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Capitulo Educação

e pedagogia

Neste capítulo entrelaçamos concei-


tos fundamentais como educação e pe-
dagogia, procurando compreendê-Ios à
luz daquilo que atualmente se espera do
educador e do pedagogo. Aqui, ape-
nas esboçamos algumas diretrizes, cujos
principais vetores serão retomados ao
longo do livro.

1. O ato de educar

A educação não é a simples transmissão


da herança dos antepassados para as novas
gerações, mas o processo pelo qual tam-
bém se torna possível a gestação do novo
e a ruptura com o velho. Evidentemente,
isso ocorre de maneira variável, conforme
sejam as sociedades estáveis ou dinâmicas.
As comunidades primitivas e as tradiciona-
listas resistem mais à mudança, enquanto
nas sociedades urbanas contemporâneas a
mobilidade é muito maior.
Para o professor José Carlos Libâneo,
( Nesta xilogravura do início "educar (em latim, educare) é conduzir de
do século XVI, o mestre um estado a outro, é modificar numa cer-
lê, tendo ao chão a vara ta direção o que é suscetível de educação.
que castiga. De lá para
O ato pedagógico pode, então, ser definido
cá, percebemos quanto já
mudamos na ação educativa,
como uma atividade sistemática de inte-
mas também quanto ainda ração entre seres sociais, tanto no nível do
teremos de mudar. intrapessoal como no nível da influência

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do meio, interação essa que se configu- submetidos aos divinos, considerados supe-
ra numa ação exercida sobre sujeitos ou riores; no Renascimento, buscava-se edu-
grupos de sujeitos visando provocar neles car para formar o gentil-homem, e assim por
mudanças tão eficazes que os tornem ele- diante.
mentos ativos desta própria ação exercida. Seguindo esse raciocínio, sem dúvida
Presume-se, aí, a interligação no ato pe- teríamos muita dificuldade em determinar
dagógico de três componentes: um agente com segurança quais os fins da educação
(alguém, um grupo, um meio social etc.), no mundo contemporâneo: que valores se
uma mensagem transmitida (conteúdos, méto- encontram subjacentes ao processo educa-
dos, automatismos, habilidades etc.) e um cional? Se tal elucidação é relativamente
educando (aluno, grupos de alunos, uma ge- simples quando realizada a posteriori, mos-
ração etc.)" 1 • tra-se problemática quando queremos defi-
Diz ainda o professor Libâneo que o es- nir os fins aqui e agora.
pecificamente pedagógico está na imbrica- Para o pedagogo norte-americano John
ção entre a mensagem e o educando, propi- Dewey, o processo educativo é o seu pró-
ciada pelo agente. Como instância mediadora, prio fim (o fim não é prévio, nem último,
a ação pedagógica estabelece a relação de mas deve ser interior à ação). A partir des-
reciprocidade entre indivíduo e sociedade. sa visão, o professor argentino Gustavo Ci-
Conclui-se que a educação não pode ser rigliano teceu as seguintes considerações:
compreendida fora de um contexto histó- "No viver diário, vida, atividade e fim se
rico-social concreto e, portanto, a prática confundem. Os pais criam os seus filhos
social é o ponto de partida e o ponto de para torná-los adultos? Ou a sua criação
chegada da ação pedagógica. é parte da vida deles e dos seus próprios
Veremos na unidade II como a educação filhos?". Isso significa que a educação não
se processa de modo difuso nas sociedades deve estar separada da vida nem é prepa-
tribais ou, ainda hoje, permanece informal ração para a vida, mas é a vida mesma.
na família e no convívio social. Mas a edu- Se os fins não são exteriores à ação, isso
cação também pode ser formal, quando são não quer dizer que a ação se realize sem
criadas instituições especialmente voltadas a clarificação dos fins, mas sim que estes
para a educação intencional, cujo exem- constituem objetivos colocados a partir da
plo mais comum é a escola. Neste capítulo valoração por meio da qual o indivíduo
abordaremos sobretudo o sentido da edu- se esforça para superar a situação vivida.
cação formal, intencional. Sob esse aspecto, as necessidades humanas
Para que a práxis educacional seja in- devem ser analisadas concretamente, e as
tencional, é preciso que saiba explicitar prioridades serão diferentes se nos propu-
de antemão os fins a serem atingidos no sermos a educar em uma favela ou em um
processo. bairro de elite. Portanto, os fins se baseiam
Retomando o curso da história, vemos em valores provisórios que se alteram con-
que a Grécia dos tempos homéricos prepa- forme alcançamos os objetivos imediatos
rava o guerreiro; na época clássica, Atenas propostos e também enquanto muda a rea-
formava o cidadão, e Esparta era uma ci- lidade vivida.
dade que privilegiava a formação militar; Essas questões nos remetem ao tema da
na Idade Média, os valores terrenos eram política (que veremos melhor no capítulo 11).

I Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo, Loyola, 1985, p. 97.

32 Filosofia da educação
A educação não pode ser compreendida à nenhuma de filosofia; uma sala de aula para
margem da história, mas apenas no contex- crianças em que as carteiras estão fixadas
to em que os indivíduos estabelecem entre no chão; um professor que prefere estimular
si as relações de produção da sua própria pesquisas em grupo e outro que privilegia a
existência. Desse modo, não há como se- exposição oral; alguém que lamenta o fato
parar educação e poder: a educação não é de não se ensinar mais latim no colégio; um
um processo neutro, mas se acha compro- professor que exige leituras extraclasse,
metida com a economia e a política de seu um que faz chamada oral com frequência e
tempo. outro que dá pouca ênfase às avaliações.
Por exemplo, veremos no capítulo já re- Todos esses aspectos resultam de con-
ferido que a ideologia impõe valores de uma cepções - tematizadas ou não - que colo-
classe (portanto seus valores particulares) a cam, primeiramente, as seguintes questões:
outra, como se estes fossem valores univer- Que tipo de pessoa se quer formar? Para
sais. Assim, para o colonizador português, o qual sociedade? A partir da elucidação da
"bom índio" era o índio submisso, disposto base antropológica, passamos para a sele-
a trabalhar de acordo com o padrão euro- ção dos conteúdos a serem transmitidos:
peu e a se tornar cristão, abandonando suas O que ensinar? Só então se colocam ques-
crenças, consideradas atrasadas. tões metodológicas: Como ensinar? Pode-
mos concluir que a escolha dos conteúdos e
A educação não pode, portanto, ser con-
do método não é casual e - quer o professor
siderada apenas um simples veículo trans-
saiba, quer não - depende de determinada
missor de saberes e valores, mas também
concepção de ser humano e de sociedade,
um instrumento de crítica dessa herança.
concepção esta que não é neutra, por estar
A educação deve abrir espaço para que seja
impregnada da visão política que a anima.
possível a reflexão crítica da cultura.
Desse modo, os procedimentos específi-
cos usados em sala de aula adquirem sen-
2. A reflexão pedagógica tido a partir do esclarecimento dos pres-
supostos antropológicos, epistemológicos e
Qualquer atividade educacional que se axiológicos bem como da sua coerência (ou
queira intencional e eficaz tem claros os incoerência) com o método e o conteúdo
pressupostos teóricos que orientam a ação. escolhidos.
Ao elaborar leis, fundar uma escola, pre- Dependendo das respostas dadas a essas
parar o planejamento escolar ou enfrentar questões teóricas, podemos compreender as
dificuldades específicas em sala de aula, é diversas propostas pedagógicas e as conse-
preciso ter clareza a respeito da teoria que quências delas para a práxis educativa, se-
permeia as decisões. No entanto, é comum jam da escola tradicional, sejam da escola
observarmos o "espontaneísmo", resultado renovada, da tecnicista, da libertária, e as-
da indevida dicotomia entre teoria e práti- sim por diante.
ca, porque o professor não foi adequada-
mente informado a respeito da teoria ou Pedagogia: ciência da educação
porque não sabe como integrá-Ia à prática
efetiva. A palavra pedagogo designava, na Grécia
Vejamos alguns exemplos: uma escola antiga, o escravo que conduzia a criança à
de ensino médio que oferece, a cada sema- escola (ver dropes 2). Essa denominação con-
na, dez aulas de química, uma de história e creta (pedagogo/pedagogia) assumiu poste-

