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Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE

Curso de Habilitação a Sargento Policial Militar – CHS PM/2018


POLÍCIA COMUNITÁRIA

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Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará – AESP|CE
Curso de Habilitação a Sargento Policial Militar – CHS PM/2018
POLÍCIA COMUNITÁRIA

GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ

CAMILO Sobreira de SANTANA


GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ

SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL - SSPDS

ANDRÉ Santos COSTA


SECRETÁRIO DA SSPDS

POLÍCIA MILITAR DO CEARÁ - PMCE

Ronaldo Mota VIANA – Cel PM


COMANDANTE-GERAL DA PMCE

ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANÇA PÚBLICA DO CEARÁ – AESP|CE

JUAREZ Gomes Nunes Júnior


DIRETOR-GERAL DA AESP|CE

NARTAN da Costa Andrade


SECRETÁRIO EXECUTIVO DA AESP|CE

ROBERTA Barbosa Monteiro


COORDENADORA DE ENSINO E INSTRUÇÃO DA AESP|CE

EVANDRO Queiroz de Assunção


COORDENADOR PEDAGÓGICO DA AESP|CE

José Alexandre Soares NOGUEIRA


SECRETÁRIO ACADÊMICO DA AESP|CE

REGINA Célia Souza Piccolo de Paula


ORIENTADORA DA CÉLULA DE ENSINO A DISTÂNICA DA AESP|CE

CURSO DE HABILITAÇÃO A SARGENTO POLICIAL – CHS PM/2018

DISCIPLINA
Polícia Comunitária

CONTEUDISTA
Cleonardo de Mesquita Goes - Cap PM

REVISÃO DE COERÊNCIA DIDÁTICA:


Márcio José Marcelino DINIZ
Francisco MATIAS Filho
Leandro Gomes PIRES
LUCIANA Moreira

FORMATAÇÃO
JOELSON Pimentel da Silva

• 2018 •

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Curso de Habilitação a Sargento Policial Militar – CHS PM/2018
POLÍCIA COMUNITÁRIA

SUMÁRIO

1. POLÍCIA COMUNITÁRIA .............................................................................................................................................4


1 EMERGÊNCIA DE NOVOS MODELOS ..........................................................................................................................4
2. TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS ...........................................................................................................................4
3. POLÍCIA E ORDEM PÚBLICA ......................................................................................................................................5
4. DEFINIÇÃO DA EXPRESSÃO PODER DE POLÍCIA ........................................................................................................6
5. POLÍCIA TRADICIONAL ..............................................................................................................................................6
6. CONSEQUÊNCIA DO POLICIAMENTO TRADICIONAL .................................................................................................7
7. CICLO DA ESCALADA DA VIOLÊNCIA .........................................................................................................................9
8. CICLO DA ESCALADA DA PAZ SOCIAL ........................................................................................................................9
9. MUDANÇA DE PARADIGMA ....................................................................................................................................10
10. CONCEITOS DE POLÍCIA COMUNITÁRIA ................................................................................................................11
11. PRINCÍPIOS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO ...................................................................................................12
12 CARACTERÍSTICAS DO POLICIAMENTO TRADICIONAL ...........................................................................................12
13. CARACTERÍSTICAS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO ........................................................................................13
14. POLÍCIA COMUNITÁRIA NO CEARÁ .......................................................................................................................14
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................................................16

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POLÍCIA COMUNITÁRIA

1. POLÍCIA COMUNITÁRIA

Olá! Estamos iniciando mais um curso de qualificação profissional promovido pela Academia Estadual de
Segurança Pública do Ceará. Neste curso estudaremos um pouco a respeito da doutrina de polícia comunitária,
tentando demonstrar que atualmente só conhecemos dois modelos de policiamento, sendo o tradicional o
modelo que buscamos superar.
Na Unidade I estudaremos a respeito do modelo de policiamento tradicional, mais conhecido como modelo
de policiamento reativo, que é aquele que busca agir após o acontecimento do crime, demonstrando que esse
tipo de modelo tende ao fracasso.
Na Unidade II buscamos trabalhar o conhecimento e compreensão da doutrina de polícia comunitária,
quebrando a mística de que a doutrina de polícia comunitária é algo de difícil alcance, conversando sobre os mais
diversos conceitos de polícia comunitária, ressaltando as características e princípios do policiamento comunitário
e características do policiamento tradicional.
Na Unidade III estudaremos um pouco a respeito do Batalhão de Policiamento Comunitário, ressaltando as
características desse batalhão e das mais diversas formas de execução de suas atividades comunitárias, como os
projetos sociais que são desenvolvidos. Também buscaremos demonstrar um pouco o que será ou em que se
transformará o programa de policiamento comunitário que está sendo reformulado no estado do Ceará.
Desejamos um ótimo estudo e que o conteúdo desse curso possa ser um diferencial na vida profissional de
qualquer agente público que labuta em uma área tão delicada quanta a segurança pública.

1 EMERGÊNCIA DE NOVOS MODELOS

Os dias atuais requerem novas medidas para combater a crescente onda de violência que vem assolando a
nossa sociedade. Por isso, se faz necessário estudarmos e pesquisarmos novas metodologias de trabalho que
sejam mais eficientes e que consigam se sobressair aos problemas estruturais que enfrentamos em nosso
cotidiano. Isto nos faz crer que necessitamos de novas formas e metodologias de trabalho, que fujam do
isolamento institucional, que busque o trabalho em conjunto ou parceria entre os mais diversos órgãos que
compõem a sociedade em nossos dias atuais.
Os debates sobre os novos modelos de segurança pública falam justamente sobre a viabilização de novas
parcerias de trabalho. Constata-se a necessidade de uma visão abrangente da questão da segurança pública,
através da valorização dos trabalhos não policiais, como auxílio aos grupos de pessoas vulneráveis (LGBTT, crianças
em situações de risco, etc.), auxílio a líderes comunitários, auxílio aos mais diversos setores sociais, pois o trabalho
isolado nunca será eficiente o suficiente para transformarmos a nossa realidade social.

2. TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS

Inicialmente gostaríamos de abordar essa conhecida teoria para análise e reflexão, lembrando que nada ou
nenhum pensamento é o fim em si mesmo ou algo definitivo e acabado, mas algo que pode ser levado em
consideração e implementado em nosso dia a dia com as devidas modificações e adequações. Desta forma,
apresentamos essa conhecida teoria, demonstrando que pequenas ações podem possuir importantes
repercussões positivas nos mais diversos setores das nossas vidas, até mesmo na área da segurança pública,
conforme podemos ler abaixo:

Uma das teorias sobre segurança pública das mais conhecidas foi resultado de um estudo científico
difundido mundialmente. Podemos ver essa teoria através do artigo publicado na internet no dia 02 de outubro
de 20131:

A teoria das janelas quebradas ou "broken Windows theory" é um modelo norte-americano de política de
segurança pública no enfrentamento e combate ao crime, tendo como visão fundamental a desordem como
fator de elevação dos índices da criminalidade. Nesse sentido, apregoa tal teoria que, se não forem
reprimidos, os pequenos delitos ou contravenções conduzem, inevitavelmente, a condutas criminosas mais
graves, em vista do descaso estatal em punir os responsáveis pelos crimes menos graves. Torna-se
necessária, então, a efetiva atuação estatal no combate à criminalidade, seja ela a microcriminalidade ou a

1
http://www.brasil247.com/pt/247/revista_oasis/116409/Janelas-Quebradas-Uma-teoria-do-crime-que-merece-reflex%C3%A3o.htm

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macrocriminalidade.
Há alguns anos, a Universidade de Stanford (EUA), realizou uma interessante experiência de psicologia social.
Deixou dois carros idênticos, da mesma marca, modelo e cor, abandonados na rua. Um no Bronx, zona pobre
e conflituosa de Nova York e o outro em Palo Alto, zona rica e tranquila da Califórnia. Dois carros idênticos
abandonados, dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia
social estudando as condutas das pessoas em cada local.
Resultado: o carro abandonado no Bronx começou a ser vandalizado em poucas horas. As rodas foram
roubadas, depois o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não
puderam levar, destruíram. Contrariamente, o carro abandonado em Palo Alto manteve-se intacto.
A experiência não terminou aí. Quando o carro abandonado no Bronx já estava desfeito e o de Palo Alto
estava há uma semana impecável, os pesquisadores quebraram um vidro do automóvel de Palo Alto.
Resultado: logo a seguir foi desencadeado o mesmo processo ocorrido no Bronx. Roubo, violência e
vandalismo reduziram o veículo à mesma situação daquele deixado no bairro pobre. Por que o vidro
quebrado na viatura abandonada num bairro supostamente seguro foi capaz de desencadear todo um
processo delituoso? Evidentemente, não foi devido à pobreza. Trata-se de algo que tem a ver com a
psicologia humana e com as relações sociais.
Um vidro quebrado numa viatura abandonada transmite uma ideia de deterioração, de desinteresse, de
despreocupação. Faz quebrar os códigos de convivência, faz supor que a lei encontra-se ausente, que
naquele lugar não existem normas ou regras. Um vidro quebrado induz ao "vale-tudo". Cada novo ataque
depredador reafirma e multiplica essa ideia, até que a escalada de atos cada vez piores torna-se
incontrolável, desembocando numa violência irracional.
Baseada nessa experiência e em outras análogas, foi desenvolvida a "Teoria das Janelas Quebradas". Sua
conclusão é que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem e o maltrato são maiores.
Se por alguma razão racha o vidro de uma janela de um edifício e ninguém o repara, muito rapidamente
estarão quebrados todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração, e esse fato parece
não importar a ninguém, isso fatalmente será fator de geração de delitos.

3. POLÍCIA E ORDEM PÚBLICA

A polícia é uma instituição histórica, oriunda da formação da sociedade. Segundo Honoré de Balzac “os
governos passam, as sociedades morrem, a polícia é eterna”, pois na realidade é inconcebível separar sociedade e
Estado da polícia. Sem polícia não há ordem.

[...] estruturas de policiamento informais existiram em quase todas as sociedades conhecidas, cumprindo as
mais diversas funções. O trabalho de pesquisa histórica de Schwartz e Miller sobre estruturas policiais nas
sociedades antigas encontrou alguma forma de policiamento público em 20 das 31 sociedades pesquisadas
(SCHWARTZ; MILLER apud ROLIM, 2006, p.24).
A polícia é [...] uma instituição social cujas origens remontam às primeiras aglomerações urbanas, motivo
pela qual ela apresenta a dupla originalidade de ser uma das formas mais antigas de proteção social, assim
como a principal forma de expressão da autoridade. Encontra-se, portanto, intimamente ligada à sociedade
pela qual foi criada, e seus objetivos, a sua forma de organização e as suas funções devem adaptar-se às
características sócio-políticas e culturais da comunidade em que ela deverá atuar (RICO; SALAS, 1992.p.73).

Para a existência de um Estado e uma sociedade organizada é necessária a existência da polícia para que
possa existir ordem pública. Thomas Hobbes afirma que o Estado tem a função de evitar que a sociedade se
desagregue, preservando a ordem, para que não ocorra a luta de todos contra todos. Essa ordem só é alcançada
se houver um meio que venha propiciar incolumidade as pessoas e objetos através de regras formais, coativas,
com o intuito de regular as relações sociais em vários seguimentos da sociedade, objetivando, é claro, estabelecer
um clima de convivência harmoniosa e pacífica. Essa ordem se mostra de duas formas, sendo uma delas o estado
aceitável de normalidade e, a outra, sua manutenção em caso de desequilíbrio (fuga da normalidade).

[...] é possível afirmar que o Estado tem por obrigação organizar a sociedade de modo a garantir a liberdade,
a integridade física, a vida e a propriedade, sempre dentro do princípio da igualdade, evitando que ocorram
desigualdades sociais em função do uso inadequado da propriedade. Como parte integrante do
Estado, assim também deve agir o aparato policial. A preservação da ordem pública, antes de tudo,
corresponde à preservação dos direitos e garantias individuais de cada ser humano (MARCINEIRO; PACHECO,
2005, p.51).

