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Introdução
1 Introdução 1
1.1 Física nuclear: uma retrospectiva histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Notação e nomenclatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.3 Unidades de massa, energia e propriedades de algumas partículas
subnucleares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.4 Peso-atômico e abundância isotópica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.5 Energia nuclear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.6 Partículas subnucleares e elementares: uma retrospectiva histórica . . . . . 24
1.7 Apêndice A: A seção de choque de Rutherford . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
1.8 Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
1.9 Textos de Física Nuclear e de Partículas Elementares
recomendados como leitura adicional/complementar . . . . . . . . . . . . 41
desenvolvimento. Nesse sentido, uma pergunta pertinente poderia ser feita: Qual
foi o evento determinante que poderia ser considerado, de alguma forma, como um
marco inicial para a Física Nuclear? De fato, a partir do final do século XIX, muitas
pesquisas e descobertas foram feitas e teorias foram propostas – todas importantes
e inter-relacionadas –, e dificilmente seria possível apontar um único evento, e tam-
pouco fixar uma única data, mesmo em uma reconstrução histórica sem o rigor que
seria exigido por um historiador de ciências. Ainda assim, somos tentados a fixar dois
momentos específicos quando ocorreram acontecimentos mais marcantes: em 1911,
quando foi proposto, com base em resultados experimentais e análises quantitativas, o
primeiro modelo do átomo que propunha a existência de um núcleo de tamanho finito
e em 1932, quando o nêutron foi descoberto1 , o que permitiu a elaboração da primeira
teoria do núcleo.
O físico Ernest Rutherford (PNQ-1908)2 inferiu a existência do núcleo atômico
e determinou o seu tamanho após analisar os resultados experimentais obtidos pelos
físicos Hans Geiger e Ernest Marsden, que trabalhavam em seu laboratório na Uni-
versidade de Manchester. Em essência, os experimentos consistiam em fazer incidir
partículas α (posteriormente identificadas como átomos ionizados do elemento hélio),
provenientes de uma fonte radioativa, sobre folhas metálicas muito finas, com cerca de
4 µm (1 micrômetro = 10−6 m) de espessura, e estudar os padrões de espalhamento
das α’s. Em 1909, Rutherford havia sugerido tentar detectar partículas α defletidas em
grandes ângulos. Poucos dias depois da sugestão eles o informaram [1] que haviam con-
seguido observar que uma pequena fração (1 : 20 000) de α’s era espalhada em ângulos
traseiros (ângulo polar θ > π/2)3 . Esta constatação empírica foi de fundamental im-
portância para que, em 1911, Rutherford pudesse enunciar a sua teoria sobre a estrutura
atômica. Na Figura 1.1 temos uma representação pictórica de partículas α incidindo
sobre um alvo e possíveis trajetórias em diversos ângulos de espalhamento.
A concepção dominante até 1911 estava ancorada no modelo atômico de Joseph
John Thomson (PNF - 1906)4 , onde a carga positiva estaria uniformemente distribuída
em uma esfera do tamanho do átomo; cálculos precisos indicavam que, nessa configu-
ração, a deflexão de uma partícula α resultaria de múltiplos espalhamentos e o desvio to-
tal, relativamente à trajetória inicial, deveria ser pequeno. Porém, este resultado teórico
entrava em contradição com os dados que provinham das medições feitas por Geiger e
1
O período entre 1911 e 1932 poderia ser chamado de era pré-Física Nuclear, pois os conhecimentos
sobre a estrutura do núcleo e seus constituintes eram ainda vagos, existindo apenas hipóteses e conjecturas.
2
Laureado com o Prêmio Nobel de Química em 1908. Doravante, a sigla PNQ-xxxx ou PNF-xxxx, ao lado
de um nome ou nomes, indicará que as pessoas citadas receberam o prêmio Nobel em Química ou Física, no
ano xxxx.
3
Para se ter uma idéia das frações envolvidas, os autores reportam 1 : 1 000 α´s com desvios em um
ângulo no intervalo (00 , 900 ) e 1 : 200 000 para (1500 , 1800 ).
4
Em 1910, Thomson – o mesmo que descobriu o elétron – propôs o chamado modelo de “pudim de
ameixa” para o átomo. Este foi concebido como uma esfera com massa contendo uma carga elétrica positiva
uniformemente distribuída e os elétrons, objetos pontuais de carga elétrica negativa, ficam distribuídos nessa
esfera como ameixas em um pudim. A carga total é então nula, assegurando-se, portanto, que o átomo é
eletricamente neutro, de acordo com o que se sabia então. Este modelo fora sugerido no início do século XX
por Lord Rayleigh.
Marsden. Elas indicavam que a força que espalhava uma partícula α, e que era respon-
sável pelas grandes deflexões, se originaria de uma única colisão devida a uma partícula
massiva5 , com carga elétrica positiva, que estaria confinada no centro do átomo, em
uma região bem menor que o seu tamanho, e não devido à soma de vários pequenos
espalhamentos.
Em dois artigos seminais [2], publicados em 1911 e 1914, Rutherford refutou o mod-
elo atômico de Thomson, substituindo-o pelo seu próprio, no qual os elétrons orbitariam
um núcleo carregado positivamente – em analogia aos planetas em torno do Sol – situ-
ado no centro do átomo. O espalhamento de α’s a grandes ângulos ocorre quando estas
chegam bem perto do núcleo, e a maioria das α’s não sofre espalhamento porque atrav-
essa regiões dentro do átomo que são blindadas pelos elétrons, sentindo, portanto, bem
menos intensamente as forças das cargas nucleares. Neste sentido, deve-se apontar que
Hantaro Nagaoka havia proposto um “modelo saturniano” (um modelo inspirado em
uma proposta de James Clerk Maxwell) para o átomo em 1904, embora este modelo
considere, equivocadamente, que a radiação emitida pelo átomo provém do movimento
mecânico dos anéis de elétrons e a radioatividade beta corresponda à ruptura de um
desses anéis6 .
Os desvios das trajetórias das α´s são causados por uma força repulsiva central
de natureza coulombiana cuja energia potencial é (2e) (Ze) /r, onde o fator 2e cor-
responde à carga elétrica da α, Ze é a carga elétrica do núcleo (−e é a carga elétrica
do elétron), r é a distância entre a partícula α e o centro espalhador no referencial do
5
Embora a palavra massiva não seja encontrada nos dicionários da língua portuguesa, nós a usaremos
regularmente com o sentido de "com massa".
6
Em seu trabalho, Nagaoka diz que o seu modelo apresenta estabilidade e difere do modelo saturniano de
Maxwell, por considerar que as partículas negativamente carregadas, distribuídas em um círculo, se repelem,
em contraste com massas de satélites, que se atraem [3]. Do ponto de vista histórico, anteriormente, já em
1901, Jean Baptiste Perrin havia proposto um modelo núcleo-planetário para o átomo [4].
significando que elas poderiam existir somente a certas distâncias específicas do núcleo
[6]. Este foi um modelo bastante sofisticado para a época, embora incompleto pois só
se aplicava para órbitas circulares. Em 1916, Arnold Sommerfeld melhorou o modelo
incluindo efeitos relativísticos, o que permitiu a inclusão de órbitas elípticas, e passou
a ser conhecido como modelo atômico de Bohr-Sommerfeld, tornando-se o principal
ingrediente da chamada velha teoria quântica7 .
