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Julho / 2009
Governo Federal
Presidente da República Federativa do Brasil
Luis Inácio Lula da Silva
Ministério da Educação
Fernando Haddad
Diretor da UAB
Celso Costa
Reitor IFMT
José Bispo Barbosa
Diagramador
Alexandro Uguccioni Romão
Revisão
Maria Antônia da Silva
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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SUMÁRIO
UNIDADE I
História da EJA - Educação de Jovens e Adultos
UNIDADE II
Lesgilação e Formação
UNIDADE III
Questões Didáticas
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INTRODUÇÃO 1
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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processo de educação formal a fim de conquistarem algumas aulas presenciais em que você se encontra
a cidadania plena e superarem todos os desafios com colegas que estejam fazendo o mesmo curso e
um caminho muito particular para seguir. E esse adota formas bastante próprias para explorar e
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INTRODUÇÃO 3 2
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Adultos
“Quanto mais um homem se aproxima
O COMPROMISSO DA UAB COM A EJA de suas metas, tanto mais crescem as
dificuldades.”
“Pensamos demasiadamente e sentimos
muito pouco… Necessitamos mais de - J. W. von Goethe
humildade que de máquinas. Mais de bondade e
ternura que de inteligência. Sem isso, a vida se
A preocupação com a EJA, vem desde 1949,
tornará violenta e tudo se perderá.”
com a I Conferência Internacional de Educação de
variado muito no decorrer das décadas. O Brasil populacional dos adultos. Passando por variadas
nunca teve uma política pública de educação que concepções, essa modalidade de educação,
desse continuidade ao processo de resgate para a retratada neste momento por acordos que têm força
cidadania de grandes parcelas excluídas de nossa de lei, viu a continuidade de seus caminhos
habilitados para a atuação na EJA e se constituindo clientela em específico é mundial, pois trata-se de
como espaço de formação, aberto à defesa da uma realidade vivenciada por todos os países,
cidadania plena e dos direitos humanos, daí a desenvolvidos ou não, embora nos países não
necessidade deste módulo abordando de maneira desenvolvidos a situação seja mais exacerbada.
Iniciaremos com uma abordagem histórica mundo vêm enfrentando o desafio de atuar para
sobre a educação de Jovens e Adultos no Brasil e mudar a realidade educacional desses sujeitos,
no Mundo: concepções, movimentos, atualizações, atualmente contando com 862 milhões de pessoas
Consolidar a compreensão do conceito de serem perseguidos, não apenas pelo Brasil, mas por
educação e aprendizagens de jovens e adultos como todos os países que se acham representados.
um direito humano que se efetiva ao longo da vida, Espera-se como resultado da Confintea VI a
por diversos meios, e expressa a idéia de que a integração horizontal e vertical da educação e
juventude e a adultez também são tempos de aprendizagem de adultos e a mudança de postura
aprendizagem; por parte de todos os países no sentido de
Contribuir na construção de políticas abandonarem o retórico e partirem para uma ação
estratégicas de implantação ou fortalecimento da mais efetiva que garanta o alcance dos objetivos, já
modalidade de EJA na Educação Básica no Brasil, que em 12 anos, poucos avanços foram observados.
tendo como marco de referência a promulgação da
A QUESTÃO DA EXCLUSÃO
Lei nº 11.494/2007 que instituiu o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação
“A educação é aquilo que resta depois
Básica e de Valorização dos Profissionais da
de esquecermos tudo aquilo que nos foi
Educação - FUNDEB e garantiu recursos para o
ensinado”
financiamento dessa modalidade, estabelecendo um
novo patamar para qualificar e ampliar as (Michael Hammer)
oportunidades para os alunos(as) da EJA;
meio do diálogo com diferentes esferas da de Adultos em Hamburgo, Alemanha, deu início
discussão das políticas em curso. para jovens e adultos, considerando uma estimativa
de que 39 milhões de pessoas ainda se encontravam
Esta é a forma de ver, pensar e propor ações sem saber ler e escrever, o que correspondia a 11%
para a Educação de Jovens e Adultos, construída ao da população maior de 14 anos.
longo desses últimos dez anos, tendo à frente os
Fóruns de EJA constituído pela sociedade civil e A este número deve-se acrescentar 110
política e os ENEJAs – Encontros Nacional de milhões de jovens e adultos que não completaram
Educação de Jovens e Adultos que este ano quatro anos de escolaridade, ou seja, estão na
completam 10 anos produziram um novo tempo categoria dos assim chamados “analfabetos
histórico na educação brasileira, mais funcionais”, e também 20% de crianças que ainda
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não completaram a educação primária. (Atividade dissertativa que pode ser utilizada na
avaliação da aprendizagem como avaliação de
Os representantes presentes à Conferência
sondagem).
reafirmaram que:
O CENÁRIO BRASILEIRO
“Hoje, mais que nunca, a educação e a
aprendizagem dos adultos constituem a
chave indispensável para liberar as forças
“A política se renova: sujeitos da
criativas das pessoas, dos movimentos diversidade aprendem... por toda a vida As
sociais e das nações. A paz, a justiça, a
autoconfiança, o desenvolvimento coisas estão no mundo... só que eu preciso
econômico, a coesão social e a
aprender.”
solidariedade continuam a ser metas e
obrigações indispensáveis que terão de ser
perseguidas, reforçadas por meio da (Paulinho da Viola)
educação e da aprendizagem dos adultos.”
defenderam essa concepção excludente e a levaram Alfabetização Solidária – PAS que teve não só
adiante, agravando a situação brasileira. Vejamos acesso facilitado aos recursos públicos do FNDE
Rio de Janeiro, durante o Governo Brizola, criou o foi criado no interior do Programa Comunidade
Programa de Educação Juvenil – PEJ, em 1985, Solidária, presidido pela primeira-dama Ruth
que atendia apenas a jovens de 15 a 25 anos. Cardoso, que se valeu de sua condição para
mobilizar recursos físicos (rede de universidades
O Ministro José Goldenberg, justificando-se públicas e privadas) e financeiros (metade
quanto à não-política para a área, expressou a idéia financiamento público, metade doação de
de que o analfabeto já conquistara o seu lugar. Que empresários). Mais tarde passou a ser uma ONG,
embora não fosse um bom lugar, ele já estava continuando a gozar do beneplácito oficial para as
acostumado a viver assim, não se devendo mexer vantagens já garantidas orçamentariamente. Será
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que a preocupação estava focada nos indivíduos Aliando parceiros nas experiências coletivas,
excluídos de nossa sociedade? esses Fóruns buscaram maior visibilidade política,
como resistência organizada às políticas
A crítica à idéia de parceria deve-se ao fato
governamentais que, sucessivamente, vieram
de que as universidades tinham o dever de sustentar
mascarando através da propaganda veiculada em
política e financeiramente a formação, o
veículos de comunicação em massa, as ações de
acompanhamento, a supervisão e a avaliação do
Educação de Jovens e Adultos.
Programa, do ponto de vista dos sujeitos
formadores, que assumiam da formação até a
Para Refletir: Você consegue
avaliação. No entanto, esses sujeitos – essas
visualizar como as políticas públicas vêm
entidades –, não podiam assumir, como meras
mascarando através da propaganda veiculada em
“parceiras”, uma concepção pedagógica própria de
veículos de comunicação em massa as ações de
ensinar a ler e a escrever, nem podiam criticar o
Educação de Jovens e Adultos, dando às mesmas
modelo posto, exercitando seu papel de pesquisa,
um caráter meramente compensatório e sem
investigação e produção do conhecimento,
nenhum engajamento social para a transformação
modificando/alterando o modo de conceber/fazer a
da realidade do aluno?
alfabetização, antes deviam seguir os pressupostos
já previamente colocados. Como articulação informal, os Fóruns
encontraram modos de gestão e apontaram
Traduzida como política oficial fazia desse
perspectivas de resistência capazes de interferir, em
“abre-te sésamo” sua porta de entrada para
muitos casos, nas políticas locais, no sentido de,
viabilizar os recursos que ainda recebiam dos
cada vez mais, assumi-las como políticas públicas
empresários, doações que compunham a metade do
de transformação social, devido à relevância da
custo-aluno para seis meses de programa, sob o
participação e da consciência do lugar político dos
apelo de “adote um analfabeto”, visto como sujeito
educadores, qualquer que seja o cargo que ocupem
carente, a ser tutelado pelos que sabem ler e
nas redes de ensino, instituições, universidades,
escrever e que detêm o poder em uma sociedade
ONGs, etc.
meritocrática, elitista e autoritária. Diga-se de
passagem que tal atividade ainda se encontra nas Os Fóruns, como movimentos sociais,
políticas públicas ditas de compensação até hoje resultam do esforço político coletivo de várias
vigentes. pessoas e entidades que acreditaram na idéia e na
possibilidade de gestão compartilhada e
Ao mesmo tempo em que o PAS (Programa
cooperativa para tomar decisões e propor
de Alfabetização Solidária) se firmava, uma luta se
alternativas. Significa dizer que, nos Fóruns, o
organizava na sociedade, representada pelos Fóruns
poder circula, ou seja, não está centralizado, não é
de EJA, que se formam, originalmente, quando da
hierárquico, nem arbitrário, mas emana do povo e
preparação para a V CONFINTEA - Conferência
tende à transformação da sociedade.
