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Tópicos Especiais em

Direito Privado (Optativa)


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permissão escrita da Universidade Paulista.
APRESENTAÇÃO

Prezados alunos,

É com grande satisfação que iniciaremos o estudo do módulo designado Temas Especiais de
Direito Privado.

Nesse trabalho, embora o espectro do Direito Privado seja vasto e inúmeros são os institutos de
grande repercussão e utilidade, estudaremos oito temas que remontam importância temática na
atualidade, na prática e na doutrinária.

Os temas são: Módulo 1- Negócio Jurídico, interpretação e reserva mental; Módulo 2 – As


inovações da lei de locação; Módulo 3 – Responsabilidade civil das instituições bancárias; Módulo
4 – Da alienação fiduciária de bem imóvel; Módulo 5 – Do estado atual do direito de filiação; Módulo
6 – Dos alimentos, atualidades; Módulo 7 – Do divórcio, uma abordagem teórica e prática; Módulo
8 – Do arrolamento extrajudicial.

São temas importantes e até mesmo utilizando-se do título, apresentam-se como especiais, dentro
da legislação e doutrina pátrias.

Possuem esses temas tratamento em sala de aula, mas nesse estudo são destacados, a fim de
demonstrarem a real importância que possuem no quotidiano do cientista do direito.

Os estudos devem ser iniciados com a leitura do texto base, bem como da legislação pertinente ao caso.

VOCÊS ENCONTRARÃO EM CADA MÓDULO A INDICAÇÃO DE BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR,


BEM COMO DE TEXTOS DE REFERÊNCIA.

No estudo de cada módulo será gasto em média uma hora para a leitura bem feita, com as devidas
anotações e cerca de meia hora mais ou menos para a solução dos exercícios propostos.

Cremos que depois dessa introdução, devam estar entusiasmados e curiosos em relação ao tratamento
do temário. Dessa forma, é melhor iniciarmos logo os estudos.

Bons estudos e continuamos na caminhada!

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TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

Unidade I
MODULO 1

Ementa: 1. Introdução. 2. Conceito de Negócio Jurídico. 3. Finalidade Negocial. 4. Da


tricotomia: existência, validade e eficácia. 5. Da declaração de vontade e manifestação. 5.1. Do
silêncio. 5.2. Da Reserva Mental. 6. Do entendimento jurisprudencial. 7. Considerações Finais.
8. Bibliografia.

O Código Civil de 2002, Lei n. 10.406/2002, possui estrutura semelhante ao Código Civil de 1916.

Em termos de principiologia o Código Civil de 2002 adotou o tripé filosófico de Miguel Reale, qual
seja, eticidade, sociabilidade e operatividade.

A diferença reside na Parte Especial na qual foi inserido o Direito de Empresas (Livro II da Parte
Especial do Código Civil), bem como alterou-se a disposição dos livros Do Direito das Coisas e Do Direito
das Obrigações.

O Código Civil está dividido em Parte Geral e Parte Especial.

A Parte Geral do Código Civil é dividida em três livros, a saber: Livro I - Das Pessoas (artigos 1º. ao 78),
Livro II - Dos Bens (artigos 79 a 103) e Livro III – Dos Fatos Jurídicos (artigos 104 a 232).

Na parte geral do Código Civil tem-se o estudo dos conceitos de sujeito, dos bens e da relação
jurídica que se estabelece entre os sujeitos e os objetos. Não se podendo deslembrar que o estudo desses
conceitos serve para compreender e ser aplicado nos institutos tratados na Parte Especial do Código
Civil, em geral.

Os fatos jurídicos são fatos comuns do nosso quotidiano, que devido a sua relevância são tratados
pelo direito. Nas palavras de Pontes de Miranda: “Todo fato é, pois, mudança no mundo”.

Nesse diapasão o mundo não é mais que um complexo de fatos, a saber: jurídicos, políticos, econômicos,
religiosos etc. Precisamos compreendê-los, a fim de que possamos interpretá-los e aplicá-los.

O fato jurídico é o suporte fático que o direito reputou pertencer ao mundo jurídico”.

A guisa de ilustração, trazemos as espécies de fato jurídico: fato jurídico em sentido amplo dividem-
se em fatos naturais ou ato humano; os fatos naturais podem ser ordinários ou extraordinários; o ato
humano divide-se em lícito e ilícito, sendo certo que os lícitos se dividem em fato jurídico em sentido
estrito, ato-fato jurídico e negócio jurídico.
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Unidade I

Nesse momento realiza-se um corte metodológico, no intuito de se estudar o tema proposto


referente ao Negócio Jurídico, sua interpretação e a reserva mental.

Conceito de Negócio Jurídico

O negócio jurídico de forma simplista pode ser compreendido como um ato de vontade destinado à
produção de um resultado.

Negócio Jurídico (teoria voluntarista) – “Manifestação de vontade destinada a produzir efeitos


jurídicos, ou em ato de vontade dirigido a fins práticos tutelados pelo ordenamento jurídico, ou, ainda,
em declaração de vontade”.

Negócio Jurídico (teoria objetiva) – “Negócio jurídico constitui um comando concreto ao qual o
ordenamento jurídico reconhece eficácia vinculante”.

Negócio jurídico (teoria estrutural) – “Negócio jurídico é todo fato jurídico consistente em declaração
de vontade, a que o ordenamento jurídico atribui os efeitos designados como queridos, respeitados os
pressupostos de existência, validade e eficácia impostos pela norma jurídica que sobre ele incide”.

De forma resumida temos as palavras de Renan Lotufo, “negócio jurídico é o meio para a realização
da autonomia privada, ou seja, a atividade e potestade criadoras, modificadoras ou extintoras de relações
jurídicas entre particulares”.

Finalidade Negocial

O negócio jurídico utiliza-se da manifestação de vontade para adquirir, conservar, modificar ou


extinguir direitos.

Dessa forma, podemos verificar que o negócio jurídico possui um vasto conteúdo, do qual o sujeito
de direito utiliza-se em suas relações sociais, com o fim precípuo de poder viver em sociedade. O exemplo
principal de negócio jurídico é o contrato.

A tricotomia existência – validade – eficácia

O negócio jurídico tem existência, é válido e produz eficácia, na exata medida em que correspondem
de forma adequada aos requisitos necessários em cada um dos planos do mundo jurídico, quais sejam
plano da existência, plano da validade e plano da eficácia. Senão vejamos.

A tricotomia existência, validade e eficácia rementem a uma simbologia, tal qual uma escada com
três degraus, e mais, no caso “Escada Ponteana”, numa clara referência a Pontes de Miranda.

O plano da existência questiona somente a realidade da existência. Assim, tal ocorre quando este
sofre a incidência da norma jurídica, desde que presentes todos os seus elementos estruturais. Se faltar
um elemento estrutural, o fato não ingressa no mundo jurídico e, por conseguinte, não existente. É
inexistente, ou ainda aparente, numa clara alusão a Teoria da Aparência.
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TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

Contudo, se existente tem-se que buscar o novo plano, agora plano da validade. Nesse plano indaga-
se a validade do negócio jurídico. Vejam, se estão presentes os elementos estruturais, necessita-se saber
se esses elementos estruturais são válidos.

O plano da validade é o plano do mundo jurídico em que se apura a presença ou não do déficit de
elementos relacionados ao sujeito, o objeto e à forma.

Nesse momento, verifica-se se há algum defeito ou vício que o inviabilize. Se houver vício, o negócio
jurídico poderá ter existência, mas não ser válido.

Ora, a validade é, portanto, uma qualidade do ato jurídico, e válido é o adjetivo com o qual se
qualificam atos jurídicos dotados das regularidades exigidas pelo ordenamento jurídico.

No ordenamento jurídico brasileiro, a invalidade é gênero da qual a nulidade e a anulabilidade são


espécies ou graus.

A nulidade é a sanção mais forte, atribuída em geral para aqueles atos jurídicos que tenham violado
normas cogentes, gerando a insanabilidade do vício. Por seu turno, a anulabilidade é uma sanção de
menor gravidade, e os seus efeitos são relativizados às pessoas interessadas no ato jurídico.

Imaginemos a hipótese de esse negócio jurídico ter existência e ser válido. Passaremos a outro
patamar, qual seja, o plano da eficácia.

No plano da eficácia indaga-se se o negócio jurídico produz efeitos. Fato é que o negócio
jurídico pode existir, ser válido, mas não ter alcançado a sua eficácia, por não ter implementado
uma condição ou termo, ou ainda, estar a produzir efeitos, mas não ter passado pelo plano da
validade, gerando as anulabilidades.

O plano da eficácia é o plano do mundo jurídico em que os fatos jurídicos produzem seus efeitos,
pressupondo a passagem do fato jurídico pelo plano da existência, mas não necessariamente pelo plano
da validade.

No Livro III – Dos Fatos Jurídicos, Título I – Do Negócio Jurídico, Capítulo I – Disposições Gerais, no
artigo 104 do Código Civil estabelece: “A validade do negócio jurídico requer: I- agente capaz; II –
objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III – forma prescrita ou não defesa em lei”.

Dessume-se do exposto que o Código Civil não se utilizou da “Escada Ponteana”, pois na concepção do
legislador, tanto de 1916 quanto de 2002, não há necessidade de mencionar os requisitos de existência.

O conceito do plano de existência encontra-se na base do sistema dos fatos jurídicos, não sendo
necessária a disciplina em apartado na legislação. Por isso, o Código Civil possui uma estrutura de
tratamento legislativo baseada na validade e na eficácia do negócio jurídico, ou seja, é dicotômico.

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Unidade I

Declaração de Vontade e Manifestação

A vontade é um elemento de caráter subjetivo, o qual se manifesta pela declaração. Por conseguinte,
a declaração de vontade é requisito de existência do negócio jurídico.

A manifestação de vontade obriga os contratantes, não importando se expressa, tácita ou presumida.

Duas situações foram tratadas diferenciadamente, quais sejam: o silêncio e a reserva mental.

Tanto no silêncio quanto na reserva mental, o legislador tratou diferentemente a questão da


manifestação de vontade. Senão vejamos:

Do Silêncio

É cediço o ditado popular de que “quem cala consente”. Contudo, isso para o direito pátrio não se
traduziu em norma legal.

O artigo 111 do Código Civil estabelece: “O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias
ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”.

A norma legal determina como regra que o silêncio, em termos jurídicos, nada significa.
Excepcionalmente, poderá significar algo e assim, produzir efeitos.

Dessa forma, o silêncio pode ser interpretado como manifestação tácita da vontade quando a lei
conferir a ele tal efeito.

Exemplo: Artigo 539 do Código Civil O doador pode fixar prazo ao donatário para declarar se aceita
ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça dentro dele, a declaração,
entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo.

Reserva Mental

O instituto da reserva mental é relativamente novo em termos de legislação pátria. Isso porque o
Código Civil de 1916 não dispensou tratamento para o mesmo.

Trata-se de emissão de uma declaração de vontade não desejada em seu conteúdo, tampouco em
seu resultado, tendo por objetivo único enganar o agente receptor da declaração (declaratário).

O artigo 110 do Código Civil dispõe: “A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor
haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha
conhecimento”.

São necessários dois requisitos para a configuração da reserva mental: declaração não querida em
seu conteúdo e o propósito de enganar o declaratário ou terceiros.
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TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

Necessariamente, a reserva mental deve ser conhecida pelo declaratário, pois se desconhecida da
outra parte tem-se um fato irrelevante para o direito, pois não se encontra no mundo jurídico.

A manifestação de vontade com reserva mental não produzirá os efeitos buscados, se o fato da
reserva mental era conhecido do declaratário. Assim, se aquele a quem foi endereçada a manifestação
de vontade tinha conhecimento da reserva mental não haverá negócio jurídico, visto ser a manifestação
de vontade inexistente.

O tratamento jurídico ao instituto equivale ao da nulidade, tendo em vista tratar-se de matéria de


ordem pública, a qual prescinde de ação judicial para ser reconhecida.

Do entendimento jurisprudencial

A seguir alguns acórdãos acerca da reserva mental. Ei-los:

Acórdão nº 1.0079.09.940123-8/001 de TJMG de 07/03/2013.

APELAÇÃO CÍVEL - CONTRATO DE COMPRA E VENDA E LOCAÇÃO - SIMULAÇÃO - NÃO COMPROVAÇÃO


- RESERVA MENTAL - NEGÓCIO VÁLIDO. A simulação tem como requisito o acordo prévio sobre o
negócio dissimulado ou, ao menos, o conhecimento por um dos contratantes da reserva mental do
outro. Recurso não provido.

Acórdãos nº 139254 de TJSP. 19/07/2011

Anulatória. Transação judicial. Reserva mental. Alegação que não se ajusta ao pedido formulado.
Usucapião deduzida na possessória, antes do acordo. Posse exclusiva que não justificava litisconsórcio
com o cônjuge. Indeferimento da inicial. Sentença mantida. Recurso desprovido.

Decisão Monocrática nº 70048845580 de Tribunal de Justiça do RS, Nona Câmara Cível, 18/05/2012

DECISÃO MONOCRÁTICA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL. AJUIZAMENTO DE


AÇÃO TRABALHISTA CONTRA SOCIEDADE DE ADVOGADOS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. QUESTÃO DECORRENTE
DA RELAÇÃO DE TRABALHO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA LABORAL. A natureza da discussão envolve suposto
desrespeito ao Estatuto Social e eleição da OAB como instância para dissolução de contrato, na medida em
que ajuizou ação trabalhista contra a sociedade de advogados que até então integrava. A questão passa, como
é possível aferir das cópias da peça exordial, pelo exame de eventual má-fé no agir da autora ao ingressar em
sociedade e posteriormente desrespeitar o contrato social, quebrando confiança pessoal e social depositada
em si e, através de suposta reserva mental realizada desde a assinatura do contrato social, reclamar.

Considerações Finais

A reserva mental deve ser utilizada para interpretar os negócios jurídicos realizados. Principalmente
nas situações que se evidencie a posição diversa entre a manifestação de vontade declarada em seu
conteúdo e a vontade real. Para tanto há que prevalecer a vontade contida no íntimo do declarante.
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Unidade I

A reserva mental poderá ser aferida no plano da eficácia, sendo certo que receberá tratamento
jurídico equivalente ao tratamento da nulidade do negócio jurídico.

Importante, considerar que sendo expressão decorrente do princípio da eticidade, o negócio jurídico
somente será passível de ser declarado nulo, se e somente se, o declaratário não tiver conhecimento
prévio, até a consumação do negócio jurídico da existência da reserva mental.

O artigo 110 do Código Civil por ser norma de interpretação do negócio jurídico assente na Parte
Geral do diploma legal citado, poderá ser utilizado na interpretação de todos os institutos de direito da
Parte Geral.

Bibliografia

AZEVEDO, Antonio Junqueira – Negócio Jurídico: Existência, Validade e Eficácia. São Paulo: Saraiva, 2002.

LOTUFO, Renan – Código Civil comentado. São Paulo: Saraiva. 2003, vol.1.

MIRANDA, Pontes de – Tratado de Direito Privado. 3. Ed. Rio de Janeiro: Borsoi, 1970, vol. 1.

MIRANDA, Pontes de – Tratado de Direito Privado. 3. Ed. Rio de Janeiro: Borsoi, 1970, vol. 1, p. 20.

MIRANDA, Pontes de – Tratado de Direito Privado. 3. Ed. Rio de Janeiro: Borsoi, 1970, vol. 1, p. 18.

AZEVEDO, Antonio Junqueira – Negócio Jurídico: Existência, Validade e Eficácia. São Paulo: Saraiva,
2002, p. 4.

AZEVEDO, Antonio Junqueira – Negócio Jurídico: Existência, Validade e Eficácia. São Paulo: Saraiva,
2002, p. 12.

AZEVEDO, Antonio Junqueira – Negócio Jurídico: Existência, Validade e Eficácia. São Paulo: Saraiva,
2002, p. 16.

LOTUFO, Renan – Código Civil comentado. São Paulo: Saraiva. 2003, vol.1, p. 272.

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TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

MODULO 2

Ementa: 1. Introdução. 2. Alterações da Lei de Locação. 3. Bibliografia.

Tem-se conhecimento que lei de locação possui grande importância não só para a sociedade, devido
à questão habitacional, mas para a economia, devido aos valores que movimenta e ao mercado de
trabalho que absorve e, para nós, as questões jurídicas de ordem material e processual que gravitam no
seu entorno.

A lei 8245 datada de 14 de outubro de 1991 desde há muito necessitava de adequações, não só em sua
redação, mas fundamentalmente para inserir na sua concepção princípios, entendimentos e adequações
para a viabilidade de sua manutenção como instrumento de guarida da relação jurídica locatícia.

Assim, surgiu a Lei n. 12.112/09, que felizmente não só resguardou o que havia de melhor na Lei n.
8245/1991, mas alterando pontualmente a citada legislação.

O procedimento foi adequado aos modernos princípios processuais e o direito material adequado.

Nesse trabalho realizaremos um estudo pontual das questões referentes às alterações introduzidas
pela novel lei, comparando com as situações anteriores e explicitando as inovações.

Alterações da Lei de Locação

A Lei 8.245/91 possui 90 artigos distribuídos em três partes a saber, sendo certo que a Lei 12.112/2009
alterou os artigos 4º.; 12; 39; 40; 59 incisos VI a IX do parágrafo primeiro e do parágrafo terceiro; artigo
62, “caput”, incisos I a IV e parágrafo único; artigo 63, “caput” e letra “b”; artigo 64 “caput”; artigo 68,
“caput”, incisos II a IV e V; artigo 71, inciso V e artigo 74.

As alterações realizadas tanto no âmbito do direito material, quanto do direito processual tiveram
por finalidade garantir a eficácia da relação jurídica existente entre locador e locatário, bem como nas
relações jurídicas acessórias, tal como a fiança.

Realizamos a transcrição do texto atual do dispositivo legal e imediatamente abaixo seguem as


considerações.

Art. 4º. – Durante o prazo estipulado para a duração do contrato, não poderá o locador
reaver o imóvel alugado. O locatário, todavia, poderá devolvê-lo, pagando a multa pactuada,
proporcionalmente ao período de cumprimento do contrato, ou na sua falta, a que for
judicialmente estipulada.

Parágrafo único – O locatário ficará dispensado da multa se a devolução do imóvel decorrer


de transferência, pelo seu empregador, privado ou público, para prestar serviços em localidades
diversas daquela do início do contrato, e se notificar, por escrito, o locador com prazo de, no
mínimo, trinta dias de antecedência.
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Unidade I

Atualmente, a multa contratual será dividida proporcionalmente ao tempo de duração do contrato,


se houver rescisão do contrato de locação por prazo determinado.

A guisa, de exemplificação divide-se o valor da multa pelo tempo total do contrato de locação e
multiplica o valor pelo período que faltar.

Igualmente, essa regra somente terá vigência para os contratos celebrados após a entrada em vigor
da Lei n. 12.112/09, de acordo com o artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

Artigo 12 – Em casos de separação de fato, separação judicial, divórcio ou dissolução de união


estável, a locação residencial prosseguirá automaticamente com o cônjuge ou companheiro que
permanecer no imóvel.

Parágrafo Primeiro – Nas hipóteses previstas neste artigo e no art. 11, a sub-rogação será
comunicada por escrito ao locador e ao fiador, se esta for a modalidade de garantia locatícia.

Parágrafo Segundo – O fiador poderá exonerar-se das suas responsabilidades no prazo de


30 (trinta) dias contado do recebimento da comunicação oferecida pelo sub-rogado, ficando
responsável pelos efeitos da fiança durante 120 (cento e vinte) dias após a notificação do locador.

Na hipótese de sub-rogação necessária a comunicação escrita, não só para o locador, mas também
para o fiador.

O fiador poderá exonerar-se, notificando o locador, dentro do prazo de 30 (trinta) dias, contados
a partir do recebimento da comunicação do sub-rogado. Assim, é o fiador quem poderá se exonerar
do encargo.

Valer ressaltar que, o mesmo procedimento poderá ser aplicado para o artigo 11 da lei em comento,
ou seja, no caso de morte do locatário. A redação não previa a possibilidade do fiador renunciar o seu
encargo no caso de falecimento do locatário.

O fiador é responsável pelos efeitos da fiança até 120 (cento e vinte) dias, ou até que o locatário
providencie novo fiador, se isso acontecer antes dos 120 (cento e vinte) dias.

Na hipótese do fiador se utilizar da prerrogativa de exoneração da fiança, conforme artigo 12,


parágrafo segundo em comento, o locador poderá exigir novo fiador ou a substituição da modalidade
da garantia (artigo 40 inciso V, Lei 8245/91).

Artigo 39 – Salvo disposição contratual em contrário, qualquer das garantias da locação


se estende até a efetiva devolução do imóvel, ainda que prorrogada a locação por prazo
indeterminado, por força desta lei.

As garantias se estenderão até a efetiva devolução do imóvel independentemente se a locação


estiver ou não prorrogada por prazo indeterminado.
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TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

A nova redação vem espancar quaisquer dúvidas, não deixando possibilidade de interpretações
diversas.

Artigo 40 – O locador poderá exigir novo fiador ou a substituição da modalidade da garantia,


nos seguintes casos: 1- morte do fiador; II – ausência, interdição, recuperação judicial, falência
ou insolvência do fiador, declaradas judicialmente; III – alienação ou gravação de todos os bens
imóveis do fiador ou sua mudança de residência sem comunicação ao locador; IV – exoneração
do fiador; V – prorrogação d locação por prazo indeterminado, sendo a fiança ajustada por
prazo certo; VI – desaparecimento de bens imóveis; VII – desapropriação ou alienação do imóvel;
VIII- exoneração de garantia constituída por quotas de fundo de investimento; IX- liquidação
ou encerramento do fundo de investimento de que trata o inciso IV do artigo 37 desta lei;
X- prorrogação da locação por prazo indeterminado uma vez notificado o locador pelo fiador
de sua intenção de desoneração, ficando obrigado por todos os efeitos da fiança, durante 120
(cento e vinte) dias após a notificação ao locador.

Parágrafo único – O locador poderá notificar o locatário para apresentar nova garantia
locatícia no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de desfazimento da locação.

No inciso II foi incluída a situação da recuperação judicial.

Na hipótese do inciso X, a exoneração da fiança é cabível a partir da prorrogação por tempo


indeterminado nas locações residenciais (artigo 46, parágrafo primeiro), e nas locações não residenciais
se houver a manutenção do locatário sem oposição (art. 56, parágrafo único).

Artigo 59 – Com as modificações constantes deste capítulo as ações de despejo terão o rito
ordinário.

Parágrafo Primeiro – Conceder-se-á liminar para desocupação em quinze dias,


independentemente de audiência da parte contrária e desde que prestada a caução no valor
equivalente a três meses de aluguel, nas ações que tiverem por fundamento exclusivo:

VI – o disposto no inciso IV do artigo 9º, havendo a necessidade de se produzir reparações


urgentes no imóvel, determinadas pelo poder público, que não possam ser normalmente
executadas com a permanência do locatário, ou podendo, ele se recuse a consenti-las;

VII – o término do prazo notificatório previsto no parágrafo único do artigo 40, sem
apresentação de nova garantia apta a manter a segurança inaugural do contrato;

VIII – o término do prazo da locação não residencial tendo sido proposta a ação em até 30 (trinta)
dias do termo ou do cumprimento de notificação comunicando o intento da retomada;

IX – a falta de pagamento de aluguel e acessórios da locação no vencimento, estando o contrato


desprovido de qualquer das garantias previstas no artigo 37 por não ter sido contratada ou
em caso de extinção ou pedido de exoneração dela, independentemente de motivo.
13
Unidade I

Parágrafo Terceiro – No caso do inciso IX o parágrafo primeiro deste artigo, poderá o locatário
evitar a rescisão da locação e elidir a liminar de desocupação se, dentro dos 15 (quinze) dias
concedidos para desocupação do imóvel e independentemente de cálculo, efetuar o depósito
judicial que contemple a totalidade dos valores devidos, na forma prevista no inciso II do art. 62.

O parágrafo primeiro do artigo 59 trata das situações passíveis de obtenção de liminar para
desocupação do imóvel no prazo de 15 (quinze) dias, independentemente de audiência da parte contrária
e com a realização da caução de 3 (três) vezes o valor do aluguel.

A Lei n. 12.112/2009 inseriu quatro incisos, a saber:

VI – sendo necessária a reparação do imóvel;

VII – se houver exoneração do fiador e o locatário ou sub-rogado não apresentarem novo garante
no prazo de 30 (trinta) dias. Necessário que tenha ocorrido a exoneração do fiador e o locatário
notificado não realize a apresentação no prazo de 30 (trinta) dias.

VIII- quando do término do prazo da locação não residencial, tendo o locador observado o prescrito
no artigo 57 (denunciar o contrato por tempo indeterminado) ou proposto ação de despejo dentro
de 30 (trinta) dias da data do término do contrato (artigo 56), verá acatado seu pedido de liminar,
para, em 15 dias, ter o imóvel desocupado.

Importante: a) Aplicável somente para imóveis não residenciais (artigo 55); b) locações não residenciais
há que se observar o direito de renovação; e c) no artigo 52 há que se observar a indenização devida.

IX – no inadimplemento de aluguel e acessórios, se não houver garantia contratual, sendo certo que
há a possibilidade da purga da mora de acordo com o parágrafo terceiro.

Parágrafo terceiro – permite-se ao locatário o pagamento integral do débito, a fim de evitar a


rescisão contratual e, por conseguinte, o despejo.

Artigo 62 – Nas ações de despejo fundadas na falta de pagamento de aluguel e acessórios


da locação, de aluguel provisório, de diferenças de alugueis, ou somente de quaisquer dos
acessórios da locação, observar-se-á o seguinte:

I – o pedido de rescisão da locação poderá ser cumulado com o pedido de cobrança dos
aluguéis e acessórios da locação; nesta hipótese, citar-se-á o locatário para responder ao
pedido de rescisão e o locatário e os fiadores para responderem ao pedido de cobrança,
devendo ser apresentado, com a inicial, cálculo discriminado do valor do débito;

II – o locatário e o fiador poderão evitar a rescisão da locação efetuando, no prazo de 15


(quinze) dias, contado da citação, o pagamento do débito atualizado, independentemente
de cálculo e mediante depósito judicial, incluídos:

14
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

III – efetuada a purga da mora, se o locador alegar que oferta não é integral, justificando a
diferença, o locatário poderá complementar o depósito, no prazo de 10 (dez) dias, contado
da intimação, que poderá ser dirigida ao locatário ou diretamente ao patrono deste, por
carta ou publicação no órgão oficial a requerimento do locador;

VI – havendo cumulação dos pedidos de rescisão da locação e cobrança dos aluguéis, a


execução desta pode ter início antes da desocupação do imóvel, caso ambos tenham sido
acolhidos.

Parágrafo único – Não se admitirá a emenda da mora se o locatário já houver utilizado essa
faculdade nos 24 (vinte e quatro) meses imediatamente anteriores à propositura da ação.

A finalidade precípua do legislador mais uma vez foi buscar a implementação do princípio da
celeridade processual nas demandas de locação.

Poderá o locador iniciar uma ação de despejo também e somente por quaisquer dos acessórios da
locação.

A ação de despejo é pertinente aos acessórios, não havendo necessidade do locatário estar
inadimplente com o aluguel.

I – é importante para o locador que poderá propor em princípio a ação contra o locatário para
rescindir a locação e contra o fiador para adimplir com o pagamento dos valores.

II – o fiador poderá evitar a rescisão realizando o depósito do valor da dívida no prazo de 15 (quinze)
dias para a contestação.

A partir da citação terão locatário e fiador, o prazo de 15 dias para comprovar o depósito do valor
devido, que deverá contemplar não só os encargos do contrato, mas multas, juros de mora, custas e os
honorários advocatícios do locador.

III – o locador poder alegar que o depósito do locatário ou seu fiador não foi integral. Contudo,
necessário que seja justificada a glosa. Situação que defere ao locatário a oportunidade do
complemento no prazo de 10 (dez) dias.

IV – possibilita o depósito complementar, sendo certo que na situação negativa, continuará ação de
rescisão pela diferença.

A redação do Parágrafo único, não admite a emenda da mora se o locatário já houver utilizado essa
faculdade nos 24 meses imediatamente anteriores à propositura da ação.

Na redação anterior admitia-se a emenda da mora por até duas vezes no prazo de 12 meses.

15
Unidade I

Assim, atualmente, o locatário somente poderá utilizar-se da emenda da mora uma única vez em
dois nosso, portanto ao receber uma citação e pretender efetuar a purga, será prudente, quando da
conferência dos cálculos do locador, se observar erro a menor ou se já houver passado mais de um mês
da data dos mesmos, efetuar a correção e a atualização para pagamento.

Por outro lado, nada impede de observando o erro realizar o cálculo do valor de forma a realizar o
depósito superior ao descrito.

Artigo 63 – Julgada procedente a ação de despejo, o juiz determinará a expedição de


mandado de despejo, que conterá o prazo de 30 (trinta) dias para a desocupação voluntária,
ressalvado o disposto nos parágrafos seguintes.

b) o despejo houver sido decretado com fundamento no artigo 9º. Ou no parágrafo segundo
do artigo 46.

A alteração ocorreu no sentido de que, quando julgada a ação procedente a ação de despejo, o juiz
expede o mandado de despejo, sendo certo que o Oficial de Justiça formalizará a determinação judicial.

Caso o locatário não cumpra a determinação, após 30 (trinta) dias, será o mandado de despejo
efetivado.

O prazo de 30 (trinta) dias será reduzido para 15 (quinze) dias se o despejo tiver como fundamento
o artigo 9º da lei em comento, ou se, tiver decorrido mais de quatro meses entre a data citação e a data
da sentença.

Artigo 64 – Salvo nas hipóteses das ações fundadas no artigo 9º., a execução provisória do
despejo dependerá de caução não inferior a 6 (seis) meses nem superior a 12 (doze) meses do
aluguel, atualizado até a data da prestação da caução.

Houve a inclusão de todas as hipóteses do artigo 9º. para fazer jus a isenção da caução.

O legislador nas demais situações reduziu o valor da caução de 12 a 18 meses para 6 a 12 meses.

Artigo 68 – Na ação revisional de aluguel que terá o rito sumário, observar-se-á o seguinte:

II – ao designar a audiência de conciliação, o juiz, se houver pedido e com base nos elementos
fornecidos tanto pelo locador como pelo locatário, ou nos que indicar, fixará aluguel
provisório, que será devido desde a citação, nos seguintes moldes:

• em ação proposta pelo locador, o aluguel provisório não poderá ser excedente a 80%
(oitenta por cento) do pedido;

• em ação proposta pelo locatário, o aluguel provisório não poderá ser inferior a 80%
(oitenta por cento) do aluguel vigente;
16
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

IV – na audiência de conciliação, apresentada a contestação, que deverá conter contraproposta


se houver discordância quanto ao valor pretendido, o juiz tentará a conciliação e, não
sendo possível, determinará a realização de perícia, se necessária, designando, desde logo,
audiência de instrução e julgamento;

V – o pedido de revisão previsto no inciso III deste artigo interrompe o prazo para a
interposição de recurso contra a decisão que fixar o aluguel provisório.

O legislador concedeu ao locatário a possibilidade de ingressar com a ação revisional de locação.

Houve a solução de uma lacuna da lei. Contudo, a inovação maior está no fato de que há previsão
legal de parâmetros para a fixação do valor do aluguel provisório tanto para a ação revisional proposta
pelo locador, quanto pelo locatário.

Em ocorrendo divergência, será designada a realização de prova pericial e audiência de instrução e


julgamento.

Na audiência de tentativa de conciliação poderá ser requerida a alteração do valor do aluguel


arbitrado, por meio de pedido de reconsideração.

Artigo 71 – Além dos demais requisitos exigidos no artigo 282 do Código de Processo Civil,
a petição inicial da ação renovatório deverá ser instruída com:

V- indicação do fiador quando houver no contrato a renovar e, quando não for o mesmo,
com indicação do nome ou denominação completa, número de sua inscrição no Ministério
da Fazenda, endereço e, tratando-se de pessoa natural, a nacionalidade, o estado civil, a
profissão e número da carteira de identidade, comprovando, em qualquer caso e desde
logo, a idoneidade financeira;

Foi alterada a nomenclatura de Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento para Ministério da


Fazenda, já que designação atual.

Artigo 74 – Não sendo renovada a locação, o juiz determinará a expedição de mandado


de despejo, que conterá o prazo de 30 (trinta) dias para a desocupação voluntária, se houver
pedido na contestação.

Trata-se de um incremento na legislação a fim de proporcionar celeridade e credibilidade do Poder


Judiciário.

O prazo para a desocupação do imóvel em ação renovatória julgada improcedente foi diminuído de
6 (seis) meses para 30 (trinta) dias, bem como na sentença determina-se a expedição de mandado de
despejo.

17
Unidade I

Não é necessário o locador após seis meses informar a não desocupação e requerer a expedição de
mandado de despejo, como ocorria no passado.

Bibliografia

DINIZ, Maria Helena – Lei de Locações de Imóveis Urbanos Comentada. São Paulo: Saraiva, 1992.

SANT’ANNA, Valéria Maria – Comentários à nova lei do inquilinato. São Paulo: Edipro, 2010.

18
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

Unidade II
MÓDULO 3

Ementa: 1. Introdução. 2. Responsabilidade Civil Objetiva. 3. Aplicação do CDC nas relações


bancárias. 4. Pagamento de Cheque Falso. 5. Considerações Finais. 6. Bibliografia.

A responsabilidade civil remonta um importante instituto do Direito Privado, sendo certo não possui
tratamento específico dentro da legislação pátria. Assim, o Código Civil não traz um livro dedicado ao
seu estudo, como faz em outros estudos. Também é fato que a legislação extravagante tem diretrizes
específicas para a análise do instituto.

O estudo da disciplina da Responsabilidade Civil encontra-se, por assim dizer, dissipado, o que já por
si só demonstra a dificuldade a ser vencida pelo estudioso ou ainda pelo operador do direito em geral.

A Responsabilidade Civil decorre da imperfeição no cumprimento das relações jurídicas estabelecidas,


tanto na forma culposa, quanto na forma dolosa, ou ainda, tecendo as minúcias de relações contratuais
imperfeitas ou relações extracontratuais, das quais houve comprovado prejuízo.

Há que se consignar a regulamentação do instituto na Parte Geral do Código Civil, artigo 186, na
Constituição Federal artigo 5º. Inciso X e outras legislações extravagantes como um todo.

Os elementos para a caracterização da obrigação de indenizar são: conduta, nexo de causalidade,


dano e, em alguns casos a culpa.

No presente estudo abordar-se-á a “Reponsabilidade Civil das Instituições Bancárias”. Trata-


se de tema um tanto quanto extenso e desafiador devido as inúmeras situações que sucedem das
atividades bancárias e que se realizadas de forma imperfeita gerarem danos, esses devem ser passíveis
de indenização.

Por conseguinte, devido à vastidão do tema, será realizado um corte metodológico, a fim de serem
analisadas duas situações fáticas que envolvem as instituições bancárias, quais sejam: aplicação do
Código de Defesa do Consumidor nas relações jurídicas bancárias e pagamento de cheque falso.

As hipóteses acima narradas são casos de responsabilidade civil objetiva, por isso antes de adentrar
o tema especificamente, será realizado estudo acerca da responsabilidade civil objetiva.

19
Unidade II

Responsabilidade Civil Objetiva

A responsabilidade civil objetiva tem sido justificada por nossa doutrina através do recurso ao
valor da solidariedade social e da justiça distributiva. Por isso, os interesses de ordem individual não
devem ser colocados acima dos interesses sociais, sendo certo que esses últimos determinarão ou não,
a necessidade da reparação.

A teoria do risco funda-se na ideia de socialização do direito. Havendo perigo real da insegurança
material dos indivíduos, os interesses coletivos proclamam, defendem e querem a segurança jurídica.

Tem–se como exemplo legislativo o art. 3º, I que institui como objetivo da República Federativa do
Brasil a formação de uma sociedade livre, justa e solidária.

O art. 927, parágrafo único do Código Civil de 2002 – que institui uma cláusula geral de responsabilidade
civil fundada no risco – constitui projeção da diretriz da solidariedade social.

O fundamento da responsabilidade civil objetiva é pacífico, contudo persistem questionamentos


acerca de sua operabilidade. São esses: requisitos de incidência e limites para a defesa.

Há que se realizar a distinção entre responsabilidade fundada em “culpa presumida” e responsabilidade


fundada no “risco”.

O primeiro caso a culpa sempre será presumida, somente admitindo como hipótese de exclusão
de responsabilidade situações que configuram ausência de nexo causal, o segundo caso permite
além da exclusão da responsabilidade pela atuação de excludentes de nexo causal, o afastamento da
responsabilidade nas hipóteses em que o réu prove não ter agido com culpa, com o cuidado preciso.

No Código Civil de 2002, o tratamento dado à responsabilidade pela guarda do animal configurou
uma regra de responsabilidade objetiva, pois somente permitiu àquele que detém poder de controle
sobre o animal, excluir sua responsabilidade, se demonstrar a ocorrência de hipótese de exclusão de
nexo causal: culpa exclusiva da vítima e força maior.

A menção de “força maior” e não ao “caso fortuito”, como excludente da responsabilidade, é mais
um indicativo de que a regra institui uma responsabilidade objetiva.

A distinção doutrinária esclarece em termos práticos, no caso fortuito tem-se um impedimento


relacionado com a pessoa do devedor ou com a sua empresa, enquanto que a força maior é um
acontecimento externo.

Tal distinção permite estabelecer uma diversidade de tratamentos para o devedor, consoante o
fundamento da sua responsabilidade. Se esta se fundar na culpa, bastará o caso fortuito para exonerá-
lo. Com maioria de razão o absolverá a força maior.

20
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

A responsabilidade fundada no risco, o caso fortuito não o exonerará.

A responsabilidade civil por fato de terceiro teria como fundamento uma dessas três formas de
presunção: culpa in vigilando, culpa in educando e culpa in eligendo.

A responsabilidade do patrão/comitente por ato de seus empregados/prepostos tem por base uma
culpa presumida de forma absoluta.

Atualmente, o art. 932 do Código Civil, trata como responsabilidade objetiva, conforme deixa clara
a disposição do art. 933.

É importante ressaltar que o atual Código Civil de 2002 não apenas realiza alterações em dispositivos
pontuais – regulando hipóteses específicas de responsabilidade objetiva – como estabelece uma regra
geral acerca da responsabilidade fundada no risco, qual seja o art. 927, parágrafo único, que estabelece
que: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco
para os direitos de outrem”.

