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Governo Federal

Dilma Vana Rousseff


Presidente

Ministério da Educação
Fernando Haddad
Ministro

Secretaria de Educação a Distância


Carlos Eduardo Bielschowsky
Secretário

Diretor do Departamento de Políticas em Educação a Distância


Hélio Chaves Filho

CAPES
Jorge Almeida Guimarães
Presidente

Diretor de Educação a Distância


João Carlos Teatini de Souza Clímaco

Governo do Estado
Ricardo Vieira Coutinho
Governador

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

Marlene Alves Sousa Luna


Reitora

Aldo Bezerra Maciel


Vice-Reitor

Eli Brandão da Silva


Pró-Reitor de Ensino de Graduação

Eliane de Moura Silva


Coordenação Institucional de Programas Especiais – CIPE
Secretaria de Educação a Distância – SEAD

Assessora de EAD
Cecília Queiroz
D I S C I P L I N A Formação Territorial do Brasil

Sobre o território brasileiro:


como teorizar a sua formação à luz dos
conceitos da Geografia
Autores

Antonio Albuquerque da Costa

Paulo Sérgio Cunha Farias

aula

01
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação
Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED


Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Estadual da Paraíba

Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel

Secretária de Educação a Distância Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPE


Vera Lúcia do Amaral Eliane de Moura Silva

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN

Coordenador de Edição Diagramadores


Ary Sergio Braga Olinisky(UFRN) Ivana Lima (UFRN)
Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)
Projeto Gráfico
José Antonio Bezerra Junior (UFRN)
Ivana Lima (UFRN)
Mariana Araújo de Brito (UFRN)
Vitor Gomes Pimentel (UFRN)
Revisoras Tipográficas
Adriana Rodrigues Gomes (UFRN)
Revisora de Estrutura e Linguagem
Margareth Pereira Dias (UFRN)
Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Nouraide Queiroz (UFRN)

Arte e Ilustração Revisora de Língua Portuguesa


Adauto Harley (UFRN) Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Carolina Costa (UFRN)
Heinkel Hugenin (UFRN)
Leonardo Feitoza (UFRN)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.

Formação Territorial do Brasil/ Antônio Albuquerque da Costa; Paulo Sérgio Cunha


Farias. – Campina Grande: EdUEP, 2009.

385 p.: il.

ISBN: 978-85-7879-050-9

1. Geografia - Brasil. 2. Geografia – Estudo e Ensino. I. Farias, Paulo Sérgio Cunha.


II. Titulo.

21. ed. CDD

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

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Apresentação

P
rezado(a) aluno(a) iniciamos aqui nossos estudos sobre a disciplina intitulada Formação
Territorial do Brasil. Vamos discutir como o país no qual moramos e pelo qual temos o
sentimento de pertencimento e, portanto, de identidade, foi sendo construído ao longo
dos mais de 500 anos de sua história.
Partiremos, assim, da desmistificação que envolve o território nacional como se fosse uma
dádiva natural, como se realmente o Brasil já tivesse surgido “gigante pela própria natureza”,
com suas fronteiras definidas, tais como hoje se apresentam.
Na verdade, a dimensão continental do Brasil foi fruto de processo complexo que
envolveu conflitos e anexações territoriais e não um presente da natureza para o seu povo. As
delimitações de suas fronteiras é o resultado de um longo processo histórico que só adquiriu
os contornos atuais no século XX, com os acordos firmados pela diplomacia brasileira, que
teve à frente o Barão do Rio Branco.
Esperamos que no transcorrer das doze aulas que totalizam esta disciplina vocês não
acumulem dúvidas, façam leituras atenciosas e realizem todas as atividades. Todo este seu
empenho são pré-requisitos importantes para uma boa aprendizagem e o seu sucesso na disciplina.
Lembramos ainda que você não está sozinho nesta empreitada, pois você pode e deve
contar com a ajuda de tutores e professores sempre que precisarem de algum esclarecimento.
E não esqueça que por meio do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), você pode manter
contato e participar dos fóruns para ampliar e aprofundas as discussões sobre os assuntos
estudados nesta disciplina.
A sua aprendizagem e o seu sucesso foi o eixo norteador para a elaboração de nossas
aulas, as quais tivemos o máximo de carinho e de dedicação quando escrevemos cada texto
e elaboramos cada atividade, com o intuito de tornar a leitura agradável e com o máximo de
aproveitamento. Nosso alvo foi exclusivamente você. Nossa meta é dar-lhe uma formação
concisa e torná-lo(la) um profissional capacitado. Sucesso!

Objetivos
Com esta aula, esperamos que você:

Perceba o território nacional como um espaço historicamente


1 conquistado e apropriado através de ações humanas.

Conheça a existência dos vários conceitos de território e


2 entenda a escolha do conceito a ser trabalhado na disciplina
a partir de sua melhor adequação ao presente estudo.

Aula 01 Formação Territorial do Brasil 1

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Iniciando nossa conversa

N
esta primeira aula, antes de iniciarmos discutindo os processos econômicos,
políticos, culturais e sociais responsáveis pelas definições de nossas fronteiras,
Atenção achamos mais conveniente partir do conceito de território, que é uma das categorias
Todos os termos de de análise da Geografia.
glossário destacados
nas p. 2, deverão ser A Geografia distingue-se de outras ciências sociais pela forma como estuda a sociedade.
consultados na p.15.
Seus estudos se centralizam na relação que as sociedades estabelecem entre si e com a
natureza, ou seja, através de sua organização espacial.

Desta forma, o espaço, produzido pela sociedade é o enfoque central da Geografia.


Porém atrelado a esta categoria de análise estão outras, que guardam íntimas relações ente
si e que também dizem respeito à forma como a sociedade se espacializa, ou seja, se organiza
e se apropria da natureza. São estas outras categorias da Geografia: Território, Região,
Paisagem e Lugar.

Considerando o objetivo de nossa disciplina vamos nos ater a categoria Território, porém
deixando claro que todas as demais categorias de análise geográfica guardam forte relação e
uma quase inseparabilidade entre si.

O território na concepção que utilizaremos nessa disciplina refere-se ao território do


Estado-Nação sob o qual tanto a história quanto a geografia tiveram significativas contribuições
ao forjarem o sentimento de pertencimento, a formação de uma identidade nacional e a
afetividade que a população deveria dedicar ao solo pátrio.

Tal noção de território, associada ao Estado-Nação, é a que mais fortemente tem


sido assimilada, seja no senso comum, seja a partir dos próprios estudos geográficos e
mais especificamente, o político. Porém não é a única forma possível de o território e as
territorialidades serem estudadas, percebidas e vivenciadas. Há territórios que não apresentam
o caráter permanente nem na escala dos Estados-nacionais.

Não podemos esquecer que no território nacional, outros territórios também se fazem
presentes, muitas vezes, com territorialidades móveis em periodicidades cíclicas. Os
centros urbanos, sobretudo, das grandes metrópoles apresentam uma complexa rede de
territorialidades, como o das gangues, do crime organizado, das prostitutas, dos camelôs,
dos “flanelinhas” etc., as quais, embora sejam um importante objeto do estudo da Geografia,
não serão enfocadas em nossas conversas nesta disciplina.

2 Aula 01 Formação Territorial do Brasil

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Atividade 1
Vamos nos situar

Observe no mapa político da América do Sul e responda:

a) Quais são os países com os quais o Brasil faz fronteira e quais os países, que
mesmo situados na América do Sul, não se limitam com o Brasil?

b) Antes da ocupação da América pelos europeus a partir de 1492 estes


territórios e estas fronteiras já estavam definidos? Reflita sobre a formação
desses territórios e a existência dessas fronteiras e justifique sua resposta.

Aula 01 Formação Territorial do Brasil 3

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sua resposta

4 Aula 01 Formação Territorial do Brasil

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Continuando nossa conversa...

Estudar o conceito de território


para entender a formação
territorial do Brasil
O conceito de território não é de uso exclusivo da Geografia, ele está presente tanto no
campo das Ciências Naturais quanto no das Ciências Sociais.

No campo das Ciências Naturais, o território é definido como uma área de influência e
Espaço vital
domínio de uma espécie animal, que exerce o domínio da mesma de forma mais intensa no
centro e que perde esta intensidade ao se aproximar da periferia, onde passa a concorrer com Teoria formulada pelo
geógrafo Friedrich Ratzel
o domínio de outras espécies. Esse conceito é muito usado nos estudos dos biólogos.
com vistas na expansão
do território Alemão. Diz
Nas Ciências Sociais, o conceito de território se caracteriza pela polissemia. Contudo,
respeito ao espaço onde
a multiplicidade dos conceitos nesse campo de investigação cientifica se enquadra em duas as necessidades, relativas
grandes vertentes interpretativas ou concepções de território: a concepção naturalista e a à dominação territorial,
recursos minerais, etc.,
concepção etnocêntrica.
desse povo seriam
realizadas.
A concepção naturalista aborda o território num sentido físico, natural, como algo inerente
ao próprio homem, quase como se ele fosse uma continuidade do seu ser, como se o homem
tivesse uma raiz na terra – o que seria justificado, sobretudo, pela necessidade do território,
Ratzel
de recursos, para a sua sobrevivência biológica. Esta visão levou muitos a defender a tese de
que teríamos uma “impulsão inata” para a conquista de territórios, e que o crescimento de Refere-se ao geógrafo e
etnógrafo alemão Friedrich
uma civilização, de seu “espaço vital”, como se expressou Ratzel em certo momento de sua Ratzel, considerado o
obra, estaria diretamente relacionado à expansão territorial. pai do determinismo
geográfico e importante
Outra variante da interpretação naturalista do território é a que se relaciona aos campos sistematizador da ciência
dos sentidos e da sensibilidade humana. Estes, segundo esta concepção, seriam moldados geográfica.

praticamente pela “natureza ou pela paisagem”. Esta visão sobrevaloriza e praticamente


naturaliza uma ligação afetiva, emocional, do homem com o espaço. Nela, o território é um
Etnocêntrica
imperativo, não tanto para a sobrevivência física dos indivíduos, mas, sobretudo, para o
“equilíbrio” e a harmonia homem-natureza, onde cada indivíduo social estaria profundamente Concepção que privilegia
os valores do grupo social
enraizado a um “lugar” ou uma paisagem, com a qual particularmente se identifica.
que serve como referência.
O grupo social se ver com
A concepção etnocêntrica de território considera o território como uma construção
centro de tudo e de todos
puramente social. Esta, por sua vez, poderia advir tanto de um domínio material sobre o espaço, e pensa o mundo a partir
decorrente do poder de uma classe econômica ou de um grupo político dominante, como de desses seus valores, os
únicos que considera
sua apropriação simbólica, a partir da identidade que cada grupo cultural “livremente” constrói
aceitáveis.
no espaço em que vive.

Aula 01 Formação Territorial do Brasil 5

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Como pontos comuns entre as duas concepções de território nas Ciências Sociais
podemos observar que o território é sempre visto muito mais dentro das dimensões política
e cultural do que a partir da dimensão econômica.

Na tradicional Geografia Política, Sousa (1995, p. 84) mostra que o conceito de território
surge como um espaço concreto, com seus atributos sociais e naturais apropriados por um
grupo social. Desde a gênese da Geografia como ciência, no século XIX, até recentemente,
o conceito de território esteve restrito aos limites do Estado-Nação, confundindo-se, assim,
com o território nacional.

Atualmente, os geógrafos assimilaram novas vertentes teóricas, notadamente a partir


dos estudos de Michel Foucault sobre as micro-políticas, nos quais o referido filósofo expõe
Atenção as diversas redes de poderes, em múltiplas escalas, que existem na sociedade. Desta forma,
Todos os termos de o conceito de território ganhou abrangência e se fertilizou, tornando-se uma importante
glossário destacados ferramenta para a compreensão das diversas relações de poder que demarcam fronteiras no
nas p. 6, deverão ser
consultados na p.16.
espaço geográfico.

É comum ouvirmos falar hoje sobre o enfraquecimento do Estado-Nação, mas o que


significa isso, então? Significa que com o processo de globalização houve a implantação
das políticas neoliberais para facilitar a livre circulação do capital financeiro. Desta forma
o poder político do Estado se defronta com as instituições multilaterais que deixam os
Estados-nacionais, sobretudo aqueles mais pobres, reféns dessas instituições e dos grandes
conglomerados econômicos que atuam em seus territórios, assim, embora o Estado-Nacional
continue a existir, deixar de atuar e se fazer presente em vários setores da vida da nação, o que
abre espaço para que novas territorialidades com escalas espaciais e temporais diversas
possam se manifestar.

O território pode ter um caráter permanente, a exemplo do território brasileiro, ou mesmo


os territórios dos vários estados que compõem a federação brasileira, mas também podem ter
uma existência cíclica ou temporária, a exemplo dos territórios da fé dos encontros religiosos
realizados na cidade de Campina Grande-PB, por ocasião do Encontro para Nova Consciência,
durante o período carnavalesco.

Lembrete – Nesta primeira aula achamos de fundamental importância envolvê-lo


numa discussão mais conceitual sobre território, categoria geográfica que servirá
como fio condutor na análise de todo o processo de construção do que hoje é o
Estado-Nação Brasil, e que nos fundamentará teoricamente nesta disciplina que
começamos a estudar.

6 Aula 01 Formação Territorial do Brasil

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Atividade 2
O que o mapa nos diz?

Vamos refletir sobre as questões territoriais antes da existência dos países que
hoje compõem as Américas.

Observe o mapa das Américas a seguir. Nele está simplificadamente representada


a distribuição dos grupos indígenas antes da chegada dos colonizadores europeus.

a) Os territórios indígenas nas Américas eram territórios naturais? Por quê?

b) Comparando a cartografia das territorialidades indígenas das Américas antes


do descobrimento com os territórios dos Estados-Nação de hoje, pode-se
afirmar que este foi um processo de territorialização/desterritorialização?
Por quê?

Aula 01 Formação Territorial do Brasil 7

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sua resposta

8 Aula 01 Formação Territorial do Brasil

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Atividade 3
Vamos refletir um pouco mais...

No mapa abaixo estão os seis maiores países do mundo, com dimensões


consideradas continentais.

a) Países como a Rússia e a China são verdadeiros mosaicos étnicos e culturais.


Como podemos explicar tal diversidade nesses imensos territórios? Podemos
relacionar tais aspectos ao processo de formação desses estados-nação?
Comente.

b) O Canadá, os Estados Unidos, o Brasil e a Austrália, países de dimensões


continentais, todos foram colônias. Podemos afirmar que na formação de
seus territórios o processo se deu de forma simples e pacífica já que estes
espaços eram vazios e propícios à expansão dos colonizados? Justifique
sua resposta.

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sua resposta

10 Aula 01 Formação Territorial do Brasil

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Resumo
Como foi possível ver nesta aula:

a) O território brasileiro é o resultado de um processo histórico que teve início


com a vinda dos portugueses no início do século XVI.

b) A construção do território brasileiro se deu com a desterritorialização dos


povos indígenas que habitavam todas as terras que se transformaram no
que hoje é o Brasil, mas também através das disputas entre portugueses
e espanhóis e, após a independência do país, entre o Brasil com as nações
fronteiriças.

c) Entendemos que para iniciarmos esta discussão sobre a formação do


território brasileiro é importante conhecer e apreender o conceito de território
nas diversas abordagens e saber que, embora haja outras formas territoriais
além do Estado-Nação, é sobre este que iremos nos dedicar nessa disciplina,
desmistificando a idéia naturalizante que a ele está associada, para percebê-lo
como uma construção social.

Leituras complementares
Sugerimos como leituras fundamentais para o aprofundamento da conversa que tivemos
sobre o conceito de território nesta aula:

ANDRADE, Manuel Correia de. Territorialidades, desterritorialidades, novas territorialidades:


os limites do poder nacional e do poder local. In: SANTOS, M.; SOUZA, M. A. de; SILVEIRA, M.
L.Território, globalização e fragmentação. 2 ed. São Paulo: Hucitec/ANPUR, 1996, p. 213-220.

O autor aborda em capítulo da obra organizada por Milton Santos, Maria Adélia de
Souza e Maria Laura Silveira, entre outras questões relativas à temática da nossa primeira
aula, o conceito de território nas Ciências Naturais e nas Ciências Sociais, especialmente
na Geografia. Além disso, faz uma profícua análise sobre questões territoriais no Brasil em
tempos de globalização.

Aula 01 Formação Territorial do Brasil 11

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HAESBAERT, Rogério. Territórios alternativos. Niterói: EdUFF; São Paulo: Contexto, 2002.

Este geógrafo, entre temas, conceitos e teorias das Ciências Sociais e da Geografia em
particular, aborda, nesta obra, as concepções naturalista e etnocêntrica do território.

______. O mito da desterritorialização: do fim dos territórios à multiterritorialidade. Rio de


Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

O autor, nesta obra longa e profunda, entre tantas questões atuais relativas ao território,
analisa o seu conceito em diversas perspectivas: materialistas, idealistas, integradora e na
visão relacional em Sack e Raffestin.

SOUZA, Marcelo Lopes de. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento.
In: CASTRO, Iná E. de; COSTA, Paulo César da C.; CORRÊA, Roberto L. Geografia: conceitos
e temas. 6 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003, p.77-116.

Em capítulo dessa obra que aborda conceitos e temas (em diversas escalas) da geografia,
o autor trata do conceito de território na Geografia e defende que existem territórios em diversas
escalas espaciais e temporais.

Sugerimos ainda o filme “Dança com lobos” produzido e estrelado por Kevin Costner, que
mostra o avanço das fronteiras estadunidense para o oeste sobre as terras indígenas, processo
conflituoso de expansão territorial dos Estados Unidos da América, no qual os colonizadores se
territorializaram em detrimento da desterritorialização dos povos nativos. Além da problemática
territorial o filme tem uma rica abordagem cultural.

Ficha Técnica
Título Original: Dance With Wolves
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 180 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1990
Estúdio: Majestic Film / Tig Productions
Distribuição: MGM / Orion Pictures Corporation
Direção: Kevin Costner

12 Aula 01 Formação Territorial do Brasil

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No filme Guerra de Canudos podemos ver a luta pela manutenção da territorialidade
de uma parte da população pobre e excluída do Nordeste brasileiro. Conflito cujo êxito de
resistência frente ao exército da republica é atribuído ao conhecimento dos “rebeldes” sobre
território. Fato real que utilizamos como exemplificação de um território de pequena escala
espacial e temporal.

Informações Técnicas
Título Original: Guerra de Canudos
País de Origem: Brasil
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 169 minutos
Ano de Lançamento: 1997
Estúdio/Distrib.:
Direção: Sérgio Rezende

Autoavaliação
A partir dos comentários que faremos a seguir, teça seus comentários sobre as questões
que seguem as quais ajudarão você a avaliar sua aprendizagem e identificar os pontos que
precisam ser melhorados.

Observe nos mapas apresentados que o Alasca pertence aos Estados Unidos, embora

1 se encontra bem ao norte na fronteira com o Canadá, da mesma forma a Guiana


Francesa que está na América do Sul é um departamento francês. Com base no seu
aprendizado sobre o conceito de território que conclusões você pode tirar a respeito
desse conceito com esses exemplos.

Aula 01 Formação Territorial do Brasil 13

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Considerando que o território se define pela relação de poder que um grupo exerce
2 sobre o espaço, podemos afirmar que no Brasil colônia havia de fato um território
brasileiro? Justificar sua resposta.

Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. Territorialidades, desterritorialidades, novas territorialidades:
os limites do poder nacional e do poder local. In: SANTOS, M.; SOUZA, M. A. de; SILVEIRA, M.
L.Território, globalização e fragmentação. 2 ed. São Paulo: Hucitec/ANPUR, 1996, p. 213-220.

COSTA, Antonio Albuquerque da. As territorialidades êmicas e fágicas da fé em oposição ao


discurso pela diversidade em Campina Grande-PB. In: Revista de Geografia, Recife, UFPE/
DCG/NAPA, v. 23, nº 2, jul/dez de 2006. p 58-72.

FARIAS, Paulo Sérgio Cunha. A Alfabetização Geografia em Questão: relfexões sobre a formação
docente para o ensino de geografia nos anos iniciais do ensino funtamental. In: ______. e Leal,
Fernanda de Lourdes Almeida (organizadores). A Formação do Professor em Foco: interfaces
entre saberes e fazeres. Campina Grande: EDUFCG, 2007. p 164-250.

HAESBAERT, Rogério. Territórios alternativos. Niterói: EdUFF; São Paulo: Contexto, 2002.

________, A concepção de território para entender a desterritorialização. In: SANTOS, Milton


e BECKER, Bertha K. (organizadores). Território, territórios: ensaio sobre o ordenamento
territorial. 2ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. p. 43-70.

SOUZA, Marcelo Lopes de. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento.
In: CASTRO, Iná E. de. COSTA, Paulo César da C.; CORRÊA, Roberto L. Geografia: conceitos
e temas. 6 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003, p. 77-116.

Souza Neto, Manoel F. de. Aprendendo a pensar Geografia: a construção dos conceitos no
ensino fundamental. In: Formação continuada de professores da rede pública. Fortaleza:
Universidade Aberta do Nordeste, s.d.

14 Aula 01 Formação Territorial do Brasil

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Glossário da p. 2

Fronteiras Paisagem

São limites entre duas partes distintas. As É um espaço delimitado pelo alcance visual, no qual
fronteiras definem os limites nos quais um Estado podem estar presentes objetos tanto naturais como
ou território pode exercer sua relação de poder. culturais elaborados em momentos históricos
diversos.

Categoria de Análise
Lugar
São conceitos próprios de cada disciplina que
embasam os seus estudos. É o espaço vivido e percebido, que se define pelo
afeto e identidade do indivíduo para o aquela parcela
Espaço do espaço com a qual mantém forte identidade de
pertencimento.
O espaço é um termo com muitos significados,
mesmo na Geografia, porém dentre as muitas
conceituações, vamos entender o Espaço
Estado-nação
Geográfico como um produto histórico das ações É o Estado moderno, que surge na Europa com
da sociedade na sua inter-relação com o meio. o fim do feudalismo para atender aos interesses
O Espaço geográfico é formado pelos objetos da nobreza e da burguesia. Trata-se de uma
(naturais ou culturais), mas também pelas ações tentativa de homogeneização histórico-culatural de
da sociedade agindo sobre estes objetos. populações, que foram reunidas sob o comando
centralizador de um monarca, em um mesmo
Território território. Tem como principais características
à formação das monarquias absolutistas, com
É um espaço delimitado por um grupo social que centralização político-administrativa, criação de
exerce sobre este espaço uma relação de poder. exércitos permanentes e regulamentação e controle
das práticas mercantilistas pelo Estado.
Região

Tal como as outras categorias geográficas têm


conceituações diversas e muitas vezes até
imprecisas e contraditórias, porém resumidamente,
podemos entender como um espaço com escala
variável cuja unidade é estabelecida por alguns
elementos: sejam de ordem física, econômica,
cultural, social ou político/administrativa.

Aula 01 Formação Territorial do Brasil 15

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Glossário da p. 6

Escalas Escalas espaciais e temporais

São relações de proporções que se estabelecem Observa Souza (1995, p. 81) que os territórios
na mensuração de diferentes eventos. Na são construídos e desconstruídos deste a escala
geografia a escala vai além do simples acanhada (exemplo a rua) à escala internacional
estabelecimento da relação entre distâncias reais (exemplo dos conjunto de países-membros da
e sua representações como ocorre na cartografia. OTAN) que são escalas espaciais que vão dos
Diz também da relação de aprofundamento e micro aos macro espaços. Na escala temporal
detalhamento dos fenômenos. esses território podem ter a duração de séculos
(exemplo do Império Romano), décadas (a
existência do muro de Berlim que dividia esta
cidade), anos (a cidadela de Canudos construída
Globalização por Antônio Conselheiro), meses ou dias (os
territórios das diferentes classes sociais no Parque
Refere-se ao atual estágio do capitalismo, no
do Povo durante as festas juninas na cidade de
qual há uma forte interdependência econômica
Campina Grande-PB).
entre os países e uma imensa inter-relação
sócio-cultural entre os povos, propiciadas pela
instantaneidade
da informação.

Políticas neoliberais

Prática política que prega a diminuição do


papel do Estado na economia; a eliminação das
barreiras comerciais, privatização das empresas
públicas, redução dos gastos governamentais
com seguridade social e a desregulamentação do
mercado de trabalho.

16 Aula 01 Formação Territorial do Brasil

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Formação Territorial do Brasil – GEOGRAFIA

EMENTA

Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.

AUTORES

> Antonio Albuquerque da Costa

> Paulo Sérgio Cunha Farias

AULAS

01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da geografia

02 A territorialização ibérica do mundo e a expansão do capitalismo na sua fase embrionária

03 A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização


do colonizador português no Brasil (as feitorias)

04 A territorialização de fato do colonizador português: as capitanias hereditárias e a plantation açucareira

05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”

06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia

07 A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil central

08 A ocupação antiga do Brasil meridional

09 A ocupação moderna e definitiva do sul

10 O “arquipélago” de “ilhas” econômicas do Império e da Primeira República

11 A Primeira República e a consolidação das fronteiras

12 Do arquipélago de “ilhas” econômicas à integração do território

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D I S C I P L I N A Formação Territorial do Brasil

A territorialização ibérica do mundo


e a expansão do capitalismo
na sua fase embrionária
Autores

Antonio Albuquerque da Costa

Paulo Sérgio Cunha Farias

aula

02
Fo_Te_A02_VMIML_050710.indd Capa1 08/07/10 11:42
Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação
Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED


Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Estadual da Paraíba

Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel

Secretária de Educação a Distância Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPE


Vera Lúcia do Amaral Eliane de Moura Silva

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN

Coordenador de Edição Diagramadores


Ary Sergio Braga Olinisky(UFRN) Ivana Lima (UFRN)
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Adauto Harley (UFRN) Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Carolina Costa (UFRN)
Heinkel Hugenin (UFRN)
Leonardo Feitoza (UFRN)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.

Formação Territorial do Brasil/ Antônio Albuquerque da Costa; Paulo Sérgio Cunha


Farias. – Campina Grande: EdUEP, 2009.

385 p.: il.

ISBN: 978-85-7879-050-9

1. Geografia - Brasil. 2. Geografia – Estudo e Ensino. I. Farias, Paulo Sérgio Cunha.


II. Titulo.

21. ed. CDD

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

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Apresentação

N
a aula anterior tivemos oportunidade de discutir rapidamente com você que o atual
território brasileiro não foi uma dádiva dada pela natureza ao colonizador português e,
posteriormente, repassado ao povo brasileiro. Não se pode também afirmar que nosso
atual território é unicamente uma herança deixada pela colonização portuguesa à jovem nação
brasileira nascida com a independência em 1822.

Nesse sentido, a configuração territorial do Brasil é um produto de lutas e conflitos que


perpassaram, para usarmos uma periodização clássica na historiografia brasileira, os períodos
colonial, imperial e republicano. Sendo, portanto, um produto histórico.

Nesta aula, vamos nos reportar as condições materiais e imateriais que afirmaram o
mercantilismo na Europa, especialmente em Portugal, bem como a expansão geográfica dessa
primeira forma de concreção do capitalismo como modo de produção que, conseqüentemente,
encampou outros territórios além do europeu aos seus circuitos de produção e trocas, inclusive a
América e, particularmente, o Brasil.

Deste modo, é importante que você estude cuidadosamente o conteúdo desta aula, realize as
atividades e, em caso de dúvida, busque esclarecimentos com o tutor ou professor da disciplina.

Objetivos
Com esta aula, esperamos que você:

Associe a criação do território colonial da América


1 portuguesa aos interesses do desenvolvimento
capitalista mercantilista e a consolidação do Estado-
Nacional português.

Entenda a expansão marítima européia como um


2 processo econômico que teve sua viabilização a partir
do desenvolvimento das técnicas.

Perceba a legitimação da expansão territorial européia e

3 seus objetivos econômicos tendo como pano de


fundo o ideal religioso de evangelização dos povos
não-cristãos.

Aula 02 Formação Territorial do Brasil 1

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O “descobrimento” do Brasil
faz parte de uma longa história

V
amos conversar um pouco sobre esta história que resultou no que se convencionou
chamar o “descobrimento das Américas” e, por conseqüência, o “descobrimento do
Constantinopla Brasil”. É uma história que tem início na Europa e nas transformações sócio-econômicas
É o antigo nome de que estavam acontecendo naquela parte do mundo.
Istambul (Turquia),
tornada capital do Império Para os que privilegiam o enfoque político-institucional, esses acontecimentos importantes
Romano do Oriente no que mexeram nas estruturas econômicas e sociais européias estavam associados à tomada de
ano 330 pelo imperador
Constantinopla pelos turcos e ao início das grandes navegações, portanto ao início da Idade
romano Constantino I.
Foi tomada do império Moderna. Sob um outro enfoque podemos afirmar que tais transformações são de caráter muito
Bizantino pelo império mais econômico, elas se dão num momento de transição entre dois modos de produção. O
Otomano no ano de 1453.
fim do modo de produção feudal e o início do modo de produção capitalista.

É bem verdade que a ocupação de Constantinopla pelo Império Otomano (ver


Modos de produção
representação no cartograma) teve um importante papel nas aventuras náuticas dos ibéricos
O modo de produção é a
(ver cartograma da Península Ibérica) pelo oceano Atlântico. Fato que, também, só foi possível
forma como a sociedade
produz, utiliza e distribui graças ao desenvolvimento das técnicas de navegação introduzidas na Europa pelos árabes,
seus bens e serviços. tais como bússola (ver ilustração) e o astrolábio (ver ilustração)e a substituição da caravela
O modo de produção
(ver ilustração) pela nau (ver ilustração).
é resultado das forças
produtivas e das relações
de produção.

Império Otomano em fins do século VXII


Modo de produção
feudal

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Otomano
É o modo de produção
característico do período
medieval, tem a produção
baseada na subsistência
dos feudos, que se utilizam
do trabalho servil dos
camponeses.

Modo de produção
capitalista

caracteriza-se pelas relações


de produção baseada no
trabalho assalariado e pela
propriedade dos meios
de produção nas mãos da
burguesia. Tudo passa a ser
movido pela busca no lucro.

2 Aula 02 Formação Territorial do Brasil

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Península Ibérica

Império Otomano

Potência mulçumana que


existiu entre os séculos XV
e XIX e atingiu seu auge
no século XVII quando se

Fonte: www.cejur.pt/images/peninsula_iberica.gif
estendeu por quase 11 mil
quilômetros quadrados
ao longo da bacia do
Mediterrâneo
(Ver Cartograma)

Ibéricos

Povos de origem latina


que habitam a Península
Ibérica, na qual estão
localizados Portugal e
Bússola Espanha.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%BAssola
Astrolábio

É um antigo instrumento
para medir a altura dos
astros acima do horizonte,
que hoje se tornou
obsoleto.

Astrolábio
Fonte: www.gobiernodecanarias.org/.../astrolabio.jpg

Aula 02 Formação Territorial do Brasil 3

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Fonte: www.csmadalenasofia.com.br/madainterativo/aulas/
expansaomaritimo.ppt
Fonte: www.csmadalenasofia.com.br/madainterativo/aulas/
expansaomaritimo.ppt
A gênese dessas mudanças na ordem feudal começou a ser gestada com as
cruzadas, movimento de aparente cunho puramente religioso, mas que reflete as próprias
contradições do feudalismo, como fica expresso na pregação do Papa Urbano II durante no
Concílio de Clermont concílio de Clermont, ao dizer:
Ato realizado pelo papa “Deixai os que outrora foram mercenários, a baixo soldo, receberem agora a recompensa
Urbano II no ano de 1095,
eterna. Uma vez que a terra onde vós habitais, é demasiadamente pequena para a
em Clermont (França) no
vossa grande população, tomai o caminho do Santo Sepulcro e arrebatai aquela terra
qual concedia indulgência
plena a todos os cristãos à raça perversa e submetei-a a vós mesmos”. (grifo nosso) Disponível in: http://www.
que morressem em brasilescola.com/historiag/cruzadas.htm. Acesso em 19 de novembro de 2008.
combate contra os
mulçumanos.
Na transcrição do texto acima, o nosso grifo tem a intenção de chamar a atenção para o
fato da terra européia ser demasiadamente pequena para a grande população, isso demonstra
em primeiro lugar a crise gerada com o sistema feudal que dava à sucessão hereditária o
direito de primogenitura, ou seja, só quem herdava as terras eram os filhos primogênitos.
Dessa forma, criava-se na Europa feudal uma enorme quantidade de nobres sem terras. Daí o
caráter econômico e social das cruzadas, já que tais incursões possibilitavam aos nobres, além
da promessa de salvação eterna ao combaterem os “infiéis”, a possibilidade de conquistarem
terras e também de ampliarem seus domínios.

4 Aula 02 Formação Territorial do Brasil

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Vamos refletir mais um pouco sobre o tipo de economia de subsistência típica da Idade
Média e da fragmentação territorial que ocorrera na Europa com o fim do Império romano.

Toda a rede de cidades e de comércio típica do domínio romano praticamente desaparecera


com a queda desse império. Salvo algumas poucas cidades, sobretudo na Península Itálica,
que continuaram a desenvolver o comércio durante a Idade Média, o que aconteceu na Europa Idade Média
foi a retração do comércio e o quase desaparecimento das cidades, visto que numa sociedade É um período da história
agrária as cidades perdem importância como centro de decisões. Os poucos aglomerados européia que corresponde a
queda do Império Romano
“urbanos” do medievo tinham papel puramente religioso, o que faz com que tais fortalezas
do Ocidente no ano 476
episcopais nem sejam consideradas cidades, visto que não apresentavam nenhuma diversidade d.c. até o fim do império
econômica para que assim fossem classificadas. romano do Oriente no
ano de 1453 d.c., com a
Aconteceu que com as cruzadas e a ocupação de parte do Oriente Médio pelos tomada de Constantinopla
pelos turcos. È um período
europeus as cidades mercantis italianas passaram a ter uma importância fundamental para o
marcado pela forte presença
abastecimento desses Estados Cruzados (ver mapa). Ocorreu que parte dos cruzados também dos ideais da igreja católica
enriqueceu com os saques efetuados durantes tais expedições religiosas /militares. Aquele e da organização espacial
da sociedade em feudos, os
mundo retalhado em feudos e fechado em si passou a se abrir para novos horizontes e novas
quais utilizavam com força de
necessidades de consumo. produtiva o trabalho servil.

Estados Cruzados

Foram estados feudais


criados pelos Jurusalém)
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Asia_menor_1140.jpg

Burgos

Eram aglomerados que


foram surgindo dentro
das muralhas e em torno
dos castelos dos senhores
feudais pra se proteger
dos ataques inimigos.
Com o ressurgimento
do comércio esses
burgos foram crescendo
e ultrapassando as
muralhas. Essas
residências que foram
ocupando a parte externa
das muralhas passaram
A expansão do comércio e a necessidade de segurança fizeram com que os mercadores a ser chamadas de foris
passassem a ter necessidades de uma outra forma de organização espacial, diferente da burgus. Esses burgos
se tornaram cidades
estrutura feudal. Aconteceu também que os servos, em grande número, passaram a fugir do
mercantis e o termo
julgo dos senhores feudais e a buscarem nos burgos uma menor rigidez sobre o controle dos burguês surge a princípio
seus corpos. O comércio que foi se ampliando passou a favorecer o ressurgimento das cidades. para denominar os
moradores dos burgos.
Os mercadores passaram a necessitar de uma rede mais articulada de estradas, leis e moedas
comuns, segurança contra os ataques nas precárias estradas infestadas de saqueadores.

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Tais mudanças só poderiam ocorrer mediante de um Estado forte e centralizado, daí o
surgimento das monarquias absolutistas nos Estados-Nacionais. Esta nova modalidade de
território teve o apoio da burguesia mercantil que estava enriquecendo e precisava da proteção
desse tipo de Estado para assegurar seus interesses.

Há no momento em discussão a conjugação de dois tipos de interesses, da burguesia


enriquecida e dos monarcas, os primeiros querendo expandir seus negócios, ampliar seus lucros,
ter proteção assegurada pelo Estado, do outro lado os monarcas querendo equipar seus exércitos,
manter seus privilégios, sustentar a burocracia que crescia nessa nova ordem estabelecia.

O momento em foco é o que podemos denominar de fase de acumulação primitiva do


capital, é o nascimento de uma nova ordem econômica, o modo de produção capitalista, e do
declínio de uma velha ordem econômica, o modo de produção feudal, a qual, afundava diante
de suas contradições intrínsecas e da impossibilidade de competir com o novo modelo que
se esboçava.

A expansão marítima comercial européia se constitui na ampliação da escala geográfica


do processo de acumulação primitiva do capitalismo e teve na Espanha e em Portugal dois
dos seus principais protagonistas.

Reportando-nos mais especificamente a Portugal, podemos afirmar que vários fatores


contribuíram para que esse país ocupasse o papel de protagonista na expansão do capitalismo
mercantilista, entre esses fatores podemos destacar:

1. Após as guerras de reconquista que tomaram o território português dos árabes, a


monarquia centralizada unifica o território de Portugal, tornando-o o primeiro Estado
Nacional (país) da era moderna.

2. A convergência de interesses entre a burguesia portuguesa e o rei. Ao rei cabia oferecer


toda a logística necessária para dinamizar as atividades mercantis (unificação da moeda,
custear e patrocinar empresas de descobrimento e colonização, cuidar das estradas,
unificar os impostos etc.). O fortalecimento das atividades mercantis tornou o rei forte e,
conseqüentemente, o Estado forte, pois lhes garantia os recursos necessários para manter
grandes exércitos e estabelecer as guerras de conquistas.

3. A posição geográfica favorável de Portugal. Situado na Península Ibérica, este país tinha
a vantagem de estar totalmente aberto ou em contato com o Oceano Atlântico.

4. A decadência da navegação das repúblicas Italianas fez com que vários navegadores se
transferissem para Portugal e, também, para a Espanha (a exemplo de Cristóvão Colombo
que era genovês).

5. O domínio de Portugal das novas tecnologias náuticas – equipamentos e técnicas (bússola,


astrolábio, caravela etc.). A Escola de Sagres, criada por Dom Henrique, teve, nesse sentido,
fundamental importância, nela os navegadores se aperfeiçoavam e os iniciantes aprendiam
os fundamentos da navegação à longa distância.

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6. A decadência do Império Árabe, que provocou a queda das áreas periféricas ao Leste e ao
Oeste, a queda de Constantinopla, que passou ao poder dos turcos em 1453, e a queda
de Granada, último reduto árabe na Península Ibérica, provocaram uma transferência do
eixo de navegação do mar mediterrâneo para o Oceano Atlântico.

7. O embaraço provocado pelos turcos ao ocuparem Constantinopla, tomada aos últimos


imperadores bizantinos, e ao conquistarem aos árabes a costa mediterrânea da Síria,
da Palestina e do Egito. Os turcos, desejando participarem dos lucros do comércio,
provocaram graves embaraços a ele entre as repúblicas italianas e o Oriente. E nesse
contesto que Portugal, independente deste 1139, e dominado pela Casa de Ávis desde
1383, lança-se à aventura marítima com o intuído de garantir o acesso e o controle das
especiarias e outras riquezas do Oriente.

Portugal, em seu afã de alargar os seus contextos comerciais, vendo-se impedido ao


acesso às especiarias do Oriente através do Mediterrâneo, lança-se ao Oceano Atlântico. Nesta
empreitada chega a Ceuta (Norte da África), em 1415 e inicia a navegação pela costa africana
à procura de ouro, de produtos tropicais, como a malagueta, e de escravos. A partir daí os
portugueses realizaram vários “descobrimentos” no Oceano Atlântico e na Costa Africana: Ilha
da Madeira (1460), Cabo Verde (1445), Cabo da Boa Esperança (1488) e finalmente, a chegada
de Vasco da Gama às Índias em 1498.

A descoberta do caminho marítimo para as Índias contornando a costa africana e o


regresso de umas das naus da expedição de Vasco da Gama carregada de pimenta, encheu
os portugueses de esperança de dominarem o comércio desse produto escasso e valorizado
na Europa. Em função disso, logo posteriormente à chegada de Vasco da Gama, uma nova
expedição com treze embarcações foi organizada e enviada às Índias com o intuito de garantir
o domínio e o controle de Portugal sobre o rendoso comércio das especiarias. Este comércio,
além da pimenta, era complementado por outros produtos indianos: cravo, canela, noz-
moscada, cominho, gengibre, açafrão, cânfora, sumagre, índigo etc., e da costa africana:
escravos negros, ouro e malagueta.

Foi nesse mesmo itinerário em busca de riquezas para seu comércio que os portugueses,
em expedição comandada por Pedro Álvares Cabral, chegou ao Brasil em 1500. Aliás, Cabral se
dirigia às Índias com o intuito de afirmar o domínio e o controle de Portugal sobre o comércio
de especiarias. Sobre esta viagem de “descoberta” portuguesa trataremos em pormenores
nas próximas aulas.

Cabe lembrar que Portugal não estava só nessa empreitada de expansão da escala
geográfica da acumulação primitiva do capitalismo, a Espanha também excursionava pelos
mares e oceanos com os mesmos objetivos, o que a levou a chegar na América em 1492. (Ver
cartograma das viagens dos séculos XV e XVI). É nesse sentido que se justificam a formulação
e a assinatura do Tratado de Tordesilhas, que disciplinou as disputas e definiu os territórios
que caberiam as duas monarquias.

Aula 02 Formação Territorial do Brasil 7

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Atividade 1
Considerando que as cruzadas foram incursões de cunho religioso e
1 militar que ocorreram entre os séculos XI e XIII, que relações podemos
estabelecer entre este movimento e as grandes navegações que tiveram
início no século XV?

Como se justifica o pioneirismo português na expansão marítimo-

2 comercial européia?

1.

8 Aula 02 Formação Territorial do Brasil

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sua resposta
2.

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Vamos continuar a conversa...

O Tratado de Tordesilhas:
um marco nas disputas
territoriais ente Portugal e Espanha

O
início das explorações marítimas portuguesas pelo oceano Atlântico se deu através
do contorno da costa africana por onde os portugueses passaram a desenvolver um
Castela comércio de ouro, marfim e escravos. Diante de tal feito português, o reino de Castela
um dos territórios embrião
iniciou, no mar, uma série de ataques às embarcações portuguesas, isso levou os dois reinos
do Estado espanhol. a firmarem um acordo no ano de 1479, que foi denominado como Tratado de Alcáçovas por
Castela passou a existir ter sido assinado na vila portuguesa de mesmo nome.
como um condado no ano
de 850, e como reinado Este tratado foi ratificado na cidade castelhana de Toledo no ano de 1480, e no ano
entre a referido ano e
seguinte (1481), adquiriu o aval do Papa Inocêncio VII, que através da Bula Æterni regis, dividia
1479. Em 1469 houve a
união do reino de Castela o mundo entre portugueses e espanhóis a partir de um paralelo na altura das ilhas Canárias.
ao reino de Aragão em Desta forma, todas as terras descobertas e a descobrir que estivessem ao norte desse paralelo
função do casamento da
pertenceriam ao reino de Castela, enquanto que as terras localizadas ao Sul desse paralelo
rainha Isabel I de Castela
com o Rei Fernando II de seriam portuguesas.
Aragão. Foi desta união
que resultou a criação do
Este tratado possibilitou a Portugal sua expansão na costa africana e pelo Oriente, dessa
Reino da Espanha. forma ao reino de Castela não havia outra saída, a não ser se aventurar pelo Atlântico. O
resultado desta aventura não foi outro senão a chegada de Cristóvão Colombo ao continente
Bula americano, tendo alcançado a ilha de São Domingos no Caribe, ano de 1492.

no caso específico O referido fato inquietou a coroa portuguesa que entendia que tal descoberta estava em
refere-se à Bula Pontifícia, território português de acordo com Bula Æterni regis. É com base nessa contenda que podemos
documento redigido e
entender o Tratado de Tordesilhas, pois o reino de Castela na busca de garantir suas posses no
timbrado de forma solene
com o selo do Sumo Novo Mundo apela junto ao Papa Alexandre VI, que era castelhano, uma nova partilha do mundo.
Pontífice do Vaticano.
Atendendo aos interesses do reino de Castela, o Papa Alexandre VI, através da Bula Inter
Coetera, fez uma nova divisão do mundo no ano de 1493, sendo esta, não mais entre Norte e
São Domingos Sul através de um paralelo, mas através de um Meridiano que foi estabelecido a 100 léguas
é uma ilha localizada no a oeste da Ilha dos Açores, e dava a posse de todas as terras, que por ventura viesse a ser
Mar das Antilhas ou Caribe. “descobertas” a oeste dessa linha, aos reis católicos de Castela e Aragão.
Esta ilha se encontra hoje
dividida entre a República O rei de Portugal D. João II se sentiu prejudicado com a bula Alexandrina, por julgar
Dominicana e o Haiti.
Colombo a denominou de
que esta feria os direitos já adquiridos por Portugal e iniciou uma negociação diplomática
Hispaniola, mas a ilha era diretamente com os reis católicos, Isabel I de Castela e Fernando II. O resultado dessa
denominada pelos nativos negociação foi a assinatura de um tratado que estabelecia nova demarcação, substituindo as
de Quiesqueya.
100 léguas por 370 léguas a partir da ilha de Cabo Verde . (ver mapa da Divisão do Mundo
entre Portugal e Espanha com o Tratado de Tordesilhas).

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Estas negociações entre Portugal e Espanha ocorreram no ano de 1494, na cidade
castelhana de Tordesilhas, daí o nome do tão famoso tratado que passou a dividir o mundo
entre portugueses e espanhóis a partir de então.

Mas como Portugal conseguiu convencer a Espanha a ceder nessa negociação? Primeiro
temos que entender que embora os espanhóis já tivessem chegado as Américas, tal feito,
limitavam-se as ilhas caribenhas, não tinham o mesmos, a noção da existência de um imenso
continente que ia de um pólo ao outro. Segundo, as cartas náuticas espanholas não eram exatas
e para os espanhóis, algumas léguas a mais de oceano não representavam muita diferença, a
não ser a descoberta de algumas ilhas sem muita importância econômica. Por último, e talvez
o argumento mais forte, era que o meridiano, por traçar um circulo completo em torno da terra
ia prejudicar as pretensões espanholas na Ásia que ficaria em território definido com lusitano.

Toda a polêmica levantada por Portugal sobre as 100 léguas em águas do Atlântico
determinadas pela Bula Inter Coetera, nos dá a certeza de que os lusitanos já tinham
conhecimentos sobre a existência das terras do continente americano. Desta forma, foi a
assinatura do Tratado de Tordesilhas que possibilitou a Portugal estabelecer, sobre significativa
porção do que hoje é o Brasil, sua territorialidade a partir de 1500, quando Pedro Álvares Cabral
aqui chegou e tomou posse da terra em nome do rei de Portugal, Dom Manuel I.

Os “descobrimentos” tanto espanhóis quanto lusitanos têm como causa principal as


mudanças que se processavam na Europa, com a fase inicial do capitalismo. Foi a escassez de
metais preciosos diante do desenvolvimento comercial que impulsionou os paises ibéricos na
busca por ouro e prata no Novo Mundo. Empreitada na qual a Espanha teve, de início, grande
sucesso ao descobrir entre os povos pré-colombianos, que já utilizavam estes metais, as ricas
jazidas. Portugal, no entanto, não teve a mesma sorte, embora tivesse a mesma intenção para
com a América portuguesa, encontrar o lendário Eldorado.

Os séculos XV e XVI foram fundamentais na montagem do sistema colonial que


garantiriam a Portugal as posses dos seus territórios, assunto que discutiremos nas próximas aulas.

Divisão do Mundo entre Portugal e Espanha com o Tratado de Tordesilhas


Fonte: http://carreiradaindia.net/wp-content/
mapatratadotordesilhas.gif

Aula 02 Formação Territorial do Brasil 11

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Atividade 2
De posse de um Mapa Mundi, localize as Ilhas Canárias na costa africana
1 e a Ilha Hispaniola no Mar Caribe (onde hoje se encontram localizados o
Haiti e a República Dominicana). A partir de tais localizações justifique o
polêmica levantada por Portugal sobre o “descobrimento” das Américas
por Cristóvão Colombo?

O maior domínio técnico de Portugal sobre as navegações é o elemento que

2 podemos considerar fundamental para que este país conseguisse a posse


de significativa porção do “território brasileiro”. Justifique tal afirmativa?
sua resposta

1.

2.

12 Aula 02 Formação Territorial do Brasil

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Esperamos que você tenha entrado na “máquina do tempo” e que tenha embarcado nessa
viagem que remonta a Idade Média. É através dessa fantástica viagem que podemos entender
esse longo processo de transformações pelas quais passou a humanidade.

Nas próximas aulas continuaremos essa nossa viagem, tentando desvendar os processos
que deram forma ao território brasileiro.

Leituras complementares
Sugerimos como leituras fundamentais para o aprofundamento da conversa que tivemos
sobre o conceito de território nesta aula:

ANDRADE, Manuel Correia de. As grandes navegações e o descobrimento do Brasil. In: ______,
História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1982, p. 17 -24.

Neste capítulo o autor tece considerações de forma simples, clara e enriquecedora sobre
a afirmação do comércio na Europa, as condições materiais e imateriais que impulsionaram os
portugueses (especialmente) e os espanhóis a se aventurarem por oceanos e mares em busca
das ricas especiarias do Oriente, tão solicitadas pela Europa. Analisa a expansão marítima e
comercial portuguesa e espanhola e finaliza com as considerações feitas pelo autor sobre o
Tratado de Tordesilhas, que se constitui na norma jurídica-política definidora e delimitadora
dos domínios territoriais das duas monarquias na escala do mundo.

______, As grandes navegações e o descobrimento do Braisl. In: Formação territorial


e econômica do Brasil. Recife: FJN/Editora Massagana, 2003. p. 21 -28. (Estudos e
Pesquisas, 120).

Trata-se do mesmo capítulo publicado no livro anterior com pequenos ajustes e modificações,
mas que preserva o mesmo teor de análise sobre os processos de que desencadearam o
“descobrimento” do Brasil e sua inserção nos circuitos do mercantilismo europeu.

Aula 02 Formação Territorial do Brasil 13

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Resumo
Nesta aula refletimos e discutimos sobre os condicionantes historicamente
determinantes do “descobrimento” e da inserção do que hoje constitui o
território brasileiro nos circuitos do mercantilismo europeu. Portanto, você teve
oportunidade de aprender que este capítulo de nossa história territorial se constitui
em um dos eventos do alargamento do contexto geográfico do capitalismo
comercial europeu. Este se afirmou no interior do espaço europeu, substituindo
o modo de produção que o precedera (o feudalismo), com o renascimento do
comércio, a ascensão da burguesia como classe sócio-econômica dominante e
a formação dos Estados Nacionais regidos pelas monarquias absolutistas. Nesse
contexto, você teve a oportunidade de entender também que no alargamento
desse contexto geográfico da acumulação primitiva do capitalismo, evento
nomeado pelos historiadores de expansão marítima e comercial européia,
Portugal, juntamente com a Espanha, assumiram os lugares de protagonistas,
em virtude de determinadas vantagens materiais e imateriais (posição geográfica,
desenvolvimento dos conhecimentos náuticos etc.) que mantinham em relação
aos demais países que se aventuraram em expedições de “descobrimento”
e colonização de territórios em várias partes do mundo. Por fim, esta aula
possibilitou a você, aprender que as disputas territoriais entre Portugal e Espanha
foram “resolvidas” através da assinatura de uma série de tratados, entre os quais
se afigura o Tratado de Tordesilhas, que deu a América Portuguesa (hoje parte
do território brasileiro) os contornos geográficos antes mesmo da chegada da
expedição de Pedro Álvares Cabral em 1500.

Autoavaliação
A partir dos comentários que faremos a seguir, teça seus comentários sobre as questões
que seguem as quais ajudarão você a avaliar sua aprendizagem e identificar os pontos que
precisam ser melhorados.

Sabemos que o “descobrimento” do Brasil não é obra do acaso, mas sim, o resultado

1 de um processo que teve início na Europa. Que processo foi esse e porque foi
importante, para o mesmo, o que se convencionou chamar “descobrimento” das
Américas e, mas especificamente, “descobrimento” do Brasil?

14 Aula 02 Formação Territorial do Brasil

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Numa Europa ainda fortemente dominada pelas idéias medievais, não se pode negar a
2 importância da igreja católica na busca de salvação das almas, pela catequização dos
povos não-cristãos. Tais interesses foram o suficiente para estimular a tomada da “Terra
Santa” aos “infiéis” (muçulmanos); o início das grandes navegações e conseqüente
conquista do Oriente e chegada dos europeus as Américas? Por quê?

