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RESUMO
Este artigo visa levantar reflexões acerca da necessária integração escola e família, pontuando
alguns aspectos dessa sociedade em mudança permanente, em especial, das ocorridas no
contexto familiar, e seus reflexos para a escola, perpassando pelas (im)possibilidades da escola
enquanto espaço de participação, seguido do relato de uma experiência realizada com familiares
de 5ª série na tentativa de dar início ao processo de integração. O processo compreendeu três
fases, conhecimento da realidade: perfil familiar, percepção e expectativa da família e da escola
quanto à participação familiar no processo escolar; encontros com os familiares para
sensibilização, apreciação e seleção de experiências vivenciadas em outras realidades para a
implantação no contexto da proposta e execução da proposta eleita – “Revivendo Brincadeiras”.
Dessa experiência pôde-se fazer algumas constatações, dentre elas, que a participação da família
no processo escolar, tanto na visão da família quanto na visão da escola, fica restrita ao
acompanhamento de tarefas e questões comportamentais. A participação (ou ausência de) é um
tema “reclamado” mas não é um tema “discutido”. Ocorrendo o chamado à participação o que se
constata é a quebra de alguns mitos em relação aos familiares, pois os pais participam, relatam de
forma oral e escrita suas opiniões, e se predispõe a colaborar, embora não tenham claro como o
podem fazê-lo. Daí, a principal inferência deste estudo - a necessidade da escola voltar-se,
coletivamente, para a reflexão sobre a relação escola e família, atribuindo-lhe real importância e
viabilizando práticas de integração, imprescindíveis para o sucesso do processo escolar.
ABSTRAT
This article aims to raise thoughts about the need for integration school and family, pointing out
some aspects of that society in permanent change, especially occurring in the family, and their
reflexes to school, permeated by the (un) possibilities of the school as an area of participation,
followed by reports of an experiment conducted with relatives of 5th series in an attempt to initiate
the process of integration. The process included three phases, knowledge of reality: family profile,
perception and expectation of family and school to participate in family proceedings school, meet
with family members for awareness, assessment and selection of experiences in other realities for
the deployment in the context the proposal and the proposed elected - "Reliving Jokes." That
experience we could make some findings, among them that participation in the process of family
education, both in the vision of the family as the vision of the school, are restricted to the tasks of
monitoring and behavioral issues. The participation (or lack of) is a topic "claimed" but is not a
subject of discussion ". If there is the so-called participation in what we see is to break some myths
regarding the family, because the parents involved, reported in oral and written forms his views,
and that predisposes to work, while not clear how they can do it . Hence, the main inference of this
study - the need for school back up, collectively, to think about school and family relationships and
give it real importance of integration and enabling practices, vital to the success of the process
school.
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Professora de Matemática, Especialista em Gestão Escolar e Diretora Auxiliar do Colégio Elzira.
As mudanças ocorridas na sociedade têm trazido para a escola momentos
de grande instabilidade. O mundo capitalista, globalizado e de contato imediato
trouxe o fim das grandes receitas, o discurso da diversidade, das multidimídias,
estabelecendo uma nova ordem, com o avanço da ciência e da tecnologia com
base na microeletrônica, onde todos são chamados a repensar seu papel e
atualizar seus conhecimentos no contexto dessa 3ª revolução industrial.
Sobre a escola e mais diretamente sobre os principais atores do processo
de ensino-aprendizagem, professor e aluno, é que tais mudanças repercutem,
causando efeitos comprometedores, abalando valores e instalando-se mais
fortemente o individualismo, a competitividade, o relativismo e o hedonismo,
comprometendo atitudes de união, solidariedade, valor e respeito à vida. Tal
contexto acarreta novos problemas com a convivência familiar e a educação dos
filhos, ficando à escola a responsabilidade por transmitir valores antes
pertinentes a família.