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Podemos, desta forma, perceber quão importante é atividade policial para a existência de uma sociedade
livre e organizada. Sem a polícia podemos afirmar que não há meios de uma sociedade existir, pelo menos de
forma organizada e ordeira. A polícia é uma instituição fundamental para a manutenção da ordem pública, o que
nos faz sermos peças fundamentais em qualquer sociedade organizada.

4. DEFINIÇÃO DA EXPRESSÃO PODER DE POLÍCIA

Com o intuito de entendermos o alcance e a importância que a polícia possui, devemos entender que
trabalhamos muitas vezes restringindo direitos individuais em detrimento aos direitos coletivos. Desta forma,
devemos entender que temos um papel estatal que deve ser exercido de forma satisfatória, e que esse mister só é
alcançado quando entendemos que o que fazemos em benefício da coletividade é feito porque o estado nos
concede esse poder. Esse poder é o conhecido Poder de Polícia.
Vejamos, agora, as definições de poder de polícia, iniciando por Cretella Júnior (1998, p.128) concluiu que:

É difícil definir a polícia. Podemos encontrar na definição de polícia vários elementos. Um é o Estado. Só o
Estado é detentor do poder de polícia, só o Estado pode organizá-la. O segundo elemento é de natureza
finalística ou teológica, é o fim a que se propõe este organismo. É o de assegurar a paz, a tranquilidade, a
boa ordem aos membros da comunidade. O terceiro elemento também não pode faltar na definição de
polícia: são as limitações ou restrições às atividades humanas que possam perturbar a vida em comum. São,
pois três os elementos integrantes da definição de polícia: Estado, que é o sujeito, a tranquilidade pública,
que é o fim, as limitações às atividades prejudiciais, que constituem o objetivo da ação estatal. Logo, como
definir a polícia?

Segundo Moreira Neto (p. 119):

É a atividade administrativa do Estado que tem por fim limitar e condicionar o exercício das liberdades e
direitos individuais visando assegurar, em nível capaz de preservar a ordem pública, o atendimento de
valores mínimos da convivência social, notadamente a segurança, a salubridade, o decoro e a estética.

Segundo o artigo 78 da Lei nº. 5.172, de 25 de outubro de 1966, com redação do Ato complementar n°. 31
de 28/12/1996, que é denominado Código Tributário Nacional, pode-se obter uma boa definição do que é poder de
polícia.

Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito,
interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em razão de interesse público
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao
exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à
tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos..

Para finalizarmos o entendimento a respeito de poder de polícia, se faz necessário que o agente público, no
nosso caso o policial militar, entenda que as atribuições dele como servidor da coletividade é um trabalho
limitado, não podendo fazer o que deseja ou que quer por simples vontade sua ou de seu superior hierárquico.
Cada agente público deve exercer suas funções dentro dos limites impostos por lei. Um exemplo bem claro disso é
o caso dos agentes de vigilância sanitária, que ao identificarem algum problema pertinente à saúde pública,
podem lacrar um estabelecimento comercial e apreender as mais diversas mercadorias.

5. POLÍCIA TRADICIONAL

A metodologia de trabalho que desenvolvemos hoje, no estado do Ceará, em sua grande maioria, é o que
chamamos de polícia tradicional. Esse nome é utilizado devido a forma de trabalho ser a mesma que utilizamos
desde o momento que implementamos o trabalho policial em viaturas.
Esse trabalho em viaturas foi que isolou ou distanciou o policial da comunidade. A viatura passou a ser um
obstáculo na comunicação pessoal entre as pessoas e os agentes públicos, porque naquele instante a população
percebeu que o policial foi seqüestrado do seu convívio cotidiano. Também contribuíram pra esse distanciamento
a utilização dos meios de comunicação, como os rádios.

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Outro ponto que caracteriza a polícia tradicional é o fato dela está sempre correndo atrás do problema, o
que nós chamamos de polícia reativa. Ela espera primeiramente ser acionada via CIOPS, para somente após a
existência do problema, buscar um meio pra resolvê-lo.
A polícia tradicional, ao longo de sua história, passou por algumas etapas. Kelling e Moore (2002) em seus
estudos dividiram a história da polícia norte- americana em três períodos: o estágio político, a era das reformas e a
fase da resolução de problemas com a comunidade.
Na primeira fase, o estágio político, iniciado posteriormente à proclamação da república norte-americana e
indo até meados da primeira década do século XX, a polícia era uma extensão do poder das elites e estava a
serviço da classe dominante, atuando através do seu poder opressor na manutenção das condições existentes.
Nesse período, a manipulação por parte dos governantes para com a polícia fez com que a instituição policial
passasse a ser discriminada por parte dos opositores da referida classe.

A polícia estava sistematicamente envolvida em esquemas de corrupção relacionados à venda de bebidas


alcoólicas, jogos e prostituição, além de fraudes eleitorais. Inerente a esse sistema de corrupção era o
caráter eminentemente político da instituição policial (...). As máquinas políticas controlavam o processo
eleitoral, do registro ao voto. As fraudes eram endêmicas e a polícia era um dos principais instrumentos de
preservação deste sistema (DIAS NETO, 2000, p.21).

