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Modelos do núcleo
7.1 Introdução
Historicamente, a analogia entre algumas propriedades dos núcleos e de gotas líquidas
clássicas forneceu suporte para o estabelecimento de um modelo para os núcleos que
220
1
Filho de Niels Bohr.
2, a 1 pode transferir parte de seu momentum e energia à 2, que assim teria novo mo-
mentum e nova energia. Mas, se existir uma partícula 3 com esses mesmos momentum
e energia, pelo princípio de exclusão de Pauli, a partícula 2 não poderá assumir esses
novos valores, e essas transferências de momentum e de energia ficam proibidas. Logo,
o número de estados permitidos para serem ocupados por uma partícula após uma col-
isão fica diminuído. Por conseguinte, o livre caminho médio de uma partícula em um
gás de Fermi será grande quando comparado com aquele de um gás clássico à mesma
temperatura e pressão, podendo tornar-se, até mesmo, maior que as dimensões do vol-
ume V da caixa que o contém. Portanto, em vista do grande livre caminho médio das
partículas, neste modelo pode-se desconsiderar a interação entre as partículas.
Vamos supor que N partículas se movem livremente, porém confinadas a um re-
cipiente de formato cúbico (mais adiante esta condição será relaxada) com lados de
dimensão L e de volume V = L3 . A equação de Schrödinger em três dimensões para
uma partícula independente é escrita em coordenadas cartesianas como
µ 2 ¶
d d2 d2 2
+ 2 + 2 + k Ψ (x, y, z) = 0,
dx2 dy dz
com k 2 = 2mE/~2 , cuja solução é
que, por sua vez, estabelecem os possíveis valores que os números quânticos nx , ny , nz
podem assumir, os valores negativos fornecem as mesmas autofunções, a menos de uma
constante multiplicativa, −1. Vamos fixar o maior momentum linear possível para um
núcleon, pF = ~kF , compatível com a energia do sistema nuclear; logo
dois possíveis estados (ms = ±1/2) e a fração de prótons com momentum linear entre
p e p + dp é calculada de
³ ´ ∙ ¸ µ ¶3
1 L 1
dNprot k = 2 3 dnx dny dnz = 2 dkx dky dkz ,
2 π 23
onde o fator 2 está presente exatamente para levar em conta os dois possíveis estados de
spin e o fator 1/23 foi introduzido porque apenas um octante do espaço tridimensional
deve ser levado em conta (nx , ny , nz de valores positivos). Agora, passando para coor-
denadas esféricas, dkx dky dkz = k 2 dkdΩk , com k = |k| e p = |p|, e integrando nos
ângulos obtém-se
V 2 V
dNprot (p) = 2 3 4πk dk = 2 4πp2 dp, (7.1)
(2π) (2π~)3
e para a segunda igualdade usamos a relação p = ~k. Agora não é mais necessário
reconhecer V como o volume de um cubo, mas como o de um recipiente tridimensional
fechado e de formato arbitrário. Integrando a Eq. (7.1) obtemos o número de prótons,
Z pF
V V p3F (prot) V kF3 (prot)
Z=2 3 4π p2 dp = = ;
(2π~) 0 3π 2 ~3 3π 2
o momentum de Fermi pF é o maior momentum de um próton para um gás a T =
0 K. O argumento (prot) serve de lembrete de que estamos considerando os prótons.
Analogamente, no mesmo volume V , o número de nêutrons é
V kF3 (neut)
N= .
3π2
e (neut) especifica os nêutrons.
Para um núcleo em seu estado fundamental, todos os estados com energia menor ou
igual à energia de Fermi deverão estar ocupados e os números de onda de maior valor
serão
µ 2 ¶1/3 µ 2 ¶1/3
3π Z 3π N
kF (prot) = e kF (neut) = (7.2)
V V
respectivamente. Considerando um núcleo com formato esférico, seu volume é escrito
como
4πR3 4πr03
V = = A,
3 3
onde r0 é um parâmetro cujo valor é estabelecido a partir de dados experimentais, como
já descrito no capítulo 2, e A é o número de massa. Os números de onda (7.2) podem
então ser reescritos como
µ ¶1/3 µ ¶1/3
1 9πZ 1 9πN
kF (prot) = e kF (neut) = .
r0 4A r0 4A
A energia cinética total nesse modelo do núcleo é então dada pela soma das energias
cinéticas dos prótons e nêutrons
3
T (Z, N ) = [ZtF (prot) + N tF (neut)] .
5
Para um núcleo atômico com Z = N = A/2 (simétrico) a energia cinética total é
∙ ¸
3 A A
T (A/2, A/2) = tF (prot) + tF (neut) =
5 2 2
⎡ ⎤
µ ¶
3 ⎢
2/3 ⎥
⎢ ~2 9π ⎥
= A⎢ ⎥,
5 ⎣ 2m̄r02 8 ⎦
| {z }
tf (A/2)
com µ ¶
1 1 1 1
≡ +
m̄ 2 mp mn
e, admitindo r0 = 1, 2 f m, tem-se T (A/2, A/2) ≈ 20, 0 A M eV . Assim, a energia
cinética média T é de cerca de 20 M eV por núcleon, enquanto que a energia cinética
máxima tF é de aproximadamente 33 M eV . Supondo que a energia de ligação (energia
de ligação do último núcleon), B = − hEi, tenha um valor máximo de cerca de 8
M eV , então a energia potencial média hV i deve fornecer um valor aproximado para a
profundidade do poço de potencial, ou seja, hEi = hT i + hV i, hV i ≈ − 41, 0 M eV .
Com base nesses resultados podemos agora verificar que um nuclídeo simétrico
(N = Z = A/2) é mais estável do que um outro com N 6= Z. De fato isto ocorre
colchetes na expressão (7.4) vale 11, 14 M eV , enquanto o valor empírico que melhor
ajusta a fórmula de massa é aassim = 23, 20 M eV .
Desta maneira, ainda que de forma simplificada, podemos entender a origem e obter
uma estimativa do valor do parâmetro aassim a partir do modelo simplificado do gás de
Fermi.
∞
X A X
X A
H= ti + V (ri , rj ),
i=1 i=1 j=i+1
onde U (ri ) é o potencial central que poderia ser introduzido de forma ad-hoc ou então
seria um potencial obtido a partir da hipótese de campo médio, obtido da interação de
dois corpos V (ri , rj ) (como feito no método de Hartree-Fock). Em aproximação mais
baixa, considera-se o hamiltoniano de um corpo para os A núcleons como
∞
X ∞
X
H0 = hi = [ti + U (ri )] .
i=1 i=1
Para estudar as condições que permitem explicar as energias de separação dos núcleons,
supõe-se que U (ri ) seja aproximadamente constante no interior do núcleo, indo rapi-
damente a zero na sua superfície, uma vez que as forças nucleares são de curto alcance.
Iremos aqui considerar os potenciais listados na Figura 7.1, que foram escolhidos dev-
ido à simplicidade em obter soluções da equação de Schrödinger, hi ψ (ri ) = i ψ (ri ).
