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EPÍLOGO DA ARTE OU

DA HISTÓRIA DA ARTE?

Quem hoje se manifesta a respeito da arte e da história da


arte vê toda tese que gostaria de apresentar a um leitor
talvez ainda existente invalidada de antemão por muitas
outras teses. Não é mais possível assumir absolutamente
nenhum ponto de vista qi,e já não tenha sido defendido
de uma forma ou de outra. O melhor é perseverar no pró-
prio ponto de vista pelo qual se decidiu e já contar com o
fato de que os outros ou o consideram falso ou, caso con-
cordem, tenham-no compreendido de maneira equivocada.
É o tempo do monólogo, não do diálogo. Naturalmente, ainda
há temas comuns nos quais permanece em aberto o que têm
em mente aqueles que se agrupam por detrás deles. Os epí-
logos estão incluídos entre esses temas. Eles entraram em
moda há muito tempo, de maneira que se poderia escrever
antes sobre um epílogo do tempo dos epílogos. Não é im-
portante o que os epílogos designam, se o fim da história, o
fim da modernidade ou o fim da pintura. O importante é so-
mente a necessidade de epílogos que caracteriza uma época.

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Onde não se descobre nada de novo e o velho não é mais o Um epílogo de algo pelo qual nos orientamos certa vez
velho, sempre se supõe o epílogo. mede o presente segundo modelos que o presente não pode
o epílogo, contudo, também é hoje uma máscara em que se satisfazer. Em nosso caso, esse epílogo é a cultura da moder-
deixa rapidamente anunciar uma reserva contra as próprias nidade, com a qual nos identificamos tão enfaticamente como
teses para não desgastar a tolerância do leitor ou do ouvinte. nossos antepassados identificaram-se com a religião e a nação.
Quer se fale de "arte" ou de "cultura", quer de "história" ou Essa pátria espiritual não se encontra num lugar, mas antes
de "utopia", todo conceito é colocado entre aspas para poder em um tempo de ruptura e de utopias em que todos os olha-
levá·lo ainda mais longe na dúvida indicada. Já de antemão, res estavam voltados para um futuro ideal. A perda de uma
também levaMse em conta uma outra compreensão, distinta, tal perspectiva, contudo, não significa por certo o fim da mo-
mas em todo caso não mais um consenso. A cada conceito dernidade, mas antes a impossibilidade de encerrá-la, já que
está anexado um cartão de visitas que apresenta aquele que não possuímos nenhuma alternativa para ela, a menos que a
faz uso dele, a fim de delimitar desse modo o conceito geral .,
tratemos de maneira mais crítica ou que sejamos obrigados
a uma compreensão individual. Quem fala de cultura Jogo é a alterar os seus limites.
instruído de que isso propriamente não existe, e de que desse A modernidade se transforma em mil figuras acerca das
preâmbulo estão excluídas apenas a economia e as mídias. quais discutimos então se ela ainda sobrevive nelas ou se já
Os conceitos e as teses são hoje alcançados pelo mesmo des· as abandonou. Mesmo a história, que há muito tempo foi
tino que há muito tempo já atingiu a arte: eles só podem legi- anunciada como morta com base em razões consistentes, em
timar a si mesmos com ressalvas acerca da própria declaração. todo mundo toma a palavra novamente de maneira embara-
Naturalmente, muitos ganham o pão com a mudança daquele çosa e inconveniente. E, por fim, as artes clássicas, das quais
discurso que os sustenta. Porém, a consciência hoje, do que nos despedimos tantas vezes de maneira solene e definitiva,
quer que se preste contas, em todos os temas e registros da lín- continuam a existir, por assim dizer, contra todas as expecta-
gua, é de epílogo, assim como uma vez, no romper da moder- tivas e criam a partir disso precisamente uma nova liberdade
nidade, foi de prólogo, militantemente maníaca pelo futuro e e força. Isso não significa, no entanto, que ainda convivemos
intolerante diante do passado. Outrora se queria combater a com as velhas tarefas e possibilidades que certa vez possuiu
história que hoje se teme perder, visto que agora a história é a modernidade clássica. Todo olhar sobre essa modernidade
justamente a mesma modernidade que outrora era esperada. só pode ser um retrospecto que hoje nos elucida ainda mais

