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INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo expandir a compreensão da Constituição Federal de
1988, bem como o da aplicabilidade dos direitos sociais a necessidades. Será mostrado à
construção, a evolução e algumas informações que mostrem a história das Constituições
Brasileiras.
Lei fundamental e suprema do país, a Constituição da República Federativa do Brasil,
foi promulgada em 5 de outubro de 1988. Isto é, a Assembleia Constituinte, formada por
deputados e senadores eleitos, escreveu e aprovou uma nova Constituição, que também pode
ser chamada de Carta constitucional.
Pode ser considerada o auge de todo o processo de redemocratização brasileiro. Ela é a
sétima versão na história da República.
Em 1986, o novo governo já foi marcado pela necessidade de um texto constitucional
mais democrático e, em fevereiro de 1987, o deputado Ulysses Guimarães abriu as sessões da
Assembleia Nacional Constituinte, composta por 559 congressistas.
A promulgação da Constituição de 1988 marcou o início da consolidação da
democracia, após os anos da ditadura militar. Promulgada em 5 de outubro de 1988, tornou-se
o principal símbolo do processo de redemocratização nacional. Após 21 anos de regime
militar, a sociedade brasileira recebia uma Constituição que assegurava a liberdade de
pensamento. Foram criados mecanismos para evitar abusos de poder do Estado.
Durante cinco meses, cidadãos e entidades representativas encaminharem suas
sugestões para a nova Constituição. Cinco milhões de formulários foram distribuídos nas
agências dos Correios. Foram coletadas 72.719 sugestões de cidadãos de todo o País, além de
outras 12 mil sugestões dos constituintes e de entidades representativas.
O debate formal sobre a nova Constituição começou em julho de 1985, com a
Comissão Provisória de Estudos Constitucionais, também conhecida como Comissão Afonso
Arinos. Composta por 50 membros, ela foi presidida pelo senador Afonso Arinos de Melo
Franco. O anteprojeto constitucional foi entregue em setembro do ano seguinte e, embora não
tenha sido encaminhado oficialmente ao Congresso, foi publicado e serviu de base para
muitos dos constituintes que, em fevereiro de 1987, passaram a debater oficialmente a
construção da nova Constituição num trabalho que se desenvolveu em sete etapas,
desdobradas em 25 fases distintas. E o próprio senador Afonso Arinos tornou-se um dos
constituintes, tendo sido designado presidente da Comissão de Sistematização, uma das etapas
desse processo.
1. Conceito
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transformações sociais que levaram à necessidade de rever o papel do Estado na regulação das
relações privadas, bem como à revisão dos próprios poderes outorgados.
O ponto central do constitucionalismo contemporâneo é a ascensão institucional do
poder judiciário e o espaço que este tem ocupado na política. Atualmente, o Brasil passa por
uma crise de identidade entre os poderes legislativo, executivo e judiciário e vem deixando de
lado a rígida tripartição de poderes estabelecida por Montesquieu, especialmente, quando o
judiciário invade terreno de atuação específica do executivo e principalmente do legislativo.
Na história das Constituições brasileiras, há uma alternância entre regimes fechados e
mais democráticos, com a respectiva repercussão na aprovação das Cartas, ora impostas, ora
aprovadas.
Foram Constituições promulgadas, no Brasil, a de 1891, a de 1934, a de 1946 e a atual
(de 1988).
Foram Constituições outorgadas a de 1824, a de 1937 e a de 1969.
2.1.1 Constituição de 1824 (Brasil Império)
Primeira Constituição do país, outorgada por dom Pedro I. Mantém os princípios do
liberalismo moderado.
Apoiado pelo Partido Português, constituído por ricos comerciantes portugueses e
altos funcionários públicos, D. Pedro I dissolveu a Assembleia Constituinte em 1823 e impôs
seu próprio projeto, que se tornou a primeira Constituição do Brasil. Apesar de aprovada por
algumas Câmaras Municipais da confiança de D. Pedro I, essa Carta, datada de 25 de março
de 1824 e contendo 179 artigos, é considerada pelos historiadores como uma imposição do
imperador.
Entre as principais medidas dessa Constituição, destaca-se o fortalecimento do poder
pessoal do imperador, com a criação do Poder Moderador, que estava acima dos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário. As províncias passam a ser governadas por presidentes
nomeados pelo imperador e as eleições são indiretas e censitárias. O direito ao voto era
concedido somente aos homens livres e proprietários, de acordo com seu nível de renda,
fixado na quantia líquida anual de cem mil réis por bens de raiz, indústria, comércio ou
empregos. Para ser eleito, o cidadão também tinha que comprovar renda mínima proporcional
ao cargo pretendido. Essa foi a Constituição com duração mais longa na história do país, num
total de 65 anos.
Características:
A monarquia era a forma de governo de caráter hereditário.
A religião católica era qual denominava na época.
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O direito de petição era garantido; todo cidadão poderia apresentar, por escrito,
reclamações, queixas ou petições, e expor qualquer infração da Constituição Imperial,
requerendo perante a autoridade competente responsabilidade dos infratores.
Além dos três poderes (Executivo, Judiciário e Legislativo) foi criado um novo poder,
o Moderador, por Dom Pedro I, conforme o art. 10.
Poder Moderador: Era um poder autoritário que conferia a D. Pedro I poderes como
chefe supremo da Nação, além de dar ao Imperador a competência para intervir nos
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A pessoa do Imperador é inviolável e
sagrada; ele não está sujeito à responsabilidade alguma, conforme o art. 99 previa.
Além de subjugar os três poderes, também instituiu o regime de Padroado, subjugando
o poder da igreja católica ao poder do imperador.
O Senado era composto de membros vitalícios, escolhidos pelo próprio Imperador,
constituindo uma representação da Aristocracia Imperial.
Consequências:
Provocou diversas reações armadas, como exemplo a Revolução Pernambucana de
1824, que proclamou a Confederação do Equador.
O duelo entre a Nação e o Imperador culminou com a abdicação deste, a 7 de abril de
1831.
A reação do espírito liberal brasileiro corporificou-se, a seguir, na reforma da
Constituição Imperial de 1834.
Reformas
Ato Adicional de 1834, que cria as Assembleias Legislativas provinciais. Legislação
eleitoral de 1881, que elimina os dois turnos das eleições legislativas.
2.1.2 Constituição de 1891 (Brasil República)
Após a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, houve mudanças
significativas no sistema político e econômico do país, com a abolição do trabalho escravo, a
ampliação da indústria, o deslocamento de pessoas do meio rural para centros urbanos e
também o surgimento da inflação. Outra mudança foi o abandono do modelo do
parlamentarismo franco-britânico, em proveito do presidencialismo norte-americano.
O marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da República e chefe do governo
provisório, e Rui Barbosa, seu vice, nomearam uma comissão de cinco pessoas para
apresentar um projeto a ser examinado pela futura Assembleia Constituinte. O projeto
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As penas de Galés (pena que sujeitava os condenados a andar com correntes de ferro
nos pés, e de banimento judicial foram abolidas).
Principais medidas –
Estabelece o presidencialismo, confere maior autonomia aos estados da federação e
garante a liberdade partidária.
Institui eleições diretas para a Câmara, o Senado e a Presidência da República, com
mandato de quatro anos.
O voto é universal e não secreto para homens acima de 21 anos e vetado a mulheres,
analfabetos, soldados e religiosos.
Determina a separação oficial entre o Estado e a Igreja Católica e elimina o Poder
Moderador.
2.1.3 Constituição de 1934
Promulgada pela Assembleia Constituinte durante o primeiro governo do presidente
Getúlio Vargas, reproduz a essência do modelo liberal anterior, o país realiza nova
Assembleia Constituinte, instalada em novembro de 1933.
A Constituição, de 16 de julho de 1934, traz a marca getulista das diretrizes sociais e
adota as seguintes medidas:
maior poder ao governo federal;
voto obrigatório e secreto a partir dos 18 anos, com direito de voto às mulheres, mas
mantendo proibição do voto aos mendigos e analfabetos;
criação da Justiça Eleitoral e da Justiça do Trabalho;
criação de leis trabalhistas, instituindo jornada de trabalho de oito horas diárias,
repouso semanal e férias remuneradas;
mandado de segurança e ação popular.
Essa Constituição sofreu três emendas em dezembro de 1935, destinadas a reforçar a
segurança do Estado e as atribuições do Poder Executivo, para coibir, segundo o texto,
“movimento subversivo das instituições políticas e sociais”. Foi a Constituição que vigorou
por menos tempo no Brasil: apenas três anos.
Características:
Determinou-se a proibição de diferença de salário para um mesmo trabalho, por
motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil.
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vitória ao general Eurico Gaspar Dutra, empossado em 31 de outubro de 1946, que governou
o país por decretos-lei, enquanto preparava-se uma nova Constituição.
Características:
Nesse período foram instituídos os seguintes documentos legais em vigor até hoje:
Código Penal, Código de Processo Penal, Leis das Contravenções Penais e
consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
Foi determinado em todo o Brasil estado de emergência que perdurou durante todo o
Estado Novo.
Pelo art. 178, os parlamentos foram fechados e as eleições suspensas. O chefe de
Estado exercia a função legislativa, por intermédio das leis constitucionais e dos
decretos-leis.
