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Nº 41 | abril 2011

Alexandre de Freitas Barbosa | Professor de História


Econômica e Economia Brasileira do IEB/USP e Doutor em
Economia Aplicada pela Unicamp. Coordenador temático
e redator dos textos desta edição.
O conteúdo apresentado em “Análises e Propostas” representa o ponto de vista dos au-
tores e não necessariamente reflete a opinião da Fundação Friedrich Ebert.

Esta publicação substitui a série anterior “Policy Paper” e também está disponível na internet:
www.fes.org.br.
Índice

Apresentação 5

Introdução 7

O grupo de trabalho 9

1- Situação do Desenvolvimento no Brasil 10

2- Fatores Prioritários e Forças Motrizes do Desenvolvimento Brasileiro 14

- Forças Motrizes 14

- Fatores, Aspectos e suas Expressões 15


3- O Brasil em 2020: Os Cenários Alternativos 16

- Terra do Capitalismo Selvagem 17

- O Gigante com Pés de Barro 20

- Rumo ao País do Futuro 23

4- Recomendações de Política 27

Bibliografia 28
Apresentação

Ao longo dos últimos 35 anos, a Fundação A produção do conjunto de idéias e visões reu-
Friedrich Ebert (FES) tem promovido e apoiado nidas neste texto por um grupo diverso de espe-
milhares de debates e atividades sobre diversos cialistas e sistematizadas pelo professor de História
aspectos do desenvolvimento brasileiro. Desde Econômica e Economia Brasileira da Universidade
a ampliação dos direitos políticos, econômicos e de São Paulo, Alexandre de Freitas Barbosa é uma
sociais, passando pelo fortalecimento dos parti- contribuição para este debate no Brasil. A par-
dos políticos, sindicatos, governos de esquerda e tir desta produção, será possível observar que o
organizações da sociedade civil, até a formação Brasil, na primeira década do século XXI, tem de-
de lideranças sociais e políticas. Estas atividades monstrado enorme vigor no seu desenvolvimen-
deságuam em propostas e diálogos qualificados to econômico e social, mas que ao fazê-lo exibe 5
entre atores sócio políticos, com vistas a consoli- também novas contradições e desafios, os quais
dar um modelo de democracia com justiça social se impõem aos governantes e a todas as lideran-
no Brasil. ças políticas, econômicas e sociais brasileiras.

Como parte de nossas atividades relacionadas Este texto foi constituído a partir da sistemati-
à promoção de debates sobre a agenda progres- zação de diferentes visões de mundo de um grupo
sista para o desenvolvimento socialmente justo e qualificado de especialistas, em diversos campos
ambientalmente sustentável, a FES tem promovi- de atuação das ciências humanas. Os cenários
do, desde 2010, diálogos amplos e qualificados são ferramentas úteis para pensar o futuro e con-
sobre o presente e o futuro do desenvolvimento tribuir para a tomada de decisões diminuindo as
dos países da América do Sul e México através da incertezas sobre o provável alcance das nossas
implementação do projeto regional “Novos enfo- ações; originam-se de um esforço para imaginar
ques de desenvolvimento na América Latina”. possíveis futuros e fornecem um subsídio impor-
tante para o debate.
No contexto da crise econômica e financeira e
de suas lições relacionadas à insustentabilidade do A FES teve o papel de facilitar um processo de
modelo de desenvolvimento altamente poluente discussão cujo resultado consideramos uma peça
e socialmente injusto promovido em diferentes útil para definir estratégias e pensar políticas para
graus por muitos países; o futuro caminho para a a promoção do desenvolvimento socialmente jus-
inclusão social e a eliminação da pobreza em um to e ambientalmente sustentável no Brasil.
contexto de crescimento econômico e harmonia
homem-natureza compõem o cerne do debate
civilizatório que enfrenta a humanidade.
Introdução

Fazer previsões não é nada fácil, como se pode no, e pode ser acompanhado a partir de uma leitura
comprovar a partir de um cotejamento das emprei- dos jornais e dos debates realizados no âmbito do
tadas de muitos economistas no terreno da futuro- governo, da sociedade civil ou das universidades.
logia. Este projeto, porém, segue outros propósitos:
nosso intuito é apontar os horizontes de oportuni- Entretanto, as opções em jogo não se encon-
dades no longo prazo, tomando como parâmetro o tram bem definidas e os temas em discussão são
Brasil de hoje, seus dilemas e potencialidades. bastante variados. Como adentrar este cipoal de
idéias e fatos e apontar para uma visão do conjunto
O Brasil que, de fato, emergirá em 2020 será da floresta, lançando um olhar sobre os caminhos
mais complexo que aquele contido nos cenários abertos face às contradições do nosso desenvol-
aqui apresentados. Como Mario de Andrade vimento? Como buscar a partir do emaranhado 7
(1978) afirmou em crônica de 1929, “na verdade de temas e projetos, aqueles com potencial para
este nosso país ainda pode dar esperança de si ... se viabilizarem enquanto portadores de futuro?
Mas é simplesmente porque arromba toda con- Como transcender a contenda eleitoral, e as dis-
cepção que se faça dele”. putas políticas localizadas, elencando os fatores
com suficiente envergadura para promover mu-
Portanto, mais do que acertar a “cara” do Bra- danças qualitativas na economia e na sociedade?
sil em 2020 – exercício que estaria, de antemão,
fadado ao fracasso – pretendemos, a partir de A partir da metodologia de elaboração de ce-
uma metodologia específica, pensar de maneira nários utilizada no âmbito do projeto – e aplicada
sistemática as possibilidades futuras, construídas ao longo de três reuniões com representantes do
a partir de nosso presente. Desta maneira, acre- pensamento acadêmico e da sociedade civil - lo-
ditamos ser possível fornecer algumas referências grou-se construir um horizonte de questões estra-
para a tomada de decisões políticas num cenário tégicas para o desenvolvimento brasileiro.
de incerteza (FES, 2010).
Na implementação desta metodologia o papel
Parte-se da premissa que a elaboração de ce- do grupo de trabalho mostrou-se fundamental. O
nários não pode servir como substituto do real. sucesso na elaboração dos cenários, assim como
Trata-se de um processo contínuo, sempre repos- a sua complexidade e abrangência depende da
to, à medida que a própria realidade sócio-eco- capacidade para se constituir um grupo diverso e
nômica, assim como seus contornos políticos, qualificado. Afortunadamente conseguimos reu-
assume novas feições. nir – e agradecemos aqui a todos e a todas que
participaram – pessoas representativas de diversos
É certo que o embate político, travado nos pla- setores e temas, altamente qualificados, abertos ao
nos nacional e global, a definir o curso da história diálogo e entusiastas, condições essenciais para o
nos próximos 10 anos, faz parte do nosso cotidia- desenvolvimento da metodologia.
O primeiro encontro tratou de apontar as carac- Ainda assim, tomamos como referência al-
terísticas básicas do desenvolvimento brasileiro na guns princípios gerais. Em termos muito sintéti-
primeira década do século XXI. O objetivo foi elabo- cos, o que se almeja para o país é um “desenvol-
rar um mapa mental de “onde estamos”, que serviu vimento socialmente inclusivo e ambientalmente
de ponto de partida para que pudéssemos cogitar sustentável” (Sachs, 2009), e que possa se ins-
sobre o “onde podemos chegar em 2020”. crever “nos limites do internacionalmente ainda
permissível e do nacionalmente ainda exeqüível”
O segundo encontro procurou definir um con- (Jaguaribe, 2008).
junto de “fatores prioritários”, capazes de nortear
a trajetória do desenvolvimento brasileiro no longo Em síntese, o desenvolvimento foi o ponto de
prazo. Simultaneamente, foram listadas algumas chegada e originou-se dos consensos obtidos ao
“forças motrizes” que poderiam acarretar alterações longo das discussões, que se caracterizaram pela
expressivas nos próprios fatores prioritários, afetan- franqueza e pela liberdade de manifestação, sem
do o sentido da trajetória1. cerceamento ideológico e sem academicismos.

O último encontro teve por objetivo construir O cenário otimista pode ser lido como o resul-
cenários a partir de interações entre os fatores tado deste esforço coletivo. Não se trata de uto-
prioritários e as forças motrizes. Estes cenários pia, mas de uma possibilidade concreta. Entre-
caracterizam-se não tanto por sua factibilidade, tanto, não se elaborou uma “receita” de “como
mas pela verossimilhança e coerência interna. chegar lá”. Esta é uma tarefa da sociedade brasi-
Servem como referência para estimular a refle- leira. Não obstante, algumas recomendações de
xão sobre o desenvolvimento no Brasil e as ações política são apresentadas ao final do documen-
políticas correspondentes. to, sem esmiuçar medidas específicas ou metas
8 quantificáveis, já que o objetivo é tão-somente
Desta forma, pudemos elaborar um cenário fornecer algumas referências para se dimensio-
inercial, tido como mais próximo do presente, nar o desafio que o país deve enfrentar nos pró-
caso não haja novos elementos internos ou ex- ximos anos.
ternos ao país que tragam uma mudança signi-
ficativa de trajetória; um cenário pessimista, que A estrutura do texto encontra-se dividida da
supõe novos desafios incapazes de serem enfren- seguinte forma. Em primeiro lugar, realiza-se uma
tados pelo país; e um cenário otimista, a exigir síntese da situação do desenvolvimento Brasil no
maior esforço em termos de formulação e pla- momento atual. Em seguida, são apresentados os
nejamento de políticas públicas tanto no plano fatores prioritários e as forças motrizes do desen-
interno como no externo, além de uma efetiva volvimento, que compõem o cerne da metodo-
participação da sociedade. logia adotada no projeto. As diversas interações
entre estas “variáveis” – permeadas de incerteza e
Ressalte-se a opção feita no âmbito do proje- resultantes de equações essencialmente políticas
to de não partir de uma definição ou concepção - permitem fazer com que a situação atual se pro-
apriorística sobre o desenvolvimento. Isto daria jete para frente, levando à configuração de três
“pano pra manga” e envolveria infinitas notas de cenários alternativos.
rodapé dando conta do extenso e profícuo deba-
te sobre o tema além de, muito provavelmente, Uma terceira parte trata de caracterizar estes
desviar-nos da metodologia utilizada. Se existe cenários, buscando uma coerência mínima na
uma concepção de desenvolvimento norteadora relação entre os vários fatores prioritários que
do presente projeto, esta foi resultado do diálogo condicionam o desenvolvimento. Finalmente, na
realizado no âmbito de um grupo altamente qua- parte 4, são indicadas algumas recomendações
lificado, cuja escolha pautou-se pela heterogenei- de políticas para que o Brasil possa seguir uma
dade em termos de formação acadêmica e área trajetória que o aproxime do cenário otimista no
de atuação política. longo prazo.