Para o caso do oscilador harmônico, Figura 7.1-c, os níveis de energia são dados por
nl = ~ω (2n + l + 3/2), com n = 0, 1, 2, 3, ... e l = 0, 1, 2, 3... . Chamando 2n + l =
Λ, o esquema de níveis e o número de degenerescências
1
DΛ = (Λ + 1) (Λ + 2)
2
estão dados na Tabela 7.1.
n l 2n + l = Λ DΛ
0 0 0 1
0 1 1 3
1 0 2 6
0 2 Tabela 7.1. Números quânticos e
1 1 3 10 número de degenerescências.
0 3
0 4 4 15
1 2
2 0
Figura 7.1: Três potenciais centrais: (a) potencial quadrado com paredes impenetráveis, U (r)
= −U 0 para r ≤ R0 , e ∞ para r > R0 ; (b) poço de potencial quadrado, U (r) = −U0
para r√≤ R0 , e 0 para r > R0 ; (c) oscilador harmônico, U (r) = −U 0 + kr 2 /2, com
R0 = 2U 0 k. Os três potenciais têm a mesma profundidade U (0) = −U 0 .
(0s)2 |2 (0p)6 |8 (0d)10 (1s)2 |20 (0f )14 (1p)6 |40 (0g)18 (1d)10 (2s)2 |70
(0h)22 (1f )14 (2p)6 |112 (0i)26 (1g)18 (2d)10 (3s)2 |168 , (7.5)
onde as linhas verticais separam as camadas de energia e nesse caso os números mági-
cos seriam {2, 8, 20, 40, 70, 112, 168}, como denotados nos subíndices. Esta seqüência
mostra uma discrepância, a partir do quarto número, 40, quando comparada com o que
se observa experimentalmente {2, 8, 20, 28, 50, 82, 126}. Portanto, este modelo é insu-
ficiente para explicar a ocorrência de números mágicos.
Para o caso do poço de potencial “quadrado e infinito”2 , Figura 7.1-a, a parte radial
da solução da equação de Schrödinger é uma função de Bessel esférica jl (kr) (k =
p
2µ /~2 ) e os autovalores da energia são determinados a partir da equação jl (kR0 ) =
0 (condição da função de onda ser nula sobre as paredes da interface sólido-vazio) =⇒
kR0 = Xnl , n = 1, 2, 3, ...; l = 0, 1, 2, ... . Sendo Xnl a n-ésima raíz da equação,
portanto os auto-valores são
~2 Xnl
2
nl = .
2µR02
Da mesma forma, pode-se fazer uma separação em camadas de energia, obtendo-se a
mesma separação da seqüência (7.5), com n → n + 1. Daí
2
(1s) |2 (1p)6 |8 (1d)10 (2s)2 |20 (1f )14 (2p)6 |40 (1g)18 |58 (2d)10 (1h)22 (3s)2 |82
(2f )14 (1i)26 (3p)6 |138 (2g)18 (3d)10 (4s)2 |168
e o conjunto de números mágicos resultante {2, 8, 20, 40, 58, 82, 138} também não re-
produz a observação experimental. Como nem o poço de potencial quadrado finito e
nem o mesmo potencial com bordas arredondadas conseguem reproduzir os níveis de
energia observados, conclui-se portanto que o formato do poço de potencial não é re-
sponsável pela existência dos núcleos mais estáveis.
Este impasse manteve-se até 1949 quando Maria Mayer3 e, de forma independente,
Haxel, Jensen e Suess, sugeriram adicionar ao potencial central, do modelo de partícula
independente na aproximação de um campo médio, um termo de interação spin-órbita
do tipo
VSO (r) = −V (r)l · s, (7.6)
para todos os núcleons; ademais supuseram que a função energia potencial V (r) fosse
positiva para todo r. Com esta hipótese todo núcleon contribui com um termo de inter-
ação entre seu momentum angular e o seu spin, o que permite suprimir a degenerescên-
cia dos níveis de momentum angular j = l + s. Cada nível de energia com dado valor
de l sofre um desdobramento (splitting) em dois subníveis: j = l + 1/2 e j = l − 1/2,
exceto para l = 0, quando j = s = 1/2. Na Figura 7.2 vê-se que os níveis de energia
apresentam uma separação ∆ = hV (r)i (l + 1/2). Os níveis de energia para diver-
sos potenciais, com suas respectivas notações espectroscópicas, são vistos na Figura
7.3, e verifica-se que os números mágicos são reproduzidos com a introdução da inter-
ação spin-órbita (7.6) no hamiltoniano de partícula independente. O desdobramento dos
níveis de energia cresce com l e o nível j = l − 1/2 é deslocado para cima do nível l
enquanto o nível j = l + 1/2 é deslocado para baixo, criando-se os hiatos caracterís-
ticos dos núcleos mágicos. Assim, a interação spin-órbita permite agrupar os níveis
de energia em camadas, cuja separação reproduz qualitativamente a observação exper-
imental (números mágicos) e cada camada possui uma ou mais subcamadas (nlj) que
pode acomodar 2j + 1 = 2(2l + 1) prótons ou nêutrons: (mj = −j, −j + 1, ..., j − 1, j,
ou ml = −l, −l + 1, ...l − 1, l e m1/2 = −1/2, 1/2).
2
Podemos imaginar uma cavidade em um meio sólido com paredes impenetráveis.
3
Sob a supervisão de Fermi.
Figura 7.3: Níveis de energia para quatro potenciais: (a) oscilador harmônico; (b) poço quadrado
com paredes impenetráveis; (c) poço de potencial quadrado; (d) poço de potencial quadrado com
bordas arredondadas. Na quinta coluna é adicionada a interação spin-órbita ao potencial da quarta
coluna. Os traços mais espessos indicam o local da separação em camadas de energia devido ao
aparecimento de hiatos no modelo de partícula independente; linhas intermediárias caracterizam
as chamadas subcamadas.
não emparelhado. Entretanto, são verificadas algumas exceções, veja a Tabela 7.2.
Núcleo π
Jexp π
Jteor Q
19 1+ 5+
9 F 2 2 − Tabela 7.2. Exceções à regra de núcleos cujo
19 1+ 5+
10 N e 2 2 − momentum angular total não está de acordo
23 3+ 5+ com a previsão do modelo de camadas.
11 N a 2 2 0, 11
55 5− 7− Na quarta coluna encontra-se o momento
25 M n 2 2 0, 4
47 5− 7− quadrupolo elétrico em unidades de barns.
22 T i 2 2 −0, 79
79 7+ 9+
34 Se 2 2 0, 8
(3) Um núcleo ímpar-ímpar terá momentum angular J, onde
|jp − jn | ≤ J ≤ jp + jn ;
jp e jn são os momenta angulares do próton e do nêutron não emparelhados com seus
congêneres, mas que se acoplam entre si para resultar em um momentum angular nu-
clear. Para um momentum angular J, a paridade do núcleo é determinada pelo produto
das paridades das funções de onda desses núcleons, π = πp π n = (−)lp +ln , onde lp e
ln são os momenta angulares orbitais do próton e do nêutron. Na tabela dos nuclídeos,
constata-se que os nuclídeos ímpar-ímpar são bem poucos.