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Mudanças de ordem social, econômica, política, técnica e conseqüentemente espacial,
3 foram fundamentais para a expansão do modelo de civilização européia pelo mundo.
Dentre tais mudanças Portugal se lança como um dos protagonistas através da conquista
de novos espaços. Que vantagens, tinha Portugal, em relação ao restante da Europa para
se lançar como uma potência marítima durante os séculos XV e VXI?

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Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. As grandes navegações e o descobrimento do Brasil. In: ______,
História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1982, p. 17 -24.

______, As grandes navegações e o descobrimento do Braisl. In: ______. Formação


territorial e econômica do Brasil. Recife: FJN/Editora Massagana, 2003. p. 21 -28. (Estudos
e Pesquisas, 120).

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.

HURVERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. 21ª ed. Rio de Janeiro: 1986.

PEREGALLI, Enrique, Como o Brasil ficou assim?: formação das fronteiras e tratados dos
limites. São Paulo: Global Ed., 1982. (História popular; 9)

Anotações

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Anotações

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Anotações

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Anotações

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Formação Territorial do Brasil – GEOGRAFIA

EMENTA

Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.

AUTORES

> Antonio Albuquerque da Costa

> Paulo Sérgio Cunha Farias

AULAS

01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia

02 A territorialização ibérica do mundo e a expansão do capitalismo na sua fase embrionária

03 A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização


do colonizador português no Brasil (as feitorias)

04 A territorialização de fato do colonizador português: as capitanias hereditárias e a plantation açucareira

05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”

06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia

07 A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil central

08 A ocupação antiga do Brasil meridional

09 A ocupação moderna e definitiva do sul

10 O “arquipélago” de “ilhas” econômicas do Império e da Primeira República

11 A Primeira República e a consolidação das fronteiras

12 Do arquipélago de “ilhas” econômicas à integração do território

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D I S C I P L I N A Formação Territorial do Brasil

A chegada dos portugueses


ao continente americano:
do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização do
colonizador português no Brasil (as feitorias)

Autores

Antonio Albuquerque da Costa

Paulo Sérgio Cunha Farias

aula

03
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação
Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED


Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Estadual da Paraíba

Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel

Secretária de Educação a Distância Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPE


Vera Lúcia do Amaral Eliane de Moura Silva

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN

Coordenador de Edição Diagramadores


Ary Sergio Braga Olinisky(UFRN) Ivana Lima (UFRN)
Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)
Projeto Gráfico
José Antonio Bezerra Junior (UFRN)
Ivana Lima (UFRN)
Mariana Araújo de Brito (UFRN)
Vitor Gomes Pimentel (UFRN)
Revisoras Tipográficas
Adriana Rodrigues Gomes (UFRN)
Revisora de Estrutura e Linguagem
Margareth Pereira Dias (UFRN)
Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Nouraide Queiroz (UFRN)

Arte e Ilustração Revisora de Língua Portuguesa


Adauto Harley (UFRN) Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Carolina Costa (UFRN)
Heinkel Hugenin (UFRN)
Leonardo Feitoza (UFRN)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.

Formação Territorial do Brasil/ Antônio Albuquerque da Costa; Paulo Sérgio Cunha


Farias. – Campina Grande: EdUEP, 2009.

385 p.: il.

ISBN: 978-85-7879-050-9

1. Geografia - Brasil. 2. Geografia – Estudo e Ensino. I. Farias, Paulo Sérgio Cunha.


II. Titulo.

21. ed. CDD

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

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Apresentação

A
pesar da visão crítica que condena os estudos sobre o Brasil a partir da chegada dos
portugueses ao continente americano, por ser uma visão do colonizador, temos que
admitir que o Brasil só começa a existir a partir da apropriação do que hoje é parte
do seu território pelos portugueses. Não podemos concordar com a idéia de um território
brasileiro antes dos portugueses, o que havia até então eram os territórios dos diversos povos
nativos, que depois se constituíram no território colonial e, posteriormente, no arcabouço
do território brasileiro.

Como veremos, em seguida, a chegada dos colonizadores europeus ao continente


americano, com a introdução dos seus modos de vida, e a apropriação por eles dos territórios
dos nativos, consubstanciaram-se, portanto, numa ruptura dos processos socioespaciais de
vários povos que habitavam as Américas. Com a porção desse continente anteriormente definida
pelo Tratado de Tordesilhas como área pertencente aos portugueses, não foi diferente. A chegada
da expedição de Pedro Álvares Cabral em 1500 inicia um processo (des) territorializador, que
culminou na quebra ou na destruição dos modos de vida e das formas de relações sociedade/
natureza de vários povos nativos que habitavam esta porção do continente americano.

Na presente aula focalizaremos a chegada da expedição de Cabral em 1500. Contudo,


salientaremos que o território “descoberto” não se constituía em um espaço vazio, já que era
ocupado por várias nações indígenas. Nesse sentido, abordaremos, sucintamente, as formas
de relação sociedade/natureza desses povos antes da chegada do colonizador. Finalmente,
teceremos considerações sobre as primeiras formas de territorialização do colonizador
português – o estabelecimento das feitorias como suporte logístico para o escambo realizado
entre portugueses e indígenas, que durou de 1500 a 1530.

Aula 03 Formação Territorial do Brasil 1

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Objetivos
Com esta aula, esperamos que você:

Associe o “descobrimento” do Brasil à expansão do

1 mercantilismo lusitano.

Compreenda que o território “descoberto” pelos

2 portugueses já era ocupado por várias nações indígenas,


que nele construíram diversas formas de relações com
a natureza.

Entenda que as feitorias, estabelecidas no território


3 descoberto para a prática do escambo com os indígenas,
constituíram-se como uma territorialidade frágil do
colonizador português.

O alargamento dos contextos


geográficos do mercantilismo
português: o “descobrimento”
do Brasil

C
omo já salientamos em nossas aulas anteriores, a “descoberta” do Brasil por Pedro
Álvares Cabral em 1500 representou um dos capítulos da expansão marítima comercial
européia, especialmente da portuguesa. Os portugueses, no seu afã de alargar os
contextos territoriais do seu comércio – busca das ricas especiarias do Oriente, impedidos de o
fazer através do Mar Mediterrâneo, lançaram-se ao Oceano Atlântico. Nessa epopéia, realizaram
sucessivos “descobrimentos” neste oceano e na Costa da África, como o de Cabo Verde em
1445, o da Ilha da Madeira em 1460, o do Cabo da Boa Esperança em 1488 e, finalmente, a
chegada de Vasco da Gama às Índias em 1498.

2 Aula 03 Formação Territorial do Brasil

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Portanto, a chegada de Pedro Álvares Cabral à baía, hoje chamada Cabrália, em sua
homenagem, no dia 22 de abril de 1500, não foi obra do acaso, mas conseqüência de uma
política de expansão comercial desenvolvida desde o início do século XV, pelos países europeus,
liderados por Portugal e Espanha. Na verdade, ao chegar ao Brasil, Cabral já sabia que pisava
em terras juridicamente pertencentes a Portugal, em face do Tratado de Tordesilhas, assinado
por seu país e pela Espanha em 1494 (ANDRADE, 2003, p. 21).

Não obstante, Cabral e sua expedição formada por 13 embarcações, navegavam para as
Índias, com o intuito de consolidar e afirmar o feito de Vasco da Gama que, dois anos antes,
tinha descoberto o chamado caminho marítimo para as Índias. A intenção da esquadra de Cabral
era, portanto, garantir o monopólio português sobre o comércio da pimenta, produto de elevado
valor e que representava grande fonte de renda para Portugal (ANDRADE, op. cit., p. 21).

Segundo os relatos de vários historiadores da formação territorial do Brasil, Cabral


não deu muita importância as terras “descobertas” e pouco demorou nelas. Sua estada
nas novas plagas “descobertas” durou nove dias, tempo esse necessário para tomar posse
delas, implantando um marco, fazendo celebrar uma missa (o que denota o forte conteúdo
ideológico do catolicismo como fator justificador da expansão e das conquistas portuguesas)
e deixar dois degredados, que seriam os posteriores interlocutores entre os portugueses e
os índios. Após realizar essas ações, Cabral se deslocou rumo às Índias, verdadeiro ponto
final do seu itinerário.

Apesar de todos os elogios feitos por Pero Vaz de Caminha em sua carta ao rei, enviada
a Lisboa em nau, dando notícia da descoberta da Terra de Santa Cruz, e mesmo apresentando
vantagens comparativas em relação às ilhas do Atlântico (maior extensão territorial e diversidade
ecossistêmica) e às Índias (posição e proximidade geográficas em relação à Europa), não houve
grande interesse de Portugal em colonizar o Brasil nas três primeiras décadas após 1500. Os
interesses portugueses estavam no comércio das especiarias e na busca de metais preciosos
(não encontrados nas terras descobertas na América como ocorrera com os espanhóis), o
que levaram-nos a se interessar mais pela formação de colônias no Oriente do que ocupar
definitivamente o território recém “descoberto”. Destarte, como veremos logo adiante, a prática
esporádica do escambo com os nativos das famosas bugigangas com os produtos da terra, Escambo
marcou os primeiros anos após a “descoberta”. Troca direta entre partes,
de bens ou de serviços,
Vale salientar que as terras “descobertas” na América pelos portugueses não se sem que haja um
constituíam em espaços vazios. Nelas, diversos povos indígenas viviam suas dinâmicas equivalente na forma de
socioespaciais próprias, que refletiam suas formas de interagir com a natureza. Como veremos dinheiro.

no item seguinte.

Aula 03 Formação Territorial do Brasil 3

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Atividade 1
Depois dessa nossa rápida conversa sobre o descobrimento do Brasil, o que você
responde ao interlocutor que lhe fizer a seguinte indagação:

“... os ‘culpados’ pelo suposto desvio de rota que teria empurrado a esquadra de
Cabral em direção ao oeste são, em geral, dois: uma tempestade ou seu exato
oposto - a ausência de ventos [...] a descoberta [do Brasil], afinal, foi intencional
ou casual?”

(Fragmento de texto retirado de http://epoca.globo.com/especiais/


500anos/20000327.htm. Acessado em 12 de dezembro de 2008.
sua resposta

4 Aula 03 Formação Territorial do Brasil

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Vamos conversar mais um pouco sobre estas terras
que ainda não era Brasil!

As territorialidades pretéritas
dos habitantes da Terra de Santa
Cruz e as novas territorialidades
frágeis das feitorias

A
té aqui vimos que era intenção dos portugueses estabelecerem comércio com outras
partes do mundo, daí sua aventura pelos mares. Porém, as terras brasileiras não se
constituíram em uma alternativa pra tal propósito, pois, aqui encontraram povos que
apresentavam estágio civilizatório ainda muito primitivo.

Conforme afirma Manuel Correia de Andrade (1982, p. 13), os indígenas que habitavam
as terras recém “descobertas” pelos portugueses estavam na idade da Pedra Polida e o Idade da Pedra
espaço era indiferenciado, pois predominavam as paisagens naturais sem a intervenção das Polida
ações humanas. Refere-se ao período da
Pré-história conhecido
As três primeiras décadas após a expedição de Pedro Álvares Cabral ter alcançado o como Neolítico, que se
Novo Mundo e ter tomado posse da terra em nome do rei de Portugal, são marcadas pela fraca inicia há aproximadamente
8.000 anos a.c., e tem
atenção que a Coroa Portuguesa dá a essa parte do mundo. Fato que se explica em função do como características
contexto histórico da época em discussão. principais o surgimento
da agricultura e a
Para entender esse relativo descaso, vamos mergulhar um pouco nas características sedentarização humana. É
nesse período que se inicia
de Portugal no referido período. Primeiro, é preciso refletir que Portugal não era um país tão
a domesticação de alguns
populoso. Segundo Andrade (1982, p.24), este país tinha aproximadamente um milhão de animais e o surgimento
habitantes. Além desse aspecto populacional, as pessoas não se dispunham a vir para uma das primeiras aldeias.

terra distante, isolada e onde as capacidades de lucro e de sobrevivência eram incertas.

A empreitada portuguesa para alcançar o caminho das índias havia consumido recursos
e ceifado vidas. Portanto, Portugal se ressentia de um contingente populacional disponível e
da capacidade financeira para investir na Terra de Santa Cruz.

Desta forma, Portugal tomou posse da terra descoberta, mas era mais lucrativo e seguro
investir nas feitorias da Costa da África e nas Índias, onde já haviam organizações sociais
bem estruturadas e onde o Império Árabe, que se encontrava desmembrado e decadente, já
estabelecera forte relação de comércio, havendo, portanto, uma base para prosseguir com o
intercâmbio mercantilista.

Aula 03 Formação Territorial do Brasil 5

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Nas terras que depois passaram a ser chamadas de Brasil, a população, embora fosse
composta de povos diferentes (ver mapa das territorialidades indígenas no Brasil) , tinha uma
economia de subsistência da caça e da pesca, abundantes em todos os territórios indígenas,
os quais não haviam desenvolvido atividades de troca entre si. Daí, Manuel Correia de Andrade
(1982, p.24), denominar o Brasil de 1500, de “espaço indiferenciado”, visto que não havia
qualquer sistema de objetos culturais, a não ser as trilhas, que esses povos utilizavam para
o deslocamento no meio da vegetação, quando da coleta ou da caça, ou nos deslocamentos
sazonais feitos pelas tribos nômades.

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Diante desse quadro de natureza quase intocada e habitada por povos “selvagens” e
supostamente antropófagos, nenhum português se dispunha a tentar a sorte em tal espaço tão
hostil, a não ser contra a própria vontade, como ocorreu com os dois degredados deixados por
Cabral para servir de intermediadores entre os nativos e os portugueses que aqui chegassem.
É nesse contexto que podermos entender o imediato desinteresse do reino português por
sua posse americana. Mesmo assim, na tentativa de manter o controle sobre os territórios
descobertos, já em 1501, Dom Manuel I enviava a primeira expedição exploradora à costa
brasileira, compostas por três embarcações, com o objetivo de identificar os recursos que
poderiam ser explorados.

Esta primeira expedição, comandada por Gaspar Lemos, tinha como tripulante o navegador
florentino Américo Vespúcio, que ao contrário de Pero Vaz de Caminha, não teve o mesmo
deslumbramento pela terra descoberta, só via como produto valioso da costa brasileira, o pau-
brasil, o qual, se tornou mercadoria valiosa e que, em 1503, já era monopólio de exploração
da Coroa Portuguesa. Porém, a falta de recursos e de mão-de-obra em Portugal, obrigou o
governo português a incentivar empresas privadas nessa empreitada, cuja saída mais viável
foi o arrendamento da exploração do pau-brasil a um consórcio de comerciantes portugueses
e italianos, que era chefiado por um cristão novo chamado Fernão de Noronha.

Em função desse acordo, que permitia aos comerciantes extrair o pau-brasil, mediante
o pagamento de tributos à Coroa Portuguesa, Portugal organizou no ano de 1503 a segunda
expedição composta de seis navios. Participou dessa expedição comandada por Gonçalo
Coelho, o navegador Américo Vespúcio. No ano seguinte, o rico comerciante Fernão de Noronha
recebeu do rei de Portugal a doação do arquipélago de São João, que depois recebeu o seu
nome. Em troca Fernão de Noronha se comprometia a enviar seis navios anualmente ao Brasil
para explorar até trezentas léguas do seu litoral e construir feitorias destinadas à proteção do
mesmo, mantendo-as pelo prazo de três anos.

Portugal baseava-se na sua experiência em colonizar ilhas desertas do Atlântico como


Madeira, Açores e cabo Verde, onde havia implantado a cultura canavieira. Com o arquipélago
de Fernando de Noronha o resultado não foi o mesmo, em razão do clima bastante seco e da
pequena extensão das ilhas, dessa forma, o arquipélago prestou-se apenas como ponto de
pouso às embarcações que se encaminhavam à costa brasileira.

Para viabilizar o escambo que passou a ocorrer entre portugueses e índios, diminuindo
o tempo de permanência das embarcações nos porto e definir uma territorialidade, o governo
português passou a organizar feitorias na costa brasileira, feitorias estas, que não passavam
de galpões nos quais a madeira era depositada para aguardar as embarcações que a conduziria
para a Europa.

Nessas feitorias, eram deixados degredados, os quais tiveram que se adaptar aos
costumes indígenas e aprender as línguas nativas para sobreviver. Tais homens tiveram papel
fundamental para estabelecer o intercâmbio econômico entre portugueses e indígenas e são a
gênese da formação cultural do povo brasileiro ao incorporarem hábitos, crenças, alimentos e

Aula 03 Formação Territorial do Brasil 7

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palavras das línguas indígenas em seu processo de aculturação, elementos da cultura indígena
que foram introduzidos na população européia que aqui foi sendo fixada.

Nessas primeiras décadas que se seguiram ao “descobrimento” podemos observar que


a prática do escambo, na qual, os portugueses trocavam bugigangas pelo trabalho dos índios,
Aculturação
na coleta de produtos das terras, se dava de forma harmoniosa e não criava a necessidade
Processo pelo qual
de escravização dos habitantes nativos. Depois, os portugueses partiram para o trabalho
culturas distintas são
absorvidas entre si, compulsório, obrigando os índios a abastecerem seus navios, através do amedrontamento.
formando uma nova A tentativa de escravização do indígena só passou a ocorrer de fato quando os portugueses,
cultura.
realmente, iniciaram o “povoamento”.

As feitorias de Itamaracá, Santa Cruz e Cabo Frio, que os portugueses implantaram,


respectivamente em Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, representavam uma territorialidade
ainda muito frágil, com o objetivo de combater a pirataria e conquistar a ajuda dos nativos. Essa
territorialidade portuguesa no “solo brasileiro” era tão frágil que Andrade (1982, p.26), observa
ser nessa época difícil saber “se a terra descoberta por Cabral terminaria colonizada pelos
franceses ou pelos portugueses”. Pois, se excetuando as feitorias portuguesas, as práticas
de escambo adotadas por franceses e lusitanos com os nativos eram exatamente as mesmas.

Ao observarmos que o pau-brasil se espalhava pela imensidão da Mata Atlântica e, que se


esgotava rapidamente com o corte indiscriminado, podemos deduzir que sua exploração em
nada serviu para fixar núcleos de povoamento e que as feitorias que tinham caráter também
militar, não apresentavam grande longevidade, pelas características da itinerância da atividade
e pela impossibilidade de, a partir dessas feitorias fixas, fiscalizar tão extensa costa.

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Atividade 2
Vamos dar uma pequena pausa para refletir um pouco sobre a nossa leitura?

Observe com atenção o mapa abaixo. Ele é o mesmo que apresentamos anteriormente,
nele está representada a distribuição dos grupos indígenas conforme se encontrava na época
da chegada dos portugueses e de acordo com a classificação lingüística.

De posse desse cartograma é correto afirmar que o Brasil antes da chegada dos
portugueses era um território Tupi-guarani e que a nossa língua oficial, em respeito à
predominância desse grupo lingüístico majoritário, deveria ser o tupi-guarani? Justifique.

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sua resposta

Ao termino desta nossa conversa, esperamos ter despertado em você a curiosidade


para prosseguir e aprofundar seus conhecimentos sobre esse assunto tão instigante, que é a
formação do nosso território. Na próxima aula daremos continuidade a mais uma etapa desse
processo, quando discutiremos as estratégias portuguesas para garantir a posse das terras
brasileiras e torná-las em bem de produção rentável. Não esqueça de tirar suas dúvidas e até
o próximo encontro.

Leituras complementares
Para um maior aprofundamento sobre o assunto estudado é importante a leitura de outros
artigos, aqui sugerimos alguns textos que poderão lhe ajudar, mas você pode escolher outros,
o mais importante é que você amplie seus conhecimentos.

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

O livro é um dos clássicos sobre a formação do território brasileiro, entendido a partir de


um prisma econômico. Interessa particularmente a essa nossa aula o Capítulo 3 “Primeiras
atividades. A extração do pau-brasil”, que fala das primeiras feitorias e da contribuição dos
índios na exploração da preciosa madeira.

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ANDRADE, Manuel Correia de. Formação territorial e econômica do Brasil. Recife: FJN/
Editora Massagana, 2003.

Utiliza uma linguagem clara e direta, porém rica em informações, como é peculiar em
todas as obras desse renomado geógrafo pernambucano. Para o aprofundamento dessa nossa
aula destacamos os capítulos 1 “O Brasil como espaço indiferenciado” e o capítulo 3 “O
reconhecimento da costa e a exploração do pau-brasil.

Resumo
Com esta aula esperamos que você tenha apreendido algumas questões que são
de fundamental importância para desconstruirmos fatos de nossa história e para
desvendarmos elementos do processo de nossa formação territorial, tais como:

1) O que se convencionou chamar de “descobrimento” do Brasil, não é obra


do acaso, foi um feito intencional que faz parte do processo de expansão
marítimo comercial européia.

2) Os portugueses não encontraram um território vazio (motivo pelo qual o termo


descobrimento é tão questionável), mas várias territorialidades, de povos
culturalmente diversificados, dos quais alguns ainda eram nômades.

3) O processo civilizatório dos vários povos que habitavam as terras que hoje são
brasileiras encontrava-se em um estágio ainda muito primitivo, motivo pelo
qual o espaço se apresentava indiferenciado, sem grandes obras culturais em
suas paisagens. O que não despertou muito interesse nos portugueses

4) Os primeiros contatos entre nativos e estrangeiros, foram pacíficos e de


cooperação, pois embora os portugueses tenham tomado posse das novas
terras em nome de um rei de além mar, não estabeleceu de imediato um
processo de territorialização/desterritorialização que ameaçassem a liberdade
e a existência dos primeiros donos desses territórios.

5) Nos primeiros anos que se seguiram ao “descobrimento” não podemos,


ainda, falar de um território português, pois as territorialidades que surgiram
através das feitorias eram frágeis e não garantiam um total controle de
Portugal sobre essas novas terras.

6) As feitorias, embora representassem uma territorialidade frágil da Coroa


Portuguesa, foi a base sobre a qual Portugal conseguiu estabelecer o escambo
dos produtos tropicais, mas também, a gênese da cultura genuinamente
brasileira, proporcionada pelos homens que nelas se aculturaram em contato
com os povos indígenas.

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Autoavaliação
Vamos refletir um pouco sobre o nosso aprendizado com essa aula.

Considerando que o espaço que se constitui hoje no território brasileiro já era


1 habitado por diversos povos e que, antes da chegada de Pedro Álvares Cabral, em
1500, já haviam passado pelo litoral “brasileiro” Diego de Lepe (que em dezembro
de 1499 alcançou, provavelmente, o Cabo de Santo Agostinho em Pernambuco),
Vicente Yañez Pinzón (que em janeiro de 1500 chegou a foz do rio Mucuripe, no
Ceará) e Alonso de Ojeda (que teria alcançado a foz do rio Açu no Rio Grande do
Norte em julho de 1499):

a) Podemos de fato admitir o “nascimento” do Brasil em 22 de abril de 1500? Justifique.

b) Com base nas informações anunciadas acima, e diante do que foi discutido nessa aula,
questione a oficialização do termo “descobrimento”, para a chegada dos portugueses
ao Brasil.

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c) Ao observarmos que todos os antecessores de Cabral que aqui chegaram estavam a
serviço da Espanha, como podemos justificar que estes não tomaram posse da terra em
nome da Coroa Espanhola?

Apesar do alto investimento português para chegar às Américas, ficou claro imediato
2 desinteresse da Coroa Portuguesa pelas terras que haviam sido oficializadas em
seu nome e em nome de Cristo.Que motivos teve o governo português para agir
dessa forma?

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Embora de territorialidades frágeis as feitorias portuguesas foram importantes
3 elementos de ligação entre Portugal e as novas terras a serem exploradas.

a) Por que Portugal resolveu instalar as feitorias no Brasil?

b) Por que as feitorias não foram capazes de fixar populações e fracassaram?

c) Qual foi a importância dessas feitorias para os portugueses?

14 Aula 03 Formação Territorial do Brasil

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Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. O reconhecimento da costa e a exploração do pau-brasil In:
______, História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1982, p. 25 -28.

______, A questão do território no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995.

______, Formação territorial e econômica do Brasil. Recife: FJN/Editora Massagana, 2003.

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

PEREGALLI, Enrique, Como o Brasil ficou assim?: formação das fronteiras e tratados dos
limites. São Paulo: Global Ed., 1982. (História popular; 9)

SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. Rio de Janeiro:Editora Bertrand


Brasil,1990.

Anotações

Aula 03 Formação Territorial do Brasil 15

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Anotações

16 Aula 03 Formação Territorial do Brasil

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Formação Territorial do Brasil – GEOGRAFIA

EMENTA

Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.

AUTORES

> Antonio Albuquerque da Costa

> Paulo Sérgio Cunha Farias

AULAS

01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia

02 A territorialização ibérica do mundo e a expansão do capitalismo na sua fase embrionária

03 A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização


do colonizador português no Brasil (as feitorias)

04 A territorialização de fato do colonizador português: as capitanias hereditárias e a plantation açucareira

05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”

06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia

07 A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil central

08 A ocupação antiga do Brasil meridional

09 A ocupação moderna e definitiva do sul

10 O “arquipélago” de “ilhas” econômicas do Império e da Primeira República

11 A Primeira República e a consolidação das fronteiras

12 Do arquipélago de “ilhas” econômicas à integração do território

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D I S C I P L I N A Formação Territorial do Brasil

A territorialização de fato do
colonizador português:
as capitanias hereditárias e a plantation açucareira

Autores

Antonio Albuquerque da Costa

Paulo Sérgio Cunha Farias

aula

04
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação
Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED


Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Estadual da Paraíba

Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel

Secretária de Educação a Distância Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPE


Vera Lúcia do Amaral Eliane de Moura Silva

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN

Coordenador de Edição Diagramadores


Ary Sergio Braga Olinisky(UFRN) Ivana Lima (UFRN)
Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)
Projeto Gráfico
José Antonio Bezerra Junior (UFRN)
Ivana Lima (UFRN)
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Vitor Gomes Pimentel (UFRN)
Revisoras Tipográficas
Adriana Rodrigues Gomes (UFRN)
Revisora de Estrutura e Linguagem
Margareth Pereira Dias (UFRN)
Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Nouraide Queiroz (UFRN)

Arte e Ilustração Revisora de Língua Portuguesa


Adauto Harley (UFRN) Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Carolina Costa (UFRN)
Heinkel Hugenin (UFRN)
Leonardo Feitoza (UFRN)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.

Formação Territorial do Brasil/ Antônio Albuquerque da Costa; Paulo Sérgio Cunha


Farias. – Campina Grande: EdUEP, 2009.

385 p.: il.

ISBN: 978-85-7879-050-9

1. Geografia - Brasil. 2. Geografia – Estudo e Ensino. I. Farias, Paulo Sérgio Cunha.


II. Titulo.

21. ed. CDD

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

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Apresentação

N
a aula anterior tivemos a oportunidade de discutir com você as primeiras formas de
territorialização dos lusitanos na América Portuguesa após a chegada nela da expedição de
Cabral em 1500. Na oportunidade, foi mostrado que as primeiras formas de territorialização
portuguesa se caracterizou por sua fragilidade, já que se resumiu ao estabelecimento de algumas
feitorias em pontos estratégicos do litoral. Estas feitorias tinham como função viabilizar a prática
do escambo entre os portugueses e as populações nativas (os índios). Dessa forma, o escambo
se constituiu numa prática de comércio entre índios e portugueses, na qual os primeiros trocaram
sua força de trabalho para extração dos produtos da terra com as bugigangas dos segundos.
Nesse tipo de comércio o produto da terra que mais interessava aos portugueses foi o pau-brasil,
vegetal muito requisitado na Europa por fornecer o corante vermelho para o tingimento de tecidos.
Nesse sentido, as feitorias compuseram uma territorialidade frágil já que refletiam “a presença
colonial frágil, que estava, portanto, longe de configurar uma verdadeira estratégia de ocupação
e domínio de um território”. (COSTA, 1991, p.27-28).
Contudo, após as três primeiras décadas depois de 1500, os portugueses resolveram,
apesar de todas as dificuldades concernentes à disponibilidade de recursos humanos e
financeiros, colonizar de fato os territórios “descobertos”, estabelecendo, desse modo, sua
territorialização de fato na América Portuguesa.
Nesta aula, vamos nos reportar aos fatos que impulsionaram os portugueses a ocupar
e colonizar a América Portuguesa. Deteremos-nos, ainda, sobre as estratégias jurídico-
política e administrativas bem como as estratégias econômicas utilizadas pelos portugueses
para se apropriarem de fato desses territórios e inseri-los, produtivamente, nos circuitos do
mercantilismo europeu.
Destarte, é primordial que você estude atenciosamente o conteúdo desta aula, realize as
atividades e, em caso de dúvida, busque esclarecimento com o tutor ou professor da disciplina.

Objetivos
Com esta aula, esperamos que você:

Conheça os motivos que levaram a Portugal ocupar e


1 colonizar a América Portuguesa de fato.

Conheça as estratégias jurídico-políticas e administrativas


2 utilizadas por Portugal para realizar a gestão do território
da América Portuguesa.

Perceba a plantation como a primeira estratégia


3 econômica de Portugal para efetivar a colonização da
América Portuguesa.

Aula 04 Formação Territorial do Brasil 1

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Retornando ao assunto da nossa aula

O questionamento do
“testamento de Adão”:
os conflitos por territorialidade e a ocupação
portuguesa de fato da sua posse na América

V
amos conversar um pouco sobre os fatores que motivaram a Portugal ocupar e
colonizar de fato a América Portuguesa. Segundo Novais (1981), a ocupação e o
domínio do território, a territorialização de fato do colonizador português, obedeceram,
de início, a preocupações antes de tudo políticas. Com a ocupação de fato dos seus territórios
na América, Portugal visava preservar a sua posse, já então disputada pelos corsários
holandeses, ingleses e franceses.

É fato quase inconteste no campo da historiografia, que as nações excluídas da partilha


do mundo –Tratado de Tordesilhas, que privilegiou as potências mercantilistas ibéricas, não
aceitaram e não reconheceram essa divisão privilegiadora de Portugal e da Espanha. Por ter
sido endossada através de bula papal assinada por Alexandre VI, o Tratado de Tordesilhas, que
legitimava a fragmentação do mundo entre Portugal e Espanha, excluindo as demais potências
colonialistas, ávidas por territórios importantes aos seus processos de acumulação primitiva
de capitais, foi nomeado pelas potências mercantilistas excluídas de “testamento de Adão”.

2 Aula 04 Formação Territorial do Brasil

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Por não reconhecer ou aceitar Portugal e Espanha como únicos privilegiados na corrida
à expansão territorial, países como a Inglaterra, a França e a Holanda se achavam no direito
de explorar, ocupar e colonizar territórios no Novo Mundo.

Como ressalta Andrade (2003, p. 30-31), os franceses, estimulados pelo seu governo,
passaram a navegar na costa brasileira, entrando em contato com os indígenas e desenvolvendo
o comércio na base do escambo, da troca de mercadorias. As disputas entre franceses e
os indígenas que a eles se aliaram contra os portugueses foram intensas. Aliás, a luta dos
franceses para fundar colônias permanentes no Rio de Janeiro e no Maranhão ao longo de
todo o século XVI dá conta da não aceitação das normas regulatórias que dividiam o mundo
descoberto entre Portugal e a Espanha. Conforme atesta Costa (1991, p. 38), a pressão das
outras potências mercantilistas sobre o território “descoberto” ocorriam ao sul (Bacia do Prata),
ao longo da costa e na foz do Amazonas.

Não obstante, como exemplificam os vários territórios colonizados pelos franceses,


ingleses e holandeses em todas as partes do continente americano, a ameaça era concreta e
Portugal teria que ocupar sua colônia de fato se não quisesse perdê-la para outras potências
mercantilistas da época. Assim, foi a estratégia política de ocupar para não perder, em um
contexto de disputas territoriais intensas entre as nações mercantilistas da Europa, que levou
à territorialização portuguesa na porção do continente americano que o Tratado de Tordesilhas
definia como seu.

Contudo, como ocupar de fato? Como viabilizar o domínio e o controle sobre um território
tão vasto? Que atividade econômica rentável poderia ser desenvolvida em um território que,
no inicio, não apresentou a abundância de metais precisos como alguns territórios coloniais
da Espanha? Como empreender uma empresa colonizadora cara e necessitada de braços para
o trabalho quando Portugal apresentava escassez financeira e de recursos humanos?

É sobre essas questões que conversaremos com você a partir de agora. Por isso, muita
atenção, para não perder o foco da nossa discussão. Mas, antes disso, veja o que você
aprendeu até agora.

Atividade 1
Observe a representação cartográfica da divisão do continente americano entre as
potências colonialistas européias e responda:

Colonização européia das Américas em 1750.

Aula 04 Formação Territorial do Brasil 3

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Colonização européia
das Américas em 1750

Território espanhol

Território reivindicado por Espanha

Território português

Território francês

Território francês reivindicado pela


Grã-Bretanha

Território britânico

Território russo

Comparado o mapa acima com o do Tratado de Tordesilhas (ver aula 2), que
1 conclusões você tira sobre os domínios territoriais dos espanhóis e dos portugueses
no continente americano?

4 Aula 04 Formação Territorial do Brasil

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Pode-se afirmar que, na prática, o Tratado de Tordesilhas se transformou em “letra
2 morta”? Justifique.

A partilha colonial ainda interfere até hoje na forma de regionalização do continente


3 americano? Justifique.

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Vamos voltar ao nosso papo?

A fragmentação territorial e a
parceria público/privada como
estratégia para a ocupação e
domínio do território colonial:
as capitanias hereditárias

V
ocê já deve ter percebido que as ameaças de invasão dos territórios portugueses por
corsários de outras potências mercantilistas européias – especialmente os da França,
levaram os portugueses a assentarem bases mais sólidas para a ocupação dos territórios
que lhes couberam no continente americano.

Agora vamos bater um papo sobre as estratégias utilizadas por Portugal para se
territorializar de fato no espaço colonial “descoberto” em 1500.

Como já discutimos, Portugal não dispunha de recursos para conquistar e povoar tão
extensas terras. Nesse sentido, você sabe como esta potência mercantilista procedeu para
viabilizar a conquista e o povoamento do Brasil? Portugal, através da resolução de D. João III,
implantou no Brasil o sistema das capitanias hereditárias, que havia obtido grande sucesso
nas ilhas do Atlântico – Açores, Madeira e Cabo Verde.

Diferentemente das capitanias hereditárias das ilhas do Atlântico, as localizadas no Brasil


tinham grande extensão, foram demarcadas na costa, estendendo-se até a linha imaginária
do Meridiano de Tordesilhas. Assim, Portugal fragmentou o seu território em 15 lotes e 12
capitanias hereditárias – Martim Afonso de Sousa foi aquinhoado com dois lotes e seu irmão,
Pero Lopes de Sousa com Três. (ver figura 01)

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Fonte: ANDRADE, Manuel Correia de. Formação territorial e econômica do Brasil. Recife: FJN/Editora Massagana, 2003.
Figura 01

Como ressalta Manuel Correia de Andrade:

Para dirigir as capitanias, selecionou orei um grupo de pessoas de posição social elevada
[os donatários], embora não de alta nobreza. Assim, os donatários foram quase sempre
pessoas experientes nas guerras da África e da Índia ou funcionários burocratas de alta
categoria do Reino (ANDRADE, 2003, p. 34).

Como você pode perceber, sem recursos para empreender a conquista do Brasil, o
Estado Português foi obrigado a fragmentar seu território colonial e entregar a sua gestão
a iniciativa privada.

Considerando que o território é um espaço definido e delimitado por e a partir de relações


de poder, podemos aferir que a estratégia de fragmentação do território do Brasil representava
a própria fragmentação do poder, haja visto que

Ao investir um capitão-mor na posse da capitania, o rei emitia dois documentos: a Carta


de Doação e o Foral. Na primeira era estabelecida uma série de direitos, que permitiam
aos donatários governarem os lotes de terra que recebiam. Na verdade esses direitos

Aula 04 Formação Territorial do Brasil 7

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eram quase majestáticos [...]. No Foral, o rei especificava os direitos que a Coroa manteria
sobre a Colônia [...] (ANDRADE, 2003, p.36-44).

Os donatários dispunham de poderes quase absolutos para gerir a capitania e para


controlar a população que nela vivia. Contudo, mesmo imbuídos de poderes quase absolutos
sobre o território e as pessoas que nele viviam ou viessem a nele viver, não tiveram os
donatários, nos primeiros vinte anos de colonização, sempre em luta com os indígenas que
resistiam a desterritorialização imposta pelo colonizador, condições para fazer mais do que
instalar algumas vilas no litoral e iniciar o povoamento das áreas vizinhas, levantar casa de
farinha e engenhos de açúcar (ver figura 02)

Fonte: http://www.dec.ufms.br/cau/histeo/trabalhos/teoria3_2008/Arq%20Rural%20
Brasil_Colonial%20.pdf. Acessado em 17 de dezembro de 2008.
Capitão-mor

Também chamado de
capitão-donatário ou
capitão do donatário tinha
a função de zelar pelos
interesses do donatário
em sua capitania e servir
como interlocutor entre a
população e o donatário.
Tinha como remuneração
10% sobre os rendimentos Figura 02 – No primeiro plano encontra-se a Casa Grande e as Senzalas; no segundo plano podemos ver o
da capitania que Engenho; no terceiro plano a Capela.
administrava. Em alguns
casos o cargo era também
hereditário. A carência de recursos e de mão-de-obra, a distância da Metrópole e de uma autoridade que
lhes apoiassem, o desconhecimento do território e a resistência indígena à desterritorialização
(que se via despojados de suas terras e de sua caça) fizeram com que o progresso da capitanias
Donatário fosse lento, muitas vezes, levando-as à própria destruição.
Pessoa a quem o rei
delegava seu poder sobre Ainda como nos diz Manuel Correia de Andrade:
um território. O mesmo
teria que administrar,
[...] Nem sempre esses homens [os donatários] sabiam combinar a energia e a capacidade
procurando colonizar e de organização militar da conquista com a habilidade política no tratamento dos colonos e
aproveitar os recursos dos índios. Daí muitas capitanias não terem tido qualquer início de povoamento, enquanto
mediante o pagamento e a em outras o povoamento iniciado com algum êxito fracassou depois, em face do ataque
obediência as imposições dos índios - Ilhéus, Porto Seguro e Paraíba do Sul – ou em face da falta de autoridade do
reais Esse sistema de
capitão-mor como no Espírito Santo. (ANDRADE, 2003, p. 37)
doação territorial e
hereditariedade remonta
Como podemos perceber, a fragmentação do território colonial em capitanias hereditárias
a Idade Média e já se
encontrava em desuso entregues para gestão à iniciativa privada (capitão-mor ou donatário) se revelam um insucesso
na Europa. para o Estado português. Conforme afirma Manuel Correia de Andrade

8 Aula 04 Formação Territorial do Brasil

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[...] As quinze capitanias tiveram destinos bem diferentes, e um grupo delas não
chegou a ter iniciada a sua ocupação como Maranhão, Ceará e Santana, ou porque os
donatários não tiveram condições ou porque fracassaram; um outro grupo, formado por
Itamaracá, Ilhéus, Porto Seguro, Espírito Santo, Paraíba do Sul e Santo Amaro, teve início
de povoamento com a implantação de vilas e engenhos de açúcar, mas fracassou em
decorrência de divergência entre os colonos, de incompetência e falta de recursos dos
donatários ou à reação indígena; só duas, Pernambuco e São Vicente, prosperaram, com
a expansão das culturas tropicais e coma implantação de vilas e povoados. (ANDRADE,
2003, p. 31-32).

A iniciativa de colonizar o Brasil através do sistema privado de capitanias hereditárias


se mostrou hipertrofiada. Nesse sentido, Portugal substituiu-a pela iniciativa pública, ao
estabelecer o sistema de Governo-Geral. Mas, antes de conversarmos sobre isso, vamos,
primeiramente, avaliar o que você aprendeu com nossa conversa anterior.

Avalie sua aprendizagem.

Atividade 2
Observe o Mapa abaixo

No mapa, destaque (pintando ou hachuriando) as duas capitanias


1 que, relativamente, prosperaram. Explique porque essas capitanias
tiveram um progresso maior que as demais.

Em qual ou quais capitanias o território do seu Estado estava inserido?


2 Pesquise e comente sobre a formação territorial do seu Estado e do
seu município.

Aula 04 Formação Territorial do Brasil 9

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1.

sua resposta

2.

10 Aula 04 Formação Territorial do Brasil

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Retomando nossa conversa

Triste do poder que não pode:


o domínio, o controle e a gestão
do território colonial através do
sistema de governo-geral

A
tenção pessoal! Responderam com êxito a atividade 2, descobriram com ela eventos
interessantes da história territorial do seu Estado e do seu município? Ótimo! Então
voltemos a nossa conversa sobre as estratégias de domínio, controle e gestão do
território colonial usada pela Coroa Portuguesa. Manuel Correia de Andrade, um geógrafo
perspicaz da formação territorial do Brasil, afirma que:

Em dezembro de 1548, era criado o Governo-Geral para o Brasil, devendo ser construídas
na capitania da Bahia, que retornara à Coroa, uma fortaleza e uma povoação para servirem
de sede ao mesmo. A iniciativa pública iria, aos poucos, substituir a iniciativa privada,
hipertrofiada pelo sistema de capitanias. Essas continuaram a existir, mas haveria no
Brasil um governador geral com poder superior ao dos donatários, e outras autoridades
que fiscalizariam a justiça, a fazenda e a defesa. O governador deveria, em princípio,
permanecer apenas três anos no cargo, mas o terceiro governador geral dirigiu o país
durante 15 anos, de 1557 a 1572, por conveniência da Coroa. (ANDRADE, 2003, p. 41).

Mas você sabe quais eram os atributos – os direitos e os deveres dos governadores
gerais instituídos para administrar a colônia portuguesa? É necessário antes de responder
esta pergunta para você, deixar claro que os direitos e deveres dos governadores foram
estabelecidos no Regimento, chamando de Tomé de Sousa – nome do primeiro gorvernador-
geral, que vigorou de 1548 a 1677, como se fosse uma verdadeira constituição. Mas então,
Ordenações
o que dizia, em termos de direitos e de deveres dos governadores gerais esse Regimento?
Segundo o Regimento, “[...] caberia ao governado fiscalizar e auxiliar as capitanias, promover Codificação das leis em
vigor, que se fazia, na
o povoamento, fundar cidades e vilas, supervisionar as relações entre colonos e índios, evitar
monarquia portuguesa,
e impedir abusos de autoridades e defender a costa” (ANDRADE, op cit., p. 41). em quatro ocasiões:
nos reinados de
O governador geral empreendia sozinho a missão de domínio, controle e gestão do Afonso V (ordenações
território colonial? Nossa resposta para você é não. Ele era auxiliado por três autoridades Afonsinas), de D Manuel I
(Ordenações Manuelinas),
especializadas: o ouvidor-geral, a quem cabia a aplicação da justiça, visando o respeito aos
de D. Sebastião (Código
direitos dos colonos estabelecidos pelas ordenações;o provedor-mor da Fazenda, encarregado Sebastiônico) e de Filipe II
da fiscalização da cobrança de impostos e da arrecadação dos direitos da Coroa, e o capitão-mor, (Ordenações Filipinas).

Aula 04 Formação Territorial do Brasil 11

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a quem cabia a coordenação de defesa da Colônia em face do pequeno número de povoações
e vilas existentes no extenso litoral e da constante ameaça de invasão por parte dos ingleses,
franceses e holandeses (ANDRADE, 2003, p. 41).

A historiografia clássica brasileira destaca o papel especial de três governadores gerais:


Tomé de Sousa, que se instalou na Bahia de Todos os Santos e construiu a cidade de Salvador,
combateu a resistência indígena a desterritorialização imposta pelo colonizador, distribuiu terras
aos colonos e apoiou os jesuítas que vieram em sua companhia, no trabalho de catequese e
O Bispado do Brasil
de desregramento de costumes dos colonos; D. Duarte da Costa, que se mostrou menos hábil
Foi criado em 1550, na e enérgico que o primeiro, realizando um governo muito tumultuado, com guerras contra os
administração de Tomé de
índios e com lutas políticas contra o bispado; e Mem de Sá; que, na sua longa administração,
Sousa, e teve nomeado
como primeiro bispo D. contando com o apoio da Companhia de Jesus, conseguiu na sua autoridade governamental,
Pero Fernandes Sardinha. conter a revolta dos índios, expandir o povoamento de origem européia na colônia e possibilitar
o crescimento econômico da colônia, transformada na principal fornecedora de açúcar ao
mercado europeu.
A Companhia de
Jesus Mas será que esses governadores gerais dispunham de tantos poderes assim? Em tese o
É uma ordem religiosa
governador geral tinha poderes quase ilimitados e supremacia hierárquica sobre os donatários.
fundada em 1534 Contudo, como observam alguns historiadores, na prática, sua autoridade nunca ultrapassou os
por estudantes da limites da Bahia e das capitanias mais próximas. A grande extensão do território e os precários
Universidade de Paris.
Essa Ordem teve como
meios de circulação, bem como o interesse da Coroa em estabelecer relações diretas com as
líder Ignácio Lopes de capitanias, garantiam a autonomia dos donatários.
Loiola (de origem basca).
Seus membros são Pois é pessoal, triste do poder que não pode. Assim, destituídos na prática do poder para
conhecidos como jesuítas, dominar, controlar e gerir o território, os governadores gerais tinham que aceitar o poder dos
os quais, se tornaram
conhecidos pelo trabalho
donatários das capitanias. Esses continuaram dispondo da prerrogativa para implantar povoados e
missionário e educacional levá-los à condição de vila. Nas vilas, organizava-se um poder municipal, que servia como suporte
que desenvolveram nas para a defesa do território, a cobrança de tributos e a ocupação produtiva da terra.
colônias espanholas e
portuguesas da América.
Nos séculos XVI e XVII, o poder local era decisivo e perceptível no conjunto de leis
da época. Este conferia às Câmaras Municipais estabelecer preços dos produtos, criar
impostos, aceitar ou recusar funcionários nomeados pela Coroa e legislar sobre o comércio
Câmaras Municipais
regional. O grau de autonomia das Câmaras Municipais, por vezes, era tão grande, que
Eram formadas por algumas delas chegaram a dispor de representantes em Portugal, fincando relações diretas
vereadores eleitos pelos
com a metrópole, desconsiderando as instâncias de poderes maiores da Colônia: os
“homens bons”, ou seja,
os proprietários das donatários e o Governo-Geral.
Sesmarias.
Mesmo instituindo o sistema de domínio, controle e gestão do território através da criação
do Governo-Geral, a Coroa portuguesa sempre olhou com desconfiança e temor a formação
União Ibérica de um centro de poder unificado nas suas colônias na América.

Trata-se da união da coroa Contudo, o sistema de Governo-Geral durou, nesses moldes, até aproximadamente o
espanhola e portuguesa,
período da União Ibérica. Mas, este capítulo da formação territorial do Brasil vai ser contado
que durou de 1580
até 1640, nesse ano a pra você em outra das nossas conversas ao longo da nossa disciplina.
monarquia portuguesa
restaurou a sua soberania. Agora é importante que você teste a sua aprendizagem respondendo a atividade 3.

12 Aula 04 Formação Territorial do Brasil

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Atividade 3
Vamos refletir um pouco sobre o que discutimos nesse capítulo?

Importante – Leia outras fontes, especialmente as sugestões de leituras complementares


que apresentamos no final da aula, pare, pense e responda.

Como, apesar da fragmentação do poder político, a Coroa portuguesa manteve a integridade


dos seus territórios coloniais no Novo Mundo?

sua resposta

Aula 04 Formação Territorial do Brasil 13

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Vamos retomar nossa conversa?

O Poder amargo
do açúcar
O Poder amargo do açúcar:
O título desse item da
nossa aula foi tomado
a plantation açucareira
de empréstimo a partir
do título da coletânea “O Teve dificuldade para responder a atividade 3? Lembre-se que as leituras complementares
Poder amargo do açúcar: indicadas e o tutor ou professor podem sempre lhe auxiliar na superação das barreiras que
produtores escravizados,
impedem a concretização da sua aprendizagem.
consumidores
proletarizados” do Até aqui conversamos com você sobre as estratégias políticas para a ocupação e para
antropólogo norte-
o domínio pelos lusitanos dos territórios que por direito de “descoberta” lhes pertencia na
americano Sidney W. Mintz
(2003), por considerarmos América. Mas, é importante lembrar para você, era preciso também afirmar a ocupação e o
que traduz bem toda a domínio desses territórios, através dos seus usos para a prática de atividades econômicas.
situação sócio-econômica
e ambiental provocada Na ausência, de inicio, de metais preciosos, esses só vieram a ser descobertos no
pela cultura açucareira ao século XVII, nas Minas Gerais, a grande opção para ocupar produtivamente à terra foi a
nosso espaço.
cana-de-açúcar – matéria-prima para a produção de açúcar, produto esse muito requisitado
pelo mercado europeu.

Plantation Para Andrade (2003, p. 46), podemos afirmar que a colonização do espaço brasileiro foi
iniciado com a implantação e o desenvolvimento da cultura da cana-de-açúcar. O interesse
É o sistema agrícola
português por esse produto é compreensível porque o mesmo originado da Índia e que tivera
introduzida pelos europeus
nas suas colônias tropicais sua cultura disseminada pelas ilhas do Mediterrâneo e pelo sul da Península Ibérica, fora
a partir do século XVI, transferido pelos portugueses para as ilhas do Atlântico – Madeira, Açores e Cabo Verde - onde
baseado nas monoculturas
apresentou ótima produtividade. (Ver figura 03)
de gêneros agrícolas
tropicais em latifúndios
pra atender ao mercado
externo com o emprego
de grandes investimentos

Fonte:ADAS, Melhem. Paronama geográfico do Brasil. São Paulo: Moderna, 1985


de capitais e a utilização
grandes latifúndios e o
emprego de numerosa
mão-de-obra escrava.

Figura 03

14 Aula 04 Formação Territorial do Brasil

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A costa oriental brasileira apresentava condições edafoclimatológicas bastante
susceptíveis à cultura da cana-de-açúcar – trechos de solos aluviais férteis (massapé) e clima
tropical, com temperaturas elevadas durante todo o ano e chuvas abundantes. Em um período
de ausência de técnicas agrícolas modernas capazes de corrigir e monitorar à natureza, os
fatores edafoclimáticos da costa brasileira, especialmente da nordestina, criaram condições
sine qua non para o sucesso e o desenvolvimento da cana-de-açúcar no espaço colonial
português no continente americano. Não obstante, esses fatores não eram suficientes para fixar
territorialmente a produção da cana-de-açúcar na costa oriental da colônia, era preciso que o
empreendimento estivesse o mais próximo possível da costa e dos melhores portos, haja visto
que o produto final (o açúcar) se destinava à exportação; seria necessária a mobilização de
braços e de capitais com os quais se implantariam as infra-estruturas essenciais à rentabilidade
do empreendimento.

Você sabe como os portugueses resolveram isso? Não sabe!? Pois fique sabendo que
para resolver a questão da mão-de-obra, os portugueses raciocinavam da seguinte maneira:
os serviços não especializados seriam executados pelos indígenas, que os portugueses
acreditavam ser abundantes, e, na falta desses, poderiam utilizar escravos negros, preados
na costa da África, que fornecia braços necessários à mesma cultura nas ilhas do Atlântico.
Portugueses, aventureiros, degredados, ou pessoas com desejo de enriquecer, seriam
estimulados a se transferir para o Novo Mundo, fornecendo ao novo empreendimento
quadro dirigentes, em graus hierárquicos, diferentes de suas posses e de sua classe social.
(ANDRADE, 2003, p. 41).

Contudo, é bom lembrar para você que, apesar do uso intenso e contínuo da mão-de-obra
escrava do indígena, foi a mão-de-obra escrava do negro africano a preferida e a mais utilizada
nos campos de cultivo da cana-de-açúcar e nos engenhos onde era processada e transformada
no açúcar destinado ao mercado europeu. Existe uma corrente de historiadores que defendem
que a preferência pelo escravo africano devia-se ao fato deste se constituir numa mercadoria
rentável para os comerciantes metropolitanos, ao contrário dos recursos gerados pela venda
do indígena escravizado que circulava no interior do espaço colonial.

