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CENTRO DE BIOCIÊNCIAS
PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA
TESE DE DOUTORADO
Carlinhos Fonseca, como orientador você foi meu amigo em todas as coisas que
estavam ao seu alcance. Como meu amigo, você foi meu orientador em todas as outras.
Muita gratidão por me deixar aprender tanto com você nestes últimos anos. Sua
orientação tão sábia e generosa tornou o meu caminho até aqui muito mais rico e
prazeroso!
Meus pais, Mário e Marilena, e minha tia Norma, gratidão por todos os
ensinamentos, pelo amor incondicional e por estarem sempre ao meu lado. Quanta sorte
a minha de ter vocês em minha vida! Amo vocês!
Tetê e Mércia, gratidão por todo o carinho e dedicação! Meus filhos não poderiam
ter tias melhores!
Fê e Cláudio, meus compadres! Nosso porto seguro em terras potiguares, nosso
colo garantido em dias de guerra e de paz! Que bom que os meus são tão seus e que bom
que os seus são tão meus! Maktub Fê! Gratidão!
Lilica, Gis, Tidoca, Maíra, minha Madames! Por toda a poesia, por todo o samba,
toda a alegria, amizade, horas de terapia, por tanta beleza e criatividade... nossa como
aprendo com vocês! Vocês fazem parte do melhor de mim! Grata minhas amigas!
Aos meus queridos amigos CBI, Bianca, André, Marília, Adrian, Duka, Helô,
Patrícia, Rodrigo, Letícia, Juan e Eugênia pelo carinho e amizade sempre certos.
Rosinha, minha irmãzinha! Não tem latitude, nem longitude capaz de nos separar,
minha flor! Te amo muito!
Jean Paul Metzger, meu amigo e orientador (sempre!), grata por todos os
ensinamentos e carinho. Você mora no meu coração!
Meus parceiros, Paulo, Daniel, Alan, Tito, Damião e Clarinha, que bom poder
conhecer a Caatinga pelos olhos de vocês!
Ao Prof. Bruno Ramos dos Santos, pela gentileza e atenção nas explicações sobre
as regressões quantílicas.
Aos professores Miriam Plaza Pinto, Gislene Ganade, Adriana Carvalho, Ronaldo
Angelini, Priscilla Lopes, Maria Rosa Darrigo, Liana Mendes, obrigada pela leitura
cuidadosa das versões anteriores deste trabalho e pelas recomendações para aprimorá-lo.
Informação confiável em larga é essencial para tomadores de decisão que lidam com conservação da
biodiversidade, restauração de ecossistemas, manejos de recursos e políticas ambientais. O bioma Caatinga,
um ecossistema semiárido espalhado por 826.000 km2 do território brasileiro, apesar de estar altamente
fragmentado, ainda mantém metade da sua cobertura vegetal original. Os remanescentes, no entanto, têm
sido perturbando há séculos por uma multiplicidade de ameaças antropogênicas, incluindo sobrepastejo,
extração madeireira, fogo e caça, entre outro. Apesar disto, a área sobre proteção está abaixo do proposto
por acordos internacionais e projetos de restauração têm sido escassos. Baseado em múltiplas análises
espacialmente explicitas, os quatro capítulos desta Tese tiveram como principais objetivos: (1) analisar
quantitativamente a estrutura de fragmentação da Caatinga, (2) estimar o nível de perturbação antrópica
crônica potencial dos fragmentos da Caatinga, (3) identificar as áreas prioritárias de restauração da
Caatinga, baseado em conectividade da paisagem e na riqueza de espécies de plantas ameaçadas e (4)
comparar a perda de habitat e a taxa de desmatamento das Áreas Prioritárias de Conservação da Caatinga,
definidas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), com as Áreas Prioritárias dos outros biomas
brasileiros. Análises de Sistemas de Informação Geográfica, executadas sobre informações oficiais
disponíveis, evidenciam boas e más notícias para o bioma. Apesar da fragmentação já sofrida pelo bioma,
o nível de conectividade funcional permanece relativamente alta entre fragmentos e metade da vegetação
remanescente está preservada em fragmentos grandes (≥ 50.000 ha), indicando a existência de preciosas
oportunidades de conservação pró-ativas. Em contraste, o nível de fragmentação é intenso e 90% da
vegetação remanescente ocorre em distâncias menores que 2,5 km da borda florestal, permitindo um fácil
acesso ao já escasso habitat interior. Um Índice de Perturbação Antrópica Crônica (IPC), que sintetiza o
efeito de perturbação potencial de 14 variáveis primárias, indicam que todos os fragmentos de Caatinga
estão sob algum nível de perturbação. No entanto, uma importante heterogeneidade regional foi detectada,
com fragmentos mais perturbados ocorrendo nas porções norte, leste e central do bioma. Apesar do IPC
médio dos fragmentos não estar correlacionado com a sua área, o IPC declina não linearmente com a
distância de borda mostrando áreas relativamente estáveis após 5 km. Simulações de paisagens, testando a
importância de cada bacia hidrográfica para a conectividade da paisagem, permitiram a identificação de
importantes áreas para restauração. Cruzando este critério com o número de espécies de plantas ameaçadas,
foi possível identificar um subconjunto de paisagens chaves para restauração que compreendem apenas 8%
da área desmatada do bioma. Estimando a taxa de desmatamento de todas as Áreas Prioritárias para
Conservação dos biomas terrestres brasileiros, foi possível demonstrar que a Caatinga e o Cerrado exibiram
as maiores taxas de perda de habitat, demonstrando novamente a vulnerabilidade do bioma. Espera-se que
as informações aqui disponibilizadas possam ajudar tomadores de decisão, nacionais e estaduais, a avançar
políticas para a conservação, restauração e manejo da biodiversidade.
i
Abstract
Reliable landscape information at large spatial scale is essential for decision makers dealing with
biodiversity conservation, ecosystem restoration, resource management, and environmental policy. The
Caatiga biome, a semiarid ecosystem that spreads over 826,000 km2 of the Brazilian territory, despite being
highly fragmented, still holds half of its original vegetation cover. The remnants, however, have been
disturbed for centuries by a multitude of different anthropogenic threats, including overgrazing, logging,
fire, hunting, among others. Despite that, the area under protection is below international agreements and
restoration endeavors have been scarce. Based on a multitude of spatially explicit analyses, the four chapters
of this Thesis had as main objectives: (1) to analyse quantitatively the fragmentation structure of the
Caatinga biome, (2) to estimate the level of potencial cronic anthropogenic disturbance of the Caatinga
fragments, (3) to identify the priority areas for restoration in the Caatinga biome, based on landscape
connectivity and number of endangered plant species, and (4) to compare habitat loss and deforestation
rates of Conservation Priority Areas of the Caatinga, defined by the Ministery of Environment (MMA),
with those in other Brazilian biomes. Geographic Information System analyses, performed on officially
available information, show both good and bad news for the biome. Despite the fragmentation already
experienced by the biome, the level of functional connectivity remains relatively high among fragments
and half the remaining vegetation is preserved in large fragments (≥ 50,000 ha), indicating the existence of
precious pro-active conservation opportunities. In contrast, the fragmentation level is intense and 90% of
the remaining vegetation occurs at distances lower than 2.5 km from the forest edge, allowing an easy
access to the already scarce Caatinga core area. An Index of Chronic Anthropogenic Disturbance (IPC),
which synthesizes the potential perturbation effect of 14 primary variables, indicates that all Caatinga
fragments are under some degree of perturbation. However, important regional heterogeneity was detected
with more disturbed fragments occurring in the Northern, Eastern, and Central regional of the biome.
Although the mean IPC of the fragments is not correlated to its area, IPC drops non-linearly with edge
distance, showing relatively stable core areas after 5 km. Landscape simulations, testing the importance of
each watershed for landscape connectivity, allowed the identification of relevant areas for restoration. By
crossing this criterion with the number of endangered plant species in each watershed, we were able to
identify a subset of key watersheds for restoration that hold only 8% of the deforested area of the biome.