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sobre a situação modificada e a nova experiência cultural. Por ciona ao ser usada e cujas informações contudo dizem respeito
isso, tornou-se há muito supérflua a polêmica sobre o presente não a um criador, mas a um usuário. Por isso, desde o início re-
conservar ou não esse velho perfil da assim chamada moder- side na técnica uma indiferença diante de qualquer imagem hu-
nidade. Estamos prestes a ampliar o conceito de modernidade, mana ou imagem do nmndo, tal como sempre se refletiram na
assim como sempre ampliamos o conceito de arte quando qui- arte. A técnica, dito de modo extremo, não interpreta o mundo
semos estender a sua aplicação. que encontra à sua frente, mas produz um mundo técnico que
A arte multimídia surgida recentemente, para dar apenas hoje, sobretudo nas mídias, é muito consequentemente um
um exemplo, reage ao mundo da mídia que sabidamente não mundo da aparência, no qual qualquer realidade corporal
existia na modernidade clássica. Desde a sua origem as mídias e espacial é suprimida. Ela dramatiza desse modo a crise da
são globais, suprimindo com isso qualquer experiência cul- individualidade que irrompeu na modernidade desde o es-
tural regional ou individual. Elas alcançam todas as pessoas gotamento da cultura burguesa. Os filósofos já declararam o
e se ajustam a qualquer um, razão pela qual o consumo de homem como supérfluo ou u]trapassado, e os novos produtos
informação e entretenimento num alto nível técnico e de baixo artísticos, numa relação complexa e obscura com o mundo do
conteúdo tornou-se a sua principal finalidade. Nisso rebate consumo e da publicidade mais banal, são apregoados com
o conceito corrente de arte. Todos sabem que a arte se dissol- o bordão "pós-humano", no qual se esconde o mais terrível e,
veu num espectro de fenômenos opostos que há muito tempo espero, equivocado slogan de epílogo da nossa época.
aceitamos como arte, antes mesmo de termos formado um conM Ao mesmo tempo, todavia, forma-se lentamente um movi-
ceito a seu respeito. Exatamente a perda de um conceito de arte mento contrário quando precisamente as mídias da aparên-
conciliatório impede-nos de adotar uma posição fundamentada cia, que ainda vivem da crença moderna numa nova tecnologia,
em relação à arte multimídia, para permanecer no meu exem- desencadeiam um apelo ao retorno para a realidade pessoal
plo. A questão não é se as mídias são aptas para a arte, mas se os e corporal. O corpo constitui tema de eventos filosóficos, e
artistas ainda querem fazer arte com as novas técnicas. esse corpo humano experimenta a si mesmo - como em Gary
A arte está ligada de modo renitente a um artista que se Hill- em novas instalações, que fazem dele um tema [fig. 23a-ct].
expressa pessoalmente nela e a um observador que se deixa Cineastas como Peter Greenaway abandonam o mundo dos su-
impressionar pessoalmente por ela. Assim, ela é secretamente cedâneos, tal como surgiu no celuloide, na fita devideo e diante
rival da técnica, cujo sentido precípuo consiste em que ela fun- do monitor, e organizam exposições em que eles envolvem cor-

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poralmente o observador. Justamente ovelha e bom teatro, que pelo menos num epílogo de evocação, ao passo que seus opo-
outrora reservava para si a aparência, tornouMse hoje o refUgio sitores anunciam tanto mais rapidamente o fim da moderni-
da realidade perdida, pois é muito mais real do que podem ser dade que nunca estimaram.
todas as mídias analógicas e digitais. Quer se trate da "perda da aura", que Walter Benjamin via
Mas o problema de como reagir às novas técnicas e a uma como uma oportunidade histórica para uma arte nova, quer
nova estética já acompanha a discussão da modernidade desde da "perda de eixo", lastimada por Hans Sedlmayr numa mo-
o início. A discussão padecia sempre do fato de que os mais dernidade que saiu dos trilhos, o epílogo estava rapidamente
novos combatiam abertamente o antigo e outros o defendiam à disposição. O mesmo vale para a perda do conceito de obra,
a todo custo. Ambos os lados apelavam para a famosa lógica da concluída a partir de aparições como o Fluxus ou a arte con-
história a fim de impor o seu ponto de vista. Assim, as análises ceitual. A obra individual, que como algo original ocupava
assumiam rapidamente o caráter de epílogo, mas havia por as- um lugar sólido na consciência do público, parecia substituída
sim dizer duas espécies de epílogo, na medida em que os pri- por um espetáculo artístic~ fugaz no qual havia apenas especta-
meiros despediam-se alegremente do antigo e os outros o exor- dor e ator, mas não observádor. Na arte multimídia os videotei-
tavam à sua defesa. Aliás, desde que existe a cultura burguesa pes sempre desaparecem depois de exibidos, ou as instalações,
isso foi sempre assim, pois ela precisava de autos satisfação depois de desmontadas. Desse modo, a duração que existia na
e. no entanto, alimentava-se com padrões tirados da história e presença da arte é substituída por impressões que se ajustam
aos quais não podia mais corresponder. ao caráter fugaz da percepção atual. Há algumas décadas a pres-
A modernidade vivia da oposição de dois modelos, que são pela inovação na arte aumentou na mesma medida em que
se voltavam ora para o futuro ora para a tradição, e por isso encolheram as possibilidades de inovação nas artes clássicas.
encontrava em si mesma urna resistência necessária contra Oritmo com que surgem as invenções artísticas acelera-se, mas
as suas próprias utopias. Logo que a prática da cultura se a importância das inovações reduziu-se na mesma medida em
politizou, ela deixou profundas feridas neste século. de tal que elas não criam mais nenhum estilo novo. Há um longo
maneira que em retrospectiva toda vitória parece questioná- tempo, desde que o progresso não representa mais a produção
vel, assim como toda derrota parece justificada. Atualmente, artística e desprendeu-se do frívolo e letárgico remake, todos os
a própria modernidade transformou-se em tradição e, por estilos são admitidos um ao lado do outro, e é deixado à escolha
isso, seus defensores se dispõem de imediato a resgatá-la de cada artista o tipo de arte que ele quer fazer. Um clichê ainda

