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GESTÃO AMBIENTAL

Autor: José Constantino Sommer

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Erika de Paula Alves
Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
Prof. Márcio Moisés Selhorst

Revisão de Conteúdo: Prof. Luiz Hamilton Pospissil Garbossa

Revisão Gramatical: Profa. Márcia Junkes

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci

Copyright © Editora UNIASSELVI 2011


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

363.7
S697g Sommer, José Constantino
Gestão ambiental / José Constantino Sommer.
Indaial : UNIASSELVI, 2011.
103 p. il.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7830-378-5

1. Gestão ambiental 2. Administração


I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título
José Constantino Sommer

Biólogo e mestre em Engenharia


Ambiental. Educador Ambiental na Fundação
Municipal do Meio Ambiente de Blumenau, SC.
Professor de disciplinas de Meio Ambiente em
cursos de graduação e pós-graduação. Co-autor das
publicações Amiguinhos do Meio Ambiente (infantil), da
Editora Todolivro e do livro Desenvolvimento e Meio
Ambiente em Santa Catarina, da Editora Univille.
Sumário

APRESENTAÇÃO���������������������������������������������������������������������������� 7

CAPÍTULO 1
Meio Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento�������������������������� 9

CAPÍTULO 2
Economia Ecológica Ou Ambiental�������������������������������������������� 31

CAPÍTULO 3
Sistemas de Gestão Ambiental��������������������������������������������������� 59

CAPÍTULO 4
Marketing e Responsabilidade Ambiental�������������������������������� 85
APRESENTAÇÃO
Caro pós-graduando (a)

Gostaria de apresentar-lhe o Caderno de Estudos da disciplina de Gestão


Ambiental. Nele serão abordados temas que se relacionam à construção de
conhecimentos específicos e gerais sobre essa temática. O caderno inicia, no
capítulo 1, com uma visão histórica e conceitual sobre a relação do ser humano,
como sociedade, com o meio ambiente. Trata do desenvolvimento e suas
interfaces com a degradação e a poluição ambiental, indicando algumas possíveis
soluções para melhorar essa relação.

No capítulo 2, a questão econômica é mais aprofundada e faz-se um


comparativo entre a economia tradicional, altamente usurpadora dos bens
naturais e uma visão mais sistêmica e equilibrada, ou seja, a Economia Ecológica
ou Ambiental, que é apresentada e levada à reflexão para você. Ainda, neste
capítulo, são mostrados diversos exemplos de aplicação da Economia Ecológica,
para que você possa refletir sobre a sua aplicabilidade.

O capítulo 3 trata da Gestão Ambiental propriamente dita. Nele veremos


como as empresas devem implantar seus sistemas, de acordo com a Norma ISO
14.001; e, seguindo exemplos exitosos de outras organizações que decidiram
implantar programas próprios.

Por fim, o capítulo 4 apresenta os conceitos de Marketing e Responsabilidade


Ambiental. São apresentados como necessidades, mas também, como
potencialidades às organizações. Também são apresentados vários exemplos
de instituições que atuam de forma responsável e que galgaram prêmios e
reconhecimento por parte da sociedade, incorporando valor à imagem de suas
corporações ou produtos.

Então, quero convidar você a acompanhar e participar desse interessante


estudo sobre como podemos, sendo sociedade ou sendo organização, mudar a
nossa relação com o meio ambiente e construir um futuro melhor para nós e para
as gerações que virão.

O autor.
C APÍTULO 1
Meio Ambiente, Sociedade
e Desenvolvimento

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

99 Conhecer o histórico da questão ambiental no mundo e no Brasil.

99 Analisar as percepções e visões sobre a temática ambiental.

99 Conhecer e analisar as diferentes concepções sobre a relação entre sociedade


e meio ambiente.

99 Conhecer as diferentes concepções da relação entre desenvolvimento e


sustentabilidade ambiental.

99 Investigar e propor soluções para a sustentabilidade ambiental e o


desenvolvimento da sociedade, compatíveis com o processo produtivo.
Gestão ambiental

10
Capítulo 1 Meio Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento

Contextualização
Já nos acostumamos a ver e ouvir notícias sobre os problemas relacionados
à natureza com muita frequência. A todo o tempo somos perturbados por
informações que dão conta de temas não agradáveis, como o aquecimento global
e suas consequências mais terríveis, furacões e ciclones, maremotos, secas e
inundações, perda de vidas e de produção agrícola, entre outros.

Além disso, outros problemas aparecem de forma recorrente para nós:


destruições das florestas, matança e maus tratos aos animais, poluição do ar, da
água e do solo, má destinação ao lixo e tantos outros.

Também é claro para todos nós que estes problemas são potencializados, se
não causados, pelo próprio ser humano, na sua ânsia pelo consumo e dominação
da natureza, como você poderá perceber ao longo deste capítulo.

Essa dominação, necessária para a produção de riquezas e qualidade de


vida, segundo a economia tradicional, tem suas origens nas visões de mundo
mais antigas da humanidade, que se aprofundaram na Idade Media, como
veremos a seguir.

Francis Bacon, filósofo que viveu no século XVI, foi o pai do método empírico
da ciência, também conhecido como método experimental. Ele acreditava que o
saber científico deveria ser medido em termos da capacidade de dominação da
natureza. Essa capacidade era a de domar as forças naturais como as águas e
as tempestades. Vivemos, depois de Bacon, uma visão da modernidade, que
fragmenta o mundo para compreendê-lo; mas, que não faz nenhum sentido, por
exemplo, para muitos dos povos indígenas que pensam o Universo de forma mítica.
Como também, não faria nenhum sentido na Grécia antiga, que não concebia a
natureza em oposição aos humanos. Os gregos desse período tinham um nome
muito especial para denominar a natureza e todo o Universo que não era pensado
como um objeto, mas como totalidade: Physis. Ela designava a natureza de todas
as coisas, que nascem e se desenvolvem sem a assistência dos humanos, isto é,
que se desenvolvem por si mesmas, independentemente da vontade humana.

A vida na Terra se entrelaça numa rede e todos dependemos da harmonia


desse entrelaçamento. O ser humano e as relações que fazem parte do meio
ambiente são objetos de estudo da área ambiental. Ao longo dos tempos, o
ser humano transformou o meio ambiente, criou cultura, estabeleceu relações
econômicas, desenvolveu modos de integração com a natureza e com outros
seres humanos. Mas, raramente, ele assim promoveu a qualidade de vida e o
equilíbrio ambiental. “Não são todas as atividades humanas que causam
impactos relevantes sobre a natureza, mas um determinado modo de produção
11
Gestão ambiental

que inclui não só as relações da sociedade com a natureza como também, as


relações dos homens entre si”. (Brügger, 2004)

Nós sabemos que a vida se produz nas relações dos indivíduos com o meio
físico, social e cultural. Falar de qualidade de vida é pensar na qualidade do
ar que se respira, no uso consciente do solo e da água, no respeito a todas
as formas de vida. Ela certamente não está no consumismo desenfreado, na
miséria, na iniquidade social, na desnutrição e nas condições degradantes do
meio onde se vive.

Neste capítulo, você poderá conhecer e aprofundar-se sobre as razões


históricas e culturais que levaram a humanidade a estabelecer esta forma de
relação com a natureza tão danosa e tão pouco ética. Também poderá perceber
alguns caminhos que poderão e deverão ser trilhados pela humanidade para
não só melhorar a relação com a natureza, como também garantir, a própria
sobrevivência da vida humana na Terra. Na próxima seção iremos estudar a
evolução da questão ambiental ao longo do tempo e as mudanças de percepção
da humanidade sobre a sua relação com o meio ambiente.

Evolução Histórica da Questão


Ambiental
Você sabe e percebe nas mudanças tecnológicas e comportamentais que
desde os primórdios da civilização humana até os tempos atuais, fomos impelidos
pela vontade de melhorar a condição de vida humana e de poder enfrentar as
adversidades, que naqueles tempos significava mesmo, manter a própria vida
diante das dificuldades e agressões que a natureza nos impunha. Assim, fomos
desenvolvendo técnicas e tecnologias, inicialmente muito rudimentares, como
armas e utensílios de madeira e pedras, utilizando o fogo como meio para aquecer e
afugentar animais, por exemplo. Depois, veio a sedentarização, com a agricultura e
a pecuária substituindo a coleta e a caça, os agrupamentos primitivos, a urbanização
e a sociedade moderna, com a explosão demográfica. Também cada técnica e
tecnologia anteriormente utilizada foi aprimorada, ampliando gradativamente e
largamente a capacidade de degradação e a poluição no ambiente.

Entre 1400 e 1900 ocorreram grandes modificações que deram origem à


civilização industrial: criação dos estados modernos europeus, crescimento do
mercantilismo, surgimento do sistema colonial (acumulação de capitais financeiros
e comerciais), descobertas técnicas e científicas, formação de mão-de-obra
(artesãos e camponeses nas primeiras manufaturas), concentração das populações
nas cidades (mercados de consumo) e desenvolvimento cultural. Antes de 1500

12
Capítulo 1 Meio Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento

os agrupamentos humanos mais importantes estavam organizados em


Somente a
civilizações agropastoris orientadas pelo capitalismo comercial. Revolução
Industrial, no
Somente a Revolução Industrial, no século XVIII, é que modificou século XVIII, é que
o cenário de dominação pelo capitalismo comercial. Surgiu assim, uma modificou o cenário
nova ordem capitalista, exercida pelos donos das fábricas sobre a de dominação
população marginalizada e os camponeses. pelo capitalismo
comercial. Surgiu
assim, uma nova
Entre 1760 e 1830, aproximadamente, ocorreu a primeira ordem capitalista,
revolução industrial, com o surgimento da máquina a vapor. Por volta exercida pelos
de 1870 aconteceu a segunda revolução industrial, em função da donos das fábricas
descoberta e do domínio da eletricidade. A partir de então, a produção sobre a população
em série e o consumo tomaram um rumo de crescimento exponencial marginalizada e os
e irreversível. camponeses.

No início do século seguinte, ocorreu a primeira grande guerra mundial, que


deu impulso às novas tecnologias, porém, em meados do século, com a segunda
guerra e os eventos que a sucederam, especialmente de reerguimento da Europa
semidestruída, é que o desenvolvimento adquiriu o padrão hoje, observado e as
conseqüências das dimensões planetárias.

Observe o histórico abaixo, que traz uma sequência comentada


sobre os principais acontecimentos relacionados direta ou
indiretamente à questão socioambiental.

1945: Primeira explosão da Bomba atômica no Novo México (julho)


e em Hiroshima e Nagasaki, Japão (agosto), que pôs fim à
segunda guerra mundial. O ser humano adquiria a capacidade
de destruir a si e a toda a vida.

1963: Publicação do livro “Primavera Silenciosa”, de Raquel


Carlsson. Denunciava o uso de agrotóxicos na agricultura e os
danos ecológicos.

1965: É publicado “Antes que a Natureza Morra”, de Jean Dorst.

1965/70: Surgiramm as primeiras ONGs ambientais e aprofundaram-


se os movimentos sociais (pacifistas, antinucleares,
estudantis e hippies).

1968: Foi lançada a obra “Bomba Populacional”, de Paul Ehrlich,


que trata da questão do aumento exponencial da população
humana e a relação com o consumo de recursos naturais.

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Gestão ambiental

Reuniu-se o Clube de Roma, basicamente composto por


empresários e que destacou o consumo de recursos naturais
e o aumento da população (controle e consumo). Deu origem
ao livro Limites do Crescimento, ou relatório Meadows, que
é considerado, por muitos, alarmista demais. Pregava o
crescimento zero, no que foi criticado pelos países do Terceiro
Mundo. Colocou a questão ambiental em nível planetário.

1968/69: Viagens à lua, com a imagem da Terra. Conduziu à percepção


sobre a pequenez humana e da Terra no Universo.

1970: Crescimento exponencial dos ecologistas, irritando tanto a


direita conservadora quanto a esquerda radical.

1972: Foi lançado o Manifesto pela Sobrevivência, em Londres,


culpando o consumismo e o industrialismo pela degradação.
Também ocorreu neste ano a Conferência de Estocolmo,
Suécia, cujo tema central foi a poluição industrial. Em
Estocolmo, Brasil e Índia defenderam que a poluição é o preço
a pagar pelo desenvolvimento.

1973: Crise do petróleo e energética. Percepção sobre a esgotabilidade


dos recursos naturais, corrida à energia nuclear com debates
profundos. E.F. Schumacher produziu Small is Beautifull, que fala
de tecnologias alternativas e novos modelos de desenvolvimento.
Surgiu o Ecology Party, depois Green Party, primeiro partido
identificado com o tema ecológico, na Inglaterra.

1975: Em Belgrado, atual capital da Sérvia, ocorreu a I Reunião de


Educação Ambiental, em âmbito mundial, onde se produz
a Carta de Belgrado, com princípios e orientações para os
programas mundiais de Educação Ambiental.

1989: Foi produzido o documento Nosso Futuro Comum, sob a


coordenação de Gro Brundtland, então primeira ministra da
Noruega. A partir da realização de várias reuniões, produziu-
se um relatório que serviria de subsídios para a Conferência
do Rio de Janeiro, enfatizando o Desenvolvimento Sustentável
e a Educação Ambiental.

1990: Herman Daly lançou For the Common Good, em que considera
a sistematização de princípios de economia ecológica e faz
uma profunda crítica à economia tradicional.

1992: Realiza-se a ECO-92, ou Conferência do Rio de Janeiro.


Diferiu fundamentalmente de Estocolmo porque aquela
tratou basicamente da relação homem e natureza e esta do

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Capítulo 1 Meio Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento

desenvolvimento econômico, com influência direta sobre a


Educação Ambiental. Todos os países do mundo participaram.
Teve como um dos produtos mais importantes a Agenda 21,
em que países, cidades e outros territórios deveriam definir
metas socioambientais para o século XXI.

1995: Foi lançado o livro O Ponto de Mutação, de Fritjof Capra. Nele


há um profundo questionamento do modelo cartesiano, que se
opõe à visão sistêmica.

1996: Criação do Programa Cidadania Ambiental Global, pela ONU.


Compreensão e ação foram as questões centrais. Também
deu força ao terceiro setor sobre as questões ambientais.

1997: Ocorreu a conferência Rio +5, em que se perceberam poucos


avanços sobre 1992. Neste ano produziu-se no Japão, o
Protocolo de Quioto, depois Tratado, no qual se estabeleceram
metas de redução da produção de gases do efeito estufa pelas
nações.

2002: Realizou-se a Conferência de Cúpula de Joannesburgo, África


do Sul, sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente. Fracasso
anunciado pela ausência dos EUA.

2003: Ocorreram a 1ª Conferência Nacional das Cidades e 1ª


Conferência Nacional do Meio Ambiente em Brasília, no Brasil.

2004: Ocorreu a homologação do Tratado de Quioto, apesar da


postura negativa dos EUA.

2004: Foi realizada a convenção de Estocolmo, Suécia, sobre Produtos


orgânicos Persistentes, que passou a vigorar mundialmente.

2009: Foi realizada a 1ª Conferência Nacional de Saúde Ambiental,


em Brasília, no Brasil, numa tentativa de aproximar essas
duas áreas, tão próximas em termos de necessidades e tão
distantes em termos de políticas.

2010: Vazamento de petróleo no Golfo do México (empresa


British Petroleum), alterando drasticamente a paisagem, os
ecossistemas e a economia dos EUA.

Fonte: O autor.

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Gestão ambiental

Figura 1 – Conferência do Desenvolvimento e Meio Ambiente

Fonte: Disponível em: <http://biodiversidadedasamericas.


blogspot.com/>. Acesso em: 10 mar. 2011.

A Conferência do Rio de Janeiro, sobre Desenvolvimento e Meio ambiente,


realizada pela ONU, em 1992, é considerada ainda hoje, o grande evento mundial.
Porém, poucos avanços ocorreram desde lá.

Figura 2 – Vazamento de petróleo

Fonte: Disponível em: <http://www.jornal.us/article-4969.Governador-


da-Florida-declara-estado-deemergencia-apos-vazamento-de-
oleo-no-Golfo-do-Mxico.html>. Acesso em: 10 mar. 2011.

O vazamento de petróleo da empresa British Petroleum no Golfo do México,


em 2010, é um exemplo da pouca preocupação mundial com o meio ambiente. O

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Capítulo 1 Meio Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento

desastre contaminou e degradou grandes áreas naturais e afetou negativamente


a economia da região.

Observe que as imagens, que destacam dois momentos importantes da


história recente da humanidade, mostram que ela é feita de decisões acertadas
ou erradas, cujas consequências afetam não somente o meio ambiente, mas a
toda atividade humana e a sua qualidade de vida.

Você pode perceber nessa linha do tempo, que tivemos diversas


contribuições literárias, e outros acontecimentos mundiais e em nosso país que
acrescentaram conhecimento e debate sobre a questão ambiental. Porém, tudo
isso e outros tantos acontecimentos, como veremos nos capítulos seguintes,
pouco influenciaram a humanidade para que tivéssemos mudanças significativas
na relação sociedade e meio ambiente.

Atividade de Estudos:

1) Você poderá estabelecer um rol de problemas ambientais


que percebe em seu cotidiano, na cidade em que você mora.
Embora esses não tenham, geralmente, o alcance dos problemas
globais, são um indicativo importante da cultura local. Também,
no somatório, esses problemas contribuem significativamente
para a poluição e a degradação mais gerais. Procure listar os 10
principais descasos com o meio ambiente que você observa no
seu dia a dia.
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Gestão ambiental

Sociedade e Meio Ambiente


Na seção anterior, vimos como a humanidade foi criando, ao longo da história,
o modelo de sociedade em que vivemos, com suas vantagens e desvantagens.
Nesta seção iremos aprofundar o conhecimento sobre como a sociedade se
relaciona com o meio ambiente e o que resulta dessa relação.

A humanidade sempre teve e terá uma enorme dependência dos


É o ambiente natural
prestador de outros chamados recursos naturais. Absolutamente, todas as coisas materiais
serviços essenciais, são produzidas a partir de produtos da natureza, por mais distantes
que são exercidos que dela pareçam, como os componentes eletrônicos de diversos
diretamente, em equipamentos, ou os plásticos e fibras industriais, por exemplo.
seu estado original, Assim, transformá-las ou usá-las diretamente são atividades inerentes
como o equilíbrio
à sociedade moderna. Produzir bens a partir dos recursos que a
atmosférico,
neutralizando os natureza proporciona é necessário para gerar riquezas e bem-estar
efeitos danosos dos social. Além disso, é o ambiente natural prestador de outros serviços
gases de estufa, essenciais, que são exercidos diretamente, em seu estado original,
equilibrando o clima como o equilíbrio atmosférico, neutralizando os efeitos danosos dos
ou reciclando a gases de estufa, equilibrando o clima ou reciclando a matéria orgânica
matéria orgânica e
e permitindo o uso e contemplação da natureza para o lazer. Tudo isso
permitindo o uso e
contemplação da demonstra a indissociabilidade entre humano e o natural. Aliás, como
natureza para o sabemos, dele fazemos parte.
lazer.
As atividades humanas parecem ser as causas mais comuns
e imediatas dos problemas que nos estão confrontando. Na
esfera ecológica, por exemplo, a excessiva produção de
madeira e de mineração e a expansão agrícola têm levado
ao desflorestamento, à alteração de habitats e à perda da
biodiversidade. Muitos desastres “naturais” são atualmente
considerados como tendo sido induzidos pelo homem.
(CAVALCANTI, 2002, p.39)

O crescimento desordenado e acelerado das atividades humanas, centrado


em sociedades cada vez mais complexas e utilizando ferramentas mais
impactantes, mais demandadoras de energia e geradoras de resíduos, associado
ao crescimento populacional, como especialmente, visto nos países ditos
periféricos, concentradores de pobreza e de dependência direta dos recursos do
ambiente têm levado o planeta à exaustão. Assim, já consumimos mais recursos
do que a capacidade de reposição da própria natureza.

Percebemos que o aumento do consumo desenfreado (consumismo) é outro


fator de descompasso. O aumento do chamado consumo vegetativo, relacionado
ao crescimento populacional, isoladamente, já gera aumento significativo
do consumo de recursos, mas há um crescimento exponencial do consumo

18
Capítulo 1 Meio Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento

per capita, de energia, água, bens materiais e produção de lixo, por exemplo,
colocando sério risco para a humanidade.

A questão do lixo, como sabemos, é um dos principais problemas ambientais,


especialmente no ambiente urbano. O adequado gerenciamento dos resíduos,
especialmente os de origem doméstica, principalmente evitando a sua produção,
são um desafio enorme para os gestores públicos e para a própria sociedade,
como nos mostra a figura abaixo:

Figura 3 – Aterro Sanitário

Fonte: O autor.

A produção excessiva de resíduos é um problema mundial que afeta


indistintamente grandes e pequenas cidades. A produção per capita mundial
triplicou nos últimos 50 anos.

Para Feldmann (2003, p. 155):

Cada vez se amplia mais o entendimento sobre a situação


de risco em que a Humanindade se encontra, em função
das alterações que ela mesma tem provocado no planeta. A
urgência dos problemas está nitidamente colocada. Entretanto,
nem sempre está claro para cada cidadão deste planeta o
papel que exerce na sua condição de consumidor, ou seja,

19
Gestão ambiental

no poder político que lhe é conferido em relação às escolhas


Observe que o que faz. De certa maneira, o consumidor afluente encontra-se
cerne da questão atordoado pelo gigantesco repertório de opções de consumo
é a percepção. que possui, sem se dar conta das suas repercussões.
A forma como
vemos ou deixamos
Observe que o cerne da questão é a percepção. A forma como
de enxergar o
quanto somos vemos ou deixamos de enxergar o quanto somos protagonistas no
protagonistas processo de degradação, nos torna algozes e vítimas ao mesmo
no processo de tempo, do nosso destino.
degradação, nos
torna algozes e Você pode perceber que a visão hegemônica na relação entre
vítimas ao mesmo
sociedade e meio ambiente é a do domínio da exploração, do consumo
tempo, do nosso
destino. e do descarte. O crescimento desenfreado do consumo, da economia
e o desenvolvimento a qualquer custo têm levado a uma situação de
perigo para a humanidade. Ainda assim, a maioria das pessoas não
consegue enxergar o caminho que estamos trilhando e toda a amplitude das
consequências que virão.

