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D.

ADMINISTRATIVO –

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1 PODER REGULAMENTAR

PONTO 9 (TRF 5ª) Poder Regulamentar. Regulamentos administrativos de


execução e autônomos. O poder normativo não legislativo e o princípio da legalidade.
Regulamentação e regulação. Análise do art. 84 da CF/1988 quanto aos limites do poder
regulamentar. Poder de Polícia. Conceito. Características. Origem e função. Limites,
extensão e controle. Poder de polícia. Conceito. Características. Origem e função.
Limites, extensão e controle. Poder de polícia e regulação. Distinções.

* Poder Regulamentar. Regulamentos administrativos de execução e autônomos. O poder normativo


não legislativo e o princípio da legalidade. Regulamentação e regulação. Análise do art. 84, da CF/88
quanto aos limites do poder regulamentar.

Poder Regulamentar ou Normativo:


é a prerrogativa reconhecida à Administração Pública para editar atos administrativos gerais para fiel
execução das leis. Características dos poderes administrativos: a) instrumentalidade (são meios,
mecanismos para a consecução do bem comum); b) indeclinabilidade (o administrador não pode deixar
de exercê-los num caso concreto); c) irrenunciabilidade (veda sua abdicação permanente por parte do
administrador).
O poder regulamentar é consequência do caráter relativo do princípio da separação dos poderes e da
adoção, no nosso arcabouço constitucional, do sistema de checks and balances, em que cada um dos
órgãos responsáveis pelo exercício dos poderes do Estado desempenha funções típicas (precípuas) e
atípicas (secundárias), de forma que um possa controlar o outro.
O poder normativo da administração pode ser exercido por meio da delegação legislativa ou do próprio
poder regulamentar. Enquanto a delegação legislativa possibilita a prática de ato normativo primário com
força de lei pelo Presidente da República (na órbita federal), a exemplo das Medidas Provisórias
(delegação atribuída diretamente pelo Poder Constituinte Originário) e das leis delegadas, o poder
regulamentar encerra uma atividade administrativa, de cunho normativo secundário. No direito norte-
americano, a delegação legislativa é fundamentada por duas teorias:
a. Filling up details (preenchimento de detalhes): executivo deve esmiuçar a norma legal
(aproxima-se do poder regulamentar do ordenamento brasileiro)
b. Delegation with standards (delegação com parâmetros): traçam-se parâmetros suficientes para
pautar e controlar a atuação do órgão delegado (aproxima-se da delegação legislativa para edição de
MP – parâmetros traçados pelo constituinte originário no art. 62 -, de Leis Delegadas – parâmetros
traçados via resolução do CN (art. 68 da CRFB) - e de normas reguladoras das Agências de mesmo nome
– fenômeno da deslegalização ou delegificação).

Diogo de Figueiredo Moreira Neto classifica a delegação legislativa nas seguintes modalidades:
a. Delegação receptícia: delega-se a função legislativa ao Poder Executivo para editar, dentro do
período e das matérias determinadas no ato delegante, normas com força de lei (ex: lei delegada);
b. Delegação remissiva: edição de atos normativos pela Administração, sem força de lei e
respeitando a moldura legal (ex: regulamento executivo do art. 84, IV, da CRFB);
c. Deslegalização: legislador transfere o tratamento de determinada matéria ao administrador,
estabelecendo parâmetros gerais que deverão ser observados no momento da fixação dos direitos e
obrigações (ex: art. 96, I, a, 207, caput, e 217, I, da CRFB)

Saliente-se que o poder normativo das entidades administrativas com fundamento em norma legal não
decorre de delegação propriamente dita operada pelo legislador, sendo inerente à própria função
administrativa.

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Decreto: a forma de que se revestem os atos praticados pelo chefe do poder executivo. O seu conteúdo
pode variar, podendo ser um regulamento (decreto-regulamentar), ou não possuir conteúdo
regulamentar (decreto–não regulamentar), quando, por exemplo, se dá nome a um prédio público.

Regulamento – é o conteúdo do ato. Se emitido pelo chefe do executivo, ele terá aplicação a toda
administração subordinada1. O exercício do poder regulamentar via decreto é privativo do chefe do poder
executivo. O poder regulamentar é exclusividade dele, segundo a maioria da doutrina. Há atos normativos
que, editados por outras autoridades administrativas, podem caracterizar-se como inseridos no poder
normativo da administração, exemplo das instruções normativas, resoluções, portarias, etc. Contudo, a
regulamentação direta da lei é de competência privativa do chefe do Poder Executivo. Daí se extrai a
seguinte classificação:
a. Atos de regulamentação de 1º grau - seriam os decretos regulamentares.
b. Atos de regulamentação de 2º grau - serviriam para explicitar o teor dos primeiros, como as
instruções expedidas pelos Ministros de Estado.
Tanto o ato normativo originário como o derivado têm efeitos gerais e abstratos, porém, os primeiros
instauram um direito novo, geram situações jurídicas novas, ao passo que os atos normativos derivados
explicitam ou especificam um conteúdo normativo preexistente.
O poder regulamentar decorre da própria CF, artigo 84.

Regulamento e a Lei (diferenças): 1) órgão que elabora – regulamento em regra é feito pelo chefe do
Poder Executivo; em regra, quem faz a lei é o Poder Legislativo; 2) procedimento de elaboração – no
regulamento, não há discussão pública; ao passo que a lei possui várias etapas, com procedimento mais
amplo e com representação geral.

Há dois tipos de decretos:

Decreto Executivo: complementa matéria constante em lei, sem alterá-la. Busca-se a uniformização de
procedimentos nela estabelecidos. O regulamento pode também complementar os conceitos que
estejam vagos na lei, jamais criando uma obrigação ou situação jurídica nova.

Decreto Autônomo: independe da existência de uma lei. Encontra fundamento de validade na própria
Constituição, podendo criar uma situação jurídica nova.

ESPÉCIES DE REGULAMENTO
Regulamentos São aqueles editados para a fiel execução da lei. Este regulamento não pode inovar
executivos o ordenamento jurídico, mas somente pode complementar a lei. Art. 84, IV da CF.
São Regulamentos que atuam substituindo a lei e têm o condão de inovar o
ordenamento jurídico, determinando normas sobre matérias não disciplinadas em
lei.
Em consonância com o entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência
Regulamentos brasileiras, só são admissíveis duas espécies de Regulamentos Autônomos no
Autônomos ordenamento jurídico pátrio, quais sejam, as duas situações previstas no art. 84, VI
da Carta Magna. São exceções à regra geral de que o chefe do Poder Executivo edita
decretos para fiel execução da lei, sem o caráter de inovação da ordem jurídica
(organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos).

