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“Um produto ideológico faz parte de uma realidade (natural ou social) como todo corpo
físico, instrumento de produção ou produto de consumo; mas, ao contrário destes, ele
também reflete e refrata uma outra realidade, que lhe é exterior. Tudo que é ideológico
possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. Em outros termos,
tudo que é ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia.” P. 29
- Bakhtin coloca o problema da ideologia como algo não do mundo das ideias, mas do
mundo concreto, material, social, e o lugar da manifestação da ideologia seria,
portanto o signo linguístico.
“Converte-se, assim, em signo o objeto físico, o qual, sem deixar de fazer parte da
realidade material, passa a refletir e a refratar, numa certa medida, uma outra
realidade.” P. 29
- Para os autores, portanto, há um corpo físico (natural), porém ele é significado por
meio do signo, sendo ali o lugar em que se manifesta ideologicamente, refletindo
(como tentativa de compreensão da realidade por meio dos signos) e refratando
(quebrando, desviando os sentidos, mostrando uns e apagando outros) de uma outra
realidade.
Banksy Tempos
Modernos
“Cada campo de criatividade ideológica tem seu próprio modo de orientação para a
realidade e refrata a realidade à sua própria maneira. Cada campo dispõe de sua
própria função no conjunto da vida social. É seu caráter semiótico que coloca todos os
fenômenos ideológicos sob a mesma definição geral.” P. 31
- O que iguala os signos é seu caráter semiótico, assim, uma palavra usada em
determinada campo ideológico irá refletir e refratar a realidade à sua maneira. Ex: a
própria dispita em torno da palavra ideologia.
“Todo fenômeno que funciona como signo ideológico tem uma encarnação material,
seja como som, como massa física, como cor, como movimento do corpo ou como
outra coisa qualquer.” P. 31
- Só podemos pensar por meio da linguagem. (citação de Stuart Hall sobre como só
fazemos sentido do mundo por meio da linguagem).
- Os autores chamam a atenção para o caráter não natural da constituição dos signos.
“A consciência adquire forma e existência nos signos criados por um grupo organizado
no curso de suas relações sociais.” P. 34
“Cada domínio possui seu próprio material ideológico e formula signos e símbolos que
lhe são específicos e que não são aplicáveis a outros domínios. O signo, então, é
criado por uma função ideológica precisa e permanece inseparável dela. A palavra, ao
contrário, é neutra em relação a qualquer função ideológica específica. Pode
preencher qualquer espécie de função ideológica: estética, científica, moral, religiosa.”
P. 35
- Aqui se mostra a relação entre indivíduo (dono de sua palavra, capaz de veiculá-la
por meio de seu corpo) e o seu valor de signo ideológico, que é dado socialmente, na
interação com o outro. Por isso a palavra também pode ser compreendida como
símbolo do discurso interior, aquele que não se exterioriza, mas que, mesmo na
consciência do indivíduo, se dá dialogicamente por meio da linguagem e do outro
(mesmo que em potencial, como será retomado ao ser falar sobre enunciado).
“É devido a esse papel excepcional de instrumento da consciência que a palavra
funciona como elemento essencial que acompanha toda criação ideológica. Seja ela
qual for. A palavra acompanha e comenta todo ato ideológico.” P. 36
- Importante colocar que os autores não descartam outros signos ideológicos que não
sejam a a palavra (ex. música, imagem, desenho, gesto, etc,)
“Toda refração ideológica do ser em processo de formação, seja qual for a natureza de
seu material significante, é acompanhado de uma refração ideológica verbal, como
fenômeno obrigatoriamente concomitante. A palavra está presente em todos os atos
de compreensão e em todos os atos de interpretação.” P. 36
- Aqui os autores colocam que é impossível fazer sentido do mundo sem que isso seja
feito por palavras (discurso interior ou exterior).
- São propriedades da palavra: p. 36
- Pureza semiótica (a forma?);
- Neutralidade ideológica (pode ser tomada por diferentes campos ideológicos);
- Implicação na comunicação humana ordinária, como fenômeno acompanhante em
todo ato consciente.
- A palavra é o objeto fundamental do estudo da ideologia. Só podemos ter acesso à
ideologia por meio do estudo da palavra, da linguagem.