Embora tenham ocorrido vários avanços no estudo dos núcleos no período entre
1911 e 1932, a estrutura nuclear ainda era desconhecida, muitos modelos haviam sido
propostos, mas nenhum apresentava uma explicação convincente, pois faltavam fatos
observacionais essenciais para uma formulação teórica consistente. Repentinamente,
em 1932 e 1933 aconteceram descobertas e avanços científicos importantes que possi-
bilitariam, a partir de então, o avanço acelerado das pesquisas em Física Nuclear e em
Física das Partículas Elementares. De maneira informal, o físico britânico Arthur Ed-
dington propôs o ano de 1932 como um marco zero da Física Nuclear [10], que ele
denominou annus mirabilis8 devido aos seguintes fatos (que serão analisados em mais
detalhes em capítulos subseqüentes) :
(1) No laboratório Cavendish (Universidade de Cambridge) James Chadwick (PNF-
1935) descobriu a existência do nêutron, que veio a se somar ao próton9 e ao elétron, que
eram até então as únicas partículas elementares conhecidas. O nêutron, uma partícula
eletricamente neutra e com massa muito próxima à do próton (foi também chamada pró-
ton neutro), foi detectado na colisão de uma partícula α com um núcleo de berílio-9; no
processo representado pela forma,
α + 94 Be → 12 6 C + n, (1.2)
a partícula α é aborvida e ambos perdem suas identidades. A seguir, o sistema transforma-
se em um núcleo de carbono-12 e um nêutron é ejetado10 . Entretanto, já em 1920, em
uma conferência internacional, Rutherford havia sugerido a existência do nêutron e anos
mais tarde, em 1930, Walther Bothe (PNF-1954) e Hans Becker, assim como Irène
Curie e Fréderic Joliot-Curie (PNQ-1935, ambos), já haviam constatado a presença
7
Sobre este tema veja os textos de M. Born [7], de A. E. Ruark e H. C. Urey [8], e também o de L.
Brillouin [9]
8
Ano maravilhoso.
9
Depois da descoberta do elétron por Thomson em 1897, imaginou-se que deveria haver centros de carga
positiva dentro do átomo a fim de contrabalançar as cargas negativas dos elétrons e assim permitir que os
átomos fossem eletricamente neutros. A descoberta do núcleo por Rutherford permitiu localizar uma carga
positiva concentrada no centro do átomo, ocupando um volume comparativamente ínfimo. Em 1919, fazendo
incidir partículas α sobre certos elementos, Rutherford descobriu que poderia transmutá-los em outros; e,
no início de 1920, diversos experimentos de transmutação estavam sendo feitos na comunidade científica.
Como nestes experimentos núcleos de hidrogênio eram também ejetados, tornava-se evidente que o núcleo do
hidrogênio deveria ter um papel fundamental na estrutura do átomo. Comparando razões de massas nucleares
para cargas, percebeu-se que a carga positiva de qualquer núcleo poderia ser considerada como um múltiplo
inteiro da carga do núcleo de hidrogênio. Já no fim de 1920, os físicos se referiam ao núcleo do átomo de
hidrogênio como “próton”, palavra cunhada pelo próprio Rutherford. Portanto, pode-se considerar o ano de
1920 como o da descoberta do próton, embora não fique clara a indicação de um descobridor único.
10
A notação (1.2) será usada para descrever colisões, também chamadas reações nucleares, que serão
definidas de forma mais precisa no capítulo 2.
de uma radiação "estranha", mas não a identificaram com o nêutron. Neste contexto,
uma história interessante é contada pelo físico Emílio Segrè (PNF-1959) [11]: a partir
dos dados experimentais de Bothe-Becker e Curie-Joliot, o perspicaz e enigmático Et-
tore Majorana11 já conseguira vislumbrar que se tratava de um “próton neutro”, mas
mesmo com o incentivo de Enrico Fermi (PNF-1938), alegando motivos pessoais, ele
decidira não publicar sua idéia.
(2) Também no laboratório Cavendish foi realizada a primeira desintegração nuclear
artificial por John D. Cockroft e Ernest T. S. Walton (PNF-1951, ambos). Usando um
acelerador por eles construído, verificaram a reação
p + 73 Li −→ α + α + 17 M eV, (1.3)
significando que um próton é absorvido por um núcleo de lítio-7, dando como resultado,
após a colisão, a desintegração do sistema em duas partículas α, que emergem com
energia cinética de cerca de 8, 5 M eV para cada uma.
(3) Nos Estados Unidos Carl D. Anderson (PNF-1936) e Seth H. Neddermayer
descobriram o pósitron e+ (elétron com carga elétrica positiva), partícula elementar pre-
vista por Paul A. M. Dirac (PNF-1933) a partir das soluções da sua equação relativística
para o elétron (equação de Dirac).
(4) Também nos Estados Unidos, o químico Harold. C. Urey (PNQ-1934) e colab-
oradores descobriram o deutério, um átomo de hidrogênio cujo núcleo é constituído de
um próton e um nêutron.
(5) Na Alemanha, Werner Heisenberg (PNF-1932) propôs a primeira teoria para
o núcleo atômico, sugerindo que um núcleo seria constituído de A (número de massa)
núcleons12 , dos quais Z (número atômico) seriam prótons e N = A−Z nêutrons, que se
manteriam coesos por fortes forças atrativas, para contrapor-se à repulsão coulombiana
que atua entre os prótons. Em suas propriedades físicas, os núcleos difeririam entre si
pelos números A e Z. Na mesma época, D. D. Iwanenko e Majorana também chegaram
à mesma concepção para a estrutura nuclear.
(6) Em 1933, na Itália, Fermi desenvolveu a sua teoria sobre o decaimento β dos nú-
cleos radioativos, propondo a existência de um novo tipo de interação entre as partículas
elementares, a interação fraca. Por decaimento β entende-se o fenômeno de transmu-
tação de um elemento de número atômico Z, para um outro com Z + 1 e a emissão
concomitante de um elétron; a soma do número de prótons e nêutrons é conservada.
11
Majorana, engenheiro por formação, foi um físico italiano muito talentoso – conforme reconhecimento
feito pelo próprio Enrico Fermi – desapareceu em uma viagem de navio entre a Itália continental e a Sicília,
aos 31 anos de idade, poucos meses após ter sido nomeado catedrático na Universidade de Nápoles. Outras
histórias e anedotas são contadas por Laura Fermi [12], esposa de Fermi. Por exemplo:
“Majorana era um gênio, um prodígio em aritmética, um portento em visão e potência mental, a mente
mais profunda e crítica de todo o prédio da Física. Ninguém precisava de uma régua de cálculo, ou de calcular
por escrito, quando Majorana estava por perto. ‘Ettore, qual é o logaritmo de 1538?’ perguntava um. Ou,
‘qual é a raiz quadrada de 243 vezes 578 ao cubo?’ Certa vez ele e Fermi competiram: Fermi com lápis, papel
e uma régua de cálculo; Majorana apenas com sua mente. Empataram!”