Educação e pedagogia 33
riormente conotações abstratas para indicar Para esclarecer o que significa esse foco
as teorias sobre a educação. Ao longo do tempo o da teoria, comecemos por determinar a
conceito de pedagogia sofreu variações, do mes- prática educativa como o objeto da pedago-
mo modo que os princípios e os fins da educa- gia. Trata-se de um objeto de grande com-
ção nem sempre permaneceram os mesmos. plexidade, sobretudo porque educar é uma
De modo geral, podemos distinguir pelo prática social intencionada, isto é, antecedida
menos três tendências mais marcantes (e por um projeto teórico consciente que visa
cada uma delas, por sua vez, produziu di- a mudanças de comportamentos, não só
versas teorias ao longo do tempo): a) as pe- no educando, mas também no educador e
dagogias filosóficas (ou essencialistas), ba- na sociedade. Daí podermos considerar a
seadas nos modelos ideais do ser humano ciência pedagógica inserida em um proces-
"universal"; b) as pedagogias positivistas, so histórico-social sempre renovado e que
que buscam garantir sua cientificidade; c) nunca termina.
as pedagogias dialéticas, que refletem cien- O pedagogo, cientista que é, investiga-
tificamente sobre a educação como tam- rá de maneira metódica e rigorosa o modo
bém propõem modos de uma ação eman- pelo qual se instauram e se processam essas
cipatória. Na unidade IV veremos mais práticas educativas e para tanto não recusa
detidamente as diversas correntes que se a parceria das ciências auxiliares da educa-
fundamentam nessas orientações básicas. ção. Mas não só. O pedagogo também de-
Embora admitindo a coexistência ain- verá propor modos de transformação dessas
da hoje dessas diversas tendências, vamos práticas. Ou seja, a ciência pedagógica não
neste capítulo analisar as características da visa apenas a pesquisa!' e conhecer a realidade
terceira, que também é conhecida como pe- educativa, mas a agir sobre ela, fecundan-
dagogia aitico-emancipauma, começando com do-a, transformando-a.
as perguntas da pedagoga e psicóloga da Alguém poderia se perguntar se, nes-
educação Maria Arnélia Santoro Franco: se caso, a pedagogia seria propriamente
"O que pode e deve ser hoje a pedagogia? uma ciência aplicada - em que a pesquisa
A que necessidades sociais ela deve respon- visa desde o primeiro momento à aplicação
der? A que específico objeto deve focar sua prática - e não uma ciência básica, na qual o
ação? De que métodos de investigação pre- cientista amplia pela teoria o conhecimento
cisará se utilizar, para tornar pertinente sua científico em determinada área. Por exem-
ação, no sentido de concretizar seu papel plo, enquanto na biologia (ciência básica)
socialr?". são feitas pesquisas sobre determinado ví-
Nas respostas a essas questões, a autora rus, na farmacologia (ciência aplicada) bus-
propõe uma concepção de pedagogia rein- car-se-ia encontrar ou sintetizar uma droga
serida na política, partindo do pressuposto para tratar pessoas acometidas por aqueles
de que nenhuma práxis educativa é neutra. vírus. Neste último caso, o objetivo das pes-
Por isso mesmo, diante das desigualdades quisas seria pragmático, por estas estarem
presentes na estrutura da sociedade vigente voltadas para o desenvolvimento de uma
- sobretudo no Brasil -, precisamos de tecnologia.
uma ciência pedagógica que, em seu fazer No entanto, ancorada em ampla biblio-
social, se assuma como instrumento político grafia, a professora Maria Arnélia Santoro
de emancipação humana. Franco se recusa a restringir a pedagogia

