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FRANCISCO DUARTE AZEVEDO

OS ANIMAIS PERDIDOS NA FLORESTA

(excertos)
Invocações

Invoquemos a chuva e os sons da floresta.


A oração das matinas. A voz impressionante
dos fazedores de sonhos, os criadores do tempo
e as leituras sagradas na noite surpreendente.

Amaciemos as vozes em um só andamento da sinfonia,


debruçemo-nos no parapeito da janela vermelha,
sem cortinas, onde o vento morde a casa, a luz estremece
e a chuva lacrimeja. As vidraças rumorejam. As estrelas
escondem-se como ausentes. (Não as vemos).

A oração das matinas. O breviário aberto sobre a mesa


à luz da lamparina trémula no canto da sala.
Haja fé. A minha única é o meu amor por ti.
Reiniciemos os diálogos ciciados às orelhas.
Apelemos à natureza pelo regresso breve da madrugada,
a benfeitoria da luz na terra do ouro, no lugar
onde a floresta estala sob o som das águas.

Como bençãos desejadas nas mãos dos anjos protectores,


lemos os salmos e os rostos tocam-se, suaves, ungidos
pelo vinho do senhor. Não precisaremos de muito mais.
Senão aguardar a chegada dos seres cristalinos
perdidos na noite rogando pela suspensão do dilúvio.

Todos os movimentos sagrados resultam afinal


da sedução pela árvore dourada.
Haja fé. A minha única é o meu amor por ti.
“Em boa verdade vos digo”, já não temos Noé
para resumir a estória da arca pousada nos flancos
das montanhas de jade. Os pergaminhos falam
de escarpas tão antigas como o vento gelado
abrindo fendas nesse mundo de granito flamejante.

Os rios correm para um destino ofegante.


As portas abrem-se de par em par.
Apercebemo-nos do caminho rente às estrelas
onde circulam as corças e as raposas seduzidas
pela luz do teu rosto. A casa é a janela
das nossas conversas. E os monólogos
subtis entendemo-los em silêncio.
Haja fé. A minha única é o meu amor por ti.
Reiniciemos os diálogos dos animais
perdidos na floresta. Os diálogos interrompidos.
É hora de amaciar o corpo na noite de chuva
como se amaciam as palavras no leito de amor.
Pela madrugada explode o desespero das aves.
A cidade no estertor das cópulas. Nos minaretes,
a voz de Allah difundindo-se no eco rendilhado,
persistente, do chamamento pelo muezim.

Para lá da miragem dos desertos, do miar dos gatos


e do gemido de fêmea no centro do turbilhão,
o dia renasce. Só o olhar arregalado dos noctívagos
persiste na ilusão. Os que transportam
o futuro nos ombros submetem-se à sagração das rotinas.
O vento amaina. As palmeiras dormitam.

Pertencemos a um lugar tão verdejante


como os jardins suspensos da Babilónia.
Persistimos na ilusão. Escutemos, então, o canto das aves.
Haja fé. A minha única é o meu amor por ti.
Na outra margem do oceano a chuva pertence-te.
E a norte, à luz da alvorada, o orvalho deixa-se
captar no bafo das vidraças. Cintila breve. Os sinos
tocam as matinas. Cristais líquidos invadem o corpo.
As entranhas enlouquecem, é visível o desejo dos animais
perdidos na floresta. A pele restolha. Eles pressentem o fogo
no interior das mastabas e das habitações outrora interrompidas.
Inicia-se o ciclo renovado das searas.
Os campos semeiam-se das palavras
que germinarão da terra húmida.
As espigas escapam à temeridade dos seres.

Haverá luz e alegria, o vento espalhará


o zumbido insistente das abelhas e haveremos
de colher o mel nos favos da tua boca.

O sal, à flor da pele, terá um sabor


requintado. Aliviaremos o choro de um gato
ciado pela ansiedade da gata arisca
cobrindo-se de madrugada.
Por fim, retemos as vibrações
inesperadas das estações do ano,
as cabeças tresloucadas pela morte
do tempo e a história do medo.

Há uma sonolência dos seres


ao longo dos séculos dos séculos.
Os textos falam de animais perdidos
na floresta puros animais bíblicos
perturbados pela quietude envolvente
das montanhas. Abracemo-nos.
Haja fé. A minha única é o meu amor por ti.

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