1
O tópico 2 deste texto fornece mais detalhes acerca dos conceitos, assim como da metodologia utilizada.
Grupo de Trabalho

Alexandre de Freitas Barbosa Vera Masagão Ribeiro


Professor de História Econômica e Economia Bra- Coordenadora Geral da ONG Ação Educativa e Di-
sileira do IEB/USP e Doutor em Economia Aplicada retora Executiva da Abong – Associação Brasileira
pela UNICAMP. de ONGs, Doutora em Educação pela PUC - SP.
Coordenador temático e redator dos textos
dessa edição. Ricardo Ubiraci Sennes
Economista, Doutor em Relações Internacionais
Marcelo de Paula Paixão (USP), Coordenador GACint-IRI-USP.
Professor do Instituto de Economia da UFRJ. Eco-
nomista formado pela mesma universidade e Itamar Silva
Doutor em Sociologia pelo IUPERJ. Pesquisador Jornalista - Coordenador do Núcleo Cidades de
do CNPq, Jovem Cientista do Nosso Estado pela Territórios, no Ibase - Militante do movimento de
FAPERJ e coordenador do LAESER (Laboratório de favelas do Rio de Janeiro.
Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatís- 9
ticas das Relações Raciais) Tânia Bacelar de Araujo
Professora da UFPE , Doutora em Economia Públi-
Kjeld Jakobsen ca e Organização do Território, Sócia da CEPLAN
Ex-dirigente sindical, Mestre em Ciência Política e Consultoria Econômica e Planejamento.
consultor em cooperação e relações internacionais.
Bia Barbosa
André Singer Jornalista, especialista em direitos humanos pela
Professor do Departamento de Ciência Política da USP, integrante do Intervozes - Coletivo Brasil de
Universidade de São Paulo. Doutor em ciência po- Comunicação Social e empreendedora social
lítica pela USP. Jornalista, foi secretário de Redação da Ashoka.
da Folha de S. Paulo e porta-voz da Presidência
da República. Adriana Ramos
Jornalista e Secretária Executiva adjunta do Insti-
Maria Cristina Cacciamali tuto Socioambiental (ISA).
Professora de Economia Política da América Lati-
na e Economia do Trabalho da FEA e PROLAM/ Cassio Luiz de França
USP. Doutora e Livre-Docente pela FEA/USP, Pós- Gonzalo Berrón
Doutora pelo MIT (EUA). Staff FES - Brasil – responsáveis pelo projeto
Cenários Brasil 2020
Graciela Rodriguez
Mestre em Sociologia. Feminista. Diretora do Insti-
tuto EQUIT - Gênero, Economia e Cidadania Glo-
bal e Coordenadora Global de IGTN - Internatio-
nal Gender and Trade Network.
1. Situação do Desenvolvimento no Brasil

O presente tópico trata de condensar as prin- Paralelamente, verificou-se uma redução da


10 cipais características do desenvolvimento do desigualdade de renda pessoal e da pobreza ab-
país, considerando como horizonte temporal a soluta, para o que contribuíram, além das transfe-
primeira década do século XXI. Foi elaborado rências de renda, a política de elevação do salário
tomando como referência a rica discussão reali- mínimo e o próprio desempenho do mercado de
zada na primeira reunião do grupo de trabalho, trabalho. A forte expansão do consumo, inclusive
da qual participaram acadêmicos e represen- para os segmentos de menor renda, é outro traço
tantes da sociedade civil brasileira. Trata-se de do período recente, o que não se explica sem a
um ponto de partida, servindo de baliza para os ampliação do crédito.
passos seguintes: elencar os fatores prioritários
do desenvolvimento e projetar cenários para o Contudo, a dimensão econômica segue cons-
Brasil no ano de 2020. trangida por um conjunto de fatores. Os juros,
ainda bastante altos, minam um avanço maior
Uma primeira dimensão do desenvolvimento em termos de expansão do consumo interno e de
gira em torno da questão econômica. No período redução da desigualdade. Além de acarretarem a
recente, o Brasil caracterizou-se pela recuperação concentração do crédito em grandes empresas
do crescimento econômico. Ainda que os números – as quais dispõem de maior acesso aos emprés-
fiquem aquém do verificado em outros momentos timos das instituições estatais -, contribuem para
da história, percebe-se uma inflexão em relação às engessar o gasto público.
duas últimas décadas do século XX.
Em termos de estrutura produtiva, apesar do
Este crescimento econômico veio associado à crescimento do mercado interno, o Brasil não
geração de empregos e esteve, especialmente na tem conseguido avançar nos setores de fron-
segunda metade da década, ancorado na expan- teira tecnológica. As inovações têm se concen-
são do mercado interno. Tal desempenho permitiu trado nos setores onde o país possui vantagem
viabilizar o aumento do gasto público, seja em po- competitiva no cenário internacional ou são in-
líticas sociais, seja em infra-estrutura. ternalizadas via importações.
A inserção comercial do país aponta, neste O sistema educacional caracteriza-se pela bai-
sentido, para uma primarização das exportações e xa eficácia e pela incapacidade de expandir a ci-
para uma crescente dependência de importações dadania. A expansão do acesso à educação e a
nos setores de maior valor agregado. Some-se a elevação do gasto público tem ocorrido, mas sem
isto, a penetração de capitais de curto prazo que uma melhoria expressiva da qualidade de ensino.
ocasionam uma elevada volatilidade da moe- O número de creches, primeiro e crucial nível da
da, quadro ainda mais agravado pelo cenário de socialização, ainda encontra-se muito aquém das
“guerra cambial” no plano internacional. necessidades das crianças (e das mulheres que para
trabalhar precisam deixar nelas seus filhos). O ensi-
Por sua vez, a importante melhoria das condi- no fundamental, em termos de qualidade, situa-se
ções do mercado de trabalho, especialmente por abaixo do mínimo necessário para uma sociedade
meio da geração de empregos com carteira assi- mais equitativa.
nada, não levou nem à superação da precariedade
que o caracteriza – cerca de 60% da força de tra- Paralelamente, o debate nacional concentra-se
balho se encontra fora do sistema previdenciário em torno dos gargalos da educação para o merca-
- e tampouco à instauração de um novo sistema do de trabalho. Neste sentido, a ênfase no ensino
de relações de trabalho. Ao mesmo tempo, o mo- técnico – apesar de estratégico – não produzirá os
delo produtivo exportador agrícola que favorece efeitos esperados sem que se consigam avanços
a produção extensiva, não fomenta a criação de mais substantivos relacionados à melhoria da quali-
empregos (e menos ainda os empregos femininos) dade do ensino e das taxas de conclusão da educa-
e continua expulsando população rural pouco ção básica. No ensino superior, o quadro é marcado
qualificada para as cidades. pela recuperação da capacidade de investimentos
das universidades públicas federais; porém, não se
A concentração funcional da renda não se al- pode esquecer que a grande maioria das matrículas 11
terou de forma expressiva. Isto porque os juros se concentra nas universidades privadas, cuja quali-
altos, a concentração dos ocupados com baixos dade oscila de maneira considerável.
salários, a extensão dos empregos informais e a
estrutura tributária regressiva obstaculizam uma Na saúde pública, os avanços mostraram-se
mudança estrutural no patamar da desigualdade mais tímidos do que na educação. A expansão do
entre capital e trabalho. Sistema Único de Saúde (SUS) tem acontecido de
maneira lenta, apresentando diversos ritmos e resul-
As dimensões social e ambiental apresentam tados nos vários estados da federação, além de vir
sinais ainda mais contraditórios. Por exemplo, se acompanhada de prestadores de serviços, chama-
de um lado, verificou-se uma importante ofensiva dos de maneira equivocada “organizações sociais”.
em termos de expansão de políticas sociais, estas Esta tendência traz o risco da crescente privatização
continuam a se caracterizar pela baixa institucio- do sistema ou da deterioração da sua qualidade,
nalidade e universalidade. muitas vezes retomando enfoques que pareciam já
superados, como no caso da saúde da mulher.
As desigualdades de gênero e raça mantêm-
se elevadas, especialmente em termos de rendi- Já o problema urbano manifesta-se em toda a
mentos e de participação política. Percebe-se uma sua complexidade, quando se avalia a insuficiência
crescente etnização da política de igualdade ra- das políticas de habitação, transporte e saneamen-
cial, ao passo que a questão de gênero continua to básico, especialmente nas grandes metrópoles.
sendo tratada de maneira tópica, geralmente fun- As condições de habitabilidade urbana mostram-
cionalizando o papel da mulher. A política para se especialmente precárias nas áreas periféricas
a juventude apresenta-se fragmentada, enquanto destes espaços territoriais, que hoje concentram
na previdência prossegue uma abordagem restrita parcela expressiva da população brasileira abaixo
à ótica da despesa. da linha de pobreza.
Os programas de transferência de renda ainda geralmente dissociadas das políticas industriais,
apresentam dificuldades para encontrar a “porta agrícolas e tecnológicas. Ainda assim, a recupe-
de saída” o que, no caso das mulheres, exigiria, ração do gasto e do crédito - em grande medida
entre outros, estímulos de formação e apoio com provenientes do setor público - tem permitido
políticas de creche e de mecanismos para a supe- detonar novas dinâmicas setoriais e regionais ao
ração da informalidade. longo do território nacional.

Paralelamente, verifica-se a “nacionalização” Na dimensão política, os movimentos sociais,


da insegurança pública. O problema da violência mesmo demonstrando vitalidade e capacidade de
urbana assume um alcance cada vez mais estru- organização, têm se revelado pouco capazes de
tural, afetando o conjunto das políticas públicas e influenciar as decisões de política pública. Ainda
comprometendo uma sociabilidade minimamen- que essa influência varie de acordo com as áreas
te democrática. O enfrentamento desta questão em que se divide a agenda nacional, é possível di-
mostra-se especialmente difícil, haja vista a pro- zer que o Estado ganha em termos de capacidade
miscuidade existente entre o aparelho de seguran- de formulação, deixando muitas vezes a socieda-
ça pública e o Judiciário e segmentos importantes de civil refém de suas decisões, assumindo esta
do “setor privado”. uma atitude reativa.