Internacional de Educação de Adultos, que é o
evento internacional máximo da área de Educação Além disso, por não exigir representação de
de Adultos. entidades, seus participantes são autônomos nas
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deliberações que tomam, independente das continuidade às políticas públicas que beneficiam a
posições e cargos que ocupem, o que implica, EJA e agora passará a investir milhões num
necessariamente, uma negociação constante dos programa de continuidade de estudos visando a
“desejos” acordados nos Fóruns com os limites formação a nível de Técnico 2º Grau através do
expressos pelos poderes políticos constituídos em projeto PROEJA.
todos os níveis.
O Proeja tem como perspectiva a
No atual momento político, depois de passar
proposta de integração da educação profissional à
um ano no embate da prioridade para a
educação básica, buscando a superação da
alfabetização de adultos, defendida pelo MEC x
dualidade entre trabalho manual e intelectual,
CONTINUIDADE DA EJA (para além da
assumindo o trabalho na perspectiva criadora e não
alfabetização), bandeira antiga dos educadores e
alienante.
dos Fóruns, o governo brasileiro reconhece o
movimento histórico nacional e internacional de
Para Refletir: O que você acha do
luta em defesa do direito à educação para todos,
PROEJA e sua intenção? Existe em sua localidade
assumindo o desafio de organizar, como política
algum curso PROEJA? Na sua opinião, é
pública, especialmente, a área de EJA, não se
importante possibilitar à clientela da EJA a
restringindo ao campo da alfabetização.
possibilidade de adquirir uma escolarização a nível
IMPORTANTE: de Ensino Médio e ainda com um enfoque técnico?
“A EJA, com o sentido de aprender por toda a Os alunos provenientes da EJA têm capacidade
vida, em múltiplos espaços sociais, responde às para adquirir tal formação técnica? Em que tal
exigências do mundo contemporâneo, para além formação poderá contribuir? Quais os desafios que
PROEJA, mediante o pagamento de bolsa para os Produza um texto dissertativo em que você
estudantes da EJA, por meio da qual, até o defenda a sua opinião acerca desta iniciativa do
momento, foram descentralizados R$ 4.815.700,00 MEC de pagamento de bolsa para os estudantes da
(R$ 100,00 por estudante) com 9.120 estudantes EJA, como política compensatória que pretende
atendidos até setembro de 2008. (VER MAIS contribuir para viabilizar a maior escolarização
INFORMAÇÕES) formal dos educandos, auxiliando-os a vencerem os
obstáculos postos.
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aprender sempre... e mais. “Despreparados” ou entrevista e coleta de dados para poder caracterizar
“Desqualificados” têm sido os termos utilizados, esta clientela e depois poder determinar se suas
para relacionar a condição de trabalhadores necessidades estão de fato sendo atendidas. Veja se
excluídos pela sociedade que valoriza a idéia de existe na sua região algum núcleo de atendimento
dúvida, vem mudando aceleradamente a cada dia. individualizado. É para eles que os projetos de
A configuração que temos hoje no mercado de Educação de Jovens e Adultos precisam voltar-se,
trabalho talvez fosse inimaginável há alguns anos. para além da escolarização, embora se saiba o
Se é fato que os sujeitos da EJA são potenciais quanto ainda devemos avançar, de modo a garantir
trabalhadores, não é inteiramente correto afirmar o direito à educação negado a tantos jovens e
inovações tecnológicas de toda a ordem. Ainda que os três níveis tenham algum grau
múltiplas funções quando confrontadas com os habilidades que as pessoas podem aplicar em
livros — páginas pouco atrativas e com um determinados contextos, somente o nível pleno
código de difícil decifração, gera uma pode ser considerado como satisfatório, aquele que
exclusão cultural que associada a crises éticas, permite que a pessoa possa utilizar com autonomia
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QUAL É O PAPEL DA EJA nessa modalidade implica não apenas somar mãos,
mas assumir o rumo das políticas públicas da
“Os analfabetos do século 21 não serão sociedade, a fim de transformar o sistema
aqueles que não conseguem ler e escrever, educativo formal, bem como junto a todas as
mas aqueles que não conseguem aprender, iniciativas que se vem construindo no decorrer das
desaprender e reaprender.” décadas pela sociedade civil organizada, contribuir
para manter viva a chama do direito à educação,
Alvin Toffler
ainda não feito prática para todos.
em contínua transformação e num incessante educa em todas as práticas que realiza, que as
movimento de modernização e globalização, o que cidades educam e que projetos de nação e políticas
cabe à Educação de Jovens e Adultos assumir? Que de governo têm um vigoroso papel pedagógico, se
excluídos que ela produz? Como poderíamos realidade, incluindo “a educação e a aprendizagem
atender a esta sociedade excluída? Qual é o papel de jovens e adultos em todas as iniciativas de
moldes de panacéias que em seis meses irão da Bahia, com 15 anos ou mais, tem menos de 4
alfabetizá-los, do que analisar a geração deste anos de escolaridade e, pelo IBGE, é considerada
amplo quadro de desigualdades do ponto de vista analfabeto funcional. É a real situação de exclusão
histórico-cultural? observada por todo esse nosso Brasil.
desta população cerca de 19 milhões são de pessoas na sua região e obtenha dados reais sobre o
professores alfabetizadores (de R$ 300,00 por mês) “O importante é que eles não parem na
e na sua capacitação, que foi feita pela Seduc, para alfabetização e continuem estudando, ingressando
a alfabetização de 40 mil pessoas. na Educação de Jovens e Adultos” é a perspectiva
da secretaria de educação.
O programa LetrAção elaborado em conjunto
por professores da Seduc, das Universidades A EJA - Educação de Jovens e Adultos é
Federal de Mato Grosso (UFMT), do Estado de dividida em dois blocos, Ensino Fundamental (seis
Mato Grosso (Unemat) e de Cuiabá (Unic) e do anos) e Ensino Médio (três anos). No primeiro, ela
Conselho Estadual de Educação, tem como meta faz atendimento a jovens acima de 14 anos e no
alfabetizar uma população de cerca de 220 mil segundo para pessoas com idade superior a 18
analfabetos em quatro anos de governo. anos. O diferencial desse sistema, é que os
estudantes podem progredir de uma série para outra
As turmas do Letração têm no mínimo 20
sem ter que esperar o tempo regular.
pessoas e as aulas têm a duração de cinco meses.
1° SEGMENTO
DURAÇÃO TOTAL = 2400 HORAS = 3 FASES ANUAIS
2o SEGMENTO
DURAÇÃO TOTAL = 2400 HORAS = 3 FASES ANUAIS
ENSINO MÉDIO
DURAÇÃO TOTAL = 2400 HORAS = 3 FASES ANUAIS
série", considerando assim as suas experiências 11,78% não havia recebido nenhuma instrução ou
prévias e o conhecimento acumulado ao longo da possuía menos de um ano de estudo. Os dados
vida. informam que quase um quinto da população já
havia freqüentado escola, mas possuía menos de
A rede estadual de ensino oferece a Educação
quatro anos de estudo.
de Jovens e Adultos (EJA) em 133
estabelecimentos de ensino, em 60 municípios. "No mundo globalizado de hoje não se faz
Segundo dados do Censo Escolar, em 2004, estas inclusão social alfabetizando a pessoa em cinco
unidades atenderam 36.473 estudantes, sendo que meses. Temos que garantir que a Educação de
destes 11.475 cursaram o Ensino Fundamental e Jovens e Adultos (EJA) se prepare para receber
outros 24.098 cursaram o Ensino Médio. dezenas de milhares de novos alfabetizados a cada
semestre", afirmou em entrevista o secretário
“Ingressar na Educação de Jovens e Adultos
adjunto de Estado de Educação, Antonio Carlos
também é garantir a diminuição no número de
Maximo.
analfabetos funcionais em Mato Grosso, que hoje
representa 25,7% da população. Por isso, o governo Se foi possível perceber o quadro de
continuará a investir em alfabetização e educação desigualdades que marcam a realidade brasileira, é
de adultos”, conforme afirmou em entrevista a preciso refletir sobre a pertinência da construção
secretária de Estado de Educação, Ana Carla político-pedagógica da escola e da educação de
Muniz. jovens e adultos em seu interior.É preciso nesse
processo de oposição ao estado de coisas pensar
TABELA 1. Taxa de Analfabetismo no Brasil e
que mecanismos poderiam contribuir para a
Regiões – 1996.
modificação desta realidade.
