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Engenharia Civil
ANÁLISE DE ESTRUTURAS I
V.M.A. Leitão
com a colaboração de
J.A. Teixeira de Freitas, L.M.S.S. Castro e O.J.B.A. Pereira
IST, 1996
Grupo de Análise de
Apontamentos sobre análise elástica linear de lajes
1. Estruturas laminares 1
2. Notação a utilizar 2
Grupo de Análise de
IST - DECivil
1. Estruturas laminares
À semelhança das placas e as cascas, as lajes são, estruturas laminares, ou seja,
apresentam uma dimensão muito menor que as outras duas, o que faz com que o
seu comportamento possa ser considerado bidimensional quando referido ao plano
ou folheto médio.
As lajes são estruturas laminares planas caracterizando-se por as acções que sobre
elas actuam serem sobretudo perpendiculares ao plano médio.
Em particular, nesta introdução ao estudo de lajes serão ignoradas quaisquer
acções no plano da laje, o que leva a que não existam momentos e esforços
(normais e de corte) nesse plano.
2. Notação a utilizar
Antes de prosseguir com a formulação, é necessário definir a simbologia e a
notação utilizada para representar as diversas grandezas envolvidas,
nomeadamente os esforços, os deslocamentos, as deformações e as curvaturas.
À semelhança do que sucede para as estruturas reticuladas, a representação do
modelo estrutural de uma laje passa pela simplificação da geometria e das
condições de apoio.
Na Figura 3, extraída de Ref. 1, encontra-se uma laje e a sua representação
esquemática em termos de modelo estrutural. Esta laje apresenta as diversas
condições de apoio a que uma laje vigada pode estar sujeita, nomeadamente:
• bordo livre (entenda-se sem viga de apoio);
• bordo apoiado (apoiado apenas numa viga a qual, por se assumir que não tem
rigidez de torção, não impede eventuais rotações que a laje tenha. O momento
flector na laje é, necessariamente, nulo uma vez que também o é o momento
torsor na viga.);
• bordo encastrado
♦ poderá ser realmente encastrado, se se assumir que são nulas as rotações
da laje em relação ao bordo;
♦ ou ser parcialmente encastrado, o que sucede quando:
a) se atribui rigidez de torção à viga que, eventualmente, serve de
apoio à laje.
b) o bordo que se está a considerar pertencer, fazendo de interface,
simultaneamente a dois painéis sucessivos de laje. Nesta situação
apenas se impede a rotação relativa entre os painéis, não a rotação
global da laje sobre o apoio. Daí a designação de encastramento
parcial. O momento flector num painel de laje tem que ser igual ao
do painel seguinte de modo a que se verifique o equilíbrio.
mx = ∫ zσ xx dz ,
m y = ∫ zσ yy dz ,
m yx = mxy = ∫ zσ xy dz ,
v x = ∫ σ xz dz ,
v y = ∫ σ yz dz .
O último destes factores, a relação da espessura com o menor vão (no caso de lajes
vigadas ou com o maior dos vãos no caso de lajes fungiformes), é da maior
importância pois condiciona o tipo de modelo de análise de lajes que se pode
utilizar.
No que diz respeito a estes apontamentos apenas será considerada a teoria elástica
linear de lajes finas a qual, tendo em conta os pressupostos considerados na sua
dedução, deve apenas ser aplicada a lajes que verifiquem uma relação
espessura/menor vão inferior a aproximadamente 1/5 e ainda que os
deslocamentos transversais máximos sejam relativamente pequenos (inferiores a
aproximadamente 1/5 da espessura, como sugere a Ref. 4).
∂2w
ε xx = − z ,
∂x 2
∂2w
ε yy = −z 2 ,
∂y
∂ 2w
ε xy = −z ,
∂ x∂ y
ε xz = ε yz = 0.
Fica claro então que, para uma dada cota z , as componentes de deformação só
dependem das derivadas dos deslocamentos transversais ou seja das curvaturas,
as quais se definem da seguinte forma:
• a curvatura de flexão segundo o eixo x , χ x = −∂ 2 w / ∂ x 2 ;
• a curvatura de torção, χ xy = − ∂ 2 w / ∂ x∂ y .
De um modo geral pode dizer-se que o efeito das componentes de tensão segundo
o eixo z é desprezado o que corresponde a considerar que cada lâmina da laje no
plano x − y se encontra num estado plano de tensão.
