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Martin Heidegger 1
1HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. In: ______. Caminhos de Floresta. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian. p. 38-41. Trad.: Irene Borges-Duarte e Filipa Pedroso.
daquilo que esta palavra aqui quer dizer tanto a representação de uma massa de
matéria sedimentada, como a representação meramente astronómica de um planeta. A
terra é aquilo em que se volta a pôr a coberto o irromper de tudo aquilo que irrompe e
que, com efeito. [se volta aí a pôr a coberto] enquanto tal. Naquilo que irrompe, a
terra está a ser como aquilo que põe a descoberto.
A obra que o templo é, estando aí de pé, torna originariamente patente um
mundo e, ao mesmo tempo, repõe-no sobre a terra, a qual, desse modo, só então surge
como solo natal. Mas os homens e os animais, as plantas e as coisas nunca estão aí
nem são tidos como objectos imutáveis, para, mais tarde, constituírem, de forma
casual, a envolvência apropriada para o templo, que, um dia, se acrescenta àquilo que
está presente. Aproximamo-nos mais daquilo que é se pensarmos tudo ao invés,
supondo, evidentemente, que somos, antes de mais, capazes de ver como tudo se nos
apresenta de outro modo. A simples inversão, efectuada por si mesma, não resulta em
nada.
O templo, no seu estar-aí-de-pé, dá às coisas pela primeira vez o seu rosto, e
aos homens dá pela primeira vez a perspectiva acerca de si mesmos. Esta vista
permanece aberta enquanto uma obra for uma obra, enquanto o deus não se tiver
escapado dela. O mesmo acontece com a imagem do deus, que o vencedor, no
torneio, lhe consagra. Não é uma cópia para que, por ela, mais facilmente se tome
conhecimento do aspecto do deus, mas sim uma obra que deixa o próprio deus estar
presente e, por isso, é o próprio deus. […]
[…] Consagrar significa tornar sagrado, no sentido em que, no edificar com o
carácter de obra, o sagrado se torna originariamente patente como sagrado e o deus é
chamado para o aberto da sua presença. Pertence ao consagrar o glorificar, como
reconhecimento da dignidade e do resplendor do deus. Dignidade e resplendor não
são propriedades a par das quais e por detrás das quais o deus, para além disso, esteja
— é, sim, na dignidade e no resplendor que o deus está presente. No reflexo deste
resplendor resplandece, isto é, clareia-se aquilo a que chamámos o mundo.