BRASIL - 14,7%
Neste sentido é que foi realizado em algumas
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emancipação humana.
“Nós geralmente descobrimos o que
“(..) Desse modo os acadêmicos podem fazer percebendo aquilo que não devemos
vivenciar e buscar, sob um olhar mais denso, a fazer. E provavelmente aquele que nunca
compreensão das questões sociais e históricas que cometeu um erro, nunca fez uma descoberta.”
determinaram o contexto educacional da EJA,
S. Smiles
inclusive no que diz respeito as dificuldades e à
premente necessidade de se concretizar políticas
primeiras menções de uma “educação popular”, população adulta empregados até então – método
entendida como um adestramento mínimo silábico que evidenciavam sua inadequação à
necessário para tornar este cidadão mais produtivo. clientela, bem como a superficialidade do
aprendizado no curto período de alfabetização,
De lá para cá, pouca coisa mudou no sistema
começou a gerar insatisfação o que provocou a
educacional brasileiro que continua impositivo,
discussão que remeteu a uma nova visão sobre o
alienado e comprometido com a ideologia
problema do analfabetismo e o surgimento de
dominante para a perpetuação de sua dominação e
novas idéias e de uma nova pedagogia de
de seus privilégios às custas da exclusão e
alfabetização que começa a se estruturar e se
subserviência de milhares de pessoas.
viabilizar enquanto paradigma educacional possível
Na década de 40, devido aos altos índices de embasado nas idéias do grande educador Paulo
analfabetismo que grassavam pelo país, a elite Freire.
dominante passa a tomar algumas medidas
“Na percepção de Paulo Freire, os conceitos
paleativas para o problema com a criação de um
de alfabetização e educação estão muito próximos,
fundo destinado à alfabetização da população
ambas estão comprometidas com um projeto mais
jovem (já com alguns milhares de jovens
amplo de transformação da sociedade, na medida
excluídos) e adulta analfabeta.
em que são apresentadas como propostas de
Em 1945 com a criação da UNESCO trabalho que possibilitem a geração de contra-
(Organização das Nações Unidas para a Educação, ideologia através da problematização da realidade e
Ciência e Cultura) surge uma certa consciência o desvelamento das mazelas sociais.”
mundial acerca do problema levando muitos países
A discussão sobre o tema: Educação de
a fazerem campanhas para a erradicação do
Jovens e Adultos já se dava no início da década de
analfabetismo em suas sociedades.
50, quando o pensamento de Paulo Freire inspirava
e mobilizava atividades de alfabetização e
Para Refletir: Note que o enfoque
educação popular e torna-se acirrada na década
era o analfabetismo, não a formação para a
seguinte; período no qual inúmeras salas de aula
cidadania e participação social plena. Quais as
eram ocupadas no noturno por turmas de
razões desta postura? Será que permanece até os
alfabetização de adultos num trabalho que nasceu
dias atuais?
da militância ligada à ação Católica e o surgimento
Evidencia-se a problemática da pobreza e da do Movimento de Educação de Base - MEB.
exclusão social aliada à condição de analfabeto e o
No pensamento Freiriano a sala de aula era
resultante preconceito que identifica esses
vista como um dos locais em que era possível
indivíduos como sendo incapazes e por isso,
analisar criticamente o conhecimento em
estavam marginalizados e excluídos socialmente.
consonância com a realidade sócioeconômica
Emerge a discussão sobre o analfabetismo como
através de um trabalho participativo que
causa da pobreza, alienação e exclusão social.
possibilitasse o avanço nos mecanismos de
As críticas ao método de alfabetização da conscientização social, contribuindo assim para a
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melhoria das relações sociais e a compreensão das instalada? Por que as idéias de Paulo Freire soaram
determinantes que entram em ação para a exclusão tão revolucionárias, se tudo o que ele pretendia era
social. oportunizar formação adequada para milhares de
excluídos? Será que o sistema capitalista tem a
Nessa época – anos 50 – surgem dois
necessidade de excluídos? Será que a dominação e
movimentos expressivos:
a exploração do próximo são os únicos caminhos
O movimento da educação libertadora possíveis de organização social? Por que a máquina
preconizado por Paulo Freire e seus adeptos que de controle do governo se faz tão presente quando
visavam a construir uma metodologia pedagógica se sente ameaçada? Qual seria a opção para
que propiciasse um ensino conscientizador, substituir as idéias “revolucionárias” de Paulo
libertador, superador da condição de exclusão; Freire?
O movimento da educação funcional cujos
Em 1967 o governo lançou o MOBRAL –
idealizadores desejavam apenas a melhor
Movimento Brasileiro de Alfabetização, que visava
qualificação da mão-de-obra a fim de tornar mais
oferecer uma “alfabetização funcional” para a
produtivo o indivíduo dentro do sistema,
reintegração à sociedade de grande parcela
movimento este voltado para atender as demandas
excluída , principalmente na área rural, com um
da elite social brasileira e que se configurava como
objetivo a mais: manter o homem do campo, no
mais um instrumento de dominação.
campo.
É nessa época que surge o Plano Nacional de
Durante a década de 70 o MOBRAL
Alfabetização de Adultos, dirigido por Paulo
expandiu-se e o programa que foi originalmente
Freire, plano este que enfatizava as práticas de
criado para a área rural passou a atender também as
leitura e escrita como mecanismos para a
grandes parcelas de excluídos nas grandes cidades
conscientização responsável e participativa visando
com o oferecimento de educação básica a nível do
desenvolver o senso crítico e a participatividade
antigo curso primário para os recém-alfabetizados e
dos grupos alienados e excluídos, um verdadeiro
para os milhares de “analfabetos funcionais” que
exercício de cidadania.
sabiam usar precariamente os mecanismos de
Foi então que as experiências que emergiram leitura decodificadora e uma escrita que muitas
com base na filosofia de conscientização, vezes correspondia a saber escrever o próprio
intervenção e mudança, foram percebidas como nome.
ameaça à ordem instalada pelo golpe militar e, por
Também é na década de 70 que surge a Lei
isso mesmo, seus autores/promotores foram
de Diretrizes e Bases 5.692/71, que começa a usar
severamente reprimidos e Paulo Freire foi exilado,
o termo Ensino Supletivo para justificar a
ficando suprimida a Educação de Jovens e Adultos
Educação de Jovens e Adultos a nível básico, sendo
no Brasil.
que limitava o dever do Estado ao oferecimento do
1º Grau, mas que já representava algum avanço por
Para Refletir: Por que será que uma
dedicar um capítulo específico para a Educação de
prática social de conscientização e intervenção e
Jovens e Adultos.
mudança foi percebida como ameaça à ordem
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Ocorre então uma retomada de ação por parte educação básica, proporcionando a extensão do
do Movimento de Educação de Base – MEB, que direito de educação fundamental a esta clientela em
produziu um conjunto didático baseado na específico.
pedagogia intencionada por Paulo Freire,
Agora o grande desafio que se coloca é o de
relacionando o conceito de educação de base ao
garantir este direito fundamental assegurado por lei
conceito de cultura popular visando um movimento
aos adultos analfabetos ou semi-analfabetos e aos
de conscientização, atividade esta que havia sido
jovens que tiveram passagens fracassadas pelas
interrompida com o golpe de 64.
escolas ou nem a elas tiveram acesso. O desafio é
Ressurge na década de 80 uma prática de o de garantir políticas públicas que garantam a
educação popular, como meta política e estratégica ampliação de vagas na educação pública para os
para a superação do analfabetismo, com os cursos Jovens e Adultos trabalhadores, a fim de que os
do antigo MOBRAL que visavam a alfabetização e mesmos possam ter ao menos o letramento a nível
a inclusão social, mas tal discurso de inclusão de ensino fundamental.
social só produziu semi-analfabetos, ou seja,
pessoas que sabiam escrever o próprio nome e Para Refletir: Na sua opinião,
algumas outras coisas, tais como frases simples e porque é um grande desafio garantir o atendimento
pequenos textos, mas eram incapazes de fazer uma desta clientela a fim de que os mesmos tenham
leitura de mundo e de realidade, bem como de atuar acesso ao direito fundamental de formação
no sentido da superação de sua própria condição de assegurado por lei - à educação? Que problemáticas
excluído, de analfabeto funcional. têm de ser enfrentadas para tornar isso possível?
Qual é a dimensão do problema? Quais são as
No entanto, a partir deste pequeno começo é
variáveis complicadoras do problema?
que se buscou construir um conceito mais
abrangente: É um grande desafio proporcionar a esta
clientela diferenciada a formação a que tem direito
“A trajetória conceitual (...) passa a ser devido às especificidades próprias. Esbarramos no
concebida dentro do espaço acadêmico,
objetivando afirmar-se sob princípios que problema da falta de profissionais qualificados e de
norteiam o conhecimento como dimensão
social, como apropriado às necessidades material didático pedagógico adequado, pois os que
humanas, em termos sócio-políticos, dispomos para o ensino fundamental e médio na
culturais e tecnológicos. A extensão que é
projetada vai além da compreensão faixa considerada adequada, não atende as
tradicional de disseminação de
conhecimento, prestação de serviços e
especificidades da clientela do EJA e por isso não
difusão cultural” (FARIA, 2004). são adequados para o trabalho.
existência em pleno século XXI de altos índices de levando a uma prática mais bem fundamentada do
analfabetismo e de um alto índice de pré- processo ensino e aprendizagem na EJA.
alfabetizados/analfabetos funcionais na atualidade.