A concentração da propriedade continua dan- Na prática, o Estado internaliza os conflitos


do a tônica, especialmente do Brasil rural. Neste sociais, abrindo espaço para sua maior partici-
sentido, a predominar a lógica estrita do merca- pação, mas também para cooptação ou exclu-
do e na ausência de políticas públicas estruturan- são de movimentos sociais e lideranças espe-
tes, tende-se para um acirramento da contradi- cíficas. Muitas vezes, inclusive, o elitismo das
12 ção entre o perfil de inserção externa do país, os “cúpulas sociais” que esse promove transforma
níveis esperados de crescimento econômico, os a participação num processo facilmente coman-
setores que vêm se expandindo de forma mais dado de cima, reduzindo a autonomia proposi-
notável (agronegócio e extração mineral), de tiva. Ao mesmo tempo tem-se uma crescente
um lado; e as metas ambientais assumidas pelo fragmentação das demandas da sociedade, o
governo brasileiro nos fóruns internacionais e que compromete a emergência de propostas
os compromissos internos de fortalecimento da alternativas integradas.
agricultura familiar, de outro lado.
Simultaneamente, o sistema político não
Em termos do desenvolvimento da infra-estru- contribui – antes pelo contrário - para a emer-
tura e da matriz energética, o país tem se aprovei- gência de novas lideranças capazes de filtrar
tado da grande potencialidade do seu território. as demandas dos distintos segmentos da so-
Entretanto, não se percebe um horizonte bem ciedade. Neste contexto, a aliança política que
planejado capaz de integrar o aproveitamento tem comandado o poder Executivo acaba se
das energias alternativas em detrimento das for- fortalecendo por meio de alianças tópicas, ge-
mas tradicionais e do pré-sal e a continuidade de ralmente sob pressão de elites políticas e eco-
ampliação de uma infra-estrutura voltada para a nômicas regionais.
exportação de matérias primas e minérios.
A concentração da propriedade dos meios de
A desigualdade regional assume novas for- comunicação torna tal quadro ainda mais vulne-
mas, associando áreas integradas e áreas exclu- rável, já que inviabiliza o amplo e transparente
ídas, muitas vezes convivendo lado a lado nas acesso às informações, acentuando o déficit de
mesmas regiões geográficas e unidades da fe- representação, além de afetar negativamente a
deração. Isto porque as políticas de desenvolvi- possibilidade de geração de alternativas contra-
mento regional são tratadas de maneira ad hoc, hegemônicas e cercear a liberdade de expres-
são do conjunto da população brasileira. Tal ambientais, tendo seus negócios favorecidos
concentração impede o debate plural e demo- graças à mediação do governo nacional. No
crático nos meios de comunicação e conduz a mesmo sentido, a inserção comercial aparece
sociedade à padronização cultural, comprome- em grande medida comandada pela elevação
tendo a diversidade que caracteriza as culturas dos preços das commodities, surfando na onda
populares regionais. do crescimento chinês.

Enfim, se o fortalecimento do papel do Esta- “Se de um lado, o governo brasileiro procura


do permite, por um lado, ativar políticas sociais e se colocar como um dos principais ‘players’ entre
econômicas de grande alcance; por outro, tende os países em desenvolvimento”, por outro, sur-
a tolher – em virtude da reduzida influência dos ge uma percepção, cada vez mais forte, de que o
movimentos sociais na agenda pública, do sistema país se apresenta mais como uma nova potência
político pouco representativo e da concentração econômica, abrindo espaço no front externo para
dos meios de comunicação – a formulação de pro- seus “campeões nacionais” (as grandes empre-
jetos minimamente consensuais que sirvam como sas nacionais internacionalizadas), que tendem a
alternativas de desenvolvimento e apontem para pressionar por uma política mais pragmática.
a resolução de alguns impasses nacionais.
Enfim, existem muitas dúvidas acerca de
A projeção internacional do país é outra di- quais aspectos que norteiam o protagonismo da
mensão a ser considerada. Os elementos contra- diplomacia brasileira se farão mais decisivos, o
ditórios presentes nas demais dimensões se mani- que dependerá da nova configuração do poder
festam aqui com força redobrada. global, e certamente afetará os rumos do desen-
volvimento nacional.
De um lado, o país destaca-se pelo crescente 13
protagonismo no cenário internacional, alçando
vôos para além do plano regional. O Brasil apa-
rece como importante negociador em agências
multilaterais como a ONU, OMC, G-20, Banco
Mundial, FMI e nas COPs; ao passo que expande
seu arco de alianças geopolíticas na América do
Sul e volta-se para a África, China e outras regiões
do planeta, muitas vezes carreando a desconfian-
ça das potências ocidentais.

Vale lembrar que as negociações globais


mostram-se não apenas menos centradas nas
tradicionais potências, como também têm aberto
crescente espaço para a sociedade civil mundial.
Representantes de movimentos sociais e de ONGs
nacionais têm demonstrado capacidade de veicu-
lar suas demandas, muitas vezes adiantando-se às
ações do governo brasileiro.

Por outro lado, a inserção internacional do


Brasil em termos econômicos reforça a lógica ex-
trativista de suas empresas, que emergem como
grandes multinacionais, muitas das quais se ca-
racterizam pelo desprezo de cláusulas sociais e
2. Fatores Prioritários e Forças Motrizes do
Desenvolvimento Brasileiro

Apresentamos abaixo o resultado do processo que facilita a inteligibilidade dos cenários. Chama-
de construção coletiva dos fatores prioritários e das remos então de “fator definido” a descrição do
forças motrizes do desenvolvimento brasileiro. fator a través do aspecto escolhido. Ainda assim,
é importante ressaltar que a redação dos cenários,
Segundo a metodologia adotada, os fatores no tópico seguinte, procurou levar em conta os
prioritários do desenvolvimento interagem entre vários outros aspectos de cada fator mencionados
si, de maneira dinâmica, levando à conformação durante as reuniões.
14 dos cenários alternativos. Cada fator é definido
a partir de um aspecto central cuja variação – ou As forças motrizes são compostas por fatores
não – modifica o funcionamento do conjunto dos exógenos ao modelo e que podem interferir numa
fatores com diversas intensidades. Se isto afeta ne- dada trajetória, alterando as possibilidades do fu-
gativamente a complexidade dos cenários – já que turo. São aqui apenas listadas as forças motrizes
cada fator é composto, na realidade, por vários as- discutidas nas reuniões, as quais também serviram
pectos; por outro lado, os ganhos deste exercício de estímulo para a construção de cenários, sempre
metodológico podem ser percebidos pelo menor levando em consideração o seu impacto sobre os
nível de variáveis que compõem o “modelo”, o fatores prioritários e suas interações.

Forças Motrizes
• Articulação Crédito + Tecnologia + Empresa
• Ascensão dos Movimentos Sociais • Reforma tributária
• Radicalização dos movimentos sociais • Capacidade da Burocracia Estatal

• Resultado Eleitoral 2010 • Coalizão de Forças na América Latina


• Coalizão de Forças • Negociações do G20
• Reforma Política • Quebra da economia chinesa
• Evolução da aliança PT – PMDB • Ritmo da demanda externa por minérios e alimentos
• Alterações climáticas externas • Continuidade da crise mundial
• Pressões dos investimentos internacionais (mercado
• Pluralidade na mídia de Carbono, olimpíadas, transnacionais, etc)
• Aumenta/expansão das redes de Narcotráfico • Intolerância
• Aumento da imigração • Crescimento do Racismo e da xenofobia no mundo
• Infra-estrutura deficiente
• Baixa expansão de energia
• Ritmo e padrão de uso do Pré-sal
“Desenvolvimento econômico, socialmente justo e ambientalmente sustentável”

Fator Aspecto Fator Definido


1. Inserção Internacional do Brasil Projeção Internacional da Política A projeção internacional da política in-
Interna terna brasileira define a inserção Interna-
cional do Brasil

2. Sistema Educacional Público Universalização com qualidade A maior ou menor universalização da


educação de qualidade define o sistema
educacional público do Brasil

3. Desigualdade social, de gênero e Reconhecimento das desigualdades na O reconhecimento das desigualdades na


de cor/raça agenda pública agenda pública do Estado Brasileiro é es-
sencial para dimensionar o nível de desi-
gualdade social, de gênero e raça-étnica;
e para formular políticas de igualdade.

4. Estrutura Produtiva (setorial/regional) Generalização da inovação A maior ou menor generalização da ino-


tecnológica (setorial e regional) vação tecnológica nos diversos setores e
regiões do país é expressão do nível de
desenvolvimento da estrutura produtiva
brasileira.

5. Sustentabilidade Nível de emissões de gases de efeito O nível de emissões é central para avaliar 15
Sócio-ambiental estufa. a sustentabilidade sócio-ambiental do de-
senvolvimento no Brasil.

6. Concentração de poder político e Repartição funcional da renda e concen- Uma melhora na repartição funcional da
econômico tração da propriedade da terra renda e na estrutura fundiária apenas se
viabiliza se houver mudanças na concen-
tração da renda, da riqueza e do poder
político.

7. Participação dos movimentos sociais Acesso e influência nos processos O acesso e influência dos movimentos
decisórios sociais aos processos decisórios determi-
nam sua participação.

8. Representatividade do Maior eficácia da democracia Uma maior eficácia da democracia repre-


Sistema Político representativa sentativa amplia a representatividade do
sistema político brasileiro, reduzindo o
descolamento deste com a sociedade.

9. Condições de Habitabilidade Padrão habitacional nos grandes centros O padrão habitacional nos grandes cen-
Urbanos tros urbanos define as condições de ha-
bitabilidade das cidades brasileiras.

10. Segurança pública e sistema Índice de promiscuidade do aparelho de O nível de promiscuidade entre o apare-
judiciário segurança pública e do Judiciário com o lho de segurança publica/sistema judici-
setor privado ário e o setor privado define a qualidade
da segurança pública.
3. O Brasil em 2020: Os Cenários Alternativos

A metodologia de elaboração de cenários não “O Brasil possui condições objetivas para entrar
é propriamente nova. O seu pressuposto é que no caminho de um desenvolvimento socialmen-
16 os cenários contribuem para precisar os eixos de te inclusivo e ambientalmente sustentável, assim
uma agenda determinada, atuando sobre a in- como desempenhar um papel político de liderança
certeza, sem tentar eliminá-la, tal como aponta- entre as terras de boa esperança. Entretanto, será
do na introdução. o processo político que decidirá se o Brasil irá apro-
veitar esta oportunidade e eu não tenho como pre-
Após dispormos do conteúdo oriundo da rica ver este resultado” (Ignacy Sachs, 2009)
discussão entre acadêmicos e representantes da
sociedade civil que participaram do presente pro- “O Brasil, ao se encerrar o século XX, se encon-
jeto, tomamos como referência para a redação dos tra extremamente despreparado para enfrentar os
cenários, o trabalho de Jochen Steinhilber (2008) desafios do novo século. Não se trata, apenas,
sobre as relações internacionais da Alemanha. embora também, do fato de o país – contrariando
as expectativas dos anos 50 e 60 – ingressar no
Foram também bastante úteis as leituras dos século XXI sem ter sido capaz de superar o seu re-
textos de Ignacy Sachs e Helio Jaguaribe, ambos nitente subdesenvolvimento. Embora grave, esta
definindo o ano de 2020 como o horizonte para a limitação não é fatal. O país já atingiu um nível
reflexão sobre cenários para o Brasil (Sachs utiliza o suficiente para, ainda que retardatariamente, al-
ano de 2022 por seu aspecto simbólico, tendo em cançar esse antigo objetivo dentro de um par de
vista o bicentenário da independência). Estes dois décadas se adotar, consistentemente, as medidas
autores também nos auxiliam a pensar de maneira para tal requeridas” (Helio Jaguaribe, 2008).
ousada, imaginando concretamente as condições
que poderiam fornecer uma alteração na nossa Não podemos deixar de mencionar também o
trajetória histórica de desenvolvimento. A título de importante esforço realizado pelo governo federal,
ilustração, transcrevemos dois trechos ilustrativos no âmbito da sua Secretaria de Assuntos Estratégi-
desta postura prospectiva e não menos crítica. cos (SAE)2. A publicação “Brasil 2022”, lançada em