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recorda a cultura institucional da modernidade, que tinha o O FIM DA HISTÓRIA DA ARTE


progresso como programa de identidade. E A CULTURA ATUAL
Olhando retrospectivamente para a modernidade clássica,
percebemos, quando a medimos pela situação atual, uma sé-
rie de modificações fundamentais que escapam a qualquer
comparação simples, como já deixam claras as palavras que se
seguem. A pretensão de universalidade reivindicada pela mo-
dernidade demonstra-se, com a distância de hoje, como uma
visão eurocêntrica que jamais esteve voltada para uma amplia- Quando há dez anos publiquei O fim da história da arte?, pare-
ção global. A libertação em relação aos tabus pela qual a mo- ceu-me que também eu participava da produção de epílogos,
dernidade lutou outrora perdeu seu valor desde que a arte embora não fosse minha intenção dedicar um necrológio à arte
não provoca mais ninguém. A crença no ideal de um mundo ou à história da arte. Queria antes convidar a um momento
técnico da arte, como um mundo vital da humanidade, remon- de reflexão e depois indagâr se a arte e a narrativa acerca da
tava ao medo da perda da natureza. A provocação da cultura arte ainda eram adequadas uma à outra, tal como estávamos
burguesa por meio de uma vanguarda antiburguesa, pela qual acostumados. A oportunidade de publicar hoje esse ensaio
estava marcada a modernidade, cessou na medida em que com numa versão inteiramente reformulada, porém no quadro das
a burguesia a vanguarda também perdeu seu inimigo. Essa antigas teses, convida-me a traçar um balanço crítico e a atuali-
discussão em torno da imagem de uma cultura de elite recai no zar o argumento, o que só é possível em cada uma das etapas de
nível de uma cultura de massas, em que cada um pode fazer sua raciocínio que desenvolvo nos diferentes capítulos deste novo
escolha. A história, por fim, como lugar da identidade ou da texto. O resultado da revisão, para abreviar as coisas, consiste
contradição, perdeu sua autoridade na mesma medida em que em que hoje o antigo ponto de interrogação do título não tem
se tornou onipresente e disponível. Cessa também assim a his- mais validade. O flm da história da arte não significa que a arte
tória da arte como modelo de nossa cultura histórica, com o que e a ciência da arte tenham alcançado o seu fim, mas registra o
chegamos ao nosso tema. fato de que na arte, assim como no pensamento da história da
arte, delineia-se o fim de uma tradição, que desde a moderni-
dade se tornara o cânone na forma que nos foi confiada.