Neste modelo assume-se, pois, que a componente σ zz é nula. De notar, contudo,
que este resultado não pode ser deduzido directamente das componentes de
deformação.
Também as componentes σ xz e σ yz não podem ser obtidas directamente das
componentes de deformação e isto porque se assume que o material de que se
compõe a laje é rígido ao corte, ε xz = ε yz = 0 .
Para este modelo de lajes finas, pode admitir-se, por considerações de equilíbrio
que não directamente a partir das componentes de deformação, que a distribuição
de tensões tangenciais é parabólica na espessura da laje com valor máximo no
plano médio da laje e com valor nulo em ambas as extremidades.
Admitindo essa distribuição parabólica as tensões tangenciais máximas são:
3 1
(σ xz ) max = v
2 x h
3 1
(σ yz ) max = v
2 y h
ou seja, exactamente uma vez e meia o esforço transverso médio na espessura da
laje.
σ xx =
E
1− ν 2
(
z χ x + νχ y ) ,
σ yy =
E
1− ν 2
(
z χ y + νχ x ) ,
E
σ xy = zχ ,
1 + ν xy
σ zz = 0.
Como se vê as tensões são proporcionais à distância z da lâmina ao plano médio
da laje e também são proporcionais às curvaturas.
−h/ 2 1 − ν2 −h/2
Eh 3 ∂ 2w ∂ 2 w ∂ 2w ∂ 2 w
mx = − + ν = − D + ν ,
12(1 − ν 2 ) ∂ x 2 ∂y2 ∂x 2 ∂y2
∂ 2w ∂ 2 w
my = − D + ν 2 ,
∂y2 ∂x
∂2w
m xy = m yx = − D(1 − ν) ,
∂ x∂ y
(
m x = D χ x + νχ y , )
my = D(χ y + νχ x ),
m xy = m yx = D(1 − ν) χ xy .
A rigidez de flexão da laje não é mais que o momento mα que é necessário aplicar
para que a curvatura correspondente seja unitária mantendo-se nulas as restantes
curvaturas.
De notar que estes são momentos por unidade de comprimento pois a integração
das tensões na outra direcção não foi levada a cabo.
maβ =
1
2
(
− mx sin 2φ + m y sin 2φ + 2mxy cos 2φ . )
Tal como para as curvaturas, também para os momentos se verifica a invariância da
soma das componentes segundo os eixos, ou seja,
m x + m y = mα + mβ .
1 2m xy
γ= arctan − .
2 (m x − m y )
As direcções para as quais são máximos (ou mínimos) os momentos flectores, as
direcções principais definidas acima, formam um ângulo de 45º com as direcções
para as quais o momento torsor é máximo (ou mínimo),
1
m xy max = (m x − m y ) 2 + 4m xy2 ,
2
1
m xy min =− (m x − m y ) 2 + 4mxy2 .
2
5.6 Estática-Equilíbrio
Tome-se um elemento infinitesimal dx. dy de uma laje submetida a uma carga
distribuída na superfície, q , tal como na Figura 9.
∑F z = 0 ⇔ v x . dy + v y . dx − (v x + dv x ). dy − (v y + dv y ). dx − q. dx. dy = 0
∂v x ∂v y
∑F z =0 ⇔
∂x
+
∂y
+ q = 0,
+ + 2 = −q
∂x 2 ∂y2 ∂ x∂ y
Daqui resulta que, para uma dada secção transversal e para momento flector
positivo, a deformação das fibras longitudinais na face superior é − ε sendo de ε
nas fibras da face inferior.
Esta deformação implica, por efeito de Poisson, que se desenvolvam deformações
transversais que são positivas na face superior e negativas na face inferior.
ε transversal = νε
ε transversal = − νε
Se alinharmos uma série de vigas com os eixos paralelos entre si como que a
formar uma laje pode dizer-se que as deformações transversais estão restringidas
(devem ser nulas para que se mantenha a continuidade) o que leva ao
aparecimento de tensões transversais σ yy = νσ xx , em que ν é o coeficiente de
Poisson, as quais produzem um momento flector
m y = ∫ zσ yy dz = νm x
Essas condições de fronteira são, para os diferentes tipos de apoio a que a laje
pode estar sujeita, listadas de seguida.
• bordo rigidamente encastrado ;
♦ w x = a = 0 o que significa que são nulos os deslocamentos transversais no
bordo de coordenada x = a .