Consequências:
Reduziu a esfera dos direitos individuais, desconstitucionalizando o mandado de
segurança e a ação popular.
Foram abolidos os partidos políticos e a liberdade de imprensa.
Pelo fato de ser um regime ditatorial, houve uma excessiva perseguição aos opositores
do governo.
2.1.5 Constituição de 1946
Essa Constituição, datada de 18 de setembro de 1946, retomou a linha democrática de
1934 e foi promulgada de forma legal, após as deliberações do Congresso recém-eleito, que
assumiu as tarefas de Assembleia Nacional Constituinte.
Entre as medidas adotadas, estão:
o restabelecimento dos direitos individuais,
o fim da censura e da pena de morte.
A Carta também devolveu a independência ao Executivo, Legislativo e Judiciário e
restabeleceu o equilíbrio entre esses poderes, além de dar autonomia a estados e municípios.
Outra medida foi a instituição de eleição direta para presidente da República, com
mandato de cinco anos.
As demais normas estabelecidas por essa Constituição foram:
incorporação da Justiça do Trabalho e do Tribunal Federal de Recursos ao Poder
Judiciário; pluralidade partidária;
direito de greve e livre associação sindical;
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Daniel Giotti de Paula (2011, p. 282) afirma que “não há dúvidas de que a fonte
remota do ativismo, traduzida em uma postura de atuação dos juízes da Suprema Corte
americana, está na própria legitimidade que lhe foi outorgada para controlar a
constitucionalidade de atos normativos”.
Deve-se atentar que antes, conforme Montesquieu, os juízes eram somente a “boca da
lei”, e estes gradativamente passaram a ter que lidar com conceitos indeterminados, cláusulas
gerais, tendo que regular o direito, ou estabelecer o direito a ser aplicado no caso concreto. O
juiz passou a se encontrar muitas vezes dividido entre a obrigação de aplicar a lei ou de
ministrar uma justiça equitativa e adaptada ao momento atual da sociedade, se achando, nesta
ocasião, forçado interpretar o texto de outra forma, lhe atribuindo um novo sentido.
Assim, as novas posições adotadas pelos juízes foram fundamentais para o
desenvolvimento do neoconstitucionalismo, com a constitucionalização do Direito, a
irradiação das normas e valores constitucionais, bem como a rejeição ao formalismo, o realce
a primazia do princípio da dignidade da pessoa humana, e os direitos fundamentais
consagrados constitucionalmente que devem ser protegidos e aplicados, pelos Poderes
Públicos e pela sociedade.
O judiciário brasileiro sofreu grandes influências dos grandes debates que tomaram
corpo na Europa e nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, e que chegaram ao
Brasil e se consolidaram com a Carta Magna de 1988. “No caso brasileiro, o renascimento do
direito constitucional se deu, igualmente, no ambiente de reconstitucionalização do país, por
ocasião da discussão prévia, convocação, elaboração e promulgação da Constituição de
1988.” (BARROSO, 2012, p.01).
Com atribuição à norma da constituição um do status de norma jurídica superior,
superou-se o modelo que vigorou na Europa no qual “a Constituição era vista como um
documento essencialmente político, um convite à atuação dos Poderes Públicos” (BARROSO,
2012, p.01). Com as mudanças verificadas com a Constituição de 1988, podemos destacar o
reconhecimento da força normativa dos princípios jurídicos e valorização da sua importância
no processo, onde regras e princípios tiveram reconhecido seu caráter normativo e passaram a
ser concretizadas pelo poder judiciário. Bem como, a rejeição ao formalismo, a
constitucionalização do direito, com irradiação de normas e valores constitucionais e a
reaproximação entre o direito e a moral.
Atualmente a Constituição “se coloca no vértice do sistema jurídico do país, a que
confere validade, e que todos os poderes estatais são legítimos na medida em que ela os
reconheça e na proporção por ela distribuídos.” (José Afonso da Silva, 2006, p. 45). Sendo lei
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poderes começa a não atuar como deveria, e outro poder fica obrigado a assumir sua função
por uma atuação defeituosa.
A tripartição concebida por Aristóteles e aprimorada por Montesquieu visava à
contenção do poder, pois ao conter o poder e evitar a concentração do poder estatal em único
órgão encontrava-se a justiça e garantia do Estado Democrático. O fundamento da divisão era
a proteção do cidadão, contudo, atualmente, a divisão rígida de poderes passou a ir contra os
direitos mais fundamentais do cidadão, direitos garantidos constitucionalmente e que se
tornaram inoperantes pela inércia legislativa. Assim, não se pode perder de vista que as
escolhas políticas devem ser no limite em que as mesmas estejam em conformidade com a
ordem jurídica, não se admitindo omissões abusivas e ilegais, casos em que o controle
jurisdicional se torna necessário.
O modelo tripartite de Poderes deve ser conformado com os tempos atuais, impondo-
se o controle de um poder sobre o outro como forma de concretização dos objetivos buscados
pelo Estado Social em que vivemos em vista da feição prestacional do Estado.
O futuro do constitucionalismo identifica-se com a verdade, com a solidariedade,
consenso, continuidade, participação e universalização dos direitos humanos e do ideal de
cidadania pura e sadia.
3. Hermenêutica constitucional
Partindo da concepção de que hermenêutica não é método, trabalhar com a concepção
de hermenêutica constitucional tem apenas o sentido de situar com mais especificidade a
“coisa” Constituição.
Assim, hermenêutica não é algo que se opera para uma determinada finalidade ou
somente para alguns momentos. Gadamer explica que a ideia de verdade nas ciências
humanas tão apegada ao método estaria equivocada, uma vez que Hermenêutica é filosófica e
não (método) lógica.
A linguagem não sendo um instrumento, portanto, não sendo uma terceira coisa entre
o sujeito e o objeto, mas sim a condição de possibilidade de acesso ao mundo, também aponta
para a universalidade do labor hermenêutico, que, por isso, não poderia/deveria ser pensado
de forma regionalizada nem limitada a textos de determinada natureza.
Do mesmo modo, A universalidade da hermenêutica é confirmada pelo fato de que
qualquer compreensão do ser sobre quais os intérpretes chegam a concordar ocorre na
linguagem, e a compreensão da linguagem requer interpretação e aplicação, ou seja,
hermenêutica.
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Por ela, busca-se traduzir para uma linguagem acessível aquilo que não é
compreensível. Daí a ideia de Hermes, um mensageiro divino, que transmite e, portanto,
esclarece o conteúdo da mensagem dos deuses aos mortais. Ao realizar a tarefa de hermeneus,
Hermes tornou-se poderoso.
Na história moderna, tanto na hermenêutica teológica como na hermenêutica jurídica,
a expressão tem sido entendida como arte ou técnica (método), com efeito diretivo sobre a lei
divina e a lei humana.
O ponto comum entre a hermenêutica jurídica e a hermenêutica teológica reside no
fato de que, em ambas, sempre houve uma tensão entre o texto proposto e o sentido que
alcança a sua aplicação na situação concreta, seja em um processo judicial ou em uma
pregação religiosa. Essa tensão entre o texto e o sentido a ser atribuído ao texto coloca a
hermenêutica diante de vários caminhos, todos ligados, no entanto, às condições de acesso do
homem ao conhecimento acerca das coisas.
Assim, a) demonstra-se que é possível colocar regras que possam guiar o hermeneuta
no ato interpretativo, mediante a criação, p. ex., de uma teoria geral da interpretação; b)
reconhece-se que a pretensa cisão entre o ato do conhecimento do sentido de um texto e a sua
aplicação a um determinado caso concreto não são de fato atos separados, ou c) reconhece-se,
finalmente, que as tentativas de colocar o problema hermenêutico a partir do predomínio da
subjetividade do intérprete ou da objetividade do texto não passaram de falsas contraposições
fundadas no metafísico esquema sujeito-objeto.
A hermenêutica jurídica praticada no plano da cotidianidade do Direito deita raízes na
discussão que levou Gadamer a fazer a crítica ao processo interpretativo clássico, que
entendia a interpretação como sendo produto de uma operação realizada em partes (subtilitas
intelligendi, subtilitas explicandi, subtilitas applicandi, isto é, primeiro compreendo, depois
interpreto, para só então aplicar).
Tudo isto porque temos uma estrutura do nosso modo de ser no mundo, que é a
interpretação. Podemos dizer, então, que estamos condenados a interpretar. O horizonte do
sentido nos é dado pela compreensão que temos de algo. Compreender é um existencial, que é
uma categoria pela qual o homem se constitui. A faticidade, a possibilidade e a compreensão
são alguns desses elementos existenciais. É no nosso modo da compreensão enquanto ser no
mundo que exsurgirá a norma, produto da síntese hermenêutica, que se dá a partir da
faticidade e historicidade do intérprete.
A superação da hermenêutica clássica ou daquilo que tem sido denominado de
hermenêutica jurídica como técnica no seio da doutrina e da jurisprudência praticadas
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cotidianamente implica admitir que houvesse uma diferença entre o texto jurídico e o sentido
desse texto, isto é, que o texto não carrega, de forma reificada, o seu sentido (a sua norma).