Diante dessa realidade, onde tem-se na escola alunos que não vêm sendo
assistido, satisfatoriamente, pela sua família e cuja escola não comporta sozinha
tamanha tarefa, de forma que nem uma nem outra, vem desempenhando, a
contento, o seu papel e, considerando todos os intervenientes decorrentes das
exigências do mundo moderno, vê-se a necessidade de reunir família e escola,
num movimento de colaboração, a reverem seus papéis, refletindo na e para
ação, a fim de que, família-educando-escola, principais interessados no processo
ensino -aprendizagem, possam suscitar as maiores e melhores mudanças na
educação.
Nesse sentido, é que dentro da proposta do PDE – Programa de
Desenvolvimento Educacional, cujo objetivo é o de propor intervenções a fim de
elevar a educação do Paraná, promovendo o aluno, é que esse tema que vem
ganhando espaço na Gestão Escolar Democrática - relação família e escola - foi
eleito para o estudo e proposições aqui relatadas.
O estudo compreendeu o período de um ano, com aprofundamento
teórico, discussão do tema on line através do GTR – Grupo de Trabaho em Rede,
evolvendo professores de todo o Paraná e produção de material didático –
caderno pedagógico, intitulado “Família e Escola: refletindo e ressignificando essa
relação”. Todo esse processo coordenado pela UEPG – Universidade Estadual
de Ponta Grossa, sob a orientação da Profª. Marinê F. B. Leite.
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Para dar início ao processo de integração, optou-se por trabalhar com
familiares de 5ª série, por ser o primeiro contato com o novo segmento escolar.
Portanto, um grupo com maiores probabilidades de aceitação de novas propostas,
compreendendo 08 (oito turmas), ao todo 305 alunos.
A proposta foi implantada no Colégio Estadual Professora Elzira Correia
de Sá, situado em Ponta Grossa - PR, o qual atende as modalidades regular,
EJA e profissionalizante, nos níveis fundamental (5ª a 8ª série) e médio, com um
número aproximado de 2000 alunos, destes, aproximadamente 800 no período
vespertino, turno de desenvolvimento das ações de integração.
A caracterização da comunidade evolvida compreendeu a caracterizção do
perfil familiar e a percepção da família e equipe escolar (direção, pedagogos,
professores e representantes da APMF), quanto à formas e expectativas de
participação da família no processo escolar, realizada através de levantamento
por amostra, utilizando o questionário como instrumento. O levantamento de
dados dos familiares ocorreu no período de matrículas.
O segundo momento, no início do ano letivo, foi o de sensibilização da
equipe de coordenação pedagógica e professores, através da socialização dos
dados obtidos, para a implementação da proposta de integração, seguido de
encontros com os familiares para viabilização de ações de integração família-
escola seguido do terceiro momento, a implantação do projeto eleito, pelos
familiares.
O termo “Integração” , na acepção da palavra, significa “tornar inteiro”,
“completar” (LUFT, 2000), e é esse o sentido desta busca, aproximando família e
escola, que a educação de uma venha a completar a educação da outra, e que,
juntas possam fortalecer-se enquanto instituições formadoras.
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1 FUNDAMENTOS REFLEXIVOS
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famílias ... criando processos de integração...”. O Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA, 1990), determina que é direito dos pais ou responsáveis ter
ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas
educacionais (Cap. IV, parágrafo único); ou seja, a educação é primeiro, dever da
família, é com a família que se inicia o processo de educar, processo esse,
ampliado pela educação escolar com a obrigatoriedade do Estado.
Assim, ocorrendo a efetivação das políticas sociais da qual a política
educacional pertence, vê-se condições onde se possam vislumbrar o ple no
desenvolvimento do educando, especialmente os atendidos pela escola pública.
Quanto a incumbência dos estabelecimentos de ensino, no que se refere à
viabilização de meios que propiciem a integração com as famílias, as escolas o
fazem, oficialmente, pelos órgão colegiados APMF - Associação de Pais, Mestres
e Funcionários e Conselho Escolar.