Atualmente, tem-se o “risco proveito” – que estabelece ser a responsabilidade uma decorrência do
fato de organizar atividade com vistas à obtenção de proveito. São também responsáveis pela reparação
civil: I – os pais, pelos filhos menores que estiverem sob seu poder e em sua companhia; II – o tutor e
o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III – o patrão, amo ou
comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou
por ocasião dele; IV – os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos, onde se albergue
por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V- os que
gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.

Consequências prejudiciais que dela decorrem – o que implicaria aplicar-se o referido dispositivo
legal apenas a danos decorrentes do funcionamento de “atividades econômicas”? Compreendidas no
sentido de “conduta reiterada, habitualmente exercida, organizada de forma profissional ou empresarial
para realizar fins econômicos”. A essa opinião opõe-se a daqueles que compreendem o referido artigo
como fundado na ideia de “risco criado” – que estabelece ser a responsabilidade uma decorrência da
criação de perigo, ou seja, parte-se da premissa de que aquele que põe em funcionamento, dirige e/ou
controla uma fonte de risco para terceiros deve arcar com as consequências relativas à concretização
desse risco – isso implicaria aplicar-se referido dispositivo legal a qualquer atividade que desempenhada,
com determinada regularidade, pudesse ser classificada como “atividade perigosa”.

O problema relativo à responsabilidade objetiva resume-se aos processos de seleção da fórmula


Superior Risk Avoider.

São utilizados dois critérios conjugados: custo transacional (informação) e a possibilidade de


dispersão do risco para definir quem tem as melhores condições de administrar o custo do risco.

21
Unidade II

A responsabilidade civil dos bancos em face do CDC

O artigo 3º, parágrafo 2º do Código de Defesa do Consumidor incluiu as atividades bancárias no


conceito de serviços.

Assim, as atividades bancárias como sendo atividade de prestação de serviços é objetiva.

O artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor estatui: “FORNECEDOR DE SERVIÇOS RESPONDE,


INDEPENDENTEMENTE DA EXISTÊNCIA DE CULPA, PELA PRESTAÇÃO DOS DANOS, CAUSADOS
AOS CONSUMIDORES POR DEFEITOS RELATIVOS À PRESTAÇAO, BEM COMO POR INFORMAÇÕES
INSUFICIENTES OU INADEQUADOS SOBRE SUA FRUIÇÃO E RISCOS”.

O fornecedor não está obrigado a indenizar pelo serviço defeituoso, quando comprovar que o defeito
inexiste ou ainda, for comprovada a culpa exclusiva do consumidor ou cliente.

As instituições financeiras têm-se mostrado renitentes no cumprimento das diretrizes legais,


sob a alegação se não serem prestadoras de serviços exclusivas, pois possuem outras atividades não
configuradas como tais.

Contudo, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu, por vezes, que não cabe a interpretação restritiva.

Assim, “Natureza bancária, financeira, de crédito, nele contida não comporta que se
afirme referir-se apenas a determinadas operações de crédito do consumidor. Os bancos,
como prestadores de serviços especialmente contemplados no mencionado dispositivo, estão
submetidos às disposições do Código do Consumidor. A circunstância de o usuário dispor do
bem recebido através da operação bancária, transferindo-o a terceiros, em pagamento de outros
bens ou serviços, não o descaracteriza como consumidor dos serviços prestados pelo banco”.

Essa posição foi sumulada pelo Superior Tribunal de Justiça.

Súmula 297: “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”.

Tratando-se de obrigação objetiva, a responsabilidade civil das instituições bancárias prescinde do


elemento culpa, obrigando o cliente, que for lesado deverá provar o dano e o nexo de causalidade.

No que concerne à prestação de serviço de cofre realizados pelo banco, o particular deve comprovar
o conteúdo existente no interior do mesmo. Assim, o ônus da prova cabe ao contratante do serviço.
Frise-se que o conteúdo do cofre constitui o elemento dano.

Em termos gerais, com o advento do Código de Defesa do Consumidor a atividade bancária, estando
consignada como prestação de serviços, é regulamentada como relação jurídica consumerista. Por isso,
a prestação de serviços defeituosa impõe a obrigação de indenizar.

22
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

Pagamento de cheque falso

A emissão de cheque falso constitui crime de falso, sendo certo que a instituição financeira deverá
restituir o valor debitado da conta corrente, visto ser o cliente o terceiro.

A Súmula 28 do Supremo Tribunal Federal dispõe: “O estabelecimento bancário é responsável pelo


pagamento de cheque falso, ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do correntista”.

Seria uma solução simples se o entendimento jurisprudencial não divergisse, apresentando ao longo
do tempo várias soluções. Dessa forma, tem-se três correntes, a saber: teoria clássica, teoria do risco e
a teoria contratualista.

- teoria da culpa: verifica a quem cabe a responsabilidade pela emissão do cheque, se ao emitente
ou ao sacado. Difícil muitas vezes aferir a quem cabe a culpa pela emissão do título falso;

- teoria do risco: há como pressuposto que a atividade bancária possui fins lucrativos, assumindo o risco
dos danos que vier a causar. Assim, a responsabilidade deve recair sobre aquele que aufere os lucros.

- teoria contratualista: absorve a teoria do risco e a teoria da culpa, sendo certo que há caso em
que se pode saber quem é o fraudador do cheque e nem sempre porque a instituição financeira
possui aufere lucros deverá cumprir a obrigação.

Há uma tendência mundial de se reconhecer um regime próprio para a responsabilidade civil das
instituições bancárias, como sendo uma função delegada.

No caso os bancos, há um incremento do risco da atividade, face ao seu conhecimento especializado.


Por isso, não se indaga a presença de culpa e pressupõe-se a obrigação de indenizar no caso de
cheque fraudado.

A prestação de serviço bancário, no caso discutido, equivale a responsabilidade civil do Estado, a qual
foi acolhida constitucionalmente, como sendo de natureza objetiva.

É impossível impor ao cliente que tenha conhecimento privilegiado sobre o trabalho interna corporis
da instituição financeira, já que essa atividade é complexa.

No momento, as diretrizes da jurisprudência pátria anunciam: “a) quando o correntista não concorreu
para o evento danoso, os prejuízos decorrentes do pagamento de cheque fraudados devem ser suportados
pelo banco; b) provada, pelo banco, a culpa do correntista na guarda do talonário, fica aquele isento de
culpa; c) em caso de culpa concorrente (negligência do correntista, na guarda do talonário, e do banco,
no pagamento de cheque com assinatura grosseiramente falsificada) os prejuízos se repartem; d) não
provada a culpa do correntista, nem do banco, sobre este é que deve recair o prejuízo”.

No entanto, cumpre ressaltar que com o advento do Código de Defesa do Consumidor, os bancos
também são responsáveis pelo pagamento dos cheques fraudados, quando houver culpa concorrente. O
entendimento é que a vítima do crime de falso é a instituição financeira e não o cliente.
23
Unidade II

A instituição financeira também é responsável pela recusa de pagamento de cheques, quando há


provisão de fundos. Igual modo também responde, se a instituição financeira realiza o pagamento do
título, mesmo com a contraordem do sacador.

Dessa forma, pode-se inferir que: a) a instituição financeira possui responsabilidade objetiva quanto
aos serviços prestados; b) a responsabilidade civil das instituições financeiras equivale a responsabilidade
civil do Estado, visto que a instituição financeira realiza atividade delegada; c) quando houver cheque
fraudado, a instituição financeira só se isenta da obrigação de indenizar, se comprovar que houve culpa
exclusiva do correntista, tal como a responsabilidade civil objetiva.

Considerações Finais

A responsabilidade civil é tema de alta relevância para o estudioso e o operador do direito, sendo
certo que a sua complexidade é decorrente das inúmeras relações jurídicas a que está afeto.

No presente estudo escolheu-se a responsabilidade civil das instituições bancárias, isso porque direta
ou indiretamente, todos os sujeitos de direito possuem uma relação jurídica com a mesma. Ora como
clientes, ora como usuários do sistema bancário em geral.

Como já foi dito, são inúmeras as relações jurídicas decorrentes das operações bancárias, do
sistema financeiro e outros, mas esses dois temas remontam grandeza, tendo em vista que guardam
responsabilidade civil objetiva da instituição financeira.

Assim, estando diante de situações cheque fraudado ou aplicação do CDC é patente que a instituição
financeira responderá civilmente e sob a forma objetiva, ou seja, não é necessária a comprovação da culpa.

Dessa forma, pode-se inferir que: a) a instituição financeira possui responsabilidade objetiva quanto
aos serviços prestados; b) a responsabilidade civil das instituições financeiras equivale a responsabilidade
civil do Estado, visto que a instituição financeira realiza atividade delegada; c) quando houver cheque
fraudado, a instituição financeira só se isenta da obrigação de indenizar, se comprovar que houve culpa
exclusiva do correntista, tal como a responsabilidade civil objetiva.

Por derradeiro, o Código de Defesa do Consumidor é aplicável a prestação de serviços bancários,


situação sumulada pelo Superior Tribunal de Justiça, não se deslembrando que também nessa seara a
responsabilidade é objetiva.

GONÇALVES, Carlos Roberto – Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, vol. 4, 5ª. ed., 2010.

OLIVEIRA, Celso Marcelo de – Código de Defesa do Cliente Bancário. Campinas: LZN Ed., 2002.

REsp 57.974-0-RS, 4ª.T, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar Junior.

GONÇALVES, Carlos Roberto – Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2010, vol. 4, p. 247.

24
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

MÓDULO 4

Ementa: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Natureza Jurídica. 4. Diferenças entre alienação


fiduciária de bem imóvel e bem móvel. 5. Requisitos Contratuais. 6. Direitos e Obrigações. 7.
Consolidação da Propriedade e Procedimento. 8. Considerações Finais. 9. Bibliografia.

Introdução

A Lei n. 9514/1997 dispôs sobre o Sistema de Financiamento Imobiliário, instituindo a alienação


fiduciária de coisa imóvel e deu outras providências.

Trata-se de um novo regramento jurídico importante para o setor empresarial, mormente o setor
financeiro à época e que repercutiu no incremento das transações imobiliárias na atualidade.

O instituto da alienação fiduciária em garantia surgiu no momento em que os instrumentos


tradicionais de garantia, tal como a hipoteca, não mais preenchiam os requisitos de rigor e eficiência
para a garantia do crédito.

Foi um avanço em termos jurídicos e supriu as necessidades do mercado imobiliário como um todo,
ou seja, nos segmentos de construção civil, das instituições financeiras e outros.

O conceito do instituto jurídico da alienação fiduciária em garantia está previsto no artigo 22 da Lei
n. 9.514/1997.

Assim, dispõe: “Negócio jurídico pelo qual o devedor, ou fiduciante, com o escopo de garantia,
contrata a transferência ao credor, ou fiduciário, da propriedade resolúvel de coisa imóvel”.

Nesse diapasão, a propriedade fiduciária consiste no domínio que se aliena ao credor para fins de
garantia de dívida pecuniária. Mediante o translado da propriedade é assegurado o cumprimento da
obrigação.

A propriedade fiduciária não é direito essencialmente distinta do domínio. Sua função, ao invés de
ser a de gozo exclusivo é a de garantia do negócio jurídico realizado.

Trata-se de contrato típico, já que previsto em diploma legal. Nesse contrato de alienação fiduciária
a propriedade fiduciária é a garantia.

Negócio fiduciário que é, caracteriza-se pela existência do risco decorrente da confiança depositada
pelo transmitente em garantia na pessoa do adquirente e, ainda, pelo fato de as partes realizarem o
negócio jurídico com efeitos que transcendem a finalidade almejada.

No caso em análise, as partes realizam a alienação do bem imóvel, fim pretendido, mas há a presença
da garantia, instituto jurídico excedente a alienação.

25
Unidade II

Natureza Jurídica

O contrato de alienação fiduciária em garantia possui natureza jurídica direito real de garantia, bem
como é acessório.

O direito real de propriedade fiduciária depende de contrato escrito, qual seja contrato de alienação
fiduciária em garantia.

Os efeitos somente serão produzidos quando o contrato for levado a registro no CRI competente,
possuindo o registro a natureza jurídica constitutiva, bem como produzindo o efeito de desmembrar a
posse, em direta e indireta.

Artigo 23 LSFI: “Constitui-se a propriedade fiduciária de coisa imóvel mediante registro, no


competente Registro de Imóveis, do contrato que lhe serve de título.

Parágrafo único: Com a constituição da propriedade fiduciária, dá-se o desdobramento da


posse, tornando-se o fiduciante possuidor direto e o fiduciário possuidor indireto da coisa imóvel”.

Através do contrato de alienação fiduciária se afeta um bem ao cumprimento de uma obrigação.


É contrato acessório, pois depende de dívida preexistente ou assumida concomitantemente com a
atribuição da garantia.

O devedor ou terceiro atribui por meio do contrato bem objeto de sua propriedade ao credor, sendo
que o bem garante tal. Esta atribuição implica em transferência da propriedade a favor do credor,
denominada propriedade fiduciária.

O credor é titular também da posse indireta. O alienante apenas é beneficiário da posse direta e do
direito de utilizar o bem.

Quando se aliena a propriedade para fim de garantia celebra-se negócio jurídico de direito das coisas
e num segundo plano direito obrigacional, mediante um reforço da responsabilidade do devedor, mero
possuidor do bem, direto, que deve restituí-lo senão honrar a dívida.

O BEM IMÓVEL NÃO PERTENCE AO DEVEDOR.

O contrato de alienação fiduciária pode ter por objeto bens móveis ou imóveis. Contudo o tratamento
legislativo referente aos bens móveis é diverso e será tratado em Capítulo em separado, por não ser
objeto precípuo do presente estudo.

Pode estar vinculado ao contrato de compra e venda ou contrato de mútuo.

No que se refere ao tempo de sua realização pode ser: conjuntamente com o contrato principal, ou
posteriormente à celebração do contrato principal.

26
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

A plena propriedade é consolidada no devedor, se e quando paga a dívida garantida pela alienação
fiduciária. Os efeitos retroagem à data da constituição da propriedade fiduciária, visto que o devedor é
proprietário desde sua anterior aquisição e não a partir do resgate da dívida.

Diferenças entre alienação de bem móvel e bem imóvel

A primeira diferença reside no fato da classificação do bem, objeto do contrato de alienação fiduciária.

Ora, se bem móvel ou bem imóvel, esse último objeto do nosso estudo.

A alienação fiduciária de bem móvel foi instituída pelo Decreto-Lei n. 911/69, sendo certo que houve
revogação do mesmo com a entrada em vigor da Lei n. 10.931/04.

Requisitos Contratuais

Deve, igualmente, conter os elementos exigidos por lei.

Artigo 24 da LSFI – “O contrato que serve de título ao negócio fiduciário conterá: I- o valor
do principal da dívida; II – o prazo e as condições de reposição do empréstimo ou do crédito
do fiduciário; III – a taxa de juros e os encargos incidentes; IV- a cláusula de constituição da
Propriedade Fiduciária, com a descrição do imóvel objeto da alienação fiduciária e a indicação do
título e modo de aquisição; V – a cláusula assegurando ao fiduciante, enquanto inadimplente, a
livre utilização, por sua conta e risco, do imóvel objeto da alienação fiduciária; VI – a indicação,
para efeito de venda em público leilão, do valor do imóvel e dos critérios para a respectiva
revisão; VII – a cláusula dispondo sobre os procedimentos de que trata o artigo 27”.

Forma: pode ser realizado por instrumento particular, com força de escritura pública, quando o
destinatário da operação for uma pessoa física.

Descrição do imóvel: a descrição do imóvel e a indicação do título de aquisição devem ser interpretadas
com a lei das escrituras públicas, que dispensa descrição se o imóvel for urbano.

Valor do imóvel: na compra e venda com pacto adjeto de alienação fiduciária, o valor do imóvel é
verificado como o valor da compra e venda, anterior a garantia.

Se o contrato for de mútuo deve-se aplicar por analogia o critério da garantia de hipoteca, no qual
se verifica o valor do imóvel objeto da transação.

Direitos e Obrigações

A propriedade fiduciária é utilizada, em geral, nos processos de financiamento imobiliário. Por meio
dela, o adquirente do imóvel, cede, ato contínuo, fiduciariamente, o domínio, que passa à esfera jurídica
do credor, embora contabilmente integre o patrimônio do devedor.

27
Unidade II

A propriedade está realmente no patrimônio do credor, para efeitos de direito.

Por seu turno, sendo a propriedade o direito de garantia transferido, não existe a possibilidade de
constituição de direitos sucessivos, tendo mais força executiva de seu crédito.

Direito do credor fiduciário: adquire a propriedade resolúvel, de forma restrita e limitada, visto que
no momento em que o devedor paga a dívida, o bem retorna a esse último.

A propriedade é transferida ao credor fiduciário a título de garantia.

O credor fiduciário tem a possibilidade de alienar o bem a terceiros, caso em que o adquirente se
sub-rogará nos direitos e obrigações perante o devedor, principalmente na devolução da propriedade,
se e quando paga a dívida.

Direito do devedor fiduciante: possui direito expectativo de se tornar proprietário, com natureza real
e as consequências daí resultantes.

Pode ser objeto de hipoteca a terceiros.

Consolidação da Propriedade e Procedimento

Preliminarmente, cumpre ressaltar que a propriedade poderá se consolidar ou não na pessoa do


devedor fiduciante.

No normal acontecimento dos fatos, realizado o pagamento integral do preço do bem imóvel, o credor
fiduciário entrega o termo de quitação ao devedor fiduciante. Assim, na hipótese de adimplemento normal
da obrigação garantida, deve o fiduciário, após trinta dias de pagamento integral do preço, fornecer
instrumento de quitação, o qual é o título que se presta ao cancelamento do registro da propriedade
em nome do fiduciário, que é o mesmo ato que implica a reversão do domínio para o fiduciante, sem
necessidade de novo ato de disposição. Como o efeito é meramente resolutivo, da condição já aposta
no ato inicial, não ocorre alteração patrimonial e, portanto, não existe, nesta específica hipótese, fato
gerador de tributo.

O termo de quitação pode ser por instrumento público ou particular, sob pena de multa.

O devedor fiduciante encaminhará o termo de quitação ao Cartório de Registro de Imóveis, a fim de


proceder ao registro.

Na hipótese de inadimplemento, existirá prazo de carência contratualmente estipulado para a


cobrança.

É necessário dispositivo contratual regulamentando o prazo

28
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

Artigo 26 da LSFI – “Vencida e não paga, no todo ou em parte, a dívida e constituído em


mora o fiduciante, consolidar-se-á, nos termos deste artigo, a propriedade do imóvel em
nome do fiduciário.

Na hipótese de não ser realizado o pagamento da obrigação pecuniária junto ao credor fiduciário
ocorrerá: a) intimação para purgação de mora; b) consolidação da plena propriedade em nome do
credor fiduciário; c) leilão extrajudicial e d) reintegração de posse.

Na fase da intimação o artigo 26 parágrafo 2º da Lei n. 9451/97 estabelece que as partes acordem qual
o prazo máximo carência para o credor fiduciante, após o mesmo iniciar o procedimento de cobrança.
In verbis: “O contrato definirá o prazo de carência após o qual será expedida a intimação”.

A intimação será realizada por meio do Oficial do Registro Imobiliário e se o devedor fiduciante não
for encontrado deverá ser intimado por edital.

Fase da Purgação de Mora depois de realizada a intimação o devedor fiduciante tem o prazo de
quinze dias para realizar a purgação de mora no registro de Imóveis.

Se houver o pagamento no prazo o Oficial do Registro terá o prazo de 3 dias para entregar o valor ao
credor fiduciário, ou se não pago o valor, será a propriedade consolidada na pessoa do credor fiduciário,
devendo ser recolhido o ITBI.

Depois de consolidada a propriedade na pessoa do credor fiduciário, haverá a fase do leilão


extrajudicial.

O artigo 27 da Lei n. 9.514/97 determina o prazo de 30 dias para a realização do leilão extrajudicial,
realizado por leiloeiro oficial, escolhido livremente pelo credor fiduciário.

Não há regramento para os editais, por isso pode ser utilizado o regramento do edital para intimação
do devedor fiduciante, o qual se encontra em local incerto e não sabido.

O fiduciante tem a responsabilidade pelos encargos do imóvel, a responsabilidade civil pela sua
adequada utilização e o direito de posse.

O fiduciário tem o dever de liberar o imóvel do gravame quando cumpridas as obrigações do


fiduciante, a propriedade resolúvel e o direito de posse indireta.

A posição contratual pode ser cedida tanto pelo fiduciante, quanto pelo fiduciário. No caso do
fiduciário, a cessão pode implicar a cessão da garantia, por ela estar vinculada ao crédito.

Há três ações principais para a proteção dos direitos e deveres decorrentes do contrato de alienação
fiduciária em garantia, quais sejam: o fiduciante tem ações possessórias para a garantia da utilização
efetiva e plena dos poderes dominiais, ainda em face do fiduciário proprietário e tem a ação de execução
das obrigações de fazer, mesmo com tutela específica, para haver a quitação, na hipótese de o credor
29
Unidade II

se negar a fazê-lo espontaneamente no prazo disposto. O fiduciário, para haver a posse na hipótese
de consolidação do domínio, a fim de proceder à venda ou imputação em pagamento, tem a ação de
reintegração de posse, dado o esbulho que o abuso de confiança representa.

Considerações Finais

A agilidade da economia contemporânea, entretanto, demanda cada vez mais mobilidade do crédito,
ainda mais de créditos integrantes de patrimônio de afetação, como no caso do fiduciário.

Para tanto, a Lei 9.514/97 com alterações posteriores veio a suprir a lacuna deixada pelo instituto
da hipoteca que não evoluiu no tempo, a fim de promover a retomada do bem, objeto da garantia com
maior celeridade.

É um sistema inovador e que embasa, senão todas, mas quase todas as transações imobiliárias.

Bibliografia

TERRA, Marcelo – Alienação Fiduciária de Imóvel em Garantia. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris. 1998.

www.abecip.org.br/m22_redir.asp?cod_pagina=669&cod_link

http://jus.com.br/artigos/6406/polemicas-da-nova-alienacao-fiduciaria-de-bens-
moveis#ixzz2e2deOwAF

30
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

Unidade III
MÓDULO 5

Origem da Filiação

A origem da relação jurídica paterno-filial está diretamente atrelada à família e, neste diapasão, às
relações de parentesco que a mesma tem o condão de estabelecer, até de certa forma perene e absoluta
entre os seus membros.

O estabelecimento da filiação ou relação jurídica paterno-filial foi importantíssimo instrumento de


organização do estado, bem como de aglutinação social, tendo em vista que no primeiro caso pudemos
conhecer e definir o poder estatal e quanto ao segundo, as relações sociais e, principalmente, jurídicas
puderam ser criadas, definidas e organizadas a partir do conhecimento e domínio do seu conteúdo
semântico. Estava criado e organizado o status familiae, e na sua forma fundamente mais elementar a
filiação, ou seja, a relação jurídica paterno-filial.

No Direito Antigo, antes mesmo das codificações, devido às dificuldades que se encontravam
para se estabelecer o vínculo filial pelo viés da paternidade, os povos reconheciam o estado de filho
somente atrelado à maternidade. Assim, o cerne formador e informador das relações familiares, quer do
parentesco, quer do estado de filiação, concentrava-se na maternidade.

No Código Civil brasileiro de 1916, seguindo a tradição napoleônica do Código de 1804, o traço do
parentesco patrilinear se dissolve, uma vez que o vínculo parental da filiação passou a se correlacionar
à existência do casamento dos genitores, bem como abriu em duas linhas simétricas: uma perante o pai,
outra perante a mãe.

Começamos por ver que a primeira nota básica do sistema originário do Código Civil foi a de separar
a filiação legítima da filiação ilegítima, o que repercute no estabelecimento da filiação. A presunção
pater is est acoberta os filhos havidos dentro do casamento; em relação aos filhos havidos fora do
casamento, a paternidade se estabelece somente por sentença ou reconhecimento.

O Código Civil de 1916 não podendo afastar-se do entendimento existente à sua época, acerca da
determinação da relação paterno-filial, tratou do tema identicamente aos sistemas legais existentes.
Sendo assim, tomou como fundamento do vínculo paterno-filial legítimo a existência de casamento entre
os genitores do menor e quando inexistente, havia por determinar a relação paterno-filial como ilegítima.

Seguindo este entendimento, a relação paterno-filial legítima configurava-se por meio de presunção,
qual seja a presunção pater is est.

31
Unidade III

O legislador de 1916, na ausência de elementos outros que pudessem nortear o estabelecimento


da relação paterno-filial, utilizou-se dos critérios até então existentes, quais sejam, os prazos máximo
e mínimo da gravidez e o estado civil dos genitores, numa demonstração direta de influência das
codificações alienígenas.

Decorrente das premissas estabelecidas, a relação paterno-filial foi dividida em diversas espécies,
como que as categorizando, organizando-as, ora com totais, ora com ínfimos direitos.

A determinação da filiação legítima está diretamente ligada ao instituto do casamento, como já foi
explicitado acima, ou melhor, à vinculação legal de duas pessoas de sexos opostos, por um casamento
válido, ainda que putativo, como acima foi tratado. Desta assertiva, pode-se inferir que: a um, a
existência de casamento entre os pais; a dois, a maternidade, ou seja, ter um filho nascido da mulher
que se diz sua mãe; e a três, a paternidade, ou seja, ter o filho sido concebido por obra do homem que
se diz seu pai.

Por seu turno, a filiação ilegítima é a decorrente de relações extramatrimoniais, classificando-


se, conforme da doutrina em: naturais, se descenderem de pais entre os quais não havia nenhum
impedimento matrimonial, no momento em que foram concebidos; espúrios, se oriundos da união de
homem e mulher entre os quais havia, por ocasião da concepção, impedimento matrimonial. Assim são
espúrios: a) os adulterinos, que nascem de casal impedido de casar em virtude de casamento anterior
(CC, art. 183, VI), resultando de um adultério. O filho adulterino pode resultar de duplo adultério, ou seja,
de adulterinidade bilateral, se descender de homem casado e mulher casada; ou, ainda, de adulterinidade
unilateral, se gerado por homem casado e mulher livre ou solteira, caso em que é adulterino a patre,
ou por homem livre ou solteiro e mulher casada, sendo, então, adulterino a matre; os provenientes de
progenitor separado ou divorciado não são adulterinos, mas simplesmente naturais, b) os incestuosos,
nascidos de homem e de mulher que, ante parentesco natural, civil ou afim, não podiam convolar
núpcias, à época de sua concepção.

O reconhecimento vem a ser o ato que declara a filiação ilegítima, estabelecendo, juridicamente,
o parentesco ente pai e mãe ilegítimos e seu filho. Não cria, portanto, a paternidade, pois apenas visa
a declarar um fato, do qual o direito tira consequências. É, por isso, declaratório e não constitutivo.
Esse ato declaratório, ao estabelecer a relação de parentesco entre os progenitores e a prole, origina
efeitos jurídicos. Desde o instante do reconhecimento válido, proclama-se a filiação, dela decorrendo
consequências jurídicas, já que antes do reconhecimento, na órbita do direito, não há qualquer
parentesco.

a) DECRETO-LEI Nº 3.200/41

O Decreto-lei nº 3.200/41 proibia que nas certidões extraídas do Assento de Nascimento houvesse a
categorização da relação jurídica paterno-filial.

O artigo 14 do Decreto-lei nº 3.200/41 prescrevia que: “Nas certidões de registro civil, não se
mencionará a circunstância de ser legítima, ou não a filiação, salvo o requerimento do próprio interessado
ou em virtude de determinação judicial”.
32
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

Assim, a partir da edição deste diploma legal retirou-se a pecha que a relação jurídica paterno-filial
possuía em determinados casos. Início de uma árdua caminhada, porque o preconceito ainda existia e
era alimentado pela legislação em vigor.

• DECRETO-LEI Nº 4.737/42

O Código Civil de 1916, trilhando o entendimento da taxionomia legal, permitia o reconhecimento


dos filhos naturais, entretanto no que se referia à filiação adulterina e incestuosa o reconhecimento era
vedado, conforme o artigo 358 do Código Civil.

Seguindo os rumos da doutrina liberal, foi editado em 24/09/1942 o Decreto-lei nº 4.737 que dizia:
“O filho havido pelo cônjuge fora do matrimônio pode, depois do desquite, ser reconhecido ou demandar
que se declare sua filiação”.

O cerne da questão trazida à discussão era a possibilidade de se estabelecer a relação paterno-


filial entre os filhos havidos após a dissolução da sociedade conjugal, ou seja, se esta prole poderia
ser reconhecida e, ainda, se estes filhos possuíam uma relação paterno-filial natural ou uma relação
paterno-filial adulterina. “O Decreto-lei nº 4.737/42 tem significativa importância: foi a primeira brecha
no férreo art. 358 do Código, o diploma legal pioneiro que procurou suavizar a triste situação imposta
pelo nosso direito aos chamados filhos espúrios”.

O Decreto-lei n. 4.737/42 mitigou o rigor dos artigos 358 e 363, ao autorizar o reconhecimento de
prole oriunda de pessoas desquitadas, prescrevendo no seu art. 1º que o filho havido pelo cônjuge fora
do matrimônio podia, após o desquite, ser reconhecido ou demandar que se declarasse sua correta
relação paterno-filial.

• Lei nº 883/49

O Deputado Nelson Carneiro, visando afastar os obstáculos e as questões suscitadas, em relação


à determinação do vínculo paterno-filial incestuoso ou adulterino, mormente do alcance do termo
“desquite” contido na redação do dispositivo do Decreto-lei n. 4.737/42, apresentou em 16/5/1947
Projeto de Lei acerca do tema. O Projeto de lei foi convertido na Lei 883/49, da qual ora tratamos.

Depurando-se a linguagem utilizada na redação do diploma legal, encampou-se as diversas


hipóteses de dissolução da sociedade conjugal, as quais foram alijadas do anterior diploma legal.
Assim, se houvesse a dissolução da sociedade conjugal, por qualquer um dos motivos, seria permitido a
qualquer dos cônjuges o reconhecimento do filho havido fora do matrimônio e, ao filho, a possibilidade
de investigação do seu vínculo paterno-filial.

A Lei nº 883/49 teve por escopo precípuo albergar a maior gama de hipóteses de reconhecimento da
relação filial adulterina, dentre outras disposições concernentes aos alimentos e à sucessão dos filhos.

33
Unidade III

• Lei nº 6.515/77

O direito refletindo as relações pessoais do seu tempo, mormente, a relação familiar buscava albergar,
mais uma vez, situações outras que a legislação havia ignorado. Assim, editou a Lei n. 6.515/77, com o
intuito, dentre outros, de se poder reconhecer o vínculo paterno-filial, ainda na constância da sociedade
conjugal, melhorando e dignificando a situação dos filhos havidos fora do casamento.

O art. 51 da Lei n. 6.515/77 acrescentou um parágrafo único ao art. 1º da Lei nº 883, assim
redigido: “Ainda na vigência do casamento, qualquer dos cônjuges poderá reconhecer o filho havido
fora do matrimônio, em testamento cerrado, aprovado antes ou depois do nascimento do filho, e,
nessa parte, irrevogável”.

• LEI Nº 7.250/84

Assim, a Lei n. 7.250/84, acrescentado o parágrafo 2º ao artigo 1º da Lei n. 883/49, estabeleceu mais um
caso de reconhecimento de filho adulterino, ainda durante a vigência da sociedade conjugal. Ocorre que,
tratava-se de condição sine qua non, o fato de o cônjuge estar separado de fato há mais de cinco anos.

• ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

“Em 1990, emerge o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069) que, na dianteira das
legislações mais modernas, entre outras inovações, passou a permitir que os filhos havidos fora do
casamento sejam reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo de nascimento,
por testamento, mediante escritura ou outro documento público, qualquer que seja a origem da filiação
(art. 26) e estabeleceu que ‘o reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível
e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição,
observado o segredo de justiça ‘ (art. 27)”.

• LEI Nº 8.560/92

A Lei nº 8.560/92, de 29 de dezembro de 1992, art. 3º, proibiu o reconhecimento de filho na ata
do casamento, podendo inferir que houve uma verdadeira revogação da legitimação, bem como
regulamentou o procedimento da investigação de paternidade dos filhos havidos fora do casamento.

Rompendo com a tradição de mais de dois mil anos de história, Nelson Carneiro apresentou no
Senado Federal projeto de lei em 1991. Referido projeto de lei foi convertido em lei, recebendo o
indicativo de Lei nº 8.560/92. Assim a Lei n. 8.560/92, aparentemente despretensiosa, revogou os artigos
332, 337, 347 e 357 do Código Civil de 1916.

Inaugurou-se uma nova concepção a respeito da legitimidade do parentesco, ou mais particularmente


da filiação. Assim, tendo havido radical evolução legislativa e dogmática acerca do tema, não subsistiam
motivos para a manutenção de critérios adotados para a determinação da relação paterno-filial, com
base na dicotomia parentesco legítimo e ilegítimo.

34
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

NOVO CÓDIGO CIVIL

No que se refere ao direito de filiação, especialmente a determinação da relação paterno-filial,


a legislação, até então vigente, qual seja o Código Civil de 1916 e as posteriores leis extravagantes,
valeram-se de presunções, a principal delas, a presunção pater is est.

A dificuldade em se atribuir a paternidade ou maternidade a alguém foi originada por diversas


circunstâncias, ou seja, quer por preconceitos históricos decorrentes da sociedade patriarcal e quer por
estar a sociedade alicerçada na família matrimonializada.

Assim, essas presunções tinham por finalidade fixar, ainda que de forma relativa, o momento da
concepção, de modo a definir a filiação e certificar a paternidade, como os direitos e deveres destes
decorrentes, de forma a trazer e velar pela paz familiar.

Em face destas disposições, Paulo Luiz Netto Lôbo decompôs as antigas hipóteses de presunção da
paternidade a saber: “...a) a presunção pater is est quem nuptia demonstrant, impedindo que se discuta
a origem da filiação se o marido da mãe não a negar; b) a presunção mater semper certa est, impedindo
a investigação de maternidade contra mulher casada. A maternidade manifesta-se por sinais físicos
inequívocos, que são a prenhes e o parto, malgrado a manipulação genética se tenha encarregado de pôr
dúvidas quanto à origem biológica; c) a presunção de paternidade atribuída ao que teve relações sexuais
com a mãe, no período da concepção; d) a presunção de paternidade, para os filhos concebidos 180 dias
após o início da convivência conjugal. O prazo não se conta a partir da celebração do casamento ou do
início da união estável, mas a partir do efetivo início da convivência entre cônjuges e companheiros. Na
hipótese do casamento, pode um dos cônjuges ter sido representado na celebração por procurador, pois
se encontrava ausente; e e) a presunção de paternidade, para os filhos concebidos até 300 dias após a
dissolução da sociedade conjugal, entre outros”.

O Novo Código Civil, evolutivamente, albergou três novas hipóteses de paternidade presumida,
ou seja, hipóteses estas oriundas dos avanços do biodireito, vislumbrando a influência da reprodução
assistida na conformação da família pós-moderna.

O artigo 1597 do Novo Código Civil presume concebido na constância do casamento os filhos que:
a) havidos por fecundação homóloga, mesmo que falecido o marido; b) os havidos, a qualquer tempo,
quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; c) e os
havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.

Na primeira hipótese aventada pela nova legislação, qual seja, a presunção de paternidade oriunda
da fecundação homóloga, ainda que o marido tenha falecido, compreende-se a manipulação de gametas
femininos e masculinos, da mulher e do marido, tendo por escopo a fecundação e, por conseguinte,
a reprodução da espécie humana. Assim, a manipulação desses gametas permitindo a fecundação,
substitui a concepção natural, ou seja, a fecundação originada pela cópula normal, de forma que se
abre a possibilidade de procriação aos casais portadores de deficiência para gerar ou impossibilitados
de praticarem o ato sexual, assim não importando se esta deficiência ou impossibilidade é originária de
um ou de ambos os cônjuges.
35
Unidade III

Na fecundação homóloga, para que o procedimento seja levado a efeito, dois requisitos são
necessários para a utilização do sêmen do marido, quais sejam: a um, a manifestação de vontade do
marido; e a duas, estar o marido vivo, por ser o mesmo, o exclusivo titular das partes destacadas de
seu corpo. Contudo a segunda parte do inciso guarda uma “novidade legal”, qual seja, a possibilidade
da fecundação, ser levada a efeito posteriormente, ao falecimento do marido, tratando-se de atribuição
de paternidade post mortem e, precipuamente, apartada do lapso temporal fixado no inciso do II do
mesmo artigo 1597 do Novo Código Civil.

Na hipótese aventada como “novidade legal”, a fecundação artificial homóloga poderá ocorrer
posteriormente ao prazo de 300 dias do término da capacidade civil do genitor, sem que se exclua a
presunção da paternidade do falecido. Entretanto, será necessária a prova da utilização do gameta do
marido falecido, sendo certo que esta prova deverá ser realizada por parte da entidade que se incumbiu
do armazenamento do mesmo. Igualmente, relevantíssima será a prova do seu prévio consentimento,
originando a possibilidade de gerar efeitos após a sua morte.

O princípio da autonomia dos sujeitos, como um dos fundamentos do biodireito, condiciona a


utilização do material genético do falecido ao prévio e expresso consentimento do de cujus.

A viúva não poderá exigir que a clínica de reprodução assistida lhe entregue o sêmen armazenado
para que seja nela inseminado, tendo em vista não constituir este objeto de herança. Cumpre relevar
que, a paternidade deve ser consentida de forma expressa e inequívoca, porque não perde a dimensão
da liberdade. Outrossim, a utilização não consentida do sêmen do marido pela mulher, a qualquer
momento, deve ser equiparada à situação de doador anônimo, ou seja, não terá o condão de atribuir a
presunção de paternidade.

Cumpre esclarecer que uma nova ordem jurídica decorrente do princípio constitucional da dignidade
da pessoa humana, artigo 1º. Inciso III da Constituição Federal, está sendo inserido nas relações paterno-
filiais. Assim, o afeto tem relativizado as normas quanto às relações familiares.

Por decorrência, a relação paterno-filial tem se utilizado do critério afeto para dar prevalência aos
efeitos pessoais e patrimoniais decorrentes da filiação. Dessa forma, ao lado da filiação biológica e
jurídica temos a relação paterno-filial decorrente do vínculo de afeto, ou seja, a filiação social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na relação de parentesco, dentre a multiplicidade com que esta se apresenta, bem como é tratada,
encontra-se a relação paterno-filial, sendo certo que se analisada ascencionalmente, ter-se-á a
paternidade e enquanto descencional teremos a filiação. Contudo, ambas podem se definidas como
extremos de uma mesma projeção retilínea.