12
Núcleon é uma designação para próton e nêutron indistintamente. Pode-se considerar que espectroscopi-
camente o próton é o estado fundamental do núcleon e o nêutron é o primeiro estado excitado, pois no estado
livre seu tempo de vida-média é de cerca de 15 minutos, decaindo para o próton por interação fraca.
Uma nova partícula está presente nesse processo – cuja descrição deve estar contida na
teoria –, o neutrino13 , assim batizada por Fermi porque, como o nêutron, ela não tem
carga elétrica, mas sua massa é muitíssimo menor que a do nêutron. Historicamente, a
proposta dessa partícula veio de Wolfang Pauli (PNF-1945), em 1930, para dar conta
do princípio de conservação da energia no decaimento β, mas foi na teoria de Fermi que
ela entrou para o rol das partículas elementares subatômicas, mesmo sem ter sido até
então detectada, o que só veio a ocorrer em 1956.
Mesmo que concordemos com Eddington e adotemos 1932 como o ano zero da
Física Nuclear, devemos reconhecer que, fora a descoberta de Rutherford, inúmeras
outras grandes descobertas na física haviam sido feitas anteriormente e que foram fun-
damentais para o desenvolvimento da Física Nuclear e das Partículas Elementares. A
seguir, faremos uma breve apresentação, em ordem cronológica, dos principais marcos
científicos pré-1932, que estão na origem da procura por uma teoria harmoniosa sobre
a constituição e a origem da matéria:
• 1895 - Na Alemanha, Wilhelm Roentgen (PNF-1901) descobriu os raios X.
• 1896 - Na França, Henry Becquerel (PNF-1903) descobriu a propriedade ra-
dioativa do elemento natural urânio.
• 1897 - Na Inglaterra, Thomson descobriu que os raios catódicos eram consti-
tuídos de partículas eletricamente carregadas; individualmente identificou-se o
elétron, que se tornou a primeira partícula elementar a ser desvendada.
• 1899 - Rutherford identificou os raios α e β, emitidos pelo elemento rádio, e ele
notou que os raios β são mais penetrantes que os raios α, fato este que permite
distingui-los.
• 1911 - Rutherford descobriu que o átomo possui um núcleo atômico e enunciou
o seu modelo planetário.
• 1913 - Na Inglaterra, Frederick Soddy (PNQ-1921) descobriu que a relação en-
tre a carga e a massa dos núcleos não é linear (Z 6= cA). Embora a massa dos
núcleos dos diversos elementos cresça com o aumento do valor das respectivas
cargas elétricas, ele verificou que para uma dada carga nuclear, existem núcleos
de diversas massas, e que para tais núcleos os átomos correspondentes possuem
um mesmo número de elétrons. Portanto, os átomos que compõem uma substân-
cia quimicamente pura de um elemento não possuem todos a mesma massa. Ele
chamou isótopo a um átomo que pertence ao conjunto daqueles que têm mesmas
propriedades químicas, mas tem massa diferente.
• 1919 - Rutherford produziu a primeira reação nuclear induzida resultando na
modificação da estrutura interna de um núcleo, o que é representado pela reação
14
α+ 7 N → 11 H + + 17
8 O. (1.4)
13
Depois reconhecida como sendo o antineutrino.
tiva: a estrutura corpuscular dos núcleons ainda não estava posta em questão; eles eram
considerados como partículas fundamentais que interagiam a curtas distâncias (menores
que o tamanho do núcleo) via uma força nuclear atrativa. Para distâncias ainda menores
existiria, adicionalmente, a contribuição de uma força repulsiva. Porém, em 1935 surgiu
uma mudança decisiva: procurando entender e explicar a origem da força nuclear, o
físico Hideki Yukawa (PNF-1949) apresentou uma teoria, inspirada na teoria eletro-
magnética, pela qual o campo de interação entre os núcleons seria constituído de outras
partículas de massas intermediárias entre a do elétron e a do núcleon (200 ∼ 300 massas
do elétron), a partícula viria a ser denominada méson. Mais tarde, o méson recebeu um
nome mais específico: méson-π ou píon, e em 1947 ele foi identificado experimental-
mente pelos físicos Cesar G. M. Lattes, Cecil F. Powell (PNF-1950) e Giuseppe P. S.
Occhialini, em trabalho conjunto. Em Física Nuclear de baixas energias15 considera-se
que todas essas partículas são objetos pontuais e elementares, sem haver maior preocu-
pação com a sua estrutura interna, mas possuem propriedades físicas bem definidas,
como massa, carga, spin, momento de dipolo magnético, etc.
Agora faremos um interregno na seqüência histórica para introduzir a notação e
15
Lembrar que a energia cinética por núcleon é menor
s que o equivalente em energia da massa de um
núcleon: a energia de uma partícula livre é Es= p2 c2 + M 2 c4 , a energia associada à sua massa de
repouso
√ é Mc2 , sua energia cinética é T = p2 c2 + M 2 c4 − Mc2 e o seu momentum linear é p =
T 2 + 2T Mc2 /c > T /c. Para momenta lineares p ¿ Mc, T ' p2 /2M.
16
O elétron é considerado como partícula subatômica, mas não subnuclear, por não ter existência própria
no núcleo.
17
A letra Z especifica tanto o número de elétrons de um átomo eletricamente neutro quanto o número de
cargas elétricas elementares positivas em um núcleo.
18
Os quarks são partículas elementares que, no chamado Modelo Padrão, entram na composição dos nú-
cleons e outras partículas subnucleares.
19
O excesso de nêutrons se explica pela necessidade de garantir a estabilidade nuclear, ele é imprescindível
para manter a coesão dos núcleos mais pesados por meio da força nuclear atrativa (que é de curto alcance e
age de forma indistinta entre prótons e nêutrons), contrabalançando assim a força coulombiana repulsiva que
atua entre os prótons e que é de longo alcance.
20
Helicidade é essencialmente a projeção do spin s sobre a direção de seu momentum linear p, h =
s · p/ |s · p|. Uma partícula massiva tem diferentes helicidades em referenciais inerciais diferentes, somente
para partículas sem massa a helicidade é a mesma em qualquer referencial.
timésons, em relação aos mésons, têm o quark trocado por seu antiquark e o antiquark
trocado pelo seu quark.
1. Em Física Nuclear a energia é comumente medida em unidades de M eV (um
milhão de elétron-volts ou mega-elétron-volt); o elétron-volt é a energia adquirida por
um elétron com carga elétrica −1, 602176 × 10−19 C (Coulomb) quando acelerado por
uma diferença de potencial de 1 V (volt), logo 1 eV = 1, 602176 × 10−19 C × 1 V =
1, 602176 × 10−19 J (Joule) e 1 M eV = 1, 602176 × 10−13 J. Às vezes também é
usada a unidade keV (quilo-elétron-volt), de onde 1 M eV = 103 keV .
2. A unidade de massa atômica (u ou amu21 ) é definida como um doze-ávos da
massa do átomo de carbono eletricamente neutro 1u ≡ 12 1
M12
6 C
= 1, 660539 ×
10 −24
g, a qual,
³ através
´ da relação de equivalência massa-energia, corresponde a uma
energia de 12 M12
1
6 C
c = 1, 492232 × 10 J = 931, 494 M eV . Logo, 1u =
2 −10
931, 494 M eV /c2 , onde c ' 3 × 1010 cm s−1 é a velocidade da luz no vácuo22 .