Após o estágio político, houve o início do segundo período, mais conhecido como a Era das Reformas. Nesse
período ocorreu a profissionalização dos serviços de segurança pública. Com a profissionalização da polícia, o
caráter eminentemente político dessas instituições foi sendo substituído pelo caráter técnico. Passou a ser
empregado concurso público para o emprego e contratação de policiais, sendo realizado até nos cargos de chefia.
Essa mudança fez com que rodízios de policiais e os turnos em que trabalhavam fossem constantemente
modificados, tendo início a proibição da utilização de iniciativas de uso do discernimento pessoal.
A terceira fase foi a de resolução de problemas, onde passou a existir a identidade policial, a interação com
a comunidade, que foi desconstituída com o emprego das inovações tecnológicas, mudando radicalmente o perfil
do policiamento. Os recursos utilizados que contribuíram com essa mudança de identidade foram: o carro
patrulha, o rádio de intercomunicação e o telefone.
Desta maneira, podemos observar que vivenciamos justamente a terceira etapa, e é isto que devemos
tentar modificar. Os meios de potencialização do trabalho policial não podem ser impeditivos para um trabalho
policial eficiente. Entendemos que é muito caro para o Estado a manutenção da segurança pública, e que este
elevado custo foi o propulsor para implementação da viatura e dos meios de comunicação citados, mas não é por
este motivo que o policial deve se isolar da comunidade.
O policial não pode ser apenas um vulto que passa em velocidade dentro de um carro, como disse
Balestrelli em uma palestra. O policial deve ter uma presença marcante e um contato direto com as pessoas. Deve
ser um serviço personalizado para cada cidadão. Deve ser algo presente e atuante.

6. CONSEQUÊNCIA DO POLICIAMENTO TRADICIONAL

A eficácia deste policiamento motorizado (policia trabalhando em veículos de forma reativa), como
tradicionalmente vem sendo desenvolvido em nosso estado, é abalada devido a várias falhas, pois o policiamento
não age de forma proativa, só agindo depois de acionado após a ocorrência de um crime. Este tipo de
policiamento demonstrou que só é útil para diminuir a credibilidade das instituições que formam o sistema de
segurança pública e diminuir a auto-estima dos profissionais que atuam nestes órgãos.

Os esforços policiais, mesmo quando desenvolvidos em sua intensidade máxima, costumam redundar em
lugar nenhum, e o cotidiano de uma intervenção que se faz presente apenas e tão-somente quando o crime
já ocorreu parece oferecer aos policiais uma sensação sempre renovada de imobilidade e impotência. Corre-
se, assim, para se permanecer aonde está, diante das mesmas perplexidades e temores (ROLIM, 2006, p.37).

Outro fato que merece destaque é que esse modelo reativo de policiamento tornou o cidadão um preso
domiciliar, pois, juntamente com o reflexo da sociedade em que está inserido e com a divulgação de crimes e
violências que são divulgadas nos sistemas de telecomunicações, o homem passou a desenvolver um sentimento
chamado medo do crime, que é a ideia subjetiva do ser humano de quanto ou quão grandiosa é a probabilidade
de ocorrer algum crime contra sua pessoa.

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A mesma simplificação que transforma o medo em medo do crime, que interpreta a sensação de
insegurança como possibilidade de experimentar a vitimização (ato ou ação de se fazer de vítma), pode
gerar uma sobrecarga da expectativa em relação a quem, idealmente, tem a tarefa de combater o crime, de
evitar a vitimização: a polícia. Muito do questionamento que envolve hoje a atuação policial vem da
necessidade de adequar as expectativas, as possibilidades concretas, de delimitar as responsabilidades, pois,
como no dizer de Hassemer, a polícia não pode ser a única voz no canal da segurança (DIAS NETO, 2000, p.9).

Pode-se observar que essa forma de patrulhamento ou policiamento tradicional possui poucos reflexos para
a melhoria da segurança pública, fato este que foi comprovado na pesquisa de Bayley e Skolnick (2008, p. 67-68):

Em primeiro lugar, o aumento do número de policiais não reduz, necessariamente, a taxa de criminalidade,
nem aumenta a proporção dos crimes resolvidos. O mesmo ocorre com a “injeção de dinheiro” nos
departamentos policiais, aumentando os orçamentos da polícia e da sua mão de obra. É claro que, se não
houver nenhum policiamento, haverá mais crimes. Mas, uma vez que um certo limiar tenha sido alcançado,
nem mais policiais, nem mais dinheiro parecem ajudar muito. Tais medidas de controle do crime têm de fato
algum efeito, mas constituem uma parte menos importante da equação. As condições sociais, como renda,
desemprego, população e heterogeneidade social, são indicadores muito mais importantes de variações nas
taxas de crime e de resolução de crimes.
Em segundo lugar, o patrulhamento ao acaso, motorizado, nem reduz o crime nem melhora as chances de
prender os criminosos. Essas patrulhas ao acaso também não oferecem segurança suficiente aos cidadãos
para diminuir seu medo do crime nem geram uma confiança maior nas forças policiais. As rondas a pé
regulares, ao contrário, demonstraram reduzir o medo do crime do cidadão, embora talvez não afetem as
taxas de criminalidade.
Em terceiro lugar, viaturas com duas pessoas nem reduzem o crime nem capturam criminosos de maneira
mais eficaz que viaturas com apenas uma pessoa. E as forças policiais também não ficam mais vulneráveis a
sofrerem agressões em viaturas de uma só pessoa.
Em quarto lugar, embora um patrulhamento mais intenso de fato reduza a criminalidade, ele consegue isso
deslocando o crime para outras áreas.
Em quinto lugar, o legendário “cerco perfeito” é um evento raro. Tão raro quanto os policiais das rondas
enfrentarem um crime no momento em que ele esteja ocorrendo. Só Dirty Harry dá de cara com assalto à
mão armada em seu café da manhã. Na maioria das vezes, os policiais patrulham passivamente e
providenciam serviços de emergência.
Em sexto lugar, o tempo de resposta não interessa muito. Se passar apenas um minuto do momento em que
o crime foi cometido, a chance da polícia prender o criminoso será menor que dez por cento. Até mesmo a
reação instantânea poderia não ser eficaz. Na medida em que os cidadãos demoram uma média de quatro a
cinco minutos e meio para chamar a polícia, a rapidez de resposta faz pouca diferença. Os cidadãos parecem
desejar uma resposta policial em que possam confiar. Como as pesquisas já demonstraram, preferem uma
resposta segura e não tão rápida a uma resposta algumas vezes rápida, mas imprevisível.

O modelo reativo (que é aquele de agir somente após o cometimento do crime) ficou comprovado, através
de pesquisas, que não é eficiente o suficiente para ser percebido pela população, até mesmo quando ele é
completamente retirado de uma área ou é aumentado consideravelmente.

