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Mestranda em Letras (UNINCOR). E-mail: josyfernanddes@hotmail.com
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Docente do Programa de Mestrado em Letras (UNINCOR); Doutora em Teoria e História Literária
(UNICAMP). E-mail: prof.cilene.pereira@unincor.edu.br
RESUMO:
Neste artigo, procuramos estabelecer uma relação entre a figura do griot e o rapper, visto que ambos são contadores da
história de uma dada comunidade. Se na África ancestral essa função geralmente era atribuída ao ancião de uma tribo
devido à sua sabedoria e ao conhecimento por ele acumulado; no caso do gênero musical rap, é o jovem periférico e
subalterno que assume a função de “cantar” seu espaço e a coletividade. Nesse caso, é possível, ainda, associar estas
duas figuras, o griot e o rapper, ao narrador conforme descrito por Benjamim, na medida em que este é aquele que
consegue intercambiar as experiências, transformando-as em narrativa.
Palavras-chaves: griot, rapper, comunidade, Benjamim, subalterno.
ABSTRACT: In this article, we aimed at establishing a relation between the figures of the griot and the rapper, once
both are story tellers of a given community. If in ancestral Africa this function was generally attributed to the elder of
the tribe due to the wisdom and knowledge they have accumulated; in the case of the musical genre rap, it is the
peripheral and subaltern young person that assumes the function of “singing”their space and the collective‟s. In this
case, it is also possible to associate these two figures, the griot and the rapper, to the narrator, as described by
Benjamin, as this is the one who can interchage the experiences, transforming them into a narrative.
Key-words: griot, rapper, community, Benjamin, peripheral.
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Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 15, n. 2, p.620-632, ago./dez. 2017
Luiz Henrique dos Santos observa que culturas negras e também
indígenas, com o intuito de
o rap desempenha uma função social muito realizar apropriações
propositivas a serviço da
importante de retomada de memória de todo o luta política, como
instrumento de ação
processo de discriminação que os negros cultural e educativa.
passaram, fazendo isso de forma reflexiva e (LIMA; COSTA, 2015, p.
228-229)
positiva (Cf. SANTOS, 2013, p.19), o que
O griot e o narrador de Benjamin
está de acordo com a afirmação de Heloísa
Buarque de Hollanda, em Cultura como
A figura do griot africano, relacionada
recurso, de que o movimento hip hop (aqui,
ao rapper, pode ser associada ainda à
com enfoque no rap) chega para enfrentar a
configuração do narrador tradicional,
questão racial de maneira mais reflexa (Cf.
conforme a entende Walter Benjamin no
HOLLANDA, 2012, p. 27), justamente por
famoso ensaio “O narrador: considerações
que não mascara a existência do racismo em
sobre a obra de Nicolai Leskov”. Nesse
nosso país.
ensaio, Benjamim observa que a figura do
Segundo Lima e Costa, podemos
narrador tradicional teria dois representantes
observar “uma ampliação da função e da
arcaicos: o marinheiro comerciante e o
significação da figura do griot” no território
camponês sedentário. De acordo com o autor,
brasileiro e na contemporaneidade, como
A figura do narrador só se
também “uma tentativa de resistência e torna plenamente tangível
se temos presentes esses
ressignificação cultural diante das dois grupos. “Quem viaja
tem muito que contar”, diz
transformações da realidade africana a partir
o povo, e com isso imagina
dos processos de colonização e globalização” o narrador como alguém
que vem de longe. Mas
(LIMA; COSTA, 2015, p. 228). Ainda nas também escutamos com
prazer o homem que
palavras dos autores, ganhou honestamente sua
vida sem sair do seu país e
[...] podemos situar a
que conhece suas histórias
apropriação brasileira do
e tradições. (BENJAMIN,
griot africano: em um
1994, p. 198-199)
contexto de recriação e
reelaboração de práticas
africanas no Brasil diante A partir dessa origem, Benjamim
do processo de colonização
e diáspora. Ao longo das
destaca características do narrador tradicional,
últimas décadas, ligado à oralidade, ao senso prático4 e à
movimentos sociais de
caráter étnico e cultural se capacidade de intercambiar experiências,
reapropriaram de
conceitos, valores e afirmando que “a experiência que passa de
práticas de tradição
africana e indígena [...]
para ressignificarem, no
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contexto moderno, as “O conselho tecido na substância viva da existência
tem um nome: sabedoria” (BENJAMIN, 1994, p. 200).
