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Resumo
Este trabalho analisa a gestão da qualidade em organizações, envolvendo pequenas e médias empresas do setor de manufaturados,
utilizando um modelo conceitual que envolve aspectos estratégicos e operacionais da gestão da qualidade. Através de referências
bibliográficas e pesquisa de campo encaminha uma análise da gestão da qualidade nessas organizações, concluindo que
existem dificuldades nesse campo. Existe indicação da necessidade de desenvolvimento de procedimentos e metodologias
específicas para essa categoria de organização.
Abstract
This paper discusses the quality management in organizations with respect the strategic and operational aspects, and analyses the
stage of traditional small and medium enterprises-SMEs of the manufocture sector, with support of bibliographical refirenas and
exploratory research. lt was detected some aspects concerning the quality management for those companies: absence ofglobal strategic
planning and no practices in conventional tools of quality at factory leveI. Secause any re~ional and cultural characteristics, those
firms still gu to survive, at short termo However, we denote the necessary introduction ofspecijics muhodologies in quality management
for those enterprises.
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SilVA. j. C. T. da. Fc:rrc:ira. D .• Pequenas e Médias Empresas no CO lll cxro da Genão da Qualidade Total
PRODUÇÃO====================================================================
quantificação dos custos da qualidade e da não qualidade, A evolução da gestão da qualidade nas empre-
com Joseph Juran (1951), controle total da qualidade, com sas japonesas, a partir da década de 60, foi conduzida
Armand Feigenbaum (1956), engenharia da confiabilidade partindo do "chão de fábrica" e posteriormente envolven-
através de modos e efeito de falhas, e defeito zero com os do outros setores das empresas, seu meio ambiente
trabalhos de James Halpin (1956) e Philip Crosby (1956) interno e externo. Na realidade, todo esse trabalho
na Martins Company, cujos fundamentos alteraram a ética foi conduzido operacionalmente, ou seja, atravé s de
da qualidade até então dominante do chamado nível de ensaios e aplicação prática, sem preocupação de desenvol-
qualidade aceitável, sendo o último movimento impor- vimento de teorias acadêmicas . Somente mais tarde
tante da era da garantia da qualidade. Durante a década começaram a aparecer algumas publicações japonesas,
de 1950, Edwards Deming introduziu, através da JUSE- porém específicas. A adaptação das empresas america-
Japan Union of Scientists and Engineers, vários concei- nas à essa forma organizacional alternativa gerou no meio
tos de gestão da qualidade, como o controle eslalístico de acadêmico americano, principalmente na Harvard
processo, a relação entre qualidade e produtividade, o Universitye no M.I.T., esforços para explicar o que
ciclo Deming PDCA, e outros, dentro do que mais tarde foi estava ocorrendo com as empresas japonesas, com
denominado de Os Quatorze Ponlos Básicos de Deming, direcionamento para várias teorias no campo da gestão da
como se pode constatar pela obra de Howard Gitlow qualidade. Essas teorias têm sido divulgadas em todo o
(1987) "The Deming Guide To Qualily and mundo, interligando a globalização da economia com a
Compe lilive Position ". Outras contribuições impor- forma organizacional das empresas, porém de difícil
tantes vieram com os trabalhos de Juran e Feigenbaum aplicabilidade nas organizações, mesmo para grandes
nas áreas gerencial e de qualidade total, com empresas, e muito mais para pequenas e médias empresas.
direcionamento para os chamados círculos de qualida- A transposição dessa teoria para pequenas e médias
de, e posteriormente para o controle da qualidade Ia/ai empresas tem sido problemática, independentemente de
(CWQC-Company Wide Quality Control), e para a região geográfica, pois envolve além da sua adequação
gestão da qualidade tolal (TQM - Total Qualily para organizações de menor porte, outros aspectos
Management), formas organizacionais essas que caracte- pecu I iares e regionalizados, entre eles o cultural.
