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Apontamentos para pensar o Virtual na Educação.


Francisco Cock Fontanella1

Resumo:
A filosofia tradicional nos legou uma curiosa distinção no âmbito do real: o atual e o potencial, aliás
presente no nosso cotidiano. Todo real atual já foi potencial e é potencialmente algo outro. Ato e
potência podem explicar o movimento, as mudanças do real. Em contrapartida o virtual poderia estar
embutido no real. O avanço extraordinário da eletrônica nos pôs de chofre frente e, ao mesmo tempo,
imersos no virtual. Somos forçados a admitir, hoje, que o virtual também faz parte do real. Na verdade
o virtual sempre esteve realmente presente entre os humanos.
Palavras-Chave: Potencial; Virtual; Real; Eletrônica.

NOTES FOR THINKING THE VIRTUAL IN EDUCATION


Abstract:
Traditional Philosophy has left us a curious distinction in the ambit of the real: the actual and the
potential, which, in fact, are present in our everyday life. All that is actual had been potential and is
potentially another thing. Act and Potency may explain the movement, the changes of the real. On the
other hand, the virtual could be inserted in the real. The extraordinary advancement of electronics has
suddenly placed us up against, as well as immersed us, in the virtual. We must admit today that the
virtual pertains to the real. Indeed the virtual always has been present between humans.
Key words: Potential; Virtual; Real; Electronics.

ANOTACIONES PARA SE PENSAR LO VIRTUAL EN LA EDUCACIÓN


Resumen:
La filosofía tradicional nos dejó una curiosa distinción en el ámbito de lo real: lo actual y lo potencial,
presente en nuestro cotidiano. Todo real actual ya fue potencial e es potencialmente otra cosa. Acto y
potencia pueden explicar el movimiento, los cambios de lo real. En contrapartida, lo virtual podría
estar dentro de lo real. El avance extraordinario de la electrónica nos coloca de chofre (não sei o
significado, estará errada a escrita?) frente e, al mismo tiempo, inmersos en lo virtual. Somos forzados
a admitir, hoy, que lo virtual también forma parte de lo real. Lo cierto es que lo virtual siempre estuvo
realmente presente entre los humanos.
Palabras-claves: Potencial; Virtual; Electrónica.

O potencial (a potência aristotélica)


