Sunteți pe pagina 1din 467

?

*0 Z&
Instituto de Estudos Socioambientais

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS


INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS - IESA

Disciplina:

APOSTILA 1

+«&?* y

Profs: Dra. ANA CRISTINA DA SILVA


DR. GUILHERME TAITSON BUENO
CH.64HS

Aluno(a): QiwLiuk ch U

Io SEMESTRE OPIADORA
GOIÂNIA/2018 atEGEOGRARAEC&OASAJyeBirAS
h 4
I

f
f

dâ%k

I E S A

UFG
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
r UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOlAS
INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS
p
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
r PROGRAMA DE CURSO

r
Disciplina: Teoria e Método em Geografia - 1°. Sem. Ano 2018 - 64 horas/aula

Professoras responsáveis: Dra. Ana Cristina da Silva e Dr. Guilherme Taitson Bueno
r
Ementa: Estudo dos fundamentos teórico-metodológicos da Geografia Humana e da Geografia
p I-isica. moderna e contemporânea. A questão da linguagem geográfica: conceituai e
representacional (cartográfica). Reflexão sobre conceitos e categorias tradicionais da ciência
r geográfica. Problemas e temasatuais em discussão na geografia brasileirae internacional.

Compreende-se que a disciplina Teoria e Método cm Geografia, no curso de pós-graduação,


têm por objetivos:
* Fornecer referenciais teóricos e metodológicos para a formação continua de
profissionais (professores e pesquisadores) cm Geografia e áreas afins;
S Propiciar a atualização de temas e debates na pesquisa geográfica;
r
/ Desenvolver o espírito crítico quanto aos atuais referenciais epistemológicos no
campo do conhecimento científico.

Sessões
r
Dia 27/03/2018 —Apresentação: dos professores, dos pós-graduandos, do Programa da
Disciplina, distribuição dos textos.

1. Introdução à teoria c ao método na Geografia.

r O Dia 03/04/2018 - Exposição c debate com a profa. Ana Cristina sobre o tema: "A pluralidade
teórica e metodológica na geografia humana: dilemas e perspectivas epistemológicas".
p Textos básicos:
r | TEXTO 1_1- GOMES, P. C. da C. Um lugar para a Geografia: contra o simples, o banal e o
doutrinário. In: MENDONÇA, F. ei ali. Espaço c Tempo: complexidade e desafios do
p
pensar e do fazer geográfico. Curitiba: Associação de Defesa do Meio Ambiente c
Desenvolvimento de Antonina (ADEMADAN), 2009. p. 13-30.
r TEXTO 2 CLAVAL, P. A revolução pós-funcionalisla e as concepções atuais da geografia. In:
MENDONÇA, F.; KOZEL, S. (Orgs.). Elementos de cpistemologia da geografia
contemporânea. Curitiba: UFPR, 2002. p. 11-43. (pós-graduandos)
r TEXTO 3 I SOUZA, M. L. de. Os conceitos fundamentais da pesquisa sóeio-espacial. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2013. p. 9-18. (pós-graduandos)
Leituras complementares:
r CORRÊA. R. L. Análise critica de textos geográficos: breves notas. GcoUERJ. n.4, p. 7-18,
2003.
FERNANDEZ. E. C. Notas sobre Ia evolución dei pensamiento geográfico. In: Anales de
geografia de Ia Universidad Complutense. n. 7, p. 43-52, 1987.
r GOMES, P. C. da C. Quadros geográficos: uma forma de ver, uma forma de pensar. Rio de
f Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.
UFG
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS
PROGRAMA DEPÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
PROGRAMA DE CURSO

OLIVEIRA. P. de S. Caminhos de construção da pesquisa em ciências humanas. In:


OLIVEIRA, P. de S. (Org.). Metodologia das ciências humanas. São Paulo: UNESP. 1998. p.
17-26.

Dia 10/04/2018- Prof. Guilherme: O debate teórico-metodológico na Geografia Física


JíXÍQS básicos:
:EXTO 4 J JOLY F. La géographie n'est-elle qu'une science humainc? Hcrodote, 12, 1978, p. 129-
159.
TEX O 5 GRIGORYEV, A. A. Os fundamentos da Geografia Física Moderna: o estrato
Geográfico da Terra. In: The interaction of scicnccs in thc study of the Earth. Trad.
Míriam Ramos Ciutyahr. Moscou, 1968.
TEXTO 6 SANJAUME. M. S. Un panorama Ibero-americano de Ia Geografia Física. In:
SEVERO, A.: FOLETO, E. (Orgs.). Diálogos em Geografia Física. Santa Maria: Ed.
daUFSM.2011.p.77-107.
Leituras coniplcnientarcs:
GREGORY, K. J. A natureza da geografia física. São Paulo: Bertrand Brasil. 1992,367 p.
VITTE. A. C. Da caixa de pandora à teia do cosmos: uma tradição ao debate sobre a
reestruturação da geografia física. In: FIGUEIRÓ, A. S.; FOLETO, E. (Orgs.). Diálogos em
Geografia Física. Santa Maria: Ed. da UFSM. p. 45-58.
MARCHAND J-P. Les conlraintes physiques et Ia géographie contemporaine. L'Espace
gcographique. tome 9, a 3, 1980. p. 231-240.

2. A constituição moderna da Geografia Clássica.

Dia 17/04/2018- Profa. Ana Cristina: A Geografia Humana na Geografia Clássica


Textos básicos:
TEXTO 7 RITTER, K. La organización dcl espacio cn Ia superfície dcl globo y su función cn ei
desarollo histórico. In. MENDONÇA, J. G.; J1MENEZ, J. M.; CANTERO, N. O.
(Orgs.). El pensamiento geográfico. Madrid: Alianza Editorial, 1982. p. 168-178.
TEXTO 8 RATZEL, F. Geografia do homem (Antropogeografia). In: MORAES, A. C. R.
(Org.). São Paulo: Ática. 1990. p. 83-107.
TEXTOJ). RIBEIRO, G. Geografia humana: fundamentos epistemológicos de uma ciência. In:
HAESBAERT, R.; PEREIRA, S. N.; RIBEIRO, G. (Orgs.). Vidal, vidais: textos de
geografia humana, regional e política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. p. 23-65.
Leituras complcmentarcs:
BF.RDOULAY, V. A escola francesa de geografia: uma abordagem contcxtual. São Paulo:
Perspectiva. 2017. x
BLACHE, V. de La. As características próprias da geografia. In: CHRISTOFOLEITI, A.
(Org). Perspectivas da geografia. 2. ed. São Paulo: Difel. 1985. p. 37-48.
BLACHE, V. de La. Princípios de geografia humana. 2. ed. Portugal: Edições Cosmos. 1928.
[l.ed. francesa 1921].
CARVALHO. M. B. de. Da antropogeografia do final do século XIX aos desafios

4
f

p
'>•.•/;<

*tiS£
I E S A

UFG
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
t PROGRAMA DE CURSO

transdisciplinares do final do século XX: o debate sobre as abordagens integradas da natureza


e da cultura nas ciências sociais. 350 f. 'lese (Doutorado em Ciências Sociais) Universidade
Católica de São Paulo. São Paulo, 1998.
. Geografia e complexidade. In: SILVA, A. A. D; GALENO, A. (Orgs.). Geografia:
r ciência do complexas. Porto Alegre: Sulina, 2004. p. 67-131.
r
Dia 24/04/2018- Guilherme: A Geografia Física na Geografia Clássica I
r Textos básicos:
TEXTO 10. HUMBOLDT A. Cosmos. Tomo I. Introducción. Bruxelas: Eduardo Pcrié Editor, 1975,
T~ 294 p.
TEXTO 11. CAPEL, H. Filosofia y ciência cn Ia Geografia contemporânea. Una introducción a Ia
# Geografia. Barcelona: Barcanova, 1981. (Capítulos I e II).
f TEXTO 12 RECLUS, E. 1885. A ação do homem modificando as condições naturais. In:
" ANDRADE, M.C. Elisée Reclus - Geografia. São Paulo: Ática. p. 37-55.
r Leituras coniplcmentares:
r GREGORY, K. J. Um século para uma implantação 1851-1950. A natureza da geografia
t física. São Paulo: Bertrand Brasil. 1992, p. 33-69.
r
2.1. Desdobramentos da Geografia Clássica.
r
Dia 08/05/2018-Profa. Ana
Textos básicos:
-XÊi£FOL3 BRUNHES, J. Geografia humana. 3. ed. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1956. p.
_ 25-78.
I TEXTO 14 DEMANGEON, A. Problemas de geografia humana. Barcelona: Ediciones Omega S.
r
A., 1956. p. 9-18.
r i TEXTO 15 SORRE, M. Fundamentos da geografia humana. In: MEGALE, .1. F. (Org.). São Paulo:
Ática, 1984. p. 87-98.
TEXTO 16 • SILVA, A. C. da. Território e significações imaginárias no pensamento geográfico
* brasileiro. Goiânia: Editora UFG, 2013. p. 35-78.
f Leituras complementarcs:
r GEORGE. P. Os métodos da geografia. Rio de Janeiro: Difel, 1978. p. 7-46.
. A geografia ativa. 5. ed. São Paulo: Difel, 1980. p. 9-40.
MARCUSE, H. O advento da teoria social, p. 231-294; Os fundamentos do positivismo e o
advento da sociologia, p. 295-349. In: Razão e revolução: Hegel e o advento da teoria social.
4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
-.

2.2. Crise da Geografia Clássica e o advento da Nova Geografia.


r
Dia 15/05/2018 (manhã/tarde)-Guilherme- Geografia Física na Geografia Clássica II
Textos básicos:
* 1TEXTO 17 DAVIS W.M. O ciclo geográfico. Boletim Campineiro de Geografia, v. 3, n. I, 2013,
p. 139-266. (Original: Í899).
r

r
«5
UFG

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL


UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS •
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
PROGRAMA DE CURSO

TEXTO__L!t GOULD S.J. Seta do tempo, ciclo do tempo. São Paulo: Companhia das Letras, 1991,
224 p.
TEXTO 19 • WEGENER A. L. EI origen de los continentes y oceanos. Barcelona: Critica. 2018. p.
78-96. (Original: 1915).
Leituras complementares:
UYEDA S. Nueva conception de Ia Tierra. Madrid: BlumeNaturart, 1980. 270 p.
DAVIS, W. M. Complicacioncs dei ciclo geográfico. In: MENDOZA, J. G.. J1MÉNEZ. J. M.
eCANTERO, N. O. Madrid, Alianza Editorial, 1988, p. 183-187.

Prof. Guilherme
A abordagem sistêmica e seus desdobramentos I
| TEXTO 20 BERTALANFFY L. O.significado da Teoria Geral dos Sistemas. IN: BERTALANFFY,
L. A teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 1973. p. 52-S1.
LTEXTO 2*1 LOVELOCK J. O reconhecimento de Gaia. In: LOVELOCK J. Gaia - um novo olhar
~~| sobre avida na Terra. Lisboa: Edições 70, 1979, pp. 51-64.
TEXTO 22 • AB'SABER, A. N. Um conceito de Geomorfologia a serviço das pesquisas sobre o
Quaternário. Geomorfologia, São Paulo, n. 18, 1969. p.l-23.
Leituras complementares:
CHRISTOFOLETTI, A. Análise de sistemas em Geografia. São Paulo: Hucitec, 1979, 106 p.
SANTOS, M. Estrutura, Processo. Função e Forma como Categorias do Método Geográfico.
In: SANTOS, M. Espaço e Método. São Paulo, Nobel, 1985.

Dia 22/05/2018 (manhã/tarde) - Profa. Ana


Textos básicos:
_TEXTO 23* • DOSSE, p. a convidada de última hora: a geografia despeita para a epistcmologia. In:
História do estruturalisino. O canto do cisne, de 1967 a nossos dias. Campinas, SP:
Unicamp, 1993. 2 v. p. 347-160.
TEX'Í'0 24 FOUCAULT, M. Sobre a geografia. In: Microfisica do poder. 18. ed. São Paulo:
Graal, 1979. p. 153-165.
TEXTO 25 . HARTSHORNE, R. Propósitos e natureza da geografia. 2. ed. São Paulo: Hucitec.
""] 1 1978. p. 1-69.
TEXTO 26 . SCHAEFER, F. K. O excepcionalismo na geografia: um estudo metodológico. Boletim
de Geografia Teorética, Rio Claro, v. 13,p.5-37, 1977.

Leituras complementares:
CAMARGO, J.C.G.: REIS JÚNIOR, D.F.C. A filosofia (neo) positivista e a geografia
quantitativa. In: VITTE, A. C. (Org.) Contribuição à história e à epistcmologia da geografia.
Rio deJaneiro: Bertrand Brasil, 2007. p. 83-99.
POI'1'ER, Kari. O problema da teoria do método científico. Cap. II. In: A lógica da pesquisa
cientifica. 9. ed. São Paulo: Cullrix, 1999. p. 51-58.
p
r
P
P
9

UFG
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
t PROGRAMA DE CURSO

P
0 Dia 05/06/2018 - Prof. Guilherme - A abordagem sistêmica e seus desdobramentos II
Textos básicos:
TEXTO 27 INKPEN R.; WILSON G. Systems - the framework for physical geography? In:
INKPEN R.; WILSON G. Science, philosophy and physical geography. London:
Roulledge, 2013, p. 135-147.
TEXTÒJL GONDOLO, G.C.F. Trabalhando com a complexidade. IN: GONDOLO, C.F.G.
Desafios de um sistema complexo à gestão ambiental. São Paulo: Annablume, 1999,
r p. 57-92.
TEXTO 29 . MONTEIRO, C.A.F. Clima c excepcionalismo. Florianópolis: UFSC. 1991. p. 69-115.
Leituras complementares:
LORENZ, E. The essence of chãos. Washington: UCL Press. 1993, 221 p.
PRIGOGINE, I.; STENGERS, I. A nova aliança. Brasília: UNB, 1991. 247 p.
CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de sistemas ambientais. São Paulo: Edgar Blucher.
1999, 230 p.
f
r 3. O debate tcórico-metodológico na Geografia contemporânea
f
Dia 12/06/2018- Prola. Ana - A geografia humanista.
|Textos básicos:
r TEXTO 30 . RELPH, E. C. As bases fenomenológicas da geografia. Revista Geografia: Associação
de Geografia Teorética. Rio Claro, SP, v. 4, n. 7, p. I-25, abril. 1979.
TEXTO 31 . TUAN, Yi-Fu. Geografia humanista. In: CHRISTOFOLETTI, A. (Org.). Perspectivas
| ~_ da geografia. 2. ed. São Paulo: Difel, 1985. p. 143-164.

TEXTO 32 . MARANDOLA JÚNIOR, E. Fenomenologia e pós-fcnomcnologia: alternâncias e


projeções do fazer geográfico humanista na geografia contemporânea. Geograficidade,
r
v. 3, n.2,p. 49-64,2013.
Leituras complementares:
DARDEL, E. O homem c a Terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo: Perspectiva,
201 l.p. 1-45.
MERLEAU-PONTY. Maurice. Ciências do homem e fenomenologia. São Paulo: Saraiva.
r 1973.
. O primado da percepção e suas conseqüências filosóficas. Campinas: Papirus, 1990.
GOMES, Paulo C. da C. O horizonte humanista. In: Geografia e modernidade. Rio de
r
Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. p. 304- 338.
r
Dia 19/06/2018 - Prof. Guilherme - Análises integradas em Geografia Fisica
Textos básicos x
r lT-EXTO 33 ZONNEVELD I. S. The land unit - A fundamental concept in landscape ecology, and
1 its applications. Landscape Ecology. vol. 3n. 2, 1989, p67-86.
TEXTO 34 . BERTRAND G. Paisagem e geografia fisica global, esboço metodológico. RATüGA,
| Curitiba, n. 8, 2004, p. 141-152.
r TEXTO 35 • TRICART J. Classificação ecodinâmica dos meios ambientes. In: TRICART J.
| Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, 1977, p. 35-64.
*

o p

UFG
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
PROGRAMA DE CURSO

Leituras complementares:
ROSS, J.L.S. Ecogeografia do Brasil: subsídios para planejamento ambiental. São Paulo:
Oficina de Textos, 2006, 208p.
TRICART J.; KILLIAN J. L'éco-géographie et raméiiagement du milicu naturel. Paris:
Prançois Maspéro, 1979. 326 p.

Dia 26/06/2018 - Profa. Ana -As "novas geografias"


Textos básicos:
~TÊX' Õ 36 GREGORY, Derek. Teoria social e geografia humana. In: Geografia humana -
sociedade, espaço e ciência social. GREGORY. D.: MARTIN, R.; SMITII. G. (Orgs.).
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. p. 90-122.
TEXTO 37. SANTOS, Milton.; SILVEIRA, Maria L. O Brasil: território e sociedade no início do
século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 19-53.
TEXTO 38 PIMENTA, .I.R.: SARMENTO, J.; .AZEVEDO. A. F.(Coords.). Geografias pós-
coloniais. Porto: Figueirinhas, 2007. p. 11-30.
Leituras complementares:
ALMEIDA. Maria Geralda. Geografia cultural: contemporaneidade e um Jlashback na sua
ascensão no Brasil. In: MENDONÇA. Francisco e outros. Espaço e Tempo: complexidade e
desafios do pensar e do fazer geográfico. Curitiba: Associação de Defesa do Meio Ambiente e
Desenvolvimento de Antonina (ADEMADAN), 2009. pp. 243-259.
QUAINI, Máximo. Marxismo e geografia. [1. ed. brasileira 1979] 2. cd. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1991.
. A construção da geografia humana. [1. ed. brasileira 1983]. 2. cd. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1992.
SOJA, Edward. Geografias pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria social crítica.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. p. 17- 116.

Dia 03/07/2018 - Prof. Guilherme - O trabalho de campo em Geografia


Textos básicos:
TEXTO 39 • WINKIN Y. Descer ao campo. In: WINKIN Y. A nova comunicação - da teoria ao
1 trabalho de campo. São Paulo: Papirus. 1998, p. 129-155.
TEXTO 40 PIRES DO RIO, G. A. Trabalho de Campo na (Re) construção da pesquisa geográfica:
reflexões sobre um tradicional instrumento de investigação. Espaço Aberto, PPGG -
UFRJ.v. l.n.l. 201 l,p. 07-19.
-ITiXT041_ OSTUNI, J. The irreplaceable experience of fieldwork. In: GERBER R.; CHUAN G.K.
Fieldwork in Geography: refiections, perspectives and actions. Dordrechl: Springer,
2000, p. 79-98. %
Leituras complementares
INKPEN R.; WILSON G. The field. In: LNKPEN R.; WILSON G. Science, philosophy and
physical geography. London: Routledge, 2013, p. 120-134.
SERPA. A. O trabalho de campo em geografia - uma abordagem teórico-metodológica.
Boletim Paulista de Geografia, n. 84. 2006, p. 7-24.
p

p
p
I E S A

p UFG
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
p UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
p INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS
PROGRAMA DE PÔS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
PROGRAMA DE CURSO
p
f Dia 10/07/2018 - Avaliação, Encerramento e Seminário Temático

Metodologia:
p - Cada aula terá acadêmicos, em dupla ou individualmente, encarregadas de fazer a
apresentação e a problematização dos textos básicos da aula;
r - Haverá exposição de textos pelos professores, coordenação dos debates e síntese das
discussões dos textos básicos:
P - Será realizado um seminário temático com professores convidados.

p Avaliação:

r
J Participação ativa nas aulas e atividades propostas na disciplina (85% de presença);
•S Apresentação de sínteses das leituras e coordenação de debates;
» Participação nos debates;
/ Produção de um artigo ou verbete comotrabalho de conclusão da disciplina.
r
Bibliografia (complementar):
f> AB"SABER. Aziz Nacib. Os domínios da natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas.
r São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
BALLESTEROS, Aurora G. Geografia e marxismo. Madrid: Editorial de La Universidad
<-\ Complutense, 1986.
r BERTRAND, Georgcs; BERTRAND, Claude. Uma geografia transversal e de travessias: o
meio ambiente através dos territórios e das temporalidades. PASSO, Messias M. dos. (Org.).
Maringá: Massoni, 2007.
r CARLOS. Ana Fani A. A Geografia Brasileira, hoje: algumas reflexões. Terra Livre. São
Paulo. v. 1. ano18, p. 161-178, jan./jun. 2002.
CLAVAL. Paul. Evolución de Ia geografia humana. Barcelona: Oikos-Tau, 1974.
. História da Geografia. Lisboa: Edições 70, 2006.
. Epistcmologia da geografia. Florianópolis: Editora da UFSC, 20
COLANGELO. Antônio C. Geografia fisica. pesquisa e ciência geográfica. In: GEOUSP,
Espaço e Tempo. Revista de Pós-Graduação do Departamento de Geografia. Universidade de
São Paulo, n. 16. São Paulo: FFLCH/USP, 2004. p. 9-16.
f CRHISTOFOLETTI. Antônio. (Org.). Perspectivas da geografia. 2. ed. São Paulo: Difel.
1985.
DARTIGUES. André. O que é fenomenologia? 7. ed. São Paulo: Centauro, (s/d).
r ESCOLAR, Marcelo. Critica do discurso geográfico. São Paulo: Hucitec, 1996.
p GEORGE, P. Sociologia e geografia. Rio de Janeiro; São Paulo: Forense, 1969.
IIUMBOLDT, A. de. Cuadros de Ia naturaleza. Madrid: Catarata, 2003.
r
MASSEY, Doreen. Pelo espaço: uma nova política da espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand
p- Brasil, 2008. p. 29-62.
MORAES, Antônio C. R. Território c história no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2002.
P1NCHEMEL, P. Histoire et épistémologic de Ia géographie. Bullctin de Ia Section de
r Géographie. Tome LXXXIV, Paris: Bibliothéque Nalionale, 1981.
QUELBAN1, M. O Círculo de Viena. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

p
9
oO
UFG
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA %
PROGRAMA DE CURSO

+
SAEZ, C. H. Geografia humana y ciências socialcs: una perspectiva histórica. Barcelona:
Montesinos, 1984.
SANTOS. Milton. O espaço geográfico como categoria filosófica. Terra Livre, São Paulo, n. •
5, p. 9-20, 1988.
. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.
SILVEIRA, M. L. Uma situação geográfica: do método à metodologia. Território, Rio de •
Janeiro, n. 6, p. 21-28, jan./jun. 1999.
ZILLES, U. Teoria do conhecimento. 4. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS. 2003.
DICIONÁRIOS:
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes. 1998.
BOBBIO. Norberto; MATTEUCl, Nicola; PASQUINO, Gianfrancesco. (Orgs.). Dicionário de
política. 8. cd. Brasília, DF: Edunb. 1995.
BOTTOMORE. Tom. (Org.). Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Zahar,
1988. *

GUERRA, Antônio. T. Dicionário geológico-geomorfológico. 7. ed. Rio de Janeiro: IBGE,


1987.
*
OLIVEIRA. Cêurio. Dicionário cartográfico. 4. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1993.

4
10
p
p
p
p
p

I E S A

p UFG
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
* UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS
p
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
p PROGRAMA DE CURSO

p
p Disciplina: Teoria e Método em Geografia- Io. Sem. Ano 201S - 64 horas/aula
r
Professoras responsáveis: Dra. Ana Cristina da Silva e Dr. GuilhenncTaitson Bucno

p Ementa: Estudo dos fundamentos teórico-metodológicos da Geografia Humana e da Geografia


Fisica. moderna e contemporânea. A questão da linguagem geográfica: conceituai e
p
rcpresentacional (cartográfica). Reflexão sobre conceito^ e categorias tradicionais da ciência
p geográfica. Problemas e temas atuais em discussão na geografia brasileira e internacional.
p
Compreende-se que a disciplina Teoria e Método em Geografia, no curso de pós-graduação,
têm por objetivos:
p S Fornecer referenciais teóricos e metodológicos para a fomiação contínua de
r profissionais (professores c pesquisadores) em Geografia e áreasafins:
•/ Propiciar a atualização de temas e debates na pesquisa geográfica:
r
•/ Desenvolver o espírito critico quanto aos atuais referenciais epistemológicos no
f campo do conhecimento científico.
r
Sessões

r Dia 27/03/2018 - Apresentação: dos professores, dos pós-graduandos. do Programa da


Disciplina, distribuição dos textos.

p 1. Introdução à teoria c ao método na Geografia.


0
p Dia 03/04/2018 - Exposição c debate com a profa. Ana Cristina sobre o tema: "A pluralidade
teórica c metodológica na geografia humana: dilemas c perspectivas epistemológicas".
p Textos básicos:
r 1TEXTO l _'• GOMES, P. C. da C. Um lugar para a Geografia: contra o simples, o banal e o
doutrinário. In: MENDONÇA, F. et ali. Espnço e Tempo: complexidade e desafios do
r
pensar e do fazer geográfico. Curitiba: Associação de Defesa do Meio Ambiente e
Desenvolvimento de Antonina (ADEMADAN), 2009. p. 13-30.
TEXTO 2 !. CLAVAL, P. A revolução pós-funcionalista e as concepções atuais da geografia. In:
MENDONÇA. F.; KOZEL. S. (Orgs.). Elementos de epistemologia da geografia
contemporânea. Curitiba: UFPR, 2002. p. 11-43. (pós-graduandos)
[TEXTO SOUZA. M. L. de. Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2013. p. 9-18.(pós-graduandos)
Leituras complementares:
r CORRÊA. R. L. Análise critica de textos geográficos: breves notas. GcoUER.I. n.4, p. 7-18,
r 2003.
FERNANDEZ, E. C. Notas sobre Ia evolución dei pensamieiito geográfico. In: Analcs de
r
geografia de Ia Universidad Coniphitense. n. 7, p. 43-52. 1987.
r GOMES, P. C. dn C. Quadros geográficos: uma fonna de ver, uma forma de pensar. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil. 1996.

r
Ú I E S A
m

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL


UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
PROGRAMA DE CURSO 4

OLIVEIRA, P. de S. Caminhos de construção da pesquisa em ciências humanas. In: *


OLIVEIRA. P. de S. (Org.). Metodologia das ciências humanas. São Paulo: ÜNESP, 1998. p.
m
17-26.

Dia 10/04/2018 - Prof. Guilherme: O debate teórico-metodológico na Geografia Fisica


^Xfisins básicos:
TEXTO4 JQ1.Y F. La géographie n'est-elle qu'une science humaine? Herodotc, 12. 1978. p. 129-
159.
TEXTO 5 GRIGORYEV, A. A. Os fundamentos da Geografia Fisica Moderna: o estrato
Geográfico da Terra. In: The interaction of seiences in the study of the Earth. Trad.
Míriam Ramos Gutyahr. Moscou, 1968.
EXTOó '• SANJAUME. M. S. Un panorama Ibero-americano de Ia Geografia Física, In:
SEVERO, A.; FOLETO, E. (Orgs.). Diálogos em Geografia Fisica. Santa Maria: Ed.
daUFSM.201l.p.77-107.
Leituras complementares:
GREGORY, K. J. A natureza da geografia fisica. São Paulo: Bertrand Brasil. 1992, 367 p.
V1TTE, A. C. Da caixa de pandora à teia do cosmos: uma tradição ao debute sobre a
reestruturação da geografia física. In: FIGUEIRÕ, A. S.; FOLETO, E. (Orgs.). Diálogos em
Geografia Fisica. Santa Maria: Ed. da UFSM. p. 45-58.
MARCHAND J-P. Lcs contraintes physiques et Ia géographie contemporaine. L'Espace
gcographiquc. tome 9, n. 3, 1980. p. 231-240.

2. Aconstituição moderna da Geografia Clássica.

Dia 17/04/2018 - Profa. Ana Cristina: A Geografia Humana na Geografia Clássica


Textos básicos:
TEXTO 7 RrTTER. K. La organización dei espado en Ia .superfície dei globo y su función cn cl
" desarollo histórico. In. MENDONÇA. J. G.; JIMENEZ, J. M.; CANTERO, N. O.
(Orgs.). El pensamiento geográfico. Madrid: Alianza Editorial, 1982. p. 168-178.
TEXTO 8 RATZEL. F. Geografia do homem (Antropogeografia). In: MORAES, A. C. R.
(Org.). São Paulo: Ática. 1990. p. 83-107.
TEXTO9 1. RIBEIRO, G. Geografia humana: fundamentos epistemológicos de uma ciência. In:
HAESBAERT, R.; PEREIRA, S. N.; RIBEIRO, G. (Orgs.). Vidal, vidais: textos de
geografia humana, regional e política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2012. p. 23-65.
Leituras coinplenicntares:
BERDOULAY, V. A escola francesa de geografia: uma abordagem contcxtual. São Paulo:
Perspectiva, 2017.
BLACHE, V. de La. As características próprias da geografia. In: CHRISTOFOLETTI, A.
(Org.). Perspectivas da geografia. 2. ed. São Paulo: Difel. 1985. p. 37-48.
BLACHE, V. de La. Princípiosde geografia humana. 2. ed. Portugal: Edições Cosmos. 1928.
[Ltd. francesa 1921].
CARVALHO. M. B. de. Da antropogeografia do final do século XIX aos desafios
p
p
r
P
0
I E S A

0 UFG
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
P UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
0 INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
PROGRAMA DE CURSO

r
0 traiisdisciplinares do final do século XX: o debate sobre as abordagens integradas da natureza
r e da cultura nas ciências sociais. 350 f. Tese (Doutorado cm Ciências Sociais) Universidade
Católica de São Paulo. São Paulo. 1998.
P . Geografia c complexidade. In: SILVA, A. A. D; GALENO, A. (Orgs.). Geografia:
0 ciência do complexas. Porto Alegre: Sulina, 2004. p. 67-131.
0
Dia 24/04/2018-Guilherme: A Geografia Fisica na Geografia Clássica I
0 Textos básicos:
0 EXTO 10. HUMBOLDT A. Cosmos. Tomo I. Introducción. Bnixelas: Eduardo Pcrié Editor, 1975,
p 294 p.
TEXTO 11 CAPEL, H. Filosofia y ciência cn Ia Geografia contemporânea. Una introducción a Ia
Geografia. Barcelona: Barcanova, 1981. (Capítulos 1e II).
P TEX"Q 12 RECLUS, E. 1885. A ação do homem modificando as condições naturais. In:
0
" ANDRADE. M.C. Elisée Reclus-Geografia. São Paulo: Ática. p. 37-55.
Leituras complementares:
f GREGORY. K. J. Um século para uma implantação 1851-1950. A natureza da geografia
0 física. São Paulo: Bertrand Brasil. 1992, p. 33-69.
0
2.1. Desdobramentos da Geografia Clássica.
0
0 Dia 08/05/2018 -Profa. Ana
Textos básicos:
0 JÍXTOJ3 BRUNHES, .1. Geografia humana. 3. ed. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1956. p.
0 25-78.

0 I TEXTO 14 DEMANGEON, A. Problemas de geografia humana. Barcelona: Ediciones Omega S.


A, 1956. p. 9-18.
0 i TEXTO 15 SORRE, M. Fundamentos da geografia humana. In: MEGALE, .1. F. (Org.). São Paulo:
r Ática, 1984. p. 87-98.
0 TEXTO 16 • SILVA, A. O da. Território e significações imaginárias no pensamento geográfico
brasileiro. Goiânia: Editora UFG, 2013. p. 35-78.
0 Leituras complementares:
0 GEORGE, P. Os métodos da geografia. Riode Janeiro: Difel, 1978. p. 7-46.
. A geografia aüva. 5. cd. São Paulo: Difel, 1980. p. 9-40.
r
MARCUSE, H. O advento da teoria social, p. 231-294; Os fundamentos do positivismo e o
0 advento da sociologia, p. 295-349. In: Razão c revolução: Hegel e o advento da teoria social.
4. cd. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 19S8.

0 2.2. Crise da Geografia Clássica e o advento da Nova Geografia.


0
Dia 15/05/2018 (manhã/tarde) - Guilherme - Geografia Física na Geografia Clássica II
0 Textos básicos:
0 "TEXTO 17 DAVIS W.M. Ociclo geográfico. Boletim Campineiro de Geografia, v. 3, n. 1, 2013,
p. 139-266. (Original: 1899).
r
0
0
5

& s-^es*

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL


UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS *
INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA %
PROGRAMA DE CURSO
*
+
TEXTOjj. GOULD S.J. Seta do tempo, ciclo do tempo. São Paulo: Companhia das Letras. 1991.
~224p.
(TEXTO 19 • WEGENER A. L. El origcn de los continentes y oceanos. Barcelona: Critica. 2018, p.
78-96. (Original: 1915).
Leituras complementares:
UYEDA S. Nucva conception de Ia Tierra. Madrid: Blume Naturart, 1980,270 p.
DAVIS, W. M. Complicacioncs dei ciclo geográfico. In: MENDOZA. J. G.. J1MÉNEZ. J. M.
eCANTERO, N. O. Madrid, Alianza Editorial, 1988, p. 183-187.

Prof. Guilherme
A abordagem sistêmica e seus desdobramentos I
"TEXTO 20 BERTALANFFY L. O significado da TeoriaGeral dos Sistemas. IN: BERTALANFFY,
L. A teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 1973, p. 52-81.
LlEXTO 2 LOVELOCK J. O reconhecimento de Gaia. In: LOVELOCK J. Gaia - um novo olhar
sobre a vida na Terra. Lisboa: Edições 70. 1979, pp. 51-64.
I
'TEXTO 22 AB'SABER, A. N. Um conceito de Geomorfologia a serviço das pesquisas sobre o
Quaternário. Geomorfologia. São Paulo, n. 18, 1969. p. 1-23.
Leituras complementares:
CHRISTOFOLETTI, A. Análise de sistemas em Geografia. São Paulo: Hucitec, 1979. 106 p.
SANTOS, M. Estrutura, Processo. Função e Forma como Categorias do Método Geográfico.
In: SANTOS, M. Espaço e Método. São Paulo, Nobel. 1985.

Dia 22/05/2018 (manhã/tarde)- Profa. Ana


Textos básicos:
TEXTO 23*- DOSSE, F. A convidada de última hora: a geografia desperta para a epistemologia. In:
História do estruturalismo. O canto do cisne, de 1967 a nossos dias. Campinas. SP:
Unicamp. 1993. 2 v. p. 347-160.
TEXTO 24 FOUCAULT, M. Sobre a geografia. In: Microfisica do poder. 18. ed. São Paulo:
1 \~__ Graal, 1979. p. 153-165.
TEXTO 25 . HARTSHORNE. R. Propósitos e natureza da geografia. 2. ed. São Patdo: Hucitec.
"^] _ 1978. p. 1-69.
TEXTO 26 . SCHAEFER, F. K. O excepcionalismo na geografia: um estudo metodológico. Boletim
de Geografia Teorcticn, Rio Claro, v. 13, p.5-37, 1977.

Leituras complementares:
CAMARGO, J.C.G.; REIS JÚNIOR, D.F.C. A filosofia (neo) positivista e a geografia
quantitativa. In: VITTE, A. C. (Org.) Contribuição à história e à epistemologia da geografia.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. p. 83-99.
POI'1'ER, Karl. O problema da teoria do método científico. Cap. II. In: A lógica da pesquisa
cientifica. 9. ed. São Paulo: Cultrix, 1999.p. 51-58.

6
p

0
0
a
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
P UNIVERSIDADE FEDERALDE GOIÁS
P INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
P PROGRAMA DE CURSO

Dia 05/06/2018 - Prof. Guilherme - A abordagem sistêmica c seus desdobramentos II


0 Textos básicos:
TEXTO 27 INKPEN R.; WILSON G. Systems - the framework for physical geography? In:
INKPEN R.; WILSON G. Science, philosophy and physical geography. London:
Routledge, 2013.p. 135-147.
0 TEXTOji GONDOLO, G.C.F. Trabalhando com a complexidade. IN: GONDOLO, C.F.G.
Desafios de um sistema complexo à gestão ambiental. São Paulo: Annablume. 1999,
0
p. 57-92.
0 TEXTO 29 . MONTEIRO, C.A.F. Clima e exccpcionalisnío. Florianópolis: UFSC. 1991. p. 69-115.
Leituras complementares:
LORENZ, E. The essence of chãos. Washington: UCL Press. 1993. 221 p.
0 PRIGOG1NE, L; STENGERS, I. A nova aliança. Brasília: UNB. 1991. 247 p.
CHRISTOFOLETTI. A. Modelagem de sistemas ambientais. São Paulo: Edgar Blucher.
1999,230 p.
r
0 3. O debate teórico-nielndológico na Geografia contemporânea
0
Dia 12/06/2018 - Profii. Ana - A geografia humanista.
r
Textos básicos:
p TEXTO 30 . RELPH, E. O As bases fenomenológicas da geografia. Revista Geografia: Associação
0 de Geografia Teorélica. Rio (Taro. SP. v. 4. n. 7,p. 1-25, abril. 1979.
TEXTO 31 . TUAN, Yi-Fu. Geografia humanista. In: CHRISTOFOLETTI. A. (Org.). Perspectivas
0 dageogralia. 2. ed. São Paulo: Difel. 1985. p. 143-164.
r- TEXTO 32 . MARANDOLA JÚNIOR. E. Fenomenologia e pós-fenomenologia: alternâncias e
projeções do fazer geográfico humanista na geografia contemporânea. Geograficidade.
v.3,n.2,p. 49-64.2013.
r*
Leituras complementares:
DARDEL, E. O homem e a Terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo: Perspectiva.
2011.p. 1-45.
r
MHRLEAU-PONTY, Maurice. Ciências do homem e fenomenologia. São Paulo: Saraiva.
1973.
. O primado da percepção e suas conseqüências filosóficas. Campinas: Papirus, 1990.
GOMES, Paulo C. da C. O horizonte humanista. In: Geografia e modernidade. Rio de
r
Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. p. 304- 338.
r
Dia 19/06/2018- Prof. Guilherme - Análises integradas em Geografia Física
Textos básicos
r
l_T_EXTO 33 ZONNEVELD I. S. The land unit - A fundamental concept in landscape ecology, and
| its appücations. Landscape Ecology. vol. 3n. 2, 1989, p67-86.
1TEXTO 34 . BERTRAND G. Paisagem e geografia fisica global, esboço metodológico. RA'EGA,
| Curitiba, n. 8, 2004, p. 141 -152.
TEXTO 35- TRICART .1. Classificação ecodinâmica dos meios ambientes. In: TRICART J.
r~ Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, 1977, p.35-64.
$ E S A

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL


UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
PROGRAMA DE CURSO

Leituras complementares:
ROSS. J.L.S. Ecogcografia do Brasil: subsídios para planejamento ambiental. São Paulo:
Oficina de Textos. 2006,208p.
TRICART J.: KILLIAN J. L'éeo-géographie et Tainéuagement du milieu naturel. Paris:
François Maspéro. 1979.326 p.

Dia 26/06/2018 - Profa. Ana - As "novas geografias"


Textos básicos:
F.X'^0J6_ GREGORY. Derek. Teoria social e geografia humana. In: Geografia humana -
sociedade, espaço c ciência social. GREGORY. D.: MAR !TN, R.; SMITH. G. (Orgs.).
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. p. 90-122.
TEXTO 37. SANTOS. Milton.; SILVEIRA, Maria L. O Brasil: território e sociedade no início do
século XXI. Rio de Janeiro: Rccord. 2001. p. 19-53.
TEX 0 38 PIMENTA, J.R.: SARMENTO, J.; AZEVEDO. A. F.(Coords.). Geografias pós-
coloniais. Porto: Figucirinhas, 2007. p. 11-30.
Leituras complementares:
ALMEIDA. Maria Gcralda. Geografia cultural: eontemporaneidade e um Jhishback na sua
ascensão no Brasil. In: MENDONÇA, Francisco e outros. líspaço c Tempo: complexidade e
desafios do pensar e do fazer geográfico. Curitiba: Associação de Defesa do Meio Ambiente e
Desenvolvimento de Antonina (ADEMADAN), 2009. pp. 243-259.
QUAINI. Máximo. Marxismo e geografia. [1. ed. brasileira 1979] 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1991.
. A construção tia geografia humana. [I. cd. brasileira 1983]. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1992.
SOJA, Edward, Geografias pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria social critica.
Riode Janeiro: Jorge Zahar, 1993. p. 17- 116.

Dia 03/07/2018 - Prof. Guilherme - O trabalho de campo em Geografia


Textos básicos:
TEXTO39 • WINKIN Y. Descer ao campo. In: WINKIN Y. A nova comunicação - da teoria ao
trabalho de campo. São Paulo: Papiros, 1998. p. 129-155.
: EXTO 40 PIRES DO RIO, G. A. Trabalho de Campo na (Re) construção da pesquisa geográfica:
reflexões -sobre um tradicional instrumento de investigação. Espaço Aberto, PPGG -
UFRJ, v. l,n.l,2011.p. 07-19.
TEXT04J_ OSTUNI, .1. The irreplaccable experience of fieldwork. In: GERBER R.; CHUAN G.K.
Fieldwork in Geography: roflections, perspectives and aclions. Dordrecht: Springcr.
2000, p. 79-98.
Leituras complementares
INKPEN R.; WILSON G. The field. In: INKPEN R.; WILSON G. Science, philosophy and
physical geography. London: Routledge, 2013, p. 120-134.
SERPA, A. O trabalho de campo cm geografia - uma abordagem teórico-metodológica.
Boletim Paulista de Geografia, n. 84, 2006, p. 7-24.
p
p
p

p
p •••>• -.

•r
p -OJI

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL


0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
0 INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
P PROGRAMA DE CURSO

P
-
Dia 10/07/2018 - Avaliação, Encerramento c Seminário Temático
P
Metodologia:
P - Cada aula terá acadêmicos, cm dupla ou individualmente, encarregadas de fazer a
p apresentação e a problcmalização dos textos básicos da aula;
r - Haverá exposição de textos pelos professores, coordenação dos debates e síntese das
discussões dos ícxtos básicos:
- Será realizado um seminário temático com professores convidados.
P
0 Avaliação:
•S Participação ativa nas aulas c atividades propostas na disciplina (85% de presença);
p •S Apresentação de sínteses das leituras e coordenação de debates;
0 S Participação nos debates;
0 / Produção de um artigo ou verbete como trabalho de conclusão da disciplina.
0
Bibliografia (complementar):
0 AB'SABF.R. Aziz Nacib. Os domínios da natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas.
São Paulo: Ateliê Editorial. 2003.
r
BALLESTEROS, Aurora G. Geografia e marxismo. Madrid: Editorial de La Universidad
P Complutense, 1986.
r BERTRAND, Georges; BERTRAND. Claude. Uma geografia transversal e de travessias: o
meio ambiente através dos territórios e das temporalidades. PASSO, Messias M. dos. (Org.).
P Maringá: Massoni, 2007.
r CARLOS. Ana Fani A. A Geografia Brasileira, hoje: algumas reflexões. Terra Livre. São
Paulo, v. I. ano 18, p. 161-178, jan./jun. 2002.
CLAVAL, Paul. Evolnciôn de Ia geografia humana. Barcelona: Oikos-Tau, 1974.
. História da Geografia. Lisboa: Edições 70,2006.
p . Epistemologia da geografia. Florianópolis: Editora da UFSC, 2011.
p COLANGELO. Antônio C. Geografia fisica. pesquisa e ciência geográfica. In: GEOUSP,
Espaço c Tempo. Revista de Pós-Graduação do Departamento de Geografia. Universidade de
p São Paulo, n. 16. São Paulo: FFLCH/USP. 2004. p. 9-16.
0 CRHISTOFOI.ETTI. Antônio. (Org.). Perspectivas da geografia. 2. ed. São Paulo: Difel.
1985.
p
DARTIGUES. André. O que é fenomenologia? 7. ed. São Paulo: Centauro, (s/d).
0 ESCOLAR. Marcelo. Crítica do discurso geográfico. São Paulo; Hucitec, 1996.
GEORGE, P. Sociologia e geografia. Rio de Janeiro; São Paulo: Forense, 1969.
HUMBOLDT, A. de. Cuadros de Ia naturalcza. Madrid: Catarata. 2003.
p
MASSEY, Dorecn. Pelo espaço: uma nova política da especialidade. Rio de Janeiro: Bertrand
p Brasil, 2008. p. 29-62.
MORAES, Antônio C. R. 'Território c história no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2002.
PINCIIEMEL, P. Histoire et épistémologie de Ia géographie. Bullctin de Ia Scction de
t Géographie. Tome l.XXXIV, Paris: BibliothéqueNationale, 1981.
p QUELBAN1, M. O Círculo de Viena. São Paulo: Parábola Editorial. 2009.
P
r
p
*
í& n
m
FG
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
PROGRAMA DE CURSO *

SAEZ, C. H. Geografia humana y ciências sociales: una perspectiva histórica. Barcelona: ^


Montesinos, 1984.
SANTOS, Milton. O espaço geográfico como categoria filosófica. Terra Livre. São Paulo. n.
5, p. 9-20, 1988. •
. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.
SILVEIRA, M. L. Uma situação geográfica: do método à metodologia. Território, Rio de
Janeiro, n. 6, p. 21-28, jan./jun. 1999. •
ZILLES, U. Teoria do conhecimento. 4. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
DICIONÁRIOS:
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
BOBBIO,Norberto; MATTEUCl, Nicola; PASOUINO, Gianfrancesco. (Orgs.). Dicionário de •
política. 8. ed. Brasília, DF: Edunb. 1995.
BOTTOMORE. Tom. (Org.). Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Zahar,
198S.
GUERRA, Antônio. T. Dicionário geológico-geomorfológico. 7. ed. Rio de Janeiro: IBGE.
1987. •
OLIVEIRA. Cèurio. Dicionário cartográfico. 4. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1993.

10

0 6V>£-^
0 c iW** •**$
P
0
P
Associação Nacional
0
0
~
a
ANPEGE
de Pós-Graduação e
Pesquisa em Geografia

P
P

P
0
UM LUGAR PARA A GEOGRAFIA:
CONTRA O SIMPLES, O BANAL E O DOUTRINÁRIO

GOMES, Paulo César da Costa


0

ESPAÇO E TEMPO:
COMPLEXIDADE E DESAFIOS DO
PENSAR E DO FAZER GEOGRÁFICO
0
P
0
0
0
0
r
P E77 Espaço e tempo : complexidade e desafios do pensar e do
fazer geográfico / Francisco de Assis Mendonça. Cicilian
0 Luiza Lowen-Sahr, Márcia da Silva (organizadores). -
Curitiba: Associação de Defesa do Meio Ambiente e
Desenvolvimento de Antonina (ADEMADAN), 2009.
740p. :il. ;18cm

Traz alguns textos apresentados no Vil Encontro Nacional de


Pós-graduação e Pesquisa em Geografia, pela Associação Nacional
de Pós-graduação o Pesquisa em Geografia (ANPEGE).
Inclui bibliografias.
P ISBN 978-85-60764-03-7

0-
1. Geografia - Congressos. 2. Geografia ambiental. 3.
0 Geografia urbana. 4. Geografia cultural. 5. Geografia rural. 6.
0 Epistemologia. I. Universidade Federal do Paraná. II.
Encontro Nacional da ANPEGE (8.: 2009 : Curitiba. PR).
r III. Título.
CDD: 906

r Bibliotecário:
Arthur Leitis Júnior- CRB9/1548
p

p li

0

Í U M LUGAR PARA A GEOGRAFIA:


CONTRA O SIMPLES, O BANAL E O DOUTRINÁRIO

GOMES, Paulo César da Costa

INTRODUÇÃO
Já há alguns anos a palavra "epistemologia" freqüenta nosso vocabu
lário mais corriqueiro e cotidiano. Uma rápida pesquisa na Internet a partir
dos principais motores de busca nos mostraria a infinidade de referências
geradas e a quase impossibilidade de percorrê-las todas. No ambiente aca
dêmico, muitos são aqueles que apelam para expressões do tipo: "do ponto
de vista epistemológico", ou "considerando a epistemologia", ou ainda, su
blinham algo como "epistemologicamente importante" - para pontuar suas
afirmativas e demonstrar, talvez, rigor em seus discursos. Na bibliografia é
também cada vez mais usual a utilização dessa palavra com o mesmo intuito
e os títulos de artigos, livros, comunicações e palestras não deixam dúvidas
sobre a intenção desses autores de se associarem imediatamente aos valo

res aparentemente positivos trazidos pela expressão. Na geografia, como em
várias outras áreas do conhecimento, essa dinâmica é perfeitamente paralela
e claramente identificada, sobretudo nos anos mais recentes. a
Assim apresentada, essa noção - epistemologia - corre o risco de ironi
camente se transformar naquilo que um dos pioneiros e grandes pensadores
dessa área, já no começo do século passado, denominou como "obstáculo
epistemológico". Bachelard chamava então a atenção para o uso de pala
vras, metáforas ou analogias que se generalizavam a partir de um supos
to consenso em seu emprego, mas que, de fato, não teriam um conteúdo
verdadeiramente claro e estávell. Para Lecourt, essas expressões se situam
entre o senso comum e o conhecimento científico2. Visivelmente, se no início
essas expressões podem funcionar como uma ponte, seu uso indiscriminado
ou fora do apropriado contexto cria uma ruptura no sentido original e elas
perdem a capacidade de operar de forma eficiente e com o devido rigor da
ciência. Conseqüência direta disso é que, ao não conferirmos a devida im-
m

1 Bachelard, Gaston. La formation de 1'esprít scientilique. Contríbution à unepsychanalyse de Ia


connaissance objective, Vrin, Paris, 1983. t
2 Lecourt, Dominique. Pour une critique de 1'épistémologie:Bachelard, Canguilhem, Foucault.
Maspero, Paris, 5' ed. 1980.

12
-

1
0
ESPAÇO E TEMPO 14
P
P
portância à definição e ao teor das expressões e quanto mais consensual
e mais disseminado for o seu uso, menor será a precisão do seu conteúdo.
Inúmeras vezes inclusive, sua utilização se resume a uma mera posição de
0 princípio, bastante geral e imprecisa. Assim, muito ampla para criar qualquer
0 oposição, a expressão é também muita restrita para ter qualquer uso opera
r
cional. Em outros termos, serviria para dizer muita coisa, mas não sabemos
exatamente o que ela quer dizer.
0 TorJa^jronia dessa situação é a constatação de que em sua origem essa
0 palavra queria justamentepreyenir e alertar para os perigos de adotarmos tal
0
atitude dentro do discurso científico, Ela foi criada no começo do Século XX
r
para concorrer com a idéia de Filosofia da Ciência, fortemente identificada à
p
então dominante corrente positivista3. Quando sabemos que essa idéia de
P
Filosofia da Ciência se transformou, nos últimos anos do Século XIX e co
P
meço do XX, em uma verdadeira doutrina, um protocolo que visava julgar a
P
conformidade do conhecimento produzido em relação às regras da ciência
positiva, compreende-se melhor o contexto dentro do qual a idéia de episte
mologia surgiu4.
r
Ela nasceu sob o signo do conflito e do desacordo com essa visão au
f
toritária e unívoca da ciência positivista. A.principal vocação da epistemolo-
0
0
gJa_^rjojs, desde o início, constituir um_campo de discussão, de questões
0
sobre métodos e limites de validade, sua inclinação não é normalizar nem
r
restringir as iniciatiyas^Podemos, de forma muito geral, dizer assim que a
epistemologia é um campo crítico de discussões sobre as formas de pensa
0
mento científico. Isto quer dizer que essas discussões epistemológicas dizem
•~
respeito antes de mais nada aos métodos, aos objetos e as finalidades de
um conhecimento científico5. Discutir criticamente as formas de construir um
pensamento científico não quer absolutamente dizer se transformar em um
tribunal para julgar da sua conformidade ou não em relação a um modelo
único e ideal, ao contrário.
A epistemologia pretende ser justamente um domínio aberto ao reco
nhecimento da pluralidade de recursos e orientações nas diferentes discipli-
r
r-
3 Parece ter sido pela primeira vez utilizada pelo químico e filósofo francês, de origem polone
sa, Émile Meyerson em 1908. Há, aliás, uma importante querela entre o ponto de vista delee o
de Bachelard, sobre as possíveis continuidades ou rupturas do discurso científico. Infelizmente,
essa discussão ultrapassa os estritos objetivos desta comunicação.

4 Meyerson, Émile. Identitè et réalitéA\car\, Paris, 1908, reeditada ("conclusions") em Laugier et


Wagner (org.) Philosophie dessciences : Théories, expériences et méthodes, Vrin, Paris, 2004.

5 Norris, Christopher. Epistemologia : conceitos-chave em filosolia. Artmed editora, Porto Ale


gre. 2007.

P
13
15 UM LUGAR PARA AGEOGRAFIA

nas científicas. Ser um domínio de discussões significa exatamente não estar


orientado de forma exclusiva e não agir como se detivéssemos algum tipo de
certeza que legitimasse a priori esse ou aquele caminho, em detrimento de
outros possíveis6. O objetivo de uma discussão epistemológica não é, por :
tanto, estabelecer, ao final, uma orientação que deve ser seguida por todos
ou quase todos. Trata-se, sobretudo, de demonstrar que a maneira de fazer
ciência é também um produto histórico e contextual, mais importante ainda,
trata-se de demonstrar que a cada momento as respostas são múltiplas e
que essa pluralidade crítica é a razão mesmo da existência da ciência7.
Por isso, podemos, já nesse ponto, justificar a necessidade de melhor
exprimir o sentido da expressão epistemologia, sem que isso, no entanto,
nos seja imputado como uma demanda pelo estabelecimento de um sentido
singular e específico. Em outras palavras, queremos que fiquem claros os li
mites da discussão que o uso dessa expressão nos conduz e não justamente *

decretar, seja pelo consenso, seja pela soberba da autoridade, o fim dessas
necessárias discussões.
O segundo ponto importante desse campo de discussões é a geografia. 0
Ao associarmos geografia e epistemologia queremos indicar que a discussão
pretendida aqui não almeja estabelecer a forma ideal e absoluta pela qual a
geografia deve ser pensada ou tampouco apontar a boa direção para traba
lharmos geograficamente. Queremos sim, demonstrar que há discussões no •
corpo da geografia que não devem ser evitadas, sobre sua natureza, seus
métodos e suas finalidades, que elas podem ser organizadas em torno de
algumas grandes questões, que esses debates fazem parte do percurso de
uma ciência moderna. Finalmente, gostaríamos que ao final ficasse a cons
tatação de que essas dúvidas não nos enfraquecem, ao contrário, elas são
o testemunho e os elementos pelos quais a geografia pode ser reconhecida
como uma ciência, viva e dinâmica, aberta e plural.
Corroborando justamente a importância do contexto, podemos perceber
que desde os anos 70 apareceram as primeiras manifestações em prol de

uma discussão verdadeiramente epistemológica na geografia. Isso coincide
justamente com o fim de um longo período durante o qual imaginávamos que
• *
6 Japiassu, Hilton. "Origem e alcance da opinião". In Hühne, Leda Maria (org.) Filosofia e Ciên
cia, Uape, SEAF, Rio de Janeiro, 2008.

7 Essa posição é diametralmente oposta àquela tida como "a ciência da ciência de base po
sitivista como nos adverte D. Lecourt op. cit. Porém, essa posição critica ao positivismo não
necessariamente deve conduzir à abertura do discurso científico à irracionalidade como pre
tendem alguns, como por exemplo, Pierre Thuillier, La revanche des sorcières. Llrrationnel et Ia
pensée scientifique, Belin, Paris, 1997 ou Paul Feyerabend. Contra o método, Francisco Alves,
Rio de Janeiro, 1996.
f

II
P

p
ESPAÇO ETEMPO 16
0
0
um caminho, e somente um, nos levaria à construção'de uma boa geografia.
Correntes e contra-correntes competiam pela supremacia, competiam tam
bém pela possibilidade de anular as outras tendências em concorrência. Só
mesmo depois dos anos 80 começaríamos a ver despontar uma nova com
preensão da geografia, muíto mais aberta à pluralidade, ao diálogo e, muitas
vezes, ao conflito, pois nem sempre as posições são de fato conciliáveis.
Assim, o grande elemento diferenciador nessas discussões é que aban
donamos cada vez mais a pretensão de que uma corrente terá a primazia e o
r
privilégio de ser a verdadeira intérprete ou a porta-voz da boa geografia. Acei
r
tamos, exatamente por isso, a persistência dessas discussões sobre sua natu
r
reza, seus métodos e suas finalidades como parte do incessante processo de
construção do conhecimento. Em outras palavras, ao assim agirmos estamos
0 verdadeiramente desenvolvendo um campo epistemológico na geografia.
r
Esse campo envolve uma infinidade de questões, discussões, tratamen
tos, escalas etc. Nessa oportunidade, queremos apenas nos deter breve
r
mente sobre três aspectos da discussão epistemológica na Geografia: o que
r
funda um discurso geográfico, suas condições de validade e sua possível
r
relevância.

IDENTIDADE DISCIPLINAR: OS SINTOMAS DE UMA CRISE


0
r
O primeiro ponto é, sem dúvida, o mais importante. Diz respeito à onto
0
logia do saber geográfico e pode ser traduzido em termos mais simples pela
r
questão - Sob que condições e sob que aspectos seria lícito conferir o quali
r
ficativo de "geográfico" a um fenômeno?
r
Responder a essa questão corresponde a ser capaz de indicar um cam
r
po de atributos e características que são próprios e exclusivos ao que de
r
nominamos como geografia. Significa, portanto, que essas características
r
e atributos atuam como constituintes essenciais da Geografia, aqueles que
r
fazem parte da sua natureza, que são os traços que a distinguem, ou em uma
r
só palavra, respondem por sua identidade3.
r
Se assim for, esses traços têm que estar presentes sempre que utilizar
r
mos esse qualificativo de geográfico, e isso a despeito de toda variedade das
c
aplicações e a despeito inclusive dos usos que foram dados em outros mo
r
mentos a essa mesma palavra9. Isso quer dizer que a identidade disciplinar,
r
8 Identidade está sendo tomada aqui independentemente das diferenciações feitas por Hall
no processo de "descentraçáo" que, segundo ele essa idéia sofreu no curso da modernidade.
Hall, Stuart.Aidentidade cultural napós-modernidade, DP&A, Rio de Janeiro. 2006.
9 Esse raciocínio corresponde ao que Locke denominou como "sameness". ou seja, a capa-
"1

r"

como qualquer outra, alias, deve ser suficientemente restritiva para assinalar
a singularidade daquilo que estamos distinguindo das demais, porém deve
ser larga o suficiente para abranger as mudanças que ocorreram durante a
trajetória evolutiva desse objeto'0.
Por isso mesmo, constatamos que a cada momento em que correntes
ou orientações novas procuraram se impor na geografia, trazendo uma rea
valiação do que comporia o conteúdo desta disciplina, elas também se viram
forçadas a retraçar a trajetória desse conteúdo na história disciplinar, redes-
cobrindo antigos autores pouco valorizados ou ressaltando aspectos que te-
-J _:-i i__ I! ;„_I 11
riam sido antes negligenciados".
De forma global, podemos dizer que a partir dos anos 50 uma grande
parte dos geógrafos passa a reconhecer a insuficiência e fraqueza das bases :
teóricas que pretendiam sustentar o projeto científico da geografia naquele
momento. Essa insuficiência provinha em grande parte da resistente idéia
de que a ciência geográfica se identificava inteiramente com o conhecimen
to empírico dos lugares e não precisava necessariamente ultrapassar esse
estágio, ou seja, não precisava criar teorias ou explicações abstratas gerais.
Ela seria, portanto, uma ciência diferente das demais pois, não só privilegia
va o conhecimento concreto como se limitava a ele. As poucas concepções
teóricas que circulavam eram vistas com desconfiança ou como algo acessó
rio, quando não empobrecedor, o fundamental era a descrição da realidade.
Quando o problema do estatuto científico era levantado, devido a esse desin
teresse em trabalhar com modelos teóricos, costumava-se apelar para quatro
principais idéias como resposta :

• A geografia é uma ciência de síntese - a diferença da geografia das


outras ciências é que ela integra todos os conhecimentos na apre
ciação de um lugar (espaço, região, etc). Em outras palavras, para
conhecermos a forma de ser de um espaço é necessário conhecer
mos todos os elementos que estão presentes e contribuem na fisio
nomia daquele espaço. A geografia é assim definida como a ciência
dos lugares. Era comum também apresentar a geologia, a pedologia,
a climatologia, mas também a demografia, a sociologia, a economia,

cidade de mudar existencialmente (materialmente), mas permanecendo o mesmo como idéia,


ou como identidade. Locke, John. Segundo Tratado Sobre o Governo Civil. Nova Cultural, São
Paulo, 1978. (Coleção Os Pensadores).

10 Williams, Raymond. Key.vords, Fontana, Londres, 1976.

11 Esse recurso foi examinado com detalhes em Gomes, Paulo C. da Costa. Geografia e Mo
dernidade, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 1996.

16
p
p

f> ESPAÇO ETEMPO 18

P
entre outras, como ciências subsidiárias à geografia? Estas disciplinas
seriam analíticas, tratariam de um campo fenomênico, ou seja, parti
P riam do questionamento sobre um problema ou de um domínio. A ge
P
ografia não responde a um problema específico, nem por um tipo de
fenômeno, ela trata dos lugares e, portanto, integra todos os conhe
0
cimentos que operam naquele espaço. De certa forma, nesse caso a
ciência geográfica não tem como papel explicar, mas simplesmente
0
relacionar os campos analíticos advindos de outras disciplinas. Por
isso se difundiu a idéia de que a geografia faria uma grande síntese.
0
0
• Ageografia é uma ciência indutiva - a geografia, como outras ciências
físicas e naturais, partiria dos fatos para só depois construir explica
0
ções, ao contrário das ciências dedutivas, como a matemática, que
avançaria por raciocínios lógicos dedutivos. Assim, o mais importante
0
seria o conhecimento empírico, ou pelo menos, qualquer teoria deve
ria partir do conhecimento profundo dos lugares (ou regiões, paisa
gens etc). Se o que concentra e define a substância do conhecimento
científico da geografia é a maneira como se apresentam os lugares,
então o primeiro e mais importante passo na formação do conheci
mento é a descrição minuciosa e total de todos os aspectos que ca
racterizam um lugar. A permissão ao uso e a legitimidade de qualquer
modelo de análise teórico ficam submetidas ao conhecimento empíri
co, quase exaustivo, do conjunto dos lugares, ou seja, só pode haver
teoria depois que a massa de conhecimento empírico for estabeleci
da e sistematizada. Como se pode perceber trata-se de uma missão
quase impossível superar essa primeirafase na maneira como ela era
apresentada por alguns geógrafos.
r
• A geografia é uma ciência "chameira" - A diferença da geografia pro
vém de sua posição, entre as ciências sociais e naturais. O campo
das questões geográficas se situa nessa relação, ou melhor, a geo
grafia nessa versão deve responder sobre as múltiplas influências ou
condicionamentos gerados entre o mundo natural e a organização
social. Essa posição singularíssima em relação às outras ciências é
responsável pelas dificuldades em desenvolver grandes painéis expli
cativos, uma vez que o determinismo geográfico foi condenado desde
o começo do Século XX, ou seja, exatamente no momento em que a
geografia começa a ser difundida através de um ensino sistemático.

17
19 UM LUGAR PARA AGEOGRAFIA
"

L
A geografia e uma ciência do empírico - Alguns poucos geógrafos
procuraram de forma mais aprofundada e movidos por um genuíno
desejo de esclarecimento uma forma de definir a geografia na ma
neira como ela era praticada nessa primeira metade do Século XX.
Um dos trabalhos mais conhecidos apresentava a "excepcionalidade"
do método geográfico como uma derivação da natureza do próprio s
objeto de estudo da geografia: o espaço. Essa excepcionalidade teria
sido pela primeira vez identificada por Kant, já no Século XVIII, em sua i
classificação das ciências quando ele descreve o caráter a priorí das
categorias de espaço e tempo. De fato, Kant assinalou o fato de que
para percebemos qualquer fenômeno e criarmos categorias de aná
lise, é necessário que esse fenômeno esteja contido no tempo e no
:
espaço, senão ele não seria identificável, uma vez que se misturaria a
outros. Então, disse ele, as categorias tempo e espaço são categorias
a priorí, são como condições para a nossa percepção. Certos geógra
fos interpretaram isso como um estatuto científico diferente para a ge
ografia (e também para a História que estuda o tempo, outra categoria
a priorí, segundo Kant) uma vez que essa ciência estuda o espaço e
este é uma categoria apriorística, não há necessidade de encontrar
justificativas lógicas, ele é um dado concreto e fundamental. Daí a
geografia ter dificuldade em operar no campo da abstração já que sua
base é uma categoria que não necessita de definição. L

Nessas quatro situações percebemos que o que se pretendia afirmar b


era a singularidade da geografia em relação às outras ciências. Ainda que se
constatassem problemas de integração da geografia aos métodos das outras
disciplinas, de forma alguma se estava renunciando ao prestigioso estatuto
de ciência. Essas explicações apresentadas acima procuravam assim uma
justificativa para dificuldade da geografia de produzir modelos de explicação,
ou para a sua incapacidade de criar um verdadeiro campo analítico de inves
tigação. Essas explicações operavam também como justificativas para que
os geógrafos não freqüentassem as discussões mais gerais sobre as teorias
do conhecimento que atravessavam as demais disciplinas. A natureza singu
lar da geografia em face das outras disciplinas os pouparia desses debates.
Esse traço, todavia, não deve ser interpretado simplesmente como in
dolência ou puro conservadorismo dos geógrafos. A geografia tal como a
história é filha dos modelos de erudição que caracterizavam o saber antes da
revolução científica do final do Século XVIII. O enciclopedisrno e o princípio
das coleções são sempre fortes tentações que, embora hoje mais fracas,

18
P
f
ESPAÇO ETEMPO 20

i
exercem seu poder sobre os interessados nesses campos.
O fato de que a geografia tenha se constituído como disciplina a partir da
herança deixada pelos viajantes e suas descrições e pelos naturalistas e suas
coleções variadas, certamente foi decisivo. Por um lado, foi a partir do ma
terial deixado por esses pioneiros que os geógrafos começaram a trabalhar.
Por outro lado, essa proximidade com viajantes e naturalistas e suas aventu-
rosas e curiosas estórias devem, sem dúvida, ter contribuído no tipo de públi
co atraído para o campo da geografia. Isso quer dizer que muitos geógrafos
inicialmente tinham como horizonte e interesse essa agenda descritiva de
p lugares, por vezes bastante anedótica, e talvez tivessem pouca sensibilidade
0 para esquemas explicativos abstratos12. Podemos mesmo nos perguntar se
ainda hoje, a tentação de definir, ou de pelo menos manter uma forte cono
0 tação naturalista dentro de certos domínios da disciplina não provenha ainda
e
dessa mesma origem.
p O fato mais significativo que queremos assinalar aqui, no entanto, é que
a partir de meados do século passado essas quatro linhas de raciocínio apre
p
sentadas pelos geógrafos e citadas anteriormente começam a mostrar claros
sinais de insuficiência. Para termos uma idéia da importância dessa discus
0
são basta que consideremos que é a partir delas, de sua aceitação, que a
0
geografia pode ou não justificar a legitimidade de seu estatuto como ciência
frente às demais disciplinas. Examinemos, ainda que brevemente, alguns dos
P pontos críticos que atingiram essas linhas de raciocínio.
r
p
° Em relação à ciência de síntese - todo domínio científico precisa pro
p
duzir conhecimento, não há como imaginar que uma ciência pode
existir sem definir um campo de investigação próprio e, além disso,
pretenda ser a síntese de todos os demais. A idéia de que a geografia
era uma ciência caracterizada pela inter-relação de diversos campos
0
não pode se sustentar pois todas as ciências se nutrem elas mesmas
de inter-relações entre variados campos. Ademais, no estado atual do
r
conhecimento científico, profundo, especializado e sofisticado, como
poderia o geógrafo ser capaz de produzir uma síntese global desses
p conhecimentos?

» Em relação à ciência indutiva - Todas as outras ciências, físicas e


naturais, que também podem ser classificadas como indutivas, proce-
P
12 No começo do Século XX, sobretudo na França, muitos geógrafos tinham seguido estudos
de História, mas, também nesse caso e durante muito tempo, essa disciplina sofreu da mesma
doença enciclopedista e empirista descrita aqui para a geografia.

19
r
21 UM LUGAn PARA A GEOGRAFIA

dem e têm como finalidade produzir explicações. Aliás, as descrições


só têm sentido dentro de um quadro científico quando referenciadas
a um ponto de vista que é ele mesmo dado pelo quadro de uma te
oria ou de um esquema interpretativo. Desde Kant e das doutrinas i
modernas do conhecimento sabemos da impossibilidade de conhe
cer as coisas em sua totalidade, as coisas-em-si (a diferença entre o
noumêno e o fenômeno). Assim, não se consegue jamais descrever
todos os aspectos de uma coisa ou fato, por maior que seja o esfor
ço, a profundidade e os detalhes da descrição. Além disso, ao entrar
em contato com o empírico o observador já está municiado de cate
gorias abstratas imprescindíveis à própria observação e descrição.
Da mesma forma, o interesse que guia e legitima a descrição é tam
bém muito mais o produto de um quadro de referências abstratas do
que simplesmente o resultado de uma observação gratuita nascida
de forma espontânea e fortuita. É assim que a relação entre nossas
categorias abstratas de análise e a observação empírica, segundo a
í
teoria clássica da ciência, constitui o método recomendável para a
produção do conhecimento. Por fim, essa classificação de ciências
indutivas e dedutivas foi muito fortemente criticada desde o come
ço do Século XX por inúmeras correntes que denunciam a falácia da
separação entre categorias mentais e percepção (Convencionalismo,
Neo-Kantismo, etc). Sem precisarmos ir até essa discussão, parece
que dentro dessa linha de raciocínio de uma ciência exclusivamen
te indutiva tampouco poderia se encontrar justificativa para manter a
geografia como uma mera coleção de observações empíricas, sem
discussões teóricas explicativas.

Em relação à ciência « charneira » - Como já foi dito anteriormente é


difícil imaginar que uma ciência defina seu campo de estudos como
uma relação, sobretudo de uma amplitude tão grande como essa en
tre o mundo natural e a organização social. De qualquer forma, ainda
que isso fosse aceito, seria necessário produzir modelos abstratos
generalizantes - O que é regular nessa relação? Quais os graus de
dependência entre os diversos aspectos ambientais e socioculturais
descritos? Que elementos gerais resultam da análise? Em outras pa
i
lavras, dizer que a geografia estuda a relação homem-meio e pro
duzir uma série de descrições de casos singulares que apenas de
monstram os condicionamentos e as limitações particulares de cada
parcela analisada não corresponde aos resultados que se espera de

20 1
0 •

^. ESPAÇO ETEMPO 22

um campo disciplinar verdadeiramente científico.

• Em relação à ciência do empírico fundada no raciocínio de Kant do


espaço como uma categoria a priorí da percepção e do conhecimento
- não quer dizer para ele, e nem poderia, que a geografia, que estuda
o espaço, fica dispensada de produzir outras categorias de análise.
Toda ciência para Kant deve desenvolver e trabalhar a partir de cate
gorias gerais que, aliás, são elas que conformam nossa percepção e
nosso entendimento. O modelo fundamental de ciência para Kant é a
: física newtoniana, ou seja, a instrumentalização de nossa percepção
através de categorias, a observação formal do comportamento em

t pírico e construção de um sistema de explicação abstrato, lógico e


generalizante. Nada é mais distante do sistema kantiano do que essa
idéia de que pode haver uma ciência eminentemente empírica que se
nutre de uma observação direta, sem construção teórica.

A esses argumentos críticos somam-se muitos outros. Alguns de pe


queno alcance, como por exemplo, os que diziam que: "os geógrafos não
gostam de matemática" por isso não têm boa capacidade de análise e de
0
abstração; ou ainda, "o recrutamento dos geógrafos é feito sobre a base de
uma geografia do ensino médio, caracterizada pela memorização, nada há
nesse ensino que deixe perceber que existe na geografia um esforço de com
preensão teórica do funcionamento dos fenômenos que ela diz estudar, por
isso são atraídos para a carreira aqueles elementos que não possuem qual
quer vocação para o pensamento abstrato"; finalmente, chegava-se mesmo a
diagnósticos bastante severos como aqueles que definiam o geógrafo como
um apreciador do anedótico ou um especialista em generalidades13.
Ao lado dessas críticas apareciam outras de ordem bem mais geral como
aquelas que demandavam que o estatuto de ciência fosse acordado à geo
grafia somente na medida em que ela se mostrasse capaz de construir mo
delos gerais de análise e de formular teorias explicativas como todas as de
mais ciências, inclusive as sociais. Muito se falou também da dificuldade em
aplicar um conhecimento que não era fundado em modelos abstratos e por
isso a dificuldade em operacionalizar esse conhecimento como o faziam as
outras áreas que participavam da esfera da ação, inclusive em domínios onde
a geografia parecia poder trazer alguma contribuição como no planejamento
territorial, na discussão de políticas públicas, no desenvolvimento regional etc.

13 Allemand, Sylvain. Dagorn. René-Eric e Vilaça, Olivier. La Géographie contemporaine, col.


Idées recues, Le cavalier Bleu Editions, Paris, 2006.

I
*

23 UM LUGAR PARA AGEOGRAFIA

Nessa discussão muito se tem confundido ciência e engenharia e, mui


tas vezes, a decantada integração dos campos físico e humano da geografia
responde não mais do que pela simples aplicação de um conhecimento na
tentativa de solução de um problema prático. Esse colossal equívoco en
tre produção do conhecimento, relativo à esfera da ciência e, portanto, ne
cessariamente atravessado por questões epistemológicas e a aplicação do
conhecimento, relativo à esfera das engenharias, da solução de problemas
práticos, tecnicidade e operacionalização dos conhecimentos, tem sido fruto
de imensos problemas na definição do papel do geógrafo e de suas compe
tências. Esse equívoco não afeta somente à identidade do saber geográfico,
ele se transforma em grave problema na formação dos geógrafos e na inser
ção deles no mercado de trabalho.
O diagnóstico dos problemas parecia, portanto, convergir no sentido de
que as principais falhas eram atribuídas à ausência ou ao pequeno desenvol
vimento de uma discussão teórica dentro do campo da geografia. Podemos
pois chegar a conclusão de que o que caracteriza a geografia no pós-guerra
é essa consciência aguda de que seu futuro como ciência dependeria da
capacidade de gerar instrumentos de análise abstratos, ou seja, superar a
descrição dos casos e encontrar regularidades capazes de fundar um campo
de discussões teóricas. Talvez pudéssemos ousar dizer, de forma bem exem
plar - passar da geografia dos elementos à construção de uma verdadeira
è
ciência geográfica. ^

ABUSCA POR UM OBJETO: LIMITES EFRUSTRAÇÃO ^


Ainda que o diagnóstico fosse quase unânime, o mesmo não ocorria
com as recomendações a seguir e isso foi imensamente positivo para a ge
:
ografia. De fato, a crise iniciada pelas insuficiências desses argumentos que
alicerçavam a chamada "geografia clássica" conduziu os geógrafos a se lan
çarem em um verdadeiro debate epistemológico. Esses debates tomaram
diversas direções. Uma das mais centrais seria aquela que discute sobre o
objeto de estudos da geografia.
Para alguns, a busca desse objeto tomou a forma de uma verdadeira
epopéia mítica. Encontrar um objeto para a Geografia corresponderia a salvar z
a disciplina de sua deriva, haveria a definição de novos rumos, a geografia
se libertaria do classicismo e serviria à libertação social. 0 objeto da geo
grafia, tal qual o Santo Graal, era procurado por grupos de pessoas unidas
pelas promessas redentoras em torno de sua posse. Esse objeto "sacraliza-
do" seria encontrado pelos bravos e somente os puros de espírito teriam sua
t
22
ESPAÇO E TEMPO 24

guarda e, finalmente, sua descoberta anunciava muita paz e prosperidade e


reconhecimento à ciência geográfica.
O nome desse mágico objeto era "espaço" e como nos abundantes mi
tos, muitos foram aqueles que reclamaram sua descoberta e posse. Parte do
problema parecia, portanto, estar resolvido. Sabíamos qual era o objeto de
estudo da geografia, possuir esse objeto daria distinção e prestígio.
Dois grandes problemas surgiriam imediatamente depois desse consen
sual concerto em torno da idéia de que era o estudo do espaço que daria
identidade e relevância à Geografia. O primeiro era o de sua posse exclusiva,
seu monopólio. Outros domínios disciplinares ao trabalharem com o espaço
estariam indevidamente explorando os recursos nos terrenos da geografia?
Como fazer com a física e sua já tão antiga reflexão sobre a categoria espaço,
ou com a matemática, para citar apenas esses exemplos entre muitos outros?
Uma das tentativas de solução apresentadas para esse problema era
afirmar a diferença do espaço geográfico em relação aos outros tipos de
espaço trabalhados por outras disciplinas. Esse recurso, todavia, é apenas
parcial pois transfere as imprecisões contidas na definição da geografia ao
espaço e tudo aquilo que foi dito em relação às marcas distintivas e exclusi
vas que devem ser apresentadas quando da definição de um campo identitá-
rio. Daí, aliás, deriva justamente o segundo grande problema - definir o tipo
de espaço que deve ser estudado pela geografia.
Rapidamente, os geógrafos compreenderam que a detenção, ainda que
apenas nominativa, de um suposto objeto único não garantia nem definia as
direções que os estudos geográficos deveriam tomar. Ainda que estivésse
mos de acordo sobre a denominação de um objeto, as questões relativas à
0
natureza desse objeto, a como abordá-lo, a como justificar sua pertinência e
0
sua relevância restavam sem resposta.
0 Espaço matemático, geométrico, sistêmico, polarizado, socialmente de
P finido, polarizado, homogêneo, vivido, físico, concreto, foram algumas das
r
classes criadas para definir o substrato essencial para uma nova ciência ge
0 ográfica do espaço. Até mesmo a denominação "geografia" foi colocada sob
suspeita e propostas de ciência do espaço ou espaciologia foram sugeridas
como alternativas no processo de apropriação desse objeto.
Uma questão fundamental permanecia, todavia, em silêncio. É aquela
r
que indagava sobre a necessária associação de uma disciplina ao domínio
de um objeto específico. Todas as disciplinas possuem um objeto que lhes
0 pertence? Os recortes disciplinares correspondem à transformação e frag
mentação do real em uma coleção de objetos, depois selecionados de acor
do com os limites impostos por cada uma das disciplinas? A quem pertence

23

f
-*

25 UM LUGAR PARA A GEOGRAFIA

determinados objetos complexos, como, por exemplo, o estudo das cidades?


De certa forma, a definição do espaço como objeto de estudos da ge
ografia, ou daquilo que iria conferir identidade e marca geográfica a um fe-
f n ô m e n o , não significou uma verdadeira ruptura com o projeto clássico da
disciplina. Em outras palavras, a escolha de um objeto, largo e sem muitas
delimitações, significou a possibilidade de continuar a manter as idéias da
geografia como ciência de síntese, da relação entre o natural e o cultural, ou
ainda, do espaço como um reflexo da sociedade, mantendo assim, em todas
essas formas, a economia de uma reflexão teórica própria ou o desenvolvi
mento do debate epistemológico dentro da geografia.
A engenharia retórica, por mais bem elaborada que ela fosse, não con
seguiu ser suficiente para soldar as lacunas de um raciocínio verdadeiramen
te epistemológico necessário ao desenvolvimento de uma ciência moderna.
Esse entendimento não se impõe pela simples posse de um objeto. É ne
cessário ser claro quanto à contribuição relevante trazida pela disciplina na
investigação de um fenômeno e não apenas dizer que aqueles tipos de fenô
meno fazem parte do seu domínio.

CAMINHOS QUE NOS LEVAM, NÃO


AO PARAÍSO, MAS AALGUM LUGAR

Nesse ponto chegamos talvez ao momento mais importante do raciocí


nio desenvolvido aqui - que característica marca a reflexão e a contribuição
da geografia no estudo de certos fenômenos? Ao que responderemos - A
ordem espacial.
Foi assim que denominamos a idéia de que há um arranjo físico das

.
coisas, pessoas e fenômenos que é orientado seguindo um plano de dis
persão sobre o espaço14. Há coerência, lógicas, razões, que presidem essa
i
distribuição. Há uma trama locacional que é parte essencial de alguns fenô
menos. A análise dessa trama locacional é a especificidade da ciência geo
gráfica. Ela é relevante pois o ordenamento espacial de alguns fenômenos
lhes é essencial.
Na distribuição das espécies vegetais que caracteriza tipos de bioma,
no processo de sedimentação que forma uma praia ou na densidade de po
pulação dentro de uma aglomeração urbana, em qualquer um desses fenô
menos, há um arranjo espacial coerente e explicativo que é parte da própria

14 Gomes, Paulo C. da Costa. "Geografia fin-de-siècle: o discurso sobre a ordem espacial do


mundo e o fim das ilusões". In Castro, Iná E. de; Gomes, Paulo C. C; Corrêa, Roberto L. (orgs.).
Explorações geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1997.

24
P
P

ESPAÇO ETEMPO 26
m
p
natureza do fenômeno. De fato, o que explica cada um desses arranjos não é
derivado de uma mesma conexão: o jogo das interações dentro de um bioma
gera um plano de distribuição que não tem rigorosamente a mesma causa
lidade lógica dos modelos físicos que explicam a diferente granulometria ao
longo do perfil de uma praia, ainda menos, esses fatores poderiam servir
0 para explicar a densidade de população de uma aglomeração urbana. Assim,
0 embora o problema na base seja o mesmo, para a compreensão dos planos
0 de dispersão de determinados elementos ou fenômenos, os instrumentos
r mobilizados para explicá-los são necessariamente muito diversos e variados.
0 Imaginar que esses elementos serão federados e uma ordem total apa
P recerá, corresponde a trabalhar com a hipótese de um demiurgo plano, uma
0
teleologia global que fere frontalmente as laicas concepções da ciência mo
0
derna. Fere também frontalmente a idéia que se impõe cada vez mais for
r
temente em nossos dias, por vezes associada ao pós-moderno, de que há
p
sempre uma multiplicidade de sistemas explicativos e de completo rechaço
de uma mono-causalidade ou das assim chamadas "grandes narrativas". A
r
simplicidade desse holístico desenho é contestada sempre pela complexida
P
de que se impõe e que aparece a partir das infinitas interações que caracteri
0
za os fenômenos, de"seus limites críticos, de suas diversas escalas, de suas
P
transitórias e mutáveis estruturas. ;
0
A conclusão mais importante desse raciocínio aqui não é, no entanto,
aquela que simplesmente sublinha a complexidade dos sistemas espaciais. A
constatação da complexidade não pode ser um bloqueio ou um álibi. A cons
0
tatação da complexidade não pode ser um consentimento para a confusão. A
P
constatação da complexidade não pode ser uma senha de autorização para
P
P sistemas de entendimento totais ou totalitários. A constatação da complexi
dade é tão somente o reconhecimento de que o percurso para a construção
de um conhecimento demanda esforço, dedicação e muito trabalho de re
flexão. A constatação da complexidade é tão somente o reconhecimento de
que nosso entendimento, apesar de todo esse esforço, é sempre parcial e
representacional. Nunca chegaremos a envolver todos os aspectos da miría-
de de elementos inter-relacionados na composição dos sistemas espaciais.
Seus desenhos, embora possam ser traduzidos em esquemas simplificados
para fins de apresentação são o produto de sofisticados processos15.
Assim, o mais importante, embora possa parecer bem simples, é que
o terreno da ciência geográfica não se define pela posse de um objeto, o
espaço. Esse terreno se delineia pelo tipo de questão que é dirigida a um
r
15 Essa mesma constatação é feita para a física por Prigogine. Prigogine, llya. O fim das cer-
tezas: tempo, caos e as leis da natureza. Ed. da UNESR São Paulo, 1996.

r
27 UM LUGAR PARA AGEOGRAFIA

fenômeno. Otipo de questão construído pela ciência geográfica é aquele


que se interroga sobre a ordem espacial deles. Outros domínios disciplinares
trabalharão os mesmos fenômenos, mas construirão outras perguntas, terão
outras curiosidades, desenvolverão outras análises e chegarão a outros re
sultados. Cada disciplina cria suas representações e trabalha a partir delas,
o que demonstra bem a impossibilidade de um saber totalizante e absoluto.
Dentro dessa perspectiva, não há uma geografia física e uma geogra
fia humana, unificadas em seus respectivos campos. Menos ainda haveria a
.
possibilidade de federá-las em um campo totalizador, que seria a "verdadeira
geografia". Há, contudo, sempre uma análise geográfica quando o centro de
nossa questão é a ordem espacial, pouco importando o tipo do fenômeno,
inorgânico, orgânico ou social, até porque essas fronteiras são de difícil deli
mitação em muitos casos, quando falamos de natureza e de sociedade, por
exemplo.
Haverá, contudo, sempre uma geografia quando o fenômeno da disper
são espacial construir a questão central do problema. A geografia existe em
qualquer fenômeno em que haja uma ordem de dispersão espacial16. A uni
dade não provém do tipo de fenômeno, mas do tipo de pergunta.

REPENSANDO O DISCURSO GEOGRÁFICO E SUA IMPORTÂNCIA

Depois dessas considerações, somos agora talvez mais capazes de exa


minar, ainda que rapidamente, com outros olhos o problema da relevância do
campo de trabalho da geografia.
Se a composição espacial colabora de forma essencial nos fenômenos,
a análise das posições, das implicações relacionais delas no sistema loca
cional constitui uma dimensão fundamental para a compreensão dos fenô
menos. Em outras palavras, isso funda um plano de análise autônomo, um
verdadeiro campo de questões, um domínio epistemológico. Isso significa
que ao ignorar ou negligenciar esse plano perdemos a oportunidade de des
vendar toda uma ordem de sentidos e significações fundamentais que consti
tuem os fenômenos. Essa negligência faz com que outras ordens explicativas
sejam sempre reforçadas e, paralelamente, significa um empobrecimento da
compreensão das múltiplas possibilidades analíticas, das representações
possíveis de um fenômeno, resumindo, gera uma equivocada simplificação


16 Como na idéia de Cosgrove, Denis. "Geography is everywhere: Culture and Symbolism
In Human Geography". In David Gregory & R. VValdorf (orgs.) Horizons in Human Geography,
MacMillan, Londres, 1989.
p

p ESPAÇO ETEMPO 28

P na interpretação dos eventos17.


P A importância da ordem espacial não ficou confinada à geografia. Muitos
autores de diversas outras áreas foram, por diversas razões, levados, muitas
P vezes, a tratar desse plano do ordenamento espacial que se impôs como uma
dimensão fundamental na compreensão de certas dinâmicas. Há numerosos
è
exemplos, alguns já célebres como os de Anthony Giddens, de Henri Lefèb-
0
vre, de Fernand Braudel, de Michel Foucault, entre muitos outros, que, sem
serem geógrafos, chamaram a atenção para a centralidade e para a impor
tância da espacialidade na compreensão de certos processos e dinâmicas.
0
Perceber que há uma ordem espacial da vida social, por exemplo, é per
ceber que nossas práticas são modificadas pela modulação da localização,
0
que essa modulação modifica também nossa compreensão dos conteúdos,
que essa modulação classifica, hierarquiza, regula, qualifica nossas atitudes,
tanto as mais claramente expressivas quanto aquelas mais cotidianas.
A relevância dessa dimensão espacial dos fenômenos é, portanto, extra
0
ordinária. Ela pode nos ajudar a entender melhor inúmeros fenômenos, que
atuam em diferentes escalas e trazer inéditos recortes e condicionantes que
escapam das dominantes causalidades comumente apontadas. Cabe ao ge
ógrafo fazê-lo, mas se ele não o fizer, outros justificadamente o farão e é isso
que já vem, de certo modo, acontecendo no movimento que ficou conhecido
como a "virada espacial" (the spatial turn).
Essa dimensão espacial e suas repercussões não são simples de serem
percebidas pois justamente escapam dos elementos que normalmente são
analisados e sobre os quais se atribui o peso da causalidade na constituição
dos fenômenos. O desafio que se coloca à Geografia é, por esse ângulo, por
tanto, formidável - iluminar um novo campo de questões e demonstrar sua
pertinência e importância.
A sedução do discurso fácil e do consenso imediato tem sido muitas ve
zes um entrave de peso na produção do conhecimento relevante na Geogra-

Í 1 7 Foi exatamente por isso que ignorei a sugestão de contemplar a categoria do tempo nessa
oportunidade. Aordem cronológica é uma daquelas que sempre é argüida como fundamental
na compreensão dos fenômenos. Mesmos nós geógrafos estamos acostumados a fazer apelo
a essa ordem para encontrar explicações. Isso não é em si condenável, mas a obliteração
da ordem espacial sim. Assim, se reafirma o velho hábito de que as explicações diacrônicas
se Imponham sempre como aquelas que aparentemente sáo mais válidas do que porventura
aquelas trazidas por uma análise sincrônica.
Foi. por essa mesma razão que ignorei todos aqueles autores, numerosos, que confundem
história da geografia com epistemologia. como se essas duas áreas se recobrissem perfeita
mente. Ao fazerem negam a independência desse campo de questões epistemológicas e o
traduzem como simples etapas da evolução da disciplina, o que no ponto de vista defendido
J^ aqui não é aceitável.

27
29 UM LUGAR PARA AGEOGRAFIA

fia. O lugar comum que agradade imediato, masque de fato nada acrescenta
aquilo que já é comumente pensado, o reforço do pensamento e da explica
ção banais, a confusão entre o papel de produtor do conhecimento com o
de mero reprodutor, o encanto da denuncia e a posição de suposta superio
ridade daquele que denuncia, a atração pelo discurso moralista, todos esses
ingredientes, embora facilmente compreensíveis pela sociologia da ciência,
têm sido muito nocivos à geografia, sobretudo pela grande generalização do
seu uso entre nós18. :
Parece que precisamos renunciar, pelo menos em parte, ao discurso
simples que gera com facilidade uma sensação de glória pessoal e pensar
mos nos benefícios possíveis do prestígio trazido pela colaboração na produ
ção do saber, na efetiva contribuição ao desenvolvimento do conhecimento,
mesmo que isso não cause uma adesão imediata e desestabilize as confor
táveis certezas do lugar comum. Renunciemos à banalidade para ganharmos
em importância.

A epistemologia não é uma forma de estabelecer o modelo, ideal, único


e infalível para produzir conhecimento. É um campo de tensões e discussões.
Por isso, debates e discordâncias são inexoráveis. A aceitação de que isso é
a regra do jogo nos flexibiliza, nos faz abdicar mais rapidamente das palavras
doutrinárias, das certezas, nos coloca face a face com a multiplicidade de
pontos de vista, com a complexidade.
Ao final da 2° Grande Guerra, desiludidos com os esquemas explicativos
e com as orientações do Partido Comunista Francês, dois grandes intelec
tuais escreveram livros com títulos evocadores: Para entrar no Século XX,
de Jean Duvignaud e Para sair do Século XX de Edgar Morin'0. O primeiro
acreditava que as velhas doutrinas do Século XIX teriam se prolongado e
se popularizado no XX e o quadro analítico, simplificado e esquemático que
fundava a ciência não tinha mais como sobreviver no contexto complicado
do mundo pós 23 Guerra. O segundo se perguntava - como explicar o mundo
depois da barbárie desse evento e após a desilusão dos esquemas explicati-

18 Não somente entre nós. Todas as ciências sociais padecem desse mesmo mal. Muitas ve
zes a reprodução da banalidade se faz sob um manto elaborado e todo o talento dos autores é
utilizado para revestir, com uma linguagem aparentemente sofisticada, uma afirmativa bastante
simples que tem livre curso bem estabelecido no senso comum.

19 Duvignaud, Jean. Pour entrer dans le XXème Siècle, Grasset, Paris, 1960 e Morin, Edgar,
Pour sortir du vingtième siècle, Nathan. Paris. 1981.

28
ESPAÇO ETEMPO 30

vos unificados e doutrinários que serviram de matrizes às ciências até então,


o positivismo e o marxismo? A conclusão essencial era a mesma: é preciso
reaprender a pensar.
A estrita consideração da economia, da técnica e dos processos de pro
dução jamais seriam sozinhos capazes de fornecer a chave para interpre
tar esse complexo mundo moderno. Da mesma forma, a atribuição de uma
causalidade simples não pode mais ser aceita como absoluta e formatadora
da totalidade dos fenômenos. Sabemos que esses ingredientes somados às
grandes tensões geradas por outras disciplinas, como a física e toda a dis
cussão sobre a possibilidade de unificação das forças de interações físicas
(gravitacional, eletromagnética, fraca e forte), a conectividade entre os fenô
menos, as flutuações, a não-linearidade, entre outras noções, deram origem
ao que Edgar Morin chama do novo paradigma da complexidade.
Seja como for, parece que cabe à geografia tomar a si a tarefa de discutir
o complexo sistema de posições e de localização, tentar desvendar o papel
e a importância desse sistema na estrutura dos fenômenos e demonstrar o
valor dessa análise para a compreensão deles. Tudo isso não pode ser feito
sem um profundo mergulho no horizonte epistemológico. Mesmo os entre
nós mais pessimistas devem admitir que os principais elementos para isso
já estão reunidos e as condições para tal empreitada já estão dadas. Então,
mãos à obra.

è
è

29
M\}°
: •ji O

••.
x

E L E"iVl E N T O S DE

Stl " •

li

UiJ UCUiJ •

CONTEMPORÂNEA
•:

;
•;
I
• •

FRANCISCO MENDONÇA \ «N>

S^ SALETE KOZEL ;i 5
I

AREVOLUÇÃO PÓS-FUNCIONALISTA
EAS CONCEPÇÕES ATUAIS DA GEOGRAFIA 1
i
ü
•••

Paul Claval
(Tradução: Nathalic Dcssarrrc-Mencionça) ,

Coordenação de Processos Técnicos. Sistema de Bibliotecas, UFPR


Elementos de epistemologia da geografia contemporânea/
E38 Francisco Mendonça, Salete Kozcl, organizadores;[revisão
de texto Maria José Maio Fernandes Nairnc].-[Curitiba] :Ed.
da UFPR, 2002.
270p. : il. (Pesquisa; n.69)

Inclui bibliografia e notas bibliográficas

1. Geografia humana. 2. Geografia. 3. Epistemologia social.


4. Sociologia do conhecimento. I. Mendonça, Francisco. II. KozeI,
. Salete. III. Naimc, Maria José Maio Fernandes.

CDD 20.cd. 910.01


_^____ CPU 1976 910.1
Samira Elias Simões CRB-9/755

31
k
AREVOLUÇÃO PÓS-FUNCIONALISTA *
E AS CONCEPÇÕES ATUAIS DA GEOGRAFIA

. Paul Claval
(Tradução: Nathalie Dessartrc-Mcndonça) ;
m

Gostaríamos aqui de defender o seguinteponto de vista: duas


grandes concepções da geografia foram imaginadas entre o final do
século XVIII e os anos 70. A primeira insistia nas relações entre natu
reza e sociedade. A segunda se preocupava com o papel do espaço no
funcionamento dos grupos humanos. Elas diferiam em muitos pon
tos, porém baseavam-se em um pressuposto comum: o da existência
de realidades globais, fossem elas a natureza, a sociedade ou socieda
des. As suas ambições consistiam em desenvolver propostas aceitáveis
nestas escalas e em participar, desta maneira, dos conhecimentos úteis
aos homens. 'm,
Os resultados que essas duas concepções obtiveram foram
consideráveis. Ninguém os nega. Não se trata de questioná-los: a geo
grafia deve prosseguir beneficiando-se daquilo que os enfoques1 natu
ralista e funcionalista lhe proporcionaram. O que se critica hoje são os
procedimentos utilizados para adquirir esses conhecimentos: os pres
supostos nos quais se baseavam estão sendo contestados por um mo
vimento de desconstrução das bases tradicionais da ciência, em geral,
-

e das ciências humanas, em particular. Para uma minoria, a revolução


epistemológica pós-funcionalista vem acompanhada de um ceticismo
generalizado: rejeita-se a idéia de que o conhecimento desinteressado
e a ciência sejam possíveis. Tendia-se, então, a ver nas disciplinas que
tratavam do mundo social, e que tinham se desenvolvido desde o
final do século XVIII, somente discursos cujo objetivo era estabelecer
o predomínio dos adultos ocidentais brancos e de sexo masculino so
bre as mulheres, as crianças e as minorias étnicas dos seus próprios
países e no resto do mundo. A moda dás epistemologias pós-

11
Francisco Mendonça e Salete Kozel (Orgs.)
s
colonialistas for tanta que ela conhecerá com certeza um refluxo rápi-
tdo.
Uma orientação mais moderada também é explorada. Ela
leva em consideração as críticas formuladas a respeito dos grandes
relatos, das metanarrações, que os geógrafos de cunho naturalista ou
funcionalista propunham. Uma concepção mais modesta da ciência
se impõe: não se tem mais certeza de que as "rupturas epistemológicas"
que garantiam o estatuto dos conhecimentos de ontem tenham real
mente dado à luz a modos de pensar e a práticas narrativas distintas
daquelas que sempre atuaram nas sociedades humanas. Os geógrafos
que pensam em reconstruir a geografia devem continuar tendo em
mente que o que estão fazendo não difere muito das geografias
vernacularcs praticadas pelos povos sem escrita, dos relatos, das
recensões c dos guias produzidos pelas civilizações históricas.
Para acompanhar o movimento contemporâneo da reflexão
epistemológica, é bom mostrar como surgiu, relembrar as concepções
que critica, e ressaltar a sua lógica.
r
p
0
As concepções naturalistas da geografia
P

A superfície da Terra como objeto de estudo

A geografia tal qual a conhecemos nasceu de uma crise que


transforma, na segunda metade do século XVIII, o que era a discipli
na desde o final da Antigüidade: Eratóstenes e sobretudo Ptolomeu
tinham-lhe atribuído como objetivo determinar as coordenadas dos
lugares na superfície da Terra e elaborar representações cartográficas.
0 Havia também uma preocupação descritiva, como o mostra a obra de
Estrabão, mas essa nunca tinha se tornado predominante. A partir do
século XVI, os Estados ocidentais, cientes do que podiam ganhar com
um melhor conhecimento da Terra, das rotas marítimas e das grandes
possibilidades que viriam com as trocas, contribuíram com a aventura

12,
1

•• 33
Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea

cartográfica. Infelizmente, esta era precária por causa da impossibili


dade, na época, de medir as longitudes. O trabalho dos geógrafos
associava então levantamentos astronômicos para estabelecer as lati
tudes com pesquisas em arquivos para avaliar as distâncias geográfi
cas e as longitudes a partir de uma leitura crítica dos documentos de
viagem.
Nos meados do século XVIII, os avanços dos procedimentos
de determinação astronômica das longitudes e a invenção do cronô
metro marítimo questionam essa primeira profissionalização da geo
grafia (GODLEWSKA, 1999). A formação dos geógrafos não precisa
mais conciliar os conhecimentos cosmográficos com o trabalho em
biblioteca. O levantamento dos mapas torna-se assunto de engenhei
ros. Os geógrafos perdem a metade da sua área tradicional. Devem
reciclar-se. Muitos tiram proveito de suas competências eruditas para
lançarem-se na reconstituição das geografias do passado. A corrente
mais dinâmica opta por outra orientação: dedica-se à descrição do
mundo de acordo com a perspectiva das ciências naturais. Alexandre
de Humboldt é um bom exemplo dessa reorientação.
Os geógrafos não se preocupam com o espaço, no sentido
geométrico da palavra. A partir de então deixam este campo para os
engenheiros cartógrafos e para os engenheiros geógrafos. Eles se inte
ressam pela natureza e pela diversidade da superfície terrestre. A sua
ciência se dedica à descrição da face da Terra, ou seja, da superfície de
contato entre a litosfera, a hidrosfera e a atmosfera, assim como o
mostra SUESS (1908-1918). A orientação se faz em direção à análise
das paisagens, porém mais percebidas na sua verticalidade, de balões
ou aviões, do que na perspectiva rasante ou oblíqua do viajante.
Na época, os geógrafos não se preocupam muito com refle
xão epistemológica, conformam-se com a mentalidade compartilha
da pelos especialistas em ciências físicas ou naturais.

13

• JA
t
p
0
Francisco Mendonça e Salete Kozel (Orgs.)

P
P A inserção das sociedades na natureza
0"
0
P
Os geógrafos, é claro, não são indiferentes à presença dos
grupos humanos, nem às transformações que estes impuseram às paisa
r
gens. A pergunta dos pesquisadores a este respeito é simples: a nature
za preexistia aos grupos humanos, estes estão inseridos em um meio;
0
como fazer para extrair do meio ambiente no qual se estabeleceram,
p
os produtos destinados a assegurar a sua subsistência c a permitir,
p
geração após geração, a reprodução dos seus membros? O enfoque é
global, pois leva em consideração o conjunto dos meios constituintes
r
da natureza, por um lado, e da sociedade, por outro.
r-
Os meios utilizados pelos homens com o fim de conseguirem
r
inserir-se na natureza são variados: alguns se limitam a colher uma
p
parte da produção da flora e da fauna naturais dos espaços onde es
r
tão instalados; o tipo de vida que levam é baseado na colheita, na
r
caça e na pesca. Outros substituem às pirâmides ecológicas naturais as
r
associações mais produtivas do ponto de vista humano: inventam a
r
criação e a agricultura.
fi
A geografia humana enfoca em primeiro lugar e fundamen
f talmente a análise das relações que se estabelecem entre os grupos hu
p
manos e os ecossistemas dos espaços onde vivem. Vários procedimen
P tos contribuem para isso. Todos dedicam amplo espaço à descrição
p dos tipos de vida e às dimensões técnicas da relação com a natureza.
r Os homens se deslocam, realizam trocas, vendem o que pro
r duzem em excesso para adquirir o que não podem colher no próprio
p espaço. As relações entre o homem e a natureza não são somente lo
r cais: às vezes, os sustentos ecológicos dos quais depende a vida dos
p grupos ficam distantes. É a outro capítulo da geografia humana que
p cabe este estudo: a análise de situação ou de posição, que, de Ritter a
p Vidal de Ia Blache, constitui a contribuição mais original da discipli
p~ na (CLAVAL, 2001).

p
p
r
0
0
0
14
0
0
- • •

3r
Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea

#
A diferenciação regional da Terra

A ação humana transforma a superfície da Terra. As.combi-


nações de aspectos naturais e de artefatos que vão surgindo; muitas
vezes são notavelmente estáveis: osgeógrafos traçam a gênese das pai
sagens agrárias; descrevem as estruturas regionais que se instalam.-Trata-
se de regiões geográficas quando as atividades humanas se inscrevem
nos quadros desenhados pelas regiões naturais, as regiões agrícolas,
industriais, turísticas, históricas ou, caso contrário, de regiões polari
zadas.
A diferenciação regional da Terra aparece, de certa maneira,
: %
como um produto da evolução: resulta da ação conjugada das forças ,-.
naturais e da ação humana. » ! b
Todos estamos conscientes da contribuição insubstituível desta ;
$
parte da disciplina e do seu conteúdo bastante moderno, pelo espaço
que dedica à relação com a natureza e anuncia as reflexões ecológicas .
contemporâneas. Lamentamos, entretanto, o fato de que as descri 5
ções e as interpretações que ela propõe não dêem um papel mais ativo
aos homens, às suas opções, aos seus sonhos é às suas aspirações.
Tal geografia convinha mais aos espaços ainda profunda
mente rurais do final do século XIX do que ao mundo já extrema è
mente urbanizado e industrializado do meio do século XX.-As contin
gências ambientais locais, que desempenhavam uma função tão im
portante na perspectiva naturalista, desfazem-se então devido áo pro
gresso dos transportes e à nova possibilidade de implantarem-se em
qualquer lugar fontes concentradas de energia.

A*

i
1

» * t
l
-•-••- r---~ •
36
í Francisco Mendonça e Salete Ko/el (Orgs.) f
As concepções funcionalistas da geografia

t Uma mudança de enfoque


r
r
A pergunta fundamental a qual os geógrafos procuram res
ponder agora é outra. Parece totalmente natural aos naturalistas
enfocar o estudo da distribuição dos homens, de suas atividades e de
suas obras na ótica da inserção dos grupos no meio ambiente: os
ecossistemas naturais haviam se instalado há mais de cem milhões de
anos; os grupos humanos, posteriores a eles, tiveram que aprender a
P dominá-los para se desenvolverem.
Para quem não é naturalista no fundo da alma, esta aborda
r
gem do estudo dos homens resulta um tanto curiosa. Para que adotar
r uma ótica evolucionista? As perguntas que interessam aos grupos atu
f ais são aquelas com as quais eles se deparam. Não se situam na escala
r dos tempos geológicos, ou naquela das durações pré-históricas e his
0 tóricas. Pertencem ao presente, um presente suficientemente amplo
P para poder observar processos em andamento e resgatar tendências.
As concepções epistemológicas adotadas pelos geógrafos per
tencem à família neopositivista que predomina, na época, nas ciênci
as sociais (BUNGE, 1962; HARVEY, 1969; AMADEO c COLLEDGE,
1975; GALE e OLSSON, 1979).
r

p
Em vez do meio, o espaço geográfico; em vez das influências naturais,
a função do distanciamento
P

íi Os grupos humanos passam a ocupar o centro da análise,


i Vivem aqui, na Terra, mas a vastidão que os sustem deixa de ser con
to cebida em termos naturalistas, como se fosse feita de um mosaico de
meios. Trata-se de um espaço cujaspropriedades geométricas contam,
'
mesmo sabendo que o fator Terra está presente em todas as combina-

0
p. •37 ' •' .- • •- •
Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea

ções produtivas, que morar implica consumir espaço, e que alguns


lugares se diferenciam pela presença de fatores.
As variáveis principais se modificam também. A influência
do meio estava no centro dos questionamentos da geografia natura
lista do final do século XIX e do começo do século XX, mesmo se
tínhamos passado do determinismo a visões mais matizadas - o
possibilismo explicava como o peso das condições locais desfazia-se
com a elaboração de inovações técnicas ou pelo recurso ao transporte.
Para a geografia que se implanta nos anos 50, a variável
principal é a distância: o funcionamento dos grupos sociais é gerado
pela dispersão do seus membros. Uma parte das disponibilidades
energéticas e monetárias fica mobilizada pelo deslocamento das pes
soas e pelo transporte dos bens. As notícias circulam mal, o que torna
aleatório o ajuste nas decisões econômicas e o controle que as institui
ções políticas tentam impor com o fim de manter o equilíbrio social.
Isso também freia a divulgação das opiniões, das crenças ou das técni
cas.

O espaço geográfico não ignora as dificuldades naturais, que


não permitem que se produza qualquer coisa em qualquer lugar. É
um mundo de troca, tanto que os atores econômicos devem ficar de
olho no mercado, ou nos preços. O estudo do espaço geográfico abor
da amplamente o estudo das localizações (estenda-se por localizações
os pontos onde as empresas obtêm os seus maiores lucros aproveitan
do-se da distância dos recursos) e o dos mercados.

Um espaço organizado

Nada melhor para mostrar que o espaço geográfico não se


confunde com aquele da geometria que o fato dele ser "organizado".
Para acabar com o problema que traz a dispersão, os homens organi
zam redes, as pessoas que têm afinidades entre si, que trabalham no
mesmo setor ou que são ligadas por costumes comerciais formam re
des sociais. Para o geômetra, são relações topológicas que indicam as
ligações existentes entre as pontas de um grafo ou rede.

17


38
Francisco Mendonça c Salete Kozel (Orgs.)

Essas redes sociais e econômicas só fazem sentido porque


permitem estabelecer contatos, realizar transações, fazer negócios: o
que supõe a existência de infra-estrutura material, vias de transporte e
sistemas de comunicação.
Os lugares para onde estas vias convergem levam vantagem
em relação aos outros: nesses lugares fica mais fácil organizar encon
tros, estabelecer relações e fechar negócios. Nesses lugares, passa-se
num tempo mínimo de um parceiro comercial a outro. As cidades são
comutadores sociais, formas de organizações do espaço destinadas a
facilitar ao máximo todas as formas de interação. Quem nelas está
instalado acessa mais rápido e por um preço menor à informação -
basta que prestem atenção para aprender aquilo que lhes é útil. Diz-se
que desta maneira beneficiam-se de economias externas.
O espaço está organizado porque está estruturado em redes
de relações sociais e econômicas, em redes de vias de transporte e de
comunicação, e em redes urbanas, que concretizam os efeitos da com
binação dessas redes.
Falar em organização, significa também ressaltar a
hierarquização dos lugares e dos espaços.

Uma visão dinâmica do espaço

O espaço analisado na perspectiva funcional não se limita a


ser organizado e hierarquizado. Ele não pára de se transformar. Com
efeito, as cidades que se encontram no topo das redes urbanas e as
regiões que ficam no centro das zonas econômicas levam muitas van
tagens: as empresas que aí se instalam se beneficiam, pelo menos no
caso das aglomerações, de economias externas particularmente fortes.
A todas aquelas para as quais o transporte dós produtos industrializa
dos e a divulgação das informações constituem encargos importantes,
a acessibilidade à clientela é maior: é nesses pólos urbanos, ou nessas
zonas centrais, que os potenciais populacionais e de renda atingem
seu nível mais elevado. Todas as atividades que não dependem obriga
toriamente, na escolha da sua localização, das matérias-primas nem

18

30
Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea

da energia da qual precisam, vão, portanto, se instalar nas cidades e


nas zonas mais centrais.

Dentro de um espaço econômico, e enquanto deseconomias


externas associadas ao fenômeno de convergência, concentração e con
gestionamento não neutralizam os efeitos das economias externas des
informação, a tendência ao acúmulo de atividades em zonas reduzi •
das se mantém. Em regiões e cidades centrais, encontram-se simulta>;
neamente empresas que se aproveitam dos recursos locais e outras, queS
estão sendo atraídas pela acessibilidade ao mercado. Nas regiões peri
féricas, somente os setores primário e secundário (primeira transfor
mação) estão presentes. Nas regiões centrais, o setor.primário está sem- . _
pre presente. O secundário tornou-se mais completo com as fases ulte-
riores de transformação. O terciário vem se tornando cada vez mais
importante. A economia das regiões ou das cidades centrais não pára
de se diversificar. As chances de beneficiarem-se de um acesso gratuito
ou barato às informações pertinentes aumentam na medida em que se ;
diversifica o leque das fabricações e dos serviços.
As regiões periféricas, ao contrário, encontram dificuldades
em conservar as atividades que não dependem de recursos locais. Elas |
adquirem o perfil de regiões especializadas. Sem um bom acesso ao
mercado, e criando pouca economia externa, elas assistem à fuga das
empresas mais inovadoras, aquelas cujos valores agregados são os
maiores. -• • *?
O binômio centro-periferia está no centro das análises::funci^
onais do espaço. Ele mostra a existência de regiões deprimidas, inclu
sive nos países industrializados, e de países em via de desenvolvimento
na escala mundial.
A centralidade que estas pesquisas ressaltam não é uma pro
priedade geométrica dos espaços levados em consideração: ela varia
em função da distribuição da população; as distâncias consideradas
são medidas ao longo das redes de transporte e de comunicação. Quan
do o progresso técnico reduz os custos e a duração dos deslocamentos
e permite substituir os comutadores sociais e econômicos tradicionais,
inscritos no espaço por aqueles que a tecnologia eletrônica criou, a
dinâmica espacial como um todo se vê alterada. A tendência em cen
tralizar as atividades encontra-se parcialmente compensada pela
metropolização, já que todos os centros situados no nível superior das
* .
l
19

40 •• • '"• • ' " ~ "* " ••••••-••


0
Francisco Mendonça e Salete Kozel (Orgs.)
!
redes urbanas beneficiam-se doravante de uma boa acessibilidade à
área da informação. A contra-urbanização também progride, já que a
existência de boas ligações eletrônicas basta para garantir boas chances
para certas atividades mesmo que instaladas em zonas periféricas.
Diferentemente das concepções naturalistas da geografia, o
enfoque funcionalista não se inscreve numa perspectiva evolucionista.
O espaço que essa apreende não é o produto da dinâmica da socieda
de submetida às forças da natureza. E o produto de uma história.
r

Uma geografia humana que fala pouco dos homens

O entusiasmo pela nova geografia não dura muito. Ninguém


fica indiferente aos resultados que ela permite acumular em poucos
anos - uns vinte anos aproximadamente. Mas um sentimento de insa
tisfação também surge. O mundo descrito pelo enfoque funcionalista
é cinzento: não trata do esplendor luminoso das folhas de bordo, no
outono, em Quebec ou na Nova Inglaterra, nem do perfume da
garrigue1, na primavera, no ar impregnado de umidade que antecede a
tormenta. Nesse enfoque, o espaço se limita a considerações de cus
tos: custos de abastecimento, de expedição, de informações a serem
centralizadas ou divulgadas.
Essa geografia é uma ciência social, porém fala muito pouco
dos homens. Salienta, é claro, a função das decisões de localização na
formação das paisagens econômicas, porém as supõe racionais: para
sabero que vão escolher, não é preciso conhecer aqueles que escolhem,
sua história, sua idade, a formação que receberam, seus planos de
carreira ou seus problemas pessoais ou familiares.
P

1 NT Ganiguc referc-se a uma vegetação típica do sul da trança, constituída as vezes de


,. alecrim.

£ ^ 20.
t
i

-II - -. . " "


*
*
Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea «*

Primeiro balanço

Limitações similares

O enfoque naturalista e o enfoque funcionalista são, igual


mente, incapazes de fazer sentir e de explicar a diversidade dos ho •
mens. Isso explica as críticas que ocorrem, a partir dos anos 70, em
relação às duas correntes que até então prevaleceram na geografia
humana, e a vontade de levar em conta dimensões até então negligen
ciadas. Pensando a respeito da região, Armand Frémont escreve cm
1976:

Do homem à região e da região ao homem, as transparências da racionalidade


são perturbadas pelasinércias dos costumes, as pulsões da afetividade, os con
dicionamentos dacultura, os fantasmas do inconsciente (FRÉMONT, 1976; •
citado de acordo com reedição 1999, p. 58).2
m
Os dois enfoques até então dominantes compartilham outro
.#
defeito: explicam aquilo que a observação revela da distribuição dos
homens, de suas atividades e de suas obras como se envolvesse fenô *
menos naturais que não podem ser questionados. Armand Frémont o
destaca:

A região, se é que existe, é um espaçovivido. Vista, percebida,sentida, amada


ou rejeitada, modelada pelos homens e projetando neles imagens que os mode
lam. Éumreflexo. Redescobrir aregião significa, então, procurar captá-la onde
ela existe, vista pelos homens (FRÉMONT, p.58).3

*
*•

2 De1'hommc à Iarégion et de Iarégion à Phommc, les transparences de Ia rationalité sont t


troublées parles inenics des habitudes, lespulsions de1'affectivité, les conditionncmcnts de Iaculmre, les
fantasmes de Pinconsricnt. (FRÉMONT, 1976; citado de acordo com reedição 1999, p. 58).
3 Larégion, si cllc existe, est un espace vécu. Vue, perçuc,ressentic, aimée ou rejetéc, modelée
par les hommes et projetant surcux des images qui les modèlent. Cest un réfléchi. Redécouvrir Ia région,
c'estdonc chercher à Iasaisir là ouelle existe,vuedes hommes. (FRÉMONT, p. 58).

21

42 .
JP
Francisco Mendonça e Salete Kozel (Orgs.)

Epistemologias paralelas
S

Diante das desilusões que surgem dos dois paradigmas que


compartilham a disciplina, os geógrafos exploram outras vias. Mui
tos não procuram questionar os pressupostos nos quais se baseiam as
problemáticas naturalista e funcionalista. O escopo deles é outro: an
tes analisar os encadeamentos causais em ação em uma ou outra des
sas perspectivas.
É uma boa hora para essa nova avaliação. As relações de
causalidade geralmente invocadas pelo enfoque naturalista e o enfoque
funcional são de tipo linear: é porque os solos são pobres e ácidos que
a cultura do trigo não rende muito, razão pela qual agricultores o
substituíram pelo centeio; é porque dentro dos Estados Unidos, a aces
sibilidade é máxima na zona compreendida entre a costa atlântica e o
vale superior do Mississipi que o Industrial Belt aí se fixou.
Os pesquisadores sabem muito bem que os processos são
freqüentemente mais complexos. A característica dos solos é um indi
cador problemático para o agricultor, mas as plantas que escolhe, a
cultura rotativa que pratica, as técnicas a que sempre recorre, os adu
bos que espalha, modificam as condições pedológicas. Num mercado,
os compradores propõem um preço em vista das quantidades e das
qualidades oferecidas. Em função desse preço, os vendedores modifi
cam suas propostas. Os compradores reagem propondo outra cota
ção. É ao final desse jogo de respostas alternadas que o preço vem a
ser estabelecido: estamos diante de um mecanismo de dupla retroação.
É à análise desse aspecto negligenciado da epistemologia da
geografia que se dedicam todos aqueles que, nos anos 70, se apaixo
naram pela análise sistêmica (AURIAS, 1979; GUERMOND, 1984).
O interesse surgiu, nesse campo, graças ao entusiasmo que se tinha
pela cibernética concebida como estudo dos mecanismos de feed-back,
de retroação, nos anos 50. Nos anos 60, o objetivo se amplia. Em vez
de se limitar a apenas uma cadeia causai em particular, é pelo conjun
to de cadeias causais ativas, num meio, ou numa sociedade, que há
interesse: nascem os enfoques sistêmicos.
Eles atraem ainda mais os pesquisadores pelo fato de serem
válidos tanto no campo natural quanto no campo social (BERTRAND,

22

- -- • - -

•13
Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea

1969, ROUGERIE; BEROUVACHICHLI, 1991). Quando o sucesso


dos enfoques funcionalistas distancia os geógrafos humanos da geo
grafia física, e a geografia física se restringe a especialidades precisas, o
enfoque sistêmico aparece como a salvação. Evidencia utilmente a
complexidade dos problemas que a geografia costuma analisar. Pro
longa, em uma atmosfera intelectual diferente, as reflexões dc-André
Cholley sobre as combinações em geografia (CHOLLEY, 1951).
,-. •.&•••.• Ê .

Repensando o tema da produção do espaço

O sentimento de insatisfação que os geógrafos sentem em


relação aos dois paradigmas a que aprenderam a recorrer também é
compartilhado por outros especialistas das ciências sociais: quando se
voltam para a geografia à procura de respostas às perguntas colocadas
pelas distribuições que estão estudando, suas perguntas ficam sem res
postas. Mergulham, então, numa reflexão paralela sobre o espaço. É
verdade entre os historiadores - Braudel inventa assim a geohistória
(BRAUDEL, 1995). Também o é entre os economistas. François Perroux
propõe, em 1950, uma reflexão sobre o espaço econômico
(PERROUX, 1950). Ele lhe atribui uma estrutura folheada: o primei
ro nível é constituído pelas realidades físicas, que compõem; segundo
ele, o próprio campo do geógrafo; o segundo trata da sociedade e da
economia, fala das empresas, destaca a existência de redes; o terceiro
é psicológico: os homens se projetam mentalmente no futuro; as em
presas elaboram projetos; a região não é somente uma realidade pre
sente; também existe em estado de região-plano, esse conjunto de vi
sões sobre o futuro que contribuem para moldá-la.
Aidéia de que o espaço tem uma estrutura folheada não tem
nada de original na época. É um dos temas prediletos da perspectiva
funcionalista: para ela, o mundo é estruturado ao mesmo tempo pe
las redes físicas das infra-estruturas, pelas redes das relações econômi
cas e sociais, e pelas redes complexas dos lugares habitados. A inova
ção de Perroux está em introduzir uma dimensão psicológica.

23

• 44 '- •••• ----- ' "-•rc


Francisco Mendonça e Salete Kozel (Orgs.)

p A idéia de região-plano torna-se, então, um dos lugares co


muns da economia e do "planejamento"; Henri Lefebvre a adota
(LEFEBVRE, 1974). Para ele, o espaço é uma realidade com três ní
veis: o das realidades materiais (ou naturais), o das realidades sociais
(o espaço ocupado pelos fenômenos sensoriais, inclusive aqueles que
resultam da imaginação constituída por projetos, símbolos e utopias)
/» e o das realidades mentais.
p Henri Lefebvre é marxista. Está acostumado a diferenciar
níveis nos dados da experiência: o da economia, o do social e do
político e da ideologia. Para os defensores da linha ortodoxa que pre
valecia então entre os comunistas franceses, é o econômico que, em
última instância, vence, c "superdetermina" os outros níveis. Estes
apenas merecem ser estudados graças ao lugar que ocupam nos dis-
r- cursos e nas discussões políticas.
Henri Lefebvre rompe simultaneamente com a ortodoxia
marxista e com os pressupostos compartilhados pelas perspectivas
naturalista c funcionalista, concedendo uma função essencial às ins
r tâncias conceptuais: é pelo fato das camadas populares recusarem as
0 condições que lhes são impostas, aspirarem a outras maneiras de viver
0
e lutarem para consegui-las que a realidade acaba se transformado. É
-
nessa ocasião que Lefebvre introduz a idéia do espaço produzido.
De certo modo, essa idéia não é nova. Na perspectiva
0
ambientalista, os meios humanizados apareciam como produtos da
0
evolução; na perspectiva funcionalista, o espaço organizado resultava
0
da história econômica e social. O que Henri Lefebvre diz, é que resulta
0
das representações mentais compartilhadas pelos atores sociais: estes
0
procuram a todo custo transformar seus sonhos em realidade. A op
r
ção de Lefebvre justificaa atenção que dedica aos movimentos sociais.
r
Ela lhe permite romper com a idéia de que o mundo onde vivem os
0
homens é o produto das forças que se impõem a eles como vidas de
0
fora. Sua interpretação é revolucionária, pois abre um espaço, na cons
trução do mundo, aos movimentos de revolta e à força do futuro. Sua
orientação é de esquerda, já que questiona as categorias propostas
• r
pelos defensores da ortodoxia, seja ela marxista, naturalista ou
neoposivista. • ,
í r
A fórmula de Henri Lefebvre é sujeita a contra-sensos. Para
muitos dos seus leitores, não há dúvida quanto ao fato da sociedade
.

p
p
'. r

v* . V •:-...- -••••.- . >;


45 ••• .. 5 ü ". .•-*.? . . ••- •
Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea

constituir a realidade primordial. A pesquisa deve se desenvolver, em


primeiro lugar, neste nível, evidenciar o jogo das contradições que
nela existem, as tendências que estas produzem e os modos de organi
zação que resultam de tudo isso. As formas sociais anteriormente de
finidas no espaço abstrato dos modos de produção projetam-se no
solo; neste caso, o espaço é, de fato, "produzido" pela sociedade; não
se quer dizer com isso que ele resulta de uma evolução ou de uma
história ao longo da qual a sociedade se transforma e reveste formas
renovadas; afirma-se que o social é anterior ao natural e o gera. A
proposição é absurda. Ela se opõe radicalmente aos pressupostos na
turalistas, porém não é possível para defendê-la. Seu sucesso é tanto
mais paradoxal quanto se deve a pesquisadores que conclamam em
alto som as suas convicções materialistas.
Muitos jovens geógrafos franceses flertam com as teses de
Henri Lefebvre, porém sem conseguir construir, a partir delas, uma
concepção nova do fazer geográfico. As orientações propostas por
Lefebvre têm mais repercussão nos Estados Unidos, onde inspiram em
parte Fredric Jameson e os que lançam a idéia de pós-modernidade
(JAMESON, 1991). Éno contexto mais amplo desses questionamentos
que é preciso se situar para compreender a especificidade do enfoque
cultural na geografia atual.

O enfoque cultural: as condições de emergência

A gênese do novo enfoque cultural se estende por uns vinte


anos, ligada ao aumento da insatisfação dos pesquisadores à procura
de novas perspectivas, à influência de uma corrente filosófica, a
fenomenologia, e ao reforço de atitudes cada vez mais críticas em
relação à ciência em geral e às ciências sociais em particular.

21.

•••••- ;;-.•' •
46
•.-•-• •••• •" ;;* •
p
0
P
Francisco Mendonça e Salete KozeI (Orgs.)
P

0 A redescoberta da experiência e da vivência


0
f
Os geógrafos estão fartos do caráter convencional e sem bri
lho das análises propostas tanto por parte da tradição naturalista
quanto pela corrente funcionalista. Os lugares não são vistos, não são
0 sentidos. As pessoas que os ocupam não têm mais consistência do que
P a das sombras (FRÉMONT, 1976). Estamos prontos a desdenhar os
conselhos de prudência metodológica aos quais nos conduzia a preo
f cupação com a objetividade. O geógrafo é uma testemunha do mun
0 do: quando é convocado a depor, tem o direito e o dever de dizer o
que viu e como o viveu. Isso não prejulga em nada a seriedade e a
P imparcialidade das posições que assumirá depois, mas enaltece o que
P apresenta e garante a autenticidade.
r A geografia restabelece, portanto, as ligações com o indiví
p duo e com uma certa especificidade que é proporcionada por um cer
f to espaço. No mundo anglo-saxão, a curiosidade com os sentidos dos
lugares se afirma no começo dos anos 70. Na França, e após Armand
p Frémond, valoriza-se mais a experiência vivida (FREMOND, 1976).
A fenomenologia então na moda justifica essas visões (DARDEL, 1952;
p RELPH, 1970).
Bastaram alguns anos para que as atitudes mudassem. Os
r
geógrafos redescobrem a preocupação da forma literária e dos meios
p necessários para dividir o que sentem, ou o que os grupos, que obser
r
vam e ouvem, sentiram. Não hesitam mais em falar dos indivíduos,
em contar a vidas deles, em acreditar em seus depoimentos.
A disciplina se libera do peso que a oprimia. Ela fala do
frescor do orvalho, da pureza de certos céus, do cheiro das fogueiras
com lenha ou de estéreo do qual é impossível escapar quando se per
corre a planície do Ganges em dias ensolarados, no inverno. Ela faz
descobrir o encantamento das paisagens da estação fria nos vales do
norte de Hondo, onde as nevascas acontecem em um ambiente tão
r
-
calmo que cada objeto, o selim de uma bicicleta, uma pedra no leito
de uma torrente ficam cobertos de um chapéu branco totalmente re
r
dondo e de aparência surrealista.
t
Os depoimentos relatados são plurifônicos: doravante, as
r
vozes das mulheres, dos jovens, dos idosos, contam tanto quanto as
r ii

26

• •

47
%

Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea


h
dos homens em idade de ganhar o próprio pão. Cada grupo dispõe de
grades específicas para ler o real. Cada um interpreta o mundo segun
do perspectivas que tanto quanto as demais merecem serem conside
radas. As certezas de um mundo que, acreditava-se, se impunha a to
dos da mesma maneira, opõem-se às dúvidas de uma percepção
doravante dividida, impressionista, evanescente às vezes. A complexi
dade à qual os geógrafos são confrontados, surge logo no início, quando
descrevem fatos elementares.
Essa geografia é encantadora, porém é um pouco sentimen
tal. É bom que os que a praticam descubram o mundo com um olhar è
ingênuo e que sejam capazes desurpreenderem-se e de ficarem maravi
lhados; porém será que não devem, a um certo momento, ter atitudes
m
menos ingênuas, mais críticas? É a reação de muitos: temem que a
m
moda do espaço vivido desacredite a geografia.
'm

Os questionamentos da ciência .-'

As atitudes em relação à ciência evoluem rapidamente a par i


tir dos anos 70. As certezas sobre as quais os procedimentos científicos
^
e epistemológicos positivistas repousavam no século XIX ficam aba-
ladas ao começar o século XX, com a elaboração das geometriás nao-
euclidianas, com as teses de Einstein sobre a relatividade e com o prin
cípio de incerteza de Heisenberg. A esse questionamento oriundo da

própria pesquisa, acrescentam-se as dúvidas que nascem do uso que se
faz das descobertas; o progresso científico pode ser a pior coisa se
serve para aperfeiçoar as armas e para tornar os conflitos mais destrui
dores: gases asfixiantes durante a Primeira Guerra mundial, armas
nucleares durante a Segunda.
Nos anos pós-guerra surgem novas preocupações: trata-se
das ameaças que pesam sobre o meio ambiente cuja gravidade até en
tão não tinha sido descoberta. Entretanto, os fundamentos
epistemológicos da ciência não são questionados. No máximo são
*
historiados: a Razão que orienta a pesquisa não é dada definitiva

mente; ela é construída passo a passo, ela se adapra às asperidadcs do

27

48
J
Francisco Mendonça e Salete Kozel (Orgs.)

real, aos desvios impostos pelas experiências (BACHELARD, 1938).


A passagem dos saberes de todos os dias para o conhecimento científi
co sempre vem marcada por uma ruptura fundamental da qual a re
volução galileana nos fornece o modelo (KOYRE, 1962).
'
As concepções mudam a partir da publicação da obra de
Tomas Kuhn sobre a estrutura das revoluções científicas, em 1962
(KUHN, 1962). Aparentemente, segue os trilhos traçados pelos estu
dos que Koyré tinha dedicado ao nascimento da física moderna siste
matizando a idéiade revolução científica (KOYRE, 1962). Porém não
é uma instância superior, metafísica, se é que podemos dizer assim,
que decide das mudanças de paradigmas: quando os procedimentos
usados normalmente pelos pesquisadores perdem a sua fecundidade,
esses procuram novos modelos. Éa sua virtude prática que decide do
seu sucesso e da recepção que vai receber por parte da comunidade
científica: são instâncias sociais que decidem da verdade. Essa deixa
de depender de uma razão abstrata. Será que não aconteceu a mesma
coisa com os saberes elaborados e utilizados pelas civilizações tradici
onais? A generalização da idéia de revolução científica desvaloriza a
idéia de ciência. A respeito, Feyerabend concluiu: a pesquisa é uma
empreitada que só pode florescer em um ambiente de anarquia e de
questionamento permanente da autoridade (FEYERABEND, 1978).

P
Considerações críticas sobre as ciências sociais

As ciências sociais são atingidas por esses questionamentos


gerais. Também por críticas mais específicas. Algumas retomam temas
já antigos: suponha-se que leis regessem os fatos sociais; não eqüivale
ria a deixar de se importar com a liberdade humana? Será que não
estamos cometendo um grave contra-senso contra a natureza humana
ao pretender estudá-la cientificamente? Esse era um dos temas predi
letos de Nietzsche. Esse tema guia Foucault, que procede a uma crítica
sistemática de todos os saberes construídos pelas ciências sociais nos
três últimos séculos (FOUCAULT, 1966).. Analisa-os mais como dis
cursos sobre a sociedade do que como ciências. De um período a ou-

P
28

"
Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea

rro, os pontos de vista que elas adotam, a epistemê à qual obedecem,


mudam.
A história das ciências sociais revela uma surpresa: os traba
lhos que os fundamentam não são, a bem dizer, científicos. Propõem,
nas suas primeiras páginas, relatos bastante curtos, que contam como
a sociedade nasceu. Apresentam-se como histórias, porém nada possi
bilita inventá-los. São muito parecidos com os mitos que as socieda
des primitivas utilizavam para dar um sentido ao Cosmos, à natureza
e ao destino dos indivíduos e dos grupos. Encontram-se na origem
das ideologias do mundo moderno: idéia de progresso, fascínio pela
utopia, filosofias da história (CLAVAL, 1980).
Se os textos relativos às ciências sociais são mais regidos pela
lógica dos discursos que pela da pesquisa das provas e da demonstra
ção rigorosa, é preciso tratá-los como tal: os trabalhos de Roland
Barthes ou de Jacques Derrida ensinam a "desconstruí-los", ou seja, a
ler por trás daquilo que dizem, seu conteúdo oculto (BARTHES, 1955;
DERRIDA, 1967).
O desenvolvimento das ciências sociais é contemporâneo da
moda da modernidade. Esta se impõe na literatura e nas artes ao lon
go do século XIX. Ela tem, como se apressa em lembrá-lo a história
da filosofia, raízes mais antigas, que são localizadas muitas vezes pró
ximas a Descartes. Entramos em um mundo "pós-moderno". As pers
pectivas abertas por ele possibilitam a crítica da modernidade. Elas
revelam as colusões que aconteceram entre pesquisadores e interesses
políticos e econômicos: para os críticos mais extremos, as ciências
sociais não tinham outra missão a não ser a de fornecer às instâncias
dominantes das sociedades ocidentais discursos para justificar o do
mínio que os homens exerciam sobre as mulheres, as crianças, as mi
norias, e a que os países industrializados impunham ao resto do mun ;í.i

do. Reclama-se, portanto, o nascimento de epistemologias "pós-colo-


niais" (GREGORY, 1994).
s

ISJ

i
29

50
P
0
0
Francisco Mendonça e Salete Kozel (Orgs.)
0
P
p
O enfoque cultural: sua formação sistêmica
P
P
*

P
Há uma geração que a reflexão epistemológica se desenvol
P
ve em um turbilhão de contestações, de questionamentos e de "revo
P
luções", que criam o sentimento de que se trata de um setor em plena
deliqüescência. Os discursos e as práticas tradicionais foram profun
P
p damente afetados pelas ondas de contestação. Um novo modo de con
ceber a geografia aflora então.
p

p
p
No começo: dadosfragmentários e não hierarquizados
p

ir O que autorizavam os autores do passado em falar da "na


tureza", da "economia", da "cultura" ou do "espaço"? O que lhes
permitia afirmar que a natureza era anterior à sociedade, quando a
percepção que temos das mesmas as entende na sua simultaneidade?
A ruptura com as perspectivas antigas se torna fato consumado quan
do James Duncan denuncia, em 1980, a concepção "super-orgânica"
da cultura que era a de Carl Sauer e a da escola de Berkeley (DUNCAN,
1980): não, a cultura não é uma realidade que sedia em um empíreo
inacessível, e que se imporia aos homens por não se sabe qual meca
nismo misterioso. O questionamento da noção central da geografia
cultural valeria também para os que apresentam a "natureza", a "so
ciedade", o "Estado" como entidades superiores que os pesquisadores
r | devem aceitar como dados.
'. Richardson aprende uma primeira lição da crítica de Duncan
(RICHARDSON, 1981): os geógrafos devem trabalhar sobre realida-
p '• íí des mais acessíveis, mais próximas. Entenderão assim a passagem das
f informações de um a outro (MONDANA e SÒDERSTRÕM, 1994).
0 Tomarão consciência da reinterpretação das normas as quais as pesso
0
as se entregam permanentemente. A cultura perderá nisso a sua unida
0 de: doravante, ela aparecerá como uma bagagem própria a cada indi
0
víduo, que aprende a combinar e a interpretar o que lhe foi transmiti-
0
111 do e o que lhe traz a experiência.
r
0
0 . 30
r
... ,....._._-- . . ,. ,^

r
Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea

'm
A crítica de Duncan e os comentários propostos por
Richardson iluminam o caminho: indicam como substituir reflexões
sobre noções que nada permitem realmente apreender por estudos mais
pontuais, mais modestos, e centralizados nos processos que dão a luz
-i
à cultura (CLAVAL, 1995) - podendo aplicar o procedimento tnutatis
mutandis a outros conceitos e a outras áreas da geografia: sociedade,
natureza, espaço etc.
• -•£•:" &

Itinerários, "timegeography" e "locais'


m
*

É Hâgerstrand quem abre a perspectiva a partir da qual é


possível encarar a reconstrução da geografia como ciência. Ele foi for
temente marcado pelas pesquisas do demógrafo Lotka e entendeu que
não se podia explicar a vida social pretendendo eliminar a sua dimen
são temporal. A pesquisa social trata de conjuntos renovados de indi
víduos. Convém partir deles, de suas trajetórias de vida e de como elas
se inscrevem no espaço (HÂGERSTRAND, 1970).
Anthony Giggens entende quanto o enfoque da time
geography modifica as perspectivas sobre a realidade social (GIGGENS,
1984): a observação se interessa por indivíduos específicos,, acompa-
nha-os nas etapas de suas vidas, toma nota dos seus domicílios;, dos
lugares onde trabalham, daqueles onde fazem as compras e quèfre-
qüentam nas horas de lazer e de descanso; reconstitui os seus desloca
mentos. A vida social se organiza em volta de lugares de encontros, de
ateliês ou de escritórios onde as pessoas colaboram, de bares onde se
observam e se encontram. A freqüência das relações que assim nascem
faz com que os que participam de um mesmo círculo de
intersubjetividade usem as mesmas palavras, com os mesmos matizes e
as mesmas conotações. Eles se entendem por meia palavra. Formam
aquilo que Giddens chama de locale, quer dizer, uma unidade elemen
tar de relações sociais, de cultura, de sentidqs..e fie .lugares comparti
lhados. Entretanto, o locale tem limites mutárítes é hão se confunde
nem com um ponto nem com uma área específica: por isso Giddens
evita falar em lugares e forja o termo de locale.

31

52 • '•*'." •-''- '•"'" """-" • '• •' '


iA Francisco Mendonça e Salete Kozel (Orgs.)

j1 A realidade que os geógrafos, como os sociólogos ou os an-


I tropólogos, estudam, é percebida na escala dessas realidades elemen-
i tares. É falada, descrita e vivida ao mesmo tempo por aqueles que a
i animam. As ciências sociais se interessam simultaneamente pelas ati-
i rudes, pelos costumes e pelas práticas das populações pelas quais se
interessam, e como elas são percebidas e alimentam discursos.
A perspectiva cultural implica que se renuncie aos pontos de

t
P
vista totalizadores e às generalizações sem fundamentos sólidos que
proporcionavam. Ela parte do indivíduo e de suas experiências por
que é através delas que os homens descobrem o mundo, a natureza, a
P sociedade, a cultura e o espaço. Indaga também a respeito do real, da
P maneira como é percebido, das palavras que dizem e das imagens que
o traduzem (BERDOULAY, 1988).
f
r,
r!
Uma nova maneira de apreender o social

0
P
A história e a sociologia nos tinham ensinado a fazer das
r
classes e dos sistemas de relações institucionalizados os fundamentos
p
de toda análise social. Nesta perspectiva, os processos que davam a
p coesão ao corpo social eram econômicos - a riqueza está nas mãos de
p grupos que a utilizam para manter o seu domínio - ou políticos - o
exercício do poder, se necessário de forma violenta, completava o jogo
r da economia. Será que não estamos nos arriscando, se colocamos o
r-
indivíduo no centro da análise, a esquecer o jogo das forças sociais,
, econômicas ou políticas? Não, mesmo se não as apreendemos mais da
mesma forma. Com efeito, é a um nível mais elementar que apreende-
P* mos a constituição do social: este se implanta através do jogo das
r"; representações que as pessoas recebem do mundo que as cerca, e que
constituem as grades através das quais percebem o real (BAILLY, 1995;
r*' DEBARDIEUX, 1998). É pela imitação dos gestos e das atitudes e
pelas palavras que aprendemos a utilizar para falar do mundo, que a
sociedade se constrói e que as mais poderosas''formas de influência e :

de condicionamento se introduzem.

*
r 32

P
P - - - -•-,.-••

53
.. :

P
*

#
*
Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea
*
*
*
O espaço como teatro: a paisagem, o lugar e o território
*
*

O espaço que os novos enfoques apreendem não é mais con •
cebido como um mosaico de meios naturais ou humanizados; ele não

aparece mais como o suporte folheado e organizado das atividades «*
humanas. Constitui um teatro onde as pessoas se oferecem um espetá <•>

culo. E necessário aí um palco, ou palcos, onde os atores possam atu ^


ar, uma platéia e camarotes para aqueles a quem o drama, a comédia, *
ou a tragédia interessam, bastidores para proteção dos olhares indis
*
cretos, e corredores que levem aos assentos, ou que vão do palco aos
«
bastidores, e vice versa.
*
Dizer que o espaço dos novos enfoques constitui um palco é
+
dizer que existe uma relação estreita entre a intriga apresentada e o
+
cenário onde acontece. O geógrafo se interessa pela paisagem
+
-

(BERQUE, 1996; ROGER, 1995). Não a explora mais em uma pers


*
pectiva funcional ou histórica, como o fazia antes. Ele a vê como um
*
elemento essencial da vida dos indivíduos e dos grupos. É sensível às
#
conivências que se estabelecem entre as formas materiais, ou vivas, os
*
conjuntos construídos e os que freqüentam os lugares (SAUTTER,

1979).
O palco deve o seu caráter aos atores que nele se encontram, *

à peça que interpretam e ao cenário em que acontece. O conjunto t


possui uma certa unidade: é o que faz dele um lugar (ENTRICKIN, *

1991). Quando um lugar toma a forma de um tecido de lugares car *


regados de sentido para todo uma população, ele se torna território +
(BONNEMAISON, 1997 e 1998). +
O espaço transformado em território oferece aos grupos uma *
1
base e uma estabilidade que eles não teriam sem isso. Faz nascer um *
sentimento de segurança. As paisagens que o caracterizam, os monu p *
mentos que nele se encontram tornam sensível a história coletiva e *

reforçam a sua força. O território constitui um dos componentes es •

+
senciais das identidades. •

+
m>

^

;
%
I ~!
'

33
1 •%

H
1

i
f Francisco Mendonça e Salete Kozel (Orgs.)

Lugares, encontros e horizontes de expectativas

O espaço onde se movimentam os indivíduos lhes oferece


ocasiões de encontros e de experiências renovadas. Em vez de ficarem
trancados em ambientes cujas instituições sociais garantem a conti
nuidade, descobrem novos horizontes. Eis que estamos ao lado de
estrangeiros que têm uma formação similar à nossa, exercem uma
profissão que pouco difere da que praticamos aqui, mas que têm salá
rios mais elevados, férias mais longas, um acesso mais fácil a todos os
níveis de educação para seus filhos, e uma melhor qualidade do aten
dimento médico do que daqueles que usufruímos. Ninguém se atrevia
a sonhar com tais possibilidades. Agora que os encontros acontece
ram, cada um diz para si mesmo: "porque não eu?"
Os lugares freqüentados abrem, portanto, perspectivas no
vas para novos futuros para todos. Nas situações multiculturais, ima
gina-se muitas vezes as pessoas apegadas às suas convicções, agarradas
às normas que lhes foram ensinadas e, sobretudo, preocupadas em
proteger suas identidades. Essas reações existem e explicam o aumen
to das tensões em muitas situações em que os grupos são levados a
coabitar. Porém, o que esquecemos é a transformação dos horizontes
de expectativas que resulta do contato com os demais: as trajetórias
seguidas pelos membros do grupo a qual pertencemos não são sempre
aquelas que permitem viver melhor, tirar o melhor proveito de suas
aptidões e dar todas as suas chances para seus filhos. Os sinais exteri
T
ores de pertença a tal ou tal etnia subsistem - eles são até mesmo
muitas vezes reforçados. Ao mesmo tempo, e segundo as informações
-

1
recebidas de fora e os contatos diretos, as atitudes mudam; o que
esperamos da existência se modifica.
Os fluxos de notícias que nos chegam de outras partes e os
:í;
encontros com o exterior, entretanto, modificam profundamente os
/•

^
comportamentos. É assim que a modernização das sociedades aconte
* • • ce, a despeito das normas impostas pelas suas culturas, e graças às
perspectivas descobertas pelas massas, rienri Lefebvre estava certo ao
-

» 1 '

T •

«•
salientar o quanto o jogo dessas projeções multiplicadas numa escala
de sociedades inteiras podia pesar sobre o futuro das mesmas.
- '

«» 1
'•» ':
**•

"•"
Ml1

*•
t
í •

34

c
^,...
55

*
Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea

Conclusão

Existem várias maneiras de conceber a geografia. A


epistemologia se interessa simultaneamente pelas grandes questões que
os pesquisadores tentam resolver, e pelos meios que os mesmos usam
para consegui-lo. Aqui tratamos do primeiro aspecto.
Pareceu-nos possível resgatar três problemáticas maiores: a
perspectiva naturalista estuda a inserção dos grupos humanos no meio"
ambiente; o ponto de vista funcionalista estuda como os mesmos con
seguem se estruturar organizando o espaço para vencer o obstáculo da
distância. O enfoque cultural se recusa a considerar a natureza, a soci
edade, a cultura, o espaço como realidades prontas, dados que se im
poriam aos homens como do exterior. Julga que o mundo é mais
complexo. Para mostrá-lo, parte dos indivíduos e se debruça nas suas
experiências. O que lhe importa é compreender o sentido que as pes
soas dão à sua existência.
Tamanha mudança de perspectiva sacudiu o todo o arcabouço
científico tradicional. A moda da desconstrução e das epistemologias
pós-colonialistas tende a reduzir o conhecimento científico a um dis
curso às ordens dos interesses dominantes. Nem todo mundo compar
tilha o ceticismo e o pessimismo que traduzem essas concepções. A
construção de um novo modo de conceber a geografia está no cami
nho certo - esperamos tê-lo demonstrado.
Geralmente costuma-se, sob a influência de Thomas Kuhn,
conceber a história das ciências como uma sucessão de fases normais e
de revoluções. Essas propõem paradigmas que substituem os que pre
valeciam até então, mostravam-se incapazes de dar conta de um nú
mero crescente de fatos.
O que a evolução do pensamento geográfico propõe é dife
rente: a constituição de uma série de pontos de vista diferentes, mas
que não se excluem totalmente. Não é porque nos interessamos pelas
reações individuais das pessoas que a inserção dos grupos humanos
no meio ambiente deixou de ser um problema pertinente, ou que os
efeitos do congestionamento, nas áreas de alta densidade que analisa
vam os enfoques funcionais, desapareceram.

XL

.•-'•'." "SP' •"-"


58 •
:

56
Francisco Mendonça e Salete Kozel (Orgs.)

Nota complementar

Introdução
Que epistemologia para enfrentar um inundo globalizado?

Aglobalização: novos desafios para ageografia

A situação da geografia no mundo atual é paradoxal. As


evoluções atuais explicam a atenção redobrada que damos aos pro
blemas tratados por nossa disciplina: 1. o papel do espaço é mais
evidente que no passado devido à globalização; 2. todas as ciências
sociais se concientizaram do sentido do espaço na vida dos grupos
humanos - o que corresponde a um fenômeno novo/novidade.
Ao mesmo tempo, os geógrafos se questionam quanto à iden
tidade e às finalidades de sua disciplina. Sentem que esta não é conce
bida de modo satisfatório; esta é a razão pela qual eles se interessam .
pelos problemas epistemológicos.
No passado, os homens se viam confrontados a dois proble
mas geográficos essenciais: 1. o meio ambiente parecia geralmente
(como) avaro demais para satisfazer as necessidades dos grupos hu
manos - o que explicava a importância dada às relações entre os ho
mens e o meio ambiente; 2. o espaço aparecia como um obstáculo às
relações entre os indivíduos e entre os grupos humanos. A distância
era sempre um fator essencial da explicação geográfica.
O progresso técnico modificou muito profundamente essas
condições nos últimos cinqüenta anos. 1. Graças à diminuição dos
custos de transporte, tornou-se possível mobilizar formas de energia
concentradas em qualquer parte do globo, o que provocou um cresci
mento fenomenal da produtividade da natureza. Localmente, essa
deixa de parecer tão avara quanto antes. Se os recursos locais não
bastam para satisfazer a demanda, sempre é possível importar o que
falta de outros lugares. 2. O progresso técnico tem outras conseqüên
cias. A distancia não aparece mais como um obstáculo tão grande

38
t

Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea

quanto no passado devido às revoluções do transporte veloz e das


telecomunicações. 1%
Desse modo, os dois problemas maiores dos geógrafos do
passado, a avareza da natureza local e a distancia como obstáculo
maior à mobilidade, desapareceram. Para muitos pesquisadores em
outras ciências, a compressão contemporânea do espaço significa que
a geografia perdeu uma parte importante do seu papel". Para os
geógrafos, a evolução técnica contemporânea tem um significado di
ferente: 1. A avareza da natureza aparece cada vez menos como um
problema local, porém os limites impostos pelos meios à ação huma
na não deixaram de existir; mudaram de caráter, manifestam-se mais
pela multiplicação das poluições do que pela impossibilidade de pro
duzir aquilo que precisamos; mudaram também de dimensão, o equi
líbrio global do planeta está ameaçado pelo efeito estufa, o buraco de ,-!•
ozônio etc; 2. a maior facilidade da vida de relações não leva a uma ^
uniformização geral da Terra; a função dos lugares e a dos sentimen- :&
tos de enraizamento é maior que no passado. •'.
Para explicar essas evoluções, é indispensável desenvolver uma
reflexão sobre a epistemologia de nossa disciplina.

As grandes famílias epistemológicas da geografia -í ÇH


.- .-:'?
•ti
:-
-r?

Amodernização dos enfoques tradicionais e os problemas oriundos 'da


globalização

I
Os enfoques naturalistas efuncionalistas conheceram durante
os últimos trinta anos uma modernização inegável, o que os tornou
mais aptos a tratar das realidades do mundo atual. Graças às perspec
tivas sistêmicas, pode-se compreender as evoluções complexas que
conduziram à extensão das áreas vítimas de poluições, do
desregulamento dos mecanismos que regiam os equilíbrios naturais
no planeta - efeito estufa, buraco do ozônio etc.

39
!
. . .... ... .~-"~rr". » —*• 6Q. ........... . • ---..-•:«.,-;« ..v-
P
Francisco Mendonça c Salete Kozel (Orgs.)
P

No que diz respeito aos humanos, considerar as novas


tecnologias de transporte veloz e de telecomunicação ajuda a entender
as transformações das redes urbanas e a função crescente das cidades
muitos grandes - a teoria da metropolização, que se baseia nosenfoques
funcionalistas dos anos 60 e é suficiente para explicar a emergência
das cidades globais e a manutenção da concentração de algumas fun
ções em alguns grandes centros (urbanos).
O que as epistemologias naturalistas e funcionalistas não esr
clarecem, mesmo na sua versão modernizada, é o aumento dos senti
mentos de identidade, dos fundamentalismos, o progresso das seitas
ou a nova preocupação com a preservação do patrimônio que pode
mos observar no mundo atual. Os novos caminhos tomados pela re
flexão epistemológica fornecem ferramentas para tratar desses proble
mas.

m
p
Conclusão
f
P
P O aprofundamento contemporâneo das reflexões sobre a
epistemologia da geografia e a aparição de um paradigma cultural se
P explicam pela dinâmica recente do pensamento crítico. Não refletem
P diretamente os processos e os problemas da globalização. Os
P paradigmas mais antigos, e agora modernizados, permitem entender
boa parte dos problemas do mundo atual.
p O enfoque cultural parece, em compensação, fundamental
ÍP para entender a ressurreição dos lugares, as transformações dos terri-
\ tórios e os problemas de identidades nas sociedades multiculturais de
um mundo globalizado.
f

P
P
0 /

40 «'-
0

Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea

Referências

AMADEO, D.; GOLLEDGE, R. Introduction to scietitific reasoning in geography. New


York: John Wilcy, 1975.
1
i
AURIAC, F. Système économiqtte et espace: un exemple cn Langucdoc. Montpellier:
Thèse-MontpcIlier-III, 1979.
BACHELARD, G. La formation de Vcsprit scientifique. Paris: PUF, 1938.
BAILLY, A. Les représentations cn géographie. In: BAILLY, A.; FERRAS, R.; PUMAIN, D.
(Dir.). Encyclopêdic de Ia Géographie. 1995.
BAILLY, A. (Dir.). Les concepts de Ia géographie. Paris: A. Colin, 1998.
BAILLY, A.; FERRAS, R. Eléments d'épistémoiogie de Ia géographie. Paris: A. Colin, 1997. *
BAILLY, A.; FERRAS, R.; PUMAIN, D. (Dir.). Encyclopêdic de Ia géographie. Paris:
Econômica, 1995. p. 369-381.
BARTHES, R. Mythologies. Paris: Seuil, 1955.
BERDOULAY, V. Des mots et des lieux: Ia dynamiquc du discours géographique. Paris:
CNRS, 1988. «I

BERQUE, A. Les raisons du paysage: de Ia Chine antique aux environnemcnts de synthesc. 0


Paris: Hazan, 1996.

, Ecoumène. Paris: Belin, 2000.


BERTALLANFFY, L. General systems theory. New York: Brazillcr, 1968.
BERTRAND, G. Paysagc et géographie physiquc giobalc. Revue Géographique des Pyrénées
et du Sud-Ouest, p. 249-272. 1968.
BONNEMAISON, J. Les fondements culturels d'une identité: 1'archipel du Vanuatu. Pa
ris: Orstom, 1996-1997. 2 v.
BRAUDEL, F. Géohistoire: Ia société, 1'espacc et le tcmps. In: Les ecrits de Fernand
Braudel. Paris: Plon, 1995.
BUNGE, W. Theoretical geography. Lund: Glcerup, 1962.
CHOLLEY, A- La géographie (guide de 1'étudiant). Paris: PUF, 1951. ;•>
, •.
.-i
, •.
..i

CLAVAL, P. Géographie génêrale des marches. Paris: Les Bellcs Lcrtres, 1964. • •i

. Les mythes fondateurs des sciences sociales. Paris: PUF, 1980.


. Géographie humahie et économique contemporaine. Paris: PUF, 1984.
_. Uépistémologie deIa géographie. In: DESPLANQUES, P. (Dir.). Profession enseignant:
Ia géographie cn collcgc et au lycée. Paris: Hachettc, 1994. p. 24-57.
. La géographie culturelle. Paris: Nathan, 1995.

41

. •
" - 62
p

p Francisco Mendonça e Salete Kozel (Orgs.)

CLAVAL, P. Epistêmologie de Ia géographie. Paris: Nathan, 2001.


p
r
DARDEL, E. Uhomme et Ia terre. Paris: PUF, 1952.
r DEBARBIEU1X, B. Les problématiqucs de 1'image et de Ia représentation en géographie.
p In: BAILLY, A. (Dir.). Les concepts de Ia géographie. Paris: A. Colin, 1998. p. 199-211.
r DERRIDA, J. üecriture et Ia différance. Paris: Scuil, 1967.
r DUNCAN, J. The supcrorganic in American cultural geography. Annals ofthe Association
r of American Geographers, 1980, v. 70, p. 181-198.
p ELIADE, M. Le sacré et le profane. Paris: Gallimard, 1965.
p ENTRIKIN, N. The betwecmiess of place. Londres: Macmillan, 1991.
r
FEYERABEND, P. Science in a free society. Londres: NLB, 1978.
p
FOUCAULT, M. Les tnots et les choses. Paris: Gallimard, 1966.

r . Uarchéologie du savoir. Paris: Gallimard, 1969.


r FRÉMONT, A. La région, espace vécu. Paris: PUF; rééd. Champs-Flammarion, 1999.
r GALE, S.; OLSSON, G. (Dir.). Philosophy in geography. Dordrecht: Reidel, 1979.
<~
GIDDENS, A- La constitution de Ia société, Paris: PUF, 1987.
GODLEWSKA, A. Geography unbound: French géographie science from Cassini to
r
Humboldt. Chicago: Chicago University Press, 1999.
GOTTiMANN, J. La politique des etats et leur géographie. Paris: A. Colin, 1952.
GREGORY, D. Geographica! imagination. Londres: Blaclcwell, 1994.
GUERMOND, Y. (Dir.). Analyse de système en géographie. Lyon: Presses Universitaires de
Lyon, 1984.
p HÀGERSTRAND, T. What about people in regional science. Papers ofthe Regional Science
Association, 1970, v. 24. p. 7-21.
p
p HARVEY, D. Explanation in geography. Londres: Arnold, 1969.
r JAMESON, F. Posttnodernism, or the cultural logic of late capitalism. Londres: Verso,
1991.

r "KOYRE, A. Du monde closà 1'univérsinfini. ParísVPUF, 1962.


KUHN, T.The strueture ofscientific revolutions. Chicago: Chicago University Press, 1962.
p
LEFEBVRE, H. La produetion de Vespace. Paris: Anthropos, 1974.
p
MONDADA, L.; SODERSTOM, O. Lorsque les objets sont instables: des espaces urbains
p
en composition. Géographie et Cultures, v. 3, n. l^p. 87-108. 1994.
PERROUX, F. Les espaces économiques. Economie appliquée, v. 3, p. 225-233. 1950.
0
P RELPH, E. An enquiry into therelations betwecn phenomenology andgeography. Canadian
Geographer, v. 14, p. 193-201. 1970.
P

r 42

, .--
êã
Elementos de Epistemologia da Geografia Contemporânea

RICHARDSON, M. On the supcrorganic in American cultural geography: commentary on


Duncan*s paper. Annals of the Association of American Geographers, v. 71, p. 284-287.
1981.

ROGER, A. La théorie du paysage en France (1974-1994). Seyssel: Champ Vallon, 1995.


ROUGERIE, G.; BEROUTCHAVCHICHLI, N. Géosystèmes et paysage: Bilan et
métbodes. Paris: A. Colin, 1991. ••.-
y . -4
SAUTTER, G. Le paysage commc connivence. Hérodote, n. 16, p. 40-67. 1979. /
•%'.
STASZAK, J. F. La géographie. In: BERTHELOT, J. M. (Dir.). Epistémologie des sciences
sociales. Paris: PUF, 2000.
SUESS, E. La face de Ia Terre. Paris: A. Colin, 1908-1918. 4 v.

!*
^

4

. . •

r
43


p TEXTO 3

p
Marcelo Lopes de Souza
r

Os conceitos fundamentais
da pesquisa sócio-espacia!
r

*
r Apresentação
r
Socioespacial, sócio-espacial...
r
(Ou: sobre os propósitos e o espírito deste livro)

r
p
P
Cip-Brasil. Catalogação na fonte
p Sindicato Nacional dos Editores de Livros - RJ

S713c Souza, Marcelo Lopes de, 1963-


p
Os conceitos Fundamentais, da pesquisa sócio-espacial/
Marcelo Lopes de Souza. —2013. 1 ed. —Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2013.
0" 320 p.: 23 cm.
0
Inclui bibliografia
P
ISBN 978-85-286-1732-0
P
1.Geografia urbana.2.Geografia humana. 3.Urbanização.
P
I. Título.
P
~
CDD: 307.76
P 13-03240 CDU: 316.334 .

P
P
r

0
* 65
Apresentação
Socioespaeial, sócio-espacial...
(Ou: sobre os propósitos e o espírito deste livro)

Oque são os nossos conceitos, e para que eles servem? Tentarei res
ponder a essa pergunta com a ajuda de duas metáforas. Se pen
sarmos que, para elucidar a realidade, precisamos erguer "edifícios" que
nos permitam enxergar mais e melhor, podemos entender os conceitos
como os "tijolos"; a teoria como sendo os "tijolos" com "argamassa",
já assentados, formando um todo coerente; e o método como sendo a
maneira de "assentar os tijolos", "levantar as paredes" etc, sem agredir
a realidade (sem ignorar a "topografia", sem enfeiar a "paisagem'', sem
deixar de aproveitar os "materiais" disponíveis mais apropriados...). á
É claro que não nos valemos de tantos conceitos, em uma pesquisa
empírica (mas teoricamente lastreada...) ou reflexão essencialmente teó
rica (mas devidamente informada pela pesquisa empírica...), quantos são
os tijolos deum edifício. Apesar disso, talvez ametáfora ajude a perceber o
papel dos conceitos como unidades explicativas fundamentais, ao mesmo tempo
constitutivas de qualquer construção teórica (e üriprescindíveis a toda
pesquisa empírica que vá além do empirismo mais chão e descarnado)
e nutridas pelas abordagens teóricas, as quais lhes garantem coerência.

OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA PESQUISA SÓCIO-ESPACIAL

66
P"
p
0
p
p
É importante, adicionalmente, ressaltar que os nossos "tijolos"
podem ter, cada um deles, um nome, mas eles e seus nomes são duas
coisas diferentes. Uma coisa é o termo técnico que, por assim dizer, reveste
o conceito; outra é o conceito em si mesmo, ou seja, o núcleo de signi
ficado que constitui a unidade explicativa fundamental em questão. Não
P*
é ocioso lembrar isso, pois tem sido comum, em nossa época, a proli-
'•

feração de palavras, mais do que, propriamente, de conceitos. Por um


lado, isso reflete, sem dúvida, as angústias e as perplexidades de nosso
tempo; por outro lado, contudo, reflete, igualmente, a sua superficia-
lidade. Ou seja: a forma "avança" para além do conteúdo, com prati
camente cada autor querendo deixar uma marca pessoal. O ideal seria
.deixar essa marca (projeto inteiramente legítimo, é óbvio) por meio de
novas e profundas (re)interpretações, renovados esforços de elucidação,

P novas sínteses de fôlego, e assim sucessivamente. Porém, na falta disso,


muitos se contentam, na nossa época de inflação terminológica, com
r
acrescentar uma ou outra palavrinha ou expressão vistosa, redefinir um
pouco o significado de algum termo preexistente ou inventar algo "sur
P
preendente" (quanto mais inusitado, melhor). O resultado, para os estu-
dantes e mesmo para os pesquisadores já experimentados, é um cipoal
P de palavras (e, em parte, também de conceitos ou embriões conceituais)
r
0
cada vez mais emaranhado. Não são poucos os que se confundem, inclu
sive imaginando, ou sendo induzidos a imaginar, que o conceito "x"
é mais importante que todos os outros, ou que o conceito "y" saiu de
P
^ moda, e coisas que tais.
t:•
Vou mudar a metáfora (aprecio muito as metáforas, pelo menos
em livros de divulgação científica ou para estudantes de graduação, por
0> '•
mais perigosas que sejam as analogias: o seu valor didático pesa mais
r
p
10 l MARCELO LOPES DE SOUZA

p
r
p 67
p
r

que o risco de comparações que, se não formos cuidadosos, podem soar


esdrúxulas ou induzir a associações indevidas). Imaginemos, agora, os
conceitos como "ferramentas". Uma ferramenta, obviamente, só nos
será útil se soubermos usá-la, se tivermos um mínimo de treinamento
e familiaridade com ela. A melhor ferramenta de carpintaria será inútil
nas mãos de alguém que nada entenda do ofício. Da mesma maneira que
unia ferramenta precisa ser testada ou, pelo menos, se tornar familiar
a quem vai utilizá-la, uma idéia vaga e ainda não refletida consciente e
sistematicamente deveria ser antes considerada uma noção que um conceito.
O limite entre noções e conceitos pode ser, na prática, muitas vezes difícil
de estabelecer com total segurança e sem arrogância, mas nem por isso a
distinção, em si, é desimportante.
Se os conceitos são as nossas "ferramentas", precisamos, para o
complexo trabalho da pesquisa sócio-espacial, nos valer de toda a nossa
"caixa de ferramentas" (e, não raro, criar ferramentas novas, de tempos *
*
em tempos, mas com sobriedade e de acordo còfn reais necessidades);
^
não faz sentido se fixar em uma única. Exagerar o papel de uma "fer
ramenta" conceituai seria como ignorar o martelo e o serrote e achar
que, com uma chave inglesa, posso martelar pregos (coisa que, desajei ^

~
tadamente, ainda vai) ou serrar madeira (o que, efetivamente, não dá).
^
Privilegiar um determinado conceito, aprioristicamente e à revelia das
circunstâncias concretas, em detrimento dos demais, me parece algo tão
A
bizarro quanto um artesão que, independentemente do trabalho alme V

jado e do material, insiste em só trabalhar com uma única ferramenta.


Deve ficar claro que, na pesquisa, isso tende a produzir interpretações
que são autênticos aleijões analíticos. Por certo que dominar os prin
cípios de cada "ferramenta" conceituai e saber combinar inteligen-
temente as várias "ferramentas" não será, ainda, garantia de sucesso
na pesquisa. Mas, sem isso, o fracasso estará pré-programado.

OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA PESQUISA SÒCIO-ESPACIAL | 1 1

' "

... _ .....6*.. „ - *
r

O presente livro é dedicado, em primeiro lugar, aos geógrafos de


formação (estudantes de graduação, principalmente), mas não só a eles.
A pesquisa sócio-espacial tem se beneficiado, há muitas décadas (em
parte, até há muito mais tempo do que isso), dos aportes de sociólogos
(especialmente urbanos), economistas regionais (e especialistas em
teorias locacionais), e assim segue ~rr sem esquecer dos insights e da ins
piração direta ou indireta fornecida por vários filósofos e, também, por
Sarquitetos (-urbanistas). Desejo, por isso, que os estudantes e estudiosos
j de Sociologia, Arquitetura etc. também possam ver alguma utilidade nas
1páginas que seguem. Do meu ponto de vista, a pesquisa sócio-espacial
r i engloba os esforços de investigação científica, filosoficamente embasada
r
e informada, em que as relações sociais e o espaço são, ambos, devida-
p
mente valorizados e articulados entre si com densidade no decorrer da
r construção do objeto e da própria pesquisa. E é uma questão de bom
P
senso, mais até do que um dever de justiça, reconhecer que vários pro-
fissionais, com formações as mais diversas, além dos geógrafos, têm
colaborado decisivamente para esse tipo de pesquisa há gerações. Em se
tratando da pesquisa sócio-espacial em sentido forte, que poderíamos
assim definir como um campo interdisáplinar — se bem que, indo além
disso, alguns se esforçam para conferir à matéria os contornos ousados
de um empreendimento transdiscipliiiür ou adisciplinar... —, a divisão do tra
balho acadêmico, com seus "muros" e suas "cercas", se faz, infelizmente,
também presente; porém, felizmente, tais "muros" e "cercas" são mais
costumeiramente ultrapassados e transgredidos que em outros casos.
P
Há uma dose de arbitrariedade e subjetividade neste livro; não apenas
r
no tratamento dado aos conceitos, mas na própria escolha deles. Outro
autor selecionaria, talvez, ao menos em parte, outros conceitos. Creio,
no entanto, abarcar a maior parte daqueles atualmente mais relevantes,
P

1 2 | MARCELO LOPES DE SOUZA

6,
#
*
*
*

no sentido de mais usados e debatidos ou, no meu entendimento pessoal, •


no sentido de mais úteis. A bem da verdade, há aqui três grandes tipos
de conceitos: há aqueles que, talvez indiscutivelmente para a maioria dos
pesquisadores, são imprescindíveis, ainda que a maneira de lidar com eles
possa variar (caso da maioria dos conceitos apresentados nos capítulos
1 a 8); há, também, aqueles conceitos que, embora já estabelecidos e con
sideradosimprescindíveis por muitos pesquisadores, nãosão correntes ou
aceitos por outros tantos (caso da idéia de "produção do espaço"), ou, então,
não são conhecidos pelo termo técnico aqui empregado (como ocorre
com o substrato espacial material), ou estão sendo resgatados do esquecimento
ou quase esquecimento (setor geográfico), ou, em certos casos, ainda não se
consolidaram suficientemente, pelo menos no Brasil ("construção social àa
escala" e "política de escalas"); por fim, há aqueles conceitos que, sem dúvida,
não são de modo algum usuais': os "termos nativos", por se referirem, no
fundo, a noções extraídas do senso comum, e cujo tratamento con
ceituai ainda é, via de regra, embrionário e pouco conhecido, e o con
ceito de desenvolvimento sócio-espacial, por consistir em uma. contribuição
pessoal minha e ainda pouco disseminada. No fundo, está claro que a
qualificação dos conceitos aqui contidos como "fundamentais" tem a ver,
em parte, com certas tradições de uso pelos pesquisadores, mas, acima
de tudo e em ultima análise, com aquilo que eu mesmo considero como
básico.

O presente livro pretende ser uma simples introdução. Entretanto,


por incrível que possa parecer, mesmo conceitos básicos não estão isentos
de controvérsias. (Bem, quem porventura .tiver uma razoável familiari-
dade com as ciências sociais não achará assim tão incrível...) Muitos,
praticamente todos, são objeto de interpretações concorrentes. Seria,
portanto, desonesto apresentar este livro como se fosse uma expressão

OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA PESQUISA SÓCIO-ESPACIAL | 13


r
r •

#
íl
de conhecimentos já consensuais. Conforme se viu no parágrafo anterior,
alguns conceitos podem ser vistos como muito mais básicos do que
P
outros, de acordo com o leitor, e alguns leitores podem veementemente
discordar da inclusão desse ou daquele conceito ha lista dos "funda
mentais". Por dever de honestidade, busquei, por outro lado e de todo
modo, oferecer mais de uma visão sobre um mesmo conceito, sempre
que isso me pareceu imprescindível; e procurei, também, alertar sobre
os aspectos particularmente polêmicos envolvendo tal ou qual conceito. •• •

Seja lá como for, é importante deixar claro que, por trás da concepção

*
do livro, da seleção dos conceitos e do tratamento conferido a cada um
deles, há muito, muito mesmo de minha visão pessoal. Isso, que é um s\
fato do primeiro ao último capítulo, ê particularmente evidente no caso
r
do último, por se tratar de um conceito de minha própria lavra.
Os nossos conceitos são, em todo caso, carregados de historici-
dade. Do "meio (telúrico)", um dos conceitos centrais na obra do geógrafo
anarquista Élisée Reclus (1830-1905), ao "espaço social" dos nossos dias,
bastante influenciado pelo pensamento do filósofo neomarxista Henri
Lefebvre. (1901-1991), não se pode esquecer que os conceitos que
empregamos são fruto de uma época e das condições internas e externas
i
ao debate científico e intelectual próprias de cada época, mesmo quando
•' !
as pahvias (termos técnicos), em vários casos, sobrevivem às redefi
nições e mudanças de conteúdo. Não é lícito ou justo projetar no passado
P i !

