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B. O QUE É SOCIOLOGIA?

Hoje vivemos no começo do século XXI num mundo


profundamente preocupante, porém repleto das mais
extraordinárias promessas para o futuro. E um mundo
inundado de mudanças, marcado por enormes
conflitos, tensões e divisões sociais, como também
pelo ataque destrutivo da tecnologia moderna ao
ambiente natural. Mesmo assim, temos possibilidades
de controlar nosso destino e moldar nossas vidas para
melhor, de um modo inimaginável para as gerações
anteriores.
Como esse mundo surgiu? Por que nossas condições de vida são tão
diferentes daquelas de nossos pais e avós? Que direção as mudanças tomarão
no futuro? Essas questões são a principal preocupação da sociologia, um
campo de estudo que consequentemente tem um papel fundamental na cultura
intelectual moderna.
A sociologia é o estudo da vida social humana, dos grupos e das
sociedades. É um empreendimento fascinante e irresistível, já que seu objeto
de estudo é nosso próprio comportamento como seres sociais. A abrangência
do estudo sociológico é extremamente vasta, incluindo desde a análise de
encontros ocasionais entre indivíduos na rua até a investigação de processos
sociais globais.
A maioria de nós vê o mundo a partir de características familiares a
nossas próprias vidas. A sociologia mostra a necessidade de assumir uma visão
mais ampla sobre por que somos como somos e por que agimos como agimos.
Ela nos ensina que aquilo que encaramos como natural, inevitável, bom ou
verdadeiro, pode não ser bem assim e que os “dados” de nossa vida são
fortemente influenciados por forças históricas e sociais. Entender os modos
sutis, porém complexos e profundos, pelos quais nossas vidas individuais
refletem os contextos de nossa experiência social é fundamental para a
abordagem sociológica.
Surgimento da Sociologia e seus fatores históricos
É no contexto da Revolução Industrial, da deteriorização das condições de vida dos
trabalhadores, do desemprego e da miséria, que a Europa se aproxima da Revolução
Francesa de 1789. Podemos dizer que esse foi o fator histórico catalisador da transição do
antigo pelo novo, o que culminaria no alvorecer de uma nova ciência -a sociologia.
É essencial que entendamos o surgimento da Sociologia como fruto de importantes
processos históricos. Pois, essa nova ciência constitui uma resposta intelectual e prática às
situações colocadas pelas Revoluções Burguesas, já que terá como objeto de estudo os
fenômenos observáveis na sociedade capitalista. Daí a ideia da Sociologia ser uma ciência do
mundo moderno, pois é nessa fase da história que os conflitos se acirram e clamam por
soluções.
A ruptura com os modos de vida tradicionais desafiou os pensadores a
desenvolverem uma nova compreensão tanto do mundo social, como do natural. Os tipos de
questões que esses primeiros cientistas sociais do século 19 buscavam compreender, e que
não difere muito do século 21, foram: O que é a natureza humana? Por que a sociedade é
estruturada da forma que é? Como e por que as sociedades mudam?

B.1 Desenvolvendo uma perspectiva sociológica


Aprender a pensar sociologicamente, em outras palavras, de forma mais
ampla e científica significa cultivar a imaginação. Estudar sociologia não
pode ser apenas um processo rotineiro de adquirir conhecimento. Um
sociólogo é alguém que é capaz de se libertar das amarras do senso
comum, ou seja, da imediatidade das circunstâncias pessoais e apresentar
as coisas num contexto mais amplo. O trabalho sociológico depende daquilo
que o autor norte-americano Mills, chamou de imaginação sociológica1.
A imaginação sociológica exige um esforço intelectual nosso para que
pensemos fora da nossa intimidade pessoal, o objetivo é observar de
maneira renovada tendo como base os dados reais. Sob muitos aspectos,
aprender a pensar sociologicamente pode ser uma lição terrível a nossa
intimidade, entretanto, sob muitos outros é magnífico e iressistível. Sem
delongas, sobre como se define essa imaginação sociológica, observemos o
exemplo e seus desdobramentos.
Considere um simples ato de tomar uma xícara de café. O que
poderíamos dizer, a partir de um ponto de vista
sociológico, sobre esse exemplo de comportamento
aparentemente desinteressante?
Muitas e muitas coisas. Vejamos cinco
desdobramentos, nos quais se verifica a utilização da
imaginação sociológica. Perceba, com bastante
cautela, a mudança de perspectiva, o que era comum
sem fundamentação converte-se, em outra
dimensão, agora, sociológica, ampla e científica.

