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CURSO: PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL

DISCIPLINA: Fundamentos da Psicopedagogia Institucional


DOCENTE: NORLA ALBUQUERQUE
Contato: aprendizagemeterapi@gmail.com

Trajetórias da Psicopedagogia

A Psicopedagogia surgiu na Europa, após serem encontrados problemas de


aprendizagem e a necessidade de justificar as desigualdades sociais. Segundo
Bossa (2007), ao longo do Século XIX surgiram teorias relacionadas à ciência e
a teoria evolucionista de Charles Darwin que enquadrou o homem dentro do
esquema da evolução biológica e aboliu as linhas divisórias das ciências
naturais, humanas e sociais. Concomitante a isto, o corpo humano passou a
ser estudado pela Psicologia e as escolas começaram a aplicar testes
buscando descobrir o motivo das diferenças encontradas no rendimento de
seus alunos.

Janine Mery, psicopedagoga francesa, apresentou considerações sobre o


termo psicopedagogia e adotou este termo para caracterizar sua ação
terapêutica. Depois dela, outros estudiosos se dedicaram as crianças com
dificuldades de aprendizagem, tais como: George Mauco, Pestalozzi, Pereire,

1
Itard e Seguin. (Bossa, 2007).

Em 1946 surgiram os primeiros Centros Psicopedagógicos. Conforme Mery


apud Bossa (2007), J. Boutonier e George Mauco foram os criadores e através
destes centros buscavam unir a psicologia, psicanálise e pedagogia para a
realização dos tratamentos.

Nos Estados Unidos, ocorria o mesmo movimento, porém com ênfase nos
aspectos médicos. No Século XX surgem, então, os primeiros centros de
reeducação para delinquentes e escolas particulares que atendiam as crianças
com “aprendizagem mais lenta”. Além destes, em 1930, surgem na França os
primeiros centros de orientação educacional com psicólogos, educadores e
assistentes sociais (MERY apud BOSSA, 2007). Somente 1956 é que se dá
início a formação universitária em Psicopedagogia, na Argentina com Arminda
Aberastury. Para então surgirem, na década de 70, os Centros de Saúde
Mentas onde Psicopedagogos realizavam diagnóstico e tratamento.

A Psicopedagogia chega no Brasil somente neste período (1970), através da


influência da Argentina devido ao acesso fácil à literatura. São criados então
cursos com enfoque Psicopedagógico. No início da década de 80, é criada a
Escola de Guatemala, com uma visão sociopolítica a respeito da dificuldade de
aprendizagem escolar, em que se acreditava em problemas no processo de
ensino. Sendo assim, iniciando um trabalho preventivo. Além disto, no mesmo
período surgem cursos de especialização nesta área.

A história da Psicopedagogia ainda está desenvolvimento, os cursos de


especialização estão se aprimorando. Segundo Bossa (2007), a
psicopedagogia é ainda uma área de profissão ainda não registrada
legalmente, sendo uma forma especifica de atuação. Sendo assim, a
psicopedagogia surge com o compromisso de processo de aprendizagem e
identificação de facilitadores e comprometedores do processo de
aprendizagem.

BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática.


RS, Artmed, 2007.

Psicopedagogia Institucional

2
Considerando a escola responsável por grande parte da formação do ser
humano, o trabalho do Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter
preventivo no sentido de procurar criar competências e habilidades para a
solução dos problemas que interferem no processo educativo - um caráter
remediativo pois a Psicopedagogia é um campo de conhecimento e atuação que
lida com a aprendizagem nos seus padrões normais e patológicos,
considerando a influência da família , da escola, e da sociedadeno seu
desenvolvimento e utilizando tecnicas próprias que faviorecem o sujeito
aprendente e sua relação com o conhecimento.

Atribuições do Psicopedagogo na Instituição

* Verificar como a escola conduz o processo de ensino e de aprendizagem,


como incentiva o sucesso de seus alunos e como a família exerce seu papel de
parceria nesse processo.
* Acompanhar a sistemática de ensino através de observações e dialogo com
toda a equipe educativa.
* Acompanhar as ações pedagógicas e sugerir atividades e procedimentos que
favoreçam o desenvolvimento humano e cognitivo dos alunos.
* Participar da dinâmica das relações na comunidade educativa a fim de
favorecer o processo de integração e troca.
* Receber e analisar relatórios realizados pelos professores dos alunos que
apresentam dificuldades de aprendizagem e/ ou alterações comportamentais
que estejam a comprometer o desenvolvimento do processo educativo quer
apresentem ou não laudo médico.
* Promover orientações metodológicas de acordo com as características dos
indivíduos e grupos.
*Desenvolver técnicas remediativas para as dificuldades de aprendizagem,
orientando pais e professores
*Estabelecer contato com outros profissionais das áreas psicológica,
psicomotora, fonoaudiológica, educacionais entre outros atendimentos
conforme, necessidades específicas.
* Propor parcerias com instituições educativas que favoreça maior integração e
desenvolvimento cognitivo dos alunos com necessidades educativas especiais
* Contribuir com a formação continuada dos professores com temas relevantes
para a pratica pedagógica bem como aprimorar apoio formativo ao setor de
Recursos Humanos da Instituição.

3
* Realizar processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional tanto
na forma individual como em grupo.

ANALISANDO ARTIGOS....
Artigo1
Relato de Experiência - Ano 2004 - Volume 21 - Edição 65

O OLHAR PSICOPEDAGÓGICO NA INSTITUIÇÃO


EDUCACIONAL: O PSICOPEDAGOGO COMO
AGENTE DE INCLUSÃO SOCIAL
Maria Luiza Garitano de Castro

RESUMO

Este artigo tem por objetivo apresentar a atuação do Psicopedagogo voltada à


área institucional, especificamente aquela inserida no contexto educacional junto
a adolescentes. Procura mostrar o papel do psicopedagogo institucional como
agente de inclusão social. São apresentados cinco casos fundamentados na
experiência da autora, sustentados em princípios da Psicologia Analítica, da
Psicopedagogia e da Neurociência. Os casos abordam diferentes distúrbios de
aprendizagem, de limitações cognitivas e físicas, distúrbios de atenção e
questões emocionais. Identifica a demanda pelo estabelecimento e
desenvolvimento da parceria família-escola, no que se refere ao
comprometimento de ambas quanto ao processo de desenvolvimento do
adolescente e suas dificuldades de aprendizagem.

Palavras-chave: Aprendizagem. Adolescente. Transtornos de Aprendizagem.


Escolas.Relações comunidade-instituição.
ABSTRACT
This article wants to introduce specialist's work around the institutional area,
mainly educational context together with the teenagers. This article shows us
psychopedagogue's work as an agent of social inclusion. They are showed five

4
statements about author 's experience according to psychology,
psychopedagogy and neurology concepts. These statements study different
problems of learning in general, such as emotional causes, attention disorders,
etc. The development about change of experiences between family and school
refers to the improvement's process of teenagers and their learning disabilities.

Keywords: Learning. Adolescent. Learning disorders. Schools. Community-


institutional relations.

INTRODUÇÃO
O ser humano é um ser por natureza curioso. Através da observação, procurou
compreender os fenômenos da natureza: a chuva, os raios, o fogo, a forma de
sobrevivência mais adequada em um mundo percebido inicialmente como
inóspito e agressivo. Qual seja, procurava interagir de maneira ativa no ambiente
que conhecia, e ainda o faz.
Nesse sentido, alguns antropólogos, tratando da evolução da espécie humana,
apontam que foram os jovens neanderthais os primeiros a utilizarem-se na sua
sociedade da "ferramenta inteligente", economizando o esforço braço-mão. Este
é o processo de adaptação.
Ao longo da existência, o homem criou e aperfeiçoou sistemas para preservar e
retransmitir o conhecimento adquirido, denominado "cultura".
As escolas surgem como alternativa para a preservação desse arcabouço
cultural, embora necessitem de constante aperfeiçoamento e reformulações.
As diversas teorias sobre o desenvolvimento da aprendizagem possibilitam
explicações sobre os mecanismos pelos quais o ser humano aprende e evolui,
de acordo com seus pressupostos e fundamentos.
A questão fundamental da aprendizagem é como se estabelece esse processo
e quais variáveis podem contribuir ou atrapalhar seu desenvolvimento.
E, mesmo com a diversidade de teorias e diferenças de pressupostos, as
crianças e os adolescentes são encaminhados desde pequenos às escolas,
encontrando nesses ambientes profissionais com a responsabilidade de traduzir
em linguagem compreensível o conhecimento acumulado pela humanidade, ou
parte dele.
Base de todo processo de aprendizagem, a relação professor-aluno pode ser
caracterizada como entre "ser que ensina e ser que aprende", ou "seres que
ensinam-aprendem", dentre outras formas. Deve ser constituída como relação
de troca de conteúdos, de conhecimentos, de afeto. No entanto, nem sempre é
igualitária no sentido do domínio do objeto do conhecimento, pois o pressuposto
é que, nesse processo, alguém detém mais conhecimentos que outros.
Constata-se a desigualdade existente entre os sujeitos, e esta percepção pode

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auxiliar ou prejudicar o processo, dependendo da maneira como o adulto se
coloca na situação. Os adolescentes freqüentemente questionam o saber do
professor e sua autoridade.
As habilidades por parte do "aprendente" não se encontram totalmente
desenvolvidas, necessitam ser estimuladas e incentivadas. Por vezes, "latente"
ou potencial, não se efetivando por fatores diversos.

