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...

EPISTEMOLOGIA E TEORIAS DA
EDUCAÇÃO)

EPISTEMOLOGY AND EDUCATIONAL


THEORIES

José Luís SANFELlCE2

~
I RESUMO
I

Este texto é uma breve reflexão sobre possíveis relações


r
...
de algumas questões epistemológicas e as Teorias da
,I Educação tomadas como manifestações de concepções
essencialístas ou exístencialístas do homem. A
1
perspectiva de superação da dicotomia essencíalísmo
versus existencialísmo é apresentada como desafío para
uma nova socíedade.
Palavras-chave: epistemologia, teorias da educação,
Artigos
educação essencialísta e educação existencialísta

ABSTRACT

This text is a brief reflection about possible relationshíps


between some epístemological questions and educational
theoríes taken as manifestations of essentialist or
exístentialíst conceptions of mano The perspective of
overcomíng the essentialism versus existentialism
dichotomy ís presented as a challenge for a new society.
Keywords: epístemology, educational theories,
essentialist educatíon and exístentíalist education.

Assim que voltei minhas preocupações para tratar do tema


proposto,senti-mecomumagamadeincertezasquemeconduziram
a uma série de perguntas, que divido, neste momento, com os
presentes:queobjetivosvisavamosautoresdestapropostatemática?
(1)Artigo apresentado no 111Colóquio de Filosofia e de Filosofia da Educação.
Universidade Federal de Viçosa, 26 a 30 de abril de 1999.
(2) Professor da Pós-Graduação em Educação - Unicamp.

Revista de Educação PUC-Campinas,Campinas,n. 8, p. 7-14, junho 2000


8 S.H.S.S. BATISTA

nodesvendamentodo trabalhodocenteque tem de professores universitários e o rastreamento


sido concretizado em práticas já existentes de desta discussão no espaço do ensino médico,
formação e no desvelar dos pressupostos que imbricando-se com uma investigação que colocou
têm norteado as discussões e os fazeres no em relevo a escuta de professores de medicina
campo da formação do professor de medicina; (via entrevistas semi-estruturadas), a observação ~

assim, uma questão emergiu como via fecunda e discussão de práticas docentes no contexto
de apreensão: como têm sido concretizadas as das referidas disciplinas.
~

disciplinasPedagogiaMédicae DidáticaEspecial, Os oito professores entrevistados atuam


oferecidas obrigatoriamente nos cursos stricto nessas disciplinas nos cursos de pós-graduação
sensu, entendendo-as como uma prática de stricto sensu em medicina, oferecidos por cinco
formação docente? instituições universitárias. A observação se
Esta opção justifica-se pelo fato de estas desenvolveu num dos cursos coordenados por
~
disciplinas representarem o momento uma das professoras entrevistadas. O período de
intencionalmente colocado no pós-graduação observação envolveu um período letivo,
~
strictosensuemmedicinaparaformaro professor: compreendido entre agosto a dezembro de 1995.
vindo de uma trajetória acadêmica que não Analisei, ainda, os planos de ensino dos
tematizanem mesmo a dimensão educativa do professores entrevistados, arquitetando uma
exercício profissional do médico, e que análise de conteúdo dos dados coletados.
enfatizou a chamada competência técnica, o 11

pós-graduandotem, emmuitoscasos,a primeira


oportunidade de discutir aspectos da docência Formação de Professores Universitários: as 11

universitária e do ensino médico (NORATO e perspectivas privilegiadas


SllVA,1996).
As práticasdos professores universitários
Estas disciplinas estão previstas como mantêm articulação com as formas de
obrigatóriasnoscursosdepós-graduaçãostricto organização do mundo acadêmico,
sensu em Medicina, através do Parecer 576/70
compreendendoqueestasformasdeorganização
do ConselhoFederalde Educação,emseuartigo ganham visibilidade singular no campo do
52, e da Resolução 11/77, em seu artigo 82. A planejamento curricular, da avaliação, das
despeito da legislação específica, há uma interações mantidas por professores e alunos,
significativaflexibilidadenoque se referea carga dos ideáriosfilosóficosque presidemos projetos
horária, conteúdos e objetivos das disciplinas, político-acadêmicos,daspropostasdeformação
uma vez que não há qualquer referência a estes de professores que estão postas tanto no nível
aspectos nem no Parecer, nem na Resolução. gerenciador do ensino superior, como pelas
Tal flexibilidade tem implicado em diferentes demandas colocadas pelas associações 11

organizações das disciplinas, emfunção do que docentes e sindicatos.