Destarte, com a criação das capitanias hereditárias quase todos os donatários


introduziram mudas de cana-de-açúcar e montaram engenhos à tração animal (ver figura
04) em suas capitanias. Porém, a agricultura canavieira só se desenvolveu aceleradamente,
no século XVI, apenas nas capitanias de Pernambuco, então chamada de Nova Lusitânia,
e na Bahia; os poucos engenhos instalados em Ilhéus, Porto Seguro, Espírito Santo, Rio
de janeiro e São Vicente destinaram-se mais ao abastecimento local do que a exportação.
(ANDRADE, 2003, p. 46 - 47).

Aula 04 Formação Territorial do Brasil 15

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Fonte: http://www.dec.ufms.br/cau/histeo/trabalhos/teoria3_2008/
Arq%20Rural%20Brasil_Colonial%20.pdf. Acessado em 17 de
dezembro de 2008.
Figura 04 – Engenho a Tração Animal

Quais foram os motivos que resultaram nessa diferenciação de desenvolvimento da


agroindústria açucareira entre as capitanias?

Vejamos o que nos fala sobre isso Manuel Correia de Andrade:

Tal fato resultou, sem dúvida, de ficarem as duas capitanias nordestinas [Pernambuco
e Bahia] mais próximas da Europa, do mercado consumidor, o que diminuía o frete e o
tempo de transporte, e de terem possuído, logo nos primeiros anos, governos estáveis –
Pernambuco, com o donatário Duarte Coelho Pereira e a Bahia, após a criação do Governo-
Flamengos Geral, com os governantes Tomé de Sousa e Mem de Sá. (ANDRADE, 2003, p. 47).

Denominação utilizada Todavia, existia outras questões fundamentais que precisavam ser resolvidas: a obtenção
para designar o habitante
de Flandres, região
de créditos a longo prazo para financiar a montagem das infra-estruturas da produção. Sabe-se
localizada no norte da que a cana-de-açúcar tem um ciclo vegetativo longo, de 18 meses, e o seu beneficiamento era
Bélgica. feito em engenhos cuja montagem requeria muito dinheiro. A pequena quantidade de índios
na costa –estes haviam sido, em grande parte, dizimados nas lutas de conquista ou pelas
doenças européias, antes inexistentes, trazidas pelo colonizador, e em grande parte fugidos
Holandeses para o interior, obrigou os colonizadores a recorrer ao braço do escravo negro africano, que
Termo que popularmente era muito caro no mercado internacional. Além disso, o transporte do açúcar para a Europa e a
é utilizado para designar
sua colocação no mercado consumidor demandavam o investimento de grandes capitais. Então
todos os habitantes dos
Países Baixos. O topônimo como resolver isso já que Portugal estava com suas finanças arrasadas pelas companhias de
“Holanda” também é conquista no Atlântico, na costa africana e, principalmente, no Oriente?
comumente empregado
em detrimento de “Paises Segundo Andrade (2003, p. 47), para obter créditos e financiamentos a longo prazo,
Baixos” que é um Estado-
apelaram os proprietários,apoiados pelos governantes, para os judeus portugueses,
Nação formado por 12
províncias das quais enriquecidos com o comércio marítimo, e para os flamengos ou holandeses que dispunham de
apenas duas são Holanda uma poderosa marinha mercante e utilizavam os portos de Antuérpia ou Amsterdã como portos
de fato (Holanda do Norte
de entrada para os produtos coloniais que eram comercializados no centro da Europa. Dessa
que tem como capital
Haarlem, e Holanda do Sul forma, no período que antecedeu a guerra entre a Holanda e a Espanha a marinha mercante
cuja capital é Haia). holandesa vinha aos portos da colônia portuguesa na América, recebia o carregamento de

16 Aula 04 Formação Territorial do Brasil

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açúcar e, atendidas as exigências portuguesas em Lisboa, levavam o produto aos portos do
Mar do Norte, de onde era distribuído ao mercado de consumo europeu.

Dada ao crescente aumento da demanda européia pelo açúcar e da população da colônia,


a cana-de-açúcar, cujo início do plantio ocorreu em Pernambuco, expandiu-se pelo sul e para
o norte, pelos vales dos rios que deságuam no Atlântico. Destarte, no fim do século XVI, os
campos de cultivo dessa gramínea e os engenhos estavam disseminados desde o Rio Grande
do Norte até Alagoas. É relevante destacar que, na Bahia, os canaviais e os engenhos ocuparam
os solos calcários de massapé, da Região do Recôncavo, enquanto a cultura do fumo se fixou
e se expandiu nos solos silicosos à retaguarda. A cultura do fumo cresceu bastante com a
demanda crescente pela mão-de-obra escrava africana nos engenhos, uma vez que o fumo
era usado na costa africana como meio de troca por negros.

No período da União Ibérica (1580-1640), quando os espanhóis se tornaram senhores


de Portugal e, em virtude dos conflitos entre a Espanha e a Holanda, os espanhóis tentaram
impedir o comércio da colônia portuguesa na América com os holandeses. Nesse sentido, os
holandeses resolveram invadir a colônia portuguesa para se apossarem das áreas produtoras
de açúcar. Os holandeses primeiro invadiram a Bahia em 1624, sucederam-se a de Pernambuco
e o estabelecimento do comércio holandês por grande parte do litoral nordestino (1630-54),
do Maranhão a Alagoas. Depois da expulsão holandesa, após a restauração da monarquia
portuguesa, os flamengos implantaram uma indústria açucareira nas Antilhas. Esta passou a
competir, em grande escala, com a agroindústria da colônia portuguesa.

Fazendo aqui uma digressão, mesmo ocupando de fato pelo menos parte da sua colônia
americana, os portugueses ainda enfrentaram outras invasões como as dos franceses. Estes
invadiram e fundaram no Rio de Janeiro a França Antártica, em 1556. Rechaçados do Rio de
Janeiro, em 1567, invadiram e fundaram, no Maranhão, em 1612, a França Equinocial. Do
Maranhão, os franceses foram expulsos em 1615.

Essas invasões se constituíram em eventos intermitentes e constantes, que


consubstanciavam às disputas territoriais e pelas riquezas presentes neles pelas potências
européias no novo mundo.

É fato que, a entrada da produção açucareira realizada pelos holandeses nas Antilhas
e, mais tarde, o açúcar produzido com beterraba na Europa trouxeram serias dificuldades a
platation açucareira da colônia portuguesa. Vamos prestar atenção ao que Manuel Correia de
Andrade fala sobre isso:

Os séculos XVIII e XIX não foram muito favoráveis a agroindústria açucareira, de vez que
a cultura tradicional não teve condições de competitividade com outras áreas abertas à
produção em outros países e , com a descoberta das minas de ouro no Brasil, as atenções
e esforços dirigiram-se para a mineração, bem mais rentável. (ANDRADE, 2003, p. 48).

A plantation açucareira implantada no Brasil, especialmente nas várzeas úmidas dos


rios que deságuam no litoral oriental nordestino, gerou um modelo de sociedade própria,
baseada na exploração de grandes propriedades, usando mão-de-obra escrava e destinada

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a produção de açúcar de cana, como principal atividade econômica, e para a produção de
gêneros alimentícios como atividade secundária (mandioca, batata-doce, milho, feijão etc.).

Por fim, se o açúcar foi doce para os proprietários dos imensos latifúndios formados pela
expansão da cana-de-açúcar, para os comerciantes do açúcar no mercado europeu e para a
metrópole Portuguesa, que auferiu altas margens de lucros através da extração de impostos
sobre a produção; foi amargo para o escravo que, além de ser classificado como mercadoria,
foi exposto à rotina exaustiva de trabalho na agroindústria açucareira, aos homens sem posses
vindos de Portugal, que não tiveram acesso à terra, a todos os indivíduos que não dispunham
de status social elevado para adquirir as terras distribuídas através do sistema de sesmarias
ou para montar seus próprios engenhos. O poder amargo do açúcar, parafraseando Mintz
(2003), ainda se faz sentir até hoje nas áreas onde a agroindústria açucareira se estabeleceu –
apesar ou por conta das modernizações constantes que a mesma passou até esse momento
presente, especialmente na Zona da Mata nordestina: degradação ambiental causada pela
erradicação do ecossistema da Mata Atlântica para a implantação da monocultura da cana;
estrutura fundiária concentrada, onde predomina imensos latifúndios; pobreza generalizada;
favelização; concentração de renda; relações sociais de produção precárias (o bóia-fria),
dentre outros. Esse sabor amargo deixado pelo açúcar e, ainda profundamente presente nessa
sub-região nordestina, deve-se, em grande medida, ao fato da sua organização socioespacial
ter se pautado no modelo de colonização de exploração, que gerou capitais que acabaram se
concentrando na Europa.

Vamos refletir mais um pouco sobre o que conversamos

Atividade 4
“O espaço é a sociedade, e a revela por inteiro. É esplendido recurso de ‘leitura’
1 da sociedade” (MOREIA, Rui. O que é Geografia. 14 ed. São Paulo: Brasiliense,
2005, p. 89).

Nesse sentido, através da gravura abaixo, que representa o espaço da plantation


açucareira do Brasil colonial, explique a sua organização social.

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Aula 04
Fonte: FREYRE, Gilberto, Casa-grande & Senzala. São Paulo: José Olympio Editora S.A, 1993. (encarte).

Formação Territorial do Brasil


19

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O território é uma porção do espaço geográfico onde um grupo exerce o domínio e o
2 controle bem como a apropriação simbólica (ver aula 1). Considere essa afirmação
e explique: “a ocupação de fato dos portugueses da sua colônia americana se
constituiu em um evento territorializador, desterritorializador e reterritorializador”.

No mapa abaixo estão representados os portos de partida dos escravos na África


3 e de chegada deles na colônia de Portugal no Novo Mundo.

20 Aula 04 Formação Territorial do Brasil

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ÁREAS DE ORIGEM
DO ELEMENTO NEGRO DO BRASIL
E PORTOS DE DESEMBARQUES

Ocidental
África
ÁFRICA
Área da
Costa Guiné

São Luís
Equador Área do
Recife Congo
Área
BRASIL Oriental
Salvador
Angola
Rio de Janeiro

OCEANO ATLÂNTICO

Bantos

Sudaneses

a) O apreamento, e o embarque dos escravos na África podem ser considerandos como sua
desterritrializaão? Por que?

b) Pode-se afirmar que ao chegar na colônia portuguesa na América, ser vendido e introduzido
no trabalho compulsório na platation açucareira, o africano se reterritorializava? Explique.

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c) Quais foram as alternativas criadas pelos escravos africanos para reconstruir seus
territórios na América portuguesa? Explique.

22 Aula 04 Formação Territorial do Brasil

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Como sempre fazemos ao encerrar nossas aulas, indicamos algumas leituras para ampliar
seu universo de conhecimentos sobre o assunto estudado. Nessa aula também sugerimos
filmes que ajudarão você a aprender se divertindo. Claro que outras leituras e outros filmes além
dos sugeridos também podem contribuir com o seu aprofundamento intelectual. Na próxima
aula continuaremos falando sobre esse processo curioso que foi a formação do território
brasileiro, quando abordaremos a penetração do português para o interior e a conseqüente
ampliação da hinderlândia colonial portuguesa.

Leituras complementares
ANDRADE, Manuel Correia de. Formação territorial e econômica do Brasil. Recife: FJN/
Editora Massagana, 2003.

O livro trata dos diversos momentos de construção do território nacional, partindo dos
antecendentes da colonização – o espaço indiferenciado dos indígenas até o atual momento
da globalização. Para esta aula, merece destaque, no livro, o capítulo o capítulo 4, que trata
das capitanias hereditárias e do governo-geral , e o capítulo 5, que versa sobre a plantation
açucareira.

ANDRADE, Manuel Correia de, A questão do território no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995.

Este livro é uma coletânea de textos escritos em diferentes tempos, mas que têm como
coerência interna a discussão sobre a formação econômica, social e territorial do Brasil. Para
esta aula, interessa o capítulo 1, que versa sobre o conceito de território nas ciências humanas
e, em particular, na geografia. Neste capítulo podemos observar a formação territorial do
Brasil em diferentes momentos. De igual importância para esta aula é o capítulo 2, que trata
da ocupação territorial portuguesa e da evolução das cidades e vilas no Brasil colonial nos
séculos XVI e XVII.

COSTA, Wanderley Messias da. O Estado e as políticas territoriais no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1991 (Coleção repensando a Geografia).

Este livro de Geografia Política trata das políticas de gestão e controle territoriais do
Estado, primeiro português e depois brasileiro, do período colonial até aproximadamente os
anos de 1980. Interessa mais para complementar o assunto da aula, o capítulo 2, que trata da
geopolítica portuguesa na sua colônia Americana.

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Que tal fazer uma viagem através do tempo?

1. O Filme a Missão, vale a pena ser visto. Embora seu recorte temporal seja o século XVIII,
mostra a relação de desterritorialização e re-territorialização dos povos que habitavam
a região de fronteiras do sul do Brasil, que na época ainda não estavam definidas entre
portugueses e Espanhóis. Chamamos a atenção para o processo de genocídio e etnocídio
praticado contra dos povos indígenas pela civilização européia.

Ficha Técnica
Gênero Drama
Atores Robert De Niro, Jeremy Irons, Liam Neeson, Ray McAnally,
Cherie Lunghi, Aidan Quinn,
Direção Roland Joffé,
Idioma Português, Inglês,
Legendas Português, Inglês, Espanhol,
Ano de produção 1986
País de produção Estados Unidos,
Duração 124 min.
Distribuição Editora NBO
Região Multizonal
Áudio Dolby Digital 5.1 (Inglês), Dolby Digital 2.0 (Inglês e
Português)
Vídeo Widescreen 16x9
Cor Colorido

Composto de astros do porte de Robert De Niro, Jeremy Iron e Liam


Neeson, A Missão retrata a guerra estabelecida por portugueses e
espanhóis contra jesuítas idealistas que catequisavam os índios nos
Sete Povos das Missões, na América do Sul no século XVIII. De Niro
faz um violento mercador de escravos indígenas, que arrependido
pelo assassinato de seu irmão, realiza uma auto-penitência e
acaba se convertendo em missionário jesuíta. Ele ajuda o líder dos
catequisadores, Gabriel (Jeremy Irons) a criar um novo mundo em
Sete Povos das Missões, mas os portugueses e espanhóis têm
outros planos para aquele lugar. Quando Gabriel se recusa a deixar
o que construiu, o exército é mandado para tirá-los de lá a força.
Um filme empolgante, vencedor da Palma de Ouro em Cannes e que
se notabiliza também pela trilha sonora épica de Ennio Morricone.

http://www.2001video.com.br/detalhes_produto_extra_dvd.
asp?produto=11738http://www.site.com/filme_titulo.htm

2. O Filme Amistad baseia-se na história real de um navio mercante espanhol de nome La


Amistad que era utilizado no tráfico negreiros numa época em que um acordo firmado
entre a Inglaterra e a Espanha já proibia a captura de novos escravos. Vale a pena assistir.

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Ficha Técnica
Título Original: Amistad
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 154 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1997
Estúdio: DreamWorks SKG / HBO
Distribuição: DreamWorks Distribution L.L.C. / UIP
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: David H. Franzoni
Produção: Debbie Allen, Steven Spielberg e Colin Wilson
Música: John Williams
Direção de Fotografia: Janusz Kaminski
Desenho de Produção: Rick Carter
Direção de Arte: Christopher Burian-Mohr, Tony Fanning e William
James Teegarden
Figurino: Ruth E. Carter
Edição: Michael Kahn
Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic
No século XIX, um navio espanhol é capturado na costa americana,
contendo 53 escravos negros amotinados a bordo. Ao chegar em
território americano, eles são levados a um grande julgamento que
cria polêmica entre os abolicionistas e os conservadores do país.
Dirigido por Steven Spielberg (Tubarão) e com Morgan Freeman,
Anthony Hopkins, Matthew McConaughey e Nigel Hawthorne no
elenco. Recebeu 4 indicações ao Oscar.

http://www.adorocinema.com/filmes/amistad/amistad.asp

Resumo
Nesta aula, você aprendeu que as disputas territoriais entre as potências
mercantilistas foram movidas pela não aceitação, principalmente, da Inglaterra
e da França da divisão do mundo entre espanhóis e portugueses. Estas nações
passaram, constantemente, a ameaçar ocupar os territórios da América
Portuguesa, o que obrigou Portugal exercer, de fato, o seu domino sobre o seu
território americano “descoberto” em 1500 por Cabral. Você pôde perceber,
também, que Portugal, sem recursos financeiros e humanos, resolveu dividir
o seu território na América em capitanias hereditárias, entregando a gestão
delas à iniciativa privada – os donatários. Dessas capitanias, apenas as de São
Vicente e Pernambuco prosperaram relativamente. Nessa aula, você aprendeu
ainda que o insucesso das capitanias levou Portugal a estabelecer o sistema de
Governo-Geral para a gestão do território da colônia. Por fim, você aprendeu que
o empreendimento econômico que viabilizou o projeto de ocupação do território
colonial pelos portugueses foi a plantation açucareira. Você aprendeu, ainda, que
a ocupação não evitou as invasões da colônia por outras potências mercantilistas
da época: as invasões holandesas e francesas.

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Auto-avaliação
Observe o mapa apresentado abaixo, ele é uma representação compilada da nossa
conversa sobre a ocupação portuguesa no Brasil colônia durante todo o século XVI. Use-o
como suporte para fazer a auto-avaliação da sua aprendizagem nessa aula.

A MARCHA DO POVOAMENTO
E A URBANIZAÇÃO – SÉCULO XVI

Natal – 1599
FILIPÉIA – 1585
Iguaraçu – 1536
Olinda – 1537

São Cristóvão – 1590


SALVADOR – 1549
Ilhéus – 1536
Santa Cruz – 1536
Porto Seguro – 1535
Cidades e Vilas

São Paulo – 1558 Vitória – 1551


Áreas provavelmente sob a Espírito Santo – 1551
influência das Cidades e Vilas RIO DE JANEIRO – 1565
Santos – 1543
Áreas conhecidas e povoadas
São Vicente – 1532
de maneira mais ou menos
Itanhaém – 1561
estável, mas sem nenhuma
Cananéia – 1600
Vila ou Cidade

Seg. Pasquale Petrone, "Povoamento e Colonização",


em Brasil – A Terra e o Homem.

Observou atentamente o mapa? Então responda

Durante todo o século XVI a ocupação portuguesa no Brasil colônia teve um caráter
1 periférico e atlântico. Explique esta afirmativa.

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Pode-se atribuir o caráter periférico e litorâneo da ocupação portuguesa do Brasil
2 Colônia a existência de obstáculos entre o litoral e o interior, a tropicalidade climática
e a belicosidade de algumas nações indígenas? Justifique sua resposta.

Por que a colonização portuguesa se fixou no litoral? Há correlação entre o


3 assentamento territorial da colonização no litoral e o sentido de projeto colonial
português para sua colônia americana?

Durante o século XVI seu Estado e sua cidade já integravam a porção territorial da
4 colônia já ocupada por Portugal? Comente.

Aula 04 Formação Territorial do Brasil 27

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Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. O reconhecimento da costa e a exploração do pau-brasil In:
______, História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1982, p. 25 -28.

______, A questão do território no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995.

______, Formação territorial e econômica do Brasil. Recife: FJN/Editora Massagana, 2003.

COSTA, Wanderley Messias da. O Estado e as políticas territoriais no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1991 (Coleção repensando a Geografia).

FREYRE, Gilberto, Casa-grande & Senzala. São Paulo: José Olympio Editora S.A, 1993.

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.

MINTZ, Sidney W. O poder amargo do açúcar: produtores escravizados, conuidores


proletarizados (tradução e organização de Christine Rutino Dabat). Recife: editora do
UFPE,2003.

MOREIRA, Rui, O que é Geografia, 14 ed., São Paulo: Brasiliense, 2005.

NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial. São Paulo:
HUcitec, 1981.

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. Rio de Janeiro:Editora Bertrand


Brasil,1990.

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Formação Territorial do Brasil – GEOGRAFIA

EMENTA

Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.

AUTORES

> Antonio Albuquerque da Costa

> Paulo Sérgio Cunha Farias

AULAS

01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia

02 A territorialização ibérica do mundo e a expansão do capitalismo na sua fase embrionária

03 A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização


do colonizador português no Brasil (as feitorias)

04 A territorialização de fato do colonizador português: as capitanias hereditárias e a plantation açucareira

05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”

06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia

07 A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil central

08 A ocupação antiga do Brasil meridional

09 A ocupação moderna e definitiva do sul

10 O “arquipélago” de “ilhas” econômicas do Império e da Primeira República

11 A Primeira República e a consolidação das fronteiras

12 Do arquipélago de “ilhas” econômicas à integração do território

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D I S C I P L I N A Formação Territorial do Brasil

A penetração da colonização para o


interior: entradas e bandeiras alargam o
território colonial e tranformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
Autores

Antonio Albuquerque da Costa

Paulo Sérgio Cunha Farias

aula

05
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação
Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED


Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Estadual da Paraíba

Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel

Secretária de Educação a Distância Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPE


Vera Lúcia do Amaral Eliane de Moura Silva

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN

Coordenador de Edição Diagramadores


Ary Sergio Braga Olinisky(UFRN) Ivana Lima (UFRN)
Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)
Projeto Gráfico
José Antonio Bezerra Junior (UFRN)
Ivana Lima (UFRN)
Mariana Araújo de Brito (UFRN)
Vitor Gomes Pimentel (UFRN)
Revisoras Tipográficas
Adriana Rodrigues Gomes (UFRN)
Revisora de Estrutura e Linguagem
Margareth Pereira Dias (UFRN)
Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Nouraide Queiroz (UFRN)

Arte e Ilustração Revisora de Língua Portuguesa


Adauto Harley (UFRN) Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Carolina Costa (UFRN)
Heinkel Hugenin (UFRN)
Leonardo Feitoza (UFRN)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.

Formação Territorial do Brasil/ Antônio Albuquerque da Costa; Paulo Sérgio Cunha


Farias. – Campina Grande: EdUEP, 2009.

385 p.: il.

ISBN: 978-85-7879-050-9

1. Geografia - Brasil. 2. Geografia – Estudo e Ensino. I. Farias, Paulo Sérgio Cunha.


II. Titulo.

21. ed. CDD

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

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Apresentação
Atenção pessoal! Vamos iniciar o nosso papo?

Como você pôde perceber na nossa aula anterior, durante praticamente todo o século
XVI a ocupação portuguesa do Brasil colônia teve um caráter periférico e litorâneo. A razão
disso estava no próprio sentido da colonização - voltada para o enriquecimento da metrópole
e baseada na política mercantilista da época.

Assim, o litoral apresentava certas vantagens, estava mais próximo da Europa, era,
portanto, o acesso mais fácil à metrópole e ao comércio europeu. O fator geográfico da
proximidade era de extrema importância em um período no qual a navegação era o único meio
usado para deslocar, a longa distância, pessoas e mercadorias entre os espaços na escala do
mundo. A proximidade relativa entre o litoral da colônia com a metrópole portuguesa e com a
Europa em geral, evitava grandes dispêndios financeiros com os transportes das mercadorias.
É importante também lembrar para você que, além da localização, o litoral apresentava outras
vantagens geográficas, nele se encontravam as condições edafoclimáticas (solos aluviais férteis
e clima quente e úmido) essenciais para a opção econômica que Portugal escolheu para ocupar
produtivamente o seu espaço colonial no Novo Mundo – a cana-de-açúcar.

Contudo, esse caráter litorâneo e periférico da territorialidade portuguesa no Brasil colonial


não deve ser considerado em absoluto. Mesmo no século XVI e, fundamentalmente, nos
séculos subseqüentes, a ocupação colonial portuguesa, embora de forma rarefeita e dispersa,
estendeu-se para o interior, movida pelos deslocamentos das entradas, das bandeiras e das
missões. Esses deslocamentos para o interior do espaço colonial tinham como objetivos:
aprisionar os indígenas para vendê-los como escravos, procurar os metais preciosos e as
drogas do sertão, estabelecer currais, para a prática da pecuária, e roçados, para a agricultura
acessória, fundar aldeias para evangelizar os índios etc.

Nessa epopéia, entradistas, bandeirantes e missionários transpuseram os limites


territoriais portugueses na América e foram muito além dos marcos definidos para eles pelo
Tratado de Tordesilhas. Essa expansão para além desse tratado obrigou a Portugal e a Espanha
renegociarem os limites das suas possessões coloniais na América do Sul. Isso foi concretizado
através da assinatura de novos tratados, a exemplo do Tratado de Madri (1750) e do Tratado
de Santo Ildefonso (1777), que expandiram os domínios portugueses em detrimento dos
espanhóis no subcontinente sul-americano.

É importante lembrar para você que, durante o período da União Ibérica, no qual Portugal
ficou sob o domínio da Espanha, não havia nenhum impedimento legal para que os portugueses
se adentrassem ao interior do espaço colonial sul-americano, já que, nesse momento, tudo
pertencia a um mesmo dono: a Espanha.

Portanto, nosso mergulho no túnel do tempo, nessa aula, pretende levar você aos
recônditos da história territorial do Brasil, para fazê-lo desvendar os movimentos de penetração

Aula 05 Formação Territorial do Brasil 1

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para o interior, que alargaram bastante as possessões portuguesas no continente. Para viajar
no túnel do tempo e desvendar mais esse capitulo da história da formação territorial do Brasil. é
importante que você estude com atenção o conteúdo dessa aula, realize as atividades, consulte
a bibliografia complementar e, em caso de persistência de dúvidas, busque esclarecimentos
com o tutor ou professor da disciplina.

Objetivos
Com esta aula, esperamos que você:

Conheça os fatores que motivaram e possibilitaram a


1 penetração da colonização portuguesa para o interior do
espaço do Brasil colônia.

Perceba o papel que tiveram as entradas e as bandeiras na


2 ampliação dos domínios portugueses na América do Sul.

Reconheça que a expansão portuguesa além dos seus


3 limites territoriais de direito, transformou o Tratado de
Tordesilhas em “letra morta”.

Conheça os efeitos da expansão portuguesa para o


4 interior na formação territorial do Brasil.

2 Aula 05 Formação Territorial do Brasil

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A interiorização da colonização:
as entradas e as bandeiras
Vamos retomar o nosso papo.

Desde os primeiros anos da colonização os portugueses empreenderam esforços no


sentido de conhecer o interior da sua colônia americana. Essa penetração para o interior
visava, sobretudo,

[...] pesquisar a existência de ouro, de prata, de pedras preciosas, esmeraldas e também procurar
indígenas para escravizá-los, de vez que, instalada a atividade agrícola [a cana-de-açúcar],
logo perceberam que a mão-de-obra era escassa (ANDRADE, 2003, p. 61).

Contudo, essas frentes de ocupação do interior da colônia tiveram também outros


objetivos, tais como:

1. Estabelecer os currais para a criação de gado, a exemplo do Sertão nordestino.

2. Destruir os territórios construídos pelos escravos negros, a exemplo da expedição de


Domingos Jorge Velho, que destruiu o território construído pelos negros escravos fugidos
na Serra da Barriga em Alagoas (Quilombo dos Palmares). Esse entradista, após dois anos
de campanha, destruiu esse território em 1697.

3. Explorar as drogas do sertão, principalmente nos vales dos rios amazônicos – essa função
foi executada pelas missões religiosas através do uso da mão-de-obra indígena.

Esses, entre outros objetivos da penetração da colonização portuguesa para o interior,


serão mais bem estudados na aula seis. Importa agora para você se deter no papel das entradas
e das bandeiras para a interiorização do colonizador e, conseqüentemente, para a ampliação
dos domínios portugueses no interior da América do Sul. Contudo, para começo de conversa,
você sabe o que eram as entradas e as bandeiras?

As entradas e as bandeiras eram expedições de penetração do interior do Brasil colônia,


organizadas pelos portugueses. Mas, em que essas duas formas de penetração territorial se
diferenciavam? De acordo com Manuel Correia de Andrade:

[...] Hélio Viana considera como entradas as que partiram das várias capitanias do Brasil
[colônia], com exceção de São Vicente, e, como bandeiras, as que partiram desta capitania.
Assim, poderíamos dizer que as bandeiras foram paulistas, enquanto as entradas foram
maranhenses, pernambucanas, baianas, espírito-santenses e fluminenses. Outros autores
distinguem os dois movimentos, considerando como entradas as expedições organizadas
e dirigidas pelo poder público, enquanto as bandeiras seriam as expedições particulares
(ANDRADE, 2003, p. 61).

Aula 05 Formação Territorial do Brasil 3

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Vamos conversar
um pouco sobre as entradas

A
s primeiras entradas antecederam o início do estabelecimento da colonização de fato
do território português na América. Essas tiveram como objetivo procurar metais
preciosos no interior do espaço colonial. Foi com esse objetivo que, em 1503, Américo
Vespúcio fez partir uma expedição de Cabo Frio (RJ) para o interior. Com esse mesmo
afã, Martim Afonso, após chegar a Cananéia, enviou uma expedição com 80 homens ao
Sertão Sertão para procurar ouro e pedras preciosas. Essas duas expedições jamais regressaram
(ANDRADE, 2003, p. 61).
O termo é aqui utilizado
para designar as regiões
Algumas expedições pernambucanas também devassaram o interior do atual Nordeste
distantes da costa, é o
Brasil interiorano. Não tem visando aprisionar índios para escravizar. Entre essas expedições consta a organizada no
o mesmo significado que governo Duarte Coelho de Albuquerque. Esse donatário, com o auxílio do padre do Ouro,
se emprega no Nordeste
reduziu muitos indígenas à escravidão. Contudo, essas expedições pernambucanas não
do Brasil onde o termo
Sertão refere-se a uma obtiveram muito sucesso. As mais famosas entradas tiveram como ponto de partida a Bahia,
região natural específica, o entre elas podemos destacar: a de Antônio Dias Adorno, que explorou o norte de Minas; a de
semi-árido nordestino.
Gabriel de Sousa, que explorou a Chapada Diamantina; e a de Belchior Dias, que percorreu
o sertão do São Francisco. Todas elas buscavam encontrar os metais e as pedras preciosos.
Outras entradas partiram de Porto Seguro, promovidas pelos donatários do Espírito Santos
e do Rio de Janeiro. Essas não foram bem-sucedidas, ou seja, não encontraram os metais e
as pedras preciosos, limitando-se a trazer alguns escravos índios para os entornos das suas
capitanias. (ANDRADE, 2003, p. 61-63).

Contudo, algumas entradas de penetração do interior do espaço colonial foram


empreendidas com o intuito de estabelecer currais para a criação de gado. O sertão nordestino
foi devassado e ocupado por criadores de gado, que partiram de Olinda e Salvador. Essas
marchas de ocupação do interior anexaram também o Agreste nordestino ao projeto de
colonização portuguesa - para as funções de cultivar alimentos e criar gado (ver mapa 01).

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Mapa 01 – Penetração do Gado nos Sertões nordestino a partir de Olinda e Salvador

Fonte: ANDRADE, Manuel Correia de. História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1982.

Enfim, as entradas, mesmo estabelecendo um modelo de povoação disperso e rarefeito,


cumpriram os seus objetivos econômicos - assegurar a manutenção das atividades acessórias à
plantation açucareira litorânea, e geopolítico - assegurar a coroa portuguesa o domínio s e a defesa
do território constantemente ameaçado pelas invasões externas, além de possibilitar aos lusitanos
ampliarem as sua possessões coloniais além do limites definidos pelo Tratado de Tordesilhas.

Vamos falar um
pouquinho sobre as bandeiras
As bandeiras foram expedições formadas por várias frentes de ocupação do interior do
território colonial. Ocorreram durante os séculos XVII e XVIII e tiveram como local de origem,
principalmente, São Paulo ou, na época, São Paulo de Piratininga.

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As bandeiras tinham como objetivos principais a busca de metais preciosos e a caça de
índios para serem aprisionados e vendidos como escravos (ver figura do aprisionamento dos
índios pelos bandeirantes).

Índios aprisionados por bandeirantes

Fonte: http://www.geocities.com/bandeiras99/organizacao.html. Acessado em 22/12/2008.


As bandeiras penetraram sertão adentro, atacaram aldeias, exterminaram grandes
contingentes indígenas e aprisionaram e escravizaram outro tanto. Em outros casos, a forma
de atuar dos bandeirantes paulistas (homens que compunham as bandeiras) como sertanistas
e sua experiência na luta contra os índios geraram o chamado Bandeirantismo de Contrato.
Nos lugares mais recônditos da colônia onde existissem lutas entre os colonizadores e os
indígenas, os primeiros recorriam aos bandeirantes paulistas, contratando tropas sob comando
de determinados chefes, para liquidarem os índios. Um bandeirante de contrato bastante
evidenciado nos estudos historiográficos, pelo seu “trabalho” de eliminar índios para terceiros,
foi Domingos Jorge Velho. Este lutou contra os índios revoltados nos sertões paraibanos, na
chamada Guerra dos Bárbaros. Contudo, entrou para a historiografia brasileira por comandar,
através de contrato com o Governo de Pernambuco, a destruição do Quilombo de Palmares
na Serra da Barriga, em Alagoas. Como soldo pela destruição desse território de resistência
do escravo negro fugido, o referido bandeirante de contrato recebeu grandes sesmarias no
atual Estado de Alagoas.

Em seu rastro despovoador e desterritorializador, os bandeirantes destruíram as


missões jesuíticas de Tape e do Uruguai, nas quais havia uma grande quantidade de indígenas
catequizados e disciplinados para o trabalho agrícola. Esses índios foram escravizados e trazidos
para o Planalto de Piratininga. Após esse ataque, os jesuítas recuaram para o sul e fundaram
os chamados sete povos das missões. Depois de destruir essas missões, os bandeirantes

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se dirigiram para o sul do Mato Grosso e destruíram as missões de Itatim, trazendo os seus
habitantes como escravos para os campos de São Paulo (ANDRADE, 2003, p. 63-64).

Dentre os bandeirantes mais famosos nessa empreitada de caça ao índio para escravizá-lo,
destaca-se Antônio Raposo Tavares. Esse, partindo de São Paulo alcançou o Rio Paraná,
passando deste para o Paraguai e daí para o Guaporé, o Madeira e o Amazonas, descendo a
foz desse rio (ANDRADE, 2003, p. 64) (ver mapa 02 das entradas e das bandeiras).

Mapa 02 – Entradas e bandeiras

Fonte: Albuquerque, Manoel Maurício de. et. al. Atlas Histórico Escolar. 8ª ed. Revizada e atualizada. Rio de janeiro: FENAME, 1983.

Contudo, os bandeirantes ficaram mais famosos pela descoberta do ouro das Minas
Gerais, em 1695. Essa descoberta é atribuída ao bandeirante Garcia Rodrigues Paes.
Primeiramente, foi descoberto o ouro na região próxima ao Pico do Itacolomi, nos atuais
municípios de Ouro Preto e de Mariana, começando, em seguida, a exploração dessas jazidas.
Depois, outras áreas adjacentes passaram, também, a ser exploradas: Sabará, São João Del

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Rey, Congonhas do Campo, Caeté etc. A essas áreas foi incorporado, em seguida, o chamado
Distrito Diamantino, muito rico em diamantes (ANDRADE, 2003, p. 63-64). A mineração ainda
se espraiou pelos atuais Estados de Goiás e Mato Grosso, que também dispunham de boas
jazidas de metais e pedras preciosos.

A descoberta das minas deslocou o eixo econômico da colônia para o centro-sul;


direcionou os fluxos de portugueses, dos habitantes de outras áreas da colônia (baianos,
fluminenses, pernambucanos, paulistas etc.) e da mão-de-obra escrava negra para a
região mineradora; deu origem a muitas cidades, nas quais a vida e as funções urbanas
eram mais intensas que as do litoral açucareiro. Como desdobramento do apogeu da
mineração, Mato grosso e Goiás foram elevados à condição de capitanias, separados de
São Paulo, em 1748. O deslocamento do eixo econômico para o centro-sul, patrocinado
pela mineração, mudou, também, o centro de gestão do território colonial de Salvador
para o Rio de Janeiro (1763), que se constituiu, também, no principal porto para o envio
dos metais e das pedras preciosos à Europa.

Cabe aqui uma pequena digressão para falar a você sobre o papel que tiveram as missões
religiosas no projeto de expansão, de domínio e de defesa territorial para os portugueses.

Como já foi observado por você, as entradas e as bandeiras tanto asseguraram a


apropriação, o uso econômico e o controle do território aos portugueses, mesmo que
de forma rarefeita e dispersa, quanto serviram ao seu projeto geopolítico de ampliar e
estabelecer a defesa do território colonial, transformando, assim, os acordos do Tratado
de Tordesilhas em “letra morta”. No tocante à Amazônia, o estabelecimento de fortes e de
missões religiosas serviu para que Portugal se estabelecesse na região, assegurando o
seu controle sobre a sua maior parte. Conforme afirma Caio Prado Júnior:

No litoral norte, o Rio Amazonas foi estratégico, por sua extensão e ampla navegabilidade,
até 2.000 km no interior em meio à floresta equatorial. Durante a União das duas Coroas
de Portugal e Espanha (1580-1640), holandeses, franceses e ingleses, trataram de ocupar
militarmente esta área. Para defender a Bacia Amazônica, as formas iniciais de ocupação
foram pequenos fortes, sendo o primeiro deles na foz do Amazonas, em Belém (1616).
Para assegurar a ocupação a longo prazo, bem como a pacificação e a lealdade das tribos
aborígenes contra os holandeses, ingleses e franceses, os portugueses resolveram dividir
a bacia entre ordens religiosas católicas. Seguiram assim os jesuítas espanhóis, que já
haviam estabelecido um verdadeiro cordão estratégico ininterrupto de missões jesuítas
no coração do continente, do Prata ao Alto Amazonas, no século XVI e primeira metade
do século XVII (PRADO JÚNIOR apud BECKER e EGLER, 2003, p. 42-43).

As missões religiosas dos séculos XVII e XVIII, além de catequizar os índios, deram
início à exploração das “drogas” do sertão (canela. cravo, salsa-parrilha, cacau nativo)
na Amazônia. Segundo Bertha Becker e Cláudio Egler:

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No vale do Amazonas, a Coroa estimulou a ação das missões, que se tornaram as
maiores exploradoras das “drogas” (canela, cravo, salsa-parrilha, cacau nativo), além
de produzirem alimentos para a subsistência e deterem o monopólio sobre a mão-de-obra
indígena. Fortes e missões penetraram profundamente no território amazônico
assegurando a futura soberania de Portugal numa área imensa, ainda que com fraca
base econômica e esparsamente povoada (BECKER e EGLER, 2003, p. 45).

A ação catequizadora e disciplinadora dos índios para o trabalho, realizada pelas


missões, chamou a atenção de algumas tropas de resgate, que visavam à caça de
indígenas para escravizá-los. Os índios cativos eram, após serem retirados das missões,
arrebanhados para as lavouras ao redor das cidades e vilas da região, a exemplo de
Belém do Pará, Bragança, Santarém, Óbidos, Monte Alegre etc.

É importante lembrar para você que o período da União Ibérica (1580-1640) é


considerado, por alguns estudiosos, como de muita importância à expansão portuguesa
para além de Tordesilhas. Com a União Ibérica, as Coroas portuguesa e espanhola foram
unificadas sob um único comando: o espanhol. Com isso, não existiam impedimentos
legais que freassem os portugueses no seu afã de alargar os seus domínios ou
estabelecer as bases de defesa do seu espaço colonial no Novo Mundo. Para isso,
valeram-se das entradas, bandeiras e missões, que lhes possibilitaram se estender por
um vasto território, que no Tratado de Tordesilhas pertencia à Espanha. Nesse sentido,

Após a separação das duas Coroas (1640), a colonização portuguesa em pouco mais de
um século invadiu áreas que pertenciam à Espanha e ocupou o território que é hoje o
Brasil. O rompimento da linha de Tordesilhas tornou-se, para a metrópole, um objetivo,
e não apenas uma conseqüência da defesa do território (BECKER e EGLER, 2003, p. 43).

A expansão portuguesa pelo interior no Norte-Nordeste, através das entradas; pelo canto-
oeste, sul e norte, através das bandeiras; pela Amazônia, através das fortificações e das missões
religiosas, alargou, sobremaneira, as suas possessões na América do Sul em detrimento das
possessões espanholas. Como uma das conseqüências, forçou à adoção de mudanças nos
princípios jurídicos que definiam o direito de uma metrópole sobre um território colonial,
substituindo o princípio do direito por descoberta pelo princípio do direito de posse. Dessa
forma, como bem nos lembram Bertha Becker e Claudio Egler:

O rápido movimento da mineração e a lenta expansão das fazendas e dos caminhos de


gado, a posse de facto ao longo das bacias, consolidaram e expandiram a ocupação do
território muito além dos limites de jure fixado pelo Tratado de Tordesilhas. A geopolítica
da metrópole mostrou-se, assim, acertada. Em 1750, o Tratado de Madri estabelecendo
pela primeira vez as linhas divisórias entre os domínios de Portugal e Espanha, adotando
como critério o utis possidetis, isto é, o reconhecimento do direito de posse a partir do
efetivo povoamento e exploração da terra. Legitimou-se, assim, a apropriação do território
cujos limites permanecem grosseiramente os mesmos hoje (BACKER e EGLER, 2003, p.
46) (ver mapa 03 do Tratado de Madri).

Aula 05 Formação Territorial do Brasil 9

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Mapa 03 – Brasil a partir do Tratado de Tordesilhas e do Tratado de Madri

Meridiano de
Tordesilhas Avanço da Bandeiras
e o recuo do Meridiano
Forte São José
de Marabitanas Oceano
Atlântico

Forte São Gabriel


Belém
São Luis Fortaleza
Forte Tabatinga

Natal
Paraiba
Olinda
Forte Principe Recife
da Barra

Vila bela Salvador


Cuiaba
Vila Boa

Forte
Coimbra
Forte

Fonte: http://www.geocities.com/bandeiras99/tordesilhas.html
Vitória
Iguatami São Paulo

Rio de Janeiro

Domínio português
segundo Tordesilhas Desterro Oceano
Laguna
Atlântico
Domínio português
segundo TRatado de Madri
Rio Grande
Meridiano de Tordesilhas
Várias linhas de expansão bandeirista

Em face da persistência das disputas por algumas áreas – na Bacia do Prata e na região
das Missões, por exemplo, outros tratados foram posteriormente assinados. Em 1761, foi
assinado o Tratado de El Pardo, que anulou o Tratado de Madri. Em 1977, foi assinado o Tratado
de Santo Ildefonso, que praticamente confirmou o Tratado de Madri. Contudo, foi o tratado
de Badajoz, assinado em 1801, que restituiu a Portugal as Missões e outros territórios do Rio
Grande do Sul e restabeleceu a divisão definida 50 anos antes pelo tratado de Madri. Todavia,
a demarcação das fronteiras não foi toda realizada no período colonial. De toda a extensa
fronteira brasileira com os seus vizinhos na América do Sul, apenas 17% foram demarcadas
nesse período. Esse assunto será tratado com você na aula dez.

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Atividade 1
Teste a sua aprendizagem

Observe a representação cartográfica das entradas e das bandeiras,


e responda:

a) Diferencie as entradas das bandeiras.

b) Explique o papel que tiveram as entradas para a ocupação colonial do interior


do Nordeste brasileiro.

c) Analise a importância geoeconômica e geopolítica das bandeiras para a


metrópole portuguesa.

Aula 05 Formação Territorial do Brasil 11

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a

sua resposta

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Vamos refletir mais um pouco sobre a expansão portuguesa pelo interior da América
do Sul.

Atividade 2
Observe o mapa abaixo e responda:

Meridiano de
Tordesilhas Avanço da Bandeiras
e o recuo do Meridiano
Forte São José
de Marabitanas Oceano
Atlântico

Forte São Gabriel


Belém
São Luis Fortaleza
Forte Tabatinga

Natal
Paraiba
Olinda
Forte Principe Recife
da Barra

Vila bela Salvador


Cuiaba
Vila Boa

Forte
Coimbra
Forte Vitória
Iguatami São Paulo

Rio de Janeiro

Domínio português
segundo Tordesilhas Desterro Oceano
Laguna
Atlântico
Domínio português
segundo Tratado de Madri
Rio Grande
Meridiano de Tordesilhas
Várias linhas de expansão bandeirista

a) A partir da análise do mapa explique as principais mudanças nos domínios


territoriais de portugueses e espanhóis na América do Sul.

b) Diferencie os princípios jurídicos utilizados para demarcar os territórios


representados no mapa.

c) Que conclusões você tira sobre os papéis das entradas e das bandeiras para
a formação territorial do Brasil?

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a)

sua resposta

b)

c)

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A partir dessa breve exposição, esperamos que você tenha percebido os papéis das entradas,
bandeiras e missões - possibilitadas, em parte, pelo período em que vigorou a União Ibérica (1580-
1640), tiveram para efetivar o domínio, o controle, a defesa e a expansão territorial portuguesa
no continente americano. Para essa efetivação, o estabelecimento de atividades econômicas e de
fortes nos territórios conquistados foi de suma importância. Esperamos que você tenha, também,
aprendido que a expansão mudou os mecanismos jurídicos definidores do direito de apropriação
de territórios entre os países ibéricos, passando do direito definido pela descoberta para o direito
de posse efetiva. Esses mecanismos foram usados nos tratados que foram assinados entre esses
países em várias ocasiões: os de Madri e Santo Ildefonso, por exemplo. Por fim, esperamos que
sua viagem por esse capítulo da história da formação territorial brasileira tenha sido cheio de êxito.

Leituras complementares
Para o aprofundamento da conversa que tivemos nessa aula, sugerimos como leituras
complementares:

ANDRADE, Manuel Correia de. Formação territorial e econômica do Brasil. Recife: FUNDAJ/
Editora Massangana, 2003.

O comentário sobre essa obra você vai encontrar na aula quatro. Sugerimos que, para
aprofundar essa aula, você faça a leitura do capítulo sete, que trata da penetração da colonização
para o interior através das entradas e das bandeiras.

BECKER, Bertha; EGLER, Claudio A. G. Brasil: uma potência regional na economia-mundo. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2003 (Coleção Geografia).

Nessa obra, os autores procuram desmistificar o discurso dos que acreditaram no projeto
Brasil potência dos militares. Recomendamos nela, para você a aprofundar o tema dessa aula a
leitura do capítulo dois, que, entre outros temas, trata do projeto geopolítico português para a sua
colônia do sul do Novo Mundo.

Vale à pena assistir

A Muralha

O seriado produzido pela rede Globo de Televisão e exibida em 2000, quando da comemoração
dos 500 anos do “descobrimento” do Brasil, mostra de uma forma crua a realidade dos primeiros
habitantes portugueses que se instalaram no Brasil. Sua busca pelo ouro e a caça ao índio pelo
interior de terras belas, porém de natureza hostil.

O seriado ajuda a desmistificar a visão glamourosa sobre os bandeirantes e os primeiros


colonizadores e leva a reflexão sobre o etnocídio e o genocídio praticados aos povos indígenas.

Aula 05 Formação Territorial do Brasil 15

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Se você já assistiu a este seriado, vê-lo agora com um olhar crítico fundamentado nas
nossas discussões será muito mais interessante e enriquecedor.

Ficha Técnica
Gênero: Séries Cinema/TV
Atores: Tarcísio Meira, Maria Luisa Mendonça, Matheus
Nachtergaele, Alexandre Borges, Cacá Carvalho, Caco Ciocler,
Cecil Thiré, Paulo José,
Direção: Denise Saraceni, Eduardo Figueira,
Idioma: Português, Legendas Português, Ano de produção
2002 País de produção Brasil,
Duração: 810 min.
Distribuição: Som Livre
Região: Multizonal Áudio Dolby Digital 2.0 Vídeo Tela Cheia
Cor: Colorido

Lutas sangrentas entre brancos e índios, aldeias


inteiras passadas ao fio da espada. Assaltos, embustes,
emboscadas: há sangue nas trilhas. Um mundo entre a
cruz e o arcabuz. Duelos em ruas enlameadas: caçadores
de homens, foras-da-lei e mestiços renegados apresentam
suas armas. Tesouros escondidos, juras de sangue, ouro
e maldição - sim, amigos, o Brasil teve o seu faroeste!
Muito antes, e com muito mais ação, do que nos Estados
Unidos. O que o Brasil não teve foi uma indústria como
Hollywood para produzir mitologia a partir da própria história.
Mas você tem nas mãos o embrião do projeto: A muralha,
minissérie produzida e exibida pela TV Globo no ano do quinto
centenário do descobrimento do Brasil, desbrava o caminho
e aponta a direção: faz a mistura fina entre ação, reflexão e
entretenimento. Eis a história, outra vez ao ar livre. Escrita por
Maria Adelaide Amaral, inspirada no livro homônimo que Dinah
Silveira de Queiroz (1910-1982) publicou em 1954, A Muralha,
dirigida por Denise Saraceni, mergulha nos primórdios do
século XVI e nos conduz ao coração das trevas de São Paulo
de Piratininga, a capital dos temíveis bandeirantes. Um épico
vigoroso sobre o nascimento de uma nação, com toda paixão,
fulgor e sangue sobre os quais nunca nos falaram na escola.

http://www.2001video.com.br/detalhes_produto_
extra_dvd.asp?produto=4640

16 Aula 05 Formação Territorial do Brasil

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Resumo
Nessa aula, você teve oportunidade de aprender que:

a) as entradas, bandeiras e missões tiveram lugares de destaque nas


estratégias geopolíticas e geoeconômicas da Coroa portuguesa para a
manutenção e expansão da sua colônia no sul do continente americano;

b) o período da União Ibérica (1580-1640) contribuiu, em parte, para a


expansão portuguesa para além do Tratado de Tordesilhas;

c) a expansão portuguesa para o interior, ao incorporar territórios da


Espanha ao seu domínio, tornou inválido o Tratado de Tordesilhas;

d) a expansão portuguesa sobre os territórios da Espanha gerou conflitos,


que deram origem a outros tratados de limites das possessões
territoriais dos dois países ibéricos na América do Sul: Tratado de
Madri, de El Pardo, de Santo Ildefonso e de Badajoz;

e) os princípios jurídicos do direito a um território pela descoberta


foram substituídos pelo princípio jurídico da ocupação de fato
(utis possidetis);

f) os limites da colônia portuguesa definidos pelo Tratado de Madri


permanecem, grosseiramente, até hoje como os contornos do
território brasileiro.

Auto-avaliação
Observe a seqüência de mapas abaixo.

Aula 05 Formação Territorial do Brasil 17

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MAPA 1 (ocupação colonial portuguesa no século XVI)

A MARCHA DO POVOAMENTO
E A URBANIZAÇÃO – SÉCULO XVI

Natal – 1599
FILIPÉIA – 1585
Iguaraçu – 1536
Olinda – 1537

São Cristóvão – 1590


SALVADOR – 1549
Ilhéus – 1536
Santa Cruz – 1536
Porto Seguro – 1535
Cidades e Vilas

São Paulo – 1558 Vitória – 1551


Áreas provavelmente sob a Espírito Santo – 1551
influência das Cidades e Vilas RIO DE JANEIRO – 1565
Santos – 1543
Áreas conhecidas e povoadas
São Vicente – 1532
de maneira mais ou menos
Itanhaém – 1561
estável, mas sem nenhuma Vila
Cananéia – 1600
ou Cidade

Seg. Pasquale Petrone, "Povoamento e Colonização",


em Brasil – A Terra e o Homem.

MAPA 2 (ocupação colonial portuguesa no século XVII)

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MAPA 3 (ocupação colonial portuguesa no século XVIII)

Com base nos conhecimentos adquiridos nessa e nas outras aulas, na leitura e na
1 interpretação dos mapas, faça uma análise da expansão territorial da colonização
portuguesa no sul do continente americano.

Aula 05 Formação Territorial do Brasil 19

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Relacione a expansão territorial da colonização portuguesa aos contornos atuais do
2 território brasileiro.

20 Aula 05 Formação Territorial do Brasil

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Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. Formação territorial e econômica do Brasil. Recife: FUNDAJ/
Editora Massangana, 2003.

BECKER, Bertha; EGLER, Claudio A. G. Brasil: uma potência regional na economia-mundo.


Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003 (Coleção Geografia).

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

Anotações

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Anotações

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Anotações

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Anotações

24 Aula 05 Formação Territorial do Brasil

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Formação Territorial do Brasil – GEOGRAFIA

EMENTA

Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.

