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Santa Maria, RS
2016
Gilberto Pilecco Fagúndez
Santa Maria/RS
2016
FICHA CATALOGRÁFICA
© 2016
Todos os direitos autorais reservados à Gilberto Pilecco Fagúndez. A reprodução em partes ou do
todo deste trabalho só poderá ser feita mediante a citação da fonte.
Endereço: Rua dos Andradas 1790/ Apto 404. Bairro Centro, Santa Maria, RS. CEP: 97010-032.
Fone: (55) 91531432; E-mail: gpilecco@hotmail.com
Gilberto Pilecco Fagúndez
________________________________________
Prof. Caryl Eduardo J. Lopes, Dr. (UFSM)
(Presidente/Orientador)
________________________________________
Denise de Souza Saad, Drª. (UFSM)
________________________________________
Clarissa de Oliveira Pereira, Drª. (UNIFRA)
Santa Maria, RS
2016
DEDICATÓRIA
1
Mas; Adeel, 2005, p.14.
RESUMO
Esta disertación de maestría trae el recate de la obra del Ingeniero Civil Eladio
Dieste en Artigas/UY, principalmente la arquitectura residencial del ingeniero
heredada por la ciudad, como estrategia para evidenciar y preservar el patrimonio
cultural arquitectónico edificado con una innovadora técnica constructiva, la bóveda
en cerámica armada de ladrillo. Esta pesquisa también reviso la arquitectura
moderna uruguaya para establecerse cronológicamente en el periodo que de fijan
las obras de Eladio Dieste. También la vida del ingeniero, a fin de conocer el
embasamiento familiar, educacional, ideológico y profesional que ayudo a construir
su pensamiento y lo llevaron a crear, de forma magnifica, la cerámica armada en
ladrillo, reconocida y estudiada mundialmente, tanto para plano horizontales,
verticales, inclinados y curvos, sea con bóvedas gausas o auto portantes, paredes
plisadas, superficies regradas o para torres y reservatórios. Con el ladrillo como
protagonista y con la ayuda de la curva y la luz natural fueron criadas delgadas
laminas capaces de cerrar grandes vanos sin apoyo y encantar en el juego de luz y
sombra obtenido. La metodología adopto la pesquisa bibliográfica, visita a obras,
participación en eventos, análisis de planos y memoriales descriptivos de las obras
direccionando el estudio para formar un inventario, inédito, sobre las residencias
Saúl Dieste (1955) y Dr. Gómez Gotuzzo (1967). Como resultado de la pesquisa fue
confeccionado un inventario sobre las residencias en la ciudad natal de Eladio
Dieste, Artigas.
ARQ Arquiteto
ANCAP Agencia Nacional de Combustíveis, Álcool e Petróleo (Uruguai)
CALNU Cooperativa de álcool Nacional Uruguaia
CEASA/RS Centrais de abastecimento do Rio Grande do Sul
ENG Engenheiro
FADU Facultad de Arquitectura, Diseño y Urbanismo (Uruguai)
GEMCO General Machinery & Co
ICOMOS Conselho Internalcion de Monumentos e Sitios
INE Instituto Nacional de estatística (Uruguai)
IPHAN Instituto do patrimônio histórico e artístico nacional
IPUSA Industria Papelera Uruguaya S.A
MAUSA Manufactura Algodonera Uruguaya S.A
MTOP Ministério de transportes e obras publicas (Uruguai)
RS Rio Grande do Sul
UdelaR Univesidad de la Republica (Uruguai)
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura
UY Uruguai
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 01
1.1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 01
1.1.1 Objetivos Geral .............................................................................................. 01
1.1.2 Objetivo Especifico ....................................................................................... 02
1.2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 02
1.3 ESTRUTURA DA PESQUISA ............................................................................ 03
1.4 PRODUTO FINAL ............................................................................................... 04
2 METODOLOGIA ................................................................................................... 05
3 ARQUITETURA MODERNA URUGUAIA.............................................................. 06
4 4.1 FAMÍLIA, FORMAÇÃO E O COMEÇO PORFISSIONAL ................................ 18
4.2 PRIMEIRAS EXPERIENCIAS PROFISSIONAIS E O TRABALHO COM
..ARQUITETOS .................................................................................................... 25
4.2.1 Eladio Dieste e Luis García Pardo ............................................................... 30
4.2.2 Eladio Dieste e Antonio Bonet ..................................................................... 34
4.2.3 Clémot-Dieste-Serralta-Montañez ................................................................ 38
4.3 A CERÂMICA ARMADA, O TIJOLO E AS OBRAS ............................................ 45
4.3.1 Abóbada gausa ou de dupla curvatura ....................................................... 53
4.3.2 Abóbada/casca autoportante ....................................................................... 59
4.4.3 Lâminas Plissadas ...................................................................................... 67
4.4.4 Paredes de Superficie Regrada ................................................................... 73
4.4.2 Torres e reservatórios .................................................................................. 80
4.4 OBRAS DE ELADIO DIESTE EM ARTIGAS ....................................................... 86
4.4.1 Cidade de Artigas e a Arquitetura Moderna Local ...................................... 86
4.4.2 Obras de Eladio Dieste na cidade de Artigas .............................................. 89
4.4.2.1 Residência Saúl Dieste ................................................................................. 92
4.4.2.2 Residência Dr. Juan Gomez Gotuzzo ......................................................... 103
5 PRODUTO FINAL ............................................................................................... 112
5.1 FICHA CADASTRAL DA RESIDÊNCIA SAÚL DIESTE .................................. 113
5.2 FICHA CADASTRAL DA RESIDÊNCIA DR. GÓMEZ GOTUZZO ................... 122
6 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 128
REFÊRENCIAS .................................................................................................. 133
REFÊRENCIAS DAS ILUSTRAÇÕES .............................................................. 137
ANEXOS ............................................................................................................ 149
ANEXO A- HISTÓRICO ESCOLAR DE ELADIO DIESTE ................................ 149
ANEXO B- OBRAS CONSTRUÍDAS EM ABÓBADA GAUSA ......................... 150
ANEXO B.1- OBRAS CONSTRUÍDAS EM ABÓBADA GAUSA NO URUGUAI .. 150
ANEXO B.2- OBRAS CONSTRUÍDAS EM ABÓBADA GAUSA NA ARGENTINA
............................................................................................................................ 160
ANEXO B.3- OBRAS CONSTRUÍDAS EM ABÓBADA GAUSA NO BRASIL...... 162
ANEXO B.4- OBRAS CONSTRUÍDAS EM ABÓBADA GAUSA NA ESPANHA .. 163
ANEXO C- OBRAS CONSTRUÍDAS EM ABÓBADA AUTOPORTANTE ........ 164
ANEXO C.1- OBRAS CONSTRUÍDAS EM ABÓBADA AUTOPORTANTE NO
.....................URUGUAI ....................................................................................... 164
ANEXO C.2- OBRAS CONSTRUÍDAS EM ABÓBADA AUTOPORTANTE NA
......................ARGENTINA ................................................................................. 174
ANEXO C.3- OBRAS CONSTRUÍDAS EM ABÓBADA AUTOPORTANTE NO
.....................BRASIL .......................................................................................... 179
ANEXO C.4- OBRAS CONSTRUÍDAS EM ABÓBADA AUTOPORTANTE NA
.....................ESPANHA ...................................................................................... 182
ANEXO D- OBRAS CONSTRUÍDAS EM LÂMINAS PLISSADAS ..................... 182
ANEXO D.1- OBRAS CONSTRUÍDAS EM LÂMINAS PLISSADAS NO URUGUAI
............................................................................................................................ 183
ANEXO D.2- OBRAS CONSTRUÍDAS EM LÂMINAS PLISSADAS NO BRASIL 183
ANEXO D.3- OBRAS CONSTRUÍDAS EM LÂMINAS PLISSADAS NA ESPANHA
............................................................................................................................ 183
ANEXO E- OBRAS CONSTRUÍDAS EM PAREDE REGRADA ........................ 183
ANEXO E.1- OBRAS CONSTRUÍDAS EM PAREDE REGRADA NO URUGUAI
............................................................................................................................ 183
ANEXO E.2- OBRAS CONSTRUÍDAS EM PAREDE REGRADA NA ESPANHA
............................................................................................................................ 184
ANEXO F- OBRAS CONSTRUIDAS PARA TORRES E RESERVATÓRIOS ... 185
ANEXO F.1- OBRAS CONSTRUIDAS PARA TORRES E RESERVATÓRIOS NO
.....................URUGUAI ....................................................................................... 185
ANEXO F.2- OBRAS CONSTRUIDAS PARA TORRES E TANQUES D’ÀGUA
NO .....................BRASIL .................................................................................... 186
ANEXO G: RESIDÊNCIA SAÚL DIESTE ........................................................... 187
ANEXO G.1- MEMORIAL DESCRITIVO DA RESIDÊNCIA SAÚL DIESTE ........ 187
ANEXO G.2- DESENHOS TÉCNICOS DA RESIDÊNCIA SAÚL DIESTE .......... 205
ANEXO G.3- REGISTRO DE IMÓVEL ............................................................... 219
ANEXO H- RESIDÊNCIA DR. GÓMEZ GOTUZZO ............................................ 229
ANEXO H.1- MEMORIAL DESCRITIVO DA RESIDÊNCIA DR. GÓMEZ
.....................GOTUZZO ...................................................................................... 229
ANEXO H.2- DESENHOS TÉCNICOS DA RESIDÊNCIA DR. GÓMEZ GOTUZZO
............................................................................................................................ 250
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 OBJETIVOS
2
O presente estudo tem como objetivo geral regatar a arquitetura residencial
de Eladio Dieste em Artigas, apresentando as características arquitetônicas das
composições e formular um inventário de dados para a cidade de Artigas.
1.2 JUSTIFICATIVA
3
Para atingir os objetivos propostos nesta pesquisa, pretende-se desenvolver o
trabalho realizando levantamento bibliográfico e documental sobre a obra do
engenheiro Eladio Dieste. Complementando o levantamento, será realizado o
trabalho de campo para levantamento das obras do engenheiro em Artigas,
utilizando diversos instrumentos metodológicos tais como: levantamento
arquitetônico das obras, levantamento fotográfico, reuniões com pessoas
relacionadas ao tema, entre outros. Relacionando os dados do levantamento
bibliográfico e documental e do trabalho de campo, será possível elaborar uma base
de dados inédita das obras do engenheiro na cidade da Artigas.
4
professor da UdelaR, e no terceiro as experiências como engenheiro civil e a
parceria com outros arquitetos, a saber, Luis Garcia Pardo, Antonio Bonet, Justino
Serralta e Carlos Clémot. O quarto sub-capítulo apresenta a técnica criada por
Dieste, a cerâmica armada e as diferentes tipologias como, por exemplo, as
abóbadas de dupla curvatura, abóbadas autoportantes, lajes plissadas, paredes de
superfície regrada e torres e reservatórios com suas respectivas características e
principais obras desenvolvidas tanto na Argentina, Brasil, Espanha e Uruguai.
Para finalizar, o capitulo quatro, é descrito o legado arquitetônico que o Eng.
Civil Eladio Dieste deixou para a cidade de Artigas com ênfase na analise
arquitetônica sobre a residência Saúl Dieste e a casa Dr. Juan Gómez Gotuzzo.
O capitulo cinco, predente demonstrar o resultado da pesquisa e
dissertação, com a apresentação de um inventário sobre a obra residencial de
Dieste em Artigas.
No anexo A apresenta-se a escolaridade de Eladio Dieste, inédita até o
momento. Por sua parte no anexo B, C, D e F as obras construídas pelo engenheiro
tanto na Argentina, Brasil, Espanha e Uruguai em abóbadas de dupla curvatura,
abóbadas autoportantes, lajes plissadas, paredes de superfície regrada e torres e
reservatórios. Nos anexos G e F apresenta-se os memoriais descritivos e desenhos
tecnicos, redesenhas pelo autor conforme os originais das residências Saúl Dieste e
Dr. Juan Gómez Gotuzzo.
5
2 METODOLOGIA
6
3 ARQUITETURA MODERNA URUGUAIA
2
Na Europa o movimento moderno começa no século XIX.
3
Alvar Aalto o la sinuosidade. Disponível em: <http://masdearte.com/alvar-aalto-o-la-sinuosidad/>.
Acessado em: 10 out. 2016.
4
Le Corbusier irá influenciar na obra de Eladio Dieste por meio dos arquitetos Justino Serralta e
Carlos Clémot que trabalharam no atelier do arquiteto em Paris.
5
Corbusier, 2009, p. 36.
7
Jencks no livro Le Corbusier e la rivoluzione continua in architettura de 1943, a obra
“é o grande, primário, princípio estrutural do moderno [...]” 6, ela antecipa e sintetiza
essência da arquitetura moderna7. Com a chegada a Paris o arquiteto associa-se a
Pierre Jeanneret (1896-1967) e conhece o pintor Amédée Ozenfant (1886-1966) que
influencia a Le Corbusier no purismo, na utilização das formas geométrica tanto na
pintura como na arquitetura, a saber, no projeto para a Maison Citrohan (1919-
1920).
Em 1950 foi produzida uma importante mudança na trajetória de Le
Corbusier, suaviza-se o racionalismo e se aproxima ao organicismo. Em 1955,
realiza uma das obras mestras da carreira: a Igreja Norte-Dame du Haut (Figura 1)
em Ronchamp, França. Além da influência organicista de Frank Lloyd Wright na obra
temos também uma presença do Expressionismo. Outro edifício de temática
religiosa, com acesos públicos e privado é o Convento La Tourette (1953-1960),
construído integralmente em concreto, que junto com o conjunto habitacional de
Marselha (Figura 2) (1946-1952), marca a experiência do arquiteto no brutalismo8.
6
Apud. Martinez, 2016, p. 4.
