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EJA - Educação de Jovens e Adultos

Francis - Elpi de Oliveira Nascimento

Julho / 2009
Governo Federal
Presidente da República Federativa do Brasil
Luis Inácio Lula da Silva

Ministério da Educação
Fernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEED/MEC


Carlos Eduardo Bielschowsky

Diretor da UAB
Celso Costa

Reitor IFMT
José Bispo Barbosa

Pró Reitor de Ensino IFMT


Willian Silva de Paula

Coordenador Geral UAB/IFMT


Alexandre José Schumacher

Coordenador Adjunto UAB/IFMT


Cláudio João Bernardi

Diagramador
Alexandro Uguccioni Romão

Revisão
Maria Antônia da Silva
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA  
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SUMÁRIO

UNIDADE I
História da EJA - Educação de Jovens e Adultos

UNIDADE II
Lesgilação e Formação

UNIDADE III
Questões Didáticas

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INTRODUÇÃO                                     1
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA  
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No ensino a distância, o aluno não freqüenta

Prezados uma sala de aula; ele estuda sozinho, sem a


presença física de um professor a seu lado. No

Alunos: entanto, o professor não está de todo ausente. Na


verdade, sua presença pode ser sentida através do
Bem vindos a mais esta etapa de nosso curso. material didático, especialmente elaborado para
Nesta disciplina, estaremos conversando sobre a este fim. Pode ser sentida, também, através do
EJA (Educação de Jovens e Adultos) e a sua acompanhamento que ele fará do aluno – face a
importância no seio de nossa sociedade. face em algumas aulas presenciais, ou mesmo à
Esperamos que vocês tirem o máximo proveito distância – esclarecendo suas dúvidas e ajudando-o
desta disciplina e que, junto com milhares de outros em suas dificuldades.
professores, possam contribuir para a diminuição
da exclusão social e para a inclusão destes Para que não se sinta sozinho, são

alunos/trabalhadores que precisam avançar em seu providenciadas, nesta modalidade de ensino,

processo de educação formal a fim de conquistarem algumas aulas presenciais em que você se encontra

a cidadania plena e superarem todos os desafios com colegas que estejam fazendo o mesmo curso e

que enfrentam. com o professor, que está à sua disposição. Aliás,


no ensino a distância, o professor assume um título
Falando em desafios, temos o nosso pela diferente: ele é um orientador de aprendizagem,
frente. Com certeza, aprender é um processo uma vez que sua função é exatamente a de orientar
individual: afinal, cada pessoa tem um ritmo o aluno no seu processo de aprendizagem.
próprio em que adota mecanismos que melhor
favoreçam sua aprendizagem. Enfim, estabelece Muito embora saibamos que cada indivíduo

um caminho muito particular para seguir. E esse adota formas bastante próprias para explorar e

caminho é respeitado principalmente quando se aprender os conteúdos, registramos, aqui, algumas

estuda à distância. sugestões para você desfrutar mais e melhor de seu


estudo individualizado. Aí vão elas:
Mas o que é, afinal, o ensino a distância?
 Escolha um lugar tranqüilo para estudar;
O ensino a distância é uma alternativa
 Durante a primeira leitura do material,
educacional que, entre tantas outras vantagens,
destaque as idéias que lhe pareçam mais
possibilita ao aluno gerenciar seu próprio estudo. É
importantes, visando sempre buscar a
ele que decide quando, quanto e como vai estudar.
compreensão do texto;
Assim sendo, sinta-se à vontade para estabelecer o
 O material possui algumas atividades de
seu cronograma de estudo, porém não deixe de
reflexão, busque fazer questionamentos
fazê-lo, pois no ensino a distância a autodisciplina
e estabelecer as possíveis respostas para
é fundamental, caso contrário, o tempo vai
as questões levantadas, a fim de ir
passando, os prazos sendo vencidos e as atividades
construindo a sua aprendizagem;
podem acumular-se e com isso prejudicar o
aproveitamento.  Caso surja alguma dúvida durante o
estudo, anote-a, para depois esclarecê-la
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INTRODUÇÃO                                     2 1
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com o orientador de aprendizagem, seja


num momento de encontro, seja à
distância, utilizando as ferramentas de
comunicação;

 Só realize os exercícios de cada módulo


quando tiver certeza de que
compreendeu bem o conteúdo;

 Prepare-se para a realização dos


exercícios através de meditação sobre os
conteúdos informacionais oferecidos
pela apostila ou pelo ambiente, através
de material adicional;

Parece complicado estudar sozinho? Não se


preocupe! Lembre-se de que você pode contar
sempre com o seu professor orientador de
aprendizagem. Nos pólos, uma segunda ajuda está
à disposição: são os tutores presenciais que poderão
auxiliar em algumas dúvidas e ajudar a organizar
grupos de estudo em que a socialização
possibilitará um melhor aproveitamento dos
conteúdos, pois sem dúvida, “duas cabeças pensam
melhor do que uma” e várias então...

A distância, por maior que seja, não


dificultará o bom entendimento entre vocês se
houver comprometimento, vontade de aprender e
desejo de se ajudarem mutuamente em prol de um
objetivo único: a aprendizagem de todos.

Nosso lema será: Nenhum a menos. E nosso


objetivo que todos alcancem a aprendizagem.
Pronto para começar seus estudos? Então, bom
estudo e muito sucesso no seu trabalho. Algum
dia, quem sabe, a gente se encontra por aí ...

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INTRODUÇÃO                                     3 2
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história e da prática que queremos construir a fim

UNIDADE I de mudar a atual realidade excludente que permeia


não somente a realidade brasileira, mas a mundial.
História da EJA -
Educação de Jovens e O CENÁRIO MUNDIAL

Adultos
“Quanto mais um homem se aproxima
O COMPROMISSO DA UAB COM A EJA de suas metas, tanto mais crescem as
dificuldades.”
“Pensamos demasiadamente e sentimos
muito pouco… Necessitamos mais de - J. W. von Goethe
humildade que de máquinas. Mais de bondade e  
ternura que de inteligência. Sem isso, a vida se
A preocupação com a EJA, vem desde 1949,
tornará violenta e tudo se perderá.”
com a I Conferência Internacional de Educação de

Charles Chaplin Adultos, em Elsinore, Dinamarca, elaborada por


  movimentos globais que assinalam a importância

As políticas públicas de educação têm das políticas públicas voltadas ao segmento

variado muito no decorrer das décadas. O Brasil populacional dos adultos. Passando por variadas

nunca teve uma política pública de educação que concepções, essa modalidade de educação,

desse continuidade ao processo de resgate para a retratada neste momento por acordos que têm força

cidadania de grandes parcelas excluídas de nossa de lei, viu a continuidade de seus caminhos

sociedade. traçados pelas Conferências de 1960 em Montreal,


Canadá; de 1972, em Tóquio, Japão; de 1985, em
Neste contexto, a Universidade Aberta do Paris, França, até julho de 1997, quando se realizou
Brasil, pretende demarcar seu compromisso e seu a V Conferência Internacional de Educação de
papel social frente às lutas e movimentos sociais Adultos em Hamburgo, Alemanha.
para a democratização da Educação
comprometendo-se com a formação de professores Como você pode ver, a preocupação com esta

habilitados para a atuação na EJA e se constituindo clientela em específico é mundial, pois trata-se de

como espaço de formação, aberto à defesa da uma realidade vivenciada por todos os países,

cidadania plena e dos direitos humanos, daí a desenvolvidos ou não, embora nos países não

necessidade deste módulo abordando de maneira desenvolvidos a situação seja mais exacerbada.

específica, à Educação de Jovens e Adultos - EJA e Desde o pós-guerra, conscientes do


a contribuição que ela pode dar à sociedade. significado de educar os adultos, os países do

Iniciaremos com uma abordagem histórica mundo vêm enfrentando o desafio de atuar para

sobre a educação de Jovens e Adultos no Brasil e mudar a realidade educacional desses sujeitos,

no Mundo: concepções, movimentos, atualizações, atualmente contando com 862 milhões de pessoas

contribuições, entraves, legislação e reflexões a analfabetas, número esse superior ao de crianças

respeito da realidade vivenciada no decorrer da que freqüentam a escola primária em todo o


mundo.
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Na Conferência de Hamburgo, especialmente, participar junto com adultos e idosos desta


o sentido da educação de adultos alargou-se para modalidade de Educação? Forme a sua opinião e
absorver a idéia do aprender por toda a vida, como depois compare-a com as informações que serão
condição indispensável à vida adulta, porque os fornecidas e procure descobrir as razões que
sujeitos se humanizam e se formam em processos levaram a esta decisão por parte da maioria dos
continuados de aprendizagem, não representados países do mundo. A educação de Jovens e Adultos
necessariamente pela escola, mas pelos múltiplos é um tema tão relevante que foram criadas muitas
espaços sociais em que interagem, como o do instâncias para refletir, debater e propor soluções
mundo do trabalho, das relações familiares, sociais, para esta problemática. Você conhece algumas
religiosas, de sindicatos, partidos políticos, destas instâncias? Na sua região existe alguma ação
associações etc. para a EJA?

A Declaração de Hamburgo detalha um


Para refletir: O que você detrai da
conjunto de recomendações que devem ser
idéia de “aprender por toda a vida”? Quais as
implementadas por agentes governamentais e não-
consequências de uma prática voltada para essa
governamentais para atuarem eficientemente junto
idéia? Qual seria o papel da escola diante de tal
ao atendimento desta parcela da sociedade que se
concepção de formação?
vê excluída e clamando por ajuda.

Juntamente com a Declaração de Hamburgo


foi estabelecida a Agenda para o Futuro, com
estratégias de implementação e acompanhamento
das ações e intenções acordadas durante a V
CONFITEA.

A CONFITEA – Conferência Internacional


http://instrumentalbrasil.com/chapadadoararipe/200
de Educação de Adultos promovida pela
9/07/04/
Organização das Nações Unidas para a Educação,
Para poder lidar com a situação, metas foram
Ciência e a Cultura – UNESCO, ocorre em média
estabelecidas e também foi reconhecido o direito de
de 12 em 12 anos e, discute desde 1949, a
sujeitos jovens integrarem a modalidade educação
importância de ações voltadas para a educação de
de adultos, conforme vinha acontecendo na prática
adultos. No ano de 2009, pela primeira vez na
educacional de muitos países do mundo, ao longo
história, um país localizado no hemisfério sul terá o
do intervalo de tempo entre as duas últimas
privilégio de sediar o mais importante evento
conferências. A maioria dos países assumiu
mundial sobre a educação de adultos. A VI
compromisso de estabelecer a educação como
CONFITEA ocorrerá no Brasil em maio de 2009,
elemento chave para o seu desenvolvimento no
em Belém do Pará.
século XXI.
Para organizar o evento já ocorreu entre os
Para refletir: E você, o que pensa? dias 28 e 30 de maio/2008 o Encontro Nacional
Os sujeitos educando mais jovens deveriam Preparatório à VI CONFINTEA da UNESCO que
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se realizou em Brasília, culminando os encontros especificamente na história da educação de jovens


estaduais, distrital e regionais com a elaboração do e adultos, significam avanços que, certamente,
Documento Base Nacional, sob o princípio da pesaram positivamente na escolha do Brasil para
construção coletiva, que foi apresentado pelo Brasil sediar a VI CONFINTEA.
na Conferência Latino Americana no México, em
A CONFITEA certamente trará enorme
setembro de 2008.
contribuição para a temática por se tratar de um
O Brasil participará da VI CONFINTEA com evento internacional, pois é através deste
vários desafios assim colocados: mecanismo que se estabelecem ações e objetivos a

 Consolidar a compreensão do conceito de serem perseguidos, não apenas pelo Brasil, mas por

educação e aprendizagens de jovens e adultos como todos os países que se acham representados.

um direito humano que se efetiva ao longo da vida, Espera-se como resultado da Confintea VI a
por diversos meios, e expressa a idéia de que a integração horizontal e vertical da educação e
juventude e a adultez também são tempos de aprendizagem de adultos e a mudança de postura
aprendizagem; por parte de todos os países no sentido de
 Contribuir na construção de políticas abandonarem o retórico e partirem para uma ação
estratégicas de implantação ou fortalecimento da mais efetiva que garanta o alcance dos objetivos, já
modalidade de EJA na Educação Básica no Brasil, que em 12 anos, poucos avanços foram observados.
tendo como marco de referência a promulgação da
A QUESTÃO DA EXCLUSÃO
Lei nº 11.494/2007 que instituiu o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação
“A educação é aquilo que resta depois
Básica e de Valorização dos Profissionais da
de esquecermos tudo aquilo que nos foi
Educação - FUNDEB e garantiu recursos para o
ensinado”
financiamento dessa modalidade, estabelecendo um
novo patamar para qualificar e ampliar as (Michael Hammer)
 
oportunidades para os alunos(as) da EJA;

 Fortalecer a política pública de EJA, por A V Conferência Internacional de Educação

meio do diálogo com diferentes esferas da de Adultos em Hamburgo, Alemanha, deu início

sociedade civil e do Estado, aprofundando a aos trabalhos retomando o tema da alfabetização

discussão das políticas em curso. para jovens e adultos, considerando uma estimativa
de que 39 milhões de pessoas ainda se encontravam
Esta é a forma de ver, pensar e propor ações sem saber ler e escrever, o que correspondia a 11%
para a Educação de Jovens e Adultos, construída ao da população maior de 14 anos.
longo desses últimos dez anos, tendo à frente os
Fóruns de EJA constituído pela sociedade civil e A este número deve-se acrescentar 110

política e os ENEJAs – Encontros Nacional de milhões de jovens e adultos que não completaram

Educação de Jovens e Adultos que este ano quatro anos de escolaridade, ou seja, estão na

completam 10 anos produziram um novo tempo categoria dos assim chamados “analfabetos

histórico na educação brasileira, mais funcionais”, e também 20% de crianças que ainda

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não completaram a educação primária. (Atividade dissertativa que pode ser utilizada na
avaliação da aprendizagem como avaliação de
Os representantes presentes à Conferência
sondagem).
reafirmaram que:
O CENÁRIO BRASILEIRO
“Hoje, mais que nunca, a educação e a
aprendizagem dos adultos constituem a
chave indispensável para liberar as forças
“A política se renova: sujeitos da
criativas das pessoas, dos movimentos diversidade aprendem... por toda a vida As
sociais e das nações. A paz, a justiça, a
autoconfiança, o desenvolvimento coisas estão no mundo... só que eu preciso
econômico, a coesão social e a
aprender.”
solidariedade continuam a ser metas e
obrigações indispensáveis que terão de ser
perseguidas, reforçadas por meio da (Paulinho da Viola)
educação e da aprendizagem dos adultos.”
 

Para refletir: Como anda a No Brasil, a história não é diferente. Também


entre nós a Educação de Jovens e Adultos nem
realidade educacional na região em que você vive?
sempre esteve em destaque. Se em alguns
Existem muitas pessoas analfabetas ou analfabetas
momentos figurou como direito no texto
funcionais? Que dizer das crianças? Estão sendo
constitucional, noutros foi excluída, voltando a ser
alfabetizadas e tendo continuidade nos estudos na
relegada a segundo plano. Depois de longo período
faixa considerada ideal? Olhe à sua volta, em meio
sem reconhecer o direito dos adultos à educação a
às pessoas com as quais convive, consegue
Constituição de 1988 assume o direito de todos ao
identificar pessoas que foram excluídas do
Ensino Fundamental, independente da idade,
processo de educação formal e que gostariam de
incorporando ao texto a luta de educadores e
poder ter tido acesso maior à educação?
movimentos em prol da igualdade de direitos para
ATIVIDADE todos.
 

Faça um levantamento na sua localidade Em 1990, o governo do presidente Fernando


sobre a necessidade da EJA. Existe demanda para Collor de Melo extingue a Fundação Educar – que
este tipo de formação? Esta demanda está sendo representava a política brasileira, depois da
atendida? O que se oferece com o objetivo de ditadura, para a Educação de Jovens e Adultos,
atender a esta demanda, atende às reais substituindo-a pelo Programa Nacional de
necessidades dos que dela necessitam? Ou se Alfabetização e Cidadania (PNAC), proposta que
constituem em momentos de escolarização como nem chegou a vigorar enquanto política, pois foi
aqueles oferecidos para os alunos em idade ideal? logo abandonada – e os rumos da EJA passaram a
Faça uma leitura crítica da EJA oferecida em sua ser ditados pela concepção de que esta só existe
localidade, apontando: suas virtudes, seus entraves, pelo fracasso da escola básica de crianças e das
suas deficiências, a visão dos alunos, a visão dos pessoas que não souberam aproveitar as
professores, o ideal para atender às necessidades oportunidades oferecidas pela sociedade através da
apresentadas. Faça também uma leitura das educação pública.
políticas públicas implementadas até então.
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“Esta concepção, na contramão da com os analfabetos.


história, desconsiderava a condição de
aprendizes por toda a vida dos sujeitos
adultos, e continuava a considerá-los Para Refletir: E você o que pensa?
escolares que voltavam para cumprir as
etapas da escola básica, não cursadas na Devemos deixar os idosos em sua condição, visto
chamada “idade própria”.
que já vivenciaram toda uma vida de exclusão?
Vários dirigentes expressaram suas Acha que tais pessoas estão simplesmente
concepções até mesmo preconceituosas, creditando acomodadas e satisfeitas com a sua situação de
a “culpa” do não saber ler e escrever, do não ser exclusão? Será que tais pessoas têm consciência de
alfabetizado/escolarizado, às vítimas de um sistema que estão excluídas? Os mais idosos desejam
desigual, apartador, segregacionista, mantido em permanecer como estão ou desejam obter mais
função das origens de classe de uma sociedade educação formal? A educação formal adquirida na
capitalista excludente, negadora de direitos iguais idade avançada poderá contribuir para alguma
para todos os cidadãos. coisa?

No período de 1994 a 2002, vimos o direito à


Para Refletir: E você, o que acha.
educação ser substituído por um programa
A culpa por não ter obtido a educação básica é do
assistencialista e compensatório, expressão
jovem /adulto que simplesmente não usufruiu o que
negadora do conhecimento e dos movimentos da
lhe foi oferecido pelas políticas públicas? Ou
sociedade e dos educadores que defendiam a EJA
existem outros fatores a serem considerados?
como mecanismo de oportunização e

Políticos, ministros, dirigentes, educadores desenvolvimento da cidadania. O Programa de

defenderam essa concepção excludente e a levaram Alfabetização Solidária – PAS que teve não só

adiante, agravando a situação brasileira. Vejamos acesso facilitado aos recursos públicos do FNDE

alguns exemplos: como nenhum outro na mesma ocasião, como ainda


dispunha da rede de universidades públicas e
Darcy Ribeiro, político, na ocasião, e grande privadas para executarem o programa como
educador, no Congresso Brasileiro de Educação em “parceiras”, disponibilizando pessoal, alunos,
São Paulo, 1989, usou a célebre frase “Deixem os passagens, trabalho, sem ressarcimentos ou
velhinhos morrerem em paz” que Sérgio Haddad compensações financeiras.
problematizou em um texto posteriormente.
Quando Secretário Extraordinário de Educação, no O PAS (Programa de Alfabetização Solidária)

Rio de Janeiro, durante o Governo Brizola, criou o foi criado no interior do Programa Comunidade

Programa de Educação Juvenil – PEJ, em 1985, Solidária, presidido pela primeira-dama Ruth

que atendia apenas a jovens de 15 a 25 anos. Cardoso, que se valeu de sua condição para
mobilizar recursos físicos (rede de universidades
O Ministro José Goldenberg, justificando-se públicas e privadas) e financeiros (metade
quanto à não-política para a área, expressou a idéia financiamento público, metade doação de
de que o analfabeto já conquistara o seu lugar. Que empresários). Mais tarde passou a ser uma ONG,
embora não fosse um bom lugar, ele já estava continuando a gozar do beneplácito oficial para as
acostumado a viver assim, não se devendo mexer vantagens já garantidas orçamentariamente. Será
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que a preocupação estava focada nos indivíduos Aliando parceiros nas experiências coletivas,
excluídos de nossa sociedade? esses Fóruns buscaram maior visibilidade política,
como resistência organizada às políticas
A crítica à idéia de parceria deve-se ao fato
governamentais que, sucessivamente, vieram
de que as universidades tinham o dever de sustentar
mascarando através da propaganda veiculada em
política e financeiramente a formação, o
veículos de comunicação em massa, as ações de
acompanhamento, a supervisão e a avaliação do
Educação de Jovens e Adultos.
Programa, do ponto de vista dos sujeitos
formadores, que assumiam da formação até a
Para Refletir: Você consegue
avaliação. No entanto, esses sujeitos – essas
visualizar como as políticas públicas vêm
entidades –, não podiam assumir, como meras
mascarando através da propaganda veiculada em
“parceiras”, uma concepção pedagógica própria de
veículos de comunicação em massa as ações de
ensinar a ler e a escrever, nem podiam criticar o
Educação de Jovens e Adultos, dando às mesmas
modelo posto, exercitando seu papel de pesquisa,
um caráter meramente compensatório e sem
investigação e produção do conhecimento,
nenhum engajamento social para a transformação
modificando/alterando o modo de conceber/fazer a
da realidade do aluno?
alfabetização, antes deviam seguir os pressupostos
já previamente colocados. Como articulação informal, os Fóruns
encontraram modos de gestão e apontaram
Traduzida como política oficial fazia desse
perspectivas de resistência capazes de interferir, em
“abre-te sésamo” sua porta de entrada para
muitos casos, nas políticas locais, no sentido de,
viabilizar os recursos que ainda recebiam dos
cada vez mais, assumi-las como políticas públicas
empresários, doações que compunham a metade do
de transformação social, devido à relevância da
custo-aluno para seis meses de programa, sob o
participação e da consciência do lugar político dos
apelo de “adote um analfabeto”, visto como sujeito
educadores, qualquer que seja o cargo que ocupem
carente, a ser tutelado pelos que sabem ler e
nas redes de ensino, instituições, universidades,
escrever e que detêm o poder em uma sociedade
ONGs, etc.
meritocrática, elitista e autoritária. Diga-se de
passagem que tal atividade ainda se encontra nas Os Fóruns, como movimentos sociais,
políticas públicas ditas de compensação até hoje resultam do esforço político coletivo de várias
vigentes. pessoas e entidades que acreditaram na idéia e na
possibilidade de gestão compartilhada e
Ao mesmo tempo em que o PAS (Programa
cooperativa para tomar decisões e propor
de Alfabetização Solidária) se firmava, uma luta se
alternativas. Significa dizer que, nos Fóruns, o
organizava na sociedade, representada pelos Fóruns
poder circula, ou seja, não está centralizado, não é
de EJA, que se formam, originalmente, quando da
hierárquico, nem arbitrário, mas emana do povo e
preparação para a V CONFINTEA - Conferência
tende à transformação da sociedade.
Internacional de Educação de Adultos, que é o
evento internacional máximo da área de Educação Além disso, por não exigir representação de
de Adultos. entidades, seus participantes são autônomos nas

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deliberações que tomam, independente das continuidade às políticas públicas que beneficiam a
posições e cargos que ocupem, o que implica, EJA e agora passará a investir milhões num
necessariamente, uma negociação constante dos programa de continuidade de estudos visando a
“desejos” acordados nos Fóruns com os limites formação a nível de Técnico 2º Grau através do
expressos pelos poderes políticos constituídos em projeto PROEJA.
todos os níveis.
O Proeja tem como perspectiva a
No atual momento político, depois de passar
proposta de integração da educação profissional à
um ano no embate da prioridade para a
educação básica, buscando a superação da
alfabetização de adultos, defendida pelo MEC x
dualidade entre trabalho manual e intelectual,
CONTINUIDADE DA EJA (para além da
assumindo o trabalho na perspectiva criadora e não
alfabetização), bandeira antiga dos educadores e
alienante.
dos Fóruns, o governo brasileiro reconhece o
movimento histórico nacional e internacional de
Para Refletir: O que você acha do
luta em defesa do direito à educação para todos,
PROEJA e sua intenção? Existe em sua localidade
assumindo o desafio de organizar, como política
algum curso PROEJA? Na sua opinião, é
pública, especialmente, a área de EJA, não se
importante possibilitar à clientela da EJA a
restringindo ao campo da alfabetização.
possibilidade de adquirir uma escolarização a nível
IMPORTANTE: de Ensino Médio e ainda com um enfoque técnico?