2 Pedagogia como ciência da educação. Campinas, Papirus, 2003, p. 15-16.

34 Filosofia da educação
ao campo das ciências aplicadas. Diante da A psicologia
especificidade do pensar-agir pedagógico, a
ciência pedagógica seria como uma práxis No século XVIII, Jean:Jacques Rousse-
pedagógica. E completa: "A pedagogia não au destacou a importância de se conhecer
poderá ser ciência se não se organizar em bem aquele que se quer educar. Nesta linha,
torno da reflexão engajada [grifo meu], deven- seguiram Johann Pestalozzi e Friedrich
do se constituir como ciência crítica e re- Froebel, convencidos de que a educação
flexiva, mergulhada no universo da prática seria mais eficaz, com maiores chances de
educativa, engajada nos anseios do coletivo, formar um adulto feliz, se o desenvolvimen-
sabendo, por princípio, que não basta a ela to do psiquismo infantil ocorresse de modo
ser uma ciência da crítica sobre a prática. harmonioso e sem coações.
Isto é pouco e não é um caminho fecunda- Como naquele período a psicologia se
dor de novas percepções'". encontrava em estado incipiente como
Por isso podemos falar em práxis educatiua ciência, esses esforços não passavam de
e práxis pedagógica como dois polos insepará- tentativas bem-intencionadas, sem muito
veis, sempre em intercomunicação: a peda- rigor na sua fundamentação. Somente no
gogia, ao mesmo tempo que é a teoria da final do século XIX as ciências humanas
práxis, deve estar voltada para a práxis. (psicologia, sociologia, economia etc.) co-
meçaram a se separar da filosofia, delimi-
3. Ciências auxiliares da pedagogia tando objeto e método próprios. Tornou-se,
então, possível à psicologia a superação do
o século XVII destacou-se pela busca conhecimento superficial e, segundo Cla-
do rigor metodológico, seja na filosofia, seja parede, "passar das opiniões às certezas".
na ciência. São conhecidos os esforços em- A psicologia aplicada à educação, por exem-
preendidos nesse sentido por René Descar- plo, contribui para avaliar questões como
tes, Francis Bacon e Galileu Galilei, entre controle e distúrbio de aprendizagem, ní-
muitos outros. Também na pedagogia sur- veis de dificuldade do educando, ritmo de
giu nesse mesmo período o interesse pela aquisição de conhecimentos etc.
metodologia e pelo rigor da teoria quando No século XIX foram importantes os
relacionada com a prática. O educador trabalhos deJohann F. Herbart, e no início
morávio Amós Comênio foi um precursor do século XX Alfred Binet estabeleceu uma
nesse assunto, propondo métodos de ensino escala métrica da inteligência que se tornou
mais elaborados que pudessem superar o famosa. Pesquisas foram desenvolvidas, e
espontaneísmo em educação. inúmeros psicólogos das mais variadas ten-
O interesse pelos métodos reflete-se no dências metodológicas contribuíram para o
aperfeiçoamento das ciências da natureza aperfeiçoamento da pedagogia.
nascentes, também voltadas para a busca Havia os que privilegiavam experiências
de rigor na investigação de seu objeto de no campo do comportamento, como, por
estudo. Como veremos, no que diz respeito exemplo,John B. Watson, Burrhus F. Skin-
às ciências humanas, seu desenvolvimento ner e Edward L. Thorndike. A psicanálise
ocorreu mais tardiamente, no final do sécu- de Sigmund Freud, a psicologia genética de
lo XIX e começo do XX. Jean Piaget e a análise histórica e cultural

3Pedagogia como ciência da educação, p. 90. A partir da p. 89, são citados os seguintes autores: Vv. Flitner, W
Schmied-Kowarzik, Theodor Litt e outros.

