trata-se
de uma escolha dentre as propriedades ou qualidades capazes
de caracterizar o referente. Exemplo:
127
Linguística Textual
128
As formas nominais referenciais Capítulo 12
Enfim, nessa reta final, os eleitores de Barack Obama simplesmente
não estão acreditando que podem ser testemunhas de um fato históri-
co, como muitos analistas não cansam de repetir por aqui, da eleição de
um afro-americano presidente dos Estados Unidos. Alguns deles,
como um motorista de táxi, me disse que às vezes acha que está so-
nhando com o que pode acontecer nesse ano, com Obama ganhando
a presidência americana. O risco é esse sonho virar pesadelo. Até aqui,
parece improvável. Mas eleição, todos sabem, é como mineração, di-
riam os mineiros. Você só sabe o resultado exato depois da apuração.
E-mail: valdo@folhasp.com.br
129
Linguística Textual
130
As formas nominais referenciais Capítulo 12
O uso de sintagmas com formas definidas cumpre a função de explicitar
o compartilhamento de uma determinada visão de mundo entre autor e
leitor. Desse modo, a forma definida introduz o já-sabido, o já-comparti-
lhado entre os interlocutores, o que supõe uma construção sociocogniti-
va da referência, com base em uma memória discursiva compartilhada.
Encerramos aqui a unidade que tratou sobre referenciação. A se-
guir, na última unidade deste Livro-texto, faremos uma discussão sobre
o lugar do texto na sala de aula, pois os estudos da Linguística Textual
aqui explanados constituem-se em ferramentas teóricas que podem me-
diar a prática docente na disciplina de Língua Portuguesa.
131
Linguística Textual
O fim da mentira
A mentira não pode ser qualificada como uma ação negativa ou po-
sitiva por si só. Para julga-la é necessário analisar o contexto em que
ela ocorre. Há vários motivos que podem levar uma pessoa a mentir,
porém devemos analisar as circunstâncias que levam a tal atitude e
as consequências que dela advêm.
Logo, a mentira não pode ser classificada sem se analisar cada caso.
Trata-se de um meio, e não um fim em si mesma.
132
As formas nominais referenciais Capítulo 12
com o candidato, se fosse uma situação de ensino-aprendizagem
(além de aspectos mais pontuais de concordância, pontuação, acen-
tuação etc.), inicialmente, é o título do texto: O fim da mentira. Isso
porque o título apresenta um duplo sentido, haja vista que o ter-
mo fim remete tanto à ideia de finalidade como à de término. Ao
ler o texto, percebemos que o título tem mais relação com a noção
de finalidade, pois o candidato tece considerações sobre os diver-
sos motivos (finalidades) da prática de mentira. Não descartamos
a hipótese de que o duplo sentido do título possa ter sido criado
intencionalmente pelo autor do texto, porém, se for o caso, ele pre-
cisaria ter sinalizado melhor no texto tal intenção, já que no texto
não é mencionada a questão do término da mentira, mas somente a
questão das finalidades do ato de mentir.
133
Linguística Textual
134
As formas nominais referenciais Capítulo 12
com outros textos já ancorados na memória discursiva dos interlo-
cutores. Vejamos outros títulos dados a seus textos pelos candida-
tos: Em Mentira tem perna curta, a intertextualidade ocorre com o
dito popular; em Atire a primeira pedra, aquele que nunca mentiu!
observamos um intertexto com o texto bíblico; já o título Mentir ou
não mentir? pode estar relacionado à famosa fala de Hamlet, per-
sonagem criada por William Shakespeare: Ser ou não ser, eis a ques-
tão; por fim, no título As mentiras: mais quatro anos, temos uma
referência à política com enfoque nas discussões ligadas a escânda-
los financeiros, como, por exemplo, a chamada CPI do Mensalão.
Leia mais!