0
as expectativas e as convicções (ou ilusões...) do presente. No presente . i

livro, procurei ter em mente, o tempo todo, esse preceito. Daqui a meio
e século, não somente o conteúdo de muitos (ou todos os) conceitos aqui
' i
expostos poderá ter mudado um pouco (ou bastante), mas um ou outro
deles poderá até mesmo ter sido desprestigiado ou desbancado por novos
conceitos, expressos por novos termos técnicos.
P

14 | MARCELO LOPES DE SOUZA

P
A diferença entre socioespacial e sócio-espacial, distinção sobre a qual
tenho insistido há muitos anos (cf, p. ex., SOUZA, 2006a: 111), é um
caso particularmente interessante de historicidade conceituai, .e convém
esclarecer desde já essa diferença de grafia. •
Como se verá logo no Capítulo 1., o conceito de "espaço social' , con
cernente áo espaço produzido pela sociedade, afirmou-se como um dos
. mais relevantes, para os geógrafos da atualidade. Muito embora o "espaço *
*
social" não deva ser simplesmente reduzido à materialidade (como mos
trarei paulatinamente e com a ajuda de exemplos), ele também é, obvia
mente, e de partida, materialidade: um campo de cultivo e um estádio
de futebol são realidades que exemplificam o espaço social, inclusive em
seu sentido material. Se eu quero me referir ao espaço de um estádio de
futebol, com as marcações do campo, com as suas arquibancadas etc, eu
posso falar da sua estrutura socioespacial, sem hífen: aqui, o "social" mera
mente qualifica o espacial. Eu não estou fazendo referência direta às re-
lações sociaisque produziram o estádio, ou àquelas que o animam durante > ,%
uma partida (as tensões e os confrontos entre torcidas, o jogo em si e os
interesses econômicos e políticos eventualmente por trás dele...).
*
Entretanto, limites disciplinares são, cada vez mais, transgredidos.
Felizmente. Imaginem se aos geógrafos de formação só coubesse a aná
lise das estruturas socioespaciais, para descrevê-las e, quando muito, para
^
refletir sobre como, uma vez criadas, elas balizam as clinâmicas que irão
*
ali ter lugar: seria, para dizer o mínimo, frustrante, ao menos com os
^
olhos de hoje. Houve época em que definições estreitas e preocupações
corporativistas com a "geograficidade" (ou seja, com o conteúdo e o
sentido geográfico ou espacial de um fenômeno ou objeto de estudo)

OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA PESQUISA SÓCIO-ESPACIAL l 1 5

72

p

p
p
levavam a que se interditasse o estudo das relações sociais (em suas
várias dimensões; econômica, política e cultural) para além de um certo
"limite", mais ou menos arbitrário. Ou seja: o estudo das dinâmicas que
criam os espaços, as fronteiras etc. era relegado à seara de outros "espe:
cialistas" (sociólogos, economistas etc). O curioso é que, nas últimas
décadas, muitos desses "especialistas" passaram a se interessar, cada vez
mais, pelas questões espaciais. Os geógrafos de formação, outrora tão
vorazes em matéria de interesse, e tão megalomaníacos com suas pre
tensões exclusivistas de síntese, corriam o risco de se apequenar, de se
tornar irrelevantes. Mas souberam, muitas vezes, não se deixar controlar
r por vises disciplinares. (Às vezes, aprenderam tão bem que, ironica
p
mente, quase que negligenciaram õ próprio raciocínio espacial, ou a
"imaginação geográfica", para usar uma expressão que David Harvey
cunhou, inspirado na "imaginação sociológica" à qual se referira Wright
Mills...)
Para se compreender e elucidar o espaço, não basta compreender e
elucidar o espaço. Épreciso interessar-se, profundamente, e hão somente
epidermicamente, também pelas relações sociais. É necessário interes
sar-se pela sociedade concreta, em que relações sociais e espaço são inse
paráveis, mesmo que não se confundam. E é aqui que entra em cena o
sócio-espacial, no qual o "sócio", longe de apenas qualificar o "espacial", é,
P
0
para além de uma redução do adjetivo "social", um indicativo de que se
está falando, direta e plenamente, também das relações sociais. Uma aná
r
lise sócio-espacial de uma partida de futebol considerará, portanto, não
apenas a estrutura socioespacial, mas examinará, como processos vivos, e
sem "timidez epistemológica", as interações que se desenrolam durante
a partida, nos marcos de uma espacialidade determinada e referenciadas
(e relativamente condicionadas) por ela.-

t 16 | MARCELO LOPES DE SOUZA


r
P
0
73

P
Sócio-cspaciaí não consta dós dicionários. A rigor, socioespacial também
não: são, ambos, termos técnicos que não foram, ainda, incorporados
em um vocabulário mais amplo. Porém, em analogia com termos já
dicionarizadqs, como "socioeconômico" e "sodopolítico", revisores de
português têm insistido em que somente a versão sem hífen seria "cor
reta". Teimam em desprezar, com .isso, aquilo que o grande gramático
Celso Luft qualificou, em seu famoso Grande manual de Gramática Globo, de
"hifenização subjetiva, estilística, alheia a meras prescrições ortográ
ficas", recurso usado, e com boas razões, por muitos escritores. Os pes
quisadores anglo-saxônicos e alemães não sofrem com esse problema
nas mãos de seus revisores: em inglês, socio-spatial é sempre com hífen,
e, em alemão, sozialrâumüch não tem como levar hífen algum. Mas aí é
que reside a riqueza e a flexibilidade de que, neste caso (e em outros),
dispomos em português. Éinteressante notar que, sempre que se deseja
t
manter a noção de composição, em que os dois adjetivos preservam a
sua individualidade semântica, o hífen continua a ser usado, mesmo após
a última reforma ortográfica: dólico-louro, austro-húngaro.'.. Assim, seja *
*
por analogia gramatical, seja, em última análise, por conveniência con-
*
ceitual, sócio-espacial não é menos "certo" que socioespacial —>e vice-
»

versa. Ambas as expressões, como tenho sugerido, são válidas e úteis. São,
na realidade, complementares.
No livro que o leitor ou a leitora tem em mãos, os conceitos selecio
nados são. todos, diretamente espaciais. E, como o título indica, trata-se
de um elenco reduzido de conceitos básicos. Se eu fosse tentar dar conta
de todos os conceitos espaciais interessantes ou úteis, teria de escrever
um imenso léxico, que comportasse (de modo necessariamente super
ficial) uma plêiade de verbetes, de fronteira (e derivados como fronteira
morta e fronteira viva) até renda da terra, de limiar (no sentido da Teoria das

OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA PESQUISA SÓCIO-ESPACIAL | 17

§
:•!
' i
(0

Localidades Centrais, de Walter ChristaUer) até zoneomento, de ecumeno até


r
segregação residencial, de conurbação até megolópole... Não é essa, evidentemente, a • '

M
finalidade deste livro. O seu propósito é apresentar e discutir alguns con
ceitos fundamentais, interligando-os entre si à medida que a exposição
avança, e sempre com a preocupação de inscrevê-los em uma dinâmica
de construção do objeto que distingue (até onde é possível), mas não separa
r
o espaço das relações sociais. O espírito é o de iluminar o espaço recor
rendo às relações sociais, e estas recorrendo-se ao espaço, em uma dialé
tica sem fim. Trata-se, por isso, fortemente de trabalhar conceitos com a
r
mente voltada para a pesquisa sócio-espacial, e não apenas para a radiografia
de formas ou estruturas socioespaciais (por mais relevantes que estas,
indiscutivelmente, sejam).
- .

r "••'•
p
r
• . . • ' • • -
r

P
r
r
r

0"
P

r
r
1 8 | MARCELO LOPES DE SOUZA
foxxax
anbisXxjd bs |a
w
ST ou 8Z,6T w;souiu; afr
*
Hérodote

Ces géographes, mais aussi ces Directeur : Yves Lacoste.


philosophes, ces hisioriens, urba-
nisles, ethnologues, psychana- Secrétariat de rédaction : Michel Abhervé,
lystes, journallstes, ingênieurs, Daniel Béhar, Michel Foucher, Béatrice Giblin,
syndicalistes, politologues, écono- Michel Pichol, Maurice Ronai.
mistes, malltémaliciens, sur bien
des questions n'ont pas Ia meme Les caries à'Hérodote sont de Raymond Ghi-
opinion, mais ils ont accepté de rardi.
donner leur avis sur les textes
qui seront régulièremcnt mis en Groupe de discussion : Claude Bataillon,
discussion par Hérodote. Leur Mareei Bélanger (Quebec). Olivier Bernard,
responsabilité n'est pas engagée Jcan-Michel Brabant, Jean Cabot, François
par les textes signés Hérodote. Châtelet, Pasquale Coppola (Naples), Michel
Coquery, André Decouflé, Jean Dresch, Chris-
II ne s'agit donc pas. pour le tian Descamps, Lúcio Gambi (Milan). Jean-
moment, d'un comitê de rédaction
constitué une fois pour toutes,
Claude Giblin, Raymond Guglielmo, Georges
mais de Vamorce d'un groupe de Jalabcrt. Alain Joxe, Bernard Kayser, Rodol-
discussion, qui continuem de phe de Koninck (Quebec), Jan Kleinpen-
s'élargir et s'enrichira de spécia- ning (Nimègue), Camille Lacoste-Dujardin,
listes, de militants. Dominique Lecourt. Albert-Paul Lentin, Gérard
Mairet, Alain Mamou-Mani, Alain Manier,
Pour aider au dévcloppemcnt Mohamed Naciri, Christian Palloix, Jean Piei,
de Ia discussion, Hérodote publie Alejandro Piqueras, Jean-Bernard Racine,
des textes des provenances les plus
diverses, en respectant, si besoln Alain Reynaud, Michel Rochcfort, Milton
est, Vanonymat de leurs auteurs. Santos, Jean Tricart, Jean-Pierre Vigier.

Prix du numero : 25 F N° 12 octobre-décembre 1978


Librairic François Maspero, 1, place Paul-Painlevé 75005 PARIS

78
p
r
p

p
r
p

La géographie n'est-elle qu'une science


í humaine ?

Fernand Joly *

0
P

II y avait ces derniers temps, dans les couloirs de 1'Inslitut de géographie


de Paris, une affiche apposée par Ia toute jcune Association française de
géographie physique et sur laquellc on lisait : « Etudiants I... Si vous êtes
attirés par raménagement, tout ce qui concerne les milieux naturels vous
interesse et, consciemment ou non, Ia géographie physique ne vous est pas
indiflerente. » En marge, d'une plume violette et péremptoire, quelqu'un
avait écrit ce seul mot sans replique: « Si! »
Dans 1'évolution générale de Ia discipline géographique, c'est sürement
r
Ia géographie physique qui a le plus perdu. Non pas en profondeur ni en
efficacité, mais en noloriété et en audience chez les géographes eux-mêmes :
Ia géographie physique est évacuée par les géographes.
Une telle situation se comprend en partie quand on considere rhistoire
même de Ia géoeraphie physique.
P
P

P
* Professcur à 1'Université de Paris Vil.
s .
129

r
79
0
r
r

p
p
p
La géographie physique classiquc

A Ia fin du xrx" siècle, Ia tradition « naturaliste » et encyclopédique de


Ia géographie, illustrée par Humboldt (1769-1859) et continuée par les
explorateurs, était encore três vive. Elle inspirait notamment toute Ia géo
graphie allemande, essentiellement tournée vers Ia géographie générale.
Abandonnant aux sciences non géographiques 1'analyse spécifique des
divers composants du milieu, cette géographie se consacra fondamentale-
ment à 1'étude de leurs rapports mutueis et de leur répartition mondiale.
Par contraste, 1'école française de Vidal de Ia Blache, issue de 1'hisloire,
insistait davantage sur Ia « physiononüe» des combinaisons régionales.
Mais, pour mieux les expliqucr, elle cherchait à en reconnaítre d'abord
toutes les parties. Sans doute faut-il voir là 1'influence persistante de 1'esprit
cartésien. Dans cette optique, le travail géographique commence donc par
une collecte des données qui privilegie 1'enquête directe sur lc terrain. Les
données inventoriées sont décrites et classées, puis confrontées, comparées
et corrélées en une typologie qui pour certains tiendra malheureusement
lieu de seule finalité scientifique. Le milieu naturel n'étant qu'un des
éléments des combinaisons régionales, on peut penser que cette attitude
analytique a favorisé le développement d'une géographie physique indé-
pendante, laquelle s'est à son tour subdivisée.
L'éclatement de Ia géographie physique a commence par l'individuali-
sation de Ia géomorphologie. Ce fut d'abord une géomorphologic slructu-
rale. L'avancement de Ia carte topographique de Ia France au 1/80 000°,
dite « de PEtat-Major », suivie de près par Ia carte géologique à Ia même
échelle, permettait en effet une comparaison des formes du relief avec Ia
tectonique et Ia lithologie. Ainsi sortit de Ia collaboration d'un topographe,
le general de La Noe (1836-1902), et d'un gcologue, Emm. de Margerie
(1862-1953), 1'ouvrage intitule Les Formes du terrain (1888), lequel rnarqua
en France 1'essor de Ia géomorphologie. En fait, les premiers géomorpho-
logues furent tous des géologues : Ch. Lyell (1797-1875) en Angleterre,
130

80
0
r
r
p
P

t
LA GÉOGRAPHIE N'EST-ELLE QU'UNE SCIENCE HUMAINE ?

A. de Lapparent (1839-1908), Emm. de Margerie, E. Haug (1861-1927)


en France, C. E. Dutton (1841-1912), G. K. Gilbert (1843-1918),
W. M. Davis (1850-1934) en Amérique. Mais ce furent surtout des géo-
graphes, Emm. de Martonne (1873-1955), H. Baulig (1877-1962) en France,
A. Penck (1858-1945) et son fils Walther (1888-1923) en Allemagne qui
poursuivirent 1'effort. W. M. Davis, qui passe parfois pour être le fondateur
de Ia géomorphologie, fut plutôt le créateur d'un corps de doctrine
apparemment logique et simple auquel sa forte personnalité devait assurer
un suecos durable quoique tres conteste. Du moins eut-il le mérite de dega-
ger Ia géomorphologie de Ia géologie classique, de 1'ériger en discipline
P
indépendante et d'en mettre en valeur les aspects transformistes.
P
Parallèlement, les météorologucs, traitant une documentation statistique
de plus en plus volumineuse, ouvrirent Ia voie à une climatologie moderne,
dégagée des dictons et du folklore. Ils précisèrent peu à peu les caractéris-
tiques des diíTérents climats zonaux et régionaux. Ils élaborèrcnt des cli-
malologies nationales, comme celle de A. Angot (1848-1924) pour Ia
France, ou mondiales comme celle de J. Hann (1839-1921). Les grandes
expéditions maritimes seientifiques comme celle du Challenger (1872-1876)
et les explorations polaires comme celle de A. E. Nordenskjõld (1878-1879)
attirèrent 1'atteniion sur 1'océanographie qu'avaient ébauchée, dès le début
du siècle, les travaux des ingénieurs hydrograpb.es de Ia marine comme
r
Beautemps-Beaupré (1766-1854). Sur terre, depuis longtemps déjà les ingé
nieurs civils, les agronomes, les forestiers, les hydrauliciens, confrontes
avec les rcalités naturelles, avaient accumulé observations et expériences
sur 1'érosion des sois et 1'écoulement des eaux. Des synthèses partielles
avaient même éte élaborées, comme le fameux mémoire d'A. Surell sur
les torrents (1841, réédité en 1870-1872). Elles furent à 1'origine de l'hydro-
logie continentale et de Ia géomorphologie dynamique. Enfin les botanistes
tel Ch. Flahaut (1832-1935) et les zoologistes comme L. Cuénot (1866-
1951) jetèrent les bases d'une biogéographie.
II revenait aux géographes d'assurer entre tous ces axes de recherche Ia
coordination nécessaire, et d'en souligner 1'unité. Ce fut le role du Tjaité

131

P
r
r

P
í/e géographie. physique d'Emm. de Martonne, dont Ia première édition
parut en 1909 \\ o
Par sa vaste culture, à Ia fois littéraire et scientifique, et par ses fonctions «*
universitaires, Emm. de Martonne sut rassembler, codifier et répandre
toutes les idées de son temps en les enrichissant de son expérience person-
->
nelle. Profitant du developpement de Ia géographie dans 1'enseignement
supérieur et d'une réputation de rigueur propre à séduire un public d'ori- *
gine littéraire, sa géographie physique peut être considérée comme 1'expres-
sion classique d'une école qui devait dominer toute Ia première moitié du
xx° siècle. Cest une géographie générale, qui tente de definir ce qu'il y a
de permanent, de « normal » ou d' « accidentel » dans Ia physionomie de
^
Ia Terre, et qui s'efforce d'en découvrir les lois. Chaque phénomène est
étudié d'abord dans son contexto regional, mais il est ensuite replacé dans *

sa répartition mondiale. Cette géographie comporte :


— une climatologie statistique, de moyennes et de cycles saisonniers,
appuyée sur une dynamique atmosphérique élémentaire (masses d'air et
typcs de temps) et débouchant sur une classiíication des climats ;
— une hydrographie, marine et continentale, axée sur les données spéci-
fiques des masses d'eaux et sur les différents regimes hydrologiques;
— une géomorphologie2, qui est le morceau principal, davisienne pour
1'essentiel mais avec des nuances non négligeables : confrontation des
formes du relief avec Ia structure et avec les agents principaux d' « éro-
sion » et d' « accumulaudn », évolution dans le cadre du « cycle d'érosion »
et de Ia « pénéplaine » ;
— une biogéographie, surtout physionomique et phytogéographique,
*
abandonnant pratiquement les associations végétales aux botanistes et les
associations animales aux zoologistes ; +

1. Emm. de Martonne, Traité de géographie physique, lro éd., 1 vol., A. Colin, Paris,
1909. La 9" et dernière édition, en 3 volumes separes, parut chez le même éditeur cn
1951.
2. Emm. de Martonne intitule cette partie de son ouvrage «Le relief du sol ». II
pense en cfret que géomorphologie est <tun mot bien forgé, mais trop complique pour <%
avoir une chance de devenir d'un usage courant» ! (Traité, 5* édition, 1935, t. II, p. 500.) ^
*
132

82
0
P
P
P
r

P
P
LA GÉOGRAPHIE N'EST-ELLE QU*UNE SCIENCE IIUMA1NB ?
P
— une tradition méthodologique centrée sur 1'exploitation du terrain,
de Ia carte, des coupes, des blocs-diagrammes, des croquis, des photogra-
P
phies au sol et, plus tard, des photographies aériennes.
p
Une telle géographie physique ne pouvait être qu'une géographie à petite |
ou, au plus, à moyenne échelle. De 1'influence de Davis elle garde une
position nettement déterministe, une coloration plutôt théorique et une
P insuffisance d'analyse des processus. Malgré Ia primauté des études de
terrain, elle frappe par 1'indigence des releves cartographiques de recherche.
Elle oriente ses mventaires vers une typologie minutieuse des unités de
moyennes dimensiòns : formes du relief, types de temps, regimes méso-
climatiques ou hydrologiques, formations végétales... pour lesquelles elle
elabore un vocabulaire spécifique, mais trop souvent fermé, abstrait ou
r
déroutant pour les non-spécialistes. Sa préoccupation dynamique est plus
r d'ordre historique que cinématique : elle retrace les étapes et le sens des
évolutions et elle lient compte des héritages, mais elle ne s'attache guère
aux mécanismes et aux moyens d'action des divers processus. Enfin, elle
attache plus dMmportance aux répartitions qu'aux interrelations \ et le
lien n'est~pãs toujours évident entrêTés différentes parties du Traité.
Au fond, il y avait là bien plus une incitation centrifuge à un develop
pement séparé de chacune des branches de Ia géographie physique qu'un
fonds utilisable par Ia géographie humaine. Hormis Ia climatologie et Ia
biogéographie (notamment en raison des efforts de M. Sorre), Ia géogra
phie physique, et parliculièrement Ia géomorphologie, ne pouvait guère
offrir aux géographes de Ia vie et de Phomme que des indications sito-
logiques d'òrdre três general, reléguées dans un chapitre de convention
au début des études et des rapports. Sa portée scientifique n'en fut pas
moins considérable, mais son impact pratique resta à peu près nul.
+

0
3. Sauf peut-ctre H. Batjlig qui a toujours défendu avec conviction les notions de
«systèmes de forces et de résistances » et d' s equilibres mobiles». Cf. notamment ses
a Essais de géomorphologie, publ. Fac. des Lettres, Strasbourg, 1950.

133

P
83
r

P
r
P
r

P
Les voies nouvelles

Les choses allèrent ainsi jusque vers 1950, époque ou apparurent au


grand jour des préoccupations nouvelles qui se manifestaient sourdement
dans chaque spécialité depuis Iongtemps déjà. II s'agit essentiellement
d'un approfondissement de Ia démarche analytique, d'une meilleure prise.
de conscience de 1'interdépendance des phénomènes biophysiques, et d'un
désir croissant d'intervention dans les actions volontaires de 1'homme sur
*
le milieu.
*
En climatologie, après avoir tire le maximum de 1'étude des types de
*
temps (P. Pédelabordc), les géographes se lancent à fond dans Ia dyna-
mique de 1'atmosphère, renouveléc par les progrès de Ia météorologie au *
cours de Ia Deuxième Guerre mondiale. D'autres inventent Ia cartographie ^
climatologique à moyenne échelle (Ch. P. Péguy). Mais Ia plupart conti-
nuent à négliger dangereusement Ia climatologie au sol et Ia bioclimato-
logie qu'ils laissent aux agronomes et aux biogéographes.
L'hydrologie continentale enregistre peu de changements par rapport
à Ia « potamologie » de M. Pardé \ Elle poursuit patiemment 1'étude des
regimes et des crues. Mais des catastrophes comme celle du Guil (1957)
lui donnent 1'occasion de se confronter à Ia géomorphologie et à 1'occupa-
tion humaine. Pourtant, ce sont les ingénieurs qui apportent le plus de
connaissances nouvelles sur les transports solides et sur Ia pollution des
rivières. Les géographes ne prennent guère en compte que 1'étude des
systèmes d'utilisation de l'eau, et ils partagent avec les hydrogéologues
les investigations sur les karsts profonds.
Comme pour Ia climatologie, 1'essor de 1'océanographie est davantage
le fait des géophysiciens et des biologistes que des géographes. Cependant
ces derniers, avec les géologues et les pétroliers, contribuent efficacement
à 1'étude du domaine sous-marin précontinental (J. Bourcart, L. Dangeard,

4. Résuméc dans M. Parije, Flcuvcs et Rivières, A. Colin, coll. U1, Paris, 5« édit., 1968.

134

84
p
p
e
0'
P
p
r
LA GÉOGRAPHIE N'EST-ELLE Qü'UNE SCIENCE HUMAINE ?
P
A. Guilcher et ses élèves) et du domaine littoral (A. Guilcher, F. Verger,
J.-P. Pinot).
En biogéographie, Ia cartographie du tapis vegetal prend un tour décisif
sous 1'impulsion des botanistes. H. Gaussen entreprend Ia carte de Ia vege
P
ta tion de Ia France au 1/200 000", tandis que L. Emberger puis le Centre
r
d'études phytosociologiques et écologiques (C.E.P.E.) de Montpellier
conduisent des recherches quantitatives sur les associations. Parallèlement,
les géographes se lancent dans 1'étude physionomique détaillée des paysages
végétaux (G. Rougerie).
Mais c'est peut-être Ia géomorphologie qui, à partir de sa position domi
nante, a connu les mutations les plus profondes et les plus spectaculaires.
p
Après 1930, Fextension mondiale du champ des recherches géomorpho-
logiques fit apparaitre avec éclat les insuffisances de Ia doctrine de Davis.
Déjà S. Passarge (1904), Emm. de Martonne (1913) et bien d'autres avaient
montré 1'importance des facteurs climatiques dans 1'évolution du relief.
Les « accidents climatiques » (C. A. Cotton), reconnus par Davis lui-même,
résultent en fait de combinaisons différentes des processus élémentaires
en fonction des données structurales, chmatiques et biogéographiques
locales. Pour designer ces combinaisons, A. Cholley proposa Ia notion
três féconde_des «systèmes d'érosion». Ainsi apparut une «géomorpho
p logie climatique» parallèlement aux traditionnelles «géomorphologie
stnicturale» et « géomorphologie historique ». Par sa connaissance plané-
taire des problèmes géomorphologiques ef par son rayonnement scienti-
fique personnel, J. Dresch contribua pour beaucoup a développer cette
nouvelle orientation. De même, pour préciser Ia notion assez vague d' « éro-
sion », les géomorphologues prirent peu à peu souci de 1'existence et de
p
Ia nature des processus de base et de leurs lois physiques. L'exemple des
pédologuess fut à cet égard stimulant. Ils porterent ainsi attention à Ia |
pédogénèse, à Ia morphogénèse ainsi qu'aux «formations superficielles », í
négligées par les géologues mais témoins corrélatifs et significatifs de
P
5. Cf. notamment H. Erhart, La Gênese des sois en tant que phénomène géologique,
Masson. coll. Evol. des sciences, Paris, 1956.

135

r
r

P
P
P
Faction desdits processus. P. Birot fut l'un des tout premiers à introduire
en France cette notion et, tout en continuant à diriger ses élèves vers les
problèmes structuraux du monde méditerranéen, à encourager les
recherches de terrain et expérimentales sur le role géomorphologique des
roches et de leurs altérations. Dans Pinterprétation des formes du terrain,
Ia prise en considération des relations mutuelles et des interactions entre
les phénomènes introduisit une «géomorphologie dynamique», plus
concrète, plus rigoureuse, plus approfondie èt plus interdisciplihaire.
Pour progresser, les géographes durent faire un retour décisif vers les
sciences non géographiques de base qu'ils avaient un peu trop délaissées
jusque-là. Au moment ou les géographes humains découvraient les vertus
des mathématiques pour sciences humaines, les géographes physicicns
resserrèrent les liens avec les sciences physiques et naturelles. Ils se firent
géophysiciens, météorologucs, hydrauliciens, géologues, pétrographes, tec-
toniciens, géochimistes, pédologues, botanistes... Du moins adoptèrent-ils
les méthodes et les résultats de ces spécialistes. Souvent ils apportèrent
eux-mêmes une contribution non négligeable à ces recherches et, en tout
cas, de nouveaux éléments de réflexion. Ces transformations méthodo-
logiques, 1'introduction de Ia cartographie d'inventaire, de Ia télédétection
et du laboratoire furent 1'occasion d'un changement capital de Ia problé-
matique, parfaitement exprime dans les ouvrages de J. Tricart' et dans
1'orientation des nouvelles recherches.
Contrairement aux géographes humains, qui tendent au même moment
à le restreindre à «une création des hommes organisés en sociétés7»,
les géographes physiciens continuent de penser que Fespace géographique
comprend également les domaines peu ou pas modifiés, les mers, les déserts,
les pays englacés des hautes altitudes et des hautes latitudes. Cet espace
occupe en outre une certaine épaisseur puisqu'il empiète à Ia fois sur Ia
lithosphère, sur Ia basse atmosphère, sur 1'hydrosphère et sur Ia biosphère\
Les objets de Ia géographie physique ne sont en aucun cas inertes ou

6. J. Tricart, UEpidermc de Ia Terre, Masson, coll. Evolution des sciences, Paris, 1962.
7. H. Isnard, UEspace géographique, P.U.F., coll. Le Géographc, Paris, 1978.
8. J. Tricart, La Terre. planète vivante, P.U.F., coll. SUP, Paris, 1972.

136

86
LA géographie n'est-elle qu'une science humaine ?

immuables, et bien moins encore isoles. Ils ont une origine et une his-
toire, et ils s'insèrent dans un système complexe d'interactions bio-physico-
chimiques tel que tout ce qui touche à í'un des composants réagit sur
1'ensemble de Ia combinaison. Ils doivent donc être consideres non seule-
ment sous un angle individuel et génétique, mais encore d'un point de vue
collectif et spatial, ce qui les replace dans le concept synthétique trop
souvent oublié de « milieu nalurel » ou de « paysage » (Landschaft). Par
ailleurs, ces objets se présentent à Ia fois sous une forme empirique et
subjective qui ressort du discours descriptif, et aussi sous une forme mesu-
rable et objective qui releve de 1'analyse détaillée et de Ia quantification.
Ils doivent ainsi être sans cesse confrontes avec Ia dimension et Ia durée,
concrétisées dans Ia notion d'échelle temporo-spatiale9. On retiendra seule-
ment qu'une synthese opérée à une échelle donnée ne peut valablement se
fonder que sur une analyse effectuée à Péchelle supérieure10. Cette étude
necessite un décloisonnement des disciplines et une collaboration salutaire
entre les chercheurs. Elle conduit également à généraliser 1'idée de mobi-
lisme, si redoutée des davisiens.
Ainsi s'affirment les deux caracteres fondamentaux de Ia géographie
physique : 1'importance des phénomènes dynamiques (énergie, forces, pro
cessus) et Ia complexité des situations (combinaisons spatiales et combi
naisons tcmporellcs). 11 serait toutefois vain d'introduire une hiérarchie
de valeur entre ces différents points de vue, qui sont autant d'échelons de
Ia recherche. Chacune des voies conduit à une part de vérité, et c'est à
I'ensemble des géographes physiciens qu'il revient de les coordonner.
Du coup, Ia recherche en géographie physique change de bases par
rapport à Ia recherche classique, et il devient possible d'en tirer des conclu-

9. J. Tricart et A. Cailleux. « Le Problème de Ia classification des fails géomorpho-


logiques », Ann. de géo., 1956, p. 162-186. Cf. aussi G. Bertrand, «Paysage et Géographie
physique giobalc; esquisse méthodologique», Rcvue géographique des Pyrénées et du
S.O., 1968, p. 249-272.
10. D'oíi 1'intérfit d'une cartographie détaillée à grande échelle comme celle miso
au point par J. Tricart et F. Joly pour Ia R.C.P., n° 77. Cf. Legende pour Ia carte
géomorphologiquc de Ia France au I : 500 000, C.N.R.S., 1970, et « Cartographie géomor-
phologique », Mém. et Doe. C.N.R.S., Paris, 1972.

137
P
P
87

P
P
P
P
sions pratiques directement utilisables par Ia géographie humaine et par
1'aménagement. Ce qui ne signifie pas que Ia géographie physique doive .
se limiter à Ia seule satisfaction des besoins de Ia géographie humaine. Les
priorités de cette recherche passent du general ou même du regional au
local, et de 1'observation discontinue au releve exhaustif. En même temps.
Ia description littéraire et qualitative le cede autant que possible à l'ana-
lyse quantitative et au traitement numérique et experimental des données.
Sur une face de Ia Terre considérée comme soumise à des forces interdépen-
dantes et multivariées, Ia géographie physique dépasse Ia purê spéculation
intellectuelle pour se constituer en une science, à Ia fois jondamentale et
appliquée, des equilibres et des desequilibres mobiles de Ia surface ter
restre, y compris dans leurs relations avec 1'occupation humaine.

Géographie physique et géographie humaine

U n'est pas sur que les géographes humains (et même un certain nombre
de géographes physiciens) aient bien saisi le sens et 1'intérêt des mutations
profondes de Ia géographie physique à partir de 1950. Ils y ont plutôt vu
Ia marque d'une super-spécialisation, un inéluctable facteur de divergence
et, finalement, une raison de rupture. Aussi bien est-ce paradoxalement
avec Ia géographie humaine que Ia géographie physique a peut-être
aujourd'hui le moins de relations, spécialement au niveau de Ia recherche. Í
%
Les liens entre géographie physique et géographie humaine sont pour-
tant de tradition dans Ia géographie française. Ils dominent toute Ia géo
graphie vidalienne qui est une « science des lieux » plus encore que des
hommes, même si ces lieux ne valent que par ce que l'homme en a fait.
Par contre, dans Ia géographie allemande, géographie humaine et géogra
phie physique ont toujours évolué plus ou moins séparément. Dans Ia
géographie américaine, après Ia création tout au début du siècle de quelques
chaires de géographie devant servir de pont entre sciences naturelles et
sciences sociales. Ia géographie physique et surtout Ia géomorphologie, ou
«physiographie», s'est vite différenciée. En U.R.S.S., oü il existe des

138

88
0
p
p
LA géographie n'est-elle qu'une science humaine ?

facultes de géographie, les deux branches restent quand même parfaitement


distinctes. En France même, des chaires de géographie physique furent
créées dans certaines facultes des sciences. Le problème s'est donc pose
r
três tôt de savoir quelle attention les géographes humains devaient accor-
der au « cadre » ou au « milieu » dans lequel vivent les hommes.
r Pour en rester à Ia géographie française, quand Ia géographie « scienti-
r
fique » de Vidal de Ia Blache succéda aux descriptions globales des « géo-
graphies universelles » de K. Malte-Brun (1775-1826) et d'E. Reclus (1830-
1905), on demanda surtout à Ia géographie physique de planter les décors
et de metlre en évidence certaines influences ou certaines contraintes locales
de climat, de structure, de topographie ou de circulation. II n'y avait donc
P
pas trop d'inconvénients à 1'enfermer dans quclques chapitres à tiroirs, qui
0
pouvaient prendre d'ailleurs de sérieuses dimensions, mais dont on ne
P tirait plus rien dans Ia suite du texte. Rares étaient ceux qui, comme
A. Demangeon, R. Dion ou R. Blanchard, avaient l'art de mêler tout au
long d'un ouvrage les données naturelles aux finesses de 1'occupation
humaine ". Au demeurant, Ia géographie physique servait en même temps
de refuge à un vieux fonds de déterminisme, ébranlé par 1'indépendance
P
des actions volontaires, et elle prenait figure, aux yeux de ces historiens
r
qu'étaient les géographes, d'une caution de rigueur scientifique jugée de
bon aloi.
Pourtant, même dans ce role modeste, Ia géographie physique perdait peu
à peu le contact avec Ia géographie humaine. Et cela d'autant plus qu'elle
approfondissait ses propres objectifs. S'exprimant trop souvent pour clle-
même, elle ne fit pas d'efforts, à quelques exceptions près dont M. Sorre
est sans doute le plus illustre exemple, pour répondre aux besoins des géo
graphes humains. La géomorphologie, notamment, se plaçant à 1'échelle
des temps géologiques, celle de Ia tectonique et des cycles d'érosion, dépas-
sait aussi bien les préoccupations des ruralistes que celles des urbanistes

11. Entre 1930 et 1950, une collection de géographie humainc dans Ia tradition de
J. Brunhcs, dirigée par P. Deftontaines chcz Gallimard et aujourd'hui disparue, a popularisé
un moment une géographie des rapports entre l'hommc et son environncment sous le
titre VHomme et... Ia forct, Ia montagne, Ia cote, les volcans, etc.

r 139
p
r

8')

r
P
r
f
et, à plus forte raison, celles des économistes et des sociologues. L'évolution
de Ia géographie régionale, passant des régions naturelles aux régions
humaines puis aux espaces economiques et aux « espaces vécus », accrut
les divergcnces ,=. L'essor de Ia «nouvelle géographie» finit par effacer
toute solidarité.
Le developpement récent de Ia géographie physique aurait dü changer
; bien des choses. II replaçait en effet 1'étude de Ia surface terrestre dans un
contexte naturel et à une échelle de temps plus compatibles avec Factivité
*
, humaine. La cartographie détaillée des formes, des processus et des for-
mations superlicielles, celle du tapis vegetal et des mésoclimats auraient dü *
agir dans le même sens, ainsi que le retour à une géographie globale stimulé •*
par 1'essor de Ia télédétection. Comment interpréter, en effet, les milieux
biologiques et saisir Ia mobilité des « paysages » sans inclure les données
héritées et actives de Ia microclimatologie, de Ia morphogénèse et de Ia
pédogénèse ? Comment comprendre le milieu niral au niveau de 1'exploita-
tion ou de Ia commune sans connaítre ses réponses aux interventions
anthropiques ? Comment, malgré Ia puissance des moyens techniques et
financiers, aménager des villes et des provinccs au mépris des equilibres
et des desequilibres écologiques à prévoir ? Toute une recherche commune
et approfondie avec les spécialistes de géographie humaine aurait été néces-
saire pour établir les liens qui, aux diverses échelles, unissent les structures
et Ia dynamique des milieux naturels à 1'occupation humaine. Pourtant
rien n'a été fait au-delà de tentatives individuellcs et rarissimes.
On pourrait cependant esquisser un tableau schématique et hiérarchisé
de ces relations.
Toute société humaine, même Ia plus complexe, se crée et se développe
dans un milieu « naturel » qu'elle occupe, utilise, organise, aménage ou
transforme selon ses possibilites. Même si ce milieu « naturel » est lui-

12. Dès les annécs quarante, terminant Ia collection de Ia Géographie uiiiversclle publiée
par A. Colin, monument de Ia géographie régionale de conception vidaliennc, A. Deman-
geon et Emm. de Martonne, ne pouvant se mettrc d'accord, écrivircnt séparément une
France physique (1 vol., 1942) et une France économique et humaine (2 vol., 1946 et
1948), rompant ainsi avec 1'csprit même du reste de 1'ouvrage.

140

90
LA géographie n'est-elle qu'unb sctence humaine ?

même hérité de transformations humaines antérieures. Tantôt ce milieu


parait dominer Ia vie de Ia société, lui imposer un certain nombre de
contraintes. Ccst le cas lorsque les conditions physiques sont sévères, ou
lorsque 1'organisation sociale, technique et économique est rudimentaire.
Tantôt, au contraire, le milieu apparait comme domine, effacé, sans impor-
tance. Cest le cas lorsque l'environnement physique est malléable, ou
lorsque l'organisation socio-économique est três élaborée. En fait, toutes
les nuances possibles existent entre ces deux extremes : leur étude est au
cceur de Ia géographie humaine, et même de Ia géographie tout court.
L'homme, dans sa vie et dans ses activités, individuelles ou sociales,
est ainsi confronte sans cesse aux données du milieu physique qui est,
jusqu'à nouvel ordre, le support biologique de son existence et de son
developpement. Seulement ces conditions physiques n'intervienncnt pas
f* toutes avec Ia même pesanteur, ni à Ia même échelle.
Certaines comptent surtout à pctile échelle. De valeur três générale, elles
constiluent le cadre qui circonscrit 1'installation de Fhomme-habitant, défi-
nit 1'espace qu'il occupe et limite ses activités. On pourrait parler de fac-
r teurs limitatifs,
LVUIÍ I II I I I LI I I I..- . qui
U|U sont des facteurs
ÍUIll UUJ Mil II II.' O d'occupation,
t« 1/l.l.ttf/LfIflSri, ou
\JU d'établissement
Kl WIUU1I.10VIIIVIII :
.

climat, surtout, et configuration de 1'espace disponible. Sans être absolu-


raent determinantes, ces conditions sont parmi celles sur Iesquelles 1'homme
a le moins de prise, sauf à des coüts élevés; il doit s'en accommoder plus
r
ou moins et, finalement, il les subit plus qu'il ne les maítrise.
D'autres interviennent principalement à moycnne et à grande échelle.
De valeur plus locale, elles facilitent ou entravent 1'action de 1'homme-
exploitant sur son environnement. Ce sont des facteurs d'utilisation, ou
d'exploitation, qui ont permis au cours des ages 1'établissement d'équilibres
plus ou moins précaires mais toujours suffisants pour assurer à 1'homme
sa subsistance et sa survie. Sans être jamais des obstacles insurmontables,
ils demandent à être consideres avec précaution. Tels sont Ia lopographie,
le tapis vegetal, le sol cultivable, 1'eau. Les plus graves ruptures de ces
p
equilibres sont parfois de nature physique : accidents climatiques, séismes, '•
r
éruptions, éboulements, crues, tempêtes. Mais le plus souvent elles sont
le fait de 1'homme Jui-rnême : surcharge démographique ou agro-pastorale,

141

0
r
91

p
déboisement, pollution, érosion accélérée des sois par surexploitation, etc.
Cest à ce niveau que Ia collaboration entre spécialistes de géographie
physique et de géographie humaine pourrait être Ia plus indispensable
et Ia plus fructueuse.
Enfin, d'autres conditions naturelles se placent au niveau de potentia-
lités contingentes dont 1'homme ne pourra tirer parti que si certaines cir-
constances socio-cconomiques ou techniques se trouvent réalisées. Elles
constituent en quelque sorte des reserves, volontaires ou non, qui serviront
le moment venu de facteurs de dépassement par rapport à 1'organisation
existante. Ainsi les terres bonnes à défricher ou à irrigucr, les sources
d'énergie à équiper, les gisements à exploiter ou à découvrir.
La manière d'aborder les choses n'est pas nécessairement Ia même dans
les trois cas; mais à chaque fois 1'intervention de Ia géographie physique
pourrait se juslifier. Malheureusement, Ia plupart des géographes humains
ont depuis longtemps perdu le contact avec Ia géographie physique mar
chante et ne savent plus três bien à quoi elle peut servir. Beaucoup vivent
encore du souvenir d'une géographie physique formelle, abstraite, fermée
sur elle-même et sur ses propres spécialités, déroutante et, de leur point
de vue, stérile. Beaucoup sont aussi trop convaincus que Ia société est reine
et que 1'espace géographique s'arrête aux limites de 1'cekoumène. Sans
doute est-ce pour cela que 1'évacuation sans nuances de Ia géographie phy
*
sique est surtout le fait des géographes les plus lies aux sciences humaines.
Probablement ne sentent-ils pas que Ia géographie physique será d'autant
plus opérationnelle en géographie humaine qu'elle será davantage appro-
fondie elle-même et qu'elle aura su former des chercheurs aussi compétents
qu'expérimentés. <£
Cest pourtant à ce prix qu'une collaboration réelle entre géographie
humaine et géographie physique, dont les modalités restent à préciser,
pourrait rendre à Ia vieille discipline « géographie » à Ia fois son identité
perdue et sa véritable «unité».

142
m

92
la géographie n'est-eli.e qu'unb science humaine ?

Géographie physique ei applications

Dans sa propre démarche, la géographie physique rencontre chemin


faisant de nombreux cas réels dont la compréhension et la maitrise sont
nécessaires à 1'intervention de 1'homme sur la nature ou à la protection
de son environnement. Dès lors, le géographe physicien peut-il se désinté-
resser du sort qui será fait aux résultats de ses recherches, et peut-il refuser
d'en assumer l'application ? Y. Lacoste a trop bien montré que le savoir
p
géographique est une arme redoutable qu'il est dangereux de laisser sans
controle entre les mains d'une caste dominante et suspecte de technocrates
et de financiers. Pourtant, contrairement à leurs collègues économistes ou
sociologues, les géographes univcrsitaires ont longtemps reculé devant
1'engagement. Tantôt, hautains, ils estimaicnt que la géographie, se suf-
lisant à elle-même, portait en elle sa propre juslification (M. Sorre). Tantôt,
prudents, ils redoutaient de se laisser entrainer dans une voie ou risquaient
de se perdre leur objectivité et leur « neutralité » scientiiiques (A. Gibert).
Tantôt, réticents, ils ne se considéraient ni assez compétents ni assez
assurés pour exercer directement des rcsponsabilités qu'ils ne reconnais-
saient pas comme de leur ressort (P. George).
H en est resulte toute une suite duccasions perdues ou la géographie
s'est laissée distancer par d'autres disciplines, pas plus qualifiées qu'elle
au départ, mais plus entreprenantes ou moins scrupuleuses, ou jouissant
dans le public d'un prestige plus grand : économie et sociologie en sciences
^
humaines, botanique et géologie en sciences naturelles. Pourtant, qui peut
se vanter d'être seul spécialiste du « milieu » ou, comme on dit aujourd'hui
en outrepassant le sens primitif du terme, de 1'« écologie» ? Chacun
tire à soi la couverture ou brandit 1'étiquette, surtout depuis qu'il y a
0
de 1'argent à gagner, sans vouloir admettrc qu'il n'y a d'approche de la
vérité, en ce domaine, qu'à travers une étroite coopération pluridiscipli-
naire.
P
Quoi qu'il en soit, la géographie appliquée a commence par 1'applica-
r tion de la géographie humaine. Voilée, mais três orientée politiquement
r
^ 143

r
93
r

P
r

P
ou idéologiquement dans un but de propagaude ou de justification, dans
ce qu'on a appelé ici ou là la « géographie politique » (sans parler de la
« géopolitique »), la « géographie commerciale », la « géographie colo-
niale», etc.". Plus sereine, bien que non neutre, dans les premières tenta-
tives d'aménagement des territoires, surtout depuis la guerre. Presque insti-
tutionnalisée dans certains pays étrangers, notamment ceux de l'Est euro-
péen. En France, elle a eu ses critiques (P. George) et ses défenseurs
(M. Phlipponeau). Malgré ses défauts, elle aurait pu souvent, étant plus
répandue, éviter des erreurs cofiteuses et parfois desastreuses. Elle est
aujourd'hui pratique assez courante dans les bureaux d'études ou elle fait
peu à peu sa place.
La géographie physique appliquée a pris beaucoup de retard, du moins
dans les limites de 1'Hexagone. Le fait que la technique moderne, à tort
plus qu'à raison, ne considere plus 1'environnement physique comme un
obstacle insurmontable Pa rendue apparemmcnt négligeable sinon même
inutile. II est vrai, on l'a vu, que la géographie physique classique n'était
guère de nature à opérer dans ce domaine, sauf à 1'échelle du monde ou
d'un continent, celle de 1'U.N.E.S.C.O., F.A.O. ou autres organismes inter- -,

nationaux. II a faliu attendre les progrês de la géographie physique nou-


*
velle pour que, timidement et sporadiquement, il y soit fait appel. Une
fois de plus, J. Tricart a joué là le role de précurseur et d'animateur, non
seulement par la formation de géographes qualifiés mais encore par son
exemple en Afrique, en Amérique du Sud et en France, ainsi que par
ses ouvrages". *-.
Les circonstances ne manquent pas, cependant, ou un géographe physi-
cien exerce peut intervenir d'une manière efíicace. Son sens géographique
de la répartition et des interactions entre les phénomènes est un précieux
atout que ne possèdent pas toujours ses détracteurs les plus arrogants. Ses
traditions naturalistes d'observation et d'analyse, sa pratique de la carto-

13. Appcllations que l'on retrouvc dans des titres d'ouvrages ou des labels de sociétés
• • savantes ». «*
14. Cf. notamment J. Tricart, VEpidermc de la Terre; esquisse d'une géomorphologie
appliquée, op. cit., Masson, coll. Evolution des sciences, Paris, 1962.

144

94
p

»
p
p
LA GÉOGRAPHIE N*EST-ELLE QU'UNE SCIENCE HUMAINE ?
r
graphie et de la télédétection lui fournissent un outil parfaitement adapte
aux finalités géotechniques. La dimension écologique de ses connaissances,
son souci permanent d'intégrer 1'homme et ses activités dans la compré-
r
hension du milieu naturel suflisent à justifier sa participation à des equipes
r mixtes chargées des plans d'occupation et de mise en valeur.
r Seulement voilà : la géographie physique n'a aucune réputation dans
les milieux techniques.
Jusqu'à présent, 1'enseignement de la géographie, dans le secondaire
comme dans le supérieur, est reste souverainement coupé de tout contact
avec la réalité des actions qui seraicnt à conduire par des géographes enga-
gés. Les quclques tentatives qui ont été faites ici ou là ne sont que des
exceptions qui confirment Ia règle. Et les recentes habilitations ministé-
rielles, tatillonnes et rigides, ne sont guère de nature à encourager les
r
elTorts. Ajoutons à cela que, quand formation il y a, elle se contente trop
r souvent de créer des généralistes, aux bases insuffisantes et aux connais
sances trop superficielles, ou trop abstraites. Je ne suis pas certain, par
exemple, que la géographie « globale », quelle que soit sa valeur théorique,
soit la plus adéquate à la formation de bons praticiens. Et, en ce qui
concerne Ia France, il faut encore compter avec la précarité des débouchés.
p
Contrairement à ce qui se passe dans des pays comme 1'U.R.S.S., la
Pologne, le Canada ou 1'Australie, les géographes français ne trouvent
guère à s'employer que sur des contrats aléatoires et provisoires, ou par
1'intermédiaire d'associations sans responsabilités. Enfin, pour les physi-
ciens, ils trainent avec eux le péché originei d'être des « littéraires » qu'en
cas de concurrence on écarle toujours au proíit de « scientiíiques » même
moins directement qualifi.es.
P
De leur côté, les ingénieurs et les techniciens ignorent jusqu'au nom
0
même de la géographie physique. II n'est même pas certain que ce vocable
soit le meilleur pour populariser dans la profession tout ce qu'elle a de
possibilites techniques. Ce qu'elle apporte, on le demande volontiers, par
tradition ou par habitude, au géologue, à 1'hydraulicien, à 1'agronome, au
pédologue ou à 1'« écologiste», voire à 1'architecte, mais non au géo-
graphe. Rien ne se fera, à vrai dire, dans la promotion de la géographie
145
P

r
95
r

r
P
P
P
physique appliquée tant qu'elle ne bénéficiera pas, dans 1'enseignement
supérieur, de dénominations professionnelles comme le D.E.S.S. (diplome
d'études supérieures spécialisées) ou le titre d'ingénieur-docteur, et surtout
tant qu'elle será négligée dans la formation propre des techniciens, c'est-à-
dire tant qu'elle ne pénétrera pas d'une manière ou d'une autre dans les
programmes des écoles d'ingénieurs ou de la formation continue ".
Est-il trop tard ? Ce n'est pas absolument certain; et il n'est pas défendu
d'être optimiste. Encore faudrait-il que les géographes physiciens respon-
sables soient eux-mêmes convaincus, et qu'ils donnent davantage de preuves
de leurs capacites. Inconfortablement située entre les sciences humaines
auxquelles la rattachent ses liens institutionnels et les sciences de la Terre
dont elle fait partie mais qui la considèrent comme marginale, la géo
graphie physique est plus souvent critiquée dans son savoir et dans ses
méthodes que comprise dans ses objectifs et dans ses orientations, quand
^
elle n'est pas purement et simplement oubliée. Elle n'en receie pas moins
^
une potentialité d'intervention non négligeable, qu'augmentent encore ses
tendances modernes à 1'exhaustivité des inventaires cartographiques à
moyenne et à grande échelle, ses interprétations de télédétection et la
tournure géodynamique de ses préoccupations.
Pour ces raisons, le géographe physicien ne peut plus, comme naguère,
s'enfermer uniquement dans la quête solitaire de la vérité scientifique.
II est de plus en plus conduit à donner suite, de près ou de loin, aux consé-
quences pratiques de ses recherches et de ses résultats.

9
*
15. J'ai personnellement 1'expériencc d'un cours de géomorphologie à 1'Ecole nationale
des sciences géographiques. De même, les laboratoires des Ponts et Chaussées, ayant
récemment découvert 1'intérêt de la géomorphologie dynamique et de la cartographie
géomorphologique, envoient de tcmps en temps des ingénieurs aux stages de Paris VII.
Mais 1'essentiel de la formation acquisc est ensuite transmise par promotion interne
(conférences ou articlcs de revues par les ingénieurs eux-mêmes) sans qu'il soit pour
autant fait appel à des géomorphologues pour exercer dans les établisscments d*ensei-
gnement officiels.

146

96
r
p
p

p
p
0-
LA GÉOGRAPHIE N'EST-ELLE QU'UNE SCIENCE HUMAINE ?
P
P
Pour une nouvelle géographie physique
r '
Les conditions existent donc, en príncipe, pour une promotion nouvelle
de la géographie physique. Cette promotion peut s'exercer dans plusieurs
<*, directions et elle se heurte à plusieurs obstacles.
P
Débat théorique

On a souvent parle d'un défaut de débat épistémologique. Les dis-


cussions de mai 1968 avaient bien mis 1'accent sur cet aspect des choses.
On a reproché aux géographes en general, et aux physiciens en particulier,
p
une insuffisance de réflexion sur la nature et les buts de leur discipline.
p II est vrai que la plupart ont préféré faire de la géographie active plutôt
que de songer à se placer correctement dans 1'éventail des connaissances.
Cette attitude a ses avantages et ses inconvénients. A trop privilégier le
débat philosophique, on risque grandement de stériliser la recherche propre-
ment dite. A ne pas le provoquer, on risque de perpétuer une situation
héritée du positivisme d'A. Comte et de 1'organisation napoléonienne de
1'Université. Mais il est vrai aussi que, si la personnalité de la géographie
physique s'est sans doute mieux affirmée (du moins en ce qui concerne
la géomorphologie) dans les sciences de Ia Terre que celle de la géographie
humaine dans les sciences de rhomme, sa problématique et ses techniques
ont été souvent mal perçues par les autres chercheurs, y compris les autres
géographes. Ceux mêmes qui la pratiquent ne sont pas toujours d'accord
p
sur la place réelle dans 1'ensemble des sciences. Elle est revendiquée à la
P fois par les géographes et par d'autres : géologues, météorologues, hydro-
logues, pédologues, botanistes... Isolée peu à peu de la géographie domi
nante ou noyée par morceaux dans des ensembles plus vastes, la géogra
phie physique a besoin, c'est sür, de faire de temps à autre un retour
sur elle-même. Mais ce ne peut être au prix de 1'exclusivité.
On a parle aussi d'une incapacite notoire à l'abstraction et à la modéli-
r 147

97

r
r
sation mathématique. D'abord ce n'est pas exact, du moins en ce qui
concerne la climatologie, rhydrologie et même certaines parties de la
géomorphologie et de la biogéographie. Ensuite, science naturelle, la géo
graphie physique a beaucoup plus de bases physiques et chimiques que
purement mathématiques. Enfin il ne faut pas ceder exagérément à Ia
double illusion quantitative : celle des chiffres obtenus sur un nombre
réduit de paramètres accessibles et avec des erreurs instrumentales et opé- m
ratoires inévitables; et celle des machines qui, après tout, ne ressortent
que ce qu'on y a mis. Notons d'ailleurs que le calcul ne penetre encore
que lentement et partiellement les sciences de la Terre et de la vie. II est
donc normal que la géographie physique rencontre les mêmes difhcultés
et les mêmes limites que ses voisines quant aux constructions théoriques
et à la validité des résultats. Jusqu'ici les théories de géographie physique
ont toujours été plus verbales que numériques. Mais ce n'est pas cela qui
suffit à les condamner, car 1'expression qualitative offre déjà un support
acceptable aux possibilites d'explication. Plus grave est que, trop souvent,
elles se sont fondées sur des bases trop générales, ou à trop petite échelle,
et qu'on se soit contente de prendre pour des démonstrations ce qui n'était
en vérité que des hypolhèses. Ce qui risque de discréditer les théories, en
géographie physique, ce n'est pas tant leur caractère qualitatif que la déíi-
cience de leurs analyses et 1'imprécision de leurs schémas. Cest bien pour-
*
quoi il convient de ne négliger aucun critère qui puisse être clairement
observe et explicite. Cela necessite souvent Ia prospection de domaines *
qui ne sont pas d'évidence géographiques. Par contre, cela permet d'avan- ^

cer de plus en plus loin dans la construction de modeles dynamiques, au


moins partiels, de la cinématique observée.
D'autre part, il est vrai qu'unc science n'atteint sa plenitude qu'à partir
du moment oü, s'étant donné un modele théorique, elle devient réflexion
sur ce modele dans le but de prévoir. II est vrai aussi que toute théorie
est transitoire et qu'au surplus, en sciences naturelles, la preuve est le
plus souvent relative, et fragile. Du moins peut-on considérer comme acquis
les faits bien établis et vérifiables, et comme recevables les propositions
qui rendent compte de tous les faits connus sans être contredites par aucun.
148 +>

98
r

r
P
r
p
LA GÉOGRAPHIE N'EST-ELLE QU'UNB SCIENCE HUMA1NB ?

Certes, pendant longtemps la géographie physique s'est contentée d'expli-


p cations purement descriptives, formelles et taxonomiques, et elle s'est trop
souvent satisfaite d'explications purement déterministes, lesquelles
déduisent la succession des évónements à partir de facteurs préalablement
établis. Pourtant, bien des situations échappent à un déterminisme élémen-
taire, et révèlent au contraire un jeu d'actions et de réactions non néces-
sairement linéaires et parfois même contradictoires. Les ordoimer en sys
tèmes, du genre des systèmes morphogéniques, ne suffit pas toujours à aller
au fond des choses. D'oü 1'incitation à une analyse fonctionnelle approfon-
die, basée sur la recherche des processus et des échanges d'énergie, qui
devrait débouchcr sur une explication dynamique et quantitative et donc
rendre possible la modélisation mathématique tant souhaitée.
Jusqu'à présent, cependant, 1'approche quantitative est moins avancée
en France que dans certains pays comme les Etats-Unis ou 1'U.R.S.S.,
p
qui disposent de moyens matériels plus importants et surtout d'une conti-
nuité dans le soutien à la recherche plus affirmée que dans les instances
scientifiques françaises. De toutes manières, cette approche reste encore
limitée aux domaincs oü le recueil de données chiffrées est relativement
facile, comme en climatologie, en hydrodynamique ou en topométrie, ou
à des cas précis tels que 1'étude de parcelles expérimentales, 1'organisation
des reseaux hydrographiques, 1'analyse factorielle d'unités biogéogra-
phiques et autres circonstances encore voisines de phénomènes ou de pro
0
cessus élémentaires. En fait, chaque voie de recherche a sa convenance, sa
valeur, ses avantages et ses limites. Une synthese générale de la géographie
physique devrait les conjuguer toutes.

P
Débat méthodologique
f

Le débat méthodologique concemant la géographie physique tourne


P dcpuis longtemps autour d'une double necessite : celle d'un approfondis-
r sement de 1'analyse et celle d'une explication synthétique de la physionomie
*%

r 149

p
99

P


de Ia face de la Terre. Chacun, selon ses goüts et selon ses moyens, privi
legie 1'une ou 1'autre de ces approches.
Science de la nature, la géographie physique utilise normalement, dans
les domaines qui lui sont propres, les méthodes qui sont celles des sciences
^
naturelles : observation, description, classiücation, releve cartographique,
expérimentation, comparaisons et corrélations. Sa logique est celle des ^

sciences de la Terre et de la vie, et non celle des sciences humaines ou des


sciences sociales. En cela elle s'oppose incontestablement à Ia géographie
humaine, même quand elle conjugue ses efforts avec elle, même quand elle
prend en compte 1'activité de 1'homme sur le milieu physique. *,
Ces considérations permettent de comprendre pourquoi certaines
méthodes de la géographie physique ont dú être empruntées à des sciences
*
voisines ou sont communes avec elles. On l'a parfois reproché aux géo
graphes physiciens, surtout à ceux qui s'occupent des structures et des
mécanismes élémentaires : «Les scientifiques de laboratoire, écrit
P. George !\ ne méritent plus le beau nom de géographes. » II y a là pour
tant une fâcheuse confusion entre le moyen et 1'objet, entre la méthode
utilisée et le but recherche. Le laboratoire comme la cartographie, la télé-
détection ou le calcul ne sont que des outils. Et ce n'est pas parce que
quelques-uns ont le tort de les prendre pour une fin qu'il faut les négliger.
Beaucoup pensent en effet, même parmi les géographes physiciens, qu'il
suffit de partir des connaissances acquises en amont par les non-géographes
sans s'aventurer dans des domaines mal connus oü l'on risque de s'enliser.
Et qu'après tout le role du geographe consiste à collecter les analyses des
autres pour les ordonner en une synthese globale et rationnelle. A vrai

dire, c'est faire preuve d'une certame suffisance à 1'égard des sciences
« annexes » qui agace ou, au mieux, fait sourire les chercheurs non géo *
graphes. Cest oublier en outre que ces chercheurs n'ont pas nécessaire- *
ment explore leur domaine avec des préoccupations géographiques, et que
le geographe physicien doit bien tenter de découvrir par lui-même ce qu'il
ne trouve pas ailleurs. Ce sont pourtant de telles positions restrictives qui,

16. P. George, Les Méthodes de la géographie, coll. Que sais-je ?, P.U.F., Paris, 1966.

150

n
100

t
p

LA géographie n'est-elle qu'une science humaine ?

en isolant plus ou moins la géographie physique de ses racines, Pont trop


souvent enfermée dans sa Iogique interne et privée des indispensables
recherches en profondeur.
Bien sür la spécialisation a ses exigences. D'abord une formation appro-
priée des chercheurs, laquelle serait plus accessible si ceux-ci, comme dans
d'autres pays, provenaient des études scientifiques et non des études «lit-
r
téraires ». Sinon, le geographe perdra vite pied dans le courant accéléré
du progrès des autres sciences; et il végétera dans une incompétence sans
r
efficacité. Ensuite d'importants moyens matériels qui sont ceux des labora-
íoires scientifiques. Le malheur, ici encore, est qu'il faut acquérir ces
moyens et les faire fonctionner avec des crédits qui sont ceux des sciences
humaines. Pourtant, s'il ne veut pas se cantonner dans un discours super-
ficiel et vain, ni fournir simplement une « compensation intellectuelle pour
littéraires » se résumant à « quelques longues gammes sur des flexures ou
des surfaces d'érosion " », ni dépendre de la seule initiative scientifique des
r autres, le geographe devra pouvoir étendre lui-même ses investigations,
participer au besoin à la recherche non géographique et s'adapter, en
conséquence, aux connaissances et aux méthodes nécessaires.
D'autres géographes physiciens estiment qu'il convient d'aborder Fobjec-
tif de la géographie physique par une géographie « globale », sous la forme
d'une géographie des « paysages » ou des « géosystèmes » ". Cette tendance
met au premier plan de ses préoccupations les interrelations entre les
composants des systèmes naturels appartenant aux quatre grands domaines
en contact à la surface du globe (aéromasse, hydromasse, lithomasse et bio-
masse) et la détermination de leurs combinaisons significatives ou « unités
de paysage ». On peut d'ailleurs y parvenir par deux voies différentes. La
science du paysage en Union soviétique, par exemple, est en fait três
analytique. Elle consiste en études stationnelles intégrées de plusieurs
cenlaines de composantes, suivies d'une exploitation à la fois géographique

17. A. Frémont, UEspace vécu, P.U.F., coll. SUP, Paris, 1976.


18. G. Bertrand, a Paysage et Géographie physique globale », Rev. géogr. Pyr. et S.O.,
1968, p. 249-272.
f
151

0
101

r
0
^
^

(répartition), structurale (géohorizons) et évolutive (éthologie)". En


France, on prend plutôt le problème par 1'autre bout, en cherchant à defi
nir d'abord les unités physionomiques de paysage que 1'analyse explique
en second lieu. Le tout est de savoir jusqu'oü pousser cette analyse. Faut-il •
considérer que le géosystème, intégrateur du milieu biophysique, est le
concept de base et que le geographe a fini son travail quand il a découpé
1'espace en un certain nombre de géosystèmes ? Ce serait rester dans le
discours superficiel dont on s'efforce de sortir. Faut-il se contenter d'une
description explicative avec 1'aide d'un langage plus ou moins sophistiqué
comme celui que propose J.-F. Richard " et au moyen d'une analyse facto-
rielle limitée ? Cest avancer bien peu dans 1'intimité des problômes. Faut-il,
en allant plus à fond, rejoindre 1'écologie de synthese par le biais, par
exemple, du calcul des bilans énergétiques ? N'est-ce pas alors orienter la
géographie physique vers une sorte de prolongement de la biologie en
laissant de côté tout un pan de Fétude ?
En fait, géographie globale et analyses sectorieiles ne se contredisent
nullement. II est indispensable, enseignait Emm. de Martonne, de pros-
^
pecter à fond le détail à condition de ne pas perdre Fidée directrice. II y a là
comme les deux faces d'un même sujet, et c'est ie sort de toute science *
d'être ainsi partagée entre une analyse de plus en plus fine et une synthese
de plus en plus intégrée. Ce qui se pose, par contre, c'est le problème de
la place de 1'homme dans le système et, par là, des relations avec la géo
graphie humaine. Pour la géographie physique, 1'homme est un des fac
teurs parmi d'autres, et de plus en plus infiuent, de la transformation du
^
milieu «naturel». Pour la géographie humaine, il est le point central
d'une étude dans laquelle les phénomènes physiques ne sont qu'accessoires *
et parfois même négligeables. Et les méthodes de Fune et de 1'autre n'ont
plus de points communs. Alors faut-il couper tous les ponts ? Sur le plan
de la recherche, incontestablement oui. Est-ce pour autant la mort de la
géographie ? Je ne le pense pas. Rien n'empêche que la géographie phy-

19. N. BEROUTcnACHvru et J.-L. Mathieu, t UEthologie des géosystèmes >, UEspace


géographique, a" 2, 1977.
20. J.-F. Richard, Problèmes de géographie du paysage. O.R.S.T.O.M., 1972.

152

102


r

P
r
P LA GÉOGRAPHIE N'EST-ELLE QU'UNE SCIENCE HUMAINE ?

sique dialogue autour de thèmes avec la géographie humaine comme elle


dialogue avec d'autres sciences. Cest la géographie tout entière, pluri-
disciplinaire et collective, qui pourra au contraire en bénéficier.
r
Forcer les mentalitês

Une telle transformation de la géographie physique, pour avoir quelque


chance de succès, devra s'accompagner d'un changement radical de cer
taines mentalitês.
Et tout d'abord parmi les géographes eux-mêmes, les physiciens comme
les autres. Les géographes universitaires (mais il n'y en a encore que três
peu d'autres) manquent souvent d'audace devant les nouveautés de leur
propre discipline, comme s'ils avaient perdu le goüt de la découverte.
Peut-ctre est-ce la raison pour laquelle ils s'enflamment plus volonticrs sur
r les outils que sur Fouvrage. Ils ne savent pas, ou ils savent mal, s'ouvrir
sur Fextérieur. Ils tournent trop facilement en rond dans leurs propôs et
dans leurs assises. Ils ont trop tendance à ne traiter qu'entre eux de leurs
problèmes, et parfois même de ceux des autres. II n'est qu'à comparer,
par exemple, les Réunions annuelles des sciences de la Terre, ouvertes à
f
un vaste public, bouillonnantes d'idées neuves et hardies souvent âprement
r discutées, aux Jouraées géographiques, familiales et sympathiques certes,
mais oü des gens connus dissertcnt paisiblement sur des problèmes impos-
sibles, plus académiques que scientifiques, comme Ia définition du « milieu
naturel» ou la sempiternelle « unilé de la géographie ».
Tant que les géographes, et je pense surtout aux plus jeunes, ne sauront
pas sortir de leur cercle, confronter leurs idées à celles de leurs voisins,
dépasser le discours sur le discours, répandre dans les revues de grande
vulgarisation des textes de qualité mais attrayants et accessibles aux non-
spécialistes, tant qu'ils ne sauront pas s'exprimer par le film ou la télévision
comme ont su le faire les historiens, ils ne devront pas s'étonner de Findif-
férence ou de Foubli dans lesquels se trouve la géographie. N'est-ce pas
un symbole que les divers épisodes d'une recente série télévisée sur les
f 153

r
p
103
r

p
p
grands fleuves, dont les géographes ont été à peu près absents, aient été
fmalement presque toujours détournés vers Fethnologie, le folklore ou
Fhistoire et rarement centres sur la vraie géographie ? Assumer une science
devant le grand public, c'est évidemment toute une mentalité. Mais, si la
géographie continue à bouder les media et la littérature, si elle ne descend
pas aussi dans la rue comme elle Fa fait d'ailleurs dans tout le xrx° siècle,
elle restera discours de mandarin prêchant dans le désert. <*
Cela pourrait aussi contribuer à modifier Fattitude de ceux des autres
chercheurs qui, méconnaissant ou méprisant la géographie, la considèrent
comme un genre mineur et d'intérêt restreint. Certains font preuve vis-à-vis
d'elle d'un complexe de supériorité qui impressionne beaucoup de géo
graphes parmi ceux qui sont le moins assurés dans leur spécialité. De fait,
les relations entre les géographes et les autres ^cientifiques sont moins
dans les rapports de discipline à discipline que d'ordre persormel, et presque
à sens unique. Alors que bon nombre de géographes physiciens publient
dans les revues de sciences de la Terre et fréquentent des associations ~
comme la Société géologique de France, peu de géologues éprouvent le
besoin d'assister, par exemple, aux séances de FAssociation de géographes
français, peu lisent ou citent les travaux publiés dans les revues de géo
graphie et pratiquement plus aucun n'y écrit.
Un gros effort pluridisciplinaire reste à faire, qui briserait Fisolement
et Pindividualisme dans lesquels se complaisent la plupart des chercheurs.
II est encouragé en partie par des revues internationales multilingues comme
Catena ou comme la Zeitschrijt jür Géomorphologie. Malheureusement
^
les articles d'auteurs français y sont encore três rares. II est encouragé
aussi par Padministration de la recherche, mais souvent plus formellement ^
qu'efficacement31. L'expérience montre pourtant que, quand de tels contacts
sont établis, les géographes ne sont pas nécessairement de simples deman-
deurs. Ils savent aussi fournir une contribution appréciable à la recherche
non géographique et lui apporter de nouveaux sujeis de méditation.
21. Le découpage des sections du C.N.R.S., par exemple, gene fréquemmcnt certaines
initiatives, et beaucoup de recherches coopératives sur programme 0*-C.P.), qui sont
proposées à plusieurs sections, se retrouvent fmalement soutenues par une scule.

154

104

%
P

P
0
P
0

LA GÉOGRAPHIE N*EST-ELLE QU'UNE SCIENCE HUMAINE ?


r

Mais le plus dur obstacle à surmonter reste sans aucun doute cerni des
mentalitês des utilisateurs potentiels de la géographie et des employeurs
éventuels de géographes. Les convaincre n'est pas une mince affaire, et
il est des pesanteurs qui s'attachent aux noms mêmes des choses. Les géo
graphes physiciens, par exemple, souffrcnt à cet égard de la réputation
intellectuelle et humaniste des études de géographie comparée au positi-
visme recherche dans les écoles d'ingénieurs. En outre, la plupart se pré-
r
sentent, de par leur scolarité, à un niveau d'empIoi considere comme trop
élevé au regard des besoins les plus courants : trop de docteurs ou d'ingé-
nieurs par rapport aux techniciens, supérieurs ou non. Même si de gros
efforts sont faits ici ou là pour briser ces contraintes, le problème est
encore loin d'être réglé. Une amélioration sensible de la formation des
géographes et de la production géographique technique ainsi qu'une
patiente information des milieux professionnels sont nécessaires. Mais elles
0 ne seront pas pour autant suffisantes, car les forces d'inertie sont considé-
rables. Une réussite, même partielle, dépendra moins de la valeur
d'exemplcs isoles que d'un changement profond dans les institutions.

0
Changer les institutions
P
0 Un premier pas serait de sauvegarder la place de la géographie dans
Fenseignemcnt secondaire. On n'en prend pas le chemin dans la mesure
0
oü les plus hautes instances ministériellès non seulement ne Font pas en
P vue, mais encore y semblent hostiles. De toutes façons, cet enseignement
0 devrait être profondément rénové. Le problème est de savoir s'il faut le
conserver sous le nom de géographie ou le diluer d'une part dans un
enseignement de sciences naturelles (ou d'« écologie» ?), d'autre part
dans un enseignement de sciences sociales. Encore une fois, je pense qu'ó
ce niveau une certaine unité de la discipline géographie devrait être pré-
servée. Au moins pour deux raisons : la première parce qu'il reste fonda-
mental que quelqu'un montre aux élèves les interréactions entre le milieu
biophysique et Foccupation humaine; la seconde parce qu'il est nécessaire
•^
155
r
0

f 105
0
r
r
p
r
de former à cet effet des maitres compétents, donc instruits dans cette
manière de voir. Or ce maítre ne peut être ni Fhistorien (comme actuel-
Iement dans les trois quarts des cas), ni Féconomiste, ni le sociologue, ni
le naturaliste : il n'y a pas d'impudence à dire que c'est la vocation et
même la raison d'être du geographe que d'exercer cette fonction. Quant à
1'enseignement même, il devrait abandonner le système des tiroirs separes
et se regrouper autour de thèmes mixtes comme ceux préconisés par FAs-
sociation française de géographie physique pour la classe de seconde.
Ce point de vue unitaire de Ia géographie pourrait se continuer encore
dans le premier cycle de 1'enseignement supérieur et, pour les futurs ensei-
gnants, jusqu'à Fagrégation. A condition bien sür d'aménagements origi-
naux qui briseraient les carcans administratifs qui enferment les disciplines
dans un « ordre littéraire » et un « ordre scientifique ». Les débats de 1968
et même Ia loi d'orientation de 1'enseignement supérieur avaient préconisé
Finterdisciplinarité. On sait ce qu'il en est advenu dans la pratique. II faut
faire notamment sauter Fassociation privilégiée sinon obligatoire de la
géographie avec Fhistoire et autres sciences humaines. Cette association,
qui est une possibilite, ne doit plus être la seule. L'accès des bacheliers
scientifiques dans les cursus de géographie pourrait en être encouragé.
L'étudiant doit pouvoir largement, pour un tiers au moins de son temps,
s'adonner à d'autres disciplines, par exemple la physique, la chimie ou
la biologie, susceptibles d'enrichir son outillage intellectuel et technique,
et de compléter sa formation. II est inique, à Finverse, que la géographie
ne figure même pas, au même titre que la sociologie ou Féconomie, comme
matière à option dans le D.E.U.G. des sciences de la Terre et de la vie !
II y aurait aussi beaucoup à dire sur Ia conception de Fagrégation; mais
cela est un autre problème.
Par contre, au niveau de la formation des chercheurs et des profession-
nels, Funité d'enseignement ne se justifie plus. Mon opinion personnelle
est qu'elle est même néfaste en ce qu'elle ne permet pas la qualification
nécessaire. Une licence et une maitrise de géographie physique, ainsi qu'un
troisième cycle avec un D.E.A. et un D.E.S.S., sont indispensables. Cela
existe, il est vrai, mais en trop peu d'endroits et au prix de quelles dif-
156 ^

106
0
P
P
P
P

P
LA GÉOGRAPHIE N'EST-ELLE QU'UNE SCIENCE HUMAINE ?

ficiles et hasardeuses démarches. De toutes manières cette orientation


devrait pouvoir bénéficier des moyens qui sont ceux des autres disciplines
f
scientifiques, aussi bien en ce qui concerne le recrutement des étudiants,
Péquipement et le fonctionnement des écoles de terrain et des laboratoires
P
qu'en ce qui concerne le label scientifique des diplomes délivrés ". L'iné-
0 galité actuelle ne joue pas seulement au sein de FUniversité : elle rend
plus difficiles et plus aléatoires les demandes d'aide matérielle au Plan,
au C.N.R.S. ou à la D.G.R.S.T.; elle pese même sur la conception et sur
f- la réalisation des publications et des thèses".
Cest à cette défense et promotion d'un secteur important et original de
p la géographie que répond la création recente de FAssociation française de
géographie physique:|. Elle s'adresse à tous ceux qui se sentent concernes
P
par la géographie physique. Elle ne doit pas être recue comme une marque
cFhostilité ou comme un instrument de scission. Chacun doit avoir
conscience que quiconque parle pour la géographie physique parle aussi
pour la géographie tout entière.
0

Conclusion

r
L'effacement relatif de la géographie ne peut pas être impute aux seuls
non-géographes. Les géographes aussi ont leur part de responsabilité. La
rclégation de la géographie physique, Fancrage de plus cn plus exclusif
de la géographie aux sciences humaines en font partie. Est-il encore pos-
0
P
22. Actuellcmcnt 1'inégalité est la règle, et pas seulement sur le plan financicr. J'ai,
dans un même cursus de Paris VII, des étudiants géographes et d'autres provcnant des
départements d'cnvironncmcnt et de sciences de la Terre. Les premiers n'ont pas droit,
par exemple, aux sursis du service national dont bénéficient les seconds. De mCmc, s'ils
se présentent pour un emploi. leur label a littéraire » est un séricux handicap par rapport
à leurs camarades. II y a de quoi décourager pas mal de vocations.
23. Une partie des géographes physiciens ont pour toutes ces raisons, scientifiques et
matériellcs, rejoint au C.N.R.S. les sections des sciences de la Terre et de la vie.
r> 24. A.F.G.P., 191, rue Saint-Jacqucs, 75005 - Paris.

157

P
P
0
107
0

0
sible de parler d'« unité de la géographie » ? Sans doute si on se place
au niveau collectif d'un point de vue géographique. Sans doute aussi si
on considere la necessite d'un enseignement et d'un discours géographiques.
Certainement pas au niveau de la recherche ou d'un métier.
La géographie physique s'inscrit três bien dans ce schéma comme science
de la répartition, à la surface du globe, des phênomènes physiques et bio-
logiques et de leurs combinaisons, ainsi que des causes et conséquences de
cette répartition. Je ne suis pas sür que les discussions épistémologiques
n'ont pas introduit une certaine confusion dans un domaine qu'elles pré-
tendaient clarifier, et qui n'a rien d'obscur. La géographie physique a un -1
objet, des méthodes et un role qui sont faciles à definir. Encore faut-il en
convaincre les autres. •

L'objet de la géographie physique c'est, à la surface (F « épiderme ») de


la Terre et dans le temps présent (en y comprenant les héritages et les poten-
! tialités), 1'étude des combinaisons (equilibres) de phênomènes d'ordre
physico-chimique et biologique, dans leur extension spatiale (ce qui est le
point de vue spécifiquement géographique quelle que soit Fétiquette de
Fopératcur), leur gênêralisation (par comparaison) et dans la recherche
de leurs lois (qualitatives et quantitatives).
Comme dans toute science, la recherche en géographie physique neces
site à la fois une analyse approfondie et un retour périodique à une vue
plus globale des choses. D'oü Foscillation, selon les moments et les per-
m
sonnes, entre deux pôles apparemment contradictoires : Fémiettement des
spécialités ou Fencyclopédisme. La première attitude implique des connais-
sances théoriques et pratiques três poussées et la pénétration dans des
domaines non géographiques, soit par Fintermédiaire des autres chercheurs,
soit directement si ces autres chercheurs se dérobent faute de temps ou
d'intérêt. La deuxième attitude, dans les conditions actuelles, necessite le
travail en equipe. Dans les deux cas, Favancement de la recherche justifie
Futilisation de méthodes appropriées qui peuvent être três diverses :
méthodes générales d'inventaire (leves sur le terrain, télédétection),
méthodes géographiques proprement dites (cartographie), méthodes natu-

m
.-V

#
108
P
0
P
r
e LA GÉOGRAPHIE N'EST-ELLE QU'UNE SCIENCE HUMAINE ?
p
ralistes (observation, comparaison, classification), méthodes expérimentales
(laboratoire), méthodes mathématiques (statistique, informatique), etc.
Quant au role scientifique de la géographie physique, il est double :
1. élaborer des resultats propres, dégagés de tout anthropocentrisme, se
rapportant exclusivement aux objectifs ci-dessus mentionnes, mais avec
Faide des sciences voisines alors considérées comme « auxiliaires » ; 2. four-
p
nir aux autres disciplines, y compris la géographie humaine et le génie
p
civil, des informations élaborées qui puissent être incorporées dans les
recherches voisines et, au besoin, en collaboration avec elles.
La géographie en general, et la géographie physique en particulier, ont
trop souvent été définies négativcment, par les limites qu'on a voulu leur
assigner. Mais il faut se méfier des limites. Un chercheur qui s'interdit un
axe d'exploration stérilise sa recherche. Par ailleurs, le geographe est
Fhomme de la dimension spatiale. Fait donc de la géographie quiconque,
même non geographe, prend en compte cette dimension : nul ne s'offusque
d'être phytogéographe ou paléogéographe. Donc la géographie ne peut pas
p
être exclusivement humaine, ni se contenter de décrire des « paysages »
visibles sans les analyser à fond.
Ainsi, géographie physique et géographie humaine sont deux volets
d'une même discipline, desservis par un même esprit, mais avec chacune
leurs objectifs propres, leurs méthodes spécifiques, leurs perspectives
modernes (expérimentation, quantiíication, traitement numérique ou modé-
lisation, télédétection) et leur champ d'application.
0
0 En raison du cloisonnement administratif et universitairc des différentes

0
sciences, la géographie physique est mal à sa placc dans les « sciences
humaines». Cela ne Fempêche pas d'être de Ia géographie. II suffirait de
la décloisonner d'une strueture qui Fentrave au niveau du recrutement,
des moyens et des liaisons scientifiques. Après tout, il y a eu et il y a encore
des chaires et des laboratoires de géographie physique dans les facultes
des sciences : ça devrait être plus facile dans les universités « pluridisci-
plinaires ». L'« unité de la géographie» n'y perdrait rien sur le plan
scientifique, bien au contraire.
Fernand Joly

f
r
109
r

0 .
9
p
TEXTO 5

OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA MODERNA


GEOGRAFIA FÍSICA*
é
.. A. GRIGORIEV
P

p
Nota do Tradutor A A Grigoriev, um dos mais importantes geógrafos da ex-URSS
p
(atual CEI) e membro da Academia de Ciências daquele país, é responsável por uma
p vasta e significativa produção científica na área da Geografia Física. Ele e outros
expoentes cientistas rassos, como Gerasimov, Afanasiev, Sotchava, Kalesnik e Snytko,
formam o que chamamos de "escola russa", que trouxe uma enorme contribuição à
r* sistematização, metodologia e técnicas à moderna Geografia Fisica. Para estes autores, a
Geografia Fisica se constitui em ciência autônoma que apresenta métodos, linguagem e
leis próprias, o que não significa que deixe de integrar o rol das "ciências geográficas".
Este artigo de Grigoriev foi originalmente publicado em Moscou, em msso, e
em inglês na edição do "The Interaction of Sciences in the Study of the Earth", em
1968, numa coletânea de contribuições metodológicas em Geociências. Mesmo
passados 25 anos de sua publicação original, permanece um artigo atual e relevante.

1 - O Estrato Geográfico da Terra

O estrato geográfico da Terra compreende a crosta, a baixa atmosfera


(troposfera c parte da estratosfera), hidrosfera, regolito (manto do solo),
cobertura vegetal ereino animal. É uma das camadas básicas da Terra que difere
daquelas que se situam abaixo e acima da superfície e na qual se incluem
r
materiais nos três estados agregados. Seu processamento advém de fontes
energéticas cósmicas e terrestres (nas outras camadas o processamento é
produzido, principalmente, por uma ou por outra); é o único estrato que
sustenta a vida, habitat da sociedade humana Os anos recentes têm sido
marcados pela penetração do homem nos limites superiores do estrato
geográfico, rumo ao espaço exterior. Atualmente, o homem cava poços
profundos com o propósito de penetrarnos limites interiores.
f
Estudos sobre as partes componentes do estrato geográfico têm
revelado que a sua estrutura e evolução são tão profundamente interconectadas
e inter-relacionadas que formam um todo inseparável, um peculiar fenômeno
r

"Traduzido do inglSa por João Lima SanfAnna Neto, Professor do Departamento de


Ciôncius Ambientai . R T/UNESP/PP
r

;
P
P
natural, com leis próprias de estrutura e evolução.
Tendo se originado e evoluído na superfície do planeta, o estrato
geográfico tem ligações geneticamente inseparáveis com a superfície da Terra,
aberta à radiação solar. Devido à prevalecência das condições hidrotérmicas e
geoquímicas, o estrato geográfico, que no princípio
era desprovido de vida, tomou-se, com o tempo, uma arena para a origem e
evolução da vida, que adicionou às suas partes componentes o regolito, a
cobertura vegetal e o reino animal. Isso alterou radicalmente sua composição
geoquímica, enriquecendo-a com oxigênio (o que é especialmente importante) e
muitas outras substâncias.
Os limites do estrato geográfico não são definidos e representam zonas
de transição. Assumimos que o limite superior atravessa a estratosfera, até algo
próximo à camada de concentração máxima do ozônio, a mais ou menos entre
20 e 25 km acima da superfície. Abaixo, a atmosfera se apresenta num contínuo
movimento turbulento devido à sua interação com os continentes e oceanos:
acima do limite, estes movimentos desaparecem rapidamente. A radiação solar,
de sua parte, perde os excessos letais dos raios ultravioletas ao atravessar a
camada de ozônio, e sua composição se aproxima daquela observada na
Iroposlera.
O limite inferior do estrato geográfico não fica muito abaixo da crosta
terrestre, em uma camada subcrostal, onde as altas temperaturas e as grandes
pressões que agem sobre estas massas tomam-nas mais plásticas do que a
crosta, embora ainda exibindo as propriedades de um sólido.
As interações entre os processos tectônicos de fonrtação do relevo na
crosta e os processos verificados nas regiões suberostais, diminuem
rapidamente na camada superior destas últimas, por onde passa o limite inferior
do estrato geográfico. Ela se situa, aparentemente, um pouco abaixo da camada
sísmica de "Mohorovici", onde as ondas sísmicas longitudinais alteram
abruptamente sua velocidade, indicando uma mudança aguda nas propriedades
físicas das rochas.
O estrato geográfico apresenta uma estrutura semelhante a uma série de
camadas empilhadas, cujos componentes se interpenetram consideravelmente e
; é caracterizada pelo complexo natural das diferenciações regionais.
Do ponto de vista da energia, ele pode ser dividido em duas camadas: a
exterior, onde a energia solar é a principal fonte de calor, e a interior, onde o
calor é gerado por decomposição radioativa e processos análogos. O limite entre
elas ultrapassa algumas dezenas de metros abaixo da superfície (15 a 30 metros
nas zonas moderadas). A parte litosférica do estrato geográfico também pode ser
dividida em várias camadas.

306 72
112
produz ciências limítrofes que gravitam no sistema físico-geográfico do
ciências^)

4 - Os Fundamentos Teóricos das Ciências Físico-Geográficas

A Geografia Física, como se apresenta hoje, começou a tomar forma nu


• virada do século, quando V.V. DOKUCHAYEV enunciou duas leis OaiCO
I geográficas fundamentais: 1 - a lei de um ambiente geográfico integral c
continuo, isto é, a mútua interdependência de todas as suas partes componente
• (litosfera, baLxa atmosfera, hidrosfera, regolito e biosfera); 2 - a lei das áreafl
geográficas.
Ao postular a integridade e a indivisibilidade do ambiente geográli' i
DOKUCHAYEV deixou de definir os processos naturais específicos que
* formam as bases do desenvolvimento integrado de seus componentes. Mflifl
4 tarde, o mesmo autor demonstrou que as interconexões, interações c min
% relações entre os componentes do estrato geográfico da Terra são todoa
baseadas em um intercâmbio de matéria e energia entre si, e entre o estrato
« geográfico e os elementos do universo, especialmente a radiação solar, de um
lado, c as massas sub-crostais com suas fontes de energia, de outro.
Para chegar a estas conclusões, o autor se baseou, em muitos aspectos,
: nas pesquisas de V.I. VERNADSKY, que demonstiou, principalmente nu

(1) Nota do Tradutor: Tanto GRIGORIEV quanto AFANASIEV, entendem poi


"sistemas de ciências", uma combinação de ciências estreitamente relacionadas, qUfl
estudam leis similares. Por outro lado, os mesmos autores, distinguem estes "mi ma
de ciências" de "complexo de ciências" que significaria uma estreita combinava" <ln
ciências afins, que estudam diferentes categorias de leis.
Dela surgiram novas disciplinas, como a geografia química (ou geoquiim. a
topográfica), a escola geofísica da Geografia Física,etc.
A Geografia Fisica está mtimamente relacionada com a Geografia EconAmi< i
seus ramos, à medida que: a) a economia tem que desenvolver condições ruituniii
específicas que a afetam de uma maneira ou de outra; b) a exploração de recui
naturais é parte essencial da produção; ec)a produção social está relacionada com "
tiansfonnação da natureza espontânea ou planejada, para assegurar, na medida (Io
possível, a reprodução de recursos.
Porestas razões, o estrato geográfico só pode ser estudado com êxito, quailt \i •
<>•; eleitos do modo de produção da sociedade humana na natureza são plenami IMi
levados em conta. Cadn iimii das ciência*, geográficas (a geografia fisica, u econômíi a)
recorre o métodos especifico* dl btVâltigQÇfto «<>murn a todas elas, é que rins devem
i>miii du noçflo do estralo gtogrifli o i u ntidede otlmtundinentfl complexa

radiação na superfície e no total anual de precipitação Os cinturões climáticos


verticais nas montanhas variam, dependendo das mudanças verticais das
condições hidrotérmicas análogas às que servem de base á regionalização
honzontal. Os sistemas de regionalização vertical nas montanhas combinam
naturalmente com as áreas horizontais ao pé das montanhas
As áreas geográficas são geralmente bastante extensas As mais típicas
delas são alongadas, e suas características externas usualmente determinadas
pela natureza da vegetação, da qual deriva comumente seu nome. Áreas
geográficas encerram paisagens geográficas que se agrupam de diferentes
modos. Estes grupos são os mais diversificados e de estrutura mais complexa do %
estrato geográfico de uma dada área.
Paisagens geográficas, que em última análise constituem o sistema
integrado de regiões naturais de planícies e montanhas, são manifestações *
locais das leis gerais físico-geográficas associadas às características locais do
relevo, da litologia, meso e microclima, do regolito e outros fatores
semelhantes. As paisagens se desenvolveram como resultado de interações das
dinâmicas da camada externa do estrato geográfico e sua camada subterrânea.
Um estudo comparativo das áreas geográficas da Terra revela que elas
constituem um sistema natural, baseado em alterações no índice anual de
radiação na superfície em territórios imtimamente interligados (que pouco
diferem, apenas no índice de radiação no período vegetativo), no total anual das
precipitações e nas proporções entre o nível de radiação e as precipitações
anuais, expressas em termos de unidades de calor, isto é, calonas necessárias
para a evaporação da pluviosidade anual
Essa razão R/Lr, onde R é o total anual de radiação superficial, L é o
calor latente de evaporação e r as precipitações totais anuais, tem sido chamada
de "índice de aridez de radiação"
As investigações revelam que as fronteiras das áreas geográficas
possuem íntimas relações com o índice de aridez da radiaçào e com o total de
radiação superficial. As relações desses parâmetros com as características do
regime hidrológico, da cobertura vegetal e do regolito para toda a superfície
terrestre do globo foram estabelecidas e estudadas
Uma comparação de dados da distribuição geográfica da radiação total e
das precipitações com a geobotánica mundial e mapas do solo. confirma que.
para cada zona latitudinaL observou-se uma correspondência definida entre as
fronteiras de áreas naturais e as faixas de índice de aridez da radiação Ao
mesmo tempo descobriu-se que idênticos índices de aridez da radiação em
diferentes zonas latitudinais correspondem a áreas naturais que mostram
marcante similaridade no que diz respeito a certos aspectos importantes Em

•i

118

J
31 o"'
116
p
p
p

p conseqüência, indo de uma zona latitudinal para outra (o que corresponde ti


p mudanças no balanço de radiação, isto é, nas bases da energia térmica de
0> processos naturais) através de áreas naturais correspondentes a mudanças raia
condições de umidade, semelhantes aspectos ocorrem periodicamente ao ledo
de diferenças devidas a mudanças nas condições de energia térmica.
P Uma representação esquemática generalizada da lei periódica de
regionalização é apresentada no Quadro I Dele podem-se tirar certas
conclusões teóricas; notadamente, todas as graduações da umidade silo
0 caracterizadas por mudanças nãc apenas no tipo, mas também na produtivtchdr
0 da cobertuta vegetal e produção de material biológico Além do mais. cadfl
P coluna do Quadro corresponde a uma seqüência definida de mudanças nos ti]
P de solos, os quais possuem aspectos apreciavelmente semelhantes em umu
P mesma coluna
P Dados disponíveis dão base suficiente para encarar (de acordo com o
esquema acima) a seqüência periódica de áreas como uma lei geral abarcando
r ambientes geográficos como um todo e a maioria expreissiva dos proec.v.
físico-geográficos fundamentais (ver Quadro I).
P O Quadro de áreas geográficas indica que o grau de intensidade dos
r processos flsicos-geográficos c a produtividade correspondente doa
p componentes bióticos, é o de mais alto valor para o balanço anual da radiação
superficial e de melhor avaliação para a unidade do índice de aridez du
p radiação, quando a umidade do solo é óptima para o desenvolvimento dn
p cobertura vegetal Assim, para um índice de aridez de 0,8 a 1 na sub-área «!>•
p florestas deciduas da zona temperada, o incremento anual da cobertura vegetal
p natural acima do solo é de aproximadamente 5.6 toneladas métricas de matél itl
vegetal seca por hectare, enquanto na floresta tropical de áreas alagadas, é de dn
p a 50 toneladas por hectare
0 Com uma redução no índice de aridez, por um aumento excessivo da
umidade no solo (para 0,45 e menos), assim como um fator que eleva a árido?
pela maior deficiência de umidade (3 ou mais), o rendimento da cobeiiuu
0 vegetal natural cai para 0,4 toneladas por hectare na região semi-desértica do
Ártico ou nos desertos semi-arbustivos da zona temperada, ou ainda menor 11
desertos tropicais e subtropicais.
0
Todos os dados apresentados confirmam que existe uma unidade
r
interna da estrutura e desenvolvimento da camada exterior do estrato geográfico,
P
que se estende por todas as áreas; ao mesmo tempo, confirmam a unidade de
todas as regiões naturais que as constituem, por maior que sejam fUfifl
p diferenças superfk

p
P

P
p
t

Descobriu-se, recentemente, que a produtividade da cobertura vegetal


natural é maior onde os solos recebem um supnmento óptuno de água, isto é.
onde o regime de água assegura ao solo uma quantidade suficiente de umidade
na maior parte do ano, para que a transpiração da cobertura vegetal se processe
contmuamente, enquanto que, ao mesmo tempo, a quantidade de água não seja
tão grande a ponto de impedir o curso normal do processo de aeração do solo
As investigações revelam que tal regime de umidade do solo contnbue
para a fotossíntese e assegura a remoção rápida e completa de assimiladores
oriundos das folhas, acumulação que retarda o funcionamento da clorofila
Tudo isto é de grande valor tanto pratico quanto teórico, na medida em que
revela a essência do mecanismo natural que opera na cobertura vegetal e pode
ser usado para incrementar a produtividade da vida tanto da planta natural f
quanto da cultivada. -i
Duas importantes conclusões podem ser tiradas das leis de estruturas
diárias e da diferenciação territorial da geosfera l dando mais ou menos
valores similares de calor da radiação, o grau de saturação do estrato geográfico, 9
devido à umidade e aos componentes biológicos, a diversidade de sua dinâmica
e composição é tanto maior quanto mais próximo da unidade, o índice de aridez #
(tendo-se em conta o passado geológico da região). 2. dando mais ou menos
valores similares ao índice de radiação das regiões andas (com raras exceções),
o grau de saturação é maior quanto maior o balanço anual de radiação da
superfície tenestre, também levando-se em conta o passado geológico
9
9

7 - As Ciências Físico-geográfícas e os Requisitos Práticos 9


9

O tema e as tarefas das ciências fisico-geográficas. acima mencionados.


revela que. como regra, elas investigam os fenômenos naturais de considerável
importância para a expanção da produção Elas estudam leis. conhecimentos e
Utilizações para a solução correta de muitos problemas práticos Esta 9
aplicabilidade prática tem sido sempre de especial unportância para o
desenvolvimento das ciências geográficas
Ao mesmo tempo, seu valor prático cresce à medida que elas se
desenvolvem. Seu papel, em particular, é especialmente grande nos paises
socialistas em condições de economia piamficada e exploração e
desenvolvimento planejado dos recursos naturais, na utilização de terras
ornvcis. técnicas agronômicas diferenciadas, no combate á erosão c solos ándoa,
no desenvolvimento da irrigação e supnmento de água em regiões secas, etc, na I
120

m
produz ciências limítrofes que gravitam no sistema físico-geográfico dti
ciências^')

4 - Os Fundamentos Teóricos das Ciências Físico-Geográficas

A Geografia Física, como se apresenta hoje, começou a tomar forma nu


virada do século, quando V.V. DOKUCHAYEV enunciou duas leis Qai<
geográficas fundamentais. 1 - a lei de um ambiente geográfico intc$
continuo, isto é, a mútua interdependência de todas as suas partes componcnl
(litosfera, baixa atmosfera, hidrosfera, regolito e biosfera); 2 - a lei das érettl
geográficas.
Ao postular a integridade e a indivisibilidade do ambiente geográfíi i
DOKUCHAYEV deixou de definir os processos naturais específico:» que
formam as bases do desenvolvimento integrado de seus componentes. Moiü
tarde, o mesmo autor demonstrou que as interconexões, interações c intei
relações entre os componentes do estrato geográfico da Terra são todo
baseadas em um intercâmbio de matéria e energia entre si, e entre o estrato
geográfico e os elementos do universo, especialmente a radiação solar, de um
lado, e as massas sub-crostais com suas fontes de energia, de outro.
Para chegar a estas conclusões, o autor se baseou, em muitos aspectos,
nas pesquisas de V.I. VERNADSKY, que demonstrou, principalmente, no
(l) Nota do Tradutor: Tanto GRIGORIEV quanto AFANASIEV, entendem poi
"sistemas de ciências", uma combinação de ciências estreitamente relacionadas, ÇUfl
estudam leis similares Por outro lado, os mesmos autores, distinguem este-, "sisl ma
de ciências" de "complexo de ciências" que significaria uma estreita combinarão i\o
ciências afins, que estudam diferentes categorias de leis.
Dela surgiram novas disciplinas, como a geografia química (ou geoquln
topográfica), a escola geofísica da Geografia Física, etc.
A Geografia Fisica estáintimamente relacionada com a Geografia Econôml i
seus ramos, à medida que: a) a economia tem que desenvolver condições naturaii
específicas que a afetam de uma maneira ou de outra; b) a exploração de reeiu
»
naturais c parte essencial da produção; cch produção social está relacionada c n
tiansfomiaçao da natureza espontânea ou planejada, para assegurar, na niedidn do
possível, a reprodução de recursos.
Por estas razões, o estrato geográfico só pode ser estudado com êxito, guando
os efeitos do modo de produção da sociedade: humana na natureza são plenamente
Icvwlos em conta Cada uma dai ciências geográficas (a geografia física, a ceou.Mim ..•
recorre a métodos específicos dn InVOStigaçAo <'omum a todas cias. è que elnn devem
pailu dn nocftodo estralo gOOgrifi ••»• •entidade estruturalmente complexa.

Descobriu-se, recentemente, que a produtividade da cobertura vegetal


natural é maior onde os solos recebem um supnmento ópümo de água, isto é.
onde o regime de água assegura ao solo uma quantidade suficiente de umidade
na maior parte do ano, para que a rranspiração da cobertura vegetal se processe
contmuamente, enquanto que, ao mesmo tempo, a quantidade de água não seja
tão grande a ponto de impedir o curso normal do processo de aeração do solo •

As investigações revelam que tal regime de umidade do solo contnbue


para a fotossíntese e assegura a remoção rápida e completa de assimiladores
oriundos das folhas, acumulação que retarda o funcionamento da clorofila
Tudo isto é de grande valor tanto pratico quanto teónco. na medida em que
revela a essência do mecanismo natural que opera na cobertura vegetal e pode
ser usado para incrementar a produtividade da vida tanto da planta natural
quanto da cultivada.
Duas importantes conclusões podem ser tiradas das leis de estruturas
diárias e da diferenciação territonal da geosfera 1 dando mais ou menos
valores similares de calor da radiação, o grau de saturação do estrato geográfico,
devido à umidade e aos componentes biológicos, a diversidade de sua dinâmica
c composição é tanto maior quanto mais próximo da unidade, o índice de andez
(tendo-se em conta o passado geológico da região). 2. dando mais ou menos
valores similares ao índice de radiação das regiões andas (com raras exceções),
o grau de saturação é maior quanto maior o balanço anual de radiação da
superfície terrestre, também levando-se em conta o passado geológico

7 - As Ciências Físico-geográficas e os Requisitos Práticos

O tema e as tarefas das ciências físico-geográficas. acima mencionados,


icvcla que, como regra, elas invesügam os fenômenos naturais de considerável
importância para a expanção da produção Rias estudam leis. conhecimentos e
mili/ações para a solução correta de muitos problemas práticos Esta
aplicabilidade prática tem sido sempre de especial importância para o 0
desenvolvimento das ciências geográficas
Ao mesmo tempo, seu valor prático cresce à medida que elas se p
desenvolvem. Seu papel, em particular, é especialmente grande nos países
socialistas em condições de economia piamficada e exploração e
desenvolvimento planejado dos recursos naturais, na utilização de terras
mávciR. técnicas agronômicas diferenciadas, no combate à erosão c solos áridos,
no desenvolvimento da irrigação c supnmento de água em regiões secas, etc, na

"ft314
I20
projeção de usinas hidrelétricas e na previsão das alterações de longo alcance na
natureza e no desenvolvimento econômico de áreas circunvizinhas, na
implantação de fenovias. rodovias, oleodutos e gasodutos e na construção de
aeroportos em condições naturais adversas; na construção de sistemas de
irrigação, de estruturas de melhoria das terras e canais de navegação; no estudo
de problemas da silvicultura, pesca, caça, elaboração de métodos de prospecção
mineral, etc.
Os planos de desenvolvimento econômico traçados pelo Programa do
Partido Comunista da União Soviética exigem, além de uma íntima cooperação
entre as ciências geográficas c a indústria, estudos mais detalhados das leis
geográficas necessárias para a solução coneta, em primeiro lugar, de problemas
ligados à eficiente localização geográfica das forças podutivas, à utilização mais
eficiente dos recursos naturais tendo cm conta sua preservação e reprodução, e
mudanças planejadas das condições naturais. Uma parte importante disso é o
trabalho direcionado para a alteração das condições climáticas.
Somando os avanços da geografia física dos últimos vinte anos, pode-se
notar que ela tem mudado de ciência caracterizadamente descritiva é cognitiva,
para uma ciência amplamente experimental e transformadora, essencial para a
alteração proposital das condiçõe naturais para benefício da economia e da
sociedade.
Hoje, o principal objetivo da geografia em todo o mundo, como
apontou I.P. Gerasimov, não c tanto "facilitar o pioneirismo em novas terras e
recursos naturais", como aconteceu até recentemente, mas principalmente
"proporcionar um serviço científico ao maior trabalho do homem dedicado à
utilização diversificada, e ainda mais intensiva dos recursos naturais já
descobertos e da transformação da natureza e da economia das regiões e países
já desenvolvidos".
Investigar esses problemas,' examinar os índices quantitativos
pertinentes à dinâmica e ao balanço de matéria e energia empregando métodos
desenvolvidos pela cibernética é de fundamental importância.
p

r TEXTO 6
P

Adriano Severo Figueiró


Eliane Foleto (Org.)
*
r
CAPÍTULO -1
0
0 UN PANORAMA IBERO-AMERICANO DE
P LA GEOGRAFIA FISICA

Maria Sala Sanjaume


r
p

Diálogos em Geografia Física


li
e

r
r
. D536 Diálogos em geografia física / Adriano Severo e
Eliane Foleto (org.). - Santa Maria : Ed. da
•• UFSM,
r
2011
208 p.: il.; 16x23 cm.

r
1. Geografia 2. Geografia física I. Severo,
Adrianc
II. Foleto, Eliane.
r
r CDU 911.2
ISBN 978-85-7391-141-1

Fichacatalográfica elaborada por Maristela Eckliardt CRB-10/737


Biblioteca Central - UFSM
r
r

123
CAPITULO 4

Í
UN PANORAMA IBERO-AMERICANO DE
LA GEOGRAFIA FISICA

Maria Sala Sanjaume

4.1 Introducción

Muchos de los aspectos que se van a tratar en este artículo sobre ciência bási
ca y epistemologia están entresacados dei Tema Geografia de la Enciclopédia
Digital EOLSS de la UNESCO titulada Encyclopaedia of Life-Support Systems,
dei que hc sido responsable y dentro dei que he escrito vários artículos. En este
artículo los textos que se resumen son los capítulos sobre Fundamentos de la
Geografia y sobre Teoria y Métodos en Geografia. La Enciclopédia puede con-
+1
sultarse en: www.eolss.net.
También se incluyen en este artículo algunos de los capítulos dei libro
sobre Teoria y Métodos en Geografia Física escrito por mi y por Ramón
Batalla. ^
En ei índice de temas tratados en la Enciclopédia (Tabla í), un aspecto
a considerar es la distribución que se ha hecho de los temas geográficos. En
primer lugar consideramos fundamental incluir tantos artículos sobre geo
grafia humana como geografia física, es decir dando a Ias dos ramas de la
geografia un tratamiento equivalente. En segundo lugar también pensamos
que era muy importante que se incluyeran dentro de un apartado propio
vários artículos sobre Geografia Técnica, aspecto tradicional de la geografia
y que consideramos fundamental con los nuevos avances actuales. No se han
incluído temas sobre Geografia Aplicada puesto que este aspecto entende
mos que forma parte de todos los temas geográficos, por Io que se pidió a los
diferentes autores que incluyeran esta temática en cada artículo, además de
que todo ei tema de Geografia Técnica puede también considerarse ciência
aplicada.

•»
*
124
p

p
^
p 78 Diálogos cm Geografia Fisica

Tabla í - índice de temas yautores enlaenciclopédia EOLSS sobre Geografia

* 6.14 Geography: SALA (SP)


6.14.1 Foundations of Geography: SALA (SP)
0 6.14.1.1 Main stages of the development: SALA (SP)
p 6.14.1.2 Theory and Methods in Geography:SALA (SP)
6.14.1.3 Geographical Education: GERBER.(AU)
6.14.2 Physical Geography: SLAYMAKER (CA)
p 6.14.2.1 Geomorphology: BREMER (DE)
6.14.2.2 Cümatology: KAZUKO URUSHIBARA-YOSHINO QA)
6.14.2.3 Hydro!ogy:SCARPATI(AR)
p 6.14.2.4 Biogeography: MEADOWS (SA)
p 6.14.2.5 Soil Geography:SALA. UBEDA & BERNIA (SP)
6.14.2.6 Coastal Systems:AGUSTINUS (NL)
p
6.14.2.7 Ocean Geography:VALLEGA (IT)
6.14.2.8 Mountain Geoecology: MESSERLI & IVES (CH.CA)
p
6.14.2.9 Natural Hazards:ALEXANDER (UK)
p
6.14.2.10 Land Degradation and Desertification: CONACHER (AU)
6.14.3 Human Geography: CARRERAS (SP)
6.14.3.1 Population Geography: FAUS & HIGUERAS (SP)
0 6.14.3.2 Cultural and Social Geography: CLAVAL (FR)
f 6.14.3.3 Geography of Agricultura:GILLMOR (IE)
6.14.3.4 Geography of Industries andTransporá: CONTI (IT)
6.14.3.5 Geography of Economic Activities: PARK (KO)
p 6.14.3.6 Urban Geography:AGUILAR (MX)
p 6.14.3.7 Medicai Geography: PHILLIPS (UK)
r 6.14.3.8 Political Geography: KOLOSSOV (RU)
6.14.3.9 Geography ofTourism: HALL (NZ)
P 6.14.3.10 Regional geography: BAILLY (CH)
6.14.4 Technkal Geography: ORMELING (ND)
p
r
6.14.4.1 Geodesy andTopography:ILLERT (DE)

P
6.14.4.2 Mapping and Atlas Production: ORMELING (ND)
«*- 6.14.4.3 RemoceSensing:VAN DERWEL (ND)
6.14.4.4 Geographical Information Systems:VAN DERWEL (ND)
6! 14.4.5 Modelling Geographical Systems: BAKER (AU)
0

p En la propuesta inicial de EOLSS se define la Geografia como ei estúdio


r de la superfície de la tierra. Como tal, es ei estúdio de la litosfera, hidrosfera,

P
r -

p 125
r
9

^
Àfíirirt Sala Sanjaume 79

biosfera y atmosfera, especialmente en relación a su aportación sobre Ias con


diciones que se rcquieren para mantener la vida humana. Se considera que
Ia Geografia contempla Ia colaboración entre ciências naturales y ciências so-
ciales, ei estúdio dei território natural, económico-social y territorial de los
9
fenômenos y sus componentes. Por ejemplo, en un tema tan actual como ei
de la desertificación la geografia estudiará los aspectos físicos y los sociales,
investigando tanto los efectos sobre ei suelo y la vegetación como Ias causas
relacionadas con la pobreza o la mala gestión dei território.
LaGeografia es un área muyantigua dei conocimiento humano, por Io que
a veces se la ha llamado "la madre de Ias ciências". Si bien está estrechamente
relacionada con la historia, también Io está con Ias ciências de la tierra. Con ei
tiempo la geografia ha pasado por un proceso de diversificación, relacionado
con su crecimiento, por una parte hacia una más profunda investigación de los ,«=,
diferentes componentes dei médio físico, y por ei otro lado de los componen
tes dcl sistema humano o socio-económico. Por tanto puede considerarsc que
la geografia tiene muchas utilidades puesto que combina los conocimientos
básicos dcl mundo natural con Ias complejas interrelaciones humanas con la ~

naturaleza. La geografia también promueve la sensibilización y conocimiento


ecológicos, Io cual estimula ei compromiso a proteger nuestro mundo.

#
4.2 La Geografia Física: definiciones y contenidos
9
Las definiciones clásicas de Geografia se refieren a ella como la disciplina que
trata de la tierra como morada de la humanidad, dei médio físico y de las in- #
teraccioncs entre este y la sociedad, de la organización espacial que todo ello
comporta. Por tanto la Geografia Física es, en primer lugar, una parte de la
Geografia puesto que estudia ei médio en que se desarrolla la actividad huma
na. Pero ai mismo tiempo, por los temas que trata, forma parte de las Ciências
Naturales. Se trata de una disciplina que engloba aspectos muy variados, y por
tanto tiene una gran diversidad interna. Ambos aspectos, la dualidad de raí- *•,
"•••

ces y la variedad temática determinan problemas que es necesario contemplar


Í
(Sala; Batalla, 1996).
Al tratar dei papel de la Geografia Fisica en los planes docentes Grcgory
(1985) define ei objetivo de la Geografia Física en la Universidad como una
preparación para que los estudiantes sean competentes en ei estúdio de los
problemas de la superfície de la tierra, y para que ello lleve a mejorar nuestra
comprensión de los procesos y sus efectos. Su campo de acción son ei es
túdio de las propiedades físicas de la superfície de la tierra, las cuales solo
pueden ser comprendidas y explicadas a través de la Física, la Química, la
Biologia y las Matemáticas.Según este autor la Geografia Física debería ser
9
ensenada a dos niveles, uno firmemente basado en Ciências para aquellos

9
9
126 A
80 Diálogos em Geografia Física

que quieran dedicarse a investigar especificamente en Geografia Física, y


otro basado en las ramas tradicionales de la disciplina (Geomorfologia,
Climatologia, Hidrologia, Biogeografía) para aquellos estudiantes que solo
necesiten conocer esta disciplina de forma complementaria y descriptiva.
Los orígenes de la Geografia se forjan en ei seno de las Ciências Naturales.
Recordemos que Humboldt, ei padre de la Geografia moderna, era un desta
cado naturalista alemán, como Io eran ei resto de hombres de ciência alemanes
creadores de la Geografia universitária. También ei norteamericano Davis, otra
piedra angular de la Geografia, procedia dei campo de las Ciências Naturales.
0 Y en Espafia, aunque muchos anos más tarde, los pilares de la Geografia fue-
0 ron hombres de ciências como Huguet dei Villar, Dantín Cereceda, Hernández
P Pacheco, Sole Sabaris. La situación actual es en muchos casos la inversa pues
to que ei conjunto de la Geografia se cultiva desde ei âmbito de las Ciências
P Sociales, lo cual puede plantear conflictos a la Geografia Física.
Sabemos que tradicionalmente la Geografia se ha basado en una amplia
r
visión dei mundo a escala global y regional, en ei estúdio de los paisajes, y en
la interrelación de los aspectos físicos y humanos. Sin embargo es innegable
P que desde las últimas décadas asistimos a un incremento de la especialización.
Paralelamente a la especialización se ha producido un mayor énfasis en ei es
P túdio de procesos dentro de todas las ramas, lo cual puede, hasta cierto punto,
P convertirse en un elemento unificador. Es ei caso dei estúdio de procesos en
0 sistemas integrados como la cuenca de drenaje, lo cual involucra la compren-
P sión de sistemas más amplios incluyendo la respuesta dei hombre y su impac
to. Estos estúdios agrupan muchos aspectos de la Geografia Física, implican
p
conceptos de estúdio integrado y tienen un interés creciente en los problemas
medioambientales.
Puede decirse que ei núcleo central de la Geografia Física ha sido tradi
P cionalmente ei estúdio dei relieve, con sus factores endógenos y exógenos. En
P segundo lugar aparece ei estúdio dei clima y de las águas. Esto lleva a algunos
P (Munoz, 1984) aplantear dos posiciones: ei reconocimiento deque la Geografia
Física es una amálgama artificial de ciências independientes y renunciar a la
P mítica unidad de la Geografia, o plantear la necesidad de elaborar una teoria y
unos métodos globales y verdaderamente geográficos, es decir conseguir una
Lntegración de sus componentes.
De hecho, aunque la tendência en Espana ha sido cn los últimos anos hacia
P
ei segundo delos aspectos (La Geografia Física Global ylaCiência dei Paisaje),
P lo cierto es que en un estúdio verdaderamente científico siempre debe haber un
r aspecto dominante, yq sealageomorfologia, ei clima, las águas o la vegetación,
e que pueda tratarse en profundidad yen base a la metodologia científica. Tanto
en ei campo de Ia investigación como en eide la docência cs necesario un aná-
Iisis riguroso de los detalles, ai que debe seguir ei intento de síntesis, de aplicar
losconceptos generales unificadores. Sin embargo, ei análisis dela constitución
r
p
p
r-
127
0
9

" Maria Sala Sanjaume 81

de cualquier disciplina pone de manifiesto que esta división interna en disci


plinas inconexas es más la norma que la excepción. En ei caso de las Ciências
Naturales, a las quepertenecela Geografia Fisica, solo hace falta ver los progra
9
mas de Geologia, Biologia o Física para darse cuenta queen todas ellas existen
9
especialidades. Y más aún, a partir de un determinado nivel, tanto en docência
como en investigación, aparecen subespecializaciones delas ramas principales. 9
En Geologia por ejemplo, en primer ciclo se imparten asignaturas que son 9
entre si totalmente diferentes, como cristalografia, pctrología,Jectánicar_pa-
kontología^sedimentologííuy estratigrafía. Y esta es solo una primera intro
ducción puesto que a nivel de segundo ciclo se profundiza en las diferentes
temáticas, como porejemplo en los cursos de petrología de rocas igneas, meta-
mórficas y sedimentadas. 9
En Biologia ei caso es parecido, con temas tan diversos como biologia ce
9
lular, animal, vegetal y humana, genética, microbiología, ecologia, fisiología
vegetal y animal, etc. También la Física contiene una gran diversidad interna
,pues la carrera secompone deasignaturas como electricidad, electrónica, ópti
ca, mecânica, cuántica, termología, geofísica, astronomia, astrofísica, etc. iQue
tendrá que ver la física nuclear con la física dei aire por ejemplo? Ysin embargo
ai final de su carrera los licenciados se consideran físicos.
Existen además campos científicos más modernos que se han desarrolla-
do como una amálgama de especialidades, y que ni tan siquiera constituyen
una licenciatura a nivel docente, como es ei caso de las Ciências dei Mar. En
ei Instituto de Ciências dei Mar de Barcelona, dentro dei Consejo Superior
de Investigaciones Científicas, conviven dos ramas distintas en procedência y
objetivos, la geológica y la biológica, cada una de cilas con sus consiguientes #
ramificaciones. 9
Así pues, tanto en la investigación como en la docência universitária, exis
ten temas y asignaturas con denominaciones concretas y específicas. Es por
tanto normal que también dentro de cada una de las disciplinas de la Geografia
Física existan diversidad de ramas y de enfoques.

4.3 Desarrollo dei pensamiento moderno en Geografia Física

9
Hay vários aspectos que iníluyen en ei pensamiento geográfico actual. Uno de
ellos es por supuesto ei bagaje histórico. Pero ei hecho de que la geografia sea
una disciplina acadêmica ha significado que ha estado influída por las princi
pales tendências intelectuales. 4%
<*

*>

128
^1
82
Diálogos cm Geografia Fisica

4.3.1 El contexto científico

El estúdio de los fenômenos físicos y sociales implica ei uso de ciertas cate


gorias de significado y de experiência. Por ejemplo, cuando dcscubrimos un
nucvo fenômeno sobre eicual no sabemos nada, generalmente la única manera
como podemos describirlo es en términos de similitud o dilerencia con algo
que ya conocemos. Por tanto todo nuevo conocimiento es entendido o inter
pretado a través de las lentes dei conocimiento pasado.
Las ideas de Darwin tuvieron un efecto profundo sobre ei conocimiento
científico moderno cn unaamplia gamadedisciplinas, incluyendo lageografia.
Sus ideas afectaron tanto la geografia física como la geografia humana, espe
cialmente en relación a la evolución, la supervivencia dei más fuerte y la cons-
trueción de modelos para explicar los procesos físicos y sociales. Los artículos
de Stoddart (1966) sobre ei impacto de Darwin en geografia y ei de Peet (1998)
sobre los orígenes sociales dei determinismo ambiental son ejemplos de este
hecho. También Livingstone (1992) en su libro sobre la tradición geográfica in-
cluye un capítulo sobrela evolución y losfundamentos de la disciplina en ei que
trata de la importância de Darwin en ei pensamiento geográfico. Un ejemplo
de como las ideas sobre la evolución fueron introducidas en geografia física en
losinícios deisigloXX son los trabajos de Davis, iniciados con eiartículo sobre
ei ciclo geográfico, publicado en 1899. La idea dei ciclo se basa en la clasifica-
ción genética de las formas dei terreno. Aunque Davis estableeió quelas formas
dei terreno dependen de la estruetura geológica, los procesos atmosféricos y ei
tiempo de actividad de los mismos, él considera que es ei tiempo ei elemento
que tiene un valor más práctico para la descripeión geográfica. En base a ello,
presenta un ciclo geográfico ideal en ei quelas formas evolucionan secuencial-
mente, de manera similar a los câmbios que se dan en las formas orgânicas. En
esta evolución ordenada hay un estádio inicial dejuveittud en cl que se forman
rapidamente los relieves, un estádio de madurez con mayores relieves y una
mayor variedad de formas, seguido de un período transicional de redueción dei
relicve que termina en un largo esladio de ancianidad con relieves muy suaves.
El ciclo se inicia de nuevo cuando movimientos tectónicos de Ievantamiento
vuelven ei relieve a un estádio de juventud.
En geografia humana la influencia de Darwin se centro en la selección na
tural y en las limitaciones que ei médio físico pone ai desarrollo de las socie
dades. Esto llevó a una visión determinista de la lucha por la supervivencia,
y las relaciones entre ei hombre y la naturaleza fueron centro de interés, y los
logroshumanos se explicaron como consecuencia de las condiciones naturales.
Se creyó que las sociedades naturales se parecían a los organismos animales y
que como ellos estaban fuertemente influenciados por las condiciones dei en
torno natural. Rateei se basó en estas ideas ai escribir, en 1882, un libro titulado
Antropogeografia o las influencias dei médio geográfico sobre la historia. De

129
Maria Sala Stiajaiiine 83

este punto devista determinista constituye un ejemplo ei trabajo deHuntington


de 1924 sobre ei caracterde las razas y la influencia sobre ellasdei médio físico,
la selección natural y cl desarrollo histórico.

4.3.2 El contexto institucional

Hay autores, como Johnston (1987) que consideran una disciplina acadêmica
como una sociedad en miniatura, con un sistema estratificado, unconjunto de
prêmios y sanciones, unaserie de burocracias, y un gran número de conflictos
interpersonales. Si bien una persona ajena a la Universidad puede percibir ei
trabajo acadêmico como objetivo, lo cierto es que se toman muchas decisiones
subjetivas, por ejemplo que estudiar y como, donde publicar los resultados de
la investigación, que ensenar, si hay que cuestionar ei trabajo de otros publica
mente, etc. Como en todas las decisiones humanas, se toman dentro de los con- 9
dicionamientos establecidos por una sociedad más amplia. La gran mayoría de %
los geógrafos acadêmicos son profesores de universidad o instituciones simi
lares, y se distinguen de otros geógrafos profesionales por su compromiso con
los três cânones básicos de Ia universidad: propagar, preservar y avanzar en ei
conocimiento. El avance dei conocimiento identifica a una disciplina acadêmi
ca, la naturaleza de su ensenanza se sigue de la naturaleza de su investigación.
Las principales formas de publicación de los resultados de las investigacio-
nes son las revistas científicas, que funcionan con procedimientos estándar para
revisar las contribuciones que reciben. Los manuscritos se someten ai editor, ei
cual buscaei consejo de acadêmicos cualificados en relación ei trabajo presenta-
do. Aunque ampliamente aceptado, hayque reconocer que esteprocedimiento se
lleva a cabo por personas humanas y que por tanto sus opiniones pueden estar
sesgadas o ser parciales, de manera que ei artículo puede ser rechazado por una 9
revista y aceptado por otra sin que haya sido alterado por sus autores. •
Algunos resultados de la investigación se publican en forma de libro por
companias comerciales para quienes ei interés principal es la rentabilidadentre
una amplia población estudiantil. El libro de texto puede ser innovador en la
manera en que ordena y presenta ei material, y puede beneficiarse de la re-
putación de su autor, pero generalmente no es un vehiculo para demostrar la
habilidad investigadora.
Los geógrafos piensan en la forma cn que lo hacen debido a las maneras 9
:
s en que se les ensenaa pensarsobreei mundo, lo cual a su vez surge de visiones 9
predominantes sobre como ei mundo puedeser conocido, cuales son los fines 9
apropiados dei conocimiento, y que clase de persones devicnen geógrafos. Si
9
bien los componentes científicos y humanistas han estado presentes durante
•*
mucho tiempo en geografia coexistiendo felizmente, ei conflicto surge de las
diferentes creencias y puntos de vista sobre los usos apropiados dei conoci 9
miento geográfico. 9
9
9

130 9
9
84
Diálogos cm Geografia Fisica

4.3.3 El contexto social

El conocimiento científico también se modela por ei contexto social cn ei se


produce. Esto sugicre que, más que pensar en la evolución de la ciência y las
ideas científicas como si tuvieran su propia lógica interna, la producción dei
conocimiento es un acto socialque debe ser entendido en su contexto. Pueden
encontrarse ejemplos de ello en todas las fases dei desarrolló dei pensamiento
geográfico. Por ejemplo, en ei siglo XIX, en Alemania Ratzel desarrolló una
teoria dei estado proponiendo que ei caracter y destino de un pueblo estaba
umbilicalmente ligado a un áreadefinida. En Estados Unidos ei punto de vista
de Ratzel fue propagado por Ellen Semple, quien lo utilizo para trazar ei curso
preciso de la historia americana, mientras que Huntington se fijó en ei clima
como ei principal orígen de la civilización. En todos estoscasos, así como en ei
determinismo de GriffithTaylor, loslazos constitutivos entre la teoria geográfi
ca y la perspectiva social se muestran claramente. Esto no significa que ei deter
minismo geográfico fuese una ideologia social, perosirve para recordamos que
las ideas y prácticas geográficastienen una historia social así como una historia
cognitiva. El marxismo también se ha convertidoen una epistemologia signifi
cativa que ha moldeado gran parte deipensamientogeográfico contemporâneo
en geografia humana. David Harvey ha tratado ei tema extensamente en mu
chos de sus artículos, en los que tratasobre la historia y condición presente de
la geografia bajo ei punto de vista dei materialismo histórico.

4.3.4 El contexto político

Se ha discutido mucho sobre como la geografia estuvo implicada en los impe-


rialismos curopeos y norteamericanos en los siglos XIX y XX, cn como esto ha
afectado nuestra comprensión dei mundo, y porque algunas categorias como
raza se consideran naturales y científicas. Livingston (1992) considera la geo
grafia un instrumento dei imperialismo porque a lo largo de su historia se ha
constituído a menudo como ayuda de campo dei militarismo. Se conoce desde
hace tiempo que los mapas fueron de vital importância en las guerras y por
tanto no es ninguna sorpresa que la geografia institucional floreciera en sus
princípios en las escuelas militares.
Las expansiones de ultramar levantaron un renovado interés por la geogra
fia y a princípios dei siglo XIX lanecesidad de sociedades geográficas se defen-
dió precisamente en base a quelageografia era vital paraclêxito imperial de la
nación. Por ello varias sociedades de este tipo fueron fundadas y dirigidas por
militares, y en algunos países continúan estando presentes en los cuadros di-
rectivos de estas sociedades, como en ei caso de Espana por ejemplo. También
pueden encontrarse libros de texto de geografia escritos por militares, como ei
dei general Berthaut pulicado en Paris ei 1909 y ei de Izquierdo publicado en

131
t
9
9
Maria SalaSanjaume 85


Granada ei 1945. Además, en ei siglo XX algunos geógrafos tuvieron papeles
importantes en las reconstrucciones post bélicos, y numerosos de ellos facilita-
ron sus habilidades a los gobiernos durante las dos guerras mundiales. ^
En eisiglo XIX hubo un debate considerable sobre ei tema de la aclimatación
9
porque Ia cuestión de la adaptabilidad de los blancos a los mundos tropicales y
subtropicales era importante a nivel internacional. Por esta razón los geógrafos
trabajaron juntamente con médicos para trazar la importância de los factores cli
máticos. Algunos encontraron enei determinismo ambiental lajustihcación dela
ideologia racial, y otros vieron en ei determinismo una doctrina con unpotencial
estratégico porque ei poder político mundial dependia de manera decisiva dei
controlde una parte especifica de território en ei Viejo Mundo.

4.3.5 Diversificación temática

9
Durante los anos 1950 y 1960 tuvo lugar una importante transformación de la
geografia puesto que la disciplina cambio su enfoque centrado en temas régio
nales para tratar más ampliamcnte aspectos sistemáticosy espaciales, así como
la utilización más generalizada de las matemáticas y la física para comprender
ei mundo. Abler, Marcus y Olson (1992) tratan ampliamenle ei hecho de que,
actualmente, los geógrafos se agrupan por especialidades, debido a la gran di
versidad de temas a los que aplican sus estúdios. La geografia es ahora una
disciplina que incorpora físicos, sociólogos y humanistas y por tanto ha am
f
pliado mucho los temas que trata. En relación a esta diversificación temática,
9
las sociedades geográficas de todo ei mundo han establecido grupos de estúdio
para compartir información sobresus respectivos intereses, lo cual promueve 9
una mejor comunicación en una disciplina de múltiples facetas a fin de adqui
rir identidad sin formar asociaciones independientes.
En geografia física ei progreso hacia estúdios con una mayor base científi
ca se considera que empezó con ei artículo dei geomorfólogo norteamericano
Strahler (1952) sobre las bases dinâmicas de la geomorfologia, en ei que propone
ei estúdio de las formas dei relieve en base a las leyes físicas de la naturaleza y en
9
ei uso de las matemáticas yla estadistica. Esta propuesta fue ei comienzo dei des-
plazamiento dei centro de la investigación geomorfológico dei enfoque histórico
deDavis a unageomorfologia basada en eiestúdio delosprocesos actuales como
modeladores de vertientes y valles. Las reaccionesa esteenfoque vinieron basica
mente de los regionalistas franceses y de los alemanes dei Este, con ei argumento
de que los estúdios clásicos integraban las ramas de geografia física y geografia
humana. Pero los estúdios basados en ei método científico fueron los más am- „
pliamente aceptados yaicabo depoço tiempo seaplicaron a todaslasramas dela
geografia física, especialmente en climatologia. *,
A partir de los nuevos enfoques y de la controvérsia generada por ellos
*
tuvo lugar una fruetífera diversificación, incluyendo un gran número de

132
Pt
p
p
m 86 Diálogos em Geografia Fisica
p
p subdivisiones dentro de cada uno de los tópicos principales que fueron con
p solidando. Por ejemplo, en geomorfologia varias ramas se cultivaron con inde
pendência, como ei estúdio de procesos actuales, Ias geomorfologías histórica,
p climática, eslructural, ambiental, regional, etc. Ymás tarde algunas matérias en
cada una de estas ramas también adquirieron cstatus independiente, especial
mente en la geomorfologia de procesos, donde tienen entidad propia ei estúdio
de vertientes, ei fluvial, las costas, etc. En climatologia las subdivisiones son las
climatologías analítica, dinâmica, sinóptica, regional, histórica y ambiental. En
P
biogeografía las especialidades se centran en la corologia, la biocenología, la
ecologia, la históricay la ambiental. Lo mismo puede decirse de la hidrologia
y la edafología, lascuales en principiose cultivaban dentro de la geomorfologia
y la biogeografía respectivamente.
r

4.4 Teorias y métodos

P
4.4.1 Introducción

r
Puesto que la geografia es una ciência de enfoques múltiples, ai estar en la en-
crueijada entre varias ciências incorpora teorias y métodos de vários campos
P cercanos. Por un lado está situada entre las ciências de la tierra o ciências natu
r rales, desde geologia a meteorologia y biologia, y por ei otro lado está también
P entre las ciências sociales, desde historia a economia y sociologia. Es por esta
razón que los geógrafos están continuamente discutiendo sobre objetivos, mé
0 todos y unidad de la geografia. No obstante, la unidad no puede ser metodo
lógicaporque usa tanto métodos de las ciências naturales como de Ias ciências
r
sociales. Esta variabilidad de orientaciones la hace una ciência muy sensible a
r los temas conjeturales en relación a lanecesidad de un conocimiento global in
p gerente a Ias preocupaciones sociales.
r En Ia década de los sesenta, en plena expansión delos métodos cuantitativos
en Geografia, Harvey (1969) se dio cuenta de que Ia llamada revolución cuan-
P titativa implicaba a su vez una revolución filosófica. Era la filosofia dei método
científico loque estaba implícito en la cuantificación puesto que esta obliga a se
P
guir las normas de la lógica científica. También la especialización ha Ilevado a
los geógrafos a un acercamiento cada vez mayor a las fuentes y métodos de las
p
disciplinas afines. Existe una nucva apreciación delas interrelaciones yTTe las in
terdependências entre disciplinas, pero no solo a nivel de métodos sino también
P de conceptos científicos. Algunos geógrafos físicos como Haincs-Young e Petch
p (1986) opinar) que para que esta ciência alcance ei rango que le corresponde den
p tro de Ias ciências de la tierra es necesario estar a su nivel tanto en todo Io refe
p rente a conocimientos y técnicas, como en cuanto ai método científico, y ver sus
r aplicaciones en nuestra disciplina.

r
P
r
13:
9
9
9
Maria Sala Sanjaume 87
9
9
4.4.2 Los princípios científicos básicos
9
9
Como en todas las ciências naturales, la investigación en geografia física sigue
9
los princípios de la ciência racional, esto es, considera la ciênciacomo una ac-
tividad ordenada y lógica, con juicios basados en razonamientos, y se ha desa- 9
rrollado y progresado a partir dei enfoque científico clásico hasta ei moderno
racionalismo crítico.
La ciência clásica o empírica tiene su origen en ei siglo XVI con Francis
Bacon, para quien ei conocimiento científico es seguro porque se basa en la 9
observación, la experiência y la medición. La experiência que proporciona la 9
observación y la experimentaciónes lo que distingue la ciênciade otras fuentes
de conocimiento. La tradición clásica afirma que ei conocimiento crece por la
paciente acumulación de hechos bien probados, con datos que se perciben por
los sentidos. Un elemento clave es ei concepto de inducción, ei proceso me
diante ei cual gencralizaciones fiablcs se obtienen a partir de un conjunto de
observaciones de la realidad. Las generalizaciones hechas a partir de Ia induc 9
ción se hacen una vez se han reunido todos los hechos sobre una matéria. Un m
ejemplo de los métodos de la ciência clásica lo constituye ei trabajo de Darwin. 9
Este enfoquebasadoen la inducción comporta lossiguientes pasos en ei quehacer
cientifico (figura 4.1): 1) observación y registro de hechos; 2) ordenación y clasi-
íicación de estos hechos; 3) derivación de generalizaciones a partir de los hechos
mediante inducción; 4) construcción de leyes y teorias.
Este enfoque tiene vários puntos débiles ya que no existen princípios de
verificación o de inducción seguros, y no se tiene en cuenta la dependência
teórica que ticnen todas las observaciones, puesto que en la práctica la observa 9
ciónsin teoria esimposible. Sinembargo, ensu momento significo una ruptura 9
con ei principio de autoridad y con cl método deductivo sin base de datos, por %
lo que ei conocimiento empírico represento ei inicio dei desarrolló científico. 9
Los objetivos de la ciência racíonalista son más ambiciosos en ei sentido 9
de que aspiran a poder llegar a hacer predicciones u observaciones acertadas, 9
formular teorias verdaderas, y llegar con ello a explicar como funciona ei mun
%
do. Esto conlleva hacer juicios, a elegir entre teorias contrastadas. Por esto es
necesario probar lo certero de las predicciones o la liabilidad de las observa
ciones. Cualquiera que sea la situación, ei racíonalista asume no solo que hay
alguna base racional y lógica que guia estos juicios sino también que hay una 9
realidad externa en la que las ideas pueden confrontarse, probarse, utilizando %
la experiência como base para llevar a cabo juicios sobre ideas y explicaciones. 9
Las hipótesis se prueban con datos empíricos y cuantas más hipótesis se
puedan comprobar más seguro se podrá estar de la validez de la teoria que
resulte positiva. En muchos casos es necesario desarrollar un diseno experi
mental paracomprobar una hipótesis para acumular evidencia especifica sobre
ei problema a resolver. A pesar de las críticas que como veremos han rccibido 9
*
9

9
3 9
88 Diálogos cm GeografiaFisica 1
0
P empirismo y racionalismo, lo cierto es que han generado progresos fundamen-
P tales en ei conocimiento dei mundo y de las cosas.
P
P
EXPERIÊNCIAS
r PERCEPTUALES

p HECHOS
NO ORDENADOS
0
r

DEFINICION
p CLASIFICACION
r MEDICION

r
r
HECHOS
ORDENADOS
p
p
0 GENERALIZACION
0 INDUCTIVA
P
P
P DESARROLLÓ DE
LEYESY TEORIAS
P

P
P EXPLICACION

Figura 4.1- Organigrama de la ciênciaclásica baconiana o inductiva


*

P
P Este enfoque anade una base teórica previa ai conocimiento empírico. Se
rcconoce la naturaleza apriorística de mucho dei conocimiento científico pues
incluye imágenes y nociones abstractas. Comporta los pasos siguientes (Figura
4.2): 1) observación y registro de hechos; 2) modelo a priorí; 3) formulación de
hipótesis; 4) diseno experimental de observaciones; 5) obtención de datos em
P
píricos; 6) verificación (si es negativa hay que rehacer ei modelo de partida); 7)
construcción de leyes y teorias y retroacción sobre ei modelo conceptual.
P

r
p
p 135
9
Maria SalaSanjaume 89
9
"•" 9
Pensadores posteriores llevaron a cabo importantes revisiones dei racio-
nalismo, las cuales desembocan en lo que ha venido en llamarse ei mciona-
lismo critico. Se acepta la tradición racíonalista pero se busca dar una justi-
ficación más rigurosa a este enfoque, pues ahora la búsqueda y la creencia
dcbcn rcstringirse a lo que pueda ser firmemente establecido. Popper (1934)
ha mostrado que los puntos débiles dei enfoque clásico pueden evitarse sus-
tituycndo la lógica induetiva por ei razonamiento deduetivo, y reconociendo 9
que la veriiicación no es logicamente posible, mientras que la falsificación si 9
que lo es. Esta es la basedei racionalismo crítico, es decir que ei conocimien 9
to científico viene dado por la dedueción de las consecuencias de las teorias 9
y después por ei intento de exponer su falsedad mediante pruebas críticas.
*
Si una teoria sobrevive a los intentos de falsificación entonces solo puede «I
concluirse que la evidencia la corrobora, pero no que está probada.
Predxclcn

9
Explicsción
9
9
<*
IDEAS SOCIALES E INTELECTUALES
Modelo cancepiual inicial 9
9
9
Problcim -> TEORIA >
FormuUciòn
de hipótetu
Oiscno
experimental >
Dados
empíricos
PrcdicciõrLfe Comprobaclòn Accpcación 9
' ~ critica

Rechazo
9

Figura 4.2 - Razonamiento hipotético deduetivo



9
9
4.4.3 Sobre ei trabajo de campo
9

Las observaciones directas como fuente principal de información es una


metodologia profundamente arraigada en toda la historia de la geografia.
En siglos pasados prestigiosos geógrafos han visitado tierras lejanas y han
vuelto con informes de sus impresiones y de sus observaciones detalladas
que han significado contribuciones fundamentales en ei saber geográfico.
Aunque las técnicas y equipo utilizados han evolucionado mucho, y hoy dia 9
existen métodos y técnicas de observación y muestreo muy sofisticadas, la
9
esencia de la observación directa se sigue manteniendo.
9
Si bien la investigación de campo es a menudo costosa tanto cn tiem
po como en dinero, y por tanto debe llevarse solo cuando es eslrictamente

9
9
9
136 9
9
p
90 Diálogos em Geografia Fisica

p necesario, hay algunos temas geográficos que solo pueden ser resueltos con
r datos que no pueden obtenerse de fuentes publicadas. Estos problemas sue-
p len ocurrir muy frecucnleniente en trabajos de tipo aplicado. Como sugieren
P Lounsbury eAldrich (1986) los problemas de investigación que frecuentemente
p requieren trabajode campo pueden clasificarse como sigue:
a) problemas a micro-escala en los que los datos que se requieren son tan
detallados que no existen fuentes o bases de datos, mapas, fotos aéreas sensores
aéreosdonde puedan encontrarse, como en ei estúdio de suelos;
p b) problemas relacionados con áreas dinâmicas en las que ocurren câmbios
P en períodos de tiempo cortos, como eneicaso delas crecidas fluviales o laerosión
r post incêndio;
p c)problemas querequieren información que nose refleja en aspectos visibles
dei paisaje, tales como ciertos tipos de suelos o los estúdios que requieren obser
p vación meteorológica;
p
d) en todas las ramas de la geografia física que requieren una observación y
una cartografia detalladas;
p
e) problemas relacionados conladinâmica ambiental y su evolución, comola
erosión yla regeneración de la vegetación dcspués de un incêndio;
r
f) cuando se requiere seleccionar áreas de estúdio paracontrolar câmbios en
P ei paisaje.
El trabajo de campo también es necesario cuando se quierc comprobar la
r valide/, de interpretaciones hechas por otros médios (cartografia, sensores re
P motos, etc). Pero sobre todo es esencial en la formación de futuros geógrafos,
r
y por tanto una herramienta básica en la didáctica y en la preparación para
futuros investigadores. En la preparación dei trabajo de campo, sobre todo
cuando se lleva a cabo con fines investigadores, es necesario tener en atenta
vários aspectos:
a) Formulación clara dcl problema que se pretende estudiar, lo cual permi
tirá establecer un plan de investigación y muestreo adecuados;
p b) Localización de un área adecuada donde llevar a cabo la investigación.
p No hay un tamano de área de estúdio especificamente recomendado, sino que
P dependerá dei tipo de fenômeno a investigar y de los métodos y técnicas que
se vayan a aplicar;
p
c) Formulación de hipótesis o formulación de posibles soluciones ai pro
f blema que se va a estudiar, los resultados que se espera encontrar con los datos
p que se planea recoger;
d) Identificación de los datos necesarios prévios que es preciso obtener y
de los complementarios que se pretenden obtener con ei trabajo de campo;
p e) Categorización o clasificación de los datos obtenidos en función de un
marco conceptual ya definido, así como la especiíicación de a la escala en que
p se han obtenido;
f) La adquisición de datos de campo se obtiene de três formas principa-
les (Figura 4.3): mediante la cartografia dcl fenômeno o paisaje; mediante

p 137
9
m
9
w MariaSala Sanjaume 91
9
9
entrevistas con cuestionarios previamente establecidos y pautados; utilizando 9
instrumentos de medición específicos (estaciones de aforo, colectores de sedi %
mento, pluviómetros, etc); 9
g) Procesando y analizando los datos obtenidos con métodos estadísticos
9
e informáticos;
h) Formulación de respuestas a las cuestione o problemas inicialmente es 9
tablecidos y comparación con resultados obtenidos en otras áreas y por otros 9
médios. 9

Un aspecto muy importante en ei trabajo de campo es la estimación de las 9


variables a través dei muestreo, esto es la elección calculada de las oSservacio- 9
nes que van a generar datos a partir de una pequena área representativa de otra
9
mucho más extensa. El muestreo puede ser:
9
a) sistemático: una red de puntos equidistantes en cada uno de los cuales se
llevan a cabo las observaciones/mediciones de un mismo fenômeno; 9
b) estratificado: división dei área de estúdio en áreas y sub-áreas represen 9
tativas de un fenômeno específico, cada una de las cueles con un conjunto de 9
puntos individualcs donde se muestrca ai azar; 9
c) en nido: se divide ei área de estúdio en unidades jerárquicas localizadas 9
una dentro de la otra. 9
Finalmente, recordar que muchos datos utilizados en geografia proceden
9
de basesde datos que han sido disenados con otros objetivos por investigadores
9
que no son geógrafos, como por ejemplo los datos meteorológicos, hidrológi-
9
cos, edáficos, geológicos, etc.
9
ADQUISICION DE DATOS
EN UM MARCO ESPACIAL 9
9
9
MAPEO ENTREVISTAS
*
9
9
PROCESOYANALISIS
DE DATOS 9
9
9

PRESENTACION
9
PRESENTACION CUANT1TATIVAY
CARTOGRÁFICA ESTADISTICA 9
9
9
CONCLUSIONES 9
9

Figura 4.3 - Procedimientos en base ai trabajo de campo 9


9
9

9
138 9
9
92 Diálogos em Geografia Fisica 1
p
4.4.4 Presentación y análisis de datos

El análisis de los datos de campo debería contestar, total o en parte, las pre-
p guntas planteadas en la formulación dei problema, así como confirmar o
p negar la hipótesis de trabajo. Laconfrontación de datos comprende métodos
cualitativos y métodos cuantitativos,así como ei uso de técnicas estadísticas
y de modelos.
p
La información primarían de o dato en bruto debe ser compilada y or
p ganizada para un posterior análisis. La información en mapas de base debe
p ser medida, las respuestas a cuestionarios tabuladas, y los datos a partir de
instrumentos de medición deben ser trazados en un gráfico o tabulados de
forma conveniente. La Compilación y tabulación de figuras es normalmen
te una tara sencíUa, aunque a menudo lenta. Desde este punto de vista ei
p análisis de datos de campo no difiere de os métodos de análisis utilizados
en otros problemas de investigación. Los métodos de análisis cartográfico,
r
cuantitativo y estadistico empleados y su grado de sofisticación dependeu
dei problema específico a resolver en ei campo.
Para los geógrafos los mapas de campo son más que ayudas orientativas.
Son instrumentos para registrar Ias relaciones entre observaciones. Los geó
P grafos han desarrollado técnicas de cartografia de campo tanto en geografia
t física como en geografia humana. Con la explosión de los sistemas de infor
mación geográfica (SIG), los sistemas de posicionamiento global (SPG), y
P tecnologias relacionadas, los geógrafos se sitúan en los primeros lugares en
los métodos automáticos de compilación, manipulación y análisis de obser
P
vaciones de campo.
0
En ei análisis cuantitativo, un cierto número de geógrafos han empeza-
P
do a apartarse de los enfoques estadísticos clásicos e ir hacia métodos más
P flexibles que incorporan una comprensión geográfica. El cambio desde la
P estimación directa a las técnicas de estimaciún indirectas que se basan en ei
P conocimiento de observaciones relacionadas para así estimar las condicio
r nes en áreas pequenas ilustra este cambio
P En ei análisis cualitativo se hace un contraste entre tiempo, que es visto
r como dimensional y unidireccional, y ei espacio, que es visto como multidi-
mensional y ordenado en formas diferentes. Para ei geógrafo cualitativo, que a
menudo cultiva ei terreno médio entrela universalidad de laciência y la parti-
r
cularidad dela historia, interpretar ei sentido dei cambio en ei espacio deviene
P ei objetivo y ei muestreo con un propósito la herramienta para este fin.
r
p

P
P
P
P
P
r 139
9
9

9
Maria Sala Sanjaume 93

9
4.5 La Geografia Física acadêmica
9
9

4.5.1 La Geografia Física en Espana


Las características y la evolución de Ia Geografia Física en Espana hansido tra
9
tadas, directao indirectamente, por vários autores (Albentosa 1984; Munoz,
1984; Sala; Batalla, 1996). Hasta ei ano 1983, con la aplicación de la Ley de 9
Reforma Universitária (L.R.U.), la Geografia Física estaba representada en la
Universidad espanola en las cátedras de Geografia Física y Geologia Aplicada
de las Facultades de Ciências. Además, antes dei ano 1973 losplanes de estúdio
de las Facultades de Letras no incluían asignaturas de contenido naturalista, o
sea de Geografia Física. Así pues, esta rama fundamental de la Geografia solo
se explicaba en las Facultades de Letras dentro de las asignaturas de Geografia
General o de Geografia Descriptiva. Fue en la Universidad de Barcelona y
gracias ai Plan Maluquer que empezaron a imparlirse asignaturas específicas
de Geografia Física, así como de especialización dentro de la misma como 9
Geomorfologia, Climatologia y Biogeografía. Siguiendoa Albentosa (1984) dis m
tinguimos três etapas bien diferenciadas en la evolución de la Geografia Fisica
en Espana, a partir de mediados de siglo.
La etapa de iniciación abarca ei período 1940-1957. Se caracteriza por ser
una continuación de lo que se hacía en las décadas anteriores, en las que pre
domina ei caracter descriptivo de los trabajos. Lo más destacablc es que du
rante esta época aparecen dos revistas de caracter exclusivamente geográfico,
9
Estúdios Geográficos en 1940, y Geographica en 1954, ambas dependientes dei
Consejo Superior de Investigaciones Científicas. La primera, de su Instituto 9
Juan Sebastián Elcano, de Madrid, la segunda, dei Instituto de Geografia 9
Aplicada, de Zaragoza. Sin embargo, en ambas las aportaciones científicas en ei
âmbito de la Geografia Física son modestas, tan solo ei 26,5 %, con la parricu-
laridad que de entre ellas ei 57 %correspondeu a Geomorfologia, hecho por lo
demás usual en todo ei mundo.
La etapa de desarrolló abarca desde finales de los anos cincuenta hasta
comienzo de los anos setenta (1958-1973). Se caracteriza porque los geógra
9
fos físicos llevan ya a cabo en profundidad trabajos de especialización^en
las diferentes ramas y con ello consolidan la Geografia Física como discipli- 9
9
na universitária enraizada en los Departamentos de Geografia, ubjeados en
Filosofia y Letras. No obstante solo ei 20,5 %de las publicaciones geográficas 9
corresponden a temas de naturalistas. Pero, si bien es cierto que la aportación
en Geografia Física continua estando dominada por científicos dei área de
Ciências naturales, las aportaciones procedentes de nuestros departamentos
comienzan a ocupar un lugar.
La consolidación de la disciplina se extiende desde los inícios de los anos
setenta hasta lo que para Albentosa era la actualidad, o sea los anos ochenta

I
140 9
p

94
Diálogos cm Geografia Fisica

(1973-1985). A lo largo dei período se detecta una creciente diversificación de


las ramas de laGeografia Física, lo que redunda en su progresiva consolidación.
Es a lo largo de estos anos cuando la Geografia Física adquiere entidad propia
y deja de estar supeditada a la Geografia Humana.
Prueba de elloesquelos Congresos Nacionales de Geografia, patrocinados
porla Asociación de Geógrafos Espanoles, incluyen, desde 1977, secciones espe
cíficas para la Geografia Física. Finalmente, remarcar como hito de esta etapa
ei beneficio que ha representado, en ei orden acadêmico e institucional para ei
0" conjunto de laGeografia Física, la aplicación de la L.R.U. yei desarrolló delos de
f cretos sobre Áreas de Conocimiento, delo que son un buen reflejo lacreación de
r muchos de los Departamentos Universitários. Con Ia L.R.U. la Geografia Física
es reconocida como área específica dentro de Ia Geografia, y deja porjanto de
r pertenecer ai área de Ciências. Esto comporta un notable aumento dei profeso-
rado universitário en esta área, si bien muy por debajo dei profesorado adscrito
a lasotrasdos áreas de conocimienlo: Geografia Humana y Geografia Regional.
Al finalizar los anos noventa (período 1986-1996) três son losaspectos que
p
merecen ser destacados sobre la situación de la Geografia Física: a) la amplia
r
apertura hacia ei exterior en todos los âmbitos; b) la creciente participación en
p proyectos interdisciplinares; y c) ei interés medioambiental relacionado sobre
0* todo con ei impacto de Ias actuaciones antrópicas.
Enrelación a la inlernacionalización delaGeografia Física, sindudafue im
portante ei tirón que represento Ia celebración en Barcelona de la Conferência
P Regional de la Unión Geográfica Internacional, durante la cual se reunieron en
distintos lugares de Espana muchas de Ias Comisiones y Grupos de Trabajo.
El trato directo con vários de los más destacados geógrafos animo a muchos
0
espanoles a participar de forma regular en los trabajos de la UGI. También se
P
produjo una asiniilación de tendências, metodologias y esquemas conceptuales
nucvos que han servido para propiciar enfoques diferentes sobre ei estúdio dei
P médio natural. Quizá fue enei âmbito de la Geomorfologia donde este impacto
0 fue más notable y donde ha tenido más continuidad.
0 En segundo lugar hay que destacar la creciente participación de los geó
r grafos físicos en proyectos de investigación nacionales e intcrnacionales, for
p mando parte o dirigiendo_equipos-mullidisciplinares. Este hecho se pone de
manifiesto tanto en trabajos que se canalizan aiamparo dei Programa Sectorial
de Promoción General dei Conocimiento (CAICYT, DGICYT) o en los dife
p rentes Programas Marco de Investigación Científica y Tecnológica de la CEE,
r especialmente en ei área de Médio Ambiente.
f En tercerlugar, la diversificación temática y larenovación metodológica han
0 1 Ilevado a concentrar csfuerzos orientados hacia ei estúdio los procesos actuales
r en todas las ramas de la Geografia Eísica. Yello ha desembocado en una mejor
P comprensión e interés hacia los problemas dei médio ambiente, sobre todo los
r
derivados, directa o indirectamente, dela actividad, delos impactos dei nombre.

141
P
9
MariaSalaSanjaume 95 ~-

Como heinos manifestado en otro lugar (Sala; Batalla, 1996), la presión


de algunos geógrafos para que a las dos áreas inicialmente propuestas por ei
Ministério dentro de la Geografia universitária, Geografia Física y Geografia
Humana, consiguió que se incluyera una tercera rama, algo inédito en cl resto 9
dei mundo, ydar ala Geografia Regional un tratamiento diferenciado, ignoran
9
do que tanto en Geografia Física como en Geografia Humana se trata ei tema
regional, como sedaen cualquier otraciência sin que por ello seconstituya en 9
área docente y científica aparte. La razón de ello fue la de preservar la unidad
de Ia geografia, algo más filosófico que real. El resultado de ello ha sido una
posición muy inferiorizada de la Geografia Física puesto que cl profesorado y
los temas que se imparten en Geografia Regional son fundamentalmente pro
fesorado de Geografia Humana. .«*,
A partir de finales de los anos noventa la decadência de la geografia física,
y con ella de la geografia en general, se ha ido agudizando en Espana, hasta
llegar a la situación actual, en la que nuevasdirectrices dei Ministériohan abo
lido Ias três ramas de geografia que se institucionalizaron en 1983, se reducen 9
considerablemente los cursos a impartir, sobre todo los de especialización, y
los departamentos de geografia pasan a formar parte de de la rama de Ciências
Sociales en lugar de estar ubicados en Humanidades como hasta ahora. Una
lástima que no se hayan situado en Ciências Naturales, como en las países más
avanzados de Europa (Gran Bretana y Alemania). A mi entender, la geografia
espanola inicio un proceso de suicídio colectivo cuando dcfendió ei concepto 9
tan poço moderno de la unidad de la geografia basada en ei estúdio regional,
un concepto éstc de la unidad casi religiosa en Espana en muchos campos, 9
incluído ei político. Menos mal que la pertenencia a la Unión Europea impide 9
que se lleven a cabo demasiados errores. 9

4.5.2 La Geografia Física en Ia Universidad de Barcelona 9


9
El Departamento deGeografia dela Universidad de Barcelona fue creado en di-
ciembrede 1966, siendosu director J.Vila Valentí y sus profesores S.Llobel, M.de
Bolos, E.Lluch, H.Capel y L.M.Albentosa. Al cabo de un ano ei Departamento
9
estaba constituído por dos profesores numerários, dos profesores adjuntos, un
jefe de práclicas, dos ayudantes y vários colaboradores. Las asignaturas que 9
se impartían eran, en relación ai Plan de estúdios entonces vigente, similar en
todo ei Estado Espanol: Geografia General y Regional dei Mundo (en segundo
curso), Geografia General Física y Humana (en tercer curso), y Geografia de
Espana (en cuarto curso). s
Aunque este Departamento de Geografia es ei núcleo donde fisicamente
se formo ei grupo de geógrafos físicos de Barcelona, bajo la tutela de Salvador
Llobet y Maria de Bolos, laGeografia Física como talse desarrolla en Cataluna
a partir de la Cátedra de Geografia Física dela Facultad de Ciências regida por

142
p

p
Diálogos cm Geografia Fisica
0

ei Dr. Lluís Sole Sabarís, desde la que ejerció su magistério y dio su impulso
p a todos los geógrafos, pero en especial a los geomorfólogos, en gran parte su
amistad con ei profesor Jean Tricart dela Universidad de Estrasburgo, en aquel
p entonces uno de los geomorfólogos de más renombre en Europa.
0 La posibilidad de adquirir una especialización en Geografia Física en nues-
0
tra Facultad se hizo factible con ei Plan Maluquer, aprobado por ei Ministério
de Educación y Ciênciaei 19 de septiembre de 1969 y queentro en vigor ei curso
0
1969-1970. Este Plan supuso una fundamental ruptura con los planes de estúdio
precedentes ai incorporar un margen muy grande de optatividad, una amplia
f gama de nuevas asignaturas, así como concebir Ias carreras en dos ciclos, un
f primer ciclo introduetorio de dos anos y un segundo ciclo de especialización
de três anos. El Plan Maluquer fue muy innovador para la entonces Facultad
P de Filosofia y Letras. A nuestro entender sus virtudes fueron mucho más ele
P vadas que sus defectos, pues, en conjunto, hizo que nos acercáramos ai sistema
0
europeo ai introducir más variedad de disciplinas, más flexibilidad y una orga-
nización en dos ciclos. Fue ei inicio de la profundización en muchas matérias,
P
lo cual favoreció que empezaran a llevarse a cabo tesinas y tesis dentro ya de
una especialización.
r Puesto que ei Plan Maluquerse habíaintroducido en Barcelona sin la apro-
bación dei Ministério de Educación, desde Madrid se impulso y se impuso en
r 1976 para toda Espana un plan que, desde la perspectiva de las universidades
espanolas fue un avance, resultó más restrictivo enlo quese refiere a laoptativi
p dad que se había alcanzado en la Universidad de Barcelona. Una modiíicación
p importante fue dar ai primer curso un caracter introduetorio muy general e
incluir asignaturas de tipo histórico-filosóíico. Sin embargo se consigue intro
ducir muchas más asignaturas de Geografia puesto que, por ejemplo, las quese
daban de forma alterna en ei Plan Maluquerpasan ahora a ser anuales. Para la
p Geografia Física representa un notable avance ya que esta esla primera vez que
0 se cursa como asignatura independiente, pasa a ser obligatoria para todos los
r estudiantes de Geografia, y una de las optativas recomendadas en la licencia
r tura de Historia. Además quedan oficialmente constituídas três modalidades o
especializaciones dentro de Geografia, las de Física, Humana y Regional, cada
0
una de ellas con un bloqueobligatorio.
Aunque los objetivos de la docência no están explicitados, lo cierto es que
las salidas profesionales más usuales eran, hasta hace poço, las docentes (uni
P
versitária y secundaria), las investigadoras (exclusivamente dentro dei mismo
Departamento) y las dei trabajo editorial. Sin embargo, en los últimos anos
puede detectarse un incremenJ,o de los puestos de trabajo obtenidos por nues-
0 trosalumnos enotros centros, como por ejemplo agencias dei médio ambiente,
r servicios cartográficos, programas de investigación y desarrolló (en institutos
r no geográficos), etc. Seguramente ello es debido a causas socioeconómicas,
pero estamosseguros de que también se debe a que se ha procurado dentro de
p
r
0

143
9
9
9
Maria SalaSanjaume 97 "-•

lo posible reorientar la docência, tanto dentro de los cursos como mediante


las asignaturas optativas, a fin de ir dando herramientas a los alumnos para
que paulatinamente puedan obtener puestos de trabajo más diversificados y en
relación a la actual demanda social.
9
Flan seguido otras reformas de los planes de estúdios a nivel dei Estado
9
Espanol, pero que no han significado ningún cambio fundamental como fue
ron los que se han resenado. El Plan de Estúdios actual de la Universidad de 9
Barcelona puede encontrarse por internet eiv.http://\vww.ub.edii/organitzacio/
estructura/departaments.htm
9
4.5.3 La Geografia Física en algunas universidades europeas
-*.

La Universidad de Amsterdam
En la Universidad de Amsterdam se crea un Departamento de Geografia
en 1947, pero en 1968 Geografia Física y Ciência dei Suelo pasan a formar un
solo Departamento, ei de Geografia Física y Ciência dei Suelo, ei cual está en-
cuadrado en la Facultad de Ciências. El objetivo docente general en Holanda es
prioritariamente cl de formarbuenosprofesionales que sean capaces de llevara
cabo trabajos prácticos, de ahí que tanto la organización dei trabajo como la de
la ensenanza y los estúdios estén marcados en estesentido.
Las salidas profesionales varían en función de la especialización, mejores
9
para losque hacen fisica y química de suelos, no tan buenas para los que hacen
geografia de suelos y geomorfologia, y las más ílojas para los que hacen eco 9
logia dei paisaje. De todas formas ai cabo de un ano de finalizar sus estúdios 9
todos los estudiantes han encontrado un trabajo, bien en investigación bien en
trabajos relacionados con ei médio ambiente.
Sus recursos didácticos son muy amplios gracias ai sistema de Programas
de Investigación y Docência financiados por ei Gobierno. Se trata de contra
tos de cinco anos de duración para llevar a cabo investigaciones que integren •••<

a los alumnos y que permitan equipar y mantener vários laboratórios y per-


sonal técnico. La valoración dei trabajo realizado dentro de estos programas
se basa en la calidad y número de publicaciones en revistas y editoriales in
9
ternacionalmente reconocidas. El trabajo está organizado de tal manera que
tanto profesores como alumnos trabajan 8 horas aidiaen Ias dependências dei
Departamento, cxcepto cuando seestá en trabajo decampo. Los estudiantes de
Geografia Física deben de haber cursado física, química y matemáticas en su
bachillerato o superar una prueba en estos temas.
En relación ai control de conocimientos se establece una distinción entre
los dos primeros cursos y los dos últimos. Mientras que en primero y segundo
se Uevan a cabo exámenes en ei sentido tradicional, en los dos últimos no hay
exámenes estructurados tal como se entiendcn en Francia o en Espana (tipo de

144
p yn
Diálogos em Geografia Fisica
0
r
examen, calendário), sino más bien una espécie de trato entre ei profesor y ei
P estudiante en ei que este se presenta a revisar sus conocimientos en ei momento
P en que se encuentra preparado para ello. Entonces presenta su trabajo (un pro-
P yecto que ha Ilevado a cabo) y lo discute con ei profesor.
0 En 1991 entro en vigor en todo ei país una nueva legislación en la que
P se ha Ilevado a cabo una reorganización de departamentos y ensenanzas con
P
ei fin de restringir y optimizar los presupuestos dedicados las Universidades.
Ello comporta que las especialidades a cursar por Departamento se limiten a
P
aquellas en Ias que existe un buen nivel de profesorado, acreditado fundamen
talmente en base a sus proyectos de investigación y publicaciones científicas.
Los estudiantes deberán, más que antes, cursar determinadas asignaturas en
P Departamentos distintos ai suyo.
r
r
r- La Universidad Libre de Berlfn
En la Universidad Libre de Berlín ei Instituto de Geografia fue creado en
1948. En la actualidad agrupaa las especialidades de GeografiaFisica, Geografia
P
Humana, Cartografia y forma parte de la Facultad de Ciências de Ia Tierra,
T que comprende los Institutos de Geografia, Geologia, Mineralogía^Geqfisica
P y Meteorologia. El objetivo general es promover ei estúdio de las ciências de la
tierra mediante la docência y la investigación universitárias.
Los fondos de financiación procedeu de la Universidad en lo que
0 se refiere a salários y en parle a la adquisición de instrumental tanto de
P campo como de laboratório. La otra fuente de ingresos es ei "Deutsche
Forschungsgemeinschaft" (Agencia Alemana para ei Desarrolló Científico),
P
que suministra fondos para la investigación y complementos a proyectos de
P
investigación internacionales. En cuanto a recursos didácticos se cuenta con
4 laboratórios (química, fisica de suelos, hidrologia, y canal de ensayos hi
dráulicos), además de biblioteca, una importantecolección cartográfica y una
r colección de fotografia aérea.
r La ensenanza consiste en clases teóricas, ejercicios, cursos de prácticas en
ei laboratório y cn ei campo, excursiones, y seminários. Al cabo de dos anos de
p estúdio ei estudiante debe examinarse para obtener un Diploma Universitário
o ei título intermédio para maestros. Estos primeros exámenes consisten cn
pruebas escritas. El grado final es ei Diploma de Estado, que suele conseguirse
0
después de 4 o 5 anos de estúdio. Los exámenes consisten en una combinación
de prueba oral y la presentación de un trabajo de final de carrera.
No hay una organización rígida de cursos y tierren lugar muchos câmbios
de asignaturas de un semestre a otro, puesto que los profesores sesientenorgu-
0 Uosos de tener Ia libertad de cambiar loscontenidos, e incluso Ia organización
de sus cursos, incluyendo seminários y asignaturas impartidas por profeso
p res extranjeros visitantes. La temática de los dos primeros anos se centra en

145
9
m
9
Maria Sala Sanjaume 99 *%

9
temas amplios, básicos de geografia, mientras que los três restantes son mucho
más especializados, fundamentalmente para los estudiantes que quieren ob
tener ei Diploma final. Cada estudiante debe escoger dos disciplinas afines a
la Geografia Física dentro dcl âmbito de ciências (generalmente se opta por m\
Geologia, Química, Biologia o Meteorologia), sobre las cuales debe cursar la
9
mitad de las matérias obligatorias de la carrera. Casi la mitad de los cursos y
seminários que se ofrecen son optativos, mientras que la otra mitad es obli- 9
gatoria. Se trata pues de una organización basada en ei trabajo y la libertad
individual, tanto a nivel de alumnos como a nivel de profesorado, es decir en
una confianza mutua.
Los principales temas de investigación versan sobre ei Cuaternario, las re-
giones áridas, Geografia Física deiÁsia interior, Introducción a la problemática
ambienta] dei Atlas, Geoquímica y sedimentología de los suelos, Geoecología
de los paisajes alemanes, Análisis y derecho medioambiental ^

La Universidad escocesa de Saint Andrews


La enseiianza de la Geografia en la Universidad de St.Andrews, la más an-
tigua de Escócia, está basada en latradición britânica de Oxford y Cambridge.
Aunque la ensenanza de la geografia en esta Universidad se remonta ai ano
.1935, ei desarrolló dei Departamento de Geografia en su estruetura y dimen
siones actuales se inicia en 1970. Los objetivos de la ensenanza son, además
de transmitir una serie de conocimientos, ei de desarrollar en ei alumno un
9
espíritu crítico sobre las ideas y teorias con las que deba enfrentarse, formar
9
una mente disciplinada y capazde un pensamiento independiente. Se trata por
tanto de una ensenanza más científica que técnica, aunque no por ello las asig 9
9
naturas de tipo técnico dejen de formar parte dei plan deestúdios.
Es muy interesante senalar queloscursos deGeografia puedenseguirse tan
to desde las Facultades de Letrascomo desde las de Ciências, o lo qu.e es lo mis-
mo, desde Geografia se imparten clases a estudiantes de Letras y a estudiantes
de Ciências. Así pues los Departamentos de Geografia de las Universidades de
Gran Bretana tienen la particularidad de estar a caballo entre las Facultades de
Ciências ylas de Letras. Los dos primeros cursos son comunes para Geografia
9
Física y Humana, además deque suelen seguir algunas de susasignaturas alum
9
nos de otras especialidades.
Los recursos didácticos de Geografia de St. Andrews aumentaron sensi- 9
blemente con su nueva ubicación cerca de los Departamentos de Geologia y
Química. Geografia tiene además un laboratório de palinología, una sección
de cartografia por ordenador yuna de publicaciones. Los recursos financieros
provienen de la Universidad y dei Consejo Nacional para ei Médio Ambiente.
La ensenanza consiste en un compêndio de clases magistrales, trabajos prácti-
cos, trabajo de campo, tutorias yseminários. EI trabajo de campo forma parte
9
9

9
146

9
100 Diálogosem Geografia Fisica 1
r
r
de la mayoría decursos tanto en Geografia Física como en Geografia Humana.
p Las tutorias y seminários se_utilizan para abarcar aspectos que no quedan cu-
r biertos por las clases y para ayudar a los estudiantes a desarrollar sus conoci
mientos geográficos mediante la discusión en pequenos grupos. Las tutorias
se llevan a cabo desde primer curso en grupos de 5-6 estudiantes mientras que
r los Seminários se inician ensegundo curso e involucran a 10-15 estudiantes. El
control de conocimientos es bastante complejo y se basa en exámenes y traba
0-
jos, pero menos de la mitad de la puntuación estácentrada en exámenes.
r
EI margen de elección temático es amplio pero dentro de un programa co-
r
herente previamente establecido. Así, losestúdios pueden estar totalmente ba-
p sados enGeografia o comportar unalicenciatura mixta tomando unporcentaje
r determinado de asignaturas de de los departamentos implicados; por ejemplo
geografia y geologia; geografia y botânica; geografia y deportes; geografia y pe
P dagogia; etc.
r Hay un núcleo de asignaturas obligatorias y un núcleo de asignaturas op-
tativas distribuídas en dos bloques que alternan anualmente, de manera que
r
doblan Ias opciones de los estudiantes en los dos aiios de especialidad. Los es
r
tudiantes sigucn 3 o 4 de estas matérias. Algunos de los temas en que se es-
f pecializan son los de geomorfologia fluvial y glacial, así como cronologia dei
Cuaternario, biogeografía y sus correspondientes aspectos aplicados.
Las salidas profesionales son buenas lo que se atribuye a la combinación
que comportan los estúdios de geografia entre temas de ciências y temas de
letras, puesto que les confiere adaptabilidada diferentes ofertas,y a que muchos
r de los temas de investigación de los alumnos durante su formación resultan de
interéssocial. Al igual que todos los licenciados en ei Reino Unido, solo un 25
% utiliza su licenciatura como cualificación específica, yesen ei caso de seguir
r
cursos de doctorado o cursos de especialización en planificación, cartografia y
r médio ambiente, con los cuales se abreeiabanico de posibilidades laborales ha
cia puestos de trabajo en agencias centrales y locales dei gobierno, educación,
editoriales y agencias de conservación dei médio ambiente. El resto encuentra
trabajo cn la banca, seguros, inmobiliarias, etc. Hay que tener presente que en
ei Reino Unido la salida profesional hacia la docência a nivel secundário pro-
r viene de Departamentos especializados en Didáctica y Pedagogia, aunque los
0 alumnos de los mismos siguen cursos dela especialidad quevan a impartir.

La Universidad Louis Pastcur de Strasbourg


p
El Departamento de Geografia de la Universidad de Strasbourg es uno de
0 los más anliguos de Francia pues secreó en 19.19, y también unode los más acre
p ditados, gracias sin duda en gran parte ai impulso y proyección internacional
que le dio jean Tricart después de su incorporación cn 1948. A raiz de la rees-
P trueturación aplicada a la Universidad en 1969 ei Departamento de Geografia
de Strasbourg pasó a formar parte de la Facullad de Ciências.
r

r
147
0
9

r Maria Sala Sanjaume 101


9

Además dei personal docente estrictamente universitário hay ungrupo de


trabajo interdisciplinar (climatólogos, hidrólogos, geomorfólogos, fitosociólo-
gos, ecólogos y agrônomos) financiado por ei C.N.R.S., ei Centro de Estúdios
9
e Investigaciones Eco-Geográficas (C.E.R.E.C), en ei que se agrupan docentes,
9
investigadores, técnicos yestudiantes de Maestria y Doctorado, por lo que sus
recursos, que son importantes en infraestructura de laboratórios y personal 9

técnico, benefician a los estudiantes de segundo ciclo.


Por lo que hace a la ensenanza, los dos primeros cursos tienen caracter
introduetorio dentro de laespecialidad de Geografia, terminados y aprobados
los cuales ei estudiante recibe un Diploma de Estúdios Universitários Generales
(D.E.U.G.). El tercer curso es ei de Licenciatura y se basa, como en ei caso an
terior, en ei seguimiento de cursos y la realización de exámenes. El cuarto cur
so es ei de Maestria y comporta, además de clases y exámenes, la realización
9
de un trabajo de investigación extenso, que se concreta en una memória en la
9
que cl estudiante trabaja un 70% dei curso y se presenta ante un tribunal, es
9
decir como una tesina. El quinto curso comporta un Diploma de Estúdios en
Profundidad (D.E.A.) y en él solamcnte se toman clases durante un cuatrimes-
tre, ei resto se dedica a realizar un trabajo de investigación. Existe la posibili-
dad llevar a cabo un D.E.U.G. con especialidad en Geografia pero partiendo
de la Facultad de Ciências, lo cual puede considerarse un intento de acercar
la Geografia Física francesa a los sistemas holandês, alemán y belga. Se basa
en un primer curso con asignaturas mayoritariamente de ciências más una de
9
Geografia Física, y un segundo curso conla mayor parte de las asignaturas dei
9
tronco de Geografia Física.
En los três primeros cursos domina ei sistema de clases con predomínio 9
de la ensenanza basada en ei discurso y donde ei profesor dieta y losalumnos
toman apuntes, aunque se facilita mucha información complementaria fotoco-
piada sin cargo para ei alumno. Apartir dei cuarto curso existe la posibilidad
de realizar trabajos dentro de proyectos de investigación coordinados entre cl
Departamento y ei C.N.R.S. Las salidas profesionales son en primer lugar la
administración dei Estado y las administraciones régionales (50 %), ensenanza
(25 %) e investigación. En cuanto a las asignaturas, en ei primer ciclo son prác-
ticamente todas obligatorias.

La Universidad deLiège
En las universidades belgas Ia Geografia se ensena dentro delas facultades
de ciências, y por ello en ei primer ciclo predomina una formación de base
común para todos los estudiantes de geografia con una carga importante de 9
temas de ciências.
9
En primer y segundo curso todas las asignaturas son obligatorias, ysu car
ga docente es de 21 horas a la semana en primero yde 27 horas a la semana en 9
9

9
9
9
148
102 Diálogos em Geografia Fisica

segundo. La mayor parte de Ias matérias están divididas en una parte teórica,
una parte práctica y una parte de trabajo de campo. Las prácticas consisten
en sesiones de ejercicios o de laboratório, organizadas en grupos de menos de
veinte estudiantes y dirigidos por personal científico especializado. El conoci
miento dei inglês se considera indispensable.
El control de conocimientos se lleva a cabo mediante exámenes organi
zados en dos sesiones, junio y septiembre. La primera sesión está precedida
de un período de estúdio de cuatro o cinco semanas en ei que no se llevan
a cabo ni cursos ni trabajos prácticos. Durante ei ano se realizan pruebas
sobre algunas de las malerias, especialmente en primer curso, las cuales sir-
ven principalmente para una autoevahiación de los conocimientos y de la
cualidad dei trabajo de los estudiantes. En algunos casos la superación de
estas pruebas puede significar la eliminación de matéria cn los exámenes. En
ei segundo ciclo ei estudiante escoge un tema de especialización sobre ei cual
deberá realizar un examen. Al finalizar los estúdios deberá además presentar
una memória sobre alguna cuestión relacionada con ei grupo de matérias
que ha elegido para ei examen temático. Esta memória, que es un trabajo
personal, deberá realizarse bajo la dirección de un profesor o un miembro
dei personal científico. El segundo semestre dei último curso está esencial-
mente consagrado a Ia finalización de la memória, que se habrá empezado
normalmente en tercer curso.
Las salidas profesionales que se contemplai! son la docência a diferentes
niveles, la investigación en diversas instituciones nacionales e internacionales,
la administración pública, y la industria de servicios.

4.5.4 Recapitulación

Aunque la información que poseemos sobre universidades europeas no es ex-


haustiva ni en todos los casoscomparable, es de todas formas posible destacar
algunos puntos.
En todas las Universidades, excepto en la de Amsterdam, la geografia for
ma un bloque único, es decir comprende tanto geografia fisica como geografia
humana, yambas conslituyen obligatoriamente parte dei primer ciclo. Sinem
bargo existe una importante carga docente en temas dei área de ciências, tales
como estadistica, matemáticas, geologia, y en algunos casos física y química.
El volumen de carga docente dedicada a prácticas es elevado, en muchos
casos cerca dei 50 %, y las salidas de campo forman parte integrante dei progra
ma docente. En todos y cada uno de los departamentos existe por lo menos un
laboratório para prácticas.
Hay un porcentaje más o menos elevado de personal técnico, así como de
personal investigador, este último algunas veces procedente de centros nacio
nales paralelos a la Universidad con la cual colaboram

149
Maria Sala Sanjaume 103
r
La proporción profesor-alumno varia en ei primer y en ei segundo ciclo.
En cl segundo puede llegar a ser de 1/1 o de 1/2. La relación profcsor-personal
técnico en algunos casos (Amsterdam) puede llegar a 1/1.
Si intentamos scnalar las diferencias entre estas universidades y la de
Barcelona, una de las más notables es la que se refiere a infraestruetura para
trabajos prácticos en un laboratório y en ei campo, tanto en material como
en personal técnico cualificado o en ayudantes. Otra diferencia notable es la
que se refiere a la formación en métodos y técnicas en ei campo científico. Sin
estas bases es prácticamente imposible que pueda, no ya competirse, sino se
guir minimamente ei ritmo de las universidades europeas. Bien es verdad que
los ejemplos expuestos lo son de centros de prestigio, pero por lo menos en
la Universidad de Barcelona se diria que la aspiración es alinearse entre estas
universidades.