Tais experiências conduziram à diversas
É papel da sociedade como um todo e, em especial,
questões sobre como ocorre o processo de ensino e
de nós educadores, resgatarmos tais cidadãos e
aprendizagem nesta clientela em específico e
incluí-los culturalmente de forma a propiciar sua
contribuíram grandemente para uma compreensão
plena atuação e engajamento no seio da sociedade
mais bem fundamentada do processo ensino e
por pensarmos em Projetos de cunho social e, na
aprendizagem na EJA.
esfera política em programas para a Educação
destes Jovens e Adultos – da EJA. Começa-se a se esboçar a compreensão de
que para atender às necessidades dos jovens e
Para Refletir: Quem são estes adultos, a prática pedagógica deve possibilitar o
cidadãos excluídos do acesso à cultura letrada domínio:
plena e, quais seriam as alternativas para reverter Da leitura e da escrita para a compreensão
esse quadro de exclusão? Que tipo de profissional da língua materna com suas nuances de
será necessário para enfrentar o desafio? Quais as significados visando a alcançar o domínio das
condições básicas para o atendimento das formas de expressão;
necessidades e especificidades desta clientela?
Dos símbolos e operações matemáticas
Para isso se faz necessário investir, preparar e como suporte para o desenvolvimento do raciocínio
avaliar como se dá a formação do professor para e resolução de problemas no cotidiano social;
atuar nesta modalidade de ensino. Uma modalidade De conhecimentos essenciais sobre as
que tem características fortes e bem demarcadas e ciências sociais e naturais que possibilitem a
que necessita de um profissional que seja capaz de determinação da identidade cultural e exploração
compreender e atuar em consonância com estas da ciência e tecnologia.
especificidades.
De habilidades e competências que
Nos anos 90, o Movimento de Educação de viabilizem a participação plena nos diversos meios
Base - MEB passa a investir em todo o Brasil na sociais, contribuindo para a identidade cidadã do
formação de alfabetizadores de jovens e adultos. educando.
Nesse percurso histórico a temática da EJA vai
É evidente que surgiram muitas discussões
sendo assumida por diversas instituições e se
acaloradas sobre o que se deve considerar essencial
articulando enquanto forma de extensão, de
a fim de não cair no mesmo reducionismo que se
pesquisa e de ensino,compondo aos poucos uma
espera superar - o currículo tradicional - mas acima
base curricular sólida, especialmente nos cursos de
das discussões vislumbra-se que a formação deve
pedagogia onde causou grande revolução com
ser tal que possibilite a leitura crítica da realidade e
algumas instituições adotando a realização de
a possibilidade de fomentar a atuação cidadã que
estágio obrigatório em classes de alfabetização de
vise a superação das condições precárias de sub-
jovens e adultos, contribuindo assim para o
existência a que foram submetidos. “A leitura de
amadurecimento dos futuros profissionais e
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HISTÓRIA DA EJA ‐ EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ‐ UNIDADE I 21 22
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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HISTÓRIA DA EJA ‐ EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ‐ UNIDADE I 22 23
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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disfarça do tolo, sua falta de entendimento." CNE Nº 01/2000, instrumentos que apresentam o
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LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO ‐ UNIDADE II 2
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CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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Além disso, estabelece uma concepção saberes básicos que dão acesso às atualizações
peculiar de educação direcionada para o universo requeridas pela sociedade. Segundo o Parecer CEB
do jovem e do adulto trabalhador, que já possuem 15/98, os jovens e adultos excluídos são geralmente
uma prática social, um modo de conceber a vida, os que vivem em situação de pobreza devido à
uma forma de pensar a realidade. Reconhecendo ausência de escolaridade ou de condições de acesso
que o ensino de jovens e adultos necessita de uma à escolaridade, primeiro obstáculo para a superação
dinâmica muito mais complexa para se efetivar de de sua condição e busca de melhoria em sua
modo pleno e desse modo contribuir para resgatar qualidade de vida.
os valores de cidadania perdidos pela pressão social
Neste sentido, os desfavorecidos devem ter à
que leva à exclusão.
sua disposição maiores oportunidades que os
Essa complexidade se manifesta, demais, a fim de que possam desenvolver e
principalmente, na natureza das finalidades da demonstrar o seu potencial humano e possam ter
educação, que precisa ser atingida em sua “tríplice uma competitividade maior nesta nossa sociedade
dimensionalidade”, conforme preceitua a LEI capitalista.
9.394/96 no seu art. 2º:
A L.D.B. 9.394/96 foi específica em indicar
o pleno desenvolvimento do educando, que os jovens e adultos têm direito à formação, ao
o seu preparo para o exercício da desenvolvimento e à constituição de
cidadania e, conhecimentos, habilidades, competências e
a sua qualificação para o trabalho. valores que contribuam para sua auto-realização e
para a participação efetiva no seio da sociedade, em
Você, por certo, já ouviu falar de analfabeto consonância com a Constituição Federal do Brasil
virtual ou tecnológico. Na sociedade tecnológica (1998), a qual preconiza que toda e qualquer
atual, esta é uma outra tendência que agrava ainda educação deve visar o desenvolvimento integral do
mais a condição de exclusão dos analfabetos ser humano, preparando-o para o exercício da
porque a inclusão nestas novas tecnologias cidadania e sua qualificação para o trabalho.
pressupõe o domínio da leitura e da escrita,
condição essa que, se não satisfeita, gera uma outra A lei 9.394/96 abriga no seu título V, capítulo
definir uma prática pedagógica que dê conta das tornou-se uma modalidade da educação básica,
mereceu um capítulo próprio que propôs ações para coerente dentro da EJA? Poderiam ser facilmente
reduzir o analfabetismo tanto no que diz respeito ao adaptados para poderem ser utilizados na EJA?
contingente existente, quanto às futuras gerações. Que tipo de material didático seria necessário?
O Plano estabeleceu como metas, entre Nesse sentido, os educadores são vistos como
outras: sujeitos culturais, que possuem um saber forjado no
permanência ao ensino além das quatro primeiras precisam refletir, organizando-o e ampliando-o. E,
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LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO ‐ UNIDADE II 4
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CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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bom para o trabalho com os educandos. conseguir com uma formação continuada que
requeira a atuação sobre uma determinada
IMPORTANTE: Os encontros de problemática.
tempos atuais, que possam nos trazer, pela via da sentido, buscou-se defini-la como: todos os
educação, conseqüências sociais mais alentadoras. aspectos político-pedagógicos próprios à formação
inicial e continuada dos professores populares que
O investimento na EJA, para a formação
vão atuar na EJA, envolvendo objetivos traçados,
continuada de professores, implica na constituição
opções teóricas feitas, meios utilizados, além de um
de um projeto político pedagógico adequado às
processo de avaliação que fuja aos moldes
características das populações. Um em que os
tradicionais e incorpore na prática a vivência da
sujeitos-professores sejam também jovens e adultos
auto-avaliação como estratégia de avaliação válida
em processos de meta cognição sobre o aprender de
e que seria capaz de abarcar e auferir a totalidade
seus alunos.
do desenvolvimento humano.
DA ESPECIFICIDADE DO
Quanto mais se avança nos questionamentos
PROFESSOR / EDUCADOR DE EJA
por meio dos fóruns, seminários e demais
que o ensinado não sabe nada, que aprender é da formação contínua dos educadores para atuarem
passar da ignorância ao saber, e que essa na EJA, visto que as especificidades desta clientela
ensinando traz alguma coisa: aptidões e gostos, das características de um professor para trabalhar
saberes anteriores e saberes paralelos e, no nível convencional com alunos na faixa etária
pela instrução, pela preparação profissional ou Tais características devem ser respeitadas e
pela aquisição de uma cultura para os consideradas para que esses educandos - jovens e
momentos de lazer”. adultos - possam obter uma formação que os leve a
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LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO ‐ UNIDADE II 7
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CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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conta as necessidades específicas desta clientela alfabetização dos grupos pertencentes aos
que, como já dissemos, devem ser respeitadas. Para movimentos de base e a pastorais da igreja que
cada característica escreva uma justificativa para o vinham tomando a frente nas ações de formação e
fato de considerá-la essencial relacionando-a com organização política em prol da cidadania plena.
as necessidades dos educandos.