A ESCOLA E AS LIMITAÇÕES

H. é uma garota de 17 anos, cursa a 3ª série do ensino médio. Apresenta desde


pequena, pela anamnese realizada com os pais, dificuldade na aprendizagem
geral. Tem mais duas irmãs, que "vão muitíssimo bem" no processo de
escolarização. No entanto, os pais percebem a existência de competição
acirrada entre elas. Refere-se a tentativas inválidas com o objetivo de evitarem
que as outras filhas ridicularizassem a própria irmã. Não apresenta antecedentes
familiares. Mãe reclama que pai superprotege a filha, "ele a mima demais". É
meiga, carinhosa, "carente" e sempre disposta a participar das atividades extras
desenvolvidas pela escola.

Encaminhada para diagnóstico psicopedagógico, constatou-se que H. é uma


garota com dificuldades de natureza cognitiva, sendo considerada limítrofe.
Família comunicada com orientação de acompanhamento psicopedagógico e
psicoterapia, a fim de fortalecer o ego de H. para que pudesse enfrentar as
dificuldades de sua vida atual e futura, tanto pessoal quanto profissional de
maneira mais tranqüila.
A família e H. recusaram a psicoterapia. Realizou-se durante algum tempo o
acompanhamento psicopedagógico. Durante todo o processo de avaliação e
acompanhamento, a escola manteve contatos freqüentes com a psicopedagoga,
a fim de subsidiar a ação institucional com a aluna. Os dados discutidos foram
transmitidos ao corpo docente, que foi instruído a trabalhar com H. no sentido de
fortalecer sua auto-estima e reforçar suas competências. O processo de
avaliação foi direcionado e focado de maneira única e individualizada, de acordo
com suas potencialidades.
Em entrevista recente com a psicopedagoga escolar, H. relatou não se encontrar
mais em acompanhamento psicopedagógico porque "não tem tempo". A
hipótese levantada é que H. não tem a consciência necessária sobre o que
ocorre consigo mesma e ao seu redor, não compreende cognitivamente e utiliza-
se de mecanismos de defesa fortíssimos que a impedem de enfrentar a
realidade.

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A irmã mais nova, na mesma série, matriculouse em outra instituição
educacional, o que aparentemente resultou em melhora da autoestima. As
constantes e freqüentes queixas psicossomáticas diminuíram e o
comparecimento ao departamento de Orientação também.
Atualmente, H. procura por orientação quando necessita de apoio para suas
dificuldades de relacionamento com os colegas.
Periodicamente, faz-se necessária a interferência junto aos colegas no sentido
de conscientizá-los quanto às diferenças individuais e a necessidade da
convivência com indivíduos com dificuldades e características diferenciadas,
orientando-os no sentido da inclusão social e não, da exclusão.
A hipótese para o rompimento do trabalho psicopedagógico discutida com a
psicopedagoga clínica é que H. ocupa um lugar predeterminado nessa
constituição familiar que não pressupõe mudança ou melhoria. Ou melhor, ela é
eleita a ocupar o lugar de "paciente identificado" e depositária das projeções
familiares.
H. continua estudando no colégio. O trabalho da psicopedagoga foi o de relatar
o diagnóstico aos professores, envolvendo a escola em processo de auxílio e
apoio em seu peculiar desenvolvimento.
A atuação psicopedagógica junto aos adolescentes no contexto escolar refere-
se principalmente ao processo de identificação de alunos com dificuldades, no
levantamento de hipóteses diagnósticas junto à família, encaminhamento a
especialistas e acompanhamento junto aos profissionais externos e ao corpo
docente.
O fundamental e prioritário na aprendizagem é sempre procurar desenvolver e
incentivar no sujeito o desejo pelo aprendizado.
Sem desejo, nada se faz. Não há sequer movimento interno em direção ao
desconhecido. Não há motivação ou interesse. Não há evolução possível.
Para tanto, habilidades como a audição, a visão, a coordenação viso-motora, a
capacidade de se orientar espacial e temporalmente, a atenção, memória, entre
outras devem estar preservadas. São estes os pré-requisitos para que a
aprendizagem formal possa se efetivar (domínio da leitura e escrita e do
raciocínio matemático).
Não se deve forçar a natureza em demasia. Deve-se saber reconhecer os limites
dos indivíduos. Cada um aprende em um tempo único e de maneira
individualizada.
As crianças não são "tabula-rasa" como alguns teóricos consideravam, sem
conteúdo ou conhecimento. Desde antes do nascimento apresentam um
"background" considerável de conteúdos internos. O contato do meio externo
com os conteúdos do inconsciente coletivo forma o inconsciente pessoal e o Ego,
que tem a função de ressignificar os conhecimentos tecnologicamente. Este
processo se denomina "cultura".

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Andar é um grande salto na evolução, falar certamente é outro, pensar é o
máximo. É com esta capacidade que o homem se apropria do objeto do
conhecimento e se torna responsável pelas modificações e transformações no
mundo.
Mas não basta ter somente desenvolvida a capacidade reflexiva, se ela não
puder se expressar no mundo. A aprendizagem depende também de fatores
genéticos, neurológicos, orgânicos, psicológicos, cognitivos, pedagógicos e
sociais.

CONSOLIDANDO SIGNIFICADOS E SIGNIFICANTES

V. era um garoto simpático e muito agitado. Não conseguia ficar quieto e sentado
por muito tempo. Pais atentos desde que entrara na escola: a mãe era professora
e o pai, médico. Relatavam um histórico de aprendizagem "dificultosa", pois as
questões disciplinares suplantavam as pedagógicas. Tornara-se um adolescente
crítico e questionador. Tinha 12 anos, freqüentava a 6ª série, quando procurou a
Orientação Educacional em um final de aula de Ciências com a seguinte
questão.
"Afinal, para quê preciso saber quantas patas tem uma barata se o que me
interessa entender é como matá-la?".

A resposta, inicialmente, foi direcionada para que V. compreendesse que esse


objeto de conhecimento se referia a estudos e observações sobre a vida,
realizados por diversos pesquisadores durante séculos. Relacionei
posteriormente o conteúdo às classificações e à organização do mundo para
torná-lo mais compreensível: filos, reinos, etc. E, por último, que face à
impossibilidade de antevermos o futuro, não saberíamos se ele necessitaria ou
não daquele conteúdo em algum momento de sua vida. Não poderíamos naquele
momento imaginar o que V. estaria fazendo dali a muitos anos, e se esse
conteúdo não lhe seria útil. V. retornou às aulas muito pensativo.
A Professora de Ciências foi orientada a adotar postura pró-ativa, questionando-
o, fazendo-o refletir sobre questões semelhantes, desenvolvendo atividades que
permitissem o envolvimento efetivo com o objeto de conhecimento estudado
correlacionando à sua realidade cotidiana: organização dos cadernos, das
roupas em casa...
V. continuou crítico e reflexivo ao longo de sua adolescência. Pais orientados a
buscar especialista para a realização de diagnóstico preciso sobre a natureza
das dificuldades enfrentadas por V. A hipótese em questão era de Transtorno do
Déficit de Atenção (TDAH) com hiperatividade, ou de transtorno de natureza
psíquica (ansiedade). O resultado revelou inteligência acima da média, e por isso

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agitado e dispersivo. Ao ser comunicada do resultado, a psicopedagoga orientou
os professores a fornecer constantemente tarefas mais desafiadoras a V., que
passou a demonstrar interesse e motivação, absorvendo os novos conteúdos
com alegria ao compreendê-los.

Reafirmada constantemente a necessidade de acompanhamento psicológico.


No entanto, a resistência de V. sempre foi muito alta.

Os pais encaminharam-se para psicoterapia de casal a fim de aprenderem a lidar


com V. (1997)
Para Sara Paín1, a psicopedagogia tem como foco central possibilitar o
"reencontro do sujeito com o anseio pelo saber, pois em algum lugar ela (criança)
o perdeu".
Assim sendo, a função do psicopedagogo direciona-se à escuta e observação
atenta das dificuldades, além de propor alterações nas posturas das famílias e,
mais diretamente, dos profissionais que atuam com os alunos.
A relação professor-aluno deve ser construída cotidianamente, no fazer
profissional. No âmbito estrito da psicopedagogia clínica e institucional o
relacionamento estabelecido entre estes indivíduos é fundamental para a
construção ou reconstrução da natureza do aprender, isto é, o vínculo
estabelecido deve ser percebido como adequado, prazeroso e saudável.
O apreender do significado está também diretamente relacionado à existência
de docentes preparados, conscientes de seus papéis de estimuladores,
fomentadores, instigadores da curiosidade e da criatividade.
Esta relação deve ser desenvolvida e cultivada em sintonia com os aspectos
afetivo-emocionais para que a aprendizagem se desenvolva adequadamente.
Carlos Byington2, em "A Construção Amorosa do Saber", reforça esse
pensamento ao dizer que "não se pode ensinar utilizandose somente o
pensamento, a sensação e a extroversão sem deixar de lado uma imensa parte
do potencial psíquico no aprendizado". Deve-se ter claro que as funções
sentimento, intuição e a atitude introvertida também estão presentes nesse
processo e que o aprendizado é o resultado de um completo e total envolvimento
do sujeito com o próprio processo. Ao se apropriar dele, a aprendizagem ocorre.
O aprender a aprender se efetiva com a tomada de consciência quanto ao
significado do objeto em estudo.
Ninguém aprende e apreende sem afeto, sem desejo, sem curiosidade e sem
vivenciar objetivamente o conteúdo em questão. Sem conseguir ressignificar,
internamente de maneira única e intransferível, o conhecimento.
Portanto, a contextualização e as referências freqüentes à vida cotidiana do
jovem adolescente devem fazer parte do processo de aprendizagem.