Durante todo o ano de 1972, o departamento de polícia da cidade, com o apoio da Police
Foundation, realizou experiência de separar três áreas, fazendo com que na primeira, se retirasse todo o
policiamento preventivo; na segunda, o patrulhamento fosse reforçado sempre entre duas e três vezes; e, na
terceira, se mantivesse o número tradicional de policiais na patrulha. Além dos envolvidos diretamente na
pesquisa, ninguém foi informado do que estava acontecendo. As condições, então, foram cuidadosamente
controladas e os resultados controlados com todo rigor. Ao final de um ano, descobriu-se que as taxas de
criminalidade permaneceram inalteradas nas três regiões da pesquisa. Até o medo entre os cidadãos -
medidas com pesquisas anteriores ao experimento - também permaneceu igual (ROLIM, 2006, p.51-52).

Outra característica do policiamento tradicional é que ele é reativo e inibe qualquer ação proativa por parte
do policial, pois a necessidade de controle da função policial, com o intuito de coibir excessos e desvios de
conduta, faz com que ele, o policial, seja manipulado ou conduzido de acordo com o consentimento do seu
comandante ou superior hierárquico, pois qualquer desobediência ou descumprimento indevido das
determinações que foram repassadas podem significar severas sanções ao policial. Este controle fica bastante
claro quando toda a ação policial é definida em um cartão programa, estipulando qual local e quando o policial
deve estar durante seu turno de trabalho.

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7. CICLO DA ESCALADA DA VIOLÊNCIA

Figura 1 – Ciclo da Escalada da Violência. Figura retirada da apostila do Curso de Formação Profissional da
PMCE, Cespe, ano de 2008.

Conforme podemos observar no gráfico acima, a violência acontece devido a um ciclo de repetições de
fatos negativos. Podemos observar desta maneira, que cada ação negativa gera automaticamente outra ação
negativa, e que se esse ciclo não for interrompido em algum ponto, mais violência será gerada, causando um caos
social.

8. CICLO DA ESCALADA DA PAZ SOCIAL

Figura 2 – Ciclo da Escalada da Paz Social. . Figura retirada da apostila do Curso de Formação Profissional da
PMCE, Cespe, ano de 2008.

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Esse é o objetivo de qualquer agência governamental que exerce seu mister na área da segurança pública.
Deve-se paralisar o Ciclo da Escala da Violência e implementar o Ciclo da Escalada da Paz, com o objetivo de
desenvolver a paz social e promover a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

9. MUDANÇA DE PARADIGMA

Com o objetivo de melhorarmos a imagem das corporações policiais, bem como a produtividade do serviço
que prestamos, devemos trabalhar de forma diferente para obtermos resultados diferentes. Isso nos impulsiona a
buscarmos novas metodologias de trabalho, novas formas de ação, a olharmos para as outras pessoas,
instituições, países, etc. tudo com o objetivo de aumentarmos nossa eficiência. Essa mudança de atitude e de
comportamento é natural em qual instituição e em qualquer luigar, como podemos observar abaixo:

Em janeiro de 1985, a revista Newsweek estampava uma manchete: “existe algo de novo nas ruas de
Brooklyn. A polícia voltou a fazer patrulhas a pé”. Os policiais estão fazendo patrulhas em Boston, em
Newark, em Houston, em Minneapolis, no Condado de Orange e em muitos outros lugares pelo país. A
Newsweek descreve a nova linhagem como “em parte cavaleiro azul – em parte assistente social, que tanto
pode organizar uma associação de quarteirão quanto prender um viciado. No fundo, a estratégia encarna
uma idéia que poucos chefes ousaram algum dia admitir em público: os tiras não podem manter as ruas
seguras sozinhos” (SKOLNICK; BAYLEY, 2002, p.223).

Para a consecução de uma segurança pública de qualidade se faz necessário uma evolução na forma de
pensar e de agir, tanto das pessoas que compõem as instituições públicas envolvidas nesta área, como uma
transformação no agir e no engajamento da sociedade. A ideia de que segurança pública era assunto de polícia é
algo superado, necessita-se, pois, um engajamento cívico de todos que formam a nação. Nos países mais
desenvolvidos os cidadãos são pessoas mais participativas, e acreditam mais na sua própria força que na força do
Estado.

Será possível imaginar a garantia da segurança pública sem o concurso de várias agências governamentais,
sem uma política de segurança que envolva áreas tão díspares com a educação, a saúde, a geração de
emprego e renda e as oportunidades de lazer? E mais, será possível imaginar a garantia da segurança pública
exclusivamente através dos papéis a serem cumpridos pelo Estado, sem considerar a ação das pessoas e o
papel da sociedade civil? (ROLIM, 2006, p. 21).

Os policiais exercem uma função muito mais ampla do que o simples contato com a criminalidade, pois eles
tratam, todas as vezes que trabalham, com dezenas de outros problemas.

Pesquisas sobre a função policial até alguns anos sustentaram a ideia de que a maior parte do trabalho
realmente exercido pelos policiais não guardava qualquer relação com o combate ao crime, com base no
fato de que apenas uma pequena parte das atividades policiais estaria, de fato, envolvidas com ocorrências
criminosas (ROLIM, 2006, p.26-27).

Outra modificação intensa de mudança de paradigmas é que o policial deve trabalhar sempre na mesma
área, evitando qualquer tipo de transferência ou substituição; de forma contrária ao exposto anteriormente, pois
desta forma o policial ficará vinculado à comunidade em que atua.

O policial tende a atuar com maior prudência e responsabilidade quando sabe que estará no dia seguinte
atuando na mesma área, enfrentando os mesmos problemas e em contato com as mesmas pessoas (DIAS
NETO, 2000, p.90).

Como Rolim (2006, p.44) afirma:

O desafio, por isso, não é o de “ajustar” o modelo atual de policiamento, nem o de investir mais recursos
nele, mas sim o de construir um novo modelo, dotado de uma nova racionalidade. Independentemente das
posições que possamos construir no debate em torno desse novo modelo, o que todas as pesquisas e
estudos de avaliação sobre o policiamento contemporâneo demonstram à exaustão é que o “modelo
reativo” não funciona e que todas as tentativas de renová-lo ou de emprestar-lhe os meios necessários para
alcançar seus pretendidos objetivos irão fracassar.