1Na expressão de Geraldo Ataliba, "decreto é a forma, o continente; regulamento, a matéria, o conteúdo".
(ATALIBA, Geraldo. Poder Regulamentar no Executivo. Revista de Direito Público. São Paulo. nº 57-58, vol.14, 1981,
p.189).

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Cabimento do decreto autônomo no Brasil:
A) Hely Lopes Meirelles: entendia possível o decreto autônomo em qualquer circunstância. Repousa sua
conclusão na teoria dos poderes implícitos. A Administração pode suprir as omissões do Legislativo, com
fundamento direto na CRFB, para concretização dos seus deveres constitucionais.
B) Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Diógenes Gasparini, STF: entendem que a CF/88, originalmente, não dava
espaço para a possibilidade de regulamentos autônomos. Em seu art. 84, VI, previa a competência do
chefe do Executivo para “dispor sobre a organização e o funcionamento da administração federal, na
forma da lei”. O art. 25 do ADCT, por sua vez, determinou a revogação, a partir de 180 dias da promulgação
da CF, dos dispositivos legais que atribuam ou deleguem a órgão do Poder Executivo competência
assinalada pela CF ao Congresso Nacional.
Contudo, a EC nº 32/2001 alterou a redação do art. 84, VI, atribuindo ao Presidente da República
competência para dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração
federal, quando não implicar aumento de despesa, nem criação ou extinção de órgãos públicos; b)
extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos.
A mencionada corrente também se baseia nos art. 103-B, §4º, inciso I, e 130-A, §2º, inciso I, da CRFB/88,
inseridos pela EC nº 45/2004, que conferiram direta e respectivamente ao CNJ e ao CNMP, poder
normativo, ao afirmar que ambos os órgãos podem expedir atos regulamentares, no âmbito de sua
competência.
Nesses casos, a doutrina majoritária e o Pretório Excelso vêm admitindo a existência de regulamento
autônomo no ordenamento brasileiro, embora a regra continue sendo o regulamento executivo. Note-se
que, em qualquer hipótese, o Chefe do Executivo não pode criar ou extinguir órgãos e nem as suas
medidas podem determinar aumento de custos.
Para Maria Sylvia, no particular, somente a hipótese da alínea “a” configura regulamento autônomo, pois
a alínea “b” revelaria um mero ato de efeitos concretos.
A defesa da existência de regulamentos autônomos passa pelo reconhecimento do neoconstitucionalismo
como fenômeno jusfilosófico que alterou a metodologia de interpretação e aplicação das normas
jurídicas, reposicionando a Constituição como estrutura normativa superior e central do sistema jurídico.
Partindo-se de tal premissa, não haveria óbice à edição, com base na CRFB, de regulamentos autônomos
preordenados ao atendimento dos fins constitucionais, em relação às matérias não sujeitas à reserva
legal.
Maria Sylvia afirma que a hipótese constitucional de regulamento autônomo não fere o Estado de Direito,
pois diz respeito a questões administrativas internas, não estabelecendo normas voltadas para os
cidadãos em geral (essas normas, sim, não podem ser objeto de regulamento autônomo, pois os
particulares somente podem ser obrigados ou proibidos de fazer algo em virtude de lei).
C) Celso Antonio Bandeira de Mello: em nenhuma hipótese cabe o decreto autônomo. O administrador
não pode criar órgãos e nem aumentar despesas, então está simplesmente regulamentando o que está
na lei, assim, o decreto é simplesmente complementar à lei. Os adeptos da corrente capitaneada por
CABM partem da concepção liberal tradicional, segundo a qual Administração só possui legitimidade para
atuar se expressamente autorizada pelo legislador (princípio da reserva de lei).

Regulamentação X Regulação:
Poder regulamentar: a) é de competência primária do chefe do Poder Executivo, em que pese seja
exercido, de forma secundária, também por outros órgãos da estrutura administrativa; b) envolve a
edição de normas gerais para fiel execução da lei; c) apresenta conteúdo político; d) função inerente à
regulamentação: normativa.

Poder regulador ou regulatório: a) é de competência das entidades administrativas (principalmente as


agências reguladoras); b) engloba o exercício de atividades normativas, executivas e judicantes; c) possui
conteúdo técnico; d) funções inerentes à regulação: normativa, fiscalizadora, sancionatória, julgadora
(solução de conflitos).

Alexandre Santos de Aragão não distingue regulação e regulamentação, entendendo elas apenas como
aspectos do fenômeno regulatório da economia.

Deslegalização: instituto relacionado com função regulatória – rebaixamento no tratamento hierárquico/


revogação diferida (Giuseppe de Vergottini)/ Degradação normativa de uma matéria que passa a ser

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disciplinada no âmbito infralegal, sai do domínio da lei e vai para o domínio infralegal, possibilitando a
revogação pelo regulamento de dispositivos outrora disciplinados por lei (Alexandre Santos de Aragão).
Comum no cenário das agências reguladoras. Trabalham com lei quadro. Lei quadro porque se trata de
lei que vai fixar tão somente moldura normativa sem adentrar aspectos técnicos, porque os aspectos
técnicos serão avaliados pela agencia reguladora. Estas leis devem trazer um mínimo de parâmetros de
controle (standards)/ princípios inteligíveis/teoria da essencialidade (Alemanha) que exige do legislador
uma decisão orientadora.
2 posições:
Constitucionalidade: poderão editar atos respeitados os standards legais. José dos Santos Carvalho Filho,
Alexandre Aragão, Marcos Juruena e Diogo de Figueiredo. STF na AC 1193 e Rext 140.669-1
Inconstitucionalidade: violação aos princípios constitucionais da separação de poderes e da legalidade. O
texto constitucional só estabeleceu a possibilidade de exercício do poder normativo primário no Executivo
em duas hipóteses: medidas provisórias (art. 62 da CF) e leis delegadas (art. 68 da CF – delegação
receptícia para Eduardo García Enterría). Os atos normativos das agências são infralegais e restringem-se
a sua organização e funcionamento interno. Celso Antonio Bandeira de Mello e Gustavo Binenbojm. Maria
Sylvia excepciona a ANATEL e a ANP, por possuírem previsão constitucional; STF na ADI 1668.

Limites constitucionais à deslegalização: a. Casos de reserva legislativa específica ou reserva legal; b.


Matérias que devem ser reguladas por lei complementar, espécie de reserva legal específica; c. Matérias
que devem ser legisladas com caráter de norma geral, considerando que irradiam efeitos sobre os demais
entes federativos.