Atividade de Estudos:

1) Reflita sobre as razões que fazem com que o consumo per capita
aumente considerando os principais bens de consumo e serviços
que adquirimos. Produza um texto dissertativo, em torno de 15
linhas, sobre essa questão.
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Compare as ferramentas abaixo e perceba a diferença entre a transformação


gerada no solo pelos antigos arados já utilizados há milênios e as modernas
máquinas capazes de mover toneladas de terra em poucos minutos.

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Capítulo 1 Meio Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento

Figura 4 - Arado antigo Figura 5 - Trator moderno

Disponível em: <www.egito. Fonte: Disponível em: <http://www.


fernandofelix.com.br/imagens/fig9. connectionworld.org/wpcontent/
jpeg>. Acesso em: 15 mar. 2011. uploads>. Acesso em: 20 dez. 2010.

Observe também as profundas alterações nos agrupamentos humanos,


desde os tempos mais primitivos às sociedades modernas.

Figura 6 - comunidade pré-histórica

Fonte: Disponível em: <http://www.comunidad.pedagogia.com.


mx/diseno/historia_1.jpg>. Acesso em: 15 dez. 2010.

Figura 7 - Sociedade Medieval

Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/0icZH2>. Acesso em: 15 dez. 2010.


21
Gestão ambiental

Figura 8 - Sociedade Moderna

Fonte: Disponível em: <http://www.eluniversal.com.co/v2/sites/default/files/


imagecache/foto_interior/CAOS.jpg>. Acesso em: 15 dez. 2010.

Tanto o uso de técnicas ou tecnologias novas, quanto o crescimento


populacional, especialmente o urbano, são transformações dramáticas na
relação do homem com a natureza e consigo mesmo, como se pode ver nas
imagens acima.

A crescente urbanização contribui largamente para o aprofundamento da crise


socioambiental. Não só as megalópoles ou as metrópoles caracterizam-se pela
degradação e poluição. Também cidades de porte médio, mundo afora, possuem
em menor escala, problemas relacionadas ao lixo, esgoto não tratado, destruição
da mata ciliar, poluição atmosférica, sonora, visual e dominação pelo automóvel.

Nem a criação dos chamados distritos industriais nas metrópoles


A crescente
urbanização e cidades industriais brasileiras, já a partir da década de 1980,
contribui foram suficientes para estancar a degradação do ambiente urbano.
largamente para o Tornaram-se, os distritos industriais, na maioria das vezes, novas
aprofundamento áreas de moradia dos trabalhadores, pela possibilidade de viverem
da crise próximas ao local de trabalho. Assim, a vizinha poluição industrial
socioambiental.
fez com que tivessem a sua qualidade de vida piorada. Muitas novas
técnicas e tecnologias permitiram e até impuseram, por razões legais,
às empresas a possibilidade de diminuírem o impacto por elas geradas,
inclusive no que tange a sua relação com a saúde e com a qualidade
ambiental das áreas que as circundam.

Esse acelerado ritmo de industrialização e concentração de


contingentes populacionais em áreas urbanas, principalmente
a partir de 1960, passou a provocar profundos impactos no
meio ambiente, tanto físicos como econômicos e sociais,
promovendo a atividade industrial a fator determinante nas
transformações ocorridas (ANDRADE et al, 2006).

22
Capítulo 1 Meio Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento

Como vimos nesta seção, o processo de industrialização, o crescimento


populacional e todas as atividades humanas são decisivas para o estado do planeta
e se revertem em uma piora significativa da qualidade de vida da população.

Uma excelente dica de leitura para entendermos a relação


da sociedade com o meio ambiente é o livro: CAPRA, Fritjof. A
Teia da Vida. São Paulo: editora Cultrix, 1996, no qual o autor nos
conduz a uma visão de interligação ecológica de todos os eventos
que ocorrem na Terra da qual fazemos parte. Aqui ele apresenta o
conceito de Ecologia Profunda.

Desenvolvimento e Sustentabilidade
Vimos na seção anterior sobre a fragilidade da nossa relação, como
humanidade, com a natureza. Nessa seção, veremos que o desenvolvimento,
num sentido amplo, é o elemento necessário a gerar a qualidade de vida nas
sociedades ditas modernas, mas que também contribui de forma determinante
para o agravamento dos problemas. Evidentemente, ele não faz sentido em
sociedades que se mantém originais, como os nativos de várias partes do mundo
que vivem diretamente da e na natureza. Eles têm qualidade de vida à sua
maneira, de acordo com a sua cultura. Não são nem mais nem menos evoluídos
do que nós. Estes povos mantém sustentáveis as suas relações com a natureza,
pois dela extraem apenas o absolutamente necessário às suas atividades,
majoritariamente endossomáticas.

Endossomática é a energia utilizada apenas para a


manutenção das atividades corpóreas de um indivíduo. A energia
exossomática inclui todas as necessidades energéticas que temos
não relacionadas à manutenção da vida propriamente dita, mas que
tem a ver com a inserção na sociedade e na economia.

A vida moderna impõe vários usos de energia que vão além das necessidades
básicas vitais. Nessa “conta” individual poderíamos destacar a energia elétrica e
a queima de combustíveis, necessárias ao cumprimento das nossas atividades,

23
Gestão ambiental

mas também, o gasto para produzir a própria energia elétrica e os combustíveis,


além do transporte desses produtos. Você pode perceber, então, que para essa
“conta” pessoal convergem gastos energéticos (exossomáticos) de processos até
mesmo bastante distantes de nós, como a energia necessária à produção de um
bem, como uma roupa, em outro país, por exemplo.

Mas, temos muitas formas de diminuir o gasto energético per capita e


devemos permanentemente ponderar sobre isso. Quando optamos por utilizar
transporte urbano, ao invés do automóvel, todo o gasto relacionado ao ônibus,
inclusive a sua produção, que é muitas vezes superior ao de um automóvel,
deve ser dividido entre todos os passageiros, o que diminui significativamente o
consumo individual.

O gasto endossomático é o natural, embora caminhando para uma população


mundial de 7 bilhões de pessoas, ele se torne muito importante também. Se a
humanidade vivesse, ainda hoje, de forma muito primitiva, seríamos apenas alguns
milhões de pessoas, com gasto energético endossomático imensamente inferior.

Outra curiosidade é que há gastos exossomáticos que parecem


endossomáticos. O melhor exemplo pode ser o da atividade cerebral. Acompanhe
o raciocínio. Se um indígena, por exemplo, precisa pensar sobre a melhor forma
de pegar um peixe para sua alimentação, o gasto é endossomático, mas você,
que está estudando neste momento, usa energia exossomática para tal, porque
esta é uma atividade não vital, do ponto de vista puramente biológico.

Mas, voltemos às sociedades modernas. O que temos é um desenvolvimento à


custa de profunda alteração ambiental. Essa alteração e suas consequências mais
dramáticas nos conduzem à percepção sobre a insustentabilidade deste modelo.

De uma forma geral, você pode perceber que o desenvolvimento e a economia


não consideram os recursos naturais como bens finitos, apesar dos vários
indicadores da exaustão do suporte dos ecossistemas. Não há uma preocupação,
na economia tradicional, com o capital natural como fator que limita o próprio
desenvolvimento da economia. Se por um lado os recursos naturais são a fonte
de matéria prima para a economia, são também os receptores dos resíduos e da
poluição, o elemento de equilíbrio ecossistêmico e o espaço que permite o lazer e a
produção de bem estar social, e como tal deve ser admitido pelo processo produtivo.

Na natureza a energia e a matéria estão em permanente fluxo, tanto no mundo


vivo como no inerte. Para a economia, a energia latente do universo não tem valor,
necessitando ser liberada pelos processos econômicos para ser utilizada. Porém,
isso gera um aumento entrópico, que é representado pela energia que já realizou
trabalho, segundo a física, e que significa desordem, observada no aumento da
temperatura do planeta, nos resíduos e nos poluentes diversos.

24
Capítulo 1 Meio Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento

Sabemos que a sociedade humana foi criando, ao longo do


O desenvolvimento
desenvolvimento tecnológico, diversos instrumentos que retiram socioeconômico
energia latente da natureza, muito além das suas necessidades precisa de energia,
biológicas, contribuindo para o aumento entrópico. O processo de mas esta já aparece
produção fotossintética, que prende energia, não dá conta do equilíbrio livre na natureza
ecossistêmico somado à energia livre produzida pela atividade humana. de várias formas,
não havendo
necessidade do
O desenvolvimento socioeconômico precisa de energia, mas uso de energia
esta já aparece livre na natureza de várias formas, não havendo latente naturalmente
necessidade do uso de energia latente naturalmente aprisionada. aprisionada.
Essa diferente concepção, associada a outras importantes mudanças,
especialmente comportamentais, faz- se necessária para frear o
aumento da energia entrópica no planeta, que desestabiliza a vida como um todo
e só atende às necessidades econômicas de uma parcela da sociedade humana.

O modelo de desenvolvimento socioeconômico vigente tem se revelado


como um sistema que não atende as necessidades humanas e ambientais, de
uma forma geral. Os processos pertinentes a esse modelo são geradores de
exclusão social, concentração de renda, poluição e degradação ambiental. Esses
aspectos nos conduzem a uma percepção do esgotamento do sistema e da
insustentabilidade do modelo.

Se este modelo socioeconômico se mostrou insustentável, faz-se urgente o


estabelecimento de uma nova forma de desenvolvimento que contemple, portanto,
as necessidades sociais e ambientais. Essa nova forma de desenvolvimento pode
ser chamada de desenvolvimento sustentável ou de sociedade sustentável, num
sentido mais amplo.

A partir destas observações, vários ideólogos, educadores e pesquisadores,


comprometidos com a necessidade de mudanças, iniciaram um processo de
tentar construir esse novo conceito, ao passo que tentativas isoladas em âmbito
local e em alguns países têm produzido experiências neste sentido.

Um conceito aplicado em várias partes do mundo é o de


Ecovilas, um modelo de assentamento baseado na sustentabilidade
ambiental e harmonia entre as pessoas. Nelas todas as questões
ambientais são pensadas, já na sua concepção e projeto, mas
também nas práticas, para promover a autosustentabilidade.

25
Gestão ambiental

Você poderá ver mais a respeito no site da institução Ecovilas,


disponível em http://www.ecovilas.ecocentro.org.

Basicamente, desenvolvimento sustentável pode ser conceituado


Desenvolvimento
sustentável pode ser como um sistema que gera qualidade de vida, atendimento das
conceituado como necessidades básicas e respeito ao meio ambiente. Outro elemento
um sistema que importante é a continuidade desse processo ao longo do tempo, razão
gera qualidade de pela qual também é conhecido com desenvolvimento durável.
vida, atendimento
das necessidades
Sustentabilidade, do ponto de vista ambiental, apresenta-se
básicas e respeito
ao meio ambiente. como um conceito um tanto mais amplo que o de desenvolvimento
sustentável. Envolve a construção de uma sociedade de equilíbrio
que considera uma nova ética, que não é apenas social ou humana,
O termo mas também ambiental. Filosoficamente, apregoa um retorno a
sustentabilidade, conceitos antigos, mas nunca ao mesmo tempo tão atuais, como uma
numa dimensão
visão mais holística da relação do homem com a natureza e consigo
socioambiental,
pressupõe uma mesmo. Essa relação depende, em grande parte, de produzirmos uma
reflexão muito economia também mais sustentável, em que a natureza não seja vista
profunda de cada apenas como recurso, em que os bens ambientais sejam valorados
um, em que a economicamente, como veremos no próximo capítulo. Isso permitirá o
sua relação com seu uso sustentável para as atuais e para as futuras gerações.
a natureza e
com cada outra
pessoa seja O termo sustentabilidade, numa dimensão socioambiental,
permanentemente pressupõe uma reflexão muito profunda de cada um, em que
revista. a sua relação com a natureza e com cada outra pessoa seja
permanentemente revista.

Há alguns ótimos filmes que apresentam e discutem sobre


questões relacionadas a desenvolvimento e meio ambiente. Muitos
são símbolos da preocupação com os destinos da humanidade face
às mudanças socioambientais. Eis algumas sugestões:

Uma Verdade Inconveniente. Albert Gore, ex-vice-presidente


dos EUA, faz um alerta sobre as razões e consequências das
mudanças climáticas e a própria sustentabilidade da vida humana,
neste filme que é homônimo do livro. Disponível em http://www.guba.
com/watch/3000081561/049-Uma-verdade-inconveniente

26
Capítulo 1 Meio Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento

A origem das coisas. O filme de 2006 faz uma análise e um


alerta sobre o consumo desenfreado e suas consequências mundiais.
Disponível em http://videolog.uol.com.br/video.php?id=353307

SACHS, Ignacy. Caminhos para o Desenvolvimento


Sustentável. São Paulo: Editora Garamond, 2006. Esta obra
introduz as ideias do economista sobre a eco-sócio-economia,
uma ciência que percebe as interfaces entre a ecologia política,
a sociologia e a economia, propondo uma nova visão para o
desenvolvimento.

Atividades de Estudos:

Responda às questões abaixo, a partir de pesquisa, refletindo


sobre os conceitos e informações vistos e pesquisando em fontes
disponíveis.

1) Quais foram as diferenças fundamentais entre as Conferências


de Estocolmo (1972) e a do Rio de Janeiro (1992), relativamente
à participação das nações, produtos e resultados?
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2) O que diferencia essencialmente os conceitos de desenvolvimento


sustentável, sociedade sustentável e sustentabilidade?

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Gestão ambiental

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3) A globalização contribuiu para o aprofundamento da crise


ambiental. Que consequências estão ligadas a este processo?
Dê exemplos de como a globalização pode e tem sido usada
para ajudar os países na busca por economia e tecnologias
sustentáveis.
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Algumas Considerações
Este capítulo faz, num primeiro momento, uma análise histórica e
conceitual dos principais acontecimentos e eventos que contribuíram, positiva ou
negativamente, para a questão ambiental. Associa a relação e as interfaces do
ambiental e do humano, que devem ser considerados como parte do mesmo todo,
tal é a indissociabilidade entre si.

Na sequência, apresenta de forma mais explícita, esta relação apontada,


mostrando como a sociedade, através da sua complexificação e do uso dos
recursos da natureza tem acelerado a degradação e a poluição do ambiente,
tanto o natural como aquele pelo homem transformado.

Por fim, trata do desenvolvimento socioeconômico, da forma como é


hegemonicamente colocado, em nível mundial, e de sua relação com os problemas
28
Capítulo 1 Meio Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento

ambientais. Também apresenta a ideia do desenvolvimento sustentável, em


oposição ao desenvolvimento tradicional e as dificuldades para sua implantação.

No próximo capítulo, você terá contato com a visão da economia sobre os


bens naturais, em que a inesgotabilidade dos recursos não é percebida pelo
processo tradicional. Também serão apresentadas e analisadas as visões das
chamadas economia ecológica e ambiental, que trazem luz à questão econômica,
necessária ao desenvolvimento e à geração de qualidade de vida das sociedades.

Referências
ANDRADE, Rui Otávio; TACHIZAWA, Takeshy; de CARVALHO, Ana Barreiros.
Gestão Ambiental: Enfoque Estratégico Aplicado ao Desenvolvimento
Sustentável. São Paulo: Editora MAKRON Books, 2006.

BRÜGGER, Paula. Educação ou Adestramento Ambiental. Chapecó e


Florianópolis: Editoras Argos e Letras Contemporâneas, 2004.

CAVALCANTI, Clóvis (org.). Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e


Políticas Públicas. São Paulo: Editora Cortez, 2002.

FELDMANN, Fábio. In Meio Ambiente no Século 21. Rio de Janeiro: Editora


Sextante, 2003.

SACHS, Ignacy. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. São


Paulo:Editora Garamond, 2006.

29
Gestão ambiental

30
C APÍTULO 2
Economia Ecológica ou Ambiental

A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

99 Conhecer as diferenças conceituais e práticas entre a economia dominante e


a ecológica ou ambiental.

99 Analisar e debater sobre as concepções entre as diferentes visões econômicas.

99 Propor cenários de compatibilidade entre a economia tradicionalmente


concebida e as necessidades de preservação e conservação.
Gestão ambiental

32
Capítulo 2 Economia Ecológica ou Ambiental

Contextualização
No capítulo anterior, vimos como o desenvolvimento da sociedade, ao longo
de toda a sua história, produziu alterações significativas no planeta, ao ponto de
colocar em risco a própria existência da vida na Terra. Agora veremos como o
desenvolvimento econômico aprofundou as alterações, levando a humanidade a
utilizar exaustivamente os recursos da natureza, de tal forma que invadimos o
que poderíamos chamar de “poupança ambiental”, os bens que podem garantir os
processos econômicos, mas também a própria existência humana e das demais
formas de vida no planeta.

A economia tradicionalmente concebida crê, ou pelo menos age, no


sentido do crescimento ilimitado e vê a natureza como recurso a ser explorado,
desconsiderando como regra, os demais serviços prestados por ela, como a
neutralização dos produtos da economia (resíduos, gases e poluentes), o uso
direto da natureza, como geradora de bem estar (lazer, contemplação e pesquisas)
e o chamado valor intrínseco da natureza (o simples valor de existir). Este último
baseia-se em um profundo senso ético, pois é o único não antropocêntrico, não se
caracterizando como um uso, exatamente.

Dar valor à natureza com um sentido simbólico, para o necessário equilíbrio


ambiental da Terra é necessário, mas, mais do que isso, valorar a natureza do
ponto de vista econômico é absolutamente imperioso. Nesse sentido, surge
a Economia Ecológica, cujos princípios remontam ao início do século XX.
Evidentemente, tais ideias são contrárias ao modelo de expropriação dos bens
naturais como ocorre no desenvolvimento tradicional. Nela, esses bens sempre
foram tidos como livres, sem valor econômico.

Entretanto a necessidade de um novo paradigma de desenvolvimento com


sustentabilidade socioambiental trouxe à tona essa preocupação, que passou a
ser compartilhada por vários economistas dessa nova visão. Passou-se a teorizar
sobre a questão e literatura e pesquisas foram e estão sendo realizadas, para
refletir e mensurar o valor que a natureza deve ter, do ponto de vista econômico,
como veremos a seguir.

A Economia Tradicional e sua


Interface com o Ambiental
A necessária importância da inclusão da temática ambiental nos aspectos
econômicos começa a acontecer verdadeiramente apenas no final dos anos 1960,
como você pode perceber no histórico (quadro abaixo):

33
Gestão ambiental

Quadro 1 - EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO-ECOLÓGICO

• Sergei Podolinski: No final do século XIX trocou correspondência com Karl Marx,
em que discutiam as relações entre a termodinâmica, a biologia e a economia.

• Mahatma Gandhi: No início do século 20 já mostrava preocupação com o


desenvolvimento e o crescimento econômico vigentes.

• Arthur Pigou: Autor de “The Ecomomics of Welfare”, em 1920, em que trata da


questão das externalidades na economia.

• Vladimir Vernadsky: Escreveu duas obras que tornaram-se marcos da Economia


Ecológica ou Ambiental, “La Géochimie”, e “La Biosphère”, entre 1924 e 1926,
falando sobre recursos naturais e os limites dos ecossistemas.

• Alfred Lotka: Autor de “The Law of Evolution as a Maximal Principle”, em 1945, cuja
obra trata sobre os mecanismos exosomáticos nos seres humanos.

• John Hicks: Escreve “Value and Capital”, em 1946, tratando de economia sustentável.

• Nicholas Georgescu-Roegen: Um dos nomes mais importantes para a Economia


Ecológica, o autor romeno produziu a obra “The Entropy Law and the Economic
Process”, em 1971, em que trata do processo entrópico e sua relação com a
economia.

• E.F. Schumacher: Autor de “Small is Beautiful“, de 1973, em que fala de tecnologias


alternativas e novos modelos de desenvolvimento, ponderando sobre a tese de
que pequenos negócios, pequenas cidades e pequenas ações são mais fáceis de
administrar e geram menos impacto ambiental.

• Herman Daly: “For the Common Good”, 1990, em que considera a sistematização de
princípios de economia ecológica e faz uma profunda crítica a economia tradicional.

Fonte: O autor.

Além dos autores e pensadores da questão econômico-ambiental, também


o movimento ambientalista logo percebeu a necessidade de incorporar à sua luta
a questão ecológica, que começava a ser fundamentada pelos trabalhos citados
e que foi aprofundada pela crise do petróleo e a escassez de outros minerais,
especialmente no início da década de 1970.

34
Capítulo 2 Economia Ecológica ou Ambiental

A chamada questão ambiental trouxe a crítica ao modelo de


A chamada questão
desenvolvimento socioeconômico, mostrando a incompatibilidade entre ambiental trouxe a
a preservação dos bens naturais e as necessidades do crescimento crítica ao modelo
econômico. O esgotamento destes recursos significaria, assim, o de desenvolvimento
próprio esgotamento do crescimento econômico. A partir daí, a ciência socioeconômico,
econômica começou a dar atenção ao fato e vários estudos, debates e mostrando a
obras serem produzidos, relacionado ao tema. incompatibilidade
entre a preservação
dos bens naturais
Neste processo, é de grande destaque o impacto do Clube e as necessidades
de Roma, com a publicação de “The Limits to Growth”, o Relatório do crescimento
Meadows, de 1972. Tal trabalho aponta para um cenário catastrófico econômico.
de impossibilidade de perpetuação do crescimento econômico devido
à exaustão dos recursos ambientais por ele acarretada, levantando assim à
proposta de um crescimento econômico “zero”. O debate passa então, a polarizar-
se entre esta posição de “crescimento zero”, conhecida por “neo-malthusiana” e
posições desenvolvimentistas de “direito ao crescimento” (defendida pelos países
do terceiro mundo), indo desaguar na Conferência da UNCED em Estocolmo em
1972. (Amazonas, 2008).