01:
Poderíamos assinalar, antes de tudo que o café não é
apenas uma bebida que se bebe ao estar com sede.
Ele possui valor simbólico como parte de nossas
atividades sociais diárias. Frequentemente, o ritual de beber café é muito
mais importante do que o ato de consumir a bebida propriamente dita. Para
muitos de nós, ocidentais, a xícara de café pela manhã ocupa o centro de

1
MILLS, C. Wrigth. A imaginação sociológica. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar,
1975.
uma rotina pessoal. Ele é o primeiro passo para começar o dia. Você
conhece alguém que acorda de manhã já com o café na mão?
O café bebido de manhã tem seu ritual ampliado, durante todo o dia,
em companhia de outras pessoas, neste caso, podemos considerar a base
de um ritual social. Vamos tomar um cafezinho?
Duas pessoas que combinam de se encontrar para o café estão,
provavelmente, mais interessadas em ficarem juntas e conversar do que
naquilo que realmente bebem.
Na realidade, comer e beber, em todas sociedades fornecem ocasiões
para a interação social e para a encenação de rituais, oferecendo um
assunto rico para o estudo sociológico2.

02:
O café é uma droga, por essa você não esperava, por conter cafeína, que
tem um efeito estimulante sobre o cérebro.
Muitas pessoas bebem café pelo “estímulo extra” que ele propicia. Dias
longos no escritório e noites de estudo até tarde tornam-se mais toleráveis
graças às pausas para um café. O café é uma substância que cria
dependência, mas os viciados em café não são vistos como usurários de
drogas. Como o álcool, o cigarro, o café é uma droga socialmente aceita,
enquanto a maconha não o é. No entanto, pode haver sociedades que
toleram o consumo de maconha ou, até mesmo, de cocaína, mas
desaprovam o café e o álcool. Os sociólogos estão interessados no porquê
da existência de tais contrastes.

03:
Um indivíduo que bebe uma xícara de café é apanhado numa complicada
trama de relacionamentos sociais e econômicos que se estendem pelo
mundo. O café é um produto que conecta as pessoas das mais ricas e das
mais empobrecidas partes do planeta: ele é consumido em grandes
quantidades em países ricos, mas é cultivado principalmente em países
mais pobres. Ao lado do petróleo, o café é uma das mercadorias mais
valiosas no cenário internacional; ele fornece a muitos países sua maior
fonte de divisas externas.
O café foi o principal produto de exportação, responsável por
movimentar a economia brasileira a partir do século XIX até a década de
1930.
A produção, o transporte e a distribuição de café requerem
transações contínuas entre pessoas a milhares de quilômetros de distância
de seu consumidor. Estudar tais transações é uma importante tarefa da
sociologia, uma vez que muitos aspectos de nossas vidas são afetados por
influências e comunicações sociais em escala mundial.

2
Partindo da percepção da cozinha mineira como aspecto de sociabilidade, Mônica Chaves Abdala,
professora do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia, buscou em seu
livro “Receita de Mineiridade”, construir uma proposta que explicasse a associação entre cozinha e
identidades. De maneira mais específica, a pergunta que se colocou foi a seguinte: por que, e através de
que caminhos, a cozinha se constituiu em elemento tão importante na construção da imagem regional de
Minas Gerais?
Foto: cartão postal do porto de Santos na primeira metade do século XX.
Imigrantes empregados na estiva do café, no porto santista: carregavam até 320 kg (6 sacos) nas
costas.