As palavras não “carregam” o seu próprio sentido ou seu sentido próprio. Trata-se de
entender que entre texto (lei) e norma (sentido da lei) não há uma equivalência e tampouco
uma total autonomização. Entre texto e norma há, sim, uma diferença, que é ontológica, isto
porque – e aqui a importância dos dois teoremas fundamentais da hermenêutica jurídico-
filosófica – o ser é sempre o ser de um ente e o ente só é no seu ser.
Nesse sentido, a afirmação de que o “intérprete sempre atribui sentido (Sinngebung)
ao texto”, nem de longe pode significar a possibilidade de este estar autorizado a atribuir
sentidos de forma arbitrária aos textos, como se texto (lei) e norma (sentido atribuído)
estivessem separados (e, portanto, tivessem existência autônoma). Como bem diz Gadamer,
quando o juiz pretende adequar a lei às necessidades do presente, tem claramente a intenção
de resolver uma tarefa prática (veja-se, aqui, a importância que Gadamer dá ao programa
aristotélico de uma praktische Wissenschaft). Isso não quer dizer, de modo algum, que sua
interpretação da lei seja uma tradução arbitrária.
Portanto, ficam afastadas todas as formas de decisionismo, discricionariedade e teses
como “a interpretação do Direito é um ato de vontade”. O fato de não existir um método que
possa dar garantia a correção do processo interpretativo denúncia presente, aliás, já no oitavo
capítulo da Teoria Pura do Direito de Hans Kelsen não autoriza o intérprete a escolher o
sentido que mais lhe convém, o que seria dar azo à discricionariedade, característica do
positivismo. Sem textos, não há normas. À vontade e o conhecimento do intérprete não
permitem a atribuição arbitrária de sentidos, e tampouco uma atribuição de sentidos arbitrária.
Afinal, e a lição está expressa em Verdade e Método, se queres dizer algo sobre um texto,
deixe que o texto te diga algo.
Dito de outro modo, podemos fazer uma relação entre a concepção clássica da
metafísica com o “segundo nível” da Teoria Pura de Kelsen. Nesses paradigmas o
sujeito/intérprete está aprisionado por estruturas das quais não lhe resta nada a se não ser
aceitar as essências, no primeiro caso, e a descrição das normas jurídicas como uma forma de
fazer ciência, no segundo. A aproximação se dá pelo fato de que o sujeito está preso à
determinada estrutura, sem qualquer tipo de interferência sobre ela. No entanto, para o
Direito, a construção deste “segundo nível” acaba esquecendo-se dos problemas práticos,
como a discricionariedade interpretativa dos juízes. Enquanto o “cientista” descreve o Direito
aqui o resquício da metafísica clássica objetivista, o juiz o aplica conforme sua vontade, o que
implica a possibilidade de lançar mão de argumentos morais, políticos, pessoais, etc. (Kelsen
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chama a isso, efetivamente, de ato de vontade). Essa problemática se estende aos positivismos
pós-hartianos, em especial os “positivismos duros”, que cindem moral e direito a partir de um
pretenso ato descritivo (ato externo), deixando o ato de aplicação do direito a cargo de
raciocínios práticos, espaço inexorável do poder discricionário, seja o nome que se dê a esse
ato subjetivista.
O Direito é concretude, e que cada caso é um caso, como é comum na linguagem dos
juristas. Afinal, é mais do que evidente que o Direito é concretude e que é feito para resolver
casos particulares. O que não é evidente é que o processo interpretativo é applicatio,
entendida no sentido da busca da coisa mesma (Sache selbst), isto é, do não esquecimento da
diferença ontológica (de novo, sempre apontando a impossibilidade de se cindir descrição da
prescrição).
O Direito é parte integrante do próprio caso e uma questão de fato é sempre uma
questão de Direito e vice-versa, Hermenêutica não é filologia. É impossível cindir a
compreensão da aplicação. Uma coisa é deduzir de uns topos ou de uma lei o caso concreto;
outra é entender o Direito como aplicação: na primeira hipótese, estar-se-á entificando o ser;
na segunda, estar-se-á realizando a aplicação de índole hermenêutica, a partir da ideia de que
o ser é sempre serem (in Sein).
Assim, embora os juristas nas suas diferentes filiações teóricas insistam em dizer que a
interpretação deve se dar sempre em cada caso, tais afirmações, infelizmente, não encontram
comprovação na cotidianidade das práticas jurídicas. Na verdade, ao construírem pautas
gerais, conceitos lexicográficos, verbetes doutrinários e jurisprudenciais (hoje existe uma
verdadeira fetichização em torno de “precedentes”) ou súmulas aptas a resolver casos futuros,
os juristas sacrificam a singularidade do caso concreto em favor dessas espécies de pautas
gerais, fenômeno, entretanto, que não é percebido no imaginário jurídico. Daí a indagação de
Gadamer: existirá uma realidade que permita buscar com segurança o conhecimento do
universal, da lei, da regra, e que encontre aí a sua realização? Não é a própria realidade o
resultado de sua interpretação? A rejeição de qualquer possibilidade de subsunções ou
deduções aponta para o próprio cerne de uma hermenêutica jurídica inserida nos quadros do
pensamento pós-metafísico. Trata-se de superar a problemática dos métodos, considerados
pelo pensamento exegético-positivista como portos seguros para a atribuição dos sentidos.
Compreender não é produto de um procedimento (método) e não é um modo de conhecer.
Compreender é, sim, um modo de ser, porque a epistemologia é substituída pela ontologia da
compreensão.
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jurídico fez à hermenêutica filosófica. Há, pois, uma especificidade nisso: o texto jurídico. A
lei. A jurisprudência.
Nesse sentido, é importante entender que a hermenêutica jurídica, que exsurge desse
viés, é parte de uma vertente de racionalidade prática preocupada com o Direito e com o que
este tem a ver com os diversos campos de conhecimento no qual se abebera. Por isso, pode-se
dizer que foi a ciência jurídica que foi absorvendo a fenomenologia hermenêutica, a partir dos
elementos fulcrais como o círculo hermenêutico, a diferença ontológica, a noção de pré-
compreensão (que, insisto, não é uma mera subjetividade e nem ideologia) e a própria noção
de verdade.
Quem interpreta já compreendeu e sempre tem uma pretensão de verdade. Como diz
Gadamer, mais do que combater o relativismo, é necessário destruí-lo. Em termos jurídicos, o
relativismo é inimigo da autonomia do Direito e da própria democracia. Gadamer deu uma
enorme contribuição para um novo tipo de hermenêutica jurídica. A filosofia que brotou de
sua obra inundou o Direito e contribuiu sobremodo para limpar a falsa imagem de
irracionalidade que a prática jurídica tinha em relação a uma certa epistemologia moderna. A
hermenêutica veio para ficar, exatamente porque é esse intermédio filosófico entre o
objetivismo e o subjetivismo.
Por tudo isso, é fácil afirmar que uma sentença judicial é um ato de decisão e não de
escolha. É um ato de poder, em nome do Estado. Dworkin diz que a sentença é um ato de
responsabilidade política. Por isso mesmo é que a sentença não é uma mera opção por uma ou
mais teses. Nesse sentido, Heinrich Rombach deixa claro que a análise autêntica do fenômeno
da decisão exige um desprendimento com relação às representações e modelos habituais do
fenômeno. Afirma que tanto o decisionismo irracional quanto o racionalismo – e as
correspondentes teorias da decisão que se formam a partir deles – acabam por entulhar o
problema na medida em que tornam indiferentes o fenômeno da decisão e o fenômeno da
escolha. Segundo o autor, decidir é diferente de escolher. E essa diferença não se apresenta
em um nível valorativo (ou seja, não se trata de afirmar que a decisão é melhor ou pior que a
escolha), mas, sim, estrutural. “Respostas de escolha são respostas parciais; respostas de
decisão são respostas totais, nas quais entra em jogo a existência inteira”.
No caso da decisão jurídica (sentença), é possível adaptar a fórmula proposta por
Rombach para dizer que ela pressupõe um comprometimento por parte do agente judicante
com a moralidade da comunidade política. Isso significa em termos dworkinianos que a
decisão é um ato de responsabilidade política. É por isso que a jurisdição, em um quadro
como esse, não efetua um ato de escolha entre diversas possibilidades interpretativas quando
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oferece a solução para um caso concreto. Ela efetua “a” interpretação, uma vez que decide – e
não escolhe – quais os critérios de ajuste e substância (moralidade) que estão subjacentes ao
caso concreto analisado. Portanto, há uma diferença entre o decidir, que é um ato de
responsabilidade política e o escolher, que é um ato de razão prática. O primeiro é um ato
estatal; o segundo, da esfera do cotidiano, de agir estratégico.