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A tese afirmava então que o modelo de uma história da arte arte semelhante. Soa assim o sinal de pausa para a velha peça,
com lógica interna, que se descrevia a partir do estilo de época quando não há muito tempo está sendo executada uma nova
e de suas transformações, não funciona mais: quanto mais se peça, que é acompanhada pelo público segundo o velho pro-
desintegrava a unidade interna de uma história da arte auto- grama e consequentemente é mal compreendida.
nomamente compreendida, tanto mais ela se dissolvia em todo O discurso acerca do fim não pode ser confundido com uma
o campo da cultura e da sociedade em que pudesse ser incluída. inclinação apocalíptica, a menos que a palavra seja entendida
A polêmica em torno do método perdeu sua intensidade e os in- no velho sentido de "descobrimento" ou de "desvendamento"
térpretes substituíram essa história da arte única e opressora daquilo que em nossa cultura se distingue como mudança. Não
por várias histórias da arte que, como métodos, existiam uma é possível seguir outro caminho sem a tentativa de recapitular
ao lado das outras, sem conflitos, semelhante à maneira como mais uma vez de qual objeto se trata e quem estava envol-
ocorre com as tendências artísticas contemporâneas. Os artis- vido no empreendimento da história da arte. A arte - como
tas, por sua vez, despediram-se de uma consciência histórica esbocei no prefácio - é entendida como imagem de um acon-
linear que lhes havia constrangido a continuar escrevendo tecimento que encontravàrna história da arte o seu enquadra-
a história da arte no futuro e ao mesmo tempo a combatê-la mento adequado. O ideal contido no conceito de história da arte
descompromissadamente no presente. Libertavam-se tanto era a narrativa válida do sentido e do decurso de uma história
do exemplo como da imagem inimiga de história que encon- universal da arte. A arte autônoma buscava para si uma his-
travam na variante história da arte e abandonavam os velhos tória da arte autônoma que não estivesse contaminada pelas
gêneros e meios nos quais as regras prescreviam incessante- outras histórias, mas que trouxesse em si mesma o seu sentido.
mente o progresso para manter o jogo em andamento. A par- Quando a imagem hoje é retirada do enquadramento, pois ele
tir de então a arte não precisava ser sempre reinventada pelos não é mais adequado, alcançou-se então o fim justamente da-
artistas, pois ela já havia se imposto institucional e comer- quela história da arte da qual falamos aqui.
cialmente: com a confissão, aliás, de que ela era e permanecia
uma ficção, com o que, a saber, já respondia negativamente
à questão sobre a sua relevância para a vida. Desse modo, os Como realização cultural, o enquadramento tinha uma impor-
intérpretes de arte pararam de escrever a história da arte no tância tão grande quanto a própria arte que ele capturava. So-
velho sentido, e os artistas desistiram de fazer uma história da mente o enquadramento fundia em imagem tudo o que ela

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continha. Somente a história da arte emoldurava a arte legada terminação, e também de uma incerteza que se transfere da
na imagem em que aprendemos a vê-la. Somente o enquadra- história da arte para a arte mesma.
mento instituía o nexo interno da imagem. Tudo o que nele Nesse contexto é sintomático que há algum tempo os ar-
encontrava lugar era privilegiado como arte, em oposição a tistas queiram abandonar, como eles dizem, "os quadros rígi-
tudo o que estava ausente dele, de modo muito semelhante ao dos" dos gêneros artísticos, pelos quais se sentem cerceados.
museu, onde era reunida e ek-posta apenas essa arte que já se Acreditam que o público também é forçado a um "olhar rígido"
inserira na história da arte. A era da história da arte coincide para um quadro imóvel, por maior que seja o movimento que
com a era do museu. aí transcorra, como no cinema. Todo gênero artístico mostra-se
A era da história da arte? Mais uma vez é necessário um como um enquadramento em que foi decidido o que poderia
esclarecimento dos conceitos. A ideia de uma história univer- tornar-se arte. Mas o significado do enquadramento, que man-
sal da arte afirmou-se, fora dos círculos estreitos dos artistas, tém o observador a distância e o obriga a um comportamento
somente no século XIX, na medida em que a matéria da qual passivo, estende-se além .,disso para a situação geral em que a
ela cada vez mais se apropriava descendia de todos os séculos cultura como tal é experimentada.
e milênios precedentes. Digamos de outro modo: a arte já era Tem-se a impressão de que haveria no conceito de cul-
produzida havia um longo tempo, mas sem a noção de que rea- tura, desde o século XIX, a compreensão categórica de uma
lizava uma história da arte específica. Aqui se oferece mais cultura histórica que retrospectivamente poderia ser ve-
uma vez a comparação com o museu. Os museus também se nerada e contemplada, mas também combatida. A luta por
serviam de uma arte que surgiu muito tempo antes e sem re- "arte e vida" é reveladora a esse respeito, pois significa que a
lação com essa instituição [fig. 1]. Desde então os artistas tam- arte não se encontrava na vida, mas, por assim dizer, em si
bém têm consciência do museu e de sua relação, ou contradi- mesma: no museu, na sala de concertos e no livro. O olhar do
ção, com a ideia de história da arte. Podemos distinguir uma amante da arte para uma pintura emoldurada era a metáfora
era da história da arte de todas as épocas anteriores que ainda da postura do homem culto diante da cultura que ele desco-
não possuíam urna imagem fechada do cenário artístico, ou bria e queria compreender, na medida em que a examinava, se
seja, nenhum enquadramento. Ê esse enquadramento que assim se quiser, em seus pensamentos, ou seja, quando a con-
está em jogo no meu argumento. Ê como se ao "desenquadra- templava como um ideal. Esse olhar era e permanecia sempre
mento" da arte se seguisse uma nova era de abertura, de inde- público, ao passo que o artista e os filósofos "faziam" cultura