04:
O ato de beber café pressupõe todo um processo passado de
desenvolvimento social e econômico. Virtualmente, todo a café que
bebemos hoje vem de áreas (América do Sul e África) que foram
colonizadas por europeus; não é, portanto, de forma alguma, uma parte
“natural” da dieta ocidental. O legado colonial tem tido um impacto enorme
no desenvolvimento do comércio mundial do café.

05:
O café é um produto que permanece no centro dos debates
contemporâneos sobre globalização, comércio internacional, direitos
humanos e destruição ambiental. Como o café tem crescido em
popularidade, ele passou a ser uma “marca” e ficou politizado: as decisões
que os consumidores fazem sobre o tipo de café beber e onde adquirir pode
indicar estilo de vida.
Os indivíduos podem escolher beber somente café orgânico, café
naturalmente descafeinado, podem optar por serem clientes de cafeterias
“independentes”, em vez de irem em alguma rede de cafeterias, como a
Starbucks.
Os sociólogos neste caso, por exemplo, estão interessados em
entender como uma “marca”, um modo de beber ou comprar café podem
influenciar toda uma maneira de ser, pensar e agir.
Starbucks: Franchizing de cafeterias
espalhadas pelos principais centros urbanos que
se popularizou pela variedades de cafés, das
mais diversas origens bem como pelo estilo cult
de seus consumidores.

A imaginação Sociológica nos permite ver que muitos eventos que


parecem dizer respeito somente ao indivíduo, na verdade refletem questões
mais amplas. O divórcio, por exemplo, pode ser um processo muito difícil
para alguém que passa por ele “problema pessoal”. Mas o divórcio pode ser
também um problema público numa sociedade, no qual mais de um terço
de todos os casamentos terminam dentro de dez anos. O desemprego, para
usar outro exemplo, por ser uma tragédia pessoal para alguém despedido
de um emprego e inapto para encontrar outro. Mesmo assim, isso vai bem
além de uma questão geradora de aflição pessoal, se considerarmos que
milhões de pessoas numa sociedade estão na mesma situação: é um
assunto público, expressando amplas tendências sociais.
Tente aplicar esse tipo de perspectiva sociológica à sua própria vida.
Não é necessário pensar apenas acontecimentos preocupantes. Considere,
por exemplo, por que você está lendo esse texto. Você pode ser um
estudante de sociologia relutante, frequentando as aulas e lendo o material
somente para preencher créditos exigidos. Ou você pode estar
entusiasmado para descobrir mais sobre o assunto. Quaisquer que sejam
suas motivações, você provavelmente tem muito em comum, sem saber
necessariamente, com outros que estudam sociologia. Sua atitude
geralmente reflete aquelas sustentadas por amigos e conhecidos. Os
ambientes sociais, econômicos e culturais dos quais viemos têm muito a ver
com os tipo de decisões que achamos apropriadas.
Embora sejamos influenciados pelos contextos sociais em que nos
encontramos, nenhum de nós é simplesmente um fantoche dos
acontecimentos externos. Possuímos e criamos, em maior ou menor
medida, a nossa própria individualidade. É trabalho da sociologia investigar
as conexões entre o que a sociedade faz de nós e o que fazemos de nós
mesmos. Nossas atividades tanto estruturam e modelam o mundo social ao
nosso redor como, ao mesmo tempo, são estruturadas por esse mundo
social.
Neste sentido o conceito de estrutura social é importantíssimo na sociologia.
Ele se refere ao fato de que os contextos sociais de nossas vidas não
consistem apenas em um conjunto aleatório de eventos ou ações; eles são
estruturados ou padronizados das mais diversas formas. Há regularidades
nos modos como nos comportamos e nos relacionamentos que temos uns
com os outros. Mas a estrutura social não é como uma estrutura física,
como um edifício que existe independente das ações humanas. As
sociedades humanas estão sempre em processo de estruturação. Elas são
reestruturadas a todo o momento pelos próprios “blocos de construção” que
as compõem, os seres humanos como você e eu.
Como exemplo, considere novamente o caso do café. Uma xícara de
café não chega a suas mãos automaticamente. Você escolhe, por exemplo,
ir tomar café: café preto ou café com leite ou ainda descafeinado. Enquanto
toma essas decisões, conjuntamente com milhões de outras pessoas, você
dá forma ao mercado de café e afeta as vidas de produtores de café que
moram, talvez a milhares de quilômetros de distância, do outro lado do
mundo.
Agora pense você num acontecimento corriqueiro e tente aplicar essa
imaginação sociológica.

EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO

QUESTÃO 01
Sabemos que hoje vivemos em um mundo cheio de mudanças e que a Sociologia é uma
ciência que possui muitos objetivos, dentre eles, assinale V para as verdadeiras e F para as
falsas:

1 ( ) O mundo em que vivemos não possui problemas sociais como miséria e falta de
moradia, por isso a sociologia é uma ciência inútil.
2 ( ) A nossa sociedade é marcada por enormes conflitos, tensões e divisões sociais, daí a
importância da sociologia.
3 ( ) A tecnologia moderna apenas preserva o ambiente natural, contribuindo para o
desenvolvimento ecológico das cidades.
4 ( ) Hoje, após os avanços das ciências temos a possibilidade de controlar nossos destinos
e nossas vidas para melhor, de uma forma inimaginável para gerações anteriores.

QUESTÃO 02

“Novas descobertas ainda vão continuar a modificar nosso conhecimento, mas, pela
primeira vez na história, o ser humano pode reconhecer a condição de sua origem e
sua posição no mundo”
(MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Trad.
Eloá Jacobina, 9° ed., Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2004, p.37.)

Sobre essa questão assinale V para as verdadeiras e F para as falsas:

1 ( ) As novas descobertas da ciência, em especial no campo da biologia e da genética


permitiram que se entendesse a complexidade da vida, da qual a existência do homem é
parte constitutiva de toda a vida terrestre;
2 ( ) Com as novas descobertas sobre a vida humana proporcionadas pelas ciências
chegou-se a conclusão final de suas origens, de suas raízes, pois o que nós situamos como
mundo sempre existiu, e suas formas de vida sempre foram da mesma maneira que as
encontramos hoje.
3 ( ) Os novos conhecimentos devem contribuir para a formação de uma consciência crítica
e ética no ser humano, nessa perspectiva, devemos entender que a terra é nosso lar, e todos
os humanos são iguais.
4 ( ) Todo esse novo conhecimento deve contribuir, igualmente para o grande sonho
humano de dominação da natureza que sempre foi incentivado pela técnica ocidental, e
principalmente na conjuntura atual em que a Terra está com todas as condições propícias e
equilibradas para ser explorada pela razão e técnica humana.
QUESTÃO 03
Leia o texto abaixo:

“O cérebro, por meio do qual pensamos; a boca, pela qual falamos; a mão, com a
qual escrevemos, são órgãos totalmente biológicos e, ao mesmo tempo, totalmente
culturais. O que há de mais biológico: o sexo, o nascimento, a morte; é também o
que há de mais impregnado na cultura humana.”
(MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o
pensamento. Trad. Eloá Jacobina, 9° ed., Rio de Janeiro, Bertrand Brasil,
2004, p. 40)

Sabemos que nossas atividades biológicas mais elementares: comer, beber, defecar, estão
estreitamente ligadas a normas, proibições, valores, ou seja, o que há de mais
especificamente cultural. Com base em nossas aulas, debates e reflexões responda: a
sociologia estuda qual dessas atividades, as biológicas, ou as culturais? Justifique sua
resposta.

