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Florianópolis
2009
RESUMO
1INTRODUÇÃO.......................................................................................................................4
1.1 JUSTIFICATIVA...................................................................................................................4
1.2 OBJETIVOS.........................................................................................................................5
2 MATERIAL E MÉTODO...................................................................................................10
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................................12
3.1 A INTERPRETAÇÃO HEIDEGGERIANA DA CRÍTICA DA RAZÃO PURA:
ESQUEMATISMO, IMAGINAÇÃO, TEMPO, FINITUDE E FUNDAMENTO...................12
3.1.1 Primeira parte................................................................................................................12
3.1.2 Segunda parte.................................................................................................................19
3.2 VERDADE E EXISTÊNCIA EM SER E TEMPO DE M. HEIDEGGER.........................24
3.2.1 Verdade, significância, mundo: conexões entre o parágrafo 18 e 44 de Ser e
Tempo........................................................................................................................................24
3.2.2 O elemento transcendental da Sorge............................................................................28
3.2.3 Co-originariedade de Verdade e Realidade................................................................32
3.2.4 Da Verdade Fundante à verdade fundada: do modelo operacional da Verdade ao
modelo proposicional..............................................................................................................34
3.2.5 A linguagem que mostra a unidade..............................................................................38
4 CONCLUSÕES....................................................................................................................39
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................45
1. INTRODUÇÃO
1.1 JUSTIFICATIVA
Falar sobre a importância de uma obra como Ser e Tempo é percorrer o óbvio.
Justificar mais um estudo após 83 anos de seu surgimento só faz sentido quando, absorvidos
pela obra, percebemos que a força radical que dela emana e impele nosso pensamento contra a
tradição e as seguranças do pensar não pode ser facilmente notada e sentida. Quem busca
comodidades deve desistir de Ser e Tempo. A apreensão analítica da obra é com toda certeza
um caminho para alcançar algo do que nela há de radical. Com efeito, a maior parte de nosso
estudo aí se deteve. Todavia, confiamos que toda análise está longe de exaurir e esgotar o
pensamento. Muito mais do que uma compreensão aproximada dos sentidos dos termos,
importa a Heidegger que possamos reconduzir nosso Dasein. O problema de como nos
permitiremos ouvir o apelo por um sentido do ser é recolocado a cada leitura. Tanto hoje
quanto na época de sua publicação, no ambiente cultural e social em que nos movemos ou
naquele do qual emergiu o tratado de Heidegger, a necessidade de uma escuta atenta e
cautelosa do pensamento é evidente. Uma obra de filosofia dessa magnitude, cuja intenção
sincera é começar tudo denovo, reconduzindo nosso Dasein as suas origens e só de lá garantir
algum sentido a sua existência que possibilite, enfim, uma retomada das formas autênticas de
vida e a reinterpretação dos caminhos já assegurados na tradição, tal obra deve ser preservada
ao longo do tempo de modo a dar possibilidades para que ocorram essas revoluções no Dasein
de todas as épocas.
Com razão, também a maneira da obra e a singularidade deliberada dos termos e
argumentos justificam esse estudo demorado. Todo homem comum que se aventura diante das
formas geniais do pensar sabe o quanto, de inicio, elas lhe aparecem herméticas, obscuras e
confusas. Em Ser e Tempo, como em outras grandes obras da cultura, a necessidade interna, o
sentido, está essencialmente ligado à sua exposição formal. Heidegger precisou forçar a língua
para que o discurso pudesse mostrar aquilo de que há muito se acostumou abdicar. Produziu
novos termos ou os reconduziu aos seus sentidos originários. E suas sentenças não resultaram
fáceis para a habitual prosa filosófica acadêmica. Por isso mesmo, ler a obra exige uma
disputa com nosso cômodo rigor lógico, nossa ânsia por clareza e certezas, e com o falatório
1.2 OBJETIVOS
É importante frisar aqui que o propósito geral da pesquisa foi o estudo específico
de um texto, com certeza um dos mais influentes da história da filosofia. O que pretendemos
não foi mais do que uma compreensão com algum rigor desta obra. Com razão, ultrapassá-la
em criatividade e força filosófica, assim como oferecer uma interpretação original ou bastante
diversa de todas aquelas que vêm sendo feitas desde o surgimento de Ser e Tempo, são fatos
que nos parecem quase irrealizáveis. A bibliografia disponível sobre este tratado de Heidegger
é vasta e talvez nem mesmo uma vida toda basta para que uma mente possa abarcá-la. Assim
se justifica a ausência nessa introdução de uma revisão bibliográfica de tudo o que tratou do
sentido do ser, tempo, Dasein e Verdade.