“A EJA, com o sentido de aprender por toda a Os alunos provenientes da EJA têm capacidade

vida, em múltiplos espaços sociais, responde às para adquirir tal formação técnica? Em que tal

exigências do mundo contemporâneo, para além formação poderá contribuir? Quais os desafios que

da escola. Como modalidade de ensino, precisarão ser vencidos?

descortina um modo de fazer educação diferente


São apenas alguns dos questionamentos
do regular, que começa na alfabetização, mas
pertinentes, você certamente poderá propor outros.
não pára aí, porque o direito remete, pelo
menos, ao nível do Ensino Fundamental.” Desde 2007, com o objetivo de acompanhar e
monitorar os cursos PROEJA em andamento, a
Em ambos os sentidos, assegura-se a
SETEC elaborou um projeto denominado: Projeto
emergência de foco nos sujeitos e nos saberes
de Inserção Contributiva que foi realizado em mais
produzidos na cultura e na relação entre classes e
de 21 instituições da Rede Federal que
grupos sociais, ao mesmo tempo em que se
apresentaram um índice de evasão/desistência
reconhece e se identifica a forte presença jovem,
superior a 30% no período de 2006/2007. A
nos diferentes projetos.
consolidação dos dados revelou que, dentre as
causas da evasão naquelas escolas, estavam a
“A política se renova: sujeitos da
diversidade aprendem... por toda a vida As ausência de transporte e de alimentação adequados
coisas estão no mundo... só que eu preciso para o estudante.
aprender.” (Paulinho da Viola)

Neste sentido é que se insere a proposta do


O Governo Lula prossegue dando
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Ministério da Educação – MEC , iniciada em 2008, ATIVIDADE


com a criação da Assistência ao Estudante  

PROEJA, mediante o pagamento de bolsa para os Produza um texto dissertativo em que você
estudantes da EJA, por meio da qual, até o defenda a sua opinião acerca desta iniciativa do
momento, foram descentralizados R$ 4.815.700,00 MEC de pagamento de bolsa para os estudantes da
(R$ 100,00 por estudante) com 9.120 estudantes EJA, como política compensatória que pretende
atendidos até setembro de 2008. (VER MAIS contribuir para viabilizar a maior escolarização
INFORMAÇÕES) formal dos educandos, auxiliando-os a vencerem os
obstáculos postos.

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CARACTERÍSTICAS DA CLIENTELA dos projetos, dos horários para estudo, da carreira


BRASILEIRA
pretendida e até dos currículos que se prestariam a
desenvolver as habilidades e competências
“O degrau de uma escada não serve
necessárias para uma determinada profissão. Para
simplesmente para que alguém permaneça em
atender a essas necessidades específicas é que se
cima dele, destina-se a sustentar o pé de um
está criando em alguns estados os chamados
homem pelo tempo suficiente para que ele
Núcleos de Atendimento de EJA.
coloque o outro um pouco mais alto.”
 No que diz respeito à clientela pode-se dizer
Thomas Huxley que a maioria se constitui de trabalhadores. Mas
  saber isso só não basta é preciso muito mais
informações para poder atender a esta clientela.
Para Refletir: Quem são os sujeitos Que idade representam? São do campo, ou da
da EJA e como se acham definidos na sociedade? cidade? Jovens, adultos ou da terceira idade? O que
Quais as realidades que se acham colocadas para buscam na escola? De que etnia são? De que classe
estes sujeitos? Quais os desafios que precisam social? Têm consciência de cidadania? Quais
enfrentar? conhecimentos seriam significativos?

Estas perguntas são essenciais para se ATIVIDADE


 
entender a clientela da EJA. De modo geral,
costuma-se pensá-los como trabalhadores, Pesquise acerca da clientela atendida pela

excluídos do direito à escolarização, e do direito de EJA instituições em sua localidade através de

aprender sempre... e mais. “Despreparados” ou entrevista e coleta de dados para poder caracterizar

“Desqualificados” têm sido os termos utilizados, esta clientela e depois poder determinar se suas

para relacionar a condição de trabalhadores necessidades estão de fato sendo atendidas. Veja se

excluídos pela sociedade que valoriza a idéia de existe na sua região algum núcleo de atendimento

que freqüentar e concluir a escola formal, (até o de EJA.

ensino médio pelo menos) que se constitui como


Desigualdade e exclusão de toda sorte bem
critério de mérito responsável enquanto condição
como a perspectiva da extinção de direitos
para o desenvolvimento e manutenção de
definem, em verdade, a realidade da EJA, exigindo
trabalhadores no emprego.
que o foco nos processos educativos esteja, na

A organização do mundo produtivo, sem diversidade de sujeitos e no atendimento

dúvida, vem mudando aceleradamente a cada dia. individualizado. É para eles que os projetos de

A configuração que temos hoje no mercado de Educação de Jovens e Adultos precisam voltar-se,

trabalho talvez fosse inimaginável há alguns anos. para além da escolarização, embora se saiba o

Se é fato que os sujeitos da EJA são potenciais quanto ainda devemos avançar, de modo a garantir

trabalhadores, não é inteiramente correto afirmar o direito à educação negado a tantos jovens e

que todos sejam trabalhadores. Para o trabalho adultos.

com a EJA, essa é uma condição que precisa ser


considerada, pois é ela que vai definir as escolhas
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Quais são as habilidades de leitura e escrita dos


IMPORTANTE: As distâncias entre os
brasileiros? Quantos anos de escolaridade e que
sujeitos que têm acesso aos bens culturais, aos
tipo de ação educacional garantem níveis
avanços tecnológicos e os que não têm esse
satisfatórios de alfabetismo? Que outras condições
acesso são imensuráveis, e cada dia mais se
favorecem o desenvolvimento de tais habilidades
produzem exclusões de toda espécie,
ao longo da vida?
desafiando a possibilidade de compreensão
desses processos entrincheirados em uma Além disso, distingue três níveis de
complexa rede de interrelações sociais habilidades na população alfabetizada:
complexas não apenas ditada pelas tecnologias  o nível rudimentar,
da informação e da comunicação que evoluem
 o básico e,
rapidamente, mas também pelos bens e valores
que definem a era em que vivemos: com  o pleno.

inovações tecnológicas de toda a ordem. Ainda que os três níveis tenham algum grau

Tal tecnologia das facilidades com suas de funcionalidade, ou seja, correspondam a

múltiplas funções quando confrontadas com os habilidades que as pessoas podem aplicar em

livros — páginas pouco atrativas e com um determinados contextos, somente o nível pleno

código de difícil decifração, gera uma pode ser considerado como satisfatório, aquele que

exclusão cultural que associada a crises éticas, permite que a pessoa possa utilizar com autonomia

a violência, a fraca atuação de cidadania, a leitura e a matemática como meios de informação

produz uma sociedade que se diz democrática, e aprendizagem.

mas que nega a democracia na sua essência.


 

DADOS ESTATÍSTICOS DO INAF

O Inaf – Indicador Nacional de Alfabetismo


Funcional

A iniciativa de criar um Indicador Nacional


de Alfabetismo Funcional no Brasil, medindo
diretamente as habilidades da população por meio
de testes, foi tomada por duas organizações não
governamentais: a Ação Educativa e o Instituto
Paulo Montenegro.

Criado em 2001, o objetivo desse indicador, o


Inaf, é gerar informações que ajudem a
dimensionar e compreender o fenômeno, fomentem
o debate público sobre ele e orientem a formulação
de políticas educacionais e propostas pedagógicas.

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QUAL É O PAPEL DA EJA nessa modalidade implica não apenas somar mãos,
mas assumir o rumo das políticas públicas da
“Os analfabetos do século 21 não serão sociedade, a fim de transformar o sistema
aqueles que não conseguem ler e escrever, educativo formal, bem como junto a todas as
mas aqueles que não conseguem aprender, iniciativas que se vem construindo no decorrer das
desaprender e reaprender.” décadas pela sociedade civil organizada, contribuir
para manter viva a chama do direito à educação,
Alvin Toffler
ainda não feito prática para todos.

Para Refletir: Em uma sociedade Implica, também, assumir que a sociedade

em contínua transformação e num incessante educa em todas as práticas que realiza, que as

movimento de modernização e globalização, o que cidades educam e que projetos de nação e políticas

cabe à Educação de Jovens e Adultos assumir? Que de governo têm um vigoroso papel pedagógico, se

resposta a sociedade está dando para os milhares de intencionalmente dispostos a transformar a

excluídos que ela produz? Como poderíamos realidade, incluindo “a educação e a aprendizagem

atender a esta sociedade excluída? Qual é o papel de jovens e adultos em todas as iniciativas de

da EJA como política pública? desenvolvimento e em programas sociais, como


contribuição essencial à prosperidade econômica,
Se formos pensar a EJA enquanto política
ao desenvolvimento sustentável, à coesão social e à
pública, poderíamos definir que o seu papel é
solidariedade”. (V CONFITEA)
atender as demandas da sociedade por projetos
pedagógicos de escolarização, de grande parcela A REALIDADE BRASILEIRA

excluída da sociedade — populações de grandes


“A diferença entre o vencedor e o
cidades, internos, detentos e reeducandos, afro-
perdedor não é a força nem o conhecimento,
descendentes marginalizados, populações indígenas
mas, sim, a vontade de vencer.”
e do campo excluídas do processo de educação,
mulheres que sofreram a exclusão de gênero, etc.; Vincent T. Lombard
 
Para isso seria preciso sujeitos professores,
também jovens e adultos, com práticas pedagógicas O Brasil tem, hoje, 50 milhões de miseráveis,
e saberes nelas produzidos, para constituírem o que representa dizer que cerca de 29.3% da
juntos um fazer pedagógico, a partir dos sentidos e população brasileira tem renda mensal inferior a 80
processos vivenciados de formação continuada. reais per capita, como indica o Mapa da Fome,
recentemente elaborado pela Fundação Getúlio
Por outro lado, o aprender por toda a vida faz
Vargas.
o homem ser mais humano, educa-o, potencializa
sua condição de sujeito aprendente, que interfere e
Para refletir: Que acesso ao
transforma a realidade, com seu agir no mundo e
conhecimento letrado tiveram esses indivíduos?
sobre o mundo.
Não é mais fácil culpabilizá-los pela situação em
Como política pública, pensar a educação que se encontram ou oferecer-lhes projetos nos
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moldes de panacéias que em seis meses irão da Bahia, com 15 anos ou mais, tem menos de 4
alfabetizá-los, do que analisar a geração deste anos de escolaridade e, pelo IBGE, é considerada
amplo quadro de desigualdades do ponto de vista analfabeto funcional. É a real situação de exclusão
histórico-cultural? observada por todo esse nosso Brasil.

O Censo Demográfico, realizado pelo IBGE, ATIVIDADE


 
informa que o Brasil possui 32 milhões de
brasileiros que não sabem ler e escrever, sendo que Faça um levantamento da escolaridade média

desta população cerca de 19 milhões são de pessoas na sua região e obtenha dados reais sobre o

jovens e adultas. analfabetismo e sobre o analfabetismo funcional na


sua região.
Basta uma leitura mais detalhada para ver,
através dos números, o quadro caótico atual, se A REALIDADE EM MATO GROSSO

compararmos os dados da Pesquisa Nacional por


“Muitas coisas não ousamos empreender
Amostragem de Domicílios, realizada em 1998,
por parecerem difíceis; entretanto, são difíceis
também pelo IBGE. Tomando como parâmetros as
porque não ousamos empreendê-las.”
regiões sudeste e nordeste, que sabemos, ocupam
tanto na aplicação real de recursos como no Sêneca
imaginário nacional posições distintas, o quadro do  
analfabetismo neste início de novo milênio é
Em Mato Grosso a situação não é diferente,
gritante.
existe cerca de 11,1 % de pessoas com 15 anos ou
Por exemplo, se no Estado do Rio de Janeiro mais analfabetas, sendo que este índice passa para
existe cerca de 5,9% de analfabetos com 15 anos 25,7% se considerarmos pessoas jovens e adultas
ou mais, o mesmo indicador quase quadruplica com menos de 4 anos de estudo, configurando
para 20, 9% se considerarmos exclusivamente as assim um elevado número de analfabetos
pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler funcionais.
nem escrever porque possuem menos de 4 anos de
Para fazer frente a esta deficiência o estado
escolaridade. Isto quer dizer que de cada 100
de Mato Grosso implantou o Projeto Letração que
habitantes jovens ou adultos do Estado do Rio de
pretende garantir a presença e atuação do estado na
Janeiro, pelo menos 20 não chegaram a completar
campanha nacional de erradicação do
os 4 anos de escolaridade básica e, portanto, não se
analfabetismo. Elaborado pelo Governo do Estado,
encontram aptos a fazer uma leitura de mundo e
através da Secretaria de Educação (Seduc), o
nem sequer de sua própria realidade.
projeto foi aprovado em Brasília e garante recursos
E não é só no Rio de Janeiro que o quadro é da ordem de R$ 26 milhões nos três anos e meio de
caótico, no Estado da Bahia há 24% de pessoas execução.
com 15 anos ou mais analfabetas, sendo que este
Somente no primeiro semestre (2003) de
índice passa para 49, 7% de pessoas jovens e
vigência do projeto, o Governo Federal aplicou R$
adultas com menos de 4 anos de estudo. Podemos
3,4 milhões no pagamento de bolsas aos
assim afirmar que praticamente 50% da população
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professores alfabetizadores (de R$ 300,00 por mês) “O importante é que eles não parem na
e na sua capacitação, que foi feita pela Seduc, para alfabetização e continuem estudando, ingressando
a alfabetização de 40 mil pessoas. na Educação de Jovens e Adultos” é a perspectiva
da secretaria de educação.
O programa LetrAção elaborado em conjunto
por professores da Seduc, das Universidades A EJA - Educação de Jovens e Adultos é
Federal de Mato Grosso (UFMT), do Estado de dividida em dois blocos, Ensino Fundamental (seis
Mato Grosso (Unemat) e de Cuiabá (Unic) e do anos) e Ensino Médio (três anos). No primeiro, ela
Conselho Estadual de Educação, tem como meta faz atendimento a jovens acima de 14 anos e no
alfabetizar uma população de cerca de 220 mil segundo para pessoas com idade superior a 18
analfabetos em quatro anos de governo. anos. O diferencial desse sistema, é que os
estudantes podem progredir de uma série para outra
As turmas do Letração têm no mínimo 20
sem ter que esperar o tempo regular.
pessoas e as aulas têm a duração de cinco meses.

QUADRO: Divisão das Etapas do Ensino Fundamental e Ensino Médio


ENSINO FUNDAMENTAL 

1° SEGMENTO 

FASE I  800 h  200 dias letivos 

FASE II  800 h  200 dias letivos 

FASE III  800 h  200 dias letivos 

DURAÇÃO TOTAL = 2400 HORAS = 3 FASES ANUAIS 

2o SEGMENTO 

FASE I  800 h  200 dias letivos 

FASE II  800 h  200 dias letivos 

FASE III  800 h  200 dias letivos 

DURAÇÃO TOTAL = 2400 HORAS = 3 FASES ANUAIS 

ENSINO MÉDIO 

FASE I  800 h  200 dias letivos 

FASE II  800 h  200 dias letivos 

FASE III  800 h  200 dias letivos 

DURAÇÃO TOTAL = 2400 HORAS = 3 FASES ANUAIS 

indivíduo tem condições de progredir, ele realiza


"Cada escola tem autonomia para realizar a
uma avaliação individual e o remete para outra
avaliação dos alunos. Se o professor sente que o
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série", considerando assim as suas experiências 11,78% não havia recebido nenhuma instrução ou
prévias e o conhecimento acumulado ao longo da possuía menos de um ano de estudo. Os dados
vida. informam que quase um quinto da população já
havia freqüentado escola, mas possuía menos de
A rede estadual de ensino oferece a Educação
quatro anos de estudo.
de Jovens e Adultos (EJA) em 133
estabelecimentos de ensino, em 60 municípios. "No mundo globalizado de hoje não se faz
Segundo dados do Censo Escolar, em 2004, estas inclusão social alfabetizando a pessoa em cinco
unidades atenderam 36.473 estudantes, sendo que meses. Temos que garantir que a Educação de
destes 11.475 cursaram o Ensino Fundamental e Jovens e Adultos (EJA) se prepare para receber
outros 24.098 cursaram o Ensino Médio. dezenas de milhares de novos alfabetizados a cada
semestre", afirmou em entrevista o secretário
“Ingressar na Educação de Jovens e Adultos
adjunto de Estado de Educação, Antonio Carlos
também é garantir a diminuição no número de
Maximo.
analfabetos funcionais em Mato Grosso, que hoje
representa 25,7% da população. Por isso, o governo Se foi possível perceber o quadro de
continuará a investir em alfabetização e educação desigualdades que marcam a realidade brasileira, é
de adultos”, conforme afirmou em entrevista a preciso refletir sobre a pertinência da construção
secretária de Estado de Educação, Ana Carla político-pedagógica da escola e da educação de
Muniz. jovens e adultos em seu interior.É preciso nesse
processo de oposição ao estado de coisas pensar
TABELA 1. Taxa de Analfabetismo no Brasil e
que mecanismos poderiam contribuir para a
Regiões – 1996.
modificação desta realidade.

BRASIL - 14,7%
Neste sentido é que foi realizado em algumas

Região Nordeste Urbana - 11,6% Universidades a proposta de estágio


supervisionado, em núcleos de alfabetização de
Região Nordeste - 28,7% jovens e adultos. Ao defender tal prática o

Região Sudeste - 8,7% Departamento de Educação das respectivas


Universidades e Instituições de Ensino Superior,
Região Sul - 8,9% incorpora à sua proposta curricular o

Região Centro-Oeste - 11,6% reconhecimento de uma demanda diferenciada e


bem caracterizada que compõe o sistema
(Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de educacional brasileiro e assume a compreensão do
Domicílio – 1996, Rio e Janeiro, IBGE, V.1, 198.) estágio como espaço de construção da práxis, como
(dados de MT) espaço de formação humana, capaz de proporcionar
Os índices fornecidos pelo PNAD, ao acadêmico referenciais teórico-metodológicos
demonstram que em 1999, 70% da população necessários ao exercício da docência, além de
mato-grossense de dez anos ou mais não havia subsídios à argumentação na construção de um
concluído o ensino Fundamental e que destes, projeto societário comprometido com a

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emancipação humana.
“Nós geralmente descobrimos o que
“(..) Desse modo os acadêmicos podem fazer percebendo aquilo que não devemos
vivenciar e buscar, sob um olhar mais denso, a fazer. E provavelmente aquele que nunca
compreensão das questões sociais e históricas que cometeu um erro, nunca fez uma descoberta.”
determinaram o contexto educacional da EJA,
S. Smiles
inclusive no que diz respeito as dificuldades e à
premente necessidade de se concretizar políticas  

públicas competentes para a área.” Podemos dizer que a educação de Jovens e


Adultos começou na Colonização, com os Padres
Assim, avaliando a necessidade da interação
Jesuítas que ensinavam a língua e o “cristianismo”
com os sujeitos e a realidade vivenciada, podem
aos índios e, eventualmente, a outros
construir, reconstruir e validar conhecimentos na
colonizadores, na sua maioria excluídos da
implicação de atos pedagógicos e mudanças
sociedade portuguesa que eram deportados para o
conceituais necessárias ao entendimento dessa
Brasil.
modalidade educacional.

Mas a educação propiciada por estes Jesuítas


Nessa perspectiva, FÁVERO (2004)
era uma educação visando a dominação, uma
desenvolve uma análise em que privilegia a
educação que não levava em conta a cultura, os
necessidade de se conhecer as lições da história
conhecimentos prévios e nem a individualidade de
para refletir sobre propostas atuais de alfabetização
cada índio/colonizador catequizado. Sua ação era
de jovens e adultos, afirmando a necessidade de
impositiva e excludente, na medida em que aqueles
pensar essa modalidade como um processo
que não correspondiam a este “adestramento” eram
educativo mais amplo. Por isso, vejamos um pouco
prontamente descartados e privados da convivência
da história da EJA no Brasil.
social, tidos como pagãos.
“Nós nunca compreenderemos a
tecnologia precisamente da mesma forma que Para Refletir: Você consegue

os nativos digitais compreendem. Esta enxergar alguma relação de exclusão entre a


distinção é crítica na educação, porque nós educação praticada com a colonização portuguesa
estamos em uma época em que todos os através das escolas jesuíticas e a educação
nossos alunos são nativos digitais, ao passo propiciada hoje? Será que em pleno século XXI
que nossos educadores, professores, ainda permanece inalterado o padrão de exclusão
administradores e planejadores curriculares praticado naquela época?
são imigrantes digitais.”
Já na época do Brasil Império várias reformas
(Use Their Tools! Speak Their educacionais apontavam para a necessidade de
Language!” Marc Prensky, March 2004) haver uma educação para adultos analfabetos e por
conta dos mesmos serem também trabalhadores
 
produtivos desta sociedade, tal educação deveria
BREVE HISTÓRICO DO ser oferecida no período noturno, surgia aí as
DESENVOLVIMENTO DA EJA - NO BRASIL
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primeiras menções de uma “educação popular”, população adulta empregados até então – método
entendida como um adestramento mínimo silábico que evidenciavam sua inadequação à
necessário para tornar este cidadão mais produtivo. clientela, bem como a superficialidade do
aprendizado no curto período de alfabetização,
De lá para cá, pouca coisa mudou no sistema
começou a gerar insatisfação o que provocou a
educacional brasileiro que continua impositivo,
discussão que remeteu a uma nova visão sobre o
alienado e comprometido com a ideologia
problema do analfabetismo e o surgimento de
dominante para a perpetuação de sua dominação e
novas idéias e de uma nova pedagogia de
de seus privilégios às custas da exclusão e
alfabetização que começa a se estruturar e se
subserviência de milhares de pessoas.
viabilizar enquanto paradigma educacional possível
Na década de 40, devido aos altos índices de embasado nas idéias do grande educador Paulo
analfabetismo que grassavam pelo país, a elite Freire.
dominante passa a tomar algumas medidas
“Na percepção de Paulo Freire, os conceitos
paleativas para o problema com a criação de um
de alfabetização e educação estão muito próximos,
fundo destinado à alfabetização da população
ambas estão comprometidas com um projeto mais
jovem (já com alguns milhares de jovens
amplo de transformação da sociedade, na medida
excluídos) e adulta analfabeta.
em que são apresentadas como propostas de
Em 1945 com a criação da UNESCO trabalho que possibilitem a geração de contra-
(Organização das Nações Unidas para a Educação, ideologia através da problematização da realidade e
Ciência e Cultura) surge uma certa consciência o desvelamento das mazelas sociais.”
mundial acerca do problema levando muitos países
A discussão sobre o tema: Educação de
a fazerem campanhas para a erradicação do
Jovens e Adultos já se dava no início da década de
analfabetismo em suas sociedades.
50, quando o pensamento de Paulo Freire inspirava
e mobilizava atividades de alfabetização e
Para Refletir: Note que o enfoque
educação popular e torna-se acirrada na década
era o analfabetismo, não a formação para a
seguinte; período no qual inúmeras salas de aula
cidadania e participação social plena. Quais as
eram ocupadas no noturno por turmas de
razões desta postura? Será que permanece até os
alfabetização de adultos num trabalho que nasceu
dias atuais?
da militância ligada à ação Católica e o surgimento
Evidencia-se a problemática da pobreza e da do Movimento de Educação de Base - MEB.
exclusão social aliada à condição de analfabeto e o
No pensamento Freiriano a sala de aula era
resultante preconceito que identifica esses
vista como um dos locais em que era possível
indivíduos como sendo incapazes e por isso,
analisar criticamente o conhecimento em
estavam marginalizados e excluídos socialmente.
consonância com a realidade sócioeconômica
Emerge a discussão sobre o analfabetismo como
através de um trabalho participativo que
causa da pobreza, alienação e exclusão social.
possibilitasse o avanço nos mecanismos de
As críticas ao método de alfabetização da conscientização social, contribuindo assim para a