By estimating the deforestation rate of all Priority Areas for Conservation of the Brazilian terrestrial biomes,
it was possible to demonstrate that the Caatinga and the Cerrado biomes exhibited the higher rates of habitat
loss, further demonstrating the vulnerability of the biome. Hopefully, the information here provided can
help national and state decision makers to advance biodiversity policies for biodiversity conservation,
restoration, and management.
ii
Capítulo 1 - Fragmentação do bioma Caatinga
Introdução
2
considerando diferentes habilidades de deslocamento das espécies na matriz, d) a
importância relativa dos pequenos fragmentos para o isolamento médio do bioma,
considerando diferentes cenários de exclusão desses fragmentos.
Métodos
Área de Estudo
Remanescentes de Caatinga
3
brasileiro. Todos os fragmentos com área igual ou inferior a 1 ha foram considerados
como ruídos da classificação e, portanto, foram excluídos das análises.
4
ferramenta Vector-based Landscape Analysis (V-LATE 2.0 beta, extensão para o
programa ArcGis® 10.1).
Conectividade funcional – Com base na teoria de grafos (Bunn et al. 2000, Urban
& Keitt, 2001), diferentes distâncias de deslocamento foram estabelecidas para simular
diferentes habilidades de dispersão das espécies na paisagem. Assim, fragmentos
localizados dentro dos limites de distância estabelecidos foram considerados como
conectados funcionalmente e, portanto, pertencentes a um único cluster, ou agrupamento,
de habitat funcional (Ribeiro et al. 2009). Toda a área do cluster é considerada como
potencialmente disponível para ser utilizada por aquelas espécies cuja capacidade de
deslocamento na matriz encontra-se dentro desses limites. A ferramenta “aggregate
polygons”, do programa ArcGis 10.1, foi utilizada para agregar os fragmentos em clusters
únicos, de acordo com as distâncias estabelecidas. As distâncias de deslocamento
utilizadas para os cálculos de conectividade funcional foram (em metros): 0, 100, 200,
300, 400, 500, 1000 e 1500. Para cada distância analisada foi possível medir o tamanho
médio dos clusters de Caatinga conectados e a percentagem de Caatinga funcionalmente
conectada no maior cluster gerado.
Resultados
5
No total, foram identificados 47.100 fragmentos com tamanho médio de 879 ha,
variando de pouco mais de 1 ha a 986 mil ha (Fig. 1, Material Suplementar Tabela 1).
Esses fragmentos abrigam mais de 41 milhões de hectares de Caatinga, o que equivale a
aproximadamente 50% da vegetação originalmente encontrada no bioma.
6
Figura 1 - Mapa da distribuição dos fragmentos de Caatinga por classe de tamanho
7
≥500 000 9% AF / 0.01% NF
Classe de tamanho dos fragmentos (ha) 250 000-500 000 12% AF / 0.03 NF
100 000-250 000 13% AF / 0.08% NF
50 000-100 000 15% AF / 0.2% NF
25 000-50 000 13% AF / 0.32% NF
10 000-25 000 16% AF / 0.9% NF
5 000-10 000 7% AF / 0.9% NF
2 500-5 000 5% AF / 1% NF
1 000-2 500 4% AF / 2% NF
500-1000 2% AF / 2% NF
250-500 1% AF / 3% NF
100-250 1% AF / 7% NF
50-100 1% AF / 7% NF
<50 1% AF / 74% NF
Área (km2)
8
100
90
80
Cumulative area (%)
70 Área de borda
60 Área core
50
40
30
20
10
0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000
Figura 3 - Área de borda e área de interior acumuladas nas diferentes classes de largura
de efeito de borda.
9
Figura 4 - Mapas evidenciando a área de interior dados efeitos de borda com as seguintes
larguras: A) até 50 metros, B) até 100 metros, C) até 250 metros, D) até 500 metros, E)
até 1000 metros, F) até 2500 metros, G) até 5000 metros, H) até 10000 metros e I) até
12000 metros.
10
Conectividade funcional
11
Tamanho médio dos clusters (ha)
Figura 5 - Número e tamanho médio dos clusters de habitat funcionalmente conectados da Caatinga, em
função da capacidade de deslocamento das espécies pela matriz (valores acima dos pontos).
Figura 6 - Mapas evidenciando o maior cluster de fragmentos funcionalmente conectados de acordo com as
diferentes capacidades de deslocamento na matriz: A) zero metros (fragmento = 986 mil ha), B) 100 metros
(cluster = 986,5 mil ha), C) 200 metros (cluster = 2,9 milhões ha), D) 300 metros (cluster = 22.9 milhões ha),
E) 400 metros (cluster = 29,6 milhões ha), F) 500 metros (cluster = 30,4 milhões ha), G) 1.000 metros (39,5
milhões ha) e H) 1.500 metros (cluster = 40 milhões ha)
12
Isolamento médio
2400
1800
Isolamento médio (m)
1200
600
0
0 <50 <100 <150 <200 <350 <500 <1000
13
Discussão
Oportunidades de conservação
14
perdeu mais de 45% de sua cobertura original e quase 50% de toda a área remanescente
estão em fragmentos com mais de 25 mil hectares.
15
dominada por gado, plantações e uma população humana dependente de seus recursos
(Gariglio et al. 2010).
Embora haja uma carência de estudos sobre os padrões de dispersão das espécies
no semiárido brasileiro, dados de outras regiões bioclimaticamente semelhantes
evidenciam a presença de organismos com capacidade reduzida de deslocamento na
matriz (Brooker et al. 1999, Schooley & Wiens 2004). Embora seja esperado que espécies
com limitação de deslocamento possam ser sensíveis à fragmentação da Caatinga, o efeito
produzido irá depender bastante da área de distribuição geográfica da espécie em questão.
Assim, espécies com distribuição mais ampla podem se beneficiar do fato da Caatinga
ainda apresentar grandes extensões de sua área remanescente concentrada em fragmentos
médios e grandes, capazes de manter populações saudáveis (Henle et al. 2004). Por outro
16
lado, para espécies endêmicas de distribuição restrita, rupturas na continuidade do habitat
podem representar baixas significativas nas taxas reprodutivas e nos tamanhos
populacionais (Diamond et al. 1987, Donovan & Lamberson 2001, Henle et al. 2004).
17
Fragmentação, efeito de borda e ação antrópica
A pecuária merece destaque por ser uma das principais geradoras de renda e
subsistência para os habitantes da Caatinga, sendo realizada de forma extensiva, onde o
gado é criado solto e utiliza, com frequência, a vegetação nativa como base de sua
alimentação (Costa et al. 2008). Na Caatinga e em outras regiões semiáridas, as atividades
de pastejo e pisoteio do gado têm sido associadas a redução na sobrevivência de plântulas,
ao aumento da compactação do solo, diminuição da riqueza e alterações na composição
da comunidade de plantas e redução da diversidade e abundância de invertebrados
(Abensperg-Traun et al. 1996, Vasconcellos et al. 2010, Gandiwa et al. 2011, Marinho et
al. 2016, Tavares et al. 2016). Além disso, foi relatada uma sinergia entre os efeitos da
atividade de pastejo do gado e da invasão de espécies exóticas em fragmentos de
vegetação semiárida (Hobbs 2001).
18
A Caatinga está entre os biomas semiáridos mais populosos do mundo (Medeiros
et al. 2012) e a subsistência de parte dessa população local depende do contato direto com
os recursos naturais existentes no bioma (Gariglio et al. 2010). Este contato certamente
está sendo amplificado pelo fácil acesso às áreas de interior dos remanescentes de
Caatinga de tal forma que, potencialmente, toda a extensão do bioma deve estar suscetível
a algum grau de distúrbio por atividades antrópicas (Ribeiro et al. 2015, 2016, Capítulo
2). Na Caatinga a caça de animais nativos, especialmente aves e mamíferos é uma
atividade antiga, motivada por diversas finalidades, que tem sido classificada como uma
das principais ameaças a fauna local (Alves et al. 2009). O uso de cães e armas de fogo é
muito frequente e otimiza a atividade de caça (Alves et al. 2009) permitindo o sucesso
em buscas ativas dentro dos remanescentes de vegetação. As buscas se dão
preferencialmente por mamíferos e têm atingido um grande número de espécies com
distribuições relativamente amplas e com capacidade de se deslocarem por longas
distâncias (Alves et al. 2016). Levando em conta apenas a distância entre os
remanescentes na paisagem, essas espécies deveriam reconhecer uma gama de
fragmentos de Caatinga como funcionalmente conectados e, portanto, suas populações
deveriam estar saudáveis e fora de perigo. No entanto, em muitos casos, isso não
corresponde à realidade e muitas dessas espécies estão localmente vulneráveis e
ameaçadas pela caça (Barboza et al. 2016). Neste trabalho, atribuímos essa divergência à
grande acessibilidade da Caatinga aos efeitos de borda – que têm promovido um
empobrecimento da biota local mesmo em áreas bem conectadas.