Para um aprofundamento sobre o conceito de referenciação e de fenôme-
nos anafóricos, sugerimos livros mais atuais de Ingedore Koch:
135
O texto na sala de aula
Unidade D
139
Linguística Textual
Geraldi (1993 [1991]) lembra que, mesmo o texto não tendo a cen-
tralidade nas aulas de Língua Portuguesa, nem por isso ele deixou de es-
tar presente, embora de modo mais marginal, como já dito, e com uma
forma de inserção muito particular, à qual se opõe essa nova proposta
de ensino da disciplina de Língua Portuguesa. Vejamos, então, como era
essa presença do texto na sala de aula.
140
O texto nas aulas de Língua Portuguesa Capítulo 13
a) Objeto de leitura vozeada (oralização do texto escrito): A re-
comendação era para que o professor lesse o texto em voz alta para
a classe e, em seguida, chamasse aluno por aluno para ler trechos
do texto. A melhor leitura era aquela que se aproximasse mais do
modelo, ou seja, da leitura do professor;
141
Linguística Textual
Embora, muitas vezes, o a) A prevalência dos estudos gramaticais, que sempre foram
professor justifique que en-
vistos como os “verdadeiros conteúdos da disciplina de Lín-
sina categorias gramaticais
para que o aluno aprenda a gua Portuguesa”: Essa prevalência pôs o ensino da produção de
escrever melhor.
textos como uma atividade menos importante na escola, logo,
muito menos focada pelo professor;
142
O texto nas aulas de Língua Portuguesa Capítulo 13
Essas atividades de redação desconsideram os parâmetros de
interação (salvo o aluno escrever esse texto para o professor
de Língua Portuguesa), pois o texto é produzido de modo as-
séptico: esses parâmetros de interação não têm qualquer efeito
sobre o processo de produção do texto. Ainda, todo o processo
de ensino-aprendizagem volta-se para o produto e não para o
processo de interação e de textualização.
143
Linguística Textual
144
O que é texto para o aluno? Capítulo 14
14 O que é texto para o aluno?
Para demonstrar a situação descrita no capítulo anterior, inicial-
mente, vamos analisar dois textos, retirados do artigo A produção tex-
tual do aluno antes e depois do contato com a cartilha: um caminho de
volta (2003), de autoria de Noris Eunice Pureza Duarte.
Texto 21
Transcrição do texto:
145
Linguística Textual
TEXTO 22
Transcrição do texto:
O rato e o menino
O menino não gosta do rato.
O menino esmagou o rato.
O menino matou o rato.
O menino tropesou no pau e esmagou o rato.
O menino levou o rato pra rua.
O rato ficou triste.
O menino sentiu pena do rato.
O menino ficou amigo do rato.
O menino cuida do rato.
146
O que é texto para o aluno? Capítulo 14
Passemos agora à apresentação das condições de produção do Tex-
to 22: Ele foi produzido por uma criança de classe média na primeira
série do Ensino Fundamental, na época do aprendizado formal da alfa-
betização. Observemos a textualização que o aluno produziu. Seguindo Os dados referem-se ao
o que reforça Beaugrande (2004 [1997]) a respeito dos padrões de textu- período em que o Ensino
Fundamental era com-
alização, não podemos dizer que o que a criança produziu seja um não- posto de quatro ciclos de
texto, pois esses padrões orientam quaisquer textualizações. No caso do dois anos, totalizando oito
anos de escolaridade.
texto em questão, o aluno dá uma resposta ao que lhe foi endereçado:
escrever um texto e tenta dar conta dessa demanda.
ӲӲ A metarregra de repetição;
ӲӲ A metarregra de progressão;
ӲӲ A metarregra de não-contradição;
ӲӲ A metarregra de relação.
Assim, para que um texto seja coerente para o leitor, é preciso que,
no seu desenvolvimento, não se introduza nenhum elemento semântico
que contradiga um conteúdo posto ou pressuposto por uma ocorrência
147
Linguística Textual
148
O que é texto para o aluno? Capítulo 14
nadas frases propostas para leitura ou escrevam palavras a par-
tir de gravuras;
A horta
Helena mora no sítio.