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melhoria das relações sociais e a compreensão das instalada? Por que as idéias de Paulo Freire soaram
determinantes que entram em ação para a exclusão tão revolucionárias, se tudo o que ele pretendia era
social. oportunizar formação adequada para milhares de
excluídos? Será que o sistema capitalista tem a
Nessa época – anos 50 – surgem dois
necessidade de excluídos? Será que a dominação e
movimentos expressivos:
a exploração do próximo são os únicos caminhos
 O movimento da educação libertadora possíveis de organização social? Por que a máquina
preconizado por Paulo Freire e seus adeptos que de controle do governo se faz tão presente quando
visavam a construir uma metodologia pedagógica se sente ameaçada? Qual seria a opção para
que propiciasse um ensino conscientizador, substituir as idéias “revolucionárias” de Paulo
libertador, superador da condição de exclusão; Freire?
 O movimento da educação funcional cujos
Em 1967 o governo lançou o MOBRAL –
idealizadores desejavam apenas a melhor
Movimento Brasileiro de Alfabetização, que visava
qualificação da mão-de-obra a fim de tornar mais
oferecer uma “alfabetização funcional” para a
produtivo o indivíduo dentro do sistema,
reintegração à sociedade de grande parcela
movimento este voltado para atender as demandas
excluída , principalmente na área rural, com um
da elite social brasileira e que se configurava como
objetivo a mais: manter o homem do campo, no
mais um instrumento de dominação.
campo.
É nessa época que surge o Plano Nacional de
Durante a década de 70 o MOBRAL
Alfabetização de Adultos, dirigido por Paulo
expandiu-se e o programa que foi originalmente
Freire, plano este que enfatizava as práticas de
criado para a área rural passou a atender também as
leitura e escrita como mecanismos para a
grandes parcelas de excluídos nas grandes cidades
conscientização responsável e participativa visando
com o oferecimento de educação básica a nível do
desenvolver o senso crítico e a participatividade
antigo curso primário para os recém-alfabetizados e
dos grupos alienados e excluídos, um verdadeiro
para os milhares de “analfabetos funcionais” que
exercício de cidadania.
sabiam usar precariamente os mecanismos de
Foi então que as experiências que emergiram leitura decodificadora e uma escrita que muitas
com base na filosofia de conscientização, vezes correspondia a saber escrever o próprio
intervenção e mudança, foram percebidas como nome.
ameaça à ordem instalada pelo golpe militar e, por
Também é na década de 70 que surge a Lei
isso mesmo, seus autores/promotores foram
de Diretrizes e Bases 5.692/71, que começa a usar
severamente reprimidos e Paulo Freire foi exilado,
o termo Ensino Supletivo para justificar a
ficando suprimida a Educação de Jovens e Adultos
Educação de Jovens e Adultos a nível básico, sendo
no Brasil.
que limitava o dever do Estado ao oferecimento do
1º Grau, mas que já representava algum avanço por
Para Refletir: Por que será que uma
dedicar um capítulo específico para a Educação de
prática social de conscientização e intervenção e
Jovens e Adultos.
mudança foi percebida como ameaça à ordem
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Ocorre então uma retomada de ação por parte educação básica, proporcionando a extensão do
do Movimento de Educação de Base – MEB, que direito de educação fundamental a esta clientela em
produziu um conjunto didático baseado na específico.
pedagogia intencionada por Paulo Freire,
Agora o grande desafio que se coloca é o de
relacionando o conceito de educação de base ao
garantir este direito fundamental assegurado por lei
conceito de cultura popular visando um movimento
aos adultos analfabetos ou semi-analfabetos e aos
de conscientização, atividade esta que havia sido
jovens que tiveram passagens fracassadas pelas
interrompida com o golpe de 64.
escolas ou nem a elas tiveram acesso. O desafio é
Ressurge na década de 80 uma prática de o de garantir políticas públicas que garantam a
educação popular, como meta política e estratégica ampliação de vagas na educação pública para os
para a superação do analfabetismo, com os cursos Jovens e Adultos trabalhadores, a fim de que os
do antigo MOBRAL que visavam a alfabetização e mesmos possam ter ao menos o letramento a nível
a inclusão social, mas tal discurso de inclusão de ensino fundamental.
social só produziu semi-analfabetos, ou seja,
pessoas que sabiam escrever o próprio nome e Para Refletir: Na sua opinião,

algumas outras coisas, tais como frases simples e porque é um grande desafio garantir o atendimento
pequenos textos, mas eram incapazes de fazer uma desta clientela a fim de que os mesmos tenham
leitura de mundo e de realidade, bem como de atuar acesso ao direito fundamental de formação
no sentido da superação de sua própria condição de assegurado por lei - à educação? Que problemáticas
excluído, de analfabeto funcional. têm de ser enfrentadas para tornar isso possível?
Qual é a dimensão do problema? Quais são as
No entanto, a partir deste pequeno começo é
variáveis complicadoras do problema?
que se buscou construir um conceito mais
abrangente: É um grande desafio proporcionar a esta
clientela diferenciada a formação a que tem direito
“A trajetória conceitual (...) passa a ser devido às especificidades próprias. Esbarramos no
concebida dentro do espaço acadêmico,
objetivando afirmar-se sob princípios que problema da falta de profissionais qualificados e de
norteiam o conhecimento como dimensão
social, como apropriado às necessidades material didático pedagógico adequado, pois os que
humanas, em termos sócio-políticos, dispomos para o ensino fundamental e médio na
culturais e tecnológicos. A extensão que é
projetada vai além da compreensão faixa considerada adequada, não atende as
tradicional de disseminação de
conhecimento, prestação de serviços e
especificidades da clientela do EJA e por isso não
difusão cultural” (FARIA, 2004). são adequados para o trabalho.

Com a Constituição promulgada em 1988, o O governo brasileiro tem como meta


dever do Estado com a Educação de Jovens e erradicar o analfabetismo, por isso a grande meta
Adultos é ampliado, sendo consagrado através da política ainda é a alfabetização, mas aos poucos
aprovação da LDB 9.394/96 (Lei de Diretrizes e avança no sentido do oferecimento de continuidade
Bases da Educação Nacional) que ampliou a de estudos a estes cidadãos.
atuação da Educação de Jovens e Adultos para
Dados estatísticos do IBGE mostram a
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existência em pleno século XXI de altos índices de levando a uma prática mais bem fundamentada do
analfabetismo e de um alto índice de pré- processo ensino e aprendizagem na EJA.
alfabetizados/analfabetos funcionais na atualidade.
Tais experiências conduziram à diversas
É papel da sociedade como um todo e, em especial,
questões sobre como ocorre o processo de ensino e
de nós educadores, resgatarmos tais cidadãos e
aprendizagem nesta clientela em específico e
incluí-los culturalmente de forma a propiciar sua
contribuíram grandemente para uma compreensão
plena atuação e engajamento no seio da sociedade
mais bem fundamentada do processo ensino e
por pensarmos em Projetos de cunho social e, na
aprendizagem na EJA.
esfera política em programas para a Educação
destes Jovens e Adultos – da EJA. Começa-se a se esboçar a compreensão de
que para atender às necessidades dos jovens e
Para Refletir: Quem são estes adultos, a prática pedagógica deve possibilitar o
cidadãos excluídos do acesso à cultura letrada domínio:
plena e, quais seriam as alternativas para reverter  Da leitura e da escrita para a compreensão
esse quadro de exclusão? Que tipo de profissional da língua materna com suas nuances de
será necessário para enfrentar o desafio? Quais as significados visando a alcançar o domínio das
condições básicas para o atendimento das formas de expressão;
necessidades e especificidades desta clientela?
 Dos símbolos e operações matemáticas
Para isso se faz necessário investir, preparar e como suporte para o desenvolvimento do raciocínio
avaliar como se dá a formação do professor para e resolução de problemas no cotidiano social;
atuar nesta modalidade de ensino. Uma modalidade  De conhecimentos essenciais sobre as
que tem características fortes e bem demarcadas e ciências sociais e naturais que possibilitem a
que necessita de um profissional que seja capaz de determinação da identidade cultural e exploração
compreender e atuar em consonância com estas da ciência e tecnologia.
especificidades.
 De habilidades e competências que
Nos anos 90, o Movimento de Educação de viabilizem a participação plena nos diversos meios
Base - MEB passa a investir em todo o Brasil na sociais, contribuindo para a identidade cidadã do
formação de alfabetizadores de jovens e adultos. educando.
Nesse percurso histórico a temática da EJA vai
É evidente que surgiram muitas discussões
sendo assumida por diversas instituições e se
acaloradas sobre o que se deve considerar essencial
articulando enquanto forma de extensão, de
a fim de não cair no mesmo reducionismo que se
pesquisa e de ensino,compondo aos poucos uma
espera superar - o currículo tradicional - mas acima
base curricular sólida, especialmente nos cursos de
das discussões vislumbra-se que a formação deve
pedagogia onde causou grande revolução com
ser tal que possibilite a leitura crítica da realidade e
algumas instituições adotando a realização de
a possibilidade de fomentar a atuação cidadã que
estágio obrigatório em classes de alfabetização de
vise a superação das condições precárias de sub-
jovens e adultos, contribuindo assim para o
existência a que foram submetidos. “A leitura de
amadurecimento dos futuros profissionais e
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mundo precede a leitura da palavra escrita.”

O governo brasileiro a partir de então adotou


uma política que tem em seus objetivos a
ampliação do atendimento do ensino fundamental
para adolescentes, jovens e adultos visando a
assegurar para além da mera alfabetização um
ensino de qualidade e possibilitando aos educandos
romper com sua condição de exclusão e viabilizar a
sua permanência, com êxito, neste nível de ensino.

Pretende-se uma formação global que


possibilite inclusive que o educando galgue outros
níveis de educação fomentando uma perspectiva de
crescimento pessoal e social.

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Ensino Fundamental e 17 para o Ensino Médio,

UNIDADE II além disso, diminuiu as idades mínimas dos


participantes dos Exames Supletivos (15 anos para
Legislação e Formação o Ensino Fundamental e l8 anos para o Ensino
Referências Legais – Legislação Médio.)

"Educação é aquilo que revela ao sábio, e c) O Parecer CNE Nº 11/2000 e a Resolução

disfarça do tolo, sua falta de entendimento." CNE Nº 01/2000, instrumentos que apresentam o

(Ambrose Bierce) novo paradigma da EJA e sugerem o seguinte:


 
 extinguir o uso da expressão supletivo;
A Educação de Jovens e Adultos na  restabelecer o limite etário para o
atualidade, em se tratando de Brasil, se caracteriza ingresso na EJA (14 anos para o Ensino
por quatro eixos fundamentais: Fundamental e l7 anos para o Ensino
 políticas públicas, Médio);

 práticas educativas bem-sucedidas de  atribuir à EJA as funções: reparadora,


EJA no Brasil, equalizadora e qualificadora;

 formação do professor e,  promover a formação dos docentes e


contextualizar currículos e
 organização do trabalho na EJA à luz
metodologias, obedecendo aos
das Diretrizes Curriculares Nacionais
princípios da Proporção, da Equidade e
para essa modalidade de ensino.
da Diferença;
A legislação na qual estão pautados os
 estabelecer as Diretrizes Curriculares
princípios da Educação de Jovens e Adultos - EJA
Nacionais para a Educação de Jovens e
tem como referência os seguintes documentos:
Adultos.
a) A Constituição da República Federativa do
A Constituição Federal do Brasil de 1988
Brasil de 1988, que assegurou aos jovens e adultos
estabeleceu como dever do Estado para com a
o Direito Público Subjetivo ao Ensino Fundamental
sociedade, no que diz respeito à educação, a
Público e Gratuito.
garantia de “ensino fundamental obrigatório e
b) A nova Lei de Diretrizes e Bases, n.º gratuito, assegurada inclusive sua oferta gratuita
9394/96, que destaca a integração da EJA à para todos os que a ele não tiveram acesso na idade
Educação Básica - observada a sua especificidade. própria” (CF, art. 208).

Esta lei garantiu a flexibilidade da Essa determinação amplia o dever do Estado


organização do ensino básico, inclusive a com todos aqueles que não tiveram a escolaridade
aceleração de estudos e a avaliação de básica no tempo apropriado, reconhecendo que a
aprendizagens extra-escolares e, entre outras sociedade foi incapaz de assegurar a escola básica
coisas, estabeleceu as idades de 14 anos para o na idade adequada.

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Além disso, estabelece uma concepção saberes básicos que dão acesso às atualizações
peculiar de educação direcionada para o universo requeridas pela sociedade. Segundo o Parecer CEB
do jovem e do adulto trabalhador, que já possuem 15/98, os jovens e adultos excluídos são geralmente
uma prática social, um modo de conceber a vida, os que vivem em situação de pobreza devido à
uma forma de pensar a realidade. Reconhecendo ausência de escolaridade ou de condições de acesso
que o ensino de jovens e adultos necessita de uma à escolaridade, primeiro obstáculo para a superação
dinâmica muito mais complexa para se efetivar de de sua condição e busca de melhoria em sua
modo pleno e desse modo contribuir para resgatar qualidade de vida.
os valores de cidadania perdidos pela pressão social
Neste sentido, os desfavorecidos devem ter à
que leva à exclusão.
sua disposição maiores oportunidades que os
Essa complexidade se manifesta, demais, a fim de que possam desenvolver e
principalmente, na natureza das finalidades da demonstrar o seu potencial humano e possam ter
educação, que precisa ser atingida em sua “tríplice uma competitividade maior nesta nossa sociedade
dimensionalidade”, conforme preceitua a LEI capitalista.
9.394/96 no seu art. 2º:
A L.D.B. 9.394/96 foi específica em indicar
 o pleno desenvolvimento do educando, que os jovens e adultos têm direito à formação, ao
 o seu preparo para o exercício da desenvolvimento e à constituição de
cidadania e, conhecimentos, habilidades, competências e

 a sua qualificação para o trabalho. valores que contribuam para sua auto-realização e
para a participação efetiva no seio da sociedade, em
Você, por certo, já ouviu falar de analfabeto consonância com a Constituição Federal do Brasil
virtual ou tecnológico. Na sociedade tecnológica (1998), a qual preconiza que toda e qualquer
atual, esta é uma outra tendência que agrava ainda educação deve visar o desenvolvimento integral do
mais a condição de exclusão dos analfabetos ser humano, preparando-o para o exercício da
porque a inclusão nestas novas tecnologias cidadania e sua qualificação para o trabalho.
pressupõe o domínio da leitura e da escrita,
condição essa que, se não satisfeita, gera uma outra A lei 9.394/96 abriga no seu título V, capítulo

exclusão: a tecnológica. II, na seção V denominada "Da Educação de


Jovens e Adultos", o artigo 37 propondo que a EJA
Para que este quadro não se agrave é urgente destine-se àqueles que não tiveram acesso ou
a atuação da sociedade para atender às reais continuidade de estudos no Ensino Fundamental na
demandas desta clientela excluída e marginalizada. idade própria.
Surgem, então, as Diretrizes Curriculares Nacionais
da Educação de Jovens e Adultos, pretendendo Portanto, conforme estipula a LDB, a EJA

definir uma prática pedagógica que dê conta das tornou-se uma modalidade da educação básica,

exigências da sociedade tecnológica. reconhecida como direito público subjetivo (CF,


art. 208) na etapa de Ensino Fundamental.
É urgente superar a condição de exclusão dos
Já no Plano Nacional de Educação, a EJA
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mereceu um capítulo próprio que propôs ações para coerente dentro da EJA? Poderiam ser facilmente
reduzir o analfabetismo tanto no que diz respeito ao adaptados para poderem ser utilizados na EJA?
contingente existente, quanto às futuras gerações. Que tipo de material didático seria necessário?

O Plano estabeleceu como metas, entre Nesse sentido, os educadores são vistos como
outras: sujeitos culturais, que possuem um saber forjado no

 Garantir ao jovem e ao adulto o acesso e a cotidiano do trabalho educacional e sobre o qual

permanência ao ensino além das quatro primeiras precisam refletir, organizando-o e ampliando-o. E,

séries do dessa forma elaborando eles mesmos uma


metodologia e os recursos didáticos apropriados
 Ensino Fundamental;
para a inclusão dos educandos no mundo letrado,
 Incentivar as instituições de educação fazendo isso através de um trabalho que privilegie
superior a oferecerem cursos de extensão para o senso crítico e a capacidade de autodeterminação
prover as necessidades de educação continuada de dos sujeitos numa perspectiva de construção de
jovens e adultos, quer tenham ou não formação de uma sociedade mais justa.
nível superior;
Toda a discussão deve ter por parâmetro a
 Assegurar que os sistemas de ensino, em
formação continuada dos profissionais que
regime de parceiras com os demais entes
atuam/atuarão na EJA de forma continuada,
federativos, mantenham programas de formação de
promovendo uma constante discussão relacionada
educadores de jovens e adultos, capacitando-os
aos conteúdos curriculares, às metodologias de
para atuar de acordo com o perfil dos educandos e
trabalho e aos processos de avaliação que
habilitando-os para, no mínimo, o exercício do
contribuam para o crescimento pessoal e social
magistério nas séries iniciais do Ensino
visando o objetivo de alcançar o exercício pleno da
Fundamental, de forma a atender a demanda de
cidadania na sua comunidade.
órgãos públicos e privados no esforço de
erradicação do analfabetismo. Isso significa dizer que a educação, como
processo intencional, deverá contribuir para que o
Para atender a esses importantes objetivos é
educando se desenvolva numa trajetória permeada
que se faz necessária a elaboração de material
por intencionalidades progressivas. Portanto, o
didático específico que considere as culturas locais,
ensino é um processo intencional, sistemático e
a riqueza cultural dos jovens e adultos, bem como a
flexível que visa à obtenção de determinados
sua forma específica de se relacionar com o
resultados (conceitos, procedimentos, atitudes,
conhecimento.
etc.).

Para Refletir: Pare um minuto e A intencionalidade educativa está presente no


pense. Os livros didáticos que você conhece processo de ensino e é indicativa das concepções
atendem às necessidades específicas dos educandos de quem a propõe e de quem a executa. Os
da EJA? Para que tipo de clientela eles foram professores devem ter clareza dos objetivos que
pensados? Serviriam para uma prática pedagógica pretendem atingir com seu trabalho. Neste

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contexto, vê-se claramente que o professor exerce é atender às solicitações/necessidades do educador


um papel fundamental e determinante da prática popular, oferecer subsídios ao educador no sentido
pedagógica executada. Assim sendo, deve-se dar de levá-lo a pensar sobre sua prática e de ousar
especial atenção à formação deste profissional. outras formas de promover o processo ensino-
aprendizagem.
ATIVIDADE
 
Isso pode ser feito através de processos de
Elabore uma lista de características que você sondagem, de agrupamento de atividades
acha serem importantes para o profissional significativas, e de situações produtivas de ensino-
(professor/educador) que trabalhará com a EJA. aprendizagem, com uso de textos, numa
Tente abranger, se possível, todas as facetas que perspectiva de letramento. Também pelo trabalho
determinam o perfil que este profissional deve ter com a matemática, considerando o raciocínio
para ser bem sucedido em atuar na EJA. lógico-matemático na resolução de situações-

Como fica a formação deste problema do cotidiano, fundado no princípio da

professor/educador? É o que consideraremos a interdisciplinaridade, atendendo a objetivos

seguir. educacionais nas diversas áreas do conhecimento,


sempre com vistas ao processo de aprendizagem
COMO DEVE SER A FORMAÇÃO DO significativa da leitura, da escrita e da lógica e do
EDUCADOR POPULAR exercício da cidadania.

"Ninguém começa a ser educador numa A formação destes educadores se apresenta


certa terça feira às 4 horas da tarde. Ninguém como tarefa complexa, seja ela realizada com
nasce educador ou é marcado para ser educadores populares – graduados ou graduandos –
educador. A gente se faz educador, a gente se ou com pessoas com curso de magistério de nível
forma como educador, permanentemente, na médio, com experiência ou não, no trabalho em
prática e na reflexão da prática." educação de jovens e adultos/movimentos
populares.
PAULO FREIRE
O que se vislumbra é que a construção da
1) Quais são as competências essenciais dos
competência desses educadores populares se dê
professores experientes?
num processo contínuo, durante o desempenho de
2) Como se constroem essas competências suas atividades, pois o processo de formação deve
profissionais? ser visto como inseparável da prática, numa
perspectiva dinâmica de formação permanente. É
3) E, conseqüentemente, como devem ser
preciso criar condições para que os educadores
formados os professores para que eles se tornem
possam, juntamente com seus pares, tematizar sua
mais capazes de refletir sobre suas práticas e
prática, construir conhecimentos sobre seu fazer e
conseqüentemente transformá-las?
experimentar em seu próprio processo de
O que se visa com uma formação continuada aprendizagem o que, do ponto de vista
metodológico, lhes é sugerido como necessário e
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bom para o trabalho com os educandos. conseguir com uma formação continuada que
requeira a atuação sobre uma determinada
IMPORTANTE: Os encontros de problemática.

formação continuada “in loco” apresentam-se como


É justamente nesse sentido, que a
um momento de análise da prática pedagógica a
alfabetização crítica contribui para a transformação
partir da compreensão de que essa prática se faz em
da sociedade porque, lado a lado com o domínio de
processos dinâmicos de construção coletiva de
habilidades para leitura e escrita, é possível
conhecimentos, tomando o cotidiano dos
desenvolver a consciência crítica do aluno e
participantes como referência para uma reflexão
possibilitar condições para que ele se perceba como
crítica. São, pois, espaços de expressão dos
cidadão historicamente constituído e em busca da
professores/educadores populares, que socializam
autonomia e de melhores condições de vida,
experiências e evidenciam suas limitações e suas
construindo assim, uma nova realidade de mundo
possibilidades.
para si mesmo e para outros.