Para obter a ordem correta das subcamadas, que leva à seqüência acertada dos
números mágicos na determinação dos níveis de energia, deve-se levar em conta, além
da interação spin-órbita, as interações residuais (entre todos os núcleons), a interação
coulombiana (entre os prótons) e a de emparelhamento. Usando a notação espec-
troscópica (nlj )2j+1 a seqüência assim obtida é
Z
¡ ¢2
1s1/2 |2 (1p3/2 )4 (1p1/2 )2 |8 (1d5/2 )6 (2s1/2 )2 (1d3/2 )4 |20 (1f7/2 )8 |28
(2p3/2 )4 (1f5/2 )6 (2p1/2 )2 (1g9/2 )10 |50 (1g7/2 )8 (2d5/2 )6 (1h11/2 )12 (2d3/2 )4
(3s1/2 )2 |82 (1h9/2 )10 (2f7/2 )8 (3p3/2 )4 · · ·
N
¡ ¢2
1s1/2 |2 (1p3/2 )4 (1p1/2 )2 |8 (1d5/2 )6 (2s1/2 )2 (1d3/2 )4 |20 (1f7/2 )8 |28
(2p3/2 )4 (1f5/2 )6 (2p1/2 )2 (1g9/2 )10 |50 (2d5/2 )6 (1g7/2 )8 (3s1/2 )2 (2d3/2 )4
(1h11/2 )12 |82 (2f7/2 )8 (1h9/2 )10 (3p3/2 )4 (2f5/2 )6 (3p1/2 )2 (1i3/2 )14 |126
(2g9/2 )10 (3d5/2 )6 (1i11/2 )12 (2g7/2 )8 · · · .
É importante frisar que o presente modelo de camadas, em sua forma mais crua, que
considera que os núcleons se movem em um potencial central simétrico, só consegue
explicar os níveis de energia dos chamados núcleos esféricos, mágicos, ou de camada
(veja a Eq. (2.16)) onde ΨJJ (r1 ...rA ) é a função de onda atômica e
³ ´
M̂z (k) = µN g orb ˆlz (k) + g spin ŝz (k)
é o operador que representa o observável dipolo magnético do k-ésimo elétron. No caso
de uma função de onda de um átomo que, além do momentum angular total, também
conserva o momentum angular orbital total L e o spin total S, de números quânticos L
e S, o fator-g é escrito como
1 h D E D E i
ge,J = georb L · J + gespin S · J
J(J + 1) SLJJ SLJJ
1 © orb
= g [J (J + 1) + L(L + 1) − S(S + 1)]
2J(J + 1) e
ª
+ gespin [J (J + 1) + S(S + 1) − L(L + 1)] , (7.7)
4
Apesar do sobrenome, tipicamente francês, Alfred Landé nasceu em 1888 na cidade de Elberfeld, na
Alemanha. Fez seu doutorado sob a supervisão de Arnold Sommerfeld. Trabalhou com o matemático David
Hilbert e depois com Max Born a convite deste, quando servia no exército alemão durante a primeira Grande
Guerra, fazendo pesquisa sobre localização da artilharia inimiga pelo alcance do som. O trabalho mais impor-
tante de Landé ocorreu entre dezembro de 1920 e abril de 1921, quando descobriu a expressão do fator-g, o
que permitiu uma explicação para a observação do efeito Zeeman anômalo. Em 1931, ele recebeu um convite
para lecionar em Columbus, Ohio, EUA, onde fixou residência definitiva. Morreu em 1976.
5
Born chama gJ de fator de decomposição de Landé.
D E D E
onde L · J e S·J são valores médios calculados com as funções de
SLJJ SLJJ
onda atômicas, e J (J + 1), L(L + 1) e S(S + 1) são os autovalores dos operadores
J 2 , L 2 e S 2 , respectivamente6 . Como para os elétrons georb = 1 e gespin ≈ 2, o fator
simplifica-se para
3 S(S + 1) − L(L + 1)
ge,J = + .
2 2J(J + 1)
Na Física Nuclear, de acordo com o modelo de camadas, nos núcleos com A ímpar
os momenta angulares dos A − 1 núcleons não contribuem e o momentum angular to-
tal do núcleo se deve ao momentum angular j do núcleon não emparelhado. Portanto,
o momento de dipolo magnético de um nuclídeo par-ímpar (ou ímpar-par) é devido a
esse núcleon, logo, J = j, (também, S = s = 1/2, L = l) e no cálculo do mo-
mento de dipolo magnético (veja seção 2.4) pode-se substituir a função de onda nuclear
ΨJJ (r1 ...rA ) pela função de onda do A-ésimo núcleon (próton ou nêutron) desempar-
elhado ψ (nljj)A (rA ). O momento de dipolo magnético nuclear é, então, devido apenas
ao núcleon desemparelhado
Z
µj ≡ ψ ∗(nljj)A (rA ) M̂z (A) ψ (nljj)A (rA ) d3 rA
µ Z Z ¶
= µN gN orb
ψ ∗nljj (r) ˆlz ψ nljj (r) d3 r + gN
spin
ψ ∗nljj (r) ŝz ψ nljj (r) d3 r
= jµN Gj . (7.8)
Nota-se que: (1) na segunda linha o subíndice A foi retirado por ser irrelevante; (2)
as funções ψ nljj (r) não são autofunções dos operadores ˆlz e ŝz e (3) Gj é o fator-g
spin
nuclear. A partir de constatações empíricas os coeficientes gN orb
e gN tomam difer-
entes valores para o nêutron e para o próton, gnorb = 0, gporb = 1, gnspin = −3, 8270 e
gpspin = 5, 5855.
De acordo com o teorema de Landé (veja o Apêndice B), a relação entre valores
médios de momenta angulares é dada como
D ED E
DE l·j j
l = D E ,
j·j
6
Landé apresentou, originalmente, uma expressão clássica,
J 2 + L2 − S 2 J 2 + S 2 − L2
ge,J = georb 2
+ gespin
2J 2J 2
que tomou a forma (7.7) com o advento da mecânica quântica.
onde
D E R ∗ ³ ´
l·j ψ nljj (r) j · l ψ nljj (r) d3 r
Gl (j) = D E=R ³ ´
j·j ψ ∗nljj (r) j · j ψ nljj (r) d3 r
Z ³ ´
1
= ψ ∗nljj (r) j · l ψ nljj (r) d3 r. (7.9)
j(j + 1)
Analogamente, para o spin temos
Z ³ ´
1
Gs (j) = ψ ∗nljj (r) j · s ψ nljj (r) d3 r, (7.10)
j(j + 1)
onde substituímos l por s em (7.9). Finalmente, o momento de dipolo magnético de um
núcleo par-ímpar é calculado como
Z
£ ¤
µj = µN g orb Gl (j) + g spin Gs (j) ψ ∗nljj (r) ĵz ψ nljj (r) d3 r
= jµN Gj , (7.11)
onde o fator-g é a soma de dois termos, um para o momentum angular orbital e outro
para o spin,
Gj = g orb Gl (j) + g spin Gs (j).