Para uma hermenêutica (constitucional) preocupada com a democracia, é necessário
evitar discricionariedades, decisionismos e a correção moral do direito. Nessa seara, o dever
de fundamentar, que é mais do que motivar não é simplesmente um adereço que será posto na
decisão. Tampouco será uma justificativa para aquilo que o juiz decidiu de forma subjetivista-
solipsista, substituindo o direito pela moral, política ou economia ou até mesmo suas opiniões
pessoais. O Estado Democrático e a Constituição são incompatíveis com modelos de
motivação teleológicos do tipo “primeiro decido e só depois busco o fundamento”. Superado
o paradigma subjetivista, é a intersubjetividade que será a condição para o surgimento de uma
decisão (ver Verdade e consenso, sexta edição, pela Saraiva). Nesse sentido, o juiz deve
controlar a sua subjetividade por intermédio da intersubjetividade proveniente da linguagem
pública (doutrina, jurisprudência, lei e Constituição). As suas convicções pessoais são – e
devem ser – irrelevantes para a decisão. Por isso, a decisão judicial não é fruto do pensamento
pessoal ou da “consciência do julgador”. Se a decisão jurídica for fruto de uma “hermenêutica
pessoal-solipsista”, obviamente já estaremos falando de hermenêutica, e, sim de uma
“interpretação como ato de vontade”. Decisão nesse sentido será nula. Como bem lembra
Arruda Alvim, o juiz não decide arbitrariamente, em função de sua mera vontade. 4 Como se
pode ver pela leitura do art. 371, o novo Código de Processo Civil aboliu a livre apreciação da
prova e qualquer forma de livre convencimento. A expulsão do livre convencimento é um
elemento de extrema relevância para demonstrar o significado democrático da hermenêutica.
Uma hermenêutica apta para implementar a Constituição não pode depender de livres
convicções, mesmo que sucedidas da falácia “livre convicção ou livre convencimento
motivado”. De novo, a aporia da ponte desmonta a tese do livre convencimento, que, aliás, já
desde há muito nada tem a ver com a superação da prova tarifada, passando a ser uma “tese”
que nada mais faz do repristinar o protagonismo judicial do final do século XIX e início do
século XX.
O advento da Constituição de 1988 exigiu um novo olhar sobre a hermenêutica
(constitucional). Por óbvio já não se pode (ria) pensar em trabalhar com instrumentalizações
pós-exegéticas, que, sincreticamente, passaram a incorporar posturas como a jurisprudência
dos valores alemã, o ativismo judicial norte-americano, a metodologia de Savigny, a
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ponderação advinda da teoria da argumentação jurídica (não há pistas de que a teoria alexyana
tenha sido efetivamente, aplicada em alguma decisão no Brasil) e outras correntes
voluntaristas que, em vez de centrar o olhar na Constituição e seu propósito, passaram a
apostar em elementos criteriais, naquilo que Dworkin tão bem denunciou como “aguilhões
semânticos”.
O advento da Constituição de 1988 apostava-se em certo ativismo judicial baseado,
por exemplo, nas diversas formas de positivismo fático (realismos jurídicos dos mais
variados) como forma específica de luta por espaços no interior do “sistema” na busca de
inclusões sociais – mormente no que diz respeito aos direitos de liberdade em um regime
político-jurídico autoritário/ditatorial que deixou de fora do direito os conflitos e aspirações
sociais –, na sequência, já na vigência da nova Constituição, não foram construídas as
condições necessárias para a concretização de um direito agora produzido democraticamente e
com feições nitidamente transformadoras da sociedade. Destarte, parece óbvio que a solução
para as novas demandas não adviria de uma aposta nas velhas posturas acionalistas.
Assim, a necessidade de se dar novos contornos à interpretação do direito
(constitucional), sem que se confundam, contudo, os princípios da interpretação constitucional
com os princípios jurídico-constitucionais. Fundamentalmente – e a lembrança é de Gomes
Canotilho, há que se ter claro que uma hermenêutica ligada ao caráter compromissório do
constitucionalismo contemporâneo terá que construir as condições de possibilidade para que a
retórica dos juristas adquira positividade, abrindo “caminhos hermenêuticos capazes de
auxiliarem a extrinsecação do direito constitucional”. 5 E essa tarefa é indelegável.
Diante disso, uma nova perspectiva hermenêutica vem se forjando a partir de duas
rupturas paradigmáticas: a revolução do constitucionalismo, que institucionaliza um elevado
grau de autonomia do direito, e a revolução copernicana provocada pelo giro-linguístico-
ontológico. De um lado, a existência da Constituição exige a definição dos deveres
substanciais dos poderes públicos que vão além do constitucionalismo liberal-iluminista,
diminuindo-se o grau de discricionariedade do Poder Legislativo, assim como do Poder
Judiciário nos denominados “casos difíceis”. De outro, parece não restarem dúvidas de que,
contemporaneamente, a partir dos avanços da teoria do direito, é possível dizer que não
existem respostas a priori acerca do sentido de determinada lei que exsurjam de
procedimentos ou métodos de interpretação. Nesse sentido, “conceitos” que tenham a
pretensão de abarcar, de antemão, todas as hipóteses de aplicação, nada mais fazem do que
reduzir a interpretação a um processo analítico, que se caracteriza pelo emprego “sistemático”
34
com o princípio fundamental. Fundamentalmente – e nesse sentido não importa qual o sistema
jurídico em discussão –, trata-se de superar as teses convencionalistas e pragmatistas a partir
da obrigação de os juízes respeitarem a integridade do direito e a aplicá-lo coerentemente.
O quarto princípio quatro é o dever fundamental de justificar/fundamentar as decisões.
Se nos colocamos de acordo que a hermenêutica a ser praticada no Estado Democrático de
Direito não pode deslegitimar deslegitimar o texto jurídico-constitucional produzido
democraticamente, parece evidente que a Sociedade não pode ser “indiferente às razões pelas
quais um juiz ou um tribunal toma suas decisões. O direito, sob o paradigma do Estado
Democrático de Direito, cobra reflexão acerca dos paradigmas que informam e conformam a
própria decisão jurisdicional”. Há, pois, uma forte responsabilidade política dos juízes e
tribunais, circunstância que foi albergada no texto da Constituição, na especificidade do art.
93, IX, que determina, embora com outras palavras, que o juiz explicite as condições pelas
quais compreendeu. O dever de fundamentar as decisões (e não somente a decisão final, mas
todas as do iter) está assentado em um novo patamar de participação das partes no processo
decisório. A fundamentação está ligada ao controle das decisões, e o controle depende dessa
alteração paradigmática no papel das partes da relação jurídico-processual. Por isso, o
protagonismo judicial-processual – que, como já se viu, provém das teses iniciadas por
Büllow, Menger e Klein ainda no século XIX – deve soçobrar diante de uma adequada
garantia ao contraditório e dos princípios já delineados. Decisões de caráter “cognitivista” (em
termos de meta ética, “não-cognitivistas”), de ofício ou que, serodiamente, ainda buscam a
“verdade real” se pretendem “imunes” ao controle intersubjetivo e, por tais razões, são
incompatíveis com o paradigma do Estado Democrático. Veja-se que a Corte de Cassação da
Itália (n. 14.637/02) recentemente anulou decisão fundada sobre uma questão conhecida de
ofício e não submetida pelo juiz ao contraditório das partes, chegando a garantir que o recurso
deve vir já acompanhado da indicação da atividade processual que a parte poderia ter
realizado se tivesse sido provocada a discutir. Em linha similar e em certo sentido indo além –
, o Supremo Tribunal de Justiça de Portugal (Rec. 10.361/01) assegurou o direito de a parte
controlar as provas do adversário, implementando a garantia da participação efetiva das partes
na composição do processo, incorporando, no decisum, doutrina8 no sentido de que o
contraditório deixou de ser a defesa, no viés negativo de oposição ou resistência à atuação
alheia, para passar a ser a influência, no sentido positivo do direito de influir ativamente no
desenvolvimento do processo. O Supremo Tribunal Federal do Brasil (MS 24.268/04, Rel.
Min. Gilmar Mendes) embora venha impedindo, historicamente, a análise de recursos
extraordinários que invoquem o aludido princípio – dá sinais sazonais da incorporação dessa
39
decisões por essa integração coerente na prática jurídica, assumindo especial importância a
autoridade da tradição (que não aprisiona, mas funciona como condição de possibilidade). A
tradição é ponto de partida e não de ponto de chegada, por isso os sentidos, ainda que
atualizados, sempre guardam um “DNA”, uma história a ser (re)construída. Não esqueçamos
que a constante tarefa do compreender consiste em elaborar projetos corretos, adequados às
coisas, como bem lembra Gadamer.
Por fim, o direito fundamental a uma resposta constitucionalmente adequada não
implica a elaboração sistêmica de respostas definitivas. Isso porque a pretensão de se buscar
respostas definitivas é, ela mesma, anti-hermenêutica, em face do congelamento de sentidos
que isso propiciaria. Ou seja, a pretensão a esse tipo de resposta sequer teria condições de
garanti-la. Mas o fato de se obedecer à coerência e à integridade do direito, a partir de uma
adequada suspensão da pré-compreensão que temos acerca do direito, enfim, dos fenômenos
sociais, por si só já representa o primeiro passo no cumprimento do direito fundamental que
cada cidadão tem de obter uma resposta adequada à Constituição. Veja-se, nesse sentido, que
Habermas, em seu Era das transições, embora a partir de uma perspectiva não propriamente
próxima à hermenêutica, mas, evidentemente antirrelativista – e esse ponto interessa aos
propósitos da hermenêutica aqui trabalhada –, afirma que a busca da resposta correta ou de
um resultado correto somente pode advir de um processo de autocorreções reiteradas, que
constituem um aprendizado prático e social ao longo da história institucional do direito. O
direito a uma resposta constitucionalmente adequada será, assim, consequência da obediência
aos demais princípios, isto é, a decisão (resposta) estará adequada na medida em que for
respeitada, em maior grau, a autonomia do direito (que se pressupõe produzido
democraticamente), evitada a discricionariedade (além da abolição de qualquer atitude
arbitrária) e respeitada a coerência e a integridade do direito, a partir de uma detalhada
fundamentação. O direito fundamental a uma resposta adequada à Constituição, mais do que o
assentamento de uma perspectiva democrática (portanto, de tratamento equânime, respeito ao
contraditório e à produção democrática legislativa), é um “produto” filosófico, porque
caudatário de um novo paradigma que ultrapassa o esquema sujeito-objeto predominante nas
duas metafísicas (clássica e moderna).