A dicotomia para saber se é filho ou não teve origem no direito antigo quando se dizia que parente
(filho) era o do culto e não o de sangue. Assim, ao lado do sistema “pater is est” aqueles que tinham
culto comum eram filhos, inclusive inventaram a adoção e a legitimação para recolherem impostos.

36
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

O reconhecimento da relação paterno-filial foi fora do casamento foi sendo ampliado, na mesma
medida em que também os direitos patrimoniais destes foram mais amplamente resguardados. Assim,
partimos de um direito inexistente, relativo para um direito igualitário e absoluto.

O estado atual do direito de filiação concede efeitos pessoais e patrimoniais aos filhos biológicos,
jurídicos e sociais.

DINIZ, Maria Helena – Curso de Direito Civil Brasileiro, 5º volume, Direito de Família, 13º edição revista,
1998, Editora Saraiva, p. 322.

FRANÇA, R. Limongi – Instituições de Direito Civil, Editora Saraiva, 5ª edição, revista e atualizada, 1999,
p. 301.

37
Unidade III

MÓDULO 6

CONCEITO

Os alimentos são as prestações que têm por finalidade a satisfação das necessidades da vida daqueles
que não possuem meios de provê-las por si.

O dever alimentar funda-se na solidariedade humana e econômica que deve existir entre os membros
da família ou dos parentes.

Atualmente, o Estado é o maior interessado no cumprimento desse que deveria ser um dever moral
entre os membros de uma mesma família, isso porque a inobservância gera para o primeiro a obrigação
de suprimento.

Daí a razão por que as normas atinentes ao dever alimentar são consideradas de ordem pública,
inderrogáveis por convenção entre os particulares e impostas por meio de violenta sanção.

ESPÉCIES

- alimentos naturais ou necessários: são alimentos relativos ao estritamente indispensável à


satisfação das necessidades primárias da vida.

- alimentos civis ou côngruos: destinam-se a manter a condição social da família.

- alimentos compensatórios: têm por finalidade evitarem o desequilíbrio econômico-financeiro do


consorte dependente, impossível de ser afastado com modestas pensões mensais e que ocorrer
em caso de que os parceiros não agregam patrimônio na constância da sociedade ou porque o
regime de bens não permite.

- alimentos legais: decorre do parentesco, casamento ou união estável.

- alimentos voluntários: decorre da manifestação de vontade decorrente de ato entre vivos ou causa mortis.

- alimentos indenizatórios: possuem como causa o ato ilícito.

- alimentos definitivos: são aqueles fixados em sentença ou acordo homologado pelo Juiz.

- alimentos provisórios: exigem prova pré-constituída do parentesco, casamento ou união estável.

- alimentos atuais: são aqueles postulados a partir do ajuizamento da ação.

- alimentos futuros: alimentos devidos a partir da sentença.

- alimentos pretéritos: não são admitidos no direito brasileiro.


38
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

DEVER ALIMENTAR

Não há que se falar em obrigação alimentar entre pais e filhos menores, cônjuges e companheiros,
mas tão somente dever familiar de guarda, sustento e educação.

A obrigação alimentar decorre também da lei, mas esta alicerçada no parentesco até o segundo grau.

CARACTERÍSTICAS

A obrigação alimentar tem por características:

• Transmissibilidade: tem por compreensão que a transmissão da obrigação de prestar alimentos já


estabelecidos, mediante convenção ou decisão judicial, reconhecidos com ode efetiva obrigação
do devedor quando verificado o seu falecimento.

• Divisibilidade: a obrigação alimentar é divisível e não solidária, pois não há texto legal nesse
sentido. A exceção encontra-se no Estatuto do Idoso, no qual prevê solidariedade entre os filhos
na prestação alimentar aos genitores idosos.

• Condicionalidade: a eficácia está subordinada a uma condição resolutiva, ou seja, a existência do


binômio necessidade do alimentando e possibilidade do alimentante.

• Reciprocidade: há reciprocidade entre pais e filhos, extensivos a todos os ascendentes, recaindo a


obrigação nos mais próximos em grau, na falta dos demais.

• Mutabilidade: a variabilidade da obrigação de prestar alimentos consiste na propriedade de sofrer


alterações em seus pressupostos objetivos (necessidade e possibilidade).

O direito a alimentos tem por características:

• Personalíssimo: destinam-se à subsistência do alimentando, para assegurar a sua integridade


física como ser humano.

• Incessível: é inseparável da pessoa, não podendo o crédito a alimentos futuros ser cedido.

• Impenhorável: não é passível de penhora, devido a sua destinação ser a mantença de uma pessoa.

• Incompensável: é meio indireto de extinção da obrigação e por isso necessitaria de ser a mesma
pessoa credora e devedora.

• Imprescritível: o direito a alimentos é imprescritível, ainda que não seja exercido por longos
períodos. O que prescreve em dois anos é o direito de cobrar as pensões já fixadas.

• Intransacionável: não pode ser objeto de transação.


39
Unidade III

• Atual: exigível no presente.

• Irrepetível: uma vez recebidos, por ser norma de ordem pública, não podem ser devolvidos.

• Irrenunciável: trata-se de forma de proteção à vida, e por isso o Estado protege-o. Não cabe
renuncia a alimentos futuros.

PRESSUPOSTOS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

São pressupostos de a obrigação alimentar: a) existência de vínculo de parentesco; b) necessidade


do reclamante; c) possibilidade da pessoa obrigada; d) proporcionalidade.

O direito aos alimentos pertencer ao parente eu não tem recursos próprios e está impossibilitado de
obtê-los, por doença, idade avançada ou outro motivo.

O alimentante necessita de possuir possibilidades de fornecer alimentos.

O requisito da proporcionalidade impõe que os alimentos sejam prestados na proporção das


necessidades do alimentando.

A principal questão quanto aos alimentos diz respeito à necessidade do alimentante, e quando esta cessa.

O artigo 1566 inciso IV do Código Civil determina o dever dos pais de sustentar o filho menor,
independentemente da condição econômica do menor, ou seja, quando o filho recebeu herança ou doação.

Uma vez cessada a menoridade civil do alimentando, deverá ser requerido nos autos da ação em que
foram estipulados os alimentos, o cancelamento da prestação com instrução sumária, quando então
será apurada eventual necessidade do e o filho continuar recebendo a contribuição.

Prescreve a Súmula 358 do Superior Tribunal de Justiça: “O cancelamento de pensão alimentícia


de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos
próprios autos”.

A lei não estabelece que cessado o pagamento para um dos beneficiários os outros cabe o direito de
acréscimo, exigindo a expressa disposição em sentido contrário.

O dever de sustento pertence aos pais exclusivamente, não se estendendo aos outros ascendentes,
de acordo com o supracitado artigo.

A obrigação alimentar dos genitores é presumida, quando os filhos forem incapazes, menores,
interditados ou impossibilitados de trabalhar e receber o suficiente para sua subsistência.

A obrigação alimentar é alternativa, visto que o alimentante pode prestar a obrigação em pecúnia
ou receber o alimentando em sua casa, fornecendo-lhe o necessário para a sua subsistência.
40
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

Trata-se de obrigação cuja escolha pertence ao devedor. Contudo, o direito de escolha é relativo,
pois depende das circunstâncias. Nada há de constranger o alimentando menor a perceber alimentos na
residência do devedor, se esse agride o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.

O nascituro pode pleitear alimentos em decorrência do direito fundamental à vida inserto no artigo
5º. Caput da Constituição Federal. Trata-se de alimentos gravídicos.

Artigo 1696 Código Civil: O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo
a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns na falta de outros.

Artigo 1697 Código Civil: Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a
ordem de sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais.

Trata-se de rol taxativo, não podendo serem incluídos parentes por afinidade. Sendo assim, devem
prestar alimentos: a) pais e filhos, reciprocamente; b) na falta destes, os ascendentes, na ordem de
proximidade: c) os descendentes, na ordem da sucessão; d) os irmãos, unilaterais ou bilaterais, sem
distinção de preferência.

A paternidade socioafetiva gera obrigação alimentar, equivalente a paternidade biológica.

Os alimentos decorrentes do divórcio ou dissolução da união estável foram totalmente revistos, em


face da impossibilidade de se discutir a culpa pelo rompimento do vínculo.

Assim, a figura do chamado “cônjuge inocente” não mais subsiste e por conseguinte a aplicação da
penalidade do pagamento dos alimentos não pode ser calcada no mesmo.

Os alimentos nesse caso são fixados como decorrência do dever de solidariedade entre os membros
da família, sem qualquer possibilidade de suporte fático na culpa.

Tem-se transferido a discussão da situação “culpa” para o campo da responsabilidade civil, no qual
o cônjuge que der causa ao rompimento de forma vexatória, deverá indenizar aquele que teve a sua
honra violada.

MODOS DE PAGAMENTO

Uma das maiores, senão a maior das preocupações do alimentante está relacionada à forma de
como se efetivará a garantia do recebimento da pensão alimentícia.

O direito à pensão alimentícia e o adimplemento da obrigação podem ser realizados: a) ação de


alimentos para fixação; b) execução por quantia certa; c) penhora em vencimentos, quando há holerite;
d) desconto em folha de pagamento; e) reserva de aluguéis de prédios do alimentante; f) entrega de
parte dos rendimentos de bens comuns, quando alimentos provisórios; g) constituição de renda; h)
prisão do devedor.

41
Unidade III

De forma resumida tem-se:

• Ação de Alimentos (Lei n. 5478/68)

• Execução por Quantia Certa (artigo 732 CPC/73 ou artigo 528 parágrafo 8º./artigo 913
CPC/2015)

• Penhora em vencimentos (artigo 649, IV ou artigo 833 inciso IV CPC/2015)

• Desconto em folha (artigo 734 CPC ou artigo 529/ artigo 912 CPC/2015)

• Reserva de aluguéis, entrega mensal...

• Prisão do Devedor (artigo 733 CPC e artigo 21 Lei n. 5478/68 ou Artigo528/artigo 911 CPC/2015)

No que concerne ao pagamento sob a forma de desconto em folha, pode-se inferir que:

• Decorre do artigo 734 CPC/73 ou artigo 529 e artigo 912 do CPC/2015

• Funcionário Público, militar, diretor ou gerente de empresa, empregado sujeito a CLT

• Ofício constando nome do credor, importância da prestação e tempo duração – entrega do valor
pela empresa mediante recibo.

Na execução da obrigação alimentar são necessários os requisitos:

• ATRASO NO PAGAMENTO

• PRESCRIÇÃO (prazo prescricional de dois anos anteriores).

• COMPETÊNCIA – local da residência do alimentando.

• LEGITIMIDADE – alimentando utilizando-se das formas de suprimento da capacidade, quando


incapaz.

• VALOR DA CAUSA - calculado 12 vezes o valor atual da pensão alimentícia.

Na execução da pensão alimentícia, quando for execução por quantia certa, utiliza-se os critérios
a seguir:

• Artigo 732 CPC ou Artigo 528 parágrafo 8º. e artigo 913 do CPC/2015

• Débito superior anterior aos três últimos meses

42
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

• Fazer o cálculo – Incluir o demonstrativo

• Cópia da sentença (título executivo judicial) ou decisão liminar

• Pedido de penhora on-line em caso de não pagamento

A grande divergência, nos dias de hoje, encontra-se na possibilidade ou não de subsistência da


prisão civil por dívida alimentar.

O artigo 5º. inciso LXVII da Constituição Federal e o artigo 733 CPC/73 ou artigo 528 e artigo 911 do
CPC/2015 determinam a prisão civil do devedor de alimentos, como forma de coativa do pagamento
dos alimentos.

Contudo o Brasil foi signatário do Pacto de San Jose da Costa Rica, no qual estabeleceu a proibição
da privação da liberdade como forma coativa do pagamento de débitos. Assim, a o cerne da questão
centra-se na subsistência ou não dos dispositivos?

Prescreve a Súmula 309 STJ: “O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o
que compreende as três prestações anteriores à citação e as que vencerem no curso do processo”.

Por isso, cabe aquele que demandar separar a execução do débito alimentar em duas ações e somente
requerer a execução pelo artigo 733 do Código de Processo Civil, das três últimas parcelas vencidas.

O restante das parcelas, anteriores aos últimos três meses, deverá ser executado pelo artigo 732 do
Código de Processo Civil. Evita-se com isso a utilização da regra legal como forma de vingança privada.

43
Unidade IV

Unidade IV
MÓDULO 7

INTRODUÇÃO

O divórcio é uma das causas terminativas da sociedade conjugal, estando previsto no artigo 1571
do Código Civil.

Contudo, até o advento da Emenda Constitucional n. 66 de 14 de julho de 2010, o divórcio tinha


por finalidade precípua extinguir o vínculo conjugal e possibilitar novo casamento a cada um dos seus
membros.

Esse fato ocorria, porque havia a previsão legal da separação judicial, a qual estabelecia o final da
sociedade conjugal e deixava para o divórcio o rompimento do vínculo conjugal.

EMENDA CONSTITUCIONAL 66/2010

A Emenda Constitucional 66/2010 ou PEC do Divórcio estabeleceu uma nova redação ao parágrafo
6º. do artigo 226 da Constituição Federal.

Assim, o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio somente, retirando a possibilidade de
separação judicial.

A alteração foi proposta pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família, tendo após a sua aprovação
eficácia imediata e direta.

Por decorrência algumas situações decorrem dessa nova ordem constitucional: a uma, não existe
mais a possibilidade do ingresso da ação de separação judicial; a duas, algumas pessoas ainda possuem
o estado civil de separadas judicialmente; a três, não há que se falar em dissolução da sociedade
matrimonial.

DIVÓRCIO DIRETO

No passado, antes da extinção da ação de separação judicial, a separação cindia-se em: separação
judicial ou por mútuo consentimento.

Na hipótese de separação judicial, classificava-se em: separação sanção, separação remédio ou


separação falência.

44
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

Com o advento da Emenda Constitucional n. 66/2010 foi abolido o divórcio-conversão ou indireto,


remanescendo somente o instituto do divórcio direto, sem o requisito temporal.

O divórcio atualmente classifica-se em:

- divórcio judicial litigioso;

- divórcio judicial consensual;

- divórcio extrajudicial consensual.

Em todos estes somente é necessária a certidão de casamento atualizada (emissão com menos de 30
dias da data de distribuição da ação de divórcio ou assinatura da escritura pública).

As questões relativas a guarda, proteção dos filhos, alimentos, partilha de bens, nome de família
podem ser discutidas em separado, não prejudicando a decretação do divórcio.

Mais importante ainda, é o fato de que não se discute mais a culpa pelo fim do casamento.

No que tange aos filhos, será prevalente o melhor interesse dos menores para fixação de guarda e
visitas e os alimentos serão fixados em conformidade com o binômio necessidade e possibilidade.

A discussão sobre as questões periféricas impunha o retardo na decretação do divórcio, especialmente


quando são interpostos recursos às instâncias superiores. Por tais motivos sugere-se que sejam
distribuídas ações autônomas para as matérias.

DO PROCEDIMENTO

O artigo 40 da Lei do Divórcio determina a utilização do procedimento previsto no artigo 1120 e


segs. do Código de Processo Civil ou ainda, artigo 731 e segs. do CPC/2015.

Dessa forma, a petição além dos requisitos de ordem geral, deverá quando for o caso demonstrar:

- valor da pensão do cônjuge que necessitar para a sua subsistência;

- partilha de bens da ser homologada na sentença.

A Emenda Constitucional 66/2010 suprimiu a necessidade de comprovação da decorrência do lapso


temporal de separação de fato, bem como a produção de prova testemunhal em audiência de ratificação
de decorrência do lapso temporal.

No que se referem ao artigo 1124ª CPC/1973 ou artigo 733 CPC/2015, o divórcio consensual por
escritura pública continua em vigor.

45
Unidade IV

A sentença que homologa o divórcio consensual ou recusa a homologação do acordo é definitiva.


Cabe recurso de apelação voluntária.

O Ministério Público é legitimado a recorrer da sentença de homologação.

Se o cônjuge vir a falecer antes de transitada em julgada a sentença, o estado civil do cônjuge
sobrevivente é de viúvo, já que a ação de divórcio guarda natureza personalíssima.

A Lei n. 11441/2007 estabeleceu a possibilidade do divórcio extrajudicial, para tanto as partes devem
ser maiores e capazes; acordes quanto aos termos do divórcio e não tenha interesse de menores.

Se o divórcio direto foi requerido por só um dos cônjuges terá obrigatoriamente o trâmite do
procedimento ordinário ou de acordo com o CPC/2015 procedimento especial.

Não cabe ação reconvencional, pois não subsiste mais a questão da culpa. Por esse motivo decreta-
se o divórcio, e reserva a questão da partilha de bens para a execução da sentença, conforme preleciona
a Súmula 197 do STJ.

Em virtude da Emenda Constitucional n. 66/2010 ter extinguido o divórcio-conversão, os cassais que


se separaram judicialmente antes da sua vigência não terão escolha: caso queiram se divorciar deverão
realizar o divórcio direto, seja ele consensual ou litigioso.

Não subsiste a restrição ao número de pedidos de divórcio e mantendo-se íntegro o direito e os


deveres dos pais em relação aos filhos.

A habilitação de novo casamento requer a apresentação da certidão de casamento com registro da


sentença de divórcio.

O vínculo matrimonial é desconstituído pela sentença transitada em julgado, e o registro prevalece


para os efeitos colaterais. O oficial do registro civil exigirá prova do registro da sentença, no processo de
habilitação, para fins administrativos, ou seja, para evitar que, ao ser feito o registro do novo casamento,
ainda não conste dos livros de registro a notícia do anterior divórcio. Evita-se o crime de bigamia.

Se houver necessidade, nas hipóteses de possível ameaça à integridade física ou psíquica de um


dos cônjuges ou sua prole, a possibilidade de a parte requerer a separação de corpos e, posteriormente
ingressar com ação de divórcio litigioso.

DOS JULGADOS

Família. Separação Judicial. Superveniência da Emenda Constitucional n. 66/2010. Tribunal Julgador


TJMG. Numeração Única: 0643791-84.2010.8.13.0000

Com a Emenda Constitucional nº 66/10, para a extinção do vinculo conjugal não mais se discute
sobre separação, sanção ou falência. Portanto, considerando a norma inserta no artigo 462 do Código
46
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

de Processo Civil, para a decretação da separação, não há mais necessidade dos requisitos tempo ou
culpa, sob pena de rematada incoerência na medida em que, se para o divórcio, que extingue o vínculo
conjugal, não há qualquer requisito, com muito mais razão não se pode exigir qualquer requisito para
a separação. V.V.P. (…) (TJMG, Apelação Cível nº 1.0079.08.405935-5/001, Rel Des. Bitencourt
Marcondes, Rel p. AcórdãoFernando Botelho, 8ª Câmara Cível, public. 11/05/2011)

Inteiro Teor:

EMENTA: FAMÍLIA – SEPARAÇÃO JUDICIAL – RESTABELECIMENTO DA SOCIEDADE CONJUGAL –


SUPERVENIÊNCIA DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 66/2010 – POSSIBILIDADE – EFEITOS JURÍDICOS
ADSTRITOS SOMENTE ÀS SEPARAÇÕES JUDICIAIS REQUERIDAS POSTERIORMENTE À SUA ENTRADA EM
VIGOR – APLICAÇÃO, AO CASO CONCRETO, DO DISPOSTO NO ART.46 DA LEI 6.515/77 – PROVIMENTO DO
RECURSO. – A despeito da Emenda Constitucional nº 66/2010 ter efetivamente retirado o instituto da
separação judicial do mundo jurídico, os efeitos jurídicos daquelas separações ocorridas anteriormente à
entrada em vigor da referida Emenda subsistem. – Os efeitos jurídicos, de fato e de direito, da separação
judicial, devidamente homologados e concretizados de acordo com a legislação vigente à sua época
continuarão regidos pela decisão judicial anterior, baseada, repita-se, na Lei então em vigor.

AGRAVO DE INSTRUMENTO CÍVEL N° 1.0313.06.205550-1/001 – COMARCA DE IPATINGA –


AGRAVANTE(S): M.S.O.M.V. E OUTRO(A)(S) – RELATOR: EXMO. SR. DES. GERALDO AUGUSTO

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, sob a
Presidência do Desembargador EDUARDO ANDRADE, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade
da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO AO RECURSO.
Belo Horizonte, 01 de fevereiro de 2011.

O SR. DES. GERALDO AUGUSTO:

VOTO

Conhece-se do recurso, presentes os requisitos à sua admissibilidade.


Agrava-se da decisão que, nos autos da ação de separação judicial entre os próprios agravantes, indeferiu
o pedido de restabelecimento da união conjugal (fl.40-TJ).

Argumentam em breve resumo, os agravantes, que, após três meses da separação judicial, reataram
os laços afetivos, constituíram novamente família, permanecendo estáveis até a presente data; que
não mais pretendem permanecer separados judicialmente, requerendo, então, com fulcro no art. 46
da Lei 6.515/77, desconstituir a respeitável decisão que formalizou a separação judicial; que a Emenda
Constitucional 66/2010 não retroage para atingir fatos passados, ocorridos antes do início de sua vigência,
possuindo eficácia “ex nunc”, desde agora; que o entendimento de que não existe o restabelecimento da
sociedade conjugal viola o princípio constitucional da preservação da família e do casamento, além de
gerar grave insegurança jurídica; e, por fim, que a alteração da norma constitucional não teria o condão
47
Unidade IV

de modificar uma situação jurídica perfeitamente consolidada segundo as regras vigentes ao tempo
de sua constituição. Requer, portanto, o provimento do recurso para homologar o restabelecimento da
sociedade conjugal, expedindo-se mandado ao Cartório competente e o retorno da agravante ao nome
de casada (fls.02/08-TJ).

AC 70003044567 DIVÓRCIO CONSENSUAL. PROVA TESTEMUNHAL. Ante a afirmativa dos cônjuges


de estarem separados de fato há dois anos, desnecessária declaração ou ouvida de testemunhas, pois
não há motivo para emprestar maior credibilidade à palavra de terceiros do que à das próprias partes.
AUDIÊNCIA DE RATIFICAÇÃO. Dispensável a realização da audiência de ratificação quando nada há a ser
estipulado, seja sobre filhos, alimentos ou partilha de bens. Basta a assertiva da inicial da livre intenção
das partes para que seja chancelado o divórcio, uma vez que alegam eles a separação já perdura por
mais de dois anos. Apelo desprovido.

AI 70002300192 DIVÓRCIO CONSENSUAL. COMPARECIMENTO DA PARTE. DISPENSABILIDADE. A


ausência justificada da parte à audiência inaugural, na ação de divórcio consensual, por residir ela no
exterior, não inviabiliza o prosseguimento da demanda. Agravo provido.

Bibliografia

GONÇALVES, Carlos Roberto – Direito Civil Brasileiro. Vol. 6, ed. Saraiva, São Paulo - 2012.

PEREIRA, Rodrigo da Cunha – Divórcio: teoria e prática. Ed. Saraiva, São Paulo – 2013.

http://www.mariaberenice.com.br/pt/jurisprudencia-divorcio.dept

48
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

MÓDULO 8

INTRODUÇÃO

A Lei n. 11.441/2007 foi criada com o fim de racionalizar os procedimentos e simplificar a vida dos
cidadãos.

Assim, além do procedimento judicial o cidadão tem a possibilidade de realizar o inventário e partilha
amigável pela forma extrajudicial.

Contudo, o inventário extrajudicial necessita para a sua escritura pública que todos sejam maiores
e capazes.

O inventário deixou de ser procedimento exclusivamente judicial. A partilha podia ser efetivada
administrativamente, mas dependia de homologação judicial.

A inovação é no sentido de que se realize tanto o inventário quanto a partilha mediante escritura
pública lavrada no notário, independentemente de homologação judicial. Para tanto as partes devem
ser maiores e capazes e estarem acordes.

Se houver testamento necessário o inventário judicial, conforme estabelece o artigo 982 do Código
de Processo Civil/1973 e artigo 610 do CPC/2015. Porém a partir de decisões judiciais, a partir de 2015
passou-se a ser aceito que em havendo Testamento, desde que a abertura ocorra em Juízo e não haja
discussão acerca da sua validade, pode o Inventário com Partilha ocorrer em Cartório de Notas. Essa
segunda situação equivale a um procedimento HÍBRIDO, aceito no Estado de São Paulo.

Alteraram-se os prazos para a abertura do inventário conforme estabelece o artigo 983 do Código
de Processo Civil e artigo 611 do CPC/2015.

A Lei n. 11441/2007 atualizou a redação do artigo 1031 do CPC e artigo 659 CPC/2015, no qual
prevê que a partilha amigável celebrada pelas partes capazes, será homologada de plano pelo juiz,
mediante a prova da quitação dos tributos relativos aos bens do espólio e às suas rendas.

CARÁTER FACULTATIVO

O procedimento administrativo tem caráter facultativo, assim, a escolha, desde que possível, ficará
a cargo das partes. Muita das vezes opta-se pela via judicial por questões financeiras, uma vez que em
determinados casos o valor das despesas judiciais é menor que o valor dos emolumentos cartorários.

Nesse sentido, prevalece o entendimento que embora tenha sido criada a via administrativa, a
utilização da via judicial não ficará obstada.

As situações que justificam o interesse em promover arrolamento judicial: prévio levantamento de


dinheiro, venda de imóvel, obtenção de numerário para recolhimento de impostos e outros.
49
Unidade IV

A Resolução n. 35 do CNJ também expressa o entendimento acima.

DISPENSA DE HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL

Não há necessidade de utilização da homologação judicial do acordo de partilha. A redação do


artigo 1031 CPC e artigo 659 CPC/2015 deve ser interpretada de forma opinativa.

As partes maiores e capazes, estando concordes com a partilha, se procurarem a via administrativa,
realizarão a escritura pública no notário, sendo tal título hábil para o registro imobiliário.

A escritura pública serve:

- título para registro imobiliário

- autorizar levantamento de valores

- transferência de propriedade de veículo automotor

- providências na Junta Comercial.

- registro civil das pessoas jurídicas

- instituições financeiras

- companhias telefônicas

PARTES INTERESSADAS

As partes interessadas são: a) cônjuge sobrevivente, b) companheiro sobrevivente; c) herdeiros


legítimos; d) cessionários; e e) credores.

As partes devem estar devidamente qualificadas na escritura pública.

Pode haver cessão de direitos na escritura pública. Assim, o cessionário comparece ao inventário
judicial ou à escritura pública em substituição ao herdeiro cedente, assumindo a posição de parte.

Deve ser indicado não só o ativo, mas também o passivo pertencente ao espólio.

COMPETÊNCIA

A competência é uma medida da jurisdição, que é monopólio do Poder Judiciário – e o Tabelião não
tem poderes jurisdicionais. Por isso, podem os interessados promover a lavratura da escritura no cartório
da localidade que lhes forem mais convenientes, independentemente do domicílio do autor da herança,
da situação dos bens e de serem ali domiciliados ou não.
50
TÓPICOS ESPECIAIS EM DIREITO PRIVADO (OPTATIVA)

A competência para escrituras de inventário e partilha no Brasil dizem respeito somente aos bens
situados no território nacional.

Trata-se de regra expressa nos artigos 89 e 96 do CPC/1973, servindo não só para inventario judicial,
como administrativo.

O tabelião será responsável por eventuais desvios e atos praticados contra expressa disposição legal.
Por isso pode se negar a realizar a escritura de inventário e partilha.

A escritura pode ser realizada a qualquer tempo, mas cumpre ao tabelião fiscalizar o eventual
recolhimento de multa relativa ao imposto “causa mortis” pago extemporaneamente, conforme previsão
da legislação tributária.

A retificação da escritura pública pode ser realizada com o consentimento de todos os interessados.

Necessária a assistência de advogado para representar as partes, podendo ser único ou um advogado
para cada parte. Os dados do advogado constarão da escritura pública.

A sobrepartilha pode ser feita pela via administrativa, ainda que essa não tenha sido a via eleita
primeiramente. O contrário também é possível.

É possível o inventário negativo por via administrativa.

A escritura pública tem a mesma eficácia que o alvará judicial, impondo às instituições financeiras e
outros órgãos privados ou públicos, o respeito as diretrizes ali contidas.

Fatos Importantes

PROCEDIMENTO

• Partes maiores e capazes

• Documentos atualizados

• NÃO CABE QUANDO HÁ TESTAMENTO/ SALVO PROCEDIMENTO HÍBRIDO ACEITO NO ESTADO DE


SÃO PAULO

• Consenso quanto a partilha

• Presença do advogado

51
Unidade IV

OBJETIVOS

Celeridade

Desafogamento do Poder Judiciário

Efetividade na prestação jurisdicional

Mediação/ Conciliação

52
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000
Direito Agrário
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APRESENTAÇÃO

Caro aluno,

Seja bem-vindo ao sistema EAD.

Nesta nossa disciplina, trataremos de assuntos como: evolução do Direito Agrário; conceito de
imóvel rural; propriedade privada da terra; formação territorial; usucapião; dicotomia do Direito Agrário;
instrumentos de distribuição de terras; a reforma agrária no contexto jurídico constitucional brasileiro;
contratos agrários; e Justiça Agrária.

O objetivo principal é desenvolver conteúdos relacionados ao meio ambiente e sustentabilidade,


tendo como enfoque as medidas para a proteção do meio ambiente, considerando a exploração de
recursos naturais de forma sustentável, os mecanismos e instrumentos de ordenação e planejamento
territorial, assim como a função social da terra.

Considerando que será você quem administrará seu próprio tempo, nossa sugestão é que você
dedique ao menos sete horas por semana para esta disciplina, estudando os textos sugeridos e
realizando os exercícios de autoavaliação. Uma boa forma de fazer isso é já ir planejando o que
estudar, semana a semana.

Para facilitar seu trabalho, apresentamos na tabela abaixo os assuntos que deverão ser estudados e,
para cada assunto, a leitura fundamental exigida e a leitura complementar sugerida. No mínimo, você
deverá buscar entender bastante bem o conteúdo da leitura fundamental, só que essa compreensão
será maior se você acompanhar também a leitura complementar. Você mesmo perceberá isso, ao longo
dos estudos.

A – CONTEÚDOS (ASSUNTOS) E LEITURAS SUGERIDAS

Leituras Sugeridas
Assuntos/módulos
Fundamental Complementar
BORGES, Antonino Moura. Curso
BARROS, Wellington Pacheco. Curso completo de direito agrário. São
de direito agrário. Porto Alegre: Paulo: EDIJUR, 2007.
MÓDULO 01 Livraria do Advogado, 2007. 2 v.
1. Visão Histórica sobre o Direito FERREIRA, P. Curso de direito
BARROSO, Lucas Abreu. Direito agrário. São Paulo: Saraiva, 2001.
Agrário e sua Evolução. agrário na constituição. 2ª ed. Rio
2. Histórico do Direito Agrário no Brasil de Janeiro: Forense, 2006. LARANJEIRA, Raymundo. Direito
– Surgimento e Desenvolvimento, até agrário contemporâneo. Belo
OPITZ, Oswaldo; OPITZ, Silvia C. B. Horizonte: Del Rey, 2004.
a Situação Atual. Curso completo de direito agrário.
2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007. MARQUES, Benedito Ferreira. Direito
agrário brasileiro. São

3
MÓDULO 02 BORGES, Antonino Moura. Curso
3. Teoria Geral do Direito Agrário. BARROS, Wellington Pacheco. Curso completo de direito agrário. São
de direito agrário. Porto Alegre: Paulo: EDIJUR, 2007.
3.1. Conceitos, Autonomia, Objeto, Livraria do Advogado, 2007. 2 v.
Atividade Agrária. FERREIRA, P. Curso de direito
BARROSO, Lucas Abreu. Direito agrário. São Paulo: Saraiva, 2001.
3.2. Natureza Jurídica e agrário na constituição. 2ª ed. Rio
Importância do Direito Agrário Na LARANJEIRA, Raymundo. Direito
de Janeiro: Forense, 2006. agrário contemporâneo. Belo
Realidade Atual.
OPITZ, Oswaldo; OPITZ, Silvia C. B. Horizonte: Del Rey, 2004.
3.3. Fontes, Interpretação e Curso completo de direito agrário.
Aplicação do Direito Agrário. MARQUES, Benedito Ferreira.
2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007. Direito agrário brasileiro. São
3.4. Princípios do Direito Agrário. Paulo: Atlas, 2007.
BORGES, Antonino Moura. Curso
MÓDULO 03 completo de direito agrário. São
BARROS, Wellington Pacheco. Curso Paulo: EDIJUR, 2007.
4. Imóvel Rural: Conceito, de direito agrário. Porto Alegre:
Elementos, Critério Distintivo do MARQUES, Benedito Ferreira.
Livraria do Advogado, 2007. 2 v. Direito agrário brasileiro. São
Imóvel Urbano.
BARROSO, Lucas Abreu. Direito Paulo: Atlas, 2007.
5. Função Social da Terra e seus agrário na constituição. 2ª ed. Rio
Elementos Componentes. OLIVEIRA, Umberto Machado.
de Janeiro: Forense, 2006. Princípios de direito agrário na
6. Dimensionamento Eficaz do OPITZ, Oswaldo; OPITZ, Silvia C. B. constituição vigente. Curitiba:
Imóvel Rural: Módulo Rural, Curso completo de direito agrário. Juruá, 2004.
Módulo Fiscal e Fração Mínima de 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
Parcelamento. SODERO, Fernando Pereira. Direito
agrário e reforma agrária. 2ª ed.
Florianópolis: OAB/SC, 2006.
BORGES, Antonino Moura. Curso
completo de direito agrário. São
Paulo: EDIJUR, 2007.
BARROS, Wellington Pacheco. Curso FERREIRA, P. Curso de direito
de direito agrário. Porto Alegre: agrário. São Paulo: Saraiva, 2001.
MÓDULO 04 Livraria do Advogado, 2007. 2 v.
LARANJEIRA, Raymundo. Direito
7. Classificação dos Imóveis Rurais: BARROSO, Lucas Abreu. Direito agrário contemporâneo. Belo
Latifúndio, Minifúndio, Propriedade agrário na constituição. 2ª ed. Rio Horizonte: Del Rey, 2004.
Familiar, Pequena, Média e Grande de Janeiro: Forense, 2006.
Propriedade, Propriedade Produtiva, MARQUES, Benedito Ferreira.
Propriedade Improdutiva. OPITZ, Oswaldo; OPITZ, Silvia C. B. Direito agrário brasileiro. São
Curso completo de direito agrário. Paulo: Atlas, 2007.
2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
OLIVEIRA, Umberto Machado.
Princípios de direito agrário na
constituição vigente. Curitiba:
Juruá, 2004.
BORGES, Antonino Moura. Curso
completo de direito agrário. São
BARROS, Wellington Pacheco. Curso Paulo: EDIJUR, 2007.
de direito agrário. Porto Alegre: MARQUES, Benedito Ferreira.
MÓDULO 05 Livraria do Advogado, 2007. 2 v. Direito agrário brasileiro. São
8. Formação Territorial: Terras BARROSO, Lucas Abreu. Direito Paulo: Atlas, 2007.
Públicas e Particulares; Direito de agrário na constituição. 2ª ed. Rio
Propriedade, Limitações Atuais ao OLIVEIRA, Umberto Machado.
de Janeiro: Forense, 2006. Princípios de direito agrário na
Direito de Propriedade. Cadastro de
Imóveis Rurais. OPITZ, Oswaldo; OPITZ, Silvia C. B. constituição vigente. Curitiba:
Curso completo de direito agrário. Juruá, 2004.
2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007. SODERO, Fernando Pereira. Direito
agrário e reforma agrária. 2ª ed.
Florianópolis: OAB/SC, 2006.

4
BORGES, Antonino Moura. Curso
AGRELI, Vanusa Murta; SILVA, Bruno completo de direito agrário. São
Campos. Direito urbanístico e Paulo: EDIJUR, 2007.
ambiental. Rio de Janeiro: Lúmen
MÓDULO 06 FERREIRA, P. Curso de direito
Júris, 2008. agrário. São Paulo: Saraiva, 2001.
9. Usucapião. REIS, Jair Teixeira dos. Direito LARANJEIRA, Raymundo. Direito
9.1. Modalidades e suas Diferenças. ambiental e urbanístico. Rio de agrário contemporâneo. Belo
Janeiro: Campus, 2008.
9.2. Requisitos do Usucapião Agrário. Horizonte: Del Rey, 2004.
SILVA, José Afonso da. Direito MARQUES, Benedito Ferreira. Direito
urbanístico brasileiro. 5ª ed. São agrário brasileiro. São Paulo: Atlas, 2007.
Paulo: Malheiros, 2008.

MÓDULO 07 BORGES, Antonino Moura. Curso


completo de direito agrário. São
10. Dicotomia do Direito Agrário: BARROS, Wellington Pacheco. Curso Paulo: EDIJUR, 2007.
Reforma Agrária, Política de direito agrário. Porto Alegre:
Agrícola (Conceito, Objetivos e MARQUES, Benedito Ferreira.
Livraria do Advogado, 2007. 2 v. Direito agrário brasileiro. São
Instrumentos).
BARROSO, Lucas Abreu. Direito Paulo: Atlas, 2007.
11. Instrumentos de Distribuição agrário na constituição. 2ª ed. Rio
de Terras: Desapropriação, OLIVEIRA, Umberto Machado.
de Janeiro: Forense, 2006. Princípios de direito agrário na
Colonização, Tributação da Terra,
Aquisição. Plano Nacional de OPITZ, Oswaldo; OPITZ, Silvia C. B. constituição vigente. Curitiba:
Reforma Agrária. Curso completo de direito agrário. Juruá, 2004.
2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007. SODERO, Fernando Pereira. Direito
12. A Reforma Agrária no Contexto
Jurídico Constitucional Brasileiro. agrário e reforma agrária. 2ª ed.
Florianópolis: OAB/SC, 2006.
MÓDULO 08 BORGES, Antonino Moura. Curso
13. Contratos Agrários. completo de direito agrário. São
Paulo: EDIJUR, 2007.
13.1. Conceito e Características.
BARROS, Wellington Pacheco. Curso FERREIRA, P. Curso de direito
13.2. Modalidades. de direito agrário. Porto Alegre: agrário. São Paulo: Saraiva, 2001.
Livraria do Advogado, 2007. 2 v.
13.3. Elementos Obrigatórios nos LARANJEIRA, Raymundo. Direito
Contratos. BARROSO, Lucas Abreu. Direito agrário contemporâneo. Belo
agrário na constituição. 2ª ed. Rio Horizonte: Del Rey, 2004.
13.4. Diferenças entre de Janeiro: Forense, 2006.
Arrendamento e Parceria. MARQUES, Benedito Ferreira.
OPITZ, Oswaldo; OPITZ, Silvia C. B. Direito agrário brasileiro. São
13.5. Forma de Contratos, Prazos, Curso completo de direito agrário. Paulo: Atlas, 2007.
Valor, Prorrogação e Renovação 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
do Contrato. OLIVEIRA, Umberto Machado.
Princípios de direito agrário na
13.6. Extinção dos Contratos. constituição vigente. Curitiba:
14. Justiça Agrária. Juruá, 2004.