Ainda, segundo Amazonas (2008 p. 5)

[...] a Economia Ecológica não partilha do ceticismo pessimista


alarmista ecológico, que vê tais limites como iminentes
e intransponíveis, pois ela reconhece que o progresso
tecnológico constantemente promove a superação de limites
naturais pelo aumento de eficiência e pela substituição de
recursos exauríveis por renováveis. Tampouco a Economia
Ecológica partilha do “otimismo tecnológico”, o qual entende
as restrições naturais como um problema menor, pois estas
sempre hão de ser superadas pela tecnologia, pois a Economia
Ecológica reconhece que o progresso tecnológico de fato se
dá, mas apenas dentro de certos limites fisicamente possíveis.
Assim, a Economia Ecológica não adota nenhuma posição
a priori quanto a existência ou não de limites ambientais
ao crescimento econômico, adotando sim uma posição de
“ceticismo prudente”, a qual busca justamente delimitar as
escalas em que as restrições ambientais podem constituir
limites efetivos às atividades econômicas.

Sabemos que a Conferência de Estocolmo, em 1972, foi o primeiro grande


encontro mundial para tratar de desenvolvimento e meio ambiente. Nele
produziu-se a tese do ecodesenvolvimento, na qual se rompe com a visão da
incompatibilidade entre desenvolvimento e preservação. Segundo esta tese, na
realidade há uma interdependência entre eles. Inicia-se então, um período de
teorização sobre como promover esta compatibilização, que vai culminar com o
conceito de desenvolvimento sustentável, consolidado no relatório Nosso Futuro
Comum, ou Brundtland, 15 anos depois de Estocolmo.

Como vimos no Capítulo 1, os eventos posteriores à conferência de


35
Gestão ambiental

Estocolmo e à edição do relatório Brundtland, especialmente as


O Desenvolvimento
Sustentável passou Conferências do Rio de Janeiro, em 1992 e 1997, reafirmaram a
a ser o ponto de relação entre economia, desenvolvimento e meio ambiente.
maior penetração da
questão ambiental na Pressupõe-se então, que o desenvolvimento precisa estar
Economia. baseado em um tripé formado pela eficiência econômica, o equilíbrio
ambiental e a equidade social. O Desenvolvimento Sustentável passou
a ser o ponto de maior penetração da questão ambiental na Economia.

Figura 9 – Tripé do desenvolvimento

Fonte: Disponível em: <http://apuracao.wordpress.com/2010/11/05/


desenvolvimentosustentavel-ontem-e-hoje/.>. Acesso em: 11 mar. 2011.

A crítica ambiental que gerou a preocupação com o desenvolvimento e a


economia tem sua origem no campo das ciências naturais, posteriormente nas
sociais, para só então, tardiamente, penetrar o campo das ciências econômicas.
Este fato atrasou a criação deste novo conceito de desenvolvimento econômico, na
verdade, ainda hoje algo muito “etéreo” e, por muitos, considerado intangível. Ainda
assim, surge uma nova abordagem mundial, a da “Bioeconomia”, que propõe uma
nova visão, ou ciência econômica, denominada de Economia Ecológica.

Bioeconomia pode ser conceituado como um campo


interdisciplinar das ciências que visa compatibilizar as evoluções da
economia humana e do ambiente natural.

Você pode ver, então, que a sustentabilidade depende de uma nova visão

36
Capítulo 2 Economia Ecológica ou Ambiental

econômica. Nem tão nova do ponto de vista conceitual, mas como


A Escola de Frankfurt
ciência aplicada. Brügger (2004, p.22), acrescenta que é um agrupamento
de cientistas sociais,
(...) as premissas da verdadeira sustentabilidade do início da década
não podem ficar confinadas nem mesmo de 1960, que
aos valores da economia ambiental, a qual
debatia sobre como
não rompe de fato com os pressupostos da
economia neoclássica que vê a natureza como explicar o rápido
uma grande fábrica.é necessário, portanto, que desenvolvimento
adotemos as premissas da economia ecológica das economias
a qual se situa, em termos paradigmáticos, mais mundiais, criticando
próxima dos valores defendidos pelos teóricos tanto o capitalismo
críticos da Escola de Frankfurt. como o comunismo
e apresentando uma
A Escola de Frankfurt é um agrupamento de cientistas sociais, alternativa para o
do início da década de 1960, que debatia sobre como explicar o desenvolvimento
social.
rápido desenvolvimento das economias mundiais, criticando tanto o
capitalismo como o comunismo e apresentando uma alternativa para
o desenvolvimento social.

A Economia Ecológica está fundada no princípio de que o funcionamento


do sistema econômico precisa ser concebido tendo em vista as condições, ou
limitações, do mundo biofísico, considerando que o sistema se estabelece sobre
este e depende dele para a sua sustentação em termos de energia e matéria
prima, mas também, para dar conta da entropia gerada pelo sistema. A Economia
Ecológica pressupõe, ainda, que a integração dos dois sistemas, o econômico e
o natural, deverá ocorrer em um sentido de funcionamento comum, harmônico e
integrado. O problema principal é determinar a sustentabilidade desta interação,
as condições de estabilidade.

Além disso, esta sustentabilidade precisa ser estendida às gerações futuras,


num sentido de equidade intergeracional. A exploração excessiva dos bens
naturais, como aceita pela sociedade, adquire um caráter egoísta por parte das
gerações atuais. Estamos extraindo mais recursos do que a natureza repõe a
cada ano. Essa é uma conta que somos obrigados a refazer.

Você pode perceber, então, que não é suficiente pensarmos em


sustentabilidade ambiental e social apenas para o presente, mas também, em
uma solidariedade para com as futuras pessoas que habitarão a Terra. Essas
serão nossos filhos e netos e terão direito a gerar qualidade de vida para si da
mesma forma que queremos para nós.

Na economia tradicional, os bens naturais são considerados como gratuitos,


não possuem valoração econômica, embora representem custos líquidos para o
ambiente. Observe que segundo essa lógica, não tendo valor econômico, temos a
sensação, como sociedade, que não necessitamos economizar os bens naturais.

37
Gestão ambiental

Há uma falsa impressão de abundância. É claro que essa percepção é variável. Em


países em que os bens naturais tornaram-se escassos, um consumo e produção
mais responsáveis ocorrem; mas, em países como o Brasil, de dimensões
continentais, com relativa abundância, a sociedade tende a ser perdulária.

Interessantes contribuições à noção e ao estudo da Economia


Ecológica você pode ver no site da Sociedade Brasileira de Economia
Ecológica, em www.ecoeco.org.br

Uma interessante e importante forma de valoração de um bem natural é o


caso da cobrança pelo uso da água. Esse instrumento, que no Brasil ocorre a
partir da ação dos comitês de bacia, busca ultrapassar um conceito arraigado
entre os usuários de água, de que este bem é de uso livre e gratuito. Assim, os
múltiplos usos são contemplados.

Você pode ver, então, que é imperioso darmos valor econômico a cada
produto natural, como a água, os minerais e a madeira. Esses bens não serão
infinitos e há a necessidade de recuperarmos a degradação causada pela sua
extração ou pela poluição dos processos industriais e sociais. Se não, alguém
arcará com os custos no futuro.

Um exemplo de que a valoração econômica e o uso racional não podem


ser negligenciados é o caso do uso da água, já citado anteriormente. Em muitas
bacias hidrográficas brasileiras não é aplicado o princípio dos usos múltiplos,
expresso na própria Política Nacional dos Recursos Hídricos (Lei Federal nº
9.433, de 1997), ocorrendo escassez do bem. Vale lembrar que, de acordo com
a lei, em casos de falta de água, os usos prioritários são a dessedentação de
pessoas e animais, ou seja, o uso econômico fica relegado a segundo plano. A
extração de minérios, como o carvão, no sul do Brasil, é um exemplo claro da má
repartição dos custos com a recuperação das áreas degradadas, ocorridas desde
há muitas décadas, e cujos maiores beneficiários à época auferiram enormes
lucros e poucos participarão no custeio da recomposição do solo e da vegetação.

Os efeitos positivos ou negativos, de determinada atividade, como esses que


acabamos de ver, são considerados como externalidades econômicas, pois não
participam diretamente da contabilidade. Essa é a diferença fundamental entre a
economia vigente e a ecológica.

38
Capítulo 2 Economia Ecológica ou Ambiental

Atividade de Estudos:

1) Uma externalidade ocorre quando há custos ou benefícios sociais


significativos advindos da produção ou do consumo que não são
refletidos nos preços de mercado. Por exemplo, a poluição do ar
pode ser considerada uma externalidade negativa e educação
pode ser uma externalidade positiva. Produza uma lista com
externalidades positivas e negativas originadas de alguma
atividade econômica à sua escolha. Depois, pondere sobre o
resultado.
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Economia e Preservação dos


Recursos Ambientais
Nesta seção trataremos sobre como os bens naturais exercem e garantem
a manutenção e prestação de serviços à economia. Embora não possamos
mais tratar esta questão de forma parcial e pouco profunda, a sociedade e a
própria economia não parecem muito dispostos a fazê-lo. A realização de mais
e novos estudos poderá trazer luz ao tema. A informação e o conhecimento
gerados deverão nos conduzir a buscar o equilíbrio entre as necessidades de
desenvolvimento e de preservação da natureza.

Você já pensou sobre qual é o valor dos serviços prestados pela Natureza?
Podemos dizer que a princípio é infinito? Pense sobre isso: a economia mundial
entraria rapidamente em colapso sem a existência de solos férteis, água de boa
qualidade e ar limpo. Porém, “infinito” muito rapidamente pode se transformar

39
Gestão ambiental

em “zero” nas equações utilizadas por administradores públicos e em


Valores mais
consistentes e decisões políticas. Assim, valores mais consistentes e concretos são
concretos são necessários para se evitar decisões econômicas não sustentáveis,
necessários para que possam degradar os recursos naturais e os serviços que os
se evitar decisões ecossistemas geram.
econômicas não
sustentáveis, que
Com esse objetivo, uma equipe de treze pesquisadores, tendo
possam degradar
os recursos à frente o cientista Robert Costanza, da Universidade de Maryland,
naturais e os estimou o valor econômico de 17 serviços que o meio ambiente pode
serviços que os proporcionar (regulação hídrica, de gases, climática e de distúrbios
ecossistemas físicos, abastecimento d’água, controle de erosão e retenção de
geram. sedimentos, formação de solos, ciclo de nutrientes, tratamento de
detritos, polinização, controle biológico, refúgios de fauna, produção de
alimentos, matéria-prima, recursos genéticos, recreação e cultura), em 16 biomas
espalhados pelo mundo. Informações dispersas em mais de uma centena de
estudos de valoração econômica de bens e serviços ambientais foram agrupadas
e analisadas, e ao final o resultado encontrado para o valor médio dos serviços
proporcionados pela Natureza, nos ecossistemas pesquisados, foi de US$ 33
trilhões ao ano. Logicamente, a tentativa de se estimar o valor corrente total
dos serviços ambientais em questão tem uma série de limitações, admitidas por
Costanza e seus colaboradores.

Vários biomas e diversas categorias de serviços ambientais ficaram de


fora do trabalho, já que não são ainda adequadamente pesquisados e objeto de
valoração econômica. O próprio Cerrado, cujos estudos de valoração econômica
ainda são muito recentes, não foi considerado no estudo. Portanto, à medida
que outros estudos ocorrerem e forem disponibilizados, o valor total dos bens e
serviços irá aumentar. Em muitos casos os valores encontrados são baseados
em levantamentos da “disposição a pagar” da sociedade por serviços ambientais,
levantamentos esses nos quais se firmam alguns dos métodos de valoração
econômica do meio ambiente Aqui, o perigo é que os cidadãos possam estar
desinformados quanto à importância dos bens e serviços ambientais, e assim suas
preferências não incorporarem adequadamente preocupações sociais, econômicas
e ecológicas, entre outras, o que pode resultar em valores inconsistentes.

Podemos perceber que a valoração econômica dos serviços prestados pela


natureza sempre será, de certa forma, empírico, porque envolve percepções
das pessoas sobre o que é importante e sobre que valor deve ter. Não há como
eliminar totalmente essa subjetividade, portanto.

Pode-se questionar a tentativa de dar um valor à atmosfera, ou às rochas e


ao solo no suporte aos ecossistemas, O valor, nesses casos, é incomensurável.
Entretanto, como bem aponta o estudo, é de fundamental importância investigar

40
Capítulo 2 Economia Ecológica ou Ambiental

como modificações na quantidade e qualidade dos vários tipos de capital natural e


de serviços ambientais podem acarretar impactos no bem estar humano.

Levanta-se a questão de que a valoração de bens e serviços ambientais é


tampouco correta, já que não podemos dar valor a bens “intangíveis”, como a vida
humana, paisagens, ou benefícios ecológicos de longo prazo. Porém, na verdade
valoramos bens e serviços “intangíveis” todos os dias, ao estabelecermos, por
exemplo, padrões para construção de estradas, pontes, e similares: nesse caso
valoramos a vida humana, já que estamos gastando mais dinheiro em construções
que salvarão vidas. A realidade é que a sociedade valora o meio ambiente todos
os dias. Qualquer decisão quanto ao uso da terra envolve estimativas de valor,
mesmo quando valores monetários não são utilizados.

Para Alier (2005, p. 34), “Antes de atribuirmos valores econômicos


“Antes de
aos recursos ou serviços ambientais, deve haver a percepção social atribuirmos valores
de que estes recursos e serviços existem e são valiosos [...]”. econômicos
aos recursos
Argumenta-se que devemos preservar os ecossistemas por ou serviços
razões morais, não lhes cabendo atribuir nenhum tipo de valor ambientais, deve
haver a percepção
econômico. A preservação seria uma questão relacionada aos direitos
social de que estes
de todas as espécies, tendo a ver com as nossas obrigações morais recursos e serviços
para com as futuras gerações. Os bens e serviços ambientais seriam existem e são
fins em si próprios, e não um instrumental para se obter determinado valiosos [...]”.
objetivo, no caso o desenvolvimento.

Você pode concluir que, se todos os bens naturais têm direito à


existência, presume-se que não é possível optar por um em detrimento
de outro, estando, assim, todas as perdas moralmente condenadas.
Porém, a realidade é que a sociedade tem que fazer opções. Sendo assim, ciente
de que nem tudo pode ser salvo e mantido intacto, é essencial optar entre formas
de intervenção que tenham a melhor relação custo/benefício. Nesse ponto é que
a valoração econômica de bens e serviços ambientais pode prestar um relevante
papel.

Observe que essas escolhas geralmente são feitas por outros e não por nós
mesmos, mas há um outro sentido muito importante nessa questão das escolhas
sobre o que devemos preservar. Trata-se das escolhas dirigidas pela ética e pela
cidadania, que são geralmente individuais. Além disso, nossa consciência sobre
isso deve influenciar outras pessoas, o que requer, também, uma pró-atividade de
nossa parte.

41
Gestão ambiental

Atividade de Estudos:

1) Procure definições para os termos Ética Ambiental (ou Ecológica)


e Cidadania Ambiental (e Planetária). Disserte sobre isso e sobre
como esses conceitos deveriam influenciar nossas decisões
sobre desenvolvimento e economia.
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Não costumamos refletir sobre as opções que devemos fazer todos os dias,
ainda que indiretamente. Raramente percebemos que para gerar desenvolvimento
econômico precisamos eliminar vidas, inclusive humanas. Isso pode ser entendido
como as escolhas entre ações individuais ou coletivas que podem significar
menos mortes humanas ou de animais, como os alimentos que consumimos, a
participação e as escolhas políticas ou sociais que fazemos, as campanhas que
apoiamos, entre outras tantas.

Sabemos que o desenvolvimento econômico está intimamente ligado


a aumentos no nível de bem estar da sociedade, resultantes da produção e
consumo de bens e serviços tradicionais. Porém, isso depende de diversas
funções dos recursos naturais, como matérias primas, capacidade de suporte de
ecossistemas, assimilação de resíduos e biodiversidade. O meio ambiente faz
parte da função de produção de grande quantidade de bens econômicos, cuja
obtenção seria impossível sem a sua existência.

Cabe destacar que a economia de bens e serviços ambientais possui


características diferentes da economia tradicional. O uso dos recursos ambientais,
por exemplo, gera custos e benefícios que pouco são apreendidos em um sistema

42
Capítulo 2 Economia Ecológica ou Ambiental

de mercado, muito embora os recursos tenham valor econômico. Embora o valor


econômico dos recursos ambientais não seja observável no mercado por meio de
preços, o meio ambiente tem um valor. Na medida em que seu uso altera o nível
de produção e consumo da sociedade, já que o bem estar das pessoas é medido
tanto pelo consumo de bens e serviços tradicionais, como pelo consumo de bens
de origem recreacional, política, cultural e ambiental.

Você também já deve ter observado que pelo fato de não serem quantificados
e transacionados em mercados, os bens e serviços ambientais têm muito
pouco peso nas decisões políticas. Isso não é diferente em quase parte nenhuma
do mundo. A não ser, paradoxalmente, naquelas sociedades justamente por nós
consideradas como mais primitivas. Esta negligência econômica e política pode ter
como consequência o comprometimento da sustentabilidade da vida na Terra, já que
os ativos ambientais não possuem substitutos.

Apesar dos diversos problemas de ordem conceitual e empírica inerentes


à produção de uma estimativa dessa ordem, o trabalho de Costanza pode ser
importante para se estabelecer uma primeira aproximação da magnitude relativa
dos ecossistemas globais, e para estimular debates e pesquisas em valoração
de bens e serviços ambientais. Contudo, talvez o maior mérito do trabalho é a
comparação que permitiu ser feita entre os valores existentes do Produto Interno
Bruto global e o valor econômico médio dos serviços ambientais prestados pelos
16 biomas pesquisados: para o meio ambiente o resultado encontrado foi de US$
33 trilhões anuais, enquanto que no mesmo ano o PIB global somava cerca de
US$ 18 trilhões. Ou seja, o valor dos serviços ambientais era quase o dobro do
encontrado para o PIB.

A diferença entre o PIB Mundial e os serviços ambientais, ainda


A diferença entre o
que subdimensionados, mostram que estes têm uma posição destacada PIB Mundial e os
na contribuição para o bem estar humano no nosso planeta. serviços ambientais,
ainda que
A economia não pode continuar a ser vista como um sistema subdimensionados,
fechado e isolado, no qual existem fontes inesgotáveis de matéria mostram que estes
têm uma posição
prima e energia para alimentar o sistema, onde o processo de
destacada na
produção converte todos os insumos em produtos sem deixar resíduos contribuição para o
indesejáveis, e no consumo todos os produtos desaparecem como bem estar humano
num passe de mágica, sem deixar vestígios. Ou seja, a economia não no nosso planeta.
pode insistir em considerar o meio ambiente como mero coadjuvante.

43
Gestão ambiental

Uma interessante dica para entendermos os mecanismos da


produção de preços é o filme a Origem das Coisas, disponível em
http://video.portalcab.com/?play=historia-das-coisas. Nele, você
poderá entender como as relações de produção e consumo são
baseadas em motivações nada éticas.

Ekins (1992) já considerava a necessidade de entender a economia não


apenas pelo capital produzido (ou manufaturado), mas através do conceito do
que ele chama de quatro capitais: natural, humano, social-organizacional e o
próprio manufaturado. Este modelo difere do tradicional de criação de riqueza,
segundo Merico (2002), que demonstra uma relação simplificada entre terra,
trabalho e capital.

Ainda, segundo Merico (2002, p. 20 e 21):

É importante reconhecer esta ampla conceituação de riqueza,


A microeconomia que não se limita à noção exclusiva de dinheiro. E é igualmente
é parte de um importante produzir, sistematizar e desenvolver um arcabouço
sistema maior, a básico de análise econômica que consiga superar a análise
macroeconomia, e exclusiva de fluxo monetário e que considere os fluxos de
matéria e energia no ambiente, desencadeados pelo processo
a ela está sujeita.
de produção econômica.
Mas é importante
lembrar que não há
economia sem bens O processo produtivo não considera a internalização dos custos
naturais. Assim, a ambientais, que vem a ser o preço a ser pago para resolver a poluição
macroeconomia e a degradação ambiental. Isto significa exatamente contabilizar
é parte de um os impactos e é ferramenta para melhorar a alocação de recursos
sistema maior, a
econômicos. Para tal, é necessário identificar os impactos e sua
própria Biosfera.
correta valoração econômica. A base de cálculo da macroeconomia
(e também da microeconomia), portanto, é falsa e impede a produção
real da performance econômica de um determinado espaço geográfico e mesmo
mundial.

A microeconomia é parte de um sistema maior, a macroeconomia, e a ela


está sujeita. Mas é importante lembrar que não há economia sem bens naturais.
Assim, a macroeconomia é parte de um sistema maior, a própria Biosfera.

44
Capítulo 2 Economia Ecológica ou Ambiental

A microeconomia, também conhecida como teoria de preços,


é quem determina valores para bens e serviços, mas também para
salários e aluguéis (fatores de produção), por exemplo.

Você pode concluir que há sérias razões para preocupação sobre o futuro do
planeta e da humanidade. A capacidade de suporte da Biosfera precisa ser mais
bem conhecida, para evitarmos a sua exaustão.