Lá, ela cuida da sua horta.
Caio viu o cavalo.
Helena cultiva legumes e verduras.
Ele dá comida ao cavalo.
Sua horta é muito bonita.
O cavalo come, come.
Helena só come legumes e verduras de sua
(apud DUARTE, 2003)
horta.
Como Helena é educada!
(apud DUARTE, 2003)
Mesmo uma leitura apressada mostra que esses textos foram cons-
truídos para uma finalidade específica, que é o trabalho com a relação
Não negamos a necessida-
entre fonemas e grafemas. São textos fabricados para esse fim; não têm de e a importância de se
uma proposta interativa que não seja treinar uma dada relação fonema- trabalhar com as relações
fonema-grafema, que são
grafema . Além disso, são norteados pela concepção equivocada de que constitutivas do texto
há necessidade de simplificação das complexidades linguístico-textuais escrito; o que questiona-
mos é o modo como esse
para a criança aprender a escrever. Esses textos não preenchem uma fun- trabalho é conduzido.
ção interativa e se apresentam absolutamente pobres no que se refere à
informatividade, à intertextualidade, à organização textual e frasal, à co-
Queremos ressaltar que
esão e à referenciação, à seleção vocabular etc. não culpamos o profes-
sor em particular pela
Agora, podemos responder as questões levantadas anteriormente. situação descrita neste
A criança se apropriou de uma concepção de texto dada pela escola: o Capítulo, mas a concepção
vigente de alfabetização e
texto não como lugar de interação e mediação, mas como espaço em de texto da/na escola, que
branco para ser preenchido com frases soltas. se encontra reproduzida
em seu trabalho. Por isso,
por mais que ele tente
Para terminar a discussão desses dois textos, apresentamos a últi-
inovar (no caso, criar uma
ma informação sobre eles: Os textos 21 e 22 foram escritos pela mesma cartilha apropriada para
seus alunos), os resulta-
criança. O Texto 21 foi produzido na fase pré-escolar e o Texto 22 no ano
dos não são promissores
seguinte, na primeira série do Ensino Fundamental. Agora, podemos le- do ponto de vista de um
trabalho de Língua Portu-
vantar outra pergunta: O que a criança perdeu acerca da noção de texto
guesa centrado no texto.
durante seu curto processo de escolarização formal?
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Linguística Textual
G1
G2
150
O que é texto para o aluno? Capítulo 14
G3
151
Linguística Textual
Leia mais!
Para aprofundamento desta unidade, indicamos duas obras seminais que
tratam das questões do texto nas aulas de Língua Portuguesa, ambas de
autoria de João Wanderley Geraldi:
152
Considerações Finais
Ao longo deste livro, aprofundamo-nos nos estudos da disciplina de
Linguística Textual: Conhecemos o histórico da disciplina, os conceitos
de texto que emergiram em suas diferentes fases e vertentes, apropria-
mo-nos do conceito de textualidade, correlacionamo-no ao conceito de
gêneros do discurso, abordamos cada um dos padrões de textualidade e
estudamos as pesquisas recentes sobre textualização. Vimos o funciona-
mento de todos esses conceitos por meio da análise de textos, momento
em que pudemos observar e apreender o modo de textualização de cada
um dos padrões que estudamos. Além disso, pudemos compreender a
importância desses conceitos para a formação teórico-metodológica do
professor de Língua Portuguesa. A correlação entre conhecimento teó-
rico e conhecimento didático foi estabelecida na leitura e discussão das
implicações pedagógicas apresentadas ao final dos capítulos.
Assim, esperamos que, por meio deste livro, tenhamos tido a opor-
tunidade de estabelecer uma interação prazerosa e proveitosa e que o
diálogo aqui iniciado tenha continuidade em muitos outros momentos.
Os autores
153
Referências
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