3.1 A Pirâmide de Kelsen – Hierarquia das normas
A pirâmide de Kelsen tem a Constituição com seu vértice (topo), por ser está
fundamento de validade de todas as demais normas do sistema. Assim nenhuma norma do
ordenamento jurídico pode se opor à Constituição: ela é superior a todas as demais normas
jurídicas, as quais são, por isso mesmo, denominadas infraconstitucionais.
42
Diz-se que os tratados de direitos humanos, ao serem aprovados por esse rito especial,
ingressam no chamado “bloco de constitucionalidade”. Em virtude da matéria de que tratam
(direitos humanos), esses tratados estão gravados por cláusula pétrea e, portanto, imunes à
denúncia pelo Estado brasileiro.
O primeiro tratado de direitos humanos a receber o status de emenda constitucional foi
a “Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
Facultativo”.
Os demais tratados internacionais sobre direitos humanos, aprovados pelo rito
ordinário, têm, segundo o STF, “status” supralegal. Isso significa que se situam logo abaixo
da Constituição e acima das demais normas do ordenamento jurídico.
A EC nº 45/2004 trouxe ao Brasil, portanto, segundo o Prof. Valério Mazzuoli, um
novo tipo de controle da produção normativa doméstica: o controle de convencionalidade das
leis. Assim, as leis internas estariam sujeitas a um duplo processo de compatibilização
vertical, devendo obedecer aos comandos previstos na Carta Constitucional e, ainda, aos
previstos em tratados internacionais de direitos humanos regularmente incorporados ao
ordenamento jurídico brasileiro.
As normas imediatamente abaixo da Constituição (infraconstitucionais) e dos tratados
internacionais sobre direitos humanos são as leis (complementares, ordinárias e delegadas), as
medidas provisórias, os decretos legislativos, as resoluções legislativas, os tratados
internacionais em geral incorporados ao ordenamento jurídico e os decretos autônomos.
As leis complementares podem tratar de tema reservado às leis ordinárias. Esse
entendimento deriva da ótica do “quem pode mais, pode menos”. Ora, se a CF/88 exige lei
ordinária (cuja aprovação é mais simples!) para tratar de determinado assunto, não há óbice a
que uma lei complementar regule o tema.
No entanto, caso isso ocorra, a lei complementar será considerada materialmente
ordinária; essa lei complementar poderá, então, ser revogada ou modificada por simples lei
ordinária. Diz-se que, nesse caso, a lei complementar irá subsumir-se ao regime constitucional
da lei ordinária.
As leis ordinárias não podem tratar de tema reservado às leis complementares. Caso
isso ocorra, estaremos diante de um caso de inconstitucionalidade formal (normodinâmica);
Os regimentos dos tribunais do Poder Judiciário são considerados normas primárias,
equiparados hierarquicamente às leis ordinárias. Na mesma ótica, encontram-se as resoluções
do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) e do CNJ ( Conselho Nacional de
Justiça).
44
ele concretiza em garantias apud, José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional
Positivo, p. 182. de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas.
Não surgiram à margem da história, porém, em decorrência dela, ou melhor, em
decorrência dos reclamos da igualdade, fraternidade e liberdade entre os homens. Homens não
no sentido de sexo masculino, mas no sentido de pessoas humanas. Os direitos fundamentais
do homem, nascem, morrem e extinguem-se.
Não são obra da natureza, mas das necessidades humanas, ampliando-se ou limitando-
se a depender do influxo do fato social cambiante. “ No entendimento do Prof. PAULO
BONAVIDES: “Com relação aos direitos fundamentais, Carl Schmitt estabeleceu dois
critérios formais de caracterização”: Pelo primeiro, podem ser designados por direitos
fundamentais todos os direitos ou garantias nomeados e especificados no instrumento
constitucional.
Para Canotilho a função de direitos de defesa dos cidadãos sob uma dupla perspectiva:
constituem, num plano jurídico-objetivo, normas de competência negativa para os poderes
públicos, proibindo fundamentalmente as ingerências destes na esfera jurídica individual;
implicam, num plano jurídico subjetivo, o poder de exercer positivamente direitos
fundamentais (liberdade positiva) e de exigir omissões dos Constituição Federal Anotada, p.
69.
Consoante a doutrina de JORGE MIRANDA: “Por direitos fundamentais entendemos
os direitos ou as posições jurídicas subjetivas das pessoas enquanto tais, individual ou
institucionalmente consideradas, assentes na Constituição, seja na Constituição formal, seja na
Constituição material – donde, direitos fundamentais em sentido formal e direitos
fundamentais em sentido material.”
4.1 Breve Histórico dos Direitos Fundamentais
Com exceção das primeiras tendências observadas no judaísmo, os Direitos Humanos
na antiguidade não tinham a mesma conotação que têm nos dias atuais.
O conceito de “dignidade humana” surgiu na antiguidade grego-romana e derivava
somente da posição social que o indivíduo ocupava na “polis”. No Antigo Testamento a
perspectiva era de que a dignidade do indivíduo enquanto ser humano provinha da idéia dele
ser filho de Deus e representar a imagem desse Deus, procurando-se assim, justificar o papel
dos ricos e detentores do poder no que concerne à proteção aos desafortunados.
Porém, toda essa concepção teológica do cristianismo e do judaísmo não se intimidava
perante a escravidão e nem de longe se comparava à idéia que temos hoje dos direitos
fundamentais. Merece destaque o posicionamento de São Tomas de Aquino (século XIII),
46
cujo mérito se consubstancia no fato dele ter se reportado a real função do direito,
relativamente ao 5 Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, p. 8. que se refere à justeza na
distribuição dos bens terrestres e no papel da jurisprudência enquanto disciplina autônoma,
seguindo os critérios da razão natural. Na “Lex Naturalis” ele ressalta a autonomia do direito
como tema naturalmente humano, ao invés de um simples apêndice da teologia moral. Tomás
de Aquino jamais duvidou do direito corporativo com todos os privilégios de sua época, mas
defendia que os direitos humanos seriam o princípio dos direitos naturais. Durante a Idade
Média, mais precisamente na sua última fase, apareceram documentos que aparentavam ser
precursores das futuras declarações de direito humanos. Tratava-se de codificações de certos
privilégios da nobreza e das pessoas livres, contratados entre príncipes e representações
corporativistas. Porém realmente cuidavam de direitos de cunho estamental direcionados a
certas classes, outorgados numa sociedade econômica e socialmente desigual. Temos como
exemplo os direitos concedidos pelo rei Afonso IX em 1188 às Cortes na Espanha, como os
direitos que tinha o acusado a um desenvolvimento regular do processo e à integridade de
vida, honra, casa, assim como o direito de propriedade. A Magna Carta Libertatum de 1215,
firmada pelo Rei João SemTerra com bispos e barões ingleses, onde o rei garantia que homem
livre não seria detido, preso, privado de seus bens, banido, ou incomodado, e proibia que
fosse preso sem julgamento consoante a lei da terra. A Reforma Protestante teve papel
marcante para o nascimento dos direitos fundamentais, a partir da reivindicação que levou ao
reconhecimento gradativo da liberdade de opção religiosa e de culto em diversos lugares da
Europa. No século XVII resultantes de conflitos entre o poder real e os estamentos do país,
surgiram em 1628, Petition of Rights (Petição de Direito), em 1629, a Ata de Habeas Corpus
e em 1689, Bill of Rights (Declaração de Direitos), não se considerando esses documentos
como declarações de direitos humanos, mas apenas como a restauração e confirmação de
liberdade dos ingleses e não de todos os homens.
Porém, tal evolução dos direitos, quer como fonte de inspiração para outras
conquistas, quer como limitações ao poder do rei face à liberdade individual, carecia por toda
a Inglaterra de uma estabilidade, pois não vinculavam o Parlamento, de sorte que, ao invés de
uma constitucionalização dos direitos e liberdades individuais fundamentais, ocorreu uma
fundamentalização desses mesmos direitos. Tiveram notável relevância para a concretude dos
direitos fundamentais, as Declarações de Direitos do Povo da Virgínia, que em 1776 foram
incorporadas à Constituição dos Estados Unidos e a Declaração Francesa de 1789,
consequência da revolução que derrubou o antigo regime e instaurou a ordem burguesa na
França, as quais culminaram com a evolução e a afirmação do Estado de Direito.
47
A evolução dos direitos sociais teve seu apogeu com a Declaração Universal dos
Direitos do Homem, promulgada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
em 10 de dezembro de 1948, onde estão relacionados os direitos fundamentais do homem.