rizaram as grandes industrias japonesas e seus inúmeros Este trabalho analisa, a partir de alguns
fornecedores nas décadas de 60 e 70, sendo posterior- conceitos dessa teoria, a situação atual de pequenas e
mente difundidas para outros países com algumas adapta- médias empresas tradicionais, do setor de manufaturados,
ções, caracterizando-se de acordo com a classificação de no campo da gestão da qualidade, procurando conhecer o
Merl i (1994) como organizações "market-in" (empre- estágio dessas organizações dentro do contexto presente
endimento) ou empresas de classe mundial. Essas da chamada economia globalizada. Pretende-se, a partir
formas organizacionais emergentes, como alternativa à de um modelo conceitual simplificado, fundamentado em
teoria Taylorista, embora sem um total rompimento com referenciais bibliográficos, e de informações de pesquisa
esta, se concentram na maioria das vezes em grandes de campo, delinear alguns aspectos importantes do
empresas, e envolvem aspectos de planejamento estratégi- comportamento dessas organizações na área da gestão da
co e operacional, a curto, médio e longo prazos, de qualidade.
caracter sistêmico, incorporando o c1iente- fornecedor
dentro daquilo que se denominou chamar de cadeia de
valor, utilizando as técnicas de "comakership ", como
relata Merli(J994).
Dimensão
Dimensão Operacional
Empresas da
Qualidade
o Quadro 1 indica aspectos correlacionados às Gallear (1996) e Parkin; Parkin (1996). No que se refere ao
dimensões estratégica e operacional. Os aspectos da levantamento de dados, objetivando analisar o compor-
"dimensão estratégica" da gestão da qualidade são tamento dessas organizações, cujo detalhamento pode
dependentes, entre outros, da configuração de planejamento ser consultado em Silva (1999), foi conduzido através de
estratégico da empresa, ou seja, de estarem incluídos amostragem intencional em empresas associadas ao
dentro desse planejamento a curto, médio e longo CIESP- Centro das Indústrias do Estado de São Paulo,
prazo, visando comparar alguns aspectos da gestão da distribuídas por 27 cidades, entre capital e interior,
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Silva. J. C. T. da, Fc:rll:ira, D.. Pequenas e Médias Empresas no Comexto da Geslão da Qualidade Total
PRODUÇÀO====================================================================
Aspectos Correlacionados à Dimensão Estratégica da Qual idade
a prática da planejamento estratégico a curto, médio e longo prazos, na empresa
a avaliação das expectativas dos clientes
a centralização ou não na definição das metas globais e objetivos da empresa
a conhecimento das metas e objetivos da empresa pelos funcionários
a interesse da alta administração da empresa por estudos de gestão organizacional
a conhecimento dos concorrentes em nível nacional e internacional
a dependência como fornecedor ou não de grandes empresas
a auto-avaliaçào de seus produtos em relação aos da concorrência
a endereço eletrônico indica interesse em comunicação e sistemas de informação
a gerenciamento por obietivos contraria a filosofia da gestão da qualidade total
Aspectos Correlacionados à Dimensão Operacional da Qualidade
a comunicação entre os funcionários da empresa
a treinamento e educação para a qualidade
a utilização de controle estatístico de processo
a certificação ISO 9000 como exigência de clientes
a tipo de produção (pequenos lotes, em massa, processo contínuo, fragmentação) existente na empresa
a confiança da alta administração nos funcionários
a conhecimento dos conceitos de custos de produção e custo da qualidade
a mercado atuante, nacional ou internacional
a assistência técnica pós-venda
a canais de distribuição dos produtos
resultando em retorno de questionários aproveitáveis entre classes) são diferentes. o que significa que não é
de 50 pequenas empresas e 40 médias empresas, adequada a utilização da média ou desvio padrão para
relacionadas na Tabela I do Anexo I. O questionário tomada de decisões sobre hipóteses ou tendências".
auto-administrado envolve questões que enfocam A análise dos dados pode ser consulta em Silva (1999).