3. As massas das partículas e núcleos são expressas em unidades u ou M eV /c2 :
a massa do próton é mp = 1, 007276 u = 938, 272 M eV /c2 ; a massa do nêutron é
mn = 1, 008665 u = 939, 565 M eV /c2 e a massa do átomo de hidrogênio é M1 H =
1, 007825 u = 938, 783 M eV /c2 (a energia de ligação do elétron é desconsiderada por
ser muito menor do que a massa do elétron).
4. A massa do elétron é me = 5, 486×10−4 u = me = 0, 511 M eV /c2 . O pósitron
tem a mesma massa.
5. Elétrons, prótons, nêutrons e neutrinos possuem um grau de liberdade adicional,
o momentum angular intrínseco ou spin, de valor ~/2, onde ~ é a constante de Planck h
dividida por 2π, veja seu valor numérico na Tabela 1.2.
6. Outro grau de liberdade das partículas elementares ou compostas é a chamada
paridade intrínseca, este conceito será melhor discutido no capítulo 2.
7. Elétrons, prótons e nêutrons possuem momento de dipolo magnético intrínseco,
ou simplesmente momento magnético que está associado ao seu spin. O momento mag-
nético do elétron é expresso em unidades de magneton de Bohr, µB = e~/(2me c) e
seu valor experimental é µe ≈ −1, 0011µB . O sinal negativo significa que os vetores
de spin e do momento magnético apontam em direções opostas. Contrariando toda ex-
pectativa, os momentos magnéticos do próton e do nêutron não são respectivamente,
µp = e~/(2mp c) (= 1 µN ou 1 magneton nuclear) e µn = 0; de fato, os momentos
magnéticos medidos têm valores
23
É comum omitir a constante dimensional ~ na especificação do número quântico spin, e também naqueles
associados com o momentum angular orbital.
tais24 .
Constantes Símbolo Valor
Vel. da luz c 2, 997925 × 108 m s−1
Carga elét. e 1, 602176 × 10−19 C
Un. massa at. u 1, 660539 × 10−27 kg
Massa do elét. me 9, 109382 × 10−31 kg
Massa do próton mp 1, 672622 × 10−27 kg
Massa do nêutron mn 1,
½ 674927 × 10
−27
kg
1, 054572 J s
Planck ~ −22
½ 6, 582119 × 10−34 M eV s
6, 626071 × 10 Js
h
4, 135667 × 10−21 M eV s
Número de
Na 6, 022142 × 1023
Avogadro ½
Constante de 1, 380650 × 10−23 J K −1
kB
Boltzmann 8, 617342 × 10−11 M eV K −1
Constante
GN 6, 6742 m3 kg −1 s−2
gravitacional
¡ ¢−2
6, 7087 ×10−39 ~c GeV /c2
Tabela 1.2. Algumas constantes fundamentais.
Na Tabela 1.3 apresentamos um conjunto de constantes compostas que se fazem
presentes ao longo do texto.
Constantes expressão valor
Carga elétrica
e2 1, 439976 M eV f m
ao quadrado
Const.estr.fina α = e2 /~c 1/137, 0360
~c 197, 329 M eV f m
Raio de Bohr ~2 /me e2 5, 291772 × 104 f m
Compr. Compton
λ/2π = ~/me c 386, 1593 f m
do elétron
Magneton de Bohr e~/ (2me ) 5, 788382 × 10−11 M eV T −1
Magneton nuclear e~/ (2mp ) 3, 152451 × 10−14 M eV T −1
Tabela 1.3. Constantes compostas expressas em termos das constantes
fundamentais. Para a constante de estrutura fina α, apresentamos o
valor aproximado mais comumente usado. Esta constante é adimensional.
O símbolo T (Tesla) representa a unidade de campo magnético.
Um T é aproximadamente 104 vezes o campo magnético da Terra.
24
Na Tabela 1.2, o número de Avogadro, Na , é o número de átomos que há em 12 gramas de 12
6 C, ou
Na = 12g/M 12 C . Define-se um mol de uma substância como a quantidade que contém um número Na de
6
constituintes básicos (átomos, moléculas, estrelas, etc.).
MA
ZX
MA
ZX
AA
ZX
= = . (1.5)
u M12 C /12
12g MA ZX
[g] · (1 g) AA X · (1 g)
Na = = = Z ; (1.6)
M12 C [g] MA
ZX
[g]/ (M 12 C [g]/12) MA ZX
[g]
logo a massa atômica de um nuclídeo A Z X dividida pela sua massa (em gramas) é Na ,
e diz-se que um mol de uma substância qualquer contém Na constituintes básicos (áto-
mos, moléculas, etc.) dessa substância.
Como todo elemento químico possui ao menos dois isótopos [14], define-se a abundân-
cia isotópica γ k do k-ésimo isótopo como a percentagem do mesmo com relação ao to-
tal de átomos do elemento em uma amostra. Também é definida a abundância relativa
como a fração γ k /100. Essa amostra pode provir da atmosfera, de um minério, de uma
solução, da crosta terrestre ou do sistema solar. O peso-atômico de um elemento é a
média aritmética ponderada
X γA
AZ = k
AAk X , (1.7)
100 Z
k
onde a soma é feita sobre os pesos atômicos AAk X dos isótopos de um dado elemento.
Z
A título ilustrativo, na Tabela 1.4 estão apresentadas, para alguns nuclídeos: as abundân-
cias isotópicas dos isótopos estáveis – como encontrados na crosta terrestre – e dos
isótopos instáveis, com os seus tempos de meia-vida e modos de decaimento, os pesos-
Algumas estimativas podem ser feitas usando cálculos simples, como nos seguintes
exemplos:
1. Qual é o peso-atômico do oxigênio?
Usando a expressão (1.7) temos
2. Quantos átomos de 87
37 Rb há em m = 100 g de rubídio?
Como há Na (número de Avogadro) átomos em ARb gramas de rubídio (peso-
atômico do elemento rubídio), então haverá mNa /ARb átomos em m gramas, mas
16
M16
8 O
= g = 2, 65686 × 10−23 g.
6, 022142 × 1023
Figura 1.5: Tabela dos nuclídeos, constituintes mais leves. Nos retângulos de cor azul estão
representados os nuclídeos estáveis, e os números são a abundância relativa. Retângulos em
outras cores representam os nuclídeos radioativos com seus respectivos tempos de meia-vida.
para serem bastante compactos, o que permite sua instalação em satélites que orbitam a
Terra.
Podemos situar os primórdios da energia nuclear entre os anos 1939 e 1942. Este
período se iniciou com a descoberta da fissão nuclear e se prolongou até o dia da re-
alização da primeira reação nuclear em cadeia controlada. Essa foi uma época muito
peculiar porque o mundo passou do prelúdio para plena Segunda Grande Guerra (1939-
1945) e grandes cientistas estavam, em sua maioria, profundamente envolvidos com a
pesquisa tecnológica e científica para fins bélicos, cada um servindo a um governo ou
um regime. Neste cenário a pesquisa impulsionou o grande desenvolvimento da ciência
e tecnologia nucleares porque envolveu pessoas de aguçada perspicácia científica que
trabalharam com afinco, movidos por uma profunda convicção da justeza da causa de
seu país de nascimento ou de adoção, além de contar com amplos recursos financeiros
para erigir a infraestrutura e as instalações necessárias.