Educação e pedagogia 35
levada a efeito por Lev S. Vygotsky deram rava a pedagogia uma "teoria prática" da
destaque às relações interpessoais. Alguns educação que, ao fundar suas principais
partiram da filosofia fenomenológica, noções na sociologia e na psicologia, se tor-
como os gestaltistas Kurt KofIka e Wolf- na capaz de guiar e esclarecer a prática.
gang Kohler, ou ainda do pragmatismo, Os limites da abordagem durkheimiana
como WilliamJames eJohn Dewey. estão em ser ela também parcial, na me-
dida em que, ao enfatizar o processo ex-
A sociologia terno, se descuida do processo interno da
educação. Além disso, absolutiza o poder
o desenvolvimento da sociologia am- da sociedade sobre o indivíduo, retirando
pliou a compreensão da escola como grupo dele todo o poder de contestação. Mesmo
social complexo e da educação como pro- considerando os diversos segmentos que
cesso de perpetuação e desenvolvimento compõem a sociedade, não analisa os con-
da sociedade. Na passagem do século XIX flitos que determinam o caráter ideológico
para o XX, Émile Durkheim analisou pela da educação. Trata-se de uma concepção
primeira vez o caráter social da educação, de certa forma conservadora, pois vê a
realizando uma abordagem científica cen- educação como forma de manutenção da
trada no fato concreto da educação e não estrutura social.
mais no seu conceito metafisico. A novidade da aplicação da sociologia
Como sociólogo, Durkheim aplicou sua na educação privilegia a atitude descritiva e
ciência no estudo dos fatos da educação, volta-se para o exame dos elementos reais,
com ênfase na sua origem social. Tornou- tais como a análise da inserção da escola
-se clássica sua definição: ''A educação é a em determinado campo da realidade, os
ação exercida pelas gerações adultas sobre instrumentos utilizados, o caráter das ins-
as gerações que não se encontram ainda tituições escolares, a herança social (tradi-
preparadas para a vida social; tem por ob- ções, ideias, técnicas etc.), a interação entre
jeto suscitar e desenvolver, na criança, cer- quem recebe e quem transmite a educação
to número de estados fisicos, intelectuais e e assim por diante.
morais, reclamados pela sociedade política Muitos sociólogos têm trazido contri-
no seu conjunto e pelo meio especial a que buições valiosas para a pedagogia. Desde
a criança, particularmente, se destine'". as reflexões de Marx, chegando no século
Portanto, para Durkheim, "a educação XX com o impacto das análises feitas pelas
satisfaz, antes de tudo, a necessidades so- duplas francesas Bourdieu/Passeron e Bau-
ciais" e "salta aos olhos que toda educação delot/Establet, que denunciaram a função
consiste num esforço contínuo para impor reprodutora da escola na sociedade de clas-
à criança maneiras de ver, de sentir e de ses. Na unidade IV voltaremos a eles.
agir às quais a criança não teria esponta-
neamente chegado". Outras ciências
Essa nova abordagem deu destaque ao
caráter social dos fins da educação e insti- A economia é outra ciência auxiliar da pe-
tuiu a pedagogia como disciplina autôno- dagogia: partindo da análise dos modelos
ma, desligada da filosofia, da moral e da econômicos, compreendemos as relações
teologia. Além disso, Durkheim conside- entre a economia e os fluxos de demanda

-I Educação e sociologia. 6. ed. São Paulo, Melhoramentos, 1965.

36 Filosofia da educação
de escolarização. Nesse sentido, são fecun- estudo do desenvolvimento fisiológico, da
das as análises feitas a propósito dos níveis interação corpo-mente, da genética.
de desenvolvimento econômico dos países,
o que tem servido, inclusive, para melhor 4. A especificidade da pedagogia
entender as contradições que perduram nas
regiões subdesenvolvidas. Vimos no capítulo anterior que a filosofia
No Brasil, por exemplo, o modelo agrá- é muito importante para a pedagogia, mas
rio de economia, típico do primeiro perío- não se confunde com ela. Agora, o reco-
do de nossa história (que vai do século XVI nhecimento da relevante contribuição das
até a vinda da família real para o Brasil, em ciências da educação igualmente não nos
1808), caracterizou-se pela pouca exigên- leva a colocá-Ias no lugar da pedagogia.
cia no campo educacional. No entanto, o As tendências contemporâneas da pe-
desenvolvimento do comércio e, posterior- dagogia visam a descartar análises parciais
mente, no século XX, o início da industria- - individualista ou social -, na busca de
lização recrudesceram o interesse pela edu- uma abordagem dialética da educação que
cação e a necessidade de sua expansão. possa equacionar devidamente os polos
Outra ciência de especial importância opostos indivíduo-sociedade, reflexão-ação,
para a reflexão sobre a pedagogia é a histó- teoria-prática, particular-geral.
ria da educação. O interesse pelo passado não Pretende-se superar, com isso, a concep-
resulta de simples preocupação erudita ou ção da pedagogia como "filha" da filosofia
mera curiosidade, mas viabiliza projetos de e também o risco do psicologismo, do so-
mudança que não sejam visionários e ingê- ciologismo ou de qualquer outro "ismo".
nuos, ou que, ao contrário, não estejam con- Isso não significa desprezar o importante
taminados pelo pessimismo gerado por crises papel desempenhado pela filosofia, que
repetidas. No entanto, apenas no século XIX acompanha reflexivamente os problemas
os historiadores começaram a se interessar educacionais, e a contribuição dada pelas
por uma história sistemática e exclusiva da ciências em geral para a maior objetividade
educação, antes apenas um "apêndice" da na análise dos fatos educacionais.
história geral. No Brasil essa preocupação Ao pedagogo cabe equilibrar as diversas
é muito mais recente - e tornou-se mais contribuições teóricas que enriquecem sua
intensa a partir da década de 1970 -, em- teoria e lhe dão rigor e objetividade, desde
bora muitos campos ainda exijam premente que evite o que o professor Luiz B. Lacerda
investigação para que se desenhe um perfil Orlandi denominou "flutuações da cons-
mais nítido da educação brasileira. Só assim ciência pedagógica'". O risco dos "ismos"
será bem fundamentada uma análise crítica só será evitado se a educação for o ponto
que proporcione mudanças efetivas. de partida e de chegada dessas análises. Ex-
Sem pretender citar todas as ciências plicando: o ponto de partida da pedagogia
auxiliares da pedagogia, podemos ainda é sempre um problema apresentado pela
destacar a antropologia, a geografia humana e realidade educacional. Busca-se, em segui-
a linguística, além da cibernética, que revolu- da, a contribuição das ciências auxiliares da
cionou os métodos pedagógicos. Merece educação, para só então atingir o ponto de
destaque especial a biologia, que mantém chegada, que é, de novo, a realidade educa-
estreita ligação com a educação, devido ao cional. Assim, não se deve perder de vista