Nota: ver as referências bibliográficas, para maior detalhamento das fontes de consulta indicadas.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

BARROS, Wellington Pacheco. Curso de direito agrário. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. 2 v.

BARROSO, Lucas Abreu. Direito agrário na constituição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

OPITZ, Oswaldo; OPITZ, Silvia C. B. Curso completo de direito agrário. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

5
Bibliografia Complementar:

BORGES, Antonino Moura. Curso completo de direito agrário. São Paulo: EDIJUR, 2007.

FERREIRA, P. Curso de direito agrário. São Paulo: Saraiva, 2001.

LARANJEIRA, Raymundo. Direito agrário contemporâneo. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.

MARQUES, Benedito Ferreira. Direito agrário brasileiro. São Paulo: Atlas, 2007.

OLIVEIRA, Umberto Machado. Princípios de direito agrário na constituição vigente. Curitiba:


Juruá, 2004.

SODERO, Fernando Pereira. Direito agrário e reforma agrária. 2ª ed. Florianópolis: OAB/SC, 2006.

6
DIREITO AGRÁRIO

Unidade I
MÓDULO 01

1. Visão histórica sobre o Direito Agrário e sua evolução

A Declaração de Virgínia, de 12 de junho de 1776, contemporânea ao movimento de independência


dos Estados Unidos, constitui o registro inaugural dos direitos humanos na História. Seu artigo I
proclamou que “Todos os seres Humanos são, pela sua natureza, igualmente livres e independentes,
e possuem certos direitos inatos, dos quais, ao entrarem no estado da sociedade, não podem, por
nenhum tipo de pacto, privar ou despojar sua posteridade, notadamente, a fruição da vida e da
liberdade, com os meios de adquirir e possuir a propriedade de bens, bem como de procurar e obter
a felicidade e a segurança”.

O direito agrário, pois, inquestionavelmente, está ligado diretamente à atividade agrária, à


agricultura, para dizer melhor, que é a ação exercida diretamente pelo braço humano sobre a terra
a fim de que ela produza os gêneros alimentícios indispensáveis à sobrevivência mesma do homem.
Não se pode compreender direito agrário sem que a primeira figura que nos venha à mente seja a
agricultura, logo, para que se tenha um direito agrário vivo, atuante, realista, cogente e coercitivo, temos
de ter uma agricultura forte, pujante, viva, dinâmica, assistida e bem sustentada técnica, econômica e
financeiramente, do contrário haverá o fracasso, a falta de alimentos, a miséria, enfim, a fome – senhora
soberana de todas as desgraças.

Ninguém sobrevive na face da terra sem a agricultura. Ela é básica, fundamental, para a sobrevivência
humana. Nenhum rei, nenhum imperador, nenhum papa, nenhum governante, enfim, nenhum ser,
pensante ou irracional, conseguirá sobreviver na face deste globo terrestre sem uma agricultura
sustentável. E foi essa atividade, que retira da terra o sustento de todos os seres humanos, que levou
o homem a instituir o conceito de propriedade, pois onde estava o homem lavrando, aí estaria a sua
propriedade, conceito que se alargou ao longo do tempo até chegar aos nossos dias, não mais como
um produto de mero deleite pessoal, de status de grandeza entre os iguais, mas como autêntico bem de
produção, regrado, assim, pelo princípio da função social da propriedade.

Leia mais: http://jus.com.br/artigos/1666/direito-agrario-no-seculo-xvi-e-o-desenvolvimento-rural-brasileiro-atual#ixzz2epxChmSX

2. Histórico do Direito Agrário no Brasil – Surgimento e Desenvolvimento até a Situação Atual.

Não se pode negar que o Brasil é um país eminentemente agrícola, embora se vislumbre já um
grande índice de industrialização.

7
Unidade I

Hoje já não se discute a existência do direito agrário, em face das disposições legais que regulam
a propriedade territorial rural e os contratos agrários. Uso e posse do prédio rural estão regulados por
normas constantes do Estatuto da Terra e leis que o integram.

A origem do Direito Agrário Brasileiro está na primeira legislação sobre terras, a legislação das
sesmarias. Trata-se de legislação de Portugal aplicada no Brasil Colônia. A origem da legislação de
Sesmarias data de 1.375, quando, em Portugal, visava corrigir as distorções no uso das terras, forçando
os proprietários a trabalhar a terra, tendo em vista a falta de alimentos na época. Assim, as terras não
aproveitadas seriam confiscadas. A lei Régia de Dom Fernando, portanto, tentava reverter o quadro de
êxodo rural existente na época. O objetivo, como dito, era o aumento da produção, o aproveitamento
das terras pelos proprietários.

No Brasil, a utilização da mesma legislação teve um objetivo bem diferente. Visava à ocupação dos
imensos espaços vazios, sendo suporte para a colonização. Esta lei determinava a colonização, a moradia
habitual e cultura permanente, o estabelecimento de limites e a cobrança de impostos.

O Tratado de Tordesilhas (07/06/1494) é outra referência histórica importante para a formação


territorial do Brasil. Este tratado, homologado pelo Papa, dividia entre Portugal e Espanha, o direito
sobre as terras que fossem descobertas, garantindo a Portugal as terras à direita de uma linha imaginária
definida a 370 léguas das ilhas de Cabo Verde.

O território brasileiro, no processo de colonização, foi loteado e, por concessões feitas pela Coroa
Portuguesa, entregue em grandes áreas para os colonizadores, visando principalmente ao povoamento
e a defesa, sendo Martim Afonso de Souza o 1º, em 1531, recebendo área de 100 léguas de terras, ou
seja, 660 Km, medidas na costa marítima, sem limites para o interior.

A distribuição de terras, por sesmarias, vigorou no Brasil até 1822, amparado nas ordenações
Afonsinas (1.494), Manuelinas (1.512) e Filipinas (1.603) com a prática de entrega de extensas áreas a
pessoas privilegiadas e, muitas vezes, sem condições ou interesse em explorar a terra, o que deu origem
ao processo de latifundização da terra no Brasil. Ainda assim, o sistema garantiu a povoação do interior
do Brasil. Além disso, o sesmeiro tinha a obrigação de cultivar a terra, delimitá-la e pagar impostos sobre
a área possuída. Na prática, porém, isto não se confirmou. A Carta Régia, garantindo a abertura dos
portos brasileiros ao comércio exterior, em 1.808, foi fato histórico importante.

Em 1.822, com a independência, deu-se o fim da distribuição de terras por Sesmarias. Entre 1822
e 1850 (“posses”), tivemos um período de maior vazio legal referente à propriedade, uso e posse da
terra, em que se multiplicaram as posses de fato sobre áreas não pertencentes a sesmeiros, de forma
indiscriminada e desorganizada sem qualquer controle, seja de pequenas ou grandes áreas de terras. Assim
surgiram também as ocupações de sobras de sesmarias, resultando em pequenas posses, principalmente
nas proximidades dos povoados, vilas e cidades, o que, por sua vez, garantiu o abastecimento local.

Em 1850 surge a Lei de Terras (Lei 601), tendo como principais objetivos: proibir o domínio sobre
as terras devolutas, a não ser pela compra e venda; garantir títulos aos detentores de sesmarias não
confirmadas, garantir títulos aos detentores de terras por concessão feita no regime anterior; transformar
8
DIREITO AGRÁRIO

a posse mansa e pacífica anterior à lei na aquisição do domínio. O registro das terras passou a ser
efetuado no Vigário ou Registro Paroquial, tendo valor até os dias atuais como prova da posse e não
como título de domínio. A partir daí a aquisição da terra se fazia por compra e registro. Pela mesma lei
foi instituída a ação discriminatória (processo de separação de terras públicas e particulares, que existe
até os dias atuais). Qual importância da Lei de Terras naquele momento histórico brasileiro? A partir da
Lei de terras passamos a ter vários tipos de terras, a saber:

- proprietários legítimos, com seus direitos oriundos de títulos de sesmarias cedidas e confirmadas;

- possuidores com títulos de sesmarias, mas sem confirmação (por inadimplência);

- possuidores sem título hábil (posses anteriores à lei de terras);

- e terras devolutas (devolvidas).

A Constituição de 1891 transferiu o domínio das terras devolutas aos estados, permitindo a estes
legislar sobre impostos e transmissão da propriedade, porém, as terras em faixa de fronteira, na Amazônia
e no litoral continuaram sendo de domínio federal.

De 1889 a 1930 a estrutura fundiária brasileira ficou inalterada, com uma massa camponesa pobre e uma
minoria aristocrata detentora da maior parte das terras. Isto foi gerando inconformismos e, em consequência,
o surgimento de projetos de Código Rural. Porém, fato importante neste período foi o surgimento do Código
Civil, em 1.916, inclusive regulando as relações jurídicas rurais (posse, contratos agrários, etc.).

A CF de 1934, referência histórica importante, tratou da usucapião, da colonização e da proteção do


trabalhador. A CF de 1946, além da desapropriação por necessidade ou utilidade pública contemplou,
pela primeira vez, a desapropriação por interesse social. Leis específicas (Dec. Lei 3.365/41 e Lei 4.947/66)
tratam de desapropriação e de direito agrário. Porém, a lei regulando a desapropriação por interesse
social surgiu apenas em 1.962 (Lei nº 4.132). Além disso, outras leis específicas regularam a fauna,
florestas, águas, etc.

Entre 1951 e 1964 surgiram inúmeros projetos de Código Rural, de reforma agrária, etc., com inspiração,
sobretudo nos códigos rurais da Argentina e do Uruguai. Em 1962, foi criada a SUPRA (Superintendência
Nacional de Reforma Agrária). Paralelamente a isso, tivemos experiências de organização camponesa em
diversas regiões do país, o que contribuiu para a aceleração na elaboração de um conjunto de normas
reguladoras das relações atinentes à atividade agrária, inclusive atendendo a pressões internacionais. No
encontro de cúpula dos países da américa, realizado em Punta Del Este (Uruguai), o Brasil, assim, como
outros países, assumiram o compromisso de aprovar leis referentes à reforma agrária, como estratégia
para evitar a organização da esquerda no campo. É dali que surge a nossa legislação agrária.

A Emenda Constitucional Nº 10, de 9/11/64, modificou a CF de 46 no seu art. 50, para inserir a
competência da União para legislar sobre Direito Agrário. Desta forma institucionalizou o Direito Agrário
no Brasil, garantindo a sua autonomia legislativa. Em 30/11/64 foi promulgado o Estatuto da Terra (Lei
4.504 – referência do Direito Agrário Brasileiro, ficando estruturado como ramo autônomo).
9
Unidade I

O Dec. 554/69 – Regulava o procedimento de desapropriação de terras para fins de reforma agrária
(já revogado). No período histórico que se segue, período da ditadura militar, apesar da legislação,
somente se tratou de colonização no tocante à distribuição da terra.

O 1º PNRA – 1984/5 – Governo Sarney –1º Plano Nacional de Reforma Agrária, que não chegou a
ser executado.

A Constituição de 88 tratou a questão agrária no Art. 5º, incisos XXII, XXIII, XXIV e XXVI, entre outros;
apontou em seu art. 170 o conceito de justiça social, inserido no conteúdo da ordem econômica.

Ademais, a Constituição tratou nos artigos 184 a 191 – da Política Agrária, fundiária e reforma
agrária, além de um capítulo referente à questão ambiental (225).

Leis regulando o Texto Constitucional: Lei 8.171 e 8.174 (leis sobre Política Agrícola); Lei 8.257/91
(tratando do confisco de terras que tenham plantação de psicotrópicos, regulando o art. 243 da CF); Lei
8.629/93 e a LC nº 76/93 – com os seus regulamentos, acréscimos e modificações posteriores (inclusive
por medida provisória) disciplinam vasta matéria do Direito Agrário, ao mesmo tempo que o Estatuto
da Terra continua em vigor naqueles institutos não modificados pela CF/88 e legislação posterior. Além
disso, a parte específica referente ao ITR (Imposto Territorial Rural) foi modificado por lei nova (Lei nº
9.393/96) que, atualmente, regulamenta a matéria.

O Novo Código Civil (Lei nº 10.406/02) – mesmo que de aplicação subsidiária no Direito Agrário, traz
uma orientação nova, sobretudo superando a visão individualista e inserindo em seu conteúdo a função
social da propriedade e, igualmente, a função social do contrato. Além disso, o novo Código Civil repetiu
a redação da CF referente à usucapião constitucional (de 5 anos).

BIBLIOGRAFIA

Bibliografia Básica:

BARROS, Wellington Pacheco. Curso de direito agrário. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. 2 v.

BARROSO, Lucas Abreu. Direito agrário na constituição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

OPITZ, Oswaldo; OPITZ, Silvia C. B. Curso completo de direito agrário. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

Bibliografia Complementar:

BORGES, Antonino Moura. Curso completo de direito agrário. São Paulo: EDIJUR, 2007.

FALCÃO, Ismael Marinho. Direito Agrário no século XVI e o desenvolvimento rural brasileiro
atual. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 38, 1.jan.2000. Disponível em: <http://jus.com.br/
artigos/1666>. Acesso em: 15 set. 2013.
10
DIREITO AGRÁRIO

FERREIRA, P. Curso de direito agrário. São Paulo: Saraiva, 2001.

LARANJEIRA, Raymundo. Direito agrário contemporâneo. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.

MARQUES, Benedito Ferreira. Direito agrário brasileiro. São Paulo: Atlas, 2007.

OLIVEIRA, Umberto Machado. Princípios de direito agrário na constituição vigente. Curitiba: Juruá, 2004.

SODERO, Fernando Pereira. Direito agrário e reforma agrária. 2ª ed. Florianópolis: OAB/SC, 2006.

Leia mais: http://jus.com.br/artigos/1666/direito-agrario-no-seculo-xvi-e-o-desenvolvimento-rural-


brasileiro-atual#ixzz2f0AttiS3

MÓDULO 02

3. Teoria geral do Direito Agrário

Direito Agrário é o conjunto, acervo, sistemático de normas jurídicas que visam disciplinar as relações
do homem com a terra, tendo em vista o progresso social e econômico do rurícola e o enriquecimento
da comunidade.

Os fatos jurídicos que emergem do campo, decorrentes de atividade agrária, estrutura agrária,
empresa agrária, tudo o que caracteriza a relação jurídica agrária, ou seja, as relações do homem com a
terra que geram efeitos, configurando-se o objeto do direito agrário.

3.1. Conceitos, Autonomia, Objeto, Atividade Agrária

O objeto do direito agrário é toda ação humana no sentido da produção orientada, no qual há a
participação ativa da natureza, visando à conservação das fontes produtivas naturais, pois a atividade
agrária é o resultado da atuação humana sobre a natureza com participação funcional do processo
produtivo e tem três aspectos fundamentais, que são:

- Explorações rurais típicas: que compreendem a lavoura (lavoura temporária: arroz, feijão e milho
e lavoura permanente: café, cacau, laranja, etc.); o extrativismo animal e vegetal; a pecuária de
pequeno, médio e grande porte e a hortifrutigranjeira (hortaliças, ovos, etc.).

- Exploração rural atípica ou beneficiamento ou transformação dos produtos rústicos (matéria-


prima): que compreende a agroindústria, que são os processos industrializantes desenvolvidos no
limite territorial da produção (produção de farinha, beneficiamento de arroz, etc.);

- Atividade complementar da exploração agrícola, ou seja, e a atividade final do processo


produtivista: que compreende o transporte e a comercialização dos produtos. No qual se situa
no setor terciário da economia, sendo a primeira considerada como prestação de serviços e a
segunda como comercialização, atividade tipicamente mercantil (comercial).
11
Unidade I

3.2. Natureza jurídica e importância do Direito Agrário na realidade atual

O Direito Agrário é matéria de natureza híbrida, prevalecendo a característica de direito público, por
dois fundamentos: o acervo de normas cogentes (a quantidade de normas de direito público) é mais
amplo do que as de direito privado.

3.3. Fontes, interpretação e aplicação do Direito Agrário

As fontes do Direito Agrário podem ser assim classificadas e estudadas:

a) A lei – é uma expressão racional e objetiva do Direito. Portanto, é uma regra de direito que emana
de um órgão especializado, sancionada pelo poder público.

No contexto legal, as fontes do Direito Agrário são a Constituição, que estabelece diretrizes e
princípios para a matéria agrária, como ficou claro no presente trabalho. Há de se ressaltar que,
mesmo as constituições liberais, que não se preocuparam com uma ordem econômica e social,
mencionaram no seu texto institutos de Direito Agrário, sem que ainda este novo ramo do direito
tivesse conquistado a sua autonomia, como ocorreu com as constituições de 1824 e 1891 e as
subsequentes que se filiaram ao constitucionalismo social, sensível às questões econômicas e
sociais, como as de 1934, 1937, 1946, 1967, emenda de 1969, 1988.

Além dos textos constitucionais, o Estatuto da Terra, Lei nº 4.504, de 20 de novembro de 1964, e
toda legislação complementar do Estatuto.

b) Os costumes – para se falar cientificamente sobre os costumes, é mister incursionar na seara


da Sociologia. Para os sociólogos, há uma diferença entre os mores e os folkways. Esta diferença
reside na maneira pela qual a referida forma de conduta é considerada pelo povo que a pratica.
Daí porque os mores são os costumes considerados essenciais à continuidade da vida do grupo.
Enquanto os folkways são as maneiras de agir (ways) que caracterizam um povo (folks). São as
formas de conduta que um povo desenvolveu durante sua vida. São os costumes que os membros
do grupo consideram menos importantes.

c) Jurisprudência – como fonte do direito, a jurisprudência é o conjunto de soluções elaboradas


pelos juízes às questões jurídicas. Ou, na linguagem de Miguel Reale, é uma forma de revelação do
Direito que se processou através do exercício da jurisdição, em virtude de uma sucessão harmônica
de decisões dos tribunais.

d) Doutrina – é o conjunto de soluções às questões de direito, ministradas pelos jurisconsultos. A


atividade doutrinária é trabalho de jurista e jurisconsultos. Pressupõe objetividade e método, vez
que é trabalho estritamente científico.

Ora, a doutrina do Direito Agrário começou a ser valorizada na Itália, com a criação da Revista do
Direito Agrário, pelo professor Giangastone Bolla. E, com o I congresso Internacional de Direito
Agrário, em 1954, convocado por esse insigne mestre, divulgou os princípios doutrinários do novo
12
DIREITO AGRÁRIO

direito em toda a Europa. No Brasil, há todo um trabalho de doutrina, elaborado por mestres, como
Ruy Cirne Lima, Nestor Duarte, Fernando Sodero, J. Motta Maia, Raymundo Laranjeira, Octávio
Mello Alvarenga, Paulo Garcia, e, especialmente, pelo então coordenador do Curso de Mestrado
em Direito Agrário, da Faculdade de Direito da UFG, professor emérito Paulo Torminn Borges,
que guardava as devidas proporções, por ser alcunhado de Giangastone Bolla do Centro-Oeste
brasileiro, pela sua dedicação ao Direito Agrário Brasileiro, quer como professor, conferencista,
escritor e pesquisador.

3.4. Princípios do Direito Agrário

Dois princípios se sobrepõem no Direito Agrário:

a) Princípio da adequação da propriedade imobiliária ao progresso social e ao desenvolvimento


econômico.

Este princípio ensina como deve ser explorado o imóvel rural, e é usado para dirimir qualquer
conflito agrário.

A base para este princípio é que a terra não está ali para ostentar patrimônio e, sim, gerar riqueza.

b) Princípio da redistribuição das propriedades imobiliárias inadequadas e reestruturação das


tituloriedades fundiárias no país.

Este princípio possui caráter sancionatório. Se não há capacidade de se adequar


as propriedades imobiliárias, a terra será desapropriada – característica socialista.
O art. 5° da Constituição em seu inciso XXII garante o direito à propriedade, mas logo abaixo no
inciso XXIII coloca uma condição a essa garantia. A propriedade há de ser protegida, desde que
atendida à sua função social.

O que a CF expõe é que uma vez inadmitida a terra para ostentação de patrimônio, todo e
qualquer pedaço de chão deverá ter um fim específico, como gerar frutos, riqueza. A terra deve
ser trabalhada, gerando assim empregos e rendas. Aquele que não cumprir a orientação, assume
para si o risco de sofrer sanções. A sanção prevista em lei é a desapropriação agrária, que consiste
em instrumento para a Reforma Agrária, que, por sua vez, é uma tentativa de correção ao pífio
quadro latifundiário do país. “O acervo de medidas jurídicas pautadas na reforma da realidade de
terras não-utilizadas”.

Outros

- utilização da terra se sobrepõe à titulação dominical;

- propriedade condicionada à função social;

- dicotomia do direito agrário: política de reforma agrária e política de desenvolvimento rural;


13
Unidade I

- supremacia do interesse público sobre o individual;

- proteção à propriedade familiar e a pequena e média propriedade;

- conservação e preservação dos recursos naturais e do meio ambiente.

BLIOGRAFIA

Bibliografia Básica:

BARROS, Wellington Pacheco. Curso de direito agrário. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. 2 v.

BARROSO, Lucas Abreu. Direito agrário na constituição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

OPITZ, Oswaldo; OPITZ, Silvia C. B. Curso completo de direito agrário. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

Bibliografia Complementar:

BORGES, Antonino Moura. Curso completo de direito agrário. São Paulo: EDIJUR, 2007.

FERREIRA, P. Curso de direito agrário. São Paulo: Saraiva, 2001.

LARANJEIRA, Raymundo. Direito agrário contemporâneo. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.

MARQUES, Benedito Ferreira. Direito agrário brasileiro. São Paulo: Atlas, 2007.

OLIVEIRA, Umberto Machado. Princípios de direito agrário na constituição vigente. Curitiba: Juruá, 2004.

SODERO, Fernando Pereira. Direito agrário e reforma agrária. 2ª ed. Florianópolis: OAB/SC, 2006.

Silva, Jônathas Silva. O Direito Agrário, um enfoque interdisciplinar. Revista da OAB Goiás Ano
XI nº 31, In http://www.oabgo.org.br/Revistas/31/materia-2.htm

MÓDULO 03

4. Imóvel Rural: conceito, elementos, critério distintivo do imóvel urbano

Imóvel Rural

Art. 4º Para os efeitos desta lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964 (Estatuto da Terra), definem-se:

I – “Imóvel Rural”, o prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a sua localização que se
destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agroindustrial, quer através de planos públicos
de valorização, quer através de iniciativa privada;
14
DIREITO AGRÁRIO

II – “Propriedade Familiar”, o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua
família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social
e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente
trabalho com a ajuda de terceiros;

III – “Módulo Rural”, a área fixada nos termos do inciso anterior;

IV – “Minifúndio”, o imóvel rural de área e possibilidades inferiores às da propriedade familiar;

V – “Latifúndio”, o imóvel rural que:

a) exceda a dimensão máxima fixada na forma do artigo 46, § 1°, alínea b, desta Lei, tendo-se em
vista as condições ecológicas, sistemas agrícolas regionais e o fim a que se destine;

b) não excedendo o limite referido na alínea anterior, e tendo área igual ou superior à dimensão
do módulo de propriedade rural, seja mantido inexplorado em relação às possibilidades físicas,
econômicas e sociais do meio, com fins especulativos, ou seja, deficiente ou inadequadamente
explorado, de modo a vedar-lhe a inclusão no conceito de empresa rural;

VI – “Empresa Rural” é o empreendimento de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que


explore econômica e racionalmente imóvel rural, dentro de condição de rendimento econômico
(...) vetado (...) da região em que se situe e que explore área mínima agricultável do imóvel segundo
padrões fixados, pública e previamente, pelo Poder Executivo. Para esse fim, equiparam-se às áreas
cultivadas, as pastagens, as matas naturais e artificiais e as áreas ocupadas com benfeitorias;

VII – “Parceleiro”, aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em área destinada à Reforma Agrária
ou à colonização pública ou privada;

VIII – “Cooperativa Integral de Reforma Agrária (C.I.R.A.)”, toda sociedade cooperativa mista,
de natureza civil, (...) vetado (...) criada nas áreas prioritárias de Reforma Agrária, contando
temporariamente com a contribuição financeira e técnica do Poder Público, através do Instituto
Brasileiro de Reforma Agrária, com a finalidade de industrializar, beneficiar, preparar e padronizar
a produção agropecuária, bem como realizar os demais objetivos previstos na legislação vigente;

IX – “Colonização”, toda a atividade oficial ou particular, que se destine a promover o


aproveitamento econômico da terra, pela sua divisão em propriedade familiar ou através de
Cooperativas (...) vetado (...).

Parágrafo único. Não se considera latifúndio:

a) o imóvel rural, qualquer que seja a sua dimensão, cujas características recomendem, sob o
ponto de vista técnico e econômico, a exploração florestal racionalmente realizada, mediante
planejamento adequado;

15
Unidade I

b) o imóvel rural, ainda que de domínio particular, cujo objeto de preservação florestal ou de outros
recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento, pelo órgão competente da
administração pública.

Art. 5°. A dimensão da área dos módulos de propriedade rural será fixada para cada zona de
características econômicas e ecológicas homogêneas, distintamente, por tipos de exploração rural
que nela possam ocorrer.

Parágrafo único. No caso de exploração mista, o módulo será fixado pela média ponderada das
partes do imóvel destinadas a cada um dos tipos de exploração considerados.

5. Função social da terra e seus elementos componentes

Segundo o artigo 186: A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

I – aproveitamento racional e adequado;

II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Segundo o Art. 9º (lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993), a função social é cumprida


quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo graus e critérios estabelecidos nesta lei,
os seguintes requisitos:

I – aproveitamento racional e adequado;

II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

§ 1º Considera-se racional e adequado o aproveitamento que atinja os graus de utilização da terra e


de eficiência na exploração especificados nos §§ 1º a 7º do art. 6º desta lei.

§ 2º Considera-se adequada a utilização dos recursos naturais disponíveis quando a exploração se faz
respeitando a vocação natural da terra, de modo a manter o potencial produtivo da propriedade.

§ 3º Considera-se preservação do meio ambiente a manutenção das características próprias do meio


natural e da qualidade dos recursos ambientais, na medida adequada à manutenção do equilíbrio
ecológico da propriedade e da saúde e qualidade de vida das comunidades vizinhas.

16
DIREITO AGRÁRIO

§ 4º A observância das disposições que regulam as relações de trabalho implica tanto o respeito às
leis trabalhistas e aos contratos coletivos de trabalho, como às disposições que disciplinam os
contratos de arrendamento e parceria rurais.

§ 5º A exploração que favorece o bem-estar dos proprietários e trabalhadores rurais é a que objetiva o
atendimento das necessidades básicas dos que trabalham a terra, observa as normas de segurança
do trabalho e não provoca conflitos e tensões sociais no imóvel.

6. Dimensionamento eficaz do imóvel rural: módulo rural, módulo fiscal e fração mínima
de parcelamento

As dimensões de um módulo rural são definidas de região para região, conjugando a questão da
localidade (qualidade do solo, clima, etc.) mais o tipo de atividade agrária ali possível de desenvolver.

O módulo rural padrão é aquele mínimo de área necessária a uma propriedade familiar.

O módulo médio da propriedade é o módulo factível onde se desenvolva as cinco atividades agrárias
(agricultura, pecuária, etc.). Seiscentas vezes a dimensão de um módulo médio é o cálculo usado para a
medida de latifúndio por dimensão.

O módulo rural não pode ser fracionado, uma vez que sua divisão acarretaria no surgimento de
minifúndios, configurando-se em objetos de desapropriação.

Módulo Fiscal

O Módulo Fiscal nasceu apenas com a finalidade de atuar como base para cálculo do ITR, hoje ele
define as dimensões da pequena, média ou grande propriedade rural.

Segundo a lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, em seu Art. 4º, para os efeitos desta lei,
conceituam-se:

I – Imóvel Rural - o prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua localização, que se destine
ou possa se destinar à exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agroindustrial;

II – Pequena Propriedade – o imóvel rural:

a) de área compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais;

III – Média Propriedade – o imóvel rural:

a) de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais;

b) (Vetado).

17
Unidade I

Parágrafo único. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária a pequena e a
média propriedade rural, desde que o seu proprietário não possua outra propriedade rural.

Art. 5º. A desapropriação por interesse social, aplicável ao imóvel rural que não cumpra sua função
social, importa prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária.

§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.

§ 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza
a União a propor ação de desapropriação.

§ 3º Os títulos da dívida agrária, que conterão cláusula assecuratória de preservação de seu valor
real, serão resgatáveis a partir do segundo ano de sua emissão, em percentual proporcional ao
prazo, observados os seguintes critérios:

I – do segundo ao décimo quinto ano, quando emitidos para indenização de imóvel com área de
até setenta módulos fiscais (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001);

II – do segundo ao décimo oitavo ano, quando emitidos para indenização de imóvel com área
acima de setenta e até cento e cinquenta módulos fiscais e (Redação dada pela Medida
Provisória nº 2.183-56, de 2001);

III – do segundo ao vigésimo ano, quando emitidos para indenização de imóvel com área
superior a cento e cinquenta módulos fiscais (Redação dada pela Medida Provisória nº
2.183-56, de 2001).

§ 4o No caso de aquisição por compra e venda de imóveis rurais destinados à implantação de projetos
integrantes do Programa Nacional de Reforma Agrária, nos termos desta Lei e da Lei no 4.504, de
30 de novembro de 1964, e os decorrentes de acordo judicial, em audiência de conciliação, com
o objetivo de fixar a prévia e justa indenização, a ser celebrado com a União, bem como com os
entes federados, o pagamento será efetuado de forma escalonada em Títulos da Dívida Agrária –
TDA, resgatáveis em parcelas anuais, iguais e sucessivas, a partir do segundo ano de sua emissão,
observadas as seguintes condições: (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001).

I – imóveis com área de até três mil hectares, no prazo de cinco anos (Incluído pela Medida
Provisória nº 2.183-56, de 2001);

II – imóveis com área superior a três mil hectares: (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001);

a) o valor relativo aos primeiros três mil hectares, no prazo de cinco anos (Incluído pela Medida
Provisória nº 2.183-56, de 2001);

b) o valor relativo à área superior a três mil e até dez mil hectares, em dez anos (Incluído pela
Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001);
18
DIREITO AGRÁRIO

c) o valor relativo à área superior a dez mil hectares até quinze mil hectares, em quinze anos e
(Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001);

d) o valor da área que exceder quinze mil hectares, em vinte anos (Incluído pela Medida
Provisória nº 2.183-56, de 2001).

§ 5o Os prazos previstos no § 4o, quando iguais ou superiores a dez anos, poderão ser reduzidos em
cinco anos, desde que o proprietário concorde em receber o pagamento do valor das benfeitorias
úteis e necessárias integralmente em TDA (Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001).

§ 6o Aceito pelo proprietário o pagamento das benfeitorias úteis e necessárias em TDA, os prazos
de resgates dos respectivos títulos serão fixados mantendo-se a mesma proporcionalidade
estabelecida para aqueles relativos ao valor da terra e suas acessões naturais (Incluído pela Medida
Provisória nº 2.183-56, de 2001).

Art. 6º Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente,


atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo
índices fixados pelo órgão federal competente.

§ 1º O grau de utilização da terra, para efeito do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a
80% (oitenta por cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e
a área aproveitável total do imóvel.

§ 2º O grau de eficiência na exploração da terra deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento),
e será obtido de acordo com a seguinte sistemática:

I – para os produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos respectivos
índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada
Microrregião Homogênea;

II – para a exploração pecuária, divide-se o número total de Unidades Animais (UA) do rebanho,
pelo índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada
Microrregião Homogênea;

III – a soma dos resultados obtidos na forma dos incisos I e II deste artigo, dividida pela
área efetivamente utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau de eficiência
na exploração.

§ 3º Considera-se efetivamente utilizadas:

I – as áreas plantadas com produtos vegetais;

II – as áreas de pastagens nativas e plantadas, observado o índice de lotação por zona de pecuária,
fixado pelo Poder Executivo;
19
Unidade I

III – as áreas de exploração extrativa vegetal ou florestal, observados os índices de rendimento


estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea,
e a legislação ambiental;

IV – as áreas de exploração de florestas nativas, de acordo com plano de exploração e nas condições
estabelecidas pelo órgão federal competente;

V – as áreas sob processos técnicos de formação ou recuperação de pastagens ou de culturas


permanentes, tecnicamente conduzidas e devidamente comprovadas, mediante documentação e
Anotação de Responsabilidade Técnica (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001).

§ 4º No caso de consórcio ou intercalação de culturas, considera-se efetivamente utilizada a área


total do consórcio ou intercalação.

§ 5º No caso de mais de um cultivo no ano, com um ou mais produtos, no mesmo espaço, considera-
se efetivamente utilizada a maior área usada no ano considerado.

§ 6º Para os produtos que não tenham índices de rendimentos fixados, adotar-se-á a área utilizada
com esses produtos, com resultado do cálculo previsto no inciso I do § 2º deste artigo.

§ 7º Não perderá a qualificação de propriedade produtiva o imóvel que, por razões de força maior, caso
fortuito ou de renovação de pastagens tecnicamente conduzida, devidamente comprovados pelo
órgão competente, deixar de apresentar, no ano respectivo, os graus de eficiência na exploração,
exigidos para a espécie.

§ 8º São garantidos os incentivos fiscais referentes ao Imposto Territorial Rural relacionados com os
graus de utilização e de eficiência na exploração, conforme o disposto no art. 49 da Lei nº 4.504,
de 30 de novembro de 1964.

Art. 7º Não será passível de desapropriação, para fins de reforma agrária, o imóvel que comprove
estar sendo objeto de implantação de projeto técnico que atenda aos seguintes requisitos:

I – seja elaborado por profissional legalmente habilitado e identificado;

II – esteja cumprindo o cronograma físico-financeiro originalmente previsto, não admitidas


prorrogações dos prazos;

III – preveja que, no mínimo, 80% (oitenta por cento) da área total aproveitável do imóvel seja
efetivamente utilizada em, no máximo, 3 (três) anos para as culturas anuais e 5 (cinco) anos
para as culturas permanentes;

IV – haja sido aprovado pelo órgão federal competente, na forma estabelecida em regulamento,
no mínimo seis meses antes da comunicação de que tratam os §§ 2o e 3o do art. 2o (Redação
dada pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001).
20
DIREITO AGRÁRIO

Parágrafo único. Os prazos previstos no inciso III deste artigo poderão ser prorrogados em até
50% (cinquenta por cento), desde que o projeto receba, anualmente, a aprovação do órgão
competente para fiscalização e tenha sua implantação iniciada no prazo de 6 (seis) meses,
contado de sua aprovação.

Art. 8º Ter-se-á como racional e adequado o aproveitamento de imóvel rural, quando esteja
oficialmente destinado à execução de atividades de pesquisa e experimentação que objetivem o
avanço tecnológico da agricultura.

Parágrafo único. Para os fins deste artigo, só serão consideradas as propriedades que tenham
destinado às atividades de pesquisa, no mínimo, 80% (oitenta por cento) da área total aproveitável
do imóvel, sendo consubstanciadas tais atividades em projeto:

I – adotado pelo Poder Público, se pertencente a entidade de administração direta ou indireta, ou


a empresa sob seu controle;

II – aprovado pelo Poder Público, se particular o imóvel.

§ 6º (Vetado).

Art. 10. Para efeito do que dispõe esta lei, consideram-se não aproveitáveis:

I – as áreas ocupadas por construções e instalações, excetuadas aquelas destinadas a fins


produtivos, como estufas, viveiros, sementeiros, tanques de reprodução e criação de peixes e
outros semelhantes;

II – as áreas comprovadamente imprestáveis para qualquer tipo de exploração agrícola, pecuária,


florestal ou extrativa vegetal;

III – as áreas sob efetiva exploração mineral;

IV – as áreas de efetiva preservação permanente e demais áreas protegidas por legislação relativa
à conservação dos recursos naturais e à preservação do meio ambiente.

BIBLIOGRAFIA DO MÓDULO

Bibliografia Básica:

BARROS, Wellington Pacheco. Curso de direito agrário. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. 2 v.

BARROSO, Lucas Abreu. Direito agrário na constituição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

OPITZ, Oswaldo; OPITZ, Silvia C. B. Curso completo de direito agrário. 2ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2007.
21
Unidade I

Bibliografia Complementar:

BORGES, Antonino Moura. Curso completo de direito agrário. São Paulo: EDIJUR, 2007.

FERREIRA, P. Curso de direito agrário. São Paulo: Saraiva, 2001.

LARANJEIRA, Raymundo. Direito agrário contemporâneo. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.

MARQUES, Benedito Ferreira. Direito agrário brasileiro. São Paulo: Atlas, 2007.

OLIVEIRA, Umberto Machado. Princípios de direito agrário na constituição vigente. Curitiba:


Juruá, 2004.

SILVA, Jônathas Silva O Direito Agrário, um enfoque interdisciplinar. Revista da OAB Goiás Ano
XI nº 31, In http://www.oabgo.org.br/Revistas/31/materia-2.htm

SODERO, Fernando Pereira. Direito agrário e reforma agrária. 2ª ed. Florianópolis: OAB/SC, 2006.

SILVA, Flávia Martins André da. Direito Agrário e sua relação com outros ramos do Direito. In
http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1222

SILVA, Thiago Paixão. Direito Agrário sem complicações. In http://www.boletimjuridico.com.br/


doutrina/texto.asp?id=2227

MÓDULO 04

7. Classificação dos Imóveis Rurais: Latifúndio, Minifúndio, Propriedade Familiar, Pequena,


Média e Grande Propriedade, Propriedade Produtiva, Propriedade Improdutiva

Conforme estabelecido pelo legislador, no Estatuto da Terra, existiam, ao menos, até 1988, os
seguintes tipos de imóveis rurais: propriedade familiar, minifúndio, latifúndio e empresa rural.