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pessoa a pessoa é a fonte a que recorrem para criticar alguns dos
pilares de sustentação da
todos os narradores”, e as melhores narrativas cultura Ocidental:
Democracia, Liberdade,
“são aquelas que menos se distinguem das Justiça e Cidadania.
Evidenciam, assim, a
histórias orais contadas pelos inúmeros pouca importância e o
narradores anônimos” (BENJAMIN, 1994, p. pouco significado que
estes conceitos têm para as
198). Benjamim observa, a esse respeito, que suas vidas. (SOUZA apud
SANTOS, 2013, p. 21)
a matéria desse narrador tradicional é sua
vivência ou a observação da experiência de Benjamim, ao destacar o “senso
vida alheia, que incorpora à narrativa, prático” como qualidade inerente ao narrador
derivando quase sempre uma espécie de tradicional, que constrói sua narrativa por
canção, e não o próprio rapper, que faz do de “agência” dos sujeitos denominados
uma história que pertence ao membro da para sua fala, discussão que se origina de um
Podemos dizer, então, que ao abordar centrado no caso das viúvas sati (mulheres,
periféricas, o rap funciona como um livro de Spivak, Bruno Carvalho lembra que
As dificuldades de
instrumento de fala dos seus integrantes,
agenciamento e os
denominados muitas vezes de “marginal”, problemas de se supor um
sujeito essencializado e
“periférico”, “subalterno”. Para Viana, “os autônomo são ilustrados na
discussão da abordagem
raps podem ser entendidos como um tipo de colonial britânica em
relação ao sacrifício de
apropriação que o rapper faz da palavra para viúvas indianas (sati) e
suas tradições hinduístas
poder tornar sua comunidade e histórias
[...]. Deve-se notar que a
visíveis” (VIANNA apud SANTOS, 2013, p. referência às mulheres
indianas não é fortuita,
16). Nesse caso, o rapper assume, como um pois expressa as violências
epistêmicas do
griot moderno, a voz de sua comunidade, subproletariado urbano
relacionadas com a divisão
falando de modo legítimo em seu nome, de internacional do trabalho,
o que problematiza ainda
dentro dela.
mais as capacidades de
A condição de excluído agência. (CARVALHO,
surge no discurso do 2011, s/p).
rapper como objeto de
reflexão e denúncia; mais A pensadora tem suas reflexões
uma vez [...] os rappers
falam como porta-vozes apoiadas nos pensamentos pós-colonialistas e
desse universo silenciado
em que os dramas pessoais também nos denominados estudos subalternos
e coletivos desenvolvem-
se de forma dramática.
pois, ao propor o questionamento de que “o
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subalterno como tal pode, de fato, falar?”, traz marxista”. Luana Barossi, no artigo
à tona ideias de resistência e de ação política “(Po)éticas da escrivência”, texto que
próprias dos pensadores dessas correntes. examina o conceito de “escrivência” da
Por um lado, enfatiza-se a escritora mineira Conceição Evaristo,
crítica a quaisquer
concepções baseadas na observa, a respeito de Gramsci, que
soberania do sujeito,
mesmo as que estariam Suas considerações
presentes em Deleuze e consistiam na
Foucault – o que já categorização dessas
caracteriza originalidade e classes [subalternas] e na
densidade analítica do tese de que elas seriam
trabalho – e, por outro, constituídas por um
manifesta-se uma conjunto de indivíduos
divergência às ênfases que alijados do poder, de forma
autores do pós- que deveriam adquirir a
colonialismo – vide consciência de classe e a
produção tardia de Edward unificação para caminhar
Said, por exemplo – dão a em direção à emancipação.