Biosfera traduz-se como o conjunto de todos os ambientes


(ecossistemas) que abrigam vida no planeta.

Veja que a performance econômica de um país, por exemplo, é medida


apenas pela sua capacidade de gerar bens, serviços e riqueza, e não considera
a diminuição dos bens naturais necessários para tal fim, o que significa um
empobrecimento daquele país.

O quadro abaixo nos mostra situações originadas pelo uso


excessivo dos bens naturais:

Quadro 2 - Indicadores da Exaustão do Planeta

Alguns indicadores da exaustão do planeta

• A produção primária líquida (PPL), produzida pelos processos fotossintéti-


cos, já é apropriada em cerca de 40% (da PPL terrestre) pelos humanos.
Se dobrasse inviabilizaria o equilíbrio ecossistêmico (carvão, petróleo, gás
natural e madeira).

• Aquecimento global: os combustíveis fósseis produzem cerca de 7 bilhões


de toneladas de CO2/ano. No período pré-industrial a concentração do gás
na atmosfera era da ordem de 280 ppmv (partes por milhão de volume). Hoje
é cerca de 380 ppmv, ou seja, mais de 35% de aumento. E não há processo
natural significativo de incorporação de C02 nesse período que seja apenas

45
Gestão ambiental

de natureza antrópica. O aumento médio da temperatura global é de cerca


de 0,6°C desde 1866 (primeira medições com cientificidade). Pode chegar a
2,9°C no final do século. A elevação dos oceanos é de cerca de 1mm/ano em
média. O aquecimento global já causa danos à agricultura, biodiversidade,
doenças e clima.

• Depleção do ozônio atmosférico: o CFC e o brometo de metila, usado em de-


fensivos agrícolas, são os principais responsáveis pela destruição do ozônio
na estratosfera. A “camada” de ozônio retém o excesso de raios ultra violeta
B, que permitem a existência da vida. Serão necessários ainda 150 anos
para retornarmos aos níveis de 1970. O Protocolo de Montreal, produzido em
1996, reduziu a 20% a produção atual de gases CFC em relação à década
de 1980.

• Extinção da biodiversidade: calcula-se em 5 a 150 mil o número de espécies


extintas por ano, principalmente pela destruição dos ecossistemas.

• Escassez de água: calcula-se em 40% a diminuição da disponibilidade de


água no planeta. Cerca de 1,5 bilhão de pessoas não tem água em qualidade
e quantidade. Há uma forte vinculação da saúde humana com a poluição
da água. No Brasil, estima-se que 80% das internações no Sistema Unico
de Saúde (SUS) estejam relacionadas ao contato com água contaminada
química ou biologicamente.

Fonte: O autor.

Atividade de Estudos:

1) O Brasil é um dos países signatários da Convenção da


Biodiversidade, um acordo mundial produzido em 1992, na
Conferência do Rio de Janeiro, cuja finalidade é a preservação
das espécies através, principalmente, da manutenção dos
ecossistemas. A Convenção afirma que há uma profunda relação
entre a preservação da biodiversidade e a manutenção da
Economia e da qualidade de vida humana. Leia sobre o assunto e
comente sobre o que é afirmado aqui.

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Capítulo 2 Economia Ecológica ou Ambiental

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No caso dos seres humanos, não podemos considerar a capacidade


de suporte ecossistêmica apenas em termos de população, porque há que se
considerar um consumo per capita, que não é permanente ao longo do tempo,
como acontece com os outros animais. O problema está em criar um método
operacional para medir os custos e benefícios da expansão da atividade humana.

Faça o teste da sua pegada ecológica no site do WWF (http://


www.wwf.org.br/wwf_brasil/pegada_ecologica/)

Os termos capital natural e recursos naturais são uma forma de reduzir a


natureza ao antropocêntrico, como um fator de produção. Além das necessidades
humanas, a natureza é também o abrigo de toda a vida, que, aliás, não pode
ser entendida apenas para sua relação direta com a humanidade (processo
econômico). Qualquer e todo ser vivo, por mais belo e impressionante, como as
baleias, ou singelo como um fungo microscópico, deve ser respeitado pelo seu
valor intrínseco, pelo direito de existir, mesmo que nunca haja qualquer vantagem
ou descoberta a ele relacionada que favoreça a sociedade humana. Outro
importante aspecto é a percepção da necessidade de preservarmos apenas os
animais em extinção.

Segundo Brügger (2004, p. 42):

A matança de animais que não estão em extinção é emblemática


nesse sentido: desprovidos de valor instrumental como bancos
genéticos (para garantia da manutenção da biodiversidade
cujo valor instrumental é inquestionável), tais animais são
“obrigados” a servir a outros propósitos instrumentais (como
fonte de proteína, ou pele, por exemplo) sem que jamais se
considere o seu valor intrínseco.

47
Gestão ambiental

Normalmente enxergamos a natureza apenas por sua função utilitarista


para o ser humano. Você deve lembrar-se de várias situações em que essa visão
ocorre. Veja alguns exemplos: enxergamos a água apenas pela sua utilidade e
não como componente de um ecossistema; a árvore como madeira, papel ou fruto
e; o solo como fonte de minério ou sustentação para a agricultura (falamos até em
solo improdutivo, quando não serve ao plantio).

Outra questão importante, que também se tornou cultural, é o uso dos


adjetivos ecológico ou verde. Você também já deve ter percebido que a simples
incorporação de qualquer tecnologia ambientalmente “melhor” por um produto ou
empresa, já o tornam ecológico ou verde. Para o imaginário social isto é péssimo,
porque passa a ideia que aquele produto não agride o meio ambiente, o que é
falso. Ele apenas “agride” menos que outros produtos similares. Esse conceito
limita-se a apenas um pequeno avanço tecnológico, na maioria das vezes, como
um motor de automóvel menos poluente, componentes com maior reciclabilidade
em notebooks ou diminuição do uso de substâncias tóxicas na fabricação de uma
linha de tintas de parede, por exemplo.

Verde, simbolicamente poderia representar uma empresa que tivesse


implantado um SGA completo, eficaz e eficiente, com cuidados que vão desde
a escolha dos insumos até o ciclo de vida dos produtos, passando por todo o
processo industrial, o que é raro. Porém, ecológico, só pode ter sentido como
aquilo que não altera minimamente o natural. Assim, não há atividade humana
que não gere algum impacto, por menor que seja. Portanto, o termo ecológico não
tem sentido num processo ou produto econômico de transformação. No máximo
poderíamos chamar de ambientalmente melhor.

Atividade de Estudos:

1) Depois de fazer o teste da Pegada Ecológica no site do WWF,


reflita sobre o resultado por você obtido. Liste mudanças possíveis
no seu estilo de vida e refaça o teste, como se as mudanças já
tivessem ocorrido. Compare os resultados obtidos e pondere
sobre isso.
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Capítulo 2 Economia Ecológica ou Ambiental

Economicamente, não há instrumento para medirmos os valores


Economicamente,
reais dos serviços da natureza, como a regulação climática, a purificação não há instrumento
da água pelo ciclo natural, a purificação dos resíduos diversos, entre para medirmos
outros. Estes serviços têm custo zero para a economia tradicional. os valores reais
Mesmo os produtos da natureza como madeira, minério ou água, dos serviços da
quando precificados, tem custo zero para a contabilização econômica natureza, como a
regulação climática,
na maioria dos países. As exceções ocorrem por conta de nações que
a purificação
precisam economizar severamente os seus recursos, pela escassez de da água pelo
consumo excessivo no passado ou pela exiguidade territorial. ciclo natural, a
purificação dos
A diminuição dos estoques desses recursos não representa a resíduos diversos,
diminuição da renda num determinado espaço geográfico, como entre outros.
o nacional. Porém, se falássemos em riqueza nacional, a análise
teria que ser outra. O fato de ter custo zero, economicamente significa maior
demanda, o que tende a ultrapassar a capacidade de sustentação ecossistêmica.

Você pode ver que ao considerarmos os bens naturais como livres, com
custo zero, produzimos um imaginário de abundância, de inesgotabilidade, como
já vimos anteriormente. É isso que está na raiz dos nossos problemas. Os bens
naturais decrescem rapidamente, assim como cresce a economia. O crescimento
econômico ocorre em uma velocidade tal que não nos permite “enxergar” essa
incongruência. Veja que a economia mundial levou toda a história da humanidade
para crescer até a escala de U$ 60 bilhões, em 1900. Hoje ela cresce esta quantia
em alguns meses apenas.

Os cenários para a compatibilização entre economia e meio ambiente ainda


estão sendo construídos e as dificuldades são imensas, como você pode ver.
Entretanto, algumas possibilidades podem ser consideradas. Hoje, falamos em
sustentabilidade e, embora ainda tenhamos muito que trilhar na sua concepção e
aplicação social, sabemos que algumas premissas devem ser consideradas e que
elas envolvem tanto mudanças sociais quanto tecnológicas.

Um excelente plano de ação foi proposto em 1992, na conferência do Rio de


Janeiro (já citada). Trata-se da Agenda 21, uma proposição para países, cidades
e mesmo empresas, no sentido de compatibilizar crescimento econômico e
preservação. A ideia de uma agenda propositiva para o século vindouro (atual),
logo foi percebida como uma possível resposta às necessidades de conceber e
construir o desenvolvimento sustentável. Infelizmente isso não ocorreu, pelo menos
não em escala mundial. Como a Agenda 21, conceitualmente, ultrapassa os limites
da chamada área ambiental, você pode imaginar a dificuldade para promover os
necessários encontros. Ainda assim, há interessantes experiências em vários
países e cidades, nesse sentido, especialmente nos países do norte da Europa.

Segundo Moura (2008):


49
Gestão ambiental

A Agenda 21 é um documento que estabelece um abrangente


plano de ação para ser implementado pelos governos, além
de organizações da ONU, agências de desenvolvimento
e grupos setoriais independentes, nas áreas em que as
atividades humanas prejudiquem o meio ambiente. Trata-
se de um programa organizado com ações de longo prazo,
tema, projetos, objetivos e metas, que resultaram em cerca
de 2.500 ações a serem implementadas. Propõe, entre outros,
o estudo das relações entre o meio ambiente e pobreza,
saúde, comércio, consumo e população, o uso mais racional
de matérias-primas e de energia para a produção de bens
e serviços, a realização de pesquisas sobre novas formas
de energia, além de motivar a visão de desenvolvimento
sustentável para prevenir as necessidades das gerações
do século 21. Propõe o fortalecimento dos Grupos Sociais
e sugere meios de implementação, com financiamentos.
Recomenda a constituição de comissões de desenvolvimento
sustentável para os governos federais, estaduais e municipais.

Embora a Agenda 21 tenha sido concebida e proposta como uma ação


pluralista na busca pela sustentabilidade, e como tal amplamente discutida, ela
pouco tem sido utilizada. Os exemplos positivos são tratados como excepcionais,
o que é lamentável. Se muitos países, estados, cidades e até mesmo organizações
tivessem produzido e implementado suas Agendas 21, a excepcionalidade seria
não tê-lo feito.

Você poderá aprofundar seus conhecimentos sobre a Agenda


21 acessando ao site do Ministério do Meio Ambiente (www.mma.
gov.br). Nele há várias informações sobre o andamento da Agenda
21 Brasileira e ao Ecolnews, que apresenta o documento na íntegra
(www. Ecolnews.com.br/agenda21/índex.htm).

Outro instrumento interessante é o mecanismo de Desenvolvimento Limpo


(disponível em www.cebds.org.br/cebds/pub-docs/pub-mc-mdl.pdf) originalmente
concebido como um instrumento de compensação econômica entre países, no
caso de compra e venda de créditos de emissões reduzidas (CER), pelo hoje
Tratado de Quioto. O termo tem sido utilizado, também, para nomear práticas e
mecanismos (ou equipamentos) usados pelas empresas (e sociedade, através do
poder público) que produzem menos impacto e poluição ambiental.

Alguns outros acordos e barreiras econômicas mundiais recentes


estabeleceram novas relações comerciais que vão no sentido da proteção
ambiental, especialmente no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC),

50
Capítulo 2 Economia Ecológica ou Ambiental

amparados pelas chamadas “barreiras técnicas”.

Barreiras técnicas são padrões, normas ou procedimentos,


produzidos por nações ou organizações, com a intenção de
constituírem-se em dificuldade para o comércio, quando não forem
respeitados por outras nações ou organizações.

No âmbito empresarial, várias iniciativas surgiram para


incrementar o desempenho ambiental na busca por compatibilizar
proteção ambiental e desenvolvimento. A seguir você pode ver uma
lista das principais entidades que atuam junto às empresas:

• WBCDS – World Business Council for Sustainable Development,


com uma filial brasileira;
• Responsible Care;
• EUROPIA – European Petroleum Industry Association;
• CERES Principle – The Coalization for Environmental Responsible
Economies;
• KEINDAREN – Japan Federation of Economic Organization;
• FSC – Forest Stewardship Council;
• BCSD – Business Council for Sustainable Development;
• GEMI – Global environmental Management Initiative e;
• INEM – International Network for Environmental Management.

Fonte: Extraído de Moura (2008).

Os incentivos econômicos para quem protege, voluntária ou obrigatoriamente,


os bens ambientais sempre foram a “face” frágil das políticas públicas, em particular
em nosso país. Há poucas iniciativas dos governos nesse sentido. Entretanto,
beneficiar quem preserva é uma alternativa poderosa para a qualidade ambiental.
Genericamente, os programas governamentais que visam à proteção do meio
ambiente através de benefícios são chamados de Pagamentos de Serviços
Ambientais (PSA). Basicamente, são práticas, técnicas ou sistemas adotados pelos
proprietários, e, são monitoradas para garantir e melhorar os resultados.

Para a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),


51
Gestão ambiental

bens ou serviços ambientais “são aqueles que tenham por finalidade medir, prevenir,
limitar, minimizar ou corrigir danos ambientais à água, ar e solo, bem como os
problemas relacionados ao desperdício, poluição sonora e danos aos ecossistemas”
(OCDE, 2011. Disponível em WWW.oecd.org). A OCDE possui uma lista com 164
itens que são utilizados para suprir um dano ambiental.

Figura 10 - Logomarca da Organização para Cooperação


e Desenvolvimento Econômico (OCDE)

BETTER POLICIES FOR BETTER LIVES


Disponível em: <http://juventude.gov.pt/Eventos/ConcursosPassatempos/
Paginas/ConcursodeVideosdaOCDE.aspx.>. Aceso em: 12 mar. 2011.

A Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento estima


que o mercado dos PSA atualmente, esteja na casa dos 550 bilhões de dólares.
Este é um mercado em crescimento, mas ainda muito tímido. Ainda assim, apesar
de poucas, há iniciativas interessantes, como você verá a seguir.

É bastante conhecido, inclusive pela repercussão na mídia, o caso do serviço


de água tratada à população de Nova Iorque, nos EUA, em que a alternativa
adotada foi pagar aos proprietários das terras rurais por onde os mananciais
passavam para que adotassem medidas de proteção da água. Do ponto de vista
econômico, tal medida revelou-se muito melhor do que tratar a água, já escassa,
depois de poluída. De forma geral, prevenir um dano ambiental é bem mais barato
do que remediá-lo, o que, aliás, muitas vezes e é até impossível, dependendo do
tipo de degradação ou contaminação que tiver ocorrido.

Atividade de Estudos:

1) Assim como no caso da água, importantes danos ambientais


decorrem da poluição atmosférica. Várias são as formas e
origens dessa poluição. Pense sobre isso e proponha ações que
poderiam ser aplicadas pela sociedade, poder público e empresas
no sentido de diminuir os danos causados.
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Capítulo 2 Economia Ecológica ou Ambiental

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As atividades que visam à preservação do meio ambiente são consideradas


serviços ambientais. Vários são os tipos de serviços, sendo considerados mais
comuns o plantio de árvores nativas, a preservação de florestas, o abatimento
da erosão, o mercado de créditos de carbono, a conservação dos recursos
hídricos, a criação de impostos ecológicos, o uso sustentável dos bens naturais
e o ecoturismo. Porém, inúmeros outros serviços, talvez até nem concebidos,
poderão e deverão ser ainda incluídos.
O princípio dos PSA
O princípio dos PSA é a transferência de recursos, que podem é a transferência de
ser monetários, ou outros, para quem produz e mantém tais serviços. recursos, que podem
A intenção dos PSA é “precificar” os bens e serviços ambientais para ser monetários, ou
estimular a conservação. A sociedade deve então pagar por esses outros, para quem
serviços, através do Estado, embora há quem diga que preservar é produz e mantém
tais serviços. A
apenas um dever legalmente constituído.
intenção dos PSA é
“precificar” os bens e
Observe que uma questão importante para que o PSA tenha serviços ambientais
sentido, preservar necessita ser mais vantajoso financeiramente do para estimular a
que destruir. O mercado de carbono é o projeto de PSA mais difundido conservação.
no mundo e o Brasil foi o primeiro a utilizá-lo. Os projetos estão se
intensificando rapidamente no país.

Vejamos o caso da Agência Nacional de Águas (ANA), órgão regulador da


Política Nacional de Recursos Hídricos, ligada ao Ministério do Meio Ambiente,
que criou um programa para beneficiar proprietários rurais que protegem recursos
hídricos, chamado Produtor de Água. O objetivo é melhorar a qualidade e a
quantidade da água nas bacias hidrográficas, aplicando o princípio do provedor-
recebedor. Diversas práticas geradoras de externalidades positivas são bonificadas,
como podemos ver no próprio site da ANA (disponível em www.ana.gov.br/
produagua). No site também podem ser encontrados todos os projetos em execução
(em arquivos próprios), além de vídeos e informações sobre o programa.

Segundo a Agência Nacional de Águas:

O referido programa prevê o apoio técnico e financeiro à


execução de ações como: construção de terraços e de bacias

53
Gestão ambiental

A ANA monitora de infiltração, readequação de estradas vicinais, recuperação


os projetos e proteção de nascentes, reflorestamento das áreas de
beneficiados e proteção permanente e reserva legal, saneamento ambiental,
entre outros.
propõe mudanças,
para ampliar o
alcance de cada A ANA monitora os projetos beneficiados e propõe mudanças,
um. O número para ampliar o alcance de cada um. O número de projetos beneficiados
de projetos é pequeno, ainda, como você poderá ver no site da agência, mas há
beneficiados é um grande potencial no programa.
pequeno, ainda,
como você poderá
Figura 11 - Logomarca da Agência Nacional de Águas
ver no site da
agência, mas
há um grande
potencial no
programa.

Fonte: Disponível em: <http://radio-com.blogspot.com/2010_03_01_


archive.html>. Acesso em: 15 mar. 2011.

Além do apoio ao programa da ANA, o Ministério do Meio Ambiente criou


o Programa Proambiente, em 2000, na Amazônia, em que beneficia mais de
4.000 produtores rurais, desde que assumam práticas agroecológicas em suas
propriedades.

Nos estados, projetos semelhantes também estão sendo implantados,


visando à proteção dos bens ambientais. O Governo do Amazonas instituiu o
programa “Bolsa Floresta” para famílias que evitam desmatamento e queimadas.
Em Santa Catarina foi aprovada a Lei Estadual Nº 1.333, em fevereiro de 2010,
instituindo a Política Estadual e o Programa Estadual de Pagamentos sobre
Serviços Ambientais. Embora careça de regulamentação e do projeto original
tenham sido retiradas algumas fontes de recursos, é um bom começo para a
proteção ambiental, especialmente nas bacias hidrográficas no estado e para a
recuperação de parte da enorme dívida social com os produtores rurais.

O programa em Santa Catarina é dividido em três subprogramas, o de


Unidades de Conservação, o de Formações Vegetais e o de Água. O valor de
referência a ser pago, por hectare preservado, está estabelecido ao equivalente a
30 sacas de milho por ano.

Há outras interessantes ideias e iniciativas no Brasil que atuam no sentido de


compatibilizar economia e preservação consideradas PSA, como você verá abaixo:

• ICMs Ecológico, em que estados redistribuem o retorno do imposto

54
Capítulo 2 Economia Ecológica ou Ambiental

privilegiando municípios que têm políticas preservacionistas. O caso mais


aprimorado é o do estado do Paraná;

• Compensação Ambiental por parte de empresas aos estados e municípios,


por impactos ambientais inevitáveis;

• Reposição Florestal por parte de madeireiras para financiamento de plantio


em outras áreas;

• Isenção do Imposto Territorial Rural (ITR) para proprietários de Reservas


Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs);

• Isenção do pagamento de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) por


proprietários que não possam usufruir da totalidade de seu terreno, em função
de limitações criadas pelos Planos Diretores Urbanos (PDUs), sobre a parte
do terreno não edificável;

• Política Nacional de PSA: minuta de lei no Congresso Nacional;

• Projeto do Imposto de Renda Ecológico, para iniciativas preservacionistas e;

• Defeso da pesca: salário pago a pescadores pelo Governo Federal para o


período de reprodução de espécies marinhas.

Outras tantas ideias deverão ser mais bem concebidas e implementadas no


futuro, como pagamentos por proteção de beleza cênica, da biodiversidade e de
águas, por parte de governos e empresas.

Então, você pode perceber que a proposição de cenários de compatibilidade


entre a economia e a preservação ambiental depende de dois fatores básicos,
a valoração dos bens que a natureza disponibiliza e a economia dos recursos,
seja pelo desenvolvimento de tecnologias menos demandadoras ou pela prática
de um consumo sustentável pela sociedade, aplicando o uso parcimonioso de
bens e serviços.

Sabemos que o crescimento da economia está profundamente ligado à


produção industrial. O nível industrial de uma nação revela a sua grandeza
econômica. É o setor industrial o principal beneficiário dos bens e insumos
extraídos livremente, mas também é o que mais sofre diretamente com a
dificuldade de alcançar esses recursos, à medida que vão se tornando menos
acessíveis, pelas razões que veremos a seguir, nos próximos capítulos.