David Ross, em sua obra “Aristote” (1930), relata a discussão de Aristóteles a respeito
da “potência” - dynamis, na qual se refere à passagem de um estado relativamente informe
para outro relativamente formado (p.247); aí usa os termos: potência e ato. Na Metafísica o
termo tem dois sentidos:
1 - poder de produzir mudança em outro;
2 - poder passar de um estado a um outro (ib.).
Aristóteles dá como indefinível a noção e a esclarece com exemplos. Ato é a realidade
atual, agora. Potência: aquilo que tal ato pode ser. Quando dizemos: A se tornou B, por quê
podemos dizê-lo? Porque A já era B em potência. Em A já se encontravam certas condições
do estado B. Nos seres vivos tal parece acontecer. Para Aristóteles o movimento seria
inexplicável sem o conceito de potência. A expressão existir em potência se encontra em Met.
IX, 3, 22 - 1047a. (Trad. Leonel Vallandro, 1969).
Segundo Ferrater Mora, o termo potência é empregado para a compreensão da
1 Doutor em Educação pela UNICAMP e Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNIMEP.
e-mail:fcfontan@unimep.br
passagem. Potência = capacidade que pode ser atuada (por forças próprias ou outras).
Os Escolásticos distinguiam:
1 - potência lógica = não repugnância à existência (possibilidade ideal);
2 - potência real = possibilidade real, ativa ou passiva.
Permito-me observar que a tal potência lógica não vai além da mera possibilidade e,
com isto, não se encaixaria na potência aristotélica.
Em todos os processos fazemos um stop, e a tal processo, a realidade, no ponto em
que parou (no nosso pensamento), chamamos de atual (ato); a continuação, o que vem depois,
o devir da coisa em processo, pode ser chamado de potencial (potência). Quando dizemos que
“a realidade é dinâmica”, queremos significar que ela não está parada, que ela está em
contínua mudança - potência em Grego = dynamis = poder, força, potência // eficácia,
virtude // valor, significação // forças, tropas. (PEREIRA, I., 1976).
Afirmei que nosso pensamento faz uma parada no processo real, um corte, e deste
modo identificamos o ato. Bem. A tradição afirma que pensamos através de conceitos. Não é
tudo. Gostaria de perguntar se conseguimos pensar sem palavras. Minha resposta é que não,
ordinariamente. Se há algo que paralise a realidade, as palavras são os melhores paralisantes.
Se até o pensamento, que é tão fluido, paralisa a realidade, quanto mais as palavras...
Mas, voltemos à potência.
Confiramos as expressões:
Este motor tem 40 cavalos de potência (HP);
A China é uma potência nuclear;
As grandes potências decidem o destino do mundo;
O feiticeiro invocou as potências do inferno;
Na verdade desconhecemos as verdadeiras potências da alma;
A im-potência sexual pode nos acometer
Este engenho tem grande potência de fogo;
Fulano é uma potência”; etc.
Os exemplos poder-se-iam multiplicar indefinidamente. O termo potência faz parte do
nosso vocabulário técnico e quotidiano. Creio que todo mundo entende, quando o usamos. É
verdade que o par ato/potência só tem sentido, se paramos o curso do real. A filosofia
metafísica de Aristóteles foi acaparada pelos autores filósofos/teólogos cristãos e, sobretudo
por eles, tornou-se usual até hoje no mundo ocidental. Na verdade nada existe parado. Mas,
nós não conseguimos (não conseguimos?) pensar a realidade, sem paralisá-la. Pelo menos foi
assim que nos acostumamos. Notemos a proximidade destes dois verbos: pensar e pesar.
Parecem semelhantes apenas na escrita e na pronúncia. E no significado? Bem, vejamos:
quando garotos estão soltando “papagaio” e algum “papagaio” ‘pende’ de um lado, os garotos
dizem que ele ‘está penso”. Está penso, pende, pesa de um lado. Não seria ‘pensar as coisas’
semelhante a ‘pesar as coisas’? O Houaiss o confirma: pensar, cogitar, do lat. cl. - pesar,
examinar, ponderar, etc.
Coisas em transformação constante não podem ser pesadas, nem tão pouco pensadas.
Estão mudando de forma constantemente. (Na verdade, acreditamos que elas mudam de
forma acidental, mas, num sentido mais profundo (?), em geral, elas estão formadas, tem uma
certa forma, que as distinguem. Ao pensar (pesar), fixamos as coisas, que, por si mesmas,
estão sempre e continuamente em mudança: na verdade não há coisas; só há processos.
Pesamos as coisas num momento dado.
A paralisação dos processos parece ser uma necessidade (ou uma enfermidade) da
nossa condição. Não poderíamos viver, nem conviver, sem considerar certas coisas, certos
seres como idênticos (formados). Vejamos: pai, mãe, filho filha, esposo, esposa, todas as
outras pessoas, e todas as coisas estão em perpétua mudança, mas quase todas as coisas
permanecem idênticas (porque estão formadas, ou são in-formadas). Não falemos da
montanha, da nossa habitação, que parecem não mudar. Se comprei um livro no ano passado,
sei que hoje ele é o mesmo, ainda que um pouco envelhecido. Até os animais reconhecem
certa estabilidade nos outros seres, inclusive nos seus donos. A esta identidade no curso do
tempo chamamos de essência = o que não muda. Eis a raiz e a essência do que se chama
metafísica. No momento prefiro não me referir à substância.
Acima me referia à fixação do real como enfermidade. Sabemos que as coisas estão
em contínua mudança, mas precisamos pensá-las como idênticas. Por isso Aristóteles
inventou o tal par ato/potência. Por isso Heráclito, que afirmava que tudo flui, foi taxado de
obscuro.
É em vão que o positivismo se insurgiu contra a metafísica, pois ele próprio continuou
pensando metafisicamente. Até a maioria dos materialistas marxistas continuou a pensar
metafisicamente. A afirmação: todos os seres humanos têm os mesmos direitos só é inteligível
metafisicamente. Os seres humanos são humanos metafisicamente; Ter direitos iguais só é
inteligível metafisicamente. É inútil querer atribuir aos humanos a humanidade de um modo
puramente, pragmaticamente, funcional. A qualquer um, que assim pense, poderíamos
retorquir: se você não é humano, estão estamos perdendo tempo com você... Ou: “O seu
carrão não anda, não tem potência”. E ele retruca: “Quer ver?” Abre o carro, liga-o e acelera;
faz um barulho dos diabos. Volta-se para nós e diz triunfante: “Querem dar uma volta? Vocês
vão perceber a potência do ‘bicho’”!. Então podemos dizer: “Onde está a potência do seu
carro?”. Provavelmente ele responderá: “No motor”. Então diremos: “Lá dentro do motor está
a potência? Impossível. Vamos mandar abrir o motor do seu carro e veremos se lá há alguma
potência. Só encontraremos peças e óleo”. Creio que este exemplo, inventado, é
suficientemente esclarecedor. No motor está a fonte potencial, a potência, do movimento e da
tração do carro. Como há potência no carro, também há potência no grão de milho, que, se
plantado convenientemente, germinará, crescerá e produzirá muitos grãos de milho. Quem é
pai ou mãe, ou é filho de pai e mãe (todos somos, por enquanto, até que cheguem os clones...),
entende muito bem esse raciocínio.