A CF/88 passou a utilizar novas terminologias, estabelecendo novos institutos ou novas categorias
de imóveis rurais, como a pequena propriedade, a média propriedade, a grande propriedade, a
propriedade produtiva e, por via de consequência, a propriedade improdutiva. Contudo, o texto
constitucional não definiu estas novas categorias, o que ficou para a legislação complementar,
vindo depois inserido no texto da Lei nº 8.629/93. Esta nova lei não se valeu dos mesmos critérios
utilizados pelo Estatuto da Terra, sobretudo no tocante ao fiel cumprimento da função social da terra
pelas novas categorias definidas, uma vez que a definição de propriedade produtiva ficou restrita
ao aspecto econômico da função social da terra. Assim, para alguns autores não cabe mais falar
em minifúndio e em latifúndio. Contudo, os contornos dos novos institutos ainda não estão bem
definidos doutrinariamente. Estes tipos de imóveis rurais, definidos no ET e na Lei nº 8.629/93, serão
objeto de estudo específico.

22
DIREITO AGRÁRIO

Para o Estatuto da Terra, em seu Art. 4º, definem-se:

I – “Imóvel Rural”, o prédio rústico, de área contínua qualquer que seja a sua localização que se
destina à exploração extrativa agrícola, pecuária ou agro-industrial, quer através de planos
públicos de valorização, quer através de iniciativa privada;

II – “Propriedade Familiar”, o imóvel rural que, direta e pessoalmente explorado pelo agricultor e sua
família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso social
e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo de exploração, e eventualmente
trabalho com a ajuda de terceiros;

III – “Módulo Rural”, a área fixada nos termos do inciso anterior;

IV – “Minifúndio”, o imóvel rural de área e possibilidades inferiores às da propriedade familiar;

V – “Latifúndio”, o imóvel rural que:

a) exceda a dimensão máxima fixada na forma do artigo 46, § 1°, alínea b, desta Lei, tendo-se em
vista as condições ecológicas, sistemas agrícolas regionais e o fim a que se destine;

b) não excedendo o limite referido na alínea anterior, e tendo área igual ou superior à dimensão
do módulo de propriedade rural, seja mantido inexplorado em relação às possibilidades físicas,
econômicas e sociais do meio, com fins especulativos, ou seja, deficiente ou inadequadamente
explorado, de modo a vedar-lhe a inclusão no conceito de empresa rural;

VI – “Empresa Rural” é o empreendimento de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que


explore econômica e racionalmente imóvel rural, dentro de condição de rendimento econômico
(...) vetado (...) da região em que se situe e que explore área mínima agricultável do imóvel segundo
padrões fixados, pública e previamente, pelo Poder Executivo. Para esse fim, equiparam-se às áreas
cultivadas, as pastagens, as matas naturais e artificiais e as áreas ocupadas com benfeitorias;

VII – “Parceleiro”, aquele que venha a adquirir lotes ou parcelas em área destinada à Reforma Agrária
ou à colonização pública ou privada;

VIII – “Cooperativa Integral de Reforma Agrária (C.I.R.A.)”, toda sociedade cooperativa mista,
de natureza civil, (...) vetado (...) criada nas áreas prioritárias de Reforma Agrária, contando
temporariamente com a contribuição financeira e técnica do Poder Público, através do Instituto
Brasileiro de Reforma Agrária, com a finalidade de industrializar, beneficiar, preparar e padronizar
a produção agropecuária, bem como realizar os demais objetivos previstos na legislação vigente;

IX – “Colonização”, toda a atividade oficial ou particular, que se destine a promover o aproveitamento


econômico da terra, pela sua divisão em propriedade familiar ou através de Cooperativas (...)
vetado (...).

23
Unidade I

Parágrafo único. Não se considera latifúndio:

a) o imóvel rural, qualquer que seja a sua dimensão, cujas características recomendem, sob o
ponto de vista técnico e econômico, a exploração florestal racionalmente realizada, mediante
planejamento adequado;

b) o imóvel rural, ainda que de domínio particular, cujo objeto de preservação florestal ou de outros
recursos naturais haja sido reconhecido para fins de tombamento, pelo órgão competente da
administração pública.

Art. 5°. A dimensão da área dos módulos de propriedade rural será fixada para cada zona de
características econômicas e ecológicas homogêneas, distintamente, por tipos de exploração rural
que nela possam ocorrer.

Parágrafo único. No caso de exploração mista, o módulo será fixado pela média ponderada das
partes do imóvel destinadas a cada um dos tipos de exploração considerados.

Já o artigo 4º da lei (lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993), conceituam-se:

I – Imóvel Rural – o prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua localização, que
se destine ou possa se destinar à exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou
agroindustrial;

II – Pequena Propriedade – o imóvel rural:

a) de área compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais;

b) (Vetado)

c) (Vetado)

III – Média Propriedade – o imóvel rural:

a) de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais;

b) (Vetado).

BIBLIOGRAFIA DO MÓDULO

Bibliografia Básica:

BARROS, Wellington Pacheco. Curso de direito agrário. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. 2 v.

BARROSO, Lucas Abreu. Direito agrário na constituição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
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DIREITO AGRÁRIO

OPITZ, Oswaldo; OPITZ, Silvia C. B. Curso completo de direito agrário. 2ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2007.

http://www.incra.gov.br/

Bibliografia Complementar:

BORGES, Antonino Moura. Curso completo de direito agrário. São Paulo: EDIJUR, 2007.

FERREIRA, P. Curso de direito agrário. São Paulo: Saraiva, 2001.

LARANJEIRA, Raymundo. Direito agrário contemporâneo. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.

MARQUES, Benedito Ferreira. Direito agrário brasileiro. São Paulo: Atlas, 2007.

OLIVEIRA, Umberto Machado. Princípios de direito agrário na constituição vigente. Curitiba:


Juruá, 2004.

SODERO, Fernando Pereira. Direito agrário e reforma agrária. 2ª ed. Florianópolis: OAB/SC, 2006.

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Unidade II

Unidade II
MÓDULO 05

8. Formação territorial: terras públicas e particulares

Introdução: Formação Territorial

Sesmarias (1530) – carta patente dada a Martin Afonso de Souza que lhe permitia conceder
sesmarias das terras que achasse e pudessem ser aproveitadas.

“Sesmarias: extensa área de terras virgens, desaproveitadas ou incultas, que os donatários das
capitanias e, posteriormente, os governadores gerais, no período colonial do Brasil, concediam, a título
de domínio pleno. Dessas concessões e das simples posses se originam as propriedades rurais do país”.
Dicionário de Tecnologia Jurídica, Pedro Nunes, 11ª edição.

Capitanias – origem do latifúndio – sistema de exploração feudal, cabendo a seus donatários a


faculdade de conceder terras.

Princípio: grande quantidade de terras, que justificassem as intempéries do novo local a ser explorado.

Distorções: criaram-se os latifúndios, em grande parte inexplorados.

Assenhorar-se de um pedaço de terras e explorá-lo era preferível a correr a hierarquia da administração


até o governador, e depois até o rei, a fim de obter uma concessão de sesmaria.

Essa maneira de adquirir a terra se fez costume que não pode deixar de ser reconhecidos pelas legislações.

1822 – acaba o regime de sesmarias.

Lei 601/1850 – Lei das Terras, regulamentada pelo Decreto 1.318, de 1854.

De 1822 a 1850 – regime de obtenção de propriedade – posse.

Antes de 1850, a aquisição da propriedade rural se fazia pela posse com cultura efetiva e morada
habitual.

A Lei das Terras – artigo 5º – serão legitimadas as posses mansas e pacíficas, adquiridas por ocupação
primária ou havidas do primeiro ocupante, que se acharem cultivadas, ou com princípio de cultura, e
morada habitual do respectivo posseiro, ou de quem o represente.
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DIREITO AGRÁRIO

A Regra da Lei de Terras (1850), ratificada pelo Estatuto da Terra, em seu artigo 11 (legitimidade ao
INCRA para reconhecer as posses legítimas manifestadas por meio de cultura efetiva e morada habitual,
bem como para incorporar ao patrimônio público as terras devolutas federais ilegalmente ocupadas e
as que se encontrarem desocupadas).

Definição de Terras Devolutas

Definição das terras devolutas que se extrai da Lei n° 601, de 1850, “são aquelas que, incluídas no
domínio público nacional, por aquisição originária decorrente do descobrimento e da conquista, ou
em virtude da soberania, não receberam qualquer uso público federal, estadual ou municipal e não
passaram para o domínio particular por qualquer dos modos admitidos em Lei”.

8.2 Bens públicos

8.2.1 Conceito.

Bens públicos são todos aqueles pertencentes ao patrimônio da União, dos Estados, dos Municípios
e do Distrito Federal, suas autarquias e fundações públicas, sejam móveis, imóveis ou semoventes.
Segundo artigo 98 do Código Civil: “ São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às
pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a
que pertençam”.

Os bens das pessoas jurídicas de direito privado integrantes da administração pública não são bens
públicos, mas podem estar parcialmente sujeitos ao regime próprio dos bens públicos, quando estiverem
sendo utilizados na prestação de um serviço público.

8.2.2 Classificação

Quanto à titularidade:

– podem ser federais, estaduais, distritais ou municipais, conforme pertençam, respectivamente, à


União, aos estados, ao Distrito Federal ou aos municípios, ou às suas autarquias ou fundações de
direito público.

Quanto à destinação:

a) Bens de uso comum: são os destinados ao uso da coletividade como um todo. Geralmente, são
de utilização gratuita, como, por exemplo, ruas, praças, parques, estradas, mares; a exceção à
gratuidade é o pedágio cobrado nas estradas.

b) Bens de uso especial: são aqueles destinados a atividades especiais relacionadas a um serviço
ou a estabelecimentos públicos, como teatros, escolas, museus, quartéis, prédios de academia de
polícia, aeroportos, cemitérios, entre outros.

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Unidade II

c) Bens dominiais ou dominicais: não possuem destinação específica, como por exemplo, as terras
devolutas (áreas pertencentes ao Poder Público não destinadas a fins administrativos específicos).

Os bens de uso comum e os de uso especial formam o conjunto de bens do domínio público,
submetendo-se ao regime jurídico de direito público. São os chamados bens do domínio público do
Estado. Os bens dominicais compõem o chamado patrimônio disponível do Estado – este exerce os
direitos de proprietário, o que não acontece com as categorias anteriores. Submetem-se ao regime
jurídico de direito público, mas não em sua totalidade. São os classificados como bens de domínio
privado do Estado.

8.2.3 Regime jurídico

Os bens públicos (aqui considerados os de uso comum e os de uso especial) apresentam a partir de
seu conceito os seguintes elementos:

– conjunto de bens móveis e imóveis;

– a ideia de pertinência à Administração;

– a afetação ao uso coletivo ou ao uso da Administração, que representa um traço distintivo entre
os bens dessa categoria e os dominicais;

– regime jurídico de direito público.

8.2.3.1 Inalienabilidade

Em regra, os bens públicos não podem ser alienados, pois são bens fora do comércio. A alienação se
verifica quando surge o interesse público. Requisitos:

- interesse público caracterizado;

- desafetação (uso comum e especial);

- avaliação prévia;

- licitação (concorrência ou leilão, art. 17 da Lei n. 8.666/93);

- imóvel (autorização legislativa).

Afetar é atribuir a um bem público uma finalidade específica. Desafetar é retirar do bem a finalidade
que possuía.

Precisam ser desafetados os bens de uso comum e os especiais, os dominiais não precisam.

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DIREITO AGRÁRIO

A avaliação prévia do bem é necessária para evitar que o bem público seja alienado a preço fora de
mercado. A Lei nº 4.767/65 (que rege a Ação Popular) relaciona hipóteses de lesão a bens públicos, e o
baixo valor da alienação é um deles. Os bens públicos dominicais, que são exatamente os bens públicos
que não se encontram destinados a uma finalidade pública específica (afetados), podem ser objeto de
alienação, obedecidos os requisitos legais.

8.2.3.2 Impenhorabilidade

A penhora é instituto de natureza constritiva que recai sobre o patrimônio do devedor para propiciar
a satisfação do credor na hipótese de não pagamento da obrigação. O bem penhorado pode ser
compulsoriamente alienado a terceiros para que o produto da alienação satisfaça o débito do credor.

Os bens públicos não podem ser dados em garantia para o cumprimento das obrigações contraídas
pelo Poder Público. Os débitos deverão ser saldados na forma do art. 100 da Constituição Federal,
alterado pelas Emendas à Constituição, através de precatório. Precatório é o título emitido a partir do
trânsito em julgado de uma sentença que legitima os credores da Administração Pública.

É muito importante registrar que existe uma única hipótese em que deve ser feito pagamento
direto pela Fazenda, sem seguir a sistemática de precatórios: trata-se das obrigações de pequeno valor,
definidas em lei. Essa única exceção ao regime de precatórios no pagamento de dívidas das pessoas
jurídicas de direito público está no parágrafo terceiro do artigo 100 da Constituição.

8.2.3.3 Imprescritibilidade

Imprescritibilidade é a impossibilidade de os bens públicos serem adquiridos por usucapião – Súmula nº


340 do Supremo Tribunal Federal, consolidada pelos arts. 183, § 3.º, e 191, par. único, da Constituição Federal.

8.2.3.4 Não-onerabilidade

Onerar um bem é gravá-lo como garantia, para satisfação do credor no caso de inadimplemento
da obrigação. São espécies de direitos reais de garantia sobre a coisa alheia o penhor, a anticrese e a
hipoteca (CC, artigo 1225). Os bens públicos não podem ser gravados dessa forma, como garantia em
favor de terceiros.

8.2.4. Uso dos bens públicos

Quem pode estabelecer regras quanto ao uso de bens públicos é o seu titular.

8.2.5 Obrigações dos titulares

A principal obrigação dos titulares é a de conservar o bem, segundo os artigos 23, inc. I, e 144, § 8º,
ambos da Constituição Federal.

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Unidade II

8.2.6 Instrumentos para a transferência do uso

Para a transferência de uso de bens, podem ser usados os seguintes instrumentos:

- Autorização de uso: é um ato administrativo unilateral, discricionário e precário, pelo qual a


Administração, no interesse do particular, transfere o uso do bem público para terceiros por prazo
de curtíssima duração, com dispensa de licitação. Exemplos: transporte de carga inflamável pelas
ruas do município, fechamento de rua para comemorações.

- Permissão de uso: é um ato administrativo unilateral, discricionário e precário, pelo qual a


Administração, no interesse da coletividade, transfere o uso de um bem público para terceiros,
mediante licitação (quando houver mais de um interessado). Não há prazo certo e determinado.
São exemplos de permissão de uso: instalação de bancas de jornal, colocação de mesas e cadeiras
em calçadas, instalação de boxes em mercados municipais, barracas em feiras livres. A doutrina
admite a possibilidade de permissão de uso qualificada – aquela que, possuindo prazo certo e
determinado, retira o caráter de precariedade.

- Concessão de uso: é um contrato administrativo pelo qual transfere-se o uso de um bem público
para terceiros, para uma finalidade específica, mediante condições previamente estabelecidas. O
contrato possui prazo certo e determinado e a precariedade desaparece. Exemplos: instalação de
restaurante em aeroporto, lanchonete em parques. Trata-se de um ato bilateral; se a Administração
rescindir o contrato antes do término, caberá a ela indenizar.

- Concessão de direito real de uso (variante da concessão de uso): incide sobre bens públicos não-
edificados, para urbanização, edificação, industrialização.

- Cessão de uso: é um contrato administrativo, em que o uso de um bem público é transferido de um


órgão para outro, dentro da própria Administração. É ato não precário porque possui prazo certo
e determinado. Para que a cessão de uso seja efetuada; exige-se autorização legislativa.

8.2.7 Formas de aquisição de bens públicos

As formas de aquisição de bens públicos são: Desapropriação; Confisco; Doação; Dação; Compra
(precedida de licitação).

8.2.8 Bens da união (Art. 20 da Constituição Federal)

Segundo o art. 20 da Constituição Federal, são os seguintes os bens da União:

- Mar territorial: é a faixa de 12 milhas contadas do litoral onde o Estado exerce poderes de soberania
(inc. VI);

- Zona contígua: é a faixa entre 12 e 24 milhas onde o Estado exerce fiscalização;

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DIREITO AGRÁRIO

- Zona exclusiva: é a faixa de 200 milhas onde o Estado exerce direito exclusivo de exploração dos
recursos naturais;

- Plataforma continental: é o prolongamento natural das terras continentais por debaixo da água;

- Riquezas do subsolo: compõem o patrimônio da União (incs. IX e X);

- Terras ocupadas pelos índios (inc. XI; o art. 231, § 2º, permite o direito de usufruto exclusivo).

8.2.9. Bens do patrimônio nacional (art. 225, § 4º, da Constituição Federal)

Os bens do Patrimônio Nacional (art. 225, § 4.º, da CF) são:

- Floresta Amazônica;

- Serra do Mar;

- Pantanal;

- Zona Costeira;

- Mata Atlântica.

8.2.10 Bens em espécies

- Terrenos reservados; terrenos de marinha e seus acrescidos; terras tradicionalmente ocupadas


pelos índios.

-Terras devolutas; faixa de fronteira; ilhas; águas públicas; minas e jazidas.

Terras devolutas

8.3 Ação discriminatória

Cabe a União, ou a um Estado, para separar terras de seu domínio das de propriedade de particulares
(Lei 6383/76).

Aliás, nesse aspecto, refira-se que o Código Civil não poderia mesmo conhecer e incluir as “terras
devolutas” entre os bens públicos, seja porque inspirado em seus similares europeus, onde não existem
“terras devolutas”, seja porque estas somente passam a ser conhecidas depois de discriminadas,
quando, então, passam para a classe dos denominados “bens dominicais”. Curiosamente, se pode
afirmar que as “terras devolutas” somente passam a existir (ser conhecidas) pela discriminação,
porém, tão logo discriminadas, deixam de ser devolutas e passam automaticamente para a classe
dos bens dominicais do Estado. A discriminação, portanto, e por incrível que possa parecer, é ao
31
Unidade II

mesmo tempo meio de apuração e de desaparecimento das terras devolutas, por modificação de
sua respectiva qualificação.

Direito de propriedade, limitações atuais ao direito de propriedade. Cadastro de imóveis rurais

Há uma verdade inconteste que é o fato de as terras públicas poderem ter sido adquiridas por via de
concessão feita pela Lei, desde o advento da Lei n° 601, de 1850, e das que posteriormente regularam
essa matéria, como também de poderem ter sido adquiridas por usucapião, pelo menos até o advento
do Decreto n° 19.924, de 27 de abril de 1931 que, em seu artigo 1°, estabeleceu que “Compete aos
Estados regular a administração, concessão, exploração, uso e transmissão das terras devolutas, que lhes
pertencerem, excluída sempre (Cód. Civil, artigos 66 e 67) a aquisição por usucapião, e na conformidade
do presente decreto e leis federais aplicáveis”, ao depois reafirmado no Decreto n° 22.785, de 31 de maio
de 1933, que em seu artigo 1° determinou que “Os bens públicos, seja qual for a sua natureza, não são
sujeitos a usucapião”.

A partir de então começa-se um registro de propriedade perante o livro da Paróquia Católica, o


chamado “Registro do Vigário”.

A partir daí (1854), passa-se a exigir contrato para transmissão ou oneração de imóveis, sendo que
os atos intervivos exigiam escritura pública, que, obrigatoriamente, deveriam ser lavradas junto a um
Tabelião. Aqui, nasce o Cartório de Notas, caso o imóvel apresentasse valor superior a 200 mil réis.

Ainda nesse tempo, a propriedade se dava como efetivamente transmitida não somente pelo
contrato, exigindo-se a tradição para sua formalização. Enquanto o título traduzia uma relação pessoal,
a tradição exprimia um direito real.

Através da Lei 1.237, de 1864, foi criado o Registro Geral, que atrairia todos os direitos reais
imobiliários, substituindo a tradição pela transcrição, continuando o contrato antes de ela gerar
apenas obrigações. Regulamentada pelo Decreto 3.453, em 1865, até o advento do Código Civil
(Lei federal 3.071, de 1º de janeiro de 1916), que determinou a necessidade da transcrição para a
transferência de domínio ou constituição de ônus real, em todos os casos, o que prevalece até os
dias de hoje.

BIBLIOGRAFIA

Bibliografia Básica:

BARROS, Wellington Pacheco. Curso de direito agrário. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. 2 v.

BARROSO, Lucas Abreu. Direito agrário na constituição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

OPITZ, Oswaldo; OPITZ, Silvia C. B. Curso completo de direito agrário. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

32
DIREITO AGRÁRIO

Bibliografia Complementar:

BORGES, Antonino Moura. Curso completo de direito agrário. São Paulo: EDIJUR, 2007.

FALCÃO, Ismael Marinho. Direito Agrário no século XVI e o desenvolvimento rural brasileiro
atual. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 38, 1 jan.2000 . Disponível em:<http://jus.com.br/
artigos/1666>. Acesso em: 15 set. 2013.

FERREIRA, P. Curso de direito agrário. São Paulo: Saraiva, 2001.

LARANJEIRA, Raymundo. Direito agrário contemporâneo. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.

MARQUES, Benedito Ferreira. Direito agrário brasileiro. São Paulo: Atlas, 2007.

OLIVEIRA, Umberto Machado. Princípios de direito agrário na constituição vigente. Curitiba:


Juruá, 2004.

SODERO, Fernando Pereira. Direito agrário e reforma agrária. 2ª ed. Florianópolis: OAB/SC, 2006.

Leia mais: http://jus.com.br/artigos/1666/direito-agrario-no-seculo-xvi-e-o-desenvolvimento-rural-


brasileiro-atual#ixzz2f0AttiS3

MÓDULO 06

Usucapião. Modalidades e suas Diferenças. Requisitos do Usucapião Agrário

09. Usucapião

9.1 Formas de aquisição da propriedade imobiliária rural

Segundo o Código Civil, o qual traz regras para a aquisição da propriedade imóvel em geral, a forma
principal e comum de aquisição da propriedade imóvel (inclusive a rural) é através do registro, que
supõe a compra.

Além desta forma principal, a lei civil prevê a aquisição de propriedade imóvel rural pela acessão,
pelo direito hereditário, pela usucapião e pela desapropriação (art. 1.228 do novo Código Civil).

A acessão e o direito hereditário são, portanto, formas comuns de aquisição de qualquer tipo de
propriedade, conforme vem definido no Código Civil.

Porém, a usucapião, em se tratando de área rural, obedece a critérios próprios e tem entre os seus
pressupostos a existência de posse que apresenta contornos diferentes da posse civil (art. 1.196 e
seguintes do novo Código Civil).

33
Unidade II

Conceito:

Usucapião é a aquisição do domínio (ou o direito de domínio ou propriedade) resultante da posse,


nas condições definidas por lei, prolongada pelo tempo mínimo que a lei exige.

Portanto, a usucapião é a conjugação dos fatores posse e tempo. Alguns autores acrescentam que
se trata de modo originário de aquisição da propriedade.

A Constituição Federal de 1988 estabelece duas formas de usucapião: a usucapião constitucional


urbana (art. 183) e a usucapião constitucional rural (art. 191), também chamada de usucapião agrária,
trazendo pequena alteração em relação ao disposto na Lei nº 6.969/81, que regula a usucapião especial
(objeto de estudo posterior).

Art. 191 (CF). Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu,
por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta
hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-
lhe-á a propriedade.

Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

Também no novo Código Civil os prazos foram reduzidos em cinco anos em relação às
disposições anteriores.

9.2 Posse e posse agrária

A posse civil tem um caráter mais individual e estático, relacionado ao exercício de algum dos
poderes inerentes ao domínio (art. 1.196 CC). Ao proprietário, por sua vez, o Código Civil anterior
assegurava o direito de usar, gozar e dispor de seus bens, sem muita preocupação quanto ao aspecto
social, ou seja, sem o estabelecimento de critérios limitativos da utilização para o atendimento da
função social. Tratava-se de visão ultrapassada, com forte conteúdo liberal do final do século XIX,
aplicável a qualquer imóvel até o advento da legislação agrária que passou a definir regras especiais
para os imóveis rurais. Porém, agora os dispositivos do Novo Código Civil que tratam da propriedade
em geral, também exigem do proprietário o exercício do direito em consonância com as finalidades
econômicas e sociais ( art. 1.228, §1º).

A posse agrária, contudo, traz maiores exigências. Começa por exigir sujeito capaz (pessoa física
ou jurídica), que efetivamente tenha condições de desenvolver a atividade agrária, que se manifesta
sob diversas formas, principalmente a de produção, como já estudado. Assim, a simples manutenção
de uma ou algumas benfeitorias, numa forma estática, ou de atos meramente conservatórios da
coisa, não chegam a caracterizar a atividade agrária. Mais distante da caracterização da posse agrária
fica a situação fática de manter a terra inerte, baseada apenas no domínio, numa espécie de intenção
de possuir.

34
DIREITO AGRÁRIO

9.3 Posse que gera usucapião agrária

Não é qualquer posse que é capaz de gerar a usucapião agrária. Faz-se necessária a posse agrária
que, como já dito, supõe a atividade agrária, dentro da finalidade social da terra.

9.4 Usucapião civil

A usucapião civil vem disciplinada no novo Código Civil, nos artigos 1.238 a 1.244, englobando
a usucapião ordinária (que exige justo título, boa fé e prazo de 10 anos – art. 1.242) e a usucapião
extraordinária (que exige o prazo de 15 anos ou 10 anos, sendo este último com moradia habitual ou
prova da realização de serviços produtivos no imóvel, independente de justo título e boa-fé, conforme
previsto no artigo 1.238 e parágrafo único). Além disso, o novo Código Civil inseriu nova modalidade
de usucapião em relação ao código anterior (art. 1.239), repetindo redação da usucapião constitucional
(art. 191 da CF). Nos termos do disciplinamento anterior, a doutrina entendia ser possível o exercício da
posse por terceiros, o que agora é questionado a partir do disposto no novo Código Civil. Por outro lado,
para algumas situações, a lei não limita o direito à usucapião apenas a quem não possui outros imóveis e
que tenha no local da posse a sua moradia efetiva. Aqui, o que se exige é a posse incidente sobre imóveis
em geral, sobretudo urbanos.

9.5 Usucapião Agrária

Tratando-se de usucapião agrária, conforme definida no artigo 191 da Constituição Federal (redação
repetida no art. 1.239 do Código Civil), esta exige que o possuidor seja pessoa física, não titular de outra
propriedade, que desenvolva pessoal e diretamente a atividade agrária, com animus domini (possuir
como sua), em área de no máximo 50 hectares, por si e sua família, sem oposição nem interrupção e
por um prazo mínimo de 5 anos, tendo ali a sua moradia efetiva. Há autores que entendem não ser
requisito essencial a realização apenas pessoal da atividade agrária, admitindo também a atividade feita
por terceiros (contratados). O professor Targino define a posse agrária como exercício direto, contínuo,
racional e pacífico, pelo possuidor, de atividades agrárias desempenhadas sobre os bens agrários que
integram a exploração rural a que se dedique, gerando a seu favor um direito de natureza real especial,
de variadas consequências jurídicas e visando ao atendimento de suas necessidades e da humanidade”
(LIMA, A posse agrária sobre bem imóvel. S.Paulo: Saraiva, 1992).

A posse agrária gera consequências, entre as quais o direito à legitimação na posse (artigo 99
do Estatuto da Terra), o direito à regularização (Lei 6.383/76 – legitimação da posse com licença de
ocupação – art. 29 – em terra pública), direito de preferência para a aquisição da propriedade, direito
à indenização, direito à retenção do imóvel, direito à defesa da posse, e, cumprido o requisito tempo e
outras formalidades legais, o direito à usucapião.

9.6 Usucapião e suas denominações

A usucapião agrária tem sofrido várias denominações, entre as quais: usucapião constitucional
(porque prevista na CF), usucapião pro-labore (porque fundada principalmente no trabalho), usucapião
especial (conforme denominação feita na Lei 6.969/8), e a própria usucapião agrária (pelo fato de esta
35
Unidade II

expressão levar mais coerência com o verdadeiro sentido da aquisição da propriedade rural, mediante uma
atividade agrária diuturnamente exercida sobre a terra. Mesmo existindo os dispositivos constitucionais,
ainda assim, levando em conta o âmbito agrário, como conteúdo ou instituto do Direito Agrário, a
melhor denominação é de usucapião agrária.

Usucapião especial: cabe observar que a usucapião especial (lei 6.969/81), a partir do estabelecido
no artigo 191 da Constituição Federal, sofreu alterações, notadamente no tocante à área usucapível,
aumentada de 25 para 50 hectares, sendo que de resto a dita lei continua com perfeita aplicação,
menos em relação às terras públicas que não são mais usucapíveis conforme parágrafo único do art.
191 da Constituição Federal. A dúvida doutrinária fica por conta do alcance da expressão terras públicas,
entendendo alguns que as terras devolutas ainda poderiam ser objeto de usucapião mesmo após o
advento da CF/88.

9.7 A Usucapião agrária

a) Em relação ao sujeito: a lei exige que seja pessoa física, nacional ou estrangeiro. Não pode ser
proprietário, nem rural e nem urbano, além da exigência de que tenha a sua moradia no imóvel
objeto da posse e da usucapião. É da própria finalidade da usucapião agrária a destinação da terra
à pessoa que não possui imóvel como seu (priorizando o sem-terra) e que pessoalmente explore
área de posse usucapível, o que vai ao encontro da própria finalidade do Direito Agrário, visando
fixar o homem na terra e propiciando o seu desenvolvimento econômico e social.

b) Em relação à posse e ao seu tempo: a posse deverá ser pacífica (sem oposição), tratando o
possuidor a terra como se fosse sua; exploração exercida diretamente pelo possuidor e sua família,
de modo a tornar produtivo o imóvel, cuja posse deverá ter pelo menos cinco anos. É claro que
a posse, devendo ser sem oposição, não pode ser sobre a coisa já possuída por outrem. A posse
em área que já vem sendo efetivamente explorada com atividade agrária por outro possuidor,
inclusive e principalmente o proprietário, não gera a posse e, sim, o esbulho e, consequentemente
não gera direito a usucapião. A posse deve ser sem oposição pelo prazo que a lei exige para a
usucapião. Oposição supõe ato concreto de outro possuidor no sentido de refutar a posse exercida
por terceiro. No mínimo, a oposição exige ato oficial como o protesto judicial, ou, com mais
garantias, através da ação possessória. A propriedade sobre imóvel de grandes extensões e a
posse sobre área delimitada do imóvel, deixando o restante inerte, ou seja, sem exercer atos de
posse, permite ao proprietário arguir a posse em toda a extensão do imóvel quando terceiro se
apossa de área delimitada e passa nela a exercer a atividade agrária? Quanto ao animus domini
(SAVIGNY), este é definido como requisito para a usucapião definida no art. 1.238 do CC. No
entanto, em se tratando de usucapião agrária, é normal que não haja documento e o possuidor
sabe que o trato de terra pertence a terceiro. Mas a exigência é que o possuidor cuide da terra
e desenvolva a sua atividade agrária como se o imóvel fosse seu, o que significa o cuidado com
a preservação ambiental, edificação de benfeitorias e culturas permanentes, etc. O que o Direito
Agrário exige do possuidor é a atividade diuturna, dentro da destinação social da terra. Mantida a
posse nestas condições pelo prazo de cinco anos, caracteriza-se o requisito de possuir como seu.
Outra exigência é o trabalho pessoal, seu e de sua família, de forma que o Direito Agrário não
aceita que a posse a gerar usucapião seja efetuada por terceiros. Predomina o entendimento que,
36
DIREITO AGRÁRIO

para a usucapião agrária não vale a soma de tempos anteriores de posse, quando esta é adquirida
de possuidor anterior. O próprio possuidor deve cumprir o tempo exigido pela lei.

c) Em relação ao imóvel: o imóvel deverá ser de natureza privada (a CF, no Parágrafo Único do Art. 191
veda expressamente a usucapião em terras públicas), deverá ser imóvel rural, de área não superior
a 50 hectares. O critério definidor de imóvel rural é o da destinação, como já visto. Quanto à área,
ocorreu alteração em relação ao disposto na Lei 6.969/81, uma vez que esta permitia usucapir
área de até 25 hectares, o que resultava na criação de minifúndios, sobretudo em algumas regiões
do país onde o módulo mínimo é superior a esta área.

Contudo, a determinação do próprio Estatuto da Terra era mais adequada, além de mais flexível,
como se pode verificar no artigo 98 da Lei 4.504/64. Ela fala em área suficiente sem indicar quantidade
exata. Por outro lado, exigia prazo mínimo de 10 anos.

9.8. Conclusões

O Estado contemporâneo ostenta nítida preocupação com o bem-estar da coletividade, com a


satisfação de suas aspirações. Para que o Estado propicie esse bem-estar social, faz-se mister que o
Poder Público intervenha na propriedade particular com o fim de limitar alguns interesses individuais
em prol da coletividade, do interesse público. O Estado, para alcançar o fim almejado pela coletividade,
intervirá na propriedade particular, restringindo, condicionando o uso da propriedade, por intermédio
dos diversos institutos previstos no Direito (servidão administrativa, requisição, desapropriação e outros).
A intervenção do Estado na propriedade pode ser entendida como a atividade estatal que tem por
finalidade ajustar, conciliar o uso da propriedade particular com os interesses da coletividade. O Estado
na defesa do interesse público, portanto, condiciona o uso da propriedade privada.

O artigo 1128 do Código Civil não oferece uma definição de propriedade, apenas enunciando os
poderes do proprietário:

“O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de
quem quer que injustamente possua ou detenha”. Trata-se do mais completo dos direitos subjetivos, a
matriz dos direitos reais e o núcleo do direito das coisas.

Elementos constitutivos do direito de propriedade: direito de usar (servir-se da coisa e de utilizá-la


da maneira que entender mais conveniente), direito de gozar ou usufruir (perceber os frutos naturais e
civis da coisa e aproveitar economicamente os seus produtos), direito de dispor da coisa (transferi-la, de
aliená-la a outrem a qualquer título). E o último elemento: o direito de reaver a coisa, de reivindicá-la
das mãos de quem injustamente a possua ou detenha.

9.9 Fundamentos

Sabe-se que a propriedade é o direito individual que assegura a seu titular uma série de poderes cujo
conteúdo constitui objeto do direito civil; compreende os poderes de usar, gozar e dispor da coisa, de
modo absoluto, exclusivo e perpétuo.
37
Unidade II

No entanto, esses poderes não podem ser exercidos ilimitadamente, porque coexistem com direitos
alheios, de igual natureza, e porque existem interesses públicos maiores, cuja tutela incumbe ao Poder
Público exercer, ainda que em prejuízo de interesses individuais.

– são fundamentos para a intervenção do Estado na propriedade particular: a função social da


propriedade e a prevalência do interesse público.

1° Fundamento => Observância da Função Social da Propriedade

A Constituição Federal autoriza, no seu próprio texto, a intervenção do Estado na propriedade


privada. Isso porque, se de um lado o texto constitucional assegura o direito individual à
propriedade (CF, artigo 5°, XXII), por outro condiciona o uso desse direito ao atendimento da
função social (CF, artigo 5°, XXIII).

Se o direito de propriedade está condicionado ao atendimento da sua função social, segue-se que, se
não for atendida essa condição constitucional, poderá o Estado intervir para forçar o seu atendimento.

Em outro dispositivo, ao cuidar da política urbana, reza a Constituição que (CF, artigo 182, §2°):

A propriedade urbana cumpre a sua função social quando atende às exigências fundamentais de
ordenação da cidade expressas no plano diretor.

Atentem que o Plano diretor é obrigatório para cidades com mais de 20.000 habitantes, sendo
considerado o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana (§2°).

A norma se completa com o §4°, que faculta ao Poder Público Municipal, mediante lei específica para
área incluída no Plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado,
subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena de, sucessivamente:

I – parcelamento ou edificação compulsórios;

II – imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial urbano progressivo no tempo;

III – desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente
aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até 10 anos, em parcelas anuais, iguais e
sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

Quanto à propriedade rural, o artigo 186 da CF estabelece que a sua função social é cumprida quando
a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigências estabelecidos em
lei, os seguintes requisitos:

I – aproveitamento racional e adequado;

II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;


38
DIREITO AGRÁRIO

III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Não cumprindo a sua função social, o proprietário fica sujeito à desapropriação para fins de reforma
agrária, prevista no artigo 184 da CF.

BIBLIOGRAFIA

Bibliografia Básica:

BARROS, Wellington Pacheco. Curso de direito agrário. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. 2 v.

BARROSO, Lucas Abreu. Direito agrário na constituição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

OPITZ, Oswaldo; OPITZ, Silvia C. B. Curso completo de direito agrário. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

Bibliografia Complementar:

BORGES, Antonino Moura. Curso completo de direito agrário. São Paulo: EDIJUR, 2007.

FALCÃO, Ismael Marinho. Direito Agrário no século XVI e o desenvolvimento rural brasileiro
atual. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 38, 1 jan.2000 . Disponível em:<http://jus.com.br/
artigos/1666>. Acesso em: 15 set. 2013.

FERREIRA, P. Curso de direito agrário. São Paulo: Saraiva, 2001.

LARANJEIRA, Raymundo. Direito agrário contemporâneo. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.

MARQUES, Benedito Ferreira. Direito agrário brasileiro. São Paulo: Atlas, 2007.

OLIVEIRA, Umberto Machado. Princípios de direito agrário na constituição vigente. Curitiba:


Juruá, 2004.

SODERO, Fernando Pereira. Direito agrário e reforma agrária. 2ª ed. Florianópolis: OAB/SC, 2006.

Leia mais: http://jus.com.br/artigos/1666/direito-agrario-no-seculo-xvi-e-o-desenvolvimento-rural-


brasileiro-atual#ixzz2f0AttiS3

39
Unidade II

MÓDULO 7

10. Dicotomia do Direito Agrário: Reforma Agrária, Política Agrícola (Conceito,


Objetivos e Instrumentos)

O objeto principal do direito agrário é regular os direitos e obrigações concernentes aos bens imóveis
rurais para os fins de execução da reforma agrária e promoção da política agrícola.

Reforma agrária = distribuição de terras – para atender a justiça social e aumento de produtividade
(Estatuto da Terra, art. 1.º, § 1.º).

Melhor distribuição (exploração) da terra, a fim de atender a justiça social e a produtividade

Natureza pública ou privada?

O princípio apontado permite construir um sistema orgânico com normas do ET e aquelas que o
afetam, pertencentes a outros ramos do sistema jurídico nacional, sem cogitação de se tratar de regra
legal de direito privado ou público, porque todas elas formam o conjunto apontado.