2
O presente projeto coordenado pela FES e a iniciativa da SAE mostram-se complementares. No nosso caso, priorizamos a construção de cenários
alternativos a partir da interação entre os vários fatores definidos como prioritários, os quais estabelecem algumas precondições para “o desenvolvi-
mento econômico, social justo e ambientalmente sustentável”. Já no documento da SAE, prioriza-se a definição e quantificação de metas em cada
uma das áreas de modo a viabilizar o cenário otimista em 2022.
dezembro do ano passado, contempla um plane- de sua evolução histórica, e apesar dos seus vários
jamento com metas específicas definidas por 37 significados nos distintos períodos, não teríamos
grupos de trabalho, com participação da socieda- qualquer dúvida. Esta palavra-síntese atende pelo
de civil, e aprovadas pelos respectivos Ministros nome de desigualdade.
de Estado. Segundo a SAE (2010), o objetivo é
construir, em 2022: Vamos, pois, aos cenários.

“um Estado mais soberano e democrático; uma Terra do Capitalismo Selvagem


sociedade mais justa e progressiva; um país em
acelerado desenvolvimento sustentável”. Resumo: em 2020, o Brasil apenas se re-
cupera de uma sucessão de crises inter-
Certamente, a construção de uma sociedade jus- nacionais, que levaram a um cenário de
ta, participativa e plural nos trópicos não é tarefa para semi-estagnação com retorno da infla-
uma década. Por outro lado, os processos históricos ção à casa de dois dígitos. O desempre-
uma vez iniciados podem gerar resultados inespera- go situa-se a níveis elevados e os gastos
dos, que se prolongam no futuro, já que os sucessos sociais são comprimidos. Os movimentos
obtidos em algumas esferas da sociedade tendem a sociais são crescentemente questiona-
se espraiar para as demais, retroalimentando-se. dos pela mídia e não encontram espaço
na agenda estatal. A inserção global se
Cumpre ressaltar que o presente cenário in- dá via produtos primários e o Brasil se
ternacional não contribui para tal desenlace, ao transforma num fornecedor de recur-
menos sob o prisma do curto prazo. Contudo, o sos naturais a baixo custo econômico (e
desmonte das experiências da social-democracia elevado custo ambiental), com peque- 17
e do neoliberalismo impõe a rediscussão conceitual na capacidade de alavancar a expansão
sobre o desenvolvimento e abre espaço para viabi- do mercado interno. A concentração de
lização de novas relações entre Estado, mercado e renda e do poder amplia-se. A agricultu-
sociedade. Tudo indica que as iniciativas inovadoras ra familiar é deslocada pelo avanço do
não são mais exportadas do Norte para o Sul, ha- agronegócio. As principais áreas urbanas
vendo um intercâmbio de duplo sentido. E o debate convertem-se em territórios marcados
em torno de alternativas de desenvolvimento trava- pela guerra civil e pelo narcotráfico. O
do no Brasil ecoa em outros cantos do mundo. país do jeitinho se transforma no país do
ganho fácil para poucos.
Partir deste pressuposto não implica reduzir
a dimensão dos desafios. Não custa lembrar que Durante a segunda década do século XXI, a eco-
estamos falando de um país moldado inicialmen- nomia brasileira segue uma trajetória errática. A
te pela escravidão e depois pela precariedade do guerra cambial prossegue no plano global, levan-
mercado de trabalho; em que o Estado se cons- do a desvalorizações competitivas. O Brasil sofre
truiu, mesmo quando se modernizava, redefi- ataques especulativos e é forçado a desvalorizar
nindo as relações de clientela; no qual a inserção a sua moeda, o que implica elevação dos juros. A
externa assumiu um caráter de subordinação às crise internacional se prolonga afetando o cresci-
demandas das potências de ocasião, o que não mento das economias emergentes, especialmente
impediu em alguns momentos “fugas para fren- da China, que até então impulsionava os preços
te”; e onde as ideologias nacionais, na maioria das commodities.
das vezes, importaram os modelos em voga, sem
as devidas adequações críticas. No plano geopolítico, o G-20 dos líderes, cria-
do em 2008, perde força. Enquanto isto, o G-8
Finalmente, se quisermos sintetizar com uma continua a dar as cartas, ainda que suas decisões
palavra o aspecto que caracteriza o Brasil ao longo sejam insuficientes para lidar com os dilemas de
uma economia global crescentemente diversifica- A redução dos gastos sociais acompanha a
da. Os bancos centrais dos países desenvolvidos queda da arrecadação, postergando as metas de
injetam moeda nas suas economias, com impac- universalização do ensino básico e de expansão
tos limitados. O FMI volta a apoiar pacotes de refi- do ensino médio. A queda dos níveis de renda
nanciamento da dívida dos países mais pobres. Ao impacta diretamente sobre os níveis de evasão es-
mesmo tempo, a ideologia neoliberal passa a ser colar, além de afetar negativamente o número de
confrontada pela ascensão do nacionalismo e do matrículas nas universidades privadas. As universi-
anti-americanismo. dades públicas passam a sofrer com a contenção
de gastos, abortando o processo de interiorização
Metas mais ambiciosas no processo das COPs do ensino superior e comprometendo os salários
não são atingidas, ao passo que a Rodada Doha dos professores, assim como das pesquisas cien-
não se conclui, abrindo espaço para uma maré tíficas realizadas. Os gastos com a saúde pública
protecionista nos países desenvolvidos. Neles a xe- caem em termos de participação do PIB. O avanço
nofobia chega a níveis impensáveis, tornando as de instituições privadas coloca em risco o próprio
leis anti-imigração ainda mais rígidas. Em alguns sistema SUS.
casos, percebe-se a ascensão de projetos políticos
autoritários de caráter neofascista por meio da ex- As grandes obras nos setores de transportes,
trema direita européia, bem como dos “Neocons” habitação e saneamento básico têm seu crono-
e “Tea Party” norte-americano. A ONU perde cre- grama redefinido e passam a avançar num ritmo
dibilidade, transformando-se em agência de pro- mais lento, sendo preservadas apenas aquelas re-
jetos-pilotos para alguns países pobres lacionadas aos grandes espetáculos esportivos de
2014 e 2016. Os subsídios para as populações de
Há o retorno da instabilidade econômica no pla- menor renda sofrem cortes, ao passo que as tari-
18 no interno. Nos momentos de melhora do cenário fas públicas se elevam. As condições de habitabili-
global, o câmbio volta a se valorizar, os juros caem dade urbanas caminham para a crescente precari-
e a inflação recua. Nos momentos de crise, o Brasil zação. O déficit habitacional aumenta.
é forçado a aumentar o seu esforço fiscal e os gas-
tos sociais são comprimidos. A única área preserva- Neste cenário, a violência urbana se disse-
da são os programas de transferência de renda. En- mina. Os territórios conflagrados e tomados
fim, um retorno do stop and go, comprometendo a pelo tráfico de drogas ilegais e de armas avan-
agenda mais ampla do desenvolvimento. çam para além dos grandes centros urbanos.
As polícias estaduais se mostram mal equipa-
O desemprego se eleva, mas o grande impacto das e sem capacidade de intervir de forma co-
negativo deste novo cenário macroeconômico se ordenada. Como as políticas sociais avançam
faz sentir sobre o nível de salário real. A desa- de forma seletiva, o clima de tensão social
celeração do mercado de trabalho e a elevação se generaliza.
da inflação são as principais causas. Como con-
seqüência, aumenta o total de brasileiros vivendo A democracia, ao invés de se consolidar,
abaixo da linha de pobreza. transforma-se num regime político meramente
eleitoral, em que novas oligarquias se fazem
Este cenário não significa que o Estado tenha representar no Congresso de maneira crescen-
deixado de fazer uso das políticas anti-cíclicas. te. A privatização das campanhas eleitorais
A diferença é que agora – com a desvalorização avança. A promiscuidade entre o setor públi-
cambial e o retorno da inflação – a margem de co e o privado avança em todos os setores da
manobra dos bancos públicos se reduz, já que a vida nacional.
elevação da dívida pública exige a redução dos
gastos, e a própria dinâmica econômica se trans- O sistema político centralizado numa am-
forma em virtude da maior incerteza, comprome- pla coalizão em torno do governo experimenta
tendo os investimentos privados. rachaduras, ampliando o campo da oposição.
Propostas como a redução dos direitos trabalhistas das suas emissões de gases de efeito estufa.
e a reforma previdenciária, no sentido de cortar Em virtude dos menores índices de crescimento
despesas, ganham espaço na agenda nacional. econômico, as medidas de eficiência energética
não saem do papel. As grandes áreas urbanas,
Os movimentos sociais caminham para uma além da precariedade das condições de habita-
maior radicalização no discurso, enquanto na prá- bilidade, convivem com índices desproporcio-
tica partem para a defensiva. O objetivo é manter nais de destruição do meio ambiente, em vir-
os direitos conquistados. A política de valorização tude da queda da rentabilidade das atividades
do salário mínimo se resume a manter o seu valor econômicas e do fracasso no desenvolvimento
real. Neste contexto, os movimentos sociais tor- de novas tecnologias. A matriz energética bra-
nam-se crescentemente alijados na esfera pública, sileira segue baseada em energia hidroelétrica,
sofrendo um processo de crescente criminaliza- mas a utilização da custosa energia termoelétri-
ção. Este processo leva, entretanto, a um maior ca se torna comum e corrente.
diálogo com suas bases.
Os níveis de produtividade, quando se elevam,
A desigualdade volta a se elevar num contexto resultam na demissão de trabalhadores. O salto
de mercado de trabalho menos dinâmico, salário tecnológico não se concretiza, como também
mínimo sem alteração do poder de compra e am- avança a obsolescência do sistema produtivo, à
pliação da informalidade. Paralelamente, a expan- exceção dos setores mais internacionalizados. Os
são do crédito fica comprometida. índices de investimento em P&D recuam, travan-
do a possibilidade de geração de inovação e de
Como consumo das famílias deixa de se elevar, novos mix de produtos internamente.
assim como os investimentos privados e o gasto
público, os períodos de crescimento passam a de- O avanço das novas mídias se faz mais lento, 19
pender da recuperação do comércio internacional. ao passo que as novas manifestações culturais fi-
cam circunscritas aos seus espaços regionais. As
Em termos de estrutura produtiva, mantém-se grandes empresas travam qualquer projeto de
uma indústria minimamente integrada, mas com regulação do sistema de comunicações. Não há
um potencial de expansão nos setores mais inten- mudança na lei de concessões. O acesso à inter-
sivos em tecnologia cada vez menor, ao passo que net via banda larga avança apenas nas regiões de
o agronegócio segue crescendo apesar da menor maior poder aquisitivo e a custos elevados.
rentabilidade. A elite financeira volta a assumir
proeminência na agenda nacional, clamando pela No plano internacional, o Brasil é forçado a
privatização de empresas estatais e por um ajuste reduzir suas pretensões de protagonismo. De
fiscal mais vigoroso, políticas estas apoiadas am- um lado, os fóruns multilaterais assumem uma
plamente pelas grandes empresas de comunica- lógica elitista e as iniciativas provenientes do
ção. As empresas internacionalizadas aumentam Sul mostram-se desacreditadas. Apenas a China
a sua exposição externa como um antídoto contra mantém seu status global, mais por seu poten-
a reduzida expansão do mercado interno. cial de ampliar o alcance das crises econômicas
e geopolíticas internacionais.
Os arranjos produtivos locais das regiões de
menor renda per capita, que haviam se dinamiza- No plano regional, a liderança brasileira tam-
do na primeira década do século XXI, voltam a se bém é posta em xeque. As acusações de “impe-
esgarçar, ampliando o desemprego e a exclusão rialismo” se fazem mais freqüentes e a própria
social. Junto com a maior desigualdade intra-re- diplomacia brasileira perde o aval interno para
gional, amplia-se a desigualdade inter-regional. dirimir conflitos. A América do Sul volta a se afir-
mar como área de instabilidade, o que prejudica
Em termos ambientais, o Brasil não consegue as pretensões globais do Brasil.
reduzir o desmatamento da Amazônia e o ritmo
Ao chegar em 2020, a economia brasileira en- O cenário global é marcado por uma estabili-
contra-se fragilizada e sem potencial de expansão zação dos preços das commodities a níveis eleva-
interna e externa. Naturaliza-se a desigualdade. dos e pela continuidade do crescimento chinês,
Toda e qualquer política de enfrentamento das desi- agora na casa de um dígito. Os países desenvol-
gualdades de raça e gênero é tida como particularis- vidos recuperam-se da crise econômica, mas não
ta e ineficaz. Os desafios ambientais são encarados engatam num processo de crescimento dinâmico.
como empecilhos ao desenvolvimento. A política Ou seja, persistem elevados níveis de desemprego,
social, ao invés de espaço para universalização de assim como a tentativa de desmonte do Estado do
direitos, assume o viés de “coisa de pobre”. Bem-Estar Social.