AUTORES

> Antonio Albuquerque da Costa

> Paulo Sérgio Cunha Farias

AULAS

01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia

02 A territorialização ibérica do mundo e a expansão do capitalismo na sua fase embrionária

03 A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização


do colonizador português no Brasil (as feitorias)

04 A territorialização de fato do colonizador português: as capitanias hereditárias e a plantation açucareira

05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”

06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia

07 A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil central

08 A ocupação antiga do Brasil meridional

09 A ocupação moderna e definitiva do sul

10 O “arquipélago” de “ilhas” econômicas do Império e da Primeira República

11 A Primeira República e a consolidação das fronteiras

12 Do arquipélago de “ilhas” econômicas à integração do território

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D I S C I P L I N A Formação Territorial do Brasil

A ocupação do Sertão
nordestino e da Amazônia

Autores

Antonio Albuquerque da Costa

Paulo Sérgio Cunha Farias

aula

06
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação
Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED


Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Estadual da Paraíba

Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel

Secretária de Educação a Distância Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPE


Vera Lúcia do Amaral Eliane de Moura Silva

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN

Coordenador de Edição Diagramadores


Ary Sergio Braga Olinisky(UFRN) Ivana Lima (UFRN)
Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)
Projeto Gráfico
José Antonio Bezerra Junior (UFRN)
Ivana Lima (UFRN)
Mariana Araújo de Brito (UFRN)
Vitor Gomes Pimentel (UFRN)
Revisoras Tipográficas
Adriana Rodrigues Gomes (UFRN)
Revisora de Estrutura e Linguagem
Margareth Pereira Dias (UFRN)
Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Nouraide Queiroz (UFRN)

Arte e Ilustração Revisora de Língua Portuguesa


Adauto Harley (UFRN) Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Carolina Costa (UFRN)
Heinkel Hugenin (UFRN)
Leonardo Feitoza (UFRN)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.

Formação Territorial do Brasil/ Antônio Albuquerque da Costa; Paulo Sérgio Cunha


Farias. – Campina Grande: EdUEP, 2009.

385 p.: il.

ISBN: 978-85-7879-050-9

1. Geografia - Brasil. 2. Geografia – Estudo e Ensino. I. Farias, Paulo Sérgio Cunha.


II. Titulo.

21. ed. CDD

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

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Apresentação

C
omo você viu até aqui, não resta dúvidas que a cana-de-açúcar foi a principal atividade
econômica desenvolvida no Brasil colônia, responsável pelo povoamento português da
costa oriental, mas também pela perseguição e desterritorialização dos vários grupos
indígenas e pelo intenso fluxo de escravos africanos. Vimos ainda, que a cana-de-açúcar foi
uma atividade que causou profundas transformações nas nossas paisagens naturais com a
destruição da Mata Atlântica.

Tal impacto ambiental foi em grande parte o responsável pela interiorização da pecuária
pelo Sertão nordestino. Vamos discutir, nesta aula, como isso foi possível.

Observamos também, que as condições naturais de solo e clima, bem como a proximidade
da costa favoreceram a atividade canavieira. Vimos ainda que os primeiros engenhos eram
movidos à tração animal. A necessidade criar animais de tiro para o serviço dos engenhos e
de animais de corte para o consumo enquanto alimentação era, a princípio, viabilizada nas
próprias unidades canavieiras sem grandes problemas. Situação que se resolvia com a criação
dos animais em confinamento enquanto que a cana, que era a principal atividade econômica,
era cultivada em campos abertos.

Nesta aula vamos conversar um pouco sobre as atividades que foram muito importantes
para o processo de povoamento português pelo interior brasileiro, mas que se mantiveram
como atividades secundárias diante da importância econômica do açúcar. Exceção feita ao
ouro, motivo de cobiça e de busca dos colonizadores desde que aqui colocaram os pés pela
primeira vez.

Vamos mergulhar neste capítulo da formação territorial do nosso país e esperamos que
você, literalmente, viaje conosco, aproveitando cada momento dessa aventura.

Lembramos a você de que a cartografia da aula não tem aspecto apenas ilustrativo, é um
importante instrumento de leitura e tem o objetivo de proporcionar ao leitor se situar no espaço.

Objetivos
É nosso objetivo nesta aula que você:

Reconheça na pecuária extensiva a atividade econômica


1 capaz de integrar os sertões semi-áridos ao território
colonial português.

Entenda a estratégia portuguesa para ocupar e incorporar


2 a Amazônia como território lusitano.

Aula 06 Formação Territorial do Brasil 1

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O rastro das boiadas
abrindo as veredas dos sertões
O consórcio, agricultura para exportação e pecuária para atender as necessidades internas,
não foi capaz de se manter por muito tempo no mesmo espaço canavieiro. Por que isso aconteceu?

Vamos analisar o contexto da colônia na época.

Primeiramente, é preciso entender que, embora os núcleos de povoamento fossem


pequenos e inexpressivos, havia neles uma população que - dedicada às atividades urbanas,
sobretudo administrativas e de exportação do açúcar, não era produtora direta e precisava dos
alimentos que não produzia. Sendo assim, o gado além de ser utilizado nos engenhos, deveria
também alimentar essa população urbana que crescia. Lembramos também que os engenhos
utilizavam como fonte de energia a mata, que rapidamente foi sendo devorada pelo fogo, o
que urgia que a lenha fosse buscada cada vez mais distante, situação que exigia o aumento
dos animais para o transporte.

Esses animais utilizados nos serviços dos engenhos e também na alimentação da população
haviam sido introduzidos pelos portugueses na Colônia, pois ao chegarem aqui, não encontraram
animais que houvessem sido domesticados pelos índios, com exceção do papagaio, o qual não
tinha valor utilitário. Desta forma, os portugueses, trouxeram da Europa (já na primeira metade
do século XVI) animais domésticos para os engenhos de açúcar (bovinos, caprinos, suínos e
eqüinos), e introduziram vegetais tropicais oriundos da Ásia, África e da Oceania.

várzeas De início, o espaço colonial era assim organizado: as várzeas, com férteis solos de massapé
Várzeas – são os terrenos
eram utilizadas para a plantation açucareira enquanto que os interflúvios de solos arenosos, e
baixos adjacentes ao curso de menor fertilidade, eram utilizados para a pecuária e para a agricultura de subsistência.
rios, os quais geralmente
são inundados nos Logo se percebeu a incompatibilidade de desenvolver no mesmo espaço essa duas
períodos de cheias que atividades. A cana-de-açúcar que era o centro das atenções econômicas e a pecuária que,
ao transportarem humos,
apesar de toda importância que teve para a ocupação do interior, sempre foi uma atividade
fertilizam estas áreas
ribeirinhas.
secundária e subsidiária da cana-de-açúcar. Observa Andrade (1982, p. 61-62) que, enquanto
a mata era abundante, essa separação entre a agricultura e o criatório se fazia com cercas
construídas de pau-a-pique, para prender os animais, porém à medida que as matas foram
sendo destruídas, essa solução passou a se tornar inviável. Desta forma, já no governo geral de
Interflúvios
Tomé de Sousa foi determinado que o gado fosse criado, no mínimo, a 10 léguas de Salvador,
Interflúvios – terrenos onde pastaria solto.
elevados que se situam
entre os vales de dois rios. Esta linha divisória ente a agricultura de exportação e a pecuária foi denominada de
travessão e se difundiu por todo o Nordeste Oriental, limite que foi progressivamente sendo
empurrado para o interior, cada vez mais distante das áreas de cultivo. Este limite definido
entre a lavoura e o criatório estabelecia que

Dentro do travessão a agricultura era feita livremente e o gado só poderia aí permanecer, se


cercado ou preso; fora do travessão a lavoura é que era cercada e o gado podia ficar solto,
em campo aberto, desde que a área era reservada à pecuária (ANDRADE,1986, p.156).

2 Aula 06 Formação Territorial do Brasil

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No período em que começa a haver essa separação entre a atividade da plantation e o
criatório, os dois mais importantes centros açucareiros do Brasil eram Olinda e Salvador,
núcleos de onde partiram as principais correntes de povoamento dos sertões. Embora seja
certo que as primeiras entradas para o interior nordestino tenha se dado pela busca de minas
de metais preciosos, que ocorreram em insucesso. Foi o gado o elemento povoador dessa
imensa hinterlândia. Hinterlândia

Merece destaque nesta empreitada Garcia de Sousa d’Ávila, que se instalou na Casa Hinterlândia – vem
da palavra inglesa
da Torre (ver foto 01), casa-fortaleza construída na baía de Tatuapera – Bahia, local de onde
hinterland, tem significado
partiram as entradas para ocupar a hinterlândia baiana. Foi ele o primeiro colonizador a dar semelhante ao de Sertão
grande importância a criação de gado. Suas terras foram adquiridas ainda no governo de Tomé durante o período colonial,
de Sousa, mas ele e seus descendentes trataram de ampliar suas posses através da aquisição ou seja, imensa área
interiorana, distante
de mais sesmarias. Desta forma, os Garcia d’Ávila se tornaram, no século XVIII, os maiores
da costa e de centros
latifundiários de que se tem notícia na história do Brasil, com mais de 340 léguas de terras, urbanos. O termo aplica-
as quais se estendiam desde o sertão baiano até os sertões do Piauí e o do Cariri Cearense. se também a uma área
Apenas o Latifúndio da Casa da Ponte, de Antônio Guedes de Brito, com suas 160 léguas de econômica que é drenada
por um porto.
terras era a propriedade cuja dimensão mais se aproximava do latifúndio da Casa da Torre.

Fonte: http://www.eujafui.com.br/view-foto.php?cf=578 – Acesso em 21/12/2008.

Foto 01 – Ruínas da Casa da Torre na baía de Tatuapera – Bahia

Partindo da Casa da Torre, os criadores seguindo os cursos dos rios Vasa Barris, Itapicuru
e Paraguaçu, através dos quais transpuseram a Chapada Diamantina e atingiram o médio
curso do rio São Francisco, de onde uns criadores foram povoar o Sul da Bahia e o Norte de
Minas Gerais, outros criadores seguiram a direção norte, ultrapassaram o rio São Francisco
e instalaram fazendas de gado no Piauí e no sul do Maranhão. Ainda partindo da Casa da
Torre, outra corrente de criadores conquistou todo o litoral, hoje, sergipano e no trecho entre
as cachoeiras de Paulo Afonso e Sobradinho ultrapassaram o rio São Francisco para ocupar
os sertões de Pernambuco, Paraíba e Ceará onde encontraram as correntes de povoamento
provenientes de Olinda. (ver mapa 01)

Aula 06 Formação Territorial do Brasil 3

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Fonte: ANDRADE, Manuel Correia de. História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1982.
Mapa 01 – Ocupação do Sertão Nordestino a partir de Olinda e Salvador

Até aqui nos concentramos no povoamento dos sertões nordestinos, provenientes da


Casa da Torre. Não podemos esquecer do tão importante papel que teve Olinda na ocupação do
chamado Sertão de Fora, através de duas correntes pecuaristas que partiram desse importante
centro colonial. Uma corrente que tomando o sentido Sul chegou à margem direita do rio
São Francisco, por onde seguiu rio acima para povoar o Sertão pernambucano. Uma outra
grande corrente se direcionou para o Norte e chegou até o Pará. Esta corrente seguiu a linha
litorânea, visto que no litoral Norte o semi-árido chega até a costa e povoou os sertões do
Rio Grande do Norte e do Ceará, e através do curso do rio Açu chegou ao Sertão da Paraíba.
Tais penetrações para o interior foram ocorrendo ao longo de toda costa setentrional com as
várzeas dos grandes rios secos tais como o Apodi, o Jaguaribe e Acaraú servindo de caminhos
naturais. Era intenção dos entradistas que partiram de Olinda ocupar o Sertão de Fora, mas
também defender esta imensa costa setentrional dos franceses que se faziam presentes e
ocupavam o Maranhão. (ver mapa 01).

4 Aula 06 Formação Territorial do Brasil

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O modelo de civilização dos
sertões pecuaristas e sua organização espacial
Você já parou para pensar por que a pecuária escolheu o Sertão? Vamos refletir um
pouco sobre isso...

Algumas condições foram importantes para a implantação das fazendas de gado nos
sertões nordestinos. Em primeiro lugar vamos lembrar que a ocupação holandesa foi um fato
importante para que os criadores se embrenhassem sertões adentro, buscando se afastar da
zona canavieira que estava em poder dos neerlandeses. Um outro elemento importante para que
o gado se expandisse rapidamente no sertão, foi o clima semi-árido, visto que, o clima seco é
mais saudável para o rebanho por dificultar a proliferação de verminose e outras doenças que
atacavam o rebanho. Por último, não podemos esquecer de que o gado era uma mercadoria
que se auto-transportava, o que possibilitava o distanciamento do criatório das áreas já mais
densamente povoadas.

Porém, o clima semi-árido não oferecia apenas vantagens. As secas prolongadas e a


escassez de água por vezes chegavam a dizimar os rebanhos. Mas o clima também condicionou
a própria organização espacial das fazendas nos sertões, pois os rios que serviam de caminho
para a ocupação da caatinga eram também a fonte de água para o gado e para a população,
através das cacimbas cavadas em seus leitos secos.

Desta forma, visando aproveitar os poucos cursos perenes ou a água proveniente dos
lençóis freáticos, foi ao longo dos rios que as fazendas foram se estabelecendo, com suas
sedes às suas margens ou nas suas proximidades, motivo pelo qual as várzeas passaram a ser
valorizadas em detrimento das caatingas dos interflúvios. Sendo assim, as fazendas passaram
a ter formato alongado a partir dos rios, sobretudo com as sucessões hereditárias, quando
foram se tornando com testadas estreitas nas ribeiras e muito compridas ao avançarem para
as caatingas de interflúvios.

Nesse ambiente, de escassez hídrica desenvolveram-se relações sociais e de produção,


bem como espaço sui generis. Vamos ver de que forma.

Os grandes pecuaristas, em geral, não foram residir nas suas fazendas que eram
distantes, isoladas de difícil acesso, permaneceram em sua grande maioria na Zona da Mata.
Deixaram-nas aos cuidados de vaqueiros que eram remunerados com a quarta parte dos
bezerros ou potros nascidos. Embora o trabalho escravo também tenha sido utilizado no
criatório não teve nesta atividade a mesma força e importância que teve para a plantation
açucareira, em função das próprias características da pecuária que era ultra-extensiva e, Ultra-extensiva
portanto, necessitava de pouca mão-de-obra.
Pecuária ultra-extensiva
– Diz-se da pecuária na
Nesse ambiente isolado, sujeito às estiagens periódicas e de pouca circulação monetária,
qual o gado é criado solto
foi se fixando uma população que teve que se adaptar ao que este meio oferecia, ou seja, em campos abertos,
passou a viver numa economia de subsistência. Nos períodos chuvosos, plantava nos roçados, com pasto natural, sem
cuidados específicos.
confinados por cercas de varas, os alimentos que já eram cultivados pelos indígenas (feijão,

Aula 06 Formação Territorial do Brasil 5

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milho, fava, mandioca, cujo restolho era utilizado na alimentação do gado nos períodos secos),
utilizava o leite e o queijo, nos períodos que estes eram abundantes, recorria à caça e ao abate
dos animais de pequenos portes que criava (cabras, galinhas, porcos etc.). Este estilo de
vida simples e de escassez de bens de consumo fez surgir no semi-árido nordestino o que
Capistrano de Abreu denominou de “civilização do couro”, visto que, mobiliário, vestimenta e
utensílios diversos eram confeccionados a partir do couro das reses abatidas.

Já falamos que o gado era uma mercadoria que se auto-transportava, você já deve ter
percebido que para ir para os centros de consumo na Zona da Mata Pernambucana e no
Recôncavo Baiano a boiada fazia uma longa e penosa caminhada, atravessando a imensidão
seca do semi-árido. Vimos ainda que o gado era criado solto, alimentava-se, portanto, das
pastagens naturais que desapareciam nas secas prolongadas. Diante do exposto, é evidente
que esse tipo de pecuária era de baixa produtividade, pois ou nos deslocamentos sazonais
a busca de água e pasto, ou nas longas caminhadas para a Zona da Mata o gado emagrecia.

Nessa pecuária ulta-extensiva, na qual, o gado era criado solto em campos abertos, era
comum que os rebanhos de diversas fazendas se misturassem, acontecia também que algumas
reses embrenhadas por anos na caatinga se tornassem selvagens. No final do período chuvoso,
com o gado gordo, os vaqueiros se reuniam para separar o gado das diversas fazendas, ferrar
os bezerros e perseguir os animais que haviam voltado ao estágio selvagem, esse ritual que
era chamado de apartação, constituíam-se em momentos de verdadeiras festas que entraram
para a tradição nordestina: as vaquejadas.

Apesar da pecuária ter se instalado de forma dispersa pelo sertão nordestino, cumpriu
um importante papel de ocupação definitiva dessa hinterlândia. Teve ainda, uma importância
fundamental para formação de vilas e povoados ao longo dos caminhos do gado (ver Mapa
02 – Os caminhos das boiadas no interior do Nordeste), nas paradas onde os boiadeiros
juntamente com os rebanhos descansavam e se abasteciam. Algumas dessas paradas se
tornaram importantes cidades, sobretudo, no Agreste nordestino.

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Mapa 02 – Os caminhos das boiadas no interior do Nordeste

Fonte: ANDRADE, Manuel Correia de. História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1982.

Atividade 1
Vamos associar o que estamos estudando ao nosso espaço vivido e percebido?

a) Observe a região na qual você mora. Seu município está localizado na Mata, Agreste,
Brejo ou Sertão? Qual é a principal atividade econômica do seu município? Pecuária ou
agricultura? O gado é criado solto ou confinado? E as plantações são cercadas? Com
base nesses questionamentos e nas suas observações é possível afirmar que a prática do
travessão se transformou num dos elementos da cultura nordestina que chega aos dias
atuais? Explique.

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b) Pesquise sobre a formação territorial do seu município. Seu surgimento deve-se à pecuária
ou à plantation açucareira?

8 Aula 06 Formação Territorial do Brasil

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As missões religiosas e a ocupação
da Amazônia pelos Portugueses
Vamos prosseguir com nossa conversa sobre a incorporação das áreas interioranas ao
território do Brasil Colônia.

Nós já sabemos que toda a área que corresponde a Amazônia era território espanhol pelo
tratado de Tordesilhas. Acontece, porém, que entre os anos de 1580 e 1640, Portugal esteve
sob o domínio da coroa espanhola, sendo assim, na prática, o tratado de Tordesilhas deixou
de ser um impedimento legal para a penetração portuguesa no território espanhol, já que,
Portugal e Espanha eram um mesmo país.

A Espanha que estava empenhada em proteger suas regiões produtoras de ouro e prata
não teve maior interesse em colonizar a bacia do Amazonas. Área cobiçada e de incursões dos
holandeses, franceses e ingleses, pois controlar a desembocadura desse grande rio significava
ter o domínio de todo esse imenso espaço drenado por esta bacia hidrográfica.

Desta forma, a Espanha deixou aos portugueses a tarefa de proteger esse território, os
quais tiveram que expulsar os franceses da França Equinocial em 1615, e os holandeses da foz
do rio Amazonas, em 1616, fato que levou a fundação de Presépio (hoje cidade de Belém) em
lugar estratégico. Tentando utilizar-se da mesma estratégia posta em prática na ocupação da
costa oriental, Portugal arriscou desenvolver a plantation açucareira, o que não deu resultados
em função das condições naturais da Amazônia. Para ocupar essa região Portugal teve utilizar
outras estratégias. Vamos ver que estratégias foram essas:

a) A primeira dessas estratégias foi encontrar uma forma de explorar economicamente


essa região, o que encontrou na própria floresta com os gêneros que naturalmente eram
abundantes nesse ecossistema e interessavam a Europa: a canela, o cravo, a castanha, a
salsaparrilha, o cacau, plantas aromáticas e medicinais, além de uma rica fauna.

b) A outra estratégia foi utilizar a mão-de-obra nativa, que dominava como ninguém esse
território e culturalmente estava apta a ajudar os portugueses na coleta desses gêneros
(que ficaram conhecidos como as “drogas do sertão”), pois era especialista em percorrer
a selva e o emaranhado de rios, coletando vegetais, caçando e pescando, já que eram
atividades básicas para sua sobrevivência.

c) Porém a estratégia que viabilizou as demais e garantiu definitivamente a posse da


Amazônia foi a implantação das missões religiosas, que tiveram um papel fundamental na
doutrinação e cooperação dos indígenas. Com a alegação de converter os índios à fé cristã
os missionários das ordens jesuítas, carmelitas vicentinos e mercedários subiram pelo
rio Amazonas evangelizaram os índios e os agruparam em aldeias juntos aos cursos dos
principais rios navegáveis. Fizeram também o chamado descimento, que era o aldeamento
dos índios evangelizados dos altos cursos dos rios para as proximidades da costa.

Aula 06 Formação Territorial do Brasil 9

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Como os índios evangelizados foram submetidos a uma vida regrada e de auxílio aos
padres, os colonos seguiram as missões com o intuído de escravizá-los, motivo pelo qual
colonos e missionários entraram em vários conflitos. Mas os conflitos ocorreram também
entre as próprias ordens missionárias, motivo pelo qual houve demarcação territorial para a
atuação das ordens religiosas. Havia também divergências entre a atuação dessas ordens e
estando os jesuítas imbuídos do propósito de criar na América do Sul, sob seu comando, um
imenso império da Igreja Católica, não se prestaram ao papel de abrir caminho para o avanço
dos colonos europeus como fizeram outras ordens religiosas. Além do mais, estando a
Companhia de Jesus mais identificada com a Espanha, os portugueses tiveram a iniciativa de
distanciar suas missões dos núcleos mais próximos de povoamento espanhol como podemos
observar no mapa 03.

Mapa 03 – As missões religiosas na Amazônia

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Mauríco de. et. Al. – Atlas Histórico Escolar 8ª ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1983. p.22.

Os índios submetidos ao disciplinamento e ao rigor das ordens religiosas (Gravura 01


e 02) construíram as instalações das missões (que eram constituídas de residências, igreja,
escola, armazéns e depósitos (Ver gravura 03), cuidavam do cultivo dos gêneros alimentícios
necessários ao abastecimento da missão, coletavam os produtos da floresta e praticavam a
caça e a pesca que eram exportadas para custear os empreendimentos religiosos. O dinheiro
adquirido com as exportações não só financiavam as missões, mas também enriqueciam as
ordens religiosas que adquiriam importância e poder no Brasil colônia. Os colonizadores sem o
mesmo poder de persuasão dos padres seguiam as ordens religiosas para escravizar os índios,
e entravam em conflitos com os padres que temiam a dispersão dos indígenas pela floresta.
Embora a escravidão indígena só fosse permitida nas chamadas guerras justas ou quando
houvesse o resgate desses por aprisionamento de tribos inimigas que os fossem matar. Os
colonizadores os escravizavam alegando tê-los resgatados em tais situações.

10 Aula 06 Formação Territorial do Brasil

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Gravura 01 – Índio aliado da França no Maranhão em Gravura 02 – Índio militarizado para combater os
traje francês para o batismo e primeira comunhão estrangeiros e indígenas não pacificados na Amazônia

Fonte: Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Mauríco de. et. al. – Atlas Histórico Escolar Fonte: Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Mauríco de. et. al. – Atlas Histórico Escolar
8ª ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1983. p.25.
8ª ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1983. p.23.

Gravura 03 – Aldeia missionária

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Mauríco de. et. al. – Atlas Histórico Escolar 8ª ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1983. p.23.

A escravidão indígena só foi definitivamente abolida da região amazônica no século XVIII,


quando o Marquês de Pombal entregou o comando das missões a administradores leigos e
expulsou os jesuítas do Brasil, por estes terem resistido a tal decisão. Assim os indígenas
continuaram a ser a principal mão-de-obra explorada pelos colonizadores na região, pois como
os índios haviam sido destituídos da tutela dos padres, os colonizadores se sentiram livres
para investirem contra seus aldeamentos.

Aula 06 Formação Territorial do Brasil 11

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Quando Portugal recuperou sua soberania política, praticamente toda a Amazônia estava
ocupada pelas missões religiosas e protegida pelas fortalezas militares que guarneciam todos
os principais acessos da imensa hinterlândia. Como era de se esperar, a Espanha iria reivindicar
esse gigantesco território que por direito, estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas, era seu.
Por outro lado, os portugueses que haviam investido duramente na conquista desse território
não queria abrir mão do seu esforço de ocupação dessa imensa região.

Se por um lado, com a União Ibérica, Portugal perdeu sua autonomia política, por outro,
ganhou livre acesso para avançar nos domínios espanhóis. Com o fim da União Ibérica, o
conflito entre esses dois países estava instaurado, para solucionar tal problema Portugal
apelou para a diplomacia, na qual saiu vitorioso com a reivindicação de um novo conceito de
fronteiras defendido pelo português nascido no Brasil, Alexandre de Gusmão, o qual se baseava
no princípio romano do uti possidetis, ou seja, dava-se o direito de posse da terra a quem a
houvesse ocupado de fato. Esse novo acordo diplomático assinado por Portugal e Espanha,
em 1750 (tratado de Madrid), deu ao Brasil os contornos que se aproximam dos atuais, e pôs
fim ao Tratado de Tordesilhas que na prática já não era respeitado. (ver mapa 04)

Fonte: BECKER, Bertha K. e EGLER, Cláudio A. G. Brasil: uma nova potência regional na economia-mundo. 2ª ed.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.

Mapa 04 – Traçado territorial do Brasil a partir do Tratado de Madid

12 Aula 06 Formação Territorial do Brasil

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Firmado o Tratado de Madrid, Portugal usou como estratégia de consolidação das
fronteiras, a criação, pelo Marquês de Pombal, da Capitania do Rio Negro (que corresponde
ao Estado do Amazonas) cuja capital foi a cidade de Barcelos no médio curso do Rio Negro.

Ao governador da Capitania do Rio Negro, Manuel da Gama Lobo D’Almada foi dada a
tarefa de reorganizar a economia da região que passava por problemas econômicos desde
que a administração das missões saíra da alçada dos religiosos e passara para as autoridades
civis. Entre as estratégias utilizadas por Lobo D’Almada encontra-se a transferência da Capital
da província de Barcelos para Logar da Barra (atual Manaus) que ficava mais bem localizada,
na proximidade da confluência do rio Negro com o Solimões, e dava maior controle sobre
as vias de circulação; deu início a atividades agrícolas tropicais como o anil, o café e o arroz
e transformou o extrativismo do cacau em atividade agrícola; deve-se ainda a este estadista
a introdução da pecuária bovina nos campos da ilha de Marajó e nos do Rio Branco (atual
Roraima), povoando este mais distante recanto do território colonial com uma atividade que
exigia pouca mão-de-obra, mas que ocupava muitas terras, garantindo desta forma a ocupação,
de fato, desse território, com o objetivo de frear a penetração espanhola proveniente de Caracas.
Estava dessa forma garantida a ocupação do território amazônico pelos portugueses.

Vamos refletir um pouco sobre


as características espaciais do território amazônico...
A intricada mata existente na Amazônia foi uma barreira natural que dificultou a penetração
dos colonizadores em seu interior, no entanto, a gigantesca rede hidrográfica que drena esse
imenso território serviu de caminho que possibilitou o fácil acesso dos portugueses no
coração da selva.

Tais características, desse meio, fizeram com que as missões religiosas e as bases
militares se estabelecessem juntas aos rios, única forma de acesso e de abastecimento possível
no interior da densa floresta equatorial. Fazia-se assim um tipo de povoamento disperso e ao
mesmo tempo pontual, mas que atendia aos objetivos de garantir a posse do território e da
coleta das drogas do sertão, cuja ocorrência se dava ao acaso da natureza por esse amplo
espaço. Vem da especificidade desse meio a importância que foi dada ao índio como mão-de-
obra, já que dominava como ninguém os mistérios desse território.

É com base no que foi exposto que podemos entender os núcleos de povoamento e,
posteriormente, o surgimento da rede urbana amazônica, intimamente relacionada a estes
caminhos fluviais. Sobre a disseminação das vilas e povoados nas margens dos principais rios
amazônicos Andrade (1982) afirma que:

O povoamento da Amazônia, baseado na pesca, na caça e no extrativismo vegetal, foi a


base de pequenos nódulos – vilas e povoações – disseminadas pelas margens dos rios
principais e ligados uns aos outros pela navegação fluvial. Este povoamento, apesar de
numericamente pouco expressivo, foi suficiente para garantir a soberania nacional por
uma extensão superior a cinco milhões de quilômetros quadrados, mais da metade do
território brasileiro. (ANDRADE, 1982, P. 68)

Aula 06 Formação Territorial do Brasil 13

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Atividade 2
Observe o mapa abaixo:

Explique a estratégia geopolítica dos portugueses para garantir a posse do território


na Amazônia.

14 Aula 06 Formação Territorial do Brasil

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Aqui encerramos esta nossa aula, esperamos que você tenha enriquecido um pouco mais
seu conhecimento sobre a interiorização do povoamento no território brasileiro. Evidente que
há muito mais o que aprender sobre o assunto e temos a certeza de que você despertou para
aprofundar as leituras e pesquisas sobre a temática.

Na próxima aula continuaremos a estudar sobre o processo de ocupação do interior do


Brasil, desta vez com a mineração e a agricultura de subsistência, até lá!

Resumo
Nesta aula tivemos a oportunidade de estudar sobre a interiorização do
povoamento do Brasil colônia. Vimos que esse processo foi fundamental para o
alargamento do domínio português além do Meridiano de Tordesilhas. Percebemos
o quanto os portugueses foram perspicazes durante sua dependência ao reino
espanhol e embora tivessem perdido sua soberania política tiveram a esperteza
de tirar o máximo proveito da negligência espanhola sobre suas posses na bacia
Amazônica. Vimos ainda que a pecuária foi uma atividade subsidiária, a plantation
açucareira e que por isso foi ocupar as terras do semi-árido nordestino, que não
se prestavam à agricultura comercial, e que a invasão holandesa contribuiu para
uma maior interiorização desta atividade que queria distanciar-se dos batavos.
Você também pode perceber que o colonizador português conseguiu até o século
XVIII ocupar a maior parte do território que hoje pertence ao Brasil com atividades
que utilizavam grandes extensões de terras, mas que concentravam poucas
pessoas. Foi assim com a pecuária, e com as drogas do sertão. Neste aspecto,
podemos observar o quanto os portugueses foram estratégicos ao utilizar o
princípio do uti possidetis e garantir a posse de todo o imenso território onde
havia esta população rala e dispersa.

Autoavaliação
Agora só nos resta ver o que aprendemos e onde residem nossas dúvidas.

a) Explique os motivos que levaram a pecuária a se instalar nos sertões nordestinos.

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b) Quais os pontos positivos e negativos da escolha do Sertão para a pecuária?

c) Explique os motivos que possibilitaram a maior utilização do índio como força de trabalho
na Amazônia.

16 Aula 06 Formação Territorial do Brasil

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d) Explique como foi possível Portugal ocupar as terras da Amazônia que pelo Tratado de
Tordesilhas pertenciam à Espanha.

Leituras complementares
Além da leitura do texto outras fontes são importantes para você aprofundar seu
conhecimento sobre o assunto que abordamos. Sugerimos que você leia:

ANDRADE, Manuel Correia de. A terra e o homem no Nordeste: contribuição ao estudo da


questão agrária no Nordeste. São Paulo: Atlas, 1986.

É uma das obras mais importantes do autor, bastante lida e citada por pesquisadores de
diversas áreas das ciências sociais. Escrita de forma clara é uma leitura agradável. Tornou-
se um clássico para quem deseja entender a formação do Nordeste do Brasil. Interessa-nos
mais especificamente para nossa aula o capítulo 5 “O latifúndio, a divisão da propriedade e
as relações de trabalho no Sertão e no Litoral Setentrional”, mas a leitura de todo o livro é
recomendável.

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

Trata-se de um clássico da formação econômica do território brasileiro. Para essa aula


é interessante que você leia o Capítulo 8 e 9, cujos respectivos títulos são: “A pecuária
e o processo de povoamento no Nordeste” e “A colonização do Vale Amazônico e a
Colheita Florestal”.

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Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo:
Atlas, 1982,

______. A terra e o homem no Nordeste: contribuição ao estudo da questão agrária no


Nordeste. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1986.

______,A questão do território no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995.

______, Formação territorial e econômica do Brasil. Recife: FJN/Editora Massagana, 2003.

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.

MOREIRA, Ruy. Formação do Espaço Agrário Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1990.
(Coleção tudo é história, número 132).

PEREGALLI, Enrique, Como o Brasil ficou assim?: formação das fronteiras e formação das
fronteiras e tratados dos limites. São Paulo: Global Ed., 1982. (História popular; 9)

8)PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

9)SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Bertrand
Brasil,1990.

Anotações

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Anotações

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Formação Territorial do Brasil – GEOGRAFIA

EMENTA

Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.

AUTORES

> Antonio Albuquerque da Costa

> Paulo Sérgio Cunha Farias

AULAS

01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia

02 A territorialização ibérica do mundo e a expansão do capitalismo na sua fase embrionária

03 A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização


do colonizador português no Brasil (as feitorias)

04 A territorialização de fato do colonizador português: as capitanias hereditárias e a plantation açucareira

05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”

06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia

07 A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil central

08 A ocupação antiga do Brasil meridional

09 A ocupação moderna e definitiva do sul

10 O “arquipélago” de “ilhas” econômicas do Império e da Primeira República

11 A Primeira República e a consolidação das fronteiras

12 Do arquipélago de “ilhas” econômicas à integração do território

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D I S C I P L I N A Formação Territorial do Brasil

A mineração e agricultura alimentar


na ocupação do Brasil Central

Autores

Antonio Albuquerque da Costa

Paulo Sérgio Cunha Farias

aula

07
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação
Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED


Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Estadual da Paraíba

Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel

Secretária de Educação a Distância Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPE


Vera Lúcia do Amaral Eliane de Moura Silva

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN

Coordenador de Edição Diagramadores


Ary Sergio Braga Olinisky(UFRN) Ivana Lima (UFRN)
Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)
Projeto Gráfico
José Antonio Bezerra Junior (UFRN)
Ivana Lima (UFRN)
Mariana Araújo de Brito (UFRN)
Vitor Gomes Pimentel (UFRN)
Revisoras Tipográficas
Adriana Rodrigues Gomes (UFRN)
Revisora de Estrutura e Linguagem
Margareth Pereira Dias (UFRN)
Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Nouraide Queiroz (UFRN)

Arte e Ilustração Revisora de Língua Portuguesa


Adauto Harley (UFRN) Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Carolina Costa (UFRN)
Heinkel Hugenin (UFRN)
Leonardo Feitoza (UFRN)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.

Formação Territorial do Brasil/ Antônio Albuquerque da Costa; Paulo Sérgio Cunha


Farias. – Campina Grande: EdUEP, 2009.

385 p.: il.

ISBN: 978-85-7879-050-9

1. Geografia - Brasil. 2. Geografia – Estudo e Ensino. I. Farias, Paulo Sérgio Cunha.


II. Titulo.

21. ed. CDD

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

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Apresentação

N
a aula anterior estudamos sob as estratégias de ocupação portuguesa para o sertão
nordestino e para a Amazônia, agora vamos conversar um pouco sobre o importante
papel que teve a mineração na consolidação do território brasileiro, contribuindo para
a interiorização da população que até então se mantivera na fachada costeira.

Vamos também discutir cobre o papel da agricultura de subsistência que embora não
seja referência na economia colonial do Brasil teve uma importância fundamental para a
sobrevivência dessa população que se fixou nesses rincões do Brasil e garantiu a Portugal a
apropriação territorial pelo direito real de ocupação.

Objetivos
Nessa aula esperamos que você:

Compreenda a mudança do centro econômico do Brasil


1 colonial do Nordeste para o Centro-Sul da colônia em
função da atividade mineradora que se tornou a atividade
mais importante do século XVIII.

Observe as transformações que a mineração proporcionou


2 ao espaço do Brasil colônia.

Perceba a importância da agricultura de subsistência para a


3 alimentação dos habitantes da Colônia, mas também, como
um elemento diferenciador da estrutura sócio-produtiva
na qual se apoiou o latifúndio monocultor/exportador e
escravista que aqui se instaurou.

Aula 07 Formação Territorial do Brasil 1

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A mineração
e a ocupação do Brasil Central

J
á dissemos, em aulas anteriores, que o interesse de Portugal desde o momento que
tomou posse das terras brasileiras era descobrir metais preciosos. Como a Espanha
encontrou civilizações que já trabalhavam o ouro, criou-se o mito de que este metal seria
facilmente encontrado em todo o continente americano e muitos portugueses se embrenharam
pelo interior do Brasil em busca do “El Dourado”, sem sucesso. A primeira descoberta de ouro
na capitania de São Vicente foi tão insignificante que passou despercebida. Porém, só no final
do século XVII foi que bandeirantes paulistas fizeram descobertas significativas de ouro no
atual Estado de Minas Gerais.

Tais descobertas ocorreram em um momento que a metrópole portuguesa atravessava


uma forte crise econômica resultante do período em que esteve sob o domínio espanhol, pois
haviam os lusitanos perdido seus melhores entrepostos comerciais da Ásia e os produtos
tropicais produzidos no Brasil, em particular a cana-de-açúcar, enfrentava forte concorrência
de outras áreas produtoras.

Sendo assim, o ouro tornou-se a atividade mais importante da colônia e passou a atrair
a população das demais regiões brasileiras que se encontravam decadentes. Desta forma, o
Nordeste que durante dois séculos fora o centro econômico da colônia, perdeu sua hegemonia
para a o Centro-Sul bem como a capital da colônia que foi transferida de Salvador para o Rio
de Janeiro. Viu ainda um importante contingente de sua mão-de-obra escrava ser transferida
da zona canavieira, em crise, para as áreas mineradoras, em ascensão econômica.

Foi com a mineração que se deu o maior fluxo migratório do Brasil Colônia, não só
um fluxo interno, mas também proveniente de Portugal, que pela primeira vez orientou uma
migração espontânea em direção a sua colônia da América. Movimento que chegou a preocupar

2 Aula 07 Formação Territorial do Brasil

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o governo português que por vezes criou medidas para dificultar a emigração para o Brasil.
Mesmo assim, a população de origem européia atingiu seu maior contingente e ao contrário
do que ocorreu no Nordeste constituiu-se como maioria étnica.

Você já percebeu o quanto esta atividade foi diferente da plantation açucareira?

Vamos pensar um pouco sobre estas diferenças e o quanto ela transformou o espaço
colonial brasileiro.

Enquanto na plantation açucareira era necessária a utilização de grandes datas de terra


que eram doadas às famílias abastadas que tinham forte ligação com a Coroa portuguesa,
e dispunham de muito capital para investir no dispendioso empreendimento que eram os
engenhos, nas áreas mineradoras o descobridor da jazida tinha direito de escolher a sua
data, e a Fazenda Real seguia-o na escolha. Os demais pretendentes à jazida concorriam a
uma distribuição dos lotes conforme o número de escravos que possuíssem, no entanto, os
recursos aí utilizados eram bem inferiores ao da montagem de um engenho, o que tornava
esta atividade, até certo ponto, um pouco mais democrática.

Outro aspecto que divergia da cultura açucareira eram as relações de trabalho, pois
embora a mão-de-obra escrava fosse utilizada como força de trabalho, as relações eram mais
complexas: nas lavras de maior importância utilizavam aparelhos mais especializados e a
mão-de-obra era basicamente de escravos. Na faiscação, com instrumentos rudimentares, os
trabalhadores, mesmo quando reunidos em grande número, trabalhavam por conta própria,
isolados, eram em grande número homens livres e, quando escravos, seus donos fixavam uma
cota de ouro a ser entregue. O excedente dessa cota servia para provê-lo de sua subsistência
e até comprar sua liberdade, o que não era tão fácil.

Outro aspecto importante desses territórios foi o controle exercido pela Coroa
portuguesa sobre os mesmos. Embora a Coroa estabelecesse a livre exploração, exigia que
todos lhe pagassem um tributo referente à quinta parte de todo o ouro extraído. A fiscalização
ficava por conta de um intendente que só se subordinava ao governo de Lisboa, e não raro,
cometia arbitrariedades e atrocidades, nesses territórios mineradores que ficavam sob o
seu inteiro comando.

Uma característica importante da atividade mineradora é que esta se apoiava em núcleos


urbanos e que a população dedicada à mineração não tinha tempo para as atividades de
subsistência. Isto significou que a população das áreas mineradoras teve que se abastecer de
outras regiões. Isto foi um aspecto importante, pois enquanto a zona canavieira manteve-se
isolada, auto-suficiente e desenvolveu a pecuária, atrelada a si, numa área que até então era
um vazio econômico, a mineração integrou e valorizou atividades econômicas pré-existentes,
vamos ver de que forma:

1. As áreas onde se praticava uma agricultura de subsistência e que se mantinham em


um estágio de pobreza absoluta, a exemplo da região de Piratininga (São Paulo) do Sul
de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, passaram a fornecer alimentos para os locais de
mineração, e alcançaram relativo nível de prosperidade.

Aula 07 Formação Territorial do Brasil 3

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2. O Mato Grosso e o Rio Grande do Sul que já praticavam uma pecuária rudimentar de pouco
valor econômico encontrou nas áreas mineradoras locais de consumo para seu produto,
além da especialização espacial que passou a ocorrer com áreas dedicadas à criação,
outras a engorda do gado e áreas de preparação do charque.

3. A pecuária nordestina que se encontrava em crise devido à decadência da atividade açucareira,


encontrou saída para sua carne nas Minas Gerais, através da produção do charque.

4. Como se encontrava longe do mar e não produzia quase nada do que consumia as áreas
de mineração passaram a utilizar largamente o transporte com mulas. Criou-se assim
um grande mercado de animais de carga que valorizou as mulas e foi responsável pela
prosperidade de localidades que se tornaram importantes feiras de muares.

A importância dada às mulas estava relacionada com as condições naturais das áreas
mineradoras, com topografia acidentada. As mulas se adaptavam melhor ao transporte de
cargas, seja das áreas produtoras de alimentos, ou para conduzir o ouro até os portos do litoral
do Rio de Janeiro, de onde retornavam com outras mercadorias não produzidas no Brasil colônia.

Este período áureo da Colônia perdurou por três quartos do Século XVIII, quando as
minas começaram a se exaurir. No mesmo período da mineração do ouro, o Brasil se tornou
também o maior produtor mundial de diamantes, cuja ocorrência estava também associada
aos mesmos terrenos, mas que teve importância secundária em relação ao ouro.

De imediato ao descobrimento dos diamantes, a Coroa portuguesa tentou estabelecer


o mesmo tipo de imposto, ou seja, a extração livre com o pagamento da quinta parte dos
diamantes garimpados, mas como estes são irregulares no tamanho e na qualidade e não
podia ser derretido e cunhado em barras uniformes como se fazia com o ouro, Portugal
teve que usar outra estratégia de controle: Como a ocorrência dos diamantes era em áreas
limitadas, a metrópole portuguesa demarcou essas áreas e transformou em territórios
isolados, sem contato com o restante da colônia, cujo direito de exploração foi entregue
a pessoa privilegiada que deveria pagar uma quantia fixa a Coroa. Dentre estes territórios
estavam o rio Jequitinhonha (Minas Gerais), o rio Claro e Pilões em Goiás, o sudoeste da
Bahia e o alto Paraguai em Mato Grosso, porém a atenção especial foi à área que circunda a
cidade de Diamantina em Minas Gerais.

Em Diamantina, o governo português criou o Distrito Diamantino, que em 1771, saiu


das mãos de particulares e passou a ser administrado pela Fazenda Real sob a direção de um
intendente como se fazia com o ouro, porém com fiscalização mais rígida de onde não se podia
entrar ou sair sem autorização, e onde, nenhum outro órgão administrativo ou jurídico podia atuar.

A decadência da mineração do ouro, que já começava a se esboçar em meados do século


XVIII, tem como uma das principais causas o esgotamento das jazidas. A isso se soma o
despreparo técnico e a falta de recursos dos mineradores. Pois enquanto o ouro era retirado
dos depósitos de aluvião que se encontram na superfície, a extração era relativamente fácil.

4 Aula 07 Formação Territorial do Brasil

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A Coroa portuguesa manteve o Brasil num isolamento e despreparo educacional
sem precedentes no sistema colonial. Sendo assim, tornou inacessível aos mineradores
qualquer conhecimento técnico sobre a sua atividade. Todo o pessoal mais especializado
que se mandava para a colônia eram burocratas, cujo único objetivo era atender ao fisco.
Tais questões não foram levadas em consideração pela metrópole que manteve por estes três
quartos de século uma corte parasitária e esbanjadora e só via como motivo para a queda na
produção aurífera o contrabando.

Mediante este ponto de vista da administração portuguesa e, para evitar os descaminhos


do ouro, a Coroa portuguesa estipulou uma quota mínima que o quinto deveria atingir. Caso
o valor arrecadado não atingisse a cifra de 100 arrobas anuais seria decretado o derrame, ou
seja, toda a população seria obrigada, de acordo com as suas posses, a contribuir para que
a colônia pagasse o tributo. Apesar de estabelecido o derrame, a partir de 1762 o quinto não
atingiu mais a quota fixada.

O diamante teve causas semelhantes para sua decadência, que ocorreu em paralelo a
derrocada do ouro, porém com um agravante: a queda do seu valor no mercado europeu, visto
que este mercado se viu abarrotado dessas pedras precisas. As medidas de restringir o fluxo de
diamantes na Europa, nunca puderam ser de fato efetivadas, pois Portugal em crise financeira
sempre lançava mão de colocar mais diamantes no mercado, levando a uma desvalorização
ainda maior dessas pedras preciosas.

O que a mineração trouxe de transformação ao espaço colonial brasileiro?

Em primeiro lugar, temos que analisar que a mineração se deu num momento em que a
Zona Canavieira, que representou o centro dinâmico da colônia encontrava-se em crise, desta
forma cria-se um novo centro gravitacional para a economia colonial, capaz de atrair sua capital
para o Rio de Janeiro que era de comunicação mais fácil com as minas.

Observamos ainda, que estando nessa região a principal atividade econômica, é natural
que para ela convergia importante fluxo populacional, tanto de homens livres quanto de
escravos provenientes da plantation açucareira.

Outra característica importante dessa atividade era a grande mobilidade dos mineradores no
espaço, visto que o ouro era encontrado nos vales fluviais (os aluviões) que logo se esgotavam.

Assim como a pecuária e as drogas do sertão, a mineração foi capaz de estabelecer


núcleos populacionais que embora distantes e separados entre si, em meio a verdadeiros
vazios econômicos, teve o mérito de ocupar efetivamente imensos espaços e alargou a colônia
portuguesa para além de Tordesilhas. Dava dessa forma um caráter diferente ao povoamento
brasileiro que até então se mantinha na faixada litorânea. (ver Mapa 01 – Ocupação do Brasil
no Século XVIII através das atividades econômicas)

Aula 07 Formação Territorial do Brasil 5

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Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Mauríco de. et. al. – Atlas Histórico Escolar 8ª ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1983.

Mapa 01 – Ocupação do Brasil no Século XVIII através das atividades econômicas

Entretanto, a atividade mineradora diverge das demais atividades que tiveram a colônia
brasileira pelo importante papel de articuladora e incorporadora de regiões que se mantinham
isoladas e sem aproveitamento econômico até o início do século XVIII. Nas regiões mais
interioranas do Brasil, sobretudo em Goiás e no Mato Grosso, a mineração foi responsável pela
atração populacional e pela formação de vilas prósperas, algumas áreas, no entanto, entraram
em profunda estagnação e voltaram a se esvaziar com o fim da mineração.

6 Aula 07 Formação Territorial do Brasil

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Por fim, vamos observar que a mineração teve um papel importante no desenvolvimento
das artes, da literatura, da arquitetura e no sentimento nacionalista brasileiro, mas não podemos
esquecer de que o maior beneficiado com o ouro extraído do Brasil foi a Inglaterra, através do
Tratado de Methuen, pois conseguiu financiar a sua Revolução Industrial na segunda metade Tratado de Methuen
do século XVIII.
Foi um acordo comercial
estabelecido no dia 27 de
dezembro de 1703 entre
Portugal e Inglaterra, no

Atividade 1 qual os portugueses se


comprometiam a consumir
os tecidos da Inglaterra
e outras manufaturas e
os ingleses a consumir
os vinhos de Portugal.
Vamos testar nossa aprendizagem. Com esse acordo que
ficou conhecido como
a) Observe o Mapa 1 da aula e responda: Que importância teve a mineração para Tratado de Panos e
Vinhos, Portugal sufocou
a formação do território do Brasil colonial?
sua manufatura de
tecidos e pagava com
b) Analise as principais características do espaço mineiro. Quais foram os seus o ouro brasileiro suas
aspectos mais marcantes para o Brasil Colônia? importações que eram
muito superiores que suas
exportações.

a)

sua resposta

b)

Aula 07 Formação Territorial do Brasil 7

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A agricultura de gêneros
alimentícios no Brasil:
uma atividade fundamental para a população,
mas sem importância para a economia colonial

C
omo vimos até agora, foi a plantation açucareira para exportação o centro das atenções
econômicas nos primeiros dois séculos de colonização. Todas as demais atividades que
se desenvolviam na colônia lhes eram complementares, subsidiárias e subordinadas.
Foi assim com a pecuária nordestina e também com a economia de subsistência.

A necessidade de alimentar a população dos engenhos ao lado da inviabilidade de importá-


los fez com que surgisse nos próprios domínios da lavoura açucareira uma agricultura de
gêneros alimentícios praticada pelos escravos para abastecer os engenhos, os quais se
tornaram auto-suficientes em sua subsistência.

Essa agricultura que jamais disputou terras com a lavoura de exportação era praticada
tanto pelos escravos que cuidavam exclusivamente da grande lavoura, quando não estavam
ocupados com esta, como também por escravos que faziam outras atividades e cuidavam do
seu próprio sustento utilizando os dias de domingo e santos para se dedicar às suas roças.
Por outro lado, era a pequena produção praticada por homens livres nos interstícios das
atividades principais que respondia pelo suprimento da população urbana, embora também
complementasse o abastecimento da plantation açucareira.

Como mostramos até aqui, a população rural conseguia suprir suas necessidades
alimentares com a produção de uma lavoura diversificada de subsidência que era praticada
nos domínios da cana-de-açúcar, o mesmo ocorrendo com a pecuária, que embora subsidiária
da cana-de-açúcar, recorria à agricultura de subsistência como uma atividade acessória.

Os centros urbanos, que a princípio eram pequenos e sem expressão, e com população
dedicada à administração e ao comércio, já que eram locus do aparelho de dominação colonial,
também se abasteciam dessa produção excedente praticada no campo. Como os engenhos
tiveram que se dedicar cada vez mais à produção açucareira e não se interessavam em desviar
esforços para a produção de alimentos, este setor foi sendo incorporado pela população
indígena e mestiça, que viu nessa forma de abastecimento dos colonos um meio de adquirir as
mercadorias que passaram a necessitar e a desejar. Prado Júnior (1987), vê nessa população
cabocla o embrião de uma classe média entre os grandes proprietários e os escravos.
Posseiro
Diante da estrutura fundiária que se estabeleceu no Brasil, na qual a posse da terra era
É a pessoa que detém de proporcional à quantidade de escravos que cada senhor possuía, a grande maioria da população
fato a posse de uma gleba
de terra, mas não é tono
que não era escrava ou dona de escravos fica excluída do direito a terra. A única forma de ter
por direito da mesma. acesso a este bem de produção foi na condição de posseiro.

8 Aula 07 Formação Territorial do Brasil

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Porém a situação alimentar no Brasil não foi tão simples, visto que todo o interesse voltava-
se para a monocultura de exportação. A colônia enfrentou sempre problemas alimentares, o que
se tornou mais grave quando alguns núcleos urbanos se tornam mais densos, especialmente
no século XVIII. Se para o campo o problema da subnutrição era sério, era ainda mais grave
para os centros urbanos.

O problema da fome e da subnutrição acompanhou a população que vivia à margem e


ao lado da abundância dos ricos senhores de terras, e isto se tornou tão sério que por vários
momentos a administração da colônia tentou obrigar os grandes proprietários a produzir também
gêneros alimentícios, mas esses senhores, donos das melhores terras e dedicados ao produto
mais lucrativo da colônia, jamais se dispuseram a contribuir com a solução desse problema,
cedendo terras e atenção para lavoura alimentar, até porque, não sentiam os problemas da
escassez de alimentos e podiam pagar pelo alto preço dos gêneros que consumiam.

Você deve estar se perguntando: se o nossa disciplina se propõe a discutir a formação do


território brasileiro, por que falarmos da produção de subsistência que não incorporou grandes
áreas ao território brasileiro e se manteve como uma atividade sem importância econômica?