55
Gestão ambiental

Atividade de Estudos:

1) Como vimos, os incentivos fiscais são um poderoso instrumento


a favor da sustentabilidade socioambiental. Porém, apesar dos
avanços dos últimos anos, são considerados como a maior
fragilidade em termos de políticas públicas. Você conseguiria
sugerir um conjunto de ações governamentais nesse sentido
que um prefeito poderia implementar, com apoio de legislação
específica, em um hipotético município?
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Algumas considerações
Vimos neste capítulo que a crescente degradação e poluição ambientais
que afetam nosso planeta têm uma forte relação com o modelo econômico
dominante. Neste capítulo pode-se perceber que dar valor econômico aos bens
naturais não é tarefa fácil, pois historicamente estes foram tidos como uma
dádiva ao desenvolvimento humano e, como tal, não necessitavam ser valorados
economicamente. Percebe-se, entretanto, que a nascente ciência da Economia
Ecológica tem se preocupado em desmistificar esta questão e propor dados e
experimentos no sentido de superação do paradigma atual. Porém, ao mesmo
tempo que faltam informações e precisão, há que se vencer enormes resistências
a essa mudança de concepção. A principal e mais difícil delas é a percepção, que
atinge a toda a sociedade. As pessoas em geral não conseguem “enxergar” essas
relações. Há, na maioria dos países, uma visão de abundância de recursos, de
inesgotabilidade, que atinge até mesmo os seus governantes. Há que se vencer,
também, a resistência dos economistas tradicionais, muitos dos quais, por boa-fé,
compartilham dessa visão de opulência natural.

56
Capítulo 2 Economia Ecológica ou Ambiental

Mas há, ainda, e essa é a pior barreira, os interesses econômicos daqueles


que usufruem dos recursos sem grandes gastos para tal, muitas vezes formando
verdadeiros cartéis de grupos de interesse. Porém, os recursos já não estão tão
facilmente disponíveis, o que impõe, principalmente às empresas que usam bens
e insumos em grande escala, a necessidade de reverem seus conceitos. Assim,
aplicar instrumentos de gestão sobre os seus aspectos ambientais se torna
produtivo, econômico e necessário, como você verá no Capítulo 3, a seguir.

Referências
AMAZONAS, Maurício de Carvalho. Economia Ecológica. Disponível em:
<http://www.ecoeco.org.br/sobre/a-ecoeco>. Acesso em: 30 out. 2010.

BRÜGGER, Paula Cals. Educação ou Adestramento Ambiental. Chapecó e


Florianópolis: Editoras Argos e Letras Contemporâneas, 2004.

MERICO, Luiz Fernando Krieger. Introdução à Economia Ecológica.


Blumenau: Edifurb, 2002.

MOURA, Luiz Antônio Abdala de. Qualidade e Gestão Ambiental:


Sustentabilidade e Implantação da ISO 14.001. São Paulo: Editora Juarez de
Oliveira, 2008.

57
Gestão ambiental

58
C APÍTULO 3
Sistemas de Gestão Ambiental

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

99 Descrever o surgimento e a evolução dos processos normativos em nível


mundial.

99 Conhecer o desenvolvimento histórico dos princípios, técnicas e processos


administrativos relacionados à gestão ambiental.

99 Conhecer as diferentes concepções de gestão ambiental corporativa.

99 Descrever o conceito e o escopo das normas componentes da família ISO


14.000.

99 Analisar e propor ações corporativas de gestão e administração ambiental.


Gestão ambiental

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Capítulo 3 Sistemas de Gestão Ambiental

Contextualização
No capítulo 2 você pode conhecer um pouco mais sobre a economia
dominante no planeta e como ela lida com a questão ambiental. Também pode
perceber que há uma insustentabilidade ambiental e social nesse modelo.
Mas também, que a sustentabilidade pode ser construída com uma nova visão
econômica, que procura compatibilizar as necessidades de desenvolvimento
com as de preservação da natureza, considerando os ativos ambientais assim
como seu valor intrínseco. A Economia Ecológica insere-se, então, como a
verdadeira economia e sua aplicabilidade depende de estudos e ajustes; mas,
fundamentalmente de decisão e vontade política.

Neste capítulo veremos com as empresas, através da Gestão e da


Responsabilidade Socioambiental, podem contribuir para o desenvolvimento em
bases econômicas sustentáveis do ponto de vista ambiental.

A década de 1970, que foi marcada por acidentes ambientais de repercussão


mundial, como o de Bophal na Índia, em que o vazamento de um gás letal da
empresa Union Carbide levou à morte centenas de pessoas, também foi marcada
como sendo o início do investimento das empresas no marketing ecológico. Os
produtos recicláveis entraram em alta e os selos verdes proliferaram.

A crescente preocupação da sociedade com o agravamento dos problemas


ambientais, aliada à percepção sobre a participação do processo produtivo industrial
na questão, nas décadas seguintes, gerou sobre as empresas uma pressão social
para a busca de solução para os impactos e danos ambientais por elas causadas. Do
ponto de vista social, surgiu também o que podemos chamar de novo consumidor,
que passou a exigir maior responsabilidade por parte das empresas.

Paralelamente a tudo isso, mas não de forma dissociada, aprofunda-se


mundialmente a cobrança pela legislação (no Brasil notadamente a partir da
década de 1990), impondo novos limites às diferentes emissões industriais e
condicionantes ao licenciamento ambiental. Para gerar mais pressão ainda,
os recursos ambientais passam a se tornar mais escassos, protegidos ou
inacessíveis às empresas.

Neste contexto surge a gestão ambiental, quase como um imperativo às


organizações, notadamente as industriais, para o planejamento e ação a partir do
estabelecimento de política e programa próprios.

Você verá que a gestão ambiental permite às empresas, antes de tudo,


conhecerem-se melhor, perceber as suas deficiências e potencialidades,
identificar seus aspectos e impactos ambientais, para então agir.

61
Gestão ambiental

Mas, a gestão ambiental pode ultrapassar os limites dos cuidados


A gestão ambiental
empresarial está que a empresa pode ter, para proporcionar oportunidades de economia
essencialmente e de negócios não perceptíveis antes da sua implantação.
voltada para
organizações, ou A gestão ambiental empresarial está essencialmente voltada para
seja, companhias, organizações, ou seja, companhias, corporações, firmas, empresas ou
corporações, que
instituições e pode ser definida como sendo um conjunto de políticas,
levam em conta a
saúde e a segurança programas e práticas administrativas e operacionais, que levam
das pessoas e a em conta a saúde e a segurança das pessoas e a proteção do meio
proteção do meio ambiente, através da eliminação ou minimização de impactos e danos
ambiente. ambientais decorrentes do planejamento, implantação, operação,
ampliação, realocação ou desativação de empreendimentos ou
atividades, incluindo-se todas as fases do ciclo de vida de um produto.

O Histórico e os Princípios da
Gestão Ambiental
A partir da década de 1970, juntamente com a ampliação dos movimentos
e eventos que aumentaram o debate sobre as questões ambientais, como vimos
no capítulo 1, surgem vários processos de certificação ambiental no mundo,
como também veremos à frente. O conceito de desenvolvimento sustentável no
âmbito empresarial começa a ser difundido, inclusive através dos encontros e
documentos neles produzidos. Em 1991, por exemplo, é promulgada a Carta de
Roterdã pela Câmara Internacional do Comércio, que traz 16 princípios para o
desenvolvimento sustentável nas indústrias.

Foi justamente, a partir da profusão de debates, documentos e certificações,


que a International Standardization Organization – ISO, uma ONG fundada
em 1947, com sede em Genebra na Suíça, criou seu próprio certificado, com
abrangência mundial, a ISO 14000, baseada inicialmente na norma britânica BS
7750, que foi, por sua vez influenciada pela EMAS – Eco Management and Audit
Scheme. A BS 7750 foi criada experimentalmente em 1992, reeditada em 1994 e
desativada em 1997. A ISO, por sua vez, é hoje uma instituição com cerca de 160
países membros e que também produziu a ISO-9000 (da Qualidade), em 1987; a
ISO 19011 em 2002, que trata das diretrizes para auditoria de sistemas de gestão
da qualidade e/ou ambiental e; em 2010, aprovou uma certificação para a gestão
social (ISO 26000).

62
Capítulo 3 Sistemas de Gestão Ambiental

ISO 14000 é,
um conjunto de
normas, cuja
finalidade é a
unificação dos
Figura 12 - A logomarca da Organização
vários e diferentes
Fonte: http://www.midwestexpressgroup.com/
métodos de gestão
Certifications.aspx. Acesso: março, 2011
e gerenciamento
ambiental. O SGA
A família ISO 14000 impõe que os critérios de avaliação devam deve ter como um
ser os mesmos para qualquer empresa, em qualquer país, no sentido dos seus objetivos
de facilitar as transações mundiais. Veremos que o objetivo geral da o aprimoramento
certificação é planejar, implantar e implementar, um sistema de gestão contínuo das
atividades da
ambiental, que deverá ser mantido e aprimorado permanentemente.
organização, em
Esse sistema será, então, certificado. harmonia com o
meio ambiente.
A participação brasileira ocorre desde o início da construção da
norma na Suíça, como fundador, com direito a voto. A representação
se dá pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, inicialmente pelo
Grupo de Apoio à Normalização Ambiental – GANA, depois substituído pelo Comitê
Brasileiro CB-38, cuja finalidade é participar das decisões que alteram o escopo da
norma, uma vez que a revisão ocorre permanentemente. Por esta razão, no Brasil,
a ISO é editada como NBR (norma brasileira). A primeira edição ocorreu em 1996 e
a atual em 2004.

Você verá que a ISO 14000 é, na verdade, um conjunto de normas,


cuja finalidade é a unificação dos vários e diferentes métodos de gestão e
gerenciamento ambiental. A ISO 14001, principal componente da família é
quem define um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), em que a empresa busca
conhecer todos os seus aspectos e impactos ambientais e passa a lidar com eles.

Para Valle (2004), o SGA deve ter como um dos seus objetivos o aprimoramento
contínuo das atividades da organização, em harmonia com o meio ambiente.

No Brasil, já existem mais de 2.500 empresas certificadas. A primeira foi


uma empresa baiana, da cidade de Mucuri, a Bahia Sul Celulose, que já havia
sido certificada anteriormente, seguindo o método da norma britânica BS-7750.
Mundialmente, há mais de 13.000 empresas certificadas, segundo dados do
Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO).
Na maioria são grandes empresas que mantém negócios internacionais.

Porém, a ISO-14001 não se aplica apenas às grandes empresas e não


somente a empresas industriais. O uso do método ou escopo da norma também
não está necessariamente vinculado à consecução de um certificado. Pode-se

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Gestão ambiental

implantar um SGA sem pretender-se uma certificação. Desta forma, pequenas e


médias empresas têm implantado sistemas ou programas de meio ambiente. Você
mesmo deve conhecer casos de pequenas empresas, comerciais ou prestadoras
de serviços que já implantaram ações ou programas como a conservação de
energia e água, coleta seletiva ou educação ambiental.

No endereço eletrônico http://www.youtube.com/watch?v=-


0yHES9cr90 um vídeo curto, mas interessante dá uma ideia do que
é a norma.

Atividade de Estudos:

1) Procure observar, no seu local de trabalho, quais são os cuidados


ambientais existentes e elabore uma lista. A partir disso faça uma
reflexão com base nos seguintes questionamentos: Eles evitam o
surgimento de impactos ambientais significativos? O que poderia
ser implantado ou melhorado. Daria para pensar em um SGA?
Como você daria início ao processo?
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Observe o quadro abaixo. Ele mostra o número de certificações de acordo


com a ISO 14.001 por continente. É interessante visitar o site com certa frequência,
pois o número de certificados é alterado continuamente. Também o site da ISO
(www.iso.org) é fonte direta para as atualizações.

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Capítulo 3 Sistemas de Gestão Ambiental

Quadro 3 - Certificação ISO 14.001

Continente Total de Certificados


AMÉRICA CENTRAL 109
ÁFRICA 1098
AMÉRICA DO SUL 4246
AMÉRICA DO NORTE 7673
ÁSIA 57945
EUROPA 56825
OCEÂNIA 2146
Total 130042
Fonte: Adaptado de INMETRO. Disponível em http://www.inmetro.gov.br/
gestao14001/continentes.asp?Chamador=INMETRO14&tipo=INMETROEXT
Acessado em 26 de novembro de 2010.

No site do INMETRO (www.inmetro.gov.br) é possível saber


quantas empresas certificadas há nos países e continentes, consultar
empresas e conhecer as organizações credenciadas (organismos
acreditados), entre outras informações relacionadas à certificação
ambiental.

No Brasil, as empresas têm sido motivadas a investirem em cuidados


ambientais. A Confederação Nacional da Indústria, em 1998, lançou a Declaração
de Princípios da Indústria para o Desenvolvimento sustentável, a fim de incentivar
à ideia. A criação de listas de benchmarking e de premiações pelas instituições
patronais e outras têm influenciado as empresas a investirem em sistemas de
gestão próprios.

Os Sistemas de Gestão Ambiental


A gestão ambiental deve ter por objetivo maior a busca de melhoria
permanente da qualidade ambiental em uma organização, de seus processos,
serviços, produtos e também do ambiente de trabalho. Isso inclui empresas
públicas ou privadas. Estes objetivos, que podem ser considerados mais gerais,
ou até mesmo conceituais, deverão estar expressos na política ambiental que a
organização estabeleceu. Porém, há objetivos específicos definidos na própria
norma NBR-ISO 14.001, como veremos adiante.

65
Gestão ambiental

Mas, além desses, outros objetivos podem ser destacados e podem ser
alcançados pelo programa de gestão ambiental implantado. O programa poderá
permitir a gerência das tarefas da organização no que diz respeito às questões
ambientais da empresa e de seus fornecedores e clientes; integrar áreas
consideradas distintas, como as de segurança e saúde dos trabalhadores, mas
também, a gestão da qualidade - aqui se fala em gestão integrada, modelo
inclusive empregado por muitas empresas; colaborar com a comunidade, com
outras organizações e com os órgãos ambientais para a adoção de práticas
ambientalmente sustentáveis; produzir em colaboração com outros atores
produtos ou serviços que sejam ambientalmente compatíveis (ecodesign).

Ecodesign é um termo em inglês usado para o ato de projetar


produtos e serviços que tenham menor impacto ambiental, o que
significa menos consumo de recursos e insumos, maior reciclabilidade.
Muitas vezes significa “redesenhar” um produto ou serviço já existente.
Camisetas produzidas com PET (plástico de garrafas de refrigerante),
refis para perfumes e desodorantes, ou motores de eletrodomésticos
que conservam energia, são exemplos de ecodesign.

A preservação do meio ambiente converteu-se em um dos fatores de maior


influência da década de 90, com grande rapidez de penetração de mercado. Assim,
as empresas começam a apresentar soluções para alcançar o desenvolvimento
sustentável e ao mesmo tempo aumentar a lucratividade de seus negócios.
(ANDRADE, 2006, p.7)

Muitas são as razões que podem levar uma organização à adoção de um


programa ou de práticas de gestão ambiental. Podem estar relacionadas ao
simples atendimento da legislação, o que é obrigatório, até a incorporação de uma
cultura organizacional, que envolve todos os trabalhadores e todas as repartições.
Pode ser chamada de cultura verde, com um amplo viés de educação ambiental.

As possibilidades e as potencialidades que podem advir da implantação de


um SGA são inúmeras e muitas vezes só perceptíveis no processo. Também
variam muito de uma organização para outra, estando relacionadas à história, à
cultura, ao ramo de atividades e a outras particularidades da empresa. Porém, de
forma geral, veremos que as razões podem ser assim resumidas:

• Há uma forte limitação dos recursos ambientais em função da demanda


das empresas, que acarretam sua exaustão e degradação. Isso os torna

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Capítulo 3 Sistemas de Gestão Ambiental

evidentemente mais caros e escassos. É preciso produzir com maior eficiência


para economia de insumos e bens (ecoeficiência).

• Os recursos encontram-se cada vez mais protegidos do ponto de vista legal. A


legislação restringe cada vez mais o uso através da mudança da caracterização
ou da ampliação da proteção de ecossistemas, mas também da criação de
unidades de conservação da natureza e da cobrança pelos recursos, como
é o caso da água. Também aumentam permanentemente as exigências para
o licenciamento ambiental e para os cuidados e lançamentos de resíduos e
efluentes industriais, com maior restrição nos parâmetros exigidos.

• Cada vez mais, moradores de áreas próximas às empresas exigirão, até


por amparo legal, o ambiente preservado, a ausência de poluição (hídrica,
atmosférica, sonora e do solo) para garantir a sua qualidade de vida.
Também as empresas, especialmente aquelas que utilizam tecnologias mais
avançadas, necessitarão de áreas livres de poluição, que serão cada vez mais
raras e caras.

• Há um aumento das exigências por responsabilidade ambiental (e social)


por parte de consumidores, financiadores, seguradoras e importadores de
produtos e melhoria da imagem das empresas que têm cuidados ambientais
por parte de acionistas, organizações não governamentais e órgãos
ambientais públicos.

Ecoeficiência pode ser entendido como produzir mais e melhor


com menos consumo de recursos e insumos e menor impacto possível.

Figura 13 - Produtos Ecoeficientes

Fonte: Disponível em: <http://lh4.ggpht.com/_RdVGUVZ3JA4/STr5K412wrI/


AAAAAAAAC54/5eLypSoTf8/%5BUNSET%5D.jpg?imgmax=800 e http://
sorocaba.olx.com.br/camiseta-pet-reciclado-tecido-pet-reciclado-
garrafa-pet-recicladaiid-43598934>. Acesso em: 25 mar. 2011.

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Gestão ambiental

Produtos ecoeficientes: maleta de notebook com carregador solar e camiseta


feita à base de PET (plástico de garrafas de refrigerante).

Segundo Dyllick-Brenzinger et al (2000)

Os motivos e as razões para a estruturação e a certificação


de um SGA podem parecer muito variáveis em casos concretos
individuais. Em primeiro plano está a finalidade de assegurar a
permanente capacidade de competitividade da organização em
face das crescentes exigências ambientais de órgãos públicos,
clientes, bancos, seguradoras e da sociedade em geral.

Podemos perceber, então, que essas razões fazem com que a gestão
ambiental esteja na ordem do dia das empresas. Tal fato é observado
principalmente nos países com maior industrialização, tendo em vista que a
empresa industrial tem, em princípio, um maior potencial poluidor e degradador. A
imagem que as empresas têm está relacionada com a sua performance ambiental,
para os brasileiros, por exemplo, os empresários continuam sendo os maiores
vilões da natureza.

A Gestão Ambiental Corporativa exige das empresas a criação e implantação


não só de um bom SGA, mas de uma nova cultura, que poderíamos chamar de
verde; assim como também, aspectos de responsabilidade em relação ao seu
conjunto de funcionários, mas também da comunidade em que está inserida.
Atualmente o alcance dessa responsabilidade tem evoluído para uma preocupação
com um ambiente mais amplo, como o ecossistema ou a bacia hidrográfica à qual
a empresa pertence ou influencia.

Observe que um novo tipo de organização empresarial está surgindo, e que


rompe com a estrutura rígida, hierárquica, mudando para um modelo mais aberto
e participativo, de cogestão de processos e programas.

A nova consciência ambiental, surgida no bojo das


transformações culturais que ocorreram nas décadas de 60 e
70, ganhou dimensão e situou o meio ambiente como um dos
princípios mais fundamentais do homem moderno. Na nova
cultura, a fumaça passou a ser vista como anomalia e não
mais como uma vantagem (Tachizawa, 2006, p. 12).

Os países em desenvolvimento também começam a ter preocupação com


o custo e a esgotamento dos recursos ambientais. É nos países industrializados
que a percepção da sociedade sobre a importância e a necessidade de cuidados
ambientais é maior, gerando maior pressão sobre as empresas. Os consumidores
desses países tendem a dispensar produtos e serviços que agridem o meio
ambiente (consumo sustentável).

68
Capítulo 3 Sistemas de Gestão Ambiental

Consumo Sustentável ou Responsável é um tipo de


comportamento individual ou coletivo em que uma profunda e
permanente reflexão sobre cada bem ou serviço que adquirimos,
ou tencionamos adquirir, a respeito da sua real necessidade e da
possibilidade de trocá-lo por outro, visando a preferir aqueles que
geram menor impacto ambiental no seu processo de produção,
distribuição, geração de resíduo e ciclo de vida.

Assim, compradores principalmente, importadores estão exigindo a


certificação ambiental, nos moldes da ISO 14.000, ou mesmo certificados
ambientais específicos como, por exemplo, para produtos têxteis, madeiras,
cereais, frutas, etc. Tais exigências são voltadas para a concessão do “Selo
Verde”, mediante a rotulagem ambiental (Canedo, 2008). Mas, as exigências
sobre a necessidade de aplicação da gestão ambiental vão além e atingem
inclusive, acordos internacionais sobre comércio e ações alfandegárias.

Seguidamente vemos pressões sociais que aumentam as necessidades de


ações de responsabilidade ambiental, que se incorporam ao balanço social das
empresas. As ações sociais das empresas têm, cada vez mais, incorporando
um viés ambiental (hoje se fala em socioambientalismo), como decorrência de
exigências sociais e da busca por mercados mais restritivos. São variados os
fatores de regulação que impõem respostas das empresas e podem ser divididos
em formais – do Estado e informais – da comunidade.

Você já deve ter percebido que a unificação da responsabilidade social e da


ambiental é palavra de ordem para as organizações. Não há mais como tratá-las
de forma dissociada.