Uma nova polarização pouco construtiva A economia internacional segue marcada pela
se estabelece entre aqueles que defendem um instabilidade. Prossegue a “guerra cambial”, em
Estado enxuto no social e mais espaço para o virtude da ausência de um mecanismo de coor-
mercado e os cada vez mais amplos segmentos denação das políticas econômicas das principais
dos movimentos sociais que apostam numa ati- potências e do fracasso em se regular os fluxos de
tude confrontacionista. capitais privados de curto prazo. Acordos pontuais
entre os principais bancos centrais – orquestrados
O Gigante com Pés de Barro no âmbito do G-20 – impedem a conformação de
uma crise sistêmica generalizada.
Resumo: em 2020, o Brasil apresenta-
se como economia dinâmica, em virtu- O G-20 dos líderes substitui o G-8, mas não é
de das exportações de commodities e capaz de gestar novos consensos de longo prazo
20 do crescimento do mercado interno e que abram caminho para reformas nas agências
regional. Isto permite atacar a pobre- multilaterais ou para o encaminhamento dos im-
za absoluta e universalizar o acesso ao passes que travam as negociações comerciais e
ensino básico. Afirma-se como potência ambientais. O comércio cresce por força do cres-
geopolítica, ao nível regional, e adqui- cimento das economias emergentes, da expan-
re crescente protagonismo em assuntos são das transnacionais e dos acordos comerciais
globais. Em termos sociais, a marca con- bilaterais e regionais. Regras ambientais frouxas
tinua sendo a desigualdade de renda, a são aprovadas, de maneira voluntária, abrindo
concentração fundiária, o desrespeito espaço para a atuação do setor privado e trans-
ao meio ambiente e as precárias condi- formando a preservação do meio ambiente em
ções de vida das populações urbanas. O espaço de valorização econômica para alguns
sistema político apresenta-se ainda mais países e segmentos empresariais.
concentrado, abortando as iniciativas
provenientes da sociedade. Tal descola- Não são criadas novas instituições globais
mento entre o político e o social é agra- mais representativas e transparentes. As rema-
vado pela manutenção do monopólio nescentes de Bretton Woods sobrevivem, com
dos meios de comunicação, que ademais alterações marginais impulsionadas pelas crises
compromete a expressão da diversidade recorrentes e pelas pressões impostas pelas no-
e da crescente pluralidade das manifes- vas potências emergentes.
tações culturais.
O Brasil volta a sofrer com a vulnerabilidade
Durante a segunda década do século XXI, a externa toda vez que o crescimento se eleva de
economia brasileira consegue sustentar taxas ra- maneira pronunciada, apesar do alto volume de
zoáveis de crescimento econômico, entre 4% e reservas internacionais. Este cenário seria detona-
5%, acima dos países desenvolvidos, mas abaixo do por uma queda ou estabilização do preço das
das economias dinâmicas em desenvolvimento. commodities junto com uma saída do país dos flu-
xos de capitais de curto prazo. Por outro lado, nos em cascata, enquanto o gasto social cresce ape-
momentos de euforia internacional, o país passa a nas a níveis vegetativos, colado ao crescimento
sofrer com a inundação de capitais privados, o que do PIB, em virtude da manutenção da carga de
ocasiona a valorização da sua moeda. juros a níveis elevados. A dinamização do merca-
do de trabalho prossegue, com uma taxa menor
A oscilação cambial resultante compromete de expansão do emprego, e associada a uma ele-
uma política de elevação sustentada dos investi- vada rotatividade. Posterga-se a reforma sindical
mentos privados, na medida em que faz abortar e trabalhista, o que compromete ainda mais a re-
a política de redução paulatina dos juros. As pre- presentatividade dos sindicatos e a possibilidade
tensões de universalização das políticas sociais são de ampliação dos direitos para as categorias não
revistas para baixo. reguladas pela CLT.

Neste contexto, o Estado acaba por assumir Como resultado, segmentos do mercado de
um maior protagonismo especialmente na agenda trabalho mais especializados e com maiores taxas
econômica, o que se deve ao papel das empresas de sindicalização, geralmente situados nos setores
e bancos estatais. O mercado interno mostra-se de maior produtividade, conseguem ampliar suas
dinâmico, viabilizando a elevação de empregos, conquistas e melhorar o seu padrão de vida, ao
no entanto, concentrados nos baixos salários, e passo que a rotatividade e a precariedade seguem
a expansão tópica de algumas políticas sociais, caracterizando o cotidiano de cerca de metade dos
sem que haja uma melhora expressiva nos baixos trabalhadores ocupados.
rendimentos de médicos, professores, policiais e
demais trabalhadores da área social. A situação da economia e do mercado de
trabalho permite financiar a previdência, ao me- 21
Tal cenário permite universalizar o acesso ao en- nos até que segmentos expressivos de não-con-
sino fundamental e expandir de maneira substan- tribuintes comecem a se retirar do mercado de
tiva o ensino médio, os quais continuam marcados trabalho, impondo uma maior pressão sobre o
pela baixa qualidade. A necessidade de mão-de- gasto social.
obra mais qualificada é preenchida pela iniciativa
privada ou por cursos fornecidos pelas escolas téc- A sustentação de níveis razoáveis de dinamis-
nicas estaduais e federais. As universidades públi- mo econômico permite o surgimento de novas
cas afirmam-se como centros de excelência, porém posições na estrutura ocupacional, as quais ten-
não conseguem irradiar seu conhecimento pelo dem a exigir maior grau de escolaridade e de ex-
sistema produtivo ou por meio de políticas sociais periência profissional. Este processo de ascensão
mais eficazes. Paralelamente, as universidades pri- social tende a favorecer os homens em relação às
vadas abarcam parcela ainda maior das novas ma- mulheres, os brancos em relação aos negros, os
trículas, atendendo de forma precária os alunos jovens em relação aos mais idosos, gerando novas
provenientes dos estratos sociais mais baixos. fontes de desigualdade, que haviam se congelado
durante o período de baixo crescimento das últi-
Os níveis de desigualdade se mantêm eleva- mas décadas do século XX.
dos – os maiores dentre as grandes economias do
planeta -, já que a aliança política que sustenta os Neste quadro de crescente heterogeneidade
sucessivos governos não consegue promover mu- social, os movimentos sociais experimentam um
danças de vulto na estrutura tributária, no gasto processo de fragmentação. O sistema político não
social e nas relações de trabalho. é capaz de processar suas demandas, enquanto a
defesa do modelo econômico – produtivista, con-
A reforma tributária, na melhor das hipóte- centrador, mas apesar de tudo dinâmico - encon-
ses, apenas redistribui a carga tributária entre os tra apoio em segmentos de classe privilegiados na
entes da federação, reduzindo a sua incidência estrutura de poder e na grande mídia.
As condições de habitabilidade urbanas, ape- arranjos produtivos locais dinâmicos – alguns até
sar de alguns programas-piloto construídos em mesmo nos segmentos de fronteira tecnológica
parceria com a sociedade civil, e dos maiores - conectados aos mercados interno e externo.
investimentos em infra-estrutura, seguem mar- Porém, o potencial para alteração das dinâmicas
cadas pela precariedade. A incorporação de sociais e econômicas territoriais revela-se limita-
algumas comunidades urbanas aos direitos da do. Amplia-se a brecha entre áreas integradas e
cidadania não impede a conformação de ter- excluídas, agora espalhadas por todo o territó-
ritórios tomados pela violência e cada vez mais rio nacional, e não mais circunscritas a algumas
segregados socialmente. grandes regiões.