Abaixo fazemos uma reconstrução breve daquele período, sendo que uma visão
completa e detalhada desse pedaço marcante da história recente, que envolveu muitas
tramas de fugas, traições, decisões políticas e intrigas, não cabe no escopo do presente
texto. Contudo, um relato detalhado do desenvolvimento e domínio da energia nuclear
é encontrado, por exemplo, nos livros [18, 19, 20]. Consideramos, não obstante, a pre-
sente reconstrução, sem rigor histórico, se não exatamente imprescindível, pelo menos
útil para que o leitor possa apreciar a influência que a descoberta e o uso da energia nu-
clear tiveram sobre os habitantes do planeta e sobre o meio-ambiente, contribuindo as-
sim para a mudança do mundo que existia na era pré-nuclear. Neste contexto, um ponto
importante a salientar é que os projetos originais da maioria dos países que conseguiram
desenvolver e dominar a física e a tecnologia de reatores e do ciclo do combustível nu-
clear (EUA, Grã-Bretanha, URSS, França, China, Paquistão, Índia), e daqueles que, em
primeira instância, tentaram e não conseguiram (Alemanha, Japão, Líbia), tiveram mo-
tivação e finalidades estritamente militares. Na década de 1950, iniciou-se uma nova
etapa no uso da energia nuclear com sua aplicação para fins não-militares, quando os
conhecimentos desenvolvidos e acumulados foram aproveitados e adaptados para pro-
jetos civis. Esses conhecimentos contribuiram para a criação de fábricas especializadas
na recém-desenvolvida tecnologia nuclear, e também no estabelecimento de contratos
com institutos de pesquisa e universidades para o desenvolvimento de inovações tec-
nológicas.
Os dois grandes projetos de construção, na década de 1940, de um artefato explo-
sivo de muito grande potência tiveram como protagonistas os britânicos e os norte-
americanos, por um lado, e os soviéticos por outro, que desenvolveram suas pesquisas
independentemente um do outro. Empenhando várias centenas de físicos, químicos e
matemáticos, entre os mais brilhantes da época, os projetos se pautaram por um trabalho
intenso, de muitas pesquisas combinadas com uma espantosa engenhosidade, de con-
fiança e determinação das pessoas engajadas. Pode-se dizer, sem grande exagero, que
esses projetos representaram o trabalho coletivo de maior envergadura e profundidade
intelectual feito até então nas ciências físicas.
A gênese da energia nuclear pode ser situada no ano de 1939, quando foi feita, na
25
Na ocasião, ambos se encontraram na Suécia onde Meitner estava exilada. Meitner e Hahn mantiveram
uma longa colaboração científica.
26
O vocábulo fissão foi emprestado à biologia, onde ele é usado para exprimir a divisão de uma célula em
duas outras. Aparentemente, já em 1934, Fermi havia provocado a fissão nuclear, sem entretanto conseguir
reconhecer e interpretar dessa maneira os resultados obtidos. Ele havia bombardeado urânio com nêutrons
para produzir elementos transurânicos, de números de massa 93 e 94. Embora tivesse conseguido produzí-los,
outros elementos mais leves também estavam presentes; contudo, não os reconhecendo, ele não pôde conceber
a ocorrência de fissão.
27
Não obstante, também se abria a possibilidade de construção de armas de grande poder de destruição, a
partir de uma certa massa crítica de urânio-235, 235
92 U. Aqui convém antecipar que, em minérios de urânio, o
Figura 1.6: Imagens pictóricas das diversas etapas da fissão: incidência de um nêutron sobre um
núcleo, sua absorção e, em seguida, a fissão em dois grandes fragmentos, com emissão de três
nêutrons.
29
O plutônio é um elemento que não existe na natureza; ele foi descoberto apenas em março de 1940 na
Universidade de Berkeley. Ele é produzido quando se bombardeia urânio-238 com nêutrons, n + 238 92 U →
239 P u. Mais tarde, verificou-se que o 239 P u possui propriedades de captura de nêutrons e de subseqüente
94 94
fissão com emissão de nêutrons semelhantes àquelas do 235 92 U. Portanto, o 94 P u seria um elemento ad-
239
equado para iniciar um processo de fissão em cadeia auto-sustentada e controlada, ou então para produzir
bombas nucleares. Aqui usamos, indistintamente, os termos bomba nuclear e bomba atômica.
Figura 1.7: Desenho artístico do primeiro reator construído, feito, essencialmente de blocos de
grafite alternados com blocos de urânio.
Trinity, veja a Figura 1.8), no deserto de Alamogordo; sua potência foi estimada em 20
quilotons – um quiloton tem potência explosiva equivalente a 1 000 toneladas do com-
posto químico TNT30 . A epopéia do projeto Manhattan está contada em detalhes no
livro de Richard Rhodes, The making of the atomic bomb [18]. Também a União So-
viética teve o seu “projeto Manhattan”: um grupo de cientistas conseguiu produzir um
artefato nuclear e explodí-lo em 1949. A história do desenvolvimento do projeto está
relatada, por exemplo, no livro de David Holloway, Stalin e a bomba [20].
Até a presente data foram construídos centenas de reatores nucleares de fissão, de
diferentes arquiteturas de acordo com sua finalidade específica. Eles diferem na potên-
cia da energia gerada, no tipo de combustível usado e no seu grau de enriquecimento,
nos tipos de materiais usados como moderadores, nos elementos que entram na con-
fecção das barras de controle, etc. No capítulo 13 apresentaremos os princípios de
funcionamento e a descrição de alguns tipos de reatores mais comuns.
30
A explosão de uma tonelada de TNT libera uma energia equivalente aproximadamente igual a 4 × 109 J.
Figura 1.8: A primeira bomba atômica, denominada Trinity, está sendo instalada no topo da torre
onde ocorrerá a explosão.
apresentam indícios de que sejam compostas por outras partículas mais fundamentais.
Ao longo do tempo, os candidatos a partículas fundamentais foram se sucedendo, por
exemplo, no final do século XIX e no início do século XX, os átomos eram consider-
ados como sendo partículas elementares, pois supostamente eles constituíam os blocos
fundamentais da matéria. Porém, as experiências de Geiger, Marsden e Rutherford mu-
daram essa concepção, pois foi mostrado que o átomo é composto de elétrons e de
um núcleo não pontual, tendo portanto uma estrutura não-trivial. Por sua vez, a de-
scoberta do nêutron mostrou que o núcleo atômico contém duas partículas diferentes, o
próton e o nêutron, que supostamente não teriam estrutura: próton, nêutron e elétron se-
riam, portanto, partículas elementares. Porém, na década de 1950 Robert Hofstadter
(PNF-1961) mostrou que o próton e o nêutron possuem estrutura; assim, essas partícu-
las, junto com os mésons, deixaram de ser consideradas como elementares. No entanto,
como partícula subatômica, o elétron, e− , ainda mantém este caráter de elementari-
dade juntamente com dois novos parceiros descobertos posteriormente, o múon, ou µ,
e o tau, ou τ , que partilham propriedades comuns, exceto pelas massas, que são muito
maiores que a do elétron31 . Atualmente, a eles juntam-se muito mais partículas ele-
mentares, como os já mencionados neutrinos, que existem em três tipos diferentes, ν e ,
ν µ e ν τ , que estão associados ao elétron, múon e tau respectivamente. Embora não se-
31
O elétron foi descoberto em 1897, o múon em 1938 e o tau em 1975 – como uma nota pitoresca, segundo
M. Perl [21] (PNF-1995), usa-se a terminologia gerações, por serem partículas descobertas por diferentes
gerações de pesquisadores. As três partículas fazem parte da família dos léptons.