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Quem estuda sem vivência aprende, mas não apreende. Não há sentido, nem
significado. A memória não armazena conteúdos percebidos como não
significativos ou mesmo desinteressantes. Esses conteúdos permanecem por
pouco tempo, arquivados na memória de curto prazo (recente), depois se
esvaem. São vários os exemplos de alunos que não conseguem se recordar dos
conteúdos estudados para as suas avaliações horas após as terem realizado.

Ao chegar à adolescência, o jovem já vivenciou inúmeras situações adequadas


ou inadequadas de aprendizagem tanto familiar quanto social. O adolescente
aos 11, 12 anos de idade tem uma enorme bagagem de conteúdos e vivências
sobre seu próprio processo. É agora um ser diferente. Não é criança e nem
adulto. Tem autonomia para determinadas questões, mas não para outras.
Necessita elaborar novas situações de aprendizagem, pois as antigas não
produzem mais os mesmos efeitos. Encontra-se em um momento novo, com
vários profissionais. São diversas didáticas e metodologias. Depara-se com 10
ou mais disciplinas. Sente-se perdido, sem rumo e direção. Pergunta-se
freqüentemente quem é esse ser que desconhece. É efetivamente um
adolescente.

Para Aberastury3, a tarefa do jovem nesta etapa é entender e compreender os


novos pais, o novo corpo, o novo status e a nova identidade. Tudo é totalmente
diferente do que era, configurando-se uma verdadeira revolução.

A angústia atinge níveis mais elevados ao se questionar onde foram parar


aqueles pais tão maravilhosos que possuía, pois agora são percebidos como
indivíduos falíveis e cheios de dificuldades a serem resolvidas e, pior, sem tempo
para olhar aquele filho que cresceu e necessita de sua ajuda.
A FAMÍLIA E A ESCOLA

R. procura a Orientação chorando bastante. Demonstra profunda angústia.


Quando se acalma, relata enfrentar dificuldades em seu relacionamento com os
pais, que não acreditam mais nela e a cobram excessivamente, diferentemente
da irmã mais velha. "Para eles, a minha irmã pode fazer qualquer coisa. Ela
chega e diz que tem prova no dia seguinte e nem estudou e nada acontece. Se
eu falar a mesma coisa, a pergunta que vou ouvir é se fiquei maluca e como
ainda não estudei. A minha irmã é mais inteligente. Demais!" Ao ser indagada se
ela então não era, respondeu: "Eu sou, eu sei que sou, mas não agüento mais o
controle e a desconfiança. Quero que minha mãe converse comigo sobre as
minhas dificuldades ao invés de me criticar ou me colocar restrições para a vida!
Por que mudaram tanto?.

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R. é a segunda filha de três meninas. Aos 16 anos, cursa a 2ª série do ensino
médio. Mãe não exerce atividade profissional. Diz ser extremamente
responsável pela educação das filhas, "mesmo porque sou cobrada também". E,
admitiu que infelizmente a comparação poderia estar alta e freqüente. Relatou
considerar a filha mais velha como muito inteligente, "com quem nunca precisei
me preocupar". Por outro lado, referiu-se a R. como "muito esforçada,
necessitando sempre de muito apoio e orientação desde pequena".

A intervenção da psicopedagoga dirigiu-se à diferença por eles estabelecida


entre as filhas e ao esclarecimento quanto às diversas formas de aprendizagem
possíveis. Cada indivíduo aprende de forma específica, não havendo sentido nas
comparações. Além disso, questionou-se qual forma R. poderia ter a atenção
dos pais se fosse igual ou semelhante à irmã nesse aspecto. A mãe informou
que conversaria com o marido a fim de amenizar as comparações e críticas.

A psicopedagoga orientou R. a organizar seu horário de estudos diários em casa.


Quanto à relação com sua família, conversaria mais no sentido de apontar-lhes
mudança em suas atitudes, não mais mentindo ou omitindo dados.

Dias após, R. relatou estar mais aliviada e tranqüila, pois os pais haviam
conversado longamente sobre suas dificuldades e se propuseram a ajudá-la a
resolvê-las. Além disso, contou-lhes que namora um rapaz da faculdade e o
apresentara à família. (2004)

Entende-se que a função do psicopedagogo é investigar todas as variáveis


possíveis existente no processo de aprendizagem, a fim de orientar as famílias
para a resolução de conflitos, inclusive de natureza afetiva-emocional.

O adolescente vive hoje em um mundo cada vez mais complexo, globalizado e


veloz. Tem acesso ao mundo informatizado que propicia a troca de informações
em velocidade antes inimaginável. Toma ciência do que ocorre do outro lado do
mundo em segundos.

O que move o jovem ir à escola atualmente? Dirigir-se a um local onde deve


cumprir regras e normas, ter comportamento adequado e ainda aprender um
conteúdo considerado a priori como "chato" e sem o menor significado neste
momento.

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O social é o vetor que determina e mobiliza o jovem a se encaminhar diariamente
à escola. Os colegas, o grupo de pares e iguais, passam a ser o centro de
referência dos adolescentes. Amigos e competidores ao mesmo tempo.
Campeonatos e olimpíadas são sempre atividades de grande envolvimento para
eles: tênis de mesa, futebol, de todas as modalidades esportivas, e até mesmo
de matemática e física...

Gostam e desejam demonstrar e exibir suas habilidades físicas ou intelectuais e


se autoafirmar perante o grupo. É o momento da descoberta de si mesmo e do
outro e seus relacionamentos se transferem para os colegas e amigos,
abandonando aos poucos a própria família. Revê padrões e reformula valores
adquiridos na infância.
O adolescente desenvolve outras habilidades nesta etapa e necessita dar conta
de sua própria "ebulição" hormonal.
É a fase das discussões sobre o rumo que irá tomar, qual profissão escolher e
seguir. É muito angustiante não saber o que estará fazendo em um futuro
próximo. Crescer não é mais tão maravilhoso, uma vez que a independência é
percebida como relativa.
A função das famílias e da instituição escolar nessa fase é assessorar, incentivar
o desenvolvimento da autonomia e da independência, de maneira responsável
e coerente.
A parceria família-escola deve ser estabelecida com vista ao apoio e suporte das
dificuldades enfrentadas cotidianamente pelos alunos.
No entanto, é baixa a freqüência à escola das famílias cujos filhos apresentam
dificuldades de aprendizagem, de aproveitamento e disciplinares.

Nas reuniões de pais, os índices de comparecimento são proporcionais à série


em que o filho se encontra e ao trimestre letivo. Ou melhor, o maior índice se
estabelece na 1ª reunião (final 1º trimestre) para a 1ª série. Nas demais, os
índices caem.
Percebe-se, pois, que alguns pais de alunos com sérias dificuldades não se
manifestam, sendo necessário convocá-los para entrevistas a posteriori.

Em geral, o psicopedagogo escuta que não há tempo para comparecerem ao


colégio para a discussão desses assuntos e, que os filhos não são mais crianças.
Delegam a responsabilidade pelo processo de aprendizagem ao próprio
adolescente, que se encontra "perdido".

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Cabe ao profissional sensibilizar as famílias que os jovens, embora se coloquem
como autônomos e independentes, ainda são vulneráveis e necessitam de apoio
e ajuda em vários momentos.

As dificuldades de aprendizagem podem coexistir com dificuldades de


percepção visual, auditiva, de linguagem, de atenção (TDAH), de memória,
transtornos psicológicos, psiquiátricos e situações de privação cultural. Estes
padrões podem estar perturbados desde os estágios iniciais do desenvolvimento
e não terem sido diagnosticados adequadamente.

ACOMPANHANDO AS DIFICULDADES DOS ALUNOS

L. apresentava desde o Fundamental I queixa de agitação e dispersão. Segundo


as Orientadoras anteriores, a mãe não havia procurado diagnóstico como
recomendado, mas estava presente na vida da filha de forma adequada. Os
cadernos eram amassados e a letra de difícil compreensão. Movimentava a
cabeça de lado a lado e derrubava seus objetos no chão por todos os lados.