Pelas discussões possibilitadas por estes O perfil profissional do professor/educador


encontros, torna-se possível distinguir uma do CEJA exige a busca da superação dos
multiplicidade de saberes e, ao mesmo tempo, obstáculos políticos, sociais e culturais que
perceber indicativos sobre a identidade dos historicamente têm delineado os caminhos de luta
educandos, sobre suas necessidades de educação, e por uma educação de qualidade, principalmente
suas primitivas concepções de sociedade, de uma que favoreça as massas excluídas da
homem, de mundo que precisam ser ampliadas sociedade.
dentro do universo sócio-cultural dos educadores e
dos educandos. IMPORTANTE: Neste sentido é

urgente formar educadores que tenham uma

IMPORTANTE: Destacar a consciência política que seja capaz de ajudar os


educandos na medida em que eles significam e
intencionalidade educativa do processo educativo
internalizam as reflexões propostas e são capazes
por eles construído e abrir espaço para que as
de rever suas posições, questionar sua existência e
contradições sejam manifestadas, para que as
se posicionar socialmente para uma atuação cidadã.
curiosidades sejam expressas e para que a
criticidade seja efetivada é exercício que se busca Esse é o grande desafio para os educadores
em cada aula, em cada conteúdo, em cada populares, que só pode ser enfrentado dentro do
objetivo educacional. próprio ambiente da educação, tomando como base
a conscientização a respeito da realidade dos
O desejo é que sejam práticas orientadas
educadores e dos educandos, da realidade de seu
para o desenvolvimento do pensamento crítico, da
grupo social, e ir ampliando até chegar à realidade
aprendizagem ativa, da criatividade, da autonomia,
do país e do mundo globalizado. Em busca de
dos valores democráticos, do exercício da
Políticas Públicas competentes, exigidas pelos
cidadania, a exemplo daquilo que se procura
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tempos atuais, que possam nos trazer, pela via da sentido, buscou-se defini-la como: todos os
educação, conseqüências sociais mais alentadoras. aspectos político-pedagógicos próprios à formação
inicial e continuada dos professores populares que
O investimento na EJA, para a formação
vão atuar na EJA, envolvendo objetivos traçados,
continuada de professores, implica na constituição
opções teóricas feitas, meios utilizados, além de um
de um projeto político pedagógico adequado às
processo de avaliação que fuja aos moldes
características das populações. Um em que os
tradicionais e incorpore na prática a vivência da
sujeitos-professores sejam também jovens e adultos
auto-avaliação como estratégia de avaliação válida
em processos de meta cognição sobre o aprender de
e que seria capaz de abarcar e auferir a totalidade
seus alunos.
do desenvolvimento humano.
DA ESPECIFICIDADE DO
Quanto mais se avança nos questionamentos
PROFESSOR / EDUCADOR DE EJA
por meio dos fóruns, seminários e demais

“(...) a tendência do ensinante é pensar mecanismos de discussão, mais se vê a necessidade

que o ensinado não sabe nada, que aprender é da formação contínua dos educadores para atuarem

passar da ignorância ao saber, e que essa na EJA, visto que as especificidades desta clientela

passagem está em poder do mestre. Ora, o exigem características específicas e diferenciadas

ensinando traz alguma coisa: aptidões e gostos, das características de um professor para trabalhar

saberes anteriores e saberes paralelos e, no nível convencional com alunos na faixa etária

sobretudo, um projeto de realização pessoal considerada ideal para o Ensino Fundamental e

que não será, senão parcialmente, preenchido Médio.

pela instrução, pela preparação profissional ou Tais características devem ser respeitadas e
pela aquisição de uma cultura para os consideradas para que esses educandos - jovens e
momentos de lazer”. adultos - possam obter uma formação que os leve a

(Paul Ricoeur ,1969, p.143). compreender o mundo em que vivem a partir da


visão ampla sobre diferentes aspectos político-
sociais, elaborando um posicionamento crítico
Para Refletir: Como deve ser esse diante das diversas realidades a eles apresentadas

profissional? Em que deve pautar a sua atuação? ou vivenciadas.

Qual deve ser a sua intencionalidade educativa?


Caso tais premissas não sejam levadas em
Que concepções de ensino e aprendizagem ele deve
consideração, qualquer programa de Educação de
reconhecer? Como deve ser direcionado o seu
Jovens e Adultos estará sujeito a fracassar.
trabalho docente? Como deve ser avaliado o seu
trabalho docente? Neste ponto, retome sua lista de
características que um professor de EJA deve
Um ponto importante nas considerações que
possuir para ser bem-sucedido e tente relacionar a
se iniciam refere-se à melhor delimitação do que se
razão, o motivo, de tais características serem
compreende por metodologia de formação. Nesse
essenciais para o trabalho com a EJA, levando em

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conta as necessidades específicas desta clientela alfabetização dos grupos pertencentes aos
que, como já dissemos, devem ser respeitadas. Para movimentos de base e a pastorais da igreja que
cada característica escreva uma justificativa para o vinham tomando a frente nas ações de formação e
fato de considerá-la essencial relacionando-a com organização política em prol da cidadania plena.
as necessidades dos educandos.
Vislumbra-se, pois, que o preparo de um
Esta ação de formação continuada é então docente voltado para a Educação de Jovens e
compreendida como um processo de estudo, Adultos - EJA deve incluir, além das exigências
pesquisa, reflexão e atuação em serviço que formativas para todo e qualquer professor, aquelas
possibilite o desenvolvimento das características e relativas à complexidade diferencial dessa
estratégias buscadas no seio da atuação modalidade de ensino.
profissional, numa eterna busca através do processo
Atualmente, o educador precisa estar
de ação-reflexão-ação tão defendido por Paulo
preparado para desenvolver um trabalho em
Freire e outros estudiosos da educação.
consonância não apenas com a pedagogia, mas
Das experiências até então vivenciadas também com a andragogia que é “a arte ou ciência
surgem inúmeras questões que precisam ser melhor de orientar adultos a aprender, segundo a definição
respondidas, problematizadas e conceituadas. creditada a Malcolm Knowles, na década de 70.
Reflitamos sobre algumas delas:
O termo nos remete a um conceito de
ATIVIDADE educação voltada para o adulto, em contraposição à
 
pedagogia, que se refere à educação de crianças (do
Reflita sobre as questões abaixo e redija um grego paidós, criança).
pequeno texto dissertativo em que você discorra
sobre as duas questões propostas elaborando o seu Para educadores como Pierre Fourter (1973),

ponto de vista. a andragogia é um conceito amplo de educação do


ser humano, em qualquer idade que se caracteriza
 “Que tipo de ação educativa/formativa pode
pelo desenvolvimento de um trabalho
e deve ser encaminhada no sentido de contribuir
autodirecionado, criativo e inovador numa
para a busca da autonomia e da emancipação dos
aprendizagem fundamentada na autonomia do
sujeitos?
educando considerando suas especificidades e
 Que tipo de formação deveria ser propiciada levando-os a superar sua condição e a acolher a
aos educadores populares tendo em vista a busca de perspectiva de aprendizagem por toda a vida. A
seu engajamento nos movimentos sociais de luta UNESCO, por sua vez, já utilizou o termo para
pela cidadania? referir-se à educação continuada.

Não temos dúvida de que as contribuições de Com isso, os docentes deverão ser preparados
Paulo Freire neste campo foram fundamentais para para a elaboração de Projetos Políticos
avançar no sentido de um compromisso de Pedagógicos (PPPs.) que considerem as
corresponder a necessidades historicamente características, as expectativas e a realidade da
colocadas e de viabilizar um processo de EJA. Trata-se de uma formação em vista de uma
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relação pedagógica com os sujeitos, trabalhadores humano e na sua capacidade de construir


sua própria aprendizagem, de traçar seu
ou não, marcados por experiências de vida que não próprio caminho, de produzir seu próprio
devem ser ignoradas. conhecimento.”

Tal realidade exige um professor/educador A formação de professores educadores deve,


que, além de estar preparado para o ato de ensinar, portanto, apropriar-se da riqueza cultural dos seus
o faz com amor, com afetividade, envolvendo-se alunos traduzindo-as e enriquecendo com os
pessoalmente e exercendo uma ação de componentes curriculares escolhidos em função da
cumplicidade e parceria através da utilização de prática pedagógica desejada.
conhecimentos científicos, recursos e técnicas de
Este modo de ver o aluno leva a um tipo de
ensino condizentes com o que está sendo estudado.
relacionamento que certamente possibilitará um
ambiente mais favorável para traçar novos
IMPORTANTE: Seu maior
caminhos que estimulem a idéia de continuidade e
comprometimento deve ser com o educando, com a progressão nos estudos por parte destes educandos,
melhoria de sua qualidade de vida, com a incentivando, motivando e valorizando as
construção autônoma, crítica e reflexiva de seus consecuções destes Jovens e Adultos.
conhecimentos e com a estimulação da cidadania e
da ação social para a transformação de sua própria Para os profissionais do magistério que atuam

condição e da sociedade e não com uma lista de na EJA, a formação adequada e a ação integrada

conteúdos. implicam na existência de um espaço próprio, tanto


nos sistemas de ensino, como nas universidades e
ATIVIDADE em quaisquer outras instituições formadoras para o
desenvolvimento de um currículo mais adequado,
O que você sabe sobre a andragogia? É um estratégias condizentes com as especificidades. É
termo novo para você? Faça uma pesquisa na preciso garantir um espaço de atuação em que o
internet ou em outros meios a que você tiver acesso educador possa ir, incentivando, motivando e
e procure conceituar o que seja a andragogia e valorizando as consecuções destes Jovens e
quais sejam os seus princípios. Depois, redija um Adultos.
texto em que você contraponha as características da
Ao longo dos tempos, as camadas de menor
pedagogia com as características que a Andragogia
poder aquisitivo são as que mais têm sofrido as
preceitua. Tente diferenciar as duas através da
conseqüências das transformações sócio-político-
prática pedagógica resultante.
culturais que o país vem passando. O educador
Assim como dizia Paulo Freire: precisa estar atento a essas mudanças, uma vez que
se refletem diretamente na educação, em especial
“O educador de Jovens e Adultos na educação de jovens e adultos que a cada dia
precisa se identificar com o trabalho, ou
seja, precisa gostar de gente, comungar necessita ser reestruturada, visando a atender a uma
com os princípios da “amorosidade”... clientela diversificada que precisa ter acesso à
precisa evidenciar paixão, amor, sentir
prazer no que faz, mas principalmente e educação sistematizada, em função não apenas da
acima de tudo, ter confiança no ser
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necessidade, mas também de sua conscientização como perspectiva as abordagens sugeridas pelas
de que o nível de escolaridade é fator necessário orientações normativas correspondentes, a saber:
para a inserção e/ou reinserção no mercado de  Cultura;
trabalho, para o bom desempenho profissional e
 Educação Ambiental;
para maiores possibilidades de geração de renda e
de melhores condições de vida.  Desenvolvimento Local Sustentável;

 Economia Solidária; Trabalho;


AS INTENÇÕES EDUCATIVAS DAS
POLÍTICAS PÚBLICAS DA  Direitos e Exercício da Cidadania;
ATUALIDADE.  Direitos Humanos.
Estão sendo propostos os seguintes
A formação continuada de professores deve
objetivos específicos para a formação de
se dar mediante a garantia de um espaço constante
“ensinantes” de EJA:
de discussão, de envolvimento e comprometimento
 propiciar aos educadores e professores o com novos saberes, com melhores alternativas
desenvolvimento das competências e metodológicas e com novas possibilidades de
habilidades exigidas pelo novo conceito discussão com vistas à consolidação de uma
de EJA; identidade profissional específica para esses
 ampliar as discussões teórico- educadores, formação esta que deverá ocorrer
metodológicas que perpassam o durante a atuação e em meio à sua realidade
processo de letramento dos vivenciada.
alfabetizandos da EJA para a
Portanto, é preciso garantir um espaço de
continuidade nos níveis subsequentes;
atuação em que o educador possa ser formado pela
 possibilitar discussões sobre as políticas prática, visando a uma prática pedagógica mais
públicas referentes a essa modalidade de adequada, mais engajada e ao desenvolvimento de
ensino; incentivar a constituição de um um currículo mais adequado e de estratégias
Núcleo de Educação de Jovens e pedagógicas mais condizentes com as
Adultos para fomentar estas práticas
especificidades da clientela da EJA.
pedagógicas.
Neste sentido caminham alguns estados,
Tais proposições foram feitas pelo MEC
como ocorre em Mato Grosso, ao sugerirem os
enfocando as reflexões sobre a LDB e sobre a CEJAs. (Centro de Educação de Jovens e Adultos)
Resolução 001 de 05 de julho de 2000 que que se constituem nesse espaço de fomentação de
estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais alternativas metodológicas visando a atender as
para a Educação de Jovens e Adultos e as
especificidades da EJA.
Diretrizes e Bases para apresentação de Projetos
ATIVIDADE
em EJA-2003.  

Essas informações propiciam aos educadores Há algum CEJA atuando na sua localidade?
a elaboração de Projetos interdisciplinares, tendo Busque informações sobre a atuação dos CEJAs,
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sua implantação, sua forma de organização, sua Cejas.


estratégia didática, suas concepções político-
O maior desafio hoje enfrentado é
pedagógicas, as atividades desenvolvidas, seu
implementar por completo o uso de práticas
campo de atuação e outros aspectos relevantes, a
pedagógicas próprias de Cejas, pois, a este respeito,
fim de que possa compreender o que se está
todos estão em processo de formação que, por sua
pensando em termos de formação e o que está
vez, é complexa e demanda tempo. Não obstante,
sendo oferecido pelas entidades públicas.
existe a necessidade de contratação de cerca de
Em Mato Grosso, o governo acena para a 1.300 profissionais que também deverão ser
continuidade dos CEJAs por prever a instalação de formados em serviço.
18 novos Centros, visando ao atendimento a 32.950
alunos com a necessária contratação de 1.300 IMPORTANTE: A integração
profissionais. Isto somado aos cinco já existentes
entre as áreas de conhecimento nos três grandes
em quatro municípios, a saber: Cuiabá (2), Várzea
eixos do conhecimento humano (humanas, exatas e
Grande, Juína e Colíder.
ciências naturais), a realização de oficinas

Que o governo pretende dar continuidade pedagógicas, o atendimento individualizado ao

nessa experiência de sucesso, pode-se ver pelo fato aluno com flexibilidade de horários e o ensino por

de que já houve três formações continuadas em que módulos de conhecimento fazem o diferencial dos

por meio de palestras e oficinas foram trabalhados CEJAs.

temas como currículo, proposta de trabalho e


Os resultados apresentados repercutem na
corporeidade (fortalecimento do contato humano na
preferência dos estudantes que acabam retomando
aprendizagem).
os estudos dado o diferencial pedagógico, sendo
A proposta é orientar os educadores sobre as que este diferencial resultou em baixos índices de
peculiaridades do projeto pedagógico dos Centros evasão e menor rotatividade dos profissionais que
de EJA e formar uma equipe de trabalho a fim de acabaram se identificando com as práticas
poder implementar as propostas inovadoras ao pedagógicas e que através da garantia de dedicação
longo do ano letivo. exclusiva garantiram a qualidade das propostas
implementadas.
O sucesso dos CEJAs deve-se às práticas
diferenciadas e ao atendimento exclusivo para o Outro diferencial são os cursos técnicos
público adulto com a manutenção de um corpo ofertados pelos Centros de Educação de Jovens e
docente em constante formação em regime de Adultos, que em Mato Grosso, integram dois eixos
dedicação exclusiva. Oferece um atendimento tecnológicos reunindo os cursos de Vendas,
diferenciado, tanto no ambiente como na proposta Administração, Secretariado, e ainda Serviços de
pedagógica. O espaço adequado e a localização em Restaurante e Bar. Sendo que esses cursos foram
vias de fácil acesso são grandes diferenciais dos escolhidos com base em consulta aos estudantes de
Centros. A perspectiva em termos de políticas EJA, em 2008, além da avaliação estadual sobre os
públicas é a de que as escolas de EJA se tornem Arranjos Produtivos Locais e Regionais.

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São ofertadas atualmente vagas para os engajamento da comunidade e dos educandos na


cursos de Técnico em Vendas nos CEJAs busca da resolução de seus problemas através do
Alternativa (Juína) e Cleonice Miranda (Colíder). exercício pleno da cidadania. Essas atividades
Técnico em Administração, nos CEJAs José de contribuem para a elevação da auto-estima dessas
Mesquita (Cuiabá) e Licínio Monteiro (Várzea comunidades e o fortalecimento da convivência e
Grande). E ainda, Técnico em Secretariado e da troca de experiências, uma vez que os alunos
Técnico em Serviços de Restaurante e Bar, no residem em locais distantes uns dos outros.
CEJA Cesário Neto (Cuiabá).
Sabemos, no entanto, que o tratamento dado à
Assim, o governo de Mato Grosso está um EJA no Brasil não alcança resultados satisfatórios,
passo à frente na implementação de políticas permanecendo patentes as dificuldades das
públicas específicas para a clientela da EJA e a iniciativas que buscam alfabetizar e introduzir as
experiência bem sucedida tem sido levada para pessoas jovens e adultas desprovidas de um
outros estados da federação como alternativa viável mínimo de escolarização no mundo das práticas
para o atendimento das especificidades desta letradas (Soares, 2001).
clientela.
Para fazer frente a esta problemática,
Em encontro realizado em Brasília, foram vislumbrou-se a necessidade de os professores dos
apresentadas pelo Ministro da Educação as municípios que estão oferecendo a EJA estarem
diretrizes das políticas públicas em âmbito recebendo em serviço uma formação continuada (a
Nacional, Estadual e Municipal, aos respectivos exemplo do que ocorre nos CEJAs), visando a
dirigentes que se fizeram presentes. Estas diretrizes construção das habilidades e competências
foram, então, discutidas, assim como a legislação necessárias ao professor desta modalidade em
pertinente à implantação e financiamento da específico.
Educação de Jovens e Adultos por meio do
Programa Brasil Alfabetizado que visa o aumento IMPORTANTE: Formar
da escolarização por parte de jovens e adultos. O
profissionais para atuar a partir da organização de
encontro culminou com a inscrição de diversos
situações de aprendizagem é a meta principal dos
estados e municípios neste Programa.
programas de formação de professores.

Constatou-se que, especialmente na zona


Um professor/educador domina as
rural e em áreas urbanas de difícil acesso
habilidades do oficio e revela uma "competência
espalhadas por nosso imenso país, existe uma
prática" no âmbito do ensino, sendo capaz de,
expressiva demanda por parte das populações
sozinho e com outros, definir e ajustar projetos
locais em ter acesso ao processo de escolarização
com base nos objetivos e nos princípios de ética
ou avanço de seus estudos por meio da EJA.
propostos, de analisar suas práticas e, através desta

Assim, os espaços de ensino foram também análise, de se auto-qualificar ao longo de toda sua

convertidos em espaços de discussão dos carreira. Esse é o ideal perseguido pelas políticas

problemas das comunidades contribuindo para o públicas de formação.

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As pedagogias diferenciadas incluem-se no de diferenciação evoluam;


objetivo da escola, que continua sendo o de
4) Envolver os alunos em suas aprendizagens
oferecer a todos uma cultura básica comum, sem
e em seu trabalho;
renunciar à diversificação. Seu desafio vai além:
conseguir que todos os alunos tenham acesso a essa 5) Trabalhar em equipe;
cultura e dela se apropriem.
6) Participar da administração da escola;
Considerar as diferenças é, então, colocar
7) Informar e envolver os pais;
cada aluno diante de situações ótimas de
aprendizagem. As pedagogias diferenciadas 8) Utilizar novas tecnologias;
aceitam esse desafio e propõem inovações nas
9) Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da
maneiras de resolver o problema.
profissão;

IMPORTANTE “O oficio de 10) Administrar a própria formação contínua.

professor está se transformando: trabalho em


equipe e por projetos, autonomia e
responsabilidades crescentes, pedagogias ATIVIDADE
 
diferenciadas, centralização sobre os dispositivos e
as situações de aprendizagem… portanto, as Reflita sobre o que será necessário para que o
competências emergentes, aquelas que deveriam professor educador, enquanto profissional, se
orientar as formações iniciais e contínuas, aquelas aposse destas competências necessárias e passe a
que contribuem para a luta contra o fracasso fazer uso delas em seu cotidiano? Que tipo de
escolar e desenvolvem a cidadania, aquelas que trabalho ele deve desenvolver para evidenciá-las?
recorrem à pesquisa e enfatizam a prática reflexiva Como eu estou me saindo no que diz respeito ao
devem receber especial atenção para o desenvolvimento de tais competências? Quais
desenvolvimento das habilidades e competências preciso me esforçar mais para atingir? Como estas
que melhor cumprem o papel da educação.” competências determinarão o meu trabalho
(Perrenoud - 2001) pedagógico? Coloque suas reflexões em um
pequeno texto em que você discorra sobre a
Elencamos a seguir dez grandes famílias de importância destas competências para a prática
competências necessárias ao professor/educador pedagógica.
conforme preconizadas por Perrenoud (2001):
A CLIENTELA DA EJA
1) Organizar e dirigir situações de
aprendizagem;

2) Administrar a progressão das


aprendizagens;

3) Conceber e fazer com que os dispositivos


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herdeiro da sua infância, saído da adolescência, a


“O sucesso da escola não é um fim em si
caminho da velhice, continua o processo de
mesmo. Além de cada aprendizado, preparar
socialização do seu ser e da sua personalidade”.
para as etapas subseqüentes do currículo
Dentro desta perspectiva encontra-se a condição de
escolar, o aluno deverá ser capaz de mobilizar
aprendente por toda a vida, como preceituada por
suas aquisições escolares fora da escola, em
Paulo Freire.
situações diversas, complexas, imprevisíveis.
Hoje, essa preocupação é expressa no que se É na família que iniciamos o processo de
costuma chamar de problemática da aprendizagem. Aprendemos as primeiras palavras,
transposição didática ou de construção das os primeiros passos, sentimos o afeto, o carinho, a
competências”. proteção e nos empenhamos em solucionar os
primeiros problemas que emergem da convivência
Philippe Perrenoud
social.

Há muito tempo que não se dá a devida Assim, podemos dizer que a família age
atenção à Educação de Jovens e Adultos porque o como um educador, contribuindo para a educação e
objetivo foi e permaneceu por muito tempo apenas o convívio social com suas regras, suas leis,
o de alfabetizar, entendido como decifrar o código princípios, valores e crenças, ela é, portanto,
escrito e na sua grande maioria, tal trabalho coube responsável por transmitir os primeiros valores
a profissionais leigos que trabalhavam quase como humanizantes aos seus respectivos membros.
em regime de voluntariado devido à inexistência de
Esta família, por sua vez, está inserida em
salário ou à irrelevância do mesmo. Tais pessoas se
uma sociedade capitalista que prima pela
dispunham a ensinar mais por amor ao ato de
competitividade e pela produtividade, produzindo
transmitir conhecimento que por benefício
um ser humano egoísta, individualista, sobrepondo
financeiro.
o capitalismo aos valores de igualdade,
No entanto, agora, estamos vivenciando um solidariedade e harmonia que se supõe tenham sido
desvelar do que nos parece um novo paradigma na implementados pela família e transformando o ser
medida em que a educação pretendida agora visa humano em um ser “quase que insensível” que
oportunizar aos educandos a inserção, a prima pela luta pela sobrevivência em um ambiente
permanência e a conquista de novos níveis dentro que renega os direitos sociais e se faz altamente
da cultura letrada, visando a uma participação ativa competitivo, seletivo e excludente.
na sociedade em todas as esferas: política, social e
Com isso vemos perpetuar-se em nossa
cultural, ou seja, algo para além da cultura do
sociedade um círculo vicioso fruto das condições
trabalho.
sócio-econômicas desfavoráveis e da falta de
oportunidade social que perpetua a pobreza, a
IMPORTANTE: Hoje,
miséria e dificulta aos nesta categoria saírem de sua
vislumbra-se os educandos jovens e adultos através condição de excluídos e desassistidos, pois lhes
da definição de Kohler: “O ser histórico, que nega direitos básicos como a educação, a saúde, a
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alimentação e com isso empurra as massas de educação também se dá onde não há


escolas. Em todo o lugar existem redes e
excluídos a uma condição subumana de estruturas sociais de transferência de
sobrevivência e a condições de banalização da saberes de uma geração para a outra.
Mesmo nos lugares onde não há sequer a
violência, do preconceito, da imoralidade e das sombra de algum modelo de ensino formal
e centralizado existe educação.”
condições precárias de subsistência que passam a (PILETTI. 1998 p.16)
ser vistas como “normais”.

No nosso entender só existe um caminho


capaz de romper com estas barreiras socialmente
impostas pelo capitalismo selvagem em que
vivemos: o caminho da Educação. A educação
pode ser usada para a reprodução, manutenção e
conservação da ordem social existente ou pode ser
uma mola propulsora para as transformações
sociais na medida em que possibilita a formação de
uma cultura de reflexão crítica da realidade social e
supre o educando de recursos para superar a sua
condição desfavorável.

A educação transforma o indivíduo e o Assim sendo, a educação de qualquer


indivíduo por sua vez estará apto a transformar a indivíduo está intimamente relacionada com a
sociedade, pois ao agir para a melhoria de sua educação obtida no seio familiar e a educação a que
condição e dos seus à sua volta, ele será mais uma foi exposto através dos mecanismos próprios da
força a somar esforços por uma sociedade mais sociedade: A Escola, o trabalho, a igreja, o clube, a
justa e humana. associação, os amigos, etc.

