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opressão

flores contra a
NA LUTA CONTRA O MILITARISMO, MULHERES DE DIFERENTES CLASSES
DERRUBARAM PARADIGMAS SOCIAIS EM NOME DA DEMOCRACIA

POR BRUNO ALVES E LUANA SCALLA


N
Nos porões da história elas foram escondidas e submetidas à indiferença de um poder
que as maculou; no tempo, se diluíram. Atores marginais procuram suas marcas, vozes e
corpo, para recontá-las, no seu devido lugar. As arbitrariedades que deixaram marcas in-
deléveis subjugaram sua distinção mais nobre. Foram silenciadas em sua coragem. A luta
das mulheres na sociedade sofreu a mais dura censura. Foram torturadas por participa-
rem da transformação e justiça nos tempos das ditaduras. Como vítimas, eram atacadas
em sua feminilidade até que se dissipasse sua dignidade. Na história da resistência, coube
apenas aos homens o mérito das vitórias, onde as escolhas de ação de muitas delas
foram minimizadas aos estereótipos machistas.Deixavam famílias e filhos, seus empre-
gos, adotavam uma vida dupla, permaneciam anônimas, abrigavam perseguidos em suas
casas e pegaram em armas, tudo em nome de uma luta maior, por justiça e igualdade.
HEROÍNAS NA SUBVERSÃO
As ditaduras da América Latina pro- que ousava invadir o mundo público, o do Cone Sul, segundo Ana, o “Chile e
vocaram mudanças sociais significantes mundo da política, somente podia estar a Argentina viveram o período do terror
que refletem na atualidade. O contexto lá à procura de homens. Acusadas por mais acirrado e, consequentemente, as
da bipolaridade trouxe uma guerra que dois crimes: ser comunista e ser pros- mulheres também”. Em suas lutas, elas
causou rupturas nas democracias das tituta”, disse. Ana também opina que as ficaram marcadas para sempre pela ter-
décadas de 60 e 70. Os golpes militares mulheres encontravam-se em uma en- rível tortura, tanto física como psicoló-
no Brasil (1964), Argentina (1966 e 1976), rascada: fazer oposição e luta contra a gicas. A socióloga entrevistou mulheres
Paraguai (1954), Uruguai (1973), Chile presas pela ditadura militar e conta: “To-
(1973), Bolívia (1964, 1971 e 1980) e Peru das falaram da ameaça ao corpo, ame-
(1968 e 1992) foram marcados pela ex- aça de estupro. O corpo sempre como
tinção dos partidos, censura aos meios alvo do poder. Lembro que duas conta-
de comunicação e a institucionalização
da tortura. No Brasil da ditadura, hou-
“PARA A DITADURA vam da experiência traumática que era
serem desnudadas e vendadas. Como
ve grande resistência das mulheres aos
desvios do poder. Elas protagonizaram
MILITAR, não enxergavam, somente escutavam
as vozes e os ruídos dos “inimigos”. Di-
papéis importantes dentro de movi-
mentos civis, juntamente com homens
ELAS ERAM ziam que começavam a se encolher até
ficar em posição fetal. Todas e todos
em defesa da redemocratização. No
entanto, a ocupação do espaço público
PROSTITUTAS passam por terapias após a liberação
para vencer os traumas marcados no
pelas mulheres era uma ousadia intole-
rável. O empenho às causas da socie-
COMUNISTAS” corpo e na alma”. A socióloga acredita
que, mesmo com a democracia, a luta
dade, para os militares, era ultrajante, das mulheres continua e que a violên-
uma fuga aos padrões “normais”. A soci- cia contra as mulheres permanece. A lei
óloga Ana Maria Colling, que estudou o Maria da Penha veio para tentar coibir,
contexto das mulheres na ditadura, diz mas ela resiste. Milhares morrem e são
que os detentores do poder no Brasil ditadura e as regras do patriarcado que agredidas em razão de seu sexo. Temos
viam as mulheres militantes como des- davam supremacia aos homens. Segun- uma presidente mulher, mas elas ain-
vios do feminino e esperavam que elas do ela, não foi uma luta fácil, já que os da apanham. Ela diz que a pesquisa do
ocupassem os lugares destinados histo- companheiros de partido não achavam IPEA, mesmo com seu erro, mostra que
ricamente no ocidente – de esposas e importante a discussão dos temas que o preconceito está nas mulheres tam-
mães: “Para a ditadura militar, elas eram elas propunham. A realidade das mu- bém. É uma batalha a ser travada por
todas prostitutas comunistas. Mulher lheres brasileiras se repetia nos países todos: o respeito ao corpo da mulher.
RELATOS
DE QUEM VIU
A FACE DO TERROR
Lilian Celiberti, uma senhora de 64
anos que vive em Montevidéu, onde é
ativista de direitos humanos e coorde-
nadora de uma ONG feminista. Era pro-
fessora e militante do Partido da Vitória
do Povo quando foi sequestrada em
Porto Alegre (RS), em 12 de Novembro
de 1978, com seus dois filhos e o com-
panheiro militante na época, Universin-
do Días, falecido em Setembro de 2012.
Única mulher sobrevivente da ação da
Operação Condor no Brasil, Lilian diz
que foi uma vitória rever seus filhos, se-
parados dela durante sua prisão: “Quan-
do tomam seus filhos, te separam deles,