7
Em 1926, Le Corbusier publica Les 5 points d´une architecture nouvelle; os pilotis que elevavam a
construção do chão; a planta livre que era conseguida mediante a separação entre as colunas e as
paredes sub-divisoras dos espaços; a fachada livre; a janela em fita e o terraço jardim,
fundamentados nos projetos para a Maison Cook (1925), Villa Meyer (1925-26), Villa em Garches
(1927) e a Villa Savoye (1929) em Possy, França, considerada uma das suas obras mais
emblemáticas, foi projetada em princípios do baixo custo, da residência como máquina de morar
(machine à habiter), perfeita e funcional, embora fosse uma casa nobre.
8
O brutalismo na arquitetura surgiu no movimento moderno e teve seu auge durante as décadas de
1950 e 1970. Sua principal característica, num começo, é a utilização do concreto aparente, no
entanto a evolução do conceito denomina todo prédio que utiliza o material de forma natural, bruta.
8
A influência do organicismo e do brutalismo na obra de Le Corbusier irá
mudar sua forma de projetar residências, abandona a série de casas brancas e em
1951 é projetada a Residência Jaoul (Figura 3) utilizando o tijolo a vista e o concreto
aparente. Considerada uma das mais importantes obras do arquiteto no pós-guerra
apresenta características peculiares como, abóbadas em concreto armado com
tejuela9 aparente no interior da residência; método este já utilizado por Le Corbusier
para o projeto da Residência Monol em 1920 e para a Casa Henfel de 1935, no
entanto o interior das abóbadas possui o concreto aparente.
9
As Tejuelas são peças cerâmicas similares ao tijolo, no entanto, possuem dimensões de espessura
entre os 1,5 cm e 2 cm. Podem ser utilizadas tanto em telhados (curvos ou retos) como em calçadas.
10
Para o arquiteto Frank Loyd Wright (1869-1959), o maior expoente do movimento, é uma
arquitetura baseada na razão que se molda perfeitamente à função para a qual fosse projetada, com
formas puras e geométricas. Como conceito de arquitetura orgânica deve-se entender todas as
manifestações arquitetônicas que tratam sobre adequação e harmonização com a natureza e
possuem como princípios, descritos no capítulo IX do livro História da Arquitetura Moderna de Bruno
Zevi (1918-2000), o sentido do interior como realidade; a planta livre como flexibilidade e continuidade
9
Sobre as influências internacionais sobre a arquitetura moderna uruguaia
Juan Pedro Margenat afirma que nos últimos anos da década de vinte existiam duas
correntes dentro da Faculdade de Arquitetura, com certa rivalidade, entre os
partidários de Le Corbusier e os que eram seguidores da obra de Frank Lloyd
Wright, confrontação definida por Bruno Zevi 12 (1918-2000) entre organicistas e
racionalistas. Dentre os principais líderes entre as duas correntes está o Arquiteto
Carlos Gómez Gavazzo13 (Figura 4), racionalista, e o Arquiteto Román Fresnedo Siri
(Figura 5), organicista, no entanto, estes protagonistas dessa polaridade realizaram
uma reinterpretação dos modelos utilizados por Le Corbusier e Frank Lloyd Wright
conseguindo obras com características nacionais.14
dos ambientes; a unidade entre o exterior e interior; utilização de materiais naturais e a casa como
proteção.
11
As influencias do modernismo catalão foram trazidas ao Uruguai pelas visitas de arquitetos e
engenheiros durante a guerra civil espanhola (1936-1939), entre eles o Eng. Esteban Terradas (1883-
1950) e o Arq. Antonio Bonet.
12
Bruno Zevi foi um arquiteto e urbanista italiano conhecido sobretudo como historiador e crítico da
arquitetura modernista.
13
O arquiteto Goméz Gavazzo (1904- 1987) formou-se na década de 1920 pela UdelaR e trabalhou
entre 1933 e 1934 no Atelier de Le Corbusier.
14
Margenat, 2013, p.69.
10
movimento consolidou-se no período e na composição do patrimônio no país, a
ponto de ser considerado, o movimento moderno, o mais importante patrimônio
edificado representante da arquitetura uruguaia principalmente na capital,
Montevidéu. No entanto, esta cultura arquitetônica moderna, influenciada pela
arquitetura náutica15 (Figura 6), mantêm um vínculo e evolução com a arquitetura
tradicional. Segundo o Arquiteto moderno Julio Vilamajó a tradição não é a relação
fria que cataloga as obras, as encaixa nas diferentes épocas do tempo passado,
senão a presença atual de conceitos e soluções racionais que foram postos em
prática por outras gerações.16
Figura 6 – Edifício do Yacht Club (1934/1938) projeto dos arquitetos Luis Crespi e
Jorge Herran.
17
Pardo, Luis. In:. Gaeta, Júlio. Entrevista sobre Luis Garcia Pardo, 2000.
18
Carré fica a frente da Faculdade de Arquitetura até 1941, quando veio a falecer.
19
Guía Arquitectónica y Urbanística de Montevideo, 1996, p. 226.
12
produção diversificada em termos espaciais e formais, que consegue fazer uma
releitura e transformação dos conceitos vanguardistas da arquitetura europeia e
norte-americana. Nesta procura pela nacionalização e regionalização da cultura e
patrimônio moderno uruguaio temos o pensamento do pintor construtivista Joaquín
Torres Garcia (1874-1949) onde a arte é construída em base aos princípios da
proporção, unidade e estrutura, assim, pretendia se aproximar da cultura sul-
americana, superando a internacional. Também na obra do Arq. Mario Payssé
Reyes (Figura 7 e 8) (1913-1988) o qual propõe uma adequação do edifício ao meio,
para isso se deve avaliar as particularidades climáticas, as aberturas de uma
fachada, a utilização dos materiais, um rigor geométrico e a integração das artes
plásticas na arquitetura. Defende que a arquitetura no Uruguai progredirá quando se
entender que a simplicidade é a principal virtude da boa arquitetura, e que os valores
funcionais espaciais são os primeiros a serem considerados nas obras, sem
pretender outra classe de originalidade que não conduz a nada positivo senão a
distorcer os verdadeiros propósitos e corromper os resultados.20
Para o Arq. William Rey Ashfield21 no Uruguai não se tem uma “primeira obra
moderna” e se existe, não há registros ou é considerada seriamente como tal, nem
tampouco o nome de um arquiteto pioneiro capaz de referenciar cronologicamente
sua obra realizada, projetada ou escrita, os inícios do movimento moderno na
arquitetura uruguaia. Também não conta-se com um manifesto iniciatório; nem se
quer com um panfleto que permitia a identificação dessa possível primeira data. A
arquitetura moderna uruguaia deve ser compreendida como um processo
sustentado no tempo, surgida no marco de uma atmosfera social e cultural particular
que, desde a década de 1920, acompanhou um acelerado crescimento econômico
do país, criando um ambiente ideal para uma nova geração, carregada de confiança
no presente e com esperança no futuro.
20
Guía Arquitectónica y Urbanística de Montevideo, 1996, p. 231.
21
Ashfield, 2014, p. 17.
13
Figura 7 e 8 – Seminário Arquidiocesano de Montevidéu (1952) de Mario Payssé
Reyes. Vista aérea, à esquerda, e o detalhe em tijolo da fachada, à direita.
28
Vertente política iniciada no fim do século XIX por José Batlle y Ordoñez (1856-1929). Podendo
colocar seus ideais em prática nas primeiras décadas do século XX como presidente do Uruguai. As
principais ideias do batllismo era a separação entre a igreja e o Estado.
29
Baracchini; Altezor, 2010, p. 174.
30
Oliveri, 2009, p. 6.
31
Como por exemplo, as obras do arq. Luis García Pardo (1910-2006) para o edifício “Gilpe” (1955),
“El Pilar” (1957), “Pocitano” (1959) ou a obra do arq. Raúl Sichero (1916-2014) para os edifícios “La
Goleta” (1951), “Martí” (1956) e nos edifícios “Panamericano” (1958), na Rambla del Buceo, e
“Ciudadela” (1959) localizado na Ciudad Vieja, em pleno centro histórico da cidade, onde o arquiteto,
nestes dois últimos edifícios utiliza a pele de vidro como fechamento.
32
Segundo Leopoldo C Artucio (1971, p.49) as edificações realizadas em tijolo à vista no Uruguay
podem ser incluídas dentro da categoria do brutalismo, no entanto, humanizado.
33
Grandes mestres do movimento moderno como o Arq. Ernesto Leborgne (1906-1986) no projeto
para a Residência Andrada-Torres (1963) e a Residência Mario Lorieto (1964); o Arq. Mario Payssé
16
Um capítulo importante da arquitetura moderna uruguaia é a associação entre
arquitetura e arte de cunho, principalmente, construtivista inspirado no legado de
Torres Garcia. Entre os principais artistas deste período temos a Francisco Matto
(Figura 9), Edwin Studer (Figura 10), Julio Alpuy, Gonzalo Fonseca, Augusto Torres,
Horacio Torres, Eduardo Yepes, entre outros.34
Figura 9 e 10 – Mural de 1964 realizado por Francisco Matto para o Colégio N˚1, à
esquerda, e o mural de 1962 realizado por Edwin Studer para o Urnario Municipal de
Montevidéu.
36
Tapia. Patrimonio Cultural: Histotia y evolución del concepto. Disponível em:
<http://cuevadenerja.es/blog/831/>. Acesso em: 5 jan. 2015.
37
Oksman, 2011, p.19.
18
4 ELADIO DIESTE
38
Grompone, 2011, p. 2.
19
Seu pai, também Eladio Dieste (1880-1972) foi militar, político, professor de
história (autodidata) e maçom. Em 1904, ingressou no exército e foi transferido para
a cidade de Salto39 onde conheceu a também descendente de imigrantes, Elisa Saint
Martin (1884-1974), professora de francês no ensino público secundário, com quem
se casou. Na cidade de Salto nasceu o primeiro filho do casal; Ariel (1913),
historiador, e com a transferência para Artigas40 por causa da profissão de militar,
nasceram os outros dois filhos do casal; Eladio (1917) engenheiro, e Saúl (1921)
bancário.
Eladio Dieste, filho, teve três tios paternos que exerceram uma importante
influência na formação pelo pensamento liberal e católico que o acompanhou
durante toda a vida de forma presente e devota. Tanto Enrique (? – 1964), Eduardo
(1881-1954) e Rafael Dieste (1899-1981), estes dois últimos reconhecidos
intelectuais na área da literatura, ciência e filosofia, mantiveram laços familiares
muito próximos com o engenheiro. Definidos por Eladio Dieste como:
Conocí a todos los hermanos de papa; todos, en mayor o menor grado eran
católicos [...] Eduardo estuvo en el seminario de Santiago y llegó a recibir
hasta las órdenes menores. Era una especie de súper–católico [...] Rafael,
un católico escandalizado por la guerra civil española ˜ [...]. Su tío Enrique
41
era un católico practicante aunque también batllista ; esta contradicción le
42
llevó a largas meditaciones toda su vida. (itálico colocado no texto original)
39
A cidade de Salto está localizada ao noroeste do Uruguai, distante a 498 km da cidade de
Montevidéu, sobre a margem “Oriental” do Rio Uruguai. Segundo o censo de 1908 a cidade possuía
uma população de 19.788,00 habitantes.
40
A cidade de Artigas está localizada ao noroeste do Uruguai, distante 600 km da cidade de
Montevidéu. A cidade está localizada na margem “Oriental” do Rio Quarai e faz fronteira com a
cidade homônima ao rio. Na época da transferência de Salto para Artigas o pai de Eladio foi
destinado a fundar o 8˚ Regimento de Infantaria de Artigas a fim de cessar com os conflitos
fronteiriços.
41
Vertente política iniciada no fim do século XIX por José Batlle y Ordoñez (1856-1929). Podendo
colocar seus ideais em prática nas primeiras décadas do século XX como presidente do Uruguai. As
principais ideias do batllismo era a separação entre a igreja e o Estado.
42
Grompone, 2011, p. 2.
43
Senso de 1908.
44
No Anexo 9.1 esta o histórico escolar de Eladio Dieste, descoberto graças a esta pesquisa.
45
Grompone, 2011, p. 3.
20
Figura 11 – Eladio Dieste aos 17 anos.
46
Juan Grompone (1939- ) é um engenheiro industrial, professor informático, escritor uruguaio e
amigo íntimo da família Dieste. Por meio de seus relatos é apresentado um dos mais completos
relatos da vida de Eladio Dieste. Ver GRAMPONE, J. Eladio Dieste, Maestro de la Ingeniería, 2011.
Disponível em: < http://www.grompone.org/ineditos/ciencia_y_tecnologia/Dieste.pdf>. Acesso em: 15
nov. 2015.
47
Antonio Grompone (1893-1965) foi um importante educador, escritor e advogado uruguaio. Fundou
e foi o primeiro diretor do Instituto de Professores Artigas (IPA), o principal e mais importante centro
público de formação de professores no Uruguai e também foi reitor da Universidade de Direito da
UdelaR.
48
Grompone, 2011, p. 5.
49
Segundo relatado por Antonio Grompone, suas palavras foram: “Com bolsa ou sem ela, que [...]
venha a minha casa que será a sua.” (GROMPONE, 2011, p. 5)
21
Figura 12 – Eladio Dieste no acampamento de estudantes da faculdade de
engenharia, março, 1941.
50
Arana, 1980, p. 96.
22
Na influência sobre a construção dos ideais adotados pelo recém-formado
engenheiro civil, Eladio Dieste, estão os conceitos da “Geração de 45” com notáveis
intelectuais que se destacaram dos predecessores pelo espírito crítico de seu
trabalho e por uma sólida formação acadêmica não apenas na literatura, mas
também em outras disciplinas, como no cinema, nas artes plásticas, na arquitetura e
na engenharia.51
Além desta influência da “Geração de 45” e da sólida formação universitária,
está presente a influência e formação familiar, num ambiente artístico e intelectual
que segundo o engenheiro:
53
Cuando Torres García volvió a Uruguay se hizo muy amigo de mi tío
Enrique. Asistí, creo que en 1935, a clases de Torres. Fui su amigo, así
como un joven puede serlo de un hombre más viejo. Charlamos mucho de
pintura y arquitectura. Todo lo que decía era rico, profundo, matizado, pero
discutible. En él, lo importante no era lo sistematizado, pero sí lo transmitido
54
de lo vivido intensamente.
