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Vice-Diretor
DESEMBARGADOR CARLOS AUGUSTO GUIMARÃES E SOUZA JÚNIOR
Diretor Vice-Presidente
LUIZ CARLOS FRIGERIO
Diretor Industrial
TEIJI TOMIOKA
Semestral
2001, v. 2 (1-2)
2002, v. 3 (1- 2)
2003, v. 4 (1-
Apresentação
......................................................................................................... 7
Apresentação
A
bre-se esta edição com um magnífico trabalho,
de autoria do desembargador Sérgio Marcos de
Moraes Pitombo, originariamente publicado na
revista Direito Criminal, volume 4 da Coleção Jus Ae-
ternum. Republicando-o, por sua atualidade e certeza de
que bem retrata o espírito inovador do seu notável autor,
a Revista da Escola Paulista da Magistratura, fugindo,
embora, de sua orientação, no sentido de publicar ape-
nas trabalhos inéditos, ao mesmo tempo em que leva a
seus leitores mais uma evidência da inteligência, da cul-
tura e da sabedoria dele, está prestando, também, como-
vida homenagem àquele grande magistrado e jurista de
escol, recentemente falecido, e que, para orgulho de seus
colegas, integrantes da Comissão Editorial e Executiva,
foi, com incomum eficiência, insuperável dedicação e ex-
traordinário propósito de bem servir, seu admirável
coordenador-geral.
Pronúncia
in dubio pro societate
1- Objetivação do tema
O
tema é mero aforismo — não um princípio de direito1 — in dubio pro
societate, como eventual fundamento da decisão interlocutória de pronún-
cia, emergente no procedimento especial de Júri (art. 408, caput, do CPP).
Interessa, contudo, examinar o adágio in dubio pro reo, de início e por
1
A maioria dos autores considera que se trata de princípio o seu oposto: in dubio pro reo. Jorge de Figueiredo
Dias, por exemplo, entende que seja “um princípio geral do processo penal, pelo que a sua violação conforma
autêntica questão-de-direito que cabe, como tal, na cognição do Supremo Tribunal de Justiça” (Direito
Processual Penal, Coimbra: Coimbra Editora, 1974, v. 1, § 6º, princípio da prova, pp. 217-218). Ainda exempli-
ficando, Luigi Ferrajoli diz: “E a atividade jurisdicional, na medida em que não é garantista, no sentido que se
vem indicando, resulta, politicamente, ilegítima e se configura como resíduo de absolutismo. Para a carência
deste tipo de legitimação, não cabem formas de integração, podendo se conceber, em suma, alguns corretivos,
como a referência aos valores constitucionais, dos princípios de liberdade a de tutela dos sujeitos mais débeis;
o princípio do favor rei e seu corolário in dubio pro reo; a exposição de todas as atividades jurisdicionais ao
controle público, por meio da máxima publicidade e o constante exercício, em sede científica e política, da crítica
aos desvios judiciais” (Derecho y Razón: Teoría del Garantismo Penal, Madri: Editorial Trotta, 1995, p. 547).
duplo motivo. Primeiro, deu ele origem a diversos ditos semelhantes, por
exemplo: in dubio contra fiscum — ou in dubio pro fiscum —, in dubio pro
disciplina, in dubio pro minoris, in dubio pro operario, in dubio pro matrimonio,
in dubio pro debitores e outros. Segundo, os julgadores costumam contrapô-lo
ao rifão in dubio pro societate.
In dubio pro reo significa, “na dúvida, a favor do réu”, ou “na dúvida,
soluciona-se em favor do acusado”. Menciona-se, ainda, o “benefício da dúvi-
da”, ao tratar-se de questão de fato. Benefício é favor, mercê, ou graça. O juiz
não distribui favores, mas justiça. Emerge dição pouco feliz.
No Direito Romano, encontram-se expressões análogas: in dubio quod
minimum est sequimur (D., XXVII, IV, 3), “na dúvida seguimos aquilo que é
mínimo”, e semper in dubiis benigniora proeferenda sunt (D., L, XVII, 56), “em
caso de dúvida sempre se deve preferir o mais benigno”. Não se acha, porém,
a frase em comento nas fontes romanas clássicas.
Assegura-se que aparece no Baixo Império Romano e por influência do
cristianismo, mediante tardia interpolação em sentença de Paulo.2 Note-se que
a cláusula se lançou em matéria referente à manumissão do escravo comum. A
passagem para o processo penal, possivelmente, sucedeu no século XIX.3
2
Ver M. Antonio de Dominicis, “Brev. Pauli Sententiarum IV, 12, § 5 e L’origine Romano-Cristiana del Principio In
Dubiis pro Reo; in Tema di Reforma della Formula Dubitativa”, em Archivio Penale 18, fasc. XI e XII, pp. 3-9,
Roma, novembro-dezembro de 1962.
3
Assegurou Jorge de Figueiredo Dias: “O princípio, na formulação latina utilizada, foi cunhado por Stübel; mas ele
constitui um produto generalizado dos ‘processos reformados’ do séc. XIX...”. Anota que referido autor publicou
“Das Criminalverfahren in den Deutschen Gerichten III”, em 1811 (Direito Processual..., cit., p. 213 e nota 72).
Ao cuidar da prova, no processo criminal, Joaquim José Caetano Pereira e Sousa, aludindo à certeza moral,
certificava: “é fundada na evidência moral. Tal é a que temos de um fato, que muitas testemunhas fidedignas
atestam terem presenciado. Os tribunais criminais contentam-se com a certeza moral para imporem a pena
ordinária. Ela pode definir-se o estado do nosso ânimo seguro da verdade de uma proposição, que respeita à
existência de um fato, que não vimos. Essa certeza moral só pode provir da prova perfeita; isto é, aquela que
exclui a possibilidade da inocência do réu (Brissot, ‘Theorie des Lois Criminelles’, tom. 2, p. 91). Sem certeza
moral (diz Filangieri, ‘Scienza della Legislazione’, 1.3, p. 2, c. 12), a condenação será sempre uma injustiça, a
execução, uma violência” (Primeiras Linhas sobre o Processo Criminal, 4ª ed., Lisboa: Impr. Régia, 1831, nº 301,
p. 120). José Antonio Pimenta Bueno, seguindo a mesma linha, afirma: “A prova é o ato ou atos, ou antes o
meio jurídico ou moral pelo qual se certificam ou convencem os juízes da veracidade dos fatos: é uma parte muito
essencial do processo, e especialmente do crime, porque a presunção natural é a da inocência (Per. e Sz. nºs
301 a 303); e tanto que na colisão de provas ou na dúvida a absolvição deve por certo prevalecer: ‘in’ Ambiguis
Humaniorem Sentatiam, Non Minus Justius est Quam Tutius” (Apontamentos sobre o Processo Criminal Brasilei-
ro, 2ª ed., Rio de Janeiro: Empr. Nac. do Diário, 1857, § 239, p. 147).
3 - Suposta dúvida
4
Assertou Julio B. J. Meir que é máxima principal de valoração da prova (Derecho Procesal Penal Argentino,
Buenos Aires: E. Hammurabi, 1989, t. 1, v. a, § 2, p. 118).
5
Observou Manuel Gonçalves Cavaleiro Ferreira: “O princípio — in dubio pro reo — respeita ao direito probatório.
A presunção de inocência do argüido implica que, sendo incerta a prova, se não use de um critério formal como
o resultante do ônus legal da prova para decidir da condenação do réu, a qual terá sempre de assentar na certeza
dos fatos probandos. Mas não há que interpretar as leis em sentido favorável ao réu. Trata-se de mero equívoco
estender um princípio relativo à prova, à matéria de interpretação. O Código Penal bavário de 1813 continha uma
disposição que permitia a punição pelo crime menos grave, quando se não provava qualquer dos crimes que em
alternativa se pudesse assegurar que o réu cometera, embora não se obtivesse a prova de todos os elementos
constitutivos essenciais de qualquer dos crimes em alternativa. Tal disposição veio a ser renovada pela legislação
alemã de 1946 e o problema, sob a influência da doutrina alemã, veio a ser discutido noutros países. A questão
não respeita também à matéria de interpretação, mas somente ao direito probatório. Na Alemanha, a disposição
legal que fomentou a discussão encontra-se revogada. Entre nós, e quanto ao Código bávaro, pronunciara-se
já Silva Ferrão, condenando a disposição desse Código e considerando-o contrário à doutrina do Direito português.
A opinião de Silva Ferrão é de manter. Só a prova de todos os elementos constitutivos essenciais de uma infração
permite a sua punição. Mas é esse um problema de direito probatório em processo penal, e não uma regra de
interpretação da lei penal” (Direito Penal Português: Parte Geral, 2ª ed., Lisboa: E. Verbo, 1982, v. I, § 48, p. 111).
6
Daí a assertiva: “§ 220. O homem sensato não tem certas dúvidas” (WITTGENSTEIN, Ludwig. Da Certeza, ed.
bilíngüe, Lisboa: Ed. 70, 1998, p. 69).
4 - Falta de prova
7
Santiago Sentís Melendo afirmou: “Mas não se trata de dúvida, senão de outro fenômeno: falta de provas.
Quando se diz in dubio pro reo, se está dizendo que, à falta de provas, há que se absolver o réu; e isso parece
não necessitar justificação. O juiz não duvida, quando absolve. Está, firmemente, seguro; tem a plena certeza.
De quê? De que lhe faltam provas para condenar. Se é no sumário, tão pouco duvida: acha-se seguro de que
lhe faltam os elementos probatórios exigidos, para processar, ou para encarcerar. Não se trata de favor,
somente, de justiça” (In Dubio Pro Reo, Buenos Aires: EJEA, 1971, pp. 158-159).
8
Ponderou Roberto de Ruggiero: “1) Na escolástica antiga e na prática do povo, foi-se formando um pouco no
ar uma série de brocardos ou aforismos jurídicos, que são repetidos pelos práticos a todo momento e retidos
como expressões de regras fixas e princípios absolutos. Toda a teoria da interpretação se resume assim, para
alguns, no uso dessas máximas, arrancadas freqüentemente à lógica e a maior parte das vezes adotadas
absolutamente fora de propósito. Soam como outros tantos provérbios da sapiência jurídica (por exemplo: ‘ubi
eadem legis ratio, ibi eadem dispositio’, ‘cessante ratione legis cessat et ipsa lex’, ‘ubi lex non distinguit, nec
nos distinguere debemus’, ‘inclusio unius exclusio alterius’, ‘in eo quod plus est semper inest et minus’ etc.), e
são por vezes o mais perigoso instrumento nas mãos do juiz, desde que seja pouco experimentado na difícil arte
de interpretar. Têm, na verdade, a aparência de princípios gerais e absolutos e, pelo contrário, não há um único
que não seja falso como máxima geral: parecem as mais das vezes contraditórios e antitéticos, visto que em face
de um, que afirma dada regra, é sempre possível encontrar um segundo que contenha regra oposta; têm cada
um deles um campo de aplicação com limites próprios, fora dos quais vigora a regra oposta, mas não exprimem
quais sejam esses limites. Ora, um grande número de erros cometidos na aplicação dos textos da lei tem a sua
causa direta e imediata no abuso que todos os dias os juízes e advogados fazem destes aforismos que, como
foi dito, são todos eles falsos na sua generalidade” (Instituições de Direito Civil: Introdução e Parte Geral, trad.
Ary dos Santos, 3ª ed. revista e adaptada por Antonio Chaves e Fábio Maria de Mattia, São Paulo: Saraiva,
1971, v. I, § 17, pp. 119-120).
9
Cristina Líbano Monteiro, analisando a expressão in dubio pro societate, observou: “Outra solução valorativa,
teoricamente possível, traduz-se em resolver a dúvida insanável sobre os fatos num sentido contra reum ou pro
societate: na incerteza sobre a culpa real do argüido, dever-se-iam privilegiar os interesses de defesa social,
sacrificando ao bem coletivo a eventual inocência de singular. O in dubio pro reo enfermaria de individualismo
à outrance, com o qual não pactuaram doutrina como a nacional-socialista, sistemas de corte soviético ou, antes
de qualquer deles, escolas como a positivista italiana” (Perigosidade de Inimputáveis e “in Dubio pro Reo”,
Coimbra: Universidade de Coimbra, Studia Juridica, Coimbra Editora, 1997, p. 47).
10
Ao se aceitar que a ação penal de conhecimento, de natureza condenatória, se ostenta como o escudo, o
anteparo, a proteção do acusado, contra eventual arbítrio estatal, na imposição da pena, ou da medida de
segurança, melhor o entendimento de Vicente Greco Filho. Ponderou: “É comum dizer-se que a função da
pronúncia é a de remeter o réu a Júri. Mas rejeitamos, terminantemente, essa impostação. A função da fase de
pronúncia é, exatamente, a contrária. Em outras palavras, a função do juiz togado, na fase de pronúncia, é a
de evitar que alguém que não mereça ser condenado possa sê-lo em virtude do julgamento soberano, em
decisão, quiçá, de vingança pessoal ou social. Ou seja, cabe ao juiz na fase de pronúncia excluir do julgamento
popular aquele que não deva sofrer a repressão penal. Usando expressões populares, pode-se dizer que
compete ao juiz evitar que um inocente seja jogado ‘às feras’, correndo o risco de ser condenado, ou que o Júri
pode fazer uma injustiça absolvendo, não podendo fazer uma injustiça ao condenar. A pronúncia, portanto, atua
como uma garantia da liberdade, evitando que alguém seja condenado e não o mereça” (“Questões polêmicas
sobre a pronúncia”, Tribunal do Júri: Estudos sobre a mais Democrática Instituição Jurídica Brasileira, In: TUCCI,
Rogério Lauria (coord.), São Paulo: RT, 1999, pp. 118-119).
11
Lemos Brito, anotando o artigo 14, caput, do Decreto-lei nº 167, de 5 de janeiro de 1938, advertiu: “Para que
autorizem a pronúncia de um cidadão, os indícios devem ser, para aproveitar a lição do Código francês, graves,
preciosos e concordantes. A lei brasileira exigia que esses indícios fossem veementes, isto é, que fizessem
induzir de modo claro a que alguém foi o autor de um ato incriminado. Conferir ao juiz o poder de pronunciar
alguém por leves indícios, com os vexames de ordem material e moral que a pronúncia acarreta, lançando-lhe
o nome no rol dos culpados e expondo-o a execração pública, seria conferir-lhe um poder ditatorial, e a pior das
ditaduras, escreveu Rui Barbosa, seria a Judiciária, porque é proibido discutir os arestos dos juízes e tribunais
e porque os atos mais arbitrários teriam a presunção de legalidade. (...) Indícios veementes, pois, e não simples
indícios, porque isto constituiria a entrega de uma arma perigosíssima ao juiz e faria continuadamente pericli-
tantes a liberdade e a honra do cidadão. Se conjecturas arriscadas, a dúvida, a suspeita, a possibilidade, não
bastam para a pronúncia, ensina Bento de Faria, atual presidente do Supremo Tribunal Federal, pronúncia que
só é decretada, embora, por indícios veementes, porém quando a existência do crime e o conhecimento do
delito estejam plenamente provados, com a maior razão tais presunções ou indícios não bastam para a
condenação, que somente em provas, irrefragáveis, deve assentar” (“Arbítrio judicial e pronúncia”, Revista
Forense, Rio de Janeiro, v. LXXVI, fasc. 424, pp. 156-157, out. 1938, grifo nosso). No mesmo sentido, opinou
Margatinos Torres (Processo Penal do Júri no Brasil, Rio de Janeiro: Jacintho, 1939, pp. 187-197). Hoje ensina
Rogério Lauria Tucci: “É de ser observado, a respeito, que, diferentemente da legislação nacional precedente,
mencionado dispositivo — art. 408, caput — refere-se, tão-só, a indícios, sem qualquer adjetivação. Todavia,
eles não podem deixar de ser veementes, como anota Ary Azevedo Franco, reportando-se à ensinança de
Lemos Brito...” (“Tribunal do Júri: origem, evolução, características e perspectivas”, Tribunal do Júri, cit., p. 40).
12
Ver, sobre a regra da verdade material, nosso: “O juiz penal e a pesquisa da verdade material”, Processo Penal
e Constituição Federal, in: PORTO, Hermínio Alberto Marques; SILVA, Marco Antônio Marques da (coords.), São
Paulo: Acadêmica, 1993, pp. 72-77.
13
Todos os arestos, em seguida referidos, extraíram-se de FRANCO, Alberto Silva; STOCO, Rui (coords.), Código
de Processo Penal e sua Interpretação Jurisprudencial, São Paulo: RT, 1999, v.2, p. 2.466. Outros arestos
encontram-se colecionados por PEREIRA, José Ruy Borges, Tribunal do Júri: Crimes Dolosos Contra a Vida, São
Paulo: Saraiva, 1993, na seqüência ao artigo 408, nºs 050/20, 30, 80, 87, 95, 117, 126 e 052/101, pp. 203-215
e 233.
14
Eis as observações lançadas por Guilherme de Souza Nucci: “Não se pode olvidar que o legislador, no art. 408
do CPP, estipulou ir somente a júri o réu que responde por um delito cuja existência está cristalinamente provada
e que, em matéria de autoria, as provas dos autos acusem indícios suficientes de autoria. Por que essa cautela?
Trata-se de medida salutar e faz parte do controle judiciário sobre os processos que devem ser julgados pelo Júri.