é concebidocomoimportanteparae naformação ...
Por em discussão a formação de
didático-pedagógica do professor de medicina.
professores exige a assunção de que esta
A delimitaçãodoobjetode pesquisarequer temática não se situa num plano consensual,
a definição do trajeto teórico-metodológico relativizandoasconvergênciasencontradas em
pretendido, entendendo que a apropriação do diferentes pesquisas e problematizando as
dado implica em sucessivas escolhas, em recorrênciasidentificadas na literatura.
11
movimentos de fazer e refazer, a partir das Aliado aos condicionantes históricos, háo
ferramentas de apreensão, leitura, análise e próprio limitedo processodeformação docente:
interpretaçãoque se privilegia.Assim, tracei um comoemqualqueráreahumanadaaçãohumana, 11

caminho que prioriza a discussão da formação formar-se não significa atingir um estado de
11

Revista de Educação PUC-Campinas, Campinas, n. 9, p. 7-28, dezembro 2000


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- --
T

EPISTEMOLOGIA E TEORIAS DA EDUCAÇÀO 9

. definireste saber diferenciadoé considerá-Ioum Postodestaforma, restariadecidirporqual


saber culto,umsaber desinteressado, umsaber caminhopodemosnosaproximardas Teoriasda
. teórico suscetível de aplicação prática e técnica Educaçãoumavezque meocorremas seguintes
ou, então, um saber rigoroso e metódico. A possibilidades: a) identificar individualmente os
.. ciência, de uma certa maneira, pode ser principais nomes/autores que contribuíram
considerada uma resposta às teorias do significativamente para com a elaboração das
conhecimento. Os homens fazem ciências, Teorias da Educação; b) explicitar escolas ou
conhecem, adquirem saberes, utilizam-sedeles tendênciasqueaglutinandodeterminadosautores
praticamente e comprovando sua eficácia. Eu viabilizam explicitar uma determinada teoria da
poderia mesmo dizerque as grandes e clássicas educação através dos tempos, ou: c) periodizar
questões teóricas das teorias do conhecimento cronologicamente a predominância de certas
vão historicamente sendo solucionadas pela teorias da educação.
praxis humana coletiva. Mas, o meu tema não é Minha opção, por razões de uma tentativa
ciências e teorias da educação e sim de adesãocríticaa umadeterminadaconcepção
"
epistemologia e teorias da educação. Volto teórica,é, semdúvida,pelasegundaalternativa.
portanto a ele, sem grandes progressos, mas Por conta disto, passo a acompanhar
talvez convencido pelos aclaramentos anteriores, sucintamente o pensamento do polaco Bogdan
r todos de amplo domínio dos já iniciados, que Suchodolski em sua obra A pedagogia e as
quando se propôs o tema, o seu primeiro eixo, grandes correntes filosóficas, publicado em
possivelmente estava centrado nas questões língua portuguesa na década de 70 e, claro,
conforme minha leitura. Esse autor assim
clássicas e contemporâneas das Teorias do
propõe:
Conhecimento, revisitadas sistematicamente
pelas múltiplas filosofias. Ou seja, quando se 1) "No processo histórico de
sugeriu o tema, estava implícito o desejo de que desenvolvimento do pensamento
I
algumas questões das Teorias do Conhecimento pedagógico moderno a prioridade
se pronunciassem. pertence às concepções que atribuem
à educação a função de realizar o que
Quanto ao segundo eixo do tema - Teorias o homem deve ser. Como deve ser o
j da Educação-contive-me fazendo uma digressão homem? É a sua essência que o
menor, não porque o termo "teoria" seja determina ou, como foi exprimido com
filosoficamente menos complexo, mas porque mais precisão, a sua 'essência
considerei suficiente para esta ocasião levar em verdadeira '? A grande herança do
. conta que teoria designa, em geral, "uma idealismo antigo e cristão constitui a
construção intelectual que aparece como base destas concepções. O retorno
resultado do trabalho filosófico ou científico (ou constante a estas tradições levou a
ambos)". No caso das teorias que dizem respeito distinguir o eu 'empírico' do homem e a
à realidade humana (e não à realidade física) é sua essência 'real" (p. 18).Platão, sem
preciso considerar que elas têm um potencial de dúvida, é a grande inspiração. A
transformação desta mesma realidade: são conseqüência, na linguagem que
resultados de uma atividade humana relativa a estamos usando nesta ocasião, é que
ações humanas, com as implicações óbvias que se constituiu uma Teoriada Educação
daí advém em relaçãoà ética (MORA, 1971).No da essência que descuida do que é
caso do nosso tema, o seu segundo eixo seria empírico (corpo, desejo, sentidos) no
entãoa referidaconstruçãointelectualresultante homemeemtornodohomemeconcebe
do trabalho filosófico ou científico, cujo objeto "a educação como medidas para
constituiu-se no fenômeno humano designado desenvolverem no homem tudo o que
por educação (Teorias da Educação). implica a sua participação na realidade