Além do contato com a arte de Torres García, artista que influenciou vários
arquitetos do modernismo uruguaio, Eladio Dieste teve um importante convívio com
Ester Cáceres, poeta e médica uruguaia, Augusto e Olimpia Torres (filhos de Torres
García) e o marido, o artista plástico, Eduardo Yepes, que realizou as esculturas de
Cristo para a Igreja de Atlântida e Durazno.
Sobre a relação entre Yepes (Figura 13), Dieste e Torres García (Figura 14) a
arquiteta argentina Graciela Silvestri afirma que:
[...] aspiraban a lograr la sustancia que la modernización parecía hurtarles a
su obra. No sorprende, en consecuencia, que Dieste haya podido hilvanar
51
Grompone, 2011, p. 6-7.
52
Alvarez. Rafael Dieste. Disponível em:
<http://ruc.udc.es/dspace/bitstream/handle/2183/5322/ETSA_24-17.pdf.txt?sequence=2>. Acesso em:
22 dez. 2015.
53
No exilio de Torres Garcia na Espanha ele trabalhou, em 1903, com Gaudí. Com esta experiência
adquiriu o conhecimento necessário para passar aos arquitetos e engenheiros uruguaios.
54
Dieste, 1985, p. 75.
23
55
su pensamiento católico – por entonces radicalmente tornista - con este
mundo de vanguardias agnósticas. Los tres buscaban, mediante la forma, la
56
manera moderna de aludir a la belleza. Es en Santo Tomás [de Aquino]
donde Dieste afirma su concepción de belleza, alejada de cualquier versión
de l´art pour l´art. [...] Esta belleza posee tres características: la integridad o
perfección, la proporción justa o armonía, y la claridad que permite que sea
percibida por la razón. Así, todos los seres humanos estarían llamados a
57
comprenderla. .
55
Palavra referente a ortodoxo.
56
Dieste outorgava o conceito de beleza à concepção aquiniana. É uma concepção bastante grande
que concede um papel importante e central ao tema da luz. O importante é que não separa o bem do
mal, algo já separado dede Kant.
57
Silvestri, 2004, p. 4, n. 769.
58
Grompone, 2011, p. 11-12.
24
Expressamos aqui o desenho original (Figura 15) e o texto do problema
aplicado pelo professor Dieste aos alunos:
Un chasis ABCD, de masa despreciable, apoya en dos cilindros, de ejes B y O, cuya masa es m. El
cilindro de eje B puede girar sin frotamiento alrededor de B. El [cilindro de eje] O es arrastrado por el
chasis, siendo f el coeficiente de frotamiento entre el cilindro O y los trozos CA y CD del chasis.
Ambos cilindros ruedan sin deslizar sobre el plano MN. Un motor M, de masa m, está unido al chasis
y transmite al cilindro B un par cuya potencia puede ponerse en función de la velocidad [angular] ω
2 59
de este cilindro en la forma: W = A ω − Bω. Estudiar el movimiento.
59
Grompone, 2011, p. 22-23.
60
Sobre Elisabeth Friedheim pouco se sabe. Elisabeth chegou no porto de Montevidéu (Uruguai) aos
15 anos de idade, em 1937, junto com o pai León Friedheim, descendente judeu, a mãe Martha Utke,
descendente alemã, e a irmã Dorothea, na época, com 14 anos. Segundo Grompone (2011, p.7) “[...]
a família de Lisa me introduziu num lar culto de classe média centro europeia. [...] me enamorei de
uma mulher alemã [...] que tinha ido quando criança a escolas luteranas, criada num lar sem religião
que soube com tristeza, já maior, que seu pai estava rotulado como judeu.
61
Os onze filhos do casal são Juan, Esteban, Eduardo, Antonio, Marta, Teresa, Bernardo Pedro,
Tomás, Inés e Isabel Dieste Friedheim.
25
junto até seus últimos dias. Lisa, como era conhecida, e a família são definidas pelo
amigo do casal, Juan Grompone, como:
62
Grompone, 2011, p. 7.
26
chefe da Oficina Técnica da Direção de Arquitetura do MTOP até 1948. Sobre esta
experiência Dieste conta:
63
Dieste, 1988, p. 23.
64
Dentre as obras mais famosas da empresa esta a construção do auditório para a Universidade da
Venezuela. O projeto de Carlos Raúl Villanueva da abrigas 2700 pessoas foi construído todo em
concreto armado em apenas 4 meses.
65
TRAMA, Quito. N. 12, 1979.
66
Escandell, 2012, p.14.
67
Viera não obteve o título de engenheiro por não completar seus estudos, mas atuava como tal. Sua
capacidade de projetista e calculista é reconhecida por muitos especialistas, inclusive por publicações
internacionais. Dentre as obras realizadas por Viera pode ser destacado o projeto para o Cilindro
Municipal Dr. Hector Grauert, em Montevidéu, e da Ponte da Barra, em Maldonado, com a forma
particular, ondulada que oficialmente leva o nome Leonel Viera.
27
Como legado do trabalho na empresa e com a cobertura da casa Berlinghieri,
Dieste define que: “alcancei fazer um par de abóbadas extra68, um pouco maiores e
logo mergulhei no tema da empresa de fundações. Recém em 1953 recomecei a
trabalhar em abóbadas, mas já com dimensões importantes.”69 O fato de estar em
uma empresa que trabalhava em fundações, permitiu-lhe conhecer e adquirir uma
vasta experiência no desenho e cálculo de fundações para grandes estruturas.
Desta forma teve que desenhar algumas máquinas (Figuras 18 e 19) para poder
realizar os trabalhos dentro da empresa já que segundo o engenheiro:
68
Após a abóbada em parceria com Antonio Bonet, Dieste realiza outra abóbada, mas com 10 metros
de vão livre.
69
SUMMA, Buenos Aires, N. 247, 1988, p. 23–32.
70
Dieste, 1988, p. 23.
28
Figuras 18 e 19 – Macaco hidráulico projetado por Dieste para viabilizar a pré-
compressão dos cabos de aço nos vales entre as abóbadas. Desenho, à esquerda,
e o produto, à direita.
Contra lo que se suele pensar, son los países centrales los que pueden
darse el lujo de la especialización y de formar técnicos hábiles y rápidos en
la aplicación de rutinas; nosotros no tenemos más remedio que empezar
casi todo desde el principio, y, consecuentemente, pensar cada paso a
partir de las grandes bases del conocimiento. Y de esa formación elegir lo
esencial, siguiendo en lo posible el camino histórico; no ceder al encanto de
las formulaciones finales que puede ser muy sintéticas y elegantes pero que
71
no son fuente de lo verdaderamente creativo.
71
Carbonell, 1987, p. 167.
72
Segundo Juan Grompone (2011, p. 9): He encontrado que muchas veces no se hace la debida
justicia al papel desempeñado por Eugenio Montañez en la obra de Dieste. Como más de una vez le
oí comentar a Dieste que Montañez es el administrador, el técnico que construye, quien cobra las
cuentas y mantiene la casa en orden. Montañez desempeñó un papel decisivo en el desarrollo de
obras en el Brasil, país donde estuvo radicado varios anos. Hacia 1983, aquejado de graves
problemas de salud, se retiró de la empresa. Dieste, con el “paraguas empresarial” que le suministro
Montañez durante años decisivos, pudo dedicarse a crear. No hay que olvidar nunca que para que
29
um ano depois o escritório tem a primeira oportunidade de projetar e construir um
edifício, por meio de uma licitação. O concurso tinha como objetivo o projeto e
construção de um depósito para a Administración Nacional de Combustibles,
Alcoholes y Pórtland (ANCAP) no Uruguai. A licitação foi vencida pelo preço e pelo
tempo de execução da estrutura. O projeto proposto (Figuras 20 e 21) consistia em
pórticos, erguidos por meio de guindastes idealizados por Dieste, em concreto com
40 metros de vão, cobertos por abóbadas cilíndricas em cerâmica armada (cada
abóbada cobria um vão de 8 metros), mais baratas que as tradicionais em concreto.
Já neste projeto o escritório destaca-se no cenário nacional pelas soluções adotadas
e no sistema construtivo utilizado.
Estas primeiras experiências laborais permitiram a Eladio Dieste fundamentar
a base dos projetos da peculiar estrutura que tanto o caracteriza no mundo, à
cerâmica armada, o que favoreceu o intercâmbio de conhecimento com outros
profissionais da construção civil, abrindo um caminho com mudanças que lhe
permitiu conhecer desde a cobertura até fundações dos edifícios onde trabalhou,
sempre de forma destacada.
exista un Dieste, debe siempre existir un Montanez: esta es una importante lección que la historia
repite una y otra vez.
30
Outro fator importante na construção da identidade nos projetos está no
trabalho que realizou com outros arquitetos e engenheiros, o qual lhe permitiu
consolidar a imagem de “[...] artista iluminado que domina todos os aspectos do
ofício: aquele que desenha, pinta, esculpe e constrói.”73 que muitas vezes se
apropria das características já aprovadas por outros profissionais, para realizar a
composição, sem tirar, a genialidade realizada pelo engenheiro nas obras em
cerâmica armada, aplicando sua identidade pessoal as obras. Alguns destes
arquitetos seguem descritos a seguir.
73
Escandell, 2012, p. 29.
74
García Pardo foi um arquiteto uruguaio que desenvolveu projetos de arquitetura residencial e
religiosa, integrando arte nos seus edifícios, dando importância a estrutura e ao espaço, a
racionalização e a moradia econômica. Sua obra se caracteriza também pela implantação de novos
sistemas estruturais que o tornou um dos protagonistas da arquitetura uruguaia e do movimento
moderno no país junto com o também arquiteto, Raúl Sichero (1916-2014).
75
O terreno está situado no tradicional bairro de Pocitos, em Montevidéu, na esquina da Av. Brasil e
Br. Espanha. Numa pequena esquina da Rambla, de frente para o Rio da Prata.
31
foi concebida com a implantação de um único pilar (núcleo) em concreto onde se
situa a circulação vertical, e do qual ficam sustentadas as lajes por meio de cabos de
aço, fornecidos por Leonel Vieira.
Como consequência do projeto arquitetônico e estrutural, temos um edifício
com uma fachada e uma planta quase sem elementos estruturais que obstruam
tanto a visual como o movimento do edifício, sendo possível implantar a pele de
vidro contínua. A construção, no conjunto, tornou-se um ícone da arquitetura
montevideana e do movimento moderno no país.
O edifício El Positano (Figura 24 e 25) é hoje em dia um representante do
mais alto nível artístico e estrutural da década de 1960 no Uruguai. Para a estrutura
do projeto de García Pardo foram solicitadas duas respostas, uma a empresa Dieste
& Montañez S.A e a outra a Viermond S.A. Com a apresentação de projetos
totalmente diferentes quanto ao percurso e transmissão de cargas. Foi escolhido
como melhor solução o da segunda empresa onde, basicamente, todos os esforços
do edifício eram suportados por quatro pilares centrais e as lajes em mísula
permitiam a planta livre da estrutura, e assim a utilização da pele de vidro. Tanto
este projeto como o Gilpe tiveram projetos paisagísticos de Roberto Burle Marx
(1909-1994).76
76
Medero, 2012. Disponível em: <http://www.fadu.edu.uy/garcia-pardo/obras/edificio-positano/>.
Acessado em: 15 out. 2016.
32
Figuras 24 e 25 – Edifício Positano: durante a construção, à esquerda, e a inserção
na quadra, à direita.
33
uruguaio dos princípios da arquitetura internacional, mas também com o arquiteto
para quem a estrutura tinha especial importância na concepção arquitetônica.”77,
justificando a importância da relação entre Eladio Dieste e o arquiteto García Pardo,
o qual indicaria Antonio Bonet para realizar a estrutura da Casa Berlinghieri.
77
Escandell, 2012, p. 21.
34
4.2.2 Eladio Dieste e Antonio Bonet
Por esa época, hacia 1945, me llamó el arquitecto Antonio Bonet (1913,
1989) para colaborar en el proyecto de la casa Berlinghieri en Portezuelo
(Maldonado). Tuvimos grandes discusiones, desde luego que amables, en
las que mucho aprendí. [...] En determinado momento recuerdo haberle
dicho sin demasiado fundamento: sería lindo hacer una bóveda de ladrillo
en esta obra. A Bonet le pareció que una bóveda de ladrillo resultaría muy
pesada. El, naturalmente, pensaba en una bóveda clásica. Yo le contesté
que pensaba en una cáscara de ladrillo. ¿Y eso se puede hacer? pregunto
Bonet. No lo sé, le contesté, déjemelo estudiar. Estuve analizando
largamente el tema. [...] No tenía idea entonces que la cerámica se hubiera
usado en estructuras parecidas ni tampoco de la existencia de bóvedas
catalanas ni de la experimentación más o menos contemporánea en Italia
con viguetas curvas prefabricadas en ladrillo. [...] El problema era para mí
totalmente nuevo; y, a veces, la ignorancia sirve. [...] busque el camino
aprovechando mis experiencias constructivas anteriores con cascaras de
hormigón armado y moldes deslizantes. Se me ocurrió aliar la cerámica al
79
molde deslizante, como se le hubiera ocurrido a cualquiera [...].
La génesis no ha venido por ahí [habla de las bóvedas catalanas] sino que
la génesis ha venido por las estructuras de hormigón armado, de
desencofrado rápido; eso ha sido la madre de las estructuras. Que el
resultado final pueda coincidir con algunas cascaras catalanas no quiere
78
Bonet era um arquiteto catalão que emigrou para a Argentina durante a guerra civil espanhola. Em
meados de 1945 se estabeleceu no Uruguai para a urbanização de Punta Ballena (Maldonado/UY).
