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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
PRÓ REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS – CCHL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DO BRASIL – PPGHB
Campus Universitário Ministro Petrônio Portela, Bairro Ininga, Teresina, Piauí, CEP 64049-550
Telefones: (86)3215 5973 – E-mail: mhistbrasil@gmail.com
História e Música:
A construção da identidade nordestina na produção musical e na trajetória
artística de Catullo da Paixão Cearense e João do Vale
RESUMO
Esta pesquisa visa, por meio da análise das letras e dos elementos musicais das canções de
Catullo da Paixão Cearense e João Batista do Vale, desvelar táticas de discurso capazes de
expressar marcadores identitários territoriais e de sujeito nordestino. Partimos da hipótese de
que a sonoridade destes dois poetas ostenta a potencialidade de expressar um sentimento de
nordestinidade que reverberou e encontrou ressonância em seus ouvintes/receptores. Neste
sentido, esta pesquisa será desenvolvida na perspectiva da História Cultural, buscando
discorrer sobre a produção musical e a trajetória artística dos compositores Catullo e João do
Vale como forma de verificar os processos de invenção e instituição de marcadores
identitários territoriais da região Nordeste, pela interrelação entre racionalidade universal e
local. Como fundamentação teórica basilar, o presente trabalho dialoga com os escritos de
Peter Burke (2005), Stuart Hall (2001), Canclini (2003), Oliveira (1991), Albuquerque Júnior
(2001), Tatit (2002), Haroldo Costa (2009), Mário de Andrade (1991), Marcio Paschoal
(2000). O presente estudo trata-se de uma averiguação na relação da História com a Música,
tendo como hipótese a ideia de que as canções dos artistas elencados contribuíram para os
processos de instituição identitária de Nordeste.
CPF: 776.434.963-15
Teresina-Piauí
2018
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SUMÁRIO
2. Justificativa ................................................................................................................... 4
3. Objetivos........................................................................................................................ 7
5. Hipóteses...................................................................................................................... 12
7. Referências .................................................................................................................. 14
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2. Justificativa
revelar com sua pesquisa” (NEVES, 2004, p. 70). O documento musical se torna imprescindível
para a reconstituição histórica dos sujeitos sociais no seu cotidiano,
Nesse mesmo viés, “a história, no seu frenesi contemporâneo por novos objetos e novas
fontes, tem se debruçado sobre o fenômeno da música popular. Mas esse namoro é recente, ao
menos no Brasil” (NAPOLITANO, 2005, p. 7). Em muitas produções acadêmicas o documento
música popular é analisado de forma fragmentada, não se fazendo articulação entre letra e
música, estética e ideologia. Como também muitas vezes separa-se a realidade social vivida por
seus compositores da conjuntura social do momento. O presente estudo propõe-se a criar
rupturas nessa tradição de fragmentar letra, música, estética e ideologia, partindo da produção
de Catullo e João do Vale no conjunto da música brasileira de seu tempo.
O fato é que a canção popular se consagrou como um importante veículo de expressão
de ideias e ideologias, refletindo a pluralidade cultural brasileira. De acordo com Marcos
Napolitano (2005, p. 11), “a chamada ‘música popular’, ocupa no Brasil um lugar privilegiado
na história sociocultural. Ela se interpõe como um lugar de mediações, fusões, encontros de
diversas etnias, classes e religiões”, formadoras da utopia social de uma cultura-arte-música
nacional brasileira (NAPOLITANO, 2005, p. 7). O autor segue dizendo que a canção brasileira:
Por este motivo é que a canção popular tornou-se um dos temas mais fecundos da
atualidade, fazendo-se presente em livros, artigos, monografias, dissertações, teses, despertando
um grande interesse a partir dos anos 70, tendo atingido um ápice destas pesquisas na década
de 1980, no Brasil. Contudo, Napolitano (2005, p. 7-8) pondera que, apesar dos muitos
trabalhos já desenvolvidos, ainda há muitas peculiaridades a investigar sobre esta temática.