A OPERAÇÃO CONDOR
o sentimento é de pânico, não dá para
pensar que aquilo ia passar”, relembra.
Torturada em uma delegacia de Por-
to Alegre, Lilian diz que toda repressão
Organizada na década de 70, em Santiago do Chile, a Operação Condor
é centWWrada no corpo como identi-
dade: “Tudo que somos está no corpo, sistematizou cooperações já existentes entre as ditaduras do Cone Sul. Atra-
por isso a tortura se passa em agredir vés da Dina, o serviço secreto chileno, o general Augusto Pinochet entendia
os corpos, manusear, denegrir. Atacar que os governos deveriam agir de forma articulada contra o que julgava ser
o centro de identificação primária do “a ameaça internacional do comunismo”. O Brasil teve importante participa-
indivíduo foi uma parte da tortura. Eu ção ao importar militares e policiais para ensinar técnicas de interrogatório,
creio que toda tortura é generalizada”.
perseguição e tortura aos países vizinhos.
Em seminário sobre as ditaduras no
cone sul, realizado em Santo André
(SP), nos dias 09, 10 e 11 de Maio de PAÍSES PARTICIPANTES
2014, Lilian finalizou sua participação Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile e Bolívia
afirmando a importância do resgate da
memória: “As lutas da resistência foram OBJETIVO
determinantes e hoje, construir isso Neutralizar grupos de esquerda opositores aos regimes militares, tais
depende da capacidade de cada um como Tupamaros (Uruguai), Monteneros (Argentina), MIR (Chile) e ALN
de nós. Defender a lembrança é parte (Brasil).
da construção coletiva”. Dulce Chaves
Pandolfi, ex-militante da Ação Liber-
ESTRATÉGIA
tadora Nacional, era estudante de Ci-
Unificar esforços de todos os aparatos repressivos para combater os focos
ências Sociais quando foi presa em 14
de resistência. Era dividida em três fases:
de Agosto de 1970, no Rio de Janeiro
(RJ). Hoje, vive na mesma cidade, onde • Primeira fase: troca de informações entre países a respeito de pessoas
é pesquisadora e professora da Funda- e grupos subversivos;
ção Getúlio Vargas e diretora do Centro • Segunda fase: ações contra alvos suspeitos nos seis países aliados;
Internacional Celso Furtado de Políticas • Terceira fase: ampliação das ações em países estrangeiros.
para o Desenvolvimento.
Seu relato, presente no livro “Luta, POR QUE CONDOR
Substantivo Feminino”, mostra a face Porque é a ave típica dos Andes, famosa pela sua astúcia na caça as suas
do terror que assombrou a geração presas.
que lutava contra as misérias e injusti-
ças sociais brasileiras. Perseguida pelos
QUANDO OCORREU
órgãos da repressão, ela acabou sendo
Iniciou-se na primeira metade dos anos 70 e terminou em meados dos
presa e torturada.
anos 80.
Dulce foi vítima, não só da tortura,
mas cobaia de uma aula dela: “Quando
ARMADAS
DE SENTIMENTO
“Porque as armas das mulheres esta-
vam no boca a boca, no trabalho comu-
nitário, falando com a vizinhança. Isso se
transformou em uma ferramenta políti-
ca quando não havia política em outro
lugar”, foi assim que Lilian Celiberti des-
tacou as mães que, nas palavras dela,
foram “as grandes protagonistas femini-
nas nas ditaduras”. A uruguaia conta que
muitas vezes sua mãe se arriscou para
ajudá-la: “Eu pessoalmente tenho isso