Na arquitetura de Bonet a abóbada, em concreto, tornou-se o elemento de definição espacial e
característico, a saber, na obra do Atelier para Artistas Paraguai-Suipacha (1939), Torre Rivadavia
(1957), Casa La Ricarda (1960), entre outras.
79
Arana, 1980, p. 96.
80
O tijolo de espelho refere-se à maneira de colocação do tijolo de forma horizontal e unido por suas
faces menores.
81
González, 2014, p.59.
35
decir que esté inspirado, lo que hacemos, en la bóveda a la catalana, no
82
tiene nada que ver.
82
Entrevista realizada por Rodrigo Gutierrez em maio de 1996. Ver MARÍN; TRALLERO. El
nacimiento de la cerámica armada, Cádiz, 2005, p. 709.
83
Nudelman, 2004, p. 11 e 12.
84
DPA; Techar una montaña 165 x 45 x 22, Barcelona, n. 15, p. 43, 1995.
36
Figura 30 – Casa Berlinghieri: Planta Baixa do térreo, à esquerda, e planta baixa do
pavimento superior, à direita.
Y lo pensé y, claro, tenía una cantidad de dudas muy grandes pero estaba
seguro de que se podía hacer. Entonces lo hicimos. El contratista no quería
construirlo, después no quería ponerse debajo, después no quería subirse a
la estructura y el ver las cintas de ladrillo contra los bosques me hizo
realmente ver que había encontrado algo que valía la pena seguir; era la
85
punta de un hilo.
85
Em entrevista realizada por Rodrigo Gutierrez em maio de 1996 em Granada, Espanha. Apud
Marín; Trallero, 2005, p. 1.
38
Figura 33 – Casa Cruilles em Begur, Espanha.
3.2.3 Clémot-Diste-Serralta-Montañez
39
Paris o arquiteto ressalta que logo no primeiro ano em Paris ingressou no escritório
de Le Corbusier e trabalhou nele três anos e meio. Justamente em um momento
muito importante, nada menos que na execução da Unidade de Habitação de
Marselha, trabalhou com a infraestrutura geral e nas instalações do edifício para,
logo após ter adquirido certa experiência, lhe confiarem o estudo da cobertura da
Unidade de Habitação onde teve a oportunidade de estar em contato direto com Le
Corbusier na ordem de criação.86
86
Barrachini, 1965, p. 22.
87
O estudo realizado por Serralta sobre o Modulor serão publicados em 1955, no Modulor 2, por Le
Corbusier o qual descreve o aporte dos dois arquitetos como: deux jeunes architectes, I’un
Uruguayen, I’autre Français (JEANERET, 1995, p.13). Os desenhos realizados no estudo foram
publicados sobre o nome de carré 1, 2, 3, 4 e 5 e posteriormente foram chamados de Modulor 2.
88
Nuedelman, 2013, p. 293.
40
inclusão de desníveis internos em meio pé-direito, e sacadas que acentuam a
horizontalidade apesar de ser um prédio com 10 pavimentos.
Em 1955 é que realmente a sociedade entre arquitetos e engenheiros se
consolida com o projeto, não construído, para a empresa General Machinery Co.
(GEMCO), importador das máquinas Caterpillar. O primeiro projeto (Figura 36)
realizado para a empresa consta de uma grande nave central coberta por uma
abóbada de dupla curvatura com apenas 15cm de espessura, ladeadas por duas
abóbadas menores em forma de asas de gaivota 89. Toda a cobertura do edifício era
sustentada por uma série de dois pilares alinhados em concreto armado com
formato de Y, ligados à cobertura por meio de perfis metálicos, o que ajudava a
descarregar o esforço da cobertura. A fachada frontal90, simétrica, do edifício era
toda envidraçada o que permitia visualizar a estrutura interna. As laterais eram bem
distribuídas e corretamente iluminadas. Segundo Nudelman a composição das
janelas tem uma ligação com os desenhos de Serralta descritos no livro do Modulor
2 (Figura 35).91
No segundo projeto (Figura 37) para a empresa foi realizada uma modificação
nos pilares, os quais passaram a ser metálicos e em forma de “V”. É aumentada a
área do projeto, redistribuídos os ambientes, mas o conceito volumétrico mantêm-se
igual ao primeiro projeto. Na terceira proposta, o projeto é modificado totalmente,
mas o único conceito é “a racionalidade corbusiana dos arquitetos e as abóbadas de
tijolo dos engenheiros.”92
Sendo Eladio Dieste presidente da associação de pais do colégio religioso La
Mennais (Figura 38), o escritório foi encarregado do projeto do novo edifício para o
centro educativo. O programa deveria sanar as necessidades dos Irmãos
Menesianos, um setor privado (moradia) e outro público (colégio). No
desenvolvimento do projeto (Figura 39) (1958) e após a construção (1960) pouco
pode ser notado da obra de Eladio Dieste a simples vista, apenas existem as
abóbadas da cobertura do oratório (Figura 40).
Podemos dizer que este é um projeto no qual ressaltam as influências que os
arquitetos obtiveram em Paris, principalmente nos edifícios para o Convento Santa
89
Nuedelman, 2013, p. 311.
90
O skyline da fachada frontal é similar àquela projetada por Eladio Dieste em 1974 para o pavilhão
dos produtores na Central de Abastecimento (CEASA) em Porto Alegre.
91
Nudelman, 2013, p. 311.
92
Escandell, 2012, p. 27.
41
Maria da Tourette (1956) com o programa de necessidades, da Unidade
Habitacional de Marselha (1946-1952) com a horizontalidade nas sacadas e
concreto aparente na vertical, ou com a Capela de Ronchamp (1955), com as
aberturas de iluminação colorida e a iluminação indireta zenital (apropriadas por
Dieste para os projetos da Igreja de Atlântida e a Igreja de Durazno,
respectivamente), numa primeira proposta do projeto.
42
Figura 36 – Corte do Primeiro projeto para GEMCO.
43
Figura 38 – Colégio La Mennais – Fachada principal.
44
Figura 40 – Oratório com abóbada projetada por Eladio Dieste no colégio La
Mennais.
93
Nuedelman, 2004, p. 5.
45
Con Serralta y con Clémot Clemot tuve poco contacto. Pero el mismo me
permitió apreciar en Serralta la expresión del racionalismo corbusierano, al
cual Dieste no le era indiferente, al que adicionaba una precisión de
94
razonamiento poco común.
94
Nuedelman, 2004, p. 5.
95
Rebello, 2009, p. 21
96
A abóbada europeia foi o sistema utilizado nas construções góticas e românicas com a
característica de possuir a geratriz na semicircunferência, construídas sobre estrutura em madeira e
aonde os empuxos eram absorvidos pelos contrafortes.
97
As abóbadas do Oriente Médio eram construídas sem formas, no entanto, com a ajuda de uma
parede vertical que poderia ser retirada depois de finalizada a execução. O empuxo deste tipo de
abóbada é absorvido pelas fundações ou por contrafortes, dependendo do tipo de poio.
98
A abóbada catalã é mais esbelta e com menor flecha que as anteriores. São executadas em duas
camadas (sem forma) de tijolos cerâmicos de 7 cm de espessura colocados em sentidos contrários,
onde na primeira camada é utilizado um tipo de gesso especial e na outra uma argamassa de
cimento e areia.
99
Poleni, Giovani. Memorie Istoriche dela Gran Cupola del Tempio Vaticano. Pádua, 1748.
46
Somente no ano de 1866 o Eng. Civil Karl Culmann desenvolveu métodos
concretos, a partir da hipótese de Poleni, para o cálculo e dimensionamento de
abóbadas, arcos e cúpulas principalmente em aço.100
100
Anderson, 2004, p 66-75.
101
Disponível em: <https://archive.org/details/diegraphischest01culmgoog>. Acesso em: 10 jan. 2016.
102
Aplicação da Geometria à resolução de problemas da Mecânica (estática). Utilizada por arquitetos
como Antoni Gaudí, na Espanha e Rafael Guastavisno, nos Estados Unidos ou pelo Engenheiro,
especialista em pontes, Robert Maillart, na Suíça.
103
Rafael Guastavino (1842-1908) foi um arquiteto valenciano que se radicou nos Estados Unidos.
Fundador da empresa The R. Guastavino Company, responsável pela construção de mais de 1000
edifícios até 1962, utilizando a técnica da abobada em cerâmica e argamassa.
104
Jiménez Torrecillas, 1996, p. 33.
47
Para Eladio Dieste o caminho foi diferente. Sem perder o sentido tradicional
das experiências anteriores, queria aliar a cerâmica armada (tijolo + ferro +
argamassa) com a forma móvel para obter um método mais eficaz para as abóbadas
já construídas por ele em concreto quando trabalhava para a empresa Christiane e
Nielsen.
105
El Pais Cultural Especial Dieste, 2004, p. 5.
106
ELARQA 15, 1995, p. 14.
48
grandes planos de vidro; se estes fossem utilizadas na realidade construtiva sul-
americana deveríamos gastar muito em climatização nas edificações e esquecer a
“economia cósmica” defendida por Dieste.107
107
Disponível em: <http://armandooliveira.blogspot.com.uy/2011/11/líneas-deresistencia-su-alumno-
y.html>. Acesso em: 11 jan. 2016.
108
Jiménez Torrecillas, 1996, p. 27.
109
Dieste, 2011. p. 66-68.
110
Dieste, 1982, p. 57.
49
El tema del pandeo de los arcos de catenaria y de las bóvedas de cerámica
armada ocupó durante mucho tiempo a Dieste. Hacia 1963 la respuesta que
daba era experimental pura: carga de la bóveda o construcción de un arco
experimental. Recién hacia 1970 el problema estuvo técnicamente resuelto.
El problema del pandeo es atacable por diversos caminos y todos ellos
111
fueron transitados por Dieste.
111
Grompone, 2011, p. 23.
112
O arquiteto Mariano Arana é formado pela UdelaR em 1961, destacado teórico com inúmeros
livros sobre arquitetura e política. Foi presidente da Comissão de Patrimônio Histórico, Artístico e
Cultural da Nação (1985-1989), prefeito de Montevidéu durante dois mandatos (1994-1999 e 2000-
2005) e Ministro de Moradia no período de 2005-2011.
113
Jiménez, 1996, p. 9.
114
Professor de Graduação e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade São
Judas Tadeu (USTJ).
115
Rebello, 2009, p. 21.
116
Grompone, 2011, p. 17.
50
obras)117, Brasil (27 obras), Argentina (43 obras) e Espanha (6 obras), no entanto
segundo Ciro Caraballo, representante da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, - acrônimo de United Nations
Educational, Scientific and Cultural Organization), considera-se que, da herança
deixada por Dieste no Uruguai, 10% de suas obras já não existem, 5% estão em
vias de destruição (Figura 44) e apenas uma obra, o depósito no porto de
Montevidéu, está habilitada para receber a visita de turistas118.
Dados estes que reafirmam o descaso que as autoridades e os uruguaios têm
com as obras do engenheiro, já afirmado por Enrique Beltran, em artigo publicado no
jornal EL PAIS, por enquanto que os uruguaios veem com certa indiferença as
construções em cerâmica armada de Eladio Dieste, já os estrangeiros de diversas
partes do mundo visitam as obras para admirar com “devoção quase religiosa.” 119
Assim também como as obras do Eng. Civil e Arq. Pier Luigi Nervi 120 ou o Arq.
Felix Candela121 formam consideradas referência na forma, no estilo, materiais e na
construção das estruturas através de sistemas orgânicos o Eng. Civil Eladio Dieste
não foi diferente. Conseguiu inovar com estruturas ousadas, com formas leves e
magníficas, e colocou o tijolo, um elemento comum e simples como principal
protagonista, com a ajuda da luz e da curva, de suas obras a ponto de ser
considerado “El señor de lós ladrillos” pelo arquiteto espanhol Carlos Clemente. O
ano de 2005 foi considerado pelo Museu de Arte Moderna de Nova York, a
Universidade de Princenton e o MIT de Massachussets, como “o ano Eladio Dieste”.
Atualmente está sendo feito um levantamento, catalogação e avaliação das obras
nacionais e internacionais para tornà-las patrimônio da humanidade pela UNESCO
em 2017, ano do centenário do nascimento de Dieste.
117
Sem considerar as 228 escolas construídas. Num projeto para construção em serie por todo o
território uruguaio, explicado melhor nos próximos capítulos.
118
Dados publicados no artigo “Varias obras de Dieste está en riesgo”. Disponível em:
<http://www.elpais.com.uy/informacion/varias-obras-eladio-dieste-riesgo.html>. Acesso em: 25 set.
2014.
119
Beltran, 2006. Desde el recodo Sublevante. Disponível em:
<http://servicios.elpais.com.uy/06/09/02/pnacio_235056.asp>. Acesso em: 8 out. 2014.
120
Arquiteto e engenheiro civil, cujas inovações técnicas, sobre tudo com a construção do concreto
armado, fizeram possível a solução elegante e expressiva para problemas complexos estruturais.
Nasceu em Sondrio (Itália) em 21 de junho de 1891, estudou na Escola de Engenharia de Bolonha.
Dentre as principais obras estão o Estádio Giovanni Berta (1932), Edifício da UNESCO (1953),
Palazzetto dello Sport (1960). (CHÃO, Enrique. 2005, p. 32).
121
Felix Candela nasceu em Madri em 1910 e estudou na Escola de Arquitetura dessa cidade entre
1927 e 1935 [...]. Entre as principais obras destacam-se a Igreja da Virgem da Medalha Milagrosa
(1953), Palácio dos Esportes (1968) e o Pavilhão de Raios Cósmicos (1951). (RUIZ, Juan Ignacio,
1997, p. 2).
51
Figura 44 – Base de silos abandonados e desconhecidos até 2014.