Conflito entre lei anterior e superveniência de ato regulatório: fenômeno da revogação diferida: Lei e
superveniência de ato regulatório: revogação diferida – existe controvérsia doutrinária sobre a norma que
prevalecerá no conflito normativo. Os críticos do poder normativo da agencia sustentam que, em
qualquer hipótese, a lei prevalecerá sobre os atos das agencias, especialmente pela inexistência da
própria competência normativa ampliada da autarquia regulatória. Por outro lado, os defensores do
poder normativo ampliado das agencias afirmam a prevalência dos atos regulatórios em detrimento da
legislação.

O que é reserva de administração? É a competência conferida constitucionalmente ao Poder Executivo


para, em caráter exclusivo, tratar de determinadas matérias, não sendo lícita, nessa órbita, a ingerência
do Legislativo. Divide-se em:
a. Reserva geral de administração: fundamentada na separação de poderes, impede que cada
órgão estatal invada o núcleo essencial da competência do outro, cabendo à administração executar leis
e exercer a discricionariedade administrativa;
b. Reserva específica de administração: a constituição destaca determinadas matérias,
submetendo-as à competência exclusiva do Poder Executivo.

Recentemente, o STF julgou caso, publicado no informativo nº 646, no qual reconheceu a


constitucionalidade de lei que, fixando as balizas para cálculo e atualização do salário mínimo, delegou a
fixação do seu valor a decreto do Poder executivo. Ressaltou-se que a lei em questão conteria a definição
legal e formal do salário mínimo, a fixação do seu montante em 2011 (art. 1º) e a forma de sua valorização,
no sentido de sua quantificação para períodos subseqüentes (até 2015). Aduziu-se que esse diploma não
esgotara a sua preceituação e adotara critérios objetivos para valer no intervalo de 2012 a 2015, segundo
índices estipulados pelo Congresso Nacional (variação do INPC, calculado e divulgado pelo IBGE,
acumulada nos 12 meses anteriores ao mês do reajuste). Considerou-se que, ao assim estatuir, o
legislador retirara do Presidente da República qualquer discricionariedade relativa à fórmula para
apuração do quantum a ser adotado, bem como no que concerne à possibilidade de revisão ou de
compensação de supostos resíduos.
Por fim, alerta a doutrina para a inconstitucionalidade, por afronta ao princípio da legalidade, da
denominada delegação legislativa disfarçada ou genérica, que consiste na técnica legislativa vocacionada
a transferir ao Poder Executivo o poder de disciplinar determinada matéria sem densificar adequada e
minimamente os seus contornos. Defere-se ao regulamento a definição, por si mesmo, das condições ou
requisitos necessários ao surgimento do direito, do dever ou da restrição.

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Deslegalização X Desregulação: Deslegalização: a normatização de determinadas matérias passa a ser
feita por ato infralegal. Desregulação: diminuição da quantidade de regras sobre determinados setores
da economia.

*Poder de Polícia. Conceito. Características. Origem e função. Limites, extensão e controle. Poder de
polícia e regulação. Distinções.

Poder de Polícia Art. 78 do CTN. Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que,
limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato,
em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da
produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização
do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou
coletivos.
Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão
competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de atividade que
a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.

Fundamento: supremacia geral da Administração Pública sobre seus administrados, ou seja, o poder de
polícia não exige um vínculo específico do particular com a administração pública para ser exercido. A
supremacia geral é decorrente do domínio eminente (poder que o Estado exerce sobre todas as coisas e
pessoas que estão no seu território).
A atividade restritiva exercida pela administração pública calcada na supremacia especial, a qual decorre
de relações especiais de sujeição previstas em lei ou em instrumento negocial, não é reveladora do poder
de polícia, mas sim do poder disciplinar (ex: exigências do poder concedente sobre o concessionário
depende da existência de um contrato entre as partes; PAD contra servidor público e encarcerado; alunos
de escolas e universidades públicas).

Ele não pode ser delegado a pessoas privadas, sob pena de comprometer a segurança jurídica. O STF
analisou essa questão na ADI 17171, na qual afirmou que os conselhos de classe não poderiam fazer parte
da esfera privada, por exercerem poder de polícia. No entanto, é possível a delegação de atos materiais,
atos instrumentais e atos preparatórios, através de contrato com pessoas privadas. Elas são responsáveis
unicamente pelas constatações de fato, como, por exemplo, os pardais de trânsito. Pode ser delegado,
no entanto, às pessoas da Administração indireta que exerçam função pública (poder de polícia delegado.
Originário seria o das pessoas políticas), através de previsão legal, apenas para fiscalizar, não podendo
criar qualquer norma. Nessa caso, pouco importa o regime de dos agentes públicos, estatutário ou
celetista.

Jurisprudência relacionada: O STF definiu a tese de que é constitucional a atribuição às guardas


municipais do exercício do poder de polícia de trânsito, inclusive para a imposição de sanções
administrativas legalmente previstas (ex: multas de trânsito). STF. Plenário.RE 658570/MG, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 6/8/2015 (Info 793).

Polícia Administrativa X Polícia Judiciária

POLÍCIA ADMINISTRATIVA POLÍCIA JUDICIÁRIA


Apura ilícitos não penais. Apura ilícitos penais.
Exaure-se em si mesma. Tem continuidade no processo penal.
É atividade principal. É atividade instrumental.
É inerente e se difunde por toda a Administração Concentra-se em órgãos determinados.
Reprime, por vezes, comportamentos lícitos. Somente reprime comportamentos ilícitos.

Ciclo De Polícia: são as fases do poder de polícia.

a) Ordem: norma legal estabelece, de forma primária, as restrições e as condições para o exercício
das atividades privadas;

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b) Consentimento: anuência do Estado para que o particular desenvolva determinada atividade
ou utilize a propriedade particular. Divide-se em
b.1) licença – ato vinculado por meio do qual a Administração reconhece o direito do particular (ex: licença
para dirigir veículo).
b.2) autorização – ato discricionário pelo qual a Administração, assentada em juízo de conveniência e
oportunidade, faculta o exercício de atividade ou a utilização de bens particulares, sem a criação, em
regra, de direitos subjetivos ao particular (ex: autorização para porte de arma).
c) Fiscalização – verificação do cumprimento, pelo particular, da ordem e do consentimento de
polícia. Pode ser iniciada de ofício ou por provocação (ex: fiscalização de trânsito).
d) Sanção – medida coercitiva aplicada ao particular que descumpre a ordem de polícia ou os
limites impostos no consentimento de polícia (ex: multa de trânsito).

