Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Introdução
Cianobactérias e suas toxinas potencial farmacológico e pela influência que exercem sobre
a fertilidade de solos e águas. Entretanto, algumas espécies
As cianobactérias, também conhecidas como cianofíceas de cianobactérias têm a capacidade de produzir metabólitos
ou algas azuis, são microrganismos procarióticos (não pos- secundários que dão gosto e odor desagradáveis à água, além
suem qualquer tipo de membrana para compartimentalização de poderosas toxinas. Daí seu principal interesse e estudos
de DNA e outras organelas), autotróficos (produzem seu sobre os impactos no meio ambiente e na saúde. No Brasil,
próprio alimento por meio de fotossíntese) e são capazes entre os gêneros potencialmente nocivos, destacam-se Mi-
de se desenvolver em mananciais superficiais, especialmente crocystis, Anabaena, Cylindrospermopsis, Oscillatoria, Planktothrix
aqueles com elevados níveis de nutrientes. e Aphanocapsa (Calijuri, 2006).
O aumento das atividades urbanas e industriais, assim como Denominadas cianotoxinas, essas substâncias causam gra-
a descarga de seus efluentes acarretam o acúmulo de nutrientes ves injúrias a animais terrestres, aquáticos e humanos, através
ricos em fósforo e nitrogênio nos corpos d’água. Ao fenômeno da ingestão ou contato com a água contaminada. As principais
causado pelo excesso desses compostos nutrientes dá-se o nome e mais perigosas toxinas produzidas por esses gêneros de
eutrofização, que aliado à elevação da temperatura, tem como cianobactérias são Microcistinas, Nodularinas, Anatoxinas,
uma das consequências, a rápida proliferação de cianobactérias Cilindrospermopsinas e Saxitoxinas. As cianotoxinas são clas-
no ambiente aquático, conhecida como “floração” ou “bloom”. sificadas como hepatotóxicas, neurotóxicas, dermatotóxicas
As cianobactérias têm sido estudadas no ramo alimentício, ou promotoras da inibição da síntese de proteínas, de acordo
farmacêutico e agrícola pelo seu alto valor nutritivo, possível com seu mecanismo de ação.
H H OH
- O
O3SO
N NH HN NH
Me +
H NH O
Figura 1. Alcalóide - Cilindrospermopsina
H2N O
STX R1 R2 R3
O H H +
N NH2
R1N STX H H H
NH GTX-II H H OSO3-
H2N N GTX-III H OSO3- H
OH
+ NeoSTX OH H H
OH GTX-I OH H OSO3-
GTX-IV OH OSO3- H
R2 R3
Figura 2. Alcalóides - Saxitoxinas
caracterizadas de acordo com o arranjo dos aminoácidos na como as microcistinas, as nodularinas são solúveis em água e
molécula e podem levar à morte em algumas horas por hemor- apresentam alta estabilidade química, o que traz importantes im-
ragia no fígado. Cerca de 60 variações estruturais de microcis- plicações sobre sua persistência no meio ambiente e exposição
tinas já foram identificadas. As mais conhecidas são MC-RR; a humanos nos corpos d’água. Poucas variações de nodularinas
MC-YR; MC-LR e MC-LA (Chorus e Bartram ed., 1998). foram identificadas e sua toxicidade, segundo experimentos em
Nodularinas (Figura 5) são peptídeos cíclicos hepatotóxicos animais, é dada por hemorragia e necrose de hepatócitos, além
formados por 5 aminoácidos (pentapeptídeos cíclicos). Assim de carcinogênese de fígado (Chorus e Bartram ed., 1998).
CH3
O O HN
CH3 CH2CH3 N
NH2+ NH2+ +
CH3
+H N N
2 O
CH3
P
-O O
O
Glu Mdha
H CO2H CH3 O
N
HN NH
O CH2 Ala
Adda CH3 H
O
H CH3
H OCH H H O
3
H NH HN
H CH3 CH3 H H H CH3 H
O N N X
Y
O H CO H O
2
β-Me-Asp
x y
MC-RR Arginin Arginin
MC-YR Tryptophan Arginin
MC-LR Leucin Arginin
MC-LA Leucin Alanin
Figura 4. Peptídeos Cíclicos - Microcistinas
Lipopolissacarídeos (LPS) são componentes da parede ram temas como métodos de detecção; Ecofisiologia e Ecolo-
celular de toda bactéria gram-negativa, incluindo as ciano- gia; gerenciamento e tratamento de água; Biologia Molecular;
bactérias. Como o próprio nome indica, lipopolissacarídeos avaliação de risco; Toxicologia, além dos novos desafios rela-
são polímeros complexos compostos por açúcares e lipídeos, cionados às cianobactérias tóxicas.