Os grandes projetos nas áreas de habitação, Apesar dos avanços em termos de redução das
transporte e saneamento mostram-se funcionais emissões de gases causadores do efeito estufa em
à expansão econômica. Porém dialogam pouco virtude da queda do desmatamento, a expansão
com as necessidades sociais e ambientais – muitas econômica acarreta maiores pressões sobre o meio
vezes, inclusive, as subestimam -, além de descon- ambiente. O movimento nacional de contestação do
siderarem as especificidades geográficas e a diver- modelo produtivista ganha fôlego, logrando elevar
sidade regional do país. os custos de atividades intensivas em recursos não-
renováveis e ampliar a sua eficiência energética. Po-
O processo de concentração econômica rém, o desenvolvimento de novas tecnologias limpas
amplia-se com a formação de grandes grupos avança muito lentamente. O país perde a possibili-
nacionais, cada vez mais internacionalizados e dade de se transformar numa potência ambiental.
capitalizados, os quais se concentram no agro-
22 negócio, na extração mineral, na construção ci- Ao longo da próxima década, o país presencia
vil, na mídia e no setor financeiro, espraiando-se a disseminação do acesso às novas mídias, que
para alguns segmentos da indústria. Incorporam propiciam a emergência da pluralidade de idéias
novas tecnologias e obtêm novos mercados, mas e visões e de novas manifestações culturais. Per-
seguem encastelados em relação ao restante da cebe-se inclusive uma maior penetração no mer-
estrutura produtiva. cado das várias culturas populares brasileiras. En-
tretanto, tal não se mostra suficiente para romper
Não se verifica um salto tecnológico para o o controle dos meios de comunicação tradicionais
conjunto da economia brasileira, dependente em pelos grandes grupos econômicos, impedindo a
grande medida das importações nos segmen- conformação de um cenário de democracia e efe-
tos mais sofisticados e da atuação das empresas tiva liberdade de expressão.
transnacionais dos setores dinâmicos no mercado
interno. Apesar de o país se afirmar como impor- O sistema político se reproduz de maneira
tante exportador de bens industriais de tecnologia centralizada, dialogando com as cúpulas dos mo-
média, a pauta exportadora prossegue concentra- vimentos sociais, elites regionais e agremiações
da em produtos primários. partidárias e beneficiando-se da concentração
dos meios de comunicação. Aspectos da refor-
O país beneficia-se da sua escala continental, ma política são aprovados de maneira cosmética,
do seu nível de diversificação industrial e de uma enquanto o financiamento público de campanha
estrutura social complexa, podendo se afirmar perde espaço na agenda nacional.
como grande potência montadora. Concentra-se
no hardware, sem conseguir avançar no software. No plano internacional, o Brasil se projeta
As exceções a este quadro confirmam a regra. como importante ator geopolítico. Entretanto,
o viés de “defensor dos mais pobres” arrefece,
A desigualdade regional assume novas fei- passando o país a priorizar a defesa da posição
ções. O Norte e o Nordeste desenvolvem muitos conquistada nos organismos multilaterais. A retó-
rica Sul-Sul da diplomacia brasileira recua face aos Em termos de estrutura sócio-política, o Brasil
interesses econômicos de alguns grandes grupos de 2020 presencia o fortalecimento dos grupos
econômicos nacionais, e também por pressão dos empresariais nacionais, ao passo que uma classe
países desenvolvidos. Os fluxos de comércio com trabalhadora mais numerosa e formalizada, com
a China, América Latina e África adquirem maior maior nível de renda e menos vinculada ao Es-
densidade, assim como o intercâmbio de tecnolo- tado parte para uma agenda mais propositiva e
gias e a cooperação técnica. crítica. Um amplo subproletariado se consolida,
dando maior força política aos movimentos so-
O papel de liderança regional do país na Amé- ciais urbanos. O campo transforma-se em espa-
rica do Sul acarreta vantagens e desvantagens. O ço de disputa entre a expansão do agronegócio
Brasil aparece como a única nação industrializa- e a defesa da agricultura familiar. A questão da
da da região, com potencial de puxar as demais distribuição da propriedade fundiária, no cam-
economias e de fornecer crédito de longo pra- po e nas cidades, da renda e do poder político
zo, além de se afirmar como a democracia mais transforma-se em fator capaz de promover no-
consolidada em termos institucionais. Serve de vos realinhamentos políticos.
“modelo”, mas também dá vazão ao discurso da
“ameaça brasileira”. Rumo ao País do Futuro

De um lado, as nações vizinhas emprestam fô- Resumo: em 2020, o Brasil apresenta-


lego a setores importantes da economia brasileira se como uma economia bastante dinâ-
e conferem apoio a algumas das iniciativas globais mica e uma sociedade menos desigual.
propostas pelo país; enquanto, de outro, apostam A maior soberania sobre a política eco-
numa retórica defensiva e em ações de cunho pro- nômica deve-se, em parte, a uma reorga- 23
tecionista. As crises políticas da região exigem es- nização das instituições financeiras mul-
forços diplomáticos e impõem custos econômicos, tilaterais, promovida no âmbito do G-20
que o Brasil assimila em virtude da sua crescen- dos líderes. O mercado interno mostra-
te projeção global. Paralelamente, e não menos se pujante, ampliando-se o seu potencial
importante, os fluxos migratórios dos países mais de inclusão via elevação do emprego e
pobres da região cobram crescente importância, da renda. O sistema financeiro, inclusive
transformando-se em problemas geopolíticos. privado, volta a alocar crédito de longo
prazo. As economias regionais são for-
Em síntese, o Brasil chega em 2020 como a talecidas, assim como sua integração
quinta maior economia global e se afirma como no espaço nacional. No plano externo,
ator geopolítico de peso na cena mundial. A ex- o Brasil apresenta-se como exportador
pansão econômica e o aumento dos gastos sociais agrícola, industrial e de serviços, avan-
– ainda que não em termos de participação do PIB çando nos segmentos mais intensivos
– permitem reduzir de forma sensível os níveis de em tecnologia, exercendo uma lideran-
pobreza absoluta. ça regional equilibrada e um papel glo-
bal reconhecido e proativo nos temas
Neste contexto, as precárias condições de ha- ambientais e de direitos humanos. Ca-
bitabilidade e os altos níveis de desigualdade, am- minha-se no sentido da universalização
pliados pelo sistema educacional, transformam-se das políticas sociais. Parâmetros rígidos
em bandeiras de um movimento social mais or- são impostos para a produção intensiva
ganizado, porém com menor acesso e influência (e também para o consumo) de recursos
sobre a formulação de políticas públicas, à medida naturais, tornando-se o país um pólo de
que o Estado perde capacidade para aglutinar um desenvolvimento de novas fontes lim-
amplo conjunto de forças sociais e políticas. As pas de energia. Os movimentos sociais
tensões sociais se avolumam. influenciam e monitoram as políticas
públicas. O país ostenta uma rara com- conflitos. As nações desenvolvidas são forçadas a
binação entre economia dinâmica, so- enfrentar interesses locais poderosos, em virtude
ciedade vibrante e participativa e pre- dos seus próprios desequilíbrios internos, realça-
servação do meio ambiente. dos durante a crise financeira internacional de
2008. A dinamização da economia global acaba
Durante a segunda década do século XXI, o por favorecê-las, na medida em que passam no-
Brasil destaca-se por alcançar algo até então iné- vamente a crescer, apoiando-se nos setores mais
dito na sua história econômica e social. O país ex- intensivos em conhecimento.
pande as suas exportações, não apenas restritas
às commodities, ao mesmo tempo em que apro- Neste contexto, a economia brasileira con-
funda a integração de sua estrutura produtiva, segue se livrar da elevada carga de juros, que li-
incorporando novas tecnologias e elevando os mitava o potencial de expansão do crédito e do
níveis de produtividade. gasto estatal. O crédito privado de longo prazo
se expande, junto com a renda do trabalho, que
Tal desenlace torna-se possível por meio de uma inclusive eleva a sua participação no PIB.
profunda reforma das instituições multilaterais, o
que conta inclusive com forte ativismo do governo A adoção de uma estrutura tributária menos
brasileiro. O G-20 se consolida e se institucionaliza. regressiva, a generalização dos contratos coletivos
São definidas regras estritas para o fluxo de capitais de trabalho por categorias e a forte elevação do
de curto prazo, enquanto as políticas econômicas gasto social propiciam um processo de vigorosa
dos países são supervisionadas por um FMI total- mobilidade ascendente. Não se trata apenas de
mente reestruturado em termos de seu papel e con- elevação dos níveis de consumo, mas de uma
24 cepção. São acordadas bandas de oscilação para as mutação na própria estrutura ocupacional, agora
principais moedas, abrindo espaço para uma maior centrada nos trabalhadores de classe média e nos
autonomia das políticas monetárias e fiscais nacio- manuais qualificados do setor privado, em para-
nais. O Banco Mundial, turbinado com recursos das lelo com uma forte expansão dos empregos bem
economias emergentes, oferece empréstimos de remunerados nas áreas sociais.
longo prazo a investimentos em infra-estrutura e
preservação do meio ambiente, atuando de forma Esta dinamização do mercado interno e da es-
suplementar aos empréstimos privados. trutura ocupacional permite a maior eficácia das
políticas de estímulo à economia solidária, de per-
O sistema de comércio mundial é reestrutura- fil não-capitalista, mas voltada para o mercado.
do e substitui o falido sistema de rodadas de libe- A previdência passa por uma reforma visando a
ralização irrestrita promovido pela OMC, ao passo inclusão universal dos trabalhadores situados à
que metas no processo das COPs são fixadas e dei- margem do sistema, ao invés de apostar na sim-
xam de ser voluntárias, além de supervisionadas ples redução no valor dos seus benefícios.
por uma nova entidade com autonomia operacio-
nal e orçamentária situada no âmbito da estrutura No campo da educação, inicia-se uma transfor-
da ONU. Estes avanços apenas se concretizam em mação substantiva. Completa-se a universalização
virtude de uma redistribuição de poder geopolítico do ensino básico, e avança-se na do ensino médio,
com a participação efetiva das novas nações emer- junto com a melhoria dos salários dos professores
gentes, que assumem o ônus de potências globais. e uma rediscussão dos conteúdos curriculares. A
Apenas assim se explica a reforma na composição expansão de um sistema público de creches per-
do Conselho de Segurança da ONU. mite que as mulheres ampliem a sua participação
na população economicamente ativa.
Uma nova superestrutura de poder e de ins-
tituições efetivamente globais se estabelece. Este As universidades públicas transformam-se em
processo não se dá de maneira espontânea e sem centros de excelência, produzindo inovação, for-
mando professores para a rede pública de ensino brasileira se diversifica, expande e desenvolve no-
e monitorando a execução das políticas sociais. vas tecnologias, instaurando novos padrões espa-
As instituições privadas de ensino superior expan- ciais e produzindo mix de bens e serviços para a
dem-se em algumas áreas, permitindo solucionar população de baixa renda. O Norte e o Nordeste
os gargalos do mercado de trabalho, e contando afirmam-se como pólos de produção em escala
com regulação pública, além de conceder bolsas nacional e internacional de bens e serviços inten-
para a população de baixa renda. Neste contexto, sivos em trabalho e recursos naturais, gerando
conforma-se um sistema público de emprego, no novas tecnologias adaptadas ao meio natural e
qual as escolas técnicas federais e estaduais pas- social. As regiões de maior renda per capita carac-
sam a cumprir um papel de relevo. terizam-se pelos maiores níveis de produtividade
e por concentrarem os serviços, a agricultura e a
Na área de saúde, completa-se a universaliza- indústria mais intensiva em capital.
ção do SUS, sendo delimitado de maneira rigorosa
o espaço de atuação das “organizações sociais” A transformação processada no mercado inter-
da iniciativa privada e de entidades da socieda- no permite o acesso do Brasil a novos segmentos
de civil. A regulação na saúde e na educação é internacionais de bens e serviços, mais intensivos
exercida por órgãos públicos, com participação do em tecnologia, especialmente no que se refere aos
governo, sociedade civil e do setor privado. países do Sul, mas sem deixar de ocupar alguns ni-
chos importantes nos mercados do Norte.
Políticas transversais são estruturadas de for-
ma a combater a desigualdade de gênero e raça, Paralelamente, o país afirma-se como impor-
especialmente no mercado de trabalho pela for- tante investidor dos países do Sul, além de abrir o
mação e superação da informalidade e com po- seu mercado para as exportações dos países sul- 25
líticas publicas de apoio à reprodução social e às americanos e africanos. O protagonismo global
tarefas do cuidado. As políticas de ação afirmativa brasileiro se faz exercer de maneira relevante em
deixam de ser vistas como particularistas, funcio- três frentes principais: econômica, geopolítica
nando na prática como mecanismos conducentes e sócio-ambiental. Conflitos entre os múltiplos
à universalização efetiva. interesses nacionais nestas frentes se fazem
comuns, porém são arbitrados junto com seus
As condições de habitabilidade urbanas são parceiros, ao passo que a política externa in-
favorecidas pelos melhores níveis de renda e corpora as demandas do setor privado e da so-
pelo aumento do gasto público. Investimentos ciedade civil.
em transportes, habitação e saneamento bási-
co são viabilizados, reestruturando o padrão de A integração da América do Sul deixa de ser
convivência social nas grandes metrópoles. Novas peça de retórica, com o avanço da integração
tecnologias para estes setores são produzidas no territorial e a conformação de cadeias produtivas
país, viabilizando a expansão de médias empresas regionais. As relações com a África se fazem mais
nacionais, e fugindo do monopólio das empreitei- densas e menos unilaterais. O sistema produtivo
ras tradicionais. A política de habitação orienta-se brasileiro se adapta à ascensão chinesa. Segmen-
pelo acesso à terra urbanizada e pela concessão tos importantes são deslocados, enquanto outros
de novos títulos de propriedade. se expandem de maneira sustentada, o que per-
mite uma reorganização dos encadeamentos inter
O problema da violência urbana não é elimi- e intra-setoriais.
nado, mas o país passa a contar uma política na-
cional de segurança pública, que articula ações de Em termos ambientais, o país avança de forma
repressão, prevenção e expansão da cidadania. paralela na redução substantiva do desmatamen-
to, aumento da eficiência energética (por meio de
Em termos de estrutura produtiva, a indústria incentivos fiscais), maior rigor da legislação am-
biental e desenvolvimento de novas tecnologias lim- deres, em particular o Judiciário. A burocracia do
pas. Trata-se de um desafio de monta, em virtude do setor público atua no sentido de planejar as gran-
quadro de elevado dinamismo econômico. A partici- des metas do país, levando em consideração as
pação da sociedade civil se faz sentir, com a criação demandas de amplos segmentos da sociedade.
de novas medidas e indicadores verdes, monitora-
dos de forma coletiva. A percepção de que uma No plano internacional, o Brasil – ao invés de
economia de baixo carbono em escala internacional apenar defender o espaço conquistado, compor-
pode beneficiar o Brasil, social e economicamente, tando-se como potência tradicional – opta por
contribui para esta mudança de atitude. um crescente ativismo junto aos países pobres,
o que não deixa de trazer vantagens geopolíti-
Outro desafio a ser enfrentado radica na pos- cas e econômicas.
sibilidade de se combinar o desenvolvimento in-
tensivo do agronegócio – que passa a contar com O Brasil “puxa” o crescimento dos países da
rigoroso zoneamento econômico-ecológico e cer- América do Sul, atuando como árbitro das ten-
tificação social e ambiental, os quais impulsionam sões geopolíticas e como laboratório de experiên-
a elevação da produtividade – com uma vibrante cias políticas, sociais e ambientais, que servem de
agricultura familiar. Ao invés de áreas rurais ur- referência para os países da região. As denúncias
banizadas ou despovoadas, o país consegue in- de “imperialismo” se tornam menos estridentes,
serir de forma produtiva milhões de famílias de enquanto a liderança brasileira aparece como ele-
camponeses, que participam de uma economia de mento inconteste, além de garantidor da estabili-
mercado dinâmica e inclusiva. Para tanto, torna-se dade regional.
vital que o programa de reforma agrária ganhe
26 em escala, contando com maior acesso a crédito e O cenário descrito acima não se propõe a te-
assistência técnica. orizar sobre um país “perfeito”. Ou seja, mesmo
neste cenário hipotético, de erradicação da po-
Tal cenário implica várias rupturas na evolu- breza absoluta, de salto qualitativo na estrutura
ção histórica do país, as quais apenas se mos- produtiva e social e no padrão educacional, muita
tram possíveis em virtude de uma redução do água regional, de raça e de gênero - deixe de ser
descolamento entre a sociedade e o sistema po- a nossa marca característica.
lítico. São aprovados o financiamento público
de campanha e uma nova lei geral de telecomu- No prazo com o qual trabalhamos, pode-se
nicações, com participação popular. A promis- apenas aventar que a aceitação da desigual-
cuidade entre o setor público e privado perde dade como natural será crescentemente ques-
espaço paulatinamente. As lideranças da socie- tionada, já que a busca obsessiva pela inclusão
dade civil se mostram mais representativas, en- social terá se enraizado nas políticas públicas e
fraquecendo o poder das oligarquias regionais. na consciência coletiva.
Amplia-se o acesso e a difusão de informações
e conteúdos, fazendo com que a diversidade so-
cial e a pluralidade cultural se desenvolvam em
sua plenitude.

