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A BRINQUEDOTECA ENQUANTO ESPAÇO DE Anhanguera Educacional S.A.

Correspondência/Contato
FORMAÇÃO DOCENTE E DISCENTE: Alameda Maria Tereza, 2000
Valinhos, São Paulo - 13.278-181
O BRINCAR E O JOGAR EM DISCUSSÃO rc.ipade@unianhanguera.edu.br
pic.ipade@unianhanguera.edu.br
Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Publicação: 09 de março de 2009

ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE


Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008

Thallita Dayane Uzetto da Silva RESUMO


Prof. Dr. Nilson Robson Guedes Silva
A brinquedoteca escolar se constitui em um espaço
Pedagogia significativo para o desenvolvimento de diversas atividades
FACULDADE ANHANGUERA DE LIMEIRA recreativas/educativas, especialmente as brincadeiras e os
ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A. jogos infantis, que podem contribuir para o desenvolvimento
das crianças que freqüentam as escolas. Ao considerar a
necessidade de que os futuros professores de Educação
Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental tenham
competência para atuar nesse espaço, a presente pesquisa-
ação pretendeu contribuir com a organização da
brinquedoteca da Faculdade Anhanguera de Limeira, após
uma pesquisa bibliográfica. A partir da conceituação entre o
brincar e o jogar, discutiu-se a importância de cada uma
dessas atividades para o desenvolvimento infantil. Neste
contexto, tornou-se relevante buscar uma definição para a
infância e a sua relação com o contexto sócio-cultural,
passando pela identificação da contribuição que a escola pode
dar para a vivência integral da infância. Na seqüência,
partindo do surgimento da brinquedoteca enquanto um
espaço de resgate das brincadeiras, apontou-se a estrutura, a
organização, o acervo, os objetivos pretendidos e a atribuição
do profissional que atua nesse laboratório, considerando-se a
realidade das brinquedotecas existentes no país.
Posteriormente, propôs-se uma forma de organização da
brinquedoteca da Faculdade Anhanguera de Limeira, de
forma que a mesma possibilite o desenvolvimento de projetos
junto à comunidade local, especialmente as crianças
abrigadas em instituições filantrópicas, e o desenvolvimento
das práticas pedagógicas previstas na matriz curricular do
Curso de Pedagogia.

Palavras-Chave: educação, infância, desenvolvimento infantil,


brincar, brinquedoteca escolar.

Trabalho realizado com o incentivo e fomento da


Anhanguera Educacional S.A.
264 A brinquedoteca enquanto espaço de formação docente e discente: o brincar e o jogar em discussão

1. INTRODUÇÃO
As brincadeiras e os jogos infantis são fundamentais para o desenvolvimento da criança,
nos aspectos físico, social, emocional e intelectual. Vygotsky (1991) afirma que o
comportamento de uma criança, em relação ao brinquedo, não é apenas simbólico. A
criança realiza seus desejos enquanto a realidade e suas experiências vêem à tona. Oliveira,
discutindo a temática, afirma que "no brinquedo a criança comporta-se de forma mais
avançada do que nas atividades da vida real e também aprende a separar objeto e
significado". (OLIVEIRA, 1993, p. 67)

Para que as atividades desenvolvidas na escola sejam realizadas de maneira


adequada, torna-se necessário, além de outras demandas, que os docentes tenham
capacitação para uma atuação que atenda aos objetivos pretendidos em relação à
aprendizagem escolar. Os próprios alunos do curso de Pedagogia, durante o processo de
formação para professores da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, necessitam adquirir as competências necessárias para trabalhar com
brincadeiras e jogos com as crianças, vivenciando essa prática durante a realização do
curso.

Um dos espaços para a vivência desses futuros profissionais, durante a formação


desses professores, no que se refere aos jogos e às brincadeiras, é a brinquedoteca, espaço
que está em processo de implantação na Faculdade Anhanguera de Limeira, demandando,
nessa etapa, pesquisas que possibilitem um conhecimento sistematizado das atividades
que são desenvolvidas, das características desse espaço e materiais que propiciem a
valorização do educar nos jogos e nas brincadeiras, contribuindo, dessa forma, para uma
formação sólida desses alunos, quando poderão colocar em prática as teorias assimiladas
no decorrer do curso.

Observa-se, em alguns locais, brinquedotecas escolares montadas sem critérios


técnicos/científicos, bem como o desenvolvimento de atividades sem que se leve em
consideração às características das crianças, deixando a mesma de contribuir, de forma
significativa, durante o processo ensino-aprendizagem dos alunos que a freqüentam.
Nesse contexto, torna-se relevante identificar os objetivos pretendidos e as estruturas
básicas adotadas pelas atuais brinquedotecas escolares, bem como o acervo existente e a
contribuição proporcionada às crianças atendidas.

O desenvolvimento desse projeto possibilitou, além da sistematização do


conhecimento referente ao brincar e ao jogar com as crianças, a organização da
Brinquedoteca da Faculdade Anhanguera de Limeira, de forma que ocorra uma

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contribuição com a formação teórico-prática dos alunos do Curso de Pedagogia da


Unidade. Quando há referência em relação à organização da brinquedoteca, pensa-se não
apenas em sua estrutura física, mas também na organização das atividades,
interdisciplinarmente, bem como da função das atividades para o desenvolvimento das
crianças. Para essa organização, contribui de maneira significativa o desenvolvimento
dessa pesquisa, que sistematizou as experiências já disponíveis em relação à brinquedoteca
e ao seu uso, conforme mencionado.

Buscou-se, no início do trabalho, a conceituação do brincar e do jogar na


educação, enquanto atividades intencionais para o desenvolvimento das crianças,
descortinando o senso comum de que brincadeiras e jogos possuem apenas a intenção de
propiciar o lúdico aos seus participantes.

Para a compreensão do brincar enquanto atividade que contribui para o


desenvolvimento infantil, discutiu-se, inicialmente, a construção do conceito de infância,
bem como a sua contextualização. Posteriormente refletiu-se sobre a escola enquanto
espaço para o jogar e o brincar, passando pela relação entre os jogos, as brincadeiras e o
desenvolvimento infantil.

Na seqüência, a partir de pesquisas realizadas em brinquedotecas do país,


discutiu-se a estrutura, a organização, o acervo, a finalidade e a formação dos profissionais
que atuam nos Laboratórios Brinquedoteca, para se construir uma proposta de
organização da brinquedoteca da Faculdade Anhanguera de Limeira, enquanto espaço
para atuação dos alunos do Curso de Pedagogia da Instituição, futuros professores da
Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

2. OBJETIVO

2.1. Objetivos Gerais

• Identificar a importância do brincar e do jogar para o desenvolvimento da criança,


enfatizando a brinquedoteca enquanto espaço de formação/informação para o educador
e para o educando;
• Identificar as estruturas básicas de brinquedotecas, objetos de pesquisas, em
funcionamento, bem como os objetivos propostos às mesmas, as atividades
desenvolvidas e os resultados alcançados para o desenvolvimento das crianças que
utilizam o espaço;
• Organizar uma proposta de estrutura e de organização de brinquedoteca para a
Faculdade Anhanguera de Limeira.

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2.2. Objetivos Específicos

• Verificar a contribuição das brincadeiras, principalmente as que são realizadas no


espaço da brinquedoteca, para o desenvolvimento das crianças;
• Conceituar a brinquedoteca, enquanto um espaço de formação do aluno e atuação do
educador;
• Identificar o layout de uma brinquedoteca, de forma que a mesma facilite a atuação
de educadores e educandos;
• Especificar as formas pelas quais a brinquedoteca pode ser utilizada, de forma a
favorecer o desenvolvimento da criança;
• Organizar a brinquedoteca da Faculdade Anhanguera de Limeira, no que se refere à
organização do trabalho para que o brincar seja propulsor do desenvolvimento
infantil.

3. METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa-ação, considerando que, a partir de um referencial teórico - que
demandou uma pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa -, foi promovida a
organização da brinquedoteca da Faculdade Anhanguera de Limeira.

O trabalho foi iniciado através da identificação da importância do brincar durante


o processo de desenvolvimento da criança, bem como se buscou conceituar jogo,
brinquedo e brincadeira, enquanto elementos distintos do que se define usualmente (senso
comum). Posteriormente, foi realizado um amplo levantamento bibliográfico sobre
pesquisas desenvolvidas em brinquedotecas da realidade brasileira, apontando para a
estrutura existente nas mesmas, bem como quanto aos seus objetivos, atividades
desenvolvidas e atribuição dos profissionais que atuam nesse espaço.

Finalmente, de posse do aporte teórico e após o conhecimento de outras


experiências desenvolvidas, foi possível a organização de uma proposta de pesquisa-ação
para a brinquedoteca da Faculdade Anhanguera de Limeira.

4. DESENVOLVIMENTO
A introdução de brinquedotecas dentro de instituições de educação infantis,
tradicionalmente de orientação conteudista ou sanitárias e higiênicas, certamente tem
levado os profissionais a repensarem a importância da brincadeira para crianças dessa
faixa etária (KISHIMOTO, 1997).

A brinquedoteca é entendida enquanto espaço que tem como finalidade o resgate


das brincadeiras, possibilitando o brincar pelas crianças, momento em que uns
compartilham com os outros momentos de alegria (GRAJEW, 1998). Cunha (1997) afirma

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que a brinquedoteca pode ser definida enquanto um espaço que apresenta como principal
finalidade propiciar estímulos para que a criança brinque de forma livre. Para o mesmo
autor (CUNHA, 1998), a brinquedoteca é um espaço agradável, alegre e colorido, que
apresenta como característica a existência de um conjunto de brinquedos e brincadeiras,
onde mais importante do que os brinquedos é a ludicidade proporcionada pelos mesmos.

Conforme se observa, brincadeira, ludicidade, local agradável e espaço que


proporciona alegria são palavras e frases sempre associadas à brinquedoteca. Buscando
uma associação da brinquedoteca com outro espaço, Bomtempo (1990) afirma que a
brinquedoteca é um local que possui um conjunto de brinquedos organizados, sendo ela
para o brinquedo o que a biblioteca é para o livro. Já Schelee afirma que a brinquedoteca:
[...] deve ser encarada como um espécie de laboratório onde dois grupos de usuários
diferenciados são convidados a desenvolver uma série de atividades numa relação
que se poderia chamar de dialética, já que, como resultado das atividades
desenvolvidas, as transformações das idéias acabam por determinar as
transformações da matéria, e vice-versa. (SCHELEE, 2000, p. 62)
Silva (2001), buscando uma definição para a brinquedoteca, afirma que a mesma
constitui-se em um espaço com preparação para estimular a criança a brincar e a
desenvolver a socialização, a cognição, a afetividade e a motricidade, dentre outras
habilidades. Dessa forma, esse espaço lúdico possibilita à criança o acesso a brinquedos
variados e promove o resgate das brincadeiras tradicionais, contribuindo para o
desenvolvimento do ser humano nesse importante momento de sua vida.

Assim, brincadeiras, jogos, brinquedotecas e educação são temas amplamente


conectados e objetivos das discussões subseqüentes.

4.1. Brincadeiras, jogos e educação

Os educadores da Educação Básica, especialmente os que militam na Educação Infantil e


nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, têm o privilégio de atuar no contexto de uma
fase da vida do ser humano, a infância, reconhecidamente relevante para todo o seu
posterior desenvolvimento.

Esse privilégio vem acompanhado de uma responsabilidade impar,


principalmente se for considerado que para o desenvolvimento de seu trabalho esses
profissionais enfrentam muitos desafios em seu cotidiano, alguns surgidos em decorrência
das políticas educacionais implementadas, ou da ausência delas. Essa ausência do poder
público, ou a implementação de políticas educacionais equivocadas, refletem tanto na
formação dos professores, quanto na estrutura das escolas públicas do país. Nesse
contexto, torna-se relevante a discussão de conceitos que contribuam com formação inicial

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e continuada dos professores, tais como a função das brincadeiras e dos jogos na educação
escolar, a partir da conceituação de infância.

Infância e Infância

A noção da infância, fase da vida que conta com a atuação dos educadores da Educação
Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, surgiu com a sociedade capitalista,
considerando que foram modificados a inserção e o papel social das crianças na
comunidade em que vivem. Segundo Kramer (2007, p. 15), “a idéia de infância moderna
foi universalizada com base em um padrão de crianças das classes médias, a partir de
critérios de idade e de dependência do adulto, característicos de sua inserção no interior
dessas classes”.

O conceito de infância passa por mudanças históricas, devendo ser considerada a


diversidade de um país continental como o Brasil, principalmente em relação aos seus
aspectos sociais, políticos e culturais. Os estudos de Áries (1978) não deixam dúvidas de
que o conceito de infância muda historicamente, tendo como determinantes para essa
mudança os aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos. Dessa forma, pode-se
afirmar que “[...] existem infâncias, e não infância, pelos aspectos sociais, culturais e
políticos que envolvem essa fase da vida [...]” (KRAMER, 2007, p. 27).

No caso do Brasil, é importante ressaltar a existência de infâncias distintas para


classes sociais que também são distintas, considerando que o país apresenta grandes
desigualdades na distribuição de renda e, também, de poder (KRAMER, 2007).

Infância, escola e brincadeiras

A escola, espaço onde se passa muito tempo da vida, é um local privilegiado de


contribuição com a vivência integral da infância. Deve-se refletir continuamente sobre a
atuação da escola no que se refere ao trabalho realizado com essa fase da vida, havendo a
necessidade de se “[...] pensar nos espaços que têm sido destinados para que a criança
possa viver esse tempo de vida com todos os direitos e deveres assegurados” (KRAMER,
2007, p. 28).

Dentre as atividades realizadas na escola durante a infância, o brincar ganha


destaque, dada a sua contribuição para o desenvolvimento das crianças que estão nesse
período da vida. O lúdico pode tornar-se um trabalho significativamente educativo, a
partir da atuação da escola.

Da mesma forma como ocorre com a Infância, a cultura lúdica também é


construída a partir do referencial que se tem, sendo, portanto, distinta em cada contexto.

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BOUGÈRE afirma que “um repertório de brincadeiras, cujos esquemas básicos ou rotinas
são partilhados pelas crianças, compõe a cultura lúdica infantil, ou seja, o conjunto de
experiências que permite às crianças brincar juntas” (BOUGÈRE, 2002, 2004 apud BORBA,
2007, p. 40). Borba, dissertando sobre a temática, afirma que:
Esses esquemas, contudo, não são estáticos, mas transpostos e transformados de um
contexto para outro. Nesse sentido, são influenciados tanto pelo contexto físico do
ambiente, a partir dos recursos naturais e materiais disponíveis, como também pelo
contexto simbólico, ou seja, pelos significados preexistentes e partilhados pelo grupo
de crianças. Desse modo, ambientes escolares organizados para a brincadeira,
compostos de mobiliários e objetos vinculados à vida doméstica, suscitam
brincadeiras de papéis familiares; rios, mares, lama e areia geram brincadeiras de
nadar, pular, fazer castelo; personagens de novela conhecidos pelas crianças criam
brincadeiras de papéis e cenas domésticas; super-heróis tematizam piques e
brincadeiras de perseguição. (BORBA, 2007, p. 40)

O brincar e o jogar

A utilização do termo “brincar” refere-se ao conjunto de atividades que se assemelham


dado o seu caráter lúdico, sendo que, de forma geral, o jogo ou a brincadeira são os termos
utilizados para se fazer referência a essa forma de atividade.