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ou a transmitiam de tal modo que a observação desembocava mostravam somente arte e eram organizadas apenas em vir-
em conhecimento e compreensão. tude da história da arte, ou seja, seguiam o mandamento da
Hoje, ao contrário, não mais se assimila cultura pela ob- arte autônoma, agora multiplicam-se projetos de exposições
servação silenciosa como se olha uma imagem fixamente que preparam a cultura (ou a história} sobre determinado
emoldurada, mas numa apresentação interativa tal como um tema para o visitante curioso e não para o leitor de um livro.
espetáculo coletivo. Podem existir vários motivos para isso, O motivo para a organização de exposições reside então menos
como o de que produzimos cada vez menos cultura própria, na própria arte do que na cultura, que, para ainda ser convin-
mas desenvolvemos técnicas cada vez melhores para reprodu- cente, tem de ser apresentada de maneira visível por meio da
zir outra cultura. Com a formação desaparece também a pa- arte. Na Bienal de Veneza de 1995, Jean Clair planejou não uma
ciência para o exercício cultural obrigatório e surge o desejo retrospectiva sobre a arte moderna do século desde que a Bie-
pela cultura como entretenimento, que deve causar surpre- nal existe, mas algo totalmente diferente intitulado Identidade
sas em vez de ensinar, que deve desencadear um espetáculo e o outro- uma sinopse das ideias sobre o homem e a sua natu-
no qual participamos de algo que não mais compreendemos. reza, na qual a arte deve oferecer o espelho em que se delineia
Os artistas ajustam-se a esse desejo, segundo o "do it yourself' a mudança dramática da imagem do homem.
[faça-o você mesmo], e apresentam inclusive a história da arte, Como a arte sempre foi um subconceito privilegiado da
segundo a palavra de ordem do remalw, tão jocosamente e sem cultura, ela pôde desfrutar plena autonomia em seu próprio
respeito que desaparece aquela timidez surgida diante da fisio- terreno e sentir-se nele livre não apenas dos constrangimentos
nomia irrevogavelmente histórica dela. Em vez de representar da sociedade como também da obrigação de assumir outras
a cultura e a sua história de maneira rigorosa e irrepreensí- tarefas da cultura. Exatamente nisso consistia o orgulho de
vel, a arte participa de rituais de rememoração ou, conforme o uma cultura que se permitia tolerar uma arte livre e que agia
nível de formação do público, de revistas de entretenimento na segundo os próprios interesses. Os abusos ocorreram mais de
qual a cultura é solicitada a entrar em cena novamente. fora, quando a arte foi ideologizada ou politizada. Hoje, porém,
As novas ideias para exposições confirmam a ocorrência crescem no interior da cultura reivindicações de posse sobre
de um deslocamento na relação entre cultura e arte que con- a arte e não são em primeiro lugar de natureza ideológica
tribui com mais um argumento a favor do "fim da história da ou política. A cultura utiliza muito mais os últimos recursos
arte" [figs. 28, 2g]. Se até então era evidente que as exposições para conferir validade a si mesma e se encontra para o bem e

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para o mal no negócio da própria mediação, onde ela também Quanto menos podiam ser definidos somente por meio de suas
encarrega à arte a obrigação de assumir o lugar de testemunha. obras, tanto mais invocavam uma história na qual sempre se
encontrava o sentido da arte. Eles mesmos faziam história
quando produziam obras de arte, e em compensação seguiam
Essas são até aqui observações gerais que não levam em consi- a história quando reproduziam a partir dela seus modelos.
deração quem participa da história da arte e quem lucra com Às vezes, o sentido de uma obra se deduz mais da época a que se
ela. Os artistas, os historiadores da arte e os críticos de arte reporta do que daquela em que surge. Atualmente, os artistas
não têm a mesma imagem da história da arte, mas todos estão invocam a história da arte contra a low arte o gosto cotidiano,
envolvidos nela de modo semelhante. A aliança entre o artista sob a forma de uma rememo ração cultural, para manter de
e aquele que escreve sobre arte, ambos participantes da produ- pé o sentido da arte. Há muito tempo a arte já não é mais um
ção da história da arte, esteve submetida durante longo tempo assunto de elite, mas assume em substituição todos os papéis
a uma prova duvidosa. O primeiro era responsável pelo futuro, da representação de identidade
., cultural, os quais nesse meio
o outro pelo passado. A história que dava (ou tirava) a razão a tempo não têm mais lugar nas instituições da sociedade. Quem
uns foi escrita pelos outros, o que também não é mais verdade, fala sobre arte a encontra em todas as funções possíveis por ela
desde que a estratégia mercadológica dos galeristas decide so- exercidas hoje. Em todo caso, onde a arte entra em cena o es-
bre 0 que, na sequência, se tornará história da arte. Por muito pecialista é requisitado apenas por uma questão ritual e não
tempo a discussão entre os historiadores e os artistas ocorria mais para um esclarecimento sério. Onde a arte não gera mais
na porta do museu, o qual defendia uns dos outros. Também conflitos, mas garante um espaço livre no interior da socie-
isso mudou, desde que ambos os partidos se superaram no dade, ali desaparece o desejo de orientação que sempre estava
esforço de garantir ao museu a última palavra e passaram a voltado para o especialista. Onde não existe mais esse desejo,
explorar justamente no templo da história a bolsa de valores ali também deixa de existir o leigo.
diária da arte. Museu e feira de arte dificilmente podem ser di- Essas observações não são refutadas pelo fato conhecido
ferenciados quando encontramos nas feiras de arte as mesmas de que o cenário artístico e a ciência da arte alegram-se com
obras que já passaram pelos museus. um boom nunca antes imaginado. Quando nos voltamos para
Por outro lado, os artistas que tanto queriam livrar-se da os dados estatísticos, percebemos então ter alcançado o auge
história da arte eram também os seus cúmplices e beneficiários. de uma evolução em que o número de artistas e de galerias