A SOCIEDADE HUMANA COMO OBJETO DE ESTUDO


Você certamente já leu ou ouviu algum tipo de referência à Sociologia. Sabe talvez que o ex-
presidente Fernando Henrique Cardoso, que governou 0 Brasil durante dois mandatos
consecutivos,
entre 1995 e 2002, é sociólogo por formação acadêmica e profissional.
Da mesma forma que você, muitas pessoas já ouviram falar dessa ciência social. Mas poucas
seriam capazes de responder: de que trata a Sociologia? Qual e seu objeto de estudo? Para
que serve a
profissão de sociólogo? Para responder a essas perguntas, vamos contar uma história verídica
que
ocorreu na França entre os séculos XVIII e XIX: o fascinante caso do "menino selvagem de
Aveyron ".
1.1 O "menino selvagem" de Aveyron
Em 1797, um menino quase inteiramente nu foi visto pela primeira vez perambulando pela
floresta de Lacaune, na França. Em 9 de janeiro de 1800, foi registrado seu aparecimento num
moinho
em Saint-Sernein, distrito de Aveyron. Tinha a cabeça, os braços e os pés nus; farrapos de
uma velha
camisa (sinal de algum contato anterior com seres humanos) cobriam o resto do corpo. Sempre
que
alguém se aproximava, ele fugia como um animal assustado.
Era um menino de cerca de 12 anos, tinha a pele branca e fina, rosto redondo, olhos negros e
fundos, cabelos castanhos e nariz comprido e aquilino. Sua fisionomia foi descrita como
graciosa; sorria
involuntariamente e seu corpo estava coberto de cicatrizes. Provavelmente abandonado na
floresta aos
4 ou 5 anos, foi objeto de curiosidade e provocou discussões acaloradas principal mente na
França.
Após sua captura, verificou-se que Victor (assim passou a ser chamado) não pronunciava
nenhuma palavra e parecia não entender nada do que lhe falavam. Apesar do rigoroso inverno
europeu,
rejeitava roupas e também o uso de cama, dormia no chão sem colchão. Locomovia-se
apoiado nas
mãos e nos pés, correndo como os animais quadrupedes.
Um olhar sociológico
Victor de Aveyron tornou-se um dos casos mais conhecidos de seres humanos criados livres
em
ambiente selvagem.
Médicos franceses, como Jean Étienne Esquirol (1772-1840) e Philippe Pinel (1745-1826),
afirmavam que o menino selvagem sofria de idiotia, uma deficiência mental grave. Segundo
eles, teria
sido essa a razão pela qual os pais o haviam abandonado.
O psiquiatra Jean-Marie Gaspard Itard, diretor de um instituto de surdos-mudos, não
compartilhava da opinião dos colegas. Quais as consequências, perguntava ele, da privação do
convívio
social e da ausência absoluta de educação para a inteligência de um adolescente que viveu
assim,
separado de indivíduos de sua espécie?
Itard acreditava que a situação de abandono e afastamento da civilização explicava o
comportamento diferente do menino. Discordava, assim, do diagnóstico de deficiência mental
para o
caso.
No livro A educação de um homem selvagem, publicado em 1801, Itard apresenta seu trabalho
com o menino selvagem de Aveyron, descrevendo as etapas de sua educação: ele já é capaz
de sentar-
se convenientemente a mesa, tirar a água necessária para beber, levar ao seu terapeuta as
coisas de
que necessita; diverte-se ao empurrar um pequeno carrinho e começa também a ler.
Cinco anos mais tarde, Victor já fabricava pequenos objetos e podava as plantas da casa. Com
base nesses resultados, Itard reforçou sua tese de que os hábitos selvagens iniciais do menino
e sua
aparente deficiência mental eram apenas e tão-somente resultado de uma vida afastada de
seus
semelhantes e da civilização. A partir de sua experiência com o menino, Itard formulou a
hipótese de que
a maior parte das deficiências intelectuais e sociais não é inata, mas tem sua origem na falta
de
socialização do indivíduo considerado deficiente, na falta de comunicação com seus
semelhantes,