Macedo (2003) faz uma distinção entre o jogo e a brincadeira onde, para o autor, a
brincadeira é um jogo (com as pessoas, com as idéias, com os sentimentos, com situações e
objetivos) onde os objetivos e as regulações não são, necessariamente, pré-determinados.
Na brincadeira o objetivo é divertir-se, passar o tempo, fazer de conta. No jogo, ou se
ganha ou se perde. O jogar é uma brincadeira convencional, organizada, cujos papéis e
posições dos envolvidos são demarcados. Surpreende-se, no jogar, com o resultado ou
algumas reações dos jogadores. Já nas brincadeiras, é surpreendente a sua realização e a
sua própria composição. Assim, conclui-se que o jogo é uma evolução da brincadeira,
sendo esta última uma necessidade da criança e o jogo apenas uma de suas possibilidades.

No entendimento do autor, a brincadeira tem como suporte o brinquedo que, se


não funcionar como suporte de alguma brincadeira, passa a ser apenas um objeto, ou seja,
o objeto transforma-se em brinquedo apenas se for utilizado com uma função lúdica.

Macedo (2003) ainda afirma que o brincar é: 1) envolvente, porque coloca a


criança em um contexto que possibilita a interação entre suas atividades físicas e
fantasiosas, incluindo os objetos que são utilizados como projeção ou suporte delas; 2)
interessante, considerando que o mesmo canaliza, orienta e organiza as energias da
criança, dando-lhes forma de atividade ou ocupação; e, 3) informativo, porque a criança,
mediante o brincar, pode aprender sobre as características dos objetos, sobre os conteúdos
imaginados ou pensados.

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Jogos, brincadeiras e o desenvolvimento infantil

Estudos teóricos apontam a importância do jogar e do brincar para o desenvolvimento


infantil. Piaget (1951), ao afirmar que é por meio da interação da criança com o meio que o
conhecimento é construído, não surgindo através da representação de fenômenos
externos, aponta o jogo como fator que também contribui, significativamente, para o
desenvolvimento cognitivo da criança. O autor, ao entender que o processo de
acomodação e assimilação constitui-se no meio através do qual a realidade transforma-se
em conhecimento, afirma que, mediante as brincadeiras, ocorre um predomínio da
assimilação, momento em que a criança incorpora, à sua maneira, o mundo, sem
compromisso com a realidade vivida.

Para Vygotski (1991), a criança, ao brincar, vivencia momentos que vão além de
seu nível de desenvolvimento real, possibilitando a criação de zonas de desenvolvimento
proximal. Para ele, o brincar constitui-se em uma atividade humana criadora, onde há uma
interação entre a imaginação, a fantasia e a realidade para a produção de outras
possibilidades de interpretação, expressão e ação, bem como de novas formas de
construção das relações sociais com adultos e outras crianças; ou seja, ao mesmo tempo em
que a criança, através da brincadeira, representa e reproduz o mundo por meio das
situações criadas, essa reprodução/representação não ocorre de maneira passiva, mas sim
através de um processo ativo de representação desse mundo, abrindo espaços para a
invenção e a produção de novos saberes, práticas e significados.

O mesmo autor aponta a ocorrência de dois importantes aspectos no ato de


brincar, sendo um deles a situação imaginária e, o outro, as regras. A situação imaginária
criada pela criança ao brincar, preenche as necessidades específicas da fase em que está
vivendo, sendo modificada de acordo com a sua idade/maturidade. Ao brincar, a criança
elabora hipóteses para situações que talvez esteja vivendo, ajudando-a na satisfação de
alguma necessidade interior. Para o autor, o brincar possibilita à criança, na criação de
situações imaginárias, resolver situações conflitantes do seu cotidiano. Já as regras,
também presentes no brincar, pode auxiliar a criança para o entendimento e assimilação
dos papéis sociais presentes em nossa cultura.

Através das brincadeiras pode-se, ainda, conhecer melhor as crianças,


considerando que, nesses momentos, parte de seus mundos e de suas experiências são
revelados,
[...] porque o processo do brincar referencia-se naquilo que os sujeitos conhecem e
vivenciam. [...] Quando as crianças pequenas brincam de ser ‘outros’ (pai, mãe,
médico, monstro, fada, bruxa, ladrão, bêbado, polícia etc.), refletem sobre suas

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relações com esses outros e tomam consciência de si e do mundo, estabelecendo


outras lógicas e fronteiras de significação da vida (BORBA, 2007, p. 35-36).
Enfim, o brincar é um espaço de onde as crianças apropriam-se de conhecimentos
e habilidades no âmbito da linguagem, no âmbito da cognição, dos valores e da
sociabilidade. E esses conhecimentos, a partir do que ocorre no cotidiano, constituem-se
em sujeitos e na base para
[...] muitas aprendizagens e situações em que são necessários o distanciamento da
realidade cotidiana, o pensar sobre o mundo e o interpretá-lo de novas formas, bem
como o desenvolvimento conjunto de ações coordenadas em torno de um fio
condutor comum (BORBA, 2007, p. 39).
Um dos espaços que pode ser utilizado para o brincar e o jogar, enquanto
elementos para o desenvolvimento de nossas crianças, é a brinquedoteca escolar, objeto de
discussão nos próximos itens.

4.2. Brinquedoteca: espaço de ludicidade e desenvolvimento das crianças

A brinquedoteca sempre está associada a crianças, ao brincar, à brincadeiras e a


brinquedos, sendo um espaço agradável para que as crianças sintam-se estimuladas a
sonhar, a imaginar, a se expressar e a brincar. No entanto, há que se atentar para uma
organização desse Laboratório de forma que propicie a ludicidade e o desenvolvimento
das crianças que o freqüentam.

Brinquedoteca: surgimento e tipos

Ao resgatar o surgimento da brinquedoteca, constata-se que a mesma surge em plena


depressão americana, no ano de 1934 em Los Angeles. Concluindo que as crianças não
tinham brinquedos, um diretor de uma escola municipal começou a emprestar brinquedos
para as crianças, cujo projeto, denominado Los Angeles Toy Loan, ainda está em
desenvolvimento (FRIEDMMANN, 1988).

Com o objetivo de emprestar brinquedos para famílias de crianças consideradas


excepcionais e, ainda, orientar os familiares, a Suécia inaugurou sua primeira
brinquedoteca no ano de 1963. Na Inglaterra, as primeiras bibliotecas de brinquedos (Toy
Libraries) começaram a surgir a partir do ano de 1967 com o objetivo de emprestar
brinquedos para os domicílios.

As brinquedotecas começam a ganhar o mundo a partir da realização de diversos


eventos, tais como os ocorridos em Estocolmo, Suécia, em 1981 (II Congresso Internacional
de Brinquedotecas), em Toronto, Canadá, no ano de 1987 (Congresso Internacional de Toy
Libraries), em Turim, Itália, no ano de 1990 (Congresso Internacional de Brinquedotecas) e

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272 A brinquedoteca enquanto espaço de formação docente e discente: o brincar e o jogar em discussão

em Melbourne, Austrália, no ano de 1993 (Encontro Mundial sobre o Brincar)


(RAMALHO, 2000).