Considerações finais
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deslocamento na matriz. Esses fragmentos abarcam grandes extensões da Caatinga
remanescente e, muitos deles, já são áreas oficialmente reconhecidas como prioritárias
para a conservação da biodiversidade, representando boas oportunidades para a criação
de Unidades de Conservação. A má notícia é que, estruturalmente, os remanescentes de
Caatinga apresentam grandes quantidades de área superexpostas a efeitos de borda
relativamente pouco profundos. Essa condição deve facilitar o acesso dos agentes de
perturbação externos às áreas nucleares dos fragmentos, comprometendo o estado de
conservação dos remanescentes de Caatinga.
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26
Material Suplementar
Capítulo1: Fragmentação do bioma Caatinga
27
Tabela 3 – Capacidade, ou distância, de deslocamento através da matriz (metros), número
de clusters de fragmentos funcionalmente conectados, tamanho médio (hectares) dos
clusters e tamanho do maior cluster de fragmentos gerado (hectares). Os valores entre
parênteses representam a percentagem de Caatinga remanescente funcionalmente
conectada pelo maior cluster em para cada distância de deslocamento
Distância de Tamanho médio Tamanho do
Número de clusters
deslocamento (m) dos clusters (ha) maior cluster (ha)
28
Capítulo 2 - Perturbação Crônica Potencial dos Remanescentes de
Caatinga
Introdução
29
perturbações nas áreas de habitat (Laurance et al. 2001, Foley et al. 2005, Mattison &
Norris 2005).
30
Devido à grande demanda de dinheiro e tempo, análises em escalas geográficas
amplas sobre a variação na intensidade das respostas dos ecossistemas naturais
fragmentados às perturbações crônicas, dificilmente são compatíveis com levantamentos
de informações in loco. Nessas situações, é possível criar indicadores do grau potencial
de distúrbio dos remanescentes por meio da integração de diversos vetores de perturbação
crônica (Martorell & Peters 2005, Kapalanga 2008). Com isso, gera-se um diagnóstico
rápido do grau de integridade dos fragmentos remanescentes em grandes extensões
territoriais, auxiliando na adoção de estratégias de conservação da biodiversidade,
incluindo a criação de unidades de conservação, restauração de áreas e manejo sustentável
de recursos.
A Caatinga é um bioma semiárido brasileiro que ocupa cerca de 826 mil km2.
Representa uma das regiões semiáridas mais populosas do mundo (Medeiros et al. 2012)
e essa intensa ocupação já resultou na perda de 45,62% de sua vegetação original (MMA
2011). Este bioma vem sendo alvo de estudos sobre perturbação antrópica crônica que
têm apontado que a proximidade de centros urbanos, de residência e estradas e a
densidade populacional e de gado tem efeitos negativos na comunidade de plantas e nas
interações entre plantas e formigas (Leal et al. 2014, Leal et al. 2015, Ribeiro et al. 2015,
2016). A facilidade de acesso às áreas de Caatinga também foi associada como um
importante fator de pressão e sobre-exploração para espécies de mamíferos que são
consumidas por humanos (Barboza et al. 2016). Estes estudos trouxeram contribuições
fundamentais para o entendimento dos efeitos das perturbações antrópicas crônicas da
Caatinga, mas por possuírem abrangências geográficas reduzidas, não permitem que
padrões espaciais de perturbação sejam evidenciados em escalas mais amplas. Buscando
ampliar a compreensão sobre a influência da heterogeneidade espacial dos vetores de
perturbação no estado de conservação potencial dos remanescentes de Caatinga, este
trabalho tem como objetivos: (i) estimar a perturbação crônica potencial dos fragmentos
da Caatinga, (ii) compreender como esta perturbação está distribuída espacialmente no
bioma e (iii) testar se a intensidade da perturbação varia em função da distância da borda
nos remanescentes de Caatinga.
31
Métodos
Área de Estudo
Remanescentes de Caatinga
32
Embora dados utilizados representem a informação mais atual disponível para o
bioma, muitas áreas desmatadas pela construção de estradas não foram consideradas
como desmatamentos no shapefile de remanescentes. Para sanar esse problema, usando o
shapefile de estradas (IBGE 2010) foi criado um buffer de 220 metros no entorno das
estradas pavimentadas (20 metros da estrada propriamente dita mais 100 metros para cada
lado da estrada) e de 120 metros nas estradas não pavimentadas (20 metros da estrada
propriamente dita mais 50 metros para cada lado da estrada). Toda a área inserida dentro
desses buffers foi considerada como desmatada, sendo, posteriormente, subtraída do
shapefile de remanescentes obtido originalmente do PMDBBS. Essa subtração foi
realizada no programa ArcGis 10.1 e o shapefile resultante corresponde ao arquivo de
remanescentes de Caatinga utilizado neste trabalho.
33
fonte de perturbação. Cada superfície primária de perturbação foi então padronizada, pela
transformação do seu valor máximo em 1.
O Índice de Perturbação Crônica foi calculado, por pixel, pela soma do produto
entre os valores de cada uma das quatorze variáveis primárias e seus respectivos pesos,
porém padronizado pelo maior valor de IPC encontrado na paisagem. Desta forma, o IPC
variou de 0 (menor perturbação potencial) a 1 (maior perturbação potencial). Estas
análises foram realizadas com o uso da ferramenta Spatial Analyst do programa ArcGis
10.1. A superfície (ou arquivo raster) com os valores de IPC por pixel, foi especializada
apenas para o recorte dos fragmentos, de modo a permitir a visualização da distribuição
dos valores de perturbação dentro em cada remanescente.
A visualização cartográfica dos valores de IPC gerados para cada vetor foi
realizada para o recorte dos fragmentos, usando como descritor o valor da perturbação
média dos pixels de cada remanescente.
34
Efeito da área sobre o Índice de Perturbação Crônica Potencial
Dos 47.100 fragmentos de Caatinga (ver Capítulo 1), foram usados para essas
análises 46.626. Os 474 fragmentos excluídos são muito pequenos e estreitos para abrigar
centroides de pixels das superfícies de perturbação e, portanto, não puderam ter seus
valores IPC calculados. A área dos fragmentos de Caatinga foi calculada no programa
ArcGis 10.1.
35
os pontos localizados em distância superiores a 5.000 metros da borda foram incluídos
nas análises.
Para analisar a relação não linear entre IPC (de todo o conjunto de variáveis e de
cada vetor) e distância de borda, foram utilizadas regressões quantílicas lineares (y = ax
+ b), quadráticas (y = ax2 + bx + c) ou exponenciais assintóticas (y = a – be-cx). As funções
apresentadas são aquelas que obtiveram o melhor ajuste, segundo a visualização dos
resíduos. Em todos os modelos testados foram utilizados os quantis 10, 50 e 90%, com
exceção do IPC do vetor fogo, que devido à grande frequência de zeros, foi acrescentado
o quantil 99%. As regressões quantílicas foram realizadas usando as funções rq e nlrq no
pacote quantreg do programa R
36
Tabela 1- Descrição das variáveis utilizadas como fontes de perturbação, evidenciado seus pesos relativos utilizados na construção das superfícies de perturbação, a fonte dos
dados e o grupo de vetor ao qual se enquadram
Vetores Variáveis Descrição Peso Fonte
Densidade populacional Número de habitantes/área do setor censitário (Log10 transformado confirmar se foi log10). Estabelecido pelo 1 IBGE, 2010
IBGE, o setor censitário é a menor unidade territorial de coleta de dados para fins de estimativas de diversas
variáveis socioeconômicas brasileiras. Incidem sobre a Caatinga 40.770 setores censitários com pouco mais de
2.000 ha de área média.
