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Paulo e Silas não estavam sozinhos, estavam também com eles Timóteo e
Lucas. Essa equipe de missionários partiu para a cidade de Filipos, uma
importante colônia romana. Essa Filipos é a mesma que em aproximadamente
42 a.C. foi palco da famosa batalha em que Marco Antônio e Otaviano
derrotaram Brutus e Cássius, os assassinos de Júlio César.
Em grego, Lucas escreve que ela tinha um espírito chamado “Píton”, que em
nossas traduções aparece apenas como “adivinhação”. Na mitologia grega
Píton era uma lendária serpente que guardava o Oráculo Délfio, e que acabou
morta por Apolo. Assim, tal termo era utilizado para se referir ao espírito de
adivinhação característico dos médiuns da época.
Com tudo isso, Lucas está enfatizando que a jovem era usada por
demônios. Por muitos dias a jovem clamou que aqueles homens eram “servos
do Deus Altíssimo”, e que estavam proclamando o caminho da salvação.
Os donos daquela escrava, quando perceberam que tinham perdido uma fonte
de lucro, ficaram revoltados e violentamente prenderam Paulo e Silas. O texto
diz que eles foram agarrados e arrastados até as autoridades (At 16:19).
Note que apenas Paulo e Silas foram presos. Isso ocorreu porque as denúncias
que aqueles acusadores fizeram foram fundamentadas na nacionalidade dos m
issionários. Perceba que antes de qualquer acusação eles deixam claro
que “estes homens são judeus”.
Paulo e Silas foram lançados na prisão. Ao carcereiro foi ordenado que ele
guardasse os dois prisioneiros com segurança, ou seja, com total rigidez. O
carcereiro então colocou Paulo e Silas no “cárcere interno e prendeu seus pés
no tronco” (At 16:24).
Aqui também devemos considerar que após uma seção de açoites os presos
ficavam completamente debilitados, o que provavelmente era, na ocasião, a
condição física de Paulo e Silas.
O próprio uso do tronco nas pernas também era um tipo de tortura, pois o
preso perdia praticamente toda mobilidade, além de que em muitas vezes os
buracos de cada perna eram bem afastados, causando grande incomodo.
Paulo e Silas oram e adoram na prisão
Um terremoto acontece
Algumas pessoas utilizam essa passagem para tentar ensinar que a oração da
madrugada é mais poderosa, tão poderosa que até mesmo um terremoto
ocorreu quando Paulo e Silas oraram à meia-noite.
Outras pessoas também usam esse relato sobre Paulo e Silas na prisão para
pregar um tipo de “determinismo”, onde Deus faz qualquer coisa para resolver
o seu problema. Logo, é comum ver cristãos reivindicando um tipo de
terremoto figurado para que seus problemas sejam resolvidos.
É claro que Deus tem um zelo especial pelos seus escolhidos. Através da
profecia do profeta Isaías, somos informados que ainda que uma mãe se
esqueça do próprio filho, Deus jamais se esquece do seu povo (Is 49:15,16).
No entanto, isso não significa ausência de problemas e dificuldades.
Devemos nos lembrar de que o próprio Paulo foi preso outras vezes, sendo
que de sua última prisão em Roma ele não conseguiu sair vivo. Também em
nenhuma dessas outras vezes o terremoto se repetiu.
Naquele momento o carcereiro já não era mais o mesmo, ele havia nascido de
novo. Sua atitude já demonstra o caráter de alguém regenerado. Se poucas
horas antes ele havia lançado no cárcere dois homens debilitados, sem ao
menos se importar com as necessidades deles, agora ele estava cuidando das
feridas dos missionários (At 16:32). Somente o Espírito Santo pode
promover uma transformação tão radical.
O texto bíblico nos informa sobre a grande alegria do carcereiro por não só
ele, mas toda sua família, agora crerem em Deus. A expressão grega desse
texto revela uma confiança permanente, ou seja, a fé daqueles irmãos não era
nominal, mas verdadeira.
Entretanto, Paulo se recusou a ir, e também expôs a injustiça que tinha sido
cometida com dois cidadãos romanos, e exigiu uma retratação pública. A
revelação de que Paulo e Silas tinham cidadania romana perturbou os
magistrados, que foram até a prisão e pediram desculpas aos missionários,
implorando também que eles deixassem a cidade.
Após saírem a prisão, Paulo e Silas foram para a casa de Lídia, onde se
reuniram com os irmãos e, depois de encorajá-los, partiram de Filipos.
Esse episódio também tem algumas similaridades com o naufrágio que Paulo
sofreu quando estava sendo transportado como prisioneiro para Roma. O
propósito do naufrágio não era para libertá-lo, mas para fazer com que o poder
de Deus fosse revelado na Ilha de Malta (At 28).
Quando Paulo escreveu sua Carta aos Filipenses, ele se referiu também aos
bispos e diáconos (Fp 1:1). Isso significa que a Igreja ali havia prosperado,
o Evangelho estava sendo pregado, e o reino de Deus avançando.
Todavia, tudo isto tinha começado com a conversão de uma mulher chamada
Lídia, com a expulsão de um espírito de adivinhação de uma jovem escrava,
com uma prisão violenta, com um terremoto milagroso, e com a conversão do
carcereiro e sua família.
Ao contrário do que algumas pessoas pensam, essa passagem não nos ensina a
reivindicar um terremoto divino para que nossos problemas sejam
solucionados, mas nos ensina a adorar ao Senhor em meios às adversidades.
O episódio da prisão de Paulo e Silas nos fornece uma grande lição sobre
qual deve ser o nosso comportamento diante do sofrimento. Como
escreveu o apóstolo Pedro, quando suportamos o sofrimento por estarmos
fazendo a vontade do Deus, Ele nos aprova (1Pe 2:20; 3:14; 4:13-16).
A lição aqui é muito clara: em Cristo somos mais que vencedores, mesmo
em meio ao sofrimento. O cristão verdadeiro diante da tristeza está sempre
alegre, mesmo na pobreza está enriquecendo a muitos, mesmo nada tendo
possui tudo. Ele capaz de enfrentar qualquer coisa, pois seus olhos estão
fixos em Jesus (2Co 6:4-10).