O que ocorre, em alguns casos, é que a existência de mecanismos de
ação coletiva como a APMF e o Conselho Escolar, que deveriam propiciar a
participação mais efetiva da população, e em especial, das famílias nas atividades
da escola, não vêm desenvolvendo, satisfatoriamente, a essa finalidade. Segundo
Paro (2004), em parte, isso se deve ao caráter formalista e burocratizado desses
órgãos colegiados.
Ocorre que apesar de todo o discurso democrático, sobretudo o
envolvimento coletivo nas discussões dos processos educativos, este ainda está
centrado no interior da escola. É possível que tal fato ocorra não, simplesmente,
pela desconsideração da importante participação da comunidade, em especial da
família, mas sim, principalmente, a um processo histórico de afastamento das
famílias, em especial as provenientes dos meios pobres e desfavorecidos,
conforme escreve Nóvoa (1998, apud BEZZANT, 2003 p. 45):
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Romper com esse processo de afastamento não é tarefa simples, e a
escola precisa educar e educar-se para a participação. Trata-se de um processo
complexo, que se inicia na concepção e pré-disposição individual para a
participação e que se efetiva (ou não) através dos mecanismos coletivos de
viabilização dessa participação. Esse rompimento não se dá ao acaso, é, antes
de tudo, uma decisão; é querer; é programar.
Sobre a efetivação dos processos participativos no interior da escola,
Gandin (1988) estabelece três níveis de participação: o primeiro nível é o da
colaboração, que corresponde à participação no seu primeiro estágio. Nesse
nível, as pessoas são convocadas a colaborar na execução de um projeto, de
uma idéia, de uma decisão definida por outra pessoa. O segundo nível é o da
delegação de poderes, que representa um nível mais avançado de participação,
embora a estrutura básica de poder permaneça a mesma. O poder é distribuído
como concessão. A direção define os limites da liberdade do outro, de forma que
continua havendo o que pensa e o que executa. O terceiro nível é o da
construção conjunta. Esse nível coloca todos os interessados sob uma mesma
ótica, tudo é definido em conjunto, quebrando a dicotomia planejador X executor.
A maioria da ações no interior da escola, vem se dando, no nível de
delegação de poder e as ações que envolvem a família, em sua maior parte, são
a nível de colaboração, de modo que as tentativas de interação escola-família,
ainda vêm sendo pontuais, fragmentadas e desarticuladas, ficando tais ações
voltadas ao suprimento de pessoal nos eventos festivos ou na manutenção
predial.
Organizar o trabalho na escola, abrindo espaços para participação das
famílias, não é apenas uma reestruturação da forma de trabalho, mas uma
mudança de paradigma na vigência da escola, das relações de poder e
distribuição de tarefas. Trata-se realmente de reinventar a escola, numa
perspectiva de co-responsabilidade, de participação efetiva, não apenas no fazer,
mas no processo de refletir e decidir, o quê e como fazer. Oliveira (1997, p.44),
corrobora nesse sentido:
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generalizarem, pautadas não pela hierarquia de comando, mas por laços
de solidariedade, que se consubstanciam formas coletivas de trabalho,
instituindo uma lógica inovadora no âmbito das relações sociais.
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os pais no ensino da leitura e mais tarde na matemática, trazendo resultados
positivos não só para as crianças, como também para os pais que se sentiram
mais conscientes do que se passava na escola.
Nas Filipinas, por exemplo, criou-se o PLSS - Sistema de Apoio
Pedagógico dos Pais, um programa inovador que reconhece o papel dos pais na
educação dos filhos e facilita a sua colaboração com os professores. Cada
estabelecimento de ensino conta com um grupo de pais e professores, que
colocam o programa em prática, organizando seminários destinados aos pais,
com a finalidade de os aconselhar sobre o modo de contribuir para a educação
dos seus filhos, sendo que esses participam em alguns momentos ao lado de
seus pais. No decorrer do programa, os pais são associados ao processo
pedagógico, o qual sob orientação do professor, ajudam os filhos no trabalho em
casa ou na escola. Como resultado positivo desse projeto, ressalta-se a redução
na taxa de abandono escolar, fato que levou o projeto a ser experenciado em
outras partes do país.