Distância até assentamentos Distância euclidiana de um pixel até a borda de um polígono de assentamento mais próximo, num raio de 10 km 0.2 INCRA, 2014
no entorno dos assentamentos
População humana
Distância até localidades Distância de um pixel até a localidade mais próxima, usando rodovias pavimentadas ou não pavimentadas como 0.5 IBGE-BCIM, 2013
rota. Para essas análises, primeiramente foi calculada a distância de um dado pixel até a rodovia mais próxima e,
em seguida, a distância até a localidade mais próxima. Diferentemente dos assentamentos que são representados
por polígonos, as localidades são representações cartográficas pontuais que correspondem a outros aglomerados
humanos permanentes, como cidades, vilas, etc.
Distância até rodovias pavimentadas Distância euclidiana de um pixel até a estrada pavimentada mais próxima, num raio de 20 km no entorno das 0.9 IBGE-BCIM, 2013
rodovias
Distância até rodovias não Distância euclidiana de um pixel até a estrada pavimentada mais próxima, num raio de 10 km no entorno das 0.5 IBGE-BCIM, 2013
pavimentadas rodovias
Distância até o canal de transposição Distância euclidiana de um pixel até a via de transposição do Rio São Francisco mais próxima, num raio de 5 0.3 MIN, 2014
km no entorno das vias principais. O rio São Francisco é o maior rio existente na Caatinga, cortando o bioma
Infraestrutura transversalmente nas proximidades das divisas entre os estados da Bahia (BA) e Pernambuco (PE) e Alagoas
(AL) e Sergipe (SE).
Distância até usina eólica Distância euclidiana de um pixel até a usina de geração de energia eólica mais próxima, num raio de 20 km no 0.2 ANEEL, 2014
entorno das usinas existentes
Distância até ferrovias Distância euclidiana de um pixel até a ferrovia mais próxima, num raio de 5 km no entorno das ferrovias 0.2 MIN, 2014
Distância até a linha de transmissão Distância euclidiana de um pixel até a linha de transmissão de energia mais próxima, num raio de 5 km no 0.2 ANEEL, 2014
entorno das linhas de transmissão
Densidade de bovinos Número de bovinos/área do setor censitário (censo agropecuário) 0.6 IBGE, 2006
Pastoreio Densidade de caprinos Número de caprinos/área do setor censitário (censo agropecuário) 0.5 IBGE, 2006
Densidade de ovinos Número de ovinos/área do setor censitário (censo agropecuário) 0.4 IBGE, 2006
Distância até polos gesseiros e Distância de um pixel até os polos gesseiros ou ceramistas mais próximos, usando rodovias pavimentadas ou 0.6 Secretaria de
ceramistas não pavimentadas como rota. Para essas análises, primeiramente foi calculada a distância perpendicular de um Florestas
dado pixel até a rodovia mais próxima e, em seguida, a distância deste ponto até o polo gesseiro ou ceramista (SF/MMA)
Exploração madeireira mais próximo. Segundo informações da Secretaria de Florestas (MMA), os impactos de exploração madeireira,
(lenha) para combustível, desses empreendimentos estendem-se a até 300 km do local de instalação da indústria. Assim
sendo, pixels localizados a distâncias superiores a 300 km, seguindo método usado aqui, foram considerados
como não perturbados por esse vetor. As analises foram realizadas com a ferramenta Path Distance no ArcGis
10.1.
Densidade de focos de calor Densidade de focos de calor por pixel no período de 01 de janeiro de 2002 a 31 de dezembro de 2016, obtida por 0.7 INPE
Fogo interpolação de Kernel, num raio de 1 km. Dados de focos de calor do satélite Aqua M-T (sensor MODIS,
passagem no início da tarde) de 2003 a 2014. (fonte: https://prodwww-queimadas.dgi.inpe.br/bdqueimadas/)
37
Resultados
Os valores de IPC por pixel, no recorte dos fragmentos, variaram de 0,09 (menor
perturbação potencial) a 0,94 (maior perturbação potencial) e demostram que os pixels
com valores mais baixos de IPC apareceram com maior frequência no oeste e em parte
das porções central e sul do bioma. No norte, leste e parte da região central houve um
relativo predomínio de pixels com IPC mais altos (Fig. 1a). De um modo geral, os
fragmentos maiores, especialmente na porção ocidental, abrigaram uma maior
concentração de pixels com valores de IPC mais baixos (Fig 1a.) do que os fragmentos
menores. Esses padrões são sintetizados pelos valores de IPC médio e desvio padrão
encontrados por fragmento (Fig. 1b e 1c).
O IPC do vetor de população humana variou de 0,01 a 0,97, sendo que fragmentos
menos perturbados por este vetor encontram-se na porção central (norte do estado da
Bahia) e no oeste (especialmente centro-sul do estado do Piauí), ao passo que os
fragmentos mais perturbados se localizam ao norte e leste do bioma (Fig. 3a). Um padrão
espacial semelhante foi encontrado para o vetor infraestrutura, cujos valores de
perturbação dos fragmentos variou de 0 a 0,79 (Fig. 3b). Embora a distribuição da
perturbação provocada pelo vetor de pastoreio (com variação de 0 a 0,56) apresente
38
semelhanças com a dois vetores anteriores, é possível notar um espalhamento maior dos
fragmentos menos perturbados ao longo de todo o bioma, com destaque para algumas
regiões próximas a zona costeira e ao sul do bioma (Fig. 3c). A variação nos valores de
perturbação dos fragmentos em decorrência do vetor de extração madeireira foi de 0,01 a
1 (Fig. 3d), sendo que há uma evidente concentração de fragmentos mais perturbados no
centro, norte e noroeste do bioma e de fragmentos com pouca ou nenhuma perturbação
no sul do bioma. Os valores de perturbação em decorrência do vetor fogo variaram de 0
a 0,79, sendo que a concentração de fragmentos mais perturbados ocorre no extremo norte
do bioma, no oeste do estado do Piauí e sul da Bahia (Fig. 3e).
Figura 1. Mapa da distribuição do Índice de Perturbação Crônica Potencial (IPC) encontrado para
os pixels dos remanescentes de Caatinga (A) e para os 46.626 fragmentos de Caatinga analisados,
evidenciando o IPC médio (B) e o desvio padrão do IPC (B).
39
Figura 2 – Distribuição de frequência dos valores médios do Índice de Perturbação Crônica
potencial dos 46.626 fragmentos de Caatinga.
Figura 3. Mapa da distribuição dos valores médios do Índice de Perturbação Crônica Potencial
(IPC) obtidos por fragmento de Caatinga para os diferentes vetores de perturbação: A) População
humana, B) Infraestrutura, C) Pastoreio, D) Extração de Madeira e E) Fogo
40
Influência da área dos fragmentos nos valores de IPC
A área do fragmento não afetou significativamente o seu IPC médio, pelo menos
quando analisada a tendência central (tau = 0.5) e o quantil inferior (tau = 0.1) (Fig. 4a
Tabela 2). A regressão do quantil superior (tau = 0.9), no entanto, apresentou uma leve
queda não linear. Em contraste, fragmentos maiores foram significativamente mais
heterogêneos do que fragmentos menores. De fato, o desvio padrão do IPC aumentou não
linearmente com a área do fragmento para os três quantis considerados (Fig. 4b, Tabela
2).
Figura 4. Regressão quantílica quadrática entre a área dos fragmentos de Caatinga e A) valores
médios do índice de perturbação e B) desvio padrão do índice de perturbação. As regressões foram
realizadas paras os quantis 10%, 50% e 90%. A representação do x está em escala logarítmica.
41
distância da borda (Fig. 5b-d, Tabela 3). Considerando o vetor população humana, nos
quantis inferior e intermediário a assíntota foi alcançada a aproximadamente 5 km da
borda, enquanto que no quantil superior a assíntota ocorreu a distâncias superiores a 10
km da borda. Para o vetor infraestrutura, no quantil inferior a assíntota ocorreu a cerca de
7,5 km da borda, no quantil intermediário a distâncias superiores a 10 km e no quantil
superior a inflexão da curva não ficou evidenciada. Para o vetor pastoreio, o IPC caiu
drasticamente com a distância da borda tanto para o quantil superior quanto para a
regressão da tendência central. A regressão do quantil inferior, no entanto, foi não
significativa e próxima de zero devido a uma grande frequência de pontos sem a presença
de gado. O padrão observado para a exploração de madeira não se enquadrou ao modelo
exponencial, sendo melhor descrito por uma equação quadrática. Enquanto o quantil
superior demonstra um claro decaimento não linear, esta tendência tende a desaparecer
no quantil 0.5 chegando a apresentar um padrão ligeiramente crescente no quantil inferior,
conforme indicado pela nuvem de pontos constituído por baixos valores de IPC (Fig 5e,
Tabela 4). Por fim, a densidade de fogo foi zero ou próxima de zero para um grande
número dos pontos selecionados, impedindo ajustes adequados tanto para o quartil
inferior quanto para a tendência central. Modelos lineares para os quantis 90 e 99%
indicam uma relação negativa entre o IPC do vetor fogo e a distância de borda (Fig 5f,
Tabela 4).
