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40)
Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO
HABEAS CORPUS Nº 5039641-28.2018.4.04.0000/PR
RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO PEDRO GEBRAN NETO
PACIENTE/IMPETRANTE: FRANCISCO BATISTA DE OLIVEIRA
ADVOGADO: HENRIQUE GUIMARAES DE AZEVEDO (DPU)
IMPETRADO: JUÍZO SUBSTITUTO DA 4ª VF DE CASCAVEL
MPF: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
VOTO
"1. O Ministério Público Federal, com fundamento nos autos de Notícia de Fato nº
1.25.002.001118/2017-67 e na Representação Fiscal para Fins Penais nº
10935.721481/2017-50, ofereceu denúncia em face de FRANCISCO BATISTA DE
OLIVEIRA, imputando-lhe a prática do crime previsto no artigo 334, §1º, inciso IV, do
Código Penal.
Após o recebimento da denúncia (evento 3), devidamente citada (evento 30), a parte ré
apresentou resposta à acusação (evento 34), na qual arguiu em preliminar a aplicação do
princípio da insignificância, bem como requereu a manutenção da proposta de
suspensão condicional do processo.
Princípio da Insignificãncia
Não obstante, no Recurso Especial n. 1.688.878/SP, sob o rito dos repetitivos, o Superior
Tribunal de Justiça passou a adotar os valores estipulados pelas Portarias MF n. 75/2012 e
130/2012, fixando a seguinte tese, em 28/2/2018:
Contudo, no presente caso, em que pese a ilusão de tributos não tenha alcançado o
montante de R$ 20.000,00, há reiteração delitiva da parte acusada FRANCISCO
BATISTA DE OLIVEIRA (evento 1, PROCADM2, p. 19), o que afasta a aplicação do
princípio da insignificância. Nesse sentido:
DIREITO PENAL. DESCAMINHO. ARTIGO 334, § 1º, ALÍNEA "D", C/C § 2º, DO CÓDIGO
PENAL (COM A REDAÇÃO ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.008/2014).
CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. DESNECESSIDADE.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. MATERIALIDADE, AUTORIA E
DOLO COMPROVADOS. DOSIMETRIA. PENA DE MULTA. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO
LEGAL. AFASTAMENTO. 1. Esta Corte já refutou a tese de que a infração penal definida
no artigo 334 do Código Penal consistiria em crime material. Restou decidido que a
conclusão do processo administrativo não é condição de procedibilidade para a
deflagração da ação penal pela prática do delito do artigo 334 do Código Penal,
tampouco a constituição definitiva do crédito tributário é pressuposto ou condição
objetiva de punibilidade. 2. A existência de procedimentos administrativos em
desfavor dos acusados basta para caracterizar habitualidade delitiva, constituindo,
consequentemente, óbice ao reconhecimento da insignificância da conduta. 3. O
artigo 334 do Código Penal não prevê a pena de multa como sanção por infração ao tipo.
Afastada, portando, a pena de multa aplicada. (TRF4, ACR 5000871-07.2012.404.7103,
SÉTIMA TURMA, Relator DANILO PEREIRA JUNIOR, juntado aos autos em 20/10/2016)
4. Analisando a resposta à acusação anexada pela defesa no evento 34, observei que não
se verifica a possibilidade de absolvição sumária conforme previsto no artigo 397 do
Código de Processo Penal. Há indícios de autoria e os fatos narrados constituem crime, ao
menos em tese, não havendo manifesta causa excludente da ilicitude ou da
culpabilidade, e nem indicativo de que as punibilidades dos agentes estejam extintas.
Assim, determino o prosseguimento da ação penal.
Cumpre esclarecer, nesta oportunidade, que, se por um lado, conforme prevê o Art. 396-A
do Código de Processo Penal, é facultado ao acusado em sua resposta escrita alegar tudo o
que interesse à sua defesa, por outro lado, o rito não impõe ao Juízo a análise exauriente
de todo e qualquer argumento jurídico veiculado pelo réu, sob pena de subverter de
forma temerária os dispositivos processuais, trazendo a sentença para momento que
antecede a própria instrução do feito.
Dessa forma, no instante processual que se segue à resposta por escrito à acusação,
incumbe ao Juiz a análise acerca da possibilidade de absolvição sumária do denunciado,
hipótese que apenas ocorrerá na medida em que os autos revelarem a existência
manifesta de causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade, a evidente atipicidade
da conduta ou a extinção da punibilidade, nos termos do que dispõe o Art. 397 do Código
Documento recebido eletronicamente da origem
(...)"
2. Princípio da insignificância
realizada em 21/06/2018, estou mudando meu ponto de vista pessoal para fins de
afastar a insignificância quando o agente é contumaz, verificada esta contumácia a
partir da instauração de outros processos penais contra este (e não apenas autos de
infração).
Ressalto que a jurisprudência majoritária do STF sinaliza que (a) a mera existência de
inquéritos ou processos em andamento não se revela hábil a excluir a aplicação do
princípio da insignificância, somente a condenação transitada em julgado (HC 111.016 e
107.500); (b) a reincidência não afasta, a modo apriorístico, a aplicação da excludente;
porém, outra poderá ser a solução nos casos de multirreincidência ou quando essa for
específica (HC 119.303 e 123.108), e (c) contumácia e reincidência são conceitos penais
diversos (HC 118.089).
Esse, ao menos a meu ver, o atual "estado da arte" ou o ponto de inflexão do debate.
Nessa seara, não se trata de réu multirreincidente ou reincidente específico, razão pela
qual não verifico possibilidade de afastar a insignificância penal sob esse aspecto.
Por outro lado, verifico que, conquanto a quantidade de cigarros seja inferior a 500
(quinhentos) maços, a introdução dessa mercadoria proibida destinava-se ao comércio,
não sendo possível, assim, considerar a conduta penalmente insignificante.
3. Considerações finais
Documento eletrônico assinado por JOÃO PEDRO GEBRAN NETO, Relator, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei
11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da
autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador
40000793982v2 e do código CRC de77f898.