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Neste sentido, o autor (1994) aponta que a mestiçagem no Brasil é real e simbólica,
o mestiço surge aqui como: um fator de equilíbrio; de aclimatação moral e étnica da
população europeia nos trópicos; da soma necessária dos brancos com contingentes raciais
considerados inferiores, para constituir-se em uma geografia que não é a europeia. Ou seja,
é real pois encontra materialidade nas relações raciais que aqui se desenrolam, e simbólica
por exprimir um rumo civilizatório para a nação brasileira (ORTIZ, 1994, p. 21).
Com base nesses fatores - como apontam Albuquerque e Fraga Filho (2006, p. 206)
- “o recém-instaurado governo republicano mandou divulgar no exterior que os
estrangeiros dispostos a trabalhar no Brasil eram bem-vindos, exceto os asiáticos e
africanos.” Além disso, “o ideal de embranquecimento continuou a fazer parte explícita
dos projetos do governo brasileiro até a década de 1930.” (2006, p. 208) Como salientam
os autores, os acontecimentos do período provocaram uma série de revoltas e
reivindicações por parte da população negra e pobre - como por exemplo: A Guerra de
Canudos; A Revolta da Vacina; e a Revolta da Chibata (2006, p. 208-220). Desta forma,
evidencia-se que “os negros estavam cientes das mudanças políticas e sociais que a
Abolição e a República deviam representar. Por isso, estavam dispostos a ir adiante na luta
por seus direitos e contra a discriminação racial.” (2006. p. 220).
Diante do que foi exposto, o presente trabalho visa relacionar a representação
visual da mulher negra no século XIX, com a temática da mestiçagem e do nacional. Para
isso, se faz uso dos levantamentos teóricos de Stuart Hall em sua obra “Cultura e
Representação” (2016). Em primeiro momento, foram selecionadas obras de interesse do
grupo e feita uma reflexão sobre cada uma elas. Em seguida, planeja-se fazer uma
abordagem analitica a partir dos conceitos de HALL (2016). Por fim, produziremos uma
adaptação de um poema (não publicado) de autoria da Aline Simões sobre a mestiçagem, a
ser performado em sala de aula.
Imagens de negros povoaram as obras dos viajantes, assim como dos fotógrafos
do século XIX, sendo raras as representações em pinturas a óleo. Nas primeiras
décadas após a abolição, encontramos artistas que apresentaram mulheres negras
em seus quadros. É difícil, entretanto, ter-se uma visão mais clara de seu
significado, na ausência de um maior inventário sobre o tema. As obras que se
destacam pertencem a acervos públicos, tornando-se mais conhecidas; são elas:
Engenho de mandioca (1892) e Redenção de Cã (1895), de Modesto Brocos;
Mulata quitandeira, de Antonio Ferrigno (c. 1893-1903); Mãe Preta, de Lucílio
de Albuquerque (1912), e Tarefa pesada, de Gustavo Dall’Ara (1913). (HORA
DO POVO, 2018).
Modesto Brocos. A Redenção de Cam. 1895. Óleo sobre tela. 199 x 166 cm. MNBA, Rio de Janeiro.
Faz referência à passagem bíblica de Cam, filho de Noé, castigado por ter olhado
seu pai nú e bêbado. O castigo divino foi aplicado à Canaã, amaldiçoado como o “servo
dos servos”. Cam é apontado na Bíblia como um suposto ascendente das raças africanas, o
que faz com que esta passagem seja utilizada pelos defensores da escravidão negra com o
argumento de que “isto está de acordo com a Palavra de Deus”, a partir disto a pintura de
Brocos (1895), produzida no pós abolição, traz a contraposição à essa “maldição divina”,
representando a “redenção”, esta por sua vez pode ser entendida também como a Teoria do
Branqueamento.
Entremeio a teoria do branqueamento e o pós abolição, fatos ocorridos neste
período, Renato Ortiz em sua obra Cultura Brasileira e Identidade Nacional, parte da
análise dos escritos de autores como Sílvio Romero, Euclides da Cunha e Nina Rodrigues,
para nos apresentar o mito das três raças, um mito cosmológico que traz a origem do
Estado Brasileiro, afirmando ser o Brasil um produto da mestiçagem branca, negra e índia,
e essa mestiçagem por sua vez, é o que culmina no “atraso” do Brasil.