42
Tabela 2 – Regressões quantílicas quadráticas da relação entre a área dos fragmentos e a média e o desvio padrão do Índice de Perturbação Crônica
Potencial (IPC) por fragmento para o bioma Caatinga. Para todos os coeficientes (± EP) são fornecidos os valores de t e sua respectiva probabilidade P.
Quantil Intercepto t P x t P x2 t P
Media
0,9 0,54614 ± 0,00135 405,902 <0,001 0,00900 ± 0,00142 6,351 <0,001 -0,00331 ± 0,00026 -12,850 <0,001
0,5 0,45425 ± 0,00120 377,618 <0,001 -0,00192 ± 0,00155 -1,240 0,215 0,00044 ± 0,00040 1,084 0,278
0,1 0,34414 ± 0,00199 173,202 <0,001 -0.00472 ± 0.00265 -1,783 0,075 0,00037 ± 0,00074 0,504 0.614
DP
0,9 0,00052 ± 0,00005 10,626 <0,001 0,00290 ± 0,00021 13,998 <0,001 0,00267 ± 0,00006 48,455 <0,001
0,5 0,00106 ± 0,00002 56,102 <0,001 -0,00188 ± 0,00005 -34,275 <0,001 0,00235 ± 0,00003 84,754 <0,001
0,1 0,00007 ± 0,00001 7,678 <0,001 -0,00059 ± 0,00003 -19,117 <0,001 0,00112 ± 0,00002 55,263 <0,001
43
Figura 5. Regressão quantílica entre a distância da borda de 6.820 pontos e seus respectivos valores de IPC obtidos
para A) superfície unificada de perturbação, B) vetor de população humana, C) vetor de infraestrutura, D) vetor de
pastoreio, E) vetor de exploração madeireira e F) vetor de fogo. As regressões foram realizadas paras os quantis 10%,
50% e 90% e, para o vetor fogo (F) foi acrescentado o quantil 99%.
44
Tabela 3 – Resultados das regressões quantílicas exponenciais assintóticas do efeito de borda nos fragmentos de Caatinga sobre o IPC gerado para todo o conjunto de
variáveis e decomposto por vetores. Para todos os parâmetros (a, b e c) é fornecido o valor do erro padrão (parâmetro ± erro padrão), o valor de t (t) e sua probabilidade (p).
Quantil a t p b t p c t p
Distancia da borda x IPC (todas variáveis)
0,9 0,16666 ± 0,02269 7.344 P<0,001 0,56633 ± 0,00496 114,224 P<0,001 -8,96578 ± 0,09823 -91.274 P<0,001
0,5 0,16238 ± 0,00800 20,308 P<0,001 0,47390 ± 0,00400 118,462 P<0,001 -8,34945 ± 0,06083 -137,267 P<0,001
0,1 0,13454 ± 0,00340 39,616 P<0,001 0,34393 ± 0,00533 64,535 P<0,001 -7,93800 ± 0,06342 -125,173 P<0,001
Distancia da borda x IPC (vetor humano)
0,9 0,22408 ± 0,00693 32,357 P<0,001 0,45329 ± 0,00541 83,792 P<0,001 -8,5011 ± 0,08677 -97,977 P<0,001
0,5 0,22313 ± 0,00202 110,364 P<0,001 0,33711 ± 0,00384 87,861 P<0,001 -7,95476 ± 0,06858 -115,997 P<0,001
0,1 0,16764 ± 0,00207 81,114 P<0,001 0,27367 ± 0,0031 88,391 P<0,001 -7,78991 ± 0,08167 -95,381 P<0,001
Distancia da borda x IPC (vetor infraestrutura)
0,9 0,01071 ± 0,08899 0,120 0,90425 0,60211 ± 0,00461 130,731 P<0,001 -9,39562 ± 0,19883 -47,254 P<0,001
0,5 0,06977 ± 0,01517 4,599 P<0,001 0,49281 ± 0,00714 69,051 P<0,001 -8,25658 ± 0,08063 -102,406 P<0,001
0,1 -0,03378 ± 0,00937 -3,604 0,00032 0,24751 ± 0,00931 26,573 P<0,001 -8,1839 ± 0,11876 -68,909 P<0,001
Distancia da borda x IPC (vetor Pastoreio)
0,9 -0,18749 ± 0,0614 -3,054 0,00227 0,26484 ± 0,00541 48,991 P<0,001 -9,58156 ± 0,21837 -43,877 P<0,001
0,5 -0,00575 ± 0,00107 -5,386 P<0,001 0,16117 ± 0,00461 34,987 P<0,001 -7,81591 ± 0,05033 -155,299 P<0,001
0,1 0,00018 ± 0,00004 4,697 P<0,001 0,00378 ± 0,02044 0,185 0,8535 -4,20039 ± 3,91555 -1,073 0,28342
Tabela 4 – Resultados das regressões quantílicas quadráticas e lineares do efeito de borda nos fragmentos de Caatinga sobre o IPC dos vetores fogo e exploração madeireira.
Para todos os interceptos e coeficientes é fornecido o valor do erro padrão (coeficiente± erro padrão), o valor de t (t) e sua probabilidade (p).
Quantil intercepto t p coeficiente X t p coeficiente I(x^2) t p
Distancia da borda x IPC (vetor Exploração Madeireira) - quadrática
0,9 0,987 ± 0,00409 241,19322 P<0,001 -0,00004 ± 0 -21,28022 P<0,001 0±0 9,65134 P<0,001
0,5 0,84785 ± 0,00387 218,81084 P<0,001 -0,00004 ± 0 -24,3198 P<0,001 0±0 14,76249 P<0,001
0,1 0,54474 ± 0,01249 43,61563 P<0,001 -0,00001 ± 0 -2,55861 0,01053 0±0 2,52342 0,01164
Distancia da borda x IPC (vetor Fogo) - linear
0,99 0,06831 ± 0,00297 23,008 P<0,001 0±0 -4,484 P<0,001
0,9 0,20953 ± 0,01096 19,116 P<0,001 -0,00001 ± 0 -5,238 P<0,001
45
Discussão
46
de estratégias de conservação mais reativas ao norte e leste do bioma e mais proativas ao
oeste e algumas porções centrais (Brooks et al. 2006).
47
Este trabalho permitiu evidenciar, em larga escala, o efeito de borda na
perturbação antrópica crônica na Caatinga. O decaimento exponencial do índice de
perturbação crônica da Caatinga em função da distância da borda, tendendo a uma
estabilização após cerca de 5 km, indica que a maior parte do bioma está sob forte
influência de efeito de borda. De fato, considerando toda a cobertura vegetal do bioma,
apenas 7% encontra-se a mais de 2,5 km da borda e 1% encontra-se a mais de 5 km
(Antongiovanni et al., em preparação, Capítulo 1). Pode-se verificar, no entanto, uma
grande variação de IPC para uma mesma distância de borda, principalmente para as
classes de distâncias menores, refletindo a importância do contexto regional dentro do
qual os fragmentos estão inseridos. Para aqueles fragmentos localizados em contextos de
perturbação mais brandos (na sua maioria, mais fortemente representados pelo quantil
inferior da regressão) o decaimento do efeito de borda é mais acentuado, enquanto que
para os fragmentos localizados em contextos de maior perturbação (mais fortemente
representados pelo quantil superior da regressão), o decaimento é menos pronunciado e o
efeito de borda parece se estender para distâncias maiores. A grande exposição das áreas
de vegetação remanescente de Caatinga aos efeitos de borda encontra respaldo em
observações empíricas realizadas no semiárido africano, onde, em alguns casos, foram
evidenciados efeitos ainda mais profundos do que aqueles sugeridos neste trabalho
(Gandiwa et al. 2011, 2013, Muposhi et al. 2016).