Todavia, enumeraremos, tal como fizemos no relatório parcial, de forma geral, os
propósitos e desafios dessa interpretação do texto de Heidegger. Assim, se poderá notar se as
obrigações desse exercício de fato foram cumpridas. Os objetivos de a) à d), segundo nosso
entendimento, foram cumpridos no relatório parcial. Neste relatório final apresentaremos
apenas os resultados referentes ao item e), os quais consideramos mais importantes pois seu
estudo e redação obrigam já a uma articulação com todo o conjunto conceitual dessa primeira
parte de Ser e Tempo. Ou seja, o que investigamos para cumprir aqueles primeiros objetivos
deverá agora servir e mostrar-se nesses textos finais. Os textos que aqui apresentamos têm a
sorte de articular toda a obra sem apresentar-se como um estudo por demais focado nos
parágrafos de Ser e Tempo, num caráter de resenha como se apresentaram os primeiros textos.
Seguem os objetivos:
Este trabalho é apenas o início de uma pesquisa que se pretende muito maior. Ao
término do primeiro semestre do ano de 2010, esperamos que ela já tenha se resolvido em
nosso trabalho de conclusão no curso de filosofia. Por conta disso, se justifica o caráter ainda
confuso e ainda incompleto do texto que se segue. Ao passo que avance a pesquisa, esperamos
solucionar as falhas que nesse trabalho aparecem. Porém, nele agora pretendemos,
primeiramente (parte I), acompanhar aquele procedimento da razão pura que Kant chama
esquematismo e o que nele tem de envolvimento da imaginação e do tempo enquanto forma
pura da intuição. Intencionamos também relacionar o momento do esquematismo com o
contexto geral e com as proposições fundamentais da obra na qual ele aparece, a Crítica da
Razão Pura. Em seguida (parte II), tratamos de dar uma visão geral de uma das leituras
heideggerianas dessa obra específica de Kant, leitura na qual pesa sobretudo uma relação entre
o esquematismo kantiano e conceitos que são próprios do pensamento de Heidegger, como a
finitude do Dasein, Ser e fundamento.
contrário, diz apenas que, mesmo que ela exista, não nos caberia conhecê-la.
Martin Heidegger dedicou boa parte de seu pensamento e de seus escritos à obra
Heidegger retoma essa sentença de Kant para mostrar que aí está em jogo algo
fundamental porém encoberto. Kant diz algo próximo a isso: talvez haja uma origem comum a
sensibilidade e ao entendimento, algo que compõe o humano ainda mais essencialmente do
que aquelas duas faculdades. Há sensibilidade e entendimento e aquelas três sínteses que se
operam por intermédio delas. De início, parece que para Kant talvez isso bastasse para
concluir a investigação acerca do que é o homem, para decifrar num sistema o espírito
humano. Mas, quando cogita a possibilidade de uma base ainda mais primordial, uma fonte
última mais originária que a síntese veritativa, que algo esteja por debaixo das sínteses, uma
espécie de pré-síntese subjacente às sínteses veritativa, predicativa e apofântica, Kant, diz
Heidegger, tem em mente aquilo que se encontra no capítulo do esquematismo, a imaginação
produzindo esquemas, sintetizando intuições sensíveis e conceitos a partir do tempo. Mas Kant
não prosseguiu, preferiu deixar a questão da origem como um fato para sempre desconhecido
e postular a imaginação como mais uma operação do entendimento sobre a intuição. Perguntar
pelo fundamento da metafísica é continuar aí onde Kant parou, perseguir a questão da intuição
finita como o fundo último do humano.
Aquela sentença encontrava-se no início da Crítica da Razão Pura. Tomemos
agora outra, que se encontra no fim e da qual Heidegger também se vale, e que mais nos
revelará. Mostrará uma outra forma sob a qual, pensa Heidegger, Kant concebeu o problema
do fundamento da metafísica. Ainda é para nós necessário relacionar esses dois momentos da
interpretação Heideggeriana, i.e., a imaginação produtora junto a temporalidade como
fundamento da questão metafísica e aquilo que agora se segue. Todavia, essa explicação é algo
que não obteremos nesse trabalho.
Esse texto deve investigar a noção de Verdade transcendental que aparece ao fim
da analítica existencial de Ser e Tempo (parágrafo 44, mais precisamente). Para tanto, utilizou-
se principalmente a interpretação do professor Ernildo Stein em seu livro Seminário sobre a
Verdade – Lições preliminares sobre o parágrafo 44 de Sein und Zeit. Por alto, podemos dizer
que os critérios de verdade postos no nível lógico-semântico ou de uma teoria do
conhecimento devem pressupor uma Verdade fundamental que está ligada à compreensão do
Ser que se produz sempre na abertura Dasein. Há todo um movimento originário na abertura
que antecede a separação entre mundo e discurso adequado, é o que poderemos chamar de
condições transcendentais daquelas outras condições que se procura numa investigação
epistemológica. Todavia, vale frisar algo. Independentemente da forma como Stein possa
interpretar o sentido do termo transcedental, quando aqui o utlizamos, mesmo ao citar ou
comentar Stein, estamos tomando este termo numa direção muito diferente da tomada por
Kant. Transcendental aqui dispensa a arquitetônica e a estrutura a priori da consciência, não se
trata dos limites da experiência possível os quais, em Kant, apenas são desenhados na medida
em que se toma a consciência como fundamento incondicional. Transcendental aqui
tomaremos sempre como aquilo que é condição, é primeiro, anterior a própria presentificação
e objetivação dos entes. Essa abertura onde se dá a Verdade só é transcendental enquanto aí
nada pode haver de ente e nunca se poderá contar com a segurança que o pressuposto da
consciência transcendental kantiana assegura.