certas capacidades de Essa emancipação do
agência de indivíduos, sujeito subalterno supõe
grupos e movimentos também a emancipação
sociais. (CARVALHO, cultural e a percepção de
2011, s/p). que os campos
econômicos, políticos e
filosóficos são expressão
Nesse caso, Spivak recusa a ideia de de uma mesma realidade
em movimento. O
soberania do sujeito conforme proposta por
movimento passaria, então,
Deleuze e Foucault, visto que seria pela construção de um
novo bloco histórico e,
“impossível para os intelectuais franceses como constitutiva deste
processo, por uma reforma
contemporâneos imaginar o tipo de Poder e moral e intelectual.
(BAROSSI, 2017, p. 26)
Desejo que habitaria o sujeito inominado do
Outro da Europa” (SPIVAK, 2010, p. 58). Tal perspectiva de Gramsci aponta
Isso porque, argumenta Spivak, ambos os para que Spivak defina esse sujeito subalterno
filósofos falam “a partir do Primeiro Mundo, como aquele pertencente às “camadas mais
sob a padronização e regulamentação do baixas da sociedade constituídas pelos modos
capital socializado, embora não pareçam de exclusão dos mercados, da representação
reconhecer isso)”. (SPIVAK, 2010, p. 69-70). política e legal, e da possibilidade de se
Para apontar quem é esse sujeito tornarem membros plenos no estrato social
subalterno, Spivak recorre ao teórico italiano dominante” (SPIVAK apud ALMEIDA,
Antonio Gramsci, o qual designa esse sujeito 2010, p. 13-14).5
como “aquele cuja voz não pode ser ouvida”,
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a partir do que ele chamou de “classes Barossi observa a respeito disso que “A perspectiva
universalizante de Gramsci é criticada por Spivak, que
subalternas” por meio de “uma abordagem acredita que o sujeito subalterno não ocupa e nem pode
ocupar uma categoria monolítica, mas eminentemente
heterogênea, de maneira que propor uma unificação de
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Tomando esta definição como foram estabelecidas como
normativas” (Spivak,
referência, Spivak trata de duas questões 2010, p. 48). Pois, de
acordo com a autora, é
centrais em seu texto: do que ela denomina de necessário penetrar na
codificação que produz a
“agência” dos sujeitos subalternos e do papel violência epistêmica para
do intelectual ao tentar representá-los, bem compreender (e
desconstruir) seu projeto.
como a importância de desenvolver a (BAROSSI, 2017, p. 27)
autonomia dos sujeitos subalternos. A agência Sobre o papel do intelectual que tenta
desses sujeitos se dá, segundo a autora, por representar esses sujeitos marginalizados,
meio da ação da sua fala, ou seja, da sua Spikav afirma que “a tarefa do intelectual
independência frente ao meio social que os pós-colonial deve ser o de criar espaços por
exclui (Cf. SPIVAK, 2010, p. 12-14).: “Tal meio dos quais o sujeito subalterno possa
questão envolve a consciência dos sujeitos, falar” e que, quando isso ocorrer, o mais
bem como a sua capacidade de formar importante é que ele “possa ser ouvido(a)”
alianças políticas” (BRAGA FILHO, 2014, (ALMEIDA, 2010, p. 14). Isso porque mais
s/p) e não a capacidade do intelectual de importante que falar pelo subalterno é criar
representá-lo, como se esse sujeito fosse condições para que não exista a
“homogêneo e monolítico”, como supõe subalternidade, dando a esses indivíduos
Deleuze e Foucault a partir da crítica de condição para que se organizem
Spivak. autonomamente e falem por si próprios, de
Para Barossi, haveria uma diferença modo que saiam do silêncio (Cf. ALMEIDA,
fundamental entre a proposta de Spivak e a de 2010, p. 13-14). Nessa perspectiva, “O
teóricos como Deleuze e Foucalt, visto que intelectual não pode falar pelo subalterno,
[...] enquanto eles
mas „o espaço em branco inscrito no texto‟
procuraram buscar uma
história alternativa e não (Spivak, 2010, p. 123) deve ser confiado ao
hegemônica (dar voz aos
loucos, aos presos, aos „Outro‟ da história. Ou seja, o espaço deve ser
marginalizados
socialmente), ela alega que aberto para que ele fale” (BAROSSI, 2017, p.