Revista de Educação PUC-Campinas. Campinas. n. 8. p. 7-14. junho 2000


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10 J.L. SANFELlCE

ideal, tudo o que define a sua essência (p. 25). "As idéias da pedagogiada
verdadeira, embora asfixiadapela sua existência,ainda vagas,masjá fortese
existência empírica" (p. 19). vivas, manifestavam na obra de
2) "O cristianismo manteve, transformou Montaignetendênciaspara revoltar-se
e desenvolveua concepçãoplatônica. contra a pedagogia da essência; esta
Realçou ainda com mais força a revolta condenava não somente os
oposiçãode duasesferasdarealidade: princípios de adestramento postos
verdadeira e eterna por um lado, em dúvida pela maioria dos
aparenteetemporalporoutro.Acentuou, humanistas, mas também as
ainda com mais intensidade, o conflito afirmações fundamentais da
interior do homem dilacerado entre o pedagogia da essência, isto é, a
que o ligouà vidamaterial e o que o une submissão do homem aos valores e
ao mundo espiritual' (p. 20). Esta aos dogmas tradicionais e eternos"
concepção, entretanto, não esgota a (p.27).
tradição cristã, porque Aristóteles e 5) No século XVII a pedagogia da
TomásdeAquinotrilharamporcaminhos essência tem sua manifestação
diferentes de Platão, mas o seu modo, mais tradicional na obra dos jesuítas
permaneceram essencialistas. (Ratio studiorum)com uma postura
3) "Na época do Renascimento, a essencialmentereacionária.
pedagogiadaessênciadesenvolveu-se Na forma moderna, a pedagogia da
ainda mais. Este desenvolvimento essênciamanifestou-seatravésdeuma
caracteriza-se pela sua ligação às filosofia que utilizava a noção de
tradições laicas e racionalistas do Natureza.A função desempenhada no
mundo antigo, à concepção dohomem sistema de Platão pelo mundo das
'ser pensante'." Erasmo de Roterdã Idéiasfoi retomadapela"Natureza"que
"expôs como deve ser entendida a se tornou lei e modelo supremo
naturezahumana.Éaquelapropriedade (Comenius).
comum a todos os homens cuja razão
6) O século XVII também produz
é a forçaque orientaa vidahumana.Em
conformidade com este caráter concepções filosóficas que vão
fundamental da natureza humana, a alimentar, mais à frente, a pedagogia
da existência: ali se formulam
educaçãodevecombater tudoo que se
concepçõesque se referemà natureza
lhe opõe e desenvolvertudoo que lhe é
próprio" (p. 23). empíricadohomem;concepçõessobre
o problemada individualidade.
4) Mas, o Renascimento também fez
renascer concepções opostas à 7) A pedagogiade Rousseaufoia primeira '"

tradição: a essência do homem não tentativa radical e apaixonada de


consistirá justamente na riqueza da oposição fundamental à pedagogia da
diversidade?Nasceu aí o problema essência e de criação de perspectivas
da individualidade. "Terá o paraumapedagogiade existência.São
homem uma essência completa desde seus seguidores Pestalozzie Froebel.
o início ou estará em formação, em 8) Ainda no âmbito da pedagogia da "I