4.6 El dilema actual entre Geografia Física y


Geografia Humana

Las recientes evoluciones en geografia física y geografia humana pareceu llevar


a las dos ramas principalesde esta ciência cada vez más a una separación, refle-
jo de la tensión entre dos maneras de entender la geografia: como una ciência
<
natural y como una ciência social. Por ello, las teorias y los métodos aplicados
son en muchos casosdiferentes y su extraordinário desarrolló desde la segunda
mitad dei siglo XX hace cada vez más difícil dominados todos. Sin embargo,
la introducción de las técnicas cuantitativas si que se extendió ai conjunto de
la geografia.

4.6.1 Evolución dentro de la Geografia Fisica

La geografia fisica tiene sus raíces enlos conceptos delaciência positiva yem
pírica, en las preguntas quese hace ei hombre sobre la naturaleza. Su desarrolló
lobo lugar en las ciências naturales de los siglos XVIII y XIX, se basa en la
apreciación darviniana dei cambio a través dei tiempo, y aspira a entender los
ambientes de la tierra a través de los métodoscientíficos positivistas. El núcleo
de la geografia física científica es ei estúdio delos procesos que tienen lugar en
la superfície dela tierra, aunque incluye ei conocimiento dei médio en relación
a la sociedad y las modificaciones humanas de los procesos naturales.
Muy pronto se hizo evidente que los hechos climatológicos, hidrológicos y
geomorfológicos podian ser reducidos a leycs matemáticas y geométricas, por
tanto poniéndolos como parte de un fenômeno global más que de una anomalia
local. El nuevo paradigma fue pronto adoptado por muchos geógrafos físicos por
que la utilización de métodos matemáticos proporciona pruebas precisas y uni
formes de los efectos de los fenômenos naturales. En geomorfologia e hidrologia

150
104 Diálogos cm Geografia Física "

la investigación con una orientación cuantitativa se produjo de manera amplia


por autores relevantes tales como Horton, Schumm, Wolman, Leopold y Dury.
En climatologia pronto de adoptaron los métodos cuantitatívns basados en los
estúdios pioncros de Thornthwaite y Hare. En ei estúdio de los suelos los geógra
fos siguieron los trabajos de Jenny y dei Servicio Americano de Conservación de
Suelos, y pronto fue posible utilizar laEcuación Universal de la Perdida de Suelo.
En biogeografía, la ctiantificación es la base dei estúdio de los ecosistemas, y su
introduetor engeografia fueStoddart. Con einúcleo científico dedicado aiestúdio
de procesos enlasuperfície delatierra, lageografia física incluye un enfoque para
entender ei médio en relación a la sociedad, en la modificación humana de los
procesos y modelosambientales, y en lasbases físicas para su manejo.

4.6.2 Evolución dentro de la Geografia Humana

EI estúdio empírico dei médio ambiente a fin de desarrollar y probar hipótesis


como base para teorias y leyes tuvo estúdios paralelos en la geografia humana
posterior a los anos 1950, con la búsqueda de leyes que gobiernen los procesos
espaciales. Pero estos métodos cuantitativosse adoptaron más lentamente y con
poça convieción, a veces incluso con una fuerte oposición de los geógrafos ré
gionales, lo cual no cs de extranar dad la tradición posibilista de la cscuela fran
cesa. La relación con la economia fue la que propicio la introducción de nue-
vas ideas y técnicas, cuyos primeros rastros fueron los de Thünen y ChristaUer
cn relación a las teorias de la localización de las actividades econômicas. Los
avances más significativos hacia unas bases metodológicas y filosóficas de una
escuela cuantitativa se deben a Schaefer, Bunge y Harvey, quienes sentaron las
bases para una geografia humana como una disciplina que busca las leyes cpie
rigen los fenômenos y que utiliza ei método cientifico.

4.6.3 Es posible la unidad en Geografia?

Como consecuencia de la revolución cuantitativa muchos geógrafos pensaron


queesta metodologia proporcionaria una unidad a lageografia. Haggett (1979)
creyó, por ejemplo, que la aceptación general de las técnicas cuantitativas, una
preparación matemática más completa de las nuevas generaciones, y la amplia
difusión de los ordenadores harían desaparecer los conflictos.
Sin embargo, lohnston (1987), en la introducción a la segunda edición de
su libro sobre la geografia y los geógrafos, separa la geografia humana de la
tísica, un enfoque por ei que ha sido muy criticado y acusado de hacer un flaco
servicio a la disciplina por ei hecho de avanzar esta separación. Pero la razón
que aduce para esta decisión es que encuentra los lazos entre geografia físi
ca y geografia humana, tal como se practican habitualmente, muy tênues. Así,

151
9
9
9
Maria SalaSanjaume 105 -**•,

9
explica que durante la era de la geografia como ciência dei espacio había un
interés común entre geógrafos físicos y humanos en cuestiones metodológi
cas, especialmente las de naturaleza estadística y matemática, pero a medida
que en ambas geografia se ha producido un distanciamiento de la descripeión
9
cuantitativa y una tendência aiestúdio de los procesos en ambas geografias, las
diferencias entre ellas se han magnificado. 9
Para Johnston pues hay muy poça base para los lazos con la geografia física 9
en los enfoques de una geografia humana como ciência deicomportamiento y de
la discusión humanística. Por supuesto que ei objeto de estúdio de la geografia
humana está estrechamente relacionado con cl de la geografia física, pero no hay
una necesidad aparente, ni unaevidencia en trabajos llevados a cabo,de una ínte-
gración delos doscampos tal ycomo se practican actualmente. Algunos discuten
que tal integración es, o debería ser, alcanzada a través dei estúdio de los recursos
9
terrestres, pero una revisión de laliteratura relevante hecha por ei mismo Johnston
9
no proporciona ninguna evidencia que respalde esta afirmación. Sin embargo
9
geografia física y humana sesobreponen y deberían alcanzarse benefícios de ello,
especialmente en un contexto pedagógico, y por tanto no parecerecomendable su
separación. Pero a pesar de todo hay quereconocer que en muchos casos hay más
conexión con otras disciplinas afines que entre las dos geografias. Los geógrafos
físicos han tenido y tienen papeles de liderazgo en ei desarrolló de metodologias,
induyendo la teoria de sistemas, eisensorio remoto, los sistemas de información
geográfica, ylaaplicación de modelos cuantitativos. En ambas geografias hay una
notable interacción con otras ciências, que comportan las contribuciones de geó
9
grafos a otras disciplinas y viceversa, tanto en estúdios concretos como enideas.
9
Doreen Massey (1999) ha investigado la posibilidad de que haya aspectos co-
munes entre geografia física y geografia human en temas emergentes, como la
conceptualización dei espacio, tiempo y espacio-tiempo. Argumenta que una de
las cosas que ha mantenido las geografias humana y física separadas por tanto
tiempo ha sido su relación con la física como un modelo asumido de ciência.
Propone que no solo esto es un modelo inadecuado de ciência sino que nos ha
dejado perdidos en nuestra conceptualización heredada tanto de espacio como de
tiempo. Para ella la urgência de pensar historicamente es ahora evidente tanto en
9
geografia física como en humana porque en ello estala base de unposible diálogo,
y también nos obliga a repensar nuestras nociones de espacio y tiempo. Massey 9
cree que algo de este enfoque está ya bien establecido dentro de la geografia fí
sica, por ejemplo en Barbara Kennedy, que mira la historia de la geomorfologia
bajo este enfoque. Argumenta que las influencias de Strahier y Chorley para un
enfoque dinâmico en geomorfologia opuesto ai histórico, es decir, su énfasis en
procesos inmanentes, equilíbrio ysin sujeción ai tiempo ha tenido algunos efectos
que ahora debieran ser cuestionados, puesto que ella cree que esto ha animado la
emergência de una historia de la disciplina presentada como ei domínio gradual
dei enfoque científico como opuesto ai histórico.
9
9

152

9
p
0"

r 106 Diálogos em Geografia Fisica "

p 4.7 El futuro

0
0 La sociedad marcadamente orientada hacia ei mercado pone un reto importan
P te ai trabajo aplicado de los geógrafos. Los estúdios aplicados han sido adop-
0
tados por un gran número de geógrafos, incluyendo los que trabajan en SIG,
y ei análisis espacial utilizando esta tecnologia puede intensificar los sistemas
de gestión de empresas permitiendo a los usuários ganar en competitividad cn
P
ei mercado de usuários sofisticados. El desarrolló y ensenanza de SIGda a los
0 estudiantesuna amplitud de habilidades flexibles para utilizar en losmercados
laborables que están continuamente reestructurándose, además de abrir vias
a un amplio abanico de aplicaciones. Por tanto los geógrafos están llamados a
f participar en una re-evaluación dei estado dei bienestar, enfocando la atención
0 en los limites tanto de las elecciones individuales como en las colectivas, y en
0
desarrollar habilidades dentro de los procesosde investigación y de desarrolló.
Esta posición situa a la geografia aplicada dentro dei enfoque de ciência espa
P
cial de la disciplina, la que es aplicable y está basada en estúdios empíricos. La
P clave está sin embargo en definir o preguntarse sobre cualquier trabajo si es
P relevante y para quién o para que lo es.
P Aprincípios de losanos1970 algunos destacados geógrafos fueron pregun-
0 tados sobre sus puntos de vista sobre ei futuro de la disciplina, pero poço de lo
que ellos sugirieron se refleja en lo que realmente ha pasado (FIaggett, 1979).
0 Las discusiones sobre como debe practicarse y ensenarse la geografia conli-
0
núan, lo cual refleja no solo las divisiones internas sino también las tendências
en las sociedades a las que losgeógrafos pertenecen.El contenido y ei contexto
de las discusiones futuras no pueden predecirse, pero lo que si puede sugerirse
0
es que la geografia ya no se caracterizará por un mono-paradigma dominante.
Cabe recordar que los avances científicos no se producen en un vacío social
0 sino como una parte integrante de la historia humana, dentro de la que ei ele
P mento de azar que surge de la personalidad y creatividad pcrsonales juega un
P papel importante. Y finalmente, recordar que estamos construyendo ei futuro
de la geografia a medida quela vamos practicando.
0
p
4.8 Referencias
P
r ABLER, R.F.; MARCUS, M.G.; OLSON, J.M. (eds.). Geography's inner worlds:
0 pervasive thèmes in contemporary American geography. New Jersey: Rutgers
University Press, 1992.
0
0 ALBENTOSA, L.M. La evolución de la Geografia Fisica en Espana. Geomorfologia
p y Climatologia. In: COLOQUIO IBÉRICO DE GEOGRAFIA, 3. Anais... 1984. p.
99-112.
0
0

0
153
-9
9
Maria Sala Sanjaume 107
9
9
GREGORY, K.J. The nature of Physical Geography. London: Arnold, 1985. 272 p.

HARVEY, D. Explanation in geography. In: ARNOLD, E. Teorias, leyes y modelos


en geografia, 1983, London: Alianza, 1969. *»,

HAGGETT, P. Geography: a modern synlhesis. New York: Harper mternational,


1979.

HAINES-YOUNG, R.H.; PETCH, J.R. Physical Geography:its natureand mcthods.


London: Harper & Row, 1986. 230 p.

JOHNSTON, RJ. Geographyand geographers: anglo-american human geography


9
since 1945. London: Arnold, 1987.
9
LIVINGTONE, D.N. The geographical tradition: episodes in the history of a
contested enterprise. London: Blackwell, 1992. ^

LOUNSBURY, J.F.; ALDR1CH. ET. Introduction to géographie field methods and


techniques in modern geographical research. London: Bell & Howell, 1986.

MASSEY, D. Space-time "science" and lhe relationshipbetwecn physical geography


and human geography. Trans.Inst.Br.Geogr, NS 24 p. 261-276, 1999.

MUNOZ, J. Métodos y técnicas recientes en Geografia Física: la renovación


9
metodológica y técnica de la Geografia Física espanola a través de los trabajos
publicados en ei período 1973-1982. In: VIII Col. Geog. Esp. Anais... Ponencia 1,
1984. p. 33-45.

PEET, R. Modern Geographical Thought. Oxford: Blackwell, 1998. 9


9
POPPER, K.R. The logic of scientific discovery. Hutchinson, London. Trad.
castellana (1973): La lógica de la investigación científica. Madrid: Alianza, 1934.
SALA, M.; BATALLA, R. Teoria y métodos en geografia física. Madrid: Sintesis.
[A summary ofthe théories and methods that underline physical geography today].
1996. q
STODDART, D.R. Darwirís impact on Geography. In: Association of American
Geographers. Anais... n. 56, p. 683-698,1966.

STRAHLER, N. Dynamic basis ofgeomorphology. Buli. Geol. Soe. Amer. LXIU, p.


923-938,1952.
G

9
9
9
9
9
9

9
9
9
9
154 9
p
r
0
TEXTO 7

r
Josefina Gómez Mendoza,
p
Júlio Munoz Jiménez,
p
0 y Nicolás Ortega Cantero
p
p

0
El pensamiento geográfico
0
0
'

Estúdio interpretativo y antologia de textos
0 ' (De Humboldt a las tendências radicales)
0
P
P
0 .
Segunda edición corregida y aumentada
r

0
Karl Ritter *
p
LA ORGANIZACIÓN DEL ESPACIO
0
EN LA SUPERFÍCIE DEL GLOBO Y SU FUNCION
P
EN EL DESARROLLÓ HISTÓRICO **
0

t
0
0
0
0
P
0
0
P
0
p
Alianza
0 Editorial
0
0
0
0
155
9

Karl Ritter *

LA ORGANIZACIÓN DEL ESPACIO 9


EN LA SUPERFÍCIE DEL GLOBO Y SU FUNCION
EN EL DESARROLLÓ HISTÓRICO ** 9
9
9

9
9
9
9
9
9
9
9
9
Examinemos un globo terrestre. Por muy grande que sea, no puede
9
aparecemos más que como una miniaturización y una representaáón im-
9
perfecta dei modelado externo de nuestro planeta. Sin embargo, su per-
fecta esfericidad, que contiene tanta diversidad, no deja de ejercer una
profunda influencia sobre nuestra iroaginación y nuestro espíritu. Lo que
nos sorprende ai observar un globo terrestre es la arbitrariedad que pre
side la distribución de las extensiones de água y de tierra. No hay espacios
9
matemáticos, ninguna construcción lineal o geométrica, ninguna sucesión
9
de líneas rectas, ningún punto; solo la red matemática establecida a partir
de la bóveda celeste nos permite medir artificialmente una realidad inapre-
hensible: los propios pólos no son más que puntos matemáticos defi
nidos en función de la rotación de Ia Tierra y cuya realidad se nos escapa
todavia. No hay simetria en ei conjunto arquitectónico de este Todo
+
terrestre, nada que lo emparente en este sentido con los edifícios cons
truídos por la mano dei hombre o con ei mundo vegetal y animal, cuyos
9
* Karl Ritter (1779-1859). Además dei que corresponde ai texto traducido en este
9
libro, entre sus trabajos principales se encuentran:
Ritter, K. (1822-1859): Die Erdkunde im Verbãltnis zur Natur und zur Gescbichte des
Menscben oder allgemeine vergleichende Géographie, ais sichere Grundlage des
Studiums und Unterricbts in pbysicalischen und hislorischen Wissenschafien, Ber-
lín, G. Reimer, 19 tomos, 21 vols. 9
Ritter, K. (1861): Gescbichte der Erdkunde und der Entdeckungen. Vorlesungen au
der Universitãt zu Berlin gehalten. Herausgegeben von H:- A. Daniel, Berlín, 9
\G. Reimer. t
** Ritter, C. (1850): «De rorganisation de 1'espace à la surface du globe et de
son role dans le cours de rhistoire» (Discurso pronunciado ei 1 de abril de 1850), en
Ritter, C. (1852): Intròduction à la géographie gênérale comparée. Traduction de
D. Nicolas-Obadia. Intròduction et notes de G. Nicolas-Obadia, Paris, Les Belles
Lettres, 1974, pp. 166-189. Traducción de Isabel Pérez-Villanueva Tovar. 9
9
168

156
0
—-.-.-.-.••.' _.-.--.".".•.«

Karl Ritter' 169

organismos presentan, tanto en los vegetales como en los animales y en


ei hombre, una base y una cúspide, una derecha y una izquierda. Si, este
Todo terrestre perfectamcnte asimétrico, ai no obedecer aparentemente
a ninguna regia y ser difícil de captar como un conjunto, nos deja una
impresión extrana y nos vemos obligados a utilizar diversos métodos de
clasificación para borrar la idea de caos que de él se desprende. Por eso
han interesado más hasta ahora sus partes constitutivas que su apariencia
r global, y los compêndios de geografia se han dedicado fundamentalmente
a describir sus partes. Habiéndose contentado hasta ahora con describir
y clasificar someramente las diferentes partes dei Todo, la geografia no
ha podido, en consecuencia, ocuparse de las relaciones y de las leyes ge-
nerales, que son las que unicamente pueden convertirla en una ciência
0
y darle su unidad.
0 Aunque la Tierra, como planeta, sea muy diferente de las represen-
taciones a escala reducida que de ella conocemos y que no nos dan más
que una idea simbólica de su modelado, hemos tenido que acudir a esas
miniaturizaciones artificiales dei globo terrestre para crcar un lenguaje
abstracto que nos permitiese hablar de ella como un Todo. Así es, .en
P
efecto, y no inspirándonos- directamente en la realidad terrestre, como
hemos podido elaborar la terminologia de las relaciones espaciales. Sin em
bargo, teniendo en cuenta que la .red matemática proyectada sobre la
Tierra a partir de la bóveda celeste se ha convertido así en ei elemento
determinante, esta terminologia ha permanecido- hasta ahora incompleta
0
y no permite actualmente una aproximación científica a un conjunto es-
tructurado considerado en sus extensiones horizontales y verticales o en
P sus funciones.
Existe una diferencia fundamental entre las obras de la naturaleza y las
creaciones dei hombre: por bellas, simétricas o acabadas que estas últimas
puedan parecer, un examen atento revelará su falta de cohesión y su tosca
trama. El tejido más fino, ei reloj más elegante, ei más hermoso cuadro,
ei pulido más liso dei mármol o de los metales nos reservaria, visto ai
microscópio, semejante sorpresa! Inversamente, la asimetría y Ia apariencia
informe de las obras de la naturaleza desaparecen con un examen profun
do. La lupa dei microscópio hace surgir en la tela de una arana, en la
estructura de una célula vegetal, en ei aparato circulatório de los animales,
en la estructura cristalina y molecular de los minerales, elementos y con
0
juntos de una textura siempre más fina. Pero las obras de la naturaleza
0 y las creaciones dei hombre difieren también por la amplitud y ei ca
racter que se trasluce eh su composición y en sus funciones. En efecto,
las investigaciones efectuadas en fisiología han revelado la existência de
P
una relación entre las fuerzas de la naturaleza; han permitido descubrir
sistemas y leyes naturales a los que la química, la física, la óptica y la me
cânica deben especialmente su existência.
0 <>No deberíamos volver a encontrar esta diferencia en ei caso dei mayor
cuerpo natural que conocemos, es decir, nuestro planeta, aunque es cier
to que no lo conocemos más que superficialmente... y su superfície mo-

0 •
157
•..*.:.
9
i
9

170 Antologia de textos


9
delada por las fuerzas ciegas de la naturaleza parece deber su apariencia
actual y tan extrana ai azar y ai desarrolló arbitrário de las águas y de 9
las tierras? Pero £cómo conciliar esta aprehensión global de nuestro
planeta con lo que sabemos de todo lo que en él vive, pueblos y demás;
con lo que conocemos de la aventura humana que en él se ha desarrolla-
do, y como conseguirlo si concebimos ei globo como ei lugar y la morada
que ha ofrecido ai hombre, durante ei tiempo de su paso por la Tierra,
ei marco necesario para desarrollarse?
Toda planta quiere tener y encuentra un suelo propicio para florecer
y dar frutos. Toda criatura, para prosperar, ha de vivir en su elemento,
dSerá ei hombre una excepción y será ei único en vivir en un médio
modelado por fuerzas ciegas que acosan la tierra, las águas y los aires,
teniendo en cuenta que ha asegurado su supervivencia durante milênios?
Aun reconociendo su gran riqueza y diversidad formal, por considerar
la Tierra, ese cuerpo inorgânico, como un todo rígido que ha. aparecido en
nuestro sistema para permanecer inmutable, ^habría que inducir que no está 9
en condiciones de procurar a nuestra espécie lo que necesita para desarro
llarse; habría que admitir que, contrariamente a todas las criaturas que
alberga, solo la Tierrra está desprovista de esa fuerza creadora que en
gendra una fuerte estructura interna? Todo nos lleva a no buscar en. ei
presente la imagen de la eternidad, a no confundir apariencia y esencia,
las impresiones que obtenemos de una cosa o de un fenômeno y la reali
dad de esa cosa o de ese fenômeno, a np interpretar las leyes naturales
establecidas como construcciones lógicas de nuestro intelecto, sino a con
sideradas como una feliz descubrimiento de un mundo fenoménico que
nos rodea y que todavia no habíamos logrado dilucidar. La gênesis de
ese enjambre de estrellas que constituyen las nebulosas planetárias, ei
estúdio de la formación de los vientos se cuentan entre las cosas que
nos han ensenado a no tachar de incoherente ei desorden aparente dei
mundo que nos rodea.
En efecto, cuanto más avanzamos en ei conocimiento de la distribu-
ción espacial en la.superfície dei globo terrestre y cuanto más nos intere-
samos, más alia de su desorden aparente, en la relación interna de sus
partes, más simetria y armonía descubrimos en él, y. en mayor medida
las ciências naturales y la historia pueden ayudarnos a comprender la 9
evolución de las relaciones, espaciales. Si, gtacias a la determinación astro
nômica de los lugares, a la geodesia, a la hidrografia, a la geologia, a la-
meteorologia y a la física, han podido realizarse hasta ahora grandes
progresos en matéria de orden espacial, queda todavia mucho por hacer
9
y podemos esperar conseguirlo mediante la intervención en ei estúdio de
las relaciones espaciales de nuestros conocimientos relativos a la historia
deNlos hombres y de los pueblos y a la distribución local de los productos
de los três reinos de la naturaleza. . ^
(...)
Los comentários que hemos hecho anteriormente sobre las dimensio-
-nes horizontales de los continentes nos dispensan de estudiar más dete-

I5S

9
p

p
p
Karl Ritter 171

nidamente los detalles de sus relaciones. Basta con recordar aqui que, cn
los três continentes dei Viejo Mundo, la forma oval de África, romboé-
e
drica de Ásia y triangular de Europa han determinado para cada uno de
*•
ellos três tipos de relaciones dimensionales. EI caracter uniforme que
adquieren èn África (ei mismo largo y ei mismo ancho cn longitud y en
latitud) se opone fundamentalmente ai que asumen en Europa. Aqui,
r
en efecto, la longitud este-oeste dei continente eqüivale a dos o três veces
su anchura, que decrece sucesivamente desde la base dei triângulo adosa-
p
da a Ásia hasta su vértice orientado hacia ei Atlântico. Si África, ese
0 cuerpo compacto y replegado sobre si mismo, está desprovista de toda
articuJación, ei corazón dei continente asiático, igual de macizo pero más
potente, es menos penetrable; ai este y ai sur se encuentra además muy
finamente articulado. Europa, por su parte, se abre en todas las direc-
ciones; no solo ai sur y ai oeste, sino hacia ei norte y hacia ei interior
mismo de las tierras cuyas ramificaciones han tenido tanta importância
como la que tuvo ei núcleo central respecto ai desarrolló dei proceso de
ávilización. Teniendo en cuenta la menor superfície de las tierras y la
mayor riqueza natural de los miembros aislados, en este caso la civilización
ha podido penetrar, en efecto; en ei interior de las tierras. El cuerpo más
recogido de Ásia no se abre en todas partes a los mares como ei de Euro
p
pa. Los mares no penetran allí en ei interior de las tierras, aunque las
p •hienden profundamente ai este y ai sur. No consiguen, pues, como en
Europa, instaurar un equilíbrio entre diferentes formas que se interpe-
netran. Así es como ei amplio núcleo central de este indivíduo terrestre
que es Ásia (y que se asemeja desde este punto de vista a la masa com
0
pacta dei conjunto de África) se ha encontrado privado de las ventajas
inherentes a sus articulaciones y de sus efectos. Si es hacia ei sur donde
0 la periferia de Ásia está mejor articulada, es hacia ei norte donde lo está
menos, con las ventajas y los inconvenientes que esto implica. Aunque
abarque una superfície igual a la mitad de la de Europa, los miembros
siguen siendo aqui mucho menos importantes que ei cuerpo compacto y
potente que ha conseguido frenar la evolución de la civilización en ei con
0
junto dei continente. Los pueblos de la periferia que habían alcanzado un
0 desarrolló superior han permanecido, en efecto, aislados en sus sistemas
peninsulares.
Si ei núcleo central dei continente asiático se ha mantenido, por tanto,
como la pátria monótona de los pueblos nômadas, sus antepaíses, sus
penínsulas articuladas y privilegiadas por la naturaleza —pensamos ahora
en China, cn Indochina, las índias, Arábia, Ásia Menor y sus subdivisio
nes— han constituído individualidades físicas, y humanas. Estas, sin em
bargo, no han sido capaces de propagar su civilización en ei interior dei
continente.
Al ser las costas africanas periféricas poço articuladas, son más cortas
que las de los demás continentes. De abi la pobreza de los contactos
entre ei mar y ei interior de las tierras y la dificultad de acceso ai corazón
dei continente. Las condiciones naturales y humanas han negado ai cuerpo
0
0
P
_ 159
_

9
9
172 Antologia de textos ^
inarticulado de África toda individualización. Teniendo en cuenta que aqui 9
los diversos extremos se sitúan a igual distancia dei interior de las tierras, 9
como la situación astronômica dei continente a un lado y otro dei ecua-
dor hace que los contrastes climáticos se repartan regularmente en las
zonas tropicales y subtropícales, todos los fenômenos característicos de 9
este indivíduo terrestre, que constituye ei verdadero Sur de la Tierra y
donde culmina ei mundo tropical, han conservado un caracter uniforme
y sin embargo particular. Esto es lo que explica que cl estado primitivo
y patriarcal en ei que viven los pueblos de este continente haya permane
cido ai margen de los progresos y dei tiempo, que África parezca obligada
a ofrecer todavia durante milênios asilo a la elaboración de un futuro 9
desconocido. Esta tierra presa dei inmovilismo no conoce efectivamente
más que desarrollos colectivos. Las plantas, los animales, los pueblos y
los hombres no evolucionan individualmente. Se encuenttan palmeras y ca-
mellos en los extremos norte y sur, este y oeste de la tierra africana.
La. raza negra, que constituye aqui la principal población autóctona, está
dispersa en todas las direcciones. Al igual que ei continente, no ha
conocido más que una evolución colectiva y somera que no ha favorecido
en absoluto la aparición de culturas, de Estados, de pueblos y de seres 9
fuertemente individualizados. Los diversos dialectos hablados por estas po-
blaciones negras convergen finalmente en una fuente lingüística común.
En este sentido, solo estrechas bandas costeras repartidas discontinuamen-
te en las regiones más favorecidas dei continente constituyen una excep-
9
ción. Pero esta situación privilegiada procede la mayor parte de las veces
9
de aportaciones exteriores.
Aunque no es más que parcialmente esférico, ei extraordinário desarro
lló costero de Ásia ha engendrado un mundo de fenômenos completamen
te diferentes. Los miembros articulados dei continente poseen aqui, èn-
todas partes, una individualidad propia. Aislados dei resto dei continente, 9
pero comunicados entre si por ei mar, han sido diversamente configura
9
dos en su totalidad por la naturaleza, sus montanas, sus valles, sus rios,
sus mares, sus vientos y sus productos. Sus propios pueblos y sus culturas
los convierten en mundos aparte. Esto es lo que explica por lo demás ei
caracter fuertemente diferenciado de las individualidades constituídas por
ei mundo chino, malayo, hindu, persa, árabe, sirio y próximo oriental.
Sin embargo, contrastando de forma sorprendente con ei cuerpo dei con
tinente que ha permanecido replegado entre si mismo, los progresos lleva-
dos a cabo por su civilización no han podido todavia influir o modificar
la vida de los nômadas que circulan por aquél desde hace milênios, esos
pueblos cuyos antepasados debieron dispersarse en los amplios espacios
pccidentales y que llamamos hoy mongoles, turcoraanos, kirguises, bukaros
(uzbekos), kalmukos y demás. Menos aún han podido alcanzar ei norte
dei continente, que, a pesar dei aspecto espectacular de los fenômenos
tipicamente orientales que se manifiestan en su inmenso território, se en-
cuentra despfovisto de esa armoniosa unidad que proporciona una civiliza
ción adquirida en común. Este estado de cosas se debe además igualmente
9
'• • 9
•- " 160 /• 9
9
P
m,- •' • .:...:..•..• • ..... ..!--..- sj±vl-i£Z-}~'_,*,;,_•',:
) -

Karl Ritter • • 173

ai caracter gigantesco de las formas naturales orientales, tanto más difi


cilmente comprensibles cuanto que no se cuenta con ningún dato histórico
sobre ellas. Y depende, finalmente, de la excesiva riqueza de los dones
y de los productos naturales que, debido a las variaciones climáticas, apa-
p
recen en este caso fuertemente contrastados. Extendiéndose desde ei ecua-
0 dor hasta las tierras polares, este continente posee, en efecto, sobre su
suelo las plantas y los animales más diversos. Se los encuentra no solo
a lo largo de las diferentes latitudes, sino, debido a su formidable exten-
sión de oeste a este, a lo largo de los meridianos que se reparten entre
0
un mundo oriental y un mundo occidental con caracteres fuertemente con
trastados. Para ilustrar esta oposición, bastará comparar entre si la civi
lización china y la civilización dei Próximo Oriente. Para ilustraria en ei
0 terreno de los resultados naturales, basta apuntar la presencia dei cocote-
ro, dei sagú, dei tigre en ei este, y de la palmera datilera y dei león ai
oeste; poner en paralelo, en lo que se refiere a Ásia septentrional y
meridional, una vegetación alpina, ei bosque de coníferas, ei reno y, por
otra parte, ei árbol dei pan, la cana de azúcar, ei pisang de anchas hojas,
P ei elefante, ei rinoceronte, ei tapir y ei mono.
A la riqueza inagotable de las relaciones naturales en esta parte dei
Globo, corresponde la diversidad de las relaciones humanas. Aunque desde
0
ei comienzo de las grandes migraciones este continente haya suministrado
a sus veclnos contingentes de población, nunca ha agotado sus recursos
P
humanos. Al contrario, siempre ha estado abundantemente provisto de
0 pueblos de raza, de talla y de color diferente, con modos de vida, nacio
nalidades, religiones, organización política, castas, Estados, cívilizaciones,
lenguas y etnias propias. Comparativamente y desde ei comienzo de la
P
historia de la humanidad, ningún otro continente ha podido mostrar se-
mejante diversidad. Por eso Ásia se encuentra en ei origen de todas las
P cívilizaciones humanas.
Europa es la amplia prolongación dei Ásia media. Según va, ai alejarse,
progresando hacia ei oeste, desarrolla sus superfícies con una autonomia
creciente. Así, y con miembros proporcionalmente más importantes que
P
ei cuerpo, supera a su vecina oriental precisamente en ei sentido de
que, no constituyendo obstáculo ni en altura ni en anchura, ei núcleo
P central no consigue aislar los miembros. Este indivíduo terrestre fuerte
mente compartimentado que es Europa ha podido, pues, conocer un des
arrolló armónico y unificado que ha condicionado desde ei comienzo su
^
caracter civilizador y ha antepuesto la armonía de las formas a la fuerza
de la matéria. El menor de los continentes estaba así destinado a dominar
a los más grandes. Así como Ásia, continente que se extiende sobre las
três zonas climáticas, beneficiándose de notables dones naturales y con
esencial predomínio de las pesadas masas de tierra, estaba abocada desde
su configuración a beneficiar con sus riquezas a los continentes vecinos
sin empobrecerse por ello , Europa, continente circunscrito a la zona tem-
pladã, finamente articulado, dotado de un relieve a escala humana y de
; formas continentales y marítimas que se interpenetran, estaba particular-

P
P
0 !
161
M

174 • Antologia de textos

mente predispuesta, por no disponer ni de los extremos ni de las riquezas


de aquélla, a acoger lo que le era extrano. La energia desplegada por sus t
pueblos industriosos para ordenar las condiciones locales la han hecho
apta para utilizar sus dones planetários de forma que ha producido una
civilización humana caracterizada por la armonía misma que le confiere
ei hecho de ser un lugar de paso que garantiza a todos los demás pueblos
dei Globo la mejor de las acogidas. Si se sabe que la vocación, que se ha
9
unido a la infinita riqueza de las formas a lo largo de la historia de esta
parte dei mundo que es Europa, se ha encontrado confirmada en la historia
universal, es menos sabido que estaba en cierta forma inscrita en ella
desde toda la eternidad; se ha atribuído ei honor unicamente ai hombre,
en este caso ei europeo, cuando solo lo merece en parte. Para ser conci
sos, no destacaremos en la estructura básica de Europa más que três de
sus relaciones características: ei desarrolló de sus costas, la articulación
de sus tierras septentrionales, las islãs que la rodean.
Desde ei punto de vista de la relación de su desarrolló costero con
su superfície, Europa es indiscutiblemente ei mayor de los continentes.
Si Ásia, cuya superfície es cinco veces la de Europa, posee 7.000 millas
(52.000 km.) de costas, África, con su superfície três veces superior a la
de Europa, no posee más que 3.800 (28.000 km.). Las 5.400 millas
(40.000 km.) dei litoral europeo alcanzan, por ei contrario, una longitud
igual a la dei ecuador. Aunque situada en ei corazón dei universo terres
tre, Europa, ai dejar sus articulaciones que penetren todos los mares dei
Viejo Mundo, se beneficia dei más rico contacto posible con ei mundo
marino. A esta cualidad de contacto se anaden una situación marítima
9
privilegiada respecto ai movirniento general de los mares y los vientos, y
9
una abundância de golfos y de puertos naturales cuya configuración, con-
secuencia lógica de la articulación dei continente, ha favorecido ei desarro
lló dei arte de Ia navegación, asegurándole así ei domínio de los mares.
Desde este punto de vista, es ei archipiélago britânico, con sus numerosos
puertos y sus costas bien recortadas-, ei que actualmente ocupa ei lugar 9
que tuvo en ei Mediterrâneo y durante la antigüedad la Grécia peninsu-
lar en su época de plenitud. Las costas árticas de Europa, banadas por 9
ei Báltico y ei mar dei Norte, profundamente hendidas por ei mar Blanco, 9
que se extienden por los distintos antepaíses,. islãs y penínsulas escan
dinavas, han asegurado a esta parte septentrional dei continente un des
arrolló tan rico como ei que proporcionan a la parte meridional las três
notables penínsulas de Grécia, Itália y Espana. El mundo escandinavo 9
confiere a Europa dei norte una gran superioridad sobre la vecina Ásia.
9
Por no estar tan bien articuladas, por estar separadas de la parte meridio
nal y mejor desarrollada- de Ásia, por padecer, encontrándose encajadas
entre las tierras polares y la alta Ásia central de los nômadas, una situa
ción doblemente desfavorable, por estar, finalmente, insuficientemente do
tadas por la naturaleza, las tierras lianas de Sibéria han sido tributarias
de la Europa' dei noreste en matéria de progreso y de civilización.

162 *>
,_•.-.-.•-• -•- •.-—

p
0

Kad Ritter

P
Finalmente, y en Comparación con los demás continentes, las islãs
i
que rodéan a Europa se distinguen por vários aspectos. Integradas, en
tanto que islãs costeras, ai território continental, enriqueceu, como ver-
daderas estaciones marítimas, las extensiones oceânicas satélites y dan más
amplitud ai Todo. Manteniendo con ei cuerpo y los miembros dei conti
nente una relación -de amplitud relativamente importante, han ofrecido
grandes superfícies favorables ai establecimiento de conexiones entre los
pueblos y las cívilizaciones que han contribuído mucho no solo a doblar la
superfície de los espacios considerados, sino a intensificar su desarrolló. No
son, sin embargo, pequenas islãs aisladas, archipiélagos rocosos alineados
en los oceanos o promontorios áridos y de difícil acceso; en efecto, Ingla
terra meridional es una prolongación natural dei norte de Francia, igual
que SicÜia de Calábria y Candía (Creta) de Morea. jlmaginemos sencilla-
mente cuál seria ei empobrecimiento de la historia, dei desarrolló local
y de las relaciones marítimas de Europa dei norte provocado por la súbita
desaparición dei archipiélago britânico! Privada de Seeland y de Fionia,
Ia península de Judandia no seria más que una simple lengua de arena;
en la antigüedad, sin .ei granero de trigo siciliano, la historia de Roma y
de Itália hubiera sido muy diferente; finalmente, y gracias a Creta, ei
, archipiélago egeo y las islãs jónicas han servido de puente a las civiliza-
ciones jónicas e indoeuropeas en Grécia y en Hesperia (Magna Grécia).
No tenemos la intención de analizar aqui las consecuencias de la ausên
cia total de islãs a lo largo de las costas africanas., a Ias que ni siquiera
P
pertenece la gran islã de Madagascar, aislada y rechazada hacia ei mundo
P oceânico por las comentes y los espacios marinos. Tambíém está fuera de
lugar intentar comprender las especificidades de la giganteca extensión
insular, en ei sudeste asiático, dei mundo malayo marítimo, es deár, dei
grupo mdochino y de sus prolongaciones en las islãs de la Sonda hacia
Austrália: ei mayor y más rico en individualidades dei planeta, puesto que
0
su superfície triangular es igual a la de Europa. .Este istmo asiático ofrece
por lo demás, a causa de su posición entre dos continentes, una cierta
analogia con ei istmo de Panamá, entre las dos Américas. Senalaremos
simplemente ei hecho de que la densidad demasiado elevada de estas islãs
tan estendidas y ricamente dotadas les ha permitido constituir un universo
P
autônomo con su propia población insular, los malayos. En efecto, no se
P pueden considerar estas islãs como miembros desgajados y dependientes
dei continente vecino y de su litoral, sino como miembros autônomos que,
independientemente de esta proximidad, han sido menos enriquecidos por
ei continente vecino de lo que lo han sido otras islãs costeras dei resto
^ dei mundo.
La observación de Estrabón a propósito de Sicilia, esto es, que las
articulaciones dirigidas hacia los continentes, y sobre todo las islãs, son las
partes dei mundo más ricamente dotadas, se confirma tan completamente
en ei archipiélago que se extiende de Ceilán a Nueva Guinea, que cada
una dé sus islãs parece haber recibido un capital específico de dones natu
rales que incluyen en ei proceso de desarrolló dei comercio universal en
0
P
r i
163
P
9
"9
9
9
176 " Antologia de textos

h zona ecuatorial. Así se encuentra, en Ceilán, ei elefante blanco, perlas,


canela y rubíes; en Sumatra rinocerontes, tapires, orangutanes, tintes
naturales 7 maderas preciosas; en Bangka los yacimientos de estano más
ricos dei mundo; en Borneo oro, diamantes y mil riquezas más; en Java -

ei alimento más nutritivo, la cebada, conocida desde la época de Tolomeo,


ei árbol dei pan y la cana de azúcar; las pequenas islas de la Sonda
tienen, cada una, especias patticulares; en las Molucas y en Nueva Gui-
nea, finalmente, las autênticas maderas preciosas, ei sagú, las palmeras de
aceite muy rico en sustancias nutritivas, Ias aves dei paraíso y numerosas
producciones de los três reinos de Ia Naturaleza han encontrado su pátria
sin tener que instalarse en ei continente. Aqui, en la más estrecha unión
de los mundos terrestres, oceânicos y tropicales, dotados de las más ricas
producciones de los três reinos de la Naturaleza, la vida física dei globo
terrestre aparece con toda su intensidad y su potência. Si ei grado más
9
alto de desarrolló y de civilización hubiera debido coincidir con una posi-
ción planetária muy favorable, aqui es donde dehiera haberse producido. 9
La ley que dirige ei mundo dei espíritu es, sin embargo, diferente de la
que gobierna ei mundo físico.
Si ei desmenuzamiento en Ias islas separadas dei continente hubiera
sido ei principio general de estructura de la Tierra, lo que vemos aqui
9
realizado en ei más alto grado, ei continente europeo, que tiene 150.000
léguas cuadradas (8.282.000 km2), hubiera podido dividirse en quince gran 9

des islas como Borneo, Sumatra, las Célebes, o comparables en su super


fície a Anatolia y a Espana; los pueblos de la Tierra hubieran estado
perfectamente aislados en una falta total de cohesión. En la forma de 9
Europa encontramos realizado, por ei contrario, ei contacto y la penefra-
9
áón recíproca más favorables, así como ei más perfecto equilíbrio entre
las oposiciones de las formas sólidas y fluidas en ei globo terrestre. No 0

encontramos por eso, en este caso, los inconvenientes de Ia excesiva articu


lación y dei desmenuzamiento dei archipiélago indonésio, tan opuesto a
las grandes masas continentales inarticuladas. En la fragmentación de la
corteza terrestre en ese archipiélago y en su concentración en las masas
terrestres compactas de África, tenemos dos formas extremas que actúan
diferentemente, incluso de forma opuesta, sobre las relaciones naturales
y humanas. Han debido ejercer ambas influencias negativas e inhibidoras
sobre ei desarrolló de sus primeros habitantes. En un caso, en la máxima
parcelación, la etnia más dividida y más desgarrada de la Tierra: los pue
blos malayos dei archipiélago indonésio; en otro, en la máxima compacti-
bilidad de las tierras, los diferentes grupos de pueblos negros se encuentran
en ei entorno natural más monótono, más uniforme y menos desarrollado,
que existe. ^
\ Estas dos formas terrestres resultan bastante poço favorables a la evo 9
lución que hace salir a los pueblos dei estado de barbárie primitiva. Entre
estos dos extremos, Europa, lejos de inhibir, estimula. Su superfície, me m
nos importante a escala humana y, por tanto, más rapidamente dominada
en ei tiempo, su desarrolló costero, sus artículaciones, sus islas, son otros

16-1
P

• Karl Ritter ' 177


s tantos dones que, en comparación con las formas insulares precedentes,
la han provisto de las condiciones espaciales naturales más propicias para
la realización precoz de su vocadón planetária inscrita desde ei origen en
su estructura. Como indivíduo terrestre quizá aparentemente menos pro
visto de dondes naturales, Europa estaba efectivamente destinada a con-
vertirse en ei crisol de las riquezas y de las tradiciones dei Viejo Mundo
ai mismo tiempo que en ei lugar privilegiado para ei desarrolló de la acti
vidad intelectual y espiritual apropiada para absorber y organizar ei con
p
junto de la humanidad. Posteriormente, esta vocación se ha extendido ai
0
conjunto más amplio constituído por ei Viejo y ei Nuevo Mimdo, que,
receptivos a todo, han podido librarse mejor de las coacciones naturales
locales, permitiendo así a sus pueblos alcanzar su pleno desarrolló humano.
En los encadenarnientos de causa a efecto que la Naturaleza y la His
toria nos muestran se puede prever, puesto que ei planeta parece tener
una vocación más nobíe revelada por la continuidad histórica, una organi
zación superior y que por lo demás no seria de naturaleza puramente
física. Esta organización debe ser fundamentalmente diferente de la de los
organismos naturales sustentados por ei planeta, que se mueven eri él y
dotados de una existência forzosamente más breve. Pues si los pensadores
que contemplan la superfície aparentemente disimétrica y caótica de la
P
Tierra se encuentran turbados por los resultados de su contemplación, ello
0 no se debe a la ausência de organización en las relaciones espaciales que
pueden ser analizadas gradas a estúdios más profundos.
A pesar dei desorden aparente en que se encuentra inmerso ei Globo
0
para un ojo inexperto, es en las diferencias entre superfícies y formas
donde reside ei secreto dei sistema interno y superior de organización
0
planetária que expresa una infinidad de fuerzas cuyos efectos invisibles
están en interacción. Estas fuerzas, que influyen en la Naturaleza y en
la Historia, actúan de una forma análoga a la actividad fisiológica que
determina la vida de los organismos vegetales y animales.
Es precisamente en la repartidón diferencial y en la amplitud irregular
de las extensiones de tierra y de água, así como en las temperaturas
0
variables que las acompanan necesariamente y en los movimientos aparen
temente desordenados de los vientos, donde reside la razón fundamental
de su ubicuidad. y de su interacción general. Así, ei hecho de que los
continentes tengan superfícies diferentes explica ei poderio de los pueblos
0-
y la posibilidad que les es dada de dominadas. El aparente azar que pre
side la disposición relativa de las masas de tierra refleja una ley cósmica
superior que ha determinado necesariamente todo ei proceso de desarrolló
de la humanidad. La separación a primera vjsta puramente física dei Viejo
y dd Nuevo Mundo, de los continentes y de las islas resulta ser la esencia
de la relación espacial universal. La desigual distribución de los dones
naturales es ei estimulante fundamental dei desarrolló de los intercâm
0
bios universales. La débil superfície de Europa y la armonía de sus formas
limitadas es la condidón de su libertad y de su capacidad de dominadón-
P ' (-)

165
p
0
0

0-
0

p
p <'•-.

0 V*3
0

r •

P
*
Organizador: Antônio Carlos Robert Moraes
p -,-'•,•
......

• -•*,--

p

*
r
0
0

P
p

4.0 ELEMENTO HUMANO NA GEOGRAFIA;


0 A HISTÓRIA EA GEOGRAFIA DOHOMEM
0

P
0

P
P
0
• •.

P
0

167
9
9
4. O ELEMENTO HUMANO NA GEOGRAFIA.
A HISTÓRIA E A GEOGRAFIA DO HOMEM 9
.': -" : L :: ..-
•'. . • •'
!...': *
§29. Tarefas da geografia do homem e sua tríplice divisão— Se consi
derarmos o homem dentro do quadro geral dá vida terrestre, hão nos seira ^
possível compreender o papel que ele ocupa ria' Tèrrá, a não ser seguindo «*
aquele mesmo'método do qual nos valemos pára estudar a difusão das plàn-:.
tas e dós animais.!Por isso a.geografia do hómèhv do mesmo rhoclo que a ^

zoogeógrafia e a fitogéografia, deverá descrever e representar cartográfica-


mente aqueles territórios onde sê nota a presença dò homem, sepãrandòV
parte da Terra que é pór ele habitada, ou ecumeno, daquelas que não 6 sãói
Ela estudará por òútrò lado á difusão dó hoiriem'déritro do ecúmenò e fixa
rá ós= resultados do seu estudo em mapas da densidade de populações pòli-
gráficas e itinerárias; E há medida em que a humanidade compreende raças, ..
povos è grupos étnicos menores, a geografia dò homem represehtáíámbem -
. á difusão destes elementos diversos através de mapas das raças humanas,
mapas etnográficos, inapas das línguas e mapas políticos. É essencialmente
9
a'esta parte dá nossa ciência que dedicamos a Parte II desta geógrájialdo
9
/ip/we/72 (1891). ••' ;; ",";-. L':r;:. ;.. ' ':. .-:;V; !\ > 9
: ;Á descrição e a representação do estado de coisas antropogèográfico:';
são úteis para-muitos objetivos da vida, do aprendizado, "do'trabalho cientí- .
fico; e; quando ambas sé realizam, pode-se dizer que foram cumpridas mui
tas dás tarefas práticas da geografia do homem. Mas á ciência nunca se sa- • . •
tisfaz por ter respondido à pergunta "ONDE?"; pois quando este guesito •
é resolvido, ela prossegue adiante e passa à pergunta "DE ONDE?'^. Já!ria
execução da sua tarefa descritiva, a geografia dó homem se encontrará diante
de uma grande quantidade de casos nos quais vêm se repetindo fenômenos
relativos ao território juntamente com fenômenos relativos à difusão do ele
mento humano. Passando agora à segunda parte da sua tarefa, esta ciência,

168 9
p
p
84 . .
P

ao examinar a área de difusão de cada raça e de cada povo, se colocará a


questão: "Como se formou esta área?"; e se.apresentarão então ao seu es-
* tudo os movimentos -do homem na sua dependência do território. Na verda-
i%'.,."' de ela se dará conta de;que nenhum povo teve origem no mesmo solo,em
'-?.. que habita então, e dai tirará a conclusão de que ele não poderia .mesmo
*% permanecer aí eternamente/Alguns povos se expandem e outros são expul-
'£•- sos. E diante de todos os movimentos que daí se seguem, a Terra não repre
senta já um elemento totalmente passivo, mas os direciona,' os obstaculari-
- ;.• za, os favorece, os torna lentos, os acelera, os desordena e os" ordena graças
. • • às suas condições incomensuravelmente variadas de posição,,de amplitude,
:.".. -de configuração, de riqueza de água e de vegetação. Quando a geografia se
r- .. aproxima do exame destes fenômenos ela entra*em contato com a história,
p que considera o solo como a pátria do cidadão, enquanto aquela o vê como
p ' :• a pátria da humanidade. Também a história considera a humanidade em mo-
r . . yimento,:embora não costume avançar através do estudo desta até o exame
... Üo território, enquanto-a geografia, ao contrário, não ignora jamais sua
0
"' presença.; ' . •'/•['•. '.'.". i
; As tarefas do terceiro grupo.referem-se ao estudo das influências que
0
a. natureza exercesobre o corpo e sobre o espírito dos indivíduos, e daísobre
ós povos. Trata-se portanto, essencialmente, de efeitos que se devem ap cli
p
ma, à configuração do solo, aos produtos vegetais ou animais do território.
\ Todos os fenômenos, da natureza,.passando através do intelecto, exercem
P r. uma influência às.vezes claramente visível, às vezes sutil e oculta sobre o
ser e sobre.as atitudes do homem, algumas vezes simplesmente se espelhan-
:: do nele, outras animando ou retardando.sua atividade intelectual. Assim ye-
-;, mos q ambiente físico refletir-se. na religião, na ciência, na poesia. Na ver-
,. dade o ,exame destas, influências compete mais à físiologia e à psicologia do
que à geografia; e isto tanto.máis na medida em auetais influências não per
manecem inativas no organismo como traços inanimados, mas continuam
a; produzir, seus efeitos na vida material e espiritual.do homem:, Contudo ;a
• geografia do homem ap descrever países e povos não poderá se desinteressar
pelos conhecimentos adquiridos nesta matéria, na mediçja em que estes to
cam diretamente todos os problemas relativos à aclimatação." •••..; ,.
r '1 . . . - ,:''-i-..-:
r
j §30.;A geografia é.nma ciência auxiliar? — Em contraposição à afir
mação hoje difundida de que a geografia é uma ciência auxiliar da história,
P
recordemos aqui a pergunta de Kant: "Qual das duas ciências existiu antes,
P a história ou a geografia?". Kant responde: "À geografia,está na base da
P história, porque os fatos históricos devem também ter um elemento ao qual
sereferir"37. Enquanto o historiador considera o solo como algo de acessó
rio, ele também atribuí ppucq valor aos serviços que a geografia presta, a
investigação histórica*com o estudo e a descrição deste; mas aqueles seryi-
0 ' -• ••; ••:•-
3? Physische Géographie, I, 12.
W)
0
85 *
9
ços lhe parecerão tanto maiores quanto maior é a importância que ele passa
a atribuir ao conhecimento do ambiente físico. A própria geografia pode con
tribuir para aumentar esse interesse dedicando-se intensamente ao estudo.do
elemento humano, com o.que estará tornando mais fácil à história a investi
gação das mutáveis relações que se estabelecem entre o solo e os aconteci I
mentos históricos que.se desenvolvem sobre este. Mas o nome de ciência au
xiliar não tem no caso nenhum sentido, pois qualquer ciência pode se tornar C'
útil-á. uma outra sem por isso se tornar sua serva. Não há nenhuma ciência C'
que sejatâo auxiliar, assim como não há ciência que não possa prestar algum
serviço a qualquer das ciências irmãs. É neste sentido que consideramos a geo-. .
grafia e a história da humanidade como ciências irmãs, do mesmo modo que
a geografia e a geologia. :- v í*
' '.'['••••] .;i,.0 • • .:'= ;.. '•• . ': - • "••:?!.•. ;.-- -.«.-•.- .. • •;;.••'•
•:;Assim estamos de acordo com Vambery ao entender que, em relação
ao território da Ásia Central e.das estepes européias,contíguas, deve-se sem 9
m
dúvida excluir a possibilidade de estabelecer uma distinção etnográfica,prèci-:.
sa no que se refere às'antigas migrações38. Desde que .esses territórios pós- .
suem o aspecto atual eles sempre receberam povos nômades. Mas se por trásA.
do véu das lendas já muito obscuras não é possível distinguir nitidamente ne- \
nhum.povo, e não havendo portanto a possibilidade da distinção.etnográfica,:.
resta sempre á possibilidade da distinção antropogeográfica: fossem turcos
ou arianos, os povos que habitaram aquelas terras de todo modo sempre -fo
ram pastores nômades. , ;•':•::. •'';' -il; ' •; '•'".'• i 9
. :Concoireu também para diminuir a importância que é dada à geogra-;
9
fia uma razão puramente literária, da qual muitos não se dão conta mas que
9
não deixa de ter eficácia. A história adquiriu na literatura um lugar emihen-
te graças à forma sob a qual são apresentadas muitas de suas obras, e!ao
espírito de que algumas destas se animam. Ora, isto é mais arte:dò que ciên- . .
cia. A geografia, propondo-se em geral a objetivos menos elevados e de üti-:
lidadé prática mais direta, raramente obteve uma tal excelência formal-.- E-•
por isso uma importante parcela da grande fama» considerada por'algunsi
exagerada, conquistada por Alexahder vòn Humboldt se deVè justamente •: •
a que a geografia encontrou nele finalmente,um escritor clássico como des-1
de á Antigüidade já nãò possuía. Por outroiádò.é compreensível.qüé or;es^- •
treitamento das relações entre a geografia e a história tenha servidó'p'ara tór-.;
hár cada vez mais manifesta a grandediferença'existente entre às duas cíêri- -c
cias sob o aspecto literário. Entre todos os geógrafos do sécuÍo:XyiII,;Pin^.-: .'
kèrtón só reconhece algum mérito literário,em D"Ãhville;e estéfoi-^ntre]to-.-:.
dos o qúé mais aproximou o estudo geográfico dá ciência hisfórieâvAlérh;:
disso Pinkerton afirmou, e com razão, qüe os antigos geógrafos trrmam maior .'
valor literário.que os modernos; constatação:que hão deve surpreender se se-
levar em conta que aqueles consideraram os •problemas geográficos sòbjas-. . 9
pectos gerais e se limitaram a descrever um muhdó pouco extenso bü apenas
0
nas suas linhas principais. A propósito djsso Pinkerton compara os 18 volu- m,
. . ' " ::•- . . .. : -•:•: V
9
•JB Ursprung der Magyaren, 1892, p. 9, 11 et seqs. ;:. '• •; . .-. • [ '• •;': :"= \
9
1
9
i

170 . ' • 9

9
i .

86 ; •; •: .
r • l
0
mesde!Büsching sobre• •'a• Europa"ao único e imortal volume de Estrabão.
\" : i
. Mas a crítica não se justifica inteiramente. Pela sua própria essência a geo-
',•-.• gçafia não pôde, assim como não podem as ciências naturais em geral, dar
i . • àJiteraturá. universal tantas obras clássicas quantas lhe pode dar a história;
1 * . estaínãàpoderá produzir apenas naquela parte da matéria geográfica que
V se' limita'com a história'e com a etnografia, e onde a exposição pode ter ca-
r '*. '- ráter narrativo: Mas nesta Consideração não há nada que possa diminuir a
r '•' importância que cabe à geografia ao lado da história, pois neste argumento
• •• as razões formais não têm valor de espécie alguma.1- ••
i •;.i : :r? >:. • ••:• :.,.• .'ò'h*.:. •.! . ; . ;-•• •• ' •• •• s/'.F*
! §31. Razões práticas que determinaram a afirmação do elemento hu
mano na geografia — A geografia já se ocupava com predileção particular
r dó homem e de suas obras muito antes que os fenômenos resultantes da união
do homem com a Terra fossem, pelo menos em parte, atribuídos ao seu es-
tudo;eisto por uma razão deordem exterior. Na história de toda a ciência
. ocorre queo homem rio princípio é tudo; depois, pouco a pouco, o objeto
. i efetivo do estudo se liberta do invólucro ideal para se lançar enfim, comple
tamente depurado, à investigação objetiva. No estudo geográfico este pro
cesso se realizou com uma lentidão particular. Por muito tempo se pensou
que as regiões terrestres tivessem importância apenasipelas suas relações com
0
o homem, e essas relações ocupam sempre a maior parte das obras também
de geografia científica. Por motivos de ordem prática ocorre que de todas
as coisas existentes sobre a superfície terrestre aquelas que pertencem ao ho
mem ou têm estreita relação com ele.se impõem em maior medida ao espíri-
^ to humano. Estrabão considerou Homero como.opai da geografia "por ter
p ele superado todos,os seus prédecessores e seus sucessores não apenas na ar
te, poética, mas talvez também no conhecimento da vida civil".: •..
Esta predileção pelo. elemento humano é sempre uma característica do
P estudo geográfico, mas é também um perigo constante que ameaça.seu cará
ter científico..Toda vez que uma ciência reúne ao mesmo tempo elementos
humanos e elementos naturais, são .os primeiros que invariavelmente predo
minam. Basta recordar Oi que aconteceu com a biologia geral pelo amplo es
paço que esta ciência dedicou a anatomia humana, à fisiologia e à psicolo
gia. Mas para reforçar esta tendência a que aqui se acenou concorre ainda
um segundo motivo, .também de ordem exterior, que é o fato de que na lite
0
ratura a descrição dos territórios e a descrição dos povos quase nãò sé'apre
sentam mais separadas uma da outra, e isto especialmente quando se trata
de países e povos longínquos. Ademais, é exatamente esta íntima ligação dos
dois elementos, que confere particular atrativo às narrações das .viagens. Por
isso ocorreu que ambos ps argumentos fossem estudados e tratados pelos
mesmos escritores, de modo que geografia descritiva e etnografia permane
cessem intimamente ligadas entre si tanto na investigação como no ensino.
Há finalmente uma terceira razão de caráter prático como as anterio
res que induz a geografia a:se ocupar com particular interesse do elemento
humano: esta deve ser buscada np abandono em que todas, as outras ciên
cias deixaram sempre o estudo de uma grande quantidade de fenômenos que
se referem ao homem.. Assim a investigação histórica inicia suas pesquisas
87
>•*

a partir do momento em que aparece o documento escrito; e a antropologia


até muito recentemente sé ocupava apenas ;dò corpo humano, de modo que
a história e a etnografia dos povos primitivos esemicivilizados ficassem in
teiramente com a geografia; e.està tinha que, querendo ou não, tomá-las
para'si, tanto que ainda hoje a etnografia é estudada e ensinada por geógra
fos e freqüentemente tem em comum com a geografia as mesmas revistas,
livros, bibliografias e obras cartográficas, •'.-vy.-y. : ?.•".••.•••>*m \ •
"1*Óra, à medida que a etnografia e a ciência social foram se desenvol
vendo por cõhfa própria, verificou-se na verdade como a antiga união da
geografia descritiva e da etnografia estava apoiada em grande medida em
razões de ordem exterior, mas ao mesmo tempo o desenvolvimento da geo- .
grafia do homem abriu um novo campo sobre o qual as duas ciências apare
cem novamente reunidas, sem com isto perder sua independência»
; Osfilósofos climatistas, ou seja, aqueiés qüe sustentam a teoria das rá
pidas transformações dos .povos por efeito do clima, distorceram e reviraram •
em todos os sentidos a natureza de modo a fazê-la servir a seus objetivos;
e nesse sentido suas teorias apresentam, sob o aspecto lógico, um certo inte
resse, embora de caráter negativo. Raras vezes ocorreu de a ciência trabalhar
por tão longo tempo com um material tão inadequado. Kant pretende demons 9
trar qüe toda a raça mongólica provém das regiões setentrionais, epor:isso
exagerou desmesuradamente as influências do clima frio. No rosto largo e sem 9
9
pêlos, no nariz longo, nos lábios finos, nos olhos semicerrados dos mongóis
9
ele vê modificações produzidas pelo clima infeliz das terras nórdicás,; onde
"tudo é árido". Assim/dos anões do norte quenãó existem de fato em lugar \
nenhum se fez uma raça especial; E. A. Zimmermann, ao contrário, escreve
que a presença de comunidades de anões na África e em Madagascar deve
ser atribuída à emigração de alguns indivíduos deficientes. À alta estatura dos.
patagôriios foi objeto de amplas discussões, pelo fato de que'estes habitam
muito próximos dos fuegos que são provavelmente anões. Mas se chegou a-..
afirmar que se as terras do hemisfério austral avançassem antes em direção
ao pólo, também os patagônios teriam altura inferior. Naquela época a geo
grafia da América permanecia completamente à mercê destas teorias. Assim,
para demonstrar que o fato. de os americanos, também das zonas tropicais, •
terem à cor mais claraJque os negros resulta unicamente de que a.América
tem climageral frio, induziram-nos repetidas vezes à pesquisa das influências
moderadoras do clima americano, até^ quèafinalmente Alexander von Hum
boldt não mais levasse esta afirmação* a um terieno positivo da observação
experimental, limitando-á assim dentro-de estreitas fronteiras. Entretanto Coh-
damihe afirmava que os.índios da América dó,Sul se tomam mais escuros
à medida.que se avança em direção ao equador; Bourguer achava que os ha
bitantes-da encosta pacífica emais fresca dós Andes são. mais claros que os
habitantes da encosta atlântica, mais quente., • • ••••.• .• ' j. • ;.! :•;(":.> i-1
A estas duas observações inexatas se referiram durante todo o século 9
•XVIII todos aqueles que quiseram demonstrar também na América a influência 9
do calor sobre a coloração escura da pele. Maupertuis, em; Vérius physi-
9
l
172
p
. íyi . r- VI . •

p O
88
. •_

0
que, II,.cap. I, afirma que os negros africanos habitam entre os trópicos
P
e formula, não apenas para a África mas para toda a Terra; a lei: "À medi
0
da que se afasta do equador, a cor dos povos se torna gradativamente mais
clara"; e explica este fato, como também a difusão gepgráfica dos povos
r-
anões.e dos gigantes, de um modo original, errado sem dúvida, mas sutil.
0 Quando, diz ele (op. cit., II, cap. Vil); anões, gigantes e negrosrse apresen
0 taram entre, os outros povos, a prepotência ou ó medo armou contra, eles
a maior parte do gênero humano, e a espécie humana mais numerosa deve
ria expulsar estas "raças disformes" para as regiões menos habitadas da su
0 perfície terrestre. Os anões recuaram em direção ao pólo norte, os gigantes
0 escolheram como sua sede o.território de Magalhães e ps negros foram mo
0 rar na zona tórrida.
;. Uma das circunstâncias mais características na evolução desta ciência
0
é que já hádois séculos Ortelius, que no seu mapa da África, contido no
seu Theatrum Orbis Terrarum de 1570, tinha chamado os indígenas:do Ca
bo; da Boa Esperança pelo; nome dznigérrimos, tinha chegado à conclusão
0
de-que a.causa da sua cor. não; podia ser atribuída ao mais intenso calor so
lar, porque nesse caso os habitantes do estreito de Magalhães também deve
P riam ser negros. Este.era portanto o caminho correto a ser seguido para se
0
compreender que os movimentos dos povos, dada sua breve duração, nada
têm a ver com as modificações das características raciais, que só se produ
p
zem em períodos muito longos. Infelizmente o fato de ter pretendido encon
trar uma relação entre estas características e o clima sempre impediu o estu-
do.geográfico de seguir por este, que.era o melhor caminho. Buffon, susten
tando o conceito de uma enorme adaptabilidade do organismo humano às
condições climáticas, foi quem contribuiu em maior medida para ireforçar
0
o antigo erro. E à sua influência não se subtraiu inteiramente nem mesmo
G.Forster, embora este como observador arguto tenha conseguido tirar uma
f
conclusão exata da premissa da natureza plástica, da massa humana. Nas
suas Anotações filosóficas feitas durante uma viagem ao redor do mundo
13_çf»' ' •..•'-'••.*•,•. . •' •' ' .. •'••.('

•Í "Se portanto a influência do clima é tão poderosa como afirma Buffon não
deve fazer muito tempo que a ilha de Malücolo é povoada, pois desde que vi-
:vem naquele clima moderado seus habitantes não mudaram ainda nem sua cor
0
negra originária nem os cabelos crespos". ". :.:.:- • ' •' ' '• :? 'i • ' :.
0

0 r §32. Que lugar cabe à geografia diante da história."—-A.grande e às.


0 vezes exagerada importância que se quer atribuir-ao elemento humano.no
r estudo geográfico serviu para tornar mais difícil a compreensão; das relações
0 que existem entre a geografia e a história. Que a história tenha necessidade
0
de recorrer à geografia para poder representar, medir, descrever o teatro dos:
acontecimentos políticos e as formações territoriais que daí resultam-; isso
foi compreendido claramente já por Ortelius quando este publicou seu pri
0
meiro mapa cartográfico.: Ortelius afirmou que a geografia e a cronologia
r são as duas colunas basilares da história. Dankwerth e Meier na sua Neue
0-
178532 ! 89
:
9
Landesbeschreibung der Herzogtümer SchleswigundHolstein (1652) consi
deram a geografia e a cronologia como os dois faróis principais da história.
Mas a história fez uso destas em graus muito diversos. Já há muito tempo , .
que as datas são consideradas como um elemento indispensável para a nar
rativa histórica; mas por outrolado mesmo nas obras mais profundas buscam- \ .
se freqüentemente ém Vão os dados numéricos relativos aos elementos geo
gráficos da história, como áreas, cifras da população, desenvolvimento das
cornunicaçõ.es_etc. Áté a geografia histórica ignorou de modo^estránhó os !. ^
dados relativos às dimensões dos territórios políticos, dos países, das pro
víncias etc. : . . . • : • -.. ,•,;•• úit:.:••' |; ..
É verdade que Karl Ritter afirmara: "O lugar da história não é junto
à natureza, mas dentro desta". Não obstante isso, no estudo geográfico a • .
importância atribuída ao elemento humano tinha de tal formai minimizado'-;.
9
o interesse pela natureza que Guthe, um verdadeiro seguidor de Ritter, atri-. •
9
buía à geografia a tarefa de nos fazer conhecer a Terra enquanto sede: do ;
9
homem. Na primeira edição, lançada em 1868, â&Lehrbuch der Géographie,.'.
9
que depois foi'tão profundamente transformado; por Hermann Wagner; de:;
modo a fazer dele o melhor tratado de geografia dos nossos tempos, a parte .. 9
que Guthe. dedica à geografia, física compreende 68 páginas*,, enquanto a ... 9
parte dedicada àcorograíia.eàgeografia política^ocupa 479 páginas. O pri-;-:
meiro parágrafo da introdução de Guthe assinala;, •.. . . .;,', . >
9
i"A geografia nós ensina a conhecer a Terra como sede do homem; èstárião. ., 9
•. :é de modo algum Uma simples descrição da Terra com seus mares etc.-j embora
:ao descrever a superfície do globo ela coloque o homem entre os outros seres,.' .
e.nos mostre como por um lado este se encontra em estado de dependência
'da
u a natureza
iiaLUicí.n que
ijui- o
u circunda
uiv-uiiua e.
t. como
u ; i u u por
p u i outro
u u u u tém;tentado
i u i i . n , i i i a u u se
oi» subtrair
ouuuaii aa éssá
vjou •

jdependêncià, com o que a geografia vem a constituir o elemento de conjunção . 9


.-entre, a:ciêhcia natural e. a história".. .• .';• /• \.:...;.J., • -.-' .-.,..V'..Í '••*.*? 9

É esta a ação dò.'conceito que Playfair havia expressado em 1808rió seu '••
System of geography: "O estudo da geografia é necessário para conhecer
o,teatxo da história". Mas esta é uma consideração de valor puramente prá-}
tico é foi um erro introduzi-la na ciência. : •;.> 'V.''•••••• 9
•Diante de concepções deste gênero é necessário afirmar enfaticamente .
9
que á' geografia deve antes de mais.nada;estudar è descrever a Terra, inde- •'•'
pendentemente de quaisquer considerações acerca do.elemento humano e his 9
tórico; e que a realização, desta tarefa, que é específica da geografia, deve
preceder o. cumprimento de outra tarefa qüe esta tem em'comum, com a
história no campo antropogeográfico. Mas as.duas tarefas são inseparáveis "••
uma dá outra. Certamente, para usar as palavras de Karl Ritter, "a ciência '
geográfica não pode desprezar o elemento histórico, se pretende ser verda
deiramente um estudo do território e não uma obra abstrata, uma moldura
• -i - ' . ';'; cii ':•'••', ;..:•.:•• ?' ' •*
* Wagner, Hermann. Trattato di geografia generale. Turim, Fratelli Bocca, 1911. v. 3. Nesta
edição, o volume 2, dedicado à geografia física, compreende 530 p. . ' . • ._,

9
174 . 9

9
~ . 90 ... ... * •... , . •
. . . . .

P .-,£•» -;/ •• ' . ? . .". .• •;•'•• • • •• . .


através da qual se veja o' espaço vazio e não o quadro que essa deve con-
'•'"',. ter''3?i Do mesmo modo:a história não pode desprezar a geografia por
que-os fatos que esta. contempla têm necessidade de um teatro onde se de-
\ . '; senvolver:: •''•• ' '•••••i".-.ij" :v? .•• 1- '•: r: •• •,-M !.-?": •:•-• ':••••• '•
•» .. .;;."esta deverá em todas as suas formas acolher em si, mais ou menos çlaramen-
... i'j'f."te, um elemento geogfáfico,.seja como em Tucídides eJohann von Müíler pre-
:';.'.{ :-.'. cedendo a narração de uma visão geral do território, seja como em Heródoto,
'"":• . ''.Tácito e outros mestresinserindo a descrição geográfica, no curso da narrati-
.. : "i''.: ;-ya, ou seja, finalmente como em outros escritores apenas aflorando pelemen-
;. .to geográfico e extraindo.dele só a entonação e a cor. Â<filospfia da história,
*• '1 'Atal como foi pensada .por Bacon e Leibniz, que;Herder esboçou e que outros
*»• :"; ;• •' irecentemente tentaram levar adiante seu desenvolvimento, teve que atribuir a
P . •...i. .:- este elemento geográfico.-.um lugar cada vez maior"4.;.:J .-.-.• .-•;.,:1 • -.',.
.*.! • '' Entretanto a tarefa.mais importante da geografia continuará sendo sem
pre á de estudar, descrevera representar a superfície terrestre: Porém, mes-
. nio: atribuindo à história' o estudo dos acontecimentos qüe sé sucedem no
têmpora geografia as condições de fato dò território,'não se pode esquecer
; que todo acontecimehto.se faz no espaço,'e por isso toda história possui seu
teatro. Tudo que hoje constitui o presente será história amanhã;,por isso
o material da geografia vai passando ininterruptamente pelas mãos da his-
, tória. Çompreende-se a partir daí que uma nítida separação entre as duas
ciências não seria logicamente possível, mas. que ao contrário é necessário,
• •' para-que ambas possam, desenvolver uma atividade profícua, que elas atuem
intimamente unidas..A.frase de Herder de que a história é uma geografia
em movimento permanece verdadeira também inversamente, e disso se se-
,. gue que a-história não pode-ser compreendida sem o território onde ela se
• desenvolve, eque a geografia0de qualquer .partevda Terra não; pode ser re
presentada sem conhecer a história qüe imprimiu sobre: esta suas pegadas.
Todo mapa tem que ser examinado tendo presentes os elementos históricos
aí referidos, do mesmo modo que sem o mapa não seria possível compreen-
der/nenj as modificações.das fronteiras/nem as variações do tráfico ou das
sedes humanas, nem os.movimentos dos povos/: !.".;•:=;•.;•• ' u- i:-ti •• : S's
'. | ;•; A'partir do conceito, que temos da posição do homem na natureza re
sulta, quanto é imperfeita a concepção que considera a importância do ele
mento geográfico na;historia partindo de critérios de ordem puramente ex-
f. teriores. Isto significa, para nos exprimir praticamente, que a introdução à
r
história de um país não deve ser uma simples descrição corográíícajistp por
que, mesmo que esta descrição seja colorida e fiel como a introdução à Ges-
chichte der SchweizerischenEidgenossenschaft de Johann von-Müller, ou
0
como a introdução à Griechische Geschichte de Curtius, ela contudo não
0 [• -' ': • . :• :' :,-•:•? • - - :.' ' •• • •-::•.-:• •••:-v. . ':.r\::.
0 —• t '.••. • - • . " . .
. J? Ueber das historische Élement in der geographischen Wissenschaft, conf. 1833. Publicado
0 na Einleitung zur allg.veügl.Géographie, p. 152. ":••"' -'. > :;. ; '.""• •" • '•'
•"'Ibid., p. 153. >' ••• ..•••=• '• >-'
I
,75
^
^
IQG/UFG 91 ^

atingirá minimamente o seu objetivo se não examinar além disso a relação 9
geográfica entre esse país e a inteira superfície terrestre e não nos mostrar 9
que ás influências recíprocas que se exercem entre povo e território e entre
este e o Estado são ininterruptas e governadas por rima lei de necessidade.

§33. A história universal deve abarcar toda á Terra — Mas nesta união
das duas ciências não se deve considerar uma, história limitada ao estreito vj m
círculo da"*6ür.ó£a e dos países mediterrâneos, assim como esta se nos apre 9
senta nas abordagens usuais.. , .:•,••;. i; , ,'"-. ,. 9
Na verdade a razão filosófica, da qual derivava essa-limitação, não pôde
9
impedirque a história acolhesse gradativamente.no seú seio unia parte cada •
vez maior daquela matéria, qüe de resto pertence à etnografia..E o estudo 9
comparado dos jpovos.uma vez iniciado não. podia certamente ser interròrh- . 9
pido. Não podia permanecer ignorada ajusta advertência de Heinrich Barth:
"Mesmo os movimentos dos povos da Áfricacentral têm sua história; e ape-.'
nas quando eles também passarem a fazer parte do grande quadro histórico
da humanidade poderá este.quadro aproximar-se da sua realização".4?... .
; Hoje uma história universal da civilização não.poderia.máis, sem con
tradizer seu próprio nome, eximir-se de considerar os mexicanos,;os jàpoiae-
ses„os malaios; e toda história dos Estados Unidos da Américatem que de- -
dicár .um grande espaço às condições dos povos primitivos que existem har . 4
quele território e aos acontecimentos que a eles sexeferem. Uma obra como «|
a História da Nova Inglaterra de Palfrey não seria còncebível se não tratasse
da influência política que .exerceu sobre a história universal a incidência! de 9
povosprivados de história, como fizeram Saíústio.e.Tácito em seus.capítu 9
los sobre a África. Mas em relação a isto a filosofia da.história não ilumi
9
nou em.nada a obra dos narradores. Um erro fundamental que falseia a cònr
sideração filosófica da história é, e tem sido senrpre, o desprezo ao elemento
geográfico, desprezo, que significa também uma visão.histórica limitada.
Pode-sé afirmar antes que toda a direção construtiva.da filosofia da história .
alemã não teria; sido forjada se aqueles cientistas tivessem atribuído maior
importância ao elemento geográfico. Kant* que .também foi; grande,amigo'
e conhecedor da geografia, foi o primeiro .aiintroduzir-se por uma-estrada , ... •
falsa,: que.Fichte, Schelling e Hegel seguiram depois, chegandoia ürh; resul
tado geograficamente absurdo.'A idéia de Kant de que a história.da;huma- • •.
nidade deva ser considerada como a realização de um projeto secreto da na
tureza, visando áefetuarümáconstituiçãopolíticainterna e exteriormente
perfeita, não tèriá sido possível se não com a tácita premissa de que ò proje
to compreendesse apenas a história da Europa, que a Europa devesse, por
assim dizer, fazer a história de todos os outros continentes, qüe provàVèl-
mente deveriam receber da Europa algum diá süás leis. Em Fichte esta pre- .^
.: -.'..• '•' .' ' ."•' '!;'" "'..' ' \". "-:-.' Y
—: •'.. '.-. '..rv ;-•? • **«'.;- --• j 9
"" Barth, Heinrich. Reisen in Nord Zentralafrika, II, p. 82. t !.

176 . . 9
92
p
p
missa se apresenta como a condição necessária paraa determinação dos seus
p períodos históricos, e.por isso se expressa aqui sem nenhuma atenção ao ele
0-
mento geográfico; pois este.pensador audacioso declara que se.limita a seguir
. aquele fio da civilização que conduz até nós, "interrogando.apenas a nossa
história, isto.é, a história da Europa civilizada, que é a sede atual da civiliza- •
•. çãô1, e desprezando outros fios secundários que não conduzem diretamente
a nós, coinp. a história da civilização chinesa e indiana"42.
•V;•''•.I A par com este cçnçeito.está p outro, também de Fichte, que admite
.que tenha existido um povo primitivo originário, no:* quala razão dominava
. "como um.instinto cego", que-regulava, sem constrição ou esforço, todos
\ • os eventos humanos. Mas a limitação do conceito de história se manifesta mais
qué em:qualquer outro em Hegel para quem, segundo uma expressão sua fre-
. qüentementé citada, apenas é história "aquela que constitui uma época es-
p .•. - sencial na evolução do espírito humano", e que por isso devem ser excluídas
do círculo das considerações histórico-filosóficas não só a zona glacial e a zo-
p . . na tórrida, "porqueo calor e o-frio são forças muito poderosas que não per
0
mitem ao espírito humano criar um. mundo próprio, mas igualmente a Áfri-
0 ' ca,|na medida em que não se observa aqui nenhum movimento de evolução".
P
e a-América,; cujos pensadores mais ágeis e mais modernos exclui, porém ape
nas formalmente, para representá-los depois em perspectiva. Estas idéias não
têm absolutamente nada de geográfico, e não refletem inteiramente a amplia-,
çãp do horizonte intelectual, que é sempre a conseqüência necessária e mais
importante do estudo da geografia, mas manifestam um enorme deslumbra
mento diante da natureza das coisas. E se observe, por outra parte, como es-
. sasjidéias deveriam seenraizar, a ponto de que o próprio Augusto Comte pô-
0 . de afirmar explicitamente.que seu estudo histórico-filosófico se limitava aos
poyos de raça branca, e por'outro lado dedicar uma preferência tão acentua-
. da :aos habitantes da Europa.ocidental, corrio aqueles que constituern uma
civilização mais avançada e representam a elite ouavantgarde de l'humanitéfz..
1 A história universal,tal como é entendida pelos nossos escritores de his
tória, está ainda muito longe de ser uma história da humanidade; mas tam
bém a história particular, que deveriatomar em grande consideração as ob
servações de caráter topográfico, raramente consegue tirar partido dos meios
que a ciência irmã lhe poderia _fornecer. ...
' Mas se deve observar que em Comte a limitação tem mais um caráter
meramente temporário e se move por uma razão metodológica: •... \. ?
"Leur appréciation spéciale doit être systématiquement ajournée jusqu'aü"mo
ment oú, les Iois principaíes dumouvement social ayant été ainsi appr&áées dans
P ,-.. . . ... . . •

42 Um filósofo da história, moderno e menos abs.olutp, acrescenta que se ele assim não;p tivesse
. feito, o sistema dos seus períodos seria inevitavelmenteconfrontado com a real variedade da ma- ,
teria histórica (Bernheim, E. Geschichtqforschung und Geschichtsphilosophiê, p.'27).' •
43 Phiiosqphie positive, lição 52? . . . -
: i

177
9
'•' ' ; 9
Í93
: " ' . • . ? 9
• j •'. •' . • '•" :- ••'- • 9
:; le cas leplus iavorable à leur pleine manifestation, il deviendra pbssible de pro- 9
!ceder à rexpHcatipn rationnelle des modificatioris plus ou moins importantes".

Se de fato, como diz Comte, a evolução histórica.tende a reunir toda a hu


manidade em uma sociedade tín/az* e todos os acontecimentos anteriores não
representam senão uma preparação para esta, então ele deveria-prever que
o movimento histórico acabaria por abarcar toda a Terra. '
i

"""i"1-—-_ .. *• .• •• . • ''••;•'••
• . . .
• ,
9
'• • 9
n
:


9
'
,9
: •• ••
:
i 9

9
: • 9
• : •.-:•••••.. • . • ?fe '..* • -

9
•':'''
1 . •
9
'•••: 9

t
Si

í"
I " .
9
'•• "-". ' 9
V
'•
•9


•9
.•••• -J • ..• :


9
•'• •
- .. :•' 9
».

: .
-. -v ;. . .,r.. • ': • • • :•••'• •
i ..« 9
. t

• !
t
- .
*•

•í

.: • .. >•»•'-*

X. •. »' i .'•"-' -f: . '• v

• •• ' .
: > •

» * * • . • • . "••(•
... .. - i
"/ .
'.." *>
•:;
•• ';. • ! •*•'.-

,jf, '•'•- > 9


9
' i
• •. . • .• - • • .. .••-' • •. • v

9
• * • • • 1 '
-; -

... • ":* •-. ... .*;. v .-.J. ..*.:.-'"•.* . .. y.- • t" ."' i- ,' 9
'. . i' •
9
i

I
' •' ...
•• ' ..
' ir -^ .< i •
• • . *
I

1
•9
. /.•:•.
. _. ; • '..-:: >; •/• • •*•'! i '-' * .
9
:• ; •.
'•- •:• ' ' . i • • " '' "...-. "•". •-..- .;-•*•'- i 9
_ •
. ; : - -.' -." • •'- .' ;•. . . t
t

1 - .

-
; 9

• •.'... I7S 9
-

9
0
• '• •' / '^ \s •• * -• - .
'

P
0
r

• n -. >;•••• .:; .«•-• ' :"•'••• *V-'. • *¥. •' ' •'•••- • •• •' : • ". . • :
. IÍ :*&«A •••-^/^:V- ;;;- -\ •• '. í*.- ?V* "^>*• f' .>: ,
0 ,•-:•/..••'.; ': • • h ..• ••;• •..-•"-•. -• ••. =;*•:»•• :. /••.•..•«
.-•':• • . > • •.':.-••- i . ..' •
r

r
.. •
0 •i

r i

• i, -'.- • •:. a . . : : .;
i \ • .; . . .': ' • -• • •.-=.•
, .. . I . . .j.. . . •, ..
'
,— w'í- • •

,:•
0

5. TAREFAS E MÉTODOS DA GEOGRAFIA DO HOMEM


0
\ >.'• ' ; «.' ••• 5"-'-.^'. ' • "•••• : •' "•
§34. A geografia do homem é uma ciência descritiva — Assim como
toda a geografia, também à geografia do homem é principalmente uma ciência
descritiva. O que significa, para se compreender exatamente, que esta. não
realiza um trabalho de investigação profunda. Consideremos que se p tra
balho de descrição não basta para.completar a obra. de uma ciência, este é
necessário porém para preparar suas conclusões. Não é uma falha para uma
ciência ser descritiva, desde que ela não se limite exclusivamente ao trabalho
0
de descrição, já que nesse caso a ciência não atingiria seus objetivos supre
mos; pois, quanto mais esta se detém nesse trabalho, tanto pior resulta sua
0
obra. De fato, se não houvesse outro motivo para induzir uma ciência a sair
0
do campo da pura descrição, as próprias exigências desta deveriam impeli-
P
la, pois entre todas as lições qüe a história da ciência nos fornece uma das
r
mais importantes é exatamente esta, que à medida que os acontecimentos
'. avançam, a descrição vai se tornando cada vez mais completa, mais profun-
daj mais intelectuais portanto mais clara. A propósito disto comparemos
as descrições botânicas de Gesner e Rauwolf ou as descrições zoológicas de
Linné com as descrições que se fazem atualmente com base em sistemas na-
. turais e levando em conta a paleontologia e a embriologia, j
Toda boa descrição presume o exato conhecimento do objetoqué deve
ser descrito, e, ao mesmo tempo, dos objetos afins mais ou menos próxi
mos, com os quais esse tem muitas características em comum. Desse modo,
uma vez conhecidas essas características, não é mais necessário refazer sua
descrição a cada novo objeto; mas basta, em vez disso, designar o. grupo
P
afim para saber com segurança que características se encontram no objeto
r
que a este pertence. Assim o nome rosaceae evoca em minha mente uma fa
0 mília de plantas que apresenta as principais características da rosa. O nome do
O
• . 17')
p
9
I78Ü35
Í95
gênero rosa me recorda por sua vez um grupo mais limitado de característi
cas particulares existentes no interior daquela família; finalmente bastam pou
quíssimas palavras para indicar as características, da rosa canina. Do; mesmo
modo a frase:' 'Os gregos são um povo pertencente à velha civilização medi-. •
terrânea" é suficiente para evocar em nossa mente muitas características éeo-. '
gráficas e étnicas. Por isso um bom trabalho descritivo pressupõe a existên 9

cia de uma classificação; não contudo semelhante àquela que, movida por 9
urriã espécie de horror vitae, considera os povos separadamente do .territó 9
rio que é a.sua base, e os estuda depois de tê-lqs destacado dá vida que os 9
anima; nesse caso pode ocorrer que organismos importantíssimos na exis-:
9
tência dos povos, como por exemplo as fronteiras, sejam considerados co
mo simples linhas ou divisórias, e não como instrumentos vivos no desen 9
volvimento dos fenômenos máximos cujo teatro,:é a Terra. . ! s:
;-;-- :'.,-..-'!-..": , - • ' t •..-•!> •.:*//. : • :••••'• .."{• ri
§35. A classificação antropogeográfica — Ávida dos povos e. dos Es- •
tados que possuem territórios semelhantes entre si apresenta também ferio-: •
menos análogos entre si que são por isso suscetíveis, de uma classificação;;.-.
e é necessário estabelecer essa classificação antes de prosseguir nó estudo cien-
tíficó. Esta é uma necessidade da qual não se dão conta aqueles que apise ••:':.
defrqntar com uma ciência descritiva pretendem,certamente estabelecer bis •
naturais. Hoje, no que se refere às classificações, a geografia do homem tem ;
uma tarefa muito ampla e não privada de dificuldades particulares. Tome
9
mos um exemplo. Os povos internos e os povos costeiros, os povos monta- -.
9
nhesés e ps povos insulares representam tipos que se encontram em todas. t
as zonas, variadíssimos em termos de extensão e de qualidade. As pequenas • '
e pobres tribos de esquimós da América ártica são comunidades costeiras
e insulares, assim, como os índios que moram adiante deles são povos inter- '•"
nos. O tipo rude, grosseiro, belicoso do filho da montanha e o do navegante r
e mercador refinado, hábil, pacífico, se nos apresentam por toda a parte^ào
longo da história da Grécia. Esquimós e índios, atenienses e trácios, fehíciòs •'• •
e hebreus são pequenas manifestações do grande contraste que se manifesta ."
entreicomunidades e. potências continentais e marítimas, e cuja influência 9
podemos verificar, em toda a história universal.,.':.. :,. *. , .' :• j; .jiiÇ-Ji'../• • 0
, Esta classificação natural que se baseia ria variedade dás sedes dos po
9
vos podeser levada muito além. Assim como a Terra sé apresenta tão vária- •
9
da, também são variadas as influências que ela exerce sobre os povos e'so--<
bre os Estados. Ornar é1 apenas um onde* quer que seja; mas os póVós,-os
Estados e as.cidades situadas no Oceano Atlântico desfrutam de condições
naturais diversas daquelas.-que se encontram no Pacífico, e o mesmo se diga
das comunidades do Mediterrâneo em relação àquelas que vivem no Bálti- r
co. As influências da natureza variam de.zona pára zona. Cada continente
e cada compartimento natural de um mesmo continente apresentam carac
terísticas particulares das quais participam os povos e os Estados que vivem m

nó seu território. Os Estados europeus e os Estados americanos serão sem- •


pre diversos entre si, mesmo que algum dia suas diferenças possam ser um
9
.9
180 • 9
9
p
p
0
96

0
tanto quanto atenuadas. Assim também os povos da América setentrional,
meridipnal e central constituíram sempre famílias naturais distintas.
r
•| -Além disso, assim como os homens pertencem a grupos naturais e de_
civilização diversos, a etnografia distingue entre povos negros e povos ín
dios, entre povos civilizados latinos ou germânicos e povos primitivos. Mas
; para à geografia do. homem a classificação mais óbvia e mais natural é a
que sebaseia em distinções geográficas, isto é, na posição e na natureza do
.. território habitado; e estabelecer esta classificação é precisamente uma de
suas. tarefas fundamentais.' Crê-se contribuir justamente para essa pbra em
'. cada uma das páginas qüe seguem44. •• :'••'•• • >'] "•
p .;•; •>:;. .-.V-. !•••••:•. •?.'•• • .,-.i::\'4'-r '""•.' :"V- :^:" •;:-•' "-• •'
0 í ' y ' §36. O método indutivo — A classificação representa o primeiro pas
so do método indutivo. Na verdade o processo de comparação se torna já
p
manifesto em todo o trabalho de classificação dos povos baseado no exame
das suas sedes; e o mais simples dos mapas etnográficos leva à comparação
p
dos vários territórios que este apresenta sob o aspecto da sua amplitude, po
p
sição e configuração. O mapa etnográfico representa o instrumento de in-
p
•/ düção próprio da geografia do homem. É sob este aspecto principalmen-
f ti' que a'antropogeografia é uma ciência comparada. A expressão géogra-
0
, fia comparada foi usada sem reservas depois que Karl Ritter fez dela pre-
0
\ missa da sua grande obra sobre a geografia da Ásia e dá África. Pela forma
: como a utiliza Karl Ritter está expressão significa a contraposição à géogra-
; fíà puramente descritiva- que é privada de conteúdo intelectual e por isso
imperfeita na sua descrição. Ritter poderia dizer do mesmo modo "vergeis-.
: tigté Erdkunde" em contraposição aos *lentgeistigte Erdkunde1'de seus
predecessores45..Mas estaremos correspondendo melhor à verdadeira natu-
p . .reza da geografia, se à geografia de Ritter dermos simplesmente a denomi
nação de "sintética". Esta denominação nos dará/ao mesmo tempo oportu
0
nidade de recordar como é inexata a concepção daqueles que consideram
a geografia como uma ciência dedutiva; porque, se é verdade que o geógra
0
fo tem os olhos voltados constantemente para toda a Terra e está sempre
. '"• pronto a passar das considerações de um fenômeno singular à consideração
de uma série de fenômenos; isto é, do procedimento analítico ao sintético,
0
esta disposição todavia não significa exatamente a renúncia ao método' in-

44i"V. a última parte da Geografia do homem, v. II: "Classificações e mapas antrópogeo-


gráficos". . . ....'.-' ' '". ' .. ; ~—^.^
•Enquanto Karl Ritter trabalhava na; geografia à qual ele deu, com um sentido" particular,
o nome de "comparada", ocorria que nesse mesmo ano de 18'31 a mesma denominação era
empregada em duas obras importantes, cada uma com um sentido completamente diverso, de
modo que se tinha ao mesmo tempo três tipos de "geografia comparada". Rennel, na sua obra
A ireatise on the comparative geography ofwestern Ásia (London, 1831), empregava o termo
compdrative geography em sentido puramente histórico, pretendendo designar o confronto en
tre as informações geográficas dos escritores antigos e dos modernos acerca de um mesmo ter
ritório. Por sua vez J. Yates utilizava a expressão comparative geography para indicar o con-
.fronto entre as formas de teYreno, e a consagrou no seu estudo Remarks on the formation of
alluvial deposits, publicado em 1S31 no New Philosophicaí Journal. • •

isi
9
97 _ 9
9
dutivo, mas simplesmente que usa como recurso um segundo procedimento,
do qual a geografia pode, em alguns casos, tirar:proveito. I
»" Se para a geografia a possibilidade do estudo experimental fosse tão am- •
pia como para as outras ciências, à necessidade dp procedimento comparati
vo seria menor. Mas se já para a geografia física é difícil a aplicação do méto
do experimental para estudar a sedimentação sobre um fundo do mar a 9 000
metros de profundidade, ou o amolecimento das rochas sob uma pressão tàn-
gericial-de.muitas atmosferas, seria totalmente impossível a repetição experi
mental dos fenômenos da vida com dimensões telúricas. Para o estudo destes
fenômenos só pode servir o experimento que nósapresenta a natureza mesma
mediante o repetir-se de processos análogos em condições diversas de posi
ção, de espaço e geográficas em geral. Do que se deduz due a geografia deve
realizar um amplo trabalho de comparação sem deixar.de examinar untfsó
ângulo:da Terra46.v .-•^•. :«»".. ..-. :.\;^:y.,:.\.- .-. '?v*\\ ^\>: " ' 9
. Seé verdade que ágeografia observa os mesmos fenômenos que são
estudados também por outras ciências, seu método contudo se distingue senv .
pre por esta sua tendência natural a ampliar seü:ângulo de visão, a realizar .
uma observação que eu diria hologeica, isto é, qüe abarca toda a Terra. As
sim; se a geografia, ao apresentar os povos separadamente em' seus mapas
0
cartográficos, presta fiel ajuda à etnografia, que-éstuda esses povos sob ias-. . .
9
pectos da sua língua, usos, costumes, ao mesmo-tempo a antropogeografia.
tende constantemente a representaros povoscomo úm todo,.como um con-' .: 9
9
junto compacto; a geografia do homem é portanto essencialmente unitária,,
enquanto a etnografia é essencialmente separadora. A descrição dos mares
pode,; é verdade, levar a distinguir a partir de seus contornos uma grande quan- :
tidade de golfos, baías, estreitos etc; mas está também pode se elevar.e esta-'.,
belecer, por exemplo, uma relação entre os três mediterrâneos!-^- romario,:
americano é austral-asiático considerados como tais; e é exatamente áo fazer
essa comparação que tf geógrafo terá ocasião de:assinalar como é legftrriiô ,'.
o outro conceito mais elevado, o conceito unitário do Oceano. Do mesmo :
modo o:antropogeógrafo passa do: estudo dos povos à concepção superior. ;
dá humanidade. De tal forma que da comparação nasce a síntese, çuja leirti-1::.
midade,ou melhor; cuja necessidade dentro dó estudo geográfico:nascefda••
difusão de alguns fenômenos paratoda a Terra; oü>pelo menos para ürria gran-\';
de parte desta.- í : ••• .•• ••'•.'•-•• [ v-'' '.-" ':••"• Í::1;,-"]'?,,V..:'' '
:; • Não desconheçamos portanto a grande ajuda que o critério holôgênicó\
presta ao estudo de cada um dos problemas antrópògeográficos.-Em uma época
como a nossa, na qual, em conseqüência da especialização,'cada ciência-se...:
fraciona em um grande número de pequenos estudos particulares,.é; uma Ver- .-
dadeira felicidade que ha ciência geográfica este fracionamento! nãó"sejalto-.
davia muito acentuado, de tal modo que o estudo; açiupossa ser sempre mi-r .
ciado^ e conduzido sobre bases de amplitude geral; peinanecéndo;-a- pos- 9
• í• • • • .•• •. ...••• . ' •' .'•-..•.i•••..- • . • ••• i "I ••.::*-•'.•. !'•''•
t- : • . ... • .-:. :.) • • . . - ' ;• • - » • •'-,-' i • :- ' ••'• I"-* .:•••••- j- •
9
46 Já Comte indicou explicitamente como um dos métodos da sociologia o experimento'indireto,
isto é, o estudo de certos desvios do desenvolvimento normal de um determinado fenômeno.
9
• • • .-...-;•
182 . *
P
0 _ !

98
0* ' -•':.-..;
J0± i i ' I

sibilidade de descobrir materiais de estudo completamente novos. O que po


rém não nos pode levar a esquecer que o método natural da pesquisa antro-
pogeográíica é sempre aquele, que é impulsionado pela determinação exata
dos fenômenos singularmente considerados.
...•• ..
0 "-. :lf-
"!•" . -. .• . - i
:!i$J-.i.s::m' \ '• . '"••• -i
:'1 .:.
-:•-. . • •
«*..*...' .
:.'">•:'-•
H...§37r O nexo histórico no estudo antropogeográfico — Quando em
preendemos p estudo de um determinado problema antropogeográfico, uma
-. reflexão nos aconselha a manter nossa visão dentro de um círculo de obserr
•; -vação restrita; isto é, a reflexão onde não há país, espelho de mar, monta
nha ou rio que possam ser considerados como objetos absolutamente inde^
'.; pendentes. Já Herder advertira que não se poderia*compreender a história
r
'." da! Alemanha fazendo referência apenas ao seu território, porque a Alema
nha também não representa senão um prolongamento do continente asiáti
0
co-. E além disso quem se arriscaria a afirmar que a este;mesmo território
0
da-,Europa central não poderiam ter chegado os descendentes de uma raça
euro-afriçana, que nos tempos pré-arianos ocupou os países.mediterrâneos
e penetrou profundamente.até dentro da África? •• r .... .
-;j; Ora, como acima da superfície sólida se movem as massas instáveis
dejágua e aquelas massas ainda mais móveis de atmosfera, o nexo que.se
estabelece entre um território e seus limítrofes não permanece inteiramente
r . limitado àquela ligação que é determinada pela continuidade das camadas
terrestres. Os movimentos aquáticos e atmosféricos servem pára ligar entre
si também os povos. Q Danúbio transporta ao Mar Negro areias extraídas
dos granitos da Floresta Negra,e as condições meteorológicas do nosso país
0
sofrem a influência^das inversões atmosféricas que nos chegam através do
0
Oceano Atlântico.depois de ter deixado as costas da.yirgínia,.do Labrador
r e da Islândia. Em conseqüência dessas mesmas correntes atmosféricas as águas
tépidas do Atlântico atingem as costas ocidentais da Europa influenciando
seu clima até nas regiões internas.. Se pensamos ainda nos frágeis navios de
Cristóvãp Colombo, impulsionados em pleno Oceano Atlântico por um ou
tro sistema de ventos em direção às índias Ocidentais, ou nas. migrações dos
polmésios das ilhas Tonga às Fidji, às Novas Hébridas, e mais além ainda
em direção oeste ao longo.da corrente pacífica sul-equatorial, isto vem nos
persuadir de quanto, é grande a influência histórica dos movimentos inorgâ
nicos. No que se refere ao Danúbio', o maior dos nossos estadistas afirmou,
é verdade, que os interesses políticos da Alemanha não são de modo algum
atingidos pela questão do Oriente. Contudo não se pode deixar de pensar
•que um rio, que representa um todo fisicamente indivisível, exerce-.também
e
no campo político uma função de ligação do mesmo modo que exerceu no
0
campo etnográfico. Quem poderia ainda hoje persistir naquela afirmação,
diante da crescente importância de todas as comunicações terrestres com a
Europa sul-oriental, que seguem exatamente a mesma direção do Danúbio?
Enfim as populações do baixo Danúbio vêm se aproximando do círculo da
civilização da Europa central, e esta aproximação se realizou na maior parte
seguindo as margens do grande rio; .- •l
r
183
0
9
99 9
•\ •• 9
., Desse modo um país representa, sem dúvida, um objeto em.si; mas ' '
ao mesmo tempo é também um elemento de.uma grande cadeia. Por si aquele
país é ura organismo, mas se torna um simples órgão se considerado dentro •
de uma série, dentro de um grupo, dentro de um.complexo de ordem supe
rior, e isto ocorre quer se trate de um povo dominado, ou tributário, ou de 9
rivado, ou membro de uma aliança, ou componente de um círculo civiliza- .
do. Diante do estudo antropogeográfico aqueíe povo se apresenta às.vezes :'
sob üm,.às vezes sob outro dos dois aspectos, e há como que uma luta contí
nua entre o organismo e o órgão. Por isso também no trabalho de investiga
ção vemos a síntese alternar-se em análise.. ..-,._• •;• ' ;
A geografia do homem deve estudar precisamente este alternar-se dós
dois aspectos toda vez que tomar em sentido amplo o aspecto territorial. Disso
se segue que ela hão deve considerar os povos como elementos inertes e mui-'
to menos como elementos fechados e encerrados:em si mesmos. Quando,
como ocorre na Polinésia ou no interior da Ásia, a indústria européia pene-,
tra em meio a um povo, sufocando a arte.e a:indústria indígenas com a in
trodução de grande quantidade de produtos, inferiores mas de bom merca 9
do, aquele povo todo perde súa vida própria e entra no rol daqueles que são
9
obrigados a viver recolhendo caucho, espremendo óleo de palma ou caçan
9
do elefantes para prover ao consumo europeu, e recebendo em troca tecidos .
9
transparentes,, aguardente adulterada com ácido sulfúrico, fuzis usados ou
9
roupas èm desuso, em suma, os dejetos das populações civilizadas. O orga-. .
nismo econômico daquele povo se extingue, é em muitos casos este fato as 9
9
sinala o princípio da atrofiação e do perecimento total do próprio povo. .0
organismo mais forte se sobrepôs ao mais fraco ep absorveu por toda par
te. Por outro lado pode-se observar ainda que Atenas não poderia ter vivido .
sem o trigo, a lenha, o cânhamo dos países situados ao longo da margem
setentrional do Mediterrâneo, assim como a Inglaterra passaria fome se não .
fossco pão e a carne fornecidos pela América setentrional, pela Europa orien
tal e .pela Austrália. . . . • • '..•...•; . :.* •...:•! m
0
§38. Necessidade de uma visão retrospectiva à história da Terra — Já
afirmamos antes (v. cap. 4) que os povbs devem ser estudados em relação
9
com toda a.Terça,e especialmente com .a evoluçãp desta. A este respeito a
geografia do. homem nos oferece um exemplo de como a condução dó estu-
do de um problema científico baseada em procedimentos superficiais leva ";
a graves! dificuldades, enquantp o:aprofundamento maior, da investigação
conduz a solução com muito menor esforço. Karl Ritter tentou muitas vezes "
nas süaS;descrições mostrar as ligações existentes entre os fenômenos geo- .
gráficos da natureza inorgânica e os fenômenos da humanidade;;mas.ele nãõ
se deu conta de que entre as duas ordens de fenômenos "existe um. nexo mui-. •'.
to mais profundo, representado pela correspondência entre as evoluções dos
dois elementos, que têm ambos suaraiz na Terra, tanto que se poderia di^er .
que existe entre esses elementos uma espécie de parentesco telúrico. Mais su
9
perficial ainda é o outro pensador, que gozada fama de ter demonstrado
9
'.'V ': •:.•">. !'
" ' I •
isi „ - i. . 9
100
r
0 I •: . " •
uma particular acuidade no estudo das relações de 'dependência que se esta
0
belecem entre à história e a natureza circundànte; queremos acenar a Henry
0-
Th'. Buckle que, no primeiro capítulo da suaHistória da civilização inglesa,
0
diz: "Se consideramos que o homem se encontra permanentemente em con
tato com o mundo exterior, devemos nos persuadir de que existe necessária^.
mente uma ligação entre ás ações do<homem e as leis da natureza". Nas con-
• cepções'deste gênero, em'que se fala apenas em coexistência, contato', de
pendência, a palavra que resolveria de fato o problema permanece inexpres-
sa;: é a palavra evoluçãoy •'•••'••••' [*' ••
\ Toda a história da humanidade é uma contínua evolução Sobre a-Ter-
ra é com a Terra; e não se trata de uma simples coexistência, mas humanida
de e Terra vivem, sofrem, progridem e envelhecem juntas. Basta pensar que
ligações profundas devem nascer de um tal gênero de coexistência para se
dar logo conta de como é supérflua toda pergunta que ponha em dúvida á
existência ou não de um nexo entre a Terra e o homem, a.influência ou não
0
que o território e todo o ambiente físico exercem sobre a história, sobre os
povos, sobre os Estados, sobre a sociedade humana. - "'• •'•• J '•'•'•-'. ••'
r
• :; Traduzido em linguagemprática o que foi dito acima significa que quan
do! no estudo antropogeográfico nos encontramos'diante de um fato cujas
0
condições atuais não bastam para explicar, então é necessário voltar os olhos
aopassado e buscar ar ás;causas que o presente não nos revela, sem o que
se cairia em um erro de lógica elementar. Neumann, baseando-se na' falta
de um nexo entre a divisão do gênero, humano em raças e as condições geo-
r gráficas presentes, tira daí a conclusão segura de que a etnografia científica
deve se apoiar unicamente np exame comparado das línguas. Más se este
cientista fosse levado a examinar um vale árido, estaria ele impedido de cons
tatar a falta de um nexo visível entre este efeito e uma outra causa qualquer
P
nãpmais visível, ou não teria ele também tentado encontrar uma causa de
terminada, que tivesse-dado lugar à formação dò vale e tivesse mais tarde
cessado? Do mesmo modo deve-se dizer que para o antropogeógrafo o pro
blema de como se deva explicar adifusão dos povos não é isolado, mesmo
que nas atuais condições'não pareça possível aqui a solução.
•• '••• '.k .•:••• .y..:K'rp£-*. • .- • .= •': ,,--.•. ^ ..--^i- •.
§39.! Limites da geografia dó homem — Se qualquer objeto, que seapre-
senta sobre a Terra ém um número bastante considerável e tenha uma rela
ção com o homem, pode ser estudado e representado sob o aspecto da sua
difusão geográfica, então atarefa da geografia do homemnãp.teria frontei
ras se esta ciência não tivesse èm si mesma as razões de uma limitação ade-
quada^ É pois necessário colocar a questão: quais são os limites da geogra
fia do homem? Para responder a isso basta considerar'que o objetivo da
antropogeografia épuramente científico e que porissoèla deve"deixar às
aplicações de geografia política,;de geografia1comercial etc. a'descrição de
todos os fenômenos que não têm importância essencial pára ácmele objeti
vou Aqui, como em qualquer outra ciência, deve-se impedir que o estudo
se aprofunde e se estenda além do quanto é necessário para tornar completo
r
101

o edifício científico. Para isso bastará ter;presente..que os atributos do lio:


9
mem, cuja difusão pode ser demonstrada e descrita, podem ter em relação
ao próprio homem uma importância muito diversa. E, na medida em .que
o estudo antropogeográfico se refere precisamente ao homem, terão interes
se científico apenas aqueles atributos que têm um vínculo muito estreito com '
o ser que os possui eps difunde, cuja difusão valha para iluminar a difusão .'.> 9
do homem. Não queremos porém dizercomisto que além do campo assim,
circunscritpcesse inteiramente a seriedade da investigação científica; mas a
geografia do"homem pode muito bem restringir-se a.estes limites sem jne-
nhum prejuízo da verdade. =.'. . .,*,/ •:• :• ys\- y.\ _•. j* . j•." •';
.A,geografia física é base e premissa;da geografia do homem; p que.-
9
porém não significa que esta deva fazer seus todos ps resultados daquela.
A geografia física se ocupa de uma grande quantidade de pesquisas cujo fruto . 9
não resulta em nenhuma vantagem para a antropogeografia. Na verdade a.;
vida em todas as. suas formas é um fenômeno superficial da nossa Terra, -:
e em muitos aspectos depende mais dò Sol do que do território; antes, esta
se manifesta mais nas partes baixas da superfície terrestre, especialmenteno
que se refere à vida do homem. É por isso que os relevos mais altos datejra
firme apresentam para a geografia do homem um interesse quase tão ínfimo* .
quanto as cavidades mais profundas do mar.iO estudo do cume de umamòn- •
tanha pode ter enorme importância do ponto de vista físico, mas pode hão]
ter absolutamente nenhuma importância do; ponto de vista antropogeográ 9
fico. iAssim também as condições que se manifestam no fundo de um lago.
9
ou de um rio, no.interior.de uma geleira, emuma terra polar inabitada, hão..
têm com a geografia do homem relação dè espécie alguma...;,: : ?• j?j r 9

' ':- j:*|- *•;.' A .»;*•**.?..'*'. .-"../' .•..-..: ,:--:'-..f-:v.":« :"-* •'.-• r'**£$*' k:' \'.
| §40. As leis ántropògeográficas — Assim como a geografia do homem
tem ém comum com as ciências naturais o método científico, ela ordena sua
matéria.do mesmo modo que estas, com base em classificações, e chega às...
suas conclusões pela via das comparações. O fato de ela estudar o homem.
em relação com seu território não dá lugar a nenhuma diferença, tanto mais ..
que coloca o homem dentro-da natureza e o considera nas suas relações recí-;
procas com a.Terra. A independência da vontade humana não impede que
a difusão geográfica do homem sofra a influência de condiçpes externas;!as-.;;
sim, por.exemplo, ele foi excluído das terras polares e das regiões mais ári-.;'.'
das como qualquer outra espécie vegetal ou animal. Do mesmo modo que
o fitógeógrafo delimita a área de difusão das palmeiras, o antropogeógrafo-.
delineia a área de difusão dos negros. E.se.o primeiro deduz da. presença
. atual deiuma mesma planta na África meridional e na Nova Guiné que aquela '.
planta se transferiu vagando pelo Oceano Índico, oü que ocorreu uma dupla
migração da pátria comum de origem, pòr exemplo, da índia, a mesmacon-,
clusão tira o segundo diante dos negros dá África e dos papuas. ,-. j: .
Do mesmo modo que todas as outras ciências que também compreen
deram o homem no rol de suas investigações, tampouco a antropogeografia
pode pretender descobrir leis que possam ser expressas através,de fórmulas .
• : . .-

186 .9
102
0

matemáticas. Assim como o homem, também o poyo possui uma vontade


p independente. Mas esta vontade, sempre que pretenda se expressar, deve le
0
var em conta as condições que a Terra impõe à existência humana e que re
0 presentam uma limitação para essa vontade. De fato, não há vontade hu
mana,que possáaumentar a área do planeta; nenhuma vontade humana po-
déria se sobrepor às forças que se opõem à vida em meio ao gelo persistente
das terras polares e das altas montanhas ou então nos desertos; e tampouco
poderá se formar jamais um Estado independente no pólo norte, nemsurgir
uma grande cidade,em meio às areias do Saara. Assim também a expansão
. territorial de um povo encontrará sempre limites impostos pelas condições
p> • \ externas. Um povo que se estende sobre um grande espaço será sempre me-
f* ; nos compacto que um povo concentrado sobre um pequeno território como
o dos- franceses. Um território situado em clima temperado possui maiores
recursos que um outro situado em clima frio; assim ar Suécia e a Noruega
consideradas juntas têm um território que supera em 2/5 a amplitude do ter
r
ritório da Alemanha, mas uma população que é apenas l/7;da alemã. . -
• .. '•. •«Nesses países a livre vontade dos povos pode sem dúvida atenuar mui
to o império destas limitações ou torná-lo mais suportável, mas/não poderá
jamais aboli-lo completamente. E por isso cada povo carrega ém si as carac
terísticas do seu território. Hoje a geografia do homem deve estudar os po
vos em relação às condições naturais às quais eles estão sujeitos, isto é,
considerá-los sempre unicamente sobre seu território: É sobre esteque a geo
grafia do homem vê além disso se definirem as leis que regulam a vida dos
povos; leis que precisam ser expressas em forma geográfica/Assim ela con
sidera o incremento e a decadência dos povos pela sua expansão territorial,
descobre entre os ingleses e os japoneses, entre os habitantes de Tonga e de
f Siinbo o repetir-se das mesmas influências derivadas da posição insular, e
considera os destinos da Grécia como conectados com os destinos da Ásia
anterior, sejam gregos ou persas, romanos ou turcos os povos que aí predo
minem. Assim também ageografiàdo homem veacentralidade-do império
germânico repetir-se no Estado africano de Bornu; naturalmente esses dois
Estados continuam sendo muito diversos para elaj mas apresentam uma ca- I
racterística comum: sesãò fortes exercem uma enorme influência exterior,
enquanto fracos se encontram em grave perigo: Esta é em qualquer parte
da Terra a vantagem e a desvantagem que confere a um Estado a.centralida-
de da posição política; isto porque todos os povos fortes visam alcançar o
mar ou à estender sobre este seu domínio, e tendem a se apoderar das gran
des vias1comerciais ou pelo menos dos seus pontos extremos. '"">-•—-.:. -
v Vê-se portanto como a extensão, a posição e a configuração dos terri
tórios fornecem os elementos para avaliar a vida dos povos aos quais estes
pertencem. Esses elementos permanecem constantes enquanto se toma em
consideração apenas o território; mudam porém às vezes quando se passa
ajeonsiderar também os povos em contato com o território. Assim depois
da queda de Cartago o território daquela república perdeu por longo tempo
P sua importância, e só em parte a readquiriu com o reflorescimento dos Esta-
IS7
103
9
dos bárbaros; mas desde que a ocupação francesa da Tunísia colocou aque
las terras nas mãos de uma grande potência, estas readquiriram, especial
mente em relação à Sicüia, toda a impprtância que tinham tido nos tempos
de Cartago. ••• •••.•.*•:.'. y."-.:...-•.•' - .
":.- É possível estabelecer portanto com dados de realidade antropogeo-
gráficos üma equação tal que uma só grandeza seja aqui desconhecida; a • ^
incógnita será sempre uma grandeza de tempo/Diante de determinadas con-
. diçõesdeLexténsão, de espaço, de posição, deverá necessariamente manifestar-. **,
se um certo fenômeno, mas não sè~i5õde dizer quando." Quando as observa
ções,das quais se dispõe se referem a período dè tempo bastante extenso,
entãoa constatação dò repetir-se daquele fenômeno-determinado confere 9
ao cálculo um grau de segurança também maior.' , 9
';• As óbjeções que se costuma levantar contra o valor das leis antròpo-
9
geográficas sè apoiam freqüentemente sobre erros de interpretação muito
9
elementares, como demonstra a crítica feita por Peschel a Ritter47. Diz ele
9
da Grécia: ' . • ;.'- L- •• j;
!'"••:'•
i "Aquele.era e é contudo o berço dos povos navegadores que foram os vénce-
,,dores de Salamina, masjá poderia ser também, em Helesponto, a capital do . ,*•
; Oriente,: naquele mesmo lugarondesurgiu Bizâncio e ondeestáhoje Constan-
. tinopla.e a frota turca decomposta. A natureza é sempre tão benigna quanto
•era naqueles tempos gloriosos, mas os habitantes daquelas terras hoje estão
' mudados. Portanto a influência das causas locais hão é senão Uma influência
negativa... Òs caracteres físicos de cada território oferecem a possibilidade de
• • desenvolvimentos diferentes. Más o fato de ter realizado um e não outro de-
: senvolvimerito constitui precisamente o mérito histórico de cada nação. O cur-
! so da história certamente tem relação com as leis físicas do território, más só .,
.; ' ; nas suas linhas gerais" (Ausland, 1859, n. 33). : ' =;•• V h k
No caso concreto nãó é a geografia do homem qüe está errada', más Peschel .
queesquece uma lei importante: que as influências que um país éxerçè sobre .
a história de seu povo não se devem apenas áo país em si, más tambêní aos .-
territórios entre ps quais este está compreendido. Por isso na crítica de PesJ.' •
chel, ássirn.comb em quase todos os autores qúé tratam das relações entre :
,as condições naturais da Grécia ea sua história, sé ignora o mais importante
entre todos os elementos dessa história,' isto é, a posição desta perünsúla4.qüe .*
se inclina em direção à Ásia, quase um elo dè.conjunção entréa Europa é
as costas orientais do Mediterrâneo. É exatamente esta posição que imprime . ^
à história helênica um caráter europeurasiático-tão profundo, cáfáterrqúè
se manifesta através de todas as contingências históricas tanto do seu flores-'
cimento como da sua decadência como o fio condutor ao qual; se. ligamtan 9
to a: expedição dos Argónautas como a guerra de Tróia, a batalha de Sàlà- 9
minà como as influências da civilização mesopotâmica e egípcia, o império 9
romano do Oriente como a dominação dós turcos. O elemento de debilida- 9
-. - i • .

. "DasAusland, 1867, n. 36 e 39; 1869, n. 9 e.39.. ..- -:i':..:- ; i •. v s, \Q


•i.
9
Í?V •' 188 . 9
•3 . ••• :
~ : • *- -
.• • ••-. •••

:,1P4 ..-;.!
de-que éinerente-a esta posição geográfica se tornou também mais sensível
pela configuração irrequieta do;território, de tal modo a fragmentar quais-
•quer operações que sejam mais amplas, de obstacularizar quaisquer podero
sas concentrações de forças, eisto pelo desmembramento e pelo corte tanto
no sentido- horizontal;(penínsulas eilhas) como em sentido vertical (progra-
fico), assimcomo pelalimitação da sua extensão. Posição, amplitude econ-.
figuração: esses são; os elementos de base e ao mesmo temRO. as hmitaçoes.
: :ppstas pela natureza àhistória da Grécia. Diante destes.elementos as condi-.
ções'fayoEáveis".da indústria marítima, o clima soberbo etc. assumem uma.
. importância totalmente secundária. No escrito que recordamos Peschel acres-..
•benta:'. ?'#precisamenté ap- vencer ps.obstáculos postos pela natureza, que
: resplandece ò gênio dos povos"; mas os gregos, mesmo na época do seu apo
geu', quando;seu. gênio resplandecia mais alto, não chegaram a se impor às
.' condições criadas pelas características fundamentais do seu território, so
bretudo pela posição geográfica, pela limitada extensão e pelo desmem
bramento. •" '.-•.. .. .. •'• .-';-• ;
r i .'•'•' . • . . . • • •*
l ' .. ;; .••••.: ' :- '
i Parece-nos que o exemplo acima reportado demonstra que, para po
der (realizar um estudo útil do vasto problema do qual tratamos, é necessá
rio primeiro fixar bem ós elementos que devem ser examinados quando se
quejr falar da influenciadas condições naturais sobre a história dos povos.
Êstç primeiro trabalho nos'conduzirá logo a um resultado importante, isto
é, à-eliminação de uma grande quantidade de argumentos não acessíveis à
abordagem geográfica, que pertencem, ao contrário, ,à fisiologia e à. psico
p
logia; são desse tipo todas aquelas influências que modificam o. caráter ou
as cpndições.físicas do homem0Resta-nos, poroutrorlado, p^estudo.de to-,
P
dosjos problemas puramente geográficos, ou seja, das influências que as con
0
dições naturais exercem sobre o modo de ser do homem ou sobre sua ativi
~

dade. As:'influências'do primeiro grupo podem ser. chamadas de estáticas,


e aç do.segundo, de mecânicas. Estas .últimas representam' precisamente, as
P condições diretamente impostas pela natureza a história, embora não se ex
P clua que essas condições possam influir spbre a história'também por via in-
. direta. Assim, pode acontecer que cada uma das modificações ocorridas nas
condições de. um pequeno número de homens concorra para determinar os
destinos históricos de comunidades situadas freqüentemente a enorme dis
tância, difundindo-se a poyps inteiros ou sendo transmitidas através :de de
terminadas'frações de povos. ... • ' „"•'"••' lí.'.'. -
0 "
§41. Leis antropogeográficas e estatísticas — A geografia do homem
tem em comum com a estatística a tarefa de estudar os fenômenos relativos
r
à vida dos povos e de buscar tudo que neles tem valor de lei. Mas os procedi-,
mentos das duas ciências são muito diversos. Os conceitos geográficos são
sempre localizados com exatidão; eles têm na base de uma latitude e de uma
longitude uma relação com elementos geográficos, como costas, interiores,
relevos e cursos de água. Se falo o nome de uma localidade logo aparece em
r
•189
' : • -• tos •

minha mente algo como um mapa de pálidos contornos, sobre oqual minha
memória fixa no ponto exato, e às vezes infortunadamente também em um '
ponto inexato, alocalidade em questão. Por isso os conceitos abstratos, que
nao tem nenhuma referência a uma localidadeexata, têm sempreum caráter
nao perfeitamente geográfico. Portanto em geografia, ao se-estudar um fe-* •
nômeno, será sempre muito útil separar uma da outra as características sin- •: '
gulares do fenômeno mesmo ebuscar entre eles os que são localizáveis, mais
do que apresentá-los todos sob a forma de uma soma que não teria outro
valor senão d"de um dado intermediário eserviria depois para compor ou- " •
tros cálculos privados de significado. Sãó um exemplo do gênero os estudos :
relativos ao recorte das costas ou à densidade^ de população. i .,
Hoje se faz grande alarde das médias estatísticas esquecendo-se da subs
tância dos problemas tratados. Em geral seobserva esse alarde também no
campo científico onde, como se se tratasse de uni jogo e sem se dar conta
do objetivo aò qual se visa, continuam a se juntar cálculos como se cada
um deles tivesse valor por si. Assim, por exemplo, admite-se que a popula
ção total da Terra ascenda a 1 500 milhões de homens, e calcula-se que em :
conseqüência a densidade da população terrestre seja de menos de 3 habir
tames por km2. Mas, como é de se notar, os homens habitam a Terra ape
nas numa faixa compreendida entre as regiões polares inabitadas, o chama- ?
do ecumeno, que, compreendendo terra e água juntas, ocupa cerca de 4/5
da superfície terrestre. E é apenas nessa área qüe ó gênero humano vive, ;de
tal modo qüe a cada quilômetro quadrado do ecumeno caberiam 4 habitan
tes. Além disso a porção maior do ecumeno é ocupada pelo mar; á área ha
bitada é menos de 1/3 da sua superfície total, e pòr isso é apenas a esta área
que se refere a população terrestre, cuja densidade sobe nesse caso para;12
habitantes por km2. Mas também no interior deste: ecumeno se apresentam
diferenças de densidade consideráveis. Assim a população da Alemanha é
quase cinco vezes mais densa que a da Rússia: é na própria Alemanha; se
observa que ná província de Lüneburg av densidade é de 39 habitantes subin- ;
do a 400 na província de Düsseldórf. • ' '"'.'•' !'•'• '•'\ m
§42. A predestinação e ã teleologia de Ritter — O conceito de predesti- *•'
nação referido a uma região terrestre levantou muitas objeçõese.protestos
por parte de mais.de um crítico, excessivamente sutil. Se" afirmo; que.'a. parte.. .' • 4
ocidental da Emopa e as penínsulas e os arquipélagos da Ásia oriental estão •
predestinados^ por sua estrutura extremamente fracionada, a ter seu próprio .*
desenvolvimento particuíar, eis que se insurge um dos filósofos; da história: '
; . . • . . . •' • . ' • "• : ; . i.
' ?'Que significa a expressão: ter seu próprio desenvolvimento particular? 'Áo • - ^
;'; :: '* considerar as coisas do ponto de vista da caúsalidadé'exterior pode-se dizer; ;
. • que alguma coisa esteja predestinada a algo? (...) Predestinação é um conceito
superficial, privado de conteúdo, enquanto ao contrário o conceito verdadei
ramente significativo é o de causalidade"48; ,j-, -. ;'. '-. .

9
Ritter, K. Der Welzug der Kultur, in "Die Kritlk"; 1897, n. 154.

190
- - ". ' i
- i

9
p ?«:♦. r
r .:.;o4.»c > x.
106
r < * *

Hpje se; pode notar que ò' vocábulo predestinação tem sido já utilizado tão
freqüentemente que se pode considerar justificado seu emprego na linguagem
antropogeográfica. Mas quero citar, extraindo-a da moderna literatura,.uma
p expressão de LeroyrBeauüeu49: "A unidade do território russo é tão natural
\ que nenhuma outra região da Terra, que não seja exatamente uma península
ou uma ilha, parece mais claramente predestinada a ser pátria de um povo
único' •. A frase citada não tem pütro significado que não este: que há territó
rios qüe, mercê da sua conformaçãp natural, são destinados a imprimir, ao
movimento histórico certas-formas e direções determinadas. É como se eu,
encontrando-me dentro de um vale'de montanha e olhando à minha volta,
p
dissesse: "Esta encosta está predestinada a dar lugar a uma torrente e aquela
0 . bacia a um lago". Quem não gostar da palavra predestinação diga ao .invés
disso atitude. É exatamente essa predestinação que a geografia deve estudar
e representar, ainda que em uma certa época a situação histórica'de um"certo
0
território pareça estar em^contradição com ela. Quando e como ps destinos
0
daquele território devem .se cumprir são argumentos que não têm interesse
para este estudo; e isto embora o olhar experimentado do historiador profun
do consiga ver aqui e ali os indícios daquela predestinação.mesmo sob. o véu
deiuma história que esteja, em.contradição com essa e pois com as deduções
geográficas.: Só quem conduzir seu exame aos elementos exteriores poderá ne
gar, embora a Grécia moderna esteja tão abaixo da Grécia antiga, a elevada
predestinação natural da.,peníhsula helênica (v. §40). .-../, vi
A susceptibilidade que uma palavra tão clara pôde despertar não é se
não a expressão da antiga animosidade cega e desconfiada contra qualquer
0
espécie de teleologia. Reflitamos um instante sobre algumas expressões como
esta, freqüentemente citada, que se encontra na introdução ao primeiro volu
me da Palestina de Ritter:: "•'•' .
' • \! ' •";• . •• *:•/-;--,••• •' ' '.'• • • ;'-' " •"•• -•••/• '
0
"> "Imaginar a história do povo de Israel em uma outra região terrestre que não
, seja a-Palestina dever-nos-ia parecer algo impossível. Em nenhuma outra terra
0 a história sacra poderia;ter tido um desenvolvimento tão rico como nesta terra,
claramente representando, para nós e.para todçs, os tempos vindouros*'.
Temos que confessar abertamente que tais expressões não nos chocam por
sua entonação ideológica; que.de todo modo não pode nos impressionar se
não exatamente como entonação; mas elas nos chamam a atenção pela rela
ção qüe têm com a teoria queRitter enunciou com uma segurança atéientão
desconhecida: "A história não está ao lado da natureza, mas dentro da pró-
r pria natureza". De resto, a paternidade destas idéias teleológicas não perten
ce ^propriamente a Ritter, masantes"^ Herder que, tanto nos~sèus-i?rcf/Míi'/e/i
r
como nas suas Ideén zur.Geschiçhte der Menschheit, se referira freqüente
0
mente ao conceito de que.se deve considerar a Terra como a habitação e o
exercício da humanidade, e corno sendo predestinada exatamente a esse obje
tivo; Herder reconhece a marca uniforme da mão criadora tanto nos esqui
P
mós apequenados, pelo frio como na organização sensual dos negros. É a
0 ' •••
- . _; _ : :. t . - i •
49 t. .- r— :.• t /..-.jx••_.• •*« -• .; •
L'empire des tsars, V. I (1 ed.), p. 33. •.••• •'• • • '•
P r

191
178532
107
• 2
9
••••• * I
Herder que pertence omote arguto: "Óu a natureza náo_teria criado a Áfri
ca, ou a África deveria ser antes de tudo dos. negros"50. . - : . ). * ' }. •
•:A este propósito se nos permita, diante.do:horror próximo do medo
que.os opositores de Ritter ostentavam diante da teleologia, observar que
na história de todas as ciências se pode constatar á compatibilidade dos con
ceitos teleológicos fundamentais com resultados da investigação propriamente
dita. Na verdade, diante de meus olhos e da minha mente, a natureza junto
com a-humanidade, que constituem o objeto único de qualquer ciência, pa-.
receriam os mesmos, fossem as suas leis manifestações acidentais, ou se òri-...
ginassem da vontade de um espírito criador. O cientista investiga as causas •
das quais derivam os efeitos que constituem o objeto da sua investigação, '
e não o torna nada incerto o fato de hão se saber se o fim último destes" fe
nômenos é preestabelecido por uma vontade superior, e se o jogo destas cau
sas e destes efeitos é guiado por uma inteligência superior. Aquilo que; es
sencialmente nos prefixamos é estabelecer se os.destinos dos povos são;em
alguma medida determinados pelo ambiente que os circunda. Karl Ritter parte
da convicção de que isto ocorre efetivamente, àpòiando-se em parte na crença
9
de uma divindade que dirija as coisas humanas, crença à qual ele dá a im
9
portância de uma hipótese científica, em parte aos resultados da sua obser- .
0
vaçãó. Pode-se dirigir a Ritter a séria crítica de ter ele sé fiado excessiva-. .
0
mente nesta hipótese, e de ter por isso, corri uma convicção tão profunda,
considerado a Terra como o educandário dahumanidade, e com isso se vol-. ".-.
tado ao estudo dos fenômenos que lhe pareceram confirmar essa crença, sem«
se armar de dúvida suficiente. Todavia não se deVe crer por isso que aquela "•
concepção teleológica tenha falseado todas as conclusões de Ritter e frustra-
do portanto todoo seu percurso científico. Se as chamadas "idéias-de Rit- ^
ter" não puderam se afirmar vigorosamente,: e:se a própria geografia não- :;
p.ôdetirar grande proveito delas, isto não tem absolutamente nada a^ver com .
9
a teleologia, mas foi apenas por isso qüe Ritter muito raramente enfrentou :
9
com decisão a abordagem dos problemas particulares, relativos ao argumento ..'
do qual tratamos. Esta é exatamente sua debilidade principal. Os trabalhos 9
de Ritter têm, por assim dizer, um caráter ;dé projeto.ou de esquema* e're- '; • 9
presehtam antes uma contínua demonstração da importância|dás relações 9
em questão e do modo como estas deveriam ser estudadas do qüeprpfuridas
investigações particulares.acerca da suáessêhcia e das suas.leis , í^,' *'f\,'.... . -

S0Ideen, VI, p. 4. CfVtãmbém VII, p. 3. -. .• -.>:;—í;•;*" 3 . • '•; ;•.'•*


51 Não podemos deixar de introduzir em seguida uma consideração de caráter puramente hu
mano: Ritter é um daqueles pensadores contra os quais a crítica não pode se mostrar severa
como é paramuitos outros. Suaexposição nãò é unilateral nem preconcebida, nem polêmica,
mas se percebe continuamente ao lê-la que se está diante dè um homem não apenas honesto,
mas inteiramente nobre, de tal modo que se empenha com o.intelectó è com o coraçãona inves-
ügação da verdade. Se este nosso juízo provocar por parte de alguns cidadãos da "república
dos cientistas" algum sinal de dúvida, nós achamos que na crítica a que as opiniões de um es
critor comoKarl Ritter possamdar lugar devem-se levar em conta o homem e os objetivos que
ele perseguiu. Por outro lado pode-se compreender que algumas das críticas que foram feitas
a Karl Ritter cabem não a ele propriamente, mas a seus discípulos. • -•• ••.*
9

192
»n ^ i i m ) n > m >> iiii^i^in^ > i <ii)>>ii')'>*

VIDAL, VIDAIS
TEXTOS DE GEOGRAFIA HUMANA,
GEOGRAFIA HUMANA:
REGIONAL E POLÍTICA
FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS
DE UMA CIÊNCIA
Prefácio
PaulClaval Guilherme Ribeiro
*

TEXTO 9
Quanto maispassamos aspáginas do estudo da terra,
mais vemos que elas sãofolhas domesmo livro.
o (VlDAL DE LA BLACHE, l8j)6)

Cip-Brasil. Catalogação na fonte A s breves linhas a seguir têm por intuito identificar algumas das con
Sindicato Nacional dosEditores de Livros. RJ tribuições epistemológicas de Vidal delaBlache à ciência geográfica,
V691 Vidal. vjdais: textos de geografia humana, regional epolítica / domínio no qual teve papel central entre o final do século XDC e os anos
Rogério Hacsbaert. Sérgio Nunes Pereira, Guilherme Ribeiro 1950. Após uma difícil seleção, consideramos que o mais relevante de sua
(orgs.); prefácio Paul Claval. —Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. obra teórica em relação à GeografiaHumana encontra-se nos seguintes tra
2012.
1464p.: 23cm balhos:

Inclui bibliografia 1. "Prefáce ao Atlas general Vidal-Lablache, Histoire et Géographie"


ISBN 978-85-286-1621-7
A (1894);
1. Geografia humana. 2. Geografia política. 3. Identidade 2. "Lepríncipe de la géographie gênérale" (1896);
social. 4. Territorialidade humana. 5. Civilização. I. Costa, 3. "Leçon dbuverture du cours de géographie" (1899);
Rogério H. da (Rogério Haesbaert da), 1958-. II. Pereira.
Sérgio Nunes. III. Ribeiro, Guilherme. II.Titulo. III.Série. 4. "Les conditions géographiques des faits sociaux" (1902); ,
CDD: 304.2
12-6070 CDU:911.3 23
r»t»r»»tfff»rrrf(frtrMírf»í»»ft*»ttff»rMtfrrr»
VIDAL. VIDAIS GEOGRAFIA HUMANA
5. "La géographie humaine. Ses rapports avec la géographie de la vie" mento de seu autor, namedida em que enuncia omaior fundamento desua
(1903); àémarche: a unidade terrestre. ATerra é um todo, cujaspartes estão inter
6. "De 1'intcrpretation géographique des paysages" (1908); ligadas. Isso oconduz abuscar, sempre, uma visão de conjunto. Não existe
7. "Les genrcs de vie dans la géographie humainc. Premier artide" espaço ou fenômeno que possa serexplicado isoladamente. Essa perspectiva
(1911); advém das Ciências Naturais. Vidal percebe o mundo em movimento gra
8. "Les genres de vie dans la géographie humainc. Second article" ças aos eventos meteorológicos eaos acidentes geológicos. Assim, ecoando
(1911). um discurso cientifico caro ao século XIX, só se compreende a dinâmica
terrestre à luzde suas leis. Todavia, embora sejauna, a Terra nãoé homogê
A esses oito, acrescentaríamos pelo menos outros dois que, por já nea. Muito pelo contrário, os lugares cas paisagens revelam uma exuberante
terem sido vertidos em língua portuguesa, não foram incluídos: "Sur le diversidade. Nesse sentido, são perceptíveis ogeral eoparticular, costurados
sens et lbbjct de la géographie humaine" (Vidal de la Blache, 1912), pu entre si graças a um "principio de conexão que une os fenômenos geográri-
blicado como se fora a introdução do livro Príncipes de géographie humaine' . cos" (Vidal de la Blache, 1894:1). Na seqüência, pondera:
Vidal de laBlache, 1922); e"Des caracteresdistinetifs de la géographie" (Vidal
de la Blache, 1913), publicado na conhecida coletânea organizada por a característica de uma área é algo complexo, que resulta do con
Christofolctü (Christofolctü, 1982). De qualquer maneira, uma ressalva: junto de um grande número de aspectos eda maneira como eles
em boa parte de seus textos. Vidal promove uma discussão teórico-mc- se combinam e se modificam uns aos outros. £ preciso ir além c
todológica. Esclarecimento feito, adotaremos um procedimento simples: reconhecer que nenhuma parte da Terra contfm em si mesma sua
apontar, segundo a própria ordem cronológica dos artigos, os principais explicação. Só se descobre ojogo das condições locais com alguma
elementos que compõem a epistemologia geográfica vidaliana.: Para isso, clareza quando a observação se eleva para além de tais condições,
usaremos o recurso das citações. quando se,é capaz de apreender as analogias naturalmente condu
Embora tenha somente duas páginas, o "Préface ao Aüas general zidas pela generalidade das leis terrestres. Oestudo dos Alpes não
Vidal-Lablache, Histoirc etGéographie" ocupa lugar de destaque nopensa- avança sem o estudo das outras cadeias de soerguimento da era
recente; o estudo do Saara não ocorre sem o de outros desertos do
globo. Na realidade, a Terra é um todo cujas diferentes partes se
'• Como ésabido, esse livro i uma obra póstuma, tendo sido editado por Emmanucl esclarecem mutuamente. Seria colocar uma venda nos olhos estu
deMartonne, genro de Vldal. Aedição amplamente divulgada entre nós è da Editora dar uma região isoladamente, como seela não fizesse parte de utn
Cosmos, de Portugal, que simplesmente não avisou aos leitores que a introdução era, conjunto. (1894:1-2)
na verdade, um artigo escrito nove anos antes dos Príncipes. Não obstante, como se
trata do único livro de Vidal em português, noBrasil ficamos com a sensação deque
seu autor a ele se resumia... A seu turno, "Le príncipe dela géographie gênérale" retoma a mesma
:Para uma análise mais ampliada edetalhada da contribuição epistemológica de Vidal. idéia do"Préface", porém de modo ampliado. EVidal o faz de um jeito que.
consultar Ribeiro (2010). talvez, jamais tenha sido tão explícito: referenciando as bases episicmo-
24 25
ÕBO»t. vjewi w:wwM»WT»WT^«^«l.m-.CT.vt.j•*. ^ »:•wmwwwww ,-CTW».w.<,..»f-•»-=• .—>r..vww%- • - — • • -
> > >* * 9 9 » ^ 1 )11M11111M19M11 iiiinni >i -*>

VIDAL, VIDAIS GEOGRAFIA HUMANA

lógicas de seu método. No plano mais geral, destaca olegado da Ciência de Bacon, desde que o homem começou a dominar o conjunto dos
Moderna ria Bacon, Newton eBuffon. No plano específico da Geografia, fenômenos terrestres, chamaram a sua atenção. Muitas podem ser
enfatiza os nomes de Delisle, DAnville, Cassini eVarenius, mas, sobretudo, apenas aparentes, mas outras são reais; cias sãofundadas não sobre
as influências daqueles que mais omarcaram: Humboldt eRitter. "Le prín puros encontros exteriores, mas sobre relações deorigem e de cau
cipe de la géographie gênérale" é, decerto, um texto de teoria da Geografia, sas. Entre estas a aproximação se impõe, poiscada uma proporcio
mas fundamentalmente um texto de histeria dopensamentogeográfico, cuja na à outra seu tributo de explicação. Ogeógrafo c levado assim a
tradição científica te/e inicio, segundo ele, quando da irrupção da noção de projetar sobre o objeto que estuda todo o esclarecimento fornecido
unidade terrestre (Vidal de laBlache, 1896:141). pela comparação decasos análogos. (1896:129)
Desdobramento direto dessa noção éaarticulação entre as escalas. Re
petindo as lições aprendidas com Humboldt eRitter —oque apenas reforça O artigo seguinte está inscrito numa ocasião solene: a lição de aber
olugar incontestável ocupado pela Geografia alemã no desenvolvimento da tura do curso de Geografia na Faculdade de Letras da Sorbonne, em 1899.
Escola Francesa de Geografia —, Vidal faz questão de grifar acorrespondên Ocupando a cadeira vaga pela aposentadoria do historiador-geógrafo
cia entre os fenômenos, a necessidade de um olhar geral, o encadeamento Augustc Himly, Vidal assume o posto mais cobiçado da Geografia francesa
que reúne as partes e otodo. 1-m uma passagem irretocávd: esboçando o estado da arte dos conhecimentos geográficos (Humboldt,
Ritter e Buffonaparecem novamente, acompanhados desta vez por Peschel
S Aidéia de que a Terra éum todo, no qual as partes estão coordena e Redus), para cujo progresso as expedições, as descobertas e as inovações
das, proporciona àGeografia um princípio de método cujafccun- técnicas contribuíram diretamente. Tal como um tableau inacabado mas
didade aparece melhor àmedida que se amplia asua aplicação. Se que, a cada achado, uma feição seria desenhada, a dinâmica terrestre ia
nada existe isoladamente no organismo terrestre, se em todo lugar sendocadavezmais iluminada —ao mesmo tempo, porém, que surgiam
repercutem as leisgerais, de modo que não sepossa tocar uma parte novas interrogações. Tais viagens permitiam, porexemplo, a ampliação dos
semprovocar todo um encadeamento de causas cde efeitos, atarefa conhecimentos sobre o interior dos continentes. Sob a influência da conti-
do geógrafo toma um caráter diferente daquele que às vezes lhe é nentalidadc, observava ele, a adaptação de plantas, animais e mesmo gru
atribuído. Qualquer que seja afração da Terra que estude, ele não pos humanos se tornava mais difícil (Vidal de lu Blache, 1899:105).
pode nela sefechar. Um elemento geral se introduz em todo estudo Classificada por Vidal como ciência da terra (1899:107), cabia à
local. Não há de fato área cm que afisionomia não dependa de Geografia explicaressadiversidade. Nessesentido,novamente elelançamão
influências múltiplas elongínquas das quais importa determinar o da mirada de conjunto,dos encadeamentos, do "parentescoque une as regiões
local de origem. Cada área age imediatamente sobre sua vizinha e terrestres"(1899:106). Alémdisso, surge um "novo" elemento:a comparação.
cinfluenciada por ela. Fora mesmo de toda relação de vizinhança,
aação cada vez melhor reconhecida de leisgerais se traduzpor afi O que surpreende, depois que pudemos comparar sobre unia escala
nidades deformas oude climas que, sem alterar a individualidade maior osfenômenos da superfície terrestre, é a maravilhosa varie
própria de cada área, marca-a com características análogas. Estas dade de combinações que eles apresentam. Em todos os lugares,
analogias ou "conformidades", seguindo o termo muito conhecido taisfenômenos se mostram regidos por leisgerais, mas igualmente

26 27

-
PPPPPPPPPPPffPPpppPPPPPPffPPPPPPPfPPPPPPPPPPPP**
VIDAL, VIDAIS GEOGRAFIA HUMANA
modificados por circunstâncias locais de solo, relevo, clima e pelo Pensando assim, estabdecerá permanente contato com a Geologia (no
cruzamento entre todas as causas que concorrem a determinar a Tableau de la géographie de la France, por exemplo [Vidal de la Blache,
fisionomia das regiões. A gama de diferenças se estende. O clima 1903a]), a História (La Pèninsule Européene. VOcèan et la Méditerranée e
desértico nãose imprime da mesma forma sobre o Saara e sobre os La France de LEst [Vidal de la Blache, 1873, 1917, respectivamente]) e a
desertos daAustrália e da América. Encadeamentos diferentes de Sociologia. Com esta. dois anos depois de "Les conditions géographiques
fenômenos diversificam regiões que, em certos aspectos, são análo des faits sodaux", retomará umrico debate' (vide Rapports delaSociologie
gas. Cada região é a expressão de. uma série particular de causas c avec la Géographie [Vidal de la Blache, 1904]).
efeitos. (1899:107-108) Otítulo do artigo cm questão já ébem representativo. Quando Vidal
escreve que existem "condições geográficas" aintegrar "fatos soriais", sig
Em 1902, os Annalcs de Géographie publicam "Les conditions géogra nifica que, mesmo a Geografia não sendo, como a Sociologia e aHistória,
phiquesdes faits sociaux", conferência proferida na Ecole des Hautes Étu uma ciênda "puramente humana" (Vidal de la Blache, 1905:240) —afi
des Sociales. Mais especifico queos trabalhos anteriores, sua importànda, nal, ela parte da terra para ohomem, enão oinverso (Vidal de la Blache,
no entanto, reside na interdisciplinaridade enquanto instrumento meto 1903:240,1904:313), eé "ciência dos lugares, e não dos homens" (Vidal de
dológico de aperfeiçoamento da compreensão da realidade. Retomando o la Blache, 1913:229) —, isso não significa que não tenha seu papd no en
que já havia anunciado no "Préface" de 1894, isto é, a necessidade do "em tendimento dasociedade. Pelo contrário. Se fosse assim, ele não faria ques
préstimo às ciências vizinhas" (Vidal de la Blache, 1894:1), o diálogo com tão de explorar a novidade denominada, exatamente,géographie humaine.
outros campos de conhecimento perpassa toda a obra vidaliana. Numa Destarte, seriam pelo menos três as condições geográficas: posição,
conjuntura em que as ciências estavam muito preocupadas em definir seus aspectos físicos c extensão. Cada qual à sua maneira, tais aspectos deno
respectivos objetos, Vidal também o fez para a Geografia. Contudo, sua tam a tentativa vidaliana de fazer com que a Sociologia percebesse que a
clareza de que as ciências expressavam pontos de vista distintos, devendo
prevalecer não estes mas sim o entendimento dos fenômenos como um
todo, o levava a crer que ' Um dos auges deste debate ocorreu por conta das criticas teórico-metodológicas do
durkhcimiano François Símiand às monografias regionais de Demangeon, Blanchard,
as ciências da terra, e mesmo certas ciências do homem, acusam Vallaux. Vachcr e Sion. Aliás, esse c um texto muito interessante, pois uma simples
uma tendência a se desenvolver em um sentido mais geográfico. comparação seria suficiente para revelar o quanto sua concepção de ciência, que o
Esta tendência ê derivada das próprias necessidades de sua evo impelia àinterlocução permanente com as demais disciplinas, estava bem àfrente do
lução. Em seu avanço, elas têm reencontrado a Geografia cm seu praticado na época. De todo modo. independentemente de certas simplificações sobre
o que seria um fato geográfico, no geral o tom reprobatório de Simiand. focado na
caminho. Tudo isso é, na realidade, a expressão da unidade funda construção do objeto geográfico e sua relevância explicativa para a vida social, nos
mental que as religa. A relação entre elasnão consiste em simples parece pertinente (Simiand. 1906-1909). Antes os geógrafos tivessem discutido afun
transferénda de resultados, mas no fato deque estão mutuamen do com ele do que "acatado" a interpretação do historiador Lucien Febvre (que ele
te impregnadas em seus métodos. (Vidal de la Blache, 1899:107, próprio classificou como de defesa!) cm La Tcrrc et 1'èvolution humainc. Intròduction
destaque nosso) géographique à1'histoirc (Febvre, 1922).
28
29
......... . »-v,. * *•.«&**•*•)«•' • * *>•- --• ••• -......_—......., ,,.,.,.lj.ju . r»,*—^.
^ ^ 1 V> > ) 1 1 mnn fc9 9 9 9 9 9 9. 9 9 9 9 9 9.9 9 9 > * *> ** -> >>

VIDAL. VIDAIS
GEOGRAFIA HUMANA

Geografia interfere econstitui traços específicos das sociedades. Enlretanto, decivilização, verdadeiras entidades que poden:, mesmo em certas
não estamos diante de uma abordagem unilateral —algo que contrariaria circunstâncias, serem transportadas paraoutras partes? (1902:22)
seu corpus cientifico1. Reconhecendo o impacto do regime social nas condi
ções geográficas, condena aescravidão nos Estados Unidos eno Brasil subli No âmago de uma tessitura epistemológica elaborada c aperfeiçoada
nhando amá utilização do solo msplantations, que. segundo de. deveriam paulatinamente, talvez não fosse exagero sustentar que "La Géographie
servir para alimentar apopulação (Vidal de la Blache, 1902:21). Igualmente Humainc. Ses rapports avec la Géographie de la vie", de 1905, ocupa lugar
o faz com relação ao porto de Santos, considerado insalubre e distante — central. Ainda que não nos pareça adequado canonizar este ou aquele tra
dois fatores que, evidentemente, odescredendariam. Todavia, este éoporto balho numaescala hierárquica —que, namaioria dasvezes, mais confunde
mais aproveitado para oescoamento da produção de café, "verdadeiro para do que esclarece, sendo Vidal um caso deverasemblemático desse tipo de
doxo geográfico explicado pela utilidade comerdal" (1902:22). recorte—, no artigoem tda Vidal lançar-se-ia numa empreitada nada sim
Do ponto de vista do que seria a Geografia Humana vidaliana, "Les ples: a definição e delimitação de um "novo" ramo da ciênciageográfica: a
conditions géographiques des faits sociaux" explicita também o interesse Geografia Humana. Nos limites assaz estreitos de que dispomos, não fare
pda variedade de tipos emanifestações sodais. Hábitos, instrumentos, ves mos senão anotar três tópicosque nos parecemcapitais/
timentas calimentação de tribos africanas, rizicultores chineses, pastores Primeiro, uma observação de cunho aparentemente "editorial"
5 argelinos e cidadãos urbanos norte-americanos despertam sua atenção, mas que, ao nosso ver, ajuda a revelar parte das intenções do autor. "La
posto que demonstram como ohomem écapaz de. através das mais diferen Géographie Humaine" apareceu naRcvuc deSynthese Historiquc, periódico
tes técnicas, lidarcom as adversidades do meio. criado pelo filósofo-historiador Henri Berr em 1900 e que desfrutava de
considerâvd prestígio no ambiente intelectual francês de então. Por que
Oestudo, do qual esbocei alguns traços, poderia ser assimformula publicá-lo numa revista voltada menos para geógrafos e mais para historia
do: tradução da vida geográfica doglobo na vida social dos homens. dores? Sugeriríamos que, como se tratava de um esforço tcórico-mclodo-
lógico voltado para o esclarecimento doque seria a "novidade" "Geografia
Reencontramos nestasformas de civilização aexpressão de causas
i lumana", se acrescente a isso o imperativo vidaliano da interdisciplinari-
gerais que atuam sobre toda asuperfície da terra: posição, exten
dade e pode-se perceber que seria uma boa estratégia de divulgação publi-
são, clima etc Elas engendram condições sociais que, sem dúvida,
apresentam diversidades locais, mas que, entretanto, são compará
veis em zonas análogas. Trata-se. portanto, de uma geografia: geo ' Para aqueles que se dispuserem a pesquisar a obra vidaliana, fica a sugestão da enor
grafia humana ou geografia das civilizações. Contudo, phomem me semelhança entre esse artigo e o já citado "Sur le scns et Ibbict de la géographie
não está para anatureza ambiente em uma relação de dependência humaine". Publicado sete anos depois, praticamente como se fosse uma continuação
equiparávet àdos animais eplantas. Todavia, como elefez para que (tamanhas sãoassemelhanças entreambos), Vidal parece quererratificar as premissas
as condições de existência, contraídas cm certos ambientes, adqui epistemológicas quenorteavam suas investigações. Coincidência ou não, "Sur lescns
et lbbjet de la géographie humaine" também surgiu num periódico não geográfico: a
rissem consistência efixidez suficientes para tornarem-se formas Rcvue politique et littéraire (Vidalde la Blache, 1912).

>...
31
ppppppppppppppppppppppp p p p p p p p p p p p p p p p p p p p p + * p
VIDAL. VIDAIS GEOGRAFIA HUMANA
car o referido texto numa revista dessa natureza. Além disso, como a Revue origem que a.geografia botânica czoológica. £ddas que ela extrai
de Synthese foi concebida visando a renovação epistemológica dos estudos sua perspectiva. O método éanálogo, porém bem mais delicado
históricos, faria pleno sentido que um artigo pensado também para a reno na manipulação —como cmtoda ciência onde a inteligência e a
vação da Geografia surgisse, precisamente, nela. Afinal, para Vidal —não vontade humanas estão em jogo. (1903:223-224, destaque nosso,
podemos jamais esquecer que ele éhistoriador deformação —, aGeografia exceto a palavra "geografia" no começo do parágrafo)
era uma ciência histórica. Elesempreexplorou a historicidade dos eventos «
geográficos (conforme veremos no comentário do artigo seguinte). Em terceiro, uma feição epistemológica fundamental atravessa esse
Um segundo tópico: novamente fazendo referêndas elogiosas a texto: a total inexistência da dicotomia homem-nalureza. Ora, estamos
Humboldt, Ritter e, desta vez, a Ratzd (embora faça questão de demarcar diante de algo absolutamente central —sobretudo quando sabemos que a
que o elemento político não é o principal da Geografia Humana [Vidal de fragmentação é um dos aspectos mais característicos do modus operandi da
la Blache, 1903:231], traço distintivo face à Antropogeographic), Vidal não Ciência Moderna. Tal feição tem seu peso redobrado quando nos damos
se faz de rogado e assevera que esse novo ramo não advém de outro lugar contade oue estamos no seiode uma disciplina que, não naquda ocasião,
senão da Geografia Botânica e da Geografia Zoológica. O que de quer di mas sobretudo no decorrer da segunda metade do século XX, mostrou-se
zer com isso? Que, além de tomar de empréstimo o método das Ciências por demais inapta em articular de modo satisfatório o homem eomeio. Eis
Naturais —vide porém a crucial ressalva presentena citação logoa seguir uma lição vidaliana essencial —que osdescaminhos da história dopensa
—, caberáà Geografia Humanaa análise dos temasadaptação, distribuição mento geográfico trataram de apagar. Mesmo que não se concorde com o
c migração dos homens. Porém, não como o fazem as outras ciências afins, plano mais geral em que Vidal a inscreve, é mister recuperá-la.
mas no indissolúvel laço com o solo que tais temas admitem. Portanto,
para a Geografia Humana, tudo o que diz respeito ao homem está ligado Tanto nos procedimentos quanto nos resultados, a obra geográfi
ao meio em que ele vive — meio esse determinado tanto pelas condições
caé, essencialmente, biológica. Velhos hábitos delinguagem fazem
gerais quanto pelas circunstâncias locais.
com que, freqüentemente, consideremos a natureza e o homem
Esdarccendo as razões pelas quais a Geografia Humana é digna desse
como dois termos opostos, dois adversários em duelo. Entretanto,
nome, da
o homem não é "como um império num império"; ele faz parte da
criação vivente, seu colaborador mais ativo. Ele não age sobre a
estuda afisionomia terrestre modificada pelo homem; nisso ela é
natureza senão nela c por ela. £ entrando na disputa da concor
geografia. Ela não encara osfatos humanos senão em sua relação
rência dos seres, tomando partido, que ele afirma suas intenções.
com a superfície onde sedesenvolve o drama múltiplo da concor
rência dos seres vivos. Há, portanto, fatos sociais e políticos que (1903:222)
não entram cm sua competência, que se ligam a ela apenas indi
retamente e, assim, não hápor que ela se ocupar deles. A despeito Passemos agora à cidade de Genebra, sede do IX Congresso Interna
desta restrição, ela mantém inúmeros pontos de contato com essa cional deGeografia onde, em 1908, o autor apresentou "De 1'interpretation
ordem defatos. No entanto, este ramo da geografia tem a mesma géographique des paysages". De evidente valor didático, encontra-se aqui
32 33
» + + *** + *%<* n n n i v » > 1111 >>!>>> I } f1HMlMlt1l

VIDAL. VIDAIS GEOGRAFIA HUMANA

a preocupação conceituai com apaisagem. Àluz de uma abordagem an Em 1911, nosso investigado redigiria um textoque se tornaria célebre
corada na historicidade cno par homem-meio, tal conceito levava os geó dentro e forada Geografia: "Les genresde viedansla géographie humaine".
grafos ao contato direto com a natureza ecom as intervenções humanas Publicado emduaspartes nosAnnales deGéographie, eleé assazrepresenta
nela operadas. Chamando atenção para a prática dos trabalhos de campo tivo de como Vidalconcebia as rdações homem-natureza. Estamos falando
(Vidal de la Blache, 1908:59), para ele a paisagem, verdadeiro documento de um jogo, cujosprincipais atores são os homens,os animais e as plantas,
"vivo", representava achance de visualizar e. no momento seguinte, analisar onde, no processo de distribuição pelasuperfície terrestre, os recursosdis
as metamorfoses que incidiam sobre o meio c o homem. Era imperioso poníveis adquirem papel fulcral. Sim,trata-se precisamente da disputa pela
que ogeógrafo conhecesse acomposição fisico-quírnica ea biologia ter sobrevivência. Não por acaso, os argumentos são tecidos com o auxilio de
restres, cujas expressões aparentes eram solo, relevo, vegetação, hidrografia vocábulos bastante sintomáticos como adaptação, concorrência, evolução,
etc. Essa estrutura ia, aos poucos, assumindo outros contornos, visto que. equilíbrio, ação e, máxime, luta. Nessa vereda, reverberam com clareza me-
sujeita ao homem, a natureza exerda seu poder de adaptação; sujeito àna ridiana o debate envolvendo Lamarck e Darwin. Independentemente do
tureza, o homem exercia seu poder de transformação. Seja quando fixava alcanceda influênda de ambos em sua obra (Bcrdoulay c Soubeyran, 1991;
estabelecimentos, seja quando, num plano mais complexo, edificava indús Robic, 1993;Claval, 2001), o fato é que ambos conformam-se em matrizes de
trias, homem e natureza costuravam laços densos e multifacetados. sua Geografia Humana—c,lato sensu, da Geografia Moderna (Livingstonc,
1992).
§ Por suas obras e pela influência que exerce sobre ele mesmo e o Do ponto de vista humano, ora a natureza é inimiga, ora cúmplice.
mundo vivente, o homem èparte integrante da paisagem. Ele a A domesticação de animais c plantas, por exemplo, foi essencial para a ali
mentação. Igualmente, o milho teria facilitado a colonização da América
humaniza ea modifica de algumaforma. Por isso, oestudo de seus
estabelecimentos fixos éparticularmente sugestivo, visto que éde (Vidal de la Blache, 1911a:294). Seguindo esse raciocínio,
acordo com eles que se ordenam cultivos, jardins, inas de comuni (...) a ação do homem se exerce às expensas de associações
cação; eles são os pontos de apoio das modificações que o homem preexistentes, que lhe opõem uma resistência desigual. Se ele con
produz sobre a terra. Não posso desenvolver aqui os argumentos seguiu transformar a seufavor uma grande parte da Terra, não
exigidos por este novo aspecto da questão. Limitemo-nos a obser lhefaltam áreas ondefoi derrotado. Nasporções da Terra que con
var que os estabelecimentos humanos introduzem um elemento de seguiu humanizar, o sucesso sófoi obtido ao preço de uma ofen
fixidez nas relaçõesgeográficas. Oprópriofato de eles existirem já ê siva na qual, aliás, encontrou aliados; sua intervenção, por assim
umaforma de sobrevivência, pois representam um depósito que as dizer, desencadeou forças que estavam cm suspensão. Para consti
gerações anteriores deixam às seguintes, umfundo de valor que dis tuir gêneros de vida que o tornassem independente das chances de
pensa começar (do zero) tudo de novo. Além disso, a rede deestra alimentação cotidiana, o homem teve que destruir certas associa
das e aformação de relações assegura, cm todo caso, novas razões ções de seres vivos para formar outras. Teve que agrupar, por meio
deser. (1908:63) de elementos reunidos de diversos lados, sua clientela de animais
eplantas, fazendo-se assim ao mesmo tempo destruidor ccriador,

34 35
r e r r e f c r r c r r e t r c t e c e r r e rif f cf• p>p p p p p p p p-p p * <~ <r t t frrr
VIDAL. VIDAIS GEOGRAFIA HUMANA
quer dizer, realizando simultaneamente os dois alas nos quais se Gostaríamos de levantar uma hipótese. Para nós, a questão de fundo
resume a noção de vida. (1911:200) perseguida por Vidal é a seguinte: como o homem, ao mesmo tempo tão
tributário da natureza, foi capaz de superá-la (não totalmente, decerto),
Se, em qualquer ocasião, o homem nãopodeescapar das necessidades tornando habitávcl (econhecida) boa parte dasuperfície terrestre?
básicas de comer, beber, reproduzir e habitar, há um determinado quadro Enfim, estamos diante de um geógrafo que aperfeiçoou um método
natural que impõe certas condições para que isso ocorra. Como existem de investigação bastante rico para aépoca, contemplando sobremaneira os
vários quadros, existem também diferentes formas deadaptação ao meio: seguintes pontos:
eis os gêneros de vida. Caçadores, pastores, agricultores e pescadores (os
gêneros de vida são comunidades rurais), dotados de técnicas especificas i correlação, encadeamento e articulação entre as partes e o todo,
e exercendo pressões distintas num dado meio, conformarão, numa escala reconhecendo aspectos particulares porém sempre atrelados
de tempo multissecular (seu foco é nas permanências, e não nas mudanças à unidade terrestre —principal item metodológico de Vidal;
breves e rápidas), um mosaico de riquíssimo conteúdo social, cultural e ii. comparações sociológicas, culturais, geográficas ehistóricas, o que
paisagístico. Édessa forma queo homem se situa diante do meio. significa lambem intensa exploração do par passado-presente;
iii. trabalhos de campo/observação direta, cartografia e pesquisas
Um gênero de vida constituído implica uma ação metódica c contí em arquivos, ao mesmo tempo que se apropriava dos saberes
nua que age fortemente sobre a natureza ou, para falar como geó
geográficos populares; Mj
grafo, sobre afisionomia dasáreas. Sem dúvida, a açãodohomem se
iv. a natureza como fonte de inspiração em tç/mos de totalidade,
fezsentir sobre seu "ambiente" desde o dia em que sua mão armou-
dinamismo, coordenação e estabilidade/mudança (no que tange à
se de um instrumento: pode-se dizer que, desde osprimôrdios das
civilizações, essa ação não foi negligenciável. Mas totalmente dife
temporalidade); ênfase nos métodos das Ciências Naturais;
rente c o efeito dehábitos organizados e sistemáticos que esculpem
v. interdisciplinaridadc de vanguarda, transitando com habilidade
cada vez mais profundamente seus sulcos, impondo-se pela força
pela Ecologia, Geologia, Etnografia, Sociologia e História, numa
adquirida por gerações sucessivas, imprimindo suas marcas nos abordagem que pregava a unidade das ciências e, portanto, rejeitava
espíritos, direcionando em um sentido determinado todas asforças a fragmentação típica daCiência Moderna;
doprogresso. (1911:194) vi. presença recorrente da tradição alemã de Humboldt, Ritter, Ratzel
e, em menor medida, Peschel.
Adespeito decontrovérsias, "Les genres devie dans lagéographie hu
maine" reforça outro aspecto importante do método vidaliano: a integra A título de síntese do que representa a epistemologia geográfica vida
ção, a leitura não dissociativa enlre o homem e a natureza. Nesse sentido, liana, sugeriríamos que se trata de um tipo original de démarche que, indo
a Geografia se apresenta como uma estratégia, uma mirada científica a ex do território [sol] (em sua acepção mais fisica) ao homem e retornando
plicar como a diversidade de ambientes deve ser explorada de maneira a ao território (já modificado), admite um triplo movimento, capaz de dis
beneficiar o homem o máximo possivd. tinguir a Geografia das demais ciências: o epistemológico, concernente à
36 37
'-•'••• ' -..=. r ••,:••• *. .... .. - - . - , . . . - . » . . . . . . .......... ...V...%„...w- « - . ~ . . ^ . ^.«.W*V«.*.~~,*W^„V* ... — — . . , , « . «
^niim^^nm >>i^>>i>,)>>>>>ii>i nivnmii

VIDAL, VIDAI5 GEOGRAFIA HUMANA

relação homem-meio e seus desdobramentos; o histórico, atinente à trans CLAVAL, Paul (2001). Êpistétnologie de la Géographie. Paris: Nathan.
formação humana da natureza através da técnica e da cultura; eopolítico, FEBVRE, Lucien (1922). U terre et levolutibn humaine. Paris: La Renaissancc du
incidindo nasdisputas espaciais promovidas notadamente porEstados Na Livre.
cionais e Impérios.
LIVINGSTONE, David (1992). lhe geographical tradition. Oxford: Blackwell.
Trazendo suas contribuições para nossos dias, parece que a globaliza
ção acabou por lhedar razão, visto que, como exposto, defendia a unidade RIBEIRO, Guilherme (2010b). Interrogando a ciência: a concepção vidaliana de
terrestre e o encadeamento dos fenômenos como pilares epistemológicos Geografia. Confins [On Une], 8. URL: http://confins.revues.org/6295
da Geografia. Atualmente, quem, em sã consciência, pretende explicar o ROBIC, Marie-Clairc (1993). Ulnvention dela "Géographie Humaine" autournant
mundo fora dessa perspectiva? Porém, não ésó isso: face a um pensamento des annécs 1900: les vidtüiens et lecologie. In: CLAVAL, Paul (dir.). Autour
que jamais dicotomizou homem enatureza; que destacou d.paisagem como de Vidal de la Blache. La formation de lecolc française de Géographie. Paris:
rcvdadora das dinâmicas presente e pretérita de um dado lugar; que sem Éditions du CNRS.
pre refletiu a Geografia a partir da interlocução comas demais ciências; e SIMIAND, François (1906-1909). Bases géographiques de lavie sociale. LAnnêe
quegrifou o papel das técnicas e da circulação nasmudanças do meio e na Sociologique, vol. XI.
organização doespaço, não restam dúvidas deque Vidal influenciou as ge
VIDAL DELA BLACHE. Paul (1922). Príncipes degéographie humaine. Paris: Ar
rações posteriores muito mais doque elas mesmas admitiram —cuja ânsia
•á mand Colin.
de ruptura nem sempre era acompanhada de avanços teórico-melodológi-
cos vigorosos, tal como pode-se constatar a propósito da New Geography (1917). La France de l'Est (Lorraine-Alsacc). Paris: Armand Colin.
ede uma certa marxificação dos conteúdos geográficos levada adiante por (1913). Des caracteres distinetifs de la géographie. Annales de Géogra
alguns representantes da chamada Geografia Crítica. phie, ano XXII, n. 124,
Não obstante, sua herança epistemológica nos parece plenamente (1912). Sur le scns etlbbjet de la géographie humaine. Revue politique
atual, e, guardadas as devidas proporções, mantém certa correspondência et littéraire. n. 17, ano L, abril.
comdeterminadas orientações da pesquisa contemporânea.
(1911). Les genres de vie dans la géographie humaine. Premier articlc.
Annales de Géographie. anoXX, n.111,
Referências (1911a). Les genres de vie dans la géographie humaine. Deuxième arti-
de. Annales deGéographie, anoXX. n. 112.
BERDOULAY, Vincent, SOUBEYRAN. Olivier (1991). Larnarck. Darwin et Vidd: (1908). De Tinterprétatíon géographique des paysages. Neuvième
aux fondements naturalistes de lecolc française de géographie. Annales de Congrés International de Géographie, Genebra.
Géographie, vol. 100. n. 561-562.
(1904). Rapports de la Sociologie avec la Géographie. Revue Internacio
CHRISTOFOLETTI, Antônio (org.) (1962). Perspectivas da Geografia. São Paulo: naldeSociologie, anoXII, n. 5, maio.
DifeL-

38 3"
c r c e r r r r c e r e e * e e c c e e e e c * e c c c e e c r e e e c e e e e e c c e c e, p
VIDAL. VIDAIS
(1903). La géographie humaine. Ses rapports avec la géographie de la
vie. Revue de synthese historique, vol. 7,agosto-dezembro.
(1903a). Tableau de lagéographique dela France. Paris: Hachcttc.
_ (1902). Les conditions géographiques desfaits sociaux. Annales deGéo
graphie, ano XI, n. 55.
(1899). Leçon dbuverture du cours de Géographie. Annales de Géogra 1.1. "PREFÁCIO"
phie, ano VIII, n. 38.
AO ATLAS GERAL VIDAL-LABLACHE:
(1896). Le príncipe de la géographie gênérale. Annales de Géographie,
ano V, n. 20. HISTÓRIA E GEOGRAFIA*
(1894). Préface. In: VIDAL-LABLACHE, Paul. Histoire et Géographie. [1894]
Atlasgeneral. Paris: Armand Colin.
(1S73). La Pêninsulc curopéennc. UOcéan et la Méditerranée. Leçon
dbuverture du cours d'histoire et géographie àla faculte de lcttres de Nancy.
Paris et Nancy: Bergcr-Lcvrault. Ao término deste trabalho, devo voltar meus agradecimentos aos edi o
tores que, generosamente, puseram à minha disposição os meios para
realizá-lo. assim como aos colaboradores que me confiaram seu apoio.
Agrada-me tal dever e o fato de poder citar aqui os nomes dos Srs. Lucien
Gallois, maitre de conférences na Sorbonne; Pierre Camena dAlmeida,
maitre de conférences na Faculdade de Caen; e Louis Raveneau e Paul
Dupuy, agrégés de história e geografia. Devo particular agradecimento aos
Srs. Jules Welsch, professor naFaculdade de Ciências de Poitiers que, com
boa vontade, ocupou-se das cartas geológicas, e Charles Seignobos, maitre
de conférences na Sorbonne, que me forneceu preciosa ajuda na seção desse
Atlas relativo à Históriada Idade Médiae dos Tempos Modernos.'
• Atlas general Vidal-Lablaclic. Histoire et Géographie. Paris: Armand Colin, 1895. Tra
dução: Guilherme Ribeiro. Revisão: Roberta Ceva.
1Os rriapas que foram feitos cm colaboração com outros portam, no fim da infor
mação, as iniciais do colaborador cuja contribuição foi bem aproveitada. Entre tais
40 41
f i . - ^ r . . . r - , " - . r . . —.-• <ÜWt«»WW —-- -
•Ü^***-*^"*! >%%*'*<9%<t* >% 9 9 9 9 9 ) > ) 1.9 >* 9 9 9 99 9 9

VIDAL, VIDAIS "PREFACIO"

Assim, consentindo em acrescentar algo de suas ciências e de suas Nesta compilação, procurei reunir sobre cada região [contrée] o con
personalidades numa obra cuja inidativa devia, entretanto (sob o risco de junto das indicações necessárias para se obter uma visão lógica. O mapa
romper a unidade necessária), conformar-se a um plano ea disposições já político do pais aser estudado é acompanhado de um mapa físico; ambos
estabelecidas, tais colaboradores, mestres experimentados, conferiram-me se esclarecem mutuamente, encontrando complemento em mapas ou fi
amarca da mais deucada simpatia —e um encorajamento sem oqual meu guras esquemáticas nos quais a geologia, a climatologia e aestatística for
ardor talvez tivesse falhado, dadas alentidão cacomplexidade da tarefa. necem os temas. Essa espéde de dossiê — se me permitem a expressão
Também encontrei no Sr. Eugène Létot, desenhista-geógrafo, um auxi — constituído, de acordo com o caso, de modo mais ou menos completo,
liar dos mais devotaÜos. Pesquisa c interpretação de documentos, trabalho tem por objetivo situar sob o olhar o conjunto dos traços que compõem
de execução sob meu controle, repetidas revisões e correções: durante uma região [contrée], a fim de permitir que o pensamento estabdeça, entre
mais de dez anos, estes foram objetos de uma intensa comunhão de tra estes, uma ligação.
balho c combinação de esforços, por intermédio dos quais pude apreciar De fato, é nessa ligação que consiste a explicação geográfica de uma
os conhecimentos desse excelente colaborador. Sabe-se lá o que exige de região [cortfrée]. Vistos isoladamente, os traços que formam a fisionomia
paciência catenção uma elaboração que, por níveis, vai do esboço primário de um pays têm valor de um fato; contudo, só adquirem valor de noção
àcondição do mapa pronto para ser entregue ao compilador? Sem dúvida, científica quando reposicionados no encadeamento do qual fazem parte.
um trabalho carregado de satisfação, à medida que o modelo assume ex Apenas esse encadeamento é capaz de con ferir-lhes significado pleno. Para
pressiva fisionomia; porém, um trabalho misturado à decepção, quando a tornâ-lo visível, é preciso esforçar-sepor reconstituir, até o ponto que o es
execuçãovem trair intenções que nos eram valiosas! tado geral dosconhecimentos permitir, iodos osanéis dacadeia. Essa não é
Queria que este Atlas parecesse digno das boas intenções nde apücadas. uma preocupação supérflua; ao contrário, é condição indispensável para a
Numa obra de tamanho fôlego, é bem difícil evitar por completo os equí clareza buscar, na geologia e noclima, as chaves dorelevo eda hidrografia,
vocos. Espero que revisões atentas venham a eliminá-los. Serão levadas em bem como nascondições físicas as razões da distribuição doshabitantes e
consideração observações que algumas pessoas complacentes quiserem, por da posição das ddades. Não se negligencia impunemente os níveis inter
bem, me enviar. Talvez seja possívd aprimorar os mapas cuja execução dei mediários, que permitem recuperar a série de causas e efeitos,
xou adesejar. Se em rdação aos detalhes posso esperar indulgência por parte Assim, tentando mostrar uma região [contrée] sob diferentes aspectos
do público, este não éo caso para o método seguido na composição e no — tal como se submete a ângulos distintos as diversas faces do objeto que
desenho da obra. Sobre isso. ojulgamento não comporta sursis algum; eis por se quer conhecer —, não tive outro objetivo senão iluminar o principio de
que talvez não seja inútil acrescentar algumas breves explicações àquelas que conexão que une os fenômenos geográficos. Se fiz empréstimos a ciências
já figuram, atítulo de informação, abaixo de cada mapa. vizinhas, não foi apenas para levar o pensamento a temas diferentes, mas
para ddes retirar testemunhos úteis. Porexemplo, não foi a estatística que
tentei exprimir cm alguns mapas,e sim a geografia atravésdas estatísticas.
mapas, existe ao menos um onde tudo pertence ao signatário: Paris sob aRevolução (n. Não procurei repetiro sábio quesegue passo a passo e número a número a
46), trabalho absolutamente pessoal do Sr. Paul Dupuy. evolução de um fenômeno econômicoou sodal. mas somente extrair des-

42 43
eeeeeeeeeerfcfeeeeeercreeeeeeeeeeeeeerffffrrrerr
VIDAL. VIDAIS •PREFACIO"
ses números os meios através dos quais ageografia pode fundar uma noção. ciso admitir —, aumenta decomplexidade, dada a crescente exigência de
Quer se trate de fatos dimáticos, botânicos ou econômicos, foi a relação com análises mais exatas c a percepção, cada vez mais clara, da intervenção
o lugar que procurei observar. Onde se localizam determinados fenômenos de causas que remontam a um passado longínquo quanto ao atual estado
do clima, formas de vegetação ou agrupamentos de produtos, eis oelemento terrestre.
geográfico: aqude que permite capturar uma relação com o solo. Tais idéias —que só parecerão novidade àqueles que tenham esquecido
Assim, a característica de uma região [contrée] é algo complexo, resul as lições dos principais geógrafos de nosso século —me serviram de base
tado do conjunto de um grande número de aspectos e da maneira como eguiaram este trabalho. Não épreciso considerá-las como uma espéde de
eles se combinam e se modificam mutuamente. É preciso ir além e reco filosofia planando acima dos estudos geográficos sem a eles se incorporar;
nhecer que nenhuma parte da Terra contém em si mesma sua explicação. ao contrário, deve-se fazer um esforço para que elas se unam intimamente
Só se descobre o jogo das condições locais com alguma dareza quando às descrições das diferentes regiões [contrées], de modo que ageografia não
aobservação se eleva para além de tais condições, quando se écapaz de se divida em duas partes verdadeiramente desiguais cm valor: um esludo
apreender as analogias naturalmente conduzidas pela generalidade das leis geral, que seria aciência da Terra, euma série de descrições sem método
terrestres. O estudo dos Alpes não avança sem o estudo de outros dobra- e sem sentido. Para isso, a cartografia é, seguramente, o instrumento mais
mentos da era recente; o estudo do Saara não ocorre satisfatoriamente sem apropriado. Onde encontrar meio de expressão tão capaz de concentrar as
o de outros desertos do globo. Na realidade, a Terra é um todo, cujas di rdações que devemos apresentar, em conjunto, ao pensamento? Sobre isso,
3
ferentes partes se esclarecem mutuamente. Seria colocar uma venda nos é fato significativo que Karl Ritter,1 no período de sua vida em que fermen
olhos estudar uma região [contrée] isoladamente, como se ela não fizesse tavam as idéias que. mais tarde, inspirariam a Erdkunde, tenha começado
parte de um conjunto. por conferir-lhes uma forma cartográfica. Asérie coordenada de seis ma
Como fazer para responder a essa necessidade metodológica, numa pas por ele publicada de 1804 a 1806 sobre orografia ehipsometria, flora,
coleção cujas exigências me impediam de multiplicar excessivamente as cultivos, fauna e população da Europa foi o primeiro ensaio de aplicação
cartas gerais da Terra? Essa dificuldade me preocupou c, no emprego fre dos princípios metodológicos que a ciência geográfica deveria assimilar.
qüente de cartas, figuras e distintos meios de evocação, veremos meu de Sabemos o desenvolvimento queesse tipode cartografia recebeu na pátria
sejo de manter oespirito sempre atento ao conjunto, uma advertência para de Ritter.
não se separar o caso particular dos fatos gerais. No entanto, não posso Agora, écom prazer que deixo, àprópria obra, a responsabilidade de
iludir-me sobre ovalor desses procedimentos; oleitor terá que, quase sem defender sua causa. É um instrumento de trabalho, um ensaio de coorde-
pre, recorrer às cartas gerais para encontrar um comentário sobre as cartas
particulares.
Portanto, a geografia tem diante de si um belo e difícil problema: ex : Mesmo na época em que o autor viveu, seu nome era grafado ora com "C" (por
exemplo, nas citações de Ratzel). ora com "K" (como fazia o próprio Ritter no inicio
trair, do conjunto dos traços que compõem a fisionomia de uma região, doséculo XX). Mudanças ortográficas nalíngua alemã noslevaram a optar pelo uso
o encadeamento que os une c, nesse encadeamento, uma expressão das de "Karl" nestas traduções, tal como hoje c uülizado na Alemanha. Agradecemos a
leis gerais do organismo terrestre. Problema que, a cada dia —é pre- Leonardo Arames por estasinformações. (N.T.)
•!•; 45
.... ... ........... « w d ^ m e i M » , . ^ , , , , , ...,.„..,,........ .... ,...-- • .... ........ . . ... - . •-.•.v...r..v,-.-—.-r-~T?^—i--/—••v'.-»-.-»..".^^
nvi ) n n > ) > m i »)u> i > i • >>*>-> i i inmiiiin

VIDAL, VIDAIS

nação metódica; freqüentemente, a experiência me fazia sentir sua neces


sidade. Eu adedicaria de bom grado aesses jovens mestres, entre os quais
vi despertar o gosto por esses estudos e com os quais —sobretudo —se
retoma a preocupação em conferir à geografia o lugar dentíftco que lhe
convém.
Contudo, não esqueci que uma compilação desse gênero devia seruma
obra de informações —e não apenas de doutrina —, cabendo á ela forne 1.2. O PRINCÍPIO DA
cerde modo rápido e fácil todas as indicações que se tem o direito de lhe GEOGRAFIA GERAL*
indagar. Desejo ter logrado tal objetivo. Porém, devo admitir, queria que [1896]
as pessoasque folheassem essa coleçãose sentissem tentadas a estudá-la, a
seguir o fio que as religa, a se interessar pelas relações que ela procura su
gerir. Assim, tais cartas, inanimadas emaparénda, assumiriam vidadiante
de seus olhos. No século XVI, os cartógrafos apraziam-se ao escrever, no
frontispicio desuas obras, os títulos pomposos de"Teatro doMundo", "Es
pelho do Mundo". Foi-se o tempo dessas qualificações. Todavia, por que Aideia de que aTerra éum todo, no qual as partes estão coordenadas,
I um atlas atual —quando, certamente, as relações entre as coisas aparecem proporciona àGeografia um principio de método cuja fecundidade
emmaior quantidade ecom maior clareza —não pode pretender estimular aparece melhor à medida que se amplia a sua aplicação. Se nada existe
a curiosidade e oferecer matéria à reflexão? isoladamente no organismo terrestre, se em todo lugar repercutem as leis
gerais, de modo que não se possa tocar uma parte sem provocar todo um
encadeamento decausas e de efeitos, a tarefa do geógrafo toma umcará
ter diferente daquele que às vezes lhe éatribuído. Qualquer que seja afra
ção da Terra que estude, de não pode nela se fechar. Um elemento geral
seintroduz emtodo estudo local. Não háde fato área emque a fisionomia

•Versão original: "Le príncipede la Géographie Gênérale". Annales de Géographie. vol.