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de arte cresceu como uma avalanche. Em Nova York, bairros só pode ser entendido por meio de um dicionário, atingindo
inteiros são restaurados quando artistas e galerias se transfe- assim um estágio final provisório no qual se esmaece a lem-
rem para lá. O sucesso da arte, que também é colecionada pelos brança do sentido anterior e a norma cultural de uma história
bancos e pendurada nos gabinetes dos políticos (e trata-se sem· da arte única e obrigatória.
pre de arte recente, de arte contemporânea), não é diminuído
pela queixa acerca do perfil perdido ou duvidoso. A caixa de
Pandora reserva a todos a sua parte, de tal modo que os intér- Numa situação semelhante encontra-se hoje a teoria da arte.
pretes de arte são substituídos no prestígio social pelo con- Em nossa cultura compartimentada ela está distribuída em
sultor de investimentos. O sucesso da arte depende de quem tantas especialidades e grupos profissionais, que revela mais
a coleciona e não de quem a faz. sobre a disciplina em que é exercida do que sobre a arte da
A esse boom corresponde o boom da história da arte, e na qual trata. Com a filosofia da arte acontece a mesma coisa,
Alemanha o número de estudantes universitários constitui um desde que a estética filosófica foi parar nas mãos de especialis-
fator de mercado no planejamento das editoras. O desenvolvi- '
tas que escrevem a sua história, mas não apresentam nenhum
mento internacional da história da arte é evidenciado quando projeto novo. Os poucos projetos que tiveram éxito em nosso
a editora Macmillan anuncia um dicionário de arte que deverá século- menciono apenas Jean-Paul Sartre, Martin Heidegger
conter, em 34 volumes, 533 ooo entradas sobre arte mundial. e Theodor W. Adorno - nasceram no quadro de uma filosofia
Diante do céu estrelado de uma pintura de Ticiano, como se pessoal e são compreensíveis somente no quadro dessa filo-
víssemos os nomes dos participantes de um filme que se ini- sofia. Eles tampouco puderam fundamentar uma teoria da
cia, reluz a informação extraordinária de que "6 700 estudiosos arte vigente e de uma unidade interna. As teorias dos artistas
reuniram-se para transformar o mundo da história da arte" ocuparam o lugar da antiga teoria da arte. Onde falta uma teo-
[fig. 3]. O círculo dos editores responsáveis consiste em apenas ria geral da arte, ali os artistas reservam-se o direito a uma
doze eruditos conhecidos (dos quais um já falecido), embora a teoria pessoal que expressam em sua obra.
comunidade dos historiadores da arte deva hoje ultrapassar Uma coletânea organizada em 1982 por Dieter Henrich e
em muito 6 700 colaboradores, pois não conheço ninguém, Wolfgang !ser chegou à conclusão de que uma teoria da arte
incluindo a mim mesmo, que colabore nessa obra. O mundo integradora teria desaparecido. Em seu lugar existiriam para-
da história da arte tornou-se muito grande, tão grande que lelamente muitas teorias com responsabilidades restritas uma

