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flores contra a
NA LUTA CONTRA O MILITARISMO, MULHERES DE DIFERENTES CLASSES
DERRUBARAM PARADIGMAS SOCIAIS EM NOME DA DEMOCRACIA
A OPERAÇÃO CONDOR
o sentimento é de pânico, não dá para
pensar que aquilo ia passar”, relembra.
Torturada em uma delegacia de Por-
to Alegre, Lilian diz que toda repressão
Organizada na década de 70, em Santiago do Chile, a Operação Condor
é centWWrada no corpo como identi-
dade: “Tudo que somos está no corpo, sistematizou cooperações já existentes entre as ditaduras do Cone Sul. Atra-
por isso a tortura se passa em agredir vés da Dina, o serviço secreto chileno, o general Augusto Pinochet entendia
os corpos, manusear, denegrir. Atacar que os governos deveriam agir de forma articulada contra o que julgava ser
o centro de identificação primária do “a ameaça internacional do comunismo”. O Brasil teve importante participa-
indivíduo foi uma parte da tortura. Eu ção ao importar militares e policiais para ensinar técnicas de interrogatório,
creio que toda tortura é generalizada”.
perseguição e tortura aos países vizinhos.
Em seminário sobre as ditaduras no
cone sul, realizado em Santo André
(SP), nos dias 09, 10 e 11 de Maio de PAÍSES PARTICIPANTES
2014, Lilian finalizou sua participação Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile e Bolívia
afirmando a importância do resgate da
memória: “As lutas da resistência foram OBJETIVO
determinantes e hoje, construir isso Neutralizar grupos de esquerda opositores aos regimes militares, tais
depende da capacidade de cada um como Tupamaros (Uruguai), Monteneros (Argentina), MIR (Chile) e ALN
de nós. Defender a lembrança é parte (Brasil).
da construção coletiva”. Dulce Chaves
Pandolfi, ex-militante da Ação Liber-
ESTRATÉGIA
tadora Nacional, era estudante de Ci-
Unificar esforços de todos os aparatos repressivos para combater os focos
ências Sociais quando foi presa em 14
de resistência. Era dividida em três fases:
de Agosto de 1970, no Rio de Janeiro
(RJ). Hoje, vive na mesma cidade, onde • Primeira fase: troca de informações entre países a respeito de pessoas
é pesquisadora e professora da Funda- e grupos subversivos;
ção Getúlio Vargas e diretora do Centro • Segunda fase: ações contra alvos suspeitos nos seis países aliados;
Internacional Celso Furtado de Políticas • Terceira fase: ampliação das ações em países estrangeiros.
para o Desenvolvimento.
Seu relato, presente no livro “Luta, POR QUE CONDOR
Substantivo Feminino”, mostra a face Porque é a ave típica dos Andes, famosa pela sua astúcia na caça as suas
do terror que assombrou a geração presas.
que lutava contra as misérias e injusti-
ças sociais brasileiras. Perseguida pelos
QUANDO OCORREU
órgãos da repressão, ela acabou sendo
Iniciou-se na primeira metade dos anos 70 e terminou em meados dos
presa e torturada.
anos 80.
Dulce foi vítima, não só da tortura,
mas cobaia de uma aula dela: “Quando
ARMADAS
DE SENTIMENTO
“Porque as armas das mulheres esta-
vam no boca a boca, no trabalho comu-
nitário, falando com a vizinhança. Isso se
transformou em uma ferramenta políti-
ca quando não havia política em outro
lugar”, foi assim que Lilian Celiberti des-
tacou as mães que, nas palavras dela,
foram “as grandes protagonistas femini-
nas nas ditaduras”. A uruguaia conta que
muitas vezes sua mãe se arriscou para
ajudá-la: “Eu pessoalmente tenho isso
com a minha mãe, que foi uma mulher,
mãe de quatro filhos, que mesmo com
toda a perseguição diária dos militares
uruguaios, vinha à Porto Alegre e trazia
minhas cartas clandestinas sob risco da
própria vida. Ela foi participante”.
Um simples olhar na história é o su-
ficiente para perceber a importância da
luta das mães, esposas e parentes de
presos políticos na resistência à opres-
são. Muitos desses movimentos não ti-
nham engajamento político, nem levan-
tavam bandeiras ideológicas, suas vozes
apenas esbravejavam revoltas contra os
crimes cometidos pelos repressores.
No Brasil, mulheres como Zuzu Angel
serão sempre lembradas por sua cora-
gem e persistência na procura de infor-
mações e justiça. Conhecida internacio-
nalmente, a etilista fazia uso de todos
os meios disponíveis para desvendar o
MÃES DA PRAÇA DE MAIO CAMINHANDO EM FRENTE A CASA ROSADA NO INÍCIO DO GRUPO E ATUALMENTE desaparecimento do filho, Stuart Angel,
preso e morto em 1971. Zuzu foi assas-
sinada anos depois, em um forjado aci-
chego na sala de tortura, ao tirarem meu rada num poste no pátio com os olhos dente de carro.
capuz percebo que era uma aula. Havia vendados, e os caras fazendo roleta No mesmo período, nomes como de
um professor e vários torturadores, re- russa comigo, no maior prazer”, disse. Sola Sierra, no Chile, e Domitila Chun-
lata. Segundo ela, os alunos não eram Dulce carrega marcas inesquecíveis gara, na Bolíva, organizavam greves de
brasileiros. Mais um fato que compro- de momentos de terror: “Teve pau de fomes e diversas paralisações em pro-
va a participação do Brasil na Condor: arara com choque elétrico no corpo testo às prisões de seus maridos e fi-
“Pelo sotaque, percebi que alguns não nu: nos seios, vagina, ânus. Lá tinha lhos. No Paraguai, Carmem Lara Castro
eram brasileiros, mas provavelmente um filhote de jacaré de estimação dos procurava obter apoio de outros países
uruguaios, argentinos”. torturadores que eles colocavam para com a Anistia Internacional. No Uruguai,
A sessão foi brutal, Dulce passou mal andar em cima do nosso corpo, amar- várias organizações se formaram como
e foi levada de volta à cela: “Aí me leva- rado numa cordinha”. Mães e Familiares de Uruguaios Detidos
ram para a cela e, dali a pouco, entrou Dulce ficou presa um ano e quatro Desaparecidos, que atua até hoje na luta
um médico com outros torturadores. meses. Como tinha processos, mas ne- pela condenação de torturadores.
Ele me examinou, tomou minha pres- nhum concluído, saiu da prisão em de- Já na Argentina, a mais conhecida são
são e o torturador perguntou: Como ela zembro de 1971. Anos depois, a justiça as Mães da Praça de Maio, formada em
está?. E o médico respondeu: Tá mais ou militar a absolveu. Mas ela diz que ne- 1977 por um grupo de mães de militan-
menos, mas ela aguenta”, lembra. nhuma absolvição pode apagar os mé- tes políticos sequestrados que passaram
Por fim, a jovem acabou vítima de todos utilizados durante o tempo que a colocar na cabeça fraldas brancas e a
uma “brincadeira” para os militares: “A esteve presa sob a responsabilidade do se reunir na Praça de Maio, em frente à
aula continuou e acabou comigo amar- Estado brasileiro. sede do governo argentino, para protes-
PARA SABER MAIS