Não há qualquer afetação à soberania dos veredictos, pois já se disse anteriormente que soberania, de fato,
não é sinônimo de onipotência, nem de puro arbítrio. Soberania quer dizer que o júri, quando for o caso, assim
apontado por decisão judiciária de órgão togado, terá a última palavra sobre um crime doloso contra a vida. De
que vale mandar a julgamento pelo tribunal popular alguém que não seja culpado ou contra quem não haja indícios
razoáveis de autoria? Seria um passo certo para provocar uma eventual decisão condenatória do tribunal popular
e, depois, em sede de apelação, mandar a novo júri, porque o veredicto foi manifestamente contrário à prova
dos autos. Ou pior: seria o arremesso da eventual decisão condenatória do júri à sede da revisão criminal, quando
o tribunal togado iria absolver o réu porque o veredicto afrontou a evidência dos autos. Enfim, se o magistrado,
por ocasião da pronúncia, percebe que não há provas suficientes para envolver o réu na prática do homicídio
ou de outro delito contra a vida, deve impronunciá-lo e nessa postura não existe qualquer arranhão à soberania
do júri. Entretanto, observa-se, na prática, que a magistratura togada é contraditória nas suas análises, no contexto
do processo do júri. São em flagrante menor número as decisões dos Tribunais Superiores mantendo as decisões
de impronúncia do que aquelas que as reformam, mandando os réus a julgamento pelo colegiado popular. O
argumento é quase sempre o mesmo; havendo indícios de autoria, mesmo que mínimos, deve-se enviar o caso
a julgamento pelo Tribunal do Júri, sob pena de ofensa à competência constitucional do tribunal popular para
julgar os crimes dolosos contra a vida. Sendo a decisão de pronúncia de mera admissibilidade da acusação, para
não ferir a soberania dos veredictos, deve-se pronunciar o réu. Ora, o controle judiciário deveria ser exercido com
firmeza nessa fase. Se existem provas suficientes para condenar, o juiz envia o caso ao júri. Não havendo provas
mínimas para sustentar uma condenação, por que mandar o réu a julgamento pelo tribunal popular? Somente
para, em caráter formal cumprir os pretensos ‘mandamentos constitucionais’ (soberania dos veredictos e
competência para apreciar crimes dolosos contra a vida)? Verifica-se que, ao remeter um caso à apreciação do
júri, está o tribunal togado acatando a possibilidade de haver condenação, ou seja, de ficar comprovada, de algum
modo, a autoria. O que não pode acontecer é, a pretexto de garantir a supremacia do veredicto popular, o juiz
togado pronunciar qualquer caso, mesmo com indícios mínimos de autoria para, depois, o tribunal togado (em
apelação ou em revisão) contrariar eventual condenação dos jurados” (Júri: Princípios Constitucionais, São Paulo:
Juarez de Oliveira, 1999, § 20.4.3, pp. 94-95).
15
Certificou Luigi Ferrajoli: “A incerteza do fato depende da igual plausibilidade probabilística das várias hipóteses
explicativas possíveis do material probatório recolhido (...). Quando não resultam rebatidas, desmentidas, nem
a hipótese acusatória, nem as hipóteses opostas a ela, a dúvida resolve-se conforme o princípio in dubio pro reo,
contra a primeira (...). q) a absolvição livre não só ‘quando falta’ a prova da culpabilidade, mas também uma
vez suprimida a fórmula da dúvida, quando é ‘insuficiente ou contraditória’ (art. 530)”, (Derecho y Razón..., cit.,
pp. 109, 151 e 737 resp.).
16
Palestra proferida no “III Encontro dos Juízes do Júri, de São Paulo”. Notem-se os resultados das votações sobre
o tema, após o debate: “1. O adágio in dubio pro societate não pode servir de base à pronúncia. A - Juízes de
Varas do Júri: aprovado por maioria; B - Outros juízes: rejeitado por maioria. 2. Em matéria de pronúncia não tem
pertinência a mera suspeita. A - Juízes de Varas do Júri: aprovado por unanimidade; B - Outros juízes: aprovado
por maioria. 3. Prova de inquérito sem ressonância na instrução criminal autoriza a pronúncia. A - Juízes de Varas
do Júri: rejeitado por unanimidade; B - Outros juízes: rejeitado por maioria”. Publicado no DOE, Poder Judiciário,
12 de março de 2001, cad. 1, p. 4, parte 1.
1. Introdução
C
onheci o professor Sérgio Marcos de Moraes Pitombo nos idos de
1978, como aluna do quarto ano de Direito, no Largo de São Francis-
co. Impressionou-me aquele professor, que fumava sem parar e era, a
um só tempo, rigoroso e preocupado em despertar no aluno o raciocínio crítico.
Suas provas eram difíceis e trabalhosas, mas, em contrapartida, ele estava
sempre disponível para aulas extras antes do horário da primeira aula, com o
intuito de reforçar o aprendizado da matéria. Foi assim que comecei a me
interessar pelo Direito Processual Penal, sem, contudo, imaginar a importância
que, mais tarde, o professor Pitombo exerceria em minha vida acadêmica.
Mais do que homenagear o mestre e suas lições, vinte e cinco anos após
ter sido sua aluna, e ser hoje professora de Direito Processual Penal na velha e
sempre nova Academia, coube-me a honra de trazer à memória, no instante
em que deixa o convívio dos amigos, a figura do homem e do jurista e as idéias
por ele transmitidas aos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.
1
V., a propósito, o Prefácio à obra de Rogério Lauria Tucci, Teoria do Direito Processual Penal, São Paulo: RT,
2002.
2
Do Seqüestro no Processo Penal Brasileiro. São Paulo: José Bushatsky, 1973.
3
V., a propósito, “Pronúncia e o in dubio pro societate”, Direito Criminal, coord. José Henrique Pierangeli. Belo
Horizonte: Del Rey, 2002, v. 4, pp. 53-81 (Coleção Jus Aeternum).
4
V., dentre outras obras deste autor, A Liberdade Jurídica no Direito e no Processo: Estudos Jurídicos em
Homenagem a Vicente Rao. São Paulo: RT, 1975; Princípios Fundamentais do Processo Penal. São Paulo: RT,
1973 e Processo Penal, Ação e Jurisdição. São Paulo: RT, 1975.
5
Prefácio à obra de Rogério Lauria Tucci, Teoria..., cit., p. 8.
6
Cf. Processo Penal Justo. Prefácio ao livro Justa Causa para a Ação Penal – Doutrina e Jurisprudência, São Paulo:
RT, 2001, da autora deste escrito.
7
Belém: CEJUP, 1986.
8
Revista ADPESP, ano 19, nº 25, março 1998, pp. 9-19.
9
“Estudos criminais em homenagem a Evandro Lins e Silva”, organizador: Sérgio Salomão Shecaria, São Paulo:
Método, 2001, pl. 337-351. O artigo foi também publicado no Jornal do Advogado, São Paulo, no nº 239, jul.
2000, pp. 24-7.
10
Boletim IBCCRIM – edição especial, ano 7, nº 83, out. 1999, p. 14.
11
Em Juizados Especiais Criminais: Interpretação e Crítica. São Paulo: Malheiros, 1997, pp. 71-96.
12
Em A Polícia à Luz do Direito. São Paulo Revista dos Tribunais, 1990, pp. 39-40.
13
Revista dos Tribunais, São Paulo: RT, 577-313-6, nov. 1983.
14
Revista do Advogado, São Paulo, Associação dos Advogados de São Paulo- AASP, 11:9-15, 1983.
15
Cf. Benedito Roberto Garcia Pozzer, “Uma, dentre muitas, lição do Professor Pitombo”, Boletim IBCCRIM, ano 11,
nº 125, abril de 2003, p. 3. A explicação do conceito, transmitido em sala de aula da Faculdade do Largo de São
Francisco, aos alunos do 3º ano de graduação, período matutino, no ano 2000, e transcrita na nota 1 do
mencionado artigo, é: “Procedimento, pela inexistência do contraditório em toda completude do processo
judicial, embora preservado o direito de defesa; administrativo, na forma e órgão responsável pela feitura,
apesar da finalidade judiciária; por ser obra da polícia civil (judiciária), instituição da administração pública;cautelar,
por preservar provas que não poderiam ser repetidas durante o processo criminal; tendente à apuração
preliminar de fato que se desenha (parece) infração penal e ao menos indícios de autoria, co-autoria e
participação, porque não tem por finalidade última (absoluta) provar a existência desse fato e autoria, pois, ao
contrário, poderá revelar a inexistência ou impossibilidade de atribuição da autoria; e, em tutela a direitos
fundamentais, porque no inquérito policial se divisam interesses do acusado, vítima e sociedade”.
16
Cf. Inquérito Policial: Novas Tendências,..., cit., p. 22.
17
A Comissão, designada pela Portaria de 7 de junho de 2000, apresentou Anteprojeto, que se transformou no
Projeto 5.075/01, em tramitação na Câmara dos Deputados.
18
Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, 27: 149-58, jul./set. 1999.
19
MP – órgão oficial do Ministério Público do Paraná, 11:123-8, 1987 e Jornal do Advogado, São Paulo, nº 130,
abr. 1986, p. 14.
20
Revista dos Tribunais, São Paulo, 623:257-63, set. 1987.
21
Jornal do Advogado, São Paulo, nº 128, fev. 1986, p. 7.
22
Jornal do Advogado, São Paulo, jul. 1985.
23
Revista da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, Procuradoria Geral do Estado – Centro de Estudos,
23:101-109, 1985.
24
Em Reforma Penal. São Paulo: Saraiva, 1985, pp. 133-40.
25
Em Reforma Penal. São Paulo: Saraiva, 1985, pp. 125-32.
26
Revista dos Tribunais, São Paulo, 583: 312-315, maio 1984.
julgada penal, criticando aqueles que vêem no habeas corpus e na revisão cri-
minal os únicos modos de a desconstituir. Como observou, “na revisão, o
condenado propõe a ruptura da coisa julgada, mas em razão de erro pretérito, sem
divisar fatos futuros”.27 Esta maneira de ver a unificação o impelia a considerar
que, em sede de execução penal, o recurso cabível da decisão que defere ou
indefere pedido de unificação é a apelação e não o agravo, sugestão esta aco-
lhida pela Comissão que elaborou o Anteprojeto de reforma da Lei de Execu-
ção Penal, em 2001.
Em companhia do professor Rogério Lauria Tucci divulgou idéias, tais
como a inexistência de uma teoria geral do processo, a irrelevância de lide no
processo penal e a coisa julgada sui generis. O pensamento, desenvolvido a
partir da convicção acerca da impossibilidade de se transferir para o processo
penal o conceito de lide enunciado por Carnelutti, conduz à conclusão de
que: i) não há como se cogitar, no processo penal, de partes em sentido mate-
rial, mas tão-somente em sentido processual; ii) o contraditório, no processo
penal, deve ser real e indisponível; iii) na realidade do processo penal tem-se
a verificação de duas situações distintas, em relação à coisa julgada: “quando
se tratar de sentença absolutória, ou de extinção da punibilidade, por jamais
poder ser modificado o seu conteúdo, com a preclusão dos prazos para recur-
sos, forma-se a coisa julgada de autoridade absoluta; porém, se a sentença for
condenatória — mutável, como visto, por natureza e destinação, em qualquer
tempo e em diversas circunstâncias —, ver-se-á tutelada, apenas, pela coisa
julgada de natureza relativa”.28
4. O magistrado
27
V., a propósito, prefácio à obra de Sérgio de Oliveira Médici, Revisão Criminal, 2ª ed., São Paulo: RT, 2000.
28
Cf. Rogério Lauria Tucci, Teoria do Direito Processual Penal..., cit., p. 37 e segs. Sobre o fenômeno da coisa
julgada penal, v., também, prefácio à obra de Sérgio de Oliveira Médici, Revisão Criminal, já citada.
29
V., a propósito, FRANCO, Alberto Silva et al. Código de Processo Penal e sua Interpretação Jurisprudencial. São
Paulo: RT, 1999, em especial , v. 1, livro 1, “Princípios e garantias constitucionais”.
30
Cf. Summa Contra Gentiles, I, VII, mencionada na Encíclica Fé e Razão. São Paulo: Paulus, 1998, p. 47.
31
Marco Tulio Cícero, Da Amizade, trad. Gilson Cesar Cardoso de Souza. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 94.
6. Bibliografia
O direito de propriedade
e o novo Código Civil
O
direito de propriedade, ou, mais precisamente, a extensão como
este é e foi reconhecido ou consagrado, se reveste de extrema im-
portância e de capital interesse, não só para as Ciências Jurídicas,
como também para as Ciências Sociais e Políticas, na medida em que tal
definição sempre atuou e representou verdadeiro “pano de fundo” ou base
estrutural na formação e definição dos regimes políticos/sociais das nações
que compõem o mundo civilizado.
Não se constitui exagero dizer que a grande disputa pela “propriedade”
foi travada não só nos campos, como também junto às Cortes, às Casas do
Parlamento, bem como frente aos tribunais, tendo a contenda orbitado em
redor da definição, o conteúdo e o alcance deste direito. Essas discussões
alavancaram insurreições, revoluções e mesmo guerras. Foram suficientes para
determinar dominações e submissões.
O direito de propriedade cumpriu importante papel tanto frente aos
regimes que ostentavam convicções liberais puras, como nos regimes que pro-
clamavam convicções diametralmente opostas, comungando a crença de que a
propriedade deveria se submeter unicamente aos anseios e ao domínio público.
Portanto, o conceito e a extensão do “direito de propriedade” variou de
tamanho, de forma ou de padrão, mas nunca deixou de ser o ponto de relevo
em todos os sistemas políticos das sociedades organizadas.
A experiência histórica transmitiu muitas lições sobre este importante
tema; no entanto, ainda não sinalizou, como creio que não irá sinalizar, no
sentido de indicar a forma ideal, correta e adequada para o exato dimensiona-
mento do direito de propriedade.
Entretanto, se as experiências passadas não nos forneceram um resposta
única ou algumas possíveis sobre a correta ou adequada extensão da proclama-
ção do “direito de propriedade”, é certo, ao menos, que tais experiências nos
indicam as fórmulas que não podem ou não devem ser repetidas ou reeditadas.
Trata-se de informação ou de conclusão de conteúdo “negativo”, que
corresponde à idéia, cognominada pelo professor Celso Antônio Bandeira
de Mello, de campo de “certezas negativas”, que indicam, não o modelo a
ser observado, mas os exemplos e experiências que devem ser descartados e
desprezados.
Os regimes liberais fracassaram, pois se apoiaram na errônea, ou falha
crença, de que os mecanismos de concorrência e de competição, sem qualquer
Uma das inovações do novo Código, a qual exige análise e estudo, diz
respeito ao parágrafo transcrito, que estampa proibição, dirigida ao proprietá-
rio, para que este não desenvolva atos motivados e voltados a provocar prejuízo
a outrem, sem qualquer efeito positivo para o uso de sua propriedade.
Esta hipótese não tem qualquer liame ou vinculação com as restrições
determinadas pelo interesse coletivo, bem como foi lançada fora do capí-
tulo relativo ao direito de vizinhança, refletindo uma forma peculiar de
“restrição de uso”, impulsionada por “interesse privado”, ou, mais precisa-
mente, daquele(s) que venha(m) a ser prejudicado(s) pela conduta indevi-
da ou perniciosa.
A propriedade privada, em atenção a este dispositivo, não pode ser utili-
zada com o propósito único de espezinhar, aborrecer ou prejudicar vizinho ou
proprietários ou possuidores de imóveis do entorno. A prática de tais atos
deve viabilizar ações indenizatórias ou ações cominatórias, ou, ainda, deman-
das demolitórias.
A dificuldade reside na indefinição do que sejam atos prejudiciais, pois,
em tese, não poderiam abarcar atos comportamentais, mas apenas atos de uso
ou fruição da propriedade. No entanto, tal questão, como tantas outras maté-
rias duvidosas, deverão ser esmiuçadas por nossos tribunais.
judicial”. Considera-a uma inovação “do mais alto alcance, inspirada no sentido
social do direito de propriedade, implicando não só novo conceito desta, mas tam-
bém novo conceito de posse, que se poderia qualificar com sendo de possse-trabalho”
(Novo Código Civil e Legislação Extravagante Anotados, Nelson Nery Junior e
Rosa Maria de Andrade Nery, atualizado até 15.03.02, p. 419).
Os caminhos para a implementação da desapropriação judicial poderão
ser apresentadas e enunciados em novas normas, sendo que, na ausência dessas,
competirá ao Judiciário indicar o percurso processual que deve ser observado.
Quanto ao título de domínio que decorre desta forma anômala de
desapropriação, esse poderá se guiar pelos modelos admitidos nas legisla-
ções urbanísticas, como o Estatuto da Cidade, contemplando “frações in-
dividualizadas”, acessos e vias, como também poderá contemplar o todo da
gleba, fracionando-a em partes ideais iguais ou proporcionais à ocupação de
cada segmento familiar.
Evidente que o direito de cidadania que a legislação contemporânea visa
resgatar não pode se contentar em conferir um título em “partes ideais” iguais
ou proporcionais aos ocupantes, pelas dificuldades de utilização desse direito,
na medida que seu exercício depende de uma organização condominial. É de
se entender, portanto, que, somente em último caso, a formação dos condo-
mínios pro indiviso deve ser concebida e aceita.
A falta de definição do Código obrigará o Judiciário a formular as melho-
res e mais sensatas soluções em cada caso.
“Art. 1.275 - Além das causas consideradas neste Código, perde-se a proprie-
dade:
I. - por alienação;
II. - por renúncia;
III. - por abandono;
IV. - por perecimento da coisa;
V. - por desapropriação;
Parágrafo único: - Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da
propriedade imóvel será subordinados ao registro do título transmissivo
ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis.”
Direito à superfície
Art. 1.369 e seguintes:
construído, por exemplo, um conjunto que, passados anos, reverterá ao seu patri-
mônio (professor Miguel Reale, O Estado de S.Paulo, 26.11.1983).
O direito de superfície, quando destacado do solo, deve ser formalizado e
instrumentalizado por escritura pública, merecendo o devido registro imobi-
liário. A Lei nº 6.015/73 já mereceu adequada alteração, determinada pelo
“Estatuto da Cidade”, prevendo o registro da escritura formalizadora do di-
reito de superfície.
Destaque-se que o direito de superfície denuncia, por sua estrutura e
consistência, o seu caráter temporário, podendo ser ajustado de forma gratui-
ta ou onerosa. Em todos os casos, o direito de superfície transfere ao superfi-
ciário os encargos fiscais que oneram e incidem sobre o imóvel (art. 1371),
contudo, a nível tributário-fiscal, é de se admitir a responsabilidade solidária
entre o proprietário do solo e o superficiário, conquanto, nestes casos, será o
imóvel como um todo (solo e superfície) que responderá pelas dívidas.
Alerta o professor Ricardo Pereira Lira, da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, que instituição do “direito de superfície”, por se fazer através de
concessão, e não por cisão, afasta a idéia de instituição desse direito sobre
prédios já construídos ou plantações já implantadas e desenvolvidas.
Em sentido contrário, manifestou-se o prof. Silvio Venosa, em seu curso
sobre Direito Civil, volume V - Direitos Reais, no qual anota que “o Código de
2002 se refere apenas ao direito de o superficiário construir ou plantar, não men-
cionando o direito correlato, mencionado pelo Código português, qual seja, o de
manter no local as plantações ou construções já existentes”. Conclui ser “inafastá-
vel também essa possibilidade em nosso direito, por ser da natureza do instituto,
não havendo razão para a restrição” (obra citada, ed. Atlas, 2ª ed., pag. 383).