jam detectáveis diretamente, existem os quarks que também são particulas elementares;
eles têm sua existência inferida a partir de medições de propriedades de partículas com-
postas. Os quarks podem ser de diferentes tipos, cada um dos quais é caracterizado por
um número quântico exoticamente chamado “sabor”, e cada quark-sabor pode carregar
um tipo diferente de carga chamada “cor” que, analogamente à carga elétrica, é respon-
sável pela interação forte. Atualmente, o Modelo Padrão é o modelo prevalecente para
a descrição da constituição da matéria e tem por base 61 partículas elementares, com as
quais torna-se possível explicar a existência de centenas de partículas (e antipartículas)
não elementares, dentre as quais estão os mésons-π e os núcleons.
Após a descoberta do nêutron por Chadwick e a elaboração da primeira teoria para
a estrutura do núcleo atômico, em 1932, iniciou-se a investigação sobre a natureza das
forças nucleares. A primeira e bem-sucedida teoria foi proposta por Yukawa em 1935,
na qual, em analogia ao campo eletromagnético – cujas partículas de campo são os fó-
tons –, a força nuclear, que mantém os núcleons coesos (como no dêuteron), deveria
ser devida à troca de partículas de um campo nuclear. Seu cálculo mostrou que, caso
existissem, tais partículas deveriam ter spin 0 e uma massa da ordem de 200 me , que
foram chamadas mésons. A procura por tal partícula contou com o empenho de físi-
cos da Europa e dos EUA. Em 1938, uma partícula que era a principal candidata a ser
o méson de Yukawa foi identificada por Anderson em uma emulsão exposta a raios
cósmicos. Porém, mais tarde verificou-se que aquela era uma outra partícula que fi-
cou conhecida como méson µ, cujo nome hoje adotado é múon, não sendo, portanto, a
partícula aventada por Yukawa; de fato, a partícula de Yukawa era ainda uma outra. Em
1947, após análise cuidadosa de emulsões expostas à incidência de raios cósmicos du-
rante um mês em uma estação metereológica situada no monte Chacaltaya, perto de La
Paz, na Bolívia, Lattes, Powell e Occhialini conseguiram identificar, com certeza, o mé-
son de Yukawa. O local para a exposição das placas fora escolhido por Lattes por estar
situado a uma altitude de 5 000 m acima do nível do mar32 , diminuindo assim a camada
atmosférica que os mésons devem atravessar até atingir a emulsão. Esta história é con-
tada pelo próprio Lattes em um pequeno livro autobiográfico com título Descobrindo a
estrutura do universo [22].
A Figura 1.9-a representa esquematicamente o que foi visto por Lattes: o traço
espesso representa um méson π + (massa típica de 300 me ) movendo-se na direção da
seta, este decai no múon µ+ (massa de cerca de 200 me ), quando então ocorre uma
mudança de direção (ponto A) devido à variação da massa (π + → µ+ ). A seguir nota-
se um traço indicando uma nova mudança de direção abrupta (ponto B); esta é uma
direção praticamente oposta à de incidência do π + , e corresponde a um pósitron, e+ .
As linhas tracejadas correspondem à emissão de neutrinos, que não deixam traços nas
emulsões devido à ausência de carga, mas cuja existência e trajetórias são inferidas pela
necessidade de conservação da energia e do momentum linear. Todo o processo pode
32
Lattes mesmo transportou por avião as emulsões da Inglaterra para a Bolívia. Em um relato[22], ele
conta como conseguiu identificar ambos os mésons nas emulsões, o mais pesado como sendo o de Yukawa e
o outro como sendo o de Anderson, que fora chamado de mésotron.
Figura 1.9: Traços de partículas em emulsões que são evidências da existência (a) do méson
π + ; ?? (b) do méson π − .
π+ −→ µ+ + ν
µ+ −→ e+ + ν + ν̄.
são por serem partículas mais estáveis. A Figura 1.9-b é interpretada como sendo a do
registro de uma partícula π − que é absorvida por um núcleo (em contraponto, a aborção
de um méson π + seria bem menos provável devido à repulsão coulombiana causada
pela carga nuclear), localizado na posição O; em seguida, o núcleo emite partículas
carregadas em múltiplas direções, que correspondem aos traços emergentes de O.
Em 1948, os mésons π − e π + foram produzidos artificialmente no acelerador cí-
clotron da Universidade de Berkeley; o π − foi identificado em emulsões por E. Gard-
ner e Lattes, e o π + por J. Burfering, Gardner e Lattes [22]. Os mésons-π são produzi-
dos fazendo colidir prótons sobre alvos nucleares, sendo as reações mais simples as do
33
Para um conjunto ou uma amostra contendo N partículas idênticas instáveis, que ao longo do tempo vão
perdendo sua identidade, por decaimento ou transmutação em outras (N deve ser suficientemente grande para
permitir um cálculo estatístico); o tempo de vida-média de uma partícula é o tempo em que a amostra se reduz
por um fator e = 2, 718....
34
Em sua trajetória o pósitron colidirá com um elétron, o que leva à aniquilação de ambos, dando origem a
um raio γ, cuja energia deve ser superior a 1, 022 MeV .
tipo
p + p −→ p + p + π0
−→ p + n + π+
p + n −→ p + p + π−
−→ p + n + π0
las com tempo de vida-média muito curto. Tipicamente, as reações são da forma
(a) π+ + p −→ π+ + p
(b) π− + p −→ π− + p
(c) π− + p −→ π 0 + n,
(d) π− + p −→ γ + n (captura radiativa),
onde (a) e (b) correspondem a espalhamentos elásticos, (c) à transferência de carga
e (d) à captura radiativa, todas com energia cinética Tπ < 300 M eV . Analisando
as seções de choque em função das energias de incidência foram observados picos,
cada um identificado com a produção de uma nova partícula de vida-média muito curta
(' 10−22 s); essas partículas foram caracterizadas como ressonâncias. Veja a Figura
1.10 nas energias (no RCM) em torno de 190, 600, 900 e 1 300 M eV . Além das
energias bem resolvidas, elas têm carga elétrica, spin e isospin35 bem definidos, por
isso são consideradas como novas partículas, embora sejam altamente instáveis. Essas
quatro partículas podem ser também consideradas como estados excitados dos núcleons,
mas elas acabam encontrando uma descrição bem mais adequada dentro do modelo a
quarks.