alguns dados gerais das empresas, e se concentra em
aspectos correlacionados à teoria da gestão da qualidade, 3. Análise da Pesquisa de Campo para "PE"
no que se refere ao comportamento dessas organizações, e "ME"
utilizando escalas de avaliação no campo da estatística
não-paramétrica. Os dados em escalas nominais, Os aspectos gerais das empresas pesquisadas, apre-
dicotômicos ou de vários postos, são analisados através sentados na Figura 2 indicam informações básicas
de teste de aleatoriedade, teste c', e histogramas, visando dessas organizações. A maioria das empresas, com as ME
o delineamento de tendências para a população. Similar- originárias das décadas 70 e 80, e as PE do período 85 a
mente, os dados em escalas ordinais, utilizando escalas 90, atuam predominantemente no mercado nacional (ao
tipo Likert (1935) apud Hayes (1992), são analisados redor de 90%), com algumas atividades de exportação
através de teste de normalidade, calculo da mediana e para 50% das ME e 15% das PE. Constata-se que somente
intervalos de confiança da mediana. De acordo com 50% das ME e 12% das PE dispõem de endereço eletrôni-
Siegel (1975), na hipótese de uma amostra para cada co, implicando em dificuldades dessas empresas para acesso
categoria de empresas, como na presente pesquisa, a às redes informatizadas de dados e comunicação Ao serem
estatística mais adequada para a escala nominal é a indagadas sobre o interesse da alta administração dessas
frequência, enquanto que a indicação de tendência central empresas, em estudo de teorias organizacionais, constata-
de uma escala ordinal é a mediana, pois "na escala se que 80% das ME e 50 % das PE responderam positiva-
ordinal geralmente os intervalos sucessivos (distância mente, indicando que nessas organizações já existe algum
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PRODUÇÃO, Vol. 10, n' I. p. 19· 32
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interesse nesse campo. Os dados indicam que a maioria entre elas, a dimensão de mercado para seus produtos. Na
dessas empresas (75% das PE e 90% das ME) se caracte- realidade, as dificuldades atuais dessas organizações
rizam parcialmente como fornecedoras de grandes parecem advindas mais da adaptação à estabilização da
empresas, significando uma dependência de mercado. No economia do que propriamente da concorrência interna-
que se refere ao tipo de produção, 52% das ME operam cional. Ao indagar outros aspectos de produto/
através de plataformas, padronizações e em série, e 48% mercado, a maior parte das empresas (ao redor de 75%)
através de pequenos lotes. Em 75% das PE prevalece a indicou o preço como o ponto forte da concorrência e
produção em pequenos lotes, e as outras 25% utilizam a qualidade como ponto forte de seus produtos (ao redor
operação em série, por plataformas ou padronizações. de 90%), aspectos esses que abordaremos posteriormente.
10 20 30 .. O 50 60 70 80 90 100
Aspectos Gerais das Emp r esas (% empresas)
Com relação aos aspectos de produto/ mercado Essa constatação indica que os conceitos relacionados à
a Figura 3 indica que a maior concorrência para as PE e ME gestão da qualidade ainda não foram absorvidos por essas
origina-se no mercado nacional. Por outro lado, a concor- organizações, as quais operam ainda com características
rência internacional é relevante para 35% das ME e 27% da era da inspeção e da garantia da qualidade, ou
das PE. Essa constatação traz a indicação de que a seja, concentração somente em qualidade de conforma-
maior parte das PMEs, por aspectos regionais e ção a altos custos de produção.
culturais, ainda não foram afetadas por algu- O comportamento das empresas, em aspectos
mas características da chamada economia globalizada, correlacionados às dimensões estratégicas e operacionais
Concorrentes
Internacionais -~ I
Concorrentes
Nacionais -I I
Ponto F arte de
Seus Produtos -I , , ,
I Qual
,
~ w ~ ~ ~ ro ~ 00 ~
Figura 4 - Comporta mento das Empresas em Aspectos da Ges tão da Qua lid ade
De acordo com a Figura 4, o planejamento estraté- significa obrigatoriamente aumento de custos de produção,
gico g lobal ainda é pouco praticado pelas e mpresas, A Figura 5 traz indicações de dificuldades das
com intervalos de confiança (a = 0,05) de comporta- empresas com rel ação aos conceitos básicos da qualidade.