com a minha mãe, que foi uma mulher,
mãe de quatro filhos, que mesmo com
toda a perseguição diária dos militares
uruguaios, vinha à Porto Alegre e trazia
minhas cartas clandestinas sob risco da
própria vida. Ela foi participante”.
Um simples olhar na história é o su-
ficiente para perceber a importância da
luta das mães, esposas e parentes de
presos políticos na resistência à opres-
são. Muitos desses movimentos não ti-
nham engajamento político, nem levan-
tavam bandeiras ideológicas, suas vozes
apenas esbravejavam revoltas contra os
crimes cometidos pelos repressores.
No Brasil, mulheres como Zuzu Angel
serão sempre lembradas por sua cora-
gem e persistência na procura de infor-
mações e justiça. Conhecida internacio-
nalmente, a etilista fazia uso de todos
os meios disponíveis para desvendar o
MÃES DA PRAÇA DE MAIO CAMINHANDO EM FRENTE A CASA ROSADA NO INÍCIO DO GRUPO E ATUALMENTE desaparecimento do filho, Stuart Angel,
preso e morto em 1971. Zuzu foi assas-
sinada anos depois, em um forjado aci-
chego na sala de tortura, ao tirarem meu rada num poste no pátio com os olhos dente de carro.
capuz percebo que era uma aula. Havia vendados, e os caras fazendo roleta No mesmo período, nomes como de
um professor e vários torturadores, re- russa comigo, no maior prazer”, disse. Sola Sierra, no Chile, e Domitila Chun-
lata. Segundo ela, os alunos não eram Dulce carrega marcas inesquecíveis gara, na Bolíva, organizavam greves de
brasileiros. Mais um fato que compro- de momentos de terror: “Teve pau de fomes e diversas paralisações em pro-
va a participação do Brasil na Condor: arara com choque elétrico no corpo testo às prisões de seus maridos e fi-
“Pelo sotaque, percebi que alguns não nu: nos seios, vagina, ânus. Lá tinha lhos. No Paraguai, Carmem Lara Castro
eram brasileiros, mas provavelmente um filhote de jacaré de estimação dos procurava obter apoio de outros países
uruguaios, argentinos”. torturadores que eles colocavam para com a Anistia Internacional. No Uruguai,
A sessão foi brutal, Dulce passou mal andar em cima do nosso corpo, amar- várias organizações se formaram como
e foi levada de volta à cela: “Aí me leva- rado numa cordinha”. Mães e Familiares de Uruguaios Detidos
ram para a cela e, dali a pouco, entrou Dulce ficou presa um ano e quatro Desaparecidos, que atua até hoje na luta
um médico com outros torturadores. meses. Como tinha processos, mas ne- pela condenação de torturadores.
Ele me examinou, tomou minha pres- nhum concluído, saiu da prisão em de- Já na Argentina, a mais conhecida são
são e o torturador perguntou: Como ela zembro de 1971. Anos depois, a justiça as Mães da Praça de Maio, formada em
está?. E o médico respondeu: Tá mais ou militar a absolveu. Mas ela diz que ne- 1977 por um grupo de mães de militan-
menos, mas ela aguenta”, lembra. nhuma absolvição pode apagar os mé- tes políticos sequestrados que passaram
Por fim, a jovem acabou vítima de todos utilizados durante o tempo que a colocar na cabeça fraldas brancas e a
uma “brincadeira” para os militares: “A esteve presa sob a responsabilidade do se reunir na Praça de Maio, em frente à
aula continuou e acabou comigo amar- Estado brasileiro. sede do governo argentino, para protes-
PARA SABER MAIS