Para garantir as incumbências contidas na Convenção, instituíram-se dois importantes
órgãos, que foi a Comissão Européia de direitos do Homem, juntamente com o Tribunal
Europeu de Direitos do Homem. Importante também é a Convenção Americana de Direitos
Humanos, denominada Pacto de San José de Costa Rica, perfilhada em 22 de novembro de
1969, que institucionalizou a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte
Interamericana de Direitos Humanos para proteção daqueles direitos, estes órgãos vigoram
desde 18 de junho de 1978, entretanto no Brasil, apenas começou a viger em 1992, por meio
de adesão.
No decorrer do século XIX, as constituições dos países passaram a definição dos
direitos e garantias no próprio texto, visando obter a concretude das normas jurídicas positivas
de proteção. Esta é a lição da Profª Flávia Piovesan (2013, p. 45).
Os tratados internacionais de direitos humanos têm como fonte um campo do Direito
extremamente recente, denominado “Direito Internacional dos Direitos Humanos”, que é o
Direito do pós-guerra, nascido como resposta às atrocidades e aos horrores cometidos pelo
nazismo. Neste cenário, surgem os tratados internacionais de proteção dos direitos humanos a
fim de vincular os Estados a uma legítima proteção dos nacionais, bem como dos estrangeiros
em seu território.
6. GARANTIAS E REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS
6.1 Função do Estado na Garantia dos Direitos Sociais
O objeto do direito social consiste na prestação de um serviço, ou na sua
impossibilidade, de uma contrapartida que o garanta. A Constituição Federal declara que o
Estado é responsável por atender aos direitos sociais.
Assim, cabe à pessoa que necessite de proteção a seus direitos exigir a prestação
concreta por parte do Estado. Compete ao Estado assegurar esses direitos, através da
implementação dos serviços públicos.
A prestação de serviços para garantia dos direitos sociais cria ônus para o Estado e de
forma indireta para os contribuintes. Em algumas situações, o dever de se cumprir os direitos
sociais é dividida com a sociedade, a família ou com o empregador, cabendo nestes casos ao
Estado a fiscalização e instrumentos para torná-los efetivos. Os direitos sociais gozam de
coercibilidade, pois uma vez reconhecidos, incumbe ao Estado restabelecê-los
coercitivamente caso violados, mesmo que o transgressor seja agente ou órgão do Estado.
53
República Federativa do Brasil, em seu art. 3º, estabelece como objetivos fundamentais do
Estado Brasileiro a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, garantindo o
desenvolvimento nacional: erradicar a pobreza e a marginalização, reduzir as desigualdades
sociais e regionais, promovendo o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação. Tais objetivos fundamentais, têm por
finalidade a consolidação da democracia econômica, social e cultural, e de eficácia quanto ao
ditame de dignidade da pessoa humana.
O Estado ao manifestar-se, por seus Órgãos, que deve exprimir a vontade estabelecida
na Constituição vigente. O poder público é composto pelas funções legislativa, executiva e a
jurisdicional. A função legislativa é desenvolvida por meio de edição de leis, normas gerais
que regulam situações de modo abstrato; a função executiva consiste na realização de atos de
governo, realizando a gerência da coisa pública para consecução do bem-estar social, nos
termos da lei; já a função jurisdicional objetiva a aplicação do direito ao caso concreto com a
finalidade de solucionar conflitos.
7.2 DIREITOS SOCIAIS
A conquista dos direitos sociais é efeito de diversos movimentos históricos na busca
de direitos relativos à dignidade humana, enquanto direitos fundamentais, tem como
destinatários todos os seres humanos. Quanto à relação dos direitos econômicos e direitos
sociais, José Afonso da Silva (2011, p. 289) leciona: Os direitos econômicos constituirão
pressupostos da existência dos direitos sociais, pois sem uma política econômica orientada
para a intervenção e participação estatal na economia, não se comporão as premissas
necessárias ao surgimento de um regime democrático de conteúdo tutelar dos fracos e mais
numerosos. Os direitos sociais são considerados direitos subjetivos e podem ser exigidos para
que se opere sua efetividade, entretanto, não são absolutos e por este motivo é necessária sua
harmonização, de forma que estes direitos sociais podem ser cumulados e são irrenunciáveis.
Entretanto, é imperioso o entendimento da fundamentalidade dos direitos sociais, que são de
observância obrigatória em um Estado de Direito, visam a melhorar as condições de vida do
povo de maneira geral, dando especial atenção aos hipossufucientes, a fim de concretizar o
princípio da igualdade social. Os direitos sociais, arrolados na Constituição Federal, são
preceitos de ordem pública, e por isso invioláveis.
Deve-se afastar interpretações restritivas dos dispositivos constitucionais relativos à
direitos e garantias fundamentais, ou seja, cabe entender que o princípio da aplicabilidade
imediata não é exclusivo do artigo 5º da Constituição Federal.
57
O artigo 205 garante o direito à educação, e enfatiza que, por mais que a esta seja
direito de todos, é dever do Estado e da família com a colaboração da sociedade. A finalidade
58
Pelo exposto, verifica-se a intenção assegurar de forma eficaz este direito fundamental,
prevendo, inclusive, a responsabilização da autoridade que não garantir o ensino obrigatório.
Deste modo, todos tem o direito público subjetivo de exigir do implemento da
prestação educacional pelo Estado.
Apesar da previsão constitucional no artigo 212, como forma de garantia, a aplicação
de percentuais mínimos da receita resultante de impostos da União, Estados, Distrito Federal e
59
O direito à vida, considerado cláusula pétrea, é aplicável a todos que estejam sob a
ordem jurídica brasileira.
Compete ao Poder Legislativo brasileiro assegurar-lhe a devida proteção, a fim de
evitar ameaça ou lesão à alguns desses bens jurídicos tutelados. A Constituição Federal de
1988 destaca, no seu artigo 197, a importância dos serviços de saúde:
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços
de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos
da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e
controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou
através de terceiros e, também, por pessoa física ou
jurídica de direito privado.
O direito está ligado ao dever, o possuidor do direito pode exigir do Estado a prestação
à saúde. Devem ser objeto de políticas da União a saúde, bem como a proteção contra
enfermidades, que afetem o desenvolvimento biopsicossocial dos indivíduos.
O direito à saúde, de acordo com as observações de Gomes Canotilho e Vital Moreira
(apud SILVA, 2011, p. 312), possuem duas vertentes, da mesma forma que se verifica nos
direitos sociais em geral: “uma de natureza negativa, que consiste no direito a exigir do
Estado (ou de terceiros), que se abstenha de qualquer ato que prejudique a saúde; outra, de
natureza positiva, que significa o direito às medidas e prestações estaduais visando a
prevenção das doenças e o tratamento delas”.
Para concretização do direito positivo à saúde, exigem-se prestações por parte do
Estado, competindo aos entes públicos o cumprimento do disposto na Constituição para
efetividade do direito. Em relação ao direito negativo, a sociedade pode exigir dos órgãos
públicos que se abstenham da prática de atos que possam agredir ou por em risco a saúde das
pessoas. O art. 200 da Constituição Federal estabelece as atribuições do sistema único de
saúde, a saber:
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de
outras atribuições, nos termos da lei:
I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e
substâncias de interesse para a saúde e participar da
62
O direito à vida está intimamente relacionado com o direito à saúde. Não havendo
acesso efetivo, assegurado por uma política empenhada no desenvolvimento da qualidade e
presteza do atendimento, as pessoas correrão sérios riscos e prejuízos à saúde, à qualidade de
vida e em estes fatores são essenciais à sobrevivência com dignidade.
7.2.3 Direito ao trabalho
O trabalho é definido como direito social pela Constituição Federal, entretanto não há,
no texto constitucional, norma expressa que consagre o direito efetivo ao trabalho.
Compreende-se pelas normas constitucionais, que a ordem social tem como base o
primado do trabalho, além disso, os valores sociais do trabalho foram declarados como um
dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, o que ressalta a importância do trabalho
como condição da existência digna da pessoa humana. Na Constituição Federal, em seu art.
7º, definiu alguns direitos constitucionais dos trabalhadores urbanos, rurais, avulso, além de
outros que visem à melhoria de sua condição social:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais,
além de outros que visem à melhoria de sua condição
social:
I - relação de emprego protegida contra despedida
arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei
complementar, que preverá indenização compensatória,
dentre outros direitos;
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego
involuntário;
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente
unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais
63
Os direitos sociais do trabalho não são absolutos e foram tratados pela Constituição
também com enfoque aos direitos sobre as condições de trabalho. Foram muitos avanços
conquistados da classe trabalhadora em relação aos direitos coletivos, como a liberdade de
associação profissional ou sindical, direito de greve, direito de participação laboral, entre
outros.
O Estado como responsável por garantir o bem comum e com a finalidade de
assegurar a justiça social deverá promover as políticas e instrumentos necessários para
efetivação e fiscalização do efetivo cumprimento dos direitos trabalhistas.