Ao que parece, razão assiste ao professor Silvio Venosa, pois a palavra
concessão não tem conteúdo restritivo, propiciando a concessão para nova
obra ou para obra já edificada, até porque, a esta pode ser incorporado a
obrigação de manter, reformar ou ampliar. Ademais, tratando-se de direito
privado por excelência, as restrições ou vedações devem vir estruturadas em
normas precisas, com conteúdos certos, e não por meras ilações e conclusões
interpretativas.
Outra questão que deverá ocupar espaço nos estudos dos operadores do
Direito diz respeito à possibilidade de incidência dos demais direitos reais
sobre o “direito de superfície”, tais como o usufruto, o uso ou a hipoteca.
Certamente existirão posições discordantes; no entanto, em se tratando
6. Bibliografia:
Os reflexos do tempo
no Direito Processual Civil
(uma breve análise da qualidade temporal
do processo civil brasileiro e do europeu)
A
par de assuntos eminentemente processuais, como prazos, preclusão,
prescrição, e, sob o fundamento de não se tratar de um tema propriamen-
te jurídico, grande parcela da doutrina brasileira sempre encarou a ques-
tão do tempo no processo — a sua duração — como algo de menor importância.
Contudo, o estudioso que imagina que a questão da duração do processo
é irrelevante e não tem importância científica não é só alheio ao mundo em que
vive, como também não tem a capacidade de perceber que o tempo do processo
é fundamento dogmático de vários importantes temas do processo contempo-
râneo (tutela antecipada, ação monitória, Juizados Especiais, entre outros).1
1
Luiz Guilherme Marinoni, Tutela Antecipatória, Julgamento Antecipado e Execução Imediata da Sentença, 4ª
ed., São Paulo: RT, 2000, p. 19.
2
Nesse sentido, Vincenzo Vigoriti, para quem “a razão principal deste posicionamento é de natureza cultural.
Uma análise profunda do custo e da duração dos processos impõe o estudo e o emprego de metodologia de
pesquisa de natureza econômica e estatística bastante complexas e, portanto, estranha à cultura jurídica”
(“Notas sobre o curso e a duração do processo civil na Itália”, tradução de Teresa Celina de Arruda Alvim, Revista
de Processo, São Paulo, v. 11, nº 43, jul./set. 1986, p. 142).
3
Luiz Guilherme Marinoni, Tutela Antecipatória..., cit., p. 16.
4
Vincenzo Vigoriti, “Costo e durata de processo civile: spunti per uma riflessione”, Rivista di Diritto Civile, Padova,
Cedam, 1996, pp. 320-325.
5
Luiz Guilherme Marinoni, Tutela Antecipatória..., cit., p. 18.
6
Cf. Adolfo Gelsi Bidart, “El tiempo y el proceso”, Revista de Processo, São Paulo, v. 6, nº 23, jul./set. 1981, p.
110 e “Conciliación e proceso”, in Cândido Rangel Dinamarco; Ada Pellegrini Grinover; Kazuo Watanabe,
Participação e Processo, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988, pp. 253-254.
7
Francesco Carnelutti, Diritto Processo, Napoles: Morano, 1958 (tradução nossa), p. 154.
8
Não é possível esquecer-se de que a demora pode afetar a qualidade do serviço do juiz, já que as possibilidades
de erro se multiplicam consideravelmente, na medida em que transcorre o tempo entre a ocorrência do fato a
ser investigado em juízo e a sua declaração através da sentença. Nesse sentido, ver José Roberto dos Santos
Bedaque, em seu discurso de posse como desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (“O
desabafo de um juiz paulista”, DOE, Poder Judiciário, Parte I, Cad. 1, 23 out. 2001, p. 2).
9
Na conhecida expressão talhada por Ítalo Andolina (Cognizione ed Ezecuzione Forzata nel Sistema della Tutela
Giurisdizionale, Milano: Giufrrè, 1982, p. 20).
10
Observa Luiz Guilherme Marinoni que “se o tempo é a dimensão fundamental da vida humana e se o bem
perseguido no processo interfere na felicidade do litigante que o reivindica, é certo que a demora no processo
gera, no mínimo, infelicidade pessoal e angústia e reduz as expectativas de uma vida mais feliz (ou menos
infeliz)” (Tutela Antecipatória..., cit., p. 17.)
11
Para Egas Dirceu Moniz de Aragão, “entre dois ideais, o de rapidez e o de certeza, oscila o processo”
(Comentários ao Código de Processo Civil, 2ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1976, v. 2, p. 100). Cf., também,
Cândido Rangel Dinamarco, A Instrumentalidade do Processo, 5ª ed., São Paulo: Malheiros, 1996, p. 232.
segura.12 Celeridade não pode ser confundida com precipitação.13 Segurança não
pode ser confundida com eternização.
Já se colocou que o valor do tempo no processo é imenso e, em grande
parte, desconhecido. “Não seria arriscado comparar o tempo a um inimigo,
contra o qual o juiz luta sem descanso”.14 Contudo, não podemos olvidar que a
única arma que possui o juiz nessa guerra é o processo, e que sua bandeira é a
aplicação correta da vontade concreta da lei, impossível de ser defendida, sem
a competente elucidação dos fatos.
Brevidade e segurança são forças antagônicas que têm de conviver. Como
operadores do direito, o nosso papel é mediar esse constante conflito, fazer
com que essas forças se conciliem, da melhor maneira possível.
Mas a humanidade está perdendo essa batalha. Não há relatos, até a
presente data, de um só sistema15 que tenha conciliado tão bem essas forças
(celeridade x segurança), a ponto de satisfazer plenamente os jurisdiciona-
dos.16 Segundo dados constantes do relatório sobre administração da Justiça,
no ano de 1998, na Itália, entre 1991 a 1997, girava em torno de 4 anos a
duração média dos processos em primeiro grau de jurisdição (órgãos de com-
petência comum). No Japão, antes da entrada em vigor do novo código, em
1998, não era raro que um feito civil se arrastasse por alguns anos, e levasse
12
Celso Agrícola Barbi aponta que “o aumento da intensidade nas medidas para alcançar um desses objetivos
implica, quase sempre, o distanciamento do outro; a um processo muito rápido corresponde geralmente a
restrição na defesa do direito por parte do réu; e a uma garantia muito desenvolvida dessa defesa corresponde
um processo moroso. As sucessivas reformas processuais têm sempre o objetivo de encontrar o ponto de
equilíbrio, em que a celeridade desejável não provoque o enfraquecimento de defesa do direito de cada um”
(Comentários ao Código de Processo Civil, 9ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1994, v. 1, p. 515). “Nem o valor
celeridade deve primar, pura e simplesmente, sobre o valor verdade, nem este sobrepor-se, em quaisquer
circunstâncias, àquele” (José Carlos Barbosa Moreira, “Efetividade do processo e técnica processual”, in Temas
de Direito Processual, 6ª série, São Paulo: Saraiva, 1997, p. 22).
13
Ensina-nos Hélio Tornaghi que o órgão judicial é responsável pela celeridade do processo, “mas sempre
cuidando que não se mutilem as garantias, quer de observância do direito objetivo, quer de respeito aos direitos
subjetivos das partes ou de terceiros. O acerto da decisão prima sobre a sua presteza. É preciso que a ligeireza
não se converta em leviandade, que a pressa não acarrete a irreflexão. O juiz deve buscar a rápida solução do
litígio, mas tem de evitar o açodamento, o afogadilho, a sofreguidão. Deve ser destro, sem ser pior que o
vagaroso. A observância rigorosa das formas e prazos legais é a melhor receita para conciliar rapidez e
segurança” (Comentários ao Código de Processo Civil, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1974, v. 1, p. 382).
14
Francesco Carnelutti, Diritto Processo, Nápoles: Morano, 1958, p. 354.
15
Cf. Norberto Bobbio, Diário de um Século, São Paulo: Campos, 1998, p. 243.
16
Donaldo Armelin ensina-nos que “o direito processual europeu, apesar de portentosa produção científica que
apresenta, não produziu, ainda, um sistema jurídico processual plenamente eficaz em termos do equacionamento
da almejada harmonização entre segurança, rapidez e eficácia. Talvez o vezo cartesiano de partir de princípios
para se chegar às soluções adequadas à praxis seja um dos responsáveis por essa situação. O certo, porém, é
que o sistema processual anglo-americano, muito mais marcado pelo empirismo, apresenta melhores soluções
nesse sentido, a despeito de não contar com a produção científica do direito europeu” (“Tutela jurisdicional
cautelar”, Revista da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, São Paulo, nº 23, jun. 1985, p. 126).
17
Cf. José Carlos Barbosa Moreira, “O futuro da justiça: alguns mitos”, Revista da Escola Paulista da Magistratura,
v. 2, ano 1, São Paulo, p. 73.
18
Cf. Jehanne Collard, “Victimes: les oubliés de la justice”, Paris: 1997, p. 141 e segs., apud José Rogério Cruz
e Tucci, Tempo e Processo, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 91. Nessa obra, o autor faz um
interessante relato de casos ocorridos perante os tribunais franceses, onde os jurisdicionados sentiram na pele
o amargor da lentidão judicial.
19
Fonte: Tribunal Regional Federal da 2ª Região.
20
Ada Pellegrini Grinover; Kazuo Watanabe, Durata Media dei Processi di Giurisdizione Ordinaria nello Stato di San
Paolo del Brasile, Separata Legalità e Giustizia, Edizioni Scientifiche Italiane, nº 2-3, 1992, pp. 329-338.
21
Projeto semelhante foi desenvolvido em 1988, pelos então desembargadores fluminenses José Carlos Barbosa
Moreira e Felipe Augusto Miranda Rosa, que investigaram a duração dos processos na Comarca do Rio de
Janeiro-RJ. Revelou-se que, em 2º grau, um feito levava, do recebimento no Tribunal, até publicação do acórdão,
em média, 184 dias, se sumaríssimo (atual sumário), e 247, se ordinário. Numa análise do tempo total do
processo — ajuizamento até julgamento em 2º grau — levantou-se que um feito de rito ordinário durava 757
dias, enquanto um de rito sumário, em média, 705 dias (DOE do Rio de Janeiro, 20 nov. 1990).
22
Fonte: DEPRO – Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
23
Fonte: Os próprios tribunais declinados. Há relatos de que, excepcionando este quadro, apenas o TRT da 3ª
Região (Minas Gerais), que, apesar de atender a uma grande população, oferece tutela de boa qualidade
temporal.
24
Fonte: O Globo, Rio de Janeiro, de 7 abr. 1999. A pesquisa ainda revelou que 67% da população acredita que
a Justiça só favorece os ricos, e 58% nela não confiam.
25
Fonte: O Estado de S.Paulo, 24 mar. 1999.
26
Fonte: IDESP.
27
Cf. Paulo César Pinheiro Carneiro, Acesso à justiça - Juizados Especiais Cíveis e Ação Civil Pública, 2ª ed., Rio
de Janeiro: Forense, 2000, p. 81.
28
Cf. Cristina Riba Trepat, La Eficacia Temporal del Proceso: El Juicio sin Dilaciones Indebidas, Barcelona: Bosch,
1997, pp. 16-17.
para resolver a causa, qualquer solução será, de modo inexorável, injusta, por
maior que seja o mérito científico do conteúdo da decisão”.29 Conforme se assinala
diuturnamente, para que a justiça seja injusta, não é necessário que atue equi-
vocadamente. Basta que não julgue quando deva.
No que se refere às partes, a intempestividade da tutela jurisdicional
propicia indiscutível desigualdade social, pois a lentidão beneficia, no mais
das vezes, a parte mais forte (rica), que pode esperar longos anos pela decisão.
Um processo lento pode se tornar uma perigosa arma na mão dos mais ricos,
os quais, em posse de bens e rendas alheias, podem oferecer, em troca da
pronta cessão, apenas parcela do indevidamente apropriado.
Como se isso já não fosse o bastante, a demora na obtenção da tutela
sempre beneficia o réu que não tem razão. A manutenção do direito deman-
dado, no longo decorrer do processo, em poder daquele que está errado (em
detrimento do verdadeiro tutelado pelo direito), representa, seguramente, o
maior contra-senso do sistema. O réu que não tem razão lucra com a demora
pois, além de permanecer indevidamente em poder da coisa, lhe colhe os
frutos. Por isso, não poucos jurisdicionados buscam outros meios para a solu-
ção de seus litígios (heterocomposição extrajudicial), quando não renunciam
aos seus próprios direitos, tudo a fim de evitar o dano maior que terão (mate-
rial e emocional) com os longos anos de espera por uma decisão.30
Já no aspecto econômico, quanto mais lento o processo, maiores as incer-
tezas. E quanto maiores as dúvidas, menores os investimentos no país. Sabido
que organismos internacionais (Banco Mundicial, BID) mensalmente divul-
gam índices de risco dos mais diversos países do mundo, principalmente os
da América Latina. No cálculo desses índices, primordial é o “fator Judiciá-
rio”, analisado tanto sob o prisma da coerência das decisões, quanto sob o da
tempestividade da tutela.31
Até no aspecto antagônico à celeridade, a segurança da decisão, o fator
tempo é preponderante. Quanto mais tempo se passa entre o fato a ser
apurado e a data do julgamento, menos condições tem o órgão julgador de
29
José Rogério Cruz e Tucci, “Garantia do processo sem dilações indevidas”, in José Rogério Cruz e Tucci (org.),
Garantias Constitucionais do Processo Civil, homenagem aos 10 anos da Constituição Federal de 1988, São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, pp. 235-236.
30
Cf. Italo Andolina; Giuseppe Vignera, Il Modelo Constituzionale del Processo Civile Italiano, Turim: Giappichelli,
1990, p. 88.
31
Cf. “A babel da justiça”, Diálogos & Debates da Escola Paulista da Magistratura, São Paulo, v. 3, nº 1, set.
2002, p. 29.
32
José Roberto dos Santos Bedaque, Poderes Instrutórios do Juiz, 3ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001,
p. 72.
33
Lúcida é a observação de Luiz Guilherme Marinoni, para quem “o direito à defesa, assim como o direito à
tempestividade da tutela jurisdicional, são direitos constitucionalmente tutelados. Todos sabem, de fato, que o
direito de acesso à justiça, garantido pelo artigo 5º, XXXV, da Constituição da República, não quer dizer apenas
que todos têm direito de ir a juízo, mas também quer significar que todos têm direito à adequada tutela
jurisdicional ou à tutela jurisdicional efetiva, adequada e tempestiva” (Tutela Antecipada..., cit., p. 18).
34
Cf. Clarissa Sampaio Silva, “A efetividade do processo como um direito fundamental: o papel das tutelas
cautelar e antecipatória”, in Dos Direitos Humanos aos Direitos Fundamentais, São Paulo: Livraria dos Advoga-
dos, 1997, pp. 185-188.
35
Italo Andolina; Giuseppe Vignera, Il Modelo Constituzionale del Processo Civile Italiano, cit., p. 90.
36
Em relação ao processo penal, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, de Nova Iorque, aprovado pela
Assembléia Geral da ONU em 19.12.1966, estabelece, em seu artigo 9.3, que “toda pessoa detida ou presa em
razão de uma infração penal será levada sem demora a um juiz ou funcionário autorizado pela lei a exercer
funções judiciais, e terá que ser julgada dentro de um prazo razoável ou que ser posta em liberdade”.
37
Não ratificaram a referida convenção somente o Azerbaijão e a Armênia.
38
Cf. J. V. Gimeno Sendra, El Derecho a un Proceso Sin Dilaciones Indebidas, Madrid: Justicia, 1986, p. 395.
39
Cf. Cristina Riba Trepat, La Eficacia Temporal del Proceso: El Juicio sin Dilaciones Indebidas, cit., p. 53.
40
“Artigo 19 - A fim de assegurar o respeito dos compromisso que resultam para as Altas Partes Contratantes da
presente convenção e dos seus protocolos é criado um Tribunal Europeu de Direitos Humanos (...).”
41
Para um levantamento completo da jurisprudências desta Corte: Cristina Riba Trepat, op. cit., pp. 60-75.
42
Fonte: Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
43
Lamentando a lentidão do processo civil italiano, cf. Mauro Cappelletti, Proceso, Ideologias, Sociedad, tradução
de Santiago Sentis Mellendo y Tomás e A. Banzhaf, Buenos Aires: Ediciones Juridicas Europa-America, s. d., pp.
549-550.
44
Fonte: Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
45
Seguramente, em resposta a essas seguidas condenações por ofensa ao disposto no artigo 6º, 1, da Convenção
de Roma, a última reforma do Código de Processo Civil italiano introduziu um sistema rígido de preclusões, tudo
com vistas a abreviar o tempo do processo (José Rogério Cruz e Tucci, “Atuais reformas do processo civil italiano
e brasileiro: contrastes e confrontos”, in Sálvio de Figueiredo Teixeira (coord.), Reforma do Código de Processo
Civil, São Paulo: Saraiva, 1996, pp. 841-868). Até a Constituição italiana, inspirada pelo propósito acelerador,
a partir de 1999 passou a ter o seu art. 111 com a seguinte redação: “A jurisdição atua mediante um processo
justo e regulado pela lei. Cada processo se desenvolve através do contraditório entre as partes, em condição de
igualdade, perante um juízo estranho e imparcial. A lei lhe assegurará uma duração razoável“ (tradução e grifos
nossos). Além disso, o governo italiano tem buscado, cada vez mais, informatizar a prática processual no país,
fazendo com que o processo se torne cada vez mais célere (Decreto do Ministério de Justiça, nº 123, de 13.2.2001).
46
Para acompanhar a tradução na íntegra do referido acórdão, ver José Rogério Cruz e Tucci, “Dano moral
decorrente da excessiva duração do processo”, in Temas Polêmicos de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 1990,
pp. 96-103.
47
O artigo 96.1 da Constituição Espanhola, de 27.12.1978, incorpora ao ordenamento jurídico interno a Conven-
ção Européia dos Direitos Humanos, de modo que a tutela do tempo do processo não necessitava merecer
previsão expressa na Carta Constitucional.
por diversas vezes, deixou assentado que a norma reconhece todo um elenco de
direitos fundamentais que configuram as garantias básicas do processo judicial
e administrativo, razão pela qual a violação desses preceitos implica inconteste
violação da própria Constituição.