normalmente ácidos graxos C14-C18. Diferentes gêneros de
cianobactérias apresentam diferentes composições de LPS. Avanços na Área Analítica das Cianotoxinas
Tais toxinas são classificadas como irritantes e pirogênicas
por causarem reações alérgicas a animais mamíferos e hu- Métodos para detecção, identificação e quantificação de
manos (Weckesser e Drews, 1979). Estudos comparativos cianotoxinas podem variar de acordo com a sofisticação e o
indicam que LPS produzidos por cianobactérias são menos tipo de informações que proporcionam. Em campo, testes rá-
tóxicos a seres humanos que LPS produzidos por outras bac- pidos e de baixo custo podem ser empregados para avaliação
térias gram-negativas, como por exemplo, Salmonella sp. (Ke- do grau de risco de uma floração e direcionar as medidas a
leti e Sykora, 1982). serem tomadas. Por outro lado, técnicas analíticas mais so-
Tem-se observado nos últimos 20 anos, grande aumento fisticadas podem determinar com maior precisão a identidade
de ocorrências de florações de algas tóxicas em reservató- e quantidade das cianotoxinas. Os métodos analíticos hoje
rios utilizados para abastecimento público. Um dos primeiros disponíveis para essa finalidade se dividem em físico-químicos
e mais graves relatos de intoxicação humana por cianotoxinas (HPLC-UV; HPLC-PDA; eletroforese capilar; LC/MS); bioquí-
no Brasil foi em 1996, na cidade de Caruaru, Pernambuco, micos (ensaio de inibição de fosfatase; ensaio de inibição de
onde 60 pacientes de hemodiálise morreram pela hepatotoxi- acetilcolinesterase; ELISA) ou biológicos (bioensaios; testes
na microcistina, encontrada na água utilizada no procedimen- de toxicidade).
to (Jochimsen et al., 1998). Segundo Guia da Organização Mundial da Saúde “Toxic
Em recente Conferência Internacional “7th International Cyanobacteria in Water”, após clean-up das amostras, nodulari-
Conference on Toxic Cyanobacteria” (7th ICTC), realizada no es- nas, microcistinas (Lawton et al., 1994) e cilindrospermopsina
tado do Rio de Janeiro e organizada pela pesquisadora Profa. (Hawkins et al., 1997) podem ser detectadas por sistemas de
Dra. Sandra Azevedo, especialistas de diversos países discuti- HPLC acoplados a PDA ou espectroscopia de massas. Já para
N N
OH COOH O
O O
NH NH
O NH COOH
O
H2N NH
NH
Figura 5. Peptídeos Cíclicos - Nodularinas
Referências
1. CALIJURI, M.C.; ALVES, M.S.A.; DOS SANTOS, A.C.A. Cianobactérias e 7. JOCHIMSEN, E.M.; CARMICHAEL, W.W.; AN, J.; CARDO, D.M.;
cianotoxinas em águas continentais. CNPq, 2006 COOKSON, S.T.; HOLMES, C.E.M.; ANTUNES, M.B. de C.; FILHO, D.A.
de M.; LYRA, T.M.; BARRETO, V.S.T.; AZEVEDO, S.M.F.O.; JARVIS, W.R.
2. OHTANI, I.; MOORE, R.E.; RUNNEGAR, M.T.C. Cylindrospermopsin, a potent Liver failure and death after exposure to microcystins at a haemodialysis center
hepatotoxin form the blue-green algae Cylindrospermopsis raciborskii, in Brazil, 1998
1992. In: CHORUS, I & BARTRAM, J (ed.) Toxic cyanobacteria in
water – A guide to their public health consequences, 8. LAWTON, L.A.; EDWARDS, C.; CODD, G.A. Extraction and high-
monitoring and management. World Health Organization, 1999 performance liquid chromatographic method for the determination of microcystins
in raw and treated waters. 1994.
3. CARMICHAEL, W.W.; MAHMOOD, N.A.; HYDE E.G. Natural toxins from
cyanobacteria (blue-green algae), 1990 9. HAWKINS, P.R.; CHANDRASENA, N.R.; JONES, G.J.; HUMPAGE, A.R.;
FALCONER, I.R. Isolation and toxicity of Cylindrospermopsis raciborskii from an
4. CHORUS, I & BARTRAM, J (ed.) Toxic cyanobacteria in water – A ornamental lake, 1997.
guide to their public health consequences, monitoring and
management. World Health Organization, 1999 10. OSHIMA, Y. Post-column derivatization HPLC methods for paralytic shellfish poisons, 1995.
5. WECKESSER, J. and DREWS G. Lipopolysaccharides of photosynthetic 11. CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE - CONAMA. Resolução
prokaryotes, 1979. In: CHORUS, I & BARTRAM, J (ed.) Toxic cyanobacteria no 357 de 17 de março de 2005. Brasília.
in water – A guide to their public health consequences,
monitoring and management. World Health Organization, 1999 12. BRASIL. Portaria no 518, de 25 de março de 2004. Brasília: Ministério da Saúde.
6. KELETI, G. and SYKORA, J.L. Production and properties of cyanobacterial 13. QUILLIAM, M.A.; THOMAS, K.M.; MELANSON, J.; HUMPAGE, A.;
endotoxins. 1982. In: CHORUS, I & BARTRAM, J (ed.) Toxic cyanobacteria MERILUOTO, J.; SPOOF, L.; LOADER, J.; MILES, C.O.; SELWOOD, A.;
in water – A guide to their public health conse quences, WOOD, S. Preparation of certified reference materials for cyanobacterial
monitoring and management. World Health Organization, 1999 toxins: An international initiative. 7th ICTC, 2007.