7
Um cálculo simples fornece
⎫
Gl (j) = j−1/2
j
⎪
⎬
para j = l + 1/2
1 ⎪
⎭
Gs (j) = 2j
e ⎫
j+3/2 ⎪
Gl (j) = j+1 ⎬
para j = l − 1/2.
1 ⎪
⎭
Gs (j) = − 2(j+1)
Logo, visto que j = l ± 1/2 para l > 0, o momento de dipolo magnético é escrito
como
⎧ £ ¤
⎪ orb
⎨ (j − 1/2) g + 2 g
1 spin
para j = l + 1/2 ou l = j − 1/2
µj = µN h i
⎪
⎩ j(j+3/2) g orb − 1 j g spin
j+1 2 j+1 para j = l − 1/2 ou l = j + 1/2.
(7.12)
7
Visto que j = l + s, as equações de autovalores são
⎧ 2
⎪
⎪ j ψ (r) = } 2 j(j + 1)ψ nljmj (r)
⎪ 2 nljmj
⎨ l ψ nljmj (r) = } 2 l(l + 1)ψ nljmj (r)
⎪ s 2 ψ nljmj (r) = } 2 s(s + 1)ψ nljmj (r)
⎪
⎪
⎩
jz ψ nljmj (r) = }mψ nljmj (r) .
Tabela 7.3. Comparação entre o momento de dipolo magnético medido e o teórico (linhas de
Schmidt) em magnetons nucleares.
ter um formato oblato. Nas duas últimas colunas são apresentados os momentos de
dipolo magnético experimentais e aqueles obtidos usando as Eqs. (7.13) e (7.14) para
seu cálculo; por comparação verifica-se que os núcleos 15
7 N , 8 O, 82 P b têm os valores
17 207
Figura 7.4: Momentos de dipolo magnético experimentais e as linhas de Schmidt para Z ímpar.
As cruzes representam os momentos com j = l − 1/2 e os círculos j = l + 1/2.
Figura 7.5: Momentos de dipolo magnético experimentais e as linhas de Schmidt para N ímpar.
As cruzes são para j = l − 1/2 e os círculos para j = l + 1/2.
seja satisfeita, onde gjp e gjn são os fatores-g para o próton e para o nêutron em uma ca-
mada com momenta angulares jp e jn , que precisam ser conhecidos. Usando o teorema
de Landé (veja o Apêndice B) obtemos fator-g de um par próton-nêutron
¡ ¢
gjp + gjn gjp − gjn jp (jp + 1) − jn (jn + 1)
GJ = + . (7.15)
2 2 J (J + 1)
Nos casos jn ¿ jp e jp ¿ jn tem-se, respectivamente, GJ ≈ gjp e GJ ≈ gjn .
seção 11. Visto que camadas fechadas têm momento de quadrupolo nulo (formato es-
férico), qualquer contribuição não nula só poderá provir dos prótons de valência, as-
sim vamos utilizar a expressão (2.44), e supondo um único próton de valência temos
¯ ¯
¯ prot val ¯2 prot val
ρnuc
c (r) = ¯ψ nljj (r) ¯ , e ψ nljj (r) (mj = j) é a sua função de onda dada por
(7.47) (aqui omitimos o número quântico s = 1/2). Assim temos que o momento de
quadrupolo (veja o Apêndice C) para j 6= 0 é
Z
® 2j − 1
Q+p
2 (j) = 2 ρnuc
c (r) r2 P2 (cos θ) d3 r = − r2 nl (7.16)
2j + 2
devido à contribuição um próton de valência e que não é nulo apenas para j 6= 1/2. O
sinal negativo está presente porque o momento de quadrupolo é calculado para o estado
ψ prot
nljj
val
(r), onde a projeção mj = j é máxima ao longo do eixo z; neste caso o próton
de valência fica “orbitando” o caroço no plano x − y, resultando para o núcleo uma
forma oblata.
No caso em que haja mais do que um próton de valência, digamos N , com 1 ≤ N ≤
2j, em uma subcamada, uma simples regra de interpolação permite escrever o momento
de quadrupolo como
∙ ¸
N −1
Q+N
2
p
(j) = Q+p
2 (j) 1 − 2 .
2j − 1
Q−p +p
2 (j) = −Q2 (j) , (7.17)
diferindo por um sinal da expressão (7.16), apontando assim que o núcleo tem forma
prolata, veja a Figura
®2.14. Admitindo
® uma distribuição de carga uniforme para o nú-
cleo, substituímos r2 nl por r2 = 3r02 A2/3 /5, com isto vamos comparar momentos
de quadrupolo – propostos pelo modelo de camadas extremo – de alguns núcleos com os
valores experimentais; isto está apresentado nas Tabela 7.4-a e 7.4-b. Na primeira col-
una – nas duas tabelas – é dada, em notação espectroscópica, a camada de um núcleon
de valência; na segunda coluna encontramos os momentos de quadrupolo para um pró-
ton de valência calculados com (7.16) (com r0 = 1, 2 f m e as unidades dos momentos
nLj Q+p
teor Q+p
exp (b) Q+n
exp
¡ ¢
1p3/2 −0, 013 −0, 037¡ 73 Li¢ ¡ ¢
1d5/2 −0, 036 −0, 12 19
¡F ¢
9 −0, 026 ¡17
8 O¢
1d3/2 −0, 037 −0, 082¡ 35
17 Cl¢ −0, 064 ¡33
16 S ¢
1f 7/2 −0, 071 −0, 26 43
¡63Sc ¢
21 −0, 080 ¡41
20 Ca¢
2p3/2 −0, 055 −0, 209 29 Cu −0, 028¡ 53
24 Cr¢
61
1f 5/2 −0, 086 ¡ ¢ −0, 20 ¡28 N i¢
1g 9/2 −0.13 −0, 32 ¡93
41 N b ¢ −0, 17 73
32 Ge
1g 7/2 −0, 14 −0, 49 ¡123
51 Sb¢ ¡91 ¢
2d5/2 −0, 12 −0, 36 121
51 Sb −0, 236 40 Zr
Tabela 7.4-a. Momentos de quadrupolo elétrico para alguns núcleos
com subcamadas fechadas mais um próton ou um nêutron de valência,
as unidades são barns.
Na terceira coluna da Tabela 7.4-a estão dados os valores experimentais para vários
núcleos; verifica-se que, embora os sinais coincidam, os momentos de quadrupolo ex-
perimentais são de duas a quatros vezes maiores (em módulo) que os calculados, isto
indica que o modelo de camadas extremo não é adequado para descrever o núcleo, e
que ele precisa ser refinado ou então complementado com outro que leve em conta a de-
formação de camadas e subcamadas fechadas. Ademais, a teoria diz que um nêutron
de valência não deve contribuir para o momento de quadrupolo. Não obstante, olhando
a quarta coluna da Tabela 7.4-a nota-se a existência de momentos de quadrupolo neg-
ativos, portanto de alguma forma o nêutron de valência contribui e isto também é um
indicativo adicional de que o modelo de camadas, embora reproduza qualitativamente
muitas propriedades nucleares, não dá respaldo para muitas outras. A Tabela 7.4-b rep-
resenta o momento de quadrupolo devido a um “buraco”, isto é, devido à falta de um
próton ou de um nêutron em uma camada ou subcamada, aqui também, embora o sinal
seja correto, o valor em módulo é discrepante do valor predito por um fator que varia
entre 2 e 5.