Atributos do poder de polícia


a) discricionariedade – liberdade conferida pelo legislador ao administrador para escolher o
melhor momento de sua atuação ou a sanção mais adequada ao caso concreto quando há previsão legal
de duas ou mais sanções para a mesma infração. Contudo, em determinados casos, se o legislador não
deixar qualquer margem de liberdade de conformação do administrador a atuação de polícia será
vinculada (ex: licença para construir).
b) auto-executoriedade – a possibilidade que tem a administração pública de, com os próprios
meios, fazer cumprir as suas decisões, sem a necessidade de recorrer previamente ao Poder Judiciário. A
regra é que ela depende de previsão legal ou do caráter emergencial da situação concreta, não sendo
possível aguardar a decisão judicial (ex.: interdição de estabelecimento). Determinadas medidas
decorrentes do Poder de Polícia não são autoexecutáveis como, por exemplo, a cobrança de multa.
A doutrina afirma que a auto-executoriedade é dividida em dois momentos:
b.1) exigibilidade: o administrador pode exigir do cidadão o cumprimento de obrigações, mas recorrendo
a meios indiretos de persuasão (pela cominação de multa, por exemplo);
b.2) executoriedade: o administrador pode executar materialmente aquilo que impôs ao cidadão e este
não cumpriu. Significa a possibilidade de a Administração promover por si mesma a conformação do
comportamento do particular às injunções dela emanadas.
A possibilidade de prática de um ato dotado de executoriedade retira o interesse processual da
Administração (necessidade) para recorrer ao Poder Judiciário, salvo demonstração da inviabilidade
concreta de materialização do ato. É o entendimento do STJ.
OBS: a auto-executoriedade não dispensa contraditório e ampla defesa.
c) coercibilidade – possibilidade de impor obrigações a terceiros independentemente de sua
concordância. Assim, os atos decorrentes do poder de polícia são obrigatórios, imperativos. Todo poder
de polícia é dotado de coercibilidade, mas a validade da sanção imposta depende de 3 (três) requisitos:
(i) que seja razoável e proporcional à infração cometida (controlável pelo Judiciário externamente
através da teoria do devido processo legal substantivo); (ii) deve ser eficaz, não sendo ínfima para não
perder o caráter preventivo, nem excessiva, para não perder o caráter retributivo; (iii) última razão
(ultima ratio): a administração deve esgotar os meios preventivos antes de punir (não se admite que a
administração surpreenda o particular para puni-lo, sem que este tenha sido previamente comunicado
de sua irregularidade ou de que era fiscalizado).
OBS.: apesar de tais atributos, o cidadão sempre poderá recorrer ao Judiciário para evitar ou reparar
danos decorrentes do exercício ilegal ou abusivo do poder de polícia.
d) Indelegabilidade: segundo Celso Antônio Bandeira de Mello, salvo hipóteses
excepcionalíssimas [...], não há delegação de ato jurídico de polícia a particular e nem a possibilidade de
que este o exerça a título contratual. Pode haver, entretanto, habilitação do particular à prática de ato
material preparatório ou sucessivo a ato jurídico desta espécie.

Jurisprudência relacionada

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT detém competência para a fiscalização


do trânsito nas rodovias e estradas federais, podendo aplicar, em caráter não exclusivo, penalidade por
infração ao Código de Trânsito Brasileiro, consoante se extrai da conjugada exegese dos arts. 82, § 3º, da
Lei nº 10.233/2001 e 21 da Lei nº 9.503/1997 (Código de Trânsito Brasileiro). STJ. 1ª Seção. REsp
1.588.969-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 28/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 623)

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Obrigações Positivas e Negativas: tradicionalmente, a doutrina destaca o caráter negativo do poder de
polícia, calcado na imposição de abstenções ao particular (obrigações de não fazer). Contudo, atualmente,
entende-se que a atuação de polícia pode ensejar obrigações negativas e positivas (ex: imposição de
limpeza de terrenos por particulares e dever de edificação compulsória da propriedade).

Limites do poder de polícia


a) Necessidade: a medida de polícia administrativa somente deve ser adotada para evitar
ameaças reais ou prováveis de danos ao interesse público.
b) Proporcionalidade – relação necessária entre a medida de polícia a ser adotada e o dano que
se pretende evitar. A medida há de ser proporcional ao dano. Trata-se de limitação de grau, que deve
ser somente o suficiente para evitar o dano. A medida não pode ficar além.
c) Eficácia – a medida de polícia deve ser adequada a impedir o dano ao interesse público. A
medida não pode ficar aquém.
Prescrição: a Lei nº 9.873/99 estabelece o prazo de prescrição de cinco anos para o exercício da ação
punitiva da Administração Federal decorrente do poder de polícia, contado da data da prática do ato ou,
em se tratando de infração permanente ou continuada, do dia em que tiver cessado. O mencionado
diploma legislativo determinou a observância de três prazos distintos:
a) prazo decadencial de cinco anos para o exercício do poder de polícia e constituição do crédito
(art. 1º).
b) prazo de prescrição intercorrente de três anos para a conclusão do processo administrativo
instaurado para se apurar a infração administrativa (art. 1º, §1º).
c) prazo prescricional de cinco anos para a cobrança da multa aplicada em virtude da infração a
ser cometiva (art. 1º-A).
Com base na Lei 9.873/99, o STJ editou a seguinte súmula: Súmula 467 – Prescreve em cinco anos,
contados do término do processo administrativo, a pretensão da Administração Pública de promover a
execução da multa por infração ambiental.

Delegação dos atos de polícia: em regra, o poder de polícia é indelegável. O STF já reconheceu esse
aspecto, quando declarou inconstitucional o artigo 58 da Lei 9.649/98, que pretendia estabelecer o
exercício dos serviços de fiscalização das profissões regulamentadas por entidades privadas, delegatárias
do Poder Público.
Em situações excepcionais, a legislação reconhece a possibilidade de exercício de poder de polícia por
pessoas físicas ou pessoas jurídicas de direito privado (exemplos: art. 139 do Código eleitoral atribuiu o
exercício de poder de polícia dos trabalhos eleitorais aos presidentes de mesas receptoras e o art. 166 do
Código Brasileiro de Aeronáutica estabelece que o comandante é o responsável pela operação e
segurança das aeronaves).
O STF segue a posição doutrinária que sustenta a indelegabilidade do poder de polícia a particulares,
tendo em vista que o exercício de autoridade por um particular em detrimento dos demais colocaria em
risco o princípio da igualdade.
A indelegabilidade não impede, todavia, o exercício privado de atividades materiais acessórias, prévias ou
posteriores ao ato de polícia, denominadas atividades de apoio (exemplos: fiscalização das normas de
trânsito por meio de equipamentos eletrônicos e a demolição de obras irregulares por particulares
contratados pelo Poder Público), uma vez que, nesse caso, não haveria qualquer margem de liberdade
decisória ao particular. Assim, ao particular somente é delegado o ATO MATERIAL, cabendo a ele a mera
constatação objetiva do fato, mas à Administração caberá decidir se houve infração de trânsito e impor a
respectiva sanção.

