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PRIMEIRO CADERNO - 02/11/2010

Dia de luto

RODRIGO CONSTANTINO

O dia 2 de novembro foi escolhido como data oficial para a homenagem aos mortos.

Gostaria de prestar aqui minha homenagem ao mais recente defunto brasileiro: a Ética. Seu falecimento gerou profunda tristeza em
milhões de brasileiros. Não foi morte acidental, mas homicídio. Cinquenta e cinco milhões de brasileiros executaram a Ética à
queima-roupa, no dia 31 de outubro. As armas usadas: as urnas.

Esta eleição foi caracterizada pelo total desprezo aos valores éticos. O presidente Lula foi o grande responsável por esta lamentável
postura. Colocou na cabeça que a única meta importante era eleger sua candidata, e qualquer meio poderia ser usado para tanto. O
presidente da República, representante de todo o povo brasileiro, tornou-se um empolgado cabo eleitoral, ignorando as funções de
seu cargo, as leis e o respeito às regras de uma democracia limpa.

A máquina estatal ficou a serviço do partido. Aécio Neves resumiu bem: “Presidente Lula sai menor do que entrou nesta eleição.”
Lula mostrou ser um populista que só pensa nas próximas eleições, ao contrário de um estadista, que foca nas próximas gerações.
Fazendo analogia com o futebol, ao gosto de Lula, foi como vencer com um gol de mão, sem legitimidade.

Durante as eleições, vários escândalos vieram à tona, envolvendo gente muito próxima de Dilma, como Erenice Guerra, seu braço-
direito.

Acusada de “tráfico de influência” no comando da Casa Civil, Erenice foi ignorada por boa parte dos eleitores. A mensagem, que já
havia sido dada nas eleições de 2006, no auge do escândalo do mensalão, foi reforçada: não tem problema usar o Estado como
patrimônio particular, desde que a economia vá bem.

O voto com o bolso representa um enorme perigo para a democracia.

Lênin dizia que iria comprar da burguesia a corda usada para enforcála. Para agravar a situação, a naturalidade com que vários
petistas abraçam ditadores mundo afora demonstra seu verdadeiro “apreço” pelo regime democrático, exposto também nas
constantes tentativas de censurar a imprensa.

No vale-tudo para se perpetuar no poder, o PT apelou para o terrorismo eleitoral. Sua campanha espalhava que Serra iria acabar com
o programa Bolsa Família, que tem suas origens no governo FHC. Em 2000, ainda na oposição, Lula chegou a acusar a distribuição
de cesta básica de “esmola” que fazia o pobre votar com o estômago.

No poder, o PT mudou de ideia e ainda espalhou que os benefícios acabariam se Dilma fosse derrotada.

Resultado: o Nordeste votou em peso na Dilma.

Quem saiu bastante ferido nas eleições foi o Bom Senso. O PT resgatou do fundo do pântano ideológico o tema das privatizações
para “atacar” os tucanos. Quem poderia, em sã consciência, condenar as privatizações do setor de telecomunicações? Quem hoje
ainda consegue criticar racionalmente as privatizações de CSN, Embraer ou Vale? Mesmo assim, o PT ainda explora este sentimento
nacionalista retrógrado, que confunde propriedade estatal com interesse nacional.

A campanha de Dilma abusou da retórica nacionalista, alegando que a candidata salvaria o pré-sal dos interesses privatistas do
PSDB. Os tucanos não colocaram em pauta a venda da Petrobras, mas o próprio PT vendeu concessões de exploração ao setor
privado. Eike Batista é prova disso.

Para o PT da oposição, isso seria “privatização”. Mas, para vencer a guerra das eleições, a coerência e a honestidade são as primeiras
baixas.

Vale até usar a estatal como braço partidário na campanha. Isso sim é uma “privatização” abominável.

O debate regrediu algumas décadas por conta da estratégia do PT. A demagogia atingiu patamares espantosos.

Nunca antes na história deste país se viu uma eleição de tão baixo nível. Programas de governo deram lugar aos ataques pessoais nos
“debates”.

As perguntas importantes ficaram sem respostas. A candidata Dilma não explicou nada sobre os escândalos de corrupção, repetindo
apenas que tudo está sendo investigado.

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O PT está “investigando” até hoje José Dirceu.

Os eleitores, anestesiados pelo bom momento da economia, aceitaram sem maiores cobranças as “explicações”.

Venceu Macunaíma, o herói sem caráter. Fica uma enorme “herança maldita” que poderá levar gerações para ser desfeita: a ideia de
que a Ética não tem lugar na política.

É dia de luto para os que ainda acreditam em certos valores, e que não estão dispostos a fechar os olhos para infindáveis escândalos
em troca de migalhas. Não se constrói uma nação livre sem alguns princípios básicos.

Foi uma vitória de Pirro, com sabor de derrota. Metade do povo está de luto pela Ética.

O voto com o bolso representa um enorme perigo para a democracia

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