48
Ribeiro-Neto et al. 2016). No entanto, poucos forneceram evidências sobre a
profundidade do efeito de borda resultante de tais vetores (Gandiwa et al. 2011, 2013,
Muposhi et al. 2016). Através da abordagem remota proposta aqui, foi possível evidenciar
a intensidade e profundidade do efeito de borda para múltiplos vetores simultaneamente
em uma larga escala geográfica.
Uma maior densidade humana representa, obviamente, uma maior pressão pela
utilização dos recursos naturais (Laurance et al. 2002, Ribeiro et al. 2015).
Tradicionalmente a população rural da Caatinga depende total ou parcialmente dos
recursos naturais existentes na região. Até recentemente, a construção civil era baseada
fundamentalmente em madeira nativa. A madeira explorada para uso doméstico configura
entre as principais fontes energéticas no ambiente rural, sendo responsável por
aproximadamente 30% do volume de carvão e lenha extraído da Caatinga anualmente
(Gariglio et al. 2010). Nas últimas décadas o gás de botijão se tornou mais frequente nos
lares rurais, mas devido ao seu elevado preço, a madeira continua sendo uma importante
fonte primária de energia (Ramos & Albuquerque 2012). A população rural da Caatinga
tradicionalmente utiliza animais silvestres como uma das principais fontes proteicas
(Barboza et al. 2016). Apesar de leis que proíbem a caça, este tipo de atividade realizada
sem um manejo adequado continua a ser uma atividade importante na região,
comprometendo as populações dos grandes e médios mamíferos e de diversas espécies
de aves (Alves et al. 2009).
49
As regiões com as maiores concentrações humanas também são aquelas onde há
uma maior incidência de infraestrutura (Glover & Simon 1975) sendo que, de um modo
geral, estes dois vetores se retroalimentam positivamente, agravando a situação de
vulnerabilidade ambiental das regiões onde se concentram. Sem estratégias de
governança e manejo adequadas o impacto antrópico invariavelmente é estendido para as
áreas adjacentes, levando inclusive a supressão definitiva da vegetação remanescente
(Soares‐Filho et al. 2004). As estradas, por exemplo, têm um importante papel de
propagação do desmatamento e das perturbações antrópicas crônicas, uma vez que criam
novas bordas em áreas de habitat originalmente contínuas, facilitando o acesso e a
colonização humana nessas áreas (Laurance et al. 2009). Na Caatinga, há indicações que
as estradas e cidades têm efeito no desmatamento de áreas localizadas num raio de até 15
km de distância (Santos & Tabarelli 2002), efeito este que deve estar relacionado com
perturbações antropogênicas crônica.
50
O fogo é um importante componente da perturbação crônica, ocorrendo com
maior relevância no noroeste do bioma. Na Caatinga, os focos de calor estão, em grande
parte, associados ao corte e queima da vegetação para atividades agrícolas de pequeno
porte, mas também para abertura da vegetação para pecuária. Em locais aonde o impacto
antrópico pelo fogo é extremamente alto (tau = 0.99 e 0.90) pode-se verificar um suave
efeito de borda. Em locais aonde o fogo é mais esporádico, a densidade de focos de calor
não está associada com a distância de borda. Estes fogos esporádicos frequentemente
ocorrem perto de trilhas de acesso que não foram mapeadas neste trabalho, levando assim
a uma subestimativa da importância do acesso na distribuição deste vetor de perturbação
(Sumarga 2017, Ye et al. 2017).
Este trabalho indica que apesar da Caatinga ainda possuir cerca de 50% de sua
cobertura vegetal, a maior parte dos seus remanescentes já sofreu grandes alterações
através de perturbações antrópicas crônicas. Este resultado questiona análises prévias de
que a Caatinga possui excedentes ambientais quando comparado com outros biomas
(Soares-Filho et al. 2014). De fato, uma boa parte da Caatinga encontra-se extremamente
ameaçada e a sua diversidade e recursos naturais têm sido erodidos por processos menos
evidentes do que a perda de habitat. A situação se agrava quando consideramos que
apenas 1,16% do bioma está protegido em Unidades de Conservação de Proteção Integral
e que 85% da área em Unidades de Conservação de Uso Sustentável são Áreas de
Proteção Ambiental (APA) que, de um modo geral, têm se mostrado ineficientes para a
conservação da biodiversidade e no controle de atividades que geram a degradação
ambiental (Fonseca et al. 2010).
51
humana, por obras de infraestrutura, atividades produtivas e uso de fogo. Além desta área,
existem outros 38 fragmentos que representam boas oportunidades de conservação por
apresentarem mais de 50 mil ha, por abrigarem porções de área a distâncias superiores a
5 km da borda (i.e. potencialmente com habitat de interior) e por incidirem total ou
parcialmente em áreas reconhecidas como prioritárias para conservação do bioma
Caatinga (MMA 2016). Essas sobreposições espaciais devem ser levadas em
consideração para aumentar a eficiência, diminuir os conflitos e reduzir os custos das
ações de conservação (Naidoo et al. 2006).
Nas porções norte e leste do bioma, especialmente nos estados do Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, aonde as perturbações são
mais severas, há um conjunto de fragmentos com valores de perturbação abaixo da média
que se encontram sobrepostos a bacias definidas com prioridade extremamente alta para
a restauração da Caatinga (ver Capítulo 3). Alguns desses fragmentos, especialmente
aqueles de maior tamanho e com os menores valores de perturbação, podem auxiliar as
estratégias de restauração que visem a recuperação de espécies ameaçadas de extinção e
da conectividade da paisagem, funcionando como fontes de propágulos potencialmente
mais efetivas do que seus vizinhos mais perturbados. Avaliações como essas, no entanto,
devem ser realizadas caso a caso, considerando informações complementares de campo.
Deve-se salientar que este trabalho estimou a perturbação crônica potencial dos
fragmentos de Caatinga através da análise de 14 variáveis primárias, mas que práticas de
uso do solo e de manejo locais têm o poder de intensificar ou reduzir os níveis de
perturbação. No entanto, ao reconhecer os principais vetores de antropização de cada uma
das regiões da Caatinga, esta análise serve para guiar ações de manejo, monitoramento e
conservação que possam amortecer os efeitos das perturbações.
52
informações importantes sobre a aplicabilidade desta avaliação remota na compreensão
das respostas da biodiversidade, estrutura e funcionamento dos ecossistemas às
perturbações crônicas.
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58
Capítulo 3 - Áreas prioritárias para restauração da Caatinga
Introdução
59
populações (Tilman et al. 1997), escolhas cuidadosas baseadas em modelos ecológicos
espacialmente explícitos representam uma ferramenta útil para guiar políticas públicas e
investimentos em conservação de espécies e recuperação de ecossistemas degradados
(Huxel & Hastings 1999).
60
populações, facilitar o fluxo gênico entre indivíduos isolados ou reestabelecer as
condições do habitat podem contribuir decisivamente para a recuperação e manutenção
da biodiversidade (Rambaldi et al. 2010; Kleiman 1989).
61
apontando as melhores oportunidades para a restauração, de forma a otimizar o uso de
recursos e contribuir para a conservação da biodiversidade.
Métodos
Área de Estudo
Remanescentes de Caatinga
62
em 2014, pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento dos Biomas Brasileiros por
Satélite (PMDBBS), do Ministério de Meio Ambiente (MMA) brasileiro. Todos os
fragmentos com área igual ou inferior a 1 ha foram considerados como ruídos da
classificação e, portanto, foram excluídos das análises.
63
Análise de conectividade das bacias
Onde:
n = número total de manchas na paisagem
ai e aj = são atributos das manchas i e j (neste trabalho o atributo é a área das
manchas)
p*ij = é a probabilidade de uma espécies se mover da mancha i para j, considerando
manchas intermediárias que possam aumentar as chances de deslocamento
AL = área total da paisagem
64
A probabilidade de deslocamento direto entre duas manchas quaisquer é função
exponencial inversa da distância de deslocamento (e.g. Urban & Keitt 2001; Saura &
Pascual-Hortal 2007). Neste trabalho, assume-se que 100 metros de isolamento são
necessários para diminuir a chance de deslocamento em 50%, embora não existam
trabalhos empíricos na Caatinga que ajudem nesta parametrização. Assume-se, no
entanto, que a fauna da Caatinga seja relativamente mais tolerante aos efeitos de matrizes
abertas e, portanto, tenham uma maior capacidade de deslocamento nestas áreas do que a
fauna da Mata Atlântica - onde 50 metros de isolamento entre manchas foram
considerados suficientes para diminuir a chance de deslocamento entre elas em 50%
(Tambosi et al. 2013).