OBS: Concessionária pública possui poder de polícia? No intuito de garantir os direitos individuais dos
cidadãos e exigir o cumprimento dos seus deveres, o Estado dispõe de ferramentas para fazer valer a
supremacia do interesse público sobre o privado. Através da sua Administração Pública, o Estado fiscaliza
os atos individuais dos seus administrados para que estes não venham a prejudicar os interesses da
sociedade como um todo. O direito-dever que tem o Poder Público de intervir nas ações ou omissões dos
particulares em prol da coletividade é exercido através do seu Poder de Polícia. Este poder possibilita a
limitação do exercício dos direitos e garantias individuais do cidadão diante da necessidade de tutelar um
interesse maior, coletivo.
A doutrina é divergente quanto à possibilidade de delegação de poder de polícia.

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O STJ, no REsp 817.534/MG (julg. 10/11/09), discutindo a possibilidade de sociedade de economia mista
(pessoa jurídica de direito privado) exercer o poder de polícia (no caso, aplicação de multa de trânsito por
sociedade de economia mista), esclareceu que as atividades que envolvem o exercício do poder de polícia
podem ser de forma sumária divididas em 4 grupos: (1) Poder de legislar (é a legislação que define
determinada situação); (2) Poder de consentimento (a corporificação da vontade do Poder Público); (3)
Fiscalização; (4) Aplicação de sanção.
Segundo o STJ, podem ser transferidos ao particular somente os atos de consentimento (como a
concessão de CNH) e os atos de fiscalização (como instalação de equipamentos eletrônicos de velocidade).

- Jurisprudência relacionada:

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT detém competência para a fiscalização


do trânsito nas rodovias e estradas federais, podendo aplicar, em caráter não exclusivo, penalidade por
infração ao Código de Trânsito Brasileiro, consoante se extrai da conjugada exegese dos arts. 82, § 3º, da
Lei nº 10.233/2001 e 21 da Lei nº 9.503/1997 (Código de Trânsito Brasileiro). STJ. 1ª Seção. REsp
1.588.969-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 28/02/2018 (recurso repetitivo) (Info 623).

Competência para as medidas de Polícia Administrativa: a competência para exercer o poder de polícia
é, em princípio, da pessoa federativa à qual a Constituição Federal conferiu a competência para regular a
matéria (arts. 21, 23, 25 e 30). Caso não haja previsão expressa, deve ser utilizado o critério da
predominância do interesse.
Ex.: a regulação do sistema financeiro nacional é de competência da União e sua fiscalização é realizada
pelo Banco Central, autarquia federal; a edição de normas sobre transporte intermunicipal compete aos
estados, sendo sua fiscalização efetivada pela Administração Pública estadual; a utilização e o
parcelamento do solo é matéria municipal e deve ser fiscalizada pelos órgãos e entidade municipais.

Poder de Polícia Interfederativo: é aquele exercido por um ente federativo sobre o outro. Decorre da
repartição constitucional de competências, determinada pela forma federativa de Estado. Não se trata,
portanto, de hierarquia. Exemplo: as repartições públicas federais e estaduais devem respeitas as normas
municipais de zoneamento e construção. Exceção: a instalação de usinas nucleares pela União e a
construção de presídios pelos Estados não precisam observar a legislação municipal de zoneamento e
construção, mas sim a legislação federal e estadual, respectivamente.
Poder de Polícia x Regulação: o Poder de Polícia está atrelado à restrição e ao condicionamento de
liberdade ou direito pelo Poder Público, fundamentados na supremacia geral que o Estado exerce sobre
os particulares. A depender da conformação que assume a agência reguladora e o objeto que lhe é dado
regular, pode a sua atividade restritiva da esfera particular repousar no exercício da supremacia geral ou
especial.
Para bem entender o marco diferencial entre ambos os institutos, é de rigor dividir a área de atuação das
agências reguladoras da seguinte forma:
a) regulação de serviços públicos prestados por terceiros (ANATEL, ANEEL, ANTT, ANTAQ e ANAC);
b) regulação de uso de bens público por terceiros (ANA, ANP, ANEEL e ANATEL);
c) regulação de atividade de fomento (ANCINE);
d) regulação de atividade econômica monopolizada (ANP);
e) regulação de atividade aberta à iniciativa privada (ANVISA, ANS, ANP, BACEN e CVM).
As agências poderão atuar na disciplina de atividades escoradas em vínculos especiais nas quatro
primeiras hipóteses. Isso porque os serviços públicos e os bens públicos são titularizados pelo Estado e a
delegação de sua prestação e autorização de seu uso, respectivamente, dependem de adesão específica
de terceiro, que se sujeita a determinadas condições. Também na atividade de fomento, o particular,
atendidas determinadas condições, logra os incentivos oferecidos pelo Poder público.
No último caso (regulação de atividade econômica ou social aberta à iniciativa privada), só haverá vínculo
especial caso a atividade exercida, por força da repercussão social que ostenta, sujeitar-se à autorização
do Poder Público ou de alguma espécie de cadastro ou registro. No mais, eventual sujeição das pessoas
reguladas por essas agências a suas normas se caracterizará como vínculo geral de sujeição, amparada
pela supremacia geral, identificando-se aqui com o poder de polícia e exigindo, em razão disso, expressa
disposição legal para imposição de obrigações.
Assim, nem toda atividade restritiva e sancionadora exercida através da função regulatória repousa no
poder de polícia.