Vislumbra-se, pois, que o preparo de um
Esta ação de formação continuada é então docente voltado para a Educação de Jovens e
compreendida como um processo de estudo, Adultos - EJA deve incluir, além das exigências
pesquisa, reflexão e atuação em serviço que formativas para todo e qualquer professor, aquelas
possibilite o desenvolvimento das características e relativas à complexidade diferencial dessa
estratégias buscadas no seio da atuação modalidade de ensino.
profissional, numa eterna busca através do processo
Atualmente, o educador precisa estar
de ação-reflexão-ação tão defendido por Paulo
preparado para desenvolver um trabalho em
Freire e outros estudiosos da educação.
consonância não apenas com a pedagogia, mas
Das experiências até então vivenciadas também com a andragogia que é “a arte ou ciência
surgem inúmeras questões que precisam ser melhor de orientar adultos a aprender, segundo a definição
respondidas, problematizadas e conceituadas. creditada a Malcolm Knowles, na década de 70.
Reflitamos sobre algumas delas:
O termo nos remete a um conceito de
ATIVIDADE educação voltada para o adulto, em contraposição à
pedagogia, que se refere à educação de crianças (do
Reflita sobre as questões abaixo e redija um grego paidós, criança).
pequeno texto dissertativo em que você discorra
sobre as duas questões propostas elaborando o seu Para educadores como Pierre Fourter (1973),
Não temos dúvida de que as contribuições de Com isso, os docentes deverão ser preparados
Paulo Freire neste campo foram fundamentais para para a elaboração de Projetos Políticos
avançar no sentido de um compromisso de Pedagógicos (PPPs.) que considerem as
corresponder a necessidades historicamente características, as expectativas e a realidade da
colocadas e de viabilizar um processo de EJA. Trata-se de uma formação em vista de uma
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LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO ‐ UNIDADE II 8
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CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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condição e da sociedade e não com uma lista de na EJA, a formação adequada e a ação integrada
necessidade, mas também de sua conscientização como perspectiva as abordagens sugeridas pelas
de que o nível de escolaridade é fator necessário orientações normativas correspondentes, a saber:
para a inserção e/ou reinserção no mercado de Cultura;
trabalho, para o bom desempenho profissional e
Educação Ambiental;
para maiores possibilidades de geração de renda e
de melhores condições de vida. Desenvolvimento Local Sustentável;
Essas informações propiciam aos educadores Há algum CEJA atuando na sua localidade?
a elaboração de Projetos interdisciplinares, tendo Busque informações sobre a atuação dos CEJAs,
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LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO ‐ UNIDADE II 10
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CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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nessa experiência de sucesso, pode-se ver pelo fato aluno com flexibilidade de horários e o ensino por
de que já houve três formações continuadas em que módulos de conhecimento fazem o diferencial dos
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LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO ‐ UNIDADE II 11
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CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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Assim, os espaços de ensino foram também análise, de se auto-qualificar ao longo de toda sua
convertidos em espaços de discussão dos carreira. Esse é o ideal perseguido pelas políticas
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LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO ‐ UNIDADE II 12
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CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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Há muito tempo que não se dá a devida Assim, podemos dizer que a família age
atenção à Educação de Jovens e Adultos porque o como um educador, contribuindo para a educação e
objetivo foi e permaneceu por muito tempo apenas o convívio social com suas regras, suas leis,
o de alfabetizar, entendido como decifrar o código princípios, valores e crenças, ela é, portanto,
escrito e na sua grande maioria, tal trabalho coube responsável por transmitir os primeiros valores
a profissionais leigos que trabalhavam quase como humanizantes aos seus respectivos membros.
em regime de voluntariado devido à inexistência de
Esta família, por sua vez, está inserida em
salário ou à irrelevância do mesmo. Tais pessoas se
uma sociedade capitalista que prima pela
dispunham a ensinar mais por amor ao ato de
competitividade e pela produtividade, produzindo
transmitir conhecimento que por benefício
um ser humano egoísta, individualista, sobrepondo
financeiro.
o capitalismo aos valores de igualdade,
No entanto, agora, estamos vivenciando um solidariedade e harmonia que se supõe tenham sido
desvelar do que nos parece um novo paradigma na implementados pela família e transformando o ser
medida em que a educação pretendida agora visa humano em um ser “quase que insensível” que
oportunizar aos educandos a inserção, a prima pela luta pela sobrevivência em um ambiente
permanência e a conquista de novos níveis dentro que renega os direitos sociais e se faz altamente
da cultura letrada, visando a uma participação ativa competitivo, seletivo e excludente.
na sociedade em todas as esferas: política, social e
Com isso vemos perpetuar-se em nossa
cultural, ou seja, algo para além da cultura do
sociedade um círculo vicioso fruto das condições
trabalho.
sócio-econômicas desfavoráveis e da falta de
oportunidade social que perpetua a pobreza, a
IMPORTANTE: Hoje,
miséria e dificulta aos nesta categoria saírem de sua
vislumbra-se os educandos jovens e adultos através condição de excluídos e desassistidos, pois lhes
da definição de Kohler: “O ser histórico, que nega direitos básicos como a educação, a saúde, a
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LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO ‐ UNIDADE II 14
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CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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DA CARACTERIZAÇÃO DA
IMPORTANTE: É,
CLIENTELA DA EJA
portanto, indispensável que o professor/educador
enverede pela linha reflexiva e crítica e molde a sua “Somos o que pensamos. Tudo o que
prática por elas, a fim de construir junto de seus somos vem dos pensamentos. Com os nossos
educandos um novo conhecimento, uma nova pensamentos fazemos o mundo.”
cultura, uma evolução para a sociedade que tanto
Buda.
tem clamado por melhorias.
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LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO ‐ UNIDADE II 15
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CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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parcelas de nossa sociedade que enfrenta muita 1) Os pais que consideram a educação
dificuldade para manter a organização familiar, desnecessária porque eles mesmos não a tiveram e
citemos apenas alguns: portanto, encaminham os filhos logo cedo para o
Esta é uma condição determinante que se faz vencer os desafios da educação formal pelo
muito presente entre os educandos da EJA que exemplo dado pelos pais ou porque o mundo do
devido à pobreza, à miséria que dificulta a sua trabalho lhes rouba todo o tempo e as energias.
trabalhador: longas jornadas de trabalho, ambiente contribuem para o desequilíbrio familiar e para a
desfavorável, exaustão, baixa estima, falta de construção de uma baixa-estima devido ao fato de
aos nesta condição de saírem de sua categoria de para suprir as necessidades da família em busca da
sobreviver em nossa sociedade, alguns até com sonho, mas um sonho que se sonha junto é
habilidades, troquem experiências e tenham acesso sujeitos leitores, aos seus contextos histórico-
a novas formas de trabalho e cultura. sociais, respeitando, dessa forma, suas histórias de
vida singulares e coletivas e seus saberes e fazeres
Função qualificadora:
cotidianos.
Refere-se à educação permanente, com base
no caráter incompleto do ser humano, cujo IMPORTANTE: A partir de
potencial de desenvolvimento e de adequação pode 1996, o papel do professor se torna, então, o de um
se atualizar em quadros escolares ou não-escolares. “facilitador”, alguém que contribui para a criação
Mais que uma função, é o próprio sentido da das condições favoráveis – situações de
educação de jovens e adultos. aprendizagem - para a produção do conhecimento.
Neste sentido, além de Paulo Freire, Ana
Assim sendo, segundo as Diretrizes
Teberovsky, Emília Ferreiro e L.S. Vygotsky
Curriculares Nacionais para a Educação de
passaram a compor o quadro de referenciais
Jovens e Adultos, é necessário que a escola
teóricos do trabalho de formação dirigido aos
assuma a função reparadora de uma realidade
educadores populares.
injusta, que não deu oportunidade nem direito de
escolarização a tantas pessoas. Ela deve também Tais colocações e reflexões teórico-práticas
contemplar o aspecto equalizador, possibilitando visam alcançar uma autonomia cognitiva por parte
novas inserções no mundo do trabalho, na vida dos educadores que seja capaz de fazê-los agir de
social, nos espaços de estética e na abertura de forma independente na tomada de decisões no que
canais de participação. Mas há, ainda, outra função diz respeito às resoluções de problemas de
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LEGISLAÇÃO E FORMAÇÃO ‐ UNIDADE II 20
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CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III 2 43
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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Eu não sou você, você não é eu Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’.
Mas foi vivendo minha solidão que conversei com Nada de conviver com as pessoas e depois
você descobrir que não tem amizade a ninguém nada de
ser como o tijolo que forma a parede, indiferente,
E você conversou comigo na sua solidão,
frio, só.
Ou fugiu dela, de mim e de você?
Importante na escola não é só estudar, não é só
Eu não sou você, você não é eu, trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar
ambiente de camaradagem, é conviver, é se
Mas sou mais eu, quando consigo lhe ver,
‘amarrar nela’!
Você ser você, vivendo comigo. 1990, onde foram definidos quatro pilares da
educação que deveriam ser a meta para o
(Madalena Freire) desenvolvimento educacional em todos os países
signatários de seus documentos.