V, out. 1895 aset1896. Paris: Armand Colin Editores. Tradução: Rogério Haesbaert c
Svlvain Souchaud. As citações cnotas de rodapé (com exceção da numeração) foram
mantidas tais como notexto original deLa Blache; expressões repetidas pelo autor na
sua escritura original grega não foram aqui reproduzidas por restrições tipográficas,
sendo substituídas pelo símbolo |*).

47
46
eeeeccf < frrrrfrfffrcrrerceee»###ercfreecrcceee«
VIDAL. VIDAIS O PRINCÍPIO DA GEOGRAFIA GERAL
não dependa de influências múltiplas e longínquas das quais importa I
determinar o local de origem. Cada área age imediatamente sobre sua
vizinha e é influenciada por da. Fora mesmo de toda relação de vizi A ideia da unidade terrestre não foi estranha à antigüidade grega. Confusa
nhança, a ação cada vez melhor reconhecida de leis gerais se traduz por entreos primeiros teóricos da geografia (penso aqui nossábios jónicos que,
afinidades de formas ou de climas que, sem alterar aindividualidade pró mais de seis séculos antes da nossa era, raciocinavam sobre as causas físicas
pria de cada área, marca-a com características análogas. Estas analogias dos fenômenos), a concepção de um conjuntoordenado, cm que as coisas
ou "conformidades", seguindo o termo muito conhecido de Bacon, desde devem seu caráter ao lugar que ocupam, torna-se mais exatano momento
que o homem começou a dominar 0 conjunto dos fenômenos terrestres, cm que a noção de esfericidade da Terra introduz-se na ciência. Aparece
chamaram asua atenção. Muitas podem ser apenas aparentes, mas outras entãoa divisão do globo em zonas, cada umadelas supostamente comuni
são reais; elas são fundadas não sobre puros encontros exteriores, mas cando sua marca ao clima, à vegetação, à fauna e às raças humanas. Muito
sobre relações de origem ede causas. Entre estas aaproximação se impõe, cedo, como demonstrou Hugo Bergcr na sua recente Histoire dela Géogra
pois cada uma proporciona àoutra seu tributo de explicação. Ogeógrafo phie scientifique chez les Grecs,' vê-se desenhar o antagonismo entre duas
élevado assim a projetar, sobre o tema que estuda, todo oesclarecimento concepções diferentes da geografia. Uns estudam a Terra como um todo,
fornecido pela comparação de casos análogos. na sua unidade; para outros, a geografia é um repertório de informações
Énesse espirito que cada vez mais são tratadas nos nossos dias as ques ou descrições, onde, por uma inclinação natural, acumula-se tudo o que
tões geográficas. Teríamos apenas que escolher os exemplos. Esse ponto de pode almejar a curiosidade, mas com o risco de perder de vista o objeto
vista supõe, com certeza, uma ciènda suficientemente avançada para ser essencial, a própria Terra.
capaz de apreender oque há de regular no mecanismo dos agentes físicos, O grande mérito das escolas de Eratóstenes e de Ptolomeu foi o de
e paraseguir a sua açãosobre a maior parte, se não sobre a totalidade, do manter aberta a via cientifica, através do estudo geral da Terra.' Mas como
globo. Contudo, o printípio sobre oqual de repousa, eque poderíamos é fácil perceber a razão, o organismo terrestre apareceu-lhes como uma
formular recorrendo à idéia da unidade terrestre, está longe de ser novo unidade puramente matemática. A ideia que faziam das zonas terrestres
na ciência geográfica. Essa idéia se manifestou primeiro de um modo que foi, para eles, uma espécie de postulado que permitia porantecipação abar
car a totalidade do globo, como se já fosse ele realmente conhecido. Para
se poderia, de certa forma, denominar prematuro, já que oestado real do
Ptolomeu, por exemplo, as mesmas latitudes implicam os mesmosclimas,
conhecimento estava longe de lhe corresponder; ela, contudo, existe, fruti-
as mesmas plantas, os mesmos animais. É sobre esse princípio que a sua
fica, cdepois vai sendo retificada cse desenvolve pelos próprios progressos
crítica se apoia para coordenar e retificar as relações dos viajantes. A pre
da ciência.
sença numerosa [*] de elefantes, rinocerontes, a cor negra dos habitantes,
Talvez seja interessante retraçar a evolução dessa ideia, em que é in
contestável seu papel capital no transcurso do método geográfico. Êo que
irei tentar fazer nesta rápida apreciação. 1Geschichtc der wissenschafilichen Erdkunde der Griechcn. Leipzig, 1887-1893.
1É em nome da unidade terrestre que Eratóstenes critica severamenteas divisõestra
dicionais de partes do mundo.
48 49
• .-. -r.-.-.i.-7-.-í".-%•.-...— ••• --...vnni"»sitm ***&*&&»ÕS**tM<iMtt>ààÍ&*V<^^ • "*tí* ..,....-..-.—, l.i II.W • •••
* * * * * ^ I 9 9 %% 9 9 9 9 )>>^,>>>>>^>V>>>>>1>*,^^ ^1>^>^1I'%

VIDAL. VlDAIS O PRINCÍPIO DA GEOGRAFIA GERAL

são para ele indidos quedevem se reproduzir atéas mesmas distancias do homem, o mundo do Mediterrâneo não é, em si mesmo, propicio à,per
equador c não além, deconformidade com as analogias do meio [']. Ele cepção de relações gerais. Afragmentação dos contornos, que éum dos en
deduz a posição das áreas a partir dos aspectos de sua vegetação e de sua cantos dos horizontes greco-latinos, é também uma causa de obscuridade.
fauna, com uma segurança que não permite duvidar do valor absoluto que Nenhum mar é tão extenso, nenhuma forma de superfície é tão desenvol
se costumava então prestar ao criteríum matemático.' vida para que os fenômenos físicos ai se apresentem com aamplitude ea
Munidos das melhores determinações astronômicas; os antigos não simplicidade que as superfícies do Oceano ou das vastas planícies da Ásia
teriam caído nesta confusão. Até mesmo no campo que lhes era mais fa ou da América lhes imprimem. Cada compartimento do Mediterrâneo tem
miliar, o do Mediterrâneo, há anomalias singulares que com certeza lhes oseu regime de ventos ede correntes. Cada área ribeirinha tem oseu clima.
teriam chamado a atenção. Se, por exemplo, tivessem conseguido deter As causas locais dominam, pelo menos em aparência, e a influência das
minar as latitudes das margens do mar Negro e da Crimeia, do mesmo causas gerais, às quais pertencem todas as partes do organismo terrestre,
modo como determinaram as do vale do Ródano, teriam sido levados às não se deixa facilmente entrever.
causasque podem introduzir tais diferençasde natureza e de dima entre as As grandes expedições marítimas dos séculos XV e XVI romperam o
regiões situadas no mesmo paralelo;teriam percebido pelo menos a distãn- encantamento que a ciência geográfica mantivera ao redor do Mediterrâ
da que existe entre as zonas matemáticas e as divisões infinitamente mais neo. Descobriu-se então o que aexiguidade das dimensões e acomplicação
complexas que resultam da combinação de causas físicas. das formas não havia permitido discernir: o espetáculo de fatos gerais de
A imperfeição dos métodos de observação foi para a Geografia dos ordem fisica, simples nos seus efeitos, grandiosos no seu desenvolvimento,
antigos um princípiode fraqueza, aindamaisperceptível do queaquele que dotados de um caráter de permanência e de periodicidade.
provinha do espaço restrito no qual se estendiam os seus conhedmentos. As observações tornaram-se mais precisas porque a necessidade de se
Na realidade, os geógrafos dos dois primeiros séculos da nossa era dispu orientar longe das costas obrigou os navegantes a aperfeiçoar seus instru
nham de informaçõesque iam do Báltico ao Sudão, do Atlânticoaos mares mentos. E, a partir do momento em que os navegantes foram capazes de
da China; mas, apesar de terem aplicado suas observações a fenômenos determinar com precisão asua posição em termos de longitude elatitude,
tais como as marés, as monções e as chuvastropicais, a maior parte dessas asdesvios involuntários de rota começaram a abrir-lhes os olhos sobre as
informações carecia de precisão paradar bons resultados.* É sobretudo do correntes desconhecidas que cruzam a massa oceânica. O regime dos ven
ponto de vista do Mediterrâneo que eles enfocaram as ciências da Terra. tos revelou, longe das costas, um caráter de regularidade que não era co
Domínio admirável para o estudo dos fenômenos que modificam a super nhecido. Começou-se a dar conta dos traços gerais dessa circulação que
fície terrestre e mostram a crosta do globo sob um aspecto de permanente aciona amassa líquida eaérea doglobo eque joga umpapdtão importante
instabilidade. Não menos instrutivo sobre as relações da natureza com o naeconomia dos climas. Toda essa parte da vida terrestre havia escapado
à ciência antiga.
Na verdade, parece que os espaços marítimos tiveram a virtude de
1Ptol., Géographie, 1.9.4 —cí. Aristóteles, Tratado do Céu. 11,14.
iniciação para todas as descobertas fundamentais da Geografia. Foi a li
' Eles conheceram a monção de verão enue a África c a Índia, masnãohouve nenhum
nha curva dos mares que sugeriu ao homem a ideia da esfericidade da
indicio de que tenham percebido a influência desta monção sobre o clima da Índia.

:'C 51
(fffffcíffnrttffffrfíffífitrftf(Cffffffíífrffcf
VIDAL. VIDAIS O PRINCÍPIO DA GEOGRAFIA GERAL
Terra. Foram as navegações da Grécia ao Egito que, chamando-lhe a contra as costas orientais do antigo c novo continente uma das causas que
atenção sobre a diferença que aparece na posição dos astros durante esse determinaram a sua configuração.'
trajeto, sugeriram a ideia das dimensões relativamente restritas da esfera Quando os navegantes espanhóis começaram a freqüentar as cost3s
terrestre.1 São as viagens do século XVI que mostram os movimentos dos da Flórida, nãotardaram cm perceber que, subindo emlatitude, encontra
ventos c das águas. vam-se ventos de oeste, que foram chamados ventos de retorno. Após sees
Já Cristóvão Colombo, na sua terceira travessia (1498), reconhece que tabelecerem nas Filipinas, procuraram no Pacífico a repetição daquela zona
as águas do mar "se movem, como o céu", do Oriente ao Ocidente: Las deventos de oeste, de que necessitavam para suas relações com o México.
águas van con los ciclos. Pouco importa queele tenha se enganado sobre o Depois de vinte anos de sondagens, acabaram por encontrá-la. Einteres
sentido real do movimentodo céu;sua observação introduziana ciência a sante constatar nesse exemplo aaplicação à Geografia de um método igual
primeira noção desse amplo e grandioso movimento que, dos dois lados àquele do astrônomo, que descobre um planeta previamente determinado
do equador, arrasta juntas, no mesmo sentido, a massa líquida e a massa pelosseus cálculos.
de ar, lançadas uma e outra para trás pdo aumento de rapidez da rota Desejo apenas, com esses exemplos, mostrar amudança de perspectiva
ção terrestre. Quando, uns trinta anos depois, o fenômeno constatado no que então se introduziu no estudo do globo. Segundo a passagem muitas
Atlântico foi constatado também no Pacifico, ele surgiu no seu pleno ca vezes citada do Novum Organum,1 em que Bacon indica, como um im
ráter de generalidade que Colombo parecia ter adivinhado. Viu-se, além portante exemplo de conformidade, a analogia de formas entre a África c 00
o
f-l
das terras americanas, as mesmas correntes se reproduzirem nas mesmas a América do Sul, pode-se perceber o quão naturalmente se manifestava,
zonas, osmesmos movimentos fazendo oscilar cm massa os ares e aságuas. ao simples aspecto dos novos mapas, o sentido da generalidade dos fatos
Sabe-se quanta utilidade prática teve o conhecimento' dessa importante terrestres. Muitos outros depois dele, c a partir de novos indícios, nota
característica da circulação, igualmente relevante para os teóricos da Terra. ram formas menores no mesmo sentido, repetindo-se em menor ou maior
Buffon, dois séculos depois, acreditou terencontrado nesse afluxo das águas intensidade, rcproduzindo-se quase cm todo lugar na configuração dos
continentes, e repetiram a palavra, quod non temere accidit. Existe ai, de
fato, a expressão' "de um certo sistema natural de ordenamento terrestre";
1"Resulta da observação dos astros, nãosomente que a Terraé umaesfera, mas tam ou, como ainda foi sugerido pela indicação exterior do nosso planeta, a
bém que essaesfera não c grande."(Aristóteles, Traité du Ciei, II, 14) silhueta que chamaria aatenção de um observador ideal, supostamente ob-
' "Os navios que vão de Acapdco às Filipinas", escreve Varenius, "navegam durante
sessenta dias sem nenhuma troca devda, apesar de os marujos poderem dormir cm
paz sem se preocupar com o navio, que o próprio vento trata de conduzir ao porto." ; 'íliéorie dela Terre, I, p.50,p. 205 etc.(cd. Flourens).
Estas viagens espanholas do México àsFilipinas, com retorno pelo México, se efeti •Livro II, aforismo 27 (1620).
varamdurante doisséculos (a partir de 1571) com uma regularidade automática: era
♦ K. Ritter, Uber geographische Stellung und horizontale Ausbreitung der F.rdtheiic
recomendado permanecer nazona dosallscos para o trajeto de Acapulco a Manila e.
(1826). (Bnleitung zur allgcmeincn vergleichenden Géographie und Ahhandlungcn..
para o retorno, subir até os 35 graus de latitude norte, onde se encontrariam os ventos
de oeste. Berlim, 1852.)
52 53
.-,-.*.•.-.- •••-*• • -" - •.-. ....^-». -
.......
..»*• • • J ^ , „ . . . , - . — .« .. . .
»••-----—- --- - —
nvnm>m))r>) i > > \ > v> nmnm) i

VIDAL, VIDAIS O PRINCIPIO DA GEOGRAFIA GERAL

servando o disco terrestre no espaço, se oolhar dde pudesse atravessar a sobre asregras gerais, estuda cada áreaetc." Poderíamos a partir daiafirmar
zona de nuvens que/urva a nossa atmosfera.50 queo dualismo indicado porVarenius é apenas aparente, pois a relação en
tre as leis gerais e as descrições particulares, quesão a sua aplicação, cons
titui a unidade intima da geografia. Mas ninguém ainda haviaformulado
com tal nitidez a questão da geografia científica. Seu livro é uma série de
Aobra teórica que melhor traduziu oefeito dessa ampliação de horizontes análises, apresentadas soba forma de proposições seguidas de respostas, e,
foi otrabalho publicado em 1650,sob osignificativo titulo de Géographiegê apesardesta aparênciaescolástica, é de espirito bastante moderno.
nérale, por um alemão do norte estabdeddo na Holanda, Bernard Varenius. O tratado de Varenius contribuiu muito para fixar o pensamento geo
Ele era um médico, fortemente influenciado por estudos matemáticos, gráfico. Basta dizerque Isaac Newton lhe consagra, em 1681, uma edição
ao qual a permanênda em Amsterdã inspirou o gosto pela geografia. revista e aumentada." Mais tarde ainda, Buffon o cita com freqüência, c
Desde que os ingleses renunciaram às suas buscas de passagem pdo no muitos indícios permitem perceber que este livro não deixou de exercer
roeste, a Holanda era o único pais da Europa que. com os Van Diemen eos influência sobre suas idéias. Sabe-se que,na concepção que ele fazia da his
Tasman, ainda continuava a tradição das grandes viagens marítimas. Em tória naturaldos animais, o estudo da Terraé a base, pois,diz de, "ahistória
Paris, onde mais tarde seria instalado ocentro da déncia geográfica, não geral da Terra deve preceder a história particular de suasproduções"." Esta
existia ainda nem aAcademia de Ciências, nem oObservatório, eera para história, que ele procurava reconstituir deforma audaciosa nopassado, era
Amsterdã que convergiam as novas informações. Olivro de Varenius érico estudada também sob seu aspecto presente e, nestaparte de sua obra, em
em observações precisas provenientes dos navegadores. Suas idéias sobre que ele se mostra um geógrafo muito atento às explorações contemporâ
as divisões dos mares, os movimentos do Oceano, as ilhas, testemunham neas. Buffon segue nitidamente a tradição de Varenius. O queele chama de
estudo "da natureza cm escala ampla"1' não é, qualquer que seja a leitura,
uma precisão de conhedmentos cgrande segurança de generalização. Re
o desprezo do detalhe, mas a justa subordinação do detalhe ao conjunto.
sumindo os movimentos da massa liquida em uma fórmula que outros,
Profundamente imbuído do sentimento de ordem e de encadeamento dos
mais tarde, poderão aplicar àmassa de ar, ele diz: "Quando uma parte do
fenômenos, ele não pretende estudar a natureza com olhos de míope; de
Oceano se move, todo oOceano se move."" Um amplo sentido da conexão
não quer fracionar ostraços que, se forem isolados, lembram assílabas que
dos fenômenos terrestres se faz presente em toda asua obra. Ele explica, uma criança soletrasem a consciência da palavraà qual elas pertencem.
com perfeita consciência do seu método, oobjeto da ciência: "A geografia
édupla. Há uma geografia geral - quase totalmente negligendada ainda
hoje —euma especial. Aprimeira considera aTerra em sèu conjunto, ex '•' Bernhardi Vareni Géographie gencralis, etc, summa cura quam plurimis in heis
plicando as diferentes partes eos fenômenos gerais; asegunda, guiando-sc emcndaia... ab Isaaco Ncston. Cantabrlgiae, ex oficina loannis Hayes ceie berrimae
Academiae Typographi... MDCLXXXi.
0 Histoire etIhéorie dela Terre, vol. I, p.33.
*Ed. Suess, Das Antlitz der Erde, 1.1. p. 1.
" Histoire et Ihéorie de la Terre. São as próprias expressões do Cosmos de Humboldt
" Quum pars Occani movetur, totus movetur. (C 14, §2) (trad. Fayc, princip. p. II. introd. p. 34).

54
55
c ee cececccrrreecrcfrcfferrrcrcceceereerfceeeeeccf
VIDAL, VIDAIS O PRINCIPIO DA GEOGRAFIA GERAL
Faltava às generalizações da ciência de então a base de uma soma su fere a ligação de fatos já anteriormente observados ao conhecimento de
ficiente de observações precisas. Mas o século XVIII, seguindo neste sen fatos isolados, mesmo quando eles são fatos novos"" —expressão que pode
tido a obra do XVII, trabalhava, justamente, para colocar à disposição da apenas explicar um estado de incoerência ainda muito grande entre as di
ciência uma massa de dados seguros como ela nunca havia obtido, pelo versas partes da geografia. Ele combatia diretamente essa incoerência, pois
aperfeiçoamento dos instrumentos de observação e pela precisão enfim o que procurava alcançar era, sobretudo, a conexidade dos fenômenos c
introduzida nos mapas. O que havia sido o grande e antigo desideratum as influências reciprocas que se intercambiam entre as diversas partes do
daGeografia, a constituição do mapa do mundo, de um quadro fixo onde organismo terrestre. Botânico apaixonado, como ele nos diz," transmite à
pudessem ser registrados os fatos novos, se encontra em grande parte geografia o método de dassificação das ciências naturais, mas o principio
realizado pelo trabalho de Dclisle,de dAnville.de Cassini, no momento cm sobre o qual ele funda seus tipos de fisionomia vegetal exprime a relação
que iria começar a atividade do autor de Cosmos e do aulor de Allgcmeine da planta com o meio físico." Abotânica se torna geografia ao estudar o
Vergleichende Géographie."
que na fisionomia das formações vegetais reflete a altitude, ograu de umi
A ideia, em si,de uma Geografia geral fundada sobre o encadeamento
dade ou desequidão do ar etc. Na multiplicidade de temas sobre os quais
dos fenômenos não podia passar por nova; observamo-la emergir natu
exercitou seu pensamento, procurava sempre constituir o quadro de con
ralmente da revelação progressiva das grandes características do globo.
junto dosfatos.convencido de que, uma vez conhecida suarepartição ter
Não havia mesmo nada, como já salientamos, no sentido que Karl Ritter o
emprestava à palavra Geografia comparada, que implicasse uma ordem de
restre, as próprias rdações se apresentaram ao espirito. É assim que, das
pesquisas nova, que alcançasse o modo de transformação dos fenômenos: observações de temperatura que era possível reunir, ele retirava o traçado
das linhas isotermas. Será suficiente, mais tarde, estender o modo de repre
a comparação era, para ele, sobretudo, um instrumento apropriado para
provocar a manifestação,por oposição, da individualidade de cada ser. Para sentação a outros fenômenos para constituir o Aüas físico, cuja primeira
Humboldt, quetambém a empregava, a comparação era o meio de discer edição a Bcrghaus faria aparecer cm 1836, sob inspiração de Humboldt.
nir entre os fatos aquilo que eles ofereciam de comum em relação às leis Pois, acima de tudo, está o dom da expressão, da fórmula contundente que
terrestres.l, A originalidade está inteiramente nos desenvolvimentos e nas condensa em uma palavra, em uma frase" ou em uma cifra, uma soma
aplicações pelas quais esses dois grandes espíritos fecundaram um princi considerável de observações. A influência que ele exerceu sobre a geogra
pio já inserido na ciência. fia, vista de bomgradocomo sendomuito fecunda, consiste sobretudo nos
Humboldt se dedica, especialmente, à coordenação c à classificação tipos que ele criou, nos quadros metódicos de observação que constituiu.
dos fatos. Apesar de observador infaligável, ele próprio confessa que "pre-
u Humboldt (1769-1859); Ritter (1779-1859). " Rije indie Acquitwctial-Gegcndcn. —Eialeitung, p.3.
'* "Ich liebte die Hotanik mit Leidcnschaft" (Reise, id. ib.).
'* Ver no Cosmos (trad. Fayc, p. 82) a interessante passagem sobre a determinação
numérica dosvalores médios, "que representam o que hàde constante nos fenômenos " Physionomic desplantes, no Tablcaux de la nature (1808).
variáveis, e que constituema expressãodas leisfísicas". 10 Muitasfrases ficaram comoformações clássicas; bastaaqui que foi
56 57
...-..•-•'•.---. .*.'-•-• v---.- ..-...-..-.,. -.-- - v s . ^ « ^ - ^ — ,-wv.-.«•*• v».*
>vn^vnn>> > > ) n •9 9 9 *+* + %** mi) nn^iiii

VIDAL, VIDAIS O PRINCIPIO DA GEOGRAFIA GERAL

Ele sedestaca pormobilizar os fatos, convertê-los emfórmulas correntes e integrante, e não como anexo, quea obra histórica da humanidade encon
emdados comparáveis entresi." tra lugar na sua concepção da vida terrestre, como o mais ativo e o mais
Há entre Ritter c Humboldt, como é natural entre dois homens cujas poderoso dos elementos detransformação ede vida que aí se manifestam.-"'
vidas científicas foram paralelas, um fundo de idéias comuns. Devemos Não é em vão que as pesquisas do oricntalismo tenham conseguido em
considerar, diz Ritter, que "no objeto da geografia, como em todo orga sua época recuar no passado oslimites da história: a Ásia setorna para ele
nismo, a parte só pode ser alcançada pelo conjunto vivo"." Ele pretende não apenas a mais grandiosa expressão dos contrastes físicos que a terra
que sua obra seja "um esforço para abarcar as energias naturais em sua oferece, mas também o berço de nossas civilizações. E, combinando essas
conexidade".1' Se existe umadiferença entreos dois, ela nãoserefere a uma duas idéias, ele mostra como, das montanhas de Cabul até as extremidades
concepção outra das relações entre a natureza c o homem. Humboldt não ocidentais do Mediterrâneo, uma corrente geral, que tem seu principio nas
se expressou menos claramente que Ritter sobre a conexão íntima entre próprias bases da natureza fisica das áreas, levou rumo ao oeste raças hu
as duas ordens de fatos, físicos e humanos." A ideia de exduir o elemento manas e plantas, c fez desta parle da Ásia o Oriente do mundo do ponto de
humano da geografia não estaria presente no espirito desta geração dos vista da natureza e da história.1'
Humboldt edos Cavier. animada por uma concepção tão elevada de ideal Levado pela natureza de sua obra a efetuarsucessivamente a aplicação
cientifico. Seria ainda menos verdadeiro atribuir aRitter alguma concep desuasvisõesgeraisa áreasparticulares, o autor de Erdkunde deu-lhesuma
- ção naqual a geografia nãoseriamais do queumahistória sofisticada: "Êa forma concreta que aguça o sentido. Seriadifícil compreender tudo o que
variedade dasformas do solo queconstitui a base de todas asoutras."" encerra a ideia de posição geográfica (Weltstellung) se Ritter não houvesse
Mas aforça da inspiração histórica é uma das originalidades de Ritter. mostrado, colocando-se do ponto de vista de cada área, uma após a outra,
As palavras "Natur und Geschichte" são dois termos perpetuamente asso através de fatos e de exemplos, a profunda significação quea ela estávincu
ciados, entre os quais, sem cessar, gravita oseu pensamento. Écomo parte lada. Épelo fato de ele ter descrito analiticamente aÍndia, o Irã, a Palestina
etc. que não é mais permitido considerar as diversas partes da Terra como
uma justaposição inanimada," mas como um lugar reciproco de forças
" Mesma preocupação cm Ritter: ver Bcmerkungcn über Vcranschaulichungsmittel atuantes.
rãum licher Vcrhãltisse bei graphisclien Darstellungen durch Farm und Zahl (Einlei- Na verdade, o principio das reaçõesque as diferentes partes terrestres
tung... und Ablianlungen. p. 129 eseguintes).
exercem umas sobre as outras encontra-se na sua natureza física. Daí essas
'•' Uberdas historische Elcment in dergeographischcn Wissenchafi (1833) (Einleitung... análises pacientes emque Ritter passa minuciosamente em revista todos os
und Ablianlungen, p. 181).
•'"Strebcn nach Ubcrsiéhtder Naturwirkungen in ihrcm Zusammcnhange". (Einlciiung
zu dem Versuche einer allgemeinen vcrgleichenden Géographie, 1818. Em Einleitung... " Uberdas historische Elcment etc. (1832Einleitung... und Ablianlungen, p. 180).
und Ablianlungen, p.7). 37£r<«:umfe,v.VII,p.Z37.
' "Tudo oque faz nascer uma variedade qualquer de formas (...) imprime um modo !! "Das loblose statt des lebendigen ergreifen". (Ubcr das hist. Elcment... Em Einlei
particular ao estado social". (Cosmos, p. 350. trad. francesa) tung... und Abhandlungen, p. 180) Cf. o desenvolvimento de algumas dessas idéias na
:> Erdkunde, v. II, p.71 (1832). Anthropogcographic de Fr. Ratzel (v. II,Einleitung, ib. cap. 19 epassim).

r-a 59
c PP90PPPPPPPPPPPPPPPPPPré p p p p p p ppp p p P P p p p pp p pr c e
VIDAL. VIDAIS O PRINCÍPIO DA GEOGRAFIA GERAL
traços físicos próprios que irão imprimir uma certa impulsão à atividade a marca de um momento raro, aquele em que o feixe de conhecimentos
da natureza edo homem." Toda variedade, toda desigualdade e, com maior diversos que constitui uma ciência permanece ainda muito estreito para
razão, todo contraste são os pretextos de intercâmbios, de relações ede pe que seja possívd abarcar todo oconjunto. Até mesmo na linguagem falada
netração reríprocas. Eles põem em marcha todas as forças pelas quais, na pela ciénda, refletc-sc aimpressão das grandes perspectivas que oespirito
natureza, o equilíbrio rompido tende a se restabelecer, ou pelas quais, abarca. Épor vezes com tons de revelação que Humboldt eRitter falam das
na ordem dos fenômenos humanos, um desejo é despertado, uma necessi leis terrestres e da correspondência íntima entreos fenômenos.
dade é satisfeita, uma açãoexterior é solicitada. Pois seria difícil encontrar A ciência se espedalizou infinitamente nos nossos dias. Épor cami
uma palavra capaz de traduzir tudo o que implica de significação ampla e nhos diferentes, e muitas vezes sem ligação entre as diversas disciplinas
variada a palavra Ausgleichung, que aparece com tanta freqüência na termi que contribuem para a formação da Geografia, que prosseguiu a investi
nologia de Karl Ritter. Variedade para ele ésinônimo devida. Oscontrastes, gação sobre o estudo da Terra. Muitos entre os estudiosos que aí se enga
no contato dos quais osfenômenos brotam cm profusão, são como pontos
jaram, partindo de especialidades diversas, eram estranhos às tradições da
luminosos para os quais é atraída a sua atenção. Alguns ele caracterizou
Geografia geral. Portanto, foi a própria força dos fatos,que os reconduziu às
com traços magistrais: o contraste entre a planície c a montanha, entre as
idéias sobre as quais ela havia sido fundada.
áreas de cultivos e os desertos e, sobretudo, o maior de todos, aquele que
Se fosse necessária uma demonstração contundente da ideia, por nós
é um núcleo intenso de energias físicas e de relações humanas, a zona de
encontro entre as terras e os mares. As zonas em que eles se combinam em já reconhecida como tendo sido daramente expressada necessidade de li
poderc em número sãoincompaníveis centros deação. Êo casoda Grécia, gar os fatos ao conjunto eda insuficiência do detalhe para explicar-se por si
da Palestina e daquela parteda Ásia emqueasplanícies do Turâ e da Índia mesmo, não encontraríamos nada melhor do que a demonstração propor
se aproximam, no sopé das mais altasmontanhasdo globo." cionada pelos progressos da meteorologia. "Nos movimentos da atmosfera
nenhum lugar pode ser isolado; cada um age sobre o seu vizinho, c este
age novamente sobre ele" —aquele que fala dessa forma a linguagem de
Karl Ritter é Dovc," e seu método é aquele em que ele logo introduziu
Somos lcvados.a evocar essas idéias e a reconstituir tanto quanto possível de modo frutífero o estudo dos dimas. A cada dia constata-se que este
sua formação e seu encadeamento. Primeiro, porque sua fecundidade está fenômeno, antes visto como produto decausas locais, é naverdade a reper
longe deseresgotada c porque haveria ainda benefícios para aciéndaatual cussãode causasbem mais distantes e mais geraisdo queseacreditava. Não
se fortalecer. Além disso, elas apresentam um interesse histórico: trazem conheço nada que dê umsentimento mais vivo da solidariedade das dife
rentes regiões daTerra do queos mapas dotempo, cuja inidativa remonta a
" "Naturimpulscn." Leverrier e que colocam sob nossos olhos, dia a dia, o estado e a mardia
"Ver entre tantas outras passagens, Erdk, v. II, p. 74, id., v. VII, p. 353, p. 237 etc. Cf.
Ubcr rãumliche Anordnungen auf der Aussenseite des Erdballs. etc. (Einleitung... und
Ablianlungen, p. 240). 31 Dovc. DieKlimatischcn Verháltnisse des preussischcn Siaaies, v. 111, p.74.
60 61
* • - - rt........ . . . . . . . . » - ^ . . , ~ ^. . . ... ........-, ^ -
9 %^ 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 %9 ^"% 9 9 > illVllll^l^^^^*'*1*

VIDAL. VIDAIS O PRINCÍPIO DA GEOGRAFIA GERAL

das perturbações atmosféricas. Quando vemos uma tempestade formada termos se parecem, os pontos de vista diferem. Os geógrafos da primeira
sobre a zona daGulfstream [Corrente do Golfo] ou sobre os grandes lagos metade do século procuravam definir e classificar os fatos segundo suas
da América chegar à Noruega ou à Irlanda, passar sobre o Báltico, reper características presentes, sem que essas características fossem relacionadas
cutir sobre o golfo de Gênova c desencadear o mistral no vale do Ródano, com as causas que as produziram. Totalmente diferentes são as aproxima
parece que assistimos a uma experiência que torna sensívd a conexidade ções tentadas pelos geólogos ou pelos geógrafos contemporâneos. Quando,
das regiões terrestres, como a experiência de Foucault tornando possível o para compará-las, eles agrupam as margens, lacustres do Báltico eas pai
movimento da Terra. sagens de Minnesota, a Finlândia co Labrador, os Alpes e o Himalaia," a
Os geólogos não nos trazem testemunhos menos significativos. Grande Bada Americana c a Ásia Central," os fiordes da Noruega e os do
Aideia de um arranjo seguindo um plano gerd nostraços deconfiguração Alasca, da Patagônia e da Nova Zelândia, eles sãoconduzidos a essas apro
do globo é expressopor Dana como uma espécie de conclusão de todas as ximações pelo estudo das causas das quais elas são aexpressão. Éo conhe
suas pesquisas." "Eu fui levado a constatar", diz ele alhures, "nas ilhas do cimento aprofundado dos fenômenos próprios àação gladar que fornece a
Pacífico, em vez de um labirinto, um arranjo; a observar no aspecto das chave de conformidades que se impõem por si mesmas àatenção, eque faz
massas continentais, um sistema de analogias" assim se implantou no meu descobrir outras que de outro modo passariam despercebidas. Apartir do
espirito a concepção da Terracomosendo uma unidade."" As analogias, há momento cm que o progresso da geologia permitiu uma apreciação mais
muitotempo apontadas como indicadoras de algum plano geral, parecem exata dos efeitos que os agentes atmosféricos são capazes de exercer sobre
ressurgir sob a pena dos geólogos. "Nós observamos por todo o mundo", a superfície do relevo, muitos traços comuns foram explicados, e muitos
escreve M. J. Geikie, "que os traços da natureza bem-marcados são cons outros também foram revelados.
tantemente repetidos. Outros são marcados por um ar de semelhança geral Àluz das causas gerais em que o modo de ação se deixa apreender, as
que paira adma das diversidades locais."" afinidades foram reconhecidas como sendo mais numerosas, ao mesmo
Não haveria espaço paralembrar a importância da expressão atual des tempo que mais bem-fundadas. As descobertas contemporâneas, na África
sas idéias, seelas nãofossem a repetição doquefoi ditoantes, àsvezes quase e alhures, multiplicaram em muito a variedade dos fatos e mostram ou
nos mesmos termos. Porém, olhando maisde perto, percebemos que, se os tras combinações da fisionomia terrestre: nada veio enfraquecer, muito ao
contrário, a ideia de unidade. As linhas grandiosasde rugosidades que nos
revelou a ÁfricaOriental acentuaram de forma mais nítida uma ordem de
" Deep trougiis ofthe Occanic depression. Ele vé na disposição du ilhas c das profun fatos que somente se conhecia numa pequena parte de sua área geográfica.
dezas, osvestígios de umsistema de traços cmqueo plano seestende noconjunto da
terra, is worldwide in ilsscope.
" Origin ofCoral recfs.
* Ver, porexemplo, cm Oldliam. Geoiogy ofíndia, a
" Fragments ofEarth lovc. tre, do monte Kinchindjinga.
" Wynne(citadopor Penck. Morphologie, v.II,p. 20). " Richthofcn. C/iine, voL 1, cap. 5.

(...1 63
* p p p p p p p p p p p p p p p p 0 p p p p p p f-p w r € p p p 0 P p € * í c ícceecr c ee
VIDAL, VIDAIS O PRINCÍPIO DA GEOGRAFIA GERAL
O relevo das regiões áridas manifestou semelhanças intimas na América, com as divisões tradicionais: tipos de litorais que franqueiam os hemisfé
na África e na Ásia. Assim, quanto mais as páginas se multiplicam no es rios, tipos de clima que sealternam a leste e a oeste doscontinentes, deser
tudo da Terra,mais se percebe que elassão as folhas de um mesmo livro. tos que reaparecem de um hemisfério ao outro segundo a correspondência
Euacrescentaria que, desse ponto de vista,toda uma ordem de relações das zonas. Dessa forma, a explicação pertence somente à Terra, tomada em
novasse abre ao espírito. Pois a ação do tempo entra como coeficiente im seu conjunto. Os estudos locais, quando eles se inspiram nesse principio
portante nas ações exercidas pelas causas naturais. Conforme sejam mais de generalidade superior, adquirem um sentido e um alcance que ultra
ou menos avançadas em sua evolução, as zonas atravessam uma série de passam em muito o caso particular que eles consideram. Para além das mil
mudanças que se ligam entre si por uma espécie de filiação. Umas ainda combinações que variam infinitamente a fisionomia das regiões [conlrccs],
conservam traços que já foram abolidos em outras.Temos assim como se existem condições gerais deformas, movimentos, extensão, posição e inter
fossem exemplares vivos dos mesmos fenômenos, tomados em diversoses câmbios quesem cessar restituem a imagem daTerra.
tágios. Tal é, por exemplo, a relação entre a Escandináviae a Groenlândia.
Esta é como se fosse uma irmã distante que, quase enterrada sob seu
inlandsis, não podeainda sedcsvcncilhar do envelope gladal, quesó existe
na Noruega por fragmentos ou no estado de formas derivadas.
O desenvolvimento dessas visões, nas quais poder-se-ia dizer que se
resume uma grande parte do movimento geográfico deste último quarto
de século, sairia do quadro que traçamos. Meu único objetivo era o de
mostrar, como na última etapa de suas aplicações, esta ideia de unidade
terrestre. Encontra-se ai, de fato, uma dessas idéias muito gerais c muito
fecundas, que se renovam sem cessar e que são suscetíveis de desenvol
vimentos muito diferentes, mas das quais se pode dizer que transformam
a ciência ao retificarem a perspectiva das observações. Historicamente,
seu aparecimento representa o ponto de partida da tradição científica da
Geografia: por meio dela, as noções de encadeamento, causas e leis foram
implantadas.
Uma necessidade do espírito nos incita a restituir o detalhe isolado,
por si mesmo inexplicável, a um conjuntoque o esclarece. Os agrupamen
tos parciais, por regiões ou partes do mundo, têm seu sentido c sua razão de
ser, mas refletem apenas de modo imperfeito a única unidade de ordem su
perior que tem uma existência sem fracionamento nem restrição. De todas
as partes vemos manifestarem-se as afinidades que não estão de acordo
64 65
<-*--.*.-.'.-.-.w.^-.- -.-.-.-.- V.— -P»T»-*-i- s ^ \ « AV.V.V.-W.-' " • " -• *..'.. .«-^•••.v,%NW»A»V«-«^«"-.--.*-^'»l.» •....,.•.-.-,»-.^•.^••.••••.•v.**.-.^ •«••... . , .*-.>• s*> « . * « • • • • . . „ . . , . . . .
i xi-1 "> t-9 9 9 9 nnnm)nv)))i)in

IIHlLIOTECAHISIUXO-SÜR-AJIEMCANA.
TEXTO 10

COSMOS INTRODUCCIÓN.
ENSAYO I>E UNA
É

JDKSCHIPClOxX FÍSICA DEL MUNDO


CONSIDERACIONES SOBRE LOS DIFERENTES GRADOS
POR
DE GOOE QUE OFRECEN EL ASPECTO DE LA NATU
ALEJANDRO DE HUMBOLDT. RALEZA Y EL ESTÚDIO DE SCS LEYES.

VERTIDO AL CASTELLANO

PARA
Dos temores distintos esperimento ai procu
rar desenvolver, trás una larga ausência de mi
ESTA BILIOTECA.
pátria, ei conjunto de los fenômenos físicos dei
globo y la accion simultânea de las fuerzas que
<£ ^r-
5^1 animan los espacios celestes. De una parte, la
matéria que trato es tan vasta y tan variada, que
temo abordar ei asunto de una manera enciclo
TOMO I.
pédica y superficial; de otra, es deber mio no can
^^ sar la imaginacion con aforismos que unicamen
•/.uw te ofrecerian generalidades bajo formas áridas y
dogmáticas. La aridez nace frecuentemente de la
concision, mientras que ei intento de abrazar á
BÉLGICA,
•la vez escesiva multiplicidad de objetos produce
EDUARDO PERIÈ, EDITOR. ' falta de claridad y de precision en ei encadena-
miento de las ideas. La naturaleza es ei reino de
1875,
la libertad, y para pintar vivamente las concep-
pppppn ç c c c ç r c f t ík r p p p-p p-p p r p #fetc r cce e *
? COSMOS. HUMÍIOLDT. 3
ciones y los goces que su contemplacion profunda la armonía y dei órden en ei Universo, se ofrece
espontaneamente engendra, seria preciso dar ai hoy ai espíritu como ei fruto de largas y sérias
pensamiento una espresion también libre y noble observaciones.
en armonía con la grandeza y majestad de la A las dos épocas de la contemplacion dei mun
creacion. do esterior, ai primer destello de la reflexiony á
Si se considera ei estúdio de los fenômenos la época de una civilización avanzada, corres-
físicos, no en sus relaciones con las necesidades ponden dos gêneros de goces. El uno, propio de
materiales de la vida, sino en su influencia ge la soncillez primitiva de las antiguas edades,
neral sobre los progresos intelectuales de la hu nace de Ia adivinacion dei órden anunciado por
manidad, es ei mas elevado é importante resul la pacífica sucesion de los cuerpos celestes y ei
tado de esta investigación, ei conocimiento de la desarrolló progresivo de la organización; ei otro,
conexion que existe entre las fuerzas de la natu resulta dei exacto conocimiento de los fenômenos.
raleza, y ei sentimiento íntimo de su mútua de Desde ei momento en que ei hombre, ai interro
pendência. La intuicion de estas relaciones es la gar la naturaleza, no se limita á la observación,
que engrandece los puntos de vista, y ennoblece sino que dá vida á fenômenos bajo determinadas
nuestros goces. Este ensanche de horizontes es condiciones; desde que recoge y registra los he-
obra de la observación, de la meditaciou y de ei hos para estender la investigación más a Há de ri
espíritu dei tiempo en ei cual se concentran las la corta duracion de su existência, la Filosofia
direcciones todas dei pensamiento. La historia de la Naturaleza se despoja de las formas vagas
revela á todo ei que sabe remontarse á travos de y poéticas que desde su orígen la han perteneci-
las capas de los siglos anteriores, hasta las rai- do; adopta un caracter más severo; compulsa ei
ces profundas de nuestros conocimientos, como valor de las observaciones, no adivina ya; com
desde miles de anos, ei gênero humano ha traba- bina y razona. Entonces las afirmaciones dog
jado por conocer en las mutaciones incesante- máticas de los siglos anteriores, se conservan
mente renovadas, la invariabilidad de las leyes solo en las creencias dei pueblo y de Ias clases
naturales, y en conquistar progresivamente una que se aproximan á él por su falta de ilustra-
gran parle dei mundo físico por la fuerza de la cion; y se perpetúan sobre todo en algunas doc-
inteligência. Interrogar los anales de la historia trinas que se cubren bajo místico velo, para ocul
es sejjuir esta senda misteriosa sobre la cual la tar su debilidad. Las lenguas recargadas de es-
imájen dei Cosmos, revelada primitivamente ai presiones figuradas, llevan largo tiempo los ras
sentido interior como un vago presentimiento de gos de estas primeras intuiciones. Un pequeno
» i xxi ) x^ 9 xx 9 ^ ^9 *\ . >i > > 9 9 9 9 9 XXX > XX 1 ) 1
HUMBOLDT. 5
4 COSMOS. dei caracter individual dei paisaje, y de la íisono-
número de símbolos, producto de una.feliz inspi- mía de la ro gion que nos rodea. Donde quiera que
racion de los tiempos primitivos, toma poço á en una Uanura monótona, sin más limites queel
poço formas menos vagas, y, mejor interpreta horizonte, plantas de una nrisma espécie, brezos,
dos, se conservan hasta en ei lenguaje científico. cistos ó Lraraíneas, cubren ei suelo, en los si tios
La naturaleza, considerada por médio de la en que las olas dei mar bafian la ribera y hacon
razoa, es decir, sometida en su conjunto ai tra reconocer sus pasos por verdosas estrias de ovas
bajo dei pensamiento, es la unidad en la diversi y alga flotante, ei sen timiento de ia natuialeza,
dad de Las fenômenos, la armonía entre las cosas grande y libre, arroba nuestra alma y nos revela
creadas, quediíleren por su forma, por su propia como por una misteriosa inspiracion que las fuer
constitucion, por las fuerzas que las animan; es zas dei Universo están sometidas á leyes. El sim-
ei Todo animado por un soplo de vida. El resul ple contacto dei hombre con la naturaleza, esta
tado mas importante de un estúdio racional de influencia dei gran ambiente, ó dei alre libre, co
la naturaleza es recoger la unidad y la armonía mo dicen otras lenguas con mas bella espresion,
en esta inmensaacumulacion de cosas y de fuer egercen un poder tranqüilo, endulzan ei dolor y
zas; abrazar con ei mismo ardor, lo que es conse- calman las pasiones, cuando ei alma se siente in
io cuencia de los descubrimientos de los siglos pa- timamente agitada. Estos benefícios los recibe ei

sados con lo que se debe á las investigackmes de hombre por todas partes, cualquiera que sea la
los tiempos en que vivimos, y analizar ei detalle zona que habite; cualquiera que sea ei grado de
de los fenômenos sin sucumbir bajo su masa. Pe cultura intelectual á que se haya elevado. Cuan
netrando en los mistérios de la naturaleza, des- to de grave y de solemne se encuentra en las ira-
cubriendo sus secretos, y dominando porei tra presiones que senalamos, dóbenlo ai presenti-
bajo dei pensamiento los materiales recogidos miento dei órden y de las leyes, que nace espon
por médio de la observación, es como ei hombre taneamente ai simple contacto de la naturaleza;
puede mejor mostrarse más digno de su alto as! como ai contraste que ofrecen los estrechos
destino.
limites de nuesiro ser con la imájen de lo infinito
Si refiexionamos desde luego acerca de los di revelada por doquiera, en la estrellada boveda
ferentes grados de goce á que dá vida la contem dei cielo, en ei llano que se estieude más allá
placion de hvhaturaleza, encontramos que en ei de nuestra vista, en ei brumoso horizonte dei
primer lugar debe colocarse una impresion ente- Oceano.

ramente independiente dei conocimiento íntimo Otro goce es ei producido por ei caracter in-
de los fenômenos físicos; independiente también
r € í fff(íi ( ( (( ( r f ( rc < * p c c e c c et cr ( í f í c r f r 000
O COSMOS. HUMBOLDT. 7
dividnaj dei paisaje, la conliguracion de la super separa ei cono de cenizas de la llanura inferior,
fície dei globo en una région determinada. Las y subitamente, por efecto de una corriente as
impresiones de este gênero son más vivas, mejor cendente, deja que desde ei borde mismo dei crá-
definidas, más conformes á ciertas situaciones ter, pueda la vista dominar las vinas dei Orota-
dei alma. Ya es la inmensidad de las masas, la va, los jardines de naranjas y los grupos esposos
lucha de los elementos desencadenados ó la triste de los plátanos dei litoral. No es ciertamente, lo
desnudez de las estopas, como en ei norte dei repito, ei dulce encanto uniformemente esparci-
Ásia, lo que escita nuestra emocion; ya, bajo la doen Ia naturaleza, Io que nos conmueve ya en
inspiracion de sentimientos mas dulces, cáusala estas escenas; es la fisonomia dei suelo, su pro-
ei aspecto de los campos cubiertos de ricos fru pia conliguracion, la mezcla de las nubes, de las
tos, la habitacion dei hombre ai borde dei tor islas vecinas y dei horizonte dei mar, que con-
rente ó la salvaje fecundidad dei suelo vencido funden sus formas indecisas en los vapores de la
por ei arado, insistimos menos aqui sobre los inaiíana. Todo cuanto nuestros sentidos perci-
grados de fuerza que distinguen estas emociones, ben vagamente, todo cuanto los parajes român
que sobre la diferencia de sensaciones que escita ticos presentan de más horrible, puede llegar á
ei caracter dei paisaje, y á las cuales dá este ser para ei hombre manantial de goces; su ima-
mismo caracter su encanto y su duracion. ginacion encuentra en todo médios do ejercer li-
Si me fuese permitido abandonarme á los re- breraente un poder creador. En la vaguedad de -,
cuerdos de Iejanas correrías, entre los goces que las sensaciones, cambian las impresiones con los
presentan las escenasde la naturaleza, sefialarla, moviraientos dei alma, y por una ilusion tan dul
la calma y magestad de esas noches tropicales, ce como fácil creemos recibir dei mundo exterior
en que las estrellas privadas, de centelleo, arro- lo que nosotros mismos sin saberlo hemos dopo-
jan una dulce luz planetária sobre la superfície sitado en él.
blandamente agitada dei Oceano; recordaria esos Cuando alejadosde la pátria, desembarcamos
profundos vallesde las Cordilleras, donde los es- por primera vez en tierra de los trópicos, des-
beltos troncos de las palmeras agitan sus cabe- pues de una larga navegaoion, nos sorprende
zas empenachadas, atraviesan las bóvedas vege- agradablemente reconocer en las rocas que nos
tales, y forman en largas columnatas, «un bos rodéan las mismas eschistas inclinadas, iguales
que sobre ei bosque;» (1) describiría ei vértice dei basaltosencolumnas cubiertos de amigdaloydes
pico de Tenerife en ei momento en que una capa celulares, que los quo acabábamos dedejar sobre
horizontal de nubes, deslumbrante de blnncura, ei suelo europeo, y cuya identidad en zonas tan
> H 11 9 i XI iVl) . ) * X > J V V I ~\ ) > 1 V > > ) * 1
3 COSMOS. HUMBOLDT. ' 9

diferentes, nos demuestran que la corteza de la suacion de que un solo é indostructible nudo en-
tierra ai solidificarse, ha quedado independiente cadena la naturaleza entera.
de la influencia de los climas. Pero estas masas La tentativa de descomponer en sus diversos
de rocas schistosas y basálticas se encuentran elementos la magia dei mundo físico, llena está
cubiertas de vegetalcs de una ílsonomia que nos de temeridad; porque ei gran caracter de un pai
sorprende, y de un aspecto desconocido. Allí es saje, y de toda escena imponente de la naturale
donde, rodeados de formas colosales, y de la ma- za, depende de la simultaneidad de ideas y de
gestad de una flora exótica, espcrimentamos, sentimientos que agitan ai observador. El poder
como poria maravillosa ílexibilidad de nuestra dela naturaleza se revela, por decirlo así, en la
naturaleza, se abre ei alma facilmente á impre conexion de impresiones, en la unidad de emocio
siones que tienen entre si un lazo misterioso y nes y do efectos que se producen en cierto modo
secreta analogia. Tan intimamente unido nos de una sola vez. Si se quieren indicar sus fuen
figuramos cuanto tiene relación con la vida or tes parciales, es preciso descender por médio dei
gânica, que si á primera vista se ocurreque una análisis á la individualidad de Ias formas y á la
vegetacion semejaute á la de nuestro país natal diversidad de las fuerzas. Los mas ricos y varia
debería encantamos, como encanta nuostro oido dos elementos de este gênero de análisis se ofre-
ei idioma de la pntria dulcemente familiar, poço á cen á la vista de los viajeros en ei paisaje dei
o
poço, sin embargo, nos sentimos naturalizados en Ásia austral, en ei gran archipiélago de la Ir dia,
los nuevos climas. Ciudadano dei mundo, ei hom y sobre todo en ei Nuevo Continente, donde los
bre, en todo lugar, acaba por familiarizar.se con vórtices de las altas Cordilleras forman los ba-
cuanto le rodea. Unicamente ei colono aplica á jíos dei Oceano aéreo, y donde las mismas fuer
algunas plantas de esas nuevas rogiones, nom- zas subterrâneas que en otros tiempos levanta-
bresque importa de la madre pátria, como un ron cadenas de montahas, las conmueven aun
recuer.lo cuya perdida sentiria. Por las misterio hoy, y amenazan sepultarlas.
sas relaciones que existen entre los diferentes Los Cuadros de la naturaleza, trazados con
tipos de la organización, las formas vegetales un pensamiento reflexivo, no se han hecho con
exóticas se presen tan á su pensamiento embelle- ei único objeto de agradar á la imaginacion;
cidas por Ia imagen delas querodearonsucuna. pueden también, cuando se los relaciona entre
Así es que la alinidad de sensaciones conduce ai si, reproducir las impresiones en virtud de las
jitistno objete á que nos lleva más tarde la labo cuales, se pasa gradualmente desde ei litoral
riosa comparación de los hechos, á la íntima per- uniforme ó las desnudas estepas de la Sibéria,
3
(i ffcrcrif fífff c ffcpppc rif í t< < e e e f c < f f <
10 COSMOS. HUMBOLDT. 11
hasta la inagotable fecundidad de la zona tórri- pa y en ei Ásia boreal. Las espécies no son idên
da. Si colocamos imaginariamente ei Monte Pi- ticas, .pero:sí análogas de aspecto y de ílsonomía:
lato sobre ei Schreckhorn (•>), ó la Schneekoppe son enebros, abedules alpinos, gencianas, la par-
sobre ei Mont-Blanc, no habremos llegado á oom- nasia de pântanos, y las grosellas espinosas. (-1)
poner uno de los grandes colosos de los Andes, ei Falta Cambien á la cadena dei Hinialaya ei fenô
Chimborazo, que tiene doble altura que ei Etna; meno imponente de los volcanes, que enlos An
y unicamente superponiendo ei Righi ó ei monte des y en ei Archipiélago índio, revelan muy á
Athos ai Chimborazo, puede formarse idea dei menudo y de una manera formidable á los indí-
más alto vértice dei Himalaya,del Dhawalagiri. I g e n a s , la existência de las fuerzas que residen
Aunque las montanas de la Índia, por su asom- en ei interior de nuestro planeta. También la ré
brosa elevacion, escedan con mucho(un gran nú gion de las nieves perpétuas, en la pen Mente me
mero de exactas medidas han dado ai fin este re ridional dcl Ilimalaya, allí donde suben las cor-
sultado) á lasCordillcrasde la ,\mérica meridio rientes de aire húmedo y con esas comentes la
nal, no pueden sin embargo, ofrecer la rnisma vigorosa vegetacion dei Indostan, empieza ya á
variedad de fenômenos, á causa de su posicion los H/iO) y :1,G00 metros de altura sobre ei nivel
geográfica. La impresion de los grandes aspectos dei Oceano, Gjando por consiguiente ai desarrolló
de la naturaleza no depende unicamente de la de la organización un limite que en la région
altura. La cadena dei Ilimalaya está colocada equinoccial de las Cordillerasse encuentra á 850
muy acá de la zona tórrida, y apenas si se en metros mas arriba. (5)
cuentra una pai mera en los lindos vai les de Ku- Los paiscs próximos ai Ecuador tienen otra
maoun yde Garhwal. (3) Entre los 2S° y 31 de ventaja sobre la cual no se ha Uamado la aten-
latitud, sobre la pendicnte meridional dei anti- cion hasta aqui suficientemente. Esta es la parte
guo Paropaniso, la naturaleza no desplega ya de la puperficie de nuestro planeta en que la na
aquella abundância de helechos y de gramíneas turaleza dá vida á la mayor variedad de impre
arborescentes, de helicónias y de orquídeas, que, siones, en la menor estension. En la*s colosales
en la région tropical, suben hasta las mas ele montaRas de Cundinamarca, de Quito y ei Peru,
vadas raesetas. En la falda dei Ilimalaya, á la surcadas por valles profundos, es dable ai hom
sombra dei pino deodvara y de encinas de largas bre contemplar á la vez todas las famílias de las
hojas que caracterizai] á los alpes de la índia, la plantas y todos los astros dei Armamento. Allí,
xoca granltica y la mlcaschista se cubren de for de un golpe de vista se abarcan magestuosas pal-
mas casi semejantes á las que vegetan en Euro- meras, bosques húmedos de bambúes, la família
99 9 ))H m) n n > xi ^ y y > y xv^ i > » n xx> t-9
I2 COSMOS.
HUMBOLDT. 13
de las musáceas, y sobre estas formas (lei mundo
tropical, enclrias. nísperos, rosales silvestres, y como en la de la poesia y la pintura de paisaje,
umbelíferas como en nuestra p.i.iia europea. De la descripeion de los parajes y los cuadros que
una sola mirada se abraza la pon^telacloi. de la hablan á la imrginacion tienen tanta raayor ver-
Cru/, dei Sud, las Nubes de _Magallnr.es y las es- dad y v.da, cunnto mas determinados están sus
trellas conductoras de la Osa que girai, ai rede- rasgos característicos.
dordel polo Ártico. Allí, ei seno de la lierra y Si la? ro^iones de la zona tórrida, por su ri
los dos hemisférios dei cielo ostnntan toda.la ri queza orgânica y su abundante fecundidad hacen
queza de sus formas y la variedad de sus fenô brotarlas más profundas emociones, ofrecen tam
menos; allí, los climas, como las zonas vegeta- bién la iuapreciable ventaja de enseriar ai hom
lescuya sucesion determinan, se encuentran su- bre en la uniformidad de las variaciones de la
perpuestos por pisos, y las leyes de decreoimien- atmosfera y dei desarrolló de las fuerzas vitales,
to dei calor, fáciles do recoger por ei observador en los contrastes de los climas y de vegetacion
inteligente, están escritas en caracteres indele- que nacen de la diferenciei de alturas, la invaria-
bles sobre Jos muros de las rocas en la pendienie bilidad de las leyes que rigen los movimientos
rápida de las Cordilleras. celestes, reílejada, por decirlo así, en los fenô
Para no cansar ai lector ccn ei dotálle de los menos terrestres. Séanie permitido detenerme
ü
fenômenos que lie tratado há rourho tiempo de algunos instantes en las p?uebas de esta regula-
representargraficamente (fl), no reproduriiv aqui ridad, que puede hasta sujetarse â escalas y á
más que alguno de los resultados generales euyo evaluaciones numéricas.
conjunto compone ei cv.adru físico de la zona En los llanos ardientes que se elevan poço
sobre ei nivel de los mares, reina la. família de
iôrrida. Lo que on la vaguedad de las sensacio
nes se confunde, por falta de contornos bien de los bananeros, cycas, y palraeras, cuyas espé
terminados, lo que queda envuelto por ese va cies, incluídas en las íloras de las regiones tro
por brumosoque en ei paisaje, oculta ú la vista picales, se han multiplicado maravillosamente
las altas cimas, ei pensamiento lo desarrolla y en nuestros dias por ei ceio de los viajeros bo
resuolveen sus diversos elementos, desentrafian- tânicos. A estos grupos siguen, sobre la pen,-
do las causas de los fenômenos, asignando á cada diente de las Cordilleras, en lo alto de los valles
uno de dichos elementos, que concurren á for ó en grietas húmedas y sombrias, los helechos
mar la impr.bion total, un caracter individual. arbóreos y ei quino que producela corteza anti-
De aqui resulta que en la esfera de la ciência febril. Los gruesos troncos cilíndricos de los he
lechos proyectan sobre ei azul turqui dei cielo
c t ^»»c»f(( (.( f t *
I
M COSMOS. HUMBOLDT. ir>
ei lozano verdor de un fòllajtí delicadamente Islotes de niove esporádica recientemente caída,
dentado. En ei quino la corteza es tanto mas variables de forma y de estension, detienen los
salud-.ble cuanto mas frecuenternente está ba últimos y dóbiles desenvolvimientos de la vida
ilada y refrescada la cima dei árbol, por las li- vegetal. A estos islotes esporádicos siguen las
jeras nieblas que forman Ia capa superior de Ias nieves perpétuas, cuya altura es constante y
nubes materialmente descansando sobie aque- fácil de determinar, á causa de la muy pequena
llas llanuras. En ei limite donde acaba la région oscilacion que sufre su limite inferior. Las
de los bosques, florecen en largas bandas, plan fuerzas elásticas que residen en ei interior de
tas que viven por grupos, como la menuda ara- nuestro globo trabajan, frecuenternente en va-
lia, los thibaudes y la andrómeda de hojas de no, para quebrar esas campanas ó cúpulas re-
mirto. La rosa alpina de los Andes, la magní dondeadas, que resplandecientes con la blancura
fica befaria, forma un cinturon purpurino ai de las nieves perpétuas, dominan !a espalda de
rydedor de los salientes picos. Poço á poço en las Cordilleras. Allí donde las fuerzas subterrâ
la région fria de los Paramos, espuesta á Ia neas han logrado, sea por cráteres circulares,
perpétua tormenta de los huracanes y de los sea por largas griefas, abrir comunicaciones
vientos, desapareceu los arbustos rarnosos y las permanentes con la atmosfera, producen con
vellosas yerbas, constantemente cargadas de gran frecuencia, escorias inflamadas, vapores
grandes corolas de variados matices. Las plan de água y de azufre hidratado, miasmas de
tas monocotiledones de delgada espiga, cubren ácido carbônico, y rara vez corrientes de lava.
uniformemente ei suelo; tal es la zona de las Un espectáculo tan grandioso y tan impo
gramineas. La sábana que se estiende sobre nente, no ha podido inspirar á los habitantes
inmensas mesetas, refleja en la pendiente de las de los trópicos, en ei primer estado de una na-
Cordilleras una luz amarillenta, casi dorada en ciente civilización, mas que un vagosentimiento
lontananzn, y sirve de pasto á los llaraas y ai de asombro y de espanto. Debió suponerse qui-
ganado introducido por los colonos europeos. zás, y lo hemos dicho mas arriba, que la vuelta
periódica de los mismos fenômenos, y ei modo
Donde quiera que la roca desnuda de traquito
uniforme segun ei cual se agrupan por zonas
toca ai césped y se eleva en capas de aire que
creemos las menos cargadas de ácido carbônico, superpuestas, habrian facilitado ai hombre ei
conocimiento de las leyes de la naturaleza; pero
las únicas plantas de una organización inferior,
por lejos que se remontei, la tradicion y la his
llquenes, lecídeas y ei polvo coloreado de la 1c-
toria, no encontramos que estas ventajas hayan
praria, se desarrollan en manchas orbiculares.
1111)1) 11 >X XXXX XX1 XI1 11 XX > ) ) > > > > > ) II
Ifi COSMOS. HUMBOLDT. 17
sido provechosas en aquellos dichosos climas. revelado primero un conocimiento íntimo y ra
Investigaciones recientes hacen d;;dar de que la cional de las fuerzas que obran en ei mundo
base primitiva de la civilización de p-s índios, físico. De la zona boreal, mas favorable aparen
una de las fases mas maravillosas dei progreso temente ai progreso de la razon, á la duizura de
de la humanidad, haya tenido su asiento entre las costumbres y á las libertados públicas, es de
los mismos trópicos. Ayriana Vaedjo, la antigua donde los górmenes de la civilización han sido
cuna dei Zend^estaba situada ai Xord-Oestede importados á li zona tropical, tanto por esos
los Altos-Indos; y despues dei gran cisma reli grandes movimientos de razas que se llaman
gioso, ps decir, despuos de la separacion de los emigraciones de los pueblos, cuanto por ei es-
Tranios de la institucion brahmánica, la lengua, tablecimiento de colônias, igualmente saluda-
en otro tiempo comun á los Iranios y á los Tn- bles para los paises que van á poblar y para
dos, tomo entre estos últimos, en la Magadha ó aquellos de lond.; parten, cualquiera que seau
Madhya Déza (7), comarca limitada por la gran las diferencias qui prescnten p:>r otro lado sus
Cordillera de! ITimalaya y la pequena cadena instituciones en los tiempos fenicios ó helénicos,
Vindhya, una forma individual, ai propio tiempo y en nuestros tiempos modernos.
que la literatura, las costumbres y ei estado de Al indicar la facilidad mas ó menos grande
la sociedad. Bastante despues, la lengua y la que ha podido dar la sucesion de los fenômenos
civilización sanscritasadelantaron háciael Sud- para reconocer la causa que los produce, he ha-
Este y penetraron mucho mas en la zona tórri- blado de este punto importante donde, en ei con
da, como ha espuesto mi hermano Guillermo de tacto con ei mundo esterior, ai lado dei encanto
Humboldt (8) en su gran obra sobre la lengua que esparce la simple contemplacion de la na
Kawi y las que con ella tienen algunas relacio turaleza, se coloca ei goce que nace dei conoci
nes de estructura. miento de las leyes y dei encadenamiento mútuo
A pesar ile todas las trabas que, bajo latitu de aquellos fenômenos. Lo que durante largo
des boreales, oponian ai descubrimiento de las tiempo no ha sido sino objeto de una vaga ins-
leyes de la naturaleza, la escesiva complicacion piracion, ha llegado poço á poço á la evidencia
de los fenômenos, y las perpétuas variaciones de una verdad positiva. El hombre se ha esfor-
locales en los movimientos de la atmosfera y en zado para encontrar, como ha dicho en nuestra
la ilistribucion de las formas orgânicas, preci lengua un poeta innjprtal «ei polo inmóvil en la
samente á un pequeno número de pueblos ha eterna íluctuacion de las cosas creadas.» (9)
bitantes de la zona templada, es á quienesse ha Para llegar á la fuente de este goce que nace
rfCf ( fft( C C f f f f f i f C C t ff f f f-f f f f 4 f f
18 COSMOS. HUMBOLDT. 19
dei trabajo dol pensamiento, basta echar un; ligencia, se presenta en otras regiones, entre
rápida mirada sobre los primeros bosquejos de famílias enteras de pueblos, como ei resultado
la filosofia de la naturaleza ó de la antigua doe- de tendências místicas y de intuiciones instinti
trina dei Cosmos. Encontramos entre los pue vas. En ei comercio íntimo con lá naturaleza,
blos mas salvajes (y mis propias escursiones en la vivacidad y profundidad de las emociones
han confirmado esta asfircion) un sentimiento á que da vida, es donde se encuentran también
confuso y temeroso de la poderosa unidad de las los primeros impulsos .lábia ei culto, hácia una
fuerzas de la naturaleza, de una esencia invi- santificacion de fuerzas destruetoras ó conser
sible. espiritual, que se manifiesta en ellas yr vadoras dei Universo. Pero á medida que ei hom
desarrollen la flor y ei fruto en ei árbol produc- bre, recorriendo los diferentes grades de su des
tivo, ya quebranten ei suelo dei bosque ó y; arrolló intelectual, llega á gozar libremente
truenen en las nubes. Así se revela un lazo en dei poder regulador de la reflexion, á separar
tre ei mundo visible y un mundo superior que por un acto de emancipacion progresiva.el mun
se escapa á los sentidos. Uno y otro se confun- do de las ideas y ei de las sensaciones, no puede
den involuntariamente, sin que por ello ileje de contentarse con presentir vagamente la unidad
desarrollarse en ei seno dei hombre, ei gérmen de Ias fuerzas de la naturaleza. El ejercicio dei
de una filosofia de la Naturaleza, aunque como pensamiento empieza á cumplir su alta raision; ?;
ei simple produeto de una concepcion ideal, y sin la observación, fecundada por ei razonamiento
ei auxilio de la observación. llega con ardor á las causas de los fenômenos.
Entre los pueblos mas atrasados en civiliza La historja de las ciências ensefia que no ha
ción, la imaginacion se goza en creaciones es- sido fácil satisfacer á las necesidades de una
tranas y fantásticas. La predileccion porei sím curiosidad tan ardiente. Observaciones peco
bolo iníluye simultaneamente, en las ideas y en exactas é incompletas han originado por falsas
las lenguas. En vez de examinar, se adivina, se indueciones, ese gran número de cálculos físicos
dogmatiza, se interpreta lo que nunca ha sido que se han perpetuado entre las preocupaciones
observado. El mundo de las ideas y de los sen- populares de todas las clases de la sociedad. Así
timientos no refleja en su pureza primitiva ei es como ai lado de un conocimiento sólido y
mundo esterior. Lo que en algunas regiones de científico de los fenômenos se ha conservado
la tiorra no se ha manifestado como rudimento un sistema de fenômenos mal observados, tanto
de la filosofia natural, sino entre un pequeno mas difícil de destruir, cuanto que no se tiene
número de indivíduos dotados de una alta inte- en cuenta ninguno de los hechos que le contra-
% ))V11 i|| 1)111)) VI X I V ) II vx
••••••
HUMBOLDT. 21
2o COSMOS. combatir los errores que toman su orígen en un
rían. Este empirismo, triste herencia de siglos vicioso empirismo y cn imperfectas inducciones.
anteriores, mantienen invariablemente sus axio- Los mas nobles goces que puede procurar ei es
uias. Es arrogante como todo lo que es limitado; túdio de Ia naturaleza, dependen de la exactitud
en tanto que la física fundada en la ciência, y de la profundidad de sus concepciones, de la
duda porque trata de profundizar, separa lo que estension dei horizonte que se abarca de una
es cierto de lo que es simplemente probable, y vez. Con ei cultivo de la inteligência se ha acre-
perfecciona sin césar las teorias estendiendo ei centado en todas las clases de la sociedad, la ne
círculo de sus observaciones. cesidad de embellecer la Vida aumentando la
Ese conjunto de dogmas incompletos que un masa de ideas y los médios de generalizadas.
siglo lega ai otro, esa física que se Cumpone de Este sentiiniento es la refutacion de las censu
preocupaciones populares, no es solamente per- ras que se han dirigido ai siglo en que vivimos,
judicial porque perpetua ei error, con la obsti- y prueba que los espíritus no se han ocupado
nacion que lleva stempro ei testimonio de los iinicamente de los intereses materiales de la
hechos imperfectamente observados; sino que existência.
también prohibe ai espíritu elevarse á los gran Toco no sin pesar á un temor que parece
des horizontes de la naturaleza. En vez de bus nacer de una mira limitada, ó de cierto senti-
car ei estado médio, alrededr.r dei cual oscilan, mentalismo dulce y blando dei alma: hablo dei
en la aparente independência de las fuerzas, to temor de que la naturaleza no pierda nada de
dos los fenômenos dei mundo esterior, desea la su encanto, prestigio y poder mágico, á medida
ocasion de multiplicar las escepciones de la ley; que empecemos á penetrar en sus secretos, á
investiga en los fenômenos y en las formas or comprender ei mecanismo de sus movimientos
gânicas, otras maravilhas que las de una suce celestes, y á evaluar numericamente la intensi-
sion regular ó, de un desarrolló interno y pro- dad de las fuerzas. Es cierto que estas no ejer-
gresivo; se inclina á creor incesantemente in cen, propiamente hablando, un poder mágico
terrompido ei órden de la naturaleza, á desco- sobre nosotros, sino cuando su accion envuelta
nocer en ei presente la analogia con ei pasado, en mistérios y tinieblas, se halla colocada fuera
á perseguir, en médio dei azar de sus suenos, la de todas las condiciones que ha podido reunir la
causa de pretendidas perturbaciones, tanto en esperiencia. El efecto de un poder tal, es por
ei interior de nuestro globo, como en los espa consiguiente, ei de conmover la imaginacion; y
cios celestes. ciertamente que no es esta la facultad dei alma
El objeto particular de esta obra es ei de
ee ee c e ç c e r Cf c r r e t f r e_#-r e e * c c c r r p * t *, r P P i f f í
22 cosmos. HUMBOLDT. 23
que evocaríamos pr.Mer^ntomente, para dirigir mites de nuestro sistema solar, y descompone
las laboriosas y minuciosas observaciones cuyo débiles puntos brillantes en estrellas dobles des
objeto es ei conocimiento de las mas grandes y igualmente coloreadas; cuando los botânicos
admirables leyes dei Universo. El astrônomo que ven reproducirse la constância dei movimiento
per médio de un heliômotro ó de un prisma de giratório dei chara en la mayor parte de lascel-
doble refracoion (10) determina ei diâmetro de das vegetales, y reconocen ei intimo enlace de
los cuerpos planetários; que mide con paciência Ias formas orgânicas por gêneros y por famí
durante anos enteros la altura meridiana, y las lias naturales, la bóveda celeste sembrada de
relaciones de distancia de las estrellas;* que nebulosas y de estrellas, ei rico manto de vege
busca un cometa telescópico en un grupo de tales que cubre ei suelo en ei clima de las pal-
pequenas nebulosas, no siente' la imaginacion meras, no pueden dejar de inspirar á esos ob
(y esta es la garantia misma de la precision de servadores laboriosos una impresion mas impo
su trabajo) mas conmovida, que ei botânico que nente y mas digna de la magestad de la creacion
cuenta las divisiones dei cáliz, ei número de los que á aquellos otros cuya alma no está acos-
estambres, los dientes ya libres, ya unidos, dei tumbrada á recojer las grandes relaciones que
anulo que rodea la cápsula de musgo. Sin em ligan á los fenômenos entre si. No puedo por
bargo, las medidas multiplicadas de ângulos por consiguiente estar de acuerdo con Burke, cuan
una parte, y de otra las relaciones dei detalle de do, en una de sus ingeniosas obras pretende «que
1 la organización, prepnran ei camino á importan nuestra ignorância respecto de las cosas de la
tes cálculos sobre la física general. naturaleza es la causa principal de la admira-
Es preciso distinguir entre las disposiciones cion que nos inspiran, y fuente de que nace ei
dcl alma dei observador, en tanto que observa, sentimiento de lo sublime.)» /
y ei engrandecimiento ulterior de miras, que es En tanto que la ilusion de los sentidos flja
ei fruto de la investigación y dei trabajo dei los astros en la bóveda dei cielo, la astronomia
pensamiento. Cuando los- físicos miden con ad- con sus atrevidos trabajos engrandece indefini
mirable sagacidad las ondas luminosas de des damente ei espacio. Si circunscribe la gran ne
igual longitud que se refuerzan ó se destruyen bulosa á la cual pertenece nuestro sistema so
por interferência, aun en sus acciones quími lar, es unicamente para ensefiarnos mas allá,
cas; cuando ei astrônomo armado de poderosos hácia regiones que huyen á medida que las po
telescópios penetra en los espacios celestes, tências ópticas aumentan, otras islas de nebu
contempla las lnnas de Urano en los últimos lí- losas esporádicas. El sentimiento de lo subli.me,
9 11 11 11 >1V)>lXr>))) 1X11)1 ) ) ))\ii n » d ) n«'
24 COSMOS. HUMBOLDT. 25

cuando nace de la contemplacion de la distancia inteligências cl conocer ei conjunto de la física


que nos separa de los astros, de su magnitud, y dei mundo. Cierto que en médio de esta íluctua-
en general de la est-msion física, se refleja en cion universal de fuerzas y de vida, enesta red
ei sentimiento de lo infinito, que pertonece á otra intrincada de organismos que se tlesarrollan y
esfera de ideas, ai mundo intelectual. Cuanto ei destruyen sucesivamonte, cada paso que se dá
primero ofrece de solemne y de imponente, lo hácia ei conocimiento más íntimo de la natura
debe á la relación que acabamos do seílnlar, á leza, conduce á la entrada de nuevos laberintos;
esa analogia de goces y do emociones que senti pero esta intuicion vaga de tantos mistérios por
mos, ya en médio de los mares, ya en ei Oceano descobrir, estimulando en nosotros ei ejercicio
aéreo, cuando capas Vaporusas y scmidiáfanas dei pensamiento, nos causa, en todos los grados
nos envuelven sobre ei vértice ife un pico aisla- dei saber, un asombro mozclado de alegria. El
do, ya en fin delante de uno de esos poderosos descubrimiento década ley de la naturaleza lleva
instrumentos que disuelven en estrellas lejanas á otra ley mas genoral, ó hace presentir su exis
nebulosas.
tência, ai observador inteligente. La naturaleza,
Aquel trabajo que consiste en acumular ob como la ha definido un célebre fisiólogo (11) y
servaciones de detalle, sin relación entre si, ha como la palabra misma indica entre los Gríegos
§ podido iuducir, es cierto, á esc error profunda y los Romanos, es «lo que crecc y se desarrolla
mente inveterado, de que ei estúdio de las ciên perpétuamente, lo que solo vive por un cambio
cias exftctas debe necesariamente onfriar ei sen contínuo de forma y de movimiento interior.>
timiento y disminuir los nobles placcres de la La série de los tipos orgânicos se estiende ó
contemplacion de la naturaleza. Los que, en los se completa para nosotros á medida que, por
tiempos en que vivimos, en médio dei adelanto médio de viajes de tiorra ó mar, penetramos
de todas las ramas de nuestros conocimientos y en regiones desconocidas y comparamos los or
de la mis ma razon pública, alimentan todavia ganismos vivientes con aquellos que han des
seinejante error, ni aprecian bastante cada pro aparecido con las grandes revoluciones de nues
greso de 1a inteligência, ni lo que. puede ei arte tro planeta; á medida que los microscópios se
encubrirel detalle de los hechos aislados, para perfeccionan y aprendemos á servimos de ellos
elevarse á resulta los generales. Al temor de sa con mas discernimiento. En ei seno de esta in-
crificar ei libre go>:o de la naturaleza, bajo la mensa variedad de producciones animales y ve-
influencia dei razonamiento científico, se ahade .gstales, en ei juego de sus trasformaciones pe
por lo comun ei de que no sea dablo á todas las riódicas, se renueva sin césar ei mistério pri-
* e f ff « f r e e c c c p p p p p-p \ t e c ce c c c •
26 cosmos. HUMBOLDT. 27
mordial de todo desarrolló orgânico, aquel pro clase de objetos, los más animados cuentos de los
blema de la metamórfosts queGcothe ha tratad viajeros que han recorrido los paisos lejanos, no
con una sagaoidad superior, y que nace de tendrán atractivo alguno para nosotros, á me
necesidad que esperimentamos de reducir las nos que se refieran á los mismos objetos de nues
formas vitales á un pequefio número de funda- tra predileccion.
mentales tipos. En médio de las riquezas de la De igual manera que la historia de les pue
naturaleza y de esta acumulacion creciente de blos (si pudiese elevarse siempre con êxito á
las observaciones, se penetra ei hombre de Ia las verdaderas causas de los acontecimientos)
conviceion íntima de que en la superfície y en llegaria á resolver ei eterno enigma de las osci-
las entrafias de la tierra, en las profundidades laciones queesperimenta ei movimiento sucesi •
dei mar y las de los cielos, aun despues de miles vãmente progresivo ó retrógrado de la sociedad
de anos, «ei espacio no faltará á los conquista humana; asi también, la descripeion física dei
dores científicos.» Esto pesar de Alejandro (12) mundo, la ciência dei Cosmos, si estuviese con
no podria aplicarse á los progresos de Ia obser cebida por una alta inteligência, y fundada so
vación y de la inteligência. bre ei conocimiento de todo lo que se ha descu-
Las consideraciones generalos, bien sea que bierto hasta una época dada, haria desaparecer
tengan relación con la matéria aglomerada en una parte de las contradieciones que parece ofre-
cuerpos celestes ó con la distribucion geográfica cer á primera vista la complicacion de los fenô
do los organismos terrestres, no solo son más menos, y que descansan en una multitud de per-
atractivas por si mismas, que los estúdios espe- turbaciones simultâneas. El conocimiento de las
ciales, sino que ofrecen también grandes venta leyes, ya se revelen en los movimientos dei Oc-
jas á los que no pueden emplear mucho tiempo céano, en la marcha calculada de los cometas, ó
en este gênero de ocupaciones. Las diferentes en las atracciones mútuas de las estrellas múl-
ramas de la Historia natural ni son accesibles tiples, aumenta ei sentimiento tranqüilo de la
mas que á ciertas posiciones de la vida social, ni naturaleza, cual si «la discórdia de los elemen
presentan ei mismo encanto en toda estacion ni tos,» constante fantasma dei espíritu humano
bajo todo clima. En las zonas inhospitalarias dei en sus primeras intuiciones, se debilitara á me
Norte estamos privados durante largo tiempo dida que las ciências estienden su império. Las
dei espectáculo que ofrecen á nuestras miradas miras generales nos acostumbran á considerar
las fuerzas prodnctivas de la naturaleza orgâ cada organismo, como una parte de la creacion
nica; y si nuestro interés está limitado á una eniera, á reconocer en la planta y en ei animal,
«•11111) «XI 11)111-11 |-11 \ ) ) 1 ) > > XXffc
HUMBOLDT. 29
28 COSMOS. revelado la existência de un fluido etéreo, que
no la espécie aislada, sino una forma unida en tiende á disminuir la fuerza centrlfruga y la
la cadena de los sjres, á otras formas vivientes duracion de las revoluciones. En una época on
ó muertas; ayudándonos á conocer las relacio que tantas gentes, curiosas de un relativo sa
nes que existen entre los descubrimientos más ber, se complacen en mezclar á las conversacio-
recientes y los que los han preparado. Retirados nes dei dia vaguedades científicas, los temores
á un punto dei espacio, recogemos con mayor que antiguamente reinaban respecto dei choque
avidez lo que se ha observado bajo diferentes de los cuerpos celestes, ó de un pretendido tras-
climas. Complácenos seguir á los audaces nave torno de los climas, se renuevan bajo formas di
gantes hasta en médio de los hielos polares, has ferentes: suefios de la imaginacion, tanto más
ta ei pico dei volcan dei polo antártico cuyos engafiosos, cuanto que tienen su orígen en pre-
fuegos son visibles durante ei dia á grandes tensiones dogmáticas. La historia de la atmosfe
distancias. Llogamos aun á comprender al ra y de las variaciones anualesque esperimenta
gunas de las maravilhas dei magnetismo terres su temperatura, tiene ya bastante antigttedad
tre, y los resultados que pueden esperarse hoy para babemos manifestado la reproduecion de
de las numerosas estaciones diseminadas en los pequenas oscilaciones alrededor dei calor médio
dos hemisférios, para espiaria sirnultanoi lad de de cierto lugar, y para prevenimos por consi-
las perturbaciones, la frecuencia y la duracion guiente contra ei temor exagerado de la. dete-
de las tempestades magnéticas. rioracion general y progresiva de los climas de
Séame permitido adelantar por ei campo de Europa. El cometa de Encke, uno de los três co
losdtíàcubrimientoscuyasconsecuencias no pue metas interiores, acaba sa carrera en mil dos-
den ser apreciadas sino por aquellos que se han cientos dias; y por la forma y la posicion de su
dedicado á los estúdios de la física general. Ejem órbita, no es más peligroso para la tierra que
plos escogidos entre los fenômenos que han flja- ei gran cometa de Halley, de setenta y seis anos,
do especialmente Ia atencion en estos: últimos menos bello en 1835 que en 1759, ni que ei co
tiempos, esparcirán nueva luz sobre lascoiíside- meta interior de Biela, ei cual, si bien es cierto
raciones precedentes. Sin un conocimiento pre que corta la órbita de la tierra, no puede acer-
liminar de la órbita de los cometas, no se com- carse mucho á nosotros sin embargo, mas que
prenderia cual es la importância que tiere ei cuando su proximidad ai sol coincide con ei sols-
descubrimiento dei cometa de Enche, cuya ór ticicio de inYierno.
bita elíptica está incluída en los estrechos li La cantidad de calórico que recibe un plane-
mites de nuestro sistema planetário, y que ha
JfPP* Tf Ti fffCC-CffC C f i IX f i <T V'- € €
HUMBOLDT. 31
:',0 cosmos.
ta, y cuya desigual distribúciôn determina las
varlaciones meteroiógicas de la atmosfera, de
i abundância ó la rareza de las manclías dei sol,
es decir, de esas aberturas que se forman en las
atmosferas luminosa y opaca de que su núcleo
pende á la vez de la fuerza fotogénica dei sol, es sólido está envuelto, las caidas irregulares de
decir, frei estado de sus envueltas gaseosas, y de las estrellas errantes en ei 13 de noviembre y dia
la posicion relativa dei planeta y dei cuerpo cen de San Lorenzo, anillo de asteroides que cortan
tral. Segun las leyes de la gravitacion univer probablemente la órbita de la tierra, y se mue-
sal, la forma de Ia órbita terrestre ó la inclina- ven con velocidad planetária.
cion de la eíliptica, es decir, ei ângulo que for Si desde las regiones celestes descendemos á
ma ei eje de la tierra con ei plano de su órbita, la tierra, deseamos concebir las relaciones que
esperimenta variaciones periódicas; pero tan existen entre las oscilaciones dei pêndulo en un
lentas, y encerradas en tan estrechos limites, espacio Ueno de aire, oscilaciones cuya teoria ha
que sus efectos térmicos no llegarian á ser apre sido perfeccionada por Bessel, y la densidad de
ciados por nuestros instrumentos actuales, sino nuestro planeta; y preguntaraos como ei pên
despues de miles de anos. Las causas astronômi dulo, haciendo las funciones de una sonda, nos
cas á que pueden referirse ei enfriamiento de ilumina hasta cierto punto acerca de la consti-
nuestro globo, la disminucion de la huraedad en tucion geológica de capas situadas á grandes
su superfície, la naturaleza y frecuencia decier- profundidades. Obsérvase una asoiubrosa analo
tas epidemias, (fenômenos frecuenternente discu gia entre la formacion de las rocas granuladas
tidos en nuestros dias siguiendo las preocupa- que componen corrientes do lava en la pendiente
ciones de la Edad media) deben mirarse como de los volcanes activos, y o<sas masas endógenas
cosas fuera dei alcance de los procedimientos de granito, de pórfiro y de sez-pentina, que na-
actuales de la fisica y de la química. cidas dei seno de la tierra, quebrantan, como
La astronomia física nos ofrece otros fenó rocas de erupeion, los bancos secundários modi-
menos que no podrian conocerse tampoco en tod ficáudolos por contacto y haciéndolos más duros
su magnitud, sin estar preparados á ello por no por médio de la sílico que en ellos se introduce,
ciones generales acerca de las fuerzas que ani- ya reduciéndolcsal estado de dolomia, ya en fin,
man ai Universo. Tales son, ei inmenso número produciendo cristales de muy variada compusi-
de estrellas, ó más bien, de soles dobles, que gi cion. El levantamiento de islotes esporádicos,
rando alrcdcdor de un centro comun de grave- cúpulas de traquito y couos du basalto, por las
dad, nos revelan la existência de la atraccion fuerzas elásticas que emanan dei interior fluido
nev/toniana en los más apartados mundos; la
1111-1 111)111 111)111 ) ) )
32 cosmos. HUMBOLDT. 33
dei globo, han Ilevado ai primer geólogo de nues química observadas en las águas termales du
tro siglo, M. Leopoldo de Bucli, á la teoria dei rante uua larga série de anos. Tal es, sin em
levantamiento de los continentes y cadenas de bargo, la importância de la cantidad de calórico
montanas. Esta accion de las fuerzas subterrâ propia de cada planeta, como resultado de su
neas, la ruptura y la elevacion de los bancos condensacion primitiva, que ei estúdio de esta
de roca sedimentai ias, de lo cual ha ofrecido un cantidad de calórico, arroja á la vez alguna luz
ejemplo reciente ei litoral de Chile á conseouen- sobre la historia de la atmosfera y acerca de la
cia de un gran temblor de tierra, dejan entre distribúciôn de loscuerpos organizados escondi
ver la posibilidad de que las conchas pelágicas dos en la corteza sólida de la tierra. De esta ma
halladas por M. Bonpland y por mi sobre la fal- nera Uegamos á concebir, como ha podido reinar
da de los Andes, á más de 4.600 metros de eleva antes sobre toda la tierra una temperatura tro
cion, hallan podido ser llevadas á esta altura, pical, independiente de la latitud y producida
no por la intumescencia dei Oceano, sino por por las profundas grietas, largo tiempo abiertas
agentes voloánicos capaces de arrollar la costra despues dei replegamiento y hundimiento de la
reblandecida de la tierra. corteza apenas consolidada, de donde se exhalaba
Llamo vulcanismo, en ei sentido más gene ai calor interior. Este estúdio nos ensena un
ü ral de la palabra, á toda accion que ei interior antiguo estado de cosas, en ei cual, la tempera
de un planeta ejerce sobre su corteza esterior. tura de la atmosfera, y los climas en general, se
La superfície de nuestro globo, y la de la luna debian más ai desprendimiento de calórico y de
maniflestan las huellas de esta accion, que por diferentes emanaciones gaseosas, es decir, á la
lo menos en nuestro planeta, ha variado en la enérgica reaccion dol interior hácia ei esterior,
sucesion de los siglos. Los que ignoran que ei que á la relación de la posicion de la tierra fren
calor interior de la tierra aumenta rapidamente te á frente dei cuerpo contrai, ei sol.
con la profurídidad, y qneá ocho ó nueve léguas Las regiones frias guardan depositadas en
do distancia (13) está en fusion oi granito, no capas sedimentadas los produetos de los trópi
pueden formarse idea exacta de las causas y de la cos: en ei terreno hullero están encerrados tron
simultaneida'dde erupeiones volcánicas muy alo cos de palmeras que quedaron en pié, y mezcla-
jadas unas de las otras, de la estension y dei cru- dosá coníferas, helechos arborescentes, goniati-
7.araiento de los círculos de conmocton que ofre tes, y peces de escaraas romboidales huesosas;
cen los temblores de tierra, de la constância de (M) en ei calcareo de Jura, enormes esqueletos
•temperatura y de la igualdad de composicion de cocodrilos y de plesiosauros, planulitas y
e e c e.c-f f f f f f-f t c-f c c f f f f f ce e e ee e e e-r € p p e-r e f f r c r e
34 COSMOS.
troncos de cycádeas; en ei gredoso, pequenos
1 HUMBOLDT.
en parte ai menos, ei domínio de las ciências;
35
polythálamos y briozoarios, cuyas mismas espé que haya observado, esperimentado y medido por
cies viven aun en ei seno de los mares actuales; si mismo. No negaró que allá donde faltan los
en ei trípoleo, ó esquisto sin pulir, ei semi-ópalo conocimientos positivos, los resultados genera
y ei ópaloharinoso, inmensas aglomeraciones de les que, en sus relaciones continuadas, dan tan
infusorios silíceos que Elirenber ha revelado con to encanto á la contemplacion de la naturaleza,
su microscópio vivificador; por último, en los no pueden ser todos desarrollados con ei mismo
terrenos de transportes)' ciertas cavernas, hue- grado de luz; pero me inclino á creer, sin embar
sos de elefantes, de hienas y de leones. Familia go, que en la obra que preparo sobre la física
rizados como lo estamos hoy, con las grandes dei mundo, la parte más considerable de las ver
miras de la física dei globo, estas producciones dades se presentará con toda evidencia, sin que
de los climas cálidos, por encontrarse en ei es soa necesario remontarse siempre á los princí
tado fósil en las regiones septentrionales, no pios y á las nociones íundamentales. Este cua-
escitan ya en nosotros una curiosidad estéril, dro de Ia naturaleza, aunque en muchas de sus
sino que llegan á ser los más dignos objetos de partes presente contornos poço marcados, no será
meditaciones y combinaciones nuevas. menos á propósito para fecundar la inteligência,
La multitud y la variedad de los problemas engrandecer la esfera de las ideas, y alimentar
que acabo de indicar, dan orígen á la cuestión y vivificar la imaginacion.
de saber si consideraciones generales pueden Quizâs no sin fundamento se ha criticado á
tener un grado suficiente de claridad, allá don muchas obras científicas de Alemania, ei haber
de falta ei estúdio detallado y especial de la his disminuido por la acumulacion de los detalles, la
toria natural descriptiva, de la geologia y de la impresion y ei valor de los resultados genera
astronomia matemática. Pienso que es necesario les; ei no haber separado suficientemente estos
distinguir desde luego entre aquel que debe re- grandes resultados que forman, por decirlo asi,
coger las observaciones esparcidas y profundi- los puntos culminantes de las ciências, de la lar
zarlas para esponer su enlace, y aquel á quien ga enumeracion de los médios que han servido
debe ser trasmitido este encadenamiento bajo para obtenerlos. Esta censura ha hecho decir
Ia forma de resultados generales. El primero se humorísticamente ai más ilustre de nuestros
impone la obligacion do conocer la especialidad poetas (15): «;Los alemanes tienen ei don de ha
de los fenômenos; es preciso que antes de llegar cer inaccesibles las ciências.?» El edifício con
á la generalizacion de las ideas, haya recorrido, cluído, no puede producir ei efecto que de él se
-111.1 i 11)1X1 > 11 i 1 1 i 11 , y ^
36 COSMOS. HUMBOLDT. 37

espera, en tanto que este obstruído por ei anda- sefiado la influencia de su configuracion este
mio que ha sido preciso levantar para construir- rior, tanto en los fenômenos físicos que tienen
lo. Así pues, la uniformidad de figura que se ob lugar en su superfície, cuanto en las emigracio-
serva en la distribúciôn de las masas continen- nes de los pueblos, sus leyes, sus costumbres y
tales,.que terminan todas hácia ei Sur en forma todos los principales fenômenos históricos de los
de pirâmide, y se ensanchan hácia ei Norte (ley cuales es teatro.
que determina la naturaleza de los climas, Ia di- Francia posee una obra inraortal, La Espo-
reccion de sus corrientes en ei Oceano y en la sivion dei sistema dei mundo, en la cual ha reu
atmosfera, ei paso de ciertos tipos de vegetacion nido ei autor los resultados de los trabajos ma
tropical á Ia zona tem piada austral) puede com- temáticos y astronômicos más sublimes, despo-
prenderse con cia ridad, sin que se conozcan las jándolos dei aparato de las demostraciones. La
operaciones geodésicas y astronômicas por las estructura de los cielos queda reducida en este
cuales han sido determinadas esas formas pira- libro á la solucion sencilla de un problema de
midales de los continentes. De la misma manera, mecânica. Sin embargo, La Esposicion dei siste
la geografia física nos enseiia en cuantas léguas ma dei mundo de Laplace, no ha sido tachada
es mayor ei eje ecuatorial dei globo que ei eje hasta aqui de incompleta ni de falta de profundi-
polar; la igualdad media dei aplanamiento de dad. Distinguir los materiales deseraejantes, los
los dos hemisférios, sin que sea necesario espo- trabajos que no tienden ai mismo fin, separar las
ner como se ha llegado á reconocer por la me- nociones generales de las observaciones aisladas,
dicion de los grados dei meridiano ó por obser es ei único médio de dar unidad á la física dei
vaciones dei pêndulo, quela verdadera figura de mundo, de esclarecer los objetos, y de imprimir
Ia tierra no es exactamente lade un elipsoide de un caracter de grandeza ai estúdio de Ia natu
revolución regular, y que esta figura se refleja raleza. Suprimiendo los detalles que distraem la
en las desigualdades do los movimientos luna atencion solo se consideran las grandes masas y
res. Los grandes horizontes de la geografia com se conoce por ei pensamiento lo que pasa desa-
parada no han empezado á tomar solidez y brillo percibido á la debilidad de nuestros sentidos.
á la par, hasta la aparicion de la admirable obra Es preciso afiadir á estas consideraciones la
titulada Estúdios de la tierra en sus relaciones de quela espesicion de los resultados está singu
con la naturaleza y con la historia dei hombre, larmente favorecida en nuestros dias, por Ia fe
en la cual Carlos Ritter ha caracterizado con liz revolución que han esperimentado desde fines
tanta fuerza la fisonomía de nuestro globo, yen- dei siglo último, los estúdios especiales y sobre
ereffff rcff f
rppp p ppi t t f c cf f f f f f f c ce ff et t < ( f f f
38 COSMOS. HUMBOLDT. 39
todos la geologia, la química y la historia natu No se trata en este ensayo de la física dei
ral descriptiva. Amedida que se generalizan las mundo, de reducír ei conjunto de los fenômenos
leyes, y que las ciências se fecundan mutuamen sensiblesáun pequefio número do princípios abs-
te, que estendiéndose, se unen enfre si por lazos tractos, sin más base que la razon pura. La físi
másnnmerososy más íntimos,eidesenvolvimien- ca dei mundo que yo intento esponer, no tiene la
to de las verdades generales puede ser conciso sin pretension de elevarse á las peligrosas abstrac-
llegar á ser superficial. En ei principio de la ci ciones de una ciência meramente racional de la
vilización humana, todos los fenômenos apare naturaleza; es una geografia física reunida á la
ceu aislados, la multiplicidad de las observacio descripcion de los espacios celestes y de loscuer-
nes y la reflexion los aproximan, y hacen conocer pos que llenan esos espacios. Estrano á las pro
su mútua dependência. Si acontece, sin embargo, fundidades de la filosofia puramente especulati
que en un siglo caracterizado como ei nuestro va, mi ensayo sobre ei Cosmos es la contempla
por los más brilhantes progresos, se nota en al cion dei Universo, fundada on un empirismo ra-
gunas ciências falta de enlace de los fenômenos zonado; es decir, sobre ei conjunto de hechos
entre si, deben esperarse descubrimientos tanto registrados por la ciência y sometidos á las ope-
más importantes, cuanto que esas mismas ciên raciones dei entendimiento que compara y com
cias se han cultivado con una sagacidad de ob bina. Unicamente en estos limites la obra que
servaciones y una predileccion particulares. Así he em prendido, entra en la esfera de los trabajos
sucede hoy con la meteorologia, varias partos de á los que he consagrado la larga carrera de mi
la óptica, y, desde los bellos trabajos de Melloni vida científica. No me aventuro á penetrar en
y de Faraday, con et estúdio dei calórico radian una esfera donde no sabria moverme pon liber
te y dei electro-magnetismo. Queda por recoger tad, aunque otros puedan á su vez ensayarlo con
en esto una rica cosecha, aunque la pila deVolta êxito. La unidad que yotrato de fijar en ei desar
nosenseneya una relación íntima entre los fenô rolló de los grandes fenômenos dei Universo, es
menos eléctricos, magnéticos y químicos. ^Quién la que ofrecen las composiciones históricas. To
se atreverá á afirmar hoy,que conocemos con pre- do cuanto se relacione con individualidades ac-
cision la parte de atmosfera que no es oxigeno? cidentales,con la esencia variable de la realidad,
jquién que las miles de sustancias gaseosas que trátese de la forma de los seres y de la agru-
obran sobre nuestros órganos no están mezcla- pacion do loa cuerpos, ó de la lucha dei hom
das de azoe, ó que se haya descubierto ei número bre contra los elementos, y de los pueblos con
total delas fuerzas que existen en ei Universo? tra los pueblos, no puede ser deducido de solo
1 1 > 1 > 1 1 )>)>>»>> > > 1 > y y i > 1 1 ) 11 I1V11111 > 1 > XI'
HUMBOLDT. 41
40 COSMOS. El estúdio de una ciência que promete condu-
Ias ideas, es decir, racionalmente construído. cirnos á través de los vastos espacios de la crea-
Creo que la descripcion dei Universo y la his cion, semeja á un viaje á país lejano. Antes de
toria civil se hallan colocadas en ei mismo' gra emprenderle, so miden por lo comun, con des-
do de empirismo; pero sometiento los fenômenos confianza, las propias fuerzas y las dei guia que
físicos y losacontecimientosal trabajo pensador, se ha escogidu. El temor que reconoce por cau
y remontándose por ei razonamiento á sus cau sa la abundância y ladificultad de las matérias,
sas, se confirma más y más la antigua creencia disminuye, si se tiene presente, como hemos in
de que las fuerzas inherentes á la matéria, ylas dicado mas arriba, que con la riqueza de las ob
que rigen ei mundo moral, ejercensu accion bajo servaciones ha aumentado también, en nuestros
ei império de una necesidad primordial, y segun dias, ei conocimiento cada vez más íntimo de la
movimientos que se renuevan periodicamente ó conexion de los fenômenos. Lo que en ei círculo
á desiguales intervalos. Esta necesidad de las más estrecho de nuestro horizonte, ha parecido
cosas, este encadenamiento oculto, pero perma mucho tiempo inesplicable, ha sido generalmente
nente, esta renovación periódica en ei desenvol- adornado de una manera inopinada por investi-
vimiento progresivo de las formas, de los fenô gaciones hechas bajo lejanas zonas. En ei reino
menos y de los acontecimientos, cotistituyen la animal, como en cl reino vegetal, formas orgâ
naturaleza, que obedece á un primer impulso nicas que han permanecido aisladas, han sido
dado. La física, como su mismo nombre indica, unidas por cadenas intermedias, formas ó tipos
se limita ácsplicar los fenômenos dei mundo ma de transicion. Espécies, gêneros, famílias ente-
terial por las propiedades de la matéria. EI últi ras, propias de un Continente, se presentan como
mo objeto de Ias ciências esperimentales es pues, reflejadas en formas análogas de animales y de
elevarseála existência de las leyes, y generali- plantas dei continente opuesto, y así se completa
zarlas progresivamente. Todo lo que va mas allá, la geografia de los seres. Son,- por decirlo así,
no es dei domínio de la física dei mundo, y per- equivalentes que se suplen y se reemplazan en la
tenece á un gênero de íspeculaciones más eleva gran série de los organismos. La transicion y ei
das. Manuel Kant, unolle los poços filósofos que enlace se fundan sucesivamente, en una dismi-
no han sido acusados de impiedad hasta aqui, nucion ó un desarrolló escesivo de ciertas partes,
ha seüalado los limites de las esplicaciones físi sobre solda duras de órganos distintos, sobre la
cas, con una rara sagacidad, en su célebre En preponderância que resulta de una falta de equi
sayo sobre la teoria y la construccion de los líbrio en ei balanceo delas fuerzas, sobre rela-
Cielos, publicado en Kcenigsberg, en 1755. 5
e e fe crf f p t f i i t c < f « C f -f-f f f-f-f f t f f ff f f < f -00-010
VI COSMOS. HUMBOLDT. 43
, ciones con formas intermedias, que lejos de ser en tanto que ei viajero conozeu cl estado de la
permanentes, determinan solo ciertas fases de- ciência cuyo domínio deba estender, y en cuanto
un desarrolló normal. Si de los cuerpos dotados que sus ideas guien á sus investigaciones y le
de vida, pasamos ai mundo inorgânico, encon inicien en ei estúdio dela naturaleza*
traremos en él ejemplos que caracterizan en alto- Por esta tendência hácia las concepciones ge
grado los progresos de la geologia moderna. Re- nerales, peligrosa solamente en sus abusos, una
cor.oceremos, como despues de las grandes miras parte considerable de conocimientos físicos ya
de Elias de Beaumont, las cadenas de montanas adquiridos, puede llegar á ser propiedad comun
que dividen los climas, las zonas vegetales y las- de todas las clases de la sociedad; pero esta pro
razas de los pueblos, nos revelan su edad relati piedad no tiene valor sino en tanto que la ins-
va, 3'asea por la naturaleza de los bancos sedi- truecion estendida, contraste, por la importân
mentarios que han levantado, ya por las direc- cia de los objetos que trata y por la dignidad
ciones que siguen por largas grietas, sobre las de sus formas, con las recopilaciones poço sus -
cuales se ha hecho ei rugamiento de la superfí tancialesque hasta ei fin dei siglo XVIII, se han
cie dei globo. Relaciones de yacimiento en las conocido con ei impropio nombre de saber popu
formaciones de traquito y de póríiro sienítico, lar. Quiero persuadirme, de que las ciências es-
dediorita y de serpentina, que han permanecido puestas eu un lenguaje que se eleva á su altura, •O
dudosas en los terrenos auríferosde la Hungria, grave y animado á la vez, debon ofrecer, á los
en ei Ourai, rico en platino, y en la pendiente que, encerrados en ei círculo estrecho de los de-
sub-oeste dei Altai siberiano, se encuentran de beros do la vida, se averghenzan de haber sido
finidos claramente por observaciones recogidas largo tiempo estrafios ai comercio íntimo dè la
sobre las mesetas de Méjico y de Antioquía, y en naturaleza, y de haber pasado indiferentes de-
los barrancos insalubres dei Choco. Los materia- lante de ella, una de las más vivas alegrias que
lesquela física general ha puesto en obra en los pueden esperimentarse, la de enriquecer ei en-
tiempos modernos, no han sido acumulados á Ia tendimiento con nuevas concepciones. Este co
casualidad. Se ha reconocido por fin, y esta con- mercio, por las emociones á que dá luyar, des
viecion dá un caracter particular á las investi - perta, por docirlo así, en nosotros órganos que
gaciones de nuestra época, que las correrías le- habian dormido largo tiempo. Asi llegaraos á co-
janas, que no han servido durante largo tiempo nocer de un golpe de vista estensn, lo que en los
masque para suministrar la matéria de cuen- descubrimientos físicos engrandece la esfera de
tos aventureros, no pueden ser instruetivas sino. la inteligência, y contribuye, por felices aplica-
• 111 ; VX1 1 1 1 1 XVI ) 1 -1 1 XI 1 XX
•11 COSMOS.

ciones á Ias artes mecânicas y químicas, á desar HUMBOLDT. 45


rollar la riqueza nacional. larizacion, ó sea la diferencia que existe entre
Un conocimiento más exacto dcl enlace de los los dos rayos en que se divide un haz de luz, ai
fenômenos nos libra también de un error, muy atravesar un cristal de doble refraccion, no se
esparcido aun; cual es ei de que bajo ei respecto previa que, siglo y médio despues, ei gran des
dei progreso de las sociedades humanas y de su cubrimiento de la polarizacion cromálica, de
prosperidad industrial, todas las ramas dei co Mi Arago, Uevaria á este astrónomo-fisico á re
nocimiento de la naturaleza no tienen ei mismo solver, por médio de un pequeno fragmento de
valor intrínseco. Establécense arbitrariamente espato de Islândia, las importantes cuestiones de
grados de importância entre las ciências mate saber si la luz emana de un cuerpo sólido ó de
máticas, ei estúdio de los cuerpos organizados, una envuelta gaseosa, y si la que los cometas nos
ei conocimiento dei electro-magnetismo y la in envian es propia ó reflejada. (1G)
vestigación de las propiedades generales de la Una estimacion igual hácia todas las ramas
matéria en sus diferentes estados de agregacion de las ciências matemáticas, físicas y naturales,
molecular. Despréciase locamente lo que se de es necesidad dè una época en que la riqueza ma
signa bajo ei nombre de investigaciones pura terial d°. las naciones y su prosperidad creciente,
mente teóricas. Olvídase, y esta indicacion es están principalmente fundadas en un empleo más
sin embargo bien antigua, que la observación ingenioso y más racional de las producciones y
de un fenômeno enteramento aislado en apa de las fuerzas de la naturaleza. Basta arrojar
riencia, encierra frecuenternente ei górmen de una rápida mirada sobre ei estado actual de la
un gran descubrimiento. Cuando Aloysio Gal- Europa para reconocer que, en médio de esta lu-
vani escitó por vez primera la fibra nerviosa cha desigual de los pueblos que rivalizan en la
porei contacto ooctdental de dos metales hete- . carrera-de las artes industriales, ei aislaraiento
rogéneos, sus contemporâneos estaban b.ien lejos y una lentitud perezosa, tienen indudablemente
de esperar que la accion de la pila de Volta nos por efecto ladisminucion ó ei total aniquilamien-
haría ver, en los álcalis, metales de brillo de to de la riqueza nacional. Sucede en la vida de
plata, nadando sobre ei água y eminentemente los pueblos, como en la naturaleza, en la cual,
lnilaraables; que la misma pila Uegarla á ser un segun feliz espresion de Gcethe (17), «ei desarro
instrumento poderoso de análisis química, un lló y ei movimientono conocen punto de parada,
termóscopo y un imán. Cuando Huygens obser lanzando su maldicion á todo lo que suspende la
vo por primera vez en 1078, un fenômeno de po- vida.> La propagacion de graves estúdios cientl -
ficos contribuirá á alejar los peligros que aqui
e eeec ec ç f c p p e-e f f f f r r e f c f-t-f f t cr et t r c e c f f f t t f f
4*5 COSMOS. HUMBOLDT. 47
senalo. R] hombre no tiene accion sobre la na- principio de unidad que se revela en la vida uni
turalr-va ni puede apropiarse ninguna de sus versal de la naturaleza. Siguiondo la sendaque
fuerzas, sino en tanto que aprenda á medirlas acabamos de trazar, los estúdios físicos no serán
con precision, á conocer Ias leyes dei mundo fí menos atiles á los progresos de la industria, que
sico. El poder de las sociedades humanas, Bacon también es una noble conquista de la inteligên
lo lia dicho, es la inteligência; este poder e ele cia dei hombre sobre la matéria. Por una feliz
va y se hunde coh ella. Pero ei saber que resulta conexion de causas y de efectos, generalmente
•lei libre traii ijt) dei pensamiento no es única- aun sin que ei hombre lo haya previsto, lo ver-
mpnte uno de los goces «lei hombre, es también dadero, lo bello y lo bueno se encuentran unidos
ei antiguo é indestructible derecho de Ia huma á lo útil. EI mejoramiento de los cultivos entre
nidad; figura entre sus riquezas, y es frecuente gados á manos libres y en las propiedades de una
rnente la.compensacion de los bienes que la na menor estension; ei estado floreciente de las ar
turaleza hf) repartido con parsimonia sobre la tes mecânicas, libres d?, las trabas que les oponía
tierra. Los pueblos que no toman una parte bas ei espíritu de corporacion; ei eomercio engran
tante activa en e! movjmianlo industrial, en la decido y vivificado por la multiplicidad do los
elecciony preparación de lasprimeras matérias, médios de contacto entre los pueblos, tales son ao
en las aplicariones felicesde la mecânica y de la los resultados gloriosos de los progresos intelec-
química, en los que esta actividad no penetra tuales y dei perfeccionair>iento de las institucio-
todas las clases de la sociedad, deben infalible- nes políticas en las cuales este progreso se refle
mente caer de la prosperidad que hubieren ad ja. El cuadro de la historia moderna es, bajo este
quirido. EI empohrecimiento es tanto más rápi respecto, capaz de convencer á los más porfiados.
do cuanto que Estados limítrofes rejuvenecen No temamos tampoco que la direccion que ca
sus fuerzas por Ia dichosa influencia de las ciên racteriza á nuestro siglo, quela predileccion tan
cias snbre las artes. senalada por ei estúdio de la naturaleza y ei pro
Del mismo modo que, en las elevadas esferas greso de la industria, tengan por erecto necesa
dei pensamiento y dei sentimiento, en la filosofia, rio debilitar los nobles esfuerzos que se produ-
la poesia v las bellas artes, es ei primer fin de cen en ei dominio de la filosofia, de la historia,
todo estúdio un objeto interior, ei do ensanchar y dei conocimiento de la antigUedad; que tien-
y fecundizar la inteligência, es también ei tér dan á privar Ias producciones de las artes, en
mino hácia ei cual deben tender las ciências di canto de nuestra existência, dei soplo vivifica-
retamente, ei (iescnbrimiento de las leyes, dei dordo la irnaginacion. Por todas partes donde.
>1 1 1 1 1 ) » X) XX > >> \9 1)1 )11) » > > 1

48 COSMOS.
íV HUMBOLDT. .}9
bajo la égida de instituciones libres y de una y de las emociones. Del mismo modo también,
sábia legislacion, pueden desarrollarse franca desde la altura que se eleva la física dei mundo,
mente todos los gérmenes de la civilización, no no se presenta ei horizonte igualmente claro y
es de temer que una rivalidad pacífica perjudi- determinado en todas sus partes; pero lo que
que á ninguna de las creaciones dei espíritu. Ca puede quedar vago y velado, no lo está unica
da uno de estos desarrollos ofrece frutos precio mente por consecuencia dei estado de imper-
sos ai Estado, los que dan alimento ai hombre feccion de algunas ciências, sino más aun por
y fundan su riqueza fisica, y los que, más dura- falta dol guia que ha pretendido imprudente
deros, trasmiten la gloria de los pueblos á la mente elevarse hasta esas alturas.
posteridad más lejana. Los Espartacos, á pesar Por otra parte, la introducción dei Cosmos
de su austeridad dórica, rogaban á los dioses no tenia por objeto hacer valer la importância
-da concesion de las cosas bellas, con las bue- y grandeza de la física dei mundo, que nadie po-
nas.» (1S) ne en duda en nuestros dias. He querido unica
No desarrollaré más ámpliamente estas con- mente probar que, sin perjudicar á la solidez de
sidoraciones, tan frecuenternente espuestas, so los estúdios especiales, pueden generalizarse las
ü bre la influencia que ejercen las ciências mate- ideas, concentrándolas en un foco comun, ense-
m atiras y físicas en todo lo que se relacione con ííar las fuerzas y tos organismos de la naturale
las necesidades materiales de la sociedad. La car za, como movidos y animados por un mismo
rera que debo recorrer es demasiado estensa impulso. «La naturaleza, dice Schellin en su
para que me permita insistir aqúí sobro la uti- poético discurso sobre las artes, no es una masa
lidad do las aplicacionos. Acostumbrado á leja- inerte; es para aquel que sabe penetrarse de su
nas correrías, quizás cometa ei error de pintar sublime grandeza, la fuerza creadora dei Uni
la senda como'más fácil y más agradable que lo verso, agitándose sin césar, primitiva, eterna,
es realmente; conocida costumbre de los que que engendra en su propio seno, todo lo que
quieren guiar á los demás hasta los vértices de existe perece y renace sucesivamente.»
las altas montafías. Elogian la vista de que se Ensanchando los limites de la física dei glo
disfruta, aun cuando quede oculta por las nubes bo, reuniendo bajo un mismo punto de vista los
una gran estension de Ilanuras; saben que un fenômenos que presenta la tierra con los que
velo vaporoso y semi-diáfano tiene un encanto abarcan los espacios celestes, llégase á la ciên
misterioso, que la imágen de lo infinito une oi cia dei Cosmos, es decir, que se convierte la físi
mundo de los sentidos con ei mundo de las ideas ca dei globo en una física dei mundo. Una de
C f C f ff f f 4 ( f f C ff * fiCCtff f f ff f f.f-f f f f Cf í f 0 00 0
HUMBOLDT. 51
estas denominaciones, está formada á imitacion do por la flexibilidad de su organización se pres
de Ia otra, pero la ciência dei Cosmos no es la ta á pintar los objetos dei mundo esterior, es-
agregacion enciclopédica de los resultados más tiende ai mismo tiempo como un soplo de vida
generales y más importantes que suministran los sobre ei pensamiento. Por este mútuo reflejo, la
estúdios especiales. Estos resultados no dan más palabra es más que un signo ó la forma dei pen
que los materiales de un vasto edifício; su con samiento. Su bienhechora influencia se mani-
junto no podria constituiria física dei mundo, fiesta sobre todo en presencia dei suelo natal,
ciência que aspira á hacer conocer la accion si por la accion espontânea de] pueblo, de la cual
multânea yel vasto encadenamiento de las fuer es viva espresion. Orgulloso de una pátria que
zas que, animan ai Universo. La distribúciôn de busca la concentracion de su fuerza en la uni
los tipos orgânicos segun sus relaciones de la- dad intelectual, quiero recordar, volviendo sobre
titud, de altura, y declimas, en otros términos, mí mismo, las ventajas que ofrece ai escritor ei
la geografia de las plantas y de los animales, es empleo dei idioma que le es propio, ei único que
diferente en todo de la botânica y de la zoolo puede manejar con alguna desenvoltura. jFeliz
gia descriptivas, como lo es la geologia de la él, si ai esponer los grandes fenômenos dei Uni
mineralogía propiamente dicha. La fisica dei verso, le es dado penetrar en las profundidades
mundo no puede por consiguiente confundirse de una lengua que, desde hace siglos, ha influí i
con las Enciclopédias de las ciências naturales do poderosamente en los destinos humanos, por
publicadas hasta aqui, y cuyo título es tan va ei libre vuel« dei pensamiento, asi como por las
go, cuanto mal trazados están sus limites. En obras de la imaginaclon creadora!
la obra que nos ocupa, los hechos parciale* no
serán considerados mas que en sus relaciones LÍMITES Y MÉTODOS DE ESPOSICION DE LA DES-
con ei todo. Cuanto más elevado es este punto CRIPCION FÍSICA DEL MUNDO.
de vista, tanto más reclama la esposition de •
nuestra ciência un método que le sea propio, un En las procedentes consideraciones he trata
lenguaje animado y pintoresco. do de esponer y aclarar pòr médio do algunos
En efecto, ei pensamiento y ei lenguaje están ejemplos de quê modo los goces que ofrece ei as
entre si en una íntima y antigua alianza. Cuan pecto de la naturaleza, tan diversos en sus orí
do por la originalidad de su estructura y su ri genes, se han aorecentado y ennoblecido por ei
queza nativa, la lengua llega á dar encanto y conocimiento de la conexion de los fenômenos
claridad á los cuadros de Ia naturaleza; y cuan- y de las leyes que los rigen. Réstame examinar
I X11 111 111 1 i i> i > , >>>>>>») 111)11 )))>))>
HUMBOLDT. 53
52 COSMOS. la pintura de paisaje, siempre que caracterice la
ei espíritu dei método que dobe presidir á la ex- fisonomía de los Yogetales, por las plantaciones
posicion de la descripcion fisica dei mundo', in ó la disposicion de las formas vegetales exóticas
dicar los limites á quecuento circunscribir la eu grupos que entro sí contrasten.
ciência, segun las ideas que se me han presenta- 4.° La historia de la contemplacion de la
do durante ei curso de mis estúdios y bajo los naturaleza, ó ei desarrolló progresiyo de la idea
diferentes climas que he recorrido. [Séame lícito dei Cosmos, segun la exposicion de los hechos
lisonjearme con la esperanza de que unadiscu- históricos y geográficos que nos han Ilevado á
sion de este gênero justificará ei título impru descubrir ei enlace do los fenômenos.
dentemente dado á mi obra, poniéndome á cu- Cuanto más elevado es ei punto de vista des
bierto de toda censura sobre una presuncion que de ei cual la física dei mundo considera los fe
seria doblemente reprensible en trabajos cien nômenos, es tanto más necesario circunscribir
tíficos! Antes de presentar ei cuadro de los fe la ciência á sus verdaderos limites, separándola
nômenos parciales, y distribuirlos en grupos, de todos los conocimientos análogos ó auxilia-
trataré las cuestiones generales que, intima res. La descripcion fisica dei mundo se funda «n
mente unidas entre si, interesan á nuestros co la contemplacion de la universalidad de las co
5* nocimientos acerca dei mundo esterior, en sí sas creadas; de cuanto coexiste en ei espacio
mismos y on las relaciones que estos conoci concerniente á sustancias y fuerzas; y de la si-
mientos muestran, en todas las épocas de la his multaneidad de los seres materiales que consti-
toria, con las diferentes fases de cultura inte tuyen ei Universo. La ciência quo trato do defi-
lectual de los pueblos. Estas cuestiones tienen 'nir tiene, por consiguiente, para ei hombre, ha
por objeto: bitante do la tierra, dos partes distintas: la
1.° Los precisos limites de la descripcion tierra propiamente dicha, y los espacios celestes.
física dei mundo, como ciência distinta. Con objeto de hacer ver ei caracter propio é in
2.° La rápida enumeracion de la totalidad dependiente de la descripcion física dei mundo,
de los fenômenos naturales, bajo la forma de un y para indicar ai mismo tiempo la naturaleza
cuadro general de la naturaleza. de sus relaciones con Ia Fisica general, con la
3.° La influencia dei mundo esterior sobre Ilislori'. natural descriptiva, la Geologia y la
la imaginacion y ei sontimiento; influencia que Geografia co?nparada, voy á detenerme en pri
ha dado en los tiempos modernos un poderoso mer lugar y preferontemente en la parte de la
impulso ai estúdio de las ciências naturales, por ciência dei Cosmos que concierne á la tierra. Así
la animada descripcion de lejanas regiones, por
r-r-4 f c t f-f f c
54 COSMOS.
f *
como la historia de la filosofia no consiste en la-
ir C f f f-ff t f t
HUMBOLDT.
f-f-f-f f f f
55
( f eee
en vano, sustituir á las denominaciones anti-
enumeracion, en cierto modo matérias, de Ias guas, vagas indudablemente, pero en general
opiniones filosóficas que son producto de las di comprendidas hoy, nuevos y más adecuados
ferentes edades, de igual manera la descripcion nombres. Estos câmbios han sido propuostos so
física dei mundo no podria s-?r una simpie aso- bre todo por los que se han ocupado en la cla-
ciacion enciclopédica de las ciências que acaba sificacion general de los conocimientos huma
mos de nombrar. La confusion entre conoci nos, desde la gran Enciclopédia (Marganla phi-
mientos intimamente relacionados, es tanto ma- losôphica) de Gregorio Reisch (19), prior de la
yor, cuanto que desde hace ya siglos nos hemos- Cartuja de Friburgo, á fines dei siglo XV, hasta
acosíumbrado á designar grupos de nociones ei canciller Bacon, desde Bacon hasta D'Alem-
empíricas por denominaciones ora escesivamen- bert, y en estos últimos tiempos, hasta ei físico
te latas, ora muy limitadas, con relación á las sagacísimo Andrés Maria Ampere (20). La elec-
ideas que debian espresar. Estas denominacio cion de una nomenclatura griega, poço apropia-
nes ofrecen además la gran desventaja de tener da, ha podido ser quizás más perjudicial aun á
un diferente sentido en las lenguas de la atiti- esta última, tentativa, que ei abuso do Ias di
guedad' clásica de las cuales fueron tomadas. Los visiones binadas y la escesiva multiplicidad de
nombres de flsiología, fisica, historia natural, los grupos.
geologia y geografia, nacieron y comenzaron á La descripcion dei mundo, considerado como ü
usarse habitualmente mucho antes de que hu objeto de los sentidos esteriores, necesita indu
biera ideas claras de la diversidad de los objetos dablemente dei concurso de la física general, y
que estas ciências debian abrazar, es decir, an de la historia natural doscriptiva; poro la con
tes de su recí|H'oca limitacion. Es tal Ia influen templacion de las cosas creadas, enlazadas entre
cia de una larga costumbre en las lenguas, que sí y formando un todo animado por fuerzas inte
en una de las naciones europeus más avanzadas riores, dá á la ciência que nos ocupa en esta
en civilización. la palabra física se aplica á la obra un caracter particular. La fisica sedetiene
medicina, en tanto que la química técnica, la en las propiedades generales de los cuerpos; es
geologia y la astronomia, ciências puramente ei producto dela abstraccion, la generalizacion
esperimentales, se cuentan entre los traba de los fenômenos sensibles. Ya en la obra donde
jos filosóficos de una Academia cuyo renombre se consignaron las prirneras bases de la física
es justamente universal. yeneral, en los ocho libros físicos de Aristóteles
Háse intentado con »*ecuencia, y casi siempre (21), todos los fenômenos de la naturaleza se
1111X11 1111)111 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1VI > > >1 V
56 COSMOS. HUMBOLDT. 57
consideran como dependiendo de la accion pri que atraviesan, levantan é inclinan; contempla
mitiva y vital de una fuerza única, principio de los volcanes ora se encuentren aislados, ó colo
todo movimiento en ei Universo. La parte ter cados en séries ya sencilla, ya doble, ora estien-
restre de la física dei mundo, á la que conser dan á diferentes distancias la esfera de su acti
varia de buen grado la antigua y perfectamento vidad, bien sea por las rocas que en estribos lar
espresiva denominacion de Geografia fisica, gos y estrecnos producen, bien removiendo ei
trata de la distribúciôn dei magnetismo en nues suelo por círculos que aumentan ó disminuyen
tro planeta, segun las relaciones de intensidad de diâmetro en la marcha de los siglos. La parte
y de direccion; pero no se ocupa de las leyes que terrestre de la ciência dei Cosmos describe, por
ofrecen las atracciones ó repulsiones de los pó último, laluohadel elemento líquido con la tierra
los, ni de los médios de producir corrientes firme; espone cuanto tienen de comun los gran
olectro-magnéticas, permanentes ó pasageras. des rios en su curso superior ó inferior, yen su
La geografia física traza á más á grandes rasgos bifurcacion, cuando su cáuce aun no está ente-
la conliguracion compacta ó articulada de los ramente cerrado; presenta las corrientes de
Continentes, la estension de su litoral compara água quebrando las más elevadas cadenas de
do con su superfície, la division de las masas montanas, ó siguiendo durante largo tiempo un
continentales en los dos hemisférios, diyision curso paralelo á ellas, ya en su pié, ya á gran
qua ejerce una influencia poderosa sobre .la di des distancias, cuando ei levantamiento de las
versidad de clima, y las modificaciones metereo- capas de ún sistema de montanas y la direccion
lógicas de la atmosfera; sehala ei caracter de las dei rugamiento, son conformes á la que siguen
cadenas de montafias, que, levantadas en dife los bancos mas ó menos inclinados de la llanura.
rentes épocas, forman sistemas particulares, ya Los resultados generales de la Orografíay dela
paralelos entre sí, ya divergentes y cruzados; Hidrografia comparadas, pertenecen unicamente
examina la altura media de los Continentes so á la ciência, de la cual quiero determinar aqui
bre ei nivel de los mares y la posicion dei centro los limites reales; pero la enumeracion de las
de gravedad de su volúmen, la relación entro ei mayores alturas dei globo, ei cuadro de los vol
punto culminante de una cadena de montanas canes, todavia en actividad, la division dei suelo
y la altura media de su cresta ó su proximidad en depósitos de água y la multitud de rios que
á un litoral cercano. Describe también las rocas los surcan; todos estos detalles son dei domiuio
de erupeion como princípios de movimiento, de la geografia propiamente dicha. No consi le-
puesto que obran sobre las rocas sedimentadas ,ramos aqui los fenômenos sino en su mútua
(4 f f f M M f f f f < v C C f f f f f ffC4 ei p p p i pe e
5S COSMOS. HUMBOLDT. 59
dependência, en las relaciones que presentan alcanza en las Uanu-as ei rnáximun de su desar
con las diferentes zonas de nuestro planeta, y rolló. Estas consideraciones asignan, merced á
su constitucion física en general. Las especiali la generalizacion de sus miras, un caracter más
dades de la matéria bruta ú organizada, clasifi- elevado á la descripcion física dei globo; y es
cadas segun la analogia de formas y de compo- efectivamente de esta reparticion local de for
sicion.son indudablemonte un estúdio dcl mayor mas, dei número y crecimiento más vigoroso de
interés; peroestan unidas á una esfera de ideas las que predominan en la masa total, de lo que
completamente distintas de las que constituyen dependen ei aspecto dei paisaje y la impresion
ei objeto de esta obra. que nos deja.la fisonomía de la vegetacion.
Las descripcior.es de paises diversos ofrecen Los (íatálogos de los seres organizados, á que
materialesmuy importantes para la composicion se daba otras veces ei pomposo título -le Siste
de una geografia física; sin embargo, la reunion mas de la Naturaleza, nos ponen de manifiesto
de estas descripciones, aun ordenadas en séries, un admirable enlaço de analogias de estructura,
no nos daria una imágen verdadera de la con- ya en ei desarrolló muy completo de esos seres,
formacion general do la superficie poliédrica de ya en las diferentes fases que recorren segun
nuestro planeta; como las floras de las diferen una evolución en espiral, de un lado las hojas,
tes regiones, colocadas las unas á continuacion las brácteas, ei cáliz, la corola y los órganos
de las otras, tampoco formarian lo que designo fecundantes; dei otro, con mayor ó menor sime
bajo cl nombre de Geografia de las plantas. Por tria, los tejidos celulares y fibrosos de los ani
la aplicacion dei pensamiento á las observacio males, sus partes articuladas ó debilmente bos-
nes aisladas; por las miras dei esp/ritu que com quejadas; pero todos estos pretendidos sistemas
para y combina, Uegamos á dcscubrir en Ia indi- de la naturaleza, ingeniosos en sus clasificacio-
vidualidadde las formas orgânicas, es decir, en la nes, no nos hacen ver los seres distribuídos por
historianatural descriptivadelas plantasyde los grupos en ei espacio, con respecto alas diferen
animales, los caracteres comunes que puede pre tes relaciones de latitud y altura á que estan
sentar la distribúciôn de los seres, segun los cli colocados sobre ei nivel dei Oceano, y segun las
mas; la inducción es la que nos revela las leyes influencias olimatológicas que esperiraentan en
numéricas, segun las cuales se regulan la pro- virtud do causas generales, y las más de las ve
porcion de las famílias naturales con la suma ces muy remotas. El objeto final de ,una geo
total de las espécies, y la laütud ó posicion geo grafia física, es sin embargo, como lo hemos
gráfica do las zonas donde cada for-ua orgânica enunciado mas arriba, reconocer la unidad en
1 1 1 1 1 XI 1 1 ) 1 1 >1 1 • 11111 i-ixii ) > > >
HUMBOLDT. 61
60 COSMOS.
mera vista, ai abrazar de una ojeada la vege
Ia inmensa variedad de los fenômenos, doscu- tacion de un Continente en vastos espacios,
brir, por ei libre ejercicio dei pensamiento y vénse las formas mas desemejantes, como las
combinando las observaciones, la constância de gramineas y las orquídeas, los árboles coníferos
los fenômenos, en médio de sus variaciones apa y las encinas, próximas unas á otras; y se ven
rentes. Si en la esposicion de la parte terrestre por ei contrario las famílias naturales y los gê
dei Cosmos, debe descenderse alguna vez á he neros, que lejos de formar asociaciones locales,
chos muy especiales, es solo para recordar la están dispersos como ai azar. Esta dispersion no
conexion que tienen las leyes de la distribúciôn obstante, es aparente. La descripcion física dei
real de los seres en ei espacio, con las leyes de globo nos muestra que ei conjunto de la vege
la clasiflcacion ideal por famílias naturales, por tacion presenta numericamente en ei desarrolló
analogia de organización interna y de evolución de sus formas y de sus tipos, relaciones cons
progresiva. tantes; que bajo iguales climas, las espécies que
Resulta de estas discusiones sobre los limites faltan á un pais èstan roemplazadas en ei pró
de las ciências, y en particular sobre la distin- ximo por espécies de una raisma família; y que
cion necesaria entre la botânica descriptiva ó esta ley de sustituciones que parece consistir en
morfologia vegetal, y la geografia de las plan los mistérios mismos dei organismo originário,
K tas, que, ep la física dei globo, la innumerable mantiene en las regiones limítrofes la relación
multitud de cuerpos organizados que embellecen numérica de las espécies de tal ó cual gran fa
la creacion, es considerada mas bien por zonas mília, con la masa total de las fanerógaraas que
de habitacion ó de estaciones, por bandas iso- componen las dos floras. Asi es como se revela,
térmicas de inflexiones diferentes, que por los en la multiplicidad de las organizacionos distin
princípios de gradacion en ei desarrolló dei or tas que las pueblan, un principio de unidad, un
ganismo interior. Sin embargo, la botânica y la plan primitivo de distribúciôn. Puede también
zoologia, que componen la historia natural des reconocerse bajo cada zona diversificada, segun
criptiva de los cuerpos organizados, no dejan de las famílias de plantas quo produce, una accion
ser manantiales fecundos que ofrecen materiales lenta pero contínua sobre ei Oceano aéreo, ac
sin los cuales ei estúdio de las relaciones y dei cion que depende de la influencia de Ia luz, pri
enlace de los fenômenos no tendria sólido funda mera condicion de toda vitalidad orgânica en Ia
mento. superficie sólida y líquida de nuestro planeta.
Una observación importante hay que anadir Diríase, valióndonos de una bella frase de Lavol-
para demostrar claramente este enlace. A pri-
ff ff ff f
f f - f ff ff « ff ff f Mil i f f f-c f f c r i f ( f í f e r t ffCffff « f ff f-f f f
(52 cosmos.
É HUMBOLDT.
les y de las plantas. Si esceptuamos los peque
63
sier, que se renueva sin césar á nuestra vista la nos'asteroides que se nos aparecen bajo las for
antigua maravilla dei mito de Prometeo. mas de aerolito, bólides y estrellas errantes, los
Si aplicamos ei método que tratamos de se espacios celestes no ofrecen hasta ahora á nues
guir en la esposicion de la descripcion física de tra observación directa, más que fenômenos físi
la tierra, á la parte sideral de la ciência dei cos; aun no podemos juzgar con certeza, sino de
Cosmos, es decir, á la descripcion de los espacios los efectos que dependen de la cantidad de ma
celestes y á los cuerpos que los pueblan, habre- téria ó de la distribúciôn de las masas. Los
mos simplificado en mucho nuestro trabajo. Si fenômenos de los espacios celestes deben, por
se quiere, siguiendo una antigua costumbre á la consiguiente, considorarse como sometrdos á las
cual nos obligaran undia árenuuciar miras más simples leyes dinâmicas dei moviiniento. Los
filosóficas, distinguir la fisica, es decir, las con- efectos que podrian nacer do ia diferencia espe
sideraciones generales sobre la esencia de la cífica, de la heterogcneidad de la matéria no han
matéria y las fuerzas que le ímprimen ei movi- sido hasta aqui objeto de cálculo para la mecâ
miento, de la química, que se ocupa de Ia hete- nica de le cielos.
rogeneidad de las sustancias, de su composicion El habitante de la tierra no se pone en rela
elemental, y de atracciones que no estan deter ción con la matéria que contienen los espacios 4
ri
minadas solo por las relaciones de las masas, celestes, ya este diseminada, ô reunida en gran
preciso es convenir en que la descripcion de la des esforoides, sino por dos caminos; por los fe
tierra presenta acciones físicas f químicas á la nômenos de luz (propagacion de las ondas lumi
vez. Al lado do la gravitacion, que debe consi- nosas), ó por la influencia que ejerce la gravi
derarse como la fuerza primitiva de la natura tacion universal (atraccion de las masas). La
leza, obran á nuestro alrededor, en ei interior existência de acciones periódicas dei sol y de la
ó eu la superficie de nuestro planeta, atraccio luna sobre ei magnetismo terrestre son hasta
nes de otro gênero. Son estas las que se ejerccn hoy muy dudosas. Ninguna esperiencia directa
entro las moléculas on contacto, ó separadas á arroja luz sobre las propiedades ó cualidades
distancias infinitamente pequenas (22); fuerzas específicas de las masas que circulan por los es
de aftnidad química que modificadas distinta pacios celestes, y sobre Ias de las matérias que
mente por la electricidad, ei calórico, la cun- quizá los llenan por completo, á no ser, como
densacion en los cuerpos porosos, ó ei contacto acabamos de enunciar, respecto de los aerolitos
de una sustância intermedia, animau igualmente •ó piedras meteóricas que se mezclan á las sus-
ei mundo inorgânico y los tejidos do los anima-
1 111)>>>))) 11 ) IX 9 1 X 1 X > 1 1 1 Mil
HUMBOLDT. 65
04 COSMOS.
ejerce este gran planeta sobre sus satélites, so
tancias terrestres. Basta recordar aqui lo que bre ei cometa de Encke de corto período, y so
puede deducirse de su direccion y de su enorme bre los pequenos planetas (Vesta, Juno, Ceres y
velocidad de proyeccion, velocidad esencialmente Palas), dá igualmente la certeza de que, en los
planetária, á saber: que dichas masas, rodea limites de nuestras actuales observaciones, la
das de vapores, y ai llegar ai estado de incan- atraccion está determinada por la sola cantidad
descensia, son pequefios cuerpos celestes atraí de la matéria (23).
dos por la accion de nuestro planeta fuera de La carência de percepciones sobre la hetero-
su primitivo camino. El aspecto, tan familiar á geneidad de la matéria, que se obtiene de la ob
nuestra vista, de estos asteroides, la analogia servación directa y consideraciones teóricas, dá
que ofrecen con los minerales que componen la á la mecânica de los cielos un alto grado de
corteza de nuestro globo, tienen sin duda algo simplicidad. Sujeta la estension inconraensura-
de sorprendente; pero la única consecuencia que ble de los espacios celestes á la sola ciência dei
puede deducirse en mi juicio, es que en general movimiento, la parte sideral dei Cosmos bebe en
los planetas y las otras masas que bajo la in las fuentes puras y fecundas de la astronomia
fluencia de un cuerpo central se han aglomerado matemática, como la parte terrestre en las de
en anillos de vapores, y despues en esferoides, la física, química y morfología orgânica; pero
I son como partes integrantes de un mismo sis ei domínio de estas três últimas ciências abraza
tema y tienen un mismo origen, y pueden ofre- fenômenos de tal modo complicados, y hasta ei
cer también una asociacion de sustancias quí- dia tan poço susceptibles de métodos rigorosos,
micamente idênticas. Hay más todavia: las es- que la física dei globo no podria vanagloriarse
periencias dei pêndulo, y particularmente las aqui de la certeza, simplicidad en la esposicion
hechas con tan rara precision por Bessel, con- de los hechos y de su mútuo encadenamiento,
firman ei axioma newtoniano, de que los cuer que es lo que caracteriza la parte celeste dei
pos más heterogêneos en su com posicion (ei Cosmos. La diferencia que senalamos en este
água, ei oro, ei cuarzo, la caliza granulada y momento, quizá sirva de esplicacion ai por quê,
diferentes masas de aerolitos) esperimentan por en los primeros tiempos de la cultura intelec
la atraccion de la tierra, una aceleracion ente- tual de los Griegos, la filosofia de la naturaleza
ramente seraejante. Unénse á las observaciones de los Pitagóricos se dirigió con más ardor há
dei pêndulo pruebas obtenidas por observacio cia los astros y los espacios celestes, que hácia
nes puramente astronômicas. La casi identidad la tierra y sus producciones; y como, merced á
de la masa de Júpiter, deducida de la accion que
e ce r r ff f f c t x M i f ff_f C f t ff ff ff ff ff ff f f-f t f-f I f f-i ff ff f ff
66 COSMOS. HUMBOLDT. 67
Philolao, y despues por los deseos análogos de subordinarse la parte sideral, llamada por Kant
Aristarco de Samos, y de Seleuco de Erytrea, Historia natural dei cielo, á la parte terrestre.
ha llegado á ser más provechosa ai conocimien En ei Cosmos, segun antigua espresion de Aris
to dei verdadero sistema dei mundo, que haya tarco de Samos, que presentia ei sistema de Co-
podido sedo jamás para la física de la tierra, la pérnico, ei Sol no es otra cosa, con sus satélites,
filosofia de Ia naturaleza de la escuela jónica. sino una de Ias innuraerables estrellas que lle
Atendiendo poço á las propiedades y á las dife nan los espacios. La descripcion de estos espa
rencias específicas de las matérias que llenan cios, la física dei mundo, ha de empezar por los
los espacios, la gran escuela itálica en su gra- cuerpos celestes, por ei trazado gráfico dei Uni
vedad dórica, rairaba preferentemente cuanto verso, mejor dicho, por un verdadero mapa dei
se refiere á las medidas, á la configuracion de mundo, tal como la mano atrevida de William
los cuerpos, á las distancias de los planetas y á Herschell intento trazarlo. Si á pesar de la pe
los números (24); en tanto que los físicos de Jo- quenez de nuestro planeta, lo que le concierne
nia se detenian en las cualidades de la matéria, exclusivamente ocupa en esta obra ei lugar más
en sus transforraaciones verdaderas ó supues- importante, y se encuentra desarrollado con
tas, y en sus relaciones de orígen. Al poderoso mayor preclsion, depende esto unicamente de la
gênio de Aristóteles, tan profundamente espe desproporcion de nuestros conocimientos entre ao
culativo y práctico á la vez, le estaba reservado lo que es asequible á la observación y lo que de
ei profundizar con igual éxito ei mundo de las ella escapa. Esta subordinacion de la parte ce
abstracciones y ei mundo de las realidades mate- leste á la terrestre, se encuentra ya en la gran
riales, que encierra fuentes inagotables de mo- obra de Bernardo Varenio (25), que apareció á
viraiento y de vida. mediados dei siglo XVII. Fué ei primero que dis-
Muchos y de los más notables tratados de tinguió la geografia general y la geografia es
geografia física, ofrecen en sus introducciones pecial, subdividiendo la primera en geografia
una parte esclusivamente astronômica desti absoluta, es decir, propiamente terrestre, y en
nada á describir ante todo en la tierra en su de geografia relativa ó planetária, segun que se
pendência planetária, y como formando parte mire á la superficie de la tierra en sus diferen
dei gran sistema que anima ei cuerpo central dei tes zonas, ó las relaciones de nuestro planeta
Sol. Esta marcha de ideas es diametralmente con ei sol y la luna. Es un justo título de gloria
opuesta á la que yo me propongo seguir. Para para Varenio, que su Geografia generaly com
comprender bien la grandeza dei mundo no debe parada pudiera fijar, como fijó, en alto grado la
) 1 1 1 11)111 1 i i ) >v i v) i > i ) vi , )9%0-y ) ) )
68 COSMOS, HUMBOLDT. 69
atencion de Newton. Segun ei imperfecto es Mundo, y para la cual se había dedicado á estú
tado de Ias ciências auxiliares de que debia Ya- dios especiales, incluso ei de la anatomia dei
lerse, ei resultado no podia corresponder á la hombre. La espresion poço comun, pero preci
magnitud de la empresa. Estaba reservado á sa, de Ciência dei Cosmos, recuerda ai espíritu
nuestro tiempo, y á mi pátria, ver trazar á Car dei habitante de la tierra, la idea de que se
los Ritter ei cuadro de Ia geografia comparada trata aqui de un horizonte más vasto, de la reu-
en toda su estension, y en su íntima relación con nion de cuanto llena ei espacio, desde las más
la historia dei hombre (20). lejanas nebulosas hasta los ligeros tejidos de
La enumeracion de los más importantes re matéria vegetal, repartidos segun los climas,
sultados de las ciências astronômicas y físicas, que tapizan y coloran diversamente las rocas.
que, en ei Cosmos, converjen hácia un foco co Bajo la influencia de las limitadas aspiracio-
mún, legitima hasta cierto punto ei título que nes propias de la infância de los pueblos, las
he dado á m) obra. Quizás sea ei título mas te ideas de tierra y de mundo han sido confundidas
merário que la empresa misma, circunscrita á desde ei principio en ei uso de todos los idiomas.
los limites que la he lljado. La introducción de Las vulgares espresiones: Viajes alrededor dei
nombres nueyos, sobre todo cuando se trata de mundo, mapa-múndi, nuevo-mundo, son ejem
las miras generales de una ciência que debe es plos de esta confusion. Las más exactas y más
tar ai alcance de todos, ha sido hasta ahora muy nobles de Sistema dei mundo, mundo planetá
contraria á mis costumbres; nada he anadido á rio, creacion y edad dei mundo, se refieren unas
la nomenclatura, sino.allí donde en las especia á la totalidad de las matérias que llenan los
lidades de la botânica y de la zoologia descripti- espacios celestes, otras, ai orígen dei Universo
vas, objetos resefíados por primera vez, han entero.
hecho indispensables nombres nuevos. Las de Parece natural que en médio de la estre
nominaciones de Descripcion fisica dei mundo, mada variabilidad de los fenômenos que ofrecen
ó Fisica dei mundo, de que me valgo indistin la superficie dei globo y ei Oceano aéreo que la
tamente, estan formadas sobre las de Descrip envuelve, haya admirado ai hombre ei aspecto
cion física de ta tierra ó física dei globo, es de la bóveda celeste, y los movimientos arregla-
decir, Greografía física, desde largo tiempo te- dos y uniformes dei sol y de los planetas. Tam
nidas en uso. Uno de los gênios más poderosos, bién la palabra Cosmos indicaba primitiva
Descartes, dejó algunos fragmentos de la gran mente, en los tiempos homéricos, las ideas de
obra que pensaba publicar bajo ei título de adorno y órden á la vez; pasó mas tarde ai len-
r 4 t * ff f ff ff f ff f c.« f c cr f ff ff f c ff ff ff f ff í <rc c f c f P W P
70 COSMOS, HUMBOLDT. 71 •
guaje científico, y se aplica progresivamente á. de Cosmografia, y dividirse en Uranografia y
la armonía que se observa en los movimientos Geografia. Los romanos, imitadores de los grie
de los cuerpos celestes, ai órden que reina en gos, en sus débiles ensayos de filosofia, han con
ei Universo entero, a! mundo mismo en ei cual cluído también por transportar ai Universo la
este órden se refleja. Segun la asercion de Phi- significacion de sus mundos, que no indicaba
lolao, cuyos fragmentos ha comentado M. Boeckh primitivamente más que la compostura, ei
con rara sagacidad, y segun ei testimonio ge adorno, y no ei órden ò la regularidad en la
neral de toda la antiglledad, fué Pitágoras ei disposicion de las partes. Es probable que la in
primero que se sirvió de la palabra Cosmos para- troducción de este término técnico en oi idioma
designar ei órden que reina en ei Universo, y dei Lacio, la importacion de un equivalente de
ei Universo ó ei mundo mismo (27). De la es la palabra Cosjnos, en su doble significacion, se
cuela de la filosofia itálica, la espresion pasô en deba á Ennio (28), partidário de la escuela itá
este sentido ai idioma de los poetas de la natu lica, traductor de los filosofemas pitagóritos
raleza, Parménides y Empédocles, y de allí ai compuestos por Epicarno ó por alguno de sus
uso de los prosistas. No discutiremos aqui como adeptos».
segun estas ideas pitagóricas, distingue Philolao Distinguiremos desde luego la historia fisica
entre ei Olimpo, Urano ó ei Cielo, y ei Cosmos; dei mundo de la descripcion fisica dei mundo.
como la misma palabra está empleada en plu La primera, concebida en ei más lato sentido de
ral para designar ciertos cuerpos celestes (los la palabra, deberia, si existieran datos para es-
planetas) que circulan alrededor dei foco cen cribirla, trazar las variaciones que ha esperi-
tral dei mundo, 6 grupos de estrellas. En mi mentado ei universo en ei trascurso de Ias eda-
obra, la palabra Cosmos está tomada como la des, desde las estrellas nuevas que repentina
prescriben ei usohelénic\ posterior á Pitágo mente han aparecido y desaparecido en la bóveda
ras, y la definicion muy exacta dada en ei Tra dei firmamento, desde las nebulosas que se di-
tado dei mundo que falsamente se ha atribuído suelven ó se condensan, hasta la primera capa
á Aristóteles; es ei conjunto dei cielo y de la de vegetacion criptógama que ha cubierto la
tierra, la universalidad de las cosas que com superficie apenas enfriada dei globo, ô un banco
ponen ei mundo sensible. Si desde largo tiempo de corales levantado cn ei seno .de Iqs mares.
los nombres de las ciências no hubieran sido La descripcion física dei mundo ofrece ei cua
apartados de su verdadera significacion lingüís dro de lo que coexiste en ei espacio, de Ia accion
tica la obra que publico debería llevar ei título simultânea de las fuerzas naturales y de los fe-
iiii ix) i mi K11111 H1XI1X1XXI
HUMBOLDT. 73
72 COSMOS. 1
nómenos que estas producen. Pero para com demuestran ei estado anterior de un idioma, re-
prender bien la naturaleza, no se puede separar flejado en las formas de que hoy nos valemos.
enteramente y de una manera absoluta la con- Eíte reflejo dei pasado se maniflesta tanto más
sideracion dei estado actual de las cosas, de la en ei estúdio dei mundo material, cuanto que
de las fases sucesiYas por las cuales estas han vemos aparecer á nuestros ojos rocas de erup-
pasado,ni puede concebirse su esencia sin reflec- cion y capas sedimentadas semejantes á las de
sionar acerca dei modo de su formacion. No es
edades anteriores. Para tomar un ejemplo sor-
la matéria orgânica sola la que perpétuamente
prendente de las relaciones geológicas que de
se compone y se disuelve para formar nuevas terminan la fisonomia de un pais, recordará aqui
combinaciones; ei globo, á cada fase de su vida,
que los promontorios traquíticos, los conos de
nos revela también ei mistério de sus estados
basalto, las corrientes de amigdaloydes de poros
anteriores.
alargados y paralelos, y los blancos depósitos
No es posible fijar la vista sobre la corteza
de pótnez mezclados con negras escorias, ani-
raan, por decido así, ei paisaje, por los recuer-
de nuestro planeta, sin encontrar las huellas de
dos dei pasado. Estas masas ohran sobre laima-
un mundo orgânico destruído. Las rocas sedi
ginacion dei observador instruído, como obrarian
mentadas presentan una sucesion de seres que
las tradiciones de un mundo anterior; que la
H se han asociado por grupos, escluidos y reem-
forma de las rocas es su historia.
plazados mutuamente. Estos bancos superpues-
BI sentido en que han empieado originaria-
tos unos á los otros, nos revelan los faunos y
mente los Griegos y los Romanos la palabra
Ias floras de los pasados siglos. En este sentido,
historia, prueba que tenian también la convic-
la descripcion de la naturaleza está intima
r;nn íntima de que para formars-í una idea com
mente enlazada con su historia. El geólogo no
pleta dei actual estado de las cosas, era preciso
puede concebir ei tiempo presente sin reraon-
consideradas en su sucesion. No en la definicion
tarse, guiado por ei enlace de las observaciones,
dada por Verrio-Flaco (20), sino en los escritos
á ,miles de siglos trascurridos. Al trazar ei cua
zoológicos de Aristóteles, es donde la palabra
dro físico dei globo, vemos, por decido así, po-
hf,$lòrto> se presenta como una esposicion de los
netrarse reciprocamente ei pasado y ei presente;
resultados de la esperiencia y de la observación.
porque sucede en ei domínio de Ia naturaleza lo
La descripcion física dei mundo de Plinio ei
mismo que en ei domínio de las lenguas, en las
Viejo, lleva ei título de Historia natural', en
cuales las inYestigaciones etimológicas nos ha
las cartas de su sobrino se la llama mas noble-
cen ver también un desarrolló sucesivo, y nos
7
Cffffff -ff f ff < f f i f f < f f ff ff f ff f f f f f t f f f f f f f f f f f f f ff ff ff ff i t
74 COSMOS. HUMBOLDT. 75
monte, Historia de la naturaleza. Los primeros medida que las ciências físicas se ensanchen y
historiadores griegos no separaban aun las des- perfeccionen progresivamente. Brilhantes ejem
cripciones de los paises, de la narracion de los plos de este adelanto se han dado en nuestros
sucesos de que habian sido teatro. Entre ellos, dias en los fenômenos electro-raagnéticos, y cn
la geografia física y Ia historia formaron estre- los que presentan la propagacion do las ondas lu
cha alianza: permanecieron mezcladas, de una minosas y ei calórico radiante. Del mismo modo
manera sencilla y graciosa, hasta la época en la fecunda doctrina de la evolución nos hace ver
que ei gran desarrolló dei interés político y la como en los desarrollos orgânicos todo !o que se
perpétua agitacion de la vida de los ciudadanos, forma ha sido bosquejado anteriormente, como
hicieron desaparecer de la historia de los pue los tejidosde las matérias vejetales y animales
blos ei elemento geográfico, para formar de él nacen uniformemente de la multiplicacion y de
una ciência aparte. la transformacion de las células.
Queda que examinar si, por obra dei pensa La generalizacion de las leyes, no aplicada
miento, puede esperarse que la inmensidad de los primero sino en estrocho círculo á algunos gru
fenômenos diversos que comprende ei Cosmos, pos aislados de fenômenos, ofrece con ei tiempo
vengan á la unidad de un principio y á la evi gradaciones cada vez más senaladas, ganando en
dencia de las verdades racionales. En ei estado estension y en evidencia mientras se fija ei ra
actual de nuestros conocimientos empíricos, no zonamiento en fenômenos de naturaleza real
nos atravemos á concebir tan lisonjera esperan- mente análoga; pero desde ei momento en que
za. Las ciências esperimentales, fundadas en la los cálculos dinâmicos no son suficientes; por
observación dei mundo esterior no pueden pre donde quiera que las propiedades específicas de
tender nunca ei completarse; la esencia de las la matéria y su heterogeneidad están en juego,
cosas y la imperfeccion de nuestros órganos se es de temer que obstinándonos en conocer las
oponen á ello igualmente. Nunca se acabará la leyes, encontremos bajo nuestros pasos abismos
riqueza inagotable de la naturaleza; ninguna infranqueables. El principio de unidad deja de
generacion podrá lisonjearse de haber abrazado hacerse sentir; ei hilo se rompe do quiera qüe
la totalidad de los fenômenos. Dístribuyéndolos se manífieste entre las fuerzas de la naturaleza
por grupos es como se ha llegado á descobrir en una accion de un gênero particular. La ley de
algunos de estos, e) império de ciertas leyes de los equivalentes y delas proporciones numéricas
la naturaleza, sencillas y grandes como ella. La de composicion, tan felizmente reconocida por
estension de este império aumentará sin duda, á los químicos modernos, proclamada bajo la an-
1 1 X I I 1 1 1 XXI 1 -1 -XI ) i i i i i i i xi i i > n vil ) i m i l i
76 cosmos.

tigua forma de símbolos atomísticos, permanece HUMBOLDT. 77


aun aislada, é independiente de las leyes mate yes empíricas. Estas son las fases que la inteli
máticas dei movimiento y de la gravitacion. gência humana ha recorrido, y que han caracte
Las producciones de la naturaleza, objeto de rizado diferentes épocas en la vida de los pue
la observación directa, pueden distribuirse lo blos. Siguiendo este camino es como se ha Uegado
gicamente por clases, ordenes ó famílias. Los á reunir ei conjunto de hechos que constituyen
cuadros de estas distribucionesarrojan sin duda hoy la sólida base de las ciências de la natura
alguna luz sobre la historia natural descriptiva; leza.
pero ei estúdio de los cuerpos organizados y su Dos formas de abstraccion dominan ei con
enlace lineal, á pesar de dar más unidad y sen- junto de nuestros conocimientos: relaciones de
cillez á la distribúciôn de los grupos, no pueden cantidad relativas á las ideas de número ó de
elevarse á una clasificacion fundada sobre un magnitud, y relaciones decualidad quecompren-
solo principio de composicion y organización in den las propiedades específicas ó la heterogenei-
terior. Del mismo modo que las leyes de la na dad de la matéria. La primera de estas formas,
turaleza presentan diferentes gradaciònes segun más accesible ai ejercicio dei pensamiento, per-
la estension de los horizontes ó de los círculos tenece á las ciências matemáticas; la segunda,
de fenômenos que abrazan, así también la esplo- más difícil de comprender y más misteriosa en
racion dei mundo esterior tiene fases diversa- apariencia, es dei domínio de las ciências quí
^ mente gradu; 'as. El empirismo empieza por cál micas. Para someter los fenômenos ai cálculo,
culos aislad .s que se van acercando segun su hay que recurrir á una construccion hipotética
analogia y su desemejanza. Al acto de la obser de la matéria por combinacion de moléculas y
vación directa sucede, aunque muy tarde, ei atamos, cuyo número, forma, posicion y pola-
deseo de esperimontar, es decir, de producir fe ridad deben determinar, modificar y variar los
nômenos bajo condiciones determinadas. El es- fenômenos. Los mitos de matérias imponderables
perimentador racional no obra ai azar; se guia y de ciertas fuerzas vitales propias de cada or
por hipótesis que se ha formado, por un presen- ganismo, han complicado los cálculos y derra
timionto semi-instintivo, ymásó menos exacto, mado una luz dudosa sobre ei camino que ha de
dei enlace de Ias cosas ó de las fuerzas de la na seguirse. Bajo condiciones y formas de intuicion
turaleza. Los resultados debidos á la observa tan diversas es como se ha acumulado, á través
ción ó ai esperimento, conducen, por médio dei de los siglos, ei conjunto prodigioso de nuestros
análisis y la inducción, ai descubrimiento de le- conocimientos empíricos, ei cual aumenta cada
dia con rapidez creciente. El espíritu investi-
C C C C f ff ff 4 f ff f ff f ff ff -f-f e C C C f f <
?S COSMOS. HUMBOLDT. 79
gador dei hombre trata de tiempo en tiempo, y duda á Ia ciência dei Cosmos un objeto más ele
con éxito desigual, de romper formas anticua- vado. Lejos estoy de censurar los esfuerzos que
das, símbolos inventados para someter la maté yo no he intentado, y de vituperarlos porei solo
ria rebelde á las construcciones mecânicas. motivo de que hasta aqui han tenido un éxito
Muy lejos estamos aun de la época en que muy dudoso. Contra la voluntad y los consejos
será posible reducir á Ia unidad de un principio de los profundos y poderosos pensadores que han
racional, por Ia obra dei pensamiento, cuanto dado una nueva vida á especulaciones con las
percibimos por médio de los sentidos. Puede aun cuales se había ya familiarizado la antigüedad,
dudarse si en ei campo de la filosofia de la natu los sistemas de la filosofia de la naturaleza han
raleza llegará á conseguirse semejante resulta alejado los ânimos durante algun tiempo en
do. La complicacion de los fenômenos y la in- nuestra pátria de los graves estúdios de las
raensa estension dei Cosmos parecen oponerse á ciências matemáticas y físicas. La embriaguez
este fin; pero aun cuando ei problema fuera in- de pretendidas conquistas ya hechas; un lengua
solublei en conjunto, no por ello una solucion je nuevo escéntricamente simbólico; la predilec-
parcial, la tendência hácia la comprensión dei cion por fórmulas de racionalismo escolástico
mundo, dejarla de ser ei objeto eterno y subli tan estrechas como nunca las conoció la edad
me de toda observación de la naturaleza. Fiel ai media, han senalado, por ei abuso de las fuerzas
caracter de las obras que he publicado hasta en una generosa juventud, las efímeras satur-
aqui, y á los trabajos de medidas, esperiencias, nales de una ciência puramente ideal de la natu
é investigaciones que han llenado mi carrera, raleza. Repito la espresion, abuso de las fuerzas,
me encierro en ei círculo delas concepciones em porque espíritus superiores entregados á la vez
píricas. á los estúdios filosóficos y á las ciências de ob
La esposicion do un conjunto de hechos ob servación, han sabido preservarse de estos esce-
servados y combinados entre sí, no escluye ei sos. Los resultados obtenidos por sérias investi
deseo de agrupar los fenômenos segun su racio gaciones en ei camino de la esperiencia, no pue
nal enlace, ni generalizar lo que es susceptible den estar en contradiccion con una verdadera
de generalizacion en ei conjunto de las observa filosofia de la naturaleza. Cuando hay oposicion,
ciones particulares, ni llegar, en fin, ai descu- la falta está, ó en ei vacío de la especulacion ó
brimiento do las leyes. Concepciones dei univer en las exageradas pretenslones dei empirismo,
so fundadas unicamente en la razon, en los prin que cree haber probado por la esperiencia más
cípios de la filosofia especulativa, asignarlan sin de lo que la esperiencia puede probar.
LI 1 )11111111 XI 9 \ 1 I ) I i I i I • »

80 COSMOS. HUMBOLDT. 81
Ya se oponga la naturaleza ai mundo inte fancia de la humanidad se descubre en la simplo
lectual, como si este último no estuviese com- intuicion de los hechos naturales, en los prime
prendido en ei vasto seno de la primera; ó bien rosesfuerzos intentados para comprenderlos, ei
se oponga ai arte, considerado coma una mani- gérmen de la filosofia de la naturaleza. Estas
festaeion dei poder intelectual de la humanidad, tendências ideales son diversas y más ó menos
no deben conduoir estos contrastes, rellejados en fuertes, segun las razas, sus disposiciones mo-
las longuas más cultivadas, á un divorcio entro rales, y ei grado de cultura que han alcanzado,
la naturaleza y la inteligência, divorcio que re- merced á la naturaleza que las rodea.
duciría la física dei mundo á no más que un con La historia nos ha conservado ei recuerdo
junto de especialidades empíricas. La ciência no dei gran número de formas, bajo las cuales se ha
empieza para ei hombre hasta ei momento en intentado coucebir racionalmente ei mundo en-
que ei espíritu se apodera de la matéria, en que teni de los fenômenos, reconocer en ei Universo
trata de sometcr ei conjunto de las esperiencias la accion de una sola fuerza motriz que penetra
á combinaciçnes racionales. La ciência es, ei es la matéria, la transforma y la viviflca. Estos
píritu aplicado á la naturaleza; pero ei mundo ensayos datan en la antigüedad clásica, desde los
esterior no existe para nosotros sino en tanto tratados de la escuela jónica sobre los princípios
que por ei camino de la intuicion le reflejemos de las cosas, en quo apoyándose en un corto nú
dentro de nosotros mismos. Así como la inteli mero de observaciones, so quiso someter ei con
gência y las formas dei lenguaje, ei pensamiento junto de la naturaleza á temerárias especula-
y ei símbolo, están unidos por lazos secretos ó ciones. A medida que por la influencia de gran
indisolubles, dei mismo modo también ei mundo des sucesos históricos se han desarrollado todas
esterior se confunde, casisin echarlode ver, con las ciências auxiliándose de la observación, háse
nuestras ideas y nuestros sentimientos. Los fe visto también enfriarse ei ardor que Uevaba á
nômenos esteriores, dice Ilegel en La filosofia deducir la esencia de las cosas y su conexion,
de la historia, están en cierto modo traducidos de construcciones puramente ideales y de prin
en nuestras representaciones internas. El mundo cípios racionales en un todo. En tiempos más
objetivo pensado por nosotros y en nosotros re- próximos á nosotros, la parte matemática de la
flejado, está sometido á las eternas y necesarias filosofia natural ha sido la que recibió mayores
formas de nuestro ser intelectual. La actividad adelantos. El método y ei instrumento, es decir
dei espíritu se ejerce sobre los elementos que le ei análisis, se han perfeccionado á la vez. Cree-
facilita la observación sensible. Así desde la in- mos que lo que fué conquistado por tan diversos
e e c c f f f f f f f f f f t ff f c f ff r ff f x_c e í C-C-f-f f f ff ff f ff f ff
82 COSMOS.
HUMBOLDT. 83
médios, por la aplicacion ingeniosa de las supo-
siciones atomlsticas, por ei estúdio más general zar las cosas por la senda dei raciocinio y de la
inducción. Seria desconocer la dignidad de la
y más íntimo de los fenômenos y por ei perfec-
naturaleza humana, y la importância relativa
cionamiento de nuevos aparatos, es ei bien co
de nuestras facultades, ei condenar, ya la razon
mún de la humanidad, y no debe hoy como antes
austera que se entrega á la investigación de las
tampoco Io era, ser sustraido á la libre accion
dei pensamiento especulativo. causas y de su enlace, ya ei vuelo de la imagi-
No puede negarse sin embargo, que en ei tra
nacion que precede á los descubriraientos y los
suscita por su poder creador.
bajo dei pensamiento hayan corrido algun peli-
gro los resultados de Ia esperiencia. En la perpé
tua vicisitud de los aspectos teóricos, no hay
que admirarse mucho, como dice ingeniosamen-
te ei autor de Gíordano Brnmo (30), «si la mayor
aparte de los hombres no ven en la filosofia sino
>una sucesion de meteoros pasajeros, y si las
•grandes formas que ha revestido corren la suer-
>tede los cometas, que ei pueblo no coloca entre 8
>las obras eternas y permanentes de la natura
leza, sino entre las fugitivas apariciones de los
•vapores ígneos.> Apresurémonos á ahadir que
ei abuso dei pensamiento y las equívocas sendas
en que penetra, no pueden autorizar una opi
nion cuyo efecto seria rebajar la inteligência, á
saber, que ei mundo de las ideas no os por su na
turaleza más que un mundo de fantasmas y
suehos, y que las riquezas acumuladas por la
boriosas observaciones tienen en la filosofia una
potência enemiga que las amenaza. No es pro
pio dei espíritu quo caracteriza nuestro tiempo
ei rechazar con desconfianza cualquier generali-
zacion de miras, cualquier intento de profundi-
) 1111111111111111)1) >>11)1111111) 11)1)1)1)11 1'
1. CAPEL, Iloracio. Filosofia y ciência cn la Geografia
contemporânea. Una introducción a la Geografia. Barcelona: TEXTO 11
Barcanova, 1981. (Capítulos I e II).

-& LA ESTREILA POLAR


Capítulo 1

Humboldt y la teoria de la Tierra

Horacio Capei
Casi todos los tr.itadistas de historia de la geografia están de acuerdo en
considerar a Alejandio de Humboldt como ei padre de la moderna ciência
y ciência geográfica. Su obra. sinduda. fuedecisiva para la configuración de muchas
de las ideas geográficas, particularmente en ei campo de la geografia fisica.
en la Geografia Sin embargo, su figura y su obra quedaron, en cierta maneia, como un he
cho aislado.' teniendo que esperarse ai último tercio dei siglo XIX para
encontrai una disciplina bien desarrollada, y algunos anos más para que
puedn hablarse con toda propiedad de una geografia humana sistemática.