especialmente de comunicação verbal. Aproximando se de uma visão sociológica, o
pesquisador
concluiu que o isolamento social prejudica a sociabilidade do indivíduo. Ora, a sociabilidade é o
que
torna possível a vida em sociedade.
O caso do menino selvagem de Aveyron mostra que o ser humane é um animal social por
excelência, como afirmava o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.). Sua vida só adquire
sentido na
relação com outros seres humanos (veja o boxe a seguir).
Vivendo com lobos
5
Você certamente já ouviu falar de Mogli, o menino-lobo. Trata-se de uma criação literária do
escritor anglo-indiano Rudyard Kipling (1865-1936). Na história de Kipling, Mogli é um menino
inteligente
e sociável, que se dá muito bem com os animais e também com os seres humanos. Mogli é um
personagem fictício, criado pela imaginação do autor. Mas o que aconteceria realmente a um
ser
humano, caso fosse criado entre lobos?
A história a seguir pertence a vida real e mostra como o personagem Mogli esta longe de
refletir
a realidade.
Duas meninas, Amala e Kamala, foram descobertas em 1921, numa caverna da Índia, vivendo
entre lobos. Essas crianças, que na época tinham quatro e oito anos de idade, foram confiadas
a um
asilo e passaram a ser observadas por estudiosos. Amala, a mais jovem, não resistiu a nova
vida e logo
morreu. A outra, porém, viveu cerca de oito anos.
Ambas apresentavam hábitos alimentares bem diferentes dos nossos. Como fazem
normalmente os animais, elas cheiravam a comida antes de tocá-la, dilaceravam alimentos
com os
dentes e faziam pouco usa das mãos para beber e comer. Possuíam aguda sensibilidade
auditiva e o
olfato desenvolvido. Locomoviam-se de forma curvada, com as mãos apoiadas no chão, como
o fazem
os quadrupedes. Kamala levou seis anos para andar de forma ereta. Notou-se também que a
menina
não ficava a vontade na companhia de pessoas, preferindo o convívio com os animais, que não
se
assustavam com sua presença e pareciam até entendê-la.
(Adaptado de: A. Xavier Telles. Estudos Sociais. 513. São Paulo, Nacional, 1969. p.115-6.)
Assim como no caso do menino de Aveyron, a experiência das duas crianças criadas entre
lobos
na Índia mostra que os indivíduos só adquirem características realmente humanas quando
convivem em
sociedade com outros seres humanos, estabelecendo com eles relações sociais.
Outro personagem celebre surgido da imaginação do escritor norte-americano Edgar Rice
Burroughs (1875-1950), é Tarzan. Criado por macacas na África, Tarzan aprendeu a ler
sozinho, com a
ajuda apenas de um livro encontrado em uma cabana. Além disso, demonstrava sentimentos
humanos e
defendia valores semelhantes aos da sociedade em que viveu o escritor.
Como obra de ficção, Tarzan sempre atraiu o interesse de jovens leitores, mas esta tão
distante
da vida real quanta Mogli, o menino-lobo. Na verdade, crianças que crescem entre animais são
incapazes de desenvolver atitudes e sentimentos humanos antes de qualquer cantata com
outros
indivíduos de sua espécie que já vivam em sociedade.
Para a pensador Lucien Malson, a conclusão é clara: "Será preciso admitir que os homens não
são homens fora do ambiente social, visto que aquilo que consideramos ser próprio deles,
como o riso
ou o sorriso, jamais ilumina a rosto das crianças isoladas".
A história das crianças selvagens, que sobreviveram quase milagrosamente entre as animais e
penaram para alcançar algumas das características básicas de uma existência "civilizada",
deixa uma
lição que não pode ser ignorada: sem o denso tecido das relações sociais, do qual participa
toda criança,
simplesmente não ha humanidade.
As relações entre os seres humanos, isto é, as relações sociais, constituem a base da
sociedade. A forma pela qual essas relações ocorrem são fatos sociais e são eles que