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2 - Súmulas Pertinentes
Súmula 419 STF - OS MUNICÍPIOS TÊM COMPETÊNCIA PARA REGULAR O HORÁRIO DO COMÉRCIO LOCAL,
DESDE QUE NÃO INFRINJAM LEIS ESTADUAIS OU FEDERAIS VÁLIDAS.
Súmula 645 do STF - É COMPETENTE O MUNICÍPIO PARA FIXAR O HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO DE
ESTABELECIMENTO COMERCIAL.
Súmula 646 do STF - OFENDE O PRINCÍPIO DA LIVRE CONCORRÊNCIA LEI MUNICIPAL QUE IMPEDE A
INSTALAÇÃO DE ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS DO MESMO RAMO EM DETERMINADA ÁREA.
Súmula vinculante 49 - OFENDE O PRINCÍPIO DA LIVRE CONCORRÊNCIA LEI MUNICIPAL QUE IMPEDE A
INSTALAÇÃO DE ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS DO MESMO RAMO EM DETERMINADA ÁREA.
Súmula 19 do STJ - A FIXAÇÃO DO HORARIO BANCARIO, PARA ATENDIMENTO AO PUBLICO, E DA
COMPETENCIA DA UNIÃO.
Súmula 312 do STJ - NO PROCESSO ADMINISTRATIVO PARA IMPOSIÇÃO DE MULTA DE TRÂNSITO, SÃO
NECESSÁRIAS AS NOTIFICAÇÕES DA AUTUAÇÃO E DA APLICAÇÃO DA PENA DECORRENTE DA INFRAÇÃO.
Súmula 434 do STJ - O PAGAMENTO DA MULTA POR INFRAÇÃO DE TRÂNSITO NÃO INIBE A DISCUSSÃO
JUDICIAL DO DÉBITO.
Súmula 467 do STJ: PRESCREVE EM CINCO ANOS, CONTADOS DO TÉRMINO DO PROCESSO
ADMINISTRATIVO, A PRETENSÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE PROMOVER A EXECUÇÃO DA MULTA
POR INFRAÇÃO AMBIENTAL.
Súmula 510 do STJ: A LIBERAÇÃO DE VEÍCULO RETIDO APENAS POR TRANSPORTE IRREGULAR DE
PASSAGEIROS NÃO ESTÁ CONDICIONADA AO PAGAMENTO DE MULTAS E DESPESAS.
Súmula 561 do STJ: OS CONSELHOS REGIONAIS DE FARMÁCIA POSSUEM ATRIBUIÇÃO PARA FISCALIZAR E
AUTUAR AS FARMÁCIAS E DROGARIAS QUANTO AO CUMPRIMENTO DA EXIGÊNCIA DE MANTER
PROFISSIONAL LEGALMENTE HABILITADO (FARMACÊUTICO) DURANTE TODO O PERÍODO DE
FUNCIONAMENTO DOS RESPECTIVOS ESTABELECIMENTOS.

2.1 9.4 PODER DE POLÍCIA

Sentidos

a) amplo - toda e qualquer atuação estatal restritiva à liberdade e à propriedade


que tenha como objetivo a satisfação de necessidades coletivas. Envolve tanto a
atividade legislativa quanto a atividade administrativa
a) restrito – significa o exercício da função administrativa, fundado em lei, que
restringe e condiciona o exercício de direitos e atividade com o objetivo de
implementar o interesse público. É o conceito de poder de polícia administrativo.

Conceito legal: art. 78 do CTN

Art. 78. Considera-se poder de polícia a atividade da


administração pública que, limitando ou disciplinando direito,
interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de
fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à
higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do
mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes
de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade

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pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais
ou coletivos. Parágrafo único. Considera-se regular o exercício
do poder de polícia quando desempenhado pelo órgão
competente nos limites da lei aplicável, com observância do
processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como
discricionária, sem abuso ou desvio de poder.

Fundamento

SUPREMACIA GERAL da Administração Pública sobre seus administrados, ou seja,


o poder de polícia não exige um vínculo específico do particular com a administração
pública para ser exercido. A supremacia geral é decorrente do domínio eminente
(poder que o Estado exerce sobre todas as coisas e pessoas que estão no seu
território).
A atividade restritiva exercida pela administração pública calcada na supremacia
especial, a qual decorre de relações especiais de sujeição previstas em lei ou em
instrumento negocial, não é reveladora do poder de polícia, mas sim do poder
disciplinar (ex: exigências do poder concedente sobre o concessionário depende da
existência de um contrato entre as partes; PAD contra servidor público e encarcerado;
alunos de escolas e universidades públicas).
OBS: o princípio da legalidade, no âmbito das relações especiais de sujeição, é
aplicado de forma mais flexível, reconhecendo-se maior liberdade na atuação
administrativa, inclusive mediante a edição de regulamentos. Contudo, tais
regulamentos devem ancorar-se em lei e cingir-se ao atendimento das finalidades a
que se destina o órgão fiscalizador (ex: regulamentação do uso de biblioteca pública).
Em síntese, a finalidade do poder de polícia seria a manutenção da ordem
pública, com fundamento na supremacia do interesse público sobre o particular.

Momentos de Atuação do Poder de Polícia

1) Atuação Preventiva – busca evitar um prejuízo ao bem comum.


2) Atuação Repressiva – penalidade (quando já verificada a situação prejudicial
ao interesse público).
3) Atuação Fiscalizadora – verificar o cumprimento das exigências.

POLÍCIA ADMINISTRATIVA X POLÍCIA JUDICIÁRIA

POLÍCIA ADMINISTRATIVA POLÍCIA JUDICIÁRIA


Apura ilícitos não penais. Apura ilícitos penais.
Exaure-se em si mesma. Tem continuidade no processo penal.

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É atividade principal. É atividade instrumental.
É inerente e se difunde por toda a Concentra-se em órgãos determinados.
Administração
Reprime, por vezes, comportamentos Somente reprime comportamentos
lícitos. ilícitos.

PODER DE POLÍCIA ORIGINÁRIO X PODER DE POLÍCIA DELEGADO OU


OUTORGADO

O primeiro é exercido diretamente pelas pessoas políticas; o segundo, pelas


pessoas administrativas da administração indireta.

CICLO DE POLÍCIA

São as fases do poder de polícia.

a) Ordem – norma legal estabelece, de forma primária, as restrições e as condições


para o exercício das atividades privadas;
a) Consentimento – anuência do Estado para que o particular desenvolva
determinada atividade ou utilize a propriedade particular. Divide-se em
b.1) licença – ato vinculado por meio do qual a Administração reconhece o
direito do particular (ex: licença para dirigir veículo).
b.2) autorização – ato discricionário pelo qual a Administração, assentada em
juízo de conveniência e oportunidade, faculta o exercício de atividade ou a
utilização de bens particulares, sem a criação, em regra, de direitos subjetivos
ao particular (ex: autorização para porte de arma).
b) Fiscalização – verificação do cumprimento, pelo particular, da ordem e do
consentimento de polícia. Pode ser iniciada de ofício ou por provocação (ex:
fiscalização de trânsito).
c) Sanção – medida coercitiva aplicada ao particular que descumpre a ordem de
polícia ou os limites impostos no consentimento de polícia (ex: multa de
trânsito).

Atributos do poder de polícia

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a) discricionariedade – liberdade conferida pelo legislador ao administrador para
escolher o melhor momento de sua atuação ou a sanção mais adequada ao caso
concreto quando há previsão legal de duas ou mais sanções para a mesma infração.
Contudo, em determinados casos, se o legislador não deixar qualquer margem de
liberdade de conformação do administrador a atuação de polícia será vinculada (ex:
licença para construir).
b) auto-executoriedade – a possibilidade que tem a administração pública de,
com os próprios meios, fazer cumprir as suas decisões, sem a necessidade de recorrer
previamente ao Poder Judiciário. A regra é que ela depende de previsão legal ou do
caráter emergencial da situação concreta, não sendo possível aguardar a decisão
judicial (ex.: interdição de estabelecimento). Determinadas medidas decorrentes do
Poder de Polícia não são autoexecutáveis como, por exemplo, a cobrança de multa.