Após um ano inteiro de solicitações de realização de diagnósticos, na 5ª série,


L. foi reprovada. A queixa proveniente do corpo docente se referia a dificuldades
de atenção e concentração, e muita agitação durante as aulas. Apontada
hipótese de imaturidade, decidiu-se pela reprovação. No ano seguinte, após
insistentes queixas da filha de dores de cabeça, a mãe resolve levá-la ao
oftalmologista. Diagnóstico: ambliopia não detectada na infância que poderia ter
sido corrigida. L. apresentava somente 20% da visão do olho esquerdo, sendo
este um dos fatores que a tornava distraída e dispersa. Segundo a mãe, L. nunca
havia se queixado "porque achava que todo mundo enxergava daquele jeito"!

A psicopedagoga informou ao corpo docente o resultado do diagnóstico


oftalmológico de L. As questões suscitadas envolviam as observações falhas da
instituição educacional, uma vez que L. era aluna da escola desde o Maternal e,
também, da própria família que não havia percebido essa dificuldade.

Encaminhada a especialistas continuou a estudar na instituição. A interferência


da psicopedagoga subsidiando as ações do corpo docente possibilitou o resgate
de sua auto-estima. (1998)

Ao contrário do que se acreditava até recentemente, o cérebro adolescente


encontra-se em formação e em reorganização, sofrendo modificações

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freqüentes. Passa por diversas alterações em sua densidade, para ao final da
adolescência, regredir e se estabilizar. Nesta etapa, os jovens iniciam o processo
de compreensão e "trabalham conceitos mais complicados e abstratos", diz
Strauch4.

Isto significa que há uma grande revolução cerebral nessa etapa da vida, o que
pode significar que as dificuldades de aprendizagem são também decorrentes
dessas alterações neuroquímicas.

Não se sabe ainda perfeitamente quais os mecanismos neurológicos envolvidos


nesse processo. O que se constata efetivamente é que o adolescente que
apresenta dificuldades de aprendizagem é necessariamente um ser que sofre.
Sofre porque não se entende, não consegue superar suas dificuldades, define-
se e é definido como "lento, burro, ou mesmo esforçado, agitado". Possui auto-
estima profundamente abalada e rebaixada. É estigmatizado pelo grupo que o
isola e não o quer em grupos de trabalho, e muitas vezes de convivência. Possui
uma dor interna imensa que necessita ser cuidada e, se possível, curada.

Esse jovem vive a angústia diariamente. Comete erros. E os colegas "projetam-


se" uns sobre os outros, ridicularizando-se e sendo ridicularizados, atuando o
narcisismo e o sadismo, característicos dessa fase, indiscriminadamente.

DIFERENÇAS DE RITMO: ESCOLA E ALUNOS

B. chegou ao colégio na 1ª série do ensino médio com histórico de passagens


por diversas escolas anteriores. Muito agitado desde o primeiro dia. Enrolava o
cabelo na testa incessantemente. "É um tique mesmo. Tenho desde pequeno!"
Apresentava dificuldades comportamentais e disciplinares cotidianamente,
quando não várias vezes no mesmo dia. Professores relatavam não
conseguirem dar aulas com sua presença.

Os pais compareceram às entrevistas, após repreensões e suspensões.


Relataram estarem cansados de tantas reclamações. Sempre irriquieto, desde
pequeno. Derrubava tudo, mas andava de bicicleta muito bem. Apresentara
atraso na fala e parecia estar "ligado na tomada". Tinha sono agitado.
Questionados sobre encaminhamentos ou tratamentos, argumentaram que
nenhum havia dado resultado. Fez terapia, acompanhamento psicopedagógico
e outros tratamentos alternativos, mas nada surtira o efeito desejado e esperado.
De acordo com o relato, os dados de observação e relatos do corpo docente,
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levantou-se a hipótese de hiperatividade e sugerido encaminhamento para
diagnóstico por neurologistas. A mãe questionou a orientação relatando que
havia levado B. a diversos neurologistas. "Mas, resolveram medicá-lo com
Metilfenidato, a Ritalina, que causa dependência. Eu não o deixei tomar mais,
mesmo porque após um mês os sintomas haviam retornado. No entanto, me
lembro da felicidade estampada no rosto dele após ser medicado pela primeira
vez, chegar em casa com lágrimas nos olhos dizendo que aquele tinha sido o
primeiro dia em sua vida que tinha conseguido prestar atenção na aula o tempo
todo". Sugerida nova avaliação que não foi realizada.

B. transferiu-se da escola em função das queixas freqüentes por parte dos


professores e colegas de sala que alegavam não conseguirem prestar atenção
com ele por perto, embora muito querido. Os pais foram orientados a
matricularem B. em escola que atende adolescentes com dificuldades. Aos pais
foi sugerida psicoterapia de apoio.

De acordo com relatos de colegas, sabe-se que B. está adaptado a essa


instituição embora com a mesma sintomatologia. Depreende-se que se fosse
medicado e os sintomas desaparecessem ou mesmo diminuíssem, os pais
deveriam dar conta de suas próprias dificuldades e limitações, o que
provavelmente não era interessante. Portanto, a manutenção do sintoma serve
para não modificar a estrutura familiar.

Foram diversas as intervenções. Todas as exclusões foram trabalhadas e


discutidas com o aluno, que dificilmente conseguia avaliar seus comportamentos
como inadequados. Dizia-se "perseguido" e "marcado". O que não percebia é
que era novo, tendo ingressado junto com todos os demais da 1ª série, o que
não poderia resultar em pressupostos desse gênero. Colocava-se a dificuldade
de se trabalhar com um garoto portador de TDAH sem tratamento, onde as
dificuldades comportamentais suplantavam as pedagógicas. Certamente
apresenta excelente capacidade intelectual que está sendo "desperdiçada" por
não ter a possibilidade de exercê-la de maneira adequada. (2003)

As dificuldades de aprendizagem são sintomas de algo mais profundo,


reveladoras da dinâmica de personalidade daquele adolescente em especial.

Na prática psicopedagógica, a escuta e o olhar analítico-clínico devem estar


presentes todo tempo, pois estas atitudes direcionam a reflexão e o
encaminhamento de estratégias de ajuda ao adolescente.

15
As queixas nesta área partem, portanto, de três instâncias diferentes: o corpo
docente, os pais e o próprio adolescente.

O corpo docente aponta adolescentes com dificuldades na compreensão do


conteúdo e problemas disciplinares. O encaminhamento pode ser feito da
seguinte maneira:

1. Queixa.
2. Professor responsável.
3. Conteúdo específico.
4. Habilidades e competências requeridas.
5. Metodologia e didática desenvolvida.
6. Características de personalidade do professor.
7. Relacionamento estabelecido entre professor-aluno.
8. Reação frente à dificuldade em aprender do aluno específico.
Portanto, depreende-se que o psicopedagogo institucional deva conhecer o
corpo docente e suas características (qualidades e defeitos) através de dados
de observação da prática cotidiana em sala de aula.
Qual a pesquisa que conduzimos para inventariar quem somos e como nos
sentimos agentes nos nossos papéis de educadores? Como não consigo ensinar
adequadamente aos alunos.
Alguns se isentam da resposta e do processo. Delegam a responsabilidade única
e exclusiva ao próprio adolescente ou à família.
Alguns se disponibilizam a participar de processo de reflexão para efetivamente
investirem em uma relação de mudança de paradigmas e estigmas frente ao
aluno.
Os pais comparecem ao setor de psicopedagogia da escola em duas situações:
espontaneamente ou convocados.
Espontaneamente, procuram o psicopedagogo quando os filhos apresentam
aproveitamento abaixo da média esperada, dificuldades pessoais, disciplinares
ou de saúde, indagando qual estratégia adotar para a melhoria do rendimento
pedagógico.
O psicopedagogo oportuniza o levantamento do histórico sobre o processo de
aprendizagem do jovem e infere hipóteses diagnósticas junto à família. Se
necessário, encaminha a especialistas. Os dados levantados ficam registrados
na ficha de dados dos alunos e arquivados em prontuários individualizados.

16
Interessante observar que raramente estes pais se incluem como co-
responsáveis pelas dificuldades e pelo eventual fracasso do filho. O problema é
do "outro", do filho, que não estudou o suficiente, foi "vagabundo", preferiu ficar
com os colegas, na Internet e não estudar. Ou então, da escola, que não é capaz
de ajudar na mudança de atitude, ou não compreende suas dificuldades.
Esquecem muitas vezes que foram adolescentes e que estas criaturas com
dificuldades foram educadas em seus lares. Projetam-se sobre os filhos e os
elegem como "pacientes identificados" de suas próprias dificuldades. Como o
caso de B.