Sin embargo, hay otro caso en la Lista Indicativa, «La obra del ingeniero
Eladio Dieste», propuesta que pareciera, en principio, no tener mayores
obstáculos conceptuales y administrativos, como sí los presentan los casos
anteriormente mencionados. Algunas de las edificaciones que soportan esta
propuesta son nacional e internacionalmente conocidas y altamente
valoradas, como las iglesias del Cristo Obrero, en Estación Atlántida, y la de
San Pedro, en Durazno. De hecho ya cuentan con una declaratoria
nacional. La oficina Dieste y Montañez aún existe, lo que supondría la
seguridad de contar con material documental primario, sumado a la amplia
bibliografía y estudios que permitirían sostener el discurso de valoración
internacional.
Todo eso es cierto, hasta que se comienza a rascar la superficie de la
propuesta de inscribir la obra de Dieste. No hay un inventario confiable y
menos aún actualizado en cuanto al estado de conservación de la obra.
Muchos galpones con bóvedas y tanques elevados cargan la duda de la
autoría. Muchas edificaciones carecen por completo de mantenimiento, han
caído en el olvido; y otras tienen fuertes intervenciones que descalifican su
valor patrimonial. A pesar de lo cercano de su tiempo, al menos dos de
estas obras, bastante significativas, fueron demolidas. Si bien la oficina
Dieste y Montañez custodia un impresionante archivo, no solo de planos
sino de administración de obras, este hasta ahora carece de índice de
clasificación, de condiciones adecuadas de conservación, de criterios de
consulta y por ello, aún no ha sido estudiado en su integralidad. La
Comisión del Patrimonio de la Nación igualmente se ve limitada en su
acción de protección, pues la ley actual obliga a la expropiación si el
propietario del bien así lo reclama. [...] La comunidad reconoce a Dieste
gracias a un programa nacional de patrimonio del 2006, pero nadie entiende
cuál es la importancia de su obra, más allá de lo llamativo del ladrillo como
material protagonista. La mayor parte de no está señalizada, ni está
indicado su acceso y menos aún las posibles condiciones y limitaciones
122
para una visita.
122
Caraballo, 2015, p. 249.
52
Figura 45 – Ciro Caraballo (segundo da esquerda para a direita) junto com
representantes nacionais em visita a obra de Eladio Dieste.
53
A primeira casca de tijolo que construímos [...] era uma lâmina cilíndrica que
descarregava na viga de concreto; os empuxos resistiam com tensores de
ferro comum. Já então vimos alguns feitos essenciais que formavam uma
imagem que foi o fio condutor da evolução de uma técnica e uma forma,
123
cujo resultado final são as abóbadas gausas.
123
Dieste, 2011, p. 68.
124
Cientista alemão, Carl Friedrich Gauss nasceu em Brunswich, na Alemanha e morreu em
Göttingen, na Alemanha. Estudou na Universidade de Göttingen de 1795 a 1798, onde passou a
ensinar Matemática a partir de 1807, sendo ao mesmo tempo diretor do Observatório Astronômico
pertencente àquela Instituição. Gauss dedicou-se à matemática, à astronomia, à geodésica, à física-
matemática e à geometria. O seu nome consta de numerosos resultados obtidos nos domínios da
astronomia, da física e da matemática. Nestas áreas, Gauss demonstrou a denominada lei
fundamental da álgebra, o método dos mínimos quadrados, as coordenadas de Gauss, a curva de
Gauss, o método de eliminação de Gauss e o plano de Gauss.
125
Nas abóbadas de dupla curvatura é utilizado os tijolos ocos ou abobadilhas cerâmicas com
exceção na cobertura da Igreja Cristo Obreiro de Atlântida onde foi utilizado o tijolo maciço.
54
Figura 46 – Curva de Gauss.
55
Figuras 47 e 48 – Abóbada gausa. Composição por etapas, à esquerda, e abóbada
construída, à direita.
56
Com o intuito de absorver os empuxos horizontais produzidos pelos esforços
das abóbadas são utilizados tensores126 de aço na horizontal. No entanto, para não
interferir na estética da abóbada os tensores são utilizados para “[...] canalização
elétrica, de vapor ou ar comprimido [...]”127 nas edificações (Figura 50).
Tensores são utilizados, além da função estrutural, para locar a iluminação e sustentar as redes de
proteção.
Fonte: (AUTOR, 2015).
126
Nas Igrejas os tensores ficam escondidos dentro da abóbada.
127
Dieste, 2011, p. 78.
57
Figura 51 – Depósito Julio Herrera y Obes.
128
A flecha utilizada no celeiro para a cidade de Young chega a ter 27m para cobrir um vão de 30m.
58
destes celeiros encontra-se soterrada com a construção de duas paredes inclinadas
em concreto em forma de funil para ajudar a retirar o produto de dentro do mesmo.
[...] Más de una vez me he encontrado con una sorpresa, entre incrédula y
divertida, acerca del hecho de que hayamos construido grandes estructuras
laminares de ladrillo, como pareciendo suponer que se trata de una manía
personal, intransferible y perecedera, por la supuesta complejidad de las
técnicas y los métodos de cálculo empleados, y por el hecho de que la
inevitable evolución hacia una civilización industrial de alta tecnología
barrerá con los vestigios de técnicas que se suponen superadas... Sería
tonto negar que detrás de cada solución hay una ingente suma de trabajo
técnico, pero no es el que se supone sino otro, a la vez más difícil y más
fácil, en el que la forma pensada, los métodos de cálculo, la técnica de
ejecución y el diseño de los equipos necesarios, están íntimamente
relacionados, requiriendo todo el proceso, más que una gran complejidad
analítica, una especie de fidelidad vigilante a los fundamentos de la
129
mecánica teórica y de la resistencia de materiales [...].
129
Brufau, Robert. Las bóvedas gausas, Revista Dpa, 1999, p. 23-24.
59
Os fundamentos básicos das Abóbadas Gausas130 são estabelecidos a partir
das palavras de Eladio Dieste (2011, p. 68-69) como:
1. O elemento tijolo-argamassa-ferro comporta-se como uma unidade
estruturalmente viável. Este foi o feito básico para viabilizar a estrutura.
2. Escolhemos como diretriz a catenária, logo o peso produz compressão
simples; e esta compressão possibilita que a estrutura resista a esforços
de flexão. Essa capacidade aumenta se consideramos um “mínimo
construtivo” de armadura.
3. As tensões de compressão devidas ao peso próprio são independentes da
seção, já que a força direta é proporcional ao peso por unidade do
desenvolvimento, ou seja, a seção. Estas tensões são baixas: numa
abóbada de 100m de vão e 10m de flecha de compressão é de 27Kg/cm²
supondo um peso especifico médio de 2 toneladas/m³.
4. A armadura mínima assegura que importante longitude da casca
(amplamente suficiente para assegurar tensões admissíveis com hipóteses
simples de cálculo) reage como uma unidade elástica ante cargas
concentradas.
5. O material das juntas é o único que necessita endurecer. Sendo que o
endurecimento da mistura faz com que a argamassa adiquiera
rapidamente uma resistência que, mesmo pequena, pode ser suficiente,
intui-se rapidamente que, para desmoldar a abóbada, não é necessário
esperar pelo endurecimento final da argamassa. Isso foi confirmado por
ensaios, não só para pequenas abóbadas, como também para grandes
estruturas.
No anexo 2 estão listadas algumas obras realizadas por Eladio Dieste nesta
tipologia construtiva.
Para o Eng. Civil Eladio Dieste a concepção das cascas autoportantes nasce
como:
130
Dieste, 2011, p. 68-69.
60
Una teoría nace para dar forma a una intuición o para comprender un hecho
no explicado. Al principio burda, se va precisando y enriqueciendo, ganando
en generalidad, hasta llegar a una forma en que sus orígenes, generalmente
humildes, se olvidan, y sus consecuencias aparecen así como
independientes de todos los supuestos, tácitos, o en su momento expresos,
presentes en el proceso que le dio nacimiento. [...] Este ha sido el caso de
131
las cascas.
a) abóbada entre paredes laterais; b) abóbada entre os tímpanos e c) abóbada independente, sem
paredes e sem tímpanos.
Fonte: (STANFORD, 2004, p. 141).
131
Marín, 2000, p. 631.
132
A teoria “membranal” supõe que a casca é uma membrana que apenas suporta as cargas
segundo sua superfície; baixo a ação de um sistema qualquer de forças, ela tomara a forma
necessária para que só existam esforços deste tipo.
133
Dieste, 1985, p. 11.
61
As abóbadas autoportantes, divididas em simples ou pré-comprimidas,
realizadas por Eladio Dieste apresentam uma geometria mais simplificada que as
abóbadas gausas, anteriormente citadas. Porém, uma composição material similar;
uma lâmina delgada de tijolos maciços dispostos de forma que as juntas
longitudinais e transversais sejam contínuas, armaduras dispostas nas juntas,
argamassa, uma tela eletrossoldada para evitar fissuras e engaste para tensores se
fosse necessário134. O avanço construtivo alcançado através da concepção das
abóbadas autoportantes foi expressivo para o desenvolvimento na composição de
coberturas de pequenos e grandes vãos onde a iluminação zenital 135 não era
necessária ou poderia ser dada pelas laterais ou extremidades e era possível utilizar
pilares no interior do edifício.
No sistema estrutural das abóbadas autoportantes a ação de compressão é
exercida transversalmente junto com a curva catenária, consigo, a casca tem uma
flecha maior se comparada às abóbadas gausas. Para suportar as cargas da
abóbada seria necessária uma viga no maior sentido, mas para Eladio Dieste “[...] ao
necessitar a viga, a casca não é autoportante”136 por isso que na composição a
abóbada funciona como uma viga, no entanto, para suportar os empuxos das
extremidades que empurram a casca “para fora” é colocada uma viga/laje em
concreto na horizontal com a mesma espessura que a abóbada para dar o sentido
de continuidade (Figura 55). A descrição da casca pode ser dada pelo exemplo de
uma cobertura conformada por uma sequência de abóbadas de diretriz catenária.
A forma móvel (Figura 67) para a construção da tipología de abóbada
autoportante simples, normalmente entre 3 e 5,50m de comprimento por cada casca,
poder correr ao longo de cmainhos paralelos as geratrizes. A abóbada é constituída
por 95% de material rígido, e apenas 5% de argamassa das juntas, esta deve secar
durante a retirada da forma móvel em questão de horas.
Na abóbada (Figura 56) com geratrizes dadas pelas letras A, B, C, D, E, F e
A`, B`, C`, D`, E`, F`; apoiadas sobre pilares e finalizadas nos extremos por uma laje
134
Em alguns casos é utilizada uma camada de isopor para conforto térmico do edifício e para
finalizar uma camada de tejuela.
135
Neste tipo de abóbadas Eladio Dieste utiliza, principalmente em residências, pequenas claraboias
para iluminar as circulações.
136
Dieste, 1985, p. 12.
62
horizontal ou pelo menos com elementos não verticais, que podem, ter seus apoios
na abóbada mesmo, na geratriz extrema, numa viga ou parede.
Ao longo das geratrizes AA`, BB`, CC`, DD`, EE`, FF`, são colocados reforços
capazes de suportar a carga vertical correspondente da abóbada, estas geratrizes
podem ser solucionadas como demonstrado na Figura 66. As vigas locadas nos
extremos são capazes de resistir, durante a construção, ao componente horizontal
dos empuxos e após finalizada a construção, ajuda a fixar as extremidades, a saber,
AA` e FF`. Para completar o sistema estrutural devem-se construir pilares nos
extremos de cada vale e colocar tensores ou contrafortes capazes de absorver os
empuxos por consequência das reações das vigas/lajes horizontais extremas no
período da construção da abóbada e das reações do complexo abóbada/viga no
conjunto definitivo.137
137
Dieste, 1985, p.12.
63
Figura 56 – Esquema de uma abóbada autoportante: Perspectiva e corte
esquemático.
Figura 57 – Detalhes desenhados por Eladio Dieste dos vales e vigas-lajes dos
extremos das abóbadas autoportantes para amarrações.
64
Figura 58 – Construção da abóboda simples no CEASA/RS.
Forma móvel, à esquerda, e guias para colocação do tijolo onde posteriormente foi a ferragem das
juntas, à direita.
Fonte: (CANEZ, 2004, p. 161), ambas as imagens.
65
Figura 60 – Eladio Dieste admirando a cobertura para a Agroindústria Massaro
(1976-80).
138
Considerando que a abóbada deve ser constituída na sua totalidade antes de retirar a forma
móvel, temos consigo um encarecimento da construção se comparado as outras tipologias (gausas
ou autoportantes simples). Devido às formas serem constituídas em madeira, e estas serem utilizadas
em outros trabalhos, existe uma amortização do custo da obra.
66
Figura 61 e 62 – As "asas de gaivota".
139
Jiménez, 1996, p. 100.
67
Figuras 63 e 64 – Cabos de aço que absorvem os momentos fletores, à esquerda, e
a protensão dos mesmos por meio de macaco hidráulico idealizado por Eladio
Dieste, à direita.
141
La Pedrera é um balneário em Rocha/UY localizado sobre o oceano Atlântico, a 230Km de
Montevidéu. Este balneário era o preferido por Eladio Dieste para passar as férias e, segundo a
história, foi neste local que desembarcou o avô do Engenheiro em 1870.
142
O projeto arquitetônico foi realizado pelos arquitetos Cláudio Luiz Gomes de Araújo e Cláudia
Obino Correa.
143
Dieste, 2011, p. 92.
144
Dieste, 2011, p. 92.
69
A pequena moradia que Dieste faz referência é a própria casa de veraneio da
família Dieste no balneário La Pedrera (Figura 67). A residência entra para as obras
realizadas em lâminas plissadas após a reforma, realizada pelo engenheiro, em
1967. Considera-se esta a primeira obra a utilizar a técnica do plissado em cerâmica
armada de tijolo já que o engenheiro tinha utilizado a técnica na cobertura do ginásio
para a Casa do Estudante Universitário (1959) junto com os Arq. Justino Serralta e
Carlos Clémot, mas, neste caso, o material construtivo da cobertura era o concreto
armado.
145
A casa construída, provavelmente no final do século XIX e começo do século XX, está situada
num terreno de 11,50mx14,70m sobre a Rua Palmares de Rocha. Com a reforma, Dieste mantém as
paredes internas e dispões um pátio interno de 6,50mx 6,50m para onde todas as peças da casa dão
acesso.