O texto abaixo exemplifica como Paulo Freire
enxergava a escola: Esses pilares são:
Aprender a fazer;
"Escola é... o lugar onde se faz amigos não se trata
só de prédios, salas, quadros, programas, horários, Aprender a viver com os outros;
conceitos... Aprender a ser.
Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que Pode-se perceber que são objetivos que vão
estuda, que se alegra, se conhece, se estima.
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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III 4 45
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III 5 46
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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seu caráter oficialmente instituído (pelas leis, raciocinam que quanto menos souberem e se
normas, regras e definições) e pelo vivido no seu conhecerem, melhor. Pois menor será o risco de dar
cotidiano, pela ação de seus sujeitos (fruto das vida aos seus interesses e às suas formas de
interações e conflitos de seus agentes na condição expressividade.
de sujeitos sócio-culturais).
É interessante observar que a escola, na maior
Nessa perspectiva, reafirmamos que a escola parte das vezes, tem uma concepção muito
é o espaço do velho e do novo, que se revitaliza positivista e regulatória do tempo escolar e das
pela efervescência daqueles que lhe animam e dão práticas a serem desenvolvidas em seu interior,
vida: os professores, os alunos e os funcionários. como se o cumprimento do currículo (lista de
Convém então que analisemos as conteúdos) fosse mais importante do que a
características dos atores que atuam no seio da formação humana a ser construída nos
Escola. relacionamentos.
trazendo o mundo de fora para o seu interior pela surgimento dos grafiteiros no cenário escolar
vivência. A escola pública precisa ampliar seu paulista suburbano e vislumbrava as múltiplas
sentido do educativo, para além do campo escolar possibilidades que isto significava para as
Muitas vezes, não chegam sequer a conversar alguma forma de expressão em sua localidade que
de ser humano para ser humano com seus alunos, poderia ser trazido para dentro da escola a fim de
simplesmente para não se envolverem. Pois fazer parte do cenário educativo através de práticas
pedagógicas inclusivas? Como você elaboraria uma
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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III 8 49
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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aula a partir destas manifestações culturais compensatória de educação de jovens e adultos que
regionais/locais? inspirou o ensino supletivo, visto como instrumento
de reposição de estudos não realizados na infância
De um lado, cabe à escola adequar o seu
ou adolescência. Ao focalizar a escolaridade não
modo de ensinar e aprender o aluno e as suas
realizada ou interrompida no passado, o paradigma
manifestações, ou seja, cabe a escola pensar a sua
compensatório acabou por enclausurar a escola
organização para um grupo que não é alvo dela,
para jovens e adultos nas rígidas referências
mas sim produto de sua atuação e, de outro lado,
curriculares, metodológicas, de tempo e espaço da
tornar compreensível explicitamente para os
escola de crianças e adolescentes, interpondo
estudantes as suas regras implícitas.
obstáculos à flexibilização da organização escolar
É preciso quebrar paradigmas para que a necessária ao atendimento das especificidades
Educação de Jovens e Adultos possa se construir e desse grupo sociocultural. (DI PIERRO, 2005
reconstruir, focada nos sujeitos que dela p.1118)
participam. Conviver com as diferenças num
UMA DIDÁTICA VOLTADA PARA A
mesmo ambiente, não é tarefa fácil - devido às
CIDADANIA
múltiplas facetas do conhecimento sócio-histórico
construído e devido às individualidades - mas é o “Ao se referir ao futuro como
objetivo final da EJA. possibilidade, a juventude de hoje nos fala
menos em categorias sociológicas e mais em
Importante: Assim, a EJA constrói
categorias éticas e antropológicas. São
seu arcabouço teórico-prático-metodológico de categorias relacionadas com o amor, a
modo mais criador, quando consegue trazer o amizade, a transparência, a vontade política.
mundo do aluno para a sala de aula, propiciando a A educação que está nascendo com a
troca de experiências e saberes. juventude fala muito em vida, singularidade,
corpo.”
Desse modo, a escola passa a se apresentar
como espaço para manifestações sócio-culturais, (FREIRE, 199, p.91)
como mecanismo de fomentação da expressividade
e da participação visando a uma cidadania plena. Uma didática voltada para a cidadania passa
pela compreensão do planejamento como processo
Também os funcionários devem comungar
de reflexão sobre a prática docente e de
com os princípios norteadores da prática
sistematização dessa prática através da construção
pedagógica que deve ocorrer na escola, pois eles
de modalidades de organização didático-
também participam do processo de formação que
pedagógica do conhecimento nos diversos
pretende transformar indivíduos em cidadãos
contextos de ensino.
participantes, ativos e críticos da sociedade.
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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III 9 50
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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adultos, na busca de uma informação que os faça sistematizador das situações de ensino que
crescer e não embrutecer. (GADOTTI, M. concretizam as intenções explicitadas no projeto
Perspectivas atuais da educação, 2000) pedagógico/currículo;
“... ensinar é um ato de interação. É parte “... um processo didático, pois ao mesmo
inseparável do processo de aprendizagem”; tempo em que o professor auxilia o educando a
“... um diálogo, uma vivência envolvendo construir seu conhecimento, ele também está
ser trabalhado, os sujeitos envolvidos nesta ação. “... ensinar exige planejamento.”;
Ensinar é também trabalhar com o outro”; “... ensinar é ação didático-pedagógica
“... é compartilhar algo que sabemos e organizada pelo professor, ou seja, pensada para
conhecemos; é respeitar as diversidades, é saber interagir com o aluno.”;
ouvir, para se aprender; é amar aquilo que se faz”;
significativa, pois respeita o que o aluno já conhece e social? Que diferença fará o saber ou não saber
- ou pensa que conhece - e amplia os horizontes da determinado conteúdo? Em que situações da vida
aprendizagem tornando-a mais apropriada, mais seriam necessários os conhecimentos deste
abrangente, mais bem elaborada e respaldada. conteúdo? Estas e inúmeras outras perguntas
devem ser feitas antes de se selecionar um
Após este primeiro contato em que se busca o
determinado conteúdo, a fim de se assegurar que
estabelecimento de um “fio da meada” para dar
ele venha a ser um conteúdo significativo que
início à construção de conhecimentos
venha a somar com a experiência dos alunos e
significativos, há de se pensar no planejamento das
venha a contribuir para sua formação integral, seu
situações de aprendizagem.
espírito crítico, sua autonomia e na resolução dos
Planejar o ensino significa pensar sobre problemas que enfrenta em sua vida diária.
algumas questões que definem a intencionalidade:
Significa isto que todo o conteúdo a ser
O que ensinar? ensinado deve ter um veio prático. Sim, sempre que
possível, pois reconhecemos que nem todo
Responder esta pergunta é essencial e note
conhecimento é prático a priori, mas todo o
que não é possível fazê-lo sem primeiro pensar nos
conhecimento pode ser analisado pelo viés da
conhecimentos prévios que os alunos porventura
praticidade, mesmo os teoremas mais intrigantes
possam ter, mesmo porque, caso contrário corre-se
surgiram, na sua grande maioria, de questões
o risco de querer ensinar por assim dizer “o vigário
práticas, pois o homem produz conhecimentos a
a rezar a missa”, tendo em vista que os alunos da
partir de suas necessidades ou de sua curiosidade.
EJA são Jovens e Adultos que já trazem consigo,
inúmeras aprendizagens e vivências que muitas Assim sendo, todo conteúdo deve ter um viés
vezes podem até mesmo superar as do professor em prático, mesmo porque precisamos nos lembrar de
determinado assunto, com o diferencial de que eles que para os alunos da EJA o conhecimento
não possuem a sistematização propiciada pela desprovido de aplicações em sua vida e na
educação formal, mas possuem uma sistematização resolução de seus problemas, ou seja, o
própria que lhes serve pela vida inteira; assim conhecimento pelo conhecimento, ainda não é
sendo enfatizamos que é preciso determinar bem o cativante, nem empolgante. É o nosso trabalho que
conteúdo; pretende fazer com que ele o seja num futuro,
quando este educando for se apropriando das
Por que ensinar determinado
estruturas do pensamento científico e então passe,
conteúdo?
ele mesmo, a questionar as coisas e a produzir
Responder a esta pergunta é essencial para
conhecimento, não apenas o conhecimento de
determinar a relevância de determinado conteúdo.
cunho prático, mas também o de cunho estético,
Está presente apenas para cumprir o currículo
filosófico e meramente intelectual.