O VIRTUAL

Ferrater Mora traz apenas o advérbio virtualiter como termo técnico dos Escolásticos.
“Enuncia-se algo virtualiter, quando se faz referência à causa capaz de produzi-lo”. Ex. O
efeito se encontra virtualmente na sua causa. (ib.). Tenho minhas objeções. O efeito possível
de uma causa qualquer não está sempre contido na sua causa. Estar contido é uma
expressão grosseira e pretensiosa. Se você está tranqüilo em sua casa, aqui, não morrerá sob
uma avalanche de neve. Se você estiver lá, no vale, acima do qual se ergue uma enorme
montanha coberta de neve, então... você poderá morrer, ou não. Sendo assim, morando
naquele lugar, você estaria virtualmente morto... (Se as pessoas se convencessem disto, talvez
nunca fossem morar lá. Já fiz acima objeções ao possível.
J. P. Machado, no seu DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO, traz que “virtual” é adaptação
do Francês virtuel. Virtuel = 1503, raro antes de meados do século XVII, do latim escolástico
virtualis, do Latim virtus. Que não existe senão em potência. Que está no estado de simples
possibilidade num ser real. Que tem em si todas as condições essenciais a sua realização.
Mecânica: trabalho virtual = a soma dos trabalhos elementares realizados pelas forças
aplicadas a um sistema de sólidos submetidos a deslocamentos fictícios (ou virtuais). Imagem
virtual = cujos pontos se encontram sobre o prolongamento dos raios luminosos. Física:
Processo virtual de emissão de partículas. Antônimos: atual, efetivo, formal, real. (PETIT
ROBERT, 1987).
A . Bertrand, (Les notions philosophiques, Dictionaire, 2. PUF. Virtuel) afirma que
uma distinção apareceu entre os termos: virtual e potência. Virtual, então seria uma perfeição
possível, como no agir. Lembra que para Leibniz o virtual seria o modo próprio de nossas
idéias. Este ponto de vista merece consideração. As idéias que temos, quando não pensamos,
o quê são? Onde estão? Anota que para Bergson o virtual se opõe de modo absoluto ao
possível. Para ele o virtual é real enquanto tal e não é idêntico ao resultado da sua atualização.
Esta seria uma criação (ib.). Adiante voltaremos a isto.
Entendo que ‘virtude’ seria uma ‘força’ (ou poder real), da qual uma pessoa seria
dotada. Seria, portanto, algo potencial.
Philippe Quéau, em Cyberterre et Noosphère (Internet), admite que nossas linguagens
e nossos sistemas de representação são manifestamente imperfeitos, mas são os únicos
instrumentos para a intelecção. Nomeia várias inversões e ressalta a do real e do virtual.
Atribui esta inversão a uma causa psicológica. Tendo perdido a noção clara do “real”, o
homem remedeia sua angústia invocando um “virtual”, que passa a tomar seu lugar. O
“virtual” seria “uma metáfora ampla e prática que resume numa palavra tudo o que nós não
“realizamos” claramente em relação à “realidade”. Diz que o virtual introduz no quotidiano
uma distância como que filosófica em relação ao real. Evoca os “seres intermediários” de
Platão e dá como exemplos: os anjos, os quarks e os gluons. Estaríamos em presença de uma
reviravolta, substituindo o real pelo virtual.
Evoca o termo latino virtus, de vir, homem, varão. A virtus teria sido o distintivo do
que é propriamente masculino, portanto, humano.
É notável que o termo masculino vir (genitivo viri) = varão, seja extremamente
parecido ao termo feminino vis (genitivo viris) = força. O sexo masculino foi e é identificado
amplamente ao sexo forte. (Certamente é um preconceito; seria necessário interrogar forte em
relação a quê?).
Hoje o virtual parece, segundo o autor, ontologicamente inferior ao real. Evoca que
Platão tinha a alma como o único autômato possível, enquanto hoje o termo se aplica a
máquinas. Do mesmo modo fala a respeito dos dois termos real e virtual. Este tende a
substituir aquele. O virtual permite cada vez mais ao homem agir sobre o real. Veja-se a
economia; encontra-se cada vez mais desmaterializada, desterritorializada. Defende a tese de
que a virtualização da economia vai conduzir-nos a uma virtualização da imagem que o
homem faz de si mesmo (grifos do autor). Acrescenta que a virtualização crescente vai nos
obrigar a defini-la, não mais em relação, ou oposição, ao material. A defasagem entre o real e
o virtual não cessa de aumentar; por exemplo: pagamos um livro pelo valor material e não
pelo conteúdo, o que parece um contra-senso. Os comerciantes pensam nos vender “objetos”,
mas nós compramos o “sentido”. Quando os valores ou “sentidos” estiverem livremente à
disposição de qualquer um, (on line), que acontecerá? O autor diz que a virtualização vai
desintegrar nossa inteira sociedade materialista.
Permito-me lembrar que a imagem tridimensional já é possível. Não só a sua ficção
numa tela de micro, mas no próprio espaço. O cinema com imagem tridimensional já está aí.
No frio próximo ao grau absoluto os elétrons atravessam o cristal tranqüilamente, sem
arranhar o cristal. Se toda matéria é atômica, se todo átomo é energia, se a energia nada mais é
que onda, parece que toda realidade pode de fato ser virtual... Talvez tenhamos que mudar
nosso conceito de real. Talvez a defasagem esteja diminuindo, e não aumentando.
Pierre Lévy (1996.) distingue o possível do virtual, seguindo a Gilles Deleuze: “O
possível é exatamente como o real: só lhe falta a existência” (p. 16). E ainda: “A diferença
entre possível e real é, ... puramente lógica” (ib.). Opõe o virtual ao atual. Entretanto,