Alguns pais relatam que não apresentaram desempenho satisfatório em seu


próprio processo de escolarização e omitem esses dados de seus filhos,
deixando-os como únicos responsáveis pelo "fracasso" e pelas dificuldades.
Cabe ao psicopedagogo orientá-los a relatarem suas falhas aos filhos, mesmo
que para isso percam o papel de "super-heróis".
Como diria Carl G. Jung5, o pior segredo é aquele que não é dividido com
ninguém, que fica no inconsciente, incomodando, não externalizado ou encarado
de forma madura e adulta. Omissões são atitudes perniciosas mesmo porque o
inconsciente do jovem percebe que há algo errado e reage, muitas vezes,
atuando as dificuldades familiares.
Sigilo, portanto, somente se a família não permitir. Os dados levantados devem
estar à disposição do corpo docente.
A atitude ideal com os adolescentes com dificuldades de aprendizagem é a
aceitação da problemática e da limitação. Os adultos envolvidos devem ser
orientados a conversar honestamente sobre a questão e a adotar postura de
autenticidade, pois são modelos de identificação para os jovens.
Os adolescentes chegam com suas queixas quando já conscientes das
dificuldades. Procuram ajuda para conversar com os pais percebidos como
"feras" e "incompreensivos". Solicitam, dependendo do grau de maturidade,
orientação quanto a melhor forma de estudar, de aprender ou a indicação de
professores particulares.
A resolução das dificuldades começa pela constatação e aceitação das próprias
limitações e pelo desenvolvimento de estratégias criativas para aprender a
aprender.
A participação em sala de aula, o trabalho em equipe, as tarefas, o desempenho
nas avaliações orais e escritas, as ausências são dados essenciais para o
levantamento de hipóteses.
O psicopedagogo deve lançar mão de estratégias diferenciadas na tentativa de
resolução dos problemas apresentados: recorrer ao levantamento do
aproveitamento junto ao corpo docente, a testes como o Par Educativo, de
atenção, memória, análise de relatórios sobre o desempenho global por sala e

17
por série. Mas, em princípio, nada disso funciona se o psicopedagogo não
desenvolver atitude de acolhimento e de escuta das dificuldades.
Não cabe somente à escola resolver a questão. Ela não é uma instituição auto-
suficiente.
Ao professor cabe a tarefa de estar atualizado constante e continuamente, seja
por reuniões ou cursos extras. E guardar sigilo dos dados fornecidos.
Às instâncias diretivas cabem o incentivo e estímulo aos adolescentes à
permanência na escola, proporcionando atividades que possibilitem os
aprenderes diferenciados como a escola de esportes, skates, xadrez, tênis de
mesa, atividades de solidariedade (essencial para desenvolver o sentimento de
mudança da sociedade), cursos extras como gastronomia, cartoons, fotografia,
meditação, dentre outros.
Cabe à instituição, o estímulo e incentivo cotidiano para o aluno desenvolver
atitudes na direção de aprender a aprender e a consciência sobre as diversas
formas de aprendizagem: inclusão social.
Cabe ao psicopedagogo escolar estar freqüentemente atualizado sobre os
conhecimentos de sua área. É o responsável pela realização de pré-
diagnósticos, encaminhamentos a especialistas e assessoria aos alunos que
apresentam dificuldades através da intermediação entre os clínicos, o corpo
docente e a comunidade. A escuta diferenciada, o olhar atento e o acolhimento
afetivo ao ser que aprende e ao ser que ensina não podem faltar no fazer
psicopedagógico. E o desenvolvimento de estratégias diversificadas no
atendimento aos alunos com dificuldades, para que façam parte da sociedade,
não os excluindo da convivência (inclusão). Nesse sentido, o psicopedagogo
atua com o objetivo de conscientizar os adolescentes sobre o mundo
heterogêneo e diversificado em que vivemos. E, procura sensibilizá-los a
exercerem atitudes de co-responsabilidade pela construção de um mundo
melhor e mais justo, aceitando as diferenças e o potencial individual.

REFERÊNCIAS

1. Paín S. Subjetividade e objetividade: relações entre desejo e conhecimento.


São Paulo: CEVEC; 1996.
2. Byington CAB. A construção amorosa do saber: o fundamento e a finalidade
da pedagogia Junguiana. São Paulo: Religare; 2003.
3. Aberastury A. Adolescência normal. Porto Alegre: Artmed; 1981.
4. Strauch B. Como entender a cabeça dos adolescentes: as novas descobertas
sobre o comportamento dos jovens. Rio de Janeiro: Campus; 2003.
5. Jung CG. O desenvolvimento da personalidade. São Paulo:Vozes; 1982.

18
Artigo 2

Ponto de Vista - Ano 2012 - Volume 29 - Edição 89


NOVOS PARÂMETROS DA SOCIEDADE INCLUSIVA: UMA
OPORTUNIDADE DE ATUAÇÃO PARA A PSICOPEDAGOGIA
INSTITUCIONAL NO AMBIENTE CORPORATIVO
Maria Rosa Crespo1; Priscila Covre2; Elizeu Coutinho de Macedo3

INTRODUÇÃO
A atuação do psicopedagogo institucional direciona-se à prevenção ou redução
de fracassos no processo de aprendizagem e encontra-se plenamente
estabelecida nas instituições de ensino, porém, no ambiente corporativo no
Brasil, ainda é bastante recente e o campo carece de maiores avaliações e
propostas de atuação1.
O presente artigo se propõe a discutir como questões relacionadas à sociedade
inclusiva, aceleram e justificam a necessidade da inserção da psicopedagogia
institucional nas empresas e na administração pública. Será realizada uma breve
revisão sobre o contexto e a importância da aprendizagem para as empresas, a
fim de familiarizar o leitor com o ambiente corporativo. Na sequência serão
abordadas questões relacionadas à sociedade inclusiva e o impacto nas
empresas públicas e privadas. Por fim, discutir-se-á o papel do psicopedagogo
institucional no ambiente corporativo, apresentando uma proposta de atuação.

APRENDIZAGEM NO CONTEXTO EMPRESARIAL

No atual formato econômico globalizado, um dos grandes desafios das


empresas e da administração pública dos países emergentes está em reduzir o
abismo educacional que os separa dos países desenvolvidos2 e, no Brasil, a
falta de profissionais qualificados tem sido apontada como o grande entrave para
o desenvolvimento econômico e social desejado para o futuro próximo. Tal fato
vem despertando um novo interesse governamental e da opinião pública para a
questão da Educação, haja vista as recentes iniciativas de democratização do
acesso ao ensino superior e às manifestações culturais. Devido aos conhecidos
problemas da educação pública, o jovem brasileiro chega ao mercado de

19
trabalho com notória defasagem intelectual e de conhecimento técnico-
científico3, reproduzindo, na maioria das vezes, seu histórico de fracasso escolar
diante do processo de aprendizagem corporativa, traduzido pela incapacidade
de progredir na carreira e de alcançar seus próprios objetivos acadêmicos.

As atuais teorias de administração empresarial, como a Gestão do


Conhecimento, valorizam sobremaneira as ações e estruturas educacionais
corporativas, apontando sua importância estratégica para alcance da
competitividade e sustentabilidade e identificam as organizações que aprendem,
como aquelas que possuem capacidade de se adaptar rapidamente, e com
sucesso, às inevitáveis mudanças econômicas, políticas, sociais e de mercado4.
Tradicionalmente, o setor de Recursos Humanos, ou aqueles voltados para
gestão e desenvolvimento de pessoas, têm a responsabilidade de atrair, treinar,
reter e desenvolver talentos, visando à sustentabilidade do negócio. Contudo, a
proposta de escola inclusiva e o modelo de progressão continuada, bem como a
lei de quotas que estabelece a contratação de pessoas com deficiência, têm
tornado essa tarefa cada vez mais complexa.

Com os novos parâmetros propostos para uma sociedade inclusiva, o sistema


educacional tradicional, preparado para filtrar alunos não competentes e com
isso torná-los excludentes da sociedade e do mercado de trabalho, foi substituído
por um sistema em que todas as pessoas, independentemente de suas
necessidades e capacidades, são aceitas e mantidas como participantes, desde
que sejam fornecidas condições especiais para seu aprendizado. Para as
empresas, o resultado disso é que sua atuação como educadora se tornou mais
necessária e mais desafiadora e esse desafio extrapola os limites das
necessidades de educar e/ou instruir trabalhadores que apresentem dificuldades
de aprendizagem, exige também uma atuação específica voltada para a
superação da desinformação e do preconceito, o que envolve questões
comportamentais relacionadas ao ambiente de trabalho5.

A SOCIEDADE INCLUSIVA E A LEI DE COTAS PARA PESSOAS COM


DEFICIÊNCIA

É somente no século XX que a sociedade compreende que deve garantir o


acesso da pessoa com deficiência a todos os serviços que são oferecidos aos
demais cidadãos, ou seja: saúde, educação, inclusão social e profissional. É com
fundamento nessas ideias que surge o Paradigma de Suporte, caracterizado
pela aceitação de que a pessoa com deficiência tem direito à convivência não

20
segregada e ao acesso aos recursos disponíveis aos demais cidadãos "[...] onde
se contextualiza a ideia de inclusão, prevê intervenções decisivas e incisivas, em
ambos os lados da equação: no processo de desenvolvimento do sujeito e no
processo de reajuste da realidade social"6.