No Brasil, data de 1973 a instituição da Ludoteca da APAE – Associação de Pais e


Amigos de Excepcionais - (SANTOS, 1995), ocorrida na cidade de São Paulo, que
promovia rodízio de brinquedos entre as crianças, possibilitando que muitas delas
manuseassem uma série deles. Também em São Paulo, a Escola Indianápolis cria a sua
primeira brinquedoteca no ano de 1981, que dava assistência às crianças e promovia
empréstimo de brinquedos para elas, uma vez que priorizava o ato de brincar. A partir de
1985 ocorreu uma expansão de brinquedotecas no país, considerando a criação da
Associação Brasileira de Brinquedotecas.

Existem vários tipos de brinquedotecas, com finalidades específicas, tais como:


brinquedotecas de bairro, brinquedotecas de universidades, brinquedotecas de hospitais
ou clínicas, brinquedotecas circulantes, brinquedotecas bibliotecas, brinquedotecas
rodízios, brinquedotecas temporais, brinquedotecas em condomínios, em hotéis, em
presídios, em clubes, em shoppings e em supermercados e brinquedotecas de escolas
(AZEVEDO, 2004), que são as que nos interessam neste trabalho. A função de cada uma
delas pode variar, porém, as principais funções da brinquedoteca estão relacionadas ao
ensino, à pesquisa, ao lazer e à terapêutica (AZEVEDO, 2004).

Para a mesma autora, falando especificamente de brinquedotecas de escolas, tais


espaços encontram-se em unidades que ofertam a Educação Infantil, buscando suprir as
necessidades de materiais que contribuam com o desenvolvimento da aprendizagem dos
alunos.

Ramalho (2000, p. 114), por sua vez, afirma que “a criatividade, a inteligência e as
demais capacidades do ser humano devem ser desenvolvidas desde a mais tenra idade”.
Neste contexto, surge a brinquedoteca escolar enquanto um espaço alternativo que,
priorizando o resgate à brincadeira, propicia o desenvolvimento da criança, com
espontaneidade e prazer. Para a autora,

A magia da brinquedoteca proporciona uma relação direta com o universo


individual da criança, constituindo-se em uma viagem ao imaginário. É através da criação
dos novos brinquedos que a imaginação, a afetividade e a fantasia se estruturam e se
desenvolvem. A confecção de brinquedos a partir do reaproveitamento de material em
brinquedotecas, é uma medida que além de estimular o desenvolvimento da criatividade
da criança, proporciona o desenvolvimento motricional ao mesmo tempo em que propicia
uma porta ao imaginário.

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Neste sentido, para a autora, as brincadeiras e, também, os jogos ocorridos nas


brinquedotecas de escolas devem ser compreendidos além da ludicidade que
proporcionam, considerando a contribuição que podem dar para o desenvolvimento das
crianças, sem abrir mão do prazer e liberdade que proporcionam às mesmas.

Objetivos da Brinquedoteca

Ao mapear os objetivos estabelecidos de pesquisas sobre o funcionamento de


brinquedotecas, deparou-se com os seguintes:

Para Cunha (1997 apud RAMALHO, 2000), os objetivos da brinquedoteca são os


seguintes: possibilitar à criança um espaço adequado para que possa brincar sossegada e
sem cobranças; estimular a capacidade de concentração e atenção; favorecer o equilíbrio
emocional; propiciar o desenvolvimento das potencialidades; auxiliar no desenvolvimento
da inteligência, criatividade, e sociabilidade; possibilitar o acesso a um número maior de
brinquedos, experiências e descobertas; incentivar a valorização do brinquedo como meio
de desenvolvimento intelectual, emocional e social; fortalecer o relacionamento entre as
crianças e suas famílias; valorizar a afetividade e cultivar a sensibilidade.

Para Friedman (1988), dentre outros, os objetivos da brinquedoteca estão


relacionados à valorização das atividades lúdicas e dos brinquedos, à possibilidade
oferecida às crianças de acesso a um maior número de brinquedos, à colaboração para que
as crianças saibam sobre o uso adequado dos materiais disponíveis no espaço e à
contribuição para o desenvolvimento global das crianças. Estabelece ainda como objetivos
o enriquecimento que o espaço pode proporcionar para as relações familiares, o
desenvolvimento de hábitos de responsabilidade e trabalho, a possibilidade de interagir
espontaneamente e sem preconceitos e, ainda, de aprender o respeito às preferências de
cada um e a garantia de seus direitos.

Kishimoto, ao estabelecer os objetivos de uma brinquedoteca na escola, define,


dentre outros, os seguintes:
Suprir a escola de brinquedos e jogos necessários às atividades pedagógicas; auxiliar
os pais na escolha de brinquedos adequados; proporcionar interação entre pais e
filhos através do uso de jogos; propiciar que a criança tenha acesso à uma variedade
de brinquedos; destinar um espaço para o desenvolvimento de brincadeiras.
(KISHIMOTO, 1998 apud RAMALHO, 2000, p. 99)
Em pesquisa realizada por Ramalho (2000, p. 117) em bibliotecas de Florianópolis,
a autora concluiu que as brinquedotecas das Instituições de Educação Infantil “... têm seus
objetivos diretamente relacionados ao das Instituições as quais encontram-se vinculadas,
estando na grande maioria essencialmente direcionadas ao fator pedagógico”.

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A mesma autora, após o término da pesquisa, afirma que 66% das brinquedotecas
analisadas objetivam oferecer a criança um espaço livre para brincar e resgatar o lúdico,
34% tem como perspectiva estimular a criança durante o seu desenvolvimento,
compreender o comportamento da criança, através de observação, com a intenção de
solucionar possíveis problemas, além de incentivar o prazer da leitura e perseguir um
objetivo pedagógico.

Paz (1997) afirma que a brinquedoteca tem como objetivos: possibilitar uma
educação menos formal e mais integradora, voltada para o ser humano integral;
possibilitar a todas as crianças, inclusive as de baixa renda, o acesso socializado ao
brinquedo; promover a valorização do ato de brincar, respeitando a iniciativa, a liberdade,
a autonomia e a criatividade das crianças; regatar as brincadeiras e a sensibilidade das
crianças; proporcionar às crianças um ambiente lúdico, contribuindo para a ocorrência da
construção do conhecimento através dos jogos, brinquedos e brincadeiras, tornando-se um
espaço de aprendizagem; conscientizar os pais quanto à importância do brinquedo para a
criança enquanto elemento que pode contribuir significativamente para o seu
desenvolvimento afetivo, social, cognitivo e físico.

Já Santos (1997, apud AZEVEDO, 2004), aponta como principais finalidades da


brinquedoteca o oferecimento de um espaço onde a criança possa brincar sem cobranças e
sem sentir que está perdendo tempo ou atrapalhando alguém ou alguma outra atividade;
estimular a operatividade das crianças, a construção de uma vida interior rica e o
desenvolvimento da capacidade de concentração e atenção; contribuir para o equilíbrio
emocional dos participantes; dar oportunidade para o aprendizado dos jogos e da
participação e para a expansão das potencialidades de cada um; contribuir para o
desenvolvimento da inteligência, da criatividade e da sociabilidade; possibilitar às crianças
o acesso a um número maior de brinquedos, de experiências e de descobertas; valorizar os
sentimentos afetivos, através do cultivo da sensibilidade; promover o relacionamento
entre as crianças e entre essas e seus familiares e incentivar a valorização do brinquedo
enquanto elemento que pode contribuir para o desenvolvimento intelectual, emocional e
social das crianças.