considero insuficientes algumas de suas distinções. Por exemplo: “Compreende-se agora a
diferença entre a realização (ocorrência de um estado pré-definido) e a atualização (invenção
de uma solução exigida por um complexo problemático) (op. cit. p. 17). Não vejo como a
realização não possa ser considerada uma atualização. A atualização se dá agora. A realização
que aconteceu no passado foi uma atualização naquele passado; agora não é mais real, não é
mais atual, não é realização agora. É possível uma realização futura? Sim, mas ela só será real
no futuro, será uma atualização no futuro; agora ela não é real. É propriamente potencial.
Assim, a realização, que mereça com propriedade essa denominação, só é a realização
presente, ou atualização. Pierre Lévy também afirma que “a diferença entre possível e real é,
portanto, puramente lógica” (p.16). Imagine que você vá a uma agência bancária e diga ao
gerente: “O senhor pode me emprestar esse dinheiro, pois é possível que eu ganhe na loteria”.
O gerente chamaria o manicômio. Ou então você se põe a pensar: “Não vou trabalhar, pois é
possível que alguém me dê comida”. Desculpe-me o senhor Lévy. Tampouco creio no que
segue: “Por um lado, a entidade carrega e produz suas virtualidades” (ib.). As virtualidades
de uma entidade (?) qualquer não dependem apenas dela. Lembro-me de Ortega y Gasset: “Eu
sou eu e minhas circunstâncias”.
Creio que o potencial (a potência) é muito real nos seres vivos. A herança filogenética
fornece um grande potencial. O ser real, atual, está em contínuo processo, sempre atualizando
seus potenciais. Parece que, em relação aos seres vivos, o potencial é bem mais que um
simples modo de falar. E não é isso que se quer dizer, quando se fala no virtual hoje. Não
obstante a tradição escolástica, considero o virtual, nesse contexto, como mais difuso do que
o potencial. O potencial estaria inscrito no atual; enquanto que o virtual dependeria também
de condições fortuitas. Ex. A laranjeira está potencialmente na semente. Essa semente pode
virtualmente vir a ser um amuleto. Parece que a potência está na semente. O fato de
virtualmente poder ser um amuleto, depende de relações externas à semente.
A potência me parece muito clara nos seres vivos. A semente e a laranjeira não são
seres distintos, quero dizer, de distinta natureza. Ao passo que a semente-amuleto só conserva
seus caracteres materiais; seu ser fica transmutado apenas no seu significado. Em outras e,
talvez, melhores palavras: Ela não fica transmutada em si mesma; ela fica transmutada para o
ser humano que faz dela um amuleto. Outro exemplo: Todos morreremos. Logo, somos todos
potencialmente cadáveres. Pergunto: somos virtualmente cadáveres? Resposta: sim e não.
Sim, pois seremos cadáveres. Não, pois que estamos “vivinhos da silva”. Mais. O doente
terminal no hospital sob aparelhos: está virtualmente morto? Sim. Está potencialmente morto?
Não. Ele é, como todos nós, potencialmente um cadáver, mas não está “mortinho da silva”.
Pierre Lévy define a virtualização “...como o movimento inverso da atualização “ (op.
cit. ib.). Ela não é uma desrealização, é uma “elevação à potência”, “a... entidade passa a
encontrar sua consistência essencial num campo problemático” (p. 18). Dá como exemplo
uma empresa.
Já temos a Universidade virtual. Neste caso não se trata de uma passagem ao estado
virtual, mas, sim, da criação de algo novo ao nível do virtual. Temos que dar um passo a mais
que Bergson. A passagem do estado virtual para o material e vice-versa já é, eu diria,
corriqueira. O que mais nos importa, creio, é a criação do virtual real. A empresa citada por
Lévy tornou-se virtual, ao passo que o Louvre on line é virtual real. A empresa real cedeu
lugar à virtual; a empresa se tornou virtual; o Louvre on line foi criado assim. A empresa
virtual é também real, como o Louvre virtual o é.
Talvez a humanidade já tenha feito isto há muito tempo. Por exemplo: os
conhecimentos são escritos e catalogados num livro. Esses conhecimentos só são
conhecimentos, quando alguém os lê e os conhece. E quando estão no livro? Na verdade não
são conhecimentos reais; podemos dizer que são conhecimentos virtuais? O museu do Louvre
(e outros) está disponível on line. Ele é real materialmente na França; ele é, como se dizia,
simplesmente real. Na medida em que você o visita on line, ele é simplesmente virtual/real.
De qualquer modo se trata de uma realidade atual. É um virtual atual. Não é virtualmente
(virtualiter) . Quando está na tela, é virtual/real. Os conhecimentos só são reais quando os
conhecemos (Quando durmo, não os conheço).
Mas, convém não exagerar; importa ir devagar. Haveria algum alimento virtual? Os
católicos falam da Comunhão...
Mas, temos um exemplo de virtual muito mais à mão: no espelho. O espelho data de
muito tempo antes de Narciso. A imagem no espelho é real, mas é virtual. Antes do espelho
certamente a humanidade conheceu o ’espelhamento nas águas’. Falamos do ‘espelho das
águas’. Como é bonito! E não é uma ilusão; é real; é virtual. E não estou falando do espelho
de Alice...
Vejamos o que diz o WEBSTER’S NEW WORLD DICTIONARY of the American
Language, second College Edition: Virtual = 1. being such practically or in effect,
although not in actual fact or name [a virtual impossibility]. 2. [Now rare] effective
because of certain inherent powers.
VIRTUALLY adv . in effect althought not in fact; for all practical purposes [virtually
identical] .