146
Nudelman, 2004, p. 39.
70
a técnica das lâminas plissadas em cerâmica armada em tijolo e poder utilizar tanto
em planos horizontal como vertical nas construções, a saber, de forma magnífica na
Igreja de São Pedro, considerada uma das mais completas obras do engenheiro
(Figuras 68 e 69).
71
Figuras 70 e 71 – Lâminas Plissadas: Corte esquemático da Igreja e São Pedro, à
esquerda, e corte esquemático da fábrica de cosméticos Memphis, à direita.
a) Tipo V; b) Tipo V com viga de borda; c) Tipo Ω ou W; d) Tipo Z ou Shed; e) Tipo Poligonal.
Fonte: (AUTOR, 2016).
72
Figura 73 – Tipologia de lâminas plissadas poliédricas.
Para que o funcionamento da estrutura mantenha sua função ideal ela deverá
conservar a forma (Figura 76), isto acontece com a disposição de elementos de
borda, tímpanos ou elementos que assegurem a rigidez, a saber, vigas invertidas.
Esta solução de vigas invertidas para manter a rigidez foi empregada pelo
engenheiro para sustentar as lâminas plissadas da nave na Igreja de São Pedro. A
73
perda da forma geométrica da estrutura significaria a perda da capacidade
resistente.
Para Heino Engel esse tipo de estrutura pode ser classificada como uma
superfície-ativa, ou seja, sua forma deve ser pensada como elemento estrutural, e
pode assumir os mais variados formatos. Segundo Engel:
No anexo 4 estão listadas algumas obras realizadas por Eladio Dieste nesta
tipologia construtiva.
147
Engel, 1981, p. 149.
74
cosas que serían impracticables económicamente con el hormigón armado;
148
por ejemplo, las paredes onduladas de esta iglesia [Cristo Obreiro].
Figuras 77, 78 e 79 – Igreja Cristo Obreiro: começo das construções das paredes, à
esquerda, finalização das paredes, ao centro, e conclusão das paredes com viga de
amarração, à direita.
Fonte: (TORRECILLAS, 1997, p.154-155; ARQ. MARÍA SILVIA LÓPEZ, 2013), respectivamente.
148
Dieste, 2011, p. 110.
149
Do projeto realizado para o centro paroquial Nossa Senhora de Lourdes, por falta de recursos, foi
construído apenas uma parte da torre do altar da Igreja e a casa paroquial.
75
Sem esquecer o conceito de “economia cósmica” como parâmetro para
desenvolver o projeto das paredes, também podemos constatar nesta tipologia o
fator estético combinado com as curvas, luzes e sombras geradas. As composições
curvas das paredes nas obras de Eladio Dieste toma seu ápice nas igrejas,
anteriormente citadas, com a integração das paredes e das abóbadas de dupla
curvatura gerando um ambiente confortável e acolhedor para o fiel.
Sobre a composição entre planos verticais e horizontais, Eladio Dieste
comenta que para a Igreja de Atlantida (Figura 80):
Sobre este sistema construtivo realizado por Dieste e pela composição entre
planos das Igrejas existe uma associação com a obra de Antoni Gaudí151,152 para a
150
Jimènez, 1996, p. 153.
151
Antoni Gaudí (1852-1926) foi arquiteto e representante máximo do modernismo catalão. Entre as
obras mais conhecidas do arquiteto está a Igreja da Sagrada Família (1984-inacabada), a Casa Batlló
(1904) e a Casa Milá (1906), mais conhecida como “La Pedrera”.
76
Escola Provisória (Figura 81) da Igreja Sagrada Família em Barcelona/Espanha. A
relação entre os projetos fica apenas na semelhança da forma já que na obra do
arquiteto catalão as paredes são compostas por uma linha ondulada tanto na base
como na parte superior e o traçado é de acordo entre arco de circunferência, um
côncavo e outro convexo e segmentos de reta tangente aos dois.
152
Como referido anteriormente Eladio Dieste pode ter acesso a obra de Gaudí por meio do Pintor
Torres Garcia o qual trabalhou junto ao arquiteto catlão em 1903. Mas além disso, pode ter
conhecimento também do sistema tradicional catalão de abóbadas leves feitas com tijolo (sem
armadura de ferro)
77
Figura 82 – Geometria das superfícies regradas com a geratriz reta na base e
senoidal no topo. Perspectiva, à direita, e seção, à esquerda.
78
Figura 84 – Interior da Igreja São João de Ávila.
153
As vigas de coroamento do muro são encarregadas de absorver os empuxos horizontais das
abóbadas e canalizar esses esforços até os cabos de aço interno as paredes.
79
que o tijolo seja maciço e industrializado para obter uma uniformidade nas
dimensões, na resistência e na cor dos mesmos.
Figura 86 – Geometria das superfícies regradas com a geratriz horizontal reta nas
extremidades. Perspectiva, à direita, e seção, à esquerda.
80
Figura 87 – Parede regrada no Shopping Montevidéu.
No anexo 5 estão listadas algumas obras realizadas por Eladio Dieste nesta
tipologia construtiva.
81
Figura 88 – Tanque d’água para a Agroindústria Massaro.
154
Esta possibilidade de apoiar a plataforma de trabalho na própria estrutura elimina a necessidade
de utilização de andaimes ou formas para realizar a construção. Esta possibilidade não é utilizada na
construção da Torre para TV devido as grandes dimensões (apresentadas a seguir).
155
Revista DPA, 1995, p. 8.
82
Figura 89 – Detalhe da construção do reservatório de água para o balneário Las
Vegas, em Canelones/UY.
156
Revista DPA, 1995, p. 8.
83
é que a torre possui uma base de parede cega para localizar os equipamentos e
está livre do carregamento gerado pela água.
157
Torecillas, 1996, p. 212.
84
Figuras 91 e 92 – Fotografia durante a construção, à esquerda, com 40 metros de
altura e finalizada, à direita, a Torre de TV em Maldonado/UY com 66 metros.
158
Revista DPA, 1995, p. 10-11.
85
As fundações das torres e reservatórios são realizadas com estacas devido a
grande altura que atingem e estando vazios podem não resistir às forças horizontais
atuantes na estrutura.
No anexo 6 estão listadas algumas obras realizadas por Eladio Dieste nesta
tipologia construtiva.
86
4.4 OBRAS DE ELADIO DIESTE EM ARTIGAS
Neste capitulo iremos abordar a obra de Eladio Dieste na cidade de Artigas,
para isto primeiramente será apresentado um breve histórico e a situação geográfica
da cidade, assim como a característica da arquitetura moderna local. Também serão
citadas as obras do engenheiro na cidade, cinco edifícios e mais 19 escolas do Plan
Gallinal, no entanto serão analisadas arquitetonicamente as residências construídas
para Saúl Dieste (1955) e para o Dr. Juan Gómez Gotuzzo (1967), abordando a
concepção arquitetônica e qual é a importância deste patrimônio para a arquitetura
local e nacional.
159
O departamento leva este nome para homenagear o maior herói uruguaio, José Gervasio Artigas
(1764-1850).
160
Disponível em:<http://www.ine.gub.uy/censos2011/index.html>. Acessado em 30 de set 2016.
161
O nome Artigas recém foi adotado em 1915 quando se eleva o povoado para cidade, data esta
que Eladio Dieste, pai, muda-se para Artigas com a família.
162
Após a fundação da cidade de Artigas foi fundada a cidade de Quarai do lado brasileiro.
87
homens, 80 mulheres e 112 crianças e, a partir desta data, foram ocupadas as áreas
rurais163.
Fonte: (MAPADEURUGUAY).
163
150 años Fundación de la ciudad de Artigas. Disponível em:
<http://www.correo.com.uy/index.asp?codpag=detProd&idp=559&s=1&smen=filatelia>. Acesado em:
01 nov 2016.
164
Coesio, 2015, p.37.
165
Zunín foi Secretario de Arquitetura na prefeitura de Artigas no período de 1933 a 1970 e era
grande conhecedor e estudioso do concreto armado.
88
obras em tipologias público e privado. Dentre as obras de Zunin destacam-se o Club
Uruguay (Figura 95) (1933), primeira obra moderna da cidade, a residência Zunin
Ipar (s/d) e a residência (Figura 96) (1957) e o túmulo (1958) (Figura 97) de Eduardo
Barreneche. Além da participação de arquitetos locais na construção da identidade
moderna de Artigas o Ministério de Obras Públicas (MOP) também teve um
importante papel neste legado, na construção de centros educativos como, por
exemplo, a ampliação realizada no Colégio N˚1 (1963).
166
Escanellas, 2013, p. 11, 28, 53 e 55.
89
4.4.2 Obras de Eladio Dieste na Cidade de Artigas
167
De todo o complexo desportivo foi construído apenas o Ginásio seguindo o projeto original.
90
consultórios, cozinha, sala de espera e banheiro num total de 90m² de área
construída. Seguindo o padrão construtivo da residência do Dr. Gómez a fachada é
composta por um muro de 2,00 m de altura em tijolo à vista no qual é possível
observar as finas abóbadas autoportantes que compõe a obra. Por ser uma obra
para consultórios médicos o interior é todo rebocado e é possível observar algumas
características da obra do engenheiro como, por exemplo a iluminação zenital na
circulação, a utilização do pátio interno para ventilação dos consultórios e a laje em
tijolo para cobrir os serviços (banheiro e cozinha).
Figura 100 e 101 – Consultórios Dr. Gómez: vista externa, à esquerda, e vista
interna, à direita.
Figura 102– Escuela N˚66 do Plan Gallinal, na localidade de Paso de León, Artigas.
170
Por serem construídas nas zonas rurais muitas delas foram ficando sem alunos e estão em estado
de abandono.
171
Escuelas plan Gallinal. Disponível em: <http://diesteedu.wixsite.com/proyectodieste/escuelas-plan-
gallinal>. Acessado em: 25 out 2016.
172
Numero levantado pelo autor desta pesquisa. Muitas, hoje, estão em situação de abandono por
causa da falta de alunos.
92
Figura 103 – Interior da Escuela N˚67do Plan Gallinal, na localidade de Paso de
León, Artigas, em situação de abandono.
A residência projetada por Eladio Dieste em 1955 para o irmão Saúl Dieste173,
está localizada no centro (Figura 104) da cidade de Artigas, num terreno com 130m²
(10x30m) e possui 250,10m² construídos. Toda a composição arquitetônica esta
distribuída em dois pavimentos com a ajuda de quatro pátios internos. No pavimento
térreo temos a garagem, cozinha, salas de estar e jantar, circulação, banheiro, sala
de estar/estudos e três quartos. No segundo pavimento temos o quarto de serviço,
banheiro e um escritório.
Esta residência poderia ser uma a mais dentre as inúmeras obras do
engenheiro no interior uruguaio, no entanto, a fachada branca e fechada para a rua
resguarda importantes registros da história e evolução arquitetônica que
desenvolveu Eladio Dieste junto ao sócio Montañez. A casa é a primeira obra
173
Após Saúl Dieste moraram na residência o Dr. Carlos Maria Garcia da Rosa, cunhado de Saúl, de
1962 até o ano de 1972 quando é comprada por Jorge Félix Salvador.
93
residencial projetada por Dieste174; no projeto utiliza a cerâmica armada com tijolos
de barro em abóbodas autoportantes, estrutura metálica, concreto armado e o selo
(Figura 105) das pranchas afirmam a associação entre o escritório dos engenheiros
com os arquitetos Clémot e Serralta175.
174
No projeto para a residência Berlingieri foi encomendado a Eladio Dieste apenas o projeto da
cobertura.
175
Ver capítulo 4.2.3 – Clémot-Dieste-Serralta-Montañez desta pesquisa.
94
algumas características fundamentais utilizada na composição de Dieste para a
residência, a saber, a utilização das abóbadas autoportantes, estrutura metálica 176 e
a falta do que seria seu principal protagonista nas futuras obras, o tijolo aparente.
Dentro do tecido urbano próximo a residência torna-se contexto, destaca-se apenas
pela leveza que o segundo pavimento “flutua” sobre a garagem graças a estrutura
metálica, pela “ousadia” na utilização de abóbadas para compor os telhados e pela
“nobreza” que o muro e o portão da garagem feitos em madeira de louro-pardo
(Cordia trichotoma) proporcionam na composição final.
176
È na única residência que Dieste utiliza a estrutura metálica para compor a estrutura de toda a
edificação. Particularidade esta que poderia ser dada pela participação dos arquitetos Clémot e
Serralta.
177
Solução presente em todos os projetos residenciais de Dieste.
95
intima. O pátio social (Figura 108), esta localizado no meio da residência (dividido do
pátio de serviço pela circulação intima) e possui aberturas para a sala de estar/jantar
e para a sala de estudos e finalmente o pátio intimo (Figura 109) no fundo do terreno
com aberturas dos dormitórios. Estes pátios além de proporcionar uma iluminação
natural aos diferentes compartimentos proporcionam uma ventilação cruzada,
princípios básicos que complementam o conceito de “economia cósmica” defendida
pelo engenheiro.
Figura 108 e 109 – Imagem do pátio social, à direita, e do pátio intimo, à esquerda.
96
Na distribuição da planta do primeiro pavimento178 (Figura 110) verificamos
uma estratégia de dividir o programa de necessidades por setor (Figura 111): um
setor social com sala de estar e jantar; um setor de serviço com cozinha e banheiro
e um setor intimo com sala de estar/estudos e dormitórios. Todos os setores estão
ligados por uma única circulação, eixo, e dela derivam os cômodos. Mais do que a
importância isolada de cada ambiente, a ideia aqui expressa parece a veemente
leitura relacional entre eles.
178
Em anexo estão as copias das plantas originais e as redesenhadas pelo autor.
97
O projeto para segundo pavimento (Figura 112) da residência, originalmente,
foram concebidos com um dormitório de empregada, banheiro auxiliar e um
escritório179. Por possuir uma circulação de pessoas fora do núcleo familiar o acesso
é independente da residência por meio de uma escada em caracol metálica, com
valor arquitetônico questionável, na garagem.