Talvez por isso a referida Corte seja sensível aos reclamos por tempestivi-
dade na tutela jurisdicional. De 1981 a 1995, oito sentenças foram anuladas
pelo Tribunal Constitucional, por contrárias ao artigo 24.2 da Constituição
Espanhola, em que pese em nenhum deles ter sido fixada indenização para
reparar economicamente o jurisdicionado lesado,48 que, pelo entendimento
da Corte, deve buscar autonomamente compensação.49
De qualquer forma, o impacto moral do reconhecimento, pela mais alta
Corte espanhola, de uma tutela constitucional do tempo no processo, gera
indiscutíveis reflexos práticos na ordem jurídica, pois a iniciação de um pro-
cesso de amparo (semelhante a um mandado de segurança) por atraso judicial
tem, no mínimo, o condão de alertar o órgão jurisdicional letárgico e, em
conseqüência, conseguir a tutela esperada.
Outros ordenamentos europeus tutelam, ainda que em nível infraconsti-
tucional, o tempo no processo. O Código de Processo Civil português, por
exemplo, prevê, expressamente (art. 2-1) que “a protecção jurídica através dos
tribunais implica o direito de obter, em prazo razoável, uma decisão judicial que
aprecie, com força de caso julgado, a pretensão regularmente deduzida em juízo,
bem como a possibilidade de a fazer executar” (grifo nosso).
No nosso sistema não há, outrossim, um dispositivo expresso a proteger
o direito à tutela jurisdicional dentro de um prazo razoável. Apesar da Cons-
tituição Federal brasileira elencar como garantia fundamental o devido proces-
so legal e a inafastabilidade do controle judicial dos atos em geral, inexiste no
ordenamento jurídico interno garantia de um processo sem dilações indevidas.50
Entretanto, apesar de silenciar nesse sentido, o artigo 5º, § 2º, da
48
Cf. Cristina Riba Trepat, op. cit., p. 158, que lamenta, ainda, ser pacífico na jurisprudência espanhola incumbir
ao prejudicado a prova do dano sofrido pela intempestiva tutela jurisdicional (Idem, pp. 178-179).
49
Nesse sentido, basta a invocação do artigo 121 da Constituição espanhola, a prever que “os danos causados
por erros judiciais, assim como aqueles que sejam conseqüência do funcionamento anormal da Administração
da Justiça, darão direito a uma indenização, a cargo do Estado, conforme a lei”.
50
O que pode durar pouco. Projeto de emenda constitucional já aprovado pela comissão de Constituição e Justiça
do Senado Federal (PEC 29/2000) pretende acrescentar ao art. 5o da Constituição Federal um inciso de número
LXXVIII com a seguinte redação: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração
do processo, como direito público subjetivo, e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação, sendo
assegurado à Fazenda Pública, ao Ministério Público e à Defensoria Pública prazos especiais, na forma da lei”.
51
No sentido da incorporação do Pacto de São José da Costa Rica ao ordenamento jurídico brasileiro, vejam-se os
seguintes julgados: TJ/SP, Agravo de Instrumento nº 88.736-5/São Paulo, 7ª Câmara de Direito Público, rel.
Sérgio Pitombo, 8.2.1999, v.u.; e STF, RT 748/152.
52
Cf. Francisco Ramos Mendez, Derecho Procesal Civil, 5º ed., Barcelona: Bosch, 1992, v. 1, pp. 344 e segs.; Luiz
Guilherme Marinoni, Tutela Antecipatória..., cit., p. 18.
53
Cf. Francisco Fernandes de Araújo, Responsabilidade Objetiva do Estado Pela Morosidade da Justiça, Campinas:
Copola, 1999; Joel Dias Figueira Júnior, Responsabilidade Civil do Estado-Juiz: Estado e Juízes Constitucionalmente
Responsáveis, Curitiba: Juruá. 1995; Luis Soares Antonio Hentz, Indenização do Erro Judiciário e Danos em Geral
Decorrentes do Serviço Judiciário, São Paulo: Leud, 1995; Nicòlo Trocker, “La responsabilitá del giudice”, Rivista
Trimestrale di Diritto e Procedura Civile, v. 34, nº 4, p. 1.283, 1982; Maria Sylvia Zanella Di Pietro, “Responsabilidade
do Estado por atos jurisdicionais”, Revista de Direito Administrativo, nº 198, 1994, p. 85.
54
José Rogério Cruz e Tucci, Garantia do Processo sem Dilações Indevidas, cit., p. 249.
55
Cf. Cristina Riba Trepat, op. cit., pp. 76-90.
56
A Corte Constitucional espanhola se utiliza dos critérios do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos para aferição
da violação do direito à tutela jurisdicional tempestiva.
57
O artigo 10.2 da Constituição espanhola converte as decisões do Tribunal Europeu de Direitos Humanos em
vetor interpretativo principal nas decisões nacionais sobre o mesmo assunto.
58
Em importante passagem de sua obra, Cristina Riba Trepat assevera que “não se pode permitir a obsolescência
dos prazos fixados nas leis processuais, nem tampouco sua utilização meramente formalista, mas sim se deve
exigir uma constante atenção à evolução jurídico-social, de modo que não resulte escandalosa a margem de
diferença entre o tempo processual e o tempo real” (La Eficacia Temporal del Proceso: El Juicio sin Dilaciones
Indebidas, cit., p. 168 - tradução nossa).
59
Apesar disso, acreditamos que a estrutura judiciária brasileira ainda não permite a fixação de prazos peremp-
tórios para o órgão judicial, cujo descumprimento levaria a sanções de ordem civil e/ou administrativa. As razões
são inúmeras: falta de estrutura material do Judiciário, diminuição do número de interessados nos cargos de
juízes, entre outras.
6. Bibliografia.
60
Francisco Ramos Mendez, El Sistema Judicial Español, 2ª ed., Barcelona: Bosch, 1995, p. 109.
61
Cristina Riba Trepat, op. cit., pp. 171 e 175.
Entraves jurídicos
à realização da justiça*
Nilson Naves
MINISTRO PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
* Conferência proferida durante o Congresso “O Direito Brasileiro e os Desafios da Economia Globalizada”, São
Paulo – SP, 25.6.2002.
in such inferior courts as the Congress may from time to time ordain and esta-
blish...”. (Entende-se que a expressão “tribunais inferiores” referia-se igual-
mente a tribunais regionais, a saber, o sentido era o de que a expressão dizia
respeito tanto à primeira quanto à segunda instância, consoante Maximilia-
no, pp. 538/545.) Outra não fora a iniciativa oriunda do Decreto Legisla-
tivo nº 4.381, de 5.12.1921, autorizando o Executivo “a criar três tribunais
regionais no território nacional”, sediados no Recife (desde o Acre até a Ba-
hia), na capital da República (Espírito Santo, Rio de Janeiro e Distrito
Federal) e em São Paulo (demais Estados da União); entretanto não foram
criados, porque o Executivo não se utilizou de tal autorização. Aliás, quan-
do da Emenda de 1926, a mensagem que encaminhara a proposta ao Con-
gresso vaticinava, em relação à competência atribuída ao Supremo, que,
“sem essa criação (dos regionais), é impossível aliviar o pesado encargo desse
Tribunal (do Supremo), isto é, permitir o mais rápido andamento e a mais
pronta decisão dos feitos” (ver João Barbalho, Constituição..., 2ª ed., p. XIII).
Foi esse o modelo que esteve em vigor por quase um século; veja-se que
vigeu entre 1890 e 1988 (o Superior Tribunal de Justiça e os Tribunais
Regionais Federais foram instalados no ano de 1989), não obstante o que se
denominou de crise do Supremo Tribunal, ou de crise do recurso extraordi-
nário. Em 1918, como se viu, do excesso de trabalho comentava Maximilia-
no (ocupou uma das cadeiras no Supremo entre 1936 e 1941), e o mesmo
iria acontecer com Pires e Albuquerque, em 1930, e com Philadelpho de
Azevedo, em 1943, que também ocuparam cadeiras do Supremo entre 1917
e 1931 e 1942 e 1946.
Em palestra de 1964, em Belo Horizonte, dizia Victor Nunes (esteve no
Supremo de 1960 a 1969), comparando dados dos anos de 1950 e 1962
(3.511 e 7.437 processos): “Quando um Tribunal se vê a braços com esse fardo
asfixiante, há de meditar, corajosamente, sobre o seu próprio destino” (Proble-
mas..., Ministério da Justiça, 1998, p. 37). Já naquele momento, Victor de-
fendia a adoção no Supremo da jurisdição discricionária, aquela que, no mo-
delo norte-americano, é exercida by certiorari, a saber, via writ of certiorari.
Todas as vezes em que se mexia na organização do Judiciário — mais no
plano constitucional que no infraconstitucional, tentava-se alterar, ou até
alteraram mesmo, as coisas da denominada instância de superposição —, a
preocupação maior dizia respeito, como bem se disse por ocasião da refor-
ma constitucional de 1926, à “morosidade na distribuição da justiça”: “Urge,
em tal sentido, uma providência, a fim de que a grande morosidade na decisão
dos processos judiciais não assuma entre nós uma feição de denegação de justiça”
(Mensagem..., in Barbalho, p. XIII).
Comparem-se medidas então aconselhadas (umas sem maior resultado
quanto ao fim a que se propunham, outras com um resultado melhor — o
critério da relevância, por exemplo), entre as quais: (I) em 1946, criou-se o
Tribunal Federal de Recursos com a precípua incumbência de órgão de se-
gundo grau das causas de interesse da União, mas a ele foram cometidas, ao
longo do tempo, duas ou três das competências originárias do Supremo Tri-
bunal (reparem que, não obstante o recebimento de tais competências origi-
nárias, o Federal de Recursos sempre foi tribunal inferior, porque as suas
decisões sempre foram recorríveis; sabe-se que, à época, competia ao Supremo
zelar tanto pela guarda da Constituição quanto pela dos tratados ou leis fede-
rais); (II) em 1958, exigiu-se que fosse fundamentado na origem o despacho
de admissão ou de denegação do recurso extraordinário (nunca se pretendeu
uma terceira instância; era necessário se marcasse melhor a distinção entre
recursos ordinários e recurso extraordinário); (III) em 1963, o Supremo apro-
vava os primeiros enunciados da sua Súmula; (IV) em 1965, era instituída a
figura do controle concentrado de constitucionalidade (já se observou que se
acreditava possível, com esse controle, diminuir a carga de processos no Su-
premo; “a atenção dos reformadores tem-se detido enfaticamente na sobrecarga
imposta ao Supremo Tribunal e ao Tribunal de Recursos”, conforme a exposição
de motivos); (V) em 1970, o Supremo restringiu o cabimento do extraordi-
nário em decorrência do que dispusera a Emenda Constitucional nº 1, de
1969, no § 1º do art. 119 (“... atenderá à sua natureza, espécie e valor pecuniá-
rio”); e (VI) em 1975, o Supremo adotaria o critério da relevância da questão
federal, ao qual veio aludir a Emenda Constitucional nº 7, de 1977 (era a
jurisdição discricionária, do modelo norte-americano, exercida by certiorari).
O que se constata é que, em todo o tempo, procurou-se, ao ver das apon-
tadas medidas, aliviar o Supremo do excesso de trabalho — daqueles proces-
sos que lhe chegavam às braçadas — sem, contudo, alterar-se o velho modelo
(caso se tenha pensado em adotar outro modelo, tal não teria ocorrido entre
aqueles que tomavam decisões), oriundo da Constituição de 1891, a saber, o
de uma corte suprema e tantas outras necessárias — na expressão de Maximi-
liano, cortes de inferior categoria —, qual era e continua sendo o sistema
norte-americano.
Ora, nos idos de 1986 e 1987, quando a Assembléia Constituinte avizi-
nhava-se dos dias de sua instalação, duas ordens de idéias encontravam-se,
nos nossos meios acadêmicos e forenses, em debate: uma, datada dos anos
sessenta (é até possível dar-lhe data anterior, mas os meus guardados regis-
tram ter sido em 1960 que se falou pela primeira vez dessa idéia), consistente
na criação de um tribunal de cassação ou de revisão, ou de revisão e cassação
(“... com função exclusiva de cassação...”, dizia Buzaid); a outra idéia, de data
mais recente — mas que evidentemente não deixava de remontar àquela de
tribunais inferiores —, relativa à criação de um tribunal federal, denominado
Tribunal Superior Federal, com competência para julgar recursos especiais
contra acórdão de tribunais regionais federais (que também seriam criados),
“em temas envolventes da Constituição Federal, de tratado ou lei federal, ou
em caso de divergência de julgados, sempre nos limites da Justiça Federal e
sem prejuízo da competência do Supremo Tribunal Federal”.
A segunda daquelas idéias — a de um tribunal federal — foi a que fez
parte das sugestões apresentadas pelo Supremo à Comissão Provisória de Es-
tudos Constitucionais, sob a presidência de Afonso Arinos, e era também a
sugestão do Tribunal Federal de Recursos, consoante, aliás, o ofício que o
extinto Tribunal remetera ao presidente da Subcomissão do Poder Judiciário
em 14.4.1987: “Em linhas gerais, o que o Tribunal Federal de Recursos propõe é
a instituição de Tribunais Regionais Federais de 2º grau, com a simultânea trans-
formação do Tribunal Federal de Recursos em instância de recurso especial, não
ordinário, segundo o modelo das jurisdições eleitoral e trabalhista (TREs e TSE;
TRTs e TST)”. Foi a idéia acolhida pela Subcomissão; dessa forma, tornar-se-
iam, se vingasse a proposta, órgãos da Justiça Federal o Tribunal Superior
Federal, os Tribunais Regionais Federais e os Juízes Federais. Porque a criação
do Tribunal Superior Federal, como foi visto linhas atrás, far-se-ia sem prejuí-
zo da competência do Supremo Tribunal, verifica-se, assim, seriam admitidos
quatro graus quanto aos feitos federais.
Em suas sugestões à Comissão Afonso Arinos, datadas de 1986, o Supre-
mo desaprovava, de modo expresso, a idéia da criação de um Tribunal Supe-
rior de Justiça, bem como não aceitava a de ser transformado em Corte Cons-
titucional. Confiram-se: (a) “II. 11 – Desaprova, por outro lado, a Corte a idéia
de se criar um Tribunal Superior de Justiça (abaixo do Supremo Tribunal Federal),
com competência para julgar recursos extraordinários oriundos de todos os Tribu-
nais Estaduais do País...”; (b) “II. 12 – Considerou, ainda, o Supremo Tribunal
Federal injustificável sua transformação em Corte Constitucional, de competência
limitada, estritamente, a temas dessa ordem, sem o tratamento das relevantes ques-
tões de direito federal. É importante que um Tribunal, de caráter nacional, com
ser mais que um tribunal superior (se nos ativermos ao significado corrente de
tal cláusula constitucional). Na verdade, para o Superior só há um destino —
sob pena de se tornar, em importantes casos, inoperante, de pouca importân-
cia, simples via de passagem: o de ser, devendo sem dúvida sê-lo, o Tribunal da
derradeira palavra acerca da interpretação do direito infraconstitucional. Por
essa razão, parece a todos que o modo de sentir e perceber as coisas que ontem
e hoje vêm acontecendo no Judiciário tem trazido inquietações ao Superior.
Na denominada instância de superposição, no que tange ao Supremo e ao
Superior, os entraves atuais encontram-se na distribuição das competências
constitucionais a eles cometidas, que hão, por conseguinte, de melhor ser
definidas. O complicador é de tal monta, que o atual quadro, pasmem todos,
anda propiciando que tenhamos, em determinados casos, quatro graus de
jurisdição (vimos que aos juristas do início da República não agradava o terceiro
grau — “a Constituinte não poderia querer terceira instância...”). O habeas corpus
é o exemplo mais emblemático e, por igual, a relação recurso especial/recurso
extraordinário. Se não houver mudança de textos (penso seja possível dar-lhes
interpretação diferente, porém isso se me afigura não-realizável), imprescindí-
vel e urgente, de modo que o Superior assuma o seu real papel, seria preferível,
ao que cuido eu, voltarmos ao precedente modelo, deixando, destarte, sob a
responsabilidade de um único e mesmo tribunal, os dois contenciosos, tal qual
o modelo que nos veio da Constituição de 1891 — aquele de uma corte
suprema e tribunais inferiores, cabendo ao Supremo zelar tanto pela guarda da
Constituição quanto pela dos tratados e leis federais.
A propósito desses complicadores — verdadeiros entraves à realização de
uma justiça mais expedita, correta e sã —, confiram-se os exemplos que se
seguem. Antes, porém, urge se leiam advertências contidas em Maximiliano,
quando escrevia, em 1918, seus Comentários..., sobre a criação de outros tri-
bunais (como se sabe, as cláusulas “tribunais inferiores”, norte-americana, e
“tantos juízes e tribunais federais”, brasileira, deram muito pano para mangas,
pois acarretaram infindáveis discussões quanto a saber se se impunha ou não
a criação de tribunais de segundo grau). Eis as advertências: (I) “Maneira
curiosa de argumentar: a Constituinte não poderia querer terceira instância, por-
que esta é condenada”; (II) “Pode-se evitar a terceira instância.”
De fato, não se poderia mesmo querê-la, como sempre a melhor das
filosofias não a quis; por isso haveria mesmo de ser evitada. A instância
extraordinária se distingue substancialmente da instância ordinária, já que
lhe cabem apenas questões jurídicas, a fim de assegurar a superioridade da
1. Conceito de nome
V
ulgarmente, “nome” é a “palavra que designa pessoa, coisa ou ani-
mal; qualificação; reputação; apelido; ou alcunha” (Aurélio Buar-
que de Hollanda Ferreira, Pequeno Dicionário da Língua Portu-
guesa, p. 850).
Para a ciência do Direito, nome é a “designação patronímica da pessoa; a
referência à família” (Academia Brasileira de Letras Jurídicas, Dicionário Jurí-
dico, p. 377).
Trata-se, portanto, de designação das pessoas; da forma como elas são
designadas, chamadas, identificadas, entre seus pares e mesmo entre os seus
familiares.
O pranteado Antonio Chaves lembra que “entre os meios através dos quais
o homem pode afirmar-se não somente como pessoa, mas também como uma certa
pessoa evitando por essa forma a confusão com outras — assinala Adriano de
Cupis — ocupa lugar proeminente o nome, sinal verbal, que lembra imediata-
mente e com perfeita clareza o sujeito ao qual se refere.
