COMENTÁRIOS AO ACÓRDÃO PROFERIDO PELO EGRÉGIO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA EM MATÉRIA AMBIENTAL
RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 58.247 – RR (2015/0078375-6)
RELATOR : MINISTRO JORGE MUSSI RECORRENTE : IRAMAR COELHO DA SILVA ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Nesse sentido, a respeito do princípio da insignificância, Rogério Sanches
Cunha explica:
O legislador, ao tratar da incriminação de determinados fatos, ainda que
norteado por preceitos que limitam a atuação do Direito Penal, não pode prever todas as situações em que a ofensa ao bem jurídico tutelado dispensa a aplicação de reprimenda em razão de sua insignificância. Assim, sob o aspecto hermenêutica, o princípio da insignificância pode ser entendido como um instrumento de interpretação restritiva do tipo penal. Sendo formalmente típica a conduta e relevante a lesão, aplica-se a norma penal, ao passo que, havendo somente a subsunção legal, desacompanhada da tipicidade material, deve ela ser afastada, pois que estará o fato atingido pela atipicidade.
Assim, as condutas que ofendem de forma insignificante um bem
tutelado pela jurisdição são consideradas atípicas, porque somente se observará a tipicidade penal naquelas em que se verificar a ação ou omissão lesiva de forma efetiva. No mesmo sentido, acerca da alegada atipicidade da conduta atribuída ao paciente, como bem se observou nos votos do relator, é necessário esclarecer que a admissão da ocorrência de um crime de bagatela reflete o entendimento de que o Direito Penal deve intervir somente nos casos em que a conduta ocasionar lesão jurídica de certa gravidade, devendo ser reconhecida a atipicidade material de perturbações jurídicas mínimas ou leves, estas consideradas não só no seu sentido econômico, mas também em função do grau de afetação da ordem social que ocasionem.desde que verificada a mínima ofensividade da conduta do agente, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Em remate, a denúncia ofertada pelo representante do Parquet Federal foi
um tanto quanto temerária, que sequer observou, in contento, o primeiro substrato do crime. Não se pode inferir, todavia, que se trata de caso isolado, pois não raras as vezes fatos dessa similitude ocorrem. Logo, necessário se faz agir com cautela, uma vez que a liberdade de outrem está em ‘’jogo’’.