Por volta da lição 6 de sua obra Seminário sobre a Verdade, Ernildo Stein inicia a
aproximação da questão da Verdade em Ser e tempo com o tema da significância ou referência
(Bedeutsamkeit, Bedeutung). Para Stein, o parágrafo 44 do tratado de Heidegger só diz algo se,
A história da razão pura, de certo modo, será uma crítica a Kant (se ele for escrevê-
la, será uma crítica a Kant). Ora, a história da Razão Pura como crítica a Kant, que
Hegel desenvolve, que é a história da experiência da consciência, essa história da
Razão Pura como Hegel desenvolve, não poderia ser uma crítica à teoria
fenomenalista da Crítica da Razão Pura, de que só se chega aos fenômenos. Deveria
haver uma crítica mais radical a Kant. E essa crítica mais radical é a crítica que
Heidegger faz em Ser e Tempo. É por isso que Ser e Tempo não se põe ao nível da
Fenomenologia do Espírito, pois Heidegger não pretende articular as condições da
manifestação da Razão ou da consciência, mas as condições transcendentais dessa
própria história. E desenvolver essas condições transcendentais significa ir nas raízes
da Bedeumtsamkeit (significância ou da significabilidade), ver como essas raízes se
articulariam. Heidegger expõe essas raízes; essas raízes se dão aí onde se articula o
mundo. “Mundo”, evidentemente, enquanto ele é uma maneira prática de ser, isto é,
prático não em relação com a práxis, mas prático no sentido de já sempre ancorado a
um processo que é anterior a qualquer teoria (STEIN, 1993, p. 111, 112).
Heidegger não subiu a montanha como Hegel, não tomou o ponto de vista infinito
desde onde se pode produzir uma história da consciência. Ao contrário, ele desceu ao
fundamentos. A filosofia deve investigar as possibilidades, no Ser, de se produzir uma
construção como a Hegeliana. O recuo para além dos espaços abertos ao pensamento por
Como então se pode fazer ver o que é a condição finita de toda compreensão? Que linguagem
tortuosa poderá falar do âmbito pré-semântico, antepredicativo, onde ainda Verdade e
realidade estão unidas na abertura? A resposta está no próprio conceito heideggeriano de
fenomenologia: logos é o elemento da universalidade, phainómenon, o da originariedade. O
método de Ser e Tempo é a resposta. No logos originário, na fala (Rede) articula-se o que, com
a decaída do Dasein, não se alcança no verbo. Mas aquilo que se oculta é já a condição desse
próprio dizer originário. A revelação (a Verdade) já é dada na própria constituição da
mundaneidade (realidade) onde se produz a significância. O “como” do mundo, a significância
que emerge na abertura, só se revela no logos hermenêutico, o logos do método hermenêutico-
fenomenológico heideggeriano. Ainda que o logos hermenêutico não possa sempre
simplesmente deixar ver o fenômeno assim como ele se mostra. Pois é também do fenômeno a
possibilidade de encobrir-se. Então só sobrará ao discurso a violência. Por essa razão
aparecem os novos termos heideggerianos: superar a gramática metafísica tradicional que não
respeita o fenômeno na sua manifestação. O discurso encobre, o mostrar muitas vezes não diz
– é onde se prefere o silêncio. Aqui já nos aproximamos daquilo o filósofo pôde ver no termo
alethéia, a característica própria da Verdade de conter em si tanto o velar como o desvelar.
BARASH, Jeffrey A. Heidegger e o seu século. Tempo do Ser, tempo da História. Tradução
de André do Nascimento. 1ª ed. Portugal: Instituto Piaget, 1997.
ECO, Humberto. Kant e o ornitorinco. Tradução de Ana Thereza B. Vieira. 1ª ed. Record,
1998.
______. Ser e tempo. Tradução de Márcia de Sá Cavalcanti. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 1993. 2
v. (Coleção pensamento humano).
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Tradução de Manuela Pinto dos Santos e
Alexandre Fradique Morujão. 2ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989.
______. Seis estudos sobre "Ser e tempo": comemoração dos sessenta anos de Ser e tempo
de Heidegger. 2a ed. Petropolis, RJ: Vozes, 1990. 132p.