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Baseados no que foi estudado acima, podemos observar que se continuarmos a exercer o nosso trabalho da
mesma maneira que o executamos hoje, se preocupando em apenas atender ocorrências, nós não sairemos do
local que nos encontramos atualmente ( descrédito da população no serviço que prestamos, aumento significativo
da violência, etc.). Não adianta “morrermos” de trabalhar, pois o resultado será sempre pífio, isso é claro se não
mudarmos a nossa forma de trabalho. Importante observarmos que essa certeza da improdutividade do trabalho
reativo é algo alicerçado em pesquisas científicas, e não baseadas no conhecido “eu acho”.

10. CONCEITOS DE POLÍCIA COMUNITÁRIA

Finalmente podemos iniciar nossos estudos sobre o conceito de polícia comunitária, buscando
compreender que podem existir outras alternativas de trabalho, mas que até este instante esta é a única doutrina
conhecida como viável e plenamente possível de ser posta em prática, pois requer algo bastante simples das
instituições.
Com o intuito de facilitarmos a compreensão e o entendimento a respeito da doutrina, estamos
apresentando vários conceitos, dos mais renomados doutrinadores, como podemos observar abaixo:

É uma filosofia e estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a população e a polícia.
Baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar,
priorizar e resolver problemas contemporâneos tais como crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e
morais, e em geral a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade geral da vida na área
(TROJANOWICZ; BUCQUEROUX, 1994, p.4).
O policiamento comunitário expressa uma filosofia operacional orientada à divisão de responsabilidades
entre polícia e cidadãos no planejamento e na implementação das políticas públicas de segurança (DIAS
NETO, 2000, p.44).
O que o modelo de policiamento comunitário assume como outro ponto de partida é que as tarefas de
manutenção da paz e de conquista de segurança devem ser concebidas como algo a ser compartilhado entre
o Estado e a sociedade. O cerne desse modelo reside no reconhecimento de um limite: a ideia de que a
polícia não poderá ser bem-sucedida na luta contra o crime se atuar isoladamente (ROLIM, 2006, p.76).
O policiamento comunitário é uma maneira inovadora e mais poderosa de concentrar as energias e os
talentos do departamento policial na direção das condições que frequentemente dão origem ao crime e a
repetidas chamadas por auxílio local (WADMAN, 1994).
Um serviço policial que se aproxime das pessoas, com nome e cara bem definidos, com um comportamento
regulado pela frequência pública cotidiana, submetido, portanto, às regras de convivência cidadã, pode
parecer um ovo de Colombo (algo difícil, mas não é). A proposta de polícia comunitária oferece uma
resposta tão simples que parece irreal: personalize a polícia, faça dela uma presença também comum
(FERNANDES, 1994, p.10).

Não se pode mais falar de segurança pública e combate a violência, considerando a polícia como a única
responsável por resolver o problema da elevada criminalidade; que tanto incomoda o cidadão. O cidadão
necessita passar a ser sujeito proativo, com o intuito de agir preventivamente.

A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é um sistema que tende a ser
mais eficiente quando, além de contar com maior interação de todos os órgãos que o integram, passa a
dispor também da efetiva colaboração da sociedade, que deve ser estimulada a participar do processo de
formação de ideias e propostas que busquem propiciar mecanismos voltados ao controle e/ ou redução dos
indicadores de ilegalidade, diminuindo a violência e a perda de vidas e bens, melhorando os níveis de
preservação da ordem pública e, consequentemente, melhorando a qualidade de vida. Essa interação é
característica marcante da polícia comunitária (cartilha de policiamento comunitário, procedimentos
operacionais, 2007).

Diante dos conceitos que nos foram apresentados, não temos como pensar em polícia comunitária e não
nos lembrarmos do artigo 144 da nossa constituição, onde ela nos diz que segurança pública é dever do Estado,
direito e responsabilidade de todos. Polícia Comunitária é justamente essa parceria citada no artigo 144 lá no final
da década de 80. Segurança pública requer a participação de todas as pessoas, independentemente das funções
ou atividades que esta exerça dentro da nossa sociedade.
Por último, gostaria de deixar bem claro que polícia comunitária não tem o sentido de assistência policial,
mas o sentido de participação social. Todos os agentes da sociedade devem possuir um posicionamento ativo nos
assuntos relacionados à segurança.

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Murphy (1993) disse que a manutenção da ordem pública não é algo de responsabilidade exclusiva da
polícia, mas esta pode complementar os esforços da sociedade.