DA CARACTERIZAÇÃO DA
IMPORTANTE: É,
CLIENTELA DA EJA
portanto, indispensável que o professor/educador
enverede pela linha reflexiva e crítica e molde a sua “Somos o que pensamos. Tudo o que
prática por elas, a fim de construir junto de seus somos vem dos pensamentos. Com os nossos
educandos um novo conhecimento, uma nova pensamentos fazemos o mundo.”
cultura, uma evolução para a sociedade que tanto
Buda.
tem clamado por melhorias.  

No entanto, o educador não deve se esquecer Se a família é a primeira instância educativa,


de que: então ela tem um papel preponderante na vida deste
indivíduo. Neste sentido, convém considerar os
“Educação não se confunde com fatores que conduzem ao círculo vicioso que
escolarização, pois a escola não é o único
lugar onde a educação acontece. A perpetua a condição de exclusão de grandes

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parcelas de nossa sociedade que enfrenta muita 1) Os pais que consideram a educação
dificuldade para manter a organização familiar, desnecessária porque eles mesmos não a tiveram e
citemos apenas alguns: portanto, encaminham os filhos logo cedo para o

 Condições sócio-econômicas mundo do trabalho; ou,

desfavoráveis. 2) Os filhos que não se sentem motivados a

Esta é uma condição determinante que se faz vencer os desafios da educação formal pelo

muito presente entre os educandos da EJA que exemplo dado pelos pais ou porque o mundo do

devido à pobreza, à miséria que dificulta a sua trabalho lhes rouba todo o tempo e as energias.

condição de sobrevivência, vêem-se obrigados a Há ainda um outro aspecto a se considerar


ingressar cedo no mercado de trabalho e, por conta quando tratamos da clientela da EJA:
disso, se vêem excluídos da educação formal
devido às dificuldades inerentes ao estudante As necessidades de subsistência da família

trabalhador: longas jornadas de trabalho, ambiente contribuem para o desequilíbrio familiar e para a

desfavorável, exaustão, baixa estima, falta de construção de uma baixa-estima devido ao fato de

estímulo e o sentimento de inabilidade que dificulta terem de abandonar a escola e a infância/juventude

aos nesta condição de saírem de sua categoria de para suprir as necessidades da família em busca da

excluídos da educação. própria sobrevivência, submetendo-se ao


subemprego, muitas vezes em condições
 A falta de maturidade dos pais.
subumanas e de desamparo social.
Esta é outra condição determinante que se faz
muito presente entre os educandos da EJA, IMPORTANTE: De fato, a
principalmente representados por moças que peculiaridade mais destacada desta clientela está no
engravidaram na adolescência e que em meio às fato de serem também trabalhadores/ trabalhadoras,
novas responsabilidades desistiram de estudar e, na sua grande maioria, que ainda enfrentam, às
portanto, não tiveram acesso/continuidade à vezes, uma condição de sub-emprego, turnos de
educação formal que possibilitasse o pleno trabalho alternados, baixa estima, cansaço,etc.
exercício da cidadania. Sendo, portanto, inadmissível oferecer-lhes uma
 O analfabetismo ou mesmo o baixo prática pedagógica similar à do ensino regular na
nível de escolaridade dos pais. faixa considerada adequada.

Este pode ser um obstáculo a jovens e adultos DA FUNÇÃO SOCIAL DA


que passam a encarar a educação formal, EDUCAÇÃO - ESCOLA
sistematizada, como desnecessária, já que o pai ou
a mãe não dispõe dela e, no entanto, conseguem “Um sonho que se sonha só é apenas um

sobreviver em nossa sociedade, alguns até com sonho, mas um sonho que se sonha junto é

algum mérito de destaque. realidade”.

Tal fato tende a se refletir de duas maneiras: Madalena Freire


 
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Ocorre que, mesmo não tendo acesso à


PARA REFLETIR: Qual deve
escolarização em tempo regular, os Jovens e
ser a função da Escola? Que contribuição a Escola
Adultos da EJA são detentores de conhecimentos
deve dar para a sociedade? A Escola pode ajudar a
prévios, construídos com base em suas experiências
perpetuar a realidade colocada ou pode ajudar a
de vida, estabelecidas com o meio sócio-histórico-
viabilizar a transformação da sociedade?
cultural em que se desenvolveram, experiências
Devido à realidade vivenciada por esses estas que possibilitaram a estruturação das
educandos (a clientela da EJA) é que surgem as construções mentais que possuem, apresentando,
práticas pedagógicas que visam resgatar a no entanto, diferentes desempenhos cognitivos
identidade pessoal e social dos educandos e entre os pares. É a tais conhecimentos que eles
viabilizar alternativas de ensino que satisfaçam às recorrem para resolver alguma situação problema
necessidades básicas desses educandos que não em suas vidas reais ou nos desafios escolares.
tiveram acesso à escola ou dela foram excluídos no
Entretanto, devido à alta complexidade da
período considerado ideal para a escolarização.
vida atual em meio a um mundo globalizado, os
Apesar das dificuldades mencionadas, o Jovens e Adultos excluídos da atual sociedade se
educador não deve permitir que a família (ou defrontam cada vez mais com a necessidade de
mesmo o educando) confunda o seu papel com o domínio de novas habilidades e competências que
papel da escola, atribuindo à escola a função de há tempos atrás não eram requeridas deles.
educadora. E, por outro lado, a escola não substitui
Tudo devido aos avanços tecnológicos e à
nem inviabiliza a educação familiar. Muito pelo
alta competitividade com aqueles que tiveram
contrário, a escola complementa e aprimora a
maior acesso a essas habilidades e competências
educação tanto da criança quanto dos jovens e
por meio da educação formal. Daí a incessante
adultos com os quais trabalha, junto com as demais
busca desta clientela pelos sistemas educacionais
instituições da sociedade.
da EJA e por exames supletivos a fim de sanarem
sua deficiência e tornarem-se competitivos no
IMPORTANTE: Assim sendo,
mercado de trabalho.
a função social da educação passa pelo
Os avanços tecnológicos criam dificuldades
desenvolvimento da competência de comunicação,
para todos os que não estão inseridos nesta nova
de socialização, de resolução de problemas e de
realidade, aparecendo em nossa sociedade a figura
representação social e deve despertar no indivíduo
do “analfabeto virtual”. Para os educandos
o senso crítico e criativo, estimulando a
excluídos da condição social de acesso a esses
participação ativa do sujeito na sociedade, além de
meios tecnológicos a situação ainda é mais gritante,
promover a sua autonomia intelectual, emocional e
pois sua condição social de exclusão lhes
social. Para alcançar estes objetivos se faz
impossibilita o acesso e os mantém ainda mais
necessária a participação de todas as esferas da
excluídos, especialmente se formos considerar que,
sociedade e não apenas da Escola enquanto
cada vez mais, o domínio de ferramentas
instituição oficial.
tecnológicas se coloca como pressuposto para a
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manutenção de emprego e para a melhoria da


“Se você pode fazer alguma coisa ou
condição social.
pensa que pode, comece. A ousadia contém
Considerando os avanços tecnológicos que força, coragem e magia.”
estamos vivenciando, podemos identificar na
Goethe
sociedade uma oposição de cultura em que a  
geração anterior aos referidos avanços pode ser Listamos abaixo algumas das funções
considerada como “IMIGRANTE” no que diz atribuídas ao trabalho na EJA, funções estas que
respeito ao domínio tecnológico, e a geração atual, devem ser perseguidas pelo professor/educador no
a geração tecnológica, pode ser considerada como desenvolvimento de suas atribuições e
“NATIVA” no que diz respeito ao domínio de tais constantemente avaliadas por ele, no que diz
tecnologias uma vez que já nasceu em um ambiente respeito a sua concretização no ato pedagógico.
tecnológico e se desenvolveu cercada por esta
tecnologia, daí a maior facilidade evidenciada pela Função reparadora:
nova geração para o domínio dos meios
Não se refere apenas à entrada dos jovens e
tecnológicos.
adultos no âmbito dos direitos civis, pela
restauração de um direito a eles negado – o direito
a uma escola de qualidade, mas também ao
reconhecimento da igualdade ontológica de todo e
qualquer ser humano de ter acesso a um bem real,
social e simbolicamente importante, porém não
podemos confundir a noção de reparação com a de
suprimento.

IMIGRANTES e NATIVOS DIGITAIS Para tanto, é indispensável um modelo


 Um nativo digital é uma pessoa que cresceu educacional que crie situações pedagógicas
com a tecnologia digital (computadores, internet, satisfatórias para atender às necessidades de
lan houses, vídeo conferências, telefones celulares, aprendizagem específicas de alunos jovens e
mp3). adultos.
 Um imigrante digital é uma pessoa que
Função equalizadora:
cresceu sem a tecnologia e a adotou mais tarde.

 E habitam o mesmo lugar... Dois Relaciona-se à igualdade de oportunidades,

universos... que possibilite oferecer aos indivíduos novas


inserções no mundo do trabalho, na vida social, nos
FUNÇÕES DA EDUCAÇÃO DE espaços das estéticas e nos canais de participação.
JOVENS E ADULTOS Nessa linha, a EJA representa uma possibilidade de
efetivar um caminho de desenvolvimento a todas as
pessoas, de todas as idades, permitindo que jovens
e adultos atualizem seus conhecimentos, mostrem
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habilidades, troquem experiências e tenham acesso sujeitos leitores, aos seus contextos histórico-
a novas formas de trabalho e cultura. sociais, respeitando, dessa forma, suas histórias de
vida singulares e coletivas e seus saberes e fazeres
Função qualificadora:
cotidianos.
Refere-se à educação permanente, com base
no caráter incompleto do ser humano, cujo IMPORTANTE: A partir de
potencial de desenvolvimento e de adequação pode 1996, o papel do professor se torna, então, o de um
se atualizar em quadros escolares ou não-escolares. “facilitador”, alguém que contribui para a criação
Mais que uma função, é o próprio sentido da das condições favoráveis – situações de
educação de jovens e adultos. aprendizagem - para a produção do conhecimento.
Neste sentido, além de Paulo Freire, Ana
Assim sendo, segundo as Diretrizes
Teberovsky, Emília Ferreiro e L.S. Vygotsky
Curriculares Nacionais para a Educação de
passaram a compor o quadro de referenciais
Jovens e Adultos, é necessário que a escola
teóricos do trabalho de formação dirigido aos
assuma a função reparadora de uma realidade
educadores populares.
injusta, que não deu oportunidade nem direito de
escolarização a tantas pessoas. Ela deve também Tais colocações e reflexões teórico-práticas
contemplar o aspecto equalizador, possibilitando visam alcançar uma autonomia cognitiva por parte
novas inserções no mundo do trabalho, na vida dos educadores que seja capaz de fazê-los agir de
social, nos espaços de estética e na abertura de forma independente na tomada de decisões no que
canais de participação. Mas há, ainda, outra função diz respeito às resoluções de problemas de

a ser desempenhada: a qualificadora, com apelo aprendizagem e de avaliação e na estruturação de

à formação permanente, voltada para a um currículo entendido, não como prescrição de

solidariedade, a igualdade e a diversidade. conteúdos (lista de conteúdos), mas como


instrumento básico de mediação das vivências do
A LEITURA DO MUNDO ANTECEDE educando com novos saberes.
A LEITURA DA ESCRITA
“Quando afirmamos que a educação seja
“A compreensão de um texto, a ser orientada para o desenvolvimento de habilidades e
alcançada por uma leitura crítica, implica a competências, significa dizer que o aprendizado
percepção das relações entre o texto e o escolar seja organizado não mais em função de
contexto, o estabelecimento de relações entre o conteúdos informacionais a serem transmitidos,
que se conhece e o que não se conhece.” mas, sim, em função de habilidades e competências
que os jovens e adultos devem desenvolver em
PAULO FREIRE.
imitação da realidade que vivenciam fora do
 
âmbito da Escola.” ( PCN - Ensino Médio)
Tal visão de leitura e compreensão de texto
"Cabe ainda observar preliminarmente que as
pressupõe uma metodologia que busca adaptar-se
competências não eliminam os conteúdos, pois que
às necessidades, expectativas e potencialidades dos
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não é possível desenvolvê-las no vazio. Elas apenas  Memorização  aprender a reter o


norteiam a seleção dos conteúdos, para que o essencial na memória;
professor tenha presente que o que importa na
 Acesso à informação  aprender a
educação básica não é a quantidade de
encontrar o que não foi memorizado;
informações, mas a capacidade de lidar com elas,
através de processos que impliquem sua HABILIDADE RELATIVA À TRANSMISSÃO
apropriação e comunicação, e, principalmente, sua DA INFORMAÇÃO
produção ou reconstrução, a fim de que sejam  Comunicação  aprender a apresentar a
transpostas a situações novas". PCN - Ensino informação por via oral ou escrita;
Médio
HABILIDADES RELATIVAS AO
Relacionamos a seguir, sem pretender
GERENCIAMENTO DA VIDA
exaurir, apenas algumas das diversas habilidades
 Planejamento  aprender a definir
que devem constar de um trabalho significativo
objetivos e metas, bem como as
com a Educação de Jovens e Adultos, fique à
estratégias para alcançá-los;
vontade para aumentar a lista:
 Administração do tempo  aprender a
HABILIDADES RELATIVAS À ABSORÇÃO distinguir o importante do prioritário e a
DE INFORMAÇÃO estabelecer prioridades corretas;
 Leitura Dinâmica  aprender a ler com
rapidez e compreensão; UMA COMPETÊNCIA

 Desenvolvimento e aprimoramento dos Permite a mobilização de conhecimentos


sentidos  aprender a perceber; para que se possa enfrentar uma determinada
situação, uma capacidade de encontrar vários
HABILIDADES RELATIVAS À ANÁLISE DA
recursos, no momento e na forma adequadas.
INFORMAÇÃO:

 Pensamento crítico  aprender a


analisar e avaliar a informação, textual, ATIVIDADE
numérica, estatística, gráfica, sonora,
visual, etc. Faça uma pesquisa acerca do tema

 Raciocínio lógico  aprender a inferir e Habilidades e Competências e depois redija um

deduzir mediante pistas; texto em que você disserte sobre a sua


compreensão acerca da diferença entre Habilidades
HABILIDADES RELATIVAS AO e Competências e de seu papel na organização de
GERENCIAMENTO DA INFORMAÇÃO atividades significativas
 Organização pessoal  aprender a
organizar e arquivar a informação;

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segundo e, este o armazena e devolve na prova

UNIDADE III final.

Questões Didáticas “O educador faz “depósitos” de conteúdos


que devem ser arquivados pelos
A ESCOLA COM QUE PAULO educandos. Desta maneira a educação se
FREIRE SONHAVA torna um ato de depositar, em que os
educandos são os depositários e o
educador o depositante. O educador será
Ninguém sabe tudo, ninguém ignora tanto melhor educador quanto mais
conseguir “depositar” nos educandos. Os
tudo. Todos sabemos algo, todos ignoramos educandos, por sua vez, serão tanto
algo. melhores educados, quanto mais
conseguirem arquivar os depósitos feitos.
(Freire, 1983:66)”
Paulo Freire
Prova, tão logo, que através da

O IDEÁRIO DE PAULO FREIRE “problematização” da realidade e da significação é


possível desenvolver uma concepção libertadora
Antes de anunciar a presença de Paulo Freire
nas relações: professor/aluno e
como educador faz-se necessário contextualizá-lo
conhecimento/aprendizagem.
como homem. Diga-se um “percebedor” da
realidade por sua condição de pobre, nordestino e
“Como situação gnosiológica, em que o
brasileiro. Sua luta e presença baseiam-se na objeto cognoscível, em lugar de ser o
término do ato cognoscente de um sujeito,
categoria “opressão”, principalmente, por ter sido é mediatizador de sujeitos cognoscentes,
educador, de um lado, educandos, de
um homem que, devido à sua própria experiência,
outro, a educação problematizadora
fez uma leitura concreta do mundo do oprimido, da coloca, desde logo, a exigência da
superação da contradição educador x
complexidade da relação oprimido e opressor, para, educando. Sem esta, não é possível a
finalmente, propor uma pedagogia libertadora que relação dialógica, indispensável à
cognoscibilidade dos sujeitos
consiste em uma educação voltada para a cognoscentes, em torno do mesmo objeto
cognoscível.” (Freire, 1983:78)
conscientização da opressão (pedagogia do
oprimido) e a conseqüente ação transformadora. Entre educador e educandos não há mais uma
relação de verticalidade, em que um é o sujeito e o
Nestas dimensões a obra, e a vida de Paulo
outro objeto. Agora a pedagogia é dialógica, pois
Freire, dão uma resposta, apontando caminhos. Ao
ambos são sujeitos do ato cognoscente. É o
tratar da pedagogia da “consciência” pretendeu
“aprender ensinando e o ensinar aprendendo”. O
elucidar do educando sua criticidade, criatividade e
diálogo, em Freire, exige um pensar verdadeiro, um
ação diante do que está dado: é preciso que o
pensar crítico. Este não dicotomiza homens e
oprimido tenha consciência de sua opressão
mundo, mas os vê em contínua interação. Como
(pedagogia do oprimido). Ao tratar da pedagogia
seres inacabados, os homens se fazem e refazem na
da “pergunta” ele torna-se um sociólogo da sala de
interação com o mundo, objeto de sua práxis
aula e reflete a relação professor e aluno enquanto
transformadora. (Boufleuer, 1991) A prática
concepção bancária x concepção libertadora, onde
pedagógica passa a ser uma ação política de troca
o primeiro (como num banco) deposita
de concretudes e de transformação.
conhecimentos através da transmissão apenas no

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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III        2 43
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA  
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processo, uma mudança democrática e não apenas


A lição maior, como educadores, que como uma ruptura. A revolução é um processo
temos de Freire é a preocupação com o social. político pedagógico de transformação, que requer
A busca de alternativas e propostas deve ser reconstrução do poder em novas formas de relação.
uma constante em nosso dia-a-dia, no sentido “A revolução que deve ocorrer é uma grande ação
de resgatar o “homem”, o “cidadão” e o cultural para a liberdade, realizada pelo povo
“trabalhador” da alienação de seu “ser”, (Freire, 1977).”
tornando-lhe possível o seu exercício de
6) A pedagogia do oprimido tem por base o
cidadania e de sua dignidade.Ninguém sabe
diálogo, necessidade ontológica do ser humano.
tudo, ninguém ignora tudo. Todos sabemos
algo, todos ignoramos algo. 7) Ser utópico, também, é uma exigência
ontológica do ser humano, uma exigência histórica.
Paulo Freire
Esta foi sua luta e, é esta a sua lição – acreditar que

Finalizando, as categorias diálogo, oprimido, é possível.

problematização, conscientização e libertação


De educador para educador (Para Refletir)
definem o homem político em Paulo Freire.
Eu não sou você, você não é eu,
Ou seja:
Eu não sou você, você não é eu,
1) Sua proposta vai além das críticas das
formas educativas atuais, porque se define em uma Mas sei muito de mim, vivendo com você,
pedagogia da consciência: consciência crítica
E você, sabe muito de você convivendo comigo.
enquanto conhecimento e práxis de classe.
Eu não sou você, você não é eu.
2) Na escola formal, a pedagogia de Paulo
Freire requer um professor problematizador da Mas encontrei comigo e me vi
realidade, pois se trata da pedagogia da pergunta
Enquanto olhava para você
que requer diretividade.
Na sua, minha, insegurança;
3) Através de uma relação dialógica e
dialética entre professor e aluno, a proposta Na sua, minha, desconfiança;
pedagógica de Freire, centraliza-se na dimensão do
Na sua, minha, competição;
conhecimento, no sentimento de aceitação do
outro, da interação, da intersubjetividade. Na sua, minha, birra infantil;

4) A revolução necessária para a Na sua, minha, omissão;


transformação social que não considera o amor,
Na sua, minha, firmeza;
apenas substituirá o opressor – o oprimido passa a
ser o opressor – que continuará a mesma lógica da Na sua, minha impaciência;
dominação.
Na sua, minha prepotência;
5) A revolução deve ser entendida como um
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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III        3 44
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA  
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Na sua, minha fragilidade ; O diretor é gente, o coordenador é gente, o


professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário
Na sua, minha, mudez aterrorizada
é gente.
E você se encontrou e se viu,
E a escola será cada vez melhor na medida em que
Enquanto olhava para mim? cada um se comporte como colega, amigo, irmão.

Eu não sou você, você não é eu Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’.

Mas foi vivendo minha solidão que conversei com Nada de conviver com as pessoas e depois
você descobrir que não tem amizade a ninguém nada de
ser como o tijolo que forma a parede, indiferente,
E você conversou comigo na sua solidão,
frio, só.
Ou fugiu dela, de mim e de você?
Importante na escola não é só estudar, não é só
Eu não sou você, você não é eu, trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar
ambiente de camaradagem, é conviver, é se
Mas sou mais eu, quando consigo lhe ver,
‘amarrar nela’!

Porque você me reflete;


Ora , é lógico... numa escola assim vai ser fácil

No que eu ainda sou


estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se,

No que quero vir a ser...


ser feliz."

Eu não sou você, você não é eu


(Poema de Paulo Freire / Fonte: Instituto Paulo

Mas somos um grupo, enquanto somos Freire)

Capazes de diferenciadamente, Ecos do pensamento freiriano se fizeram


ouvir na Conferência Mundial de Educação para
Eu ser eu, vivendo com você e
Todos, realizada em Jomtien, na Tailândia, em

Você ser você, vivendo comigo. 1990, onde foram definidos quatro pilares da
educação que deveriam ser a meta para o
(Madalena Freire) desenvolvimento educacional em todos os países
signatários de seus documentos.
O texto abaixo exemplifica como Paulo Freire
enxergava a escola: Esses pilares são:

A Escola  Aprender a conhecer;

 Aprender a fazer;
"Escola é... o lugar onde se faz amigos não se trata
só de prédios, salas, quadros, programas, horários,  Aprender a viver com os outros;
conceitos...  Aprender a ser.

Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que Pode-se perceber que são objetivos que vão
estuda, que se alegra, se conhece, se estima.
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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III        4 45
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA  
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muito além da informação ou mesmo do mero  Habilidade de bem utilizar e de


desenvolvimento de um conhecimento intelectual. aprimorar a acuidade dos sentidos
Abarcam toda a formação humana e social da (aprender a perceber);
pessoa. É fácil perceber que metas deste porte
 Habilidade de entender e corretamente
envolvem conhecimentos, comportamentos,
interpretar a linguagem corporal;
conceitos, procedimentos, valores, atitudes, saber,
 Habilidade de entender a linguagem
fazer e ser.
verbal falada e escrita e
Por isso mesmo, não podem ser atingidas desenvolvimento da capacidade de ler
com um ensino livresco, fragmentado, conteudista, com compreensão e rapidez;
estereotipado, estagnado. Exigem novas
O texto abaixo exemplifica como Paulo Freire
perspectivas, uma nova visão da Educação. Uma
enxergava a escola:
visão voltada para o ensino de habilidades e
competências que contribuam para o exercício 2) Competência na Transmissão da
pleno da cidadania. Informação e na Comunicação - que necessita das
seguintes habilidades:
"De que competências se está falando? Da
capacidade de abstração, do desenvolvimento do  Habilidade de se expressar, produzir
pensamento sistêmico, ao contrário da discursos e argumentação em língua materna falada
compreensão parcial e fragmentada dos fenômenos, e escrita;
da criatividade, da curiosidade, da capacidade de  Habilidade de se expressar minimamente em
pensar múltiplas alternativas para a solução de um língua estrangeira;
problema, ou seja, do desenvolvimento do
 Habilidade de se expressar através da
pensamento divergente, da capacidade de trabalhar
linguagem não-verbal em situações que a
em equipe, da disposição para procurar e aceitar
requerem;
críticas, da disposição para o risco, do
desenvolvimento do pensamento crítico, do saber 3) Competência no Acesso à informação -
comunicar-se, da capacidade de buscar que depende das seguintes habilidades:
conhecimento. Estas são competências que devem  Habilidade de buscar e pesquisar a
estar presentes na esfera social, cultural, nas informação em qualquer dos meios em que esteja
atividades políticas e sociais como um todo, e que armazenada;
são condições para o exercício da cidadania num
 Habilidade de memorizar a informação
contexto democrático". PCN- Ensino Médio
essencial e de uso constante;
Relacionamos a seguir algumas das diversas  Habilidade de organizar e arquivar a
competências que devem constar de um trabalho informação e de localizar e recuperar com
significativo com a Educação de Jovens e Adultos: facilidade e rapidez a informação não memorizada.