Os movimentos sociais gozam de maior in-


fluência em termos de formulação, execução e
monitoramento das políticas públicas. Os partidos
passam a se organizar em função do amplo mo-
saico de interesses nacionais e das reformas in-
troduzidas nas instituições políticas e nos três po-
4. Recomendações de Política

Esta parte do texto procura indicar alguns prin- 1. Ampliação da área de atuação e da eficácia 27
cípios norteadores das políticas públicas para que da política externa, tomando posição ati-
o Brasil se aproxime em 2020 do cenário acima va no G-20, nas negociações comerciais e
descrito como otimista. Cabe enfatizar que as dis- ambientais, reforçando a cooperação Sul-
cussões realizadas com os representantes acadê- Sul e as iniciativas de integração regional,
micos e da sociedade civil mostraram-se bastante sem prejuízo do intercâmbio com os paí-
fecundas, inclusive apontando para medidas con- ses desenvolvidos. No horizonte de 2020,
cretas e específicas. Optamos, entretanto, por nos o G20 seja superado por uma instituciona-
mantermos no campo de alguns princípios basila- lidade global mais representativa e demo-
res das políticas públicas. Isto nos permite traba- crática. Sua consolidação seria evidência
lharmos com o mesmo grau de generalidade que do fracasso na busca de uma governança
orientou a elaboração dos cenários. global equilibrada e democrática.

Neste sentido, listamos 10 prioridades das po- 2. Gestação de uma política econômica
líticas públicas para a década que se inicia. Res- nacional que amplie o potencial das ex-
salte-se que os efeitos destas políticas não se es- portações para além das commodities,
gotam nas áreas diretamente relacionadas, já que e dinamize o mercado interno, genera-
estes se fazem transversais ao tecido econômico, lizando a inovação tecnológica e crian-
social e político. Da mesma forma, a viabilização do novos elos intra-regionais e intra-
destas políticas não depende apenas das suas áre- setoriais; do mesmo jeito, é necessário
as exclusivas, envolvendo uma crescente comple- também avançar na integração regional,
mentaridade de esforços entre as várias “pastas” na formação de cadeias produtivas intra-
e exigindo um planejamento, não apenas indica- regionais que permitam sair da armadi-
tivo, que extravase a esfera governamental e se lha do modelo extrativista.
afirme como efetivamente democrático.
3. Universalização da educação e elevação 9. Crescente acesso e influência dos movi-
substantiva da sua qualidade, priorizando mentos sociais sobre a agenda das po-
o ensino pré-escolar, fundamental e mé- líticas públicas, contribuindo para a sua
dio, sem descuidar do papel estratégico formulação, execução e monitoramento.
das universidades públicas; junto com a É importante também realizar avanços no
expansão do processo de universalização sistema de relações de trabalho com in-
do SUS, com clara delimitação do espaço trodução de plena liberdade e autonomia
para entidades não-estatais, e a reforma sindical, bem como a implantação da con-
da previdência no sentido de ampliar o tratação coletiva de trabalho.
acesso ao sistema.
10. Estruturação de um sistema nacional de
4. Reconhecimento da necessidade de en- segurança pública, em articulação com os
frentamento das desigualdades no mer- governos estaduais, capaz de enfrentar a
cado de trabalho e no acesso às políticas promiscuidade atualmente existente entre
sociais, com atenção redobrada para as o aparelho de segurança e o Judiciário, de
desigualdades de raça e gênero; um lado, e uma vasta gama de interesses
particularistas, de outro.
5. Criação de novos indicadores e metas de
desempenho ambiental, que devem nor-
tear a expansão econômica, no sentido da
redução do desmatamento, do aumento Bibliografia
da eficiência energética e da geração de
28 novas fontes de energia; Andrade, Mario de (1976). Taxi e Crônicas do Diário
Nacional, Telê Ancona Lopes, org. São Paulo: Livraria
6. Melhoria das condições de habitabilidade Duas Cidades.
urbanas, fazendo dos investimentos em
transportes, habitação e saneamento bá- FES (2010). Nuevos Enfoques de Desarrollo em
sico não apenas mecanismos de expansão América Latina. São Paulo: FES Brasil.
econômica, mas de acesso a direitos so-
ciais e cidadania. Jaguaribe, Helio (2008), “Brasil e Mundo na Perspec-
tiva do Século XXI (2000)”, in: Brasil, Homem e Mundo
7. Redução efetiva dos níveis de concentra- na Atualidade, Helio Jaguaribe, Brasília: FUNAG.
ção de poder econômico e político, por
meio de reformas agrárias e urbanas, Sachs, Ignacy (2009), “Brasil 2022: Terra da Boa
maior participação dos trabalhadores na Esperança?”, in: Revista Tempo do Mundo, vol. N. 1,
renda nacional e maior acesso e difusão Brasília: IPEA.
de informações e cultura a partir de uma
oferta crescentemente diversificada. Secretaria de Assuntos Estratégicos/Presidência da
República (2010). Brasil 2002. Brasília: SAE, dezembro.
8. Maior representatividade do sistema políti-
co, fazendo com que os diversos interesses Steinhilber, Jochen (2008), Compass 2020: Ger-
sociais se façam representar nas institui- many in International Relations - Aims, Instruments,
ções políticas, rompendo a centralização Prospects, Berlin: FES.
do poder e o controle do governo por seg-
mentos das elites regionais, agremiações
partidárias e entidades da sociedade civil
distanciadas de suas bases.
A FES no Brasil