Apesar de sua simplicidade este modelo de camadas extremo (apenas um núcleon
é responsável pelas propriedades nucleares) é capaz de dar conta do spin e da paridade
do estado fundamental de quase todos os núcleos com A-ímpar, mas com sucesso rel-
ativo quanto ao momento de dipolo magnético e do momento de quadrupolo elétrico.
O modelo de camadas foi refinado, quando então todos os núcleons de uma subca-
mada não fechada podem participar para explicar as propriedades nucleares, porém as
descrições dos refinamentos estão fora do escopo deste texto, mas estão apresentados
detalhadamente nos textos [9, 10, 11, 12]. Concomitantemente, foram desenvolvidos
modelos coletivos para explicar essas e outras propriedades nucleares como veremos a
seguir.
nLj Q−p
teor Q−p
exp Q−n
¡ ¢ ¡exp ¢
1p3/2 0, 013 0, 047 ¡11
5 B ¢ 0, 053 ¡94 Be ¢
1d5/2 0, 036 0, 140 ¡27
13 Al¢ 0, 201¡ 25
12 M
¢ g Tabela 7.4-b. Momentos de qua-
1d3/2 0, 037 0, 056¡ 39
19 K¢ 0, 45 ¡35
16 S ¢ drupolo elétrico para alguns núcleos
1f 7/2 0, 071 0, 40 59
¡ Co ¢
27 0, 24 ¡49
22 T i ¢ com subcamadas fechadas comple-
2p3/2 0, 055 0, 195 ¡67
31 Ga¢ 0, 20 ¡57
26 F e ¢
tas, com um próton ou um nêutron a
1f 5/2 0, 086 0, 274¡ 85 0, 15 ¡67 menos na última (“buraco”), as
37 Rb¢ 30 Zn ¢
1g 9/2 0.13 0, 86 ¡115 0, 45 85 unidades são barns.
49 In ¢ 36 Kr
1g 7/2 0, 14 0, 20 139
57 La ¡111 ¢
2d5/2 0, 12 0, 44 48 Cd
H = H0 + Hδ + C l · s + Dl 2 , (7.18)
onde H0 é o hamiltoniano do oscilador harmônico tridimensional isotrópico (mesma
freqüência ω 0 nas três direções cartesianas)
~2 ∇2 mω 20 2
H0 = − + r ;
2m 2
o termo Hδ é responsável pela deformação geométrica do potencial onde os núcleons
se movem r
4 π
Hδ = − mω 20 r2 Y20 (θ, φ) δ,
3 5
sendo δ um parâmetro que expressa essa deformação (note-se que o harmônico esférico
Y20 (θ, φ) introduz uma anisotropia com relação ao ângulo θ, porém a simetrial azimutal
l = mr × v = mr2 ω =⇒ r × v = r2 ω
segue que v = ω × r, cujo rotacional é ∇ × v = 2ω; portanto, para toda componente de um movimento
circular, o rotacional da velocidade não é nulo. Foi usada a relação ∇ × A × B = B · ∇A + (∇ · B) A −
∇ · A B − A · ∇B
Figura 7.7: Relação do parâmetro b1 com a posição da esfera deslocada. Uma translação leva o
0 0
ponto A para o ponto A´, ou R0 → R +R0 .
que descreve apenas um ponto sobre a superfície da esfera. Assim, fica eliminado o
efeito da translação da gota e os demais parâmetros b2 , b3 , ... irão descrever apenas
a deformação da gota nuclear. O parâmetro λ é determinado a partir da condição de
conservação do volume
Z Z R(θ) Z " ∞
X
#3
4πR03 1 R03
= dΩ r2 dr = 1+ bl Yl0 (θ, φ) dΩ.
3 0 3 λ3
l=2
9
O parâmetro b0 também é descartado pois ele leva em conta compressões nucleares, o que não será
considerado aqui pois supôs-se que o líquido nuclear é incompressível.
10
Lembrando que Yl0 (θ, φ) = (2l + 1) /4πPl (cos θ).
Z2 2asup
= .
A ac
Para asup = 18, 33 M eV e ac = 0, 72 M eV , isto dá
Z2
≈ 51,
A
que é um limite para a estabilidade da gota; para este valor da razão Z 2 /A a energia
de deformação (7.26) se anula, quando então ela se deforma para não mais voltar a sua
forma original. Essa desigualdade é satisfeita, por exemplo, para Z = 117 e A = 270,
o que significa que os núcleos com Z e A acima desses valores se deformam muito e
se quebram tão logo se formam. A instabilidade que se observa nos sistemas nucleares
mais pesados pode ser entendida a partir dessas considerações e a fissão nuclear, em
particular, pode ser tratada, numa primeira abordagem, por esse modelo, como será
visto capítulo 12. Não obstante, como a fissão existe com valores abaixo desses limiares
(Z = 117 e A = 270), admite-se que ela é devida à natureza quântica do caminho
para a fissão, quando o caráter ondulatório deste grau de liberdade se manifesta e a
barreira para a fissão é atravessada por “efeito túnel”. Contudo, esta análise ficaria
incompleta sem uma discussão da energia cinética associada aos modos vibracionais,
pois as hipóteses de o líquido ser incompressível e irrotacional foram feitas porque elas
permitem calcular de forma simples o parâmetro de inércia assim como a freqüência do
modo vibracional, como será feito a seguir.
∂ R(θ, t)
n̂ · v (r, t) = n̂ · .
∂t
Para pequenas amplitudes as duas direções são quase coincidentes n̂ ' r̂, e, portanto, a
condição de contorno escreve-se
à ! ∞ µ ¶
∂ X l
X d bl (t)
Cl (t) r Yl0 (θ, φ) = R0 Yl0 (θ, φ) ,
∂r dt λ (bl (t))
l=2 r=R0 l=2
onde o parâmetro λ (bl (t)) contribui apenas com termos não lineares. Como não há um
único ângulo θ que torne todas as funções Yl0 (θ, φ) nulas, segue então que os fatores
entre colchetes de cada termo deve ser nulo, assim obtemos a seguinte relação entre os
coeficientes Cl (t) e bl (t),
ḃl (t)
Cl (t) = l−2 , (7.29)
lR0
e ḃl (t) é a velocidade do modo. A energia cinética associada aos modos vibracionais é
dada por
Z Z
1 2 1 2
T = ρ (r) |∇χ (r, t)| dr3 = ρ0 |∇χ (r, t)| dr3 ,
2 2
e como
∂χ (r, t) 1 ∂χ (r, t)
∇χ (r, t) = r̂ + θ̂
∂r r ∂θ
obtemos então dois termos
Z Ã !2 Z Ã !2
1 X 1 X
3 l−1 3 l−1 ∂Yl0 (θ, φ)
T = ρ0 dr lCl (t) r Yl0 (θ, φ) + ρ0 dr Cl (t) r .
2 2 ∂θ
l l
| {z } | {z }
T1 T2
(7.30)
1 X ¯¯ ¯2 (l + 1)
¯
T2 = ρ0 R05 ¯ḃl (t)¯ .