EM BUSCA DE IARA REPARE BEM ZUZU ANGEL


O documentário resgata a vida de Iara O documentário de Maria de Medei- O filme de Sérgio Rezende revive a
Iavelberg, uma mulher culta que abando- ros narra a história da família de Eduardo procura da estilista Zuzu Angel pelo seu
nou tudo para engajar-se na luta armada. Leite, o Bacuri, morto em 1970. O longa fiho, Stuart Edgar Angel Jones, morto nos
O longa é a primeira produção cinema- relata a luta de três gerações de mulhe- porões da ditadura militar em 1971. A atu-
tográfica a desmontar a versão oficial de res: Denise Crespin, esposa deBacuri, ação emocionante de Patrícia Pillar mos-
que a companheira de Lamarca havia co- Eduarda, filha do casal, e Encarnación, tra a passagem de mulher bem-sucedida
metido suicídio em 1971. mãe de Denise e militante. à mãe desesperada.

tar todas as quintas-feiras. Segundo Ana


Maria Colling, o movimento das argenti- GUERRILHEIRAS Mais do que ressaltar o silêncio dos
manuais escolares, o pesquisador tem
nas não só cresceu como se tornou uma
forte representação política no país: “As
NAS PÁGINAS EM desenvolvido metodologias que possi-
bilitem levar esta temática para a sala de
Mães da Praça de Maio transformaram- BRANCO aula: “Acredito que ao divulgar a história
-se numa instituição nacional em defesa das mulheres e das relações de gênero
da democracia”, afirmou. A ânsia por liberdade e igualdade podemos contribuir para que meninos
A luta das mulheres contra a im- moveu centenas de mulheres, estudan- e meninas aceitem o fato de que tantos
punidade atravessa décadas e persis- tes em sua maioria, ao cenário público. eles quanto às elas têm o direito de parti-
te em movimentos contemporâneos. Aprenderam a portar armas e a fugir de cipar da esfera pública política”, concluiu.
Qualquer semelhança não é apenas emboscadas, descobriram que podiam Resgatar a história dessas vítimas é
uma mera coincidência, assim como as mais do que lhes era predestinado e fi- dar voz aos seus relatos, é mostrar os
Mães da Praça de Maio, o movimento zeram história. Mas será que essa histó- traços existentes nas falas de tantas mu-
Mães de Maio é um grupo formado por ria é contada atualmente? lheres desconhecidas e respeitar a me-
mães e familiares de vítimas da violên- Para o pesquisador da UFRGS, Van- mória de muitas que já não estão mais
cia policial no Brasil. derlei Machado, a resposta é não. Em aqui. A exposição das lutas das mulheres
A denúncia, a luta por informações, a sua pesquisa intitulada “Memória e livros é, por fim, uma busca pelo reconheci-
necessidade de buscar apoio em outras didáticos: as mulheres contra a ditadura”, mento do papel histórico que elas exer-
famílias e a consequente organização Machado aponta uma falha nos materiais cem para uma democracia.
de movimentos é, em meio a um perí- distribuídos através do Programa Nacio- Mesmo com a democracia, a luta das
odo de terror político, a manifestação nal do Livro Didático do Ensino Médio. mulheres continua e a violência per-
do sentimento de dor e saudade de uma Questionado sobre a abordagem dos ca- manece. A lei Maria da Penha veio para
mãe que, como Chico Buarque can- sos das guerrilheiras, Vanderlei é enfático coibir, mas ela resiste. Milhares morrem
ta em Pedaço de Mim, é o revés de um em sua resposta: “Nos poucos livros em e são agredidas em razão de seu sexo.
parto, (...) é arrumar o quarto, do filho que são mencionadas, as mulheres apa- Temos uma presidente mulher, mas elas
que já morreu”. recem apenas como vítimas da repres- ainda apanham. A pesquisa do IPEA,
Para mães como Zuzu Angel, seu fi- são. Os estudantes de esquerda que luta- mesmo com seu erro, mostra que o pre-
lho não era Henrique ou Paulo, codino- ram contra a ditadura brasileira, segundo conceito está nas mulheres também. É
mes no MR-8, e sim Stuart Edgar Angel um dos livros analisados, eram barbudos uma batalha a ser travada por todos: o
Jones, morto nos porões da ditadura. e cabeludos”, disse. respeito ao corpo da mulher.

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