mento entre pouco e razoável na escala ordinal, e com Uma delas é o fato de 60% das PE e 70% das ME
reduzida possibilidade de integração com o planejamento não praticarem o Controle Estatístico de Processo -
da qualidade. As PE e ME consideram muito importante CE f' , apesa r de que a lgumas empresas interpretaram
a avaliação das expectativas dos clientes e a assistência erroneamente o CEP como inspeção. Outra indicação de
técnica pós - venda. O treinamento para a qualidade e a desconhecime nt o de conceitos nota- se quando as
comunicação entre funcionários são classificados como empresas informaram praticar a gestão da qualidade total
razoável, porém, ambos os intervalos de confiança têm (17% das PE e de 28% das ME), com prática simultânea
indicação de pouco a razoável para a população, signifi- do gerenciamento por abjetivos e não prática do controle
cando dificuldades para a gestão da qualidade. O mesmo estatístico de processo. Por último, no campo da
Controle Estatistico - PE
ll!lI ME
Sem Certificação
• • • • • Inexistencia
Gerenci am ento
50 60 70 80 90 100
Aspectos Gerais Gestão da Qualidade % Empresas
garantia da qualidade, constata-se que 33% das ME e integrado de ferramentas, técnicas e treinamento, envol-
3% das PE já receberam ou estão em fase de certificação vendo melhoria contínua dos processos organizacionais, e
pela ISO 9000. resultando em produtos e serviços de alta qualidade, com
elevada produtividade, agregando nos resultados o valor
4. Discussão de Aspectos de Implantação do trabalho humano. Essa configuração, que deve envol-
da GQT em PE e ME ver toda a organização, depende de um aperfeiçoamento
contínuo das pessoas e de um planejamento estratégico a
A pesquisa de campo, do setor de manufaturados, curto, médio e longo prazos, ambos em direção a uma
forneceu indicações do comportamento dessas organiza- forma organizacional alternativa à da teoria taylorista.
ções em alguns aspectos estratégicos e operacionais da Praticamente toda essa teoria foi desenvolvida a
gestão da qualidade. Com base nessas indicações e em posteriori da prática dos procedimentos das grandes
conceitos de implantação da Gestão da Qualidade Total, empresas japonesas nesse campo, procurando delinear
GQT, em organizações de gra nde porte, sugeridos o comportamento daquelas organizações. Todavia, muitos
por alguns pesquisadores como Galgano (1993), aspectos dos procedimentos das empresas japonesas ainda
Merli (1993) e Shiba (1993), considerando algumas hoje não são conhecidos no ocidente, de acordo com
constatações nesse campo citadas por Ghobadian; Spear; Bowen (1999) em seu artigo "Decodificando
Gallear (1996) para PMEs, a nali saremos alguns o DNA do Sistema Toyota de Produção", publicado pela
aspectos de aplicabilidade para organizações de Harvard Business Review (Sep lember-Oclober /999).