Una introducción
La gênesis dcl proyccto científico humholdtiano
a la Geografia
Nacldo en 1769 y perteneciente a una família aristocrática pruslana, cuyo
Nueva edición ampliada padre masón y racíonalista se preocupo de dar una esmerada educación a
sus hiios a iravés de preceptores, Alejandro de Humboldt recibió tempra-
namente una buena formación en economia política gracias a las clases
dei fisiócr3ta Wilhelm Dohm. Su formación posterior en matemáticas,
ciências naturales, botânica y física, mineralogía —con preceptores parti
culares y a través de sus estudlos en la Academia de Minas de Freiberg
(1X90-1792):—y en tecnologia se completo luego con una buena educa
ción financiem debidoa susestúdiosde Cameralístlca, disciplina destinada
a formar a los altos funcionários de finanzas. Por otra parte, su ânsia de li
bertad personal. su deseo e incluso necesidad vital de un desarrolló
personal fuera dei marco de los preceptores y dei ambiente familiar, asi
como la influencia de los círculos cosmopolitas judios, que frecuentó en
Berlfn, ydeGeorg Forster, un ilustrado que había acompaftado ai capitán
Cook en susegundo viaje ahededor deimundo, contribuyeron a laforma
ción de unespíritu viajero que se traduclría endiversos viajes ysobre iodo
eu lagran expedición a laAmérica espanola.J Charles Minguet, que ha es
tudado con particular atención los aftos de educación de Humboldt ylas
tensiones psicológicas que influyeron en algunas de sus decisiones senala.
con referencia a la vocación científica deeste autor: "Las fuerzas vitales dé
Alejandro, que parecían durante su adolescência relativamente dêbiles,
pero que adquirieron despues una considerable extenslón, se aplicaron
r p 1 «
:•
||UMIlOU>r YLA n.OHlA Pt LA UI.HHA
fll OMIFiA V CIÊNCIA CN (Vki;r.tM'.KAH'A C.ON1 IV.rOKÂNH
inm) desconocldo que una observación,sobre las relaciones
unicamente en In direccion indicada, ei estúdio de la Naturaleza. exclu-
yendo de su vida cualquier otra paslón, y en particular las relaciones
sennnu-ntales con mujeres».4 ESSSSZSS - *<***««*•ham ucima"eldS,, om
Con Georg Forster realizo Alejandio de Humboldt un viaje por Ale .* ade
rftlante
m ante considera
co K las vcnta|as de los ^viajes^ ai ^
Interior
qufi de los,.
mania, Inglaterra y Francia, durante ei cual puilo asistir a algunos de los
aconiecimientos de la Revolución Francesa, que dejaron en él una admira-
conti:K-ntes para c.uu ^eS P . jj ^ ^^ ^ ^
clón y una huella Imborrable. Poçoa poço se va delinleiido ei proyecto de ten Ob^^P^^, planm. asi como los que permiten reco-
una expedición científica a tierras no europeas, con ei fin de realizar un dtít<'?; ,Tt, o - a lisposición de las matérias brutas .eunidas en rocas
estúdio sistemático de la Naturaleza, apiovechando la amplia y variada
formación que poseía. Cuando trás vários íntentos fallidos para viajar a
"°en uSsSción de Jplantas yanlma.es. Vconc.uye:
África y Próximo Orienie se embarca finalmente en LaCortina (5 de junio u, Ho wtistea dei mundo es determinar ia forma de esos tipos. Ias
de 1799) con nimbo a la América espanola, su propósito es bien claro: se
trata no solamente de realizar una expedición científica clásica con instru
mentos astronômicos de primer orden: -todo esto no es, sin embargo, ei vlos de la Naturaleza inanimada.-'
objetivo principal de mi viaje. Mis o|os deben estar slcmpre fijados sobre
la accion combinada de las fuerzas, la influencia de la creacion inanimada
sobre ei mundo animal y vegetal, sobre esta armonía».1
F.s, pues, ya desde cl mismo comk-nzo de su viaje, toda la compleja y i-V ,-,rin d idealismo v ei romanticismo alemán—
rica problemática de las relaciones entre los distintos fenômenos de nues
tro planeta Io que Humboldt trata de investigar. F.n este senüdo puede
anrmarse que Humboldt no sento las bases de la -Fisica dei Globo» por
^B^Stets^-^sffi
ción por -una MM*J^^^^mo«1 mismo«cd*p-
casualIdad, como resultado de! encadenamiento de Ias observaciones em
píricas realizadas sotire ei terreno. En la misma base de sus viajes a America
ÍSSSÍÍÍSEÍSK32SS £** humano- Se in.eresaba po,
se encuentra la idea genial que luego seria tan influyentv en la ciência geo
gráfica. 111 caso de Humboldt muestra —ai Igual que otros muchos ejemplos
científicos— que solo se encuentra lo que se busca, lo que previamente ya
se ha intuído, lo que ha sido objeto de una formulación anticipada que *"t^oSc^destímulo primero para este proyecto P^rade
ts proDaoie q movimlento romântico yla filosofia idea-
permite seleccionar y organizar los conocimientos posteriores en funclón
de la primera idea.'
la influencia que en él ejL cia ei mo.in ^.^^ ^
La preocupación inicial de Humboldt se mantuvo como idea molriz
durante todo ei viaje y guio también la redacción de los volumenes en que
daba cuenta de las investigación es americanas. En la introducción de la romanticismo a.einán. En «^~Í5£S2S-Sí ««•*««•
Relación histórica dei viaje a las resiones equinocciales dei Nuevo Continente
dícc:
-Un duble fin me habfs propuesio en cl vla|e cuya relación histórica publico aho
ra. Deseaba que se conocie.sen los países que he visitado y recoger hechos que ÍS ! m aJe visito en 1794, había estado trabajando en un proyecto
dlcscn luz sobre una ciência apenas bosuue|ada y muy vagamente designada con
este *J»W£23 UMW«2o. ín el ^ue tralaba d<?desarfüUar SU concePclón
los nombres de Física dcl mundo, Teoria de la Tiena o de Get>$rafia fisica. De ambo%
objetos pareclóme más importante e! segundo (...) Prefiricndo slcmpre ai conoci
Saít££2SE& e< w«*> «•"*»• *»Hum,,üklt tiaMhB
miento de los hechos aislados, aunque nuevos, ei dei encadenamiento de los versai de la naturaleza concebida como un todo de partes intlmamum
hechos observados largo tiempo ha. parccfamc mucho menos mu-u-sanie ei dMcu-
11111 1 >1 11 111)111111111 I ))1111111 ))1>11>))))1^

-."
23 riUMOlMVl !-.,< NUO£U<fteflA CONTEMPORÂNEA HUMbULI '• VI ATEORIA 11'- LA TORA

relacionadas, uo todo aimonloso movido por fuerzas internas, como él .7,1.1 HRn ella critica -Ia manera en la que se ha tratado hasta ahota la
mismo dirá en alguna ocasión. Este fue ei grandioso proyecto científico X',c.a de la Naturaleza. en ia que solo se retenían las diferencias de for"
que Humboldt acaricio durante toda su vida, ei que le condujo a su empre i Z 1- «ue se estudiaba Ia fisionomia de las plantas yde los animales,
sa cie fundar Ia «Física dei Globo» y culminaria más tarde en esa obra de miaoue se confundfa Incluso Ia cnseflanza de ias características, la ense-
rnadurez que es ei Cosmos, ftanza de la identificación con la ciência sagrada-. Frente a ese tipo de
Algunos aspectos dei método de Humboldt pueden destacarse desde ciência, Humboldt pretende que -cs otra cosa más elevada lo que hay que
una perspectiva geográfica. En primer lugar. Humboldt slguló un método buscar-, y esto que debe busearse es:
comparativo, yaimismo tiempo Incorporo slempre ensus invcstigaciones
la perspectiva hlsiórica. Algún autor ha seíialado que ...su descripcion no •la «monta general en la forma, ei problema de saber si hay una form.. de planta
es puramente estática, sino que recurre ai método histórico y ai método órlsinnl que'se presenta bajo mlilau-s de gradaclones. ei reparto de e»BS toim.fs rn
comparativo-. Yafiade: -Es en esto, en efecto, en lo que Ia Geografia es 1, Su-ur'ficte cie la tlerrn, Ias diversas impresiones de alegila yde melancolia que ei
una ciência nueva, ai teneren cuenta tanto ei "Sein"como ei "Werden" : mundo de las plantas p.oduce cn los hombres senslbles. ei contraste entre la masa
Sin entrar aqui adiscutir si realmente la unión de estas dos perspectivas cs rocosn mueria. inmovll eincluso entre los troncos de los arboles que patecen itjnr.
lo especifico de la geografia, vale la pena. sin embargo, atender ahora a gantCOS yei tapl? vegetal vivo que reviste cn cierta manera delicadamente ei
cada una de ellas. es&ucletocon una carne más üetna; la historia yla geografia de ias plantas, cs dedr,
Respecto ai método comparativo usado por Humboldt. cabe destacar. bdfeSOipdon historiei de la cxteuslón general de los vegetales sobre la superficie 06 la
solamente que lo usó de iorma abundante y que algunos consideran que •àeta. una parte HO eseudlada de la historia general dei mundo; la investigación de
es precisamente este uso de comparaciones universales su:contribución Ia más amlgua vegetacion primitiva en sus monumentos fúnebres (pelrlficaciôn.
más importante.'-- Humboldt comparaba. en efecto, sistematicamente- los feslllwclón. tarliop.es minerales. hulla); la habitabllldad progreslva de la superficie
paisajes dei sector que estudiaba con otras partes de la Tierra. Así, poi dei globo; las migradoncs y Io» traycctos de las planras. plantas sociales y plantas
ejemplo, compara los llanosdei Orinoco con las pampas, los desiertos dei alsladas. con los mapas correspondentes, cuales son Ins plantas que hanseguido a
viejo continente y los de América, ei altiplano de México y e! de ia Penín cierto» pueblos; una historia general de la agricultura; una comparación de las plan
sula Ibérica, las montanas de Europa y las dei Nuevo Mundo. Como dice tas cultivadas yde los animales domésticos; orlgen de las dos degeaerescencias; HUé
Uickinson," -Io esencial cs que no solo reconocló paisajes únicos, sino plantaison más omenos estrictamente. másomenos llbremcnte, sometldas aIa ley
queobservo que poseen relaciones generales y causas genéticas comimes de Ia turma simétrica; la vuelta ai estado salvaje de las plantas domésticas U) Ias
con áreas similares en otras partes de la Tierra; esta es la csencia de! méto peuu.baclones generales que se han producldo cn la geografia de las plantas como
dogeográfico*. La importância de esta actitud es consideiable. Realmente, resultado de las colonlzacloncs; tulesson. me parece, los objelos que me pareceu
como ha hecho notar J. !'idget."la tendência a comparar, que no es tan dignos de atencldn y que nohan sido casi en absoluto abordiidos».
natural como puede creerse, es unode los factores que permiten ei paso de
unaciência desde ei estado prcclenrífico ai estado nomotético. permitien- El párrafo es interesante porque a través de él se comprueba que. a!
do un distanclamiento respecto ai punto de vista propio, dominante en menos desde 1794. Humboldt consideraba ya como insatisfactorio todo
un primer momento. Li uilllzaclón dei método comparativo representa ei sistema cientifico dei xvm, basado en la realización de- clasifiraciones. ei
pues. un paso decisivo en la ciência. En cl caso de Humboldt esta actitud cual había ilevado en Historia Natural a las claslficaciones de Linneo,
quizá procediera de dos fuentes: una. Ia influencia de Georg Forster, que Tournefort o Buffon. Se trataba de una concepción que. en definitiva, con
en sus Cuadrosdcl Bajo Rliin (1791-1794) había comparado ei paisaje ate- sideraba la Naturaleza como inmóvil, y aceptaba la posibilidad de realizar
mán dcl recorrido con paisajes ingleses y franceses;" otra, de sus una clasificación estática de sus elementos. Frente a ella, desde pleno siglo
conocimientos botânicos, geológicos y zoológicos, y más concreuamente xvm una serie de figuras (Boniiet. Benoit de Maillet, Dlderot) «preslenten
de su conocimiento de los métodos de ia -anatomia comparada- que él ya la gran potência creadora de la vida, su Inagotable poder du ttansforma-
mismo aplico en sus observaciones.1* ción, su plasticldad y esta deiis-a que envuelve a todos sus produetos, entre
Por otia pane, la perspectiva histórica, ei cambio, la evolución fue algo ellos nosotros mismos, en un tiempo dei que nadie es dueflo. Mucho antes
que preocupo enormemente a Humboldt desde antes de su viaje aAméri de Darwin y de l.amarck. ei gran debate dei evolucionlsmo quedo abierto
ca, y que aparece netamenle expresado en la carta que escribiõ a Schiller por cl Tulliamed. la Palhigéneslt! y ei liêve de D'Alambcit-.'*
f rc ( ( f f f f t f f í f íífffíffrrffffffff( f fpppppppfppp0 0
:>
.-II.OSsSl IA VCIÊNCIA ENLA CiEOÜHAtlA C.ON1 ISlfORANEA HUMHOl.ni Y Ij\ IkOKlA nE LATORRA Z5
Humboldt pertenece ya por esta visión histórica ydinâmica de la na jx-rsos como cl azar-. Pero -esta dispersión. no obstante, es aparente-; y
turaleza a la nueva era científica. Ia que en ei siglo xix conduclrá a ese precisamente
descubrimiento fundamental de Ia ciência contemporânea que es ei evo
lucionlsmo. Frente a la Naturaleza concebida corno algo estático y ..l.i descripcion física dcl globo nos muestra que cl conjunto de la vegetacion pre
continuo, como hacia en general Ia ciência dei xvm, Humboldt ve clara senta numericamente en cl desarrolló de sus formas y de sus tipos relaciones
mente que hay que considerar la historia de las plantas, la historia de la constantes: que ba|oIguales climas, las espécies quefaltan a un pais están reempla-
Tierra. la evolución de nuestro planeta, reflejada en las plantas yorganis- íadas en clpróximo por espécies de una mlsnín família; yque esta teydeSUStlttlcJotns
mos foslltzados. Por otra parte, frente a Ia concepción espacial de los que- parece consistir en los mistérios mlsmos dei organismo originário, mantiene
naturalistas preocupados por las taxonomías, para los cuales como dlce enlas regiones limítrofes la iclaclón numérica de las espécies de tal ocual gran fa
Foucault" -ei espacio real geográfico y terrestre en ei que nos encontra mília, con lamasa totalde las fancrôgamas quecomponen las dos Horas-.-'-'
mos nos muestra a los seres embrollados unos con otros, eu un orden que.
con relación a la grancapa de las taxonomías no es más que azar. desorden Para Humboldt, -la descripcion de la naturaleza está intimamente
y perturbaclón-, Humboldt adopta un punto de vista totalmente diferente eniazada con su historia-, porque los recuerdos dei pasadoestán presentes
y se plantea ei problema de comprender Ias relaciones que unen en un por doquler. tanto enei mundo orgânico como enei inorgânico. En e! or
mismo espacio a fenômenos y elementos aparentemente inconexos. o gânico, de hecho, -no cs posible rijar la vista sobre la corteza de nuestro
cuya conexión no puede deducirse de un sistema taxonómlco. Frente a la planeta, sin encontrar Ias hucllas de un mundo orgânico destruído». En
concepción que refleja la frase de Adanson en su Cours dliistoliv nutuiclle ei inorgânico, las rocas nos muestran continuamente con su forma y su
(1772)-'r, deque Ia naturaleza -es una mezcia confusa deseres que ei azar composición la historia dei planeta. Historia y naturaleza aparecen inti
parece haber acercado (...); esta mezcia es tan general ymúltiple que pare mamente asociadas como geografia física e historia. Esta concepción
ce ser una de las leyes de la naturaleza-, bastará situar las palabras de dinâmica dei universo y su crítica de las taxonomías estáticas y. rígidas,
Humboldt sobre su idea de la armonía de la naturaleza, sobre las relacio que no reconocian la existência de formas intermedias yde transicion, le
nes entre los fenômenos que sedan en nuestro planeta, para comprender permitieron a Humboldt llegar hasta cl umbral mismo dei evolucionlsmo,
la Inmensa distancia que separa la concepción humboldtiana de la dei si y si no llegó a ser un verdadero evoluclonista, si que ha sido reconocido
glo xvm. como -ei eslabón entre la concepción mecânica y la concepción evolucio-
Humboldt acepta plenamente la distinción kantlana entre «sistemas nista de la naturaleza-, e|erciendo una clara, y hoy sabida, influencia en la
de Ia naturaleza» y «descripciones de la naturaleza- y si admite que los obra de Darwin.;;
primeros -nos ponen de manifiesto un admirabk- enlace de analogia cie El estúdio de las interrelaciones en ei espacio suponía. por otra parte,
estructura, ya en ei desarrolló muy completo de esos seres, ya en las dife ei análisis de la distribúciôn espacial de los diferentes fenômenos. De he
rentes fases que recorre-n según una evolución en espiral-, de otra parte cho, otroaspecto interosante delaaportación de Humboldt es lautiliraclón
setiala que -todos esos pretendidos sistemas de Ia naturaleza. ingeniosos de ciertos métodos cartográficos que, en ocasiones, siguen todavia en vi
en sus clasificaciones, no nos hacen ver los seres distribuídos por grupos gor. Es lo que ocurre, pore|emp!o, con la utilización de isolíneas. Apartir
en ei espacio con respecto a las diferentes relaciones de latltucl y altura a de una idea de Halley sobre ei magnetismo, Humboldt fue cl primero en
que están colocados sobre ei nivel dei Oceano y según las influencias cli- unir mediante líneas los puntos que poseian la misma temperatura media
matológicas que experimentan en virtud de causasgenerales».'' Este fueei anual flsotermas) así como las temperaturas veranlegas (isoterales) e inver-
estímulo intelectual que lecondujo ai desarrolló desu geografia física. nalcs (Isoquimenales), calculando también. en ei informe cientifico de su
En esta geografia fisica, que culmina en ei Cosmos, Humboldt trata de viajea Ásia Central. Ias amplitudes térmicas. En su trabajo sobre Las líneas
llevarse a una reilexión cientifica a partir de lo que antes era considerado isotermas y la distribúciôn dcl calor cn eiglobo, propuso ei sistema de repre-
un puro azar incomprensible. En él escrlbe, en efecto, que la primera ojea- seníaclón aún utilizado. Al mismo tiempo. Humboldt realizo secclones
da a la vegetacion de un continente nos muestra -las formas más deirelieve para mostrar las alturas y las correspondências conlos fenôme
deseme|antes, como las gramineas y las orquídeas, los ârboles coniferos y nos que observaba. La insplración para realizar perfiles degrandes áreas o
las encinas, próximas unas a otras; y se ven por ei contrario Ias famílias -mapas de altura- le vino desusexperiências en mineria.y pudo represen
naturales y los gêneros que lejos de formar asociaciones localcs están dis- tar así -países enteros por un método que hasta hoy no se ha empleado
n)iii .nn)))n)))nnni)iinii)))^ 11111

IIUMflOLUrV LA IKORIA CUS LA 1IFJIHA 87


2e .•ll.OSOUA ,' tifBHOA IN IA Cl Oi.kaKa COM EMPOnANfiA

sino para las minas o para las pequenas porciones de terreno por donde ,,. |ôn fisionômica de los paisajes naturaies. Yademás. ello refleja una
deben pasar canales».'1 sènslbllldad ante ei paisaje que era corriente en los naturalistas de la épo
Armado de su variada formación, Humboldt pudo realizar aportacio ca Qulzâs habría que prestar atención a la influencia que pudo ejercei en
nes decisivas a diversas ramas de Ia ciência, sobre todo a la geologia, la él la obra de naturalistas como Horace Benedict de Saussure, ai que Hum
inineralogia, la meteorologia y climatologia (nombre que parece haber boldt conoció en Glnebrn en 1795, y nl que cita explicitamente como
cit-ado), Ia geografia botânica, así como a la oceanografia (estúdio de Ia modela de su Relación histórica dei Viaje de Ias RvgjOlies eqiítoocdà\«S,w para
rorriente de su nombre), a Ia hidrologia y ai estúdio de! problema dei justificar la Incl-.isíón de desetipeiones y cuadros de paisaje sobre temas
geomagnetlsmo. variados, y dei que muy probablemente procedeu las pautas para laobser
En ei desarrolló desu pensamiento y desu métodogeográfico, ei viaje vación y descripcion de lasáreas montanosas.
a América fue realmente decisivo, como él mismo reconocería más tarde.1' Pero, además, esta senslbihdad hay que ponerla en relación con ei
particularmente importantes fueron sus observaciones en los Andes ecua- nuevo sentido dei paisaje, propio dei movimienio romântico, con esa
toriales, donde pudo analizar los câmbios de vegetacion en relación con Ia exaltaclón delanaturaleza que aparece en tantas obras literárias de Ia épo
altura, así como las que realizo en Nueva Espana, donde estableció por ca —como, por ejemplo. en Paul et Virgittie, la novela de Saini-Ploire que
primera vez la division, todavia utilizada, entre tierras calientes, tierras tanto gustaba a Alejandro— y que conduce a una valoración de las des-
templadas y tierras frias, division, todo hay que decido, inspirada —como cripeiones y a una vivência intima dei paisaje natural. La Indudable
él mismo seílala—"• en las denominaciones que les daba popularmente sensibilidad de Humboldt ante ei paisaje y sus repetidas aluslones ai
la población. En ei viaje a Ásia Central, en cambio, fueron sobre todo las -goce» que se obtiene de su contemplacion son, sin duda. una deuda más
observactones geomajméticas, geológicas y astronômicas las que predoml- de este autor con ei espirltu romântico de la época.
naron, ya que ei objetivo era ei estúdio de los recursos rnlneros. Lo más Este sentimiento de la naturaleza y dei paisaje se refleja en toda Ia
destacable de la relación dei via|e (publicada en 1843) son las teorias sobre obra de Humboldt, pero aparece sobre todovivo en sus Cuadros de laNatu
montanas y mesetas, y los cálculos sobre alturas y su Influencia en la altu raleza, publicados prlmeramente en alemán en 1808, obra en la que trata
ra media de loscontinentes; los estúdiosde hidrologia y sobre ei Cáspio; y de exponer líterariamente para un público amplio ei resultado de su labor
ei examen de las causas de las desviaclones de las isotermas respecto a Ia científica en América. La obra está inspirada en otra de Georg Forster, ei
disposición teórica según los paralelos. El papel de las masas cominentales compaftero de su via|c europeo de 1790, Cuadros dei Bajo Rhin (1791-
y desuconfiguración topográfica, así comola disposición respectiva de las 1794). la cual se ha considerado, a pesar de su forma de diário, otro claro
masas marinas y continentales y su articulación (una expresión que luego precedente dei método geográfico regional."' Así. a través de Forster, de
alcanzaria mucho éxito) son algunos de los aspectos sobre los que Hum Goethe y de la literatura prerromántica, ei sentimiento de la naturaleza
boldt realizo valiosas aportaciones. tue elevado por Humboldt a una clara expresión científica y difundido
Los geógrafos han destacado también que Humboldt es ei primem con su gran prestigio a un público amplio.
que alude a los paisajes naturales, como expresión de áreas homogêneas. En Humboldt aparece claramente la relación entre grandes estruetu-
Así escribe en uno de sus ensayos sobre las planras: ras físicas y activldades humanas. Era una preocupaclón queen él veniade
lejos. Al menos desde 1793, como hemos visto, y vuelve a aparecer en
.Igual que reeonocernoi en distintos seres orgânicos una fisionomia determinada, 1797. ai publicarse sus Unsayus en los que se preocupa, por ejemplo, por la
v.,1 Igual que la Botânica descriptlvn yla Zoologia consisten, en sentido restringi- influencia de la naturaleza sobre la salud humana y donde proclama su
,;„. en un análisis detallado de las formas de animales y vegetal.-v de la mlsrr.a esperanza de que alguna vez se lograria "llevar a luz estas conexlones atis-
numera cada reglón de la Tierra posee una fisionomia natural peculiar para cada badas entre los mundos material y moral».-"'Más tarde en ei Lnsayopolilko
uno.- "'" sobre la Nueva Espana afirma que:

Cuales sean Ias laíces de esta valoración de Ia «fisionomia de las regio •la fisionomia de un pais, ei modo con eme están agntpadas las montanas, Ia ex-
nes- es algoque está por estudiar. Sinduda, paraun naturalista habituado tenslón de las llanuras, la elevnclón que determina su temperatura, en fin todo lo
n aplicar los princípios de caracterlzación morfológica que estaban en la que constituye la estructura de! globo, tiene las relaciones más esehclales con los
base de las taxonomías setecentistas, era fácil ei paso hacia una caracteri- progresos de la población y ei btencst» de los habitantes. Esa esiruclut.i es la que
€ P P PPP P P PP P f f P P P P P 0 0 P P P PP P P P P P P P P P P PP P f € P PP P P P f 1
2S rtl.OSOrlA YCIÊNCIA EN LA GKOCRAFlA CONTEXtrOIlÁNEA I1UMB01.DT Y I.ATEOKlAPE LA TIE-RA
Iniluye en eiestado de laagricultura, que varia según Ias diferencias de los climas, Hiunboldt y ia geografia fisica
en \z facilidad dcl comerciointerno, en lascomunicaciones máso menosfavoreci
das por la naturaleza dei terreno y, por fin. en la defensa militar deque depende la Son tantos los aiegatos que se han hecho sobre ei caracter geográfico de la
segundad exterior de la colônia.Solo bajo estosaspectos pueden lasgrandes inda- obra de Humboldt'0 y, en particular, sobre su proyecto esenclal de funda
gaciònes geológicas Inieresai ai hombre de Estado, cuando calcula Ias fuerzas y la mentai una física deIGlobo, que podría parecer un disentimiento atrevido
riqueza territorial de las naciones-." ei oponerse aeste tipo de Interprelaciones. Ysin embargo, si se lee atenta-
rrtente Ia obra de Humboldt. sin prejuicios corporativos y sin la obsesión
También en la Relación histórica dei viaje a las regiones c-quinocciales de justificar a toda costa la ciência geográfica y estudiarla retrospectiva
alude a los resultados generales que piensa haber obtenldo en su viaje a mente desde la dennición que luego se dio a ella, y si nos esforzamos, en
América y que -abrazan, ai mismo tiempo, ei clima y su influencia sobre los cambio, en situarsu obra en ei panorama de laciênciade su época, resulta
seres organizados, ei aspecto dei paisaje, variado según la naturaleza dei sue- evidente, me parece, que solo una parte concreta dela produeción científi
loydesu manto vegetal, ladireccion de Ias serranias y de los rios queseparan ca humboldtiana poseia realmente ei caracterde -geografia-. Con su física
así las razas de hombres como Ias trlbus de vegetales; esas modificaciones, en dei globo Humboldt noestaba fundamentando la geografia moderna, sino
fin. que stifre ei estado de los pueblos situados en diferentes latitudes y en esíorzândose en esrablecer una ciência totalmente nueva, que poço tenfa
circunstanciasmáso menos favorables para ei desarrolló de sus facultades»." que ver con la geografia de la época,
La vísión de los sufrimientos de los hombres le aparecia frecuente La confusión. en este sentido, procede esencialmente de la utilización
rnente detrás de los ricos y, aparentemente, alegres paisajes que recorria. por Humboldt de dos expresiones: la de «geografia fisica», que en varias
Humboldt fue un hombre de firmes convicclones políticas libc-rales y que. ocasiones considera más o menos equivalente a su -Fisica dei Globo», y
a pesar de sus orígenes aristocráticos y de su privilegiada situación econô -Geografia de las plantas-. Pero conviene advertir que ambas eran expre
mica y social, defendió siempre las aspiraciones de los grupos sociales siones comúnmente usadas por los naturalistas de la época, y que quizá no
oprimidos —tanto si se trataba de los indígenas o los negros americanos, hay que darles ei sentido que luego se les dio.
de los esclavos estadounidenses o de los siervos dei campo ruso o ale El término geografia física era utilizado corrientemente por los natu
mán— y mantuvo ei -hermoso y ardientc deseo de instltuciones libres».33 ralistas delaépocai yse relaclonaba con unproyecto muy compartido, de
Es verdad que estuvo colmado de honores por los reyes de Prusia. que fue constituir una teoria de la Tierra. Así lo expresaba en 1787 Horace Bene
amigo dei autórrata Federico Guillermo III.1' y que ha podido ser conside dict de Saussure, ei nanirallsta sulzo que tanto inlluyó en Humboldt, ai
rado como un -democrata de Corte»." Pero también lo es que siempre considerar que había llegado ei momento de desarrollar una ciência dela
defendió un punto de vista democrático, que su elevada posicion e in- Tierra basada en las observaciones, y no en la especulación y en la elabora-
menso prestigio le permitió en todo momento mantener. ción de sistemas: «La ciência que reúne los hechos, los únicos que pueden
Su posicion política y su actitud ante la miséria y la injustlcla aparece servir de base a la teoria de la Tierra o a la Geologia, es la geografia física, o
bien reflejada en esta frase: -Es un deber dei s'iajero que ha visto los tor- descripcion de nuestro globo; de sus divisiones naturales. de Ia naturaleza
mentos y degradaciones de la naturaleza humana llevar las acusacionesde de sus estrueturas y de la situación de sus diferentes partes; de los cuerpos
los desafortunados ai conocimiento de aquellos cuya tarea es procurar su que se muestran eií su superfície, yde los que enclerra en todas las profun
alivio-."' Esta conciencia de la miséria empanaba su goce de la naturaleza didades en que nuestros déblles médios nos han permitido penetrar».4'
en algunas ocasiones. Como cuando rememorando los ricos cultivos dei Saussure se dedico a realizar estas observaciones y a reunir los «hechos» en
valle dei Gilines, cerca de La Habana, recuerda ei sufrimiento de los escla los Alpes, ya que estaba convencido de que -es sobretodo ei estúdiode Ias
vos africanos que los trabajan y escribe: «La vida dei campo pierde su montanas lo que puede acelerar los progresos de la teoria de este globo-.
atractivo cuando es inseparable dei aspecto de la infelicidad de nuestra es Pero sus trabajos eran considerados por los contemporâneos, y pueden
pécie»." Fue sin duda este sentimiento de la injusticia y dei sufrimiento y serio hoy. como propios de un naturalista, y no como los de un geógrafo.
su fama de denunciar Ias injuslicins sociales lo que le cerro las pueuas de De hecho. su -pasión por la geogralía fisica- le estaba permitiendo contri
las poseslones inglesas en Ásia. que él queria visitar,3' y lo que le impidió buir ai desarrolló de la geologia y es en la historia de esta ciência donde
tratar cuestiones humanas en su viaje ai Ásia Central rtisa, por imposición con más propiedad pueden incluirse sus Viajes por los Alpes. Tc-ngase en
expresa dei ministro Conchrin.17 cuenta que en Francia. en laSuiza francófona. en Espana y otros países ei
111111111111) > 111111111111 1)111111 111111111111

HUMBOLDT YLA TEOBlA btt LATIEWiA 3t


3» I H.OSlirlA YCIÊNCIA EN LA OKOCÍHAPIA CONTEMPOItANEA

término «geologia- solo se generalizo despues de 1778, y hasta esa fecha se tron
nagnétlcas permanentes o pasajeras. La geografia fisica traza a más grandes
usaba comúnmente la expresión -Geografia física».42 aJ .os la conftguración compacta oaiticulada de los Continentes, la extensión de
rasgos
En ei siglo xvm algunos naturalistas alemanes reconocían la existência $u litoral comparado con su superficie, la division de las masas contlnentales en
de una historia y una fisica de los três reinos de la naturaleza. El botânico lòs dos hemisférios, division que ejerce una Influencia poderosa sobre la diversidad
Ludwig había defendido en 1742 que ei método histórico observaria lo ex de climas, y las modlficaciones meteorológicas de la atmosfera; senala ei caracter
terno y conduclria a la clnsificadón, mientras que ei método físico penetraria delas cadenas de montanas, quelevantadas en diferentes épocas, forman sistemas
en los cuerpos naturales y permitiria mostrar ei nacimiento y los câmbios de particulares, ya paralelos entre sí, ya divergentes ycruzados; examina la altura me
sus partes. Esta dimension histórica era para filósofos como Wolí la de las dia de los Continentes sobre ei nivel de los mares y la posicion dei centro de
verdades de hecho, frente a las verdades de razón." En estas distinciones la cravedad de su volumen, la relación entre cl punto culminante de una cadena de
geografia apareceria seguramente como más vinculada a la historia, en montanas y Ia altura media de sucresta o suproxlmidad a unlitoral cercano. Des
cuanto que facllltaba datos y verdades de hecho, mientras que a través de la cribe también las rocas de erupción como princípios de movimlento, puesto que
fisica era un tipo diferente de problemas los que se planteaban. obran sobre las rocas sedimentadas que atravlesan. lcs-antan o inclinan; contem
Las ideas de Humboldt sobre la geografia física dependían mucho de pla los volcanes ora se encucntien aislados, o colocados cn series ya sencilla. ya
la -geognosia- de Werner, de quien fue discípulo durante sus estúdios en doble, oraextiendan a diferentes distancias la esfera de su actividad. bien sea por
la Academia de Mlneria de Freiberg en 1791. La Identificación entre «geog las rocas queen esti Ibos largos y estrechos producen. bien removiendo eisuelopor
nosia-, -ciência de la Tierra» y «geografia física» aparece aceptada por ei círculos que aumeman o dlsmlnuyen de diâmetro en lu marcha de los siglos. La
mismo Humboldt en su Flora Fribergensis Specímen (1793). en la cual define oarte terrestre de la física dei Cosmos describe. por último, la lucha dei elemento
la rarea de esra ciência como ei estúdio de Io que coexiste en ei espacio, liquido con la tierra fume: expone cuanto tienen de común los grandes rios en su
considerando a la vez los fenômenos inorgânicos y orgânicos." curso superior o Inferior, y ensubifurcación, cuando su cauce aún noestá entera-
2
Humboldt mantuvo luego toda su vida esta identificación entre ciên mente cerrado; presenta lascorrientes de água quebrando lasmás elevadas cadenas
cia de la tierra y geografia física, la cual aparece explicitamente sostenida de momanas. o sigutendodurante largo tiempo un curso paraleloa cilas, ya cn su
en 1828 con ocaslón de sus conferências en la Universidad de Beilín'1 y, pie, ya a grandes distancias, cuandoei levantamlento de lascapas de un sistema de
consiguientemente, en la obra que de ellas se deriva, ei Co.s;;;os. En esta inumanas y Ia direccion dei rugnmlento son conformes a Ia que slguen los bancos
última obra Humboldt alude a Ia descripcion fisica dei mundo como más o menos inclinados de la llanura. Los resultados generales de la OlxígrafTa y de
-ciência independiente- y escribe que «si desde largo tiempo los nombres la Hidrografia comparadas, pertenecen unicamente a la ciência de la cual qulero
de las ciências no hubieran sido apartados de su verdadera significacion determinai aqui los limites-."
lingüística, la obra que publico debería llevar ei titulo de Cvsmografia, y
dividirse en Uraiwgrafia y Geografia; que eran, efectivamente. las partes Es evidente que esto puede constituir un proyecto significativo de
en que aquélla se dividia tradicionalmente. Peto estas expresiones y otras investigación cientifica, pero no está clara la relación dei mismo con lo
como fisiología, física o historia natural, olrecían ia gran desvc-ntaja de te- que hasta ei siglo xvm se entendia por geografia1' y tampoco con ei senti
ner un diferente sentido en Ias lenguas de Ia antigüedad clásica de las do que en su misma época otros contemporâneos y ei propio Humboldt
cuales fueron tomadas, porque «nacieron y comenzaron a usarse habitual atribuían a la expresión «geografia». Tanto más cuanto que ei mismo
mente mucho antes'le que hubiera ideas claras de la diversidad de los Humboldt despues de las anteriores palabras sigue manteniendo una dis-
ob|ctos que estas ciências debian abrazar, es decir, antes de su reciproca II- tinción entre «geografia física», por un lado, y -geografia propiainenle
niitación».'0 De una manera más concreta, considera que a la parte dicha» y -geografia comparada-, por otro. considerando a estas últimas
terrestre de Ia fisica deiinundo le «conservaria de buen grado la antlgua y como ciências descriptivas y enumerativas y como auxiliares -para Ia com-
exprcsiva denominación de geografia física».4' pcsición de la geografia física»."
Esta geografia fisica, tal como la definió en ei Cosmos, En cuanto a la expresión -geografia de las plantas» hay que decir que
era también usada habitualmente por los botânicos, para aludir a la distri
-trata de la distribuclón tk-l magnetismo en nuestro planeta, según las relacio búciôn espacial de las espécies vegetales. Despues dei estúdio sistemático
nes de intensidad y de diiecclòn; pero no se ocupa de las leyes que ofrecen las y de las taxonomías, era la distribúciôn lo que interesaba, asi como deter
atracciones o rcpulsloues de los pólos, ni de los médios de produclr corrientes elec- minar los factores que Inlluian en ella. Es así que un naturalista como
p P p P P p P P P p P P P 9 p P P P P P P1 c PPPPPPPPPPPPPPPPP1 < r « pp pp
a Fll.osnílA Vi II \( u SN 11 i.MuaiAi U CONTCMKIftANEA HUMUOLIH YIA n OKIA !)E LA Ntt»A II
Kamund había esíudlaclr. la variación de la vegetacion en los Pitineos en Humboldt no se consideraba asi mismo un geógrafo, sino más bien
íunciôn de la aititud y los câmbios de temperaturas, prescntando sobre 'isicu un naturalista, un químico, un botânico. El mismo definió ei
ello una comunicación a Ia Académie des Sciences de Paris (Observaiions nrovectO científico que le condujo aAmérica como «una empresa ideada
fiilOS dans les PyreitetíS, Paris, 1789) y volviendo a tratar más tarde ei mismo 'ei desígnio de contribuir ai progreso de las ciências físicas».» ycomi-
tema en una obra de conjunto, los Voyages au Mont 1'crdu (Paris, 1801). -lera que Ia publicación de su trabajo puede ofrecer interés -para la historia
La Idea deIa geografia delas plantas no levi no a Humboldt de la geo . [os pueblos vei conocimiento de la Naturaleza». Constantemente a lo
grafia, sino de la botânica. Yen concreto le llegó a través de su amigo ei ' 0 de IU obra —y no solo en ei Cosmos— Humboldt distingue entre
botânico Karl Ludwlg Wüldenow, euyas concepciones se dirigian hacia ei -oüclla parte de sus observaciones que pertenece ala mineralogia. ala bo
desarrolló de una fitogeograíia o geografia de las plantas y en cuyaBotâni tânica yala geografia, de lo que es una nueva vislón integrada de todos
ca (1792) apareceya un capitulo en ei que se analiza la influencia dei clima ir* fenômenos, yque formaria parte de esa -Física dei Globo- que se pro-
sobre la vegetacion, Ias migraclones de espécies y otras muchas ideas sobre- pone fundamentar.
la geografia de las plantas, que luego aparecleron también en la obra de F.n general, en sus palabras queda claro que la -geografia- es para et
Humboldt.11 Es aqui. y también en su relación con los botânicos dei círcu los mapas vlos trabajos prévios Indispensables para construídos (observa
lo dei naturalista Blumenbach en Ia Universidad de Gõttingen.1J y en la ciones astronômicas de latitud ylongitud, nivelaciones con ei barómetro,
Idea de una Geografia de Ias plantasde Giraud Soulavie," donde Humboldt sobre todo) vquizá también la disposición de las grandes líneas dei rclicve-
se inspiro para ei plan de su Geografia de las plantas." De hecho, en su v-laenumeración fatigante delas producciones dei país»." Todo lo demas
Flom Fribergensis specimen, publicada en 1793, a sus 24 anos, Humboldt _c< decir. los estúdios sobre plantas y rocas, sobre las estrueturas de Ias
diserta ya un programa de Investigación en geografia vegetal, como parte cordilleras. las observaciones atmosféricas y sobre la intensidad de las
de la botânica. Todo parece indicar que una parte esencial de su proyecto fuerzas magnéticas— pertenece ya a la botânica, ya a la geologia y minera
cientifico dlsertado en los ailos 1793-1794, y que aparece reflejado en la 3
logia.ya a la física."' r-i
carta de Schiller que antes se ha citado, procede en buena parte de la in Humboldt distingue en alguna ocasión entre «la historia natural des
fluencia dei botânico Wllldenow, y resultó luego enriquecido por las criptiva. la geografia y la economia política-." También cuando escribe
aportaciones que también hlcieron a la geografia de las plantas otros botâ desde Cuba alude a los distintos trabajos que había emprendido enei cur
nicos y naturalistas como Leopoldo von Buch y Carl Smldt, que ei mismo so de sus via|cs a América y propone las personas que haoian de publicar
Humboldt aprovechó en sus estúdios en Canárias, sus distintos manuscritos de caracter astronômico, geognóstico. físico,
Paia Humboldt ei término -geografia de las plantas» iba unido a Ia químico, zoológico y botânico." distinguiendo cuidadosamente las dis
botânica, y no a la geografia. Así se ve por sus propias palabrasen las que tintas ciências en que se Intcgraban sus traba|os, y sin aludir en este caso
claramente distingue la «geografia» de la «geografia de Ias plantas," y así para nada ala geografia, que sin duda iba unida en su pensamiento a la
hay que interpretar también su afirmación de que «la clasificación de las astronomia, ya que eran las observaciones astronômicas ei fundamento
espécies, que ha de mirarse como la parte fundamental de Ia botânica (...) principal de los mapas.
es a la geografia de los vegetales lo que la mineralogia descriptiva es a la La geografia era para él eseticialmente viajes y posiciones enei mapa.
indicación de Ias rocas que constituyen la costra exterior dei globo».*0 Son estos aspectos los que él trato esencialmentc ensu Historia de la geogra
Trás esas palabras, Humboldt considera que para conocer las leyes fia, y los que en aquellos momentos se identificaban sobre todo con esa
que sigucn la disposición de Ias rocas y determinar su edad cn regiones ciência, f.sta erala idea que seguramente adquirió de la geografia a su paso
alejadas hay que conocer antes los fósiles simples que hay en las monta- por la Universidad de Güttingcn, que poseía una larga tradidón de estú
ftas, cuya descripcion y nomenclatura ensefla la orlctognosia; y aftade: -lo dios geográficos y una biblioteca bien provista de colecclones de viajes.61
mismo sucede con esta parte de la física dei mundo que trata de las relacio Tambiénseria la Ideaque le quedaria de su estância en Gotha junto a Franz
nes que tienen las plantas ora entre sí, ora con ei suelo que habitan, ora von Zach, ei astrônomo editor de unas Efemérides Geográficas Generales que
con ei alre que respiran y modifican. Los progresos de Ia geografia de los ttataban de determinar astronómicamente la posicion de los lugares de
vegetales dependen, en granparte, de los de la botânica, y seria perjudicar la Tierra.*' Eso explica que para nuestro autor ei -conocimiento geográfi
ei adelantamiento de las ciências querer elevarse a ideas generales descui co- dei lugar íuera ante todo la determinación de su latitud ylongitude
dando ei conocimiento de los hechos particulares»." También eran los mapas lo valoradocomo -geográfico- por otroscontem-
11111111111111) 1 1111111) 1)11111111111111111111

34 3S
r-llOSOllA VCIÊNCIA (sN LA OKOOBAllA CONTEMPORÂNEA HIJMBOI.P" Y I.ATEORIA Dl. LA lltKUA

poráneus, como por ejemplo ei colombiano Caldas. Cuando realizabaesas . evieó considera, incluso, que debería haber rc-cibiao ei titulo de «Geo»
observadoiies astronomtço-cartogrâficas que constltuian desde luego uno ..'."."„ de Ia Nueva Espana»." Lo mismo opina R. li. Dlckinson, ei cual
de los objetivos dei viaje a América, Humboldt era. sin ninguna duda. un considera que Humboldt es, en esa obra. por encima de todo un geógrafo
geógrafo. regional, «en ei sentido de que rcconoce la interdependência de los íenó-
Etl varias ocasiones escribe frases que muestran claramente que para
él la geografia era la deteruiinación de posiciones en cl globo yla produc-
ción cartográfica, y no ei estúdio de la geologia y de Ia fisica. Si hubiera
pretendido solo lo primero no habría emprendido una expedición terres derna y. e:i concreto, Ia geografia econômica regional."
tre, sino un viaje marítimo, porque consideraba que «ei interés de las Sin negar que ei F.nsayo tuviera posteriormente una gran influencia
ciências naturales está- en estas -subordinado ai de la geografia yla astro en ei pensamiento geográfico, noes seguro que pueda considerarse como
nomia náutica-: en cambio dichas expediciones marítimas ".parecen una obra de geografia.
menos adecuadas para impulsar la geologia yotras partes dela física gene Se podría quizás estar tentado deafirmai que enei Ensayo se recoge la
ral que los viajes en ei interior de uncontinente». Para él esraba claro que línea de la geografia descriptiva de países, que en Alemania habían cultiva
«no es recomendo las costas jen expediciones marítimasj como se puede do con gran éxito autores como Büsching. Uno de los preceptores de
rçconocer la direccion de las cadenas de montanas ysu constitucióu geo Humboldt en su infância había sidojohan Cristian Kunth que había sido
lógica, ei clima peculiar de cada zona y su influencia en las formas y precisamente discípulo de Büsching.-'0 Pero sin necesidad de esgrimir esta
hábitos de los seres organizados».** posible linea de influencia, es claro que la obra de Büsching era suficiente
Humboldt mostro, por otra parte, unclaro dlstanciamlento respecto mente conoclda en Alemania como para serio también a Humboldt.
oi
vi
a la geografia. Cuando alude a «los geógrafos que tanta prisa se han dado De todas formas, no hay más que comparar ei plan dei Ensayo con la
en hacer trizas ei mundo para facilitar ei estúdio de Ia ciência»/-' se está desordenada disposición de temas que aparecen en la geografia de Büs
reiiriendo, sin duda, a una ciência que no consideraba la suya (rio dice ching," para darse cuenta de que no esahi donde puede estar ei estimulo
«nuestra çlencla»), En realidad. como hemos diclio, él se consideraba a sí para laobra sobre Nueva Espana. Tanto más cuanto que conviene no olvi
mismo como «físico.., como «naturalista-, como «filósofo de la naturale dar, por otra parte, que en la segunda mitad dei siglo xvm ei desarrolló cie
za» y en algun caso como .-botânico».6» De esta manera Io consideraban la estadistica había Ilevado a numerosos autores (como por ejemplo
también sus contemporâneos, que valoraban sobre todo sus aportaciones Achcnwall) a considerar la geografia política como carente de sentido," y
a lahistoria natural, ala fisica o. incluso, a laquímica." queen esta confrontación tanto Humboldt comosuscontemporâneos te-
nian tendência a considerar la obra sobre México como estadistica.'* En
realidad. es de sus estúdios de economia política y cameralística realizados
Humboldt y la geografia regional en la Academia Comercial de Hamburgo dirigida por ei economista Johan
Georg Busch. de donde procedeu los estímulos intclectuales y la tradiclón
Para muchos geógrafos Humboldt es no solo ei creador de la geografia mo que conduce ai Ensayo político sobre ei Reino dela Nueva Espniln. Es esa for
derna sino. ai mismo tiempo, ei de la moderna geografia regional. En mación la que le permitió realizar durante su viaje a América un amplio
concreto es una obra admirable'» ei F.nsayo político sobre eiReino de Ia Nueva análisis de la economia y de la sociedad de las posesiones espafiolas, en
Espana» ei que harecibido Ia atención yse considera básico en este sentido. términos de producciones. comercio con la metrópoli y características de
Así K..L Stevens Mkldleton, iras analizar esta obra. ira creído poder las sociedades criolla o indígena.
concluir que ei plan de la misma es, en muchos aspectos, ei mismo que cl El plan de la obra y los temas tratados se entienclen mejor insertándo-
de los estúdios modernos de geografia regional, y ha puesto en relación los en la tradiclón de la economia política de la época que en la de la
dicho plan con ei de una obra de L. Dudley Stamp, concluvendo que -Ias geografia.
regiones ylos problemas son diferentes, pero Ia organización adoptada en Humboldt comienza presentandu unas consideraciones generales so
la Obra de Humboldt es eseiicialmente la misma»/2 Por eso él yotros creen bre la extensión y ei aspecto físico de la Nueva Espana y -sin entrar en
que esa obra es ei fundamento oei protótipo de la moderna geografia regio ningún pormenor de historia natural descriptiva- —porque estos temas
nal, ei primer tratado geográfico verdaderamente moderno, yei mexicano eran tratados en orros volumenes de la serie americana—, estudiaba «la
PPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPí f f P P PP P P P PP P PP P P P 0 9 0 0 0 0 0 0 0
:ir, 37
FILOSOFIA YCIÊNCIA EN U CCOGHAFlA COMEMPOlt.\NEA hti.MHOI.Ur Y LATF.OKlA DHU TIEWU
influencia de las desigualdades dei suelo sobre e) clima-. Ia agricultura, ei Sc existe un Intento de generalización, ni una preocupación sistemática
comercio y la defensade las costas. Acontlnuación, en ei libro II estudia la DOr desarrollar una teoria general sobre la -geografia humana- dei Nuevo
poblacíón engeneral y las distintas castas que la componen. El tercer libro Mundo cosa, por otra parte, que estaba fuera de su objctivjo cientifico fun
presenta laestadística particular decada unadeias intendencias, su pobla- damental, Incluso cuando plantca cl problema de la interacción entre
ción ysu área «calculada —afiada Humboldt—según las cartas geográficas médio íislco y humano —ei problema de las relaciones que tanto le
que yo mismo helevantado por mis observaciones astronômicas-. Luego. preonmaba desde ei punto de vista de los fenômenos físicos— no deja de
en ei libro IV examina eiestado dela agricultura y de las minas de metales; caer cn observaciones de un cierto aire determinista, que a veces prefigura
en ei quinto los progresos de las manufacturas yei comercio: yenei sexto fcs tesis dei reto-respuc-sta: como cuando ai referirse alos climas tropicales
realiza indagaciones sobre las remas dei Estado y sobre la defensa militar senalaque:
dei pais.
F.ste plan y ei tratamiento de los temas muestra que ei Ensayo es, en -halo un clima suave yuniforme, la única necesidad urgente dei hombre es la ali-
realidad, una obra de economia política, como su mismo titulo yA apunta mentodon. Es ei sentimiento de esta necesidad ei que excita para ei irabajo; y
y como a lo largo dei texto se comprueba repetidas veces.'" Los temas son se comprende facilmente porquê, cn mcdlo de la abundância, a la sombra de los
los habituales en obras de economia política de la época dedicadas ai estú bananos y dei .'irbol dei pan. las facultades Intelectualcs se desnrrollen más lenta
dio de regiones o países, yaparecen, porejemplo. enobras como la Historia mente que b.i|o un cielo rlguroso. en la reglon de los ccrealcs. en donde nuesrrn
dela Economia política de Aragón (1798) de Ignaclo de Asso, oen la Desciip- espécie está constantemente enlucha con los elementos».*1
ciôn econômica dei Reino de Galicia (1804) de Lucas Labrada, por citar
solamente dos obras espaftolas. Es ello lo que hace que ei Ensayo este «en Ln conjunto, desde ei punto de vista de la geografia humana, Alejan-
fuerte contraste con las compilaciones enciclopédicas de escritores desde dro de Humboldt no supero la concepción de la descripcion regional, que -r
los dias de Estrabón a los topógrafos dei siglo xix», como no ha tenido pot se refleja igualmente enobras como lade su contempotánco Félix deAzara.
menos que reconocer ei mismo Dicklnson.1"
La parte más propiamente geográfica dei Ensayo va en realidad sepa
rada dei cuerpo principal dei mismo, y está constituída por ei Atlas Romanticismo y empirismo en ei Cosmos
geográfico y físico dei Reino de la Nueva Espana, fundado sobre observaciones
astronômicas, medidas trigonométricos y nivelaciones baromâtricas (Paris, El proyecto Intelectual que acarlclaba Alejandro de Humboldt desde los
1811. vol. XIX de laSerie Americana, 20lâminas, en francês), y la Introduc ailos finales dei siglo xvm —a saber, la fundamentación de una ciência in-
ción geográfica oAnálisis razonado dei Atlas de la Nueva Espana, que precedia tegradora que estudiara las relaciones entrelos fenômenos dela vida y la
ai Ensayo. La introducción resume muchos temas que aparecen en este. e natuialeza inanimada— culmino en su gran obra de madurez, ei Cosmos,
insiste sobre todo en Iomás especificamente «geográfico», a saber: lasrela cuyos cuatro volumenes fueron apareciendo a partirde 18-I5.M
ciones de viaje y descubrimlento en ei virrelnato de Nueva Espana; y la El plan de esta obra estaba ya diseiiado desde 1827. fecha en que ei
justificación de las posiciones geográficas aceptadas para la confeccióii de autor dio su famoso ciclo de 61 conferências sobre la descripcion fisica dei
mapas (observaciones astronômicas realizadas por Humboldt o por otras inundo en ia Universidad de Berlin." Este fue ei germen inicial de una obra
personas; datos obtenidos de las relaciones de viajes), justificado con las que primitivamente había de tener un solo volumen pero que eiautor fue
citas de mapas parciales y dedocumentos utilizados para la elaboración de ampliando sucesivamente," lo que no deja de tenet consecuencias sobre la
los mapas generales. cohercncia dei plan. De todas formas, la obra fue un autêntico éxito edito
Humboldt utilizo ampllamente para la parte humana de sus obras rial y facilito una visión general de Ia Tierra y ei unis-erso en ta que se
americanas informaciones facilitadas por fuentes oficlales y los datos de educarem generaciones de intelectualcs de Alemania y de toda Europa.
ilustrados locaies de la sociedad blanca, la cual pudo influir en los vários Precisamente por este caracter ambicioso e integrador que posee, ei
aóos que duroei viaje por América, en ciertas opinlones sobre los indíge Cosmos es una obra importante de la ciência europea dcl siglo xtx. Es la
nas, hoy discutidas por algunos hispanoamericanos. Pero, en general, en obra dei que ha sido considerado ei último hombre enciclopédico de
sus descripeiones sobre los aspectos humanos se aparto muy poço de Ias la cultura universal. En ella rebasó su nntlgua concepción de una geografia
normas ai usei en los libros de viajes, tan numerosos durante ei siglo xvm. física de la Tierra para abordai una descripcion física dei universo (Phy-
11111) ,111111 I 11) 1)11)11) 11) > 111)111111

HUMÍ'OI.DT Y U TEORlA DEIA TIE3KA .19


IS 1'IIAJSOHAY CIÊNCIA EN LA GEOGRAFIA CONTEMPORÂNEA

sische Weltesthreibtmg), con la que de hecho culmina y se reformula la vie|a csl« en ei estúdio de la naturaleza. Humboldt busca en este volumen «la
línea de Ia cosmografía. expresión dei sentimiento de la Naturaleza entre los pueblos de la antigüe-
Humboldt sepropone mostrar lo que, según él, constituye ei resulta dad clásica. y entre las naciones modernas, recogiendo los fragmentos de
do más importante de la investigación cientifica, considerada como objeto ooesia descriptiva que ostentan ei colorido dei caracter nacional de cada
de reflexión intelecnial superior y no simplemente desde cl punto de vista de úna de esas razas, yde laidea que seformaban de la creacion. considerada
sus aplicaciones prácticas.Se trata de «ei conocimiento de la conexión que como obra de un poder único». Tarnbién describe -cl gracioso encanto de
existe entie las fuerzas de la naturaleza y ei sentimiento intimo de su mu l,i pintura dei paisaje-. En todas estas páginas Humboldt constituye un
tua dependência-,M un proyecto que ya habiamos visto expresado en 1799 ^iiténtico precedente de lu moderna geografia de la percepción. una ten-
y que ahora se amplia hasta un intento de comprensión global dei univer dencia que algunos geógrafos espanoles aterrados penosamente a la
so. Se ensanchan ahora los limites de Ia antigua fisica dei globo terrestre, concepción tradicional se empeftaron en rechazar, olvidando que ei que
«reunlendo bajo un mismo punto de \'ista los fenômenos que presenta la ellos veneraban como ei padre de la geografia moderna había escrito mag
Tierra con los que abarcan los fenômenos celestes». De esta forma se llega níficas páginas sobre esas geografias personales y sobre esas imágenes
a una ciência dei cosmos, a una fisica dei mundo. Esta seria la ciência que mentaies que a veces hunden sus raícesen ei mito y la leyenda. FueHum-
.aspira a hacer conocer la accion simultânea y ei vasto encadenamiento bolcl: en efecto ei que escribió que
de las fuerzas que animan ei Universo», una ciência que, desde luego, no
es una simple enciclopédia de las ciências naturales, ya que en ella -los -existeei lado dei mundo real o exterior, un mundo ideai o Interior, lleno de mitos
hechos parclales no serán considerados más que en sus relaciones con ei rantástlcos- y alguna vez simbólicos, y de formas animales euyas partes heterogê
todo-." En ei Cosmos aborda un horizonte extraordinariamente vasto: neasestán tomadas dei mundo actual o de los restosde lasgeneraciones extinguidas.
nada menos que -la reunión de cuanto llena ei espacio, desde las más leja- Formas maravillus.is de árboles y de flores crecen tambUSn sobre ei suelo de la mi
nas nebulosas hasta los ligeros tejidos de matéria vegetal, repartidos según tologia, como cl fresno gigantesco de los canros dei Edda, ei árbol dei mundo
los climas, que tapizan y coloran diversamente Ias rocas-." Como no de- llHinado Igdrasil (,..)• Por esto la región nebulosa de la mitologia física está pobla-
sea crear neologismos prefiere denominar a esto «descripcion fisica de la da, según la diferencia de lasra/as y los climas,de formas graciosas u horriblesque
Tierra», que desde antes apUçaba a la parte terrestre.45 de allí pasan ai domínio de las Ideas sabias, y durante ei espaciode muchos siglos
En ei volumen I, Humboldt expuso unas consideraciones introducto- *c transmiten de generaclón en generación-.*1
rias acerca de la diversidad dei goce de Ia naturaleza y ei estúdio de las
leyesdei universo; realizo una discusión de le» limites y métodos de expo- A ello une Humboldt en ei mismo volumen un ensayo histórico so
sición de la descripcion física dei mundo; y abordei, por último, la bre cl desarrolló progresivo de la idea dei universo que constituye.
presentacion de los três grandes grupos de fenômenos que integraria en su teniendo en cuenta la época en que fue escrito, un valioso panorama de la
obra: los fenômenos celestes, los terrestres y los de la vida orgânica. Se tra historia de Ia ciência y de la geografia. Otro campo ai que Humboldt dedi
ta de una presentacion general de las Ideas de toda la obra, que más tarde co atención" y que también mereceria mayor ceio en su cultivo por parte
seria desarrollada de forma más detallada en los sucesivos tomos. El volu de los que esgrimen ei nombre de Humboldt a la menor ocaslón.
men III (1850) desarrolla ei estúdio dei cielo: ei IV (1858:) ei de la tierra; en El estúdio de la fisica dei mundo ha de empezar, según Humboldt.
cambio, ei que hubiera sido seguramente dedicado a la vida orgânica no por la parte sideral o uranológica, que debe ser autônoma y no estar subor
pudo ser escrito por ei autor, que falleció en 1SS9.W dinada a Ia terrestre como si fuera un simple preliminar de la descripcion
Entre ei volumen introduetorio y los que desarrollan Ias distintas par de la tierra. En lealidad, dicho estudio de Ia parte sideral es más simple que
tes de su descripcion física dei mundo, Humboldt redactó un volumen ei de la Tierra. ya que si la descripcion física de esta (Physische Erdscluei-
extraordinariamente interesante dedicado a presentar las distintas etapas btuig) ha de toner cn cuenta las acciones físicas y químicas que se presentan
de la configurac!ón de la imágen dei cosmos (Vol. II, 1S47). Ante todo. ei en ella, en lo que se refiere ai cielo estas acciones no podian ser esuidiadas
reilejo dei mundo exterior en la imaginación dei hombre, en ei que estu- en su tiempo. Por ello los fenômenos de los espacios celestes deben «consi-
diacomo los hombres se han representado la naturaleza y quê efectos ha derarse como sometidos a las simples leyes dinâmicas dei niovimiento».'''1
tenido esta sobre su imaginaciein, analisando para ello descripeiones dei Esta parte uranológica comienza con una descripcion general dei cielo, y a
paisaje hechas pordistintos escritores y la influencia ele la pintura dei pai- partir de un mapa dei cielo como ei que intento Herschell presenta las hi-
p p p f p * p p p p p 009 p p 0 p p p p i r c p p p p p p p p f p p p p 0 p p p p p p p 0 p f
r
.;..
FILOSOFIA Y aRNCIA EN LA GEtK-.UArtA <.ONrKMI'ORANM IIIJM-OI.W V I A TIXIRlA PE LA TICRHA *1
pótesls acerca de la formación dei universo y las caracteiisticas de las En ei Cosmos se icílcjun los diversos elementos de la formación inte
estrellas y nebulosas. Solo despues se pasa a la descripcion dei sistema pla lectual y de la actitud vital de Alejandro de Humboldt. Vale la pena
netário, de los cometas, estrellas errantes, y ei problema de la luz zodiacal. destacar, sobre todo, dos aspectos contradlctorios: ei que se refiere a su
Pero no se trata de una simple cosmograíia a la manera tradicional. La formación científica basada en ei empirismo y fuertemente Influída, ade
descripcion física dei mundo «ofrece ei cuadro de loque coexiste en ei es más, por ei materlallsmo y cl enciclopedismo francês dei siglo xvm; "x» y,
pado, de la acdón simultânea de las fuerzas naturales y de los fenômenos por otro. su tributo ai espíritu romântico de la época, ai que Alejandro no
que estas producen»." Sin duda, la empresa era dificil y arriesgada. por podia quedar ajeno.
que, como ei mismo autor rcconoce, -muy lejos estamos aún de la época Su formación y su actividad científica se basó siempre en ei rigor de
en que será posible reducir a la unidad de uri principio racional por obra las observaciones y en la realización abundante de experimentos. Ya se
dei pensamiento cuanto percibimos por médio de los sentidos-. Pero hay tratede susobservaciones botânicas, zoológicas, mineralógicas o geomag
que dlrigirse hada esta meta. Incluso si ei problema fuera irresoluble, «no néticas. odesus experi mentos sobre eigalvanismo yei electromagnet ismo,
porello una solucion parcial, la tendência hacia lacomprensión dei mun Humboldt procedió en todo momento con unimpecable método científi
do, dejaria de ser d objeto eterno y sublime de toda la observación de la co. Por ellovaloro siempre d métodoempírico e inductlvo, acerca deicual
naturaleza».'5 Humboldt insiste en que ei estúdio dei cosmos no es una pueden encontrarse numerosas declaracíones en sus textos. Para él, cl es
rama aparte en cl domínio de las ciências naturales; más bien -lo abraza piritei científico procede: 1) -por la aplicacion dcl pensamiento a las
por completo, los fenômenos dei cielo como los de la tierra; pero los abra observaciones aisladas»; 2) -por las miras dei espíritu que compara y com
za bajo un punto de vista que es aquel desde donde se puede recomponer bina»; y 3) «por lainducción», queeslaque-nosrevela las leyes numéricas..
me|or ei mundo».''6 Por eso en su obra trata de -disponer los fenômenos Deesta forma, afirma en ei Cosmos, se le puede dar «un caracter más eleva
según un orden que permitlese suponer ei lazogenerador que entre sí los do a la descripcion física ciei globo». ""
une»." En este método Inductlvo que él defiende y practlca no falta natural 8
Trás d estúdio uranológico, la descripcion física dei globoo geografia mente la experimentnción, lacualaparece en una fase avalizada, tanto enei
física. Su objeto seria ei de «reconocer la unidad en la inmensa variedad de trabajo persoriM dei científico, como historicamente en las etapas que han
los fenômenos, descubrir por ei libre e|erclcio dei pensamiento y combi recorrido los pueblos y la inteligência humana: -ei empirismo empieza por
nando las observaciones. Ia constância de los fenômenos en medlo de sus cálculos aislados que se van acercando según su analogia y desemejanza»;
s-ariaciones aparentes- y ai mismo tiempo -mostrar la conexión que tie pero -aiacto dela observación directa sucede siempte. aunque muy tarde, ei
nen las leyes de la distribúciôn real de los seres en ei espacio. con las leyes deseo de experimentar». Nose trata, desde luego, de una simple acumula-
de la clasificación ideal por famílias naturales. por analogia de organiza ción de datos: -ei investigadorracional no obra ai azar;se guia por hipótesis
ción interna y de evolución progfesiva-." que se va formando, por un presentimiento semi-instintivo-. Por último,
La descripcion física dei globo comienza por la magnitud, forma y losresultados de la observación y ei experimento -conducen, por médio dei
densidad de la tierra. lo cual es importante -para la economia general de la análisis y la inducción. ai deseubrimiento de leyes empíricas».101 Este es ei
naturaleza-. Para poder estudiar ei encadenamiento de los fenômenos te objetivo final de la investigación científica en las ciências expérimentales,
rrestres y -ei conjunto de fuerzas actlvas que componen un solo y mismo -elevarse a la existência de las leyes, y generalizadas progresivamente».,c3
sistema-, estima necesario partir de Io que considera las propiedades gene Através de esta generalización se pretende siempre llegar «a la inves
rales de la naturaleza y las três dlrecciones princlpalcs de su actividad, a tigación de las causas que ligan entre sí a todos los fenômenos», pasando
saber: la atraccion, las vlbracionesdei calor y de la luz, y por último los fe así de la descripcion a la expllcación."" En ei caso de la descripcion de la Tie
nômenos eletromagnéticos a los que había dedicado tanta atención rra, las numerosas observaciones que realiza solo adquleren sentido
desde su juventud y luego como creador e impulsor de la red internacional cuando se profundlza -la conexión que liga las causas a los efectos-."" Di
de observaciones geomagnéticas." Todo esto es abordado en la primera ficilmente seria posible encontrar entre los científicos positivistas a
parte dei volumen IV, y seguido por ei estúdio de la reacción dei interior de mediados dei siglo xtx unas declaraciones tan netas como las que Hum
la tierra sobre su superficie, donde se analizan las fuerzas interiores que boldt realiza, que en este punto comeiden plenamente con las regias dei
transforman la corteza terrestre tvolcanes, terremotos), las cuales se pre método que formularia más tarde Claude Bernard en su Intmducción a la
sentan como fuerzas a la vez de desmicción y de creacion. medicina experimental (18(i5).
1111 > ) 11111 1 ) ) 11111) 1)1111111111111.1)1 >1

••: FILOSOFIA V< HNCIA I M LA l.fcW.HAFIA CONII Ml OlANI A HUMIIOI.UT Y LA TEOltlA DE LA TIERRA 13

Ia valoración dei método experimental y su confianza en él iba unida Estas alusiones a Ia Intuicion, que no son ni mucho menos excepcio-
a una nítida conciencia de la riilieultad de alcanzar d objetivo propuesto. nales en la obra de Humboldt, tienen quever también en él con d espíritu
Humboldt era consciente de que podemos obstinamos en conocer las le romântico de Ia época. Y este romanticismo humboldtlano explica tam
ves, pero que siempre «encontraremos ba|o nuestros pies abismos bién algunos aspectos dei proyecto intelectual de Alejandro, en lo que se
Iníranqueables». la ciência es así una empresa Inacabada, y que, además, •,i la concepción de la naturaleza como un todoarmónico provlstode
un puede nunca completar» por la esencia de las cosas y la misma Imper -lazos eternos e Inmutables- entre todos los fenômenos que en él se dan.
feccion de puestros órganos. Encualquier caso, dlrlgirse hacia ese objetivo Desde los tiempos antiguos, la imágen dei cosmos se habia Ido reve
tratando de conocer la naturaleza exigia desarrollai por igual todas las ra lando ai sentido interior «como un vago presentimiento de la armonía y
mas de las ciências matemáticas, físicas y naturales, y a la vez suponia dei orden dei universo-, y esta intuicion fue luego confirmada por la ob
valorar la ciência pura frente a la ciência aplicada, una ciência pura cuyo servador) cientifica. La exposición de este largo camino de la humanidad
objeto seria -cl de ensanchar y fecundizar la inteligência- y que también v dei desarrolló progresivo de la idea dei universo constituye, como hemos
seda - ei término hacia ei cual deben tender Ias ciências directaniente, ei visto, cl ob|eto de todo d volumen II dei Cosmos, en ei que trata de demos-
descubrimiento de Ias leyes. dei principio de unidad que se revela cn la ti.ir como en una primera fase los hombres «adivlnan- o -intuyen- ei
vida universal de la naturaleza.'°° Este fue cl objetivo que Humboldt se orden dei universo, para llegar más adclantc ai «exacto conocimiento de
trazô y ai que rrató de dar forma cn su Cosmos. los fenômenos-. La investigación científica que une observación y experi-
Objetivos semejantes en lo que respecta a Ia comprensión profunda inentación es la que permite despojar a la filosofia de la naturaleza de las
de la naturaleza se habian propuesto también algunos filósofos contempo formas vagas y poéticas, pero ai mismo tiempo confirma la intuicion pri
râneos. Pero en Humboldt hay un firme y explícito rechazo dei Idealismo, mera de «Ia unidad en la diversidad de los fenômenos, la armonía entre las
de "las concepciones dei universo fundadas unicamente en la razón. en cosas creadas-, las cuales se diferencian -por su lorma, por su propia cons-
los princípios de la filosofia especulativa». Si en un momento en que las tituclón. por las fuerzas que las animan-. Precisamente, ei resultado más
ciências expérimentales no estabnn desarrolladas, estos internos tenían importante dei estúdio racional de la naturaleza es -recoger la unidad y la
algema justificaetón, con ei desarrolló de estas -hase visto también —escrl- armonía en esta inincnsa acumulación de cosas y de fuerzas, y en suma.
be— enfrlarse ei ardor que llevaba a deducir la esencia de Ias cosas y su llegar a comprender Ia existência de "ei Todo. animado por un soplo de
conexión, de construeciones puramente ideales y de princípios racionales s-ida"-.110 Es esa concepción de la naturaleza como un Todo la que permite
en un todo-.'07 a Humboldt afirmar que -las fuerzas Inhercntes a la matéria, y las que ri-
Este rechazo de los excesos de las filosofias idealistas de la naturaleza gen ei mundo moral, ejercen su accion bajo ei império de una necesidad
no suponc desestlmar la retlexlón filosófica. La filosofia no amenaza a la primordial, según movimientos que se renuevan periodicamente. Esta ne
ciência, sino que ai contrario la hace fruetificar, y -cl abuso dei pensamien cesidad de las cosas, este encadenamiento oculto, pero permanente, esta
to y lasequivocadas sendas en que penetra, no puedeautorizaruna opinion renovadón periódica en ei desenvolvimiento progresivo de Ias formas, cic
cuyo efecto seria rebajar la inteligência, a saber, que d mundo de las ideas los fencSmenos y de los aconteclmientos constituye Ia naturaleza, que obe
no es por su naturaleza más que un mundo de fantasmas y suenos»."" dece a un primer impulso dado-.1"
Humboldt repitió una y otra vez que la ciência no es solo una rcunlón de A partir de abi se entiende que para Humboldt la descripcion física
observacionesempíricas; por lo tanto no ha de extrailar que insista ai mis de] mundo neceslte, desde luego, de la ayuda de otras ciências como la fi
mo tiempo en queestamhiéu Interpretación racional, -ei espíritu aplicado sica general o la historia natural; pero también que -ia contemplacion de
a la naturaleza». Cla.ro es que por abi habia un portíllo abierto a las In las cosas creadas, enlazadas entre si y formando un todo animado por
fluencias idealistas, que stn duda se dejan sentir cuando acepta, citando a fuerzas interiores-, proporcione a la ciência que trata de desarrollar en su
Hcgel. que »el mundo exterior no existe para nosotros sino en tanto que Cosmos -un caracter particular»."1 Ese caracter viene dado, sin duda. por
por ei camino de la intuicion lo reflejamos dentro de nosottos mismos-. y •A hecho de que con ella pretende elevarsea una -contemplacion icflexiva
cuando coincide con este filósofo en ei sentido de que -d mundo objetivo de los mateiialcs suministrados por d empirismo-.'" EÍlo plantea entre
pensado pornosotros y en nosotros reflejado. está sometido a las eternas y otras cosas, ei problema dcl lenguaje científico apropiado para ese propó
necesarias formas de nuestro ser Intelectual. La actividad dei espíritu se sito. La física dei mundo que pretendia escriblr se basa en la ciência, peto
ejerce sobre los elementos que le facilita Ia observación sensible-.'"• sin olvidar que cuanto más elevado es ei punto de vista, tanto más recla-
PPPtíPPPPPPíftPPP0PPPÍÍPPPP0P0000PPPP000 rrfi
44
FILOSOFIA YCIÊNCIA ENLA CEOUkAriA CONTCMI-OrANEA NOTAS AL rAI-líUI.OI 45
h Carta a Drlnkinaiiii en 1793, cn la que que redsetó en México a petlclón ele An-
ma Ia exposición de nuestra ciência un método que le sea propio, un alude a la gran capacidad cie su lirimano diís Manuel dei Kioy que SC incliiyó en
lenguaje animado y pintorc-sco-."4 wilhelm von llumboldt -pata enlazai los elementos de Oilclo-jnosia (1805) dei
Como buen romântico, para Humboldt la contemplacion de la natu Ideas v vce concatenaclone» de cosa*-. geólogocspaftol. Véase llumboldl. 1805.
raleza produce ante todo un -goce». Goce que es en primer lugar, una Cii.pórücck. 197l.plgs.58.S9. En esta nlu.i afinna que -a pcincipios de
5>Bccle. 1971, pags. 71 yss. 179S me puse a figuiat países enteros.
impresión estética independiente dei conocimiento de los fenômenos, como se repiesenta una mina- (pâg
10Seck. 1971, p-g. Ti-El mismo Humboldt
Así, «cl sentimiento de la naturaleza, grande y libre, arroba nuestra alma y teconoció luego la Influencia que luvic- 162).
nos revela como por una misteriosa inspiración que las fuerzas dei Univer (ou en su pensamiento lai Ideas ele 25 Víasc Minguei. 1969. pag. 563. Li publi-
so están sometidas a leyes-.'"Otro goce más íntimo es ei producido -por Coethe acerca de la luiuialeza (Beck. caclón de los resultados dei viaje a Amé
rica se hlio cn los 30 volumenes edita
ei caracter individual dei paisaje. la configuraclón dela superficie dei glo 1971, plg. 257). Sobre la concepción de
Coethe acerca dei método adecuado dos en Parb entre 1807 y 1834 con cl
bo en una región determinada», y que producen exaltadón, tristeza u patacl estúdiodei mundo natural, vease litulo general Vàyogt onx régions Esjui-
otros sentlmientos. Las inolvldables páginas que Humboldt escrlbió sobre Sesmnn. 1978. noxlales du .Vokvcuu Continenl fi.il ttl
los paisa|es americanos en muchas de sus obras y sobre todo, como ya se 11 Minguei, 1969, plg. 76. 1709... ei IS04 por A. di Humboldt et A.
Bonpland. Una descripcion dei conteni-
ha dicho. en los Cuadros delanaturaleza'" muestran la profundidad de los !2Jaime Labastlda en Ia introducción a ff
Hiimbotrtt Veaeiolano. Humboldt. 1977. do de estos 30 voliimcncs puede %-erse en
sentlmientos que provocaba en él la contemplacion y ei goce de la natura 13 nickinson. 1969. (slg. 26. la Introducción de Juan A. Ortega y Me-
leza y Ia maestria que tuvo para transmitirios a sus lectores. En esas 14 En PUgei. Macfcenzle. Lazarsfeld y ntros. tílna al £iisii>npolítico sobre ei Reinode la
elescrlpciones csdonde mejor puede comprobarsela magnltud de ladeuda 1973. píg. 54. Nueva Espaúa de Kumboldt (Ed. :978,
pags. CLI-CUII) y cn Melon. 1960 a.
que Alejandro tuvo hacia cl movimiento romântico de su tiempo. iSBcck. 1971. pág. 41.
16 En los volumenes XXIJI-XXIV de la -Sc- 26 Humboldt- I i:\ayo político sobre Ktteva
Esa deuda estodavia mayor en Carl Ritter, la otra gran figura a la que ile Americana-, dedicados a estúdios de Rtpana. Ed. 1978. pígs. 25.
se atribuye la paternidad de la geografia moderna. A él dedicaremos d ca zoologia y anatomia, 27 CIL por Dlckinson. 1969. plg. 25.
pitulo slguiente. 17 Itepioduclda por Beck. 1971, plg». 76-
77, y por Minguei. 1969, plg. 77.
28 llumboldl: Relación histórica, Introduc
ción, Ed. 1962 (Bibl. Indiana), plg. S76.
g
18 Foueaull, 1966, ed. f.isi.. plg. 127. 29 Minguei, 1969, plg. 42.
19 Koucault, 1966. plg. I4B. 30 Beck. 1971. plg. 122.
20 Cie. por Foucnult. 1966, plg. 149. 31 llumboldt: Ensayo politieo.... Ed. 1978,
pag-21.
Notas al capítulo 1 21 Humboldt. Cosmos, Ed. 1874.1. plg. 4S.
32 llumboldl: Rilaclòr. fmfürfcn. Ed. Blbl.
22 Humlioldl. Cosmos. Vol, 1, 1845, plg. 46.
23Cannon, 1969, Egerllon. 1970. Víasc lud., IV. pág. S72.
1 Según ha cscilto P.Clav.il, 1974, pág. 29. servido de Espana y tumor la n.iclonalld.id Labastlda. 1977, p.tgs. 39-10.1 j relación 33 Escrito pr>i Humbold: en 1SS2 en su Ces-
2 La Academia de Minas de Frelbergfunda entre la critica de las taxonomías y la pjitclie mil eiliein tangem fmauie, eli. poi
espanola uabn|ando como cientifico. Via-
da cn 1766 era una de las grandes escuelas se sobie ello GlINogale-.. 1980. posicion preevolucionlsla se reflc|a,por Kellner. 1963. pigs. 217-218.
de geologia >• ha sido considerada -uno de 4 Minguei. 1969. píg. 38. clemplo, cn estas palabras de cl Cojmos 34 El cual conocia las opinlones llbetalcs de
loi torrentes que conduce a Ia moderna 5 Carta a vou Moll, fechada cl mismo dia de (Ed. 1874. Vol. I. pag. 31): -la transicion Ale|andro de Humboldt. peto lo conside
(teologia- (Hall. 1976. pág. 211). Humbolt su embarque pata Ametlra; cll. por Min y ei enlace (entre las espécie», los gêne raba -como politicamente inofensivo- y
•-siiidlóalllen 1791-1792. y fue discípulo guei. 1969. plg. 61. ros, los Indivíduos) se lundan sucesls-a- tanto ei como su ministro Cen-.z -se
dr A. C. Wcmcr. 6 Muchu má» tarde, en ei Cosmos, Hum mente, cn una disminuclón o un desa- reian de íl- (Beck. 1971. pág. 295). Las
3 La bibliografia sobre Alejandio de Hum boldt escrlluria que -Ias correria» lelanas. rtolto exceslvo de eleita» partes, sobre amblgüedades de la posicion política de
boldt es muy abundante. Dos excelentes que no han servido durante largo tiempo soldaduias de órganos dl»tlmos. sobre la Humboldt quedan bien reflejadas cn Ia
biografias sonlas deDeek. H.. 1971, yMin- mis que para sumlnlstrar la Histeria de preponderância que icsulta de una falta obia de Beck.
"uit. 1969. En Espana se ocupo de Hum cuentos de aventura», no pueden ser In». de equilíbrio en ei balancco de Us fuei- 35 Minguei. 1969. pás-68-
boldt, Melôn. 1931-1960. Noscria extrano truetis-as sino en tanto que ei vu|eto co- ias. sobre relaciones con formas que. le- 36 Humboldt: Ensayopolítico sobre la fila de
que Georg Fotster hubiera Influido en nozea ei estado de la ciência cuyo domí |os de ser permanentes, deleimliian solo Cuba. Clt. por Kellner. 1963. plg. 129.
llumlinldi. dcspcrtáudole la idea de un nio deba extender, y cn cuanto que sus cioiias lases de un desanollo normal-. 37 llumboldt: Ensayo poliliw sobre ei Reino
vla|e a America y facilltándole lelactone» Ideas gulcn a sus Investlgacloncs y le Ini- 24 Humboldt: Ensayo político tohre Nuna de la .Virt-vu EspaJta, Ed. 1978. plg. 236.
que le pcimltlcrmi realizar Ia expedición. clen en ei estudln de la naturaleza {Ed. Eípana. Ed. 1976, plg 22, Humboldt dls- ;s Thcodoriadis. 1966.
A traves de rau»to,de Elhuyar, Forster ha- 1874. vol. I. plg. 32). cutió 8mpliamente los pioblcmas de te- 39 Kellner, 1963.
lila tenido contact os con la Corte cspanola 7 Humboldt. 1818. ed. casi. cn Blbllotcc.i presemaclôn gilflca dei tcirltoilo cn su 40 En algún caso hasta se estableec cl ano
c incluso habia aceptado cn 1787 pasar al Indiana. IV. pags. 569 y S/0. lutiothitción o In Faslgrafln geológico, obra de su converslôn. Asi para Pahlo Vil.i,
999 ) > ) 1****1 > 1********1***************1******

«« riLOSOrlA V CIÊNCIA EN LA Gf-OORAflA CONIL'MrOK.sNI 7. NOTAS Al CAI-IlULO I »7

llumboldt es ei inlcladcr de Ia geografia 44 Beck. 1971. pags. 73-74. icutev dcl viole•• '•" 'r.í.i'/iCi eipiinoeaaltf. y naturalistas como Gay i.u»s-ic. Arago o
moderna peio -Venezuela le hlzu geó- 45 Beck. 1971. pi-s. 315 y »s. y cp. p.ullf.i- yenparticular en Upág. 572 del- cd. de BlOI, ..mi los que mantuvo una esttcvba
gtafb .. VILi-Orplo. 1S60, pág. 160. lar la carta de Berghaus de 20 de d IjBIbl.Hiv.MU.:. so-. IV. colaboraciôn. En 1824 propuio cieai
41 Saussure. H.-B.: Vt.ynget dans les Alpes. bicde 1827. pág. 319. cl llumboldl: Relación histórica dcl W.ij- a um -Revista de Geografia y Etncgialiá-
1787. I, pág. VI. 46 Humboldt:Ctttmo) l.d. 1S74. vol. I.píg. las ttlfonts e-juinocclalcs. Introducción. (Hcck. 1971. pág. 297). aunque era c.s?n-
42 Broc. 1975. pig. 200.nota 49. Itcspectoa II. i Bibl. Indiana, pág. S». clalmente para exponei resultado» de
Espada basta con clrar ei testimonlo de 47 Humboldt. A. de: CcUWOS, Vnl. I, IntiO- >2Beck. 1971. pig. 186. explotacione» que pensaba realizar o w
Guiilcrmo Bowdcs en su Introduccióna la ducción. Ed. IS74. pág. 42. 63 B«Ck, 1971, píg. 33. timutai cn México. Sobre su colabora
Historia natural y a la geografia física de 43 Humboldt: Cosmos. Ed. 1674. vol. I. ôáBeck. 1971. pág. 101. ciôn cor. Bcighaus cn -Hertha-. véase
. ttl :•Madrid. 1775): -Lageografia físi págs. 42-43. En ei último páuafo hay un 65 Comosedespiendede SUS palabra» sobic Beck. pág. 301
ca a il conocimiento de Iss tierras de dcíectode ftaduccion: quietedecii que las observaciones que hizo en Barcelona 70 Admitablc. aun aceptando las criticas}•
nuestro globo desde Iasuperficiehasta lo solo lo»resultados generales dr esasciên en 1799, Beck. 1971. pág. 133. En oira reservas que algunos autores, y cn pai»,
más profundo que loshombres han pe cias pertencem a Ia geografia llsica. ocasián esc.-lbr i|uc -los icloies mariflOK culai In» mexicano», 'tan pmlldo harei-
neirado.- La obia de BowJes es estlicul- 49 Víasc Capei: Ge.igi.ifia y maiem.it i../, aun amptlandoen todo Ia mata de nuc»- le. Vease el prólogo de Ortega y Medlna
mente un estúdio de mineralogia y geo 1981. uo* conocimientos geográfico»...-. i Ia e.nciOn dei Eiijnyo.... Humboldt.
logia. Podrían clrarsc numerosos 50 Humboldt: Cosmos. Ed, 1874, vol, I, Humboldt, Relación histórica.... i>ig. 576. 1978. plg. \1IX
c|cmpIo» part dcmcstiai que las cuestio plg». 43 y 51. (ifi llumboldt: Relauón histórica dei vlílfr •' 71 Publicado con cl titulo de Efíal polhkpn
nes iclaclonadas con la consiltución de 51 Beck. 1974. págs. 29-30 y 200. /,i. tegloim ttjtttnocclalts, Vol. IV, pág slirll Royaumedt- la Nouvtllf Espaglie, Pa
Ia tiert.i. su estructura inteiioi y Ias for- 52 Beck. 197). págs. 33.33. 571). La Intioducclón de e»ta obra Ia cs- ris, 1807-1811.2 vol».
mas de su superfície eran objeto de la ff- 53 Heck, 1971. plg. si. rilbló en 181 >. OlKt texto Intetes.mte a 72 Stcvens. 1956.
(lca duranteclsiglo xvm. Entre ellos pue- 54 lier-k. 1971. pág. 30. I.lamai * esto -un tciier en cuenta y que relaciona cl trába- 73 Vivo, 1962.
de servir l.i obra de Carra, 1781. lis sin primer objetivo de Investigación geogiá- |o dcl geógrafo con Ia èlsbojaüion de 74 Dlcklnsnn. 1969. pág. 28.
duda de esa linea de Ia que sutgló la Idea fica-, como hace Beck me parece Inopic mapasapaieceen Humboldl: DtlOrlmUtl 75 Beck. 1971. pag. 309. Discute lamblén ;.i
-í de una -lislea dei globo-. Como prueba plndo. al Amazonas. 2.- ed.. 1967. pag. 295. posible priotldad de llacnke.
suplementaria puede senal.irse que du 55 Como Ia curta a llennenkaiuplf dei 7de u7 Humboldt, A.. Ensayo político sobre... In 76 Beck, 1971. plg. 23.
rante todo ei siglo xvm las obscivaclones encfodc 1812, cn Beck. 197.1, plg. 271. Nue\-a Espana, Ed. 1978, plx. 220. 77 Poiclemplocn Bueschlng. 1769-1773.
con cl biiiónictro y termômetro, la deter- De ludas maneia», Víasc una oplnlím 68 Viansc referencia» concretas en Hum 78 Beck, I97l.p.1»s.34y74.
iiiiM.iciOn de altura*. Ias observaciones distinta en ll.iilslioinc. 1939, plg. 79. boldl. A.: Relación histórica dei W,i/r- a tal 7y Así llumboldt cn Ensayo, Ed, I978. plg.
sobre volcanes y terremotos y las carac 56 llumboldl: Relación histórica dei vla/ea regiones einiiiutcaales. Intioducclón (Ed, I8 donde afirma que su obra se limitar!
terísticas dei suelo eran consideradas las regiones enulnnalales, Introducción. 106,... Bibl. Indiana, vol. IV, pág. 5761. •a los resultados generales, porque no
denteo de Ia Física. As: se hacia, por Ed. Bibl.Indiana, vol. IV.pig. 569. en donde se designa como -físico-: y eu jon piopios de la estadistica los resulta
ejemplo, cn los -Analcs de Hls:oria Na- 57 Humboldt: Relación Ulsióilai..., píg. 569. lieck. 1971, páginas 114 (-filósofo de la dos de Ia Historia Natutal-; sobre cl ini
lural- (luego -Anales de Ciências Natu 1.0» botânico» consldcian a Humboldt cl t-.aturaleza-) y 200 (•boiánico-i. Tam cio tíc los contemporâneos consldctan-
rales-) de Madrid: en vi Índice general CreidOC de una geografia botânica que bién en una ocaslón se designa como do cl Ensayo como una Estadistlca de
dei vol. I (1800)se agiupau ios ar:iculos posteriormente desaiiollaiíaii cn ei siglo -flslogeôgrafo- (Beck. 1971. pág. 229). México, séase Beck. 260.
publicados según se refieran al Reino ns botânicos como Pyrame de Candolte. AI tcgiesai de Amírlca. Humboldt valo- 80 Humboldt habia siempre en su obra drl
animal, vegetal o mineral, a química y a Robcit Bioivn o I redciic Sdioun. U Cito- r.iba sobre todo su» traoa|os aMionomi- -diseiio- o -cuadro político- de .México,
líslca; en e»lc último se Incluyen una giaphle bntanlaur de Alphonse de Condo- ccs. botânicos y químico» (Beck, 252) y y seuala que «abraza cuanto dice referen
cana de llumboldt desde Amírlca. un lie II85S) teria Ia Obra fundamental en la considciaba que sus iraba|o\ apoiMiiaii cia ala» relacione» políticas ycomeiciale»
artículo de N. S. Tranqul sobre un volcán consolldación de csia corrlentc de Inves- dato» -a la geologia y a la Hstea general» de México-, Ensayo. Ed, 1978. plg- 220.
de Tcneiile, «mode J. Varelasobre defer- tigaclonei sobre la geografia de Ia» plan (Humboldt. Relación histórica... Ed. El mismo Humboidt lo denomina como
minaclon de alturas en Cjnarias, yotio tas dentro de la botânica. Véase sobre 196 ... Bibl Ind., IV. pág. 577. -político- al referlrsea él en la introduc
de G. Thalacfcei sobre •Puntos de eleva- ello ei dlscuiso pronunciado ts.ii ei cale- •'•'' LI término -físico o naturalista- cia ei ción a la Relación histórica dei vf.t/r it fit»
d&n conocido» en Europa, África yAmí diátlco de Botânica de la Facultad de más corricntcmcnU" aplicado a llum iríiour» equlnacciales. Ed. Bibl. Ind.. IV.
rlca, y «-. Vaiencia-. Uni disposición se- Ciências de Paris en 1893 (Botinler. boldl. como lenala Bedt, 1971, pig-15. plg 574. a la vez que distingue clara-
raeiantcen losvolumenes siguientes 1893-1894). Víasc también la referenda blbliogiáfica nu nte 1j geografia de la historia natural ¥
43 Casslrtr: El problema dei Coiuximlento, 58 Humbold!.- Relación hlsICilca dei viaje d incluida en Humboldt. A.: Ellsayo pollll- de l.i economll poli-.Icj(Mem.. [Mg.576).
VOl. IV. pág. 212. Aquise encuentra la las regiones tqulnactlales. Intiodiicclón. ca..., Ed. 1978. pág. CLIX Uriiyi-.fr M 81 Olckinson. 1969. pág. 2S. que. a pewr de
raiz de la posterior dislinción kantlaiia Ed. Bibl.Indiana, vol. IV, pág. 569. Alrx Humboldl, plryslcien... ali eifuivu fi»»- todo. Ia considera -la pilniera de las des-
enlie la -dcscilpción de la natuiaicn». 59 Humboltlt: Relación histórica.... plg. 572. i '.-,): ISOO). Por otra parte sus amlsi.ieVs cilpclone» geogilüos slsicinátlcas-,
pinjilade Ia historia v Ia geografia, y los 60 pueden encontraise dlirlnclones de este y relaciones científicas ml» iinpoil.inies .s2 Humboldt: Relación UlShJlIca, lomo III,
-sistema» de Ia naturaleza-. tipo en la Introducción a Ia Relaciónhis al itgreso de América las luva C0I1 lísicos libro IH.cap. IV. i
p p00 PPPPPPPPPt f f C €PPfffPPPff<PPP*PPPPPP**PP + *<< f
.1-;
48 NOTAS 41. CAI'IIUI.O I
III.OSOllA YC.ILNCIA EN LA CtOOHAFlA r.ONir.MPOIlANF.A
83 llumboldt: Cosmos, vol. I, 1845: vol. II. Illu llumboldt: Cosmos. Ed. 1874. v.-.l. I. 113 llumboldl: OlUHO\, Txl. 1874. sol. III.
iraducclón cistcllana de l.uit Navario
1847; vol. III, IR50: vol. IV. IS58. Des Calvo: Ctlitóbal (.'"Mu i W drscubrimien- pig. 9.
pílS-J».
pues de su mucitc se publico un volu tu de Amèika; historia de la grogialia dcl ,07 Humboldu Cosmos. Ed. 1874. vol. I. In- 114 Humboldt: Cismas, vol. I. plg. 38. Pero
men V con notas diversas dei autor. Nueva Continente y de fut firogitSOS de In uoelucción,p.íg.61. ello no significa que Humboldt consi
Exlsicn al menos dos iradncclones cs- astronomia náutica en los siglos ,w y xyi •OS Humboldt: Cnsmiis. Ed, 1874, vol. I. Itl- derara —como afirma lieel K. Schae-
paOolas de esta obra: una ele Francisco (Madrid, Biblioteca Clásica, vols. 163- (roducclón. pág. 69. Oiras criticas al fer— a su Cosmo.» -como una obra 111*-
Dlaz Qulntero (Madrid, Edlt. Vicente 165, firmando. 1926). idealismoen vol. III, plgs. 3-10 raila. más que como una conuibuclón
Garcia Tetrís, 185I-I8S2). Incompleta, 93 Humboldt: Cosmos. Ed. 1874, vol. I, [09 Humboldl: Cosmos, Ed, 1874, vol. 1. • la Ciência- (Schacfcr F. K. (19S.3), Ed.
cn dos volumenes. y otra de Bernaido pág. 47, y VOt, III, plg. 427. pig. 60.
Glner y Josí de Fuentes (Madrid. Im- 94 llumboldt: Cosmos, Ed. 1874, vol. I. pág. 1971, pág. 25).
110 llumboldl: Cosmos, Ed. 1874, vol. I, 115 Humboldt: Cosmos. Ed. 1874, vol. I,
pienta de Gaspar y Roig, 1874-75) de 54. En cl volumen III, pág. 427 escribe
plg. 3.
los 4 volumenes. Una sclecciôn de esta que -ei objeto de una Descripcion física 111 Humboldt: Cosmos, vol. 1, pág. 30. pág. 4.
obra se ha publicado en -Geo-Crítlca- dei Mundo es contar Io que ocupa <I es 116 Humboldt: CtiadrOS de la Nalnralein,
pado y lleva ei movlmlcnto de la vida
112 Humboldt: Cosmos. Ed. 1874, vol. 1,
(Unlversldad de Barcelona, n.* 11, sep- Trad. cast. de Bernardo Glner, 1n7õ.
tlcmbic 1977) con una lntruducrión de orgânica a las dos esferas dei Ciclo y la pâg ->2-
Miguel Angel Mlrantla. Tlcrta-.
84 Las conferências se desarrollaron entre 95 Humboldt: Cosmos. Ed. 1874. vol. I.
ei 3 de novlembre de 1827 y ei 26 de págs. 58-5"
abril de 1828 y fueron seguidas de un 96 Humboldl: Cosmos, vol. III, pág 23.
segundo ciclo de 16 hoia» en la Acade 97 Humboldt: Cosmos. Ed. 1874. vol. III.
mia dei Canto, que constltuyeion un pág». 34.
veidadero acontecimlento social, con 98 Humboldt: CiHraoi, Ed. 1874. vol. I.
unos 1.400 oyentes. Víasc Beck. 1971, pág. 45.
r-
plg», 315-320. 99 Véase sobre ello Bleiiiiaun. 1978. Hum
85 Sobre ei hecho de que lôlo se proviera boldt habia oiganlzado una serie de ob
inicialmente un único volumen. s-éase servaciones cooidlnadas cn Europa,
Beck. 1971. plg». 454-459. Pero todavia Améilca dcl Sui y Ásia. a pnitli de 1829.
en otra ocaslôn escribe que se reserva la cual fue la base de la -Unlôn Magné
-paia ei teiceio y último tomo comple tica- de Góttingen de Gauss y Weber
tai lo que (alie- (Cosmos. Ed. 1674, vol. (1832-I83S). En unos Inteiesantes ro-
III. pág. 8). mentarlO! a Ia comunlcaclón de Bler-
86 Humboldl: Cosmos. Ed. 1874. vol. I. mann. J. A. Cawood (en Fotbes, 1978,
pág. 2. págs. 139-149) ha crltlcatlo sus oplnio-
87 Humboldl: COSIDOS, Ed. 1874. vol. i. nes y defendido que desde los anos
pág. 38. 1840. y quizás, antes Humboldl no es
88 llumboldl: Cosmos, vol. I, pág. 52. taba ya en vanguatdla en Ia investiga
B9 Por Simulo ciltlciidc: -ei conjunto dcl ción magnética y que su ohsrslón poi
Ciclo y l.i Tierra, Ia unlveisalld.id de las encontrai colaboraclón se debe sobie
cosa» que componen ei mundo sensi todo a Ia dcbllldad de su bagaje científi
ble-. co pcrsou.il.
90 En Espana cl Cosmos ha sido estudiado 100 Aspecto que lia sido sobtc todo icsalta-
por A. Mclon (1925 yen trabajos poste- do por Minguei. 1969. páginas 71-72.
ilorcsl, La obra mereceria un análisis 101 Humboldt: Cosmos. Ed. 18/4. vol. I.
más profundo, desde una perspectiva pág. 44.
amplia, interdlscipllnatía. 102 Humboldt: Cosmos. Ed. 1874. vol. I.
91 Humboldt: Cosmos. Ed. 1874. vol. III, pág. 57.
píg- 7. 103 Humboldt: Cosmos. Ed 1874. vol. I.
92 No solo aqui. sino también en su Eaa- pág. .30.
irirn ctitli]ue de lltistalie de la geogmphte 104 llumboldt: Cosmos. Ed. 1871. vol. 111.
du Nnuveu Contiuent. et des piogris de pág. 10.
1'nttronomle nnutiaue aux ISeet 1fie sli 105 Humboldt: Cosmo». Ed, 1874, vol. 111.
des (Patís. 1814-34). dei que existe una pág.6.
11^1111 >* * I***********1******* <1*************
r

RLOSOrlA VCIÊNCIA IN LA «icoGH.sHA C.ONTr.MI-OIlANrA

Gimnasio de Frankfurt y se dedico a Ia leciura de los filósofos cl.isicos, visi


Capítulo 2 tando también Itália como ayo de los hijos dei banquem Poço despues
pasó como profesor al Gimnasio de Güttingt-n, cludad en la que siguló
cursos de botânica, mineralogia y geognosla, a la vez que comenzaba a
Ritter: la naturaleza y la historia trabajar cn su Erdkunde—de Ia que publico una primera versión en 1818,
en 2 volumenes— y en una obra sobre Heródoto (Die Vorhalle Europiilcher
Vòlkergeschightenvon Herodotus. und den Kauktisus und (T/1 den Gcstanden des
Pontits, eine Abhandluiig zur Altcrthiimskunde, Berlin, 1820). Trás un breve
paso otra vez por Frankfurt se Instalo en Berlin (1820), donde a propuesta
Cl la discusión sobre ei caracter geográfico de Ia obra de llumboldt puede de Wilhelm von Humbold! habia sido nombrado profesor de la Escuela
rene- nigún sentido, en ei caso de Carl Ritter esta cs ociosa, ya que se trata Militar de Berlin. con un encargo para ensenar esta matéria en la Universi
SuáSentede un geógrafo, que llcgó aser catedrátlco de Geografia dad que ti hermano de Alejandro acababa de fundar. Dicho encargo fue
Z|a Universidad de Berlin. Adiferencia de llumboldt, su obia se proponc obtenido por merilación dcl ministério de la Guerra y con la ayuda dei
de una manera directa yfundamental oi estúdio de las relaciones entre la poderoso discípulo de Ritter, August von Bethmann-Hollweg, profesor de
supe? .cie terrestre yla actividad humana. La atenciónse centra.ahora en Derecho en Berlin y tjue llegaria a ser ministro de Cultura.
ei hombre. y la Tierra pasa a ser objeto de una atención secundaria que, La Universidad de Berlin, fundada en 1810 por cl ministro de instruc-
iire odo aparece en cuanto que es e. -teatto- de la vida humana. La dl- ción pública Wilhelm von Humboldt, seconvirtló en seguida en ei centro
ereti.e formación de uno y otro autor, la educación mas nlosófica e esendal de la cultura alemana. La institución fue concebida como un cen
histórica de Ritter y, sobre todo. su dedicaclón profesional ala ensenanza. tro de ensenanza lalco en ei que interesaba esencialmente ei saber por si
ls>
~1 expllcan mucho dei diferente caracter de la obra de uno yolro. mismo.J Ben Das-id ha scfíalado algemas características de la universidad y
de la cultura alemanas de princípios de siglo, en relación con las condicio
/ nes sociales dei pais, y ha tratado de explicar la gran importância que
Un pedagogo crist inno influído por 1'estalozzi adquiria la filosofia y ei triunfo dei idealismo y ei romanticismo por la
imposibilidad de los intelectuales alemanes para participar en las decisio
Carl Ritter, ei Hijo de una família de la burguesia sa|ona, realizo sus estúdios nes políticas dei estado. Al mismo tiempo, ha demostrado ia teacclón de
universitários con la aynda dei banquem de Frankfurt j. I. Belhmann lioll- este grupo contra ei modelo francês de las «Grandes Ecoles» y su apoyo, en
vvee que lo destinaba a preceptor de sus hijos, lo que le hizo mteresarse cambio, a la universidad, La relación amplia entre humanistas y científi
rempranamente por cuestiones pedagógicas.' Convertido en preceptor en cos facilito que se desarrollara entre los primeros una cierta actitud
I'08 asus 19 anos, se dedico, sobre todo, alas humanidades yaIa geografia. empírica para abordar las cuestiones humanisticas. Ciência y humanida
POCôdespuêS. combinando su actividad pedagógica con una labor Investiga- des se encontraron juntas en las nuevas universidades, ya que no existió
dora. abordo la redacclón de una obra de geografia descriptiva: Europa, Eitl entre unas y otras la division tajante que producia en Francia la creacion
gcognlphischtf. Historisches, Statistiches GemiildesftirFiewtde und Uluer der Geo- de las grandes escuelas técnicas, y se admitló por ello facilmente que Ia
mphle (F.uropa. un cuadro geográfico, histórico yestadfstico para amigos y educación superior habia de tener una base cultural y humanística. Se
docentes de la geografia: Frankfurt, vol. 1. 1804. vol. II 1807). F.n ella Ritter se aceptó también una separación entre la ciência abstracta, cultivada en la
Situaba en la linea de lasgeografias geográfico-estadisticas .. ia vez que intc- universidad, y sus aplicaciones prácticas y utilitárias, asi como entre los
graba las pteocupaciones de la reine Géographie, que conducia auna discusión métodos puramente -científicos» y los «educativos». No se exigia de la
sobre los marcos naturales mas adecuados para las descrlptíoneS.3 ciência ni de la filosofia que fuera directamente útil desde ei punto de vista
Ritter vtajô con sus alumnos o con vistas a completar su formación econômico y social: «su importância derivaba dei hecho de que proporcio
oor Suiza (1807, y luego varias veces mas en anos posteriores) en donde nada una justificación espiritual para la sociedad. y de sus efectos
visito la escuela pestalozziana de Yverdon y junto con sus discípulos siguio educativos para moldear las mentes».*
cursos en GInebra sobre historia y literatura (con Sismondi) ysobre fisica y El papel de la filosofia y de las humanidades se consolido con motivo
química (con 1'ictei). al tiempo que se interesaban pot las ciências natura de Ia invasión napoleónlca, Ia cual dio lugar a una reacclón nacionalista
les y la geografia de las plantas. En 1809 fue nombrado profesor dei
f f f P P PP PPPPt 1 < i fppPPfPtPVPPPPtrPPPPPP00>09 0P0 0PP*
RITTEJt: LA NAtURAUZA Y IA HISIlM'A ti u HIX>SOHA V CIÊNCIA EM LA CEOURAIlA CONTtMr-ORANiLA
viloró los aspectos espirituales de lacultura alemana como elemento cluyendo su Erdkunde, está escrita «desde ei punto de vista dei educador».1"
je resistência yunión; también contribuyó aexaltar la historia pasada, en Su contacto con las Ideas pedagógicas renovadoras se realizo bien tem-
la euaj se buscaban las rafces de la personalldad germana, y ei elemento pranamente, ya que estúdio como becario en cl 1'hilaiitropinum de Schnc-
•ara Ia unincaciôn que los políticos românticos alemanes —entte ellos pfenthal, fundado por C.h. G. Salzmann, cuyos métodos estaban inspirados
Wilhelm von Humboldt— apoyaban decididamente. En esta eclosión de en Ias ideas pedagógicas de Rousseau. Alli Ritter permaneciõ 11 aíios, y
Io< estúdios históricos la geografia era una ciência imlispensable, y a ello tuvo ocasión de entrar en contacto con la naturaleza a través de excursio-
se debe. en parte. Ia creacion de la cátedra de geografia de la que fue nom nes y fiestas campestres en las que se celebraban los produetos de la
brado Ritter profesor supernumerarioen 1820ytitularen 1825, impartiendo naturaleza/' !o cual influyó en su interés posterior por la botânica. De he
cir.se en ella durante casi 40 anos.'El espíritu de exaltación nacionalista cho, toda su obra está profundamente Influída por sus preocupaciones y
era también muy fuerte en la Allgemeine Kriegschule o Escuela General de su actividad pedagógica, que le llevaron a estudiar con atención en algún
Guerra, organizada uor Gerhar von Scharnhorst ydirigida por ei gran teó momento la vida de Sócrates.
rico de Ia guerra Carl von Clausowltz (1780-1831) y porAugust Rühle von Particularmente decisivo fuesu encuentroconl. E. Pestalozzi. Ritter se
Lilienstern (1780-1847). El valor de los estúdios históricos para la forma encontro con ei pedagogo suizo en Yverdon en três ocasiones: en septiem-
ción dei caracter militarera muy apreciado en ella y ei mismo Clausewltz bre de 1807. fecha en la que se inicio en la ensertanza de la geografia que
estaba muv Influído por ei romanticismo y por la filosofia Idealista, y en Impartia alli J. G. Tobler quedando impresionado por las aplicadones geo
particular por Fichte y Hegel. Su obra Vom Kriegc (1832-1834) fue redacta- gráficas de los métodos pestalozzianos; en septiembre de 1S09; y en enero
dacuandoRitter eraya profesor deicentroy muestra logicamente un claro de 1812. Estos contactos fueron esenciales en la gênesis dela obra geográfi
iriterés por los problemas espaciales ygeográficos, que también interesa- ca de Ritter. Según parece, la promesa que hizo a Pestalozzi de trabajar la
ban. y en mucha mayor medida, a von Rühle.' De Ritter se valoraba enei geografia de acuerdo con ei método docente de este fue ei estímulo inicial I
centro militar no solo su formación histórica, sino también la atención para la primera redacción de la Erdkunde, cuyo primer volumen está dedica
queconcedia al relieve en ei plan desu geografia. do precisamente al pedagogo suizo, y al antiguo preceptor Gutsmuth."
Desde su nuevo puesto Rittersevio obiigadoa dedlcarse cada vezmás Hoy se acepta que es a J. E. Pestalozzi al que Ritter alude cuando escribe en
a la geografia' v ttabajó en la reedlclón y puesta a punto de su Erdkunde. la Introducción a su Erdkunde que no ha encontrado las ideas directrices
convertida ahora en un ambicioso proyecto que solo seria interrumpido para su obra -en Ia verdad de una idea, sino en ei contenido global do las
con su muerte: Die Erdkunde in Verhiiltnis zur Natur und zur Gescbichte des verdades que admite comei tales, a saber, en ei mundo de la creenda-, aíia-
Menschcn utler allgemeine vcrgleichende Géographie, ais sichere Gmndttigf des tllendo que -esas ideas directrices reposan sobre una visión interior de ias
Sbtdiums und Unterrichts in Pliysikalischen und historischen Wisscnschaften cosas, adquirida en contacto de la naturaleza, y de la sociedad, y de la cual
(La Geografia de acuerdo con la Naturaleza y la Historia dei hombre, o cl autor ha tomado conciencia con ocasión de un debate con un gran hom
Geografia general comparada, como fundamento seguro para ei estúdio y bre de este siglo-.,J Rlttet reconocerá siempre esta deuda, llegando a escriblr
conocimiento de las ciências físicas e históricas)." que es de Pestalozzi de qulen habia aprendido realmente geografia a pesar
Los 21volumenesque se publlcaronconstituyen solamente una parte de que ésté no conoefa dlcha ciência: «esal escucharlo —escribe— que yo
de la obra total prevista yse refieren a África (1 volumen) yÁsia (18 partes he sentido despertarme cn mi ei instinto de los métpdos naturales»."
en 20 volumenes). Fueron publicados entre 1S33 y 1859, a casi un volu Se ha defendido que la obra de Ritter, y en particular su F.rdkunde no
menpor ano de unas 1.000 páginas cada uno. El caracter fragmentário—y es más que la aplicacion dei método de Pestalozzi a la geografia." Apesar
quizá doblemente fragmentário— de la obra ha sido puesto de telieve por de la discusión que existe sobre esta cuestión." es indudable que hay una
Hanno Beck, que ha abordado recientemente la latea de interpretar esta parte importante de verdad en esta afirmación que, en cualquier caso,
obra y ei Atlas que le acomparta y ha duiendido que ei plan ritlcriano com- muestra Ia profunda Influencia de la pedagogia pcstalozziana en eigeógra
prendia no solo ei estúdio de los cinco continentes (que constituiria la fo alemán.17 Influencia que alcanza a aspectos muy diversos de su obra,
primera parte), sino también de las panes líquidas dei planeta (2.'parte) y desde la utilización dei concepto de -tipo» a su producclón cartográfica,
de las formas de los reinos mineral, vegetal y animal (3/ parte).'' que se ha interpietado en relación con la importância que concede Pesta
Espíritu profundamente religioso, de vocación casi mislonera, Ritter lozzi al dibujo, y como forma de visualización intuitiva de las unidades
queria ser, ante todo, un pedagogo cristiano. Toda su obra geográfica, in- geográficas.
• **«*«* •iiMiiim >iiiii«iiiitiiiiiihi
r
f.:. H|.'.s,i|-|,-, 1 CIFMCIA ÍNLAÜÍOCHAVIÁ COM i Ml'
RrrlER: LA NATUKALEZA V LA HISTORIA SS

[titter admiraba de Pesialozzl. además de sus métodos pedagógicos. Este estúdio de la naturaleza en sí mlsmn y en sus relaciones eia preci
íü -senclllo cristianismo autêntico, libre de cualquier imiiación raciona- samente eiobjetode estúdio de la geografia fisica, que llumboldt —como
y se mteresó por sus Iniciativas sociales, como las escudas para hemos visto— dlstinguia cuidadosamente de la -geografia proplamente
pobres y para la educación de los campesinos. Toda su vida y su obra está dicha» o de la -geografia comparada».-* F.s indudable que Ritter aceptaba
nidamente impregnada por este cristianismo evangélico que segura esta dlstinción. como demuestra ei texto siguiente:
mente también influyó en su carrera. ya que era asimismo Importante cn
círculos rnuy influyentes en Kerlín. Unacaracterística de estoscírculos pa -Mi objetivo no ha sido slmplcmente reunir y elaborar una inasa de materiales
rece ser ei rechazo dei racionallsmo y una búsqueda de un cristianismo mayor quelade mis predecesores. sino senalarIasleyes generales que subyocen a la
.iiás profundo, todo ello unido a posiciones políticas consc-rs-adoras." En diversidad dela naturaleza. mostrarsu conexión con cualquier hecho tomadosin
Ritter esta profunda rehgiosidad iba unida seguramente a facetas psicoló- gularmente, e Indicar en un campo puramente histórico la perfecta unidad y
.-. Je su personalidad. En este sentido puede ser interesante senalar que armonía queexiste en laapatente diversidad ycapricho que prevalece en ei plane-
fue educado por su madre viuda y pietlsra devota, y que en IKlfí se caso la. y qut parece más marcada cn las relaciones mutuas de la naturaleza y cl hombre.
con Lllll Krarner, mayor que 61, práctlcamente calva y con un «estado pa fuera ele esta linea de estúdiosaparece la ciência de la geografiaH-** en la 1'ie se
tológico de su consütuclón general-, lo que es justificado por su biógralo investigai! todas las leyes y condiciones bajo cuya influencia aparecleron la gran
Kanno Beck aludiendo a que -Io que le atraia de una mu|er no era su ju diversidad de cosas, naclones e Indivíduos y determina todas sus niodificacie.nes
ventud, sino su madurez y su instinto materna!».*1 subsigiiíenies-.**

Son estas relaciones mutuas de la naturaleza y ei hombre, y Ia tierra


D! Geografia física, Geografia comparada e Historia como rcatro de la actividad humana lo que a él le interesa fundamental
mente.

£1 problema esencial estudiado por Ritter es ei de las relaciones, al igual que Ritter considera que Ia geografia fisica se había constituído a partit de
hacia paralelamente su contemporâneo Humboldt. Pero en ei caso de Ritter, la observación de la naturaleza. Esta geografia física era »semc|ante» a la
estas relaciones, estas conexiones (/.iisaiiimenhcing), se establecen entre hechos que él sehabia esforzado también en elaborar, aunque se cllferenciaba de
físicos y humanos: -La Tierra y sus habitantes se hallan en Ias más estrechas ella en que renunclaba «a abordar las relaciones cósmicas, estadísticas y
relaciones mutuas y un elemento no puede ser considerado en todas sus fases políticas dei globo terrestre-.11 Esta geografia se denomina física «porque
sin los otros. En este sentido la Ilistorla y la Geografia deben ir siempre juntas. se habia en ella de las fuerzas de la naturaleza, en la medida en que se ma-
Elterritório acfúa sobre los habitantes y los habitantes sobre ei território», son nlfiestan en ei espacio, condicionan formas precisas y provocan câmbios».
palabras de Ritter, escritas en 1804en la Introduccióna su Europa que pueden Kitter, por su parte, rechaza la expresión habitual de geografia física, que
considerarse como su tesis fundamental. La prcocupaclón por las relaciones si: «recubre una pane demasiado estrecha dei concepto de geografia-, tal
plantea siempre, sin embargo, en términos cie causaiidad: con referencia a como éllo considera, y rechaza asimismo la expresióngeografia filosófica,
cada fenômeno es necesario establecer -ei porquê de cada uno de los mismos, que -se le acerca, pero sigue siendo aun demasiado diferente y demasiado
ycomo aparecen de acuerdo con esa localización en cl espacio-. ambígua-, La cuestión de si en Ritter son Idênticos los términos -Géogra
El domínio que lc Interesa es la superficie terrestre, las "formas exte phie- y .Enlkunde» ha sido pianteada y ha reclbldo rc-spuestas diversas.
riores- de la Tierra.21 Enlaza así con una antlgua línea geográfica que Pero nodeberia hacerse sin precisar la cronologia y las etapas de lacarrera
aparece representada en ei siglo xvu por obras como ei F.spejo Geográphico profesiona! de Ritter. Qulzá sea válido —como pretende Beck— quela Er
dei espanol Hurtado de Mendoza." A Ritter le interesa en cuanto que es dkunde es simplemente la aplicacion dei método de Pestalozzi a la
•la escena en donde se desarrolla la actividad humana- y asi la superficie geografia. Pero puede preguntarse, a la vista de los repetidos ataques de
terrestre es -esta tierra en su relación esencial con pi hombre-." Losaspec llittera lageografia tradicional, si ei sentido de estas dos expresiones no se
tos naturales de esta superficie pueden ser esludiados en si mismos, en sus liabria ido distanciando de no haber encontrado Ritter una ocupaclón
propias leyes independlentes dei hombre, y ser objeto de investigación profesiona! como geógrafo en la Universidad de Berlin.
particular,* y -toda aspirador]a una vlsión de conjunto de lasacciones de La ciência de la tierra (o Erdkunde) que él intenta escrlblr es general
Ia naturaleza en su cohe-sión puede ser saludable... -no porque se esfuerce en decir todo, sino porque —sin darse un objetivo
p P90PPPPP pppt ( f p p pp p p p p p p p p p p p p p p p pp p p t ( f f t r r i f r r
ItlTlth: LA N.UlMAl.EZA V LA HISTORIA fí
m rll ÓSOFtA VCIÊNCIA tN I.A GMXiXArf*. COSI IMI-OtUNEA
bleh definido— se dedica a estudiar cada parte de la tierra y cada una de
sus formas, según su naturaleza y con la misma atención-; y comparada Las Ideas de Ritter sobre este problema procedem esencialmente de la
-cii ei sentido en que otrasciências han sido constituídas como discipli concepción kantiana que consideraba a la geografia y a la historia como
nas insitucrivas».2» ciências aparte en Ia clasificación general de las ciências, por estudiar he
F.sa geografia comparada abriria a la geografia como ciência «un nue chos aislados que se sucedeu eu ei tiempo o que se dan juntos en ei
vo domínio-, que era ei que precisamente él trataba de desbrozar con sus espado." De manera semejante. para Ritter las rleficias geográficas y las
obras, y que con ei tiempo quizá podría «evolucionar hasta ei punto de históricas
ilegar a ser algún dialageografia universal».
Para Ritter, la geografia es algo rnás que una simple descripcion de la .paiten ambas de hechos aislados conocitlos que se yuxtapone-n o se sucedeu y
llerra. En uno de los volumenes de su Erdkundedice: que Ia geometria y lacronologia transformai! sin embargo rapidamenteen relacio
nes impcrccptlbles que han de ser medidas pero que están desprovistas (...) de un
•|j expresión geografia, utilizadaen ei sentido de descripcion de la Tierra. cs des valor objetivo preciso (...). lo que obliga a estas ciências exactaj a razonar sobre
afortunada y ha confundido a la gente: nos parece que con ello simplementc se problemas ele orden filosófico».»'
alude a los elementos, cuyos factores son la s-erdadera ciência de la geografia. Esta
ciência Intenta nada menos que poseer la más completa y más cósmica imágen de Pero ia relación entre geografia e historia es más que una proximldad
'.aTierra; resumir y organizar en una bella unidad tixio lo que conocemc>s dei globo epistemológica entre ambas que las convierte en ciências distintas a las
(...). La geografia es ei departamento de la ciência que estudia ei planeta cn todas demás. De hecho, cada una neceslta de la otra en su investigación:
sus características, fenômenos y relaciones, como una unidad Interdependente, y
muestra la conexión de este cor.|utitu unificado con ei hombre y con cl Creador .In yuxtaposlclón concomitante de la existência ele las cosas en tanto que tales nn
dei hombre.--"* vt nunca, si se reflexlona en ello. sin una clerta sucesion de estas mlsmas cosas. U
delicia ele las relaciones terrestres espaciales no puede piescindlr as( de unn dimen
Más adelante Ritter Insiste en la misma idea seilalando que cl princi sion temporal, o cuadro cronológico, lo mismo que la ciência de las relaciones
pio central de la geografia es «la relación de todos los fenômenos y formas terrestres tcmporaics no puede prescindir de un teatro 0 marco espacial eu ei que
ele la Naturale/a con la espécie humana-." est.u relaciones se han tejido necesariamente. La historiatenfaque poseer, on efec-
En realidad, para él su Interpretación geográfica posee, sobre todo, un 10, un marco espacial para poder reallzarse. Haju todas sus formas y por doquier.
interés histórico. Así al presentar ei plan de su Erdkunde considera que si sea ello evidenteo no, comporta un factorgeográfico (...).Pero Igualmente l.i (ini
lograra alcanzar ei objetivo propuesto. «podría estimarse que se ha hecho cia "cográiíca no puede sei privada dei f.utor histórico si qulere ser una verdadera
progresar una rama de la historia, en ei sentido de que se habria llegado a disciplina de las relaciones espaciales y no un amasi|o de abstracclones, un com
elucidar la naturaleza estimulante de las fuerzas de las relaciones naturales pêndio que fi|aciertamemeun marco y permite elesclfrar ei vastomunelo. pero no
externas que actúan sobre cl curso de la evolución de la humanidad-." permite aprehender la realidad espacial u través ele sus relaciones espaciales. asi
Ritter presto siempre una gran atención al devenir histórico de los pueblos comosu coniormidad interior y exterior a la ley-."
que habitaban en cada una de las regiones que estudiaba. A la manera de
Herder, entendia ei espacio terrestre como ei teatro de la historia, y consi Se comprende así que para Ritter Ia geografia cientifica no solo no
deraba que la mayor armonía entre ei hombre y la naturaleza se produce puede ser separada dei estúdio de la historia, sino que adquiere todo un
cn los momentos de mayor desarrolló cultural. Por otra parte, él se intere- sentido precisamente en relación con este. Ritter coincidia en ello con
só siempre por la historia e Impartió cursos de esta disciplina, que le atraia otros autores contemporâneos no geógrafos, para los que la geografia iba
no solo por sí mlsma, sino también porque gracias a ella podia penetrar en unida a la historia, o incluso pertenece a la historia. En particular coinci
ei pasado alemán. dia con Megel. que trato también de geografia en sus Lecciones sobre la
A partir de aqui se entiende que Ritter se interesara por la naturaleza Filosofia de la Historia (1815-1816). y concretamente en su introducción
d-j las relaciones entre geografia e historia, tema abordado una y otra vez wbre -ei fundamento geográfico de la historia universal-.
en sus obras esenciales, y dcl que trato especificamente en su comunica- Para Hegel la ciência de laTierra esla «geologia-, mientras que la geo
clón a la Academia Real de Ciências de Berlin ei 10 de enero de 1833." grafia pertenece en realidad a la historia. La naturaleza es un dato
•exterior», es -ei terreno sobre ei cual ei Espíritu se mueve- encarnando
1*********1***1 1*11*111 í*****1**i t *********

HLOSoflAVCIENCM EN LA CEOÜHAFlA COMXMPORANEA


RITIE.il LASAIUIULTZA y LA HISTORIA Vi

Ritter fue una personalidad fuertemente influída por ei movimiemo


. ; nas figuras que constituyen diferentes etapas enese devenlr de la hu romântico yla exa tación pangermanista. Lector de los discursos ala na-
manidad en busca de su realización." Para ei filósofo, conviene tener en c.ón alemana de Fichte. admirador de la anrigüedad clásica, de Ia Edad
cuenta sobre todo las -diferencias naturales» que facilitan la poslbllidad Media, ydei v,e,o arte alemán, lector lambién de August Wilhelm von
de desarrolló de tal o cual figura dei Espíritu Absoluto. La naturaleza inter- Schlegel.» Dcl romanticismo yde la filosofia idealista recibió numerosas v
viene sobre todo negativamente en tanto que define las condiciones variadas influencias, confirmadas porsu relación con Pestalozzi de cniiee,
olobales de imposibilidad. También para Ritter las servidumbres que la aprenel.o que Ia vislon interior de las cosas, la intuicion, es la base veiTu,
'fierra impone al desarrolló de la humanidad son aspectos básicos de su damenro absoluto de todo conocimiento.^ Su idealismo fue radical- 1-i
concepción: naturaleza existe para c-l hombre. es «su mirada la que llama Ia naturaleza
a Ia existência y la que le da su alta significacion» »
-Consideranelo quelaliunianiclad. suspueblos y sus indivíduos forman parteinie-- Este idealismo se manifiesta lambién, en Ia pretensión de globalidad
erante deicontenldo material que dan a losespacios las fuerzas narurales y los três yrotal.dad de la concepción riüeriana. Georges Nicolas-Obadia ha puesto
reinos de la naturaleza jla corteza terrestre, ei lapiz vegetal y cl mundo animal): convincentemente de relieve como la idea de Todo que expresa Ritteítiene
como, por otra parte, Ia humanidad no está limitada a la tierra, sino que su desa su onge-n en Ia filosofia de .Schelling. en ese idealismo absoluto que procu-
rrolló fisieo y mental depende de cila, se puede considerar que las servlclumhtrs ce un sistema de la naturaleza autosuficiente en ei que se valora ei prlncioio
impuesias porestos espacios al mundo animado e inanimado o aldesarrolló men de organización como la accion recíproca de las partes que contribuyé a
tal de los hombres. de los pueblos o de la humanidad entera representa una parte lormar una totalldad unitária. Slguiendo aSchelling. en Ritter ei Todo es i
importante de lageografia cientifica».*' •la vez una imágen divina, y visión global de la naturaleza. v es ala com'
premión de este todo alo que él como geógrafo intenta contribuir Ello se
El punro de vista de Ritter es que estas relaciones, esos materiales y realiza estudiando en particular las relaciones entre ei hombre yla natura
esas servidumbres, así como todas las combinaciones resultantes no son leza tenestre. asf como otras totalidades subordinadas al eran Todo
íijas. Por una parte, forman parte -de un gran organismo terrestre» y po- absoluto -es decir todo lo qlle existe ypuede ser pensado por ei Yo abso-
seen su comportamiento y evolución propla de acuerdo con leyes físicasy luto-: ei cosmos, ei globo terráqueo. Ia superficie terrestre. El Todo
cósmicas especificas. Por otra parte, la humanidad, Ia sociedad «evolucio- geogranco que ei esrudla se inserta, en último término, en ei gran Todo de
nan según leyeséticas», pero están rijadas a la superficiedei planeta, por lo la naturaleza, estrechamente interdependiente. y organizado sesún un
que «la humanidad entera vive un conflicto [otra idea de raiz hegelianaj principio de linalldad. Se trata de un mundo armónico, por ei equilíbrio v
Implícitoque la opone al desarrolló físico progresivo de su morada, la Tie cohcsión de sus partes, y a la vez, por la armonía en las relaciones entre
rra'-. Por ello, hombre ynaturaleza. Es también ei resultado de fuerzas que se ononen v
se equilibrar,.« Atraves de la actividad racional, de la reflexión científica
-deberá admitlrse que estas relaciones y condiciones propias de nuestro planeta y se descubre ei lugar de) hombre en ei Todo, al tiempo que se desvela tam
de sus localidades, que evolucionan cn ei liempo de lo físico a lo mental y actúan bién progresivamcme Ia totalldad dcl mundo: «toda reflexión sobre ei
sobre la humanidad, consiltuyen ei principal objeto de la geografia cientifica-." hombre ysobre la naturaleza -escribe Ritter- nos conduce aconsiderar
Io particular en sus relaciones con ei Todo-. EI análisis ha de proceder de
todo bacia las partes ya que «ei conocimiento total dei Todo no puede pro
El idealismo de Ritter ceder de lo parneular si ei mismo Todo no es conocido aIa vez- « Como
ejemplo de ello cita que solo apartir de la noción dei sistema solar se ha
L?. impronta de Hc-gel no es Ia única influencia filosófica c|ue puede detec- podido comprender la revolución de Ia tierra en ei cosmos yla noción
xarse en Ritter. Mucho más que en ei caso de Alejandro de I lumboldt, su de la Tierra como planeta, yexplica Ia relación reciproca de Ias partes de
cbra ha de ser interpretada en ei marco de la filosofia idealista alemana de esta Este Todo, por ultimo, se divide en partes, que son a sti vez otras
princípios dei siglo xix. I.as diferencias en este sentido enlre ambos autores totalidades. As. los continentes se presentan también como «Todos más
quizá se deban. en parte, a la distinta formación de uno y otro, y ai hecho o menos separados por la naturaleza». como «los grandes indivíduos te-
de que Alejandro viviera largos e Importantes períodos de su vida fuera de rrestres». c
Alemania.
-
JUTTOl LA NATUBALEZA VLA HISTORIA v
42 IIttSXU IAYCIÊNCIA EM LA ChOOltAflA conrrwroiUNEA
La búsqueda de las relaciones entre ei Todo y sus partes, y vtceversa, la
pgntisa Ri«er enei Todo terrestre bajo la influencia dei platonismo. Este ha trabajo Ritter deficnde que para la comprensión de Ias relaciones espacia
bía sidovalorado porSchelling ypor otros filósofos de laépoca, en particular les es necesario servirse de la foima y dei mimem. No es difícil porier en
l-T. A. Wolf, cuyas clases Ritter parece haber seguido en Halle en 1796*97.** relación esta propuesta con la tesis pestalo/.ziana de que «el origen de to
De este platonismo, de la teoria platônica de las Ideasy las formas, procede dos nuestros conocimientos se encuentra en el número. Ia forma y la
en último término SU preocupaclón por ei número y la proporción, por In palabra-." Porfurmaentlende Ias figuras geométricas, es decir.
geometria. La comblnaclón de cuatro formas o elementos fundamentales
lalre, água. calor y tierra) constituyen cl Todo terrestre, y Ritter los estudia -esas rcpiesentacioncs sisuales de la forma que permite}] por si solas y sin datos
especialmente en lasformas que presentan en la superficie deiglobo y en la relativos a seis dimensiones, Imaginar larelación analógica entresuperfícies cuales-
disposición e interacción recíproca que contiibuyc-n a modelarla cortezade qiilera yquedispeman así de cualquier otra descripcion. En elmarco de una teoria
dicho Todo terrestre. Forma de la Tierra y posicion geográfica aparecen delas relaciones geográficas. Ia utilizaciôn correcta deIas figuras geométricas ysu
como elementos básicos en esta conliguracion de la superficie terrestre. prudente apllcad6n comparativa a los espacios físicos cleberia permitir poner a
Perotambién las relaciones numéricas entre los espacios y formas permiten pUDtO repieseiitacloncs más precisas de manera s!ui|>le e Inteligente. Al Combinar-
obtener conclusiones sobre ei Todo terrestre. Es en forma de relaciones en lasse debcrlau descubrir nuevas utilizaclones que dariaiia su vez accSSO a una serie
tre la masa continental y la articulación de sus costas, o entre aquéllas y las eminentemente sucinta y condensada de representaclones que se recubrer. mutua
islas periféricas, que Ritter trata de descubrir las leyes de Ia organización mente: entonces sepodría |ioneren evidencia Inmeeliaiamcnte lo quedepende de
espacial de la superficie terrestre, obtenlendo. como veremos, variadas con sus figuras «comcirlc.is. tenlendo en cuenta todos los fenômenos-.
clusiones. No es eyctraflo con todo esto que Georges Nicolas-Obadia haya
podido escribir que «al establecer un lazo científico y no ya genético entre- En lugar de permanecer andados en la pura descripcion. Riitor pro-
los números y las formas Carl Ritter ha introducido implicitamente la no pitgtia ia utilizaciôn de figuras geométricas, con un uso semejante a como e?
IN
ción de estructura espacial en la geografia moderna». Y en efecto, cl estúdio se habian empleado en la terminologiabotânica, y —debería haberartadi-
dei «sistema natural de relaciones espaciales- constituye para Rlttei ei obje do— en la ensefianza pestalozziana. Piensa que Ia superficie dei globo
to de la geografia, con lo que enlazaría. según Nicolas-Obadia, con una podría dividlrsé horizontalmente «en un cierto número de figuras geomé
tradiclón geográfica muy antigua, que se remonta a Eratóstenes. tricas, no arbitrarias, sino conforme a la naturaleza de su extensión. es
En Ritter la insistência en las formas geométricas y en las relaciones decir.de mayor o menor tamafto,,. Su combinación facilitaria el avance de
espaciales era, sobre todo, un recurso pedagógico que permitia evitar la la ciência geográfica hacia la reflexión verdaderamente científica y dãrfa
abunlda enumeración y descripcion detallada de países. Se trataba de bus precisión a Ia terminologia, evitando el caracter escolástico y estéril de la
car claridad y orden que permitiera a la geografia convertirse en una geograffa. Como ejemplos de esta utilizaciôn. el cuadrado podría represen
disciplina con posibilidades de docência, superando la fase descriptiva y la tar a Espafia o al Peloponeso, ei rectángulo a Anatolia, el romboedro a
acumulación de informaclones que ninguna persona podia asimilar."- Tesiilia. el triângulo a África o América dcl Sur; pudiendo Indicarse sobre
Con ello Ritter llevaba hasta sus últimas consecuencias —y. a la vez. slrua- ias figuras con signos +o- el exceso ofalta de espado figurado respecto al
ba en una nueva perspectiva— una serie de esfuerzos y cie iniciativas que real. Li figura puede fragmentarse o agruparse, asl como considerarse a
se habfan ido realizando desde mediados dei siglo xvm. Esta nueva pers diferentes escalas, ysu análisis permitiria determinar territórios con for
pectiva le viene dada no solo por su formación |ilatónica sino también por mas idênticas. De esta forma, «aparecerán ciertas categorias y conceptos
la asiniilación de Ias ensefianzas pestalozzlanas. de claslficaclón yse constituirán con relación a los arquétipos va sus va-
Estas cuestiones fueron tratadas es|)ecíficamente en un discurso pro rlaciones de manera precisa ycientifica, lo que permitirá conlalecturi de
nunciado en Ia Academia Prusinna de Ciências ei 17 de t-nero de 1R28 las figuras deducir las relaciones y caracteiisiicas que correspondeu pro-
titulado Obsen-aciones sobre losmédios que permiten ilustrar las relaciones por plamente aIa clase entera. a las subeiases y a los indivíduos-.
laforma y einúmero en eicaso dela reptesentacióii gráfica," en el que, a pro- Pero no solo se trata de compartimentar espacios. Ritter piensa que
pÔSito de una anunciada venta dei departamento cartográfico de la podría realizarse también un análisis cualiiaiivo de los elementos constitu
Academia, trato de profundizar en los procedimientos gráficos dementa- tivos dei espacio, tales como extensión de las águas, regiones montanosas
les y propuso la realización de un atlasde las relaciones espaciales. En este deslertos o áreas cerealisias, citando como referencia la representación
geognósllca de America dei Sur realizada por Alejandro ele Humboldt en
111**11**1*** 1***1*1**1 11*111 I ****** »1
r

IlIOVÍliA s <.l|s. IA l-\ L» OLOOHAUACONriMIOHANEA


IliriEK: LA NATURALIZAY LA HISTOSIA 63

como su decidida .iiimuciou de que las fuerzas que organizai! el sistema


, Relación dei viaje- «Reagrupando las figuras geométricas ytodas sus sub- terrestre «actúan de una manera análoga a la actividad fisiológica que de
\ visiones según sus relaciones cuantitatlvas y cuallutlvas -cscnhe termina la vidade los organismos vegetales y animales».*'
orne*- ,edebería poder descubrli la expresión más concisa susceptible de Ritter trata de reconstruir la unidad dei Todo a partir de la observa
rtWenar el carácrer dominante de los continentes, de los países, de los le- ción. progresando de lo simple a locomplc|o. Con ello no hacia, otra vez,
M de las províncias y de los distritos», sustituyendo de esta torma niàsque seguir una de las regias fundamentales dei métodopestalozziano
hesVesenociones generales imprecisas que resultan tan fastidiosas. que propugnaba: «aprende a clasificar tusintuiciones ya poseer completa-
junto al análisis de las formas, el de las reladones numéricas de los mente lo simple, antes de avanzar a lo que es algo complicado-.1' Ritter
«meios vde sus figuras constituye otro médio de conocimiento geográfi piensa llegar asf por la comparación alestablccimlento de leyes generales.
co No se trata, advierte Ritter. de estadística nl de utilizaciôn de cifras ydesde 1818 trata deobtener -la leygeneral de todas las fonnas importan-
absolutas, sino, por el contrario, de las relaciones que permiten comparar ies c]uC reviste la naturaleza a la escala mundial y loc.il>., considerando que
-v construii unsistema espacial de relaciones-.n .«ólocon el concurso de las leyes generales de todos los tipos dominantes
En cada espacio terrestre -hav un número importante de partes y rela vfundamentales de lasuperfície de la tierra inerte y animada puede apre-
ciones nslográlicamentedefiniblesymensurables-.lascualesson necesarias j1L.nderse la armonía dei mundo de los fenômenos»."
uara lacomprensión de Ia verdadera naturaleza de estos espacios. y que se La preocupación por la proporción y cl propósito de proceder siem
reficren tanto adimensiones horizontales como veiticales. Solo con ellas se pre de Io simple a lo complejo, explican, porotra parte, algunos aspectos
ílcgará. piensa, a una verdadera «ciência de las relaciones geográficas». Se dei plan de Ia Erdkunde. Se inicia esta en efecto, con el estúdio dei viejo
trata dê relaciones parciales respecto al Todo terrestre o continental, com- c0I,tinente, yconcretamente por África por ser este cl continente más sim
pàràción de áreas, relaciones costas-masa continental, extensión de áreas ple. En cada caso parte Ritter dei conjunto de altas tierras interiores que
to

s£>
bòscosas, cerealistas, lacustres, etc. Como ejemplo analiza la relación entre gjltcr, siguiendo eu estoideas de Kircher y de Buache"'* considera como el
laforma devida yel tipo de actividad de los hombres con las clases de tie púeico esencial y prlmlgenio decada continente. Acontinuación los rios
rra que los alimentam citando el ensayo sobre la población de Malthus y eStablccen el contacto a través deescalones intermédios entreese nivel y
las obras de Ch. Dupin yde l.ullin de Chãteauvleux. U relación longitud i« tierras bajas que forman «una amplia corona de extensiones y depre-
dei litoral-superfide de las lierras, por su parte, permite llegar a concluslo- sjoneí variadas•.'•' Estas três formas prindpales y sus combinaciones
nes sobre el caracter más o menos articulado dei território y elevarse a ^pstituyen losgrandes rasgos de los continentes,
consideraciones sobre los factores dei desarrolló de- los pueblos.50 Lo que le interesa a Ritter no es la posicion absoluta de estos conjun
La aplicacion dei método permite también comparar las cuencas tos, sino más bien su posicion relativa entre ellos y respecto al conjunto
iluviales, tan importantes en la gênesis de Ias cívilizaciones mediante pro je! pl«|icta' a la vez cluc sc interesa por la influencia de estas formas y dls-
porciones numéricas determinadas: pendiente general de la cuenca o de posiclones sobre la naturaleza (reino vegetal...) y la historia de Ia humani
parte de ella, distancia en linea recta desde el naclmíento a la desembocadu dad. I-35 f°rnias fluidas (alrc, água y fuego) -rodéanal globo terrestre total-
ra,sinuosldadcs dei curso, relación longitud dei curso y superficie: do ._•>;.. ijienie en profundldad (el fuego) y en alnira-,35 y los cuerpos de los três
forma, -cada sistema fluvial redbe así su caracter principal, definido geo- reino* de Ia naturaleza seintegran en laobraconsiderándolos ensupropia
métncamente-. Io que permite también conocer sus particularidades. El organiwc'on yestructura, ensuposidón en lasupeificic deiglobo, y ensu
sentido de todos estoscálculoses grande, piensa Ritter. puesto que -las rela fçljciôn con lahistoria dela humanidad en tanto que elementos domina
ciones espaciales permiten generalmente hacer ssnsiblcs Ia naturaleza real dos ytransformados por el hombre.55
de las relaciones geográficas, quesinestos datos pemiaiieierian ignoradas».
De su platonismo procede, como no podia ser menos, el orgnnlcismo
rltteriano.11 Pero en este autor tiene también, sin cinda, una base biológica, FínallSmo y determinismo cn Ritter
que procede de sus conocimientos deanatomia yfislologfa, adquiridos en
los cursos de GOttingen, y de la cual surge el impulso para realizaruna geo pe |a íonna yde las proporciones extrae Ritter muchas consecuencias so-
grafia comparada como ciência análoga a la -anatomia comparada-.'-' bte e! destino de los pueblos y de Ia humanidad. En esta via fue sin duda
Pruebas de esteprofundo organlcismolitleriano serían las repetidas alusio- |inpulsado por su concepción finalista de la historia yde la geografia, una
nes al cuerpo y a los miembros dei cuerpo terrestre, ai alma de! mundo, así
000000000PPPPP0PP19**C*Mffrtft
6S
KI1TER LA NATUHALEÍA V IA HISTOIIIA Í6 i;losciii,»v<.iim.i=. i.viAorooiuHAe:oríitMi-on.\Mr*
nción que —como va advirtiera Ratzel— le hace heredero espiritual afirmar que «el azar aparente que preside ladisposición relativa de las ma
ti°,| G Herder6" Como búen idealista ylerviente crlstlano. Ritter concebia sas de tierra reflc|a una ley cósmica supérieur que ha determinado
imundo como organizado según un principio de hnalidad yla historia necesariamente todo d proceso de desarrolló de la humanidad...''
' ..spresión de la voluntad divina. Aello hay que aftadir la tradición La disposición general de la superfície dei globo explica también d
C° mterpreta las características sociales yla variabilidad histórica apartii triste destino de determinados pueblos que no logran generar culturas su
ajUl,; Lçcjon dei medlo físico. Dichas Interpretaclones adquirieron gran periores. Es cl caso, en particular, de África, donde «las condiciones
•nuoitincia en la llustraclón como forma de explicar las desigualdades naturales y humanas han rehusado al cuerpo inarticulado de África toda
evidentes entre los pueblos. Ias cuales contradecfan las ideas sobre la per- indlvidualizaclón». Debido a su fuerte compacidad y escasa articulación. y
fección yla igualdad de la naturaleza humana. al hecho de que los contrastes climáticos se reparten regularmente a un
De todas estas raíces procede el llamado determinismo de Ritter. su lado y otro dd ecuador que lo atraviesa, «rodos los fenômenos de este in
nretenston de explicar los hechos humanos en función de los lenomenos divíduo terrestre(...) han conservadoun caracteruniforme y, sin embargo,
Tísicos Un determinismo que es una mezcia dei ambientalismo de Ia llus particular». Es ello precisamente«lo que explica porquê el estadoprimiti
traclón y dei teleologismo propio de las concepciones românticas e vo y patriarcal en d que viven los pueblos de ese continente ha quedado
fuera de los progresos y dei tiempo. porquê parece deber ofrecer todavia
' CJ No es difícil encontrar en la obra de Ritter textos de matiz claramente durante milênios un asilo a Ia elaboración de un futuro desconocido».
determinista, finalista o providenclalista. Textos en los que la naturaleza. Para Ritter, ese continente -presa dei inmosilismo-, solo conoce desarro-
bajo el mflujo de leyes cósmicas superiores determina d destino de los Uos colectivos y -las plantas, los animales. los pueblos y los hombres no
nucblos. predestina a unos al triunfo y al domínio y condena a otros al evolucionan en ella individualmente».*
l-imovillsmo yla sumisión. De hecho, Ritter expresa bien lempranamenie Las características diferenciadas de otros continentes explican d dis •s:
su confianza en que Regará un dia en que científicos «capaces de aprehen- tinto desarrolló de la civilización en ellos. Así, en Ásia la civilización ha
'cetde un solo golpe de vista el mundo natural y cl mundo humano» podido surgir en las articuladas penínsulas merldlonales, aunque el nú
estarán en condiciones -de predecir a partir de datos generales. Ia cadência cleo central dei continente -se ha encontrado privado de Ias ventajas
nccesarla a la evoludón de un pueblo dado enun lugar dado yque deber.a inheientes a sus artículaciones y de sus dectos-, por lo que esle «núcleo
ser filada yadoptada por este pueblo para que acceda a la prosperidad im- central dei continente asiático ha seguido siendo la pátria monótona de
nartlda por ei Destino eterno-." En parte, este es cl objetivo que se proponc los pueblos nômadas-, y las civilizaciones periféricas (China, Indochina,
cn su EnfltWHfai enel que expresa su preocupaclón de ver -d papel de los índia. Arábia) -no han estado en condiciones de propagar su civilizadôn
procesos internos de la naturaleza inmaterial o cortada dei exterior, en el ai interior dei continente»."
desarrolló dei hombre, de los pueblos, yde los Estados-.*"- Ritter considera Enel caso ele Europa, por d contrario, d núcleo central deicontinen
que la influencia de la naturaleza se deja sentir tanto sobre los pueblos te no constituye ningún obstáculo, y no consigut- aislar a sus miembros.
como sobre los indivíduos, pero más sobre los primeros que sobre los se Por ello,
gundos Los pueblos, al Igual que los hombres. «son la resultante de dos
componentes, una espiritual y la otra física., ytodos los pueblos -estan «este Indivíduo terrestre fueiteniente cnmpariimcntado que es Europn i™ podido
somelidos a la Influencia de la naturaleza, Incluso si esta no parece expre- conocer, por el contrario, un desarrolló armonioso y unificado, que ha condicio
saise-.'1
nado desdeei comienzosu caractercivilizador y ha cindo a laarmoníade lasformas
Ritter insistió siempre —como veremos— en describir elordensubya- el triunfo sobu- l.i potência de la matéria. El mas pequeno de los continentes esta
cente bajo el desorden aparente de la superfície dei planeta, y creyó ba, as(. destinado a dominar a los más grandes. Lo mismo que Asla (,..) estaba por
descubrlr ese orden como expresión de Infinitas fuerzas en interacción. su modelado vocado desde el orlgen a hacer nprovechar a los continentes veclnos
Estas fuerzas, identificadas con leyes cósmicas superiores, explican la dis- de sus riquezas sin por ello empobrecerse, Europa continente circunscrito a I,. zona
poslclôn de tietras en d planeta, lo que, asu vez. influye en el devenir de templada. finamente articulado, dotado deunrelieve a escala humana ydelonnas
la humanidad, va que, porejemplo, -el hecho deque los continentes ten- conilneniales y marítimas que se interpenetran, estaba particularmente predis-
gan superfícies diferentes explican la potência de los pueblos y la puesto (...) a aco-er lo que es extrarlo (...). SI se sabe- que la VOCaclón (...) se ha
poslbllldad que \cl es dada de dominados». Por consiguiente. cree poder encontrado confirmada anivel dela Idstoria universal, se sabe menos que eso esta-
* * 1 ->-* miiii))>nii>)U . i i i i - t i i i i i i i •>>"»>">>

r,s
rIUVSOrlA VCttNCJA i N LA CJEOOHMM e.o\t n.M,-'OilÃN£A
HnTCRi l-A NvrUltALLZA 1 U HISTORIA .7

en multltud de islas, ypor ello el desarrolló cultural yeconômico nopodia


ei- .ifiuna forma Inscrito en ella desde ioda la eternidad; se Mfflmy* el flAnOl produclrse.
rdtoal honibie europeo. mientras que este no le corresponde más que en jvr- Pero además, hay que tener en cuenta que Ritter conocia bien, como
hemos visto, Ia obra de Hegel, para ser matizado en Iaconsideración de las
te-.""
relaciones hombre-naturaleza. Como hombre de su tiempo, reconoce ex
•In aspecto quecontribuye grandemente adar la slngularidad aEuro- plicitamente que -laley que dirige el mundo dd espíritu es diferente a la
oa es»* forma, en la que se encuentra -el contacto y Ia penc-.ración que rige d mundo físico-" y considera que -en los" encadenamientos de
,v-tcroca más favorables, lo mismo que ei más perfecto equilíbrio entre las causa a efecto que la naturaleza yla historia nos muestran., es de prever,
ouòsiciones de las formas sólidas yfluidas al nivel dei globo terrestre..»' puesto que el planeta parece tener una vocación más noble revelada por Ia
cmo hace aue no se encuentren en este continente Ias desventajas de Ia continuldad histórica, una organlzadón superior que no será por tanto
"uerte articulación vdisgregación dcl archipiélago indonésio, ni la compa- puramente física. Esta organizacióndebe ser fundamentalmente diferente
rid-id de África, formas ambas que resultan -muy poço favorables para la de Ia de los organismos naturales [levados porel planeta».7'
evolución que hace salir a los pueblos dd estado de barbárie primitiva-. Por último, era difícil desconocer que d espectacular desarrolló eco
Frente aestos extremos. «Europa, lejos de inhibir. estimula-, por lo que nômico y tecnológico que estaban conociendo los países europeos desde
d siglo anterior permitia evadirse cada vez más de las servidumbres dei
.on tanto que indivíduo terrestre quizás aparentemente menos provlsto de dones médio natural. Por ello no esextrailo que junto al claro determinismo de
,,-wrate, Europa estaba, elcctivamenie, destinada aconvertlrse en el crls.nl de las los textos anteriores puedan encontrarse otros mucho más matizados, que
riquezas ylas iradlcioncs dei VleJO Mundo al mismo tiempo que un lugar prlvlle. podrían esgrimirse cn favor de un Ritter no determinista.
»iado para el desarrolló de la actividad Intelectual yespiritual propla para al.surher Unode los lugares donde ello puede observarse másclaramente es la
«S yeirgaribar el con|untode Ia bumanWadi-.*' comunlcaclón a la Academia de Ciências de Berlin en 1833. Al estudiar el
factor histórico en geografia reconoce explicitamente la disminución dei
Por último, el Nuevo Mundo posee también su destino. Por su posi peso de la naturaleza ante el progreso de la civilización:
cion marítima América dei Norte -estaba destinada a ser descubierta en
varias ocasiones por navegantes europeos y no por asiáticos-. La parte -Es evidente queen Ia influencia que hane|eicido implicitamente sobre laevolu
oriental, por sus características naturales (puertos. temperaturas templa- ción de los pueblos yde las cívilizaciones, las fuerzas naturales han debido aflojarse
das). «estaba desde el origen perfectamente equipada para acogü una amedida que aquellos progresaban (...). Hmundo civilizado, elmismo hombre, se
civilización de tipo europeo». Yensuma. -esta parte dd planeta, más .um desprendeu progrcslvamente de las trabas que les Impone lanaturaleza ysu mora
que Europa, estaba destinada aextender la civilización humana-."' da, la Tierra. Se puede decir, pues. que las influencias e|ercidas por las mlsmas
Frases como Ias que acabamos de reproducirpodrían reunirse en gran relaciones narurales y Ias mlsmas posiciones terrestres delos espacios construídos
número.'1 Sin embargo, conviene advertir que su determinismo innegable en el universo no han seguido siendo idênticas a si mlsmas en el transcurso de las
iue a veces librcmente acentuado por los traduetores a otros Idiomas, que edades-.'»
enocasiones incluian adjetivos. c|ue no estaban en d original, sobre la fa-
uilidud de ciertos desarrollos." Ritter facilita numerosos ejemplos sobre ello, yseííala, en particular,
Ensu examen de la relación entre médio físico y desanollo histórico como -los progresos de la navegaclón oceânica hanmodificado completa
no podia dejar de constatar que algunas tierras que parecían predestinadas mente la posicion de Ias tierras, de las islas y de los continentes en Ia
por la naturaleza para desempenar un importante papel en lahistoria de la superficie de la tierra»;" como los Alpes -han visto modlficarse sus relacio
humanidad no habían alcanzado gran desarrolló, como oturre por ejem nes con su medlo y se puede decir que esta grandiosa forma natural ha
plo conel conjuntode islas queseexttenden desde Ceilán a Nueva Gulnca, aflo|ado progresivamente su huella sobre la humanidad»;" como gradas a
situadas en una posicion planetária extremadamente lavorable. Sinduda, Ia geneiallzación dei vapor en la navegaclón fluvial, «los grandes rios con-
ello podia explicarse desde su propio razonamiento geográfico, esgrimien- tlnentalcs han perdido igualmente su longitud de antano: han pasado a
do una espede de umbral de articulación por encima dd cual los efectos ser generalmente seis o siete veces más cortos de loqueson efectivamen-
positivos de esta dejaban de actuar. Mientras que la articulación tierra- te>;" y como, cn relación con lodo ello,
mares era perfecta en Europa, Indonésiaresultaba exceslvamente dividida
r r
.....
armai W naturaleza v i.a histohia 70 FILOSOFIA V CIÊNCIA EN LA GEOGRAFIA CONTEMPORÂNEA
fuerzas naturales actlvas cn la superficie de los continentes, que habian estado Este cambio de la relación dei valor dd espacio para el hombre se
toncej lndómltas están hoy por doquier sometldas al hombre. Comparailvamen- debe esencialmente al desarrolló de la ciência y Ia tecnologia. Nuevos ins
'" la ilgldez natural dei espacio terrestre que se habia opuesto al establecimienio trumentos de medida y observación permiten ampliar d conocimiento
'1."relaciones espaciales fluidas, el domínio de las luerzas naturales ha significado sobre el planeta y extender el domínio sobre él, de forma que
ri dcsplAzamlcnto de las relaciones continentales hacia cl interior de las tierras
dortde los rios tienen precisamente su fuente-." -los progresos realizados en la comunlcación con el universo no solo han trans
formado las distancias vertlcales —altura y profundldad— sino lambién las hori-
Ritter no era dei todo original al senalar estos hechos. Ya antes que él *ontales en todas las direcciones (...). Aquello cuya existência no se sospechaba.
vntôn Frledrich Büsching (1724-1793) había ensenado que el transporte entrabade repente cn larealidad. Ioque eraInacceslhle seapruxluiaba, ylos Inter
âcuático podia liberar al hombre de la dependência de los recursos loca câmbios se multiplicaban-.*'
ies" Pero ahora,'con el tiempo transcurrido. esto puede anrmarse con
mayorcs datos. Apartir de aqui Riner concluye que en el curso de la histo Para Ritter es precisamente esta transformación dd espacio y de las
ria la naturaleza fisica. ei espado geográfico, ha tenido un peso variable: relaciones espaciales lo que permite caracterizar a la dencla geográfica
frente a otras que también estudian ei espacio:
Gradas alos progresos realizados por el hombre en el transcurso de los siglos yal
•lominlo que se ha «segurado asi progreslvamenie sobre Ia naturaleza. Ia natural* • Es en esta modifiración misma que experimentai! las relaciones físicas de nues-
a ilslca de las tierras puede adoptar y ha adoptado ya en realidad por doquier. y tio planeta bajo la acelôn dcl factor histórico donde lesiele la principal diterencla
especialmente eu Io que se refiere ala vida de los pueblos considerada en su con entre Ia geografia, entendida como dencla de las relaciones de conjunto de la
junto, formas yvaloies totalmente diferentes-." Tierra en la acepclón terrestre dei término, y las ramas constitutivas ele la astrono
f-i
mia»,"
Estas ideas Ias seguia manteniendo afios más tarde, yen d discurso de
13S0 explica que «el Inmovilismo mismo de los pueblos indolentes que ya que, frente al caracter inrnutable de Ias distancias cósmicas, las distan
habitan la reglón tórrida y superpoblada de Sudán, el de los pueblos que cias terrestres se han modificado, a pesar de estar «aparentemente fijadas
vlven en pequenos grupos en las tierras heladas dei norte, se explica ele Ia por las formas sólidas..."
misma manera.., es decir, por la influencia dcl médio: pero anade aconti- Influído por la idea de progreso y por su contianza en el elevenir de la
nuaclôn que estas características de inmovilismo no desapareceran -hasta humanidad. Ritter es consciente, por último, de que -el globo terráqueo
que Ia humanidad no haya descubierto los médios práctlcos de dominar está lejos todavia de haber acabado su desarrolló». y de que -el período
los obstáculos levantados por la naturaleza y liberándose de su inflnjo, histórico le reserva probablemente mayores câmbios de los queha conoci
dominaria tierra»." do durante la prehistoria»." La trascendencla de todos estos câmbios de ta
En Ritter aparece, incluso, claramente formulada la idea de la trans- ciência y de Ia sociedad estal que Ritter esmuyconsdente en 1850 deque
tormaclón dcl espacio físico y de las relaciones espaciales en función dei era toda la concepción de la ciência geográfica la que tenía que ser modifi
desarrolló de la ciência y la sodedad. En 1833 explicaque cada para que pudiera Incorporar claramente este elemento en las
relaciones hombre-naturaleza. Así en 1850escribía que a pesardd pesode
-en la construcclón y la organización que conocen en nuestro planeta, los espa los contrastesentre el Este y el Oestey de susfundamentos naturales. estas
cios. los períodos de tiempo, Ias figuras, las formas y los contenldos espaciales. oposlciones habian podido modificarse en cl curso de la historia -hasta
cuyo valor no cambia, no conservan las mlsmas relaciones en tanto que morada convertirse paralospueblos en solorelaciones recíprocas-. Yconcluye: «es
de1a Humanidad: enrealidad. losvalores relativos semodifican en eltranscurso de asi como los intercâmbios culturales han llegado a modificar Ias influen
los milênios yde los siglos. Por consiguiente. de siglo en siglo. de decênio en decê cias naturales eje-rcldas por los continentes yque hasido preciso repensar
nio, la naturaleza dei contcnldo material de los espacios aparecerá como diferente —con respecto a la antigOedad— los métodos de la Geografia»."
a losobservadores (.,.). Es un hecho que losespacios de la corteza terrestre ven que
su relación con cl hombre se modifica»."
>^ > 9 >1 1 11 >1111111***1*11*^ »11111****

M ;2 IIIOSOrlA VCIEKQA EN LA GEOGRAFIA CONTEMI-ORÂNEA


LA NATURALKÍA Y LA IIISIOUIA

Problemas de método en Ritter pales. fcs la npllcación de esta regia la que le conduce, como ya vimos, a
comenzai su Erdkunde con d estúdio de África, continente macizo y uni
fst.i preocupadón por discutir y volver a planteai los métodos de Ia gcu- forme que «constituye la forma más simple que conocemos-." La
sraffa es una constante en la obra de Ritter. En 1852 al reeditar diversos aplicacion de este segundo punto dei método no deja de suscitar interro-
textos metodeilógicos. confiesa que su obra tenía un objetivo claro: «pro gantes, pero esel que permite a Ritter justificar su forma de proceder. Asi se
mover una geografia cientifica esforzándose por introduclr en ella un procedera —escribe— «de las alturas hacia las llanuras, de las fuentes a Ias
método-." desenibcx.iduwis. de lavegetacion acuática a la vegetacion terrestre, o bien
Ias regias dd método científico a usar aparecen definidas explfdta- de Ias zonas frias o cálidas a las templadas, dela Influencia mecânica, quí
pientc por Ritter en 1818 en laIntroducción desu Enlkuiide."-' Se trata de un mica ti orgânica al conjunto de la vida; de la naturaleza al hombre y. de
método que no puedeserclasificador o subjetivo, sino que por d contrario nuevo de logeneral a lo particular, deiTodo a la parle, de loqueesabstrac-
debe ser objetivo y redudor o slmpllficador,'" con el fin de poder -icvelar el toy general a lo que es concielo y particular-.'"
caracter principal de las íormaciones de la naturaleza y de constituir asi un
sistema natural que trata de descubrir Ias relaciones fundadas sobre la mis- 3) La tercera regia es dasificatoria: «reagrupar las cosas semejantes y
tna esencia de la naturaleza», SI se quiere que la claslficación de los hechos análogas*. Io que, sin duda, es un recurso indlspensable para la compara
y el trabajo cientifico permita formar un sistema natural, debe hacerse ción. No hay que olvidar que este es un aspecto esencial de su método,
«guiada por un dt-rto número de Ideas directrices»; y Ritter aílüde resuelta- porque noen vanosubtítuloa su obracomo «geografia general compara
ntente: -sin este stock de ideas, estas hipótesis y teorias (...) d hombre no da-. De todas maneras, el alcance exacto deesta expresión ha sido objeto
llegará nunca a engendrar un Todo». Ymás aún: «la ausência de teoria no de discusión" y Beck ha realizado recientemente un intert-sante análisis
es una garantia de verdad y no protege en absoluto de la parclalidad».w insistlendo en que lo que realmente entiende Ritter por ella es la ordena-
Se trata también41c un método globallzador, no analítico, porque dón ycomparación de relaciones o descripeiones de países confrontando
-contrariamente a la que precisa, separa y distingue, la visión intuitiva de losdatosde unas y otras para ver sus coincidências o diferencias.»*
las cosas se presta mejor, por su naturaleza a las combinadones y a las
constiuceiones-." Ritter enumera de una manera precisa las regias funda Las regias 4 y 5 son más detalladas y consisten: 4) en esforzarse por
mentales de este método, que son las siguientes: " situar los hechos en su contexto histórico, y 5) en «conceder más Impor-
lanciaa laintensidad de un fenômeno que a su extensión territorial...
1) En primer lugar, hay que proceder de observación en observación, Estas regias son Ias que Ritter aplico en la composición dd plande su
y no de Ia opinion o la hipótesis a la observación. Por observación Ritter ErdKititde, y las que, junto con su concepción dd trabajo geográfico, dan
entiende los datos científicos de caracter geográfico (tales como viajes o originalidad a esaobraque por tantosotrosconceptos puede situarse en la
relaciones) o de caracter natural (observaciones físicas, meteorológicas.. ) línea tradidonal de las geografias universales de países.""En efecto, Ritter
que puedan rcnnirse. Ritter, a! contrario que llumboldt, utilizo sobre todo se p.-opuso realizar una obra de geografia de países, en la tradiclón de las
iniormaciones de segunda mano para la redacclón de sus obras. La más obras descriptivas y enciclopédicas que tanta importância adquirieron en
importante de ellas. la Erdkunde, trata de continentes que nunca habia visi el siglo xvm (Büshlng, Guthrie. Malte-Brun), y que por el caracter monu
tado. Pero Incluso en sus dese ripeiones sobre los países europeos que había mental que tenían, porsu larga vida y su súbita desaparición, Downes ha
recorrido (Prusia, Francia, Suiza. Itália), predominan las descripeiones a denominado -dinosaurios bibliográficos-. En d geógrafo alemán no apa-
oartir de lecturas y no Ias observaciones perSOnales; como ha senalado rece claramente esa distinción. a la que tanta importância se concederia
Kramci. usaba los ojos de otios mucho más que los suyos propios• luego, entre geografia general y geografia regional o análisis de las combi-
cualquier caso. lue siempre cuidadoso en citar Ias fuentes de estas observa naciones de fenômenos en una parcela de la superficie terrestre. Su punto
ciones, que enumera sistematicamente en Ia introducción de sus obras, e de vista ha podido ser considerado por ello como decididamente «excep-
impresiona también por el enorme esfuerzo bibliográfico que realizo. cicinalista... yaque la Erdkunde estudia la superficie de la Tierra en términos
de diferencias espaciales de fenômenos espacialmente asociados sobre
2) La segunda regia consiste en «proceder de lo simple y uniforme a ella, mientras que las distribuciones planetárias de fenômenos singulares
lo completo yvariado-, asi como de los aspectos secundários a los prlnci- —es decir. lo que para muchos geógrafos posteriores es d objeto de lageo-
9PPP0P0PPPPPP*P** r t M f r r r r f f r t f r r f f f í f r f í í cceeec
73
RITTER' LA NATURAl-fcZA YLA HISTORIA ....
TiLOSOFIA VCIÊNCIA TN l.s cr.oelRAílA CONTEMPORÂNEA
r «.neral- seria objeto específico de otras ciências.";- De hecho gráfica (17 de enero de 1828); sobre El factor histórico en la geografia como
grafia gcnt. ^ ^Hartshomc ySchmithenner. piensa que «la ciência (10 de enero de 1833); a La Tierra como factor deunidad entre la natu
l)iCk:rS°. r, ftribución de Ritter al conocimiento humano fue su idea de raleza y la historia en los prvductos de los três reinos de la naturaleza, o sobre
|,rÍ'1CK nes «W,
^ociac.ones régionalesw;de fenômenos terrestres
se csfoMÔ cn vários
pQr utüizar nivelesdesobre
untdades la
análisis una ciência delosproduetos de Ia naturaleza engeografia (14 de abril de 1836);
y Sobre Ia organización de la su perficie dcl globo y su papel en el curso de la
VUPfíieran alguii grado de permanência ypor mostrar denlace de unas historia (1 de abril de 1850).10J
Releyendo hoy estos discursos de Ritter pueden encontrarse no poças
"^SMESSSS **yde0»»
, de í unidad dd Todo terrestre -<elacionade con
la integración s"s ideas
los todos par-
Ideas que sorprenden por su gran modernidad. Destacaremos aqui sobre
todo dos de ellas: primero, su valoración de la dimension espacial y
JCf nor^Splo, los continentes) en d gran Todo planetário; ylo geométrica de la ciência geográfica; segundo, la preocupación por la bús
C'f T\,•unidades usadas, tiene que ver asu vez. con las discusiones queda de un orden y de leyes generales.
P22d íoor la«S £p** yla crisis de las unidades políticas ante La valoración de la dimension espacial y geométrica de Ia geografia,
Srecutnte" câmbios de los limites estatales afines de, siglo xv..,. provo así como de las relaciones numéricas entre tas unidades geográficas tiene
cados en particular, por las campanas napoleónicas. que ver, por un lado, con el platonismo dd autor y, por otro, con su interés
Inla claslficación que hizo de los continentes no partió de Ias unida- por la cartografia. No hay que olvidar que Ritter realizo numerosos mapas
5ftiras como era habitual hasta entonces. El único intento de dlvís.ón por razones pedagógicasy como llustración de sus obras geográficas.
ÍSSSS habia sido el de las cuencas fiuviales de lU.acne a La dcünición de la geografia como ciência dei espacio aparece ex
E d setecientos, el cual había tenido un origen esenc.almente plicitamente formulada: -las ciências geográficas —escribe— tratan esen
ZSSSml e ya ble tanrente-hidrográficas,
cartograncoy cia y
impugnado pory losutiliza
geólogos. Ritter re-
esencialmente cialmente dei espacio, en la medida en que se trata de espacios terrestres
C',adLTòSfi spen ba que cstaslnidades presentaban una dispo- fsea cual sea el reino de la naturaleza a que pertenecen y cualesquiera que
sean sus formas); se dedican a describir como las localidades se reparten
wííSíSSKS los continentes: altiplanos nucleares; montanas unas respecto a otras en el espacio y las relaciones que mantienen. ello
SãTSSSS radiales desde el núcleo, así como cordilleras en tanto en los aspectos más particulares como en las manlfestaciones más
t"eiSanS ellas: tierras hajas; áreas de transicion. En cada una de las generales-.'01 Una caracterización escrita en 1833 y que seguramente ni d
d"S ones efectuadas se es.udiaban una serie de aspectos que han seguido más exigente geógrafo cuantitativo de hoy dudaria en aceptar."»
tSSSSÍ en dmétodo geográfico: MMvJta^£*"""» -g*
cipales. población, así como la evolución histórica, si se conoce, ylas e
Ritter tehía una visión finalista dcl desarrolló cientifico y poseía una
. clara conciencia de la orlginalldad de su obra. Al igual que otros científicos
tapas de exploración ydescubrimiento. de su época (llumboldt. Lyell) pensaba que habia Ilegado el momento cie
dar un fundamento cientifico definitivo a la ciência que practicaba. desve
lando el verdadero objeto de Ia misma, el cual no habia podido aparecer
La dimension espacial yla búsqueda de un orden subyuccnle hasta entonces por la accion de obstáculos diversos. Piensa que
Las p.eocuoaciones metodológicas claramenterieflejadas yaen sus escritos «en virtud de su naturaleza específica, la geografia cientifica no podia nacer más
geográficos más tempranos se fueron afirmando yprecisando con el paso que de tomar en conslderadón distinta los hechos espaciales típicos aislados o en
dei tiempo, segíin-se afianzaba la dedlcación profesional de R.tlei aIa geo tc-laciònCOI1 los hechos relativos a los períodos —aislados también— en que vlvle-
££ Ata vezV avanzaba en la elaboración de los 21 <"*"»""»» ron los personajes históricos (...). Se desarrollaria despues hasta que, descubrlendo
maRna obra, dedico también atención aestas cuestiones en OS'diversoS supropio objeto —asaber, el globo terrestre en su conjunto y sus partes—apiende
discursos ycomunlcaciones que dlrlgió ala Academia de Clenc.a l«- a descubrir su vc-rdadera naturaleza. Entonces, de la descripcion habrla podido pa-
lin, referentes a los fundamentos dela geografia cientifica yque e « sar a la ley y llegm a ser, más que una simple enumcraclón, una ciência de las
dedicados aLer posicion geográfica yla extensión de los continentes - de 1,- relaciones terrestres espaciales (Verlialtnisslelire dei irdischcrfulltcn Hiitmie), una ca
ciembre de 182fi). aObservaciones sobre los médios que pennuen «££» dena de causaiidad ele los fenômenos terrestres locaies y generales-."*
«•/««-,*.« «pririi/es por lo /orma ycl número en el caso de la representauón
1********11*1 >> 1***11*911 ^^ Ii*9***iil*9i9%99
-

K
RITTER: I.A NATURALEZA Y LA HISTORIA « FI|US'"'U vCIÊNCIA RN LA QfiOOMlIa CONTEMPORÂNEA

Lu tarea de esta dencla podia aparecer ya en su tiempo de una mane dei Todo. la geografia no ha podido, pues. tratar de las relaciones yde Ias
ra clara y consistiria «enestudiar susrelaciones globales, esdecir, observar leyes generales. las únicas que pueden hacer deella unaciência v darle su
unidad*.
ms espacios, determinar sucontenido y la relación de uno a otro». El obje
to de lageografia cientificaaparece definido asi cn términos que reflejan d La utilizaciôn de un modelo de la superficie terrestre, como es ende
•o dei platonismo ritteriano: -la geografia científica debe interesar- finitiva ei globo terráqueo, ha podido permitir algunas dedueciones
se, pues, primero en Ias proporciones aritméticas de los espacios, es decir, generales sobre Ias relaciones espaciales, aunque todavia claramente insa-
tisfactorias:
cn Ia determinación de sus sumas, distancias y magnitudes; despues en sus
proporciones geométricas, esdecir. en Ia definlción desus figuras, sus for
mas y sns posiciones- " .Aunque la Tierra como planeta sea muy diferente de las represcntacloncs aescala
ti problema dd caracter específico de la geografia en relación con leduclda que conocemos de ella. y que solo nos dan una vislôn simbólica de su
otras ciências es abordado también por Ritter que opina que la geografia se modelado, hemos tenido que ayudarnos de esas minlatuilzadones artificiales dei
i sa en el contenido de los espacios terrestres -no desde el punto de -lobo terresrre para crear un lenguaje abstracto que nos permita hablar de él como
vista de Ia estructura, de la forma y de las fuerzas inherentes al material en un Todo. Es asf. en efecto, ynoinsplrándonos directamente de lá realidad icrres-
sí o bajo el ângulo de las leyes naturales a las que obedece-. Esto es más tre, como hemos podido poner apunto la terminologia de las relaciones espaciales.
bien el objeto de las diferentes ramas de las ciências naturales. Lageografia Sm embargo, como la reel matemática proye-cmda sobre la Tierra a partir de Ia bó
en cambio. -SC interesará más bien en ello bajo la relación dd desarrolló veda celeste se ha convertido asf en el elemento determinante, esta terminologia
diferenciado, de la esfera de extensión y de las leyes de expansión de estos I,a quedado hasta ahora Incompleta ynopermite hoy una aproximación científica
IO espadeis alrededor de la Tierra, fenômenos todos ellos a los que las dtadas aunconiunto estnicturado considerado cn susextensiones horizontales v verrica-
ciências nn se refieren más que nccidentalmente y que resultan de sus lesocn sus funciones».,Cv
8
combmaciones terrestres, lo mismo que de sus posiciones, sus formas, sus
dimensiones y sus distancias-. ' Ritter considera que Ia dencla ha permitido descubrir la simetria yel
Una segunda idea digna de resaltar es la preocupación de Ritter por o:den existente bajo el aparente desorden de lanaturaleza: -La asimetria y
mostrar la existência de un orden bajo el aparente desorden en que se pre la apariencia informe de las obras de la naturaleza desaparecem con un
sentan los fenômenos en la superfície terrestre, asi como su esfuerzo por examen en profundidad». Por ello se pregunta si solo d hombre seria el
llegar a Ias leyes generales de ese orden. En particular, en d discurso pro linico ser vivo que vivlria cn un medlo modelado por fuerzas ciegas ydes
nunciado ei 1cieabril de ISSO sobre Laorganización deiespaciole» la superfície ordenadas, y si habría que admitir que -contrariamente a todas Ias
dei Globo y supapel encl curso dela Historia, Ritter trata explicitamente esta ciiatutas que alberga, solo la Tierra estaria desprovlsta de esta fuerza crea-
cuestión aludlendo. de entrada, al aparente desorden lenoménico: dora que engendra una inerte estructura interna». Piens3 que no hay que
confundir apariencia y esencia. las impresiones de una cosa y Ia realidad
•l.oque noschoca al observar un globo terrestre es la arbilrariedad que preside d de ella o de un fenômeno, y concluye:
reporto de Ias cxiensloncs ele água y de tierra.Nadade espacios matemáticos, nin
guna serie de Ilueas rectas o de puntos {...). Ninguna simetria en el conjunto ..r.uamo mas avalizamos en elconocimiento de la distribúciôn espacial cn la su
arquitcctdnico de esc Todo terrestre (...). Si, ese Todo terrestre per/ecramente asi- perfície dei globo terrestre ycuanto más nos Interesamos. más allá de su aparente
métrico, que no obedece a ninguna icgla y difícil de aprehender como un desorden, .-.. Ia relación Interna desus partes, tanta más simetria y armonía descu-
conjunto, nos deja una Impreslòn exiraila y nos obliga a utilizai diversos modos liiimos, y tanto más |3S ciências naturales y la historia pueden ayudarnos a
deciasificaciôn para borrar laidea de caos quede él sedesprende-. comprender la evolución de las relaciones espaciales. SI gradas a la determinación
astronômica de los lugares, la geode-sla, la hidrografia, Ia geologia, la meteorologia
Este aparente desorden explica, según Riiier, que haya sidodifícil de- y1,1 tísica, han podido realizarse hasta ahota grandes progresos en matéria de or
ducir Ias leyes generales y que en lugar de ello los autores se hayan den espadai, queda aún mucho por hacer ypodemos esperar llegar aello hadendo
contentado con realizar descripeiones parciales, limitándose más a las par murvenlr on el estúdio de las relaciones espaciales nuestros conocimientos relati
tes constitutivas que a Ia apariencia global. Asf, -habiéndose contentado vos aIa historia de los hombres ya la distribúciôn local de los produetos de los três
hasta ahora con describir y clasificar sumariamente las diferentes partes retnOSdú Ia ii.ilnr.ileza». ""
PPPPt€PPP0000PPP0PPPP0PpPP0PPPP09P00PPPPPPP<€
5IHIH: LA NATURALEZA V I A HISTORIA 17
79 MLIiSOIlA VCIÊNCIA EN I.A GEOGRAFIA COMEMPORANEA
Ritter senala a continuación algunos rasgos generales dei globo: el
•oarto de águas y tierras, destacando la fuerte conceiitración de masas productividadyla rentade la tierra y las relativamente elementales consi-
ntinentalcs enet hemisfério Norte y la forma atilada de los continentes deraciones de Ritter sobre el orden espacial. El caracter y los objetivos de
•n el hemisfério Sur; la oposición entre un hemisfério marítimo terrestre una y otra obra explican sobradameiite las diferencias en este sentido,
lei noreste y un hemisfériooceânico dei suroeste,y como «la punta sur de pero también nos haceser conscientes de la finalldad esencialmcnie peda
Inglaterra constituye el centro dei universo terrestre-, lo que explica que gógica de Ia obra de Ritter y, en definitiva, de la geografia de la época. Y
.Inglaterra haya estado en todo tiempo predispuesta al domínio de los esta constataclón tiene gran Importância, porque precisamente fue esa
mares»; la existência de un cinturón volcánico circumpacifico; la oposi función cie Ia ciência geográfica la que aseguró su continuidad en un mo
ciónentre lasgrandes formaciones continentales e insulares, «que ha sido, mento en que Ia especialización científica había hecho aparecer diversas
cs. vseguirá siendo d fundamento sobre elcualse hadesarrollado la histo disciplinas que seocupaban de buena parte de lo que anles constituía el
ria de la humanidad»; la analogia entre lo que él llama las depresiones objetivo delageografia.
americanas y australianas. En Io que se refiere a la organización dei Viejo
continente, encuentra en él «la misma ley que ha presidido la constitu-
ción dd Todo terrestre»; esta ley se rcconoce «en la analogia que presentan
entre si las alturas, los desniveles y las depresiones-; también senala la Notas al capítulo 2
existência de un cinturón costero, en el que cuando hay formaciones ta-
hulares encuentra -confirmación de la ley según la cual los levantamlentos
de terreno alcanzan su máxima amplitud en d sudeste de las pendlentes 1 Entre los traWos existctes sobre la vida y 6 El general von Rúhlc estuvo al frente de
la obra de Pitei desucan los de Scti- la direccion de EStudlOS de la Escuda
abruptas que clescienden en direccion dei gran cinturón costero». Esta ley, mitlhencr. 1951, f Heck. II.. 1956y 1979. desde 181 ri y desde IS26 fue presidente
• permite atribuir a fenômenos semejaules las mismas causas y los mismos También cs úill la Intiodiiccion realizada de la Comisión de Esludlos Militares.
efectos-."1 poi Gis-nç-s Nicolas-Obadia cn la edielôn Fue autor de numerosasobras geográfi
Estas serian las cinco o seis disposiciones generales más destacadas de Ritter. iWbd capítulo coriespondien- ca» «• histórica], entre las que puedru
te de DickiiiiW. 1969; >• el articulo de Rit destacarse un Atlas histórico universal
que pueden identificarse en la superfície terrestre. A partir de abi, Ritter ter en Sllles, 19". realizado por F_ Pleeve. (1827), un esquema histórico de los esta
concluye triunfalmente: En 1979 con matlvo<l'l5cgundoccntciia- dos pruslnnos (1838). unos rudlmcntos
rio de su noclmlento se lian celebrado vn- ele Hlclrognosla (1839). uno historia de la
-Casiaba. pues, tratar de desrubrir bajo el desorden aparente los elementos de una ilosSimpósios «*"•• MtÇ geógrafo, cl Carl pátria alemana desde IpJ primeios tiem
armonia y de una simetria superior. Sin embargo, es verdad que, al no estar suficien RlnerSymposltimen BochUDl (|unio 1979) pos basta el siglo xvim (1S40). Realizo
cuy.is coir.umacion-s se encuentran en también gran númeto de mapas, enlre
tementeejercitado ei ojo, una p.-imera apreciación de Iascosas nos de|a incapaces de publicaciòn cnIascile Abhandlimgen und ellos uno oiohidrcgrafico de Sa|onia.
piesentír sus leyes. Esprecisamente porque eslá prendida en una red extraordinaria Quellen mi (jcschklile der Ceograplde und 7 Beck (1979, pig. 52): -Su actividad en la
mente compleja, que la naturaleza es demasiado matizada, demasiado mõvll; está Kosmohgie íPaelctiibornj. otro en Que- Real Escuela de Guerra y en la Universi
dlinburjjySctuiqifental, organizado por dad (...) le aproxlmaion mis a la Geogra
constituída por excesivamente numerosas Individualidades régionales para que la GcograpnisclicGeselIuhaft de la Repu fia que todos los anos que dedico a la
pueda ser comprendida al primer golpe de vista-. "2 blica Dtrr.círitlca Alemana, y un teicevo ensenanza domestica y a la publica cn oi
organizado çoi la Grogfjphlsche Ccscll». colégio de 1 r.inkfurl..
La modemldad de muchas de estas Ideas es evidente. Aunque llegara Chi/l de li«lí» W «a cludad. Lis más de 8 La primem edfclón sepublico en 1817-
40 coniunlcaciones ptesemadas a eit.u
a ellas a partir de estímulos diferentes, podría decirse que esta preocupa- 18en 2 vols. queserecdltaron eti 1822 y
reiiiiionis peunltlran ciiuncer me|or, sin que eonstliuyeion el punto de pailida ele
ción por Ia geometrlzaclón y Ia búsqueda de un orden espacial no estaban duda, IjcbrJ lWgrangcôgt.ifo alemán. Ia fdlclón definitiva de Ia Erdkunde. Via-
muy lejos de los esfuerzos que realizaba casi al mismo tiempo su contem 2 Beck, 1979, fip27.2S. Liuvp,} fueacompa- se la bibliografia de Sitiei preparada por
porâneo, el economista y hacendado johan Heinrich von Thünen fiada deunjxquitoalias de -seismapas de G. Nicol.i-Ob.idl3e incluída en Ritter,
Europa sobre porfiiciioiic-, geografia física 1974, pSfil. 243-247 y lambién Pio»,
(1783-1850), y que se reflejaron en su magna obra Der isolierle Staat (3 y poblacion Jcbj panedeiMundo- (J 806).
vols.: vol. I, 1826; vol. 11, 1850-1863; vol. III, 1863). Aunque también hay 196.1: Heck. H„ 1956 f 1979. pags. 78-
3 Bcn navid-Zlocroiver. EU. 1966. pi». 14. 108. Víasc también nota «9.
que reconocer que en otros aspectos hay una gran diferencia entre d refi 4 Ben Davld. 1WI.-d. 197-J. pág. M2. 9 Beck. II.. 1979.pig». 75-77.
nado aparato malemálico de las teorizaciones de von Thünen sobre la 5 SoliicsjaciiviilaildiKTOlcen ella. Beck. IO Como esetibe en su Olailo cn lolS-16,
H.. I979.pi-S.SH4I. Beck. 1979. pág. 110.
/
^i^i^m > > >>-* 1 ^ >>> i >> ^ >> ^ >>-*** v > ><*> ^ >>> > )nm

80 riujsoilA vcibni-ia,i:n ia gcúohafIa coniemporanka


79
NOTAS Al. CAITI-ULO 2

.14 RluerflílB», Ed, IK36. pág. 13. en tlon- 1980: y Slerra. Kl Geocosmos de Kltclur.
«cl fundador de la geografia toiup.iiada ,lt.JC ludiicc -l« giandcs partes», en lu -Geo.Ciftica-, n." 33-34, 1981.
nfíicoi^^baaia.eríHtiter. 1974,»»*». moderna- y conllesa c]uc a él -elebe la gar ele •continentes-: Ed, 1874, pig.46. 57 Rltier (1818). Ed. 1836. págs. l7-IS:Ecl.
?íi v2<", nOI«31. presenteobra babei adquirido su cohc- 45 Nleol-ii-Obadia.en Ritter. 1974. pág, IO. 1974. pág. 49.
...S.^iM.Obaiila.enlUtw. (974.pá* AdemU «itt«r nguló también cursos so
sion Interna (...). sin *l y sin su obia no 58 Ritter (1818), Dl. 1836, pág. 22; F.d.
.. i t oro í:
.,;.,,UM 8, en .974. pág. 56 y nota ,: habrf.i visto piolialilemcnie nunca I" bre pWflWweW Gottlngen en 1814, 1974, pág. 22.
cl Hitter, lS?6,pág-31,queti.iducc-ln- luz- (Ritlcr |181B|. lei 1836. I. pág. 76l Inl-irtinilole Jtibte iodo Sclilclrmaclicr 59 Rlller (1818), Ed. 1836. pág. 24: Ed
mtU„ mici.oi - cn lugar de-visión-. Ed. 1974. píg. 78). poiquf. "Sim '•'• iMbfli conseguido re- 1974. pág. S3.
, •: poi Nicolas-Obadia, cn Kitter, 1974, ?i; Cit. por Dlckiiisoii. 1969, pág. 37. cciniüH^obtianlsme: con la antlgde- 60 En el lesumrn ele la Historia de la Geo
,,',.. 34. uma II. Pestaio«l piopuso n 27 Ultlci (1818), Ed. 1974. pig. 55. cljci. .> Ciliifcun l'I.itón. Beck. 1979,pig. grafia. P. Ratzel escrlbló (1905. vol.. |,
Kitter Ia cliic-ciun de sucsníel.i d. Yver- 28 Ritter, Ed. 1836. pi" 10; Ed. 1974, pi» aj, Rlltcr cilaa Plaión cn varias ocasio- pig. SS) con referencia a la Importância
••on Al parecer d recliazo de esta pro- S6. Ailadc que piensa en particular cn la n-jeiisti0.1''"(Beck, 1979. pig. 110). y de la obia de Herder: -un primergran
pucíU pioviHi. l.i ititcrriiptióii de la anatomia comparada. VÔOSC mis atris cn IaEnttUHóe. donde alude al Tecteto progreso fue realizado por .1. G. Herder
págs, 65-67 Beck(1979. pág. S7J aflim.i (Itllici. Ed. 1836.1, pig.25)y a In -eterna Con sus ideas sobre la Filosofia de la Histo
BiiUnMtenM ambos. que -Rlllei califica su proyecto de jjeu- Tcirjctb" pllagorlca (ídem, pig. 9).
iSriose, 1960. riade la Humanidad (17S5) en la cual se
giafí.i (foiça, i-cio como (...) ic parece que 4f, Rilter (ISIS).-d-lí>74. píg. 121. levanta a la concepción de la Humanidad
!0 Heck. 1979, pag. MO- 47 Incluído cn Ritter, 1974. págs. 118-132.
17 U mcii" introducción ,i Pestaloxzl es, lo lisico excluyc lo orgânico, hubiera considerada como Ia pane mássublime
sinduda, Ia taeíttffl de Como Getlruüis preferido como deiiomlnadón d con Las dlW Jig-icm-s prneedende este lu- de la Tierra. Mamada a cosas cxcclsas, ex-
cepto dei fisiológico*. No comparto esta •:•'•
ji riose Indicalo contrario. tcndiéndose con Mis.consideraclones de
casfíuiii"»'"/«*(i«üD. Petoionl, Ed.
197*.
opinlâtl de- Heck.En cambio cs muy Ime- 48 Pesul"»' (1801). Ed. 1976. pág. 57 >• natuialez.1 escncialmente geográfica des
•8 Heck, 1979. pig. 34. icsaiitc la discusión que ícallza (págs. pigs- 7S451- de loa astros hasta los pueblos más hu-
.9 Heck. 1979, pigs.44y 123. 106-119) sobic d sentido exacto dr Ia 49 Comi'1""1"" """ rtc n",<;r c" "te mlldes >• desprcciüdos; Carlos Ritter reco-
20 Beck. 1979. pág-46. Por eleito, cl licima- expieslón -comparado-. sentl-ocon Ias de Pestalozzi (F.d. 1976. giô, como hemos visto, ei pensamiento
no lie su mu|er GuStflV Kramer (1864- 29 Cit. por Dlckinson. 1969, pág. 36. piS». 76*>)sotirr la ensenanza dd arte de Herder, y dio asi uns base cientifica a
1870) leallzó una biografia de su euftado 30 Cit, por DlcktnjOO. 1969. pág 36, de mcdli. la Geografia dei hombre-. Mis adclantc
utilizando sus DlatlovCarl Rlttei. EfnLe- 31 Rittei (18181. Ed. 1836, pig. 26: Ed. 50r^emplocleestai tcKicluii-s en su dtscutso escribe (vol. I. píg. 56) -Carlos Ritter
batsblld naelt selncm handschrifilichen 1974, pág. 54. solire Ia «Sanitaclónde! espacio (1850), adapto la concepción filosófica de Her
Naclihusmu#atetlt, Uallc. 2 vols.. 1864 y 12 Incluída en Ritter. 1974, págs. 132-150. rattet.i9M.pJ«-!86\ dei a la ciência geográfica de lospaíses y
1870,2.3 cd. ampllad.i 1875. En cila va 33 Sobre ella vcasc Sch.iellei (1953). EoV 51 Viase Cape'. OflBlfctel», fuego interior y a las aplicaclones pedagógicas-. Acerca
leta la pcrsonalidad religiosa y teológica 1974. pigs. 44-47: May. 1970; y H.iits- iciirim"'". •Geo-C.iitlci- a.' 27-28, dei pensamiento de Herdei vêase Mcl-
horne, 19S8. 19Ã0. Hegíl F"Jit:r también expresiones necke. 1954.
dcl geógrafo.
21 Ritter (1318). en 1974. pág. 48, 34 Rilter (Kd. 1974), pág. 132. clarj-itntf cifaniclstas, y cuando cn la 61 Rittei (1818), Ed, 1974.pig. 44.
22 Vr.ise C.ipel:I.a geografia como ClClCln 35 Ritter (Ed. 1971), págs. 132-133. EnddlfdBt de tas Ciências filosóficas rea 62 Ritter (1818). Ed. 1836, pig. 26, -corta
M.itemiltlca mlxta. eu -Gco-Crftica- n.' 36 Ví»S« sobre ello Cbatclcl, 1976. liza uncw*° "cl5-bcr humano consi- da- como -Indcpcndieiile dd exterior-;
30, 1980, pág. 27. 37 Rlltcr (1818). Ed. 1974. pág. 135. dewenire Ias ciências físicasa la geolo Ed. 1974, pág. 54.
23 Ritter (1518). Ed. 1974. pig 42. 3S Riltci (1818), Ed. 1974. pig. 136. gia. qi>< e»'"d" eíe -organismo- que es 63 Rilter. Ed.. 1974, págs. 42 y 43.
:-i Ittller (1818), Kd. 1974, píg 43. Viase 39 Sobre todo ello. víasc- Beck, H.. 1979. cl ^cue.'po cerresire». Véase sobreello 64 Rlltcr. Discursosobie la organUaciúit dcl
tamblcn llaitscboinc. 1946. pigs. 238- pigs. 32-33. U utilizaciôn poi Rittei de Ch)tc4t» 1976. espadoen la superfície deiglobo (1S50).
239 y Schmitthcnnei. 1951. liispilucipiOMOm.inllcoídc-|)olatídad- 52NkWtH»0»<*# »n RH"». 1974. pág. 251 Ed. 1974. pág. IS6.
25 Rltier y Humboldl se conoclcron cn c -individualldad- ha sido destacada por yiiüU 8. 65 Rilter. Ed. 1974. págs. 180-181.
t'807 Sobre sus icladoncs véase Beck. Pleeve cn Sllls. 1968 (atl. Ritter). 53 Ritter. EA 19W.P-S-1«*. 66 Ritter, Ed. 1974. pág. ISO.
l?7l, piRs. 101-407:y 1979, píg. 60. En 40 Pestalozzi rrató especificamente eloeste S4PatJlMl»S0»-!;d!"í;.P-«-S2. 67 Rüier, Ed 1974. pág. 182.
1N34-1835 llumboldl asisiló a clases de tema en ABC de la Intuicion (1803-1804) 5SRiltw,W.l»"-P-»-«- 68 Ritter. Ed. 1974. pág. 184.
Rillci en 11 Unlvcisidad elemosiiandoasl y f.itscfíuiuit Intuitiva de las relaciones nu 56 NlcoUi-OM"11- cn Rlller. 1974. nula 3. 69 Ritter. Ed. 1974. píg. IRS.
püblicamcnle su aprecio poi Ia olu» dd méricas (1803-1804), asi como cn su obia págs. 197-198. Pot deitoqueeleco de 70 Ritter. Ed. 1974, píg. 187. Rltier ariade
"cOgrafo. dcl qu. esciiblô cn d Cosmos pilnclpal Como Certiudls ensaia n SUS hl- "Iiciiet4puccv 'amblénen la visiOnque que -los obstáculosnaturalesque subsis-
(Ed. IR74. vol I). pig. 11, -estaba reserva- los (1801). caps. VI. IX y X. Víasc Pcsta Ri:tcr pset dcl fuego subterrâneo como ten scián superadosuna vezque la clvili-
do a nuestm tiempo y a ml pátria, vet lozzi, Ed. 1976. t,iv,,!:u(3 inlcrna dela lierra. como fue- zaciôn implantada habrã tenido tiempo
trará: a Culus Rittei cl uiadio de la Geo- •11 Rittei (1818). Ed. 1836, pig. 26: l.il coInitt'"" 1uí ** "'"e camino hacia la de de|ar aciuar sus técnicas-.
jirafía comparada en toila su extensión. 1974. pág. 54, iiipolii" Vim Ki""- 1974' ViS- 51; 71 Véanse pisr ejemplo otias similares cn
y en su Intima icladón con Ia historia 42 Rlttcr(l8IS). tel. 1974. píg. 45. IS36, pJá-2,-So,),e Klrcncr v*-sc Capei, Rltier. 197-1. pigs. 177. 180/182.
cvi hombre-. Pero Riitcr. poi su paite. 13 Rilter (1818). Ed, !83o. I, pig. 10: Eel OrMiifeò''«-. "Ceo-CfítlM». n.m 27-28, 72 Vt-asi- Nicolas-Obadia. en Ritter, 1974.
li il-.ía L-sctllocn ISIS que Humbuldi eu 1974, pág. 45.
P P P P P P P PP PP PP 0 00P P P000 000^ tPPPPPPPPP 00P P 000
NOTASAlCAlilULOZ 81
píg. 6. Cn texto eleeste tipo procedente 93 llllter (1H1K), Ed, 197-1, pi» 57: la Ed.
de la tradueción francesa de 1836 putdc ele I836, vol, |, pig. 31 Interpreta más
veise en Claval. 1974, pig. 50. llbiemeniecl lexto.
73 Rilter, Ed. 1974. pág. 184. 94 Rlller (1S18). Ed. 1836. pags. 32-34: Ed.
74 Kiucr, Ed. 1974. pig. 185. 1971, pigs. 57-SS.
75 Rilter, Ed. 1974, pág. 140. 95 Kramer, 1959. plg. 40''. VcsSfi también
7f» Riltei. Ed. 1974. pig. 142. sobiccIloFiccman. 1961, pig. 35.
77 Rlller. Ed. 19/4, pig. 141. 96 Rilter. Ed. 1974. págs. SR y 48.
78 Ritter. Ed. 1974, pig. 143. 97 Rittei (1818). Ed. 1836, í. plg. 34; Ed.
79 Rlltcr. Ed. 1974. pág. 144. 1974. pág. S8.
80James, 1972.pig. Mi. 98 Véase por cicmplo 1laiisliornc. The Na
81 Rltier. 1974, plg. 145. ture ofGeogmphy, 1961. pigs. 58-59.
82 Ritter, Ed. 1974. pág. 177. 99 Beck. 1979. pigs. 106-120. discusión
83 Rltier, Ed. 1974. pág. 136. sobre el sentido de la expresión -com-
84 Ritter, Ed. 1974, pig. 137. (sarado-.
85 Rilter, F.d. 1974, plg. 138. 100 Doevnes. por clemplo, cstudlando lus
86 Ritter. Ed. 1974, pág. 138. geografias de países dcl siglo xs-ni se ha
87 Rltier. Ed. 1974, págs. 145-146. preguntado si esos dos -padres de la
8S Ritter. Ed. 1974. pág. 178. geografia, el cientifico Humboldt y d
69 Ritter: Einleitungzur allgcuwiiu-n vaglcl-
historiador Kitter leprescman el nad-
chenden Géographie. und Abltandlungeii
nileuto de la ilustiación geográfica o cl
£urBegrundung elner mehr ivlcssejtscliafili-
clímax de las geografias unlversales-,
chen Behandluug der Erdkunde. Beilin,
Downes, 1971. pig. 385.
1852. Tradueción francesa de 1974, píg.
101 Dlcklnson, 1969, pág. 41. I.a expresión
37. Hay también tradueción inglesa de
-excepcionnllsmo- pioccde de Scliac-
W. L. Cage: Geographical StudU-s by the s
fer. 1953.
Late Professor Cail RitterofBerlin, Boston,
102 DlCkfnstm, 1969. pig. 45.
1861. Se trntu de una obia cn la que Rlt
103 Estos discuisos fueron luego icproduci-
ier reunió vários textos teóricos y entre
dos en su Einleitung..., 1852. opcll. noia
ellas Ia Intioducclón general a la Erdkun
de (Berlin, ISIS. 2 vols.). que habia sido
89.1'rad. fiancesa 1974. pigs. 103-194.
reliiipiesa también en la 2.' edición de 104 Rittei (1S33). Ed. 1974. pág. 132.
esta obra. De esic volumen de la Enlknn-
105 Compárese con lo que se dlce Infra, cap.
XII.
de existe una tradueción francesa de
IR36 que también he podido utilizar, y a 106 Ritter, 1974. píg. 135.
la que temlto en Ias citas, junto con la 107 Ritter. Ed. 1974. pág. 135. En 1850 es-
cdlclón de 1974, indicando los variantes cribla sobie la poslbilldad de usai cn
que considero dignas de icsaltar. Debe gcogiafía, -en acepciones muy próxi
scóalarse, por Ultimo que hay lambién mas c intcicamblables expreslones tales
una edición inglesa de la pane general como figurai geométricas, romboedros,
de la Erdkunde, ttadiicida por N. L Cage: triângulos, óvalos, etc- (Ed. 1974,
Compaiative Geography. Nesv-York-Cin- págs. 169-17n).
dnattl. 1864; Loneltes-Eellnlnirgh, 1965. 108 Rltlct, Ed. 1974, pig. 135.
90 Rlller (1818), Ed. 1836. vol. I. pigs. 27- 109 Rltier, Ed. 1974, pág. 166,
34: Ed. 1974. págs. 54-S8. 110 Ritter. Ed. 1974. pigs. 167-168.
91 -Deduetivo-. traduce Nicolas-Obadia. 111 Ritter, Ed. 1974, pigs. 172-174.
92 llitier (1818), Ed. 1836. I. pigs. .30-31; 112 Ritter. Kd. 1974. pig. 176. Ideas seme-
Pd. 1974. plg. 56. lnntescn píg. 185.
TEXTO 12

v-'?.-.-j -;;.. vVp)|?5


í"

Organizador: Manuel Correia


'••'• •-.-. ;;V • V;.-l. • . •'. 'I,
de Andrade
...-'•' --'••-'> •;»«-C,S7--»-v>.'»: - - - •'" •

.#«.1 •

2. A AÇÃO DO HOMEM COMO MODIFICADOR


DA§ CONDIÇÕES NATURAIS, DOMINANDO
E TRANSFORMANDO A NATUREZA *

' __ •:^'-.