Ourique e Tomazetti (2005, p.98) corroboram nesse sentido, afirmando
que,
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para além da transmissão dos conte údos historicamente construídos e juntas,
essas duas instituições percebam pelo diálogo, a importância da conjugação das
suas forças, não uma sobrepondo a outra, ou, uma assumindo a
responsabilidade, que fundamentalmente, cabe a essa ou àquela.
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tido como parte da socialização e lazer, que eram as ruas tranqüilas dos
pequenos vilarejos, sob os cuidados de familiares e vizinhos.
Todo esse quadro de mudança social pelo qual passa a humanidade onde,
ao mesmo tempo em que se abrem as possibilidades, através do mundo
globalizado, caracterizado pela rapidez da informação, na chamada era digital;
fecham-se para formas de convivência tranqüila, para a liberdade de sair às ruas,
pelo medo, resultado da superlotação das cidades, levando a escola a assumir
mais este novo papel: o espaço, na maioria das vezes, único, de expressão do
indivíduo. Daí explodirem tantos conflitos na relação aluno-professor e aluno-
aluno, pois a escola representa, nesse contexto, a rua do vilarejo, o ponto de
encontro para as brincadeiras, é o espaço permitido, sinônimo de lugar “seguro”,
onde os filhos podem ser controlados.
Nesse sentido é que muitos alunos “estão na escola”, “têm que estar na
escola”, afinal, com quem ficariam se a mãe precisa trabalhar?
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redirecionamento desse filho à escola, por que se vai à escola, o que se pode
esperar da escola, quais os direitos e deveres da família e do educando em
relação a essa escola.
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espaço de referência social. O’Sullivan ( 2004, p.356) também discute a questão
da escola para além da transmissão do conhecimento, ele fala:
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divorciados, ou de pais solteiros formando uma considerável parcela da
juventude.
Há um aumento de nascimentos extraconjugais e um forte crescimento de
famílias em que mãe e pai são um só, as famílias monoparentais – geralmente a
mulher – mãe solteira ou divorciada, que assume a guarda e o encargo na criação
e educação dos filhos, quando isso não recai para os avós, fato resultante, muitas
vezes, de uma gravidez não programada na adolescência. Isso vem acarretando
uma maior convivência dos filhos com pessoas do sexo feminino, variável que
não pode ser desprezada quando se busca uma melhor convivência, seja em sala
de aula, na família ou na comunidade. A figura dominante e patriarcal do pai está
em processo de extinção, aquele que dava seu nome aos membros, que
representava o grupo familiar e era seu chefe. Rizzardo, (op. cit) coloca essa
evidência como a evolução de um processo de dissociação, desaparecendo a
subordinação estanque dos filhos aos pais.
São muitas as mudanças sofridas na contemporaneidade no contexto da
família e drásticas as conseqüências dessas mudanças para o indivíduo e para a
vida em sociedade, como revela Giddens ( 2000, apud VITALE, 2002, p.60):
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Diante disso, considerando a família uma instituição social que se modifica
através da história, com variações na sua forma e finalidades numa mesma época
e lugar, faz-se necessário que a escola tenha claro quais formatos familiares
estão presentes no seu contexto, a fim de ajustar o que se pretende com o que é
possível atingir, considerando as reais condições das pessoas envolvidas.
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Muitas dessas obrigações vêm sendo negligenciadas por algumas famílias,
Guimarães (1999) relata que muitos jovens oriundos de bom nível social, nas
suas palavras, ”vivem ao Deus dará”, e que esses jovens passam dias até altas
horas da madrugada vendo Tv ou navegando pela internet, sem nenhuma
intervenção dos pais; outros permanecem nas ruas até tarde da noite com a
turma, curtindo ou provocando brigas; num outro contexto, crianças, filhas de pais
separados, sendo usadas como objeto de chantagem emocional ou moeda para
barganha em processos de pensão alimentícia. Ele observa ainda que, mesmo
àquelas famílias consideradas estáveis, têm dificuldade de impor limites aos
filhos e isso, segundo ele, pode resultar da insegurança dos pais em reproduzirem
uma educação com a qual foram criados e hoje renegam.