pequeno e médio porte. Esse fato, apesar de parecer surpreendente para alguns,
A filosofia da Gestão da Qualidade Total - GQT em na realidade evidencia e confirma a singularidade das
organizações teve origem e aplicação em grandes organizações, ou seja, que cada organização tem caracte-
empresas, com metodologias similares mas distintas, rísticas próprias, quer seja na gestão organizacional ,
cujo embasamento teórico direciona para a busca da qualidade, da tecnologia etc. De acordo com a teoria
constante da satisfação do cliente através de um sistema ocidental interpretativa, o sucesso em direção à gestão da
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Silva. J. C. T. da, Ferreira. D. · Pequc:nas e Médias Empresas no Comexto da Gestão da QuaJidade Total
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qualidade total exige certos pré-requisitos fundamentais, No que refere à implantação da GQT em organiza-
como aqueles citados por Galgano (1993), de acordo ções, ainda dentro da concepção de Galgano (1993),
com a Figura 6. deverá haver um compromisso de toda a organização com
• valores
Premissas Básicas L Liderança do Dirigente Máximo 1
• estratégia operacional fundamental
• novo significado da qualidade Cultura da Qualidade
• melhoria contínua • mecanismos mentais
• participação de todo o pessoal • lógicas de gestão
• conceito de breakthrough • mentalidade difusa
----------~~ V ~~------~
~~~----~L---~L-~
í '\
Processos Fundamentais
• gestão por politicas
• melhoria do trabalho diário
• diagnóstico do presidente
• treinamento intensivo
• círculos de qualidade
• gestão do produto/serviço
Enquanto que as grandes empresas dispõem de mais as estratégias básicas indicadas na Figura 7, onde se
informação e estrutura para construção e manutenção constata aspectos relevantes inerentes à essa
desses pré-requisitos, os dados da pesquisa de campo filosofia. A pesquisa de campo determinou que
indicam dificuldades nesse campo para as PE e ME, onde algumas dessas estratégias não são praticadas pelas PE e
não são práticas correntes o planejamento estratégico e a ME estudadas. A instabilidade de mercado, decor-
formação de cultura para qualidade em toda a organiza- rente da concorrência e de outros fatores externos à
ção, levando muitas vezes ao uso de ferramentas e empresa, tem trazido dificuldades no relacionamento
métodos inadequados. Quando na pesquisa de campo dessas organizações com seus funcionários , fornece-
indagou-se o ponto forte dos concorrentes, as PE e ME dores e clientes . Existe indicação de que essas organi-
empresas indicaram "o preço", o que significa na realida- zações de menor porte não conseguem estabelecer uma
de que o preço de venda ainda é a principal preocupação melhoria continua de seus processos, pois a ênfase não
dessas organizações, e não a "qualidade" como indicaram. está no processo e sim na fabricação, sendo muitas
Como na amostra pesquisada existe indicação de estágio vezes a busca da qualidade de conformação seu objetivo
organizacional "product-out" nas empresas, de acordo final. Quanto à estratégia de desenvolvimento de novos
com a classificação Merli (1994), a redução de custos produtos, nem sempre a rapidez, a qualidade, o conheci-
nesse contexto implica principalmente em mento dos consumidores, a confiabilidade e a análise de
"downsizing ", resultando em dificuldades dessas riscos, estão presentes, como se pode constatar em Silva
organizações a médio e longo prazos para um planeja- ( 1999).
mento direcionado à gestão da qualidade. Nessas organi- O modelo de implantação da GQT em organi-
zações de menor porte, a formalização da ISO 9000 zações, Merli (1993), deve estar inserido no Plano
poderá colaborar ou não para criar um movimento em Estratégico Global da Empresa, englobando o Modelo de
direção à qualidade, como acentuou Williams (1997). Referência ("Grid") da GQT, o Plano Estratégico Conven
cional e a Auto-Avaliação, como fundamentais para o avaliação dos resultados. Porém, não aplicaram esse
estabelecimento de um Plano Estratégico Plurianual de 3 modelo nas empresas estudadas. Na analise das organiza-
a 5 anos, onde são estabelecidas as prioridades anuais ções pesquisadas concluíram que" os conceitos de gestão
com metas quantitativas e as metodologias básicas para apropriados para grandes empresas podem não ser