65
Bacias com baixa resiliência – correspondem às bacias com (a) 40 a 20% de
caatinga, mas com valores de PC inferiores a mediana desde subconjunto de paisagens e
(b) 20 a 0% de Caatinga remanescente independente da conectividade. Estas bacias são
aquelas cujas ações de restauração são menos eficientes e mais custosas e, portanto, não
são consideradas como prioritárias.
66
vardIICconnector obtidos para estas bacias. O resultado dessa soma gerou um valor de
importância para a conectividade (ou VIC) (variando entre 0 a 2) para cada uma das bacias
de resiliência intermediária. Quanto maior o VIC maior a contribuição de uma dada bacia
para a conectividade do bioma. As bacias de resiliência intermediária foram então
subdivididas em três classes de importância relativa para a restauração de acordo com os
valores de importância para a conectividade obtidos: (1) VIC alto – bacias do terço
superior do conjunto de valores de importância, (2) VIC médio – bacias do terço
intermediário e (3) VIC baixo – bacias do terço inferior.
Critério II. Classificação das bacias com base na riqueza de plantas ameaçadas de
extinção
A identificação das áreas mais importantes para a restauração com base na riqueza
de espécies de plantas ameaçadas de extinção foi feita a partir das informações de
distribuição geográfica das 350 espécies ameaçadas, contidas no Livro Vermelho da Flora
do Brasil (Martinelli & Moraes 2013). Essas mesmas espécies foram consideradas como
alvos de conservação pelo Ministério do Meio Ambiente brasileiro (MMA 2016). A partir
de shapefiles cedidos pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, calculou-se a riqueza de
espécies ameaçadas para todas as bacias da Caatinga. A riqueza de espécies ameaçadas
de cada bacia foi considerada como uma medida de seu valor de importância para a
manutenção da riqueza de espécies ameaçadas de extinção, ou, simplesmente, como valor
de importância para a riqueza (VIR). Usando essa medida, as bacias de resiliência
intermediárias foram agrupadas em três classes: (1) VIR alto – bacias com alto valor de
importância para a riqueza, com mais de 10 espécies ameaçadas de extinção, (2) VIR
médio – bacias com médio valor de importância, com uma a dez espécies ameaçadas e
(3) VIR baixo – bacias com baixo valor de importância, com nenhuma espécie ameaçada
de extinção.
67
de plantas ameaçadas de extinção (VIR) (Fig. 1). Essas categorias foram agrupadas em
três classes de prioridade para a restauração, segundo ranking abaixo:
a. Prioridade extremamente alta para restauração – bacias com VIC alto e VIR
alto ou médio; e bacias com VIC médio e VIR alto.
b. Prioridade muito alta para restauração – bacias com VIC alto e VIR baixo;
bacias com VIC médio e VIR médio; e bacias com VIR alto e VIC baixo
c. Prioridade alta para restauração – bacias com VIC baixo e VIR baixo; bacias
com VIC médio e VIR baixo; e bacias com VIR médio e VIC baixo
68
Figura 1. Representação esquemática da classificação das bacias da Caatinga para
priorização de atividades de restauração vegetal. O bioma Caatinga inicialmente foi
dividido em paisagens baseadas nos limites de bacias hidrográficas. Posteriormente,
bacias de resiliência intermediária com maior potencial de restauração são reconhecidas
com base na sua percentagem de habitat remanescente e no seu grau de conectividade
interna, medido pelo índice PC. As bacias de resiliência intermediária são então
classificadas por dois critérios complementares: (i) importância da paisagem para a
conectividade do sistema, através do índice VIC (Valor de Importância para
Conectividade) e (ii) valor de importância para a manutenção da riqueza de espécies
ameaçadas de extinção (VIR). Finalmente, o cruzamento destes dois critérios
complementares permite determinar as três classes de priorização das bacias (alta, muito
alta, extremamente alta) quanto sua importância para iniciativas de restauração vegetal.
Resultados
69
No total, 10.406 bacias hidrográficas incidem sobre a Caatinga brasileira (Fig. 2),
variando amplamente na quantidade de cobertura vegetal remanescente e nos valores de
PC encontrados (Fig. 2a e 2b).
Figura 2. Mapas das 10.406 paisagens focais inseridas no bioma Caatinga, classificadas
segundo (A) a classe de porcentagem de vegetação nativa remanescente em 2009, (B) o
índice de Probabilidade de Conectividade – PC e (C) a classe de resiliência resultante da
integração de A e B. As siglas nos mapas correspondem aos seguintes estados brasileiros:
Alagoas (AL), Bahia (BA), Ceará (CE), Maranhão (MA), Minas Gerais (MG), Paraíba
(PB), Pernambuco (PE), Piauí (PI), Rio Grande do Norte (RN) e Sergipe (SE).
70
Tabela 1. Número e área total das bacias e quantidade de vegetação remanescente por
classe de resiliência
71
total de 190.281 km2. Por fim, 302 (8%) foram classificadas com VIR alto, um total de
28.408 km2.
Figura 3. Histogramas com a distribuição dos: a. valores de importância das bacias para
a conectividade do bioma (VIC), por classe de importância e b. valores de importância
para a riqueza de plantas ameaçadas de extinção (VIR), por classe. No gráfico b a escala
de representação do eixo y (número de paisagens) está em log.
As bacias de prioridade muito alta somam 1237 bacias (33% do total). Essas
bacias correspondem a 12% de todas as bacias do bioma e apresentam 49.125 km2 (46%)
já desmatados – o que equivale a 12% de toda a área desmatada da Caatinga e a 6% da
área total do bioma (Fig. 4c, Tabela 2). Por fim, as bacias de prioridade alta somam 1.563
bacias, o que equivale a 42% do total de bacias de resiliência intermediária e a e a 15%
de todas as bacias do bioma. Possuem em seus limites 71.526 km2 (57%) de áreas
desmatadas, o que corresponde a 17% de todo o desmatamento da Caatinga e apenas 8%
da área total do bioma (Fig. 4c, Tabela 2).
72
Figura 4. Mapas das 3.739 bacias prioritárias para a restauração da Caatinga, destacando
em A) (A) classes de valor de importância para a conectividade (VIC), (B) classes de
valor de importância para a riqueza (VIR) e (C) classes de prioridade para a restauração.
As siglas nos mapas correspondem aos seguintes estados brasileiros: Alagoas (AL), Bahia
(BA), Ceará (CE), Maranhão (MA), Minas Gerais (MG), Paraíba (PB), Pernambuco (PE),
Piauí (PI), Rio Grande do Norte (RN) e Sergipe (SE).
73
Tabela 2. Distribuição do número, porcentagem (%) em relação ao número de bacias do bioma, área total, área de vegetação remanescente, área
desmatada, porcentagem (%) da área desmatada em relação ao desmatamento total do bioma e porcentagem (%) da área desmatada em relação a
área total do bioma das bacias de prioridade extremamente alta, muito alta e alta para a restauração da Caatinga.
% desmatada em
% em relação ao Área das Área % desmatada em
Prioridade para Número de relação ao
número de bacias bacias desmatada relação a área
Restauração bacias* 2 2 ** desmatamento do
do bioma (km ) (km ) total do bioma
bioma
Extremamente alta 939 (25%) 9 85059 32127 (38%) 8 4
*Valores entre parênteses correspondem a porcentagem de bacias, por categoria de prioridade, em relação ao total de bacias de resiliência intermediária.
** Valores entre parênteses correspondem a porcentagem de área desmatada, por categoria de prioridade, em relação ao total desmatado nas bacias de resiliência intermediária.
74
Figura 5. Relação entre o valor de importância das bacias para a conectividade (VIC)
do bioma Caatinga e valor de importância para a manutenção da riqueza de espécies
ameaçadas de extinção (VIR), destacando-se as três diferentes classes de prioridade para
ações de restauração. O eixo y está representado em log.