11. PRINCÍPIOS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO

Segundo o livro do curso nacional de promotor de polícia comunitária (SENASP, 2007, p.32), para a
implantação do sistema de policiamento comunitário, se faz necessário que os membros da instituição tenham
pleno conhecimento dos dez princípios enumerados abaixo:
1. Filosofia e estratégia organizacional: a base desta filosofia é a comunidade. Para direcionar os seus
esforços, a Polícia, ao invés de buscar ideias pré-concebidas, deve buscar, junto às comunidades, os anseios e as
preocupações das mesmas, a fim de traduzi-los em procedimentos de segurança;
2. Comprometimento da organização com a concessão de poder à comunidade: dentro da comunidade, os
cidadãos devem participar, como plenos parceiros da polícia, dos direitos e das responsabilidades envolvidas na
identificação, priorização e solução dos problemas;
3. Policiamento descentralizado e personalizado: é necessário um policial plenamente envolvido com a
comunidade, conhecido pela mesma e conhecedor de suas realidades;
4. Resolução preventiva de problemas a curto e longo prazo: a ideia é que o policial não seja acionado pelo
rádio, mas que se antecipe à ocorrência. Com isso, o número de chamadas do COPOM deve diminuir;
5. Ética, legalidade, responsabilidade e confiança: o policiamento comunitário pressupõe um novo contrato
entre a polícia e os cidadãos aos quais ela atende, com base no rigor do respeito à ética policial, da legalidade dos
procedimentos, da responsabilidade e da confiança mútua que devem existir;
6. Extensão do mandato policial: cada policial passa a atuar como um chefe de polícia local, com autonomia
e liberdade para tomar iniciativa, dentro de parâmetros rígidos de responsabilidade. O propósito para que o
policial comunitário possua o poder, é perguntar-se: isto está correto para a comunidade? Isto está correto para a
segurança da minha região? Isto é ético e legal? Isto é algo que estou disposto a me responsabilizar? Isto é
condizente com os valores da corporação?
7. Ajuda as pessoas com necessidades específicas: valorizar as vidas de pessoas mais vulneráveis: jovens,
idosos, minorias, pobres, deficientes, sem teto, etc. Isso deve ser um compromisso inalienável do policial
comunitário;
8. Criatividade e apoio básico: ter confiança nas pessoas que estão na linha de frente da atuação policial,
confiar no seu discernimento, sabedoria, experiência e, sobretudo, na formação que recebeu. Isso propiciará
abordagens mais criativas para os problemas contemporâneos da comunidade;
9. Mudança interna: o policiamento comunitário exige uma abordagem plenamente integrada, envolvendo
toda a organização. É fundamental a reciclagem de seus cursos e respectivos currículos, bem como de todos os
seus quadros de pessoal. É uma mudança que se projeta para 10 ou 15 anos;
10. Construção do futuro: deve-se oferecer à comunidade um serviço policial descentralizado e
personalizado, com endereço certo. A ordem não deve ser imposta de fora para dentro, mas as pessoas devem ser
encorajadas a pensar na polícia como um recurso a ser utilizado para ajudá-las a resolver problemas atuais de sua
comunidade.

Esses princípios, quando corretamente aplicados na prática policial, fazem com que a doutrina de polícia
comunitária ganhe vida, fazendo com que o abstrato se torne concreto, ocasionando um mudança de postura
salutar e benéfica para todas as pessoas.

12 CARACTERÍSTICAS DO POLICIAMENTO TRADICIONAL

As informações citadas abaixo servem para nos orientar sobre características relacionadas ao modelo de
polícia tradicional:

 Polícia é uma agência governamental responsável, principalmente, pelo cumprimento da lei;


 Na relação entre a polícia e as demais instituições de serviço público, as prioridades são muitas vezes
conflitantes;
 O papel da polícia é preocupar-se com a resolução do crime;
 As prioridades são, por exemplo, roubo a banco, homicídios e todos aqueles envolvendo violência;

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 A polícia se ocupa mais com os incidentes;


 O que determina a eficiência da polícia é o tempo de resposta;
 O profissionalismo policial se caracteriza pelas respostas rápidas aos crimes sérios;
 A função do comando é prover os regulamentos e as determinações que devam ser cumpridas pelos
policiais;
 As informações mais importantes são aquelas relacionadas a certos crimes em particular;
 O policial trabalha voltado unicamente para a marginalidade de sua área, que representa, no máximo, 2
% da população residente ali onde “todos são inimigos, marginais ou paisanos folgado, até prova em contrário”;
 O policial é o de hora;
 Emprego da força como técnica de resolução de problemas;
 Presta contas somente ao seu superior;
 As patrulhas são distribuídas conforme o pico de ocorrências.

13. CARACTERÍSTICAS DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO

As informações citadas abaixo servem para nos orientar nas características relativas ao policiamento
comunitário:

 A polícia é o público e o público é a polícia: os policiais são aqueles membros da população que são
pagos para dar atenção em tempo integral às obrigações dos cidadãos;
 Na relação com as demais instituições de serviço público, a polícia é apenas uma das instituições
governamentais responsável pela qualidade de vida da comunidade;
 O papel da polícia é dar um enfoque mais amplo visando a resolução de problemas, principalmente por
meio da prevenção;
 A eficácia da polícia é medida pela ausência de crime e de desordem;
 As prioridades são qualquer problema que esteja afligindo a comunidade;
 A polícia se ocupa mais com os problemas e as preocupações dos cidadãos;
 O que determina a eficácia da polícia é o apoio e a cooperação do público;
 O profissionalismo policial se caracteriza pelo estreito relacionamento com a comunidade;
 A função do comando é incutir valores institucionais;
 As informações mais importantes são aquelas relacionadas com as atividades delituosas de indivíduos ou
grupos;
 O policial trabalha voltado para os 98% da população de sua área, que são pessoas de bem e
trabalhadoras;
 O policial emprega a energia e eficiência, dentro da lei, na solução dos problemas com a marginalidade,
que no máximo chega a 2% dos moradores de sua localidade de trabalho;
 Os 98% da comunidade devem ser tratados como cidadãos e clientes da organização policial;
 O policial presta contas de seu trabalho ao superior e à comunidade;
 As patrulhas são distribuídas conforme a necessidade de segurança da comunidade, ou seja, 24 horas
por dia;
 O policial é da área.

Importante lembrarmos que essas características muitas vezes são opostas, o que nos faz entender que
embora uma instituição utilize algumas das características do policiamento comunitário e outras características da
polícia tradicional, isso não a faz ser comunitária.

