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Pesquisa vinculada ao Trabalho de Conclusão de Curso da Graduação em História pela Universidade Estadual
de Londrina (UEL) defendida em março de 2016, sob orientação do Prof. Dr. Marco Antônio Neves Soares.
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Pós – graduanda de Especialização em Religiões e Religiosidades pela Universidade Estadual de Londrina
(UEL), sob orientação do Prof. Dr. Marco Antônio Neves Soares. E-mail: cris_laine1805@hotmail.com
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Em entrevista para Hilário Franco Junior, ao jornal Estadão, o historiador francês Jacques Le Goff se refere ao
período abordado no livro do historiador holandês Johan Huizinga como um outono ensolarado, pois “[...] é
preciso dizer que o período ao qual o livro se dedica, digamos um longo século XV, talvez também seja um dos
mais mal estudados na Europa, e por isso ainda há novas descobertas e novas interpretações. [...]. Eu creio que
este seja o caso de uma virada histórica que não se parece com nenhum outro, porque se trata de um belo
outono. A tradução francesa antiga era uma tradução estúpida ao se referir ao declínio da Idade Média”
(Estadão. São Paulo, 30 abr. 2010).
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[...] a feitiçaria oferece toda uma explicação dos acontecimentos e dos meios de
agir sobre eles configuram como inteiramente “simbólicos”, isto é, relacionam-se a
influência dos poderes sobrenaturais e ao poder oculto que “feiticeiros” ou
“feiticeiras” possuiriam e usariam contra seu próximo [...]. (SCHMITT, 2002, p.423).
Ademais, é inútil argumentar que todo o efeito das bruxarias é fantástico ou irreal,
pois não poderia ser realizado sem que se recorresse aos poderes do diabo: é
necessário, para tal, que se faça um pacto com ele, pelo qual a bruxa de fato e
verdadeiramente se torna sua serva e a ele se devota – o que não é feito em
estado onírico ou ilusório, mas sim concretamente: a bruxa passa a cooperar com o
diabo e a ele se une. Pois que aí reside toda a finalidade da bruxaria; se os
malefícios são infligidos por mau-olhado, por fórmulas mágicas ou por algum outro
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encantamento, tudo se faz através do diabo, [...] (KRAMER & SPRENGER, 1993,
p.57).
Sob suas diversas denominações, o Diabo é sem duvida um das figuras mais
intrigantes do cristianismo. Os homens dos séculos XIV – XVI são dominados por
sua existência e vivem subjugados por sua presença constante no cotidiano.
Enquanto espirito, não possui aspecto corpóreo, submergido nas culturas e
mentalidades especificas de cada momento, que o delineiam com estas ou aquelas
cores.
É assim que, no final do século XV, no momento do triunfo humanismo, [...], graças
a todo um esforço pedagógico da Igreja, produz-se na Europa um reforço e uma
maior difusão da crença no final dos tempos. Nesse clima de pessimismo
generalizado com relação ao futuro – físico e moral - da humanidade é que se
explica o “Salve-se quem puder” lançado pelo pregador Geiler em 1508, na
Catedral de Estrasburgo: [...]. (NOGUEIRA, 2000, p.90).
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A investida das realizações de processos judiciais deu impulso à ideia de um culto organizado realizado por
bruxas. Entretanto, poucos julgamentos por feitiçaria foram realizados antes de 1300, em parte, devido a
natureza do sistema legal. Tratava-se de um processo acusatório, onde uma pessoa acusava a outra,
fornecendo provas e buscando mecanismos para convencer o juiz. Se isso fracassasse, métodos como fogo e
agua poderiam ser requisitados, todavia, se o acusador não conseguisse, por fim, encontrar sustentabilidade
para suas alegações, poderia ser submetido a pena que tentara imputar ao acusado. Isso se modificou
consideravelmente após a revitalização do Direito Romano no século XII, introduzindo um sistema de inquirição
no processo judicial.
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Para definição de cultura, utiliza- se os conceitos de Peter Burke, onde o mesmo diz que “[...] cultura com
ênfase na mentalidade como “um sistema de significados, atitudes e valores compartilhados, e as formas
simbólicas (apresentações, artefatos) nas quais eles se expressam ou se incorporam.” (BURKE, Peter. Cultura
Popular na Idade Moderna. Tradução Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p.21.
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Nesta perspectiva, cabe ressaltar o conceito de realidade discutido pelo historiador Hilário Franco Junior,
onde o mesmo articula que “aquilo que cada época considera “realidade” nada mais é do que produto de sua
percepção cultural.” FRANCO JUNIOR, Hilário. A Eva Barbada: Ensaios de Mitologia Medieval. 2ªedição. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2010, p.23.
