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O crítico literário francês e teórico da literatura Gerárd Genette (1930) observa na obra
Palimpsestos: a literatura de segunda mão (PDF) que o objeto da poética não é o texto em si, mas o
arquitexto – a arquitextualidade do texto definida como o conjunto das categorias gerais ou transcendentes
como, por exemplo: os tipos de discurso, modos de enunciação, gêneros literários, etc. Delimitando ainda
mais seu conceito quanto ao objeto da poética o teórico aponta a transtextualidade, ou transcendência
textual do texto: “tudo que coloca em relação, manifesta ou escrita com outros”, como sendo o principal
objeto de estudo da poética. O teórico desenvolve sua análise sobre as relações textuais através da analogia
entre os antigos pergaminhos de couro - cujas inscrições eram sobrepostas após a raspagem do texto
anterior - e a criação literária.
Um palimpsesto é um pergaminho cuja primeira inscrição foi raspada para se traçar outra,
que não a esconde de fato, de modo que se pode lê-la por transparência, o antigo sob o
novo. Assim, no sentido figurado, entenderemos por palimpsestos (mais literalmente
hipertextos), todas as obras derivadas de uma outra obra anterior, por transformação ou
por imitação. Dessa literatura de segunda mão, que se escreve através da leitura o lugar e a
ação no campo literário geralmente, e lamentavelmente, não são reconhecidos. Tentamos
aqui explorar esse território. Um texto pode sempre ler um outro, e assim por diante, até o
fim dos textos. Este meu texto não escapa à regra: ele a expões e se expõe a ela. Quem ler
por último lerá melhor. (GENETTE, 2006).
A busca pela determinação de parâmetros que possibilite a análise de textos literários é definida, pelo
próprio teórico, como inacabada. Evidenciamos sua consciência de que sua teoria seria “provisoriamente”
satisfatória ao verificarmos o início de sua abordagem em que é determinada pela data – 13/10/1981. Até
aquele exato momento foram identificadas, pelo teórico, cinco classes textuais, ou cinco formas de
transtextualidade que foram elencadas em ordem crescente de abstração, implicação e globalidade.
INTERTEXUALIDADE: termo explorado por Julia Kristeva em sua obra Introdução à Semanálise - é
caracterizado por Gerárd Genette pela co-presença de dois ou vários textos, ou seja, a presença efetiva de
um texto em outro. Tais relações podem se estabelecer de três formas distintas:
Citação: forma mais explícita de intertextualidade (com aspas, com ou sem referência precisa),
Plágio: Forma menos explícita e menos canônica é um empréstimo não declarado.
Alusão: caracterizado por um enunciado cuja compreensão plena supõe a percepção de uma relação entre
ele e outro.
PARATEXTO: relação, menos explícita e mais distante da obra, constituída pelo conjunto apresentado em
uma obra literária como, por exemplo: o título, o subtítulo, intertítulos, prefácios, posfácios, advertências,
prólogos; notas marginais, de rodapé, de fim de texto, epígrafes; ilustrações; errata, orelha, capa, e tantos
outros tipos de sinais acessórios, autógrafos ou alógrafos, etc.
METATEXTUALIDADE: é a relação – comentário – que une um texto a outro do qual ele fala, sem citá-lo,
necessariamente; em alguns casos sem nomeá-lo.
HIPERTEXTUALIDADE: tema que o autor se detém a analisar com maior profundidade na obra é a relação
que une um texto B (hipertexto) a um texto A (Hipotexto), do qual ele brota.
Antes prosseguir seu aprofundamento quanto ao hipertexto, o teórico alerta para a necessidade de não
considerarmos cada uma das cinco relações transtextuais como classes estanques, sem comunicação ou
interseções. Outra preocupação teórica de Genette refere-se à classificação de hipertexto como uma classe
textual e não como um aspecto do texto. Genette acredita que as diversas formas de transtextualidade e
seus diferentes graus sejam simultaneamente aspectos e categorias do texto.
[...] todo texto pode ser citado e, portanto, tornar-se citação, mas a citação é uma prática
literária definida, que transcende evidentemente cada uma de suas performances e que
tem suas características gerais; todo enunciado pode ser investido de uma função
paratextual, mas o prefácio é um gênero; a crítica (metatexto) é evidentemente um gênero;
somente o arquitexto, certamente, não é uma categoria, pois ele é, se ouso dizer, a própria
classificação (literária)[...] E a Hipertextualidade? Ela também é um aspecto universal da
literalidade: é próprio da obra literária que, em algum grau e segundo as leituras, evoque
alguma outra e, nesse sentido, todas as obras são hipertextuais. (GENETTE,idem,p.18).
A afirmação de que todo texto é um hipertexto aproxima a teoria de Genette da teoria bakhtiniana ao
determinar a não existência uma consciência germinada dentro de um único indivíduo, pois, segundo o
autor, o signo é um fenômeno do mundo, pertence à experiência exterior. “Da mesma forma posso buscar
em qualquer obra os ecos parciais, localizados e fugidios de qualquer obra anterior” (Genette, idem, p.18).
Como forma de desfazer essa confusão o teórico propõe rebatizar os termos: paródia – o desvio de texto
pela transformação simples; o travestimento – a transformação estilística com função degradante (charge) e
o pastiche – a imitação de um estilo desprovida de função satírica. Existe ainda uma terceira categorização
funcional dos hipertextos a qual Genette chamará de sério. O teórico observa que dentro do gênero sério é
possível estabelecer uma divisão entre os textos que atendem uma demanda social e os que são de ordem
prática. Batizado de transposição essa é a prática hipertextual mais importante segundo a visão do autor. A
transposição pode ocorrer por muitos processos dentre eles destaca-se a tradução.