Aproveitamento rural

Aproveitamento do imóvel rural – função social – produtividade – política agrícola – economia rural
– técnica agrária.

Função social

Função social e produtividade: o conjunto de normas do direito agrário visa ao bem-estar dos
proprietários da terra e dos trabalhadores que nela labutam, mantendo-se níveis satisfatórios de
produtividade (economia agrária), assegurando-se a conservação dos recursos naturais e as justas
relações de trabalho.

Política agrária

Política agrícola: conjunto de providências de amparo à propriedade da terra, que destinem a


orientar, no interesse da economia rural, as atividades agropecuárias, seja no sentido de garantir-lhes o
pleno emprego, seja no de harmonizá-las com o processo de industrialização do país.

Economia agrária

Economia rural: conjunto de informações com vistas a impedir super ou infraprodução nacional no
setor rural, dados sobre comercialização dos produtos, mostrando as tendências da oferta e da procura
que orientam a produção agrícola, com estudos de movimento dos mercados consumidores, nacionais
e estrangeiros, para a otimização da produção.

40
DIREITO AGRÁRIO

Técnica agrária

Técnica agrária: técnicas que visam a melhor forma de exploração com vistas a otimizar a produção
da terra (agronomia).

11. A Reforma Agrária no Contexto Jurídico Constitucional Brasileiro

Desapropriação: Conceito, Modalidades; Procedimento, Indenização

Desapropriação – conceito: teoricamente, pode-se dizer que desapropriação é o procedimento


através do qual o Poder Público compulsoriamente despoja alguém de uma propriedade e a adquire,
mediante indenização, fundado em interesse público. Trata-se, portanto, de um sacrifício de direito
imposto ao desapropriado.

Em relação ao Direito, a desapropriação se define como procedimento através do qual o Poder


Público, ou seus delegados, fundado em necessidade pública, utilidade pública ou interesse social,
compulsoriamente despoja alguém de um certo bem, normalmente adquirindo-o para si, em caráter
originário, mediante indenização prévia, justa e pagável em dinheiro, salvo no caso de certos imóveis
urbanos ou rurais, em que, por estarem em desacordo com a função social legalmente caracterizada para
eles, a indenização far-se-á em títulos da dívida pública, resgatáveis em parcelas anuais e sucessivas,
preservando seu valor real.

Elementos do conceito:

1. o aspecto formal, com menção a um procedimento;

2. o sujeito ativo: Poder Público ou seus delegados;

3. os pressupostos: necessidade pública, utilidade pública ou interesse social;

4. o sujeito passivo: o proprietário de um bem;

5. o objeto: a perda de um bem;

6. a reposição do patrimônio do expropriado por meio de justa indenização.

Modalidades de desapropriação

A=> COMUM, em que a indenização é prévia, justa e em dinheiro, conforme tradição de nosso
Direito. Está previsto no artigo 5º, XXIV, da Constituição como sendo o regime indenizatório
corrente, normal.

B=> DESAPROPRIAÇÃO SANCIONATÓRIA:

41
Unidade II

A Constituição de 1988 prevê três modalidades de desapropriação com caráter sancionatória:

1) Desapropriação por descumprimento da função social da propriedade urbana está disciplinada pela Lei
nº 10.257, de 10-07-2001 (Estatuto da Cidade), que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição
Federal e estabelece diretrizes gerais da política urbana. Nessa lei, a desapropriação é prevista como um
dos institutos jurídicos que constituem instrumento da política urbana (artigo 4º, V, a). O artigo 8º trata
da desapropriação com pagamento em títulos, regulamentando a modalidade prevista no artigo 182,
parágrafo quarto, da Constituição. Pela interpretação conjunta do dispositivo constitucional e dos artigos
5º e 8º do Estatuto da Cidade, podem ser apontadas as seguintes exigências para essa modalidade:

A – é de competência exclusiva dos Municípios;

B – depende da existência de um plano diretor que defina as exigências fundamentais de


ordenação da cidade (artigo 182, parágrafo 1º e 2º, da Constituição); em consonância com o
artigo primeiro, o plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, somente é obrigatório para
cidades com mais de vinte mil habitantes, constituindo-se em instrumento básico na política
de desenvolvimento e da expansão urbana; Artigo 41 do Estatuto;

C – tem de ser precedida de lei municipal específica para área incluída no plano diretor,
determinando o parcelamento, e edificação ou a utilização compulsórios do solo urbano
não edificado, subutilizado ou não utilizado, devendo fixar as condições e os prazos para
implementação da referida obrigação, artigo 5º;

D – o imóvel deve ser subutilizado, ou seja, com aproveitamento inferior ao mínimo definido no
plano diretor ou em legislação de decorrente, artigo 5, parágrafo primeiro;

E – o proprietário deve ser notificado para o cumprimento da obrigação, devendo a notificação ser
averbada no cartório de registro de imóveis (parágrafo 2º); recebida a notificação, o proprietário
tem o prazo mínimo de um ano para protocolar o projeto no órgão municipal competente e
dois anos, a partir da aprovação do projeto, para iniciar as obras do empreendimento;

F – desatendidos a notificação e os prazos estabelecidos, o Município aplicará o IPTU progressivo


no tempo, mediante majoração da alíquota pelo prazo de cinco anos consecutivos – artigo 7º;

G – só após decorrido cinco anos de aplicação do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha
cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização é que o Município poderá
desapropriar com pagamento em títulos da dívida pública, artigo 8º, parágrafo primeiro, aprovados
pelo Senado e resgatáveis em até dez anos (artigo 182, parágrafo quarto, terceiro, da Constituição).

Essa desapropriação é somente aplicável em municípios que:

1 – tenham plano diretor;

2 – lei específica determinando o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios;


42
DIREITO AGRÁRIO

3 – notificação;

4 – IPTU progressivo; sem contar a aprovação do plano diretor e da lei específica, os demais prazos
previstos no Estatuto da Cidade estão a indicar que o decreto de desapropriação não poderá ser
expedido antes do transcurso de aproximadamente oito anos.

Processo de desapropriação segue o Decreto-lei nº 3.365/41.

Desapropriação por descumprimento de função social da propriedade rural

É tratada na Lei Complementar nº 76, de 6-7-93, alterada pela Lei Complementar nº 88, de 23-12-
96, apresentando as seguintes peculiaridades:

1 – é de competência exclusiva da União.

2 – o imóvel deve estar descumprindo a sua função social, ou seja, deve estar sendo utilizado com a
inobservância dos seguintes previstos no artigo 186 da Constituição:

I – aproveitamento racional e adequado;

II – utilização adequado dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores;

3 – não pode incidir sobre a pequena e média propriedade rural, desde que seu proprietário não
possua outra, e sobre propriedade produtiva (artigo 185);

4 – o pagamento é feito em títulos da dívida agrária, resgatáveis em até 20 anos, sendo, no entanto,
as benfeitorias úteis e necessárias pagáveis em dinheiro (parágrafo primeiro do artigo 184 da
Constituição Federal, regulamentado pelo artigo 5º da Lei nº 8.629, de 25-2-93).O processo de
desapropriação também obedece às normas específicas contidas na Lei Complementar nº 76/93
com alterações posteriores.

C=> Quanto à desapropriação de glebas de terra em que sejam cultivadas plantas psicotrópicas,
prevista no artigo 243 da Constituição e disciplinada pela Lei nº 8.257, de 26-11-91, pode-se
dizer que se equipara ao confisco, por não assegurar ao expropriado o direito à indenização. Não
é qualquer cultura de plantas psicotrópicas que dá margem a esse tipo de desapropriação, mas
apenas aquela que seja ilícita, por não estar autorizada pelo Poder Público e estar incluída em
rol elencado pelo Ministério da Saúde. O processo de desapropriação, no caso, segue as regras
específicas constantes da Lei nº 8.257, com aplicação subsidiária do Código de Processo Civil.

43
Unidade II

Procedimento

A desapropriação desenvolve-se por meio de uma sucessão de atos definidos em lei e que culminam
com a incorporação do bem ao patrimônio público. Esse procedimento compreende duas fases: a
declaratória e a executória, abrangendo, esta última, uma fase administrativa e uma judicial.

1ª fase: na fase de declaratória, o Poder Público declara a utilidade pública ou o interesse social
do bem para fins de desapropriação. A declaração expropriatória pode ser feita pelo Poder Executivo,
por meio de decreto, ou pelo Legislativo, por meio de lei (artigos 6º e 8º do Decreto-lei nº 3.365/41).
Cabendo, neste último caso, ao Executivo tomar as medidas necessárias à efetivação da desapropriação.
A autorização legislativa é obrigatória quando a desapropriação recai sobre bens públicos. Além disso,
depende de autorização do Presidente da República a desapropriação, pelos Estados, Distrito Federal,
Territórios e Municípios, de ações, cotas e direitos, representativos do capital de instituições e empresas
cujo funcionamento dependa de autorização do Governo Federal e se subordine à sua fiscalização.

O ato declaratório, seja lei ou decreto, deve indicar o sujeito passivo da desapropriação, descrição do
bem, a declaração de utilidade pública ou interesse social, a destinação específica a ser dada ao bem, o
fundamento legal e os recursos orçamentários destinados ao atendimento da despesa. A declaração de
utilidade pública já produz alguns efeitos:

A – submete o bem à força expropriatória do Estado, ou seja decisão executória;

B – fixa o estado do bem, isto é, suas condições, melhoramentos, benfeitorias existentes; uma vez
que o estado em que se encontra nesse momento o bem será levado em consideração para efeito
de cálculo de indenização, dentre as benfeitorias feitas depois dessa declaração serão indenizadas
as necessárias e, desde que autorizadas pelo Poder Público, as benfeitorias úteis; as voluptuárias
feitas após a declaração não serão indenizadas. As benfeitorias existentes no imóvel antes da
declaração serão todas indenizadas, uma vez que a indenização deve recompor integralmente o
patrimônio do expropriado. Quanto às construções, verificar súmula 23 do STF.

C – confere ao Poder Público o direito de penetrar no bem a fim de fazer verificações e medições,
desde que as autoridades administrativas atuem com moderação e sem excesso de poder;
não se confunde com a posse, se o proprietário não concordar deverá ser requerido uma
autorização judicial;

D – dá início ao prazo de caducidade da declaração; o prazo será de cinco anos, segundo o artigo 10
do Decreto-lei nº 3.365/41, contados da data da expedição do respectivo decreto e findos os quais
este caducará. No entanto, o prazo de caducidade aí previsto não é fatal, uma vez que, na parte
final, o mesmo dispositivo determina que decorrido um ano, poderá este imóvel ser objeto de
nova declaração. No caso de desapropriação por interesse social regida pela Lei 4.132/62, o prazo
de caducidade se reduz a dois anos a partir da decretação da medida; e essa caducidade refere-
se não apenas à efetivação da desapropriação, mas também às providências de aproveitamento
do bem expropriado, aqui difere do Decreto-lei nº 3.365/41, que nenhum prazo estabelece para a
utilização do bem expropriado. Além disso, o dispositivo não prevê um período de carência para a
44
DIREITO AGRÁRIO

renovação da declaração. De acordo com decisão do STF, ocorre, no caso, a caducidade do direito.
No caso de reforma agrária, o prazo de caducidade também é de dois anos.

Para a desapropriação por descumprimento da função social da propriedade, na área urbana, a


Lei 10.257/01, não estabelece prazo de caducidade. Essa declaração incide compulsoriamente sobre
a propriedade. Trata-se de decisão executória do Poder Público, que não depende de título do poder
Judiciário. Ao particular cabe, no caso de alguma lesão, por vício de ilegalidade ou inconstitucionalidade
o mandado de segurança.

2ª fase> a executória – pode ser administrativa e judicial. Compreende atos pelos quais o Poder
Público promove a desapropriação. A fase será administrativa quando houver acordo, sobre o valor da
indenização, exigindo as formalidades da compra e venda como a transcrição a escritura no cartório de
registro de imóveis. Essa fase nem sempre existe, pois acontece nas vezes que o Poder Público desconhece
quem seja o proprietário, hipótese em que deverá propor ação de desapropriação, que independe de se
saber quem é o titular do domínio.

Quando não há acordo, segue-se a fase judicial, iniciada pelo Poder Público, com observância do
procedimento estabelecido no Decreto-lei nº 3.365/41 (artigo 11/30) aplicável para desapropriação
por interesse social e na omissão o CPC. Quanto à desapropriação para fins de reforma agrária, o
procedimento estará estabelecido na Lei Complementar nº 76.

No curso do processo judicial somente se discute o preço e vícios processuais.

Qualquer ilegalidade no ato declaratório de utilidade pública ou interesse social, quanto à


competência, à finalidade, à forma ou mesmo quanto aos fundamentos de utilidade pública ou
interesse social, o expropriado deverá propor ação direta, que poderá ser uma ação declaratória
da nulidade, mandado de segurança ou ação popular. No caso de desapropriação para reforma
agrária, o artigo 9º da Lei Complementar nº 76/93 só exclui da contestação a apreciação do interesse
social declarado. E o artigo 4 da mesma lei permite, na contestação, que o proprietário requeira a
desapropriação de todo o imóvel.

A desapropriação somente se completa quando efetuado o devido pagamento ou a sua consignação.

Pressupostos: – necessidade pública; – utilidade pública; – interesse social.

Indenização: 1 – o valor do bem expropriado; 2 – lucros cessantes e danos emergentes; 3 – juros


compensatórios; 4 – juros moratórios; 5 – honorários advocatícios; 6 – custas e despesas judiciais; 7 –
correção monetária; 8 – despesa com desmonte e transporte de mecanismos instalados e em funcionamento.

Natureza jurídica:

Forma originária de aquisição da propriedade.

45
Unidade II

Consequências:

=> a ação judicial de desapropriação pode prosseguir independentemente de saber a Administração


quem seja o proprietário ou onde possa ser encontrado;

=> se a indenização for paga a terceiro, que não o proprietário, não se invalidará a desapropriação;

=> todos os ônus ou direitos que recaiam sobre o bem expropriado extinguem-se e ficam subrogados
no preço;

=>a transcrição da desapropriação no registro de imóveis independe da verificação da continuidade


em relação às transcrições anteriores.

Sob o aspecto formal, a desapropriação é um procedimento, quanto ao conteúdo, constitui


transferência compulsória da propriedade: por independer da vontade do particular; por não ser compra
e venda; por não ser confisco; por exigir compensação; pela fixação do interesse público; por estar
isenta de evicção ou demanda por vício redibitório; pela força de extinguir os ônus reais que pesarem
sobre a coisa; pela extinção da inalienabilidade.

BIBLIOGRAFIA

Bibliografia Básica:

BARROS, Wellington Pacheco. Curso de direito agrário. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. 2 v.

BARROSO, Lucas Abreu. Direito agrário na constituição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

Pietro, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Editora Atlas, 25ª Edição, 2012

OPITZ, Oswaldo; OPITZ, Silvia C. B. Curso completo de direito agrário. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

Bibliografia Complementar:

BORGES, Antonino Moura. Curso completo de direito agrário. São Paulo: EDIJUR, 2007.

FALCÃO, Ismael Marinho. Direito Agrário no século XVI e o desenvolvimento rural brasileiro
atual. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 38, 1 jan.2000 . Disponível em:<http://jus.com.br/
artigos/1666>. Acesso em: 15 set. 2013.

FERREIRA, P. Curso de direito agrário. São Paulo: Saraiva, 2001.

LARANJEIRA, Raymundo. Direito agrário contemporâneo. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.

MARQUES, Benedito Ferreira. Direito agrário brasileiro. São Paulo: Atlas, 2007.
46
DIREITO AGRÁRIO

OLIVEIRA, Umberto Machado. Princípios de direito agrário na constituição vigente. Curitiba:


Juruá, 2004.

SODERO, Fernando Pereira. Direito agrário e reforma agrária. 2ª ed. Florianópolis: OAB/SC, 2006.

Leia mais: http://jus.com.br/artigos/1666/direito-agrario-no-seculo-xvi-e-o-desenvolvimento-rural-


brasileiro-atual#ixzz2f0AttiS3

MÓDULO 08

Contratos Agrários

O Código Civil (Lei nº 10.406/02), que entrou em vigor em janeiro/2003, não repetiu os dispositivos
anteriores referentes à locação de prédio rústico e em relação à parceria rural, em função da legislação
específica (Estatuto da Terra). Quanto ao Comodato, também aplicável ao meio rural, o novo código
repetiu a redação anterior e, no que diz respeito à empreitada, trouxe algumas alterações, como se pode
ver no capítulo específico (art. 610 a 626).

Mas a grande inovação refere-se aos contratos em geral e, neste caso, serve como orientação
também para os contratos agrários, sejam nominados ou inominados.

Trata-se da inserção do princípio geral da função social do contrato. O art. 421 do novo Código assim
dispõe: “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”. Em
relação aos contratos agrários, cujas regras específicas estão no Estatuto da Terra e seus regulamentos, parte
da doutrina agrarista, mais crítica, entende que não contribuem para o alcance da justiça social no campo.

É necessário entender, contudo, que tanto a propriedade quanto a posse (agrária) estão condicionados
ao princípio da função social e ao preceito básico de justiça social. Mas, a posse agrária, de quem
efetivamente trabalha a terra, tende a tornar-se mais importante do que a propriedade estática. Não
resta dúvida, portanto, que os contratos agrários se baseiam em princípios e regras especiais, diferentes
daquelas que regem os contratos em geral. Porém, com nova orientação inserida no novo Código civil
(art. 421), o princípio da autonomia da vontade e o princípio de que o contrato faz lei entre as partes,
que já não tinham o mesmo significado no âmbito dos contratos agrários, agora, com maior ênfase,
devem se subordinar à orientação geral da função social.

Quanto ao cumprimento das regras obrigatórias estabelecidas em relação aos contratos agrários, o
judiciário tem uma importante tarefa, evidentemente levando em conta os fins sociais da lei (art. 5º da
L.I.C.C.), a efetiva garantia da função social do contrato e, em especial, levando em conta os objetivos
estabelecidos no artigo 103 do Estatuto da Terra.

13. Suporte legal atual dos contratos agrários

Atualmente, a Lei nº 4.504/64 regula os contratos agrários nos artigos (92 a 96, além das regras
estabelecidas pela Lei nº 4.947/66 – artigos 13 a 15), sendo que o regulamento da matéria está no
47
Unidade II

Decreto nº 59.566/66. As disposições do Código Civil, conforme disposto no art. 92, § 9º da lei nº 4504/64,
continuam sendo de aplicação subsidiária.

13.1. Características dos contratos agrários:

- são consensuais;

- bilaterais;

- onerosos;

- comutativos: há benefícios recíprocos certos, numa relação de equivalência das prestações;

- de trato sucessivo: as obrigações são continuadas e não se esgotam numa simples operação
de crédito;

- formais: ao menos em sua maioria, uma vez que devem ser escritos e registrados.

- maior limitação da liberdade de contratar, porque a lei estabelece cláusulas obrigatórias e, por
outro lado, direitos e garantias irrenunciáveis, visando à proteção da parte mais fraca.

13.2 Modalidades

Os contratos agrários, à luz da legislação em vigor, podem ser divididos em contratos nominados ou
contratos típicos, que englobam os contratos de arrendamento e parceria, e os contratos inominados
ou atípicos, do que são exemplos o comodato, a empreitada, o compáscuo, entre outros. Estes últimos,
mesmo não havendo regra especial definida na lei, devem, como condição de validade e no que lhes for
aplicável, cumprir as regras obrigatórias estabelecidas para os contratos de parceria e arrendamento. É
o que vem disciplinado no art. 39 do Decreto nº 59.566/66.

13.3 Elementos obrigatórios

- conservar os recursos naturais;

- dever de proteção ao mais fraco na relação contratual (via de regra o arrendatário e o


parceiro outorgado);

- observância dos prazos mínimos estabelecidos por lei;

- fixação do preço do aluguel dentro dos limites legais;

- indenização, com direito de retenção das benfeitorias úteis e necessárias;

- proibição de prestação de serviços gratuitos pelo arrendatário e parceiro outorgado;


48
DIREITO AGRÁRIO

- proibição de obrigação do arrendatário beneficiar seus produtos na usina do arrendador e de


vender a este os seus produtos. (art. 93 da Lei nº 4.504/64);

- obrigatoriedade de cláusulas que assegurem a conservação dos recursos naturais (art. 13,111 da Lei
nº 4.947/66 e art. 13,11 do Decreto 59.566/66);

- proibição de usos e costumes predatórios da economia agrícola ( art. 92 do ET; art. 13,I da Lei nº
4.947/66 e art. 13,VII,b do Dec. Nº 59.566/66);

- irrenunciabilidade de direitos e vantagens legalmente definidos em prol do arrendatário e parceiro-


outorgado (art. 13,IV da Lei nº 4.947/66 e art. 13, I do Dec. 59.566/66).

13.4 Partes

Os contratos agrários têm como partes contratantes de um lado o proprietário ou quem detenha a
posse, ou ainda, quem tenha a livre administração do imóvel rural. Tratando-se de arrendamento, quem
cede a terra é denominado de arrendante e se for parceria rural, será denominado de parceiro outorgante
(também chamado de parceiro proprietário). Do outro lado da relação contratual situa-se quem vai
exercer a atividade agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista (art. 1º do Dec. Nº 59.566/66).
Além da terra, o gado, isoladamente, também pode ser objeto de parceria rural, especificamente a
parceria pecuária. O contratante trabalhador, no arrendamento rural é denominado de arrendatário e na
parceria rural sua denominação é parceiro-outorgado. Tanto o arrendatário como o parceiro outorgado,
podem ser uma pessoa ou o conjunto familiar.

13.5 Diferenças entre arrendamento e parceria

A diferença básica está relacionada às vantagens auferidas pela parte que se dedica à exploração
do imóvel.

No contrato de arrendamento rural são cedidos uso e o gozo do imóvel rural. Assim, o arrendatário
aufere todas as vantagens do imóvel, de acordo com o que ficou avençado. Na parceria, é cedido
apenas o uso específico do imóvel rural. O pagamento do arrendamento é ajustado em quantia certa
(em dinheiro), como valor certo (art. 18 do Decreto), enquanto que na parceria, parceiro outorgante e
parceiro outorgado partilham o resultado obtido.

No arrendamento, os riscos correm por conta do arrendatário; na parceria rural, espécie de sociedade,
os riscos correm por conta das duas partes, podendo ocorrer a partilha de prejuízos.

13.6 Forma dos contratos

Pode ser tanto escrita como verbal, de forma expressa ou tácita (art. 92). Contudo, para maior
garantia, convém que os contratos sejam escritos. Nos contratos verbais subentende-se estarem
presentes todas as cláusulas e condições obrigatórias estabelecidas em lei. O contrato agrário pode,
portanto, ser provado exclusivamente por testemunhas, independentemente do seu valor.
49
Unidade II

13.7 Prazos mínimos legais

Prazo mínimo de 3 anos (regra).

O artigo 95, I e II e o art. 96, I do ET fixam o prazo mínimo de 3 anos para os contratos de arrendamento e
de parceria, com a garantia de prorrogação até a ultimação da colheita. A mesma regra vem estabelecida
nos artigos 21 e 37 do Regulamento. No caso da parceria, há o entendimento de que o prazo é mínimo
e único, de 3 anos. Porém, se a lavoura for permanente, ainda assim o prazo mínimo deve ser de 5 anos.
O art. 13, II do Regulamento (Decreto nº 59.566/66) se encarregou de detalhar os prazos mínimos para
as diversas modalidades de arrendamento, assim estabelecendo:

- prazo mínimo de 3 anos de arrendamento para lavoura temporária e/ou pecuária de pequeno e
médio porte (art. 13,II,a);

- prazo mínimo de 5 anos, nos casos de arrendamento em que ocorram atividades de exploração de
lavoura permanente e ou de pecuária de grande porte para cria, recria, engorda ou extração de
matérias primas de origem animal;

- prazo mínimo de 7 anos, nos contratos em que ocorra atividade de exploração florestal.

13.8. Arrendamento rural

Arrendamento rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder a outra, por tempo
determinado ou não, o uso e gozo do imóvel rural, parte ou partes deste, incluindo, ou não, outros
bens, benfeitorias ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercida atividade de exploração agrícola,
pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista, mediante certa retribuição ou aluguel, observados os limites
percentuais da lei (art. 3º do Decreto nº 59.566/66).

Como se verifica no conceito, o arrendatário, em decorrência do contrato, passa a ter o uso e gozo
do imóvel, não estando definido o tipo de atividade a ser exercida. O uso e gozo supõe o livre exercício
de qualquer atividade agrária lícita, observadas as regras legais de uso do solo.

13.9 Parceria rural

13.9.1 Conceito: parceria rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder à outra,
por tempo determinado ou não, o uso específico de imóvel rural, de parte ou partes deste, incluindo
ou não benfeitorias, outros bens e/ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercida atividade de
exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa vegetal ou mista; e/ou lhe entrega animais
para cria, recria, invernagem, engorda ou extração de matérias-primas de origem animal, mediante
partilha de riscos de caso fortuito e da força maior do empreendimento rural, e dos frutos, produtos
ou lucros havidos nas proporções que estipularem, observados os limites percentuais da Lei (art. 4º
do Decreto 59.566/66).

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DIREITO AGRÁRIO

13.9.2 Prorrogação dos contratos

A prorrogação tem por finalidade assegurar ao arrendatário e ao parceiro outorgado os resultados


do negócio, dilatando-se o prazo estipulado, nas mesmas condições, por atraso na colheita, no abate dos
animais ou na parição do rebanho.

13.10 Renovação dos contratos e direito de preferência

A renovação consiste na repetição do contrato entre as mesmas partes, repetindo-se as condições


anteriores, ou com as modificações que ficarem ajustadas.

Não havendo prazo de duração estipulado para o contrato, subentende-se parte da doutrina que,
após o decurso do prazo mínimo legal, sem que haja notificação no prazo certo para a extinção do
contrato, este se renova nas mesmas condições para mais um prazo mínimo estabelecido em lei. Para
outros, uma vez ultrapassado o prazo mínimo da lei, é possível, a qualquer tempo, o encerramento do
contrato, com a notificação pelo proprietário, com antecedência mínima de 6 meses.

Arrendatário e parceiro outorgado têm preferência em igualdade de condições com terceiros, para
a renovação do contrato. Neste sentido, havendo proposta oferecida por terceiro, o arrendatário, ou o
parceiro outorgado, deve ser notificado desta intenção e das condições da oferta, no prazo de 6 meses
antes do vencimento do contrato (art. 95, IV do ET), tendo, após notificado, 30 dias para requerer a
sua preferência, sendo que o silêncio é traduzido em renúncia do exercício deste direito. Não havendo
notificação, o contrato considera-se automaticamente renovado (art. 95, IV). A retomada para uso
próprio obedece as mesmas regras, e prazos de notificação, conforme disposto no art. 95, V do ET.

14. Extinção dos contratos: (art. 26 a 34 do Dec. 59.566/66)

Causas de extinção:

- Término do prazo contratual – não tendo ocorrido a renovação deste por falta de iniciativa
do arrendatário ou parceiro-outorgado, ou por não ter exercido o seu direito de preferência.
Não havendo interesse na renovação, o arrendatário ou parceiro outorgado deverá notificar
o outro contratante, no prazo dos 30 dias entre os 6 meses e os 5 meses antes do término do
prazo do contrato.

- Por efeito de retomada: quando o arrendador ou parceiro-outorgante quer o imóvel para cultivo
próprio ou através de descendente seu (art. 22, § 2º e art. 26, II do Decreto 59.566/66). A retomada
depende de notificação ao arrendatário ou parceiro-outorgado até seis meses antes do vencimento
do contrato, caso contrário, o contrato se renova automaticamente.

- Por efeito de confusão: quando a mesma pessoa passa à posição de arrendador e arrendatário ou
parceiro-outorgante e parceiro-outorgado.

- Pelo distrato: é o acordo de vontades mediante o qual as partes põem fim ao contrato.
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Unidade II

- Por rescisão: dá-se por vontade e iniciativa de uma das partes, nos casos de inadimplemento de
obrigação contratual e de inobservância de cláusula asseguradora dos recursos naturais, o que
permite à outra parte cobrar indenização por perdas e danos.

- Por resolução ou extinção do direito do arrendador ou do parceiro-outorgante: é possível ocorrer


nos casos de propriedade resolúvel, com o advento da causa resolutiva.

- Por motivo de força maior: ocorrência de fato imprevisto e impossível de ser evitado.

- Por sentença judicial irrecorrível: podendo ocorrer nos casos de anulação de contrato por vício
de origem.

- Pela perda do imóvel rural: desaparecimento com vulcão, ou por inundação.

- Em virtude de desapropriação: em qualquer de suas modalidades, ficando garantido ao arrendatário


ou parceiro-outorgado o direito à redução proporcional da renda ou a rescindir o contrato, em
caso de desapropriação parcial.

- Por morte do arrendatário.

- Por cessão do contrato sem prévio consentimento do arrendador ou parceiro-outorgante.

- Por falta de pagamento do aluguel ou renda: assegura o despejo, permitindo ao arrendatário a


purga da mora.

- Por dano causado à gleba ou às colheitas, desde que caracterizado o dolo ou a culpa do arrendatário
ou do outorgado, caso em que cabe ação de despejo.

- Por causa de mudança na destinação do imóvel: ex.: destruindo o capim (pecuária) para desenvolver
a agricultura.

- Por abandono do cultivo: quando arrendatário ou parceiro-outorgado deixa de cumprir sua


obrigação no trato da terra e o cuidado com a produção.

Em diversas das hipóteses de extinção dos contratos, aqui relacionadas cabe a ação de despejo para a
retomada do imóvel, seguindo o rito sumaríssimo. O art. 32 do Decreto nº 59.566/66 prevê as causas do
despejo, cuja enumeração legal vale tanto para os contratos de arrendamento como para os de parceria.

BIBLIOGRAFIA

Bibliografia Básica:

BARROS, Wellington Pacheco. Curso de direito agrário. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. 2 v.

52
DIREITO AGRÁRIO

BARROSO, Lucas Abreu. Direito agrário na constituição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

OPITZ, Oswaldo; OPITZ, Silvia C. B. Curso completo de direito agrário. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

Bibliografia Complementar:

BORGES, Antonino Moura. Curso completo de direito agrário. São Paulo: EDIJUR, 2007.

FALCÃO, Ismael Marinho. Direito Agrário no século XVI e o desenvolvimento rural brasileiro
atual. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 38, 1 jan.2000 . Disponível em:<http://jus.com.br/
artigos/1666>. Acesso em: 15 set. 2013.

FERREIRA, P. Curso de direito agrário. São Paulo: Saraiva, 2001.

LARANJEIRA, Raymundo. Direito agrário contemporâneo. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.

MARQUES, Benedito Ferreira. Direito agrário brasileiro. São Paulo: Atlas, 2007.

OLIVEIRA, Umberto Machado. Princípios de direito agrário na constituição vigente. Curitiba:


Juruá, 2004.

SODERO, Fernando Pereira. Direito agrário e reforma agrária. 2ª ed. Florianópolis: OAB/SC, 2006.

Leia mais: http://jus.com.br/artigos/1666/direito-agrario-no-seculo-xvi-e-o-desenvolvimento-rural-


brasileiro-atual#ixzz2f0AttiS3

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Unidade II

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Direito Urbanístico
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Caro aluno,

Seja bem-vindo ao sistema EAD.

Nesta nossa disciplina trataremos de assuntos como: O urbanismo no Brasil. Tratamento jurídico-
constitucional da matéria urbanística. Legislação infraconstitucional sobre o urbanismo. A ocupação
desordenada e os loteamentos clandestinos no Brasil. A questão urbanística no Município e no Estado.

Como objetivo principal desenvolver conteúdos relacionados ao meio ambiente e sustentabilidade,


tendo como enfoque as medidas para a proteção do meio ambiente, considerando a exploração de
recursos naturais de forma sustentável, os mecanismos e instrumentos de ordenação e planejamento
territorial, assim como a função social da terra.

Considerando-se que será você quem administrará seu próprio tempo, nossa sugestão é que você
dedique ao menos duas horas por semana para esta disciplina, estudando os textos sugeridos e realizando
os exercícios de autoavaliação. Uma boa forma de fazer isso é já ir planejando o que estudar, semana
a semana.

Para facilitar seu trabalho, apresentamos na tabela abaixo, os assuntos que deverão ser estudados e,
para cada assunto, a leitura fundamental exigida e a leitura complementar sugerida. No mínimo você
deverá buscar entender bastante bem o conteúdo da leitura fundamental, só que essa compreensão
será maior, se você acompanhar, também, a leitura complementar. Você mesmo perceberá isso, ao
longo dos estudos.

Conteúdos

Módulo 1 - Urbanismo

Módulo 2 - Direito Urbanístico

Módulo 3 - Direito Urbanístico e a CF/88

Módulo 4 - Direito Urbanístico e Legislação Infraconstitucional

Módulo 5 - Planejamento Urbanístico

Módulo 6 - Política Urbana

Módulo 7 - Plano Diretor

Módulo 8 - Intervenção Urbanística

3
Bibliografia

Básica

AGRELI, Vanusa Murta; SILVA, Bruno Campos. Direito urbanístico e ambiental. Rio de Janeiro: Lúmen
Júris, 2008.

REIS, Jair Teixeira dos. Direito ambiental e urbanístico. Rio de Janeiro: Campus, 2008.

SILVA, José Afonso da. Direito urbanístico brasileiro. 5ª ed. São Paulo: Malheiros, 2008.

Complementar

CARVALHO FILHO, J. dos Santos. Comentários ao estatuto da cidade. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2007.

DALLARI, Adilson de Abreu et al. Direito urbanístico e ambiental. Belo Horizonte: Fórum, 2007.

HILDEBRAND, Antonio Roberto. Nova lei da reforma urbana e o estatuto da cidade. São Paulo: LED, 2001.

MUKAI, Toshio. Direito urbano ambiental. 3ª ed. Belo Horizonte: Fórum, 2006.

PEREIRA, Luis Portella. A função social da propriedade urbana. São Paulo: Síntese, 2003.

SARNO, Daniela Campos Liborio Di. Elementos de direito urbanístico. São Paulo: Manole, 2003

Dúvidas

As dúvidas deverão ser sanadas na Coordenação do Curso de Direito no horário de atendimento ao aluno.

Bons Estudos!

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DIREITO URBANÍSTICO

Unidade I
MÓDULO 01

1. Urbanismo

Emprega-se o termo urbanização para designar o processo pelo qual a população urbana cresce em
proporção superior à população rural.

Urbanismo é a disciplina que estuda, regula, controla e planeja uma cidade. Toda ação urbanizadora
é proveniente do homem, toda cidade deve ser estudada, e o planejamento urbano está inserido na
geografia e nas ciências sociais.

Na visão pragmática, o Urbanismo projeta e ordena cidades, um conjunto de ideias que julga o bem-
estar e a facilitação de transito de pessoas e capital, como principais objetivos ao ser humano moderno.

O Urbanismo deve dialogar com a arquitetura, com o paisagismo, com o design e com as políticas
locais. Recebe colaborações em pesquisas de especialistas em ecologia, geologia, engenharia e ciências
sociais e humanas.

Podemos concluir também que o urbanismo é um sistema de cooperação, no qual dever haver
cooperação do povo, das autoridades, do Poder Público e de cada um individualmente.

Em nossa Constituição o artigo 182 determina que a política de desenvolvimento urbano, executada
pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

Fonteshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Urbanismohttp://www.ig.ufu.br/revista/volume04/artigo03_vol04.pdf

Marques, José Roberto. Meio Ambiente Urbano. 1° edição. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.

Sugestão de leitura:

Racionalizar o espaço é condição para desenvolver.

A história do desenvolvimento urbano da maior cidade do País é mercada pela falta de planejamento,
mas isso começa a mudar o poder público começa a tomar as rédeas.

“Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço”. Muitos já ouviram essa lei da física - ou a
experimentaram quando tentavam mudar de uma pista para outra e sentiram o carro “novinho” ser
amassado - mas para quem mora na cidade de São Paulo fica um pouco mais complicado resolver.

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Unidade I

São milhares de casas, prédios, ruas, bairros habitados por milhões de pessoas que precisam atravessar
a cidade diariamente em milhões de carros, milhares de ônibus, utilizando milhares de quilômetros de
calçamento, cruzamentos, pontes e alguns quilômetros de metrô. Quem nunca olhou para cima sem
se perguntar como é possível tanta gente se empilhar na mesma região!? Ou olhou por uma dessas
janelinhas empilhadas e viu apenas uma mancha de carros, como se o asfalto nem existisse!? Fica difícil
entender como funciona esse espaço caótico. Como começou tudo isso?

Feche os olhos e tente imaginar como era a vida em São Paulo quando ela tinha “apenas” 31 mil
habitantes. E isso não foi há mais de 300 anos. Esta era a população da maior cidade do País em 1872.
Ou seja, em 134 anos a população da cidade cresceu mais de 338 vezes. Pior: em 1900 eram 240 mil
habitantes; 60 anos depois esse número era de 3,3 milhões.

Tais dados deixam claro a quantidade de problemas causados por esse crescimento acelerado. Como
não houve a opção por planejar ou controlar esse aumento, a expansão e ocupação do espaço foram
feitas sem mediação do poder público, privilegiando interesses privados.

A região onde fica a cidade se estabeleceu como posto de penetração para o interior. Por isso, as
comunidades instalavam-se na área da confluência dos rios Anhangabaú e Tamanduateí. A partir de
1870 essa área passou a abrigar um núcleo de grande aglomeração. A população da cidade começou
a aumentar rapidamente e os obstáculos da geografia fizeram com que os grupos se estabelecessem
ao longo dos antigos caminhos de comunicação no topo das montanhas. Esses núcleos isolados só se
juntaram muito tempo depois.

A união dos fatores geográficos com os históricos e a ausência de planejamento e controle acarretaram
numa ocupação desorganizada do território. As células autônomas nasceram dos loteamentos das
antigas fazendas, operação que não foi guiada pela preocupação com o interesse geral. Mas foi facilitada
por uma legislação que isentava os particulares de participar dos encargos públicos, oferecendo ainda
benefícios financeiros.

Essa mentalidade não mudou como a São Paulo do século XX. A política que comandou o crescimento
da cidade dos plantadores de café continuou a ditar as linhas gerais do crescimento da metrópole
comercial e industrial. O avanço no espaço físico seguiu a regra de evitar os obstáculos geográficos que
surgissem, dando a volta por eles. No meio de áreas urbanas, podiam se encontrar extensas áreas de
brejos intactos, que futuramente foram urbanizadas.