determinam o
comportamento e a vida em sociedade.
Victor aprendeu a andar, a comer, a vestir-se e a fazer objetos por intermédio do contato com
outras pessoas. Mas não assimilou apenas as coisas práticas da vida. Ao estabelecer relações
com
outros seres humanos, aprendeu também a comportar-se, a expressar sentimentos e a agir da
mesma
forma que as pessoas com as quais passou a conviver. Em uma palavra, ele socializou-se.
O estudo de como os seres humanos se relacionam na vida prática e afetiva, das formas pelas
quais interagem uns com os outros, estabelecendo regras e valores, constitui tarefa de um
grupo de
disciplinas reunidas sob o nome de Ciências Sociais. A Sociologia é uma das disciplinas das
Ciências
Sociais.
1.2 As ciências sociais
O comportamento humano é muito complexo e diversificado. Cada indivíduo recebe influências
de seu meio, forma-se de determinada maneira e age no contexto social de acordo com sua
formação. O
indivíduo aprende com o meio, mas também pode transforma-lo em sua ação social.
Há comportamentos estritamente individuais como andar, respirar, dormir, que se originam na
pessoa enquanto organismo biológico. São comportamentos estudados pelas Ciências Físicas
e
Biológicas. Por outro lado, receber salário, fazer greve, participar de reuniões, assistir aulas,
casar-se:
educar os filhos são comportamentos sociais, pois se desenvolvem no contexto da sociedade.
Ao longo da História, a espécie humana tem organizado sua vida de forma grupal. As Ciências
Sociais pesquisam e estudam o comportamento social humano e suas várias formas de
manifestação.
1.3 Entender a sociedade em que vivemos
6
Pode-se dizer que as Ciências Sociais caracterizam-se pelo estudo sistemático do
comportamento social do ser humano. Dessa forma, o objeto das Ciências Sociais é o ser
humano em
suas relações sociais.
Ao mesmo tempo, as Ciências Sociais tem por objetivo ampliar o conhecimento sobre o ser
humano em suas interações sociais e estudar a ação social em suas diversas dimensões. Ao
realizar
esse objetivo, as Ciências Sociais contribuem para um melhor entendimento da sociedade em
que
vivemos, fornecendo instrumentos que podem ajudar a transformá-la.
O método empregado pelas Ciências Sociais em suas atividades é a investigação científica.
1.4 Disciplinas em que se dividem as Ciências Sociais
Com o avanço do conhecimento da sociedade, tornou-se necessária a divisão das Ciências
Sociais em diversas áreas de conhecimento, de modo a facilitar a sistematização dos estudos
e das
pesquisas. Essa divisão abrange atualmente as seguintes disciplinas:
Sociologia - Estuda as relações sociais e as formas de associação, considerando as interações
que ocorrem na vida em sociedade. A Sociologia envolve, portanto, o estudo dos grupos e dos
fatos
sociais, a divisão da sociedade em classes e camadas, da mobilidade social, dos processos de
cooperação, competição, conflito na sociedade etc.
Economia - Tem por objeto as atividades humanas ligadas a produção, circulação, distribuição
e
consumo de bens e serviços. Portanto, são fenômenos estudados pela Economia a distribuição
da renda
num pais, a política salarial, a produtividade de uma empresa etc.
Antropologia - Estuda e pesquisa as semelhanças e as diferenças culturais entre os vários
agrupamentos humanos, assim como a origem e a evolução das culturas. Além de estudar a
cultura dos
povos pré-Ietrados, a Antropologia ocupa-se também da diversidade cultural existente nas
sociedades
industriais. São objetos de estudo da Antropologia os tipos de organização familiar, as
religiões, a magia,
os ritos de iniciação dos jovens, o casamento etc.
Ciência Política - Ocupa-se da distribuição de poder na sociedade, assim como da formação e