Em termos de legislação, o Decreto nº 3.298/997 prevê o acesso da pessoa com


deficiência à educação profissional "a fim de obter habilitação profissional que
lhe proporcione oportunidades de acesso ao mercado de trabalho" (Art. 28) e a
"inserção da pessoa portadora de deficiência no mercado de trabalho ou sua
incorporação as sistema produtivo mediante regime especial de trabalho
protegido" (Art. 34). O mesmo decreto estabelece a obrigatoriedade de
preenchimento de 2% a 5% dos cargos das empresas com mais de 100
empregados, com beneficiários da Previdência Social reabilitados, ou com
pessoas com deficiência habilitadas (Art. 36). Em 1989, foi sancionada a Lei
7.853, de 24 de outubro8, que criou a Coordenadoria Nacional para Integração
da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE) e dispôs, dentre vários outros
assuntos, sobre o "apoio governamental à formação profissional, à orientação
profissional e à garantia de acesso aos serviços concernentes, inclusive aos
cursos regulares voltados à formação profissional" para a pessoa com
deficiência. No mesmo ano, é sancionada a Lei 8.069, de 13 de julho9, que
dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, onde se assegura ao
"adolescente portador de deficiência o trabalho protegido" e o "direito a
condições de capacitação para o exercício de atividade regular e remunerada".

Contudo, o país está longe de efetivar um ambiente de trabalho inclusivo, devido


à insuficiente destinação de recursos do setor, e também pela necessidade de
rever e modernizar os fundamentos teóricos e metodológicos de ações voltadas
para capacitação e colocação de pessoal com deficiência no mercado de
trabalho. A pós-modernidade permite a existência de várias visões e diferentes
propostas científicas, políticas, sociais e de comportamento e propõe não
apenas a tolerância e aceitação das minorias, mas a concretização de ações
inclusivas. No mundo do trabalho, a partir da reserva de vagas nas empresas
encontra-se a garantia constitucional, mas ainda não se pode considerar
concretizada a mudança de paradigma social, ou a inversão de valores na
experimentação e comprovação de métodos de gestão e implementação de
estruturas que permitam a real inclusão e condições de produtividade ao
portador de deficiência.

A PROPOSTA DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL NO AMBIENTE


CORPORATIVO

21
Os fatores expostos acima têm tornado a gestão do conhecimento na empresa
uma tarefa cada vez mais desafiadora, levando à necessidade da construção de
estruturas de suporte que ajudem as pessoas a aprender dentro do seu tempo e
possibilidades, desenvolvendo aptidões e habilidades específicas para o
desempenho de sua função, aumentando sua produtividade. Com os mesmos
objetivos de prevenção e superação de dificuldades de aprendizagem, a atuação
da psicopedagogia no ambiente corporativo irá demandar competências
adicionais, além da otimização do uso da infraestrutura física e da tecnologia.
Dentre elas é possível citar: o domínio da temática da dinâmica dos grupos,
familiaridade com a cultura organizacional e atualização em relação às práticas
e modelos de administração de empresas.

O psicopedagogo no âmbito corporativo irá apresentar questões, formular um


diagnóstico da situação e elaborar propostas para solução de problemas,
conflitos e crises envolvendo processos de aprendizagem, procurando perceber
o contexto de forma abrangente. Poderá, também, auxiliar na superação das
dificuldades de relacionamento entre os diversos grupos, calcadas na falta de
informação e no preconceito, levando à melhoria do ambiente organizacional.
Como ponto de partida para uma reflexão, é importante ressaltar que o lugar, a
função e o papel do psicopedagogo institucional, assim como uma definição
sobre sua formação ideal, ainda não estão bem delimitados. Questões
importantes, como o grau de autonomia possível no contexto corporativo e a
posição hierárquica, deverão ser respondidas pela análise de cada situação.
Questões de ordem prática, como remuneração, instrumentos de avaliação e
diagnóstico e relacionamento com outros profissionais, ainda carecem de
discussões e análises.
Propõe-se que a psicopedagogia institucional poderá oferecer auxílio às pessoas
envolvidas em Educação corporativa e fornecer subsídios para maior
compreensão de uma sociedade plural e inclusiva, tornando-se um apoio
estratégico para as lideranças organizacionais que se encontram diante de uma
problemática alheia a sua experiência e funções. Essa atuação, porém,
necessita de delimitação dos contornos possíveis, aprimoramento das
experiências já existentes e maior divulgação por parte dos profissionais
psicopedagogos junto aos setores empresariais que, muitas vezes,
desconhecem essa possibilidade.

REFERÊNCIAS

22
1. Weiss ML. Psicopedagogia institucional: controvérsias, possibilidades e
limites. In: Sargo C, ed. A práxis psicopedagógica brasileira. São
Paulo:Associação Brasileira de Psicopedagogia; 1994.

2. Ricúpero R. O Brasil e o dilema da globalização. 3ª ed. São Paulo:Editora


Senac;2010.

3. Souza PNP. Educação brasileira. Problemas brasileiros. São Paulo, n. 407,


set/out, 2011 (encarte).

Especialista em Psicopedagogia pela UNIP. Especialista em Psicologia


Analítica pelo Instituto Sedes Sapientae. Pedagoga USP, Psicóloga PUC-SP.
Orientadora Educacional do Colégio FECAP

Artigo 3

O TRABALHO DO PSICOPEDAGOGO INSTITUCIONAL:


experiência em uma
escola de Teresina – PI
Kely-Anee de Oliveira Nascimento
Faculdade Piauiense – FAP
Resumo
Esta pesquisa tem como objetivo explicitar o papel do Psicopedagogo Institucional em
uma escola. Este trabalho apresenta-se como uma pesquisa teórico-empírica, com
abordagem qualitativa, que contou como instrumento de coleta de dados a observação
participante. Buscou-se, através da revisão de literatura e do desenvolvimento de um
projeto de intervenção sanar as dificuldades encontradas em uma escola da rede
municipal de Teresina - PI. Eis alguns teóricos que fundamentaram as discussões:
Reinhard (2007), Fagali (1993), Porto (2011). A análise dos dados e a realização de um
projeto de intervenção revelaram a necessidade do trabalho do Psicopedagogo para
superar as dificuldades encontradas na escola.
Palavras-chave: Aprendizagem. Psicopedagogo Institucional. Escola.
Introdução

23
A Psicopedagogia é um campo de conhecimento da Educação que estuda o amplo e
complexo processo de aprendizagem. O Psicopedagogo um profissional que por meio
do diagnóstico identifica o processo e as dificuldades de aprendizagem na tentativa de
preveni-las ou saná-las.
O campo de trabalho do Psicopedagogo é bastante amplo e pode abranger a área
clínica, hospitalar e a instituição escola. O Psicopedagogo Institucional exerce suas
atividades em organizações como a escola e tem como objeto de trabalho auxiliar a
aprendizagem dos alunos que fracassam e/ou propor estratégias de prevenção ao
fracasso escolar.
O trabalho deste profissional está voltado para uma ação coletiva com toda a equipe
pedagógica que abrange a direção, professores, pais, alunos e demais funcionários da
escola, os processos didáticos, as interações e avaliação escolar, para buscar
compreender como acontece a relação ensino-aprendizagem no espaço
educativo. A partir das análises do todo escolar o Psicopedagogo Institucional irá auxiliar
a
direção e demais professores a refletirem sobre a aprendizagem, metodologias de
ensino
e práticas pedagógicas, tendo em vista a melhoria da qualidade do ensino. Assim, o
Psicopedagogo Institucional tende a identificar as dificuldades e obstáculos presentes
na
escola e que possam interferir no processo de aprendizagem, prevenir o fracasso
escolar e orientar as funções de cada sujeito para que assim todos possam trabalhar
harmonicamente para que os objetivos educacionais possam ser alcançados.
Todavia é necessário ter atenção para não confundir o real trabalho do Psicopedagogo
Institucional. Ele não está inserido na escola para ditar regras ou interferir na forma que
o gestor administra a escola ou o professor conduz sua aula. Este profissional irá
mediar, refletir de maneira conjunta, dialogar com os demais profissionais da educação
técnicas de melhoria visando a satisfação de todos.
Tendo em vista a importância do Psicopedagogo Institucional em lidar com os interesses
e necessidades da escola, este trabalho que é resultado de uma pesquisa da disciplina
Prática Específica I – Estágio Institucional, do curso de Pós-graduação em
Psicopedagogia, Clínica, Institucional e Hospitalar da Faculdade Piauiense (FAP), em
um Centro Municipal de Educação Infantil – CMEI, da cidade de Teresina – PI. Tem
como objetivo identificar o papel do Psicopedagogo Institucional na escola e sua
importância para a organização do trabalho educativo e sucesso escolar. Buscamos
levantar as principais dificuldades enfrentadas pelo CMEI e com base nelas desenvolver
um projeto de intervenção na instituição visando amenizar tais dificuldades. Para isso
utilizamos como instrumento de coleta de dados a observação participante bem como
revisões bibliográficas e a análise do Projeto Político Pedagógico e Regimento Interno
da instituição. De caráter qualitativo, fundamentamos nossos estudos tendo como base
Reinhard (2007), Fagali (1993), Porto (2011) e conversas informais sobre a experiência

24
da gestão escolar e dos professores.