transformação, pelo menos nalguns essência,deformatotalmenterenovada


domínios?Assim nasceu o problema e também com profundas diferenças "I

do desenvolvimento do homem" entre si, Kant, Fichtee Hegel elaboram

Revista de Educação PUC-Campinas, Cam~inas. n. 8, p. 7-14, junho 2000


.
EPISTEMOLOGIA E TEORIAS DA EDUCAÇÃO
. 11

. preciosas contribuições(criticismoe meios de subsistência; c) o que é útil


idealismo objetivo). para a educaçãodas crianças; d) o que
. 9) Aresposta da pedagogia da existência, servepara manter oscontatos sociais;
cada vez mais presente a partir do e) o que permite repouso e é motivo de
. século XIX,será dada por Kierkegaard, contentamento na vida." (p. 59). Tem
Stirner e Nietzsche. um caráter utilitário e instrumental.
. Para Kierkegaard, apesar da dimensão Pelaprimeiravez,sobestasinfluências,
religiosa e teológica de sua obra, "o a pedagogia da existência tornou-se,
indivíduo é uma pessoa que não se além de revolta contra a pedagogia da
repete, é a única, condenada a ser essênciae programageraldeação, um
ela mesma, devendo recomeçar sistemadeterminadode investigações,
perpe-tuamenteumalutadramáticapara um conjunto de métodos e aquisições
na via do conhecimento. Estavam
se tomarela própria,porquantoaspiraa
algodemaiselevadodo que ela"(p. 48). abertas as portas para muito do que se
. sistematizou na Escola-Nova e a sua
Stirner lançou uma luta radicalcontra a
decantada revolução: a criança, seus
pedagogia da essência partindo dos
interessese suavidaeramo que defato
direitos ilimitados do indivíduo e
importava.
.. Nietzsche defendeu a vontade egoísta
dos eleitos e do menor número que 12)Finalmente, registre-se uma
deviam ter a coragem de se opor a existencialização da pedagogia da
.. essência quanto a uma assimilação
qualquer ideal comum, ou a qualquer
norma comum (p. 52). mais de métodos do que de princípios
e noâmbitoda pedagogiadaexistência,
10)Mas a pedagogia da essência não
estava morta e modernizou-se num a convivência de duas correntes que
vêm se conflitando: a) a oposição à
humanismoracionalista (continuidade
aos autores do sistema natural da pedagogia da essência em nome da
cultura), procurando "definir os vida da criança e, b) a oposição à
pedagogia da essência em nome da
caracteres universais e permanente do
ser humano, com o fim de estabelecer vida dos grupos sociais.
os fundamentos da luta em defesa da Creio que foi necessária essa caminhada,
. igualdade de direitos para todos. com imperfeições, imprecisões e às vezes um
Encontrandoestes traçoscomuns e tantoreducionista,paraque eu pudesseformular
universais na razão, formulou um agora, após cumprir o que anunciei, ou seja,
programa educativo que dava prioridade minha aproximação às Teorias da Educação
à formação do espírito e fazia desta pela apresentação de escolas ou tendências
formação a base de toda a educaçãd' que,aglutinandodeterminadosautores,viabilizam
(p. 55). É criticada pela universalidade e explicitar uma determinada teoria da educação
perenidade do conteúdo fundamental atravésdostempos,pois,rigorosamentefalando,
da razão. temos assistido à construção apenas e tão
11) A pedagogia da existência, sob a somente de duas Teorias da Educação, as
influência do evolucionismo social de H. quais, na linguagem de B. Suchodolski, foram
Spencer, foi proposta como uma denominadas de Pedagogia da Essência e de
pedagogia da luta pela vida: a) "o que Pedagogiada Existência.O autor em questão é
. serve para a manutenção da vida e da pródigo em demonstrar como essa construção,
saúde; b) o que contribui para procurar ao longo dos séculos, mantém-se nesta
.
Revista de Educação PUC-Campinas. Campinas, n. 8, p. 7-14, junho 2000
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12 l.L. SANFELlCE

polarização irreconciliável, apesar das múltiplas e isole o que é dado efetivamente