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O QUE NÃO É POLÍCIA COMUNITÁRIA

Com o intuito de quebramos algumas falsas compreensões a respeito da estudada doutrina, apresentamos
08 (oito) pontos que caracterizam, de forma clara, o que não é polícia comunitária, isso tudo de acordo com o site
da PMSC, http://www.pm.sc.gov.br/cidadao/policia-comunitaria.html, do dia 30 de julho de 2014, às 16h45min:

 Não é uma técnica policial ou programa;


 Não é um estilo de policiamento limitado ou especializado;
 Não é necessariamente o patrulhamento a pé ou de bicicleta;
 Não é condescendente com o crime;
 Não é uma unidade ou um grupo especializado;
 Não é algo que possa ser imposto de cima para baixo;
 Não é uma mera assistência social;
 Não é a solução de todos os problemas

14. POLÍCIA COMUNITÁRIA NO CEARÁ

Inicialmente, você deve lembrar que Polícia Comunitária no Estado do Ceará não pode ser entendida como
as ações realizadas, somente, pela Coordenadoria de Polícia Comunitária (CPCom). Polícia comunitária deve ser
algo desenvolvido por toda a instituição, seja Ronda ou POG.
Desta forma, entendemos que quem implementa essas ações comunitárias no Estado do Ceará é a CPCom
por meio do seu contato cotidiano com a população, utilizando como ferramentas de trabalho as mais diversas
metodologias, como: Proerd, visitas domiciliares, ronda escolar, turminha do ronda, etc.
O principal e mais tradicional desses programas é o PROERD, Programa Educacional de Resistência às
Drogas e à Violência. Segundo o Cel. PM Alencar e o Ten. Cel. PM Carvalho, autores do material didático de Polícia
Comunitária para o Curso de Formação ao Cargo Profissional para a Carreira de Praças Policiais Militares
(CFPCP/PM), o Proerd é um programa essencialmente preventivo e comunitário, para crianças e adolescentes de
9 a 12 anos de idade, ministrado por policiais militares fardados, denominadores educadores sociais, sendo 1
(uma) aula por semana, no total de 11 (onze) aulas. Ao final do curso é realizada uma grande formatura, onde os
estudantes fazem um juramento, perante todos os convidados, de se manterem longe das drogas e da violência e
recebem o diploma de Aluno PROERD.
O PROERD promove a parceria entre as instituições Família, Escola e Polícia Militar, visando proteger as
crianças de ameaças que a vida em sociedade lhes impõe. Para isso oferece atividades pedagógicas aos alunos de
estabelecimentos educacionais públicos e privados, a fim de prevenir o uso indevido de drogas e a violência. O
plano de estudos consiste em auxiliar os estudantes a reconhecerem e resistirem às pressões diretas ou indiretas
que poderão influenciá-los a experimentar álcool, cigarro, maconha, inalantes, outras drogas ou se engajarem em
atividades violentas.
Os alunos devem aprender “como”, “porque” e “para que” dizer não ao uso indevido de drogas e à prática
da violência física ou moral. Como exemplo desta última, observa-se a prática “bullying”, que é uma expressão
utilizada para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um
indivíduo ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de
poder.
O Decreto nº. 28.232, de 4 de maio de 2006, publicado no Diário Oficial do Estado do Ceará em 8 de maio
de 2006, institucionalizou o PROERD na Polícia Militar do Ceará.
Devemos ter em mente que embora a PMCE trabalhe com muitos programas, o mais importante é o
contato pessoal entre os policiais e a sociedade. A presença diária é que pode modificar a situação atual da
segurança pública. Devemos fazer da presença policial algo bastante comum.
Pensando desta forma, nesse trabalho de proximidade, é que atualmente o Governo do Estado Do Ceará
está modificando e tentando colocar uma nova roupagem no programa de polícia comunitária do estado do
Ceará.
Sabemos que desde meados de 2013, logo após a nomeação do Secretário de Segurança Pública, o DPF
Servilho Paiva, a forma de trabalho operacional foi modificado, sendo o estado do Ceará dividido em 18 Áreas
Integradas de Segurança, as conhecidas AIS.

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A cidade de Fortaleza foi dividida em 6 (seis) AIS, sendo que uma delas tinha como área predominante a
orla marítima da cidade, aas demais o restante do território da capital alencarina.
Com a gestão do citado secretário as áreas rondas foram modificadas e, devido a problemática da
crescente violência, mais detidamente os problemas de homicídios, as áreas rondas foram praticamente abolidas,
vislumbrando uma tentativa de redução imediata nos números dos homicídios.
Com a assunção do novo governador do Ceará no início do ano de 2015, como promessa de campanha,
uma nova forma de trabalhar a polícia comunitária está sendo trabalhada para ser implementada em cinco áreas
em meados de 2015.
Essa nova proposta, diferentemente do que ocorreu no final do ano de 2007 e início de 2008, foi formulada
dentro da própria instituição policial militar, baseada nas experiências de diversos policiais que vivenciaram as
diversas fases da polícia comunitária no estado, com seus erros e seus acertos.
Desta forma, a CPCom será modificada em toda a sua estrutura. A CPCom deverá ser CPAS, Comando de
Polícia de Acolhimento Social. As AIS continuarão a existir tal qual nos dias atuais, mas deverão ser divididas em
25 (vinte e cinco) áreas, conhecidas como Uniseg, Unidades de Segurança. O interior ainda está sendo desenhada
a estrutura, mas deve seguir o exemplo da capital.
A Uniseg será composta por cerca de 37 (trinta e sete) policiais militares, comandados por um oficial PM,
onde os policiais será distribuídos, prioritariamente, em trabalhos preventivos nas suas respectivas áreas. Os
policiais serão distribuídos nas seguintes equipes:

1. Rondas escolares, no horário de 06 às 22 horas: os policiais trabalharão em parceria direta com a


comunidade escolar, buscando previnir os mais diversos delitos que ocorrem com os membros dessa
comunidade;
2. Visitas domiciliares: os policiais buscarão aproximação com a comunidade em geral, buscando se
fazerem conhecidos pela presença freqüente junta a comunidade, obtendo informações pertinentes aos mais
diversos problemas que afligem a comunidade local;
3. Grupo de apoio a vítimas de violência: os policiais irão dar todo apoio possível as vítimas de violência,
tentando demonstrar para a população vítima de violência que o estado possui preocupação com eles e que está
ali, através da presença policial, para ajudar aqueles que sofrem com as mais diversas violências. Esses policiais
também possuem o objetivo de identificar problemas e conseguir informações sobre os possíveis autores dos
delitos;
4. Moto-patrulhamento: apoio ao atendimento de ocorrências de campo ou enviadas pela central de
comunicação;
5. Base móvel: ocupação de áreas críticas e aproximação com a comunidade através do policiamento de
proximidade, do contato pessoal, com a presença freqüente do policial na comunidade.

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