A doutrina afirma que a auto-executoriedade é dividida em dois momentos:


b.1) exigibilidade: o administrador pode exigir do cidadão o cumprimento de
obrigações, mas recorrendo a meios indiretos de persuasão (pela cominação de multa,
por exemplo);
b.2) executoriedade: o administrador pode executar materialmente aquilo que
impôs ao cidadão e este não cumpriu. Significa a possibilidade de a Administração
promover por si mesma a conformação do comportamento do particular às injunções
dela emanadas.
A possibilidade de prática de um ato dotado de executoriedade retira o interesse
processual da Administração (necessidade) para recorrer ao Poder Judiciário, salvo
demonstração da inviabilidade concreta de materialização do ato. É o entendimento do
STJ.
OBS: a auto-executoriedade NÃO dispensa contraditório e ampla defesa.

c) coercibilidade – possibilidade de impor obrigações a terceiros


independentemente de sua concordância. Assim, os atos decorrentes do poder de
polícia são obrigatórios, imperativos.

Todo poder de polícia é dotado de coercibilidade, mas a validade da sanção


imposta depende de 3 (três) requisitos: (i) que seja razoável e proporcional à infração
cometida (controlável pelo Judiciário externamente através da teoria do devido
processo legal substantivo); (ii) deve ser eficaz, não sendo ínfima para não perder o
caráter preventivo, nem excessiva, para não perder o caráter retributivo; (iii) última
razão (ultima ratio): a administração deve esgotar os meios preventivos antes de punir
(não se admite que a administração surpreenda o particular para puni-lo, sem que este
tenha sido previamente comunicado de sua irregularidade ou de que era fiscalizado).
OBS.: apesar de tais atributos, o cidadão sempre poderá recorrer ao Judiciário
para evitar ou reparar danos decorrentes do exercício ilegal ou abusivo do poder de
polícia.

d) Indelegabilidade: segundo Celso Antônio Bandeira de Mello, salvo hipóteses


excepcionalíssimas [...], não há delegação de ato jurídico de polícia a particular e nem a
possibilidade de que este o exerça a título contratual. Pode haver, entretanto,

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habilitação do particular à prática de ato material preparatório ou sucessivo a ato
jurídico desta espécie.

OBRIGAÇÕES POSITIVAS E NEGATIVAS

Tradicionalmente, a doutrina destaca o caráter negativo do poder de polícia,


calcado na imposição de abstenções ao particular (obrigações de não fazer). Contudo,
atualmente, entende-se que a atuação de polícia pode ensejar obrigações negativas e
positivas (ex: imposição de limpeza de terrenos por particulares e dever de edificação
compulsória da propriedade).

Limites do poder de polícia

1) Necessidade – a medida de polícia administrativa somente deve ser adotada


para evitar ameaças reais ou prováveis de danos ao interesse público.
2) Proporcionalidade – relação necessária entre a medida de polícia a ser
adotada e o dano que se pretende evitar. A medida há de ser proporcional ao dano.
Trata-se de limitação de grau, que deve ser somente o suficiente para evitar o dano. A
medida não pode ficar além.
3) Eficácia – a medida de polícia deve ser adequada a impedir o dano ao interesse
público. A medida não pode ficar aquém.
A Lei nº 9.873/99 estabelece o prazo de prescrição de cinco anos para o exercício
da ação punitiva da Administração Federal decorrente do poder de polícia, contado da
data da prática do ato ou, em se tratando de infração permanente ou continuada, do
dia em que tiver cessado.

O mencionado diploma legislativo determinou a observância de três prazos


distintos:

a) prazo decadencial de cinco anos para o exercício do poder de


polícia e constituição do crédito (art. 1º).
a) prazo de prescrição intercorrente de três anos para a conclusão do
processo administrativo instaurado para se apurar a infração administrativa (art.
1º, §1º).
b) prazo prescricional de cinco anos para a cobrança da multa
aplicada em virtude da infração a ser cometiva (art. 1º-A).
Com base na Lei 9.873/99, o STJ editou a seguinte súmula:
Súmula 467 – Prescreve em cinco anos, contados do término do
processo administrativo, a pretensão da Administração Pública
de promover a execução da multa por infração ambiental.

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NÍVEIS DE RESTRIÇÃO DA ATIVIDADE PRIVADA E A ATIVIDADE COMUNICANTE

Em escala decrescente, o Estado pode:

a) Retirar a atividade econômica da livre-iniciativa, classificando-a como serviço


público de titularidade do Estado. Nesse caso, a prestação do serviço público por
particular depende necessariamente de delegação formal do Poder Público (ex:
concessão e permissão de serviços públicos);
a) Condicionar o exercício da atividade privada ao seu prévio consentimento,
restringindo a livre iniciativa (ex: licença para dirigir veículo);
b) Exigir que o exercício de determinadas atividades privadas sejam comunicadas
ao Estado, com o intuito de possibilitar a fiscalização de polícia, e não para obter
o consentimento estatal (atividades comunicativas).
c) Não exigir o seu consentimento nem a comunicação prévia para exercício de
determinadas atividades, inseridas no campo da livre iniciativa, submetendo-as
apenas à sua fiscalização genérica.
Diante disso, atividades comunicativas são atividades privadas que devem ser
comunicadas ao Estado, por determinação legal, facilitando a fiscalização de polícia.
Exemplo: reunião pacífica em locais abertos ao público (art. 5º, inciso XVI, da
CRFB).

Delegação dos atos de polícia

Em regra, o poder de polícia é INDELEGÁVEL. O STF já reconheceu esse aspecto,


quando declarou inconstitucional o artigo 58 da Lei 9.649/98, que pretendia
estabelecer o exercício dos serviços de fiscalização das profissões regulamentadas por
entidades privadas, delegatárias do Poder Público.
Em situações excepcionais, a legislação reconhece a possibilidade de exercício de
poder de polícia por pessoas físicas ou pessoas jurídicas de direito privado (exemplos:
art. 139 do Código eleitoral atribuiu o exercício de poder de polícia dos trabalhos
eleitorais aos presidentes de mesas receptoras e o art. 166 do Código Brasileiro de
Aeronáutica estabelece que o comandante é o responsável pela operação e segurança
das aeronaves).
O STF segue a posição doutrinária que sustenta a indelegabilidade do poder de
polícia a particulares, tendo em vista que o exercício de autoridade por um particular
em detrimento dos demais colocaria em risco o princípio da igualdade.
A indelegabilidade não impede, todavia, o exercício privado de atividades
materiais acessórias, prévias ou posteriores ao ato de polícia, denominadas atividades
de apoio (exemplos: fiscalização das normas de trânsito por meio de equipamentos
eletrônicos e a demolição de obras irregulares por particulares contratados pelo Poder
Público), uma vez que, nesse caso, não haveria qualquer margem de liberdade
decisória ao particular. Assim, ao particular somente é delegado o ATO MATERIAL,

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cabendo a ele a mera constatação objetiva do fato, mas à Administração caberá decidir
se houve infração de trânsito e impor a respectiva sanção.