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2 A IMPLANTAÇÃO DA PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO ESCOLA E FAMÍLIA
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Percebe-se que, embora a família esteja em processo de mudança, ainda
prevalece nessa comunidade o modelo nuclear de família, pai, mãe e filhos, e, na
maioria, sendo mantida pelo pai. Esse retrato, embora prevaleça, não é o único
referencial familiar, são diversos os arranjos familiares. Dessa forma, adotou-se,
de acordo com Szymanski (2002), a compreensão de família como “uma
associação de pessoas que escolhe conviver por razões afetivas e assume um
compromisso de cuidado mútuo e, se houver, com criança, adolescentes e
adultos.”
Dessa forma, ao se falar em família junto aos alunos e comunidade,
refere-se às pessoas que, a esses, mantém laços de afetividade com
comprometimento de cuidado mútuo, de forma que todos, nesse sentido, terão
um mesmo padrão familiar – o afeto, não importando as figuras (pai e mãe,
somente mãe ou pai, etc.) que a componham. É também o que afirma Valore
(2007), quando ressalta os laços afetivos e qualidade do amor,
independentemente do tipo de união, considerando esses aspectos, a criança
está sendo educada.
Sobre a percepção e expectativa dos familiares quanto à participação no
processo escolar, observou-se que os familiares, embora não acompanhem
efetivamente o processo escolar, atribuem importância à participação, como pode
ser constatado nas argumentações que os mesmos apresentaram. São eles:
• Mostrar interesse pela vida deles e incentivá-los sempre;
• Para que o filho se esforce mais;
• Melhorar a auto-estima do filho;
• Perceber as dificuldades do filho e procurar ajudá-lo;
• Para dar sentido de proteção e carinho;
• Para proteger das drogas e da gazeta;
• Saber da capacidade do filho e do ensino ofertado pela escola;
• Melhor educá-lo, conhecer professores e amigos;
• Acompanhar o desenvolvimento do filho;
• Ver as notas e também o comportamento;
• Ficar ciente do que ocorre durante o ano letivo;
• Evitar problemas futuros;
• Futuro melhor e bom emprego;
• A educação do filho é um direito e um dever dos pais;
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• A função dos pais é acompanhar todas as fases da vida do filho.
De um modo geral, os pontos considerados envolvem aspectos de
afetividade, como o sentido de proteção, carinho e auto-estima, aspectos
organizacionais, conhecimento da escola e professores e aspectos pedagógicos,
tipo de ensino ofertado, atividades durante o ano letivo, dificuldades, notas e
comportamento e ainda, o reconhecimento demonstrado por alguns pais, do
direito e dever, em acompanhar os filhos independentemente de convites ou
convocações escolares. Essas questões subsidiaram posteriores falas aos
familiares, de modo a ressaltar a opinião dada por eles, atribuindo-lhes
importância e significação e dessa forma abrindo caminhos na relação de
confiança com a escola, condição indispensável no processo de aproximação.
Ainda sobre a participação, na questão que indagava sobre as formas
como o familiar vinha acompanhando o processo escolar do seu filho, as
respostas foram equilibradas, distribuindo-se entre: conversando com ele sobre o
que aprendeu na escola; sentando com ele para olhar seus cadernos; ajudando a
cumprir em casa os deveres da escola e cobrando um horário fixo de estudos.
Nota-se que a experiência de participação dos familiares, embora na
questão anterior tenham citado o envolvimento maior com a escola e professores,
aqui, o acompanhamento ao processo restringiu-se a ações desenvolvidas em
casa, desconsiderando-se a participação em reuniões ou associação de pais,
contatos freqüentes com professores ou equipe pedagógica. Vê-se, portanto, a
necessidade de ampliar o conceito de participação dos pais no processo escolar,
para além das ações isoladas, desenvolvidas somente em casa.