Conforme se observa, os objetivos apontados para a brinquedoteca têm uma


estreita relação entre si, culminando com a contribuição que o espaço pode dar para o
desenvolvimento integral de nossas crianças, sem que se perca a ludicidade propiciada
pelo ambiente.

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 263-286
Tallita Dayane Uzetto da Silva, Nilson Robson Guedes Silva 275

Organização e estrutura

Para a definição da estrutura de uma brinquedoteca, bem como de sua organização, deve-
se atentar para o que se pretende com a mesma, ou seja, quais são os seus objetivos. De
forma geral, existem algumas recomendações a serem seguidas, de forma que o espaço
seja lúdico e contribua para o desenvolvimento infantil.

Azevedo (2004) estabelece para a brinquedoteca a necessidade de criação de um


espaço que possibilite a exploração de alternativas lúdicas e outro que contribua para a
vivência dessas mesmas alternativas. Para a autora:
É fundamental a descrição do tipo de clientela e as funções a serem desenvolvidas em
cada espaço, com especial destaque para o espaço de vivência lúdica, pois é nele que
ocorrem as experiências desejadas e prazerosas, as simbolizações e representações
necessárias para o alcance da saúde mental de seus usuários. Assim, o espaço da
brinquedoteca deve ser configurado de forma a gerar essas vivências (AZEVEDO,
2004, p. 59).
Em análise de uma brinquedoteca, que apresenta objetivos essencialmente
pedagógicos, Paz (2007) afirma que a mesma deve possuir a seguinte infra-estrutura: local
para produção de brinquedos (com testes e análise); diversos brinquedos industrializados;
sucatoteca, acervo de livros e videoteca; espaço para as crianças brincarem; profissionais –
brinquedista – para acompanhamento das atividades e assessoria para o desenvolvimento
das atividades.

Ramalho (2000), por exemplo, recomenda que os materiais (brinquedos)


destinados às crianças menores sejam colocadas em estantes pequenas, facilitando o acesso
das mesmas. Quando aos blocos de construção, recomenda como local para o seu
armazenamento caixas ou cestas, que deverão ser guardadas em estantes baixas. Já os
quebra-cabeças, considerando que podem facilmente ser extraviados, devem ser
guardados em sacos de tecidos ou de plásticos, devendo também ser acondicionados em
local onde a criança possa pegá-los e devolvê-los a qualquer momento.

O mesmo autor, ao falar sobre o planejamento de uma brinquedoteca afirma que


Existem diversos espaços dentro da brinquedoteca. Entre os ambientes ou cantinhos
encontrados estão: o Canto da Leitura (os livrinhos são utilizados como brinquedo e o
acervo deve ser diversificado contendo obras com texto e só figuras, pois a primeira
leitura da criança é com a de figuras. Este canto tem também como finalidade cultivar
o hábito de leitura); o Canto do faz-de-conta (mobília e utensílios domésticos,
camarim, espelho, maquiagem, fantasias, roupas e sapatos são exemplos do que é
utilizado pela criança para o desenvolvimento e criação de vários papéis); o Canto da
Criação ou Invenção (local destinado à criação de brinquedos de sucata ou utilização
dos blocos de construção); Sucatoteca (local para guarda dos materiais recicláveis e
tudo que possa ser reaproveitado para a construção de brinquedos e jogos); Canto do
Teatrinho e dos Fantoches (espaço onde as crianças criam histórias utilizando os
fantoches); Mesa Coletiva (utilizada pelas crianças para jogar ou para desenvolver
qualquer atividade com os colegas); Estantes e Móveis com Brinquedos (para guarda
do acervo); quadro para Recados (proporciona a comunicação entre as crianças
através dos recados, sendo utilizado para notícias e avisos). Algumas brinquedotecas
possuem a Oficina de restauração de brinquedos. (RAMALHO, 2000, p. 100-101)

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 263-286
276 A brinquedoteca enquanto espaço de formação docente e discente: o brincar e o jogar em discussão

Cunha (1994a) aponta a existência de vários ambientes em uma brinquedoteca, a


saber: Canto do faz-de-conta, Canto de leitura, Canto das invenções, Sucateca, Teatrinho,
Mesa de Atividade, Estantes com brinquedos e acervo.

Em pesquisa realizada por Ramalho (2000), a autora constatou que 100% das
brinquedotecas utilizam, para condicionamento dos materiais, as estantes. Ocorre que os
dados mostraram que muitas das brinquedotecas possuíam estantes altas, dificultando o
livre acesso das crianças aos materiais. Demonstra ainda a pesquisa que 23% das
brinquedotecas possuíam armários para os materiais serem guardados e em 67% delas
eram utilizadas caixas para que os brinquedos fossem acondicionados.

Friedmann (1998), ao falar sobre a decoração da brinquedoteca, afirma que a


mesma deve expressar alegria e afeto. Diz ainda que a atmosfera do espaço deve ser
encantadora, devendo o local ser preparado de forma criativa para que estimule as
crianças a brincar . Também destaca a importância de se ter um camarim, locais
organizados para a guarda dos brinquedos e uma sucatoteca, destinada à invenção de
novos brinquedos.

Em pesquisa realizada em brinquedoteca, Ramalho (2000) constatou que as


mesmas estavam estruturadas em setores, correspondendo a 33% do total. Segundo a
mesma autora, a hora do conto seria uma das atividades freqüentemente desenvolvidas
nas brinquedotecas, ocorrendo em 55,55% delas, com freqüência ao menos semanal. Souto-
Maior (1998), citado por Ramalho (2000), afirma que a leitura diária de histórias deve fazer
parte da rotina das crianças, considerando que a partir desta atividade as crianças
constroem um repertório próprio de histórias, utilizando uma linguagem diferente da
cotidiana.

Ramalho (2000) também constata que as seguintes atividades foram citadas pelos
responsáveis pelas brinquedotecas: teatro de fantoches; desenho; música; pintura;
confeccionar roupas de bonecas; brinquedo de roda; confecção de brinquedos de sucatas;
construção do boi-de-mamão; brincadeiras de bambolê, passar anel, esconde-esconde,
boca de leão, pular corda, elástico, pião, amarelinha, dançar na cadeira, pau de fita, bate
manteiga, cobra cega, ioiô, biboquê e cinco marias, além da realização de trabalhos com
gesso e argila.

Assim, são diversos espaços a serem organizados dentro de uma brinquedoteca,


para que sejam oferecidas alternativas variadas às crianças que estão em busca de
diversão, alegria, aprendizagem e companheirismo, e necessitam ser estimuladas para que
se desenvolvam durante os momentos que ali permanecem.

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Tallita Dayane Uzetto da Silva, Nilson Robson Guedes Silva 277

Acervo

O acervo de uma brinquedoteca que busque contribuir para o desenvolvimento das


crianças deve ser variado, buscando atender as individualidades de seus freqüentadores.
Para Ramalho (2000), devem ser observados os seguintes aspectos para a escolha dos
brinquedos: nível de interesse que poderá despertar nas crianças; adequação do brinquedo
com o estágio de desenvolvimento das crianças; apelo à criatividade; possibilidade de ser
utilizado de diversas formas (versatilidade); composição e funcionamento; seu tamanho,
cores e formas, durabilidade e atendimento às normas específicas de segurança.

Cunha (1994) afirma que a escolha dos brinquedos demanda uma atenção quanto
ao estágio de desenvolvimento das crianças que irão utilizá-los, devendo-se observar se o
brinquedo despertará o interesse das crianças; também é fundamental que se considere,
dentre outros elementos, que os comportamentos infantis variam, a depender da fase em
que a criança se encontra e que crianças que apresentem o mesmo desenvolvimento
intelectual podem não apresentar o mesmo desempenho para a realização de
determinadas tarefas.