VIRTUAL
WEBSTER’S Third New International Dictionary of the English Language
unabridged., Encyclopaedia Britannica, Inc. William Benton, Publisher, 1968.
1. obs. : of, relating to, or possessing a power of acting without the agency of matter
2. :notable effective. 3. being functionally of effectivelly but not formally of its kind [a virtual
certainty], [ planned the virtual abandonment of the post], [ the virtual abdication of parents
from their role as educators]
VIRTUALLY adv. 1. obs. in essence: not merely formally 2: almost entirely: for all
practical purposes [ unnoticed and virtually unknown], [ was virtually penniless].
By Michael Heim: “The essence of VR”. Segundo este autor Webster”s states: virtual:
“being in essence or effect though not formally recognized or admitted.”. (Internet)

A ESSÊNCIA DO VIRTUAL

Michael Heim
Este é um capítulo do livro The Metaphysics of Virtual Reality (A metafísica da
realidade virtual), de Michael HEIM, New York: Oxford University Press, 1993, pp. 109 a
128. Está sendo usado aqui em versão integral on line, com a permissão do autor e da Oxford
University Press. (Tradução Francisco Cock Fontanella).
O que é realidade virtual?
Uma questão bastante simples. Podemos responder: “Aqui, experimente este jogo da
galeria (arcade). Ele faz parte da série criada por Jonathan Waldern. Coloque o elmo e as
luvas de dados, agarre o bastão de controle e entre no mundo da animação computadorizada.
Você vira a cabeça e vê uma paisagem campestre colorida, tridimensional de 360 graus. Os
outros jogadores vêem você aparecer como um figura (character) animada. E escondidos em
algum lugar ao redor estarão os outros guerreiros animados, que caçarão você até à morte.
Faça pontaria, aperte o botão e destrua-os, antes que eles destruam você. Continue uns poucos
minutos e você terá conseguido ficar interessado no jogo, como mover-se, como fazer parte de
um mundo virtual. Isto é a realidade virtual”.
Suponha que esta simples experiência não satisfaça ao interrogador. Nosso
interrogador sempre jogou com a realidade virtual. Suponha que a pergunta versa sobre a
realidade virtual em geral.
Busque um dicionário. O Webster’s traz:
Virtual: sendo em essência ou efeito, ainda que não formalmente reconhecido ou
admitido”.
Realidade: “um evento real, entidade, ou estado de coisas”.
Ajuntamos os dois e dizemos” ”Realidade virtual é um evento ou entidade que é real
no efeito, mas não de fato”.
Ilustração não tão horrível! Você não aprende física nuclear nos dicionários.
Precisamos de intuição, não de uso de palavras.
Entretanto, a definição do dicionário sugere algo a respeito da realidade virtual. Há um
sentido no qual toda simulação faz algo parecer real, o qual de fato não o é. O jogo virtual
combina o aparelho rastreador na cabeça, luva e animação computadorizada para criar nos
nossos sentidos o “efeito” de “entidades” que se movem em direção a nós, as quais não são
“reais de fato”.
Mas, o que torna a realidade virtual distintiva? Nosso interrogador poderia perguntar:
“O que há de tão especial com esses monstros animados por computador?”.
O interrogador procura não informação, mas clarificação.
Apontando ao elmo e às luvas, insistimos: “Não é verdade que o que sentimos é
bastante diferente de assistir a televisão? Aqui você pode interagir com as criaturas animadas.
Você as abate, ou se esconde, ou se esquiva dos raios de suas armas. E elas interagem com
você. Elas caçam você num espaço tridimensional exatamente como você as caça. Isso não
acontece no cinema, acontece? Aqui você é o ator central, você é “a estrela”.
Nossa resposta combina demonstração à mão (hand-on) com uma lembrança de outras
experiências. Nós montamos um contraste, apontando para algo que a RV não é . Ainda não
dissemos o que é.
Para responder o que é RV, precisamos de conceitos, não de amostras ou de frases do
dicionário, ou de definições negativas.
OK, então, o que é?
Nossa próxima resposta deve conter mais informação. “Vá à fonte. Encontre os
iniciadores desta tecnologia; interrogue-os. Por vinte anos, cientistas e engenheiros estiveram
trabalhando nessa coisa chamada realidade virtual. Descubra exatamente o que eles estiveram
tentando produzir”.
Quando contemplamos os pioneiros, vemos a realidade virtual caminhando em várias
direções. Os pioneiros nos apresentam pelo menos sete conceitos divergentes, guiando a
pesquisa da RV. As diferentes visões criaram redutos, que são muito discrepantes a respeito
do que constitui a RV.
Eis aqui um resumo dos sete:
Simulação
Os desenhos computadorizados têm hoje um grau tão elevado de realismo, que as
imagens nítidas evocam o termo ‘realidade virtual’. Do mesmo modo que os sistemas sonoros
foram um dia valorizados por sua alta fidelidade, hoje os sistemas de imagens liberam
realidade virtual. As imagens têm textura de cores e uma radiosidade luminosa tal, que levam
o olho à superfície plana com o poder de um desenho detalhado. Cenários produzidos nos
equipamentos do GE aeroespacial “visionics”, por exemplo, são partes do mundo mapeadas
foto-realisticamente em tempo real, através das quais os usuários podem navegar. Esses dados
do mundo surgem dos simuladores de vôos militares. Agora estão sendo aplicados à medicina,
ao entretenimento, à educação e aos treinamentos.
O realismo das simulações se aplica também ao som. Sistemas de som tridimensionais
controlam cada ponto do espaço digital acústico, sua precisão superando os antigos sistemas
de som em tal grau, que o áudio tridimensional contribui para a realidade virtual.