Certamente o nome é um meio geral que serve para designar qualquer entida-
de ou objeto que se possa imaginar. Mas adquire particular importância jurídica e
social no que diz respeito à indicação das pessoas, a ponto de se constituir, muitas
vezes, em símbolo das mais elevadas qualificações ou virtudes de uma pessoa, de
anseios, de sentimentos os mais variados, desde os mais elevados, aos menos dignos”
(Lições de Direito Civil, Parte Geral, vol. III, pp. 177/178).
A propósito de sua lição, lembra o autor a respeito de nomes que, de
imediato, expressam um conjunto de defeitos ou de qualidades: Jesus Cristo,
Átila, Churchill, De Gaulle, Hitler, Tiradentes, Judas e outros que tais.
Washington de Barros Monteiro aduz que o nome pode ser definido
“como o sinal exterior pelo qual se designa, se identifica e se reconhece a pessoa no
seio da família e da comunidade. É a expressão mais característica da personalida-
de, o elemento inalienável e imprescritível da individualidade da pessoa. Não se
concebe, na vida social, ser humano que não traga um nome” (Curso de Direito
Civil, Parte Geral, p. 86).
Silvio de Salvo Venosa afirma que o nome é, “portanto, uma forma de
individualização do homem na sociedade, mesmo após sua morte” (...) “O nome,
afinal, é o substantivo que distingue as coisas que nos cercam, e o nome da pessoa a
distingue das demais; juntamente com outros atributos da personalidade, dentro
da sociedade” (Direito Civil - Teoria Geral, vol. 1, p. 152).
Carlos Roberto Gonçalves afirma que é o “sinal exterior (ou a designação)
pelo qual a pessoa se identifica no seio da família e da sociedade” (Direito Civil -
Parte Geral, p. 51).
Serpa Lopes lembra que o nome “surge como um dos elementos de identifi-
cação de pessoa. Constitui, por isso, um dos direitos mais essenciais da personalida-
de” (Curso de Direito Civil, Introdução e Parte Geral, vol. I, p. 235).
Por fim, R. Limongi França preleciona que “nome, no sentido o mais geral,
é a expressão pela qual se identifica e distingue uma pessoa, animal ou coisa. É o
gênero, do qual o nome de pessoa, conceituado por Cícero, é uma espécie” (“O
Nome Civil das Pessoas Naturais, p. 21).
Vê-se, portanto, que os elementos comuns desses nomes são a identifica-
ção, a designação das pessoas, como individualizador das mesmas entre os
seus pares.
Ainda que, nos tempos atuais, haja relativa sofisticação no que toca ao
nome civil das pessoas, é por demais evidente que nem sempre foi assim, e
que, em tempos mais antigos, inexistia tal refinamento.
Assim, é fácil imaginar-se, por exemplo, nas sociedades primitivas, as
pessoas dirigiam-se, umas às outras, com grunhidos ou interjeições.
Com o passar do tempo e a sofisticação da linguagem, também passa a
haver maior aprimoramento no que diz respeito à atribuição de nomes às
pessoas.
R. Limonge França lembra, aliás, reportando-se às lições de Spencer Vam-
pré, que “povos de cultura a mais rudimentar como os hotentotes, os iroqueses, os
nossos bakairis, os habitantes das Austrália do Norte, os da Ilha de Kingsmill, a
despeito da diversidade do sistema utilizado para a imposição da designação perso-
nativa, possuem a instituição do nome, aliás com um significado por vezes mais
importante que o encontrado em povos mais desenvolvidos” (O Nome..., p. 25). E
lembra, ainda, de um único povo da África, do qual dão notícia Heródoto e
Plínio; ou seja, os atlantes, que não usavam nome próprio individual.
Na Antiguidade, para efeito de nosso estudo, outrossim, merecem desta-
que três povos: os hebreus, os gregos e os romanos.
a) Entre os hebreus, inicialmente, usava-se um único nome: Esther, Ra-
chel, Jacob, David e outros. Era dado aos meninos no oitavo dia, após a cir-
cuncisão.
Havia, contudo, costume de acrescentar-se um segundo nome a esse pri-
meiro, como, no Velho Testamento, se vê “Ruth Moabita”, apelido alusivo à sua
origem.
No Novo Testamento, “em meio à enumeração dos apóstolos, a um dos Tiagos
chama-se ‘Jacobus Zebedaei’, Tiago de Zebedeu, filho de Zebedeu, e a outro ‘Jacobus
Alphaei’, Tiago de Alfeu. A Mateus se chama Matheus Publicannus, numa alusão
à sua antiga profissão” (R. Limongi França, O Nome..., p. 28).
Na própria inscrição da Cruz, vê-se Jesus identificado como “Jesus Nazare-
nus”, ou Jesus de Nazaré.
Washington de Barros Monteiro acrescenta que, entre os hebreus, o nome
era único, “mas, com o tempo, quando as tribos se multiplicaram, os indivíduos
passaram a ser individualizados pelo seu nome, ligado ao do genitor (José Bar-Jacó
- José, filho de Jacó). Como observa Cunha Gonçalves, o nome do apóstolo Barto-
lomeu e do bandido Barrarás indicavam apenas a filiação (Bartolomeu, filho de
Tolomeu - Barrabás, filho de Abás), mas não o da própria personagem, que se
perdeu naturalmente na noite dos tempos.
“Acrescenta o mesmo civilista que tal sistema predomina ainda entre os árabes
(Ali Ben Mustafá - Ali, filho de Mustafá). Aliás, desde a denominação maometa-
na, alguns judeus passaram a adotar, igualmente, a desinência Ben (Bensabat,
Belonei)” (Curso..., p. 87).
Também havia, ao que parece, a possibilidade de aquisição de nome por
meio de adoção, como lembra R. Limongi França (O nome..., p. 28).
b) Quanto aos gregos, tinha tal povo da Antiguidade, inicialmente, um
único nome. Lembra Washington de Barros Monteiro que, entre os gregos, o
nome “era único e individual (Sócrates, Platão, Aristóteles). Cada pessoa tinha o
próprio nome e não transmitia aos descendentes” (Curso..., p. 87).
Silvio de Salvo Venosa lembra que, posteriormente, “com a maior com-
plexidade das sociedades, passaram a deter três nomes, desde que pertencessem a
família antiga e regularmente constituída: um era o nome particular, outro o
nome do pai e o terceiro o nome de toga a gens. Como lembra Limongi França,
o primeiro nome equivalia ao nosso prenome, o segundo era o nome de família e
o terceiro era o gentílico, a exemplo de Roma, que não possuímos atualmente”
(Direito Civil, pp. 153/154).
Assim, R. Limongi França lembra a obra de Fustel de Coulanges, A
Cidade Antiga, onde esclarece que “todo grego tinha três nomes, desde que
pertencesse a uma família antiga e regularmente constituída. Um deles era-lhe
particular; um outro era de seu pai e, como estes dois nomes se revezavam ordina-
riamente entre si, o conjunto dos dois nomes equivalia ao ‘cognomen’ hereditário,
que, em Roma, designava um ramo da gens, ou genós. Assim, dizia-se:
Milcíades, filho de Cimon, Sakiadas, e, na geração seguinte, Cimon, filho de
Milcíades, Sakiadas” (O Nome..., p. 29).
c) No que toca aos romanos, R. Limongi França, citando o padre João
Ravizza, aduz que tinham eles três nomes próprios para distingui-los: o pre-
nome, o nome e o cognome. Às vezes, acrescentavam um quarto: o agnome.
O primeiro precedia a todos e servia para distinguir entre si os diversos
membros da mesma família (corresponde ao nosso nome de batismo).
Exemplos: Aulus, Sextus, Appius etc. Já o nome (nomen) servia para desig-
nar a gens a que pertencia o indivíduo, cuidando-se de nomes propriamen-
te adjetivos (por exemplo: Cornelius, pertencente à gens Cornelia; Fabius,
pertencente à gens Fabia etc.).
Já o cognome (cognomen quia nomini conjugitur) “distinguia as diversas fa-
mílias de uma mesma gens. Punha-se em terceiro lugar, por exemplo: ‘Publius
Cornelius Scipio’ designava um indivíduo da gente Cornelia, da família dos Cipiões,
chamado Públio...” (R. Limongi França, O Nome..., pp. 30/31).
Por fim, o agnome (quasi accidens nomen) “exprimia apelido tomado de
algum sucesso ou circunstância especial, por exemplo: ‘Publius Cornelius Scipio
Africanus’, porque se celebrizou por seus feitos na África...” (R. Limongi França,
O Nome..., p. 31).
Washington de Barros Monteiro afirma que, em Roma, “o nome era bas-
tante complexo. Os elementos que entravam em sua composição eram: a) o gentí-
lico, usado por todos os membros da mesma gens; b) o prenome, ou nome próprio
de cada pessoa.
Posteriormente, terceiro elemento apareceu, o cognome, devido ao grande de-
senvolvimento das gens e às complicações provenientes das alianças. Inicialmente,
o cognome era individual, depois se tornou hereditário. Mas, era próprio dos ho-
mens, as mulheres não o usavam” (Curso..., pp. 87/88).
Também lembra Washington que os nomes com três elementos eram
peculiares ao patriciado; nomes “de um só, no máximo de dois elementos, eram
próprios da plebe (Espártaco)” (Curso..., p. 88).
No mesmo sentido, afirma Silvio de Salvo Venosa: “Os nomes únicos ou
com dois elementos no máximo eram próprios da plebe. Os escravos tinham um
nome, com o acréscimo, geralmente, do prenome do dono” (Direito Civil, p. 154).
d) O tempo foi passando; conquistadas as Gálias e a Lusitânia, passaram
estas a adotar o sistema romano. Contudo, lembra Washington, com a inva-
são dos bárbaros, na Idade Média, retornou-se ao sistema “do nome único,
entre eles vigorante. Paulatinamente, no entanto, os nomes bárbaros foram substi-
tuídos pelos do calendário cristão. Tornando-se cada vez mais densa a população,
começou a surgir confusão entre pessoas com o mesmo nome e pertencentes a famí-
lias diversas.
Para distingui-las, recorreu-se ao emprego de um sobrenome, ora tirado de
qualidade ou sinal pessoal (Bravo, Valente, Branco), ora da profissão (Monteiro),
Serpa Lopes. Após analisar a concepção absoluta, o direito ao nome como direito
de propriedade e a teoria da polícia civil, o referido autor fixa-se na teoria do direito
privado “sui generis”, de Pacchioni e N. Stolfi, aduzindo que, inquestionavel-
mente, “o aspecto jurídico do nome não pode ter mais pronunciadamente o caráter
de obrigação do que o de direito, como pretende Planiol. É um misto de direito e de
obrigação. Como um direito, representa um dos atributos da própria personalidade,
razão pela qual não pode ser superado pelo interesse social, pelo elemento passivo da
idéia de obrigação. Mas, por outro lado, não se desconhece que, com o ser um elemento
identificador do indivíduo na sociedade, há um interesse social na sua existência e
nos seus elementos integrantes, insusceptíveis de alterações arbitrárias ou de compo-
sições fora da realidade das bases que o devem compor. O novo Código Civil italiano
(art. 6º) atribui ao nome o caráter de um direito pessoal, e, embora reconhecendo-
lhe um espectro absoluto, contudo não deixa de o revestir de um cunho publicístico,
tutelando-o como tal” (Curso..., pp. 237/238).
Contudo, atualmente, o que efetivamente prevalece é o reconhecimento,
por parte da doutrina, de que o direito ao nome é mesmo um dos direitos da
personalidade, catalogado como um dos direitos à integridade moral, como afir-
ma Orlando Gomes (“Direitos da “personalidade”, artigo in Revista Forense,
vol. 216, pp. 8/9).
Bem sintetiza a matéria Antonio Chaves, a respeito da natureza jurídica
do nome, enumerando as teorias prevalentes, da seguinte forma:
Arnoldo Wald, sobre o tema, afirma: “Entendemos que não há por que
falar em propriedade, conceito de direito real inaplicável no campo dos direitos da
personalidade. O próprio Planiol, na sua obra revista por Ripert, considera que a
jurisprudência francesa tem definido o nome como uma instituição das pessoas, ao
mesmo tempo que constitui um direito da personalidade, em virtude do qual o
interessado usa o seu nome e impede a utilização do mesmo por outrem sem sua
autorização prévia, ressalvada a situação dos homônimos, que não pode, todavia,
ensejar abusos de direito” (...) “A melhor doutrina na matéria é, pois, a eclética que
realiza a fusão do dever social como direito subjetivo, estabelecendo a obrigação de
usar, conservar e manter o nome como dever em relação à sociedade e reconhecendo
o direito subjetivo do titular, protegido pelo Direito Civil, de impedir o uso indevido
do nome por terceiros” (Curso..., pp. 124/125).
Observa-se, assim, que tal autor preconiza uma solução mista, em que
reconhece as vantagens de cá e de lá.
Mas não se pode deixar de anotar que o referido autor também destaca a
importância do caráter de direito subjetivo do direito ao nome, e da sua proteção.
Mais ainda: o mencionado jurista afirma, também, que o direito ao nome
individual “é extrapatrimonial, distinguindo-se dos direitos de propriedade imate-
rial, exteriores à personalidade do titular, como, por exemplo, o nome comercial e a
marca de fábrica ou de comércio, que têm conteúdo econômico e são transferíveis,
sendo elementos integrantes do fundo de comércio,.
O direito ao nome civil é inalienável e imutável” (Curso..., p. 125).
Dessa maneira, o que se vê é que o acatado jurista efetivamente apresenta
caracteres do direito ao nome que são típicos dos direitos da personalidade.
Sílvio de Salvo Venosa também entende que o nome “é um atributo da
personalidade, é um direito que visa proteger a própria identidade da pessoa,
com o atributo da não-patrimonialidade. Note-se que estamos tratando do nome
civil; o nome artístico tem conteúdo mercantil e, portanto, patrimonial” (Direi-
to Civil, p. 155).
Também Washington de Barros Monteiro, citando a lição de Josse-
rand, afirma ser o direito ao nome um “sinal distintivo revelador da persona-
lidade” (Curso..., p. 87).
4. Conclusões
Em face do que até aqui foi exposto, pode-se concluir que: a) o nome
civil das pessoas naturais é o sinal ou a expressão que identifica, designa e
distingue uma pessoa das outras; b) os elementos comuns das várias definições
são a identificação, a distinção, a designação das pessoas, como individualiza-
dor das mesmas entre os seus pares; c) a evolução histórica da utilização de
nomes como distinção, designação e identificação das pessoas é lenta, desde
os tempos antigos, em que se utilizava um único nome, até o século XIII,
quando se torna comum a utilização do nome duplo, nas suas feições mais
atuais; d) apesar das diversas teorias a respeito da matéria, a que prevalece é a
que entende ser o direito ao nome um típico direito da personalidade, ligado
à proteção da identidade pessoal, tendo, efetivamente, todas as características
desse tipo de direitos, dentro do que expõe a doutrina mais autorizada a
respeito da matéria.
5. Bibliografia
I – Introdução
O
presente texto não tem a intenção de ser um estudo completo e
definitivo sobre a problemática que envolve as complexas relações
existentes entre esses três elementos, por se tratar de uma proble-
mática poliédrica, extremamente complexa, que exige uma abordagem inves-
tigatória inter e multidisciplinar. Muito mais do que um trabalho científico
*
O presente artigo foi publicado originalmente na revista argentina: ZETTEL – Artes y Ciencias Sociales,
publicação da Universidad de Buenos Aires, ano III, nº 3, p. 25.
II - A Sociedade
1
MESSUTI, Ana. El Tiempo Como Pena, Buenos Aires: Compomanes Libros, 2001, p. 13.
2
Op. cit., p. 97.
3
In ORTEGA Y GASSET, José. La Rebelión de las Massas, Madrid: Clásicos Castalia, 1999.
4
Ressalte-se que aqui se fala em direitos passivos, ou seja, aqueles que as pessoas adquirem independentemen-
te de qualquer esforço ou obrigação decorrente; eles são inerentes à própria natureza humana. São os direitos
da personalidade que se adquirem com o só fato de nascer.
5
In BECK, Ulrich. La Sociedad del Riesgo, Barcelona: Paidós, 1998.
6
In LUCKMANN, Thomas / BERGER, Peter L. A Construção Social da Realidade, Petrópolis: Editora Vozes, 2000.
7
Citado por SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La Expansión del Derecho Penal, Madrid: Cuadernos Civitas, 1999.
8
BARATA, Francesc. “De Ripper al pederasta: un recorrido por las noticias, sus rotinas y los pánicos morales”, in
Revista Catalana de Seguretat Pública, Barcelona, junio/1999, nº 4, pp. 45-57.
presente na sociedade; entretanto, emergiu com uma força enorme no seio dos
meios de comunicação de massa, também porque nos encontramos ante uma
crise de credibilidade da política, que se transfere para os meios de comunica-
ção, pois quanto mais decresce o interesse pelas notícias políticas, mais a
imprensa procura outras categorias informativas para traduzir o interesse da
sociedade — geralmente notícias violentas —, o que, por outro lado, amplia
a fronteira entre informação séria e informação trivial, que adquire um maior
grau de aceitabilidade. Essa trivialização das notícias causa uma nova cultura
de violência, em que essa aparece como um fato normal, corriqueiro, que faz
parte do cotidiano, na verdade um objeto de consumo, gerando uma insensi-
bilização à violência real e alterando as representações em torno da segurança
e, ainda, uma funcionalização dos atos violentos, que passam a ser tidos como
meios legítimos para alcançar determinados fins.
Ainda que não haja possibilidade de se reconhecerem com a certeza neces-
sária a relação e influência dos meios de comunicação na opinião pública, ante
a falta de estudos sérios que as confirmem, como anotado pela maioria dos
estudiosos, o fato é que existe uma influência mútua entre o discurso sobre o
crime — atos violentos — e o imaginário que a sociedade tem dele, e, como
anota Barata,9 apesar das dificuldades para se estabelecer uma relação absoluta
de causa/efeito entre as notícias e o medo do delito, pode-se sustentar que existe
uma relação sólida entre as ondas de informação e a sensação de insegurança.
Na relação entre meios de comunicação e delito ocorre, no momento da
criação da notícia, o que Barata denominou “pequeñas dictaduras del sistema
informativo”.10 Isso acontece, pois os meios têm a necessidade e a obrigação
de preencher todos os dias o mesmo espaço informativo, ainda que a reali-
dade esteja pobre em acontecimentos noticiosos; afinal, “los telenoticias siem-
pre tendrán la misma duración y los periódicos el mismo número de páginas...”.