Na década de 1960, o entendimento das inter-relações entre as partículas – suposta-
mente elementares – que surgiam dos experimentos estava bastante confuso. A única
certeza era que elas interagiam fortemente com núcleons e com o núcleo, um com-
portamento diferente do fóton, elétron, múon e neutrino, visto que um núcleo é quase
transparente ao múon. Havia então a suspeita de que essas novas partículas pertenciam
ao mesmo grupo do núcleon, portanto era necessário encontrar um esquema para clas-
sificar e inter-relacionar todas as partículas, que hoje conhecemos como hádrons, que
por suas vez se subdividem em dois subgrupos: os mésons e os bárions. Foi então
que, em 1961, os físicos Murray Gell-Mann (PNF-1969) e Yuval Nééman criaram
(independentemente um do outro) um esquema de classificação dessas partículas ele-
mentares, quando propuseram que todas as ressonâncias e partículas descobertas, Λ, Σ,
etc (algumas chamadas estranhas, termo devido a Gell-Mann) e as ressonâncias πN –
denominadas ∆ (delta), e que são em número de quatro (∆− , ∆0 , ∆+ , ∆++ ) –, pode-
riam ser classificadas de acordo com certas simetrias do grupo chamado SU(3). A título
ilustrativo veja os dois diagramas da Figura 1.11 para uma representação costumeira,
que está baseada em uma relação entre os números quânticos das partículas; partículas
de spin 1/2 formam um grupo de oito, chamado octeto, onde encontramos o próton, o
nêutron, as partículas Σ (com carga elétrica, 0, +1, −1), as Ξ (com carga elétrica 0, −1)
e a partícula Λ desprovida de carga. Partículas com s = 3/2 formam um conjunto de
dez, um decupleto, no qual estão incluídas as quatros ressonâncias ∆, além de outras
partículas. Voltaremos a este assunto com mais detalhes no Capítulo 14.
35
O conceito de isospin, originalmente introduzido por Heisenberg, está associado ao dubleto próton-
nêutron, ou seja, é um grau de liberdade que permite diferenciar os núcleons pela sua carga elétrica. Pos-
teriormente, o conceito foi estendido para os núcleos atômicos e para as demais partículas subatômicas. Veja
o Capítulo 14 para mais detalhes.
Figura 1.11: Classificação de uma classe de partículas chamadas hádrons, feita por Gell-Mann
e Nééman, de acordo com certas simetrias. No esquema à esquerda estão oito partículas de
spin 1/2, chamado octeto; à direita há dez partículas de spin 3/2: é o chamado decupleto. A
distribuição das partículas nos vértices de um hexágono e nos de um triângulo, não são casuais,
eles se justificam pois a ordenada e a abcissa (não desenhados) representam números quânticos
adimensionais associados a leis de conservação.
Nas Tabelas 1.5 e 1.6 estão apresentados valores numéricos das massas e dos tempos
de vida-média relativos a algumas partículas da família dos bárions.
ambas são forças de longo alcance. A força gravitacional é atrativa e sua intensidade
depende essencialmente das massas dos objetos e da distância entre os mesmos. Ape-
sar de terem massas ínfimas as partículas elementares sentem a força gravitacional da
Terra, mas, por ser muito pequena comparativamente às outras, essa força tem um pa-
pel irrelevante na Física Nuclear e na Física de Partículas; ademais, ela não está inserida
no Modelo Padrão. A partícula de campo que carrega a força gravitacional – chamada
gráviton – é desprovida de massa e tem spin 2.
Por sua vez, a força coulombiana atua entre objetos eletricamente carregados, e a
teoria que dá conta da unificação das forças elétrica e magnética é o eletromagnetismo,
cuja síntese está nas equações de Maxwell, na força de Lorentz e na equação da con-
tinuidade de cargas e correntes. No contexto relativístico, a teoria pode ser escrita em
termos de equações covariantes por transformações de Lorentz. Porém, para dar conta
dos fenômenos quânticos na radiação de átomos e da interação entre partículas car-
regadas, foi necessário inventar uma nova teoria, que se desenvolveu de pesquisas feitas
na década de 1940. Ela é conhecida como Eletrodinâmica Quântica, ou então pela sigla
QED (Quantum Electrodynamics), e é uma teoria de campos, cuja partícula de campo
é o fóton37 . Três físicos foram laureados com o prêmio Nobel pelas suas importantes
contribuições para a QED: Richard S. Feynman, Julian P. Schwinger e Sin-Itiro
Tomonaga (PNF-1965). A QED é uma das teorias mais completas e de maior sucesso
na física. Algumas de suas predições quantitativas estão de acordo com as medições
experimentais com uma altíssima precisão; alguns valores numéricos apresentam uma
coincidência que se estende até a décima-segunda casa decimal. A QED também ex-
plica por que há duas classes fundamentais de partículas, férmions e bósons, e como
suas propriedades estão relacionadas ao seu spin; descreve também como partículas
(fóton, elétron, pósitron, múon, tau) são criadas e aniquiladas. Contudo, a QED é uma
teoria de léptons apenas, ela é incapaz de descrever a interação dos hádrons.
Foi necessário inventar uma nova teoria para tratar os processos envolvendo os há-
drons e seus constituintes. A teoria da interação dos quarks intermediada por glúons
(partículas de campo, em analogia com os fótons) recebeu o nome de Cromodinâmica
Quântica; a sigla usada é QCD (Quantum Chromodynamics) e apresenta muitas analo-
gias com a QED. Nessa teoria a força forte é atrativa e se manifesta entre os já menciona-
dos quarks (partículas propostas independentemente por Gell-Mann e George Zweig,
em 1964, embora a denominação quark seja devida ao primeiro), que carregam uma
carga extra associada a esta força, que foi chamada cor38 , que vem em três diferentes
tipos, r, b e g, e também entre as partículas de campo desta força, os glúons, em número
de oito39 . A força se manifesta pela troca de glúons entre os quarks e é suficientemente
intensa, sendo capaz de sobrepujar as forças da repulsão coulombiana que atuam en-
37
Ele é desprovido de massa e tem spin 1, que é o valor em módulo de sua helicidade (estado de polarização
do fóton).
38
A palavra cor deu origem ao nome da teoria, cromodinâmica, pois no grego cromo significa cor.
39
Diferentemente do que ocorre na QED, onde – por serem desprovidos de carga elétrica – os fótons não in-
teragem entre si, os glúons interagem entre si, por carregarem duas unidades de carga cor; mais precisamente,
uma cor e uma anticor.
tre os quarks. Apesar da força forte ser de curto alcance, os glúons são desprovidos
de massa e têm spin 1. Entretanto, a curtíssima distância a força deixa de atuar entre
os quarks, que se comportam como partículas livres, mas confinadas; este fenômeno
é conhecido como liberdade assintótica. Assim como os quarks, tampouco os glúons
podem ser detectados, pois não se propagam livremente no espaço. Desta forma, a ex-
istência de quarks e glúons é inferida indiretamente, pois ambos só podem existir em
regiões espaciais limitadas pelo tamanho dos hádrons. A força nuclear que atua entre
núcleons é considerada como uma força residual da força forte que age entre as cargas
de cor, quando então as partículas de campo são os píons. Do caldo de quarks e glúons
existentes dentro de um núcleon só podem emergir pares quark-antiquark. Quanto aos
quarks mais pesado, em 1974, um grupo de pesquisadores do Laboratório Brookhaven,
EUA, liderados por Samuel Ting (PNF-1976), e outro grupo do SLAC (Stanford Linear
Accelerator, da Universidade de Stanford), EUA liderados por Burton Richter (PNF-
1976) observaram umnovo hádron contendo o quarto sabor de quark, o charm; este
hádron foi chamado J/psi, e apresenta uma massa de cerca de três vezes aquela do pró-
ton. Pouco anos depois, em 1977, trabalhando no Laboratório Fermilab da Universidade
de Chicago, EUA, o físico Leon Lederman (PNF-1988) e colaboradores descobriram
hádrons contendo o quinto sabor de quark, o quark bottom. que tem uma carga electric
−1/3 e. Finalmente, em 1996, usando o acelerador Tevatron do Fermilab, um grupo
internacional de cientistas reportaram a observação do sexto sabor de quark, o top.