∂w
♦ = 0 o que significa que é nula a rotação segundo x no bordo de
∂x x =a
coordenada x = a .
• bordo simplesmente apoiado em viga sem rigidez de torção mas com rigidez de
flexão infinita;
♦ w x = a = 0 o que significa que são nulos os deslocamentos transversais no
bordo de coordenada x = a .
∂ 2w ∂ 2 w
♦ 2 +ν 2 = 0 o que significa que é nulo o momento flector x no
∂x ∂y
x =a
bordo de coordenada x = a .
• bordo livre
♦ mx x =a
= 0 , mxy =0 , vx x=a
= 0 são, aparentemente, as condições
x =a
que exprimem a inexistência de forças a actuar no bordo logo esforços
nulos no bordo de coordenada x = a .
Pode provar-se, ver secção seguinte, que as duas últimas condições são, na
realidade, uma só daí que, no âmbito da teoria de lajes finas, as duas
condições de fronteira do bordo livre sejam:
∂2w ∂ 2 w
1. 2 +ν 2 = 0.
∂x ∂ y x =a
∂ 3w ∂ 3w
2. 3 + (2 − ν) =0
∂x ∂ x∂ y 2 x = a
ao invés das 3 condições inicialmente referidas.
Quando a variação de mxy ao longo da face paralela a y é nula existe equilíbrio das
forças de corte representadas na Figura 16 entre cada elemento infinitesimal dy
excepto nos cantos onde, por força da condição de equilíbrio que se deve verificar
sempre, essas forças têm que ser compensadas com reacções de intensidade:
∂ 2w
R = 2m xy = 2 D(1 − ν)
∂ x∂ y
tal como indicado na figura 17.
∂m xy
Quando a variação de mxy ao longo da face paralela a y , , não é nula, existem
∂y
∂m xy
forças de corte desequilibradas de intensidade v ′ x = aplicadas no bordo,
∂y x =a
devido à equivalência estática entre o momento torsor e o esforço transverso.
(Nota: Estas forças adicionais resultam de se terem desprezado as deformações por
esforço transverso. Com outras teorias, mais desenvolvidas, que tenham em conta
esse efeito não é necessário definir quaisquer esforços de corte adicionais.)
A existência destas forças de corte faz com que se tenha que redefinir o esforço
transverso. Assim aos esforços transversos previamente definidos
∂ mx ∂ m xy
vx = +
∂x ∂ y x =a
É assim claro que no caso do bordo livre a condição de fronteira que se deve impor
é a de que o esforço transverso efectivo rx seja nulo e não que v x seja nulo.
As forças de canto não se desenvolvem no caso de os bordos convergentes no
canto serem ambos livres ou de um deles ser encastrado ( mxy = 0 no bordo).
Muitas dessas soluções estão tabeladas. Este é, sem dúvida, o processo mais
utilizado pelos projectistas no dimensionamento de painéis de laje que não
apresentem dificuldades de maior.
Nos casos mais gerais a equação de Lagrange tem de ser resolvida recorrendo a
técnicas numéricas como sejam:
• o método dos elementos finitos;
• o método das diferenças finitas.
Por último deve referir-se ainda um outro método baseado no teorema cinemático
da análise plástica limite, o método das linhas de rotura. Este método é, talvez, o
menos utilizado por fornecer uma solução que sobrestima a capacidade resistente
da laje não estando, portanto, do lado da segurança.
Do referido acima vê-se que, até para casos muito simples, as soluções analíticas
são de difícil utilização mesmo considerando que as séries têm uma convergência
tão rápida que, por vezes, um termo só da série já dá resultados de muito boa
qualidade.
Não é difícil verificar que se podem tabelar os coeficientes destas séries numa
forma conveniente, por exemplo em função de qa 2 . A partir daqui é muito simples a
obtenção dos momentos bastando para isso fazer, por exemplo para o momento
segundo x :
mx y = 0, x = a / 2
= βqa 2
que diz respeito aos valores dos esforços já não o sendo em relação aos
deslocamentos transversais.
Eh 3
Estes são inversamente proporcionais à rigidez de flexão da laje D = . Se
12 (1 − ν 2 )
calcularmos D para ν = 0.15 e ν = 0.0 obtém-se, respectivamente,
Dν = 0.15 = 0.085Eh 3 Dν = 0.0 = 0.083Eh 3 . A diferença, menos de 3% no que diz
respeito aos deslocamentos, é pequena.