do desenvolvimento das diversas formas de governo. É a Ciência Politica que estuda, por
exemplo, os
partidos políticos, os mecanismos eleitorais etc.
Não existe uma divisão nítida entre essas disciplinas. Embora cada uma das Ciências Sociais
esteja voltada preferencialmente para um aspecto da realidade social, elas são
complementares entre si
e atuam frequentemente juntas para explicar os complexos fenômenos da vida em sociedade.
1.5 A longa marcha das Ciências Sociais
A reflexão sistemática sobre a vida em sociedade e sobre os grupos que a compõem começou
na Grécia Antiga, há milhares de anos. Vejamos a seguir alguns momentos nesse processo de
conhecimento.
Deuses e heróis
As primeiras tentativas de compreender como as forças sociais funcionam baseavam-se na
imaginação, na fantasia, na especulação. Assim, certos fenômenos sociais eram explicados a
partir da
ação de seres mitológicos, como deuses e heróis.
Na mitologia greco-romana, por exemplo, havia um deus para a guerra (Ares para os gregos,
Marte para os romanos), outro para o comércio (Hermes ou Mercúrio, entre os romanos), uma
deusa
para as relações amorosas (Afrodite ou Vênus, para os romanos), e assim por diante. O deus
supremo
era Zeus. Sua mulher, Hera, protegia o casamento e tutelava a vida familiar.
Entre a filosofia e a religião
Até o início da Idade Moderna, no século XV, as tentativas de explicar a sociedade foram muito
influenciadas pela filosofia e pela religião, que propunham normas para a sociedade,
procurando
modificá-la de acordo com seus princípios.
Na Grécia Antiga, como vimos, surgiram explicações mitológicas para alguns fenômenos
sociais.
Insatisfeitos com essas explicações, os filósofos gregos foram os primeiros a empreender o
estudo
sistemático da sociedade humana. Entre eles, destacam-se Platão (427-347 a.C.), autor de A
Republica,
e Aristóteles (384-322 a.C.), que escreveu Política. É de Aristóteles a afirmação segundo a
qual "O
homem nasce para viver em sociedade".
Na Idade Média a reflexão teórica sobre a sociedade se deu entre pensadores ligados a Igreja
católica. Santo Agostinho (354-430), por exemplo, em seu livro A cidade de Deus, propunha
normas para
evitar o pecado na sociedade. Obras como essa descreviam a sociedade humana em uma
perspectiva
religiosa muito acentuada.
Os pensadores renascentistas
7
Com o Renascimento, surgiram pensadores que abordavam os fenômenos sociais de maneira
mais realista. Escreveram sobre a sociedade de sua época: Maquiavel, autor de O príncipe,
Tomás
Morus (Utopia), Tomaso Campanella (Cidade do Sol), Francis Bacon (Nova Atlântida), Erasmo
de
Roterdã (Elogio da loucura).
No século XVII, outros pensadores deram sua contribuição ao desenvolvimento das Ciências
Sociais. Um dos mais notáveis foi o inglês Thomas Hobbes, autor de Leviatã.
Vico e a nova ciência
Particularmente importante nesse processo de reflexão não-religiosa sobre a sociedade foi, no
século XVIII, a obra de Giambattista Vico, A nova ciência. Segundo Vico, a sociedade se
subordina a leis
definidas, que podem ser descobertas pelo estudo e pela observação objetiva. Sua formulação
- "O
mundo social é, com toda certeza, obra do homem" - foi um conceito revolucionário para a
época.
Alguns anos depois, Jean-Jacques Rousseau reconheceu a influência decisiva da sociedade
sobre o indivíduo. Em seu livro O contrato social, Rousseau afirma que "o homem nasce puro,
a
sociedade é que o corrompe". Hoje, sabe-se que o indivíduo também influencia e modifica o
meio em
que vive ao agir sobre ele.
Entretanto, foi só no século XIX - com Augusto Comte, Herbert Spencer, Gabriel Tarde e,
principalmente, Emile Durkheim, Max Weber e Karl Marx - que a investigação dos fenômenos
sociais
ganhou um caráter verdadeiramente científico.

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