O Papel do Psicopedagogo Institucional


Um dos problemas educacionais que mais tem tido destaque nos debates nas últimas
décadas, está relacionado às dificuldades de aprendizagem. Cabe à escola cumprir um
currículo e um cronograma de formação e aqueles que não se enquadram no perfil ou
não acompanham acabam sofrendo dificuldades e sendo rotulados. Todavia, ao se
rotular um aluno a escola acaba ficando alheia a realidade do sujeito e não percebendo
que sua “indisciplina” pode ser uma resposta a alguma dificuldade seja pessoal, ou
educacional.
A escola é a instituição social responsável em ensinar os conteúdos formais exigidos
para a formação do cidadão e para a qualificação para o trabalho. É um ambiente
cultural onde valores, princípios e normas são transmitidos. Cabe à escola formar o
sujeito de maneira integral através da construção do conhecimento onde aluno e
professor por meio da troca de saberes possam se relacionar. O professor como
mediador do ensino deverá auxiliar o desenvolvimento autônomo do aluno e dos
aspectos cognitivo, social e emocional do sujeito.
Aprender é um processo complexo que envolve o indivíduo como um todo,devendo ser
levados em consideração o desenvolvimento psicomotor, afetivo e cognitivo da pessoa.
Todos fazem parte do processo educacional e para compreender as causas das
dificuldades de aprendizagem é necessário reavaliar algumas atitudes escolares, entre
elas a avaliação, práticas pedagógicas, organização curricular e da sala de aula, postura
do professor, dialogo, gestão, os fatores sociais, pedagógicos e emocionais que
interferem na aprendizagem. Busca-se um culpado pela não aprendizagem do aluno,
mas ficar à procura faz com que deixemos de lado a complexidade que envolve as
dificuldades sendo que determinados fatores influenciam, tais como o sujeito, a família,
classe social, poder aquisitivo, político etc. Porto (2011) cita a celebre pirâmide
educacional brasileira:
repetência, evasão e baixa qualidade do ensino. Sendo atribuída a elas vários culpados,
como o governo, a sociedade, a criança, a família, a escola, os professores. Há uma
maior preocupação em achar um culpado do que resolver tais problemas. A
Psicopedagogia estuda os processos de aprendizagem, ou seja, os mecanismos do
aprender e do não aprender, aquilo que interfere, as dificuldades e transtornos de
aprendizagem. A Psicopedagogia Institucional se propõe a analisar a instituição
educacional como um todo, sujeitos que a compõe, metodologias de trabalho, currículo,
a fim de auxiliar no sucesso educacional.
O trabalho do Psicopedagogo Institucional está relacionando tanto com o prevenir como
solucionar o fracasso escolar. O trabalho preventivo refere-se: a assessoria junto a
pedagogos, orientadores e professores. Tem como objetivo trabalhar as questões
pertinentes às relações vinculares professor-aluno e redefinir os procedimentos
pedagógicos, integrando o afetivo e cognitivo, através da aprendizagem de conceitos,
nas diferentes áreas do conhecimento. (FAGALI, 1993 p. 10) É a prevenção o fracasso
escolar dos alunos utilizando medidas institucionais e trabalhando com todo o corpo
escolar, composto por diretores, coordenadores, professores, família e comunidade. O
objetivo do trabalho do Psicopedagogo Institucional é assegurar uma dinâmica
integradora na escola como um todo, trabalhar a reflexão e criticidade buscando superar
os obstáculos enfrentados pela escola e integrar os sujeitos que fazem parte dela. Para
isso trabalha as questões didáticas com os professores, a relação família e escola,

25
planeja estratégias visando superar as dificuldades encontradas, avaliar e assegurar o
processo de ensino-aprendizagem, rever o currículo, inserir projetos pedagógicos, etc.
A intervenção psicopedagógica é a adaptação e organização de programas específicos.
Avaliar os alunos quanto o processo de desenvolvimento e aquisição da aprendizagem,
o professor em suas estratégias e competências profissionais, a família e suas atitudes
perante a educação dos filhos e todo o contexto escolar e como esta dirige o processo
educativo. Realizar as adaptações curriculares necessárias, refazendo objetivos,
conteúdos próprios, metodologias desenvolvidas e a avaliação além de propor
programas e projetos que visem superar as dificuldades enfrentadas pela escola.
O Psicopedagogo Institucional trabalha seguindo algumas especificidades: tentando
amenizar as dificuldades de aprendizagem analisando as práticas didático-
metodológicas orientando professores e pais; realizar diagnósticos na instituição afim
de encontrar um déficit escolar como causa para as dificuldades de aprendizagem; e
por fim tratar as dificuldades encontradas elaborando oficinas e projetos. Assim: O
psicopedagogo institucional trabalha com múltiplas fontes de dados, decorrentes do uso
que faz de inúmeros métodos (observação, conversas casuais, entrevistas,
documentos), múltiplos tipos de participantes (secretarias de educação,
superintendências ou CRES, orientadores educacionais, especialistas em currículo,
diretores, professores, entre outros) e várias situações (reuniões de diversos tipos,
oficinas de trabalho, vida em instituições e etc.). (PORTO, 2011 p. 123).Portanto é um
trabalho conjunto. A presença do Psicopedagogo na escola facilita o trabalho da gestão
e até mesmo dos professores a partir do momento em que este profissional é inserido
na equipe como um apoio, mediador e incentivador das atividades escolares, propondo
estratégias e didáticas para as dificuldades encontradas
na instituição.
O trabalho do Psicopedagogo Institucional em um Centro Municipal de Educação
Infantil. Este trabalho é resultado de uma pesquisa realizada durante a disciplina Prática
Específica I – Estágio Institucional, do curso de Pós-graduação em Psicopedagogia,
Clínica, Institucional e Hospitalar da Faculdade Piauiense (FAP), em um Centro
Municipal de Educação Infantil – CMEI, da cidade de Teresina – PI. Teve como objetivo
identificar o papel do Psicopedagogo Institucional na escola, sua importância para a
organização do trabalho educativo e sucesso escolar e por fim elaborar um projeto de
intervenção psicopedagógico. Para isso, buscou-se fazer uma
análise da realidade da instituição, utilizando o Projeto Político Pedagógico e o
regimento Interno da escola, bem como conversas com toda a equipe pedagógica:
diretora, pedagoga, professores e demais funcionários sobre as principais dificuldades
enfrentadas pela instituição. Com base nisso, foi desenvolvido um projeto de
intervenção psicopedagógico na instituição visando amenizar tais dificuldades.
O Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) no qual foi realizado o estágio está
localizado em uma zona considerada de preferia da cidade de Teresina - Piauí. Seu
horário de Funcionamento é de 07:30 às 11:30 e 14:00 às 17:00 horas. As classes
compostas pela escola são: Maternalzinho (manhã), com crianças de 1 ano e 8 meses
a2
anos e 8 meses; maternal (manhã e tarde) 3 anos; 1º Período (manhã e tarde) 4 anos e

26
Período (manhã e tarde) 5 anos.
Os princípios norteadores da prática pedagógica da CMEI tendo como base o Projeto
Político Pedagógico e o Regimento Interno da instituição estão orientados pelas
concepções de sociedade, cidadania, desenvolvimento educacional mediados pelo
Currículo Escolar.
A Concepção de Aprendizagem e conhecimento leva em consideração o aluno , como
sujeito em desenvolvimento e que necessita ser estimulado para a aprendizagem de
maneira integral, levando em consideração sua realidade e saberes para que o mesmo,
com a mediação do professor possa construir seus conhecimentos.
A Concepção de Sociedade refere-se à construção de um meio social mais justo e
democrático, tendo como máxima os ideais de solidariedade e igualdade orientados pela
Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.
A Concepção de Criança está orientada pelos Referenciais Curriculares Nacionais para
a Educação Infantil, que fornece as bases metodológicas e curriculares de como
trabalhar e quais conteúdos são essenciais para essa fase da vida do sujeito. A
importância da mediação do professor bem como o respeito a fase de desenvolvimento
de cada aluno como as competências motoras, afetivas e cognitivas, servem de
orientação para o Projeto da escola que utiliza a teoria de Piaget como embasamento
teórico de suas práticas. A CMEI tem como objetivos principais promover o
desenvolvimento das capacidades cognitivas e motoras da criança no cotidiano escolar.
Para isso, utiliza estratégias de integração entre os aspectos físicos, afetivos, cognitivos
e sociais que devem prevalecer durante a educação do sujeito, desenvolvendo a
autonomia da criança e trabalhando de maneira conjunta com a família e a comunidade.
Assim a missão da escola é:
Tornar acessíveis: elementos da cultura que enriquecem seu desenvolvimento e
inserção social por meio de aprendizagens diversificadas. Situações de cuidado,
brincadeiras que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de
relação inter pessoal de ser e estar com os outros em atitude de aceitação, respeito e
confiança. Desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das
potencialidades corporais, afetivas e éticas na formação de crianças felizes e saudáveis.
(SEMEC, Projeto Político Pedagógico 2012).
A metodologia de trabalho da escola tem como base a teoria de Jean Piaget. A teoria,
de base construtivista, relaciona a aprendizagem a estágios de desenvolvimento, onde
o ser humano é capaz de aprender com o meio externo e modificar sua estrutura
cognitiva por meio de novas aprendizagens. Logo, o homem constrói suas ideias e seu
pensamento pela ação, interação e adaptação ao meio. Para que o sujeito possa
adquirir novas aprendizagens é imprescindível a maturação biológica. Logo, Piaget
desenvolveu sua teoria em estágios de desenvolvimento, onde em cada fase, o sujeito
é capaz de assimilar aprendizagens cada vez mais complexas e durante todo o
desenvolvimento dos estágios há a interação do sujeito com o objeto, orientado pelas
estruturas cognitivas. Logo, segundo Piaget:
A aprendizagem é, portanto, um processo de construção e reconstrução de
conhecimentos, apoiado na ação do sujeito sobre oobjeto e dependente do
desenvolvimento da inteligência, ou seja, para o indivíduo aprender determinado
conteúdo é necessário ter desenvolvido dadas estruturas cognitivas que propiciem esse
aprendizado. (Alencar et. al. 2009, p. 128)