1) Competência na Absorção da Informação - 4) Competência na Análise da Informação –


que lança mão das seguintes habilidades: que depende das seguintes habilidades:

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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III        5 46
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 Habilidade  de  analisar  criticamente  e   Habilidade de relacionamento;


avaliar a informação textual, numérica, estatística,   Habilidade de atuação cidadã para a
gráfica, sonora e visual;  transformação;
 Habilidade de raciocinar logicamente;   Habilidade de negociar, de administrar
 Habilidade  de  perceber  padrões,  pressões e conflitos;
conformações,  tendências,  analogias,  sutilezas, 
 Habilidade de controlar as emoções e
ironias, sarcasmo, humor, etc. 
administrar o stress;

5) Competência Epistemológica, Ética e 8) Competência no Plano Pessoal -


Estética - que se estrutura a partir das seguintes resultantes das seguintes habilidades:
habilidades:
 Habilidade de decidir com base em
 Habilidade de diferenciar questões que princípios e de agir em conformidade com as
envolvem o verdadeiro, o certo, o bom e o belo; decisões;
 Habilidade de definir critérios que  Habilidade de saber o momento oportuno
diferenciem adequadamente o verdadeiro do falso, para questionar e para agir;
o certo do errado, o justo do injusto, o direito do
 Habilidade em solucionar problemas;
dever, o belo do feio, etc.
 Habilidade da autopoiese e da
6) Competência na Compreensão - que autodeterminação;
depende do desenvolvimento das seguintes
 Habilidade em administrar mudanças
habilidades:
internas e externas;
 Habilidade de compreender o
funcionamento do mundo físico; 9) Competência no Gerenciamento da vida -
que se acham estruturadas a partir do domínio das
 Habilidade de compreender o
seguintes habilidades:
comportamento dos seres vivos;
 Habilidade de Planejar Projetos de vida com
 Habilidade de compreender o ser humano,
estratégias e objetivos bem delimitados;
no plano individual, espiritual;
 Habilidade de administrar o tempo e
 Habilidade de compreender a dinâmica
estabelecer prioridades;
social e os fatores determinantes da exclusão e
inclusão;  Habilidade de reconhecer os erros (seus e
dos outros) e de aprender com eles, bem como
 Habilidade de compreender as
corrigi-los;
manifestações culturais do ser humano;
 Habilidade de persistir frente às
 Habilidade de compreender o poder
adversidades impelido pelo desejo de alcançar
transformador dos sonhos e das utopias;
certo objetivo;
7) Competência no relacionamento
Planejar, sob a perspectiva de um currículo
Interpessoal - que se constrói a partir do grau de
baseado em habilidades e competências, pressupõe
desenvolvimento das seguintes habilidades:
um trabalho que vai muito além de relacionar
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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III        6 47
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA  
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conteúdos e ministrá-los. imposição de um currículo rígido entendido como


lista de conteúdos, que não valorize suas
Requer um trabalho de adequação dos
iniciativas, suas individualidades, seus ritmos
conteúdos às necessidades dos educandos na
particulares de aprendizado.
perspectiva de que os conteúdos não devem ser
“depositados” ao aluno e sim construídos com ele.
Importante: Precisamos encontrar
Para isso será necessário conhecer a realidade de
um meio termo, onde as características positivas da
cada aluno, bem como os conhecimentos que já
Pedagogia sejam preservadas e as inovações
possuem construídos a fim de poder auxiliá-los na
eficientes da Andragogia sejam introduzidas para
construção de novos conhecimentos.
melhorar o resultado do Processo Educacional. Não
Sempre lembrando de que quaisquer existem fórmulas ou receitas, trata-se de algo a ser
conhecimentos formais ou informais só têm sentido construído no coletivo tendo por base cada
se puderem ser manipulados/utilizados pelos realidade.
educandos em situações próximas as que ele
Um caminho talvez seja estimular o
encontraria na sociedade e em sua vida cotidiana.
autodidatismo, a capacidade de auto-avaliação e
Tudo isto torna o processo muito mais autocrítica, as habilidades profissionais, a
complexo e cheio de inter-relações do que o capacidade de trabalhar em equipe.
simples relacionar conteúdos e ministrá-los de
Precisamos enfatizar a responsabilidade
forma tal que os alunos dêem conta de apreendê-los
pessoal pelo próprio aprendizado e a necessidade e
como comumente se faz naquilo que Paulo Freire
capacitação para a aprendizagem continuada ao
chamou de educação depositária.
longo da vida. Precisamos estimular a
Vê-se, portanto, que é necessário considerar o responsabilidade social, formando cidadãos
desenvolvimento integral dos indivíduos nas competentes, com auto-estima, seguros de suas
diversas esferas que constituem o seu mundo; habilidades e comprometidos com a transformação
considerar as experiências anteriores que o da sociedade na qual irão interagir.
construíram enquanto pessoa e lhe deram as
Sem dúvida, a Andragogia será uma ótima
características que agora possui, para a partir de
ferramenta para nos ajudar a atingir estes objetivos.
tais vivências (conhecimentos prévios) estabelecer
a base para o desenvolvimento das práticas A REALIDADE DA ORGANIZAÇÃO
pedagógicas. Só assim será possível atender as PEDAGÓGICA NAS ESCOLAS
reais necessidades dos alunos trabalhadores da
EJA. “Se somos cegos, por que é tão
facilmente perceptível a cegueira dos outros e
Fica evidente no que diz respeito a nossa por que razão é tão difícil de aceitar a nossa
prática pedagógica que não podemos abandonar os própria cegueira?”
métodos clássicos, de currículos parcialmente
estabelecidos e professores que orientem e guiem (Santos 2000, p. 224).
 
seus alunos, nem podemos, por outro lado, tolher o
amadurecimento de nossos estudantes através da Acreditamos que a estrutura escolar é fruto de
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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III        7 48
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA  
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seu caráter oficialmente instituído (pelas leis, raciocinam que quanto menos souberem e se
normas, regras e definições) e pelo vivido no seu conhecerem, melhor. Pois menor será o risco de dar
cotidiano, pela ação de seus sujeitos (fruto das vida aos seus interesses e às suas formas de
interações e conflitos de seus agentes na condição expressividade.
de sujeitos sócio-culturais).
É interessante observar que a escola, na maior
Nessa perspectiva, reafirmamos que a escola parte das vezes, tem uma concepção muito
é o espaço do velho e do novo, que se revitaliza positivista e regulatória do tempo escolar e das
pela efervescência daqueles que lhe animam e dão práticas a serem desenvolvidas em seu interior,
vida: os professores, os alunos e os funcionários. como se o cumprimento do currículo (lista de
Convém  então  que  analisemos  as  conteúdos) fosse mais importante do que a

características  dos  atores  que  atuam  no  seio  da  formação humana a ser construída nos

Escola.   relacionamentos.

Sobre isso, já afirmava Freire:


Vestindo a camisa do conhecimento escolar, a
escola enfatiza o conhecimento como objetivo,
“... não me parece possível pensar a
preocupam-se os professores em “dar o programa”,
prática educativa, portanto a escola, sem
perdendo a possibilidade de conhecer os Joãos,
pensar a questão do tempo, de como usar o
Josés, Marias e tantos outros jovens e adultos em
tempo para aquisição do conhecimento, não
sala de aula.
apenas na relação educador-educandos, mas na

Reduzindo a escola ao espaço da instrução, experiência inteira, diária, da criança na

não se demonstra nenhuma preocupação em trazer escola” (1991:p.54).

o interesse do aluno para a sala de aula a fim de


 
conhecer e valorizar os seus interesses, trazendo o
mundo de dentro para o exterior pela socialização e Já no início dos anos 90, Freire registrava o

trazendo o mundo de fora para o seu interior pela surgimento dos grafiteiros no cenário escolar

vivência. A escola pública precisa ampliar seu paulista suburbano e vislumbrava as múltiplas

sentido do educativo, para além do campo escolar possibilidades que isto significava para as

que limita educação à instrução. expressões culturais se integrarem às práticas


escolares.
De modo geral, os professores não enxergam
o jovem/adulto na sua singularidade. Evitam trazer Para refletir: Freire vislumbrava as
para a sala de aula suas músicas, por exemplo, para múltiplas possibilidades que o surgimento dos
evitar confusão. Evitam trazer sua linguagem, para grafiteiros no cenário escolar significava para se
evitar gírias, expressões idiomáticas e até palavrões integrarem à prática pedagógica e se realizar como
tão constantes na vida real. expressão cultural. Consegue você vislumbrar

Muitas vezes, não chegam sequer a conversar alguma forma de expressão em sua localidade que

de ser humano para ser humano com seus alunos, poderia ser trazido para dentro da escola a fim de

simplesmente para não se envolverem. Pois fazer parte do cenário educativo através de práticas
pedagógicas inclusivas? Como você elaboraria uma
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CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA  
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aula a partir destas manifestações culturais compensatória de educação de jovens e adultos que
regionais/locais? inspirou o ensino supletivo, visto como instrumento
de reposição de estudos não realizados na infância
De um lado, cabe à escola adequar o seu
ou adolescência. Ao focalizar a escolaridade não
modo de ensinar e aprender o aluno e as suas
realizada ou interrompida no passado, o paradigma
manifestações, ou seja, cabe a escola pensar a sua
compensatório acabou por enclausurar a escola
organização para um grupo que não é alvo dela,
para jovens e adultos nas rígidas referências
mas sim produto de sua atuação e, de outro lado,
curriculares, metodológicas, de tempo e espaço da
tornar compreensível explicitamente para os
escola de crianças e adolescentes, interpondo
estudantes as suas regras implícitas.
obstáculos à flexibilização da organização escolar
É preciso quebrar paradigmas para que a necessária ao atendimento das especificidades
Educação de Jovens e Adultos possa se construir e desse grupo sociocultural. (DI PIERRO, 2005
reconstruir, focada nos sujeitos que dela p.1118)
participam. Conviver com as diferenças num
UMA DIDÁTICA VOLTADA PARA A
mesmo ambiente, não é tarefa fácil - devido às
CIDADANIA
múltiplas facetas do conhecimento sócio-histórico
construído e devido às individualidades - mas é o “Ao se referir ao futuro como
objetivo final da EJA. possibilidade, a juventude de hoje nos fala
menos em categorias sociológicas e mais em
Importante: Assim, a EJA constrói
categorias éticas e antropológicas. São
seu arcabouço teórico-prático-metodológico de categorias relacionadas com o amor, a
modo mais criador, quando consegue trazer o amizade, a transparência, a vontade política.
mundo do aluno para a sala de aula, propiciando a A educação que está nascendo com a
troca de experiências e saberes. juventude fala muito em vida, singularidade,
corpo.”
Desse modo, a escola passa a se apresentar
como espaço para manifestações sócio-culturais, (FREIRE, 199, p.91)
como mecanismo de fomentação da expressividade  

e da participação visando a uma cidadania plena. Uma didática voltada para a cidadania passa
pela compreensão do planejamento como processo
Também os funcionários devem comungar
de reflexão sobre a prática docente e de
com os princípios norteadores da prática
sistematização dessa prática através da construção
pedagógica que deve ocorrer na escola, pois eles
de modalidades de organização didático-
também participam do processo de formação que
pedagógica do conhecimento nos diversos
pretende transformar indivíduos em cidadãos
contextos de ensino.
participantes, ativos e críticos da sociedade.

A prática pedagógica da atualidade


Importante: A cultura escolar

brasileira (especialmente a de EJA) ainda se O processo educacional sempre foi alvo de

encontra impregnada pela concepção constantes discussões e apontamentos que

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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III        9 50
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA  
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motivaram sua evolução em vários aspectos, conhecimento é feita através da


construção de conceitos, que possibilitam
principalmente no que tange a condução de a leitura critica da informação, processo
metodologias de ensino por nossos educadores e a necessário para absorção da liberdade e
autonomia mental.”(HAMZE, Amélia. “O
valorização do contexto escolar formador para professor e o mundo contemporâneo”,
2004).
nossos alunos. Nesse aspecto GADOTTI (2000:4),
pesquisador desse processo afirma que: É perceptível que o saber científico e a busca
pelo conhecimento têm fugido do interesse da
”Enraizada na sociedade de classes
sociedade em geral, pois a atualização das
escravista da Idade Antiga, destinada a
uma pequena minoria, a educação informações tem ocorrido de forma acessível a
tradicional iniciou seu declínio já no
movimento renascentista, mas ela todos os segmentos satisfazendo de uma forma
sobrevive até hoje, apesar da extensão
geral os interesses daqueles que as buscam.
média da escolaridade trazida pela
educação burguesa. A educação nova, que
surge de forma mais clara a partir da obra A escola, nesse contexto, tem por opção
de Rousseau, desenvolveu-se nesses
últimos dois séculos e trouxe consigo repensar suas ações e o seu papel no
numerosas conquistas, sobretudo no aprimoramento do saber, e para isso, uma reflexão
campo das ciências da educação e das
metodologias de ensino. O conceito de sobre seus conceitos didático-metodológicos
“aprender fazendo” de John Dewey e as
técnicas de Freinet, por exemplo, são
precisa ser feita, de forma a adequar-se ao
aquisições definitivas na história da momento atual e principalmente colocar-se na
pedagogia. Tanto a concepção tradicional
de educação quanto a nova, amplamente postura de organização principal e, mais
consolidadas, terão um lugar garantido na
importante, na evolução dos princípios
educação do futuro. (GADOTTI, M.
Perspectivas atuais da educação, 2000) fundamentais de uma sociedade,

A escola contemporânea sofre com o Sobre o assunto, GADOTTI (2000:8), afirma


desenvolvimento acelerado que ocorre a sua volta, que, seja qual for a perspectiva que a educação
onde as informações são atualizadas em frações de contemporânea tomar, uma educação voltada para
segundos, ocasionando de certa forma, o desgaste e o futuro será sempre uma educação contestadora,
o comprometimento das ações voltadas para o superadora dos limites impostos pelo Estado e pelo
aprimoramento do ensino, fazendo com que a sala mercado, portanto, uma educação muito mais
de aula se torne um ambiente de pouca relevância voltada para a transformação social do que para a
para a consolidação do conhecimento, tornando a transmissão cultural.
vivência social o requisito primordial para a busca
Na sociedade da informação, a escola deve
de aprendizado.
servir de bússola para navegar nesse mar do
conhecimento, superando a visão utilitarista de só
”Como educadores não devemos
identificar o termo informação como oferecer informações “úteis” para a
conhecimento, pois, embora andem juntos,
não são palavras sinônimas. Informações competitividade, para obter resultados. Deve
são fatos, expressão, opinião, que chegam oferecer uma formação geral na direção de uma
às pessoas por ilimitados meios sem que
se saibam os efeitos que acarretam. educação integral.
Conhecimento é a compreensão da
procedência da informação, da sua
dinâmica própria, e das conseqüências que
O que significa servir de bússola? Significa
dela advém, exigindo para isso um certo orientar criticamente, sobretudo os jovens e
grau de racionalidade. A apropriação do
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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III        10 51
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA  
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adultos, na busca de uma informação que os faça sistematizador das situações de ensino que
crescer e não embrutecer. (GADOTTI, M. concretizam as intenções explicitadas no projeto
Perspectivas atuais da educação, 2000) pedagógico/currículo;

Sobre essa prática, GADOTTI (2000:9)  O reconhecimento da necessidade de

afirma que: formalização das decisões do planejamento no


plano didático;

“... nesse contexto, o educador é um  O planejamento de situações problemas a


mediador do conhecimento, diante do
aluno que é o sujeito da sua própria serem utilizadas em estratégias diferenciadas para a
formação. Ele precisa construir
construção do conhecimento;
conhecimento a partir do que faz e, para
isso, também precisa ser curioso, buscar
 O planejamento de situações de ensino para
sentido para o que faz e apontar novos
sentidos para o que fazer dos seus alunos”. diferentes contextos, níveis e modalidades.

Ele afirma ainda que: Não obstante, para compreendermos as


especificidades desta organização didática
”Os educadores, numa visão precisamos responder a algumas questões: O que é
emancipadora, não só transformam a
informação em conhecimento e em ensino? Por que se faz necessário o planejamento?
consciência crítica, mas também formam
O que se requer com a prática pedagógica? Como
pessoas.(...) Eles fazem fluir o saber (não
o dado, a informação e o puro definir o currículo? Qual é o objetivo da ação
conhecimento), porque constroem sentido
para a vida das pessoas e para a docente? Em que epistemologia está baseada a sua
humanidade e buscam, juntos, um mundo
prática pedagógica?
mais justo, mais produtivo e mais
saudável para todos. Por isso eles são
imprescindíveis. (GADOTTI, M. Toda prática pedagógica tem como objetivo a
Perspectivas atuais da educação, 2000)”.
construção de aprendizagens, mas como esta
prática deve ser organizada? Bem comecemos
A IMPORTÂNCIA DA ORGANI-
ZAÇÃO DIDÁTICA então a explorar estes questionamentos através do
conceito que temos acerca do que é Ensino.
“... A metodologia de trabalho em sala de ATIVIDADE
aula é uma síntese, uma concretização, um reflexo
de toda uma concepção de educação e de um Pare agora sua leitura da apostila e reflita por
conjunto de objetivos (mais ou menos explícitos). alguns instantes e tente elaborar para você mesmo
Uma metodologia na perspectiva dialética baseia- um conceito sobre: O que é ensino para você? O
se numa concepção de homem e de conhecimento, que é o Ensinar? Depois troque idéias com os
onde se entende o homem como um ser ativo e de outros participantes do curso. (Criar fórum para
relações”. discussão dos conceitos)

(Vasconcellos, 1995, p. 45). Para te ajudar a refletir e reelaborar um


 
conceito mais abrangente, listamos a seguir
Uma boa organização didática, que conduz a algumas das concepções de “Ensino” que aparecem
uma boa prática didática, deve ter como objetivos: como constante nas falas dos educadores em geral,

 A compreensão do planejamento como conforme foram apresentadas no livro Lições de


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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III        11 52
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Didática: que ele já sabe”;

 “... ensinar é um ato de interação. É parte  “... um processo didático, pois ao mesmo
inseparável do processo de aprendizagem”; tempo em que o professor auxilia o educando a

 “... um diálogo, uma vivência envolvendo construir seu conhecimento, ele também está

um conteúdo disciplinar, que contribua para a construindo seu conhecimento profissional.”;

formação humana, objetivando subsidiar os  “... ensinar significa mostrar caminhos,


enfrentamentos postos pela sociedade atual”; dando oportunidade para que o aluno

 “... ensinar é sinônimo de compartilhar, construa/reconstrua seu conhecimento com

orientar, tendo como referência o conhecimento a significado para a própria vida.”;

ser trabalhado, os sujeitos envolvidos nesta ação.  “... ensinar exige planejamento.”;
Ensinar é também trabalhar com o outro”;  “... ensinar é ação didático-pedagógica
 “... é compartilhar algo que sabemos e organizada pelo professor, ou seja, pensada para
conhecemos; é respeitar as diversidades, é saber interagir com o aluno.”;
ouvir, para se aprender; é amar aquilo que se faz”;

 “... ensinar é compartilhar, construir o


conhecimento, despertar no outro a curiosidade
pela pesquisa, pela descoberta, pelo querer saber
mais.”;

 “... é a interação entre o sujeito que ensina e


o que aprende, construindo o conhecimento que é
incorporado pelo sujeito, transformando a prática.”

 “... ensinar é a arte de seduzir, motivando o


 
indivíduo de forma pedagógica no momento que
Antes de qualquer prática no sentido de
ele deve ser tomado pelo desejo de saber, conhecer
ensinar, se faz necessário estabelecer por assim
e aprender
dizer “o fio da meada” por fazer uma atividade que
 “... ensinar é promover situações de
possibilite levantar os conhecimentos prévios dos
aprendizagem que despertem no aluno o desejo de
alunos através de atividades avaliativas de
saber, que o desafiem a resolver uma problemática
sondagem. Tais atividades visam compreender
ou se posicionar a respeito de alguma questão que
o que os alunos já sabem para poder planejar as
envolve a sociedade.”;
situações de aprendizagem.
 “... pois ensinar significa interagir,
Os conhecimentos prévios podem ser
compartilhar.”;
incompletos, inadequados, confusos ou ainda
 “... para que haja ensino deve haver
carregados de preconceito, imperfeições, crendices,
aprendizado e este deve fazer parte da vida do
valores pessoais, etc. Não obstante, constituem a
aluno para que possa ser significativo.”;
base sobre a qual o conhecimento pode ser
 “... proporcionar ao educando momentos refinado, aprimorado e construído de forma
para a construção do seu conhecimento, a partir do
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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III        12 53
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA  
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significativa, pois respeita o que o aluno já conhece e social? Que diferença fará o saber ou não saber
- ou pensa que conhece - e amplia os horizontes da determinado conteúdo? Em que situações da vida
aprendizagem tornando-a mais apropriada, mais seriam necessários os conhecimentos deste
abrangente, mais bem elaborada e respaldada. conteúdo? Estas e inúmeras outras perguntas
devem ser feitas antes de se selecionar um
Após este primeiro contato em que se busca o
determinado conteúdo, a fim de se assegurar que
estabelecimento de um “fio da meada” para dar
ele venha a ser um conteúdo significativo que
início à construção de conhecimentos
venha a somar com a experiência dos alunos e
significativos, há de se pensar no planejamento das
venha a contribuir para sua formação integral, seu
situações de aprendizagem.
espírito crítico, sua autonomia e na resolução dos
Planejar o ensino significa pensar sobre problemas que enfrenta em sua vida diária.
algumas questões que definem a intencionalidade:
Significa isto que todo o conteúdo a ser