65
O art. 144 da Carta Constitucional ressalta o dever do Estado com a segurança pública:
segurança coletivo pode ser impetrado por certas entidades para salvaguarda de interesses
comuns dos seus associados. Pode ser utilizado por partido político com representação no
Congresso, organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e
em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados. 44 O objeto deve consistir na defesa de um direito coletivo, compreendendo-se
direito coletivo como aquele que atinge todo um agrupamento de pessoas, unidas por situação
fática semelhante, ligadas por traço jurídico que permita agrupá-las.
8.1.1 Mandado de Injunção
Conforme art.5º, inciso LXXI, da Constituição Federal conceder-se-á mandado de
injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício de direitos e
liberdade constitucional e das prerrogativas inerentes à soberania, nacionalidade, à cidadania.
Se não houver integração do direito assegurado pela Constituição por norma
infraconstitucional, pode ocorrer desta falta impedir a efetivação do direito, tornandoo inócuo.
O Mandado de Injunção pode ser também utilizado como um remédio coletivo, uma vez que a
Constituição, em seu art. 8º, prevê a possibilidade de ser impetrado por sindicato.
O Supremo Tribunal Federal decidiu por unanimidade pela autoaplicabilidade do
mandado de injunção, independentemente de regulamentação por lei, em virtude do disposto
no art. 5º, § 1º, da Constituição Federal, que dispõe que as normas definidoras dos direitos e
garantias fundamentais têm aplicação imediata. A autora Flávia Piovesan (2010, p. 35),
analisando o instituto esclarece: Atente-se ainda que, no intuito de reforçar a imperatividade
das normas que traduzem direitos e garantias fundamentais, a Constituição de 1988 institui o
princípio da aplicabilidade imediata dessas normas, nos termos do art. 5º, § 1º. Este princípio
realça a força normativa de todos os preceitos constitucionais referentes a direitos, liberdades
e garantias fundamentais, prevendo um regime jurídico específico endereçado a estes direitos.
Cabe aos Poderes Públicos conferir eficácia máxima e imediata a todo e qualquer
preceito definidor de direito e garantia fundamental.
Em relação à proteção do direito tutelado, o impetrante deve demonstrar que a
Constituição outorgou-lhe o direito subjetivo abstratamente e seu exercício vem sendo
obstado pela omissão, em razão da falta de norma regulamentadora. O mandado de injunção
tem a finalidade de suprir uma omissão do Poder Público, consiste numa ação constitucional
para viabilizar o exercício de um direito, uma liberdade ou prerrogativa prevista na Lei Maior.
O mandado de injunção foi previsto para possibilitar concretamente o exercício de
direitos e liberdades constitucionais, deve ser compreendido como direito público, ensejando
uma ação positiva. Pelo art. 103, § 2º e art. 5º LXXI da Constituição, atualmente há falha do
73
como ser humano, sem condições de ser cidadão e de ter acesso ao Poder Público. O Estado
não disponibiliza adequadamente os serviços de prevenção, educação e assistência, finda por
ter que utilizar mais recursos a fim de atender às consequências e não às causas. A gestão
adequada dos recursos públicos é questão que merece maiores estudos a fim de encontrar os
projetos ideais para concretização dos direitos sociais. Os efeitos desta conjuntura são de
famílias desestruturadas, menores abandonados, mendigos, violência, e prática de crimes em
desfavor desta situação que oprime e marginaliza. Verifica-se parte considerável da população
sem preparo para o exercício de um ofício, doentes, com péssimos salários e desempregados,
que aumentam a busca pela seguridade, previdência e assistência social. Pode-se citar
exemplo do descaso do administrador em assegurar efetivamente o direito à educação, que
dentre eles está inserto o direito à creche a crianças de 0 a 5 anos. Em muitas cidades este
direito não se efetiva e, via de regra, não há responsabilização do poder executivo. Constata-
se que não é a regra jurídica constitucional que vai salvaguardar mais vagas nas escolas e
creches e educação de qualidade.
O Estado direcionado ao bem-estar social, na designação feita por Norberto Bobbio
(1992, p. 68), implicou num “processo de multiplicação de direitos”, que assegurou a
ampliação da titularidade de alguns direitos, além do acréscimo de bens dignos de proteção. A
Constituição de 1988 foi progressista ao arrolar os direitos sociais, elevando-os à condição de
cláusulas pétreas. Se por um lado, a não regulamentação dos direitos sociais dá ensejo á ação
de inconstitucionalidade por omissão (art. 102, I, a, e 103, § 2º, CF/88), por outro lado, o seu
não atendimento no caso concreto, por ausência de normatização será passível de mandado de
injunção (art. 5º, LXXI , CF/88). Observa-se que a Constituição Federal relaciona diversos
direitos ao trabalhador, introduzidos no direito do trabalho, contudo o acesso, ou melhor, a 52
garantia a todos de trabalho não é tratada pelo legislador. Mesmo porque, tendo a
Constituição ampliado demais a sua função na salvaguarda do trabalho, e como Estado
“neoliberal”, não acha meios de garanti-lo. Para entender a ascensão ao trabalho, é
imprescindível a avaliação as políticas sociais existentes, analisando de que forma o
trabalhador está capacitado e preparado ao exercício de sua profissão, a orientação
profissional disponível, a educação, bem como a própria condição de subsistência e
dignidade.
O cidadão carece de instrumentos para assegurar seu direito de exigir em juízo as
prestações do Estado. Cesarino Júnior (apud CRETELLA JÚNIOR, 1994-1997), ao descrever
o direito ao trabalho, ressalta: Entendida, como hoje é a função do Estado, não somente como
a de guardião do direito, mas também como a de promotor do bem comum, do bem-estar
76
social, é lógico que lhe incumbe não somente o dever de garantir a liberdade de trabalho,
como também o de proporcionar esse trabalho a todo homem válido, e ainda o de suprir a sua
falta, seja por motivos objetivos, seja por motivos subjetivos. A Constituição não resolve
todas as questões, uma vez que prevê a necessidade de legislação ulterior para a aplicação de
algumas normas que definem os direitos sociais. Torna-se essencial um mecanismo de defesa
contra o próprio administrador. A Constituição Federal de 1988 não logrou êxito em atender
com eficácia às necessidades fundamentais. Resta saber se as garantias previstas não foram
eficientes para eficácia dos direitos, o que pode se dever ao fato das normas serem
demasiadamente gerais e abstratas, dependendo sempre do legislativo, que, por sua vez, tem
sido omisso. Possivelmente, a população esteja tão desacreditada da garantia de seus direitos
que não recorra ao Poder Judiciário para garanti-los.
Entretanto, a expressão eficácia jurídica significa que a norma é hábil para produção
de efeitos diante do caso concreto. Flávia Piovesan (2003, p. 51) esclarece: “eficácia jurídica
corresponde às condições técnicas de atuação da norma, ou seja, apresenta eficácia jurídica a
norma que tiver condições de aplicabilidade, eficácia jurídica significa assim, a possibilidade
de aplicação da norma.” As normas que não são auto executáveis exigem providências
legislativas ulteriores para sua aplicabilidade. Assim explicava Rui Barbosa (apud
BONAVIDES, 2012, p. 216): não há, numa Constituição, cláusulas a que se deva atribuir
meramente o valor moral de conselhos, avisos ou lições. Todas têm a força imperativa de
regras. Muitas, porém, não revestem dos meios de ação essenciais ao seu exercício, os
direitos, que outorgam, ou os encargos, que impõem: estabelecem competências, atribuições,
poderes, cujo uso tem de aguardar que a Legislatura segundo seu critério, os habilite a
exercer.
A Constituição não se executa a si mesma: antes requer a ação legislativa, para lhe
tornar efetivos os preceitos. As garantias constitucionais devem possibilitar o cumprimento
das normas, pois a garantia da dignidade da pessoa humana é de interesse do próprio Estado
Democrático, devendo os direitos fundamentais serem priorizados em qualquer nação. Neste
cenário, infere-se que o problema crucial relativo aos direitos sociais, ocorre em razão da falta
de interesse político quanto à efetividade dos direitos. Norberto Bobbio (1992, p. 09) explicita
a situação: “A maior parte dos direitos sociais, os chamados direitos de Segunda geração, que
são exibidos brilhantemente em todas as declarações nacionais e internacionais, permaneceu
no papel”. Por mais que os direitos sociais sejam insistentemente proclamados
internacionalmente nos congressos, grande parte da humanidade não os possui de fato, pois
não gozam de efetiva salvaguarda pelos Estados. As estatísticas demonstram a existência de
77
possuem, da mesma forma, incidência imediata, contudo em alguns casos, pelos seus
conceitos, sua eficácia é paralisada pelo estabelecimento de certos limites. As normas de
eficácia limitada, por sua vez, não são dotadas de poder normativo para sua imediata
aplicabilidade, abrangem as definidoras de princípios institutivos ou organizativos, bem como
as definidoras de princípios programáticos e dependem de lei posterior que as regulamentem.
As normas de eficácia contida são definidas por José Afonso da Silva (2012, p. 58):
aquelas em que o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a
determinada matéria, mas deixou margem à atuação restritiva por parte da competência
discricionária do poder público, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos
gerais nelas enunciados. De acordo com a doutrina de José Afonso da Silva (2012, p. 68),
pode-se dizer que a omissão legislativa inconstitucional encontra-se relacionada com normas
constitucionais de eficácia limitada. Para o citado autor (2003, p. 132), normas constitucionais
programáticas são definidas como: aquelas normas constitucionais através das quais o
constituinte, em vez de regular, direta ou imediatamente, determinados interesses, limitou-se a
traçar-lhes os princípios para serem cumpridos pelos seus órgãos, como programas das
respectivas atividades, visando à realização dos fins sociais do Estado. José Afonso (2012, p.