Já a existência da força fraca revelou-se no decaimento β e foi originalmente ob-
servada nos núcleos radioativos, cuja primeira teoria é devida a Fermi que a publicou
em 1934, mas ainda restrita aos processos nucleares de baixas energias. No que diz re-
speito às partículas elementares, no Modelo Padrão considera-se que a força fraca atua
tanto entre os quarks quanto entre os léptons. As partículas de campo desta força, con-
hecidas como bósons vetoriais, são três: W + , W − e Z 0 , que têm diferentes cargas
elétricas (+1, −1, 0) e o seu spin é 1. Elas também possuem grandes massas, da or-
dem de 100 vezes a massa de um núcleon, eles transformam quarks de um sabor em
outro, e permitem que um múon decaia num eletron e dois neutrinos. Devido à imensa
massa, o alcance da força é muito curto, cerca de 10−18 m, ou seja, cerca de 0, 1% do
diâmetro do próton. A interação fraca é capaz de trocar o sabor de um quark e sua ex-
istência é crucial para a evolução e estruturação do Universo, pois ela é a responsável
pela transmutação do próton em nêutron, o que torna possível a síntese do deutério que
é essencial na produção de energia nas estrelas, assim como na síntese de núcleos mais
pesados. Os bósons vetoriais foram descobertos em 1983 no maior laboratório de al-
tas energias da Europa, o CERN40 , o Centro Europeu para a Pesquisa Nuclear, que está
situado na fronteira franco-suiça, por uma equipe liderada por Carlo Rubbia (PNF41 -
1984). Neste CERN foi construído o mais poderoso acelerador de partículas, o LHC42 ,
40
Acrônimo com as letras iniciais de Centre Européen pour la Rechèrche Nucléaire.
41
O prêmio Nobel foi dividido com o engenheiro Simon Van der Meer, que projetou o anel de armazena-
mento de prótons.
42
Sigla de Large Hadron Collider, que é um equipamento constituído, essencialmente, de (1) dois imensos
tubos na forma de anel (27 km de perímetro cada) que se cruzam em quatro pontos, (2) mais imensos detec-
e
dr dr L
ṙ = = ϕ̇ = r0 ,
dt dϕ mr2
onde r0 = dr/dϕ, portanto,
µ ¶
L2 r02 1 A
E= + 2 + . (1.9)
2m r4 r r
Vamos introduzir uma nova variável, u = r−1 , onde 0 < u < ∞, e escrever a Eq. (1.9)
como
L2 ¡ 02 ¢
E= u + u2 + Au, (1.10)
2m
que é uma equação diferencial não-linear. A derivada desta com relação a ϕ leva a uma
equação diferencial linear
mA
u00 + u + 2 = 0, (1.11)
L
cuja solução é
mA (ε cos ϕ − 1)
u= , (1.12)
L2
com derivada
mAε sin ϕ
u0 = − . (1.13)
L2
45
Note-se que u −1
= r (ϕ) = L / [mA (ε cos ϕ − 1)] representa uma órbita hiper-
2
L2 A (ε + 1)
r0 = = ,
mA (ε − 1) 2E
veja a Figura 1.12. Sendo ϕ o ângulo polar, assintoticamente, antes e depois do espal-
hamento, ele assume o mesmo valor ϕ0 com cos ϕ0 = ε−1 e, sendo 2ϕ0 + θ = π,
45
É digno de nota observar que a solução (1.12) é também solução da equação do oscilador harmônico
ẍ + ω 2 x = 0, pois fazendo-se as substituições x → u + mA/L2 , t → ϕ, ω 2 → 1, obtém-se a equação
diferencial (1.11).
Figura 1.12: Trajetória hiperbólica de uma partícula de massa m espalhada por um centro de
força repulsivo isotrópico, V (r) = A/r, localizado na origem do sistema de coordenadas. θ
é o ângulo de espalhamente, definido em termos das direções dos momenta incidente e de es-
palhamento. ϕ0 é o angulo polar da partícula, quando ela?? está longe do centro espalhador
(origem). Note-se a relação entre os dois ângulos. r0 é a distância de maior aproximação (da
origem 0) do projétil.
Figura 1.13: Uma partícula com velocidade inicial v0 incide sobre um centro espalhador em O,
sendo b o seu parâmetro de impacto e θ é o ângulo de espalhamento.
sua relação com o ângulo de espalhamento é portanto sin (θ/2) = ε−1 , que podemos
escrever como
2EL2
= cot2 (θ/2) . (1.14)
mA2
Assim, vemos que o ângulo de espalhamento também depende das constantes do movi-
mento E e L, assim como da massa m e de A. Como E e L se mantêm fixos ao longo do
movimento, podemos escrevê-los em termos de seus valores longe do centro espalhador
como
1
E = T = mv02 e L = mv0 b, (1.15)
2
onde b é o parâmeto de impacto, v0 é a velocidade inicial do projétil e E = T é a
energia cinética da partícula longe do centro espalhador, veja a geometria da trajetória
planar na Figura 1.13 e, tridimensionalmente, olhe a Figura 1.14. As Eqs. (1.14) e
(1.15) permitem estabelecer uma relação simples entre b e θ
A
b= cot (θ/2) (1.16)
2T
Vamos agora obter a seção de choque diferencial: denotando como n o fluxo in-
cidente – número de partículas incidentes sobre o centro espalhador por unidade de
tempo e unidade de área – e sabendo-se que a incidência se dá com diferentes parâmet-
ros de impacto, decorre então que a fração de partículas espalhadas, que atravessam
o anel 2πb db (veja a Figura 1.14), por unidade de tempo, pode ser escrita como
dN = 2πb db n, devido à simetria azimutal do espalhamento. A seção de choque
diferencial é portanto escrita como
dN
dσ = = 2πb db
n
1.8 Bibliografia
[1] Geiger H. e Marsden E., 1909, Proc. Roy. Soc. A 82, 495.
[2] Rutherford E., Phil Mag. 21, (1911) 660; 27 (1914) 488. Outros artigos seminais
podem ser encontrados nas seguintes paginas da internet
http://dbhs.wvusd.k12.ca.us/webdocs/Chem-History/Rutherford-1911...
http://web.lemoyne.edu/~GIUNTA/papers.html
[5] Para a dedução ver, por exemplo, o livro de K. R. Symon, Mecânica, Editora
Campus. 1982.
[8] Ruark A. E. e Urey H. C., 1930, Atoms, molecules and quanta, McGraw-Hill.
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