O que ensinar? ensinado deve ter um veio prático. Sim, sempre que
possível, pois reconhecemos que nem todo
Responder esta pergunta é essencial e note
conhecimento é prático a priori, mas todo o
que não é possível fazê-lo sem primeiro pensar nos
conhecimento pode ser analisado pelo viés da
conhecimentos prévios que os alunos porventura
praticidade, mesmo os teoremas mais intrigantes
possam ter, mesmo porque, caso contrário corre-se
surgiram, na sua grande maioria, de questões
o risco de querer ensinar por assim dizer “o vigário
práticas, pois o homem produz conhecimentos a
a rezar a missa”, tendo em vista que os alunos da
partir de suas necessidades ou de sua curiosidade.
EJA são Jovens e Adultos que já trazem consigo,
inúmeras aprendizagens e vivências que muitas Assim sendo, todo conteúdo deve ter um viés
vezes podem até mesmo superar as do professor em prático, mesmo porque precisamos nos lembrar de
determinado assunto, com o diferencial de que eles que para os alunos da EJA o conhecimento
não possuem a sistematização propiciada pela desprovido de aplicações em sua vida e na
educação formal, mas possuem uma sistematização resolução de seus problemas, ou seja, o
própria que lhes serve pela vida inteira; assim conhecimento pelo conhecimento, ainda não é
sendo enfatizamos que é preciso determinar bem o cativante, nem empolgante. É o nosso trabalho que
conteúdo; pretende fazer com que ele o seja num futuro,
quando este educando for se apropriando das
Por que ensinar determinado
estruturas do pensamento científico e então passe,
conteúdo?
ele mesmo, a questionar as coisas e a produzir
Responder a esta pergunta é essencial para
conhecimento, não apenas o conhecimento de
determinar a relevância de determinado conteúdo.
cunho prático, mas também o de cunho estético,
Está presente apenas para cumprir o currículo
filosófico e meramente intelectual.
(dessa forma entendido como lista de conteúdos)
ou fará realmente a diferença na vida do aluno. O professor da EJA deve debruçar-se
Este conteúdo irá interferir de que maneira na vida demoradamente sobre as razões para se ensinar
do aluno? Que contribuições dará para sua algo e ele mesmo agir como pesquisador a fim de
autonomia? E para o seu desenvolvimento pessoal saber as razões que fizeram surgir tal
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CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA  
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conhecimento, uma vez que não é esse o modo que caminhos e que o caminho se faz ao caminhar.
lhe foi ensinado nas Universidades e muito menos
É o enfoque que se pretende no ato docente
na Escola Tradicional na qual a maioria de nós
que determinará o caminho, o trajeto, as paradas, o
professores fomos formados.
que será visualizado, que reflexões se fará, que
aprendizagens serão escolhidas como mais
Importante: Neste sentido o
importantes, enfim, que rumo a construção do
professor/educador da EJA deve exercitar um novo
conhecimento tomará na inter-relação propiciada
olhar para os conteúdos tradicionalmente alistados
pela vivência em sala de aula ou fora dela dos
e selecioná-los, a alguns talvez até mesmo excluir,
conteúdos significativos selecionados pelo docente.
ou antes, remodelar a fim de que possam atender às
especificidades da sua clientela. Neste sentido é Como ensinar determinado
que se faz necessário o próximo questionamento. conteúdo?
Na resposta a esta pergunta é que reside a
Para que ensinar determinado
conteúdo? propriedade do trabalho do professor educador. É
também com esta pergunta que se delineia e avalia
Já vimos que todo conhecimento tem na sua
o sucesso do professor, pois ele deve levar em
gênese um viés prático, surgiu das necessidades
conta todas as reflexões possibilitadas pelas outras
dos seres humanos e de sua busca de compreensão
perguntas e definir seu trajeto.
das coisas, dos fenômenos, das realidades que se
apresentam. Então para que ensinar algo que não Qual trajeto será o mais adequado e conduzirá
terá utilidade prática? Para que ensinar por aos objetivos intencionados depende muito da
exemplo as minúcias da gramática, ou antes, o situação e é a vivência/ experiência profissional do
ranço do gramaticalismo (nada contra o ensino de professor que fará com que ele, se mantiver uma
gramática) para um falante de língua materna? É postura de ação/reflexão/ação, esteja a cada dia
aqui que devemos demarcar bem os limites e os melhor preparado para ensinar e para ser bem
objetivos de nossa atuação docente. O educador sucedido em alcançar os objetivos educacionais
deve ser livre para selecionar os conteúdos que intencionados.
farão parte de sua docência por serem os mais
Por isso é muito importante que o professor,
significativos.
além de avaliar os alunos para saber se os mesmos
Tais conteúdos não devem ser impositivos, estão sendo conduzidos para o objetivo
nem constar meramente de uma lista elaborada instrucional/educativo pretendido, também avalie
muitas vezes por um especialista que nada sabe de constantemente a sua prática a fim de aprimorá-la
sua realidade, antes os conteúdos devem emergir da ao avaliar sucessos e fracassos e assim determinar
própria vivência, da própria prática pedagógica, onde pode ser aperfeiçoada e melhorada a cada dia.
devendo os conteúdos disciplinares do rol de
O professor que perder de vista esta prática
conhecimento humano servirem apenas como guia,
correrá o risco de ficar parado no tempo e aplicar
como uma bússola apontando o Norte, mas que não
práticas educativas que já não correspondem à
determina autoritariamente o caminho a ser
necessidade ou à realidade posta, a exemplo de
seguido, reconhecendo que existem muitos
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tantos que continuam a praticar a docência como II. Elaborar e cumprir o plano de trabalho,
antigamente, se esquecendo das evoluções segundo a proposta pedagógica do estabelecimento
tecnológicas e da sociedade como um todo. de ensino;

III. Zelar pela aprendizagem dos alunos;


Importante:
 Como poderá contribuir para a formação de Estabelecer estratégias de recuperação para os

um aluno reflexivo, crítico, engajado, alunos de menor rendimento;

comprometido, atuante na sociedade o professor IV. Ministrar os dias letivos e horas/aulas


que não tiver ele mesmo estas características? estabelecidas, além de participar integralmente dos
 Como poderá atuar para a transformação da períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e
sociedade se ele próprio não está acompanhando as ao desenvolvimento profissional;
mudanças sociais e as lutas que se travam no seio
V. Colaborar com as atividades de articulação
da sociedade?
da escola com as famílias e a comunidade.
 Como poderá conscientizar para a
participação política nas decisões se ele próprio se VI. O que torna complexo o trabalho do

exime de participar com engajamento nas decisões professor é justamente o número elevado de ações

que afetam a todos? de diferentes tipos, as quais exigem dos docentes


atenção a uma grande variedade de atividades e
Sim porque a aprendizagem de atitudes se dá interações que dificultam cada vez mais o processo
através de longo processo de socialização de leis, de tomada de decisões didáticas.
regras e normas estabelecidas no convívio social e
no próprio relacionamento do professor com seus Importante: “Os professores devem
alunos, envolvendo aspectos cognitivos, afetivos e
ser capazes de analisar e resolver problemas,
comportamentais.
selecionar e organizar conteúdos e propostas

A relação afetiva do professor com seu aluno metodológicas adequadas ao ensino, selecionar

irá com certeza influenciar na formação de seus recursos didáticos e tecnológicos que maior

valores e suas atitudes, daí que paira sobre o impacto possam ter como propulsores de

professor a responsabilidade de ser bom modelo e aprendizagem, estruturar e desenvolver pesquisa,

exemplo de conduta e ao mesmo tempo bom estabelecer formas avaliativas.” (Lições de

comunicador de atitudes, normas e valores que Didática, p. 30)

possam orientar a formação de seu aluno.


A construção do conhecimento é sempre do
Além de tais considerações, o ensino engloba
sujeito, mas nunca só dele; o conhecimento se
tarefas que vão além da sala de aula tais como as
constrói por uma mediação social que pode estar
incumbências dos docentes definidas no Art. 13 da
mais ou menos presente. Ensinar, portanto, envolve
lei 9.394/96:
uma disponibilidade para lidar com o outro e

I. Participar da elaboração da proposta compreendê-lo. Ensinar envolve o gosto e a

pedagógica do estabelecimento de ensino; identificação com o ser professor e com o trabalho


de formar cidadãos.

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Para Paulo Freire, o papel do professor sabe e daquilo que não sabe e o quanto este
sobrepõe-se à mera transmissão de conhecimentos: desconhecimento lhe faz falta.

“... ensinar não é transferir conhecimentos, Escolhe uma profissão, escolhe uma
mas criar as possibilidades para a sua própria namorada, uma esposa, um círculo social e analisa
produção ou sua construção. Quando entro em sala criticamente cada informação que recebe,
de aula devo estar sendo um ser aberto às classificando-a como válida e útil ou desnecessária
indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, e inútil. Assim fazendo ele criteriosamente escolhe
às suas inibições; um ser crítico e inquiridor, em quê, focalizará a sua atenção.
inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar
Toda esta historicidade, infelizmente é
e não a de transferir conhecimento.” (Freire, 1996,
ignorada pelos sistemas tradicionais de ensino.
p. 52)
Nossas escolas e até mesmo nossas universidades
Para o professor ensinar de forma satisfatória, ainda tentam ensinar os adultos com as mesmas
o vínculo afetivo é imprescindível para tornar a técnicas didáticas usadas nos colégios primários ou
sala de aula um ambiente mais humanizado, mais secundários com crianças e adolescentes. A mesma
próximo às características e necessidades dos pedagogia é empregada para educar crianças e
alunos. Já que o ato de ensinar favorece o encontro adultos, embora a própria etimologia da palavra
entre o afeto e a razão. pedagogia se refira à educação e ensino das
crianças (do grego paidós = criança).
Mas a relação afetiva com os alunos depende
de múltiplos fatores não afetivos, tais como: fatores ATIVIDADE
sociais, econômicos, culturais, pedagógicos e os
ligados às precárias condições de trabalho e de vida A partir de um conhecimento prévio que você
tanto de alunos como de professores. Uma percebeu que existe em determinada turma, pense
realidade nada fácil de conciliar e que se constitui num conteúdo de Química e elabore uma aula em
em verdadeiro desafio na sociedade moderna. que você aproveite esses conhecimentos prévios de
seus alunos.
DA PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EJA
APERCEBENDO-SE DA DIFERENÇA
“Educar é fazer ato de sujeito, é
O emprego do método silábico que era
problematizar o mundo em que vivemos para
desenvolvido nos programas de alfabetização de
superar as contradições, comprometendo-se
adultos como referencial teórico-metodológico,
com este mundo para recriá-lo
com o tempo mostrou-se restritivo demais e
constantemente.”
inadequado para o trabalho com adultos em termos
Jussara Hoffmann de práticas de leitura e escrita, por enfatizar a
  memorização e a repetição sem a atuação crítica do
intelecto e sem a necessária relação com a
A idade adulta traz a independência. O
experiência do educando, já repleto de vivências e
indivíduo acumula experiências de vida, aprende
de uma história de vida sócio e historicamente
com os próprios erros, apercebe-se daquilo que já
construída.
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Vislumbrou-se que as inúmeras repetições de cartas,  contos,  piadas,  adivinhações,  poesias, 


uma série de sílabas ou palavras provocavam uma cartazes, panfletos, receitas culinárias, etc.  
memorização formal, sem corresponder à
Todo um rol de textos que os educandos já
necessária apreensão e correspondência dos
conhecem e que já tem uma vivência considerável
fonemas estudados e o que é pior, as vezes ocorria
ainda que através da oralidade. Cabia pois, à escola
de forma desvinculada da realidade dos alunos que
se apropriar de tal conhecimento à priori e utilizá-
se mostravam capazes de reproduzir as sílabas.No
lo para ensinar os conhecimentos científicos que os
entanto, após essa etapa, não se evidenciava a
alunos não tinham como construir através da mera
mesma capacidade no momento de reconhecer
existência social.
determinada sílaba quando esta mudava de posição
ou estava inserida em uma outra palavra. Linderman, E.C, em 1926, pesquisando as
melhores formas de educar adultos para a
Portanto, tal metodologia de trabalho não
"American Association for Adult Education"
viabilizava a apropriação e o uso social da leitura e
percebeu algumas impropriedades nos métodos
da escrita (TFOUNI, 1995). Decifrar sílabas ou
utilizados e escreveu:
palavras não bastava para entender o conteúdo da
leitura e fazer uso dela na vida real. (FREIRE,
"Nosso sistema acadêmico se desenvolveu
1992). numa ordem inversa: assuntos e
professores são os pontos de partida, e os
De acordo com as idéias de Paulo Freire, os alunos são secundários. (...) O aluno é
solicitado a se ajustar a um currículo pré-
alunos não tinham que memorizar mecanicamente, estabelecido. (...) Grande parte do
aprendizado consiste na transferência
mas sim apreender sua utilização enquanto passiva para o estudante da experiência e
símbolo, o que envolvia uma compreensão que a conhecimento de outrem ".

mera decifração não podia abarcar. Freire já dizia


Mais adiante oferece soluções quando afirma
que a ‘memorização mecânica da descrição do
que:
objeto não se constitui em conhecimento do
objeto.’ (FREIRE, 1992).
Importante: "(...) nós aprendemos

A prática demonstrou que no caso de alunos aquilo que nós fazemos. A experiência é o livro-
da EJA suas anteriores vivências já habilitava-os a texto vivo do adulto aprendiz".
produzir textos e a conferir-lhes sentido, ainda que
Lançando, assim, as bases para o aprendizado
não o suficientemente elaborados a nível de
centrado no estudante e do aprendizado tipo
argumentação ou domínio da língua culta,
"aprender fazendo". Infelizmente sua percepção
justamente por falta de vivências deste tipo de uso
ficou esquecida durante muito tempo.
em sua vida real.
E. C. Linderman foi um dos maiores
Importante: Cabe,  portanto,  à  escola, 
pesquisadores da educação de adultos e descreveu
inseri‐los  na  vivência  de  produção  de  textos  mais 
assim, os cinco pontos-chave deste tipo de
elaborados,  uma  vez  que  na  vida  real,  não  há 
educação:
“redações”  ou  “exercícios  gramaticais”  e,  sim, 
1) Adultos são motivados a aprender à

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medida que percebem que as necessidades e o termo Andragogia - A Arte e Ciência de


interesses que buscam estão e continuarão sendo Orientar Adultos a Aprender.
satisfeitos. Por isso estes são os pontos mais Daí em diante, muitos educadores passaram
apropriados para se dar início à organização das a se dedicar ao tema, surgindo ampla literatura
atividades de aprendizagem de adultos; sobre o assunto.

2) A orientação da aprendizagem dos adultos 1


ANDRAGOGIA - A ARTE E CIÊNCIA
está centrada em sua vida; portanto, as unidades DE ORIENTAR ADULTOS A
apropriadas para se organizar seu programa de APRENDER.
aprendizagem são as situações de vida e não Estudiosos afirmam que estudantes adultos
disciplinas. O aluno é quem deve determinar junto retém apenas 10% do que ouvem, após 72 horas.
aos professores o que deve ser ensinado para que Entretanto, serão capazes de lembrar de 85% do
seus anseios sejam satisfeitos; que ouviram, viram e fizeram, após o mesmo

3) A experiência é a mais rica fonte para o prazo. Eles observaram ainda que as informações

adulto aprender; assim, o centro da metodologia da mais lembradas são aquelas recebidas nos

educação do adulto é a análise das experiências primeiros 15 minutos de uma aula ou palestra.

externas e do próprio cotidiano de cada aluno. Para melhorar estes números, faz-se
Praticamente todo o conteúdo deve ser de utilidade necessário conhecer as peculiaridades da
prática e imediata; porém, devem resultar em aprendizagem no adulto e adaptar ou criar métodos
mudanças de atitude e aperfeiçoamento de didáticos para serem usados nesta população
habilidades passíveis de gerar resultados a longo específica.
prazo. O adulto aprende aquilo que faz e vivencia,
sendo a experiência seu próprio livro-texto; Segundo Knowles (estudioso da
Andragogia), à medida que as pessoas
4) Adultos têm uma profunda necessidade de amadurecem, sofrem transformações:
ser autodirigidos: por isso o papel dos professores é
 Passam de pessoas dependentes para indivíduos 
engajar-se no processo de mútua investigação com
independentes, autodirecionados/autodidatas.  
os alunos e não apenas transmitir-lhes seu
conhecimento e depois avaliá-los;  Acumulam experiências de vida que vão ser

5) As diferenças individuais entre as pessoas fundamento e substrato de seu aprendizado futuro.

crescem com a idade; desta forma, a educação de


adultos deve considerar as diferenças de estilo,                                                             
tempo, lugar e ritmo de aprendizagem.  

A partir de 1970, Malcom Knowles  


pesquisador americano, trouxe a tona as idéias 1
   (* http://www.rau‐tu.unicamp.br/nou‐
plantadas por Linderman. Publicou várias obras, rau/ead/document/?view=2  ‐  Andragogia:  A 
entre elas "The Adult Learner - A Neglected Aprendizagem  nos  Adultos  ‐  Prof.  Roberto  de  Albuquerque 
Cavalcanti  ‐  acessado  em  10/01/2009  e,  adaptado  para  fins 
Species" (“O aluno adulto – uma espécie
pedagógicos.  Texto  publicado  na  Revista  de  Clínica  Cirúrgica 
negligenciada”), (1973), introduzindo e definindo da Paraíba Nº 6, Ano 4, (Julho de 1999) 

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 Seus interesses pelo aprendizado se  Características  Pedagogia  Andragogia 


da 
direcionam para o desenvolvimento das habilidades Aprendizagem 
que utiliza no seu papel social, na sua profissão.
Professor é o  A aprendizagem 
 Passam a esperar uma imediata aplicação centro das  adquire uma 
ações, decide  característica 
prática do que aprendem, reduzindo seu interesse o que ensinar,  mais centrada 
Relação 
por conhecimentos a serem úteis num futuro como ensinar  no aluno, na 
Professor/Aluno
e avalia a  independência 
distante.
aprendizagem  e na auto‐
gestão da 
 Preferem aprender para resolver problemas aprendizagem. 
e desafios, mais que aprender simplesmente um
assunto. Crianças (ou  Pessoas 
adultos)  aprendem o 
devem  que realmente 
 Passam a apresentar motivações internas
aprender o  precisam saber 
(como desejar uma promoção, sentir-se realizado que a  (aprendizagem 
Razões da 
por ser capaz de uma ação recém-aprendida, etc), sociedade  para a aplicação 
Aprendizagem 
espera que  prática na vida 
mais intensas que motivações externas como notas saibam  diária, portanto 
em provas, trabalhos, por exemplo. (seguindo um  baseada em 
currículo  habilidades e 
   padronizado)  competências). 

Partindo destes princípios assumidos por O ensino é  A experiência é 


Knowles, inúmeras pesquisas foram realizadas didático,  rica fonte de 
padronizado e  aprendizagem, 
sobre o assunto. Em 1980, Brundage e a experiência  através da 
MacKeracher estudaram exaustivamente a do aluno tem  discussão e da 
pouco valor  solução de 
aprendizagem em adultos e identificaram trinta e
Experiência do  problemas em 
seis princípios de aprendizagem, bem como as Aluno  grupo. Todo o 
estratégias para planejar e facilitar o ensino. trabalho se 
organiza a 
partir da 
Wilson e Burket (1989) revisaram vários
experiência 
trabalhos sobre teorias de ensino e identificaram prévia dos 
inúmeros conceitos que dão suporte aos princípios alunos. 

da Andragogia. Também Robinson (1992), em


Aprendizagem  Aprendizagem 
pesquisa por ele realizada entre estudantes por assunto ou  baseada em 
secundários, comprovou vários dos princípios da matéria  problemas, 
Orientação da  exigindo ampla 
Andragogia, principalmente o uso das experiências Aprendizagem  gama de 
de vida e a motivação intrínseca em muitos conhecimentos 
para se chegar a 
estudantes.
solução.  

Comparando o aprendizado de crianças


Assim sendo são valores importantes, a
(pedagogia) e de adultos (andragogia), se destacam
capacidade de autogestão do próprio aprendizado,
as seguintes diferenças:
de auto-avaliação, de motivação intrínseca,
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aumentando assim o comprometimento, a auto- indivíduo que respeita a si e ao outro com quem
estima, a responsabilidade e capacidade de trabalho convive, enquanto cidadão ativo e participante com
em grupo. o direito de exercer a sua cidadania e o dever de
respeitar a cidadania de outrem.
Está aí implícita a idéia de uma atividade de
aprendizagem, onde pessoas vão trocar idéias, Falar em Metodologia do Ensino é fazer uma
buscar em suas experiências e outras fontes a abordagem sobre os inúmeros procedimentos
construção de um novo conhecimento e a solução didáticos representados pelos métodos e técnicas de
de problemas da vida real ou propostos pelo ensino.
Professor/Educador.
O conjunto desses procedimentos didáticos

ATIVIDADE expressa os métodos e as técnicas de ensino e


objetivam aprimorar a ação metodológica
Para exercitar sua capacidade de propor alcançando, assim, os objetivos do ensino e da
problemas desafiadores e instigantes da educação com pouco esforço e muito rendimento.
curiosidade, elabore uma atividade em que você
Para melhor compreensão desta dinâmica
proponha a resolução de determinado problema da
vejam o quadro abaixo: Origem e Significado
vida real fazendo uso de princípios/conceitos da
área da química. METODOLOGIA DO ENSINO

DA METODOLOGIA DE ENSINO NA
EJA.

“Se um dia lhe parecer perdido, lembre-


se que você nasceu sem nada, e que tudo que
conseguiu foi através de esforços e, os
esforços nunca se perdem, somente
dignificam os passos”.

Charles Chaplin
Como você pode perceber, o esquema
demonstra a origem e o significado da Metodologia
APLICAÇÃO DA TEORIA ANDRA-
de Ensino e representa o conjunto de
GÓGICA NA APRENDIZAGEM DE
ADULTOS. procedimentos didáticos que norteia a ação do
educador.
A metodologia de Ensino deve direcionar a
aprendizagem dos educandos a fim de levá-los à Metodologia de Ensino compreende os
assimilação de novos conceitos, novos métodos e as técnicas utilizados para o processo de
procedimentos, novas atitudes, novas regras e Ensino Aprendizagem. O método é um
valores. Da mesma forma deve contribuir para procedimento mais amplo que é de aplicação geral
estimulá-los em busca da autonomia educativa e o e sua estrutura tem por base princípios lógicos, os
incentivo à emancipação intelectual, formando um quais podem ser aplicados a qualquer ciência. Por

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outro lado, as técnicas são procedimentos mais Tirando proveito da Experiência


definidos, específicos, geralmente sua Acumulada pelos Alunos.
aplicabilidade é mais restrita, servindo a um Os adultos têm experiências de vida das mais
propósito específico em determinada aplicação. numerosas e mais diversificadas. Isto significa que,
quando formam grupos, estes são mais
É importante dizer que a metodologia deve
heterogêneos em conhecimentos, necessidades,
ser um meio para se atingir a um fim e por isso
interesses e objetivos. Por outro lado, uma rica
mesmo pode e deverá ser sempre repensada,
fonte de consulta estará presente no somatório das
redefinida, reestruturada sem perder de vista os
experiências dos participantes. Esta fonte poderá
passos que devem orientar o processo de ensino-
ser explorada através de métodos que exijam a
aprendizagem para se alcançar um determinado
consulta/uso das experiências dos participantes,
objetivo; neste sentido o educador pode valer-se de
como discussões de grupo, exercícios de
diversas metodologias de ensino em consonância
simulação, aprendizagem baseada em problemas e
com os diversos conteúdos e conhecimentos a
discussões de casos.
serem trabalhados.