5 "O problema da pesquisa em educação e algumas de suas implicações", in Educação Hoje, nº 2, março de 1969.

Educação e pedagogia 37
a especificidade da pedagogia como teoria À guisa de conclusão, convém lembrar
distinta daquelas ciências, não rejeitando, a importância da formação do educador,
ao mesmo tempo, sua contribuição. para que a superação das contradições
Desse modo, a pedagogia delimita o pró- seja possível com maior grau de inten-
prio campo e estabelece seu caminho, poden- cionalidade e compreensão dos fins da
do então ser compreendida como teoria geral educação.
da educação, capaz de transformar a educação Nos tempos que vivemos hoje, algumas
em uma atividade intencional e eficaz. tarefas urgentes se impõem. A principal
A partir da consciência dos problemas delas é que tenhamos força suficiente para
educacionais de seu tempo, o pedagogo que a sociedade seja mais justa e menos
estabelece objetivos realizáveis, busca os seletiva, dando condições para a educa-
meios para atingi-los, verifica a sua eficá- ção verdadeiramente universal, formativa,
cia, revê os processos utilizados, e assim por que socialize a cultura herdada, ao mes-
diante. Só dessa forma a educação se torna- mo tempo que possibilite a autonomia que
rá instrumento real de transformação. permita a crítica dessa mesma cultura.

Dropes de. Daí, tomar conhecimento de, pren-


der na memória.
1 - Empreendo, pois, o deixar-me levar • Educar - do latim educare: criar,
pela força de toda vida viva: o esqueci- amamentar; e educere: levar para fora,
mento. Há uma idade em que se ensina fazer sair, tirar de; dar à luz, produzir.
o que se sabe; mas vem em seguida ou- Daí, conduzir de um estado a outro,
tra, em que se ensina o que não se sabe: modificar.
isso se chama pesquisar. • Ensinar - do latim insignire: assi-
Vem talvez agora a idade de uma nalar, distinguir, colocar um sinal, mos-
outra experiência, a de desaprender, de trar, indicar. Daí, indicar o caminho
deixar trabalhar o remanejamento im- para aprender.
previsível que o esquecimento impõe à • Infância - do latim irfans, irifàntis:
sedimentação dos saberes, das culturas, que não fala, incapaz de falar.
das crenças que atravessamos. Essa ex- • Instrução - do latim instructio, in-
periência tem, creio eu, um nome ilustre tructumis: construção, edificação.
e fora de moda, que ousarei tomar aqui • Mestre - do latim magister, magistri: o
sem complexo, na própria encruzilhada que comanda, dirige, conduz. Daí, mestre.
de sua etimologia - Sapientia: nenhum • Pedagogo - do grego paidogogós
poder, um pouco de saber, um pouco de ipais, paidós = criança e agogós = guia,
sabedoria, e o máximo de sabor possí- condutor): escravo que acompanhava
vel. (Roland Barthes) as crianças à escola; depois, mestre,
preceptor.
2 - Pequeno vocabulário etimológico: • Saber - do latim sapere: ter sabor,
• Aluno - do latim alumnus, alumni: agradar ao paladar; saber, conhecer,
criança nutrida no peito. Daí, pupilo, aprender.
discípulo. • Texto - do latim textum, texti: teci-
• Aprender - do latim apprehendere: do, pano; obra formada por várias par-
agarrar, apanhar, segurar, apoderar-se tes reunidas.

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