maneiras pelas quais cada uma das Teorias se como indissoluvelmente ligado: os
manifestou, quercom filósofos, com homens das elementos do conhecimento, o sujeito
ciências ou com educadores. No meu e o objeto. Essaoperação foi efetuada
entendimento reproduz-se aqui, o mesmo quadro pela maioria das doutrinas do
que toda a História da Filosofia sempre nos conhecimento. Elas definem
apresentou: "Do ponto de vista filosófico" e, eu isoladamente o sujeito e o objeto. Por
diria, do ponto de vista dosa prioride cada uma definição, chamá-Ia-emos de
das Teorias da Educação focadas, "a oposição e metafísicas. O problema do
a incompatibilidade de materialismo e idealismo conhecimento torna-se insolúvel.
são absolutas". Como relacionar duas realidades
"Eles formam duas correntes assim definidas, ou seja, uma exterior
fundamentais, em luta perpétua; uma à outra e uma sem a outra? É até
considera a natureza como o fatorprimário, possível, nesta ótica, concluir que o
enquanto o outro fazexatamenteocontrário". conhecimento é impossível. Tanto
Insisto, uma postura irreconciliável quanto quanto a Teoria Educacional da
ao a priori e alerto que materialismo aqui Essência, ontologia e epistemologia
não é sinônimo de malXismo"(LEFEBVRE, metafísicastraduzemumcertodesprezo
1979: 58). pela vida concreta, um hiato entre sua
Este alerta é importante porque é possível teoria e sua prática uma vez que seu
falar-se também de um materialismo metafísico domínio favorito da vida real, como a
que essencializa a natureza. Além disso, as própria palavra diz, é num além do
filosofias e, consequentemente, as Teorias da mundo físico. Disto resulta que todos
Educação delas decorrentes, "podem ser osessencialistas,inclusiveosdaTeoria
examinadas sob outros ângulos que não a do da Educação, essencialistas
'problema' doutrinário que contrapõe materialismo idealistas, são metafísicos. Todo
e idealismo. Do ponto de vista da história das idealismo é metafísica: põe o
idéias, as doutrinas idealistas e materialistas conhecimento como algo acabado,
não se mantiveram uma diante da outra; numa idéia misteriosa, antes
penetraram-se reciprocamente; reagiram entre daquilo do que é conhecimento, o
si numa interação perpétua, umas criticando as pensamento absoluto antes do
outras e esforçando-se por completá-Ias; umas e pensamento humano e da experiência
outras, nessa crítica recíproca, tinham razão" humana,condenando-se a tomar uma
(LEFEBVRE, 1979: 59). pequena parte do conhecimento, uma
Retomando à minha inferência de que parcela da ciência atingida em seu
quando se propôs o tema, a idéia teria sido de tempo, e a transportá-Ia no absoluto. É
que o seu primeiro eixo estivesse possivelmente emdecorrênciadistoque emeducação "
centrado nas questões clássicas e busca-se o que o homem deve ser. A
contemporâneas das Teorias do Conhecimento, busca de sua essência verdadeira.
considero que, após ter percorrido sucintamente Épreciso uma ressalva: há idealistas
também as Teorias da Educação Essencialista
objetivos, como Hegel, que admitem
e da Existência (idealista e materialista), é possível
umcertovalorparanossosinstrumentos
dizerque, grosso modo, a elas corresponde uma de conhecimento e idealistas ~

epistemologia, ou seja:
subjetivos - Berkeley-, segundoos
1) para que o conhecimento se torne um quais todo nosso conhecimento não
"problema" é precisoqueaanálise separe passa de uma construção artificial -

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EPISTEMOLOGIA E TEORIAS DA EDUCAÇÃO 13

solipsismo - (só o pensador existiria e a) o conhecimento supõe: um "objeto"