Princípios Básicos da Gestão Ambiental


Um sistema de gestão ambiental tem como razão principal o controle dos
danos e efeitos ambientais que podem ocorrer durante todo o ciclo de vida do
produto. Isso inclui todos os impactos sobre o meio ambiente, sobre a saúde e a
segurança, os insumos, materiais e processos usados, bem como o descarte do
produto ao final. Mas, a gestão ambiental também deve servir para oportunizar
a economia em várias etapas da produção, desde a escolha dos insumos e da
matéria prima até a distribuição e assistência técnica.

69
Gestão ambiental

A implantação de um SGA permite à empresa conhecer melhor a si mesma,


percebendo oportunidades de crescimento e de melhoria da marca. Assim,
o SGA permite ainda informar e orientar consumidores e acionistas sobre
a compatibilidade e o desempenho ambiental de seus produtos; promover
campanhas internas e; subsidiar a obtenção de certificação ou rotulagem.

As ações relativas ao SGA em uma empresa não podem estar desconectadas
e à margem das demais atividades da empresa, devem integrar todas as áreas e
níveis da mesma, compondo as responsabilidades empresariais.

Vale aqui relembrar o trinômio das responsabilidades empresariais

Ambiental – Econômica – Social

Sabemos que a responsabilidade econômica é absolutamente indissociável


da empresa, mas investir em responsabilidade social e ambiental, além de ser
uma responsabilidade também, oportuniza, à empresa, como já vimos, ampliar os
ganhos econômicos pelo conhecimento de si própria e pelas oportunidades que
se apresentam. Assim, a gestão ambiental adquire uma importância muito grande,
inclusive estratégica.

Podemos perceber, então, que práticas de responsabilidade socioambiental


em uma empresa também se apresentam como potencialidades para melhor
cumprir a responsabilidade econômica. Essa questão será tratada à frente,
também, no texto sobre implantação de um SGA.

A Gestão Ambiental de Acordo com


as Normas da Série ISO 14000
A ISO 14.000 foi criada para permitir às empresas implantarem um sistema
de gestão ambiental que possa ser aplicado e reconhecido em qualquer parte do
mundo. Em tempos de globalização e de transações econômicas internacionais,
empresas certificadas têm uma importância adicional. A implantação de um SGA
nos moldes da ISO 14.000 deve obedecer ao escopo da norma, como veremos
na sequência. A ISO 14001, principal componente da família, é quem define um
Sistema de Gestão Ambiental.

O Processo de implantação de um SGA, que corresponde ao ciclo do PDCA


– Plan, Do, Check and Action (planejar, fazer, checar e agir), está apoiada em
cinco ações bem definidas, que são:

70
Capítulo 3 Sistemas de Gestão Ambiental

• A Política Ambiental, que é um documento declaratório e que se apresenta


geralmente generalista e objetivo. Pode ser apresentado como uma missão
da empresa.

• O Planejamento, que se apresenta como um plano concebido e fundamentado


nos aspectos e impactos ambientais da empresa.

• A Implementação e Operação, que é a aplicação do planejamento da empresa.

• A Verificação e Ação Corretiva, que é a avaliação crítica do desempenho


ambiental da empresa, seguindo o SGA.

• A Análise Critica pela Administração, uma avaliação rigorosa para a proposição


de novas ações e garantia da continuidade do sistema.

Figura 14 - A espiral da melhoria contínua, com o ciclo do PDCA

Fonte: Disponível em: <www.iso14000.qualidadereal.com.br>. Acesso em: 25 mar. 2011.

Agora veremos, de forma mais detalhada, o que envolve cada etapa de


implantação de um SGA, para entendermos o seu funcionamento e o seu alcance.

Há uma ação anterior, que não é obrigatória pela norma, mas que permite
à empresa conhecer-se melhor, verificando o estágio inicial da empresa, que é
a Avaliação Ambiental Inicial. Essa avaliação serve para identificar os aspectos
ambientais das atividades, dos produtos e dos serviços, para determinação da
significância dos impactos.

71
Gestão ambiental

De forma geral, as empresas, e especialmente, as que mais poluem têm


muitos problemas ambientais. E, eles são de variada natureza: desconhecimento
ou descumprimento da legislação ambiental, má destinação dos resíduos, uso
de fontes poluidoras, gastos exagerados de insumos, entre outros. Muitas vezes
essas deficiências sequer são percebidas em sua totalidade pelas empresas e
muitos fatores contribuem para isso, como podemos ver:

• A produção ocorre de maneira tradicional, em que o tratamento dos resíduos e


efluentes ocorre apenas no final do processo (tratamento do tipo end-of-pipe);

• diante da menor dificuldade, há corte de despesas, que geralmente afetam as


ações e implementos que visam aos cuidados ambientais;

• baixa percepção e conhecimento ambiental na empresa, principalmente por


parte dos dirigentes, mas também dos trabalhadores;

O tratamento dos resíduos ou efluentes apenas no final do processo,


conhecido como end-of-pipe (literamente, fim do tubo), é a forma tradicional de
produção. Modernamente aplica-se o tratamento ao longo do processo, o que é
mais econômico e diminui o risco de acidentes ambientais.

Figura 15 - As diferentes abordagens do controle ambiental pelas empresas.

Fonte: Valle (2004, p.77).

O processo de implantação de um SGA precisa considerar essas deficiências


e outras questões, ainda, como a falta de monitoramento e fiscalização dos órgãos
ambientais e o desconhecimento dos envolvidos sobre a gestão ambiental.

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Capítulo 3 Sistemas de Gestão Ambiental

Geralmente há também, um grande desconhecimento de muitos dos que


atuam direta ou indiretamente na empresa sobre o que irá acontecer, por isso
é necessário iniciar o processo justamente tratando desta deficiência. Deve-
se anunciar a todos sobre a decisão de implantar o SGA, o que pode ser feito
através de informativos, cartazes, vídeos, murais, ou outros explicativos. Também
é recomendável a produção de um curso específico explicativo, para esclarecer
e motivar a todos, gerando curiosidade e expectativa. É muito importante
incorporar a Educação Ambiental nesta e nas demais etapas. Empresas
maiores devem criar mecanismos que dêem permanência ao processo de
conhecimento sobre o sistema que será implantado, como eventos e preparação
de agentes multiplicadores. Essa tarefa poderá ser gerenciada por uma estrutura
especificamente criada para tal.

Algumas empresas de maior porte possuem um comitê corporativo de Meio


Ambiente. A criação de um comitê de gestão ambiental na Unidade em que o
sistema será implantado é opcional, porém constitui uma ferramenta estratégica
para propiciar o comprometimento de todos com o assunto meio ambiente
(Moreira, 2001).

Vencidas essas etapas de conhecimento, preparação e divulgação, que


na verdade não se esgotam, pois participam do processo de melhoria contínua,
passa-se às etapas que compõem as ações previstas na norma ISO 14.001, como
veremos a seguir.

A Avaliação Ambiental Inicial


Embora não seja uma etapa obrigatória, como já vimos, a Avaliação Ambiental
Inicial deve preceder o processo de implementação de um sistema de gestão
ambiental propriamente dito. É ela que permite o conhecimento dos impactos e
aspectos ambientais em uma organização. Essa avaliação, normalmente, é feita
com recursos materiais e humanos já existentes na empresa, que têm relação ou
interface com as questões ambientais. Nesse ponto, técnicos das áreas de saúde,
segurança e meio ambiente são chamados a participar. Também é importante a
participação de especialistas no ramo de atividade da empresa e de um advogado
que conheça o direito ambiental. A inexistência de algum dos profissionais tidos
como mínimo necessário, poderá ser compensada com a contratação de firma
especializada ou de pessoal específico para tal.

Pela Norma NBR ISO 14001, O “aspecto” é definido como “…elementos


das atividades, produtos e serviços de uma organização que podem interagir
com o meio ambiente”. Segundo a Resolução N.º 001/86 do CONAMA (Conselho
Nacional de Meio Ambiente), o impacto ambiental é: “…qualquer alteração das

73
Gestão ambiental

propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por


qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que,
direta ou indiretamente, afetam: I – a saúde, a segurança e o bem-estar da
população; II – as atividades sociais e econômicas; III – a biota; IV – as condições
estéticas e sanitárias do meio ambiente; V – a qualidade dos recursos ambientais.”

Uma equipe específica para a Avaliação Ambiental Inicial deverá ser criada,
com coordenação e demais papéis bem definidos. Organização é a palavra chave.
Um elemento importante nessa etapa é a transparência, fato incomum em muitas
empresas, pois só ela permitirá uma avaliação profunda e verdadeira, que será a
base de todo o processo de implantação do SGA.

A Avaliação Ambiental Inicial, se bem conduzida, permite às organizações


conhecerem seu perfil e desempenho na área ambiental, otimizar o uso de
materiais, adquirir experiência nas questões ambientais e perceber benefícios que
podem ser auferidos. Essa avaliação terá participação importante na definição da
política ambiental da empresa.

Várias técnicas e instrumentos diferentes poderão ser utilizados na execução


da Avaliação Ambiental Inicial, como questionários, entrevistas, dados de outros
programas, como Cinco Esses, gestão da qualidade, Comissões Internas de
Prevenção a Acidentes (CIPAs) e listas de verificação, inspeções e medições,
histórico de infrações, entre outras. Todas as informações contribuem para
uma melhor avaliação. Nada deve ser subestimado. Outra questão importante
é estudar práticas de outras empresas, especialmente aquelas que compõem
alguma listagem de melhores práticas de alguma instituição (benchmarking).

No site do Programa Benchmarking Ambiental Brasileiro, você


poderá encontrar a listagem das melhores práticas, relacionadas por
ano de premiação. Eis a lista de 2010:

Quadro 4 – Empresas e Instituições reconhecidas como Detentoras das Melhores

Classifi-
Empresa Case UF
cação
Sama Minerações Programa Sambaíba: Artesanatos Em Rocha Estéril De GO

Associadas Serpentinito e Fibra De Bananeira
2º Walmart Brasil Sustentabilidade de Ponta a Ponta SP
Duke Energy Restauração de Mata Ciliar: Programa de Promoção SP

Florestal
4º Souza Cruz Otimização na Gestão de Resíduos Sólidos MG

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Capítulo 3 Sistemas de Gestão Ambiental

Neoenergia Projeto Energia Verde – Projeto De Incentivo Para Efi- BA



cientização Energética Residencial E Conscientização
Cabanellos Schuh Tecnologia aplicada ao Direito: resultados positivos RS

Advogados Associados para o Meio Ambiente
7º Firmenich Produção Mais Limpa SP
Rio Paracatu Mineração Evolução, Adequação e Resultados do Programa de MG

Educação Ambiental
Construtora Andrade Preservação do Habitat Natural de Baleias Francas por SP
9º Gutierrez Meio de Metodologia Construtiva Inovadora e Suste-
ntável
10º Moto Honda da Amazônia Motocicleta Bicombustível SP
11º Eucatex Casa da Natureza SP
12º Celulose Irani Programa de Educação Ambiental SC
Carbocloro Indústrias Programa Fábrica Aberta SP
13º
Químicas
14º ArcelorMittal Brasil Programa de Sustentabilidade MG
15º EDP Energias do Brasil Letras de Luz SP
16º ArcelorMittal Tubarão Programa Novos Caminhos ES
17º Instituto Embratel 21 Tecnologia a Serviço da Educação Ambiental RJ
Banco Bradesco Processo Sustentável de Gestão e Destinação de SP
18º
Resíduos Tecnológicos
Consórcio de Alumínio do Recuperação de Manguezal em Área Portuária MA
19º
Maranhão – Alumar
20º AGCO - Valtra do Brasil Programa de educação ambiental SP
21º Braskem Unidade de Reuso e Reciclo da UNIB-Ba BA
AGCO do Brasil Gestão Corporativa de Meio Ambiente, Segurança e RS
22º
Saúde Ocupacional
23º Suzano Papel e Celulose Matriz de Desempenho Social / M.D.S. PI
Souza Cruz Carta aos Varejistas – Ampliação do retorno de caixas SP
24º
de papelão junto aos varejistas
PepsiCo do Brasil Promoção da Conscientização Ambiental por meio de SP
25º
calculadoras de impacto
LLX Açu Operações Cenário da situação educacional das comunidades RJ
26º
pesqueiras de São João da Barra
27º PepsiCo do Brasil Programa de Sustentabilidade para Fornecedores SP
Fonte: Disponível em: <http://www.benchmarkingbrasil.com.br/
index.php?pag=vencedores>. Acesso em: 28 mar. 2011.

75
Gestão ambiental

Terminada a coleta de informações, a equipe precisa produzir um relatório,


que deverá conter os pontos críticos e as recomendações para dar continuidade
ao processo de implantação do SGA. Também deverá ser feito o arquivamento
de documentos como licenças, estudos, sanções, reclamações, acidentes e
incidentes, bem como as medidas adotadas nesses casos.

Atividade de Estudos:

1) Você considera que no seu local de trabalho há conhecimento


sobre os aspectos e impactos ambientais gerados? Procure fazer
um levantamento disso, conversando com seus colegas. Você
também poderá escolher uma empresa na sua região e conversar
com as pessoas na sua comunidade sobre isso. Poderá inclusive
produzir um instrumento para coleta dos dados e tabulá-los
depois.
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Você pode ver então, que de forma geral, o que se objetiva é a identificação
das questões ambientais, principalmente dos problemas, visando à melhoria
contínua, através da eliminação ou diminuição dos mesmos. Também é a partir da
Avaliação Ambiental Inicial que a empresa estará apta a construir a sua Política
Ambiental, como você verá a seguir.

76
Capítulo 3 Sistemas de Gestão Ambiental

A Política Ambiental
Através da Política Ambiental, a organização expõe de maneira sucinta suas
intenções quanto ao seu desempenho ambiental. Muitas vezes tem “ares” de
missão, com uma visão mais filosófica. Nela podem estar expressos os objetivos
e as metas da organização para a gestão ambiental. A Política Ambiental terá
maior significância se for baseada em uma avaliação anteriormente realizada.
Empresas multinacionais podem trazer de suas matrizes as políticas por elas
concebidas. Outras preferem criar a sua política depois do planejamento (a etapa
seguinte), para que ela seja mais objetiva. Veja que o importante para estabelecer
uma política ambiental é ter claro aonde se quer chegar, do ponto de vista
ambiental. Para isso é necessário, de fato, que a empresa conheça o seu estado
relativamente às questões ambientais.

A política ambiental
A política irá estabelecer um senso geral que comprometerá as
da organização
pessoas e norteará as ações na área ambiental. Uma vez estabelecida, deve expressar (...)
a política ambiental precisa ser apropriada por todos, indistintamente, um compromisso
como uma cultura, perpassando todos os setores da empresa. A ambiental formal,
política deve ser definida para o alcance dos objetivos, não sendo assumido perante
genérica demais. Não pode, por exemplo, limitar-se a afirmar que a a sociedade,
definindo suas
empresa irá cumprir a legislação ambiental. Esta é uma obrigação que
intenções e
atinge a todas as organizações, obviamente. princípios com
relação a seu
Para Valle (2004), a política ambiental da organização deve desempenho
expressar (...) um compromisso ambiental formal, assumido perante ambiental.
a sociedade, definindo suas intenções e princípios com relação a seu
desempenho ambiental. Deve incluir o compromisso com a melhoria contínua,
a prevenção da poluição e o atendimento à legislação e às normas ambientais
aplicáveis.

A não ser nos casos em que o órgão ambiental licenciador


exige o estabelecimento de um SGA, a Política Ambiental é
uma decisão absolutamente voluntária. Mas, uma vez que é
implantada, precisa ser seguida, como se fosse uma norma
geral pela empresa. Porém, a política ambiental não pode ser
algo estanque, deve ser revista e alterada, de acordo com
novas percepções, mudanças na empresa e incorporações
que houver. A partir da política ambiental, passa-se ao
planejamento propriamente dito, como veremos a seguir.

77
Gestão ambiental

O Planejamento
Tendo como visão geral a Política Ambiental estabelecida e conhecendo
a si própria pela Avaliação Ambiental Inicial, a empresa deverá planejar as
ações do SGA.

Essa etapa requer um trabalho demorado e detalhista, em que a empresa


deverá fazer um levantamento dos aspectos e impactos ambientais a ela
relacionados, inclusive os potenciais, documentá-los e apresentá-los, de acordo
com a dimensão e a classificação. Um impacto ambiental é o resultado de
um aspecto ambiental da empresa, identificado no plano ambiental (fruto do
planejamento). Você pode perceber que eles devem ser bem conhecidos, para
que se diferencie a causa da consequência.

Quanto à dimensão dos impactos, estabelece-se uma magnitude, que embora


tenha certa subjetividade; e, por isso não deve ser feita por apenas uma pessoa
(deve ser discutida, inclusive), que os coloca em significativos, moderadamente
significativos e não significativos, de acordo com a NBR ISO 14.001. Logicamente,
o planejamento deverá dar ênfase e priorizar os impactos mais significativos, de
acordo com a matriz estabelecida.

O planejamento Quanto à classificação, os impactos são divididos em:


deverá garantir ações controlados por legislação vigente, diretos ou indiretos, benéficos ou
mais imediatas e adversos, se ocorrem em operação normal ou anormal da empresa,
diretas sobre aqueles se são resultantes de atividades passadas, atuais ou futuras, se
impactos mais visíveis são frequentes ou eventuais. Aqui também haverá uma priorização
e danosos, num
daqueles impactos mais relevantes, mas o planejamento deverá
primeiro momento,
para que os resultados alcançar ações para todos, num processo de melhoria contínua.
sejam rapidamente O documento que expressa o planejamento, ao final, será o plano
visualizados por todos ou programa ambiental, a ser implementado. Mais do que a política
e motivem à ação ambiental da empresa, ele deverá ser dinâmico e sempre revisado,
sobre outros impactos devendo-se inclusive, criar mecanismos permanentes e periódicos
menores.
para tal.

O planejamento deverá garantir ações mais imediatas e diretas sobre


aqueles impactos mais visíveis e danosos, num primeiro momento, para que os
resultados sejam rapidamente visualizados por todos e motivem à ação sobre
outros impactos menores.

78
Capítulo 3 Sistemas de Gestão Ambiental

A Implementação e Operação
Agora é a hora de fazer o planejado acontecer. É necessário, em primeiro
lugar, estabelecer de quem são as responsabilidades e quem, ou que setor,
tem a devida e necessária competência para realizar os procedimentos e como
documentá-los e mantê-los sob controle. Um elemento importante aqui, é a
comunicação, que deverá ser eficaz, permitindo a todos, inclusive do ambiente
externo à empresa, acompanhar e conhecer o que está sendo implementado e
operado. Deve-se estabelecer programas de Treinamento e Educação Ambiental
para a implementação e operação. Mas, educação verdadeiramente, que significa
introjetar o conhecimento adquirido, surgindo como mudança de comportamento
consciente e não mecanizada.

Abreu (2007, p.28) nos traz que:

Normalmente a Educação Ambiental é tratada muito


superficialmente nos programas. Percebe-se na realidade
a falta da mesma. A falta dela faz com que as pessoas na
organização não incorporem efetivamente as mudanças.
Empregados de empresas certificadas funcionam mais
como robôs, programadas para procedimentos escritos,
devidamente documentados. As empresas precisam perceber
que devem contar mais com os indivíduos do que com as
máquinas e tecnologias avançadas.

Trabalhadores conscientizados estarão mais sensíveis e predispostos a


exercerem a mudança de comportamento no seu dia a dia, inclusive fora da
empresa. Esse é um alcance que a educação ambiental permite, muito mais do que
a capacitação ou treinamento, que têm finalidade mais específica, mais técnica.

Os impactos ambientais devem estar correlacionados aos objetivos e as


metas, constando, de acordo com a norma, a descrição do impacto, as atividades
da empresa relacionadas com o impacto, o setor ou profissional responsável por
ele e os objetivos e metas a ele relacionadas.

É muito importante, e também de acordo com a norma, a elaboração de um


manual do SGA, que deverá estabelecer o gerenciamento das ações, mas também
conter as informações necessárias ao entendimento do programa como um todo.
Embora deva ser relativamente sucinto e objetivo, dele deverá fazer parte, também,
a Política Ambiental, a estrutura que organiza o programa, a forma de documentação
complementar e deverá servir de instrumento de divulgação permanente do SGA.

Podemos concluir que outros processos educativos permanentes também


deverão ser pensados e criados, para dar a ideia de permanência e pertencimento
a todo o pessoal.

79
Gestão ambiental

A Verificação e Ação Corretiva


Nessa etapa ocorre a observação do que está sendo realizado. O foco
são as possíveis não conformidades. Se elas estão sendo levantadas e se
há monitoramento e avaliação para identificá-las e gerar os procedimentos
necessários para neutralizar os erros.

A ideia associada ao termo monitorar, no presente contexto, é o


acompanhamento de dados sobre características de aspectos ambientais
significativos e sua comparação com padrões legais aplicáveis, pressupondo-se a
realização de mediações periódicas (Moreira, 2001).

Você pode ver que monitoramento, então, é a palavra chave na etapa de


Verificação e Ação Corretiva. Acompanhar os processos requer instrumentos
próprios e até equipamentos, que deverão ser criados ou disponibilizados pela
administração. É importante agir no sentido da ação corretiva, tão logo uma não
conformidade seja percebida.

Aqui ocorrem as auditorias. Quem faz as observações são auditores que


precisam estar preparados para isso. É produzido um relatório rigorosamente
detalhado, para que se perceba qualquer não conformidade e para que seja
reportada à administração.

A Análise Crítica pela Administração


Você pode ver que as etapas de implantação de um SGA não são
desconectadas e necessitam de planejamento e acompanhamento permanentes.
Mas, e quanto ao papel da administração no processo?