é necessário reler a história
como foi escrita pela 28-29). O que tiraria desses sujeitos a sua
perspectiva dominante
condição de subalternidade seria a sua
(tradicional e colonialista)
de forma a determinar “agência”. Diante, portanto, de rituais como
estratégias de
desconstrução e só então os das viúvas sati,
“oferecer um relato de
como uma explicação e O papel do intelectual,
uma narrativa da realidade nesse caso, é perguntar: “o
que significa isso?”. É
necessário pesquisar o
sua fala já seria, por si só, seu apagamento ou a conjunto de códigos
manutenção de seu silenciamento histórico” culturais envolvidos no
(BAROSSI, 2017, p. 26).
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ritual para que seja alerta Norma Missae Takeuti, em “Refazendo
possível desconstruir os
estereótipos criados sobre a margem pela arte e política”, tem sido
ele tanto pelos britânicos,
quanto pelos intelectuais colocado como uma ação que
que tentaram estudar os [...] revela os agitos
acontecimentos por meio (movimentos) de
da epistemologia de matriz determinados atores
“Ocidental”, “do Norte” ou sociais no seu ambiente
do “Primeiro Mundo”. local (¡e global!): que
(BAROSSI, 2017, p. 29). atuam sem pretensões
primeiras de articulação
Para Medeiros, em resenha destinada com a política
institucionalizada, mas
ao texto de Spivak, com intenção de
Argumentando fortemente inventividades na busca de
em favor do protagonismo vias de saída para a sua
e se contrapondo a essas limitada condição de vida
vozes que se colocam de jovens de periferia.
como representantes de (TAKEUTI, 2010, p. 14)
discursos emudecidos, e
que acabam por silenciar A ideia de “agência” se relaciona
de vez os subalternos do
mundo, Spivak traz a (sic) também, no mundo do hip hop, à conexão
tona a importante questão
da recusa. A autora existente entre a arte e a vida, o que permite
compreende a “recusa aos integrantes do movimento ações que
ideológica coletiva” como
algo que os intelectuais busquem transformações sociais tanto para si
devem ser capazes de fazer
para se abster dessa prática quanto para os que fazem parte de sua
sistematizada pelo
imperialismo, deixando comunidade, pois a “A realidade social
que cada grupo assuma sua
voz, evitando, assim, a
vivida, os interesses da vida cotidiana e os
produção de um simulacro desejos reprimidos vão sendo
que corresponderia a
tradução (ou traição) do falados/cantados/dançados/desenhados num
discurso do outro.
(MEDEIROS, 2015, s/p, ritmo e som que os estimulam a repensar a
grifos do autor)
sua existência social” (TAKEUTI, 2010, p.
Considerando o exposto acima, 19). Nesse caso, o sujeito que reflete sobre
podemos pensar no movimento hip hop, sua vida também é estimulado a buscar
conforme vimos, como um meio de Assim é possível fazer com que esses
“agência”, isto é, de poder de ação dentro da sujeitos falem por si próprios e não precisem
sociedade excludente em que se encontram ser representados por outros. E é isso que o
rappers e suas comunidades, implicando rap faz. Para Heloísa Buarque de Hollanda, a
nisso a consciência dos sujeitos e o seu poder cultura pode ser um elemento fundamental
de formar alianças políticas (SPIVAK, 2010, para transformar a realidade das pessoas. Ela
p. 28-33). Isso porque o movimento hip hop, afirma que o rap, num cenário conturbado de
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desigualdades sociais e inúmeros problemas artísticas como, por exemplo, a arte, o
que assolam a vida daqueles que não estão cinema, o esporte, a música – no nosso caso,
localizados numa zona de conforto e poder, o rap, que possibilita aos sujeitos
ganha a nobre “função de um sacerdócio cuja marginalizados a oportunidade de falarem,
missão é fundamentalmente política e de denunciarem, criticarem socialmente as
natureza transformadora e conscientizadora” condições a que estão submetidos e, com isso,
(HOLLANDA, 2012, p. 31). reconhecer um lugar de existência social e
O ato de “cantar” e “narrar” do rapper política, antes ignorado.