Bean (1994, apud RAMALHO, 2000) afirma que a criança se interessa pelos objetos
que fazem parte do seu mundo, podendo ser motivada tanto por um pedaço de madeira,
por exemplo, quanto por um jogo eletrônico. Para o autor é importante: distinguir sobre a
necessidade de expressão das fantasias e o desejo de possuir um jogo por estar na moda;
verificar a qualidade do jogo, pois, um belo e caro jogo pode se transformar, rapidamente,
em uma sucata; observar que muitos jogos caros se limitam a uma determinada faixa
etária, fazendo com que a criança brinque com eles durante pouco tempo; verificar que
alguns brinquedos são muito sofisticados e conforme o estágio de desenvolvimento, a
criança fica sem saber o que fazer com eles; atentar para o fato de que muitos jogos
artesanais e pedagógicos não são tão dispendiosos. Os adultos devem diferenciar entre a
beleza de um brinquedo e a utilidade e necessidade da criança; a utilização, pela criança,
de materiais descartáveis para a confecção de jogos, sendo este considerado um meio
adequado para o desenvolvimento da criatividade e considerada uma medida inteligente
sob o ponto de vista educativo.

Para Ramalho (2000), sofisticado ou simples, um brinquedo tem a sua


importância determinada pela própria criança, que utiliza como critério para definir a sua
importância o grau de interesse que desperta nela. Para a autora, porém, nem sempre a
criança consegue escolher sozinha o seu brinquedo, demandando a opinião de um adulto.
O adulto, nesse caso, deve apresentar à criança vários brinquedos, priorizando aqueles que
despertem o desejo de brincar. Outro fator importante apontado pela autora é que o

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 263-286
278 A brinquedoteca enquanto espaço de formação docente e discente: o brincar e o jogar em discussão

brinquedo, jogo ou brincadeira escolhidos devem atender ao estágio de desenvolvimento


em que a criança se encontra, buscando atender suas necessidades de ordem afetiva,
social, cultural, física e intelectual.

Cunha (2004, apud RAMALHO, 2000), leva em consideração o período de


desenvolvimento das crianças para sugerir os brinquedos que julga adequados para
utilização das mesmas: - Crianças de 0 a 2 anos: Móbiles coloridos, sonoros e que se
movimentam; chocalhos pequenos; brinquedos de morder; bichinhos de vinil; bola-bebê;
martelos de borracha; brinquedos de puxar e de empurrar; livros de pano; argolas de
plástico para encaixar; cubos de tecido; bichos de pelúcia; caixa de música; boneca de
pano; cavalinho de pau, carrinhos de puxar; brinquedos de empurrar; blocos de
construção; bate-estacas; brinquedos grandes de desmontar; degraus e pequenos
escorregadores; túneis (para passar por dentro); cavalinho de pau; carro ou bicicleta sem
pedal (a criança os movimenta com os pés no chão); - Crianças de 2 a 4 anos: livros de
pano com figuras; panelinhas e utensílios de cozinha, pequenas mobílias e demais objetos
domésticos; bonecas; chapéus; fantasias; fantoches; bichinhos de plástico e de pelúcia;
massa de modelar; quebra-cabeças simples; tambor, pandeiros e corneta; carros,
caminhões, trenzinhos e aviões, pianinhos; cabanas e casinhas; balde e pazinha; triciclo,
material para fazer bolhas de sabão; - Crianças de 4 a 7 anos: blocos de construção;
material para pintura e desenho; jogos de dominó e loto; jogos de circuito; carrinho de
boneca; livros de história, jogo de damas.

Em pesquisa realizada por Ramalho (2000) em brinquedotecas de Florianópolis, a


autora constatou que a bola e a boneca estavam presentes em 100% delas. Os brinquedos
mais citados pelas entrevistas, segundo a autora, foram: livros de literatura infantil,
quebra-cabeça, miniaturas de utensílios domésticos, jogos de encaixe, fantoches, caixa de
ferramentas, fantasias, cavalinho de pau, bichinhos de pelúcia e jogos de construção.
Outro dado que chama a atenção, em relação às brinquedotecas pesquisadas, é que em
55% delas há a confecção de brinquedos com sucata.

Dessa forma, constata-se que a compra de brinquedos e demais materiais que


comporão o acervo de uma brinquedoteca não deve ocorrer de forma espontânea,
baseando-se apenas no interesse que possam despertar nas crianças. Deve ser antecedida
por um processo de discussão e planejamento, a partir dos objetivos que se pretenda com a
utilização do espaço, buscando-se uma variedade que possibilite o atendimento das
individualidades de cada criança.

Ramalho (2000) aponta a necessidade de um livro tombo para que sejam feitos os
registros do acervo existente, devendo ficar registrado no documento os dados principais

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 263-286
Tallita Dayane Uzetto da Silva, Nilson Robson Guedes Silva 279

dos materiais e o seu número de registro. Aponta como principais sistemas utilizados para
o registro o Sistema de ICCP (International Council for Children’s Play) e o Método ESAR.

O ICCP define critérios baseados em fatores fundamentais referentes a análise do


brinquedo, a saber: 1) Valor funcional – qualidades intrínsecas do brinquedo-normas de
segurança -; 2) Valor experimental – relacionado ao que a criança pode fazer ou aprender
com o brinquedo, tais como fazer ruído, encaixar, etc.; 3) valor de estruturação – ligado ao
desenvolvimento da personalidade infantil, abrangendo conteúdo simbólico – proteção,
transferência ou imitação; 4) Valor de relação – características do jogo/brinquedo, em
relação à atuação dos mesmos enquanto um elemento facilitador das relações com os
adultos e com outras crianças, onde se propõe o aprendizado de regras (MICHELET,
1998).

Para o autor, todos os brinquedos possuem as quatro características, porém, um


deles é mais dominante, e é justamente este elemento mais dominante que será o
referencial para a classificação do jogo ou do brinquedo.

Já o método ESAR é inspirado na abordagem piagetiana (GARON, 1998). O autor


afirma que esse método, baseado na psicologia e nas ciências documentais, permite a
identificação do potencial do jogo e/ou do brinquedo através da sua forma mais típica de
identificação, tendo como apoio as principais características do desenvolvimento infantil.
As palavras utilizadas no símbolo ESAR representam: E (jogo de exercício); S (jogo
simbólico); A (jogo de aclopagem); e R (jogo de regras simples ou complexas).

Qualidades do brinquedista

Para Negrine (1997), o brinquedista deve ser qualificado profissionalmente, considerando


que uma das atribuições deste profissional é responsabilizar-se pelo desenvolvimento das
atividades programadas, bem como animar os diversos espaços da brinquedoteca. Cunha
(1994) afirma que o profissional da brinquedoteca deve possuir as seguintes qualidades:
sensibilidade, entusiasmo, determinação e competência.

Em pesquisa realizada por Ramalho (2000), a autora constatou que, das


brinquedotecas pesquisadas, em 88,89% delas não há brinquedista atuando, ficando a
coordenação das atividades sob a responsabilidade dos próprios professores.