Embora caiba à Administração acompanhar todos os momentos de


desenvolvimento do SGA, há um momento mais específico de análise, em que
os administradores têm a função de serem mais rigorosos na observação e
nas decisões. O objetivo dessa etapa é identificar o que precisa ser revisto ou
acrescido para dar continuidade às melhorias no SGA. Cabe à Administração
fazer essa análise e dar as garantias e condições para a continuidade. Aqui se
produz um relatório também, em que constarão as recomendações à equipe que
coordena e executa o SGA.

A Administração deverá prover, então, as condições materiais e humanas


à continuidade do processo. Isso dará início a um novo ciclo do PDCA, com
replanejamento das ações, em que novas metas serão estabelecidas.

80
Capítulo 3 Sistemas de Gestão Ambiental

O ciclo pode iniciar pela revisão do planejamento, ou mesmo da própria


política ambiental. Caberá à Administração definir o alcance que o novo ciclo terá.

Finalizado o processo de implantação, a empresa poderá decidir pela


certificação, contratando empresa certificadora para tal. Essa é uma decisão que
deverá ser tomada no momento mais oportuno, em que o SGA tenha alcançado
tal nível de qualidade que o processo pareça algo natural. A Análise Crítica pela
Administração é que determinará o momento certo.

Veja o nome das principais empresas certificadoras atuantes


no Brasil: ABS - Quality Evaluations Inc, Det Norske Veritas, FCAV
- Fundação Carlos Alberto Vanzolini, DQS do Brasil Ltda, ABNT -
Associação Brasileira de Normas Técnicas, BVQI do Brasil Sociedade
Certificadora Ltda, Lloyd`s Register do Brasil Ltda, TECPAR -
Instituto de Tecnologia do Paraná, BRTÜV Avaliações da Qualidade
S. A., SGS ICS Certificadora Ltda, TÜV RHEINLAND DO BRASIL
LTDA., RINA - Societá per Azioni, Perry Johnson Registrars, Inc.,
BSI BRASIL SISTEMA DE GESTÃO LTDA, GL - Germanischer Lloyd
Industrial Service do Brasil Ltda, Instituto Falcão Bauer da Qualidade
– IFBQ, IQA - Instituto da Qualidade Automotiva, ICQ Brasil - Instituto
de Certificação Qualidade Brasil, EVS BRASIL CERTIFICADORES
DE QUALIDADE LTDA.

Atividade de Estudos:

1) Para a implantação de um bom SGA algumas premissas devem


ser observadas, como se pode apreender do texto. Refaça
a leitura do capítulo e procure destacar que premissas são
indispensáveis ao sucesso do programa em uma organização.
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81
Gestão ambiental

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Algumas Considerações
Procedendo ou não à certificação, a empresa deverá dar continuidade às
melhorias no seu SGA, revisando as etapas, inclusive a política. A melhoria contínua
é feita através de um novo ciclo do PDCA, como vimos; e, ocorre com a definição
de novas metas. O conhecimento e a experiência adquiridos com o primeiro ciclo
tornam o ciclo seguinte mais fácil, embora seja cada vez mais difícil almejar metas
arrojadas. Evidentemente, isso varia para cada impacto que a empresa gera.

A gestão ambiental permite à empresa melhorar sensivelmente o seu


desempenho ambiental e isso significa muitas vantagens. Ganhos junto aos
clientes, consumidores, acionistas, órgãos ambientais e comunidade, são
exemplos de vantagens associadas à imagem. Há também, outras vantagens
financeiras decorrentes indiretamente dessa melhor imagem; mas, há outras
mais diretas, como a economia de recursos e insumos e um custo oculto que
é o de oportunidade de capital. Este significa o retorno que pode ser obtido se
a economia gerada pelo gerenciamento ambiental for usada em outra atividade
produtiva. Os custos gerados por emissões ou resíduos, se não tratados ao longo
da cadeia, por exemplo, geralmente são superiores.

Você deve ter percebido também, que outra questão importante é a influência
que uma empresa que desenvolve um sistema de gestão ambiental produz
sobre os que a cercam, fornecedores e clientes, principalmente, gerando uma
“contaminação positiva”, um ciclo virtuoso, que poderá se estender pela cadeia
produtiva em toda a sua extensão.

Por todas essas razões, ampliar os cuidados ambientais tornou-se


oportunidade para muitas organizações e até imperioso para outras tantas.
A gestão ambiental no âmbito empresarial se insere em um contexto maior de
sustentabilidade socioambiental planetária, de economia ecológica mundial,
conceitos conhecidos, mas de difícil e demorada apreensão pelas empresas e
pela sociedade. Por outro lado, a exiguidade de experiências positivas faz com
que não existam muitas “fórmulas prontas”. Assim, os caminhos que cada empresa
necessita trilhar terão que ser construídos em grande parte por ela própria.

82
Capítulo 3 Sistemas de Gestão Ambiental

No quarto e último capítulo, veremos que a responsabilidade das empresas


vai além de implantar um bom sistema de gestão ambiental, pois a sua relação
com a sociedade não está restrita apenas, aos processos industriais ou produtos.
Também será tratado sobre as potencialidades mercadológicas que a Gestão
Ambiental e a Responsabilidade Socioambiental permitem vislumbrar, através da
rotulagem de produtos e do chamado marketing verde.

Referências
ABREU, Dora. Sem ElA, Nada Feito: Uma Abordagem da Importância
da Educação Ambiental da ISO 14001. Salvador: Editora Asset Negócios
Corporativos, 2005.

ANDRADE, Rui Otavio; TACHIZAWA, Takeshy; CARVALHO, Ana Barreiros de.


Gestão Ambiental: Enfoque Estratégico Aplicado ao Desenvolvimento
Sustentável. São Paulo: Editora MAKRON Books, 2002.

CANEDO, Anélia de Moraes. Sistema de Gestão Ambiental nas Empresas.


Fonte: Disponível em: >http://www.cenedcursos.com.br/sistema-de-
gestaoambiental-nas-empresas.html>. Acesso em: 10 out. 2010.

DYLLICK-BRENZINGER, Thomas et AL. Guia da Série das Normas ISO 14001:


Sistemas de Gestão Ambiental. Blumenau: Edifurb, 2000.

MOREIRA, Maria Suely. Estratégia e Implantação do Sistema de Gestão


Ambiental (Modelo ISO 14000). Belo Horizonte: Editora de Desenvolvimento
Gerencial, 2006.

VALLE, Cyro Eyer do. Qualidade Ambiental: ISO 14000. São Paulo: Editora
Senac, 2004.

TACHIZAWA, Takeshy. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social


Corporativa. São Paulo:Editora Atlas, 2009.

83
Gestão ambiental

84
C APÍTULO 4
Marketing e Responsabilidade
Ambiental

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

99 Conhecer e debater sobre o conceito de responsabilidade ambiental


corporativa.

99 Apresentar o conceito do marketing ambiental ou verde.

99 Avaliar as possibilidades mercadológicas para as ações de responsabilidade


ambiental.

99 Analisar as potencialidades mercadológicas para as organizações a partir da


gestão ambiental.

99 Conhecer o processo de rotulagem de produtos e suas potencialidades


mercadológicas.
Gestão ambiental

86
Capítulo 4 Marketing e Responsabilidade Ambiental

Contextualização
Como você viu no capítulo 3, a gestão ambiental apresenta-se como a
realização de cuidados ambientais no âmbito das organizações. Está relacionada
a processos que incluem elementos até externos ao seu ambiente. A questão
da qualidade dos produtos normalmente não é associada à gestão ambiental
propriamente dita. Até porque, há empresas que podem ter um bom SGA, inclusive
integrado a outras gestões, como qualidade, segurança e saúde do trabalhador;
mas, que jamais poderão almejar um atestado de qualidade de seus produtos, do
ponto de vista ambiental. É o caso da indústria do tabaco, por exemplo.

Mas, para aquelas empresas em que a qualificação do produto é algo almejado,


surge a rotulagem ambiental, não necessariamente ligada ao processo industrial.
Porém, modernamente tem sido questionada essa parcialidade que processos
e produtos geram no imaginário de gestores e consumidores. Se pensarmos em
responsabilidade socioambiental, é difícil sustentar essa visão, em função da
indissociabilidade desses diferentes componentes do processo produtivo.

Você verá, em outras palavras, que idealmente as organizações precisam


pensar e agir sobre todos os seus aspectos e impactos ambientais, desde os mais
remotos, como a origem de seus insumos, até os mais distantes, como o ciclo de
vida de seus produtos. Mas, observe que a preocupação deve alcançar também
os aspectos mais externos, como a educação ambiental de seu pessoal, ou os
cuidados ambientais de seus fornecedores e clientes. Esse é um espectro amplo
da responsabilidade socioambiental, que iremos observar neste capítulo.

A Responsabilidade Empresarial
Você sabe que os principais agentes do desenvolvimento
A empresa
econômico de um país são as empresas e que para tal necessitam
precisa melhorar
usar e transformar grandes quantidades de matéria e energia, como já continuamente
vimos nos capítulos anteriores. Também geram inúmeras externalidades seu desempenho
negativas (e positivas, é claro). Essas questões impõem às empresas ambiental, porque
uma pressão social muito grande, e cada vez maior. Não há organização esta é a atitude
da sociedade que não cobre das empresas maiores cuidados correta, que
deve fazer parte
ambientais (e sociais). É o poder público em suas diferentes instâncias
dos valores da
e instituições, são as organizações não governamentais, associações e
organização”.
porque não dizer, mesmo, o terceiro setor. Essa cobrança se apresenta (MOURA, 2008, p.
como a necessidade de maiores cuidados ambientais e de ecoeficiência, 10).
para dizer o mínimo. “A empresa precisa melhorar continuamente seu
desempenho ambiental, porque esta é a atitude correta, que deve fazer
parte dos valores da organização”. (MOURA, 2008, p. 10).

87
Gestão ambiental

Como vimos anteriormente, das empresas é exigido que tenham operações


limpas e ações transparentes e socialmente responsáveis. Assim, a equação que
se impõe às empresas é atender a essas pressões e não perder a competitividade.

Empresas sociais e ambientalmente responsáveis têm uma postura ética em


que o respeito por parte da comunidade passa a ser um grande diferencial a seu
favor. É claro que isso também se traduz como vantagem competitiva. Esse é
um campo novo nas empresas. Mesmo as ações de responsabilidade social, que
são anteriores às ambientais só surgiram no final da década de 1960, nos EUA
e Europa. Podemos considerar que a Responsabilidade ambiental só aparece,
ainda timidamente, na década de 1980, em parte derivada dos movimentos
ambientais, em parte dos acontecimentos mundiais, das necessidades de gestão,
mas também como oportunidade.

Observe que, de qualquer forma, a responsabilidade ambiental


As ações de
responsabilidade surge apenas na esteira das ações de responsabilidade social, que
socioambiental no seu nascedouro aparecem mais como filantrópicas e menos
devem ser como dívida social, embora seja muito comum o balanço social das
concebidas dentro organizações apresentar ações de ajuda a pessoas e instituições,
de um espectro que ainda hoje.
seja baseado nas
interfaces com o
ambiente social e Ainda que não devam ser entendidas como filantropia, as ações
natural em que as de responsabilidade socioambiental (vamos tratá-las com a ideia de
organizações se unicidade, já comentada) não devem também obedecer a uma lista
encontram. pronta. Não há fórmula para as ações, pois elas devem ser concebidas
dentro de um espectro que seja baseado nas interfaces com o
ambiente social e natural em que as organizações se encontram.

Garnier (2010, p.2) acrescenta:

Assim, a Gestão Ambiental e a Responsabilidade Social são


atualmente condicionadas pela pressão de regulamentações
e pela busca de melhor reputação perante a sociedade.
As pesquisas A sociedade atual está reconhecendo a responsabilidade
mostram que mais ambiental e social como valor permanente, consideradas
de 2/3 das pessoas fatores de avaliação e indicadores de preferência para
preferem adquirir investidores e consumidores. Os investimentos destinados
produtos e serviços a Gestão Ambiental e a consciência da Responsabilidade
de empresas que Social pelas empresas são aspectos que fortalecem a imagem
positiva das organizações diante dos mercados em que atuam
se preocupam com
os seus colaboradores, concorrentes e fornecedores.
as questões sociais
e ambientais.
A responsabilidade socioambiental, como vemos, representa
um comprometimento permanente das organizações em manter um
comportamento ético com a sociedade. Essa é uma atitude muito aceita pelos
consumidores, também. As pesquisas mostram que mais de 2/3 das pessoas
88
Capítulo 4 Marketing e Responsabilidade Ambiental

preferem adquirir produtos e serviços de empresas que se preocupam com


as questões sociais e ambientais. Neste capítulo veremos como empresas
social e ambientalmente responsáveis têm conseguido destaque e vantagens
competitivas.

No vídeo Além da Responsabilidade Social Corporativa, o


especialista Oded Grajew trata muito apropriadamente desse tema
para as empresas.

Disponível em http://www.youtube.com/
watch?v=fZke2eFsAGA&feature=related

Outra dica interessante é o vídeo Responsabilidade social:


preocupação com o meio ambiente.

Disponível em http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GI
M394019-7823-RESPONSABILIDADE+SOCIAL+PREOCUPACAO+
COM+O+MEIO+AMBIENTE,00.html

Essa preocupação torna a empresa parceira e co-responsável pelo


desenvolvimento social e a preservação ambiental. Ela tem a capacidade e
a vontade política de ouvir e atender os anseios e necessidades de diferentes
partes, seus clientes, acionistas, comunidades e poder público. Como já vimos
para a Gestão Ambiental, a transparência é um elemento importante, que
alcança inclusive o mundo dos negócios em que a organização está colocada.
Com essa sintonia ela se torna, também, melhor preparada para assegurar a sua
sustentabilidade econômica.

Outro fato que nos torna, como nação, maiores expectadores das ações
socioambientais das organizações é o fato das inúmeras carências que temos.
Assim, empresas responsáveis serão também construtoras de uma sociedade
melhor.

Essa visão rompe com a idéia da maximização dos lucros, como


concebida tradicionalmente. Alguns recuos nesse processo de auferir
resultados financeiros à custa de negligenciar os impactos e as expectativas,
podem permitir às organizações, pela melhoria da imagem, obter resultados
econômicos jamais esperados. Poderia ser entendido, até, como mudança
paradigmática para as empresas.

89
Gestão ambiental

Você pode ver que a visão de responsabilidade socioambiental


Você pode ver
que a visão de deve ser aplicada não somente ao produto, mas a toda a cadeia do
responsabilidade processo produtivo. O caráter deve ser preventivo, mas também
socioambiental reparador.
deve ser aplicada
não somente ao Como vimos anteriormente, no capítulo 3, sobre as
produto, mas a
responsabilidades empresariais, o desenvolvimento das estratégias
toda a cadeia do
processo produtivo. das organizações no sentido da competitividade deve abrigar soluções
O caráter deve ser que atendam à ideia de serem socialmente corretas, ambientalmente
preventivo, mas sustentáveis e economicamente viáveis.
também reparador.
De certa forma, o avanço das ações de responsabilidade
empresarial estão relacionadas ao reconhecimento por parte das organizações
da sua incapacidade anterior de previsão do futuro e da economia e, assim,
podem reavaliar o peso que suas atividades exercem sobre o ambiente.

Como podemos perceber, a visão é a de dar uma nova identidade às


empresas, em que estejam integradas as áreas social, ambiental, operacional,
logística, estratégica, financeira e comercial.

Atividade de Estudos:

1) Pesquise sobre casos de empresas que aplicam a ideia da


Responsabilidade Socioambiental considerando um espectro
mais amplo. Cite alguns casos e descreva-os, sucintamente.
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Capítulo 4 Marketing e Responsabilidade Ambiental

O Mercado Verde
A expressão Marketing Ecológico foi discutida pela primeira vez no final da
década de 1970 em um seminário no Estado americano de Oregon, realizado
pela American Marketing Association. A preocupação era debater sobre aspectos
positivos e negativos das atividades industriais quanto aos impactos ambientais
por ela produzidos. O tema é uma resposta à emergência dos movimentos
ambientalistas e aos debates surgidos com a realização da Conferência de
Estocolmo, em 1972, como você viu no histórico ambiental, no primeiro capítulo. A
partir de então, a poluição e a degradação não podiam mais ser justificados como
consequência aceita do crescimento econômico.

A percepção sobre a importância que a sociedade daria aos cuidados


ambientais por parte das indústrias ficou clara a partir das contribuições
financeiras que a sociedade civil fez às ONGs que lutavam contra o modelo de
desenvolvimento altamente predatório.

Marketing pode ser conceituado, segundo Kotler (1994, p.25), como uma
atividade que “(...) consiste em identificar necessidades, desejos e demandas,
e incorporá-los ao desenvolvimento de produtos (bens e serviços, mas também
idéias) que tenham valor para pessoas e grupos e possam, desse modo, constituir
objeto de troca com resultados econômicos para as empresas”.

O Marketing Verde, ou Ecológico ou, ainda, Ambiental, por sua O Marketing Verde
vez, é caracterizado por uma mudança importante no valor percebido é caracterizado
pelo consumidor, cujo comportamento é alterado para preferir produtos por uma mudança
com menor impacto ambiental. Tem importância razoável nesse importante no valor
comportamento o surgimento de uma cidadania ambiental planetária, percebido pelo
consumidor, cujo
em que cidadãos de partes diferentes do mundo têm preocupação
comportamento
com o que acontece em lugares distantes do seu. Assim, passa a ter é alterado para
relevância a forma e os insumos que são usados para produzir um preferir produtos
determinado bem, ainda que em um país no outro lado do mundo. com menor impacto
Surge assim, o que podemos chamar de consumidor verde. ambiental.

A nossa percepção sobre como determinadas alterações modificam a vida


em termos planetários faz com que cada vez mais pessoas tenham preocupação
com os impactos gerados pelo que consomem. Assim:

Os consumidores já não admitem, como em tempos


passados, serem escolhidos pelas marcas com maior poder
de fogo na comunicação. Muito menos aceitam de bom
grado serem presas fáceis daqueles que vendem saúde mas,
paradoxalmente, poluem rios, que apregoam modernidade
mas assediam moralmente seus funcionários, ou que pregam

91
Gestão ambiental

a qualidade mas maquiam as embalagens de seus produtos,


sonegam impostos, praticam o suborno a funcionários
públicos, fazem vistas grossas a toda a sorte de discriminação
e escondem informações de interesse público. (VOLTOLINI
apud VILELA JÚNIOR et al, 2006, p.370)

O mercado verde, comandado pelos consumidores verdes, tende a se tornar


cada vez mais exigente, diferenciando não só os produtos verdadeiramente
ambientalmente compatíveis, mas os processos industriais que os produziram.
Empresas que têm cuidados ambientais serão melhores vistas por esses
consumidores. A marca é o maior ativo financeiro de uma corporação. Porém,
as empresas deverão ser verdadeiramente verdes, como cultura de organização,
que perpassa cada aspecto e impacto da mesma.

Você pode perceber anteriormente que para a empresa que insere o valor
ambiental em todas as decisões relacionadas ao marketing, outro conceito e
desafio se coloca, o de ecodesign, que participa na concepção de um produto.
Além disso, a empresa deverá pensar em toda a logística envolvida com a venda,
em como ela poderá gerar menos impacto ambiental. Isto envolve riscos à saúde
e ao meio ambiente, desperdício de energia e poluição.

Um problema relacionado à aceitação desses produtos reside no


fato de que o diferencial ambiental ocupa um nicho especializado, em
que os custos costumam ser diferenciados. Isso podemos perceber
A certificação de
seus processos cotidianamente, ao irmos ao mercado ou às lojas, por exemplo. Tal
e a rotulagem de problema, que incide diretamente nos preços, tende a diminuir também
seus produtos, com o aumento na escala de produção, o que paradoxalmente, implica
quando creditados, em maior demanda pelos consumidores. Para tal, será necessária uma
serão fundamentais comunicação forte, criativa e persuasiva.
nessa estratégia
de conquistar os
consumidores, uma Você já deve ter percebido que produtos ou serviços criados a
vez que pesa na partir de maiores cuidados ambientais tendem a custar mais caro que
sociedade grande outros em que essa preocupação não existe. É o caso dos alimentos
desconfiança ditos orgânicos ou ecológicos, por exemplo.
sobre a ação
autodeclaratória
A certificação de seus processos e a rotulagem de seus produtos,
de conformidade
ambiental. quando creditados, serão fundamentais nessa estratégia de conquistar
os consumidores, uma vez que pesa na sociedade grande desconfiança
sobre a ação autodeclaratória de conformidade ambiental.

O mercado verde dependerá da superação do conceito de mercado material,


em que bens são trocados por moedas, por um “mercado simbólico”, em que as
mercadorias são, em grande parte, ideias não necessariamente escoradas na
intenção de lucro. A ideia passa a ser produto, inclusive a ideia do consumidor,

92
Capítulo 4 Marketing e Responsabilidade Ambiental

que deverá ser protagonista no processo de ecodesign.

Você certamente conhece casos de empresas que têm na imagem o seu


verdadeiro produto. Vejam os exemplos do Greenpeace, ou do WWF, duas ONGs
ambientalistas. Outras, como O Boticário agregaram tal valor à marca, em função de
políticas e práticas ambientais, que esta passou a ser o seu principal ativo. Muitas
outras empresas estão percebendo que podem lucrar com o Mercado Verde.

Acesse os sites dos Institutos Akatu e Ethos, organizações


que atuam com os temas responsabilidade socioambiental,
marketing ambiental e consumo sustentável. Neles você poderá
encontrar importantes informações sobre o nível de responsabilidade
socioambiental de alguma empresa, ações de marketing e relatórios
variados. Disponíveis em: www.akatu.org.br e www1.ethos.org.br

Figura 16 - Logomarcas dos Institutos Akatu e Ethos.