Interação
Algumas pessoas consideram como realidade virtual qualquer representação
eletrônica, com a qual possam interagir. Querendo limpar nosso computador de mesa, vemos
um desenho de uma cesta de lixo no visor do computador, e usamos um “mouse” para
despejar nela um arquivo inútil. O móvel (arquivo) não é um móvel real, mas o tratamos como
se fosse virtualmente um móvel. A lixeira é um ícone para deletação de programas, mas a
usamos como uma lixeira virtual. Os arquivos de bits e bytes que nela despejamos não são
arquivos reais (para papéis), mas funcionam virtualmente como arquivos. São realidades
virtuais. O que torna a lixeira e o arquivo diferentes dos desenhos animados ou fotos na TV é
o podermos interagir com aqueles, como o fazemos com uma lixeira de metal ou com um
arquivo de madeira. A lixeira virtual não precisa enganar o olho para ser virtual. O resultado
não é ilusão. Antes, o resultado é que interagimos com a lixeira, executando nosso trabalho. A
lixeira é real no contexto da nossa absorção no trabalho; fora do espaço do trabalho com o
computador não falaríamos da lixeira, a não ser como lixeira virtual. A realidade da lixeira
vem da sua disponibilidade tecida pelo nosso engajamento no projeto. Ela existe através da
interação.
Definida amplamente, a realidade virtual às vezes ultrapassa muitos aspectos da vida
eletrônica. Para além dos arquivos gerados pelo computador, inclui pessoas virtuais, que
conhecemos através do telefone ou redes de computador. Inclui o animador ou político que
aparece na televisão, para interagir ao microfone com solicitadores. Inclui universidades
virtuais, onde estudantes assistem aulas on line, visitam salas de aula virtuais, e convivem em
cafeterias virtuais.

Artificialidade
Como estamos expandindo nossa rede tão longe, por que não fazê-la cobrir tudo que é
artificial? Ouvindo pela primeira vez o termo realidade virtual, muitas pessoas respondem
imediatamente: “Oh! Certamente, eu vivo nisso o tempo todo”. Mas, com isto elas querem
dizer que o seu mundo é amplamente um constructo humano. Nosso ambiente é
profundamente equipado, apoiado e estruturado não muito solidamente e real. O planeta terra
tornou-se um artifício, um produto da combinação de forças humanas e naturais. A própria
natureza, o céu com sua camada de ozônio, não escapa mais da influência humana. E nossa
vida pública foi computadorizada em toda parte. Análise computadorizada de hábitos de
consumo dizem aos supermercados em que altura e onde colocar os brindes. Anunciantes
jactam-se da “noz genuinamente simulada”. (para aposentar os ânimos?)
Mas, desde que extendamos o termo realidade virtual para encampar tudo o que é
artificial, perdemos a força da frase. Quando uma palavra significa tudo, então não significa
nada. Mesmo o termo real precisa de um oposto.