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ao lado das outras, que também separavam a obra de arte de cronológica, iguala-se em sua colorida variedade à própria his-
sua unidade estética e a decompunham numa "visão em pers- tória da arte. Ela traz um subtítulo apropriado: AnAnthology of
pectiva". Prefere-se às vezes discutir mais sobre as funções da Changing Ideas [Uma antologia de ideias em mutação].
arte do que sobre a própria arte e já se vê a experiência esté- Simultaneamente ao meu ensaio anterior, o filósofo Arthur
tica como um problema que necessita de esclarecimento (!ser). Danto publicou, em 1984, suas teses sobre o fim da história da
Alguns desses projetos harmonizavam-se surpreendentemente arte, nas quais associava o argumento com uma tomada de
com as "formas artísticas contemporâneas" que superavam na posição em relação à teoria da arte. Numa segunda versão,
obra de arte a "posição histórica de símbolo" e ligavam-na a fun- publicada em 1989 na revista Grand Street, afirmou que a arte,
ções particulares "no processo social" (Henrich). É a falta de au- desde que ela própria formulou a questão filosófica sobre a sua
tonomia, portanto, que aqui é lamentada quando a obra oscila essência, transforma-se em "filosofia no mediwn da arte" (was
entre a mera ideia de arte, por um lado, e um mero objeto com doing philosophy) e desse modo abandona a sua história. Já em
uma forma cotidiana, por outro. Se uma obra se transforma ela .,
sua publicação anterior Transftgttration of the Common Place
mesma em teoria ou se, inversamente, nega a fisionomia esté- [A transftgttração do lttgar-comum], Danto perguntava-se o
tica, que sempre isolou a arte do mundo das coisas, perde-se que significava o fato de que a arte se deixa definir apenas nos
rapidamente o solo da teoria clássica da arte. termos de um ato filosófico, a partir do momento em que não
O problema, se é que ainda se trata de um problema, surge se distingue mais fenomenologicamente de uma forma banal.
apenas ali onde a filosofia da arte reivindica um monopólio Referia-se naturalmente a Hegel, como fazem todos os filósofos,
que na modernidade pode ser tão pouco preservado quanto a quando então explanava: "Na medida em que se tornou algo
ideia de uma história da arte linear e unívoca. Por que deveria diferente, isto é, filosofia, a arte chegou ao fim". Desde então
haver tantos tipos de arte, todos absorvidos por uma única teo- os artistas foram eximidos da tarefa de definir a própria arte
ria? Teorias, obras e tendências artísticas rivalizam-se entre si e com isso ficaram livres também de sua história prévia, na
no mesmo nível, e o próprio pensamento assume uma forma qual tinham de demonstrar o que afinal os filósofos podiam
jocosa; polêmica e artística, tal como se estava habituado an- fazer por eles.
tigamente somente pela prática escultórica. Uma nova coletâ- Devolvi a tese radicalizada, a fim de desvendar a imagem de
nea com mais de 11oopáginas, que reúne aArtin Theory [Arte um filósofo que nela se esconde. Mas a questão que Danto for-
em teoria] deste século numa sequência ainda meramente mula já acompanha a história da arte há muito tempo, talvez

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há tanto tempo quanto se reflete sobre a arte. E há muito tempo Não se pense, porém, que isso seja apenas um assunto das
encontra-se por trás dessa pergunta a ideia de que ela poderia velhas mídias. pois também as mídias técnicas hoje exis-
ser uma ficção. O "aterramento" desse produto da imaginação tentes caem na mesma dificuldade quando são solicitadas
ocorria sempre que eram colocadas em primeiro plano as "ar- a um espetáculo de arte e. de maneira semelhante, tendem
tes", no plural de gêneros artísticos, cuja história podia ser violentamente à dissolução do seu perfil comprovado. Numa
escrita. Por isso, Danto diz com acerto que um fim da arte, no entrevista concedida ao número de junho de 1994 de Film Bul·
sentido de determinada narrative of the history of art [narrativa letin. Peter Greenaway justifica-se por fazer cada vez menos
da história da arte], seja concebível somente no quadro de uma filmes e cada vez mais exposições. É portanto a situação do
história interna, uma vez que fora do sistema não poderia ser cinema, com o seu rígido enquadramento, no qual o obser-
feito nenhum prognóstico, e portanto também não se poderia vador já estava fixado na pintura, que ele quer "superar". Por
falar de um fim. isso interessa-lhe que alguns dos seus filmes sejam adaptados
Se a arte atinge seu objetivo no espelho de todos os gêneros para peças de teatro, embora também entenda o palco como
em que durante muito tempo ela foi realizada, agora é possível limitação para a experiêhcia estética do público. Qualquer
identificar o que move os ânimos. Aqui o progresso. que sempre instante de ordem enche-o de inquietação. "Todas as regras e
manteve as artes particulares vivas no próprio mediwn. enfra- estruturas são unicamente construções", das quais, contudo,
quece como necessidade no sentido que deteve até agora. O pro· só podemos nos livrar com muito esforço. Greenaway, histo-
gresso é trocado pela palavra de ordem remake. Façamos nova- riador da arte e artista numa única pessoa, estudou a sua téc-
mente o que já foi feito. A nova versão não é melhor, mas também nica de luz ou a sua organização da imagem frequentemente
não é pior- e, em todo caso, é uma reflexão sobre a antiga versão em antigos pintores, percorrendo os caminhos históricos
que ela (ainda) não poderia empregar. Os gêneros, que sempre sem pagar o imposto alfandegário para os policiais frontei-
ofereceram o enquadramento sólido que a arte necessitava. se riços da modernidade. Para ele, a técnica é um meio de ex-
dissolvem. A história da arte era um enquadramento de outro pressão e, por isso, uma condição contínua e não restrita à
tipo, que fora escolhido para ver em perspectiva o aconteci- arte moderna. Por um lado, como confessa na entrevista, ele
mento artístico. Por isso, o fim da história da arte é o fim de uma quer desencadear uma obra de arte barroca em seu conjunto,
narrativa: ou porque a narrativa se transformou ou porque não na qual o público vivencie o seu entorno natural como um
há mais nada a narrar no sentido entendido até então. filme, e, por outro lado. está fazendo atualmente um filme em