O arquiteto Yves Bruand analisa que a urbanização da cidade teve “uma expansão impressionante
pela rapidez, mas dramática quanto aos efeitos descontrolados”. Em 1926, uma revista especializada em
arquitetura colocou que o plano da cidade parecia uma colcha de retalhos.

No entanto, houve ações localizadas que não seguiram esse padrão, como os bairros-jardins que
são até hoje áreas residenciais privilegiadas. Esses espaços foram concebidos por iniciativas privadas e
levaram em conta operações financeiras e não o interesse coletivo. Em 1915, a companhia britânica City
comprou terrenos ao sul e oeste da região central, num jogo imobiliário, valorizou a área, seguindo o
modelo de urbanização das cidades-jardins inglesas, e atraindo a classe alta.
6
DIREITO URBANÍSTICO

A ocupação dessas áreas foi baseada num regulamento preciso que determinava: recuo de seis
metros em relação à rua, recuo de quatro metros em relação ao lado, cercas de separação entre as casas,
arborização de todas as ruas. O modelo foi seguido durante a década seguinte no desenho dos bairros
Jardim Europa, Pacaembu e Alto da Lapa.

Essas novas zonas residenciais tiveram papel fundamental na estrutura urbana da cidade, pois
“permitiram o desenvolvimento de uma arquitetura atuante que tinha como base a casa isolada - modelo
raro nos grandes centros urbanos”, escreve Bruand. Em 1940, o crescimento vertical transformou a cara
do centro e as áreas residenciais tornaram-se importantes pulmões da região.

Os bairros-jardins eram ilhotas isoladas, frequentadas apenas por quem tinha poder aquisitivo,
reflexo da predominância do interesse privado e financeiro no desenvolvimento urbano. O que, além
de ser excludente, causou problemas até hoje não solucionados, resultantes da falta de uma visão de
conjunto dessas ações pontuais e marcadas pelo interesse particular.

“Na verdade, as cidades não são feitas em planejamento. Toda a cidade é feita emendando pedaços.
Devido ao tamanho começam a existir os problemas. Mas a ação ordenadora, na prática, é interrompida
pelos interesses privados. A prática de construção das cidades não obedece uma ordem racional, porque
a cidade é uma fonte de negócios muito grande”, explica a arquiteta urbanista Aida Pompeu Nogueira,
que trabalhou na Secretaria Municipal de Planejamento Urbano durante 25 anos (1970-1995).

Qual foi, então, o papel do poder local no desenvolvimento e consequente transformação da


cidade? Bruand analisa que as “autoridades oficiais se limitavam a seguir os impulsos da iniciativa
privada, sem jamais a dirigirem”. Ao governo local coube o papel de provedor de infraestrutura básica,
«desviando e canalizando cursos de água e construindo viadutos de ligação entre os primeiros núcleos
populacionais isolados no Anhangabaú com os nascidos do outro lado». Outra iniciativa das prefeituras
foi a transformação das áreas recuperadas em parques públicos.

Essas ações tiveram início em 1890 e permaneceram até os anos 1920. Período em que “as
comunicações foram seriamente melhoradas e tornaram-se, por um curto lapso de tempo, satisfatórias”,
escreve Bruand. O Parque do Anhangabaú era um centro de encontro e lazer até virar uma artéria de
ligação rodoviária entre as zonas norte e sul. Já o atual Parque D. Pedro II, embora concebido como
grande área verde sobre a Várzea do Carmo, sempre foi uma área relegada; sua degradação foi inevitável
pela falta de planejamento, o que começa a mudar com o Programa de Requalificação do Centro,
iniciado em 2003.

Para Bruand, a falta de recursos públicos ocasionou a forte presença dos interesses privados na
ocupação da cidade. “A quota parte da prefeitura consistia em encarregar-se de tudo o que não era
rentável para os particulares”. Um exemplo disso é o fato de o único edifício público do início do século
XX ser o Theatro Municipal (de 1912). A própria Prefeitura não possuía local para instalar suas estruturas,
espalhadas pelos quatro cantos da cidade, ou a Assembleia Legislativa e vários órgãos do Poder Executivo.
“Não existe uma melhor demonstração da total falta de respeito pelos poderes oficiais do que essa
indiferença com relação às obras destinadas a abrigá-los e representá-los”, analisa.

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Unidade I

“Podemos dividir a cidade em dois pedaços: um que interessa como investimento imobiliário e outro
que são os terrenos irregulares ocupados pela população de baixa renda sem planejamento. Entre 1970
e 200 houve um forte aumento nas áreas irregulares da cidade, para as quais o governo faz vista
grossa”, explica Aida. Acontece que essa é a única forma para os menos favorecidos morarem e o
planejamento encareceria essas áreas. A fiscalização, portanto, é ineficiente e os próprios moradores não
a querem. “Mas esses dois processos são inerentes à economia em que vivemos. Houve administrações
que procuraram tomar as rédeas e impor a racionalidade no uso do espaço da cidade. Outras fazem o
contrário, quem toma o poder é favorecido pelo jogo imobiliário”, analisa a arquiteta.

Aida acha que o interesse econômico nas questões relativas à produção da cidade, como a valorização
dos terrenos, determina a forma como ela cresce. Não há interesse financeiro no planejamento urbano. Mas
há contradições. A questão da circulação, que é fundamental para outras atividades, é bastante trabalhada
pelas administrações, principalmente no que diz respeito ao transporte privado e de mercadorias. Esse
aspecto sofre constantes transformações e intervenções, que também passam a ser um fator de interesse
econômico. É importante entender que isso não ocorre por irresponsabilidade do governo, existem pressões
para que o planejamento urbanístico não ocorra”, explica. “O transporte é necessário para o desempenho
das funções produtivas da metrópole. Um transporte mais eficiente aumenta a produtividade reduzindo os
tempos perdidos em deslocamentos”, argumenta o professor de planejamento urbano Csaba Déak.

Texto retirado do portal da prefeitura do município de São Paulo:

www.prefeitura.sp.gov.br‎

1.1. Evolução do Urbanismo.

As primeiras cidades formaram por volta do ano 3500 a.C. no vale compreendido pelo Tigre e Eufrates.
Mas o fenômeno urbano só se manifesta significativamente a partir da primeira metade do século XIX.
Assim, podemos afirmar que, embora as cidades existam há cerca de 5500 anos, a urbanização constitui
fenômeno tipicamente moderno.

O primeiro estágio é o pré-urbano e se liga a pequenos grupos homogêneos e autossuficientes,


dedicados inteiramente à busca de alimentação.

O segundo estágio começa com o aparecimento da cidade e corresponde ao momento que a


civilização já dispunha da metalurgia, do arado e da roda.

O terceiro estágio é o da cidade industrial moderna, associada a uma organização humana complexa,
caracterizada pela educação de massa, um sistema de classes fluido e um tremendo avança tecnológico
que usa novas fontes de energia.

Já se fala, contudo, em outro estágio nessa evolução: no fim da cidade como contraposta ao campo,
numa organização do território, em consequência da difusão dos serviços e da tecnologia, que venha
a constituir-se num contínuo urbano-rural, ou seja, a cidade pós-industrial, em que o fornecimento de
serviços tem primazia sobre a produção e transformação de alimentos e utensílios.
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DIREITO URBANÍSTICO

O direito urbanístico é o reflexo, no mundo jurídico, dos desafios e problemas derivados da urbanização
moderna e das ideias da ciência do urbanismo.

1.2. Urbanismo no Brasil.

O Brasil conheceu uma verdadeira revolução demográfica a partir da década de cinquenta do século
passado, eis que houve um grande êxodo rural em direção às cidades. No entanto, esse processo de
urbanização se tornou assimétrico, privilegiou inicialmente apenas nas grandes capitais do Sudeste, mas
a partir da década de 80 passou a ocorreu também nas principais capitais do país[1]. Assim fenômenos
como da macrourbanização e da metropolização são uma realidade em nosso país. Santos e Silveira
apontam as principais características da urbanização brasileira[2]:

O fenômeno de macrourbanização e metropolização ganhou, nas últimas décadas, importância


fundamental: concentração da população e da pobreza, contemporânea da rarefação rural e da dispersão
geográfica das classes médias; concentração das atividades relacionais modernas, contemporânea da
dispersão geográfica da produção física; localização privilegiada da crise de ajustamento às mudanças
na divisão internacional de trabalho e às suas repercussões internas, o que inclui a crise fiscal; ‘involução
metropolitana’, com a coexistência de atividades com diversos níveis de capital, tecnologia, organização
e trabalho; maior centralização da irradiação ideológica, com a concentração dos meios de difusão
das ideias, mensagens e ordens; construção de uma materialidade adequada à realização de objetivos
econômicos e socioculturais e com impacto casual sobre o conjunto dos demais vetores.

Com efeito, a urbanização no Brasil não apenas modificou o perfil da população brasileira,
que passou de rural à urbana, modificou também o centro de irradiação de poder econômico, que
passou a se concentrar nas cidades, notadamente nas grandes metrópoles, e ideológico, eis que os
núcleos irradiadores de ideias como as universidades, os meios de comunicação entre outros são
notadamente urbanos.

Essa urbanização também passou a consumir maiores recursos naturais e serviços públicos como
eletricidade, água tratada, impermeabilização do solo, estratégias de locomoção e meios de transporte.
Assim os impactos ambientais dessa nova realidade sócio-geográfica são evidentes.

Ciente desse panorama e convicto que a resolução dos problemas urbanas ultrapassariam a esfera
local o Constituinte estabeleceu no artigo 21, XX da Constituição que competiria a União instituir
diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos.
Assim uma política urbana voltada para o desenvolvimento sustentável pode e deve ser articulada no
plano federal.

Evidentemente que as políticas urbanas desenvolvidas pela União deveriam estar em harmonia com
os municípios que também possui atribuição constitucional de zelar pelo espaço urbano.

Convém ressaltar, no entanto, que a maior parte dos municípios brasileiros ainda não conseguiu
implementar uma política ambiental e de desenvolvimento que, ao mesmo tempo em que responde
às necessidades locais, seja coerente e compatível com as políticas estabelecidas pelo governo federal
9
Unidade I

ou estadual. Há diversos problemas de ordem institucional, política, administrativa e financeira, tanto


dentro dos próprios municípios como em suas relações com os Estados-membros e a própria União.

No plano legislativo a Lei Federal n° 6.983/1981 estabeleceu as bases da política nacional do meio
ambiente e criou o sistema nacional do meio ambiente, dispondo sobre a articulação e responsabilidade
de seus órgãos competentes nos três níveis de governo.

A mencionada lei estabeleceu ainda o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), órgão
consultivo e deliberativo do sistema nacional de meio ambiente cuja formação é múltipla possuindo
representantes dos Municípios dos Estados-membros, da União e da sociedade civil.

Também em matéria legislativa cumpre ressaltar o estatuto da cidade (lei n° 10.257 de 2001), que
estabeleceu diretrizes gerais da política urbana e normas de ordem pública e interesse social que regulam
o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem
como do equilíbrio ambiental.

As principais diretrizes para a política urbana definidas pelo estatuto da cidade são; garantia do
direito a cidades sustentáveis; gestão democrática; planejamento do desenvolvimento das cidades;
ordenação e controle do uso do solo; privilégio para investimentos geradores de bem-estar social;
proteção do meio ambiente natural e patrimônio cultural e estímulo a participação popular por meio de
audiências públicas como pré-requisito às instalações de empreendimentos impactantes.

Os principais instrumentos para a implementação de uma política pública urbana voltada ao


desenvolvimento sustentável previstos naquele diploma legal são as operações urbanas consorciadas e
o estudo de impacto de vizinhança[3].

As operações urbanas consorciadas constituem um conjunto de intervenções e medidas coordenadas


pelo Poder Público Municipal, com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e
investidores, a fim de alcançar, em uma área, transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais
e valorização ambiental[4].

Já o estudo de impacto de vizinhança é um estudo semelhante ao estudo de impacto ambiental cuja


finalidade visa promover um estudo acerca das questões pertinentes como adensamento populacional,
equipamentos urbanos e comunitários, uso e ocupação do solo, geração de tráfego e demanda de
transporte público, ventilação e iluminação, poluição sonora, paisagem urbana e patrimônio natural e
cultural[5].

Assim, existem mecanismos institucionais capazes de proporcionar a busca pelas cidades sustentáveis,
conceito criado a partir da necessidade de implementação local das propostas da Agenda 21. Segundo
os estudos patrocinados pelo Ministério do Meio Ambiente[6] as propostas estratégicas identificadas
para se alcançar o desenvolvimento sustentável das cidades brasileiras são quatro:

a) o aperfeiçoamento e a regulação do uso e da ocupação do solo urbano e a promoção do


ordenamento do território, com vistas a melhoria das condições de vida da população;
10
DIREITO URBANÍSTICO

b) a promoção de planejamento e de gestão democrática da cidade, incorporando no processo a


dimensão ambiental urbana e assegurando a efetiva participação da sociedade;

c) a realização de mudanças nos padrões de produção e de consumo da cidade, reduzindo custos e


desperdícios e fomentando o desenvolvimento de tecnologias urbanas sustentáveis;

d) o desenvolvimento e o estímulo à aplicação de instrumentos econômicos no gerenciamento dos


recursos naturais visando à sustentabilidade urbana.

Com efeito, a maioria dos instrumentos necessários para efetivação do conceito de cidades
sustentáveis já existe. Afinal, a legislação citada permite um leque amplo de ações dos poderes públicos
com vistas a implementação daqueles requisitos.

1.3. Distinção entre Direito Urbanístico e Urbanismo

Emprega-se o termo “urbanização” para designar o processo pelo qual a população urbana cresce
em proporção superior à população rural.

Pode-se definir o urbanismo como “um conjunto de medidas estatais destinadas a organizar os
espaços habitáveis, de modo a propiciar melhores condições de vida ao homem na comunidade”
(MEIRELLES, 2007, p. 511). Em artigo sobre o tema, Caetano Lima (RODRIGUES, 2007, p. 65) complementa
tal conceito, afirmando que o urbanismo também compreende o diagnóstico dos problemas das cidades
e a avaliação dos meios mais eficazes para solucioná-los.

Assim, o Urbanismo é uma disciplina, e atividade técnica relacionadas com o estudo, regulação,
controle e planejamento da cidade.

Segundo Hely Lopes Meirelles é o conjunto de medidas estatais destinadas a organizar os espaços
habitáveis, de modo a propiciar melhores condições de vida ao homem na comunidade.

Já a atividade urbanística consiste na ação destinada a realizar os fins do urbanismo, ação destinada
a aplicar os princípios do urbanismo.

Já o Direito Urbanístico, segundo José Afonso da Silva (2008, p. 49) é definido sob dois aspectos:
objetivo e como ciência.

O direito urbanístico objetivo consiste no conjunto de normas que tem por objetivo organizar os
espaços habitáveis, de modo a propiciar melhores condições de vida ao homem na comunidade.

O direito urbanístico como ciência é o ramo do direito público que tem por objetivo expor, interpretar
e sistematizar as normas e princípios disciplinadores de espaços habitáveis.

Hely Lopes Meirelles (2007, p. 513) conceitua o direito urbanístico como “o ramo do direito público
destinado ao estudo e formulação dos princípios e normas que devem reger os espaços habitáveis, no
seu conjunto cidade-campo”.

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Unidade I

[1] Cf.: SANTOS, Milton & SILVEIRA, María Laura. op. cit. p. 205-207.

[2] Id. Ibid p. 206.

[3] SOUZA, Elaine Castelo Branco e outros. Desafios da gestão ambiental nos municípios. Políticas
ambientais no Brasil: análises instrumentos e experiências.org.: Little, Paul. E. São Paulo: Editora
Peirópolis, 2003, p.69.

[4] Cf.: Id. Ibid p. 69.

[5] Cf.: Id. Ibid. p. 70.

[6] MMA/IBAMA/ Consórcio Parceria 21. Cidades sustentáveis: subsídios à elaboração da agenda 21
brasileira. Brasília: MMA/IBAMA, 2000.

Bibliografia do Módulo 01

COSTA, Karla Ludimila Vieira. Noções introdutórias sobre Direito Urbanístico. Jus Navigandi,
Teresina, ano 15, n. 2732, 24dez. 2010 . Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/18108>. Acesso
em: 14 set. 2013.

GUIMARÃES, Nathália Arruda. O direito urbanístico e a disciplina da propriedade. Net, Rio de Janeiro,
jan. 2004.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2001.

PIOVEZANE, Pedro de Milanelo. Elementos de Direito Urbanístico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1981.

PIRES, Luis Manuel Fonseca. Loteamentos Urbanos. São Paulo: Quartier Latin, 2006.

RODRIGUES, Francisco Luciano Lima (Org.). Estudos de Direito Constitucional e Urbanístico. São Paulo:
RCS, 2007.

SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2010.

__________________Direito Ambiental Constitucional. 6 ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

SOUZA, Elaine Castelo Branco e outros. Desafios da gestão ambiental nos municípios. Políticas
ambientais no Brasil: análises instrumentos e experiências.org.: Little, Paul. E. São Paulo: Editora
Peirópolis, 2003, p.69.

12
DIREITO URBANÍSTICO

MÓDULO 02

2. Direito Urbanístico.

O direito urbanístico é produto das transformações sociais que vêm ocorrendo nos últimos tempos. Sua
formação, ainda em processo de afirmação, decorre da nova função do Direito, consistente em oferecer
instrumentos normativos ao Poder Público a fim de que possa, com respeito ao princípio da legalidade,
atuar no meio social e no domínio privado, para ordenar a realidade no interesse da coletividade.

2.1. Definição e Objeto

Como estudamos no módulo 01, o Direito Urbanístico, segundo José Afonso da Silva (2008, p. 49) é
definido sob dois aspectos: objetivo e como ciência.

O direito urbanístico objetivo consiste no conjunto de normas que tem por objetivo organizar os
espaços habitáveis, de modo a propiciar melhores condições de vida ao homem na comunidade.

O direito urbanístico como ciência é o ramo do direito público que tem por objetivo expor, interpretar
e sistematizar as normas e princípios disciplinadores de espaços habitáveis.

O direito urbanístico no Brasil forma-se de um conjunto de normas que compreende normas gerais,
de competência legislativa da União (CF, artigo 24, I e parágrafo primeiro), hoje consubstanciada no
Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001), normas suplementares de cada Estado e normas municipais de
caráter suplementar.

O Direito Urbanístico objetivo (conjunto de normas) tem por objeto regular a atividade urbanística,
disciplinar a ordenação do território.

2.2. O Direito Urbanístico como Ramo Autônomo do Direito

O Direito Urbanístico é ramo autônomo do Direito, uma vez que este possui princípios e disciplina
próprios, ampliados com a aprovação do Estatuto da Cidade, apesar de guardar larga identidade com o
Direito Administrativo.

2.3 Ordem Urbanística

A ordem urbanística pode ser definida como padrões e regras urbanos definidos em leis e atos
regulamentares que visam o uso e ocupação do solo de maneira planejada e ordenada, para garantia de
qualidade de vida sustentável nas cidades.

2.3.1. Regime Jurídico de Direito Urbanístico

É certo que normas de direito urbanístico, visando a regular a atuação do Poder Público na ordenação
do território ou dos espaços habitáveis, inserem-se no campo do direito público.
13
Unidade I

2.3.2 Princípios Específicos Informadores do Direito Urbanístico

A autonomia de uma disciplina jurídica só existe quando a esta correspondem princípios, institutos
e objeto próprios conferindo-lhe identidade, diferenciando-a das demais ramificações do Direito. O
direito urbanístico é tido como um sistema de normas, autônomo em relação ao direito constitucional
ou administrativo por possuir princípios próprios.

Conforme Bandeira de Melo (2005), os princípios podem ser entendidos como o mandamento
nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes
normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência
exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo.

São princípios explícitos gerais aqueles encontrados no preâmbulo e nos dois títulos iniciais da
Constituição Federal, sendo estes comumente aplicáveis a todo ordenamento jurídico. Dentre estes,
merecem especial destaque, os princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade e o da legalidade,
vez que toda atividade urbanística consiste em um dever-poder, obrigando o administrador a assegurar
a garantia das condições mínimas necessárias a uma vida digna nos centros urbanos.

Frente à inquestionável ligação existente entre o direito urbanístico e o direito administrativo, todos
os princípios explícitos gerais e específicos integrantes do regime jurídico administrativo e constitucional
- legalidade, moralidade, supremacia do interesse público, publicidade e eficiência - também são
aplicáveis àquele.

Dentre os princípios explícitos específicos do Direito Urbanístico, estão:

O Princípio da Função Social da Cidade, conforme salienta Di Sarno (2004), que resume a
finalidade das atividades urbanísticas e traz em sua essência a necessidade de uma harmonia
entre o interesse público e o privado. No entendimento de Saleme (2006), naquilo a que se
refere à função social da cidade, a Constituição Federal atribuiu competência ao Município,
que deve, através de seu plano diretor, buscar indicar os pontos fundamentais em prol do
desenvolvimento urbano.

O princípio da função social da propriedade, importante princípio que, por sua vez, permite
a instrumentalização e ordenação adequada da cidade, uma vez que assegura ao Estado a
possibilidade de intervenção direta na propriedade particular, obedecidos os princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, tendo como fim maior os interesses da coletividade.

Segundo o artigo 2o do Estatuto da Cidade, a política urbana tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes
diretrizes gerais:

I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao
saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho
e ao lazer, para as presentes e futuras gerações;
14
DIREITO URBANÍSTICO

II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas


dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos,
programas e projetos de desenvolvimento urbano;

III – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo
de urbanização, em atendimento ao interesse social;

IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das


atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar
e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente;

V – oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados aos


interesses e necessidades da população e às características locais;

VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:

a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos;

b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes;

c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à


infraestrutura urbana;

d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como polos geradores


de tráfego, sem a previsão da infraestrutura correspondente;

e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização;

f) a deterioração das áreas urbanizadas;

g) a poluição e a degradação ambiental;

h) a exposição da população a riscos de desastres.

VII – integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em vista o


desenvolvimento socioeconômico do Município e do território sob sua área de influência;

VIII – adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana compatíveis
com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econômica do Município e do território sob
sua área de influência;

IX – justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização;

15
Unidade I

X – adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira e dos gastos públicos
aos objetivos do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os investimentos geradores de
bem-estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais;

XI – recuperação dos investimentos do Poder Público de que tenha resultado a valorização de imóveis
urbanos;

XII – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio


cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico;

XIII – audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos de implantação
de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente
natural ou construído, o conforto ou a segurança da população;

XIV – regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda
mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e
edificação, consideradas a situação socioeconômica da população e as normas ambientais;

XV – simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas edilícias, com
vistas a permitir a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades habitacionais;

XVI – isonomia de condições para os agentes públicos e privados na promoção de empreendimentos


e atividades relativos ao processo de urbanização, atendido o interesse social.

XVII - estímulo à utilização, nos parcelamentos do solo e nas edificações urbanas, de sistemas
operacionais, padrões construtivos e aportes tecnológicos que objetivem a redução de impactos
ambientais e a economia de recursos naturais.

Bibliografia MÓDULO 02

COSTA, Karla Ludimila Vieira. Noções introdutórias sobre Direito Urbanístico. Jus Navigandi, Teresina, ano
15, n. 2732, 24dez.2010 . Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/18108>. Acesso em: 14 set. 2013.

GUIMARÃES, Nathália Arruda. O direito urbanístico e a disciplina da propriedade. Net, Rio de Janeiro,
jan. 2004.

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DIREITO URBANÍSTICO

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SALEME, Edson Ricardo. SILVA, Solange Teles. Plano Diretor, Participação Popular e responsabilidades
<http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/bh/edson_ricardo_saleme.pdf> acessado em
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ambientais no Brasil: análises instrumentos e experiências.org.: Little, Paul. E. São Paulo: Editora
Peirópolis, 2003, p. 69.

MÓDULO 03

3. A Matéria Urbanística na Constituição de 1988

A Constituição de 1988 deu bastante atenção à matéria urbanística, reservando-lhe vários dispositivos
sobre diretrizes do desenvolvimento urbano:

Art. 21. Compete à União (CF):

XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e


transportes urbanos;

Art. 182. (CF) A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal,
conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das
funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte
mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.

§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais
de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

§ 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.

17
Unidade I

§ 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano
diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado
ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:

I - parcelamento ou edificação compulsórios;

II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;

III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente
aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais
e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

Definiu diretrizes sobre a preservação ambiental, inclusive nas cidades:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os
monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;

IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de


valor histórico, artístico ou cultural;

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e


de saneamento básico;

X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração


social dos setores desfavorecidos;

XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de


significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade; (Regulamento)

18
DIREITO URBANÍSTICO

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que


comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; (Regulamento)

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública


para a preservação do meio ambiente;

Estabeleceu a competência da União para elaborar e executar planos nacionais e regionais de


ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social:

Art. 21. Compete à União:

IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento


econômico e social;

Já, o planejamento urbanístico local encontra seu fundamento no artigo 30, VIII da CF. Aí se
reconhece a competência do Município para promover, no que couber, adequado ordenamento
territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo
urbano. Isso não é competência suplementar. È competência própria, exclusiva, que não comporta
interferência nem da União, nem do Estado.

Art. 30. Compete aos Municípios:

I - legislar sobre assuntos de interesse local;

VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e


controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;

A propriedade urbana fica, pela Constituição submetida a esse processo urbanístico, nos termos de
seu artigo 182, parágrafo segundo, que subordinou o cumprimento da função social às exigências da
ordenação da cidade expressas no plano diretor. É também o plano diretor que define os critérios da
utilização do solo urbano. Isso decorre do artigo 182, parágrafo quarto, quando faculta ao Poder Público
Municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal,
do proprietário do solo urbano o adequado aproveitamento:

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme
diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções
sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.

§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte
mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.

§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais
de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

19
Unidade I

§ 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.

§ 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano
diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado
ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:

I - parcelamento ou edificação compulsórios;

II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;

III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente
aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais
e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

Na verdade, a propriedade urbana pode ser desapropriada como qualquer outro bem de propriedade
privada, mas a Constituição prevê dois tipos de desapropriação para o imóvel urbano.

Uma é a desapropriação comum, que pode ser por utilidade ou necessidade pública ou por interesse
social, nos termos do artigo 5°, XXIV,e 183, parágrafo §3°, mediante prévia e justa indenização em
dinheiro. A outra é a desapropriação sanção, que é aquela destinada a punir o proprietário de terrenos
urbanos que não estão adequados à função social da propriedade.

Sabe-se que a propriedade é o direito individual que assegura a seu titular uma série de poderes cujo
conteúdo constitui objeto do direito civil; compreende os poderes de usar, gozar e dispor da coisa, de
modo absoluto, exclusivo e perpétuo.

No entanto, esses poderes não podem ser exercidos ilimitadamente, porque coexistem com direitos
alheios, de igual natureza, e porque existem interesses públicos maiores, cuja tutela incumbe ao Poder
Público exercer, ainda que em prejuízo de interesses individuais.

São fundamentos para a intervenção do Estado na propriedade particular: a função social da


propriedade e a prevalência do interesse público.

1° Fundamento=> Observância da Função Social da Propriedade

A Constituição Federal autoriza, no seu próprio texto, a intervenção do Estado na propriedade


privada. Isso porque, se de um lado o texto constitucional assegura o direito individual à propriedade
(CF, artigo 5°, XXII), por outro condiciona o uso desse direito ao atendimento da função social (CF,
artigo 5°, XXIII).

Se o direito de propriedade está condicionado ao atendimento da sua função social, segue-se que, se
não for atendida essa condição constitucional, poderá o Estado intervir para forçar o seu atendimento.

Em outro dispositivo, ao cuidar da política urbana, reza a Constituição que (CF, artigo 182, §2°):
20
DIREITO URBANÍSTICO

A propriedade urbana cumpre a sua função social quando atende às exigências fundamentais de
ordenação da cidade expressas no plano diretor.

Atentem que o Plano diretor é obrigatório para cidades com mais de 20.000 habitantes, sendo
considerado o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana (§2°).

A norma se completa com o §4°, que faculta ao Poder Público Municipal, mediante lei específica
para área incluída no Plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano
não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena de,
sucessivamente:

I – parcelamento ou edificação compulsórios;

II – Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial urbano progressivo no tempo;

III – desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente
aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até 10 anos, em parcelas anuais, iguais e
sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

2° Fundamento: é a supremacia do interesse público sobre o privado. Na intervenção na propriedade


privada, a atuação do Estado é efetivada de forma vertical, agindo o Poder Público numa situação de
superioridade, mediante a imposição de regras que de alguma forma restringem o uso da propriedade
pelo particular.

Desapropriação por descumprimento da função social da propriedade urbana está disciplinada pela
Lei n.º 10.257, de 10-07-2001 (Estatuto da Cidade), que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição
Federal e estabelece diretrizes gerais da política urbana. Nessa lei, a desapropriação é prevista como um
dos institutos jurídicos que constituem instrumento da política urbana (artigo 4º, V, a).

O artigo 8º trata da desapropriação com pagamento em títulos, regulamentando a modalidade


prevista no artigo 182, parágrafo quarto, da Constituição. Pela interpretação conjunta do dispositivo
constitucional e dos artigos 5º e 8º do Estatuto da Cidade, podem ser apontadas as seguintes exigências
para essa modalidade:

A – é de competência exclusiva dos Municípios;

B – depende da existência de um plano diretor que defina as exigências fundamentais de ordenação


da cidade (artigo 182, parágrafo 1º e 2º, da Constituição); em consonância com o artigo primeiro,
o plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, somente é obrigatório para cidades com mais
de vinte mil habitantes, constituindo-se em instrumento básico na política de desenvolvimento e
da expansão urbana; Artigo 41 do Estatuto;

C – tem de ser precedida de lei municipal específica para área incluída no plano diretor, determinando
o parcelamento, e edificação ou a utilização compulsórios do solo urbano não edificado,
21
Unidade I

subutilizado ou não utilizado, devendo fixar as condições e os prazos para implementação da


referida obrigação, artigo 5º;

D – o imóvel deve ser subutilizado, ou seja, com aproveitamento inferior ao mínimo definido no
plano diretor ou em legislação de decorrente, artigo 5, parágrafo primeiro;

E - o proprietário deve ser notificado para o cumprimento da obrigação, devendo ser notificação ser
averbada no cartório de registro de imóveis (parágrafo 2º); recebida a notificação, o proprietário
tem o prazo mínimo de um ano para protocolar o projeto no órgão municipal competente e dois
anos, a partir da aprovação do projeto, para iniciar as obras do empreendimento;

F – desatendidos a notificação e os prazos estabelecidos, o Município aplicará o IPTU progressivo no


tempo, mediante majoração da alíquota pelo prazo de cinco anos consecutivos – artigo 7º;

G – só após decorrido cinco anos de aplicação do IPTU progressivo sem o proprietário tenha cumprido
a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização é que o Município poderá desapropriar com
pagamento em títulos da dívida pública, artigo 8º, parágrafo primeiro, aprovados pelo Senado e
resgatáveis em até dez anos (artigo 182, parágrafo quarto, terceiro, da Constituição).

Essa desapropriação é somente aplicável em municípios que:

1 – tenham plano diretor;

2 – lei específica determinando o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios;

3 – notificação;

4 – IPTU progressivo; sem contar a aprovação do plano diretor e da lei específica, os demais prazos
previstos no Estatuto da Cidade estão a indicar que o decreto de desapropriação não poderá ser
expedido antes do transcurso de aproximadamente oito anos.

3. 1. Competências em Matéria Urbanística

3.1.1. O Regime Federativo.

3.1.2. As Competências Constitucionais: Espécies.

Repartição de competência

A autonomia das entidades federativas pressupõe repartição de competências legislativas,


administrativas e tributárias.

22
DIREITO URBANÍSTICO

Princípio básico para a distribuição de competências:

ENTE FEDERATIVO – INTERESSE

1. UNIÃO - GERAL

2. ESTADO-MEMBROS - REGIONAL

3. MUNICÍPIO - LOCAL

4. DISTRITO FEDERAL - REGIONAL + LOCAL

O LEGISLADOR CONSTITUINTE ESTABELECEU QUATRO PONTOS BÁSICOS NO REGRAMENTO PARA A


DIVIVISÃO DE COMPETÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E LEGISLATIVAS:

1. Reserva de campos específicos de competência administrativa e legislativa:

União – Poderes enumerados (CF, artigos 21 e 22)

Estados – Poderes remanescentes (artigo 25, parágrafo primeiro)

Municípios – Poderes enumerados (CF, artigo 30)

Distrito Federal – Estados + Municípios (CF, artigo 32, parágrafo, primeiro)

2. Possibilidade de delegação (CF, artigo 22, parágrafo único) – Lei complementar federal poderá autorizar
os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias de competência privativa da União.

3. Áreas comuns de atuação administrativa paralela (União, Estados-membros, Distrito Federal e


Municípios) (CF, artigo 23)

4. Áreas de atuação legislativa concorrente (União, Estados-membros e Distrito Federal) (CF, artigo 24).

Competência administrativa Exclusiva da União: artigo 21

Exemplo:

Manter relações com Estado estrangeiros e participar de organizações internacionais.

Competência Administrativa Comum: Artigo 23 (União, Estados/ Distrito Federal e Municípios).

I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o
patrimônio público;

23
Unidade I

II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;

VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

Parágrafo único: Leis Complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados-
membros, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-
estar em âmbito nacional.

Competência Administrativa dos Estados-membros:

Aos Estados-membros são reservadas as competências administrativas que não lhes sejam
vedadas pela Constituição, ou seja, todas as competências que não forem da União (artigo 21),
dos municípios (artigo 30) e comuns (artigo 23).

É a chamada competência remanescente dos Estados-membros.

Competência administrativa dos municípios:

O artigo 30 da Constituição determina competer aos municípios, além da fórmula genérica do


interesse local, as seguintes matérias:

- instituir e arrecadar tributos;

- serviços públicos de interesse local (incluído o transporte coletivo);

- educação infantil e do ensino fundamental;

- saúde;

- ocupação do solo;

- preservação do patrimônio histórico;

24
DIREITO URBANÍSTICO

Competência do administrativa do Distrito Federal:

Competência estadual + Municipal.

Repartição em matéria legislativa

1 – Competência privativa da União (CF, artigo 22)

Exemplos: direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, marítimo, aeronáutico, espacial e do
trabalho; XI – trânsito e transporte

2 – Possibilidade de delegação de competência da privativa União para os Estados (CF, artigo 22,
parágrafo único)

Três requisitos:

- requisito formal: lei complementar (devidamente aprovada pelo Congresso Nacional);

- requisito material: um ponto específico entre as matérias descritas dos vinte e nove incisos do
artigo 22;

- requisito implícito: artigo 19, III, a União deverá delegar um ponto específico para todos os Estados;

3. COMPETÊNCIA CONCORRENTE UNIÃO/ESTADOS/ DISTRITO FEDERAL


(CF, ARTIGO 24)

A Constituição adotou a competência concorrente não-cumulativa ou vertical, ou seja, a competência


da União será para elaborar normas gerais e os Estados e o Distrito Federal normas específicas. É a
chamada competência suplementar dos Estados-membros:

- A União é direcionada somente às normas gerais;

- Estados-membros e Distrito Federal: normas específicas

- Não haverá possibilidade de delegação por parte da União, aos Estados-membros e Distrito Federal
das matérias elencadas no artigo 24 da Constituição Federal;

- Rol taxativo;

- A inércia da União em regulamentar as matérias constantes no artigo 24 não impedirá ao Estado-


membro ou ao Distrito Federal regulamentação da matéria;

- A competência plena adquirida pelos Estados-membros ou Distrito Federal é temporária, pois a União
poderá exercer sua competência a qualquer tempo editando lei federal sobre as normas gerais;
25
Unidade I

- A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei, estadual, no que lhe
for contrário.

4 – Competência remanescente (reservada) do Estado (CF, artigo 25, parágrafo primeiro)

O Estado-membro, legislativamente, tem três espécies de competências:

A- Remanescente ou reservada (CF, artigo 25, §1°);

A regra prevista em relação à competência administrativa dos Estados-membros tem plena aplicabilidade,
uma vez que são reservadas aos Estados as competências legislativas que não lhes sejam vedadas pela
Constituição. Assim, os Estados-membros poderão legislar sobre todas as matérias que não lhes estiverem
vedadas implícita ou explicitamente. São vedações implícitas as competências legislativas reservadas pela
Constituição Federal à União (22) e aos municípios (30). São vedações explícitas as normas de observância
obrigatória pelos Estados-membros na sua auto-organização e normatização própria.

B – delegada pela União (CF, artigo 22, parágrafo único)

C – concorrente-suplementar (CF, artigo 24)

5 – Competência exclusiva do município (CF, artigo 30, I)

=> competência genérica em virtude da predominância do interesse local

Exemplo: exploração de estabelecimento comercial, expedição de alvarás ou licenças para regular


funcionamento; => Plano Diretor (artigo 182); => Artigo 30, III a IX e 144, § 8°)

6 – Competência suplementar do município (CF, artigo 30, II)

Suplementar a legislação federal e estadual para ajustar sua execução às necessidades locais

7 – Competência reservada do Distrito Federal (CF, artigo 32, parágrafo primeiro)

- competência para edição de sua própria Lei Orgânica (artigo 32, caput);

- competência remanescente dos Estados-membros (artigo 25, primeiro);

- competência delegada pela União (22, parágrafo único);

- competência concorrente-suplementar dos Estados-membros (24, parágrafo segundo e terceiro)

- competência enumerada dos municípios (30, I, III, a IX)

- competência suplementar do município (30, II).


26
DIREITO URBANÍSTICO

3.1.3. Competências Constitucionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos


Municípios em Matéria Urbanística.

A União compete editar normas gerais de urbanismo e estabelecer o plano urbanístico nacional e
planos urbanísticos macrorregionais (artigo 21, XX e XXI, e 24, I e parágrafo primeiro).

Aos Estados cabe dispor sobre normas urbanísticas regionais (normas de ordenação do território
estadual), suplementares das normas gerais estabelecidas pela União (artigo 24, I e parágrafo segundo),
o plano urbanístico estadual (plano de ordenação do território do Estado) e planos urbanísticos regionais.

Aos municípios cabe estabelecer a política de desenvolvimento urbano, com o objetivo de ordenar o
pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes (artigo
182 da CF|)

A competência municipal não é meramente suplementar de normas gerais federais ou de normas


estaduais, pois não são criadas com fundamento do artigo 30, II da CF. Trata-se de competência própria
que vem do texto constitucional.