Imersão
Muitas pessoas na indústria da RV preferem focalizar uma configuração específica de
hardware e software. Este é o modelo lançado para realidade virtual por Sutherland, Fisher e
Brooks, antes dos quais o termo realidade virtual não existia, desde que nenhuma hardware
ou software reclamava a designação.
A específica hardware, que por primeiro foi chamada RV, combina duas pequenas
amostras tridimensionais estereoscópicas ópticas, ou “eyephones”; um dispositivo rastreador
principal Polhemus para o movimento principal do monitor, e um dispositivo ou luva de
dados ou couraça de mão para fornecer feedback, de tal modo que o usuário pode manipular
objetos percebidos no ambiente artificial. Áudio de acústica tridimensional pode apoiar a
ilusão de estar submergido num mundo virtual. É isto: a ilusão é submersão.
Segundo esta visão, realidade virtual significa imersão sensorial num ambiente virtual.
Tais sistemas, conhecidos primeiramente por seus dispositivos montados na cabeça head-
mounted-display (HMD) e luvas, foram primeiramente popularizados pela Jaron Lanier’s
VPL (Virtual Progamming Language) Incorporated. A HMD corta as sensações visuais e
auditivas do ambiente e as substitui por sensações gerados pelo computador. O corpo se move
através do espaço virtual, usando luvas de feedback, apetrechos para os pés, guidão, e controle
(joysticks).
O primeiro exemplo de imersão vem da U.S. Air Force, que por primeiro desenvolveu
algumas destas hardware para simulação de vôo. O computador gera muitos dos inputs
sensoriais que um piloto de avião a jato experimentaria numa cabine atual. O piloto responde
a essas sensações, por exemplo, girando um puxador de controle, o qual, girando, alimenta o
computador, o qual ajusta novamente as sensações. Deste modo um piloto pode adquirir
prática ou treinamento sem deixar o solo. Atualmente pilotos comerciais podem atualizar sua
licença em certos níveis, praticando um certo número de horas no simulador de vôo.
O feedback do computador pode fazer mais do que reajustar as sensações do usuário,
para propiciar uma pseudo-experiência de vôo. O feedback pode também conectar a uma atual
aeronave, de tal modo que, quando o piloto gira um comando, um motor real de avião vira de
cabeça para baixo, ou uma arma dispara. Neste caso o piloto sente-se imerso e inteiramente
presente no mundo virtual, o qual a seguir conecta ao mundo real.
Quando você está voando baixo num F-16 Falcon em velocidade supersônica sobre
terrenos montanhosos, quanto menos você vê do mundo real, tanto mais controle você pode
ter da sua aeronave. Uma cabine virtual filtra a cena real e representa um mundo mais legível.
Neste sentido, RV pode preservar a significação humana de uma avalanche de dados ultra-
rápidos. O dispositivo sobre a cabeça na cabine às vezes permite ao piloto visualizar a
paisagem real por detrás das imagens virtuais. Nestes casos simulação se torna uma realidade
aumentada, antes que uma realidade virtual.
Os derivativos testa tecnologia, como o jogo da galeria Waldern, não nos distrairiam
(dizem os pioneiros da imersão), das aplicações que estão sendo usadas na biologia molecular
(construindo moléculas por vista e toque), na simulação de vôos, no treinamento médico, na
arquitetura, no design industrial. A Boeing Aircraft planeja projetar um controlador de vôo no
espaço virtual, tal que flutue milhares de pés sobre o aeroporto, mirando com visão
desobstruída em muitas direções (enquanto atualmente está sentado numa cadeira de dados na
terra e alimentado por dados reais fornecidos por satélites e por pontos de vista de múltiplas
câmeras).
Um modelo primeiro desta pesquisa foi a estação desenvolvida em NASA-Ames, a
estação ambiente de interface virtual (VEW). A NASA usa o sistema VEW para tarefas tele-
robóticas, de tal modo que um operador na terra se sente imerso num ambiente remoto, mas
virtual, e pode assim ver e manipular objetos na lua ou Marte através de feedback procedente
de um robô. A pesquisa de imersão concentra-se numa configuração específica de hardware e
de software. Os instrumentos de imersão para pilotos, controladores de vôo e exploradores do
espaço, são um meio de RV muito mais concreto que a vaga generalização: “tudo artificial”.

Telepresença

A presença robótica acrescenta um outro aspecto à realidade virtual. Estar presente em


algum lugar, ainda que presente lá remotamente, é estar lá virtualmente (!). A realidade virtual
se metamorfoseia em telepresença (shades into telepresence), quando você está presente desde
uma distante localização; “presente” no sentido de que você está consciente do que está se
passando, efetivamente, e está hábil para cumprir tarefas de observação, procura, escavação e
movimentação de objetos com suas próprias mãos, como se eles estivessem à mão. Definir
RV por tele-presença exclui o mundo imaginário da arte, da matemática, do entretenimento. A
telepresença robótica conduz a efetividade humana em tempo-real à locação no mundo real,
sem haver lá um ser humano em carne e osso naquele lugar. Mike McGreevy e Lew Hitchner
caminham em Marte, mas em carne e osso eles estão sentados numa sala de controle em
NASA-Ames.
A medicina tele-presencial coloca o médico dentro do corpo do paciente sem maiores
incisões. Os médicos, como o Coronel Richard Satava e o Dr. Joseph Rosen, usam
ordinariamente a cirurgia tele-presencial para remover vesículas biliares sem as tradicionais
incisões com o bisturi. O paciente fica curado geralmente da cirurgia em dez dias, porque a
cirurgia tele-presencial deixa o corpo quase intacto. Apenas duas finas incisões são
necessárias para introduzir os instrumentos laparoscópicos. A tele-presença permite aos
cirurgiões executar operações especializadas à distância, onde nenhum especialista está
fisicamente presente.
Permitindo ao cirurgião estar lá, sem estar lá, a tele-presença é uma faca de dois
gumes, por assim dizer. Permitindo a imersão, a tele-presença oferece ao operador grande
controle sobre processos remotos. Mas, ao mesmo tempo, uma brecha psico-tecnológica se
abre entre o médico e o paciente. Os cirurgiões queixam-se de perder o contato imediato, uma
vez que o paciente evapora num fantasma de bits e bytes.