É verdade, a produção alimentar se manteve a parte das culturas de exportação, e


só aquelas áreas que não interessaram a plantation é que foram cedidas à agricultura de
subsistência. As populações que a elas se dedicaram viviam em profundo estado de pobreza e
penúria a exemplo de partes do Sul do Brasil, do Agreste nordestino, do Planalto de Piratininga.
Mas, no momento que estas regiões passaram a abastecer áreas econômicas importantes,
passaram a conhecer relativa prosperidade. Vale ainda salientar que as áreas produtoras de
alimentos apresentam uma estrutura fundiária menos concentrada, com maior número de
pequenas propriedades, e relações sociais menos hierarquizadas.

Por fim, temos que admitir a importância que esta pequena e diversificada produção
teve na viabilização das plantations, da pecuária, do extrativismo e da mineração, pois sem o
fornecimento de alimentos, ainda que precário, nenhuma dessas atividades poderia se manter
e fixar populações nesses rincões do território colonial.

Atividade 2
Vamos refletir sobre a produção alimentar no Brasil.

a) Analise as diferenças sócio-espaciais e econômicas entre a plantation e a


cultura de subsistência.

b) Qual foi o papel da agricultura de subsistência diante das principais atividades


econômicas da colônia?

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a)

sua resposta

b)

Ao terminar esta aula queremos lembrar que o assunto não se esgota nessas poucas
páginas, porém esperamos que nossa conversa tenha despertado em você o desejo para se
aprofundar na discussão, para tanto sugerimos algumas leituras que ajudaram você a conhecer
mais detalhes sobre a importância da mineração nessa fase de formação do nosso território.

Até a próxima aula quando discutiremos a importância da borracha, do algodão e do café


na consolidação dos seus respectivos espaços produtivos ao território brasileiro.

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Resumo
Com esta aula tivemos a oportunidade de conhecer do quanto o espaço produzido
pela atividade mineradora foi diferente dos espaços produzidos por outras
economias, pois nele se instalou uma sociedade mais urbana, mais democrática,
mais questionadora e de maior mobilidade social, onde havia uma maior circulação
monetária capaz de integrar outros espaços que embora já estivessem ocupados
com a pecuária e com a agricultura de subsistência permaneciam isolados e a
margem de uma possível integração e de um efetivo aproveirto econômico. Por
fim, tivemos a oportunidade de entender que embora a agricultura de subsistência
tenha permanecido à margem das principais economias da colônia, foi o esteio
para todas elas e permitiu o desenvolvimento do traballho livre numa sociedade
escravagista, cuja posse da terra estava nas mãos de alguns poucos privilegiados.
Você viu também que a agricultura alimentar pelas suas características tão
diferentes da plantation configurou uma outra organização espacial, com estrutura
fundiária menos consentradora e melhor distribuição da renda, tal como ocorre
na região Agreste e no Sul do País.

Autoavaliação
Agora só nos resta ver o que aprendemos e onde residem nossas dúvidas.

a) Diante do que você estudou, explique a seguinte afirmativa de Ruy Moreira: “Embora o
essencial das relações de classe permaneça, o arranjo do espaço mineiro expressa essa
fantástica reorganização da vida colonial”.

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b) Apesar da pouca atenção que foi dada à policultura alimentar, ela cumpriu um importante
papel na organização do nosso espaço. Qual foi?

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Leituras complementares
Além da leitura do texto outras fontes são importantes para você aprofundar seu
conhecimento sobre o assunto que abordamos. Sugerimos que você leia:

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

Como nos referimos na aula anterior trata-se de um clássico da formação econômica do


território brasileiro. Para essa aula é interessante que você leia o Capítulo 5 e 7cujos respectivos
títulos são: “Atividades acessórias” e “A mineração e a Ocupação do Centro-Sul”.

MOREIRA, Ruy. Formação do Espaço Agrário Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1990.
(Coleção tudo é história, número 132).

Este renomado geógrafo faz uma análise sucinta, porém esclarecedora da formação do
espaço agrário brasileiro que nos ajuda a entender problemassociais e econômicos do nosso
país, cuja origem está no processo histórico de formação do nosso espaço.

Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo:
Atlas, 1982,

______. A terra e o homem no Nordeste: contribuição ao estudo da questão agrária no


Nordeste. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1986.

______, A questão do território no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995.

______, Formação territorial e econômica do Brasil. Recife: FJN/Editora Massagana, 2003.

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.

MOREIRA, Ruy. Formação do Espaço Agrário Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1990.
(Coleção tudo é história, número 132).

PEREGALLI, Enrique, Como o Brasil ficou assim?: formação das fronteiras e formação das
fronteiras e tratados dos limites. São Paulo: Global Ed., 1982. (História popular; 9)

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Bertrand
Brasil,1990.

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Anotações

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Anotações

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Anotações

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Formação Territorial do Brasil – GEOGRAFIA

EMENTA

Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.

AUTORES

> Antonio Albuquerque da Costa

> Paulo Sérgio Cunha Farias

AULAS

01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia

02 A territorialização ibérica do mundo e a expansão do capitalismo na sua fase embrionária

03 A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização


do colonizador português no Brasil (as feitorias)

04 A territorialização de fato do colonizador português: as capitanias hereditárias e a plantation açucareira

05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”

06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia

07 A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil Central

08 A ocupação antiga do Brasil meridional

09 A ocupação moderna e definitiva do sul

10 O “arquipélago” de “ilhas” econômicas do Império e da Primeira República

11 A Primeira República e a consolidação das fronteiras

12 Do arquipélago de “ilhas” econômicas à integração do território

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D I S C I P L I N A Formação Territorial do Brasil

A ocupação antiga do Brasil meridional

Autores

Antonio Albuquerque da Costa

Paulo Sérgio Cunha Farias

aula

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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação
Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED


Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Estadual da Paraíba

Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel

Secretária de Educação a Distância Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPE


Vera Lúcia do Amaral Eliane de Moura Silva

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN

Coordenador de Edição Diagramadores


Ary Sergio Braga Olinisky(UFRN) Ivana Lima (UFRN)
Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)
Projeto Gráfico
José Antonio Bezerra Junior (UFRN)
Ivana Lima (UFRN)
Mariana Araújo de Brito (UFRN)
Vitor Gomes Pimentel (UFRN)
Revisoras Tipográficas
Adriana Rodrigues Gomes (UFRN)
Revisora de Estrutura e Linguagem
Margareth Pereira Dias (UFRN)
Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Nouraide Queiroz (UFRN)

Arte e Ilustração Revisora de Língua Portuguesa


Adauto Harley (UFRN) Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Carolina Costa (UFRN)
Heinkel Hugenin (UFRN)
Leonardo Feitoza (UFRN)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.

Formação Territorial do Brasil/ Antônio Albuquerque da Costa; Paulo Sérgio Cunha


Farias. – Campina Grande: EdUEP, 2009.

385 p.: il.

ISBN: 978-85-7879-050-9

1. Geografia - Brasil. 2. Geografia – Estudo e Ensino. I. Farias, Paulo Sérgio Cunha.


II. Titulo.

21. ed. CDD

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

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Apresentação

A
porção meridional do atual território brasileiro só tardiamente foi anexada ao espaço
colonial português no Novo Mundo. Primeiramente, esse pedaço de território entrou
para a história política e administrativa da colônia, em fins do século XVII. Contudo,
economicamente, só começou a contar como área com função produtiva dentro da divisão
territorial do trabalho no interior do espaço colonial, na segunda metade do século XVIII,
quando serviu à prática da pecuária e, secundariamente, à agricultura em pequenos trechos
do seu território.

Inserida numa área-chave do comércio internacional e do acesso às minas de Potosí


– a Bacia do Prata (ver mapa 01), essa região foi arduamente disputada por espanhóis e Bacia do Prata
portugueses e, mais tarde, por argentinos e brasileiros. Assim, tanto portugueses quanto
Bacia do Prata – Rede
espanhóis, sem disporem inicialmente de projetos para a sua ocupação econômica efetiva, hidrográfica formada
procuraram, inicialmente, ocupar militarmente a área em questão. pelas bacias dos Rios
Paraná, Paraguai,
Uruguai e da Prata,
possui aproximadamente
3.200.00 Km² nos
territórios da Argentina,
Bolívia, Brasil,
Paraguai e Uruguai.
É a segunda maior
bacia hidrográfica da
América do Sul.

Mapa 01 – Bacia do Prata

Fonte: Atlas Escolar, s.l.: Ciranda Cultural, 2002.

Aula 08 Formação Territorial do Brasil 1

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Portugueses e espanhóis, em suas contendas para afirmar suas territorialidades na região,
valeram-se, além da ocupação militar, de outras estratégias. Os espanhóis, por exemplo,
usaram as missões religiosas para afirmar o seu domínio e frear o avanço português. Por seu
turno, Portugal se valeu das bandeiras, da imigração açoriana e das grandes fazendas de criar
gados para expandir e assegurar o seu domínio do território.

Os avanços portugueses na região foram motivos de contendas intensas com os


espanhóis. As tentativas de solução dessas contendas aconteceram quando da assinatura de
novos tratados - Madri e Santo Ildefonso, por exemplo, que remodelaram os contornos das
possessões das duas nações ibéricas na região. Contudo, mesmo a assinatura de tratados,
que pretenderam definir e demarcar os limites entre Portugal e a Espanha nessa porção do
subcontinente sul-americano, essa disputas não foram completamente resolvidas. Algumas
disputas territoriais foram transmitidas como herança para o Brasil e para a Argentina
– a exemplo da região de Palmas, que reclamada pela Argentina, só foi assegurada como
pertencente ao Brasil em 1895.

Nessa aula viajaremos com você ao passado da nossa formação territorial para desvendar
as primeiras formas da ocupação portuguesa do Brasil meridional. Para isso, é importante
que você estude com atenção esse conteúdo, realize as atividades, consulte a bibliografia
complementar e, em caso de persistência de dúvidas, busque esclarecimentos com o tutor
ou professor da disciplina.

Objetivos
Com essa aula, esperamos que você:

Perceba as estratégias utilizadas por portugueses e


1 espanhóis para estabelecerem a posse e o controle de
territórios na Bacia do rio da Prata.

Entenda o papel que tiveram as bandeiras e a pecuária para


2 a consolidação da posse e do controle dos portugueses
sobre amplo território na região.

Conheça as disputas, os conflitos e os tratados que deram


3 forma ao Brasil Meridional.

Compreenda o papel que tiveram os assentamentos de


4 colonos açorianos na ocupação de pontos do litoral do
Brasil Meridional.

2 Aula 08 Formação Territorial do Brasil

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Bandeiras, missões, pecuaristas e açorianos:
a estratégias portuguesas e espanholas
para a conquista de territórios no cone sul

Vamos começar nossa conversa...


Até o final do século XVII as fronteiras meridionais do Brasil Colônia com os domínios
espanhóis na bacia platina se apresentavam imprecisas, desconhecidas e descuidadas (PRADO
JÚNIOR, 1987, p. 94). Nesse período, a porção meridional do atual território brasileiro não
parecia de grande interesse para os colonizadores. Em virtude disso, ninguém se preocupou
em fixar ai o local onde se tocavam as possessões espanholas e portuguesas. Nesse sentido,
no período em foco, dada a ausência de interesses econômicos dos colonizadores, essa área
não apresentava assentamentos humanos estabelecidos pelos países ibéricos, especialmente
no seu interior. Nela, predominava, ainda, a presença dos assentamentos humanos de vários
povos indígenas, que refletiam as suas formas específicas de relação com a natureza.

De acordo com Caio Prado Júnior:

[...] A linha imaginária do acordo de Tordesilhas (1494) devia passar mais ou menos na
altura da ilha de Santa Catarina; mas nenhuma das duas coroas ibéricas tratou jamais de
a determinar com rigor [...] (PRADO JÚNIOR, 1987, p. 93).

Assim, as possessões das duas nações ibéricas na área da Bacia do rio da Prata não
estavam claramente definidas.

Durante o período da União Ibérica (1580-1640), a questão da definição dos limites entre
as possessões das duas Coroas não teve naturalmente especial atenção, já que tudo pertencia
a um mesmo soberano: o rei da Espanha (PRADO JÚNIOR, 1987, p. 94).

Contudo, conforme nos relata Caio Prado Júnior, com

[...] a restauração, o rei de Portugal, grandemente preocupado com sua colônia americana
[era a última possessão ultramarina de valor que lhe sobrara], tratou seriamente de fixar-
lhe as fronteiras, sobretudo neste setor meridional onde os estabelecimentos portugueses
e espanhóis mais se aproximavam um dos outros, e onde, portanto, os choques eram
mais de temer (PRADO JÚNIOR, 1987, p. 94).

Após a separação das duas Coroas e, portanto, do fim da União Ibérica, os limites da


ocupação efetiva dos portugueses da sua colônia americana eram ao sul da Capitania de São
Vicente, após São Paulo. O alcance da ocupação portuguesa tinha chagado só nas proximidades
da costa, parte do território que hoje forma o Estado do Paraná. Por outro lado, os espanhóis
fixados em Buenos Aires, na margem direita do Rio da Prata, não tinham avançado muito
rumo ao norte. Esses, pelo interior, subiram ao longo dos rios Paraná e Paraguai. Portanto,
entre as duas possessões coloniais das nações ibéricas no cone sul existia um grande vácuo,
que permanecia deserto e inocupado pelos colonizadores (PRADO JÚNIOR, 1987, p. 94-95).

Aula 08 Formação Territorial do Brasil 3

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Não obstante, esse imenso território sem assentamentos humanos coloniais, foi, desde o
princípio do século XVII, percorrido intermitentemente pelas bandeiras paulistas aprisionadoras
de índios para a escravização. Contudo, como já conversamos com você nas aulas anteriores,
essa modalidade de bandeira teve um caráter desterritorializador e despovoador. Não serviu,
portanto, para fixar o colonizador, pelo menos nesse período, nessa área.

Os primeiros assentamentos portugueses na área foram estabelecidos no litoral


paranaense e se basearam na mineração praticada por antigos habitantes de São Vicente.
Esses chegaram nesse pedaço de território no começo do século XVII e, ao se fixarem nele,
deram origem, em 1648, a Vila de Paranaguá. O correr das notícias da existência de minas de
prata na região levou a ocupação de vários outros lugares ao sul de Paranaguá: São Francisco
do Sul (1658), ilha de Santa Catarina (1675) – localidades nas quais a ocupação espanhola
processada no século anterior quase não deixara vestígios, e Laguna (1675). Esses núcleos
de ocupação foram, respectivamente, nas épocas em que surgiram, os mais avançados da
costa meridional e os núcleos básicos da ocupação colonial portuguesa em Santa Catarina
(MAGNANINI e SOUTO MAYOR, 1977, P. 144-146).

Como bem nos lembram Ruth da Cruz Magnanini e Ariadne Soares Souto Mayor:

A divulgação destas riquezas minerais – prata que não existia e ouro de lavagem, logo
esgotado – não só atraiu os portugueses para o trecho litorâneo como os levou a procurar
realizar o plano de dominá-lo até o rio da Prata antes que os espanhóis novamente se
estabelecessem em alguns portos desta faixa, garantindo a posse das minas que por ventura
existissem e estendendo a fronteira sul ao estuário platino que consideravam como o limite
natural do território brasileiro. Levando a cabo as suas pretensões, edificaram, em 1680, à
margem esquerda do rio da Prata, não ocupada pelos castelhanos, a Colônia de Sacramento
(MAGNAINI e SOUTO MAYOR, 1977, p. 146. Grifos nossos) (Ver mapa 02).

Fonte: MAGNOLI, Demétrio et. al. – Conhecendo o Brasil: Região Sul. São Paulo: Moderna, 1996.

Mapa 02 – Localização da Colônia de Sacramento.

4 Aula 08 Formação Territorial do Brasil

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A criação dessa colônia portuguesa na confluência dos rios Uruguai e da Prata foi o
estopim para os conflitos entre portugueses e espanhóis na região. Foi, no dizer de Peregalli
(1982, p. 23), o “pomo da discórdia” entre as duas Coroas na porção austral do subcontinente
sul-americano. Ainda de acordo com Enrique Peregalli:
Desde sua fundação por Manuel Lobo (1680), que na época governava o Rio de Janeiro,
até 1777, data em que foi definitivamente entregue aos espanhóis, [a Colônia de
Sacramento] transformou-se em terra de conflitos [...] (PEREGALLI, 1982, p. 23).

Você sabe por que os dois impérios coloniais ibéricos disputaram de forma tão acirrada
e intensa esse pedaço de território? Vamos prestar atenção ao que nos diz sobre isso o
historiador Enrique Peregalli:
Fornecendo desde seu porto mercadorias relativamente baratas - que incluía negros
escravos – às populações platinas em troca de prata, a colônia significou durante sua
existência um desafio ao sistema monopolista espanhol.

O Rio da Prata [...] necessitou ser ocupado pelos castelhanos para deter o avanço lusitano:
a política da coroa espanhola foi manter os portugueses longe de Potosí. A enseada de
Montevidéu, o melhor porto natural do estuário, foi ocupada em 1724 para expulsar os
portugueses que haviam se instalado ali (PEREGALLI, 1982, p. 23-24).

Como você pôde perceber a área era de extrema importância geopolítica para os
espanhóis. Manter o controle sobre ela era primordial para afastar os portugueses de uma
Questão Cisplatina
das suas áreas coloniais mais ricas: Potosí e suas rentáveis minas de prata. Nesse sentido,
Foi o primeiro conflito
a Colônia de Sacramento representava uma ameaça portuguesa que precisava ser destruída.
armado do Império
Brasileiro contra as
Você sabe como os espanhóis empreenderam a destruição da ameaça representada pela
Províncias Unidas do Rio
Colônia de Sacramento? da Prata (primeiro nome
adotado pela Argentina,
Para destruírem a Colônia de Sacramento os espanhóis se valeram de um velho inimigo
até a sua constituição de
dos portugueses: os jesuítas. Esses enviaram quatro mil índios guarani, treinados e armados 1826) no período de 1825
pela Companhia, que, incorporados aos regimentos espanhóis, cercaram a Colônia. Como a 1828, pela posse da
Província da Cisplatina,
pagamento por esse serviço prestado a Coroa Espanhola, os jesuítas obtiveram o direito de
que resultou na formação
transportar gado selvagem para as missões (PEREGALLI, 1982, p. 24). do Estado uruguaio.

Todavia, isso não resolveu definitivamente a questão. A Colônia de Sacramento foi


construída, destruída e reconstruída diversas vezes até ser definitivamente restituída aos
espanhóis em 1777, quando da assinatura do Tratado de Santo Ildefonso. Cabe lembrar para Vice-Reino do Prata

você que o segmento de limites com o Uruguai foi produto dos acordos que concluíram O Vice-Reino do Rio
a Questão Cisplatina durante o império, e o traçado final representou significativo avanço da Prata foi criado pela
Espanha, em 1776, para
territorial brasileiro sobre os territórios que, no período colonial, pertenceram ao Vice-Reino do evitar o avanço de outras
Prata. No período colonial, na região, foi estabelecido o segmento de limite entre as possessões potências, sobretudo
portuguesas e espanholas equivalente ao rio Uruguai, o qual demarca hoje o limite do Rio Portugal e Inglaterra, na
região da América do
Grande do Sul com a atual província argentina de Corrientes.
Sul que correspondem
Como você notou, a ocupação pontual de trechos do litoral no século XVII continuou hoje aos territórios da
Argentina, Uruguai,
deixando o interior do território vazio da presença colonial portuguesa. Da mesma forma, no
Paraguai e Bolívia.
mesmo período, a presença da colonização espanhola também ainda não se fazia concretamente
presente na imensidão dessas plagas interioranas.

Aula 08 Formação Territorial do Brasil 5

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O relativo abandono do interior do Brasil Meridional refletia a ausência de uma orientação
econômica clara dos colonizadores para a região. Enfim, faltavam atividades produtivas
relevantes que inserissem esse pedaço de território nas divisões territoriais do trabalho do
espaço colonial e dos circuitos do mercantilismo europeu como um todo. Daí, no século XVII,
ter imperado como estratégia geopolítica para assegurar a posse e o controle do território à
ocupação militar.

No caso da Espanha, que estabeleceu um modelo de colonização que concentrava todos


os seus esforços nas áreas de maior relevância econômica – Potosí, Planalto Mexicano, Peru
etc. – recorreu às missões religiosas, já no século XVII, como estratégia geopolítica para frear
o avanço lusitano e assegurar a posse e o controle do território na região em apreço. Conforme
nos lembra Enrique Peregalli:

A Companhia de Jesus controlou todo o norte do atual Uruguai, as Missões Orientais, o


Alto Uruguai e as missões guaraníticas do Paraguai. Construindo um amplo círculo em
torno das possessões portuguesas. Chiquitos e Moxos na Bolívia e as missões Maynas
na Amazônia. Os jesuítas atuaram, na prática, como um contraforte capaz de brecar o
avanço lusitano (PEREGALLI, 1982, p. 24).

Foram os jesuítas espanhóis os precursores da ocupação do Planalto Ocidental e os


responsáveis pela introdução e difusão do gado no sertão sulino. Em 1609 partiram eles de
Assunção, no Paraguai, e alcançaram o oeste paranaense onde, no mesmo ano, fundaram a
província de Guaíra, composta por várias reduções. Embora fosse objetivo dos missionários a
catequese dos índios, trataram também da disciplinação do índio para o trabalho numa diretriz
econômica, desenvolveram a agricultura, a pecuária, a exploração de madeira e serviram para
afirmar a presença espanhola nesses territórios (MAGNANINI e SOUTO MAYOR, 1977, p. 147).

Quanto aos colonizadores portugueses, como agiram para ocupar de forma efetiva
territórios na região?

Em fins do século XVII, os portugueses utilizaram Laguna, até então o ponto mais
avançado lusitano no litoral sul, para estabelecer núcleos esparsos de ocupação no litoral,
que iam de Santa Catarina ao Rio Grande do Sul.

O primeiro embrião de núcleo urbano surgiu em 1737, quando o governo português


ordenou a fundação de um forte que visava plantar as bases da posse oficial e efetiva do Rio
Grande do Sul e a defesa da parte do litoral que ia de Laguna à Colônia de Sacramento. Esse
forte foi o de Jesus Maria José, erguido à margem do canal sangradouro da Lagoa dos Patos.
Em torno desse forte formou-se o núcleo da primeira vila instalada no Estado do Rio Grande do
Sul - Rio Grande de São Pedro (1751) – hoje a cidade de Rio Grande. A criação desse núcleo
foi a ponta de lança para a concessão de sesmarias até Santa Vitória do Palmar, as quais os
seus proprietários utilizaram para a criação de gado. Outro núcleo importante para a ocupação
portuguesa do litoral da região foi o de São José do Norte (1763), este se originou quando
os espanhóis bloquearam a Colônia de Sacramento e atacaram a vila de Rio Grande de São
Pedro, cujos habitantes fugiram para Laguna, Rio de Janeiro e alguns para o outro lado do
canal, onde fizeram florescer São José do Norte (MAGNANINI e SOUTO MAYOR, 1977, p. 146).

6 Aula 08 Formação Territorial do Brasil

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Contudo, esses núcleos esparsos fixados nos litorais gaúcho e catarinense não
representavam garantia de manutenção da posse do território e nem da sua defesa. Desse modo,
como agiram os portugueses? Pautados no princípio segundo o qual o território pertencia a
quem o ocupasse de fato, os portugueses, diante da fragilidade para a garantia da posse da terra
dos núcleos esparsos do litoral, resolveu introduzir nele, em 1748, o sistema de colonização
com “casais açorianos”. Com essa estratégia, tinham como meta completar a ocupação,
estabelecendo um tipo de povoamento mais contínuo em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.

Para atrair os açorianos, que se tratavam de camadas pobres ou médias da população


portuguesa da Ilha dos Açores, o Estado português lhes concedeu uma série de vantagens para
que aceitassem se estabelecer no sul do Brasil: despesas com o transporte desde Açores ao
sul do Brasil, as terras a serem ocupadas (previamente demarcadas em pequenas parcelas),
vários auxílios gratuitos ou a ser pagos em longo prazo (instrumentos agrícolas, sementes,
animais de trabalhos etc.), entre outros (PRADO JÚNIOR, 1987, p. 96).

Como era necessário defender o território ocupado das incursões estrangeiras e por se
tratarem de territórios contestados pela Espanha, a localização dos assentamentos açorianos
foi geoestrategicamente escolhida, fazendo-se em pontos descontínuos do litoral. Em Santa
Catarina, os açorianos foram assentados na ilha de Santa Catarina - área continental fronteiriça
a ela (São Miguel, São José e Enseada do Brito), e no entorno de Laguna (Vila Nova e Campos
de Santa Maria). No Rio Grande do Sul os açorianos foram estabelecidos no litoral (Rio Grande,
Estreito, Mostardas e Osório) e na Depressão Central (Viamão, Morro de Santana, Porto Alegre,
Taquari e Rio Pardo)

A instalação de açorianos era vista pelo governo português como uma oportunidade
de, através da agricultura, fixar o homem à terra, contribuindo, desse modo, para reforçar
a ocupação do litoral. Tanto em Santa Catarina quanto no Rio Grande do Sul a agricultura
praticada pelos açorianos não foi além da produção familiar para a subsistência.

Como bem ressalta Prado Júnior (1987, p. 96), os assentamentos açorianos compuseram
uma “ilha” muito pequena, aliás, sem importância apreciável no conjunto da colônia. Mesmo
computando apenas este setor meridional de que nos ocupamos, seu papel foi reduzido, o
que contou nele foram as grandes fazendas de gado do interior (as estâncias), das quais
conversaremos com você logo a diante.

Portanto, se foram essas as estratégias portuguesas para ocupar, defender e assegurar


a posse do território no litoral, foi a pecuária que viabilizou a ocupação e a posse do interior
do Brasil Meridional.

Como já comentamos para você, o interior do sul do Brasil – o Planalto Ocidental e o


sertão, foi percorrido pelos bandeirantes vicentinos desde os princípios do século XVII. Esses
sabedores da existência das missões espanholas, que, como vimos estavam em pleno processo
de desenvolvimento de atividades econômicas, notadamente com a prática da pecuária, e
de catequização dos índios desde 1609, dirigiram-se para essas missões com a intenção de
realizar facilmente o apresamento dos índios já agrupados e acostumados ao trabalho bem

Aula 08 Formação Territorial do Brasil 7

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como o apresamento de animais de transporte. Movidos por esse objetivo, os bandeirantes
vicentinos destruíram as reduções e conduziram um grande número de indígenas para São
Paulo. Após esse ataque às missões, os indígenas que escaparam foram conduzidos pelos
jesuítas espanhóis para o Rio Grande do Sul, nele os religiosos fundaram as missões de Tape
e 10 outras no atual noroeste do território gaúcho e no território argentino que atualmente
corresponde ao da Província de Missiones. Essas missões logo foram alcançadas e destruídas
pelos bandeirantes vicentinos. Antes de fugirem do Tape, os jesuítas espanhóis soltaram o gado
que se dispersou pelos campos do sul da bacia do rio Camacuã, área que se tornou conhecida
como Vacaria do Mar (MAGNANINI e SOUTO MAYOR, 1977, p. 147).

Os jesuítas espanhóis, após 50 anos, retornaram ao Rio Grande do Sul, aldeiando


indígenas em menor número de reduções, nas quais eles foram armados e treinados para a
defesa contra as incursões dos bandeirantes vicentinos. Essas missões formaram os chamados
Sete Povos das Missões Orientais do Uruguai (MAGNANINI e SOUTO MAYOR, 1977, p. 148),
razão de disputas posteriores ferrenhas entre portugueses e espanhóis nas ocasiões das
assinaturas dos tratados que pretenderam definir e delimitar os contornos das possessões
territoriais das duas nações ibéricas na América da Sul.

O gado deixado pelos jesuítas na Vacaria do Mar deu origem ao rebanho da Campanha
Gaúcha. Por outro lado, ao retornarem, os jesuítas salvaram as cabeças de gado restantes,
reunindo-as em uma vacaria mais protegida no Nordeste no Rio Grande do Sul, dando origem
a Vacaria dos Pinhais, assim nomeada por se tratar de zona de Campos, cercada de Mata de
Araucária. A existência da Vacaria dos Pinhais logo despertou o interesse dos moradores de
Laguna. Esses para ela rumaram, abrindo o caminho que atravessava a encosta da Serra Geral
entre Santo Antônio da Patrulha e São Francisco e alcançaram os Campos, apropriaram-se
da região após expulsarem jesuítas e indígenas. A partir daí, estabeleceu-se o comércio entre
Laguna e as vacarias e depois entre elas e São Paulo, tornando conhecida a vasta zona dos
Campos Meridionais (MAGNANINI e SOUTO MAYOR, 1977, p. 148).

A descoberta da riqueza aurífera e das pedras preciosas em Minas Gerais, Goiás e Mato
Grosso trouxe um novo impulso para a pecuária do sul. A demanda por animais de transporte
para transportar a riqueza mineral do interior do território colonial até os portos, especialmente
o do Rio de Janeiro, em um período de difícil ligação entre o interior e a marinha, cujos
caminhos não permitiam o uso de carroças e carros de boi, despertou o interesse pelo uso de
animais de carga, escassos em São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Foi por esse motivo que os
paulistas, que até então haviam incursionado pelo sul em demanda das reduções jesuíticas
para prear índios, resolveram alcançar os campos gaúchos com o intuito de obter animais
de carga que lá existiam em abundância, para vendê-los por altos preços para as áreas de
exploração mineral. As incursões dos paulistas no sul para obter esses animais fizeram surgir
o “caminho do sul” (Ver mapa 03 - Caminhos do Gado do Sul), que ligava Viamão à Sorocaba,
que se destacou como centro de comercialização de animais. O caminho do sul foi um marco
inicial da ocupação luso-brasileira da vasta área dos campos meridionais, juntamente com o
que se estabelecera ligando Laguna às vacarias.

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Fonte: http://www.paginadogaucho.com.br/bibli/anita05.gif

Mapa 03 – Caminho do gado no Sul do Brasil

Nas margens do caminho do sul surgiram os primeiros assentamentos humanos voltados


para o tratamento dos rebanhos, muitos desses assentamentos originaram, posteriormente,
núcleos urbanos (Bom Jesus-RS, por exemplo) e depois sesmarias onde se fixaram os
criadores de gado – as estâncias. Nas áreas de mata originaram-se pousos que evoluíram
para povoados, vilas e, posteriormente, cidades (MAGNANINI e SOUTO MAYOR, 1977, p. 148).

Com o surgimento do caminho do sul, Laguna perdeu a função de nó ou de ponto


obrigatório de passagem na rede que ligava as áreas de criação dos animais aos lugares de
comercialização dos animais para os lugares de consumo localizados nas áreas de mineração

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e em São Paulo bem como o de principal centro do extremo meridional da colônia. Este
lugar passou a ser ocupado por Curitiba. Essa cidade nasceu quando sujeitos procedentes de
Paranaguá, em busca de jazidas auríferas, alcançaram o Planalto. O núcleo curitibano cresceu
aos impulsos da criação de gado introduzida em 1668, que foi, todavia, incrementada após a
abertura do caminho do sul, do qual se transformou também em lugar de posição geográfica
invejável como ponto de passagem.

Se foram os lagunenses que ocuparam a costa gaúcha e os Campos de Viamão e de


Vacaria, foram as bandeiras paulistas dos séculos XVIII e XIX que, propiciadas pelo caminho
do sul, ocuparam o Planalto Meridional. Essas bandeiras tiveram um caráter diferente das
anteriores (século XVII) por terem sido povoadoras. Nesse processo, a pecuária foi o fator
econômico preponderante para a ocupação. Por outro lado, a razão da sua instalação no sul
se prendia às demandas por animais de transporte e pela carne nas áreas de mineração.

Campos Gerais Em sua marcha, a pecuária se instalou nos Campos Gerais (ver mapa 05) nos primeiros
A expressão “Campos
anos do século XVIII, quando criadores de gado provenientes de Curitiba neles de fixaram. Mas,
Gerais do Paraná” foi a expansão dessa atividade econômica nos Campos Gerais se deu quando das investidas dos
consagrada por MAACK paulistas em direção ao sul, que transformou a área em via natural para atingir a campanha
(1948), que a definiu como
gaúcha. (ver gravura 01 e mapa 05)
uma zona fitogeográfica
natural, com campos
limpos e matas galerias 53°
ou capões isolados de
floresta ombrófila mista, 50°
onde aparece o pinheiro
araucária. Nessa definição, 25°
a região é ainda limitada
à área de ocorrência MS Londrina

Fonte:http://www.uepg.br/dicion/campos_gerais.htmAcessado em 09 de janeiro de 2009.


desta vegetação que a
caracteriza situada sobre SP
o Segundo Planalto
Campo Mourão
Paranaense, no reverso
da Escarpa Devoniana, a
Tibagi
qual o separa do Primeiro Jaguaraíva
Planalto, situado a leste.
In: http://www.uepg.br/
PR Castro
dicion/campos_gerais.
htm . Acessado em 09 de Ponta Grossa
Janeiro de 2009. Guarapuava Curitiba
Foz do Iguaçu Irati
Lapa

Campanha gaúcha 26°


União da Vitória
Atlântico
São os campos do planalto
Meridional, vegetação 100km
formada por gramíneas SC
que constituem excelente
pastagem natural. No Rio 1 2 3
Grande do Sul é conhecida
também como Pampas. ELABORADO POR MÁRCIO SÉRGIO DE MELO, BASEADO EM MAACK 1948

Mapa 04 – Localização dos Campos Gerais do Paraná

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Mapa 05 – Domínios Morfoclimáticos do Brasil
Gravura 01 – Campanha Gaúcha (desenho de Percy Lau)

Aula 08
Fonte: AB’SABER, Aziz – Os domínio de natureza no Brasil: potencialidades
paisagísticas. São Paulo; Ateliê Editorial, 2003

Formação Territorial do Brasil


Fonte: AB’SABER, Aziz – Os domínio de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo; Ateliê Editorial, 2003

11

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A intensa circulação no caminho do sul propiciada pela pecuária resultou no
estabelecimento de vários pousos de tropas nos Campos Gerais, a exemplo de Jaguariaíva,
Pirai do Sul, Castro, Ponta grossa, Palmeiras, Lapa, entre outros.

O caminho do sul, depois de atravessar um trecho ocupado pela Mata de Araucária,


alcançou os Campos de Lajes. Esses, apesar de já apresentar uma ocupação esparsa originária
de vacaria, tiveram na chegada das bandeiras povoadoras paulistas (1766) o instrumento
para a consolidação da sua ocupação. Nos Campos de Lages (ver localização no Mapa 06),
a pecuária, praticada por criadores de gado oriundos de São Paulo, de Curitiba, entre outros,
mais a presença do caminho do sul, deram origem a vários núcleos que posteriormente se
transformaram em cidades: Rio Negro (PR), Mafra, Curitibanos, Ponte Alta e São Joaquim,
em Santa Catarina.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:SantaCatarina_Micro_CamposdeLages.svg – Acessado em 09 de janeiro de 2009.

Mapa 06 – Localização da região de Campos de Lages no Estado de Santa Catarina

Na antiga Vacaria dos Pinhais no Rio grande do Sul, que foi ocupada por lagunenses e
paulistas, surgiu, para atender as necessidades dos fazendeiros da área, a cidade de Vacaria.
Contudo, foi a construção, em 1761, da capela para o culto a Nossa Senhora das Oliveiras,
que propiciou a formação do povoado que deu origem a essa cidade.

12 Aula 08 Formação Territorial do Brasil

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A pecuária também possibilitou a ocupação dos Campos de Guarapuava e de Palmas.
Esses campos, por se localizarem fora do percurso do caminho do sul, bem a oeste, foram os
últimos a serem ocupados. O Campo de Guarapuava foi ocupado entre 1768 e 1819, através
de bandeiras paulistas, que expulsaram os índios e neles implantaram a criação de gado.
Em 1819, os paulistas instalaram o núcleo que originou Guarapuava, primeira vila do oeste
paranaense e atual cidade do mesmo nome. Guarapuava se tornou a base para a expansão dos
criadores de gado pelos Campos de Palmas. A ocupação dos Campos de Palmas ocorreu a
partir de 1839-40 e firmou-se depois de 1845, na ocasião em que foram abertas as veredas que
os ligavam aos Campos do Rio Grande do Sul. As veredas possibilitaram que em Guarapuava
e em Palmas se desenvolvessem sociedades pastoris com organização própria, que, assim,
deixaram de ser simples áreas complementares dos Gerais. As veredas que foram abertas
autorizaram a ocupação luso-brasileira dos últimos campos do sul - Passo Fundo, Cruz Alta,
Palmeira, Soledade, Nonai, Santo Ângelo e São Borja (este já ocupado por conquistadores
provenientes de Porto Alegre) (MAGNANINI e SOUTO MAYOR, 1977, p. 148).

Como você pôde perceber, se no século XVII Portugal procurou garantir a posse do
território meridional unicamente pela força das armas, a partir do século XVIII isso foi feito
através da ocupação econômica efetiva, na qual a pecuária ocupou um lugar destacado. Com
ela, o sul se inseriu como espaço complementar - especialmente das áreas de mineração, na
divisão territorial da produção do espaço colonial português no continente americano. Para
viabilizar a posse e o uso do território com a pecuária, a administração portuguesa distribuiu,
através do sistema de sesmarias, propriedades a granel que, como ocorreu no Rio Grande do
Sul, foi responsável pela formação de propriedades gigantescas.

A decadência da pecuária nordestina também abriu as possibilidades para que a pecuária


do sul deixasse de ser simples fornecedora de couro e de animais de transporte para o mercado
externo e para as áreas de mineração, respectivamente, e se transformasse em fornecedora de
carne-seca (localmente denominada de charque) para o mercado colonial, já no final do século
XVIII. A produção do charque deu origem às charqueadas, que, a exemplo do Rio Grande do Sul,
localizavam-se entre os rios Pelotas e São Gonçalo, nas proximidades dos centros criatórios e do
porto voltado para o comércio exterior (Rio Grande). A localização das charqueadas nessa área
deu origem ao centro urbano que seria o primeiro da província depois da capital, mas o primeiro
em riqueza e prestígio social: Pelotas (PRADO JÚNIOR, 1987, p. 97-98).

Conforme nos lembra Prado Júnior (1987, p. 98), no alvorecer do século XIX a pecuária
do Rio Grande do Sul e possivelmente, de todo o sul da colônia, não apresentava um nível
técnico muito superior ao da pecuária do interior nordestino. A primeira, em ascensão no
período, sobrepujava-se a segunda, em decadência, pelas excelentes condições naturais em
detrimento das condições adversas do semi-árido. Tanto numa como noutra área, o gado era
criado num estado semi-selvagem, num quase abandono e solto à mercê da lei da natureza.
Com a industrialização e comercialização da carne, iniciadas lá por volta de 1780, com as
primeiras charqueadas, foi que começou a se cogitar de alguma coisa mais regular. Assim
mesmo, ainda em 1810 observa-se que nas melhores estâncias só uma quarta parte do gado
era manso, o restante vivia solto por ali sem cuidado e em estado ainda bravio.

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Mas você sabe como era a organização socioespacial de uma fazenda ou estância sulina?

Ainda é Caio Prado Júnior quem descreve como era particularmente a organização
socioespacial das estâncias da campanha ou pampa gaúcho:

Estas são [...] muito grandes, resultado de abusos que não foi possível coibir. Algumas são
de 100 léguas (3.600 Km2). Cada légua pode suportar de 1.500 a 2.000 cabeças, densidade
bem superior a que encontramos no Norte e em Minas, o que mostra a qualidade dos
pastos. O pessoal compõe-se do capataz e dos peões, muito raramente escravos; em
regra, índio ou mestiços assalariados que constituem o fundo da população da campanha.
Seis pessoas no todo, em média, para cada lote de 4 a 5000 [sic!] cabeças. Não há mesmo
serviço permanente para um pessoal numeroso; e nos momentos de aperto concorrem
peões extraordinários que se recrutam na numerosa população volante que circula na
campanha, oferecendo seus serviços em todo lugar, participando do chimarrão e do
churrasco aqui para pousar acolá, sempre em movimento e não se fixando nunca. Hábitos
nômades e aventureiros adquiridos em grande parte nas guerras. Essa gente socialmente
indecisa concorre sobretudo ao “rodeio”, o grande dia da estância que se repete duas
vezes por ano, quando se procede à reunião do gado, inspeção, marcação e castração.
Isto no meio de regozijos em que não faltam as carreiras de cavalos, o grande esporte
dos pampas (PRADO JÚNIOR, 1987, p. 98-99).

Ainda segundo o referido autor (1987, p. 99), além dos serviços regulares, o pessoal
empregado nas estâncias se encarregava também da queimada dos pastos anualmente (para
eliminação de pragas e para fornecer ao gado a forragem mais tenra dos brotos novos); do
exercício de vigilância relativamente fácil do gado nos campos despidos e limpos em que a
rês não podia se esconder como nas brenhas no Nordeste, e onde os inimigos naturais são
menos perigosos, entre outras tarefas. (Ver gravura 02).

Fonte: http://www.vitruvius.com.br/resenhas/textos/resenha104.asp -
Acessado em 08 de janeiro de 2009

Gravura 02 – Antiga estância sulina

À guisa das considerações que tecemos ao longo dessa nossa conversa, podemos afirmar
para você que as estratégias portuguesas para a ocupação do sul da sua colônia americana,
ocupação essa que foi muito além do que, de forma imprecisa, definia o Tratado de Tordesilhas,
mostraram-se bastante exitosas. Mesmo se configurando através de núcleos esparsos no

14 Aula 08 Formação Territorial do Brasil

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litoral e deixando amplos vácuos no interior, a exemplo das áreas de mata, que só vieram a
ser definitivamente ocupadas com a colonização moderna dos séculos XIX e XX, esse modelo
de ocupação possibilitou aos portugueses defenderem, com ênfase, quando da assinatura
dos tratados que pretenderam definir os limites das duas possessões das nações ibéricas na
América do Sul, o princípio segundo o qual quem detém a posse de um território é quem o
ocupa de fato.

Aliás, o princípio do utis possidetis, recuperado da jurisprudência romana, segundo o


qual a ocupação da terra é a base do direito sobre sua posse, isto é o direito de facto, foi a
prática estratégica básica que permitiu a Portugal se apossar de um amplo território, que antes
pertença a Espanha, na ocasião da assinatura dos Tratados de Madri,e e Santo Ildefonso (Ver
Mapa 07 – O Controle do Território no Período Colonial).

Fonte: BECKER, Bertha K. e EGLER, Cláudio A. G. Brasil: uma nova potência regional na economia-mundo. 2ª ed.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.

Mapa 07 – O controle territorial no período colonial

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Contudo, a assinatura dos tratados não resolveu definitivamente as disputas territoriais no
cone sul da América do Sul. Essas explodiram nas primeiras décadas do século XIX e estavam
ligadas a insistência portuguesa de achar, com base na idéia de fronteira natural, que os limites
da sua colônia iam até a margem esquerda do rio da Prata. Essa mesma idéia vigorou durante
os primeiros anos do império, desdobrando-se na ocupação brasileira da Banda Oriental, a
qual o império brasileiro considerava como sua província - a Província Cisplatina. Os conflitos
não tardaram a ocorrer agora com a Argentina pelo controle da Banda Oriental. A solução
encontrada pela Inglaterra, que interveio no conflito por ter interesses econômicos na região,
foi desmembrar a Banda Oriental, que formou um novo Estado-Nação na região – o Uruguai,
que, portanto, nasceu como um verdadeiro Estado tampão para por fim aos conflitos na região.

As questões fronteiriças na região se arrastaram ainda até o final do século XIX e teve na
questão de Palmas o epílogo das disputas territoriais que a marcaram desde o alvorecer do
século XVII. O território de Palmas, localizado no Oeste catarinense (ver Mapa 08 - A questão
de Palmas), que concentrava os maiores ervais do sul, pertencente ao Brasil, era reivindicado
pela Argentina. Para o Brasil, a fronteira que definia os limites da área era os rios Pipiri-Guaçue
o rio Santo Antônio; por outro lado, a região reclamada pela Argentina penetrava como uma
cunha dentro de Santa Catarina, acompanhando os rios Chapecó e Chopim, até a cidade de
Palmas, localizada próxima da divisa entre Santa Catarina e o Paraná. A questão de Palmas
foi arbitrada pelo presidente Clevelend, dos EUA, e os argumentos brasileiros, para confirmar
as fronteiras na área, foram defendidos pelo Barão do Rio Branco. O arbítrio norte-americano
em 1895 foi amplamente favorável ao Brasil e confirmou o traçado dos limites da região com
a Argentina no rio Pipiri-Guaçu, ratificando a região de Palmas como brasileira.

Fonte: http://images.google.com.br/imgres?, Acessado em 08 de janeiro de 2009.

Mapa 08 – A questão de Palmas

16 Aula 08 Formação Territorial do Brasil

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Teste a sua aprendizagem

Atividade 1
Quais foram os primeiros núcleos de ocupação portuguesa do Brasil Meridional?
1 Explique as relações existentes entre a atividade econômica praticada nesses núcleos
e o projeto geopolítico português de expansão até à margem esquerda do rio da Prata.

Diferencie as estratégias portuguesas para a ocupação do litoral e do interior do


2 Brasil Meridional. Como essas duas estratégias se distribuíram territorialmente?

Aula 08 Formação Territorial do Brasil 17

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Analise a organização socioespacial das colônias de imigrantes açorianos.
3

Analise a organização socioespacial das estâncias pecuaristas do Sul no Brasil colônia.


4

Mesmo se configurando através de pontos e manchas, a ocupação portuguesa do Sul


do Brasil no século XVIII e primeira metade do século XIX foi bastante axitosa, assegurando
à Coroa portuguesa a posse sobre um amplo território que não lhe pertencia no Tratado
de Tordesilhas. Todavia, como conversaremos com você rapidamente na próxima aula,
muitos trechos do sul brasileiro - especialmente as áreas de mata, só vieram a ser ocupadas
definitivamente no final do século XIX e no século XX. Essa ocupação foi possibilitada pela
marcha do café, pela instalação dos imigrantes europeus e pelo descolamento das frentes
pioneiras no interior da região.

18 Aula 08 Formação Territorial do Brasil

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Resumo
Nesta aula, você teve oportunidade de aprender que: a) a formação do Brasil
Meridional foi marcada por disputas pela posse do território, que em alguns
momentos, terminaram em conflitos armados, e duraram até o fim do século
XIX; b) a primeira forma de ocupação portuguesa da região foi a militar, no século
XVII; c) os espanhóis disseminaram missões jesuítas, que foram destruídas pelas
bandeiras paulistas, para frear a expansão portuguesa na região; d) no século
XVIII, os portugueses empreenderam sua expansão na região através da ação
das bandeiras, fortes, núcleos de ocupação de pontos do litoral com imigrantes
açorianos e a pecuária como atividade econômica instalada nos Campos, que se
desenvolveu ao ritmo das demandas de couro do mercado externo, de animais de
transporte e carne de São Paulo e das áreas de mineração de Mina Gerais, Goiás
e Mato Grosso; e) mesmo deixando, amplos vácuos, a expansão portuguesa na
região se mostrou exitosa, pois foi muito além dos limites das suas possessões
nela precariamente definidas pelo Tratado de Tordesilhas; f) a ocupação pontual no
litoral e em manchas nos Campos possibilitou a Portugal o direito de posse sobre
amplo território na região quando da assinatura dos tratados do século XVIII; g) as
querelas territoriais continuaram entre o Brasil e os países vizinhos da região do
Prata após o fim da colonização: a questões cisplatina e a de Palmas, por exemplo;
h) a ocupação portuguesa do Sul do Brasil no século XVIII e primeira metade
do século XIX deixou amplos “espaços vazios”, notadamente nos planaltos ou
áreas de domínio da Mata de Araucária, que só vieram a ser ocupadas com a
colonização moderna do fim do século XIX e primeira metade do século XX.

Autoavaliação
A formação do Brasil Meridional, mais do que qualquer outra parte do território
1 brasileiro, foi marcada por contínuas disputas, que em alguns momentos resultaram
em conflitos armados pela posse do território. Explique por quê?

Aula 08 Formação Territorial do Brasil 19

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Observe o mapa 08 na aula e analise os efeitos da expansão portuguesa para a
2 formação territorial do Brasil Meridional e para o domínio espanhol no cone sul da
América do Sul.

20 Aula 08 Formação Territorial do Brasil

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Diferencie os processos de ocupação antigos do litoral e dos campos interioranos
3 da região Sul nos seguintes aspectos: ecossistemas onde se instalaram, relações
sociais que modelaram as suas geografias, formas de organização espacial, tipos
de paisagens que produziram.

Leituras complementares
Sugerimos como leituras essenciais para o aprofundamento da conversa que tivemos
sobre a formação territorial do Sul do Brasil bem como a sua integração econômica aos espaços
colonial e brasileiro:

MAGNANINI, Ruth da Cruz; SOUTO MAYOR, Aridne Soares. População. In: Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. Diretoria Técnica. Geografia do Brasil. Vol. V (Região
Sul). Rio de Janeiro: IBGE, 1977, p. 143-155.

Aula 08 Formação Territorial do Brasil 21

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Trata-se de parte de vasta obra sobre a Região Sul, produzida por pesquisadores do
IBGE, que versa sobre a população dessa região. Nela, recomendamos, para os objetivos
estabelecidos nessa aula, a leitura do trecho que trata dos seus movimentos de povoamento
e ocupação antigos e modernos.

PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 35 ed. São Paulo; Editora
Brasiliense, 1987.

Nesse livro clássico das ciências humanas do Brasil, o autor faz uma abordagem histórica
da formação do Brasil, centrada nos seus aspectos econômicos. A análise do autor cobre um
recorte temporal que vai da instalação das primeiras atividades econômicas pelo colonizador
português no Brasil colônia – a extração do pau-brasil – até as vésperas da década de 1970.
Para o assunto da conversa que tivemos nessa aula, recomendamos a você a leitura do capítulo
onze, que versa sobre a incorporação do Rio Grande do Sul à economia colonial, através do
estabelecimento da pecuária.

PEREGALLI, Enrique. Como o Brasil ficou assim? Formação das fronteiras e tratados de
limites. 2 ed. São Paulo: Global Editora, 1982 (História Popular; 9).

Esse livro paradidático aborda a formação das fronteiras brasileiras, destacando a


importância que tiveram os processos econômicos, políticos e diplomáticos, especialmente
os tratados assinados entre Portugal e Espanha e, posteriormente, entre o Brasil e os países
vizinhos, nessa formação. Recomendamos para que você aprofunde sua aprendizagem sobre
o conteúdo dessa aula a leitura dos capítulos dois e três, que tratam da formação das fronteiras
do Brasil Meridional.

Vamos aprender nos divertindo?


O tempo e o vento
Minissérie foi ao ar em 1985 pela Rede Globo, em
25 capítulos, é uma adaptação da obra de mesmo
nome de Érico Veríssimo. A minissérie adaptada
por Doc Comparato e Regina Braga, direção de
Paulo José, retrata o primeiro volume da trilogia,
“O Continente”, e conta a história da formação
do Rio Grande do Sul e da família Terra Cambará,
desde o seu início com Ana Terra, o capitão
Rodrigo Cambará, Bibiana, Bolívar, Licurgo, a
disputa pela terra,  e o cerco do Sobrado.

22 Aula 08 Formação Territorial do Brasil

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No elenco os destaques são: Armando Bogus - Licurgo
José Lewgoy - coronel Bento Amaral
Tarcísio Meira - capitão Rodrigo
Gilberto Martinho - coronel Ricardo Amaral
Glória Pires - Ana Terra
Daniel Dantas - Bolívar
Lélia Abramo - Bibiana
Carla Camurati - Luzia (Teiniaguá)
Lilian Lemmertz - Bibiana (meia-idade)
José de Abreu – Juvenal
Louise Cardoso - Bibiana (jovem)

A casa das sete mulheres


A casa das sete mulheres - foi uma minissérie brasileira produzida pela Rede Globo e
exibida entre 7 de janeiro e 8 de abril de 2003, totalizando 52 capítulos. Foi escrita por
Maria Adelaide Amaral e Walter Negrão, com colaboração de Lúcio Manfredi e Vincent
Villari, baseada no romance homônimo da escritora gaúcha Letícia Wierzchowski,
e dirigida por Teresa Lampreia, com direção geral de Jayme Monjardim e Marcos
Schechtmann, e direção de núcleo de Jayme Monjardim.