Fonte: Disponível em: <http://www.biosferatv.com.br/noticias/akatu-


lanca-relatorio-%E2%80%9Cestado-do-mundo%E2%80%9D e http://www.syngenta.com/
country/br/pt/sobreasyngenta/Pages/linksinteressantes.aspx>. Acesso em: 22 mar. 2011.

Veja abaixo algumas empresas que têm na responsabilidade socioambiental


um diferencial que atrai consumidores. Muitas foram detentoras das melhores
práticas do Programa de Benchmarking Ambiental Brasileiro, em 2010. Nelas são
destacados os principais aspectos das suas ações:

• Walmart (São Paulo) – lojas “ecoeficientes” e oferecimento de produtos


ambientalmente melhores;

• Honda (Manaus) – motocicletas bicombustíveis (menos monóxido e dióxido


de carbono);

93
Gestão ambiental

• Eucatex (São Paulo) – Programa Casa da Natureza, de educação ambiental,


na cidade de Bofete;

• Celulose Irani (Santa Catarina) – neutralização de gases de efeito estufa.


Primeira empresa brasileira a participar do Carbon Disclosure Project, da
Inglaterra;

• Arcelor Mittal (Minas Gerais) – programa de sustentabilidade e gestão


ambiental, além de ações comunitárias em suas várias unidades;

• Embratel – educação ambiental e desenvolvimento sustentável em reservas


extrativistas e agricultura familiar, principalmente nas regiões Norte e Nordeste;

• Bradesco – Relatório Anual de Sustentabilidade e várias fundações com


finalidade socioambiental, como a Amazonas Sustentável, SOS Mata Atlântica
e a Fundação Bradesco;

• Suzano Papel e Celulose (Piauí) – Relatório de Sustentabilidade, educação


ambiental em parceria com diversas instituições e criação do Instituto
Ecofuturo;

• Pepsico do Brasil (São Paulo) – programas de sustentabilidade para


fornecedores e de conscientização ambiental (calculadora de gás carbônico),
Relatório de Sustentabilidade e participa de vários programas internacionais;

• Faber Castell (São Paulo) – produz lápis com madeira certificada e com
cuidados ambientais ao longo de todo o processo;

• Companhia Siderúrgica Tubarão (Espírito Santo) – controle rígido nos


processos, programas comunitários e reaproveitamento quase total da água
usada;

• Usiminas (Minas Gerais) – cuidados atmosféricos e recuperação da mata


ciliar com o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais, nos rios Doce e
Piracicaba.

Eis alguns dos materiais sobre sustentabilidade produzidos pelas empresas


listadas:

94
Capítulo 4 Marketing e Responsabilidade Ambiental

Figura 17 – Material de Sustentabilidade Figura 18 - Sustentabilidade Aqui e Agora

Fonte: Disponível em: <http://www. Disponível em: <http://


irani.com.br/estrutura.php?id=124>. omeioambienteecultura.blogspot.
Acesso em: 22 mar. 2011. com/2010/11/sustentabilidade-aqui-e-
agora.html>. Acesso em: 22 mar. 2011.

Capas do Relatório de Sustentabilidade de 2009 da empresa Irani Celulose e


do documento Sustentabilidade Aqui e Agora do grupo Walmart, respectivamente.

Figura 19 - Relatório de Figura 20 - projeto de Educação Ambiental


Sustentabilidade de 2010 Trilha D´Água da empresa Eucatex

Fonte: Disponível em: <http:// Fonte: Disponível em: <http://www.apromac.


omeioambienteecultura.blogspot. org.br/ea005.htm>. Acesso em: 22 mar. 2011.
com/2010/11/sustentabilidade-aqui-e-
agora.html>. Acesso em: 22 mar. 2011.

Outro aspecto importante são as possibilidades mercadológicas para as ações


de responsabilidade e gestão ambiental. A competitividade entre as empresas
depende de vários fatores, que são também muito complexos e interativos entre si.
A maioria deles é bem conhecida por nós, ainda que dependam permanentemente
de inovação. A responsabilidade ambiental e a gestão ambiental são fatores
relativamente novos na determinação do nível de competitividade, porém têm
adquirido cada vez mais importância pelas possibilidades que oferecem, interna
e externamente às empresas. Internamente, a organização, o planejamento e
95
Gestão ambiental

os resultados evitam desperdícios, geram boa cultura e contribuem


A responsabilidade
ambiental e a inclusive, com o clima organizacional, fator reconhecidamente
gestão ambiental importante para o bom andamento dos negócios. Externamente, as
são fatores possibilidades se multiplicam na busca por mercado, inclusive porque
relativamente novos este está se tornando cada vez mais exigente.
na determinação
do nível de
Estima-se em cerca de 50 milhões o número de pessoas que
competitividade,
porém têm adquirido apoiam ou financiam grupos de defesa do meio ambiente espalhados
cada vez mais pelo mundo.
importância pelas
possibilidades que Vejamos as principais vantagens competitivas que a preocupação
oferecem, interna ambiental por parte das empresas tem possibilitado:
e externamente
às empresas.
• Redução no custo de produção (ecoeficiência);
Internamente, a
organização, o • melhoria da imagem do produto;
planejamento e os • melhoria da logística de distribuição;
resultados evitam • melhores condições de financiamento, pela imagem da empresa;
desperdícios, • geração de maior capacidade técnica interna, o que possibilita
geram boa cultura e inovações.
contribuem inclusive,
com o clima
Você pode perceber que um cenário muito favorável se
organizacional, fator
reconhecidamente descortina a partir das ações de responsabilidade e gestão ambiental.
importante para o Evidentemente, os resultados nem sempre são imediatos. Geralmente,
bom andamento dos são necessárias muitas “idas e vindas” nos processos até que as
negócios. inovações surtam resultado em termos de competitividade. Vejamos
alguns exemplos sobre isso:

O caso da empresa Native, de Sertãozinho, São Paulo, é


Estima-se em cerca de emblemático. A empresa, produtora de açúcar, decidiu romper com a
50 milhões o número
forma tradicional de produção, com a queima das plantas em pé antes
de pessoas que
apoiam ou financiam da colheita, já no final dos anos 1980. Os problemas foram muitos,
grupos de defesa com a invasão de “pragas” diversas. Era necessário restabelecer o
do meio ambiente equilíbrio ambiental, o que foi conseguido com a criação de espaços
espalhados pelo com vegetação nativa, que possibilitaram o controle biológico. A
mundo. partir daí, iniciaram-se os resultados positivos, como a diminuição do
consumo de água e dos problemas ambientais e de saúde. Mais do
que isso, do ponto de vista econômico, foi conseguida a inserção em um mercado
exigente de consumo de açúcar orgânico, disposto a pagar 60% a mais pelo
produto.

Uma possibilidade interessante de valorização de uma marca de produto é


a sua incorporação a outra marca ou instituição de atuação social ou ambiental.
Assim, é o exemplo da Danone, com seus “Danimals”, uma alusão aos animais
da Floresta Atlântica, em uma parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica.

96
Capítulo 4 Marketing e Responsabilidade Ambiental

A Danone repassou por dois anos 1,3% do faturamento com as vendas do novo
produto à fundação para uso em seus programas. Também o banco Bradesco
fez importante parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, para a produção do
Atlas dos Remanescentes da Floresta Atlântica, mostrando o estado do bioma no
país. A repercussão do projeto foi muito grande, pelo instrumento de análise criado.
Outras parcerias semelhantes envolveram as Lojas Renner e o Greenpeace, com a
venda de roupas tingidas por processo natural e de várias empresas com o World
Wide Fund for Nature (WWF) para projetos de conservação nos grandes biomas
brasileiros. Assim foi com a Motorola, Papéis Suzano e Banco Real, principalmente.

Atividade de Estudos:

1) Faça uma pesquisa bibliográfica e na Internet sobre outras


empresas que têm a imagem do produto fortemente associada
à preocupação ambiental. Resuma as ações de cada uma delas
que contribuem para isso.
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A Rotulagem de Produtos
A procura por produtos que não contenham substâncias indesejadas e outras
desejadas, começa a invadir o imaginário da sociedade. Poderíamos citar como
exemplos: a ausência de agrotóxico ou adubação química na produção vegetal
e no cultivo dito orgânico ou ecológico; as características da água envasada ou
servida pela rede pública; a ausência de organismos geneticamente modificados
(OGMs), os transgênicos. Mas também, ainda em menor grau, a preocupação
sobre como estes produtos afetam o meio ambiente, importando a questão da
presença ou não de gases depletores de ozônio, de gases poluentes (que afetam
a saúde) nos combustíveis e nas tintas. Também o ciclo de vida dos produtos
começa a tornar-se preocupação dos consumidores. O que vai acontecer com o
material que o compõe quando ele virar resíduo. É reutilizável ou reciclável?
97
Gestão ambiental

O termo Obso- Vejamos outro caso interessante, o dos notebooks, que começam
lescência Pro- a ser produzidos pensando na reciclagem de seus componentes.
gramada refere-se Anteriormente, eram produzidos sem tal preocupação, de forma que
ao fato de um
era difícil separar os materiais. Componentes plásticos, por exemplo,
produto ter um
tempo de vida eram (e são, em muitos casos ainda) fundidos a componentes
pré-determinado metálicos, o que inviabilizava economicamente a sua separação de
pela indústria. Mui- outros materiais de baixa reciclabilidade, especialmente metálicos,
tas vezes equipa- estão sendo substituídos. Também rebites, parafusos e componentes
mentos tornam-se fundidos começam a ser concebidos de forma a facilitar o desmonte do
obsoletos sem que
computador. Claro que o aumento do descarte destes computadores
tenham se tornado
verdadeiramente fez com que essa percepção aumentasse. O dado triste é que pensar
velhos. Geralmente em reciclagem na produção significa admitir um tempo curto de vida
os seus consertos para esses equipamentos (obsolescência programada).
custam valores
próximos ao da O termo Obsolescência Programada refere-se ao fato de um
compra de um novo
produto ter um tempo de vida pré-determinado pela indústria. Muitas
equipamento. Tanto
quanto ou pior do vezes equipamentos tornam-se obsoletos sem que tenham se tornado
que a Obsolescên- verdadeiramente velhos. Geralmente os seus consertos custam
cia Programada é a valores próximos ao da compra de um novo equipamento. Tanto
Obsolescência Per- quanto ou pior do que a Obsolescência Programada é a Obsolescência
cebida, que reflete Percebida, que reflete algo menos real ainda, a impressão de que algo
algo menos real
está ultrapassado e como tal, deve ser substituído.
ainda, a impressão
de que algo está
ultrapassado e
como tal, deve ser
substituído. O filme documentário A Origem das
Coisas, já referenciado no capítulo anterior,
também explica a questão da obsolescência
dos produtos, com exemplos bem didáticos.

Há, evidentemente, uma evolução nos rótulos, que tem a ver com
O rótulo determina
a própria evolução do consumidor, a seu grau de exigência. Assim, os
que o produto
considerado é primeiros rótulos, continham mensagens vagas, que não exigiam ou
adequado ao expunham nenhum compromisso com desempenho ambiental. Eram
que se propõe, campanhas a favor da preservação de um determinado animal em risco
apresentando de extinção, ou dizeres como: “Empresa Socialmente Responsável’’.
diferencial ambiental Você mesmo já deve ter visto isso muitas vezes. Num segundo
importante em
momento, evoluiu-se para a indicação autodeclaratória de ausência
relação aos
concorrentes. ou presença de substancias, como o CFC, o cloro, anabolizantes ou
vitaminas.

98
Capítulo 4 Marketing e Responsabilidade Ambiental

A Rotulagem Ambiental ou Selo verde é na verdade um instrumento de


comparação entre produtos semelhantes de empresas diferentes. O rótulo
determina que o produto considerado é adequado ao que se propõe, apresentando
diferencial ambiental importante em relação aos concorrentes. Um produto dito
ecológico (ou verde) é determinado menos pelo que ele é e mais pelo que os
demais não são.

Sabemos que a autodeclaração gera desconfianças. Você já deve ter visto


esse tipo de comentário por parte de pessoas conhecidas.

A Rotulagem Ambiental obedece a diretrizes criadas pelo Subcomitê 3 da


ISO, definido nas seguintes normas:

• ISO 14020: Princípios básicos para os rótulos e declarações ambientais.

• ISO 14021: Auto-declarações ambientais do Tipo II.

• ISO 14024: Princípios e procedimentos para o rótulo ambiental do Tipo I.

• ISO TR 14025: Princípios e procedimentos para o rótulo ambiental do Tipo III.

Posteriormente, surgem rótulos específicos para ciclo de vida de produtos,


melhorias tecnológicas, como em computadores, destinação de parte da renda
para instituições, campanhas socioambientais, ou ainda a criação de uma
instituição própria.

Para aumentar a credibilidade, órgãos de rotulagem criaram selos verdes.


São exemplos a ONG Global Ecolabilling Network (Europa, 1994), com 14 órgãos
de rotulagem ambiental e a ISO, com a Norma 14021 e 14024 (1999). No caso da
Norma ISO 14024, desenvolve-se um programa de rotulagem ambiental, por uma
entidade chamada Praticante, identificando categorias de produtos certificáveis. O
Praticante faz a análise do ciclo de vida, elabora critérios a serem atendidos e os
divulga. As empresas, então, fazem acordos com o Praticante e submetem-se a
critérios e avaliações. Assim, elas terão direitos ao uso do rótulo. Evidentemente,
isso representa uma credibilidade maior à rotulagem.

O termo selo verde está mais relacionado à imagem, ou identidade visual do


rótulo (logomarca). O primeiro foi criado na Holanda, em 1972, mas quem realmente
projetou o conceito foi o Blauer Angel (Anjo Azul), da Alemanha, em 1978.

99
Gestão ambiental

O quadro abaixo apresenta alguns dos principais selos mundiais


e brasileiros:

Figura 21 - As principais logomarcas dos selos mundiais e brasileiros.

Anjo Azul, Alemanha / Cisne Nórdico / Forest


Stewardship Council / Procel / Cerflor / Rótulo
Ecológico ABNT / Environmental Choice,
Canadá / Green Seal, EUA, pela ordem.

Fonte: O autor.

Wells, apud Vilela Júnior et. AL( 2006, p.340), nos coloca que:

Um selo verde é uma marca emitida por uma entidade que


atesta que o produto é ambientalmente superior aos outros
produtos na mesma categoria. Os critérios usados para
determinar a elegibilidade de um produto para o selo são
feitos propositalmente de modo que apenas uma minoria dos
produtos da categoria possa conseguir o selo. Dessa forma,
espera-se que a indústria se esforce para melhorar suas
práticas ambientais. Esse conceito de superioridade ambiental
embasa os principais programas de selo verde do mundo.

Você pode ver que o selo verde deve ser concebido como um diferencial
restrito e dessa forma promover melhorias no produto, no seu design e também na
gestão ambiental, num ciclo virtuoso de aprimoramento das implicações ambientais.

Outro caso interessante, brasileiro, é o “Certificado do Rótulo Ecológico ABNT –


Qualidade Ambiental”, cujo símbolo é um colibri. O foco é o menor impacto ambiental
do produto, comparativamente a outros disponíveis no mercado.

100
Capítulo 4 Marketing e Responsabilidade Ambiental

Informações sobre o Rótulo Ecológico ABNT – Qualidade


Ambiental”, podem ser vistas em http://www.abntonline.com.br/rotulo/
cadastro.aspx

Os selos têm como principais produtos certificados: materiais de limpeza,


baterias, tintas, eletro-eletrônicos, embalagens, plástico reciclado, material de
construção, óleos, aerossóis, papel reciclado, pneus, lâmpadas, combustíveis,
madeira (ou substitutos), alimentos infantis, frutas, pesticidas e cartuchos de
impressora. Muitos outros produtos são certificados também, mas esses são os
predominantes nos principais selos mundiais.

Os termos certificação e rotulagem, às vezes, são confundidos, ou tidos como


sinônimos. Observe que a maioria dos autores e especialistas da área preferem
considerá-los como:

CERTIFICAÇÃO: processos
ROTULAGEM: produtos

Assim, os rótulos ou selos têm o objetivo de garantir que


Os rótulos ou selos
determinado produto possua características especiais, como têm o objetivo
origem, economicidade, ausência de determinados componentes e de garantir que
reciclabilidade, entre outros. determinado
produto possua
Segundo Moura (2008, p. 15) características
especiais,
O rótulo é provavelmente a forma mais direta como origem,
de comunicação da empresa com o consumidor economicidade,
daquele seu produto. É, no espaço por vezes ausência de
reduzido do rótulo, que a empresa procura cativar determinados
o consumidor para o seu produto, em lugar de componentes e
um produto semelhante de um concorrente. reciclabilidade,
Através da marca, de pequenos textos, de cores, entre outros.
de informações sobre o fabricante, procura-se
conseguir que o seu produto se diferencie dos
demais, sensibilizando e motivando o consumidor em sua
escolha. A rotulagem, além de conter dados obrigatórios por
força de leis e regulamentos (CGC, endereço, conteúdo,
eventualmente a composição química do material),
complementa a publicidade da empresa que divulgou o
produto e, nesta fase final da escolha, muitas vezes na
frente da prateleira do supermercado, constitui-se na última
oportunidade de disputa pelo cliente, com relação àquela
compra específica.

A rotulagem de um produto, da mesma forma que a certificação de um


101
Gestão ambiental

processo, então, apresenta-se como uma importante alternativa de crescimento


no mercado, especialmente à medida que esse se torna mais aguerrido na
conquista pelo consumidor. Não há dúvidas que esse será um caminho cada
vez mais obrigatório no sentido da melhoria da imagem da marca. Como vimos,
algumas empresas já perceberam isso e investiram fortemente na aquisição de
algum selo verde.

Você pode perceber que a rotulagem de um produto, normalmente é vista


pela sociedade e mesmo pelas empresas, como uma ação isolada, afeita apenas
à sua qualidade ambiental. Porém, muito mais do que isso, todo o ciclo de vida
precisa ser considerado, desde os, insumos e a matéria prima usada na sua
produção, a sua reciclabilidade e o impacto que gera ao ambiente, como produto
e como resíduo, futuramente. Mas, a rotulagem deve estar associada à ideia de
empresa “verde”, com já visto anteriormente, para sua completude.

Algumas Considerações
As razões para que as organizações adiram a programas de meio ambiente
ficam claras neste capítulo. Iniciamos essa análise conhecendo as razões
históricas que levaram a humanidade a essa forma de relação com a natureza e
porque não dizer, consigo mesmo. Você pode ver como o modelo socioeconômico
que fomos desenvolvendo ao longo da história conduziu a este estado de
coisas em que a própria sustentabilidade humana e planetária corre sério risco.
Conhecer essa trajetória e suas consequências é fundamental para pensarmos
nas soluções. O conceito de desenvolvimento sustentável da década de 1970
nos conduziu à ideia atual de sustentabilidade socioambiental. A seguir pudemos
observar que uma nova economia está proposta, também a partir da década de
1970, em que valorar os bens naturais e não apenas considerá-los como livres e, o
que é pior, inesgotáveis, é a questão essencial. Nessa nova economia, a escassez
e o encarecimento dos recursos que a natureza fornece tornam imperioso às
organizações pensarem seriamente na sua economia e conservação.

Essa é uma das razões que levam ao que vimos a seguir, a adoção de
um planejamento e ação empresariais, no sentido da gestão ambiental. O
autoconhecimento e o de seus parceiros são conseguidos através de programas
bem definidos, que se traduzem como controle à geração de não conformidades,
melhoria da imagem da empresa e de seus produtos, mas também como
oportunidades de negócios. Por último, mas não menos importante, pudemos
aprofundar um pouco mais sobre esse leque de possibilidades que a preocupação
ambiental traz às empresas, através da rotulagem dos seus produtos, o que
permite diferenciá-lo dos produtos concorrentes, muitas vezes, como foi dito,

102
Capítulo 4 Marketing e Responsabilidade Ambiental

como última estratégia na gôndola do supermercado, por exemplo.

Também é apresentada a responsabilidade socioambiental das empresas,


uma vez que têm uma espécie de licença da sociedade para estarem ali
localizadas e como tal têm deveres para com essa mesma sociedade. Por tudo
isso, esse parece ser um caminho sem volta para as organizações, e não só
para aquelas que apresentam um grande potencial poluidor, como as indústrias,
pois todas as empresas, por menores que sejam, têm alguma interface com
as questões ambientais, devem responsabilidade à sociedade e podem auferir
resultados positivos com as ações. Assim, contribuirão fortemente para uma
sociedade sustentável, pelos impactos que deixarem de gerar e pelos exemplos
que gerarem.

Podemos perceber que às empresas impõem-se um novo tempo.


Poderíamos dizer até uma nova empresa, que assuma completamente as suas
responsabilidades. Essa nova empresa deverá encarar o desafio não como um
novo ônus, mas como uma potencialidade mercadológica, como vimos. Muitas,
no Brasil e no mundo, já perceberam e aproveitaram as oportunidades, elevando
seus produtos e serviços a novos nichos de mercado e ampliando seus ativos,
muitas vezes intangíveis, como uma marca, ou sua própria imagem.

Referências
GARNIER, Cecília de Assis. Responsabilidade Social e Ambiental
da Empresa. Disponível em: <http://www.cenedcursos.com.br/
responsabilidadesocial-e-ambiental-da-empresa.html>. Acesso em: 28 out. 2010.

MOURA, Luiz Antônio Abdala de. Qualidade e Gestão Ambiental:


Sustentabilidade e Implantação da ISO 14.001. São Paulo: Editora Juarez de
Oliveira, 2008.

VILELA JÚNIOR, Antônio; DEMAJOROVIC, Jacques. (organizadores). Modelos


e Ferramentas de Gestão Ambiental: Desafios e Perspectivas para as
Organizações. São Paulo: Editora SENAC, 2006.

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