Imersão de corpo inteiro


Quase ao mesmo tempo em que os aparelhos de cabeça apareceram, uma abordagem
radicalmente diferente de RV estava emergindo. Ao final da década de 60 Myron Kueger,
freqüentemente chamado de “o pai da realidade virtual”, começou a criar ambientes
interativos, nos quais o usuário se move sem aparatos embaraçantes. É a RV “venha-como-
está” de Krueger. O trabalho de Krueger usa câmeras e monitores para projetar um corpo do
usuário, assim ele pode interagir com imagens gráficas, permitindo às mãos manipular objetos
gráficos numa tela, sejam textos, sejam imagens. A interação entre o computador e o ser
humano tem lugar sem cobrir o corpo. A carga de inputs fica com o computador e os
movimentos livres do corpo se tornam texto para o computador ler. Câmeras acompanham o
corpo do usuário e os computadores sintetizam os movimentos do usuário com o ambiente
artificial.
Vejo uma bola flutuante projetada na tela. Minha mão projetada pelo computador
avança e agarra a bola. O computador atualiza constantemente a interação de meu corpo e do
ambiente sintético que vejo, ouço e toco.
No vídeo-plano de Krueger, pessoas, em quartos separados, se relacionam
interativamente, desenhando mutuamente os corpos, fazendo ginástica de queda livre e
fazendo cócegas. O “fluxo de encantamento” (Glow-Flow) de Krueger, uma sala-de-som-e-
luz, reage aos movimentos das pessoas, iluminando com luz fosforescente e executando sons
sintéticos. Um outro ambiente, “Espaço-psíquico”, permite aos participantes explorar um
labirinto interativo, no qual cada passo corresponde a um tom musical, tudo produzido com
imagens vivas de vídeo, que podem ser movidas, e alteradas com relação às leis de causa e
efeito.

Comunicações enredeadas
Os pioneiros, como Jaron Lanier, aceitam o modelo de imersão da RV, mas, dão igual
ênfase a um outro aspecto, que eles consideram essencial. Porque os computadores trabalham
em rede, RV parece uma candidata natural para um novo meio de comunicação. O sistema
RB2 (Reality Built for Two) de VPL ilustra a conectividade de mundos virtuais. Nesta visão,
um mundo virtual é tanto um constructo compartilhado, quanto o telefone o é . Mundos
virtuais, então, podem evocar modos de compartilhar antes não apresentados, o que Lanier
chama de “comunicação pós-simbólica”. Uma vez que os usuários podem estipular, criar
objetos ou atividades de um mundo virtual, eles podem compartilhar coisas e eventos
imaginários, sem usar palavras ou referências do mundo real.
Consequentemente, a comunicação pode ir para além da linguagem verbal ou do
corpo, para assumir propriedades mágicas, alquímicas. Um produtor de mundo virtual pode
até agora evocar incríveis misturas de visões, sons e movimentos. Construído
conscientemente fora da gramática e da sintaxe da linguagem, esses semáforos desafiam a
lógica tradicional da informação verbal e visual. A RV pode fazer transmitir sentido
cineticamente e também ‘cinesteticamente’. Tal comunicação provavelmente requererá a
elaboração de protocolos, como também longo período de tempo para digerir o que foi
comunicado. Xeno-lingüistas terão um laboratório para experimentos, quando eles se
esforçarem por relacionar-se àqueles, cujos sentimentos e visões de mundo diferem
amplamente dos seus próprios.

Para não atualizar


A era do virtual está aí. A natureza já criara há muito tempo o virtual. Hoje, entretanto,
o ser humano está criando ‘artificialmente’ o virtual, podemos falar tranqüilamente do virtual
como real. Estamos nele imersos. Muitas pessoas não estão disso conscientes. O crédito
bancário é virtual, mas é real. O salário quase sempre é virtual. O capital financeiro é virtual.
O médico que opera o paciente a quilômetros de distância opera virtual e realmente. Do
mesmo modo o treinamento do futuro médico cirurgião: sequer necessita de cadáver. E o
treinamento é efetivo, isto é, no futuro o cirurgião estará treinado. Quando adquirimos certas
habilidades na escola, e algures, tais habilidades são reais e virtuais.
Estamos acostumados a falar ao telefone. Na verdade você não escuta a voz da outra
pessoa, pois a voz não passa pelos fios, ou pelo espaço, via ondas de rádio, a enormes
distâncias. O que passa são ondas, impulsos, ou quejandos. Mas, reparando bem, quando
conversamos, não é a voz que captamos: são ondas sonoras, o que não é a mesma coisa. E
dizemos que a voz do outro é real. Imagine as cores! Sem elas nossa vida seria, talvez, uma
chatice. No entanto, para a Senhora Física, rainha das ciências para tanta gente, as cores não
são reais! Para nós elas são reais. Dane-se a Física.
Estou dando estes exemplos, para indicar que o virtual talvez esteja imiscuído na nossa
vida, desde há muito tempo... Antes, talvez o virtual não fôsse ao mesmo tempo real, mas,
agora é inegável.
Não sei se já é chegado o tempo de dar adeus à dupla ato/potência. Acho que a
potência ainda é poderosa. O ato, o momento fixo, é que é uma desrealização. O que é real é o
processo. “O” real, não é, talvez... tão real como imaginamos... Talvez tenhamos que ser
desassombrados como Joël de Rosnay (1997, p.80): Vai se esfumar, progressivamente, a
fronteira entre natural e artificial, real e virtual, material e imaterial... Deixará de haver
diferenças fundamentais entre natureza artificial e artifício natural”.

Artigo recebido em: 01 / 10 / 2002


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BERTRAND, A. (ed.) Les notions philosophiques. Diccionaire, 2. PUF. [s/d]

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HeimEssence.html Acesso em outubro de 2002.

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LÉVY, P. O que é o virtual? Trad. Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 1996.

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