A questão chave para verificar o interesse dos familiares em participar do
processo escolar foi colocada da seguinte forma: Como você gostaria de
participar da vida escolar de seu filho em 2008? 34% dos familiares
demonstraram interesse em participar de atividades diferenciadas, sendo que os
demais (66%) assinalaram que participariam somente nas reuniões quando
convocados ou convidados.
Considerando que aproximadamente 50% das mães não trabalham fora, o
baixo índice de interesse verificado para essa questão nos leva a inferir que a
falta de cultura de participação mais efetiva, sitemática e contínua, foi
determinante. Os dados obtidos na questão anterior corroboram nesse sentido, na
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medida em que aponta m uma participação limitada às tarefas escolares,
dissociada dos profissionais da educação.
Nesse contexto, percebe-se que o processo de aproximação família e
escola, no sentido de ampliação dessa participação, é um processo ainda a ser
iniciado, trata-se de uma mudança de atitudes individuais e coletivas, partindo da
equipe diretiva e pedagógica, com profundo conhecimento da realidade, primando
pela abertura de espaço para discussão do tema no coletivo escolar, e ainda,
profunda sensibilidade no sentido de conquistar a confiança dos familiares a
serem envolvidos.
Quanto à expectativa da equipe escolar em relação à participação dos
familiares no processo escolar, os pareceres revelam-na como fundamental,
porém não se tem claro em que medida e como, tal participação pode acontecer,
para além do acompanhamento nas tarefas de casa e questões comportamentais.
Ou seja, a visão de participação da família no processo escolar, confrontando-se
os pareceres de familiares e equipe escolar, é praticamente a mesma.
E ainda, nota-se nos pareceres, em especial, dos professores, expectativas
negativas em relação a adesão dos familiares ao processo de participação, tais
como: os pais não gostam de vir à escola; os pais não tem tempo de participar de
atividades escolares; os pais não têm preparo suficiente para analisar e propor
ações na escola; os pais não falam em público, tem dificuldade em responder a
questionários ou qualquer outro tipo de trabalho que exija a expressão escrita,
entre outros.
Percebe-se, portanto, que embora a escola necessite e reclame a
participação dos familiares, não se acredita que ela possa se efetivar. O que mais
se ouve é: “O importante é tentar.”, com uma prerrogativa de que pouco irá
resolver - a participação (ou ausência de) da família na escola é um tema
“reclamado” mas não é um tema “discutido”,
De modo que a ampliação dos modos de participação da família na escola,
é uma tarefa a ser iniciada, prescindindo de muita reflexão no contexto escolar e
familiar. É um processo de conquista de espaço para se abordar o tema, de
rompimento de mitos em relação à disponibilidade e capacidade dos familiares e
ainda, sensibilização dos atores envolvidos na construção conjunta de propostas
que visem a ampliação dessa relação.
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Encontros com os familiares
Primeiro encontro: reunião geral para socialização dos dados obtidos na pesquisa
deu-se no início do ano letivo, para toda comunidade atendida pelo Colégio.
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Foto 01: painel de recepção aos familiares – processos de integração família e escola. 2008/PDE
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Nº DE FAMILIARES PORCENTUAL DE
TOTAL TOTAL DE CADASTRADOS CADASTRADOS, EM
DATA TURMAS DE FAMÍLIAS PERCENTUAL PARA INTEGRAR O RELAÇÃO AO NÚMERO
ALUNOS PRESENTES DE FAMÍLIAS PROJETO DE PRE SENTES
PRESENTES
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envolvendo a comunidade escolar. Tais encontros foram norteados pelo seguintes
objetivos: ampliar e favorecer a participação de todos (escola/família) na formação
da criança; favorecer a construção significativa de uma proposta de
educação/homem/sociedade, extrapolando a visão conteudista, reducionista e
fragmentada; criar espaço de formação e vivência da cidadania, sem medo do
confronto com a diferença e com a diversidade e; estabelecer uma relação
escola/comunidade harmoniosa, com vínculos baseados no respeito, na confiança
e na solidariedade.