Por outro lado, em relação aos fatos criminais, existe uma grande escassez de
fontes de informação, o que obriga o jornalista a procurar as fontes institu-
cionais, geralmente a Polícia ou o Ministério Público, que, por sua vez, não
são fontes neutras e, portanto, transmitem a sua maneira de ver o crime, não
sendo questionadas por aquele que necessita da informação para preencher
os espaços. Finalmente, o jornalista deve adequar o seu trabalho ao tempo
mediático que, geralmente, não coincide com o tempo dos acontecimentos
9
BARATA, Francesc. Op. cit.
10
BARATA, Francesc. Op. cit.
sentados em seus sofás, olhando para a TV, com imagens fortes, estão se
informando com seriedade, mas informar-se sem esforço é uma ilusão.
A fascinação pelas imagens, especialmente pelas ao vivo, cria a ilusão de
que todo acontecimento deve ter uma imagem e que fatos sem imagens não
são importantes. Assim, o que não for filmado não é importante. Sem ima-
gem, não há notícia. Entretanto, mais grave do que a falta de notícias é o fato
de que, na maioria das vezes, nos mostram imagens que não representam
nenhum fato jornalístico noticiável, apenas imagens espetaculares, ricas em
visual, atrativas e tecnicamente impecáveis. A informação torna-se um espetá-
culo, um divertimento.
As notícias, diga-se imagens, se produzem quase que simultaneamente
com o fato, mudando o conceito de atualidade e, ainda, descontextualizando-o.
A televisão cria, por outro lado, a hiperemoção do espectador, pois a
emoção que você sente assistindo às imagens é verdadeira, o que automatica-
mente faz a informação também ser verdadeira. Cria-se uma confusão entre
emoção e realidade, pois a fascinação emocional impede a análise racional e
realista do fato, até porque o telespectador/receptor, que não possui pleno
controle de seu próprio campo de visão, que está estruturado pelos meios —
escolha das cenas, reportagem, edição etc. — , não pode olhar em uma ou
outra direção e enfocar diferentes indivíduos ou objetos. Ante a hipersensibi-
lização, a sociedade, que é uma sociedade insegura e por isso mais suscetível
emocionalmente, não necessita mais sofrer o mal, pois ela o vê. O problema
da violência passa a ser comunicacional e não mais experimental.
Ressalte-se, ainda, que, como informar é um negócio, a concorrência
entre os meios gera o efeito patológico da “informação circular” (ou bola de
neve), homogeneizando a informação jornalística, pois, para saber o que se vai
noticiar, é preciso saber o que os outros estão noticiando, para não ficar atrás.
Assim, um mesmo assunto passa a ser veiculado por quase todos os meios, que
não querem perder seus clientes. Os meios, portanto, autoestimulam-se, ex-
citam-se uns aos outros. Veja-se, como exemplo, o Caso Monica Lewinsky,
que foi noticiado por um longo período por todos os meios de comunicação
do globo terrestre.
Portanto, se a televisão hoje emite uma informação e a imprensa escrita e
o rádio a retomam, o que acontece por causa da informação circular, já se tem
o suficiente para tê-la como verdadeira. O fato é verdadeiro simplesmente
porque os outros meios o repetem, confirmando-o. Ademais, que outras formas
11
Veja-se, como exemplo, o Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão, que se encontra no ar há 20 (vinte) anos.
12
Outro exemplo é o “belo” e “harmonioso” casal que apresenta o Jornal Nacional, bem como o incisivo Bóris
Casoy no Jornal da Rede Record.
13
Como exemplo, também no Jornal Nacional, o intelectual Arnaldo Jabor.
IV – O Direito Penal
Direito Penal, que é o direito por excelência. É ele que vai resolver todos os
problemas sociais envolvidos com a insegurança coletiva, criando-se, assim,
uma falsa ilusão de eficácia do sistema penal. Sem qualquer dúvida, ante esses
fatos, ocorre a expansão desse sistema como forma de solução dos conflitos
sociais geradores de risco e insegurança — sociedade do risco — e tal expan-
são causa efeitos patológicos no Direito Penal.
Dentre os vários efeitos patológicos, encontra-se a funcionalização do
sistema penal. O Direito Penal e todo o seu instrumental repressor passam
a ser utilizados para a consecução de fins políticos, que acabam se tornando
um dos fins centrais do mesmo, justificando-se na opinião pública e na sua
demanda por segurança, provocada pelos meios de comunicação. Essa fun-
cionalização geralmente opera mediante a eliminação e redução das tradicio-
nais garantias materiais e processuais do acusado, já que elas podem pertur-
bar os fins políticos almejados, bem como, entre outras, no abuso da cons-
trução de tipos penais como crimes de perigo abstrato, aumento no sistema
de interesses preventivos, utilização de legislação simbólica, antecipação de
momentos consumativos clássicos, penalização de condutas irrelevantes,
alargamento e agravamento das penas, maior punibilidade para o desvalor
da conduta em detrimento do desvalor do resultado etc. Todas essas atitu-
des levam a que o Direito Penal passe a ser utilizado pelo Estado não como
última ratio, mas, sim, como prima ratio, desvirtuando a sua real finalidade
e aplicabilidade.
Por sua vez, além das questões acima mencionadas, a funcionalização
ocorre por meio da utilização da função simbólica e da função promocional.14
A função simbólica é utilizada pelo legislador como um efeito mera-
mente psicológico sobre a sociedade, não tendo lugar na realidade exterior,
pois a opinião pública tem a falsa impressão tranqüilizadora de um legisla-
dor atento aos problemas e decidido, satisfazendo a todos, e de que o pro-
blema está sob controle. Da mesma forma, o legislador tem a impressão de
ter, realmente, feito algo útil. Assim, ele cria novos tipos penais e incremen-
ta desnecessariamente as penalidades existentes, derrogando, ainda, garan-
tias materiais e processuais dos acusados. Utiliza o Direito Penal para produ-
zir impacto psicossocial, e não para proteger os bens jurídicos fundamentais
14
V. GARCIA-PABLOS, Antonio. Derecho Penal – Introduccion, Madrid: Universidad Complutense de Madrid, 1995;
FRANCO, Alberto Silva. Crimes Hediondos, São Paulo: Ed. RT, 2000.
V - Bibliografia
- ALSINA, Miquel Rodrigo. “La representación de la violencia en los medios de
comunicación”, in Revista Catalana de Seguretat Pública, Barcelona, junio/
1999, nº 4, pp. 27-34.
- BARATA, Francesc. “De Ripper al pederasta: un recorrido por las noticias, sus
rotinas y los pánicos morales”, in Revista Catalana de Seguretat Pública, Barcelo-
na, junio/1999, nº 4, pp. 45-57.
- BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro, Rio de Janeiro:
Editora Revan, 1996.
- BAUMAN, Zygmunt. “Modernidad y ambivalencia”, in Las Consecuencias
Perversas de la Modernidad, trad. Celso Sánchez Capdequí, Barcelona:
Antrophos, 1996.
- BECK, Ulrich. La Sociedad del Riesgo, Barcelona: Paidós, 1998.
- BECK, Ulrich. “Teoría de la sociedad del riesgo”, in Las Consecuencias Perversas
de la Modernidad, trad. Celso Sánchez Capdequí, Barcelona: Antrophos,
1996.
- BERGER, Peter L. A Construção Social da Realidade, Petrópolis: Editora
Vozes, 2000.
- BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televisão, Rio de Janeiro: Jorge Ahar Editor,
1997.
- CARVALHO, Olavo. O Imbecil Coletivo, Rio de Janeiro: Ed. da Faculdade
da Cidade, 1997.
- CERVINI, Raul. Os Processos de Descriminalização, São Paulo: Ed. RT, 1995.
- CHOMSKY, Noam. Ilusiones Necesarias, Madrid: Libertarias/Prodhufi, 1992.
- ————. “El control de los medios de comunicación”, in Cómo nos vendem
la moto, Barcelona: Icaria Editorial, 1999.
- CONTI, Mário Sérgio. Notícias do Planalto, São Paulo: Companhia das
Letras, 1999.
- FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir, Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1986.
- FRANCO, Alberto Silva. Crimes Hediondos, São Paulo: Ed. RT, 2000.
- GARAPON, Antoine. Juez y Democracia, Madrid: Flor del Viento Ediciones,
1997.
- GARCIA-PABLOS, Antonio. Derecho Penal – Introduccion, Madrid: Uni-
versidad Complutense de Madrid, 1995.
- GIDDENS, Anthony. “ Modernidad y autoidentidad”, in Las Consecuencias
Perversas de la Modernidad, trad. Celso Sánchez Capdequí, Barcelona:
Antrophos, 1996.
- HASSEMER, Winfried. Crítica al Derecho Penal de Hoy, trad. Patricia S.
Ziffer, Buenos Aires: Ad-Hoc, 1998.
Responsabilidade civil
do advogado
C
onsta que o primeiro advogado a obter licença para atuar na vila de
São Paulo foi Antônio Camacho, empossado por provisão assinada
por d. Francisco de Souza, de 22 de fevereiro de 1651, pela qual
1
MARTINS FERREIRA, Waldemar. História do Direito Brasileiro, p. 307.
2
MENDONÇA, Carvalho de (M.I.). Doutrina e Prática das Obrigações, p. 486.
3
LIMA, Herotides da Silva. O Ministério da Advocacia, p. 108.
4
Jorge Mosset ITURRASPE cita, como exemplo de obrigação de resultado que o advogado assume, a situação em
que “se obliga a redactar un contrato de sociedade anônima” (Responsabilidad por Daños, p. 157).
5
BENUCCI, Eduardo Bonasi. La Responsabilità Civile, p. 218
6
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil, p. 383.
7
MONTEIRO, João. Programa do Curso de Processo Civil, I/289, § 60.
8
PINTO, José Maria Frederico de Souza. Primeiras Linhas sobre o Processo Civil Brasileiro, I/54, § 115.
9
PINTO, José Maria Frederico de Souza. Op. cit., p. 50, § 50.
10
MAUÁ, Visconde. Autobiografia – Exposição aos Credores, p. 264, nota 252.
11
RAMALHO, Joaquim Ignácio. Practica Civil e Commercial, p. 16.
12
RAMALHO, Joaquim Ignácio. Praxe Brasileira, p. 75.
13
MARQUES, José Frederico. O Direito Processual em São Paulo, p. 57.
14
Os advogados brasileiros não se deixaram influenciar por um começo de vida profissional nada gratificante e,
cientes de que o primeiro advogado a “pisar em nossa terra” viera cumprir pena de degredo (conforme informa
Herotides da Silva Lima, op. cit., p. 79), conseguiram reverter a péssima primeira formação, constituindo, com
trabalho digno, uma classe profissional que conquistou respeito nacional. O que constava das Ordenações — e
que reproduzo por curiosidade — permaneceu em um passado que não nos desonra: “E se algum advogado ou
Procurador tiver recebido de alguma parte dinheiro, ou outra coisa para advogar ou procurar sem feito e
demanda, ou depois que for feito Procurador, e o aceitou, posto que ainda tenha dinheiro recebido, tendo já
sabido os segredos da causa, depois advogar, procurar ou aconselhar, público ou secreto de outra parte; e bem
assim o que receber cousa alguma da parte, contra quem procurar, além de ter havido por falso, será degredado
para sempre para o Brasil, e nunca mais usará do ofício – Fontes: Ordenações Manuelinas, do Livro 5º, título 55,
e Extravagante n. 9, titulo 22, 4ª parte” (Ordenações Filipinas – texto preparado por Fernando H. Mendes de
Almeida, p. 230).
15
WALD, Arnoldo. “A advocacia de empresa”, in: Estudos e pareceres de Direito Comercial, p. 390
16
MENDES JÚNIOR, João. “As formas da Praxe Forense”, in: Revista da Faculdade de Direito de São Paulo, XII/53.
17
FRAGOSO, Ruy Celso Reali. A Advocacia à Luz da Constituição Federal de 1988, apud Constituição Federal de
1988, p. 507.
18
CHAVES, Antonio. Tratado de Direito Civil, vol. III, p. 325.
19
LIMA, Herotides da Silva. O Ministério da Advocacia, op. cit., p. 115.
20
Pietro COGLIOLO afirmou que o “trabalho da jurisprudência se torna em máxima parte lógico“ (Philosophia do
Direito Privado, p. 166).
21
PIERO CALAMANDREI afirmou que “las máximas de jurisprudencia adquirien de hecho autoridad similar a las de
las leyes“ e, finalizou: “máximas consolidadas; nadie, ni abogados ni jueces, se atreven ya a apartase de ellas“
(Estudios Sobre el Proceso Civil, p. 232).
22
REALE, Miguel. “Jurisprudência e doutrina”, in: Questões de Direito, p. 21.
23
LIMA, Alvino. “A jurisprudência – fonte do direito”, in: Estudos de Direito Civil, p. 63.
24
MONTEIRO, W. de Barros. “Da jurisprudência”, in: Revista Forense, 202, p. 374.
25
MORAIS, Antão de. “A má redação de nossas leis – juristas e jurisprudência“, RT 762/781.
26
COUTURE, Eduardo. Os Mandamentos do Advogado, p. 21.
27
MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor, p. 470.
entanto, que os tribunais não aprovam essa limitação (o TJ-SP, por acórdãos
publicados na RT 723/346 e 726/248 e, em edição especial, “Seleções Jurídicas
ADV”, da COAD, setembro-outubro de 2000, p. 29 e o STJ, por intermédio
de acórdãos publicados na Revista do Superior Tribunal de Justiça 121/289, 148/
443), no Boletim da AASP, nº 2257, p. 2.183 e na Revista Síntese de Direito Civil
e Processual Civil nº 16, p. 79, verbete nº 1670. Portanto, a cláusula em
referência é tida como abusiva, na forma do art. 51, IV, da Lei nº 8.078/90,
conforme anotou o ministro Ruy Rosado de Aguiar, referindo-se a julgado do
TJ-SP, de 1994, no excelente ensaio que reproduz palestra realizada em Buenos
Aires, no IV Congresso Internacional sobre Danos.28
Vamos supor que os parentes do doente internado na UTI (sem recursos
próprios para suportar as despesas da internação), necessitando de estímulo
para agirem em juízo diante da recusa da seguradora em cobrir as despesas
depois de vencido o prazo estabelecido contratualmente, procuram um advo-
gado para as providências legais que a urgência do caso reclama. Pensem na
hipótese de o advogado, por não conhecer a proteção legal outorgada pela
jurisprudência, garantir aos parentes que o contrato é lei entre as partes (pacta
sunt servanda) e que a regra escrita (de quinze dias) deve ser respeitada, inclu-
sive pelo Poder Judiciário, arrematando que nenhuma providência é cabível
em favor da recuperação do doente. Os parentes saem, desolados, do consul-
tório do advogado e, por falta de recursos, autorizam a interrupção do trata-
mento intensivo. O doente morre e, no enterro dele, uma pessoa bem infor-
mada afirma que o morto teria direito de cobertura na UTI, por intermédio
de medidas cautelar e ou provimentos emergenciais. Os parentes, indigna-
dos, cogitam de exigir do advogado a indenização, associando a falha do asses-
soramento jurídico ao evento morte.
Essa é uma causa de prognóstico difícil. A questão do nexo causal é com-
plexa e controvertida, envolvendo uma complicada prova da causa adequada
ou idônea do dano. Porém, como, em termos de responsabilidade civil, a
causalidade adequada também se forma devido a “una omisión de la acción que
el obrigado a indemnizar estaba juridicamente obligado a realizar”,29 é forçoso
admitir que o dever jurídico do advogado se vincula ao patrimônio da vítima
de forma mais ostensiva e, com isso, o rigor da análise do elemento “culpa”
tende a se arrefecer, para que a justiça da reparação de danos encontre um
28
AGUIAR JR, Ruy Rosado de. “Responsabilidade civil do médico”, in: Direito & Medicina, p. 167.
29
KARL LARENZ. Derecho de Obrigaciones, I/203.
30
CUNHA GONÇALVES afirma que o conselho que o advogado emite, de boa-fé, exprimindo sua convicção, não
gera responsabilidade do advogado pelo mau resultado e argumenta: “O conselho não é necessariamente
determinante da resolução do cliente, que, em casos melindrosos, deve ter a cautela de ouvir mais algumas
opiniões, e, em todo o caso, tem a liberdade de seguir, ou não, o conselho que lhe foi dado” (Tratado de Direito
Civil, São Paulo: Max Limonad, vol. XII, tomo II, p. 977). Forçoso convir que a situação que simulei não configura
“simples conselho”; ademais, pela urgência, não era possível exigir que os parentes consultassem outro advogado.
31
ALVINO LIMA. “Da culpa ao risco”, RT, 1938, p. 227.
32
Para que a culpa contratual proporcione dever de indenizar necessita de ser grave (ou lata), definida como
“quella che deriva dall´omissione di quela diligenza che neppur l´uomo ordinariamente trascurato dimenticherebbe
di osservare” (CHIRONI, Elementi di Diritto Civile, p. 100).
33
Para se ter certeza, cumpre conferir ementa de acórdão do TJ-DF (Ap. 53.162/99), des. JOÃO MARIOSA, in:
Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil, nº 5, p. 113, verbete 506): “Age com negligência o profissional
que, em sede de reclamação trabalhista, apresenta defesa trocada, não se exime do erro e nem comparece à
audiência de conciliação, ensejando a revelia e a conseqüente condenação da parte que o contratou“.
34
MIRANDA, Pontes de. Manual do Código Civil Brasileiro, vol. XVI, 3ª parte, tomo I, p. 100.
35
MELO FILHO, Álvaro. Juspedagogia: Ensinar direito o direito - OAB Ensino Jurídico, p. 38.
36
REQUIÃO, Rubens. “A advocacia e o mercado de trabalho”, apud Aspectos modernos de Direito Comercial,
Saraiva, 2º volume, p. 151.
37
No jornal da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB-Informa, de 6-10-2002, nº 26, p. 9), constou que o
STJ, por liminar deferida pelo digno ministro Franciulli Netto, no mandado de segurança impetrado pelo
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, suspendeu os efeitos do parecer 146/2002, do Ministério
da Educação, que possibilitava a redução do currículo do curso de Direito, de cinco para três anos.
38
ANDRADE, Fábio Siebeneichler de. Responsabilidade Civil do Advogado, RT 697/31.
