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01:
Poderíamos assinalar, antes de tudo que o café não é
apenas uma bebida que se bebe ao estar com sede.
Ele possui valor simbólico como parte de nossas
atividades sociais diárias. Frequentemente, o ritual de beber café é muito
mais importante do que o ato de consumir a bebida propriamente dita. Para
muitos de nós, ocidentais, a xícara de café pela manhã ocupa o centro de
1
MILLS, C. Wrigth. A imaginação sociológica. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar,
1975.
uma rotina pessoal. Ele é o primeiro passo para começar o dia. Você
conhece alguém que acorda de manhã já com o café na mão?
O café bebido de manhã tem seu ritual ampliado, durante todo o dia,
em companhia de outras pessoas, neste caso, podemos considerar a base
de um ritual social. Vamos tomar um cafezinho?
Duas pessoas que combinam de se encontrar para o café estão,
provavelmente, mais interessadas em ficarem juntas e conversar do que
naquilo que realmente bebem.
Na realidade, comer e beber, em todas sociedades fornecem ocasiões
para a interação social e para a encenação de rituais, oferecendo um
assunto rico para o estudo sociológico2.
02:
O café é uma droga, por essa você não esperava, por conter cafeína, que
tem um efeito estimulante sobre o cérebro.
Muitas pessoas bebem café pelo “estímulo extra” que ele propicia. Dias
longos no escritório e noites de estudo até tarde tornam-se mais toleráveis
graças às pausas para um café. O café é uma substância que cria
dependência, mas os viciados em café não são vistos como usurários de
drogas. Como o álcool, o cigarro, o café é uma droga socialmente aceita,
enquanto a maconha não o é. No entanto, pode haver sociedades que
toleram o consumo de maconha ou, até mesmo, de cocaína, mas
desaprovam o café e o álcool. Os sociólogos estão interessados no porquê
da existência de tais contrastes.
03:
Um indivíduo que bebe uma xícara de café é apanhado numa complicada
trama de relacionamentos sociais e econômicos que se estendem pelo
mundo. O café é um produto que conecta as pessoas das mais ricas e das
mais empobrecidas partes do planeta: ele é consumido em grandes
quantidades em países ricos, mas é cultivado principalmente em países
mais pobres. Ao lado do petróleo, o café é uma das mercadorias mais
valiosas no cenário internacional; ele fornece a muitos países sua maior
fonte de divisas externas.
O café foi o principal produto de exportação, responsável por
movimentar a economia brasileira a partir do século XIX até a década de
1930.
A produção, o transporte e a distribuição de café requerem
transações contínuas entre pessoas a milhares de quilômetros de distância
de seu consumidor. Estudar tais transações é uma importante tarefa da
sociologia, uma vez que muitos aspectos de nossas vidas são afetados por
influências e comunicações sociais em escala mundial.
2
Partindo da percepção da cozinha mineira como aspecto de sociabilidade, Mônica Chaves Abdala,
professora do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia, buscou em seu
livro “Receita de Mineiridade”, construir uma proposta que explicasse a associação entre cozinha e
identidades. De maneira mais específica, a pergunta que se colocou foi a seguinte: por que, e através de
que caminhos, a cozinha se constituiu em elemento tão importante na construção da imagem regional de
Minas Gerais?
Foto: cartão postal do porto de Santos na primeira metade do século XX.
Imigrantes empregados na estiva do café, no porto santista: carregavam até 320 kg (6 sacos) nas
costas.
04:
O ato de beber café pressupõe todo um processo passado de
desenvolvimento social e econômico. Virtualmente, todo a café que
bebemos hoje vem de áreas (América do Sul e África) que foram
colonizadas por europeus; não é, portanto, de forma alguma, uma parte
“natural” da dieta ocidental. O legado colonial tem tido um impacto enorme
no desenvolvimento do comércio mundial do café.
05:
O café é um produto que permanece no centro dos debates
contemporâneos sobre globalização, comércio internacional, direitos
humanos e destruição ambiental. Como o café tem crescido em
popularidade, ele passou a ser uma “marca” e ficou politizado: as decisões
que os consumidores fazem sobre o tipo de café beber e onde adquirir pode
indicar estilo de vida.
Os indivíduos podem escolher beber somente café orgânico, café
naturalmente descafeinado, podem optar por serem clientes de cafeterias
“independentes”, em vez de irem em alguma rede de cafeterias, como a
Starbucks.
Os sociólogos neste caso, por exemplo, estão interessados em
entender como uma “marca”, um modo de beber ou comprar café podem
influenciar toda uma maneira de ser, pensar e agir.
Starbucks: Franchizing de cafeterias
espalhadas pelos principais centros urbanos que
se popularizou pela variedades de cafés, das
mais diversas origens bem como pelo estilo cult
de seus consumidores.
EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO
QUESTÃO 01
Sabemos que hoje vivemos em um mundo cheio de mudanças e que a Sociologia é uma
ciência que possui muitos objetivos, dentre eles, assinale V para as verdadeiras e F para as
falsas:
1 ( ) O mundo em que vivemos não possui problemas sociais como miséria e falta de
moradia, por isso a sociologia é uma ciência inútil.
2 ( ) A nossa sociedade é marcada por enormes conflitos, tensões e divisões sociais, daí a
importância da sociologia.
3 ( ) A tecnologia moderna apenas preserva o ambiente natural, contribuindo para o
desenvolvimento ecológico das cidades.
4 ( ) Hoje, após os avanços das ciências temos a possibilidade de controlar nossos destinos
e nossas vidas para melhor, de uma forma inimaginável para gerações anteriores.
QUESTÃO 02
“Novas descobertas ainda vão continuar a modificar nosso conhecimento, mas, pela
primeira vez na história, o ser humano pode reconhecer a condição de sua origem e
sua posição no mundo”
(MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Trad.
Eloá Jacobina, 9° ed., Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2004, p.37.)
“O cérebro, por meio do qual pensamos; a boca, pela qual falamos; a mão, com a
qual escrevemos, são órgãos totalmente biológicos e, ao mesmo tempo, totalmente
culturais. O que há de mais biológico: o sexo, o nascimento, a morte; é também o
que há de mais impregnado na cultura humana.”
(MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o
pensamento. Trad. Eloá Jacobina, 9° ed., Rio de Janeiro, Bertrand Brasil,
2004, p. 40)
Sabemos que nossas atividades biológicas mais elementares: comer, beber, defecar, estão
estreitamente ligadas a normas, proibições, valores, ou seja, o que há de mais
especificamente cultural. Com base em nossas aulas, debates e reflexões responda: a
sociologia estuda qual dessas atividades, as biológicas, ou as culturais? Justifique sua
resposta.