(dessa forma entendido como lista de conteúdos)
ou fará realmente a diferença na vida do aluno. O professor da EJA deve debruçar-se
Este conteúdo irá interferir de que maneira na vida demoradamente sobre as razões para se ensinar
do aluno? Que contribuições dará para sua algo e ele mesmo agir como pesquisador a fim de
autonomia? E para o seu desenvolvimento pessoal saber as razões que fizeram surgir tal
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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III 13 54
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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conhecimento, uma vez que não é esse o modo que caminhos e que o caminho se faz ao caminhar.
lhe foi ensinado nas Universidades e muito menos
É o enfoque que se pretende no ato docente
na Escola Tradicional na qual a maioria de nós
que determinará o caminho, o trajeto, as paradas, o
professores fomos formados.
que será visualizado, que reflexões se fará, que
aprendizagens serão escolhidas como mais
Importante: Neste sentido o
importantes, enfim, que rumo a construção do
professor/educador da EJA deve exercitar um novo
conhecimento tomará na inter-relação propiciada
olhar para os conteúdos tradicionalmente alistados
pela vivência em sala de aula ou fora dela dos
e selecioná-los, a alguns talvez até mesmo excluir,
conteúdos significativos selecionados pelo docente.
ou antes, remodelar a fim de que possam atender às
especificidades da sua clientela. Neste sentido é Como ensinar determinado
que se faz necessário o próximo questionamento. conteúdo?
Na resposta a esta pergunta é que reside a
Para que ensinar determinado
conteúdo? propriedade do trabalho do professor educador. É
também com esta pergunta que se delineia e avalia
Já vimos que todo conhecimento tem na sua
o sucesso do professor, pois ele deve levar em
gênese um viés prático, surgiu das necessidades
conta todas as reflexões possibilitadas pelas outras
dos seres humanos e de sua busca de compreensão
perguntas e definir seu trajeto.
das coisas, dos fenômenos, das realidades que se
apresentam. Então para que ensinar algo que não Qual trajeto será o mais adequado e conduzirá
terá utilidade prática? Para que ensinar por aos objetivos intencionados depende muito da
exemplo as minúcias da gramática, ou antes, o situação e é a vivência/ experiência profissional do
ranço do gramaticalismo (nada contra o ensino de professor que fará com que ele, se mantiver uma
gramática) para um falante de língua materna? É postura de ação/reflexão/ação, esteja a cada dia
aqui que devemos demarcar bem os limites e os melhor preparado para ensinar e para ser bem
objetivos de nossa atuação docente. O educador sucedido em alcançar os objetivos educacionais
deve ser livre para selecionar os conteúdos que intencionados.
farão parte de sua docência por serem os mais
Por isso é muito importante que o professor,
significativos.
além de avaliar os alunos para saber se os mesmos
Tais conteúdos não devem ser impositivos, estão sendo conduzidos para o objetivo
nem constar meramente de uma lista elaborada instrucional/educativo pretendido, também avalie
muitas vezes por um especialista que nada sabe de constantemente a sua prática a fim de aprimorá-la
sua realidade, antes os conteúdos devem emergir da ao avaliar sucessos e fracassos e assim determinar
própria vivência, da própria prática pedagógica, onde pode ser aperfeiçoada e melhorada a cada dia.
devendo os conteúdos disciplinares do rol de
O professor que perder de vista esta prática
conhecimento humano servirem apenas como guia,
correrá o risco de ficar parado no tempo e aplicar
como uma bússola apontando o Norte, mas que não
práticas educativas que já não correspondem à
determina autoritariamente o caminho a ser
necessidade ou à realidade posta, a exemplo de
seguido, reconhecendo que existem muitos
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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III 14 55
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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tantos que continuam a praticar a docência como II. Elaborar e cumprir o plano de trabalho,
antigamente, se esquecendo das evoluções segundo a proposta pedagógica do estabelecimento
tecnológicas e da sociedade como um todo. de ensino;
exime de participar com engajamento nas decisões professor é justamente o número elevado de ações
A relação afetiva do professor com seu aluno metodológicas adequadas ao ensino, selecionar
irá com certeza influenciar na formação de seus recursos didáticos e tecnológicos que maior
valores e suas atitudes, daí que paira sobre o impacto possam ter como propulsores de
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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III 15 56
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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Para Paulo Freire, o papel do professor sabe e daquilo que não sabe e o quanto este
sobrepõe-se à mera transmissão de conhecimentos: desconhecimento lhe faz falta.
“... ensinar não é transferir conhecimentos, Escolhe uma profissão, escolhe uma
mas criar as possibilidades para a sua própria namorada, uma esposa, um círculo social e analisa
produção ou sua construção. Quando entro em sala criticamente cada informação que recebe,
de aula devo estar sendo um ser aberto às classificando-a como válida e útil ou desnecessária
indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, e inútil. Assim fazendo ele criteriosamente escolhe
às suas inibições; um ser crítico e inquiridor, em quê, focalizará a sua atenção.
inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar
Toda esta historicidade, infelizmente é
e não a de transferir conhecimento.” (Freire, 1996,
ignorada pelos sistemas tradicionais de ensino.
p. 52)
Nossas escolas e até mesmo nossas universidades
Para o professor ensinar de forma satisfatória, ainda tentam ensinar os adultos com as mesmas
o vínculo afetivo é imprescindível para tornar a técnicas didáticas usadas nos colégios primários ou
sala de aula um ambiente mais humanizado, mais secundários com crianças e adolescentes. A mesma
próximo às características e necessidades dos pedagogia é empregada para educar crianças e
alunos. Já que o ato de ensinar favorece o encontro adultos, embora a própria etimologia da palavra
entre o afeto e a razão. pedagogia se refira à educação e ensino das
crianças (do grego paidós = criança).
Mas a relação afetiva com os alunos depende
de múltiplos fatores não afetivos, tais como: fatores ATIVIDADE
sociais, econômicos, culturais, pedagógicos e os
ligados às precárias condições de trabalho e de vida A partir de um conhecimento prévio que você
tanto de alunos como de professores. Uma percebeu que existe em determinada turma, pense
realidade nada fácil de conciliar e que se constitui num conteúdo de Química e elabore uma aula em
em verdadeiro desafio na sociedade moderna. que você aproveite esses conhecimentos prévios de
seus alunos.
DA PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EJA
APERCEBENDO-SE DA DIFERENÇA
“Educar é fazer ato de sujeito, é
O emprego do método silábico que era
problematizar o mundo em que vivemos para
desenvolvido nos programas de alfabetização de
superar as contradições, comprometendo-se
adultos como referencial teórico-metodológico,
com este mundo para recriá-lo
com o tempo mostrou-se restritivo demais e
constantemente.”
inadequado para o trabalho com adultos em termos
Jussara Hoffmann de práticas de leitura e escrita, por enfatizar a
memorização e a repetição sem a atuação crítica do
intelecto e sem a necessária relação com a
A idade adulta traz a independência. O
experiência do educando, já repleto de vivências e
indivíduo acumula experiências de vida, aprende
de uma história de vida sócio e historicamente
com os próprios erros, apercebe-se daquilo que já
construída.
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CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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A prática demonstrou que no caso de alunos aquilo que nós fazemos. A experiência é o livro-
da EJA suas anteriores vivências já habilitava-os a texto vivo do adulto aprendiz".
produzir textos e a conferir-lhes sentido, ainda que
Lançando, assim, as bases para o aprendizado
não o suficientemente elaborados a nível de
centrado no estudante e do aprendizado tipo
argumentação ou domínio da língua culta,
"aprender fazendo". Infelizmente sua percepção
justamente por falta de vivências deste tipo de uso
ficou esquecida durante muito tempo.
em sua vida real.
E. C. Linderman foi um dos maiores
Importante: Cabe, portanto, à escola,
pesquisadores da educação de adultos e descreveu
inseri‐los na vivência de produção de textos mais
assim, os cinco pontos-chave deste tipo de
elaborados, uma vez que na vida real, não há
educação:
“redações” ou “exercícios gramaticais” e, sim,
1) Adultos são motivados a aprender à
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CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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3) A experiência é a mais rica fonte para o prazo. Eles observaram ainda que as informações
adulto aprender; assim, o centro da metodologia da mais lembradas são aquelas recebidas nos
educação do adulto é a análise das experiências primeiros 15 minutos de uma aula ou palestra.
externas e do próprio cotidiano de cada aluno. Para melhorar estes números, faz-se
Praticamente todo o conteúdo deve ser de utilidade necessário conhecer as peculiaridades da
prática e imediata; porém, devem resultar em aprendizagem no adulto e adaptar ou criar métodos
mudanças de atitude e aperfeiçoamento de didáticos para serem usados nesta população
habilidades passíveis de gerar resultados a longo específica.
prazo. O adulto aprende aquilo que faz e vivencia,
sendo a experiência seu próprio livro-texto; Segundo Knowles (estudioso da
Andragogia), à medida que as pessoas
4) Adultos têm uma profunda necessidade de amadurecem, sofrem transformações:
ser autodirigidos: por isso o papel dos professores é
Passam de pessoas dependentes para indivíduos
engajar-se no processo de mútua investigação com
independentes, autodirecionados/autodidatas.
os alunos e não apenas transmitir-lhes seu
conhecimento e depois avaliá-los; Acumulam experiências de vida que vão ser
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CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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aumentando assim o comprometimento, a auto- indivíduo que respeita a si e ao outro com quem
estima, a responsabilidade e capacidade de trabalho convive, enquanto cidadão ativo e participante com
em grupo. o direito de exercer a sua cidadania e o dever de
respeitar a cidadania de outrem.