.':.J i*?

?. -:•„ -'•.•»"•' i':i


--• -;W -T..,.,

289
TEXTO

Consultoria geral
Florestan Fernandes
Coordenação editorial
Maria Carolina de A. Boschi
Tradução
Maria Cecília França, Januário Francisco Mcgale c B. F. Ramiz Galvão
Revisão da tradução
N. Nicolai
Redação
Ildetc Oliveira Pinto e N. Nicolai

e
i ARTE

Coordenação
Antônio do Amaral Rocha
Arte-flnal
René Etlenc Ardanuy
h •
C j. »
Produção gráfica
Elaine Regina de Oliveira
Layout de capo: Eiifas Andreato

ISBN 85 08 00463 x

1985

Todos os direitos reservados


Editora Ática S.A. — Rua Barão de Iguape, 110
Tel.: (PABX) 278-9322 — Caixa Postal 8656
End. Telegrafico "Bomlivro" — São Paulo

í. •

..... -

290
p

p
p
p

p I
* i
P í

i. e
i

. íVA • l
* •
2. • A AÇÃO DO HOMEM COMO MODIFICADOR
DA§ CONDIÇÕES NATURAIS, DOMINANDO I
E TRANSFORMANDO A NATUREZA *

|)
I '
I. Reação do homem sobre a natureza — Exploração do globo — Viagens g
r- de descobrimentos — Ascensões de montanhas :
I- • • . . I
Durante a infância das sociedades, isolados ou agrupados em tribos
frágeis,,os homens tinham de lutar contra obstáculos tão numerosos, que
•não podiam sonhar em se apropriar da superfície da Terra como seu
. domínio: aí viviam, escondidos e temerosos, como os animais selvagens
das florestas; sua própria vida era uma luta ininterrupta: sob a constante
ameaça da fome ou do massacre, não podiam dedicar-se à exploração
r
da região e ainda desconheciam as leis que lhes teriam permitido utilizar
as forças da natureza. Mas a força do homem se mede pelo seu poder
de acomodação ao meio. À medida que os povos se desenvolveram em .
inteligência e em liberdade, à-medida que compreenderam melhor a ação.
dessas forças que os arrastam, souberam reagir sobre o mundo exterior,
p
cuja influência haviam recebido passivamente; foram se apropriando gra-
dativamente do solo e, tornados pela força da associação verdadeiros
agentes geológicos, transformaram de varias maneiras a superfície dós
continentes, mudaram a economia das águas correntes, modificaram até
mesmo os climas, deslocaram fauna e flora. Sem dúvida, entre as obras
p
que animais de ordem inferior realizaram sobre a Terra, as ilhotas cons- ,•!
p traídas pelos corais ultrapassam, em extensão, os trabalhos do. homem; •

* Reproduzido de Reclus, É. Réaction de 1'homme sur la nature; exploratión du


globe; voyages des découvertes; 1'ascensions' de montagnes. In: —. La Terrè. 4. éd.
P Paris, Hachette, 1881. v. 2, p. 667-88. Trad. por Maria Cecília França.
P
P
P
•?,.."-•V;-'--.

r-

r
r •.•**--*>". •"?*' 29|... • -•- - • •<•• • •
r
42 9
9
mas essas construções prosseguem através dos séculos de maneira unifor 9
me e nunca acrescentam um traço novo a fisionomia geral do globo: são 9
sempre os mesmos recifes, as mesmas terras lentamente emersas, como
bancos de aluviões fluviais ou marinhas, enquanto o trabalho do homem,
continuamente modificado, dá à superfície terrestre a maior diversidade
de aspectos e a renova, por assim dizer, a cada novo progresso da raça
humana, em sabedoria e experiência.
A primeira das condições para que o homem chegue um dia a
transformar compfetamente a superfície do globo é que ele a conheça 9
toda e que a percorra em todos os sentidos. Outrora, os povos selvagens
9
ou bárbaros, isolados uns dos outros, só tinham uma idéia quimérica
dos territórios situados além dos estreitos limites de sua pátria: nada 9
mais viam ali dó que um espaço ao mesmo tempo vazio e sem limites,
um mundo tenebroso e temido, povoado por monstros, mas onde o
.' próprio homem não poderia viver. Desconheciam completamente os traços
| .. „..- mais notáveis da superfície do planeta: os habitantes das planícies imagi-
b navam a Terra como uma grande campina contínua; os montanheses só
k" conseguiam representar as imagens de gargantas estreitas, escarpas e
cumes. Parece que se pode dizer o mesmo dos Zuni, que, vivendo longe 9
da costa, nos desertos do atual Novo México, ignoravam até a existência
do oceano; em contrapartida, numerosos insulares dos mares do sul não 0
sabiam que vastas massas continentais, estendidas sobre uma largura de 9
vários milhares de léguas, dividem os oceanos em bacias isoladas. Segundo 9
o testemunho de Franklin, os esquimós ficaram espantados ao saber que 9
em direção ao sul existiam terras livres de gelos; no equador, os ribei
0
rinhos ignorantes das margens do Amazonas acreditavam inocentemente
que seu imenso rio fazia a volta do mundo. 9

À medida que, pelas trocas, pelas viagens e até mesmo pelas expe 9
dições guerreiras, os povos passavam a conhecer os territórios uns dos 9
outros, foram relegando os monstros aos espaços misteriosos que se 9
estendem além dos limites do mundo explorado; o domínio dos conhe 9
cimentos aumentava ao passo que as regiões eram percorridas e os seres
quiméricos, duendes ou gigantes, que fugiam para o norte ou para o
sul, levavam consigo as superstições e os erros.- Por exemplo, os helenos,
cuja mitologia os representa nos primórdios lutando contra centauros e
dragões, só combatiam homens como eles no tempo de Aristóteles e 9
de Platão; é a centenas de dias de distância, do outro lado do Ganges
9
e das colunas de Hércules, na escaldante Líbia ou em direção aos montes
hiperbóreos, que eles situam os produtos fantásticos de sua imaginação 9
infantil. Na Idade Média e até os tempos modernos, nossos mapas-múndi, 9
assim como os dos chineses e japoneses, povoavam também com monstros 9

as terras desconhecidas; mas cada nova descoberta dos viajantes estreitava 9


o domínio da fábula, e bem recentemente os últimos seres míticos da 9
9
«j< v- •'' 9
9
.• .-•

9
. 2<>2

9
p

i geografia, os Niam-Niam com rabo, desapareceram enfim do centro da \


\ África. • \
Desde que o homem fez a volta ao mundo, isto é, há três séculos
e meio, os exploradores não precisam mais se aventurar num espaço
completamente desconhecido; basta-lhes unir os itinerários já traçados na
superfície do globo. Essa rede, com inumeráveis linhas que se entrecru-
i zam, recobre quase totalmente os grandes maciços continentais e se
: estende sobre toda a parte dos oceanos compreendida entre os dois
r- . círculos polares; somente em direção ao pólo norte, e do outro lado
—, - da Terra,-nas regiões antárticas, existem "ainda espaços com extensão
respectiva de 6 milhões e 900 mil e de 18 milhões de quilômetros
quadrados *, que as banquisas e as montanhas de gelo mantiveram, até
o momento atual, virgens de qualquer exploração. Esses espaços ainda por
i descobrir sobre as duas calotas do globo formam cerca de um vigésimo i
m, í da superfície terrestre, isto" é, um conjunto de regiões correspondente \
a cinqüenta vezes a superfície da França. Atualmente, alguns geógrafos
] pusilânimes têm expressado o receio de que essa extensão ainda bastante
considerável de terras e águas inexploradas fique para sempre desconhe
cida. Cook, o intrépido navegador do oceano Antártico dos gelos, afir-...
P-
mava que ninguém se aproximaria do pólo, nem o poderia mesmo, *^¥U-j
mais do que ele próprio o havia feito. Ele se enganava. Também Piga- v*e~to"' '\
P i fetta, em seu relato da grande, viagem que realizou com Magalhães, é
I, de opinião que "nenhum marinheiro seria, no futuro, bastante intrépido
j- para enfrentar os, perigos e os cansaços de uma nova circunavegaçãò".
t* \ é verdade que foram necessários 56 anos para que outro marinheiro,
\ Drake, conseguisse completar uma segunda viagem em volta do mundo;
r
I, hoje, essas façanhas não são mais levadas em conta, tal a freqüência
p | com que se realizam 2.
X A paixão com que os exploradores das regiões polares empreenderam
i' e não cessam de recomeçar suas viagens perigosas através dos gelos nos
^> t assegura seu futuro êxito; pois, enquanto os obstáculos permanecem os
•' mesmos, a experiência dos navegadores e os recursos da ciência não param .;
r de crescer. Desde a expedição ordenada em 1068 pelo rei norueguês
Í.Harald Hardrade, e desde a de Willoughby, em 1553, até 1870, 113
\. viagens de
!YlclgCIJ.aut exploração
CApuiai^au marítima
niuuiini.i foram realizadas nas
iisicuii itaiiiauao uao regiões
n,giuw boreais
l/s.».». ~"" 3,,
' sem contar inúmeras excursões científicas empreendidas na direção do
í pólo norte pelos navios baleeiros. Atualmente, cada verão assiste à reno-
[. vação da obra de pesquisa, e sempre alguma tripulação inglesa, alemã,
; norte-americana ou sueca procura abrir caminho através dos gelos.
• Recentemente ainda, foi na viagem em trenó realizada pelo viajante
~|
^ l Informação de Pelermann, 1868.
_ 2 Peschel, Oskar. Geschichíe der Erdkunde.
\ 3 Daly. Journal of the American Geographical Society, v. II, 1870.


p 1
1-59122
i
p **." :;: :...,.-.,. . .-,ry: ^-:- ..V---V.- •.:.:->V:^^^^
p
p
p " ' .
293 . . - - . . - : • -••-•--••... .''• ••"•.-"•• ••"--.•
9
9
44
i
Parry, em 1819, que o homem mais se aproximou do pólo norte, atin
gindo a latitude de 82° 45'. Em 1876, o inglês Markham ultrapassou
essa linha, avançando mais 65 quilômetros na direção do pólo, até 83°
20' 26". Quanto às descobertas ainda por fazer no centro das massas
continentais, na Ásia, África, América do Sul e Austrália, elas não pode
rão deixar também de se realizar proximamente; pois a maior parte das
dificuldades que ainda detêm os viajantes são de ordem moral e desa
parecerão pouco a pouco, graças aos progressos do comércio e da civi
lização. O pavoroso tráfico, devido ao qual os brancos se tomaram
detestados tanto no centro da África como na bacia do Amazonas, terá
um fim; as tribos, apaziguadas ou vencidas, acolherão os exploradores
e lhes fornecerão guias; grupos de colonos, avançando por etapas através
dos continentes, ligarão entre si os territórios habitados pelas nações civili
zadas. A cada ano diminui a superfície dos espaços desconhecidos que ain
da não figuram em nossos mapas, e centenas de heróis, destinados em
grande número a morrer obscuramente, procuram estreitá-los ainda mais.
Contudo, é preciso dizê-lo, nenhum viajante percorreu o antigo mundo
na sua maior largura através da Ásia central como o fez Marco Polo,
há já 600 anos. A mais vasta superfície que permaneceu virgem, até
nossos dias, dos passos dos exploradores europeus é a região da África
.situada entre as nascentes do Nilo, o grande cotovelo do Congo e o | fj
Benuê (rio do Sudão, afluente da margem esquerda do Niger), com
^
.cerca de dois milhões de quilômetros quadrados, ou seja, aproximada
mente a décima parte da superfície do continente4. *

Quando, enfim, o homem vier a conhecer toda a superfície do globo, ,


da qual se diz senhor, e a expressão de Colombo — El mundo es poço
[a Terra é pequena] — tiver se tomado verdade para nós, a grande
obra geográfica não será mais percorrer as terras longínquas, mas estudar
9
a fundo os detalhes da região em que vivemos: conhecer cada rio, cada
montanha, mostrar o papel de cada parte do organismo terrestre na vida 9
do conjunto. Desde já, é especialmente a isso que se dedica a maioria
dos cientistas, geógrafos, geólogos ou meteorologistas, e importantes insti-".
tuições vêm sendo fundadas em toda parte com o fim de ativar as pes
quisas locais. Elas se voltam sobretudo para as montanhas que elevam seus
picos resplandecentes bem acima das encostas habitadas, e onde nenhum
pé humano tinha ainda vencido as neves. A cada ano os alpinistas con
quistam vários desses montes inviolados até o presente.e mostram aos
amigos o. caminho que é preciso seguir para escalá-los; esses pequenos 9
espaços, alçados nas regiões glaciais do ar, assim como as vastas extensões »-*
da zona ártica e da zona antártica, não podem mais se subtrair às invés- —.
tigações do homem. Deve-se principalmente aos ingleses a honra de

4 Malte-Bron. Bulletin de la Société de Géographie, 1875.


i
i
!
• : 9

: 9
9
2-94 . ._. 9
r
45
r
r impulsionar esse grande movimento de exploração dos altos cumes. Já
r ! faz 125 anos que Pococke e Wyndham descobriram, por assim dizer,
o monte Branco. Desde essa época memorável foram também os ingleses
que, ultrapassando em zelo e intrepidez os próprios habitantes dos Alpes
suíços, e muito mais ainda os montanheses da Savóia, italianos e franceses,
escalaram mais vezes o monte Branco e os outros gigantes dos Alpes;
• foram eles os que estudaram com maior ardor o Mar de Gelo e as
diversas geleiras dos maciços ocidentais e nos explicaram a verdadeira
topografia dos grupos pouco conhecidos do Pelvoux, do Grande Paraíso,
do Viso; foram eles os que, ao fundarem o primeiro Clube Alpino, fizeram
r com que surgissem, posteriormente, grande número de sociedades do
mesmo gênero em diversas regiões da Europa. Enfim, não são também
eles os que acabam de estabelecer em Lahore um "Clube do Himalaia",
na esperança de um dia vencer, sucessivamente, todos esses grandes i
• picos da Ásia central, duas vezes mais elevados, que os colossos da • j
; Europa? -Cada fato novo, mesmo que seja a contribuição do mais obscuro
. pesquisador, acrescenta algo ao conhecimento do planeta e -nos faz pene- ,
irar mais intimamente no conhecimento dos seus mistérios. Como disse '
Rambert, referindo-se às geleiras, os verdadeiros poetas da Terra não
P
são somente os escritores e os pintores, mas também os cientistas que
P nos descrevem os fenômenos. c' • -í
r
p
r-
\
i II. Conquista da; Terra pela cultura — Irrigação dos antigos
1
e dos modernos ,j
P
P Muito antes de se apropriar do solo pela ciência, o homem come
çara a fazê-lo pela cultura. As tribos de caçadores e de. pescadores,
m ; assim como os pastores nômades, em nada modificaram o aspecto da
Terra, e, caso sua raça tivesse desaparecido, nenhum vestígio indicaria
r
SUS passagem pela superfície dos continentes; mas, desde que as famílias,
r estabelecendo-se permanentemente ao lado de vegetais nutritivos, apren
deram a plantar árvores, a semear grãos e frutos, a obra de transformação
foi inaugurada. Cada ponto da Terra em que plantas úteis ao homem,
tais como os cereais e às árvores frutíferas, substituíram os vegetais
r
derrubados pelo machado ou pelo fogo, se tornou um centro em tomo "Ji
r do qual as culturas se estenderam cada vez mais, e agora, graças ãs
r centenas de milhões de homens que trabalham sem descanso para incitar •;
r as forças produtivas do solo, imensos territórios perderam completamente -•j
sua fisionomia original. Pode-se avaliar em 12 milhões de quilômetros
quadrados, cerca da décima parte da superfície dos continentes, o con
r junto dos espaços cultivados pelas mãos do homem e distribuídos em
4P campos com contornos regulares.-NÉ verdade que a maior parte dessa
! vasta extensão é mais explorada por rima espécie de pilhagem do que
P |.
r

\
•:-,\
•;

P
P .-_-.*• • v. ---...-. ..• ,. -295- ««et» - .-...- - - •;• .: :•.-—- - —
i

46

seriamente cultivada. A população da Terra, avaliada hoje em um bilhão


e 400 milhões de habitantes, poderia facilmente dobrar sem que o solo
lhe faltasse, desde que fosse cultivado com inteligência.
Nas regiões em que as terras^ naturalmente salubres e férteis, não
foram ainda habitadas por populações numerosas, os agricultores só têm
o problema da escolha, e o solo que lavram é daqueles que produzem
sem que haja necessidade de fecundá-lo com adubos. Assim, nos Estados
Unidos, onde mais de 350 milhões de hectares de terras desocupadas
ainda estão à disposição dos cidadãos, os colonos só cultivam as planícies
aluviais, as margens dos rios, os pequenos vales regados por águas cor
rentes. Em contrapartida, nas regiões do mundo antigo em que o solo
fértil começa a escassear diante da pressão populacional, numerosas terras
que seriam desprezadas em outras paragens por sua infertilidade são
anexadas ao domínio da cultura e acabam por se cobrir de colheitas.
Não existem solos que o homem, pressionado pela necessidade e dispondo
dos imensos recursos da ciência e do trabalho associados, não possa
agora transformar em ricos campos: pela drenagem ele faz desaparecer
as.águas perniciosas que resfriariam a terra e apodreceriam as raízes das
9
plantas; pela irrigação ele traz, quando quer, a água necessária para o
desenvolvimento da seiva e dos tecidos; pelos adubos ele enriquece o
solo e alimenta a planta; por melhoramentos ele muda a própria natureza
do terreno. A agricultura, outrora praticada quase ao acaso, tende cada
vez mais a se tornar uma indústria científica; ela o será totalmente
9
quando as leis da química, da física, da meteorologia e da história
natural forem perfeitamente conhecidas. 9
Entre os grandes trabalhos já realizados unicamente pela tenacidade
do camponês, mesmo carente dos recursos da indústria moderna, alguns
são verdadeiramente notáveis. Por exemplo, existe algo mais sensacional 9
do que essas colinas das margens do Mosela e do Reno, do Ródano e do
9
Ardèche, ou esses montes da Provença, da Ligúria, do Ticino, da Toscana,
da Moréia, da ilha de Java 5, que, da base ao cume, estão contornados
por vastos degraus concêntricos, todos ocupados por culturas, vinhedos,
oliveiras, cereais ou cana-de-açúcar e palmeiras? A picareta e a enxada
demoliram rochas friáveis, e os detritos serviram para construir essa
imensa escadaria de muralhas, cada uma retendo, como o terraço de um
jardim, a terra vegetal e impedindo-a de escorregar sobre a declividade
do rochedo. Se uma tempestade cai nas partes altas, derrubando os ::;
muros e escavando as terras, logo no dia seguinte os camponeses se
põem a reconstruir os degraus, enquanto outros, mulheres com maior
freqüência, transportam com grande dificuldade do sopé da montanha, 9
cesto por cesto, a preciosa terra carregada pela tromba-d'água. Ao lado 9
li

desses monumentos prodigiosos do trabalho humano, não se mostram tão xi "*'•


;" *•
6 Junghuhn-WallaCE. Malay archipelago. t. I, p. 175. *y

296 . .
p

47
P -
impressionantes os célebres jardins suspensos da Babilônia, as três pirâ
f
mides de Gizé, cujo material empregado bastaria para erguer por toda
a África uma parede com 3 metros de altura, 0,30 metro de largura
e 5 600 quilômetros de comprimento, ou até a grande muralha da China,
na qual foram empregadas muito mais pedras e tijolos! °
As encostas dos vulcões mediterrâneos também oferecem notáveis
exemplos daquilo que pode fazer a vontade tenaz do agricultor, Nos
próprios flancos do Etna, cujo cimo se alça ao longe na região das
neves, vivem mais de 300 mil habitantes. Sombreado por uma multipli
cidade de árvores frutíferas, o solo dos campos é só lavas e cinzas; mas o
árduo trabalho de cada dia o transformou num jardim, que é a maravilha
da Sicília. O camponês atacou com fervor todas as rochas e as conquistou,
passo a passo, para transformar a superfície áspera em terra vegetal. Quan
do a montanha vomita sua lava sobre as culturas e as aldeias, simplesmente
interrompe-se o trabalho agrícola. As famílias conservam religiosamente
seus títulos de propriedade, como se a propriedade não tivesse desapa
recido; depois, após certo número de anos, quando as lavas resfriadas
estiverem recobertas aqui e ali por placas de liquens, o cultivador põe
mãos à obra para utilizar as mínimas fendas da rocha que se prestem
; à cultura. Certas lavas compactas, mormente do tipo da que destruiu
parte de Catânia em 1669, são cortadas com singular lentidão; para
poder cultivar as escórias superficiais no decurso do mesmo século, é
necessário esmagá-las e misturá-las com terras já férteis; o trabalho afinal
P
chega ao término: os jardineiros ali introduzem brotos de cactos, que
se desenvolvem rapidamente e escondem a terra avermelhada sob a espes-
:, • sura impenetrável de seus caules espinhosos, brilhando ao sol como se
fossem raios metálicos. Figueiras, arrastando-se sobre o solo, deslizam
suas. longas raízes nos interstícios da rocha. Em certos locais, a própria
videira consegue viver e dar frutos em cima dessas escórias duras, que
mais parecem blocos de ferro. Outros tipos de lavas, por causa da friabi-
lidade de seus cristais e da. quantidade de cinzas trazidas pelo vento, se
prestam a uma cultura rudimentar no espaço de alguns anos. Tal foi o
caso das lavas de Zaflarana; expelidas em 1852 e em 1853 e em cujas
concavidades os habitantes das aldeias vizinhas já plantavam giestas cinco-
anos após a erupção 7. Friáveis ou duras, as lavas terminam por se trans
formar em hortas e pomares. Tão perseverantes como as formigas, que
' :• reconstroem incansavelmente seus formigueiros destmídos pelo pé dos
andarilhos, os camponeses do Etna recomeçam, século após século, seu
^ v trabalho obstinado; sobre cada rio de pedra que recobre seus campos,
estendem outros novos, não menos verdejantes do que foram seus poma- il
;•; res desaparecidos.
Pi • - • ' • .
" Í:" 6 Kolb. Culíurgeschichte. t. I, p. 69. «

P* 7Lyeix,
" Charles. Philosophic transáctio.ns. 1858. . |

• i

I
P i
- . • . ...;;, .•:.-.•• •-..• ::.:::. ^: ^:&-.'?#.*-*^&
p
p

297 - • • - .- :.- * •-.'.."" ••'• " " "" "


p
^

*
i *
48 •
^

No emprego inteligente das águas correntes para a fertilização do .9


território, os agricultores modernos ainda têm o que aprender com os •;i
antigos. De todos os trabalhos agrícolas que modificaram a face da Terra, .9
os canais de irrigação concebidos e executados nos tempos passados são ••
os mais grandiosos. Os egípcios — cercados pela areia do deserto e, por •9
assim dizer, com sua alma nessa aluvião do Nilo, de onde teriam surgido •

seus ancestrais segundo suas crenças — fizeram das irrigações seus gran •:
des ritos sagrados; seus reservatórios, cavados para o aproveitamento das . :9
águas de inundação, não exigiram menos trabalho qüe as inúteis e faus- '.0
tuosas pirâmides. í •_ • '9
Entre os grandes empreendimentos no gênero devidos à indústria
i
moderna,- nenhum ultrapassa em ousadia de plano e em utilidade prática •

o merí (bacia) ou lago Moeris, aberto às águas do Nüo no reinado do '9


>

faraó Amenemba III, há mais de 4 500 anos, segundo a cronologia de ,9


M. Brugsch. De acordo com os detalhes topográficos deixados pelos
autores antigos sobre essa maravilha do mundo, sabia-se que a localização § •
do Moíris, cujo nome, de origem copta, significa mar, devia ser procurada
na atual província de Faium. Ora, existe um lago considerável, o Birket-
I
-el-Keroun, na parte mais baixa da província e, como se conhecia pouco I

a geografia dessa parte do Egito, era natural ver nesse lago a antiga
bacia dos faraós. Alguns geógrafos, sobretudo M. Rosler 8, ainda acredi
9
tam nisso; contudo, o estudo dos locais parece provar o contrário. De
fato, o Birket-el-Keroun está situado numa depressão profunda, quase
ao "nível do mar e a mais de 16 metros abaixo das águas médias do
Nilo; não é portanto, a menos que tenha sido drenado de forma extraor
dinária, o reservatório que alternadamente recebia as águas superabun-
dantes da cheia fluvial, que eram distribuídas por duas vastas portas,
9
como diz Estrabão, nos campos ribeirinhos do Nilo. Aliás, a posição desse
lago difere bastante daquela que os antigos geógrafos indicavam para
o Mceris. Após um estudo aprofundado da área, o engenheiro Linant
de Bellefonds julga ter descoberto que o grande reservatório se encon ;. 9
trava precisamente na parte mais elevada do Faium, a oeste da garganta
rochosa do Ilaum, onde passa uma derivação natural desse Bahr-Yousef, :9
que foi provavelmente, em época geológica anterior, a principal corrente \ .9
do Nilo. Restos de diques, que em certos locais atingem 9 metros de . 9
altura e 60 metros de largura, elevam-se ainda na parte oriental do Faium.
Se a verdadeira finalidade dessas constmções foi mesmo descoberta, as
paredes.encontradas por Linant teriam formado, outrora, uma muralha
semicircular ná entrada da grande bacia dos campos do Faium, retendo 9
as" águas trazidas pelo Bahr-Yousef.
Linant calculou que, durante os 100 dias de cheias, esse braço do
rio, que representa em média a vigésima oitava parte do Nilo, vertia na

*Ausland, n. 3 e 4, 1868. 9
t"
0
•1 9
?•

9
298
9

i
49
r •
bacia 356 metros cúbicos de água por segundo, e que a massa -líquida
total aprisionada no gigantesco reservatório, levando-se em conta a evapo
ração, era de 2 820 milhões .de metros cúbicos. Erà o suficiente para
diminuir notavelmente os perigos das elevadas inundações do Nilo e para
0 fornecer, em seguida, a água necessária à irrigação de 180.mil hectares.
Segundo o testemunho de Heródoto, o excedente das águas era dirigido"
. para oeste, em direção à Sirte da Líbia; isso significa que, após ter
atravessado o atual lago Birket-el-Keroun, ia encher o leito de um canal
agora dessecado que transportava as águas do Nilo aos desertos do
• oeste. Ainda hoje o Faium possui magnífico sistema de irrigação, compa-
t'_. rável às ramificações dfis arteríolas e dos vasos sangüíneos; mas há 45
séculos o lago Mceris, cujo nível mudava continuamente, de acordo com
; as necessidades da agricultura, era como um coração de onde a vida se
,| espalhava em ondas, para alimentar o grande corpo do Egito até Mênfis.
i:: Hoje, do Mceris só restam diques rompidos, algumas ruínas das duas
!*) pirâmides construídas nas águas, em homenagem a Amcnemba, e uma
?* j-' espessa camada de aluvião depositada ao sul da bacia pelas águas bar
rentas do Bahr-Yousef °.
P
Na Europa, o Pó é o rio que melhor se compara ao Nilo dos antigos,
P
pelo cuidado com que suas águas são utilizadas para a fertilização do
solo. Já em 1863, os agricultores lombardos lhe retiravam 45 milhões
de metros cúbicos de água por dia para regar suas culturas, ou seja, maisÂ-
de 520 metros cúbicos por segundo, massa líquida igual ao débito médio .
do Sena 10. Desde aquela época, foi aberto ainda o grande canal Çavour,
i verdadeiro rio artificial que retira sozinho 110 metros cúbicos-de água
<- li por segundo. Iniciando-se em Chivasso, a jusante de Turim, esse rio,
com 50 metros de largura na origem, distribui à direita e à esquerda
suas águas fertilizantes nas já bem férteis planícies da Lomellina, recebe
numerosos afluentes na sua passagem — o Eivo, o Sesia, o Agogna," o
r
Terdoppio — e depois, na altura de Turbigo, verte no Ticino o que
ainda lhe resta de água, após ter irrigado, no seu percurso de 85 quilô
metros, mais de 200 mil hectares. Com o grande canal do Ganges, no
Industão,é o maior trabalho do gênero efetuado nos tempos modernos.
É possível que o Pó, tão temido outrora por suas enchentes repentinas,
ou fúria, afinal se torne, como outros rios da Lombardia, um conjunto
r sabiamente administrado de canais agrícolas. Aliás, toda a Itália do Norte
I.
; é uma terra clássica para a arte das irrigações, e os maiores artistas e
r V. sábios — Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo, Galileu, Torricelli —r-
estão associados à história dessa parte da agricultura.
r Hoje, a obra prossegue com grande atividade em todas as regiões , J|
p do sul da Europa, no Industão e em muitos outros países do mundo \p
p
0 Linant de Bellefonds, Mémoire sur le lac- Mceris. '
1k
^ '. loLoMBAR0rNi? Elia. Politécnico, jan. 1863/ apud Marsh, P. Man and nature. ;|%
P 1
' m

P !!í

-"--'-v5f
. -.:;:•;.':• ••-.••-.. \-" :. ;>:. V; Y.X-'-V ;-.:v.i:,'.,:..^':,:j.^;;.: 'jf^^^iW^^^^''*^^^-

r '299 ••.•••' --.- -. ...— •-...-: - .-


r
9

50

que sofrem com as secas. Antes de entrar nas planícies, quase todas as
*>
torrentes do Piemonte, da Provença, do Roussillon e da Espanha medi
terrânea são completamente desviadas para os campos, e somente por *

ocasião das chuvas ou do derretimento das neves é que os leitos pedre


gosos se enchem de água suja, que a terra ávida logo absorve. Grandes
rios como o Ebro, o Pó, o Durance, utilizados na irrigação, empobre
cem-se a cada ano; escapando ao seu vale de montanhas, o Ganges
libera seis sétimos de suas águas para o canal de irrigação que rega as
planícies do Duab 1X; mas em compensação essa massa líquida, contra 9
balançando o efeito das secas, permite que três milhões de homens sejam
salvos da fome e da morte. No rico delta do Nilo, 50 mil poços de rega
não param de funcionar, às expensas do rio e de seus canais 12. Caso se
concretize a ambição dos agricultores, os rios acabarão por desaparecer 9
completamente.
Não é só á água das torrentes e dos rios que os agricultores devem
utilizar para aumentar suas colheitas e fecundar o solo: também o húmus
e os detritos de toda espécie, arrancados pelas águas às suas margens 9
9
de jusante. Tomemos o exemplo do Durance, o rio francês mais seria
mente estudado, cujas águas e aluviões são as mais empregadas na irri
gação e colmatagem dos campos vizinhos. Os 18 canais alimentados 9
por essa torrente podem lhe subtrair até 69 metros cúbicos de água;
quando isso é feito de uma só vez, restam 23 metros cúbicos de água
tão-somente no leito do Durance, ou seja, um quarto do débito normal. 9
Segundo as observações de M. Hervé-Mangon, de 1 de novembro de
1859 a 31 de outubro de 1860, a massa de aluvião carreada pela tor 9
rente representa, num ano, cerca de 18 milhões de toneladas e de 11
9
milhões de metros cúbicos. Para ter uma idéia do enorme volume de
9
aluvião arrancado anualmente pelo Durance dos terrenos superiores de
sua bacia, figure-se essa massa sob a forma de um cubo de 220 metros 9
de lado: depositadas sobre o solo, essas aluviões recobririam, num ano, 9
mais de 100 mil hectares com uma camada de um centímetro de espes
sura, contendo o que há de mais conveniente para as raízes das plantas, 9
mais azoto do que 100 mil toneladas de guano e mais carbono do que
49 mil hectares de florestas. Infelizmente, os canais só funcionam para
a irrigação; nove décimos das aluviões são perdidos para a colmatagem, 9
e os cultivadores compram, ao preço de vários milhões por ano, os ele
mentos de fertilização que o rio carrega para o Mediterrâneo, quando m
seria tão fácil aproveitá-los. No entanto, como dizia o grande Torricelli,
"as aluviões são mais valiosas que as areias de ouro".
Aliás, hoje as águas superficiais não bastam para a irrigação das
terras. Através de poços, o homem procura a água existente nas profun-
9
11 ScHLAorNTWErr, H. Reise in Indien. t. I. 9
12Fraas. Aus dem Orient. p. 207.
9.
9

i|
.9

m .
r

51
r
dezas e a força a voltar à superfície, para regar as plantações; isso foi
feito, com o maior êxito, na Argélia, quer para aumentar os oásis em "
extensão, quer para criar novos oásis, e sem dúvida o mesmo ,pode ser.
feito em outras- regiões, onde o solo árido esconde lençóis subterrâneos.
r- Isso não é tudo: essa água, desviada do seu curso natural ou que se
faz jorrar do fundo da terra, não age nas plantas trazendo-lhes apenas a J
umidade necessária; ela age também pelos adubos que lhe são acrescen
tados. Nos campos onde se espalha, distribui as aluviões arrancadas de
p
formações de natureza diferente e assim mistura os solos, em proveito
da vegetação; ela transforma, por colmatagem, terras naturalmente infér-
teis em excelentes para a cultura. Com jatos de água habilmente dirigidos
os mineiros califomianos derrubam altos taludes de areia ou de seixos,
para recolher partículas de ouro levadas pela corrente; do mesmo modo,
podia-se reduzir a detritos numerosos rochedos dos Pireneus, para trans
r
portá-los em canais üe colmatagem e reparti-los, em aluviões tão preciosas ~JÍ
como o ouro, sobre as areias inférteis do Landes I3. Essa idéia do enge- **
nheiro Duponchel não é uma quimera. Recentemente, M. Bazalgette l&
provou o que o homem pode tentar, fazendo aparecer, como por magia,. ^
magníficas pradarias sobre as areias puras do litoral, regando-as com •*=-*
águas de esgoto procedentes de Londres, a 70. quilômetros de distância.
O químico Liebig afirmou que a praia nua se recusaria a produzir um
broto de erva; com razão,, sua previsão não foi aceita sem ser submetida
a uma experiência, pois as. areias condenadas por ele podem dar, ao ano,
seis a nove cortes de uma gramínea saborosa.
t

. •

III. \ Cultivo dos pântanos — Drenagem do solo nos campos e nas cidades

Pela irrigação, o agricultor conquista as terras áridas, tais como


p
as areias das charnecas, as argilas do deserto, as escarpas rochosas; pela
drenagem, ocupa as terras inundadas que nada produziriam e as transa
forma em magníficas hortas. As turfeiras e os pântanos se transformam,
por seu trabalho, em terras muito férteis; dá-se o nome de maráichers 14
l; aos horticultores que, nas vizinhanças de nossas grandes cidades, sabem
r
como fazer crescer a maior quantidade de substância vegetal num peque
níssimo espaço de terreno. Cada uma das etapas da humanidade — na
r Itália, nas planícies da Gália e da Germânia, no solo inundado da
Batávia, na Grã-Bretanha — só se tornou possível pela drenagem, e
saneamento do território; cada retrocesso parcial da civilização, como

13 Landes é um departamento francês formado por parte da Gasconha. Seu nome


se deve às planícies arenosas que colarem dois terços do seu território. (N. do T.)
14 Maraicher — Diz-se também da horticultura (cultura intensiva) feita cm solos
I . pantanosos. (N. do T.)

Pi
pê -••;... -. •:.-. .-•.:.:..;.. ;•,.-.-.. • • .-••.-;. . ....;....... s.s... - •, •. -._......_...
••,-•.:, .,...:.vv.-.--.-.—."-.V-^.í..;'.'.':"?-.'..--."----" .S'-•,"£
:-- ::••: •- ..- ••..•.•-.••.-.- .::.--.;•'..•?.-.- •• .,- .... v.^....ll-çí/-.-:-:,.- -••:;. •• .-.•-• ••
p "

P •- " •• - •;••-. ..••... 30T - •-••• • .--••'. "• .....-.-- .-.. ,.,.--^..^-..;.. .;.
9

9
9
52
9
se pode ainda ver em tomo de Cartago, de Siracusa e de Roma, é
%
evidenciado por uma nova invasão dos pântanos outrora conquistados.
Atualmente, quando os trabalhos de colonização atingem tão grandes
proporções, o principal trabalho dos pioneiros — no Mitidja, nas margens 9
do Mississippi, nas costas da Colômbia, das Guianas e do Brasil, nas
ilhas de Sonda e no litoral da África — não é consolidar o solo e puri 9
ficar o. ar, para acrescentar um novo domínio aos já possuídos pela
humanidade? Eis uma obra que custa, a cada ano, grande número de 9
vidas; cm diversas fplanícies, hoje ricas de culturas, morreram mais .-.

pacíficos agricultores no esforço da conquista do que soldados nos campos 9


de massacre, como Leipzig e Sadowa; mas tudo cede à paciência, e, cedo 9
ou tarde — graças ao crescimento das populações humanas, aos progres
9
sos de suas indústrias, à associação de suas forças —, as margens panta-
nosas do Amazonas, as lagunas do Paraguai, as terras submersas do 0
lago Chade, os áunderbund do Ganges e do Bramaputra se tornarão
campos salubres. Sob todos os tipos de clima prossegue essa obra de 9
organização da terra. Na Nomega, onde a superfície das terras aráveis
era só de 2 800 quilômetros quadrados em 1866, os agricultores vêm
conquistando anualmente, aos pântanos e fiordes, mais de dez mil 9
hectares15. 9
Atualmente, os cientistas propõem estabelecer abaixo da superfície 9
do solo um. movimento circulatório das águas análogo ao realizado pelas 9
nuvens e rios no ar e na superfície das terras. A água que se eleva do
9
mar sob a forma de vapor se movimenta no espaço para se precipitar
em chuva e voltar ao oceano pelos riachos e rios; mas o agricultor se m
apropria da água que retorna ao reservatório dos mares, repartindo-a em 9
canais, depois em pequenas redes de irrigação, distribuídas nos campos
do vale c no flanco das colinas e montanhas, e até mesmo nos planaltos
9
elevados. A água, assim dividida em ramificações numerosas, penetra no
solo em toda a superfície do território; como uma segunda chuva, ela 0
refresca e nutre as raízes das plantas. Sua obra útil encerrou-se: se per 9
manecer mais tempo na terra, será funesta para a vegetação; afogará as
pequenas raízes e fechará os poros através dos quais penetra o ar exterior.
Assim, a irrigação pode ser fatal onde o subsolo não possui, como
na superfície, uma rede de condutos que livram o terreno da umidade
superabundante. A água se filtra gota a gota nos pequenos tubos de dre
nagem, que depois se reúnem num conduto maior, c, aumentando pouco
a pouco ao longo do seu percurso, o riacho invisível vai, de tubo em
9
tubo, se jogar num rio ou no mar. Este é o imenso trabalho de canalização
subterrânea que os agricultores empreendem simultaneamente em inú 0
meros locais, do qual resulta a modificação lenta mas segura de todas as
condições hidrológicas e climatológicas do solo. A drenagem dos terrenos
9
13 Frxsch. Informação de Petermann. XI, 1866. !
9
I 9
%
9

302
P

53
P
se opera da forma mais grandiosa nas regiões úmidas da Europa civili
zada, principalmente na Grã-Bretanha; só na Inglaterra, a extensão de
todas as galerias de drenagem é de dez milhões de quilômetros,' ou seja,
250 vezes a circunferência terrestre. Infelizmente, os interesses parti
culares e a falta de iniciativa e compreensão da maioria dos proprietários
não permitiram que essa obra fosse realizada de acordo com um plano
geral: cada qual trabalha no seu campo, sem se preocupar com o vizinho,
e freqüentemente tais drenagens parciais têm engrossado os rios e trans
formado em pântanos os campos situados mais abaixo. Cedo ou tarde
esse imenso empreendimento de aeração e secagem do solo deverá ser
recomeçado sistematicamente, para poder aplicar-se inteiramente a cada
bacia fluvial. Só então a rede artificial da drenagem poderá comparar-se
à rede natural das águas correntes: ao circuito geral produzido nos ares
£•
e no solo pela rotação do globo, responderão todos os circuitos parciais,
p
instalados em cada 'região pelo trabalho humano.
Hoje, é nas grandes cidades," sobretudo, que a canalização subter
rânea começa a ser feita de acordo com um plano sistemático. Sabe-se ;
• -que os riachos e os rios de água pura se tornam, envrtossas cidades,
receptáculos de imundícies. Basta, ir a Londres — a grande cidade cujas
400 mil casas encerram mais de quatro milhões de habitantes e que se
liga,'por intermináveis ruas, a inúmeras e florescentes cidades novas da
periferia — e seguir as margens pantanosas desse largo Tâmisa, que
passa entre as imensas colmeias humanas, para se ver. o quanto esse povo,
.•

r
o maior apreciador da natureza no mundo, consegue no entanto poluí-la.
Na maré baixa,, quando as águas lentas e enegrecidas do rio se dirigem
para o mar, pouco a pouco surgem bancos de uma vasa meio líquida
e cheia de detritos em putrefação, que enchem o ar com seu cheiro
nauseabundo: por um sentimento de horror instintivo, fica-se quase admi
rado de ver o azul do céu e as nuvens se refletirem nessas imundícies
úmidas. Na volta da maré, quando a massa líquida estaciona, para depois
subir gradualmente e entrar no Tâmisa, as ilhas de vasa deixam de ser
visíveis, mas a maior parte; dos imundos detritos levados pelo refluxo
são trazidos de volta pelo fluxo: um movimento de vaivém faz desfilar
p. i- continuamente essas impurezas diante dos habitantes.
É dessa forma que se polui ainda o grande rio; quanto aos riachos
P\ • e pequenos rios que se jogavam no Tâmisa, após terem percorrido parte
r da província que se tornou Londres, há muito desapareceram, sob as.,
ruas e as casas, transformando-se em esgotos. O mesmo se faz em todas
r
as grandes aglomerações humanas; Paris também transforma o Bièvre,
que as colinas do Saint-Cyr fizeram tão puro, numa fossa de imundícies
p líquidas; às vezes, quando as águas do Sena estão baixas, pode-se extrair
uma massa sólida de impurezas igual a cerca de 40% de tudo aquilo que
* j; o .rio carrega. Em todos os lugares, os grupos de homens atraídos pelas
águas correntes começaram por póluí-las, tornando-as freqüentemente

i ' ••

^ m - : • •• . • * •
.
•»-.».-*
... - - -

. -. : . :'•-:• .•• • '•..':" •'•• r':'-y :• . .-..- -:'':-\,.r-.-:-: •'• -•;--.-.:•.;-' .--.-" . r^..'- ''' :V •':"-:-"; : V: '• ?

P
303 - .---..-.
54

impróprias para beber ou, até, completamente nocivas à saúde. Os nomes


fortes e grosseiros que os habitantes do sul da França deram a alguns
dos ribeirões que atravessam suas grandes cidades revelam o estado de
medonha imundície em que se encontram esses cursos de água.
Após se privarem da água pura que a natureza pôs à sua disposição,
aliás muitas vezes insuficiente para suas necessidades, as cidades tiveram
de substituí-la por águas de nascente ou de rios transportadas com enor
mes gastos. O bem-estar das populações que se acumulam, cada vez
mais, em nossas cidades exige solução para esse problema capital. Outrora,
a poderosa Roma, p*ara a qual eram obrigados a trabalhar os vencidos
do mundo inteiro, desviou a água de todas as montanhas vizinhas por
meio de aquedutos, dirigindo-a para suas praças, onde jorrava em abun
dância numa multitude de fontes e se armazenava em grandes reserva
tórios. A Cidade, Eterna recebia então quase a mesma quantidade de
água que o Mame lança, em tempo comum, no Sena; Roma ainda con
serva bastante dessa água, pois cada habitante consome, para seu uso
pessoal, 944 litros por dia. Bem poucas cidades modernas recebem a
mesma quantidade de água que a antiga Roma, guardadas as devidas
proporções; crescendo ao acaso, atordoadas, a maioria das jovens cidades
não compreendeu até agora quais são suas necessidades mais vitais,
faltando-lhes ainda fontes inesgotáveis. Mas essa preocupação cresce cada
vez mais, e o século XIX não terminará sem que a maioria das grandes
cidades tenha sido abundantemente provida da água necessária para suas
necessidades de alimentação e limpeza. Os trabalhos desse gênero em *

volta de Marselha, Paris, Glasgow, Nova York, Filadélfia, Washington ^

e Chicago já ultrapassam tudo o que haviam feito os romanos, não pela


beleza, mas pela extensão e capacidade dos aquedutos e, sobretudo, pela
engenhosidade com que os engenheiros venceram os obstáculos naturais.
Londres recebe de seus aquedutos e por bombeamento até 500 milhões
de litros por dia, e já se fala em trazer água dos lagos de Gales ou de
Cumberland. Nova York e Bombaim estão construídas sobre ilhas; pouco
importa, pois a água pura lhes vem do continente, usando-se o princípio do
sifão para trazê-la por cima do rio Hudson e do mar. Chicago acha-se ; ^
na embocadura de um rio pantanoso, à margem de um lago cujas águas,
são poluídas pelos navios ancorados; pois bem, a cidade vai buscar a
água, em fontes situadas a dois quilômetros da praia, por meio de um
grande túnel cavado sob o lago Michigan: para seu abastecimento diário
a cidade constrói um riacho submarino!
Quanto à expulsão das águas usadas, só menos urgente que a obten
ção de águas puras, Londres, a maior cidade da Terra, foi até há pouco
a cidade-modelo. Seus 132 quilômetros de esgotos carreariam para fora
da cidade 1 800 milhões de metros cúbicos de água e de imundícies diária- j.
mente, ou seja, 22 mil metros cúbicos por segundo, mais do que o Missis-
sippi lança, em média, no golfo do México. Esses rios subterrâneos não só
.9
9
: ~

- . - 304 . . ....
r
p
p 55

p evacuam as águas que até há pouco ainda empestavam o Tâmisa, mas


p poderiam ainda fertilizar, por irrigação, mais de 60 mil hectares até 70
quilômetros de distância e produzir capim suficiente para suprir a neces
sidade de 100 mil vacas leiteiras, bem mais do que o necessário para
abastecer, de manteiga e de leite, a imensa cidade. Assim, diz o relatório
p do Board of Health, "estaria fechado o grande círculo da vida, da morte
p- e da reprodução". Mas os habitantes de Londres ainda não executaram
essa obra tão necessária, que transformaria sua cidade num verdadeiro
organismo vivo. Nesse sentido, Paris lhes deu o exemplo. A quantidade
de impurezas que a grande cidade lançava até recentemente no Sena pôr
p seus 800 quilômetros de efsgotos transformou-o num curso de água lodoso,
0 completamente impróprio à vida. Parte dessas águas sujas, a que encerra
maior quantidade de matéria sólida, é sugada por máquinas e conduzida
para o outro lado do Sena, para a península de Gennevilliers, antes infér-
P til e transformada agora numa admirável cultura hortifrutífera. Quando
essa parte dos arredores de Paris ficar exígua, outros terrenos serão li
anexados da mesma forma à rede de canalização de Paris, para receber
P
as águas impuras da grande cidade. Como um ser prodigioso, Paris
absorve continuamente a água por seus aquedutos, os gêneros alimentícios
P
por suas ferrovias, e os detritos que ela envia para longe por meio de \
seus esgotos servem para reconstituir o alimento necessário ao seu enorme .
r apetite. V •!
r-
i
P • -

P
P
P
P

P
P

r
P
P

p .

0 | ;^;:-,:;::;:-;:'>:/r-^::S'v"?:?'--^;-
P
r
p 305 . • •• i -••• ••

9
mim >-% 9 9 9 9 9 nni iivi)nnvn>n>
\
**

TEXTO 13 GEOGRAFIA HUMANA

JEAN BRUNHES

Abreviada e atualizada por


Mot, Makiel JeaN-BrunHBS Delamarjio
Primeira edição br.uiieirtt: agosto de 1962
C PlERRB DeFFONTAiNES
Traduzida de
LA GEOGKAPHIE HUMAINE
(.édition iiírv£éti), 3° édition.
Prcsses Univcrsiloires de France, 1936, Paris, France

QUE Ê GEOGRAFIA HUMANA?

O
-o

RELAÇÕES GERAIS ENTRE A GEOGRAFIA


HUMANA E A GEOGRAFIA FÍSICA

Copyrl^lu © i>y
Piinssns UNrvnRsiTAiP.Ks de Foance

Reservados todos os direitos de publicação


cm língua portuguesa, total ou parcial,
pela EDITORA FUNDO DE CULTURA
"

Rio de Janeiro, Brasil, EDITORA FUNDO DE CULTURA


ciuc se rcscrvA a propticdtidc sübtc esta tradução.
RIO DE JANEIRO, BRASIL
0 0 0 P P 0 0 P P P P P P P P P P P P P P 0 P P P P í € t fffff < P f P 0 0 0 0 0 0 0 0 0 *
CAPITULO I
QUE Ê GEOGRAFIA HUMANA?
RELAÇÕES GERAIS ENTRE A GEOGRAFIA
HUMANA E A GEOGRAFIA FÍSICA
1. O campo próprio da Geografia. Geografia Plsica i
Geografia Humana. — 2. Principio de atividade: os fatos
geográficos, físicos ou humanos são fatos em transformação
perpétua e devem ser estudados como tais. — 3. Principio
de conexão: os fatos da realidade geográfica estão intimamente
ligados entre si e devem ser estudados em suas múltiplas
conexões. A idiia do "todo tcrrcsttc".
1. O campo próprio da Geografia. Geografia Física e Geografia
Humana
O campo próprio dos estudos geográficos ó constituído por
uma zona dupla: a zona inferior do envoltório atmosférico de nosso
planeta c a zona superficial da crosta sólida. Em todos os pontos
cm que essas duas zonas concêntricas entram cm contato, produzem-se
c são encontrados três grupos de fenômenos primordiais:
A. O calor solar é, sobre nosso planeta, o grande princípio
de toda atividade e de toda vida; ora, seus principais efeitos se
acumulam na zona em que entram em contato a atmosfera e a crosta
terrestre. A superfície de aquecimento da atmosfera 6 a própria
superfície terrestre.
B. Ainda no ponto de contato entre a atmosfera c a crosta
terrestre é que os fenômenos atmosféricos, variações da temperatura,
chuvas e ventos e, sobretudo, os fatos geográficos que resultam dos
fenômenos atmosféricos, águas correntes e geleiras, trabalham inces
santemente para modificar, para desgastar o relevo emerso e para
encher os abismos submersos.
C. Por fim, é sobre a parte superficial do globo e na zona
inferior da atmosfera que se acham concentrados Iodos os fenômenos
da vida vegetal, animal c humana.
u>unnn>nn> > > •> > i n>nv)invvnvnm

26 QUE í GEOGRAFIA HUMANA ? PRINCIPIO DE ATIVIDADE 27

Os pássaros vim pousar ni tem, para descansar ou para se alimentar; marítimo, para fixar as areias, e a zostera, para fixar a lama subma
os peixes e os invertebrados dos mais profundos mares ainda vivem, em rina. Em meio nos seres viventes, podem regular c orientar nume
relação às dimensões terrestres, a uma distância bem pequena da superfície. rosas seleções artificiais; cultivam plantas e domesticam animais.
Quanlo aos seres humanos, expressam, no mais alio grau, esta localização O conjunto de todos esses fatos de que participa a atividade
imperiosa da vida em duas estreitas camadas concèntricas — camada de humana é um grupo verdadeiramente especial de fenômenos superfi
rocha ou de Jgua e camada de atmosfera. ciais: ao estudo dessa categoria de fenômenos geográficos, damos
o nome de Geografia Humana.
Esse lugar, onde se superpõem e se misturam todos esses fatos
essenciais, circunscreve o teatro de observação dos geógrafos: é o 2. Princípio de atividade: os fatos geográficos, físicos ou huma
domínio, por excelência, da Geografia. -
nos são fatos cm transformação perpétua c devem ser
O maior número de tais fatos escapa a qualquer influência estudados como tais
humana. A água cias extensões líquidas sempre se evaporará, quer Tudo se transforma ao nosso redor; tudo diminui ou cresce.
o homem exista ou não. Exista o homem, ou não, os turbilhões
Nada há verdadeiramente imóvel. O nível do mar, referência
das águas correntes saberão, sempre, cavar gargantas. universal e tradicional para a medida de altitudes, é uma linha
Igualmente, uma parte considerável da vida vegetal e animal média puramente fictícia c muitas vezes instável. As imensas exten
escapa à influencia do homem; mesmo se o homem não existisse, sões geladas, cm sua fixidez aparentemente eterna, deslocam-se,
haveria sobre a terra uma cobertura vegetal e um povoamento animal.
E essa parte — completamente natural — da Geografia Biológica
entretanto, por movimentos lentos e contínuos. Os mais elevados
picos serão, mais cedo ou mais tarde, reduzidos às altitudes mais
— vegetal c animal — pode ainda ser ligada à Geografia Física,
modestas.
compreendida cm seu sentido mais geral. * Quais são, portanto, as forças que transformam sem cessar as
Mas se se procurar uma visão de conjunto sobre a terra, per regiões superficiais do globo?
cebe-se toda uma série nova e muito rica de fenômenos de superfície:
aqui cidades, ali estradas de ferro; aqui culturas, ali pedreiras; aqui A. As forças interiores da terra se traduzem, ou por fenô
canais ou bacias de irrigação, ali pântanos; aqui c ali, acima de menos muito vagarosos, muito pouco sensíveis, mas de duração
tudo, multidões ou grupos mais ou menos densos de seres humanos. muito longa (levantamentos, afundamentos, dobramenros), ou então
Esses últimos, cm si mesmos e por si mesmos, são fenômenos de por fenômenos bruscos (tremores de terra, erupções vulcânicas).
superfície c, portanto, fatos geográficos. Vivem sobre a terra. Os primeiros são tão mansamente progressivos, que se fazem apenas
Estão submetidos às condições atmosféricas e terrestres. Pertencem perceptíveis a uma só geração de homens; grave erro seria subes
a certos climas, a certas altitudes, a certas zonas. Além disso, eles timá-los. Os segundos impressionam por sua estranha subitancidade,
vivem na terra: subordinando-se aos fatos naturais é que assegurarão c estaríamos tentados a lhes exagerar a importância. Na realidade,
a seus corpos o cuidado indispensável c a suas faculdades o desen uns e outros constituem apenas uma parte restrita da atividade atual
volvimento e o florescimento. da terra, em comparação com essas revoluções quotidianas que por
Que são os formigueiros ou os cupinzeiros construídos pelas toda parte se produzem c que todos os dias se renovam, e que
térmitas, em comparação com tudo aquilo que, sobre a terra, constitui são devidas à ação do sol.
a obra própria do homem! Em Geografia, a diferença é gritante
— diferença sem medida — entre a obra das espécies animais, B. O calor solar, eis, realmente, a energia capital da qual
mesmo as mais bem dotadas, e a soma total do trabalho dos homens. depende quase toda a atividade de que nosso planeta é teatro.
Os homens reflorcstam; desse modo, moderam a obra destru O sol governa o globo através das diferenças de temperatura por
tiva das enxurradas e modificam os climas. Plantam o pinheiro êle determinadas, sem descanso: daí as diferenças de pressão, inú
meros casos de instabilidade; e a instabilidade determina o
1 Ver, coro efeito, Emm. de Maf.tonne, Biogiographie, com a colab. de movimento.
A. Chevalier e Cuenot (t. III do Traité de Géographie Physique, de
Emm. de Martonne), Paris, A. Colin, 1927, -Í57 págs. (pigs. 1.061- C. Aqui intervém uma outra série de forças, que transforma,
•1.518). [D.A] i dirige e multiplica esses movimentos atmosféricos.
p p pt p p p p p p p p rp p t p p p p p pp p p p p p p f r p p p p p p p p p p p p p p p p p p
28 QUE t CEOGRAFIA HUMANA ? PRINCIPIO DE ATIVIDADE 29
A Terra não está imóvel no espaço; é animada de movimentos diversas; quase pivl-m ser comparadas, cm sua evolução, a organismos
periódicos, que mudam cada dia c cada instante sua posição era vivos. W:° sio mais apenas velhas ou jovens umas cm relação às outras;
relação ao Sol. Esses movimentos permitem ao Sol variar sem ria também velhas ou jovens em relação a suas formas passadas, a suas
interrupção seu campo de ação terrestre: multiplicadores permanentes l formas futuras. A idade, na Orografia, se traduz por uma fisionomia
das menores mudanças quotidianas, eles merecem ser encarados, por topográfica. Massa continental alguma pode escapar à erosão e a marcha
isso, como uma terceira causa de atividade. Contudo, essas forças do fenômeno é fatal: o estágio aluai da erosão permitirá, portanto, atribuir
transformadoras só fazem mudar perpètuamente as condições de ao estado presente da topografia uma posição bem definida na série neces
equilíbrio em nosso planeta, enquanto é sempre o Sol que fornece sária dos estados sucessivos.
a energia, causa primeira destas transformações. Quem fala da idade das formai topográficas, deve falar também da
A luz e o calor, as chuvas, os climas e as estações, tudo devemos J. idade dos cursos de água. Os rios, como as montanhas, estão mais ou menos
ao Sol. O Sol até mesmo criou sobre a terra como que reservas de envelhecidos; todos passam por diversas fases, cuja sucessão constitui uro
força, onde pode o homem abastecer-se à vontade; com efeito, na ciclo, um ciclo de erosão, que W. M. Davis chama, audaciosamente, tido
hulha se acha, por assim dizer, armazenada uma soma incomparável vital; passam da infância — que se distingue, ao mesmo tempo, por um
de energia. escachoar indeciso e por um regime torrencial — a velhice, caracterizada
D. Sobre o globo terrestre, a radiação solar é, portanto, uma por divagações de toda espécie, meandros e bifurcações. Já entrado na
causa sem fim de desequilíbrio e, por conseguinte, de movimento. decrepitude, um rio pode, de repente, em conseqüência do abaixamento ou
Mas esse movimento seria desordenado se não existisse, para com do deslocamento de seu nivel de base, ter de recomeçar todo o seu trabalho
bater tal causa de desordem, uma causa geral de ordem; esta força, de aprofundamento por regressão e recobrar, justamente por isso, o vigor de
que chamarei força sábia da Terra, em oposição à força louca do Sol, seus verdes anos; não deixará de conservar, apesar disso, cm determinadas
c a atração centrípeta do peso. Impõe aos corpos diferentes pesos, proporções, algumas de suas formas envelhecidas. £le se tornava pesado,
diferentes densidades, uma só ordem de estabilidade, um só modo cada vez mais, como num longo sono: pode acordar, subitamente, mas sem 2
de equilíbrio. Finalmente, uma obra una c regular dessa luta entre se despojar, de todo, do antigo homem; é assim que, num talvcguc.de uma
uma causa infatigável de atividade e uma causa de ordem inviolável. região fracamente ondulada, com um relevo muito suave, onde se esperaria
Essa atração dos corpos mais pesados para o centro da Terra observar o débito insignificante de um curso de água c se arrastar, ils vezes
disciplina e organiza a atividade; dessa maneira, uma ordem harmô descobre-se outro, recentemente encaixado, robusto c ativo. Os rios e os
nica se introduz na economia geral do nosso planeta. vales podem passar, sucessivamente (e é o caso mais freqüente), por vários
Começamos por perceber fenômenos mecânicos justapostos; ciclos, que a ciência das formas ou morfologia tentará discernir c distinguir.•
depois constatamos que tais fenômenos estão, na realidade, subor
dinados uns aos outros; enfim, descobrimos um princípio que produz Diz-se que a vegetação, a fauna de um país, envelhecem ou
a unidade; podemos, de modo legítimo, chegar a idéia de relação rejuvenescem; e quando se transformam, diz-se ainda que se enri
e trabalhar a fim de definir leis. Assim, em vez de nos limitarmos quecem ou empobrecem. O povoamento de uma região, o desen
à simples observação dos fenômenos, empenhamo-nos cm estudá-los volvimento de um centro urbano, são marcados por sucessões de
em séries e em procurar o princípio mesmo de sua sucessão. Toda fenômenos que lembram os fenômenos característicos dos seres
sucessão possui causas e possui leis. Os fenômenos do plano mate dotados de vida.
rial, assim, adquirem uma espécie de vida pessoal; êlcs não mais Que importa que uma cidade tenha 50.000 ou 52.000 almas?
apresentam somente mínimos e máximos, mas um nascimento, uma Essa não é a questão capital. Qual é o passado dessa cidade e qual
maturidade, uma decadência. Essa é uma das partes mais recentes é o seu crescimento? A que ponto chegou, em sua evolução?
c mais curiosas da Geografia. Atingiu ou ultrapassou o florescimento da idade madura? Tais
Ji desde um século, não mais se classificava as montanhas segundo são os problemas a formular e a solucionar. Será uma cidade
características secundárias ou acidentais, como sua direção ou sun altitude. antiga, que outrora contou com 100.000 habitantes c que, hoje,
Havia-Se reconhecido que sua formação rcmonlava a períodos diferentes da não tem mais do que 5.000? Será uma Ravena ou uma Aigues-
história da Terra, c na Orografia se introduziu assim, pela primeira vez, a
noção de idade. As montanhas não são mais massas de data c de origem 2 Ver também A. de Lappahbnt, Vage des formes topograpbiquis.
pág. 28, extraído da Revue des Questiom Scientifiques, outubro de 189-i.
i )>i vn)^ vn->i>n) r ^ ^ ^ nvvvm í m m n >**9

PRINCIPIO DE ATIVIDADE 31
30 QUE £ GEOGRAFIA HUMANA ?

•Mortes? Ou então, ao contrário, será uma cidade bem nova, nascida Se Paris passou, entre 1801 e 1911, de 548.000 habitantes para
outro dia, em pleno crescimento? 2.847.000 — aumento de 1:5 — o resto do departamento do Sena (Paris
» excluída) passou, durante os mesmos 110 anos, de 84.000 habitantes para
Em 18-ÍÒ, sobre a lama reccm-solidificada do Whangpoo e do baixo 1.222.000 — aumento de 1:15. De 1931 a 1936, a aglomeração ainda
Iansequião, havia apenas algumas casas de pescadores. No mesmo ano de aumentou (enquanto Paris, em si, diminuiu ligeiramente).
1840, liavia somente, na ilhota rochosa e nua de Hong-Kong, — hoje tão
povoada quanto florescente, — algumas cabanas e esconderijos de piratas. No limiar do século XX, a Europa inteira tinha cerca de 1(50
Lá c cá, tudo começou em 18-11 e 18-12... As duas cidades não têm cem cidades de mais de 100.000 habitantes, das quais 55 ultrapassavam
anos. * Ora, üma, Xangai, c, hoje cm dia, uma aglomeração com mais 250.000. As cidades de meio milhão eram cm número de 23 c
de quatro milhões, a maior de toda a China, e a outra, Hong-Kong, com as cidades de milhão, em número de 6. Tinha razão A. DE FoviLLE
todos os territórios que dela dependem, já ultrapassa bastante o milhão. ao concluir: "A Europa atual, assim, conta mais cidades de 500.000
Que pode haver de mais impressionante do que a progressão de Paris, almas e acima do número de cidades de 100.000 com que contava
tal como foi possível estabelecer, aproximadamente, segundo os documentos a Europa de há cem anos atrás".* Em 1940, contavam-se na Europa
históricos! 16 cidades de milhão, 2$) de meio milhão e 236 de mais de 100.000
Anos Períodos históricos Número de habitantes habitantes.
em milhares
8
Os fatos urbanos se modificam com lal rapidez que não é mais
363 Sob Juliano
30
verdade, como o era, então, cm 1921, — há tão poucos anos! — que
510 Sob Clóvis
1220 Sob Filipe Augusto 120
Londres seja a maior cidade do mundo. A primeira cidade do mundo c
1328 Sob Filipe VI 250
Nova York, incluídos os subúrbios; Londres 6 apenas a segunda. Essas
Sob Henrique IV 230
aglomerações, em 1934, tinham respectivamente 13 milhões e 906.000 (sem
1595
Sob Luís XIV 540
o subúrbio, 7.380.250) c 8 milhões e 575.000 habitantes.B
1675
1788 Sob Luís XVI 599
Por outro lado, que diferenças entre duas massas humanas
1801 Sob o Consulado ....... 548
aproximadamente comparáveis, tais como os de 274.000 habitantes
1817 Sob Luís XVIII ....... 714
que o rcccnscamento de 1906 atribuía a todo o departamento de
1831 Sob Luis Filipe 786
Lot-et-Garonne, e os 252.000 reunidos apenas na cidade de Bor-
1S51 Sob a República 1.053
déus, segundo o mesmo rcccnscamento! Não somente esses grupos
1856 Sob Napoleão III 1.174
se acham, aqui, concentrados e, lá, disseminados, com relações de
1861 1.696
trabalho e de localização que os unem de maneiras totalmente
1866 1.825
diferentes ao solo; mas ainda, e sobretudo, 65 anos antes, em 1841,
1872 1.794' o Lot-ct-Garonne compreendia 72.000 habitantes a mais, enquanto
1876 1.989
(Depois da anexação dos subúrbios i
1886 2.345 4 Segundo A. DE FoviLLE, Les grandes villcs au XIX' el au XX'
contidos no recinto das forlijicaçOet)
1896 2.436 siècle (Economiste Français, 13 junho 1908, pág. 877). Ver todo o § 5 do
1906 2.765 cap. V da Géographie de 1'Histoire, de Jean Brunhes c Camiixe Vallaux
(Paris, Alcan, 1921, 716 págs.), págs. 190-200. [B.A.]
1911 2.847
5 Para M. Jefferson, cm Great Cities of 1929 in lhe U. S. A. whilh
1921 2.906 a comparison of New York and Ijsndon (Geogr. Rcv., 1953, págs. 96-100),
1931 Cidade: 2.891.000 habilanies. Aglomeração 4.887 Londres permanece sendo a maior aglomeração do mundo, com 9.150.000
1936 2.830.000 5.130 habitantes. Com efeito, o autor baixa para 7.781.000 o efetivo da população
195-1 2.850.189 5.154 nova-iorquina, pois só considera urbano um espaço inteiramente habitado, sem
campo nem pastagem. O Cenius americano, pelo contrário, baseia sua divi
3 Jean Brunhes, Connaissances de VEsl (Monde Colonial lllustri, são na densidade: é aglomeração urbana qualquer circunscrição cuja densidade
n* 1, out. 1923) c La puissance, les défectuositis el les nècessaires améliora- ultrapasse 150 habitantes por milha quadrada. Ver também J. K. Wright,
tions du port de Chang-hai (Journal de la Marine Marchande, 4 out. The diversity of New York City, Comnients on the real proDeriy inventor)
1923). [B.A.] of 1934 (Geogr. Rev., 1936, págs. 620-639). [B. A.]
fPPPPrf€PPfPPPPPPPPPPPPPPPffi€(PPP€PrPtPP990
r
QUE e CEOGRAFIA HUMANA ? PRINCIPIO DE CONEXÃO sa
32
a cidade de Bordéus contava 153-000 a menos. E eis que, plantas mais numerosas, em sua ordem e com seu coeficiente de
em relação a 1906, trinta anos mais tarde, segundo o recenseamento importância, isto é, a vegetação, tem um interesse bem diferente
de 1936, as situações ainda mais se transformaram: o departamento da flora, isto é, a lista completa dos tipos morfológicos: a ve
de Lot-ct-Garonne diminuiu e não tém mais do que 252.700 habi getação revela mais as condições gerais da vida — apresenta um
tantes, enquanto Bordéus cresceu e, hoje, atingiu 258.300 habitantes. valor biológico.
Regressão e progressão. Esses fenômenos humanos, como todos Tais são os primeiros princípios da Geografia Botânica: não
os fenômenos terrestres, nunca permanecem idênticos a si mesmos. nos interessam mais unidades, indivíduos isolados, ou espécies florís-
Todos são animados por determinado movimento; 6 necessário ticas, mas sim grupamentos e duas categorias principais de grupa
estudá-los como se estudam os corpos em movimento: precisar o mentos: as formas de vegetação e as associações vegetais.
ponto do espaço e o momento do tempo cm que se produzem; depois,
indicar o sentido e observar a rapidez do próprio movimento. As formas de vegetação ou formações (die Vcgeiaiionsformcn) compre
endem plantas que, apesar de serem muito diferentes do ponto-de-vista mor-
3. Princípio de conexão: os fatos da realidade geográfica estão fológico, têm uma semelhança de aspecto e se nos apresentam cm atitude
intimamente ligados entre si e devem ser estudados em suas análoga; dessas, as classes mais gerais correspondem a definições empíricas:
múltiplas conexões. A idéia do «todo terrestre» são, por exemplo, as árvores, os bosquedos, as plantas herbiceas, as epifilas
(isto é, qiic se desenvolvem sobre outras plantas), etc. Para empregar a
Não basta estudar isoladamente essas séries diversas de fenô
expressão a todo momento usada pelo verdadeiro fundador da Geografia
menos; elas não existem isoladas na realidade; estão ligadas umas Botânica, Alexandre de Humboldt, " trata-se de categorias propriamente
às outras. A idéia da conexão deve dominar qualquer estudo com fisionômicas. E eis-nos então mais próximos da realidade geográfica; pode
pleto dos fatos geográficos; não nos podemos contentar com a mos deixar, juntas umas das outras, as plantas que a classificação sistemática
observação de um fato em si ou de uma série isolada de fatos; depois separava: assim as duas espécies de plantas crassifoliadas que encontramos
dessa observação inicial, trata-se de recolocar a série no conjunto 21
associadas nas regiões secas: os aloés, de folhas suculentas, e os cactos, de
natural, no conjunto complexo dos fatos em meio aos quais ela se hastes suculentat e sem folhas. Por outro lado, os antigos quadros das
produziu e desenvolveu; é preciso procurar como ela se prende às espécies ficam desfeitos: a possante c superabundante família das Gramineas,
séries de fatos que a cercam, em que medida os determinou, e, que compreende tanto os bambus gigantescos das regiões tropicais quanto
reciprocamente, em que medida ela sofreu a sua influência. o milho, o arroz' e o joio de nossos prados, é totalmente inadequada c seus
Em Meteorologia, cm Zoologia, em Botânica, é possível isolar gêneros c espécies são distribuídos em diversas formas de vegetação.
certos fatos, estudá-Jos unicamente em si mesmos. Em Geografia, A segunda unidade da Geografia Botânica representa, ainda mais
no entanto, não se pode parar ai. E — coisa curiosa — o princípio nitidamente, fatos de conexão natural. Como o dissemos, o mundo vegetal
da conexão, cuja aplicação é sobremaneira feliz cm Geografia, pene dá a certos países análogos uma fisionomia semelhante: plantas diferentes
trou até naquelas ciências particulares. Vimos nascerem: ao lado apresentam, efetivamente, analogias de comportamento e também lèm afini
da Botânica, a Geografia Botânica; ao lado da Zoologia, a Geografia dades. O conjunto das plantas que vivem associadas, cujo grupamento
Zoológica. natural se traduz, a nossos olhos, por uma paisagem característica, constitui
A Botânica sistemática coleciona c classifica os plantas, gênero por uma associação vegetal ou Planzenverein. I
gênero, espécie por espécie; c, por outro lado, organiza catálogos e constitui Aj grandes árvores de nossas regiões (faias, abclos) se desenvolvem
herbários, de região por região; não se pode dispensar Cste primeiro estudo; cm grandes florestai; cada uma & acompanhada por um mesmo grupo de
mas é necessário reconhecer que, se as amostras sio procuradas, escolhidas arbustos, de ervas ou de musgos, o qual, cm toda parte, lhes compõe o
e examinadas com a mais conscicnciosa curiosidade, a região cm si, enquanto mesmo sub-bosque: trata-se de uma espécie de cortejo obrigatório; e todo
região vegetal natural, é um pouco negligenciada, sendo disto prova a impor
tância que se dá 3 uma planta rara, mesmo sendo representada apenas por 6 Humboldt é o autor do De diitributionc gcographica plantaram
dois ou três indivíduos. secundum cceli temperiem el alliludinem monlium. Paris, 1817, 1 vol. /«-8*.
7 Cf. WaRMING, Lehrbuch der wkologischen Pflaiizcngeitgraphie.
A cobertura vegetal de uma região natural possui traços domi Bine Einfiihrung in die Kennlniss der Pflanzcnvcreine, Deutsche Ausgabe von
nantes — uma fisionomia; e, para o geógrafo, a indicação das únicas E. Knoblauch, Berlim, 1896. Ver, mais recentemente: J. Braun-Dlan-
*9 iinnm r99 • 9 9 nmivnv)))nv)i >>**

QUE t. GEOGRAFIA HUMANA .' PRINCIPIO DE CONEXÃO


34 35

este grupo vivo c coletivamente designado pela árvore ou pela espécie que com a procura de sua origem; observa-os em seu meio geográfico;
ai domina — associação vegetal do abilo, associação vegetal da faia, etc.• examina as relações que existem entre os animais e as plantas culti
Desta maneira, criou-se uma botânica inteiramente nova, mais consciente
vadas, e determina a que modos de explotação do solo, a que culturas
do grupamento rc.il das formas vivas. •
c até a que formas de organização econômica se acham associados,
em geral.I0
Poderíamos evidenciar, ainda, múltiplas conexões entre as mes Somos logicamente levados a considerar os próprios homens,
mas condições naturais, solo e clima e o mundo animal; entre o através dessas culturas, através desses fatos de dispersão animal,
mundo vegetal e o mundo animal; entre os diferentes tipos do destas formas de organização econômica. Nosso trabalho adquire
mundo animal. No momento, quero fazer notar apenas esta orien razão de ser por causa do grande princípio geográfico de conexão:
tação geral, necessária, dentro de diversas ordens de pesquisas. os homens, como os vegetais e os animais, estão intimamente ligados
Numa obra sobre Os Animais Domésticos c suas Relações com a
Vida Econômica do Homem (Les animat/x domcstii/ucs et leurs a um certo número de fenômenos. Quantos exemplos típicos désse
relations avec Ia vie économique de 1'homme), Eduard Hahn não fato serão expostos, ou pelo menos assinalados, neste livro!
se contenta com o estudo dos animais domésticos, um por um, nem O homem tem necessidade de água, tanto para si mesmo, como
para os animais que vivem junto a ele; fixa moradia perto das
quet, Plant Sociology: lhe Study of Piam Communilies, trad. inglesa de fontes; muitas vezes, a repartição das fontes nos explica a distribuição
Pflanzensozioloeie, por G. D. Fuller c H. S. Conard (Nova Yorl; e Lon dos grupamentos de habitações. Na Lorena, uma linha de fontes
dres, McGraw-Hill Dook Co.. 1932, in-&", XVIII -f- 439 pág.) c os traba
lhos de H. Gaussen: Géographie des Plantes, Paris, A. Colin, 1933. 222 segue a linha de contato entre o oólito inferior permeável e a
págs.; Carie floriilique dela France (A. de G., XLVII. 1938. págs. 237-256);
Etagri et zones de végélalhn de la France (ibid., XLVII. 1938. págs. 463-
. >
-487). O estudo de J. Pavillard, Elémtnls de Sociologie Végvtale (Phy- mos os limites da Botânica, c a Geografia Botânica seria apenas uma repetição
losociologie). Paris, Hermann & Cie.. 1935, /'«•8", 102 págs., é uma boa inútil; mas o fato de ter a Geografia Botânica uma natureza geográfica se
exposição, sob o ponto-de-vista do vocabulário e das concepções .intagúniias explica precisamente por não serem as plantas, os vegetais, seu objeto, sob
a respeito da sociologia vcgctil. um ponto-de-vista qualquer, mas os espaços vegetais, isto é, porções espa
O valor dessas associações vegetais é tal que possibilita aos botânicos ciais da superfície terrestre, diferentes das unidades vizinhas por seus carac
rcconjtituircm o revestimento anterior de tais c tais regiões: "Dessa forma, o terísticos botânicos, deixando a outras partes da Geografia, como mostra
botânico recompõe unia paisagem, como o aiqucólogo recompõe o templo de remos adiante, 0 cuidado de procurar outras divisões, correspondentes a
Epidauro ou a Acrópolc. Descobre florestas de faias sob as landes cober outros característicos."
tas de mirtilas; florestas de carvalhos c de castanheiros sob o maquis da Tal noção, bem justificada, de espaços vegetais é estendida mais tarde, por
Córscga. Algumas espécies sobreviventes de uma associação constituem para Michotte, aos espaços humanos: "A Geografia Humana deve ser, pela mesma
nós a chave do problema" (Oi. Flahault, Le dnoir dei botaniites en r3zão que a Geografia Fisica c a Biogeografía, uma disciplina corolôgica.
maliire de Géographie Humaine, Comple renda du IX' Cougrii Géogr. Também aqui o geógrafo não precisa considerar os fatos humanos de superfície.
Iniein. Genive, 1908. I. Genebra, 1909. pág. 290). em si mesmos, mas, assim como estuda espaços morfológicos, espaços botâ
8 Cf. Ch. Flahault, Au sujei de Ia Catte botar.ique, fortstiiri el nicos, etc. deve distinguir, sobre a superfície do globo, espaços humanos,
agricole de France et des moyens de Vexéiutet (Annales de Géographie, 16 isto é, porções espaciais da superficie terrestre que adquiriram, em conseqüên
out. 1896, págs. 450-451). Cf. também WARMINC, op. cit., e Oscui Drudb. cia do fenômeno do homem, uma fisionomia distinta, um ar particular."
Ver lambem Emm. de Martonne. Biogéographie (obra acima cita
da). [B.A.]
ver os estudos citados no Capitulo V. 10 Eduaru Hahn, Die Haustiere und ihie Beziehungen zur Wirtichafl
9 Levando ainda mais longe a análise desses fatos, P. Michotte, pro des Menschen. Eine giographische Siizze, Lcipzig, 1896. C Maurice
fessor de Geografia na Universidade de Louva in. cm um profundo estudo de Caullekv, Anhr.aux domestiques el plantes cullivêes (Annales de Géogra
método Uorientalion nouvelle en Géographie (Bulletin de la Soe. Roy.de phie, 15 jan. 1897, págs. 1-13) e A. Hettner, DU Haustiere und die
menschliich/n iVirlschaftsformen nach Eduard Hahn (Geographisehe Zeiss-
ehrifl, março 1897, págs. 160-166). Ver também o conhecido livro de
gens R. F. ScHARF. European Animais: their Geological Hislory and Geographical
fico a este estudo nãu é a consideração da conexão entre a vegetação e o Diilribution, Londres, 1907, in-S', 258 pigs., mapas c figuras, e o artigo
meio nem n investigação da área de extensão, da distribuição dos seres vege consagrado por A. Briot a este livro nos Ann. de Géogr., XVII, 1903, págs.
tais sobre » superficie do globo; se nos limitássemos a iiso. não franquearia- 385-394.
f P P P P P P PP P i 000 PP0 Pp p p p p p p p p p p p p r p p p p p p f f <
Tf
QUE t GEOCRAFIA HUMANA ? PRINCIPIO DE CONEXÃO
36 37
argila impermeável do liàssico: ao longo desta linha, se escalonam — decorrendo dai sua condição privilegiada, como lugar de eleição favorito
cidades c aldeias.21 para os estabelecimentos humanos. Ante», Lcewl objervara que, nos vales
Outras vezes, os homens se agrupariam no limite de regiões tributários do Oetzthal, o habitas cm cima de cones de dejeção se coloca cm
naturais muito diferentes, porque tal limite deveria ser o lugar natu primeiro lugar, sob o ponto-de-vista do número de habitantes por quilômetro
ral de permutas. Os relevos vulcânicos do Auvcrgnc, terras de quadrado; são encontrados à razão de 84% no Langtaufcrcrthal a 94ÇÁ no
pastagens, são cercados ao nordeste pela rica planície agrícola da Valscrth.il. M Nas grandes altitudes, mosuaremos que o habitai sobre mo
Limagne fecunda e, cm outros pontos, envolvidos por regiões cris renas leva vantagem sobre este último tipo.
talinas, terras pobres de landes e de castanheiras; as cidades mais "Essas morenas quaternárias têm uma influência ainda mais pronunciada
importantes, Riom, Clermont-Ferrand, Ardes, Saint-Flour, Aurillac, na Geografia Humana. Em particular, as morenas laterais conservam a
Plcaux, Mauriac, Riom-ès-Montagne, localizam-se à beira dos antigos inclinação da antiga geleira, inclinação apenas mais acentuada que a do
vulcões, formando um cinturão urbano, que nunca se afasta da linha vale, cujo fundo £ dominado por elas, porém mais fraca do que a da geleira
de demarcação geológica." atual. Elas se unem. à montante, no que subsiste d.i geleira antiga, habitual
mente sob forma de geleira suspensa. São diques contínuos e salientes,
"A importância que emprestamos ao estudo da glaciação quaternária, perfeitamente indicados, com esse solo impermeável da lama glaciária, para
escreve um geógrafo,13 provém do fato de serem, cm grande parte, a geo serem aproveitados como canais de irrigação; êsres canais, chamados bialeti
grafia fisica e a geografia humana, na Sabóia como, aliás, nas grandes ou bialièrcs, se ramificam no complexo das morenas frontais, por vezes
altitudes, decorrentes da obra das grandes geleiras. Foram elas que, quando cobrindo inteiramente o fundo de um vale, como o vale de Polset, acima do
não cavaram, pelo menos alargaram, aprofundaram c modelaram os vales Mód.ino, ou o de Chaviòres-sur-Pralognan. O que resta das antigas cana
alpinos; também foram elas que prepararam a habitabilidade das montanhas. lizações basta para demonstrar a relação que une a irrigação às morenas das
Com efeito, os depósitos erráticos, sendo impermeáveis (sobretudo a lama velhas geleiras."
glaciária das morenas profundas), desenham no ílanco dos vales uma linha
de fontes, ao contato da qual ressurgem as águas absorvidas pela vertente, 2
A situação, a configuração, a estrutura ou o clima de uma região
característica que nos permite reconhecê-las cm meio i paisagem; por outro podem contribuir para explicai o desenvolvimento histórico de um
lado, estas banquetas glaciârias — assim denominadas por W. Kilian — povo ou sua organização social. No referente a certos países, como
constituídas por materiais de diversa proveniencia, compreendem elementos a Inglaterra, isso é uma verdade aceita. Porém, mesmo para fatos
de toda natureza: calcário cm região granitica, sílica cm região calcária, cm políticos, que passaram por surpreendentes e anormais, durante
um estado de trituração sempre muito avançado; portanto, são solos por muito tempo, é possível descobrir fundamentos naturais objetivos.
excelência cullivávcis, com freqüência os únicos utilizáveis de todo o vale O Prof. Théobai.0 Fischer explicou, com clareza, por que Portugal
conseguiu conservar sua autonomia histórica e política, num trabalho
11 Ver em Jean Brunhes c Camille Vallaux. La Géographie de notável sobre a Península Ibérica.Ia
l'Hiitoire (Paris, Alran, 1921), pág. 178, n fig. 14: Tipo de povoamento
concentrado na Picardia, c pág. 179, a fig. 15: Tipo de povoamento dissemi Portugal c apenas uma dessas zonas periféricas, que rodeiam por todos
nado na Bretanha; assim como em Jean Brunhes, Géographie Humaine de os lados o planalto central espanhol, como a planície de Valença ou a
la France, l" vol., todo o Cap. XV: "Semis jondamrntal" du pcuplement
(Núcleo fundamental do povoamento), c as figuras que o acompanham (págs. Andaluzia, que fica separado da Espanha por gargantas de erosão, pelos
446, 447, 464 c 465). As 4 figuras das págs. 446 e 447 estão aqui repro profundos canhões de três grandes cursos de igua e de seus afluentes —
duzidas (Capítulo III). [B. A.] fronteira natural mais eficaz que muitas cadeias de montanhas; em segundo
12 Para mostrar as relações de conexão enlre a Geografia Fisica c a lugar, está Intimamente ligado ao mar, muito mais do que qualquer ouUa
Geografia Humana, Jean Brunhes publicou, nns edições anteriores de La
Géographie Humaine, um Mapa do Maciço Central, representando a distri região da Península: pelos grandes estuários, a massa líquida avança nas
buição dos principais centros urbanos no circuito das regiões vulcânicas da
França Central (Mapa I, 3* e 4* eds., pág. 26) e uma fotografia (fig. 1), 14 It&Vt, Siedlungsarten in der Hochalpen (Forschungen s. deutschin
mostrando o papel dos depósitos glaciários em um vale elevado dos Alpes Landes = und Volkikunde, Bd II, He/t 6. Stuttgart, 1888). Não se
franceses. Sendo agora tais exemplos mais conhecidos, publicamos cm seu sabe bem porquê, Lcewl não menciona os estabelecimentos humanos (Ansie-
lugar dois Mapas (I e II), dignos de observação, pelos fatos que traduzem. dlungen) sobre os depósitos erráticos.
13 PAUL GlRARDIN, Glaciation quaternaire (Revue de Géographie 1) Die Siideuropaeiichen Halbinseln (na coleção KlRCHHOFF, Unser
Annuclle, II, 1908, págs. 691-692). WiSStn von der Erdc), Vicna-Praga-Lcipzig, 1893.
9 1 nn^nn)ni^ri i)innr>mm) » > > >

38 QUE E GEOGRAFIA HUMANA ? PRINCIPIO DE CONEXÃO 39

terras; enfim, Portugal teve uma vida própria, pois, possuindo os mesmos
-

produtos que algumas das outras partes da Península, precisou dar as tostas
à Espanha e voltar-se para o mar. Th. Fisciier comparou, com muita pro
MDEMS DO DELTA
priedade, a situação geográfica de Portugal, independente em relação ã
Espanha, com a da Holanda, independente diante da Alemanha. DE TONQUIM
ALDEIAS

Tal método, seguido por meu professor, P. Vidal de La


Blache, está claramente exposto no Prefácio do seu Atlas:
"O mapa político do país a estudar vem acompanhado de um mapa
físico: eles se esclarecem mutuamente, c ganham um complemento, com
mapas ou desenhos esquemáticos, cujo tema foi fornecido pela Geologia,
pela Climatologia, pela Estatística. Essa espécie de dossiê — que rac des
culpem a expressão — constituído, segundo 0 caso, de modo mais ou
menos completo, tem por finalidade apresentar à observação o conjunlo dos
traços característicos de uma região, a fim de permitir ao espírito o estabe
lecimento de relações entre eles.
Com efeito, é nesse relacionamento que reside a explicação geográfica
de uma região. Encarados isoladamente, os traços de que se compõe a
fisionomia de um país tem o valor de um fato; mas só adquirem o valor
de noção cientifica quando são recolocados no encadeamento do qual fazem
parte, c que é a única coisa capaz de lhes conferir plena significação."
"Quer se trate de fatos climáticos, botânicos, econfimicos, — escreve
ainda P. Vidal de La Blache, — procurei assinalar a relação. Onde se
localizam tais fenômenos de clima, tais formas de vegetação, tais grupa
mentos de produtos: eis o elemento geográfico, aquele que permite apreender
uma relação com o solo.
O característico de uma região, assim, é um dado complexo, que
resulta do conjunto de um grande número de traços c da maneira pela qual
estes se combinam c se modificam uns aos outros."

Donde se segue que nunca devemos limitar nossa visão a uma


só ordem de fenômenos. Assim, então, 0 menor estudo geográfico
— se pretende ser completo — não se pode restringir a observar
fatos isolados; não há sobre a crosta terrestre compartimentos estan
ques; pode haver divisões, mas não há cercas. Uma montanha não
forma um todo isolado cm si mesma; uma cidade não c uma unidade Cptd&ti hidiJinn Zéíarptgti
independente: depende do solo em que se edifica, do clima a que r«/«»n!« minii. iS
£""/' ,' 1" *" <«'*« Un,;,ni
se acomoda, do meio que a faz viver; um rio não é um indivíduo,
tendo cm si mesmo toda sua razão de ser.
"Nenhuma parte da terra — diz ainda P. Vidal de La Blache
— leva em si, sozinha, a sua explicação." Ainda mais, continua,
"o jogo das condições locais só se descobre com alguma clareza na MAPA I E II — Relações gerais da conexão entre a geografia física e a
humana; distribuição das partes examinadas nos cordões litorâneos do delta
medida cm que a observação se eleva acima delas c que temos a tonquinês.
0 P P 9 9 9 P P P P P P P P P P P P P P P P P P P P P P P P P P * P * * * ( P P P Pi
40 QUE f. GEOGRAFIA HUMANA ? PRINCIPIO DE CONEXÃO 41
possibilidade de abarcar as analogias, naturalmente suscitadas pela A expressão organismo terrestre pareceria, sem dúvida, por
generalidade das leis terrestres. O estudo dos Alpes não 6 levado demais ousada; todavia, pode-se dizer, empregando as expressões de
a efeito sem se tomar em consideração outras cadeias de dobramento Claude Bernard, que há, entre todos estes fenômenos da máquina
de idade recente; o do Saara, sem o dos outros desertos do globo". terrestre, uma solidariedade orgânica ou social. Nos exemplos que
Os grandes fenômenos meteorológicos, como os ventos alísios, citei antes, tratar-se-ia de uma solidariedade que se pudesse entender
as monções, os ciclones, são manifestações impressionantes da estreita como particular ou local; agora, trata-se de uma solidariedade gerai
interdependência das diversas partes da Terra. c universal. E, afinal, que representa essa idéia, senão a própria
idéia de conexão desenvolvida, aumentada, desabrochada?
Chega-se, assim, à idéia mais alta, à idéia do todo terrestre,
à concepção da unidade terrestre; as forças diversas não agem "A idéia de que a terra é um todo, cujas partes estão coordenadas,
apenas em condições determinadas, umas sobre as outras; não exercem fornece a Geografia um principio de método, cuja fecundidade aparece
ações recíprocas, umas sobre as outras, somente em alguns casos melhor à medida que se estende sua aplicação." lr
definidos. Mas pode-se aindn afirmar que, de maneira mais ou
menos longínqua, sob forma mais ou menos visível, tód.is essas Atividade, conexão, tais são, portanto, os dois princípios que,
forças estão ligadas umas às outras, em virtude da atuação indefinida atualmente, devem dominar a Geografia.
de suas conseqüências extremas. As forças da natureza física estão ligadas umas às outras cm
Claude Bernard escreve, na sua Intròduction d la sMédecinc suas conseqüências, cm suas relações e nas conseqüências de tais
Expérimentale: relações. O homem não escapa à lei comum; sua atividade é
compreendida dentro da malha dos fenômenos terrestres. Porém,
"tt necessário reconhecer que o dclcrminismo, nos fenômeno» da vida, se a atividade humana, por tal forma, aí é englobada, disso não se
não somente é um determinismo muito complexo, mas que, no mesmo deduz que esteja fatalmente determinada. Fica introduzida na 2
tempo, é um determinismo harmônicamente hierarquizado. De lal modo Geografia, com todo o direito, por sua conexão com os fenômenos
que os fenômenos fisiológicos complexos são constituídos por uma série naturais, c duplamente introduzida. Explico-me: sofre a influência
de fenômenos mais simples, que se determinam uns aos outros, associando-se de certos fatos e, por outro lado, ela exerce sua influência sobre
ou combinando-sc, cm vista de um objetivo final comum. Ora, o objeto outros; por esta razão dupla, pertence à Geografia. Eis por que
essencial, para o fisiólogo, é determinar as condições elementares dos fenô temos o direito c a obrigação de juntar, ao grupo de forças materiais,
menos fisiológicos e perceber sua subordinação natural, a fim de compre cujas ações incessantes fizemos notar, essa nova força, que não é
ender e seguir, depois, suas diversas combinações no mecanismo tão vário unicamente de ordem material, mas que se traduz por efeitos mate
dos organismos dos animais. O antigo emblema, onde se representa a vida riais — ou seja, a atividade humana. Eis como somos conduzidos
por um circulo formado de uma serpente mordendo a própria cauda, pro a estudar, como geógrafos, a ação do homem na Natureza — sem a
porciona uma imagem bastante adequada da realidade. Com efeito, nos separar, nunca, do estudo da Geografia natural ou Geografia Fisica.
organismos complexos, n organismo da vida forma mesmo um circulo
fechado, mas um circulo que possui cabeça e cauda, no sentido de não 17 Vidal de La Blache, Le príncipe de la Géographie gênérale (A.
terem todos os fenômenos vitais a mesma importância, se bem que tenham de G, 15 jan. 1S96, pág. 129).
um seguimento na realização do cireulus vital. Assim, os organismos mus
culares e nervosos fornecem e mantêm a atividade doj órgãos que preparam
o sangue; mas o sangue, por sua vez, nutre os órgãos que o produzem.
Há uma solidariedade orgânica ou social, que origina uma espécie de movi
mento perpétuo, até que o distúrbio ou a cessação de ação de um elemento
vital necessário venha a romper ou determinar uma perturbação, ou uma
parada no funcionamento da máquina animal." *•
16 Intròduction â la Médecine Expérimentale, pigs. 151-152.
ínmiiími > i í v> > » > n ^ n ^ v i v i ) >i n *

ANTECEDENTES E INÍCIOS 43
CAPITULO II

/
dois homens puseram cm evidência as concepções diretrizes daquela
parte da Geografia que devia transformar-se na Geografia Física,
assim como daquela que devia ser a Geografia Humana: um foi o
grande sábio, observador c inovador, Alexandre de Humdoldt
COMO AGRUPAR E CLASSIFICAR OS FATOS
(1769-1859), autor de Cosmos; l o outro, sobretudo historiador e
DA GEOGRAFIA HUMANA? filósofo, foi sempre dominado por uma preocupação Ideológica que,
apesar dos exageros inevitáveis, o levou a procurar por toda parte
as afinidades c as conexões entre o homem c a (erra: Karl Ritter
I. Anlecedenlei e inícios da Geografia Humana propria (1779-1859), autor de Allgemeine Vergleichende Erdkunde.*
mente dita. A orientação dada por Ritzel. — 2. Oi falar Devemos associar esses dois grandes nomes numa homenagem co
da Geografia Humana danificados por ordem de complexidade mum à origem de todo esforço e de todo ensaio modernos, que
crescente. Da Geografia das necessidades vitais bilicas tendem a fixar o método das pesquisas geográficas.
(necessidades fisiológicas fundamentais: comer, dormir, ves Depois disso, cm 1882, Ratzel publicava o primeiro volume
tir-se) à Geografia Política e, em seu sentido mais geral, de sua Anlhropo-Geographicr Sem dúvida, não era o verdadeiro
â Geografia da História. — 3- Ensaio de uma nora clauifi- inaugurador dessa maneira de encarar c analisar os fatos humanos.
eaçáo positiva. Os íris grupos e os seis tipos de fatos esicn- Até nas obras dos maiores historiadores e filósofos gregos, desco
ciais. As pequenas unidades naturais: as "ilhas" do mar, do brem-se reflexões engenhosas e acertadas, as quais, apesar de seu
deserto, da floresta e das grandes altitudes. — 4. As forçai caráter fragmentário c esporádico, permitiriam invocar a velha auto
naturais. A água e o vento. Os slres humanos. Oi mapas ridade de Heródoto e de Tucídides, de Hipócrates e de Aris
básicoi: mapa dai chuvas e mapa da população. tóteles, a favor dessa jovem Geografia. Ratzel, sobretudo, seguia
a tradição c desenvolvia, naturalmente com maior precisão, as noções
1. Antecedentes c inícios da Geografia Humana propriamente do célebre Karl Ritter. Porém, ao criar uma palavra que foi
dita. A orientação dada por Ratzel utilizada como rótulo para os novos estudos, contribuiu mais do
que ninguém para a boa sorte dessa ordem de pesquisas.
A Geografia moderna tem por objetivo a comparação e a clas
sificação dos fenômenos e tende a ser uma explicação destes, no Ratzel viu os homens como realidades, recobrindo parcelas de superfí
sentido mais amplo da palavra. A Geografia antiga se definia cie terrestre, revestimento vivo, digno da observação do geógrafo, da mesma
como descrição da terra; a nova Geografia é, verdadeiramente, a forma que o revestimento vegetal ou o povoamento animal. Percebeu
ciência da terra. Não se contenta com a descrição dos fenômenos; os grupos humanos c as sociedades humanas se desenvolvendo sempre dentro
pretende explicá-los. Estuda as diversas forças que agem atualmente dos limites de um quadro natural (Rahmeii) determinado, ocupando sempre
sobre a terra, em seu desenvolvimento, em suas manifestações, em um lugar preciso sobre o globo (Stelle) e necessitando sempre, para se
suas conseqüências; em segundo lugar, estuda estas diversas forças alimentar, para subsistir, para crescer, de um certo espaço (Raum).
nas relações que as unem umas às outras e nas conseqüências de tuis
relações. Como acabamos de expor, a Geografia científica, a Geo
grafia moderna é dominada por duas idéias capitais: a idéia de 1 A. A. MlCHIEM, Alcstaudro Humboldt e i suai viaggi, Turim, G.
B. Paravia. 1930.
alividiule, por um lado, c a idéia de conexão, de outro. Não é mais
um inventário, c uma história. Não mais uma enumeração, mas um 2 O primeiro volume da Anthropo-Geographie apareceu cm 1882
(Stuttgart, Engclhorn), e o segundo, intitulado Anlhropogeographie (sem
sistema. Tem como fim duplo observar, classificar, explicar os hífen), cm 1891. Ratzel, cm 1899. publicou uma 2' edição profundamente
efeitos diretos das forças atuantes c os efeitos complexos destas forças modificada e transformada do primeiro volume. Uma 3' edição foi publicada
associadas. depois de sua morte, sob os cuidados de A. Penck. sem modificação do
texto, cm 1909. Uma segunda edição do segundo volume apareceu, cm
1912, sob o controle e os cuidados de E. Friedrich. Ver, cm La Géographie
Precisamos chegar ao século XLX para assistir ao verdadeiro Humaine (3* e 4* eds., pág. -10), a indicação de diversos estudos cm francês
renascimento da Geografia, na Europa. No começo do último século, sobre a obra de Ratzel.
rrrptppprfffffp p p 0 p 0 9 0 0 p 9 p p p p pip p p p p p p p p r p < ipppp
44 COMO CLASSIFICAR A GEOGRAFIA HUMANA ? ORDEM DE COMPLEXIDADE CRESCENTE 45
O Prof. Ratzel me narrava, êlc próprio, nesses termos, no mês de janeiro Ensinava-se Geografia às crianças e aos jovens em manuais, sem ilus
de 1904 (alguns meses antes da sua morte), a evolução característica de trações c sem mapas; os atlas, para os alunos, eram livros desconhecidos
sua carreira: "Viajei, desenhei, escrevi. Dessa maneira, fui conduzido à e mesmo, às vezes, proibidos.
Naturschildcning. n Entremcntcs, voltei da América c me disseram que havia Sem dúvida, seria falso julgar acerca do desenvolvimento de uma
necessidade de geógrafos. Então, reuni c coordenei todos os fatos que eu ciência através <lo ensino que' dela é, comumcnle, fornecido. O ensino é,
mesmo havia observado e colhido acerca da emigração chinesa para a pelo menos, uma imagem reveladora dessa ciência, ofcrcccndo-nos infor
Califórnia, para o México, para Cuba e redigi minha obra sóbre a emigração mações seguras. Podem-se e devem-se levar cm conta os esforços tentados "
chinesa, que foi minha tese". * e o imenso progresso realizado.
Por meio de um trabalho de Geografia Humana, o futuro autor da
Anlhropo-Geographie conseguiu ser admitido nas cátedras universitárias; mas A bem da verdade, é preciso declarar que a influência de Vidal
ele era do número daqueles que estão convencidos — c com muita ra2ão — de de La Blache foi de uma fecundidade decisiva: a escola geográfica
que toda Geografia Humana séria e sólida deve repousar sobre a Geografia francesa, colocada, hoje em dia, logo em primeiro plano pdos estu
Fisica.
diosos estrangdros, em grande parte brotou, sem dúvida, de seu
ensino e de seus livros.s
E coisa delicada observar e explicar os fatos naturais; muito
mais delicado é observar e analisar os fatos geográficos humanos. 2. Os fatos da Geografia Humana classificados por ordem de
O dom da observação, que é indispensável, não basta mais. fi im complexidade crescente. Da Geografia das necessidades
possível realizar algo de bom como geografia humana, sem uma vitais básicas (necessidades fisiológicas fundamentais: comer,
cultura histórica, econômica e filosófica forte. E, sob esse ponto- dormir, vestir-se) à Geografia Política c, cm seu sentido
-de-vista, o espírito de Ratzel estava, sem contestação, bem pre mais geral, à Geografia da História
parado.
Ratzel foi um evocador de idéias: não é menos verdade que Certas condições da vida humana são tão gerais c tão uniformes
teve mais pensamento superabundante do que disciplina metódica. que devem ser plenamente realizadas, e não admitem nem soluções
Suas obras, sobretudo as últimas, não evitam bastante as dissertações
estranhas à Geografia. Os que seguiram os ensinamentos de Phênomènes de la Vie du Globe exigiriam uma atualização ou correção em
Ratzel devem inclinar-se para o preenchimento da principal falha muitos pontos; mas como revelam uma compreensão ardente da natureza
física I E quanto à sua obra Nouvelle Géographie Univcrselle, La Terre ei
da sua obra, através da busca de princípios práticos de observação les Hommes, 19 vols. in-A", ver o que d£Ic diz um geógrafo competente c
e pelo estabelecimento de um método de dassificação. cujas apreciações são sempre conscicnciosas e comedidas. Lucien- Gallois,
Ratzel gostava de citar Karl Ritter freqüentemente e de nos Annales de Géographie (4° ano, 1895; Bibllographie de 1'année 189-1:
redamar para si a geografia comparada.i Os nomes dos dois mere rC 1.314). Ver também Paul Girardin e Jean Brunhes, Elisée Reclus,
Leben und Wirken (1830-1905). na Geogr. Zeitschrift, XII, 1906, págs.
cem ser colocados em pé de igualdade. 65-79; e, dos mesmos autores: Conceptions sociales et vues géographiques.
La vie et 1'ccutre d'Elisêc Reclus, na Revue de Fribourg, abril c maio 1905.
Na França, o renasdmento foi lento; antes da penetrante e 7 Jean Brunhes. Cours Prêparaloire, Elémenlaire, Moyen el Supé
profunda transformação, à qual sobretudo ficará ligado o nome de rieur de Géographie, Tours, Mame (3 vols.). Colleciion Jean Brunhes:
Cours Complel de Géographie pour l'Enseignement Secondaire, Paris, A. Haticr
Vidal DE La Blache, nosso ensino permaneceu fiel, por um tempo (com a colab. de A. Ai.llx, H. Boucau, E. Bruley, M. Grosdidiek de
demasiado longo, a uma rotina indesejável. • Matons, A. Levritz c Merlier). Collcclion Jean Brunhes: Caries mura-
les, idera.
3 Ver uma das últimas obras publicadas por Ratzel, Ueber Natur- 8 Sobre a história da Geografia Humana, podem-se consultar, com
schilderung, 1904, ;»-8', 394 págs. e 7 pranchas de fotografias. proveito: JEAN Brunhes, Human Geography, cm The Hinory and Prospecn
4 Die chinesische Auswandetung, Brcslau, 1876. of the Social Sciences, publicado por I-I. E. Barnes, Nova York-, Knopf, 1925
(Cap. II, págs. 55-105), assim como C. Vallaux, Les Sciences Géographi
5 Ver principalmente o artigo: Karl Rilter (Beilage zur Allgmcine ques, Paris, Alcan, 1925, 415 págs. A. Hettnek, Die Géographie, ihrc
Zeitung, n° 221, 1879). Gescbichte, ihr Weien, und ihre Melhoden, Brcslau, F. Hirt. 1927, VIII -|-
6 Não poderia deixar de mencionar o prodigioso esforço desenvol 465 págs. Emm. de Margerie, Vcsuvre des Géographes Français Depuis
vido, durante um quarto de século, por ElisÊE Reci.US com o fim de reno Cens Ans, Bruxelas, Dykmans, 1927, 19 págs., e mais particularmente sobre
var os estudos geográficos. Seus dois volumes La Terre, Deseriplion dei o papel e as obras de Jean Brunhes: A. Allix (Les Ei. Rbod., VI, 1930,
niiiuviun) vnn mn ) > >>iiii">->"> lUinniH
i
46 COMO CLASSIFICAR A GEOGRAFIA HUMANA ? ORDEM DE COMPLEXIDADE CRESCENTE 47

incompletas nem intermitentes: assim, os homens, onde quer que comendo e bebendo. Nas zonas da sede, nas regiões pobres cm
vivam e qualquer que seja seu modo de existênda, precisam, em água, é que se compreende a imperiosa subordinação dos homens
primeiro lugar, de ar respirávd; do mesmo modo, cm virtude do á água. Aqueles homens que parecem ser os mais independentes
peso, necessitam de um ponto de apoio material e sólido, quer seja das condições locais e que escapam ao aprisionamento geográfico de
este ponto de apoio a terra firme, ou, por exceção, a torre de um nossa vida sedentária, os nômades, os grandes pastores, não fogem
navio ou a nacela de um balão. Tais são as condições que intervém ã tirania da água: todas as suas trilhas, todos os seus itinerários,
desde a origem, e de um modo imperioso, para reduzir o campo todas as suas incursões devem, antes de tudo, levar em conta os
geral da terra habitada — como desde o início assinalamos — a esta pontos de água; o reabastecimento de água permanece sendo o mais
zona de- contato, onde se encontram c se tocam a superfície sólida constante e o mais grave de todos os problemas quotidianos. Por
e a atmosfera. a toda a parte, a água rege soberanamente a atividade humana. Quan
Mas há outras condições materiais indispensáveis à vida humana •
to il nossa alimentação, é constituída de produtos vegetais ou animais,
que, sobre os diferentes pontos da terra, são suscetíveis de soluções produtos provenientes, em sua totalidade, de seres que ocupam um
indefinidamente variáveis; lembrá-las é indicar quais são as causas lugar na superfície do globo. Melhor ainda: os animais terrestres,
e quais são os modos principais dessas relações incessantes que os de que se nutrem os homens, nutrem-sc de vegetais onde outros
homens estão obrigados a estabdecer entre si mesmos e o meio animais se nutrem, por sua vez, de vegetais. Não é apenas à
ambiente. A medida que as exigências humanas tornam-se menos Geografia geral da vida que se prende a Geografia da alimentação,
grosseiras c mais complexas, veremos oferecerem-se, à nossa análise, mas à Geografia especial dos vegetais. Na origem e no princípio,
grupos de fenômenos geográficos cada vez mais complicados, e através de transformações mais ou menos distantes, devemos reen
também cada vez mais confusos. Se percorrermos de início, come contrar uma parcela do revestimento vegetal da terra em quase todo
çando pelos fatos mais elementares e mais simples, todo o conjunto alimento humano. As refeições de um ser humano representam,
desse domínio emaranhado e heterogêneo, a seguir deveremos tentar portanto, de maneira direta ou indireta, o corte de uma extensão
— e, cm última análise, da maneira mais rigorosa possível — deter mais ou menos restrita da cobertura vegetal, natural ou cultivada.10
minar quais são os fatos positivos essenciais que a Geografia Humana E, do mesmo modo, os homens que se alimentam de peixes
exige sejam examinados em primeiro lugar c para os quais será colhem para suas refeições quotidianas, indiretamente, uma porção
sempre conveniente reservar o lugar primordial. mais ou menos grande desta pastagem orgânica do mar, o plankton.
Todas as vezes que os homens se desalteram ou se alimentam,
I») GEOGRAFIA DAS NECESSIDADES VITAIS BÁSICAS portanto, aproveitam-se de fatos da superfície por eles modificada;
e, pela repetição ininterrupta de suas refeições, acarretam modifica
A. Incessantemente, o homem tem necessidade de se alimen ções geográficas incessantes. Assim, os homens estão ligados, por
tar: várias vezes por dia, deve renovar as forças de seu organismo, meio de rdações materiais regulares e periodicamente rcgulares, a
múltiplos fatos de superfície, que por sua vez estão em intima
dependência das condições gerais e locais do solo, do oceano, do
págs. 340-342); J. H. Barata (Labor, VI, 1931, págs. 84-92); H. Boucau dima. Em conseqüência dessa coleta de alimentos ou de bebida,
(Les Nouv. Litt., 29 ag. 1930); S. Charlety (Ac. der Sc. Mor. et Poi.,
17 dez. 1932); P. Deitontaines (A. de la Fond. Thiers, XXIX, 1931, todos os dias e diversas vezes por dia repetida, coleta operada pdos
págs. 7-17); D. Faucher (Ren. G. des Pyr. et du S.-O., I, 1930, págs. dois bilhões, mais ou menos, de indivíduos humanos que a habitam,
514-515); G. Goyau (Ass. Am. de Sec. des Anc. El. de VEc. Norm. Sup„
1933, págs. 66-71);.J. Lozach (S. R. de G. dEgypte, XVII, 1931, págs. 10 Dr. A. Maurizio, Histoire de L'Alimcntation Vègétale Dcpuis la
266-268); Emm. du Martonne (Ann. de Géog., XXXIX, 1930, págs. 549- Préhiitoire Jusqu'á Nos fours, trad. pelo Dr. F. Gidon, Paris, Payot, 1932,
-553); G. de Rbparaz fiis (B. Hisp., XXXIII, 1931, págs. 39-43): P. Def- 664 págs. Ver também G. Hardv e Ch. Riciíet fils, L'Alimcntation Indigine
fontaines c M. Jean-Brunhes Delamarre, em Problèmes de Géographie dans les Colonies Françaises, Paris, Vigot frèrcs, 1933, 388 págs., e D. Bois.
Humaine, Paris, Bloud Sc Gay, 1939 (págs. 9-48). [B. A.] Les plantes alimentaires chez Sous les pcuples el à Iravers les ages. Histoire,
9 Ver Jean Brunhes, Au Seuil de 1'Année 19W, Lei Limises de utilisaiion, culture, 3 vols. (Encyclopêdic Biologique), Paris, Paul Lechevalier,
Notre Cage, discurso de reitorado pronunciado em Friburgo, por ocasião da 1928, 1934. assim como era G. Hardy, Géographie Psychologique (Col.
inauguração do ano universitário, no dia 15 de novembro de 1909, Friburgo. Géographie Humaine), Paris, Gallimard, 1939, 200 págs., o capítulo con
1911. in-ü\ 40 págs. sagrado i alimentação (págs. 38-46). [B. A.]
PPPPPPPPPPPPPPPPtiPPPP€PPPPPPPPPPPPPPPPPP00000
COMO CLASSIFICAR A GEOGRAFIA HUMANA ? ORDEM DE COMPLEXIDADE CRESCENTE 49
48
a superfície terrestre sofre infinitas e grandiosas mudanças e reno folhas ou cascas) e, por isso ainda, depende do quadro natural, em
vações, que são, ao pé da letra, incomensuráveis. Dupla série de certa medida.
fenômenos geográficos, ligados à Geografia da alimentação.
Alimentação, habitação, vestimenta, tais são os três fundamen
B. Todo ser humano, cm condições de saúde, perde a cons tos essenciais de toda a Geografia dita econômica. Ora, esses fatos
ciência de si durante um tempo mais ou menos longo; em cada humanos não nos interessam apenas por toda a atividade deter
período de vinte e quatro horas, êlc dorme. A vida dos civilizados minada por cies; interessam-nos, primeiramente, por si mesmos. E
é organizada de tal forma que a satisfação das necessidades essenciais devemos tentar discernir quais são os que apresentam maior interesse,
se encontra nela assegurada através de meios simples e normais; e sob o ponto-de-vista geográfico, desde estas primeiras considerações.
é-nos difícil perceber aquilo que, para o selvagem, é a tirania Dos fatos enumerados, as vestimentas são, sem dúvida, os
periódica do sono. Esse abandono de si mesmo torna o homem menos dependentes do quadro geográfico. Elas não devem ser
uma presa fádl para todos os que querem atacá-lo, tanto para seus renovadas todos os dias, como a alimentação: uma vez confeccionadas,
semelhantes quanto para os animais. têm certa duração. Além disso, as vestimentas, por definição, são
Logo, todos os homens, de todos os países, são levados a móveis e transportâvcis: não estão fixas em um ponto do solo, como
procurar um abrigo. Trata-se de um ponto definido da superfície, a habitação. Escapando à dupla escravidão da renovação incessante
onde o homem se instala por algumas horas e para onde é, muito e da localização, cm certa medida escapam à tirania inflexível das
naturalmente, forçado a voltar, quer seja um abrigo tão rudimentar condições naturais imediatas.
quanto possamos imaginar, galhos c cipós entrelaçados na ramagem A alimentação precisa ser incessantemente renovada, c os ali
emaranhada das florestas equatoriais (pigmeus da África Central), mentos são como liames materiais que devem ser estabelecidos, em
um abrigo sob as rochas (numerosas populações pré-históricas e horas certas, entre o homem e a terra; porém, muitos alimentos são
atuais), ou cavernas na neve (esquimós). E êste o princípio c o
embrião de fato tão importante da Geografia Humana: o abrigo, transportâvcis. Os transportes multiplicados, melhorados, facilita
a habitação.
dos tendem a mesclar, mais e mais, tudo o que consomem os homens.
A habitação não predsa ser quotidianamente renovada; mas
C. O corpo humano deve manter-se em certa temperatura, por é fixa, ocupa um ponto preciso no espaço; sob <5 ponto-de-vista
volta de 37°; as temperaturas frias demais exduem radicalmente geográfico, tem a vantagem de ser um fato, muitas vezes conside-
qualquer vida; por causa desta necessidade orgânica, as latitudes rávd, utilizando cm geral recursos naturais bem próximos, e de ser
muito altas assim como as altitudes muito elevadas são limites natu um fato durável, em determinada situação. A habitação móvel, a
rais para a vida humana. Entretanto, o organismo humano possui tenda do nômade, participa da fadlidade de transporte caracterís
um maravilhoso poder de reação às condições climáticas, sobretudo tica da vestimenta; geograficamente, é uma espécie de vestimenta.
se fôr auxiliado, em sua defesa contra a perda de calor, pelas ves
timentas. Assim, vestir-se corresponde a uma necessidade vital, Fenômeno localizado e fixo, a habitação é, por excelência, um
para as populações de muitas regiões da terra, e não somente na fenômeno geográfico. Dentre todos os fenômenos ligados à satis
zona de frio extremo, mas também nas zonas secas dos grandes fação das necessidades essendais da vida humana, é o que possui,
espaços desérticos, onde o homem se preserva, por meio de vesti no mais alto grau, uma significação geográfica, e, daqui a pouco,
mentas, tanto do excesso de calor quanto da radiação noturna e da caberá lembrar que, por esta razão, êle merece ser objeto de uma
evaporação; porém, nem é- preciso dizer que não faltam, sóbre a observação muito especial. A habitação é devido tun lugar excep
terra, os lugares cm que o homem pode viver sem se vestir, nota- cional na hierarquia geográfica dos fatos humanos.
damente nas zonas quentes e úmidas. A necessidade de cobrir-se Isso lhe 6 devido tanto mais porque toda modalidade do tra
está longe de apresentar a mesma generalidade e de exercer sobre balho humano, sobre a superfície da terra, acarreta formas de ins
o homem o mesmo poder que a necessidade de se alimentar e de talação pelo menos temporárias ou intermitentes; não há obra
dormir. Mas, geograficamente falando, tal necessidade tem ainda geográfica humana, em um ponto do espaço, sem que a ela se
um grande valor, pois o homem se cobre, em quase toda parte, juntem, se justaponham ou se superponliam fatos de habitação.
com determinados produtos animais ou vegetais (penas, peles, couro, Tudo conduz à casa e aos aglomerados de casas, vilas ou cidades,
* 9 9 9 *9 >1 ^ > -> ^ ^ •% ^> 1 ^ ^ > ^ > > ^» > > I >tt*1^Hf1^1t^^ •* ** *
COMO CLASSIFICAR A GEOGRAFIA HUMANA ? ORDEM DE COMPLEXIDADE CRESCENTE 51
50

tão bem que, no fim último de qualquer estudo de fenômenos de geografia cultural, a geografia pastoril c a geografia industrial cor
Geografia Humana, quaisquer que sejam eles, seremos obrigados respondem a esse segundo estágio, mais complexo, da Geografia
a examinar e constatar como se manifestam ainda e além do mais Humana.
corolários ou conseqüências — cm casas esparsas ou aglomeradas.
3') GEOGRAFIA ECONÔMICA E SOCIAL
2«) GEOGRAFIA DA EXPLOTAÇAO DA TERRA
Um dos instintos c necessidades primordiais dos seres humanos
Até aqui, temos falado — aliás, deliberadamente — dos fatos é, ainda, a perpetuação da espérie. A observação positiva nos mostra,
materiais que respondem à satisfação das exigências primárias da por toda parte, o gênero humano assegurando a transmissão da
vida humana, sem examinar os meios e as modalidades por que os vida; e por toda parte constatamos, pelo menos, embriões de
homens chegam i satisfação de tais exigências. Ora, nem sempre, família e de sociedade. Em parte alguma o ser humano está só,
nem em toda parte, eles se contentam em apanhar frutos selvagens apenas por exceção fica sozinho; certos indivíduos podem isolar-se:
para se alimentar (simples colheita), nem sempre, nem em toda então não pertencerão mais à humanidade geográfica.
parte, se contentam cm matar animais que não foram criados por O fato positivo e real é o dos homens vivendo por toda
eles (caça c pesca), mas, de antemão c em função do futuro, pensam parte cm grupos, sóbre a terra. Essa é, ainda, uma das observações
e maravilhosamente se dedicam a assegurar-se produtos vegetais, essendais, devendo governar a Geografia Humana c determinando
animais ou minerais. Obedecendo constantemente ao imperioso uma terceira c riquíssima série de fatos.
domínio de suas necessidades vitais, o homem se preocupa sempre Os mais simples fatos resultantes dessa pluralidade de seres
com sua previsão; não quer mais satisfazê-las pura e simplesmente humanos cm todos os pontos da terra são as trocas. E o fato da
à medida que aparecem: prevê as exigências futuras c, em conse troca é para nós importante, sobremaneira, já que se traduz por esta
j
qüência, trabalha. Dessa forma, discernimos uma segunda série de expressiva realidade geográfica, o mercado.
IO fatos, mais complicados, nos quais intervém, como fator essencial, Mas os homens não se encontrara, apenas, na necessidade de
o trabalho organizado do homem. distribuir entre si os produtos da terra; são obrigados a regulamentar
Desde já, observemos que tais fatos interessam a Gcogratia, entre si — de modo mais ou menos nítido c consriente — as condi
na exata medida em que se expressam, na superfíde, por fatos ma ções da produção, a distribuição do trabalho c, sobretudo, a divisão
teriais: não é o fato psicológico da previsão que nos importa aqui, do solo.
e solicita a nossa atenção, mas a expressão material e geográfica Já que os homens desejam utilizar os recursos e as riquezas
desta previsão. naturais, devem resolver não somente problemas técnicos — culturas,
À cultura dos cereais se expressa por um campo de cultivo c um
minas, etc. — mas também problemas de coordenação e de subordi
celeiro, a criação primitiva por um deslocamento mais ou menos regular,
nação de seus próprios esforços: leis econômicas e sociais cstabelcccm-
•se entre uns c outros, com maior ou menor inflexibilidade. A mo
o trabalho do faiscador de ouro ou do homem i procura de sal, por uma
instalação: O campo c o celeiro do lavrador, o itinerário do nômade, o dalidade de propriedade, coletiva ou individual, nos oferece um
estabelecimento do fiiscador ou da salina — eis, ao mesmo tempo, os fenô exemplo típico dos numerosos fatos sodais que se prendem ao
menos novos, através dos quais estes novos fatos humanos se manifestam próprio trabalho de exploração da terra, através de uma adaptação
no mundo geográfico, fenômenos estes que servem paru diferenciar a segunda mais ou menos direta c feliz.
série da primeira.
Segundo os grupos humanos estejam colocados neste ou naquele quadro
Partindo da ordem dos fatos espontâneos, ou quase espontâ geográfico, se apresentam inclinados a realizar culturas, aqui de palmeiras,
neos, implicando apenas movimentos impulsivos e muitas vezes ali de arroz, acolá de trigo; inclinam-se a criar, aqui cavalos e éguas, como
imediatos, sob a ação de necessidades vitais, chegamos a uma nas estepes herbáceas do centro da Ásia, ali animais da espécie bovina, como
ordem de fatos comandada pelo trabalho cm vista de um futuro nas montanhas da Europa Central ou nas ilhas do lago Tchad, ou às margens
mais ou menos longínquo. Todos esses fenômenos de superfíde do lago Rodolfo, acolá, ainda, carneiros c ovelhas, como nos altos planaltos
podem ser agrupados sob o titulo geral de explolação da terra: a secos d» Ibéria ou da Bcrberia... E esses diversos modos de atividade
c r gr c r r r c c r f r c c r c f c r r r r r tif c e e e r r e e r c f e e r * * c e c r r e *
COMO CLASSIFICAR A GEOGRAFLV HUMANA ? ORDEM DE COMPLEXIDADE CRESCENTE 59
52
compreendem combinações muito variadas de organização social. A con A história se desenrola sobre a terra; mas é composta dos ele
cepção e os limites da propriedade não são os mesmos, como o veremos, mentos mais complexos, mais intrincados, dos mais distanciados das
para um lavrador que, todos os anos, refaz sois sulcos sobre o mesmo condições geográficas elementares. E por meio de fatos intermediá
campo, c para um pastor a guiar grandes rebanhos de cavalos ou de camelos, rios — fatos da segunda série (cultura, pastagem, etc.) e fatos d.i
através de espaços vastíssimos, quase vazios de vegetação arborescente e de terceira série (fatos de Geografia Social), sobretudo — que se
população sedentária. explica a ressonância profunda da Geografia na evolução das
Podemos aglomerar todos esses fatos sob o termo de geografia sociedades humanas.
social; mas convém não esquecer nunca que, mesmo estando tais Em virtude de uma ilusão singular, a Geografia da História —
fatos, tão complexos, cm conexão com o quadro geográfico, depen a parte mais complicada da Geografia Humana — é ao mesmo
dem sobretudo da vontade e da liberdade humanas; logo, sua análise,
tempo o empreendimento geográfico mais audacioso, mais aven-
sob o ponto-de-vista geográfico, será muito delicada c exigirá uma
prudência crítica muito esdaredda. turoso, e o que, com muita freqüênda, pareceu ser o mais fácil.
Quem olha para um mapa das Ilhas Britânicas, c se recorda vagamente
4') GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOGRAFIA DA HISTORIA da história da Inglaterra, estabelece tão rapidamente uma "ligação enUc o
Por fim, a coexistência de grupos múltiplos, todos apresentando isolamento insular destas terras c seu destino histórico que, imediatamente,
as necessidades de se alimentar da terra e de ocupar uma pareda recorre à Geografia como causa explicativa da história; e nisto não há erro.
do solo, cria forçosamente entre eles relações às vezes pacíficas, por Porém, essas primeiras conexões de conjunto são tão visíveis e tão verda
vezes violentas, algumas das quais também se ligando a certos fatos deiras que basta uma inteligência atenta para aperceber-se delas; ninguém
gerais ou locais de natureza geográfica, tem necessidade de uma aprendizagem custosa, no que diz respeito à obser
Ainda mais esclarecida e prudente deve ser a crítica exercida vação, para perceber a influencia geral da imularidade da Inglaterra sobre
sobre esta quarta c derradeira série de fatos da Geografia Humana: a política e o destino de Napolcão I. Mas teremos o direito de nos satis Si
a Geografia da História, " isto é, política, militar, administrativa, fazer com relacionamentos de tal maneira fáceis? O verdadeiro arqueólo
etc. Como é fácil adivinhar, tais fatos dependem adma de tudo go poderá contentar-se com a percepção das relações gerais existentes entre
das vidssitudes humanas c estão longe de ter sempre um valor uma catedral gótica c certo perigo da história da cristnndadc? E o verda
verdadeiro ou um sentido realmente geográfico. No entanto, deter deiro botânico poderá declarar-se satisfeito só porque percebe alguma relação
minadas condições geográficas fundamentais (situação topográfica, entre o clima ou a altitude e o desenvolvimento das grandes florestas de
altitude, orientação, proximidade do mar, dimensões do espaço con pinheiros ou de abetos negros? O crítico literário se contenta cm estabe
quistado ou ocupado, etc.) desempenham tal papel nos destinos
lecer uma relação de simples contemporaneidade entre as obras de Boileau,
das cidades, das províncias ou dos países, que a história desses
fatos não pode estar livre de toda consideração geográfica. Mais Racinb c La Bruverr? Seria o geógrafo o único a contentar-se explici
do que isso: a história humana mergulha, por todas as suas raízes tamente, após haver indicado certa relação de conjunto, ainda que adequada,
(se é possível falar-se assim), na realidade material terrestre. entre a situação geográfica de um território e seu destino iiistórico, de
modo geral?
Quererá isso dizer que se possa explicar a história inteira atra
vés da Geografia? Seguramente não. Além disso, se a análise não 6 mais precisa, corre-se o risco
de, com freqüência, chegar-se a considerações superfidais ou errôneas:
11 Observação muito importante: nas duas primeiras edições, havíamos testemunha disso são as numerosas c eloqüentes generalizações de
dito Geografia Histórica, e não Geografia da História. Refletindo mais pro Michelet. '** Por outro lado, se é conveniente ir adiante, surgem
fundamente, consideramos que a expressão Geografia Histórica se prestava numerosas dificuldades: a tarefa é por demais delicada para ser
a verdadeiras confusões e resolvemos rejeitá-la na obra presente, mantendo empreendida desde o primeiro contato. Como primeira conseqüên-
exclusivamente um outro sentido (ver nosso Apêndice, no fim do volume,
4' edição de A Geografia Humana). Então não havíamos encontrado a
expressão mais clara, que adotamos definitivamente: Geografia da His 12 Ver moi modesto ensaio sobre Michelet, Paris, Perrin. fn-12.
tória. [B.A.] 63 págs.
ll^lll^l^l l^^^^l^^^l^n^ u n v i n m n u v i nm

COMO CLASSIFICAR A CEOGRAFIA HUMANA .' NOVA CLASSIFICAÇÃO POSITIVA 55


54

cia dessa concepção mais científica das relações entre a Geografia não apenas qualquer noção a priori, todo preconceito, mas também
c a História, temos que é preriso começar pela base, isto é, por todo dado especial concernente ao organismo humano? Não haverá
meio de trabalhos menos ambidosos e mais modestos. meio de colocar, na origem de toda Geografia Humana, menos
Eis por que, com todo o rigor, dividiremos cm duas partes a conhecimento adquirido do homem e mais Geografia? Não teremos
Geografia Humana entendida cm seu sentido mais geral — a parte a obrigação de nos livrarmos, tanto quanto possível, de toda con
que diamaremos Geografia Humana inicial ou fundamental, isto é, cepção psicológica, etnológica ou social, c de cumprir esta missão
a dos fatos que, a seguir, serão definidos c seriados sob o nome de primordial, ou seja, a observação positiva dos fatos humanos sobre
fatos essenciais,''a do presente volume, à qu3l reservamos a deno a terra, a eles mesclando, o menos possívd, o elemento subjetivo
minação própria de Geografia Humana, c a outra, que merece real humano?
mente O nome de Geografia da História, c sobre a qual Camille Mais tarde, voltaremos aos estágios lógicos c ao mesmo tempo
Vai.laux e eu concebemos e compusemos, cm íntima colaboração, sociológicos (alinhados no parágrafo precedente) do conjunto desta
um segundo livro, análogo a este.Ia Geografia do homem; mas não deve ser este o verdadeiro princípio:
Portanto, em Geografia Humana, é importante proceder como nossa Geografia — que é, por excelência, dência de observação —
cm todas as ciêudas de observação, classificando os fatos, destacando deve começar por uma visão mais direta, por uma coleta mais posi
categorias precisas do conjunto intrincado de que fazem parte c tiva, por uma dassificação mais material.
levando a cabo a observação comparativa destes fatos destacados Elevcmo-nos, como o imagina, mais ou menos, o geólogo Suess,
em uma série de casos análogos ou vizinhos, ou progressivamente no começo de sua grande obra, Das Antlilz der Erde {A Face da
distintos: programa cujos artigos principais se trata, agora, de Terra), levantemos vôo num balão ou num acroplano, até algumas
indicar com nitidez.
centenas de metros adma do solo; e, com o espírito desembaraçado
3. Ensaio de uma nova classificação positiva. Os três grupos de tudo o que sabemos dos homens, tentemos ver e anotar os fatos
^j c os seis tipos de fatos essenciais. As pequenas unidades essenciais da Geografia Humana, com os mesmos olhos c o mesmo
naturais: as «ilhas» do mar, do deserto, da floresta c das olhar que nos permitem descobrir c deslindar os traços morfológicos,
grandes altitudes topográficos e hidrográficos da superfície terrestre. Que percebe
mos, aqui desse observatório suposto? Ou, melhor ainda, quais são
Geografia elementar das necessidades vitais básicas, Geografia os fatos humanos que uma fotografia poderia registrar, tão bem
da explotação da terra, Geografia Econômica e Social, Geografia quanto a retina?
Política e Geografia da História — acabamos de passar cm revista Em primeiro lugar, os próprios homens, revestimento móvel
todas as principais manifestações da atividade humana terrestre. da superfície e revestimento de densidade muito desigual sobre os
A partir do exposto, concebe-se cm virtude de que razões diferentes pontos do globo. Aliás, o mobilidade é mais restrita e
múltiplas e em que condições muito gerais ns ações dos homens se a desigualdade de distribuição é muito mais persistente e constante
acham envolvidas, englobadas e, por vezes mesmo, encerradas no do que à primeira vista se poderia pensar: cada indivíduo, cada
universo físico. Essa iniciação à Geografia Humana e para das pequeno grupo isoladamente pode-se deslocar c, de fato, se move;
como que um prefácio necessário. Mas apenas um prefácio. nao é menos verdade que, sobre o mapa do mundo, as grandes
Abstcnhamo-nos de confundir uma introdução com um plano metó
manchas de humanidade viva aderem muito tempo aos mesmos
dico e prático de investigação e de pesquisa. lugares; a repartição geral das maiores massas humanas parece
Considerar inicialmente as necessidades fisiológicas dos homens, subordinada a uma estabilidade sem dúvida relativa c, entretanto,
como o fizemos, é explicar como o ser humano, qualquer que seja a uma definida Cespantosa fixidez. Não procuremos, ainda, expli
êle, desde seus primeiros passos e desde as suas primeiras horas de car o fato: nós o constatamos, nós o vemos. A tundra siberiana,
existência, fatalmente entra em contato com o mundo físico. Uma os hamadas saarianos, ou a floresta amazônica são e permanecem
vez lembradas essas necessidades, não será urgente deixar de lado cjuase vazios de homens, enquanto estes se acumulam c se acoto
velam nos deltas lamacentos c úmidos do Extremo Oriente asiático
13 Ob. ciL, Op. 1, pág. 9. ou cm tais c tais distritos da Europa Ocidental ou Central.
\(fPPPPf€PPPP00P000P1 f C ÍPPPP1PPPPPPPPPPPPPPPPPPP
f 56 COMO CLASSIFICAR A CEOCRAFIA HUMANA t nova classificação positiva 57
Corp os homens, junto aos homens e tanto mais numerosos Casas c caminhos, portanto, estão ligados e aliados sobre a terra
quanto maior fôr o número deles, se encontram outros fatos de habitada e representam os dois fatos humanos essendais relativos
superfície, outros fatos concretos, que é possível organizar cm seis no que podemos legitimamente denominar — num sentido bem
tipos essenciais: positivo c sem dar à palavra improdutiva qualquer caráter pejorativo
— a ocupação improdutiva do solo.
I») FATOS DE OCUPAÇÃO IMPRODUTIVA DO SOLO
2») FATOS DE CONQUISTA VEGETAL E ANIf-LAL
a) c b) Casas e caminhos
c) c d) Campos cultivados e anlmais dom esticados
Em primeiro lugar, a "casa" — um dos mais visíveis, espécie
de excrescência superficial — ou, se quisermos, o abrigo, a habita Ainda outras manchas de superfíde aparecem, tanto mais
ção ou a construção humana. numerosas quanto mais denso o povoamento: manchas de contornos
Todos esses fatos inumeráveis c multiformes que polvüham a bastante regularcs c como que definidos, de nnanças variáveis de
crosta terrestre de milhares de pontinhos, vermelho das telhas, cin acordo cora as estações, ora da côr branda da terra nua ou da côr
zento de ardósia. branco de mármore ou de cal. marrom-escuro de
quente e forte da terra trabalhada, ora o verde doce do capim novo,
velhos colmos, ou ocre de fôllias secas, todos esses fatos mais ou o amarelo escuro de espigas maduras, ou o branco ofuscante das
menos compactos, mais ou menos vastos, mais ou menos duráveis, flores de cerejeira ou das fibras do algodão, manchas que correspon
são compreendidos por nós sob o termo geral de casas, desde as dem às partes da superfície cm que o solo foi sulcado, revolvido ou
mais humildes palhoças de selvagens, até os monumentos urbanos gradado; usando um termo ainda bem geral c que expressa a reali
mais complicados, cúpulas de observatórios ou flechas de catedrais, dade observada, trata-se do campo ou da horta: tal é realmente a
c desde as cabanns ou gourbis isolados das estepes áridas, até os tradução geográfica e material da cultura, isto é, da subordinação
conjuntos compactos de habitações contínuas c quase-contínuas das do mundo vegetal à vontade humana. Campos de trigo dos pla
maiores e mais densas aglomerações. naltos da Beóda, ou das terras negras da Rússia, colinas mediter
râneas, de terraços plantados de altas parreiras, ou de vdhas oliveiras
Este primeiro fato é quase cm toda parte e quase sempre acom retorcidas e sempre folhudas, plaribandas alinhadas c compactas das
panhado por outro: o caminho, isto é, a passagem consagrada e, se hortas do subúrbio parisiense, terraços dos arrozais lodosos da China
possível assim dizer, sacrificada a dreulação: atalhos apenas traçados, ou de Java, bosques limpos de eucaliptos nos oásis da Campanha
que conduzem ao chalé ou ao buron da alta montanha, grandes vias romana, ou antigos palmeirais do Saara abrigando, cm suas sombras
pavimentadas ou asfaltadas das nossas cidades, estradas brancas Cujas rendadas, figueiras c romãzeiras, cevada e favas, todos esses campos
voltas hábeis escalam os flancos dos Alpes, das Cévenncs ou do ou hortas representam a tal ponto empreendimentos positivos do
Líbano, linhas férreas suicidas c marcadas pelos trilhos paralelos, trabalho humano, que seriam inscritos cm clichês fotográficos, mesmo
e estradas que andam, caminhos aquáticos, rios represados ou canais. se ignorássemos por meio de que esforços de pnciênda habilidosa
A estrada assim compreendida se relacionam todos os complementos se encontra assim modificado o revestimento vegetal natural da
c todas as excresrências, de caráter material c concreto — marcas c terra, sobre tão vastas extensões c sob formas tão variadas (Pigs. 7
traços da circulação c das comunicações humanas: pontes e túneis, e 8, 61 a 67, 70 e 89).
praças ou portos, tudo isto é, ainda, o caminho. Logo à primeira Observa-se um quarto fato, ora assodado ao campo ou à horta,
vista, constatamos em que jjrnu estão associadas a casa e a estrada, ora ao contrário (e até possante c muito desenvolvido), lá onde
sob o ponto-de-vista geográfico (Pigs, 1 e 64 a 67) e como se mis se rarefazem as manchas de cultura, mas sempre, num caso como
turam de maneira ainda mais intrincada na forma concentrada no outro, ligado à presença dos homens. Dromedários c camdos
da instalação humana: a cidade geograficamente falando, a cidade dispersos, alimcntando-sc dos tufos hirtos e duros do deserto, vacas
fisionomia c realidade, é composta de vazios, assim como de cheios, agrupadas, pastando a erva curta c odorífica da montanha, longos
isto é, de ruas, de cruzamentos e de praças, assim como de habitações rebanhos de carneiros comprimidos, aparando as hastes e as folhas
e monumentos (Pig. 2). das estepes secas do mundo mediterrâneo, ou então cavalos árabes
U l l i m ) Vi >1>>>>>>^>> )>^1>1>>^)^>1 t ,9 %^ * 9 9 9

COMO CLASSIFICAR A GEOGRAFIA HUMANA ? NOVA CLASSIFICAÇÃO POSITIVA


58 59

individualmente dirigidos por mãos humanas, renas conduzindo ou argila; c, literalmente, o buraco é um sinal de economia destru
trenós sobre as neves d3 Lapônia, búfalos egípcios levando o arado tiva (Pigs. 96 e 97)."
e traçando os sulcos do campo, sob o aguilhão do homem — todo Sc a pedreira c a mina — que esgotam as riquezas, sem se
um povoamento animal, que se manifesta nitidamente como subor renovar —• se vêem sobretudo como companheiras e vizinhas geo
dinado à vontade humana c que traduziremos também por uma gráficas dos dois sinais de ocupação isnproduliva do solo, casas c
expressão concreta, dupla e geral: o rebanho e o animal atrelado estradas, o sexto e último tipo de fatos de superfície (também eles
(Pigs. 94 e 95). fatos de destruição) se relaciona mais e freqüentemente se mistura
aos fatos de conquista vegetal e animal: trata-se de todos esses atos,
É sob estas formas positivas de campos c hortas, de rebanhos muitas vezes brutais e violentos, quase sempre rápidos e efêmeros,
c animais atrelados, que se revela e deve ser inidalmcnte introdu sempre decisivos e definitivos, que se manifestam, materialmente,
zido nos estudos geográficos este grande número de fatos diversos na ordem vegetal, por frutos agrestes arrancados e comidos, por
— plantas cultivadas e animais domesticados — cm determinados árvores abatidas, por florestas incendiadas (Pigs. 99 a 101), c, na
lugares datando de uma antigüidade túo remota e tradicional, nou ordem animal, por animais perseguidos e mortos, ou por peixes
tros representando novidades tão bruscas e tão recentes — e que apanhados. Devastação e pilhagem feitas pelos nômades Tuaregues
compreendem, desde as origens da pré-história humana, tudo aquilo no oásis cultivado, ou explotação imprevidente e irracional das
que se pode denominar fatos de conquista vegetal e animal. plantas produtoras de borracha no Congo ou na Amazônia — são
fatos análogos à caça imoderada que tende ao extermínio de certas
3') PATOS DE ECONOMIA DESTRUTIVA espécies — pássaros de aigrettes, I3 animais de peles valiosas ou mar
fim. Ora, se refletirmos nisso, veremos que os fatos primitivos de des
e) C j) EXPLOTAÇÕES MINERAIS li DEVASTAÇÕES truição vegetal, de caça ou de pesca, sem implicar sempre tão
VEGETAIS OU ANIMAIS
graves e gerais conseqüências, sem, com certeza, merecer julgamento
tão severo, e mesmo podendo às vezes estarem associados a uma
Resta-nos assinalar, de nosso observatório, dois oulros tipos de sábin economia da terra, tendem, todos, à retirada de seres vivos
fatos que, como o veremos, representam, um c outro, embora em do nosso globo, para a reprodução dos quais o homem de maneira
graus muito diferentes, a economia destrutiva, ou Rstttbwirlschaft, alguma cooperou; e todos, em seu princípio, são assassinos (Fig. 98),
Ainda todos esses últimos fatos são bem visíveis c materiais;
segundo a enérgica designação alemã, isto é, o rapto econômico. c se nem sempre a máquina fotográfica fôr suficiente, como para
Aqui e ali, sobre a terra c, com freqüência, na vizinhança da todos os outros, a fim de apreender e figurar tais fatos unifásicos e
casa, o solo aparece descarnado: buracos escancarados marcam os momentâneos, o cinematografista, pelo menos, poderia facilmente
pontos onde os homens arrancaram rochas para seu uso, sem resti registrá-los.
tuição; saibreiras, turfeiras, minas de enxofre, pedreiras de mármore
ou de granito, minas de sal encravadas, etc. Todos esses fatos, AS "ILHAS" OU "ILHOTAS" DA TERRA HABITADA
minúsculos ou grandiosos, representam, em uma palavra, a pedreira; Mais tarde, e somente mais tarde, poder-se-á e dever-se-á con
e, geogràficamcfitc falando, passa-se por transições insensíveis da siderar a repercussão global dos fatos uns sobre os outros, não se
pedreira à mina, isto é, da terra descarnada, na superfíde, à terra negligenciando tal geografia do todo, que, na verdade, é o objetivo
perfurada em profundidade. A céu aberto acham-se as hulheiras mais alto, mas também o fim último da Geografia. Também não
da bada de Commentry, ou na Pcnsilvânia, assim como em Hatou se deveria imaginar que é fácil discernir, à primeira vista, o que h.i
c Campha, na rica bacia carbonífera do norte de Tonquim, enquanto de real c estritamente geográfico nas manifestações da vida humana,
na Vestfália, ou no Pas-dc-Calais, 3S minas só se desenvolvem
a várias centenas de metros abaixo do nível do terreno. Num caso 14 Ver. adiante, no Capitulo V, Significação construtiva da economia
destrutiva.
como no outro, o buraco é feito pelo homem para retirar c arrancar, 15 Entre as aves que fornecem as aigreiies, destacam-se nossas garças,
definitivamente, substândas minerais: prata, diamante, carvão, sal a Herodias alba da Europa e a Hirodias egrelta da África. (N. da T.).
fio COMO CLASSIFICAR A GEOGRAFIA HUMANA ? AS FORÇAS NATURAIS Cl
dentro de quadros muito amplos, imensos, díspares, correspondendo truídos de maneira apropriada a recolher toda a água das chuvas em
cada um a um todo tão complexo, por exemplo, quanto a França cisternas (Pigs. 3 e 4).
ou os Estados Unidos! Por meio de um estudo minucioso e mais
cômodo dos pequenos conjuntos, poderemos c deveremos acostu Um dos mais vultosos problemas das grandes aglomerações
mar-nos a determinar as conexões estritamente geográficas entre os urbanas é a questão do abastecimento de água. Problema de higiene
fatos naturais e os destinos humanos. E, dentre os pontos do pública e de vida social, de uma importância capital e merecendo
nosso planeta habitado que se apresentam bastante isolados de ser examinado, em seu conjunto, sob o ponto-de-vista especialmente
modo a constituir unidades separadas e, por isso mesmo, mais sim geográfico. Assim, passando-se dos fenômenos elementares até os
ples, quatro tipos de pequenos mundos geográficos, quatro tipos de fatos maiores, a habitação humana se nos revela como devendo estar
ilhas ou ilhotas de humanidade parecem predestinados à nossa estritamente ligada a certa quantidade de água.
observação. Tenho em mente: A rua ou a estrada também são fatos de superfície que não
as ilhas do mar; podem prescindir da água. Os grandes itinerários dos nômades se
os oásis, que são as ilhas humanas do deserto; submetem à repartição dos pontos de água. Os trens estão subme
as ilhas humanas ou oásis povoados da grande floresta boreal tidos ns paradas previstas em estações determinadas. Os automóveis
ou equatorial; precisam encontrar água cm seu caminho.
e os nltos vales fechados das regiões montanhosas, que são Os fatos de economia destrutiva estão um pouco menos subor
ainda ilhas humanas ou oásis isolados nas grandes altitudes. dinados à água do que os dois tipos de fatos de ocupação estéril
do solo abordados por nós; mas aqui ainda, em virtude das relações
Os Capítulos III, IV e V esclarecerão como se pode colher c reunir existentes entre o mundo vegetal e a água, assim como entre os
material para esta Geografia Humana fundada sobre a classificação positiva animais de caça e a água, seria fácil mostrar como conexões reais
de cada um dos três grupos de fatos essenciais. Nos Capítulos VI, VII c ligam essas formas menos metódicas da atividade humana à repar
VIII (§ 1) achar-sc-ão monografias sintéticas acerca dos diversos tipos tição hidrológica. Seria supérfluo insistir, cm se tratando da pesa. Ô
c s.
de ilhas. E, quanto ao trabalho de extração das pedreiras/ou das grandes
minas, exige uma enorme quantidade de água, seja para o trabalho
4. As forças naturais. A água c o vento. Os seres humanos. em si, seja para a vida dos homens que se ocupam dêlc: por exemplo,
Os mapas básicos: mapa das chuvas e mapa da população são conhecidos os enormes trabalhos hidráulicos que foram neces
sários para a explotação do ouro nos desertos da Austrália Óddental.
Entre os fatos naturais c as forças naturais a que o homem se Porém, se passamos dos grupos dos fatos de ocupação estéril
acha geograficamente preso, merece lugar de destaque a água, de do solo c dos fatos de economia destrutiva, para o grupo dos de
maneira quase tão exigente quanto o ar. A água impõe-se como a conquista vegetal c animal, somos levados a constatar que a depen-
riqueza economia por excelência; é mais riqueza, para os homens, dênda geral destes últimos fatos humanos é ainda mais imperiosa
do que a hulha ou o ouro.,a em relação às condições meteorológicas ou geológicas que governam
e explicam a distribuição da água.
Não há uma casa, não há um abrigo humano para o estabelecimento Ora, a evaporação é tanto mais forte quanto maiores forem a
do qual o homem não tenha levado era conta a necessidade da proximidade serenidade c a limpidez do céu. E nos dimas em que chove menos
da água! o menor dos chalés das altas montanhas, antes de mais nada, está que a água será mais necessária para a cultura. Lembrar esse fato
situado perto de um filéte de água ou de uma fonte; a vila possui, neces é exprimir até que ponto a rega artificial, ou irrigação, constituirá,
sariamente, sua fonte ou seu poço. Nas zonas em que o clima comporta para o homem, o modo superior de conquista vegetal, em todos os
um período mais ou menos longo de síca, os tetos c os terraços são cons países áridos, semi-áridos e desérticos."
16 "Portanto, a água é para um Estado c para um povo a riqueza 17 Eis algumas de minhas publicações a respeito da irrigação: cm
suprema. Ela é alimento. E adubo. É força. E caminho." (Jean Bru primeiro lugar, 2 volumes, Ulrrigalion, ses Conditions Géographiques, ses
nhes, Géogiaphie Humaine de la France, 1* vol., pág. 93). Modes et son Organizalion dans la Pêninsulc lbêrique el dans 1'Afríque du
Nord, Paris, 1902, in-V, XVIII + 380 págs., 7 mapas c 63 figuras; c, na
^->^>ii t * * * * * * * * * * * * * *k* n^iiiiiu-n)^)))^