alcança-Ias. Os dados da pesquisa de campo indicam que apropriados para as PMEs". Também concluíram que:
as organizações de menor porte têm limitações para "teoricamente, as variáveis porte da empresa e caracte-
utilizar esse modelo, quer gerenciais ou estruturais. O rísticas da GQT são independentes" ; "são mais signifi-
trabalho de Ghobadian ; Gallear (1996) analisou duas cativos o estilo de gestão, o estilo empreendedor, a auto-
pequenas e duas médias empresas da Inglaterra durante atualização, e o estilo de associação"; e que "o maior
a fase de implantação da GQT, onde destacam as vanta- obstáculo para a introdução da GQT em PMEs é a realiza-
gens e desvantagem dessas organizações em comparação ção do gerenciamento". Evidentemente, esses aspectos
com as grandes empresas. Sugerem, de acordo com a também devem ser considerados na implementação da
Figura 8, um modelo de implantação da GQT centrali- GQT em grandes organizações, e fazer parte rotineira de
zado na gestão do processo em direção à melhoria qualquer empresa que queira sobreviver no mercado. O
contínua, envolvendo o foco nas pessoas, no merca- modelo sugerido por Ghobadian; Gallear (1996) incorpo-
do , no processo, na comunicação e na medição ou ra, em menor escala, o modelo de Shiba (1993), que
Foco no Mercado
Silva. J. C. T. da. Ferreira. D .. Pequenas c Médias Empr~as no Comexto da Gestão da ci:~dade Total
PRODUÇÃO~~=======================================================================
envolve as fases de "orientação" (metas, organização), de exigindo da alta administração das empresas esforços e
"empowerment" (treinamento, promoção, divulgação); e de metas claras, as quais segundo Merli (1993), devem
"alinhamento" (diagnóstico, monitoração, prêmios e incenti- abranger as políticas, estratégias e sistemas de gestão,
vos), com a utilização do ciclo POCA. conforme a Quadro 2. A capacitação gerencial da alta
Embora o acesso à informação e comunicação seja administração pode ser considerada diretamente proporci-
limitado, nas PMEs, como se pôde constatar na onal à dimensão da empresa, pois quanto maior a organi-
pesquisa de campo, acreditamos que antes de implementar zação maior o número de pessoas especializadas na
melhorias organizacionais essas organizações devem cúpula da organização . Assim, essas empresas
proceder uma auto-avaliação no campo da qualidade, têm maior capacitação gerencial para implementar as
utilizando por exemplo uma metodologia similar àquela políticas, estratégias e sistemas de gestão especificadas no
proposta por Conti (1995), ou seja, sentido inverso ao Quadro 2, dentro da GQT.
processo. A fase seguinte seria desenvolver uma progra- Após o estabelecimento dos planos estratégicos da
mação simplificada e específica para essa categoria de organização, bem como das políticas, estratégias,
organização, incluindo inicialmente o treinamento multi- sistemas de gestão e direcionamento com procedimantos e
disciplinar de algumas lideranças, e o aproveitamento métodos, a implantação da GQT exige metodologias e
da flexibilidade , integração, características quase ferramentas básicas para a execução no front, ou seja,
sempre existentes nessa categoria de empresas, onde a no chão de fábrica, de onde realmente sai o produto para
distancia funcional entre a alta administração e o "chão o mercado, isto é, o resultado de todos os esforços da
de fábrica" é menor em comparação às grandes empresas, organização. Esses métodos operacionais e ferramentas
além da proximidade do mercado e consumidores. constituem os pontos críticos para implementação
Segundo Main (1994), a liderança do dirigente efetiva de todo planejamento anterior, exigindo
máximo e a sobrevivência da organização são os dois esforços e qualificação do pessoal da organização, tendo
fatores que direcionam para o empreendimento da GQT, em vista a dinâmica e necessidade de continuidade de
Silva. J. c. T. da. Ferreira, D .. Pequenas e Médias Empresas no Comaro da Gestão da <!u~idade TotaJ
PRODUÇÃO=======================================================================
processo não é praticado em 60% das PE e 70 das ME. 6. Referências Bibliográficas
Com relação à certificação pela ISO 9000, 33 % das ME
e 3% das PE informaram que já receberam ou estão em BRYMAN , A. Research methods and
organization studies. Unwin Hyman, London, 1989.
fase de implantação.