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De posse da pomada voadora, que, como dissemos, tem fórmula definida pelas
instruções do diabo e é feita dos membros das crianças, sobretudo daquelas
mortas antes do batismo, ungem com ela uma cadeira ou um cabo de vassoura;
depois do que são imediatamente elevadas aos ares, de dia ou de noite, na
visibilidade ou, se desejarem, na invisibilidade; pois o diabo é capaz de ocultar um
corpo pela interposição de alguma outra substância, [...]. E não obstante o diabo
realize tal prodígio em grande parte através da pomada – para que as crianças se
vejam privadas da graça do batismo e da salvação -, [...]. Já que, vez ou outra,
transporta as bruxas em animais, que não são de fato animais, mas demônios
naquela forma; e noutras ocasiões, mesmo sem qualquer auxílio exterior, elas são
visivelmente transportadas exclusivamente para força dos demônios. (KRAMER &
SPRENGER, 1993, p.228).
Além disso;
séculos, de um estrato de crenças que chegou até nós de maneira fragmentária, por
intermédio de textos produzidos por canonistas, inquisidores e juízes” (GINZBURG,
2012, p.119). Todos os esforços em reduzir, por parte do cristianismo, tais
divindades à condição de crenças deformadas, consequentemente resultaram na
sobrevivência das tradições e crenças do mundo antigo.
Contudo, duas imagens de Satã coexistem: uma popular e outra erudita, esta, de
longe, a representação mais trágica, pois o Demônio, nas condições populares, é
uma entre outras tantas sobrevivências míticas que uma conversão imposta não
conseguiu exterminar. O Diabo popular é um personagem familiar, às vezes
benfazeja, muito menos terrível do que afirma a Igreja, e pode ser inclusive,
facilmente enganado. A mentalidade popular defendia-se, desse modo, da teologia
aterrorizante – e muitas vezes incompreensível – da cultura erudita. (NOGUEIRA,
2000, p.99).
E notar que, se confessar sob tortura, deverá ser então levada para outro local e
interrogada novamente, para que não confesse tão somente sob pressão da tortura.
Se após a devida sessão de tortura a acusada se recusar a confessar a verdade,
caberá ao Juiz colocar diante dela outros aparelhos de tortura e dizer-lhe que terá
de suporta-los se não confessar. Se então não for induzida pelo terror a confessor,
a tortura deverá prosseguir no segundo ou no terceiro dia, mas não naquele mesmo
momento, salvo boas indicações de seu provável êxito. (KRAMER & SPRENGER,
1993, p.433).
Figura 01: A imersão de Mary Sutton suspeita de ser bruxa, em 1612. Aqueles que sobreviviam
ao julgamento eram reconhecidos como bruxos. Folha de rosto de um folheto de título Witches
apprehended, examined and executed, Londres, 1613. RICHARDS, Jeffrey. Sexo, Desvio e
Danação: As minorias na Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed; 1993, p.89.
[...] contou-nos ainda que os piores males eram infligidos pelas bruxas parteiras,
porque eram obrigadas a matar ou a oferecer aos demônios o maior número
possível de recém-nascidos; e que certa vez fora espancada pela tia porque abrira
um pote secreto onde estavam guardadas as cabeças de muitas crianças. E muito
mais nos contou, tendo o primeiro, como de praxe, feito o juramento de só dizer a
verdade. (KRAMER & SPRENGER, 1993, p.216).
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O historiador inglês Jeffrey Richards argumenta que, a bruxaria era essencialmente a magia inferior, ou seja, a
medicina popular, em contraponto a magia superior, praticada por instruídos. A distinção entre as duas era
que, a magia inferior era realizada pela mulher sábia, aquele que detinha o conhecimento com ervas (venenos
e abortíferos também) e que era versada na arte do parto. Essas mulheres eram presentes nas comunidades de
classes sociais mais baixas e tais praticas eram realizada pelos indivíduos, não em cultos. No extremo oposto,
encontrava- se a magia superior, a ciência praticada pelo intelectualizado, rituais formais e livros de sabedoria.
Ver: RICHARDS, Jeffrey. Sexo, desvio e danação: as minorias na Idade Média; tradução Marco Antônio Esteves
da Rocha e Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed; 1993, p. 87.
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O teatro religioso mobilizava um numero importante de espectadores, enquanto os sermões difundiam o
medo desmesurado do Diabo, causando grande comoção na mentalidade popular, que atingindo proporções
significativas, foi proibido em um concilio em 1516.
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Para uma pessoa ser acusada de heresia não basta vê-la defender simplesmente
uma ideia: é preciso que a leve adiante, que a defenda obstinada e abertamente.
[...]. Mas que nenhum homem pense poder escapar alegando ignorância. [...].
Porque, embora existam vários graus de ignorância, os responsáveis pela cura das
almas não podem pleitear ignorância absoluta, [...]. O que há de ser censurado
nessas pessoas é a ignorância Universal, ou seja, a ignorância da lei divina, a qual,
conforme determinou o Papa Nicolau V, devem e deveriam conhecer. (KRAMER &
SPRENGER, 1993, p.60).
Considerações Finais.
Referências
Fonte:
Bibliografia:
BURKE, Peter. O que é historia cultural? Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2005.