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preto e branco, cujo "tema é o de que a história não existe, mas do Propileu, do mesmo modo que só se pode compreender
é construída pelos historiadores". a história da arte no enquadramento de sua própria história.
Greenaway compreende a si mesmo em tais declarações É o enquadramento que entra hoje novamente em discussão,
como protagonista de uma cultura da pós-história, na qual o uma vez que, de repente, é visto em toda parte onde antes nem
fim da história da arte se cumpre ao mesmo tempo na sua pre- sequer era notado por nós. Em nosso caso, a descoberta de
sença espontânea. A ciência da arte não pode lidar com esse Preziosi, segundo a qual toda história da arte era uma teoria
tema com a mesma liberdade, pois deve temer pela sua própria da história, é a descoberta do enquadramento.
continuidade. Antes, ela se ocupa da alegoria de sua histo- O fim da história da arte é praticado hoje numa grande
riografia ou da arqueologia do saber acumulado, tal como se quantidade de livros cujo assunto não é de modo algum tal
encontra num livro de Donald Preziosi, RethinlângArt History fim. Eles são coloridos, originais e desinibidos, no sentido de
[Repensando a história da arte], no qual sou citado numa epí- uma disciplina rígida do saber e da demonstração. A própria
grafe, mas não apareço no texto. O livro deve ser compreen- cultura não é mais aí o severo juiz diante do qual se responde
dido como uma "série de prolegômenos ligados entre si que por sua ciência, mas o bJlo desconhecido que se conhece no ca-
se antecipam a uma história que tem de ser escrita, se quiser- minho da sedução. Dito de outro modo, cada um procura seu
mos saber para onde ela caminha", um entendimento portanto próprio caminho para se orientar no labirinto da cultura his-
sobre a verdadeira história da história da arte, tal como foi tórica em que se rompeu o fio de Ariadne. Trata-se sempre
produzida pela literatura especializada. Um capítulo sobre aqui dos primórdios daquilo que se experimenta agora sob
"arte" paleolítica, que como se sabe nunca foi objeto da disci- uma vaga ideia de fim. Num livro publicado em 1994 sobre
plina, chega à conclusão paradoxal de que se não houve arte, no Wincl<elmann and the Origins of Art History [Winckelmann
sentido que a conhecemos, em tempos remotos, também hoje e as origens da história da arte], o inglês Alex Potts formula,
é questionável se possuímos a correta compreensão da arte. simultaneamente, a questão inquietante acerca da fascinação
No último capítulo, o autor faz um jogo de palavras possível pelos corpos de mármore nus ou, como se lê no titulo, a questão
apenas em inglês, quando deixa a critério do leitor se quiser acerca da Flesh and the Ideal [A carne e o ideal]. Ela é respon-
ler o título como "fim da história da arte" ou "propósito (ends) dida já na foto homoerótica em detalhe do corpo de Antínoo
da história da arte". O texto termina com uma descrição da no belvedere do Vaticano: aquele Antínoo que o imperador
acrópole de Atenas, que era vista através do "enquadramento" Adriano deve ter amado uma vez. Mas a distância historiográ-

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fica em relação ao autor homossexual Winckelmann e a sua
arqueologia é sutilmente mantida, até quando Walter Pater
publica um ensaio sobre Winckelmann em 1867, na Inglaterra,
onde toma a palavra para se pronunciar acerca de uma "teo-
ria sobre a autoexperiência sexual perversa na formação e na
crítica cultural", como escrevia Pater, que se espantava afinal
com a "beleza assexuada das estátuas gregas". E Potts prosse-
gue: "Seria anacrônico supor que Pater estava investigando
uma identidade homossexual, mas o presenciamos no limiar
de uma autoconsciência moderna da sexualidade como um
fator essencial para as definições do eu".
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