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A FILOSOFIA NO BRASIL
(1946)
I. Caracteres gerais
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II. Antes de Farias Brito
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Constant (1837-1891), matemático e professor, que fundou, no Rio de Janeiro,
em 1876, a Sociedade Positivista e realizou, em suas aulas na Escola Politécnica
e, em seguida, na Escola de Guerra, intensa propaganda das idéias republicanas;
os verdadeiros chefes do movimento positivista foram, porém, Miguel Lemos
(1854-1916), e R. Teixeira Mendes (1855-1927) cujas idéias tiveram larga reper-
cussão sobre o campo social e político, contribuindo para a proclamação da Re-
pública. Entre os representantes do movimento, deve ser ainda citado Luís Pe-
reira Barreto (1840-1923), positivista dissidente ou não ortodoxo, em cuja obra
Três filosofias procura aplicar ao Brasil a “lei dos três estados” de Comte.
Entre os materialistas, vamos encontrar: Domingos Guedes Cabral
(1852-1883), médico baiano que, no livro Funções do cérebro, repisa velhos so-
fismas do materialismos antigo e moderno; José de Araújo Ribeiro (1800-1879),
Visconde do Rio Grande, que se doutorou em direito em Coimbra, foi diplomata
e senador do Império e cuja obra anônima O fim da criação ou a Natureza in-
terpretada pelo senso comum, livro sem nenhum valor filosófico ou científico,
visa a “mostrar que a terra é dotada de uma vida própria e se nutre com os indi-
víduos organizados”, e Vicente de Sousa, médico que, durante alguns anos, en-
sinou filosofia no Ginásio Nacional e publicou um Curso de Lógica (1903), obra
confusa e indigesta.
Os evolucionistas foram mais importantes e influentes. Destacam-se, en-
tre ele: Tobias Barreto (1839-1889), professor da Faculdade de Direito de Recife,
jurista, crítico, poeta e filósofo, ardoroso defensor do monismo evolucionista, e
cujos livros — Ensaios e estudos de filosofia e critica (1875), Questões vigentes
de filosofia e de direito (1888), Estudos alemães (1883), Vários escritos (1900),
Polêmicas (1901) — carecem de serenidade, ordem e sistematização e revelam a
influência de Haeckel, Noiré, Hartmann, Schopenhauer, Kant e Strauss; e Sílvio
Romero (1851-1914), professor do Colégio Pedro II e da Faculdade Livre cle Ci-
ências Jurídicas e Sociais, notável crítico filosófico e literário, autor da magnífi-
ca História da literatura Brasileira (1888), além da Filosofia no Brasil (1878),
Doutrina contra doutrina (1894), Ensaio de Filosofia do Direito (1895) e cujo
pensamento foi, a princípio, influenciado por Jouffroy, Comte, Taine e Litré, em
seguida por Spencer, Darwin, Haeckel, Büchner, Vogt, Moleschott e Huxley e,
mais tarde, por Le Play.
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III. Farias Brito
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finidas do cosmos”. Todos os seres são emanações da substância divina. “Deus é
a luz e toda a luz, a luz externa e a luz interna, identificadas numa só e mesma
unidade, envolvendo todo o ser e toda a realidade”. A teodicéia de Farias Brito
é, assim, essencialmente panteísta.
A finalidade do mundo é o conhecimento, a verdade. O fim do homem é a
morte, o aniquilamento definitivo, a integração final no seio da realidade infini-
ta. Para atingir a verdade, o homem deve procurar conhecer, primeiro, a si
mesmo e, em seguida, a natureza. Esse conhecimento fornece a regra de ação
moral que é: “Proceder de acordo com o que a natureza nos deu em lugar dela...
proceder de conformidade com o que se nos apresenta como verdade no fôro da
consciência”. O critério supremo da conduta humana é proceder de acordo com
a verdade e a convicção. E a sanção consiste “na condenação da própria consci-
ência e na execração da consciência dos outros”. A moral é, assim, “norma de
conduta imposta pela própria consciência” e o direito “norma de conduta esta-
belecida pelo poder público e assegurado coativamente por uma sanção materi-
al”.
A religião é “a moral organizada, e isso quer dizer: é a sociedade organi-
zada pela razão”. Como é tarefa privativa da filosofia organizar a moral, disto
resulta que a religião, a moral e a filosofia se identificam num conjunto unitário
e harmonioso.
Farias Brito foi profundo conhecedor da filosofia moderna, cujas doutri-
nas expôs e criticou com segurança e penetração; não revelou, porém, a mesma
familiaridade quanto à filosofia antiga e medieval, cujas grandes teses não pare-
ce ter estudado profundamente. O maior mérito do notável pensador cearense
foi o de não se ter subordinado servilmente, como tantos outros, às doutrinas
filosóficas da época, conservando uma admirável independência de espírito. O
que explica a desenvoltura com que submeteu os filósofos mais influentes do
seu tempo a uma crítica penetrante e vigorosa. À luz dessa crítica, esboroam-se
os sofismas do idealismo de Kant, do evolucionismo de Spencer, do positivismo
de Comte e do pragmatismo de William James.
A independência intelectual de Farias Brito não foi, porém, suficiente pa-
ra livrá-lo da influência nefasta de Leibniz e Schopenhauer que o levou às dou-
trinas falsas e contraditórias do panteísmo e do pan-psiquismo. E o desenvolvi-
mento dessas doutrinas o conduziu à negação de Deus confundido com o mun-
do, à destruição da moral reduzida a simples norma subjetiva e individual e à
supressão da religião dominada e absorvida pela filosofia.
Farias Brito deixou numerosos discípulos. Sua influência sobre a cultura
brasileira não foi maior devido ao desinteresse dos nosso crírculos intelectuais
pelos assuntos filosóficos. Entre os que revelaram simpatia e admiração pela
obra do eminente pensador, se nos deparam: Jackson de Figueiredo, Xavier
Marques, Roberto Paterson, Nestor Victor, Almeida Magalhães, José Sombra e
Tarso da Silveira. Os trabalhos críticos mais completos sobre a obra de Farias
Brito são, atualmente, o de Jonathas Serrano (Farias Brito, São Paulo, 1939) e o
de Leonel Franca, S. J. (Noções de História da Filosofia, São Paulo, 1944).
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IV. Depois de Farias Brito
BIBLIOGRAFIA
1 — P. Leonel Franca, Noções de História da Filosofia, 1943. 2 — Jonathas Serrano, História da Filoso-
fia, 1944. 3 — Idem, Farias Brito. 1939. 4 — Almeida Magalhães, Farias Brito e a reação espiritualista,
1918. 5 — Jackson de Figueiredo, Algumas reflexões sobre a filosofia de Farias Brito; A questão social
na filosofia de Farias Brito, 1919. 6 — J. Cruz Costa, Alguns aspectos da filosofia no Brasil, in Revista
“Filosofia, Ciências e Letras”, n 56, S. Paulo, 1938. 7 — Hermes Lima, Tobias Barreto, 1939. 8 — Fer-
nando de Azevedo, A Cultura Brasileira, 1944. 9 — Alceu Amoroso Lima, Meditação sobre o Mundo
Moderno, 1942. 10 — Nestor Victor, Farias Brito, 1920. 11 — Xavier Marques, Dois filósofos brasilei-
ros, 1916. 12 — Veiga Lima, Farias Brito e o movimento filosófico contemporâneo, 1920.