2 l (2l + 1)
l
(veja o Apêndice B). Assim a energia cinética da gota pode ser escrita como
¯ ¯2
¯ ¯
1 5
X ¯ḃl (t)¯ 1 X ¯¯ ¯2
¯
T = T1 + T2 = ρ0 R0 = Bl ¯ḃl (t)¯ ,
2 l 2
l=2 l=2
1
C2 = (1 − x) asup A2/3 ≈ 5, 8 (1 − x) A2/3
π
¡ ¢ ¡ ¢
com x = (ac / (2asup )) Z 2 /A ≈ 0, 02 Z 2 /A . Nota-se que a restauração do for-
mato da gota é possível desde que C2 > 0, ou como já visto, que Z 2 /A < 51. A
frequência de vibração da gota é imediatamente calculada, sendo
r µ ¶1/2
C2 1 (1 − x) asup A2/3
ω 2 (Z, A) = ≈
B2 π 3mN r02 A5/3 / (8π)
µ ¶1/2
1−x
≈ 5, 7 × 1022 s−1 ; (7.31)
A
Figura 7.9: (a) Espectro vibracional com um, dois e três fônons acoplados; (b) espectro vibra-
cional típico em núcleos, note-se que a degenerescência é removida devido a alguma interação
que não foi levada em conta no model teórico mais simples.
constata-se que ela diminui com o crescimento do valor de A1/2 e também na medida
em que o parâmetro x se aproxima do valor 1, este comportamento é devido ao aumento
da inércia relativa ao movimento vibracional. De acordo com este modelo clássico, para
o núcleo de 235
92 U , a frequência é ω 2 (92, 235) ≈ 2 × 10 s , um valor bastante apre-
21 −1
ciável comparativamente à oscilação das ondas luminosas, que é da ordem de 1015 s−1 ,
mas sendo da ordem das frequências dos raios γ.
Os espectros vibracionais mais simples tem sua descrição formal beseado no modelo
da gota como apresentado nas subseções anteriores. Lembrando que a forma de um
núcleo pode ser descrita através da expressão que caracteriza sua superfície, Eq. (7.20),
as coordenadas bl estão associadas aos modos multipolares e servem como ponto de
partida para se escrever a energia – para vibrações de pequena amplitude – do modo l
³ ´ 1³ ´
El bl , ḃl = Bl ḃ2l + Cl b2l .
2
Como discutido anteriormente, os modos com l = 0 – modo monopolar11 – e l = 1 –
modo dipolar – não serão considerados aqui (o modo vibracional de ordem mais baixa
é o modo quadrupolar), veja as deformações na Figura ??.
Figura 7.10: Oscilações de forma de uma gota líquida: são exibidas as três primeiras multipo-
laridades. Dipolo (l = 1) corresponde a um deslocamento da esfera apenas; não há deformação.
As vibrações de quadrupolo (l = 2) e octupolo (l = 3) mostram deformações, não obstante o
volume é sempre conservado.
Como os estados vibracionais mais freqüentes a baixas energias podem ser bem
descritos por excitações quadrupolares, podemos particularizar a abordagem, por sim-
plicidade, restringindo o tratamento para o caso com l = 2. Então a energia do modo é
escrita como ³ ´ 1³ ´
E b2 , ḃ2 = B2 ḃ22 + C2 b22 , (7.32)
2
e identifica-se prontamente nesta expressão um termo de energia potencial de defor-
mação dinâmica – típica de um oscilador harmônico12 –, V (b2 ) = C2 b22 /2. Intro-
11
Vibrações monopolares de densidade foram descartadas no modelo da gota líqüida sob a hipótese de
que o fluido é incompressível. Mas essas vibrações nucleares existem e são observadas experimentalmente a
energias mais altas. São as chamadas ressonâncias gigantes de monopolo.
12
O variável b2 é adimensional e os parâmetros C2 e B2 têm dimensão de energia e e energia ×T 2 ,
respectivamente.
Figura 7.11: Espectro de níveis do movimento vibracional. São mostrados os níveis mais baixos
para o nuclídeo 120 Te. O primeiro estado 2+ corresponde a um fônon (l = 2); em seguida
aparecem o tripleto de dois fônons acoplados e o quintupleto de três fônons. Acima de 2 MeV a
estrutura de níveis fica confusa, não se reconhecendo padrões de movimento vibracional.
Figura 7.12: Energias dos níveis 2+ ao longo de toda a tabela de nuclídeos. A linha sólida
corresponde ao valor da energia calculada pelo modelo da gota líquida.
1
C2 β 2 − P β,
V (β) = (7.33)
2
onde P é um parâmetro efetivo associado à natureza de partícula independente dos
núcleons de valência, fora do caroço (camada fechada). O potencial (7.33) torna-se
negativo no intervalo 0 < β < β̄, com β̄ = 2P/C2 , sendo nulo em β̄. A deformação
13
Compare com a Eq. (7.26), b2 = β .
β̄ P A−2/3
β min = ≈
2 5, 8 (1 − 0, 02 Z 2 /A)
(note que este valor só faz sentido para 51 > Z 2 /A) e o mínimo da energia ocorre em
P2 P 2 A−2/3
V (β min ) = − ≈− ,
2C2 11, 6 (1 − 0, 02 Z 2 /A)
e o que torna então evidente, em contrapartida ao que foi discutido na seção anterior,
que no seu estado fundamental o núcleo tem deformação permanente.
Podemos representar o efeito da presença do termo linear desenhando as curvas da
energia como função da variável β para diferentes valores do número de núcleons fora
da camada fechada, representados pelo parâmetro P , veja a Figura 7.13. Em síntese,
para os núcleos perto de camadas fechadas as forças de emparelhamento favorecem a
formação de grupos de núcleons de valência em pares com momento angular zero. A
forma de equilíbrio é então esférica e o movimento coletivo deste caroço é uma vi-
bração no entorno desta forma. À medida que o número dos núcleons fora da camada
fechada cresce, o efeito da contribuição de longo alcance da força nuclear é mais eficaz,
a freqüência de vibração coletiva diminui e finalmente a forma esférica fica instável e
o núcleo adquire uma deformação permanente. Esta deformação se manifesta tanto nos
núcleons fora da camada fechada quanto no caroço nuclear com o qual aqueles núcleons
interagem.
Do ponto de vista experimental, a relação entre o número de núcleons fora de uma
camada fechada e a deformação pode ser estabelecida, por exemplo através de medidas
do momento de quadrupolo de núcleos com diferentes números de nêutrons. Os dados
experimentais estão em total concordância com a argumentação exposta, como visto na
Figura 7.14.
Figura 7.15: A representação geométrica do núcleo deformado com momentum angular total
J = j + R, R refere-se ao momentum angular do rotor (caroço com fechamento de camada) e
j é aquele das partículas de valência (que não formam uma camada fechada).