representa a sua “agência”, o seu poder de A partir da relação entre o griot
atuar positivamente na sociedade, fazendo africano e o rapper, sobretudo pensando no
com que sua voz seja ouvida. O rapper não é tipo de voz musical entoada por este, o rap –
o intelectual que fala pelo outro de um lugar visto como um mecanismo de denúncia e
socioeconômico distante;6 ele fala o outro (a crítica social –, é possível considerar a ideia
comunidade) e a si próprio, uma fala que de “agência”, conforme estabelecido por
alcança poder de representação por estar Spivak, na medida em que o cantor assume a
focada na “narrativa dos subalternos”, que voz de uma coletividade marginal, do ponto
passam a falar “quando encontra[m] na esfera de vista social e econômico, da qual faz parte.
pública reconhecimento e legitimidade de Ele não é um outro que fala pela comunidade
fala” (LINO, 2015, p 83). (papel tradicionalmente reservado ao
O que podemos perceber nas ideias de intelectual de esquerda), mas ele é a
Spivak é que, para ela, o “silêncio” e a comunidade que fala pela comunidade, sem
impossibilidade de ter “voz” são trajetórias que haja intermediários nessa negociação
que atribuem aos sujeitos a condição de política.
subalternidade. Se antes, conforme Spivak, os
subalternos não podiam falar; hoje, eles falam Alguma conclusão
por meio das mais diversas manifestações
A partir do exposto neste artigo,
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Spivak discorre sobre o ato da “representação” e
aponta seus dois sentidos, em alemão: “vertretung” e podemos entender a figura do rapper,
“darstellung”. O primeiro, tendo como premissa o
“agir” em favor do outro, ou agir em defesa do outro,
tomando-o como esse “griot” moderno que,
seria o ato de “assumir o lugar do outro numa acepção por meio de sua voz, dá voz às histórias,
política da palavra” (sistema representativo); já o
segundo termo se refere “a uma visão estética que memórias e sonhos da comunidade periférica
prefigura o ato de performance ou encenação”.
Segundo a pesquisadora, “há uma relação intrínseca na qual está inserido. É importante considerar,
entre o „falar por‟ e o „re-presentar‟, pois, em ambos os
casos, a representação é um ato de fala em que há a nesse sentido, como o ser marginalizado
pressuposição de um falante e um ouvinte”
(ALMEIDA apud SPIVAK, 2010, p. 15).
estabelece seu poder de fala na sociedade,
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expressando seu direito de “voz” para uma crítica pós-colonialista. Revista Estudos
Políticos, n. 3, 2011. Disponível em:
denunciar as mazelas que assolam o dia a dia
http://revistaestudospoliticos.com/wp-
de quem mora em lugares afastados do centro content/uploads/2011/11/3p65-69.pdf. Acesso
em 10 de fev. 2017.
do poder, como periferias e comunidades.
FERREIRA, Amanda Crispim. Recordar é
Nesse caso, a expressão dessa voz ocorre por preciso: Considerações sobre a figura do
Griot e a importância de suas narrativas na
meio da relação entre arte e política, visto que
formação da memória coletiva afro-brasileira.
moradores de periferias estão reconstruindo Revista em Tese, Belo Horizonte, v. 18, n. 2,
p. 141-155, 2012.
seu lugar e criando mecanismos para romper
HOLLANDA, Heloísa Buarque. O
com o discurso de violência a eles associados. engajamento hip hop. Cultura como recurso.
Salvador: Secretaria de Cultura do Estado da
Bahia, Fundação Pedro Calmon, 2012, p. 25-
Referências 39.
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