ENTENDENTO O CONCEITO DE CULTO E TEMPLO FACE À IMUNIDADE
RELIGIOSA.
Se o Estado confere benesse fiscal a uma religião qualquer, logo, pela
sua condição de neutralidade, ver-se-á obrigado a conferir às demais. Portanto, a imunidade tributária religiosa no Brasil ancorou-se basilarmente nos valores pétreos de livre crença e liberdade religiosa e, aqui, concentra-se entendimento de elevado valor, uma vez que as cláusulas pétreas não poderão declinar em transformações através do poder constituinte derivado e estão previstas no artigo 60, §4º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Embora, o instituto das imunidades religiosas não esteja previsto no referido artigo, o mesmo, por captação, é tido como garantia individual do contribuinte, devendo ser mantida em todo valor pétreo que lhe cabe, não sendo passível de modificação nem mesmo pela via da propositura de uma Emenda Constitucional. No intento de que haja melhor exposição acerca do Instituto da Imunidade Religiosa, faz-se necessário perpassar pelos conceitos de culto e templo à luz do que diz a doutrina fundamentada no que dispõe o art. 150, VI, alínea “b” e § 4º, da Carta Magna de nosso ordenamento jurídico. Destaca-se que, para a doutrina contemporânea o entendimento é de que, culto deve ser compreendido como a manifestação religiosa, cuja liturgia está diretamente relacionada à valores consonantes com o arcabouço valorativo que se estabelece, programática e teleologicamente, no texto constitucional e, ainda, prestigiando a fé e os valores transcendentais que a circundam, sem colocar em risco a dignidade das pessoas e a igualdade entre elas, além de outros pilares de nosso Estado (SAABAG, 2016, p. 365). Em conformidade ao exposto, é imperioso que a instituição caminhe à luz do que preconizam os artigos. 1º, III; 3º, I e IV; 4º, II e VIII, todos da Constituição da República Federal do Brasil, ou seja, em total sintonia com os valores morais e religiosos, em todas suas formas expressivas e na prática de ações pautadas pelos bons costumes, a fim de que não perca a condição imunizatória.
Artigo de autoria e publicação de Marcos Damazio da Silva
Nesta mesma dicção, à luz da teleologia constitucional, religiões com aspirações satânicas, malignas, violentas, racistas, contrárias aos bons costumes e a vida, não podem ser protegidas em hipótese alguma com o instituto da imunidade religiosa. Nesse sentido, corrobora o seguinte entendimento doutrinário:
A imunidade à impostos que beneficia os “templos de qualquer
culto” abrange as diversas formas de expressão da religiosidade, inclusive as que não são predominantes na sociedade brasileira. Mas não alcança os cultos satânicos, porquanto “por contrariar a teleologia do texto constitucional e em homenagem ao preâmbulo da nossa Constituição, que diz ser a mesma promulgada sob a proteção de Deus. (PAULSEN, 2002, p 70).
Quanto ao alcance constitucional da expressão “templo”, o entendimento
precisa ser ampliativo, isso porque o legislador constituinte originário, na verdade, disse menos do que de fato queria dizer. O termo é de vasta dimensão; para além da estrutura física de um imóvel pertencente a uma entidade religiosa, embora, alguns poucos de corrente mais conservadora, ainda o restrinjam à materialidade de um edifício sob o argumento de que somente a estrutura física é imune não o sendo a instituição que os mantém. Esse entendimento, não é o prevalente na doutrina como na jurisprudência. Portanto, é correto afirmar que à luz do melhor entendimento, o edifício e todas as demais instalações ou adequações a ele agregados, de mesma finalidade, qual seja: o “culto”, também, estão circunscritos conceitualmente à terminologia em questão. Desde a Constituição de 1946, que o conceito de “templos de qualquer culto” vem alcançando significado mais amplo e nisto, concorda a maioria dos doutrinadores tributaristas e constitucionais, dentre eles o Professor Cláudio Carneiro):
Entende-se que o termo templo não está adstrito apenas à
edificação onde o culto é celebrado, mas sim à instituição religiosa, ou seja, a tudo aquilo que é utilizado para o exercício da atividade religiosa (casamentos, missas, batizados e demais celebrações litúrgicas). (CARNEIRO, 2014, P. 433).
Artigo de autoria e publicação de Marcos Damazio da Silva
Ainda nesse sentido o Supremo Tribunal Federal, no Recurso Extraordinário com Agravo nº 734.339- RJ, entendeu que a imunidade tributária prevista no art. 150, VI, alínea “b” da Constituição Federal de 1988, terá abrangência sobre os prédios destinados ao culto, e, também, o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas. (DF. Supremo Tribunal Federal, 2013). Nesse mesmo entendimento o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário nº 325822-SP, cujo Relator para o acórdão, fora o Ministro Gilmar Mendes, firmou jurisprudência de que a imunidade prevista no art. 150, VI, alínea "b" da Constituição Federal de 1988, deve abranger não somente os prédios destinados ao culto, mas, também, o patrimônio a renda e os serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas. (DF. Supremo Tribunal Federal, 2004). Ante o exposto, pode extrair-se uma conclusão muito importante. O Supremo Tribunal Federal entende que se um imóvel que pertence a ente imune é alugado, não deixa de estar vinculado às finalidades essenciais do ente, não perdendo a imunidade. Diante dos fundamentos doutrinários e jurisprudenciais firmados nesse sentido, é necessário que haja uma leitura simbiótica da regra imunizante com o parágrafo 4º do mesmo art. 150 da Constituição Federal de 1988, pois a questão analisada sob a ótica teleológica resulta na conclusão de que a proteção deve abranger todo o patrimônio, todas as rendas e todos os serviços destas entidades religiosas, posto que a finalidade da imunidade seja protegê- las da submissão ao Estado. É importante observar que a instituição religiosa contemplada pela imunidade deve ser regularmente constituída na forma de pessoa jurídica de direito privado. Conceituados, “templo” e “culto”, segundo o entendimento doutrinário prevalente, se faz necessário dizer que o Supremo Tribunal Federal, recorrentemente tem dado extensiva interpretação as alíneas “a” e “b” do parágrafo 4º, inciso VI do art. 150 da Constituição Federal de 1988, agregando ao conceito de culto e templo - e consequentemente acobertados pelo manto da imunidade – os valores auferidos pela venda de artigos e produtos em
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cantinas e bazares dos templos, desde que direcionados para o exercício da atividade religiosa. Claramente, percebe-se cada vez mais, a interpretação contemplativa dada pela doutrinária e jurisprudência ao universo jurídico do Instituto da Imunidade Religiosa conforme a decisão do Supremo Tribunal Federal no já citado Recurso Extraordinário 325.822-SP de dezembro de 2002, que, além do exposto anteriormente, entendeu por estarem acobertadas pelo Instituto da Imunidade, igualmente, os imóveis vagos e alugados das instituições religiosas, quando a renda destes é aplicada nos serviços religiosos da instituição. (DF. Supremo Tribunal Federal, 2004). Diante do exposto é correto afirmar que à imunidade religiosa, dá-se reconhecimento para além das estruturas físicas dos templos propriamente ditos. Sua aplicabilidade dar-se-á contemplativamente, como um todo, reconhecida a legítima destinação dos recursos auferidos com rendas, patrimônios e serviços de tais entidades, quais sejam, as atividades essenciais para manutenção e desenvolvimento da Instituição Religiosa.
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