~2 £ ¤
EJ,K,i = K,i + J (J + 1) − K 2 , (7.34)
2I0
14
Wigner desenvolveu a teoria do movimento rotacional na mecânica quântica, quando há dois referenciais,
um fixo no espaço e outro no corpo rígido. As funções DM,K J (a, β, γ) são chamadas funções de Wigner,
elas dependem dos ângulos de Euler e as equações de autovalores associadas a ela são
J 2 DM,K
J J
= J (J + 1) DM,K , Jˆz DM,K
J J
= MDM,K , Jˆz0 DM,K
J J
= KDM,K ,
(por simplicidade omitimos os ângulos como variáveis independentes) onde M e K são as projeções sobre
os eixos z e z 0 da Figura 7.15.
• rotações coletivas,
1 ³ 2 ´
3
¡ ¢ 1X
E = H Ikirr , β, γ = Ikirr ω 2k + B2 β̇ + β 2 γ̇ 2 , (7.35)
2 2
k=1
¡ ¢
possuindo o núcleo dois modos vibracionais16 , β e γ, e H Ikirr , β, γ é conhecida
como a hamiltoniana de Bohr. Rodando no entorno de um eixo perpendicular ao eixo
de simetria, o momento de inércia da gota contém uma dependência com o parâmetro
de deformação β da forma
µ ¶ ∙ µ ¶¸
2π 3 2π
Ikirr = 4B2 β 2 sin2 γ − k = mN r02 A5/3 β 2 sin2 γ − k (7.36)
3 2π 3
15
De fato, a expressão (7.34) é aproximada, pois estão ausentes outros efeitos, como de recuo, e a interação
residual.
16
No modo β, o núcleo esferoidal vibra de modo que sua “cintura” se contrai e dilata, ou seja, a secção
reta, que é um disco, diminui e aumenta seu raio - o semi-eixo menor - enquanto o semi-eixo maior também
oscila, aumentando e diminuindo, permanecendo, não obstante, um esferóide. No modo γ, o semi-eixo maior
(de simetria) mantém-se fixo mas a direção associada à secção reta oscila, passando de um círculo para uma
elipse que se alonga, ora ao longo do eixo x, ora ao longo do eixo y, isto é, o esferóide transforma-se em um
elipsóide que vibra nas direções x e y. Entretanto, nos dois modos o volume é conservado.
enquanto que
" r µ ¶#
2 5 2π
Ikrig 2 5/3
= mN r0 A 1− β cos γ − k (7.37)
5 4π 3
é o momento de inércia para um núcleo deformado de massa mN A e raio r0 A1/3 .
O momento de inércia Ikirr mostra uma dependência essencial com o parâmetro de
deformação β, enquanto que no caso de Ikrig a contribuição dominante é aquela da
esfera rígida. Quantizando a Eq. (7.35) e resolvendo a equação de Schrödinger para
pequenas vibrações β em torno do valor de menor energia, assim como para vibrações
γ, obtêm-se os autovalores de energia associados aos modos vibracional e rotacional
∙ µ ¶ µ ¶¸
1 |K| ~2 £ ¤
EJ,K,nβ ,nγ = ~ω β nβ + + ~ω γ 2nγ + 1 + + J (J + 1) − K 2 .
2 2 2I0
(7.38)
O primeiro termo, entre colchetes, corresponde à parte vibracional e o segundo à rota-
cional e, para K 6= 0, a vibração γ está acoplada ao movimento rotacional; ω β e ω γ são
as freqüências de vibração daqueles modos e seus números quânticos tomam valores
nβ , nγ = 0, 1, 2, 3, ...; I0 é o momento de inércia efetivo.
Essa abordagem geral do núcleo é bastante intrincada uma vez que considera graus
de liberdade de diferentes naturezas que se acoplam. Olhando apenas a parte rotacional
da energia,
~2 £ ¤
EJ,K = J (J + 1) − K 2
2I0
observa-se que ela representa uma banda de níveis de energias associada ao movimento
rotacional (caracterizada pelos J’s) superimposta às energias do movimento intrínseco
(caracterizadas por K). Para núcleos par-par deformados no seu estado fundamental, os
núcleons ocupam alternadamente estados de mi com sinais opostos, logo K = 0 e não
haverá contribuição do movimento intrínseco para o momentum angular total. Como
há, neste caso, uma simetria por um plano perpendicular ao eixo nuclear, a função de
onda deve ser invariante por rotações de 180◦ e, desta forma, os valores permitidos
para o momentum angular são J = 0, 2, 4, 6, ..., com paridade par, pois esta é dada por
(−1)J . Assim, a banda rotacional prevista pelo modelo segue a seqüência de estados
0+ , 2+ , 4+ , ... e, de fato, esse tipo de banda é encontrada em muitos casos nas regiões
da tabela de nuclídeos onde a deformação nuclear é bem identificada, a saber, A ∼
24, 150 < A < 190 e A > 200. Como exemplo, apresentamos na Figura 7.16 a banda
rotacional mais baixa do nuclídeo 164 Er.
É imediato constatar que o estado fundamental de um núcleo par-par (início da banda
J = |K| , |K| + 2, |K| + 4, · · · ) sempre tem momentum angular e paridade J π = 0+ e
o primeiro estado excitado no mais das vezes tem J π = 2+ .
Um teste deste modelo, usado para descrever as rotações nucleares, pode ser levado
a efeito comparando-se o momento de inércia obtido da banda experimental de energias
~2 J (J + 1)
EJexp =
2Iexp
Figura 7.16: Valores experimentais da banda rotacional do núcleo de 164 Er. Rotação do núcleo
em seu estado fundamental.
Figura 7.18: Esferóide com semi-eixos a e b, e ρ é o raio da secção reta, que é um círculo.
óide é
z2 ρ2
+ = 1,
a2 b2
onde ρ é o raio do círculo da secção reta, conforme visto na Figura 7.18, podemos definir
a função
µ ¶1/2
z2
f (z) = ρ = b 1 − 2
a
para ser inserida na expressão do cálculo da superfície de uma figura de revolução
Z a h ³ ´i1/2
2
S = 2π f (z) 1 + f 0 (z) dz.
−a
Um cálculo direto leva à expressão
∙ ¸
b arcsin α
S = 2πab + ,
a α
onde
b2
α2 = 1 − 2 .
a
Como admitimos que ε ¿ 1, expansões até terceira ordem em ε são
−1 ¡ ¢
(1 + ε) = 1 − ε + ε2 − ε3 + O ε4 ,
1/2 1 1 1 ¡ ¢
(1 + ε) = 1 + ε − ε2 + ε3 + O ε4
µ2 8 16¶
10 ¡ ¢
α2 = 3ε 1 − 2ε + ε2 + O ε4 ,
3
e também
arcsin α 1 3 5 6 ¡ ¢
= 1 + α2 + α4 + α + O α8
α 6 40 112
1 13 2 289 3 ¡ ¢
= 1+ ε− ε + ε + O ε4
2 40 1680
o que permite finalmente obter o valor da área do esferóide (até terceira ordem em ε),
∙ ¸
2 52 3 ¡ ¢
Sε = 4πR02 1 + ε2 + ε + O ε4 .