27
A grade curricular da Educação Infantil de acordo com os Referenciais Curriculares
Nacionais para Educação Infantil (RCNEI) abrange os estudos da
Linguagem oral e escrita; Matemática; Ciências Naturais e Sociais; Movimento; Música
e Artes Visuais. Trabalha também como Temas Geradores: valores, ética e abordagens
sociais. O currículo, portanto, trabalha a formação da personalidade do sujeito, bem
como o preparo para o exercício da cidadania. Permitir que a criança desenvolva sua
identidade e autonomia, trabalhando com o lúdico, faz de conta, diversidade e
possibilitando a interação criança-criança, criança-adulto. Para isso, faz uso de
metodologias diversificadas como jogos lúdicos, artes cênicas, arte musical e atividades
de leitura.
A avaliação acontece de forma contínua, processual e permanente, sem objetivos de
promoção. O professor acompanha o desenvolvimento do aluno através de registros e
observações cotidianas, sistematizando-as em relatórios semestrais entregue aos
responsáveis orientados pela supervisão escolar e equipe pedagógica.

Projeto de Intervenção Desenvolvido no CMEI – Integração do Psicopedagogo na


Escola
Curso de Especialização em Psicopedagogia Clínica, Institucional e Hospitalar da
Faculdade Piauiense – FAP, em sua grade curricular possui a disciplina Prática
Específica I – Estágio Institucional com carga horária de 60 horas. Nesta disciplina os
estudantes da pós – graduação tem a oportunidade de por em prática os estudos da
Psicopedagogia Institucional, conteúdo este anteriormente estudado na disciplina
Psicopedagogia Institucional: Interação entre Diagnóstico e Práticas, de carga horária
de 30 horas.
Esta pesquisa foi resultado do trabalho final produzido na disciplina Prática
Específica I – Estágio Institucional. A disciplina solicitava que os alunos escolhessem
uma escola próxima a sua residência e a partir dos estudos teóricos desenvolvidos em
sala de aula e sob acompanhamento de uma professora da instituição realizassem o
estágio institucional, buscando diagnosticar a princípio as principais dificuldades da
escola.
A partir de tal diagnóstico caberia aos estudantes, com apoio da professora do estágio
e de toda a equipe escolar e conforme os conteúdos estudados durante a disciplina
teórica, organizar um projeto de intervenção psicopedagógico, para solucionar ou tentar
superar as dificuldades institucionais encontradas.
O primeiro contato com a escola do estágio aconteceu em uma reunião com os
professores e alunos da especialização na Divisão de Educação Inclusiva da Secretaria
Municipal de Educação (SEMEC), onde pudemos conhecer a professora que iria
acompanhar o grupo, a mesma é professora da sala de Apoio Educacional
Especializado (AEE).Para identificar as principais dificuldades da escola utilizamos
como instrumentos a observação participante e a análise do Projeto Político Pedagógico
e Regimento Interno da instituição, bem como conversas com a pedagoga, diretora,
professora do AEE e uma professora da classe regular sobre o funcionamento da escola
e as principais dificuldades enfrentadas pela mesma. Conforme as dificuldades
mencionadas, destaca-se a citada por todos os sujeitos: a falta de acompanhamento ou
consciência dos pais sobre a verdadeira função da Educação Infantil para o
desenvolvimento da criança. Tendo em vista essa dificuldade, o grupo procurou

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trabalha-la realizando como projeto de intervenção uma oficina psicopedagógica com
os pais para tratar da importância da Educação Infantil para o desenvolvimento do aluno.
A pesquisa foi realizada durante o mês de setembro de 2012. Na primeira
semana visitamos a escola e analisamos o Projeto Político Pedagógico e Regimento
Interno. Na segunda semana, tivemos conversas informais com a diretora, pedagoga,
professora do AEE e uma professora da classe regular a fim de identificarmos nas falas
dos mesmos as principais dificuldades enfrentadas pela escola. Na terceira semana
buscamos formular hipóteses para as respostas encontradas e elaborar um projeto de
intervenção para ser executado na instituição. A quarta e última semana foi a
apresentação da oficina psicopedagógica com os pais e em seguida a socialização dos
resultados com a equipe pedagógica da escola.
A oficina psicopedagógica foi realizada no dia 3 de outubro com oseguinte tema: “A
importância da educação infantil para odesenvolvimento da criança: dialogando com os
pais.”.
As etapas da oficina consistiram nas seguintes: Apresentação das estagiárias de
Psicopedagogia; Dinâmica do Peixinho onde foi oferecido a cada pai ou mãe uma folha
de papel e um giz de cera para que pudessem desenhar um peixe e a partir disso ser
debatidas as diferenças nos desenhos e consequentemente a heterogeneidades das
pessoas, buscando retratar o lado da criança; em seguida o grupo iniciou a palestra
apresentando a Educação Infantil como primeira modalidade da Educação Básica e
essencial para o desenvolvimento integral da criança, nos aspectos físico, cognitivo,
motor e social; após esta apresentação, o grupo iniciou o debate sobre a importância da
presença e acompanhamento da família na vida escolar do filho.
A palestra teve como objetivo principal conscientizar os pais de que escola e
família juntas constituem uma parceria essencial tendo em vista a aprendizagem e
desenvolvimento da criança. Como primeira instituição social na vida do aluno, cabe
aos pais ensinar os primeiros valores e a escola auxiliar nesse processo educativo,
ensinando conteúdos exigidos pela sociedade para a formação de um cidadão. Por fim,
a
palestra foi encerrada com a leitura reflexiva do texto: “Floquinhos de algodão”, que
retrata a necessidade de solidariedade e apoio entre as pessoas. Ao final da oficina, foi
distribuído bombons de chocolate para os pais dos alunos. O papel do Psicopedagogo
Institucional está justamente em realizar diagnósticos
e planejamentos de intervenção como este. Diagnosticando as dificuldades enfrentadas

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pela escola e realizando ao longo do período letivo estratégias e oficinas
psicopedagógicas buscando superar as dificuldades encontradas. Assim, dependendo
das necessidades da instituição, os projetos de intervenção podem estar voltados para
a
equipe pedagógica (gestão, professores, gestão e professores e demais funcionários da
escola), pais, alunos e comunidade.
Conclusões
A escola é o ambiente institucional responsável pela educação e formação de futuros
cidadãos. Sua principal missão é ensinar, e onde há ensino, supõem-se que haja
aprendizagem, contudo, sabemos que nem sempre é assim que funciona. O processo
de aprendizagem é amplo e complexo, e envolve um sujeito que ensina e um sujeito
que aprende, e sobre este sujeito que aprende vários fatores tanto internos como
externos que podem interferir nessa aprendizagem.
O papel do Psicopedagogo Institucional é fazer com que a escola cumpra sua missão,
facilitando o processo ensino – aprendizagem, para isso utiliza estratégias de
intervenção que iniciam com o diagnóstico das principais dificuldades enfrentadas pela
escola e a partir disto realizam projetos e oficinas psicopedagógicas para superar as
dificuldades encontradas.
A pesquisa permitiu um olhar direcionado para a escola, do ponto de vista amplo que
deve ser visto pelo Psicopedagogo. As estratégias de intervenção permitiram a
familiarização das dificuldades enfrentadas pelo CMEI e a contribuição de alguma forma
com a escola no momento em que realizamos o projeto de intervenção. Os resultados
foram positivos, tanto para a escola, como para os pais. A partir do projeto pode-se
perceber o quanto o trabalho do Psicopedagogo Institucional, que deve trabalhar a
escola como todo, é essencial para que a aprendizagem e organização da instituição
aconteçam.
Referências
ALENCAR, E. de S; TEIXEIRA, C. de S. M; SILVA, C. de S; FERRO, M. da G. D;
CARVALHO, M. V. C de. A epistemologia genética de Jean Piaget. In: CARVALHO,
M. V. C de; MATOS, K. S. A. L. de. (Org.). Psicologia da Educação: teorias do
desenvolvimento e da aprendizagem em discussão. Fortaleza: Edições UFC, 2009.
BOSSA, N. A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto
Alegre: Artmed, 2007.
FAGALI, Eloisa Quadros; VALE, Zélia Del Rio do. Psicopedagogia institucional
aplicada: aprendizagem escolar dinâmica e construção na sala de aula. Petrópolis, RJ:

Parnaiba, março 2019

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