62 COMO CLASSIFICAR A GEOGRAFIA HUMANA ? AS FORÇAS NATURAIS 63

Da mesma forma, a propósito da horta ou do campo irrigado, A água, portanto, está presente a toda vida humana. Se
é que se pode, neste caso, apreender as verdadeiras relações entre Ratzel, no começo de sua Politische Géographie, pode dizer: "feder
o homem e n água; e um dos seis fatos essenciais é que deve ser a Staat ist ein Stiich Bodcn und Menschbeit" ("Todo Estado c um
realidade geográfica de primeiro plano submetida a tal observação, pedaço de solo e de humanidade"), retomemos estas palavras, com-
servindo, por assim dizer, de introdutor ao exame do problema mais pletando-as: Todo Estado, e mesmo toda instalação humana, é o
geral.«_ " amálgama de um pouco de humanidade, um pouco de terra c um
E ainda em se tratando do campo consciendosamente cultivado, pouco de água.30
cuidado com perseverança, que encontraremos o dry farming, a
lavoura seca.u Preparar a terra, através da gradagem repetida
do terreno, tirando partido das menores gotas de água vertidas pela de Li Géographie Universelle, consagrados a La Mêditerranèe et les Pênin-
atmosfera e armazenando-as, defendendo-as contra a transpiração sules Mêdiierranêennes, por M. Sorre, J. Sion c Y. Chataigneau (Paris,
A. Colin, 1934); Ca, Parain, La Mêditerranèe, les Hommes et leurs Travaux
superficial e contra a evaporação — tudo isto não representa uma (Col. Géographie Humainc, 1938), Paris, Gallimard, 227 págs.
homenagem direta à onipotência da água? Mesmo (e sobretudo) Depois, os diversos artigos ou estudos seguintes: E. C. Semple, Irrigaiion
a lavoura seca expressa, por assim dizer, tudo aquilo que a água and Reclamalion in the Ancient Mediterrancan Rcgion (Ann. Ais. Amer.
vale (Figs. 5, 7 e 8). Geogr., Nashville, XIX, 1929, págs. 111-148); P. Rouvuroux, Le problème
de Virrigalion en Algêrie (B. Ligue Gênérale pour l'Amènagemenl ei 1'Ulili-
sation des Eaux, Paris, XVI, n° 108, maio-jun. 1936, págs. 78-81); G. Carle,
De 1'alimentalion cn eau de Palmyre dans les temps actuels et anciens (La
7' série, Les Diffêreuts Syitèmes d'Irrigation, da Bibliothèque Coloniale Inter Géographie, jul.-ag. 1923, págs. 153-160, 3 figs. e 1 plano fora do texto);
nationale, o tomo III. Espagne, com uma introdução: Seus el valeur sociale R. Tresse, Virrigalion dans la Ghouta de Damai (Rêv. des El. Islam., 1929.
de quelques règlemenls dirrigasion dans la Pênimule ibêrique, Bruxelas. págs. 461-574); J. Sauvacet e J. Weurlersse, Damas et la Syrie Sud,
1907. Além destes, tenho diversos artigos: Les irrigaiioiis dans la "Région Departamento Turístico da República Síria, 1936; A. Azadian, Les Eaux
s#i aride" des Esais-Unis (Annales de Géographie, IV, 1894-1895, págs. 12-29);
IO dEgypte, Cairo, 1930, 2 vols.; H. E. Hurst e P. Phillips, The Nile Basin,
La forll comme alliée de 1'eau dans les grandes entreprises d'irrigalion du Cairo, 1931, 2 vols.; V. M. Mosseri, La fenilití de VEgyple ( Rêv. Int. de
Far-iVest américain (Comple Rendu du Second Congrês du Sud-oueit Nari- Rcns. Agr., IV, 1926, págs. 1-9); \V. P. Webb, The Grcal Plaius, Boston,
gable, Toulousc, 190'í, págs. 479-490); Virrigalion en Egyple depuis 1'achèva- Ginn and C, 1931; A. V. Williamson, Irrigaiion in lhe Indo-Gangelic
ment du rêservoir d'Assouan, 1902, (La Géographie, XI, 1905, págs. 161- Plain (G. ]., LXV, 1925, págs. 141-153); Indigenous Irrigaiion Works in
-18'1); Le problème tcchnique ei èconomique des grands barragei-réiervoin Peninsular Índia (Geog. Rei:, XXI, out. 1931). Ver também as obras
en Algêrie, Cent. de l'Alg., Congr. de Ia Colon., Argel, maio de 1930. (Mais e os estudos citados no Capítulo VI, e um artigo recapitulativo de J. GoTT-
adiante, voltaremos a este tema — Capitulo VIII, págs- 398-399). mann, Virrigalion, no Inf. Géogr. (3' ano, n» 4, abril-maio 1969, págs.
Jean Brunhes declarava, na Irrigaiion (cm 1902): "Eliminei a região 153-157). [B.A.]
mediterrânea do Marrocos, por ser dificilmente aborddvel..." Desde então, 18 Assim que abordarmos o estudo das pequenas unidades naturais,
A. Sonnier, cm obra aliás dedicada à memória de Jean Brunhes, realizou onde as necessidades fundamentais da vida aparecem com maior rigor, vere
um estudo muito aprofundado e notável acerca do Regime jurídique des eaux mos de que maneira se introduz o problema da água e até que ponto se
au Maroc, Paris, Sirey, 1935, 226 págs., do qual se deduzem várias conclu situa cm primeiro plano (Capítulos VI e VII).
sões de natureza geográfica. Ver também J. Sermaye, La Polilique de 1'eau
au Maroc Frauçaii (11!., 22 out. 1938, com mapa). 19 A lavoura seca é uma das mais velhas e mais fecundas tradições
Entre 05 numerosos e diferentes trabalhos dedicados aos problemas da do mundo mediterrâneo. Já o lembramos uma outra vez, a propósito das
irrigação, assinalemos alguns, especialmente interessantes para os geógrafos: Baleares (A Majorque et ã Minorque, Esquine de Géographie Humaine, na
E. Chassigneux, Les irrigalions de la plaine du Than-Uoa (A. de G., Revue des Deux Mondes, Io nov. 1911). Alguns dias depois, a 15 de
XXXVI, 1927, págs. 232-253), Le problème de 1'eau dans l'Union Sud- novembro de 1911, aparecia nos Annales de Géographie (XX, págs. 411-430),
•Africaine, Elude de colonisalion, Soe. d'Editions Géogr., Marit. et Colon., um amplo e notável estudo de Augustin Bernard, Le "dry farming" et ses
1937, 70 págs., e ainda do mesmo autor, porem mais antigo, Virrigalion dans applicaiioni dans 1'Afrique du Nord. Finalmente, a própria filha desse geó
le Delia du Tonkin (Revue de Géographie Anuuetle, de Vélain, Dcla- grafo, Anne-Marie Bernard (Mme. Pierre Lacau), traduziu para o
grave, VI, 1912, fase 1, 121 págs. e 20 figs.); c no mesmo volume, da francês uma das melhores obras da considerável literatura 3mericana a res
mesma Revue, VI, 1912, fase. 2, a tese de um dos alunos de Jean Brunhes peito do dry farming: John A. Widtsce, Le Dry Farming, Culiure des Terres
de Friburgo (Suíça), Louis LEHStANN, Virrigalion dans le Valait, 175 págs., SOches (Paris, Livraria agrícola da Maison Rustique, 1912, r/;-12, XXXVI
15 figs. (estudo das verdadeiras obras de arte em miniatura que são os + 304 págs.). [B.A.J
canais de"irrigação ou bisses do Vaiais; ver a este respeito a Fig. 6, no fim 20 Ver Jean Brunhes e Camille Vallaux, La Géographie de íHis
do presente volume). toire, págs. 67-69, e uma nossa reflexão s respeito do ar, mais adiante,
Ver igualmente alguns parágrafos importantes nos dois volumes da col. págs. 174-176.
r f f r r r f f f r C f f f f ( f r r r r f, f c f f f f f f f f f f f f f f f f f f c c f c
64 COMO CLASSIFICAR A GEOGRAFIA HUMANA ? AS FORÇAS NATURAIS 65
Eis por que tudo o que é hidrografia, continental ou marinha, saída dos grandes navios, eqüivale a uma ponte Icvadiça lançada
exerceu grande influência sobre a humanidade, desde a origem; e sobre um fosso, restabelecendo a continuidade da via de acesso.
a atenção dos geógrafos sempre foi atraída por estes fatos. E como fonte de alimentos, o mar, apesar dos esforços limilativos
Por exemplo, é conheddo o livro de Metchniicoff, A Civi de alguns grupos políticos, é o mais vasto de todos os bens coletivos;
lização e os Grandes Rios Históricos,21 para o qual Ei.isfii; Reclus permanece sendo o maior allmend do mundo.
escreveu um prefácio. Entretanto, tem-se por demais considerado Para qualquer pessoas que encare tais fatos globais sob seu
os rios como fatos geográficos uniformes c uniformemente úteis à aspecto verdadeiramente geográfico, eles se reduzem a alguns dos
instalação humana. Há rios repulsivos, assim como os há atraentes. seis tipos de fatos essenciais.
Mesmo esses só se tornaram verdadeiros instrumentos humanos E de boa ou má vontade, conscientemente ou não, qualquer
através do trabalho infindo dos próprios homens. O curso de água autor, que procure levar a efeito uma -discussão definida, chega
navegável é, num grau muito mais elevado do que se tem percebido, necessariamente — com mais ou menos dareza — a esta análise
um fato da Geografia Humana.M primordial. Uma página de Vallaux o demonstra:
Quantos escritores, geógrafos e não-geógrafos, têm insistido
acerca do papel desempenhado pelo oceano em relação ao homem? "Boysen observou que a Mancha, por causa da circulação que ai
Um geógrafo, Camille Vallaux, consagrou um volume de geo impera, possui permanentemente uma população tão densa quanto a dn pro
grafia social a O Mar, volume diretamente inspirado pelas idéias víncia de Iacutsquc; logo, não seria ela, da mesma maneira que a prAoria
de Ratzel. m província de lacutsque, um ecumeno cujo estudo se imponha aos geógrafos?
O mar atrai os homens por ser, ao mesmo tempo, estrada e A observação de Bovsen é interessante. Porém, tomada ao pé da
campo de pesca. O rio, também, é caminho c domínio da pesca. letra, traria certas confusões que devemos ter o cuidado de evitar.
Quando a maré possante enche os estuários e sobe os cursos de água Sem dúvida, se consideramos a Mancha como plataforma continental
das Ilhas Britânicas, acresce de muito tanto a linha de contato entre (ela o é, pois sua profundidade só ultrapassa os 100 metros na fossa estreita
o mar e o solo quanto a intensidade da dreulação que daí pode de Aurigny), c se, em conseqüência, a consideramos como zona de f*s.
resultar.34 A massa líquida, que torna possível a entrada ou a pesca, trata-se de um ecumeno, menos povoado, de fato, do que outras
zonas semelhantes, como o Doggcr-Bank, ou o litoral bretão da Vcndíia.
Se a consideramos como região de passagem constante c ininterrupta entre
21 Paris, 1889, XXVIII -f- 369 págs.
a França c a Inglaterra, trata-se ainda de um ecumeno. Porém, por mais
22 Um cartografo, Paul Roussier, houve por bem atender à minha
sugestão e realizar um estudo preciso, inspirado cm tal concepção, na obra interessantes que sejam essas duas características da Mancha, não é a elas,
Une rívière navigable: La Maine ou Mayenne, Elude de Géographie Humaine principalmente, que é devida a numerosa população que sulca suas águas
(La Géographie, números de novembro e dezembro de 1920): e que Boysen tinha em vista. E" devida, antes de tudo, à sua posição como
"Um, rio", escreve Roussier, "é um fato da Geografia Fisica, um estado via de acesso da Europa Noroeste para o Atlântico, c como via de chegada
da superfície da terra, suscetível de ser interpretado pelo homem de diversas de todo o AÜântico para a Europa Continental. A esse titulo, que é o
maneiras, segundo o tempo c o espaço... O rio — estrada utilizável ante
rior ao homem, o qual não o criou, como acontece com as outras estradas principal, a Mancha não é um ecumeno. Pois a população dos transatlân
da terra — só se transforma naquilo que determinam os homens..." ticos e dos navios de carga atravessa esse mar sem parar e sem estacionar
Ver também 0 estudo muito bonito de R. Dion, sobre Vai de Loire (pelo menos em sua maior parte) cm suas margens. A essa população
(citado adiante); os de M. Pardé, Fleuvei es Rivièrci (citados adiante), móvel e viajante, a Mancha não proporciona um quadro geográfico: elo,
assim como de P. Gex, Le diguemens de 1'Isère dam la Combc de Savoie
(Rev. de Géogr. Alpine, 19-10, págs. 1-70). simplesmente, serve de traço de união aos numerosos quadros fixos de que
23 C. Vallaux, Géographie Sociale, La Mer (Encyclopêdic Scienti se destacam, em gmpos, mossas ou unidades, os homens que a atravessam." *•
fique do Dr. Toulouse), Paris, O. Doin,' 1908. 1 vol., 377 págs., c na
mesma coleção: Géographie Sociale, Le Sol et 1'Etat. Ver também Jean a respeito dos oceanos, durante os dois anos anteriores, Lembremos o livro
Brunhes e Camille Vallaux, La Géographie de 1'Hiuoire (sobretudo os fundamental de G. Scnorr, Géographie des Allantiichcn Ozeans, Hambur
caps. XII e XIII); C. Vallaux, na Colleetion Jean Brunhes dos mapas go, 1913, nova edição em 1943. [B. A.]
murais da Libroiric Haticr, teve a bondade de levantar os mapas murais dos 24 Recentemente, apareceu a interessante tese de L. Papv, VHomme
oceanos, verdadeira novidade. Ver, do mesmo autor, Géographie Gênérale et la Mer, Elude de Géographie Humaine, 519 págs., tomo II de La Cale
des Me», Paris, Alcan, 1933, 796 págs. A. P., cm Ocèans (A. de G., Paris, Allanlique de la Loire á da Gironde, Bordíus, Delmas, 1941.
XLTV, 15 jan. 1935, págs. 105-112), analisou as principais obras publicadas 25 C Vallaux, La Mer, págs. 8 e 9-
******************* » v^im**********^'***
>1
COMO CLASSIFICAR A GEOGRAFIA HUMANA ? AS FORÇAS NATURAIS 67
66

A água é ainda outra coisa para o homem: obedecendo à gra áçua agrupadas nas regixes superiores são modestas. Nenhum curso de água
vidade c resvalando da montanha para o mar, constitui uma força e comparável ao Isère, ao Diac, ao Durance, nenhum grande vale comparável
pode transformar-se numa fonte de energia. Empregada de acordo a esta esplêndida avenida intra-alpina de povoamentos, como o é o Grési-
com técnicas tão variadas quanto engenhosas, essa força, desde vaudan!.. A solução dtís Pireneus se adaptou a essas condições especiais,
séculos, vem acionando rodas de moinhos, rodas de irrigação, serras orográficas e hidrográficas, com o auxílio da tomada de água cm maiores
verticais, etc. (r/£i- 9 a 11). Depois, chegou a hora do aumento altitudes e com derivações mais longas c mais onerosas.
e do aperfeiçoamento quase indefinido dos modos de utilização da Lembrou-se, sobretudo nestes últimos anos, da utilização dos lagos
hulha branca c da hulha verde, c até da hulha azul. localizados muito alto nas montanhas, entre 1.800 e 2.500 metros, os quais
são verdadeiras caixas-d'água, magníficas reservas naturais de força, utili
A HULHA BRANCA záveis em qualquer estação!
Os progressos determinados por soluções adaptadas a quadros geo
Durante esses últimos cinqüenta anos, através do desenvolvi gráficos diferentes não permanecem aprisionados em tais quadros: desde que
mento das usinas hidrelétricas e o transporte da força, uma grande tenham atingido uma perfeito técniat real. as soluções-tipos emigram,
revolução industrial não só se preparou, como também já se mani se nos permitem a expressão, e vão completar o equipamento de outras
festou, tornando possível a países privados de hulha, como a Suíça regiões.
e a Itália, uma potência econômica e um nível que não se poderia Inicialmente, pensou-se cm aplicar no Mariço Central o método do
imaginar nem prever.20 Desde então, esses países trabalharam por aproveitamento das forças hidráulicas, a chamada lolução alpina; nus per-
se libertar, cm parte, da sujeição econômica a êlcs imposta pela cebeu-jc que era ilógico querer tratar monlanlus de outro tipo do mesmo
hulha negra." modo que se havia interpretado e explorado Dcadeia alpina. Foi necessário
inaugurar uma nova técnica, que devemos denominar solução do Maciço
O berço da hulha branca, isto é. da utilização hidrelétrica da energia Central. Era possível corrigir a falta de inclinação e a irregularidade do
to das águas correntes c das quedas de água. é o Dauphinc. O precursor foi débito por meio da construção de barr.igcns-reicrvaièrios, enormes construções
o ilustre papeleiro ARtSTiDE Bergès que, cm Lanccy há mais de cinqüenta barrando vales inteiros: chegou-se assim, com grande dificuldade e grandes
anos. aproveitou uma queda de 200 metros. despesas, a armazenar milhões de metros cúbicos.:s
A solução técnira do problema, que poderíamos chamar solução alpina, Munidos das experiências realizadas cm regiões que exigiram uma téc
era relativamente simples. Os Alpes foram, pois, grandemente trabalhados; nica e uma perfeição de trabalho superiores, os engenheiruj, então, impor
por meio de derivações, facilmente faz-se os águas se deipenharem taram para os Alpes os processos novos.
num ponto favorável p3ra a instalação dos condutos e das usinas. Nessas zonas alpinas em que nasceram as primeiras modalidades da
Fato geográfico essencial: os Alpes são muito penetniveis, através de hulha branca, as técnicas verificadas em outros lugares voltam como con-
grandes vales facilmente acessíveis; dal as usinas poderem ser instaladas no quistadoras. São mais dispendiosas, mas conseguem com m.iior facilidade
coração da cadeia, e conseqüentemente as despesas são reduzidas de forma escapar aos perigosos caprichos dos forças naturais. Com o auxilio de
apreciável e o rendimento é considerável. reservatórios cm grandes altitudes e de barragens, tende-se a combater,
Menos elevados do que os Alpes c mais maciços, os Pireneus oferecem, dessa forma, as irregularidades dos débitos alpinos c a regularizar, por
no entanto, condições favoráveis, embora diferentes: inclinações fortes, vales isso mesmo, a produção. As idéias retornam, enriquecidas e fecundadas, aos
de perfil alongado irregular c rápido. Mas, na vertente francesa, os Pire próprios lugares que as viram nascer.
neus são pouco extensos, das grandes altitudes 1 planície: a espessura 6 No próprio Dauphiné produziu-se durante estas últimas décadas, e
fraca; o trecho dos cursos de água na montanha é curto, as quantidades de graças à hulha branca, um fato industrial c social, cujas conseqüências podem
ser importantes para a vida nacional inteira: as instalações industriais enxa-
26 Como quadro global, representando, ao mesmo tempo como do mearam e invadiram regiões ate então exclusivamente agrícolas ou pastoris.
cumentário c a título comparativo, a situação no inicio do século XX, e
referindo-se principalmente às usinas francesas, ver A. Aldv, Note sur 1'indus.
Iria de 1'Energie éleclrique (Bul. de la Soe. d'Encouragement pour I'Indus
trie Nalionale, jul. 1909, rn-4', 67 págs. figs. c mapas). 28 Ph. ARBOS, Lt houille blanche dam te Masiif Central (A. de G.,
27 Ver também, por exemplo, Cit. Radot, La transformation de Vil- XXXII. 1925. págs. 460-464). L, Bauonnuau, VEnergie lileclriquc dam
lande par la kouillt blanche (U Géographie, 1918, págs. 188-198). la Région Pyrênètnne, Lavaux, Impr. Artist., 1939. 271 págs.
fffffffffttfffíf ffff ffffffffffffttfttfffffff
COMO CLASSIFICAR A GEOGRAFL\ HUMANA ? AS FORÇAS NATURAIS 65
68
A hulha, ou antes, a energia latente da qual é o símbolo, nestes últimus durante todo o ano, mesmo no período de sícas. de uma quantidade de
anos, tingiu-se, sucessivamente, de todos as cores; depois da hulha negra, eletricidade que satisfaz a todos as su.is necessidades. Essa possante rédc
apareceu a fada dclfincsa. a hulha branca, a das geleiras e dos cursos de água de interconexão assegura a distribuição regular de eletricidade através de
alpinos; pouco a pouco, revdou-sc a toda a terrn. Depois dela, a hulha seu território (Mapa llls- Dita colaboração entre os diversos centtos de
verde dos rios. Depois dessa, eis que aparece a hulha azul, a do mar e das produção de encrgÍ3 (as centrais térmicas vindo preencher as lacunas das
marés: um total anual de um milhão de cavalos proporcionados pelo mar centrais hidráulicas) permitiu remediar os inconvenientes de um abasteci
corresponderia a uma economia nacional de pelo menos 10 milhões de mento irregular, devido ao débito variável de cada queda e ao regime dife
toneladas de hulha.50 rente de cada uma dos bacias hidráulicas (Gráfico IV). Além do mais. o
transporte da eletricidade corrigiu a repartição desigual das fontes de energia
no território francês e possibilitou, por esta razão, ás usinas consumidoras
A Dados Ri!ci:ntes: uma escolha mais independente do lugar de instalação, cm relação ao local
A produção mundial de energia das quatro origens é impressionante. da mina, da central térmica ou da instalação hidráulica.
O desenvolvimento da circulação e dos transportes, sob todas as suas
O Statiilical Yearbook, United Nâtions, 1960, Mapa 120. dá os seguintes
totais:
formas, portanto, tende cada vez mais a quebrar a solidariedade topográfica
dos regiões de produção, de transformação c de consumo.
PRODUÇÃO DE ENERGIA Apesar desse domínio e dessa independência, o cunho geográfico inicial
(em equivalente de milisão de tonelada métrica de COTVSo) permanece profundo. Troduz-sc na própria organização da circulação, em
relação à produção e ao consumo. No Inglaterra, o problema do distribuição
1950 1955 1959 da eletricidade não se formida do mesmo modo que na França. Por qué?
o
Energia total 2.607 3.295 4.092 ri
Da hulha c linhita 1.605 1.807 2.147 forma especial por ísse tipo de questão: R. Blanchard, Vètoluiion des "
aménagements hydro-èlcciriques en France (Li Géographie, XL. 1923, págs.
Do petróleo cru 701 1.029 1.299 161-174), artigo em que íc inspiraram os pontos-de-vista sintéticos, acima
Gás natural 261 400 567 publicados, sobre a região alpina, o região dos Pireneus e o Maciço Central;
Hidrelétrica 41 59 "79 H. Cavailles, Lt Houille Blanche. Paris. A. Colin, 1929. rn-16. 216 págs.,
11 figs.; André Allix, La crise de Ia houille blanche dam lei Alpei fran-
çaises (depois da grande seca de 1920-1921) (La Géographie, XXXIX,
Hoje conta-se. ainda, com a produção de energia atômica que deverá maio 1923, págs. 307-320); Jean Brunhes c P. Deffontaines, La Géo
atingir cifras imensas muito brevemente. (Os Editores Brasileiros) . A graphie Humaine de la France. Paris. Plon, 1926. L II, cap. XXXV: Lt
* * *
Géographie de 1'ênergie e mapa mural da França: Canaux et forcei hydro-
éleclriques, Hatier; A. Pawlottskj e G. Baudoux, Annuaire de Ia Houille
Blanche Française, Paris (12 pr. de Laborde); G. Moreau, Elude sur 1'Uli-
Antas de tudo, é o fenômeno humano que dirige essa utilização. lisalion de 1'Energie dei Marèes en France, Paris, Delagravc, 1931, 102 págs.;
E 6 pelo povoamento, pela construção de usinas, pela criação de MARCEL ClÉMENT, Le rèieau français de transpor! el ttêncrgit (em Annuaire
de ia Houille Blanche et dei Forces NaSurelles Mondiales. publicado com a
uma ride de circulação material — isto é, ainda por alguns dos col. de G. Baudoux), págs. 21-28, 3 gtáfs., mapa, 3 fots.; A. Lidault,
fatos essenciais do parágrafo precedente, casas e estradas — que Les Centres de Produclion cl les Moyen i de Répartition de 1'Energie Elcctri-
este novo fato de clomesticação das forças naturais se revela e se que en Europe, Expôs, do Congr. Intern de G. de Varsóvia, 1934, t. III.
assinala.
Trabalhos d.i Seção III. Varsóvia, 1937, págs. 279-286.
Diversos mapas: Carie (France el Europe) des Rêseaux de Diilribuiion
el Lignes de Trampons Eleclriquet (em 1937). Soe. Franc. de Eletricidade
•Verdadeira domesticaçâo das forças naturais. Graças á rede de inter- (36. Av. Kléber, Paris); Rêseaux de TraniporS íEnergie Eleclrique de France,
conexão que liga as centrais hidráulicas is cemrais térmicas, a França dispõe pela Soe. Franc. de Cartografia (24. rue Hamclin, Paris), 6' ed., publicada
cm 1938; c o mapa estabelecido por A. Scheffer, no Aliai de France, pu
blicado pelo Comitê National de Géographie, mapa n* 46, Produclion el ais-
tribulion de 1'élcciricitè. A. SCHEPPElt é o próprio conicntndor dé.-.le mapa,
29 Seria impossível apresentar, aqui, uma bibliografia das utilizações em Vênerrie eleclrique en France (A. de G, Paris. XLVII. 15 jan. 1938,
hidrelétricas francesas c estrangeiras. Alguns geógrafos se interessam de págs. 25-57). [B.A.]
>->l->>i'>t^>>i^\ )n)))inmn)-)>>nn))i

70 COMO CLASSIFICAR A GEOGRAFIA HUMANA ? AS FORÇAS NATURAIS 71

Porque na Inglaterra o carvão de pedra c abundante e relativamente dissemi


nado; não há corrente hidráulica e. praticamente, só há centrais térmicas; linhas d* 90.t 'JC r.
• ISO*.
os setores são diferentes uns dos outros: cada um forma um todo completo, lio « .
bastando-se a si mesmo. Nessas condições, não há razão para que uma
corrente de energia circule de um setor a outro; assim, a ride inglesa, ao
contrário da francesa, parcelou-se, muito naturalmente, e funciona cm diversos
iodai separados.
O cunho geográfico se afirma, também, na própria circulação da energia.
Com efeito, se estudarmos os movimentos de fluxo e refluxo a que estão
submetidas as massas de energia transportadas, constataremos que estes movi
mentos revelam o caráter sazonal da produção hidráulica. Por ocasião
dos altos dessa produção, os excedentes de eletricidade afluem para a região «MSS

parisiense, onde são absorvidos (Gráfico IV: comparar o paralelismo das


curvas superiores). Ao contrário, no período de seca, os centros hidráulicos
se mostram deficientes: a região parisiense, então, pode não apenas assegurar
suas próprias necessidades graças ôs centrais térmicas, mas também distribuir
a energia na direção dos centros hidráulicos.*
fi coisa patente que os homens tém interesse em tirar partido,
cada vez mais, das forças gratuitas c que, cada vez mais, élcs resol
vem fazé-lo. Tal evolução foi cuidadosamente examinada num
trabalho de conjunto sobre O Homem e a Terra Cultivada. *°
O ar que se move é uma força, como a água que se movimenta.
E essa outra força natural não é desprezível: o vento (Pig. 12).
O vento foi um precioso auxiliar no tempo em que o homem era
menos favorecido do que hoje cm dia c tinha à sua disposição
fontes de energia muito mais fracas. Para conseguir navegar, era
somente ao vento que o homem recorria. Em nossos dias, os
moinhos c os barcos de pesca utilizam ainda o vento, enquanto
os grandes veleiros desaparecem.3' Na verdade, é ele uma força
caprichosa e irregular, mas c gratuita e inesgotável. Sobre o mar, MAPA III — FR/INÇA, 1939 — REDE DAS PRINCIPAIS LINHAS
assim como sobre a terra, malgrado os processos mais modernos, o DE TRANSPORTE DE ENERGIA ELÉTRICA. — (B.A.)
vento ainda não foi completamente aproveitado (Pigs. 13 e 14). K
A rede das principais linhas de transporte de energia elélrica estabelece
30 Este trabalho, após ter sido um capítulo do livro coletivo Un Siècle. uma estreita conexão enlre as cenlrais térmicas e ai hidráulicas. A utilização
publicado inicialmente, cm 1899, por Goupil em 5 vols.. grande /«-4°, ilus das forçai naturais Iraduz-se por uma ride deusa de instalações e transporte.
trados (100 francos) c depois por Oudin, cm 1900, em I vol., fn-8* 7 fr. 50, Produção hidráulica em 1939: 12 milhões de kwh; produção térmica.
apareceu como tiragem isolada, anotada, de um artigo do Bullciin de Ia 8.500.000 kwh. — Extensão dos circuitos (com mais de 90.000 volts): 16.268
Société Neuchàtcloise de Géographie. XII, 1899, págs. 219-260: VHomme quilômetros em 1945, contra 1.100 em 1923.
et Ia Serre cullivée. Bilan d'un siècle. Ver III, Meilleure èconomie des
ricbesiei el des forces naturelles. As partes mais importantes foram reto
madas no Capitulo IV de Li Géographie de 1'Histoire.
31 Jaujard, Vagonie des grands voiliers (Rev. Maril., Paris, maio
1936, págs. 623-644): L. Lacroix, Les Dentiers Grands Voiliers, Paris.
Peyronnct, 1938.
32 Auher de La Rüe, VHomme et le Vens (Col. Géographie Hu
maine). Paris, Gallimard. 1940. 219 págs. fB. A.)
f f f Cf f f f fffffffffffffffffffffffffffffffffff ff f• f f f
72 COMO CLASSIFICAR A GEOGRAFIA HUMANA ? AS TORÇAS NATURAIS 73
Por fim, entre os fatos desvendados pela visão total da crosta
terrestre, e em primeiro plano, temos este revestimento desigual,
Bilhões constituído pelo povoamento humano cm si. Também eles, os ho
mens, devem ser encarados como uma espécie de força natural, aqui
força fiSdnfiírica ãbscrr/c/a existente, ali rara, como uma espécie de dado fundamental, passível,
/>cr fèris diante do poder humano, muito mais de utilização do que de modi
ficação brusca ou radical.
ToCil OcS SÔrÇd, Os fenômenos da vida não se originam somente de causas
nidnr/e'i*ricet geográficas; nem mesmo estão fatal e intimamente ligados a elas,
/''Odoz/c/d c só a elas: seria bem errôneo imaginar tal coisa. Mesmo assim, o
ens íksnqs estudo do povoamento terrestre suscita a Geografia da História, c
é cm La Géographie de LHistosre que lhe são consagrados dois
amplos capítulos.33 Os geógrafos não conseguiram desinteressar-se
das origens remotas c do complexo obscuro pelos quais se explica o
povoamento contemporâneo; mas a eles se pede, sobretudo, a pes
quisa das influências presentes. Mesmo essas influências não são
todas do domínio da Geografia. Ninguém ousaria pretender que
o quadro natural fornece a diave de todos esses fenômenos tão cati
vantes c tão intrincados da Demografia que se diamam natalidade,
J-rrtAftJsA j o /v o
•rfrrAfjjAJOfjajF/iAftJJA/Of/ n nupeialidade, mortalidade, etc. Assim, onde estará, nesse caso, a
'?•"> fpSt rfií parte da Geografia Humana? Em que lugares, sob que formas e r-l
GRAFICO IV — VARIAÇÕES ESTACIONAIS DA PRODUÇÃO HIDRE segundo que modalidades a Demografia deverá beneficiar-se das
LÉTRICA NA FRANÇA NO DECORRER DOS ANOS DE 1936, observações geográficas c por sua vez beneficiar a Geografia com
1937 E 1938
seus próprios resultados?
Nem c preciso dizer, c decorre das evidências, que é através
A fim de que se pudesse utilizar, da melhor maneira possível, a produção dos grandes recenseamentos e dos escrutínios críticos, que os acom
hidrelétrica dos Alpes e do Maciço Central, as modalidades de distribuição panham c seguem, que os geógrafos têm podido informar-se acerca
e do consumo foram adaptadas às variações de produção, através das estações,
desses dois maciçoi: Alpes (A) produção máxima no verão, na época do dos fatos predominantes da população. Os países onde os recen
degelo das geleiras, estiagem no inverno. Maciço Central, (M. C.J regime seamentos são regulares e metódicos são aqueles cm que o geógrafo
torrcncial, estiagem no verão. A região de Paris foi equipada de maneira encontra material para fixar seu interesse. P. Vidal de La Blache
insistiu (como convinha) na importância dos fatos de população.14
Estes fenômenos do povoamento, porém, como se rcvdam a
corresponde uma diminuição da atividade das centrais térmicas. Essa ati nós, como são atingidos c, por assim dizer, medidos pelos rcccnsca-
vidade se intensifica, pelo contrário, por ocasião dos "vazios" da produção mcnlos, a não ser por intermédio da habitação? Por causa do fato
hidrdèlrica. da instalação material cm um ponto definido do solo, os homens são
tomados e são contados. Onde os homens não estiverem fixados
dessa forma, escapam a todo controle e a toda enumeração predsa.
Ora, o revestimento das moradias humanas é um fenômeno mais
33 Géographie de l'IIiiloire, Gips. V e VI. Ver também, cm P. Vidal
de La Blache, Príncipes de la Géographie Humainc, a 1* parte, págs. 19-100.
34 Ver notadamente P. Vidal de La Blache, Li Géographie politique,
à propôs des ècrils de Monsieur Frédéric Ratzel (A. de G., VII, 1898,
pág. 105).
1%9 >***********%**%* >*****************
COMO CLASSIFICAR A GEOGRAFIA HUMANA ? AS FORÇAS NATURAIS 75
74

geográfico, mais estreitamente relacionado às condições naturais do grafia Humana: o mapa da água c o mapa dos homens, isto é, sob
que o revestimento humano cm si. O primeiro é o sinal visível uma forma simples c universal, o mapa da repartição geral das
do segundo, c além disso tem uma tal natureza que se enquadra, chuvas c o mapa da distribuição geral da população. 3S
por excelência, no âmbito da Geografia. A Demografia verda O homem não recebe toda a água, nem para a sua vida, nem
deiramente geográfica é, antes de tudo, a Demografia da habitação. " para o seu trabalho, somente das diuvas. E os que se ocupam de
empresas de irrigação em países secos o sabem melhor do que
Da mesma forma, os dois fatos de ocupação estéril do solo. ninguém; porem, o dispêndio de tempo, de dinheiro e dos músculos
casas e estradas, se organizam em redes variadas que, literalmente, humanos exigido pela rega artificial faz compreender, por contraste,
são os canevasso representativos do povoamento. " . todo o benefício geográfico c econômico da água atmosférica asper-
O fato humano, como força aplicada ã transformação da super gida em golas sobre superfícies tão vastas. Direta ou indiretamente,
fície terrestre, manifestar-se-á como fator explicativo c coadjuvante quase todas as águas que utilizamos, águas de fontes, águas de poços,
de cada um dos resultados visíveis c tangíveis dessa obra trans águas de rios, etc. têm relação com as chuvas. Aliás, os excessos
formadora: a respeito do campo cultivado ou da mina, os homens de chuvas são contrários à extensão superabundante da vida humana,
deverão ser estudados na medida em que determinam tais fatos e assim como a insuficiência de chuva, correspondendo o desenvolvi
na medida cm que permanecem em conexão com cies. Veremos de mento ótimo e máximo da humanidade aos espaços compreendidos
que forma se introduz o fator mão-de-obra cm todos os estudos das entre estes dois extremos: são as zonas de transição que sempre cons
culturas, das devastações, das cxplotaçõcs minerais. tituem os grandes centros de população; certamente, será conveniente
Em parte alguma, o homem está sem fazer nada; pdo menos, retomar este ponto, tão importante, quando tratarmos das obras e
em todos os lugares, êle come e dorme; cm todos os lugares, êle trabalhos mais diretamente em relação com os climas: obras e tra
inscreve sua passagem por meio de marcas que constituem, por balhos de conquista vegetal e animal (ver o § 1 do Capítulo IV).
excelência, o objeto de nossos estudos específicos (Mapa VI). Nem por isso é menos verdade que um mapa geral das precipitações
c a representação de um dos fatos terrestres cuja distribuição real
Procedendo aniiliticamentc c seguindo nosso principio de classificação, dirige, no mais alto grau, a geografia do homem.
devemos reencontrar, passo o passo, cs problemas do povoamento. Quando A repartição dos seres humanos é outro fato geográfico capital.
se tratar da casa, da vila e dl cidade, deveremos examinar — sob seu Deverá ser tarefa ulterior (tarefa da Geografia da História)
aspecto real c lógico — a questão da repartição da população, assim como estudar os grupos humanos sob o ponto-de-vista técnico, histórico
representações cartográficas, destinadas a figurar esta repartição. Nos capí e geográfico; é indubitável que os fatos relativos à raça c os fatos
tulos seguintes, a propósito dos fatos de cultura ou de economia destrutiva, políticos contam muito entre as causas explicativas da presente
a propósito das ilhas do deserto ou dos grandes altitudes, cm todos as portes distribuição. Fazer depender a dispersão atual dos homens apenas
e sempre as modalidades do povoamento humano serio observadas, em seu da Geografia seria um erro. As duas Américas, invadidas hoje em
lugar racional. dia pelas migrações dos homens do Velho Continente, mostrando-se
em tantas regiões tão favoráveis ao povoamento, foram, durante
OS DOIS MAPAS BÁSICOS DE TODA GEOGRAFIA HUMANA muito tempo, por etapas, uma justaposição de anecúmenos; há cem
-
anos, eram vazias de homens, em relação a outras partes do mundo,
Se quisermos tirar uma condusão dêsse exame critico das forças como a Europa, a Ásia, ou mesmo a África; ainda hoje, o quadro
naturais, fatores básicos da Geografia Humana, somos conduzidos comparativo da superfície absoluta e da população absoluta, assim
a apresentar como mapas fundamentais e, primordiais de toda Geo- como da superfície e das populações relativas das grandes unidades
38 Está subentendida a nossa suposição de que ninguém aborda a
35 Ver adiante, no Capítulo III, § 4*, os trabalhos de Marguertte Geografia Humana sem estar a por da Geografia Fisica geral: assim, um
Lefèvre. de nossos principais cuidados é o de ligar estreitamente as duas. Desta
36 Canevas (literalmente tela, talagarço) é o termo especificamente forma, se aqui falamos de mapas básicos da Geografia Humana, nem é pre
empregado para designar o traçado dos paralelos c meridianos. (N. do T.) ciso dizer que os mapas geográficos mais básicos, entre todos, são aquiles que
37 Como ilusuação do Capítulo III, reproduzimos fotografias aéreas, indicam a situação respectiva dos diferentes continentes c oceanos c os que
que expressam de maneira singular esta verdade (Figl. 61 a 67). representam, de forma expressiva, o relevo desses continentes.
f fffffCfí f f • f fffffffffffffffffffffffffffffffff f
76 COMO CLASSIFICAR A GEOGRAFIA HUMANA ? AS FORÇAS NATURAIS 77
terrestres, legitima a constatação de que as vidas humanas estão América .... 208 398 42.038 9
localizadas e repartidas sobre a terra de uma maneira que está Ásia 966 1.622 26.925 60
longe de depender exclusivamente das condições naturais. Europa .... 329 423 4.953 85
Oceania 8,8 16,1 8.558 2
Sabre as terras asiáticas, que não são muito mais vastas que as ameri
U.R.S.S. ... 158 211 22.402 9
canas, vive uma população equivalente a quatro vezes lôda a população do
Novo Mundo. Na realidade, os dois terços da humanidade vivem sôbtc
• Mapa elaborado pelos editores brasileiros, com dados colhidos no
um espaço que não ultrapassa a sétima parle dos continentes. *• Demograpbic Yearbook, 1960 (Quadro 2). A
SUPERFÍCIE
POPULAÇÃO POPULAÇÃO
ifíi mithõtl de km'
talai media dos con O exame crítico detalhado de regiões com fortes analogias
da Urra em Terra Continentes Siarei tinentes povva*
naturais seria ainda mais revelador.
Cifras de referência milhoti Je dot por Mm*
inteira povoados
habitantes
c de comparação Primeiramente por sua latitude e, em segundo lugar, por seu clima e
(1939) 2.115 510 135 361 15,6 suas produções, embora a distribuição seja diferente e a zona meridional
mediterrânea da Europa tenha por equivalente a zona ocidental do Pacífico, *°
[,. ] POPULAÇÃO
em milhôei de
SUPERFÍCIE
em milhôei de
POPULAÇÃO
midia fior
PROPORÇÃO
em relação
o Canadá suporta uma comparação com a Europa. O Canadá tem uma
habitantêi km' km' à população superfície de 10.542.000 quilômetros quadrados, enquanto a da Europa
da terra í de 11.424.000 quilômetros quadrados: não se deverá notar, com toda a
América 268 42 6,4 12.7 justeza, que se trata de superfícies quase iguais? Ora. enquanto a Europa
Ásia (com • sustenta,' alimenta e faz viver 533 milhões de indivíduos, o Canadá tem
U.R.S.S. da
Ásia)
1.153 43,2 26,7 54.5 apenas 11 milhões de habitantes; de tal forma que a densidade media da •sT
Europa (com a população da Europa é de 25 por quilômetro quadrado, enquanto a do 2
U.R.S.S. da Eu Canadá ultrapassa apenas 1 habitante por quilômetro quadrado.
ropa) 533 11.4 46,7 25.2
151 29,9 5 7.1
Logo, teremos razão em repetir, no Capítulo VIII, que a Geo
África
grafia Humana inicial e fundamental ou Geografia Humana propria
Austrália
10 8.5 1.2 0.5
mente dita deve ser, de inído, a Geografia das obras humanas
c Oceania ....
TOTAIS ... 2.115
materiais; dessa maneira, ela prepara a Geografia das massas e das
135 100
raças humanas, mas sobretudo na medida cm que tais massas e tais
A Dados Recentes:
raças condensam seus modos específicos de atividade cm obras mate
POPULAÇÃO ATUAL DO MUNDO- riais, e em que revelam sua existência c sua presença através dessas
I
Milhões de Superficie População próprias obras.
habitantes (milhões de média por Sem dúvida, há relações reais entre o mapa geral das chuvas
km*) km-
c o mapa geral dos homens. De modo que quisemos não somente
1920 1939
Total 1.810
1959 aproximá-las, mas também permitir sua comparação pda superposi
2.907 135.166
África 140
22
ção de uma à outra; « mais do que isso: o estudo que faremos das
237 30.289
39 E. Dennery, Poules d'Asie, Paris, A. Colin. 1930, 243 págs. J. Sion,
Asie des Moussons, Col. Géographie Universelle, Paris, A. Colin, 1928, 40 Ver Jean Brunhes, VAgriculture canadicnne, Culture, êlevage,
1929, 2 vols., 272 págs. c 549 págs. (v. o capitulo sobre o clima c a população). irrigaiion, Capítulo VIII, págs. 105-119. do volume Au Canada (Paris, Alcan,
A. M. Carr-Saunders, World Population, Past Growtb and Present Trends, 1922), e págs. 220-225 da revista France-Canada, set. 1923.
The Clarendon Press, Oxford, 1936, in-8", XV + 336 pigs. H. Hauser, 41 Nas edições anteriores de La Géographie Humaine (ver t. III,
Questions de populasion (Rev. des Études Coopératives, Paris, ab.-jun. 1957, mapas fora do texto, Figs. 16 e 17), foram publicados um mapa da Distei-
págs. 211-280). Recentemente, a respeito da Ásia, P. GOUROU, La Terre buiion gênérale des prêcipitalions (estabelecida segundo diversos trabalhos c
el VHomme en Exlrèmc-Oríent, Paris, A. Colin, 1940, 224 págs. [B.A.] principalmente o mapa das chuvas do Aliai Andrêe) e um mapa da Distribu-
* * * * i y *i 9 i > l * * ^ > * >9 9 n>n)>))vnvn **

71 COMO CLASSIFICAR A GEOGRAFIA HUMANA ?

zonas vegetais, cm relação com as zonas climáticas, como prefácio


ao exame de algumas culturas, definirá ainda mais essas conexões.
Entretanto, esses dois conjuntos de fatos, chuvas e povoamento,
aqui serão considerados como propiciadores dos fatores fundamentais,
básicos e quase-brutais do jogo infinitamente variado de causas e
efeitos que leva/ a revestir a superfície de nosso globo de uma
multidão de traços c de sinais humanos.
Por meio desses diversos dados de observação, evidencia-sc que
Iodos os fenômenos da Geografia Humana inicial c fundamental —
a que reservaremos, de uma forma simples c corrente, a denominação
de Geografia Humana — podem e devem ser examinados à luz dos
fatos designados pelo termo essenciais. Agora, importa-nos empre
ender a análise mais minuciosa, com o auxílio de múltiplos exemplos.

liou gênérale de la populaiion (estabelecido, com algumas modificações, se


gundo o mapa levantado e publicado por Woeikof, em Pelermenns Minei-
lungen, LU, 1906, t. 17).
r
p
TEXTO 14

ALBERT-DEMANGEON
PROFESOR DE GEOGRAFIA EN LA SORBONA

P "

0
P
P
P PROBLEMAS DE
P
P
GEOGRAFÍA HUMANA
UNA DEFINICIÓN DE LA GEOGRAFÍA HUMANA
P
0
P
P Tradueción de
P
ROCÍO DE TERÃN
P
P

0
P
r
La edición original de esta obra ha sido publicada en francês con el titulo
PROBLÈMES DE GÉOGRAPHIE HUMAINE

Dtrechos reservados para todos los paiscs


(C) Copyright bi/ Ediciones Omega, S. A., 1956 - Barcelona
P
/

Talleres Graficai AOÜSTÍN NÚNEZ - Parh, 308 - Baredoaa


•s

fcDICIONES OMEGA, S. A.
CASANOVA, aao
BARCELONA

-. 337
9
9
9
9

9
9
9
9
9

. UNA DEFINICIÓN DE LA GEOGRAFÍA HUMANA


9
Desde la Antigüedad, muchos escritores, de espíritu curioso y
observador, han comprobado en la superficie de la tierra diferencias
entre las costumbres de los hombres. Muchos viajeros, desde Hero-
. doto, las han descrito;, muchos historiadores y moralistas, desde Tu-
cídides, las han tomado como base de.sus reflexiones filosóficas. Pero.
. Ia idea de constituir con esto una ciência, es decir, de buscar su
explicación, no vino sino muy tarde y apenas aparece hasta fines
dei siglo xvm. Hasta entonces el estúdio de los hechos que actual-
9
j; mente agrupamos bajo el nombre de Geografia humana: modos de
j. vida dei hombre en la superficie de la tierra, modos de agrupación, 9
consistia en una simple descripcion considerada principalmente como
un conocimiento de caracter utilitário y práctico o como una imágen
pintoresca de las costumbres y diferentes maneras de ser de los pue-
Í" i . blos. Eran repertórios de informes destinados a guiar a los viajeros,
narraciones a menudo noveladas de maravillosas aventuras hechas
-

9
sobre todo para recreo de la fantasia; eran enumeraciones de lugares
y distancias, llenas de recuerdos históricos; eran a veces considera- 9
ciones arqueológicas y genealógicas; nociones de estadística y admi
nistración. Estas obras procuraban, ciertamente, satisfacer la curio-
sidad que todos los espíritus, aun los más humildes, experimentan
-. por todo lo que les habia de pueblos extranjeros y paisajes exóticos.
' Pero, en realidad, este conjunto de conocimientos solo era un caos
desordenado, sin esfuerzo constructivo, sin luz explicativa, es decir,
sin caracter científico.
i Los progresos de la Geografia humana como ciência se remontan
a los progresos de nuestro conocimiento dei Globo, efectuados sobre
Ip todo a partir de los viajes de descubrimiento y colonización dei
siglo xvm: viajes efectuados principalmente por hombres de ciência
o por exploradores animados de una curiosidad científica. Ellos per-
mitieron recoger, a través dei mundo, elementos de comparación
entre sociedades humanas que alcanzaron grados diferentes de civi-
9
9
9
9
338 «I
p
p —•""' • •

• ~ - 10 PROBLEMAS DÉ GEOGRAFÍA HUMANA :

lización; luego el espíritu de comparación despierta el espíritu cientí


fico, porque él ctrea el sentido de la generalidad. de los hechos.
p
Vidal de La^Blache, que fué el iniciador de la geografia hu'-
mana en Francia. ha mostrado que el caracter cientifico de esta geo
p grafia se remonta a los geógrafos alemanes Alejandro de. Humboldt
(1769-1859) y Karl Ritter (i779;i859), puesto que ambos demostraron
que entre los fenômenos (físicos y los fenômenos de la vida hay
relaciones constantes de causa y efecto; pero cada uno de dichos
geógrafos aporto su manera original de concebir. esta conexión..
Autor dei Cosmos, Humboldt, principalmente naturalista, se interesa
p
en estudiar los fenômenos físicos y en demostrar, por ejemplo, la
influencia de factores como la altitud, la temperatura, la humedad,
la sequía, sobre las formaciones vegetales. Autor de la Allgemeine
vergleichende Géographie, provisto de una gran cultura histórica,
K. Ritter demuestra que en geografia humana la naturaleza no es
el único poder causai y que el hombre mismo es en la superficie
^ .. . de la tierra un agente de transformación y de vida. Así, la natura-
. Ieza y el hombre, Natur und Geschichte, como deda Ritter, son
. (dos dos términos perpetuamente asociados» entre los cuales debe
gravitar sin césar el pensamiento dei geógrafo.
Por este camino es por el que la geografia humana, ha conti
nuado, con dos jefes de escuela, Ratzel en Alemania y Vidal de La
Blache en Francia. Su doctrina y su ensenanza han fructificado en
p
casi todos los países, inspirando aqui y allá obras que han contri
buído a vulgarizar la nueva ciência y a hacer entrar en ella' los
p
princípios y lecciones desde los médios científicos hasta las esferas
r dei gran público. Se pueden citar en Francia: J. Brunhes; en Ale-:
mania: Philippson; en Inglaterra: Mackinder y Herbertson; en
Estados Unidos: Miss Semple; -en Yugoslavia: Çvijic; en Itália:
a • • Marinelli; en Rusia: Woeikof.
0
I. DeFINICIÓN Y OBJETO DE LA GEOGRAFÍA HUMANA
P
Si ensayamos precisar el espíritu que domina las obras de la
geografia humana y de buscar a qué tendências comunes obedecen,
,-« . podemos llegar, por aproximaciones sucesivas, a definir el objeto
de esta ciência.
r
Primero, la geografia humana nos aparece como el estúdio de.
p Ias relaciones de los hombres con el médio físico: Esta noción nos
0 viene sobre todo de la geografia botânica por médio de Humboldt
y de Berghans, y particularmente de esta ciência botânica llamada
la ecologia, que estudia en qué medida los factores dei clima y dei

p
P
9
9
9

UNA DEFINICIÓN DE LA GEOGRAFÍA HUMANA 11

suelo determinan la vida de las plantas. De la misma manera, ellos


- • pueden en gran medida determinar la vida de los hombres. Uno
de los primeros cuidados dei geógrafo es poner en relación los he
chos humanos con la serie de causas naturales que pueden expli-
[ . carlos, y.de situarlos así en el encadenamiento dei cual son parte. 9

: La inteligência de estas causas nos ilumina sobre los modos de vida


y las. costumbres materiales de los hombres. Esta influencia dei médio
físico en torno, como dicen ciertos americanos, irrumpe por todas
partes, en todos los domínios de la actividad humana, en ejemplos
. . entre los cuales. el geógrafo no tiene más dificultad que la de elegir.
9
Los três términos de una asociación que une estrechamente una
planta, un animal doméstico y un modo de vida, es decir, el liquen, 9
el reno y el lapón, se encuentran uno frente a otro en una de
pendência causai.
• .. La influencia soberana dei médio ha conducido a los indígenas
-. de los bosques dei África central a una vida de cazadores y recolec-
. tores de frutos silvestres, a los de las estepas de Ásia central a una
9
vida de nômadas y de pastores. En los países áridos existe una es-
trecha unión entre las fuentes y la posicion de los pueblos; en las 9
altas montanas, entre los escasos retazos de tierra buena, bien ex-
puesta, y el habitat humano. jNo ha habido desde el punto de
vista dei desarrolló de la civilización una profunda diferencia entre
Europa, colocada en el corazón dei hemisfério continental, y Aus-
•• tralia, aislada en médio de mares inmensos? <;Las penínsulas e islas
no han contribuído a la formación de individualidades humanas, •
de Estados? <jLa separación de Portugal en relación con Espana no
se explica en parte dei lado Oeste por su orientación oceânica, dei
lado Este por los relieves accidentados de las gargantas salvajes
que le aíslan de Espana?
Pero para llevar hasta el fin esta primera definición de la geo
grafia humana se percibe que no podría abrazar todo el estúdio de 9
las relaciones de los hombres con el médio físico. La definición
aparece muy pronto demasiado amplia, porque muchas de estas re 9
laciones escapan ciertamente a la competência de la geografia hu
mana y dependen de ciências bien definidas. En su libro sobre La
Terre et VEvolution humaine, L. Febvre ha seríalado muy bien estas
zonas prohibidas a la geografia humana. Por ejemplo, aunque ciertas *
" razas humanas parecen ligadas a un domínio geográfico bien limi-
**- tado, no pertenece a la geografia humana explicar las diferencias
que existen entre las razas desde el punto de vista de sus reacciones
frente al color de la piei, de sus reacciones frente a los factores dei
clima. Dejemos, pues, a otros el estúdio de los elementos fisiológicos
dè la naturaleza humana. No olvidemos que el hombre tiene una

9
9
3-JU

t
p
p

12 PROBLEMAS DE GEOGRAFIA HUMANA

anatomia, una fisiología, una patologia que derivan de caracteres


hereditários y cuyo estúdio constituye la antropologia y la medicina.
Tratemos de rectificar nuestra primera definición.
Se puede, pues, dar esta segunda definición: la .geografia hu-
.mana es el estúdio de las agrupaciones humanas en sus relaciones
* con el médio.físico. Renunciemos a considerar los hombres en tanto
que indivíduos. Para el estúdio de un indivíduo, ,1a antropologia
y la medicina pueden desembocar en resultados científicos; la geo
grafia -humana, no. Lo que ella estudia son los hombres en. tanto
que colectividades y agrupaciones: son las acciones de los hombres
en tanto que sociedades. Debemos partir para nuestras -investiga
ciónes, no dei indivíduo, sino dei grupo. Desde los. tiempos más
remotos, vemos en accion, no hombres aislados, sino agrupaciones
de hombres. Tan lejos como nos remontamos pòr el pasado, vemos
que vivir en sociedades, vivir con semejantes que tienen las mismas
maneras de vivir,.es un estado inseparable de la naturaleza humana.
p Estas agrupaciones son a veces pequenas, como los numerosos po-
p blados neolíticos cuyos restos se han encontrado. A veces son in-
mensas como estas sociedades de. la época paleolítica cüyos útiles
se parecen a través de todo el mundo. Y es así, por sus agrupa
ciones, como la humanidad, aun la primitiva, entra en contacto con
el médio físico. Es un esfuerzo de cooperación, de cohesión que
encontramos en el origen de las cívilizaciones. y de sus conquistas
materiales sobre la naturaleza. Esfuerzos como la construcción de
p dólmenes, la organización de la irrigación en Mesopotamia y en
Egipto, como la domesticación de los animales, no pueden ser sino
de empresas colectivas. Pero esta definición no basta aún para cubrir
todo el concepto de geografia humana, y es una corrección última
la que nos aproxima definitivamente a la realidad.
p
La geografia humana es el estúdio de las agrupaciones hu
p manas en sus relaciones con el médio geográfico. — La expresión
. de médio geográfico es más comprensiva que la de médio físico;
abarca no solamente las influencias naturales que pueden ejercerse,
sino también una influencia, que contribuye a formar el médio geo
gráfico, el contorno entero, la influencia dei mismo. hombre. Muy
p
al principio de su existência, la humanidad ha sido ciertamente la
p esclava, la subordinada de la naturaleza. Pero este hombre nudus et
inermis^ no tardo en transformarse, gradas a'su inteligência y a su
iniciativa, en un elemento que ejerció sobre el médio una accion.
poderosa; se convierte en un agente de la naturaleza, transformando
a fondo el paisaje natural, areando asociaciones nuevas de plantas y
de animales, oásis por el cultivo de irrigación, formaciones vegetales
P
r
-

p
T UNA DEFINICIÓN DE LA GEOGRAFÍA HUMANA 1 o

- -.. - , . . . . . .

como la estepa y la landa a expensas dei bosque. Y estas transforma-


ciones se.han extendido a vastas regiones porque hay, de grupo a i
grupo de hombres, emigraciones, prestamos, imitaciones. Y esta accion f
de las sociedades riumanas sobre la naturaleza es tanto más rica
y más fuerte conforme sus iniciativas les han hecho más capaces de
extender su radio de accion, de adquirir ventaja. Hay ciertos supues-
tos naturales que el hombre por su accion- ha modificado profun
damente: en la Antigüedad las Islas Britânicas estaban en la extre-
midad dei mundo conocido, en una posicion excêntrica; en la época
moderna; a partir dei descubrimiento y dei poblamiento dei Nuevo
Mundo, ocupan una posicion central. En nuestros dias, la accion
dei hombre sobre la naturaleza aún se ha amplificado en razón de
las armas que la ciência le ha dado y dei domínio que los trans
portes le han asegurado sobre ias distancias. Así, las obras huma
nas, resultantes de todo el pasado de la humanidad, contribuyen
ellas mismas a constituir el ambiente, el contorno, el médio geográ
fico que condiciona la vida de los pueblos. Así, podemos adoptar
como definición de la geografia humana el estúdio de las relaciones
de las agrupaciones humanas con el médio geográfico.
Esta definición de la- geografia humana nos permite concebir de
una manera concreta cuál es su objeto y determinar su marco y sus
9
limites. Comprende cuatro grandes grupos de problemas que resul-
9
tan precisamente de las relaciones de las sociedades humanas con
el médio geográfico. 9
En primer lugar existe el aprovechamiento por las sociedades
humanas de los recursos que les proporciona la naturaleza o que
han conquistado sobre ella; son los modos de vida tales como los
modelan las grandes zonas naturales: la vida humana en las regio 9
nes frias; la vida humana en las regiones templadas; la vida hu
mana en las regiones áridas; la vida humana en las regiones cálidas, 9
y en cada una de estas zonas, su contingente de plantas cultivadas y
de animales domésticos; la vida humana en la montaria; la vida
humana en las costas.
En segundo lugar existe la elaboración progresiva por las socie
dades a lo largo dei tiempo y a través dei espacio, de los diferentes
9
procedimientos por los cuales ellas, para su subsistência, han sacado
partido de los recursos naturales, desde los más elementales a los 9
más complicados, trátese de cosecha silvestre, de caza y pesca, o de 9
agricultura y ganadería, o de la industria o de comercio, de inter 9
••**.
câmbios, y transportes. Se trata, en suma, de la evolución dei tipo
de civilización. 9
En tercer lugar existe la distribúciôn de los hombres en función
misma de las condiciones de la naturaleza y de los recursos creados 9
9
9

9
342 _
p
p
r
P
^ 14 PROBLEMAS DE GEOGRAFIA HUMANA

para su explotación: la extensión de la humanidad, su efectivo, su


densidad, sus movimientos y sVis emigraciones.
En cuarto lugar existen las instalaciones humanas, es decir, >.los
modos de ocupación de la tierra desde las formas más simples hasta
las agrupaciones más complicadas, desde la casa y la aldea hasta las
^ .. ciudades y estados.
He aqui, parece ser, el contenido propio de la Geografia hu
mana. Dentro de estos amplios cuadros se distribúye todo su tra
bajo de investigación, toda su obra.
. •• . • •

P '...
TI. El método de la Geografia humana

P
Concebir y limitar el contenido y el objeto.de la Geografia hu
P mana no basta. Son necesarios princípios de método, sea para abar
caria bien, sea para no salirse de sus limites. He aqüí los princípios
esenciales de este método.
Primer principio. No es preciso creer, en geografia humana, en
una espécie de determinismo brutal, en una fatalidad salida de los
factores naturales. La causaiidad en geografia humana es muy com-
pleja. Con su voluntad y sus iniciativas, el hombre es él mismo una
causa que trae perturbaciones en lo que podría parecer orden na
tural; por ejemplo, una islã no está dedicada necesariamente a la
vida marítima. El nacimiento de la vida marítima procede a me
nudo de los contactos de la civilización. Así, los ingleses no se trans-
formaron en marinos sino a ejemplo de los mercaderes escandinavos
y hanseáticos. Del mismo modo, la agricultura no es solamente fun-
P
ción de las cualidades de la tierra; hay tierras fértiles que no están
cultivadas; hay tierras pobres que lo están. Todo depende frecuen
P ternente dei grado de civilización de la sociedad agrícola. El hom
bre es a veces el dueno de la fertilidad dei suelo, por ejemplo practi-
cando el riego. La antigua extensión de la viíia én la Europa Occi
dental hasta Bélgica, en Inglaterra y en el Norte de Francia, se ha
hecho en contradicción con las exigências naturales de su vegeta
cion; si ha podido avanzar tan lejos en estos países frescos. y poço
p soleados, es que allí existia una necesidad de vino para decir la misa
y no se podia, careciendo de transporte econômico, recibirlo de países
más meridionales; pero a medida que estos transportes iban siendo
menos onerosos, el cultivo de la viíia ha retrocedido hacia el Sur.
en sitios menos aventurados y más conformes a sus" necesidades de
vegetacion y madurez. El mismo país puede cambiar profundamente
de valor por. la ocupación humana, según el grado de civilización
de las sociedades humanas que lo pueblan. Antes de la llegada de los

r
r
p
9

9
UNA DEFINICIÓN DE LA GEOGRAFÍA HUMANA 15

europeos, Austrália estaba aún en estado de vida salvaje; no había
caza mayor, salvo el canguro, que era raro; una pobre fauna de mar-
supiales, de serpientes y de insectos; no había animales que domes-
ticar; poças plantas silvestres comestibles; indígenas famélicos erran 9
tes en busca de un pobre alimento. Llegan los europeos con sus
9
plantas cultivadas y sus animales domésticos, despues. con sus pode
9
rosos médios de labranza y circulación y hacen de este continente,
durante mucho retrasado, un país de gran cultivo y ganadería inten
siva, una tierra de civilización progresiva y de confort humano.
Nada, pues, de determinismo absoluto sino solamente posibilidades
puestas en marcha por la iniciativa humana; nada de fatalidad, sino 9
voluntad humana.
9
Segundo principio. La geografia humana debe trabajar apo-
yándosé sobre una base territorial. Dondequiera que viva el hombre, 9
su modo de existência implica una relación necesaria entre él y el
substracto territorial. Es precisamente la consideración de este
vínculo territorial lo que diferencia la geografia humana de la socio
logia. Los sociólogos tienen tendência a no percibir más que los as
pectos psicológicos dè las agrupaciones humanas, a olvidar las rela
ciones de los hombres con la tierra, a tratar dei hombre como si estu- 9
viera desprendido de la superficie de la tierra. No se puede además 9
desconocer qüe existen otros cimientos sociales que la tierra, en
particular los que reposan sobre princípios de naturaleza psicológica,
tales como el parentesco y la religión, y su estúdio pertenece, no a
los geógrafos, sino a los sociólogos.
Pero la propio de la geografia humana es comprobar que el hom
bre no puede ser estudiado sin el suelo que habita y que el suelo
es el fundamento de toda sociedad. Se puede decir incluso que
cuanto más amplia y rica es esta base más profunda es la relación
entre .ella y sus habitantes. Cuanto más fuerte es la densidad de
población y más •intensiva la explotación de la tierra, más estre-
chos sou estos lazos. 9
Puede decirse con Sanderson que, hasta entre las tribus de caza-
9
dores, la utilizaciôn de un mismo território crea una solidaridad
social independiente de los lazos de la sangre y más fuerte que
ellos. Entre los algonquinos de América dei Norte, pueblo cazador,
el território de cada tribu estaba repartido en sectores atribuídos
desde tiempo inmemorial a las mismas famílias; este grupo de famí
lias constituía la verdadera unidad social; el cimiento de esta unidad
9
no era el lazo dei parentesco siiio la comunidad de domínio dei
9
mismo território, dei mismo sector. Estos sectores tenían entre los
algonquinos una media dè 500 a 1.000 km. cuadrados por família
en el território central de la tribu y de dos a cuatro veces mayor
9

9
• • 344

t
p

PROBLEMAS DE GEOGRAFIA HUMANA

en las fronteras de este território. En este território la. família caza.


La caza está reglamentada de tal suerte que solo la cria natural de
los animales es consumida; se tiene cuidado de dejar despues de cada
^J- estadón bastantes animales para asegurar el aprovisionamiento dei
afio siguiente; se sabe que una matanza desconsiderada expondrá
a.la família al hambre. En todos los domínios de caza de la.América
precolombina (caribú, bisonte, guanaco) existia "la misma organir
zadón. Entre los pueblos inferiores de Austrália, la tribu tenía igual
mente derechos de recolección y de caza sobre un território exacta-
mente delimitado; en el interior mismo dei território de. la tribu, ..- :-
cada unidad familiar poseía derechos semejantes.. Con mayor razón,
0 entre los pueblos agrícolas la base territorial aventaja como cimiento
social a los princípios de naturaleza psicológica. Todas las comuni
dades agrícolas tienen una estructura determinada por los lazos
que les unen al suelo: agrupación de viviendas en pueblos debido
•a la necesidad de defenderse y sobre todo a las necesidades dei tra
P
bajo en común; organización extremadamente regulada para dis-
frutarde las tierras cultivadas y fundada sobre la rotación de culti
vos de una sección a otra dei território; caracter permanente de los
limites dei terrazgo; en ciertos países, obras de riego, cuya localiza-
dón impone la repartición territorial de los campos cultivados. «La
comunidad de la aldea, sigue diciendo Sandersori, ha sido el médio
de dar a la humanidad un gobiernó local basado en el principio
territorial mucho más que en el principio dei parentesco.» Al reem-
P
plazar la organización tribal por esta organización territorial, desde
P la más lejana antigüedad, la mayor parte de las cívilizaciones han
dado a las agrupaciones rurales una base geográfica. Estos habitats
en que los hombres se agrupan, donde trabajan, tienen dimensiones
muy desiguales que pueden ir de la localidad dementai al gran
território. Forman el marco en cuyo interior se distribuyen los he
chos geográficos y, por sus caracteres propios, imprimen una origina- •
lidad a la humanidad <que allí se reúne. Comprender y describir
P estas unidades régionales es una de las funciones primordiales de la
Geografia, pues cada una de ellas forma a menudo una espécie de
personalidad a las que es preciso dar nueva vida. Esta Geografia regio
nal constituye uno de los puntos de apoyô esenciales' dei trabajo
de la Geografia general, pues no se consigue frecuenternente conce-
bir los grandes conjuntos sino es por el análisis de los. pequenos
P
países que los componen; para abarcar bien los hechos generales es
r bueno partir de lo particular, de lo localizado, de lo regional, óbser- •
var lo que la región contiene de particular en sus horizontes, sus
plantas, sus habitantes, y definir este algo animado que resulta dè
la unión de un fragmento de tierra con .un grupo de humanidad.
r - •' : •.
p
t
p
p
f

9
UNA DEFINICIÓN DE LA GEOGRAFÍA HUMANA 17

Somos así inevitablemente conducidos al punto de partida de nues i


tro conocimiento dei mundo, al substrato inmediato de nuestra
existência material. A menudo se pueden captar mejor las relaciones
que unen a los hombres con su médio, por el análisis de los carac
teres que componen la fisonomía de una región. 9
Tercer principio. Paia ser comprensiva y explicativa, la Geogra
5
fia humana no puede referirse a la sola consideración dei estado 0
9
actual de cosas. Es preciso examinar la evoludón de los hechos, re-
montarse al pasado, es decir, recurrir a la historia. Muchos.de los
hechos que, considerados en función de las condiciones presentes,
nos parecen fortuitos se explican desde el momento en que se les
considera en función dei pasado. La historia abre vastos horizontes
sobre el pasado que ha visto sucederse tantas experiendas humanas. 9
Esta nodón de tiempo, de evolución, es indispensable. Sin ella, la 4
razón de lo que existe se nos escaparia a menudo. ^Cómo, por ejem
plo, 1a Geografia urbana podría pasarse sin la historia? ,:Cómo ex
plicar Roma, Paris, Londres, sin conocer su pasado? <;Cómo compren
der la población de un viejo país como Francia si no conocemos
la historia de la roturación, de la deforestación, dei reparto de los 9
campos, de los trabajos de drenaje y construcción de diques? Todo
9
el estúdio de esta conquista dei suelo se hace a base de historia. He
aqui por qué los trabajos de geografia humana contienen siempre 9

muchas investigaciones históricas; y por qué los geógrafos se en


cuentran a menudo en los fondos de los archivos con los historia
dores. Para explicar los hechos que observa, el geógrafo no debe
contentarse con situarlos racionalmente en el espacio; es preciso
también que los proyecte en el pasado. Así, debe saber servirse de 9
9
los documentos históricos y saber también donde puede encontrados.
Tomando el ejemplo de Francia solamente, existen grandes fondos
de archivos: los Archivos nacionales en Paris que poseen para las
diferentes series por lo menos un inventario somero; los Archivos
departamentales que no están todos inventariados; los Archivos co-
munaies, muy desigualmente accesibles. Muchas bibliotecas poseen
depósitos de documentos inéditos, desde la Biblioteca Nadonal de
Paris hasta las de las grandes ciudades de Franda y las de institu-
ciones públicas como L'Ecole des Ponts et Chaussées. Además,
hay archivos en las administraciones públicas: ministérios de Obras
Públicas, de Comercio, de Agricultura, Catastro; sin hablar de los
archivos de la Câmara de Comercio, de las companías de ferrocarri-
les, companías mineras, companías de navegación, sociedades agríco
las e industriales, e incluso archivos de notarios, tan curiosos de ex
plorar para el estúdio de propiedades y explotaciones. Se puede dar,
en fin, como ejemplo de una masa de documentos al alcance de los

9
9
346 _ . ^
l8 VKCHU !MAS i>A £;i-;ui :üAFIA i Ii l,M A,\".\

investigadores, la Colección de documentos inéditos sobre la historia


de la Revolución francesa, enriquecida con más de un centenar de
volumenes, y que proyectan una viva luz sobre tantos hechos de Geo
P
grafia humana: cultivo de las landas, bienes comunales, derechos
P de pasto y de dehesa comunal, ofícios rurales e industrias domés
P ticas; la metalurgia y los bosques, la aparición de la maquinaria,
la red de carreteras y vias navegables, el movimiento de pobla-
ción, la evolución de la agricultura, los regímenes agrários. Así,
pues, el estúdio dei pasado es necesario para explicar los hechos
de la geografia humana. La humanidad evoluciona. en el tiempo.
P
Para comprender esta evolución, el testimonio de la historia, nos es
tan necesario como el conocimiento de las leyes naturales.

P
P

P
P
P
0
0
P
P
P.
P

P'

r
P
p
•"SWhV1 "•"•*"• *%^»v»irwiW,»>rrt-»w«snoraN»%^^ «v -.-. - vi wwwwww •ttJKwn «*. •-*-'-,-»-*-»-;-.-;^s.-«7-r»^o»v i v n «**!' «v.>*ir»w«,A%v
p
p
TEXTO 15

P
r 2. FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA HUMANA*
p

p
p
p
p
p
p
p
p
p
p

p
Organizador: Januário Francisco Megale
p

p
p

CIP-B.-asil. Catalogação-na-Publicação
p Câmara Brasileira do Livro, SP

p
Sorrc. Maxlmilien, 1880-1962.
S692m Max. Sorrc : geografia / organizador [da coletânea] Januário Francisco
Megale ; [tradução Januário F. Megale, MaTia Cecília França t Moacyi
Marques]. — São Paulo : Ática, 1984.
" • (Grandes cientistas sociais ;. 46)
Introdução: A geografia torna-se uma ciência social / Januário Fran
cisco Megale.
Bibliografia.
p 1, Geografia 2. Geografia — Filosofia 3. Geografia —' Metodologia
4. Geografia humana S. Sorre. Maximilicn, 1880-1962 I. Título.
p
17. e 18. CDD—910
17. *» —910.001
p 18. —910.01
17. —910,0018
p 84-1283 18. —910.018.

índices para catálogo sistemático;


1. Geografia 910 (17. c 18.)
2. Geografia ! Teoria 910.001 (17.) 910.01 (18.)
p 3. Geografia humana 910 (17. c 18.)
4. Método cientifico ; Geografia 910.0018 (17.) 910.018 (18.)
p 5. Metodologia : Geografia 910.0018 (17.) 910.018 (18.)
p
1984
349
p
9

o
9
9
9
9
9

9
9
2. FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA HUMANA*
9

9
9
Propomo-nos neste estudo a delinear uma nova orientação de 9
pesquisa no campo da geografia humana. Não se trata de voltar ' às 9
discussões teóricas sobre o conceito de geografia humana, sua natureza 9
e campo de estudo. Não estamos tão certos de que o conhecimento das
coisas tenha avançado sempre por meio de demonstrações de escolástica. 9
(Diante da realidade terrestre em seu tríplice aspecto, físico, biológico
e humano, o geógrafo adota uma atitude mental que consiste em con 9
siderar essa realidade sob seu aspecto espacial e em abranger todas as 9
relações, desde a simples conexão até a mais intrincada causalidade
9
existentes entre os elementos do complexo.) Geografia é descrição —
corografia, dizia Michotte —, mas descrição explicativa. O dado é 9
comum a todas as ciências da natureza e do homem: o ponto dè vista 9
é original. O encontro entre geógrafo e etnógrafo ou sociólogo não é 9
motivo para eternizar discussões de parede-meia;- ao contrário, é uma 9
excelente condição para se captar a realidade integral, ainda que ao
preço de uma certa sobreposição de idéias. O que importa, na verdade, •0
é a unidade do conhecimento. 9

Como dissociar os elementos do complexo geográfico total, a geo 9


grafia . humana busca ater-se àquilo que é propriamente humano, às 9
massas humanas e suas obras, efêmeras ou permanentes. Afirmamos 9
em primeiro lugar as massas humanas, pois, afinal, antes mesmo de
9
suas moradias, campos e caminhos os homens é que fazem parte da

* Reproduzido de Sorre, Max. Fondements de la géographie humaine. Cahiers


Internaüonaux de Sociologie, ano 3, v..Y, p. 21-37, 1948. Trad. por Januário 9
Francisco Megale. 9

9
m
9

350 *

"*
p

P
P 88
P

paisagem. Aqueles lhes são tão peculiares como a estatura, a cor da


pele, as proporções do corpo. Uma observação impõe-se imediatamente.
A extensão da espécie humana e a distribuição de seus tipos estão, rela
cionadas com as condições do ambiente inerte ou vivo. Não temos
motivo algum para considerar o gênero Homo, observadas todas as pre
cauções quanto" ao seu poder de reação, diferentemente de qualquer
-

outro grupo de seres vivos. Não sem razão Vidal de la Blache fazia
da preocupação com o ambiente uma característica do geógrafo. Eis
que nossa disciplina, concebida como corografia, torna-se, uma vez
transposta a etapa da simples descrição, uma ecologia. Por isto que, em
meu primeiro livro, ao procurar estabelecer os fundamentos da geografia
humana, ocupei-me dos fundamentos biológicos e tentei constituir a
ecologia do homem no sentido que os naturalistas emprestam a este
p termo desde Haeckel1.
f
O emprego do termo ecologia exige esclarecimento. Em que pese
p
às aparências, mesmo os termos de uso corrente no vocabulário biológico
nem de longe têm o rigor dos símbolos algébricos. Sofrem, como as
palavras da linguagem comum, uma evolução semântica. Ecologia não
tem exatamente o mesmo significado para todos os que usam este termo
p
e as variações de sentido causam certa confusão, como se tornou evi
dente quando dos debates organizados, em 1948, pela Société de Bio-
géographie de Paris para fixar o significado do vocábulo. Para um grupo
importante, seu uso deveria restringir-se particularmente à definição do
meio, do ambiente. Mas não é assirn que o entendem, de modo geral, os
fitossociólogos para os quais o termo diz respeito ao ajustamento dos
indivíduos e dos grupos vegetais às condições do meio, isto é, o estudo
p
dos equilíbrios entre as sociedades vegetais e o ambiente, equilíbrios
esses expressos pela forma biológica do vegetal. A exemplo deles, damos
. à palavra ecologia um sentido mais amplo, do qual resulta, imediatamente,
que o geógrafo não pode ignorar os dados essenciais da antropologia
somática.
De qualquer .maneira, a descrição do meio ou do ambiente em
função das características do ser que nele reage, representa o primeiro
termo da equação de equilíbrio, o ponto de partida de toda ecologia.
j* A noção de meio, meio inerte, meio vivo, enriqueceu-se prodigiosamente
de um século e meio até nossos dias, abrangendo todas as condições que
-^favorecem, limitam ou orientam a existência e a atividade do indivíduo
e do grupo. O inventário dessas condições deve ser tão extenso quanto
^ possível e permanecer sempre aberto, pois- uma dada condição só tem

1 O Jivro referido é Les fondements biologiques de.la géographie humaine; essai


d'une écologie de .1'homme. Foi lançado em 1943 e reeditado em 1947, em
edição revista e aumentada, sob o título: Les fondements de la géographie
humaine; Les fondements biologiques; essai 'd*une écologie de 1'homme, t. I.
Veja-se a relação das obras de Sorre, na p. 24 et seqs. (N. do Org.)
r
P
p
351
-9
89 *

9
significado quando em relação com as características dá espécie, estas,
por sua vez, suscetíveis de mudança, aumento ou diminuição determina
dos por mutação ou por outra qualquer causa. Essas formulações são
de alcance geral, aplicáveis a qualquer espécie viva. E apresentam con
seqüências notáveis quando se trata de um ser cuja capacidade de reação
e faculdades de invenção parecem ilimitadas: o homem. O espírito 5n-
troduz-se no ciclo geográfico. Voltaremos a este ponto quando falarmos
a respeito das técnicas.
Considerando-se o segundo termo da equação, as atividades dos
grupos humanos, a palavra ecologia aplica-se a todas aquelas atividades,
espirituais ou materiais, que não podemos conceber fora de seu próprio
ambiente. No Fondements biologiques de la'géographie humaine, res
9
tringi deliberadamente minha pesquisa aos equilíbrios fisiológicos e, por
assim dizer, limitei meu campo à história natural dos grupos humanos, 9
tratados como variedades de uma espécie viva. Reação ao clima, con
dições de nutrição, luta pela vida em meio a complexos patogênicos: eis
os capítulos que- um geógrafo abordaria a respeito da área de extensão •
de umâ espécie animal ou vegetal. A dificuldade do assunto e a unidade 9
desses três capítulos, imbuídos do mesmo espírito, legitimavam esta
9
limitação. Acrescento ainda que, em se tratando do homem, a noção de
meio se enriquece. O meio social pesa muito mais que o meio inerte ou
que o meio vivo sobre todas as iniciativas humanas. A saúde, a capa-
. cidade de reprodução de um grupo em dado momento dependem mais • «^
do ambiente humano, das'representações e dos impulsos coletivos, que
do 'clima e de outras condições físicas. Mesmo limitando-nos 'a estudar
9
os aspectos fisiológicos da ecologia, devemos dar lugar — e um- lugar
9
considerável — ao meio social. Não obstante, temos falado pouco do
meio social — sobretudo no que se refere aos complexos patogênicos
—, por julgarmos conveniente aprofundar o assunto após um estudo
mais completo das diferentes atividades dos grupos humanos.
As relações das funções orgânicas com o meio não esgotam o
conteúdo da noção de ecologia. E, se incluímos aí as formas superiores
de atividade dos grupos humanos, devemos dar atenção maior ainda ao
meio social. Assim se explica um encontro notável. Na Europa, a geo^
grafia humana é uma disciplina já antiga, de raízes profundas, ricaém 9
9
obras. Os geógrafos multiplicaram monografias regionais analisando as
relações locais entre a atividade dos homens e os dados do meio. Foram
levados a preocupar-se com as estruturas sociais, na medida em que
estas surgiam como características do complexo local e também na me
dida em que pareciam determinar outras formas de atividades. Jamais
-*
trabalharam que não fosse segundo uma perspectiva ecológica, sem, no
^
entanto, pronunciar esta palavra. Considerável número de fatos fòi,
assim, acumulado. E todos sabemos do empenho da École Française de
Géographie Régionale neste movimento de pesquisas impulsionado por
Vidal de la Blache. Já nos Estados Unidos a evolução científica ocorreu
9
9

—1* 352 ^
p
p
f
90

p
de modo diverso. Graças ao movimento que teve Davis como centro, a
p
geografia física ou, como ainda se diz, a morfologia conheceu extraor-
dinário desenvolvimento. Cresceu como um ramo da geologia. Além do
mais, o estudo dos fatos econômicos sob o aspecto da distribuição es-,
pacial reteve a atenção devido a seu caráter pragmático. O conceito •
global de geografia humana impôs-se apenas lentamente e devido a in
fluências estrangeiras. Em contrapartida, a sociologia americana teve um
desenvolvimento autônomo de vigor notável. Ela se deparou com as
p
preocupações ecológicas. Toda uma escola se organizou em torno do
p conceito geral de ecologia. De modo bem geral, pode-se dizer que, na
América, os sociólogos incumbiram-se das tarefas assumidas entre nós
[na França] pelos geógrafos, apoiados nos historiadores dos fatos sociais.
Em suas pesquisas, os americanos dispuseram de um arsenal luxuoso de
técnicas do qual nem sequer temos idéia. Um geógrafo francês, inglês ou
alemão, ao consultar um manual americano de sociologia rural, encontra
material sobre habitat rural, estruturas agrárias, demografia e migrações \ '
p
rurais que lhe são familiares^ Se nosso geógrafo é surpreendido pelo
p emprego de métodos estatísticos, até agora não tão familiares a ele,
observa, também, a profusão e mesmo a genialidade das ilustrações car
tográficas, que são os meios habituais de análise dos geógrafos. Eu
não ousaria afirmar aqui que, nos Estados Unidos, a morosidade e as
hesitações verificadas no desenvolvimento da geografia humana enquanto
disciplina autônoma devãm-se, em grande parte, ao vigoroso crescimento
de uma sociologia seriamente voltada para o concreto, e para o concreto
mais próximo. Complementação de funções. Seja o que for, os geógrafos
europeus tirarão proveito era assimilar o enorme material reunido pelos
sociólogos americanos, no domínio da sociologia rural e da sociologia'
urbana. Penso que a proposição inversa não seria menos exata.
Na análise das relações entre o grupo humano e seu meio, o geó
grafo utiliza uma noção de caráter funcional que é, na verdade, uma
noção central para sua disciplina: a noção de gênero de vida. Ratzel
p
faz dela grande uso e, entre nós, Vidal de la Blache. É mais fácil
p apreendê-la por exemplos concretos, de modo por assim dizer intuitivo,
do que por meio de definição sistemática. Contudo, pode-se dizer que
a expressão designa o conjunto mais ou menos coordenado das atividades
espirituais e materiais consolidadas pela tradição, graças às quais um
grupo humano assegura sua permanência em determinado meio. Des
crevemos, assim, os gêneros de vida baseados na pesca, na criação nô
r made, na agricultura e em seus diversos modos. Tudo isto é perfeitamente
claro. A questão se complica, porém, quando passamos a considerar
modos, de existência às vezes menos completos, mais especializados e,
geralmente, mais independentes do meio físico, como modos de vida de
grupos que vivem da indústria no mundo contemporâneo. Procurei mos
trar, recentemente, que a noção de gênero de vida pode ter aplicações
fecundas no estudo geográfico do mundo atual {Annales de Géographie,
P

0
9
9
• ••. " . • 9
91
,9
h, 2 e 3 de 1948)2. £ quase supérfluo afirmar que esta noção não deve
•.ser confundida com a noção de nível de vida, embora haja relações entre
os dois conceitos. Determinado gênero de vida pode.ser caracterizado
pelo nível de .vida mais ou menos elevado. Mas não é esta distração o
que nos interessa no momento. Para a. ecologia, o gênero de vida repre 9
senta um conjunto de adaptações — seja qual for a idéia que este termo : 9

denote. Adaptações das atividades do indivíduo e do grupo, em outras . 9


palavras, técnicas. O gênero de vida é um conjunto de técnicas. Em •
decorrência, devemos voltar a considerar a capacidade de reação dos
grupos humanos, sua faculdade de criar a paisagem geográfica. Eis
porque, após ter estabelecido os fundamentos biológicos da geografia 9
humana sobre uma base um pouco restrita, ampliei meu projeto, sem 9
comprometer a sua continuidade, partindo em busca dos fundamentos
técnicos. Este termo deve ser entendido em seu sentido mais amplo, 9
abrangendo tanto ós elementos espirituais como os elementos materiais.
Ele se aplica igualmente às formas mais complexas da atividade indus
trial e às formas arcaicas de vida.

Neste terreno, o geógrafo encontra-se com o sociólogo e, sobretudo,


com o etnógrafo. Em um de seus últimos artigos, Júles Sion recomen
dava aos geógrafos franceses que mantivessem estreito contato com a
pesquisa etnográfica. Aí incluindo-se, naturalmente, tudo o que se. refere'
ao, folclore. Uma nova disciplina foi constituída, robusta, apoiada em
9
métodos de trabalho, amplamente imbuída do espírito da paleontologia'
no: que se refere ao estudo da base material das civilizações e fortemente • 9

vinculada à arqueologia pré-histórica. Esta disciplina obteve resultados


notáveis no estudo das civilizações e de sua evolução. Ao tentar dissociar
da paisagem os elementos humanos, o geógrafo verifica que nem todos
têm a mesma idade e que, portanto, não têm o mesmo significado:
volta-se então para o etnógrafo, que o auxilia com suas análises a en 9
contrar a chave dessas combinações. Ambos trabalham sobre o mesmo
material: seus pontos de vista são diferentes, porém completam-se e 9
apóiam-se mutuamente. A geografia humana só tem a ganhar com apro
ximar-se desse novo ramo de conhecimento, originado do velho tronco
da geografia descritiva. ÍO auxílio da etnografia só pode ser dispensado
quando tratamos de civilizações contemporâneas, construídas pelo homem
branco sobre base científica racional. Aí, então, recorremos à tecnologia
e a seus fundamentos científicos. O apelo à tecnologia de modo algum
significa que a geografia humana só exista para o passado e que, para'
o presente, devamos abandonar toda explicação geográfica. Esse recorrer
à tecnologia não traduz uma preocupação com pormenores: a descrição

V •• • •';
2 Sorre se refere a artigos publicados sob o títuío "La notion de genre de vie et
sà valeur actuelle" na revista trimestral Annales de Géographie; Bulletin de la
Société de Géographie. Paris, LVII (306>: 97-108 abr.-jun. 1948 e (307): 193-
-204 jul.-set. 1948. <N. do Org.) . -'• • • '^
f
m 9
r
P-* . •
J m
minuciosa dos dispositivos instrumentais não é da alçada do' geógrafo.
A ele compete apenas utilizar a curva geral do desenvolvimento das
grandes técnicas e fixar seus pontos críticos.
Buscamos, então, os fundamentos técnicos da geografia humana'.
Para pôr ordem em tema tão amplo, partimos de uma formulação sim
ples: o cunho geográfico da ação dos grupos humanos sobre a Terra
resulta da aplicação de certa quantidade de energia a certa quantidade
r
de matéria-prima, em determinadas condições de espaço e de tempo.
Esta formulação não se afasta das preocupações características do geó
p
grafo, pois coloca em primeiro plano essas imagens, esses complexos
geográficos, cuja localização tentamos explicar, e ao mesmo tempo per
mite uma classificação geral e flexível das condições da gênese desses
mesmos complexos geográficos, mantendo, no centro do quadro, o homem
e seu poder de invenção. Se meu esforço.tem alguma originalidade,
gostaria que fosse atribuída ao constante cuidado de nunca perder o
contato com a vida e de evitar a descrição de aparências mortas.
Refiro-me, aqui, menos ao indivíduo que aos grupos humanos e suas
obras. Somente no seio do grupo social é que a eficácia e a permanên
cia dos esforços individuais são assegurados. Assim, primeiro devemos
ocupar-nos das técnicas da vida em grupo. Fica aqui uma observação de
método que vale por tudo o que vem a seguir, do mesmo modo que
valeu como complemento para os fundamentos biológicos. Os elementos
do complexo geográfico são tão interligados entre si que, ao separá-los,
devemos prestar atenção para não isolá-los arbitrariamente.t A ilusão
P
da causalidade é uma das que mais constantemente ameaça o geógrafo
— e talvez não somente o geógrafo. Se iniciamos o estudo pelas técnicas
da vida em grupo — ou, na linguagem.comum, pelos fatos de geografia
P
política e social —, não pretendemos afirmar com isso que essas técnicas
P
evoluam independentemente das técnicas de produção. E, de modo con
P
trário, terminarmos por elas, tampouco significa decretar a subordinação
do político ao econômico. Nossa atividade não deve ter nenhuma preo
P cupação doutrinai. Não há dúvida de que devemos.focar, por várias vezes,
os mesmos conjuntos de fatos sob ângulos diversos. Repetições aparentes
não amedrontara quem procura captar a realidade em toda a sua riqueza.
As técnicas de vida em grupo abrangem tanto as estruturas sociais
e econômicas como as estruturas políticas, no sentido estrito do termo.
A diversidade destas últimas, suas complexas relações com o substrato
territorial foram, por muito tempo, objeto de discussões entre sociólogos
e geógrafos. Uns e outros têm algo a dizer a respeito. A prodigiosa
ampliação do horizonte político da humanidade, corolário da unificação
do ecumeno, parece levar os grupos humanos' a pensarem geografica
mente. Esta tendência talvez seja uma das,- características mentais mais
marcantes da humanidade contemporânea, na medida em que conduz a

• • , * ? -
«..<; ** •** v ' 355
p
9
•9
93

•- ; .« '.\ , 9
um certo tipo de consciência cósmica.. Eis um campo propício à tenta
ção das generalizações aleatórias, onde a formação histórica é indis
pensável. A cada dia torna-se mais evidente que o estudo das estruturas
políticas permanece superficial se não se apoia no estudo dás estruturas
sociais e econômicas. Os historiadores estão cientes disso há muito tem
po. Os geógrafos também. Um dos geógrafos que mais contribuiu para
lançar pontes entre as duas disciplinas — não à maneira antiga','
geographia ancilla historia;, a menos que a relação seja inversa, mas com
espírito científico moderno — falou especificamente em geografia do
sistema feudal3. Entendemos a linguagem de Marc Bloch. gabemos hoje
que existe uma geografia do capitalismo. Sabemos que o conhecimento
das grandes sociedades de acionistas é indispensável para. explicar a 9
transformação do mundo intertropica! pela economia de plantations^Sa-
9
bemos também que a descrição das estratificações econômico-sociais não
apresenta interesse apenas fisionômico, o que já seria alguma coisa, mas
também interesse explicativo, o que é melhor. Neste campo encontra
remos tanto sociólogos como economistas. A dificuldade aqui é abordar
esses fatos com espírito isento de preconceito doutrinário. Que nos seja
permitido dizer que o geógrafo não está, neste caso, na pior posição.
'• Os grupos que formam o ecumeno comportam-se, em muitos aspec-i
tos, como verdadeiros seres, vivos. Seus membros mantêm-se unidos pòri
forças de coalescência, entre as quais colocamos em primeiro lugar a
linguagem e o vínculo religioso. O volume e a densidade desses grupos
são suscetíveis de aumento e de diminuição naturais. Enfim, opõem-se
e combatem-se uns aos outros. A linguagem, a religião, os movimentos
demográficos, a guerra — quatro fenômenos gerais que dominam o estudo 9
das sociedades. Cada um deles constitui hoje objeto de disciplina autô
9
noma. Cada um pode ser, também, objeto, de descrição geográfica. 9
Geografia das línguas, geografia das religiões, geografia demográfica, •

geografia da guerra constituem um capítulo introdutório ao estudo das


9
técnicas de vida em grupo.
9
Desde a origem, as técnicas de energia estão em relação com a vida
9
social, Não se pode imaginar a "conservação do fogo fora de um meio
social rudimentar. Ao referirem os primeiros progressos das sociedades, 9
os sociólogos invocam a divisão do trabalho. Durante milênios, os
homens utilizaram principalmente a energia de origem biológica, obtida 9
deles mesmos ou dé animais domésticos: Em vastas regiões de economia 9
sobretudo agrícola quase não se'usam senão forças humanas na valori
9
zação do solo, ainda em nossos dias. Essas considerações justificam o
projeto, que tentamos elaborar, de uma geografia do trabalho. Podemos 9
9
9
3 À maneira antiga: "geografia, serva da história", o que denota a posição de
subordinação da geografia à historia, que nãoé aceita por Sorre. (N. do Org.) 9

9
p

96

p sa que as previsões sobre a extensão destas últimas são vãs, pois não po
p demos nos antecipar quanto ao progresso de nossas técnicas. Mesmo reco
nhecendo o que há de fundamentado nessa atitude,, eu discordo. O proble
ma colocado por Malthus está presente; não fugimos dele. Procurei, en
tão, precisar os dados como deve fazer um geógrafo, deixando de basear-
-me no comentário de uma curva logística, para me fixar mais estreita
mente na observação dos fatos. Esta não é mais que uma contribuição
pessoal a um problema vital. Está calcada .sobre possibilidades naturais,
não sobre a probabilidade de sua realização.
Entre os traços característicos da evolução atual figura, em número
p crescente, a criação, a partir de elementos simples de substâncias próprias
p
para serem transformadas pela indústria. Até nossa época, os organismos
p vivos, animais e vegetais, constituíram os laboratórios naturais onde, em
condições ordinárias de temperatura e de pressão, se formavam as mate- :
rias-.primas à custa dos elementos da atmosfera e das camadas superficiais :
da crosta terrestre. Até o último quartel do século XVIII, receitas empí
ricas permitiram a realização de metamorfoses em número limitado. Os
progressos da física e da química abriram um campo imenso, e eis que
chegamos ao limiar dessas transmutações, sonho dos velhos alquimistas.
Indústrias químicas e indústrias de substituição sofrem, em graus dife
rentes, a influência dos fatores geográficos primários. Algumas perma
necem sob essa influência, outras estão liberadas. Mas sua produção
repercute sobre a das matérias naturais segundo regras complicadas e,
algumas vezes, contraditórias. O surgimento de corantes químicos elimi
nou, na Europa ocidental, a cultura das plantas para tinturas. O cresci-
• mento da indústria de perfumes sintéticos estimulou a cultura das plantas
para perfume e o consumo das essências naturais. Há aí uma geografia
de características complexas e mutáveis, que adquire importância a cada
p
dia (borracha artificial, derivados sintéticos de petróleo, têxteis artificiais,
r
materiais plásticos etc). Tentamos delinear um esboço desse estudo.
p
A geografia das indústrias de transformação de matérias-primas foi
p
estudada na maioria dos países de desenvolvimento econômico elevado.
p
Encontramos facilmente suas ramificações: as indústrias de bens de
p
consumo e as de bens de capital. Para estudá-las, tomamos como ponto
p
de apoio a evolução das técnicas, com a dupla preocupação de compreen
p der sua localização e ressaltar as características da paisagem humana
p suscitadas por elas. Algumas vezes dispersas, conservando traços arcaicos
no tocante à distribuição espacial, manifestam muitas vezes tendência à
concentração, seja nos limites de uma região" onde a ocupação industrial
substitui a agrícola, seja nas grandes aglomerações urbanas e em seu
raio. Verdadeiras regiões industriais são assim constituídas, e suas
condições de existência interessam igualmente ao geógrafo, ao soció-
P
P
359
P
9
9
97
9
9
logo e ao economista. Analisamos esse processo partindo de exem
plos concretos. . • _. 9
9
O acompanhamento desses processos mostrou-nos como se distri
9
buem geograficamente, no mundo contemporâneo, as duas formas de
atividade humana: exploração do solo e indústria. Distribuem-se em pro
porções desiguais conforme as regiões, e essa desigualdade é a origem
de grandes contrastes geográficos. Concorrem entre si e influem uma
sobre a •outra. Nossas civilizações contemporâneas repousam sobre a
industrializarão progrisjwa,.das^s.p3"eda_dg"s._A própria agricultura trahs-
fõrmã-se no sentido dê" uma racionalização cada vez mais acentuada. Essa •
racionalização, que não é outra coisa senão a aplicação de técnicas reno 9
vadas pela ciência ao esforço agrícola, pode apenas atenuar a diferença
de rendimento energético entre o esforço do camponês e o do operário
de indústria. Resta saber se a própria natureza das coisas não se opõe à
eliminação total dessa diferença, e mesmo se a paridade de condições é
desejável, (Em todo caso, o estudo geográfico da distribuição das grandes 9
formas de atividade conduz necessariamente a um dos problemas capi
tais de nosso tempo, o das relações entre mundo rural e mundo indus
trial, com todas as crises decorrentes.} Enfim, essa visão das grandes 9

técnicas fornece-nos um primeiro delineamento das grandes regiões da


Terra. E nos conduz a uma concepção mais precisa da unidade do ecume
no sempre presente no espírito do geógrafo. A unidade do ecumeno, "a
interdependência de todas suas partes, eis onde termina a pesquisa sobre .
os fundamentos técnicos da geografia humana: e não seria nada difícil 9
mostrar que essas mesmas noções decorrem dos fundamentos biológicos.
9
Não é, por acaso, a unidade terrestre a lição que domina toda a geografia
9
física? Assim, todos os capítulos da geografia convergem.
Não teremos esgotado, nos três volumes destes dois tomos, a matéria
9
dos fundamentos da geografia: humana. Resta-nos encarar a realidade
9
geográfica sob um ângulo um pouco diferente, com certa dose de síntese.
9
Reservamos este esforço para um terceiro tomo cuja pedra angular será
9
0 estudo do habitat e que coroará um projeto da geografia das civiliza
ções, conforme uma tentativa de definição da noção de região humana.
Respondi ao pedido do Cahiers Iniemaüonaux de Sociologie expon
do uma visão pessoal das realidades que constituem o objeto da geografia 9
humana. Não é minha intenção criticar o que havia de diferente na posi 9
ção dos geógrafos que me precederam. A cada um suas responsabilida- . 9

des intelectuais. Gostaria somente de ressaltar que suprimi dois problemas


com os quais já se gastou muita tinta e que me parecem falsos problemas.
O primeiro é o da liberdade e do determinismo em matéria geográfica.
A existência de um grupo supõe a adaptação de suas atividades.ao meio
— é a transposição^ sob uma forma moderna, da conhecida fórmula
bocaniana —, mas há para todo ser e para todo grupo uma certa margem

9
360

9
P
P
r

98
p
de tolerância, de inadaptação, compatível com a vida5. E, na maior
parte dos casos, t|rxis_g!e_acjaptaçgo variados podem responder às exjgên-
cias do meio... Há também o problema da autonomia e da classificação
p
das geografias que concernem aos diversos ramos da atividade humana.
p
É evidente que, na posição que adotamos, nem a geografia econômica
nem a geografia política representam disciplinas distintas que possam seT
p separadas de uma geografia humana reduzida a fantasma. São apenas
r palavras cômodas, nada mais. A geografia humana é una, pois capta o
homem inteiro em cada uma de suas atividades.
p

i .

P
P
P
P
P *

r
r
p

p
p
p

r
P

P
P
e~

*~

P % v .

r - •
p

p '
P Sorre refere-se, aqui, ao axioma do filósofo Francis Bacon: Natura non, nisi
parendo, vincitur ("só se vence a natureza obedecendo a suas leis"). (N. do Org.)
p

P 361
TEXTO 16

•~

P
P

Ana Cristina da Silva

Território e significações
imagimárias no peBsainnieiniftdD
è i

P
Dados internacionais de catalogação-na-publicação (CIP)
P (Cássia Oliveira)
P
^ S381t Silva, Ana Cristina da.
_ Território e significações imaginárias no pensamento geográfico
brasileiro/Ana Cristina da Silva. - Goiânia : Editora UFG, 2013.
P
P
320p. (Coleção Funape)
ISBN: 978-85-7274-358-7
è
I. Geografia 2. Geografia Humana 3.Território [.Título.

5 _ CDU 911.3

363

P
9
9
9
9

9
9

A INVENÇÃO DA GEOGRAFIA HUMANA NA FRANÇA


9

Um elemento comum parece ligar La Blache a Ratzel quando se lê o


9
prólogo do Tableau de la géographie de la France, o tema da relação 0
entre história, território e organização social. 9
t
A história de um povo é inseparável do território que habita. Só se pode re
presentar o povo grego em torno dos mares helénicos, o inglês em sua ilha, o
americano nos amplos espaços dos Estados Unidos. Procura-se explicar nes
tas páginas de que maneira ocorreu o mesmo com o povo cuja história se
incorporou ao território francês. (La Blache, 1982, p. 250). 4h

9
9
Para Hobsbawm (Hobsbawm; Ranger, 2002, p. 9-10), o u termo 'tradição inventa 9
da' c utilizado num sentido amplo, mas nunca indefinido.Inclui tanto as'tradições'
realmente inventadas, construídas e formalmente institucionalizadas, quanto as que 0
surgiram de maneira mais difícil de localizar num período limitado e determina 9
do de tempo - às vezes coisa de poucos anos apenas - e se estabeleceram com 9
enorme rapidez. [...1. Por 'tradição inventada' entende-se um conjunto de práticas,
normalmente reguladas por regras tácitas ou abertamente aceitas; tais práticas, de 9
natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comporta
mento através da repetição, o que implica, automaticamente, numa continuidade 9
em relaçãoao passado. Aliás, sempre que possível, tenta-se estabelecer continuidade 9
com um passado histórico apropriado. [...) na medida cm que há referência a um 9

passado histórico, as tradições 'inventadas' caracterizam-se por estabelecercom ele


uma continuidade bastante artificial. [...] elas são reações a situações anteriores, ou
9
estabelecem seu próprio passado através da repetição quase que obrigatória".
9

9
[Ana Cristina da Silva]

9
364
p
36 Seguindo esse princípio metodológico, já preconizado por Ratzel,
La Blache fez a descrição geográfica da França que admirava. Mas em
sua descrição o território vai cedendo lugar, paulatinamente, à região
e à paisagem como noções explicadoras dessa ruralidade francesa
variada que ele visava descrever.
P>'
Tenho tentado fazer reviver, na parte descritiva deste trabalho, uma fisiono
mia que me tem parecido variada, amável, acolhedora. Gostaria de ter conse-
guido plasmar algo das impressões que tenho sentido ao percorrer em todas
as direções esta região profundamente humanizada, porém não aviltada pelas
obras da civilização. Sentimos nela uma chamada à reflexão, porém voltamos
sem cessar, como a uma fonte de causas, o espetáculo, às vezes risonho e às
~
vezes imponente, desses campos, desses montes e desses mares. (La Blache,
1982, p. 251).

Foi essa França rural, ainda pouco transformada pelas obras de


civilização, que provocou a admiração de La Blache. Em meio à va
riedade, nela procurou certa unidade, o modo de vida francês consti
tuído em meio a campos, montes e mares dessa paisagem acolhedora
e convidativa à reflexão.
Diferentemente de Ratzel, Paul Vidal de La Blache (1845-1918) con
r
cebia a geografia humana como um dos ramos, recentes, à época, que
"brotou" da geografia. Para ele o humano é um elemento essencial na
geografia. A presença desse elemento na geografia é mais antiga do
que se supõe. Não é uma novidade no pensamento geográfico, pois,
como observa La Blache (1954, p. 27, grifo nosso): "o homem interes
sa-se principalmente pelo seu semelhante, e, desde que se abriu a era
das peregrinações e das viagens, o espetáculo das diferenças de orga
nização social, associado à diversidade dos lugares, nunca deixou de
despertar atenção ".
r
A primeira constatação acerca das diferenças de organização social
r s, •
põe em destaque sua associação com a diversidade dos lugares, sem que
se explique a instituição da organização social, ou seja, tal constatação

Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro

r
365
não é precedida por uma teoria geográfica da organização social. A 37
teoria social que alimentava o pensamento social à época oferecia uma
teoria (explicativa) já disseminada no meio intelectual francês. O apoio
nessa teoria não se deu de forma completamente explícita ou sem va
riações. Mais que ruptura ou "corte epistemológico", prefiro procurar
variações e variantes nas quais se pode identificar a erupção também de
elementos novos, quanto ao que se denominou geografia humana, na
França; em relação à antropogeografia, na Alemanha.
Tal como o elemento humano, para La Blache (1954, p. 27): "a idéia
de região é inseparável da idéia dos seus habitantes". Dessa forma, se
não é pelo novo, como identificar a singularidade da geografia hu
mana ou como defini-la? A resposta do historiador e geógrafo francês
não se encontra numa definição por oposição, isto é, a geografia
humana não se define em oposição a uma geografia não humana, mas
se situa num campo mais amplo e impreciso.

A Geografia humana não se opõe, portanto, a uma Geografia que não se preo
cupe com o elemento humano; aliás, tal ideia só poderá ter germinado no espí
rito de alguns especialistas intolerantes. Traz, porém, uma nova concepção das
relações entre a Terra e o Homem, concepção sugerida por um conhecimento
mais sintético das leis físicas que regem a nossa esfera e das relações entre os
seres vivos que a povoam. É a expressão de um desenvolvimento de idéias e
não o resultado directo, e por assim dizer material, da extensão dos descobri
mentos e dos conhecimentos geográficos. (La Blache, 1954, p. 27).

Assim, define-se a geografia humana e delineia-se um esboço de pe


riodização, não muito preciso porque referente ao desenvolvimento
do pensamento social e científico, cujo nascimento poderia ser datado
no século XVI, não fosse o fato de não haver ainda se constituído um
"princípio de classificação geográfica" ou um "espírito preocupado
com a classificação científica" (La Blache, 1954, p. 28). Houve, por
tanto, um acúmulo de pelo menos dois séculos de descobrimentos e
um pensamento científico preocupado com as influências que o meio

[Ana Cristina da Silva]

366
r

I
P
p

38 físico podia exercer sobre a ação, as sociedades humanas, no que se re


fere ao "temperamento dos habitantes". O acúmulo de conhecimentos
e de observações acerca das sociedades tornou possível a compreensão
das influências que se podia atribuir às "causas geográficas". Mas es
r sas causas não são separáveis do "princípio de unidade terrestre" e da
p "noção de meio". La Blache (1954, p. 30) tentou mostrar como eles
estão conectados:
p
p
A idéia que domina todo o progresso da Geografia é a da unidade terrestre. A
p

p
concepção da Terra como um todo, cujas partes estão coordenadas e no qual
os fenômenos se encadeiam e obedecem às leis gerais de que derivam os casos
p
particulares [,..].
p

p
Nesse aspecto sua referencia explícita a Ratzel é expressiva do re
conhecimento que conferia ao geógrafo alemão: "Cada vez mais se
reforçou a noção de factos gerais ligados ao organismo terrestre e,
com justificada razão, F. Ratzel insiste nesta concepção, que lhe serviu
p de pedra angular na sua Antropogeografia" (La Blache, 1954, p. 30).
p
Por meio do princípio de unidade terrestre e da noção de meio
chega-se à de "factos de Geografia Humana", ou seja, ao lugar que
r
ela ocupa no âmbito da geografia, pois, para La Blache (1954, p. 30),
esses fatos "ligam-se a um conjunto terrestre e apenas por este são
explicáveis; relacionam-se com o meio que, em cada lugar da Terra,
resulta da combinação das condições físicas". Essa noção de meio,
P como resultado de combinações físicas, teve sua origem na geografia
botânica, que possibilitava uma visão de conjunto do povoamento ve
getal de uma região, não tardando que esse procedimento comparati
r
vo fosse aplicado ao povoamento humano - em relação com o meio -
r
r
de uma região. Desse modo, estava aberto o caminho à compreensão
r e à definição de região.
P
Em suma, o que ressalta nitidamente destas investigações [relatadas no texto]
é uma idéia essencialmente geográfica: a de um meio compósito, dotado de

P Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro

p
p 367
P
uma potência tal que pode agrupar, e manter juntamente, seres heterogêneos 39
em coabitação e correlação recíproca. Esta noção parece ser a própria lei que
rege a geografia dos seres vivos. Cada região representa um domínio, onde
se reuniram artificialmente díspares, que aí se adaptaram a uma vida em
comum. (La Blache, 1954, p. 34).

O apelo à ecologia não é sem motivo e suas idéias centrais são


incorporadas por La Blache. Se a ecologia é tal como a definiu seu
criador, citado por La Blache (1954, p. 35),

[..,] a ciência que estuda "as relações mútuas de todos os organismos que
vivem num único e mesmo lugar, e a sua adaptação ao meio que os rodeia"",
[...] é evidente que estas relações não abrangem só as plantas. [...] os animais
dotados de locomoção e o homem com a sua inteligência estão melhor ape-
trechados para reagir contra os meios ambientes.

A região forma-se, portanto, por meio de um processo de adaptação


e de coabitação de seres vivos (planta, animais e o próprio homem)
em que se destaca o elemento humano. Os dados da geografia humana
nos levam a essa conclusão. Distintamente dos outros seres vivos, o
homem, em sua ação, presença e expansão pela Terra, influenciou o
mundo vivo.

Dado que desde tão cedo a espécie humana se expandiu pelas regiões mais di
versas, teve necessariamente de submeter-se a casos de adaptações múltiplas.
Cada grupo encontro, no meio especial onde deveria assegurar a sua vida,
tanto auxiliares como obstáculo: os processos a que recorreu por via de uns
e outros representam outras tantas soluções locais do problema da existência.
[...] As influências do meio unicamente se nos denunciavam através de um
amontoado de contingências histórias que as velava. (La Blache, 1954, p. 36).

A descoberta das influências do meio no desenvolvimento variado


da humanidade foi possível graças às explorações científicas e sua
observação sistemática. O dcsvclamento das contingências históricas

[Ana Cristina da Silva]

368
p
p
p
r

4° deixou em evidência as influências do meio sobre o desenvolvimento


variado da humanidade, ao mesmo tempo em que apresentava a
necessidade de se compreender "os modos de existência".
r
A visão directa de modos de existência estreitamente relacionados com o
meio, eis a novidade que devemos à observação sistemática das famílias mais
isoladas, mais atrasadas da espécie humana. Os serviços, que há pouco assi
nalávamos terem sido prestados à Geografia botânica pela análise de floras
extra-europeias, são precisamente os mesmos que a Geografia Humana deve
ao conhecimento de povos que ficaram próximo da natureza, os Naturvõlker.
Ainda que se observem mudanças, é impossível não reconhecer neles um cará
ter vincado de autonomia, de endernismo - e só por este podemos compreender
como certos homens, colocados em certas e determinadas condições de meio e
agindo conforme a própria inspiração, procederam para organizar a sua exis
tência. (La Blache, 1954, p. 36).
P
P
Nos modos de existência, ou melhor, nos "gêneros de vida" está a
P
chave para compreensão das diferentes formas de organização social.
P
Os estudos sobre a mobilidade e a densidade de população eram tam
bém de suma importância para se compreender as formas de ocupa
ção da superfície terrestre, pois
r
a existência de um denso agrupamento de população, de uma coabitação nu
merosa de seres humanos num mínimo de espaço, mas que todavia garante à
colectividade meios seguros para viver, é, se bem reflectirmos, uma conquista
que só pôde realizar-se graças a raras e preciosas circunstâncias. (La Blache,
1954,p.37).
P
P
Esses estudos analíticos ajudariam a compreender a gênese dos agru
p
pamentos atuais, na época, que remontam de um passado longínquo,
P
P
sua complexidade e a ausência de homogeneidade de uma população
numa mesma região. A heterogeneidade dos grupos numa mesma orga
nização social também impressionou La Blache. Estava, portanto, posto
o problema da coexistência na organização social. Mas a resposta não
P

Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro

P
369
r
9
9

foi encontrada numa perspectiva historicista se a compararmos com as 4*


características que definem o historicismo como movimento filosófico:
a distinção entre as ciências da cultura (ou do espírito) e as ciências da
natureza com seus métodos é objetos próprios, a concepção teleológica
da história, a ênfase na dimensão subjetiva das ciências humanas.
A teoria social que alicerça a concepção de sociedade em La Blache
advém da teoria social de vertente positivista, amenizada e incorporada
por meio das variações que sofreu no pensamento social francês.

[...] grupos heterogêneos combinam-se numa organização social que da po


pulação de um país, considerada no seu conjunto, faz um corpo. Acontece,
por vezes, que cada um dos elementos que entra nesta composição adoptou
um modo de vida particular [...]. A maior parte das vezes (...) a influência
soberana do meio, nas sociedades da Europa, tudo ligou a ocupações e cos
tumes análogos; e marcas materiais assinalam essas analogias. Tal é a força
moldadora que prevaleceu sobre as diferenças originais e as combina numa
adaptação comum. As associações humanas, do mesmo modo que as asso
ciações vegetais e animais, compõem-se de elementos diversos submetidos à
influência do meio: não se sabe que ventos os trouxeram, nem donde, nem
em que época; mas coexistem numa e mesma região que, pouco a pouco, os
marcou com seu cunho. (La Blache, 1954, p. 39).

Adaptação como meio, evolução por princípio, solidariedade de


necessidades por fim constituem as noções com as quais La Blache
procurou compreender a coexistência das diferentes e complexas
formas de organização social e dos agrupamentos humanos. Corpo,
órgão e organismo também são conceitos empregados para nomear
a população, a instituição e a organização social. O procedimento de
análise implicava a observação, a descrição, a comparação e analogia,
e seu recorte analítico é a região. Se em Ratzel encontramos o ter
ritório como recorte de análise, em La Blache a região assumiu esse
papel como substrato natural a conferir unidade ao diferente. O ho
mem aparece como "factor geográfico", posto que "[e]le é, ao mesmo
tempo, activo e passivo - pois, segundo a sentença bem conhecida,

[Ana Cristina da Silva]

37(1
p
p

p
'i3 'natura non vincitur nisi parendo' [Não se vence a natureza senão obe-
decendo-lhe]", como concebeu La Blache (1954, p. 41). A civilização é
P a expressão da luta que os grupos humanos travam com os obstáculos
P do meio, seja modificando-o ou adaptando-se a ele/ É que a Terra é
P
"algo vivo", ou seja, um organismo vivo no qual ocorre a vida.
P
P
A vida, transformada na passagem de organismo em organismo, circula através
P
de uma multidão de seres: uns elaboram a substância de que se alimentam
p
os outros; alguns transportam germes de doenças que podem destruir outras
espécies. Não á exclusivamente graças ao auxílio de agentes inorgânicos que
P
se verifica a acção transformadora do homem; este não se contenta em tirar
P
proveito, com o arado, dos materiais cm decomposição do subsolo, em utilizar
P
as quedas de água, devidas à força da gravidade em função das desigualdades
do relevo. Ele colabora com todas estas energias agrupadas e associadas segun
P
do as condições do meio. O homem entra no jogo da natureza. (La Blache,
r- 1954, p. 42, grifo nosso).
P
As sociedades, as formas de organização social, no máximo mudam
por sua própria evolução, mas o imperativo revolucionário está ausente

P
...

6 Para Claval (1999), Vidal de La Blache comungava das idéias dos geógrafos ale
mães c americanos quanto à pertinência do fato cultural na geografia, ou seja,
a dimensão cultural da atividade humana sobre 0 meio deve ser compreendida
levando-se em consideração as técnicas e os instrumentos que as sociedades utili
zam, cujas marcas modelam a paisagem. A compreensão dos elementos que atuam
na transformação do meio e na conformação da paisagem tem por referência os
gêneros de vida. Estes se caracterizam pelas técnicas, formas de habitat e de or
ganização espacial de um povo, na sua dimensão material. A paisagem e a região
expressam a dimensão material desses gêneros distribuídos pela superfície terres
tre. Sendo assim, a paisagem se constituiria como objeto central das pesquisas em
x geografia humana e, por conseguinte, da geografia cultural. O pensamento desses
geógrafos evidencia os vínculos e as distinções da geografia humana com a geogra
fia cultural, estabelecidos a partir da relação homem-meio.
P

Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro

P
371
*
9
9
9
9
de qualquer horizonte de transformação social. Em Ratzel a dimensão 43
m
política se fez presente, em relação estreita com o território, mas em
La Blache é quase ausente, se considerarmos outras de suas obras.7 No
quadro que ele traçou da geografia humana, a dimensão política é qua
se invisível. A ação humana resume-se numa relação metabólica com a
natureza, pois é o homem que nela entra. Mesmo se fosse o contrário,
a "natureza entrando no homem" por meio de sua própria ação, ainda 9
9
assim seria uma relação metabólica. A ação humana não era tema-
tizada num domínio social-histórico em que a criação pudesse abrir
9
brechas na evolução ou ultrapassá-la como elemento explicativo da 9
coexistência e da organização sociais.
As primeiras décadas do século XX foram cruciais para a legiti
mação da geografia científica. Ocupados que estavam em conferir
legitimidade e garantir um estatuto científico à gografia no seio das
ciências, os geógrafos passaram ao largo da crise das ciências humanas
e, sobretudo, da atenção e do "olhar" dos filósofos. Preocupados em
conferir uma identidade própria à geografia, os geógrafos se viram às
9
voltas com as questões de método e de objeto de estudo da ciência geo 9
gráfica, com a dicotomia entre geografia geral e geografia regional e
as dificuldades de reconhecimento de uma geografia humana diante de
uma geografia física até então concebida como geografia geral.
9
Quando ao final do século XIX começa a desenvolver-se a geografia huma- 9

na, este novo ramo não foi facilmente aceito, e encontrou, sobretudo, grandes

Refere Dosse (1993b, p. 348): "Por ocasião do Congresso Internacional de Geo


9
grafia que se realiza em Paris em 1931, a hora é do triunfalismo para essa escola
9
francesa de geografia que se vê consagrada em sua preeminência pelos geógrafos
9
do mundo inteiro. [...]. Terminada a guerra e reconquistada a Alsácia-Lorena, a geo
9
grafia vidaliana vai fazer escola ao se desembaraçar dessa perspectiva patriótica
e furtar-se à dominação do estado. Deixa então o político, conquista a liberdade
de ir e vir, e passa a percorrer o país de lês a lês. Os mentores dessa escola são, na
época, Albert Demangeon e Emmanuel de Martonne".

9
[Ana Cristina da Silva)
9

372 9
^_
p
p

p
44 dificuldades para ser reconhecido no país onde a ciência geográfica havia alcan
çado um maior nível, a Alemanha. Os testemunhos desta resistência ao reconhe
cimento são numerosos e coincidentes. O próprio Ratzel afirma explicitamente
no prólogo à segunda edição do volume I de sua Anthropogeografie (1899) que,
"enquanto na Alemanha, a pátria de Carl Ritter, discuria-se ainda se devia consi
derar-se que a antropogeografia forme parte da ciência geográfica", nos outros
^ países a acolhida da obra havia sido favorável, entre estes países cita concreta-
mente França, Inglaterra, Itália, Estados Unidos e Hungria, onde a Academia de
Pesthavia realizado uma tradução de sua obra. (Capei, 1984, p. 13-14).
P
Ainda que a geografia humana tenha encontrado dificuldades
em ser reconhecida, essas dificuldades não foram tematizadas no con-
P
texto mais amplo da crise das ciências humanas, quando a veemência
do prestígio da geografia física, cuja legitimidade amparava-se nas
ciências naturais, desacreditou a pertinência de uma geografia que
visasse aos fenômenos humanos e sociais. Tal fato ocorreu desde a
Alemanha, na França, até a Grã-Bretanha, como indica Capei (1984,
p. 17): "Na Grã-Bretanha a divisão fundamental em fins do século
XIX e início do XX parece se estabelecer também num sentido muito
P semelhante ao da divisão de Varenius, ou seja, entre uma geografia
P
física e geografia regional".
P
Havia as dificuldades da geografia em realizar a travessia entre os do
P
mínios da natureza e do social, em posicionar-se no quadro das classi
ficações que distinguia as ciências naturais das ciências humanas, uma
vez que a noção de ciência de síntese parecia ser uma resposta plausível
e coerente às questões relativas ao seu objeto, aos métodos que emprega
e a sua identidade. Questões que acompanham e são reiteradas constan
temente na história dessa ciência. Contudo, as respostas a essas questões
constituem um leque variado de concepções sobre o objeto, o método e a
definição de geografia. Nesse contexto, a afirmação da geografia humana
**- não se fez de modo contínuo e sem retrocessos.

0i A expressão geografia humana aparece como nome de uma seção pela primei
ra vez no congresso internacional de geografia de IS95 (Geografia Humana e
$
Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro

P
P
9
Etnografia), para desaparecer imediatamente e reaparecer três décadas mais 45
tarde, no congresso de 1928 e nos seguintes. (Capei, 1984, p. 20). ^
9
Diferentes epistemologias e ontologias serviram-lhe de fundamento
como um conhecimento científico, quer seja pelo viés empirista, quer
seja pelo viés racíonalista ou por tentativas de aproximação com ou
tras abordagens alternativas conforme historia Gomes (1996). Segun
9
do Claval (1974), a geografia humana era concebida como "geografia
social", cuja denominação remonta a Camille Vallaux, já em 1908, e
9
tal denominação havia sido utilizada também por Eliséc Reclus. Essa 9
denominação tinha por referência os estudos clássicos e a análise de 9
tipos de sociedades, de grupos, modelos de vida. Entretanto, apresen
tava limitações quanto à dimensão social dos fenômenos estudados.
A geografia clássica pressupunha um nível de percepção das coisas no
interior de suas observações e pensava que descrever era reproduzir o 9

objeto como um dado bruto, empírico e em sua imediaticidade. 9


9
9
Trata-se realmente de uma invasão da geografia no âmbito social, ainda que
uma invasão limitada. O geógrafo clássico busca inspiração nas ciências so
9
ciais, porém não solicita delas grandes princípios de explicação das distribui
9
ções e combinações que observa, e se limita no máximo a introduzir nela [a
9
geografial "a força do costume" [...). (Claval, 1974, p. 163,grifo nosso).

Uma das vias possíveis de interpretação da história da constituição


da geografia humana e de suas limitações pode ser trilhada percorren-
do-se os vínculos que ela estabeleceu com a teoria social moderna e
contemporânea. Ao estabelecermos relações entre as correntes filosó
9
ficas e a epistemologia da geografia, na maioria das vezes, esquecemos
9
que métodos, conceitos e categorias filosóficas não são introduzidos
9
diretamente no campo científico por simples menção ou identificação 9
de procedimentos. No campo das ciências.humanas, a relação entre
estas e a corrente filosófica específica ou em questão é mediada pela
teoria social que essa filosofia traz em seu bojo. Nesse sentido, a teo
ria social pode ser mais bem compreendida se a concebermos distinta
9
[Ana Cristina da Silva]
9

374
:
P
P
46 da filosofia e de uma ciência em particular, mas que mantém com elas
vínculos fundamentais.
P
Filosofia e teoria social

Tal referência à relação entre teoria social e filosofia não explica como
se passou da filosofia à teoria social, relação que antecede o apare-
cimento da sociologia científica com Augusto Comte (1798-1857) e
Emile Durkheim (1858-1917).

A transição da filosofia do âmbito do estado e da sociedade fora parte intrín


seca do sistema de Hegel. Suas idéias filosóficas básicas se haviam tornado
efetivas sob a forma histórica específica que o estado e a sociedade tinham
assumido, e esta última passou a ocupar o centro de um novo interesse teórico.
Desta maneira, a filosofia passou à teoria social. (Marcuse, 1988, p. 231).
P
Marcuse identifica essa passagem com a filosofia hegeliana e mostra
que a história tradicional da filosofia hegeliana - aquela que se centrou
em retratar a "escola hegeliana" cindida em dois grupos, o de "esquer
da" e o de "direita" - é muito esquemática e elimina algumas distinções
importantes, sobretudo, quando se considera que essa filosofia não ficou
circunscrita àqueles dois grupos e renasceu, depois de um período de re-
crudescimento, nas últimas décadas do século XIX. Ainda que tenha sido
para colocá-la de "ponta cabeça", a dialética hegeliana se tomou parte
P da teoria marxista e, depois da interpretação leninista da história, seus
P
desdobramentos talvez mais conhecidos, como também alguns conceitos
P
da filosofia hegeliana, foram incorporados na sociologia, na jurisprudên
P
P
cia e na história. Ou seja, a teoria social marxista manteve as tendências
críticas da filosofia hegeliana, ao passo que em outras perspectivas houve
uma "luta contra Hegel".
P
O sistema de Hegel levou a termo o período da filosofia moderna que co
meçara com Descartes e dera corpo às idéias básicas da sociedade moderna.
P
P

Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro

P
9
9

9
9
Hegel foi o último a interpretar o mundo como razão, a sujeitar a natureza e 47
a história aos critérios do pensamento e da liberdade. Ao mesmo tempo, ele
9
identificou a ordem política e social efetuada pelos homens com a base sobre
que se devia realizar a razão. Seu sistema trouxera a filosofia ao limiar da
9
negação da filosofia, constituindo por isso o único elo entre as formas velha e
9
nova da teoria crítica, entre filosofia e a teoria social. (Marcuse, 1988, p. 232).

9
Execrado por alguns, venerado por outros, por mais que se tenha 9
tentado reduzir Hegel e sua filosofia ao jargão de "idealismo racíonalis
ta", não se pode ignorar a reviravolta provocada por ele na filosofia,
na política, na concepção de história e de ciência, na dialética e na
relação entre elas e a realidade social. O trabalho de negação, operado
pelo método dialético desenvolvido por Hegel, respondia pela deno
minação "filosofia negativa" conferida ao seu sistema filosófico. E por 9
9
meio do impacto desse sistema filosófico na teoria social moderna que
se pode avaliar a influência de Hegel não só na teoria social marxista,
como também nas teorias sociais que refutavam o hegelianismo sob a
forma de contracorrentes, como a "filosofia positiva" e até mesmo no
pensamento contemporâneo.
9
O método, porém, que funciona neste sistema, tinha alcance muito mais
amplo do que os conceitos que produziu. Pela dialética a história fora incor
porada ao próprio conteúdo da razão. Hegel demonstrara que os poderes
materiais e intelectuais da humanidade haviam se desenvolvido o bastante
para convocar a prática social e política a realizar a razão. A própria filosofia
requeria, pois, diretamente, a teoria e a prática sociais, não a título de for
ças externas, mas como suas legítimas herdeiras. Se fosse possível qualquer
progresso para além da filosofia este deveria ser um progresso para além da
filosofia como tal e, ao mesmo tempo, para além da ordem social e política a
que a filosofia havia ligado seu destino. (Marcuse, 1988, p. 236).

Ao ressaltar o impacto e a passagem da filosofia hegeliana pela te


oria social, Marcuse (1988) destacou o trabalho de negação efetuado
sobre essa filosofia, de um modo, pela inversão operada por Marx: os

[Ana Cristina da Silva]

9
376

9
:-i
c i
* I
48 conceitos filosóficos tornaram-se categorias econômicas e sociais na teo
ria marxista; ao passo que as categorias econômicas e sociais são concei
tos filosóficos no sistema hegeliano. O trabalho de negação da Filosofia
em sua dimensão especulativa também foi alvo da crítica de Marx, para
o qual a realidade social devia ser revolucionada praticamente. Por esses
motivos pode-se tentar compreender não só a relação entre filosofia e
p
teoria social, como também a concepção de teoria social como uma for
p
ma de intervenção política, de que nos fala Gregory (1996).
A relação entre a filosofia hegeliana, a teoria social e a teoria social
marxista não responde por um desdobramento único. Após a morte
de Hegel sua filosofia foi duramente criticada - a "filosofia negativa"
como fora denominado o sistema hegeliano -, e abriu caminho para
r uma tendência oposta, a "filosofia positiva" que, no início do sécu
p
lo XIX, não havia ainda adquirido a feição madura do positivismo
p
comtiano, outro modo de negação da filosofia hegeliana. Aquela fi
p
losofia apresenta algumas características que se opunham à "filosofia
p
negativa", a saber, a restauração da autoridade da experiência, isto é,
a valorização do empirismo; a luta contra o racionalismo crítico; o en
tendimento de que na sociedade imperam leis universalmente válidas
como na natureza e os fenômenos sociais não são criações do trabalho
histórico dos homens e da razão. A uma sociedade fundada no conflito,
na luta dos contrários, como assegurava Hegel, deveria sobrepor-se a
ideia da sociedade assentada na ordem e na coesão social. Assim,
durante o século XIX, a teoria social foi estimulada pelo positivismo,
que assumiu sua feição mais bem acabada em Comte, que
P
0r* separou a teoria social da sua ligação com a filosofia negativa e colocou-a na
p órbita do positivismo. Ao mesmo tempo abandonou a economia política como
raiz da teoria social, e fez da sociedade objeto de uma ciência independente,
a sociologia. As duas fases estão correlacionadas: a sociologia se tornou uma
N ciência por renunciar ao ponto de vista transcendente da crítica filosófica. A
sociedade passava agora a ser tomada como um complexo mais ou menos
definido de fatos, governados por leis mais ou menos gerais - uma esfera a ser

Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro


P

*
P
9
9
9
9
tratada como qualquer outro campo de investigação científica. Os conceitos 49
que explicam este domínio deveriam ser derivados dos fatos que o constituem,
enquanto que as decorrências, de maior alcance, dos conceitos filosóficos deve
riam ser excluídas. (Marcuse, 1988, p. 309).
9

Essa "revolução" na relação entre teoria social e filosofia, promovi


da por Comte, trouxe desdobramentos para a teoria social, a começar
pela variação semântica. O vocábulo "positivo" passou a significar
uma oposição à "filosofia negativa", assentada no racionalismo crí
tico, e uma transformação nas relações entre teoria filosófica e teoria
científica. Se o racionalismo crítico da filosofia negativa concebia a
sociedade e a história por meio da contradição, do conflito, da dialé
tica que lhes são imanentes, a "filosofia positiva", ainda que ancorada
num tipo de racionalismo, apregoava o predomínio da ordem, da har
9
monia e da observância das leis naturais que regem também a socie
9
dade e a história.s Não sem motivo, portanto, pôde se denominar a
Sociologia "física social".9 Desde então, a fronteira entre teoria social
e ciência social, a sociologia, tornou-se quase indiscernível.10

9
Segundo Giddens (2001), Comte tinha como preocupação visceral a "anarquia
9
moral" e a "fé na ciência". Ele buscava a formulação de uma filosofia moral que,
%
diante da suplantação do feudalismo, evitasse a dissolução completa da ordem
9
moral, que fornecesse critérios únicos para a obtenção da verdade cm oposição à
9
religiãoe à metafísica. Buscava a formulação de um meio exclusivo, científico,para
9
que os seres humanos, compreendendo as condições de sua existência, pudessem
9
controlá-las racionalmente.
9
Conforme afirma Giddens (2001), de início Comte usou o termo "fisica social"
para designar a nova ciência que formulara. Mas logo sentiu a necessidade de
distinguir sua concepção dos estudos de "estatística social" de Quételet, daí ter
substituído o termo inicial por sociologia.
10
9
Com efeito, para os frankfurtianos - Marcuse, Adorno, Horkheimer e Habermas
9
-, o positivismo se tornou uma visão de mundo, ou seja, uma filosofia muito mais
ampla do que aquela formulada por Comte e que estava em estreita relação com
9
9
[Ana Cristina da Silva]

378
P
P
r-
50 Estamos usando a palavra sociologia no seu exato sentido, para designar o
P
tratamento da teoria social como uma ciência especial, com um objeto, uma
P
estrutura conceituai e um método próprio. A teoria social é tomada como "a
ciência da sociedade", investigando de modo particular as relações sociais en
tre os homens e as leis e tendências que nela operam. (Marcuse, 1988, p. 337).
P
P
Giddens (1998) identifica o nascimento da moderna teoria social em
Comte e compreende o positivismo em dois sentidos: o específico e o ge
ral. No primeiro, o termo se aplicaria àqueles que se autodenominaram
positivistas ou aos seus escritos. Nesse sentido, podem-se identificar duas
P
grandes fases de desenvolvimento do posiüvismo: uma centrada na teoria
P
social e outra mais voltada especificamente à epistemologia. Na primei
P
ra fase o domínio é o das obras de Comte. Mas o termo pode também
ser empregado de forma mais ampla e difusa; na segunda fase, para se
referir aos escritos dos filósofos que adotaram um conjunto de perspecti
vas conexas, tais como o "fenomenismo", que apregoava a ideia de que
a realidade consiste em impressões sensíveis, na aversão à metafísica, a
concepção da filosofia como método de análise, a aceitação da dualidade
entre fato e valor, e a noção de unidade da ciência.
Na segunda fase, há uma ampliação do positivismo para além
P
da sociologia comtiana. Mas na qual há uma permanência de al
guns traços que constituem o fundamento intelectual dos escritos de
Comte, como por exemplo o ataque frontal à metafísica subjacente
à filosofia do século XVIII. Comte incorporou, formalmente, a fase
metafísica na evolução da humanidade como estágio superado pelo
advento do positivismo e quanto à crítica à religião compartilhava
P
r TT-—~
a o ideário iluminista. A formulação da noção de "teoria tradicional" advém dessa
p. concepção e o seu contraponto foi a formulação do que Adorno e Horkheimer
denominaram "teoria social crítica" ou apenas "teoria crítica". Voltarei a essas
{*. denominações quando tratar da proposta de Soja (1993) acerca de uma "teoria
social crítica" do espaço.

f
P
Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro

379
9
9

9
do ideário iluminista, mas a concebia como uma fase que antecede o 5?
estágio metafísico na "lei dos três estágios", como etapa da evolução
9
social como destaca Giddens (1998, p. 170).
Conforme avalia esse autor, Comte preservou o termo progresso,
9
oriundo dos iluministas, depurando-o do radicalismo presente na filo
sofia iluminista, uma vez que haveria subserviência da sociedade às leis
naturais do desenvolvimento. No Curso de filosofia positiva, Comte
estabeleceu uma relação de tipo novo entre a filosofia e a ciência:
"o fato de que esse trabalho realmente declarou o fim da Filosofia tal
como era praticada anteriormente: como empreendimento independente,
distinto das conquistas das ciências", isto é, reduziu "a filosofia a ex
pressar a síntese emergente do conhecimento científico", como analisa
Giddens (1998, p. 173). O termo positivo tornou-se equivalente de
"espírito científico", que pode ser caracterizado pela orientação para
a "realidade" e para a "utilidade"; o espírito positivo apresentaria um
caráter construtivo em oposição ao espírito metafísico que seria inca 9
0
paz de organizar e limita-se a criticar; certeza e precisão; "tendência
«D
orgânica" e uma "perspectiva relativista", rejeição ao absolutismo.
9
Na interpretação de Comte por Giddens (1998, p. 173),
9
{...] as leis que governam a co-variação dos fenômenos sempre conservaram
um caráter condicional, na medida em que eram passíveis de indução com
base nas observações empíricas, em vez de serem afirmadas como "essências
absolutas". i%
9
Todavia, Giddens evidencia a importância de Comte e de Marx
para o século XIX. Suas obras Curso de filosofia positiva e O capital,
respectivamente, influenciaram significativamente também o pensa
mento social contemporâneo. Há pontos em comum, apesar de dis-
tinções fundamentais, entre esses dois pensadores, pois eles
9
\...) compartilharam as preocupações do século XIX com as crises desenca
deadas pela revolução política e pelo advento do industrialismo. E cada um
9

9
[Ana Cristina da Silva]

i
380 9
9
:
p
r

52 voltou-se para as conquistas da ciência natural ao procurar desenvolver o en


tendimento social que permitiria aos seres humanos utilizarem com sucesso as
forças assim liberadas para o autoaprimoramênto. Tanto para Comte como
P
para Marx, o desenvolvimento dessa autocompreensão surge como extensão
P
lógica do sucesso da ciência natural, em que a desmistificaçáo do mundo fí
P
sico pela primeira vez torna possível e, na verdade, necessária à compreensão
P
científica das fontes da própria conduta humana. (Giddens, 2001, p. 218-219).
P
P

p É certo, porém, que Marx via a superação da filosofia pela polí


tica, conforme ele mesmo enfatizou nas Teses sobre Feuerbach. Di
ferentemente, Comte estabeleceu uma hierarquia das ciências que se
P expressa na "lei dos três estágios". Essa hierarquia compreende tanto
P o sentido analítico quanto o histórico.
P
P
As ciências formam uma hierarquia de generalidade decrescente, mas de pro-
^, gressiva complexidade; cada ciência mantém dependência lógica das outras
_ abaixo dela na hierarquia e, apesar disso, lida simultaneamente com uma
—, ordem emergente de propriedades que não podem ser reduzidas àquelas com
—w as quais as outras ciências estão envolvidas. (Giddens, 2001, p. 219).
P
P
A criação da sociologia, isto é, de uma ciência própria à conduta
humana, é inseparável do progresso do pensamento humano, em que
P o estágio teológico é ultrapassado pelo metafísico e este pelo estágio
P
positivo. No século XIX, Comte pensava que ainda estávamos numa
fase "pré-científica" no que se refere à compreensão da sociedade
P
humana. A tarefa dessa nova ciência não se limitava a analisar "a

P transmutação do pensamento humano pela ciência, mas, em essência,


completá-la", como assegura Giddens (2001, p. 220). Portanto, a
sociologia tinha uma finalidade prática. No Curso de filosofia po
sitiva, Comte se ocupou em precisar a necessidade de se conciliar a
ordem com o progresso. Desse modo, visava distinguir sua "filosofia
positiva" da "metafísica revolucionária", que buscava o progresso à
custa da ordem, ou seja, a subversão de qualquer forma de governo
P
Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro
P
P
38.

P
9
9
9

como tal; e da teoria política da "escola retrógrada" (do conservado- 53


rismo católico), que queria a ordem, mas era contra o progresso ao
defender a volta à hierõcracia feudal.
Importa destacar o diálogo inevitável que se é instigado a estabe
lecer quando se assumem uma determinada posição teórica e uma
perspectiva metodológica quando se trata de teoria social e filosofia.
Importa também considerar que, resguardada a necessidade desse diá
logo, o que se pretende é identificar os traços da teoria social na cons
tituição da geografia humana. Não só em Ratzel, mas ao longo de sua
constituição, a geografia humana tem se alimentado de idéias, noções,
9
conceitos e métodos de variadas teorias sociais. 9
A vertente francesa da geografia humana prosperou por pelo me
nos três motivações: a continuidade e as variações que os discípulos
de La Blache nela efetuaram; o vínculo e a forma de integração que
os historiadores dos Annales estabeleceram com a geografia labla-
9
chiana e a relação pacificadora que os geógrafos estabeleceram com
i
os sociólogos.
9

9
A GEOGRAFIA LABLACHIANA POR SEUS DISCÍPULOS: CONTINUI-
9
DADES E VARIAÇÕES m
9

Emmanuel de A4artonne (1873-1955) organizou e publicou os tex


tos e as anotações de La Blache que constituem o livro Princípios
de geografia humana, obra póstuma do pensamento lablachiano. 9
9
De Martonne foi um dos destacados geógrafos que promoveram
9
a institucionalização da geografia vidaliana e, além de membro da
Revista dos Annales, foi também mediador entre os historiados e
os sociólogos durkheimianos. Desde 1891 que os geógrafos tinham
uma revista oficial, os Annales de Géographie, e ocupavam grande
parte do cenário acadêmico em Paris e nas províncias. Nas décadas
de 1920-1930, a geografia francesa prosperou institucionalmente
por meio do empenho de De Martonne. Refere Dosse (1992, p. 33)
que De Martonne
9

[Ana Cristina da Silva]

9
382
— —

p
p

54 |..-1 funda a Associação dos Geógrafos Franceses, consegue a abertura do Ins-


gt tituto de Geografia de Paris em 1923, preside em 1921 a criação do Comitê
a Nacional de Geografia e lhe confiam a organização do Congresso Internacio
nal de Paris em 1931 pela União Geográfica Internacional.

Jean Brunhes (1869-1930) foi aluno e discípulo de Vidal de La Blache,


p tendo publicado, em 1910, seu livro Geografia humana, que foi apre
sentado por La Blache, em sua primeira edição, à Académie des Sciences
p
Morales et Poiitiques. Essa apresentação é um testemunho do apreço que
p
La Blache sentia por este seu discípulo, como também um reconhecimen
p

p
to da importância dessa obra para a geografia humana, na França. Para
Lebon (1976), Brunhes foi influenciado pela escola alemã, por A. Penck e
O. Schlüter, quanto à análise da paisagem visível. Sua concepção de geo
grafia humana foi também comentada por Deffontaines (1962, p. 9), que
prefaciou a edição brasileira daquela obra.
P
P
Para Jean Brunhes, este novo ramo da Geografia deveria demonstrar esses
P
vínculos que a prendiam ao homem, até mesmo através do seu próprio nome.
P
Foi ele quem impôs a denominação "Geografia Humana", em lugar da de An
P
tropogeografia; entretanto, era esta uma denominação que se revestia de uma
singular audácia: nenhuma outra ciência ousou atribuir a si própria um tal
qualificativo, nem mesmo a História - a qual não se declara humana, embora
tenha a seu lado uma história dita natural.
p

P
f* Além da paternidade da denominação, Brunhes parece ter sido o
primeiro a introduzir a noção de fato11 na geografia humana, mais

P
. . ..

11 Noção oriunda da sociologia durkheimiana, na qual tem um sentido fundamental,


a saber: os fatos sociais são o objeto de estudo da sociologia c podem ser distin-
guidç>s por três características: a coerção social (a força que os fatos exercem sobre
os indivíduos, levando-os a conformar-se às regras da sociedade em que vivem,
independentemente de sua vontade e escolha). O grau de coerção dos fatos sociais
se torna evidente pelas sanções a que o indivíduo estará sujeito quando tenta se
P

Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro


P

383

P
precisamente a noção de "fatos essenciais" que constituem a atividade ss
do homem sobre a Terra, classificou-os em três grupos: fatos de ocu
pação improdutiva; fatos de conquista vegetal e animal; fatos de eco
nomia destrutiva. Ao precisar o que é a geografia humana, Brunhes
conduziu, de início, às "relações gerais entre a Geografia Humana e a
Geografia Física", esta última aparecendo como a base natural àquela.
E em seguida especificou os estudos geográficos.

O campo próprio dos estudos geográficos é constituído por uma zona dupla:
a zona inferior do envoltório atmosférico de nosso planeta e a zona superficial
da crosta sólida. Em todos os pontos cm que essas duas zonas concêntricas
entram em contato, produzem-se e são encontrados três grupos de fenômenos
primordiais. (Brunhes, 1962, p. 25).

Esses três grupos de fenômenos compreendem o calor solar, fonte de


vida, que incidindo sobre "a superfície de aquecimento da atmosfera

rebelar contra elas. Os fatos sociais são exteriores aos indivíduos, são ao mesmo
9
tempo coercitivos e dotados de existência exterior às consciências individuais. A
9
generalidade, é fato social todo fato que é geral, que se repete em todos os indi
víduos ou, pelo menos, na maioria deles. Manifestam sua natureza coletiva ou
um estado comum ao grupo, como as formas de habitação, de comunicação, os
sentimentos e a moral. A generalidade distingue o essencial do fortuito e especifica ^
a natureza sociológica dos fenômenos. A sociedade apresenta estados normais e
patológicos. O fato social normal é assim considerado quando se encontra gene- a
ralizado pela sociedade ou quando desempenha alguma função importante para
sua adaptação ou sua evolução. É aquele fato que não extrapola os limites dos
acontecimentos mais gerais de uma determinada sociedade e que reflete os valores
e as condutas aceitas pela maior parte da população. A generalidade de um fato
social, isto é, sua unanimidade, é garantia de normalidade na medida em que re
presenta o consenso social, a vontade coletiva, ou o acordo de um grupo a respeito
de determinada questão. Um fato social patológico é aquele que se encontra fora
dos limites permitidos pela ordem social e pela moral vigente, como as doenças, e
é considerado transitório e excepcional, conforme sintetiza Costa (1997). *»

[Ana Cristina ria Silva]

384 *
r
-

56 é a própria superfície terrestre", os fenômenos atmosféricos, responsá


veis pelos "fatos geográficos" (como por exemplo: "águas correntes e
f* geleiras") que deles resultam e que amam modelando o relevo, e por
fim, a zona inferior da atmosfera, parte superficial do globo, onde se
concentram todos os fenômenos da vida (vegetal, animal e humana).
Brunhes (1962, p. 26) destacou a particularidade dos seres humanos,
da forma de vida humana, em sua ocorrência na superfície terrestre
r entre as "camadas de rocha ou de água e a camada de atmosfera". Sem
o entendimento daqueles fenômenos não se compreendem a ocorrência
p
p
da vida e, tampouco, o âmbito de estudo da geografia humana, pois,
p "[ejsse lugar, onde se superpõem e se misturam todos esses fatos es
senciais, circunscreve o teatro de observação dos geógrafos: é o domí
nio, por excelência, da Geografia" afirmava Brunhes (1962, p. 26). Da
geografia em sentido amplo. Os seres humanos são simultaneamente
fenômenos de superfície e fatos geográficos, tais como, por exemplo,
p
cidades, estradas etc. Por essa via de formulação é que Brunhes (1962,
p
p. 27) define a geografia humana:
p
p
O conjunto de todos esses fatos de que participa a atividade humana é um
grupo verdadeiramente especial de fenômenos superficiais: ao estudo dessa
p
categoria de fenômenos geográficos, damos o nome de Geografia Humana.

Diferentemente de La Blache, Brunhes fazia distinções rígidas entre a


etnografia e a geografia humana, pois julgava que os "fatos etnográficos"
desviariam a atenção dos "fatos essenciais" da geografia humana.
r
O método de Brunhes é complementar ao de La Blache. Ao invés de um
P
processo completo unificando a História, a Etnografia e a Geografia, veri
fica-se uma concentração nos "Fatos Essenciais da Geografia Humana: 1.
A Ocupação Improdutiva do Solo - Casa e Rodovias; 2. A Conquista dos
p
Mundos Vegetal e Animal; 3. A Ocupação Destrutiva do Solo, inclusive a Ex
ploração de Minerais". Fundamentalmente [...] a Geografia Humana estuda
P
as realizações materiais do homem, preparando o caminho para o estudo
P
dos grupos e raças da humanidade. (Lebon, 1976, p. 44).
P
P

Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro


P
P
*
i

9
Lebon vê uma relação de complementaridade da abordagem de 57
9
Brunhes com a de La Blache. Com efeito, a terminologia e as metáfo
ras empregadas por Brunhes nos remetem mais ao modo de percep
9
ção do mundo e da natureza pela física, ainda que em estreita relação 9
com a biologia e a botânica. Sua concepção de dinâmica terrestre, de i
movimento, é emblemática de sua concepção de geografia. Essa con
cepção pode ser mais bem compreendida quando consideramos os
dois princípios formulados por Brunhes (1962, p. 27): o de atividade
e o de conexão. O princípio de atividade requer que se considere que
9
"os fatos geográficos, físicos ou humanos são fatos em transformação
perpétua e devem ser estudados como tais". Esse princípio se faz pre
9
sente em todos os fenômenos terrestres e expressa essa percepção física 1
integrada na formulação de vertente geográfica.

Regressão e progressão. Esses fenômenos humanos, como todos os fenôme


nos terrestres, nunca permanecem idênticos a si mesmos. Todos são animados
por determinado movimento; é necessário estudá-los como se estudam os cor
pos em movimento: precisar o ponto do espaço e o movimento do tempo em
que se produzem; depois, indicar o sentido e observar a rapidez do próprio
movimento. (Brunhes, 1962, p. 32, grifo do autor). 9

9
9
O princípio de conexão não é menos importante que o de atividade.
9
Ele explica a ideia do "todo terrestre", pois "os fatos da realidade
9
geográfica estão intimamente ligados entre si e devem ser estudados
em suas múltiplas conexões" - tal como o concebe Brunhes (1962, p.
32). Na formulação desse princípio revela-se um traço característico
do pensamento geográfico do final do século XIX, que é o princípio
da unidade terrestre. A ele conjuga-se também a noção de meio geo
-
gráfico, que será mais bem elaborada por Albert Demangeon (1872-
1940), que o distingue de meio físico.
Brunhes foi aluno também de Ratzel, do qual teve acentuada in
fluência. Via relações de determinação e influência dos fenômenos
físicos - como o clima, a situação, a configuração e a estrutura de
9
9
[Ana Cristina da Silva]

9
9
386
r

p
p

58 uma região - sobre o desenvolvimento histórico da organização so


cial de um povo. Brunhes (1962, p. 41) fez menção a um "deter
minismo complexo harmônico hierarquizado", expressão formula
da por Claude Bernard, c preferiu a noção de "máquina terrestre"
a de "organismo terrestre", afirmando que "há, entre todos estes
fenômenos [detalhados anteriormente] da máquina terrestre, uma
p
-
solidariedade orgânica ou social". Em sua concepção, a geografia
moderna não se contentava mais em apenas descrever a superfície
terrestre, tratava-se de explicar os fenômenos, porque essa geografia,
doravante, estava dominada pelas idéias "capitais" de atividade e de
conexão. Não se tratava mais de realizar um inventário, mas uma
história; não mais uma enumeração, mas um sistema. A finalidade
da geografia moderna, para Brunhes (1962, p. 43), tem "como fim
duplo observar, classificar, explicar os efeitos diretos das forças atuan
P
tes e os efeitos complexos destas forças associadas".
0
Para Demangeon, contemporâneo de Brunhes, o surgimento da geo
grafia como ciência podia ser datado a partir do final do século XVIII.
Até esse século, o que era considerado geografia eram a observação e a
descrição dos diferentes costumes entre os homens na superficie terrestre.
Não havia distinção entre geografia e geografia humana.

r Até então o estudo dos temas que atualmente agrupamos sob o nome de
p geografia humana -modos de vida do homem na superfície da terra, modos
de agrupamento - consistia numa simples descrição considerada principal
p mente como um conhecimento de caráter utilitário e prático ou como uma
r imagem pitoresca dos costumes e das diferentes maneiras de ser dos povos.
p
(Demangeon, 1956, p. 9).
p

p Não havia ordem nesse conjunto de conhecimentos, tampouco


explicação e um caráter científico, pois lhe faltavam organização,
sistematização e classificação científicas. Os progressos da geografia
humana estavam diretamente vinculados ao progresso do conhecimen
to científico do final do século XVIII, segundo Demangeon (1956).
P
r
p
Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro

p
387
p
9

Esse progresso devia-se à atividade dos exploradores nas viagens de 59


descobrimento e colonização que teriam possibilitado um acúmulo
9
de conhecimentos sobre o globo terrestre. Esses conhecimentos pos
9
sibilitaram comparar as sociedades humanas, verificar os graus de
civilização alcançados por elas e dar-lhes um sentido de generalidade.
O método utilizado por Demangeon para definir o objeto da geo
grafia humana é o das "aproximações sucessivas", tal como ele o de
finiu. Ao defini-la, ele considerou insuficiente afirmar que a geografia
humana estuda as relações dos homens com o "meio físico", primeiro 9
9
porque interessa ao geógrafo o estudo dos homens em coletividade,
9
as sociedades humanas; segundo, porque a noção de meio físico não
dá conta da complexidade do meio produzido socialmente. Por isso
Demangeon (1956, p. 12) preferiu falar de "meio geográfico" para
distingui-lo de meio físico:
9
A expressão meio geográfico é mais compreensiva que a de meio físico, não
abarca somente as influências naturais que podem se exercer, mas também
9
uma influência que contribui para formar o meio geográfico, o contorno
inteiro, a influência do próprio homem. 9
9

9
A ação humana, por meio da iniciativa e da inteligência humanas,
9
teria se estendido e transformado de tal modo as paisagens naturais, 9
por vastas regiões, tornando a noção de meio físico insuficiente à
compreensão geográfica daquela ação. Os avanços da ciência teriam
amplificado a capacidade da ação humana em estender seu domínio
sobre a natureza. Posto isto, podia se definir a geografia humana como
estudo das relações das agrupações humanas com o meio geográfico.
9
Tal definição permitia demarcar o objeto e seus limites. Ainda insa
Í
tisfeito com essa definição, Demangeon {1956) se ocupou em apresen
9
tar o que denominou quatro grandes grupos de problemas que resultam 9
das relações das sociedades humanas com o meio geográfico. No pri
meiro grupo, "existe o aproveitamento pelas sociedades humanas dos
recursos naturais que lhes proporciona a natureza ou o que tenham

[Ana Cristina da Silva]

3S8
p
p
60 conquistado sobre elas". Trata-se dos modos de vida e a modelagem
das zonas e regiões na superfície terrestre. No segundo grupo,
r
?• [...] existe a elaboração progressiva pelas sociedades ao longo do tempo e
através do espaço dos diferentes procedimentos pelos quais elas, para sua
^ subsistência, têm tirado partido dos recursos naturais, desde os mais elemen
tares até os mais complicados [...] (Demangeon, 1956, p. 13).
P
Nesse grupo intervém dois elementos importantes: o tempo e a evo
lução do tipo de civilização. No terceiro grupo,
P
P
[...] existe a distribuição dos homens em função mesmo das condições da na
p
tureza e dos recursos criados para sua exploração: a extensão da humanidade,
seu efetivo, sua densidade, seus movimentos e suas migrações [...]. (Demangeon,
P
1956,p. 17).
P

r
E por fim, no quarto grupo,

(...) existem as instalações humanas, isto é, os modos de ocupação da terra


desde as formas mais simples até os agrupamentos mais complicados, desde a
casa e a aldeia até as cidades e estados [...]. (Demangeon, 1956, p. 14).
P

Estavam, portanto, demarcados os grupos de problemas que


P constituem o conteúdo da geografia humana e o seu trabalho de in
P
vestigação se daria dentro desses amplos quadros.
Essa concepção de geografia humana e desses grupos de problemas
r
está na origem do que atualmente identificamos com as especialida
P
des ou "geografias setoriais", as geografias: urbana, da população,
econômica ou da indústria e comércio agrária etc. Diante desse vasto
quadro de problemas, Demangeon se propôs a formular um método
que abarcasse, ao mesmo tempo em que mantinha, os limites traçados
para a geografia* humana. Estabeleceu o que denominou "princípios
de método". O primeiro princípio considera que, por sua vontade e
iniciativa, o homem é uma causa que traz perturbações no que pode

Território e significações imaginárias 110 pensamento geográfico brasileiro


P
P

389
9
9

9
9
aparecer como uma ordem natural. Nesse sentido, é o grau de civi- 6l
lização que determina o meio geográfico, visto que as possibilidades
são postas pela iniciativa e vontade humanas, segundo Demangeon
{1956). Sua concepção de civilização se equipara à de La Blache. O
segundo princípio de método traz um diferencial em relação à con
cepção lablachiana e se aproxima mais da abordagem ratzeliana,
referindo-se ao trabalho da geografia humana ou de suas tarefas como
especificou Ratzel. Refere Demangeon (1956, p. 15):
9
9
A geografia humana deve trabalhar apoiando-se sobre uma base territorial.
9
Onde quer que viva o homem, seu modo de existência implica uma relação
9
necessária entre ele c o substrato territorial. É precisamente a consideração
9
deste vínculo territorial o que diferencia a geografia humana da sociologia.
9
9
Esse trabalho da geografia humana se justifica por sua pró
pria especificidade. 9
9
[...) é próprio da geografia humana comprovar que o homem não pode ser
estudado sem o solo que habita e que o solo é o fundamento de toda sociedade.
Pode-se dizer inclusive que quanto mais ampla e rica é esta base mais pro
funda c a relação entre ela e seus habitantes. Quanto mais forte a densidade
de população e mais intensiva a exploração da terra, mais estreitos são estes
laços. (Demangeon, 1956, p. 15).

9
O território aparece como a base material, o substrato natural,
0
que confere unidade e coesão numa sociedade humana. A utilização 9
de um mesmo território criaria uma "solidariedade social" mais for
9
te e duradoura do que os "laços de sangue", tal como exemplifica
Demangeon com as tribos de caçadores. Essa solidariedade ele pensa
ter encontrado em várias partes da superfície terrestre e dentre elas
destaca a América do Norte, onde as famílias constituídas se mantêm
imidas mais pelo domínio de um mesmo território do que pelos laços
de parentesco. Os exemplos de territórios coletivos também podiam m
ser encontrados em "povos agrícolas". De Sanderson, Demangeon
~'\

[Ana Cristina da Silva]

390
n

62 retira a noção de "princípio territorial". A noção de território como


base geográfica é uma das ricas formulações desse geógrafo francês
que tenta conciliar a noção de território, numa perspectiva que re
monta a Ratzel, e a de região, tal como a concebia La Blache.

Estes hábitats em que os homens se agrupam, onde trabalham, rèm dimensões


muito desiguais que podem ir da localidade elementar ao grande território.
p Formam o marco em cujo interior se distribuem os fatos geográficos e, por
-

seus caracteres próprios, imprimem uma originalidade à humanidade que ali


se reúne. (Demangeon, 1956, p. 16).

Esses hábitats constituem as regiões como unidades que expres-


^» sam os modos de vida. E a função da geografia era compreender e
>- descrever estas unidades regionais (sua personalidade). Aqui se des-
^ ponta a dualidade complementar entre uma geografia geral e uma
geografia regional, esta servindo de ponto de apoio àquela. Para se
chegar à geografia geral devia-se passar pela análise desses conjuntos
particulares de que são as regiões, como pensa Demangeon (1956, p.
16): "Amiúde podem-se captar as relações que unem os homens ao
r
seu meio, pelas análises dos caracteres que compõem a fisionomia de
P
uma região".
r- O terceiro princípio do método trata da relação entre geografia
humana e história, isto é, para ser compreensiva e explicativa aquela
deve recorrer a esta. Mesmo considerando o estado atual das coisas, a
geografia humana devia remontar ao passado para examinar a evolu
ção. Assim se justifica a necessidade da história, que aparece tão evo
lutiva quanto as próprias sociedades humanas. A evolução abarcando
a todas, pois, segundo Demangeon (1956, p. 17):
p
!»• A história abre vastos horizontes sobre o passado que se tem visto acontecer
f a tantas experiências humanas. Esta noção de tempo, de evolução, é indis-
(-* pensável. Sem ela, a razão do que existe nos escaparia amiúde.

Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro

P
**»•
391
movimentos intelectuais que puseram novamente em pauta a inter- 6s
rogação científica juntamente com a interrogação filosófica tardaram
a ressoar no pensamento geográfico, sobretudo, a "teoria crítica"14 e

o século XX pode ser considerado o século da crise da concepção moderna de -m


sujeito e da crise dessas ciências. O conteúdo da crise, nas primeiras décadas do 4»
século XX, revelava-se na pretensão das ciências humanas em tratar do homem
como objeto c sujeito do conhecimento e de tudo aquilo que se refere ao humano 4»
com o mesmo estatuto de cientificidade de que se arrogavam as ciências naturais,
já constituídas e embasadas em modelos hipotético-indutivos experimentais de
versão empirista e determinista. Não obstante esse aspecto da crise, outro aspecto
veio juntar-se ã questão da legitimidade das ciências humanas: sua relação com a
filosofia. Até o século XIX, pode-se dizer que tudo quanto se referia ao homem,
ao humano, era estudado pela filosofia. O conflituoso reconhecimento das ciên
cias humanas passava também pela distinção e explicitação do que lhes cabia, na
partilha do conhecimento, em relação à filosofia. Em que pesem os tropeços das
ciências humanas, ora procurando pautar-se nas ciências naturais, ora procurando
seu próprio caminho, elas se desenvolveram de forma gradativa e suscitaram novas
questões à filosofia que culminaram numa crise de grandes proporções: crise inter
na das ciências humanas, crise interna da filosofia e crise das ciências humanas em
relação com a filosofia. Um dos elementos dessa crise pode ser encontrado na velha
oposição das categorias objetividade e subjetividade, exterioridade e inferioridade
como distinção entre os domínios das ciências e da filosofia: às primeiras caberia
o estudo do que pode ser considerado objetivo c à segunda o estudo da subjetivi
dade. A situação de crise era comum tanto à filosofia quanto às ciências humanas.
Foi, portanto, nessa situação de crise que Edmund Husserl (1859-1938), partindo
da insatisfação com sua formação, inicialmente era matemático, e com as discipli
nas científicas, desenvolveu sua pesquisa filosófica na tentativa de encontrar um
fundamento novo para as ciências. Seu esforço filosófico destinava-se a resolver as
crises: das ciências, das ciências humanas e da filosofia, repensar seus fundamentos
e os da racionalidade. Esse esforço traduziu-se numa nova filosofia, a fenomenolo
gia, e, por conseguinte, numa nova ontologia.
U
9
Sem dúvida a teoria crítica é mais complexa do que essa definição comparativa
9
dada por Giddens (1998, p. 212): "A teoria crítica é uma defesa daquelas mesmas
9
[Ana Cristina da Silva]

394
-__
p !
p
p

p
66 a "fenomenologia".15 O positivismo renovado teve maior aceitação
e precedência no pensamento geográfico contemporâneo, particular
mente, na geografia humana.
P
P
A GEOGRAFIA HUMANA ENTRE A HISTORIA E A SOCIOLOGIA
P
ff
A criação da Escola dos Annales, em 1929, o ano da grande crise, mar
cou mn novo momento na constituição da geografia humana durante
a primeira metade do século XX. Devem-se. considerar o projeto dos
fundadores dessa Escola e o modo como se estabeleceu o vínculo da
história com a geografia. Na interpretação de Dosse (1992), a década
de 1930 foi marcada pelos grandes temas "anti", ou seja, pela negação
que esse radical indica. A Escola dos Annales se opunha à historiogra
p
fia dita positivista, questionando o evolucionismo e o progressismo; e
p
negava o político tal como ele se apresentava na historiografia vigente.
p
p
Sua ênfase recaía no econômico e no social cm detrimento do político.
A história lança seu olhar, doravante, em direção às outras ciências
sociais, num deslocamento em direção à geografia e à sociologia, nesse
primeiro momento. No entanto, o projeto de Bloch e Febvre não é
p

tradições da filosofia que os positivistas lógicos desejam mostrar como consisten


tes, em larga medida, com a metafísica vazia. Não é surpreendente que as duas
p
escolas tenham se mantido armadas uma contra a outra por tanto tempo, e que
p
sua influência recíproca fosse, de fato, muito pequena". Mas nos permite ter uma
p
noção do embate que se travava no campo intelectual no início do século XX.
r
,s A inserção da abordagem fenomenológica na geografia, na década de 1970, apre
sentava-se sob muitas perspectivas como: instrumento de crítica ao método ra
cíonalista vigente, possibilidade de fundamentar a explicação geográfica das "ex
periências vividas", um meio de promover a aceitação da dimensão subjetiva nos
estudos geográficos, e para se rever os conceitos de espaço, lugar, paisagem, meio,
dentre outros. A síntese dos desdobramentos dessa inserção encontra-se particu
larmente nas formulações de Relph (1979) e Tuan (1980, 1983), e apresenta-se
permeada de ambigüidades e ecletismo.
P

Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro

P
395
P
menos ambicioso do que aquele que Ratzel projetava para a geografia 67
ou o de Durkheim (1858-1917) para a sociologia.16
O nascimento da sociologia, na França, deu-se no final do século
XIX e é incompreensível sem o papel que nele desempenhou Durkheim,
que foi "encarregado do primeiro curso de sociologia, como tal, na
Faculdade de Letras de Bordéus, em 1887" (Dosse, 1992, p. 26),
apesar das afirmações de reconhecimento atribuídas a Comte como
seu criador. Essa incumbência e a forma como Durkheim a desem
penhou lhe possibilitaram criar uma "escola" e à sociologia disputar
uma posição hegemônica em relação às outras ciências sociais. A es
tratégia de Durkheim, na avaliação de Dosse (1992, p. 26), "consistiu
em ganhar terreno cm uma guerra de movimento, de conquista no
território das ciências vizinhas, propondo-lhes relações de interdepen
dência c a oferta de serviços".
Durkheim morreu em 1917, mas os durkheimianos continuaram
o debate com a geografia criticando-a - pois pretendiam substituí-la
pela "morfologia social" - e ao trabalho dos geógrafos por suas mo 9

nografias regionais, representantes da geografia lablachiana, que não 9


9
configuravam uma visão geral da sociedade. Criticavam o determinis
9
mo dos geógrafos e privilegiavam a pesquisa das causalidades num
confronto aberto com a "escola geográfica vidaliana" no "apogeu da 9
glória". Nesse confronto, os durkheimianos viram os historiadores
dos Annales saírem em defesa da geografia, sobretudo, Lucien Febvre.
No período entreguerras eles se isolaram na École Pratique des Hau
tes Études e criaram em 1924 o Instituto Francês de Sociologia.
9

9
,fi No Brasil, Santos (1926-2001) alimentou um projeto similar para a geografia, no
sentido de fundamentá-la com uma ontologia e uma epistcmologia próprias, asse
gurando a legitimidade científica e acadêmica dessa ciência. A geografia humana
tem sido, particularmente, cxitosa com relação a esse projeto, ao constituir-se em
referência para se pensar o espaço, o território e a globalização no final do século
XX, como também o território brasileiro.
9

9
[Ana Cristina da Silva]

9
396 9

9
p
p

:
68 Quando, em 1913, foi publicado o artigo "Des caracteres distinc-
tifs de la Géographie", nos Annales de Géographie, La Blache não
s~ó deu uma resposta à crítica dos sociólogos como também definiu
*- o escopo da geografia perante as ciências sociais ao afirmar que a
"geografia é uma ciência dos lugares e não dos homens". É nesse
contexto de embate acadêmico e de disputa pelo poder que se pode
também compreender essa definição de geografia dada por La Blache.
p Nesse embate, Febvre interveio a favor da "escola vidaliana", numa du
r
pla frente de "combate": numa frente contra os durkheimianos e nou
p
tra contra a "escola alemã" de geografia, representada, na época,
p
pela antropogeografia de Ratzel, à qual se denominou "determi
nista", em oposição ao "possibilismo" da "escola francesa" de geo
grafia. Assim, criou-se uma dupla definição para a geografia: ciência
dos lugares e possibilista.
Porém, essa defesa da geografia pelos historiadores se assentava
num projeto mais amplo, como afirma Dosse (1992, p. 28): "Lu
P
cien Febvre e Marc Bloch retomaram o programa dos sociólogos e,
sobretudo, a estratégia de tudo absorver". Tal como fizeram com a
P
geografia, os durkheimianos também lançaram um desafio aos his
toriadores e o projeto dos Annales foi impulsionado por esse tanto
desafio quanto pela apropriação dos procedimentos dos geógrafos.
A geografia vidaliana se encaixava, não só pelo prestígio que gozava à
P época como pelos meios que oferecia para levar mais adiante o projeto
dos Annales. O faro de essa geografia pretender eliminar o político e
P
o acontecimento, se atendo mais às permanências - apoiando-se na
P
P
geomorfologia e valorizando as estruturas estáveis da paisagem - e
P
ao privilegiar o social e o econômico, oferecia vários pontos de con
tato com o projeto dos Annales. Mas não só. Há de se destacar a
personalidade de La Blache e o conrexto europeu à época.
p

Paul Vidal de La Blache, no início historiador, volta-se a partir de 1872,


depois da derrota francesa, para geografia, a fim de responder ao desafio da
Alemanha, mais voltada do que a França para o mundo contemporâneo. Sua
P
P
Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro

P
397
9
9

9
9

sistematização do objeto geogtáfico vai servir de modelo à futura escola dos 69


9
Annales. A geografia, que nasce por volta dos anos de 1880, na França, se
9
consagra, como mais tarde os Annales, na reação contra o positivismo da
9
escola historiográfica. (Dosse, 1992, p. 30).
9
9
Além daqueles pontos de contato, a geografia vidaliana apresentava 9

ainda mais afinidades com o projeto dos Annales - a desconfiança em


relação.a toda construção teórica muita rígida preferindo a descrição
e a observação. Uma ciência atenta ao tempo atual, a tudo que se
mantém no presente, pelas permanências que formam as paisagens,
que se apoia em metáforas oriundas de noções também da biologia, 9

9
tais como meio, organismo, "modo de vida", quotidiano, aspirante a
9
ser uma ciência do concreto e do observável. É essa geografia que in 9
teressa ao projeto dos Annales. As monografias regionais serviram de 9

modelo à "escritura dos Annales". Os procedimentos de investigação


dos geógrafos e o objeto geográfico também se apresentavam como
pontos de apoio à história que almejava um lugar de destaque e a li 9

derança diante das outras ciências sociais, pois a geografia tinha uma 9
9
penetração universitária mais vantajosa que a sociologia, a garantir
9
uma base institucional mais bem estruturada.
9

9
A ordem do discurso vidaliano corresponde à ordem das coisas no processo 9
de identidade. Compreender, para Vidal de La Blache, é apenas localizar e
comparar. A geografia vidaliana se afirma, então, como disciplina do presente
contra a história historicizante. (Dosse, 1992, p. 32). a

9
A construção da geografia humana, por La Blache, tinha por base
esses procedimentos e aquelas noções e conceitos inspirados na bio
logia, mas que, no entanto, interessava ao projeto dos Annales. 9
9
A força do vínculo entre os Annales e a geografia se dava também
por meio de um ponto forte, a saber, a ligação com o poder e a reflexão 9

sobre a crise. Tal como Dosse (1992) os percebe, os historiadores dos 9


Annales não só estabeleciam uma aliança com as outras ciências sociais
9
9

[Ana Cristina da Silva]

i
398

9
r

70 e seus especialistas como integravam seu método e seus conceitos, de


modo a absorvê-las para melhor constituir-se e afirmar-se. Constata-se
que mesmo o embate com os durkheimianos não impediu Bloch de re
alizar uma ruptura historiográfica ao mesmo tempo em que adotava o
conceito durkhcimiano de "fato social", como "ferramenta do percurso
p histórico". De modo análogo, Febvre integra o percurso geográfico no
horizonte histórico e, em assim o fazendo, integra e limita o campo da
p
geografia, tornando-a auxiliar à história.
r
p
Os Annales operaram uma "ruptura historiográfica" quanto à con
cepção de história, a inovação da "história-problema", quanto ao modo
de conceber a relação entre passado e presente, quanto à ênfase no social
e no econômico. Mas essa ruptura não se fazia apenas internamente,
isto é, com a história vigente, se fazia também por meio de um processo
p
antropofágico em relação com as outras ciências.
r
Na primeira metade do século XX, a geografia foi a ciência que
r
mereceu uma atenção significativa dos Annales ao ponto de se ver
surgir um "novo paradigma", o da "geo-história", segundo Dosse
r (1992, p. 79):
P
[...J novo paradigma muito fecundo que servirá de quadro obrigatório para
todos os estudos monográficos do período pós-Scgunda Guerra Mundial. [...]
nasceu do reencontro entre a proposta de Vidal de La Blache e a dos Annales.

As razões desse "casamento", segundo Dosse (1992, p. 79), podem


r ser mais bem compreendidas quando se considera a situação da Fran
p
ça, à época:
p
p
[...] revalorização da região, da província nessa França em que se começa a
perder a consciência, [...], da grande centralização. Isso contribuiu para o su
cesso da geo-história. que escolheu como eixo a região e o questionamento da
especificidade de cada uma.

Assiste-se, portanto, a uma forma nova de concepção de historici


dade, a "historicidade geográfica".
r
Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro

P
399
r
f
9

9
9
Fixar a escritura histórica na permanência, na longa duração, em contato com a 7*
geografia e, ao contrário, mostrar em que a natureza é levada a se modificar no
curso de sua história; assim é a dupla_ perspectiva na qual se inscreve a ruptu
ra dos Annales, que pensa as relações entre historicidade e geografia em termos
complementares e em termos de solidariedade necessária. (Dosse, 1992, p. 80).
9

Essa integração da geografia na história não se deu sem contestação.