Sinopse

Em 1830, uma revolução organizada pelos latifundiários do Rio Grande do Sul contra os altos
impostos cobrados pelo Império é deflagrada. Bento Gonçalves, o líder dos revoltosos, leva as mulheres
de sua família para uma cidade afastada do conflito. Em São Pedro do Rio Grande, elas vivem experiências
dolorosas com a ausência de seus homens e a solidão do isolamento. A cada dia descobrem novos
amores e reacendem antigas paixões.

Na minissérie é importante ressaltar o deslize geográfico. A história se passa entre a serra do


sudeste e a costa da Lagoa dos Patos, uma planície com poucas elevações que se estende do sul de
Porto Alegre até o extremo meridional do Uruguai. No entanto, aparecem seguidas cenas tomadas no
cânion do Itaimbezinho, situado na serra gaúcha, em Cambará do Sul.

Aula 08 Formação Territorial do Brasil 23

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Referências
MAGNANINI, Ruth da Cruz; SOUTO MAYOR, Aridne Soares. População. In: Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. Diretoria Técnica. Geografia do Brasil. Vol. V (Região
Sul). Rio de Janeiro: IBGE, 1977, p. 143-155.

PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 35 ed. São Paulo; Editora
Brasiliense, 1987.

PEREGALLI, Enrique. Como o Brasil ficou assim? Formação das fronteiras e tratados de
limites. 2 ed. São Paulo: Global Editora, 1982 (História Popular; 9).

Anotações

24 Aula 08 Formação Territorial do Brasil

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Formação Territorial do Brasil – GEOGRAFIA

EMENTA

Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.

AUTORES

> Antonio Albuquerque da Costa

> Paulo Sérgio Cunha Farias

AULAS

01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia

02 A territorialização ibérica do mundo e a expansão do capitalismo na sua fase embrionária

03 A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização


do colonizador português no Brasil (as feitorias)

04 A territorialização de fato do colonizador português: as capitanias hereditárias e a plantation açucareira

05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”

06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia

07 A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil Central

08 A ocupação antiga do Brasil meridional

09 A ocupação moderna e definitiva do sul

10 O “arquipélago” de “ilhas” econômicas do Império e da Primeira República

11 A Primeira República e a consolidação das fronteiras

12 Do arquipélago de “ilhas” econômicas à integração do território

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D I S C I P L I N A Formação Territorial do Brasil

A ocupação moderna e definitiva do Sul

Autores

Antonio Albuquerque da Costa

Paulo Sérgio Cunha Farias

aula

09
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação
Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED


Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Estadual da Paraíba

Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel

Secretária de Educação a Distância Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPE


Vera Lúcia do Amaral Eliane de Moura Silva

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN

Coordenador de Edição Diagramadores


Ary Sergio Braga Olinisky(UFRN) Ivana Lima (UFRN)
Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)
Projeto Gráfico
José Antonio Bezerra Junior (UFRN)
Ivana Lima (UFRN)
Mariana Araújo de Brito (UFRN)
Vitor Gomes Pimentel (UFRN)
Revisoras Tipográficas
Adriana Rodrigues Gomes (UFRN)
Revisora de Estrutura e Linguagem
Margareth Pereira Dias (UFRN)
Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Nouraide Queiroz (UFRN)

Arte e Ilustração Revisora de Língua Portuguesa


Adauto Harley (UFRN) Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Carolina Costa (UFRN)
Heinkel Hugenin (UFRN)
Leonardo Feitoza (UFRN)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.

Formação Territorial do Brasil/ Antônio Albuquerque da Costa; Paulo Sérgio Cunha


Farias. – Campina Grande: EdUEP, 2009.

385 p.: il.

ISBN: 978-85-7879-050-9

1. Geografia - Brasil. 2. Geografia – Estudo e Ensino. I. Farias, Paulo Sérgio Cunha.


II. Titulo.

21. ed. CDD

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

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Apresentação

C
onforme você pôde perceber na aula anterior, até o começo da segunda metade do
século XIX a ocupação e o povoamento do Sul do Brasil se encontravam dispersos e
rarefeitos, apresentando manchas esparsas nos Campos, onde se praticava a pecuária,
e pontos no litoral, onde o estabelecimento de colonos açorianos possibilitou o surgimento de
núcleos de ocupação e de povoamento. Assim, até esse período, amplos espaços ainda não
tinham sido incorporados economicamente ao território nacional.

A ocupação e o povoamento definitivos do Sul do Brasil se completaram nos séculos XIX e


XX, com a expansão da cafeicultura no norte do Paraná, com a colonização européia (alemães,
italianos e eslavos) das áreas de matas e com as chamadas frentes pioneiras.

Nessa aula conversaremos com você sobre a ocupação e o povoamento definitivos e


modernos do Sul do Brasil, realizados entre o final do século XIX e primeira metade do século
XX. Para um melhor aproveitamento dessa nossa conversa, é importante que você estude com
atenção esse conteúdo, realize as atividades, consulte a bibliografia complementar e, em caso
de persistência de dúvidas, busque esclarecimentos com o tutor ou professor da disciplina.

Objetivos
Com essa aula, esperamos que você:

Compreenda os papéis que tiveram a cafeicultura, as


1 frentes pioneiras e a colonização européia na ocupação
e no povoamento definitivos do Sul do Brasil.

Perceba que a marcha do café, originada em São


2 Paulo, estabeleceu a ocupação e o povoamento
definitivos do “Norte”  paranaense

Conheça a importância da colonização com


3 imigrantes europeus na ocupação e no
povoamento das áreas de Planaltos e Matas de
Araucária do Sul do Brasil.

Entenda o papel das frentes pioneiras na ocupação


4 e no povoamento das últimas áreas de mata do
Brasil Meridional.

Aula 09 Formação Territorial do Brasil 1

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Vamos começar nossa conversa

Cafeicultura, colonização
européia e frentes pioneiras:
a ocupação e o povoamento
definitivos do Sul do Brasil

C
omo já conversamos com você anteriormente, até meados do século XIX a ocupação
do Sul brasileiro abrangia, de forma geral, as áreas de Campos e alguns trechos do
litoral, a ocupação das Matas restringia-se aos trechos em que elas eram entremeadas
com os Campos. A ocupação definitiva do Brasil Meridional verificou-se graças à cafeicultura,
às frentes pioneiras e à colonização européia.

A cafeicultura consolidou a ocupação e o povoamento definitivos do Norte do Paraná.


Antes da instalação da cultura cafeeira, essa área tinha conhecido apenas frágeis movimentos
de ocupação e povoamento com as missões espanholas do século XVII, que foram destruídas
pelos bandeirantes paulistas, e com a instalação, pelo Império Brasileiro, da colônia militar de
Jataí (1855) e, em seguida, dos núcleos de São Pedro de Alcântara e de São Jerônimo (que
deu origem a atual cidade de Arapongas).

O Norte do Paraná, por suas características fisiográficas específicas no contexto do


Brasil Meridional – corresponde a sua parte tropical, possibilitou o transbordamento da cultura
cafeeira desde São Paulo, sua extraordinária expansão e êxito econômico (MAGNANINI e
SOUTO MAYOR, 1977, p. 150).

A marcha do café pelo interior de São Paulo, que foi facilitada pela presença do sistema
de circulação ferroviário, alcançou o Norte paranaense já na segunda metade do século XIX.
Essas frentes pioneiras penetraram no Norte paranaense primeiramente através dos cursos
superior e médio do rio Itararé e tratavam-se de movimentos de fazendeiros plantadores de
café oriundos de áreas paulistas de povoamento antigo, que lançaram as bases dos núcleos
de Siqueira Campos (1862), de Santo Antônio da Platina (1866), de Venceslau Brás e de São
Terceiro Planalto José da Boa Vista (1867), de Carlópolis e de outros. A segunda área logo incorporada às
Corresponde a porção frentes pioneiras de povoamento e ocupação do Norte do Paraná com a cultura do café foi a
do Planalto meridional
do Terceiro Planalto (Ver mapa 01 – Relevo da Região Sul do Brasil) e que teve duas fases: a
localizada após a Serra
geral. Estende-se pelos mais antiga, realizada no trecho entre os rios Itararé e Tibaji, e a mais nova, do planalto de Tibaji
três Estados do Sul às margens do rio Paraná. A fase mais antiga se assemelhou a uma invasão da vaga cafeeira
do Brasil, mas cobre
paulista, que se processou através de Ourinhos, sobretudo depois que esta cidade foi alcançada
quase toda a extensão
dos Estados do Paraná pela Estrada de Ferro Sorocabana, em 1908. O florescimento da cultura do café no Terceiro
e Santa Catarina. Planalto foi responsável por lançar as bases dos núcleos de Jacarezinho (1900), Cambará

2 Aula 09 Formação Territorial do Brasil

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(1904), Bandeirante (1921) e Cornélio Procópio (1924). Contudo, várias áreas permaneceram
“vazias”, sem ocupação econômica efetiva, só sendo posteriormente ocupadas, inclusive com
colonos japoneses (colônia de Açaí, 1931) (MAGNANINI e SOUTO MAYOR, 1977, p. 150-151).

Fonte: MAGNOLI, Demétrio et. al. Conhecendo o Brasil: Região Sul. São Paulo: Editora Moderna, 1996.
Mapa 01 – Relevo da Região Sul do Brasil

A expansão do café pelo Norte do Paraná contou também com a contribuição de políticas
de povoamento e ocupação planejadas tanto pelo Estado quanto pela iniciativa privada. Foi o
que ocorreu na porção ocidental do Tibaji, onde se efetuou, para Magnanini e Souto Mayor
(1977, p. 151), “a maior obra de povoamento planejado do Brasil”.

Os projetos de colonização, que tiveram no café a sua base econômica, começaram a


ser implantados em 1919, quando o Governo do Estado do Paraná cedeu a particulares três
glebas de terra, que deram origem as colônias de Primeiro de Maio (1923), Sertanópolis
(1924) e Zacarias de Góis. Após a instalação desses três assentamentos coloniais, a ocupação
e o povoamento da área se intensificaram por volta de 1929, quando a Companhia de Terras
Norte do Paraná (empresa privada de colonização) se encarregou dessas tarefas. Foi a
supracitada Companhia que implantou, entre outras, a infra-estrutura necessária ao pleno
desenvolvimento da cafeicultura na área, a exemplo da construção de ferrovias e rodovias.
Ao sabor dessa iniciativa, em 1929, surgiu o núcleo da atual cidade de Londrina. Em 1944,
a Companhia em questão passou para o controle de capitalistas paulistas, com o nome de
Companhia de Melhoramentos Norte do Paraná. A ação colonizadora dessa Companhia fez
brotar, em 1946, como centro pioneiro, a atual cidade de Maringá. No rastro desse processo
colonizador, seguindo o exemplo da referida Companhia, o Governo do Estado do Paraná e

Aula 09 Formação Territorial do Brasil 3

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alguns particulares empreenderam ações no sentido de ocupar e povoar também a área que
estava localizada nas vizinhanças das áreas daquela Companhia. Da ação colonizadora do
Estado nasceram os núcleos coloniais de Içara, Jaguapitã, Centenário e Paranavaí. Da ação
colonizadora de outros particulares surgiu Ibiporã.

Dessa forma, a marcha do café, seja de forma espontânea ou de maneira planejada pelo
Estado ou pelas Companhias particulares, completou o povoamento e a ocupação do Norte
paranaense (Ver mapa 02 – Marcha do café em São Paulo e no Norte do Paraná). Essa região é,
ainda hoje, uma das mais ricas e prósperas do Paraná. A expansão paulista e a lavoura cafeeira
deram ao povoamento e a ocupação dessa região um caráter bem distinto do restante do Brasil
Meridional: foram executados por nacionais e não por estrangeiros de qualquer nacionalidade,
cujos núcleos são pouco significativos no interior do seu território.

Fonte: BECKER, Bertha K. e EGLER, Cláudio A. G. Brasil: uma nova potência regional na economia-mundo. 2ª ed.Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.

Mapa 02 – Marcha do café em São Paulo e no Norte do Paraná

Faz-se necessário lembrar aqui para você que a colonização moderna do Norte paranaense –
Solo de terra roxa expressão da territorialização do capital na área em questão, como as antigas frentes de ocupação
É um tipo de solo bastante
do período colonial, funcionou como desarticuladora e desterritorializadora dos remanescentes
fértil caracterizado por ser o indígenas que habitavam a área e nela desenvolviam seus modos de vida sui generis.
resultado da decomposição
de rochas de arenito- Se foi especialmente o café a atividade econômica que possibilitou o povoamento
basáltico originadas do e a ocupação do Norte do Paraná, região propícia à sua expansão e êxito econômico por
maior derrame vulcânico
que o planeta já presenciou.
causa da sua tropicalidade e dos seus solos de terra roxa, você sabe como se processou o

4 Aula 09 Formação Territorial do Brasil

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complemento do povoamento e da ocupação das áreas de Mata de Araucária ou dos Planaltos,
que até a segunda metade do século XIX se encontravam com povoamento e ocupação
dispersos  e  rarefeitos?

A preocupação pelo povoamento e ocupação dessas áreas começou já nos primeiros


anos do Império, quando Dom Pedro I estimulou a vinda de imigrantes europeus (alemães,
especificamente). Todavia, só a partir da segunda metade do século XIX o fluxo de imigrantes
europeus para a região se tornou mais intenso, atingindo o seu ápice na Primeira República Primeira República
e arrefecendo-se a partir de 1934, quando a Constituição Brasileira estabeleceu o seu controle Também chamada de
através do sistema de cotas e as migrações internas davam os primeiros contornos para a República Velha, é o
formação do mercado de mão-de-obra nacional. período que se estendeu
da proclamação da
Os objetivos iniciais do império brasileiro, ao incentivar a vinda de imigrantes europeus República, em 15 de
novembro de 1889, até a
para a região Sul, prendiam-se a política destinada a evitar que toda a parte escassamente Revolução de 1930..
povoada dessa região acabasse ocupada pelos vizinhos argentinos e uruguaios. Foi com
essa intenção que o governo instalou imigrantes europeus nas colônias de Chopim (1882)
e Foz do Iguaçu (1889) para preservar a posse do território em face da questão de limites
com  a  Argentina.

As políticas de incentivo à imigração foram levadas a cabo pelos Governos Federal


(imperial e republicano) e Estaduais, além da iniciativa privada, através de Companhias de
colonização, essa começou a atuar a partir do final do século XIX, adquirindo as terras para
revendê-las aos colonos.

Os principais grupos de imigrantes que se estabeleceram no Sul do Brasil foram: alemães


(os pioneiros), italianos e eslavos (começaram a aportar no Sul, especialmente no Paraná, no
início do período republicano).

As primeiras levas de imigrantes que se estabeleceram no Sul foram os alemães, na


região de São Leopoldo (1824), ao norte de Porto Alegre. Posteriormente novas levas de
alemães se instalaram nas proximidades de São Leopoldo, em Novo Hamburgo, no vale do rio
dos Sinos, em Estrela e em Lajeado. Nesse Estado, os alemães ocuparam as áreas de relevo
mais baixo. Em Santa Catarina, os imigrantes europeus se fixaram um pouco depois. Nesse
Estado, em 1851 foi instalada a colônia alemã de Joinville, em 1860, a de Blumenau e, em
1860, a de Brusque.

A guerra de unificação da Alemanha (1870-1871) mais a divulgação nesse país das más
condições a que eram submetidos muitos colonos que se fixaram no Brasil, diminuíram o fluxo
de imigrantes alemães, a partir de 1851. Nesse contexto, as autoridades brasileiras passaram
a se empenhar em atrair imigrantes de outras nacionalidades. Em função disso, os italianos
passaram a compor os maiores fluxos imigratórios para o Brasil. Os italianos se fixaram nas
áreas de encostas e planaltos do nordeste do Rio Grande do Sul, onde foram responsáveis
pela criação de núcleos coloniais como os de Caxias do Sul, Garibaldi e Bento Gonçalves. Em
Santa Catarina, os italianos se instalaram nas proximidades do Vale do Itajaí, nas vizinhanças
das colônias alemães que as precederam; junto à encosta sul do Planalto Catarinense, na

Aula 09 Formação Territorial do Brasil 5

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chamada região carbonífera - Criciúma, Urussanga e Lauro Müller. No Paraná, a colonização foi
menos compacta que nos outros Estados sulinos, suas colônias de imigrantes compuseram
uma configuração territorial formada por núcleos isolados e menos numerosos, alguns com
colonização mista. Esse Estado, no final do século XIX, foi o principal destino dos imigrantes
eslavos (poloneses, russos, ucranianos e bielo-russos), que se estabeleceram em Curitiba,
Ponta Grossa, Castro e Lapa. Os eslavos se fixaram, também, em número bem menor em
um pequeno trecho do Estado de Santa Catarina (Ver Mapa 03 - Colonização Européia na
Região Sul do Brasil).

Fonte: MAGNOLI, Demétrio et. al. Conhecendo o Brasil: Região Sul. São Paulo: Editora Moderna, 1996.
Mapa 03 - Colonização Européia na Região Sul do Brasil

A organização socioespacial no interior das colônias implantadas nas áreas de Mata de


Araucária ou dos Planaltos sulinos estava assentada nas pequenas propriedades, nas quais,
através do trabalho familiar, os colonos praticavam uma agricultura de gêneros alimentícios. A
presença de artesão entre os imigrantes de algumas colônias possibilitou o desenvolvimento
de uma indústria artesanal e doméstica, que se constituiu como o esboço pioneiro da indústria
nessas áreas e em todo o Sul.

A produção agrícola das colônias de imigrantes do Sul se consubstanciou em um


importante celeiro fornecedor de alimentos tanto para essa região quanto para as demais
regiões do país, especialmente o Sudeste.

O crescimento da população nas áreas de colonização européia, que levou a subdivisão


das pequenas propriedades e, por conseguinte, a falta de espaço suficiente para todos os
descendentes das levas anteriores de imigrantes, levou as novas gerações, ou mesmo os

6 Aula 09 Formação Territorial do Brasil

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imigrantes que chegaram mais tarde, a buscarem novas terras mais a Oeste, criando assim
novas áreas coloniais. Foi nesse processo que, no início do século XX, todo o Norte e o
Noroeste do Rio Grande do Sul foram ocupados por frentes pioneiras de descendentes de
imigrantes. Por essa mesma razão, até a década de 1940, o Centro-Oeste de Santa Catarina
foi sendo ocupado pelos descendentes de colonos do Leste do Estado e do Norte do Rio
Grande  do Sul.

A colonização européia deixou nas paisagens do Sul as marcas da cultura trazida pelos
imigrantes, especialmente na forma de produzir o espaço com a prática da agricultura ou na
arquitetura presente em muitas cidades da região, que se originaram com a presença desses
imigrantes (Ver Foto 01 – As marcas da colonização européia na paisagem da região Sul do
Brasil). Isso faz do Sul do Brasil uma região com paisagens culturais sui generis em ralação
às demais regiões do país.

In: http://www.classificadosmercosul.com.br/rota/fotos/blumenau.jpg

Foto 01 – As marcas da colonização européia na paisagem da região Sul do Brasil. (Blumenau – SC)

As últimas áreas da região Sul a serem ocupadas foram o Oeste e o Sudoeste do Paraná,
na década de 1960. Essa ocupação resultou de frentes pioneiras que se deslocaram do Norte
desse Estado, mas também de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Essas frentes eram
formadas por agricultores que não encontravam mais terras nas áreas muito ocupadas da
região e procuraram se instalar nas últimas manchas de mata nela existente. A ocupação
dessas manchas por essas frentes pioneiras fechou definitivamente a fronteira agrícola na
região Sul, levando os agricultores dessa região a buscarem terra em outras regiões do país
- Centro-Oeste, Amazônia e, recentemente, nos cerrados nordestinos.

Vamos refletir um pouco sobre a conversa


que acabamos de ter com você.

Aula 09 Formação Territorial do Brasil 7

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Atividade
Como se encontrava a ocupação da região Sul até a primeira metade
1 do século XIX?

Como se processou a ocupação dos espaços “vazios” que existiam

2 na região Sul a partir do começo da segunda metade do século XIX?

Observe o mapa 02 apresentado na aula:


3
a) Descreva a marcha do café desde São Paulo até o Norte
paranaense.

b) Quais os fatores que contribuíram para essa marcha?

c) Por que o café se adaptou tão bem ao Norte do Paraná?

d) Como se processou, através da cafeicultura, a ocupação do Norte


paranaense?

Comente sobre a distribuição espacial das colônias estrangeiras e


4 analise suas organizações socioespaciais.

Explique as causas e os efeitos socioespaciais das frentes pioneiras


5 que aturam no interior do Sul do Brasil durante a primeira metade
do século XX.

1.
sua resposta

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2.

3.

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4.

5.

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Concluindo nossa conversa
Ao longo dessa nossa rápida conversa você pôde perceber que a ocupação e o povoamento
do Brasil Meridional só se completaram entre a segunda metade do século XIX e a primeira
metade do século XX. Foram o café, a imigração européia e os movimentos internos das
frentes pioneiras que completaram a ocupação e o povoamento definitivos do Sul do Brasil,
assegurando-a, com todas as especificidades socioespaciais produzidas ao longo da sua
formação territorial, como região brasileiríssima.

Resumo
Nesta aula, você teve oportunidade de aprender que: a) até o começo da segunda
metade do século XIX, a ocupação do Sul do Brasil se restringia ao litoral e aos
Campos interioranos; b) foram a cafeicultura, a imigração européia e o movimento
interno das frentes pioneiras, que se processaram entre a segunda metade do
século XIX e a primeira metade do século XX, que completaram a ocupação e
o povoamento do Sul do Brasil; c) o café, através de movimentos espontâneos
de fazendeiros paulistas ou das políticas públicas e privadas de colonização,
consolidou a ocupação e o povoamento do Norte do Paraná; d) as colônias de
imigrantes europeus (principalmente alemães, italianos e eslavos) se fixaram
nas áreas dos planaltos ou da Mata de Araucária dos três Estados do Sul, onde
desenvolveram uma agricultura diversificada de gêneros alimentícios, baseada no
trabalho familiar; e) as frentes pioneiras da primeira metade do século XX foram
movimentadas pela escassez de terra nas áreas de colonização européias mais
antiga e possibilitaram a ocupação das últimas áreas de mata da região Sul do
Brasil; f) a ocupação e o povoamento dessas últimas áreas de mata fecharam a
fronteira agrícola da região Sul do Brasil; g) a colonização européia deixou traços
marcantes na paisagem cultural dessa região do Brasil; h) e, por fim, o fechamento
da fronteira agrícola com a ocupação das últimas terras disponíveis nas áreas de
mata levou os agricultores do Sul do Brasil a buscarem terras em outras regiões
do país: Centro-Oeste, Amazônia e, recentemente, cerrados nordestinos.

Aula 09 Formação Territorial do Brasil 11

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Leitura complementar
Sugerimos como leitura essencial para o aprofundamento da conversa que tivemos sobre
a ocupaçõe e povoamento modernos e definitivos do Sul do Brasil:

MAGNANINI, Ruth da Cruz; SOUTO MAYOR, Aridne Soares. População. In: Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. Diretoria Técnica. Geografia do Brasil. Vol. V (Região
Sul). Rio de Janeiro: IBGE, 1977, p. 143-155.

Trata-se de parte de vasta obra sobre a Região Sul, produzida por pesquisadores do
IBGE, que versa sobre a população dessa região. Nela, recomendamos, para os objetivos
estabelecidos nessa aula, a leitura do trecho que trata dos seus movimentos de povoamento
e ocupação antigos e modernos.

Autoavaliação
Aponte e comente a principal diferença entre a colonização do Norte do Paraná e das
1 demais áreas de colonização moderna do Sul do Brasil.

12 Aula 09 Formação Territorial do Brasil

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Quais foram os objetivos iniciais do Brasil para incentivar a imigração européia para
2 a região Sul?

Quais foram os principais grupos de imigrantes europeus que se instalaram no Sul


3 do Brasil? Analise a distribuição espacial desses imigrantes nessa região e comente
sobre as suas formas de organização socioespacial.

Quais foram as últimas porções da região Sul ocupadas e povoadas durante a


4 primeira metade do século XX? Aponte e comente os motivos dessa ocupação e
desse povoamento.

Aula 09 Formação Territorial do Brasil 13

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Diferencie os processos de ocupação e povoamento do Norte paranaense do
5 processo de ocupação e povoamento feitos com o imigrante europeu nos seguintes
aspectos: ecossistemas onde se instalaram, relações sociais que modelaram as suas
geografias, formas de organização espacial, tipos de paisagens que produziram.

14 Aula 09 Formação Territorial do Brasil

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Analise as contribuições da cafeicultura, da imigração européia e das frentes pioneiras
6 para a formação territorial do Brasil Meridional.

Referência
MAGNANINI, Ruth da Cruz; SOUTO MAYOR, Aridne Soares. População. In: Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. Diretoria Técnica. Geografia do Brasil. Vol. V (Região
Sul). Rio de Janeiro: IBGE, 1977, p. 143-155.

Aula 09 Formação Territorial do Brasil 15

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Anotações

16 Aula 09 Formação Territorial do Brasil

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Formação Territorial do Brasil – GEOGRAFIA

EMENTA

Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.

AUTORES

> Antonio Albuquerque da Costa

> Paulo Sérgio Cunha Farias

AULAS

01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia

02 A territorialização ibérica do mundo e a expansão do capitalismo na sua fase embrionária

A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização


03
do colonizador português no Brasil (as feitorias)
04 A territorialização de fato do colonizador português: as capitanias hereditárias e a plantation açucareira

A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
05
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia

07 A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil Central

08 A ocupação antiga do Brasil Meridional

09 A ocupação moderna e definitiva do Sul

10 O “arquipélago” de “ilhas” econômicas do Império e da Primeira República

11 A Primeira República e a consolidação das fronteiras

12 Do arquipélago de “ilhas” econômicas à integração do território

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D I S C I P L I N A Formação Territorial do Brasil

O “arquipélago”
de “ilhas” econômicas
do Império e da Primeira República
Autores

Antonio Albuquerque da Costa

Paulo Sérgio Cunha Farias

aula

10
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação
Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED


Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Estadual da Paraíba

Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel

Secretária de Educação a Distância Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPE


Vera Lúcia do Amaral Eliane de Moura Silva

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN

Coordenador de Edição Diagramadores


Ary Sergio Braga Olinisky(UFRN) Ivana Lima (UFRN)
Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)
Projeto Gráfico
José Antonio Bezerra Junior (UFRN)
Ivana Lima (UFRN)
Mariana Araújo de Brito (UFRN)
Vitor Gomes Pimentel (UFRN)
Revisoras Tipográficas
Adriana Rodrigues Gomes (UFRN)
Revisora de Estrutura e Linguagem
Margareth Pereira Dias (UFRN)
Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Nouraide Queiroz (UFRN)

Arte e Ilustração Revisora de Língua Portuguesa


Adauto Harley (UFRN) Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Carolina Costa (UFRN)
Heinkel Hugenin (UFRN)
Leonardo Feitoza (UFRN)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.

Formação Territorial do Brasil/ Antônio Albuquerque da Costa; Paulo Sérgio Cunha


Farias. – Campina Grande: EdUEP, 2009.

385 p.: il.

ISBN: 978-85-7879-050-9

1. Geografia - Brasil. 2. Geografia – Estudo e Ensino. I. Farias, Paulo Sérgio Cunha.


II. Titulo.

21. ed. CDD

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

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Apresentação

N
ão é novidade para você que a expansão territorial do Brasil se deu em função de
determinados produtos destinados ao mercado externo, foi assim com o litoral brasileiro
no momento que o único produto de valor era o extrativismo do pau-brasil e depois
com a plantation açucareira que se manteve próxima à costa. Porém, vimos que o extrativismo
amazônico, a pecuária e a mineração alargaram o território brasileiro para o interior.

No entanto, estas atividades econômicas mantinham-se ilhadas no território colonial, o


mesmo aconteceu, com o território brasileiro, após a independência de Portugal. Não fossem
pela pecuária e pela agricultura alimentar, estas importantes “ilhas” econômicas, não manteriam
elos de comunicações entre si, voltadas que eram para o mercado mundial.

Nesta aula iremos abordar três importantes atividades (a extração do látex na Amazônia,
a cotonicultura no Nordeste e a cafeicultura no Sudeste) que contribuíram para a formação
territorial do Brasil, duas das quais (a borracha e o café) de ápices econômicos simultâneos,
mas que se mantiveram espacialmente isoladas, atendendo aos interesses do capital externo,
sem promover uma integração nacional.

Vamos mergulhar em mais essa etapa da nossa formação territorial, para tanto convidamos
você a dedicar a máxima atenção ao conteúdo dessa aula, realizar todas as atividades sugeridas,
consultar a bibliografia complementar e, em caso de dúvidas, buscar esclarecimentos junto
ao tutor ou ao professor da disciplina. Boa aula!

Objetivos
Com essa aula esperamos que você:

Perceba que território brasileiro se organizava


1 economicamente como “ilhas”, cujo interesse se voltava
exclusivamente para o comércio exterior.

Conheça a importância do extrativismo amazônico da


2 borracha para a ampliação e consolidação das fronteiras
brasileiras.

Reconheça na cotonicultura uma atividade que integrou o


3 semi-árido nordestino ao mercado internacional.

Compreenda a importância que teve a cafeicultura na


4 consolidação de São Paulo como centro econômico
capitalista do país.

Aula 10 Formação Territorial do Brasil 1

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O algodão e a integração
dos sertões do Nordeste
a economia mundial

Vamos iniciar nossa conversa...


Já conversamos, na aula 6, sobre a ocupação dos sertões nordestinos com a pecuária
extensiva, uma atividade que exigia pouca mão-de-obra, mas que garantia a posse de imensos
latifúndios. Falamos também sobre a importância do descobrimento das minas de ouro e
diamantes para a ocupação do Brasil central e para o crescimento da população, num momento
em que as demais atividades econômicas enfrentavam profunda crise. Acontece, porém, que
no último quartel do século XVIII, houve o esgotamento das minas e das demais atividades
econômicas da colônia, que enfrentavam um período de sérias dificuldades. Foi nesse momento
que, em virtude do contexto internacional o Maranhão desponta como a mais importante área
econômica da colônia.

O Maranhão havia se mantido como a Capitania mais pobre da colônia, com uma economia
baseada na agricultura de subsistência e no apresamento de índios para serem vendidos nas
áreas agrícolas mais prósperas. Portanto, sem despertar o interesse da Metrópole, já que sua
economia não era voltada para o mercado externo, e permanecia quase isolado do restante do
território colonial. Seu povoamento se limitava em fins do século XVIII as áreas do entorno do
Golfão Maranhense e da ilha de São Luís, na porção litorânea e, de forma dispersa, na região
de Cerrado, no Sul da Capitania, com os pecuaristas provenientes da Casa da Torre.

O Maranhão desperta dessa letargia econômica em fins século XVIII para se tornar
na principal área econômica do Brasil até as duas primeiras décadas do século XIX, como
importante exportador de algodão e arroz. Isso foi conseqüência da utilização do algodão
como matéria-prima para a indústria têxtil britânica e da retirada dos Estados Unidos como
fornecedor desse produto aos teares ingleses, por motivo da sua Guerra de Independência
(1775 - 1783). Nesse clima de guerra as colônias inglesas da América do Norte também se
retiraram do comércio de arroz, que era exportado para o Sul da Europa, onde este produto
apresentava consumo crescente.

Esse clima de euforia econômica maranhense coincidiu com a atenção especial que
o Marquês de Pombal deu a esta capitania, dando importante ajuda financeira através da
Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e do Maranhão que estimulou a produção do
algodão através de créditos para a lavoura, para compra de equipamentos e escravos. Desta
forma São Luís passou a ser um importante porto receptor de escravos africanos, o que
modificou por completo a composição étnica do Maranhão.

2 Aula 10 Formação Territorial do Brasil

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A produção algodoeira seguiu pelo vale do Itapecuru, tornando a cidade de Caxias num
importante centro cotonicultor, mas também capturou a produção pecuarista instalada no Sul
do Maranhão, que ficava sob a influência de Salvador, para a esfera de São Luís, integrando
dessa forma todo o território do Maranhão, que além das exportações do algodão e do arroz
passou também a exportar couro.

A euforia da cotonicultura que se iniciou no Maranhão com bases comercial-exportadoras,


em meio à crise que atravessava o restante da colônia, fez com que por todo o território
colonial se disseminassem as plantações de algodão, porém, dado as características dessa
malvácea, logo após a euforia do boom econômico o algodão foi abandonando às áreas mais
úmidas, especialmente aquelas destinadas a cana e ao tabaco, com quem disputara espaços,
para ir se definir pelos ecossistemas semi-áridos, onde encontrou as condições propícias
para o seu desenvolvimento.

Foi nos sertões nordestinos que a cotonicultura encontrou a simbiose perfeita com a
pecuária, formando o tradicional sistema gado/algodão que passou a caracterizar a região
sertaneja. Por apresentar um ciclo vegetativo curto, o algodão, passou a ser cultivado em meio
à agricultura de subsistência onde após a colheita, servia de ração para o gado, que era posto
para pastar alimentando-se da palha do milho e da rama do algodão. Desta forma a cotonicultura
abriu perspectivas para uma região que até então só tinha sido utilizada para o pastoreio.

No Agreste e no Sertão o algodão foi cultivado por ricos e pobres, em grandes propriedades
que utilizaram inclusive a mão-de-obra escrava, mas também por pequenos produtores.
Porém, vale salientar que a cotonicultura nunca deu preferência nem se desenvolveu a partir
das relações de trabalho exclusivamente escravistas. O baixo preço da força de trabalho era
mantido por relações de produção que envolvia sitiantes, moradores, meeiros e posseiros.
Além de utilizar largamente o trabalho de mulheres e crianças. Foi a cultura que possibilitou
aos agricultores pobres adquirirem alguns bens com a venda da produção, que era cultivada
juntamente com o milho, o feijão e a fava.

O algodão ao contrário da pecuária contribuiu desde os primeiros tempos, em que se


tornou lavoura comercial, para o desenvolvimento da vida urbana, pois foi nas cidades e vilas
onde os comerciantes se instalaram e efetuavam as primeiras etapas do beneficiamento. Também
divergia da plantation açucareira, tanto no sentido da imobilização de capitais quanto na forma
de mais diversificada e complexa de utilização das forças produtivas. Observa Andrade (1995,
p.50) que a expansão dos algodoais por necessitar de um beneficiamento local contribuiu para
o crescimento da população e para a formação de novos grupos sociais no Sertão.

A expansão dos algodoais ocorreram em momentos distintos assim como as demais


lavouras de exportação, merecendo destaque o período da Guerra da Secessão (1861 -1865),
quando o Sul dos Estados Unidos se retirou do mercado mundial e o Nordeste brasileiro não-
açucareiro, do Maranhão a Bahia, se transformou num imenso algodoal como diz Oliveira
(1977, p.47). Foi das riquezas provenientes dessa cultura que surgiu no Sertão nordestino
uma oligarquia agrária que passou a comandar os destinos dessa região e a cooptar o Estado
brasileiro em defesa dos seus interesses: os coronéis.

Aula 10 Formação Territorial do Brasil 3

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Atividade 1
Vamos refletir sobre o que aprendemos.

a) Como você justifica ter sido a cotonicultura considerada uma atividade mais
democrática que a atividade canavieira?

b) Veja a definição que demos para plantation na aula 4. Analise os aspectos da


produção algodoeira e responda por que ela não seja considerada plantation,
mesmo tendo utilizado a mão-de-obra escrava e tendo sido produzido do
Maranhão a Bahia com fins comerciais?

c) Observe o contexto histórico do Maranhão no momento da implantação da


cultura algodoeira e responda, por que esta Capitania utilizou o trabalho
escravo nos algodoais muito mais do que as outras?

a)
sua resposta

b)

4 Aula 10 Formação Territorial do Brasil

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c)

A borracha
e a ocupação da Amazônia
Como nós vimos na aula 6, o povoamento na Amazônia ficou restrito ao curso dos
grandes rios de forma dispersa e muito distante entre si numa imensa área de floresta cujo
único meio de comunicação era os rios.

Em 1850 o governo brasileiro atendeu aos apelos da população e criou a Província da


Amazonas, com capital em Manaus, separando-a da Província do Grão-Pará que tinha capital
na cidade de Belém, e da qual era comarca. Isso ocorreu pela negligência de Belém com esta
parte do alto-Amazonas e pelo medo das autoridades de que houvesse invasões estrangeiras
na região. Por essa época a população da província era de aproximadamente 30 mil habitantes
em sua maioria índios e caboclos.

Em virtude de uma forte campanha iniciada pelos Estados Unidos que tinha interesse na
região utilizava o falso argumento de aproveitamento da Amazônia em benefício do progresso
geral da humanidade, o governo brasileiro, criou a Companhia de Navegação e comércio do
Amazonas, cujo privilégio de navegação foi dado ao Barão de Mauá, dessa forma a navegação
a vapor passou a controlar o comércio da região e possibilitou o acesso aos rios inexplorados,
em virtude da produção de borracha que já se fazia por essa época. Isso ocorreu também
em função da pressão exercida, sobretudo, pela França e Inglaterra para internacionalização
da navegação no Amazonas. Era pretensão desses países alargar seus domínios através das
Guianas até as margens desse grande rio.

Aula 10 Formação Territorial do Brasil 5

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O látex que começou a ser utilizado como matéria-prima pela indústria em 1823, como
impermeabilizante e, em 1839 na indústria de vulcanização, deu início a um processo crescente
de produção de borracha e a conseqüente fase áurea da economia amazônica, que substituiu
Látex o extrativismo diversificado das drogas do sertão pelo monoextrativismo da borracha. Toda a
região passou a ser explorada através dos cursos dos seus rios e a população amazônica que
É o líquido leitoso extraído
de alguns vegetais e serve no início do século XIX era de aproximadamente 100 mil habitantes já ultrapassava a soma de
de matéria-prima para a um milhão de habitantes em 1910.
produção de borracha. Na
Amazônia os principais No início da exploração dos seringais a principal mão-obra utilizada foi a dos nativos,
vegetais produtores de
látex foram a Seringueira
os quais foram forçados a trabalhar na extração do látex, tiveram suas terras invadidas,
(Hevea brasilensis) a mais suas aldeias arrasadas e sofreram brutal processo de aculturação e de extermínio físico. Só
conhecida , e o Caucho escaparam dessa violência os índios que fugiram para os altos cursos dos rios, acima das
(Castilloa ulei).
áreas encachoeiradas, e os povos que habitavam áreas onde não havia ocorrência de seringais,
que foi o caso dos Yanomami e dos Waimiri-Atroari.

Seringalista Como sabemos a região amazônica não se limita ao território brasileiro e entraram nessa
São os donos ou posseiros euforia econômica Bolívia, Equador, Peru, Venezuela e Colômbia, países que também produziam
dos seringais. látex e nos quais a utilização da mão-de-obra indígena foi ainda mais intensa. No Peru as
atrocidades praticadas contra os índios pelo empresário Júlio César Arana del Águila, sócio
dos ingleses na companhia Peruvian Amazon Company, que se tornou conhecida como Casa
Seringueiros Arana, ganhou repercussão internacional e comoveu de tal forma o mundo que o Peru se viu
São os trabalhadores forçado a criar um serviço de proteção ao índio em 1912.
que estão na base da
cadeia produtiva, são os Iniciou-se com a exploração dos seringais na Amazônia a primeira grande corrente de
responsáveis pela coleta migração nordestina, sobretudo cearenses, que tangidos pelas secas de 1877, 1888 e1889,
do látex, feita diariamente
ao longo de trilhas,
constituíram-se na principal força de trabalho dos seringais.
onde corta determinado
número a árvores de sua
Nesse espaço estabeleceram-se relações de trabalhos que ficaram conhecidas como
responsabilidade e finca sistema de aviamentos, no qual, o seringalista através do sistema de barracão fornecia
uma tigela para recolher ferramentas e alimentação aos seringueiros em troca das pelas. (ver fotos 01 e 02)
o líquido que escorre das
seringueiras. Viviam em

Fonte: http://www.amazonia.org.br/fotografias/detalhe.cfm?id=41007&cat_
regime de semi-escravidão.

Pelas

São as bolas de borrachas


produzidas pelo processo
de defumação
id=99&subcat_id=464

Foto 01 – Seringueiro recolhendo o látex

6 Aula 10 Formação Territorial do Brasil

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Fonte:http://www.amazonia.org.br/fotografias/detalhe.cfm?id=41009&cat_
id=99&subcat_id=464
Foto 02 – Seringueiro defumando uma pela

Como ao seringueiro não lhe sobrava tempo para a produção de subsistência, nem lhe era
permitido plantar nas terras dos seringais, toda a sua alimentação era fornecida pelo barracão
cujos preços exorbitantes dos gêneros alimentícios eram determinados pelo seringalista. Do
mesmo modo, era o seringalista quem estabelecia o baixo preço da compra das pelas. Desta
forma, o seringueiro vivia num eterno processo de endividamento com o patrão, que geralmente
lhes financiava os custos da viagem entre o Nordeste e a Amazônia. Sendo assim, não podia
deixar o seringal enquanto não pagasse a dívida e como seu saldo com o barracão sempre era
deficitário ficava preso ao patrão num regime de semi-escravidão, pois, mesmo que tentasse
a fuga era perseguido e geralmente assassinado pelos capangas dos seringalistas.

Se por um lado o seringueiro vivia nessa situação de miséria absoluta, isolado no meio
da mata, sujeito a todo tipo de perigo, de doenças e de privações era dele que se extraída
a mais-valia que sustentava toda uma cadeia produtiva, cujos altos lucros auferidos aos Mais-valia
seringalistas e aos comerciantes instalados em Manaus e Belém geravam um estilo de vida Conceito desenvolvido por
de abundância e ostentação. Karl Marx para designar a
diferença entre o salário
Sendo o látex matéria-prima exclusivamente industrial, cuja industrialização ocorria pago ao trabalhador e o
valor do trabalho produzido
no exterior, no espaço regional amazônico os lucros com sua exportação desvia-se para
por este, é a base da
obras faraônicas, para o luxo e para as grandes festas dessa burguesia mercantilista que não exploração do trabalho no
investia produtivamente o capital adquirido com a venda da borracha. Desta forma, Belém, mas sistema capitalista.

principalmente Manaus, se tornaram caricaturas das principais cidades européias. Manaus se


tornou uma das capitais mais modernas e saiu à frente de todas as demais cidades brasileiras
na implantação de iluminação elétrica e na instalação de bondes. Formou-se na Amazônia um
espaço onde a única atividade econômica era o comércio, pois nada era produzido, além da
borracha, e tudo era importado.

As importações de produtos finos para a região amazônica eram controladas por empresas
européias, enquanto que a população pobre era atendida pelos regatões, comerciantes de
origem libanesa, síria, turca e judia, que cruzavam a Amazônia em pequenos barcos. Era
através desses comerciantes que os seringueiros conseguiam os produtos que não eram
vendidos nos barracões. Esse comércio ocorria através do escambo que trocava os produtos

Aula 10 Formação Territorial do Brasil 7

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dos regatões por produtos regionais ou pela borracha que os seringueiros sonegavam da quota
que deveria ser entregue ao patrão. Os regatões eram também o único meio de contato entre
os seringueiros e o mundo exterior. Por tais motivos eram pessoas não gratas aos seringalistas
e muitas vezes impedidos de entrarem nos seringais.

Com a crise da borracha que ocorreu em 1913, pela concorrência dos seringais plantados
no Sudeste Asiático, a Amazônia entrou em franca decadência: a maioria dos seringalistas
ficou na miséria, as empresas que não faliram abandonaram na região, parte dos imigrantes
retornaram para o nordeste. A fome assolou a região com a derrocada das exportações de
borracha que financiavam os alimentos provenientes do Sul e deram dinâmica a pequena
produção familiar do planalto Meridional. O Brasil que detinha 50% da fatia mundial das
exportações da borracha em 1910 era responsável por apenas 5% no ano de 1926 e em baixa
cotação no mercado internacional.

Em termos territoriais a borracha foi fundamental à incorporação do Acre ao território


brasileiro. Até a valorização do látex pela indústria automobilística o Acre não tinha despertado
nenhum interesse econômico e, portanto, não tinha havido a preocupação entre o Brasil e a
Bolívia de definir claramente suas fronteiras na região amazônica. Quando a exploração dos
seringais do Acre chamou a atenção dos bolivianos, estes já encontraram nesse território a
presença de seringueiros brasileiros, na maioria os cearenses.

Estabeleceu-se entre brasileiros e bolivianos conflitos armados que só foram resolvidos


através do Tratado de Petrópolis, em 1903, no qual a Bolívia cedia o território do Acre ao
Brasil em troca de 2 milhões de libras esterlinas e a construção de uma ferrovia ligando o
rio Madeira ao rio Mamoré, com a qual se permitia o escoamento da produção de borracha
boliviana através do Atlântico. Esta ferrovia que ceifou milhares de vidas passou quase 50 anos
para ser construída, teve as obras paralisadas por duas vezes, ao ter suas obras concluídas,
já não atendias aos objetivos iniciais que justificavam sua construção, ou seja, a viabilização
da exportação da borracha produzida pela Bolívia nos altos cursos dos rios Mamoré e Beni, e
pelo Brasil, no rio Guaporé, pois o comércio internacional do látex já se apresentava decadente.
(Foto 03 – trecho da ferrovia)

Foto 03 – trecho da ferrovia.

Autoridades em visita a trecho concluído da ferrovia (1910). Foto: Dana Marrill

8 Aula 10 Formação Territorial do Brasil

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Atividade 2

Vamos refletir sobre a Amazônia durante a fase áurea do mono-extrativismo dos


seringais.

a) Estabeleça a relação entre o sistema de aviamentos e a ausência de uma


agricultura alimentar na Amazônia.

b) Podemos dizer que as riquezas geradas pelo extrativismo do látex não


contribuiu para o desenvolvimento econômico e social da Amazônia?
Justifique.

c) É correto afirmar que o Estado do Acre foi uma conquista dos seringueiros
nordestinos? Justifique.

a)

sua resposta

Aula 10 Formação Territorial do Brasil 9

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b)

c)

10 Aula 10 Formação Territorial do Brasil

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A expansão cafeeira sobre trilhos:
a fluidez do território para atender a nova
fase capitalista

N
a fase imperial do Brasil, após o país atravessar uma longa fase de estagnação
econômica e do território se manter em regiões isoladas, sem vínculos internos entre
si, o grande feito desse período é seguramente a preservação da unidade nacional,
mesmo diante da relativa autonomia que apresentavam as províncias e dos vários movimentos
separatistas comandados pelas oligarquias que comandavam a vida das diversas regiões
produtivas e defendiam seus próprios interesses.

Essas regiões produtivas, que paulatinamente foram sendo incorporadas à economia


colonial se mantiveram quase que isoladas, eram verdadeiras ilhas vinculadas a um porto que
viabilizava a drenagem da produção para o mercado exterior (ver mapa 01 – A economia colonial
do século XVIII). Exceto pela pecuária e pela agricultura de subsistência que abasteciam as
principais áreas econômicas da Colônia, não se estabelecia nenhuma comunicação ente estas
partes, comunicação estas que se faziam com dificuldades, morosidade, rompendo enormes
obstáculos, em um território gigantesco no qual era preciso percorrer imensas distâncias por
caminhos que não passavam de estreitas e tortuosas veredas, na maioria das vezes em terrenos
acidentados e em meio à densa vegetação. (Ver mapa 02 – Traçado esquemático das grandes
vias de circulação do arquipélago econômico brasileiro).

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de. et. Al. – Atlas Histórico Escolar 8ª ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1983. p.22.

Mapa 01 – Economia Colonial do século XVIII

Aula 10 Formação Territorial do Brasil 11

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Mapa 02 – Traçado esquemático das grandes vias de circulação do arquipélago econômico brasileiro

Agora vamos discutir um pouco como à cafeicultura foi capaz de operar as mais
significativas transformações espaciais que ocorreram no espaço brasileiro.

Até 1830 o café era uma planta disseminada pelo Brasil, cultivada apenas para consumo
interno. Foi, porém, a partir deste ano que começou a ser cultivado nas imediações da cidade
do Rio de Janeiro com fins comerciais. As famílias enriquecidas com as exportações do ouro e
que haviam retornado para seus locais de origem, após a crise da mineração, passaram a utilizar
Graben a mão-de-obra escrava, que se encontrava semi-ociosa, como também o capital mercantil
É o mesmo que fossa acumulado na capital do Império para produzir café, que se tornava um investimento atrativo.
tectônica, ou seja, uma
depressão formada por Da baia da Guanabara as plantações de café seguiram pelo vale do rio Paraíba do Sul, um
afundamento tectônico graben formado pela serra do Mar e a serra da Mantiqueira (ver foto 01), que servia a muito
que tem forma de um vale
alongado com fundo plano,
tempo como via de comunicação entre o Rio de Janeiro e São Paulo e era utilizado como
com a presença de escapas caminho para o abastecimento das minas. Do vale do Paraíba, o café seguia no lombo das
de falhas de ambos os mulas, que eram abundantes e o tradicional meio de transporte da região, até o porto do Rio
lados da depressão.
de Janeiro, de onde seguia para o exterior.

12 Aula 10 Formação Territorial do Brasil

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Fonte: http://acampamentoterradosol.com.br/wp-content/
uploads/2008/08/06-vista-do-galpao.jpg
Foto 01 – Vista da Vale do Paraíba encaixado entre as serras do Mar e da Mantiqueira

No vale do Paraíba o café adquiriu a característica de plantation e provocou em poucos


decênios o rápido esgotamento dos solos pelas práticas inadequadas. Pois a destruição das matas
que revestiam essa topografia de declives acentuados deixou o solo desnudo gerando um intenso
processo de erosão. Motivo pelo qual o café se expandiu para as áreas fronteiriças de Minas
Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo na busca por um melhor habitat, deixando para
trás terras arrasadas que só se prestavam para a pecuária. (ver mapa 03 – A marcha do café)

Fonte: João Antonio Rodrigues. Atlas para estudos sociais. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico, 1977.

Mapa 03 – A marcha do café

Ao alcançar o as terras roxas do Planalto Paulista em 1870, a cafeicultura se deparou


com o esgotamento da mão-de-obra escrava e a transição para o trabalho livre. O próprio
desenvolvimento industrial em curso na Europa vai estabelecer que esta produção se dê sobre
novas bases: A Itália passava por um processo de industrialização e de expropriação dos
camponeses, tinha mão-de-obra excedente que representou a principal corrente migratória
que substituiu o trabalho escravo.

Aula 10 Formação Territorial do Brasil 13

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Por outro lado, a Inglaterra em plena segunda revolução industrial buscava mercados para
seus produtos, motivo pelo qual a marcha do café para o oeste paulista vai se dar sobre trilhos
e com a incorporação de máquinas e equipamentos que serão utilizados no beneficiamento
do café. Os próprios fazendeiros de café foram os principais investidores da maior parte das
ferrovias que se tornaram o destino de parte do capital adquirido com o café, eram lucrativas
e diminuíam os custos dos cafeicultores. Aliás, é esse espírito investidor dos cafeicultores que
diversificaram suas atividades e aplicaram o capital proveniente da venda do café em outros
setores econômicos (financeiro, comercial, viário e industrial) que possibilitou a São Paulo
comandar a economia nacional, mesmo após a crise mundial de 1929, quando o café sofreu
um grande golpe com a quebra da Bolsa de Nova York

A importância das ferrovias não estava só em drenar a produção cafeeira até os portos
do Rio de Janeiro e de Santos ou ao fato de se antecipar a expansão de novas terras para os
cafezais, mas também em preparar uma mão-de-obra para início de nossa industrialização ao
exigir um grande aparato técnico em termos de construções e assistência mecânica.

Não obstante todo o dinamismo que o espaço cafeeiro apresentou, incorporando-se a


uma nova fase do capitalismo industrial, com a utilização do trabalho assalariado e a criação
de um mercado consumidor potencial, em linhas gerais tal espaço ainda se reproduziu com
base no princípio das ”ilhas” que configuravam o “arquipélago econômico” braseiro, no qual,
não havia uma integração do território nacional e onde a instalação das ferrovias tinha o
simples objetivo de ligar uma área produtora a um porto de drenagem para o exterior conforme
podemos observar no mapa 04.

Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Mauricio de. et. Al. – Atlas Histórico Escolar 8ª ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1983. p.22.