O primeiro tema abordado na roda de pais – Afinal, de quem é a bola?, foi
introduzido através de uma dramatização, com a finalidade de se fazer reflexões
acerca dessa importante parceria. Após esse primeiro momento, onde ficou claro
que a bola é de todos, que escola e família tem papéis importantes e diferentes a
cumprir, mas que fazem parte de uma mesma roda e, juntos, devem sustentar a
bola, os pais, em grupo, listaram temas de interesse, para posterior elaboração do
cronograma anual da roda de pais. Os temas sugeridos pelos pais foram: dever
de casa (reflexões e questionamentos), limites, sexualidade, ausência do pai, a
proposta pedagógica, a televisão e a educação.
A avaliação do projeto se dava a cada encontro, onde os pais por meio de
relatos orais ou escritos, manifestavam os níveis de atendimento às expectativas,
os avanços e a participação individual e coletiva, sempre na perspectiva de
viabilizar os meios necessários para aperfeiçoar o processo.
Projeto: Se os pais não vão à escola, a Escola vai até os pais (SILVA, et al)
Esse trabalho foi uma iniciativa da Escola Reitor Álvaro Augusto Cunha
Rocha, Educação Infantil e Ensino Fundamental, do CAIC/UEPG – Ponta Grossa
- PR, oportunizada a 366 famílias, com o objetivo de promover a discussão de
temas de interesse familiar, proporcionando em diferentes momentos, atividades
de apoio aos pais, na educação dos filhos, contribuindo assim para a formação
integral e familiar do aluno. A escola apresentou aos pais, via questionário, uma
lista de temas, para que os mesmos apontassem os assuntos de sua preferência,
sendo que do total de seis temáticas, três foram mais votadas, Pais que
trabalham o dia todo como podem dar atenção aos filhos? (41%), Limites e
conflitos com os filhos (22%), Televisão como administrar? (16%). Para facilitar o
acesso dos pais aos temas foram oferecidos como opções: leitura domiciliar dos
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textos, palestras ou grupo de estudos. A avaliação das atividades do projeto foi
feita via questionário, onde os pais relataram contribuições imediatas no seu
cotidiano familiar.
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para as famílias mais pobres, e convidar, uma vez por semana, uma mãe, por
sorteio, para participar da aula , confecção e distribuição da merenda.
Em sala de aula, diversas atividades foram desenvolvidas considerando o
tema família, no nível de desenvolvimento pré-escolar, razão pela qual detalha-se
neste artigo.
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Estas experiências foram distribuídas por grupos de familliares, os quais
fizeram a leitura e análise da proposta, considerando as adequações necessárias
para a viabilização no contexto do Colégio, observando em relatório próprio os
aspectos positivos e negativos, bem como citando outras experiências de
integração por eles vivenciadas.
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base as propostas já discutidas e/ou novas sugestões, passíveis de implantação
imediata no Colégio. Dos 108 familiares presentes, 35, inscreveram-se, sendo
que destes, 26 familiares, com interesse em aprofundar as análises e desenvolver
atividades periódicas na escola, e os demais (09) como voluntários, auxiliando
esporadicamente.
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Execução do Projeto “Revivendo Brincadeiras”
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Foto 02: mães monitoras de uma das tardes de brincadeiras, da direita: Dinorá, Simone, Neuza
(APMF), Profª. Eliane (Coord. do Projeto) e Cledivânia. 2008/PDE
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Foto 03: execução da proposta de integração família e escola – Projeto “Revivendo Brincadeiras”.
2008/PDE
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Foto 04: execução da proposta de integração família e escola – Projeto “Revivendo Brincadeiras”.