5 105
Note que não há termo linear em ε, e até ordem em ε3 a energia de superfície é escrita
como
µ ¶
2 2 52 3
∆Es = τ (Sε − S0 ) = 4πR02 τ ε + ε
5 105
µ ¶
2 2 52 3
= Es0 ε + ε . (7.39)
5 105
Comparando o resultado (7.39) com a expressão (7.24), constata-se que apenas os re-
spectivos primeiros termos coincidem, os termos subsequentes diferem porque supuse-
mos diferentes modelos formais para representar a deformação nuclear.
verificando que r2 = s2 e r02 = s02 , a integral (7.40) pode ser reescrita como
Z 0
1 d3 s d3 s0
Ec (ε) = (ρ )2 ∙ ¸1/2 . (7.41)
2 0 (sx −s0x )2 (sy −s0y )2
1−ε + 1−ε + (sz − s0z )2 (1 − ε) 2
A integração deve ser efetuada com a condição de vínculo s2 = s02 = R02 (a linha na
integral é um “lembrete” desse vínculo). Como consideramos ε ¿ 1, expandindo o
1 X l2
= ρ0 |Cl (t)|2 R02l+1 (7.45)
2 (2l + 1)
l
devido à existência de derivadas é necessário fazer uso das relações de recorrência das
funções de Legendre. Primeiro escrevemos
1 X 2 R0
2l+1
T2 = ρ0 |Cl (t)| [l (l + 1)]
2 2l + 1
l
1 X ¯¯ ¯2 (l + 1)
¯
= ρ0 R05 ¯ḃl (t)¯ ,
2 l (2l + 1)
l
q q (7.47)
⎪
⎪
⎩ − l−mj +1/2 Y (Ω) χ +
l+mj +1/2
Yl mj +1/2 (Ω) χ−1/2 .
2l+1 l mj −1/2 1/2 2l+1
Note-se que ψ nlsj,mj (r) é autoestado de s 2 , l 2 , j 2
e ĵz , mas não é autoestado dos
operadores ˆlz e ŝz .
hαjmj | V · j |αjmj i
hαjmj | V |αjmj i = hαjmj | j |αjmj i , (7.49)
hαjmj | j 2 |αjmj i
ou em termos de componentes dos vetores
hαjmj | V · j |αjmj i
hαjmj | V̂k |αjmj i = hαjmj | ĵk |αjmj i , k = 1, 2, 3. (7.50)
hαjmj | j 2 |αjmj i
Esta relação tem um significado físico intuitivo: como j define a direção de quantização,
o valor médio de qualquer componente vetorial V̂k é proporcional ao valor médio da
projeção de V sobre a direção de j.
A demonstração faz uso de teoremas relacionados a tensores esféricos de ordem 1
cujos enunciados e demonstrações podem ser encontrados no livro de M. E. Rose [16].
Porém, sem entrar em detalhes formais vamos esboçar como o resultado é alcançado
fazendo uso de alguns teoremas. Inicialmente é usado o teorema da decomposição de
primeiro tipo, que é escrito como
¯ ³ ´
0 0¯ αjm0j ¯ j j · V |αjmj i
αj mj ¯ V |αjmj i = δ j,j 0 , (7.51)
j (j + 1)
a seguir faz-se uso do teorema da fatoração,
0 0¯ ³ ´ ¯
αj mj ¯ j V · j |αjmj i = αj 0 m0j ¯ j |αjmj i hαjmj | V · j |αjmj i δ j,j 0 . (7.52)
Ambos os teoremas, (7.51) e (7.52), podem ser combinados para construir o teorema da
decomposição de segundo tipo, expresso pela equação
¯ ¯ hαjmj | j · V |αjmj i
αjm0j ¯ V |αjmj i = αjm0j ¯ j |αjmj i , (7.53)
j (j + 1)
tal que considerando os elementos diagonais apenas, resulta a Eq. (7.49).
onde
2
3 (j ∓ 1/2 ) − l (l + 1)
(l (j ∓ 1/2) 2 0 | l (j ∓ 1/2)) = 1/2
[l (l + 1) (2l − 1) (2l + 3)]
e
l (l + 1)
(l 0 2 0 | l 0) = − 1/2
,
[l (l + 1) (2l − 1) (2l + 3)]
donde portanto
h i
3 (j ∓ 1/2 )2 − l (l + 1) l (l + 1)
(l (j ∓ 1/2) 2 0 | l (j ∓ 1/2)) (l 0 2 0 | l 0) = − .
[l (l + 1) (2l − 1) (2l + 3)]
(7.56)
Substituindo o valor obtido na Eq. (7.56) na Eq. (7.55) e por sua vez esta na Eq. (7.54),
ficamos com
½µ ¶
j=l±1/2 ® l (l + 1) l ± j + 1/2 h
Q2 = −2 r2 nl 3 (j − 1/2 )2
[l (l + 1) (2l − 1) (2l + 3)] 2l + 1
µ ¶ i¾
l ∓ j + 1/2 h 2
−l (l + 1)] + 3 (j + 1/2 ) − l (l + 1) .
2l + 1
17
Que é definido como (j1 m1 j2 m2 | j3 m3 ) e deve satisfazer as seguintes condições necessárias para
ser diferente de zero:
1. m1 + m2 = m3 ,
2. |j1 − j2 | ≤ j3 ≤ j1 + j2 .
7.9 Problemas
1. Obtenha o lado direito da Eq. (7.22) e os primeiros termos da Eq. (7.23).
3 3 2 4
λ3 = 1 + b22 + b23 + b32 + ... + b2 b23 ...
5 7 35 35
supondo que sejam dominantes se b3 ¿ b2 ¿ 1.
Note que,
Z 1
2
Pl1 (x) Pl2 (x) Pl3 (x) dx = (l1 0l2 0|l3 0)2 ,
−1 2l3 + 1
onde (l1 0l2 0|l3 0) é o coeficiente de Clebsh-Gordan,
⎧ q
⎪
⎪ (−1)
g−l3
(2l3 + 1) g!(2g−2l1 −1)!!(2g−2l2 −1)!!(2g−2l3 −1)!!
,
⎪
⎨ (g−l1 )!(g−l2 )!(g−l3 )!(2g+1)!!
(l1 0l2 0|l3 0) = para l1 + l2 + l3 = par
⎪
⎪
⎪
⎩
0 para l1 + l2 + l3 = ímpar
e onde 2g = l1 + l2 + l3 , um inteiro par.
2. Mostre que a superfície uma esfera (raio R) é menor do que aquela de um cilin-
dro (comprimento l e raio da base r) de mesmo volume V .
4. As quantidades
1 D ¯ ¯ E
¯ ¯
Gl (j) = nlsjj ¯j · l¯ nlsjj
j(j + 1)
e D ¯ ¯ E
1 ¯ ¯
Gs (j) = nlsjj ¯j · s¯ nlsjj
j(j + 1)
são os fatores-g de Landé. Mostre que
j − 1/2 1 1
Gl (j) = , Gs (j) = para j =l+
j 2j 2
e
j + 3/2 1/2 1
Gl (j) = , Gs (j) = − para j =l− .
j+1 j+1 2
5. O operador de dipolo magnético é dado por
³ ´
orb ˆ spin
M̂z = µ0 gN lz + gN ŝz .
7.10 Bibliografia
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