Há setores urbanísticos em que a competência para atuar é comum à União, Estados, Distrito Federal
e Municípios, como o caso no caso de proteção de obras de valor histórico, artístico e cultural e dos
monumentos, paisagens notáveis e sítios arqueológicos, assim com a proteção do meio ambiente e
combate à poluição (artigos 23, III, IV e VI e 225 da CF)

3.2. A Política Urbana na Constituição Federal

A Constituição conferiu à União a competência de normas gerais com observância obrigatória por
todos as entidades públicas da Federação.

Bibliografia MÓDULO 03

COSTA, Karla Ludimila Vieira. Noções introdutórias sobre Direito Urbanístico. Jus Navigandi,
Teresina, ano 15, n. 2732, 24dez. 2010 . Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/18108>. Acesso
em: 14 set. 2013.

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Unidade I

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14/07/2009.

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ambientais no Brasil: análises instrumentos e experiências.org.: Little, Paul. E. São Paulo: Editora
Peirópolis, 2003, p.69.

MÓDULO 04

4. Legislação Infraconstitucional sobre Matéria Urbanística: Estatuto da Cidade

A redemocratização do País, durante a década de 1980, culminou com a promulgação da Constituição


Federal de 1988, que reforçou o papel do município como gestor da política de desenvolvimento urbano e
estabeleceu a função social da cidade e da propriedade urbana, mas deixou em aberto a regulamentação
desses direitos.

Da mesma maneira, ficaram sem regulamentação específica os instrumentos fundamentais para


a execução dessa política indicados na Constituição: o Plano Diretor, o parcelamento e edificação
compulsórios, o imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) progressivo no tempo, a
subsequente desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública, o usucapião especial
urbano e a concessão de uso.

Por outro lado, o fortalecimento do município na gestão da política de desenvolvimento urbano


promovido pelo texto constitucional foi bastante relevante porque traduziu o reconhecimento
institucional de que é no âmbito da cidade que emergem os conflitos urbanos e as demandas por
terra e moradia, que concentram na Prefeitura o foco de suas reivindicações. Também é a cidade
que proporciona a interlocução direta de todos os atores envolvidos na disputa pelo solo urbano,
possibilitando à administração local exercer um papel de mediação e promover a elaboração do Plano
Diretor e sua gestão por meio de processos participativos.

28
DIREITO URBANÍSTICO

O princípio da gestão democrática das cidades foi plenamente endossado pela Constituição Federal
de 1988 por uma série de instrumentos jurídico-políticos que tem por objetivo ampliar as condições
de participação direta no processo decisório mais amplo. A autonomia do governo municipal também
foi reconhecida em termos jurídicos, políticos e, em menor medida, também fiscais, de tal forma que
o federalismo brasileiro é considerado por muitos analistas como um dos mais descentralizados do
mundo. Lamentavelmente, a Constituição de 1988 não tomou uma postura adequada face à gestão
metropolitana, tendo transferido aos Estados membros a responsabilidade pela formulação de um
arcabouço legal para o tema.

Naquele momento, não havia condições políticas para a aprovação do direito social de moradia. Já
no que toca à questão do reconhecimento do princípio da função social da propriedade urbana, em vez
de propor uma listagem de critérios formais a serem verificados (a exemplo do que já acontecia desde
1964 quanto à função social da propriedade rural), como resultado de debates intensos entre grupos
antagônicos a seguinte fórmula constitucional foi aprovada: a propriedade urbana é explicitamente
reconhecida como direito fundamental desde que cumpra funções sociais, que são aquelas determinadas
pelos planos diretores municipais e outras leis urbanísticas e ambientais. Pode-se dizer que, como
resultado, mais do que tratar do direito de propriedade, a Constituição Federal de 1988 trata do direito
à propriedade.

O Estatuto da Cidade regulamentou e expandiu os dispositivos constitucionais sobre política urbana,


além de ter explicitamente reconhecido o “direito à cidade sustentável” no Brasil. Essa lei federal
resultou de um intenso processo de negociação de mais de dez anos, entre as forças políticas e sociais, e
confirmou e ampliou o papel fundamental jurídico-político dos municípios na formulação de diretrizes
de planejamento urbano, bem como na condução dos processos de desenvolvimento e gestão urbana.

O Estatuto da Cidade tem quatro dimensões principais, quais sejam: uma conceitual, que explicita
o princípio constitucional central das funções sociais da propriedade e da cidade e os outros princípios
determinantes da política urbana; uma instrumental, que cria uma série de instrumentos para
materialização de tais princípios de política urbana; uma institucional, que estabelece mecanismos,
processos e recursos para a gestão urbana; e, finalmente, uma dimensão de regularização fundiária dos
assentamentos informais consolidados.

O Estatuto da Cidade, lei federal, que estabeleceu normas de ordem pública e interesse social que
regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos
cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.

São instrumentos da Política Urbana previstos no Estatuto da Cidade: a) instrumentos de


planejamento; b) institutos tributários e financeiros; c) institutos jurídicos e políticos; d) estudo prévio
de impacto ambiental e de impacto de vizinhança.

Importante Instituto: Direito de superfície

O direito de superfície abrange o direito de utilizar o solo, o subsolo ou o espaço aéreo relativo ao
terreno, na forma estabelecida no contrato respectivo, atendida a legislação urbanística.
29
Unidade I

A concessão do direito de superfície poderá ser gratuita e onerosa.

O direito de superfície pode ser transferido a terceiros, obedecidos os termos do contrato respectivo.

Por morte do superficiário, os seus direitos transmitem-se a seus herdeiros.

A extinção do direito de superfície será averbada no cartório de registro de imóveis.

Usucapião Especial de Imóvel Urbano

Considerando a usucapião Especial de Imóvel Urbano, podemos afirmar que:

Aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de até duzentos e cinquenta metros
quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua
família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

O herdeiro legítimo continua, de pleno direito, a posse de seu antecessor, desde que já resida no
imóvel por ocasião da abertura da sucessão.

Na ação judicial de usucapião especial de imóvel urbano, o rito processual a ser observado é o sumário.

São partes legítimas para a propositura da ação de usucapião especial urbana os possuidores, em
estado de composse.

A Gestão Democrática da Cidade

Órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e municipal;

Debates, audiências e consultas públicas;

Conferências sobre assuntos de interesse urbano, nos níveis nacional, estadual e municipal;

Iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano.

Principais pontos de destaque da Legislação:

Art. 1º Na execução da política urbana, de que tratam os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, será
aplicado o previsto nesta Lei.

Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas
de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem
coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.

30
DIREITO URBANÍSTICO

Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da
cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:

I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia,
ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao
trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações;

II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas


dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos,
programas e projetos de desenvolvimento urbano;

III – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no


processo de urbanização, em atendimento ao interesse social;

IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das


atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar
e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente;

V – oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados


aos interesses e necessidades da população e às características locais;

VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:

a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos;

b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes;

c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à


infraestrutura urbana;

d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como polos geradores


de tráfego, sem a previsão da infraestrutura correspondente;

e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização;

f) a deterioração das áreas urbanizadas;

g) a poluição e a degradação ambiental;

h) a exposição da população a riscos de desastres. (Incluído dada pela Lei nº 12.608, de 2012)

VII – integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em vista o


desenvolvimento socioeconômico do Município e do território sob sua área de influência;

31
Unidade I

VIII – adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana


compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econômica do Município e
do território sob sua área de influência;

IX – justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização;

X – adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira e dos gastos


públicos aos objetivos do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os investimentos
geradores de bem-estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais;

XI – recuperação dos investimentos do Poder Público de que tenha resultado a valorização de


imóveis urbanos;

XII – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio


cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico;

XIII – audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos de


implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre
o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população;

XIV – regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda
mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e
edificação, consideradas a situação socioeconômica da população e as normas ambientais;

XV – simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas edilícias,


com vistas a permitir a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades
habitacionais;

XVI – isonomia de condições para os agentes públicos e privados na promoção de empreendimentos


e atividades relativos ao processo de urbanização, atendido o interesse social.

XVII - estímulo à utilização, nos parcelamentos do solo e nas edificações urbanas, de sistemas
operacionais, padrões construtivos e aportes tecnológicos que objetivem a redução de impactos
ambientais e a economia de recursos naturais. (Incluído pela Lei nº 12.836, de 2013)

Art. 3º Compete à União, entre outras atribuições de interesse da política urbana:

I – legislar sobre normas gerais de direito urbanístico;

II – legislar sobre normas para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios em relação à política urbana, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do
bem-estar em âmbito nacional;

32
DIREITO URBANÍSTICO

III – promover, por iniciativa própria e em conjunto com os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e
de saneamento básico;

IV – instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e


transportes urbanos;

V – elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento


econômico e social.

Leitura recomendada:

http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNPU/Biblioteca/PlanelamentoUrbano/EstatutoComentado_Portugues.pdf

BIBLIOGRAFIA DO MÓDULO 04

COSTA, Karla Ludimila Vieira. Noções introdutórias sobre Direito Urbanístico. Jus Navigandi, Teresina, ano
15, n. 2732, 24 dez. 2010 . Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/18108>. Acesso em: 14 set. 2013.

GUIMARÃES, Nathália Arruda. O direito urbanístico e a disciplina da propriedade. Net, Rio de Janeiro,
jan. 2004.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2001.

PIOVEZANE, Pedro de Milanelo. Elementos de Direito Urbanístico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1981.

PIRES, Luis Manuel Fonseca. Loteamentos Urbanos. São Paulo: Quartier Latin, 2006.

RODRIGUES, Francisco Luciano Lima (Org.). Estudos de Direito Constitucional e Urbanístico. São Paulo:
RCS, 2007.

SALEME, Edson Ricardo. Parâmetros sobre a função social da cidade. In: Conpedi, 2006, Manaus. http://
www.conpedi.org/manaus/arquivos/Anais/Edson Ricardo Saleme.pdf

SALEME, Edson Ricardo. SILVA, Solange Teles. Plano Diretor, Participação Popular e responsabilidades:
<http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/bh/edson_ricardo_saleme.pdf> acessado em
14/07/2009.

SAULE JUNIOR, Nelson. Novas perspectivas do Direito Urbanístico Brasileiro. Ordenamento

SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2010.

33
Unidade I

__________________Direito Ambiental Constitucional. 6 ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

SOUZA, Elaine Castelo Branco e outros. Desafios da gestão ambiental nos municípios. Políticas
ambientais no Brasil: análises instrumentos e experiências.org.: Little, Paul. E. São Paulo: Editora
Petrópolis, 2003, p.69.

34
DIREITO URBANÍSTICO

Unidade II
MÓDULO 05

5. Planejamento Urbanístico

Política pública é uma atividade específica desenvolvida pelo Estado em resposta a um problema
social diagnosticado, isto é, a um estado de coisas não desejado e que se quer transformar. Para atingir
os resultados esperados, o Poder Público vale-se de um conjunto coordenado de ações, ou, mais
propriamente, de um programa de atuação estável no tempo, fruto de uma decisão racional tomada em
um processo democrático participativo de planejamento que define objetivos socialmente relevantes a
serem alcançados, seleciona e hierarquiza prioridades com base em critérios impessoais e objetivamente
aferíveis, reserva os meios necessários (escolhas de alocação de recursos financeiros, humanos e materiais
disponíveis), estrutura e institucionaliza organizações e procedimentos para a execução coordenada das
atividades e define os prazos dentro dos quais se espera atingir as metas.

5.1. Regime Jurídico do Planejamento Urbanístico

No Brasil todo plano urbanístico há de ser aprovado por lei.

5.2. Planejamento Urbanístico no Brasil: Da política urbana

O Brasil conheceu uma verdadeira revolução demográfica a partir da década de cinquenta do século
passado, eis que houve um grande êxodo rural em direção às cidades. No entanto, esse processo de
urbanização se tornou assimétrico, privilegiou inicialmente apenas nas grandes capitais do Sudeste, mas
a partir da década de 80 passou a ocorreu também nas principais capitais do país[1]. Assim fenômenos
como da macrourbanização e da metropolização são uma realidade em nosso país. Santos e Silveira
apontam as principais características da urbanização brasileira[2]:

O fenômeno de macrourbanização e metropolização ganhou, nas últimas décadas, importância


fundamental: concentração da população e da pobreza, contemporânea da rarefação rural e
da dispersão geográfica das classes médias; concentração das atividades relacionais modernas,
contemporânea da dispersão geográfica da produção física; localização privilegiada da crise de
ajustamento às mudanças na divisão internacional de trabalho e às suas repercussões internas, o
que inclui a crise fiscal; ‘involução metropolitana’, com a coexistência de atividades com diversos
níveis de capital, tecnologia, organização e trabalho; maior centralização da irradiação ideológica,
com a concentração dos meios de difusão das ideias, mensagens e ordens; construção de uma
materialidade adequada à realização de objetivos econômicos e socioculturais e com impacto casual
sobre o conjunto dos demais vetores.

35
Unidade II

Com efeito, a urbanização no Brasil não apenas modificou o perfil da população brasileira,
que passou de rural à urbana, modificou também o centro de irradiação de poder econômico, que
passou a se concentrar nas cidades, notadamente nas grandes metrópoles, e ideológico, eis que os
núcleos irradiadores de ideias como as universidades, os meios de comunicação entre outros são
notadamente urbanos.

Essa urbanização também passou a consumir maiores recursos naturais e serviços públicos como
eletricidade, água tratada, impermeabilização do solo, estratégias de locomoção e meios de transporte.
Assim os impactos ambientais dessa nova realidade sócio-geográfica são evidentes.

Ciente desse panorama e convicto que a resolução dos problemas urbanas ultrapassariam a esfera
local o Constituinte estabeleceu no artigo 21, XX da Constituição que competiria a União instituir
diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos.
Assim uma política urbana voltada para o desenvolvimento sustentável pode e deve ser articulada no
plano federal.

Evidentemente que as políticas urbanas desenvolvidas pela União deveriam estar em harmonia com
os municípios que também possui atribuição constitucional de zelar pelo espaço urbano.

Convém ressaltar, no entanto, que a maior parte dos municípios brasileiros ainda não conseguiu
implementar uma política ambiental e de desenvolvimento que, ao mesmo tempo em que responde
às necessidades locais, seja coerente e compatível com as políticas estabelecidas pelo governo federal
ou estadual. Há diversos problemas de ordem institucional, política, administrativa e financeira, tanto
dentro dos próprios municípios como em suas relações com os Estados-membros e a própria União.

No plano legislativo a Lei Federal n° 6.983/1981 estabeleceu as bases da política nacional do meio
ambiente e criou o sistema nacional do meio ambiente, dispondo sobre a articulação e responsabilidade
de seus órgãos competentes nos três níveis de governo.

A mencionada lei estabeleceu ainda o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), órgão
consultivo e deliberativo do sistema nacional de meio ambiente cuja formação é múltipla possuindo
representantes dos Municípios dos Estados-membros, da União e da sociedade civil.

Também em matéria legislativa cumpre ressaltar o estatuto da cidade (lei n° 10.257 de 2001), que
estabeleceu diretrizes gerais da política urbana e normas de ordem pública e interesse social que regulam
o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem
como do equilíbrio ambiental.

As principais diretrizes para a política urbana definidas pelo estatuto da cidade são; garantia do
direito a cidades sustentáveis; gestão democrática; planejamento do desenvolvimento das cidades;
ordenação e controle do uso do solo; privilégio para investimentos geradores de bem-estar social;
proteção do meio ambiente natural e patrimônio cultural e estímulo a participação popular por meio de
audiências públicas como pré-requisito às instalações de empreendimentos impactantes.

36
DIREITO URBANÍSTICO

Os principais instrumentos para a implementação de uma política pública urbana voltada ao


desenvolvimento sustentável previstos naquele diploma legal são as operações urbanas consorciadas e
o estudo de impacto de vizinhança[3].

As operações urbanas consorciadas constituem um conjunto de intervenções e medidas coordenadas


pelo Poder Público Municipal, com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e
investidores, a fim de alcançar, em uma área, transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais
e valorização ambiental[4].

Já o estudo de impacto de vizinhança é um estudo semelhante ao estudo de impacto ambiental


cuja finalidade visa promover um estudo acerca das questões pertinentes como adensamento
populacional, equipamentos urbanos e comunitários, uso e ocupação do solo, geração de tráfego
e demanda de transporte público, ventilação e iluminação, poluição sonora, paisagem urbana e
patrimônio natural e cultural[5].

Assim, existem mecanismos institucionais capazes de proporcionar a busca pelas cidades sustentáveis,
conceito criado a partir da necessidade de implementação local das propostas da Agenda 21. Segundo
os estudos patrocinados pelo Ministério do Meio Ambiente[6] as propostas estratégicas identificadas
para se alcançar o desenvolvimento sustentável das cidades brasileiras são quatro:

a) o aperfeiçoamento e a regulação do uso e da ocupação do solo urbano e a promoção do


ordenamento do território, com vistas a melhoria das condições de vida da população;

b) a promoção de planejamento e de gestão democrática da cidade, incorporando no processo a


dimensão ambiental urbana e assegurando a efetiva participação da sociedade;

c) a realização de mudanças nos padrões de produção e de consumo da cidade, reduzindo custos e


desperdícios e fomentando o desenvolvimento de tecnologias urbanas sustentáveis;

d) o desenvolvimento e o estímulo à aplicação de instrumentos econômicos no gerenciamento dos


recursos naturais visando à sustentabilidade urbana.

Com efeito, a maioria dos instrumentos necessários para efetivação do conceito de cidades
sustentáveis já existe. Afinal, a legislação citada permite um leque amplo de ações dos poderes públicos
com vistas a implementação daqueles requisitos.

[1] Cf.: SANTOS, Milton & SILVEIRA, María Laura. op. cit. p. 205-207.

[2] Id. Ibid p. 206.

[3] SOUZA, Elaine Castelo Branco e outros. Desafios da gestão ambiental nos municípios. Políticas
ambientais no Brasil: análises instrumentos e experiências.org.: Little, Paul. E. São Paulo: Editora
Peirópolis, 2003, p.69.

37
Unidade II

[4] Cf.: Id. Ibid p. 69.

[5] Cf.: Id. Ibid. p. 70.

[6] MMA/IBAMA/ Consórcio Parceria 21. Cidades sustentáveis: subsídios à elaboração da agenda 21
brasileira. Brasília: MMA/IBAMA, 2000.

BIBLIOGRAFIA DO MÓDULO

COSTA, Karla Ludimila Vieira. Noções introdutórias sobre Direito Urbanístico. Jus Navigandi, Teresina, ano
15, n. 2732, 24dez. 2010 . Disponível em:<http://jus.com.br/artigos/18108>. Acesso em: 14 set. 2013.

GUIMARÃES, Nathália Arruda. O direito urbanístico e a disciplina da propriedade. Net, Rio de Janeiro,
jan. 2004.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2001.

PIOVEZANE, Pedro de Milanelo. Elementos de Direito Urbanístico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1981.

PIRES, Luis Manuel Fonseca. Loteamentos Urbanos. São Paulo: Quartier Latin, 2006.

RODRIGUES, Francisco Luciano Lima (Org.). Estudos de Direito Constitucional e Urbanístico. São Paulo:
RCS, 2007.

SALEME, Edson Ricardo. Parâmetros sobre a função social da cidade. In: Conpedi, 2006, Manaus. http://
www.conpedi.org/manaus/arquivos/Anais/Edson Ricardo Saleme.pdf

SALEME, Edson Ricardo. SILVA, Solange Teles. Plano Diretor, Participação Popular e responsabilidades:
<http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/bh/edson_ricardo_saleme.pdf> acessado em
14/07/2009.

SAULE JUNIOR, Nelson. Novas perspectivas do Direito Urbanístico Brasileiro. Ordenamento

SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2010.

__________________Direito Ambiental Constitucional. 6 ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

SOUZA, Elaine Castelo Branco e outros. Desafios da gestão ambiental nos municípios. Políticas
ambientais no Brasil: análises instrumentos e experiências.org.: Little, Paul. E. São Paulo: Editora
Peirópolis, 2003, p.69.

38
DIREITO URBANÍSTICO

Ordenação Jurídico-Urbanística do Solo

Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade (LEI 10.257/2001), estabelece normas
de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo,
da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.

Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da
cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:

I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia,
ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao
trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações;

II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas


dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos,
programas e projetos de desenvolvimento urbano;

III – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no


processo de urbanização, em atendimento ao interesse social;

IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das


atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar
e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente;

V – oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados


aos interesses e necessidades da população e às características locais;

VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar:

a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos;

b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes;

c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à


infraestrutura urbana;

d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como polos geradores


de tráfego, sem a previsão da infraestrutura correspondente;

e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização;

f) a deterioração das áreas urbanizadas;

39
Unidade II

g) a poluição e a degradação ambiental;

h) a exposição da população a riscos de desastres. (Incluído dada pela Lei nº 12.608, de 2012)

VII – integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em vista o


desenvolvimento socioeconômico do Município e do território sob sua área de influência;

VIII – adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana


compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econômica do Município e
do território sob sua área de influência;

IX – justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização;

X – adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira e dos gastos


públicos aos objetivos do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os investimentos
geradores de bem-estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais;

XI – recuperação dos investimentos do Poder Público de que tenha resultado a valorização de


imóveis urbanos;

XII – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio


cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico;

XIII – audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos de


implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre
o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população;

XIV – regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda
mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e
edificação, consideradas a situação socioeconômica da população e as normas ambientais;

XV – simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas


edilícias, com vistas a permitir a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e
unidades habitacionais;

XVI – isonomia de condições para os agentes públicos e privados na promoção de empreendimentos


e atividades relativos ao processo de urbanização, atendido o interesse social.

XVII - estímulo à utilização, nos parcelamentos do solo e nas edificações urbanas, de sistemas
operacionais, padrões construtivos e aportes tecnológicos que objetivem a redução de impactos
ambientais e a economia de recursos naturais. (Incluído pela Lei nº 12.836, de 2013)

40
DIREITO URBANÍSTICO

Art. 3º Compete à União, entre outras atribuições de interesse da política urbana:

I – legislar sobre normas gerais de direito urbanístico;

II – legislar sobre normas para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios em relação à política urbana, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do
bem-estar em âmbito nacional;

III – promover, por iniciativa própria e em conjunto com os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e
de saneamento básico;

IV – instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e


transportes urbanos;

V – elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento


econômico e social.

CAPÍTULO II

DOS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA URBANA

Seção I

Dos instrumentos em geral

Art. 4º Para os fins desta Lei, serão utilizados, entre outros instrumentos:

I – planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento


econômico e social;

II – planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões;

III – planejamento municipal, em especial:

a) plano diretor;

b) disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo;

c) zoneamento ambiental;

d) plano plurianual;

e) diretrizes orçamentárias e orçamento anual;


41
Unidade II

f) gestão orçamentária participativa;

g) planos, programas e projetos setoriais;

h) planos de desenvolvimento econômico e social;

IV – institutos tributários e financeiros:

a) imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana - IPTU;

b) contribuição de melhoria;

c) incentivos e benefícios fiscais e financeiros;

V – institutos jurídicos e políticos:

a) desapropriação;

b) servidão administrativa;

c) limitações administrativas;

d) tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano;

e) instituição de unidades de conservação;

f) instituição de zonas especiais de interesse social;

g) concessão de direito real de uso;

h) concessão de uso especial para fins de moradia;

i) parcelamento, edificação ou utilização compulsórios;

j) usucapião especial de imóvel urbano;

l) direito de superfície;

m) direito de preempção;

n) outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso;

o) transferência do direito de construir;

42
DIREITO URBANÍSTICO

p) operações urbanas consorciadas;

q) regularização fundiária;

r) assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidades e grupos sociais menos


favorecidos;

s) referendo popular e plebiscito;

t) demarcação urbanística para fins de regularização fundiária; (Incluído pela Lei nº 11.977, de 2009)

u) legitimação de posse. (Incluído pela Lei nº 11.977, de 2009)

VI – estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV).

§ 1º Os instrumentos mencionados neste artigo regem-se pela legislação que lhes é própria, observado
o disposto nesta Lei.

§ 2º Nos casos de programas e projetos habitacionais de interesse social, desenvolvidos por órgãos
ou entidades da Administração Pública com atuação específica nessa área, a concessão de direito
real de uso de imóveis públicos poderá ser contratada coletivamente.

§ 3º Os instrumentos previstos neste artigo que demandam dispêndio de recursos por parte do Poder
Público municipal devem ser objeto de controle social, garantida a participação de comunidades,
movimentos e entidades da sociedade civil.

BIBLIOGRAFIA DO MÓDULO

ESTATUTO DA CIDADE – LEI 10.257/2001

COSTA, Karla Ludimila Vieira. Noções introdutórias sobre Direito Urbanístico. Jus Navigandi,
Teresina, ano 15, n. 2732, 24dez. 2010 . Disponível em:<http://jus.com.br/artigos/18108>. Acesso
em: 14 set. 2013.

GUIMARÃES, Nathália Arruda. O direito urbanístico e a disciplina da propriedade. Net, Rio de Janeiro,
jan. 2004.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2001.

PIOVEZANE, Pedro de Milanelo. Elementos de Direito Urbanístico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1981.

PIRES, Luis Manuel Fonseca. Loteamentos Urbanos. São Paulo: Quartier Latin, 2006.
43
Unidade II

RODRIGUES, Francisco Luciano Lima (Org.). Estudos de Direito Constitucional e Urbanístico. São Paulo:
RCS, 2007.

SALEME, Edson Ricardo. Parâmetros sobre a função social da cidade. In: Conpedi, 2006, Manaus. http://
www.conpedi.org/manaus/arquivos/Anais/Edson Ricardo Saleme.pdf

SALEME, Edson Ricardo. SILVA, Solange Teles. Plano Diretor, Participação Popular e responsabilidades:
<http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/bh/edson_ricardo_saleme.pdf> acessado em 14/07/2009.

SAULE JUNIOR, Nelson. Novas perspectivas do Direito Urbanístico Brasileiro. Ordenamento

SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2010.

__________________Direito Ambiental Constitucional. 6 ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

SOUZA, Elaine Castelo Branco e outros. Desafios da gestão ambiental nos municípios. Políticas
ambientais no Brasil: análises instrumentos e experiências.org.: Little, Paul. E. São Paulo: Editora
Peirópolis, 2003, p.69.

Ordenação de Áreas de Interesse Urbanístico Especial

Ordenação urbanística de áreas de especial interesse: ações voltadas a preservar certos sítios urbanos
em razão de seu valor e de outros destinados à restauração e recuperação a fim de atender às funções
essenciais da cidade: trabalhar, habitar, recrear e circular

Ordenação urbanística da atividade edilícia: disciplina das edificações e exame de sua harmonização
com as normas legais vigentes.

Trata-se de intervenção do poder público para ordenação dos espaços urbanos que implica intervir
na propriedade privada e na atividade econômica e social

Do Plano Diretor (Estatuto da Cidade)

Art. 39. A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais
de ordenação da cidade expressas no plano diretor, assegurando o atendimento das necessidades
dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades
econômicas, respeitadas as diretrizes previstas no art. 2o desta Lei.

Art. 40. O plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da política de
desenvolvimento e expansão urbana.

§ 1º O plano diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, devendo o plano


plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades
nele contidas.
44
DIREITO URBANÍSTICO

§ 2º O plano diretor deverá englobar o território do Município como um todo.

§ 3º A lei que instituir o plano diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos.

§ 4º No processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua implementação, os Poderes


Legislativo e Executivo municipais garantirão:

I – a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações


representativas dos vários segmentos da comunidade;

II – a publicidade quanto aos documentos e informações produzidos;

III – o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações produzidos.

Art. 41. O plano diretor é obrigatório para cidades:

I – com mais de vinte mil habitantes;

II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;

III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no § 4o do art.
182 da Constituição Federal;

IV – integrantes de áreas de especial interesse turístico;

V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto


ambiental de âmbito regional ou nacional.

VI - incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de


deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos
correlatos. (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)

§ 1o No caso da realização de empreendimentos ou atividades enquadradas no inciso V do caput,


os recursos técnicos e financeiros para a elaboração do plano diretor estarão inseridos entre as
medidas de compensação adotadas.

§ 2o No caso de cidades com mais de quinhentos mil habitantes, deverá ser elaborado um plano de
transporte urbano integrado, compatível com o plano diretor ou nele inserido.

Art. 42. O plano diretor deverá conter no mínimo:

I – a delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicado o parcelamento, edificação ou
utilização compulsórios, considerando a existência de infraestrutura e de demanda para
utilização, na forma do art. 5o desta Lei;
45
Unidade II

II – disposições requeridas pelos arts. 25, 28, 29, 32 e 35 desta Lei;

III – sistema de acompanhamento e controle.

Art. 42-A. Além do conteúdo previsto no art. 42, o plano diretor dos Municípios incluídos no cadastro
nacional de municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto,
inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos deverá conter: (Incluído
pela Lei nº 12.608, de 2012).

I - parâmetros de parcelamento, uso e ocupação do solo, de modo a promover a diversidade de


usos e a contribuir para a geração de emprego e renda; (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)

II - mapeamento contendo as áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto,


inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos; (Incluído pela Lei nº
12.608, de 2012)

III - planejamento de ações de intervenção preventiva e realocação de população de áreas de


risco de desastre; (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)

IV - medidas de drenagem urbana necessárias à prevenção e à mitigação de impactos de desastres;


e (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)

V - diretrizes para a regularização fundiária de assentamentos urbanos irregulares, se houver,


observadas a Lei no 11.977, de 7 de julho de 2009, e demais normas federais e estaduais
pertinentes, e previsão de áreas para habitação de interesse social por meio da demarcação
de zonas especiais de interesse social e de outros instrumentos de política urbana, onde o uso
habitacional for permitido. (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)

§ 1o A identificação e o mapeamento de áreas de risco levarão em conta as cartas geotécnicas.


(Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)

§ 2o O conteúdo do plano diretor deverá ser compatível com as disposições insertas nos planos de
recursos hídricos, formulados consoante a Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997. (Incluído pela Lei
nº 12.608, de 2012)

§ 3o Os Municípios adequarão o plano diretor às disposições deste artigo, por ocasião de sua revisão,
observados os prazos legais. (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)

§ 4o Os Municípios enquadrados no inciso VI do art. 41 desta Lei e que não tenham plano diretor
aprovado terão o prazo de 5 (cinco) anos para o seu encaminhamento para aprovação pela Câmara
Municipal. (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)

Art. 42-B. Os Municípios que pretendam ampliar o seu perímetro urbano após a data de publicação
desta Lei deverão elaborar projeto específico que contenha, no mínimo: (Incluído pela Lei nº
12.608, de 2012)

46
DIREITO URBANÍSTICO

I - demarcação do novo perímetro urbano; (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)

II - delimitação dos trechos com restrições à urbanização e dos trechos sujeitos a controle especial
em função de ameaça de desastres naturais; (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)

III - definição de diretrizes específicas e de áreas que serão utilizadas para infraestrutura,
sistema viário, equipamentos e instalações públicas, urbanas e sociais; (Incluído pela Lei nº
12.608, de 2012)

IV - definição de parâmetros de parcelamento, uso e ocupação do solo, de modo a promover


a diversidade de usos e contribuir para a geração de emprego e renda; (Incluído pela Lei nº
12.608, de 2012)

V - a previsão de áreas para habitação de interesse social por meio da demarcação de zonas
especiais de interesse social e de outros instrumentos de política urbana, quando o uso
habitacional for permitido; (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)

VI - definição de diretrizes e instrumentos específicos para proteção ambiental e do patrimônio


histórico e cultural; e (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)

VII - definição de mecanismos para garantir a justa distribuição dos ônus e benefícios decorrentes
do processo de urbanização do território de expansão urbana e a recuperação para a coletividade
da valorização imobiliária resultante da ação do poder público.

§ 1o O projeto específico de que trata o caput deste artigo deverá ser instituído por lei municipal
e atender às diretrizes do plano diretor, quando houver. (Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)

§ 2o Quando o plano diretor contemplar as exigências estabelecidas no caput, o Município ficará


dispensado da elaboração do projeto específico de que trata o caput deste artigo (Incluído pela
Lei nº 12.608, de 2012)

§ 3o A aprovação de projetos de parcelamento do solo no novo perímetro urbano ficará condicionada


à existência do projeto específico e deverá obedecer às suas disposições. (Incluído pela Lei nº
12.608, de 2012)

CAPÍTULO IV

DA GESTÃO DEMOCRÁTICA DA CIDADE

Art. 43. Para garantir a gestão democrática da cidade, deverão ser utilizados, entre outros, os
seguintes instrumentos:

I – órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e municipal;

47
Unidade II

II – debates, audiências e consultas públicas;

III – conferências sobre assuntos de interesse urbano, nos níveis nacional, estadual e municipal;

IV – iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;

V – (VETADO)

Art. 44. No âmbito municipal, a gestão orçamentária participativa de que trata a alínea f do inciso
III do art. 4o desta Lei incluirá a realização de debates, audiências e consultas públicas sobre as
propostas do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e do orçamento anual, como
condição obrigatória para sua aprovação pela Câmara Municipal.

Art. 45. Os organismos gestores das regiões metropolitanas e aglomerações urbanas incluirão
obrigatória e significativa participação da população e de associações representativas dos vários
segmentos da comunidade, de modo a garantir o controle direto de suas atividades e o pleno
exercício da cidadania.

CAPÍTULO V

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 46. O Poder Público municipal poderá facultar ao proprietário de área atingida pela obrigação
de que trata o caput do art. 5o desta Lei, a requerimento deste, o estabelecimento de consórcio
imobiliário como forma de viabilização financeira do aproveitamento do imóvel.

§ 1o Considera-se consórcio imobiliário a forma de viabilização de planos de urbanização ou


edificação por meio da qual o proprietário transfere ao Poder Público municipal seu imóvel e, após
a realização das obras, recebe, como pagamento, unidades imobiliárias devidamente urbanizadas
ou edificadas.

§ 2o O valor das unidades imobiliárias a serem entregues ao proprietário será correspondente ao


valor do imóvel antes da execução das obras, observado o disposto no § 2o do art. 8o desta Lei.

Art. 47. Os tributos sobre imóveis urbanos, assim como as tarifas relativas a serviços públicos urbanos,
serão diferenciados em função do interesse social.

Art. 48. Nos casos de programas e projetos habitacionais de interesse social, desenvolvidos por
órgãos ou entidades da Administração Pública com atuação específica nessa área, os contratos de
concessão de direito real de uso de imóveis públicos:

I – terão, para todos os fins de direito, caráter de escritura pública, não se aplicando o disposto no
inciso II do art. 134 do Código Civil;

48
DIREITO URBANÍSTICO

II – constituirão título de aceitação obrigatória em garantia de contratos de financiamentos


habitacionais.

BIBLIOGRAFIA DO MÓDULO

COSTA, Karla Ludimila Vieira. Noções introdutórias sobre Direito Urbanístico. Jus Navigandi, Teresina, ano
15, n. 2732, 24dez. 2010 . Disponível em:<http://jus.com.br/artigos/18108>. Acesso em: 14 set. 2013.

GUIMARÃES, Nathália Arruda. O direito urbanístico e a disciplina da propriedade. Net, Rio de Janeiro,
jan. 2004.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2001.

PIOVEZANE, Pedro de Milanelo. Elementos de Direito Urbanístico. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1981.

PIRES, Luis Manuel Fonseca. Loteamentos Urbanos. São Paulo: Quartier Latin, 2006.

RODRIGUES, Francisco Luciano Lima (Org.). Estudos de Direito Constitucional e Urbanístico. São Paulo:
RCS, 2007.

SALEME, Edson Ricardo. Parâmetros sobre a função social da cidade. In: Conpedi, 2006, Manaus. http://
www.conpedi.org/manaus/arquivos/Anais/Edson Ricardo Saleme.pdf

SALEME, Edson Ricardo. SILVA, Solange Teles. Plano Diretor, Participação Popular e responsabilidades:
<http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/bh/edson_ricardo_saleme.pdf> acessado em
14/07/2009.

SAULE JUNIOR, Nelson. Novas perspectivas do Direito Urbanístico Brasileiro. Ordenamento

SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2010.

__________________Direito Ambiental Constitucional. 6 ed. São Paulo: Malheiros, 2007.

SOUZA, Elaine Castelo Branco e outros. Desafios da gestão ambiental nos municípios. Políticas
ambientais no Brasil: análises instrumentos e experiências.org.: Little, Paul. E. São Paulo: Editora
Peirópolis, 2003, p.69.

49
Unidade II

Instrumentos de Intervenção Urbanística

Brasil

A política de desenvolvimento urbano brasileira conta, desde o advento do Estatuto da Cidade, em


meados de 2001, com ferramental tecno-jurídico avançado para alcançar os objetivos assinalados na
Constituição Federal: ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-
estar de seus habitantes.

Dentre as “armas” concedidas aos poderes públicos municipais para tal fim, destaca-se o fortalecimento
da tributação social em nível local, agora, ainda mais explicitada pelos textos legais, textos estes eficazes
juridicamente, e potencialmente aptos a promover mudanças no quadro sócio-urbano nacional.
Potencialidade esta que, entretanto, para desabrochar, necessita, por parte dos legislativos e executivos
municipais, esforço no sentido de “enraizar” mais as diretrizes do Estatuto nos ordenamentos e nas
Administrações locais, sob pena de, como ocorre com a maioria das leis em nosso país, transformar-se o
texto promulgado em apenas mais um “bonito exemplo de como as coisas deveriam ser”.

Os importantes instrumentos de intervenção urbana a que se referem o Estatuto são vários,


conforme descrito em tópico adiante, dentre eles, os institutos tributários de política urbana interessam
diretamente à população urbana por importarem uma mudança no enfoque da taxação imobiliária, que
deverá pender muito para o lado social, uma vez que a extrafiscalidade passa a ser a sua tônica (apesar
de, quanto a isto, vozes abalizadas da doutrina jurídica nacional, como REGIS FERNANDES DE OLIVEIRA,
opinarem pela inconstitucionalidade do art. 47 do Estatuto da Cidade, que assim dispõe:

“Art. 47. Os tributos sobre imóveis urbanos, assim como as tarifas relativas a serviços públicos
urbanos, serão diferenciados em função do interesse social”), motivo mais do que suficiente para
que sejam analisados e desenvolvidos com esmero pelos operadores do direito brasileiro, destarte
suas dificuldades para implementação na prática das tributações locais.

ATENÇÃO:

Ler::

http://ibdu.org.br/eficiente/repositorio/Projetos-de-Pesquisa/congressos-e-seminarios/recife-2004/186.pdf

http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=2953

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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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