A pesquisa retrata o que se observa nas brinquedotecas instaladas em escolas,


ficando o professor da própria sala de aula responsável por encaminhar as crianças ao
espaço e para o desenvolvimento de atividades com as mesmas. Tal fato evidencia a
necessidade de que os professores tenham em sua formação, inicial e continuada,
subsídios que possibilitem uma atuação na brinquedoteca que contribua com o

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 263-286
280 A brinquedoteca enquanto espaço de formação docente e discente: o brincar e o jogar em discussão

desenvolvimento das crianças, e não se torne um espaço que sirva apenas para
brincadeiras e distrações da criança, aliviando o docente de outras atividades consideradas
mais estafantes.

É em busca de um espaço que contribua com a formação inicial dos alunos de


Pedagogia, no intuito de que os mesmos atuem com competência em um futuro
profissional, que se aponta para uma organização do Laboratório Brinquedoteca da
Faculdade Anhanguera de Limeira, objeto da próxima discussão.

4.3. A brinquedoteca na Faculdade Anhanguera de Limeira

Conforme discutido anteriormente, a presente pesquisa foi pensada enquanto uma


“pesquisa-ação”, na medida em que se realizou uma intervenção na brinquedoteca da
Faculdade Anhanguera de Limeira, ao mesmo tempo em que os dados foram levantados,
discutidos e avaliados.

Ao pensar na organização de um espaço para a organização da brinquedoteca da


Faculdade Anhanguera de Limeira, conforme apontado pela pesquisa, deveria ser buscado
um ambiente agradável, que estimulasse as crianças a sonhar, a criar situações
imaginárias, a se expressar das mais diversas formas e também a brincar, ou seja, um
espaço que, além do prazer e da liberdade proporcionados, contribuísse para o pleno
desenvolvimento das crianças.

Objetivos

Quanto aos objetivos para a brinquedoteca, considerando como sua principal finalidade
contribuir com a formação dos professores da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental, no que se refere a uma futura atuação que valorize o brincar e o
jogar enquanto elementos para o desenvolvimento da criança em seus mais diversos
aspectos, propôs:

• Capacitar os alunos do Curso de Pedagogia, futuros educadores da Educação


Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, para uma atuação
competente em binquedotecas de escolas;
• Utilizar a brinquedoteca enquanto espaço que pode ser utilizado
espontaneamente pelas crianças, sem cobranças, para brincadeiras e jogos;
• Contribuir para o desenvolvimento da criança, estimulando, dentre outros
elementos, sua criatividade, motricidade e raciocínio lógico;
• Possibilitar o desenvolvimento de atividades que contribuam para uma melhor
sociabilidade da criança, o controle de suas emoções, a valorização da
sensibilidade e o estabelecimento de laços afetivos, contribuindo para um
melhor relacionamento da criança com os seus pares e com os seus familiares;

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Tallita Dayane Uzetto da Silva, Nilson Robson Guedes Silva 281

• Criar condições para o desenvolvimento das Práticas Pedagógicas, previstas na


Matriz Curricular do Curso de Pedagogia;
• Contribuir com o desenvolvimento de crianças que não têm oportunidade de
freqüentar brinquedotecas, promovendo o acesso socializado ao brinquedo.

Estrutura da brinquedoteca

Dadas às suas especificidades, conforme evidenciado nos objetivos propostos, a


brinquedoteca da Faculdade deverá ter a seguinte estrutura: uma sala ampla, possuindo
uma área de 40 metros quadrados, de forma que possibilite a desenvolvimento de
variados projetos pelos alunos do Curso de Pedagogia, prevendo, inclusive, o
comparecimento de grupo de crianças para a vivência de alternativas lúdicas.

No que se refere a organização do espaço, optou-se pela criação de cantinhos,


conforme proposto por diversos autores, dentre eles Ramalho (2000) e Cunha (1994a), de
forma a propiciar vivências lúdicas. Para escolha dessa organização, considerou-se sua
finalidade e os recursos disponíveis, sendo definido os seguintes espaços:

- Canto da Leitura: destinado ao desenvolvimento do hábito de leitura e, também, para


desenvolvimento de brincadeiras com livros confeccionados com diversos tipos de
materiais, tais como plástico, papelão, panos e outros. Também deverá existir uma
variedade de fantasias/figurinos, para meninos e meninas, bem como fantoches, sucatas e
outros materiais, de forma que as crianças possam viver os personagens da história.

- Canto do faz-de-conta: organizado para que a criança possa vivenciar vários papéis
sociais, deverá ser organizado com mobílias e utensílios domésticos, espelho, maquiagem,
roupas, sapatos, e outros objetos.

- Canto da Invenção: possibilita a criação de brinquedos com sucatas e, ainda, a utilização


de blocos de construção.

- Canto de jogos: possibilita a aprendizagem de regras, elemento fundamental para o


desenvolvimento da criança; socialização, desenvolvimento de raciocínio lógico e da
linguagem, dentre outras contribuições.

- Espaço Coletivo: consideramos importante a existência de um tapete colorido e


travesseiros ao centro da brinquedoteca, de forma que seja possível acomodar 20 crianças
em torno do espaço, para a contação de história, cantigas e outras atividades que
requeiram uma reunião com várias crianças.

Acervo da brinquedoteca

Os brinquedos e demais materiais selecionados para compor o acervo da brinquedoteca


foram escolhidos tendo como critério o nível de interesse que poderia despertar nas

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 263-286
282 A brinquedoteca enquanto espaço de formação docente e discente: o brincar e o jogar em discussão

crianças, conforme nos orienta Ramalho (2000), bem como sua adequação ao nível de
desenvolvimento de cada faixa etária. Também se buscou materiais que fossem versáteis,
coloridos, com durabilidade, de variadas formas e de cores variadas, e que demandassem
o uso da criatividade das crianças. Assim, definiu-se a seguinte listagem de materiais para
a Brinquedoteca, de acordo com cada um de seus cantos:

- Canto da Leitura: 01 estante para livros; 01 painel; Livros de literatura infantil, para as
mais variadas idades; gibis; livro de piadas e advinhas e livros informativos, num total de
120 obras.

- Canto do faz-de-conta: 06 fantoches (cachorro, lobo, sapo, porco, pingüim, jacaré); 01 casa
de papelão; 03 fantoches de dedo; 01 teatro de fantoche; 01 tapete pequeno, colorido; 01
castelo de princesa, de tecido.

- Canto da invenção: 03 sacos grandes de legos (200 peças); 01 jogo de encaixar; 01 kit de
blocos coloridos (50 peças); 02 sacos grandes de blocos coloridos (200 peças); 01 kit de
engenheiro (120 peças); sucatas diversificadas (caixas de fósforos, garrafas pequenas, etc.);
panelinhas e utensílios de cozinha e pequenas mobílias.

- Canto dos jogos: 02 prateleiras pequenas; 01 jogo de botão; 03 jogos de A a Z; 01 jogo de


cruzada de letras; 01 relógio de EVA; 01 palhaço de EVA; 03 cordas de pular; 02 jogos de
resta um; 01 caleidoscópio; 01 jogo de mercado imobiliário; 01 jogo de palavras cruzadas;
04 jogos de dominó; 01 castelo de madeira; 05 jogos da memória; 01 tabuleiro de dama
(grande); 10 jogos de quebra-cabeça; 03 jogos de exploração espacial; 01 jogo sobre o
trânsito; 01 jogo de matemática - boliche; 01 jogo de batalha naval; 01 jogo de
conhecimento do corpo; 01 jogo de formar palavras; 01 jogo da memória, com palavras em
inglês; 01 jogo de montar palavras, em inglês; 01 jogo de senha; 01 jogo da velha; 01 jogo
de xadrez; 01 jogo de exploração do Brasil; 01 jogo de exploração dos opostos; 03 jogos de
pegar varetas; 01 jogo de amarelinha; 01 bola.