39
No caso de médico que presta serviço de cirurgia plástica estética ou embelezadora, a obrigação, ao contrário,
passa a ter a natureza jurídica de resultado, dada a sua finalidade, conforme afirmam SILVIO RODRIGUES (Direito
Civil, p. 252), ORLANDO GOMES (Questões de Direito Civil, p. 452) , ANTÔNIO CHAVES (apud Uma Vida Dedicada
ao Direito, p. 157) e ROMANO CRISTIANO (RT 554/35). O STJ afirma que o médico que realiza cirurgia plástica
embelezadora assume obrigação de resultado (REsp. 81.101 PR, min. Waldemar Zveiter, DJU de 31.05.1999, in:
RSTJ 119/290 e REsp. 326.014 RJ, DJU de 29-10.2001, min. Ruy Rosado de Aguiar, in: Informativo de jurispru-
dência ADV, da COAD, nº 03/2002, p. 43, verbete nº 100222).
40
LÔBO, Paulo Luiz Netto. “Responsabilidade civil do advogado”, in: Revista do Direito do Consumidor, nº 34, p. 133.
41
A digna advogada, dra. Sandra Aparecida Sá dos SANTOS, afirma que “a finalidade da inversão é de facilitar
a defesa dos direitos do consumidor em juízo” (A Inversão do Ônus da Prova, p. 69).
civil consiga atingir a sua função de revelar ao juiz a realidade fática (prova
justa) que permitirá a expedição de sentença qualitativa.
O juiz, no entanto, por ser um técnico em assunto jurídico, para julgar
uma ação em que se discute a responsabilidade civil dos advogados, dispensa
o serviço de auxiliares (peritos), para que possa compreender, analisar e julgar
os imbróglios forenses que caracterizam esses processos. Um juiz prudente não
se impressiona com o velho costume que culpa os advogados pelas injustiças do
processo e, para bem formar sua convicção, deverá mentalizar a sábia advertên-
cia que Corrêa Telles fez ao § 7º da famosa Lei da Boa Razão (de 18 de agosto
de 1769), pela qual se buscou censurar as defesas deduzidas contra as Orde-
nações do Reino, quando frívolas e sofisticas: “para o advogado desempenhar bem
o seu dever, deve considerar-se no lugar do cliente, e possuir-se da mesma aflição que
o atribula, em modo que pareça advogar a sua própria causa”.42
O sistema da inversão do ônus da prova não é, pois, o maior aliado do
juiz encarregado de julgar a ação em que se pede ressarcimento de danos por
erro do advogado.
O novo Código Civil (art. 187) situa o abuso de direito como ato ilícito.
Suportando o advogado uma denúncia leviana, precipitada, temerária, do
cliente insatisfeito e, desde que esse expediente provoque uma mudança de
estado (para pior) no patrimônio do profissional, poderá ele reagir e exigir repa-
ração desses danos. E isso tanto se verifica em ações judiciais, como em
denúncias que são apresentadas aos Conselhos de Ética da OAB, porque, tanto
uma como a outra situação são potencialmente aptas a prejudicar a reputação e
a personalidade íntima do advogado que se prejudica com esse tipo de ilicitude.
Importante analisar que o abuso de direito não se exaure nos procedi-
mentos judiciais (lides temerárias). A doutrina refere-se ao abuso malicioso
do processo como sugestão de um tipo,43 sem exclusão do procedimento
42
CORRÊA TELLES, José Homem. “Comentário Crítico à Lei da Boa Razão”, in: Revista de Direito Civil, 3/355.
43
LIMA, Alvino. “Abuso de Direito”, in: Revista Forense, 166/47.
44
MIRANDA, Pontes de. Fontes e Evolução do Direito Civil Brasileiro, p. 163.
45
CENEVIVA, Walter. Segredos Profissionais, p. 60.
46
LESSONA, Carlos. Teoria General de la Prueba en Derecho Civil, IV/43.
47
Foi exatamente esse o princípio que conduziu o egrégio Primeiro Tribunal de Alçada Civil, quando do julgamento
da Ap. Cível 680.655-1, relator o eminente magistrado José Araldo da Costa Telles (ementa publicada no
Boletim AASP 2285, mês outubro de 2002, p. 613), a arbitrar, por perda da chance de julgamento de reclamação
trabalhista devido ao fato de a advogada não ingressar com o pedido no prazo de dois anos (prescrição), a
indenização em 50 (cinqüenta) salários mínimos. Consta do voto do relator que o fato de não existir sentença
favorável da Justiça Trabalhista, prefixando o quantum devido ao trabalhador, não poderia obstaculizar a
definição do quantum debeatur, concluindo que tal dimensão financeira “revela-se suficiente para reparar o mal
experimentado pelo autor e concitar a ré a atuar com mais diligência em sua atividade profissional“.
48
Peço vênia para transcrever uma parte do comunicado que o jurista português, João de Matos Antunes VARELA,
fez à Assembléia Nacional de seu país, da prudência dos juízes na aplicação do novo Código Civil, por ser de
inteira pertinência para o cenário jurídico brasileiro (Do projecto ao Código Civil, Imprensa Nacional de Lisboa,
1967, p. 36): “Por outro lado, com todas as virtudes e defeitos inerentes às instituições humanas, a magistratura
portuguesa foi sempre justamente apontada como um corpo de homens prudentes, criteriosos, dotados de bom
senso, ressalvadas as raras exceções que pouco representam no quadro geral da profissão. Se algum reparo
merece pelo uso dos poderes que a lei já agora lhe confere, pode asseverar-se que peca mais por defeito que
por excesso, no desempenho do papel que a ordem jurídica pretende confiar à jurisprudência. Por essa razão,
se os meus colegas do foro me não levassem a mal, eu diria que os critérios flexíveis do novo direito civil fazem
recear mais os excessos da má advocacia que temer os abusos da má-judicatura”.
49
A professora Ada Pellegrini GRINOVER escreveu um ensaio específico sobre essa temática (“Ação rescisória e
divergência de interpretação jurisprudencial em matéria constitucional”, in: Estudos de Direito Processual Civil
em memória de Luiz Machado Guimarães, Forense, 1997) quando, depois de reafirmar a excepcionalidade da
desconstituição da coisa julgada prevista no art. 5º, XXXVI, da CF, em benefício da própria coisa julgada, concluiu
que, mesmo na hipótese de reviravolta da jurisprudência, não será permitido rescindir a sentença motivada em
interpretação vencida, salvo se o “Supremo declarar a inconstitucionalidade da lei, com efeito erga omnes e ex
tunc” (p. 16). Fica bem definida a posição da ilustre professora, que, aliás, é coincidente com a idéia dominante
sobre as dificuldades legais para rescindir sentença em que se adotou fundamentação ultrapassada; esse
estado de quase absoluta inadmissibilidade da rescisória funciona como uma espécie de cláusula de exoneração
de responsabilidade do advogado que deixa o direito de seu cliente decair.
50
O volver da jurisprudência, nessa hipótese, não possui o mesmo grau informativo da culpa que se caracteriza
pela inobservância de uma regra processual ou de imperativo prático, de observância obrigatória porque os
julgados não se cansam de orientar para que seja praticada de uma determinada maneira, sob pena de prejuízo
do litigante. A escolha da ação pelo advogado envolve uma atividade soberana e que se deve respeitar como
estímulo da inteligência que alimenta a constante valorização da ordem jurídica. O advogado deve ser livre para
agir, porque é dessa liberdade que nascem as idéias revolucionárias que aperfeiçoam a justiça. O insuperável
Jorge GIORGI examinou esse aspecto do erro profissional e afirmou: “el cual, no solamente no responde de la
pérdida de la causa, porque litis habent sua sidera, sino que por constantísima jurisprudencia no responde
tampoco de su consejo, aun cuando la perspicácia más sabia de nuevos consultores haya demonstrado que
seguiendo otros derroteros, habria podido conseguirse la victoria” (Teoria de las Obrigaciones, V;240).
51
O acerto desse julgado é indiscutível. O insigne Arruda ALVIM escreveu “A argüição de relevância no recurso
extraordinário” (RT, 1988, p. 15), obra em que analisou a “flexibilidade” do Direito, uma necessidade para
preenchimento dos conceitos vagos, quando considera que o interessado em justiça, diante da discricionarieda-
de delegada aos juízes na interpretação da norma, vê-se obrigado a “confiar”, em larga medida, no aplicador
da lei. Devo dizer, em função dessa certeza jurídica, não ser o advogado culpado quando o processo que
patrocina é julgado por um tribunal avesso à versão jurídica que escolheu por parecer como a mais ajustada à
hipótese do seu cliente.
52
STOCO, Rui. “Responsabilidade civil do advogado à luz das recentes alterações legislativas”, RT 797/66.
53
CAVALIERI, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil, p. 287.
54
DIAS, Aguiar. Da Responsabilidade Civil , I/333.
55
LIPPMANN, Ernesto. Defenda Direito seus Direitos – Como Escolher um Bom Advogado, p. 179.
clientes que têm pressa em receber dinheiro (em geral, por estarem em
péssima situação financeira). Já houve casos em que pedi ao cliente que
escrevesse: ‘Eu, fulano de tal, autorizo meu advogado a fazer acordo na
ação que movo contra sicrano, pelo valor de R$ (número e por extenso)
mesmo tendo sido desaconselhado por meu advogado’”.
56
Na sistemática dos recursos vigora o princípio da exigência da praticabilidade (grifei pela importância da
expressão), indispensável para o bom funcionamento ou para o dinamismo do processo, pelo que “é mister que
o público saiba como se desenvolve, precisamente, o processo, ao que também se têm de adstringir nos
diferentes graus de jurisdição, os juízes; donde outro princípio, que o da tendência à conservação da técnica
processual, intimamente ligado ao formalismo do processo” (MIRANDA, Pontes de. Embargos, Prejulgado e
Revista no Direito Processual Civil, p. 74).
57
Não se admite, inclusive, a juntada posterior do documento que faltou para regularizar o instrumental, conforme
anotado pela ministra Nancy Andrighi (Agrav. 436.345-SP, DJU de 01.07.2001, in: Revista Nacional de Direito
e Jurisprudência, vol. 33/124): “A tardia juntada de peça de traslado obrigatório não supre a sua exigência,
porque operada a preclusão consumativa com o ato da interposição do recurso”.
58
RODRIGUES, Luiz, e WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Breves Comentários à 2ª Fase da Reforma do Código de
Processo Civil, p. 114.
59
DINAMARCO, Cândido Rangel. A Reforma do Código de Processo Civil, p. 140.
60
A preclusão está prevista no art. 473, do CPC: “É defeso à parte discutir, no curso do processo, as questões já
decididas a cujo respeito se operou a preclusão”. Para CHIOVENDA, a preclusão “no curso do processo, tem por
fim tornar possível o ordenado desenvolvimento do processo com a progressiva e definitiva eliminação dos
obstáculos“ (Instituições de Direito Processual Civil, tradução de J. Guimarães Menegale, Livraria Acadêmica/
Saraiva, 1942, I/525).
61
LOPES, João Batista. Tutela Antecipada, p. 80.
62
O ilustre jurista mineiro, Humberto THEODORO JÚNIOR, explica que o princípio da fungibilidade (previsto no
artigo 810 do CPC de 1939) permite, ainda no atual sistema, que o tribunal aproveite o recurso inadequado
interposto e conheça da matéria posta, desde que exista uma dúvida objetiva e fundada sobre o tipo de recurso
a ser manejado; que não tenha a parte incorrido em erro grosseiro e, por fim, que o recurso errado atenda, pelo
menos, o pressuposto “tempestividade”, isto é, tenha sido protocolizado no prazo do recurso correto (“Teoria
geral dos recursos civis”, in: O Processo Civil Brasileiro no Limiar do Novo Século, Forense, 1999, p. 168).
63
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios Fundamentais – Teoria Geral dos Recursos, p. 273 e SALLES, José Carlos de
Moraes. Recurso de Agravo, p. 202.
64
Cruz e TUCCI, José Rogério. Lineamentos da Nova Reforma do CPC, p. 131.
65
LAUDO DE CAMARGO. “Mandato – advogado substabelecido cobrando honorários do mandante. Notas de um
Juiz”, p. 185.
4. Dano moral
O advogado responderá por danos morais que o cliente afirma ter supor-
tado pelo não-cumprimento de deveres de diligência? A indenização por dano
moral, como se sabe, é uma realidade (artigos 5º, V e X, da CF e 186 do novo
Código Civil) digna de intensa reflexão no âmbito da prestação de serviços em
advocacia.
Antes de responder a essa indagação, é preciso escrever que a inexecu-
ção de uma obrigação ou falha contratual poderá resultar em prejuízos
materiais e morais. O que particulariza o prejuízo não é a relação de direito
subjetivo que se rompeu, mas, sim, o efeito da lesão. O próprio STJ, pela
66
COSTA JR, Paulo José. A Missão do Advogado, p.19.
67
O Juiz e a Emoção, p. 127.
68
Portanto, dependendo da repercussão da falha contratual, poderá ocorrer dano psicológico a ser composto,
independentemente de se obrigar, também, ao cumprimento compulsório da obrigação. A Terceira Câmara do
Tribunal de Justiça de São Paulo aplicou esses enunciados em dois julgamentos que relatei: o primeiro (Ap.
085.852-4/4, in RT 770/239) visou compensar a lesão de personalidade do comprador que sofreu com irrespon-
sabilidade contratual de uma construtora de apartamentos, e o outro, de aspecto social mais significativo,
censurou abominável comportamento preconceituoso de uma seguradora, discriminando uma senhora de cor
negra, no momento de liberar a indenização do seguro (Ap. 72.692-4, in JTJ-Lex 218/105).
69
ZULIANI, Ênio Santarelli. “A era da jurisprudência“, apud, “Grandes temas da atualidade – Dano moral“, p. 205.
70
Nunca é demasiado recordar a lição do insuperável AGUIAR DIAS sobre o conceito de dano moral (Responsabi-
lidade Civil em Debate, p. 161): “Dano moral é a reação psíquica, é a dor que o homem experimenta em face
da lesão, é o desdobramento imaterial da lesão, a sua repercussão sobre a honra, sobre o sentimento”.
71
AMARAL, Francisco. “A prova genética e os direitos humanos”, in: Grandes Temas da Atualidade, p. 106.
72
FONSECA, Arnoldo Medeiros da. Investigação de Paternidade, p. 345.
73
MADALENO, Rolf. “O dano moral na investigação de paternidade”, in: Direito de Família, p. 149.
74
O cabimento do pedido de indenização pelo “não reconhecimento voluntário da paternidade” foi, igualmente,
sustentando pelo saudoso Carlos Alberto BITTAR (Responsabilidade Civil – Teoria & Prática, Forense Universitá-
ria, Rio de Janeiro, 2001, p. 24).
75
Difamação, pelo conceito do direito penal e que serve a boa doutrina, “consiste na imputação a alguém de fato
não criminoso, mas lesivo à sua reputação (bom nome), mesmo que tal fato seja verdadeiro” (AMARANTE,
Aparecida. Responsabilidade Civil por Dano à Honra, p. 107). Importante consignar que o art. 953, do novo
Código Civil, incluiu a difamação (o revogado 1547 era reservado à indenização por injúria e calúnia), permitindo
arbitramento por equidade (parágrafo único).
76
GONÇALVES, Cunha. Tratado de Direito Civil, XII, tomo II, p. 976.
77
Nunca é demasiado repetir que os casos de indenização à mulher agravada em sua honra não são limitados
às hipóteses de defloramento ou rompimento de noivado. Em casos de calúnia, injúria etc., é cabível,
também, a indenização por dano moral à mulher (AGOSTINHO ALVIM, Da Inexecução das Obrigações e suas
Conseqüências, p. 203).
78
O arguto advogado fluminense, dr. Sérgio PORTO, não deixou de observar, ao redigir artigo doutrinário “Afronta
à família“ (publicado em “Novo Código Civil”, edição COAD, p. 26; Revista Síntese de Direito Civil e Processual
Civil, nº 16, p. 135 e Revista Nacional de Direito e Jurisprudência, 33, p. 63) que “não venha com o argumento
de correrem os feitos em “segredo de justiça”, pois isso não é verdade. As vísceras do amor perdido são lançadas
aos olhares dos curiosos, e, quando as partes em litígio têm notoriedade, cresce ainda mais o estrépito judicial“.
79
O jurista Miguel REALE distingue bem as duas espécies de dano moral, ao afirmar que o “o dano moral objetivo
(aquele que atinge a dimensão moral da pessoa no meio social em que vive, envolvendo o de sua imagem) e
o dano moral subjetivo que se correlaciona com o mal sofrido pela pessoa em sua subjetividade, em sua
intimidade psíquica, sujeita a dor ou sofrimentos intransferíveis porque ligados a valores de seu ser subjetivo,
que o ato ilícito veio penosamente subverter, exigindo inequívoca reparação” (“O dano moral no direito
brasileiro”, in: Temas de Direito Positivo, RT, 1992, p. 23).
80
DINIZ, Maria Helena. “A responsabilidade civil por dano moral“, in: Revista Literária de Direito, nº 9, p. 8.
81
ESPÍNOLA, Eduardo. Questões Jurídicas e Pareceres, p. 250.
82
GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. cit., p. 385.
83
VASCONCELOS, Fernando Antonio de. “A responsabilidade do advogado à luz do Código de Defesa do
Consumidor”, in: Revista de Direito do Consumidor, RT 30/96.
84
ANGÉLICO, Américo Izidoro. Sociedade de Advogados. RT 585/166.
85
GOMES, Orlando. Questões de Direito Civil, p. 395.
86
HENTZ, Luiz Antônio Soares. Direito de Empresa no Código Civil de 2002, p. 167.
87
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, vol. 2, p. 27.
88
SILVA, Walter Guerra. “Sociedade de advogados: conceito, característica e livre exercício no Mercosul”, in:
Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil,vol. 18, p. 48.
razão social, “não são os sócios individualmente que praticam o ato incriminado,
e, sim, a totalidade deles, integrante da sociedade”.89 Daí o acerto do reconheci-
mento da solidariedade que a Lei nº 8.906/94, art. 17, estabeleceu e que se
confirma no novo Código Civil (art. 265).
6. Execução impossível
89
SODRÉ, Ruy de Azevedo. Sociedade de Advogados, RT, 1975, p. 34.
90
SILVA, Clóvis V. do Couto e. A Obrigação Como Processo, p. 101.
91
TRABUCCHI, Alberto. Instituciones de Derecho Civil. II/40.