Estas atividades permitem o


Considerando que migrar do ensino clássico
compartilhamento dos conhecimentos já existentes
para os novos enfoques andragógicos é, no mínimo,
para alguns, além de reforçar a auto-estima do
trabalhoso, o corpo docente envolvido nesta
grupo. Uma certa tendência à acomodação por
migração precisa ser bem preparado e estar
parte do grupo para permanecer com o
comprometido com as mudanças e, colocando em
conhecimento já obtido e para com novas idéias
prática os próprios pressupostos andragógicos, irem
deverá ser quebrada pelo professor, propondo
eles mesmos construindo na prática pedagógica o
discussões e problemas que produzam conflitos
enfoque pretendido.
intelectuais, a serem debatidos com mais ardor.
Importante: O professor precisa se
Propondo Problemas, Novos
transformar num tutor eficiente de atividades de Conhecimentos e Situações
grupos, devendo demonstrar a importância prática sincronizadas com a Vida Real.
do assunto a ser estudado, deve transmitir o Os adultos vivem a realidade do dia-a-dia.
entusiasmo pelo aprendizado, a sensação de que Portanto, estão sempre propensos a aprender algo
aquele conhecimento fará diferença na vida dos que contribua para suas atividades profissionais ou
alunos. O Professor/educador deve transmitir força para resolver problemas reais. O mesmo é verdade
e esperança, a sensação de que aquela atividade quando novas habilidades, valores e atitudes
estará mudando a vida de todos e não simplesmente estiverem conectadas com situações da vida real.
preenchendo espaços em seus cérebros. Os métodos de discussão de grupo, aprendizagem
baseada em problemas ou em casos reais
As características de aprendizagem dos
novamente terão utilidade, sendo esta mais uma
adultos devem ser exploradas através de
justificativa para sua eficiente utilização. Muitas
abordagens e métodos apropriados, produzindo
vezes será necessária uma avaliação prévia sobre as
uma maior eficiência das atividades educativas.
necessidades do grupo para que os problemas ou

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casos propostos estejam bem sintonizados com o A independência e a responsabilidade serão


grupo. estimuladas pelo uso das simulações, apresentações
de casos, aprendizagem baseada em problemas,
Justificando a necessidade e
bem como nos processos de avaliação de grupo e
utilidade de cada conhecimento
auto-avaliação.
Adultos se sentem motivados a aprender
quando entendem as vantagens e benefícios de um Estimulando e utilizando a
aprendizado, bem como as conseqüências negativas
Motivação Interna para o
Aprendizado.
de seu desconhecimento. Métodos que permitam ao
aluno perceber suas próprias deficiências, ou a Estímulos externos são classicamente

diferença entre o status atual de seu conhecimento utilizados para motivar o aprendizado, como notas

e o ponto ideal de conhecimento ou habilidade que nos exames, premiações, perspectivas de

ser-lhe-á exigido, sem dúvida serão úteis para promoções ou melhores empregos, etc. Entretanto

produzir esta motivação. as motivações mais fortes nos adultos são


internas, relacionadas com a satisfação pelo
Aqui cabem as técnicas de revisão a dois, trabalho realizado, melhora da qualidade de
revisão pessoal, auto-avaliação e detalhamento vida, elevação da auto-estima. Um programa
acadêmico do assunto. O próprio professor também educacional, portanto, terá maiores chances de
poderá explicitar a necessidade da aquisição bons resultados se estiver voltado para estas
daquele conhecimento. motivações pessoais e for capaz de realmente
atender aos anseios íntimos dos estudantes.
Envolvendo Alunos no
Planejamento e na
Responsabilidade pelo Aprendizado Facilitando o Acesso, os Meios, o
Tempo e a Oportunidade
Adultos sentem a necessidade de serem vistos
Algumas limitações são impostas a alguns
como independentes e se ressentem quando
grupos de adultos, o que impedem que venham a
obrigados a subordinar-se ao desejo ou às ordens
aprender ou aderir a programas de aprendizagem.
de outrem. Por outro lado, devido a toda uma
O tempo disponível, o acesso a bibliotecas, a
cultura de ensino onde o professor é o centro do
serviços, a laboratórios, a Internet são alguns destes
processo de ensino-aprendizagem, muitos ainda
fatores limitantes.
precisam de um professor para lhes dizer o que
fazer, já outros adultos preferem participar do Relembrando a situação de exclusão a que
planejamento e execução das atividades muitos estão submetidos torna-se necessário a
educacionais. disponibilização destes fatores, que poderão
inviabilizar o trabalho, aos estudantes a fim de
O professor precisa se valer destas tendências
contribuir de modo significativo para o resultado
para conseguir mais participação e envolvimento
final de todo o processo.
dos estudantes. Isto pode ser conseguido através de
uma avaliação das necessidades do grupo, cujos Outros Aspectos da Aprendizagem
resultados serão enfaticamente utilizados no de Adultos
planejamento das atividades. Adultos não gostam de ficar embaraçados
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frente a outras pessoas. Assim, adotarão uma Vimos acima que adultos, após 72 horas,
postura reservada nas atividades de grupo até se lembram muito mais do que ouviram, viram e
sentirem seguras de que não serão ridicularizadas. fizeram (85%) do que daquilo que simplesmente
Pessoas tímidas levarão mais tempo para se ouviram (10%). Por isso a mudança de estratégia
sentirem à vontade e não gostam de falar em no decorrer de uma aula é fundamental para a
discussões de grupo. Elas podem ser incentivadas a diversificação da aprendizagem e para a
escrever suas opiniões e posteriormente mudarem manutenção da atenção. A estratégia do "Teste de 3
de grupos, caso se sintam melhor em outras minutos" é um excelente recurso para fixar o
companhias. conhecimento após uma atividade.

Os alunos são solicitados a escrever, no


Importan-te: O ensino andragógico
espaço de 3 minutos, o máximo que puderem sobre
deve começar pela arrumação da sala de aula, com
o assunto que foi discutido e suas aprendizagens.
cadeiras arrumadas de modo a facilitar discussões
Isto reforça o aprendizado criando uma percepção
aos pares ou em pequenos grupos. Antes de cada
visual sobre o assunto. (Atividade Opcional -
aula, uma estratégia válida pode ser a de escrever
Experimente colocar em prática essa estratégia e
uma pergunta provocativa no quadro, de modo a
faça uma análise de seus resultados.)
despertar o interesse pelo assunto antes mesmo do
início da atividade. Estudos mostram que os adultos podem se
concentrar unicamente numa explanação teórica
Para refletir: Vale lembrar de que o durante 07 minutos. Depois disso, a atenção se
professor afeito aos princípios andragógicos dispersa e passa a ser dividida com outros
raramente responderá a alguma pergunta. Ele interesses ou questionamentos. Este período deverá
prontamente a devolverá à classe, perguntando: ser bem usado pelo Professor para estabelecer os
“Quem pode iniciar uma resposta?" Buscando objetivos e a relevância do assunto a ser discutido,
assim uma construção coletiva do conhecimento e enfatizar o valor deste conhecimento e dizer o
evitará a pergunta intimidante: "Quem sabe a quanto se sente motivado a discuti-lo. Vencidos os
resposta?”; pois a mesma levará a retração dos 07 minutos, é tempo de iniciar uma discussão ou
alunos que se sentirão receosos de errarem e serem outra atividade, de modo a diversificar o método e
expostos diante da turma. conseguir de volta a atenção. Estas alternâncias
podem tomar até 30% do tempo de uma aula
O Professor/educador nunca deverá dizer que
teórica, porém permitem quadruplicar o volume de
a resposta de um adulto está errada. Cada resposta
informações assimiladas pelos estudantes.
sempre terá alguma ponta de verdade que deve ser
trabalhada a fim de se chegar ao conhecimento Educação, Papel e Função! Vamos relembrar
pretendido. O professor deverá aproveitar o que esta temática!?
estiver correto na resposta e fazer novas perguntas
Papel da educação  criar desenvolvimento
a outros estudantes, sempre dando pistas aos alunos
baseado nas experiências anteriores (não se cria
de onde se quer chegar a fim de correlacionar as
desenvolvimento a partir do nada.).
respostas até obter a informação completa.
O desenvolvimento é um processo promovido
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culturalmente a partir do que já se conhece.

Função da educação  realizar o trabalho


de intermediação entre o indivíduo e seu grupo
cultural.

As interações é que criam o desenvolvimento,


promovendo evolução e mudanças nas pessoas e
nos seus modos de ser e agir.

Os pais, os professores e os adultos em geral


dão suporte e orientam o desenvolvimento dos De todas as problemáticas enfrentadas pela
educandos, ressaltando-se, que estes não são seres EJA, uma se destaca acentuadamente por sua
humanos passivos, mas contribuintes desse dificuldade: a necessidade de rever e redefinir as
processo. práticas de avaliação visando uma metodologia de
avaliação em formação constante e de auto-
A QUESTÃO DA AVALIAÇÃO E DA avaliação.
AUTO-AVALIAÇÃO COMO PRÁTICA
Isso porque assim como os materiais
“A revolução necessária para a didáticos disponíveis na sua maioria não são
transformação social que não considera o adequados para a EJA, assim também a prática
amor, apenas substituirá o opressor – o pedagógica e, principalmente a prática pedagógica
oprimido passa a ser o opressor – que da avaliação não são adequadas às necessidades
continuará a mesma lógica da dominação.” dos educandos da EJA, pois foram pensadas para a
educação de crianças e não para a educação de
Paulo Freire.
adultos com suas intrincadas especificidades
conforme veremos agora ao tratarmos da prática
pedagógica da avaliação.

Faz-se necessária a construção de um


referencial para uma avaliação que seja diferente da
tradicional e que questione, por exemplo, a idéia de
erro e sua importância no processo de
aprendizagem. É preciso desmistificar e
desestigmatizar o “erro” tradicionalmente visto
como um sinal de ignorância e jamais como
expressão daquilo que o educando ainda não sabe,
mas que está a construir e a apreender.

Faz-se necessário principalmente desmitificar


a idéia de que avaliar é sempre classificar de forma
arbitrária e autoritária visando apenas rotular de

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“aptos” ou “inaptos”, pois fazer isso é negar a pessoas.


condição de que aprendemos por toda a vida e nos
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação,
mais diferentes lugares e situações.
1996, em seu Art. 24 afirma que:
É preciso admitir que a avaliação de “apto”
“V - A verificação do rendimento escolar
ou “inapto” é transitória, pois o que não
observará os seguintes critérios:
conseguimos fazer hoje, poderemos com alguma
ajuda ser perfeitamente capazes de fazer sozinhos a) Avaliação contínua e cumulativa do
amanhã. desempenho do aluno, com prevalência dos
aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos
Tal forma arbitrária de ver a avaliação
resultados ao longo do período sobre os de
expressa um reducionismo, pois valoriza apenas a
eventuais provas finais;
capacidade de memorizar uma certa quantidade de
coisas ditas importantes (PAIVA, 1995). É b) Possibilidade de aceleração de estudos
necessário conceber e defender uma prática que para alunos com atraso escolar;
expresse a compreensão de que o conhecimento
c) Possibilidade de avanço nos cursos e nas
não é algo estático, mas dinâmico, construído
séries mediante verificação do aprendizado;
historicamente por homens e mulheres em suas
relações com o mundo e nas redes de relações que d) Aproveitamento de estudos concluídos
os sujeitos promovem no cotidiano das suas com êxito;
práticas ao longo da vida, dentro e fora da escola.
e) Obrigatoriedade de estudos de
É necessário romper com o paradigma oficial recuperação, de preferência paralelos ao período
e promover uma luta contra a imposição do padrão letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a
de relações sociais e de pensamento, marcados pela serem disciplinados pelas instituições de ensino em
competitividade e pelo individualismo, próprios do seus regimentos;”
sistema capitalista.
Se a prática pedagógica deve ser baseada na
É necessário introduzir e reforçar a auto- realidade dos alunos então qual é o papel que cabe
estima e a capacidade de elaboração de caminhos ao professor educador ao avaliar? Ao professor
alternativos para a educação e para as vidas dos cabe:
educandos em suas relações interpessoais que
 Elaborar estratégias através de
estimulem o ideal de uma vida digna para todas as
problematização que possibilite o conhecimento da
pessoas, como pressupõe a Constituição da
realidade vivenciada pelos alunos e a aferição do
República Federativa do Brasil.
nível de conhecimento que os alunos como grupo

Assim fazendo, estaremos contribuindo para possuem de determinado assunto ou componente

desenvolver um processo avaliativo das diversas curricular a ser trabalhado;

práticas formativas/educativas desenvolvidas que  Sistematizar os resultados obtidos na


contribua para alcançar o sonho idealizado por avaliação dos conhecimentos prévios a fim de
Paulo Freire de uma nova realidade social: um encontrar um “fio da meada” para poder introduzir
mundo mais solidário e mais justo para todas as o assunto e trabalhá-lo junto a seus alunos;
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 Propor desafios com metas bem nível individual como a nível coletivo, visando a
estabelecidas para serem alcançadas pelos alunos encontrar o fator de crescimento pessoal e grupal
no decorrer da construção do conhecimento. Tais em relação às atividades propostas e em relação aos
metas devem encontrar-se dentro da zona de conhecimentos que foram construídos.
desenvolvimento proximal (ZPD – Vygotsky) do
Tal avaliação somente será possível se para
grupo de alunos em questão para que através da
além da realização de atividades avaliativas
intermediação do professor os alunos sejam
(provas) forem considerados:
capazes de incorporar novos conhecimentos e agir
sozinhos em uma situação semelhante 1) O ponto inicial de partida (individual e
evidenciando assim a aprendizagem desejada; grupal);

 Reforçar a auto-estima e a autodeterminação 2) O percurso percorrido e as dificuldades


dos alunos por incentivá-los a serem ativos em sanadas;
defender seus pontos de vistas, suas idéias, seus
posicionamentos, levando-os a serem críticos e não 3) O resultado final em termos quantitativos e

apenas críticos, mas críticos-ativos; qualitativos.

 Ajudar a superar as situações de conflito Isso porque os níveis de desenvolvimento


geradas pelo desafio colocado para os alunos, a fim variam de pessoa para pessoa da mesma forma que
de que os mesmos não desistam, mas tenham variam as condições iniciais de cada pessoa,
condições de, com a ajuda fornecida pelo professor, portanto, uma avaliação justa precisa considerar o
lidar eles mesmos com a situação e assim construir montante do crescimento em níveis individuais e
uma aprendizagem significativa sempre visando a coletivos, não apenas em nível individual ou
autonomia; apenas em nível coletivo.

 Promover o trabalho em grupo e a


Só assim se evidenciará o potencial humano
cooperação entre os pares a fim de que no somar
que há por trás de cada indivíduo ao se considerar o
das experiências e das vontades e no embate das
seu ponto de partida e o seu ponto de chegada e sua
idéias o conhecimento de um possa contribuir com
trajetória, então veremos o real crescimento deste
o conhecimento do outro e assim formarem um
indivíduo em relação ao processo de ensino-
todo que represente o conhecimento construído
aprendizagem realizado.
pela coletividade;

 Criar situações problemas para serem ATIVIDADE


resolvidas em grupo pelos alunos, situações estas
que demandarão a utilização de outras habilidades Como fazer da avaliação um instrumento de

e competências já construídas ou mesmo aquelas formação em vez de um instrumento de seleção?

que ainda não estão construídas, mas que podem Como é que a avaliação formativa permite conduzir

ser construídas pelo trabalho colaborativo e a ajuda uma ação pedagógica diferenciada, adaptada às

mútua, promovendo assim a solidariedade entre os características dos alunos? A avaliação entre duas

pares; lógicas: Uma avaliação a serviço da seleção ou a


serviço das aprendizagens?
 Avaliar o processo de aprendizagem tanto a
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A aprendizagem não ocorre de maneira avaliação nesse sentido ocorre como parte do
imediata e instantânea e nem, apenas, pelo domínio processo de produção do conhecimento.
de conhecimentos específicos ou informações
Evidencia-se que a avaliação tem como
técnicas; a aprendizagem requer um processo
função priorizar a qualidade e o processo de
constante de envolvimento e aproximações
aprendizagem, isto é, o desempenho do aluno ao
sucessivas, amplas e integradas, fazendo com que o
longo do período letivo, quer seja bimestral,
educando possa, a partir das reflexões sobre suas
semestral, modular, entre outros, não se
experiências e percepções iniciais, observar,
restringindo apenas a uma prova ou trabalho,
reelaborar e sistematizar seu conhecimento acerca
conforme orienta a LEI DE DIRETRIZES E
do objeto em estudo.
BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL -
A avaliação abrange todos os momentos e LDBEN.
recursos que o professor utiliza no processo de
Nesse sentido, assume-se aqui uma
ensino-aprendizagem, tendo como objetivo
concepção de avaliação na qual a avaliação deve
principal o acompanhamento do processo
ser desenvolvida numa perspectiva processual e
formativo dos educandos, verificando como a
contínua, que busca a (re)construção do
proposta pedagógica vai sendo desenvolvida ou se
conhecimento coerente com a formação integral
processando, na tentativa da sua melhoria, ao longo
dos sujeitos, por meio de um processo interativo,
do próprio percurso.
considerando o aluno como ser criativo, autônomo,
participativo e reflexivo, tornando-o capaz de
transformações significativas na realidade.

IMPORTANTE: Neste sentido uma


prática que tem sido bem sucedida em resgatar a
aprendizagem de alunos é a prática da refacção de
exercícios avaliativos, como uma maneira de
reinvestimento dos conteúdos através da resolução
da avaliação, a fim de que os alunos possam
compreender onde erraram e construir a partir do
erro sua aprendizagem, corrigindo assim conceitos
distorcidos, procedimentos mal aplicados,
A avaliação não privilegia a mera polarização reformulando e estruturando novamente sua
entre o “APTO” e o “INAPTO”, mas sim a real aprendizagem, etc.
possibilidade de mover os alunos na busca de
Nessa perspectiva, é de suma importância que
novas aprendizagens. Muito embora exista a
o professor utilize instrumentos diversificados os
preocupação com a escolaridade, o processo de
quais lhe possibilitem observar e registrar o
ensino-aprendizagem traz no seu bojo a concepção
desempenho do aluno nas atividades desenvolvidas
que não separa a avaliação da aprendizagem. São
e tomar decisões participativas, tal como refletir
partes constitutivas de um mesmo processo. A
com o aluno sobre os aspectos que necessitem ser
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melhorados, reorientando-o no processo diante das e realizando ajustes e tomando decisões necessárias
dificuldades de aprendizagem apresentadas, às estratégias de ensino e ao desempenho dos
reconhecendo as formas diferenciadas de sujeitos do processo;
aprendizagem, em seus diferentes processos,  Processual: quando reconhece que a
ritmos, lógicas, exercendo, assim, o seu papel de aprendizagem acontece em diferentes tempos, por
orientador e mediador que reflete na ação e que age processos singulares e particulares de cada sujeito,
sobre a realidade. tem ritmos próprios e lógicas diversas, em função

Neste sentido é fundamental a prática de de experiências anteriores mediadas por

refacção ou reelaboração de atividades avaliativas necessidades múltiplas e por vivências individuais

em um contexto diferente, ou seja, como um que integram e compõem o repertório a partir do

exercício de formação em que o aluno possa, após qual realiza novos aprendizados e ressignifica os

ter sido avaliado, reinvestir esforço e seus antigos;

conhecimentos no sentido de resolver a atividade  Formativa: na medida em que o sujeito tem


individualmente e em grupos de discussão, fazendo consciência da atividade que desenvolve, dos
uso inclusive da estratégia de pesquisa e, logo objetivos da aprendizagem, podendo participar na
depois, ter a resolução da atividade realizada pelo regulação da atividade de forma consciente,
professor, a fim de comparar, criticar e reelaborar segundo estratégias metacognitivas que precisam
seus conhecimentos a partir de um trabalho crítico ser compreendidas pelos professores. Pode
e interativo que integra o reinvestimento dos expressar seus erros, como hipóteses de
conteúdos, assim como que em forma de uma aprendizagem, limitações, expressar o que sabe, o
recuperação paralela. que não sabe e o que precisa saber;

 Somativa: expressa o resultado referente ao


A avaliação pode, ainda, favorecer ao docente
desempenho do aluno no bimestre/semestre através
a identificação dos elementos indispensáveis à
de menções, relatórios ou notas.
análise dos diferentes aspectos da aprendizagem do
aluno no seu desenvolvimento intelectual, afetivo, A percepção da realidade a partir de atos de
social e do planejamento da proposta pedagógica avaliação acolhedores, processuais, formadores
efetivamente realizada. A concepção de avaliação pode contribuir para que os objetivos da ação
defendida para essa política exige que a avaliação educativa produzam resultados diferentes.
aconteça de forma contínua e sistemática, mediante
interpretações qualitativas dos conhecimentos O que importa é que não se reproduzam, pela

produzidos e reorganizados pelos alunos. avaliação, as exclusões vigentes no sistema, que


reforçam fracassos já vivenciados e corroboram a
Finalmente, devem ser consideradas as crença internalizada de que não são capazes de
múltiplas dimensões da avaliação e suas funções, aprender, substituindo esse modelo pela ratificação
ou seja: da auto-estima que qualquer processo bem-
 Diagnóstica: na medida em que caracteriza sucedido pode produzir.
o desenvolvimento do aluno no processo de ensino-
Não existem modelos prontos e inacabados,
aprendizagem, visualizando avanços e dificuldades
nem receitas que conduzam ao sucesso, “o caminho
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se faz ao caminhar” e, é nesta perspectiva que FREIRE, Paulo. Educação como prática de
caminha a educação de Jovens e Adultos, como um liberdade. Rio Janeiro: Paz e Terra, 1991.
desvelar de possibilidades ainda não investigadas
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia:
que nos convidam a formular um caminho diferente
Saberes necessários à prática educativa. 29. ed.
do trilhado pela educação tradicional e que guarda
São
em si mesmo um rol de desafios antes de se
conquistar a vitória, a saber: uma sociedade mais CAVALCANTI, Roberto de Albuquerque.
justa e mais humana com uma educação mais Andragogia: A Aprendizagem nos Adultos.
humanizante e menos excludente. Texto publicado na Revista de Clínica Cirúrgica da
Paraíba Nº 6, Ano 4, (Julho de 1999.)
Esteja aberto ao diálogo, pronto para os
desafios, numa constante busca das soluções para BARROSO, Maria Alice. A Biblioteca Pública da
os empecilhos encontrados no caminho e, nunca, Educação do Adulto. Ed. Exped, 1997.
nunca se acomode diante do que parece não ter
GADOTTI, Moacir. Educação e Compromisso.
jeito, pois isso é o conformismo que atravanca o
Papirus. Campinas. São Paulo, 1985.
progresso e impede o crescimento pessoal e da
sociedade. KLERMAN , A e SIGNIRINI, Inês. O Ensino e a

REFERÊNCIA BÁSICA Formação do Professor: Alfabetização de Jovens e


  Adultos. Ed. Artmed.

BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. Diretrizes


VALE, Ana Maria do. Educação Popular Escola
e Bases da Educação. Lei Nº 9394 de 20 de
Pública. Cortez, São Paulo, 1992.
dezembro de 1996 Divulgação Nacional. IN: Diário
REFERÊNCIA COMPLEMENTAR
Oficial da União de 23 de dezembro de 1996.  

BRASIL. Parecer Nº. 11 de 10 de maio de 2000. PICONEZ, Stela C. Bertholdo. Educação Escolar
Dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais de Jovens e Adultos, Ed. Papirus.
para a Educação de Jovens e Adultos. Relator:
SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e
Carlos Roberto Jamil Cury. Brasília.
Interdisciplinaridade: o currículo integrado.
BRASIL. Educação para Jovens e Adultos: ensino Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
fundamental: proposta curricular- 1º
DI PIERRO, M. C. Notas sobre a redefinição da
segmento/coordenação e texto final (de) Vera
identidade e das políticas públicas de
Masagão Ribeiro. São Paulo: Ação Educativa:
Brasília: MEC,1998. Educação de Jovens e Adultos no Brasil.
Educação e Sociedade, São Paulo, v. 26, n. 92,
FREIRE, Paulo; Pedagogia do Oprimido. 17 ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p. 1115-1139, especial out. 2005.

FREIRE, Paulo; Educação como prática da ZABALA, Antoni. A prática educativa – como
Liberdade. 14 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
1983.
SILVA, Arlete Vieira. Revista Espaço Acadêmico
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CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA  
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nº 45, fev/2005,UESC – Ilhéus, BA. Disponível em:

FÁVERO, Osmar. MEB – Movimento de http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/eja/


Educação de Base – Primeiros Tempos: 1961-1966. index.htm. Acesso em: 28 ago. 2006.
In ROSAS, Paulo (org.) P. Freire. Educação e
Acessado em 05/12/2008 
Transformação Social. Centro P. Freire e Ed.
http://www.cereja.org.br/arquivos_upload/saltofutu
Universitária, UFPE. Recife, 2002.
ro_eja_set2004_proppedag.pdf

REFERÊNCIA NA INTERNET

Continuar... e aprender por toda a vida: legitimando


o direito à EJA / Jane Paiva.
http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/eja/
tetxt1.htm1

Por uma nova Educação de Jovens e Adultos /


Carlos Roberto Jamil Cury.

http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/eja/
tetxt2.htm

Os sujeitos educandos na EJA / Eliane Ribeiro


Andrade.

http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/eja/
tetxt3.htm.

Uma história em construção: EJA no campo /


Maria Cristina Vargas.

http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/eja/
tetxt4.htm

Sujeitos-professores da EJA: visões de si mesmos


em diferentes contextos

e práticas / Edna Castro de Oliveira.


http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/eja/
tetxt5.htm

PAIVA, Jane. Educação de jovens e adultos:


continuar... e aprender por toda a vida. In: TV
Escola,

Salto para o Futuro. Boletim, 20 a 29 set. 2004.


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