As obras de Catullo da Paixão Cearense e de João do Vale, ambos compositores
maranhenses de vertente sertaneja, despertaram (e continuam despertando) a atenção dos
estudiosos da História e da Música brasileira. Analisando as produções dos historiadores que
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trabalham com a história social da música, verificou-se que suas pesquisas abordaram a obra
destes dois cancionistas pela sua vertente estritamente historiográfica, ignorando sua forte
inclinação musical. Por outro lado, os pesquisadores da música tendem a ignorar questões que
envolvem o universo do discurso histórico. Esse fato faz com que tenhamos uma visão
unilateral, e muitas vezes empobrecedora, das obras destes dois poetas da canção, visto que ela
é pautada por uma tensão estilística construída pela presença de elementos tanto do discurso
musical, como do histórico. Portanto, propomos um estudo que leve em consideração as
relações e inter-relações entre História e Música, abordando tanto os aspectos históricos quanto
musicais de maneira dialógica, isto é, sem perdas para nenhuma área do conhecimento, sem
suprimir determinados aspectos em detrimento de outros.
Catullo da Paixão Cearense foi o primeiro representante do sertão e do Nordeste em
âmbito nacional através de suas composições (COSTA, 2009; FRAZÃO, 2014). Assumiu uma
identidade de artista regional, colocando-se como representante de um “Nordeste”
essencializado, homogeneizado. Não só letras e sonoridades instituíram essa homogeneização
identitária de Nordeste, o compositor criou signos de performance musical expressas através da
utilização do violão - que passou a ser considerado um instrumento nacional (TABORDA,
2007), tendo em vista que era considerado um instrumento marginalizado - e de uma voz
robusta e bem impostada, que veio a ser uma dicção que se tornou um tipo de padrão
amplamente utilizado pelos cantores da “dor de cotovelo” até meados do século XX.
Enquanto João do Vale se notabilizou de início pela inserção de suas canções (nos
gêneros forró e baião, e depois música popular brasileira) no repertório de artistas consagrados
pela crítica nacional. O artista de Pedreiras traz em seu arcabouço musical toda uma construção
estilística de compor a partir de uma variada temática de modo mais documental (VELOSO,
1997, p.23). Segundo Barreto (2012, p. 49-50), a consagração do Poeta do Povo aconteceu em
duas esferas: 1- a das canções de “temas regionais do Nordeste” e 2- a esfera que recebeu o
título de “canções de protesto”. Sua obra se destaca, quer pelo viés do engajamento político,
quer pela estética da simplicidade e exaltação da cultura nordestina.
Espera-se que este estudo possa contribuir significativamente para uma maior
compreensão sobre a participação dos dois cancionistas no repertório estético nacional e suas
importâncias na Música Popular Brasileira (MPB). Desse modo, pretende-se articular
conhecimentos históricos e musicais em uma perspectiva dialógica em que a relação entre essas
áreas do conhecimento seja fértil em suas abordagens e proposições. Efetivamente, é partir das
relações entre História e Música que se ancora esse trabalho. O objetivo precípuo do trabalho
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também é servir como fonte de pesquisa para pesquisadores que queiram se aprofundar nas
temáticas aqui abordadas.
.
3. Objetivos
3.1. Objetivo Geral
III) Analisar até que ponto a produção musical dos dois compositores representa uma
forma de resistência cultural ao ideário imaginário discursivo de regionalização do país.
Esta pesquisa está focada nos estudos culturais e nas reflexões propostas pela História
Cultural, bem como em abordagens teóricas das Artes, Ciências Humanas e Sociais. Entende-
se que a compreensão teórica deste estudo veio com a mobilidade da historiografia ao longo do
tempo. É importante também destacar que a ampliação do campo epistemológico da história
contribuiu significativamente para o rompimento das fronteiras acadêmicas. Nessa ampliação
e na interconexão com outras áreas do conhecimento, emerge a música como forte interlocutora
da história. Com os estudos da cultura, novos objetos e problemáticas ganharam
visibilidade/dizibilidade na produção do conhecimento histórico (BURKE, 2005, p. 15-16).
Muitos pesquisadores em vários países têm se interessado em construir suas pesquisas
por meio da História Cultural. Nesse sentido, muitos historiadores que discutiam em seus
trabalhos temáticas econômicas e sociais passaram a dar maior atenção às questões culturais.
Assim, historiador que centraliza suas produções nos estudos da cultura “dedica-se às
diferenças, aos debates e conflitos, mas também aos interesses e tradições compartilhados”
(BURKE, 2005, p. 7).