Mapa 04 – Economia Colonial do século XIX

14 Aula 10 Formação Territorial do Brasil

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Atividade 3
Vamos refletir sobre o que aprendemos com a reprodução espacial do Sudeste
a partir da cafeicultura.

a) Que elementos herdados da atividade aurífera possibilitaram ao Rio de Janeiro


ser o pioneiro na produção de café?

b) Ao observar a marcha do café para São Paulo, que características podemos


apontar para que nesse Estado tal atividade fosse capaz de provocar uma
dinâmica espacial bastante diferente da que provou no Rio de Janeiro.

c) Em São Paulo a marcha do café se fez acompanhar pela ferrovia. Tal fato
anulou o arquipélago econômico brasileiro por proporcionar maior fluidez à
produção? Justifique.

d) A exemplo das demais atividades econômicas do Brasil que se voltavam para o


exterior e sofriam flutuações no mercado internacional, o café também seguiu
este modelo. No entanto, mesmo com a grande crise que se abateu sobre
a produção em 1929, a região produtora paulista conseguiu se recuperar e
manter seu dinamismo, como se pode explicar tal fato?

a)

sua resposta

b)

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c)

d)

Uma palavrinha final...


Aqui encerramos nossa aula. Esperamos que no decorrer desses 10 encontros você já
tenha bastante clareza sobre o processo de formação do território brasileiro. Na próxima aula
falaremos sobre a consolidação das atuais fronteiras brasileiras, que foi o resultado histórico
de conflitos e acordos.

Esperamos que você tenha tido o interesse de ler e assistir os livros e filmes que temos
sugerido ao longo da disciplina, pois isto contribuirá de forma significativa para a sua formação.
Encontraremos-nos na próxima aula. Até lá.

16 Aula 10 Formação Territorial do Brasil

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Resumo
Como esta aula nós aprendemos que: a) A produção de borracha na Amazônia não
foi capaz de gerar um complexo econômico tão dinâmico como foi o do espaço
cafeeiro, em função do sistema de aviamentos cujos lucros auferidos não eram
reinvestidos na produção. Por outro lado, foi esta a atividade que possibilitou ao
Brasil ampliar seu território. b) Vimos também que a cotonicultura possibilitou
ao Maranhão não apenas entrar no circuito da economia capitalista mundial mas
também integrar sua porção Sul, que havia sido colonizada a partir da Casa da
Torre e matinha-se economicamente atrelada a Salvador. c) Observamos ainda,
que no restante do Nordeste, a produção algodoeira incorporou produtivamente
as áreas que só se prestavam, até então, para a pecuária. Não teve o algodão
sertanejo, a característica de plantation, como a cana-de-açúcar, configurou, no
entanto, relações produtivas bem mais complexas, consorciando-se perfeitamente
com o gado e a agricultura de subsistência, mas também possibilitando a
ascensão de uma nova oligarquia agrária, que passou a disputar o poder regional
com os senhores do açúcar. d) Por fim, estudamos o papel da cafeicultura no
Sudeste, num momento em que o desenvolvimento das forças produtivas do
capitalismo permitiu uma nova dinâmica de acumulação, e transformou São Paulo
na principal área econômico do país, ainda que sob o modelo de arquipélago
herdado do sistema colonial.

Autoavaliação
Agora que concluímos esta aula vamos verificar o que aprendemos e se nos
restam algumas dúvidas.

a) Em termos territoriais, que importância podemos atribuir àcotonicultura nordestina?

Aula 10 Formação Territorial do Brasil 17

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b) Estabeleça a diferença entre a atividade extrativista da borracha na Amazônia e a cafeicultura
paulista, em termos de transformações socioeconômicas dos seus respectivos espaços.

c) Observe os mapas 02 e 04 da nossa aula. Com base neles é possível negar ou confirmar
a idéia de arquipélago econômico atribuída ao Brasil durante o período que estamos
estudando? Justifique.

18 Aula 10 Formação Territorial do Brasil

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d) Que relações podemos estabelecer entre o dinamismo sócio-espacial apresentado pela
cafeicultura no Estado de São Paulo e o desenvolvimento das forças produtivas apresento
pelo capitalismo industrial.

Leituras complementares
Como você sabe, é necessário aprofundar mais um pouco o conteúdo que estudamos
nesta aula e para isso sugerimos as seguintes leituras:

ANDRADE, Manuel Correia de A terra e o homem no Nordeste: contribuição ao estudo da


questão agrária no Nordeste. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1986.

Nessa consagrada obra, o autor aborda a produção algodoeira no Nordeste do Brasil,


mais precisamente nos capítulos 4 (Propriedade, policultura e mão-de-obra no agreste), 5 (O
latifúndio, a divisão da propriedade e as relações de trabalho no Sertão e no Litoral Setentrional)
e 6 (O Meio-Norte e a Guiana Maranhense). Observando questões gerais da produção e as
relações de trabalho pertinentes à cotonicultua.

ESTEVES. Antonio R. A ocupação da Amazônia. São Paulo: Brasiliense, 1993. (tudo é história)

Trata-se de uma leitura bastante didática sobre todo o processo de ocupação da região
amazônica, abordando desde a possível passagem do capitão francês Jean Cousin, em 1488
ou 1490, pela foz do rio Amazonas até 1988 com a morte de Chico Mendes, nos conflitos que
envolve a destruição da floresta.

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CANO, Wilson. Raízes da concentração industrial em São Paulo. 3ª ed. São Paulo: Hucitec, 1990.

O autor mostra nessa obra, um tanto densa, como passou a ocorrer o processo desigual
e de integração entre o complexo cafeeiro paulista e as demais regiões brasileiras.

CATELLI JUNIOR, Roberto. Brasil: do café à indústria. São Paulo: Brasiliense, 1992. (tudo
é história)

É também, um livro bastante didático, que aborda o desenvolvimento da atividade cafeeira


no Brasil, mas precisamente no Estado de São Paulo, porém com foco na transformação do
trabalho escravo pra as relações capitalistas de produção.

Referências
ANDRADE, Manuel Correia de A questão do território no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995

______, A terra e o homem no Nordeste: contribuição ao estudo da questão agrária no


Nordeste. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1986.

BECKER, Bertha; EGLER, Claudio A. G. Brasil: uma potência regional na economia-mundo.


Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003 (Coleção Geografia).

CANO, Wilson. Raízes da concentração industrial em São Paulo. 3ª ed. São Paulo: Hucitec, 1990.

CATELLI JUNIOR, Roberto. Brasil: do café à indústria. São Paulo: Brasiliense, 1992. (tudo
é história)

ESTEVES. Antonio R. A ocupação da Amazônia. São Paulo: Brasiliense, 1993. (tudo é história)

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.

MOREIRA, Ruy. Formação do Espaço Agrário Brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1990.
(Coleção tudo é história, número 132).

OLIVEIRA, Francisco de. Elegia para uma Re(li)gião: Sudene, Nordeste.Planejamento e


conflitos de classe. 6ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1993.

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

20 Aula 10 Formação Territorial do Brasil

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Formação Territorial do Brasil – GEOGRAFIA

EMENTA

Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.

AUTORES

> Antonio Albuquerque da Costa

> Paulo Sérgio Cunha Farias

AULAS

01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia

02 A territorialização ibérica do mundo e a expansão do capitalismo na sua fase embrionária

A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização


03
do colonizador português no Brasil (as feitorias)
04 A territorialização de fato do colonizador português: as capitanias hereditárias e a plantation açucareira

A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
05
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia

07 A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil Central

08 A ocupação antiga do Brasil Meridional

09 A ocupação moderna e definitiva do Sul

10 O “arquipélago” de “ilhas” econômicas do Império e da Primeira República

11 A Primeira República e a consolidação das fronteiras

12 Do arquipélago de “ilhas” econômicas à integração do território

13
15

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D I S C I P L I N A Formação Territorial do Brasil

A Primeira República e a
consolidação das fronteiras

Autores

Antonio Albuquerque da Costa

Paulo Sérgio Cunha Farias

aula

11
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação
Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED


Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Estadual da Paraíba

Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel

Secretária de Educação a Distância Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPE


Vera Lúcia do Amaral Eliane de Moura Silva

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN

Coordenador de Edição Diagramadores


Ary Sergio Braga Olinisky(UFRN) Ivana Lima (UFRN)
Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)
Projeto Gráfico
José Antonio Bezerra Junior (UFRN)
Ivana Lima (UFRN)
Mariana Araújo de Brito (UFRN)
Vitor Gomes Pimentel (UFRN)
Revisoras Tipográficas
Adriana Rodrigues Gomes (UFRN)
Revisora de Estrutura e Linguagem
Margareth Pereira Dias (UFRN)
Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Nouraide Queiroz (UFRN)

Arte e Ilustração Revisora de Língua Portuguesa


Adauto Harley (UFRN) Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Carolina Costa (UFRN)
Heinkel Hugenin (UFRN)
Leonardo Feitoza (UFRN)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.

Formação Territorial do Brasil/ Antônio Albuquerque da Costa; Paulo Sérgio Cunha


Farias. – Campina Grande: EdUEP, 2009.

385 p.: il.

ISBN: 978-85-7879-050-9

1. Geografia - Brasil. 2. Geografia – Estudo e Ensino. I. Farias, Paulo Sérgio Cunha.


II. Titulo.

21. ed. CDD

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

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Apresentação

N
ão se pode deixar de reconhecer o papel preponderante que teve a expansão portuguesa
para o interior do subcontinente sul-americano na definição da configuração territorial
atual do Brasil. Conforme já falamos para você nas aulas anteriores, durante
especialmente o período da União Ibérica, as entradas, as bandeiras, as missões devassaram
o interior da colônia portuguesa muito além dos seus limites não claramente definidos pelo
Tratado de Tordesilhas.

As entradas foram responsáveis pela ocupação lusitana do interior do Nordeste brasileiro,


com a pecuária. As bandeiras paulistas se embrenharam pelo interior do território aprisionando
índios para escravizar, fazendo a prospecção mineral, estabelecendo a pecuária (como ocorreu
no Sul do Brasil) etc. As missões religiosas foram encarregadas de praticar a coleta das drogas
do sertão nos vales dos rios da bacia amazônica.

Além desses e de outros processos que já foram discutidos com você nas aulas passadas,
coube ao projeto expansionista geopolítico português interiorizar a fixação de fortes, visando
assegurar a posse e a defesa do território, estratégia essa empreendida durante a União Ibérica,
quando dividiu a sua colônia americana em dois Estados – do Maranhão, com sede em São
Luis, e do Brasil, com sede em Salvador. O Estado do Maranhão era subordinado diretamente
à Coroa e foi criado, inicialmente, para garantir a defesa do litoral setentrional, exposto aos
ataques e ocupação dos franceses. Posteriormente, depois de afastadas as ameaças dos
franceses, em 1751, esse Estado serviu para consolidar a soberania portuguesa sobre a bacia
amazônica, mudando, inclusive, o nome de Estado do Maranhão para Estado do Grão Pará,
mudança essa que foi acompanhada da transferência da sua sede de São Luis para Belém
(Ver Mapa 01 – Os dois Estados do Brasil Colonial).

Fonte: Atas de História do Brasil, p. 17

Mapa 01 – Os dois Estados do Brasil Colônia

Aula 11 Formação Territorial do Brasil 1

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Essas, entre outras estratégias de ocupação, expansão e defesa, serviram para alargar
as possessões portuguesas na América do Sul em detrimento das possessões espanholas.
Esse modelo de expansão e ocupação rarefeitas (pontual e em manchas) se mostrou exitoso
quando da assinatura dos tratados diplomáticos entre Portugal e Espanha, no século XVIII,
pois levou ao primeiro país defender, com sucesso, o princípio segundo o qual detém a posse
de um território quem o ocupa de fato. A consolidação da posse do território a partir desse
princípio – utis possidetis, possibilitou a Portugal ampliar bastante a sua colônia americana,
deixando um imenso território como legado para o Brasil após a independência, em 1822.

Contudo, os contornos desse imenso território (limites e fronteiras) não foram gestados
no período colonial. Nesse período, apenas uma pequena extensão dos nossos contornos
territoriais foram definidos e demarcados, nossos limites e fronteiras atuais são produtos,
principalmente, do desenrolar de eventos diplomáticos que perpassaram o período Imperial e
chegaram até a Primeira República.

Nessa aula, convidamos você a fazer um itinerário sobre a definição e demarcação dos
limites e das fronteiras do Brasil. Para conhecer esse episódio da nossa formação territorial,
convidamos você a estudar atenciosamente o conteúdo dessa aula, realizar as atividades
sugeridas, consultar a bibliografia complementar e, em caso de persistência de dúvidas, buscar
esclarecimentos com o tutor ou professora da disciplina.

Objetivos
Com essa aula, esperamos que você:

Compreenda que as fronteiras terrestres do território brasileiro


1 atual são produto de conflitos, disputas, acordos, arbitramento
internacional e tratados diplomáticos que perpassaram
os períodos colonial, imperial e chegaram até a Primeira
República.

Identifique os segmentos de fronteiras terrestres demarcadas


2 no período colonial bem como os tratados que lhes deram
conformação.

Conheça os tratados que estabeleceram as linhas de fronteiras


3 terrestres brasileiras atuais demarcadas no período imperial.

Conheça os tratados que definiram e deram forma as fronteiras


4 terrestres brasileiras atuais demarcadas na Primeira República.

Vamos começar a nossa conversa?

2 Aula 11 Formação Territorial do Brasil

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As fronteiras políticas:
conceito e os critérios
para o seu estabelecimento
Antes de entrarmos no papo sobre as fronteiras atuais do Brasil é importante fazer a
você os seguintes questionamentos: O que é uma fronteira política? Como ela é estabelecida?

Tomando o conceito de território estudado na nossa primeira aula, podemos afirmar para
você, grosseiramente, que uma fronteira separa poderes, em alguns casos conflitantes. No
caso dos Estados-Nações, entidades político-territoriais que nasceram como suporte espacial
necessário para a afirmação e a reprodução do capitalismo na Europa, as fronteiras definem
os limites jurídicos do território e são abstrações geradas e sustentadas pela ação institucional
no sentido do controle efetivo do Estado territorial, portanto, um instrumento de separação
entre unidades políticas soberanas. Contudo, é importante lembrar para você que os limites
de um “país não são simples pontos, conjuntos de marcos ou contornos fixos” (PEREGALLI,
1982, p. 16). Conforme observa esse historiador:

[...]. Existem fronteiras em movimento e fronteiras estáveis. Fronteiras que foram


demarcadas por “arbítrio internacional”, fronteiras que foram conquistadas pelos
exércitos, fronteiras que ainda não foram acertadas.
As fronteiras resultam da lenta evolução histórica e são fixadas através de choques
de interesses, estendidas ou constrangidas por ações diplomáticas ou militares.
Existem terras neutralizadas, espaços vazios e imprecisos que não pertencem a alguém
determinado. Existem fronteiras econômicas que transcendem fronteiras políticas...
(PEREGALLI, 1982, p. 16).

Conforme nos lembra Lia Osório Machado:

[...] a fronteira é [também] lugar de comunicação e de troca. Os povos podem se expandir


para além do limite jurídico do Estado, desafiar a lei territorial de cada Estado limítrofe
e às vezes criar uma situação de facto, potencialmente conflituosa, obrigando a revisão
dos acordos diplomáticos (MACHADO, 2002, p. 1).

Mas como é estabelecida uma fronteira política entre Estados territoriais? Que etapas
envolvem a sua fixação?

Sem querer entrar em detalhes, e, portanto, de forma sucinta, podemos dizer para
você que a fixação de uma fronteira política envolve, grosseiramente, três etapas: definição,
delimitação e demarcação.

A definição corresponde à etapa de elaboração conceitual da fronteira política.


Nela, os países que estão envolvidos no estabelecimento das fronteiras entre si, através das
discussões dos seus diplomatas, chegam a um acordo sobre os princípios norteadores para
a sua elaboração.

Aula 11 Formação Territorial do Brasil 3

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A delimitação se constitui na etapa de elaboração cartografia da fronteira política.
Nela, traça-se nos mapas a linha divisória acordada com base nos princípios gerais estabelecidos
na etapa da definição.

A demarcação representa a etapa de concretização física da fronteira política. Nela,


implantam-se sobre o território os chamados marcos de fronteira. Esses podem ser os
chamados acidentes físicos (linhas de crista, os cursos fluviais etc.) ou marcos implantados
(pedras, madeira, concreto etc.). A utilização dos chamados acidentes físicos como marco de
fronteira deu origem ao conceito errônea de fronteira natural. Esse conceito é inverídico porque
nenhuma fronteira é natural, mas produto da história, já que o uso de um acidente físico como
marco de fronteira é estabelecido através da ação política.

No tocante à política, a linha de fronteira nasce na etapa da delimitação, pois é nela que,
mediante acordo detalhado sobre os limites entre dois territórios, produz-se um vasto acúmulo
de informações cartográficas em grande escala, que trazem representadas, em detalhes, os
contornos da linha de fronteira.

Assim, nessa rápida conversa sobre o conceito e as etapas de elaboração da fronteira


política deu para você perceber que as fronteiras políticas não são naturais. Elas são produto
de embates, conflitos, disputas e acordos que instituíram vários Estados territoriais. No caso
do Brasil, nossas fronteiras atuais não são obra da natureza que o colonizador aqui encontrou
e depois legou ao povo brasileiro nem tampouco foram definidas, delimitadas e demarcadas
no período colonial. Nossos contornos atuais são produto de vários momentos da nossa
história, sendo que a maior parte desses contornos emergiu depois da nossa independência
política – no período Imperial e na Primeira República.

Vamos refletir um pouco sobre esse nosso começo de conversa.

Atividade 1
Observe, em um atlas, o mapa político do mundo e responda:

a) Explique como nasceram essas fronteiras políticas.

b) As fronteiras separam e misturam. As fronteiras, ao mesmo tempo em que


são um instrumento de separação entre unidades políticas soberanas, são
lugares de comunicação e troca. Explique por quê?

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a)

sua resposta
b)

Aula 11 Formação Territorial do Brasil 5

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Retomando a nossa conversa

As fronteiras brasileiras atuais


originadas no período colonial

O
primeiro esboço do território brasileiro atual foi estabelecido em 1494, portanto, antes
da chegada de Cabral, em 1500, quando da assinatura do Tratado de Tordesilhas
entre os países ibéricos. A elaboração conceitual da fronteiras desse território, que
pertenceria à Coroa portuguesa, tomou como base o sistema de coordenadas geográficas, a
linha imaginária divisória (o Meridiano de Tordesilhas) deveria se situar 370 léguas a Oeste
das ilhas de Cabo Verde - cabendo a Portugal as terras “descobertas ou a descobrir” situadas
antes da linha imaginária e à Espanha as terras que ficassem além dessa linha (Ver Mapa 02
– Primeiro esboço do território brasileiro definido pelo Tratado de Tordesilhas).

Mapa 02 – Primeiro esboço do território brasileiro definido pelo Tratado de Tordesilhas

Todavia, o Meridiano de Tordesilhas, que separava as possessões lusitanas das


espanholas, foi, na sua época, uma fronteira definida conceitualmente, mas não delimitada e
demarcada. Nesse sentido, as fronteiras entre a América espanhola e a América portuguesa,
no sul do Novo Mundo, eram imprecisas.

6 Aula 11 Formação Territorial do Brasil

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Como bem observa Magnoli (1997, p. 47), o Tratado de Tordesilhas, do ponto de vista
histórico, representava uma partilha prévia ao empreendimento colonial; do ponto de vista da
sua lógica geográfica, representava uma abstração matemática e astronômica, assentada na
ignorância do território do Novo Mundo.

Além disso, existe uma justificativa plausível para toda a imprecisão dos limites territoriais
entre as possessões sul-americana das duas Coras Ibéricas. Conforme nos relata Machado
(2002, p. 3), só no século XVIII a relação entre limite e fronteira territorial estava sendo
desenvolvida na Europa. Até então, os limites das possessões, fossem reinos ou soberanias,
eram, com freqüência, imprecisos. Foi no decorrer daquele século que se difundiu na Europa
a noção de muro-fronteira ou de uma razão de Estado linear.

A fronteira imprecisa definida pelo Meridiano de Tordesilhas foi, como você já teve
oportunidade de perceber nas aulas anteriores, transposta principalmente durante o período
da União Ibérica, quando a falta de impedimento legal permitiu que as entradas, as bandeiras, as
missões etc. alargassem as possessões portuguesas no sul do Novo Mundo e constrangessem
as possessões espanholas.

Esse fato, aliado à necessidade de Portugal em estabelecer os limites da única colônia


importante que lhe restara (PRADO JÚNIOR, 1987, p. 94), mais o contexto europeu do
século XVIII, no qual os países buscavam estabelecer as suas fronteiras (MACHADO, 2002,
p. 3), corroboraram para a revisão dos domínios dos países ibéricos na América do Sul e,
conseqüentemente, para as primeiras tentativas de demarcação dos limites do Brasil.

Essas tentativas de demarcação dos limites do Brasil no período colonial foram


formalizadas através da assinatura de alguns tratados entre Portugal e Espanha: Madri (1750)
e Santo Ildefonso (1777), que praticamente confirmou o Tratado de Madri.

Não obstante ter sido anulado em 1761, através do Tratado de El Pardo, o Tratado de
Madri constitui uma referência válida para o estudo do processo histórico de legitimação
dos limites das terras brasileiras, em virtude das inovações introduzidas por quatro anos
de negociações diplomáticas, entre as quais: a) o reconhecimento da superação da linha
de Tordesilhas; b) a primeira tentativa de estabelecer os limites entre as possessões lusas
e castelhanas num sentido continental; c) uma visão ampla da geopolítica mundial, em que
se estabelece a separação entre os conflitos que pudessem ocorrer na Europa e os conflitos
americanos; entre outros (MACHADO, 2002, p. 2-3). Para Becker e Egler (2003, p. 46), o
Tratado de Madri, ao estabelecer pela primeira vez as linhas divisórias entre os domínios de
Portugal e da Espanha, adotando como critério o utis possidetis, isto é, o reconhecimento do
direito de posse a partir do efetivo povoamento e exploração da terra, legitimou a apropriação
portuguesa do território cujos limites permanecem grosseiramente os mesmos de hoje (Ver
Mapa 03 - O território do Brasil segundo o Tratado de Madri).

Aula 11 Formação Territorial do Brasil 7

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Mapa 03 - O território do Brasil segundo o Tratado de Madri

Mas quais seriam os marcos dos limites ou como estabelecer a linha de fronteira entre
as duas possessões sul-americanas dos países ibéricos definidos por esse tratado?

Segundo Machado (2002, p.3), no Tratado de Madri e, posteriormente, no Tratado de


Santo Ildefonso, a concepção de fronteira implícita nos textos, ou seja, a escolha dos lugares
de referência para o traçado da linha-limite das terras revela a enorme importância atribuída aos
lugares de comunicação, usualmente coincidentes com pontos estratégicos de passagem da
rede fluvial e de caminhos. São esses lugares que dão coerência à localização das fortificações
Pombalinas pombalinas, todas situadas nos lugares-ponto por onde confluíam circuitos de contrabando.
Referentes ao Período Além desses lugares estratégicos, o traçado da linha-limite adotada no Tratado de Madri tomou
Pombalino (1750 —1777) como referência os lugares de povoamento, em especial as terras sob domínio das missões
em que o nobre e estadista
religiosas. As missões castelhanas se estendiam pelo centro do continente, desde o Paraguai
português Sebastião
José de Carvalho Melo, até Maynas (na Amazônia), formando uma verdadeira faixa fronteiriça no sentido norte-sul, o
conhecido como Marquês mesmo papel, aliás, que tiveram as missões religiosas portuguesas na parte oriental da bacia
de Pombal tomou posse
amazônica. Esses segmentos foram essenciais para o traçado de limites e para a aplicação do
como primeiro-ministro
de Portugal e assumiu a princípio do utis possidetis. Outra referência para o estabelecimento de marcos dos limites do
administração do Estado Tratado de Madri foram os acidentes físicos. Não havendo o reconhecimento do direito indígena
de português e de suas
ao território, grande parte das terras era tida como espaços vazios. Os limites seguiram, nesse
colônias, incluindo o Brasil.
caso, os acidentes físicos, ou seja, a fronteira natural, principalmente, as fronteiras fluviais
(motivo pelo qual as Sete Missões passaram para o domínio português ao se respeitar o
traçado do rio Uruguai).

8 Aula 11 Formação Territorial do Brasil

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Todavia, o Tratado de Madri, efetivamente, delimitou apenas alguns trechos das fronteiras
atuais do território brasileiro, tomando como referência os acidentes físicos, mais precisamente
os cursos conhecidos de alguns rios: o trecho da nossa fronteira atual com a Argentina
correspondente ao curso do rio Uruguai e o trecho da nossa fronteira atual com a Bolívia
referente ao curso do rio Guaporé. Afora essas linhas-limites originadas com o Tratado de
Madri, no período colonial, outro segmento de linha-limite delimitado foi o estabelecido, através
do Tratado de Paz entre os Países Baixos e Portugal, assinado por Portugal e a Holanda, em
1661, que, entre outras resoluções, estabeleceu a fronteira entre o Brasil e a Guina Holandesa,
atualmente Suriname. A linha-limite estabelecida como marco divisório entre as possessões
lusa e holandesa tomou como referência os acidentes físicos, ou seja, a linha de cristas do Linha de cristas
divisor de águas da bacia amazônica (Ver Mapa 04 – As fronteiras brasileiras atuais originadas segundo o Dicionário
no período colonial). Geológico e
Geomorfológico de
Antônio Teixeira Guerra,
são os “pontos altos de um
relevo alinhados segundo
certas direções. As linhas
de cristas, algumas vezes
se confundem com a
linha de cumeada, isto
é, uma linha divisora
de águas.” (GUERRA,
Antônio Teixeira.
Dicionário geológico e
geomorfológico. 8ª ed.Rio
de Janeiro: IBGE, 1993,
p. 265)

Divisor de águas

“Linha separadora das


águas pluviais. Geralmente
se pensa em uma linha
de cumeada, isto é,
em divisores formados
por altas montanhas.
Todavia um divisor de
águas não é sempre
Mapa 04 – As fronteiras brasileiras atuais originadas no período colonial constituído por elevadas
cristas.” (GUERRA,
Antônio Teixeira.
Assim, as fronteiras terrestres do atual território brasileiro fixadas no período colonial Dicionário geológico e
correspondem a aproximadamente 17% do seu total atual. A metade delas só foi delimitada e geomorfológico. 8ª ed.Rio
demarcada no período Imperial e o restante durante a vigência da chamada Primeira República. de Janeiro: IBGE, 1993,
p. 265)
Mas, antes de conversarmos sobre elas, responda a atividade logo a seguir.

Teste a sua aprendizagem

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Atividade 2
Por que, no século XVIII, Portugal resolveu estabelecer os limites da
1 sua colônia no Novo Mundo?

Diferencie a configuração territorial da colônia americana de Portugal


2 definida pelo Tratado de Tordesilhas da estabelecida pelo Tratado
de  Madri.

Pode-se afirmar que as atuais linhas-limites do território brasileiro


3 foram gestadas no período colonial? Explique por quê?

As linhas-limites do território brasileiro estabelecidas no período


4 colonial são fronteiras naturais? Explique por quê?

1.
sua resposta

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2.

3.

4.

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Voltando a nossa conversa

As fronteiras brasileiras atuais


estabelecidas no período imperial
Império Como discutimos com você anteriormente, o Império foi responsável pelo estabelecimento
Período que se inicia em de mais da metade da extensão das fronteiras terrestres brasileiras atuais.
7 de abril de 1922 com a
declaração de independência No Segundo Reinado, foi assinado o tratado de limites entre o Brasil e o Uruguai
de Portugal e conseqüente (1851), estabelecendo a fronteira entre esses dois países como é até hoje, sendo modificadas
formação do Estado
Brasileiro através do
posteriormente apenas algumas disposições no mesmo. O marco da fronteira entre o Brasil
estabelecimento de uma e o Uruguai foi estabelecido no curso do rio Jaguarão. Com a demarcação dessa fronteira, o
monarquia parlamentar e Brasil acrescentou 48.000 Km2 ao seu território.
termina em 15 de novembro
de 1889, quando um golpe O estabelecimento da fronteira entre o Brasil e o Uruguai resolveu uma antiga disputa
de estado instaurou no Brasil
a república presidencialista
territorial na Bacia do Prata, que concluiu a Questão Cisplatina. Essa questão houvera surgido
como forma de governo ainda no contexto da guerra da Independência, quando o tenente-general Carlos Frederico
Lecor (Barão de Laguna), entrou com as suas forças em Montevidéu, em 1824, obtendo do
cabildo da cidade o juramento à Constituição do Império e, desse modo, anexando oficialmente
Segundo Reinado o atual Uruguai ao Brasil. Contudo, essa ocupação foi efêmera, pois, tendo os seus interesses
Teve iníco em 7 de abril de locais prejudicados, muitos cisplatinos, apoiados pelas Províncias Unidas do Rio da Prata
1831, quando dom Pedro (atual Argentina), que também desejavam incorporar à área, iniciaram os conflitos (a Guerra
I abdicou do trono e dom
do Corso) contra as forças brasileiras. Após diversos enfrentamentos, nos quais o Brasil
Pedro II foi aclamado
imperador do Brasil, este não conseguiu levar vantagem sobre os seus opositores, em 1828, com a intermediação da
período teve fim com a Inglaterra, foi assinada a Convenção Preliminar de Paz, ratificada nos anos seguintes, que
proclamação da república
tratava do comum acordo da desistência do Brasil e da Argentina em controlar a região, o que
em 1889.
resultou na independência e no surgimento da República Oriental do Uruguai.

No tocante à fronteira brasileira com o Paraguai, também foi estabelecida no Império,


Cabildo sendo concebida através da forças das armas. Esse segmento de fronteira foi fixado após o
Torganismo eclesiástico encerramento da Guerra do Paraguai (1864-70), quando, em 1872, foi firmado um Tratado de
diocesano de apoio ao bispo. Paz, no qual constavam os respectivos limites do Paraguai com o Brasil. No estabelecimento
A palavra “cabildo” tem na
lingua espanhola a mesma
dessa fronteira prevaleceu um velho princípio para o direito da posse de um território muito
origem e mantém o mesmo bem utilizado por Portugal no período colonial: o Brasil reivindicou as terras já ocupadas ou
significado que a palavra exploradas por portugueses e brasileiros. No estabelecimento da fronteira com o Paraguai, o
portuguesa “cabido”. O
cabido exercia as funções de
Brasil incorporou 47.000 Km2 ao seu território.
colégio de consultores do
bispo para aconselhamento
Ainda no período imperial foram estabelecidas parte das fronteiras brasileiras com o
sobre assuntos diversos da Peru, a Bolívia (1867) e a Venezuela (1859). Os tratados com o Peru e a Venezuela foram
vida diocesana. assinados juntos com os acordos que estabeleceram as normas para a navegação na Amazônia.

12 Aula 11 Formação Territorial do Brasil

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Na ocasião da assinatura dos acordos para a demarcação da fronteiras com a Venezuela e a
Bolívia, o Brasil anexou ao seu território 150.000 e 160.000 Km2, respectivamente (Ver Mapa
05 - As fronteiras brasileiras atuais demarcadas no Império).

Mapa 05 - As fronteiras brasileiras atuais demarcadas no Império

O Império Brasileiro, na ocasião da fixação dessas fronteiras, anexou áreas ao seu


território baseado na ocupação e exploração portuguesa ou brasileira anteriores. Dessa forma,
usou, de certo modo, o velho princípio do utis possidetis tão bem empregado por Portugal para
alargar as suas possessões americanas no período colonial. Com a demarcação de fronteiras
no período imperial, o Brasil incorporou ao seu território 405.000 Km2.

Para alguns autores, esse crescimento territorial do Brasil revela a faceta expansionista
do seu subimperialismo, exercido sobre os seus vizinhos na América do Sul. Já outros autores
consideram que o Brasil não era tão forte assim, muito pelo contrário, era um país fragmentado,
dividido, sem a presença de um Estado suficientemente forte para solidificar a união de regiões
tão diferentes. E o maior perigo de desintegração, por influências indiretas ou ações diretas,
provinha do outro lado da fronteira. Assim, como condição de existência, era preciso ao Brasil
debilitar ou mesmo destruir os seus vizinhos: crescer territorialmente era uma forma de manter
a unidade nacional. Outros estudiosos procuram identificar os destinos dos povos com certos
espíritos criadores de acidentes geográficos. Os fecundadores do mundo teriam colocado
na terra certas montanhas, certos rios, como limites naturais de um povo, predeterminado a
exercer sua influência sobre esta área. Nesse sentido, o crescimento territorial do Brasil era
uma resposta do seu povo ao chamamento para dominar os territórios compreendidos entre

Aula 11 Formação Territorial do Brasil 13

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o Amazonas e o Prata, limitados pela Cordilheira dos Andes, estendendo ao mesmo tempo sua
influência sobre o resto da América do Sul (PEREGALLI, 1982, p. 14-16).

Seja qual for a explicação para esse crescimento territorial do Brasil nesse período,
a referência para a demarcação dessas fronteiras foram preferencialmente os chamados
acidentes físicos, principalmente os cursos fluviais - o rio Jaguarão (limites com o Uruguai ao
Sul), trechos dos rios Paraguai e Paraná (parte dos limites com o Paraguai), rio Javari (parte
dos limites com o Peru), (ver mapa 6, As fronteiras do Brasil) e as linhas de crista do divisor
de águas entre as bacias do Amazonas e Orinoco (parte dos limites com a Venezuela). Isso,
de qualquer modo, refletia a forte ênfase na idéia de fronteira natural dos territórios da época,
também bastante utilizada pelo Império brasileiro para justificar a sua expansão territorial.

Assim, como você percebeu, boa parte dos nossos contornos territoriais foi elaborada
no período imperial. Contudo, a fixação das fronteiras da configuração territorial brasileira foi
concluída na Primeira República, mas antes de falarmos com você sobre esse assunto, reflita
sobre essa parte da nossa conversa.

Reflita sobre a conversa que acabamos de ter com você

Atividade 3
Observe e analise o mapa 05 mostrado na aula, e responda:

Quais os segmentos de linhas-limites do Brasil com os países vizinhos


1 foram fixados durante o período imperial?

Quais os marcos de fronteira mais utilizados para fixar essas


2 linhas-limites?

Identifique e explique o conceito de fronteira que prevaleceu na fixação


3 dessas linhas-limites.

A demarcação de parte das fronteiras no período imperial permitiu ao


4 Brasil anexar 405.000 Km2 ao seu território. Essa expansão territorial
revela o subimperialismo, a fraqueza do Estado ou o destino manifesto
do Brasil? Justifique a sua resposta.

14 Aula 11 Formação Territorial do Brasil

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Retomando a nossa conversa

A consolidação
da fronteiras brasileiras
atuais na Primeira República

C
omo já falamos para você, aproximadamente um terço das fronteiras terrestres
brasileiras foram fixadas na República Velha ou Primeira República. Nesse período,
os limites territoriais brasileiros se encontravam definidos pela Constituição de 1891,
porém, nem todos se encontravam delimitados.

A diplomacia brasileira no começo do período republicano estava centralizada na figura de


José Maria da Silva Paranhos Filho (Barão de Rio Branco). De acordo com Enrique Peregalli, o
contexto da atuação diplomática do Barão de Rio Branco apresentava duas tendências gerais:

a) Internacionalmente o eixo diplomático descolou-se de Londres para Washington. Os


norte-americanos emergiram como nossos melhores compradores de café, borracha
e cacau;
b) Na América do Sul as fronteiras brasileiras foram demarcadas, concluindo-se longas
e vagas controvérsias (PEREGALLI, 182, p. 16).

O restante das fronteiras brasileiras demarcadas na Primeira República foi definido através
de arbitragens ou de acordos bilaterais.

Entre as questões litigiosas de limites territoriais estavam: Palmas, com a Argentina;


Amapá, com a França; Acre, com a Bolívia; e Pirara, com a Inglaterra. Nas três primeiras
questões, os interesses do Brasil foram defendidos pelo Barão de Rio Branco.

Como já falamos para você na aula sete, a questão de Palmas envolveu o Brasil em uma
disputa territorial com a Argentina, entre 1890 -1895. Nela, a Argentina reivindicava a porção
oeste dos atuais Estados do Paraná e de Santa Catarina, pretendendo estabelecer a fronteira
nos rios Chapecó e Chopim. Segundo a Argentina, esse traçado da fronteira tinha como base
o Tratado de Madri. Por outro lado, o Brasil pretendia fixar os limites nos rios Pipiri-Guaçu e
Santo Antônio. Pouco tempo antes da proclamação da República, os dois países em litígio
decidiram que a questão seria resolvida através do arbitramento internacional. Pelo resolvido,
Quintino Bocaiúva (Ministro das relações Exteriores do Governo Provisório), assinou, em
1890, o Tratado de Montevidéu, que dividia a área em disputa entre os dois países. Contudo,
essa decisão não foi ratificada pelo Congresso Nacional Brasileiro. Nesses termos, a questão
foi submetida ao arbitramento do presidente dos Estados Unidos Grover Cleveland. Nessa
questão, atuou como defensor do Brasil o Barão de Rio Branco, que expôs ao presidente

Aula 11 Formação Territorial do Brasil 15

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Cleveland os argumentos brasileiros fundamentados em vasta e valiosa documentação reunida
em seis volumes denominados de “A questão de limite entre o Brasil e a República Argentina”.
O resultado do arbitramento foi inteiramente favorável ao Brasil, estabelecendo que a fronteira
entre os dois países devesse passar no lugar que o Brasil defendia e declarando pertencer a
esse país os 35.431 Km2 em litígio (Ver Mapa 06 - A questão de Palmas).

Fonte: PEREGALLI, Enrique. Como o Brasil ficou assim? Formação das fronteiras e tratados de limites.
2 ed. São Paulo: Global Editora, 1982 (História Popular; 9).p.78.
Mapa 06 - A questão de Palmas

A questão do Amapá envolveu o Brasil em uma disputa territorial com a França. A área em
litígio corresponde atualmente a quase a metade do território do Estado do Amapá. Por decisão
entre ambos, França e Brasil decidiram submeter a questão à arbitragem. O Governo brasileiro
nomeou para representá-lo frente ao presidente Walter Hauser (o árbitro da questão), da Suíça,
o Barão de Rio Branco. Mais uma vez os argumentos brasileiros prevaleceram. A decisão de
1900 confirmou a fronteira entre o Brasil e a Guina Francesa no rio Oiapoque e acrescentou
aproximadamente 261.540 km2 ao Brasil, que, assim expandiu pacificamente suas fronteiras
no norte e assegurou para o Barão de Rio Branco uma posição de destaque na diplomacia
internacional (PEREGALLI, 1882, p. 79) (Ver Mapa 07 - A questão do Amapá)

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Fonte: PEREGALLI, Enrique. Como o Brasil ficou assim? Formação das fronteiras e tratados de limites. 2 ed. São Paulo:
Global Editora, 1982 (História Popular; 9).p.79.
Mapa 07 - A questão do Amapá

A questão do Acre foi outro capítulo da história da formação territorial do Brasil que se
passou durante os primeiros anos da República Velha. O território acreano, que pertencia
à Bolívia, foi ocupado por seringueiros oriundos do Nordeste brasileiro, apoiados por
seringalistas amazonenses, durante o boom da borracha. As escaramuças entre brasileiros
e bolivianos se tornaram então constantes e inevitáveis. No transcurso dos acontecimentos,
os brasileiros, liderados por Luis Galvez, chegaram a proclamar uma efêmera independência
acreana, em 1899. O Governo boliviano, sem condições econômicas e militares para fazer
frente à presença de brasileiros nos seringais do Acre, especialmente nos altamente produtivos
localizados na bacia do rio Acre, entregou, em concessão, a exploração do Acre a Bolivian
Syndicare, um consórcio estadunidense, que teria amplos poderes para administrar o território
em questão. Isso foi o estopim para a revolta militar dos seringueiros brasileiros comandados
pelo gaúcho Plácido de Castro, que defendia o direito de posse da terra dos brasileiros por
estarem eles há muito tempo na área explorando a borracha. Por outro lado, o Governo
boliviano mobilizou suas tropas em virtude do conflito. Diante da iminência da deflagração

Aula 11 Formação Territorial do Brasil 17

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do conflito, o Governo brasileiro, representado pelo diplomata Barão de Rio Branco, iniciou
difíceis negociações com o Governo boliviano. As negociações levaram alguns meses e o
desfecho da questão do Acre aconteceu no dia 17 de novembro de 1903, quando foi assinado
o Tratado de Petrópolis estabelecendo os limites entre os dois países. A área contestada
terminou ficando sob a soberania brasileira - aproximadamente 189.000 Km2 - e como
recompensa a Bolívia recebeu dois milhões de libras esterlinas, pequenas compensações
territoriais que lhe deram acesso ao rio Madeira e a promessa da construção da estrada de
ferro Madeira-Mamoré. O consórcio estadunidense Bolivian Syndicate, que houvera arredado
a área junto ao Governo boliviano, recebeu do Governo brasileiro uma indenização de 114.000
libras esterlinas (Ver Mapa 08 – A questão do Acre).

Fonte: PEREGALLI, Enrique. Como o Brasil ficou assim? Formação das fronteiras e
tratados de limites. 2 ed. São Paulo: Global Editora, 1982 (História Popular; 9).p.86.
Mapa 08 – A questão do Acre

A resolução da questão do Acre é reconhecida como a mais importante obra diplomática


do Barão de Rio Branco, que, por isso, empresta o seu nome à capital daquele território,
hoje Estado do Acre. Contudo, se para o Brasil esse diplomata representou um expoente na
condução das suas questões territoriais na América do Sul, para os países que tiveram litígios
de fronteiras com o Brasil, o referido diplomata era a mais perfeita encarnação da geopolítica
imperialista brasileira.

A questão dos Campos de Pirara envolveu o Brasil e a Inglaterra. No século XIX acentuou-
se a presença inglesa na fronteira com Roraima, a pretexto da indefinição de fronteiras e de
proteção aos missionários britânicos envolvidos com a catequese de populações indígenas.
A questão do Brasil com a atual Guiana (então uma possessão colonial da Inglaterra) foi
solucionada através da arbitragem do rei Vitor Emanuel III da Itália. O laudo arbitral do rei
Vitor Emanuel dividiu os 22.000 Km2 da área em litígio entre o Brasil (9.065 Km2) e os ingleses
(12.950 Km2). Nessa contenda territorial atuou na defesa do Brasil o pernambucano Joaquim
Nabuco (Ver Mapa 09 – A questão do Pirara).

18 Aula 11 Formação Territorial do Brasil

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Fonte: PEREGALLI, Enrique. Como o Brasil ficou assim? Formação das fronteiras e tratados de limites. 2 ed. São Paulo: Global
Editora, 1982 (História Popular; 9).p.86.
Mapa 09 – A questão do Pirara

Essa questão encerrou, praticamente, o uso das arbitragens internacionais para a


resolução das questões de fronteiras do Brasil com os seus vizinhos sul-americanos. Conforme
observa Peregalli (1982, p. 92), durante o restante do período em que comandou as relações
exteriores do Brasil, o Barão de Rio Branco não recorreu mais as arbitragens internacionais.

Os últimos acordos sobre as fronteira do Brasil com os seus vizinhos sul-americanos


foram firmados entre 1904-1909. Em 1905 foi firmado o acordo que demarcou o restante
das nossas fronteiras com a Venezuela. Em 1906, o restante das questões fronteiriças com
o Suriname foi elucidado. Ainda na Amazônia, Rio Branco definiu o complexo segmento de
limites com a Colômbia, firmando um tratado básico me 1907, que seria confirmado em 1928,
e assegurou a soberania brasileira sobre a região da cabeça do cachorro. Em 1909, o Brasil,
através de acordo direto, definiu 1.546 km de linha de fronteira com o Peru, nesse acordo
o Brasil teve 163.000 Km2 de terra reconhecidos como seu (Ver Mapa 10 – As fronteiras
brasileiras atuas estabelecidas na Primeira República).

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Mapa 10 – As fronteiras brasileiras atuas estabelecidas na Primeira República

O Brasil, para fixar a maioria dessas fronteiras, como na época do Império, usou o velho
princípio português para a apropriação de um território: a terra pertence a quem a coloniza
de fato (utis possidetis). Ademais, a mitologia territorial que atribuía um fundamento natural
para as fronteiras brasileiras, segundo a qual os cursos dos rios Uruguai, Paraguai e Guaporé
e a bacia amazônica configuravam uma “ilha brasileira”, circunscrita pela natureza, mitologia
essa originada desde a transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro (1808),
transformou-se na diretriz da política de fronteiras do Brasil Imperial e na era Rio Branco.
Esse mito territorial exprimia a idéia de uma origem natural do próprio Brasil e acabou por
refletir os contornos das fronteiras brasileiras com razoável precisão (MAGNOLI, 1997). Não
obstante, os acidentes físicos, notadamente os cursos dos rios, foram, também, na República
Velha, bastante utilizados para estabelecer os marcos das nossas fronteiras. Todavia, como
bem nos lembra Magnoli (1997), nossas fronteiras não foram obra na natureza, mas produto
da política e da história.

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Como observa Peregalli (1982, p. 17), as negociações para a fixação das fronteiras durante
a Primeira República possibilitou ao Brasil incorporar uma área de 638.036 Km2 ao seu território.

Assim, as últimas linhas-limites do Brasil com os países vizinhos na América do Sul


foram estabelecidas na Primeira República, dando os últimos contornos à sua configuração
territorial atual.

Vamos refletir sobre o que acabamos de conversar?

Atividade 4
Observe e analise o mapa 10 mostrado na aula, e responda.

Quais foram as linhas-limites do Brasil com os países vizinhos

1 demarcadas na Primeira República? Quais foram os marcos utilizados


preferencialmente e a qual conceito de fronteira eles nos remetem?

Quais foram as grandes questões territoriais do Brasil com os países


2 vizinhos na Primeira República? Explique como essas questões
foram  resolvidas.

Quais foram os argumentos usados pela diplomacia brasileira para


3 defender o seu ponto de vista sobre as questões territoriais com os
países vizinhos na Primeira República? Explique-os.

O saldo territorial da demarcação das fronteiras com os países vizinhos


4 durante a Primeira República foi favorável ou desfavorável ao Brasil?
O que ele revela em termos geopolíticos? Explique suas respostas.

Considerando que o território é um espaço definido e delimitado por e


5 a partir de relações de poder, o complemento do estabelecimento das
suas fronteiras transformou o espaço brasileiro em território? Justifique
a sua resposta.

Aula 11 Formação Territorial do Brasil 21

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1.

sua resposta

2.

22 Aula 11 Formação Territorial do Brasil

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3.

4.

5.

Aula 11 Formação Territorial do Brasil 23

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Terminando a nossa conversa

C
onforme você pôde perceber, o território brasileiro atual não foi uma dádiva da
natureza recebida pelos portugueses e repassada, como herança, para os brasileiros,
após a independência. Do seu esboço original precariamente definido pelo Tratado
de Tordesilhas, os portugueses trataram, através de diversas estratégias geopolíticas e
geoeconômicas, de alargar a extensão desse território, estabelecendo grosseiramente a
superfície que o mesmo detém atualmente. Porém, suas fronteiras não foram fixadas no
período colonial, a grande maioria delas foi estabelecida no Império e na Primeira República,
através de tratados, acordos e arbitramentos internacionais. A demarcação dessas fronteiras
e, conseqüentemente, a anexação de territórios, contribuiu para que o Brasil apresente a
configuração territorial que lhe é peculiar atualmente. Portanto, o território do Brasil não
era uma dimensão espacial estabelecida à priori pela natureza e nem suas fronteiras foram
todas gestadas no período colonial. Nosso território é produto do desenrolar dos eventos
históricos situados entre 1500 e os primeiros anos do período republicano, que envolveu
muitas discussões, conflitos, disputas e decisões políticas.

Leituras complementares
Sugerimos como leitura importante para o aprofundamento da conversa que tivemos sobre a
formação das fronteiras do Brasil:

PEREGALLI, Enrique. Como o Brasil ficou assim? Formação das fronteiras e tratados de
limites. 2 ed. São Paulo: Global Editora, 1982 (História Popular; 9).

Esse livro paradidático aborda a formação das fronteiras brasileiras, destacando a


importância que tiveram os acordos diplomáticos, especialmente os tratados assinados entre
Portugal e Espanha e, posteriormente, entre o Brasil e os países vizinhos, nessa formação
bem como os arbitramentos dos outros países em questões de fronteira do Brasil com seus
vizinhos, nos quais nosso país quase sempre levou vantagem.

Vamos aprender nos divertindo?

24 Aula 11 Formação Territorial do Brasil

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Amazônia: de Galvez a Chico Mendes
Minissérie da Rede Globo exibida em 55 capítulos entre os
dias 2 de janeiro e 6 de abril de 2007, foi escrita por Glória
Perez com pesquisa de Bianca Freire-Medeiros, Giovana
Manfredi e Sandra Regina, trilha sonora de Alexandre de
Faria, dirigida por Pedro Vasconcelos, Marcelo Travesso,
Carlo Milani, Roberto Carminati e Emílio di Biasi com direção
geral de Marcos Schechtman.
A minissérie se baseou em dois romances de autores
acreanos, O Seringal, de Miguel Ferrante, e Terra Caída, de
José Potyaguara, a ficção começa em 1899 e mostra a vida
no seringal sob pontos de vistas diferentes.
A história mostra a conquista do território do Acre no
auge da borracha e a decadência dessa atividade com a
transformação dos seringais em pastos, e a destruição
floresta Amazônica. 
A minissérie está disponível em DVD.

Elenco
José Wilker
Alexandre Borges
Cássio Gabus Mendes
Christiane Torloni
Giovanna Antonelli
Vera Fischer
Débora Bloch
Vanessa Giácomo e grande elenco

Mad Maria
Minissérie de Benedito Ruy Barbosa com direção de Ricardo
Waddington, exibida pela Rede Globo entre 25 de janeiro e
25 de março de 2005 com gravações na região amazônica.
Foi baseada na obra homônima de Márcio de Souza e retrata
a feitura da estrada de ferro Madeira-Mamoré, em 1912.
A história abordas questões como a dura rotina dos
operários na frente de trabalho em plena selva amazônica,
os bastidores do poder na capital da República, no início
do século XX, e o drama das populações indígenas em
extermínio.
Elenco
Fábio Assunção
Ana Paula Arósio
Fidelis Baniwa
Juca de Oliveira
Antônio Fagundes
Cássia Kiss
Priscila Fantin
Tony Ramos
Cláudia Raia
Walmor Chagas e grande elenco
A minissérie está disponível em DVD.

Aula 11 Formação Territorial do Brasil 25

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Resumo
Nesta aula, você teve oportunidade de aprender que: a) o primeiro esboço do atual
território brasileiro foi definido pelo Tratado de Tordesilhas; b) durante o período
da União Ibérica, os portugueses trataram de alargar esse território, através
das entradas, das bandeiras, das missões religiosas etc.; c) essa expansão,
assomada à necessidade portuguesa em estabelecer os limites da sua colônia e
ao contexto europeu de discussões sobre as relações entre limites e fronteiras,
corroboraram para as primeiras tentativas dos portugueses em estabelecer os
limites de suas possessões coloniais na América do Sul; d) as tentativas para
estabelecer os limites entre as possessões portuguesas e espanholas na América
do Sul foram feitas através de Tratados (Madri e Santo Ildefonso, por exemplo);
e) apesar dessas tentativas, apenas 17% das fronteiras brasileiras atuais foram
fixadas no período colonial; f) no período imperial foram fixados cerca de 50%
e na Primeira República cerca de um terço das fronteiras brasileiras atuais;
g) o estabelecimento dessas fronteiras foi feito através de tratados, acordos
diplomáticos e arbitragens internacionais (Primeira República); h) na Primeira
República foram solucionadas questões territoriais como as de Palmas, do
Amapá, do Acre, dos Campos de Pirara e da região da cabeça do cachorro;
exceto no estabelecimento das fronteiras com o Paraguai e no caso do Acre, i)
o processo de fixação das fronteiras brasileiras atuais foi pacífico, realizando-se
mais no campo da diplomacia, no qual teve destaque a atuação do Barão de Rio
Branco, no começo da Primeira República; j) na fixação das fronteiras atuais do
Brasil predominou o princípio do utis possidetis; l) tanto no Império quanto na
“era” de Rio Branco a diplomacia brasileira atuou movida pela concepção de
fronteira natural do território brasileiro; m) a fixação das fronteiras no Império e na
Primeira República alargou consideravelmente o território e revelou a geopolítica
expansionista do Brasil na América do Sul; n) por fim, nossas fronteiras atuais
não são naturas, mas produto da história e da política.

Autoavaliação
Observe os mapas 04, 05 e 10 mostrados na aula para responder as questões abaixo.