Fundada em 1925, como legado político do Em Inclusão Social, a FES Brasil desenvolve
primeiro presidente alemão democraticamente projetos com governos, sociedade civil e partido
eleito, a Fundação Friedrich Ebert (FES) é a mais político na busca da promoção da igualdade de
antiga das seis fundações políticas alemãs, com gêneros e racial, dos direitos das juventudes, do
quase 600 funcionários e atividades em mais de aumento da efetividade das políticas de segurança
100 países. pública e da democratização dos meios de comu-
nicação. Nesta área, a FES também tem acompa-
A representação da Fundação Friedrich Ebert nhado e apoiado o envolvimento de mulheres do
no Brasil (FES Brasil) está organizada em quatro campo da esquerda para articulação e incidência
áreas de atuação: Estado e sociedade, mundo do nos espaços em que as mulheres se afirmam como
trabalho, inclusão social e política internacional. sujeitos políticos e de direitos e contribuem para a
Cada uma dessas áreas desenvolve projetos di- alteração das desigualdades de gênero na socieda-
ferenciados, que se relacionam entre si, mas que de brasileira.
possuem uma identidade própria.
Para ampliar a capacidade de elaborar pro-
A área Estado e Sociedade visa a contribuir postas e compreender o impacto das decisões
para o aperfeiçoamento do Estado, de seu mode- internacionais na arquitetura política e financeira
lo de desenvolvimento, de suas políticas públicas internacional, a FES Brasil desenvolve na área Po-
e da relação da sociedade civil com os governos. O lítica Internacional projetos em cooperação com 29
foco dos diferentes projetos atende ao desejo de organizações da sociedade civil e instituições go-
contribuir para a modernização do Estado e para vernamentais. Esta área contribui para intensificar
o fortalecimento da participação da sociedade civil o diálogo entre os poderes emergentes e os já
na tomada de decisão em políticas públicas, tanto estabelecidos, com vistas a descobrir e examinar
no Brasil como em parceria com os demais escritó- possibilidades de cooperação política.
rios da FES na América Latina.
Temas da agenda global são incluídos sistema-
A área Mundo do Trabalho é a mais tradicional ticamente no trabalho de projeto nacional reali-
da Fundação Friedrich Ebert e é desenvolvida em zado pela FES Brasil com a intenção de discutir a
quase todos os países onde a FES está presente. grande relevância dos desafios globais para o pais
No Brasil, essa área de trabalho busca fortalecer e desenvolver posições neste sentido junto com
a capacidade dos sindicatos para intervir na de- nossos parceiros mais importantes, ou seja, CUT,
fesa dos interesses da classe trabalhadora, con- PT, ONGs e governos progressistas.
siderando e valorizando a sua heterogeneidade
(de gênero, raça/etnia, geracional, dentre outras) Em todas essas áreas, a FES desenvolve siste-
e a diminuir a assimetria na relação entre capital maticamente projetos em parceira com nossos
e trabalho. escritórios na América Latina, Bruxelas, Nova
Iorque e Berlim. A FES Brasil também apóia mis-
Junto com os sindicatos, a representação bra- sões de intercâmbio técnico e político no con-
sileira da OIT, instituições de pesquisa do meio sin- texto do diálogo entre Brasil e Alemanha, assim
dical e trabalhista bem como o governo, a FES tem como projetos de pesquisa específicos sobre in-
trabalhado em três dos quatro pilares do conceito tegração regional.
de trabalho decente: direitos dos trabalhadores,
proteção social e diálogo social.
Nossas publicações

Série Análises e Propostas Série Policy Paper

Nº 40, 2010 - A inserção internacio- Nº 30, 2002 – Desenvolmto Local e Sustentável


nal do poder executivo federal brasileiro Sérgio Andréa
Cassio Luiz de França e
Michelle Ratton Sanchez Badin Nº 29, 2002 - Internet: a quem
cabe a gestão da infra-estrutura?
Nº 39, 2009 - Macroecono- Carlos Alberto Afonso
mia para o desenvolvimento
João Sicsú Nº 28, 2001 - Estratégias de Desenvolvimento
Local e Regional: Clusters, Política de Lo-
Nº 38, 2009 - Desenvolvimento eco- calização e Competitividade Sistêmica
nômico e Infaestrutura no Brasil: dois pa- Jörg Meyer-Stamer
drões recentes e suas implicações
Miguel Bruno e Renaut Michel B. da Silva Nº 27, 2001 - Principais Aspectos Jurídi-
cos da Reforma Trabalhista no Cone Sul.
Nº 37, 2009 - O direito à prote- Mauro de Azevedo Menezes
ção social: perspectivas comparadas
Lena Lavina e Bárbara Cobo Nº 26, 2000 - Internet no Bra-
sil: o acesso para todos é possível?
30 Nº 36, 2009 - Desenvolvimento, planeja- Carlos A. Afonso
mento e atores sociais: conceito e experiências
Gilberto Maringoni Nº 25, 1999 - Liberdade Sindical e Repre-
sentação dos Trabalhadores nos locais de tra-
Nº 35, 2009 - As políticas de balho no Brasil - Obstáculos e desafios.
igualdade racial no Brasil José Francisco Siqueira Neto
Matilde Ribeiro
Nº 24, 1999 -Tribunais do Trabalho
Nº 34, 2007 - A segurança como um na República Federal da Alemanha.
desafio moderno aos direitos humanos Wolfgang Däubler
Marcos Rolim
Nº 23, 1999 - Estimular o crescimento e au-
Nº 33, 2006 - Política Municipais de Se- mentar a competitividade no Brasil: Além da
gurança Cidadã: problemas e soluções. política industrial e da terceirização da culpa.
Paulo de Mesquita Neto Jörg Meyer-Stamer

No 32, 2004 – A regulação interna- Nº 22, 1998 - Responsabilidade individu-


cional dos subsídios à exportação: uma al e responsabilidade coletiva - Exemplos in-
reflexão sobre a necessidade de prote- ternacionais de política social e salarial.
ção da agricultura familiar brasileira Andreas Esche
Adriana Dantas
Nº 21, 1997 - Pobreza no Bra-
Nº 31, 2004 – Por que o Desenvolvi- sil: quatro questões básicas.
mento Econômico Local é tão difícil, e o Ricardo Barros, José Márcio Ca-
que podemos fazer para torná-lo eficaz? margo, Rosane Mendonça
Jörg Meyer-Stamer
Nº 20, 1996 - ISO 9000. Nº 10, 1994 -Inserção do Brasil no Co-
José Augusto Fernandes mércio Mundial e Competitividade de suas
Exportações: Problemas e Opções.
Nº 19, 1996 - Ambiente Econômi- Jorge Chami Batista
co e Resposta Empresarial: o ajuste da
indústria brasileira nos anos 90. Nº 9, 1994 - Notas sobre Políticas de Em-
Paulo Fernando Fleury prego e Mercado de Trabalho no Brasil.
Edward J. Amadeo
Nº 18, 1996 - Pequenas Empresas: proble-
mas estruturais e recomendações de política. Nº 8, 1994 - Política Econômica e Distribuição
Edward J. Amadeo de Renda no Brasil: Uma Agenda para os Anos 90.
André Urani.
Nº 17, 1995 -Diretrizes para a Política Social.
Francisco E. Barreto de Olivei- Nº 7, 1993 -Existe um Estado Pós-
ra e Kaizô Iwakami Beltrão Fordista? Reforma e Funções do Esta-
do Brasileiro no Novo Paradigma.
Nº 16, 1995 -Encargos Trabalhistas, José Luis da Costa Fiori
Emprego e Informalidade no Brasil.
Edward J. Amadeo Nº 6, 1993 - Sistema de Inova-
ção e Modernização Tecnológica. 31
Nº 15, 1995 -Seguridade Social no Cláudio Frischtak, com colabora-
Brasil: uma Proposta de Reforma. ção de Sergio Thompson Flores
Francisco E. Barreto de Olivei-
ra e Kaizô Iwakami Beltrão Nº 5, 1993 - A Reestruturação da Indústria
Brasileira. Situação Atual, Opções, Recomendações.
Nº 14, 1995 -A Indústria Automobi- Rogério Valle
lística no Brasil: Desempenho, Estraté-
gias e Opções de Política Industrial. Nº 4, 1993 -Educação Brasilei-
José Roberto Ferro ra: Consertos e Remendos.
Claudio de Moura Castro
Nº 13, 1995 -Formação Profissional: Teses
a partir das Experiências Alemã e Japonesa. Nº 3, 1993 -Regulamentação do Ca-
Walter Georg pital Estrangeiro no Brasil: Subsídios
para a Reforma Constitucional.
Nº 12, 1994 -Negociações Coletivas e Rela- Bernard Appy, Cristian Andrei, Fer-
ções Industriais no Brasil: Temas e Propostas. nando A. de Arruda Sampaio
Edward J. Amadeo
Nº 2, 1993 -Premissas para a Reforma
Nº 11, 1994 -A Transformação Com- Constitucional. Bernard Appy, Cristian Andrei,
petitiva do Complexo Eletrônico Brasi- Fernando A. de Arruda Sampaio
leiro: Análise e Estratégia de Ação.
Claudio Frischtak Nº 1, 1993 -O Brasil precisa de um Banco
Central independente? Opções e problemas.
Barbara Fritz
Mais do que acertar a “cara” do Brasil em 2020 – exercício que estaria, de antemão,
fadado ao fracasso – pretendemos, a partir de uma metodologia específica, pensar de
maneira sistemática as possibilidades futuras, construídas a partir de nosso presente.
Desta maneira, acreditamos ser possível fornecer algumas referências para a tomada
de decisões políticas num cenário de incerteza (FES, 2010).

Fundação Friedrich Ebert (FES)


Av. Paulista, 2001 - 13º andar, conj. 1313
01311 - 931 | São Paulo | SP Brasil
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www.fes.org.br

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