Ortiz traz em contrapartida, os escritos de Manoel Bonfim, este por sua vez,
contrariando as ideias de Sílvio Romero, Euclides da Cunha e Nina Rodrigues, vê a
mestiçagem como “renovação”, uma forma de “reequilibrar os elementos negativos
herdados do colonizador” (p. 26), o autor também busca refutar a ideia de que a cultura
negra não possuía qualidade para evolução, denunciando que estas teorias eram racistas e
buscavam “legitimar uma situação de exploração em detrimento de nações
subdesenvolvidas”. (p. 26).
1.4 "O jantar no Brasil", de Jean Baptiste Debret, 1827_ releitura: "Privilégios
ameaçados", de Rodrigo Leão, 2015.
Hall (2016, p. 202) nos relata alguns pontos importantes da vida de Saartjie: ela
fixou residência na Inglaterra, batizou-se conforme os costumes europeus em Manchester,
casou-se com um africano - ao contrário do ocorrido com muitas mulheres negras
traficadas no período - e teve dois filhos. Falava holandês e aprendeu a língua inglesa. Um
processo judicial foi aberto em Chancery, com o intuito de protegê-la da exploração que
sofreu durante boa parte de sua vida, neste ela declarou que “não estava sujeita a qualquer
restrição e que estava feliz vivendo na Inglaterra”. Tempo depois ela apareceu em Paris,
tempo depois contraiu varíola e faleceu em 1815.
Saartjie se transformou em “Vênus Hotentote”, foi “fetichizada”, transformada em
objeto, fato esse que continua a ocorrer com muitas mulheres nos dias de hoje, sejam elas
negras ou brancas, o todo de seus corpos são transformados em partes, e essas partes
divididas conforme seu grau de “importância”, o sujeito se torna uma coisa, deixa de ser
visto como pessoa e passa a ser visualizado a partir do reino da fantasia, do proibido, neste
caso a obsessão pelo corpo feminino.
1.6 Continuidade
Pessoal vcs viram essas obras? A forma que o autor faz a análise pode nos ajudar no ultimo
capítulo
http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364939709_ARQUIVO_Onegronaarte
brasileiradaprimeirarepublica_2.pdf (alguem tinha indicado esse trabalho, abri agora só)
REFERÊNCIAS
Imagens:
1- "O jantar no Brasil", de Jean Baptiste Debret, 1827_ releitura: "Privilégios ameaçados",
de Rodrigo Leão, 2015.
2- “Vênus Hotentote”, Stuart Hall, 2016.
3- “A Redenção de Cam”, de Modesto Brocos, 1895
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Como as teorias raciais influenciaram a arte da primeira república
http://www.periodicos.ufpb.br/index.php/ci/article/viewFile/14136/8750
ARTIGO QUE FALA SOBRE A SITUAÇÃO DO NEGRO, ABORDANDO OS
PRINCIPAIS AUTORES DE TEORIAS RACIAIS, COMO FREYRE E FERNANDES.
https://horadopovo.org.br/um-ensaio-a-mulher-negra-na-pintura-brasileira-no-inicio-do-sec
ulo-xx-1/
Wilsom: vou pesquisar o livro negros da terra para incrementar sobre a escravização dos
índios neste período
http://www.dezenovevinte.net/obras/negro_representacoes.htm
https://periferiadainformacao.wordpress.com/2015/12/01/a-estigmatizacao-da-mulher-negr
a-na-sociedade-escravocrata-analise-de-casa-grande-e-senzala-de-gilberto-freyre/
http://abpnrevista.org.br/revista/index.php/revistaabpn1/article/view/234
http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364939709_ARQUIVO_Onegronaarte
brasileiradaprimeirarepublica_2.pdf
https://www.geledes.org.br/o-movimento-da-mulher-negra-brasileira-historia-tendencia-e-
dilemas-contemporaneos/
http://historiaartebrasileira.blogspot.com/2009/05/o-debate-racial-no-brasil-do-seculo-xix.h
tml?m=1
RELATÓRIO I:
3: Pesquisa bibliográfica
HALL, Stuart. Cultura e Representação. RJ: Editora PUC-Rio: Apicuri, 2016.
Imagens:
ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira e Identidade Nacional. SP: Brasiliense, 1985.
Imagens:
1- "O jantar no Brasil", de Jean Baptiste Debret, 1827 _ releitura: "Privilégios
ameaçados", de Rodrigo Leão, 2015
2- “Vênus Hotentote”
3- “A Redenção de Cam”, de Modesto Brocos, 1895