Está aí implícita a idéia de uma atividade de
aprendizagem, onde pessoas vão trocar idéias, Falar em Metodologia do Ensino é fazer uma
buscar em suas experiências e outras fontes a abordagem sobre os inúmeros procedimentos
construção de um novo conhecimento e a solução didáticos representados pelos métodos e técnicas de
de problemas da vida real ou propostos pelo ensino.
Professor/Educador.
O conjunto desses procedimentos didáticos
DA METODOLOGIA DE ENSINO NA
EJA.
Charles Chaplin
Como você pode perceber, o esquema
demonstra a origem e o significado da Metodologia
APLICAÇÃO DA TEORIA ANDRA-
de Ensino e representa o conjunto de
GÓGICA NA APRENDIZAGEM DE
ADULTOS. procedimentos didáticos que norteia a ação do
educador.
A metodologia de Ensino deve direcionar a
aprendizagem dos educandos a fim de levá-los à Metodologia de Ensino compreende os
assimilação de novos conceitos, novos métodos e as técnicas utilizados para o processo de
procedimentos, novas atitudes, novas regras e Ensino Aprendizagem. O método é um
valores. Da mesma forma deve contribuir para procedimento mais amplo que é de aplicação geral
estimulá-los em busca da autonomia educativa e o e sua estrutura tem por base princípios lógicos, os
incentivo à emancipação intelectual, formando um quais podem ser aplicados a qualquer ciência. Por
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diferença entre o status atual de seu conhecimento utilizados para motivar o aprendizado, como notas
ser-lhe-á exigido, sem dúvida serão úteis para promoções ou melhores empregos, etc. Entretanto
frente a outras pessoas. Assim, adotarão uma Vimos acima que adultos, após 72 horas,
postura reservada nas atividades de grupo até se lembram muito mais do que ouviram, viram e
sentirem seguras de que não serão ridicularizadas. fizeram (85%) do que daquilo que simplesmente
Pessoas tímidas levarão mais tempo para se ouviram (10%). Por isso a mudança de estratégia
sentirem à vontade e não gostam de falar em no decorrer de uma aula é fundamental para a
discussões de grupo. Elas podem ser incentivadas a diversificação da aprendizagem e para a
escrever suas opiniões e posteriormente mudarem manutenção da atenção. A estratégia do "Teste de 3
de grupos, caso se sintam melhor em outras minutos" é um excelente recurso para fixar o
companhias. conhecimento após uma atividade.
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Propor desafios com metas bem nível individual como a nível coletivo, visando a
estabelecidas para serem alcançadas pelos alunos encontrar o fator de crescimento pessoal e grupal
no decorrer da construção do conhecimento. Tais em relação às atividades propostas e em relação aos
metas devem encontrar-se dentro da zona de conhecimentos que foram construídos.
desenvolvimento proximal (ZPD – Vygotsky) do
Tal avaliação somente será possível se para
grupo de alunos em questão para que através da
além da realização de atividades avaliativas
intermediação do professor os alunos sejam
(provas) forem considerados:
capazes de incorporar novos conhecimentos e agir
sozinhos em uma situação semelhante 1) O ponto inicial de partida (individual e
evidenciando assim a aprendizagem desejada; grupal);
que ainda não estão construídas, mas que podem Como é que a avaliação formativa permite conduzir
ser construídas pelo trabalho colaborativo e a ajuda uma ação pedagógica diferenciada, adaptada às
mútua, promovendo assim a solidariedade entre os características dos alunos? A avaliação entre duas
A aprendizagem não ocorre de maneira avaliação nesse sentido ocorre como parte do
imediata e instantânea e nem, apenas, pelo domínio processo de produção do conhecimento.
de conhecimentos específicos ou informações
Evidencia-se que a avaliação tem como
técnicas; a aprendizagem requer um processo
função priorizar a qualidade e o processo de
constante de envolvimento e aproximações
aprendizagem, isto é, o desempenho do aluno ao
sucessivas, amplas e integradas, fazendo com que o
longo do período letivo, quer seja bimestral,
educando possa, a partir das reflexões sobre suas
semestral, modular, entre outros, não se
experiências e percepções iniciais, observar,
restringindo apenas a uma prova ou trabalho,
reelaborar e sistematizar seu conhecimento acerca
conforme orienta a LEI DE DIRETRIZES E
do objeto em estudo.
BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL -
A avaliação abrange todos os momentos e LDBEN.
recursos que o professor utiliza no processo de
Nesse sentido, assume-se aqui uma
ensino-aprendizagem, tendo como objetivo
concepção de avaliação na qual a avaliação deve
principal o acompanhamento do processo
ser desenvolvida numa perspectiva processual e
formativo dos educandos, verificando como a
contínua, que busca a (re)construção do
proposta pedagógica vai sendo desenvolvida ou se
conhecimento coerente com a formação integral
processando, na tentativa da sua melhoria, ao longo
dos sujeitos, por meio de um processo interativo,
do próprio percurso.
considerando o aluno como ser criativo, autônomo,
participativo e reflexivo, tornando-o capaz de
transformações significativas na realidade.
melhorados, reorientando-o no processo diante das e realizando ajustes e tomando decisões necessárias
dificuldades de aprendizagem apresentadas, às estratégias de ensino e ao desempenho dos
reconhecendo as formas diferenciadas de sujeitos do processo;
aprendizagem, em seus diferentes processos, Processual: quando reconhece que a
ritmos, lógicas, exercendo, assim, o seu papel de aprendizagem acontece em diferentes tempos, por
orientador e mediador que reflete na ação e que age processos singulares e particulares de cada sujeito,
sobre a realidade. tem ritmos próprios e lógicas diversas, em função
exercício de formação em que o aluno possa, após qual realiza novos aprendizados e ressignifica os
se faz ao caminhar” e, é nesta perspectiva que FREIRE, Paulo. Educação como prática de
caminha a educação de Jovens e Adultos, como um liberdade. Rio Janeiro: Paz e Terra, 1991.
desvelar de possibilidades ainda não investigadas
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia:
que nos convidam a formular um caminho diferente
Saberes necessários à prática educativa. 29. ed.
do trilhado pela educação tradicional e que guarda
São
em si mesmo um rol de desafios antes de se
conquistar a vitória, a saber: uma sociedade mais CAVALCANTI, Roberto de Albuquerque.
justa e mais humana com uma educação mais Andragogia: A Aprendizagem nos Adultos.
humanizante e menos excludente. Texto publicado na Revista de Clínica Cirúrgica da
Paraíba Nº 6, Ano 4, (Julho de 1999.)
Esteja aberto ao diálogo, pronto para os
desafios, numa constante busca das soluções para BARROSO, Maria Alice. A Biblioteca Pública da
os empecilhos encontrados no caminho e, nunca, Educação do Adulto. Ed. Exped, 1997.
nunca se acomode diante do que parece não ter
GADOTTI, Moacir. Educação e Compromisso.
jeito, pois isso é o conformismo que atravanca o
Papirus. Campinas. São Paulo, 1985.
progresso e impede o crescimento pessoal e da
sociedade. KLERMAN , A e SIGNIRINI, Inês. O Ensino e a
BRASIL. Parecer Nº. 11 de 10 de maio de 2000. PICONEZ, Stela C. Bertholdo. Educação Escolar
Dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais de Jovens e Adultos, Ed. Papirus.
para a Educação de Jovens e Adultos. Relator:
SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e
Carlos Roberto Jamil Cury. Brasília.
Interdisciplinaridade: o currículo integrado.
BRASIL. Educação para Jovens e Adultos: ensino Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
fundamental: proposta curricular- 1º
DI PIERRO, M. C. Notas sobre a redefinição da
segmento/coordenação e texto final (de) Vera
identidade e das políticas públicas de
Masagão Ribeiro. São Paulo: Ação Educativa:
Brasília: MEC,1998. Educação de Jovens e Adultos no Brasil.
Educação e Sociedade, São Paulo, v. 26, n. 92,
FREIRE, Paulo; Pedagogia do Oprimido. 17 ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p. 1115-1139, especial out. 2005.
FREIRE, Paulo; Educação como prática da ZABALA, Antoni. A prática educativa – como
Liberdade. 14 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
1983.
SILVA, Arlete Vieira. Revista Espaço Acadêmico
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QUESTÕES DIDÁTICAS ‐ UNIDADE III 29 70
CURSO SUPERIOR DE LICENCIATURA EM QUÍMICA
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REFERÊNCIA NA INTERNET
http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/eja/
tetxt2.htm
http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/eja/
tetxt3.htm.
http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2004/eja/
tetxt4.htm