Sendo a rigidez de flexão menor para ν menor, são os deslocamentos maiores e os
momentos menores também. Os esforços transversos efectivos são também
afectados, mas em menor grau, não o sendo em absoluto no caso de bordos
encastrados.
Na Ref. 4 encontram-se as expressões que permitem obter qualquer dos esforços
(momentos flectores, esforços transversos e esforços transversos efectivos) uma
vez conhecidos os valores dos mesmos para a situação de coeficiente de Poisson
nulo.
Também é possível resolver analiticamente lajes contínuas. Para tal usa-se, por
exemplo, o método das forças o qual passa pela introdução de libertações (rótulas)
nas interfaces, compatibilizando-se depois as rotações entre os diferentes painéis
para a acção quer do carregamento, quer dos pares de momentos a actuar nas
libertações (respectivamente, soluções particular e complementar).
REFERÊNCIAS:
1. Betão Armado II - Vol. I, Grupo de Betão Armado e Pré-esforçado, Secção de
Folhas da AEIST, 1989.
2. Teoria Elástica Linear de Placas e Lajes, J.A.C. Martins, IST, 1992.
3. Theory of Plates and Shells, S.P. Timoshenko e S. Woinowsky-Krieger, McGraw-
Hill, 1970.
4. Tablas para el cálculo de placas y vigas pared, R. Bares, Editorial Gustavo Gili,
Barcelona, 1981.
Anexo A
Comparação de diferentes métodos na análise de uma laje rectangular
simplesmente apoiada
Ly=6m
Lx=3m
y
mx my w max × E
( kNm / m) ( kNm / m) ( kN / m)
Tabela 1 - Comparação, a meio vão, dos resultados obtidos com todas as técnicas
Nas Figuras A.3 a A.5 representam-se, designadamente o deslocamento transversal
e o momento segundo o maior vão, e o momento segundo o menor vão para as
duas técnicas que fornecem valores mais próximos dos exactos, respectivamente o
método dos elementos finitos e a solução analítica de Levy. Para este caso muito
simples de laje rectangular simplesmente apoiada, a consideração de um termo
apenas da série já é suficiente como aproximação à solução exacta.
3,00E+04
2,50E+04
2,00E+04
1,50E+04
Elementos finitos
5,00E+03
0,00E+00
0 1 2 3 4 5 6 7
1,8
1,6
1,4
1,2
0,8
Solução de Levy
0,6
Elementos finitos
0,4
0,2
0
0 1 2 3 4 5 6 7
-0,2
4,5
3,5
2,5
2
Solução de Levy
1,5
Elementos Finitos
1
0,5
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5
-0,5
3,00E+04
2,50E+04
2,00E+04
1,50E+04
Grelha AIV
Grelha AII
1,00E+04 Grelha AIII
Grelha AI
5,00E+03 Elementos Finitos
0,00E+00
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5
2,50E+00
Grelha AII
Grelha AIII
Elementos Finitos
2,00E+00
Grelha AIV
Grelha AI
1,50E+00
1,00E+00
5,00E-01
0,00E+00
0 1 2 3 4 5 6 7
-5,00E-01
6,00E+00
5,00E+00
4,00E+00
3,00E+00
Grelha AII
Grelha AIII
2,00E+00
Elementos Finitos
Grelha AIV
1,00E+00 Grelha AI
0,00E+00
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5
-1,00E+00
3,50E+04
3,00E+04
2,50E+04
2,00E+04
1,50E+04
Grelha BII
5,00E+03
0,00E+00
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0
3,00E+00
Grelha BII
2,50E+00
Elementos Finitos
2,00E+00 Grelha BI
1,50E+00
1,00E+00
5,00E-01
0,00E+00
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0
-5,00E-01
Grelha BII
2
Elementos finitos
1 Grelha BI
0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5
-1
É importante frisar que qualquer solução que equilibre as cargas aplicadas à laje
pode ser considerada para efeitos de dimensionamento das armaduras necessárias
em relação aos estados limites últimos.
Deste modo, e para evitar entrar em conta com o momento torsor nos elementos da
grelha (os quais representam faixas da laje), é usual desprezar a rigidez de torção
desses elementos. Nestas condições os momentos flectores nos elementos da
grelha são superiores (globalmente) o que está do lado da segurança.
Para consideração dos estados limites de utilização já a solução obtida com base
nas grelhas pode estar um pouco mais afastada da solução de referência sendo por
isso necessário um cuidado particular.