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[...] Aqui música não é entendida apenas a partir de seus elementos estéticos,
mas, em primeiro lugar, como uma forma de comunicação que possui,
semelhante a qualquer tipo de linguagem, seus próprios códigos. Música é
manifestação de crenças, de identidades, é universal quanto à sua existência e
importância em qualquer que seja a sociedade. Ao mesmo tempo é singular e
de difícil tradução, quando apresentada fora de seu contexto ou de seu meio
cultural (OLIVEIRA PINTO, 2001, p. 2).
Nesse sentido, vale esclarecer que, ao se tomar a música como linguagem fundante
dos tecidos sócio-históricos e culturais e como arte carregada de sentido e de estratos extra-
sonoros, procura-se entender os processos históricos nos quais emergiram a categoria Nordeste
como sequência de uma dinâmica que se instaurou, a partir da segunda metade do século XIX,
na discussão sobre a regionalização do país, à medida que se dava a construção da nação e que
a centralização se caracterizava como estratégia política do Império.
Para se compreender a instituição representativa do Nordeste na música popular
brasileira, questiona-se como os discursos sobre a seca aparecem historicamente e socialmente
nos órgãos oficiais do governo brasileiro. Em princípio, pode-se afirmar que a seca – principal
símbolo do Nordeste – exerceu grande influência na institucionalização dessa região.
O discurso regionalista não é apenas ideológico, que canaliza uma pretensa essência do
Nordeste ou de outra região. O discurso sobre a regionalização institui uma “verdade” sobre a
região. Com base nisso, pretende-se investigar até que ponto a obra de Catullo e João do Vale
contribuíram para a (des)legitimação da ideia institucionalizada de Nordeste.
Vale considerar que a definição da atual regionalização do Brasil é recente. E que, por
volta da segunda década do século XX, os termos Norte e Nordeste ainda são usados como
sinônimos, o que demonstra que ocorre neste momento uma transição porque para muitos
nordestinos o discurso de regionalização ainda não havia consumado, persistindo numa
dicotomização discursiva entre Norte e Sul do país. O território nordestino foi uma produção
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desta, por exemplo, a dança no forró pé-de-serra, o chiado do chinelo, no contato da pele suada
em consequência da dança e o ritmo musical do “xaxado” – “onomatopeia do rumor xa-xa-xa
das alpercatas de rabicho arrastadas no chão” (OLIVEIRA, 1991, p. 55). Esses ritmos e sons da
linguagem musical provocam no ouvinte toda uma representação simbólica de nordeste:
Ainda sobre este assunto, Mário de Andrade já (1991, p. 11-31) afirmou em termos
gerais que a musicalidade brasileira se constitui como um lugar complexo de interseção entre
os vários elementos ameríndios (o batuque místico de muitas tribos de nativos brasileiros),
afrodescendentes (o incenso ou a religiosidade de muitos povos negros descendentes de
africanos), assim como de várias culturas de brancos europeus (as tradições “eruditas” de vários
países da Europa). Essa dialética cultural é a marca da formação do Brasil enquanto nação.
A investigação proposta sobre Hibridação Musical e a construção de marcos identitários
territoriais de nordestinidade na música de Catullo da Paixão Cearense e João do Vale ganhará
concretude no estudo desses dois compositores da música popular brasileira: Catullo,
responsável pela introdução da temática sertaneja na nascente Música Popular Brasileira e por
representar através de sua sonoridade e de sua dicção a espacialidade nordestina, instituindo
uma territorialidade e com ela uma identidade regional. E João do Vale, por sua singularidade
e expressão com uma obra que adquiriu conotações tanto sociais quanto políticas, que
impulsionou ruptura com fronteiras locais, regionais e nacional, sendo um compositor que
provocou inquietações ao regime militar no Brasil.
5. Hipóteses
Consideramos, de maneira hipotética que a obra cancional destes dois poetas ostenta a
potencialidade de expressar um sentimento de nordestinidade e que esse fato reverberou
encontrando ressonância em seus ouvintes/receptores. Em outros termos, acreditamos que a
obra de Catullo da Paixão e de João do Vale ajudou – por meio de elementos literários, musicais
e históricos – a construir uma identidade nordestina. Buscaremos a comprovação desta hipótese
por meio da leitura e da análise de variadas fontes de pesquisa disponíveis: teses, dissertações,
artigos, livros, periódicos impressos ou digitais, documentos, arquivos audiovisuais das canções
editadas, manuscritos dos autores, entrevistas com conhecidos e/ou familiares, acervos físicos
ou digitais.