2008/PDE
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conhecimento sistematizado, muitos deixam de dar as orientações mais básicas
aos filhos. Dessa forma, projetos como esse, ao ser coordenados por familiares,
contribuem para elevar a sua auto-estima, favorecendo o sentimento de pertença
e de comunidade e ainda, oportunizando ampliar a sua visão de mundo pela
convivência com o outro. A escola, assim, está desempenhando seu papel no
sentido de alimentar o senso de comunidade.
A presença do familiar na escola auxilia a manter um clima de ordem e
respeito – é a família contribuindo com a educação informal no mesmo
espaço/tempo da educação formal.
A participação das mães levou outros alunos a convidarem suas mães a
participarem das atividades na escola, de forma que, quanto mais os familiares
compartilharem o dia a dia escolar, há uma tendência significativa, de outros
familiares proporem-se a desenvolver projetos junto à equipe escolar. É preciso
divulgar, fazer acontecer, para então afirmar que os pais não participam – afinal,
do que eles não participam? Das reuniões de entrega de boletins? Isso já é
resultado, é necessário propor ações dos familiares no processo, em todas as
fases desse processo e não apenas dos resultados, muitos deles, depreciativos,
pelas baixas notas obtidas pelo filho.
O grande número de alunos atendidos, cerca de 800 apenas no período
da tarde, desses, em torno de 300 envolvidos na proposta, requer um número
expressivo de pessoas envolvidas nas atividades durante o recreio, o que na
prática, considerando apenas o quadro de pessoal da escola, inviabiliza a
execução satisfatória da proposta – desse modo, os familiares somam também,
quantitativamente, dando condições da escola , estender um pouco as suas
ações, saindo da relação direta “professor-quadro-negro-aluno”.
Os momentos de interação família-educando-escola, oportunizam para
todos, um rever de posturas, pois é na relação que se dão os conflitos e, é pela
mediação dos conflitos que se dá o crescimento, o entender e valorizar melhor o
outro, as possibilidades e limitações de cada um – dessa forma, relação família
escola tende a se desenvolver mais num sentido de cooperação e menos de
cobranças e culpados.
A presença do familiar na escola, consolida, em grande parte, a gestão
democrática, dá mais transparência ao processo escolar, possibilita um maior
comprometimento da família ao mesmo tempo em que responsabiliza mais a
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escola, pois os pais, embora com um número não muito significativo, mas
principalmente os que se propõe a participar, são críticos, e a escola precisa estar
preparada para isso, ouvir e rever posições (e muitas não estão).
Mães felizes – é dessa forma que resume-se a participação delas nesse
projeto, isso se deve, entre outros, pela forma como foi conduzida a aproximação
família-escola, ou seja, pelo estímulo à participação, mas sem indução à
participação, levando os familiares a encontrarem neles próprios uma habilidade,
cabendo a escola, canalizar, aproveitar essa característica - oportunidades como
essa, favorecem e fortalecem o laços da família com a escola, embora, a curto
prazo não alterem quantitativamente os resultados da aprendizagem, produzem, a
médio e longo prazo, alterações qualitativas de vital importância para todo o
processo ensino-aprendizagem.
Conclusão
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viabilizar essa participação, priorizando situações em que os próprios familiares
sugiram atividades, como condição básica para atraí-lo e encorajá-lo a integrar-se
no processo escolar, numa perspectiva de ampliação dessa relação, a partir de
uma relação de confiança e co-responsabilidade.
No entanto, a escola, assim como a família parecem não ter clareza dos
benefícios obtidos na intensificação dessa relação, ou não sabem como fazê-lo,
assim, há necessidade da escola voltar-se, coletivamente, para a reflexão sobre
as relações escola e família, atribuindo-lhe real importância e credibilidade na sua
efetivação. Trata -se de um novo olhar da escola para com a família e desta com a
escola, questão prioritária, visando para além do rendimento escolar, a
democratização da escola e do seu entorno, um projeto civilizatório de longo
alcance.
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