- Espaço Coletivo: 03 travesseiros coloridos; 01 tapete grande, colorido.

Observa-se, de acordo com a listagem dos materiais, que a brinquedoteca conta


com materiais para o atendimento específico das crianças das diversas faixas etárias,
conforme apontado por Cunha (2004 apud RAMALHO, 2000). Para a criança de 0 a 2 anos,
adquiriu-se móbiles coloridos, brinquedos de puxar e de empurrar; livros de pano; cubos;
blocos de construção; brinquedos grandes de desmontar, e outros. Para as crianças de 2 a 4
anos: livros de pano com figuras; panelinhas e utensílios de cozinha, pequenas mobílias e
demais objetos domésticos; fantasias; fantoches; quebra-cabeças simples e outros. Para as

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Tallita Dayane Uzetto da Silva, Nilson Robson Guedes Silva 283

Crianças de 4 a 12 anos: blocos de construção; material para pintura e desenho; jogos de


dominó e loto; livros de história, jogo de damas, jogo de xadrez e outros.

Os referidos brinquedos/materiais, conforme recomendado por Ramalho


(2000), foram colocados em estantes pequenas, cuja prateleira maior é de 1 (um)
metro de altura, buscando-se facilitar o acesso aos mesmos pelas crianças que
freqüentam o ambiente, e em sacos apropriados para o acondicionamento de
determinados materiais, tais como os móbiles coloridos. Pela quantidade de
brinquedos existentes, bem como em consideração ao espaço disponível,
estabeleceu-se um número de quatro estantes. Também se adquiriu estante para
livros, painel, tapetes e travesseiros, mesas e cadeiras pequenas.

Todo esse material está sendo catalogado em um livro tombo, constando as


principais características dos brinquedos/materiais bem como o número de
registro de cada um, conforme recomendado pelos especialistas da área.

Brinquedista

Dada a especificidade da brinquedoteca da Faculdade Anhanguera de Limeira, a mesma


não possui um brinquedista, considerando que os próprios alunos do Curso de Pedagogia,
sob a orientação dos seus professores, atuam como responsáveis pelo desenvolvimento
das atividades programadas, bem como pela animação dos espaços da brinquedoteca.

5. RESULTADOS
Conforme se observa, a Brinquedoteca tornou-se um importante instrumento de apoio ao
docente, contribuindo significativamente para o desenvolvimento das crianças.

Em pesquisa realizada por Ramalho, em instituições de ensino que possuíam


brinquedotecas, a autora concluiu que “... 100% das pessoas entrevistadas afirmaram que,
após a criação das Brinquedotecas das respectivas Instituições, houve efetivamente um
maior desenvolvimento infantil, comprovado por observação e fatos concretos”
(RAMALHO, 2000, p. 117). Segundo uma das entrevistadas, “... após a implantação do
espaço houve um aumento do senso de cooperação, aumento da criatividade e
responsabilidade por parte das crianças” (Idem, p. 117). Segundo a coordenadora de uma
determinada brinquedoteca,
[...] após a criação do espaço notou-se sensíveis mudanças nas crianças. Passaram a
zelar pelos brinquedos para não danificá-los e por intermédio do canto do camarim e
do faz de conta passaram a utilizar o espelho, a maquiagem, os sapatos de salto alto e
descobriram a vaidade, recuperando a auto-estima. (RAMALHO, 2000, p. 118)

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 263-286
284 A brinquedoteca enquanto espaço de formação docente e discente: o brincar e o jogar em discussão

A autora constata ainda que em uma das brinquedotecas, segundo sua


responsável, nos dias em que determinada turma utiliza a brinquedoteca “[...] não há
faltas (relacionadas à freqüência) na escola [...]” (RAMALHO, 2000, p. 123).

Porém, a organização de uma brinquedoteca exige empenho e conhecimento dos


responsáveis pela sua implantação, para que este local possa atender aos objetivos a que se
propõe e não se torne um espaço que sirva apenas para as crianças brincarem e se
divertirem livremente, deixando-se de aproveitar esta oportunidade para buscar o
desenvolvimento das crianças que a freqüentam.

Estas diretrizes nortearam a organização da brinquedoteca da Faculdade


Anhanguera de Limeira que possibilitará aos alunos do Curso de Pedagogia uma melhor
formação no que se refere ao uso de jogos e brincadeiras com as crianças de nossas escolas
e outras instituições nas quais atuarão. A organização da brinquedoteca em cantos,
conforme realizado, facilitará a escolha das atividades pelas crianças, e, até, pelas
responsáveis pelo desenvolvimento das atividades, no caso os alunos do Curso de
Pedagogia.

Concluída a organização do espaço e dos materiais/equipamentos disponíveis,


em contraposição a muitos locais, a brinquedoteca objeto da presente pesquisa-ação
constitui-se em um local agradável e atrativo para o desenvolvimento de brincadeiras e
jogos infantis, possibilitando uma melhor formação aos alunos do Curso de Pedagogia,
bem como para o desenvolvimento de projetos de extensão implementados pela
instituição, através do Curso de Pedagogia.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através do presente estudo foi possível verificar a contribuição da brinquedoteca escolar,
quando explorada de forma adequada, no que se refere ao desenvolvimento das crianças e
ao preparo dos alunos do Curso de Pedagogia, futuros professores da Educação Infantil e
dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Valorizando-se o brincar e o jogar enquanto elementos para o desenvolvimento


da criança, buscando os principais fundamentos na teoria de Vigotsky, e conhecendo-se,
através de resultados e relatórios de pesquisas, variadas brinquedotecas no país, propôs-se
contribuir com a formação dos professores da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental, no que se refere a uma futura atuação que valorize o brincar e o
jogar enquanto elementos para o desenvolvimento da criança em seus mais diversos
aspectos.

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Tallita Dayane Uzetto da Silva, Nilson Robson Guedes Silva 285

Para que o funcionamento da brinquedoteca atenda aos objetivos propostos,


deve-se estruturá-la adequadamente, desde sua estrutura, o tipo de acervo adequado para
cada faixa etária, bem como a sua disposição de forma a facilitar a atuação das crianças.

A partir de uma ampla discussão dos referenciais teóricos, chegou-se a uma


forma de organização da brinquedoteca da Faculdade Anhanguera de Limeira, sendo a
mesma organizada em cantos e um espaço coletivo, de forma a propiciar aos alunos do
Curso de Pedagogia uma atuação junto às crianças que estão em busca do lúdico, no
entanto, deverão obter contribuições significativas ao seu processo de desenvolvimento.

A existência de uma brinquedoteca na Faculdade Anhanguera de Limeira,


organizada de forma a propiciar vivências significativas aos seus usuários, também
possibilitará o desenvolvimento de projetos junto à comunidade local, especialmente com
as crianças de menor poder aquisitivo, tais como as que estão abrigadas em instituições
filantrópicas do município.

Neste sentido, o desenvolvimento desta pesquisa possui um valor significativo


para os atuais e futuros alunos da instituição, bem como para as crianças que a
freqüentarem, sendo um ponto de partida para outros estudos e análises, visando uma
constante e necessária adequação do laboratório “Brinquedoteca”.

REFERÊNCIAS
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AZEVEDO, Antonia Cristina Pelusso de. Brinquedoteca no diagnóstico e intervenção em
dificuldades escolares. Campinas, Alínea, 2004.
BEAN, R. Como dessarrollar la creatividade em los ninõs. Madrid: Debate, 1994.
BONTEMPO, E. Brinquedoteca: o espaço da crianças. Idéias: o cotidiano da pré-escola, 7, São
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