75
Figura 6 - – Percentagem da área de distribuição das espécies de plantas ameaçadas de
extinção em (A) bacias fonte, (B) bacias de resiliência intermediária e (C) bacias de
baixa resiliência.
76
Discussão
77
desde à época da colonização portuguesa, com as áreas mais urbanizadas próximas ao
litoral – onde estão localizadas as capitais de sete dos 10 estados que possuem Caatinga
em seus limites (Boris 1995). A ocupação mais intensa destas áreas e arredores vem,
portanto, irradiando os efeitos do desmatamento do litoral para o interior, afetando a
integridade da cobertura vegetal de forma diferenciada.
78
impôs um espalhamento esperado das bacias dos diferentes tipos de resiliência. Assim,
nas áreas mais intensamente fragmentadas do Leste e Sul, há uma predominância de
bacias de resiliência baixa, no Oeste do bioma há um predomínio de bacias fonte e nos
interstícios entre essas paisagens, onde a remoção de habitat e/ou a conectividade são
moderadas, aparecem as bacias de resiliência intermediária.
79
mais importante como elementos de ligação com o entorno, até que, no extremo Oeste há
um grande número de opções de bacias que, uma vez restauradas, trarão ganhos sensíveis
para a conectividade do sistema.
80
A distribuição espacial das bacias mais importantes para a conectividade
apresentou um padrão mais homogêneo ao longo do bioma, localizando-se
principalmente na adjacência das áreas fontes e como elementos de ligação entre áreas
fonte disjuntas. Quando o critério de classificação de importância das bacias de resiliência
intermediária é a riqueza de espécies ameaçadas de extinção, a heterogeneidade na
distribuição das bacias é mais evidente do que a encontrada pelo critério de conectividade.
Há uma clara concentração de bacias ricas em espécies ameaçadas no Sul do bioma e uma
redução da riqueza no sentido Norte. Notadamente a ecorregião conhecida como
Complexo da Chapada Diamantina (Velloso et al. 2002), no estado da Bahia, apresenta a
maior concentração de bacias com alta riqueza de espécies ameaçadas. A Chapada
Diamantina faz parte da Cordilheira do Espinhaço, uma cadeia montanhosa que se estende
de Minas Gerais (MG) até a Bahia (BA), e é considerada como centro de diversidade de
inúmeros grupos de plantas, com um alto grau de endemismo (Giulietti et al. 1997;
Bitencourt & Rapini 2013). Muitas das 307 espécies ameaçadas de extinção encontradas
na Bahia, também são endêmicas da Chapada.
81
total de bacias da Caatinga e a área desmatada nelas presente, potencialmente disponível
para ações de restauração, equivale a apenas 4% de área total do bioma e a 8% da área
total desmatada da Caatinga. Tendo em vista que cerca de 50% do bioma estão
desmatados e ações de restauração não planejadas poderiam incidir potencialmente sobre
qualquer parte desta fração (com resultados duvidosos), a identificação das paisagens
extremamente prioritárias pode representar um grande ganho na orientação de políticas
públicas e outras ações de restauração, com economia de dinheiro e maximização dos
benefícios.
82
biodiversidade e sequestro dos gases de efeito estufa. Entre essas iniciativas há uma série
de compromissos de restauração sendo firmados para mundo todo que, embora
apresentem algumas incertezas, demostram uma predisposição política para a ação
(Chazdon et al. 2017).
83
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Capítulo 4 - Pro-Active Conservation Opportunities in Megadiverse Countries
Abstract
Main Text
The Brazilian priority areas exhibit a clear gradient of habitat loss among the terrestrial
biomes, suggesting different opportunities for pro-active and reactive conservation strategies (Fig.
1). Mean habitat loss (%) in the priority areas of Amazon (20%) and Pantanal (25%) is relatively
low, indicating the existence of many opportunities for pro-active conservation actions. For the
Cerrado (41%), Caatinga (44%), and Pampa (46%) habitat loss is intermediate indicating the
existence of a window of opportunity for pro-active conservation actions. In the Atlantic Forest
biodiversity hotspot (10) there are a large number of small priority areas that are already lost where,
on average, 60% of the original cover is gone, leaving no option but the investment in more
expensive reactive strategies, such as smaller conservation units and ecosystem restoration. Mean
annual deforestation rates for the period 2002-2009 (when information is available for all biomes)
indicate that windows of opportunities are closing faster for the priority areas located in Cerrado
(0.84%), Caatinga (0.70%), Pantanal (0.67%) and Amazon (0.66%) when compared to Pampa
(0.39%) and Atlantic Forest (0.32%).
90
9985/2000) (11). Despite the fact that the first Brazilian National Park was created in 1937, the
conservation area network started to grow only in the 1980s (Fig. 2). The temporal pattern of
creation of conservation units varies considerably among biomes. While today most have less than
10% of their area under protection, the conservation unit network of the Amazon biome grew
steadily over two decades and reached 27.6%. Another importance difference is that while in
Amazon only 15% of the Conservation Units are Areas of Environmental Protection (APA), the
most permissive category of the SNUC system (11), in all other biomes, except the Pantanal, more
than 60% of the area of conservation units are APAs (12).
The main financial mechanism associated with the Amazonian conservation planning was
the ARPA (Amazon Region Protected Areas) Program, a partnership launched in 2002 by the
Brazilian government with support from BNDS-Brazil, World Bank, German bank KfW, and
WWF (13). During its first phase (2003-2010), the ARPA Program created 13.2 million hectares
of Conservation Units of Integral Protection and 10.8 million hectares of Conservation Units of
Sustainable Use, supported the implementation of 8.5 million hectares in Conservation Units of
Integral Protection and established a US$ 24.8 million fund designated for the management of
Amazonian conservation units. In fact, between 2003 and 2009 Brazil created 74% of world
protected areas (14). In its second phase (2010-2017), the ARPA Program with an investment of
US$255 million is supporting the creation of 13.5 million hectares in conservation units,
implementing better protection of 32 million hectares and plans to capitalize the management fund
by an additional US$ 70 million.
In the other Brazilian biomes, many pro-active conservation opportunities are still available
but lack a pragmatic mechanism of action. For example, the Boqueirão da Onça (Jaguar’s Mouth)
priority area constitutes the cheapest and largest intact patch of dryland available where viable
populations of jaguars still survive in the Caatinga biome. Similarly, a single priority area in the
Diamantina highlands contains 309 conservation targets including 189 microendemic red-listed
Caatinga plants. An ARCA Program (Conservation Areas of the Caatinga) should be launched
soon if we want to make use of such highly efficient pro-active opportunities. For Cerrado and for
the bird-rich wetlands of the Pantanal conservation planning also needs an associated financial
mechanism.
91
The positive conservation experience from the Brazilian Amazon can be extended also to
other megadiverse countries. After a careful participative conservation planning, however, it will
be critical to obtain support from a pool of financial agencies, NGOs, and countries willing to
share the responsibility for the long-term maintenance of the global biodiversity. Considering the
fact that economic activities based in many developed countries are partially responsible for threats
to biodiversity in megadiversity countries because of the international trade of thousands of
commodities (15), it is time to design an international compensatory mechanism able to support
urgent conservation actions in megadiverse countries and, in the case of Brazil, more biomes than
just Amazon.
4. Juffe-Bignoli et al., Protected Planet Report 2014 (UNEP-WCMC, Cambridge, UK, 2014).
10. R. A. Mittermeier et al., Hotspots Revisited (CEMEX, Mexico City, Mexico, 2004).
92
11. SNUC. Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza at
http://www.mma.gov.br/estruturas/sbs_dap/_arquivos/snuc_lei_decreto.pdf [access:
25/8/2016]
Acknowledgments: All data use in this paper is openly available from the Brazilian Ministry of
Environment (MMA) webpage (www.mma.gov.br). CRF and EMV receives productivity
grants from CNPq. MAF is supported by CAPES.
93
Fig. 1. Priority areas (PA) for conservation, sustainable use, and shared benefit of the Brazilian
biodiversity, as classified by (a) habitat loss (%) and (b) deforestation rate (% loss/year). For
comparability, habitat loss was calculated for 2009 and deforestation rate was calculated
between 2002 and 2009 for which official data from the Brazilian Ministry of Environment
(MMA) are available for all biomes (9).