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procura-se apoiar nas temáticas suscitadas pelas canções. Essas análises serão realizadas a
partir de uma seleção minuciosa das composições dos dois artistas.
Pelo viés da hibridação utilizar-se-á como critério para a seleção das letras e canções
a relação do conteúdo com a produção de “identidade”, ou seja, o sentido que a musicalidade
dá às práticas socioculturais que produz a chamada “identidade nordestina”. Compreende-se
que a linguagem é denunciante. Os signos linguísticos utilizados nas composições e na
performance de Catulo e João do Vale vinculados à territorialidade nordestina atuaram como
linguagem denunciante e anunciante da institucionalização identitária da região Nordeste.
Procurará utilizar os seguintes procedimentos para a elaboração da pesquisa: seleção e estudo
de materiais que tenham afinidade com a temática, livros revistas e jornais leitura de outras
fontes bibliográficas sob a colaboração do orientador.
Também serão realizadas consultas sistemáticas ao museu da Imagem e do Som (do Rio
de Janeiro e de São Paulo), ao Centro de Cultura de São Paulo e ao Acervo João Mohana do
Arquivo Público do Maranhão, por serem considerados espaços fundamentais para a pesquisa
em que serão digitalizados documentos, depoimentos e coletâneas dos LP´s.
Cronograma
ATIVIDADE ANO
2019 2020 2021 2022
Revisão do projeto. X
Levantamento bibliográfico e leituras teóricas X
Realização de disciplinas X X
Pesquisa documental X X
Construção do texto da tese X X
Exame de Qualificação X
Revisão da primeira versão da tese X
Elaboração do texto definitivo. X
Defesa Pública X
7. Referências
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A Invenção do Nordeste e outras artes. São
Paulo: Cortez, 2001.
ANDRADE, Mário de. Aspectos da Música Brasileira. Belo Horizonte – Rio de Janeiro: Vila
Rica Editoras Reunidas Limitada, 1991.
BURKE, Peter. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.
CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade.
4ªed. São Paulo: Edusp, 2003.
COSTA, Haroldo. Catullo da Paixão: vida e obra. Rio de Janeiro: ND Comunicação, 2009.
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FRAZÃO, Francisco Adelino de Sousa. Literatura e música: uma análise semiótica das
canções Ontem, ao luar, Flor amorosa e Cabôca de caxangá, de Catulo da Paixão Cearense.
Teresina-PI: UESPI, 2014. Dissertação de Mestrado em Letras.
HOBSBAWN, Eric & RANGER, Terence, Org. A Invenção das Tradições. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 2006.
MATOS, Maria Izilda. Dolores Duran: experiências boêmias em Copacabana nos anos 50.
2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
MORAES, José Geraldo Vinci de. História e música: canção popular e conhecimento histórico.
In: Revista Brasileira de História Vol.20, nº 39, São Paulo, 2000.
NEVES, Frederico de Castro. “Para Futuros Historiadores: Teoria e história na música de Chico
Buarque de Holanda”. Revista Linguagens da História. Fortaleza: UFC, 2004.
OLIVEIRA PINTO, Tiago de. “Som e Música: Questões de uma antropologia sonora”. Revista
de Antropologia. Vol. 44. nº 1. São Paulo, 2001.
OLIVEIRA, Gildson. Luiz Gonzaga: o matuto que conquistou o mundo. 6ªed. Recife:
Comunicarte, 1991.
PASCHOAL, Marcio. Pisa na fulô mas não maltrata o carcará. Vida e obra do compositor
João do Vale, o poeta do povo. Rio de Janeiro: Lumiar Editora, 2000.
SEVERIANO, Jairo. Uma história da música popular brasileira: das origens à modernidade.
3. ed. São Paulo: Editora 34, 2013.
TATIT, Luiz. O cancionista: composição de canções no Brasil. 2. ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2002.
VARGAS, Heron. Hibridismos musicais em Chico Science & Nação Zumbi. Cotia, SP:
Ateliê Editorial, 2007.
VELOSO, Caetano. Verdade Tropical. – São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
WISNIK, José. O som e o sentido. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.