A residência procura manter uma escala homogênea em todos os ambientes.
Por ser um terreno plano, a altura e a largura é a mesma em todos os ambientes
com abóbada (2,70 x 2,70m), por sua vez nos ambientes da cozinha e circulação o
pé-direito é de 2.26m180, a altura do homem com a mão erguida no Modulor II181.
Tirando partido das medidas do Modulor, as janelas possuem o peitoril de 1,13m, a
altura do umbigo segundo os desenhos e cálculos de Le Corbusier182. Com a
utilização de abóbadas, sem tímpano cego, é possível conseguir uma melhor
iluminação e ventilação aos ambientes.
179
Hoje os cômodos do andar superior não são utilizados.
180
As abóbadas autoportantes nos ambientes também começam na altura de 2,26m.
181
Ver capitulo 3.2.3, p.38.
182
Todos os dados referentes a medidas da residência foram tiradas dos desenhos originais,
disponíveis na Prefeitura de Artigas.
98
A estrutura183 (Figura 113) utilizada na residência é composta por abóbodas
autoportantes sem tímpano, lajes em concreto e vigas e pilares metálicos e paredes
de vedação em tijolo.
As abóbadas em tijolos maciços, colocados deitados acima da forma móvel,
primeiramente foram rejuntados por uma argamassa de areia e cimento na
proporção 1:3 e estruturados por uma malha de dois ferros de ø 4mm entre os
tijolos, ou como especifica o memorial; “a cada 25cm”. Acima do tijolo foi colocada
uma capa de argamassa na mesa proporção da anterior e sobre ela será disposta
uma camada de concreto poroso (areia e cimento na proporção 1:6) de 5cm de
espessura. Para finalizar é colocada uma fina capa de gesso com 1mm e acima uma
camada de tejuelas assentadas com argamassa de cal magro184 (Figura 114 e 115).
As lajes planas, circulação e cozinha, com 15 cm de espessura, foram
realizadas em concreto armado na composição de: 800lts de canto rodado (diâmetro
variável entre 0,06 e 0,05mts), 400lts de areia (grossa)e 300Kg de cimento.
Toda a estrutura da casa é sustentada por pilares em perfis “L”
embutidos nas paredes e pilares externos (na garagem) em “I”, vigas metálicas em
perfil “I” localizados no sentido longitudinal, nos vales, das abóbadas e tensores no
sentido transversal das abóbadas. Dentro da residência é possível comprovar a
existência dos tensores, já que, o mesmo fica visível na sala de estar. Este recurso
de utilizar tensores não é empregado por Dieste em obras posteriores em abóbada
autoportante, apenas para abóbadas gausas e em ginásios ou fábricas.
Os elementos que caracterizam a estrutura da casa, abóbadas em tijolo de
barro, pilares e vigas metálicas e as paredes em tijolos (apenas como elemento
portante) ficam escondidos pelo reboco realizado na residência, a única desta
tipologia dentro das obras de Eladio Dieste a apresentar reboco e pintura em toda a
composição.
Podemos considerar, portanto, que a residência Saúl Dieste serviu como um
laboratório para aprimorar a técnica da cerâmica armada para abóbadas
autoportante por Eladio Dieste que, recém em 1961, para o projeto da residência
183
Todos os dados apresentados foram retirados do memorial descritivo e planos da residência.
Documentos em anexo.
184
Hoje não é mais possível ver esta camada porque está coberta por uma manta asfáltica a fim de
combater a humidade.
99
Dieste, consegue construir uma abóbada autoportante “ideal” em cerâmica utilizando
apenas o tijolo como elemento construtivo até para as lajes.
Figura 114 – Cobertura dos quartos, banheiro e sala de estar/estudos da Res. Saúl
Dieste.
100
Figura 115 – Cobertura da Sala da Res. Saúl Dieste.
185
Forma elíptica.
186
Nudelman, 2013, p.297
101
Figura 118 – Planta baixa do Edifício Maspons onde aparecem as portas com
geométrica elíptica.
187
Nos quartos é utilizada a madeira de louro-pardo por se tratar de uma área para a família, já no
andar superior é utilizado o laminado branco para confeccionar os móveis que acompanham a
curvatura da abóbada.
102
Figura 120– Guarda-roupas dos quartos no 1˚ pavimento.
103
memorian) e Alba Arrieta, os quais mantem a casa quase original188 sem nenhum
tipo de incentivo fiscal.
188
As modificações realizadas, mínimas, foram feitas pelo deterioro de elementos construtivos com o
passar do tempo.
189
Eladio Dieste e o Dr. Gómez eram amigos íntimos.
190
A residência Dieste foi projetada e construída no ano de 961pelo engenheiro para a sua família no
bairro de Punta Gorda, Montevidéu. A casa é considerada uma das principais obras do engenheiro
em cerâmica armada com abóbadas autoportantes.
104
A residência projetada para a família Gómez deveria comportar um programa
de necessidades com garagem, hall, sala de espera, sala de estar/jantar, cozinha,
despensa, quartos de serviço, banheiro de serviço, circulação, quarto de hospedes,
banheiro social, suíte, banheiro suíte, dois quartos para os filhos, sala de
estar/estudos e uma depósito ao fundo. Todo o programa de necessidades foi
distribuído em 230,80m² construídos191, num único pavimento e com a ajuda de
quatro pátios internos (social de acesso, o de serviço, social e intimo ao fundo), ao
igual que a residência Saúl Dieste. Verifica-se também a solução compositiva de
separar o programa da casa em três setores (Figura 125) principais: um setor social
(na frente da residência) com sala de estar, jantar e escritório; um setor de serviço
(no meio da residência) composto pela cozinha, despensa, dependência de
empregada e banheiros; e um setor íntimo (ao fundo da residência) com sala de
estar/estudos, dormitórios e a suíte. Todos os setores são conectados e
estruturados por uma circulação, eixo, central (Figura 124).
191
Os dados foram tirados do memorial e plantas. Documentos em anexo.
105
Figura 125 – Divisão por setores no primeiro pavimento, sem escala.
Por se tratar de uma casa construída depois da residência Dieste (Figura 126
e 127), a de Artigas, apresenta muitas soluções construtivas e projetuais similares a
que Eladio fez para a família dele. Dentre os doze itens192 que o engenheiro
enumerou para propor sua residência, alguns são possíveis incorporar para analisar
a casa Gómez Gotuzzo como, por exemplo:
2- Hacerlo (conseguir vistas), sin embargo, no volcándola hacia afuera, sino
guardando su intimidad y recogimiento.
3- Orientar bien, en lo posible, todas las habitaciones: al norte o al noreste.
4- Multiplicar los sitios de estar para dar a sus moradores variedad de
posibilidades de relacionarse y a la vez de tener el grado de independencia
que pudieran desear en algún momento.
5- Buscar que los ambientes den a espacios exteriores que los prolonguen,
de manera que sin una gran área edificada, y por lo tanto a bajo costo, se
tenga una sensación de amplitud y nobleza.
6- Buscar que, además del paisaje natural y del que crea la arquitectura,
sea también rico el paisaje humano, o sea que unos a otros se vean en los
distintos ambientes, los que viven en la casa. Esto en general, se tiene poco
en cuenta. Nos preocupamos de que los que han de habitar las viviendas
que construimos vean los árboles, el mar, las estrellas, pero olvidamos a
veces que el hombre es más que el mar y las estrellas, que si estamos
sanos nada deseamos tanto que el vernos los unos a los otros, y que es
viéndose que de veras vemos el mar y las estrellas.
7- Abrir los ambientes al exterior, pero con medida. Creo que tendemos a
abusar del vidrio. Teniendo en cuenta nuestras necesidades materiales,
racionalmente resueltas, no creo que esto se justifique en ningún clima y
192
Os itens não citados na pesquisa não fazem parte da característica construtiva da residência
Gómez Gotuzzo.
106
tampoco en el nuestro, bien destemplado, pese a que las temperaturas
extremas no son severas.
Olvidamos a veces cuánto se encarece el acondicionamiento interior al
aumentar las superficies encristaladas. Además, y esto es aún mas
importante, se suele perder, en las viviendas en que se exagera el número y
tamaño de los vanos, la ancestral sensación de abrigo que da y debe dar la
casa. No es agradable ni prácticamente comodo estar detrás de las
enormes ventanas tan en uso cuando ruge afuera uno de nuestros largos
temporales de invierno, con helados vientos huracaneados de más de
100Km/h. Creo que detrás de ese gusto por las paredes de cristal está el
error de confundir lo indefinido con lo infinito. La grandeza y el misterio del
mundo se siente mucho más (recordemos nuestra niñez) al lado de una
ventana pequeña que nos permite centrar nuestra atención y percibir como
en un relámpago de asombro el “más allá”, sustancia de esa grandeza y
ese misterio. Tan infinita es una gota de agua como el firmamento.
8- Por eso hay en la casa varias pequeñas ventanas cuyo sentido los niños
han apreciado enseguida.
9- Usar en lo posible las formas naturales de acondicionamiento: los aleros,
las enredaderas de hoja caduca y los árboles. Al norte y frente al estar
principal por ejemplo, se ha construido una pérgola con una bóveda calada
de ladrillo, cubierta con enredaderas de hoja caduca que dan sombra en
193
verano y dejan pasar el sol en invierno.
193
Dieste, 2006, p. 14, 15 e 16.
107
Figura 126 e 127 – Residência Dieste. Fachada, à esquerda, e interior, à direita.
108
Figura 129 – Fachada da residência Gómez Gotuzzo.
194
Na residência existe uma diferença de tamanho entra as abóbadas dos quartos, menores, com a
da sala, maior, esta por sua vez esta de acordo com o item 9 descrito por Dieste, se prolonga para o
pátio e possui aberturas cobertas por trepadeira.
195
Chamam de tijolos “prateados” porque a composição é feita com retalhos de couro, o que deixa o
tijolo com a aparência mais branco.
196
Todos os dados foram retirados do memorial e plantas. Documentos em anexo.
109
Figura 130 – Abóbada da sala de estar/jantar da Res. Gómez Gotuzzo.
110
Figura 132 – Detalhe da abóbada em tijolo e o encontro com a viga/laje também em
tijolo.
Figura 133 e 134 – Viga/laje inclinada nos banheiros, à direita, e mobiliário embutido
nas paredes, à esquerda.
111
No projeto para a residência Gómez Gotuzzo podemos observar uma busca
de uma estética baseada na razão, na economia de meios, na correta eleição dos
materiais, destacando e justificando a “economia cósmica” defendida pelo
engenheiro. Dieste prega aqui, o valor da simplicidade e do apego à materialidade
frente a qualquer retórica da forma. O tijolo usado sistematicamente é talvez a maior
contribuição desta casa para a disciplina, segundo as palavras de Dieste:
He observado en muchos técnicos una cierta repugnancia de principio al
uso del ladrillo, que les parece un material ligado a la artesanía y a métodos
de trabajo superados. Mucho habría que decir sobre esto atacando a fondo
los problemas incluso sociales y filósoficos que esta actitud supone. Baste
aquí decir que es muy difícil, por razones estrictamente racionales de
economía en la construcción, calidad de acondicionamiento obtenido y de
terminación, hacer una vivienda del tipo de la que nos ocupa con un
material que sea más adecuado que el ladrillo a las condiciones industriales
197
de una sociedad como la nuestra.
197
Dieste, 2006, p.17.
198
Filha do Dr. Gomez Gotuzzo.
199
Waisman, 2001, p.21.
112
5 PRODUTO FINAL
200
Ficha do modulo cadastro. Disponível em: <http://www.iepro.org.br/wordpress/wp-
content/uploads/2015/01/anexo_II_sistema_integrado_de_conhecimento_e_gestao_sicg.pdf>.
Acessado em: 22 mar 2016.
113
5.1 FICHA CADASTRAL DA RESIDENCIA SAÚL DIESTE
114
115
116
117
118
119
120
121
122
5.1 FICHA CADASTRAL DA RESIDENCIA Dr. GÓMEZ GOTUZZO
123
124
125
126
127
128
129
6 CONCLUSÃO
130
bibliografia ou estudo. Cabe a nós admiradores da obra de Dieste, tentar manter,
regatar e divulgar este importante patrimônio para a sociedade.
O Eladio Dieste resultante de toda esta trajetória de conhecimento e obras
construídas é um engenheiro, “arquiteto” e artista estrutural regionalista,
contextualista que não esquece a história, as pessoas e os condicionantes
ambientais que um verdadeiro construtor não pode esquecer. Que torna um simples
galpão ou uma torre em um verdadeiro exemplo de arquitetura e engenharia ou uma
igreja em um exemplo mundial para ser estudado por gerações, sem que isso lhe
fosse solicitado pelo cliente.
O legado deixado por Eladio Dieste é incalculável. Nos deixou a teoria e
prática para a construção com cerâmica armada, no entanto, se após sua morte
pouco se tem de construções significativas com cerâmica armada em tijolos e
porque talvez com a partida de Eladio Dieste também se foi o engenheiro de talento
único e insubstituível.
O objetivo de resgatar a arquitetura residencial de Eladio Dieste em Artigas,
proposto para este trabalho, foi alcançado no decorrer da investigação e
desenvolvimento da pesquisa e dissertação.
Foi realizado o inventario após levantamento das edificações e analise das
suas peculiaridades e com isto conhecer como foram construídas e assim, poder
definir a importância de Eladio Dieste para a arquitetura e engenharia uruguaia e
mundial.
Apesar da inexistência de proteção legal deste patrimônio, o mesmo está bem
preservado pela conscientização dos proprietários que os conservam/preservam por
valorar a importância que o imóvel possui e vem adquirindo e para fortalecer a
valorização comercial do mesmo.