Explique a seguinte afirmação: As fronteiras brasileiras não foram obra da natureza


1 como atribuía o mito territorial da “ilha Brasil”, mas produto da política e da história
(MAGNOLI, 1997).

26 Aula 11 Formação Territorial do Brasil

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Analise os seguimentos de fronteiras fixados nos períodos colonial, imperial e
2 republicano. Explique como agiram as diplomacias portuguesas e brasileiras para
fixarem essas fronteiras.

Analise os efeitos da demarcação das fronteiras para a formação do atual território


3 brasileiro.

Referências
BECKER, Bertha; EGLER, Claudio. Brasil: uma potência regional na economia-mundo. 4. Ed.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003 (Coleção Geografia).

MACHADO, Lia Osório. Limites e fronteiras: da alta diplomacia aos circuitos da ilegalidade.
Disponível em http://acd.ufrj.br/fronteiras/pesquisa/fronteira/p02pub02.htm. Acesso em
12/01/2009.

MAGNOLI, Demétrio. O corpo da pátria: imaginação geográfica e política externa no Brasil


(1808-1912). São Paulo: Editora da UNESP: Moderna, 1997 (Biblioteca Básica).

PEREGALLI, Enrique. Como o Brasil ficou assim? Formação das fronteiras e tratados de
limites. 2 ed. São Paulo: Global Editora, 1982 (História Popular; 9).

PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 35 ed. São Paulo: Editora
Brasiliense,  1987.

Aula 11 Formação Territorial do Brasil 27

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Anotações

28 Aula 11 Formação Territorial do Brasil

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Formação Territorial do Brasil – GEOGRAFIA

EMENTA

Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.

AUTORES

> Antonio Albuquerque da Costa

> Paulo Sérgio Cunha Farias

AULAS

01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia

02 A territorialização ibérica do mundo e a expansão do capitalismo na sua fase embrionária

A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização


03
do colonizador português no Brasil (as feitorias)
04 A territorialização de fato do colonizador português: as capitanias hereditárias e a plantation açucareira

A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
05
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia

07 A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil Central

08 A ocupação antiga do Brasil Meridional

09 A ocupação moderna e definitiva do Sul

10 O “arquipélago” de “ilhas” econômicas do Império e da Primeira República

11 A Primeira República e a consolidação das fronteiras

12 Do arquipélago de “ilhas” econômicas à integração do território

13
15

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D I S C I P L I N A Formação Territorial do Brasil

Do arquipélago de “ilhas”
econômicas à integração do território

Autores

Antonio Albuquerque da Costa

Paulo Sérgio Cunha Farias

aula

12
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Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Educação
Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED


Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Estadual da Paraíba

Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna

Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel

Secretária de Educação a Distância Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPE


Vera Lúcia do Amaral Eliane de Moura Silva

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN

Coordenador de Edição Diagramadores


Ary Sergio Braga Olinisky(UFRN) Ivana Lima (UFRN)
Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)
Projeto Gráfico
José Antonio Bezerra Junior (UFRN)
Ivana Lima (UFRN)
Mariana Araújo de Brito (UFRN)
Vitor Gomes Pimentel (UFRN)
Revisoras Tipográficas
Adriana Rodrigues Gomes (UFRN)
Revisora de Estrutura e Linguagem
Margareth Pereira Dias (UFRN)
Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Nouraide Queiroz (UFRN)

Arte e Ilustração Revisora de Língua Portuguesa


Adauto Harley (UFRN) Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Carolina Costa (UFRN)
Heinkel Hugenin (UFRN)
Leonardo Feitoza (UFRN)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

910.9
C837f Costa, Antônio Albuquerque da.

Formação Territorial do Brasil/ Antônio Albuquerque da Costa; Paulo Sérgio Cunha


Farias. – Campina Grande: EdUEP, 2009.

385 p.: il.

ISBN: 978-85-7879-050-9

1. Geografia - Brasil. 2. Geografia – Estudo e Ensino. I. Farias, Paulo Sérgio Cunha.


II. Titulo.

21. ed. CDD

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização
expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

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Apresentação

A
té aqui vimos que o território brasileiro foi em boa parte uma herança do expansionismo
lusitano, que avançou pelas terras espanholas a oeste de Tordesilhas. Vimos ainda, que
com a independência do Brasil, o império enfrentou vários movimentos separatistas,
mas que teve a grande proeza de manter a unidade nacional. Com o fim do império, sabemos
que o Estado brasileiro consolidou as fronteiras e aliou o seu tradicional autoritarismo a formas
capitalistas de produção, porém, é do nosso conhecimento que até os anos de 1930 não havia
ainda um território integrado, o Brasil era um imenso “arquipélago” de “ilhas” econômicas que
tinham como razão de ser o mercado externo.

Na presente aula, vamos discutir como foi possível a integração desse território, a partir
dos anos de 1930, integração esta, que é um projeto em execução, sobretudo nas chamadas
áreas de fronteiras. Fronteiras estas que se faz necessário indagar de como foram constituídas,
pois como vimos não foi uma dádiva da natureza, mas sim, foram traçadas por tratados,
conflitos militares, litígios ou arbitragens.

Nesta reta final é importante que você continue a ter os mesmos cuidados e dedicação
com a leitura e a aprendizagem e que continue a realizar as atividades e, em caso de dúvida,
busque esclarecimentos com o tutor ou professor da disciplina. Não esqueça de observar
os mapas, pois os mesmos não são simples ilustrações, mas uma importante ferramenta de
leitura e entendimento do espaço que o geógrafo deve utilizar.

Objetivos
Nesta aula esperamos que você:

Conheça a importância geopolítica do Instituto Brasileiro


1 de Geografia e Estatística (IBGE) para o Estado brasileiro.

Entenda as políticas territoriais postas em prática pelos


2 governos do período Vargas ao período militar como
sento de busca pela integração nacional e pela garantia
da unidade territorial.

Perceba as políticas de planejamento regional com


3 estratégia do governo brasileiro para expandir o mercado
nacional e consolidar a indústria do Sudeste.

Associe a ruptura na forma do estado brasileiro pensar o


4 país (a partir da última década do século XX) ao processo
de globalização e a hegemonia do neoliberalismo em
escala mundial.

Aula 12 Formação Territorial do Brasil 1

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O Estado Novo e a necessidade de
conhecer e integrar o território brasileiro
Províncias

é um termo utilizado
por muitos Estados
Para iniciar nossa conversa
para designar a divisão
territorial do país.
O Estado republicano que se organizou no território brasileiro manteve o
No Brasil muitas das autoritarismo e a tendência centralizadora que fora típica do Império. A busca por
capitanias hereditárias modernização não foi acompanhada por um processo de democratização, em vez disso,
tornaram-se províncias,
sistema que vigorou
a República acentuou sua política centralizadora e, embora tenha adotado o modelo
até a proclamação da federativo, tentou manter o controle sobre as províncias. O sentimento separatista que
república quando o Estado era mantido pelas províncias foi de certa forma atenuada através da relativa autonomia
inspirado no modelo norte-
americano transformou as
que estas gozavam.
províncias em estados.
As idéias separatistas ganharam força com o vertiginoso crescimento apresentado
por São Paulo que provocou um acentuado distanciamento desse estado em relação
Política do aos demais. A consolidação de São Paulo como o estado mais rico e de maior influência
café-com-leite
política do país, fez surgir o temor de que o federalismo brasileiro se processasse sob
foi a política adotada na a égide paulista, mas tal sentimento não chegou a formar nenhuma mobilização, de
República Velha, na qual os
estados de São Paulo, que
fato, com fins separatistas, como observa Andrade (1997 p. 128-130).
era o economicamente mais
rico devido à produção de
As oligarquias regionais mantiveram-se fortes durante toda República Velha
café, e o estado de Minas e sucediam-se no poder central, com ocorria no típico exemplo da política do
Gerais, na época o maior café- com- leite. Este equilíbrio de poder na política brasileira só sofreu uma ruptura
centro eleitoral do país e
grande produtor de leite, se
quando o presidente Washington Luís quis impor um sucessor paulista à candidatura
revezavam no poder central. do presidente de Minas Gerais que deveria sucedê-lo na presidência da república.

Foi, porém, a partir de 1930 que mudanças significativas começaram a ocorrer


Planejamento
no território brasileiro, embora o regime político continuasse autoritário e muito mais
estatal
centralizador. O Estado tinha o firme propósito de se modernizar. E, embora o poder
foi um sistema econômico
central continuasse se utilizando das oligarquias agrárias regionais cooptando-as
implantado no primeiro
país socialista (a Rússia) através de favorecimentos, o Governo Vargas passou a ser o legítimo representante
após a Primeira Guerra da emergente burguesia industrial.
Mundial com o objetivo de
dinamizar sua estrutura No contexto internacional da crise de 1929 os Estados capitalistas centrais aderiram à
econômica arcaica. O
fase do planejamento estatal como forma de retomar o crescimento econômico. O Brasil,
governo russo sob a
chefia de Lênin, investiu como era de se esperar, seguiu o modelo implantado nos Estados Unidos pelo presidente
pesadamente na indústria Roosevelt, ainda que de forma não democrática. Passou a elaborar planos de desenvolvimento
de base, na tentativa de
para sua economia e a criar órgão de regulamentação, de controle e de fomento para estimular
eliminação dos desníveis
regionais, na tecnologia, o “progresso da nação”. Dentre esses órgãos merece destaque especial, para nossa discussão,
na agricultura e em outros a criação do Conselho Nacional de Geografia e do Instituto Nacional de Estatística em 1934,
setores da economia
os quais foram transformados em um único órgão no ano de 1942, tornando-se o Instituto
através de planos
qüinqüenais. Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

2 Aula 12 Formação Territorial do Brasil

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Para um Estado centralizador, imbuído das idéias fascistas que ganhavam força em países
da Europa (defendiam um Estado forte, um nacionalismo exacerbado e tentava identificar a
nação com a figura do ditador), era necessário conhecer o território e ter o controle do mesmo
para garantir a segurança nacional, promover a integração do espaço brasileiro, combater a
ameaça comunista e modernizar o país. A partir dessas premissas é que podemos entender a
criação dos dois órgãos supracitados.

Não foi por acaso que o ensino e as pesquisas de cunho puramente geográfico sobre
o Brasil se institucionalizaram na década de 1930. Foi quando a burguesia e as classes
médias urbanas passaram a ter maior influência sobre o governo e quando o Estado, forte e
centralizador, apoiou-se nas idéias da segurança nacional, da consolidação da unidade territorial
(a partir do centro) e da formação da identidade brasileira associada ao Estado-Nação. Surgem
neste contexto os primeiros cursos de Geografia em nível superior nas universidades de São
Paulo e Rio de Janeiro nos anos de 1934 e 1935, respectivamente.

A carência de informações sobre do território nacional resultou na criação do Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que teve o objetivo de produzir conhecimentos
sobre o território nacional através:

a) do levantando de informações, nas escalas nacional, regionais e locais, sobre as diversas


características do espaço brasileiro;

b) da geração de informações estatísticas confiáveis que permitissem ao governo implantar


políticas setoriais de desenvolvimento;

c) da produção de um sistema cartográfico padronizado e preciso que permitisse ao Estado


ter a exatidão dos problemas e conflitos que envolviam as fronteiras internas do país
(estaduais, municipais etc.).

Foram, portanto, para atender a esses objetivos traçados pelo Governo Federal que o IBGE
se constituiu de três conselhos, o de Geografia, o de Estatística e o de Cartografia.

Na primeira fase de criação do IBGE, esse instituto teve uma preocupação voltada
explicitamente para a geopolítica e a divisão do país em regiões geográficas, com destaque
para as propostas de Teixeira de Freitas e de Fábio Guimarães.

Mário Augusto Teixeira de Freitas, estatístico idealizador do IBGE, identificado com as


idéias centralizadoras do Estado Novo propôs uma nova divisão política para o país, na qual
todos os Estados deveriam ter dimensões semelhantes. Sob seu ponto de vista era necessária a
fusão de pequenos Estados e a divisão dos Estados de grandes dimensões territoriais (Mapa 01
– Divisão Territorial do Brasil na proposta de Teixeira de Freitas). A maior falha dessa proposta
foi não considerar as realidades locais e as rivalidades presentes entre estados, motivos pelos
quais, tal divisão territorial não foi efetivada pelo governo federal.

Aula 12 Formação Territorial do Brasil 3

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Fonte: M. A. Teixeira de Freitas. A redivisão política do Brasil. Revista Brasileira de Geografia. Julho/setembro de 1941.
Mapa 01 – Divisão Territorial do Brasil na proposta de Teixeira de Freitas (1941)

Ao geógrafo Fábio de Macedo Soares Guimarães, foi dada a tarefa de dividir o país em
regiões, cujo objetivo era sistematizar as várias divisões regionais que vinham sendo propostas
para o Brasil em uma única regionalização (oficial) para a divulgação das estatísticas brasileiras.
Esse trabalho foi aprovado em 1942.

No seu trabalho de dividir regionalmente o Brasil, Fábio Guimarães teve que respeitar
os limites estaduais para atender as determinações políticas e facilitar as coletas de dados
por estado. Pela forte influência francesa que impregnava a geografia brasileira, sua opção
foi à divisão baseada nas grandes regiões naturais por entender como uma divisão estável
e permanente que daria elementos mais precisos para acompanhamento futuro da própria
evolução regional. Não podemos, no entanto, pensar que este trabalho significou uma tarefa
simples, visto que algumas regiões ainda não eram completamente conhecidas, como era
o caso da Amazônia, que era percorrida pela rede fluvial e era percebida como uma grande
região homogênea.

4 Aula 12 Formação Territorial do Brasil

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Ao se debruçar sobre todas as propostas de regionalização até então elaboradas para
o país, Fábio Guimarães refutou a regionalização estabelecida oficialmente pelo Conselho
Nacional de Estatística em 1938 (ver mapa 02 – Divisão Regional do Brasil feita pelo Ministério
da Agricultura e adotada pelo IBGE em 1938), que adotara a divisão em uso pelo Ministério de
Agricultura, e deu destaque para a regionalização utilizada por Delgado de Carvalho desde 1923
em seus livros didáticos de geografia do Brasil. (ver Mapa 03 – Divisão do regional do Brasil
segundo Delgado de Carvalho - 1913). Desse seu trabalho resultou a primeira divisão regional
do Brasil pelo IBGE. (ver mapa 04 – Primeira divisão Regional do Brasil feita pelo -1945).
Observe que Fábio Guimarães adotou a mesma divisão regional de Delgado de Carvalho, apenas
alterando a nomenclatura das regiões.

Mapa 02 – Divisão Regional do Brasil feita pelo Ministério da Agricultura e adotada pelo IBGE em 1938

Fonte: Revista Brasileira de Geografia. Abril-junho de 1941, p.120 – Desenho adaptado pelos autores.

Aula 12 Formação Territorial do Brasil 5

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Fonte: Revista Brasileira de Geografia. Abril-junho de 1941, p.120 – Desenho adaptado pelos autores.
Mapa 03 – Divisão do regional do Brasil segundo Delgado de Carvalho - 1913

Fonte: Revista Brasileira de Geografia. Abril-junho de 1941, p.120 – Desenho adaptado pelos autores.

Mapa 04 – Primeira divisão Regional do Brasil feita pelo IBGE-1945

6 Aula 12 Formação Territorial do Brasil

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Nesse contexto da afirmação da identidade brasileira, da preservação da unidade territorial
e da busca pela integração nacional mereceu destaque e interesse especial do Governo Federal
os estudos de Leo Waibel sobre a colonização européia no Sul do Brasil, fato que não é difícil
de entender, visto que o Estado brasileiro tinha sérias preocupações face ao isolamento no qual
viviam determinadas comunidades de colonos estabelecidos no Sul do país, que não haviam
se integrado nem assimilado uma identidade nacional brasileira.

Resumindo toda a importância que teve o IBGE, na fase que considera áurea, Manuel
Correia de Andrade diz que

[...] não foi apenas uma escola de formação de geógrafos; ele (o IBGE) forneceu aos
mesmos condições de maior segurança em seu trabalho. Assim, foi feito pelo Conselho
Nacional de Cartografia o levantamento cartográfico do país, de que resultou a publicação
do Atlas do Brasil ao milionésimo, como também deu maior consistência e uniformidade
às estatísticas. Realizando os recenseamentos populacionais e econômicos decenais
-1940, 1950, 1960 etc. – e publicando o Anuário Estatístico do Brasil. Serviu este órgão
técnico de consulta para o Poder Central e fez [...] a política do poder, contribuindo,
inclusive, para a escolha do local em que se construiria a nova capital do País – Brasília.
(grifo nosso), (ANDRADE, 1987, p. 91).

O governo Vargas priorizou a industrialização do país, através da consolidação de uma


indústria de base, que foi impulsionada pela ação direta do Estado através dos investimentos A marcha
para o Oeste
em infra-estrutura, energia e transportes. Investiu também na modernização do Estado, através
do seu viés econômico com a criação de vários órgãos estatais, tais como bancos, companhias, foi um programa do
governo Vargas cujo
conselhos, comissões etc. Embora naquele momento ainda não houvesse nenhuma política objetivo era promover
explicitamente regional, o Nordeste e a Amazônia, que eram motivos de preocupação do Estado a ocupação dos vazios
deste os tempos do Império, foram contempladas com algumas meditas, ainda pontuais e demográficos do Centro-
Oeste, resolvendo o
conjunturais, que visavam combater as secas periódicas e o atraso econômico do Nordeste e problema da pressão
povoar e aproveitar economicamente a Amazônia. demográfica do Sudeste.
Esta política de migração
Outra medida do Governo Vargas com o intuito de estimular e disciplinar a “marcha tinha a finalidade de
para o Oeste”, atendendo ao mesmo tempo fins estratégicos e econômicos foi a criação dos resolver ao mesmo tempo
os desequilíbrios regionais
territórios federais do Amapá, Rio Branco, Guaporé, Ponta-Porã e o de Iguaçu (ver mapa 05 – e produzir matéria-prima
Divisão Política do Brasil feita pelo Governo Vargas -1943), que passaram a ser administrados e alimentos a baixo custo
diretamente pelo governo federal. Tais territórios foram desmembrados dos estados do Pará, no Centro-Oeste para
subsidiar a industrialização
Amazonas, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina, por se localizarem em áreas fronteiriças, que estava se iniciando
pouco povoadas e distantes das capitais estaduais. no Sudeste.

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Mapa 05 – Divisão Política do Brasil feita pelo Governo Vargas

Para o Nordeste, visto como um região problema, observa Ioná Maria de Carvalho
(1987, p. 47) que o governo Federal dispensou tratamento diferenciado em relação as outras
regiões já a partir de 1930, tais como a transformação da Inspetoria de Obras Contra as Secas
(IFCS) em Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNCS), a criação do Instituto
do Açúcar e do Álcool (IAA), da Companhia do Vale do São Francisco (CHESF) e do Banco
do Nordeste (BNB), medidas que não conseguiram alterar significativamente o quadro de
subdesenvolvimento da região.

Vamos refletir um pouco sobre esse nosso começo de conversa

Atividade 1
a) Justifique a importância que o governo Vargas deu ao conhecimento geográfico, criando
os primeiros cursos superiores de Geografia e o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).

8 Aula 12 Formação Territorial do Brasil

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b) Observe o que diz de Manuel Correia de Andrade (1987, p.88) sobre a divisão política de
Teixeira de Freitas: “Inspirado no modelo norte-americano, [Teixeira de Freitas] propunha
que os estados tivessem dimensões semelhantes – entre 150 e 250 mil quilômetros
quadrados – e fossem separados uns dos outros por linhas retas.” Com base nessa
informação e na leitura do mapa 01 responda por que o governo Vargas não quis efetivar
essa divisão política.

c) Observe o mapa 05. Localize os Territórios Federais criados por Vargas para serem
diretamente administrados pelo governo federal. Com base na ideologia do Estado Novo,
como podemos explicar a criação desses territórios.

Vamos voltar a nossa discussão

Aula 12 Formação Territorial do Brasil 9

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As políticas territoriais do Brasil:
Área core dos anos 50 a era dos militares
é a parte mais central de
um determinado espaço,

N
os anos de 1950, ainda com o governo Vargas, o Estado passou a agir através de
com atividades industriais,
comerciais e de serviços políticas regionais explícitas, era necessário integrar as economias periféricas ao
organizadas. É o núcleo Centro-Sul do país. A conformação de um país agrário estruturado em arquipélagos
ou o coração irradiador
havia se desfeito e a cafeicultura com o trabalho assalariado tinha contribuído muito com isso
de uma cidade, estado ou
região. No Brasil a área ao “abrir a possibilidades de circuitos inter-regionais de mercadorias” (BECKER, 1994, p. 111)
core corresponde ao núcleo
das grandes metrópoles Nessa incessante busca de formação de um mercado nacional integrado, via
nacional formado por São industrialização, às demais regiões (que se constituíam em periferias, de desenvolvimento
Paulo e Rio de Janeiro que
dinâmico ou lento) passam a ser complementares a economia do Centro-Sul, que se
inclui o Vale do Paraíba e
parte do interior paulista transformara na área core do espaço brasileiro. Foi nesse contexto que se iniciaram as
onde se encontra o maior políticas de desenvolvimento tendo como foco as questões regionais, tais como a criação da
complexo industrial do país.
Superintendência do Plano de Valorização econômica da Amazônia – SPVEA em 1953 e da
institucionalização da Amazônia Legal, em agosto do mesmo ano.
Bens de produção
Todo este investimento na integração de um mercado nacional e na criação da infra-
são os bens e serviços estrutura para a industrialização do país serviu de base para a política que foi implantada por
necessário a produção de
Juscelino Kubitschek, que acelerou o surto industrial e o crescimento industrial do país, porém
outros bens tais como:
maquinas, equipamentos, sobre outras bases visto que este governo privilegiou não a indústria de bens de produção,
matérias-primas, mão-de- mas as indústrias de bens de consumo duráveis, sobretudo aquelas votadas para o setor de
obra, energia e produção
científica. Os bens de ponta, tais como a indústria automobilística e a eletro-eletrônica.
produção também são
denominados de bens de Através do Plano de Metas cujo lema era “crescer quinze anos em cinco”, Juscelino
capital. A Indústria de bens Kubitscheck inaugurou uma nova fase da industrialização e da integração nacional. Utilizando
de produção, também
chamada geralmente de
tanto recursos do Tesouro Nacional quanto recursos externos, o governo investiu pesadamente
Indústria de bens de bapital no setor de energia, transportes, siderurgia, educação e alimentação. E teve como símbolo
ou ainda de indústria de
dessa fase desenvolvimentista a construção de Brasília.
base são as que produzem
mercadorias necessárias
à fabricação de outras
Com Kubitschek inaugurou-se no país a fase de internacionalização capitalista com a
mercadorias. Elas podem entrada de multinacionais para atuarem na produção de bens de consumo duráveis. A indústria
ser definidas quando modernizou-se, porém, a custas do endividamento externo, da dependência tecnológica e da
ao tipo de produção
em Indústria de bens inflação. O processo de industrialização foi acompanhado pelo êxodo rural e conseqüente
intermediários – quando crescimento das cidades. O Brasil se transforma, a partir de então, numa nação urbana-
produzem matérias-primas
industrial-moderna, porém subdesenvolvida.
para serem utilizados
em outras indústrias (a
exemplo da indústria
No tocante ao território, que é o foco do nosso estudo, duas metas são fundamentais para
siderúrgica) ou de bens a reestruturação espacial, primeiro a ênfase dada ao transporte rodoviário pelo governo JK.
de equipamento, quando
Com a construção das estradas inter-regionais o presidente Juscelino passou a integrar todo
produzem maquinários
que também se destinam a o território nacional, meta que era almejada pelo governo brasileiro deste o tempo do Império.
produção de outros A outra obra que também se constituía em um sonho antigo - não só nos escalões do Estado,
bens de capital.

10 Aula 12 Formação Territorial do Brasil

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mas já se fizera presente até no imaginário inconfidente - era a transferência da capital federal
para o Planalto Central, o que se realizou com a construção de Brasília.

Nesta aula não cabe discutir as teorias e polêmicas que envolvem a construção de Brasília,
Indústria de bens de
vamos nos ater apenas ao seu papel no que diz respeito a reorganização do espaço brasileiro. A
consumo duráveis
nova capital no interior do país, transformou-se em um nó de articulação na rede de circulação
é aquela que tem por
nacional, integrando o Norte e o Centro-Oeste a área core da economia nacional através das
finalidade atender
estradas federais que passaram a ligar Brasília a Goiânia, a Belém, a Rio Branco,a Fortaleza, ao grande mercado
a Belo Horizonte e a São Paulo. Dinamizou áreas de Goiás, de Mato Grosso, do Pará e do consumidor. Os bens
de consumo podem ser
Maranhão que se encontravam estagnadas. A nova capital se converteu na via de penetração
classificados como bens
para o Norte e o Centro-Oeste atraindo fluxo populacional e de investimentos privados e estatais de consumo duráveis
para estas regiões. e bens de consumo
não-duráveis. Os bens de
O Centro-Oeste havia sido anexado ao território brasileiro por meio dos bandeirantes consumo não-duráveis
são aqueles que são
paulistas, movimento que tendo a finalidade de procurar ouro e prear índios se revelou
rapidamente consumidos
despovoador. O surto da mineração no século XVIII fez surgir arraiais dispersos que se ou substituídos, como os
mantiveram isolados e estagnados com o fim dessa atividade. As comunicações do Mato medicamentos, roupas,
calçados alimentos etc.,
Grosso até o início do século XX com o restante do país eram feitas através dos rios Paraguai
já os bens de consumo
e Paraná, passando por territórios do Paraguai e da Argentina. Daí a preocupação de integrar duráveis apresentam uma
esta imensa hinterlândia ao centro econômico do país e a importância que passou a ter Brasília vida útil mais longa a
exemplo dos automóveis,
no dinamismo dessa região.
eletrodomésticos,
móveis  etc.
Observa Costa (1988, p. 54-55) que o Plano de Metas não especificava nenhum
planejamento regional, e que não era um plano para o território, mas sim, para a expansão
capitalista. No entanto foi a partir do governo de Juscelino Kubitschek que o planejamento
Setor de ponta
regional foi efetivamente posto em prática com destaque especial para a criação da SUDENE.
São os setores mais
O acelerado ritmo industrial que acontece no Sudeste trouxe a tona o grave problema das
dinâmicos da economia,
disparidades regionais e o Nordeste despontou como uma região deprimida, com uma estrutura nos quais a pesquisa e a
econômica e social arcaica marcada fortemente pela herança colonial. tecnologia têm utilização
intensiva. São os setores
Conforme podemos observar, a atuação da SUDENE através do seu Primeiro Plano Diretor responsáveis por criarem
novos produtos e novos
se encaixava perfeitamente no Plano de Metas do governo federal, ou seja, o de promover
processos de produção.
o desenvolvimento do Nordeste através de uma política de fomento à industrialização,
privilegiando, em especial, aquelas indústrias voltadas para setores dinâmicos da economia,
que foram atraídas para a região pelo mecanismo dos incentivos fiscais.

Em síntese, podermos afirmar que o surto industrial promovido pela SUDENE foi capaz
de promover a modernização e o crescimento econômico de setores da economia nordestina.
No entanto, esta industrialização induzida não foi capaz de reduzir os desequilíbrios regionais,
pois se deu de forma complementar e dependente da indústria do Sudeste. Os parques
industriais foram instalados em algumas poucas cidades escolhidas para serem pólos de
desenvolvimento, as quais, não foram capazes de absorver o grande contingente de mão-de-
obra, sem qualificação, que para elas se dirigiram, visto que, em sua maioria, essas indústrias
utilizam capital intensivo, nem tão pouco, essas cidades propagaram as inovações para o
restante da região, como era esperado. Além do mais, ao cessar o período de benefício dos

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incentivos fiscais, parte significativa dessas indústrias abandonaram a região, deixando atrás
de si sérios problemas sociais.

O governo de João Goulart reforçou a tendência de um planejamento territorial voltado


para as questões regionais através do seu Plano Trienal que não foi possível ser posto em
prática em função do golpe militar de 1964. Todavia o projeto de modernização do país que
vinha sendo implantado desde a época do Estado Novo não sofreu ruptura. O Estado Militar
se tornou ainda mais forte, autoritário e centralizador. Em nenhum outro momento a idéia de
integração territorial e de segurança nacional foi abraçada de forma tão incisiva. Iniciava-se a
fase do “Brasil grande potência” segundo o slogan dos militares.

A teoria dos “pólos de desenvolvimento” que haviam norteado a política de industrialização


da Sudene foi posta em prática com toda a ênfase durante o governo militar que passou a
definir “regiões-programa” nas quais se estabelecia “pólos de desenvolvimento” em cidades
que se supunha fossem capazes de concentrar investimentos e irradiar o dinamismo para
toda a região.

A idéia de desenvolvimento através de pólos fica evidenciada na orientação governamental


dos militares quando estes passaram a direcionar a política econômica para a Amazônia,
Nordeste e Centro-Oeste através da criação do POLOAMAZÔNIA, do POLONORTESTE e do
POLOCENTRO. Os pólos foram selecionados em áreas onde já houvesse algum aporte técnico
e viabilidade econômica, dava preferência aos setores da agropecuária e da mineração, onde,
através de mega-projetos garantiam um rápido retorno do capital investido.

O Centro-Oeste e a Amazônia (em especial) passaram a ser o foco das atenções dos
militares, sobretudo na década de 1970, com o explicito objetivo de promover a integração
Fronteira econômica nacional. Foi posta em prática a ideia de expansão da “fronteira econômica” que, a partir
que o conceito de
do Sudeste se direcionaria para o Cetro-Oeste, a Amazônia e o Nordeste. A política de
“Fronteira econômica” desenvolvimento tomando por base a escala regional torna-se evidente através da criação
era utilizado pelo governo das superintendências regionais. A experiência posta em prática no Nordeste, com a criação
militar para a aplicação de
várias ações econômicas
da SUDENE, foi estendida para outras regiões com a criação de órgãos semelhantes: SUDAM,
em diversos setores: SUDECO, SUDESUL que passaram a atuar na Amazônia, Centro-Oeste e Sul.
agrícola, industrial,
agroindustrial, urbana, Com a ideologia da segurança nacional, o governo militar preocupou-se também com
de povoamento, de infra- a questão urbana, desta forma, criou as nove regiões metropolitanas do país cujo objetivo
estrutura regional etc. Com
vistas à integrar as regiões
explicito era viabilizar a prestação de serviços por meio de gestão integrada para esses grandes
periféricas a área core aglomerados urbanos formados por mais de um município. Entretanto, havia o interesse
do  país. geopolítico não revelado que era manter um maior controle sobre essas áreas estratégicas,
que comandavam a vida econômica, social, política e cultural das regiões ou mesmo do país,
como era o caso das duas metrópoles nacionais. Rio de Janeiro e São Paulo.

Com as transformações ocorridas no espaço brasileiro, a partir de seu processo de


industrialização e de todo o empenho dos governos em promover a integração nacional se fez
necessário que os estudos para a revisão da Divisão Regional do Brasil fossem retomados na
década de 1960. Dessa forma, em 1969 o IBGE estabeleceu uma nova regionalização, na qual

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observava são só os aspectos físicos, mas também a ação modeladora da sociedade. (ver
mapa 06 – Divisão regional do Brasil 1969 – 1988)

Mapa 06 – Divisão regional do Brasil 1969 – 1988

Observa Becker (1990, p. 11) que para entender o processo de ocupação da Amazônia
no período que sucede a Segunda Guerra Mundial faz-se necessário entender a dinâmica do
capitalismo global, a forma como o Brasil se insere nesse processo de internacionalização da
economia e o papel do Estado nacional em manter o controle de reprodução espacial.

Dessa forma, o governo militar priorizou a Amazônia que apresentava importância


fundamental na resolução de questões geopolíticas e econômicas. A integração desse imenso
território a economia nacional teria a função de amortecer os problemas sociais do Nordeste, com
a transferência dos “homens sem terra do Nordeste, para as terras sem homem da Amazônia”.
Teria ainda o papel econômico de suprir o centro dinâmico do país com matérias-primas, dando
continuidade ao seu crescimento e ainda serviria como uma área propícia à abertura de novos
investimentos e a expansão do mercado consumidor que se abasteceria do Sudeste.

Na esfera geopolítica, os militares se preocupavam com a extensão e isolamento da região,


inquietação que sempre acompanhou todos os governos brasileiros. Vale salientar que nesse
momento vivia-se o período da Guerra-fria e a ideologia da segurança nacional era no momento
muito forte entre os militares que temiam tanto a formação de focos revolucionários quanto
o dinamismo dos países vizinhos, que embora menos industrializados que o Brasil tinham
seus centros vitais mais próximos das suas Amazônias e também apresentavam políticas de
povoamento para as mesmas.

Ao analisarmos hoje esse malogrado projeto de ocupação da Amazônia pelos militares


observamos que ele se processou com a devastação da floresta e a dilapidação dos recursos
naturais. Pelo prisma da questão sócio-econômica não só foi ineficiente para o Nordeste como
ainda transferiu a problemática da posse da terra para a Amazônia, com repercussões ainda mais
proeminentes, pois aí se misturam os conflitos e os interesses entre diversos agentes sociais:
índios, posseiros, meeiros, fazendeiros, grileiros, empresas, garimpeiros, madeireiros etc.

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Este espaço transformou-se ainda em palco de disputas e conflitos para setores
capitalistas, pois como observa Becker (1990, passim) a forma de usufruto da Amazônia
por atores nacionais e internacionais é, por vezes, contraditória, a exemplo dos setores que
dominam a engenharia genética e têm interesses conflitantes com os setores energéticos,
mineradores e pecuaristas que degradam o ambiente. Observa a referida autora que a coalizão
de interesses entre os países que dominam a engenharia genética, com dos verdadeiros
ambientalista e dos povos da floresta, que lutam pela preservação da hiléia foi o motivo “capaz
de despertar a polêmica mundial em torno da questão ecológica na Amazônia”, portanto é
uma questão não apenas ambientalista, mas também, tecnológica, econômica e geopolítica.

O Estado desenvolvimentista que tentou consolidar o “Brasil Grande Potência” se exauriu


nos anos 70 (século XX) com o endividamento do setor público para patrocinar o setor privado
que crescia a taxa de 7% ao ano, em plena recessão mundial. Os empréstimos a agentes
financeiros internacionais com juros altíssimos tornaram o Brasil deficitário e refém dos seus
credores nos anos 80 (século XX), denominada a década perdida para o Brasil, na qual o
país mergulhou em profunda crise financeira pela transferência da poupança nacional para o
exterior, a completa ausência de investimentos na infra-estrutura produtiva e a deterioração
dos serviços sociais.

Em 1985 inicia-se o processo de redemocratização do Estado brasileiro que culmina


com a nova constituição de 1988. No bojo das reformas territoriais que transformaram os
territórios federais de Roraima e Amapá em estados e extinguiu o território federal de Fernando
de Noronha que passou a fazer parte do território pernambucano, o antigo desejo dos líderes
políticos do norte de Goiás - em se constituir em território autônomo - tornou-se possível, desta
forma em 1988 foi criado o estado de Tocantins que não só deixou de fazer parte do estado de
Goiás, como também deixou de fazer parte da região Centro-Oeste, sendo encorpado a região
Norte, com a qual sempre manteve fluxos de relações mais intensos. (ver mapa 07 – Divisão
Regional do Brasil -1988)

Mapa 07 – Divisão Regional do Brasil -1988

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Teste a sua aprendizagem

Atividade 2
a) É correto afirmar que a integração do território brasileiro se deu através do modelo Centro/
Periferia? Justifique.

b) Podemos afirmar que a partir dos anos de 1930 os governos do Brasil adotaram a ideologia
do Estado desenvolvimentista em suas políticas? Justifique.

c) Sobre que aspectos as políticas territoriais de integração nacional implantadas na Amazônia


e no Centro-Oeste difere dos objetivos que se pretendia alcançar no Nordeste?

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A crise do Estado-Nação
com os novos paradigmas
As mudanças que ocorreram em escala mundial nos anos de 1980 são significativas para
entender os novos rumos das políticas territoriais que se processarão no Brasil a partir de 1990.

O triunfo do neoliberalismo e a queda do muro de Berlim são marcos dessa nova fase
do capitalismo internacional. A economia mundial se globalizou, as empresas multinacionais
se fundiram e agigantaram-se para competir nesse mercado mundializado. A tendência dos
Estados-nações, em crise, foi de se juntarem na formação de blocos econômicos. O discurso
em evidência fala do fim das barreiras comerciais e do protecionismo estatal e apregoa a livre
concorrência, num mercado sem fronteiras.

No Brasil as ideias neoliberais foram postas em prática com o governo de Fernando Collor
de Mello, que abriu o mercado nacional às importações e deu início do Programa Nacional de
Desestatização. Seu projeto neoliberal teve continuidade no governo de Fernando Henrique
Cardoso que privatizou várias estatais num processo conturbado por haver acusações de
suspeita de favorecimentos a determinados grupos econômicos. Esses governos, atendiam
dessa forma, aos interesses do atores globais sequiosos por flexibilização e desregulamentação,
pois, para esses atores globais, quanto menos regulamentação nacional, melhor, pois ficam
mais livres para atuarem nos territórios nacionais.

O poder crescente das corporações internacionais reduziu a autonomia dos Estados


periféricos no tocante às decisões externas e aniquilaram a credibilidade desses paises perante
a nação nesse final de século XX. É nesse aspecto que se configura a tão decantada crise do
Estado-Nação, pois este deixou de ser capaz de coordenar a nova divisão inter-regional do
trabalho e se tornou refém do Capital que quebrou as fronteiras dos Estados. Neste aspecto
há uma grande contradição, pois, ao mesmo tempo em que o Capital reduziu o poder do
Estado, precisou deste para viabilizar suas ações e expansão, dentro dos limites territoriais
do Estado-Nação.

A partir desta breve exposição podemos entender a ausência de um projeto nacional


para o Brasil, tal como acontecia desde os anos de 1930. O Estado ao abraçar a ideologia
neoliberal se ausentou do comando da economia, deixando a iniciativa privada liberdade para
agir onde melhor lhe convier. Vimos até agora que sempre coube a Estado brasileiro, assim
como em todos os países periféricos, a expansão da empresa moderna, através de subsídios,
do investimento em infra-estrutura e em setores produtivos de base.

O que precisamos entender é que, sendo a globalização extremamente seletiva de espaço,


os investimentos terminam por selecionar aqueles espaços onde já existe algum dinamismo.
Sendo assim, diante da ausência de uma política econômica e territorial explícita coordenada
pelo Estado brasileiro, instala-se a disputa entre estados, regiões e lugares o que leva a uma

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forte concentração dos investimentos naqueles locais mais competitivos e a ampliação das
disparidades já existentes no país, tal como observa Araújo (2000, passim).

Para a questão territorial brasileira dos anos de 1990, Araújo (2000, p. 333-334) observa
que ao priorizar a integração das áreas dinâmicas ao MERCOSUL o governo abandonou a
antiga idéia de integração nacional via regiões com vinha sendo consolidada ao longo do
século XX. Por outro lado através do programa “Brasil Ação” o Estado seguia a estratégia do
setor privado, priorizando os setores mais dinâmicos e ajudando-os a se tornarem ainda mais
competitivos. Desta forma, a integração proposta pelos governos brasileiro nos anos de 1990
era a integração competitiva para a globalização e não a integração nacional desejada pelos
governos que os antecederam.

Diante de todas estas transformações espaciais para atender as grandes corporações e a


volatilidade do capital, Bertha Becker faz o seguinte diagnóstico para que possamos entender
a crise que passa a ocorrer na escala territorial da região.

Face à hipermobilidade do capital, à escala planetária de sua atuação e à crescente


acumulação não produtiva, para a corporação, a região perde significado como base de
operações; a nova ordem econômica internacional é posta por um sistema comandado
por grandes metrópoles “as cidades mundiais”. [...] São regiões urbanizadas em grande
escala que têm o poder não mais apenas como núcleos de produção, mas como veículo de
articulação financeira, núcleo de pesquisa, “marketing” e acumulação de capital, funções
mundiais que exercem juntamente com funções integradoras nacionais, administrativas,
culturais e produtivas [...] (BECKER, 1986, p. 46) (grifo nosso)

É no bojo dessas transformações que podemos entender a insignificância que passa a ter
a questão regional no Brasil e o próprio fim dos órgãos de desenvolvimento regional tais como
ocorreu com a SUDENE, que foi extinta em 2001, pelo então presidente Fernando Henrique
Cardoso. Ao capitalismo globalizado que procura homogeneizar os espaços não interessava
mais atuar nessa escala e as políticas desenvolvimentistas regionais passaram a significar um
entrave à expansão capitalista.

Os Estados Nacionais continuam a ter relevância nesse processo globalitário apenas


porque são nos territórios nacionais que a globalização se materializa tendo na figura do
Estado o garantidor das proteções contratuais e demais direitos do capital global. No entanto a
localização das indústrias é escolhida segundo as vantagens competitivas criadas e mantida por
cada lugar. O projeto neoliberal que dá sustentação a globalização não deixa margens de ação
para o Estado planejador e produtor, como era o Estado brasileiro a partir dos anos de 1930.

Para os atores globais que têm comando altamente centralizado, mas lhes interessa que
as operações sejam descentralizadas, as mais importantes escalas de atuação são as cidades
globais (como centro de decisões) e os espaços locais que sejam dinâmicos (como espaços
do fazer), os quais se tornam disputados. Para os espaços não-dinâmicos esta lógica seletiva
é excludente.

Por fim, não vamos aqui encerrar essa discussão, por entendermos que as questões
territoriais continuam em aberto, vamos, porém, levantar questões as quais não temos nem

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esperamos respostas contundentes, mas que precisam de questionamentos e reflexões. A
primeira delas diz respeito ao território amazônico que tem sido motivo de cobiça internacional
deste o primeiro século de ocupação. Hoje se ventila a questão de sua internacionalização
com o argumento de que uma atuação internacional sobre a região permitiria uma fiscalização
mais eficaz para a preservação desse bioma, trazendo, portanto, benefícios para os nativos e a
população como um todo. Daí a preocupação do governo brasileiro em criar o Plano Amazônia
Sustentável que entre as metas propostas estão: o planejamento regional, o ordenamento
territorial, a montagem de infra-estrutura (rodovias, ferrovia, gasoduto e rede de transmissão
de energia), o fomento a produção, a inclusão social, o fortalecimento institucional (ampliação
dos postos da polícia federal e do INCRA) e monitoramento da gestão ambiental.

O cenário da América Latina o século XXI tem mostrado uma tendência para a formação
de governos de bases populares e de defesa das idéias nacionalistas, portanto contrários à
onda neoliberalizante. Desta forma as políticas de privatização que estiveram seu auge durante
a década anterior são interrompidas e em alguns países e setores até se percebe um retorno
da presença do Estado, o que nos leva a crer que o neoliberalismo, mesmo que presente, não
triunfou de forma irreversível.

A financeirização da economia mundial, em detrimento dos investimentos no setor


produtivo, não tem como se sustentar indefinidamente e as crises recentes que atingem o
mundo desenvolvido já indicam as limitação dessa possibilidade de geração de riquezas através
da esfera financeira. Ironicamente são os dirigentes mundiais dos países líderes das idéias
neoliberais que difundiram por toda a sociedade a opinião de “quanto menos Estado e mais
mercado melhor ao ajuste da economia”, que são chamados e se propõem a ajudar os setores
econômicos em crise.

Diante das crises e mudanças que se esboçam no cenário mundial que alterações poderão
ocorrer na economia e nas políticas territoriais nacional? Uma outra globalização, mais justa
e a serviço de outros objetivos e de outros fundamentos políticos e sociais com previa Milton
Santos será possível e estará se delineando?

Já vimos que as políticas econômicas e territoriais para o Brasil estão diretamente


associadas à ideologia dos Governos e aos acontecimentos que se processam em escalas
interna e global, portanto qualquer previsão neste sentido não passa de mera especulação para
um espaço mundial que se transforma num ritmo alucinante, jamais imaginável.

Para não concluir...


Caro aluno, com esta aula se encerra nossa disciplina, que nós elaboramos com muita
dedicação esperando que você tivesse uma visão ampla da questão a qual nos propomos estudar.

Esperamos que você tenha tido um bom aproveitamento e que tenha feito algumas leituras
complementares, o que ajudarão muito no aprofundamento do seu conhecimento sobre os
assuntos discutidos.

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Almejamos que você tenha gostado e se envolvido com nossas discussões, bem como,
que tenha percebido o quanto esta disciplina é importante para a sua formação profissional,
para o entendimento das questões brasileiras e por que não para a sua consciência cidadã.

O fim da disciplina não marca o fim de seus estudos sobre a formação territorial do Brasil,


você vai sentir a necessidade de ampliar seus conhecimentos, de se atualizar com novas leituras
e debates e de ver outros pontos de vista sobre a temática.

Ao optar por uma licenciatura em Geografia você assumiu um compromisso com a


educação do país e com a formação de cidadãos críticos questionadores da realidade do seu
espaço e, portanto, na construção de um mundo mais justo.

... E para não concluir, queremos dizer que esta aula não é o fim, mas o começo do seu
entendimento e das preocupações que você passará a ter com as questões territoriais do Brasil
e com a reprodução desse conhecimento...

Os nossos votos de muito sucesso.

Leituras complementares
sugerimos as seguintes leituras como fundamentais para o aprofundamento da nossa
discussão sobre as políticas de território implantadas no Brasil a partir dos anos de 1930

ANDRADE, Manuel Correia de. As Raízes do separatismo no Brasil. Recife: Editora Universitária
da UFPE,1997.

Este autor, com a linguagem clara que nós já conhecemos, aborda os movimentos
separatistas presentes no território brasileiro desde o momento de formação territorial, até os
riscos de desagregação territorial pelo processo de globalização que por ser homogeneizador em
um espaço heterogêneo e cheio de contradições aprofunda as desigualdades e gera os conflitos.

ARAÚJO, Tânia Bacelar de. Ensaios sobre o desenvolvimento brasileiro: heranças e urgências.
Rio de Janeiro: Revan: Fase, 2000

É um livro que trata das políticas econômicas do Brasil com forte ênfase no planejamento
regional, em especial do Nordeste. Embora a autora seja economista, o livro tem uma linguagem
clara, direcionada para o grande público, sem aquele economicismo que só pode ser entendido
por quem é da área. Entretanto por ser um livro denso, recomendamos para a nossa disciplina
o capítulo que tem como título: “Brasil nos anos 90: opções estratégicas e dinâmica regional”,
capítulo que aborda a problemática da ausência de políticas públicas para o Brasil dos anos de
1990, diante da emergência da globalização e do triunfo do Estado neoliberal.

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BECKER, Berta K. Amazônia. São Paulo: Ática, 1990, (série princípios).

Neste livro a autora, que é uma autoridade em questões sobre a Amazônia, faz uma
importante análise sobre a atuação dos governos militares na região, sobretudo nos anos de
1970. Relata ainda o papel dos vários agentes sociais que se apropria e transforma o referido
espaço. Aborda os conflitos sociais e os choques de interesses que levam ao entendimento
claro do processo de degradação do espaço em questão.

COSTA, Wanderley Messias da. O Estado e as políticas territoriais no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1988. (Coleção Repensando a Geografia).

É um livro que está diretamente relacionado ao objetivo da nossa disciplina, ou seja,


trata, de forma sucinta, de todo o processo de formação do território brasileiro, iniciando
pela montagem do território colonial e encerrando com as políticas territoriais dos anos de
1970. Sua abordagem para analisar as políticas territoriais para o Brasil se pauta no campo
da geopolítica.

Resumo
Nesta aula nós aprendemos que: a) Os anos de 1930 iniciaram uma nova fase para
as políticas territoriais brasileira. b) Na construção de uma identidade nacional
o governo Vargas recorreu ao conhecimento geográfico e estatístico para se
instrumentalizar em suas ações territoriais. c) A ideologia da Segurança Nacional
e da Integração territorial se manteve presente tantos nos governos ditatoriais
quanto nos breves períodos de democratização. e) A partir da Era Vargas o Estado
brasileiro se tornou o principal agente de modernização da economia nacional. f) O
mapeamento do Brasil e sua divisão em regiões deve o explicito objetivo de gerar
dados estatísticos e geográficos confiáveis à atuação do Governo sobre o território
nacional. g) O governo de Juscelino Kubitschek deu continuidade à política de
industrialização iniciada por Vargas, porém com ênfase na indústria de bens
de consumo duráveis e no endividamento externo. h) A construção de Brasília
teve um importante papel na integração nacional, sobretudo para o dinamismo
do Centro-Oeste que permanecia como uma região isolada e pouco povoada. i)
O planejamento regional teve o objetivo de reduzir as disparidades regionais e
integrar o mercado brasileiro à área core da economia nacional. j) A ocupação
da Amazônia pelos militares teve os objetivos de: integrar a região à economia
nacional, aliviar as tensões sociais pela posse da terra no Nordeste, aproveitar os
recursos econômicos da região, internacionalizar o capitalismo nacional, garantir
a segurança nacional e combater as guerrilhas de esquerda. k) Com o fim dos
governos militares teve descontinuidade às políticas territoriais de integração
nacional e também o Estado com papel empreendedor e intervencionista. l) O

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endividamento externo feito pelo Estado para manter o crescimento brasileiro
teve forte repercussões nos anos de 1980, levando o país a uma grande crise
econômica. m) Os anos de 1990 foram marcados pelo desmonte do Estado e a
ausência de políticas públicas voltadas o desenvolvimento do país, que adotou
o modelo neoliberal. n) O Mundo e o Brasil passam por transformações rápidas
na era da globalização e as questões econômicas e territoriais podem sofrer
mudanças a partir de novas políticas que venham a ser adotadas.

Autoavaliação
Vamos agora testar nosso conhecimentos e tirar nossas dúvidas.

a) Porque o Estado Novo marca uma etapa importante para a questão territorial brasileira?

b) Tanto na era Vargas quanto no mandato de Kubitschek o governo tomou para si a


incumbência de modernizar o Estado e promover a industrialização do país, quais foram
as diferenças básicas na política desses dois presidentes em relação a estas questões.

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c) Por que o planejamento regional foi tão importante para Estado brasileiro da Era Vargas
ao período dos militares?

d) Quais foram os objetivos de ocupação da Amazônia durante os anos de 1970?

e) Que relações podemos estabelecer entre o Estado neoliberal e a ausência de políticas de


planejamento para o Brasil?

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Referências
ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia ciência da sociedade: uma introdução à análise do
pensamento geográfico. São paulo: Atlas, 1987.

______. As Raízes do separatismo no Brasil. Recife: Editora Universitária da UFPE,1997.

ARAÚJO, Tânia Bacelar de. Ensaios sobre o desenvolvimento brasileiro: heranças e urgências.
Rio de Janeiro: Revan: Fase, 2000.

BECKER, Berta K. e EGLER, Cláudio A. G. Brasil: uma nova potência na Economia Mundo. 2ª
ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.

BECKER, Berta K. Amazônia. São Paulo: Ática, 1990, (série princípios)

______, A crise do Estado e a Região – A estratégia da descentralização em Questão. In: Revista


Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro, 48(1): 43-62, jan./mar. 1986.

CARVALHO, Ioná Maria de. O Nordeste e o Regime Autoritário. São Paulo: Hucitec, 1987.

COSTA, Wanderley Messias da. O Estado e as políticas territoriais no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1988. (Coleção Repensando a Geografia).

FREITAS. M. A. Teixeira de. A redivisão política do Brasil.In: Revista Brasileira de Geografia.


Junho-setembro de 1941. p. 41-58.

GUIMARÃES, Fábio M. S. Divisão Regional do Brasil. In: Revista Brasileira de Geografia.


Abril-junho de 1941. p. 98-147.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
2ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.

Anotações

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Anotações

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Formação Territorial do Brasil – GEOGRAFIA

EMENTA

Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica
territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.

AUTORES

> Antonio Albuquerque da Costa

> Paulo Sérgio Cunha Farias

AULAS

01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografia

02 A territorialização ibérica do mundo e a expansão do capitalismo na sua fase embrionária

A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização


03
do colonizador português no Brasil (as feitorias)
04 A territorialização de fato do colonizador português: as capitanias hereditárias e a plantation açucareira

A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o
05
Tratado de Tordesilhas em “letra morta”
06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia

07 A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil Central

08 A ocupação antiga do Brasil Meridional

09 A ocupação moderna e definitiva do Sul

10 O “arquipélago” de “ilhas” econômicas do Império e da Primeira República

11 A Primeira República e a consolidação das fronteiras

12 Do arquipélago de “ilhas” econômicas à integração do território

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