nada mais). Em questões de real exterior, penetrado no curso da
epistemologia há mais acordos entre prática, da ciência e da filosofia;
os idealistas objetivos e os b) o ser humano é um "sujeito-objeto"
materialistas. Istointerferefortemente
- pensa, mas não se separa de uma
nasTeorias da EducaçãoEssencialista existência objetiva e,
. ou da Existência, exatamente no que
c) há uma interação entre o sujeito e o
diz respeito às suas respectivas
objeto (LEFEBVRE, 1975).
epistemologias.Aquijá nãosecoloca a
questão como mero antagonismo do É em decorrência destes pressupostos
idealismo e o materialismo; dos idealistas e materialistas que Suchodolski
(1978), sugere que a antinomia - essência e
...
2) inversamente, para os materialistas o
existência -, só pode resolver-se em condições
conhecimentoé umfato: a)fato prático;
nas quais a educação e a sociedade sejam
fato social e fato histórico. O postulado
... concebidas à escala do homem:
que os materialistassustentamentresi
e contra o idealismo é a admissão do "... o pensamento pedagógico perde-se
. mundo exterior, da existência dos quando escolhe a pedagogia da existência,
objetos fora da nossa consciência e quando opta pela pedagogia da essência e
.. quando tenta unir esses dois princípios em
independentemente dela. Os
materialistas metafísicos, como já foi função das condições históricas e sociais
. dito,sãoontologicamentematerialistas, existentes. A pedagogia devia ser
mas absolutizam a natureza ou parte simultaneamente pedagogia da existência
dela (o atomismo de Epicuro). Nesse e da essência, mas esta síntese exige
sentidoforamapontadosindíciosde um certas condições que a sociedade
materialismo às vezes metafísico na burguesa não preenche, exige também
Teoria da Educação da Existência e, que se criem perspectivas determinadas
talvez, por esta ter atingido sua maior de elevação da vida quotidiana acima do
nível atual. O ideal não deve nem sancionar
expressão tão somente no âmbito da
I a vida atual, nem tomar uma forma
. sociedade capitalista burguesa, por
exemplo com o movimento da Escola totalmente alheia a essa vida" (p. 117).
Nova,parecesera grandetõnicade boa Com Suchodolski passamos para uma
parte da produção pedagógica; dimensão dialética da clássica oposição
3) o materialismo moderno constata a epistemológica e das Teorias da Educação
...

existência real, efetiva e eficaz da (idealismo x materialismo; pedagogia da essência


x pedagogia da existência ). Temas decorrentes
. consciência e do pensamento. Nega
como o desenvolvimento dos indivíduos e a
que essa realidade possa ser definida
isoladamente e destacar-seda história necessidade de adaptá-Ios à sociedade ou, os
interesses individuais e os interesses sociais,
humana (social)doorganismohumano
e da natureza. tomados como excludentes, não fazem sentido.
Há, entretanto, um elemento fundamental nesta
O mundohumanoorganizado,o mundo ótica de superação das antinomias, ou seja: a
.. da percepção,osobjetosdeterminados, realidade futura. É a realidade futura desejada, a
I é o produto do trabalho e não o realidade futura para além das determinações da
. produto do espírito. sociedade capitalista burguesa que nos aponta
Logo: uma terceira possibilidade tanto epistemológica
..

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14 l.L. SANFELICE

quanto de outra teoria educacional. Claro está necessariamente origem à 'essência' do homem.
que esta tendência origina-se no pensamento o que importa é facultar à vida humana condições
pedagógico que não adm ite "... que o princípio e encorajamento, garantias e organização tais
da adaptação ao presente fosse o princípio quepossa tornar-sebase do desenvolvimento e
da formação, base da criação da 'essência'
capital da educação não como um convite para
humana"(1978: 117).
evadir-se do presente, mas como um apelo
para melhorá-lo"(SUCHODOLSKI, 1978:119).
Decorre, portanto, do que acaba de ser Bibliografia
exposto, que esta última postura alicerça-se na
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São
afinidadecoma pedagogiadaessência,enquanto Paulo: Mestre Jou, 1970.
propõe a construção de um novo homem e,
funda-se na pedagogia da existência com a LEFEBVRE, H. Lógica formal/lógica dialética.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.
ênfase no homem de hoje e na ação do homem
de hoje,comoa real oportunidadedeconstrução MANACORDA, M. A.História da Educação. São
do futuro. Paulo: Autores Associados/Cortez, 1989.

Concluindo, mais uma vez remeto-me a MORA, J. F. Diccionario de Filosofia. Buenos


Suchodolski: li... a concepção da 'essência' Aires: Editorial Sudamericana, 1971 .
humananãopodedarorigema umaexistênciado SUCHODOLSKI, B. A pedagogia e as
homem correspondente a esta 'essência'; no grandes correntes filosóficas. Lisboa:
entanto, nem toda a 'existência' humana dá Livros Horizonte,1978.

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