Constatou-se a originalidade para o Uruguai e o mundo das técnicas e
materiais empregados no desenvolvimento das abóbadas gausas, autoportante,
lâminas plissadas, paredes regradas e torres e reservatórios. No entanto, nas obras
de Artigas, principalmente, na Residência Saúl Dieste conseguiu-se constatar as
experimentações e na Residência Dr. Gómez Gotuzzo a consolidação da abóbada
autoportante.
Conseguiu-se documentos inéditos como o histórico escolar de Eladio Dieste
na Escuela N˚1. Sobre a Residência Saúl Dieste foi possível por meio do registro de
131
imóveis constatar que o mesmo foi o primeiro proprietário da residência e não o Dr.
Garcia da Rosa como se acreditava, as pranchas originais da edificação onde foi
possível afirmar e comprovar a associação da empresa Dieste e Montañez S.A com
os arquitetos Clemont e Serralta e os memoriais descritivo onde Eladio Dieste afirma
que a cobertura da residência é em abóbada de cerâmica armada e não em
concreto como se sustentava até o momento. Nos documentos encontrados sobre a
Residência Dr. Gómez Gotuzzo foi possível estudar e compreender como eram
realizadas as técnicas em cerâmica armada, já consolidada na época, para as
abóbadas, lajes horizontais e inclinadas em tijolo de barro e estudar como era
realizada composição, em camadas, das mesmas.
Todos estes estudos realizados e descobertos aumentam as fontes primarias
para auxiliar em estudos futuros.
132
133
Figura 135- Eladio Dieste
201
Dieste, 2006, p.45.
134
135
REFERÊNCIAS
CHÃO, E. Las Fuerzas del encontrar primero, buscar despues. México, Editora
IMCYC, 2005.
136
CIPRIANI, C. Varias obras de Dieste están en riesgo. Disponível em:
<http://www.elpais.com.uy/informacion/varias-obras-eladio-dieste-riesgo.html>.
Acesso em: 25 set. 2014.
CULMANN, C. Die graphische Statik. Zurique: Verlag von Meyer & Zelar. 1875.
Disponível em: <https://archive.org/details/diegraphischest01culmgoog>. Acesso em:
10 jan 2016.
DIESTE, E. Una estética de la ética. Buenos Aires, 1988. Summa, n. 247, p. 23-32,
março 1988, entrevista outorgada a Alberto Petrina.
ELARQ 15. Generaciones del ladrillo I. Montevidéu: Editora dos Puntos. 1995.
137
ESCANELLAS, T. Sin memoria no hay historia, ayer es simpre todavía. Artigas.
2013.
TORRES, O. Vilamajó, Niemeyer, Santo Tómas. La justa medida del alma. El Pais
cultural especial Dieste, Montevidéu, n. 769, p.5, jul. 2004.
Figura 6- Edifício do Yacht Club (1934/38) projeto dos arquitetos Luis Crespi e
Jorge Herran.
MÉNDEZ, P. A fotografia na arquitetura moderna. 2007. Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.086/229>. Acessado em:
26 mar 2016.
Figura 9- Mural de 1964 realizado por Francisco Matto para o Colégio N˚1.
140
El acervo artístico de nuestro Liceo. Disponível em:
<http://www.geocities.ws/laspierose/Murales.html>. Acessado em: 01 abr 2016.
Figura 10- Mural de 1962 realizado por Edwin Studer para o Urnario Municipal
de Montevidéu.
Baztarrica, J. Urnario Municipal Uruguay Cementerio del Norte, 2016. Disponível em:
< https://za.pinterest.com/pin/358528820316147338/ >. Acessado em: 01 abr 2016.
141
TORRECILLAS, A. (Org.). Eladio Dieste – 1943-1996. 1ª ed., Sevilla-Montevideo:
Consejería de Obras Públicas y Transportes – Dirección General de Arquitectura y
Vivienda, Junta de Barcelona, p.250, 1996.
142
FACHO, A. D. Casa en Punta Ballena, 2011. Disponível em: <https://habitar-
arq.blogspot.com.br/2011/06/casa-en-punta-ballena.html>. Acessado em: 19 mar
2016.
Figura 45- Ciro Caraballo junto com representantes nacionais em visita a obra
de Eladio Dieste.
Florida al día. Florida en el camino de Eladio Dieste, 2015. Disponível em:
<http://noticiasfloridaonline.blogspot.com.br/2015/10/florida-en-el-camino-de-eladio-
dieste.html>. Acessado em: 11 mar 2016.
Figura 57- Detalhes desenhados por Eladio Dieste dos vales e vigas-lajes dos
extremos das abóbadas autoportantes.
TORRECILLAS, A. (Org.). Eladio Dieste – 1943-1996. 1ª ed., Sevilla-Montevideo:
Consejería de Obras Públicas y Transportes – Dirección General de Arquitectura y
Vivienda, Junta de Barcelona, p.91, 1996.
145
Wikimedia. Homenaje a Eladio Dieste monumento Salto, 2005. Disponível em: <
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Homenaje_a_Eladio_Dieste_monumento_S
alto_02.jpg>. Acessado em: 05 mar 2016.
146
MARQUES, S. M. Memphis: uma análise tipológica necessária. p. 113, 2000.
Disponível em:
<http://www.ufrgs.br/propar/publicacoes/ARQtextos/PDFs_revista_0/0_S%C3%A9rgi
o.pdf>. Acessado em: 05 jun 2016.
Figura 83- Geometria das superfícies regradas com a geratriz horizontal reta
intermediaria.
Acervo do autor, 2016.
Figura 86- Geometria das superfícies regradas com a geratriz horizontal reta
nas extremidades.
Acervo do autor, 2016.
149
Figura 107- Imagem do interior da residência para a rua.
Acervo do autor, 2016.
Figura 118- Planta baixa do Edifício Maspons onde aparecem as portas com
geométrica elíptica.
NUDELMAN, J. Tres visitantes em París, los colaboradores uruguayos de Le
Corbusier. Escuela técnica superior de arquitectura de Madrid. Madrid, p. 289, 2013.
150
Figura 123- Localização da Residência Dr. Gómez Gotuzzo.
Google Maps. Disponível em: <
https://www.google.com.br/maps/place/55000+Artigas,+Uruguai/@-30.4070078,-
56.4737669,15z/data=!4m5!3m4!1s0x95ab0b87630011e3:0xa7b98d56278982c9!8m
2!3d-30.4068179!4d-56.4775937>. Acessado em: 25 out 2016.
151
ANEXO A- HISTÓRICO ESCOLAR DE ELADIO DIESTE202
202
Documento disponível no arquivo histórico da Escola N˚1- Artigas.
152
ANEXO B- OBRAS CONSTRUÍDAS EM ABÓBADA GAUSA
155
Data do projeto: sd
Inicio das obras: 1965
Conclusão das obras:1965
Área: 3.200m²
Vão: 26m
- Fábrica de Bennet & Brandon S.A (Hoje Fabrica de Sorvetes CRUFI S.A)
Localidade: Caminho Duran 5693, Montevidéu
Cliente: Bennet & Brandon S.A
Data do projeto: sd
Inicio das obras: 1965
Conclusão das obras:1965
Área: 2.400m²
Vão: 26m
156
Data do projeto: 1961
Inicio das obras: 1965
Conclusão das obras:1968
Área: 800m²
Vão: 20m
Colaboradores: Eng. Civil Raúl Romero e Arquiteto Alberto Castro
Localidade: Salto
Cliente: Salto Nuevo FC
Data do projeto: sd
Inicio das obras: sd
Conclusão das obras:1974
Área: 1.200m²
Vão: 28m
- Ginásio CEDEMCAR
Localidade: San Carlos, Maldonado
Cliente: Prefeitura Municipal de Maldonado
Data do projeto: sd
Inicio das obras: sd
Conclusão das obras:1984
Área: 2.850m²
Vão:34m
- Fábrica CINCELCUR
161
Colaboradores: Eng. Civil José M. Zorrilla; Gonzalo Larrambebere e o Tec.
Wlater Vilche.
Localidade: Florida.
Cliente: Laneira Pedra Alta S.A
Data do projeto: sd
Inicio das obras: 1989
Conclusão das obras:1990
Área: 7.500m²
Vão: 40m
- Deposito de Lã A.D.F
Endereço: Ruta 5, Km 39,500. Juanicó – Canelones
Cliente: A. Dewavrin Fils S.A
Data do projeto: 1991
162
Inicio das obras: 1992
Conclusão das obras:1994
Área: 10.000m²
Vão: 30 e 40m
164
Localidade: São Miguel de Tucumán, Província de Tucumán
Cliente: Cabsha S.A
Data do projeto: sd
Inicio das obras:sd
Conclusão das obras:1977
Área: 3.600m²
Vão: 20m
Bibliografia: STANFORD, 2004.
- Longvie S.A
165
Área: 13.160m²
Vão: 47m
Arquitetos: Carlos Maximiliano Fayet e Claudio Araujo
167
Endereço: Mar Antártico 1227, Punta Gorda, Montevidéu
Cliente: Familia Dieste Friedheim
Data do projeto: 1952
Inicio das obras: 1961
Conclusão das obras:1962
Área: 264m²
Vão: 4m
Comprimento: 4,8m
Quantidade de Abóbadas: 6
169
Comprimento: 30m
Quantidade de Abobadas: 3
Conjunto 2
Vão: 20m
Comprimento: 13m
Quantidade de Abobadas: 4
- Casa Gomez-Gotuzzo
Endereço: Rua Baldomir 391, Artigas
Cliente: Juan Gomez Gotuzzo
Data do projeto: sd
Inicio das obras: 1966
Conclusão das obras:1967
Área: 230,80m²
Vão: 6m
Quantidade de Abobadas: 2
- Clube Hebraica-Macabi
- TELEDOCE
- Colorín Ltda.
- Bianchetti S.A
Endereço: Estrada Panamericana e Estrada 202, Buenos Aires
Cliente: Melian S.C.A
Data do projeto: sd
Inicio das obras: sd
Conclusão das obras:1974
Área: 800m²
Vão: 22m
- Balder S.A
Endereço: M. T. de Alvear 777, Buenos Aires
Cliente: Balder S.A
Data do projeto: sd
Inicio das obras: sd
Conclusão das obras:1967
Área: 6.700m²
Vão: 18m
- Hotel Samoa
Endereço: Caminho del Buen Ayre y Panamericana, Buenos Aires
Cliente: Hotel Samoa
Data do projeto: sd
Inicio das obras: sd
Conclusão das obras:1970
Área: 1.100m²
Vão: 11m
Quantidade de Abobadas: 40
178
- Restaurante Carlo III (Obra demolida)
Endereço: Av. del Libertador e Orione, Buenos Aires
Cliente:
Data do projeto: sd
Inicio das obras: sd
Conclusão das obras:1971
Área: 500m²
Vão: 16m
179
Conclusão das obras:1972
Área: 800m²
Vão: 16m
Quantidade de Abobadas: 4
- Rodoviária de Mercedes
Endereço: Estrada 5 Km100, Buenos Aires
Cliente:
Data do projeto: sd
Inicio das obras: sd
Conclusão das obras:1973
Área: 1.600m²
Vão: 20m
Quantidade de Abobadas: 12
Endereço: Av. Uruguai esq. Av. Fortabat, Benito Juárez, Buenos Aires
Cliente:J. Charrua e Cia S.A
Data do projeto: sd
Inicio das obras: sd
Conclusão das obras:1974
Área: 4.500m²
Vão: 25m
Quantidade de Abobadas: 16
Pórtico de acesso
Data do projeto: 1968/69
Inicio das obras: 1969
Conclusão das obras:1972
182
Área: 750m²
Vão: 33m
Vão: 5m
Quantidade total de abóbadas:4
183
Cliente: Cooperativa das Valuruguai
Data do projeto: sd
Inicio das obras: 1977
Conclusão das obras:1988
Área: 23.300m²
184
- Centro Tecnológico (CENTEC) (Hoje, Instituto Federal da Bahia- IFBA)
Endereço: Estr. Sesi-Senai s/n, Simões Filho/BA
Cliente:Governo da Bahia
Data do projeto: sd
Inicio das obras: sd
Conclusão das obras:1974
Área: 9.000m²
Vão: 25m
Quantidade total de abóbadas:58
186
Conclusão das obras:1960
Restauração: 2003 – Arq. Esteban Dieste
Área: 500m²
Vão: 45m
Colaboradores: Eng. Civil Raúl Romero e Marcel o Sasson
- Igreja Nossa Senhora de Lourdes (não construída)
Localidade: Rua Michigan e Av. Geral Rivera, Malvín, Montevidéu
Cliente: Obispado de Montevidéu
Data do projeto: 1961
Inicio das obras: 1965
Conclusão das obras:1968
Área: 800m²
Vão: 20m
Colaboradores: Eng. Civil Raúl Romero e Arquiteto Alberto Castro
188
- Tanque d’água em Canelones.
Endereço: Estrada 101, Km 26, Canelones.
Cliente: Centro de desenvolvimento e Investigação
Data do projeto: 1985
Inicio das obras: 1985
Conclusão das obras:1985
Altura: 27m
Capacidade: 100m³
189
ANEXO G- RESIDÊNCIA SAÚL DIESTE
203
Os desenhos técnicos apresentados na escala 1/50 foram realizados pelo autor em base aos
desenhos origianis disponível no arquivo.
204
O memorial está em Espanhol.
190
191
192
193
194
195
196
197
198
199
200
201
202
203
204
205
206
207
ANEXO G.2 – DESENHOS TÉCNICOS DA RESIDÊNCIA SAÚL DIESTE
208
209
210
211
212
213
214
215
216
217
218
219
220
221
ANEXO G.3 – REGISTRO DO IMÓVEL
222
223
224
225
226
227
228
229
230
231
ANEXO H- RESIDÊNCIA Dr. GÓMEZ GOTUZZO
205
Os desenhos técnicos apresentados na escala 1/50 foram realizados pelo autor em base aos
desenhos origianis disponível no arquivo.
206
O memorial está em Espanhol.
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ANEXO H.2 – DESENHOS TÉCNICOS DA RESIDÊNCIA DR. GÓMEZ GOTUZZO
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