92
GRECO, Leonardo. “A crise no processo de execução”, in: Temas Atuais de Direito Processual Civil, p. 216.
93
LIEBMAN, Enrico Tullio. Processo de Execução, p. 33.
94
REIS, José Alberto dos. Processo de Execução, I/313.
95
DINAMARCO, Candido Rangel. Op. cit., p. 148.
96
Não obstante abalizados comentários de que o registro seria a última etapa do aperfeiçoamento da penhora
(devendo ser providenciado de ofício pelo escrivão do feito), essa doutrina não encontrou receptividade. Agora,
na forma da nova redação do art. 659, § 4º, do CPC (alterado por força da Lei 10.044, de 7.5.2002), o credor
poderá obter o registro da penhora exibindo, no serviço predial, “certidão de inteiro teor” do auto ou termo de
penhora, o que dispensa o mandado judicial que antes se exigia para inscrever a penhora.
97
No mesmo sentido: Resp. 131.587-RJ, DJU de 07.08.2000, min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, in RT 783/249;
Resp. 243.497 MS, DJU de 26.06.2001, min. Aldir Passarinho Júnior, in RT 795/172; Resp. 234.148 SP, DJU de
27.05.2002, min. Aldir Passarinho Júnior, in Revista Nacional de Direito e Jurisprudência, vol. 31, p. 106; REsp.
131.871 MG, DJU de 17.04.2000, min. Nilson Naves, in RSTJ 138/292 e REsp. 112.024 SP, DJU de 01.07.2002,
min. Aldir Passarinho Júnior, in Revista Nacional de Direito e Jurisprudência, vol. 33, p. 101.
98
CARVALHO, Ernesto Antunes de. “Reflexões sobre a configuração da fraude de execução segundo a atual
jurisprudência do STJ”, in: Processo de Execução, p. 335.
99
CARVALHO Neto. Advogados, p. 94.
100
GARÇON, Maurice. O Advogado e a Moral, p.149.
8. Imunidade judiciária
101
COMPARATO, Fábio Konder. “A função do advogado na administração da justiça”, RT 694/47.
102
PIMENTA BUENO. Direito Público Brasileiro, p. 118.
103
SIDNEY SANCHES. “O Advogado e o Poder Judiciário”, RT 648/249.
104
REALE, Miguel. “Cultura e linguagem“. Jornal o Estado de S.Paulo, 14.09.2002, A-2.
105
LIPPMAN, Ernesto. “A responsabilidade civil do advogado vista pelos tribunais”, in Informações Jurídicas e
Empresariais ADCOAS, nº 6, p. 172.
106
AMAR, Ayush Morad, e AMAR, Marcelo J. Ayush. Aplicações Médico-Legais do DNA, p. 19.
107
Em sua mais recente obra jurídica, o des. Carlos Roberto GONÇALVES anota que o art. 950, do CC de 2002,
admite a pensão para compensar prejuízo decorrente da inabilitação para o trabalho, quer igual à “importância
do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu, sem prejuízo da reparação de eventual
dano moral” (Principais inovações no Código Civil de 2002, p. 55).
108
CRUET, Jean. A Vida do Direito e a Inutilidade das Leis, p. 22.
109
RIPERT, Georges. A Regra Moral nas Obrigações Civis, p. 365.
depositar as prestações que são essenciais para o sustento dos filhos meno-
res. O próprio STF declarou que a prisão civil “funciona, na verdade, como
meio de forçar o cumprimento da obrigação de garantir a sobrevivência dos
alimentandos” (HC nº 68.724/RJ, ministro Carlos Velloso, in: R.T.J. 175/
950). Essa realidade sofreu uma profunda alteração, no que se refere a
execução de dívidas acumuladas, e advogado que se preze não pode ignorar
a interpretação contemporânea que livra os devedores da prisão pelo não-
pagamento de dívidas pretéritas (assim consideradas as que não se referi-
rem às três últimas).
As prestações que não são exigidas e que se acumulam, por desídia do
credor, perdem, segundo o novo entendimento, o caráter alimentar e se trans-
formam em dívidas de dinheiro. Como os valores não são essenciais para a
subsistência do alimentando, não se justifica prender o devedor que não os
paga, competindo ao credor perseguir a satisfação do crédito na forma con-
vencional, isto é, por intermédio da execução com penhora de bens (art. 732,
do CPC). O acórdão que inspirou essa forma de interpretar é do STF (HC nº
75.180/MG, julgado em 10.06.1997, relator o ministro Moreira Alves), sem-
pre citado na obra que é indispensável aos operadores do direito e da autoria
de advogado exemplar (dr. Theotonio Negrão)110. Logo o STJ aderiu (REsp.
nº 175.003/MG, DJU de 1.8.2000, ministro Waldemar Zveiter, in: RSTJ
138/301): “Nos termos da jurisprudência que veio a firmar-se nesta Corte, em
princípio apenas na execução de dívida alimentar atual, quando necessária à
preservação da sobrevivência do alimentando, se mostra recomendável a comina-
ção de pena de prisão ao devedor. Em outras palavras, a dívida pretérita, sem
capacidade de assegurar no presente a subsistência do alimentando, é insusceptível
de embasar decreto de prisão”.
O TJ-SP não agiu de forma diferente. Em julgado de 05.08.1999, o
desembargador Mohamed Amaro (HC nº 118473.4/8, in: Revista Nacional
de Direito e Jurisprudência, nº 0, p. 219) afirmou que “a prisão civil por dívida,
máxime de natureza alimentar, constitui medida excepcional de coerção do ali-
mentante a fim de que honre a obrigação. Logo, não se trata de pena e, tampouco,
destina-se a punir o alimentante. Custódia que deve restringir ao não-pagamento
das três últimas mensalidades vencidas”. Nesse mesmo sentido, assinei acórdão
(HC nº 082.282-4/0, julgado em 12.05.1998, in: RT 756/227) e o STJ
110
NEGRÃO, Theotonio. Código de Processo Civil e Legislação Processual em Vigor, p. 796.
111
Hoje é indiscutível o não-cabimento da prisão civil do alimentante que não paga dívidas pretéritas. Os tribunais
estão emitindo julgados em série nesse sentido, ora acolhendo pedidos de habeas corpus (consideram
constrangimento ilegal submeter o alimentante a uma prisão por dívidas que perderam o caráter alimentar), ou
reafirmando legalidade da prisão civil pelo não pagamento de dívidas atuais. Desse teor, recente pronuncia-
mento do STF (HC 81.391-7 SP, min. Sydney Sanches, DJU de 01.03.2002, in RT 801/141) e do STJ (HC 18.885
RJ, DJU de 04.03.2002, ministra Nancy Andrighi, in Revista Brasileira de Direito de Família (Síntese), nº 13, p.
124, verbete n. 1350). Vivemos, pois, o clímax da consagração dessa jurisprudência, a ponto de o STJ, por v.
Acórdão relatado pelo ministro Ruy Rosado de Aguiar, admitir que o juiz, de ofício, proceda a cisão da
execução, permitindo a reserva do art. 733, do CPC, apenas à cobrança das três últimas prestações vencidas
antes da propositura da ação (REsp. 291.367 SP, DJU de 02.04.2001, in RT 791/200).
112
ASSIS, Araken de. Da Execução de Alimentos e Prisão do Devedor, p. 114.
113
GUERRA, Marcelo Lima. Execução Indireta, p. 233.
114
Outra acórdão que relatei foi sintetizado no verbete nº 103467, p. 686 do Informativo ADV, da COAD, nº 43/
2002, AgIn. 236.186-4/9, julgado em 4-6-2002): “Considerando que não existem prestações atuais na execu-
ção de alimentos que o filho maior promove em face do pai — parte do ano de 1999 e do primeiro trimestre
de 2000 —, com um saldo acumulado de quase vinte mil reais, não se justifica proceder ns gotms fo styiho 733,
do CPC — com prisão civil, mas, sim, pelo sistema do art. 732, do CPC”.
115
BORGES DA ROSA, Inocêncio. Questões Essenciais do Direito e Nulidades Processuais, p. 275.
10. Prescrição
116
LOPES, João Batista. “Perspectivas atuais da responsabilidade civil no Direito brasileiro”, RJTJESP 57/20.
12. Bibliografia
117
SOUZA, Mário Guimarães. O Advogado, p. 237.
118
JOSSERAND, Louis. “Evolução da responsabilidade civil”, in: Revista Forense, 86/559.
- REIS, José Alberto dos. Processo de Execução, vol. I, Coimbra Editora. 1982.
- REQUIÃO, Rubens. “A advocacia e o mercado de trabalho”, apud: Aspectos
Modernos de Direito Comercial, São Paulo: Saraiva, vol. II, 1980.
- RIPERT, Georges. A Regra Moral nas Obrigações Civis, tradução de Osório
de Oliveira, São Paulo: Livraria Acadêmica-Saraiva, 1937.
- RODRIGUES, Silvio. Direito Civil – Responsabilidade Civil, vol. 4, Saraiva:
2002.
- ROSA, Inocêncio Borges. Questões Essenciais do Direito e Nulidades Proces-
suais, vol. I, Rio de Janeiro: Borsoi. 1959.
- SANCHES, SYDNEY. “O advogado e o Poder Judiciário”, in: RT 648, outu-
bro de 1989.
- SANTOS, Sandra Aparecida Sá dos. “Inversão do ônus da prova como garantia
constitucional do devido processo legal”, in: RT. 2002.
- SILVA, Clóvis V. do Couto e. A Obrigação como Processo, São Paulo: José
Bushatsky Editor, 1976.
- SILVA, Walter Guerra. “Sociedade de advogados: conceito, característica e livre
exercício no Mercosul”, in: Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil,
Porto Alegre: Síntese, vol. 18, agosto/2002.
- SALLES, José Carlos de Moraes. Recurso de Agravo, São Paulo: Editora RT,
1999.
- SODRÉ, Ruy de Azevedo. Sociedade de Advogados, São Paulo: RT, 1975.
- SOUZA, Mário Guimarães. O Advogado, Recife, Pernambuco, 1935.
- STOCO, Rui. “Responsabilidade civil do advogado à luz das recentes alterações
legislativas”, São Paulo: RT 797/66, março/2002.
- THEODORO JR., Humberto. “Teoria geral dos recursos civis”, in: O Processo
Civil Brasileiro no Limiar do Novo Século, Rio de Janeiro: Forense, 1999.
- TRABUCCHI. Alberto. Instituciones de Derecho Civil, tradução de Luis
Martínes-Calcerrada. Madrid: Editorial Revista de Derecho Privado, 1967.
- TUCCI, José Rogério Cruz e. Lineamentos da Nova Reforma do CPC, 2ª ed.,
São Paulo: Editora RT, 2002.
- VARELA, João de Matos Antunes. Do Projecto ao Código Civil, Lisboa:
Imprensa Nacional, 1967.
- VASCONCELOS, Fernando Antonio de. “A responsabilidade do advogado à
luz do Código de Defesa do Consumidor”, in: Revista de Direito do Consumidor.
São Paulo: RT, 30/96, abril-junho/1999.
- WALD, Arnoldo. “A advocacia de empresa”, in: Estudos e Pareceres de Direito
Comercial, São Paulo: Editora RT, 1979.
- WAMBIER, Luiz Rodrigues e Teresa Arruda Alvim. Breves Comentários à 2ª
Fase da Reforma do Código de Processo Civil, São Paulo: Editora RT, 2002.
- ZULIANI, Ênio Santarelli. “A era da jurisprudência”, apud: Grandes Temas da
Atualidade – Dano Moral, diversos autores. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
Enunciados aprovados
na Jornada de Direito Civil
Parte Geral
15 - Art. 240: as disposições do art. 236 do novo Código Civil também são
aplicáveis à hipótese do art. 240, in fine.
16 - Art. 299: o art. 299 do Código Civil não exclui a possibilidade da assun-
ção cumulativa da dívida quando dois ou mais devedores se tornam res-
ponsáveis pelo débito com a concordância do credor.
17 - Art. 317: a interpretação da expressão “motivos imprevisíveis”, constante
do art. 317 do novo Código Civil, deve abarcar tanto causas de despro-
porção não previsíveis como também causas previsíveis, mas de resulta-
dos imprevisíveis.
18 - Art. 319: a “quitação regular”, referida no art. 319 do novo Código Ci-
vil, engloba a quitação dada por meios eletrônicos ou por quaisquer for-
mas de “comunicação à distância, assim entendida aquela que permite
ajustar negócios jurídicos e praticar atos jurídicos sem a presença corpó-
rea simultânea das partes ou de seus representantes.
19 - Art. 374: a matéria da compensação, no que concerne às dívidas fiscais e
parafiscais de Estados, do Distrito Federal e de Municípios, não é regida
pelo art. 374 do Código Civil.
20 - Art. 406: a taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 é a do art.
161, § 1º, do Código Tributário Nacional, ou seja, 1% (um por cento)
ao mês.
A utilização da SELIC como índice de apuração dos juros legais não é
juridicamente segura, porque impede o prévio conhecimento dos juros;
não é operacional, porque seu uso será inviável sempre que se calcularem
somente juros ou somente correção monetária; é incompatível com a
regra do art. 591 do novo Código Civil, que permite apenas a capitaliza-
ção anual dos juros, e pode ser incompatível com o art. 192, § 3º, da
Constituição Federal, se resultarem juros reais superiores a 12% (doze
por cento) ao ano.
21 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Códi-
go Civil, constitui cláusula geral, a impor a revisão do princípio da rela-
tividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a
tutela externa do crédito.
22 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Códi-
go Civil, constitui cláusula geral, que reforça o princípio da conservação
do contrato, assegurando trocas úteis e justas.
23 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Códi-
go civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua
ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metain-
dividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana.
24 - Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do
novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de
inadimplemento, independentemente de culpa.
25 - Art. 422: o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação, pelo
julgador, do princípio da boa-fé nas fases pré e pós-contratual.
26 - Art. 422: a cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil
impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contra-
to segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comporta-
mento leal dos contratantes.
27 - Art. 422: na interpretação da cláusula geral da boa-fé, deve-se levar em
conta o sistema do Código Civil e as conexões sistemáticas com outros
estatutos normativos e fatores metajurídicos.
28 - Art. 455 (§§ 1º e 2º): o disposto no art. 445, §§ 1º e 2º, do Código
Civil reflete a consagração da doutrina e da jurisprudência quanto à na-
tureza decadencial das ações edilícias.
29 - Art. 456: a interpretação do art. 456 do novo Código Civil permite ao
evicto a denunciação direta de qualquer dos responsáveis pelo vício.
30 - Art. 463: a disposição do parágrafo único do art. 463 do novo Código
Civil deve ser interpretada como fator de eficácia perante terceiros.
31 - Art. 475: as perdas e danos mencionados no art. 475 do novo Código
Civil dependem da imputabilidade da causa da possível resolução.
32 - Art. 534: no contrato estimatório (art. 534), o consignante transfere ao
consignatário, temporariamente, o poder de alienação da coisa consigna-
da com opção de pagamento do preço de estima ou sua restituição ao
final do prazo ajustado.
33 - Art. 557: o novo Código Civil estabeleceu um novo sistema para a revo-
gação da doação por ingratidão, pois o rol legal previsto no art. 557
Responsabilidade Civil
do tempo previsto no Código Civil de 1916 fluirá por inteiro, nos ter-
mos da nova lei (art. 206).
MOÇÃO:
No que tange à responsabilidade civil, o novo Código representa, em
geral, notável avanço, com progressos indiscutíveis, entendendo a Comissão
que não há necessidade de prorrogação da vacatio legis.
Direito da Empresa
76 - Art. 1.197: O possuidor direto tem direito de defender a sua posse contra
o indireto, e este contra aquele (art. 1.197, in fine, do novo Código Civil).
77 - Art. 1.205: A posse das coisas móveis e imóveis também pode ser trans-
mitida pelo constituto possessório.
78 - Art. 1.210: Tendo em vista a não-recepção, pelo novo Código Civil, da
exceptio proprietatis (art. 1.210, § 2º), em caso de ausência de prova sufi-
ciente para embasar decisão liminar ou sentença final ancorada exclusiva-
mente no ius possessionis, deverá o pedido ser deferido e julgado improce-
dente, não obstante eventual alegação e demonstração de direito real sobre
o bem litigioso.
79 - Art. 1.210: A exceptio proprietatis, como defesa oponível às ações posses-
sórias típicas, foi abolida pelo Código Civil de 2002, que estabeleceu a
absoluta separação entre os juízos possessório e petitório.
80 - Art. 1.212: É inadmissível o direcionamento de demanda possessória ou
ressarcitória contra terceiro possuidor de boa-fé, por ser parte passiva
ilegítima, diante do disposto no art. 1.212 do novo Código Civil. Contra
o terceiro de boa-fé cabe tão-somente a propositura de demanda de na-
tureza real.
81 - Art. 1.219: O direito de retenção previsto no art. 1.219 do CC, decor-
rente da realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica às
acessões (construções e plantações) nas mesmas circunstâncias.
82 - Art. 1.228: É constitucional a modalidade aquisitiva de propriedade
97 - Art. 25: no que tange à tutela especial da família, as regras do Código Civil
que se referem apenas ao cônjuge devem ser estendidas à situação jurídica
que envolve o companheirismo, como, por exemplo, na hipótese de no-
meação de curador de bens do ausente (art. 25 do Código Civil).
98 - Art. 1.521, IV: o inc. IV do art. 1.521 do novo Código Civil deve ser
interpretado à luz do Decreto-lei nº 3.200/41 no que se refere à possibi-
lidade de casamento entre colaterais de 3º grau.
99 - Art. 1.565, § 2º: o art. 1.565, § 2º, do Código Civil não é norma desti-
nada apenas às pessoas casadas, mas também aos casais que vivem em
companheirismo, nos termos do art. 226, caput, §§ 3º e 7º, da Consti-
tuição Federal de 1988, e não revogou o disposto na Lei nº 9.263/96.
Coordenação Geral
Des. Antonio Carlos Malheiros
Capa
Escola Paulista da Magistratura
Diagramação
Ameruso Artes Gráficas
Revisão
Onélia Salum Andrade
Formato Fechado
150 x 210 mm
Tipologia
AGaramond, Frutiger
Papel
Capa: Cartão Revestido 250g/m2
Miolo: Offset Branco 90g/m2
Acabamento
Cadernos de 16pp.
costurados e colados - brochura
Tiragem
3.500 exemplares
Impressão
Imprensa Oficial do Estado
Junho de 2003
208