A discussão de implantação da GQT em pequenas CONTI, T., Self Assessment and Strategic
e médias empresas demonstrou a dificuldade dessas das Inprovement Planing. Seminário em Busca da Excelên-
cia. São Paulo, Março/ I 995.
organizações se adaptarem à teoria e às práticas de
rotina formalizadas e estabelecidas para as grandes CROSBY, P. Quality is free. Mentor, New York,
empresas, em função da quase inexistência de modelos de 1956.
referência para essa categoria de organizações. Dessa DODGE, H.; ROMIG, H. Sampling
forma , concluímos pela necessidade de adequação e inspection tables. John Wiley, New York, 1944.
desenvolvimento de teorias e práticas, procedimentos e
FEIGENBAUM , A. V. Total quality control.
metodologias, no campo da gestão da qualidade, Harvard Business Review, 1956.
específicas para pequenas e médias empresas, tendo
como base sua realidade gerencial , organizacional, e GALGANO, A., Calidad total. Diaz de Santos S.
A.. Madri, 1993
características peculiares no q ue se refere ao mercado
regional e às necessidades do consumidor. Um GARVIN, D. A. Gerenciando a qualidade. Quality
direcionamento nesse campo seria iniciado a partir da Mark, Rio de Janeiro, 1992.
prática de alguns conceitos pelo "chão de fábrica" e GITLOW, A. The Deming guide to quality and
transplantado posteriormente para outros setores da competitive position. Printice-Hall, New Jersey, 1987.
empresa sem pre em função da necessidade e das caracte-
GHOBADIAN , A.; GALLEAR, D. N. Total quality
rísticas peculiares à cada organização, ou seja, similar ao management in SMEs. Omega, v. 24, Issue I, p.83- 106,
ocorrido nas empresas japonesas nas décadas de 60 e 70, Feb. 1996
porém com mais facilidades nas condições atuais, tendo
HALPIN , J. F. Zero del ects. McGraw-Hill, New
em vista a possibilidade de informatização de muitas York , 1956.
rotinas. Para este empreendimento faz-se necessário,
H AY ES, B. E. Measuring cus /ameI'
também que as empresas brasileiras ampliem e qualifi-
sa /isfác/iol1 : del'e lopm en/ al7e1 us e ol ques/ionaires.
quem adequadamente seu quadro de técnicos de nível ASQC Quality Press, 165p., Wisconsin -USA, 1992 .
médio, fator esse preponderante e muito praticado em
JURAN , J . Quality co ntrai handbook .
empresas japonesas e coreanas. Com a aplicação de uma
MacGraw-Hill, New York, 1951.
metodologia e estrutura dessa natureza, as pequenas e
médias empresas poderiam aprimorar a gestão MAIN, J., Guerras pela qualidade. Campus, Rio
organizacional , da qualidade e aspectos essenciais da de Janeiro, 1994.
gestão da tecnologia, como fatores de sobrevivência e de
expansão de seus mercados no âmbito nacional e interna- MERLI, G . Eurochallenge . Coopers&Lybrand,
London, 1993.
cional.
MERLI, G. Comakership . Quality Mark, Trad.
Gregório Bouer, Rio de Janeiro, 1994.
30
PRODUÇÃO, VaI. \0 , nO \ , p. \9-32
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96, Issue 4, p. 6-10, 1996 Modec Produtos Metalúrgicos Ltda Rib. Preto
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manufacturing. Ronald Press, N .Iorque, 1922. Construtora Riachuelo Ltda Botucatú
Proteindus Indústria e Comércio Ltda C. Cesar
SHEWHART, W. A. Economic contrai of qua/ity Refrigerantes Caiçara Ltda Ourinhos
of manufactured produ ct. VanNostrange, Nova Iorque, Café Jaguari Ltda Ourinhos
1931 Welcon Indústria Metalúrgica Ltda Diadema
Silva. J. C. T. da. F~rreira, D. - Pequenas c Médias Empresas no ContextO da GCSf10 da c:t.~idade Tmal
PRODUÇÀO====================================================================