Camille Vallaux e Demangeon reagiram contrariamente às limitações
da geografia perante a história em nome da pretensa defesa de Febvre.
Mas não foi uma reação suficientemente forte para evitar os rumos que
a integração tomava, pois, de certo modo, trazia benefícios aos geógra
fos. Era uma das formas de propagar e manter viva a geografia labla-
chiana. Uma dessas formas pode ser encontrada na institucionalização
da geografia, no Brasil, na década de 1930, sobretudo pela iniciativa e 9
9
colaboração de geógrafos franceses.17
9
A "geo-história" é o resultado do vínculo entre a "escola francesa"
de geografia e a história dos Annales renovada por Fernand Braudel 9
(1902-1985). Renovação que consiste no alargamento do percurso do
historiador que passa a abarcar do social ao estudo da civilização,
este último termo parece ter sido inspirado por Mareei Mauss,
sobrinho e continuador da "escola sociológica" francesa criada por
Durkheim. Braudel também se inspira e é influenciado pela geogra 9
9
fia de Demangeon e de Martonne. A noção de meio, usada também
9
como sinônimo de espaço, é uma das noções que serviu de funda
9
mento para a "geo-história" de Braudel. Nela, a geografia aparece 9
como suporte da história, e a noção de "longa duração" encontra
no "espaço" dos geógrafos seu suporte teórico e metodológico. O
espaço aparece como um fator explicativo na constituição diversa
9
9
9
9
17 A institucionalização da geografia, no Brasil, particularmente a geografia humana,
foi fortemente influenciada pelos geógrafos franceses Dcffonraines e Monbeig, nas 9
9
décadas de 1930-1940.
9
9

[Ana Cristina da Silva]

9
•lod 9
p

72 das civilizações. Mas uma das mudanças mais emblemáticas dessa


p*
renovação historiográfica e geográfica é a relação entre temporalidade
e espacialidade, ou geograficidade.1* Refere Dosse (2004, p. 128): "A
temporalidade transforma-se assim em espacialidade até desaparecer
por completo, e não é de espantar que a história, nesse processo de
naturalização, se imobilize no solo". Boa parte das críticas feitas a
Braudel tem por argumento essa imobilidade da história.
História das estruturas, história do meio, preocupação em não incor
rer na superficialidade da história dos acontecimentos, da curta duração,
„» e a tentativa de demonstrar que o tempo avança com diferentes veloci
dades não livraram Braudel da crítica por não ter mostrado a sua "geo-
-história" em movimento. Porém, isto não impediu o reconhecimento
de suas contribuições quanto à transformação das noções de tempo e
espaço, e quanto ao modo de manejar o tempo, seu intento "de dividir o
P tempo histórico em tempo geográfico, tempo social e tempo individual",
P
enfatizando o tempo geográfico e a longa duração, conforme registra
Burke (1991). Mas tão logo a voga estruturalista se alastrou, a história,
e não apenas a "geo-história", teve de prestar contas às exigências que o
movimento estrutural lançou às ciências sociais.

P
P !S
Numa apreciação crítica das influências recíprocas entre Braudel c a geografia, bem
P
como de sua obra, Lacoste (1989b, p. 185) avaliou em que sentido pode-se afirmar
que Braudel foi mais geógrafo do que historiador, como também as noções de histo
P
ricidade e geograficidade: "Da mesma forma que a história feita pelos historiadores
traduz em grande medida a concepção que eles têm de historicidade (ou seja, o que
é digno de ser relatado e estudado pelos historiadores) - sendo a historicidade mui
p
to diferente segundo a época e as escolas -, o mesmo acontece com a geografia, as
~ representações dos geógrafos existem em função de concepções muito diferentes do
f*. que eu chamo de geograficidade, aquilo que segundo ele é 'geográfico', ou seja, as
**• categorias dos fenômenos que eles acham digno de interesse e dependentes de suas
^ competências. Se, em princípio, todos os fenômenos que podem ser cartografados
p» dependem do raciocínio geográfico, os geógrafos, na verdade e sem o dizer, têm uma
t+- concepção mais ou menos ampla da geograficidade [*..]*.
p

Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro


P

401

P
Desde a década de 1930 até a de 1960, a geografia conheceu uma 73
ascensão patrocinada em grande parte pela Escola dos Annales, como
historia Dosse (1992, 1993), e se reconciliou com a sociologia, que
cada vez mais trouxe ao cenário de discussão o tema do "espaço so
cial". Em que pese o intenso debate sobre a situação e a identidade
própria da geografia no interior das ciências humanas, tal como se
verificou no debate com a sociologia,19 nem sempre essas relações fo
ram conflituosas, como destaca Claval (1974, p. 170): "Alguns soció
logos e geógrafos levam a cabo incrementados intentos para averiguar
como as representações coletivas do espaço podem influir na aparição
dos equilíbrios geográficos". Max Sorre (1880-1962) e Pierre Geor
9
ge foram geógrafos que se aproximaram e estabeleceram interlocução
9
com a sociologia. Mas também se preocuparam em definir o campo, 9
os métodos e os conceitos de ambas as disciplinas, além de definir a
originalidade da geografia, cujos estudos se dariam num plano hori
zontal dos dados examinados pelas outras ciências sociais, dentre elas
a sociologia, cujos estudos se dariam no plano vertical.20
9
9
9

19 Conforme Carvalho (2004), esse debate tornou-se emblemático pelas análises crí
ticas que Durkheim fez das obras de Ratzel, contrapondo à "antropogeografia" a
"morfologia social". E, na história, as posições de Febvre e La Blache. Este último
estabeleceu uma caracterização da geografia em relação à sociologia e à história
que se tornou emblemática no texto As características próprias da geografia, pu 9
blicado em 1913 nos Annales de Géographie. Gomes (1996) destaca também o 9
9
desprestígio que Bourdieu conferiu à geografia escolar por ocasião da Reforma do
9
Ensino na Fiança. E o próprio Bourdieu (1998) não poupou os geógrafos de sua
crítica quanto ao conceito de região. 9
9
20 Geógrafos como Gregory (1996). Johnston (1986) e Quaini (1992), ao historicizar
a institucionalização da geografia, reconhecem as distinções e as cisões, ao mesmo
tempo em que oferecem um painel dos temas e dos referenciais teóricos com os
quais a geografia estabeleceu interfaces e formas de conceber o objeto e o método de
estudo, desde o século XIX até o XX. A divisão intelectual do trabalho, no campo
das ciências humanas e no interior da própria geografia, não se fez sem a ilusão de
9
[Ana Cristina da Silva)

9
9

402 »**
p —-

74 A geografia, definida como "ciência humana", tem por objeto o estudo global e
diferencia] de tudo que condiciona e interessa à vida das diversas coletividades
r - humanas que constituem a população do globo. Ela ultrapassa o âmbito das
demais ciências humanas, inclusive a sociologia, defmindo-se como pesquisa de
todas as correlações e causalidades relativas à situação atual e às virtualidades
destas coletividades. (George, 1969, p. 12, grifo nosso).
P

p George (1969) procurou mostrar os vínculos temáticos e as dis


tinções metodológicas entre os trabalhos dos geógrafos e dos soció
logos. No interior da sociologia há uma diferença de temas (por
exemplo, sociologia rural e sociologia urbana) em que as "espe-
cificidades metodológicas não colocam em questão a unidade da
pesquisa" (p. 18). No entanto, na pesquisa em geografia, por sua
dispersão "essencial", não há mais unidade de método. Diversos
campos de estudos comportam diversos métodos. Além do mais,
segundo George (1969, p. 19):

[...] em uma situação geográfica, é preciso levar em conta forças de natu-


rezas diferentes, umas originárias do contexto natural que obedece a leis físicas,
outras decorrentes do contexto econômico e social, a sociologia deve considerar
unicamente os afrontamentos de vetores da mesma espécie.

Nessa aproximação cautelosa, George aproxima-se dos sociólo


T gos, dentre eles destaca-se Gurvith, tentando identificar os pontos de
P

r
que seu objeto também potlia serdividido, metodologicamente, por meio da "análise
geográfica", como também a de que ele podia ser reconstruído pela síntese, tendo
por referência a concepção da geografia como uma "ciência de síntese". No entanto,
mesmo a percepção de que o "objeto geográfico" é um objeto compartilhado com
todas as ciências, que têm por foco o campo social-histórico, não evitou os esfor
ços em estabelecer rígidas demarcações das fronteiras entre geografia humana e as
outras ciências humanas. Além disso, toda divisão social e intelectual do trabalho
apresenta, como desdobramento, algum nível de especialização. Na geografia as es
pecializações também são uma realidade da atividade científica dos geógrafos.

Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro


r
p
•103
oposição ou de complementaridade. Uma questão num subtítulo é 75
emblemática dessa forma de aproximação.

Para Gcorges Gurvith, a geografia humana participa do estudo do fenômeno


social, estabelecendo os limites, a extensão, e colocando-o em contexto
natural, econômico, político. Nesta apresentação das relações respectivas da
sociologia e da geografia, a sociologia situa-se exatamente no plano vertical,
seu objeto c a totalidade social, a sociedade global; a geografia situa-se no
plano horizontal, seu objeto é o espaço ocupado por um tipo de sociedade
global ou um conjunto de relações sociais. (George, 1969, p. 22).

Todavia, a teoria social que fundamenta essa geografia huma


na flerta abertamente com o funcionalismo da "escola sociológica"
durkheimiana, cuja visão de sociedade e de organização social está sub
metida às leis naturais, para a qual os fatos sociais devem ser tratados
9
como "coisas", de modo a não se deixar influenciar por prenoções ou
9
preconceitos e assim garantir a neutralidade científica.
Segundo Giddens (2001), o pensamento de Comte reviveu em
9
Durkheim, apesar das críticas e divergências que este tinha quanto
ao pensamento daquele. Esses traços comuns consistem no apelo à
ciência natural da sociedade, na defesa de que os fatos sociais podem
ser estudados com a mesma objetividade nas ocorrências naturais, 9
9
na diferenciação entre "estática" e "dinâmica" (em Comte) e entre
9
"análise funcional" e "histórica" (em Durkheim). Enfim, a crença de
9
que a sociologia podia separar racionalmente o que contribui para 9
a ordem social daquilo que promove a desintegração e é patológico.
Giddens destaca a forma como os escritos de Comte foram utiliza
dos por Durkheim e a extensão das idéias neles contidas que foram
mantidas no pensamento deste. Assim como alguns traços permane
ceram, outros foram abandonados, como a teoria global da mudança
histórica e a rejeição do "positivismo" por Durkheim preferindo o
"naturalismo". Para Giddens, quanto mais Durkheim pretendia separar
seu pensamento do de Comte, mais nele se enfronhava. -.
9
9
[Ana Cristina da Silva]

40-1
r.1

f 76 Exatamente do mesmo modo que a ciência natural nos mostrou que o desen
p
volvimento do conhecimento só poderia ser conquistado de modo gradual, as
sim também a sociologia nos mostrou que toda mudança social progressiva só
ocorria cumulativamente. A dependência mútua entre progresso e ordem é tanto
um tema dos escritos de Durkheim quanto dos de Comte. O antagonismo de
r
Durkheim à revolução era a continuação do de Comte e, da mesma forma, afir
mava estar cientificamente fundamentado: a revolução política expressava a ina
p
bilidade da sociedade em gerar mudança progressiva, cm forjar um possível ins
p
trumento de transformação social segura. Entretanto, [...1, ao identificar o que
P
é normal e o que é patológico na sociedade contemporânea e, desse modo, ao
identificar a tendência imanente do desenvolvimento social, Durkheim se afas
tou substancialmente de Comte. (Giddens, 1998. p. 180).
r
r
#* A geografia humana que se desenvolveu na França, até a década
de 1960, apesar de seus vínculos com a história dos Annales prestou
tributos ao funcionalismo da "escola sociológica" francesa. E a crise
da geografia humana, no final da década de 1950, se deve também
p
à falência explicativa dessa teoria social numa França em transfor
mação, no pós-guerra, quando as questões sociais estavam na pauta
r
do dia. A história, premida pelo embate decorrente dos avanços da
r
"desconstrução estrutural" e da crítica ao historicismo, já não podia
mais sustentar-se a si própria e à ciência que tinha por auxiliar, a ge
ografia. Max Sorre se aproximou também da sociologia c reformulou
a geografia humana como uma "ecologia humana", amparado numa
sociologia que se robustecia também de ecologia.

Os geógrafos empregaram o conceito de sistema e ecossistema para o estudo


da tradicional relação homem-meio, sobretudo depois que Edward Acker-
p
mann reformulou em 1963 o problema-chave da geografia [...]. A partir de
então, ao mesmo tempo em que os geógrafos físicos estudavam os ecossis
r
temas naturais da superfície terrestre, os geógrafos humanos empreendiam
p o (estudo) dos ecossistemas rurais, o de ecossistemas naturais afetados por
atividades não agrárias [.„] ou o da cidade considerada como um ecossistema.
(Capei, 1984, p. 66).

Território e significações imaginárias no pensamento geográfico brasileiro


P
P
405

P
9
9
9
Desde sua tese de doutorado intitulada Os pirineus mediterrâneos
(1913), Sorre vinha seguindo uma concepção de vertente ecológica, de
tal modo que sua obra maior, Os fundamentos de geografia humana
9
(1943-1952), foi assumindo a forma de uma "ecologia do homem", 9
tal como ele a concebia. Assim como George, Sorre (1984) aproximou-
-se da sociologia, nela buscando pontos de contato, mas precisando o
âmbito de atuação da geografia.
Na década de 1960, a geografia humana passou por grandes trans
formações, ampliando seus temas de reflexão e métodos de investigação,
9
revendo suas concepções de objeto de estudo, avançando nas discus
9
sões epistemológicas específicas da ciência geográfica e se dispondo ao 9
diálogo com outras ciências, além de incorporar vertentes filosóficas
como o neopositivismo e o marxismo-estrutural de versão alrhusseria-
na. Um dos desdobramentos dessas transformações resultou na "virada
espacial", promovida na França, sobretudo pelo estruturalismo e em
9
seguida pelas convergências entre o estruturalismo, o sistemismo e o
9
formalismo matemático.
9
Essas transformações merecem destaque porque, até década de
9
1960, pode-se afirmar que a geografia se ausentava de muitos dos
debates teóricos e epistemológicos que afetavam as ciências humanas e
as sociedades contemporâneas, conforme apontam bacoste (1989a)
e Dosse (1993, 2 v).21 Não é de se estranhar, portanto, que, nas dé
cadas de 1970 e 1980, a atitude crítica e autocrítica dos geógrafos,
em relação ao seu ofício, tenha conjugado avaliação epistemológica
9
9
21 Refere Dosse (1993, v. 1, p. 393): "Uma consciência planetária, topográfica, reprime
a consciência histórica. A temporalidade cai na espacialidade. O distanciamento da
9
ordem natural dá lugar a uma pesquisa das lógicas invariantes oriundas da junção
9
natureza/cultura. Em face de um futuro fechado, o olhar volta-se para a busca da
imutável natureza humana percebida em suas constantes: circuitos mentais, ecossis
9
tema, longa duração, estruturas, extensão do conceito de geograficidade [...]". Era, 9
pois, a "morte" anunciada do evolucionismo, como também do historicismo.
§
9
[Ana Cristina da Silva]

9
9
406
p

p
9

78 com a crítica à ideologia vigente. Considerando-se as devidas es-


pccificidades históricas e sociais, essas transformações da ciência
geográfica fizeram-se presentes em pelo menos dois continentes,
abarcando alguns ou vários países: na América do Norte e na Grã-
-Bretanha, segundo demonstram os estudos de Gregory (1996) e Jo
hnston (1986); na França, conforme relatam Lacoste (1989a) e Dos
se (1993a,b); na Itália, segundo as pesquisas de Saquet (2007), e,
no Brasil, conforme avaliam Moreira (1987, 1992) e Moraes (1990,
1996,2002). •
P
9

P

P
P

P
p

P
9

P
P

P
P
P
r

407
P
9

P
TEXTO 17

P
P
P
P
O ciclo geográfico1
P

P
William M. Davis

P A classificação genética das formas de terreno


P
Todas as formas variadas dos terrenos são dependentes de — ou, como os
P
matemáticos diriam, são funções de — três quantidades variáveis, que podem ser
chamadas de estrutura, processo e tempo. No começo, quando as forças de
P
deformação e soerguimento determinam a estrutura e a altitude de uma região, a
forma de sua superfície está em concordância com seu arranjo interno, e sua altura
9
depende da quantidade de soerguimento que ela sofreu. Se suas rochas ficaram
P inalteradas sob o ataque dos processos externos, sua superfície permaneceria
P inalterada até as forças de deformação e soerguimento agirem novamente; e nesse
caso somente a estrutura estaria no controle da forma. Mas nenhuma rocha é

imutável; mesmo as mais resistentes cedem sob o ataque da atmosfera, e seus


resíduos são arrastados e movidos para as partes mais baixas, mesmo que qualquer
morro permaneça; então todas as formas, mesmo sendo altas e resistentes, devem
se rebaixar, e assim o processo destrutivo passa a ter uma importância igual àquela
da estrutura na determinação de uma grande área de terreno. O processo não pode,
no entanto, completar seu trabalho instantaneamente, e a quantidade de alteração
da forma inicial é então uma função do tempo. O tempo, assim, completa o trio de
r- controles geográficos e é, entre os três, aquele de aplicação mais freqüente e de
valor mais prático na descrição geográfica.
p

o A estrutura é a fundação de todas as classificações geográficas nas quai o trio


. de controles é reconhecido. O planalto de Alleghany é uma unidade, uma "região",
fí porque por toda a sua grande extensão ele é composto por amplas camadas de
rocha horizontais. O Jura suíço e os Apalaches da Pensilvânia são unidades, por
consistirem em estratos corrugados. Os montes Laurencianos do Canadá são
-~ g essencialmente uma unidade, por consistirem em rochas cristalinas em sua maior

P «
1 Texto originalmente intiiulado "lhe deoffaphical Cycle", traduzido da versão publicada pela Wiley-
I Blackwcll Pubüshing, cm nome de The Royal Geographical Socicty (com Instituto of Brilish
Geographers). Fonle: The Geographical Journal. Vol. 14, No. 5 (Nov„ 1899), pp. 481-504.
Disponível em: <http://www.jsior.Org/stable/17745:J8>. Acesso em: 12 sei. 2008. Tradução e
nj revisão: Vancil Cardoso Cabral B Fernanda Aparecida I-eonardi.

r I
1
r » 139
r

409
Wllliam M Davis

parte alteradas. Essas unidades geográficas não têm, no entanto, tal simplicidade
como unidades matemáticas; cada uma delas tem certa variedade. Os estratos dos
planaltos não são estritamente horizontais, por se inclinarem ou se virarem
suavemente, ora de uma forma, ora de outra. As corrugações do Jura ou dos
Apalaches não são todas iguais; elas devem, na verdade, ser mais verdadeiramente
descritas como todas diferentes, ainda que elas preservem suas características
essenciais com muita constância. As rochas desordenadas dos montes Laurencianos
tém uma tão estrutura excessivamente complicada a ponto de agora desafiar uma
descrição, a menos que seja feita item por item; ainda, apesar das variações livres
de um único padrão estrutural, é válido e útil investigar de um modo amplo tal
região, e considerá-la como uma unidade estrutural. As forças pelas quais as
altitudes e estruturas foram determinadas não vêm ao âmbito da pesquisa
geográfica, mas as estruturas adquiridas pela ação dessas forças servem de base
essencial para a classificação genética das formas geográficas. Para a proposta deste
artigo, será suficiente reconhecer dois grandes grupos estruturais: em primeiro
lugar, o grupo das estruturas horizontais, incluindo planícies, planaltos e seus
derivados, aos quais nenhum nome único foi sugerido; em segundo lugar, o grupo
de estruturas desordenadas, incluindo montanhas e seus derivados, igualmente sem
um nome único. O segundo grupo deve ser mais elaboradamente subdividido que o
primeiro.

Os processos destrutivos são de grande variedade — a ação química do ar e


da água, e a ação mecânica do vento, do calor e do frio, da chuva e da neve, dos
rios e das geleiras, das ondas e correntes. Mas a maior parte da superfície da Terra
sofre principalmente o efeito das mudanças climáticas e do curso da água, estes
serão tratados como um grupo normal de processos destrutivos; enquanto o vento
dos desertos áridos e o gelo dos desertos frios serão considerados como
modificações climáticas da regra, e postos à parte para uma discussão específica; e
um capítulo especial será necessário para explicar a ação das ondas e correntes nas tj
linhas da costa no limite dos terrenos. Os vários processos pelos quais o trabalho cm
destrutivo é realizado são, por sua vez, características geográficas, e alguns deles ^
são assim reconhecidos, tais como os rios, as quedas d'água e as geleiras; mas eles M"
>"
são muito comumente considerados por geógrafos separados do trabalho que eles „-
realizam, com essa fase de seu estudo sendo, por alguma razão insatisfatória, dada
Dl
à geologia física. Não deveria haver tal separação entre agentes e trabalho na o
v
O
geografia física, embora seja proveitoso dar consideração separada para o agente oj
ativo e para a massa inerte na qual ele trabalha.
<u
c

e
3
O


O
140 to

410
p

Ocictogeor/ráíico

O tempo como um elemento da terminologia geográfica


A quantidade de alteração causada por processos destrutivos aumenta com a
passagem do tempo, mas nem a quantidade, nem a intensidade da alteração são
uma simples função do tempo. A quantidade de alteração é limitada, em primeiro
lugar, pela altitude de uma região acima do mar; também pois, ao longo do tempo,
as forças destrutivas normais não podem desgastar a superfície do terreno para
abaixo desse nível de base definitivo de sua ação; e as forças glaciais e marinhas
não podem desgastar uma massa terrestre indefinidamente abaixo do nível do mar.
A intensidade de alteração sob processos normais, os quais serão considerados
^ sozinhos agora, é no exato início relativamente moderada; ela então avança muito
rapidamente para o máximo, e em seguida lentamente diminui para um mínimo
^ indefinidamente adiado.
Evidentemente, um período maior deve ser necessário para completar a
denudação de uma massa terrestre resistente do que de uma fraca, mas nenhuma
medida em termos de anos ou séculos pode agora ser dada ao período necessário
para o desgaste efetivo de terras altas para terras baixas descaracterizadas. Todo o
m- tempo histórico é pouco mais que uma fração insignificante de uma duração tão
vasta. O melhor que pode ser feito no momento é dar um nome conveniente para
essa parte não mensurada da eternidade, e para esse propósito nada parece mais
P
apropriado do que "ciclo geográfico". Quando for possível estabelecer uma proporção
P
entre unidades geológicas e geográficas, haveremos encontrado uma abordagem
P
para a igualdade enlre a duração de um ciclo médio e aquela do tempo do Cretáceo
ou Terciário, como tem sido indicado pelos estudos de vários geomorfólogos.
P
P Geografia "teórica"
P
É evidente que um esquema de classificação geográfica que é baseado na
P estrutura, no processo e no tempo deve ser dedutivo em um alto grau. Isso é clara e
intencionalmente o caso no presente caso. Como conseqüência, o esquema ganha
,-r
um gosto muito "teórico" que não agrada a alguns geógrafos, cujo trabalho implica
c que a geografia, diferente de todas as outras ciências, deveria ser desenvolvida pelo
> uso de somente algumas certas faculdades mentais, principalmente observação,
.2 descrição e generalização. Mas nada me parece mais claro que o fato de que a
g, geografia já sofreu por muito tempo pelo desuso da imaginação, da invenção, da
$ dedução e de várias outras faculdades mentais que contribuem para a obtenção de
•g uma explicação bem testada. É como caminhar com um pé, ou olhando com um
.ü olho, para excluir da geografia a metade "teórica" do poder cerebral, à qual outras
.5 ciências requerem, assim como à metade "prática". Com efeito, é somente como
| resultado de um mal-entendido que se pressupõe uma antipatia entre teoria e
r Ê
P I
& 141

P
411
9

tVilliam M. Davis

prática pois, na geografia, bem como em todo trabalho que soa científico, as duas
avançam mais amigável e efetivamente juntas. Certamente o desenvolvimento mais
completo da geografia não será alcançado até todas as faculdades mentais que são
de alguma forma pertinentes ao seu cultivo serem bem treinadas e exercitadas na ^
investigação geográfica. ^
Tudo isso pode ser afirmado de outra forma. Um dos suportes mais efetivos
para a apreciação de um assunto é uma explicação correta dos fatos que ele
apresenta. A compreensão vem, então, para auxiliar a memória. Mas uma
classificação genética das formas geográficas é, na realidade, uma explicação delas;
por conseguinte, tal classificação deve ser útil para o geógrafo em viagem, estudo ^
ou ensino, contanto que seja uma classificação natural e verdadeira. Natural e
verdadeira uma classificação genética deve certamente ser, pois o tempo é passado
quando até mesmo os geógrafos podem observar as formas do terreno como
"prontas". Na verdade, definições e descrições geográficas não são verdadeiras e
naturais somente por darem a impressão de que as formas dos terrenos são de
origem desconhecida, não suscetíveis de explicação racional. Desde o início da
geografia nas escolas primárias, os alunos deveriam ficar admirados com a crença
de que as formas geográficas têm significado, e que o significado ou a origem de
tantas formas já está tão bem certo que há toda razão para pensar que o significado 9
de todas as outras será descoberto em questão de tempo. O explorador da Terra 9
deveria estar inteiramente convencido desse princípio e bem preparado para aplicá-
lo, como o explorador do céu está para carregar princípios físicos para o alcance
mais distante de seu telescópio, seu espectroscópio e sua câmera. A preparação de
mapas de rota e a determinação de latitude, longitude e altitude para os pontos
mais importantes é somente o começo da exploração, a qual não tem fim até todos
os fatos de observação serem levados à explicação.

E importante, no entanto, insistir que o geógrafo precisa saber o significado,


a explicação, a origem das formas que ele observa, simplesmente por causa do %
suporte assim recebido quando ele tenta observar e descrever as formas N-
cuidadosamenle. É claramente necessário reconhecer esse princípio e c
constantemente tê-lo em mente, se quisermos evitar o erro de confundir os objetos
dos estudos geográfico e geológico. O último examina as mudanças do passado por .2
elas próprias, uma vez que a geologia se preocupa com a história da Terra; o g, «y
anterior examina as mudanças do passado até onde elas servem para iluminar o $
presente, pois a geografia se preocupa essencialmente com a Terra como ela existe -S
agora. A estrutura é um elemento pertinente do estudo geográfico quando, assim .§
como quase sempre, influencia a forma; ninguém hoje tentaria descrever a Weald .5
sem alguma referência às resistentes camadas de calcário que determinam os ' £
U 9
I 9
142 1
9
412

9
P

P
9

O ciclo geogrAtico

morros em sua borda. O processo é igualmente pertinente para o nosso assunto, por
ter sido em todos os lugares influente na determinação da forma para um grau
maior ou menor, e está em operação hoje em todos os lugares. É realmente curioso
encontrar manuais geográficos que aceitam o movimento dos ventos, correntes e
rios como parte de sua responsabilidade, e ainda que deixam o intemperismo dos
•^ terrenos e o movimento dos resíduos dos terrenos inteiramente fora de
r* consideração. O tempo é certamente um elemento geográfico importante, por onde
— as forças de soerguimento e deformação iniciaram recentemente (no ponto de vista
do tempo da Terra) um ciclo de alteração; os processos destrutivos podem ter
realizado pouco trabalho, e a forma de relevo é "jovem"; onde mais tempo
decorreu, a superfície terá sido mais meticulosamente esculpida e a forma então se
r
torna "madura"; e onde passou tanto tempo que a superfície originalmente
r
soerguida está desgastada para um baixo terreno de pequeno relevo, ficando não
r
mais que um pouco acima do nível do mar, a forma merece ser chamada de
r "velha". Uma série inteira de formas deve estar desse modo evoluída na história de
r vida de uma região, e todas as formas de tal série, mesmo que elas pareçam
diferentes à primeira vista, deveriam estar associadas sob o elemento do tempo,
expressando meramente os estágios diferentes de uma única estrutura. A larva, a
ninla e o imago de um inseto; ou a noz do carvalho, o carvalho crescido e o velho
ironco caído, não são mais naturalmente associados como representando as
diferentes fases na história de vida de uma única espécie orgânica, que o são um
bloco de montanha jovem, vales e picos de montanhas amadurecidamente
esculpidos e o velho peneplano de montanha, como representando os diferentes
estágios da história de vida de um único grupo geográfico. Como as formas do
terreno, os agentes que trabalham sobre elas mudam o seu comportamento e a sua
(p- aparência com o passar do tempo. Uma forma de terreno jovem tem cursos jovens
de atividade torrencial, enquanto uma forma velha teria velhos cursos de corrente
deliberada ou mesmo fraca, como será mais detalhadaamente adescrito abaixo.

P 8
r*-f O ciclo geográfico ideal
c
to A seqüência nas mudanças no desenvolvimento das formas de terreno, em
>'
r j sua própria forma, é tão sistemática quanto a seqüência de mudanças encontrada
no desenvolvimento mais evidente de formas orgânicas. Na verdade, é
rg principalmente por essa razão que o estudo da origem das formas de relevo — ou
a, geomorfologia, como alguns chamam — se torna um auxílio práüco, útil ao
geógrafo a qualquer hora. Isso sè" fará mais claro pela consideração específica de
p
um caso ideal, e aqui uma forma gráfica de expressão será usada para auxílio.
p

* 1 143
p

p 413

p
9

V/iUiam M. Davis
9

9
Figura 1
1
9

9
9

9
A linha de base au), na Figura 1, representa a passagem do tempo, enquanto 9
as verticais acima da linha de base medem a altitude acima do mar. No período 1, 9
deixemos uma região de qualquer estrutura e forma ser soerguida, com B 9
representando a altitude média de suas partes mais altas e A de suas partes mais 9
baixas; então AB mede o seu relevo inicial médio. As rochas da superfície são 9
atacadas pelo intemperismo. A chuva cai sobre a superfície intemperizada e leva 9
alguns dos resíduos soltos abaixo, das vertentes iniciais para as linhas de calha 9

onde duas vertentes convergentes se encontram; lá os cursos d'água são formados, 9


fluindo em direções conseqüentes na descida das linhas de calha. O mecanismo dos 9
processos destrutivos é então colocado em movimento e o desenvolvimento 9
destrutivo da região é iniciado. Os rios maiores, cujos canais inicialmente tinham 9
uma altitude A, rapidamente aprofundam seus vales, e no período 2 reduzem seus
9
canais para uma altitude moderada, representada por C. As partes mais altas dos
9
interflúvios, afetadas somente pelo intemperismo e sem a concentração da água em
9
cursos, definham muito mais lentamente, e no período 2 são reduzidas em altura
9
somente até D. O relevo da superfície foi, assim, levado de AB para CD. Os
9
principais rios, então, aprofundam seus canais muito lentamente pelo resto de sua
vida, como mostrado pela curva CEGJ; e o desgaste das terras altas, muito
dissecadas pelas ramificações fluviais, vêm a ser mais rápidos que o
aprofundamento dos principais vales, como mostrado pela comparação das curvas
**%
DFHK e CEGJ. O período 3-4 é o tempo do consumo mais rápido das superfícies o

9
altas e, portanto, se põe em forte contraste com o período 1-2, onde havia o
aprofundamento mais rápido dos vales principais. No período anterior, o relevo
C 9

estava rapidamente aumentando em valor, assim como vales íngremes foram >* 9
«
cortados abaixo das calhas iniciais. Ao longo do período 2-3, o valor máximo do 9
relevo é alcançado e a variedade da forma é grandemente aumentada pelo o 9
M
crescimento remontante dos vales. Durante o período 3-4, o relevo está diminuindo O 9
V
mais rápido -que em qualquer outro tempo, e a vertente dos lados do vale está se •a
9
o
tornando muito mais suave que antes; mas essas mudanças avançam muito mais 9
c
lentamente que aquelas do primeiro período. Do período 4 em diante, o relevo s. 9
£
o 9
| 9

144 "Õ
03
9
9
414 9
p

O ciclo geográfico

restante é gradualmente reduzido para medidas cada vez menores e as vertentes se


tornam cada vez mais brandas, de forma que, algum tempo depois do último
estágio do diagrama, a região é somente um terreno baixo ondulado, qualquer que
tenha sido sua altura original. Então lentamente as últimas alterações avançam, de
forma que a diminuição do relevo reduzido JK para metade de seu valor possa
requerer tanto tempo quanto aquele que já foi decorrido; e das vertentes mais
^ brandas que então permaneceriam, a mais remota remoção de resíduos precisaria,
de fato, ser extremamente lenta. A freqüência de inundações torrenciais e de
deslizamentos em montanhas jovens e maduras, em contraste com a tranqüilidade
dos cursos d'água lentos c do lento movimento do solo em terras baixas de
p
denudação, é suficiente para mostrar que o ritmo da denudação é uma questão de
^ interesse tanto estritamente geográfico quanto geológico.
P
Segue-se desta breve análise que um ciclo geográfico deve ser subdividido em
,#• partes de duração variável, sendo que cada uma das quais será caracterizada pela
força e pela variedade do relevo, e pelo ritmo de alteração, assim como pela
quantidade de alteração que foi realizada desde o início do ciclo. Haverá uma breve
juventude de relevo em rápido crescimento, uma maturidade de relevo mais forte e
p
maior variedade de forma, um período de transição do relevo decrescente, do mais
p
rápido para o mais lento, e uma velhice indefinidamente longa de relevo suave, na
p
qual novas mudanças são excessivamente lentas. Não há, é claro, pausas entre essas
p
subdivisões ou estágios; cada um se liga a seu sucessor, ainda que cada um seja em
9
geral distintivamente caracterizado por aspectos não encontrados em outros
P períodos.

9
O desenvolvimento de cursos conseqüentes
9
A seção anterior dá somente as linhas gerais da seqüência sistemática das
9
mudanças que tomam curso ao longo do ciclo geográfico. O esboço precisa
P Íh imediatamente ser deixado, em função de se preencherem os detalhes mais
importantes. Em primeiro lugar, não se deveria pressupor, como foi feito na Fig. 1,
c que as forças de soerguimento e deformação agem tão rapidamente que nenhuma
«*• ei
• alteração destnitiva possa ocorrer durante sua operação. A relação mais provável
na abertura de um ciclo de alteração coloca o início do soerguimento em O (Fig. 1)
e seu final em 1. A divergência das curvas OB e OA então pressupõe que certas
« partes da região afetada foram mais soerguidas que outras, e que, a partir da
.§ superfície sem relevo ao nível do mar no período O, uma superfície tendo relevo AB
seria produzida no período 1. Mas mesmo durante o soerguimento, os cursos d'água
o
.5 que se juntam nas calhas, assim que são definidos, fazem um pouco de trabalho, e
£ por conseguinte vales jovens já são entalhados nos fundos das calhas quando o
9 £

r 2 145
P
415

P
9
9
9
V/illiam M. Davis 9

período 1 é alcançado, como mostrado pela curva OA'. As terras altas também são ^
desgastadas mais ou menos durante o período de transtorno, e por conseguinte ^
nenhuma superficie inicial absolutamente inalterada deveria ser encontrada,
*•"
mesmo que por algum tempo anterior ao período 1. Em vez de olhar para divisões
9
iniciais, separando vertentes iniciais que descendem para as calhas iniciais,
9
seguidos por cursos d'água iniciais, como foi pressuposto na Fig. 1 no período de
9
soerguimento instantâneo, nós devemos sempre esperar encontrar algum avanço
maior ou menor na seqüência de alterações em desenvolvimento, mesmo nas mais
9
jovens formas de terreno conhecidas. "Inicial" é, portanto, o termo adaptado para
9
casos ideais em vez de casos reais, nos quais o termo "seqüencial" e seus derivados
serão mais apropriados. Todas as alterações que seguem diretamente a orientação 9
9
de formas iniciais ideais devem ser chamadas conseqüentes; assim, uma forma
jovem possuiria divisões conseqüentes, separando vertentes conseqüentes que
descendem para vales conseqüentes; com as calhas iniciais sendo alteradas para
vales conseqüentes até onde suas formas são modificadas pela ação da drenagem
conseqüente.
9
A gradação dos fundos de vale
Os rios maiores — em termos de ciclo — logo aprofundam seus principais
vales, uma vez que seus canais estão não mais que ligeiramente acima do nível de
base da região; mas o fundo do vale não pode ser reduzido ao nível de base
absoluto, porque o rio precisa descer até sua foz na linha da costa. A altitude de
qualquer ponto em um fundo de vale bem amadurecido deve, portanto, depender
da inclinação do rio e da distância da foz. A distância da foz deve aqui ser tratada
como uma constante, embora uma afirmação mais completa consideraria seu
aumento em conseqüência do crescimento do delta. A inclinação do rio não pode
ser menos, como os engenheiros bem sabem, que um certo mínimo que é
determinado pelo volume, pela quantidade e pela textura de detritos ou carga. O m"
0
volume pode ser temporariamente tomado como uma constante, embora se possa
9
mostrar facilmente que ele sofre importantes alterações durante o progresso de um
C
9
ciclo normal. A carga é pequena no começo, e rapidamente aumenta em to

> 9
quantidade e aspereza durante a juventude, quando a região é escavada por vales
.2* 9
.

íngremes; ela continua a aumentar em quantidade, mas provavelmente não em fl


H

aspereza, durante o início da maturidade, quando os vales ramificantes estão


3".
O
i
V

crescendo pela erosão remontante, e aumentam então a área das vertentes dos
0 i
0
"0 m
resíduos; mas após a maturidade completa, a carga continuamente diminuhcm 0
^T

^
quantidade e em aspereza de textura; e durante a idade avançada, a pequena carga 3
*""•«
0. 9
que é carregada deve ser de textura muito fina, ou então desaparecer em solução. f
£
r3
9
O
£ 9
•o
Si
õ 9
146 03

416
r
p
9

P O ciclo geor/rãíico
P
Vamos agora refletir sobre como a vertente mínima de um rio será determinada.
P
Para livrar o problema de complicações desnecessárias, vamos supor que os
P jovens rios conseqüentes têm, primeiramente, vertentes que são íngremes o
P bastante para torná-los mais do que competentes em carregar a carga que é lavada
P para dentro deles, vinda da superfície residual em ambos lados, e assim
P competentes para escavar a si mesmos abaixo do assoalho das calhas iniciais —
essa sendo a condição tacitamente postulada na Fig. 1, embora evidentemente se
difira daqueles casos nos quais a deformação produz bacias onde os lagos devem se
formar e onde a deposição (denudação negativa) deve ocorrer, e também daqueles
casos nos quais um curso de calha principal de vertente moderada é, mesmo em sua
juventude, sobrecarregada com detritos por cursos transversais ativos que descem
longas e íngremes superfícies de resíduos; mas todos esses casos mais complicados
devem ser colocados de lado no momento.

Se um jovem rio conseqüente for seguido de ponta a ponta, deve-se imaginá-


lo aprofundando seu vale em todos os lugares, exceto exatamente na foz. O
aprofundamento do vale será mais rápido em algum ponto, provavelmente mais
próximo da cabeceira do que da foz. Acima desse ponto, o rio apresentará sua
vertente aumentada; abaixo, diminuída. Vamos chamar a parte rio acima do ponto
^ de aprofundamento mais rápido de "nascentes"; e a parte rio abaixo de "baixo
f* curso" ou "tronco". Em conseqüência das mudanças assim sistematicamente
a acarretadas, o baixo curso do rio terá sua vertente e sua velocidade diminuindo, e
sua carga aumentando; isto é, sua capacidade de realizar trabalho se torna menor,
P
enquanto o trabalho que tem de fazer se torna maior. O excesso inicial da
P
capacidade sobre o trabalho será então corrigido a tempo e, quando for provocada
P
a igualdade dessas duas quantidades, o rio estará gradado3, sendo essa uma forma
simples de expressão, sugerido por Gilbert.para substituir frases mais complicadas
9
que são requeridas pelo uso do "perfil de equilíbrio" dos engenheiros franceses.
g Quando a condição de estabilidade é alcançada, a alteração na vertente pode
ocorrer somente se volume e carga mudarem a sua relação; e alterações desse tipo
são muito lentas.
P > Em uma massa terrestre de textura homogênea, a condição de estabilidade de
.2
um rio seria (em casos como os considerados acima) primeiro alcançada na foz, e
^ 1g avançaria então retrocedendo rio acima. Quando os cursos principais estiverem
O estabilizados, o início da maturidade é alcançado; quando as nascentes menores e
os cursos transversais também estiverem estabilizados, a maturidade está bem
'3 avançada; e quando mesmo os riachos de tempo úmido estiverem estabilizados, a
P 1
g
Í3 2 Tradução livre do termo original graded. compreendido no lexto como estabilizado, estável.
O
P S
V
I 147
P
P
p
417
m
9
9
9
V/illiam M. Davis *»i

velhice é alcançada. Em uma massa terrestre de textura heterogênea, os rios serão ^


divididos em seções por cinturões de rochas mais fortes e mais fracas que eles
9
cruzam; cada seção de rochas mais fracas será em um determinado tempo
9
estabilizada, com referência à seção de rochas mais duras na seqüência rio abaixo,
9
e assim o rio virá a consistir em calmos riachos alternantes e rápidas corredeiras e
g
cachoeiras. As menos resistentes das rochas mais duras serão lentamente
9
desgastadas, em relação àquelas mais resistentes que estão mais abaixo nos riachos;
9
então as corredeiras diminuirão em número, e somente aquelas nas rochas mais
9
fortes sobreviverão. Mesmo estas deverão desaparecer com o tempo, e a condição
de estabilidade será então estendida da foz à cabeceira. A vertente que é adotada 9
quando a gradação é pressuposta varia inversamente com o volume; por 9
9
conseguinte, os rios conservam nascentes íngremes muito depois do seu baixo curso
ser desgastado em quase todo o nível; mas na velhice, mesmo as nascentes deverão
ter declividade suave e velocidade moderada, livres de todas os aspectos
torrenciais. O assim chamado "rio normal", com nascentes volumosas e baixo e
médio cursos bem estabilizados, é ponanto um rio maturamente desenvolvido. Um
rio jovem pode normalmente ter cachoeiras mesmo no seu baixo curso, e um rio
velho deve ser livre de movimentos rápidos mesmo próximo à sua cabeceira.

9
Se um curso conseqüente inicial é por qualquer razão incompetente em levar
embora a carga que é trazida dentro dele, ele não pode degradar seu canal, mas
deve, pelo contrário, agradá-lo (para usar um termo excelente sugerido por
.Salisbury)- Tal rio então deposita a parte mais áspera da carga oferecida, assim
formando uma ampla várzea, desenvolvendo seu fundo de vale, e deixando sua
9
vertente mais íngreme até que ganhe velocidade suficiente para realizar o trabalho
9
requerido. Nesse caso, a condição de estabilidade é alcançada pelo preenchimento
9
da calha inicial, em vez de interrompê-la. Onde as bacias ocorrem, lagos
9
conseqüentes se desenvolvem ao nível do escoadouro no ponto mais baixo da
9
borda. Àmedida que o escoadouro é interrompido, forma-se um nível de base local ^
que afunda com relação àquele no qual a bacia é agradada; e à medida que o lago é 9
c
então destruído, forma-se um nível de base local que abaixa com relação àquele no to
qual os cursos tributários estabilizam seus vales; como no caso das corredeiras e >-
•2 m
cachoeiras, os níveis de base locais dos escoadouros e lagos são temporários, e «
perdem seu controle quando as principais linhas de drenagem são estabilizadas o
com relação ao nível de base absoluto no início ou no final da maturidade. ü

Odesenvolvimento de redes fluviais |


Várias classes de cursos transversais devem ser reconhecidas. Algumas delas ?•
g
u
*

9
Cl

148 õ

9
4IS **
9

P
P O ciclo geográfico
P
são definidas por leves depressões iniciais nas vertentes transversais das principais
calhas dos rios: estas formam conseqüentes laterais ou secundários, ramificando de
um conseqüente principal; eles geralmente correm na direção da depressão dos
estratos. Outros são desenvolvidos pela erosão remontante, sob a orientação de
fracas subestruturas que foram assentadas nas paredes de vale de cursos
conseqüentes; eles seguem o ataque dos estratos, e são inteiramente independentes
da forma da superfície inicial; eles devem ser chamados subsequentes, esse termo
^ tendo sido usado por Jukes ao descrever o desenvolvimento de tais cursos. Ainda
outros crescem aqui e ali, ao que tudo indica por acidente, aparentemente
independentes de orientação sistemática; eles são comuns em estruturas horizontais
p
ou massivas. Enquanto se espera aprender qual pode ser seu controle, a sua
independência de controle aparente pode ser indicada chamando-os de
"insequentes". Classes adicionais de cursos são bem conhecidas, mas não podem ser
p descritas aqui pela falta de espaço.
p

Relação da capacidade do rio e de carga


p
À medida que a dissecação de uma massa terrestre prossegue com o
9
desenvolvimento mais completo de seus cursos conseqüentes, subsequentes e
P
insequentes, a área dos lados íngremes dos vales aumenta muito da juventude para
9
a maturidade inicial ou completa. O resíduo que é deixado pelos rios transversais
P
para o curso principal vem principalmente dos lados do vale, e por conseguinte sua
9
quantidade aumenta com o aumento da dissecação forte, alcançando o máximo
quando a formação de novas ramificações cessa, ou quando a diminuição no
9
declive dos lados do vale em desgaste vem para equilibrar seu aumento da área. É
interessante notar, nessa conexão, as conseqüências que seguem de duas
conirastadas relações cronológicas para o descarregamento máximo de resíduo, e
daquela para a gradação dos cursos das ramificações. Se o primeiro não é mais
M- tardio que o segundo, os rios estabilizados lentamente assumirão vertentes mais
° suaves à medida que sua carga diminui; mas à medida que a alteração no
;> descarregamento de resíduo é quase infinitesimal, comparada à quantidade
to" descarregada a qualquer tempo, os rios essencialmente preservarão a sua condição
- de estabilidade, apesar do pequeno excesso de capacidade sobre trabalho. Por outro
% lado, se o máximo de carga não é alcançado até depois da primeira obtenção da
P
o condição de estabilidade pelos cursos das ramificações, então os fundos de vale
P
l, serão agradados pela deposição de uma parte da carga crescente, e assim uma
P
vertente mais íngreme e uma maior velocidade serão obtidas, até que o restante do
P
g aumento possa ser suportado. O fundo do vale em V, previamente esculpido, é
P p assim lentamente preenchido com uma planície de inundação de cascalho, a qual

l 149
r
419

P
Wilfiam M. Davis

9
continua a aumentar até o período de carga máxima ser alcançado, depois do qual
entra na lenta degradação apresentada acima. O início da maturidade deve,
portanto, assistir a um leve assoreamento dos vales principais, em vez de um leve **,
aprofundamento (indicado pela linha pontilhada CE na Fig. 1); mas o final da
9
maturidade e toda a velhice serão normalmente ocupados pela lenta continuação
9
da erosão do vale, que se iniciou tão vigorosamente durante a juventude.
9

O desenvolvimento dos divisores


9
Não há processo mais bonito a ser encontrado no avanço sistemático de um
9
ciclo geográfico do que a definição, a subdivisão e o rearranjo dos divisores
9
(divisores de águas) pelos quais as bacias de drenagem maiores e menores são
9
separadas. As forças do caos e da deformação da crosta agem de um modo muito
9
mais amplo que os processos de escultura do terreno; por conseguinte, na abertura
9
de um ciclo poderia se esperar encontrar um número moderado de bacias fluviais
grandes, um tanto indefinidamente separadas nos cumes planos de largas 9
ondulações ou arcos da superfície do terreno, ou ocasionalmente mais claramente 9
limitadas pelas bordas levantadas de blocos falhados. A ação dos cursos 9
conseqüentes laterais sozinha esculpiria, durante a juventude e o início da 9

maturidade, todos os divisores iniciais vagos em divisores conseqüentes bem 9


definidos, e a ação posterior dos cursos subsequentes e insequentes dividiria muitas
vertentes de drenagem conseqüentes em bacias de drenagem subordinadas,
separadas por divisores ou insequentes ou subsequentes. À medida que os vales
subsequentes são erodidos por seus cursos consumidos ao longo de cinturões
estruturais frágeis, os divisores subsequentes ou cumes permanecem onde se
mantêm os cinturões estruturais fortes. Por mais imperfeita que a divisão das áreas
de drenagem e descarga da precipitação possa ter sido no começo da juventude,
ambas são bem desenvolvidas até o tempo da maturidade completa ser alcançada.
Na verdade, a descarga de precipitação mais imediata que pode ser esperada para ^
resultar do desenvolvimento de um sistema elaborado de divisores e de vertentes °
~
de divisores até os cursos causaria uma crescente porcentagem de escoamento; e é
possível que o aumento do volume fluvial então acarretado da juventude à to'
maturidade possa, mais ou menos inteiramente, contrapor-se à tendência de fl-
aumento da carga do rio para causar a agradação. Mas, por outro lado, assim que g
as terras altas começam a perder altura, a precipitação deve diminuir; pois é sabido g
ü
que a obstrução do movimento do vento causada por montanhas é uma causa 0)
"O
efetiva da^precipitação. Enquanto é um grande exagero sustentar que as geleiras o
dos Alpes quaternários causaram sua própria destruição, por reduzir a altura das §
montanhas sobre as quais sua neve estava acumulada, é perfeitamente lógico p
U

150 Õ
-8

9
420

9
p
p

p
r O cic/o geográfico

p
deduzir uma diminuição da precipitação como um acompanhamento da perda da
9 altura da juventude até a velhice de uma massa terrestre. Assim, muitos fatores
p devem ser considerados antes que a história de vida de um rio possa ser
9 inteiramente analisada.

r O crescimento dos cursos subsequentes e áreas de drenagem deve ser à custa


p dos cursos conseqüentes originais e das áreas de drenagem conseqüentes. Todas as
p alterações desse tipo são promovidas pela ocorrência de camadas de rocha
- inclinadas em vez de horizontais e, dessa forma, são de ocorrência comum em
regiões montanhosas, mas raras em planícies estritamente horizontais. As
alterações são também favorecidas pela ocorrência de fortes contrastes nas
p resistências dos estratos adjacentes. Em conseqüência da migração dos divisores
9 então causada, muitos cursos vêm a seguir vales que são desgastados ao longo de
p cinturões de estratos frágeis, enquanto os divisores vêm a ocupar os cumes que se
situam ao longo dos cinturões de estratos mais fortes; em outras palavras, a simples
p
drenagem conseqüente da juventude é modificada pelo desenvolvimento de linhas
p
de drenagem subsequentes, para provocar um crescente ajuste de cursos para
p
estruturas, característico do estágio maduro do ciclo geográfico. Não apenas isso:
*~
ajustes desse tipo formam uma das mais fortes, ainda que uma das últimas, provas
p
da erosão dos vales pelos cursos que os ocupam, e da ação contínua no passado dos
lentos processos de intemperismo e movimentação de resíduos que estão em
p
operação hoje.
p
p
Figura 2

p
p
2
p a
ÉS
•-;
>'
p
p

%
P
1

P
P
151
P I
P

P 421
9
VAIIiam M. Davis

Não há nada mais significativo do avanço no desenvolvimento do ciclo


geográfico que as alterações então acarretadas. Os processos aqui envolvidos são ,&
complicados demais para serem apresentados em detalhes, mas eles podem ser
9
rapidamente ilustrados ao tomar-se a drenagem como um arco denudado,
9
sugerindo as montanhas do Jura como um exemplo. AB, Fig. 2, é um curso
9
conseqüente longitudinal principal seguindo uma calha cujo assoalho foi um tanto
agradado pelos resíduos ativamente supridos pelos conseqüentes laterais, CD, LO,
EF etc. Em um estágio inicial da denudação, antes da rígida camada exterior ser
desgastada a partir da coroa do arco da montanha, todos os conseqüentes laterais 9
se originavam na linha do cume da montanha. Mas, orientados por um substrato 9

frágil, os cursos subconsequentes TR e MS se desenvolveram como ramificações de 9


certos conseqüentes laterais, EF e LO, e então a rígida camada exterior foi escavada 9
e parcialmente removida, e muitos pequenos conseqüentes laterais foram 9
decapitados. Hoje, muitos dos laterais, como JK, têm sua fonte no cume do pico
lateral VJQ, e as nascentes, tais como GH, que uma vez pertenceram a eles, são
agora desviadas por cursos subsequentes para aumentar o volume de laterais bem-
sucedidos, como EF. Com alterações similares tendo ocorrido na vertente mais
distante do arco da montanha, nós agora encontramos o divisor conseqüente
original do cume do arco suplementado pelos divisores subsequentes formados
pelos picos laterais. Uma série de cursos curtos, como JH, pertencendo a uma classe
não mencionada acima, desce pela face interna dos picos laterais para um curso
subsequente, RT. Esses cursos curtos têm uma direção oposta àquela dos
conseqüentes originais, e devem portanto serem chamados obsequentes. Como a
denudação progride, a borda do cume lateral será desgastada mais longe do cume 9
do arco; em outras palavras, o divisor subsequente migrará na direção do vale
***
principal, então um comprimento maior será obtido pelas nascentes conseqüentes
desviadas, GH, e um volume maior pelas subsequentes, SM e RT. Durante essas
9
alterações, a desigualdade que deve naturalmente prevalecer entre conseqüentes
to
adjacentes bem sucedidos, EF e LO, finalmente permitirá ao curso subsequente RT, o
c\:

do conseqüente maior EF, capturar as nascentes, LM e SM, do conseqüente menor,


LO. Na maturidade avançada, as nascentes de muitos conseqüentes laterais podem to"
se desviar para aumentar o volume de EF, para que o conseqüente longitudinal >
principal acima do ponto F possa ser reduzido a um volume relativamente pequeno. ^2 A
>•« ^k
Cr.
O
£ a
O desenvolvimento dos meandros fluviais O
<u
•a .-»,
Tem-se pressuposto, até agora, que os rios cortam seus canais verticalmente *• d
para baixo, mas isso está longe de ser uma verdade completa. Cada virada no curso g
de um jovem riacho conseqüente faz as correntes mais fortes pressionarem na §•
Ô
I 9
152 I
C3

9
9
422
p
p
p
O ciclo geográfico

direção do banco externo, e cada curva irregular, ou talvez subangular, é então


arredondada para uma Curva relativamente suave. O rio, portanto, tende a se
separar do seu caminho inicial irregular (quadro do fundo da Fig. 3) na direção de
um curso meandrante, no qual oscila para a direita e para a esquerda sobre um
cinturão mais amplo do que no começo. Àmedida que o rio corta para baixo e para
fora ao mesmo tempo, as vertentes do vale tornam-se assimétricas (bloco do meio
da Fig. 3), sendo mais íngremes na direção do lado em que a corrente é estimulada
^ pela força centrífuga. O lado mais íngreme do vale então obtém a forma de um
meio anfiteatro, no qual um lado de inclinação mais suave entra como um esporão
^ das terras altas opostas. Quando a condição de estabilidade é atingida pelo curso, o
corte para baixo praticamente cessa, mas o corte para fora continua; uma planície
9
de inundação é então formada, à medida que o canal é retirado do lado suavemente
r
inclinado do vale (bloco da frente da Fig. 3). Planícies de inundação desse tipo são
*~
facilmente distinguidas nos seus estágios iniciais daquelas já mencionadas
9
(formadas pela agradação de cursos planos de jovens rios incompetentes, ou pela
p
agradação de vales estabilizados de rios com sobrecarga no início da maturidade);
pois estes ocorrem em áreas isoladas de forma semicircular, primeiro em um lado,
p depois no outro lado do curso, e sempre sistematicamente colocados aos pés dos
p esporões de inclinação mais suave. Mas, à medida que o tempo passa, o rio colide
com o lado a montante, retira do lado a jusante de cada ramal, e assim os ramais
são gradualmente consumidos; eles são primeiramente apontados, para se observar
melhor seu nome; são em seguida reduzidos a curtas extremidades; depois são
desgastados para saliências retas; e, finalmente, são inteiramente consumidos e o
rio vagueia livremente sobre sua planície de inundação aberta, ocasionalmente
oscilando entre os lados do vale, ora aqui, ora lá. A essa altura, as curvas da
juventude são alteradas para meandros sistemáticos, de raio apropriado para o
volume do rio; e por todo o resto de uma vida tranqüila, o rio persiste no hábito do
fluxo meandrante. Quanto menos a vertente da planície de inundação se torna de
ro idade avançada, maior o arco de cada meandro, e por conseguinte mais longo o
curso do rio de qualquer ponto até a sua foz. O aumento do comprimento deste
p l deve causar a diminuição da queda, e então deixar o rio menos competente do que
p
•f era antes; e o resultado dessa tendência será retardar o já lento processo pelo qual
uma planície de inundação de leve inclinação é degradada para aproximar a
P li coincidência em um nível de superfície; mas não é provável que rios velhos
r § freqüentemente permaneçam sem perturbações o suficiente para a realização
r . -s completa dessas condições teóricas.

* I
r i
I
r
& 153
r

423
IVfflCa*"! M. Davis

Figura 3

A migração dos divisores deve, de vez em quando, resultar em um aumento


rápido no volume de um rio e em uma diminuição correspondentemente rápida de
outro. Após tais alterações, a acomodação para o volume alterado deve ser feita nos
meandros de cada rio afetado. Aquele que for aumentado exigirá dimensões
maiores; ele normalmente adotará uma vertente mais suave, assim terraceando sua
planície de inundação, e demandará uma liberdade maior de mudança de direção,
assim alargando seu vale. Aquele que for diminuído terá que estar satisfeito com
dimensões pequenas; ele vagueará sem rumo cm meandros relativamente
minúsculos na sua planície de inundação e, a partir do aumento do comprimento,
assim como da perda do volume, tornar-se-á incompetente para transportar a carga
trazida pelos cursos transversais e, assim, sua planície de inundação deverá ser
agradada. Existem bonitos exemplos conhecidos de ambas as condições peculiares.

O desenvolvimento dos lados de vale estabilizados

Quando a migração dos divisores cessa, na maturidade avançada, e os fundos


de vale dos cursos ajustados estão bem estabilizados, mesmo distantes das
nascentes, ainda há de se completar uma outra e talvez ainda mais importante to.
O
seqüência de mudanças sistemáticas que qualquer outra até aqui descrita: o CM

desenvolvimento de vertentes de resíduo estabilizadas nos lados dos vales. Afirma-


se sucintamente que os vales são erodidos por seus rios; ainda há uma vasta to

>'
quantidade de trabalho realizado na erosão dos vales na qual os rios não
participam. É verdade que os rios aprofundam os vales na juventude, e alargam os
fundos de vale durante a maturidade e a velhice de um ciclo, e que eles carregam a
u
O
para o mar o resíduo denudado da terra; é esse trabalho de transporte para o mar Cl
•o
que é peculiarmente a função dos rios; mas o material a ser transportado é suprido
principalmente pela ação do tempo atmosférico nas vertentes conseqüentes mais
íngremes e nos lados dos vales. O transporte do material intemperizado da sua
1IX

E
O

*5
154

424
P
P
P O ciclo geográfico
P
fonte para o curso no fundo do vale é o trabalho de vários processos de ação lenta,
tais como a movimentação dos resíduos da superfície pela chuva, a ação da água
subterrânea, alterações de temperatura, congelamento e aquecimento,
desintegração química e hidratação, o crescimento das raízes das plantas, as
atividades de animais de toca. Todos esses fazem o resíduo da rocha intemperizada
ser levado e arrastado lentamente morro abaixo, e no movimento que assim
fr» persiste há muito de análogo ao fluxo de um rio. De fato, quando considerado de
,—• forma muito ampla e geral, um rio é visto como uma mistura em movimento de
água e resíduos em proporções variáveis, mas principalmente de resíduos. Embora
o rio e o lençol de resíduos ao lado do morro não se assemelhem entre si em uma
p
primeira vista, eles são somente os membros extremos de uma série contínua; e
p
quando essa generalização é apreciada, deve-se estender o "rio" a toda a sua bacia
até seus divisores. Normalmente tratado, o rio é como os veios de uma folha;
P
amplamente visto, é como a folha inteira. A veracidade dessa comparação pode ser
mais inteiramente aceita quando a analogia, na verdade, a homologia, de lençóis de
P resíduo e cursos d'âgua é demonstrada.
P
Em primeiro lugar, um lençol de resíduo se move mais rápido na superfície e
mais devagar no fundo, como um curso d'água. Um lençol de resíduo estabilizado
P
pode ser definido em termos exatos aplicados a um curso d'água estabilizado; é
aquele no qual a capacidade das forças de transporte de realizar trabalho é igual ao
P
trabalho que elas têm que fazer. Essa é a condição que se obtém naqueles lados de
montanha uniformemente inclinados, os quais foram reduzidos para uma vertente
que os engenheiros chamam de "ângulo de repouso", por causa da condição
P aparentemente estacionaria do resíduo arrastado; mas aquela deveria se chamar, do
P ponto de vista fisiográfico, "ângulo da primeira gradação desenvolvida". Os
penhascos e saliências rochosas que freqüentemente estão no topo de vertentes
estabilizadas ainda não estão estabilizados; o resíduo é removido deles mais rápido
to do que é suprido pelo intemperismo local e pelo arraste de vertentes ainda maiores,
ro e por conseguinte os penhascos e saliências são deixados quase denudados; eles
g correspondem às cachoeiras e corredeiras nos cursos d'água, onde a corrente é tão
rápida que sua seção transversal é muito reduzida. Uma depressão em uma vertente
>
„,- inicial será preenchida até o ângulo de gradação pelo resíduo vindo de cima; o
resíduo se acumulará até que alcance o ponto mais baixo na borda da depressão, e
g então a saída de resíduos equilibrará a entrada; e aqui está o homólogo evidente de
O
um lago.
P -s
.£ Em segundo lugar, deve-se entender, a partir do que já foi dito, que os rios
5 normalmente estabilizam seus vales retrogressivamente, da foz à montante, e que
pequenos cursos transversais não podem ser estabilizados até que o curso principal
9 g

* i 155
r

425
Willtam M Davis

seja estabilizado. Também assim ocorre com os lençóis de resíduo; eles


normalmente começam a estabelecer uma condição de estabilidade na sua base, e
então ampliam a vertente do lado do vale cujo resíduo é "drenado" por ele. Quando
massas rochosas de resistência variada são expostas no lado do vale, cada uma das
mais frágeis é estabilizada em relação àquela mais forte na seqüência rio abaixo; e
as menos resistentes das mais fortes são estabilizadas em relação às mais resistentes
(ou em relação à base do morro): isso é perfeitamente comparável ao
desenvolvimento de trechos estabilizados e à extinção de quedas dágua e
corredeiras nos rios. As saliências permanecem não estabilizadas no cume dos picos
e na frente convexa dos esporões dos morros bem depois da condição de
estabilidade ser alcançada nos canais dos cursos de tempo úmido nas ravinas entre
os esporões; isso se corresponde bem com a lenta obtenção de gradação em cursos
transversais pequenos, mais do que em grandes rios. Mas à medida que a
maturidade avançada passa para a velhice, mesmo as saliências nos cumes dos
picos e na frente dos esporões desaparecem, sendo todas ocultas em um lençol
universal de resíduo lentamente arrastado. De qualquer ponto em tal superfície,
uma vertente estabilizada carrega abaixo o resíduo para os cursos. Em qualquer
ponto, os agentes de remoção só conseguem lidar com o resíduo que é ali
intemperizado mais aquele que se origina mais longe morro acima. Essa magnífica
condição é alcançada em certas montanhas bem denudadas, agora retraídas de seu
vigor maduro para perfis arredondados de velhice incipiente. Quando o significado
completo de sua estabilização é apreendido, ele constitui um dos mais fortes
argumentos possíveis para a escultura dos terrenos pelos lentos processos de
intemperismo, por muito tempo continuados. Contemplar uma paisagem desse tipo
sem qualquer reconhecimento do trabalho dispendido para produzi-la, ou dos
extraordinários ajustes dos cursos para as estruturas, e dos resíduos para o tempo
atmosférico, é como visitar Roma na crença ignorante de que os romanos de hoje
não tiveram ancestrais.

Como os rios estabilizados lentamente degradam seus cursos após o período


§
cm
de carga máxima passar, os lençóis de resíduo estabilizados adotam vertentes cada
vez mais suaves, quando as saliências superiores são consumidas e o resíduo áspero •*»
não é mais plenamente levado para os lados do vale abaixo. Um ajuste variante de rJ-
um tipo mais delicado é aqui descoberto. Quando as vertentes estabilizadas são 2
D)
desenvolvidas pela primeira vez, elas são íngremes e o resíduo que as cobre é
áspero e de espessura moderada; aqui os fortes agentes de remoção têm tudo o que w
s * *"
podem fazer para descartar o suprimento abundante de resíduos ásperos o
proveniente das fortes saliências acima, e o suprimento menos abundante de
resíduos que é intemperizado das rochas mais frágeis abaixo da fina cobertura de
u

£
o

156 o

426
p
p
p

O ciclo geográfico
P
detritos. Em um estágio mais avançado do ciclo, as vertentes estabilizadas são
moderadas, e o resíduo que as cobre é de textura mais fina e de profundidade
maior do que antes; aqui os agentes de remoção enfraquecidos são favorecidos pelo
intemperismo mais lento das rochas abaixo da espessa cobertura de resíduos, e pelo
maior refino (redução para textura mais fina) dos resíduos soltos durante sua longa
jornada. Na velhice, quando todas as vertentes são muito suaves, os agentes de
remoção de resíduos devem ser fracos por toda parte, e sua igualdade com os
processos de suprimento de resíduos pode ser mantida somente pela redução deste
último para valores muito baixos. O lençol de resíduos então assume uma grande
espessura — de até mesmo 50 ou 100 pés — para que o progresso do intemperismo
9
seja quase nulo; ao mesmo tempo, o resíduo da superfície é reduzido a uma textura
P
extremamente fina, para que algumas de suas partículas possam ser movidas
P
mesmo em inclinações leves. Por conseguinte, a ocorrência de solos profundos é a
característica essencial da velhice, assim como a ocorrência de saliências desnudas
P
é a da juventude. As relações aqui obtidas são tão significantes quanto aquelas que
levaram Playfair a sua famosa afirmação em relação à origem dos vales pelos rios
r que os drenam.

p Velhice
p
A maturidade passou e a velhice se inicia plenamente quando os topos e
p lados dos morros, assim como os fundos de vale, estão estabilizados. Nenhuma
p característica nova é agora desenvolvida, e aquelas que foram desenvolvidas
9
anteriormente estão enfraquecidas ou mesmo se foram. A busca por estruturas
p frágeis e o estabelecimento de vales ao longo delas já foram completamente
p cumpridos; agora os cursos maiores meandram livremente em vales abertos e
m começam a se afastar dos ajustes da maturidade. Os cursos ativos do tempo de
maior relevo agora perdem suas ramificações principais, pela precipitação que é
to' diminuída pela destruição das terras altas, e pelo escoamento da água da chuva que
° é retardado pelas vertentes planas e pelos solos profundos. A paisagem é
• lentamente domada de sua força anterior, e apresenta somente uma sucessão de
to' ondulações suaves alternadas com vales rasos, uma superfície por toda parte aberta
rt- à ocupação. À medida que o tempo passa, o relevo se toma cada vez menor;
« qualquer soerguimento da juventude, qualquer desordem ou dureza das rochas,
«s uma planície quase descaracterizada (um peneplano) mostrando pouca simpatia
O
ra, com a estrutura, e controlada somente por uma estreita aproximação com o nivel
•o
de base, devem caracterizar o penúltimo estágio do ciclo ininterrupto; e o último
P
estágio seria uma planície sem relevo.
P
Alguns observadores têm duvidado se mesmo o penúltimo estágio é em

* 1
03 157

427
9
- 9
9
wmiamM.Da.vis 9
9
algum momento alcançado, dado que freqüentemente os movimentos na crosta
terrestre causam alterações na sua posição em relação ao nível de base. Mas, por
" outro lado, existem certas regiões de estrutura altamente desordenada, cujo relevo ^
pequeno e cujos solos profundos não podem ser explicados sem se supor que eles,
9
na realidade, passaram por todos os estágios acima descritos — e sem dúvida
9
muitos mais, se a verdade completa fosse dita — antes de alcançar o penúltimo,
9
cujas características eles podem comprovar. Apesar das enormes perturbações que
tais regiões sofreram em períodos geológicos passados, elas depois ficaram paradas
9
por tanto tempo, tão pacientemente, a serem desgastadas para peneplanos sobre
9
9
grandes áreas, apenas eventualmente mostrando relevos residuais nos quais as
rochas mais resistentes ainda permaneciam acima do nível geral. Assim é 9
encontrada verificação tanto para o penúltimo bem como para muitos estágios 9
anteriores do ciclo ideal. De fato, embora o esquema do ciclo seja aqui apresentado 9
somente de forma teórica, o progresso das alterações do desenvolvimento através
do ciclo foi testado inúmeras vezes para muitas estnituras e vários estágios; e ao
reconhecer as numerosas concordâncias que são descobertas quando as
conseqüências da teoria são confrontadas com os fatos de observação, deve-se
sentir uma crescente crença na veracidade e no valor da teoria, que leva a
resultados tão satisfatórios.

É necessário repetir o que já foi dito para a aplicação prática dos princípios
do ciclo geográfico. Seu valor para o geógrafo não é simplesmente uma explicação
dada para as formas de terreno; seu maior valor está em permitir a ele ver o que
olha e dizer o que vê. Seus padrões de comparação, pelos quais os desconhecidos
são comparados aos conhecidos, são grandemente aumentados ao longo da curta
lista incluída na terminologia de seus dias de escola. Características significantes
são conscientemente buscadas; a exploração se torna mais sistemática e menos
casual. "Uma região montanhosa" do viajante despreparado se toma (se ela
realmente é) "um terreno alto maturamente dissecado" na linguagem de um to
viajante preparado; e o leitor de viagens, em casa, ganha muito com a mudança. cm
"Uma região montanhosa" não traz um quadro definido aos olhos mentais. "Um g
terreno alto maturamente dissecado" sugere uma associação sistemática de
> 9
características bem definidas; todos os cursos em estabilidade, exceto as pequenas ^
9
nascentes; os rios maiores já meandrando sobre os fundos de vale nas planícies de 2
inundação; os braços superiores ramificando entre esporões e morros, cujos flancos g
O
mostram um bom começo de vertentes estabilizadas; as rochas mais resistentes <u
ainda aflorando nas saliências não estabilizadas, cujo arranjo sugere a estrutura da N o
região. O valor prático deste tipo de estudo teórico parece ser para mim tão grande c
"o. ^
que, entre várias linhas de trabalho que possam ser encorajadas pelos Conselhos g
Ô 9
| 9
-o 9
158

9
428
p
9

O ciclo geográfico

P
das grandes Sociedades Geográficas, eu creio não haver nenhuma que traria maior
recompensa que o incentivo a alguns métodos, como é aqui delineado, para a
investigação sistemática das formas de terreno.

P Alguns geógrafos insistem que é perigoso usar a terminologia teórica ou


9 explanatória envolvida na aplicação prática dos princípios do ciclo geográfico;
erros podem ser cometidos, e prejuízos seriam assim causados. Há várias respostas
suficientes para essa objeção. Uma resposta muito prática é aquela sugerida por
Penck, segundo o qual uma terminologia tripla deveria ser concebida — um grupo
de termos sendo puramente empírico, como "alto", "baixo", "penhasco",
"desfiladeiro", "lago", "ilha"; um outro grupo sendo baseado em relações
estruturais, como "cume monoclinal", "vale transversal", "mesa coberta por lava"; e
o terceiro sendo reservado para relações explanalórias, como "dissecação madura",
"ajuste de drenagem", "vertentes estabilizadas". Uma outra resposta é que a
terminologia explanatória não é exatamente uma novidade, mas somente uma
tentativa de dar uma expansão sistemática e completa para um começo bastante
tímido já realizado; uma duna de areia não é simplesmente um pequeno morro de
9
areia, mas um pequeno morro amontoado pelo vento; um delta não é simplesmente
9
uma planície na foz de um rio, mas uma planície formada pela ação do rio; um
vulcão não é simplesmente uma montanha de forma um pouco cònica, mas uma
montanha formada pela erupção. Trata-se fundamentalmente de uma questão de
P
experiência e temperamento, na qual o geógrafo deixa de aplicar termos desse tipo.
P
Mas há pouco mais de meio século, a erosão dos vales pelos rios ou era duvidosa ou
P
não pensada pelo geógrafo prático; hoje, o ajuste maduro dos rios para estruturas
P está na mesma posição; e aqui está a terceira, e a meu ver a mais importante,
P resposta para aqueles conservadores que manteriam uma posição empírica para a
geografia, em vez de seguir na direção da geografia..explanatória e racional do
futuro. Não se pode duvidar, em vista do que já se aprendeu hoje, que um
to tratamento essencialmente explanatório deva, no próximo século, ser adotado em
cm todos os ramos do estudo geográfico; é a hora certa para que um início enérgico
g seja feito na direção de um fim tão desejável.
9 m
w- Interrupções do ciclo ideal

g, Uma das primeiras objeções que podem ser levantadas contra a terminologia
« baseada na seqüência de alterações ao longo do ciclo ininterrupto ideal é a de que
****^ .3. tal terminologia tem pouca aplicação prática em uma Terra cuja crosta tem o
J! hábito de levantar e afundar freqüentemente durante a passagem do tempo
.5 geológico. Para isso pode ser respondido que, se o esquema de ciclo geográfico era
S tão rígido para ser incapaz de se acomodar por si só à condição real da crosta

;J 5I 159
P

429
9
9
9

William M. Davis

terrestre, ele certamente teria de ser abandonado como abstração teórica; mas esse
não é de forma alguma o caso. Tendo traçado a seqüência normal de eventos
através de um ciclo ideal, nossa próxima tarefa é considerar os efeitos de quaisquer
9
ou todos os tipos de movimentos da massa terrestre em relação a seu nível de base.
9
Tais movimentos devem ser imaginados como pequenos ou grandes, simples ou
9
complexos, raros ou freqüentes, graduais ou rápidos, prematuros ou tardios.
9
Qualquer que seja sua característica, eles serão chamados "interrupções", porque
9
determinam uma quebra mais ou menos completa no processo previamente em
0
operação, ao iniciar uma nova série de processos em relação ao novo nível de base.
A qualquer hora que as interrupções acontecerem, as condições preexistentes que 9
elas interrompem podem ser compreendidas somente após lerem sido analisadas 9

em concordância com os princípios do ciclo, e aqui dentro está uma das aplicações 9

mais práticas do que a princípio parece remotamente teórico. Uma massa terrestre, 9
soerguida para uma altitude maior do que a que tinha antes, é imediata e
intensamente atacada pelos processos denudantes no novo ciclo então iniciado; mas
as formas nas quais o novo ataque é feito podem somente ser compreendidas ao se
considerar o que tinha sido realizado no ciclo precedente a essa interrupção. Será
possível aqui considerar somente um ou dois exemplos específicos entre a
infinidade de interrupções que se pode imaginar.

Vamos supor que uma massa terrestre maturamente dissecada seja


uniformemente soerguida 500 pés sobre sua posição anterior. Todos os cursos
estabilizados são dessa forma reativados para novas atividades, e progridem para
escavar seus fundos de vale para desenvolver cursos estabilizados em relação ao
novo nível de base. Os cursos maiores mostram primeiro os efeitos da alteração; os
cursos menores seguem' o exemplo, tão rápido quanto possível. Quedas d'água
reaparecem por um tempo nos canais cios rios, e depois são novamente desgastadas.
Os ajustes dos cursos para estruturas são levados mais adiante no segundo esforço *
do novo ciclo, em relação ao que era possível no esforço único do ciclo anterior. tõ
Lados de morros estabilizados são subcortados; o resíduo é levado e arrastado para cm
baixo, deixando uma longa vertente plana de rocha nua; a vertente rochosa é ^
cortada pelo intemperismo em uma face desigual até, por fim, uma vertente M"
>'
estabilizada ser desenvolvida. Penhascos que haviam sido extintos nos lados de „j
'•£3 9
morros estabilizados no ciclo anterior são, assim, por um tempo trazidos à vida 2
&>
novamente, como as cachoeiras nos rios, para desaparecerem no final da g
maturidade do novo ciclo. o

A combinação de fatores topográficos pertencendo a dois ciclos pode ser


0
.s
*"
chamada de "topografia composta", e muitos exemplos poderiam ser citados para •£
ilustrar essa interessante associação. Em cada caso, a descrição é feita concisa e 2
O

1 •
160 03
<**

*
430
p
p
p
p O ciclo geográfico
r
efetivamente ao se empregar uma terminologia derivada do esquema do ciclo. Por
exemplo, a Normandia é um peneplano soerguido, dificilmente ainda no estágio
maduro de seu novo ciclo; assim afirmado, a explicação é concisamente dada ao
curso meandrante do vale bastante estreito do Sena, por esse rio ter carregado, em
seus estágios iniciais do novo ciclo, o hábito de se mover em fortes meandros, que
tinha aprendido nos últimos estágios ciclo anterior.

Se o soerguimento de uma região dissecada for acompanhado de suave


inclinação, então todos os cursos d'água e de resíduos cujas vertentes são
aumentadas serão reativados para uma nova atividade; enquanto todos aqueles
cujas vertentes são diminuídas se tornarão menos ativos. Os divisores migrarão
para as bacias de cursos menos ativos, e os cursos reativados ganharão
comprimento e área de drenagem. Se o soerguimento se der na forma de um arco,
^ alguns dos cursos mais frágeis cujas direções de curso são para o outro lado do eixo
p* do arco podem ser, por assim dizer, "quebrados ao meio"; uma direção reversa do
fluxo pode então ser dada a parte do curso quebrado; mas os rios mais fortes
podem perseverar ainda através do arco que se levanta, apesar de seu
r
soerguimento, cortando seus canais rápido o bastante para manter sua direção de
p
fluxo inalterada; e tais rios são conhecidos como "antecedentes".
p
As alterações introduzidas por uma interrupção envolvendo depressão são
facilmente deduzidas. Entre suas características mais interessantes está a invasão

dos fundos de vale mais baixos pelo mar, assim "afogando" os vales para uma certa
a profundidade, e convertendo-os em baías. Os movimentos que tendem a produzir
depressões em forma de calha ao longo do curso de um rio normalmente originam
P
um lago de água ou de resíduos na parte deprimida do vale do rio. Em cordilheiras,
as interrupções variadas e freqüentes ocorrem durante o longo período de
P
deformação; os Alpes apresentam tantas internipções recentes que um estudante lá
P
encontraria pouco uso para o ciclo ideal; mas nas regiões montanhosas de
2 deformação antiga, as forças de perturbação parecem ter se tornado quase extintas,
P>
^CM e lá o ciclo ideal é quase realizado. A França central dá uma boa ilustração desse
c princípio. Diz-se que se pode imaginar um número infinito de possíveis
^ combinações entre diversos fatores de estnitura, estágio de desenvolvimento na
.2 hora da interrupção, no caráter da interrupção e no tempo desde a interrupção;
g, mas aqui não há espaço para suaanálise mais aprofundada.

s
•§ Saídas acidentais do ciclo ideal ^
•5 Além das interrupções que envolvem movimentos de uma massa terrestre em
p. relação ao nível de base, existem duas outras classes de saída do ciclo ideal ou
P I
P g
1I 161
r
P
p
431
p
WiUtam M. Davis

9
normal que não necessariamente envolvem quaisquer movimentos: as alterações do
clima e as erupções vulcânicas, ambas as quais ocorrem tão arbitrariamente quanto «*
a lugar e tempo que podem ser chamadas de "acidentes". Mudanças de clima •..
podem variar desde o normal até o frio ou árido, cada mudança causando saídas
9
significantes do desenvolvimento geográfico normal. Se uma mudança reversa do
9
clima traz de volta mais condições normais, os efeitos do acidente "anormal"
9
podem durar por uma pequena parte do período do ciclo, antes que elas sejam
obliteradas. Éaqui que as características da origem glacial se encaixam, tão comuns
no noroeste da Europa e no nordeste da América. Julgando pela presente análise
9
dos períodos glaciais e interglaciais durante o quaternário, ou de períodos úmidos e
áridos na região de Great Salt Lake, deve-se concluir que alterações acidentais 9

podem ocorrer repetidamente dentro de um único ciclo. 9


9
Na breve ilustração das interrupções e dos acidentes combinados, deve-se
9
dizer que o sul da Nova Inglaterra é uma região montanhosa velha, a qual tinha
sido reduzida a um completo peneplano quando, posteriormente, a denudação foi 9
9
interrompida por um soerguimento inclinado, com queda suave para o sudeste; que
no ciclo então introduzido, o peneplano inclinado foi denudado para um estágio 9
submaduro ou tardiamente maduro (de acordo com a força ou a fragilidade de suas 9
rochas); e que a região maturamente dissecada foi então congelada e levemente 9

deprimida tão recentemente que pouca alteração ocorreu desde então. Um quadro
instrutivo da região pode ser concebido a partir dessa breve descrição. 9

9
Muitas erupções vulcânicas produzem formas tão extensas que elas deveriam
ser tratadas como novas regiões estruturais mas, quando vistas de modo mais geral, 9
um grande número de erupções, senão o maior número, produz formas de 9
dimensões pequenas comparadas àquelas de estruturas às quais elas são 9

sobrepostas: os vulcões da França central são bons exemplos dessa relação. Assim 9

posto, vulcões e fluxos de lava ocorrem tão arbitrariamente em tempo e espaço que
sua classificação sob o títuloa de "acidentes" está garantida. Outra razão para essa g
classificação é encontrada quando os efeitos de uma erupção vulcânica nos ,
processos preexistentes de escultura do terreno são examinados. Um vale pode ser C
to
bloqueado por um cone crescente e seus fluxos de lava; lagos podem se formar na >
porção a montante de tal vale, mesmo que ele seja maduro ou velho. Se o bloqueio £
•S
for baixo, o lago transbordará para um lado da barreira e, assim o rio será g,
o
localmente desalojado de seu curso anterior, porém bem ajustado a uma estrutura ^
frágil na qual esse curso possa ter estado. Se o bloqueio for maior que alguns -§
*- o
pontos no divisor da nascente, o lago transbordará "para trás" e a parte superior do .£
sistema fluvial se tornará tributária a um sistema adjacente. O rio deve cortar um S
desfiladeiro ao longo do divisor, por mais duras que sejam suas rochas; assim os £
O

I 9
162
•§
03
9
9
9
432
P
P
P
P O cicío geográfico

r
ajustes sistemáticos para a estrutura são seriamente prejudicados, e relações
acidentais são introduzidas. A forma do cone vulcânico e o fluxo esparramado de
seu curso de lava estão em completo desacordo com as formas que caracterizam a
região do entorno. O cone arbitrariamente forma uma montanha, mesmo se as
rochas subjacentes forem fracas; o fluxo de lava agrada vales que deveriam ser
degradados. Durante a dissecação do cone, um processo que é sistemático o
bastante se considerado sozinho em si, um arranjo radial dos esporões e ravinas
f- será desenvolvido; no futuro distante, os cursos de tais ravinas devem cortar as
«*«• estruturas vulcânicas e, assim, sobrepor-se mais curiosamente sobre as estruturas
latentes. Os fluxos de lava, sendo normalmente mais resistentes que as rochas do
p
distrito que invadem, ganham um relevo local à medida que a superfície contígua é
p
rebaixada pela denudação; assim, uma inversão da topografia é provocada, e uma
p
"montanha-tabuleiro" passa a existir onde tinha antigamente havia um vale que
9
guiava o curso original do fluxo de lava. A montanha-tabuleiro deve estar
P
completamente isolada de sua fonte vulcânica, onde o cone é a essa altura reduzido
P a uma saliência ou a um montículo. Mas embora essas várias considerações
pareçam, para mim, garantir a classificação das formas vulcânicas como
P "acidentais", em contraste com as formas sistemáticas às quais elas estão
P normalmente associadas, não deveria ser dada grande importância a esse método
de arranjo; dever-se-ia desistir dele tão logo uma classificação mais conveniente e
confiável seja apresentada.
P
As formas assumidas pelos resíduos do terreno
Uma extensão do assunto tratado na seção sobre os lados de vales
estabilizados levaria a uma discussão geral das formas assumidas pelos resíduos do
terreno no caminho para o mar; um dos tópicos mais interessantes e proveitosos
que me vieram à vista. Os geógrafos estão bem acostumados a dar a devida
to consideração para as formas assumidas pela drenagem da água do terreno no
° caminho para o mar, e uma boa terminologia já está em uso para nomeá-las: mas
muito menor consideração é dada às formas assumidas pelos resíduos que
to* lentamente se movem da terra para o mar. Elas raramente são apresentadas nas
suas relações verdadeiras; muitas delas geralmente não têm nomes aceitos — por
2 exemplo, as longas vertentes de resíduos que alcançam desde as montanhas até as
rg bacias do deserto da Pérsia; formas tão comuns quanto leques aluviais não são
„ mencionadas em nenhum dos livros escolares, senão no mais recente; e
características como planícies onduladas, morainas e drumlins são normalmente
P | empregadas pelo geólogo, como se o geógrafo não tivesse nada a fazer com elas!
P 1 Não pode haver dúvida da grande importância das formas de resíduo para o
P %
P g

Z 1 163
P
433

P
9

f
Willi.im M. Davis 9
9
geógrafo, mas não é possível aqui entrar em sua análise. É suficiente dizer que as ^
formas de resíduo constituem um grupo geográfico que, como as formas de água, 4»
fica completamente separado de grupos como montanhas e planaltos. Os últimos
1
são formas de estrutura, e deveriam ser classificados de acordo com os processos
envolvidos e com o estágio que alcançaram. A aplicação desse princípio geral
9
auxilia muito mais na descrição de paisagens reais.
9
A falta de espaço impede a devida análise aqui do desenvolvimento das
linhas da costa, um assunto não menos interessante, sugestivo e útil que o m
desenvolvimento das formas do interior; mas eu espero retornar em alguma ocasião
posterior para uma discussão das características da costa, quando possivelmente se
9
descubra que muito da terminologia já introduzida é novamente aplicável. Ao
9
fechar este artigo, eu devo voltar, ainda que pela terceira vez, ao lado prático do
9
ciclo teórico, com suas interrupções e acidentes. Não se pode ter muito clara em
9
mente a ideia de que a explicação das formas de terreno não foi somada ao estudo
da geografia por si mesma, mas devido à ajuda que a explicação dá à observação e 9
à descrição de características geográficas existentes. A seqüência de formas 9
9
desenvolvidas através do ciclo não é uma abstração que se deixa em casa quando se
vai ao exterior; ela é literalmente um vade-mecum do tipo de maior utilidade. 9
Durante o ano que estou passando na Europa, o esquema e a terminologia do ciclo 9

têm sido de grande auxílio em meus estudos. A aplicação do esquema e da


metodologia é encontrada igualmente bem nas planícies costeiras muito imaturas e
diminutas que margeiam certos trechos da linha do litoral escocês, em
conseqüência da leve elevação pós-glacial do terreno, e no amplo e idoso planalto
central da França, onde os jovens vales de hoje resultam do soerguimento da
região, c do ressurgimento de seus rios depois que eles submaturamente tinham
dissecado um peneplano preexistente. Os ajustes de cursos para
estruturas,provocados pela interação do moldável Severn e do decrescente Tâmisa
provam ser mais arrcbatadores que quando eu primeiro os notei, em 1894. O to
grande delta antigo do Var, entre Nice e Cannes, agora soerguido mais de 200 cm
metros e maturamente dissecado, deve vir a ser o exemplo típico desta classe de
C
formas. A Riviera italiana, a oeste de Gênova, pode ser concisamente descrita como M"
9
uma região de montanhas tênues que foi parcialmente submersa e que agora está se ^
9
aproximando da maturidade das características da linha costeira no ciclo então jjj
cn 9
iniciado: devem-se imaginar, a partir dessa breve afirmação, os esporões de g
montanha com vertentes bem estabilizadas, limitadas por uma linha costeira muito u
T)
irregular quando deprimidas pela primeira vez, mas agora de frente para uma o s 9
comparativamente simples linha costeira de promontórios com penhascos e baías c 9
preenchidas. A península de Sorrento,- em seu lado norte, antigamente se c
3 9
I *
164 £

9
434
p
p

O ciclo geográfico

P
assemelhava à Riviera, mas agora está elevada 50 metros, e suas planícies de baía
soerguidas possuem frentes com penhascos. O baixo Tiber, cujo fundo de vale
maduro é agora de alguma forma mais largo que seu cinturão meandrico, é
conseqüente sobre um acidente vulcânico, por seguir a calha entre as vertentes do
centro vulcânico Bracciano, a noroeste, e o centro Alban, a sudeste; mais a
montante, tão longe quanto Orvieto, o rio via de regra segue a calha entre os
•—- Apeninos e os três centros vulcânicos de Bolsena, Viço e Bracciano. As montanhas
*— Lepini, um bloco entalhado maturamente de calcário cretáceo moderadamente
deformado a sul do grupo vulcânico Alban, têm ao longo de parte de sua base
P
nordeste um penhasco de falha muito jovem, pelo qual as vertentes estabilizadas
9
dos esporões e ravinas são abruptamente cortadas; o penhasco de falha é facilmente
9
reconhecido do trem na linha entre Roma e Nápoles.
P
Botânicos e zoólogos sabem muito bem que um observador treinado pode
facilmente reconhecer e descrever muitos pequenos itens que passam sem serem
notados pelo observador não treinado. Sucede o mesmo na geografia, e a única
P
questão é: como o treino desejado pode ser assegurado? De muitos métodos de
P
treino geográfico, acredito que, até onde as formas de terreno são concebidas,
P
nenhum método pode se igualar àquele no qual a explicação é tomada como
característica essencial junto à observação, por não haver outro no qual tantas
P
faculdades mentais são exercitadas.

P
P

P
p
p

p
p

165

435
tVtiliam M Davis 9
9
9
Sobre o autor
9
Williom Morris Davis (1850-1934) foi um geomorfólogo dos Estados Unidos. Foi 9
professor em Harvard e ganhou notoriedade por sua teoria sobre os ciclos erosivos,
9
que exerceu grande influência na Geomorfologia. Participante de diversas
9
associações científicas, ajudou a fundar, em 1904, a Associação de Geógrafos
9
Americanos (AAG).
9

9
9
9
9
@ BCG: h»p://agbcampinas.com.br/bcg
Ccpyrightt) 2013 hy The Royal Gvogiuphic.it Socicty wilh IBG. Wilcy-Blackwell. 9
TràdUÇÍO HnvUUh cm fulha de ZOtS
9
9
9
9

9
9

9
9
9

9
9
o

9
9

> 9
ei
9
16
o
9
4)
O 9
•o

0» 9
C
'o.
S
9
«
u 9
9

o 9
166 eq
9
9

436 9
p

p
STEPHEN JAY GOULD TEXTO 18

P
1
P
9 A DESCOBERTA
DO TEMPO PROFUNDO

P
r
p SETA DO TEMPO
9

p CICLO DO- TEMPO


9

Mito e metáfora na descoberta


do tempo geológico
p
9
Tradução:
CARLOS AFONSO MALFERRARI

P
P
P
r
r
p
Dados lntciiii>ci<>ii.iiv de Catalogação tia 1'ublicnçno tc:i»->
y^, (Cílmr»ra Brasileira do Livro, se, Brn-íil>

Could. S t e p h c n Jay. 19-* 1-


^ Setn. cio tempo, ciclo do tempo : mito c metáfora, na
ticicobcria d o icinpo geológico /" Steplier» J;iy Ciould : tra-
liucaO C a r l o t Aromo MalTerrari. S3o Paulo : Compa-
p uhin du.% L e t r a , , 1991.

p
DlolioKrsin.-t.
nm SS-716-Í-2Q2-S

p I. I i.. .. -1 •. i . Thomus, 16357-1715. Teoria sngroJn tia


Terra 2. í-í unort. James. 1726-1797. Teoria da Terra 3.
p Lycll. C h a r l e , Sir. 1797-1875 •». Tompo ReolOgico — Es
tudo e .••i-.iin. llhlóri.i i. Tftolo.

COU-551.70I09
A 91-2526 -925.53
(ncliccr. para catalogo sistemático:
p
1. Geólogos : Kioftrali.-t c obra. 925.53
Zt. Tempo jtcotògíco : llísioria : Geologia 55 1.70109

p
199J

p
437
**

9
9
9
9
9
9
9

1 9

A DESCOBERTA *
DO TEMPO PROFUNDO
9

9
TEMPO PROFUNDO
9
9
Sigmund Frcud observou que cada uma das principais ciências
9
deu uma contribuição capital para a reconstrução do pensamento
humano — e que cada etapa desse doloroso processo despedaçou
uma nova faceta da nossa esperança original em termos alguma im
portância transcendente no universo:
A humanidade, no curso do tempo, teve de suportar das mãos da ciência
dois grandes ultrajes contra seu ingênuo amor-próprio. O primeiro, 9
9
ao dar-se conta de que nossa Terra não era o centro do universo, mas
um grãozinho num sistema cósmico de magnitude praticamente incon
cebível. [...] O segundo, quando a pesquisa biológica tirou do homem
a primazia pessoal de haver sido especialmente criado, relegando-o a
uma descendência do reino animal.

(Num dos pronunciamentos menos modestos da história, Freud em 9.


seguida afirma que sua própria obra havia derrubado o pedestal se
guinte, possivelmente o último, desse ingrato recuo da humanidade
— o consolo de que, embora sejamos a evolução de um humilde
macaco, ao menos possuímos mentes racionais.)
Mas Freud omitiu de sua lista uma das mais grandiosas etapas:
a ponte estabelecida entre a limitação espacial do domínio humano
(a revolução galileana) e nossa união física com todas as criaturas
"inferiores" (a revolução darwiniana). Ele negligenciou a tremen
da limitação temporal que a geologia impõe à importância do ser
humano — a descoberta do "tempo profundo" [deep time] (na ex "»

pressão magnificamente pertinente de John McPhee). O que pode


ria ser mais reconfortante, mais conveniente para a dominação hu-
9
13 9
9

9
9

438 9
r

r
~

mana, do que o conceito tradicional de uma Terra jovem, governa


dapela vontade humana poucos dias após sua origem? E quão amea
çadora, por outro lado, a noção de uma vastidão quase incompreen
sível de tempo, com a habitação humana restrita a um milimicros-
f segundo do extremo final! Mark Twain soube captar a dificuldade
de nos reconfortarmos com uma existência tão insignificante:
O homem existe aqui há 32 mil anos. Se foram necessários 100 mi
lhões de anos para preparar-lhe o mundo, isso é prova de que o mun
do foi feito para ele. Acho que foi, sabe-se lá. Se fizéssemos a torre
Eiffel representar a idade do mundo, a camada de tinta da protube-
p
' rância arredondada no pináculo de seu cume representaria a partici
P
pação do homem nessa duração. Qualquer um há de perceber que a
9
torre foi construída para esta camada de tinta. Acho que todos hão
de perceber isso, sei lá.
P
Charles Lyell discorreu sobre o mesmo tema em tom mais gra
ve ao descrever o mundo de James Hutton, um mundo sem vestígio
de um início nem perspectiva de um fim. Essa afirmação une assim
os dois heróis tradicionais do tempo profundo em geologia — e tam
bém expressa o elo metafórico entre a nova profundidade do tempo
e a amplitude do espaço no cosmos de Newton:
Tais concepções da imensidão do tempo passado, como as reveladas
P pela filosofia newtoniana com relação ao espaço, foram vastas demais
P para despertaridéias de sublimidade isentas de um doloroso senso de
nossa incapacidade de conceber um plano de extensão tão infinito.
Vêem-se mundos além de mundos, imensuravelmente distantes uns dos
«. outros, e, além de todos eles, inumeráveis outros sistemas são vaga
mente percebidos nos confins do universo visível. (Lyell, 1830, p. 63)
O tempo profundo é tão difícil de se compreender, tão alheio
m à nossa experiência comum, que permanece sendo uma grande pe
dra no caminho de nosso entendimento. Uma teoria é considerada
inovadora mesmo quando apenas substitui uma extrapolação falsa
P
por uma transposição apropriada de eventos comuns para a vasti
P dão do tempo. A teoria do equilíbrio pontuado, proposta por Niles
EIdredge e por mim, não é, como muitas vezes e de maneira equivo
cada se pensa, uma afirmação radical de mudanças verdadeiramen
te súbitas, mas sim um reconhecimento de que os processos comuns
da evolução de novas espécies, acertadamente concebidos como gla- •;
cialmente lentos pelos padrões deduração de nossavida, não se tra
duzem para o tempo geológico como longas seqüências de entremeios
imperceptivelmente graduados (a concepção tradicional, ou gra-

14

439
dualista), mas sim como origens geologicamente "súbitas" em pla
nos únicos de assentamento.
Um entendimento abstrato, intelectual, do tempo profundo não
é difícil — todos nós sabemos quantos zeros acrescentar a 1 quando
dizemos bilhão. Mas sentir na pele o tempo profundo já é bem ou
tra coisa. O tempo profundo é_tão estranho a nós que só podemos
realmente compreéridê-lo por metáforas. E assim fazemos em toda
a nossa pedagogia: falamos da milha geológica, em que a história
humana ocupa apenas as últimas polegadas, ou do calendário cós
mico, no qual o Homo sapiens surge somente alguns instantes antes
dos rojões do ano-novo. Uma correspondente sueca me contou que
imagina seu caracol de estimação, Bjõrn (que significa urso), no Pólo
Sul, no início do período cambriano, caminhando lentamente em
direção a Malmõ, e dessa forma visualiza o tempo como geografia.
John McPhee nos oferece a mais notável de todas as metáforas~(em
Basin and range): tomemos a história da Terra como a antiga medi-
da da jarda inglesa, isto é, a distância entre o nariz do rei e a ponta 9
da sua mão com o braço estendido. Um lixada na unha do seu dedo
9
médio aniquilaria a história humana.
9
Como então os estudiosos da Terra efetuaram essa transição
9
fundamental de milhares para bilhões de anos? Nenhuma questão
pode ser mais importante ao buscarmos compreender a história do 9
pensamento geológico.

MITOS SOBRE O TEMPO PROFUNDO

9
Taxionomias paroquiais são uma das desgraças da vida intelec
tual. A aceitação do tempo profundo, como consenso entre os estu
9
diosos, abrange um período de meados do século xvn até o início do 9
século xrx. Conforme escreveu Rossi (1984, p. ix): "Os homens no tem -*

po de Hooke tinham um passado de 6 mil anos; no tempo de Kant,


estavam conscientes de um passado de milhões de anos". Uma vez que 9
a geologia não existia como disciplina separada e reconhecida durante
aquelas décadas cruciais, não podemos atribuir este evento capital da
história intelectual a um estudo das pedras realizado por uma limitada
fraternidade de cientistasdo solo. E, de fato, Rossi (1984) argumentou
convincentementeque adescoberta do tempo profundo reuniu as per
cepções daqueles que hoje chamamos teólogos, arqueólogos, historia
dores e lingüistas — além de geólogos. Diversos estudiosos, nessa era
polimática, atuaram com competência em todos estes campos. *

75
9
9
9
9
440
9
p

p
p
1
p
Ao restringir esta discussão aos homens que mais tarde seriam
p
apropriados pelos geólogos profissionais como seus predecessores,
r estou conscientemente atuando dentro dos limites do arcabouço que
pretendo desmistíficar (ou ampliar). Irei, em outras palavras, dis
correr sobre as teorias que os geólogos em geral aceitam para expli
r
car a descoberta do tempo. Historiadores profissionais há muito re
p conheceram o caráter falso e de "cartolina" (para usar minha ex
r pressão) dessa mitologia tão útil aos que a criaram — não pretendo
-*»
nenhuma originalidade neste aspecto. Entretanto, o fato é que o re
r cado dos historiadores ainda não chegou aos cientistas atuantes nem
r aos estudantes da ciência.
•f Meu paroquialismo chega ainda mais longe — à geografia e à
r disciplina. Pois selecionei para analisar a fundo apenas os três prin
r cipais atores do palco geológico inglês: o grande vilão e os dois he
p róis costumeiros.

p
A ordem temporal desses homens também expressa a mitolo
gia convencional sobre a descoberta do tempo. Thomas Burnet, vi
lão porque infectado de dogmatismo teológico, escreveu sua Sacred
theory ofthe Earth [História sagrada da Terra] na década de 1680.
O primeiro herói, James Hutton, trabalhou exatamente cem anos
mais tarde, escrevendo a versão inicial de Theory ofthe Earth [Teo
ria da Terra] na década de 1780. Charles Lyell, o segundo herói e
r
codificador da modernidade, escreveu então o influentíssimo trata
P do Principies of geology [Princípios de geologia] não mais de cin
qüenta anos depois, por volta de 1830. (A ciência, afinal, parece real
r mente avançar por aceleração, como sugere esta redução pela meta
9 de da distância temporal.)
A mitologia convencional incorpora uma tradição que os his
r toriadores descartam com o rótulo mais repleto de desdém de que
r dispõem: whiggish [reacionário], ou seja, a idéia da história como
p
uma narrativa de progresso, permitindo a nós julgar as figuras do
passado pelo papel que desempenharam na promoção do esclareci
P
mento tal como hoje o concebemos. Em sua obra Whig interpreta-
p
tion of history (1931), Herbert Butterfield deplora a estratégia dos
P
historiadores ingleses aliados ao Partido Whig [Liberal] que escre
P
veram a história de sua nação como uma progressiva aproximação
p
de seus ideais políticos:
p

p
Pecado cm composição histórica [...] c extrair os acontecimentos de
seu contexto e erigi-los numa comparação implícita com o presente,
p
e então pretextar que assim se está permitindo que "os fatos falem
P
p 75
p
p

p

9
9
por si mesmos". É imaginar que a história como tal [...] possa nos
proporcionar juízos de valor — é supor que possamos provar, pela
mera passagem do tempo, que este ideal ou aquele indivíduo estavam
errados. (105-106)
9
9
Esse tipo de história tem exercido um domínio particularmente
tenaz sobre a ciência por um motivo óbvio: sua consonância com
9
a grande fábula da ciência. Segundo esse mito cardinal, a ciência
9
diferiria fundamentalmente de todas as outras atividades intelectuais
9
porque busca primordialmente descobrir e registrar os fatos da na
9
tureza. Esses fatos, quando reunidos e refinados em número sufi
9
ciente, levam, graças à força bruta de uma indução grosseira, a teo
rias globais que unificam e explicam o mundo natural. A ciência se
ria, portanto, a narrativa derradeira de progresso — e o motor de
seu avanço seriam as descobertas empíricas.
Nossos livros didáticos de geologia narram a descoberta do tem
po profundo dessa maneira liberal-reacionária, como uma vitória
da observação superior, finalmente liberta das superstições restriti
vas. (Cada um dos capítulos subseqüentes deste livro contém uma ^
seção com tais "cartolinas de livros didáticos", como costumo
chamá-las.) Nos dias obscuros de outrora, antes de os homens dei
9
xarem suas poltronas para examinar as rochas no campo, as limita
9
ções bíblicas da cronologia mosaica impediam qualquer entendimen
9
to da história da nossa Terra. Burnet foi um representante desse ir-
racionalismo anticientífico, tão bem ilustrado pela inclusão impró
pria de "sagrado" no título de sua história do nosso planeta. (Não
importa que ele tenha enfrentado inúmeros problemas por causa de
sua interpretação alegórica dos "dias" mencionados no Gêtiesisco-
mo sendo potencialmente longas eras.) Portanto, Burnet representa
a oposição arraigada da Igreja e da sociedade aos novos métodos
de observação da ciência. jj* ~,
Hutton rompeu essas restrições bíblicas porque se dispôs a co- '
locar _a observação de campo arn^esjtejnjalquer; precpnçepção —
"conversai com a Terra e ela vos ensinará". Duas observações fun- i
/ damentais feitas por ele aceleraram a descoberta do tempo profun- '.
do: primeiro, o reconhecimento de que o granito é uma rocha ígnea I
e representa uma força restauradora de sobrelevação (de maneira \
que a Terra pode percorrer ciclos indefinidamente, sem se desgastar
pela erosão); e, segundo, a interpretação correta das iriconformida-
des como a fronteira entre a sobrelevação e a erosão (fornecendo
evidência direta de uma renovação periódica, em vez de uma decre- ^
pitude curta e unilinear).

:
9
9
442

Í
p

p
p
p
p

p Mas o mundo não estava preparado para Hutton (e ele era um


p \ escritor ruim demais para convencer quem quer que fosse). Portan
p
to, a codificação do tempo profundo teve de esperar pelo grande
livro didático de Charles Lyell, Principies ofgeology (1830-33). Lyell
p
triunfou por causa do seu magistral compêndio de informações fac-
p'
tuais sobre as intensidades e os modos dos processos geológicos cor
p rentes — provando que a atuação lenta e constante de causas co
p muns poderia, quando estendida para o tempo profundo, produzir
todos os fenômenos geológicos (desde o Grand Canyon até as ex
tinções em massa). Os estudiosos da Terra puderam então rejeitar
os agentes milagrosos exigidos pela compressão temporal da crono
p logia bíblica. A descoberta do tempo profundo, nesta versão, tornou-
se um dos maiores triunfos históricos da observação e da objetivi
r
dade sobre as preconcepções e a irracionalidade.
Como tantas outras narrativas heróicas, este relato do tempo
p
profundo é quase tão farto em inspiração quanto escasso em exati
dão. Vinte e cinco anos depois que N. R. Hanson, T. S. Kuhn
p
e inúmeros outros historiadores e filósofos começaram a mapear
p
as intrincadas interpenetrações de fato e teoria, e de ciência e so
ciedade, os raciocínios que justificaram um .fluxo unidirecional sim
p plista, de acordo com o qual as observações desembocam na teo
ria, mostraram-se inteiramente falidos. A ciência talvez difira das
p outras atividades intelectuais por concentrar-se na formação e ope
ração de objetos naturais. Mas os cientistas não são máquinas ro-
p botizadas de indução, inferindo estruturas explicativas somente das
regularidades observadas nos fenômenos naturais (pressupondo-se
que esse tipo de raciocínio possa cm princípio ser bem-sucedido,
do que eu muito duvido). Cientistas são seres humanos, imersos
numa cultura, c debatemrse com todos os curiosos instrumentos
p
de inferência que a mente permite — da metáfora e da analogia
P a todos os vôos da imaginação fértil que C. S. Peirce denominou
r "abdução". A cultura predominante nem sempre é o inimigo iden
p tificado pela história liberal-reacionária — no caso, as restrições
teológicas de ordem temporal, levando os primeiros geólogos a apre
9 goar milagres de natureza catastrófica. Todavia, além de coibir,
p a cultura pode potencializar — como quando Darwin transpôs os
9 modelos econômicos do íaissez-faire de Adam Smith para a biolo
gia com a teoria da seleção natural (Schweber, 1977*). Seja como
r
for, não existem inteligências objetivas fora da cultura, de modo
que temos de aproveitar da melhor maneira possível o fato inelutá-
vel de estarmos nela incrustados.
p
p 18
p
p

p
p
r
• ?
9
É importante que nós, cientistas atuantes, combatamos esses
mitos da nossa profissão que a colocam como algo superior e à par
te. Os mitos podem nos ser úteis aqui e agora como justificativa ra
cional para uma estratégia de lobby — "dêem-nos verbas e deixem-
nos em paz, pois sabemos o que estamos fazendo e vocês jamais com
preenderiam mesmo". Mas a longo prazo a ciência só poderá vir m
a ser prejudicada por sua autoproclamada distinção como um sa
cerdócio capaz de preservar um rito sagrado conhecido como o mé
9
todo científico. A ciência é acessível a todos os seres pensantes por- c^
9
que aplica os instrumentos universais do intelecto àquilo que é o seu
material distintivo. Entender a ciência — e nem seria preciso repetir
a litania — torna-se cada vez mais crucial num mundo de biotecno
logia, computadores e bombas.
Não conheço maneira melhor de ilustrar esse ecumenismo do
pensamento criativo do que desmistificando (de forma positiva) os 9
mitos de cartolina que ainda restam sobre a ciência como observa- 9
ção pura c lógica aplicada, divorciada das realidades da criativida
de humana e do contexto social. O mito geológico que envolve a
descoberta do tempo profundo talvez seja a mais persistente das len
das remanescentes.
9
Este livro respeita as fronteiras definidas do mito para dissi
9
pá-lo de dentro. Irei analisar em detalhe os principais textos de três
9
protagonistas (um vilão, dois heróis), tentando encontrar uma cha
ve que possa nos abrir as concepções essenciais desses homens —
visões que se perderam numa tradição que. os retrata ou como ini 9

migos ou como avatares do progresso na observação. Encontro es


sa chave numa dicotomia de metáforas que expressam visões con
flitantes sobre a natureza do tempo. Burnet, Hutton e Lyell debate
ram-se com essas metáforas antigas, fazendo malabarismos com elas
e justapondo-as até alcançar suas concepções distintivas a respeito
da natureza do tempo e das transformações. Essas suas concepções -n
levaram à descoberta do tempo profundo tão certamente quanto
-I
qualquer observação de rochas ou de afloramentos. A interação en
tre fontes internas e externas — de teoria informada pela metáfora 9
e de observação restrita pela teoria — marca todo grande movimen-. 9
to na ciência. Haveremos de compreender a descoberta do tempo 9
profundo quando reconhecermos que as metáforas subjacentes a vá 9

rios séculos de debates são uma.her-ança comuni a todas as pessoas


que alguma vez se debateram com enigmas tão fundamentais quan
to direção e imanência.
9
9
19 9

9
9
444
p

SOBRE DICOTOMIA

P Qualquer estudioso imerso nos detalhes de um problemajntri-


p cado nos dirá que a riqueza desse problema não pode ser.abstraída
0' como uma dicotomia, como um conflito entre duas interpretações
P colidentes. Todavia, por motivos que eu nem sequer começo a com-
ypreender, a mente humana adora efetuar dicotomias, pelo menos
P na nossa cultura — ou possivelmente em todas as outras, como aná
p lises estruturais de sistemas não ocidentais têm demonstrado. Pode
mos estender nossa tradição no mínimo até o famoso aforismo de
P
Diógenes Laércio: "Protágoras afirmou que há dois lados em cada
questão, exatamente opostos um ao outro".
Eu costumava invectivar contra tais simplificações, mas hoje
sinto que uma outra estratégia em favor do pluralismo talvez possa
ser mais bem-sucedida. Fico desanimado tentando persuadir as pes
soas a abandonar a tática familiar e reconfortante da dicotomia. Tal
vez, ao contrário, pudéssemos expandir o arcabouço da nossa dis
P cussão buscando outras dicotomias mais apropriadas do que as di
P visões convencionais, ou simplesmente diferentes destas. Toda di
cotomia é uma simplificação; porém interpretar um conflito de acor
*~
do com diferentes eixos de dicotomias ortogonais poderia nos pro
P
porcionar uma amplitude mais apropriada de espaço intelectual sem
obrigàr-nos a renunciar a nosso instrumento mais reconfortante de
pensamento.
P
O problema não é tanto sermos impelidos à dicotomia, mas im-
r pormos estas divisões por dois, sempre incorretas ou enganadoras,
r à complexidade do mundo. A inadequação de algumas dicotomias
está em seu anacronismo. A teoria darwiniana, por exemplo, foi um
r divisor de águas tão proeminente que tendemos a retroceder no tem
r po a dicotomia convencional da sua façanha — evolução versus cria
r ção —, impondo-a a outras discussões a respeito de outras questões
vitais. Há uma legião de exemplos, e já mencionei vários deles em
r meus ensaios: a prec.ursonite aguda, que quer encontrar germes dar-
winianos no pensamento grego; a busca de petiscos evolucionários
em obras pré-darwinianas, levando-nos a ignorar, por exemplo, um
extenso e sutil tratado sobre embriologia em prol de uma breve pas
r sagem sobre transformação (veja Gould, 1985, sobre Maupertuis);
a designação equivocada de "criacionista" para uma grande tradi
p ção de biologia estrutural (de Geoffroy Saint-Hilaire a Richard
Owen) porque sua teoria de mudança negava a fundamentação no
r meio ambiente e, portanto, parecia antievolucionária àqueles que
r
20

445

p
9
. . .

equiparavam a transmutação em si às concepções posteriores sobre


seus mecanismos (Gould, 1986b, sobre Richard Owen).
Outras dicotomias enganadoras estão imiscuídas na tradição da
história liberal-reacibnária da ciência. Incluem-se aqui as divisões
que provocaram tantos equívocos de interpretação na história da **)
geologia e na descoberta do tempo profundo: uniformitarismo/ca- —•,
tastrofismo, empirisrno/esp.eculaç.ãOjmzão/revelação, verdadei- ^
ro/falso. Foi Lyell que, como veremos,.insLituiu.boa parte da.retó-
9
rica que levou a tais divisões; mas nos deixamos desencaminhar ao
sègui-lo sem nenhum senso crítico. 9
Não pretendo argumentar que outras dicotomias sejam "mais 9
verdadeiras". Uma dicotomia é útil ou enganadora, e não verda
deira ou falsa. Uma dicotomia é um modelo simplificador para or
ganizar o pensamento, e não os modos do mundo. No entanto acre
dito, por motivos que apresentarei na próxima seção, que uma di- . %
cotomia negligenciada acerca da natureza do tempo possui um va
lor especial para esclarecer os papéis e as concepções de meus três
protagonistas no grande drama do tempo profundo.
Todas as grandes teorias são expansivas, e todas as noções as
9
sim tão ricas em amplitude e implicação têm por base concepções acer
9
ca da natureza das coisas. Podemos chamar essas concepções de "fi
losofia" ou "metáfora" ou "princípio organizador", mas uma coi 9
9
sa elas certamente não são — não são meras induções a partir de fa
tos observados do mundo natural. Tentarei mostrar que Hutton e 9
Lyell, tradicionais descobridores do tempo profundo na tradição bri
tânica, foram tão (ou mais) motivados por uma tal concepção acer
ca do tempo quanto por um conhecimento superior das rochas em
campo aberto. Na realidade, mostrarei que suas concepções antece- m
dem — logicamente, psicologicamente, e na ontogenia de suas idéias -*,
— qualquer tentativa de confirmação empírica. Mostrarei também 9
como Thomas Burnet, vilão da história liberal-reacionária, tentou
equilibrar os dois pólos de uma dicotomia que Hutton e Lyell inter
pretaram como vitória de um lado — e que, sob diversos aspectos, 9
9
a leitura feita por Burnet merece nossa atenção hoje. O tempo pro
fundo, em outras palavras, impôs uma visão de realidade arraigada
em tradições antigas do pensamento ocidental tanto quanto refletiu
um novo entendimento das rochas, fósseis e estratos.
Esta dicotomia crucial incorpora os temas mais antigos e mais
profundos do pensamento ocidental acerca da questão fundamen
tal do tempo: visões lineares e circulares — ou a seta do tempo c
o ciclo do tempo.
s
( 21

446
p
r

p
p

p SETA DO TEMPO, CICLO DO TEMPO


p
p Nossa vida está imersa na passagem do tempo — uma matriz
p marcada por todos os padrões possíveis de juízo:-por coisas ima-
r nentes que não parecem mudar; pela repetição cósmica dós dias
p e das estações; por acontecimentos únicos, como batalhas e desas
P tres naturais; por uma aparente direcionalidade da vida, do nasci
mento e do crescimento até a decrepitude, a morte c o apodreci-
p mento. Em meio a essa complexidade atordoante, interpretada das
-
mais variadas maneiras por diferentes culturas, as tradições judaico-
cristãs esforçaram-se para entender o tempo alternando e equili
brando os dois extremos de uma dicotomia primária sobre a natu
P
reza da história. Em nossas tradições, esses pólos receberam a aten
0
ção necessária porque cada um abrange um tema inevitável na ló
gica e na psicologia de como entendemos a história: a dupla exi
gência de unicidade, que faz de cada momento do tempo algo dis
r
tintivo, e de legitimidade, que estabelece uma base para a inteligi-
r bilidade.
Em um dos extremos da dicotomia — que chamarei seta do tem
po —, a história é uma seqüência irreversível de eventos que não
se repetem. Cada momento ocupa sua posição distinta numa série
p temporal, e o conjunto desses momentos, considerados na seqüên
cia apropriada, narra uma história de acontecimentos que se ligam
uns aos outros e se movem numa direção definida.
No outro extremo — que chamarei de ciclo do tempo —, os
eventos não têm sentido enquanto episódios distintos e com impac
to causai sobre uma história contingente. Os estados fundamentais
são imanentes no tempo: sempre presentes e jamais se modifican
do. Movimentos aparentes são partes de ciclos que se repetem, e as
diferenças do passado serão as realidades do futuro. O tempo não
tem direção.
Não estou apresentando nada de original aqui. Este contraste
já foi mostrado com tanta freqüência, e por tantos estudiosos ca
p pacitados, que se tornou virtualmente (graças ao genuíno insight •

que nos proporciona) um clichê da vida intelectual. Também já


p pé tradicional —e, neste livro, fundamental —apontar que as tra-
I dições judaico-cristãs têm se debatido para incorporar as panes ne
p cessárias de ambos os pólos contraditórios, e que tanto a flecha
do tempo como o ciclo do tempo figuram com proeminência na
Bíblia.

447
- •

A seta do tempo é a principal metáfora da história bíblica. Deus


cria a Terra uma só vez, instrui Noé a salvaguardar-se de um único
dilúvio numa arca singular, transmite os mandamentos aMoisés num c , \$
,
y*-
íI
momento distinto, e envia seu filho a um lugar específico num mo- '
mento específico para morrer por nós na cruz e ressuscitar no ter
ceiro dia. Muitos estudiosos identificaram a seta do tempo como a
i
contribuição mais importante e distintiva do pensamento judeu, pois
a maioria dos outros sistemas anteriores ou posteriores favoreceu
a imanência do ciclo do tempo sobre o encadeamento da história
linear.
Mas a Bíblia também inclui uma contracorrente do ciclo do tem
po, especialmente no livro de Eclesiastes, em que ciclos solares e hi-
drológicos são evocados em metáforas para ilustrar tanto a imanência 9

do estado da natureza ("nada há de novo debaixo do sol") quanto 9


a vacuidade da riqueza e do poder, uma vez que as riquezas não 9
podem senão se desgastar num mundo de infinda recorrência — vai 1
dade das vaidades!, clamou o pregador. 9
9
O sol se levanta, o sol se põe, apressando-se a voltar ao lugar de onde
novamente se levantará. O vento sopra em direção do sul, volta-se pa 9

ra o norte; num contínuo vaivém sopra o vento. Todos os rios correm 9


para o mar, sem que o mar nunca transborde. Para onde os rios cor C"
rem, para lá correm sem cessar. [...] O que foi será; o que se fez se 9
tornará a fazer. {Eclesiastes 1:5-9) J
Embora ambas as concepções coexistam nesse documento pri 9
mordial da nossa cultura, não há como negar que a seta do tempo 9
é a visão familiar ou "padrão" da maioria dos ocidentais instruí 9
dos de hoje. Essa metáfora domina a própria Bíblia, e sua força só 9
tem aumentado desde então — obtendo "um reforço especial das 9
idéias de progresso que acompanharam nossas revoluções científi 9
cas e tecnológicas a partir do século XVII. Diz Richard Morris em •*%
seu recente estudo sobre o tempo:
9
Os povos da Antigüidade acreditavam que o tempo tinha um caráter
cíclico, [...j Nós, por outro lado, habitualmente pensamos no tempo
como algo que se estende em linha reta do passado para o futuro. [...]
9
O conceito linear de tempo teve conseqüências profundas sobre o pen
9
samento ocidental. Sem ele, seria difícil conceber a idéia de progres-
__so, ou falar sobre evolução cósmica ou biológica. (1984, 11) "".__ 9
9
Se argumento que a seta do tempo é nossa concepção usual, 9
e se designo a idéia de momentos distintivos em uma seqüência
9
9
23

9
9
448 9
9
r
rf>
9

9
irreversível como pré-requisito da própria inteligibilidade (veja p.
P 80), peço ao leitor que note que estou discutindo uma concepção
9
da natureza das coisas delimitada tanto pela cultura quanto pela épo
ca. Conforme analisa Mircea Eliade na mais importante obra mo
P ' derna sobre setas e ciclos, The myth of the eterna! return (1954),'
P a maioria das pessoas ao longo da história ateve-se firmemente ao
r ciclo do tempo, considerando a seta do tempo ininteligível ou inspi-
p
radora do mais profundo pavor. (Eliade intitula a última seção do
livro "o terror da história".) A maioria das culturas sempre recuou
p
diante do fato de a noção de história não incorporar nenhuma esta
P
bilidade permanente e de os homens (por intermédio de seus atos
de guerra) ou os desastres naturais (mediante suas conseqüências de
fome e fogo) estarem apenas refletindo a essência do tempo — e
p não uma irregularidade passível de ser rejeitada ou aplacada pela
p oração e pelo ritual. A seta do tempo é o produto peculiar de uma
p \ cultura, hoje difundido por todo o mundo e particularmente "bem-
p sucedido", pelo menos em termos numéricos e materiais.
P
O interesse pelo "irreversível" e pelo "novo" na história é uma des
p coberta recente na vida da humanidade. A humanidade arcaica, por
P sua vez, [...] defendia-se, até o máximo de suas forças, contra toda
P novidade e irreversibilidade que a história implica. (Eliade, 1954, 48)
r
Reconheço também que a seta do tempo e o ciclo do tempo são
r delimitados pela cultura ese tornaram uma espécie de depósito ultra-
p simplificado para as mais complexas e variadas posturas mentais. Em
particular, Eliade mostra que cada pólo dessa dicotomia funde pelo
p menos duas versões diferentes, relacionadas em essência, por certo,
mas com distinções importantes. O ciclo do tempo pode referir-se
p
a uma estrutura imanente ou à permanência verdadeira e imutável
9
(oj'aj,a.uétipo e repetição" de Eliade), ou a ciclos recorrentes de even
tosseparáveísque se repetem exatamente. Da mesma forma, a anti
p
ga concepção hebraica da seta do tempo como uma fieira de eventos
p
únicos entre os dois pontos fixos da criação e do fim é bastante dife
9
rente da noção muito posterior de direção inerente (que, em geral,
p é um conceito de progresso universal, embora às vezes possa ser uma
p rua de mão única para a destruição, como na morte da Terra pelo
p "calor termodinâmico" prevista pelos catastrofistas da época de
p Lyell, em conseqüência do resfriamento contínuo do planeta a par-
•tir de um estado liqüefeito original). Unicidade e direção estão am
bas incluídas em nossa idéia moderna de seta do tempo, embora te
p nham surgido cm épocas diferentes e em contextos díspares.
p
24
p

p 449

r
9
9
9
9
O contraste entre setas e ciclos está tão impregnado na maneira
-
de o Ocidente conceber o tempo que um movimento tão fundamen
9
tal como a descoberta do tempo geológico não poderia ocorrer sem
ser influenciado por essas concepções antigas e persistentes. Tenta 9
rei mostrar que as metáforas da seta do tempo e do ciclo do tempo
constituíram um foco para discussão, e provaram ser tão importan 9

tes para a formulação do tempo profundo quanto qualquer obser


vação do mundo natural. Se é preciso que tenhamos dicotomias, a
seta do tempo e o ciclo do tempo são um arcabouço "certo" — ou
no mínimo o mais útil possível —para entendermos a maior^contri-
buição da_geologja ao pensamento humano. Não faço esta afirma- •**
ção a priori ou por princípio, mas por quatro motivos específicos —.
que não cesso de defender no decorrer de toda esta obra.
Primeiro: a dicotomia seta do tempo/ciclo do tempo talvez se- -s
ja simples demais e limitada demais, mas pelo menos era a dicoto- ^
mia deles— o contexto reconhecido por Burnet, Hutton e Lyell — 9
e não um contraste anacrônico ou moralista imposto pelas histórias 9
liberal-reacionárias de cartolina dos livros didáticos (observação/es
peculação ou uniformidade/catástrofe).
Segundo: perdeu-se para nós- o contexto que o entendimento
deles soube bem expressar, pois ojólo do ciclo do t^mpo_tornou-se 9

tão estranho para nós hoje que já não saberíamos.reconhecer a in


fluência norteadora que teve sobre, nossos heróis (especialmente
quando os consideramos como meros observadores superiores com
uma tendência essencialmente moderna). Além disso, o ciclo do. tem
po incorpora prinçípios.bisicoide.in^mr_et_ação_que precisamos re
cuperar (oUj.nojniniino,.nãp_desç.artar como empiricamcnte inade- ^
qíiados). Eliade, grande estudioso dos mitos, aplaudiu a reintrodu-
'cão~dó ciclo do tempo cm algumas teorias modernas não porque pu
desse julgar sua veracidade, mas porque compreendia muito bem
o significado mais profundo desta metáfora:
O reaparecimento de teorias cíclicas no pensamento contemporâneo
é algo prcnhe de significado. Incompetentes que somos para julgar sua
validade, devemos nos restringir a observar que a formulação de um
mito arcaico em termos modernos revela pelo menos o desejo de se
encontrar um significado e uma justificação trans-histórica para eventos
históricos. (1954, 147)

Terceiro: convenci-me do caráter fundamental dessa dicotomia


por ela ter esclarecido (ao menos para mim) o significado central
de três importantes documentos que eu havia lido diversas vezes

25

450
p
r
p

p sem jamais compreendê-los de maneiracoerente. Trechos que eu ima


p
ginara disparatados encaixaram-se num todo; pude reordenar fal
sos alinhamentos determinados pelas dicotomias liberal-reacionárias
p
e consegui ler esses textos com uma melhor taxionomia que de fato
p
expressava as concepções de seus autores. O teste de qualquer prin
p
cípio organizador é seu sucesso em transmitir coisas específicas, e
p
não sua condição de generalidade abstrata. A seta do tempo e o ci
clo do tempo abriram-me aspectos específicos de cada texto, e
p permitiram-me entender o caráter central de temas geralmente des
p cartados como periféricos, ou simplesmente não reconhecidos.
p No caso de Burnet, pude entender seu texto (e seu frontispício)
p como um verdadeiro campo de batalha ilustrador da sua luta inter
9 na e como uma união instável entre as duas metáforas. Pude com
P preender a unidade mais profunda entre a sua maneira de conceber
a Terra e a de Steno em Prodromus — embora esses dois textos se
P
jam geralmente vistos como pólos opostos da inadequada dicoto
mia arcaico/moderno. No caso de Hutton, finalmente compreendi
P
.que sua concepção constituía a mais pura forma do ciclo do tempo,
P
e descobri uma diferença-chave entre ele e seu Boswell,* John Play-
9
fair — uma distinção fundamentada na dicotomia de setas e ciclos,
9
mas anteriormente invisível sem este contexto. No caso de Lyell, com
P
preendi a profunda temática subjacente a seu método de datação
das rochas terciárias, e finalmente entendi por que ele tornara uma
P simples técnica na peça central de um tratado teórico. E compreen
di o motivo de sua adesão ulterior à evolução — como a estratégia
P de conservação que o afastava o mínimo possível de sua concepção
do ciclo do tempo, e não como o testemunho de um representante
P da cruzada radical de Darwin.
P
Num sentido mais amplo, a seta do tempo e o ciclo do tempo
P
tornaram-se o enfoque central deste livro quando reconheci que a
P
preferência de Hutton e Lyell pelo tempo profundo surgiu, antes
e acima de tudo, do compromisso deles com a concepção pouco fa
P
miliar do ciclo do tempo, e não (como professa o mito) de um co
P
nhecimento superior das rochas no campo. Em nosso mundo da se
ta do tempo, jamais compreenderemos os dois "pais" da nossa pro
fissão se não recuperarmos sua visão e suas metáforas.
Quarto: a seta do tempo e o ciclo do tempo constituem, se pre
ferirmos, uma "grande" dicotomia, porque cada um de seus pólos

(») James Boswell (1740-95), biógrafo de Samuel Johnson, teve papel funda
mental na difusão da obra do lexicógrafo inglês. (N. T.)

26

451
r
9
9
capta, em sua essência, uma temática tão fundamental na vida inte
i
lectual (e prática) que qualquer ocidental que queira compreender
a história tem de contender intimamente com ambos — pois a seta
do tempo é a inteligibilidade de eventos distintos e irreversíveis, en
quanto o ciclo do tempo é a inteligibilidade da ordem atemporal e J»,
da estrutura de direito. Temos de ter ambos.

ADVERTÊNCIAS
í
O domínio e o propósito deste livro são limitados, e talvez um
pouco interesseiros. Não se trata de uma obra acadêmica conven
cional, mas de uma busca pessoal para entender certos documentos-
chave que tendem a ser erroneamente interpretados (ao menos por
mim, nas minhas primeiras leituras, antes de haver compreendido
o papel das visões de mundo e das metáforas na ciência). Não pre
tendo originalidade alguma quanto ao tema da seta do tempo e do
9
ciclo do tempo — pois essa dicotomia foi explorada por muitos es
9
tudiosos do tempo, de Mircea Eliade, Paolo Rossi, J. T. Fraser e
Richard Morris, em nossa geração, até Nietzsche e Platão. Muitos
historiadores da geologia (de Reijer Hooykaas a C. C. Gillispie, M.
J. S. Rudwick, G. L. Davies e outros) também reconheceram a in
9
fluência da dicotomia, embora não tenham discorrido sobre sua ple
na importância mediante análises de textos. 9
Além disso, este livro utiliza um método quase reacionário, que,
espero, não vá ofender meus colegas da história da ciência. Ele
baseia-se, antes de tudo e como Rossi (1984) exemplifica tão bem
por comparação, em taxionomias restritivas. A descoberta do tem
po certamente não foi obra de três pensadores na Grã-Bretanha (e
recorro a eles somente porque estou tentando desfazer de dentro o
mito tradicional). Ademais, adotei o método limitado e fora de mo
da de explication des textes. Pretendo analisar de perto a lógica cen
%
tral das primeiras edições de três documentos fundamentais na his
9
tória da geologia. Nâo afirmo que tal procedimento míope possa
substituir uma verdadeira historiografia, especialmente quando os 9

maiores avanços contemporâneos no nosso entendimento da ciên


cia provieram da estratégia oposta, a saber, da análise expansiva e
da investigação dos contextos sociais. Tenho profunda admiração
por esse trabalho. Não poderia sequer começar a conceber este li
vro sem os insights proporcionados pela ampliação dos horizontes
que tal trabalho expansivo tornou possível a todos nós. Compreen-
9
27
9
%
9
9
9
*

p do que os fundamentos lógicos de Burnet não podem ser entendi


dos se desvinculados do contexto da Inglaterra na Revolução Glo
riosa (ocorrida entre a publicação de seus tratados sobre o passado
p
e o futuro da Terra), e especialmente de seus embates com os milc-
p
naristas radicais da época. Também sei que discutir James Hutton
p sem a Edimburgo de David Hume, Adam Smith e James Watt seria
p (para citar um outro escocês) arrancar antecipadamente a criança
p do útero da mãe.
p Não obstante, vejo certo valor no venerável método da expli
p cation. As fontes sociais e psicológicas de um texto são múltiplas
p — os próprios motivos de ele existir e defender uma visão de mun
p
do e não outra. Mas as obras verdadeiramente grandes possuem
também uma lógica interna que incita à análise em seus próprios
p
termos — como uma argumentação coerente contida em si mesma
p
pelo brilho de uma visão e pela síntese da construção meticulosa.
p Todas as peças se encaixam quando compreendemos essa lógica
p central.
9
Diria mais e argumentaria que a salutar temática do contexto
P social tem às vezes nos distanciado da lógica dos documentos, pois
P decompomos suas partes nos aspectos díspares de um cenário mais
P amplo e tendemos a esquecer que elas também possuem uma coe
0
são interna que é quase orgânica — como se a capa do livro fosse
a pele de um organismo. (Devemos fazer o possível para compreen
P
der de fora a ecologia de qualquer criatura, mas os moríologistas,
P
de Goethe a Geoffroy, Owen a D'Arcy Thompson, também enten
deram o valor de uma análise estrutural vinda de dentro.) Os gran
9
des argumentos possuem uma universalidade (e uma beleza) que
9
transcende o tempo — e não devemos perder de vista a coerência
interna quando buscamos entender os motivos e as razões sociais
e psicológicas.
P Não creio que possamos ser acusados de um liberal-reaciona-
rismo não conformado se buscarmos orientação e um entendimen
P
to moderno nos grandes argumentos do passado — pois exemplos
P
de verdadeira sabedoria são poucos e raros, e precisamos de todos
P os casos que pudermos obter. Além disso, como já expus, a desco
berta do tempo foi tão fundamental, tão benquista e tão estimulan
P te, que não podemos esperar equiparar sua importância novamen
P te. Os textos da descoberta do tempo continuarão sendo nossos do
P cumentos mais preciosos e mais instrutivos porque incorporam uma
amplitude de visão e uma paixão que jamais se repetirão exatamen
te da mesma maneira. E, por fim, algo tão básico e fundamental
t
que freqüentemente esquecemos de mencionar: o estudo dos princi-

28

P
9

P 453
P
9

9
pais textos dos grandes pensadores não precisa de outra justificati
va que não o prazer puro que seu tremendo vigor intelectual nos 9
proporciona. A maior motivação da minha estratégia foi simples 9
mente deleite e alegria. 9
Embora meu procedimento básico possa parecer restritivo, pro 9
curei ampliá-lo mediante o uso de vários subtemas. Em particular, 9
se os textos são unificados pela lógica central da sua argumentação, 9
então suas ilustrações são parte integrante do efeito total, não belos
9
penduricalhos incluídos por motivos meramente estéticos ou comer
9
ciais. Os primatas são animais visuais e (especialmente na ciência)
a üustração possui uma linguagem e um conjunto de convenções pró
prios. Rudwick (1976), em seu artigo mais brilhante, desenvolveu 9
esse tema, mas os estudiosos têm sido lemos em acrescentar uma 9
outra dimensão à sua tradicional subordinação às palavras. No te 9
ma da metáfora e da visão trazidas a um mundo de observação, o
resumo pietórico assume papel especialmente vital. Constatei que
foram as figuras que me forneceram uma chave para entender que
o campo principal de embate intelectual fora a seta do tempo e o
ciclo do tempo. Quando apreendi a complexidade do frontispício
de Burnet, já possuía um esboço completo deste livro. Portanto, abri
rei cada capítulo discutindo uma figura crucial — em geral ignora
da ou interpretada de forma equivocada —, que capta e transmite
a metáfora do tempo preferida por cada um dos protagonistas.
Quando Goethe, já idoso, participou do maior debate de uma
outra dicotomia, em 1830, reconheceu que os argumentos apresen
tados na Académie des Sciences poderiam ser mais importantes a
longo prazo do que a revolução política que então assolava as ruas
de Paris. Pois Cuvier e Geoffroy, os maiores biólogos da França,
estavam discutindo a fundo a dicotomia central entre uma aborda
gem estrutural e uma abordagem funcional da forma (e não desfe
rindo os primeiros golpes na luta entre evolução e criação, confor
me uma tradição subseqüente de anacronismo viria a afirmar). Goe
the compreendeu do âmago da sua própria vivência que arte e ciên
cia poderiam ser facetas adjacentes de um único todo intelectual;
ele entendia a paixão da ciência como um embate de idéias e não
um simples compêndio de informações. Goethe também percebeu
que devemos interpenetrar certas dicotomias cm vez de lutar pela
morte de um dos lados, pois cada um de seus pólos opostos capta
uma propriedade essencial de qualquer mundo inteligível. A respei
to da biologia estrutural e funcional (embora possamos igualmente
ler seta do tempo e ciclo do tempo), ele escreveu: "Quanto mais vi
tal, como inspirar e expirar, for a relação dessas duas funções da
mente, melhor será a perspectiva para a ciência e para aqueles que
são seus amigos".

29

454
f

P
9

P
P
9

P
r
9

P
P

P
P
P
P
P
P

P
P

P
-p

P
9

P f -Mmm
P
P 2.1 Ofrontispkio da primeira edição de Telluris tlieoria sacra [cred
P theory of the Earth = Teoria sagrada da Terra] de Thomas Burnet.
P
30
^

P
p
p
TEXTO 19
p

~A

JLemfa

Alfred Wegener
,t^)g9~>7 Crinríu.f Arctrc \~¥
CIWKrfFrT»Ju-'
&, *A*r>~ ias

_
P.ussia
lanaria
.SÉ
El origen
de los
•J^vt
A continentes
/ii/MAta

0 iWttalia
y oceanos
. , »« Jtaritwia J^3 ,>-:..•••

pr Tropicuf Cancrrz I* Edición de


Joan Domènec
*i)**L*l*t A Vtf.
D/a ,»•

Apjsiy/n£a

AÍsissini
Miciiconüa
.*Wrnd

^^fSnprTvs

Watt9 dá Çúím
mf-' **»«Frtí*W r*v j
Q F•«-/»** *^*5*C» **•*•'*?£*
.v.:.r/i wMcht

^íXtTT^hp^00^ J?~P
St
õfPL
•fíK.r .njic.
'•••/i
fcr.O/i
3

UK y. «s
.t}»
/ f 1t
•157
9

9
9
i

SINOPSIS
9
9
Tendemos a pensar que las únicas revoluciones científicas autênticas dei siglo xx fueron
aquellas que surgieron de la física y la biologia molecular. Sin embargo, también las ciências
de la Tierra experimentaron lo que podemos denominar un cambio revolucionário: el paso
9
que va de creer que los continenies se formaron y desarrollaron en lugares fijos, a aceptar la
9
idea de que hubo una época en que el mundo terrestre estaba prácticamente aglutinado en
un gran supercontinente, Pangea, dei que posteriormente y mediante un lento mecanismo de 9
9
fractura y deriva, terminaron surgiendo los continentes tal y como los conocemos en la
actualidad. Fue el geofísico, meteorologo y explorador alemán Alfred Lolhard Wegener
(1880-1930) quien nos mostro, con mucha más claridad y íuerza que otros predecesores
suyos, la faceta cambiante de la geografia de la Tierra. El lugar en el que presentó de
manera más completa y accesible sus ideas es un libro que con justicia se puede incluir en el
grupo de los «clásicos de la ciência»: El origen de los continentes y oceanos (1915). 9
9

9
9

9
%

i

9
9

9
9
9
9
9
9
9

9
9
9
9
9

9
9

P
P
9

P
P
P

P El origen de los
P
continentes y oceanos
P
P
P
P Alfred Wegener
P
P
Introducción de Francisco 1'clnyo López
r Epílogo de Francisco Anguita Virella
p
Traduti lón cmelliru de Func»<i> Angulu Yüclla y
<•"* Juan Cailt» Htlgucu Girei]

r
p
p

CRÍTICA

P
9

P
P
P
P

P
459
-

$$3 3 3 $ * * $ 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 $ 3 4 3 3 0 0 0 3 3 3 3 3 3 3 3 $ 3 3 3 3 3 3 $ 3 3 J
p
p
p
p
p
9
P
9

CAPITULO 2
P

LA NATURALEZA DE LA TEORIA
9

DE LA DERIVA CONTINENTAL

P
P
SU RELACIÓN CON LAS TEORÍAS ACTUALMENTE DOMINANTES SOBRE LOS
P CÂMBIOS DE LA SUPERFÍCIE TERRESTRE EN LOS TIEMPOS GEOLÓGICOS
P
Es un hecho singular y característico de lo incompleto de nuestros
conocimientos actuales que se llegue a resultados completamente contrários
respecto a las condiciones de la Tierra en el pasado, según se aborde el
problema a partir de aspectos biológicos o geofísicos.
Los paleontólogos, así como los zoólogos y botânicos, llegan una y otra
P
vez a la conclusión de que la mayoría de los continentes separados hoy por
9
anchos oceanos ha debido tener cn el pasado conexiones terrestres a través de
P
las cuales se efectuó, sin impedimentos, un intercâmbio de la fauna y la flora
terrestres. Los paleontólogos llegaron a esta conclusión al hallar numerosas
P
espécies idênticas que, según podia demostrarse, habian vivido en el pasado a
P
ambos lados dei oceano, y cuya contemporaneidad hacia impensables
P
orígenes separados en lugares diferentes. Y si bien se hallaba un porcentaje
P
limitado de identidades en las faunas o floras contemporâneas, ello se explica
P
facilmente por la circunstancia de que tan solo una parte dei mundo orgânico
P
viviente en aquel momento se conserva en estado fósil y se ha descubierto
P
hasta hoy. Pues incluso si los organismos vivos de dos continentes antes
P
unidos hubiesen sido completamente idênticos, lo incompleto de nuestros
P
P conocimientos tendría como consecuencia que los hallazgos efectuados a uno
y otro lado resultasen solo parcialmente idênticos, mientras que la mayor
parte parecerían diferentes; y naturalmente, hay que tener también en cuenta
P

P
9

P
9

P 461

P
9
9
%
9

9
el hecho de que los seres vivos, incluso cuando la posibilidad de intercâmbio
es total, no llegan nunca a ser completamente idênticos, como tampoco
Europa y Ásia tienen actualmente igual fauna y flora.
Al mismo resultado llegan las investigaciones similares sobre los
animales y las plantas actuales. Las espécies actuales de dos continentes
como los que comentamos son ciertamente distintas, pero los gêneros y
famílias siguen siendo los mismos; y lo que hoy es gênero o família, fue
espécie en el pasado. Es decir, que el parentesco de fauna y flora actuales
lleva a la conclusión de que estas faunas y floras fueron idênticas en el
pasado, y, por tanto, que debe haber existido un intercâmbio, lo cual solo
puede imaginarse contando con una conexión terrestre muy extensa. Solo trás
la rotura de la conexión continental se separaron las faunas y floras en las
diversas espécies actuales. No es exagerado el decir que el desarrolló global
de la vida en la Tierra y las relaciones entre los organismos actuales en
9
continentes muy separados serían siempre un enigma insoluble si no
aceptásemos esas antiguas conexiones terrestres. 9
Citemos solamente un testimonio entre muchos. De Beaufort escribe 1
[123]: «Se pueden citar muchos otros ejemplos de los que se desprende que 9
en zoogeografía es imposible llegar a una explicación razonable de la
distribúciôn de los animales si no se aceptan conexiones entre continentes t
hoy separados, y no solamente por médio de puentes continentales de los que,
9
como dice Malthew, solo se han quitado un par de tablones, sino también los
i
que unían continentes ahora separados por el oceano profundo».1
V
Naturalmente, muchas preguntas quedan insuficientemente aclaradas por
"-

esta teoria. En muchos casos, los antiguos puentes continentales han sido
i
propuestos a base de indícios muy pobres, y no han sido confirmados por las 9
investigaciones posteriores. En otros, no existe en absoluto unanimidad sobre
el momento en el que la conexión cesó y se estableció la actual separación.
Pero por lo que respecta a las más importantes de estas conexiones
continentales, existe hoy entre los especialistas una unanimidad muy
satisfactoria, no importa que basen sus conclusiones en la distribúciôn
geográfica de los mamíferos, las lombrices, las plantas, o cualquier otro tipo
de organismo. Arldt [11] ha dibujado una espécie de gráfico de opinion sobre
la existência o inexistência de las diferentes conexiones continentales para los
9

9
9
9
9

462

9
P

p
p
p
diferentes tiempos geológicos, a base de comentários, escritos o mapas
publicados por veinte investigadores diferentes.- En la figura 2.1 se muestran
gráficamente los resultados de esta encuesta, en lo que se refiere a las cuatro
9
conexiones terrestres más importantes. En ella se han dibujado três curvas
P por cada conexión continental: el número de las opiniones afirmativas, el de
r las negativas, y su diferencia, que refleja la fuerza de la mayoría, destacada
mediante sombreado. La representación superior muestra que la conexión de
Austrália con la índia, Madagascar y África (la antigua «Gondwana») duro,
p
según la mayoría de los autores, desde el Cámbrico hasta el principio dei
Jurasico, pero desapareció a partir de ese momento; la segunda
p
representación indica que la antigua conexión entre Suramérica y África
r
(«Arqueohelenis») cesó, según la mayoría de los investigadores, entre el
9
Cretácico Inferior y Médio. Aún más tarde, en el limite entre el Cretácico y el
p
Terciario, cesa, según el tercer gráfico, la conexión terrestre («Lemuria»)
p
entre Madagascar y el Decán. La conexión entre Norteamérica y Europa fue
P
considerablemente más irregular, como muestra ei cuarto gráfico; sin
embargo, y a pesar de los frecuentes câmbios de actitud, también aqui
domina una amplia coincidência de opiniones: la conexión fue destruída
repetidas veces en el pasado, concretamente en el Cámbrico y en el Pérmico,
así como en el Jurasico y en ei Cretácico, aunque al parecer solamente por
«transgresiones» de poça entidad, que permitieron un posterior
restablecimiento de la conexión. Pero la ruptura definitiva de la relación
geográfica, como corresponde a la separación actual por un mar ancho y
profundo, no puede haberse efectuado antes dei Cuaternario, al menos en el
norte, en la zona de Groenlândia.
Más adelante detallaremos muchos casos particulares. Aqui
destacaremos tan solo un aspecto que hasta ahora ha sido desatendido por los
defensores de la teoria de los puentes continentales, y que es, sin embargo, de
la máxima importância: estas antiguas conexiones continentales no han sido
propuestas solo para lugares como el estrecho de Bering, donde hoy solo un
somero mar de plataforma o mar transgresivo separa los continentes, sino
también para los mares profundos actuales: los cuatro ejemplos de la figura
P

P
P
P

463

P
9
9
9

9
9
2.1 se refieren a casos de este tipo. Han sido elegidos a propósito, porque 9
sirven para establecer los conceptos básicos de la teoria de la deriva, como 9
vamos a mostrar a continuación. 9

9
Canibriu» SUútlco D»/ônlco Caibo- Pírmlco Ttlaaco Jurasico Ctítlclco Twciano
MM 9
9

9
9
9

9
9
9
9
9
9
9
Figura 2.1. Número de respueslas afirmativas (línea grucsa superior) y negativas (línea gruesa inferior) 9
a la pregunia sobre la existência de cuatro puentes continentales desde el Cámbrico. La diferencia está 9
rayada cuando es afirmativa, y punteada cuando es negativa.
9
9
Hasta aqui se ha admitido como evidente que las masas continentales —
9
emergidas o sumergidas— habian conservado inmutable su posicion relativa
a lo largo de toda la historia de la Tierra, con lo que no quedaba más solucion 9
9
que aceptar que las conexiones terrestres propuestas habian existido en forma
9
de enlaces entre los continentes hasta que el intercâmbio entre la fauna y la
9
flora continentales cesó, momento en el que aquellos se hundieron bajo el
nivel dei mar, para formar el fondo de los actuales mares intercontinentales 9
9
profundos. Así se originan las conocidas reconstrucciones paleogeográficas,
9
de las que la figura 2.2 representa un ejemplo para el Carbonífero.
9
La hipótesis de que existían continentes intermédios hundidos era, de
9
hecho, la más inmediata, en cuanto que se basaba en el cuerpo de doctrina de 9
la contracción de la Tierra, tema que deberemos examinar más 9

9
9
9

461 9

9
r
p

p
p
p
p
detalladamente a continuacion. Esta teoria se origina en Europa; fue
establecida y elaborada por Dana, Albert Heim y Eduard Suess, y sigue
dominando hasta el momento presente los conceptos básicos de la mayoría de
los textos europeos de geologia. La expresión más concisa de esta teoria fue
la acunada por Suess: «Lo que estamos presenciando es el colapso de la
p esfera terrestre» [12, tomo 1, pág. 778]. Al igual que una manzana que se
p seca desarrolla arrugas en su superficie a causa de la perdida de água de su
P interior, así las cadenas de montanas plegadas en la superficie terrestre deben
P formarse a causa dei enfriamiento dei interior de la Tierra, y de la retracción
p consiguiente. A consecuencia de este hundimiento de la corteza, se supone
9
que debe actuar sobre ella una «presión en bóveda» general que mantiene
r
elevados fragmentos individuales que forman horsts, en cierto modo
p
apoyados en la bóveda. Más adelante, estos fragmentos retrasados pueden
adelantarse a los otros en el hundimiento, y entonces lo que era tierra firme se
P
convierte en fondo marino, y a la inversa, pudiéndose repetir este ciclo
P
indefinidamente. Esta teoria, que fue propuesta por Lyell, se basa en el hecho
r
9
de que en casi todos los continentes se encuentran estratos depositados en
mares antiguos. No se puede negar a esta idea el mérito histórico de haber
proporcionado durante largo tiempo una síntesis adecuada de nuestra ciência
geológica. En este largo período de tiempo la teoria de la contracción ha sido
aplicada en gran medida a los resultados de investigaciones concretas, con la
consecuencia de que aún hoy sigue teniendo algo de atrayente, a causa de la
atrevida simplicidad de sus ideas básicas y de la diversidad de sus
aplicaciones.
P
r
p
r

p
9

p
p
p
0
p
p

p
465
r
Figura 2.2. Repartición de mar (rayado)y tierra en el Carbonífero, según las teorias al uso.

Despues de la imponente síntesis que para las ciências geológicas


supuso, desde el punto de vista de la teoria de la contracción, la obra en
cuatro tomos de Eduard Suess, La faz de la Tierra, se han vcnido acumulando
las duclas sobre la corrección básica de esta teoria. La hipótesis de que todos
los levantamientos son solo aparentes, y que en realidad consisten en retrasos
en la tendência general de la corteza a moverse hacia el centro de la Tierra,
fue rebatida con la detección de levantamientos absolutos [71]. La idea de
una presión en bóveda permanente y activa en todas parles, que ya fue
refutada teoricamente por Hergesell [124] para las capas más altas de la
corteza, se ha mostrado insostenible, puesto que las estructuras en Extremo
Oriente y en las fosas de África oriental sugieren por el contrario fuerzas
tensionales en grandes fragmentos de la corteza terrestre. La interpretación de
las cadenas de montanas como arrugas superficiales debidas a la contracción
dei interior terrestre llevó a la inaceptable consecuencia de que la presión
tenía que transmilirse en el interior de la corteza terrestre a lo largo de
distancias equivalentes a semicírculos máximos. En cambio, numerosos
autores, como Ampferer [13], Reyer [14], Rudzki [15], Andrée [16], y otros,
han adoptado y favorecido la posicion de que la totalidad de la superficie
•terrestre debía ser afectada homogéneamente por las arrugas, como se ve en
una manzana que se seca. Pero fue sobre todo cl descubrimiento de las
«estructuras de cabalgamiento» en escamas, o de los mantos de corrimiento

466
r
r
p
p

r
de Jos Alpes, lo que hizo aparecer cada vez más inadecuada la explicacion, ya
de por sí difícil, dei origen de las montanas por contracción. Esta nueva
interpretacion de la estructura de los Alpes y de muchas otras cadenas de
montanas, introducida en los trabajos de Bertrand, Schardt, Lugeon y otros,
condujo a la idea de que existían compresiones mucho mayores que las
supuestas en la anterior teoria. Mientras que según esta última Heim
r calculaba para los Alpes un acortamiento de 1/2, este mismo autor encuentra,
tomando como base la estructura de cabalgamientos generalmente admitida
hoy, un acortamiento de 1/4 hasta 1/8 [17]. Puesto que la anchura actual es de
p
unos 150 km, se cleduce que aqui se ha encajado un fragmento de corteza de
p
600 a 1.200 km (5 a 10 grados de latitud) de anchura; sin embargo, R. Staub
p
[181, coincidiendo con Argand, ha realizado, en su síntesis más reciente sobre
p
los cabalgamientos alpinos, cálculos de acortamiento aún mayores. En su
página 257 llega a la conclusión siguiente:
p
El orógeno alpino es el efecto de la deriva bacia el norte dei bloque africano. Si alisamos los
pliegues y mantos alpinos en un corte transversal entre la Selva Negra y África, resulta una
distancia original de 3.000 a 3.500 kilómetros frente a la actual de unos 1.800, es decir, una
compresión alpina (en el sentido amplio de esta última palabra) de unos 1.500 kilómetros; para
justificar este resultado es necesario que África se haya desplazado con respecto a Europa, con lo
que se llega a una autentica deriva continental de grandes dimensiones dcl bloque africano.-^
P
En un sentido similar se han expresado también otros geólogos, como,
por ejemplo, F. Hermann [106], Edward Hennig [19] o Kossmat [21], que
destaca «que una explicacion de la formación de las montanas debe incluir
grandes movimientos tangenciales de la corteza, movimientos que no pueden
encajarse en el conjunto de ideas de la teoria de la contracción». Refiriéndose
a Ásia, Argand [20], en una vasta investigación sobre la que volveremos más
adelante, ha desarrollado ideas totalmente equivalentes a las expuestas por
Staub y por él mismo sobre los Alpes. Cualquier intento de relacionar estas
colosales compresiones de la corteza con descensos de temperaturas en el
interior de la Tierra está condenado al fracaso.
Pero incluso la suposición básica, aparentemente innegable, de la teoria
de la contracción (a saber, que la Tierra se está enfriando) ha quedado->en
entredicho trás el descubrimiento dei radio. Este elemento, cuya
desintegración genera calor continuamente, está contenido en cantidades
P
P

r
p

467
9
9
9

9
9
9
mensurables en las rocas de la corteza que nos son accesibles, y las
numerosas medidas llevadas a cabo conducen a la conclusión de que si el
interior de la Tierra contuviese igual cantidad de radio, el calor producido
debería ser incomparablemente mayor que el transportado hacia el exterior,
magnitud esta que podemos calcular por el aumento de temperatura en las
minas, teniendo en cuenta la conductividad de las rocas. Pero esto significaria
que la temperatura de la Tierra tenía que elevarse continuamente. En realidad,
la muy escasa radiactividad de los metcoritos férricos indica que el núcleo de
hierro de la Tierra tiene, presumiblemente, mucha menor cantidad de radio
que la corteza, así que la paradójica conclusión anterior quizá es evitable;
pero en cualquier caso, ya no se puede considerar actualmente el estado
térmico de la Tierra como una instantânea tomada en un proceso continuo de
enfriamiento dei globo terrestre, sino más bien como un estado de equilíbrio
entre Ia producción de calor radiactivo dei interior terrestre, y su emisión al 9
9
exterior. En efecto, los últimos estúdios sobre estas cuestiones, que serán
9
debatidos en detalle más adelante, nos llevan a la conclusión de que al menos
bajo los continentes se genera más calor dei que es transportado, por lo que
9
en ellos la temperatura debe aumentar, mientras que en las cuencas oceânicas
9
la relación se invierte, predominando la transmisión sobre la producción. Así,
9
para la Tierra en su conjunto se llega a un equilíbrio entre producción y
9
transmisión. En todo caso, se puede concluir que estas nuevas
9
consideraciones privan a la teoria de la contracción de todo su apoyo.
9
Pero, además de esta, ante la teoria de la contracción se presentan
0
muchas otras dificultades. La hipótesis de que los continentes y las cuencas
marinas se intercambian entre sí en el tiempo en una sucesion ilimitada, idea
9
que fue sugerida por la presencia de sedimentos marinos en los actuales 9
continentes, debe ser restringida considerablemente, pues los estúdios más 9
detallados de estos sedimentos han demostrado cada vez más claramente que
se trataba, casi sin excepcion, de sedimentos costeros. Se ha demostrado que
muchos sedimentos que se creían depositados en mares profundos provienen
de mares someros, como, por ejemplo, lo ha probado Cayaux para la creta:
Dacqué [22] ha escrito una buena síntesis sobre, esta cuestión. Solo unos
poços sedimentos se siguen teniendo hoy como de origen muy profundo (4 a
5 km); entre ellos están las radiolaritas pobres en cal, de los Alpes, y ciertas

9
9
468

9
p
9

P-

P
arcillas rojas, que recuerdan a las arcillas rojas de los mares profundos. La
principal razón es que a gran profundidad el água de mar actúa sobre las
calizas, disolviendolas, pero la extensión espacial de estos genuínos
sedimentos profundos sobre los continentes actuales es tan diminuta
comparada con las dimensiones de estos últimos y de los sedimentos de
origen somero depositados sobre ellos, que permite mantener la tesis de la
naturaleza somera de los sedimentos marinos fósiles en los actuales
continentes. Por el contrario, de este punto surge una seria dificultad para la
P teoria de la contracción: puesto que los datos de la geofísica nos obligan a
r
incluir los mares someros en los continentes, la naturaleza de los sedimentos
p
marinos fósiles significa que los bloques continentales han sido
«permanentes» a lo largo de la historia de la Tierra y que jamás han formado
p
parte de los fondos marinos. Entonces, penemos derecho a suponer que los
p
actuales fondos marinos profundos fueron alguna vez continentes? Es
p
evidente que la legitimidad de esta conclusión ha desaparecido al
comprobarse la naturaleza somera de los sedimentos marinos en los
continentes. Pero aún hay más, pues esta conclusión nos conduce ahora a una
contradicción abierta: si reconstruímos los puentes intercontinentales dei tipo
p
ilustrado en la figura 2.2, ocupando así gran parte de las actuales cuencas
p
marinas profundas, sin poder compensar este hecho con la inmersión de los
continentes actuales hasta el nivel dei mar, las masas de água dei oceano
universal no tienen ya sitio en las reducidas cuencas marinas: el
desplazamiento de água por parte de los puentes intercontinentales habría
sido tan gigantesco que el nivel dei oceano universal sobre los continentes
habría subido, inundándolo todo (tanto los actuales continentes como los
intercontinentes), con lo que la reconstrueción no alcanza el objetivo
propuesto, que era demostrar la existência de conexiones terrestres sobre el
nivel dei mar entre continentes no inundados. La figura 2.2 muestra, pues,
una reconstrueción imposible, a no ser que introduzeamos hipótesis
adicionales ad hoc que son poço verosímiles, como, por ejemplo, que en
aquel tiempo la cantidad de água dei oceano universal era menor que en la
actualidad justo en la cantidad requerida, o que las restantes cuencas marinas
P

p
r

r
p
469
9

9
9
9

de aquella época eran más profundas que las actuales justo en la cantidad
requerida. Willis, A. Penck y otros han llamado la atención sobre estas
dificultades. 9
De las numerosas objeciones contra la teoria de la contracción
destacaremos, por último, una que tiene una importância muy especial. A
través, sobre todo, de medidas de gravedad, la geofísica nos ha permitido
llegar a la idea de que la corteza terrestre flota en equilíbrio hidrostático sobre
un sustrato denso y viscoso: a este estado se le llama isostasia. La isostasia
no es otra cosa que un equilíbrio hidrostático regido por el principio de
Arquímedes, por el que el peso de un cuerpo sumergido es igual al peso dei
fluido desalojado; sin embargo, la introducción de una palabra especial para
este estado es conveniente, porque el fluido en el cual se sumerge la corteza
terrestre es probablemente de una viscosidad enorme, dificilmente
9
imaginable, de forma que las oscilaciones con respecto a esta situación de
equilíbrio quedan excluídas, aunque la tendência al equilíbrio trás una
9
perturbación es un proceso que tiene lugar con lentitud extrema y necesita
9
muchos milênios para completarse; en el laboratório este «fluido» apenas se
9
distinguiría de un «sólido». Debe recordarse, sin embargo, que también en el
acero, que consideramos un cuerpo sólido, se dan manifestacioncs de flujo 9
%
poço antes de su rotura.
9
Un ejemplo de una perturbación de la isostasia de la corteza terrestre lo
9
tenemos en la sobrecarga que en esta produce un casquete glaciar, proceso
que tiene como consecuencia el lento hundimiento de la corteza y la
9
tendência a un nuevo estado de equilíbrio proporcionado a la carga, para
9
volver nuevamente y en forma paulatina el antiguo equilíbrio una vez que el
casquete se ha fundido, con lo que las líneas de costa formadas durante la 9
depresión son levantadas. En este sentido, los «mapas de isobasas»
construídos por De Geer [23] a partir de las líneas de costa muestran para la
última glaciación en Escandinávia una depresión de al menos 250 m en la
parte central, depresión que iria decreciendo gradualmente hacia el exterior;
para la más extensa de las glaciaciones cuaternarias se aceptan valores aún
más altos. En la figura 2.3 reproducimos un mapa de estas elevaciones
postglaciales para Fenoscandia, según Hõgbom (en Bom [43]). De Geer ha
demostrado que el casquete glacial norteamericano ha experimentado un
9

9
Q

470
p
p
p

proceso análogo. Rudzki [15] ha probado que siguiendo la teoria isostatica se


pueden calcular valores razonables para el espesor dei hielo en los casquetes:
930 m para Escandinávia y 1.670 m para Norteamérica, donde ei
hundimiento alcanzó los 500 m. A causa de la viscosidad dei sustrato, estos
movimientos de ajuste van muy desfasados: en general, las líneas de costa se
formaron despues de la fusión dei hielo, pero antes de la elevación dei
continente. Todavia hoy Escandinávia se eleva alrededor de un metro por
siglo, como lo demuesü-an las medidas dei nivel dei mar.
9
También el depósito de sedimentos tiene como consecuencia el
P
hundimiento dei fondo de la cuenca, como muy acertadamente reconoció
P
Osmond Fisher por vez primera: cada depósito provoca el hundimiento de la
P
base de los estratos, hundimiento que se produce también con cierto relraso,
P
de forma que la superficie dei nuevo estrato queda situada casi a la misma
r
altura que la dei anterior. De esta manera pueden generarse en águas someras
r
series scdimentarias de muchos kilómetros de potência.
p
p
p

p
m
p
p
p

p
p
p
p

p
p
p
p
9

471
9

9
9
9

0
0
9

0
9
9
9
9

9
9

9
9
9
9

9
—-Divisória de água 100 — Curvas de nivel
9
>»»Divisória dei hielo \'<; >-A Sustrato predominantemente precámbrico
9
9
Figura 2.3. Magnitud (en metros) de la elevación postglacial en Fenoscandia, según Hõgbom.
9

De la teoria de la isostasia trataremos con más detalle más adelante. %


Diremos ahora tan solo que esta teoria ha sido confirmada hasta tal punto por 9
9
las observaciones geofísicas, que actualmente forma parte de las bases más
9
sólidas de la geofísica, y que ya no se puede dudar de que es basicamente
9
conecta.4
9
' Es evidente que esta última conclusión contradice totalmente Ias ideas
básicas en las que se apoya la teoria contraccionista, que además resulta muy 9
9
difícil de conciliar con aquélla. En particular parece imposible, según lo 9

9
9

""

472 9

9
p
p

p
r
p
anterior,, que se hunda hasta el fondo dei mar un bloque continental dei
tamano de los intercontinentes propuestos, o bien que suceda lo contrario. Así
pues, la teoria de la isostasia no solo se contrapone a la teoria de Ia
contracción, sino también a la de la distribúciôn de los organismos, teoria a
su vez derivada de la de los puentes continentales hundidos.5
Hasta aqui hemos tratado sobre las objeciones contra la teoria
contraccionista de una forma deliberadamente detallada, debido a que existe
P otra idea basada en una parte dei encadenamiento lógico de aquélla: se trata
P de la «teoria de la permanência», difundida especialmente entre los geólogos
P
americanos. Willis [27] la formula de la siguienle manera: «Las grandes
P
cuencas marinas son rasgos permanentes de la superficie terrestre, que desde
P
que el água formo mares se instalaron en ei mismo lugar que actualmente
P
ocupan». De hecho, y al estudiar la naturaleza somera de los sedimentos
r
depositados sobre los continentes, ya habíamos llegado más arriba a la
r
conclusión de que los bloques continentales son, como tales, rasgos
r
permanentes en la historia de la Tierra. La imposibilidad de interpretar las
r
f*
cuencas marinas actuales como puentes continentales hundidos,
p
imposibilidad que se deriva de la teoria de la isostasia, complementa la
anterior idea, dando como resultado una permanência general de las cuencas
p marinas y de los continentes. Y como a partir de esta conclusión se derivo
también la suposición, aparentemente obvia, de que la posicion relativa de los
continentes no ha experimentado ninguna variación, la formulación de la
teoria de la permanência debida a Willis aparece como una conclusión lógica
de nuestros conocimientos geofísicos, olvidando, desde luego, el postulado
(derivado de la teoria de la propagación de los organismos) sobre antiguas
conexiones continentales. Así que asistimos al singular espectáculo de que se
defienden simultaneamente dos teorias completamente opuestas sobre la
antigua configuración de la Tierra: en Europa existe una adhesión casi
universal a la teoria de los antiguos puentes continentales, y en América se
defiende casi exclusivamente la teoria de la permanência de los continentes y
Ias cuencas marinas profundas.
Seguramente no es en absoluto casual que la teoria de la permanência
cuente con sus defensores más numerosos en América: en aquel continente,
la geologia ha comenzado tarde, para desarrollarse luego paralelamente a la
P

r
p
473
9
9
n

geofísica, lo cual ha tenido como consecuencia necesaria que los resultados


de esta ciência hermana se aceptasen más completa y rapidamente que en
Europa. No existió ninguna tentación de convertir la teoria contracciónista
(que desde el punto de vista geofísico era contradictoria) en uno de los
postulados básicos. Muy diferente era la situación en Europa, donde, antes de
que la geofísica hubiese ofrecido sus primeros resultados, la geologia se
había desarrollado ya durante largo tiempo, alcanzando una síntesis general
concretada en la teoria de la contracción. Es completamente comprensible
que para muchos geólogos europeos fuese difícil liberarse por completo de
esta tradición, y que por ello recibiesen los resultados de la geofísica con una
desconfianza que nunca llegó a desaparecer.
Pero ^cuál es la verdad? La Tierra no puede tener más de un rostro a la
vez. ^Hubo puentes continentales, o bien estuvieron siempre los continentes
separados por mares profundos? Es imposible rechazar la reivindicación
sobre las antiguas conexiones terrestres si no queremos renunciar por 9

completo a comprender el desarrolló de la vida en la Tierra. Pero es 9

9
igualmente imposible rehuir los argumentos con los que los partidários de la
'-

teoria de la permanência rechazan los intercontinentes hundidos.


9
Evidentemente, queda tan solo una posibilidad: tiene que existir un error
9
oculto en las suposiciones tomadas como evidentes.
9
Este es el punto de partida de la teoria movilista o teoria de la deriva. La
9
suposición, tomada como evidente tanto en la teoria de los puentes 9
continentales como en la de la permanência, de que la situación relativa de
9
los bloques continentales no ha cambiado (prescindiendo de su cobertura de 9
mares someros) debe ser falsa: los continentes deben haberse movido.
9
Suramérica debe haber estado junto a África y formado con ella un único
continente, escindido en el Cretácico en dos partes que luego, como los
fragmentos de un témpano agrietado, se separaron cada vez más en el curso
dei tiempo geológico, pero los bordes de estos dos bloques concuerdan
todavia hoy. No solo el gran codo en ângulo recto que forma la costa
brasilena en el cabo San Roque encuentra su negativo en el recodo de la costa
africana en Camerún, sino también al sur de estos accidentes la forma de la
costa es tal que a cada saliente en la costa brasilena corresponde una bahía de
9
9

9
9

474 9
P
P

P
igual forma en la africana, y viceversa: a cada bahía en el lado brasileíio un
saliente en el africano. Como puede comprobarse con el compás sobre un
globo terrestre, las distancias concuerdan con precisión.
Igualmente, Norteamérica ha estado situada en el pasado junto a Europa,
y formo un bloque único con ella y Groenlândia, al menos desde Terranova e
Irlanda hacia el norte. Este bloque se fragmento a partir dei Terciario
Superior (y en el norte incluso en el Cuatemario) por médio de una fractura
p que se bifurcaba en Groenlândia, trás lo cual los fragmentos se separaron
unos de otros. La Antártida, Austrália y la índia estaban situadas junto a
Suráírica hasta el comienzo dei Jurasico, formando con ella y con Suramérica
9
un gran continente único (parcialmente cubierto por mares someros), que en
el transcurso dei Jurasico, el Cretácico y el Terciario se fragmento en bloques
aislados, que luego derivaron en todas direcciones. Los três mapas
reproducidos en las figuras 2.4 y 2.5 muestran la evolución de este proceso
para el Carbonífero Inferior, el Eoceno y el Cuatemario Inferior. En el caso
de la Índia, se trata de un fenômeno algo distinto: inicialmente, un largo
bloque cubierto casi totalmente de mares someros la unia por completo al
continente asiático. Tias la separación de Austrália por una parte (en el
Jurasico Inferior) y por otra de Madagascar (en el limite entre el Cretácico y
el Terciario), este largo bloque fue plegado cada vez más por la aproximación
de la índia a Ásia, y constituye hoy una de las más poderosas cadenas de
montanas de la Tierra: el Ilimalaya y las cadenas vecinas.
P
P
P

p
475
CARBONlFERO
INFERIOR

CUATERNARIO
ANTIGUO

w,

Figura 2.4. Reconstrueción de la Tierra en ires épocasdiferentes, según la teoria de los desplazamienios
continentales. En rayado, los mares profundos; punteado, mares de plataforma; los rios y los contornos
actuales de los continentes se han dibujado para facilitarei reconocimiento de estos. Coordenadas
geográficas arbitrarias (para África sonlas actuales).

476
Wf
0
•4
•uopoaXojd lmio opuez**pn V? tMn3ij e\ ua anb uOpaiuisudííaj etusiiu eq s'Z cinSii
0

0
0
*-- -T 1TF- "^ V /
A*í'
V
••
,-
\ •.
•s- y-z--i
J ••:-
onoiiNV V
oiavNuiLvno
4
J
«•#
w
4
H0IU3JNI
ou3d|Noayvo
3
9
9
9

También en otras zonas se presenta la deriva continental en relación


causai con el origen de Ias montanas: en la migración hacia el oeste de las dos
^
Américas, su borde anterior se plegó en la gigantesca cadena andina (que se -*

extiende desde Alaska hasta la Antártida) a causa de la resistência frontal dei


fondo de la cuenca dei Pacífico, muy antigua, fria y, por tanto, rígida.
También junto al continente australiano, solo separado de Nueva Guinea por
un mar de plataforma, se encuentran las elevadas montanas de Nueva Guinea,
formadas recientemente y también en el borde anterior en el sentido dei
movimiento; antes de su separación con respecto a la Antártida, la direccion
de su movimiento era distinta, como puede verse en los mapas de las figuras
2.4 y 2.5: la actual costa este era entonces el borde anterior. Entonces se
plegaron las montanas de Nueva Zelanda, que se extendían inmediatamente
delante de esta costa, y a continuacion y debido a los câmbios en la direccion
de la deriva, se desligaron y retrasaron, formando arcos de islas. Las actuales
cordilleras dei este de Austrália surgieron en una época anterior; se formaron
al mismo tiempo que los pliegues más antiguos en Norte y Suramérica, los
que constituyen la base de los Andes (precordillera), en el borde anterior de la 9
9
masa continental que migraba como un todo antes de la fragmentación.
9
El citado proceso de la separación de Nueva Zelanda (primero cadena
9
marginal, luego arco de islas) dei continente australiano nos lleva a
9
considerar el fenômeno al otro lado de los continentes en movimiento, donde
9
los fragmentos quedarían retrasados en la migración de los grandes bloques,
9
sobre todo cuando esta tenía lugar hacia el oeste. Así, las cadenas marginales
9
se segregan en el borde oriental dei continente asiático pára formar arcos
9
insulares; así quedan atrás las Pequenas y Grandes Antillas con respecto al 9
bloque centroamericano, lo mismo que el llamado arco de las Antillas dei 9
Sur, entre la Tierra de Fuego y la Antártida occidental; incluso todos los 9
continentes que se estrechan en direccion meridional presentan una curvatura
hacia el este dei extremo aguzado, debido a un retraso relativo en la deriva.
Como ejemplos, citaremos el extremo sur de Groenlândia, la plataforma
submarina de Florida, la Tierra de Fuego, la Tierra de Graham o la
.fragmentada Ceilán.
9
9
9
9
9
9
9
47S

i
r
p
p

Se puede obseivar sin dificultad que esta exposición global de la teoria


de los desplazamientos se basa en la suposición de que los fondos marinos y
los continentes están compuestos de distintos materiales, que en cierta
medida representan diferentes niveles de la Tierra. El más extremo,
representado en los continentes, no cubre toda la superficie terrestre (como
veremos, quizá sea más correcto decir que no la cubre ya), y los fondos
marinos representan la superficie libre dei siguiente nivel de la Tierra, que
P asimismo se supone que existe bajo los continentes. Este es el aspecto
P
geofísico de la teoria movilista.
P
Si tomamos la teoria de la deriva como base, podemos satisfacer todos
los requisitos legítimos, tanto de la teoria de los puentes continentales como
P
de la teoria de la permanência. En concreto, esto quiere decir que hubo
P
conexiones entre los continentes actualmente separados, pero no
P
intercontinentes que luego se hundieron; y que hay permanência, pero no de
P
cada oceano o continente individual, sino dei área de los continentes y dei
área de las cuencas marinas en su conjunto.
La argumentación detallada de esta nueva teoria constituirá el contenido
P
principal de este libro.
P

P
P
P
P
P

P
P
P
0
P

P
P

P
p

P 479

S-ar putea să vă placă și