138) utiliza a classificação de Crisafulli, ao diferenciar as normas programáticas de simples
escopo, com a liberdade dos órgãos do Estado em adotar os meios para alcançar o fim
proposto. Para o autor, as normas programáticas “ao prescreverem o fim a atingir, indicam,
outrossim, ao menos em linhas gerais, os meios aptos a isso, limitando, pois, o âmbito da
discricionariedade legislativa.” José Afonso da Silva, com maestria ressalta caráter imperativo
e vinculativo das normas programáticas, além de seu relevante papel na ordem jurídica e
política do País (2012, p. 139).
Para Paulo Pimenta (1999, p. 137) a sua função eficacial é de programa, e tem as
seguintes características:
1) Disciplinam interesses sócio econômicos em conflito;
2) São normas acolhidas como programas a serem realizados pelo Estado, eis que,
representando um compromisso entre grupos sociais antagônicos, não tiveram força suficiente
para desenvolver-se;
3) Tem eficácia complementável através da ação do legislador infraconstitucional;
4) Os programas por elas traçados obrigam os órgãos estatais;
5) Determinam a cessação da vigência, por inconstitucionalidade sucessiva, das normas
infraconstitucionais anteriores que disponham em sentido contrário;
6) Fixam critérios a serem adotados pelo legislador ordinário;
80
se, assim, reconhecer os Direitos fundamentais como imanentes ao ser humano, pressupondo
sua legitimidade perante às legislações. Seguindo este raciocínio, tem-se que o direito deve
dispor de meio para a sua materialização e este deve ser eficaz.
Nos direitos individuais a luta era por liberdade, demandando do Estado obrigações
negativas, conduta de abstenção, já nos direitos sociais requer-se obrigações positivas,
comportamento de intervenção. O direito aos serviços e bens sociais figura como uma
expectativa para favorecer os desamparados, assegurandolhes a dignidade e a cidadania. O
Estado deve ter estrutura jurídica eficaz para recompor as transgressões ou desrespeitos aos
direitos humanos. O Poder Judiciário deverá ser independente e eficiente, principalmente ante
os atos do Poder Executivos que quase sempre ferem e não defendem os direitos
fundamentais. O Município tem a competência de executar a política urbana por meio do
Plano Diretor, estabelecendo os requisitos indispensáveis para organização do município, a
fim de ordenar o desenvolvimento pleno dos projetos sociais e assegurar a satisfação de seus
habitantes. Essa política urbana deve ter como objetivo primordial, garantir o usufruto desses
direitos urbanos, por meio do acesso de todos à moradia adequada, transporte público,
infraestrutura básica, saneamento básico, saúde, educação, cultura, esporte e lazer, bem como
à preservação e recuperação do meio ambiente. As políticas sociais e econômicas devem
assegurar a efetividade das normas constitucionais. Para atender-se as demandas existentes
em nossa sociedade, torna-se necessário sintonia das fontes de direito, lei, doutrina e
jurisprudência, com a realidade social.
A sociedade tem de integrar o controle da atividade estatal, demandando pelos meios
que lhe são conferidos, a materialização dos seus direitos. O Estado, enquanto responsável
pela aplicação das normas, tem por obrigação encarregar-se da garantia dos direitos da
população por intermédio de seus órgãos. 65 O Estado, amparando-se em seu poder de
ingerência, pode deslocar mais recursos para consecução dos projetos sociais para a
diminuição das desigualdades. O Estado deve se preocupar em desenvolver projetos que
envolvam toda a população a fim de assegurar o acesso de todos aos seus direitos básicos.
Parece óbvio que se o Estado realmente aplicasse os recursos de forma adequada, visando
garantir os direitos fundamentais do cidadão, a população não precisaria recorrer
incessantemente ao Poder Judiciário para ver concretizados os seus direitos fundamentais. De
certo, não se pode esperar uma mudança de atitude do Governo, uma vez que ele está numa
posição cômoda de justificação frequente de ausência de recursos e de não ser possível
atender de modo mais eficaz. Na realidade, verificase que não há vontade política concreta.
Talvez a mudança de comportamento só venha, quando o Poder Público for obrigado a prestar
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os serviços exigidos e a concretizar os direitos. Quando a busca pela aplicação dos preceitos
constitucionais pela população se tornar constante, possivelmente o Estado altere esta conduta
omissiva e perceba que não há possibilidade de se furtar da sua função de garantidor e
protetor dos direitos.
Os profissionais do direito desempenham uma importante tarefa na transformação da
situação atual, bem como, a população, que deve recorrer ao Poder Judiciário, demandando a
materialização do direito. O Poder Judiciário ficará incumbido da grande tarefa de fazer valer
o direito transgredido.
11. CONCLUSÕES
O percurso para normatização dos direitos sociais no Brasil, mormente após a
Declaração dos Direitos do Homem, obteve com Constituição Federal de 1988 o seu apogeu,
ao arrolar os direitos sociais, estabelecer obrigações para o Estado e ainda listar garantias e
remédios constitucionais. Modernamente, o transtorno não é o de fundamentar os direitos, e
sim de assegurá-los e tutelá-los. A crise existente é o distanciamento entre a norma e a
realidade. Para a eficácia dos direitos sociais, torna-se necessário que as fontes de direito
estejam em harmonia com a realidade social. As políticas sociais e econômicas devem
assegurar aos interesses e garantir a efetividade dos dispositivos constitucionais. O respeito à
tripartição dos poderes é fundamental, contudo não pode olvidar a teoria dos freios e
contrapesos, pela qual um poder fiscaliza o outro. Ante a falha do legislador e a omissão do
administrador, compete ao Poder Judiciário assegurar o direito violado.
O Poder Judiciário tem que conceder um prazo para a execução da norma e na
hipótese dela não se concretizar, torna-se mister que o próprio judiciário possibilite o
exercício o direito em concreto. Os órgãos públicos não devem agir com total
discricionariedade na execução das políticas que garantam os direitos sociais, pois estes atos
tem que ser controlados pelo cidadão, por intermédio dos instrumentos que lhe são
conferidos, entre eles, a ação popular, mandado de segurança, mandado de injunção, ação
direta de inconstitucionalidade por omissão. Compete ao Poder Judiciário assegurar a
efetividade dos direitos sociais afirmando a eficácia das garantias e dos remédios
constitucionais. Os direitos sociais são considerados normas de caráter programático, dotadas
de um caráter obrigatório, efetivo, vinculante, de direito subjetivo em demandar as obrigações
do Estado. A lei tem de garantir a aplicabilidade do direito, assim Estado deverá assumir o sua
função para a efetividade dos direitos através das prestações de serviços sociais eficazes. Pois
a inércia do Estado acaba por tolher os importantes avanços da Constituição Federal de 1988.
As principais ações para garantia do Estado Democrático de Direito são o mandado de
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MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 24. ed., São Paulo: Atlas, 2009.
PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Eficácia e Aplicabilidade das Normas Constitucionais
Programáticas. São Paulo. Max Limonad, 1999.
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 11. ed. São
Paulo: Saraiva, 2010
SILVA, José Afonso de. Aplicabilidade das Normas Constitucionais. 8.ed., São Paulo:
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................10
86
1. Conceito.............................................13
1.1 Modelos conceituais......................................13
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
2.1 Dados sobre as Constituições brasileiras (1824-1988).......................17
2.1.1 Constituição de 1824 (Brasil Império . .......................19
2.1.2 Constituição de 1891 (Brasil República).......................................................................20
2.1.3 Constituição de 1934.............................................................................................21
2.1.4 Constituição de 1937...........................................................................................23
2.1.5 Constituição de 1946 .................................................................................................26
2.1.6 Constituição de 1967...........................................................................................29
2.1.7 Constituição de 1988 (Constituição Cidadã).............................................................
3. HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL ..................................................................
3.1 A Pirâmide de Kelsen – Hierarquia das normas.. .......................................34
4. DIREITOS FUNDAMENTAIS...............................50
4.1 Breve Histórico dos Direitos Fundamentais..............................................36
4.1.1 As Gerações dos Direitos Fundamentais......................................................37
4.1.2 Os Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988
5. GARANTIAS E REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS
5.1 Função do Estado na Garantia dos Direitos Sociais...........................................................
6. GARANTIAS E REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS
6.1 Função do Estado na Garantia dos Direitos Sociais .. ..................................................38
6.1.1 Garantias e Remédios Constitucionais .. .........................................................39
7. OS DIREITOS SOCIAIS NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS
7.1 DIREITOS SOCIAIS PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988
7.2 DIREITOS SOCIAIS
7.2.1 Direito à educação
7.2.2 Direito à saúde
7.2.3 Direito ao trabalho
7.2.4 Direito ao lazer
7.2.5 Direito à segurança
7.2.6 Direito à previdência social e assistência social
7.2.7 Direito a proteção à maternidade e à infância
7.2.7 Direito à assistência aos desamparados
7.2.9 Direito à moradia
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