COMPETÊNCIA PARA AS MEDIDAS DE POLÍCIA ADMINISTRATIVA

A competência para exercer o poder de polícia é, em princípio, da pessoa


federativa à qual a Constituição Federal conferiu a competência para regular a matéria
(arts. 21, 23, 25 e 30). Caso não haja previsão expressa, deve ser utilizado o critério da
predominância do interesse.
Ex.: a regulação do sistema financeiro nacional é de competência da União e sua
fiscalização é realizada pelo Banco Central, autarquia federal; a edição de normas sobre
transporte intermunicipal compete aos estados, sendo sua fiscalização efetivada pela
Administração Pública estadual; a utilização e o parcelamento do solo é matéria
municipal e deve ser fiscalizada pelos órgãos e entidade municipais.

OBS: PODER DE POLÍCIA INTERFEDERATIVO

É aquele exercido por um ente federativo sobre o outro. Decorre da repartição


constitucional de competências, determinada pela forma federativa de Estado. Não se
trata, portanto, de hierarquia.
Exemplo: as repartições públicas federais e estaduais devem respeitas as normas
municipais de zoneamento e construção.
Exceção: a instalação de usinas nucleares pela União e a construção de presídios
pelos Estados não precisam observar a legislação municipal de zoneamento e
construção, mas sim a legislação federal e estadual, respectivamente.

Poder de Polícia X Regulação

O Poder de Polícia está atrelado à restrição e ao condicionamento de liberdade


ou direito pelo Poder Público, fundamentados na supremacia geral que o Estado exerce
sobre os particulares.
A depender da conformação que assume a agência reguladora e o objeto que lhe
é dado regular, pode a sua atividade restritiva da esfera particular repousar no
exercício da supremacia geral ou especial.
Para bem entender o marco diferencial entre ambos os institutos, é de rigor
dividir a área de atuação das agências reguladoras da seguinte forma:
a) regulação de serviços públicos prestados por terceiros (ANATEL, ANEEL, ANTT,
ANTAQ e ANAC);
a) regulação de uso de bens público por terceiros (ANA, ANP, ANEEL e ANATEL);
b) regulação de atividade de fomento (ANCINE);
c) regulação de atividade econômica monopolizada (ANP);
d) regulação de atividade aberta à iniciativa privada (ANVISA, ANS, ANP, BACEN e
CVM).
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As agências poderão atuar na disciplina de atividades escoradas em vínculos
especiais nas quatro primeiras hipóteses. Isso porque os serviços públicos e os bens
públicos são titularizados pelo Estado e a delegação de sua prestação e autorização de
seu uso, respectivamente, dependem de adesão específica de terceiro, que se sujeita a
determinadas condições. Também na atividade de fomento, o particular, atendidas
determinadas condições, logra os incentivos oferecidos pelo Poder público.
No último caso (regulação de atividade econômica ou social aberta à iniciativa
privada), só haverá vínculo especial caso a atividade exercida, por força da repercussão
social que ostenta, sujeitar-se à autorização do Poder Público ou de alguma espécie de
cadastro ou registro. No mais, eventual sujeição das pessoas reguladas por essas
agências a suas normas se caracterizará como vínculo geral de sujeição, amparada pela
supremacia geral, identificando-se aqui com o poder de polícia e exigindo, em razão
disso, expressa disposição legal para imposição de obrigações.
Assim, nem toda atividade restritiva e sancionadora exercida através da função
regulatória repousa no poder de polícia.

Súmulas Pertinentes

Súmula 419 STF - OS MUNICÍPIOS TÊM COMPETÊNCIA PARA


REGULAR O HORÁRIO DO COMÉRCIO LOCAL, DESDE QUE NÃO
INFRINJAM LEIS ESTADUAIS OU FEDERAIS VÁLIDAS.
Súmula 645 do STF - É COMPETENTE O MUNICÍPIO PARA FIXAR
O HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO DE ESTABELECIMENTO
COMERCIAL.
Súmula 646 do STF - OFENDE O PRINCÍPIO DA LIVRE
CONCORRÊNCIA LEI MUNICIPAL QUE IMPEDE A INSTALAÇÃO DE
ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS DO MESMO RAMO EM
DETERMINADA ÁREA.
Súmula vinculante 49 - OFENDE O PRINCÍPIO DA LIVRE
CONCORRÊNCIA LEI MUNICIPAL QUE IMPEDE A INSTALAÇÃO DE
ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS DO MESMO RAMO EM
DETERMINADA ÁREA.
Súmula 19 do STJ - A FIXAÇÃO DO HORARIO BANCARIO, PARA
ATENDIMENTO AO PUBLICO, E DA COMPETENCIA DA UNIÃO.
Súmula 312 do STJ - NO PROCESSO ADMINISTRATIVO PARA
IMPOSIÇÃO DE MULTA DE TRÂNSITO, SÃO NECESSÁRIAS AS
NOTIFICAÇÕES DA AUTUAÇÃO E DA APLICAÇÃO DA PENA
DECORRENTE DA INFRAÇÃO.
Súmula 434 do STJ - O PAGAMENTO DA MULTA POR INFRAÇÃO
DE TRÂNSITO NÃO INIBE A DISCUSSÃO JUDICIAL DO DÉBITO.
Súmula 467 do STJ: PRESCREVE EM CINCO ANOS, CONTADOS DO
TÉRMINO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO, A PRETENSÃO DA

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE PROMOVER A EXECUÇÃO DA
MULTA POR INFRAÇÃO AMBIENTAL.
Súmula 510 do STJ: A LIBERAÇÃO DE VEÍCULO RETIDO APENAS
POR TRANSPORTE IRREGULAR DE PASSAGEIROS NÃO ESTÁ
CONDICIONADA AO PAGAMENTO DE MULTAS E DESPESAS.
Súmula 561 do STJ: OS CONSELHOS REGIONAIS DE FARMÁCIA
POSSUEM ATRIBUIÇÃO PARA FISCALIZAR E AUTUAR AS
FARMÁCIAS E DROGARIAS QUANTO AO CUMPRIMENTO DA
EXIGÊNCIA DE MANTER PROFISSIONAL LEGALMENTE
HABILITADO (FARMACÊUTICO) DURANTE TODO O PERÍODO DE
FUNCIONAMENTO DOS RESPECTIVOS ESTABELECIMENTOS.

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